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EDUCAÇÃO MÓDULO
POLÍTICA PARA
CIDADANIA
Cidadania participativa
na sociedade democrática
GABRIELLA BEZERRA
VIVIANE QUEIROZ
SUMÁRIO
1. Introdução......................................................................... 51
participação política........................................................... 58
Referências........................................................................ 62
N
este fascículo, vamos conhecer
sobre a cidadania participativa
na sociedade democrática con-
temporânea. Você vai conseguir
relacionar os sentidos da palavra cidadania
às reivindicações de um maior envolvimen-
to da sociedade com a política.
Ao reivindicarmos maior participação po-
lítica, também evidenciamos a necessidade
de práticas democráticas e cidadãs que não
fiquem restritas unicamente ao voto. Nosso
comprometimento com a política passa a ser
considerado, assim, um dever cívico. Entretan-
to, se não compreendermos as formas de agir,
a demanda por mais participação pode gerar
frustração e alcançar o objetivo contrário, ou
seja, gerar insatisfações com a democracia e
com as eleições. Para refletirmos sobre todas
essas questões, organizamos o texto em se-
ções com a seguinte sequência temática: a) O
conceito de cidadania na história política con-
temporânea; b) Estado nacional e sociedade
democrática; c) A democracia deliberativa e
participacionista; d) A cidadania brasileira na
emergência democrática; e) Novas práticas
democráticas e participação política. Institui-
ções de participação no âmbito municipal.
A
cidadania no mundo moderno vindicações e o controle das consequentes
funciona como uma forma de or- transformações não se deram sem disputas e
ganizar a inserção dos indivíduos conflitos. Como vimos no Fascículo 2, sobre o
em dada comunidade política. Estado e sua estrutura, os indivíduos divergem
Este conceito nos fala sobre nossa vincu- sobre as regras e as soluções para os proble-
lação cidadã ao conjunto da sociedade, à mas coletivos.
nação e ao sistema institucionalizado de Para sistematizar as principais fases desse
direitos e deveres. A ideia de Cidadania processo, recorremos às análises de Norberto
cumpre, portanto, uma dupla dimensão: Bobbio (2004), para quem os valores de um
de vinculação do indivíduo à comunidade, período podem ser compreendidos pelas re-
à sociedade em que vive, e de proteção e formulações e expressões no que é considera-
garantias individuais. do “Direito” . Assim, os chamados direitos civis
Nas palavras de Maria Izabel Sanches Cos- foram um passo importante para o reconheci-
ta e Aurea Maria Ianni, em livro de 2018: mento da proteção individual, para assinalar
que todos os indivíduos são iguais e para que
Cidadania é o status daqueles
nenhum poder possa interferir em nossa liber-
que são membros de uma comu-
dade. O Estado pode, por vezes, se desvirtuar
nidade e são por ela reconheci-
de suas atribuições e, com isso, podemos cor-
dos. É, também, o conjunto de di-
rer riscos que consideramos abusivos como,
reitos e deveres que um indivíduo
por exemplo, sermos presos injustamente e/
tem diante da sociedade da qual
ou não termos acesso a um julgamento justo.
faz parte. Historicamente e gene-
Com o desenrolar das disputas políticas,
ricamente, a cidadania tem uma
diversos grupos manifestaram insatisfação
referência espacial, constituída
com o desrespeito a alguns direitos conquis-
da relação dos indivíduos com um
tados e constituídos. Com essas manifesta-
dado território (organização socio-
ções, buscavam usufruir plenamente desses
política do espaço).
direitos. Tais reivindicações evidenciavam
Tal delimitação da Cidadania e seus objeti- que muitos direitos eram apenas formais ou
vos se deu em uma trajetória histórico-política não eram universalizados . Ou seja, somente
de formação do Estado e da emergência da certos grupos privilegiados eram respeitados
democracia e sua ampliação. Vejamos! pela legislação vigente.
De modo geral, os indivíduos têm reivin- Os direitos políticos e sociais se desen-
dicado a cidadania para transformar regimes volveram e passaram a ser considerados
excludentes, buscando assim democratizar o essenciais para o cumprimento dos direitos
acesso aos direitos de um Estado. Essas rei- individuais. Entre os direitos políticos en-
Efetividade da Cidadania
Direitos Sociais,
Direitos Coletivos Direitos Civis e Políticos
Econômicos e culturais
Pertencimento,
Manutenção e reprodução
Bens comuns. participação e controle
da vida.
social.
É
conhecida a música da banda Le- ao refletirem e proporem novas formas de
gião Urbana que apresenta uma participação dos(as) cidadãos(ãs).
crítica à nossa democracia a par- Quando falamos de Deliberação na de-
tir de seus déficits, chamada “Que mocracia, estamos a ressaltar e reivindicar
país é esse?”. Há também muitas imagens maior atenção às trocas de razões/argumen-
que retratam o slogan da bandeira nacio- tos no seu aspecto comunicativo, ou seja, a
nal invertida, outra tentativa de expressar o promoção de debates e diálogos entre os(as)
sentimento de descontentamento e revol- cidadãos(ãs). Isso implica conceber a demo-
ta. Em alguns momentos da história recen- cracia a partir da interação contínua, através
te do Brasil, esse descontentamento se ex- de várias formas de discurso público, incluin-
pressou na forma de manifestações de rua, do tanto a deliberação informal quanto às
como na chamada “Jornadas de Junho” , formas mais estruturadas de deliberação .
que ocorreram no ano de 2013. Já em relação à Participação , destaca-
No debate político, essas críticas foram -se a importância de ampliação dos espaços
se tornando alternativas na busca por solu- de participação social, para que as opiniões
ções para aprimorar o funcionamento da de- dos(as) cidadãos(ãs) sejam consideradas não
mocracia. A partir da década de 1970, esses apenas no processo eleitoral, mas em outros
argumentos ganharam força e começaram a momentos de produção da política pública.
surgir propostas de concretizar a participa- Para os(as) defensores(as) da ampliação
ção dos(as) cidadãos(ãs) em diversos níveis, dos espaços de deliberação e participação,
defendendo que democracia é participação existe um conjunto de benefícios para os in-
e não só representação, através da escolha divíduos, para a sociedade e para o Estado.
eleitoral (PATEMAN, 1992). As chamadas Segue o quadro com alguns deles: do trân-
democracia deliberativa e a participativa se sito etc (Veja alguns desses benefícios no
tornaram importantes fontes de renovação, quadro da p. 57).
A
transição democrática brasileira Neste cenário foi possível introduzir no concebidos e ampliados para outras áreas.
significou a saída de um sistema debate e no texto Constitucional ferramentas Citamos aqui iniciativas de destaque: as Con-
bipartidarista, sob controle do e práticas institucionais capazes de ampliar a ferências Nacionais, o Plano Diretor Municipal
regime militar, para o retorno à participação na gestão do Estado, como afir- e o Orçamento Participativo. Esse processo de
competição política livre e multipartidária. ma Enid Rocha: construção de novas arenas participativas tem
O processo de redemocratização brasileira, sido, especialmente no Brasil, um processo
Assim, a Constituição brasilei-
no período entre 1974 e 1988, marcado pelo intenso de aproximação entre atores sociais
ra, promulgada em 1988, acabou
retorno da competição eleitoral, também se e estatais. Conheça algumas das Instituições
absorvendo grande parte das
destacou pela reorganização dos movimen- Participativas na tabela da p. 59.
reivindicações do movimento de
tos sociais. Na luta inicialmente contra a
“Participação Popular na Consti-
ditadura e pelo restabelecimento da demo-
tuinte”, institucionalizando várias
cracia plena, os movimentos continuaram
formas de participação da socie-
organizados e produzindo sementes impor-
dade na vida do Estado, sendo que
tantes para o florescimento da democracia
a nova Carta Magna ficou conheci-
participativa no Brasil.
da como a “Constituição Cidadã”
Um momento-chave desse pelo fato de, entre outros avanços,
processo foi a Assembleia Cons- ter incluído em seu âmbito meca-
tituinte de 1988. Nas discussões nismos de participação no proces-
e processos decisórios da Nova so decisório federal e local. Com
Carta Constitucional brasileira, a referência à participação direta, a
efervescência dos movimentos so- Constituição destaca o referendo,
ciais permitiu que se considerasse o plebiscito e a iniciativa popular.
a cidadania plena e a participação (ROCHA, 2008).
social no desenho democrático.
Nesse momento, houve a neces- Com relação à democracia participati-
sidade de debater novas práticas va, a Constituição introduz o expediente dos
democráticas, o que influenciou Conselhos Gestores de Políticas Públicas, nos
um conjunto de movimentos, em níveis municipal, estadual e federal, nas áreas
especial: o associativismo comu- da saúde, educação e assistência social. Além
nitário, o movimento sanitarista disso, a Constituição Federal previu a partici-
de saúde, o movimento da refor- pação de associações da sociedade civil na
ma urbana e o ativismo da Igreja gestão municipal.
Católica (DAGNINO, 2002). Ao longo da nossa recente experiência de-
mocrática, novos espaços participativos foram
Para saber mais: Outros exemplos Comissões de políticas públicas; audiências públicas; ouvidorias públicas; defensoria
instâncias de participação social pública.
- Definições e transformações
Cidadania
- Direitos civis, políticos e sociais
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Debora; DOWBOR, Mônica. Para
além das fronteiras da especialização:
pontes analítico-teóricas dentre movi-
mentos sociais e instituições participati-
vas no Brasil em contexto de mudanças.
IN: BATISTA, Mariana; RIBEIRO, Ednaldo;
ARANTES, Rogério. As teorias e o caso. Edi-
tora UFABC, p. 15-58, 2021.
AVRITZER, Leonardo. Experiência demo-
crática, sistema político e participação
popular. São Paulo : Editora Fundação Per-
seu Abramo, 2013.
_______. Conferências nacionais: am-
pliando e redefinindo os padrões de par-
ticipação social no Brasil. No. 1739. Texto
para discussão, IPEA, 2012.
_______. (Org.). Experiências nacionais
de participação social. Belo Horizonte:
Cortez, 2010.