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RETA FINAL – UERJ

QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O poema a seguir foi adaptado do livro: Sonetos de Camões: Corpus dos Sonetos Camonianos*.

(*Edição e notas de Cleonice S. M. Berardinelli. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa,1980.)

SONETO III

Sete anos de pastor Jacob servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias na esperança de um só dia


Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel, lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


Lhe fora assim negada sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: — Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.

1. (Uerj 2022) Como se a não tivera merecida, (3ª estrofe)

O verso acima estabelece determinada relação de sentido com os dois versos que o antecedem.
Essa relação expressa sentido de:
a) modo
b) causa
c) finalidade
d) adversidade

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


CIVILIZAÇÃO
1A matéria saiu no New York Times, foi publicada na Folha de São Paulo; deveria ser bibliografia obrigatória do
ensino fundamental à pós-graduação, deveria ser colada aos postes, lançada de aviões, viralizada nas redes sociais,
impressa em santinhos, guardada na carteira, no bolso ou no sutiã e lida toda vez que a desilusão, o desespero, a
melancolia ou mesmo o tédio batesse na porta, batesse na aorta: “Para salvar Stradivarius, uma cidade inteira fica
em silêncio”.

Antonio Stradivari viveu entre 1644 e 1737 em Cremona, norte da Itália, cidadezinha que hoje conta com 72267
habitantes. Durante algumas décadas dos séculos XVII e XVIII, 2Stradivari produziu instrumentos de corda, como
violinos, cujos sons quase quatro séculos de conhecimento acumulado não foram capazes de igualar.

Por muito tempo permaneceu um mistério o que fazia aqueles instrumentos tão diferentes dos demais, fabricados
antes ou depois. Estudos recentes, porém, mostraram que, para além da artesania magistral do luthier*, um
tratamento químico dado à madeira, à época da fabricação, interfere na qualidade do som dos instrumentos.

O tempo de uso também entra na equação: a secura da madeira e a distância entre as fibras, causada pela oxidação,
são razões pelas quais, segundo o dr. Hwan-Ching Tai, autor de um estudo de 2016, 3“esses velhos violinos vibram
mais livremente, o que permite a eles expressar uma gama mais ampla de emoções”.

4Se é verdade que os violinos Stradivarius, como muitos vinhos, melhoraram com o tempo, é inexorável que, em
algum momento, avinagrem. Pois esse momento se aproxima: depois de quase quatrocentos anos espalhando a
melhor música que já foi ouvida, os violinos, violoncelos e violas de Cremona estão atingindo seu limite. 5Logo
estarão frágeis demais para serem tocados e serão, segundo Fausto Cacciatori, curador do Museu do Violino de
Cremona, “colocados para dormir”.
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Antecipando-se ao sono derradeiro, os moradores de Cremona criaram o Projeto Stradivarius. “Por cinco semanas,
quatro músicos, tocando dois violinos, uma viola e um violoncelo, farão centenas de escalas e arpejos, usando
técnicas diferentes com arcos, ou dedilhando as cordas”, sob “trinta e dois microfones de alta sensibilidade”. Três
engenheiros de som, trancados num quartinho à prova de qualquer ruído, no auditório do museu, gravarão cada uma
das centenas de milhares de variações sonoras, de modo que, no futuro, será possível compor músicas com o som
dos Stradivarius.

O projeto já estava quase saindo do papel em 2017 quando os idealizadores perceberam que o barulho em torno do
museu impossibilitaria as gravações. O prefeito de Cremona, então, permitiu que as ruas da região fossem fechadas
até que a última nota fosse imortalizada. A cidade calou-se e os Stradivarius começaram a cantar.

Até meados de fevereiro, os 72267 moradores da cidadezinha italiana deixarão de buzinar suas lambretas, “nonas”
evitarão gritar às janelas e amigos cochicharão pelas mesas dos cafés para que daqui a quatrocentos anos um
garoto em Cremona, Mumbai ou Reykjavik possa compor uma música com as notas únicas e inimitáveis saídas de
instrumentos feitos à mão por um homem que morreu quase um milênio antes de esse garoto nascer. 6Acho que é
disso que estamos falando quando falamos em civilização.

ANTONIO PRATA
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 27/01/2019.

* Luthier: profissional especializado em instrumentos de cordas.

2. (Uerj 2020) Para valorizar poeticamente os violinos, combinam-se duas figuras de linguagem, o eufemismo e a
personificação.

Essa combinação se encontra em:


a) Stradivari produziu instrumentos de corda, como violinos, cujos sons quase quatro séculos de conhecimento
acumulado não foram capazes de igualar. (ref. 2)
b) “esses velhos violinos vibram mais livremente, o que permite a eles expressar uma gama mais ampla de
emoções”. (ref. 3)
c) Se é verdade que os violinos Stradivarius, como muitos vinhos, melhoraram com o tempo, é inexorável que, em
algum momento, avinagrem. (ref. 4)
d) Logo estarão frágeis demais para serem tocados e serão, segundo Fausto Cacciatori, curador do Museu do Violino
de Cremona, “colocados para dormir”. (ref. 5)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O conto a seguir foi retirado do livro Hora de alimentar serpentes, de Marina Colasanti.

CENA ANTIGA

1Amanhece o dia entre neblinas, quando o Bem e o Mal 1se encontram para mais um duelo. Escolhem as armas nos
estojos, aproximam-se para o encontro ritual, encaram-se. Os padrinhos que aguardam ao lado do campo, escuros
como as gralhas que saltitam entre restolhos, são instados a partir. 3Que não haja testemunhas.

Afastados estes, Bem e Mal guardam as armas, se envolvem em suas capas e 4caminham até a taverna mais
próxima. Ali, frente a canecos cheios, discutirão estratégias e trocarão conselhos durante dias ou séculos, até o
próximo duelo.

3. (Uerj 2020) No conto de Marina Colasanti, Bem e Mal são ideias personificadas.

Essa personificação é identificada pela narração de:


a) ações
b) crenças
c) desejos
d) sentimentos

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

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O conto a seguir foi retirado do livro Hora de alimentar serpentes, de Marina Colasanti.

PARA COMEÇAR

Desejou ter a beleza de uma árvore frondosa tatuada nas costas, copa espraiada sobre os ombros. Temendo, porém,
o longo sofrimento imposto pelas agulhas, mandou tatuar na base da coluna, bem na base, a mínima semente.

4. (Uerj 2020) Na narrativa, o desejo inicial e a decisão final do personagem podem ser relacionados por meio da
seguinte figura de linguagem:
a) metonímia
b) hipérbole
c) antítese
d) ironia

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O conto a seguir foi retirado do livro Hora de alimentar serpentes, de Marina Colsanti.

PESCANDO NA MARGEM DO RIO

Era um homem muito velho, que cada manhã acordava certo de que aquela seria a última. E porque seria a última,
1pegava o caniço, a latinha de iscas, e ia pescar na beira do rio. As poucas pessoas que ainda se ocupavam dele

reclamaram, a princípio. 2Que aquilo era perigoso, que ficava muito só, que poderia ter um mal súbito. Depois,
considerando que um mal súbito seria solução para vários problemas, deixaram que fosse, e logo deixaram de
reparar quando ia. 3O velho entrou, assim, na categoria dos ausentes.

4Ausente para os outros, continuava docemente presente para si mesmo.

Ia ao rio com a alma fresca como a manhã. 5Demorava um pouco a chegar porque seus passos eram lentos, mas,
não tendo pressa alguma, o caminho lhe era só prazer. Não havia nada ali que não conhecesse, as pedras, as
poças, as árvores, e até o sapo que saltava na poça e as aves que cantavam nos galhos, tudo lhe era familiar. E
embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo, sabia-se bem-vindo.

O dia escorria mais lento que a água. Quando algum peixe tinha a delicadeza de morder o seu anzol, ele o limpava
ali mesmo, cuidadoso, e o assava sobre um fogo de gravetos. Quando nenhuma presença esticava a linha do caniço,
comia o pão que havia trazido, molhado no rio para não ferir as gengivas desguarnecidas.

À noite, em casa, ninguém lhe perguntava como havia sido o seu dia.

Fazia-se mais fraco, porém.

E chegou a manhã em que, debruçando-se sobre a água antes mesmo de prender a isca na barbela afiada, viu
faiscar um brilho novo. Apertou as pálpebras para ver melhor, não era um peixe. Movido pela correnteza, um anzol
bem maior do que o seu agitava-se, sem isca. Por mais que se esforçasse, não conseguiu ver a linha, enxergava
cada vez menos. Nem havia qualquer pescador por perto.

O velho não descalçou as sandálias, as pedras da margem eram ásperas.

Entrou na água devagar, evitando escorregar. Não chegou a perceber o frio, o tempo das percepções havia acabado.
Alongou-se na água, mordeu o anzol que havia vindo por ele, e deixou-se levar.

5. (Uerj 2020) Ausente para os outros, continuava docemente presente para si mesmo. (ref. 4)

Uma reformulação que mantém sentido equivalente ao da frase acima é:


a) Continuava docemente presente para si mesmo, porque ausente para os outros.
b) Continuava docemente presente para si mesmo, quando ausente para os outros.
c) Continuava docemente presente para si mesmo, embora ausente para os outros.
d) Continuava docemente presente para si mesmo, portanto ausente para os outros.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

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Soneto da hora final

Será assim, amiga: um certo dia


Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente.

Ao transpor as fronteiras do Segredo


Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: – Sê forte.

E como dois antigos namorados


Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.

MORAES, Vinícius de. Livro de Sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

6. (Uerj 2019) No título Soneto da hora final, para revelar o tema do poema, recorre-se à figura de linguagem
denominada:
a) eufemismo
b) metonímia
c) hipérbole
d) ironia

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


O HOMEM VELHO

O homem velho deixa a vida e morte para trás


Cabeça a prumo, segue rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais

A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol


As linhas do destino nas mãos a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de poesia, soul e rock’n’roll
As coisas migram e ele serve de farol

A carne, a arte arde, a tarde cai


No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fugaz
Do sexo das meninas

Luz fria, seus cabelos têm tristeza de néon


Belezas, dores e alegrias passam sem um som
Eu vejo o homem velho rindo numa curva do caminho de Hebron
E ao seu olhar tudo que é cor muda de tom

Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval


Espalham-no além da ilusão do seu ser pessoal
Mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que é imortal

CAETANO VELOSO
caetanoveloso.com.br

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7. (Uerj simulado 2018) A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol (v. 5)
Os filhos, filmes, ditos, livros como um vendaval (v. 17)

Os recursos expressivos presentes em cada um dos versos acima são, respectivamente:


a) aliteração − assíndeto
b) polissíndeto − antítese
c) hipérbole − eufemismo
d) personificação − metonímia

8. (Uerj simulado 2018) O homem velho é o rei dos animais (v. 4)


As coisas migram e ele serve de farol (v. 8)

As metáforas sublinhadas nos dois versos acima veiculam, respectivamente, as ideias de:
a) arrogância − magnitude
b) sabedoria − experiência
c) sagacidade − inspiração
d) imponência − orientação

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


NO MEIO DO CAMINHO

O homem ia andando e encontrou uma pedra no meio do caminho. Milhões de homens encontram uma
pedra no caminho e dela se esquecem. Um poeta, que talvez nunca tenha encontrado pedra nenhuma, que
fatalmente esqueceu muitas coisas, esqueceu caminhos que andou e pedras que não encontrou, fez um poema
dizendo que nunca esqueceria a pedra encontrada no meio do caminho.
1Se a rosa é uma rosa, a pedra deveria ser uma pedra, mas nem sempre é. No meu primeiro dia de escola,

da qual seria expulso por não saber falar o mínimo que se espera de uma criança, minha tia e madrinha, que nós
chamávamos de Doneta, mas tinha outro nome do qual me esqueci, levou-me pela mão em silêncio, e em silêncio ia
eu, sem saber o que representava o primeiro dia de escola.
Quando percebi o que seria aquilo – misturar-me a meninos estranhos e ferozes, ficar longe de casa e da
mão da minha tia e madrinha – entrei a espernear, aos berros – aos quais mais tarde renunciaria por inúteis.
Foi então que a tia e madrinha definiu a situação, dizendo com sabedoria: “São os abrolhos, meu filho”.
Sim, os abrolhos começaram e até hoje não acabaram. Não sei bem o que é um abrolho, mas deve ser uma
pedra no caminho da gente. A diferença mais substancial é que bastou uma pedra no meio do caminho para que um
poeta dela não se esquecesse.
Não sendo poeta, não me lembro de ter topado com pedra nenhuma no meio do caminho. Mas, em matéria
de abrolhos, sou douto. Mesmo não sabendo em que consiste um abrolho.
Como disse acima, tiraram-me daquele abrolho inicial porque não sabia falar. Aprendi a escrever mal e
porcamente, e os abrolhos vieram em legião. Faço força para esquecê-los, mas volta e meia penso que seria melhor
encontrar uma pedra no meio do caminho.

CARLOS HEITOR CONY


Folha de São Paulo, 05/05/2002.

9. (Uerj simulado 2018) Se a rosa é uma rosa, a pedra deveria ser uma pedra, (ref. 1)

O trecho sublinhado se articula com o anterior expressando valor de:


a) conclusão
b) finalidade
c) proporção
d) conformidade

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


COM O OUTRO NO CORPO, O ESPELHO PARTIDO

O que acontece com o sentimento de identidade de uma pessoa que se depara, diante do espelho, com um

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rosto que não é seu? Como é possível manter a convicção razoavelmente estável que nos acompanha pela vida, a
respeito do nosso ser, no caso de sofrermos uma alteração radical em nossa imagem? Perguntas como essas
provocaram intenso debate a respeito da ética médica depois do transplante de parte da face em uma mulher que
teve o rosto desfigurado por seu cachorro em Amiens, na França.
Nosso sentimento de permanência e unidade se estabelece diante do espelho, a despeito de todas as
mudanças que o corpo sofre ao longo da vida. A criança humana, em um determinado estágio de maturação,
identifica-se com sua imagem no espelho. Nesse caso, um transplante (ainda que parcial) que altera tanto os traços
fenotípicos quanto as marcas da história de vida inscritas na face destruiria para sempre o sentimento de identidade
do transplantado? Talvez não. 1Ocorre que o poder do espelho – esse de vidro e aço pendurado na parede – não é
tão absoluto: o espelho que importa, para o humano, é o olhar de um outro humano. 2A cultura contemporânea do
narcisismo*, ao remeter as pessoas a buscar continuamente o testemunho do espelho, não considera que 3o espelho
do humano é, antes de mais nada, o olhar do semelhante.
É o reconhecimento do outro que nos confirma que existimos e que somos (mais ou menos) os mesmos ao
longo da vida, na medida em que as pessoas próximas continuam a nos devolver nossa “identidade”. O rosto é a
sede do olhar que reconhece e que também busca reconhecimento. 4É que o rosto não se reduz à dimensão da
imagem: ele é a própria presentificação de um ser humano, em sua singularidade irrecusável. 5Além disso, dentre
todas as partes do corpo, o rosto é a que faz apelo ao outro. 6A parte que se comunica, expressa amor ou ódio e,
sobretudo, demanda amor.
7A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. O personagem Robinson Crusoé do

livro Sexta-feira ou os limbos do Pacífico, de Michel Tournier, perde a noção de sua identidade e enlouquece, na falta
do olhar de um semelhante que lhe confirme que ele é um ser humano. No início do romance, o náufrago solitário
tenta fazer da natureza seu espelho. Faz do estranho, familiar, trabalhando para “civilizar” a ilha e representando
diante de si mesmo o papel de senhor sem escravos, mestre sem discípulos. Mas depois de algum tempo o
isolamento degrada sua humanidade.
8A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a recomposição de uma face humana, ainda que não seja

a “sua”, vai agora depender de um esforço de tolerância e generosidade por parte dos que lhe são próximos.
Parentes e amigos terão de superar o desconforto de olhar para ela e não encontrar a mesma de antes. Diante de
um rosto outro, deverão ainda assim confirmar que ela continua sendo ela. E amar a mulher estranha a si mesma
que renasceu daquela operação.

MARIA RITA KEHL


Adaptado de folha.uol.com.br, 11/12/2005.

*narcisismo − amor do indivíduo por sua própria imagem

10. (Uerj 2018) É que o rosto não se reduz à dimensão da imagem: ele é a própria presentificação de um ser
humano, em sua singularidade irrecusável. (ref. 4)

Em relação à declaração feita antes dos dois-pontos, o trecho sublinhado possui valor de:
a) condição
b) conclusão
c) explicação
d) comparação

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


Pietro Brun, meu tetravô paterno, embarcou em um navio no final do século 19, como tantos italianos pobres,
em busca de uma utopia que atendia pelo nome de América. Pietro queria terra, sim. Mas o que o movia era um
território de outra ordem. Ele queria salvar seu nome, encarnado na figura de meu bisavô, Antônio. Pietro fora
obrigado a servir o exército como soldado por anos demais (...). 1Havia chegado a hora de Antônio se alistar, e o pai
decidiu que não perderia seu filho. Fugiu com ele e com a filha Luigia para o sul do Brasil. 2Como desertava, meu
bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se afastava do porto de Gênova. Embarcou como
clandestino.
Ao desembarcar no Brasil, em 10 de fevereiro de 1883, Pietro declarou o nome completo. O funcionário do
Império, como aconteceu tantas e tantas vezes, registrou-o conforme ouviu. Tornando-o, no mundo novo, Brum –
com “m”. Meu pai, Argemiro, filho de José, neto de Antônio e bisneto de Pietro, tomou para si a missão de resgatar
essa história e documentá-la.
3No início dos anos 1990 cogitamos reivindicar a cidadania italiana. Possuímos todos os documentos,

organizados numa pasta. 4Mas entre nós existe essa diferença na letra. 5Antes de ingressar com a documentação,
seria preciso corrigir o erro do burocrata do governo imperial que substituiu um “n” por um “m”. 6Um segundo ele deve
ter demorado para nos transformar, e com certeza morreu sem saber. E, se soubesse, não teria se importado, porque
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era apenas o nome de mais um imigrante a bater nas costas do Brasil despertencido de tudo.
Cabia a mim levar essa empreitada adiante.
Há uma autonomia na forma como damos carne ao nosso nome com a vida que construímos – e não com a
que herdamos. (...) Eu escolho a memória. A desmemória assombra porque não a nomeamos, respira em nossos
porões como monstros sem palavras. A memória, não. É uma escolha do que esquecer e do que lembrar – e uma
oportunidade de ressignificar o passado para ganhar um futuro. 7Pela memória nos colocamos não só em
movimento, mas nos tornamos o próprio movimento. Gesto humano, para sempre incompleto.
8Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais

era um membro fantasma, um ganho que revelava uma perda.


(...)
9Quando Pietro Brun atravessou o mar deixando mortos e vivos na margem que se distanciou, ele não

poderia ser o mesmo ao alcançar o outro lado. 10Ele tinha de ser outro, assim como nós, que resultamos dessa
aventura desesperada. Era imperativo que ele fosse Pietro Brum – e depois até Pedro Brum.

ELIANE BRUM
Meus desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras. São Paulo: LeYa, 2014.

11. (Uerj 2017) Como desertava, meu bisavô Antônio foi levado em um bote até o navio que já se afastava do porto
de Gênova. (ref. 2)

O trecho sublinhado estabelece com o restante da frase o sentido de:


a) causa
b) conclusão
c) concessão
d) conformidade

12. (Uerj 2017) Releia o trecho abaixo para responder à questão.

Ao fugir para o Brasil, metade dos Brun ganhou uma perna a mais. O “n” virou “m”. Mas essa perna a mais era um
membro fantasma, um ganho que revelava uma perda. (ref. 8)

A autora associa a troca de letras no registro do sobrenome de seu tetravô à expressão um membro fantasma.

Essa associação constrói um exemplo da figura de linguagem denominada:


a) antítese
b) metáfora
c) hipérbole
d) eufemismo

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O passado anda atrás de nós
como os detetives os cobradores os ladrões
o futuro anda na frente
como as crianças os guias de montanha
os maratonistas melhores
do que nós
salvo engano o futuro não se imprime
como o passado nas pedras nos móveis no rosto
das pessoas que conhecemos
o passado ao contrário dos gatos
não se limpa a si mesmo
aos cães domesticados se ensina
a andar sempre atrás do dono
mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem
pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro
este besouro este vulcão este despenhadeiro
à frente de nós à frente deles
corre o cão

ANA MARTINS MARQUES


O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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13. (Uerj 2017) Nos versos de 1 a 6, a poeta vale-se de um recurso para caracterizar tanto o passado quanto o
futuro.

Esse recurso consiste na construção de:


a) índices de ironia
b) escala de gradações
c) relações de comparação
d) sequência de personificações

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Era a primeira vez que as duas iam ao morro do Castelo. Começaram a subir pelo lado da Rua do Carmo.
Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os
pés. Nem todos podem dizer que conhecem uma cidade inteira. Um velho inglês, que aliás andara terras e terras,
confiava-me há muitos anos em Londres que de Londres só conhecia bem o seu clube, e era o que lhe bastava da
metrópole e do mundo.
Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de Botafogo, mas o morro do Castelo, por mais que
ouvissem falar dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes tão estranho e remoto como o clube. 1O íngreme,
o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas. Não obstante, 2continuavam a subir,
como se fosse penitência, devagarinho, cara no chão, véu para baixo. A manhã trazia certo movimento; mulheres,
homens, crianças que desciam ou subiam, lavadeiras e soldados, algum empregado, algum lojista, algum padre,
todos olhavam espantados para elas, que aliás vestiam com grande simplicidade; mas há um 3donaire que se não
perde, e não era vulgar naquelas alturas. 4A mesma lentidão no andar, comparada à rapidez das outras pessoas,
fazia desconfiar que era a primeira vez que ali iam. (...)
Com efeito, as duas senhoras buscavam disfarçadamente o número da casa da cabocla, até que deram com
ele. A casa era como as outras, trepada no morro. 5Subia-se por uma escadinha, estreita, sombria, adequada à
aventura. Quiseram entrar depressa, mas esbarraram com dous sujeitos que vinham saindo, e coseram-se ao portal.
6Um deles perguntou-lhes familiarmente se iam consultar a adivinha.

– Perdem o seu tempo, concluiu furioso, e hão de ouvir muito disparate...


– É mentira dele, emendou o outro, rindo; a cabocla sabe muito bem onde tem o nariz.
Hesitaram um pouco; mas, logo depois advertiram que as palavras do primeiro eram sinal certo da vidência e
da franqueza da adivinha; nem todos teriam a mesma sorte alegre. A dos meninos da Natividade podia ser miserável,
e então... Enquanto cogitavam passou fora um carteiro, que as fez subir mais depressa, para escapar a outros olhos.
7Tinham fé, mas tinham também vexame da opinião, como um devoto que se benzesse às escondidas.

Velho caboclo, pai da adivinha, conduziu as senhoras à sala. (...)


– Minha filha já vem, disse o velho. As senhoras como se chamam?
(...)
A falar verdade, temiam o seu tanto, Perpétua menos que Natividade. A aventura parecia audaz, e algum
perigo possível. Não ponho aqui os seus gestos; imaginai que eram inquietos e desconcertados. Nenhuma dizia
nada. Natividade confessou depois que tinha um nó na garganta. Felizmente, a cabocla não se demorou muito; ao
cabo de três ou quatro minutos, o pai a trouxe pela mão, erguendo a cortina do fundo.

3donaire - elegância

MACHADO DE ASSIS.
Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.

14. (Uerj 2017) O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira mortificavam os pés às duas pobres donas. (ref. 1)

Nessa frase, um recurso de linguagem é utilizado para reforçar o incômodo das personagens.

Esse recurso é denominado:


a) paráfrase
b) gradação
c) eufemismo
d) exemplificação

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

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DICIONÁRIO FEITO POR CRIANÇAS REVELA UM MUNDO QUE OS ADULTOS NÃO ENXERGAM MAIS

Em abril, aconteceu a Feira do Livro de Bogotá, e um dos maiores sucessos foi um livro chamado Casa das estrelas:
o universo contado pelas crianças. Nele, há um dicionário com mais de 500 definições para 133 palavras, de A a Z,
feitas por crianças.

1O curioso deste “dicionário infantil” é como as crianças definem o mundo através daquilo que os adultos já não
conseguem perceber. O autor do livro é o professor Javier Naranjo, que compilou informações ao longo de dez anos
durante as aulas. Ele conta que a ideia surgiu quando ele pediu aos seus alunos para definirem a palavra “criança”, e
uma das respostas que lhe chamou atenção foi: 2“uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum
e vai dormir cedo”.

Veja outros verbetes do livro e as idades das crianças que os definiram:


- 3Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma. (Andrés, 8 anos)
- Água: transparência que se pode tomar. (Tatiana, 7 anos)
- 4Branco: o branco é uma cor que não pinta. (Jonathan, 11 anos)
- 5Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro, somente seus filhos. (Luis, 8 anos)
- 6Céu: de onde sai o dia. (Duván, 8 anos)
- Dinheiro: coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos. (Ana María, 12
anos)
- 7Escuridão: é como o frescor da noite. (Ana Cristina, 8 anos)
- 8Guerra: gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz. (Juan Carlos, 11 anos)
- Inveja: atirar pedras nos amigos. (Alejandro, 7 anos)
- 9Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (Juan, 6 anos)
- 10Paz: quando a pessoa se perdoa. (Juan Camilo, 8 anos)
- Solidão: tristeza que dá na pessoa às vezes. (Iván, 10 anos)
- Tempo: coisa que passa para lembrar. (Jorge, 8 anos)
- 11Universo: casa das estrelas. (Carlos, 12 anos)

André Fantin
Adaptado de repertoriocriativo.com.br, 22/05/2013.

15. (Uerj 2016) Uma afirmação paradoxal contém alguma contradição interna.
Um exemplo de afirmação paradoxal é identificado em:
a) Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma. (ref. 3)
b) Guerra: gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz. (ref. 8)
c) Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (ref. 9)
d) Paz: quando a pessoa se perdoa. (ref. 10)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM

16. (Uerj 2016) O personagem presente no último quadrinho é um ácaro, um ser microscópico. Suas falas têm
relação direta com seu tamanho. No contexto, é possível compreender a imagem do personagem como uma
metonímia.
Essa metonímia representa algo que se define como:
a) invisível
b) expressivo
c) inexistente
d) contraditório

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


A ARTE DE ENGANAR

Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recorda que, na era vitoriana, era proibido mencionar “calças”
na presença de uma jovem. Hoje em dia, diz ele, não cai bem utilizar certas expressões perante a opinião pública: “O
capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado; imperialismo se chama globalização; suas vítimas se
chamam países em via de desenvolvimento; oportunismo se chama pragmatismo; 1despedir sem indenização nem
explicação se chama flexibilização laboral” etc.
A lista é longa. Acrescento os inúmeros preconceitos que carregamos: ladrão é sonegador; lobista é
consultor; 2fracasso é crise; especulação é derivativo; latifúndio é agronegócio; desmatamento é investimento rural;
lavanderia de dinheiro escuso é paraíso fiscal; 3acumulação privada de riqueza é democracia; socialização de bens é
ditadura; governar a favor da maioria é populismo; tortura é constrangimento ilegal; invasão é intervenção; 4peste é
pandemia; 5magricela é anoréxica.
Eufemismo é a arte de dizer uma coisa e acreditar que o público escuta ou lê outra. É um jeitinho de
escamotear significados. De tentar encobrir verdades e realidades.
Posso admitir que pertenço à terceira idade, embora esteja na cara: sou velho. 6Ora, poderia dizer que sou
seminovo! Como carros em revendedoras de veículos. Todos velhos! Mas o adjetivo seminovo os torna mais
vendáveis.
Coitadas das palavras! Elas 7são distorcidas para que a realidade, escamoteada, permaneça como está. Não
conseguem, contudo, escapar da luta de classes: pobre é ladrão, 8rico é corrupto.
Pobre é viciado, rico é dependente químico.
Em suma, eufemismo é um truque semântico para tentar amenizar os fatos.

Frei Betto
Adaptado de O Dia, 21/03/2015.

17. (Uerj 2016) Na produção do humor, traço típico da crônica, o autor combina eufemismos com outros recursos ou
figuras de linguagem.
O exemplo em que o humor é produzido por meio da superposição entre um eufemismo e uma comparação entre
elementos distintos é:
a) despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral (ref. 1)
b) acumulação privada de riqueza é democracia; (ref. 3)
c) Ora, poderia dizer que sou seminovo! (ref. 6)
d) são distorcidas para que a realidade, escamoteada, permaneça como está. (ref. 7)

18. (Uerj 2016) Em sua origem grega, o termo “eufemismo” significa “palavra de bom agouro” ou “palavra que deseja
o bem”. Como figura de linguagem, indica um recurso que suaviza alguma ideia ou expressão mais chocante.
Na crônica, o autor enfatiza o aspecto negativo dos eufemismos, que serviriam para distorcer a realidade.
De acordo com o autor, o eufemismo camufla a desigualdade social no seguinte exemplo:
a) fracasso é crise (ref. 2)
b) peste é pandemia (ref. 4)
c) magricela é anoréxica (ref. 5)
d) rico é corrupto (ref. 8)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A PRESSA DE ACABAR

Evidentemente nós sofremos agora em todo o mundo de uma dolorosa moléstia: a pressa de acabar. Os
nossos avós nunca tinham pressa. Ao contrário. Adiar, aumentar, era para eles a suprema delícia. Como os relógios,

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nesses tempos remotos, não eram maravilhas de precisão, os 1homens mediam os dias com todo o cuidado da
atenção.
Sim! Em tudo, 2essa estranha pressa de acabar se ostenta como a marca do século. Não há mais livros
definitivos, quadros destinados a não morrer, ideias imortais. Trabalha-se muito mais, pensa-se muito mais, ama-se
mesmo muito mais, apenas sem fazer a digestão e sem ter tempo de a fazer.
Antigamente as horas eram entidades que os homens conheciam imperfeitamente. Calcular a passagem das
horas era tão complicado como calcular a passagem dos dias. 3Inventavam-se relógios de todos os moldes e formas.
4Hoje, nós somos escravos das horas, dessas senhoras inexoráveis* que não cedem nunca e cortam o dia

da gente numa triste migalharia de minutos e segundos. Cada hora é para nós distinta, pessoal, característica,
porque cada hora representa para nós o acúmulo de várias coisas que nós temos pressa de acabar. O relógio era um
objeto de luxo. Hoje até os mendigos usam um marcador de horas, porque têm pressa, pressa de acabar.
O homem mesmo será classificado, afirmo eu já com pressa, como o Homus cinematographicus. 5Nós somos
uma delirante sucessão de fitas cinematográficas. Em meia hora de sessão tem-se um espetáculo multiforme e
assustador cujo título geral é: Precisamos acabar depressa.
6O homem de agora é como a multidão: ativo e imediato. Não pensa, faz; não pergunta, obra; não reflete,

julga.
7O homem cinematográfico resolveu a suprema insanidade: encher o tempo, atopetar o tempo, abarrotar o

tempo, paralisar o tempo para chegar antes dele. Todos os dias (dias em que ele não vê a beleza do sol ou do céu e
a doçura das árvores porque não tem tempo, diariamente, nesse número de horas retalhadas em minutos e
segundos que uma população de relógios marca, registra e desfia), o pobre diabo 8sua, labuta, desespera com os
olhos fitos nesse hipotético poste de chegada que é a miragem da ilusão.
Uns acabam pensando que encheram o tempo, que o mataram de vez. Outros desesperados vão para o
hospício ou para os cemitérios. A corrida continua. E o Tempo também, o Tempo insensível e incomensurável, o
Tempo infinito para o qual todo o esforço é inútil, o Tempo que não acaba nunca! É satanicamente doloroso. Mas que
fazer?

RIO, João do. Adaptado de Cinematógrafo: crônicas cariocas. Rio de Janeiro: ABL, 2009.

* inexoráveis − que não cedem, implacáveis

19. (Uerj 2016) Hoje, nós somos escravos das horas, dessas senhoras inexoráveis que não cedem nunca (ref.
4)
Neste fragmento, o autor emprega uma figura de linguagem para expressar o embate entre o homem e o tempo.
Essa figura de linguagem é conhecida como:
a) ironia
b) hipérbole
c) eufemismo
d) personificação

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

20. (Uerj 2016) A internet é um tribunal...


A afirmação acima configura um exemplo de metáfora.
A partir da análise desse exemplo, pode-se definir “metáfora” como:
a) alusão negativa

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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
b) simbologia crítica
c) representação parcial
d) comparação subentendida

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O FUTURO ERA LINDO

A informação seria livre. Todo o saber do mundo seria compartilhado, bem como a música, o cinema, a
literatura e a ciência. O custo seria zero. O espaço seria infinito. A velocidade, estonteante. A solidariedade e a
colaboração seriam os valores supremos. A criatividade, o único poder verdadeiro. O bem triunfaria sobre os males
do capitalismo. O sistema de representação se tornaria obsoleto. Todos os seres humanos teriam oportunidades
iguais em qualquer lugar do planeta. Todos seriam empreendedores e inventivos. Todos poderiam se expressar
livremente. Censura, nunca mais. As fronteiras deixariam de existir. As distâncias se tornariam irrelevantes. O
inimaginável seria possível. O sonho, qualquer sonho, poderia se tornar realidade.
1Livre, grátis, inovador, coletivo, palavras-chave do novo mundo que a internet inaugurou. Por anos

esquecemos que a internet foi uma invenção militar, criada para manter o poder de quem já o tinha. Por anos
fingimos que transformar produtos físicos em produtos virtuais era algo ecologicamente correto, esquecendo que a
fabricação de computadores e celulares, com a obsolescência embutida em seu DNA, demanda o consumo de
quantidades vexatórias de combustíveis fósseis, de produtos químicos e de água, sem falar no volume assombroso
de lixo não reciclado em que resultam, incluindo lixo tóxico.
2Ninguém imaginou que o poder e o dinheiro se tornariam tão concentrados em megahipercorporações norte-

americanas como o Google, que iriam destruir para sempre tantas indústrias e atividades em tão pouco tempo.
Ninguém previu que os mesmos Estados Unidos, graças às maravilhas da internet sempre tão aberta e juvenil, se
consolidariam como os maiores espiões do mundo, humilhando potências como a Alemanha e também o Brasil,
impondo os métodos de sua inteligência militar sobre a população mundial, e guiando ao arrepio da justiça os bebês
engenheiros nota dez em matemática mas ignorantes completos em matéria de ética, política e em boas maneiras.
3Ninguém previu a febre das notícias inventadas, a civilização de perfis falsos, as enxurradas de vírus, os

arrastões de números de cartão de crédito, a empulhação dos resultados numéricos falseados por robôs ou gerados
por trabalhadores mal pagos em países do terceiro mundo, o fim da privacidade, o terrorismo eletrônico, inclusive de
Estado.

Marion Strecker
Adaptado de Folha de São Paulo, 29/07/2014.

21. (Uerj 2016) Ninguém imaginou que o poder e o dinheiro se tornariam tão concentrados em
megahipercorporações norte-americanas como o Google, que iriam destruir para sempre tantas indústrias e
atividades (ref. 2)
O vocábulo tão, associado ao conectivo que, estabelece uma relação coesiva de:
a) concessão
b) explicação
c) consequência
d) simultaneidade

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A EDUCAÇÃO PELA SEDA

Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.
Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar.
Rosa Amanda Strausz
Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.

22. (Uerj 2016) Os conceitos a vestiram como uma segunda pele,


O vocábulo a é comumente utilizado para substituir termos já enunciados. No texto, entretanto, ele tem um uso
incomum, já que permite subentender um termo não enunciado.
Esse uso indica um recurso assim denominado:
a) elipse
b) catáfora
c) designação
d) modalização

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O ARRASTÃO

Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em dizer o
sentimento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, como tantos, que cuida de
quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho às quatro e meia das manhãs de todas as semanas, que
administra com o marido um ganho de mil e seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões de
trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como
carga no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, pelo asfalto
do Rio.
Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados dos policiais.1Todas as vozes terão que ser
ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes das versões, o fato é que esse
porta-malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que está acostumado a existir na sombra.
O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas não se abrisse como abriu (por obra do
acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. 2Ele está dizendo: seria uma morte anônima,
3aplainada pela surdez da 4praxe, pela invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras.
5É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora da realidade, mas porque destampa, por um

“acaso objetivo” (a expressão era usada pelos 6surrealistas), uma cena 7recalcada da consciência nacional, com tudo
o que tem de violência naturalizada e corriqueira, tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao
cúmulo, ignorância bruta transformada em trapalhada 8transcendental, além de um índice grotesco de métodos de
camuflagem e desaparição de pessoas. 9Pois assim como 10Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não
faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o
reverso do mesmo.
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos ver no caso do desaparecimento de
Amarildo. A sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que escondemos. 11Aquele carro é
o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico
do Brasil.

José Miguel Wisnik


Adaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014.

3 aplainada − nivelada
4 praxe − prática, hábito
6 surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20 que enfatiza o papel do inconsciente
7 recalcada − fortemente reprimida
8 transcendental − que supera todos os limites
10 Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por

policiais

23. (Uerj 2015) Pois assim como Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito tempo,
Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do
mesmo. (ref. 9)

Neste trecho, para aproximar dois casos recentemente noticiados na imprensa, o autor emprega um recurso de
linguagem denominado:
a) antítese
b) negação
c) metonímia
d) personificação

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Medo e vergonha

3O medo é um evento poderoso que toma o nosso corpo, nos põe em xeque, paralisa alguns e atiça a
criatividade de outros. Uma pessoa em estado de pavor é dona de uma energia extra capaz de feitos incríveis.
Um amigo nosso, quando era adolescente, aproveitou a viagem dos pais da namorada para ficar na casa
dela. Os pais voltaram mais cedo e, pego em flagrante, nosso Romeu teve a brilhante ideia de pular, pelado, do
segundo andar. Está vivo. Tem hoje essa incrível história pra contar, mas deve se lembrar muito bem da vergonha.
4Me lembrei dessa história por conta de outra completamente diferente, mas na qual também vi meu medo

me deixar em maus lençóis.


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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
Estava caminhando pelo bairro quando resolvi explorar umas ruas mais desertas. 5De repente, vejo um
menino encostado num muro. Parecia um menino de rua, tinha seus 15, 16 anos e, quando me viu, fixou o olhar e
apertou o passo na minha direção. Não pestanejei. Saí correndo. Correndo mesmo, na mais alta performance de
minhas pernas.
No meio da corrida, comecei a pensar se ele iria mesmo me assaltar. Uma onda de vergonha foi me
invadindo. O rapaz estava me vendo correr. E se eu tivesse me enganado? E se ele não fosse fazer nada? Mesmo
que fosse. Ter sido flagrada no meu medo e preconceito daquela forma já me deixava numa desvantagem
fulminante.
Não sou uma pessoa medrosa por excelência, mas, naquele dia, o olhar, o gesto, alguma coisa no rapaz
acionou imediatamente o motor de minhas pernas e, quando me dei conta, já estava em disparada.
Fui chegando ofegante a uma esquina, os motoristas de um ponto de táxi me perguntaram o que tinha
acontecido e eu, um tanto constrangida, disse que tinha ficado com medo. Me contaram que ele vivia por ali,
tomando conta dos carros. Fervi de vergonha.
O menino passou do outro lado da rua e, percebendo que eu olhava, imitou minha corridinha, fazendo um
gesto de desprezo. Tive vontade de sentar na 1guia e chorar. Ele só tinha me olhado, e o resto tinha sido produto
legítimo do meu preconceito.
Fui atrás dele. Não consegui carregar tamanha 2bigorna pra casa. “Ei!” Ele demorou a virar. Se eu pensava
que ele assaltava, 6ele também não podia imaginar que eu pedisse desculpas. Insisti: “Desculpa!” Ele virou. 7Seu
olhar agora não era mais de ladrão, e sim de professor. Me perdoou com um sinal de positivo ainda cheio de
desprezo. Fui pra casa pelada, igual ao Romeu suicida.

Denise Fraga
folha.uol.com.br, 08/01/2013

1 guia − meio-fio da calçada


2 bigorna − bloco de ferro para confecção de instrumentos

24. (Uerj 2015) Na última frase da crônica, a autora correlaciona dois episódios. Em ambos, aparece o atributo
“pelado(a)”. No entanto, esse atributo tem significado diferente em cada um dos episódios.
No texto, o significado de cada termo se caracteriza por ser, respectivamente:
a) literal e figurado
b) geral e particular
c) descritivo e irônico
d) ambíguo e polissêmico

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


CANÇÃO DO VER

Fomos rever o poste.


O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
e de esconder.
1Agora ele estava tão verdinho!

O corpo recoberto de limo e borboletas.


Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos2 de passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém
que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.

Manoel de Barros
Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

2 arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas


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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM

25. (Uerj 2015) No poema, o poste é associado à própria vida do eu poético.


Nessa associação, a imagem do poste se constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
a) anáfora
b) metáfora
c) sinonímia
d) hipérbole

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


BEM NO FUNDO

1no fundo, no fundo,


bem lá no fundo,
2a gente gostaria

de ver 3nossos problemas


resolvidos por decreto

a partir desta data,


aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela − silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,


maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,


problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.

26. (Uerj 2015) no fundo, no fundo,


bem lá no fundo, (ref. 1)

Nesses versos iniciais do poema, a repetição de palavras e o emprego do vocábulo “bem” produzem um efeito de:
a) ênfase
b) eufemismo
c) enumeração
d) ambiguidade

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


SEPARAÇÃO

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente
irremediável. 1No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta 2sentiu que 14nada poderia evitar a
reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é a história do mundo. 10Ela o olhava com
um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse
e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
(...)
Seus olhares 4fulguraram por um instante um contra o outro, depois se 5acariciaram ternamente e,
finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. 6Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a
porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar2 aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o brusco
movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se
poder mover do lugar, 11sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como
um rio que nasce.

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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
17Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele

separada por imperativos categóricos3 de suas vidas, 12não lhe dava forças para desprender-se dela. 8Sabia que era
aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais
terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de
viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, 9distanciar-se dela cada vez mais, cada vez
mais. 18E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina,
mas a dela, a mulher amada, aquela que ele 7abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de
seus corpos. Tentou 3imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas
cogitações próprias − um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
13De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

MORAIS, Vinícius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986.

27. (Uerj 2015) A hipérbole é uma figura empregada na crônica de Vinícius de Morais para caracterizar o estado de
ânimo do personagem.

Essa figura está exemplificada em:


a) Ela o olhava com um olhar intenso, (ref. 10)
b) sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo (ref. 11)
c) não lhe dava forças para desprender-se dela. (ref. 12)
d) De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, (ref. 13)

28. (Uerj 2015) Uma metáfora pode ser construída pela combinação entre elementos abstratos e concretos.

No texto, um exemplo de metáfora que se constrói por esse tipo de combinação é:


a) como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, (ref. 15)
b) o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, (ref. 16)
c) Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, (ref. 17)
d) E no entanto ali estava, a poucos passos, (ref. 18)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Fotojornalismo

12Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça.

Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo dos pés… Um exército rival vem
solapando os alicerces em que até agora assentava a nossa supremacia: é o exército dos desenhistas, dos
caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena: 1ceci tuera cela.
13O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões

profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem descanso. Quem não se apressar com ela será
arrebatado, esmagado, exterminado. 8O século não tem tempo a perder. A eletricidade já suprimiu as distâncias:
daqui a pouco, quando um europeu espirrar, ouvirá 2incontinenti o “Deus te ajude” de um americano. 17E ainda a
ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com
dezoito anos, aptos e armados para todas as batalhas da existência.
9Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas, que entram pelos olhos

da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são curtas e incisivas: 18toda a explicação vem da gravura,
que conta conflitos e mortes, casos alegres e casos tristes.
É provável que o jornal-modelo do século 20 seja um imenso 3animatógrafo, por cuja tela vasta passem
reproduzidos, instantaneamente, todos os incidentes da vida cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que
as expliquem, não poderão doutrinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela ideia política.
Puro engano. Haverá ilustradores para a sátira, ilustradores para a piedade.
(...) Demais, 19nada impede que seja anexado ao animatógrafo um gramofone de voz 4tonitruosa,
encarregado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das fotografias.
E convenhamos que, no dia em que nós, cronistas e noticiaristas, houvermos desaparecido da cena – nem
por isso se subverterá a ordem social. 14As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. A pena nem sempre é ajudada
pela inteligência; ao passo que 20a máquina fotográfica funciona sempre sob a 5égide da soberana Verdade, a
coberto das inumeráveis ciladas da Mentira, do Equívoco e da Miopia intelectual. 21Vereis que não hão de ser tão
frequentes as controvérsias…
(...)
Não insistamos sobre os benefícios da grande revolução que a fotogravura vem fazer no jornalismo.
Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a utilidade de evitar que nossas opiniões fiquem, como
atualmente ficam, fixadas e conservadas eternamente, para 6gáudio dos inimigos… Qual de vós, irmãos, não escreve
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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
todos os dias quatro ou cinco tolices que desejariam ver apagadas ou extintas? Mas, ai! de todos nós! 15Não há
morte para as nossas tolices! 16Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas.
(...)
No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a revolução, que vai ser a nossa morte e a 7opulência dos que
sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos, sem lamentações ridículas, 10aceitando resignadamente a
fatalidade das coisas, e consolando-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, 11não mais seremos
obrigados a escrever barbaridades…
Saudemos a nova era da imprensa! A revolução tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a
consciência.

Olavo Bilac
Gazeta de Notícias, 13/01/1901.

1 ceci tuera cela − isto vai matar aquilo


2 incontinenti − sem demora
3 animatógrafo − aparelho que passa imagens sequenciais
4 tonitruosa − com o volume alto
5 égide − proteção
6 gáudio − alegria extremada
7 opulência − riqueza, grandeza

29. (Uerj 2014) Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira
desgraça. (ref. 12)

A profecia para os escritores, anunciada na primeira frase do texto de forma extremamente negativa, se opõe ao tom
e à conclusão do texto.
Considerando esse contraste, o texto de Bilac pode ser qualificado basicamente como:
a) irônico
b) incoerente
c) contraditório
d) ultrapassado

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

30. (Uerj 2014) O sentido da charge se constrói a partir da ambiguidade de determinado termo.
O termo em questão é:
a) fora
b) agora
c) sistema
d) protestar

31. (Uerj 2023) As mulheres de Tony pertencem a diferentes grupos étnicos: Rami é ronga; Ju é changana; Lu é
sena; Saly é maconde; Mauá é macua.

Em relação a essa diversidade, na representação cultural de Moçambique, cada uma dessas mulheres pode ser
compreendida pela seguinte figura de linguagem:
a) antítese
b) hipérbole
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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
c) metonímia
d) eufemismo

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A namorada

Havia um muro alto entre nossas casas.


1Difícil de mandar recado para ela.

Não havia e-mail.


2O pai era uma onça.

A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por


um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da
goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.

Manoel de Barros
Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

32. (Uerj 2014) O pai era uma onça. (ref. 2)

Nesse verso, a palavra onça está empregada em um sentido que se define como:
a) enfático
b) antitético
c) metafórico
d) metonímico

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:


O tempo em que o mundo tinha a nossa idade

5Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. 1As estórias dele faziam
o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca
antes do desfecho. 9Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. 6Não lhe deitávamos dentro da casa: ele
sempre recusara cama feita. 10Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira.
Leito dele era o puro chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na
parede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insectos gostavam
do suor docicado do velho Taímo. 7Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.
− Chiças: transpiro mais que palmeira!
Proferia tontices enquanto ia acordando. 8Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a
nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados.
2Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta.

Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:


− Venham: papá teve um sonho!
3E nos juntávamos, todos completos, para escutar as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia

notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu me
perguntava sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era.
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.
E assim seguia nossa criancice, tempos afora. 4Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo
estava num outro mundo inexplicável. 11Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (...)

Mia Couto
Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.

33. (Uerj 2014) Um elemento importante na organização do texto é o uso de algumas personificações.
Uma dessas personificações encontra-se em:

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a) Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. (ref. 9)
b) Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. (ref. 10)
c) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. (ref. 8)
d) Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (ref. 11)

34. (Uerj 2014) A escrita literária de Mia Couto explora diversas camadas da linguagem: vocabulário, construções
sintáticas, sonoridade.
O exemplo em que ocorre claramente exploração da sonoridade das palavras é:
a) Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos seus imprevistos improvisos. (ref. 5)
b) Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre recusara cama feita. (ref. 6)
c) Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele. (ref. 7)
d) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. (ref. 8)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Superman: 75 anos

4Não era um pássaro nem um avião. 5O verdadeiro Superman era um pacato contador passando férias num
1resort ao norte de Nova York.
Joe Shuster, um dos criadores do personagem, junto com Jerry Siegel, descansava na colônia de férias
quando encontrou Stanley Weiss, jovem de rosto quadrado e porte atlético, que ele julgou ser a encarnação do herói.
6Lá mesmo, pediu para desenhar o moço que serviria de modelo para os quadrinhos dali em diante. Só neste ano,

esses desenhos estão vindo à tona nos E.U.A., como parte das atividades comemorativas dos 75 anos do
personagem.
Embora tenha mantido a aparência de rapagão musculoso, Superman não foi o mesmo ao longo dos anos.
7Nos gibis, oscilou entre mais e menos sarado. Na TV, já foi mais rechonchudo, até reencarnar como o 2púbere Tom

Welling, da série de TV “Smallville”.


9“Desde pequeno eu sabia que Superman não existia. Mas também sabia que meu pai era o verdadeiro

Superman”, brincou David Weiss, filho do modelo do herói, em entrevista à Folha de São Paulo. 8Weiss cresceu
comparando o rosto do pai ao desenho pendurado na sala de casa. Mas logo Joe Shuster, que foi seu principal
desenhista, acabaria cedendo espaço para novos cartunistas, que adaptaram a figura aos fatos correntes.
“Essa mudança é o segredo do Superman. Cada época precisa de um herói só seu, e ele sempre pareceu
ser o cara certo”, diz Larry Tye, considerado o maior estudioso do personagem. “Nos anos 1930, ele tiraria a América
da Grande Depressão. Nos anos 1940, era duro com os nazistas. Nos anos 1950, lutou contra a onda vermelha do
comunismo.”E foi mudando de cara de acordo com a função.
Invenção dos judeus Jerry Siegel e Joe Shuster, Superman também é visto como um paralelo da história de
Moisés, a criança exilada que cresce numa terra estrangeira e depois se apresenta como um salvador. A aparência é
um misto do também personagem bíblico Sansão, do deus grego Hércules e de acrobatas de circo. Mas há quem
atribua, até hoje, a dualidade do personagem, que se alterna entre o 3nerd indefeso, tímido e de vista fraca (como
Joe Shuster) e um super-herói possante, à origem judaica dos seus criadores.
“É o estereótipo judeu do homem fraco, tímido e intelectual que depois se revela um grande herói”, diz Harry
Brod, autor do e-book Superman Is Jewish? (Superman é judeu?), lançado nos E.U.A. em novembro passado. “Ele é
a versão moderna de Moisés: um bebê de Krypton enviado à Terra, que desenvolve superpoderes para salvar o seu
povo.”
Segundo Brod, a analogia é tão nítida que os nazistas chegaram a discutir a suposta relação em revistas de
circulação interna do regime. Mas, para ele, Hollywood e o tempo suavizaram o paralelo, transformando Superman
numa releitura de Jesus Cristo. “Sua figura foi se tornando mais cristã com o tempo”, diz Brod. ”Não importa a
religião. A ideia de um fracote que se torna um herói não deixa de ser uma fantasia universal.”

Silas Martí
Adaptado de folha.uol.com.br, 03/03/2013
1resort− hotel com área de recreação
2púbere − adolescente
3nerd − pessoa muito estudiosa

35. (Uerj 2014) “Desde pequeno eu sabia que Superman não existia. Mas também sabia que meu pai era o
verdadeiro Superman” (ref. 9)

Essas frases foram ditas, em tom de brincadeira, pelo filho do homem que inspirou o desenho do personagem.
O tom de brincadeira é construído sobre um elemento linguístico que pode ser considerado como:
a) antítese
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b) paródia
c) dedução
d) personificação

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A invasão dos blablablás

O planeta é dividido entre as pessoas que falam no cinema − e as que não falam. É uma divisão recente. Por
décadas, os falantes foram minoria. E uma minoria reprimida. Quando alguém abria a boca na sala escura, recebia
logo um shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca deveria ter saído. Todo pai ou mãe que
honrava seu lugar de educador ensinava a seus filhos que o cinema era um lugar de reverência. Sentados na
poltrona, as luzes se apagavam, uma música solene saía das caixas de som, as cortinas se abriam e um novo
mundo começava. Sem sair do lugar, vivíamos outras vidas, viajávamos por lugares desconhecidos, chorávamos,
ríamos, nos apaixonávamos. Sentados ao lado de desconhecidos, passávamos por todos os estados de alma de
uma vida inteira sem trocar uma palavra. Comungávamos em silêncio do mesmo encantamento. (...)
Percebi na sexta-feira que não ia ao cinema havia três meses. Não por falta de tempo, porque trabalhar
muito não é uma novidade para mim. Mas porque fui expulsa do cinema. Devagar, aos poucos, mas expulsa.
Pertenço, desde sempre, às fileiras dos silenciosos. Anos atrás, nem imaginava que pudesse haver outro
comportamento além do silêncio absoluto no cinema. Assim como não imagino alguém cochichando em qualquer
lugar onde entramos com o compromisso de escutar.
Não é uma questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do respeito, da ética. Cinema é a experiência da
escuta de uma vida outra, que fala à nossa, mas nós não falamos uns com os outros. 1No cinema, só quem fala são
os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra fale.
2Isso era cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás venceram. Tomaram conta das salas de

cinema. E, sem nenhuma repressão, vão expulsando a todos que entram no cinema para assistir ao filme sem
importunar ninguém.
(...)

Eliane Brum
revistaepoca.globo.com, 10/08/2009

36. (Uerj 2014) No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar.
Nossa vida cala para que outra fale. (ref. 1)

O trecho acima usa uma figura de linguagem chamada de:


a) metáfora
b) hipérbole
c) eufemismo
d) metonímia

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Gabarito: da constatação do primeiro trecho (não sublinhado) que o autor
Resposta da questão 1: [A] chegaria à conclusão estabelecida no segundo (sublinhado).
O verso destacado expressa sentido de modo, já que indica o
modo como o pastor se sentiu em relação à negação do seu Resposta da questão 10: [C]
desejo: ele foi negado de modo que se sentisse como não Os dois-pontos apresentam o mesmo valor do que a conjunção
merecedor da mulher amada. explicativa “pois”, por exemplo. Assim, a oração seguinte
estabelece uma explicação do porquê se pode afirmar que o rosto
Resposta da questão 2: [D] não se reduz à dimensão da imagem: pois “ele é a própria
Na alternativa [D], encontramos a expressão “colocados para presentificação de um ser humano, em sua singularidade
dormir”, em que se combinam um eufemismo e uma irrecusável”
personificação.
Em relação ao eufemismo, podemos entender que a expressão Resposta da questão 11: [A]
tem o sentido de dizer que os violinos não mais poderão ser O trecho sublinhado representa a causa pela qual Antônio não
tocados, afinal, ficarão desgastados. Assim, “colocar para dormir” embarcou como todos os outros passageiros, mas teve de ser
seria uma forma mais leve de expressar um desgaste que levado por um bote até o navio: a deserção. A frase poderia
inviabiliza o uso do instrumento. também ser elaborada com o uso de outras conjunções
Quanto à personificação, vemos a atribuição de uma ação humana subordinativas adverbiais causais: “porque desertava”, “visto que
(dormir) a um instrumento. desertava”.

Resposta da questão 3: [A] Resposta da questão 12: [B]


No conto, vemos que o Bem e o Mal realizam uma série de ações, De acordo com o dicionário Aurélio, metáfora é a “transferência
marcadas pelo uso de verbos de ação, tais como encontrar-se, de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do objeto
escolher, aproximar-se, encarar-se, guardar, envolver-se, que ela designa, e que se fundamenta numa relação de
caminhar, discutir e trocar. semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado”. É
o que ocorre nessa passagem. A troca do “n” para o “m” no
Resposta da questão 4: [A] sobrenome da família é interpretado figurativamente como “uma
É possível observar uma relação metonímica entre o desejo de se perna a mais”, “um membro fantasma”, há aí uma relação de
ter uma árvore tatuada nas costas e a decisão de se tatuar uma semelhança subentendida.
semente, já que árvore e semente guardam uma relação de
contiguidade: a semente simboliza o surgimento de uma árvore. Resposta da questão 13: [C]
Nos primeiros versos, a poeta tece uma série de comparações
Resposta da questão 5: [C] para caracterizar o passado (“como os detetives os cobradores os
No trecho, vemos uma relação de concessão: apesar de se ladrões”) e o futuro (“como as crianças os guias de montanha”).
mostrar ausente para os outros, o protagonista ainda continuava
docemente presente para si mesmo. A única alternativa que Resposta da questão 14: [B]
preserva essa relação concessiva é a [C], em que vemos o uso da O aspecto da ladeira é apresentado, como bem aponta a
conjunção concessiva “embora”. Em [A], vemos a conjunção alternativa [B], gradativamente, o que intensifica a percepção dos
causal “porque”; em [B], a conjunção temporal “quando”; e em obstáculos do calçado. As características do piso pelo qual as
[D], a conjunção conclusiva “portanto”. personagens têm de caminhar são colocadas uma após a outra a
fim de enfatizar o esforço das mulheres não acostumadas a andar
Resposta da questão 6: [A] por ruas como aquelas.
Embora o eu lírico trate da morte, ele evita o uso da palavra,
valendo-se de eufemismos para tratar do tema, tal como Resposta da questão 15: [B]
"sentiremos no rosto, de repente/ o beijo leve de uma aragem O paradoxo está na afirmação gente que se mata (...) por paz. Há
fria", que revela justamente a chegada do momento de morte, e uma incrível contradição, afinal, como é possível se matar por
"nós entraremos nos jardins da morte", que traz a noção de morte paz? Porém a guerra também é contraditória por excelência e
como uma entrada em uma morada. dessa forma a definição pode se adequar à realidade, apesar do
paradoxo.
Resposta da questão 7: [A]
No primeiro verso, vemos uma repetição de sons consonantais, Resposta da questão 16: [A]
tais como o [s] e o [d]. Há, portanto, aliteração. O ácaro representa o invisível, neste caso, tudo o que é invisível,
No último verso, a vírgula é usada de maneira a omitir o conectivo por isso a metonímia: a parte (ácaro) representando o todo (o
“e”. Há, portanto, assíndeto. invisível). Embora invisível a olho nu, um ácaro é uma espécie viva,
real e concreta que convive com as pessoas em quase todos os
Resposta da questão 8: [D] lugares de uma casa ou de qualquer recinto fechado. Sendo assim,
Ao definir o homem velho como o rei dos animais, o cantor traz a apesar de microscópico, o invisível ácaro faz parte do convívio
ideia de que ele é imponente, poderoso, afinal, é o mais humano quase todo o tempo, mesmo que a maioria das pessoas
importante/chefe dos animais. ignore a sua existência.
Ao dizer que ele serve de farol, o cantor traz a ideia de que ele
serve de orientação, de foco (afinal, o farol serve para orientar). Resposta da questão 17: [C]
O efeito de humor encontra-se no fato do autor colocar-se
Resposta da questão 9: [A] também como objeto da argumentação ao brincar com sua idade
No trecho, o autor expressa que, caso uma rosa seja uma rosa, é já avançada. Contudo, ao chamar-se de seminovo como fazem os
possível concluir que uma pedra é uma pedra. Assim, seria a partir vendedores de carro e não de velho que seria a realidade, o autor

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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
está fazendo uso de uma comparação entre pessoas e carros A hipérbole, figura de linguagem que enfatiza ou exagera a
velhos mais o eufemismo seminovo. significação linguística, está presente no termo verbal na frase da
alternativa [D]: “explodir em lágrimas”.
Resposta da questão 18: [D]
Na afirmação: rico é corrupto, vê-se a diferença de sentidos ao Resposta da questão 28: [B]
acusar paralelamente que pobre é ladrão. Entre ladrão e corrupto Na frase da alternativa [B], a expressão “o espesso tecido da vida”
percebe-se duas designações diferentes para um mesmo ato associa metaforicamente o elemento concreto “tecido” à ideia
ilícito, mas há pequenas diferenças semânticas no que diz respeito abstrata de “vida”.
a soma em dinheiro envolvida, a forma de captação desse
dinheiro, quem realizou a ação criminosa e de que maneira: se Resposta da questão 29: [A]
através de propina ou mão armada. De qualquer maneira, ambos A frase que inicia o texto contrasta com a conclusão,
espoliam o dinheiro do próximo, logo, rico, quando rouba do principalmente nos dois últimos parágrafos: “Preparemo-nos para
erário público, deveria ser tachado de ladrão quanto qualquer morrer, irmãos, sem lamentações ridículas”, “A revolução tira-nos
pobre. o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a consciência”. Com ironia,
Olavo Bilac descreve a realidade com termos aparentemente
Resposta da questão 19: [D] valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. Assim, é
Ao associar horas a senhoras rigorosas e inflexíveis, o autor atribui correta a alternativa [A].
uma ação própria dos seres humanos a um ser abstrato, o que
configura uma personificação, como se enuncia em [D]. Resposta da questão 30: [C]
Enquanto que para os manifestantes o termo “sistema” se refere
Resposta da questão 20: [D] a normas e padrões de organização do exercício do poder e da
É correta a opção [D], pois a metáfora é uma figura de linguagem sociedade, para o homem posicionado à direita da charge significa
que produz sugestivas conotações semânticas por meio de determinado setor de atividade ou de serviço, como sistema de
comparações implícitas, ou seja, sem a presença de conjunções comunicação computacional.
comparativas.
Resposta da questão 31: [C]
Resposta da questão 21: [C] Na construção para representação cultural de Moçambique, cada
É correta a opção [C], pois, no período citado, a locução conjuntiva uma dessas mulheres é compreendida a partir da metonímia, pois
“tão”... “que” estabelece relação de consequência entre as os termos “ronga”, “changana”, “sena”, “maconde” e “macua”
orações que associam a concentração de poder e dinheiro das fazem referência às diferentes línguas faladas em Moçambique
corporações norte-americanas à destruição de indústrias e outras por grupos distintos. Assim, as mulheres, embora sejam um único
atividades. ser, na expressão mencionada representam todo um grupo de
falantes.
Resposta da questão 22: [A]
É possível inferir que a narrativa trata da questão do preconceito Resposta da questão 32: [C]
social que condena a mulher por infringir normas arraigadas em É correta a alternativa [C], pois a analogia do comportamento de
uma sociedade machista. Assim, é correta a opção [A], pois, na um animal feroz com a reação do pai quando alguém cortejava a
frase “Os conceitos a vestiram como uma segunda pele”, o termo filha revela que a palavra “onça” está empregada em sentido
“a” é associado, por elipse, a essa mesma mulher. metafórico.

Resposta da questão 23: [A] Resposta da questão 33: [B]


As expressões “aquele que desapareceu” e “aquela que A personificação é uma figura de estilo que consiste em atribuir
subitamente salta à vista”, assim como “verso” e “reverso”, sentimentos ou ações próprias dos seres humanos a objetos
constituem antíteses, figura de linguagem que ocorre quando há inanimados ou seres irracionais. Na frase da alternativa [B], “Seu
uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de
Assim, é correta a alternativa [A]. uma esteira”, a morte é personificada, pois adquire a entidade de
um ser humano capaz de capturar de forma imprevista a vida de
Resposta da questão 24: [A] alguém.
No primeiro episódio, o termo “pelado” é usado de forma literal,
com o significado de nu. No segundo, a palavra “pelada” tem Resposta da questão 34: [A]
sentido metafórico, ou seja, é usada de forma figurada, ao revelar As figuras de som ligam-se aos aspectos fonéticofonológicos das
o que tinha escondido dentro de si: o preconceito. palavras. Na frase da alternativa [A], existe aliteração, repetição
proposital e ordenada de sons consonantais (impreVistos
Resposta da questão 25: [B] improVisos) e assonância, repetição proposital de sons vocálicos
Ao estabelecer uma analogia entre o poste e uma pessoa, o eu idênticos ("nesse entretempo”).
lírico faz uma comparação implícita, o que configura uma
metáfora, como se afirma em [B]. Resposta da questão 35: [A]
A antítese é uma figura de linguagem pela qual se indica uma
Resposta da questão 26: [A] oposição entre duas palavras ou ideias. Nas frases em questão, a
É correta a alternativa [A], pois a repetição da expressão “no oposição se dá pela existência ou não do Superman, já que David
fundo” , assim como o advérbio “bem”, (correspondente a muito, Weiss afirma inicialmente que ele não existia e, em seguida, que
bastante) realçam o sentido que se pretende imprimir ao contexto sabia que seu pai “era o verdadeiro Superman” (e, portanto que
do poema. existia).

Resposta da questão 27: [D] Resposta da questão 36: [D]


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QUESTÕES DE SEMÂNTICA e DE FIGURAS DE LINGUAGEM
A metonímia é uma figura de linguagem que designa um objeto espectadores, estabelecendo, assim, a função metonímica: pela
por uma palavra designativa de outro objeto, que tem com o parte representa-se o todo.
primeiro uma relação de parte pelo todo (Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa).
No trecho, os atores representam personagens, e os personagens,
os espectadores dos filmes. Cada personagem representa diversos

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