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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Educação - Departamento de Administração Escolar


Disciplina: Política Educacional

Nome do(s) aluno/a(s): Yuri J. Mota Pereira


Atividade 1 - 15 pts
Roteiro para a atividade em grupo e discussão em sala dos textos seguintes:
- BOBBIO, Norberto. Direitos do homem e sociedade. In, BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de
Janeiro: Campus, 1992. P. 33 a 39
- COUTINHO, Carlos Nelson. Notas sobre cidadania e modernidade. In, COUTINHO, C. N. Contra
a corrente: ensaios sobre democracia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2000.
- CURY, Carlos Roberto J. Direito à educação: direito à igualdade, direito à diferença. Cadernos de
Pesquisa, n. 116, p. 245-262, julho/ 2002.
- Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (atualizada)
1). Qual é a definição básica de cidadania proposta por C. N. Coutinho? Qual a relação entre
cidadania e democracia discutida pelo autor? Comente estas questões (não é só copiar a
definição. Mas também comentar o que significa, no seu entendimento)
A cidadania, segundo a perspectiva apresentada por C. N. Coutinho, transcende a mera titularidade
de direitos políticos. “É a capacidade conquistada pelos indivíduos de se apropriarem dos bens
socialmente criados” e de realizarem plenamente seu potencial humano dentro do contexto histórico
em que vivem. Isso implica não apenas ter voz e participação ativa na formação do governo e no
controle da vida social, mas também desfrutar dos benefícios da sociedade (dos bens sociais
coletivamente construídos). Nesse sentido, embora a cidadania seja tida como uma invenção dos
gregos, é na modernidade, de fato, que ela ganhará contornos mais marcantes. Na antiguidade
grega, mais especificamente em Atenas, a cidadania limitava-se a direitos políticos dos quais estava
excluída uma parcela significativa da sociedade, como mulheres, escravos e estrangeiros. Hoje, ela
abrange uma gama de direitos que vão além da esfera política e que atinge a universalidade dos
sujeitos.

A relação entre cidadania e democracia discutida pelo autor é profundamente interligada. Coutinho
ressalta que, especialmente em sua acepção moderna, há uma profunda articulação entre cidadania e
democracia. Ele define democracia como sinônimo de soberania popular, onde os cidadãos têm a
capacidade de participar ativamente na formação do governo e no controle da vida social. Nesse
contexto, a cidadania é vista como uma expressão tácita da democracia, pois é através dela que os
indivíduos têm a capacidade de participar plenamente na vida política e social de sua comunidade.
Enquanto a democracia é concebida como a estrutura institucional que permite a participação
popular no governo, a cidadania é a capacidade real dos indivíduos de exercerem essa participação
de forma efetiva.

Coutinho salienta que “soberania popular, democracia e cidadania (três expressões para, em última
instância, dizer a mesma coisa) ”. Esta passagem é marcante pois esboça, em poucas palavras, a
ideia central do autor, de que não se pode falar em democracia sem falar em cidadania, tampouco o
contrário. Uma coisa permiti a outra, é condição de existência da outra, de modo que quando uma é
excluída a outra também é.

1.1) O que são direitos civis, direitos políticos e sociais, segundo esse autor?

Os direitos políticos podem ser entendidos como uma gama de direitos que garantem a participação
efetiva dos indivíduos na comunidade. Eles incluem uma variedade de direitos e liberdades que
garantem a capacidade das pessoas de influenciar as decisões que afetam suas vidas e o destino de
suas sociedades. Entre eles, destacam-se o direito de votar e ser votado, o direito de associação e
organização.

Segundo Coutinho, os direitos civis, por sua vez, nascem por volta do século XVII com objetivo de
limitar a atuação do Estado sobre a vida dos indivíduos. O direito à propriedade, por exemplo, é
uma componente importante dos direitos civis, protegendo o direito dos indivíduos de possuir, usar
e dispor de bens e recursos de acordo com a lei. Podemos também citar o direito à liberdade de
pensamento, outra dimensão crucial dos direitos civis, permitindo que os indivíduos expressem suas
opiniões, crenças e convicções sem medo de retaliação ou censura por parte do Estado ou de
terceiros

Por fim, tempos os direitos sociais que desempenham um papel crucial na estruturação das
sociedades modernas, pois visam garantir que todos os cidadãos tenham acesso a condições dignas
de vida, além de promoverem uma participação mais equitativa na distribuição da riqueza gerada
pela coletividade. Quando o autor diz “Os direitos sociais são os que permitem ao cidadão uma
participação mínima na riqueza material e espiritual criada pela coletividade”, está se referindo não
apenas à garantia de condições básicas de subsistência, como alimentação, moradia e saúde, mas
também ao acesso a oportunidades educacionais, culturais e de lazer. Em outras palavras, os direitos
sociais buscam assegurar que todos os membros da sociedade tenham a chance de desenvolver
plenamente seu potencial humano, independentemente de sua origem socioeconômica.
1.2). Exemplifique alguns desses direitos de acordo com a Constituição Federal em vigor no
Brasil e com os temas atuais em debates no país que você acompanha pelas mídias e pelas
redes sociais.

No Brasil, a questão dos direitos sociais é uma problemática complexa. Embora a Constituição
Federal do país garanta uma série de direitos sociais aos cidadãos, como acesso à saúde, educação,
moradia digna e trabalho decente (Art. 6º), a realidade vivenciada pela população muitas vezes está
distante dessas promessas legais.

Nesse sentido, um dos principais desafios enfrentados é o abismo entre o que está previsto na lei e o
que é efetivamente oferecido pela estrutura estatal. Por exemplo, embora a Constituição Federal de
1988 assegure o direito à saúde como um dever do Estado, a falta de investimento adequado no
sistema público de saúde resulta em longas filas de espera, falta de medicamentos e infraestrutura
precária em muitos hospitais e postos de saúde. Isso coloca em risco não apenas a saúde física, mas
também a dignidade e a vida dos cidadãos.

Da mesma forma, o direito à educação, consagrado na Constituição, enfrenta desafios como a falta
de infraestrutura nas escolas, baixa qualidade do ensino e desigualdade de acesso entre diferentes
regiões e classes sociais. Milhões de brasileiros ainda vivem em situação de precariedade
habitacional, sem acesso a moradia adequada, o que viola seu direito à dignidade e à segurança.

Esse abismo entre a legislação e a prática afeta diretamente o exercício pleno da cidadania. Quando
os direitos sociais não são garantidos na prática, a população fica impedida de desfrutar plenamente
de sua cidadania, tornando-se vulnerável à exclusão social, à marginalização e à violação de seus
direitos fundamentais. Além disso, a desigualdade no acesso a serviços básicos e oportunidades
perpetua um ciclo de pobreza e injustiça social, minando os valores democráticos e comprometendo
o desenvolvimento humano e social do país como um todo.

2). Por meio de quais modos ocorreu a multiplicação dos direitos humanos, segundo Bobbio.
Comente sobre o tema e dê alguns exemplos a partir da sua experiência e da observação do
que ocorre em seu país

A multiplicação dos direitos humanos ao longo da história é um reflexo das transformações


profundas nas sociedades e na percepção do que é justo e digno para todos os seres humanos.
Norberto Bobbio, em suas reflexões na obra “A era dos direitos”, destacou três modos pelos quais
essa multiplicação ocorreu. Primeiramente, houve uma ampliação do escopo dos bens considerados
merecedores de proteção legal. Não se tratava apenas de garantir liberdades individuais básicas,
como a liberdade de expressão, mas também de reconhecer direitos sociais que exigem ação direta
do Estado, como acesso à educação, saúde e trabalho digno. Essa mudança reflete uma crescente
consciência da importância de garantir condições mínimas de vida e bem-estar para todos os
membros da sociedade.

Além disso, a titularidade dos direitos foi estendida para além do indivíduo humano, abrangendo
grupos diversos, como famílias, minorias étnicas e religiosas, e até mesmo toda a comunidade
global. Essa ampliação do sujeito de direitos reflete uma compreensão mais ampla e inclusiva da
humanidade, reconhecendo a diversidade de experiências e necessidades presentes em nossas
sociedades. Por fim, o homem deixou de ser visto como um ente genérico e abstrato para ser
reconhecido em sua concentricidade social, com todas as suas diferentes formas de existir em
comunidade. Crianças, idosos, doentes - cada um desses grupos passou a ter direitos específicos
reconhecidos, refletindo uma preocupação crescente com a proteção dos mais vulneráveis e
marginalizados em nossa sociedade.

Esses três processos estão interligados e refletem a evolução contínua da nossa compreensão dos
direitos humanos e da justiça social. A multiplicação dos direitos humanos não é apenas um
fenômeno jurídico, mas também uma expressão do nosso compromisso coletivo com a construção
de sociedades mais justas, inclusivas e solidárias.

Questão geral
Comente sobre a relação que se pode fazer com o direito à educação no Brasil – os sujeitos de
direitos e o acesso aos direitos (uma página), com base no texto de R. J. Cury
O texto de R. J. Cury oferece uma análise histórica e conceitual sobre o direito à educação,
destacando sua importância como um direito fundamental condicionante para “o próprio usufruto
dos direitos civis” e também políticos. No Brasil, o direito à educação é reconhecido há décadas,
desde 1934, e foi estabelecido como um direito público subjetivo na Constituição de 1988. Isso
significa que todos os cidadãos têm o direito legal de acesso à educação, independentemente de
idade, gênero, classe social ou origem étnica. No entanto, como aponta o autor, reconhecer esse
direito não é apenas uma questão de proclamação solene; é também uma questão de garantir sua
implementação efetiva.

O acesso à educação é crucial para a formação de cidadãos conscientes e participativos na


sociedade. É através da educação que os indivíduos adquirem conhecimentos, habilidades e valores
que lhes permitem contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento de suas comunidades
e do país como um todo. Além disso, a educação é uma poderosa, senão a única ferramenta de
capacitação e autodesenvolvimento para os indivíduos. É através dela que o indivíduo se constrói.
“Assim, seja por razões políticas, seja por razões ligadas ao indivíduo, a educação” deve ser “vista
como um canal de acesso aos bens sociais e à luta política e, como tal, um caminho também de
emancipação do indivíduo diante da ignorância”.

No entanto, apesar dos avanços legais e das políticas públicas voltadas para a educação, ainda
existem muitos desafios a serem enfrentados no Brasil. A desigualdade de acesso à educação
persiste, especialmente entre as populações mais vulneráveis, como os moradores de áreas rurais, as
comunidades indígenas e os afrodescendentes. Além disso, a qualidade da educação oferecida nem
sempre atende aos padrões desejados, com escolas enfrentando problemas estruturais, falta de
recursos e formação inadequada de professores.

Para garantir o pleno exercício do direito à educação no Brasil, é necessário um compromisso


contínuo com políticas públicas que promovam a igualdade de oportunidades e o acesso equitativo à
educação de qualidade. Isso requer investimentos adequados em infraestrutura escolar, formação de
professores, desenvolvimento de currículos inclusivos e programas de combate à evasão escolar.
Além disso, é fundamental que haja uma participação ativa da sociedade civil na fiscalização e no
monitoramento das políticas educacionais, garantindo que os direitos de todos os cidadãos sejam
respeitados e protegidos.

Em resumo, o direito à educação no Brasil está intrinsecamente ligado à promoção da igualdade, da


inclusão, da justiça social e, sobretudo, da cidadania. Garantir o acesso universal e equitativo à
educação de qualidade é essencial para construir uma sociedade mais democrática, participativa e
próspera para todos os brasileiros.

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