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UFOLOGIA

UMA PESQUISA CIENTÍFICA



J. ALLEN HYNEK




UFOLOGIA
UMA PESQUISA CIENTÍFICA

















nordica



Todos os direitos reservados sob a legislação em vigor.


© J. Allen Hynek, Chicago, Illinois, 1972.


Tradução:
Wilma Freitas
Ronald de Carvalho


Revisão e assessoria: Irene Granchi


Revisão ortográfica:
Célia Matias


Produção:
Jaime Bernardes


Direitos adquiridos para a língua portuguesa por Editorial Nórdica Ltda.
Av. N.S. Copacabana, 1189

22070 Rio de Janeiro RJ




Telefone (021) 287-2147
Telegrama: Nórdica, Rio de Janeiro.
Telex: (021) 31810


Impresso no Brasil — Ref. 098/80

Contracapa


J. Allen Hynek, catedrático de astronomia, a maior autoridade mundial
em pesquisas sobre fenômenos ufológicos, oferece aqui uma exposição crítica e
científica que desafia abertamente aqueles que insistem em não acreditar na
realidade dos discos voadores.
O tema é atualíssimo, sendo este livro uma contribuição da máxima
importância para quem quiser se aprofundar no seu estudo.
É uma verdadeira introdução básica, única no seu gênero.

Orelhas


O LIVRO

Já passou o tempo em que assistíamos a filmes ou ouvíamos descrições
de discos voadores como quem lê contos de fadas, sem sequer nos preocuparmos
com a provável realidade física desses objetos não identificados que atravessam
o Universo para nos visitar.
Cada dia é maior o número de pessoas que garante ter visto objetos de
forma oval envolvidos num espetro muito luminoso, cruzando o céu a grande
velocidade. Algo indica que o número de ocorrências de fenômenos deste gênero
tem aumentado vertiginosamente ou, pelo menos, só recentemente as pessoas se
dispuseram a identificar como discos voadores os avistamentos que
presenciavam, mas não conseguiam interpretar.
Em meio à confusão geral, uns a favor, outros contra, mais por razões
pessoais e subjetivas do que por um conhecimento adequado do assunto, a
leitura deste livro é muito esclarecedora e interessante. Contrariando todas as
expectativas, o Professor Hynek apresenta-nos uma abordagem estritamente
científica e detalhada da pesquisa ufológica, sem nunca cair nos exageros e
fantasias a que estamos acostumados. Os casos descritos foram previamente
analisados e cientificamente comprovados e os observadores que testemunharam
os avistamentos sucessivas vezes submetidos a interrogatórios rigorosos. Só
então, com todas as suspeitas eliminadas, é que cada caso específico foi aqui
incluído.
Ufologia, tal como O Projeto Livro Azul fará parte, certamente, da
literatura científica obrigatória da próxima década.

O AUTOR

"Da mesma maneira que foi difícil, no passado, os cientistas aceitarem a
tese de que o sol brilha, hoje eles não aceitam a existência dos OVNIs" -
afirmava o Professor J. Allen Hynek quando, no Congresso Internacional de
Ufologia realizado em Brasília, tentava explicar a relutância dos cientistas
clássicos em achar plausíveis as informações sobre discos voadores.
Atual presidente do Centro de Estudos Ufológicos dos Estados Unidos, o
Professor Hynek é uma das pessoas mais bem informadas e de maior
credibilidade no assunto, devido à sua experiência como consultor da NASA e
diretor do Centro de Pesquisas Astronômicas Lindheimer.
Classificando a sua pesquisa como uma "batalha contra a ciência
clássica", Hynek não desanima e conclui que brevemente não será mais possível
recusar à Ufologia o conceito de ciência.



SUMÁRIO

Agradecimentos
Prefácio
Prólogo
PARTE I: O FENÔMENO UFO/OVNI
INTRODUÇÃO: Um inocente na terra dos OVNIs
A gargalhada da ciência
OVNI vivenciado
OVNI relatado
Sobre a estranheza dos relatórios OVNIs
PARTE II: OS DADOS E O PROBLEMA
INTRODUÇÃO: Os protótipos
Luzes Noturnas
OVNIs vistos durante o dia — Discos diurnos Relatórios de OVNIs em
observação radar-visual Encontros imediatos de primeiro grau Encontros
imediatos de segundo grau Encontros imediatos de terceiro grau
PARTE III: PARA ONDE VAMOS?

INTRODUÇÃO: O colégio invisível
A força aérea e o OVNI (páginas extraídas do livro azul) Nem sempre a ciência
é aquilo que os cientistas fazem O caso diante de nós

EPÍLOGO — Além do horizonte do livro azul
Apêndice I — Descrições de avistamentos conforme debatidas no texto
Apêndice 2 — Análise do caso Papua — Padre Gill, porDonald H. Menzel
Apêndice 3 — Pedido de exoneração de Mary Louise Armstrong enviada ao
Doutor Edward Condon Apêndice 4 — Trechos de uma carta de J. Allen
Hynek para o coronel Raymond S. Sleeper

AGRADECIMENTOS


Sou profundamente agradecido a muitas pessoas que me ajudaram no
preparo deste livro. Desejo expressar meus agradecimentos de modo especial ao
professor Thomas Goudge, do Departamento de Filosofia da Universidade de
Toronto, pelos diversos debates úteis a respeito do assunto logo nos primeiros
estágios da elaboração deste livro e ao Dr. Paulo Davies, do Institute of
Theoretical Astronomy da Universidade de Cambridge, Inglaterra, pelos debates
construtivos que mantivemos nas últimas etapas. Ao Dr. Harry Wood, da
Universidade Estadual do Arizona, Mrs. Jennie Zeidman e Mrs. Necia Apfel que
leram o manuscrito com espírito crítico bem como às valiosas sugestões
acrescentadas por elas e pelo Dr. Jacques Vallée, da Universidade de Stanford e
pelo senhor Fred Beckman, da Universidade de Chicago.
Estou agradecido a Mr. William Weitzel, Mrs. Josephine Clark, Mr. Ted
Phillips, Mr. Warren Smith, Mr. Raymond Fowler, Mr. Bud Ledwith e Mrs.
Isabel Davis pelo uso de materiais relacionados aos casos dos OVNIs neste país
e a Mr. W. K. Allan e Mr. Brian Cannon, pesquisadores de OVNIs canadenses,
por terem colocado à minha disposição os casos ocorridos naquele país.
Meus agradecimentos especiais para Mrs. Mary Lou Armstrong por ter-me
autorizado a publicar sua carta de demissão do cargo de assistente administrativa
do Dr. Cannon e a Mr. William Powers pela permissão de usar parte de suas
críticas ao Relatório Condon, que a publicação Science recusou publicar.
Meus mais profundos agradecimentos a todos aqueles citados anteriormente
e, naturalmente, à minha secretária, Mrs. Ann Larson, por ter datilografado o
manuscrito de modo tão perfeito e por tantas vezes.

PREFÁCIO


Durante o decorrer de tantos anos na qualidade de consultor científico junto à
Força Aérea dos Estados Unidos com relação aos Objetos Voadores Não
Identificados, pediam-me constantemente, como de resto ainda o fazem, para
recomendar “um bom livro a respeito dos OVNIs”. Com bastante frequência,
também, o pedido era seguido por “Existe mesmo alguma coisa desse tipo?’’
“Afinal, o que existe a esse respeito... há alguma prova digna de crédito da
existência dos OVNIs? “ou’’ Onde poderei ler alguma coisa sobre o assunto e
que não tenha sido escrita por um doido?’’
Tenho sido muito pressionado, com algumas notáveis exceções, no sentido
de dar uma boa resposta para as perguntas desse tipo. Existem, é claro, diversos
livros que tratam do assunto. Eles deliciam os leitores com a narrativa de uma
história de OVNI após a outra, cada qual mais espetacular que a anterior,
contudo, o espaço dedicado à documentação e à avaliação é pouco. Quais foram
todas as circunstâncias que envolveram o acontecimento relatado? Será que se
pode confiar nas pessoas que relataram o acontecimento (e quase sempre o fato é
mencionado por apenas um relator)? E de que maneira foram os relatos sobre os
OVNIs selecionados? Na maioria das vezes, são encontrados relatos escolhidos
ao acaso, desconexos e narrados de forma folhetinesca.
Espero que este livro seja uma resposta às perguntas daquele que está curioso
a respeito do fenômeno do OVNI como um todo, que gostaria de vê-lo analisado
e analisá-lo por si mesmo.
Tenho perguntado a mim mesmo como deveria ser “um bom livro sobre os
OVNIs. “Quem estaria qualificado a escrevê-lo, qual deveria ser o seu conteúdo
e quais as perguntas que deveria tentar responder? Resolvi tentar escrever um
livro deste tipo, baseado nos meus vinte anos de vivência sobre o assunto,
durante os quais interroguei centenas de pessoas e investiguei, pessoalmente,
quase que a mesma quantidade de casos. Resolvi descrever — antes de mais
nada, pensando naqueles que realmente se sentem intrigados a respeito dos
OVNIs — como são os relatos sobre os OVNIs em primeira mão, qual o tipo de
pessoas que os fazem, quais os tipos de coisas que os relatórios têm em comum e
de que maneira o assunto foi apresentado e tratado (não posso, com honestidade,
dizer “estudado”) no passado.
Todavia, não posso ter a pretensão de descrever o que são os OVNIs porque
não sei; porém, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que nem todos são
interpretações errôneas ou fraudes. Na realidade, aqueles relatos que partem de
fontes identificáveis não satisfazem, obviamente, a definição de um Objeto
Voador Não Identificado. Interpretações errôneas de aviões, balões de alta
altitude, meteoros e estrelas cadentes são responsáveis por diversos relatórios
iniciais, mas isto não os qualifica como relatos sobre OVNIs e devem ser
enfocados de forma sucinta num livro que versa sobre OVNIs. “Um bom livro
sobre OVNIs “quer me parecer, deve ser honesto, sem contar com uma opinião
preconcebida; deve ser real e o mais bem documentado possível. No entanto, não
deve ser um livro que recorte... ou reconte... histórias de OVNIs por seu valor
como história antes deve tentar retratar o tipo de coisas que as pessoas —
pessoas comuns, seres humanos com profissões e famílias — contam ter
realmente experimentado. Estas pessoas não são simples nomes encontrados
num catálogo telefônico; são pessoas de carne e osso, pessoas que, no que lhes
diz respeito, passaram por experiências tão reais para elas como o é para outras
ver um carro descendo a rua.
Espero que este seja um livro recomendado a vocês como um bom livro a
respeito dos OVNIs”.
J. Allen
Hynek
Northwestern
University
Evanston,
Illinois
Janeiro de
1972.

PRÓLOGO


Há um sentido no qual cada época se torna madura para ruturas, mudanças
que, para as épocas anteriores, seriam não só impossíveis mas também
assustadoras. Ainda assim, apesar do potencial do homem com relação à
descoberta, existe uma certa presunção que é inerente a cada época da história do
homem e que não parece evidente à maior parte dos participantes desta época.
Trata-se de uma complacente falta de percepção da finalidade de coisas ainda
desconhecidas e que as idades posteriores costumam considerar com um sorriso
de simpatia e condescendência, se não com uma gargalhada educada.
Além disso, as ruturas e os conceitos mundiais sobre o futuro seriam,
provavelmente, inacreditáveis e sem dúvida fantásticos se pudéssemos ter, agora,
uma visão deles. Contudo, as mudanças ocorrem no momento certo e,
consequentemente, isto nos obriga a estudar seriamente, e nunca afastar com
cortante ridículo, o intrigante fenômeno de nossos dias na esperança de
conseguir explicações satisfatórias. Por assim dizer, podemos assim nos
aventurar pelo futuro adentro.
O fenômeno OVNI bem poderá ser uma dessas áreas desafiadoras que
despertam o interesse, muito embora possa nos parecer deslocada no nosso
mundo atual — tão inacreditável para nós como teria sido a televisão para
Platão. A pesquisa deste fenômeno tantas vezes relatado talvez nos ofereça uma
visão tentadora do futuro e esteja apontando um dedo naquela direção.
Ocasionalmente, os cientistas pressentem a presença do intangível, do
pavoroso domínio do desconhecido. Sir Isaac Newton, um dos maiores cientistas
de todos os tempos, foi um dos que perceberam isto:

Não sei o que o mundo possa pensar a meu respeito; mas, para mim
mesmo, parece-me ter sido apenas uma criança brincando na praia e
divertindo-se, encontrando, de vez em quando, um seixo mais liso ou uma
concha mais bonita do que as comuns, enquanto o descomunal oceano da
verdade permanecia desconhecido diante de mim.

Os filósofos, quase sempre, percebem as limitações do presente bem mais
rápido do que os cientistas, pois estes estão absorvidos nos seus problemas
imediatos. O filósofo William James intencional mente chamou atenção para o
ponto de vista limitado com relação à sociedade estabelecida da sua época
(1895), sobretudo como era encarado por seus colegas de Harvard:

Existe na natureza humana um naturalismo enraizado e um materialismo
da mente que só quer admitir fatos que são realmente tangíveis. A entidade
denominada “Ciência” é o ídolo deste modo de pensar. O orgulho pela
palavra “cientista” é uma das características pelas quais será possível
conhecer seus adeptos; e a maneira mais fácil para arrasar com qualquer
opinião contrária é denominá-la de não-científica. Deve se conceder que não
há a menor desculpa para isto. A ciência progrediu tanto nos últimos 300
anos... que não é de admirar que os adoradores da ciência tenham perdido a
cabeça. Por conseguinte, nesta mesma Universidade já escutei, por mais de
um professor afirmar que todas as concepções fundamentais da verdade já
foram descobertas pela Ciência e que o futuro só precisará preencher os
detalhes do quadro. Contudo, bastaria apenas uma reflexão mínima a respeito
das reais condições para demonstrar o quanto são bárbaras estas noções.
Demonstram tamanha falta de imaginação científica que é difícil acreditar
que alguém que está desenvolvendo profundamente uma parte da Ciência
possa fazer uma declaração tão rudimentar. Pense quantas concepções
científicas totalmente novas surgiram na nossa geração, quantos novos
problemas foram formulados e nos quais jamais se pensara antes e, a seguir,
observe a brevidade da carreira da ciência. É possível que um conhecimento
deste tipo, um crescimento como este que se processa da noite para o dia,
possa realmente representar mais do que uma visão ínfima daquilo que o
universo provará ser, assim que for compreendido de maneira adequada?
Não! Nossa Ciência nada mais é além de uma gota, nossa ignorância um
oceano. Não importa o que possa estar certo, pelo menos isto é certo: o
mundo atual e natural que conhecemos está envolto num mundo maior de
alguma espécie, cujas propriedades residuais nós atualmente não
conseguimos esquadrinhar.

Já se passaram setenta e cinco anos desde que William James arrasou com
seus colegas de Harvard; o tempo vingou-o inteiramente. Ainda que ele não
pudesse suspeitar nem de leve, o ano de 1895 viria a ser o primeiro dos "trinta
anos que abalaram a física", que viu a teoria da relatividade, o quântum
mecânico e muitas úovas teorias interligadas derrubarem os alicerces da física
clássica que era aceita por todos os físicos como a pedra fundamental do
universo físico. O crescimento do nosso conhecimento e tecnologia tem sido
exponemcial, mas, ainda assim, devemos admitir que a nossa ignorância
continua sendo um oceano, a menos que sejamos também incrivelmente obtusos
e cegos.

PARTE I - O FENÔMENO OVNI


INTRODUÇÃO: UM INOCENTE NA TERRA DOS OVNIs

Após vinte e dois anos de “mordomia” no problema OVNI, a Força Aérea
concluiu o seu “Projeto Livro Azul”, nome dado à parte mais extensa do
programa de investigação do OVNI. Inicialmente designado “Projeto Signo” e
iniciado em setembro de 1947, transformou-se, em 11 de fevereiro de 1949 no
“Projeto Grudge”; então, a partir do verão de 1951 até o final de 1969 foi
chamado de “Projeto Livro Azul”. Os nomes em código não devem ter qualquer
significado especial, mas o leitor poderá dar a eles o significado que mais lhe
agradar.
Durante todo este tempo, o projeto estava localizado na Base da Força Aérea
de Wright-Patterson, em Dayton, Ohio, primeiro como parte do Air Technical
Intelligence Center (ATIC) e posteriormente sob a proteção da Foreign
Technology Division (FTD). A associação da Força Aérea, formal e pública, com
o problema OVNI, terminou em dezembro de 1969, quando o Secretário da
Força Aérea, Robert C. Seamans, deu por concluído, oficialmente, o Projeto
Livro Azul, devido principalmente à recomendação feita pelo Relatório Condon,
o trabalho de um grupo científico da Universidade do Colorado, sob a orientação
do Dr. E. U. Condon sob os auspícios da Força Aérea.
A minha associação ao fenômeno OVNI era um tanto semelhante àquela do
proverbial “expectador inocente que foi morto por um tiro”. O Projeto Signo
necessitava de um astrônomo para eliminar os casos flagrantes de fenômenos
astronômicos — meteoros, planetas, estrelas piscantes e outras ocorrências
naturais que poderiam dar origem aos relatórios que vinham sendo recebidos
então a respeito de discos voadores e eu era uma opção natural. Naquela época,
ocupava o cargo de diretor do Observatório McMillin da Universidade Estadual
de Ohio e, como tal, o astrônomo profissional que estava mais a mão.
Antes de começar a trabalhar para a Força Aérea, tinha-me juntado aos
colegas cientistas e divertia-me imensamente com “a loucura psicológica do
após-guerra” a respeito dos discos voadores que pareciam estar tomando conta
do país e também julgava muito gozada a ingenuidade e credulidade de nossos
semelhantes que estavam se deixando levar por aquele evidente “absurdo”.
Portanto, foi quase que com um espírito esportivo que aceitei o convite para dar
uma olhada nos relatórios sobre os discos voadores — àquela época eram
denominados “discos voadores”. Também tinha a impressão de que talvez
estivesse prestando um serviço ajudando a esclarecer e afastar todo aquele
assunto “não-científico”. Afinal de contas, aquela não era uma oportunidade de
ouro para demonstrar ao público o modo como funciona o método científico,
como a explicação da lógica, impessoal e imparcial, do método científico (neste
ponto esqueci-me convenientemente da minha parcialidade) poderia ser utilizada
para mostrar que os discos voadores eram invenções da imaginação? Senti-me
seguro, apesar de muitos dos meus colegas da universidade terem estranhado a
minha associação com uma atividade tão “pouco científica” quanto aquela. Mas
eu contava com a poderosa “proteção dos arquivos”; como astrônomo tinha sido
convidado para examinar o assunto.
Esta era a minha iniciação e inclinação naquele tempo. Contudo, a
oportunidade para demonstrar ao público como funcionava o método científico,
usando a análise dos relatórios sobre os discos voadores como o veículo, jamais
se materializou. Enquanto eu ainda trabalhava no meu relatório para o Projeto
“Sign”, este passou a ser o Projeto Grudge e o Pentágono começou a tratar o
assunto com um senso de ridículo bastante sutil. Ademais, embora muitos
relatórios a respeite dos OVNIs não estivessem classificados e militarmente
confidenciais continuavam a não serem postos à disposição do estudo público.
Estas medidas restritivas evitavam que o público tomasse conhecimento dos
resultados obtidos nas investigações sobre os discos voadores, isto para não falar
do processo de investigação em si mesmo. O público só ficava a par dos
resultados finais — sob a forma de notícias codificadas que, no todo, deixavam
suas perguntas sem respostas e diminuía a imagem científica da Força Aérea
junto à opinião pública.
Não representei nenhum papel no Projeto Grudge e foi somente após a
organização do Projeto Livro Azul, sob a orientação do Capitão Ruppelt, em
1952, que voltei a ser consultor científico nos assuntos relacionados aos OVNIs.
Embora minha principal responsabilidade fosse a de consultor astronômico,
preocupava-me com todos os relató rios à medida que iam chegando, revendo
mensalmente os do momento. Por isto tomei conhecimento de alguns casos
bastante interessantes, a maioria dos quais estava submerso num verdadeiro
atoleiro de relatórios absurdos.
O encerramento das atividades do Projeto Livro Azul aumentou em mim a
impressão de que tinha por obrigação continuar com minhas experiências,
muitas delas surpreendentes, a respeito do problema OVNI, e após mais de vinte
anos de trabalho junto à Força Aérea. Sinto-me agora como um viajante ao
retornar de uma longa viagem através de terras inexploradas, estranhas e
exóticas que julga estar na obrigação de contar suas viagens e falar a respeito dos
costumes extravagantes e bizarros dos “nativos” daqueles lugares incomuns para
o proveito daqueles que ficaram em seu país.
Os últimos vinte anos assistiram a emergência de uma enxurrada de livros e
artigos sobre OVNIs e discos voadores, mas eu, pessoalmente não contribuí para
este fluxo de literatura, exceto ao contribuir com alguns artigos. Certamente, o
meu desejo não é apenas acrescentar “mais um” livro à pilha existente. Pelo
contrário, espero que este trabalho venha a ser uma contribuição positiva para o
estudo sério deste assunto. De qualquer maneira, é uma visão de dentro para fora
pois "acontece que andava por ali" quando a Força Aérea necessitou de um
astrônomo para ajudá-la a examinar, com rapidez, a pilha de relatórios OVNIs
que crescia de momento a momento. Tive a oportunidade de 1er e estudar todos
os relatórios dos arquivos Livro Azul, de entrevistar diversas centenas de
testemunhas — os relatores das experiências OVNIs — e, até mesmo, de
testemunhar por muitas vezes, perante grupos do Congresso, pois seus membros
expressavam um considerável interesse pelas travessuras dos nativos da terra dos
OVNIs.
Muitas vezes perguntaram-me se eu, pessoalmente, tinha tido alguma
“experiência com um OVNI”. A resposta é não se eu adotar os testes que insisto
serem necessários e que serão especificados nos capítulos posteriores. Nos
últimos vinte anos e por duas vezes diferentes, vi um objeto e uma luz,
respectivamente, que não pude explicar de imediato, mas como há uma
explicação natural possível, ainda que não muito provável, estas duas
experiências não se enquadram à definição de OVNI adotada neste livro. Nunca
tive um “encontro imediato” (Capítulo 4) e, provavelmente, jamais o teria
comunicado se por acaso o tivesse tido, a menos que contasse com diversas
testemunhas bem-conceituadas, mas isto não me surpreende. As estatísticas
indicam que os avistamentos deste tipo são, na realidade, muito raros, talvez
parecidos com a observação de uma espécie de pássaro extremamente raro ou
desconhecido (e como seria possível provar que enquanto se dava um passeio
pelas montanhas e florestas tinha-se avistado um condor da Califórnia?), embora
não seja uma coisa tão incomum quanto encontrar um celacanto nas profundezas
do oceano. A minha experiência com os OVNIs é de segunda mão, totalmente
observada através dos olhos dos outros. Os nativos da terra dos OVNIs são os
relatórios e as pessoas que fizeram tais relatórios. Ambos dignos de discussão.
Incluí uma lista de termos normalmente usados nas descrições de OVNIs
neste texto, com a finalidade de facilitar a sua compreensão:
RELATÓRIOS SOBRE OVNIs — uma declaração feita por uma pessoa, ou
pessoas, consideradas responsáveis e psicologicamente normais segundo os
padrões normalmente aceitos, descrevendo uma visão pessoal ou uma percepção
auxiliada por instrumentos de um objeto ou luz no céu ou no solo, e/ou seus
prováveis efeitos físicos que não determine nenhum fator, objeto ou processo
físico conhecido ou qualquer fator ou processo psicológico.
EXPERIÊNCIA OVNI — o conteúdo de um relatório OVNI.
FENÔMENO OVNI — abrange tanto o relatório OVNI como a experiência
OVNI.
OVNIs — os correlatos existenciais, caso os haja, do Fenômeno OVNI; isto
é, se é que existe, existe por si mesmo totalmente independente do Fenômeno
OVNI.
A decisão sobre sua existência não está sujeita a uma resolução anterior mas
é tomada através de uma investigação. Se esta indicar a sua existência, esta
classe pode compreender:
a) Itens de espaço-tempo até agora não descobertos que se enquadram nas
leis da física mas que exigem uma explicação extraordinária.
b) Itens de espaço-tempo até agora não descobertos mas que se enquadram às
leis da física até agora não formuladas.
c) Itens não descobertos até agora, não no espaço, que exigem explicações
não físicas. Nesse caso, estes podem ser ou produtos ímpares da ação mental de
um indivíduo ou de um grupo, que se ajustam às leis psicológicas conhecidas ou
desconhecidas, ou alguma coisa totalmente diversa do que foi citado acima.
(NOVAS) OBSERVAÇÕES EMPÍRICAS — qualquer tipo de experiência
conseguida diretamente através ou com a ajuda de um ou mais dos nossos
sentidos humanos receptores que podem ser descritos num relatório, que nos
fornece informação a respeito daquilo que existe por si mesmo, totalmente
afastada, portanto, da possibilidade de ser experimentada daquela maneira.
Uma Nova Observação Empírica é uma experiência considerada em relação
a um corpo de informações já existente (por exemplo, uma teoria ou teorias
científicas) mas que não é capaz de absorvê-la sem que seja preciso revisá-lo ou
alterá-lo fundamentalmente.
DISCOS VOADORES — o termo jornalístico original para os OVNIs.
Contudo, na sua longa história, o termo tem sido amplamente empregado e com
muita confusão. Para alguns, implica um aparelho sólido capaz de realizar
viagens interestelares e transportar para a terra seres extraterrenos inteligentes.
Para outros, por outro lado, tem a conotação de qualquer relatório de
avistamento aparentemente incomum no céu ou no solo, mesmo quando esta é
quase certamente devida a uma má interpretação dada a um objeto ou
acontecimento normal.
E, para outros ainda, (geralmente membros de “cultos dos discos voadores’’
ou grupos de “verdadeiros crentes’’), significa a vinda à terra de seres
geralmente bons cujo objetivo evidente é comunicarem (de um modo geral a
relativamente poucas pessoas, selecionadas e eleitas — quase sempre sem
testemunhas) mensagens de “importância cósmica’’. Estes receptadores eleitos
têm, usualmente, experiências de contato que se repetem, envolvendo outras
mensagens. A transmissão de tais mensagens a crédulos voluntários e sem
espírito crítico conduz, quase sempre, à formação do culto do disco voador
sendo o “comunicador’’ ou “contatado” o líder voluntário e óbvio do culto.
Embora relativamente poucos, os advogados deste tipo do disco voador
influenciaram enormemente a opinião pública através de seus atos irracionais, —
às vezes até as opiniões de homens cultos como o Dr. Condon e seus adeptos.
É claro que, discos voadores, sejam eles definidos como aeronaves
extraterrestres, interpretações errôneas ou mensageiros altamente orientados em
missão de transmitir conhecimentos cósmicos aos “contatados” não satisfazem, é
evidente, a definição de OVNIs, de vez que todas estas definições pressupõem, a
priori, a origem e a natureza dos discos voadores.
1. A GARGALHADA DA CIÊNCIA


Conheço a lua, as estrelas e também as estrelas cadentes. Não sou um
homem moço. Já vi muitos anos nascerem. Durante toda a vida olhei para
o céu. Mas nunca vi uma coisa como essa antes. O senhor é um homem
branco. Será que pode me dizer o que é isso?
...Conselheiro de uma aldeia papua.

Durante uma recepção oferecida à noite, no verão de 1968, em Victoria,
Colúmbia Britânica, para centenas de astrônomos, comentou-se que bem do lado
de fora do local, luzes manobrando de maneira estranha — OVNIs — tinham
sido observadas. O aviso foi acompanhado pelas risadinhas abafadas que, quase
sempre, acompanham uma situação embaraçosa. Não houve um único
astrônomo que se aventurasse a sair para verificar, por si mesmo, o que estaria
acontecendo.
Erwin Schrödinger, pioneiro no quantum da mecânica e um filósofo da
ciência, escreveu: “A primeira condição para ser um cientista é que seja curioso.
Deve ser capaz de ficar admirado e ansioso para a descoberta”1.
O mundo científico, sem sombra de dúvida, não se mostrou “ansioso para
descobrir’’ o que seria o fenômeno OVNI e não deixou transparecer nenhuma
tendência para se tornar admirado. A atitude universal de quase todos os
cientistas tem sido agressivamente negativa. Na verdade, quer nos parecer que a
reação tem sido exageradamente fora de proporção com relação ao estímulo. A
reação sobrecarregada emocionalmente e altamente exagerada que, de um modo
geral, tem sido demonstrada pelos cientistas ao somente mencionar OVNIs seria
de grande interesse para os psicólogos.
Tal reação tem sido muito interessante para se observar. Compareci a muitas
reuniões de cientistas, tanto formais como informais, durante as quâis o assunto
OVNIs foi trazido a baila casualmente, seja por acaso ou mesmo
“inocentemente” por mim mesmo a fim de ter uma oportunidade para observar a
reação dos presentes. Portanto, achava divertido colocar um gato no meio dos
pombos, de vez que a reação nada tinha de semelhante à tradicional posição dos
cientistas maduros que sempre dizem “pesemos os prós e os contras”.
Frequentemente, a reação é parecida com a que teria um grupo de garotos
assistindo a uma cena de filme de excepcional ternura ou patética, totalmente
além da compreensão de suas idades: risinhos abafados e agitações nas cadeiras
sugerem uma defesa contra alguma coisa que os cientistas ainda não podem
compreender. Pareceu-me que demonstrações daquele tipo por parte de cientistas
maduros são mais do que expressões de pena pelos desinformados. Talvez sejam
expressões de profunda incerteza ou medo.
Faz-se necessário, agora, estabelecer uma diferença entre dois tipos de
cientistas que são formalmente confrontados com o tópico dos OVNIs: (1)
aqueles que tratam o fenômeno OVNI com escárnio e desdém, recusando-se até
mesmo a examiná-lo, atacando de imediato o assunto; e (2) aqueles que
declaram — ou passariam a acreditar após ter examinado o assunto -— que
existe uma forte possibilidade de que os OVNIs não passem de um fenômeno
psicológico, ou melhor, que sejam totalmente gerados pela atividade mental de
um indivíduo ou grupo. (Nenhum cientista que examine a matéria com
objetividade pode afirmar que os OVNIs sejam apenas produtos de simples
identificações errôneas de objetos ou fatos).
Os pontos de vista do último grupo são passíveis de uma séria discussão ou
de um debate científico, de vez que os cientistas deram-se ao trabalho de
examinar o problema e, por isto, deveriam ser ouvidos. Os pontos de vista do
primeiro grupo não satisfazem as prerrogativas para que seja estabelecido um
debate científico porque não houve sequer um estudo dos dados. Cientistas de
projeção percorreram o país pronunciando-se contra o fenômeno OVNI,
recusando-se a responder a perguntas da audiência enquanto, ao mesmo tempo,
ressaltavam orgulhosamente que nem se tinham dado ao trabalho de examinar
“toda aquela tolice”. O fenômeno desta caça à bruxa atual, a antítese daquilo que
se supõe seja uma atitude científica, é, ele mesmo, um fenômeno digno de
estudo. Se “toda esta história de OVNIs é tolice”, por que razão os cientistas
altamente conceituados e organizados demonstram uma reação além do normal?
Não se trataria de uma reação inconsciente contra um desafio que não estão
preparados a aceitar?
Thomas Goudge, um famoso filósofo da ciência, canadense, escreve:

“Uma das facetas mais interessantes da questão dos OVNIs, na minha
opinião, é a sua relação com os problemas de como a ciência progride. Eu
diria, que, de um modo geral, uma condição necessária para o progresso
científico é o fato de se dever permitir que (1) haja genuinamente novas
observações empíricas e (2) novos esquemas explicativos, inclusive, novos
conceitos fundamentais e novas leis”2.

Goudge assinala que ao longo da história qualquer esquema explicativo bem
sucedido, inclusive no tocante à física no século vinte, atua de um certo modo
como uma sociedade estabelecida e tende a resistir à admissão de novas
observações empíricas (a menos que tenham sido geradas diretamente dentro da
estrutura deste esquema explicativo). Assim, por exemplo, a maioria dos
cientistas físicos relutava inicialmente em aceitar as teorias atualmente já
reconhecidas dos meteoritos, de fósseis, da circulação do sangue, da bactéria e,
em nossos dias de descarga elétrica em bola (ball-lightning) como parte da
ciência regular.
E Goudge prossegue: “Pois, se a Sociedade estabelecida assimilasse as novas
observações no atual esquema explicativo, implicaria que as observações
empíricas não são propriamente novas. Por exemplo, tempos houve em que os
cientistas estavam dispostos a admitir que os meteoritos existiam, mas não como
pedras vindas do céu e sim como pedras que tinham sido atingidas pelo raio.
Esta teoria permitiu a assimilação de um fenômeno novo segundo os padrões
explicativos reconhecidos do mundo físico ao seu redor’’. Eis aqui a razão do
ponto de vista da nossa sociedade constituída atual’’, conclui Goudge, “de que o
fenômeno OVNI não constitui realmente uma coletânea de dados para a física
(ou de qualquer modo não são dados para a física) ou nada mais são senão
interpretações errôneas de objetos conhecidos, de acontecimentos comuns, etc.
Encarar o assunto desta maneira é, sem dúvida, rejeitar uma condição necessária
do progresso científico’’.
A frase “observações empíricas realmente novas’’ é fundamental para todo o
problema OVNI. Ou as observações dos OVNIs representam realmente
observações empíricas novas — ou melhor, novas no sentido de que não se
enquadram de imediato ao atual conceito científico — ou não passam de
interpretações e identificações errôneas. No que diz respeito aos OVNIs, qual
dos dois casos é verdadeiro não está, de forma alguma óbvio, exceto para
aqueles cientistas que se recusam firmemente a refutar o assunto sem o
considerar.
É possível que muitos cientistas teriam dado atenção e se dedicado
seriamente ao problema OVNI se tivessem apreciado seu conteúdo de forma
conveniente. Infelizmente, os poucos cientistas que demonstraram vontade de se
informar sobre o assunto eram obrigados a obter suas informações através da
imprensa, de artigos publicados em tabloides sensacionalistas e de revistas de
baixa qualidade que geralmente publicam assuntos como aventura, mistério,
sexo e os aspectos sensacionalistas do ocultismo. Até bem pouco tempo atrás,
não havia uma só publicação científica que incluísse qualquer informação a
respeito dos OVNIs, embora uma recente bibliografia da “literatura OVNI’’ de
todos os tipos tivesse alcançado 400 páginas. Ao que parece, os OVNIs
tornaram-se um problema para o bibliotecário mais cedo do que para o cientista.
Os cientistas não são o único grupo mal informado sobre o dilema OVNI.
Como um resultado da “má imprensa”, o público, de um modo geral, aceitou
determinadas concepções errôneas sobre os OVNIs como verdades:
Apenas os OVNIs “maníacos” comunicam ter visto os OVNIs. Por mais
estranho que possa parecer, acontece, praticamente, o oposto. Os relatórios mais
coerentes e detalhados são os das pessoas que nunca pensaram muito no assunto
e que, geralmente, ficam surpresas e chocadas com a experiência. Por outro lado,
os OVNI maníacos e os “crentes” do gênero cultuadores raramente fazem um
relatório e, quando o fazem, são facilmente classificados pela sua incoerência.
Esta concepção errônea estava arraigada, sem dúvida, na mente de um
cientista de projeção e antigo colega, Dr. Fred Whipple, diretor do Observatório
Astrofísico Smithsonian, com quem trabalhei durante muitos anos como diretor-
adjunto: “Concluirei com a resposta padrão que passei a usar todas as vezes que
os repórteres de jornais me pedem para tecer comentários sobre OVNIs. Minha
resposta é:

“Não faço declarações públicas a respeito das crenças de cultos religiosos”
(“Diante de uma reação como esta, dei a resposta apropriada: “Também não
o faço. ”)

As pessoas com formação científica nunca fazem um relatório sobre os
OVNIs. Muito pelo contrário, os melhores relatórios foram redigidos por pessoas
com formação científica. Infelizmente, os relatórios deste tipo raramente são
publicados na literatura popular de vez que estas pessoas, geralmente, desejam
evitar a publicidade e quase sempre pedem para permanecerem no anonimato.
Os OVNIs são comunicados por pessoas duvidosas, instáveis e iletradas. Na
verdade, alguns comunicados partem de pessoas duvidosas, que mesmo na vida
diária exageram outros assuntos além dos OVNIs. Mas estas pessoas estão mais
aptas a comunicar uma interpretação de objetos comuns como se fossem OVNIs.
Do mesmo modo, porém, estes informantes são facilmente identificados como
tal e seus relatórios são rapidamente afastados de uma consideração séria.
Somente os relatórios que continuam intrigando pessoas que, pela sua formação,
são capazes de identificar o fator que deu origem ao relatório (meteoros,
pássaros, balões, etc.) são considerados neste livro como relatórios de boa fé.
Às vezes, os relatórios provêm de pessoas iletradas, mas “iletradas” não quer
dizer necessariamente “burros”. Por exemplo, os pesquisadores de desastres
aéreos descobriram que suas melhores testemunhas são os adolescentes, que
apesar de destreinados em fazer relatórios não são preconceituosos4. Em
compensação, os broncos raramente são capazes de vencer a sua preguiça inata
para redigir um relatório e, geralmente, são incapazes de fazê-lo de modo
coerente.
Muito poucos são os relatórios feitos por pessoas mentalmente instáveis. O
psiquiatra Berthold Schwarz examinou 3.400 pacientes mentais sem encontrar
uma única experiência que estivesse relacionada aos OVNIs5. Sua conclusão é
apoiada por diversos colegas, que descobriram não existir quase experiências
relacionadas com os OVNIs entre os doentes mentais (demonstram eles,
casualmente, um pequeno ou até mesmo nenhum interesse pelo assunto).
Os OVNIs são sinônimos de “homenzinhos verdes” e visitantes espaciais.
Não se sabe o que são os OVNIs. Rejeitar o fenômeno baseado no pressuposto
de que os OVNIs só podem originar-se de ‘ ‘visitantes do espaço” é rejeitar o
fenômeno porque a pessoa, por razões exclusivamente suas, rejeita a teoria da
origem cio fenômeno.
O principal objetivo deste livro é ajudar a esclarecer estas interpretações
errôneas, através da apresentação de dados, e não fazer um pronunciamento, ex-
cathedra, pontificando a respeito da natureza dos OVNIs. Seria melhor que,
antes de examinarmos mais profunda-mente a experiência OVNI — aliás isto é
fundamental — definir da maneira mais séria possível o que significará o termo
OVNI neste texto. Esta não será necessariamente uma definição complexa.
Podemos definir o OVNI simplesmente como a percepção relatada de um
objeto ou luz avistada no céu ou no solo cuja aparência, trajetória e dinâmica
geral, assim como seu comportamento luminescente não oferece uma explicação
lógica e convencional e que não só permanece misterioso para quem o viu como
também continua identificado após o exame detalhado de todas as provas
disponíveis, realizado por pessoas tecnicamente capazes de realizar uma
identificação que faça sentido, caso isto seja possível.
Por exemplo, existem milhares de pessoas para as quais o planeta Vénus
continua desconhecido, mas os relatórios sobre OVNIs originados por este
brilhante ao entardecer ou ao amanhecer não enganarão um astrônomo.
Adotando esta definição, posso afirmar, categoricamente, que o meu estudo
durante os últimos anos satisfizeram-me no que diz respeito aos seguintes
pontos:

1) Relatórios sobre observações de OVNIs, válidos para estudos, existem
totalmente distintos das declarações dos “doidos”, fanáticos religiosos, cultistas
e os que são fanáticos pelos OVNIs.
2) Um grande número de relatórios iniciais sobre OVNIs são prontamente
identificáveis por pessoas competentes como interpretações e identificações
errôneas de objetos ou fatos conhecidos. Consequentemente, devem ser
suprimidos antes mesmo que se faça qualquer tipo de. estudo cujo objetivo seja
determinar se há algum tipo de observação empírica realmente nova.
3) Os restantes relatórios sobre os OVNIs não podem ser identificados deste
modo.

Devem ser enquadrados dentro de uma, ou mais, das seguintes categorias:

a. aquelas que são globais no que diz respeito à distribuição, provenientes
de lugares totalmente afastados tais como: Canadá Setentrional, Austrália,
América do Sul, Europa e Estados Unidos;
b. aqueles redigidos por pessoas competentes, responsáveis, e
psicologicamente normais — ou seja, por observadores fidedignos se encaixando
aos padrões comumente aceitos;
c. aqueles que contêm termos descritivos que, em conjunto, não
especifiquem qualquer tipo de fato, objeto ou processo conhecido, e que também
não especifiquem qualquer fato ou processo psicológico conhecido;
d. aqueles que resistem à interpretação em termos que se aplicam os
fatos, objetos, processos, etc. físicos e/ou psicológicos conhecidos.
Nos capítulos seguintes, são apresentados os dados que servem de base para
estas controvérsias.

NOTAS

1. Schrödinger, Erwin: Nature and the Greeks, pág. 55.
2. Um comunicado pessoal de Thomas Goudge para o autor deste livro.
3. Um comunicado pessoal do Dr. Fred Whipple para o autor deste livro.
4. Barlay Stephen: The Search for Air Safety. W. Morrow & Com., Inc.,
Nova Iorque, 1970, pág. 145.
5. Journal of the Medical Society of New Jersey, Vol. 66, agosto de 1969,
pags. 460-464.
2. O OVNI VIVENCIADO


Jamais me esquecerei da experiência que tive na manhã de 8 de junho de
1966. Não seria capaz de me convencer, após aquele avista mento, que
eu estivesse, apenas, pensando ter visto o que vi. Fiquei preocupado
durante muitas semanas após aquela experiência; ela deixou-me
literalmente apavorado. Fui. um dos membros do grupo de combate que
viu os primeiros jatos de combate alemães durante a Segunda Guerra
Mundial. A Força Aérea procurou nos convencer, naquela oportunidade
também, que estávamos vendo coisas.
— extraído de uma carta pessoal enviada ao autor.

Uma coisa ficou estabelecida após tantos anos de experiência interrogando
os relatores dos OVNIs: invariavelmente, tinha a impressão de que falava com
alguém que descrevia um acontecimento verdadeiro. Para ele, ou ela, aquilo
representava uma experiência fora do comum, vivida e que não se parecia em
nada com um sonho, um acontecimento para o qual o observador não estava, de
um modo geral, preparado — algo que logo seria reconhecido como estando
além da compreensão. Para quem relatava o fato e para as outras pessoas que
tivessem compartilhado da experiência, o acontecimento continuava inexplicado
e o fenômeno não-identificado mesmo após ter sido procurada seriamente,
alguma explicação lógica. A experiência tinha a “realidade” de um
acontecimento físico tangível, em igualdade de condições com a percepção de
um desastre de automóvel, por exemplo, ou um elefante atuando num circo, a
não ser por uma coisa: enquanto as testemunhas têm um vocabulário adequado
para a descrição de automóveis ou elefantes, ficam quase sempre perdidas,
embaraçadas, à procura de palavras para descrever suas experiências com o
OVNI.
Uma frase sempre é repetida quando eu interrogo as testemunhas: “Nunca vi
uma coisa assim em minha vida’’. Mas, também descobri que aqueles que
relatam experiências com OVNIs esforçam-se, o mais possível, para descrever e
explicar suas experiências com termos convencionais. Procuram, quase sempre,
encontrar uma explicação natural e chegam até mesmo a chamar a atenção para a
falta de coerência da ocorrência. Ao contrário do que sempre nos dizem, que as
pessoas “veem o que querem ver’’, meu trabalho com as testemunhas de OVNIs,
aquelas de nível mais elevado, indica que desejam ver ou explicar suas
observações com base em coisas conhecidas. Uma declaração típica é:

— No começo, pensei que tivesse ocorrido um acidente mais adiante na
estrada — as luzes pareciam um pouco com as lâmpadas rotativas de um
carro patrulha. Em seguida, notei que estavam muito altas, e, então, julguei
que talvez fosse um avião em pane tentando uma aterrissagem de emergência
com os motores desligados, pois não escutava nenhum ruído. Então, me dei
conta que não era um avião tampouco.

Vi se repetir por tantas vezes este processo de começar por uma descrição e
explicação simples, rápida, ir se desenrolando gradativamente até alcançar a
noção de que não havia uma única descrição convencional adequada (gradação
de hipóteses), que não aceito a ideia de que a testemunha de um OVNI adotou,
por razões psíquicas, imagens inconscientes ou desejos, ou uma pulsão simples e
normal como um veículo para a expressão de necessidades íntimas e profundas.
A experiência é ímpar e intensamente desconcertante para a testemunha; existe
uma lacuna intransponível entre a experiência e a capacidade de encontrar uma
descrição e uma explicação racional que a ela se enquadre.
Na verdade, é difícil, de imediato, refutar as experiências que levaram uma
pessoa com boa cultura a declarar, com toda a sinceridade:

Tudo que sei é que jamais vi uma coisa no céu com aquele formato,
como também nunca vi um avião que se deslocasse com tamanha
velocidade1.
Era como se olhasse para cima e estivesse bem embaixo de um avião,
como se o avião estivesse parado ali. Na mais perfeita imobilidade e sem
fazer o menor ruído. Observamos isto durante uns cinco minutos, mais ou
menos — depois a coisa adquiriu uma velocidade tremenda e partiu a toda
velocidade. Sem fazer o menor ruído.
Naquela oportunidade, a RCPM (Real Polícia Montada do Canadá)
perguntou-me se eu não pensava que era um helicóptero acima de uma
camada de nuvens, com o objeto dependurado por uma corda. Ora, esta foi a
explicação mais tola que jamais ouvi em minha vida3.

Estas citações nada têm de excepcionais. Dúzias delas poderiam encher este
capítulo e outros mais, tiradas de meus arquivos bem como dos arquivos do
Projeto Livro Azul. E muitas estão relacionadas a experiências compartilhadas
por mais de uma pessoa. Apesar disto, as palavras por si só não conseguem
descrever a experiência humana do observador. Diversas vezes fiquei pensando:

— Como é possível que uma pessoa aparentemente sã, estável, responsável,
esteja aqui contando-me esta história com toda aparente sinceridade? Não
estará encenando tudo isso? Será que é um ator tão bom assim? E se assim
for, com que objetivo? Sem dúvida deve saber que esta narrativa incrível
poderia transformá-la num alvo de zombaria sem fim.

Eis aqui outras duas reações:

Escutei o cachorro latindo do lado de fora. Mas não era um latido
normal. Então, fiquei um pouco aborrecido e saí para ver o que estava
ocorrendo. Notei que os cavalos estavam indóceis e corriam em volta do
pasto. Olhei para cima para ver o que estava atormentando os animais. E vi
aquele objeto parado no ar... devia estar a uns 400 ou 500 pés do solo. Pedi a
um amigo que se juntasse a mim para dar uma olhada naquilo e ver se eu não
estava ficando louco. A pessoa saiu, olhou rapidamente, soltou um grito
estridente e voltou correndo para dentro de casa...(Veja Apêndice 1, CEII-
23.)
Presumi, por uma questão de lógica, que se tratava de uma invenção
inteiramente nova e desejei ardentemente que os inventores fossem nossa
própria gente, pois isto aconteceu antes do “Dia-VJ”. Decidi não comentar
nada a respeito do que vira até que as notícias fossem propaladas
publicamente.

As vezes os relatórios ou entrevistas contêm observações francas e sem
malícia, o que, sem dúvida, confirma a “realidade” do fato com relação à
testemunha. O comentário que se segue partiu de quatro garotos da Woodbury
Forest School envolvendo um avistamento em 15 de fevereiro de 1967:

“Esta é a verdade e não se trata de uma fraude pois isto, para a nossa
escola, seria considerado uma afronta muito séria.”
Palavras de três escoteiros de Richardson, Texas:
— Mike, Craig e eu somos Escoteiros na Turma 73.... e damos nossa
palavra de escoteiros como não se trata de uma fraude ou ilusão de ótica.

Ninguém seria capaz de fazer uma observação tão ingênua quanto esta:

— O que estou tentando dizer é que não lancei mão de nenhuma
fotografia falsa porque não sei ainda como fazê-lo... — Esta declaração foi
feita num relatório de uma observação ocorrida em Nova Jersey, a 26 de
dezembro de 1967.
dezembro de 1967.

Finalmente, contamos com este apelo comovedor (extraído de uma carta
enviada ao Projeto Livro Azul que descrevia o avistamento de um objeto com o
formato de um charuto, ocorrido a 19 de janeiro de 1967):

— Embora eu não passe de uma criança, por favor, acreditem em mim.

Quase sempre, são as observações superficiais de natureza séria e madura
que enfatizam a intensidade da experiência do relator. Este comentário foi feito
por um piloto da Trans-Australia/Airlines, com cerca de 11.500 horas de voo:

— Sempre zombei desses relatórios, mas eu vi. Todos nós vimos. Estava sob
o controle de alguma coisa inteligente e não se tratava de um avião conhecido,
disto não tenha dúvida4.

A declaração que se segue foi feita por um homem que tomou parte em 50
missões de combate na Segunda Guerra Mundial. Tem ele 5 Medalhas do Ar e
12 Estrelas de Combate em Bronze e, ao que parece, não se alarma com
facilidade:

— Não fazia nenhum ruído e era tão comprido quanto um avião comercial,
mas não tinha prefixos... Meu corpo reagiu como se eu tivesse experimentado de
muito perto algum perigo. Passei todo o resto do dia um tanto descontrolado
emocionalmente5.

Os objetos, ou aparições, aqui descritos são debatidos posteriormente com
alguns detalhes. Neste momento, desejo apenas mostrar ao leitor, da melhor
forma que me for possível, o fato de que a experiência com um OVNI é um
acontecimento extremamente real para quem o relata.
Frequentemente, enquanto ouvia um relato de uma experiência com um
OVNI perguntava a mim mesmo: “Mas afinal por que estão me contando isto?’’
Com o passar do tempo, me dei conta que as testemunhas me contavam as suas
experiências porque desejavam que eu lhes explicasse aquilo. Tinham ficado
profundamente impressionadas e queriam uma explicação que se enquadrasse
dentro da visão que tinham do mundo de modo que pudessem se livrar da pesada
carga do desconhecido assustador. Demonstravam um desapontamento
verdadeiro quando eu era obrigado a dizer-lhes que sabia pouco mais do que
elas. Tudo quanto eu sabia era que as suas experiências não eram únicas, que
tinham sido contadas e recontadas em diversas partes do mundo.
Embora ainda não possa ser explicada, a experiência OVNI (nos termos
em que um OVNI é definido neste livro) tem toda a aparência de ser um
acontecimento verdadeiro para o relator e seus companheiros. Este é nosso
ponto de partida.

NOTAS

1. Veja Apêndice 1, NL-13.
2. Veja Apêndice 1, CEI-2.
3. Tirado de uma entrevista com uma mulher de Kenora, Canadá, sobre a
observação que teve a 30 de maio de 1969. Este caso não foi incluído no
Apêndice 1 por só contar com uma testemunha.
4. Avistamento ocorrido a 24 de maio de 1965. O relatório não foi incluído
no Apêndice 1, pois o autor não manteve um contato pessoal com a
testemunha ou com o investigador.
5. O avistamento teve lugar a 8 de junho de 1966, em Kansas, Ohio.
3. OS OVNIs RELATADOS


A Credibilidade inquestionável do observador, junto com a clara
visibilidade no momento da visão, indica que os objetos foram avistados
realmente. A causa provável de tais observações só pode ser objeto de
conjecturas e não dá lugar a nenhuma explicação lógica baseada nos
fatos que dispomos.
— extraído de um relatório sobre uma investigação oficial conduzida por
um capitão da Fôrça Aérea.

Qual o tipo de pessoa que passa por uma experiência com um OVNI? Será
ela representativa de um setor médio do povo ou trata-se de algo “especial”? Ao
tentarmos responder a perguntas deste tipo, vemo-nos, logo-, diante de duas
circunstâncias. Primeira, só temos condições de estudar aquelas pessoas que
comunicaram ter tido uma experiência com um OVNI. Existem provas bastantes
que são relativamente poucas as pessoas que tiveram este tipo de experiência e
que a comunicaram. Segunda, consequentemente, não podemos perguntar, que
tipo de pessoa tem uma experiência com um OVNI mas apenas que tipo de
pessoa comunica que ele ou ela avistou um OVNI.
Que espécie de pessoa preenche um questionário interminável envolvendo
um avistamento deste tipo ou escreve um relato coerente sobre ele correndo o
risco, quase certo, de cair no ridículo? Será o relator um charlatão, um demente,
um psicótico, ou um cidadão responsável que julga ser do seu dever fazer um
relatório? O único tipo de relator com que o pesquisador sério precisa — e deve
— se preocupar é aquele parecido com a pessoa que escreveu a seguinte carta:

Por isto é melhor falar de um relator de OVNI do que de um observador
de OVNI, de vez que caso venha a ficar comprovado que os OVNIs não
são verdadeiros, não poderia haver observadores de OVNIs, mas poderia
haver, e realmente o são, relatores de OVNIs.

Sou o agente de correio em... e hesitei muito antes de falar sobre este assunto
com o inspetor postal. Mas, após ter pensado profundamente achei que não
poderia ser um bom cidadão americano se não formulasse estas perguntas: “O
que eram aqueles objetos luminosos e de onde vinham? ”1
Geralmente, um relator de OVNI fidedigno é aquele que é conhecido na sua
comunidade como uma pessoa estável e que tem boa reputação, habituada às
responsabilidades — um homem de família, com um bom emprego e conhecido
pela honestidade com que lida com os outros.
Através da minha experiência cheguei à conclusão que os relatores de
OVNIs pouco têm em comum no que diz respeito à sua origem. Eles vêm de
todas as classes. Além disto, sem falar de uma reputação de probidade que lhes é
comum, quase sempre mostram-se relutantes para falar sobre as suas
experiências, pelo menos até que estejam certos da sinceridade e seriedade do
interrogador.

O que escrevi... é para o senhor e seu trabalho de pesquisa... Nunca
deixei escapar uma única palavra sobre isto. Mas creio que o senhor deveria
contar com esta informação e detalhada. Contudo, para nenhum jornal,
nenhum repórter.... Sinto-me ainda relutante, mas de algum modo sinto que o
senhor é a pessoa certa 2.
Só ventilei este assunto com duas pessoas — uma delas é um gerente de
projeção na nossa área e a outra o meu pastor3.
Vou lhe dizer uma coisa — se tornar a ver mais um, ficarei de bico
fechado. Telefonamos primeiro para a polícia municipal para perguntar se
alguém tinha comunicado o avistamento de um OVNI e o homem que
atendeu riu tanto e tão alto que estou certo de que deve ter caído da
cadeira.... (o jornal) publicou uma história tão sem nexo que nos fez parecer
a todos uns idiotas4.

Expressões de embaraço e hesitação como estas são encontradas com
frequência e só o fato de os relatores, mesmo diante de uma zombaria quase
certa, terem insistido em redigir um relatório indica uma impressão genuína de
que a informação é de importância e deveria ser transmitida a alguém. Da
mesma maneira, as atitudes dos relatores indicam uma curiosidade obsedante
envolvendo suas experiências, um sentimento quase sempre tão intenso que, por
si só, é suficiente para fazer com que eles enfrentem a zombaria de que quase
sempre serão alvo.
Por que motivo damos esta ênfase ao caráter do relator? Baseado no fato de
que na maior parte das outras áreas da ciência, a eletrônica e os instrumentos
óticos nos fornecem dados para a análise, a natureza do relator de um OVNI é de
suma importância. O relator de OVNI é o nosso único instrumento para reunir
dados nesta área de pesquisa científica.
No que diz respeito à ciência, é uma norma padrão a regulagem do
instrumento que dispomos. Por exemplo, nenhum astrônomo seria capaz de
aceitar as medidas de velocidades de galáxias distantes conseguidas através de
um espectrógrafo descalibrado. Contudo, se tal instrumento tiver dado bons
resultados no passado, se tiver sido testado com frequência e não tiver sofrido
recentemente nenhuma pancada violenta, o astrônomo, de um modo geral,
aceitará os resultados sem que isto dependa de uma verificação posterior.
O paralelo para nós é óbvio: se nosso relator de OVNI tiver demonstrado
pelas suas ações e atuações passadas um elevado grau de solidez e
responsabilidade e é uma pessoa sabidamente estável e não “fora de compasso”,
não temos então uma razão para não acreditar a priori no seu relato coerente,
sobretudo quando é feito de acordo com diversos outros “instrumentos
humanos” também possuidores de aceitável confiabilidade.
Enquanto existe uma quantidade imensa de testes cuja finalidade é
determinar a veracidade e a estabilidade de uma pessoa, estes mesmos testes,
devido à recusa da ciência reconhecida em tratar do assunto com seriedade, não
se encontram normalmente à disposição do investigador de OVNIs, ainda que o
relator do OVNI se mostre, na maioria das vezes, desejoso de se submeter a tais
testes (uma importante questão de fato em si mesma). Portanto, devemos
geralmente nos contentar com nosso próprio julgamento — através da vocação
da pessoa, da sua vida familiar, o modo como costuma enfrentar suas
responsabilidades e comportar-se — a respeito do seu “índice de credibilidade”.
Devemos resolver se o índice de credibilidade heterogêneo que pode ser
associado ao relato, quando o mesmo é feito com a ajuda de diversas pessoas,
torna o material digno de ser levado em conta.
Fundamentalmente, a pergunta crucial é: aconteceu realmente aquilo que os
relatores afirmam ter acontecido? Também podemos indagar: se, quando um
velocímetro marca uma velocidade de 80 milhas por hora, o carro está realmente
desenvolvendo esta velocidade? Pode-se confiar no velocímetro? Ou, pode-se
confiar nos relatores? A mente humana, é lógico, não pode ser comparada a um
velocímetro. Existem muitas histórias de pessoas que levaram vidas exemplares
e de repente foram dominadas por uma fúria cega, cometeram um assassinato,
um roubo ou algum outro ato ultrajante, representativo de um comportamento
antissocial. Contudo, é bastante improvável que diversas pessoas
simultaneamente “rompessem” e cometessem um ato totalmente cdntrário a seus
temperamentos — ou unidas cometessem o “crime” de comunicar a visão de um
OVNI. E como não nos calcamos demais num único relato, não há razão para
que não acreditemos nelas, pelo menos por enquanto.
Por que motivo não deveríamos acreditar naquilo que nos contam várias
pessoas que gozam de uma boa reputação ? Esta pergunta é tão válida quanto
“Por que motivo deveríamos acreditar nelas?” Os critérios para acreditar e deixar
de acreditar estão em pé de igualdade. Por exemplo, porque temos uma razão
prévia para não acreditar nas declarações diretas das seguintes pessoas, ao que
tudo indica pessoas dignas de confiança?

Por mais de vinte anos tenho viajado pela Rodovia 285, em Kenosha
Pass, dia e noite. Esta foi a primeira visão que tive de um OVNI 5.
Temos um negócio na nossa cidade e somos bastante conhecidos, logo
não sou do tipo de pessoa que seria capaz de fazer um telefonema doido. Não
sei o que foi que vimos, mas vimos alguma coisa e era tão real quanto o real
pode ser 6.
Antes que o senhor atire este papel na cesta de lixo como se fosse apenas
mais uma carta louca, considere que estou com 51 anos, sou professor de
matemática, nunca sofri de doença mental nem fui condenado por um crime.
Jamais soube que tivesse sofrido de alucinações, nem fui classificado de
neurótico... nem estou procurando publicidade. O caso é justo o oposto, pois
segundo me consta todo aquele que afirma ter visto um OVNI verdadeiro é
considerado como uma espécie de maluco. Mas, apesar de tudo isto, vi clara
e indiscutivelmente um objeto voador ainda inexplicado7.
(Estas são apenas pequenas amostras dos tipos de declarações que ouvi, li
em cartas a mim enviadas e encontrei nos relatórios oficiais sobre os
OVNIs.)

É interessante observar, como um endosso da teoria da credibilidade de
testemunhas fidedignas, que nas oportunidades em que “falsos” OVNIs foram
deliberadamente expostos a fim de testar a reação pública — balões com ar
quente e foguetes de sinalização atirados por aviões, são exemplos disto — os
relatórios sobre OVNIs que disto resultaram foram em número bem menor do
que se esperava, como também o interesse era bem mais acentuado por aquilo
que não relatavam do que pelo que afirmavam. Eventualmente, um relatório
fantasioso sobre OVNI surge como um resultado de um teste deste tipo, mas não
consegue vencer o teste de aceitação por não se enquadrar com aquilo que os
outros relataram sobre o mesmo fato — quase sempre devido à sua
inconsistência e inerente incoerência.
A quase total ausência nesses relatórios de ocupantes, interferência nos
sistemas de ignição dos carros, marcas de aterrissagem e outros efeitos físicos no
solo e tantas outras coisas que são características dos relatórios de Encontros
Imediatos é digno de nota. A comparação dos relatos de diferentes relatores
ajudam a formar um quadro perfeitamente claro do fato real — um balão de ar
quente, um sinal luminoso ou uma experiência científica. A duração do
acontecimento, a direção do deslocamento dos balões ou sinais luminosos, e até
mesmo as cores são razoavelmente bem descritas.
Existem exageros, é claro, e um emprego maior de palavras no que diz
respeito à descrição (mas, dificilmente maior do que aquela que se obtém nas
narrativas coletivas a respeito de incêndios, desastres de carros, etc.), porém,
raramente, a gente fica em dúvida sobre o que realmente aconteceu. As
descrições sobre incêndios ou desastres aéreos feitas por testemunhas
aparentemente fidedignas podem variar enormemente no que diz respeito aos
detalhes, mas nunca se fica em dúvida de que está sendo descrito um incêndio,
ou um desastre aéreo e não um assalto de banco. Não se conseguem declarações
coletivas de diversas pessoas que tenham visto um “OVNI — balão de ar
quente’’ afirmando terem visto um OVNI com vigias, antenas, ocupantes,
viajando contra o vento, mudando de direção abruptamente e finalmente
arrancando em alta velocidade num ângulo de 45 graus. O estudo de relatórios
deste tipo nos conduzem rapidamente ao fato real que os causou.
Eventualmente, é verdade, uma testemunha isolada de pouca credibilidade
poderá fazer um relato altamente imaginativo, originado num fato obviamente
natural. Mas os relatórios deste tipo são uma advertência para que se tenha
cuidado com os relatórios de uma pessoa única; nunca é demais se ter cautela,
mesmo quando o relator é, presumivelmente, digno de crédito.
Por todos estes motivos não existem, portanto, razões antecipadas para que
declarações deste tipo sejam rejeitadas de imediato. O ponto crucial do problema
do relator de OVNIs é que relatos de acontecimentos perfeitamente críveis são
feitos por pessoas aparentemente dignas de crédito — frequentemente por muitas
pessoas deste tipo. Naturalmente, o que o relator de um OVNI afirma ter
realmente acontecido é tão difícil de aceitar, uma pílula tão difícil de engolir,
que qualquer cientista que não tenha estudado profundamente o problema OVNI
se sentirá quase que compelido, devido a própria natureza de sua formação e ao
seu temperamento, a rejeitar de imediato o testemunho dos relatores. Ainda
assim não fazê-lo envolveria a refutação do material que pelo simples fato de ser
ignorado não “se limitará a desaparecer’’. Pessoas responsáveis realmente
relataram fenômenos que desafiam uma explicação científica e até que
indiscutíveis registros de radar e provas fotográficas estejam disponíveis, o
relator do OVNI deve ser ouvido de vez que é o único elemento com que
contamos. Existem muitos demais deles, em todas as partes do mundo, para que
não tomemos em consideração suas palavras. Se assim não agíssemos estaríamos
demonstrando um fanatismo científico e não devemos nos expor a uma acusação
deste tipo.

NOTAS

1. Extraído de uma carta dirigida ao comando-geral da Base Aérea de
Wright-Patterson.
2. Extraído de uma carta pessoal ao autor relatando um avistamento de um
OVNI.
3. Veja Apêndice 1, CEI-3.
4. Tirado de uma carta ao autor relatando o avistamento de um OVNI.
5. Veja Apêndice 1, DD-13.
6. De uma carta pessoal ao autor relatando um avistamento de um OVNI.
7. De uma carta pessoal ao autor relatando um avistamento de um OVNI.
4. SOBRE A ESTRANHEZA DOS RELATÓRIOS SOBRE
OVNIs


Devo acrescentar nunca ter sido um daqueles que acreditavam em
OVNIs, mas este foi tão inexplicável dentro dos padrões atuais que me
deixou imaginando coisas.
— extraído de uma carta dirigida ao Dr. Condon relatando um OVNI.

Os OVNIs existem, para a maioria de nós, como relatos, e na maioria
consideramos tais relatos histórias sensacionalistas publicadas por revistas de
baixa qualidade e como artigos jornalísticos esparsos: ‘ ‘Polícia Procura Objeto
Misterioso” ou “Avião Seguido de Perto por um OVNI Brilhante”. Notícias
jornalísticas deste tipo tornaram-se tão comuns, em certa época, que os editores
passaram a não considerá-las dignas de publicação. Porém, formando um forte
contraste, o OVNI existe como uma experiência pessoal intensa para quem o
viu. A distância entre os dois modos de tratar o assunto é um abismo
intransponível.
O problema é criado pelo fato de que a maioria dos relatórios sobre OVNIs é
extremamente decepcionante. Contém tão poucos fatos! Esta falha, por si só,
afastou diversos cientistas do estudo do assunto, pois estes homens esperam
encontrar dados, para pesquisar da maneira como estão acostumados a tê-los:
marcações de instrumentos, fotografias, mapas, gráficos e tabelas juntamente
com a maior quantidade possível de dados sob forma numérica.
Até agora, a precariedade de dados é muito mais uma falha do investigador
do que do relator original. Este depara com a experiência de forma inesperada e
totalmente despreparado. De um modo geral, fica tão chocado e surpreso que se
tornam impraticáveis uma cuidadosa observação e relatório após o fato. O
interrogador habilidoso pode, é claro, extrair detalhes dos relatores, detalhes
estes que só notaram de modo incompleto ou julgaram irrelevantes. A maioria
das pessoas quando se vê diante de um acidente automobilístico repentino e
violento não consegue controlar-se a ponto de mensurar metodicamente,
controlar a hora, a duração, o comprimento das marcas de derrapagem, a
condição do tempo e outras provas relacionadas com o desastre. Contudo,
quando conta o acidente a um investigador competente este pode deduzir e
extrair uma quantidade surpreendente de informações da testemunha, através de
um interrogatório calmo e habilidoso.
Em contraste, os investigadores da Força Aérea, imbuídos da filosofia oficial
de que os OVNIs são ilusões, realizam apenas um interrogatório superficial, na
maioria das vezes. (Para que perder tempo com uma coisa que, antes de mais
nada, é inexpressiva?)
Entretanto, existem relatórios sobre os OVNIs que são coerentes, são
narrativas sequenciais destas estranhas experiências humanas. Sobretudo como
não houve um movimento no sentido de chamar a atenção geral para estes
relatórios, eles parecem estranhos demais para serem acreditados. Eles não se
enquadram na estrutura conceituai estabelecida da moderna ciência da física.
Para que alguém se encaixe numa “estrutura crível” e aceite uma quantidade
enorme de relatórios sobre OVNIs como se descrevessem acontecimentos
verdadeiros deve ser quase tão difícil, por exemplo, como o foi para Newton ter
aceito os conceitos fundamentais do quantum mecânico.
Todavia, a singularidade dos relatórios sobre os OVNIs cai dentro de padrões
definidos. A tão comentada “estranheza” dos relatórios sobre os OVNIs é
bastante limitada. Não recebemos, por exemplo, relatórios sobre dinossauros
avistados voando de cabeça para baixo, sobre Objetos Não-Identificados
velejando ou objetos estranhos que se enterram no solo.
Um crítico do episódio OVNI observou, certa vez:
— ... avistamentos inexplicados não constituem prova em favor dos discos
voadores, como também não o fazem com relação a elefantes cor de rosa
voando.
O que ele não conseguiu perceber foi que o espectro da estranheza dos
relatórios sobre os OVNIs é tão estreito que não só nunca foi mencionado um
elefante cor de rosa voando mas, ao contrário, sempre foi mencionado um
“aparelho” estranho de modelo definido. Se os OVNIs são realmente criações da
imaginação, é de causar espanto que as imaginações daqueles que relataram ter
avistado OVNIs em todas as partes do mundo sejam tão restritas.
Exatamente por ser tão estreito o espectro dos relatórios sobre avistamentos
estranhos é que eles podem ser estudados. Se cada relatório estranho fosse ímpar
e em sua totalidade ultrapassasse toda a gama de narrativas estranhas
concebíveis, seria impossível realizar uma pesquisa científica com relação a essa
panóplia caótica. O estudo científico pressupõe dados padronizados e uma certa
medida de repetição e, de um modo geral, os relatórios sobre os OVNIs prestam-
se a uma classificação dentro de seus limites de estranheza. É isto que
procuraremos.
Portanto, voltando ao conteúdo dos relatórios sobre os OVNIs, vamos supor
que tenhamos eliminado todos aqueles que não se enquadram à definição de
OVNI que estabelecemos anteriormente; isto é, o que restou da massa inicial dos
relatórios ‘ ‘crus” — todos os relatórios que podem ser explicados em sólidas
bases como balões, aviões, meteoros, etc. Tais relatórios representam o “lixo” do
problema. Se anexarmos isto aos nossos estudos, o provérbio da idade do
computador, ‘‘Lixo que entra — lixo que sai”, haverá, sem dúvida, de ser
cabível. Foi esta a armadilha que as investigações sobre os OVNIs, realizadas no
passado, não foram capazes de evitar. (Muitos críticos afirmam que todos os relatórios sobre
os OVNIs são lixo. Como uma grande parte dos relatórios iniciais e que não sofreram uma seleção são o
resultado claro de uma percepção errônea, os críticos dizem que se fosse feita uma investigação profunda
haveria de ficar comprovado que todo o corpo do fenômeno OVNI haveria de ser assim classificado,
também. Esta argumentação afirma que os relatórios sobre os OVNIs pertencem à mesma população
estatística e que os divergentes, os relatórios sobre os OVNIs realmente interessantes, nada mais são do que
os extremos nesta população. Podemos afirmar com igual justiça ao determinar as variações dos tamanhos
das laranjas que as melancias nada mais são do que “a extremidade final da curva de distribuição” dos
tamanhos das laranjas)
Sob o ponto de vista científico, os únicos relatórios sobre OVNIs
significativos, como já tivemos oportunidade de ver, são os que continuam
enigmáticos após terem passado por uma investigação competente. Somente
estes podem ser denominados relatórios sobre OVNIs. O que incentivou estes
relatórios é realmente desconhecido — ou seja, os relatores foram submetidos a
uma seleção de confiabilidade e aquilo que possivelmente os motivou foi
intensamente pesquisado em busca de uma explicação física. Existem milhares
desses relatórios; somente nos arquivos do Livro Azul há cerca de 700 casos
reconhecidos e muitos outros encontram-se nos arquivos das organizações de
OVNIs e de investigadores particulares.
Cada um desses relatórios sistematicamente pesquisados pedem uma
resposta para duas perguntas distintas: Aquilo que eles relatam aconteceu de
verdade? Qual a probabilidade de que tenha acontecido? Podemos transformar
estas duas perguntas na base de uma disposição bidimensional muito útil no que
diz respeito aos relatórios sobre OVNIs. Cada relatório que satisfez a definição
de OVNI incluída neste livro pode receber dois números: sua Classificação
segundo a sua Estranheza e sua Classificação quanto à Probabilidade.
A Classificação quanto à Estranheza é, para expressá-la com simplicidade,
uma medida de quanto um relatório é “excêntrico” dentro da sua ampla
classificação particular. Mais precisamente, pode ser tomado como uma medida
do número de informações contidas no relatório que são difíceis de explicar em
termos de senso comum. Uma luz vista à noite no céu cuja trajetória não pode
ser atribuída a um balão, avião, etc. seria classificada, apesar disto, como uma
classificação de Estranheza baixa de vez que só há uma coisa estranha a ser
explicada no relatório: seu deslocamento. Um relatório sobre um aparelho
descomunal que desceu até ficar a 100 pés de distância de um carro numa
estrada deserta, fez com que o motor parasse de funcionar, o rádio também e
apagou os faróis do veículo, deixou marcas sobre o solo e parecia estar sob um
controle inteligente é classificado como tendo um Fator de Estranheza elevada
pois contém alguns itens muito estranhos, desafiando cada um deles o senso
comum.
Como já tivemos oportunidade de ver, na falta de provas concretas sob a
forma de filmes, instantâneos detalhados e assim por diante, devemos depender
mormente na credibilidade do relator principal e suas testemunhas.
Evidentemente, um relatório feito por diversas pessoas independentes, cada uma
delas possuidora de sanidade patente e reputação geral sólida, merece uma
atenção bem mais séria devido à possibilidade de ter realmente acontecido do
que um relatório feito por uma única pessoa que apresente uma ficha nada
abonadora quanto à sua sinceridade em lidar com seus similares.
Isto ainda deixa em aberto uma ampla gama de probabilidades no que diz
respeito ao estranho fato do que foi relatado ter ou não acontecido como
relatado. Adotamos aqui diversos fatores de julgamento para sabermos se aquilo
que uma pessoa de boa reputação relatou numa determinada ocasião pode ser
aceito — e com que probabilidade. Quanto seria alguém capaz de “apostar”,
mesmo levando-se em consideração as qualificações dos relatores, de que aquilo
que foi relatado aconteceu realmente como foi narrado? (O filósofo Hume propôs um
critério de apostas como uma forma para medir a força da crença. Não nos seria possível fazer melhor).
A Determinação do Fator de Probabilidade de um relatório torna-se uma
questão profundamente subjetiva. Começamos com a credibilidade que foi
atribuída aos indivíduos envolvidos no relatório e calculamos até que ponto,
segundo as circunstâncias daquele momento em particular, os relatores poderiam
ter se enganado. Os fatores que devem ser estudados neste caso são a
consistência intrínseca do referido relatório, a coerência entre os diversos
relatórios existentes a respeito do mesmo incidente, a maneira usada para redigir
o relatório, a convicção transmitida pelo relator ao investigador e, finalmente, o
julgamento sutil para “ver se tudo aquilo é coerente”. Seria de grande utilidade
para a determinação da Quota de Probabilidade se “o detector de mentira” e
outros testes psicológicos pudessem ser adotados. Da mesma forma, também
seria de grande valia, um pronunciamento médico sobre o estado de saúde do
relator no momento ou a comunicação de qualquer distúrbio emocional sério
imediatamente antes do fato relatado ter ocorrido. Seria ideal e teríamos assim
uma significativa Quota de Probabilidade se pudéssemos contar com o
julgamento de mais de uma pessoa.
Contar com isso tudo é um luxo raramente praticável. Devemos nos arranjar
com o material e as instalações com que contamos. No que diz respeito, quase
não encontrei dificuldades para determinar o Fator de Estranheza (costumo
classificá-la de l a 10) porém no que diz respeito à determinação da
Probabilidade as coisas tornam-se mais difíceis. Uma certeza (P = 10) é
praticamente impossível, isso é claro; P = 0 também é impossível, devido às
circunstâncias, pois o relatório original nem teria sido levado à consideração. O
número de pessoas envolvidas no relatório, principalmente se forem feitos
relatórios individuais, é de grande valia. Não concedo mais de 3 pontos ao Fator
de Probabilidade a nenhum relatório feito por uma pessoa apenas e, assim
mesmo, é preciso que ela goze de uma reputação muito sólida. Assim agindo,
não pretendo difamar a pessoa mas simplesmente proteger-me contra a
possibilidade de que aquele relator possa ter se equivocado honestamente a
respeito da experiência porque passou.
Quando o relatório é “coerente” no seu todo não posso, honestamente,
encontrar razões para duvidar das palavras dos relatores — ou melhor, a menos
que eu, deliberadamente e sem nenhum motivo, resolvesse chamá-los todos de
mentirosos — concedo uma Probabilidade 5 ou mais alta. As atribuições dadas a
parte superior direita do diagrama mostrando os índices E - P relativos aos casos
apresentados neste livro (os símbolos adotados para as classificações dos casos
estão explicados embaixo) são esparsas devido à severidade do critério adotado.
Contudo, na verdade, descobri que um relatório ao qual foi concedido um E de 3
e um P de 5 (ou um índice conjugado de EP = 35) deveria chamar a atenção e
desafiar a ciência sob todos os aspectos.
Os símbolos usados no diagrama E-P referem-se à classificação do conteúdo
do próprio relatório, independentemente do relator. O sistema de classificação
em si mesmo é empírico, baseado na maneira como é relatada uma observação
de um OVNI. Não pressupõe nenhuma teoria a respeito da origem dos OVNIs,
mas é útil pois delineia os padrões que mais prevalecem nos relatórios sobre
OVNIs.
A classificação possui duas divisões principais: (I) aqueles relatórios nos
quais o OVNI é descrito como tendo sido observado de alguma distância; (II)
aqueles que envolvem os avistamentos mais próximos. A linha divisória não é
muito marcante, mas os casos de Encontros imediatos são aqueles em que os
objetos são vistos suficientemente de perto (geralmente a menos de 300 pés de
distância) a fim de que sejam considerados como áreas extensas e não como
pontos-próximos e por isto mesmo pode-se notar muitos detalhes sobre eles. Os
Encontros Imediatos incluídos na categoria II estão nitidamente capacitados a
conter maiores informações sobre a estranheza do que aqueles da categoria I, de
vez que as testemunhas devem ter tido a oportunidade de observar cores,
saliências, dimensões, sons, detalhes estruturais, movimento linear ou de
rotação, “ocupantes” e qualquer tipo de ação conjugada do OVNI com o meio
ambiente. Os OVNIs mais distantes quase sempre terão uma quota E mais baixa,
simplesmente porque não havia muita coisa para ser observada e, portanto,
explicada.

(Tabela excluída por estar ilegível)

Os OVNIs mais distantes foram por mim classificados em três categorias: (1)
aqueles que foram vistos à noite, que passaremos a denominar de Luzes
Noturnas (designados como N no diagrama); (2) aqueles que são avistados
durante o dia, que passaremos a chamar de Discos Diurnos (designados com um
D no diagrama), assim denominados porque a forma prevalecente comunicada é
oval ou parecida com um disco, embora deva ficar claro que o termo é usado
incorretamente; e (3) Visualização pelo Radar, aqueles que são localizados
através do uso do radar (designado com R no diagrama). Resolvi excluir de meu
trabalho as observações realizadas através do radar apenas, porque falta um
“filtro” adequado para se estabelecer, além de uma dúvida razoável, se a
observação do radar não pode ser explicada por causas naturais (mau
funcionamento do aparelho, propagação anômala, condições meteorológicas
extraordinárias, bando de pássaros “invisíveis”, enxames de insetos que voem
alto, e assim por diante).
Como os próprios peritos em radar entram em desacordo entre si para dar
uma explicação aos “fantasmas” e “anjos”, parece-me ser mais inteligente evitar
a apresentação de tais provas. Contudo, quando a observação através do radar é
acompanhada por observações visuais e se é possível estabelecer que os dois
tipos de observações correspondem, com grande probabilidade, ao mesmo fato,
as observações através do radar tornam-se um poderoso auxiliar para a
observação visual. Neste livro só me referi a esses tipos de Visualizados pelo
Radar (o R no diagrama significa esta categoria); alguns dos melhores relatórios
sobre OVNIs enquadram-se nesta categoria
As Luzes Noturnas e os Discos Diurnos talvez não sejam únicos, mas à
noite, quase que invariavelmente, só são relatados a cor, brilho e o deslocamento
da luz. Raramente nota-se o objeto ao qual a luz está presa (isto é apenas uma
pressuposição; talvez o OVNI nada mais seja além de luz). As Luzes Noturnas
formam um grupo considerável entre os “verdadeiros” relatórios sobre OVNIs.
A segunda maior divisão dos relatórios OVNIs compreende os casos de
Encontros Imediatos. Aqui também parece haver três subdivisões naturais, que
podemos denominar, respectivamente: Encontros Imediatos do Primeiro Grau,
do Segundo Grau e do Terceiro Grau (designados no diagrama pelos números I,
II e III respectivamente).
Os Encontros Imediatos do Primeiro Grau: nesta categoria encontram-se os
casos de simples Encontro Imediato, no qual o OVNI é relatado como tendo sido
visto de perto mas quando não houve uma atuação sobre o meio ambiente (além
do trauma causado ao observador).
Encontros Imediatos do Segundo Grau: estes são parecidos com os de
Primeiro Grau, exceto no que diz respeito aos efeitos físicos notados tanto na
matéria animada como na inanimada. Muitas vezes, as testemunhas comunicam
que a vegetação foi comprimida, queimada ou danificada; galhos de árvores
ficaram partidos; os animais demonstram medo, às vezes um terror tão marcante
que chegam até a se machucarem fisicamente. Os objetos inanimados, quase
sempre veículos, ficam inutilizados momentaneamente, os motores morrem, os
rádios param e o faróis diminuem de intensidade ou se apagam. Nesses casos, as
testemunhas afirmam que os veículos sempre voltam a operar normalmente
depois que o OVNI desaparece do local.
Encontros Imediatos do Terceiro Grau: nestes casos é relatada a presença de
“ocupantes” ou “ufonautas” no OVNI ou por perto dele. Devemos fazer aqui
uma distinção aguda entre os casos envolvendo os relatórios que narram a
presença de seres presumivelmente inteligentes na “aeronave espacial” e os
assim chamados casos de contato.
Geralmente, estes últimos relatos são “bloqueados na porta” pelo processo de
seleção. O leitor deverá estar lembrado que na nossa definição de OVNI
encontra-se implícita a credibilidade do relator (relatórios inexplicáveis feitos
por pessoas notoriamente de bom senso, racionais e fidedignas). Os casos de
“contactee” são caracterizados por um intermediário humano “escolhido”, quase
que um solitário “homem de contato” que, de algum modo, tem a capacidade
especial de ver OVNIs e de se comunicar quase que por vontade própria com a
sua tripulação (na maioria das vezes através da telepatia mental). As pessoas
deste tipo não só acabam sendo consideradas fanáticas pseudo-religiosas como
também possuem um baixo valor de credibilidade, trazendo-nos mensagens dos
“homens do espaço” com um conteúdo singularmente escasso. As mensagens
são geralmente endereçadas a toda a humanidade no sentido de que seja “boa,
pare de guerrear, viva em paz e fraternidade, elimine as bombas, pare de poluir a
atmosfera “e outras banalidades válidas. De um modo geral, o contatado
considera-se um encarregado messiânico que deve entregar a mensagem em
amplas bases; eis porque, de tempos em tempos, aparecem diversos cultos de
discos voadores. Considera-se, o contatado realmente como tendo sido
“escolhido” e, estranhamente, não toma em consideração (se, na verdade, fosse
capaz disto) a improbabilidade estatística de que uma pessoa, numa base
escolhida ao acaso pudesse ser capaz de passar por repetidas experiências com
OVNIs (frequentemente numa base de uma vez por semana), enquanto a maioria
da humanidade viva uma vida inteira sem ter tido, ao menos, uma experiência
com um OVNI. Na minha opinião, o aspecto “repetitivo” de alguns relatores de
OVNIs é causa suficiente para que se exclua seus relatórios de um estudo mais
profundo, pelo menos neste livro (Naturalmente, não devemos, quem sabe, excluir a
possibilidade de que existam realmente “aqueles escolhidos” deliberadamente pelos ocupantes do OVNI
para cumprir alguma missão especial. Neste caso, entretanto, não podemos nos esquecer da piada inglesa:
“Como falta sorte a estes visitantes do espaço... todas as vezes, escolhem alguém que não ‘regula bem da
bola’!”).
Devo enfatizar que os relatórios envolvendo contatos não estão classificados
como Encontros Imediatos do Terceiro Grau. E uma infelicidade, para usar um
qualificativo pobre, que os relatórios deste tipo tenham minimizado inteiramente
todo o problema dos OVNIs, trazendo-lhes o opróbio e o desdém dos cientistas e
do público, indistintamente, mantendo viva a imagem popular dos “homenzinhos
verdes”! e a atmosfera fictícia que envolve este aspecto do assunto.
Os Encontros Imediatos de Terceiro Grau típicos acontecem com o mesmo
tipo de pessoas que tiveram experiências com todos os outros tipos de OVNIs,
representando o mesmo corte médio do público. Estas testemunhas passam pela
experiência da mesma maneira inesperada e ficam tão surpresas quanto aquelas
outras envolvidas em outros tipos de Encontros Imediatos. Não constituem, de
nenhum modo, uma categoria “especial”. Não se trata de um fanatismo religioso;
quase sempre são policiais, homens de negócios, professores escolares e outros
cidadãos respeitáveis. Quase que invariavelmente seu envolvimento com um
OVNI ocorre apenas uma vez (ao passo que, como tivemos oportunidade de ver,
os casos que envolvem um contatado são, quase sempre, repetições
extravagantes), e o avistamento de ocupantes é, geralmente, um aspecto
periférico. Nesses casos, os ocupantes raramente tentam se comunicar; em
compensação, são invariavelmente relatados como tendo corrido de volta para
seus aparelhos e desaparecido da vista da testemunha. Ao que parece, não têm
qualquer tipo de “mensagens” a serem transmitidas à humanidade — exceto 1
‘não me incomode”.
Portanto, temos seis categorias de relatórios sobre os OVNIs, três em cada
uma das divisões mais amplas, para debatermos. A classificação está somente
baseada no modo como foram relatadas as observações dos OVNIs. Obviamente,
as categorias não são totalmente independentes umas das outras; um Disco
Diurno, observado de muito perto, transforma-se num Encontro Imediato; uma
Luz Noturna observada durante o dia também pode ser um Disco Diurno; e
assim por diante. Torna-se conveniente debater os relatórios sobre OVNIs
segundo estas categorias, simplesmente, porque os dados que serão descritos
estão diretamente na dependência da maneira como foram experimentados. Se
todos os relatórios de cada categoria forem discutidos juntos, os padrões
inerentes a cada uma delas ficarão diretamente delineados.
Finalmente, devemos observar que, durante o processo inicial de seleção,
quando fica determinado que o estímulo que deu origem ao relatório sobre o
OVNI nada mais foi do que um fato ou objeto natural, o relatório não se
enquadra, geralmente, em nenhuma das seis categorias descritas. Um relatório
sobre OVNI que teve sua origem na visão de um balão de ar quente não contém,
na maioria das vezes, o aspecto repetido da típica Luz Noturna. A fuselagem de
avião brilhando sob a luz do sol, relatada por alguma pessoa desorientada como
se fosse um OVNI, não é narrada como se tivesse se afastado com uma
velocidade incrível. Sinais luminosos desprendidos de um avião (que, por
diversas vezes, já deram origem a relatórios sobre OVNIs) não são mencionados
como se tivessem parado os carros, assustado animais ou curveteado no espaço;
como esses relatórios também não contêm referências a ocupantes ou a um
aparelho de formato oval pairando a um metro e oitenta do solo.
Já que examinamos rapidamente a natureza da experiência com OVNIs e as
pessoas que relatam estas mesmas experiências, tendo classificado os relatórios
sobre os OVNIs em seis categorias e estabelecido um sistema para quotar os
relatórios sobre OVNIs, vamos focalizar agora o assunto principal deste Jivro, os
dados que dispomos para realizar nossos estudos. Portanto, tendo isto em mente,
faremos uma prospecção sobre a maneira como foram tratados estes dados no
passado, inicialmente pela Força Aérea e, mais recentemente, pela Confissão
Condon. Finalmente, atingiremos as sugestões que tenho a fazer rumo a um
programa positivo para o estudo do fenômeno OVNI.

PARTE II - OS DADOS E O PROBLEMA


INTRODUÇÃO: OS PROTÓTIPOS

O problema central deste tratado é saber se existem quaisquer “observações
novas realmente empíricas” exigindo “novos esquemas explicativos”, no
considerável corpo de dados sobre os OVNIs relatados. Muito pouco deveria, ou
poderia, ser dito a respeito do que seriatn esses novos esquemas explicativos
antes que se tenha feito um exame detalhado dos dados: isto seria realmente o
mesmo que colocar o carro diante dos bois. Tratando-se de um assunto tão
controverso, que desencadeou com tamanha frequência tantas reações
profundamente emocionais, o exame dos dados deve ser a primeira medida a se
adotar: somente, então, poderemos chegar a qualquer julgamento sobre novas
observações empíricas. Deliciamo-nos com esquemas explicativos antes de
sabermos que o que há para ser explicado é por demais pretensioso.
Poderíamos nos sentir tentados a ser menos rígidos com relação a este ponto,
caso o dado pertencesse àquele tipo “material sólido”, àquele tipo ao qual nós os
cientistas físicos estamos acostumados a lidar nas experiências realizadas nos
laboratórios. Porém, sob o ponto de vista do cientista, os dados deste problema
são totalmente insatisfatórios. Eles estão mais aptos a serem anedóticos do que
quantitativos, mais parecidos com histórias narradas ao pé da lareira do que com
leituras realizadas por instrumentos, e não são passíveis de verificação através da
repetição da experiência.
Os fatos não são estritamente científicos. Apesar disto, os dados formam um
campo de estudo fascinante e provocante para aqueles cujos temperamentos não
se sentem ultrajados pelo caráter da informação. E não podemos deixar de
observar que há aqueles cujos campos de estudos pululam com dados igualmente
“insatisfatórios”. Antropólogos, psicólogos e até mesmo os meteorologistas
lidam, diariamente, com dados evidenciais e circunstanciais que devem ser
acomodados uns aos outros como se fossem peças de um quebra-cabeças. Os
advogados e juízes devem sopesar e considerar provas conflitantes; os agentes
da espionagem militar procuram, de vez em quando, fazer todo um quadro com
pedacinhos fragmentados. Na verdade, o que constitui um dado sem fundamento
para um campo de estudo talvez não o seja para um outro. Portanto, podemos
examinar os dados referentes aos OVNIs sem nos preocuparmos em saber se eles
satisfazem as exigências de material sólido para um determinado campo de
estudo. Logo, examinaremos, o mais objetivamente que nos for possível, uma
série de dados especialmente selecionados: relatos feitos, em cada instância, por
no mínimo duas pessoas de demonstrada competência mental e senso de
responsabilidade, relatos que “não apresentam soluções” exceto através do
artifício, banal e auto desafiador, da rejeição absoluta.
Tendo em vista este objetivo, podemos construir um paradigma para cada
uma das categorias delineadas no último capítulo, projetando, estes protótipos,
com base nos exemplos globais ou parciais tirados dos casos por mim estudados
pessoalmente. Estes arquétipos nos serão mais úteis do que o seria uma revisão,
forçosamente rápida, de toda uma série de casos individuais (Eu mesmo achei
extremamente difícil lidar com aquilo que é, essencialmente, um catálogo de um caso de OVNI após o
outro, cada qual descrito rapidamente, e com os detalhes e a documentação omitidos. A mente assusta-se
diante das “singularidades repetitivas” e encontra dificuldade para assimilar e organizar, sob qualquer
maneira lógica, a verdadeira festa de relatos estranhos).
Há pouca possibilidade para se precisar a quantidade exata de provas ao
apresentá-las nesta ou em outras categorias de relatórios sobre OVNIs. Mas o
fato é que existe uma riqueza de material, ainda que não seja muito fácil de ser
conseguido. Por exemplo, embora a Força Aérea declare que todos os 12.000
casos do Livro Azul não são matéria sigilosa e que estão à disposição do
público, eles encontram-se numa área sigilosa e qualquer pessoa que os deseje
examinar deverá apresentar um cartão expedido pela segurança. Notícias a
respeito de OVNIs aparecem em diversas revistas esparsas e pequenas e em
publicações locais de circulação limitada, e o investigador idôneo precisará não
só ter uma formação científica como também o temperamento de um
colecionador, recolhendo uma reportagem aqui e ali através de pesquisa
realizada nos arquivos de jornais e em publicações de algumas organizações tais
como: Comissão Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos (NICAP),
Organização de Pesquisas de Fenômenos Aéreos (APRO) e uma quantidade
imensa de outras organizações menores neste e em outros países.
No que se refere ao meu trabalho pessoal a respeito deste fenômeno,
mantenho três arquivos separados para os diversos materiais que coleciono: um
contém os casos altamente selecionados que contam com observadores
responsáveis; noutro mantenho os casos que poderiam ter sido colocados no
arquivo de casos escolhidos mas que não possuem informações suficientes a
respeito dos observadores para que se possa estabelecer a sua credibilidade, e um
terceiro, um arquivo geral, guarda os relatórios que estão um pouquinho acima
da classificação de uma pequena reportagem de jornal, nos quais faltam diversos
dados pertinentes e pouco ou nada se sabe a respeito das testemunhas. Até
mesmo estes últimos casos formam um tipo e provavelmente seriam úteis para
estudos estatísticos, ainda que sejam, praticamente, inúteis para estudos
detalhados.
Todos os três arquivos têm, praticamente, a mesma frequência de ocorrência
segundo os dados dos acontecimentos relatados; geralmente, quando aparecem
em grande número notícias nos jornais, surgem também os relatórios feitos por
observadores responsáveis e muito bem documentados. Não existe nada nas
provas que indique que os relatórios bem-documentados são gerados por uma
onda de reportagens apressadas ou por relatos sucintos divulgados pela
imprensa. Muito pelo contrário, poderia argumentar-se que os primeiros são
simplesmente, os relativamente escassos relatórios bem documentados, previstos
quando há um período geral de atividade de OVNIs.
Como a minha obrigação durante tantos anos, na qualidade de consultor da
Força Aérea, foi procurar separar o “sinal” do “ruído”, enfrentar e julgar a
quantidade imensa de dados incompletos e vagos, podemos nos beneficiar da
minha experiência e diminuir bastante os problemas ao examinarmos o que têm,
fundamentalmente, em comum os relatos de cada categoria. Com este intuito,
foram escolhidos cerca de uma dúzia de exemplos em cada categoria que serão
mostrados nos capítulos subsequentes. A qualidade dos relatores envolvidos nos
casos foi avaliada e foram estabelecidos os aspectos fundamentais que
caracterizam cada categoria. Damos, no Apêndice I, as referências aos casos
utilizados neste livro.
No que se refere à parte da avaliação dos relatores, é interessante incluir
algumas de suas reações espontâneas com relação ao “acontecimento”. Estas
observações e reações pessoais, instantâneas e ingênuas, ajudam a caracterizar os
relatores e abrilhantar o acontecimento extraordinário. Em última análise, os
relatores ou testemunhas devem ocupar o centro do nosso palco; são eles os
nossos atores e, a menos que saibamos tudo quanto for possível a respeito deles,
podemos achar, para nosso assombro, que temos “uma história contada por um
idiota... significando nada” (Shakespeare).
Os casos nas seis categorias para as quais procuramos protótipos passaram,
naturalmente, por filtros descritos nos Capítulos 3 e 4 e para cada um dos mais
de 60 relatórios sobre OVNIs usados nos vários capítulos a seguir não consegui
encontrar uma explicação lógica e corriqueira — a menos que eu pressuponha
que os mais de 250 relatores eram, na verdade, uns idiotas.
5. LUZES NOTURNAS


Elas (as luzes) apareceram sob as nuvens, sua tonalidade era vermelho
bastante vivo. À medida que se aproximavam do navio, davam a impressão
de ascender, passando através das brechas entre as nuvens. Após terem
ultrapassado as nuvens, pareciam estar se afastando diretamente da terra. A
maior delas parecia ter uma área de seis sóis, aproximadamente. Tinha a
forma de um ovo, com a parte mais larga adiante. A segunda devia ser umas
duas vezes maior do que o sol, e a terceira, mais ou menos do mesmo
tamanho do sol. A sua aproximação da superfície e o subsequente voo
afastando-se da superfície foram qualquer coisa de impressionante. Uma
coisa é certa: elas ficaram abaixo das nuvens e ascenderam, ao invés de
prosseguirem no seu curso rumo ao sudeste. As luzes puderam ser vistas
durante mais de dois minutos e foram cuidadosamente observadas por três
pessoas, cujos relatos e detalhes são idênticos.
— extraído do número de março de 1904 da Weather Review.
Reportagem enviada do navio SS Supply, no mar.

Começamos com os acontecimentos mais frequentemente relatados e “menos
estranhos’’: as Luzes Noturnas, luzes no céu noturno. Representam elas a
maioria dos relatórios que eu, na qualidade de astrônomo, fui solicitado a
explicar, a partir de 1948, como se fossem objetos ou acontecimentos
astronômicos, sempre que isso fosse possível.
Devemos deixar bem claro que os relatórios iniciais sobre uma luz-no-céu-
noturno possuem uma baixa percentagem de sobrevivência. Um investigador
experimentado reconhece, prontamente, na maioria deles o que realmente são:
meteoros brilhantes, luzes do aparelho de aterrissagem de um avião, balões,
planetas, estrelas piscando vivamente, luzes de busca, luzes de anúncios em
aviões, missões de reabastecimento de gasolina, etc. Quando alguém percebe
como o público em geral desconhece esses tipos de luzes presentes no céu à
noite, passa a entender o porquê do aparecimento de tantos relatórios sobre
OVNIs. É lógico que casos tão triviais não satisfazem à definição de OVNI
apresentada neste livro. Da mesma forma, quando um OVNI fica definido, como
aconteceu no caso do Relatório Condon, como “alguma visão que intriga o
observador” e não como acontece aqui — um relatório que permanece
inexplicado tecnicamente por pessoas especializadas, capazes de explicá-lo em
termos comuns — pode-se reconhecer a razão da natureza basicamente
insatisfatória da investigação procedida.
No que diz respeito à categoria das Luzes Noturnas especialmente, somente
deveríamos admitir para fins de pesquisa aqueles casos relatados por duas ou
mais pessoas estáveis, no qual o comportamento relatado sobre a luz, a sua
configuração e trajetória total sejam de tal ordem que se possa excluir, com
grande margem de segurança, a explicação de que se tratava de uma simples
interpretação errônea de objetos naturais.
Após termos feito uma declaração tão crítica, afastar tais tipos de casos
altamente selecionados, como se não tivessem mérito ou uma significação em
potencial para a física, ou para a ciência do comportamento é, na melhor das
hipóteses, arrogante e irresponsável.

OS RELATORES

Como o observador que relata o acontecimento OVNI é essencial para
qualquer estudo a respeito dos OVNIs, vamos examinar, antes de mais nada, os
41 relatores ligados aos casos que selecionei para traçarmos as principais
características desta categoria. Sugiro que eles podem, e deveriam ser levados a
sério pelos cientistas — devido às qualificações evidentes de suas condições de
testemunhas competentes.
A quantidade média de relatores nos casos selecionados envolvendo as Luzes
Noturnas foi de 3.5; o número médio era 3. Entre os 37 relatores adultos
notamos uma ampla variedade de ocupações 1 e competência técnica — que vão
desde o açougueiro e três donas de casa até um oficial em telecomunicações da
Real Força Aérea Canadense, um oficial de segurança da Marinha americana, e
um chefe de laboratório M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology) — mas a
maioria dos observadores à época dos avistamentos estava ocupando posições de
responsabilidade: pilotos (4), operadores de controle aéreo (8), funcionários da
polícia e da segurança (5) etc. — posições em que ficaríamos desconcertados em
encontrar pessoas que sejam mentalmente instáveis ou dadas a julgamentos tolos
ou fraudes. Em todos os casos, o relator observou o fato acompanhado pelo
menos por um outro adulto responsável.
Conforme já tivemos oportunidade de observar, frequentemente as reações
imediatas dos relatores, usando suas próprias palavras, podem ser bastante
esclarecedoras.
Na primeira categoria, Luzes Noturnas, podemos iniciar com as reações do
diretor adjunto do laboratório do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT).
(Consulte Apêndice I, NL-1.) Quando viu seu filho de onze anos aparecer
correndo dentro de casa dizendo: “Há um disco voador lá fora”, ele e o resto da
família saíram para ver. Durante a nossa entrevista, o pai contou:

Ao sair de casa, apanhei os binóculos pequenos (4x30) a fim de observar
o objeto. Não acreditava, realmente, que fosse ver alguma coisa. Nesse
ínterim, meu filho de quinze anos voltou para dentro de casa e pegou os
binóculos 6x30 da Bausch & Lomb. Nós dois observamos o objeto.
Minha primeira impressão foi... será uma estrela extremamente
cintilante? Mas este pensamento foi afastado quase que imediatamente. A
segunda ideia que me passou pela cabeça — pois buscava uma explicação
lógica — foi que talvez se tratasse da luz do trem de aterrissagem de um
avião. (Esta teoria foi prontamente abandonada devido à estranha trajetória
da luz, localizada pelo observador por entre os galhos nus de uma árvore.
Estavam no meio do inverno.)... no dia seguinte, pedi ao meu garoto mais
velho para descrever as observações que fizera e elas eram totalmente iguais
às minhas.
Para ser sincero, não sei como poderia chamar aquilo de um aparelho
aéreo. Contava com um avião e um helicóptero para estabelecer uma
comparação. (Estes tinham passado por ali durante os vinte minutos que
duraram a nossa observação.) Bem... minha mulher disse que talvez fosse um
satélite. Respondi-lhe: como seria possível um satélite deslocar-se da mesma
maneira que o objeto?

No conjunto dos casos de Luzes Noturnas relatados neste capítulo aparecem
oito operadores de torre de aeroportos. Um comentário como o que citaremos a
seguir — apoiado por mais outras quatro testemunhas — merece a nossa
atenção:
“Trabalho nesta torre há vinte e sete anos e nunca vi uma coisa assim antes...
Foi a manobra violenta... e a aparente colaboração entre os dois objetos
brilhantes que tornaram a visão significativa”. (Veja Apêndice 1, NL-2.)
A testemunha de uma outra aparição de OVNI, que também é um operador
de torre de aeroporto, disse: “Durante os últimos quatro anos venho ocupando o
cargo de supervisor do controle de tráfego aéreo; estou habituado a desvios e ao
cruzar dos satélites. Procurei imaginar o que tinha visto e explicá-lo a mim
mesmo”. (Veja Apêndice 1, NL-3.)
Se o observador não tinha capacidade para explicar o que vira, muito menos
a Força Aérea. Um comentário oficial citava: “Tendo em vista a experiência e a
credibilidade dos observadores (operadores de controle aéreo), conclui-se que
um fenômeno de alguma espécie foi observado, mas não se pode determinar sua
causa lógica”.
Para mudar o ritmo (e a ocupação) a respeito das reações imediatas diante de
uma experiência de avistamento OVNI, eis aqui o comentário de uma jovem,
porém madura, negociante de antiguidades: “....enquanto eu não parava de dizer
‘O que será isto?’ ele (seu marido) não parava de repetir ‘Ai, meu Deus! ’ ”
(Veja Apêndice 1, NL-4.)
Contamos com o seguinte relatório, escrito de uma forma mais leve:

Certa noite, em 1966, estava envolvido na nobre tradição americana de
“ficar estacionado” com uma garota.... O que me chamou a atenção.... e
naquele momento era preciso muita coisa para me distrair, foi o modo como
aquela coisa (uma Luz Noturna forte) deslocava-se.... O objeto era silencioso
e, para não parecer fora de moda, cintilava. Era bem mais brilhante do que
qualquer outra estrela no céu... Então, enquanto ele se deslocava lentamente
rumo ao norte, imaginei que fosse um balão meteorológico refletindo a luz
do sol. Contudo, os balões não ficam imóveis, mudam de direção e dão
marcha a ré, por assim dizer.... Bem, finalmente chamei a atenção da garota a
fim de me certificar que não se tratava de uma ilusão. Ela o viu sem maiores
dificuldades e ficou apavorada. Ficamos observando aquilo juntos enquanto
a coisa fazia uma porção de loucuras... Finalmente, após passar cinco
minutos girando por ali, partiu para outras plagas. Bem distante, ao sul, ele
deslocou-se até sair do nosso campo de visão rumo ao norte em cerda de
cinco segundos. Cronometrei-o, sei disso. Não espero que acreditem em
mim, mas aconteceu. (Veja Apêndice l, NL-5.)

Seria quase que possível encher literalmente um livro com tão espontâneas
reações de observadores maduros' à época de suas experiências, mas quase não
adiantaria ao nosso objetivo, exceto no que diz respeito à amplificação. Portanto,
só examinaremos 'mais uma reação com relação a um OVNI incluído nesta
categoria:
Antes de mais nada, permita-me fornecer-lhe algumas informações sobre
mim mesmo para que possa ver que sou um observador razoavelmente
qualificado. Estou com 44 anos, fiz parte da Força Aérea canadense por mais de
25 anos, primeiro como um tripulante durante a Segunda Guerra Mundial. No
decorrer dos últimos vinte anos tenho trabalhado no campo das
telecomunicações. Passei mais da metade deste tempo servindo em bases aéreas
e tive oportunidade de ver a maioria dos aviões, tanto os militares como os
comerciais.... Devo acrescentar que anteriormente nunca acreditei num OVNI,
mas este é tão inexplicável segundo nossos padrões atuais que me deixa
matutando.... nenhum dos peritos em voo também encontram uma explicação
para ele. (Veja Apêndice 1, NL-6.)

OS RELATÓRIOS

Voltando ao que foi relatado por estas pessoas amadurecidas, vamos iniciar
com o relatório a mim transmitido pelo Dr. David Layzer (mas não redigido por
ele), do Observatório da Universidade de Harvard. Na sua carta explicativa o Dr.
Layzer declarava: “Temos aqui um relato feito por oito testemunhas fidedignas
(oito observadores) sobre luzes misteriosas que se deslocavam e foram vistas....
por um vizinho meu (membro da Faculdade de Medicina da Universidade de
Harvard) e diversos membros da sua família’’. (Veja Apêndice 1, NL-7.)
O doutor declarava na sua carta:

O objeto chamou minha atenção porque.... a luz não podia ser de um
avião. De nossa casa vemos, com frequência, os aviões com as luzes do trem
de aterrissagem acesas quando estão se aproximando do aeroporto Logan;
contudo, quando vejo as luzes de aterrissagem posso enxergar, geralmente,
as luzes vermelhas e verdes das asas também. No caso a que me refiro, não
consegui ver nenhuma luz. Também não escutava nenhum barulho enquanto
tinha a impressão de que o objeto se aproximava.... A noite estava
excepcionalmente clara, fria e silenciosa.... Quando me pareceu que o objeto
estava no seu ponto mais próximo, creio que, de meio a um minuto depois
que apareceu pela primeira vez, surgiu uma segunda luz praticamente no
mesmo curso da anterior e minha curiosidade aumentou ainda mais quando
surgiu uma terceira luz, cerca de meio minuto mais tarde. Entrei
imediatamente para pegar os binóculos.
Ao voltar para fora, notei que as três luzes ainda estavam visíveis; as
duas primeiras estavam paradas a cerca de 15 a 25 graus acima da linha do
horizonte, bastante próximas uma da outra e imóveis. A terceira ainda se
deslocava. Com os binóculos não se podia ver nenhuma luz vermelha, verde,
ou qualquer outra normalmente usada em voo. A esta altura, apareceram as
luzes.... creio que a intervalos de meio minuto, uma série delas.... num total
de seis ou sete. Não sou um observador experimentado e no início também
não procurava me certificar do que estaria realmente acontecendo. Diversas
das luzes iniciais ficaram completamente imóveis, enquanto que as outras
movimentavam-se sobre a linha do horizonte; finalmente, duas, ou talvez três
delas, mantendo a imobilidade, deram-me a impressão de estarem deixando
cair luzes menores que cintilavam ou reluziam; enquanto isto acontecia, tive
a impressão de que as luzes imóveis diminuíam de intensidade e extinguiam-
se.

Este relator afirma não ser um observador experimentado. Quem nos dera
que a média dos relatórios sobre OVNIs fosse tão coerente e detalhada como
este enviado por um observador “sem experiência”! Ele prossegue:

... uma das coisas mais impressionantes a respeito dessas luzes era a sua
coloração. Era um tom de laranja e, portanto, diferente de qualquer outro que
eu tivesse visto num avião. Não era um laranja forte ou violento mas
simplesmente laranja demais para que pudesse ser uma luz normal de trem
de aterrissagem... Enquanto as luzes estavam visíveis, diversos aviões
passaram a uma distância audível, mas seu barulho ia morrendo, e as luzes
continuavam sem emitir nenhum ruído que pudéssemos detectar... Não
podíamos evidentemente calcular a sua velocidade pois não tínhamos e nem
podíamos calcular a que distância se encontravam. Comparada com uma
velocidade angular elas deslocavam-se (entre) a mesmas velocidades médias
dos satélites (e) um jato ao se aproximar de um aeroporto já com as luzes de
aterrissagem acesas, como estamos acostumados a ver.
... as luzes eram tão brilhantes quanto Vénus no seu momento mais
brilhante; ou seja, luzes muito brilhantes, mas tenho certeza que não
projetavam a mínima claridade sobre o solo. As conversas que tivemos com
alguns amigos posteriormente sempre pareciam resultar em duas questões...
Primeiro, as luzes que se movimentavam do sul para o nordeste se
mantiveram sempre firmes. Não piscavam, não bruxuleavam, eram tão
paradas quanto a claridade de Vénus ou a luz de aterrissagem de um avião.
Não pude distinguir nenhum formato, forma ou qualquer outra coisa presa a
estas luzes. As luzes que pareciam ser destacadas ou desprendidas do objeto
pareciam cintilar à medida que caíam.
... ao ouvir novamente este relato, parece-me que a ordem dos
acontecimentos não está totalmente clara.... Estivera na casa de vizinhos no
outro lado da rua e estava voltando a pé à nossa quando notei a primeira luz.
Minha mulher ainda continuava na casa deles. Já tinham aparecido três ou
quatro das luzes e já estava com meus binóculos quando minha irmã, seus
filhos e meus pais voltaram da igreja. Embora três dos objetos ainda
estivessem no céu, ainda me sentia por demais cético para acreditar que
pudesse ser qualquer coisa de extraordinário, embora estivesse muito
curioso. Senti-me um tanto tolo quando, ao chamar a atenção do grupo que
acabava de chegar para aquelas luzes, todos trataram a coisa como se fosse
uma brincadeira (uma reação comum). Todos observamos com os binóculos,
que fomos passando de um a outro, e chegamos à conclusão que nada de
muito diferente podia ser notado com ou sem eles.
... Entrei na casa para chamar o Dr. David Layzer, que é um vizinho. Como
não obtivesse resposta, tornei a sair... (Eles) continuavam observando as
luzes e as contas estavam meio confusas. Pensamos que deve ter aparecido
um total de seis ou sete... Todo este episódio deve ter durado uns vinte
minutos, talvez, antes que a última luz desaparecesse. As luzes que tinham
deixado cair as outras luzes menores, estavam, ao que me parece,
estacionárias. Não se moviam perpendicularmente a nossa linha visual. Era
fácil mantê-las centralizadas com os binóculos apoiados numa árvore e sua
iluminação era tão firme que tenho plena certeza de que não estavam
desaparecendo à distância dentro do nosso campo visual;

Um ano mais tarde, enviei uma carta ao observador. Em resposta às minhas
perguntas, escreveu ele:
Responderia que sim, o acontecimento continua me parecendo tão estranho
quanto à época em que o observei.... Minha explicação (que reconheço
insatisfatória) era que as luzes estavam presas a algum tipo de invenção que não
devia ser do conhecimento do público. Confesso que sou aberto, mas
fundamental-mente cético, a respeito de objetos e visitantes extraterrestres....
Envio-lhe uma cópia carbono, de uma carta de Donald Menzel (astrônomo em
Harvard) para quem David (Layzer) também enviou uma cópia do meu relato.
Confesso não lhe ter respondido a nota que ele me enviou porque, além de achar
que ele tratara todo o assunto na berlinda, não tinha, evidentemente, lido o
relatório com o mínimo cuidado.... Diria que a sua explicação final (estrelas
brilhantes, principalmente, conjugada a uma ou duas luzes de aterrissagem de
um avião e possivelmente a um satélite) está fora de questão de vez que, ao
tentar aplicar a combinação dos objetos por eles sugeridos a seis ou sete objetos
que se comportavam essencialmente de modo igual, cheguei a conclusão que ele,
simplesmente, dera muitas largas a imaginação.
A reação do Livro Azul foi parecida — e negativa. Quando propus que fosse
feito um inquérito dos canais da inteligência militar para sabermos se realmente
haviam sido realizados exercícios sigilosos naquela gélida noite invernal, minha
sugestão só encontrou uma total falta de entusiasmo. E o assunto ficou como
estava, pois um consultor não possui autoridade.
O avistamento acima descrito é, sem dúvida, um dos menos “singulares”;
possivelmente, tem uma explicação “normal”. Apresentei-o com alguns detalhes
porque, primeiro, exemplifica de forma excelente as atitudes de alguns cientistas
e do Livro Azul e, segundo, porque também refuta a ideia de que apenas as
pessoas com um status duvidoso é que relatam ou se referem aos OVNIs.
Ora, se nenhum dos avistamentos envolvesse um tipo extraordinário de
demonstrações de velocidade, manobras ou outros indícios de um sistema de
propulsão desconhecido, poderíamos perfeitamente bem não termos um
problema. Há casos com mais elevados Graus de Estranheza e,
consequentemente, a visão acima citada é julgada como um OVNI porque se
enquadra na definição de um OVNI: o aparecimento das luzes e suas trajetórias
permaneceram não-identificados por pessoas consideradas perfeitamente
capacitadas, a identificá-los se realmente fossem identificáveis como uma
ocorrência normal.
Contamos com o exemplo que se segue, entre os doze outros,
aproximadamente, que estão em debate na presente categoria. Este foi relatado
por um dos dois observadores envolvidos, um aluno de pós-graduação em
engenharia no MIT:

Nesse momento a Ursa Maior estava quase no zénite. De repente, dei-me
conta que duas das estrelas estavam se deslocando.... num círculo com um
centro em comum, enquanto mantinham posição em extremidades opostas do
diâmetro, muito parecidas com duas bolinhas pintadas nas bordas opostas de
um disco girando sobre um prato de uma vitrola. Elas faziam um movimento
de rotação com cerca de 30 rpm, seguindo a direção oposta dos ponteiros de
um relógio e numa velocidade muito constante ...As estrelas giratórias
estavam separadas por uma distância aproximadamente igual a ... cerca de
uma lua e meia de diâmetro. Os objetos eram menos luminosos do que
Arcturus, e ligeiramente menos luminosos do que Alfa, Beta e Gama da Ursa
Maior.... repentinamente pararam de se mover e isto fez com que ficassem
numa direção norte-sul.... Permaneceram imóveis, totalmente parados,
começaram a se afastar um do outro, o que se deslocava para sul parou
abruptamente ... “a estrela” que tinha começado a se mover rumo ao norte
prosseguiu no seu curso. Desta feita, a sua velocidade era constante e mais
lenta do que a maioria dos meteoros porém mais rápida do que a de um avião
comum. (Veja Apêndice 1, NL-8.)

O caso foi relatado para o Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica da
Universidade do Colorado (não para o Comitê Condon) a conselho de dois
professores do MIT, um dos quais era o conselheiro do relator graduado.
Também foi comunicado ao Observatório da Faculdade de Harvard. Porém
nenhum dos dois deu prosseguimento ao assunto.
O avistamento ocorreu em maio de 1970, após algum tempo de ter o Comitê
Condon concluído que não havia razões para um maior aprofundamento do
estudo dos OVNIs. Podemos usar, facilmente, os excertos parafraseados tirados
de uma entrevista gravada com dois policiais que comunicaram uma Luz
Noturna à época em que o Comitê Condon dava início ao seu trabalho. (Veja
Apêndice 1, NL-9-) O caso, simplesmente, não foi estudado pelo Comitê.
Os policiais observaram um objeto grande, brilhante e branco localizado a 50
graus acima da linha do horizonte e, ao que parecia, situado entre duas grandes
cidades próximas (conforme confirmação dada por repórteres de rádio destas e
de outras localidades, que realizaram uma triangulação incipiente). O objeto
ficou imóvel durante quinze minutos, mais ou menos se apagando quando os
policiais dirigiram os focos dos holofotes na sua direção. Disseram eles que o
objeto tinha o tamanho de um dólar de prata mantido a distância de um braço
(Isto é inegavelmente um exagero — fato muito comum nos relatórios sobre OVNIs. As pessoas não se dão
conta do quanto é grande um ângulo projetado por um dólar de prata sobre o céu quando mantido à
distância de um braço. Ninguém se dá conta que, por exemplo, um comprimido de aspirina mantido à
distância de um braço cobriria, virtualmente, a lua).
Pouco depois um objeto menor — uma luz — disparou na sua direção,
vindo do noroeste, aproximou-se do objeto luminoso e parou. Em seguida, uma
outra luz partiu do sudeste e também parou junto à luz maior. Depois a luz maior
efetuou uma trajetória “quadrada”, enviando ocasionais feixes de luz azulada na
direção do solo. Passados cerca de 30 minutos realizando estas manobras, as
luzes menores deslocaram-se em alta velocidade rumo ao local de onde tinham
partido, levando cerca de 5 segundos para desaparecer. Não foram ouvidos
ruídos de nenhuma espécie.
Infelizmente, o investigador não obteve um relato completo como poderia ter
conseguido e somente muito tempo após o acontecido é que tive oportunidade de
debater o caso com ele. Mas aqui, assim como em outras oportunidades, vamos
diretamente à pergunta que faria a si mesmo qualquer investigador sério: como
se originou um relatório deste tipo? Ou será que os policiais ficaram por mais de
uma hora fora de seu juízo, e estavam relatando pura fantasia? E os operadores
de rádio da polícia nas cidades próximas tinham sido dominados pela histeria e
estavam incapacitados de Separar a realidade da fantasia ao se comunicarem
com os colegas? Ou será que esses policiais viram realmente alguma coisa
extraordinária?
Os policiais não eram tão coerentes nem instruídos quanto o médico que
relatou as estranhas luzes vistas na periferia de Boston, nem como o estudante do
curso pós-graduação do MIT e sua mulher, que relataram as luzes parecidas com
estrelas rodopiando, mas a entrevista gravada indica que eles também se sentiam
intrigados.
Se devêssemos concluir que a primeira hipótese — que os policiais ficaram
temporariamente alucinados — é correta, teríamos que requerer uma revisão no
sistema usado para a seleção de nossos policiais, tendo em vista os muitos
relatórios estranhos recebidos da parte de policiais em toda a nação (e em outras
também). Realmente haveríamos de nos ver em palpos de aranha se policiais tão
desorientados e nada objetivos, tivessem que testemunhar contra algum de nós
num tribunal. Como poderíamos confiar no seu testemunho?
Será possível que os pilotos também sejam afetados por uma perda de razão?
Contamos com o relatório que se segue, classificado na categoria de Luzes
Noturnas, como um exemplo de um dos muitos casos arquivados. Este caso foi
classificado pelo Livro Azul como “Não-identificado”: (Veja Apêndice 1, NL-
10.)

Vimos surgir à nossa frente, a 500 pés abaixo do avião, num curso de
colisão, um clarão luminoso, de tonalidade branco avermelhado, grande,
enfumaçado e com brilho intenso. Ele manteve a altitude, mas fez uma volta
para a direita quando o comandante do avião realizou uma manobra de fuga
(o relato de um major, um tenente e dois membros da tripulação da Força
Aérea). As investigações realizadas até a presente data não nos oferecem
causas possíveis.

Encontramos esta passagem interessante num relatório oficial feito por um
capitão da Eastern Airlines baseado em Atlanta e datado de 28 de fevereiro de
1968, a nós remetido por um diretor de voo daquela companhia aérea:

Apanhei o microfone e perguntei: ‘Quem está na nossa posição 11:30?’
O Centro respondeu que o avião com quem se comunicava encontrava-se a
15 milhas de distância. Repliquei: ‘Ora, esse cara não está a 15 milhas de
distância! ’
Assim falando, preparei-me para realizar uma manobra de fuga. O centro
comunicou-me que ainda não viam o foco, ao que respondi: ‘Ora, vamos!
Ele está indo bem ao nosso lado, na nossa posição 9 horas.’

Devemos observar que enquanto estes nada mais são além de dois simples
exemplos de uma quantidade bem grande de relatos de pilotos, estes não gostam
de fazer comunicados deste tipo a menos, que tenham instruções militares para
assim agirem3.
Voltando agora aos operadores de torre de aeroportos, cujo julgamento nós
cidadãos aceitamos diversas vezes por dia devido à sua capacidade em
reconhecer um avião aproximando-se para aterrissar e distinguir entre uma luz
de aterrissagem, Vênus ou algum “aparelho desconhecido’’, três dos oito
operadores de torre incluídos na lista de relatores de casos selecionados de Luzes
Noturnas, confirmaram a declaração de um deles (no momento só havia três
operadores na torre):

Dois objetos (num céu azul escuro de meia luz, com a lua visível mas as
estrelas ainda não) eram apenas pontos brilhantes de luz branca e poderiam
ser interpretados como satélites não fossem as manobras repentinas, a
mudança de direção e a velocidade com que desapareceram.... Um rumava
para o norte num ângulo de 45 graus acima da linha do horizonte, o outro
para o sul a cerca de 30 graus. A luz do sul realizou uma volta de 180 graus,
repentina, elevou-se, juntou-se ao outro objeto, ficaram pairando como se
aquilo fosse uma formação e, em seguida, partiram para o nordeste (Veja
Apêndice 1, NL-2).

Meu interlocutor, um operador de torre com 27 anos de experiência, estava
suficientemente impressionado para fazer uma ligação interurbana a fim de me
relatar o ocorrido. Tinha ele quatro testemunhas. Duas delas contaram-me
durante uma entrevista pessoal quando da minha estada em North Dakota — a
cena do avistamento — que tinham entrado em contato com o radar de Great
Falis e que lhes tinha sido confirmado por telefone a presença de um alvo
errático na tela. Esta declaração foi oficialmente desmentida no dia seguinte;
acrescentando-se, portanto, à imensa quantidade de negativas feitas mais ou
menos um dia depois de se ter tido uma confirmação através do radar pela Força
Aérea ou a Administração da Aviação Federal.
Outro bom exemplo na categoria das Luzes Noturnas é o “caso MIT’’ (MIT —
Massachusetts Institute of Technology) devido às inegáveis qualificações do principal
observador, um homem totalmente a par dos procedimentos científicos. As
citações que se seguem foram tiradas de minha entrevista gravada com ele e
referem-se mais à descrição do objeto do que às suas reações (Veja Apêndice 1,
NL-1).

Era muito mais brilhante do que Vénus. Apareceu como uma fonte
luminosa de um branco intenso — talvez com um ligeiro amarelado —
provavelmente do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Creio que a descreverei como uma fonte luminosa ínfima, numa fornalha
escaldante, como sua fonte central, com um tipo de chama quente branca e
depois com aquela cor na periferia girando externamente em torno dela, a
vermelha e a verde — a vermelha debruada de rosa. Outra coisa que
observamos ao olharmos para o objeto através de algumas pequenas árvores
(sem folhas). Era óbvio que havia um deslocamento sem rumo do objeto com
relação ao fundo formado pelas árvores....
P. Por quanto tempo permaneceu na posição de flutuação, de afastamento ?
R: Entre cinco e dez minutos.
P: Quando conversamos a respeito anteriormente, você disse alguma coisa
sobre o objeto ser um tipo de coisa sobrenatural que nunca tinha visto
antes. Na verdade, creio que se referiu a ser alguma coisa “radioativa”.
Pode falar a esse respeito com maiores detalhes ?
R: Não sei porque disse isso, talvez pelo fato da fonte ser extremamente
intensa e ter uma cor que não se poderia esperar fosse gerada por meios
artificiais como uma lâmpada — qualquer tipo de lâmpada conhecida.
P: Poderia ser comparado a uma espécie de curto circuito de fios elétricos,
como acontece durante as tempestades de neve?
R: Poderia haver alguma semelhança.... sim, exceto no que diz respeito às
variações de cor. A luz central era muito mais fixa do que se poderia
esperar em algo assim.
P: Acha que poderia ser algum tipo de avião em fase de experiência testando
luzes estroboscópicas ?
R: Não, não era.
P: Agora vamos voltar ao início. Havia algum ruído característico?
R: Não, de nenhuma espécie.
P: E o que tem para me contar a respeito do último deslocamento?
R: Após ter observado o objeto por cinco ou dez minutos, tanto na sua
posição aparentemente flutuante e vagante ele começou a ganhar altitude
e rumar para o leste; avalio que a altitude tenha subido cerca de 30 graus
e alcançou um azimute de aproximadamente 160 graus (sudeste),
momento em que me deu a impressão de que tornava a parar e flutuar.
Este deslocamento, ainda que não parecesse estar próximo a ele, pareceu
coincidir com a passagem de um avião.
P: Parece-me que isto relembra o nosso debate anterior. Não me recordo de
ter deixado de lado nenhum fato importante. Vamos procurar estabelecer
a média angular. Não conseguimos ainda deixar isto claro. Quando se
movimentava na sua velocidade mais alta — deslocamento aparente —
como julgaria.... ?
R: Deslocava-se mais ou menos, creio, a pouco mais de um grau por
segundo. Alguma coisa parecida com esta magnitude.

Um ex-cientista-chefe do Pentágono, meu amigo pessoal e amigo e colega do
relator do MIT, tinha me pedido para examinar este caso, ligando para mim do
outro extremo do país. Não consegui que o Livro Azul aprofundasse mais a
investigação, apesar da solicitação feita por um profissional ocupando uma
posição de destaque.
Incluo outro caso de Luz Noturna devido às circunstâncias que antecederam
a sua observação. Quando este livro já estava praticamente terminado, remeti
uma carta para o editor de Physics Today,4 solicitando-lhe relatórios sobre
OVNIs redigidos por pessoas com formação científica e técnica. Uma das
primeiras respostas que consegui foi o caso de Luz Noturna que se segue. É
digno de nota devido a um outro aspecto: o relatório tem 11 anos; o relator, que
atualmente é um astrônomo profissional, não quis relatar o caso antes pois não
desejava se expor ao ridículo (Um outro inquirido, também astrônomo profissional, escreveu:...
.sendo um cientista, nunca contei... Esta pessoa preferiu considerar o avistamento como sendo um
fenômeno físico incomum do que admitir a possibilidade, talvez até para ele mesmo, de que se ‘‘tratava de
uma observação empírica genuinamente nova.”).
Este avistamento de Luz Noturna teve lugar no Canadá. (Veja Apêndice 1,
NL-11.) O relator e seu irmão tinham sido avisados por um parente, um
jornalista, que, por sua vez, recebera um telefonema da polícia estadual, que
tentara acompanhar a luz com seus carros patrulhas mas não tinha obtido sucesso
em alcançá-la à medida que se deslocava de um lugar para outro. A ligação foi
recebida por volta das 2:00 da madrugada, após quase uma hora de perseguição.
Cito as palavras extraídas do relatório, mas os nomes e lugares não são
mencionados, em cumprimento à minha palavra quando recorri a Physics Today.
(Veja Apêndice 1, NL-11.)

Percorremos as estradas rurais até que ficamos a cerca de 100 jardas do
objeto (Devido à distância entre o relator e o objeto, este caso cai dentro dos limites superiores de
um Encontro Imediato e pode ser considerado como tal). Este estava pairado acima de uma
árvore imensa, que se encontrava isolada no centro de um campo cultivado.
A árvore encontrava-se a umas 100 jardas de distância e tinha uns 39 m de
altura. O objeto, que descrevia um ângulo de cerca de 1 4 graus (comparado
ao seu diâmetro físico de menos de 90 centímetros) apareceu sob um
formato circular e era, portanto, presumivelmente um esferoide. Tinha uma
luminosidade intensa de encontro ao céu escuro que lhe servia de fundo, e
mudou de cor atravessando toda a gama visível do espectro com um período
de — 2 segundos (um período bastante incomum). Como ele era muito
brilhante , talvez tenha superestimado ligeiramente o tamanho angular, e
talvez fosse melhor considerar 14 de graus o limite máximo. O inferior
deveria ser, sem dúvida, 1/8 graus.
O objeto parecia estar observando a árvore de bem próximo. Circundou
os galhos superiores, variando entre 15 a 30 metros do solo, passando diante
da árvore, para em seguida ficar totalmente visível através dos galhos ao
passar novamente por trás da árvore. Ele prosseguiu nessa “observação”
aparente da árvore por diversos minutos enquanto nós o olhávamos. Depois,
ansiosos para bater uma fotografia, pulamos a cerca e lentamente fomos nos
encaminhando para a árvore virada para o oeste. Ainda não tínhamos dado
mais de três metros quando ele “apercebeu-se” de nós e, silenciosamente,
acelerando numa velocidade altíssima, rumou quase que diretamente para o
sul, desaparecendo acima da linha do horizonte (numa trajetória ligeiramente
ascendente) em cerca de 2-1/2 segundos. (Considero meus cálculos de
tamanho e tempo bastante certos de vez que naquela época estava praticando
atletismo e portanto perfeitamente capacitado a este tipo de cálculo. Mesmo
sob estas circunstâncias excepcionais, estes números são mais exatos dentro
de uma percentagem de + ou - 20).

Diversas observações sobre o objeto:

1. Não tenho dúvidas de que era pequeno demais para conter uma vida
humana;
2. Não possuía uma superfície física aparente exceto no que diz respeito
à forma circular que apresentava — possivelmente devido à
luminosidade muito elevada de sua “superfície”.
3. Ele deslocava-se deliberada e objetivamente durante a “inspeção” da
árvore, fazendo uma pausa rápida diante dos possíveis “pontos de
interesse” e dando a nítida impressão de um comportamento ‘‘
inteligente ”;
4. Seu deslocamento era totalmente silencioso, mesmo na rápida
aceleração final;
5. Positivamente não se tratava de qualquer fenômeno físico natural que
jamais tivesse visto ou lido a respeito (Estou certo de que conhece e
sabe ao que me refiro — “gás dos pântanos” e coisas desse tipo);
6. Positivamente não era um objeto astronômico distante. Tornava-se,
de vez em quando, claramente visível por entre os galhos da árvore e
obscurecia-os, estabelecendo assim a sua distância com perfeição.
7. Foi realmente visto por testemunhas competentes (inclusive diversos
policiais), além de mim mesmo;
8. Quando acelerou para se afastar da árvore, é quase certo ter superado
a velocidade do som. Não foi notada a menor alteração acústica.
(Meu tio tentou bater uma fotografia do objeto no momento em que
acelerava, mas o resultado não foi suficientemente bom para publicar
devido à excessiva distância em que nos encontrávamos do objeto e
seu rápido deslocamento, que, conjugados, redundou numa imagem
muito apagada e nebulosa). Estes são os pontos a salientar: o objeto
parecia ser dirigido por alguma inteligência e não se comportava
como um fenômeno físico como nós o entendemos.

O tamanho linear calculado era pequeno para esta última Luz Noturna, o que
é fora do comum (Um caso de Luz Noturna em Fargo, Dakota do Norte, [26 de fevereiro de 1967],
investigado pessoalmente por mim porém permaneci totalmente incapaz de explicá-lo, envolvia uma luz
com um tamanho calculado de alguns poucos pés. [Veja Apêndice 1.NL-12]). A impressão geral
dada pelos relatores destes casos é que a luz é consideravelmente maior do que
três pés (mais ou menos 90 cm). Contudo, como estes são avistamentos noturnos
e raramente é possível julgar as distâncias com confiança, os tamanhos lineares
permanecem desconhecidos.
Seria difícil avaliar quantos bons casos de Luzes Noturnas poderiam ser
compilados por um investigador diligente. Possivelmente, existem milhares e
milhares de relatórios iniciais não filtrados e pouco apurados a respeito de Luzes
Noturnas; quantos dentre eles sobreviveriam ao processo de filtragem e seriam
admitidos na arena dos casos realmente intrigantes, permanece uma questão de
conjetura até que seja efetuada uma investigação séria. Contudo, o protótipo da
Luz Noturna está claro.
A Luz Noturna típica é uma luz brilhante, não se tratando em geral de um
ponto como fonte, de tamanho linear indeterminado e cor variável, mas,
usualmente, laranja amarelado — ainda que nenhuma das cores do espectro solar
tenha estado sempre ausente — que segue uma trajetória não atribuível a um
balão, avião ou outro objeto natural e que, frequentemente, dá a impressão de ter
uma ação inteligente. A luz não prova estar diretamente presa a um corpo sólido
mas pode ser que esteja.
No que diz respeito às trajetórias e ao comportamento cinético, apesar das
exceções que desafiam as explicações físicas normais, mesmo quando se dá um
bom desconto no tocante a exageros e erros de julgamento, os deslocamentos
narrados da Luz Noturna não parecem, de um modo geral, desafiar as leis da
física.
Os treze casos utilizados neste capítulo são representativos de muitas
centenas de outros, que não são, absolutamente idênticos em detalhes mas que,
geralmente, se encaixam ao protótipo delineado através destes casos escolhidos.
Ainda que estivéssemos limitados a estes poucos casos citados, seria muito
difícil afirmar que cada um deles deve ter sido o resultado de algum
acontecimento natural, porém incomum, pois em nenhuma das vezes este
“acontecimento natural, porém incomum” foi localizado e confirmado. Algumas
pessoas imputarão este fracasso ao fato de que, em nenhum dos casos, houve
uma investigação aprofundada. (Tomara que o Livro Azul tivesse adotado
mesmo em alguns poucos casos a atitude investigadora e os procedimentos do
FBI!). Ficamos em dúvida; batemos nossa língua exclamamos: “Que coisa
estranha.... mas deve haver alguma explicação natural.
Nesse caso, qual será?


“Já se passou mais de um ano desde que a Força Aérea deu por
encerrado, oficialmente, seu Projeto Livro Azul, que atuava como um
centro nacional para o recebimento de relatórios contendo certos tipos
estranhos de fenômenos comumente conhecidos como OVNIs.
Na qualidade de consultor junto ao projeto durante muitos anos, estou
consciente de que nem o-encerramento das atividades do Livro Azul nem o
relatório Condon colocara um ponto final no problema dos OVNIs, e um
certo número de colegas cientistas e eu estamos preocupados pelo fato de
que dados de valor científico em potencial fiquem perdidos devido a
inexistência de um centro receptor, Posso citar, como uma prova de que o
assunto ainda continua bem vivo, apesar dos pesares, não só a minha
correspondência pessoal, pois continuo recebendo relatórios sobre os
OVNIs remetidos por pessoas respeitáveis, como também o fato de
existirem serviços encarregados de colecionar notícias publicadas em
jornais, revistas, etc. Estes últimos demonstram quase que uma total
ausência de reportagens sobre OVNIs publicadas nos jornais urbanos mas
um constante fluxo de reportagens sobre OVNIs nos periódicos das cidades
pequenas, nas quais o editor ou é menos sofisticado ou menos influenciável
pelo oficialismo, ou onde talvez conheça quem redigiu os relatórios sobre
OVNIs.
Pela experiência adquirida durante os últimos vinte anos, calculei que
para cada relatório sobre OVNI redigido havia no mínimo 10 não relatados.
A prova disto vem através da Fundação Gallup: através dos muitos
relatórios sobre OVNIs não comunicados à Força Aérea é dos quais vim a
saber posteriormente e através de minhas próprias pesquisas. Sempre
houve uma grande relutância para se comentar tais acontecimentos devido
ao ridículo quase certo a que se expõem os relatores. Ao que tudo indica, o
observador, quanto mais sofisticado e possuidor de uma formação melhor,
menos propenso está a comunicar o que viu, a menos que possa ficar certo
do anonimato bem como de gozar do devido respeito com relação ao
relatório.
Por isto, a fim de que materiais de valor científico em potencial não
fiquem perdidos, e para que as pessoas, sobretudo aquelas que têm uma
formação e experiência científica, possam redigir um relatório sobre OVNIs
sem temer cair no ridículo e enfrentar a publicidade dada ao fato, meus
colegas e eu, todos ligados a Universidade.
Por isto, a fim de que materiais de valor científico em potencial não
fiquem perdidos, e para que as pessoas, sobretudo aquelas que têm uma
formação e experiência científica, possam redigir um relatório sobre OVNIs
sem temer cair no ridículo e enfrentar a publicidade dada ao fato, meus
colegas e eu, todos ligados a Universidades, oferecemo-nos para atuar como
um centro receptor de relatórios sobre OVNIs que, de outra forma,
ficariam perdidos para a ciência. Responsabilizo-me, pessoalmente, no
sentido de que os dados recebidos serão tratados com seriedade e que o
remetente não terá qualquer tipo de aborrecimento. Os nomes, por
exemplo, serão imediatamente desligados do relatório e não serão usados a
menos que nos seja enviada uma autorização por escrito pelo observador
permitindo-nos agir de outro modo.
Talvez seja interessante observar, agora, que durante diversos anos fui o
recebedor dos relatórios sobre OVNIs remetidos por pessoas altamente
preparadas e por cientistas. É uma interpretação errônea popular, além de
grosseira, julgar que os relatórios sobre OVNIs emanam de “birutas”. Uma
pesquisa realizada nos registros demonstra que este tipo de gente está
praticamente ausente. Os relatórios sobre OVNIs podem ser enviados para:
J. Allen Hynek, Presidente. Departamento de Astronomia. Universidade de
Northwestern’Evanston. Illinois 60201” (Nota da assessora: o atual endereço do Dr. J.
Allen Hynek é: CENTER FOR UFOS STUDIES, 1609 Sherman Ave. Suite 207, EVANSTON, II
60201).
6. OVNIs VISTOS DURANTE O DIA

DISCOS DIURNOS

A melhor ideia que eu poderia dar seria uma fuselagem de um avião imenso,
sem asas; ou, talvez, como se fora a borda exterior ou a circunferência de um
disco rolando na minha direção; a borda devia ter uns 15 pés ou mais.
— descrição de um avistamento a 4 de fevereiro de 1966, em Houston,
Texas, tirada dos arquivos do Livro Azul.

Nesta categoria de observações — relatórios sobre OVNIs vistos durante o
dia — lidamos, inicialmente, com os formatos discoides ou ovais. As visões são
mais frequentes à noite do que de dia; mesmo quando limitamo-nos unicamente
aos casos desconcertantes e bem investigados — verdadeiros OVNIs — ainda
encontramos uma maior quantidade de casos noturnos.
Talvez o fenômeno OVNI seja, intrinsecamente, noturno. Se for este o case,
ainda existem centenas de “bons”avistamentos diurnos registrados. Em meu
arquivo, as entradas diurnas filtradas para o grupo selecionado não está muito
aquém dos relatórios noturnos rigidamente selecionados, mas isto talvez seja
porque faço muitas exigências para chegar a colocar os avistamentos noturnos
no meu arquivo pessoal.

OS RELATORES

Para lidarmos com a categoria diurna devemos, mais uma vez, começar com
os observadores e suas qualificações. Da mesma forma que antes, escolhi mais
ou menos uns doze casos representativos, cada qual contando, no mínimo, com
dois relatores.
O número total de testemunhas nestes casos ocorridos durante o dia é de 60;
a média por caso é de 4.8, e o intermediário é 4. Poderia ter incluído diversos
casos “espetaculares” que contavam com apenas uma testemunha, mas julguei
mais aconselhável omiti-los mesmo quando grau de credibilidade da pessoa em
questão era elevado1.
Novamente, as palavras de alguns dos relatores envolvidos nestes 13 casos
lançam uma luz interessante em todo o fenômeno. As citações foram todas
tiradas dos casos de Discos Diurnos relacionados ' no Apêndice 1. O que nos
interessa aqui é a reação do observador e não a substância do caso. Estas reações
são as imediatas durante a observação de um Disco Diurno.

... meu amigo, que dirigia o carro, disse: ‘Está vendo o que eu estou
vendo?’.... Aquele objeto estranho parecia-se com um pepino em vinagre
torto fazendo cabriolas. Chegamos a conclusão que não sabíamos o que era
aquilo.... Enquanto nos encontrávamos parados ali, apareceu um caminhão
com dois homens que transportava uma carga de porcos para Calgary. Um
dos homens perguntou-nos se estávamos precisando de ajuda. Respondemos
que não, mas lhes mostramos o objeto e indagamos o que achavam sobre
aquilo. Um deles disse: ‘Oh, deve ser um dos tais discos voadores....’ No
entanto, não pude evitar de pensar naquilo o dia inteiro e, à tarde, resolvi
telefonar para a torre de controle do Aeroporto de Calgary para ver se ali
sabiam algo a respeito. A resposta foi uma negativa (Veja Apêndice 1, DD-
1).
Neste momento, gostaria de ter tirado outras fotografias enquanto ele se
deslocava na direção do solo, realizando uma aproximação controlada, mas
estava ansioso por vê-lo a olho nu e não através da lente (Veja Apêndice 1,
DD-3).
Durante quase cinco anos fui piloto comercial e tenho uma visão regular
e, é claro, estou acostumado a observar coisas no céu. Não se tratou de uma
olhadela rápida. Enquanto observava, passaram por minha cabeça diversas
explicações que foram logo afastadas. (Extraído de um relatório de um piloto
da BOAC narrando um avistamento diurno ocorrido a 13 de julho de 1971,
em Kent, Inglaterra. Veja Apêndice 1, DD-4.)
Fui piloto da Força Aérea Americana durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante todo esse tempo, fosse de dia ou de noite, jamais notei qualquer
coisa fora do comum no céu. Agora, aos 43 anos, observei um fenômeno que
está além da minha compreensão e que põe à prova o meu senso de
raciocínio e de credulidade. (Veja Apêndice 1, DD-2).

FOTOS DE UFOs/OVNIs

O provérbio “uma foto vale mil palavras’’, realmente, não se aplica à maioria
das fotos sobre UFOs. Este não seria o caso, se a autenticidade das fotos
submetidas pudesse ser comprovada. A fundamentação da autenticidade exigiria,
entre outras coisas, a presença de testemunhas credenciadas no momento em que
as fotos foram tiradas (de preferência filmes). E as fotos devem ser grandes
planos obtidos de vários ângulos, com suficientes traços de referência para
poderem estabelecer-se tamanhos aproximados e distâncias. Infelizmente, essas
exigências raramente são cumpridas.
A escassez de fotos sobre UFOs tem sido muito notada. No entanto, quantas
pessoas terão uma máquina preparada quando, de repente, deparam com uma
situação invulgar na vida cotidiana? E, ainda que tenham uma máquina
disponível, quantos se lembrarão de usá-la?
Em última análise, uma foto de UFOs é apenas uma diferente modalidade de
apresentar uma reportagem de UFOs e, a menos que a reportagem seja
acompanhada por um conjunto detalhado de fotos de um dado fenômeno UFO,
os relatórios escritos coloridos com as interrogações pessoais do repórter são
muito mais fidedignos.
Seja como for, deparei com muitas fotos de UFOs que não pude estabelecer
como sendo meras mistificações ou identificações gratuitas. Seguindo o modelo
geral do livro, "apresentarei apenas fotos que me foram submetidas por
fotógrafos que interroguei pessoalmente e cuja sinceridade me convenceu. Ainda
assim, quero lembrar o leitor que as fotos que se seguem são apenas alguns
exemplos que, até o momento, não consegui invalidar.
Recebi muitas fotos de luzes Noturnas, que são apenas isso mesmo —
estranhas luzes no céu noturno — e, com as quais, pouco de científico pode ser
feito. Este princípio aplica-se mesmo àquelas que investiguei mais
cuidadosamente. O incidente NL-12, é um desses casos. O Projeto Livro Azul
reproduziu as cópias originais, uma das quais é mostrada abaixo. Esta estranha
luz foi descrita como tendo-se elevado em um campo de palha de milho, coberto
de neve, perto da cidade de Fargo, Dakota do Norte. A foto confirma a típica
descrição verbal que tenho ouvido frequentes vezes; tão brilhantes que o objeto
está efetivamente escondido da vista, com uma áurea (filamentoso neste caso) e
uma protuberância no topo sugerindo uma “cúpula”. Durante o interrogatório
dos dois jovens, no local preciso em que a foto fora tirada, não consegui
descobrir qualquer evidência de trapaça, mas como essa possibilidade só pode
ser definitivamente excluída por quem tirou a foto, ela acaba não provando nada.
Pode apenas sugerir fortemente, como, aliás, em minha opinião o faz.


A foto seguinte mostra um exemplo dos supostos efeitos de um encontro
imediato de segundo grau, CE 11-12. A figura mostra um círculo ressequido de
aproximadamente 2 m de diâmetro bruscamente implantado numa grande
plantação de soja em perfeito estado de saúde. Eu confirmei pessoalmente a
aparência do círculo devastado, alguns dias depois do incidente.
É necessário frisar que estas fotos não têm qualquer valor de prova. De
qualquer forma, nenhuma foi ainda explicada e todas elas se ajustam à descrição
verbal de outras visões semelhantes verificadas em outros lugares sob outras
circunstâncias.


Incluo algumas fotos para as quais não tenho explicação. O leitor se quiser
pode tentar esclarecer algumas delas. Podem perfeitamente representar objetos
naturais. A primeira figura foi-me dada pelo diretor do observatório de Ondrejov
na Tchecoslováquia. A segunda figura é mais uma luz noturna. Note o rastro da
estrela por cima do poste telefônico. Isto prova que a duração foi da ordem dos
minutos. A foto foi tirada em Valentina, Nebraska, em 2 de agosto de 1965, por
Judi Hatcher (agora Judi Turner) e na mesma noite em que o Sr. Campbell tirou
a foto que mostrei antes. Aparentemente alguma coisa muito estranha estava
acontecendo na parte central dos Estados Unidos, nessa noite.



Os relatores dos avistamentos diurnos demonstram as mesmas reações de
surpresa e desnorteamento mostradas por aqueles que experimentaram os
fenômenos noturnos. Pode-se pensar, com muita propriedade, que devido à
nítida visibilidade de um luminoso dia de sol diversos observadores não
ficariam, simultaneamente, intrigados diante da presença de alguma coisa no
céu, sobretudo quando a duração do acontecimento é relativamente demorada.
Mas ficam e geralmente procuram, em vão, encaixar a experiência em alguma
explicação natural. No caso destes acontecimentos citados, é surpreendente notar
como testemunhas com uma escolaridade elevada encontram dificuldades para
traduzir através de palavras uma descrição convincente da experiência que
tiveram.

OS OBJETOS

Podemos iniciar com aqueles que, possivelmente, são os que têm menor
experiência técnica entre os relatores da presente lista; dois fazendeiros que se
encontravam, às 7:25, perto de Three Hills, Alberta, Canadá. (Veja Apêndice 1,
DD-1) A melhor descrição que conseguiram fazer foi que se “parecia com um
pepino em conserva fazendo cambalhotas”. Os espectadores desta descrição
ímpar, os motoristas do caminhão que transportava porcos, descreveram o objeto
da seguinte maneira:

A cor era azul esverdeada. Dava a impressão de ter uma espécie de
chama fluorescente, mas não era uma tonalidade fluorescente do tipo que
conhecemos. Acho que se parecia mais com aqueles sinais ao longo das
autoestradas que dizem: “Calgary (há tantas) milhas, algo semelhante a uma
luz amarela com um fundo verde. Mas não havia nenhum tipo de luz
(definida) no objeto”.

Por menos letrados que fossem, estes homens deveriam ter condições de
fazer uma descrição mais articulada das luzes se tivessem lançado mão das que
estavam acostumados, como por exemplo, as luzes de carros ou celeiros. Como
fizeram, tentaram de todas as formas descrever a coloração do brilho desse
“pepino em conserva fazendo cambalhotas” que viajava com eles,
acompanhando as elevações e depressões da zona cheia de colinas.
Seu assombro não é único. Repetidamente, ouvi testemunhas me contarem
“não posso descrever a cor. Nunca vi uma coisa como aquela antes. Jamais vi
aquela tonalidade de vermelho (ou de azul ou de verde) antes”. Muitas vezes, o
objeto é descrito como tendo um brilho geral fluorescente sem luzes específicas,
como num outro caso observado por duas pessoas, no qual uma delas declarou:
“O perfil estava definido, mas não havia luzes de bombordo que nos fizesse
imaginar que se tratava de um tipo de avião ou algo assim. Não possuía
exaustão, ou jatos de chamas, aliás não tinha luz de qualquer tipo, (exceto aquela
luminosidade geral)”.
Não são apenas os observadores sem treino que fazem descrições nas quais
falta uma precisão quanto à terminologia. Nos casos que envolvem observadores
com boa cultura também encontramos esta procura de palavras a fim de criar
uma imagem fiel para o ouvinte daquilo que estão certos foi por eles
presenciado. Assim o melhor que puderam dizer dois operadores de torre de
aeroporto e um terceiro homem que se achava de serviço na pista de emergência
no final do campo de pouso foi: ‘‘dois engenhos de forma oblonga com a
aparência de uma travessa de mesa”. Apesar disto, naquela manhã o tempo
estava claro e fresco e a visibilidade era excelente (Veja Apêndice 1,DD-3.).
Os interrogatórios que fiz a diversos relatores convenceram-me que a
incerteza de suas descrições (que talvez possam parecer como uma tentativa
deliberada para ‘‘confundir o resultado” e, portanto, evitar a possibilidade de que
se constate tratar-se de uma interpretação errônea, da qual o relator julga, em seu
íntimo, ser culpado mas com a qual sente-se comprometido) é, na verdade, o
resultado do elevado Grau de Estranheza do avistamento. O relator,
simplesmente, possui um vocabulário inadequado à situação. Descobri que a
testemunha parece estar dando o melhor de si. Os trabalhadores do campo
podem dar uma descrição cuidadosa de alguma coisa que lhes é familiar — um
trator, por exemplo, ou outra máquina usada na fazenda. Uma ambiguidade de
expressão semelhante atormenta os relatores com uma formação técnica
razoável: policiais (que devem poder fazer uma descrição perfeita de acidentes
ou crimes), operadores de torre em aeroportos, cientistas e engenheiros. Talvez a
descrição ingênua dos responsáveis pelo caminhão transportador de porcos seja a
mais prática e pragmática de todas: ‘‘Oh, deve ser um daqueles discos voadores!

Notei também que os relatores sentem-se, geralmente, atormentados quando
querem descrever os ruídos feitos pelo objeto visto. Dizem quase sempre ‘‘Não
foi bem assim, mas é o melhor que posso fazer. O Disco Diurno é, quase sempre,
silencioso e isto é, ao que parece, o que se diz em todas as partes do mundo. Por
isto, no caso de Calgary (como em inúmeros outros): ‘‘Não fazia o menor ruído,
mas podemos ouvir o barulho de um avião levantando voo no aeroporto de
Calgary (que fica bem mais distante).” (Veja Apêndice 1, D'D-1.).
Voltando à trajetória e à cinética dos Discos Diurnos, as narrativas dizem
que as ações dos OVNIs de um modo geral dão a impressão de estarem sob
controle, exceto por uma referência a um deslocamento em ‘‘folha morta” e a
um tremor ou movimento de queda livre. Os discos parecem ter uma habilidade
universal para levantar voo suavemente, quase sempre com acelerações
fantásticas e geralmente gerando um estrondo acústico. A segunda lei do
deslocamento de Newton rege as acelerações extremamente rápidas dos corpos
de considerável massa. Contudo, o meu objetivo não é — aqui ou em qualquer
outro momento desta monografia — propor um julgamento físico; isto exige
mais dados do que aqueles que existem atualmente em relatórios. Estou,
simplesmente, fazendo o papel do assistente de experiências relatadas por
pessoas “boas e verdadeiras’’, e relatórios altamente estranhos originados por
indivíduos com um grau de credibilidade muito elevada. Isto é incontestável.
Parte do elevado grau de estranheza tem a sua origem nas trajetórias
descritas. Eis aqui um exemplo extraído de um interrogatório gravado: (Veja
Apêndice 1, DD-1.)

P: Por lá há uma região acidentada, não? A coisa flutuava ao longo das
colinas ou acompanhava seu contorno?
R: Isto foi uma coisa que percebi. Na altura em que se encontrava (500 ou
600 pés), não era necessário fazer as coisas que fazia. Sempre que parecia
haver uma ligeira elevação no solo ele fazia uma ligeira ascensão. Quando
havia uma depressão, parecia que ele baixava. Isto foji outra coisa que não
consegui entender.

A pergunta foi formulada deliberadamente devido às minhas experiências
anteriores em interrogatórios deste tipo. O disco “prende-se’’ ao contorno do
solo sobre o qual plaina, quase sempre parando acima de pequenos reservatórios
de água.
O modelo desta classe é confirmado por outros casos de avistamentos por
nós selecionados e com múltiplas testemunhas:

Resumindo, o que vi foi um pequeno disco branco prateado de diâmetro
desconhecido, altitude desconhecida, mas com uma existência física
definida; primeiro apareceu estático, sob observação a olho nu, durante uns
dez minutos. Em seguida, deslocou-se pelo céu, passando visivelmente sob
as nuvens e, finalmente, desaparecendo no meio das nuvens brancas. Não se
ouvia o menor ruído.
A mancha branca ficou parada por muito tempo e deslocou-se
silenciosamente demais para que pudesse ter sido um avião; dava a
impressão de viajar numa direção nitidamente inconsistente com e contrária
à direção em que seguiam as nuvens por isso excluindo que fosse um balão
(Veja Apêndice 1, DD-4.)

As descrições dos avistamentos à luz do dia são impressionantemente
parecidas: objetos ovais ou discoides, brancos ou prateados, aparentemente
sólidos. Às vezes, as testemunhas declaram que o disco tem uma faixa escura ao
redor da sua circunferência. “Parecia-se com um hambúrguer prateado’’, disse
um escultor profissional, cujo relatório não está incluso no presente capítulo por
ter sido narrado por apenas uma pessoa. O disco, ou “hambúrguer prateado’’
citado fez um quadrado grande no céu e, depois, disparou como “um coelho
assustado....’’ Num outro caso de uma só testemunha, o relator, um mecânico,
usou o termo “sanduíche’’, com a borda central do aparelho descrito como a
beira da carne saindo do meio de duas fatias de pão.
Fotografias de discos diurnos relatados são encontradas com facilidade, e
embora as circunstâncias em que foram tiradas não tenham sido suficientemente
investigadas e muitas sejam falsas, torna-se difícil rejeitar algumas delas.
Algumas fotografias que tive oportunidade de examinar podem ser verdadeiros
discos diurnos, de vez que não fui capaz de descobrir qualquer prova de artifício
nesses casos. Sou extremamente cauteloso a respeito das fotografias que me são
entregues para opinar, pois algumas fraudes célebres foram acompanhadas por
fotografias — parece que os mistificadores são adeptos da ideia de que uma
fotografia vale mil palavras. Na minha opinião, uma fotografia significativa de
um OVNI (especialmente de um Disco Diurno) não deveria ser levada a sério a
menos que satisfaça as seguintes condições: (1) a existência de testemunhas bem
conceituadas que tenham assistido à batida da chapa e tenham visto o objeto
naquele momento; (2) os negativos originais devem estar disponíveis para estudo
de vez que não se pode realizar uma análise adequada apenas nos positivos; (3) a
câmera deve estar disponível para estudo; e (4) o dono da fotografia deseje
testemunhar sob juramento que a chapa é, em sã consciência, verdadeira, isto é,
que a fotografia é o que pretende ser — uma chapa de um OVNI. A última
condição não é imprescindível desde que a fotografia em questão esteja
acompanhada por outras tiradas independentemente, preferivelmente tiradas de
lugares significativamente diversos.
Estas condições são rígidas, é claro, mas não podem deixar de sê-lo — de um
modo geral as fotografias não são mais dignas de fé do que os fotógrafos (O
mesmo pode ser dito com relação ás fotografias de radar. Neste caso não se trata de uma questão de
mistificação e sim de interpretação [pressupondo se que o aparelho esteja em boas condições de
funcionamento] por parte do operador. Portanto, mais uma vez ficamos presos â falibilidade do elemento
humano. Quando tudo está dito e feito, o OVNI continua sendo uma experiência “humana” e como tal deve
ser avaliada).Mesmo quando todas as condições são satisfeitas, tudo quanto se pode
dizer positivamente é que, embora a probabilidade da veracidade da fotografia
seja muito alta, não se pode estabelecer a sua certeza. Se, por exemplo, 25
fotografias podem conseguir uma quota de probabilidade muito elevada, a
probabilidade combinada de que a prova fotográfica dos OVNIs existe seria
totalmente inseparável da convicção absoluta.
Não tenho conhecimento de 25 destes casos, mas há vários que praticamente
satisfazem todas as condições necessárias. Um deles é o caso clássico de Great
Falls, Montana, ocorrido a 15 de agosto de 1950 (Veja Apêndice 1, DD-5),
durante o qual foram filmadas duas luzes parecidas com um ponto, num céu
límpido e claro, incorporando um suficiente número de objetos de referência
(por exemplo, uma torre para água) que possibilitam um estudo significativo da
série de imagens. A tentativa feita no sentido de atribuir os parâmetros
registrados sobre o movimento dos objetos a aviões, balões, etc., foi totalmente
impraticável. O Dr. Baker, escrevendo em o Journal of the Astronautical
Sciences, concluiu:

Devido ao conflito entre qualquer fenômeno natural imaginado e um ou
mais detalhes do referido dado do negativo na prova fotográfica examinada
(além da incerteza relativa aos dados incomprovados) não se podem tirar....
conclusões completas....
Vários outros filmes foram vistos pelo autor, e proclamando ser OVNIs,
e todos pareciam exibir o defeito comum de uma imagem mal definida.... A
maioria fora tirada com equipamento amador.... como é o caso do filme de
Montana. Como o filme de Montana, alguns destes filmes não podem ser,
realmente, explicados com base em fenômenos naturais (outros podem ser
explicados se a pessoa der tratos à imaginação2).

Tive ocasião de examinar muitas fotografias se proclamando de OVNIs. A
maioria é de baixo valor científico (o objeto encontra-se muito distante, sem um
ponto de referência, imagem turva, etc.) ainda que “autênticas”, e muitas não
possuem a qualidade de convencer. Talvez, a melhor dentre aquelas que
investiguei pessoalmente, e com alguma profundidade é a da Fig. n.° 4, que,
essencialmente, satisfaz os critérios relacionados anteriormente. Ela não é
mostrada aqui como uma prova fotográfica da existência dos Discos Diurnos,
mas sim como a melhor foto de Disco Diurno que investiguei pessoalmente.
Ainda assim, nem todas as circunstâncias que envolveram a batida da chapa
estão tão claras quanto deveriam estar.
Neste caso consegui os dois negativos originais e, com a autorização que me
foi dada pelo proprietário, submeti-os a testes de laboratório durante os quais o
verniz padrão foi removido, foram efetuadas cópias negativas e realizado um
estudo com microscópio e um examinador de ponto em movimento da
contextura estrutural dos negativos originais3.
Além disso, a câmera foi examinada4 e testada, as três testemunhas — uma
das quais, o fotógrafo, era o proprietário da máquina — foram submetidas a
entrevistas e consegui uma declaração juramentada de duas delas.
Os resultados dos testes não deixam dúvidas a respeito da existência de
imagens reais nas fotografias coloridas da mesma forma que estas imagens
satisfazem a sequência de tempo declarada e as condições de luz sob as quais as
fotos foram tiradas (não há nenhum sinal de inconsistência nas sombras,
movimentos das nuvens, etc.). É claro que a imagem real poderia ser a de um
disco grande atirado para o ar e fotografado. (Digo grande porque um objeto
próximo não mostraria o efeito “suavizante” que a atmosfera produz quando um
objeto, especialmente que tenha brilho, é avistado de alguma distância).
Consegui arranjar um meio de sobrevoar a área especificada num avião
pequeno a fim de me certificar que o local do avistamento situava-se realmente
“no bosque’’ e era de difícil acesso para servir de palco para uma mistificação. A
região era realmente agreste e montanhosa — os contrafortes das Montanhas
Rochosas Canadenses — mas não intransponível. Para se montar uma
mistificação naquele local teria sido necessário uma motivação fora do comum e,
quer me parecer, inclusive uma boa perspectiva de lucro financeiro.
Através das conversas repetidas e da correspondência trocada com o
principal observador, Warren Smith de Calgary, não consegui identificar
qualquer tipo de motivação substancial em favor disto. Além disso, a declaração
juramentada de Smith, feita sob os provimentos severos do Evidence Act do
Canadá, ainda serviu de base para o meu julgamento.
Embora o propósito destes capítulos seja construir os protótipos da mais
extensa categoria de OVNIs observados, muito mais do que apresentar narrativas
detalhadas de avistamentos individuais, não posso deixar de fazer uma sinopse
do avistamento feito por Warren Smith.
Warren Smith e dois amigos, que têm por hobby fazer prospecções, estavam
voltando de uma missão realizada durante o fim de semana, quando, por volta
das 17:30 de um dia bastante límpido de julho, o mais jovem dos três, um
rapazinho adolescente, chamou a atenção dos companheiros para aquilo que, à
primeira vista, todos julgaram ser um avião em dificuldades. Não se ouvia o
menor ruído, portanto pensaram que os motores tivessem sido desligados. Os
homens abandonaram a hipótese de que fosse um avião, assim que ficou
evidente que o objeto não tinha asas e deslizava, suavemente, rumo ao solo.
Contudo, antes disso, Warren Smith pegou, cheio de excitação, sua máquina
carregada com um filme colorido, que se encontrava entre suas coisas, e
começou a bater fotos. Pensou que se tratava de um avião a caminho de um
desastre e passou-lhe pela cabeça que a fotografia talvez pudesse ser vendida aos
jornais tão logo chegassem à cidade. (Pelo que consegui descobrir, este foi o
único momento em que lhes passou pela cabeça a ideia de um lucro). Uma das
fotografias foi batida, segundo a declaração dos presentes, enquanto o objeto
baixava na direção de algumas árvores em primeiro plano, por trás das quais
logo desaparecia. Em seguida, disseram eles, o objeto tornou a aparecer saindo
de trás das árvores e elevou-se até as nuvens. Os observadores também
declararam que o objeto deixou cair alguma coisa, mas isto nunca foi
comprovado de forma concreta.
Todo o incidente teve a duração de uns 25 segundos. A única prova tangível
de que dispomos são as duas fotografias coloridas — tiradas, infelizmente, com
uma máquina de focagem fixa — ambas contendo imagens verdadeiras e não
dando qualquer prova de terem sido adulteradas.
Existe a possibilidade remota de que alguém, sem qualquer tipo de relação
com Smith e seus companheiros, e sem que disso tivessem conhecimento, tenha
“atirado” naquele momento um “disco” para o ar no meio do “bosque” e que
Smith tenha tido muita “sorte” de ali se encontrar para fotografar. Ainda assim,
temos a palavra de Smith de que o disco foi visto primeiro descendo e depois
ascendendo para desaparecer em meio às nuvens. Além disto temos a sequência
dos negativos que mostra que a foto do disco descendo foi batida antes da outra.
Apesar disto, alguém poderia argumentar que o invisível lançador de discos
tenha atirado duas vezes e que Smith fotografou a queda do primeiro e a
ascensão do segundo, cerca de 15 segundos mais tarde, contudo temos a palavra
dos relatores (que no presente caso não deviam ter qualquer ligação com o
atirador) de que não foi absolutamente isso o que sucedeu. De qualquer forma,
um exame profundo da estrutura da nuvem mostra que as duas fotografias foram
tiradas dentro de uma brevíssima sequência; ainda que tivesse havido um rápido
intervalo, teria havido modificações ínfimas, mas perceptíveis, nas bordas das
nuvens. Nada se nota a este respeito.
As fotografias de Smith retratam bastante bem o arquétipo do Disco Diurno
e, a maioria das descrições dos outros casos aqui incluídos observados por
testemunhas múltiplas servem de apoio para as fotografias de Smith a este
respeito. Regredindo no tempo até 1952, vamos encontrar a descrição de um
Disco Diurno feita por dois funcionários presentes no hangar da Cargo Air
Service, situado na extremidade sudeste da Base Aérea Kirtland, em
Albuquerque, Novo México (Veja Apêndice 1, DD-7):

Surgiu bem alto no firmamento diretamente em cima da Base Aérea
Kirtland um objeto que a primeira vista parecia ser um balão meteorológico,
mas após um exame mais apurado ficou determinado pelos observadores que
o desenho lhes era desconhecido. A seguir, notou-se que um outro objeto
semelhante e com o mesmo formato achava-se por perto. Os dois
deslocavam-se lentamente rumo ao sul'. . sem fazerem o menor barulho que
pudesse ser ouvido pelos observadores. Os objetos tinham um formato
redondo, como se fossem discos e a cor era prateada. Tivemos a impressão
que os dois objetos ganharam velocidade instantânea e subiram quase que
verticalmente. Um deles continuou num curso sul-sudeste enquanto que o
outro enveredou praticamente num curso leste. Toda a observação levou 30
segundos. Os ventos sopravam sudoeste numa velocidade de 15 milhas por
hora.

Seria fácil “explicar” este incidente afirmando que os observadores enganaram-
se com algum objeto levado pelo vento, ou talvez por outra coisa qualquer.
Como seria isto possível? Os ventos sopravam na direção “oposta”, os objetos
desapareceram em direções diferentes, subindo verticalmente. Parece-nos muito
improvável que tudo isto pudesse ter acontecido e os objetos atirados
rapidamente para cima por um vento sul-sudoeste a uma velocidade de 15 milhas
horárias.
Tanto quanto sei, não foi tomada nenhuma medida posterior para aprofundar
a investigação, como aconteceu com tantos outros casos do Livro Azul. A
credibilidade dos observadores (além do fato de serem funcionários de um
aeroporto) ou a sua motivação para redigirem o relatório, ou o modo e a atitude
como o fizeram nunca foi estabelecido.

Em 16 de janeiro do mesmo ano de 1952, em Artesia, Novo México, um
acontecimento parecido contribuiu para o padrão desta categoria. (Veja
Apêndice 1, DD-8). O relatório arquivado no Livro Azul diz o seguinte:

A 16 de janeiro de 1952, dois membros de um projeto de balão do
Laboratório de Pesquisas Aeronáuticas General Mills, e mais outros quatro
civis, observaram dois objetos voadores não-identificados nas proximidades
do balão que observavam. O balão encontrava-se numa altitude de 112.000
pés e tinha 100 pés de diâmetro no momento da observação.
Os objetos foram observados por duas vezes, uma em Artésia, Novo
México, e outra no Aeroporto de Artésia. Na primeira oportunidade, um
objeto redondo pareceu permanecer imóvel nas proximidades, mas,
aparentemente, encontrava-se numa altitude" superior a do balão. (Nada
existe com referência ao que fez o outro objeto). O balão parecia ter 11/2
polegadas de diâmetro e o objeto 2-1/2 polegadas de diâmetro (logo numa
proporção de 3 para 5), e a cor era um branco fosco. Esta observação foi feita
por dois observadores da General Mills.

Nada é dito sobre a possibilidade de que os dois objetos, um observado do
local de lançamento do balão e posteriormente no aeroporto, fossem os mesmos.
Detalhes deste tipo tinham pouca. importância para os investigadores do Livro
Azul.
O relatório do Livro Azul prossegue:

Pouco tempo depois, os mesmos dois observadores e quatro pilotos civis
estavam observando o mesmo balão no aeroporto de Artésia. Perceberam
dois objetos aparentemente em grande altitude dirigindo-se para o balão,
vindos do noroeste. Contornaram o balão, ou aparentemente o fizeram, e
afastaram-se rumo ao nordeste. O tempo de duração da observação foi de
cerca de 40 segundos. Os dois objetos tinham a mesma cor e tamanho do
primeiro objeto. (Tem-se a impressão neste ponto que a primeira aparição só
contara com um objeto). Voavam lado a lado. Quando os objetos pareciam
circundar o balão, desapareceram (deve-se presumir que o fizeram
momentaneamente, de vez que depois voaram rumo ao nordeste), e os
observadores presumiram que tinham o formato de um disco e tinham se
inclinado ao descrever a curva.

O Livro Azul não prosseguiu na investigação pelos seguintes motivos:

Infelizmente este relatório não foi redigido até 5 de abril e só chegou ao
ATIC (Centro Aéreo de Inteligência Técnica) a 16 de abril. Devido a este
intervalo de tempo n-ão se empreenderam investigações posteriores. Os
observadores são conhecidos como sendo pessoas fidedignas e experimentadas.
Conclusões: Nenhuma.

O intervalo de tempo não era uma desculpa, evidentemente, para que não se
tivesse procedido a investigações posteriores. A determinação das qualificações
dos relatores poderia, sem dúvida, ter sido levada a cabo mesmo muito tempo
mais tarde. “Os observadores são conhecidos como sendo pessoas fidedignas e
experimentadas”, é uma declaração sem significação se não contar com uma
comprovação posterior.
No ano seguinte, outros funcionários do Laboratório da General Mills
apareceram num outro relatório sobre OVNI, categoria de Discos Diurnos. (Veja
Apêndice 1, DD-9)

Três engenheiros de pesquisa observaram uma fumaça branca ou esteira
de -vapor a 40.000 ou 50.000 pés, enquanto acompanhavam o deslocamento
de um balão com 79 a 73.000 pés de altitude através de um teodolito.
Durante aproximadamente uns 30 segundos o objeto realizou um voo
horizontal numa proporção de 10 graus por cada 9 segundos (velocidade
calculada de 900 milhas por hora), a seguir iniciou um mergulho vertical que
durou de 10 a 15 segundos. Durante o mergulho, o objeto esteve visível por
diversas vezes e parecia brilhar. Assim que nivelou, a esteira de fumaça
cessou. A observação foi feita do telhado do Laboratório da General Mills.

Comentários posteriores na ficha do caso arquivado no Livro Azul foram os
seguintes:

Um dos observadores é um engenheiro em meteorologia e considerado
como uma pessoa digna de crédito. Os outros dois também são considerados
pessoas de confiança. A instalação de um (radar) AC&W não estava
funcionando no momento do avistamento. Dois aviões F-86 encontravam-se
na região sudoeste de Minneapolis no instante da observação, mas isto não
representa nenhuma ligação com o OVNI. Conclusão: NÃO-
IDENTIFICADO

Embora não se encontre incluso na tlcha, os observadores declararam no
relatório original que o objeto passou sob o sol, que se' encontrava numa
elevação de cerca de 25 graus. Não havia ruídos.
Os observadores eram um ex-piloto de B-17, atualmente um engenheiro
meteorológico, um piloto particular com dois anos de pós-graduação em
aerodinâmica supersônica e um engenheiro de desenvolvimentos que realizou a
observação a olho nu, enquanto que os outros o faziam através de um teodolito.
Os observadores declararam em conjunto: “A possibilidade de que a impressão
de mergulho tivesse sido produzida pelo simples retrocesso do objeto à distância
parece improvável de vez que a velocidade normal dentro da linha de visão não
diminuiu durante o mergulho”. Também ressaltaram não ter havido nenhum
estrondo acústico e que “o mergulho vertical era uma manobra profundamente
perigosa, se não suicida’’.
O melhor caso de um ‘‘OVNI parecendo estar interessado em lançamentos
de balões” — para ser antropomórfico por um instante — foi relatado pelo meu
amigo Charles Moore, Jr., um aerólogo e aeróstata, em 1949- (Veja Apêndice 1,
DD-10.) Moore descreveu o acontecimento diretamente a mim.
Na ocasião, era o encarregado de uma unidade naval envolvendo quatro
convocados; tinham construído instalações para observar e registrar dados do
tempo local para a operação Skyhook do Centro de Instrumentos Especiais. A
instrumentação de que dispunham era um cronômetro e um teodolito ML-47
(David White), um instrumento para rastreamento que consistia de um telescópio
de 25 vezes de aumento montado de maneira a fornecer os ângulos de elevação e
de azimute.
Às 10:20, o grupo soltou um pequeno balão meteorológico de 350 gramas
para observar as velocidades e direções dos ventos superiores. Moore contou-me
que seguiu o balão com o teodolito durante diversos minutos, para em seguida
passar o instrumento para as mãos de um dos homens da marinha, advertindo-o
‘‘para não o perder de vista ou ficaria em apuros”. Moore prosseguiu a
observação a olho nu e logo depois, olhando para o homem que ficara
encarregado de lidar com o teodolito, percebeu que o instrumento estava
focalizado para outro lugar.
Usando alguns xingamentos escolhidos da marinha, Moore estava quase
arrancando o instrumento das mãos do homem para girá-lo na direção do balão
meteorológico quando o homem exclamou: ‘‘Mas eu o estou vendo aqui’’.
Moore olhou e viu um objeto elipsoide, esbranquiçado, no campo de foco do
teodolito. O objeto deslocava-se rumo ao leste numa proporção de 5 graus por
segundo de modificação azimute. Dava a impressão de ser cerca de duas vezes e
meia mais comprido do que largo. Estava perfeitamente visível a olho nu e foi
visto por todos os membros do grupo. Na visão através do teodolito foi visto
descrevendo um ângulo de arco de diversos minutos.
À medida que seu tamanho aparente ia diminuindo, o objeto deslocou-se
numa marcação de azimute de 20 a 25 graus, quando o azimute manteve-se
constante. Coincidentemente, o ângulo de elevação aumentou de repente e o
objeto desapareceu do foco do telescópio. Desapareceu numa subida vertiginosa
— portanto, da mesma maneira observada em outros casos de Discos Diurnos —
após ter permanecido visível para Moore e seu grupo por mais de um minuto.
O céu estava sem nuvens; não havia névoa. O objeto não deixou esteira de
vapor ou exaustão. Não foi ouvido qualquer tipo de barulho que pudesse ser
ligado à aparição e não havia carros, aviões ou outros geradores de ruídos nas
proximidades que tivessem podido mascarar qualquer som que partisse do
objeto. Durante o transcorrer do dia, muitos aviões sobrevoaram ou passaram
próximo ao local de lançamento de balões e o grupo de Moore pôde identificá-
los pela aparência e barulho dos motores. Naquele dia, nada mais viram que
pudesse ter qualquer semelhança com o objeto não-identificado, branco e
elíptico. Para um homem com a formação de Moore aquilo constituía uni
“verdadeiro” acontecimento. E conforme ficou comprovado por acontecimentos
posteriores, não era um caso isolado, muito embora, como de costume, não
tivesse sido levado a sério pelo Projeto Livro Azul, pelo que sei. Não foram
realizadas investigações posteriores.
Os três outros casos aqui utilizados para delinear o protótipo do Disco
Diurno ocorreram em 1967, um ano que demonstrou ser muito prolífero em
incidentes com OVNIs nos Estados Unidos. Os três foram classificados pelo
Projeto Livro Azul como: “Não-identifica- dos” e o local das aparições foram:
Crosby, Dakota do Norte (Veja Apêndice 1, DD-11), Blytheville, Arkansas,
(Veja Apêndice 1, DD-3) e New Winchester, Ohio, (Veja Apêndice 1,DD-12).
No caso de Dakota do Norte havia sete testemunhas, cinco delas da mesma
família e dois outros observadores que se encontravam a 20 milhas de distância.
Contudo, os investigadores da Força Aérea não se deram ao trabalho de
interrogar as duas testemunhas independentes, perdendo assim a oportunidade de
conseguir uma “localização” geográfica do objeto, para determinar a sua
velocidade e trajetória e para conseguir um testemunho totalmente independente
sobre a natureza do objeto em questão. Das cinco testemunhas que se
encontravam no mesmo local, apenas uma foi interrogada e, assim mesmo, por
telefone. Que situação diferente poderia ter sido se se tivesse procedido a uma
investigação bem orientada!
Através das informações que dispomos a respeito do caso de Dakota do
Norte, sabemos que um objeto luminoso e oval apareceu por trás de um celeiro e
uma cerca, em seguida subiu silenciosamente e desapareceu. Como esta
“aparição” foi vista por um piloto comercial (e sua família) não me sinto
propenso a afastar este avistamento como se fosse uma simples interpretação
errônea.
O caso ocorrido em New Winchester, Ohio, com cinco testemunhas, também
sofreu uma investigação bastante deficiente, embora tenha sido classificado pelo
Livro Azul como “Não-Identificado”. O relatório original nasceu em
consequência de um artigo que redigi para um amigo, na época editor de um
órgão interno publicado por uma revista de uma companhia de seguros sediada
em Columbus, Ohio 5
Este caso do Ohio acrescenta suas próprias peças de informação para o
protótipo do Disco Diurno:

Este objeto de formato oval seguia numa linha reta do sudeste para o
noroeste de queda em queda. O OVNI, ou fosse lá o que fosse, atravessou a
estrada por onde seguíamos. Havia um sol muito forte que se refletiu sobre o
objeto, que era feito de metal mas não da cor de alumínio como os aviões,
mas ao que me pareceu da cor do bronze ou cobre. O que fazia o objeto se
deslocar não sabemos, mas não escutamos qualquer som.

Obviamente, não existem muitos dados concretos aqui, e o incidente poderia
ser facilmente esquecido não se enquadrasse ele ao exemplo de tantos outros
relatórios semelhantes. Não havia, com relação a este caso, testemunhas
experimentadas, mas a carta enviada mostrava um estilo franco e simples:

Dirigíamo-nos para o leste e vimos um carro parado com três jovens
dentro dele, idades compreendidas entre 18 e 20 anos, que estavam olhando
para alguma coisa no céu.... Também vi algo, por isso rodei mais alguns
metros, parei, saí do carro e olhei para o firmamento.... Os três rapazes....
aproximaram-se e estacionaram ao meu lado e ficamos todos olhando aquilo,
mas como vinha vindo tráfego na outra mão, fomos forçados a partir....
Nenhum de nós cinco encontrou uma explicação, mas todos o vimos com a
maior clareza.

Após se ter tido oportunidade de interrogar diversos observadores, de ler
muitas cartas e relatórios (e ter tido também uma vasta ocasião para encontrar e
interrogar os membros de boa fé da classe dos lunáticos) era preciso ser muito
obtuso, na verdade, para não desenvolver uma intuição a respeito das narrativas
que têm um toque de veracidade e aquelas que são produtos de mentes mal
equilibradas. A sinceridade e a perplexidade de diversas testemunhas estão além
de questão.
Em Blytheville, Arkansas, dois observadores que se encontravam de serviço
na torre de controle da Base Aérea de Blytheville e um terceiro de plantão na
extremidade da pista de pouso sul (todos três foram considerados pelo Livro
Azul como “totalmente fidedignos’’ viram “dois engenhos de formato oblongo’’
com a aparência de uma travessa de serviço de jantar. Os objetos, escuros de
encontro ao céu mas com aproximadamente sete pés, foram avistados
inesperadamente pela torre de controle. A altitude avaliada era de 1.200 a 1.500
pés. Viajavam numa linha reta do leste para o oeste porém desapareceram após
15 a 30 segundos quando efetuavam uma curva para o sudoeste.
O relatório declarava que a localização visual fora “confirmada pela Base
Aérea de Blytheville, RAPCON, como se encontrando a cerca de duas milhas
marítimas de distância”. Este caso não foi classificado como um caso de
observação visual e de radar devido a falta de dados específicos de radar.
Um oficial da Força Aérea declarou: “Este é o primeiro fenômeno deste tipo
relatado nas proximidades da Base Aérea de Blytheville e para o qual não foi
encontrada uma pronta explicação”. Continuou: “Tendo em vista que três
funcionários idôneos relataram a aparição.... deve-se concluir que ocorreu um
verdadeiro avistamento de um fenômeno de algum tipo mas que não dispomos
de suficientes informações para determinar o caso ”.
O Livro Azul satisfez-se em classificar este caso como “Não-Identificado”
sem proceder a investigações posteriores. Isto é até certo ponto compreensível
tendo-se em vista o pessoal insuficiente do Livro Azul.
Meu pedido para bons relatórios sobre OVNIs publicado em Physics Today
resultou num bom caso de Disco Diurno de múltiplas testemunhas. (Veja
Apêndice 1, DD-14). Ocorreu em 1965 e foi relatado por um astrônomo
profissional e, portanto, por motivos óbvios o observador hesitou em comunicá-
lo.
Este avistamento ocorreu logo após o pôr do sol, mas o céu límpido ainda
não tinha estrelas. O relatório dizia que o objeto tinha luzes e um formato
discóide, indicando, talvez, que tenhamos aqui um caso de transição entre uma
Luz Noturna e um Disco Diurno. As trajetórias e os movimentos das duas
categorias são extremamente semelhantes, sugerindo talvez que as Luzes
Noturnas são Discos Diurnos vistos à noite e que, logicamente, a distinção entre
as duas categorias é meramente uma questão de observação.
O observador, acompanhado por sua mulher, uma amiga e duas crianças,
estava viajando rumo ao leste numa velocidade de 30 milhas por hora. Eles
notaram, “um objeto prateado com o formato de um disco dirigindo-se
lentamente para o sul. A parte inferior do objeto tinha um anel de luzes brancas
azuladas, o que dava a impressão de que o objeto rodopiava”. O objeto
descreveu um ângulo de dois a três graus e encimando-o havia uma luz branca.

Após ter se deslocado ligeiramente para o sul de onde nos
encontrávamos, o objeto acelerou rapidamente tomando uma direção este-
nordeste.... Passamos para uma estrada de alta velocidade continuando rumo
ao leste, mas agora a uma velocidade de 70 a 80 milhas horárias.
Rapidamente, o objeto transformou-se num objeto branco semelhante a uma
estrela (Luz Noturna) bem distante, bem a leste de onde estávamos. Durante
cinco minutos, mais ou menos, tivemos a impressão que se deslocava para
cima e para baixo em cinco a dez graus. Em seguida, o objeto dirigiu-se
muito rápido rumo ao sul, desaparecendo sobre o Oceano Atlântico.

O PROTÓTIPO

Baseados nestes relatórios podemos, agora, resumir os aspectos
fundamentais do Disco Diurno.
Aqueles que investiguei sob qualquer nível são caracterizados pela
similaridade no formato, na cor e, especialmente, no modo de se movimentar,
que pode ser extremamente lenta — até mesmo pairando próximo ao solo ou
realizando um movimento vagaroso — ou extremamente rápido, podendo o
disco desaparecer em questão de segundos.
Apesar da presença da luz diurna nas dúzias de casos usados para a
elaboração do nosso protótipo, tudo que realmente tiramos deles é que o objeto
(quase sempre em pares) é descrito das mais variadas formas como ovais, em
formato de discos, “como um pepino em conserva realizando cabriolas’’ e
elipsoide. Geralmente é brilhante ou reluzente (mas quase nunca descrito como
possuindo diferentes fontes de luz), amarelado, branco ou metalizado.
Demonstram na maioria dos casos o que poderíamos descrever de um modo
antropomórfico como um movimento dirigido com “objetividade’’, com a
habilidade de acelerar extremamente rápido. Não parece haver nenhum som alto
ou roncos associados aos Discos Diurnos; às vezes, há um som de arrastamento
muito dissimulado.
O triste fato é que mesmo após tantos anos de relatórios sobre “Discos
Diurnos’’, originários de diversas partes do mundo, e apesar da existência de
fotografias, ao que parecem, verdadeiras, os dados que temos são os mais
insatisfatórios possíveis sob o ponto de vista de um cientista. A razão disto é, em
parte, clara: a apatia oficial e o “medo do ridículo’’.
A maioria dos relatórios sobre Discos Diurnos aos quais me dediquei sempre
partiam de pessoas com alguma formação, possuidoras de bom senso,
razoavelmente inteligentes. Assim mesmo, os detalhes desejados, tão necessários
a qualquer estudo significativo, escapam-nos. Por que? Porque, num sentido
amplo, não houve sequer uma única autoridade (e nos Estados Unidos isto
significa a Força Aérea) que tenha realizado qualquer investigação digna deste
termo.
As investigações que foram feitas (e eu tive ocasião de ouvir diversas
conversas pelo telefone durante minhas costumeiras idas ao Livro Azul) e as
perguntas formuladas eram. quase sempre com o intuito de estabelecer uma
interpretação errônea, as perguntas eram dirigidas com essa finalidade.
Raramente, as perguntas eram colocadas nesta base. “Talvez tenhamos algo
novo por aqui; vamos procurar descobrir tudo quanto pudermos a respeito. Quais
eram os detalhes da sua trajetória (não importa se pareciam violar as leis da
física?) Descreve, o melhor que lhe for possível, o que aconteceu primeiro e o
que sucedeu posteriormente. Quanto tempo ele levou para fazer aquela parte de
seu movimento, quantas vezes por segundo ele se mexia, quantos segundos
foram precisos para cobrir um arco de 25 graus? Serão estas perguntas que a
média dos observadores não pode responder? Tolices. Se interrogássemos o
observador com muita paciência (e não com a ânsia de preencher rapidamente
um formulário) poderíamos através da “reconstituição do crime’’ —
preferivelmente na cena do avistamento — conseguir uma sequência de tempo
lenta, mesmo se o investigador tiver que traduzir as palavras da testemunha;
“Levou tanto tempo quanto seria preciso para eu contar até dez para o objeto ir
de cima daquela árvore até a ponta do celeiro’’ para “O objeto possuía uma
quota angular de dois graus por segundo’’.
As cores podem ser controladas através do uso de uma boa gama de cores
(nunca encontrei um investigador do Livro Azul que utilizasse este recurso); e
brilho, “Tão brilhante quanto aquela luz ali adiante no jardim’’ pode ser
convertido em lúmens e finalmente passado para um cálculo aproximado de ergs
por centímetro quadrado desde que mesmo somente os limites superiores da
distância possam ser averiguados, como no caso em que a fonte luminosa passa
diante de um objeto (árvore, casa, colina) cuja distância é conhecida.
Contudo, investigações deste tipo sempre estiveram ausentes do modo de
proceder do Livro Azul. As investigações eram realizadas na pressuposição de
que, todas às aparições dos OVNIs ou eram interpretações errôneas ou resultados
de mentes anormais. Embora não sejam incomuns estas falhas oficiais são
trágicas ao extremo. Este ponto ficará esclarecido através do exame de outro
conjunto de casos que envolviam tanto o radar como a prova visual.

NOTAS

7. RELATÓRIOS DE OVNIs EM OBSERVAÇÃO RADAR—
VISUAL


O operador n.° 2 comunicou que por volta de 1040 ZECM tinha avistado
dois sinais numa posição aproximada de 040 e 070 graus. O comandante do
avião e o copiloto viram estes dois objetos no mesmo instante e com a
mesma cor vermelha. O comandante recebeu autorização para abandonar o
plano de voo e perseguir o objeto. Notificou o ADC (Comando de Defesa
Aérea) localizado em Utah... Imediatamente este comando confirmou a
presença dos objetos nos seus instrumentos.
— trecho de um relatório oficial da Seção de Inteligência Aeronáutica.

Aparentemente, poderia parecer que as situações envolvendo confirmação
tanto visuais como de radar ofereceriam “dados concretos’’ excelentes a respeito
de um OVNI. Contudo, infelizmente isto não é verdade. A falta de um
prosseguimento na investigação e a aplicação do “Teorema do Livro Azul’’ (não
pode ser, portanto. não é) evitaram, na minha opinião, que dados concretos deste
tipo fossem resumidos e formulados.
Os avistamentos de OVNIs no radar talvez pareçam constituir um dado
concreto, mas as diversas excentricidades da propagação da onda do radar são
tantas que quase sempre é possível atribuir um avistamento de um OVNI pelo
radar a tais excentricidades, se nos esforçamos muito nesse sentido. Mas, apesar
disto, existem nos arquivos do Livro Azul exemplos de avistamentos de radar
que levam à classificação de “Não-Identificado’’ (mesmo se um dos chefes do
Projeto Livro Azul tenha testemunhado diante do Congresso, mas não sob
juramento, que nos arquivos do Livro Azul não havia um único caso envolvendo
o radar que não tivesse sido satisfatoriamente explicado1).
São, por exemplo, casos de radar não-identificados no Livro Azul os
avistamentos de 18 de setembro de 1951, em Goose Bay, Labrador (Veja
Apêndice 1, RV-11); a de 13 de agosto de 1956, em Lakenheath, Inglaterra
(Veja Apêndice 1, RV-4), de cujo relatório foi extraída a citação que abre o
presente capítulo; a de 13 de junho de 1957, em Shreveport, Luisiana (Veja
Apêndice 1, RV-6); e de 6 de dezembro de 1952, no Golfo do México (Veja
Apêndice 1, RV-10).
Declara-se, com bastante frequência, que os OVNIs não são captados pela
onda do radar. É realmente verdade que, até onde foi oficialmente revelado, a
importante missão de cobertura da defesa do país orientada pelo radar não parece
ter registrado nenhuma observação de OVNIs. “Os UCTs’’ — Alvos não-
correlacionados — são observados pelas telas de radar da NORAD (Defesa
Norte-Americana por radar), mas como estes não satisfazem as condições de
uma trajetória de balística, são automaticamente rejeitados sem que se proceda a
um exame posterior. Teria sido muito fácil introduzir uma sub-rotina no sistema
de computação da NORAD que isolaria os UCTs sem que interferisse na missão
fundamental da própria NORAD; porém, apesar de todos os esforços por mim
realizados nesse sentido, o Livro Azul jamais adotou a ideia. Consequentemente,
não é possível declarar que os relatórios em que há um envolvimento de radar
são intrinsicamente raros. Talvez aconteça que embora não sejam comunicados
oficialmente, não sejam de modo algum raros.
De qualquer forma, os avistamentos através da tela de radar são relatados.
Quando uma observação visual acompanha uma aparição no radar e quando, é
lógico, as observações visuais e através do radar podem ser declaradas como
sendo realmente uma referência ao mesmo objeto ou acontecimento, há uma
grande possibilidade, caso se proceda a investigações adequadas, de que haja um
“terreno proveitoso para a ciência’’.
Escolhi, como antes, mais ou menos uns doze casos (relacionados no
Apêndice 1) para exemplificar esta categoria e com a finalidade de construir um
protótipo que contenha o padrão geral dos avistamentos, usando, como antes,
citações diretamente feitas pelos observadores. Acrescentamos à “experiência
humana’’ uma “experiência instrumental”, que empresta um apoio muito forte à
primeira.

OS RELATORES

Mais uma vez, vamos iniciar com os tipos de relatores envolvidos nos casos
desta categoria2. Em nenhum deles há menos do que duas testemunhas para as
aparições. O número médio de testemunhas é 5.0; o número intermediário, 4,5.
Estes dez casos estão nos arquivos do Livro Azul, dos quais tão somente dois
estão classificados, oficialmente, como “Não-Identificados”. Um caso
classificado pelo Livro Azul como “Propagação Anômala’’ é considerado pelo
Relatório Condon como “Não-Identificado’’. Os sete casos restantes foram
computados pelo Livro Azul como prováveis aviões (4); possivelmente avião
(1); avião, miragem e inversão de radar (1); provavelmente um balão e
provavelmente um avião (1). Nenhuma das classificações do Livro Azul foi
substanciada por uma prova positiva, talvez porque, em grande parte, nenhum
dos casos foi digno para que se procedesse a uma investigação mais detalhada.
As reações dos diversos observadores às suas experiências são interessantes.
Um piloto e seu aluno foram informados através da torre que o radar mostrava
um OVNI na sua cauda durante os últimos cinco minutos. O piloto tomou
conhecimento do comunicado, declarando que o objeto não era um avião
convencional. Disse ele, no relatório: “Estávamos mais apavorados do que
nunca, sem sabermos o que era aquilo. Talvez fosse nos derrubar, foi o que
pensamos’’. (Veja Apêndice 1, RV-12).

OS RELATÓRIOS

Os trechos que se seguem foram transcritos de uma conversa mantida entre
um piloto de um jato da Lear, a torre de controle de Albuquerque, e um piloto da
National Airlines, e revelam tanto as reações como as atitudes tomadas.
A torre de controle de Albuquerque vinha mantendo uma conversa com um
piloto da Lear que se encontrava perto de Winslow, Arizona, antes dos extratos
citados. O jato vinha descrevendo uma luz vermelha, inicialmente na sua posição
dez horas, que acendia e apagava e que tinha se quadruplicado numa direção
vertical. O radar de Albuquerque “registrava’’ apenas um objeto sempre que a
luz estava acesa, e nenhum quando estava apagada. A luz repetiu o processo de
quadruplicação por diversas vezes, parecendo “retrair para dentro de si mesmo
abaixo da luz original’’; em seguida, quando a torre advertia ao jato que o objeto
se aproximava mais, parecia que este brincava de esconde-esconde com o jato,
realizando algumas acelerações violentas.
Segundo as declarações do piloto do jato, que foi por mim entrevistado
longamente mas que insistiu em ser mantido fio anonimato, o objeto, após cerca
de vinte e cinco minutos acelerou vertiginosamente ascendeu num ângulo de 30
graus, desaparecendo em menos de 10 segundos. O radar de Albuquerque,
segundo o piloto do jato, “resgistrou’’ o objeto até a sua aceleração final e
desaparecimento. Um pequeno trecho da conversa mantida através do rádio entre
o piloto do Lear (L), a torre de Albuquerque (A) e o piloto da National Airlines
(N) revela tanto as reações quanto as atitudes de cada.

A para N: Está vendo algo na sua posição 11 horas ?
N para A: Não estamos vendo nada.
A para N: Tem certeza de que não há nada na sua posição 11 horas?
A para N: Escutou a conversa com o jato da Lear?
N para A: Sim, estamos vendo o objeto agora.... estivemos observando-o.
A para N: O que acha que o objeto está fazendo?
N para A: Exatamente o que disse o jato da Lear.
A para N: Deseja comunicar um OVNI?
N para A: Não.
A para L: Deseja comunicar um OVNI?
L para A: Não. Não queremos comunicar.

Um outro caso representativo da categoria Radar-Visual, que exemplifica
não só os casos de Radar-Visual de um modo geral mas também a operação do
“Teorema Livro Azul’’, envolveu dois pilotos de linhas comerciais e um
operador do Centro de Controle do Tráfego Aéreo. (Veja Apêndice 1, RV-2.) O
Livro Azul abandonou o caso como se se tratasse de “luzes de aterrissagem’’,
segundo as palavras emitidas a contragosto por um piloto da American Airlines,
que deixou claro não querer se envolver no assunto. Recebi uma carta do chefe
do tráfego aéreo, que respondeu meu inquérito com vistas a informações
posteriores da seguinte maneira:

Pensei muito se deveria ou não responder à sua carta.... Contudo, quanto
mais pensava sobre a explicação dada ao incidente pela Força Aérea, mais
tumultuado ficava.... Há 13 anos sou operador de tráfego aéreo, três anos
como operador da Força Aérea Americana e dez da FAA. 0 que aconteceu a
4 de maio de 1966 foi o seguinte: Encontrava-me de serviço no setor do
radar de elevada altitude em Charleston, Virgínia, no turno da meia-noite....
Por volta das 04:30 um Avião da Braniff chamou-me numa frequência VHF
de 134.75 e perguntou se eu tinha algum voo na sua linha. Estivera
momentaneamente distraído por um contato terra e quando terminei (10 a 15
segundos), olhei para o osciloscópio do radar e observei um alvo a esquerda
do avião da Braniff, que rumava a leste sobre a pista de pouso 6, cerca de
cinco milhas além da sua posição 11 horas.
Comuniquei ao voo 42 da Braniff que desconhecia qualquer tráfego nas
suas proximidades mas que o radar registrava um alvo indefinido além da
sua posição 10 horas; contudo, o aparelho não registrava um sinal sonoro
conjugado ao alvo assinalado (transponder) e provavelmente situava-se num
setor de baixa altitude (24.000 pés e mais abaixo). O Braniff 42 declarou que
o objeto não podia estar em baixa altitude porque se encontrava acima dele e
baixando para a sua altitude, que era de 33.000 pés.... Senti-me inteiramente
sém argumento para poder-lhe dar uma explicação de vez que naquele
momento só tinha dois aviões sob meu controle — o seu voo e um da
American Airlines, cerca de vinte milhas atrás dele. Perguntei ao Braniff 42
se podia me fazer uma descrição do objeto, julgando que talvez se tratasse de
um avião de pesquisa da Força Aérea ou possivelmente um veículo tipo U-2.
Braniff 42 respondeu que fosse o que fosse, não era um avião, que o1 objeto
emitia luzes brilhantes que consistiam alternadamente das cores branca,
verde e vermelha e que, naquele momento, estava se afastando dele. Ao
mesmo tempo, o voo da American Airlines que vinha atrás do da Braniff,
que estava utilizando a mesma frequência, perguntou ao da Braniff se estava
com as luzes de aterrissagem acesas. Braniff respondeu negativamente.
Ainda que o avião da Braniff estivesse com as luzes de aterrissagem acesas,
o outro piloto não poderia ter avistado nada mais do que um clarão
embaçado, pois estavam rumando na mesma direção e com uma distância de
20 milhas entre si! O que para mim significa que o piloto da American
Airlines viu o mesmo objeto brilhante. Assim que perguntei a ele se podia
me fornecer maiores detalhes, recusou-se a fazê-lo educadamente. A maioria
dos pilotos sabe que se houver um avistamento oficial de um OVNI, devem
(ou pelo menos deveriam) redigir um relatório completo assim que
aterrissarem. Este relatório, que eu saiba, é bastante longo.
Contatei o Braniff 42 e disse-lhe que vira aquele alvo ir na sua direção a
cerca de oito ou dez milhas da sua posição 10 horas e, a uma distância de
cerca de três milhas, fazer uma volta para a esquerda e continuar na direção
noroeste de onde tinha partido. Braniff 42 confirmou isto e acrescentou que o
objeto encontrava-se numa configuração descendente a cerca de 20 graus
fora da linha do horizonte.
Conforme declarei, acho que a minha experiência anterior fala por si
mesma e -sei o que vi; e estou certo de que o piloto da Braniff 42 não estava
tendo alucinações. O alvo que observei devia estar numa velocidade
aproximada de 1.000 milhas por hora e fez uma volta completa de 180 graus
no espaço de cinco milhas, proeza que nenhum avião por mim observado no
radar jamais seria capaz de fazer. E eu já tive oportunidade de acompanhar
os B-58 que declaravam estar numa velocidade supersônica, todos os tipos
de aviões civis usando a velocidade máxima de jatos e até mesmo os Sr-71
que, normalmente, operam em velocidades que excedem as 1.500 milhas por
hora.
Doutor, isto encerra a minha declaração. Estou lhe remetendo um
diagrama mostrando a localização geográfica dos jatos e do objeto.
Uma prova em conflito com esta foi dada pelo capitão da American
Airlines numa carta enviada ao Projeto Livro Azul.
Não dei qualquer significação ao incidente, e para mim pareceu apenas
um avião a alguma distância, digamos seis ou oito milhas, que acendeu as
luzes de aterrissagem e deixou-as ligadas por três ou quatro minutos, em
seguida desligou-as.
Perguntei ao operador do radar se havia um alvo na minha posição nove
ou dez horas. Respondeu-me negativamente. Então eu disse: “Ora, há
alguma coisa ali, tenho certeza”. Não fazia a menor ideia de que ele iria
transformar aquilo num relatório sobre OVNI. Não pensei mais no assunto.
Acho que era uma missão de reabastecimento levada a cabo pela Força
Aérea. Continuo achando que nada mais era do que um avião com as luzes
de aterrissagem ligadas.

O testemunho do operador de tráfego, conjugado ao do capitão da Braniff, é
consistente, enquanto que a rápida declaração do piloto da Airlines não o é. É
inteiramente inconcebível que uma missão de reabastecimento aéreo, que
envolve no mínimo dois aviões manobrando, pudesse estar sendo realizada a seis
ou oito milhas de distância de uma rota aérea comercial. Invariavelmente, uma
missão de reabastecimento usa muitas luzes. Por que razão o piloto da Airlines
perguntaria ao da Braniff se estava com as luzes de aterrissagem acesas,
sobretudo quando este último achava-se a milhas de distância adiante dele e de
frente para a direção oposta? Além do mais, tanto o piloto da Braniff como o
operador situaram o objeto na posição dez horas com relação a aeronave da
Braniff e, portanto, à sua frente, que, por sua vez, estava vinte milhas à frente do
avião da American Airlines.
O piloto da American Airlines disse ter visto alguma coisa na sua posição
dez horas e se a luminosidade o fez errar o cálculo da distância e julgar que o
objeto se achava mais próximo a ele, logo aparentemente, atrás da aeronave da
Braniff, ainda assim isto não explicaria a posição dez horas. Torno a indagar, se
ele estava a cerca de doze milhas atrás da aeronave da Braniff, por que razão
perguntou ao último se estava com as luzes de aterrissagem acesas?
Como o Projeto Livro Azul agarrou-se ao testemunho do piloto da American
Airlines e nada fez no sentido de se aprofundar neste caso obtendo depoimentos
do operador do tráfego aéreo, do piloto da Braniff e do da American Airlines,
este caso e outros muito parecidos não servem como dados científicos e pouco
pode se provar através deles.
Tudo quanto pode ser dito sobre os casos Radar-Visual é que, sob
determinadas circunstâncias, pessoas responsáveis em postos de radar e em
postos visuais (operadores de tráfego aéreo, pilotos, etc.) — postos que exigem
atitudes responsáveis — foram unânimes em afirmar que acontecimentos
intrigantes foram simultaneamente detectados por radar e visualmente. Mas
quais eram as sequências exatas do tempo-deslocamento, as trajetórias exatas, as
acelerações, a natureza detalhada dos blips do radar, e até que ponto os diversos
observadores concordaram nos detalhes? Todos estes fatores continuam
infelizmente desconhecidos e assim continuarão nos futuros casos Radar-Visual
(e em outras categorias) a menos que se dê ao assunto OVNI uma
respeitabilidade científica e sejam autorizadas investigações minuciosas que
deverão ser realizadas de forma responsável.
No que diz respeito ao protótipo da categoria Radar-Visual, pode-se dizer
que o operador de radar observa um blip na sua tela que, declara ele, é definido,
é análogo ao tipo de blip dado por uma aeronave grande, não é resultante de um
mau funcionamento e não se parece com um “fenômeno meteorológico’’. Uma
observação visual é, caracteristicamente, uma luz, ou possivelmente uma
formação de luzes profundamente desconhecida para o observador que de um
modo geral sugere se tratar de um objeto levemente delineado pela luminosidade
das luzes. As velocidades envolvidas são invariavelmente elevadas, mas a
combinação de alta velocidade num momento e uma parada pairando no ar num
outro não é fora do comum. Uma das características dos casos Radar-Visual são
as reversões de marcha, as voltas fechadas e as voltas suaves de 90 graus.
Praticamente todos os casos de Radar-Visual ocorrem à noite, um ponto que
pode ser considerado como uma prova negativa contra a realidade dos alvos.
Mas estamos examinando dados e provas segundo as experiências narradas pelos
observadores e não como julgamos que deveriam ser vistos. Nas categorias dos
Encontros Imediatos, as aparições durante o dia ocorrem com considerável
frequência.
Um caso interessante de Radar-Visual e que contribui para o protótipo e
ilustra o descaso verdadeiro que o Projeto Livro Azul dedica aos princípios da
investigação científica, ocorreu no Novo México, a 4 de novembro de 1957 (veja
Apêndice 1, RV-3), pouco antes dos célebres casos de Encontros Imediatos
(capítulo 8) acontecidos em Levelland, Texas. Um oficial, um tenente-coronel da
Força Aérea que preparou o relatório pronunciou-se da seguinte maneira a
respeito deste caso:

A opinião do oficial que preparou este relatório é que este objeto pode ter
sido, possivelmente, uma aeronave não-identificada, ao que tudo indica
confundida com as pistas de aterrissagem da Base Aérea de Kirtland. As
razões para estas opiniões são:
1. Os observadores são considerados competentes e fontes fidedignas e,
na opinião deste entrevistador, viram realmente um objeto que não puderam
identificar.
2. O objeto foi avistado num osciloscópio de radar por um operador
competente.
3. O objeto não se enquadra nos critérios de identificação de qualquer
outro fenômeno.

Isto é, os observadores eram de confiança, o operador do radar era
competente e o objeto não pôde ser identificado: portanto era um avião. Diante
desta maneira de raciocinar pode-se perfeitamente perguntar se seria nunca
possível descobrir a existência de um novo fenômeno empírico em qualquer área
da experiência humana.
O relatório deste incidente encontra-se nos arquivos do Livro Azul como se
segue:

DESCRIÇÃO DO AVISTAMENTO SEGUNDO AS FONTES: Às
050545 Z novembro (hora local 22:45) ambas as FONTES estavam de
serviço na torre de controle da Base Aérea de Kirtland, Novo México;
esta torre tem um pouco mais de 100 pés. Um dos operadores olhou para
o céu para ver as condições das nuvens e percebeu uma luz branca
viajando para o leste, numa velocidade compreendida entre 150 e 200
milhas por hora, numa altitude aproximada de 1.500 em Victor 12 (uma
rota de altitude baixa). Em seguida, a FONTE chamou a estação de radar
e pediu uma identificação do objeto. O operador do radar informou que o
objeto encontrava-se aproximadamente a 90 graus azimute do
observador; desapareceu em 180 graus azimute do observador na torre. O
objeto descreveu um ângulo sobre a extremidade leste da pista de pouso
26 numa direção sudoeste e começou a baixar com rapidez. Uma FONTE
tentou entrar em contato através do rádio numa tentativa de contato com
o que se pensava fosse uma aeronave desconhecida que se confundira
com o padrão de pouso. Um LOGAIR C-46 acabara de se comunicar
pedindo instruções para pousar. Em seguida, o objeto foi observado com
auxílio de binóculos e parecia ter o formato de “um automóvel
perpendicular’’. Tinha uma altura estimada em 15 a 18 pés. Foi
observada uma luz branca no lado de baixo do objeto. Este diminuiu a
velocidade para cerca de 50 milhas por hora e desapareceu por trás de
uma cerca em Drumhead, uma área proibida que era profusamente
iluminada. Esta encontra-se a cerca de uma milha e meia de distância da
torre de controle. Reapareceu, deslocando-se rumo leste, e uma FONTE
deu-lhe uma luz verde da torre, julgando que talvez se tratasse de um
helicóptero em apuros. Nesta altura, o objeto encontrava-se a 200 ou 300
pés de altura; deu uma guinada rápida para sudeste, subiu abruptamente
calculadamente a 4.500 pés por minuto e desapareceu. A FONTE
declarou que o objeto subiu ‘‘como um jato’’, mais rápido do que
qualquer helicóptero (Esta estimativa de ascensão foi feita pela FONTE.)
Embora houvesse nuvens esparsas com muita névoa, a visibilidade
era boa. Os ventos de superfície variavam entre 10 e 30 nós. As FONTES
observaram o objeto durante uns cinco ou seis - minutos, dos quais a
metade do tempo através de binóculos.

O oficial da Força Aérea que preparou o relatório declarou:

As duas FONTES, entrevistadas ao mesmo tempo, deram respostas
idênticas a todas as perguntas e os relatos foram também idênticos.
Ambos davam a impressão de serem pessoas amadurecidas e bastante
equilibradas, aparentemente com níveis de inteligência bem acima da
média, e bem qualificados temperamentalmente para as severas
exigências requeridas de operadores de torre de controle. Ainda que
estivessem ansiosos por cooperar e desejosos de responder quaisquer
perguntas, ambas as FONTES pareceram ligeiramente embaraçadas por
não poderem identificar ou dar uma explicação do objeto que eles têm
certeza inabalável de ter visto. Na opinião do entrevistador ambas as
FONTES são consideradas totalmente competentes e de confiança.

Entretanto, o que disse o operador de radar ter visto no seu osciloscópio —
ele que se encontrava fisicamente distante dos observadores visuais? A
mensagem do teletipo que damos a seguir indica que houve um acordo entre a
observação visual e a do radar exceto no que diz respeito ao modo como o objeto
desapareceu. Os observadores visuais declararam que ele ascendeu abruptamente
numa direção sudeste; o relatório do radar afirma que o objeto desapareceu,
finalmente, a noroeste, cerca de dez milhas de distância da estação do radar. É
possível que haja uma inconsistência quanto a isto, mas, pode também ter
acontecido, que o radar tenha tido o objeto focalizado no osciloscópio por muito
mais tempo do que os observadores que o viam a olho nu. O relatório do radar
diz:

O observador foi chamado pelo operador da torre para que
identificasse um objeto localizado perto da extremidade leste da pista
leste-oeste. O objeto estava a, aproximadamente, uns 90 graus (leste)
azimute do observador. O objeto desapareceu a 180-azimute (sul) do
observador. O objeto foi inicialmente visto perto da extremidade leste da
KAFB (Base Aérea de Kirtland) dirigindo-se leste-sudeste, onde reverteu
o curso para o oeste e continuou rumo à estação de baixa frequência da
Kirtland (seria isto a mesma coisa que Dr,umhead?), onde o objeto
entrou em órbita. Da estação o objeto tomou a direção noroeste em alta
velocidade e desapareceu aproximadamente a 10 milhas do observador.

O relatório do radar acrescenta algo que não foi notado pelos observadores
visuais:

Uns vinte minutos após o objeto ter desaparecido, um AF C-46
4718N levantou voo rumo ao oeste, fazendo uma volta para a esquerda;
nesta altura, o observador girou o radar para o sul e viu o objeto
(presumivelmente o mesmo desconhecido) por cima da marca externa a
cerca de quatro milhas sul da pista de pouso norte-sul. O objeto voou
para o norte a alta velocidade cerca de uma milha sul da pista leste-oeste,
onde fez uma volta abrupta para o oeste e entrou numa formação com o
C-46. O objeto manteve-se a uma distância aproximada de meia milha do
C-46 num curso sul durante cerca de 14 milhas. A seguir, o objeto virou
para o norte, pairou sobre a marcação externa acerca de um minuto e
meio e depois sumiu do osciloscópio. Duração total do avistamento no
radar: 20 minutos (contrariamente aos 4 ou 5 minutos do avistamento
visual).

O que se pode dizer, na verdade, a respeito de um caso Radar-Visual igual a
este? A concordância básica entre os relatórios do radar e o visual e a
competência dos três observadores, na minha opinião, afasta as possibilidades de
que sejam miragens, imagens falsas no radar, etc. Havia alguma coisa totalmente
definida ali. Se se tratava de um avião comum, podemos perguntar como seria
possível que dois observadores visuais, com um total de 23 anos de experiência
em torre de controle, não tiveram, ao mesmo tempo, capacidade para reconhecer
a aeronave quando as condições de visibilidade eram boas? Mesmo que não
tivesse havido uma confirmação por parte do radar a respeito dos deslocamentos
lentos e acelerados do objeto, ou, na verdade, sobre a presença de um objeto
desconhecido, esta questão ainda continuaria sem resposta. A descrição da
aparência do objeto através dos binóculos — “como um automóvel na vertical’’
— também exigiria uma explicação.
A falta de um prosseguimento apropriado — aparente inconsistências entre o
modo de desaparecer registrado pelo radar e pelos observadores visuais,
deveriam ter sido checadas e uma documentação muito mais detalhada sobre
todo o incidente deveria ter sido providenciada — mais a aplicação do Teorema
do Livro Azul conduziu inexoravelmente, a um avião desorientado como a única
solução possível para o Projeto Livro Azul.
Os relatórios sobre Radar-Visual oferecem um desafio todo especial para o
investigador, pois prestam-se muito mais à investigação do que os relatórios
sobre OVNIs das duas primeiras categorias por nós examinadas. Dois casos
clássicos, investigados pelo falecido Dr. James McDonald após terem-se passado
muitos anos, foram tratados respectivamente, na Flying Sancer Review 3 e em
Astronautics and Aeronautics4 (A subcomissão de OVNIs do Instituto Americano de Aeronáutica
e Astronáutica [AIAA] após ter publicado seu artigo Appraisal of the UFO Problem, no número de
novembro de 1970, no qual concluía que o fenômeno OVNI era digno de um estudo científico, anunciava
que, de tempos em tempos, publicaria na sua revista casos selecionados de OVNIs para que seus leitores
pudessem formar um julgamento próprio com relação ao problema. O caso de Lakenheath, estudado pelo
Dr. McDonald, foi um dos casos escolhidos pela subcomissão). Por esta razão não há
necessidade de serem tratados detalhadamente neste livro. Um aconteceu a 17 de
julho de 1957, em Lakenheath, Inglaterra. (Veja Apêndice 1, RV-4).
O caso de Lakenheath envolveu dois operadores de radar terrestre, isolados,
um piloto militar e um operador da torre de controle aéreo. Foi objeto de
investigações grosseiras e incompletas tanto por parte do Livro Azul como pelo
Comitê Condon, cujas conclusões são, no entanto, dignas de nota: “Em resumo,
este é o caso mais intricado e fora do comum nos arquivos do Radar-Visual. O
comportamento aparentemente inteligente, racional do OVNI sugere um
engenho mecânico de origem desconhecida como a explicação mais provável
para este avistamento”. Mas, então, o “bom senso’’ parece agir em seu favor:
“Contudo, tendo em vista a inevitável falibilidade das testemunhas, as
explicações mais convencionais deste relatório não podem ser totalmente
excluídas ’’.
O relatório não insinua quais as explicações convencionais que poderiam
satisfazer à situação. Numa outra parte do Relatório Condon este caso é
novamente trazido à baila, com a declaração insatisfatória: “Concluindo, ainda
que as explicações convencionais ou naturais não podem, decerto, ser excluídas,
uma probabilidade deste tipo parece ínfima, neste caso, e a possibilidade de que
pelo menos um verdadeiro OVNI esteve envolvido parece ser bastante elevada’’
Nada mais foi dito ou conjeturado pelo Relatório Condon a respeito do que seria
este “verdadeiro OVNI’’.
As probabilidades, é claro, jamais provaram nada. Contudo, quando no
decorrer de investigações sobre OVNIs são encontrados muitos casos, cada qual
com bastante probabilidade de que tenha ocorrido “uma observação empírica
realmente nova”, a probabilidade de que não tivesse sido observado um
fenômeno novo torna-se muito pequena e, menor ainda, à medida que aumenta o
número de casos. Portanto, as chances de que haja realmente algo novo são
muito grandes e qualquer jogador da mesa de jogo percebendo tais vantagens
não hesitaria em apostar forte.
Este ponto precisa ser enfatizado. Qualquer caso OVNI, quando analisado
isoladamente, sem se levar em consideração os dados reunidos universalmente
(presumindo-se que estes já passaram através do “filtro de OVNIs”) pode, quase
sempre, ser refutado, pressupondo-se que neste caso em particular ocorreu um
conjunto de circunstâncias de baixa probabilidade (porém, às vezes, acontecem
realmente coisas estranhas e coincidências de muito pouca probabilidade). Mas
quando casos deste tipo se acumulam em quantidades respeitáveis, deixa de ser
cientificamente correto aplicar o mesmo raciocínio que se aplicaria a um caso
isolado. Logo, a chance de que um caso OVNI profundamente investigado, com
testemunhas excelentes, possa ser qualificado como uma interpretação errônea é,
sem dúvida, muita pequena, mas limitada. Porém, aplicar o mesmo argumento
para uma considerável coletânea de casos semelhantes não é lógico de vez que
as probabilidades conjuntas de que todos tenham sido devido a interpretações
errôneas é comparável a probabilidade de que uma moeda fique de pé numa das
bordas sempre que for atirada porque isto aconteceu uma vez (Pode-se levantar a
objeção, e de forma correta, que o argumento acima é capcioso de vez que não se pode atribuir um valor
numérico à probabilidade das chances de que determinado relatório não foi o resultado de um equívoco. A
analogia é válida somente até o ponto em que a pessoa se sinta satisfeita dizendo, como o Relatório Condon
agiu num caso em particular e deixou velado em muitos outros, que a probabilidade era elevada no sentido
de que pelos menos um OVNI verdadeiro foi encontrado, e que, portanto, a probabilidade de que o
avistamento fosse devido a uma interpretação errônea era numericamente bastante baixa).
O segundo caso clássico encontra-se resumido no artigo introdutório da
Astronautics and Aeronautics:

Um RB-47 da Força Aérea, equipado com instrumentos eletrônicos,
contra medidas (ECM) com uma tripulação composta de seis oficiais, foi
seguido por um objeto não-identificado durante mais de 700 milhas e durante
um período de tempo de hora e meia, enquanto voava vindo do Mississipi,
através da Luisiana e Texas e dirigindo-se ao Oklahoma. O objeto foi
avistado, por diversas vezes, pelos tripulantes que se achavam na cabine de
comando como uma luz intensamente luminosa, acompanhada pelo radar do
solo e detectada no instrumento monitor no ECM a bordo do RB-47. Neste
caso, é de especial interesse as diversas circunstâncias de aparições e
desaparecimentos simultâneos em todos estes três “canais” fisicamente
distintos e a rapidez com que o objeto realizava as manobras de forma muito
além da experiência anterior dos tripulantes. (Veja Apêndice 1, RV-8.).

Um caso Radar-Visual que o Comitê Condon não examinou e a respeito do
qual talvez nem tenha tomado conhecimento — que o Projeto Livro Azul
abandonou como se não “contasse com dados suficientes”, embora não tivesse
feito o menor esforço para conseguir outros dados, e considerando como “uma
aeronave” — foi relatado por um navio de guerra nas Filipinas. O avistamento
ocorreu a 5 de maio de 1965 (Veja Apêndice 1, RV-5.) Cito trechos do relatório
oficial:

Às 060910, na posição 20 graus e 22 minutos norte, 135 graus e 50
minutos leste, curso 265, velocidade 15, o sinaleiro-chefe comunicou o que
acreditava ser uma aeronave, marcação 000, posição ângulo 21. Quando
focalizado pelos binóculos, foram avistados três objetos bastante próximos
um do outro; um era de primeira grandeza; os outros dois, de segunda
grandeza. Os objetos viajavam numa velocidade excessivamente elevada,
vindo na direção do navio a uma altitude indeterminada. Às 0914 foram
detectados no radar de busca aérea SPS-6C quatro alvos móveis, enfileirados
a 22 milhas e mantendo-se por 6 minutos. Os objetos, ao ficarem sobre o
navio, espalharam-se numa formação circular diretamente acima e
permaneceram ali por cerca de 3 minutos. Esta manobra foi observada tanto
visualmente como através do radar. O objeto brilhante que pairava para lá do
setor de estibordo permaneceu no osciloscópio do radar por mais tempo. Os
objetos fizeram várias mudanças de curso durante a observação, confirmadas
a olho nu e pelo radar e foram seguidos a uma velocidade que excede os
3.000 (três mil) nós. Intimações foram feitas através IFF mas não foram
obtidas respostas. Após três minutos de manobras realizadas pairando ao
redor do navio, os objetos tomaram a direção sudeste numa velocidade
extremamente alta. As evoluções acima descritas foram observadas pelo CO
(Comandante), todo o pessoal na ponte e numerosos homens no convés.

O navio nas Filipinas acrescentou o seguinte ao seu relatório, em defesa de
sua tripulação, considerando-a observadores cuidadosos:

Durante o período 5-7 de maio, entre 18:00 e 20:00 horas, diversos
outros objetos foram observados. Todos eles tinham as características de um
satélite, inclusive no que diz respeito à velocidade e apresentação.
Comunicamos este fato para demonstrar a acentuada diferença de velocidade
e de capacidade de manobra entre estes satélites comprovados, e os objetos
anteriormente descritos.

O relatório sob o ponto de vista científico deixa a desejar. Gostaríamos de
saber o que significa “velocidades extremamente altas’’ e como foi possível,
com uma velocidade tão acentuada, o radar “manter focalizados” os objetos por
tanto tempo como seis minutos. Será que os seis minutos incluíam os três
minutos, o tempo que levaram pairando, ou não? Que tipos de ‘blips’ foram
observados no radar? Quais as mudanças de curso que foram feitas e com que
aceleração angular? E quando os objetos “espalharam-se numa formação circular
bem acima” estavam parados? Oscilaram ou movimentaram-se para frente e para
trás? O Livro Azul devia ter explorado perguntas deste tipo.
As testemunhas envolvidas nos casos Radar-Visual estão entre as mais bem
preparadas tecnicamente dentre aquelas que relataram uma experiência com um
OVNI, embora, frequentemente, suas palavras também retratem o mesmo tipo de
assombro e incompreensão que atormentam as menos preparadas. No caso de
Lakenheath, o operador do radar solicitou ao piloto do avião Venom Interceptor
para que tomasse conhecimento que um OVNI tinha começado uma “caça à
cauda” do caça, como se quisesse confirmar suas observações chocantes. O
piloto, tendo tomado conhecimento e sido advertido de que não tinha
“possibilidade de se livrar do alvo atrás da sua cauda’’, pediu ajuda e observou:
“O alvo mais nítido que já observei no radar.
Um relato de um avistamento Radar-Visual feito por um capitão de um avião
de carreira da Trans-Texas (veja Apêndice 1, RV-6) ilustra não só o protótipo
desses casos mas, novamente, a sempre presente relutância, sobretudo por parte
das pessoas preparadas tecnicamente, com relação a um relatório sobre OVNI. O
membro do esquadrão da inteligência da Força Aérea 4602d que entrevistou o
piloto no presente caso e preparou o relatório para o Livro Azul, escreveu:

A FONTE mostrava-se relutante para falar sobre o objeto por se sentir
um tanto mal por estar sendo entrevistada a respeito do avistamento. Achava
que nada tinha a ver com a origem do relatório inicial de vez que nada mais
fizera além de perguntar ao AC&W (radar) local se tinha companhia naquele
voo. Depois que o investigador lhe deu uma explicação, ele tornou-se
cooperativo e deveria ser considerado digno de confiança.

A seguir faço uma transcrição do relatório do Livro Azul.

Descrição feita pela FONTE sobre a visão: um objeto foi visto durante a
minha decolagem do aeroporto de Shreveport, Louisiana, por volta das 2030
CST de 3 de junho de 1957. A altitude do objeto era de aproximadamente
400 pés quando foi localizado pela primeira vez. A FONTE declarou que a
torre de controle chamou sua atenção para o objeto, que era aparentemente
uma luz pequena. As luzes de aterrissagem do avião da FONTE foram postas
a acender e apagar e o objeto, por um momento, respondeu com uma luz
muito intensa dirigida para sua aeronave. A seguir, o objeto ganhou altitude a
alta velocidade, partindo de uma posição que parecia pousando. A esta altura
foi visto outro objeto, mais ou menos na mesma altitude e com a mesma
aparência do primeiro. A FONTE declarou que entrou em contato com a
torre a fim de se certificar se eles também estavam vendo os dois objetos. A
resposta foi afirmativa, através de binóculos. Depois os objetos acertaram o
curso com o avião da FONTE, deslocando-se paralelamente com a mesma
velocidade, que era de uns 110 nós, porém numa altitude mais elevada. Em
Converse, Louisiana, os objetos continuavam com eles, portanto a FONTE
resolveu chamar GOATEE (local de radar) para ver se estavam pegando a
imagem nas armas (sic). A resposta foi afirmativa. A FONTE comparou o
tamanho e o aspecto dos objetos aos de uma estrela; contudo, mencionou que
num certo momento pôde ver a silhueta dos objetos mas que não faria uma
declaração definitiva a esse respeito.

O copiloto, ao ser entrevistado, confirmou inteiramente a declaração do
piloto mas acrescentou que o objeto estava a 1.000 pés e a meia milha de
distância, quando foi avistado inicialmente. Disse que a luz deslocou-se num
curso de 170 graus enquanto ganhava altitude indo para os 10.000 pés,
aproximadamente, numa velocidade considerável, quando pareceu manter a
mesma posição relativa a do avião da FONTE durante a hora seguinte. Também
declarou que o radar local confirmara o alvo dos dois objetos na tela a uma
altitude de 9.700 pés.
As duas breves declarações dos dois pilotos e a resposta relatada pelo radar
local são insatisfatórias e incompletas e, consequentemente, decepcionantes. O
Projeto Livro Azul classifica o caso como “Não Identificado’’, mas, como tantas
vezes antes, e mesmo após este incidente, a natureza desconhecida da causa não
foi motivo de inquérito nem de um prosseguimento constante. O OVNI tinha
sido satisfatoriamente classificado.... como Não-Identificado. Se o relatório está
correto, com o objeto à vista durante quase uma hora, uma investigação
detalhada e conscienciosa poderia, sem dúvida, ter determinado se o
desconhecido poderia ser uma interpretação errônea de objetos naturais pelo
piloto e o copiloto, pelos observadores na torre e, ao que tudo indica, pelo
operador do radar, muito embora nunca tenha ficado realmente estabelecido se o
radar avistou realmente os objetos que estavam sendo vistos a olho nu. É claro
que se o radar não estava vendo a aparição observada a olho nu, o que estava
acontecendo?
Os casos até aqui descritos servem, muito bem, para estabelecer o protótipo
da categoria Radar-Visual. Os bons casos Radar-Visual, devidamente
pesquisados, são raios. Aqueles que existem, no entanto, não podem ser
esquecidos facilmente. O caso a que já nos reportamos, envolvendo um RB-47 e
inteiramente descrito em Astronautics and Aeronautics, julho de 1971, deve ser,
não resta dúvida, tratado seriamente e considerado como um exemplo
indiscutível de um fenômeno estranho. (Veja Apêndice 1, RV-8). Não se pode,
de forma alguma, discutir o caso como o resultado de uma má interpretação ou
um mau funcionamento do radar resultante de um efeito de propagação anômala.
Este encontro Radar-Visual aconteceu a 17 de julho de 1957, enquanto um avião
eletrônico especial voava pelo Mississipi, Louisiana, Texas e Oklahoma. Não se
tratou, de forma alguma, de um acontecimento localizado de curta duração;
envolveu tripulações no solo e no ar e diversas instalações de radar.
Antes, nesse mesmo ano, a 13 de fevereiro de 1957, ocorreu um caso Radar-
Visual desafiador na Base Aérea de Lincoln, em Ne-braska. O resumo do Livro
Azul diz o seguinte:

Os objetos foram observados a olho nu por três operadores de controle e
pelo Diretor de Operação, que se encontrava nacidade para supervisionar
uma missão aérea. Os objetos também foram observados no radar através das
operações NCOIC e GCA (duas estações diferentes de radar). Foram
observados durante um período de três a cinco minutos... Cada objeto estava
cerca de cinco a seis milhas mais atrás de um avião comercial e deslocava-se
com o dobro da velocidade deste... Um dos objetos partiu-se em dois e o
outro fez uma volta de 180 graus. Todos os observadores foram interrogados
através de IFF mas nada responderam. A estimativa visual dos objetos
quanto ao seu tamanho não foi possível, mas o operador do radar declarou
que o blip no seu osciloscópio era praticamente do mesmo volume daquele
emitido pelo B-47. Os objetos davam a impressão de ficarem imóveis, depois
acelerar e correr embora. (Veja Apêndice 1, RV-8.)

O Livro Azul, lançando mão do seu teorema padrão classificou a aparição
como “provável balão’’ e “provável avião’’.

8. ENCONTROS IMEDIATOS DO PRIMEIRO GRAU


Inesperadamente, dei-me conta que a luz estava vindo de cima. Ergui os
olhos e vi o contorno de um objeto deslocando-se acima da extremidade
do telhado de minha casa, a uns 250-500 pés de altura. O brilho vermelho
saía da parte inferior do objeto, mais ou menos no centro dele.
— Veja Apêndice 1, CEI-3

Os relatos de avistamentos de OVNIs que falam de objetos ou luzes muito
intensas próximos aos observadores — geralmente a menos de 500 pés de
distância caem, por definição, na segunda grande divisão de observação das
aparições de OVNIs: Encontro Imediato. Com toda a probabilidade, esta divisão
não implica numa classe diferente de relatórios sobre OVNIs, mas, tão somente,
relatam o mesmo estímulo responsável por aqueles contidos nas três primeiras
categorias, que agora, por casualidade ou por característica, são vistos mais de
perto. É provável que os OVNIs vistos à distância possam, às vezes, serem
encontrados à mão e, portanto, é meramente por conveniência, no que diz
respeito a descrição e ao estudo, que fazemos esta distinção.
Por sua vez, esta ampla categoria divide-se de uma forma inteiramente
operacional e observacional em três grupos distintos: o Encontro Imediato per
se, no qual os observadores relatam uma experiência bastante próxima porém
sem efeitos físicos tangíveis; Encontro Imediato no qual são relatados efeitos
físicos mensuráveis no solo e em matérias animadas e inanimadas; e Encontro
Imediato no qual entidades animadas (frequentemente denominados
“humanoides”, “ocupantes”, ou, às vezes, UFOnautas ou OVNInautos têm sido
relatados. Já fizemos a distinção entre esta última categoria e a categoria dos
“contatados”.
São os próprios observadores que oferecem a melhor definição do Encontro
Imediato, operacionalmente: que distâncias são relatadas com maior frequência
nos casos em que o objeto está bastante próximo para que se possa observar uma
apreciável extensão angular e diversos detalhes, nos quais a visão
estereoscópica, ao que tudo indica, foi empregada e nos quais o temor de um
possível contato físico imediato foi relatado? Através dos relatórios, isto parece
acontecer a algumas centenas de pés de distância, e frequentemente até a muito
menos — 20 pés ou menos ainda. De qualquer forma, a distância relatada é tal
que parece muito pouco provável que o verdadeiro estímulo pudesse ter sido
distante, especialmente quando o objeto ou luz passou entre o observador e
algum objeto (árvore, casa, colina, etc.) cuja distância é conhecida.
É nos casos de Encontros Imediatos que nos insurgimos contra a hipótese da
“interpretação errônea” dos relatórios sobre OVNIs. Embora seja possível
estabelecer esta hipótese no caso da primeira divisão importante dos relatórios
OVNIs — aqueles que se referem a avistamentos à distância — torna-se
virtualmente insustentável no caso do Encontro Imediato. Os relatórios sobre
OVNIs que serão descritos agora, cada qual feito por dois ou mais observadores
que foram capazes de fazer um relato coerente e presumivelmente concreto,
levantam a questão da possibilidade de que a percepção narrada seja enquadrada
dentro dos “limites da interpretação errônea” aplicáveis a pessoas sadias e
responsáveis.
Na minha opinião, e acredito que o leitor concordará comigo, os limites
lógicos aceitáveis da interpretação errônea são, nestes casos, excedidos por uma
margem tão grande que só se pode presumir que os observadores tiveram
realmente a experiência conforme narrada ou estavam fora de seu juízo e
sentidos. Ainda assim, a prova das ocupações dos observadores, seu preparo e
atitude passadas não nos fornecem nenhum indício de que aquele observador
estivesse fora de seu juízo no que diz respeito aos casos “filtrados” e usados
neste capítulo.
Será que temos um fenômeno no qual diversas pessoas sofrem de uma
insanidade temporária num determinado momento sem que isso tenha ocorrido
antes ou depois? Se assim for, temos que lidar com uma nova dimensão do
fenômeno OVNI. Mas o dado do problema — o assunto deste livro —
permaneceria inalterado. Simplesmente, o problema da sua origem teria que ser
atacado noutra direção.
O mesmo padrão geral de tratamento dos casos desta categoria será seguido
como o foi na primeira ampla categoria: OVNIs no céu.
Primeiro, em cada uma das subdivisões o número e a natureza dos observadores
envolvidos serão declarados; segundo, serão relatadas as reações iniciais às suas
experiências; e, terceiro, o protótipo da categoria será moldado através de
elementos cpmuns à maioria das aparições. Como sucedeu antes, os casos
individuais serão relacionados no Apêndice 1.
Deve ser aqui enfatizado que os casos por mim usados são representativos
daqueles que satisfazem o critério de admissão como verdadeiros relatórios
sobre OVNIs, isto é, relatórios feitos por pessoas responsáveis e cujo conteúdo
permanece inexplicado em termos normais.

ENCONTROS IMEDIATOS DO PRIMEIRO GRAU


ENCONTROS IMEDIATOS DO PRIMEIRO GRAU

Os Encontros Imediatos nos quais não é relatada nenhuma atuação do OVNI
sobre a testemunha ou sobre o meio-ambiente podem ser denominados de
Encontros Imediatos do Primeiro Grau. Um conjunto representativo destes casos
escolhidos nos meus arquivos são quase todos casos do Livro Azul, e
passaremos a examiná-los a fim de obtermos um protótipo para esta categoria.
Os observadores são caracterizados pela ausência de ocupações
especializadas — operadores de radar, pilotos e operadores de tráfego aéreo —
que, logicamente, estariam presentes nas observações Radar-Visual. Uma parte
mais representativa da população parece ocupar a situação de observadores de
Encontros Imediatos do Primeiro Grau.
Como antes, selecionei mais ou menos uns doze casos de testemunhas
múltiplas para fazer o esboço do protótipo. A maioria dos relatores foi
entrevistada diretamente por mim pessoalmente através de entrevistas telefônicas
gravadas ou correspondência. Em cada oportunidade fiquei certo de que lidava
com pessoas normais e totalmente sadias mentalmente, e procurei, a fim de
conseguir mais solidez, confrontar uma testemunha com a outra. Existem muitos
relatórios feitos por apenas uma testemunha que são coerentes e convincentes e,
sob determinados aspectos, parece-me inteiramente injusto não incluir muitos
deles, de vez que eles são de grande interesse e servem para o protótipo. Ainda
assim, em defesa da consistência não me afastei do plano estabelecido e adotado
nas três primeiras categorias.
Os casos aqui usados envolvem 42 testemunhas1; havia, pelo menos, duas
testemunhas em cada um, sendo o número médio 3.5 e o mediano 3.
De um modo geral, os observadores não eram independentes no sentido de se
encontrarem em locais diferentes mas independentes em termos de antecedentes,
experiência e, ao que tudo indica, de temperamento psicológico. Também
diferiam com relação ao conhecimento prévio do fenômeno OVNI. Em quatro
dos acontecimentos narrados os observadores não estavam fisicamente juntos e
só se comunicaram mais tarde. Em muitos casos, as vocações dos observadores
indicam algum preparo básico com relação ao pensamento crítico e um
adequado desempenho de responsabilidades: o presidente de uma pequena linha
aérea, diretor de escola e sete policiais, por exemplo.
Nos casos de Encontros Imediatos não é uma tarefa fácil separar as reações
dos observadores das descrições do acontecimento; as duas parecem andar de
mãos dadas.
Durante todos estes anos venho formulando uma pergunta padrão às
testemunhas, e esta é: “Se o senhor pudesse substituir por algum objeto
conhecido — um objeto de casa ou qualquer coisa que conhece — o objeto que
viu, o que escolheria por ter a maior semelhança com ele, sobretudo com relação
ao formato” ?
A resposta a esta pergunta quase sempre é reveladora. Num dos casos a
testemunha disse: “Uma bola de praia Exatamente igual a uma dessas bonitas
bolas de praia”. Outra testemunha, um tenente da polícia que se encontrava a
alguns quarteirões de distância e que, ao que tudo indica, viu o mesmo objeto
numa outra posição da bússola, disse: “Parecia-se com um ioiô. Deslocava-se
para o nordeste. Via-o em cima de algumas árvores. Parecia uma bola
luminosa.... uma bola brilhante”.
Esta observação foi feita às 3:00 horas. O policial contou que o objeto ficou
pairando e depois afastou-se muito depressa (veja Apêndice 1, CEI-1). Um balão
iluminado não satisfaz as duas observações independentes, além do fato de ser
bastante improvável que algum brincalhão estivesse lançando um balão às três
da madrugada na periferia de uma cidadezinha do Dakota do Norte. Assim como
a trajetória horizontal persistente, a flutuação, e a ascensão repentina no final não
satisfazem a hipótese do balão.
O policial prosseguiu:

Quando eu estava sentado lá, senti uma espécie de medo; não estava
apavorado por mim mesmo mas por aquilo que poderia significar. Devo
ter ficado por ali, creio, que uns cinco minutos. O objeto pulou para cima
e para baixo, como saltam as bolas numa tela de cinema a cada palavra
de uma canção, mas quando partiu.... bang.... desapareceu do meu campo
visual em menos de cinco segundos. Ele subiu direto, diretamente para o
alto.... acho que era dirigido por alguém ou por alguma coisa, pois um
balão flutuando no ar não se deslocaria daquele jeito.

Mas afinal, com que tipo de fenômeno estamos lidando?
Num segundo caso (veja Apêndice 1, CEI-2), envolvendo várias testemunhas
que estavam juntas num carro, a principal relatora, uma ex-enfermeira,
respondeu:

Deixe-me ver, o senhor já viu aqueles discos que as crianças
costumam usar para descer a encosta de uma colina, sabe a que me
refiro? Coloque dois deles juntos com as bordas separadas e sou capaz de
jurar que é a descrição mais parecida que lhe posso fazer. Não direi que
refletia, acho que era mais (auto) luminoso — entende, não? Como
acontece quando a gente olha para os ponteiros luminosos de um relógio,
à noite.

A testemunha esclareceu sobre si mesma:

Nunca tive experiência militar, mas as emergências surgem com
frequência no hospital no setor da enfermagem e a gente precisa ensinar a
si mesma a manter a compostura, o que para mim foi muito útil no
momento em que vimos aquilo tão perto. Durante vinte e cinco anos
trabalhei como enfermeira e sempre procurei manter-me calma e não
entrar em pânico. Creio que isto foi de alguma valia.

Prosseguindo na sua descrição, disse:

Sei que se tratava de alguma coisa física. Não posso pensar de outra
forma.... Não posso apenas acreditar que se tratava de gás ou algo assim.
O contorno era bastante nítido. Em nenhum instante ficou esbatido….
Então, quando já fazia uns cinco minutos que observávamos aquilo,
acelerou de uma forma tremenda e partiu a toda velocidade. No entanto,
não fez qualquer tipo de barulho. Tratou-se de uma coisa concreta, como
se eu estivesse vendo um avião.... Era a mesma coisa que se estar
olhando para cima por debaixo de um avião, exatamente como se uma
aeronave estivesse parada ali.... totalmente imóvel.

Mais algumas citações diretas ajudarão a estabelecer o protótipo. Seria muito
mais fácil fazê-lo se pudéssemos dizer que todos os avistamentos de uma
determinada categoria tivessem certas coisas em comum — quatro rodas, para-
brisas, faróis, asas de avião, etc. Mas, na verdade, o denominador comum em
avistamentos como estes parece ser o assombro e uma busca infindável de
palavras para descrevê-las.

Quando olhei para fora da janela, percebi que toda a área próxima
estava iluminada por uma espécie de brilho vermelho. A primeira coisa
que me ocorreu é que houvesse ali por perto uma radiopatrulha
estacionada ou um caminhão do corpo de bombeiros. Chamei minha
mulher dizendo que devia estar acontecendo alguma coisa errada nas
vizinhanças e que viesse ver também. Inopinadamente, percebi que a luz
vinha de cima. Ergui os olhos e vi contornos de um objeto passando pela
ponta do meu telhado, a uns 250-500 pés de altura. O brilho vermelho
saía da parte inferior do objeto, mais ou menos do centro. Dava a
impressão de um feixe de luz partindo do interior e passando através de
um orifício.... O pick-up verde do meu vizinho parecia amarronzado.
(Veja Apêndice 1, CEI-3).

Em seguida, esta testemunha, ao que me parece totalmente ignorante no que
diz respeito à “contos dos OVNIs’’, descreveu um efeito que me foi contado
inúmeras vezes:

Um avião decolou do aeroporto e ultrapassou por cima do objeto.
Todas as luzes se apagaram até que o avião sumiu. Em seguida, dando
uns quatro bruxuleios brilhantes, o objeto deslocou-se do oeste para o
sudoeste e por entre as nuvens.... A impressão que tive é que o objeto
estava registrando um curso ou investigando diversos objetos no solo, de
vez que as luzes paravam sobre determinadas coisas como carros,
caminhonetas, cercas, arbustos, casas, fios de luz e telefone e postes.

A gente quase pode simpatizar com os funcionários do Projeto Livro Azul
que tiveram o cuidado de “identificar’’ um caso deste tipo como “Não-
Identificado! ’’ passando a tratar de outra coisa qualquer. Nos arquivos do Livro
Azul o caso acima permanece relacionado como “Não-Identificado’’; não foram
feitas tentativas nem mesmo para retirá-lo do arquivo através da sua ligação com
“um possível helicóptero’’ (como sucedeu com tantos outros casos)
provavelmente porque seria uma ousadia muito grande, até mesmo para o Livro
Azul: eram seis horas da manhã de um domingo, no meio do inverno, um
horário muito improvável para que um helicóptero estivesse em atividade,
mesmo se esta interpretação não fosse afastada pela total ausência de barulho.
Chegamos agora a um outro caso, envolvendo dois trabalhadores de campo
de Oklahoma que estavam empilhando feno nas horas da alvorada e foram
tomados totalmente de surpresa pelo aparecimento repentino e muito próximo de
um engenho circular profusamente iluminado, mas sem asas. Os trechos tirados
de uma longa entrevista gravada talvez ajudem o leitor a formar uma imagem
própria dos Encontros Imediatos do Primeiro Grau e a estabelecer o arquétipo
desta classe. (Veja Apêndice 1, CEI-4).

P: Alguma vez antes você viu algo parecido?
R: Não. Nunca vi.
P: O que mais o impressionou em relação a isto?
R: A sua luminosidade.
P: O que pensa que era?
R: Não sei o que era. Antes de mais nada fiquei apavorado.
P: Você acha que poderia ter sido um balão ou algo assim?
R: Não, não era um balão ou qualquer coisa desse tipo,... No começa, pensamos
que fossem helicópteros da Base Aérea de Quentin, para onde ligamos pouco
depois, mas de lá disseram que não havia nenhum aparelho fora da base
àquela hora.
P: Eles disseram se tinham visto alguma coisa na tela do radar?
R: Não, disseram apenas que não havia aviões oi qualquer outro tipo de aparelho
fora da base naquela noite.
P: O objeto causou algum efeito nos animais?
R: Bem,... os cachorros começaram a latir. Não reparei nada em relação ao gado,
mas os cachorros começaram a latir.
P: Muito bem, você acha que eles latiam para o objeto ou para uma outra coisa?
R: Não sei, mas por ali só havia mesmo aquela coisa contra a qual poderiam
estar latindo.
P: Conhece outra pessoa que o tenha visto nessa noite?
R: Não, acho que não devia ter muita gente acordada às quatro da madrugada
daquele dia.
P: E por que motivo vocês dois estavam de pé tão cedo?
R: Estávamos carregando feno.
P: Como foi que o viram ?
(A esta altura as perguntas passaram a ser dirigidas, por telefone, à outra
testemunha, que se achava num outro lugar do país).
R: Foi ele quem viu primeiro; voltou para junto de mim e percebi que estava
apavorado. Não sabia o que estava acontecendo.
P: Ele parecia apavorado?
R: Claro que sim, estava apavorado. Estava apavorado mesmo. Foi por esta
razão que fui até lá, para ver o que o estava deixando tão apavorado.
P: E como foi que não viram a coisa desaparecer?
R: Bem.... pensei que fosse se espatifar e voltei correndo para dentro do celeiro.
P: Ah, entendo. Quer dizer que vocês dois correram para dentro do celeiro?
R: Hum.... sim senhor, foi isso aí.
P: Não os posso culpar. Provavelmente, eu também teria ficado apavorado se
tivesse visto o objeto. Qual era a sua cor?
R: Bem. .. era apenas branco luminoso.
P: O que foi que mais o impressionou a respeito de toda aquela coisa?
R: Bem.... acho que foi o fato de não se tratar de um avião. Era um outro objeto
qualquer.
P: Você já tinha visto antes alguma coisa parecida?
R: Nunca vi.
P: Gostaria de ter visto?
R: Agora que já passou, acho que gostaria de ter um retrato apenas para provar o
que vi. Uma porção de gente não acredita em mim.
P: Quanto tempo você calcula ter ficado assustado por aquela coisa? R: Ora,
ficamos, na verdade, assustados por umas duas semanas. Comecei a ter
dificuldade para adormecer. Agora, passei a acreditar neles; antes não
acreditava.... até que o vi.
P: Você já leu muita coisa sobre os OVNIs?
R: Depois daquilo que nos aconteceu, sim. Vou estudar astronomia, aqui, na
faculdade.
P: Estamos fazendo o melhor que podemos para descobrir tudo a respeito deste
assunto.
R: Bem, vou lhe dizer uma coisa, o modo como aqueles sujeitos agiram, pensei
que talvez soubessem de alguma coisa que não nos iriam contar.
P: Está se referindo aos homens da Força Aérea? (A base aérea local enviou
alguns investigadores para realizar pesquisas).
R: Isso mesmo.

O engenho e sua trajetória foram descritos através de desenhos por meio de
correspondência mantida com os dois rapazes. A luz brilhante desceu, num
ângulo de 45 graus, até a altura dos fios telefônicos, deslocou-se horizontalmente
através do pátio da fazenda e foi avistado, pela última vez, sobre um pequeno
silo. Seu tamanho era tão grande ou maior do que o da lua cheia. O desenho
mostrava uma aeronave circular, sem saliências visíveis ou características
mecânicas, e era descrito como “tendo numerosas luzes pelo lado de fora e a
toda a volta’’.
A aparição ocorreu aproximadamente às quatro da madrugada. O nascer do
sol foi às 4:44, hora local; portanto, o céu não estava totalmente iluminado. Um
dos rapazes adolescentes declarou: “O centro da aeronave foi o que mais me
intrigou, pois ou ele ou a nave toda giravam na direção contrária a dos ponteiros
do relógio. Também era muito brilhante no meio e muito, muito luminoso’’.
Todo o incidente demorou menos do que três minutos, mas, sob nenhuma
circunstância, a duração ou a trajetória poderiam ser explicadas através de uma
identificação do objeto como se se tratasse de um meteoro brilhante. Os rapazes
encontraram grandes dificuldades para descrever com termos normais e que para
eles era uma experiência muito real — uma dificuldade comum, como já
tivemos oportunidade de ver.
Contrariando o plano geral deste livro, dou, agora, alguns dados conseguidos
por um outro investigador, Raymond Fowler, um observador experimentado e
dedicado. Os dados foram tirados de um relatório de 68 páginas, por ele
preparado, a respeito de um avistamento ocorrido em Beverly, Massachusetts2.
Fowler, que realizou uma investigação muito mais aprofundada sobre o relatório
do que o fizeram o Comitê Condon ou o pessoal do Livro Azul, submeteu todo o
seu relatório ao Livro Azul; como sempre, afastaram qualquer responsabilidade
porque o relatório do avistamento não lhes chegara às mãos através dos canais
oficiais. Portanto, este caso muitíssimo interessante, que o grupo Condon não
conseguiu solucionar, não só não foi investigado pelo Livro Azul como também
nem foi levado em consideração.
O caso envolve uma aparição, de duração bastante longa, de uma “travessa
luminosa’’ que flutuou silenciosamente sobre o prédio de uma escola e que, às
vezes, aproximou-se tanto dos relatores que estes temeram que pudesse cair em
cima deles.
Alguns trechos, tirados do meticuloso relatório Fowler, devem ser suficientes
para contribuir na elaboração do protótipo desta categoria de avistamento.
Novamente vamos lançar mão de entrevistas gravadas, porque talvez isto nos dê
uma visão mais íntima no que diz respeito ao OVNI como uma experiência
humana.

A medida que se aproximava, o objeto parecia cada vez maior.... Tudo
quanto podia ver acima da minha cabeça era a atmosfera nublada e luzes
brilhantes acesas intermitentes (e não piscavam) girando vagarosamente.
Estava muito excitado — não sentia medo — e muito curioso. Não teria
fugido, de forma alguma, se o objeto não tivesse se aproximado demais e
então pensei que pudesse despencar em cima da minha cabeça.

E de uma outra testemunha da mesma aparição ouvimos:

Comecei a correr. Então, um amigo gritou: “Olhe para cima. Está bem
em cima de nós... Por isto olhei e fiquei imobilizado pela surpresa. Vi um
imenso objeto redondo bem à altura do telhado. Era a mesma coisa que estar
olhando para um prato (um formato conhecido). Era sólido.... Não escutei
nenhum ruído, mas senti que aquela coisa ia descer bem em cima de mim;
(parecia) um cogumelo gigante. Estava fascinado, perplexo, incapaz de
pensar e, automaticamente, me dei conta de estar fugindo dele.

Um dos policiais que foram chamados ao local, declarou:

Às 9:45 da noite, seguindo instruções da delegacia, dirigi-me juntamente
com o Guarda B para a Estrada de Salem, onde se encontra localizado o
Ginásio de Beverly, devido a um comunicado envolvendo um OVNI. Assim
que ali cheguei, observei o que me pareceu uma travessa grande flutuando
sobre o prédio do colégio. Tinha três luzes — vermelha, verde e branca —
mas não se ouvia nenhum ruído que pudesse indicar se tratar de um avião. (A
duração da aparição — 45 minutos — afasta evidentemente a possibilidade
de ter sido um avião.) Este objeto flutuava sobre o colégio e parecia quase
querendo parar. As luzes eram intermitentes. O objeto ficou por cima do
colégio umas duas vezes e depois desapareceu.

Este foi um caso de testemunhas múltiplas, inclusive dois policiais, e o Livro
Azul não o levou em consideração simplesmente porque não tinha sido relatado
oficialmente. O Comitê Condon não foi capaz de apresentar, nem mesmo, uma
tentativa de explicação natural para o aparecimento principal. E quanto à
possibilidade de que isto tenha se originado devido a interpretação errônea de
Júpiter, Fowler pronuncia-se de forma contundente contra esta interpretação,
assinalando entre muitas outras coisas que as linhas de visão estabelecidas
através do interrogatório levado a cabo em grupos separados mostravam que a
linha de visão de Júpiter e da principal posição do objeto diferia em cerca de 50
graus. (É claro que persiste a possibilidade de que algumas das incontáveis
testemunhas tenham identificado Júpiter como se este fosse o objeto após o seu
afastamento, devido ao fato de não terem reparado antes na presença daquele
planeta pois estavam pressionadas por circunstâncias mais imediatas e locais.).
No que diz respeito ao paradigma de avistamentos de Encontros Imediatos
de Primeiro Grau, podemos dizer que os relatores tomam consciência, antes de
mais nada, de um objeto luminoso, às vezes muito brilhante — tão intenso
quanto um maçarico — e de outras apenas bruxuleante, como um tubo de luz
fria ou um mostrador luminoso de relógio. No que diz respeito à percepção do
observador, o formato da aeronave parece vir depois da luminescência, mas
quando a forma é descrita afirma-se, geralmente, que é oval, “com o formato de
uma bola de rugby”, frequentemente sobreposta por uma cúpula. A rotação das
luzes e, presumivelmente, do aparelho é geralmente narrada como seguindo a
direção oposta do ponteiro do relógio. O pairar ou flutuar é normal, comum, bem
como a ausência de som, e muitas vezes fala-se sobre uma decolagem ultra-
rápida sem ser acompanhada por qualquer estrondo acústico.
No que diz respeito a relatórios tão singulares quanto estes o padrão
costumeiro é notavelmente pequeno. Pode-se pensar, por exemplo, que as
alucinações cobrissem um espectro bem mais amplo. Os Encontros Imediatos
dos OVNIs, conforme são relatados, não o fazem; chega até mesmo a haver uma
certa monotonia com relação aos relatórios sobre OVNIs (segundo são eles
definidos neste livro), sobretudo com relação à variedade dos Encontros
Imediatos. Chega-se até a ter a impressão que as diferenças existentes se
originam, em parte, da capacidade variável mostrada por cada observador para
descrever uma ocorrência fora do comum.
A fim de reforçar o protótipo, temos a seguinte descrição de um Encontro
Imediato de Primeiro Grau (veja Apêndice 1, CEI-6) feita por um ex-oficial da
marinha. O avistamento começou quando o pai, levando o filho de carro de volta
da estação para casa, um pouco antes da meia-noite, viu um objeto resvalar
diante deles, quase que diretamente sobre o carro. Após ter acontecido isto por
três vezes, perguntou ao filho: ‘ ‘Viu alguma coisa deslizar sobre o carro?

“Sim, eu vi — respondeu o filho. “Deu-me a impressão de ser um
imenso pássaro pré-histórico de algum tipo”. Quando, posteriormente,
durante uma entrevista, formulei a pergunta padrão sobre a substituição
do objeto por alguma coisa familiar no que diz respeito ao formato e —
neste caso — ao tamanho, a testemunha disse:

É muito difícil de dizer.... Nunca tinha visto algo como aquilo....
Bem, um submarino da marinha, mas não exatamente igual,
naturalmente.... Pensei que pudesse atingi-lo com uma pedra.... Estava
bastante próximo.... Muito definido.... tão definido, no que diz respeito
ao contorno, quanto o poderia ser, digamos, uma caldeira lá em cima.

O avistamento que pai e filho descreviam demorou de cinco a oito minutos;
o pai descreveu-o com maiores detalhes:

Abaixei a cabeça e olhei para cima através do para-brisas e vi-o
inteirinho.... lá estava ele. Disse ao John, “Meu Deus.... é um disco
voador’’ — parecia mesmo com um filme de ficção científica passado na
TV.... Ele estava pendurado ali, totalmente silencioso, como um
campanário de igreja iluminado à noite. Ou então parecia-se com aqueles
aviões suicidas japoneses que costumavam entrar nos feixes dos
holofotes à noite — e o objeto fez-me lembrar disso. Oscilava num arco
de cem jardas, mais ou menos.... como se estivesse frustrado.

Quando dois outros carros apareceram na estrada deserta, eles disseram que
‘‘ele’’ desligou as luzes ‘‘como um reóstato numa instalação elétrica numa sala
de jantar e deixou, apenas, uma sombra escura’’, em seguida disparou rumo ao
céu, deixando um rastro de luz azul para trás. O pai continuou:

Quando voltamos para a casa de campo, John disse: “Papai, há algo
que você ignora — quando você estava junto ao porta-malas (do carro)
inclinado sobre a sua máquina fotográfica, esta coisa deslocou-se para
cima do porta-malas e ficou a menos de cinco jardas de você.... mas não
escutei nenhum barulho’’.
Se John não estivesse comigo, acho que teria ido procurar um
psiquiatra.

Submarinos, caldeiras, pássaros pré-históricos, bolas de rugby, cogumelos,
pratos fundos, sanduíches de hamburguer e muitas outras analogias — todas
usadas para descrever algo que, para os observadores, era totalmente
indescritível em termos comuns. São estes tipos de coisas que um investigador
escuta.
Mas, vamos prosseguir, desta feita com um outro caso classificado nos
arquivos do Livro Azul como “Não-Identificado”, narrado por um diretor de
colégio e seus companheiros (que se encontravam num outro carro). (Veja
Apêndice 1, CEI-7.).

Eu retornava de uma reunião de pais e professores (PTA) e descia
uma pequena estrada rural, asfaltada, e pensava nos quadros negros que a
PTA tinha prometido dar à minha escola. Inesperadamente, percebi um
brilho que vinha do lado de lá do penhasco — e pensei, bem, um dos
velhos pássaros (C-47) saiu do curso e vai pousar neste milharal. Foi esta
a primeira coisa que me passou pela cabeça. Então, este objeto
inacreditável — com o formato parecido com o de um capacete da
Primeira Guerra Mundial — apareceu no alto do penhasco.... Nesta
altura, diminuí a marcha do carro.... Não podia entender porque um avião
estaria fazendo aquele voo planado — e este imenso objeto, acima dos
300 pés, calculei eu, apareceu no alto do penhasco e ficou parado
praticamente bem em cima de mim por um segundo como qualquer outro
objeto mudando de direção e em seguida rumou para o aeroporto....
Tinha uma luminosidade impressionante. A parte de cima do carro
parecia não conseguir manter afastada a luz. Era uma luz terrivelmente
brilhante, inacreditável, tenho certeza. Quando olhei para as minhas
mãos, parecia que estava vendo uma radiografia.

O diretor uniu-se aos companheiros que se encontravam £p outro carro, que
vinha atrás dele à distância e, juntos, observaram o objeto plainar sobre alguns
fios de força durante dez minutos, mais ou menos.

Ora, então achei que o aeroporto deveria saber alguma coisa sobre
aquilo, portanto rumei para lá. Mas não precisei fazer nenhum
comentário para as pessoas que se encontravam do lado de fora. Tinham
visto a coisa também. Alguns advogados de Kansas City ainda estavam
de pé, com as bocas escancaradas. O objeto tinha praticamente
sobrevoado o aeroporto, mas não tinham dito nada ainda para a torre. O
aeroporto era pequeno e não contava com uma torre de vidro de onde
pudessem ter observado o objeto. Todos lá dentro estavam muito
ocupados porque estava sendo aguardada a chegada de um voo da
Ozark.... Por falar nisso, o piloto de Ozark.... se me recordo bem, disse
pelo rádio: “Estou vendo.... está embaixo de mim.... é descomunal!’’
enquanto se aproximava para pousar.... Quando a Força Aéréa apareceu
por aqui.... sua atitude (do tenente que investigava o caso) não foi “o
senhor o viu?’’, mas “o que foi que o senhor viu afinal?’’

Esta aparição permanece não-identificada até o dia de hoje. O Livro Azul,
que eu saiba, não realizou qualquer tipo de investigação integral, como sempre.
Dois dos observadores, professores, preferiram não se manifestar e tudo quanto
consegui foi uma gravação da entrevista concedida pelo diretor da escola.
Numa outra aparição, bem mais para o norte, no Canadá (veja Apêndice 1,
CEI-8), o presidente de um pequeno serviço aéreo e seu vigia noturno,
declararam:

Tinha o formato de dois pires com as partes côncavas se tocando....
todo o objeto tinha uma linda cor branca prateada e dava a impressão de
que emitia raios de sua superfície, fazendo com que o objeto se parecesse
com uma luz numa noite brumosa.

O executivo tinha ido até as docas para controlar as amarras de seus
hidroaviões. Quem primeiro lhe chamou a atenção foi o vigia noturno:

Um objeto vinha na nossa direção, do oeste. Tinha o formato de um
pires e balançava e metia-se por entre algumas nuvens baixas. Manteve-
se na parte límpida e não penetrou em nenhuma das nuvens leves levadas
pelo vento através do céu. Inclinou-se sobre o lado a uns 600 pés de onde
estávamos, a seguir endireitou-se, mantendo o lado plano paralelo ao
solo.... Ficou imóvel diante de nós, a 40 pés acima da superfície do lago e
a 75 jardas de nós. Mas, à noite, é difícil calcular a distância quando se
olha para um objeto luminoso. Nenhum som era emitido por ele e não
sentíamos cheiro algum.... Tive a impressão de que aquela coisa tinha
apenas quatro ou cinco pés de largura e de oito a dez polegadas de
espessura.

Indubitavelmente, este objeto parece ter sido bem menor do que os outros
semelhantes relatados, muito embora a diferença possa ser atribuída a um
engano no cálculo da distância. Também houve outros casos nos quais a
pequenez do objeto relatado foi surpreendente. De qualquer forma, que os dois
homens notaram, independentemente, um “objeto” estranho e compartilharam o
que para eles foi uma verdadeira experiência não pode ser posto em dúvida.
Mantive uma demorada correspondência com o principal relator e Brian Cannon,
um investigador de Winnipeg muito capaz, colocou à minha disposição os
resultados das entrevistas que manteve com os dois homens. Numa noite
nebulosa, na região lacustre e boscosa do Canadá setentrional, o que poderia ser
equivocado, tomado por outra coisa que se encaixasse à descrição acima?
O canadense continuou a relatar sua experiência:

Parecia cintilar como se alguma força elétrica ou um ar muito quente
estivesse escapando de todas as superfícies.... A máquina, após a
primeira parada, resvalou de lado numa distância de 50 pés e tornou a
parar. Após um ou dois minutos, notamos que acelerava tanto que
desapareceu como uma estrela se afastando em três segundos, partindo
de um ponto morto. A direção tomada foi a mesma de onde tinha
aparecido, do oeste. Seu ângulo de ascensão foi de uns 40 graus. Relatei
o avistamento para o governo canadense.... A coloração era branca
prateada. Não sei como explicar a cor. Nunca vi uma cor como aquela
antes.... Era brilhante, mas não tinha uma luminosidade. Parecia-se mais
com um brilho fluorescente.... Cintilava incessantemente como um
diamante. Era uma coisa brilhante, maravilhosa para se ver.

A esta altura, o leitor já deve ter algum conceito a respeito do que costuma
ser relatado num Encontro Imediato. Mas quais foram os estímulos que deram
origem à perplexidade dos observadores?
A sinceridade evidente daqueles que relatam OVNIs (segundo a nossa
definição), declarando acontecimentos verdadeiros no tempo e no espaço,
servem de contraste com o número relativamente pequeno de pessoas que
narram um determinado OVNI. Por que motivo não há mais pessoas que relatem
avistamentos específicos ou, dando-se o desconto da relutância para relatar, por
que parece haver tão pouca gente nas redondezas quando um OVNI “autêntico”
aparece? Ao que parece, trata-se de um fenômeno associado à ausência de
grupos compostos de muita gente (contudo, existem exceções). É impossível
estabelecer quantas pessoas viram um OVNI e não contaram nada ou quantas
estações de observação do céu, como as estações de rastreamento de satélites,
observaram OVNIs que nunca são comunicados3
E claro que existem muitos casos desconhecidos. Devemos aceitar a escassez
de observadores e de relatórios sobre OVNIs como um fato do panorama total
dos OVNIs, assim como agimos com relação aos resultados da experiência
Michelson-Morley ou o fato do quantum da energia. Da mesma forma o
fenômeno em si, pede uma explicação e não pode ser tratado como um
argumento devido a não-existência do fenômeno.
Um caso, não só coloca em foco a natureza do fenômeno do Encontro
Imediato mas também fica registrado como um exemplo da maneira absurda
como o Projeto Livro Azul investigava, às vezes, um caso. Seria muito difícil
encontrar uma ilustração mais clara para o desrespeito de provas quando
desfavoráveis a uma explicação preconcebida. Se um desrespeito tão gritante
quanto este quanto às provas ocorresse num tribunal, seria considerada uma
caricatura abominável dos procedimentos legais. A assombrosa falta de
consideração e a distorção dos fatos relatados, o descaso de não ouvir as
testemunhas e uma estreiteza de mente renitente e inflexível podem ser
explicados ou como uma incompetência no mais elevado grau ou como uma
tentativa deliberada para apresentar uma aparência de incompetência devido a
objetivos ulteriores (veja Apêndice 1, CEI-9).
A história é de uma comédia.... de erros, de egrégia falta de consideração
para com as testemunhas, de aparente intriga, de excitamento (envolvendo uma
perseguição de um carro a 105 milhas por hora) e finalmente, de tragédia.
Merece ser contada com algum detalhe e deveria, algum dia, ser publicada na
íntegra. Envolvi-me no caso de modo muito superficial pois só me convocaram
na qualidade de consultor quando o fato já se achava num estado bastante
avançado, mas foi com um grande interesse que observei o desenrolar desde o
início. Muito se deve a William Weitzel, assistente de filosofia na Universidade
de Pittsburg, Setor de Bradford, que, com cuidado, habilidade, tato e persistência
reuniu os diversos detalhes deste relato de Encontro Imediato. Mr. Weitzel
autorizou-me a utilizar o material contido no exaustivo relatório que fez sobre o
caso, que contém uma grande correspondência com os observadores e com os
funcionários governamentais.
Este caso não foi pesquisado pelo Comitê Condon, que, na verdade, talvez
nem tenha ouvido referências a ele muito embora o relatório tenha sido redigido
seis meses antes do comitê entrar em atividade. Se tivesse conduzido uma
investigação, acredito piamente que outro “não-identificado” teria sido
acrescentado ao substancial número dos casos Condon que permaneceram
insolucionados. Se o grupo da Universidade do Colorado tivesse examinado o
caso sem preconceitos, sem dúvida alguma teria conseguido descobrir algum
dado interessante.
Se não fosse pela infeliz circunstância do relator inicial, que suportou o
impacto do ridículo, se tornando um verdadeiro pária, sofrendo a rutura do lar e
do casamento e sendo obrigado a sofrer humilhações pessoais, este caso
histórico poderia ser perfeitamente considerado como uma divertida comédia.
Três outros observadores — dois dos quais estavam geograficamente
independentes da testemunha inicial e seu companheiro — através das fantasias
da cobertura da imprensa e do fracasso da Força Aérea por não interrogá-los,
escaparam da acusação, por implicação, de incompetência total, alucinação e até
mesmo insanidade — muito embora tenham descrito, independentemente, o
OVNI da mesma maneira que o fez a testemunha “em foco’’.
Tudo teve início de um modo bastante rotineiro. Na noite de 16 de abril de
1966, o Delegado do Xerife, Dale F. Spauer, um funcionário que trabalhava em
horário integral na delegacia do Condado de Portage, Ohio, após ter jantado um
bife com ovos, ter tirado uma soneca de duas horas, tomado duas xícaras de café,
apresentou-se para o plantão à meia-noite (veja Apêndice 1, CEI-9). Foi
mandado logo que chegou para verificar uma queixa contra um vagabundo (nada
foi constatado). Recebeu um chamado para pegar Wilbur Neff, um mecânico
que, naquela ocasião, fazia a ronda com ele na qualidade de “delegado
montado’’. Os dois homens foram mandados para responder a um chamado
sobre um carro que tinha batido de encontro a um poste de iluminação, próximo
a Atwater Center, Ohio. Mandaram o motorista para o hospital e o carro foi
rebocado. A seguir, um funcionário da companhia de eletricidade Edison, de
Ohio, apareceu para consertar o poste.
Os dois delegados foram até Deerfield, nas redondezas, para tomar um café e
levar uma xícara para o eletricista. Em Deerfield ajudaram um homem cujo carro
tinha enguiçado e trataram de arranjar-lhe um reboque. Voltaram à cena do poste
acidentado por volta das 4:45 da madrugada.
Enquanto conversavam com o eletricista da Edison de Ohio, o rádio de seu
carro comunicou que uma mulher, de Summit County, situada bem a oeste de
Portage County, tinha comunicado um objeto profusamente iluminado “tão
grande quanto uma casa’’ sobrevoando a sua vizinhança. O objeto, contou a
mulher, encontrava-se muito baixo para ser um avião e alto demais para ser uma
lâmpada da rua. Imediatamente, foram ditas piadas para a estação de rádio e para
o eletricista. Nem Spaur nem Neff levaram o assunto a sério.
Em seguida, os delegados rumaram para oeste pela estrada 224 com a
intenção de preencherem um formulário do acidente no hospital. Viram um carro
parado no acostamento do lado sul da estrada. Deram a volta com a
radiopatrulha e aproximaram-se do carro abandonado, vindo por trás. Spaur
relatou o que aconteceu:

Ele (Neff) saltou pelo lado direito e eu pelo esquerdo. Ele dirigiu-se para
o ângulo frontal direito da radiopatrulha, onde parou — isto é uma espécie de
segurança policial — e eu dirigi-me para o lado esquerdo da parte posterior
do outro veículo. Dei uma volta apenas para fazer uma espécie de controle
visual da área, para certificar-me de que ninguém tinha ido para o mato, sabe
como é, para fazer alguma necessidade ou qualquer outra coisa. E eu sempre
olho para trás de modo a que ninguém apareça pelas minhas costas. E
quando eu olhei para esta zona boscosa atrás de nós, eu vi a coisa. Nessa
hora estava subindo. E há ali uma inclinação suave; elevou-se até o nível das
copas das árvores, a cerca de cem pés de distância. Começou a vir na nossa
direção.... bem, as árvores que ela estava sobrevoando ficavam bem em cima
dessa elevação, bem ao lado da estrada.... E naquele momento eu observava
a coisa. Estava tão baixa que não se podia vê-la até que estivesse bem em
cima da gente. Olhei para o Barney (Neff) e ele ainda continuava com os
olhos presos no carro, no carro diante de nós.... e a coisa foi ficando cada vez
mais brilhante, e mais brilhante, a área começou a ficar clara e olhei outra
vez para o Barney e disse-lhe para olhar por cima do seu ombro. Ele fez o
que lhe dissera. Não disse nada, limitou-se a ficar onde estava com a boca
aberta durante um minuto e como a claridade era muito intensa olhou para o
chão. E eu comecei a olhar para baixo. Olhei para as minhas mãos, e minhas
roupas não estavam queimando nem nada, quando a coisa parou bem em
cima de nós. A única coisa, o único som em toda a área era um zunido. Não
era nada que estivesse gritando ou realmente selvagem. E modificou-se um
pouquinho.... soava como um transformador sendo carregado ou um
transformador sobrecarregado no momento da troca.
Senti muito medo durante alguns minutos; para falar a verdade estava
petrificado: então mexi o pé direito e tive a impressão de que tudo
funcionava bem. E, é lógico, ele tomou a mesma decisão que eu, colocar
alguma coisa entre eu e ela, a coisa. Portanto, fomos os dois para o carro,
entramos e nos sentamos. Não me aventuro a dizer que levou 10, 30
segundos ou três minutos — e a coisa ficou ali e pairou, e nós não fizemos
nada.... nada mesmo.... e a coisa afastou-se rumo ao leste (estavam agora
virados para o leste) e lá ficou por um segundo; nada acontecia comigo e
Barney parecia estar bem. Apertei o botão do microfone e a luz apareceu,
então peguei-o. Comecei a lhes dizer, sabe não? Que aquela coisa estava ali.
E pensei, bem se eu fizer, ele pensará.... portanto limitei-me a contar para
Bob através do rádio, disse “Este objeto brilhante está bem aqui, aquele que
todo mundo diz que está passando por aqui’’. E ele respondeu “Atire nele!
“Essa coisa era, puxa, não era de brincadeira, esta. . Mas que diabo, era tão
grande quanto uma casa! E era muito brilhante; teria feito seus olhos se
encherem de lágrimas.

Receberam ordens para acompanhar a aparição e assim começou, talvez, a
mais violenta caça a um OVNI de que se tenha notícia. O objeto foi seguido por
mais de 70 milhas, às vezes a velocidades tão altas quanto 105 milhas por hora.
Enquanto a caçada estava se realizando, o Policial Wayne Huston, na sua
radiopatrulha perto de East Palestine, Ohio, cerca de 40 milhas a leste do ponto
onde teve início a caçada, escutava a conversa mantida pelo rádio entre Spaur e
seu escritório em Ravenna.

Posteriormente, por meio de um testemunho assinado, Huston admitiu para
Weitzel:

Falei com Spaur pelo rádio. Encontrei-me com ele na extremidade norte
da cidade na Estrada 14. Vi a coisa quando Dale se encontrava a umas cinco
milhas de distância de onde eu estava. Quando apareceu, devia estar a 800-
900 pés descendo a Estrada 14. Foi quando a vi mais baixo.
Enquanto ele voava por ali, eu estava de pé ao lado da radiopatrulha.
Observei-o seguir direto acima de nós. Tinha o formato semelhante a um
sorvete em cone com um pouco da parte superior derretida. A extremidade
mais fina do cocuruto estava para baixo; a parte superior parecia-se com uma
cúpula. Spaur e Neff desceram a estrada bem atrás dele. Segui atrás deles.
Seguíamos a uma velocidade de 80 a 85 milhas por hora e umas duas vezes a
105. Num determinado momento fiquei colado ao para-choque de Spaur e
verificamos um com o outro o que estávamos vendo. Estava bem na nossa
frente, meia milha ou três quartos de milha mais adiante.
Conheço Rochester bastante bem (estavam agora na Pensilvânia, a umas
15 milhas da fronteira de Ohio), e eu os ia orientando pelo rádio. Durante
todo o trajeto estávamos tentando entrar em contato com um carro da
Pensilvânia. Pedi à base para se comunicar com a delegacia da Polícia
Estadual de Chippewa para verificar se tinham um carro na 51; não tinham.
O primeiro carro da Pensilvânia que avistamos foi em Conway (poucas
milhas depois de Rochester). Dale estava com pouca gasolina e paramos
onde Frank Panzanella estava estacionado.

Portanto, aparece aqui o quarto observador: Frank Panzanella, policial de
Conway. Seu testemunho assinado diz:

Às cinco e vinte da manhã, parei no Hotel Conway e tomei uma xícara de
café. Depois deixei o hotel seguindo pela Second Avenue. Olhei para a
direita e vi um objeto brilhante. Julguei que se tratasse de um reflexo de um
avião. Então, saí da rádio-patrulha e olhei novamente para o objeto. Vi dois
outros carros da patrulha aproximarem-se; os policiais saíram e perguntaram-
me se eu tinha visto o objeto. Apontaram para ele e disse-lhes que o estava
observando já fazia uns dez minutos. O objeto tinha o formato de uma bola
de rugby cortada pela metade, era muito brilhante e tinha uns 25 ou 35 pés de
diâmetro. A seguir, o objeto deslocou-se rumo a Harmony Township numa
altitude aproximada de 1.000 pés; então parou e subiu direto, numa
velocidade louca, para os 3.500 pés (e, segundo a outra testemunha, parou).
Chamei então a estação base e disse ao rádio operador para notificar o
aeroporto de Pittsburgh. Perguntou-se se me sentia mal. Respondi-lhe que se
estava doente, os outros três patrulheiros também estavam. O objeto
continuou a subir até que ficou tão pequeno quanto a esfera de uma caneta
esferográfica. O objeto, em relação à lua estava bastante distante e à sua
esquerda (Vênus estava à direita da lua). Não podia ver a lua de onde me
encontrava. O objeto foi visto entre duas antenas num quintal, do outro lado
da rua, para o leste. Nós quatro vimos o objeto disparar direto para cima e
desaparecer.

O objeto estava plainando quando o avião que decolava do aeroporto passou
por debaixo dele, em seguida disparou direto para cima,, segundo todas as
testemunhas.
O Major Quintanilla, então chefe do Projeto Livro Azul, tentou estabelecer
uma interpretação de que todos os quatro policiais, que se envolveram numa
sequência e de forma independente, tinham primeiro avistado um satélite
(mesmo se, naquele tempo, nenhum satélite estivesse visível em Ohio ) e de
alguma forma conseguiu transferir suas atenções para Vênus (que tinha sido
avistado pelos observadores enquanto o objeto mantinha-se à vista). A
“investigação” inicial foi superficial; o inquérito inicial, feito com apertas uma
das testemunhas, Spaur, constou de apenas uma ligação telefônica de dois
minutos e meio, que, segundo Spaur, começou com as palavras: “Fale-me sobre
essa miragem que viu”. A segunda entrevista, também por telefone, durou um
minuto e meio. Segundo a declaração assinada por Spaur, Quintaniila desejava,
aparentemente, que Spaur dissesse ter visto o OVNI durante alguns poucos
minutos; quando este lhe disse que o objeto estivera a vista quase que sem
interrupções enquanto os observadores o perseguiam de Ohio até a Pensilvânia,
percorrendo uma distância de umas 60 milhas, ele terminou rapidamente a
conversa.
O método empregado por Quintaniila era simples: ignorar qualquer prova
que fosse contrária à sua hipótese. Menos de cinco minutos de conversa pelo
telefone foram suficientes para o Livro Azul chegar a uma “solução” do caso;
somente após ter sido pressionado pelo Congresso é que Quintaniila viajou para
Ravenna, Ohio, dirigiu-se até o escritório do xerife de Portage County, para
entrevistar Spaur e Barney Neff.
A entrevista foi gravada por Weitzel a pedido de Spaur, e nos oferece uma
rara visão do Projeto Livro Azul por dentro. Desta feita a entrevista foi
demorada e envolvente. Além dos testemunhos de Spaur e Neff, também incluiu
o do delegado xerife Robert Wilson, o rádio operador que se mantivera em
contato com Spaur e Neff, e do Xerife Ross Dustman cujo principal papel foi dar
um depoimento a favor do caráter dos seus delegados. Contudo, excluiu duas
testemunhas de primeira grandeza. O Patrulheiro Huston de East Palestine, Ohio,
e o Patrulheiro Panzanella, de Conway, Pensilvânia, que se juntou aos outros três
quando o avistamento chegou à sua cidade.
Devido à extensão da entrevista gravada, só poderemos transcrever algumas
partes e estas estarão forçosamente fora de contexto.5
SPAUR: Em segundo lugar, tenho a impressão de que Vénus nasce no leste,
como estrela matutina. E isto, possivelmente, é outra coisa que está errada.
QUINTANILLA: Depende, depende.
S: Como?
Q: Às vezes ela aparece bem em cima de você.
S: Está bem. Tudo certo. Bem, de qualquer modo....
Q: Vénus, Vénus.... Vénus hoje (ruído de papel sendo remexido) surge às duas e
quarenta e nove da manhã. E surge a 150 graus azimute e 25 graus de elevação.
Ela não tem necessariamente que surgir rente ao horizonte; pode nascer mais
alta. Mas está no eclíptico, é verdade.
S: Está certo, então está no eclíptico. Admitamos que esteja certo. Mas isto, esta
coisa é grande assim, e bem baixa e esta gente observou esta coisa por toda a
região de Mogadore; comunicaram o fato e eu a segui e Barney estava comigo.
íamos descendo a estrada; então o senhor vai ter que descontar, bem, havia dois
loucos. Estávamos perseguindo Vénus. Agora Vénus....
Q: Olhe aqui, espere um instante....
S: Muito bem, espere um instante, deixe-me falar....
Q: Você usou a palavra errada....
S: Está bem. Ora....
Q: Sou um oficial da Força Aérea dos Estados Unidos....
S: Correto. O senhor realmente é....
Q: E não chamo ninguém de maluco.
S: Não, tudo bem. Então eu tive alucinações! Mas o que eu estava dizendo....
Q: Não disse que você tivesse tido alucinações.
S: O que estou tentando dizer é o seguinte. Estou descendo a estrada; então, essa
coisa que estou seguindo....
Q: E trate de me tratar com o mesmo respeito com que o trato.
S: É o que farei senhor. Estou. Tratarei o senhor com mais respeito do que venho
sendo tratado nos últimos....
Q: Não o estou chamando de louco. Não estou afirmando que tivesse tido
alucinações.
S: Tudo bem, nos últimos vinte dias! De qualquer maneira.... esta coisa passa por
cima de outro carro da polícia. Este observou a coisa passar; tornou a localizá-la.
Isto é, há dois carros que estão vendo Vénus. Então vamos os dois descendo pela
estrada. E entramos em Conway, Pensilvânia, e então esta coisa passa por cima
de um terceiro carro que estava parado. Nem usamos a mesma frequência (uma
referência ao fato de que ele e o outro patrulheiro não poderiam ter se
comunicado antes do acontecimento). Jamais conheci, vi, falei antes nem depois
com esse outro policial. Ele estava observando a mesma coisa quando ela passa
por cima dele, rumando para Pittsburg, enquanto nós passávamos a toda. Bem,
nós observamos aquilo, quatro homens, todos lá, quatro policiais. Provavelmente
o senhor dirá o que bem entender, mas ficamos lá, ficamos observando, vimos o
avião passar por debaixo dela (uma referência ao avião que tinha acabado de
decolar do aeroporto de Pittsburg), e vimos quando ascendeu diretamente para
cima. E isto, senhor....
Q: Desapareceu.
S: Posso garantir que é a pura verdade a verdade de Deus. Sim, senhor. A única
coisa que restava para se olhar, depois que fomos até a estação e chamamos o
cara (o rádio operador tinha retransmitido uma mensagem para chamar um
“coronel” ou algo assim), era uma mancha brilhante que estava lá. O sol estava
todo de fora e a lua estava desaparecendo. Devia ser mais ou menos um quarto
de lua (na verdade foi quatro dias antes da lua nova) logo próximo da lua o que
deveria ser ao sul da lua se o senhor estivesse virado para o oeste (leste?), havia
uma mancha brilhante. Disse que seria provavelmente, devia parecer com a
borracha de um lápis, brilhante mesmo (Isto, é claro, era Vênus, mas assim
mesmo Quintanilla obstinadamente apegou-se à hipótese de ser Vénus o
avistamento).
WILSON: (o rádio operador que operava o rádio mas que não tinha visto o
OVNI.) Era a nave-mãe.
S: O que ? A outra nave ?
W: Era a nave-mãe!
S: Ah, a nave-mãe. Olhe, vocês vão conseguir me convencer daqui a pouco. Ai,
arranje-me um tranquilizante e um pouco de café.... (riso) Esta coisa estava
parada, devia estar à esquerda, que era o norte, e nós ficamos olhando e ela
subiu, parou, o avião comercial passou por debaixo dela e depois ela foi direto
para cima. Apenas tão reto quanto, ora, direto para cima. E então. .. eu, aí, eu
não podia imaginar o que fosse, sei que as pessoas podem ficar fixadas em
alguma coisa talvez, ou alguma coisa como esta; mas eu não penso que.... não
posso entender como eu mesmo, um outro carro patrulha e um outro sujeito e
tudo isto pudesse estar-se passando. Perseguindo Vénus. Eu, ora, não abro mão
de nada do que disse. Sei que há.... talvez seja esta uma forma para descontar os
exageros do relato ou seja lá o que for, mas estava lá. Vi muito bem.
Q: Dale, não é uma questão de descontar exageros; estamos tentando conseguir
(uma palavra incompreensível). Estamos procurando determinar o que era.
S: Senhor, se pudesse lhe dizer o que era, acredite-me, Major, eu.... eu mesmo....
e como já disse antes, se lhe tivesse dito que tinha visto um Ford descendo a
autoestrada, o senhor saberia a respeito do que eu falava. E se o senhor dissesse
“Olhe, lá vai um Chevrolet”, o senhor saberia do que estava falando, o que tinha
identificado e eu saberia o que era. O mesmo quanto a uma aeronave. O senhor
diz “Lá vai um B-29” e eu respondo “Sim, sem dúvida, é um velho cavalo de
guerra”, ou algo assim e a coisa está identificada. Mas aquilo, nunca vi nada
como aquilo antes, ou depois ou na minha imaginação mais puxada pude pensar
que existisse. Sei que se pode ter uma ilusão de ótica, ou até mesmo ver alguma
coisa se deslocando, ou como se olhasse através de um caco de vidro ou algo....
Q: Sim, distorções.
S: Posso continuar com isto. Mas nunca vi nada tão grande. Nos meus mais
estranhos sonhos acho que não teria sido capaz de imaginar uma coisa como
aquela ou tê-la visto. Mas a coisa estava lá. Vi-a com toda a clareza; vi-a fora do
carro. Vi-a de dentro do carro e via-a fora do carro depois que cheguei em
Conway. E detestaria pensar que arrisquei a vida deste homem (Neff) e as vidas
de diversas outras pessoas perseguindo Vénus. Não acredito nada que eu
estivesse perseguindo Vénus. Não sei como explicar. Não faço a menor ideia.
Mas, senhor, esta coisa era tão real quanto (palavra confusa)....
Q: Sabe de uma coisa Dale? Vou lhe dizer isto seja lá para o que for; você não é
a primeira pessoa que passa por uma coisa dessas.
W: (rádio operador): O que a Força Aérea julga que seja isto, Major?
Q: Interpretações errôneas de objetos convencionais e fenômenos naturais. No
ano passado tivemos 245 casos astronômicos.
W: Aquilo que Dale viu.... em qual categoria se enquadra?
Q: Coloque-o na categoria de observações astronômicas e de satélites.
Atualmente este caso consta das estatísticas do Livro Azul como uma
observação de Vénus mesmo se tanto o objeto quanto Vénus tenham sido
relatados como vistos.
Quatro diferentes conjuntos de olhos humanos registraram algo aos seus
cérebros, quatro cérebros que estavam acostumados a fazer avaliações a respeito
das coisas que seus olhos viam. Dois observadores estavam num carro; os outros
dois encontravam-se em cidades diferentes. O testemunho dos outros dois
policiais nunca foi obtido.
Quintanilla sentia-se obviamente satisfeito por ter atendido as exigências do
método científico. Na verdade, teria achado suficiente o testemunho dado pelo
telefone durante quatro minutos se o deputado Stanton não tivesse forçado a mão
por ter um interesse pessoal no caso.
Reservei um espaço considerável a este incidente porque é indicativo da
minha experiência com o Livro Azul durante tantos anos como seu consultor. Os
casos que eu julgava como interpretações errôneas e duvidosas o Livro Azul
fazia o impossível para colocar no registro; casos como este, que estavam
abertos à pesquisa e tinham uma possibilidade de conter algo “genuinamente
novo e empírico”, eram tratados com pouco ou nenhum interesse.
Se os observadores deste caso não fossem policiais, estou certo de que a
avaliação teria sido “testemunhas duvidosas”, uma categoria favorita para os
casos nos quais as testemunhas não tinham condições de defesa. Classificar um
policial como uma testemunha duvidosa seria uma atitude pouco política,
portanto a categoria de “astronômica” foi escolhida, apesar da opinião contrária
do consultor astronômico.
Qualquer leitor perspicaz já deve ter notado que duas questões estão
interligadas em todo este assunto: uma está presa à realidade do fenômeno OVNI
relatado; a outra, é a questão da metodologia e da integridade científica.
Independentemente de como a primeira questão fica resolvida com o tempo, o
registro demonstrará que, mais uma vez, na longa história da ciência o
preconceito, a emoção e “o provincialismo temporal” obstaculizou, no caso da
pesquisa dos OVNIs, a marcha da ciência e da aventura intelectual que poderia
ter sido profundamente ilustrativa.
O caso de Portage County foi muito embaraçoso para mim de vez que foi
dito e redito que o Livro Azul não adotou nenhuma interpretação astronômica
com relação a um avistamento de OVNI sem que eu me tivesse pronunciado
como consultor astronômico, mas a regra era frequente e flagrantemente violada.
Aqui, por exemplo, a classificação do caso como um “satélite e Vênus’’ foi feita
sem que me tivessem ouvido.
Três meses mais tarde mandaram-me a ficha do Livro Azul a respeito do
caso; minha classificação foi um claro “Não-Identificado’’ — uma classificação
que estava bastante alicerçada no fato que tinha ficado estabelecido, através do
testemunho gravado, de que os observadores tinham visto Vénus assim como o
OVNI também. Os policiais não conheciam o planeta pelo seu nome, mas
confirmaram que havia uma “mancha brilhante próximo à lua’’. Naquela manhã,
Vénus situava-se há apenas alguns.graus da parte superior direita da lua. Os
observadores afirmaram que à medida que a claridade da alvorada aumentava
antes do nascer do sol, a silhueta- do OVNI tornava-se mais distinta; com Vénus
teria acontecido justo o oposto à medida que o dia fosse rompendo. O sol
naquele dia, nasceu às cinco e quarenta e dois e o avistamento terminou pouco
depois. Isto não significou nada. Não quiseram acolher a minha opinião.
Apresentei aspectos deste caso com alguns detalhes porque, embora seja
apenas um entre tantos outros parecidos, trata-se de um ótimo exemplo de um
Encontro Imediato de Primeiro Grau, da falta de imaginação do
“estabelecimento’’ e da “verdadeira’’ natureza da experiência para o observador.
A sequência deste caso nada tem de agradável. O público, sobretudo devido
à imprensa e à concentração do Livro Azul em Dale Spaur, chegando,
praticamente, a excluir, as outras três testemunhas , ficou com a impressão de
que se tratava de um caso envolvendo um policial que tinha perdido a razão e
passara por uma alucinação sem par. Está mais do que claro de que esta foi a
implicação da entrevista de Quintanilla com Spaur. Posteriormente, ele foi
afastado da polícia devido ao insuportável ridículo a que se expusera e à pressão
desfavorável da publicidade. A combinação dos acontecimentos estragou sua
vida no lar, afastou-o da mulher e arruinou sua carreira e sua saúde. Já não faz
mais parte dos quadros da polícia e, comenta-se, que subsiste à custa de biscates.
Felizmente, os desfechos trágicos não fazem parte do protótipo do Encontro
Imediato do Primeiro Grau. Mas, o caso de Portage County e outros escolhidos
como representativos usados neste capítulo, retratam a natureza do OVNI
quando experimentado de muito perto.
Luminescência brilhante, tamanho relativamente pequeno (da ordem das
dezenas e não das centenas de pés), geralmente de formato oval — às vezes,
encimado por uma cúpula — ausência de asas convencionais, rodas, ou outras
protuberâncias e a capacidade de pairar no ar e acelerar rapidamente para
velocidades altas caracterizam o OVNI num encontro imediato. A localização da
aparição parece ser uma das principais características. As trajetórias do OVNI
são, principalmente, verticais quando as velocidades são elevadas — ascensões
em ângulos de 45 graus ou mais parece ser a regra geral. Há uma tendência
bastante pequena, por parte do OVNI, de “viajar pelo país ’ ’, exceto localmente.
Até agora, nesta categoria de Encontros Imediatos o OVNI não deixou
marcas a não ser na memória dos percipientes. Agora, passaremos a focalizar os
Encontros Imediatos que deixam marcas — sobre matéria animada ou
inanimada. Como as marcas podem ser medidas e pesquisadas, eles representam
muita coisa para a investigação científica.

NOTAS

9 - ENCONTROS IMEDIATOS DO SEGUNDO GRAU

Por uma questão de lógica, presumi que se tratava de uma invenção
inteiramente nova e desejei com todo o ardor que os inventores fossem nossa
própria gente.
— De um relatório pessoal dirigido ao autor por um capitão do exército,
baseado em Okinawa. O avistamento ocorreu em agosto de 1945.

Quando o OVNI relatado, quase sempre um “engenho profusamente
iluminado” deixa uma marca visível da sua visita ou de um encontro com
observadores humanos, isto constitui um Encontro Imediato de Segundo Grau.
Esta categoria não parece diferir muito dos Encontros Imediatos de Primeiro
Grau sob muitos aspectos, a não ser pelo fato de que foi deixado, como um
lembrete, algum tipo de efeito físico. Saber porque numa instância o encontro
ocorre sem a evidência de um incidente físico enquanto que noutro deixa marcas
mensuráveis de sua atuação sobre a matéria animada ou inanimada é uma
questão que nos deixa perplexos.
Os efeitos físicos geralmente incluem marcas tangíveis no solo que podem
ficar dias ou mesmo meses visíveis e são o resultante de um patente contato
físico do engenho com o solo, queimaduras e danos em coisas que crescem
(sobretudo plantas e árvores), agitação por parte dos animais demonstrada por
seu comportamento e efeitos físicos no ser humano tais como paralisia
temporária, dormência, sensação de calor e outros incômodos. Às vezes também
são relatadas “interferências” no campo gravitacional local, conforme
demonstrado pelos relatórios de alguns observadores que se queixaram de uma
temporária sensação de falta de peso e outros efeitos de inércia, como se as
conhecidas leis da inércia tenham sido temporariamente abolidas.
Um dos mais importantes efeitos físicos relatados envolve a interferência nos
circuitos elétricos, fazendo com que os motores dos carros deixem de funcionar
temporariamente, os rádios emudeçam ou surja uma estática fora do normal, os
faróis dos carros diminuam de intensidade ou apaguem-se após alguns instantes
e, em certas ocasiões, as baterias dos carros fiquem superaquecidas e se
estraguem rapidamente.
A significância de tais atuações físicas é óbvia; oferecem oportunidade para
uma medição física e são uma promessa de se conseguir “dados concretos”.
Porém, infelizmente, o tratamento que se tem dado aos relatórios deste tipo
como se fossem “contos da carochinha” , produtos de mentes alteradas ou
fraudes, conduziu a uma quase que completa falta de investigação séria e a
subsequente perda do próprio “dado concreto” que estava tão tentadoramente
alcançável.
Apesar do aspecto bizarro dos relatos e da aparente impossibilidade de que
tenham acontecido, a questão fundamental não é como já foi dito, saber se os
fatos relatados poderiam ter ocorrido mas sim se as coisas realmente
aconteceram, de modo semelhante ao que foi contado.
Não me teria engajado a abordar estes assuntos neste livro se a evidência,
examinada pessoalmente por mim durante os anos passados não me tivesse
parecido esmagadoramente indicadora de um sim em resposta à última questão.
Os acontecimentos bizarros realmente aconteceram, por mais que possa parecer
inacreditável ao físico.
A introdução de efeitos físicos tangíveis que não parecem sugerir uma
histeria em massa e alucinação ou mesmo do psíquico e do oculto (a menos que
estejamos lidando aqui com uma espécie de fenômeno poltergeist) dá uma
dimensão ao estudo. Talvez minha opinião pouco pese junto aos colegas, mas é
exatamente por isto que casos deste tipo devem sofrer uma pesquisa bem mais
profunda, para estabelecer, para a satisfação do físico em particular, que os
acontecimentos relatados realmente ocorreram.
Atualmente, o físico típico afasta totalmente o fenômeno como impossível.
Está inteiramente certo, ao assim proceder, segundo o seu ponto de referências,
pois segundo o ponto de vista do nosso atual conhecimento a respeito de como
funciona a natureza, ‘ ‘coisas deste tipo simplesmente não podem acontecer”.
Porém, “pedras também não podiam cair do céu” e “o “ball-lightning”
(relâmpago em bola) é pura tolice”. A história do homem inculto mas seguro de
si mesmo ao visitar o zoológico pela primeira vez vem-nos à lembrança. Ao ver
a girafa afastou-se, fazendo o seguinte comentário “Não existe um animal
assim”. Portanto, é lógico, não existem efeitos físicos ocasionados por OVNIs.
Temos uma prova tangível com relação a uma girafa; e nos Encontros Imediatos
do Segundo Grau temos uma prova tangível relacionada com os OVNIs ?
O leitor, nesta altura, pode muito bem intervir: “Mas se estes efeitos físicos
acontecem, onde estão as fotografias dos mesmos, onde estão os moldes em
gesso das marcas de pouso, onde estão os relatos totalmente documentados sobre
carros parados? ’ ’ Esta é exatamente a questão. Quando um assunto é tratado
com tamanho desprezo como o foram os OVNIs, a própria obtenção de dados
desse tipo é imensamente difícil. Sem fundos, sem tempo e quase sempre sem a
colaboração dos observadores originais, que temem ficar expostos ao ridículo
caso se envolvam, o tipo de documentação necessária na corte da ciência é
praticamente inacessível. Para obtê-la tem-se que viajar, telefonar, trabalhar a
máxima velocidade. Acima de tudo, precisa-se de tempo e seria de grande valia,
mas não imprescindível, contar com a compreensão dos colegas quando se
abraça um trabalho desse gênero.
É interessante notar, com relação à credibilidade dos avistamentos de
Segundo Grau, que se quisermos nos referir a todos os casos de marcas de
aterrissagem, sem levarmos em conta o número das testemunhas, o catálogo
preparado por Ted Phillips contém casos de 24 países diferentes, sendo as
primeiras seis nações a encabeçarem a lista: os Estados Unidos, o Canadá, a
Argentina, a França, a Espanha, a Inglaterra e o Brasil em oitavo lugar. De vez
que estas também são as nações (com a exceção da Inglaterra) que se encontram
a frente nas investigações à respeito de OVNIs é bem provável que o fenômeno
seja realmente mundial.
Mais uma vez, a minha experiência na investigação dos Encontros Imediatos
de Segundo Grau convenceu-me que o fenômeno sempre presente da
“experiência real” está presente. Não resta dúvida de que para o relator do
acontecimento a experiência foi real.... traumaticamente real, às vezes. Aquilo
que interessa, os efeitos físicos — as marcas semipermanentes no solo, por
exemplo — efeitos que poderiam ser fotografados, também eram reais.
Por esta razão os Encontros Imediatos de Segundo Grau assumem uma
importância sem igual, pois quando se tem notícia de que um OVNI deixou uma
prova tangível da sua presença, está definida com clareza a área onde começar a
procurar “dados para a ciência”. É aqui que os novos esforços pesquisadores
oferecem as maiores promessas. É nesta categoria de relatórios sobre OVNIs que
encontramos o verdadeiro desafio à pesquisa científica.
Nos casos de Encontros Imediatos de Segundo Grau usados neste capítulo,
prevalecem os padrões habituais. Utilizamos apenas aqueles casos com
testemunhas múltiplas, muito embora existam exemplos surpreendentes que
somente contaram com um observador. A média dos observadores nestes casos
selecionados é de 4.0; o número médio 3.0. Incluí nesta categoria quase que o
dobro dos casos usados nas categorias anteriores, devido aos diferentes tipos de
efeitos físicos relatados, para que possamos examinar diversos casos de cada-um
dos principais tipos de efeito físico (paradas de automóveis, marcas no solo,
etc.).
Parece haver, na presente categoria, uma mudança significante com relação
às ocupações dos observadores comparadas aos dos grupos anteriores, que
contavam com uma parcela mais significativa de pilotos, policiais e pessoas com
formação técnica-1. Donas-de-casa, adolescentes e homens de negócios
predominam nos Encontros Imediatos de Segundo Grau. Portanto, nesta
categoria, veremos quais as combinações de observadores aconteceram. Estão
incluídos na Tabela 1 a designação do caso, a combinação do observador e um
relato resumido das circunstâncias da aparição.

TABELA 1
Combinações de observadores nos Casos Selecionados de Encontros
Imediatos (de Segundo Grau).

CEII-1
Seis adultos, sexo masculino, ocupações várias, e dois adolescentes (um deles
calouro universitário). Todos tiveram uma experiência semelhante,
independente, no espaço de duas horas, dentro de uma área retangular no Texas
com cerca de 30 milhas por 20. Noite avançada, nebulosa e sempre em estradas
desertas e desimpedidas.
CEII-2
Professor e o filho de dez anos. Estrada deserta próxima a uma pequena cidade
de Wisconsin. Noite.
CEII-3
Chefe de Assistência Técnica da Air France; três pilotos e três engenheiros.
Tananarive, Madagascar. Anoitecendo.
CEII-4
Supervisor de uma firma de encomenda postal e gerente de arrecadação,
companhia financeira. Próximo a uma ponte numa estrada deserta. Noite.
CEII-5
Marido e mulher, pintor e cabeleireira, respectivamente. Saíram de carro à uma
hora da madrugada para ver a camada de neve deixada por uma tempestade
recente. Passando perto do cemitério.
CEII-6
Dois negociantes viajando em carros diferentes. Estrada fora da cidade de
Virgínia. 8,40 da manhã.
CEII-7
Telhador de dezenove anos, o pai de 46 e o avô de 72, fazendeiros. Às quatro da
madrugada na fazenda.
CEII-8
Três adolescentes, do sexo feminino, alunas do segundo ciclo. Uma, redatora
chefe de almanaque, chefe de torcida organizada, e diretora de vários clubes. A
segunda (motorista do carro), membro da National Honor Society, redatora-
chefe do jornal escolar, baliza, clubes Francês e da Faculdade, membro do Club
de Matemática e Física. A terceira, membro da Honor Society, baliza e membro
de diversas organizações escolares. Na periferia da cidade, área deserta cercada
por mato. Noite.
CEII-9
Três adolescentes do sexo masculino, uma moça adolescente. Lusco-fusco. Os
adolescentes estavam ordenhando as vacas da fazenda.
CEII-10
Engenheiro, mulher e filho pequeno. Passando por uma estrada deserta de
Oklahoma. Tempo nebuloso, teto de nuvens baixas. Lusco-fusco.
CEII-10
Dois policiais. Onze horas da noite. Estrada desimpedida no Texas.
CEII-12
Fazendeiro, a filha adolescente e uma sobrinha também adolescente. Noite
avançada. Fazenda no Iowa.
CEII-13
Dois negociantes e suas mulheres. Noite alta numa estrada rural deserta.
CEII-14
Artista profissional e marido. Noite. Pequena cidade do Kentucky.
CEII-15
Marido e mulher, adultos. Estrada na Flórida. Final da tarde.
CEII-16
Duas mulheres idosas e, independentemente, um apicultor. França.
CEII-17
Negociante, mulher e suas três filhas mocinhas. Numa pequenina cidade do
Wisconsin. Noite.
CEII-18
Dois homens, empregados de uma estação pesqueira canadense para turistas, as
respectivas mulheres e outros membros das famílias. No lago. Noite avançada.
CEII-19
Nove adolescentes (cinco garotas, e quatro rapazes), quatro donas de casa e um
homem. Numa praia do lago na península superior de Michigan.
CEII-20
Projetista rodoviário estadual, mulher e sogra. Autoestrada no campo. Às dez e
trinta da noite.
CEII-21
Mulher e as três filhas adolescentes. Pequenina cidade do estado de Washington.
Noite.
CEII-22
Vaqueiro e amigo.

O isolamento dos observadores no momento das aparições e a presença de
pessoas com formação universitária ou altamente preparadas em apenas 3 ou 4
casos parece significativo. Será que isto torna o acontecimento menos digno de
fé, ou será possível que os indivíduos mais sofisticados se contêm para não
relatar acontecimentos tão “inacreditáveis”? Seguindo o sistema adotado neste
livro, torna-se claramente necessário dar a estes casos um baixo Grau de
Probabilidade. Apesar disto, os interrogatórios revelaram o mesmo assombro
sincero e perplexidade e a mesma sensação de terem passado por uma
“experiência verdadeira” demonstrados entre os observadores altamente
preparados nas outras categorias por nós examinadas.
Posso testemunhar, calcado na minha própria experiência em interrogar as
testemunhas, como também através dos muitos relatos gravados por outros
investigadores bastante conhecidos por mim, que os Encontros Imediatos de
Segundo Grau, sobretudo, deixaram nos observadores uma nítida sensação de
realidade vivida.
Poderíamos ocupar páginas e mais páginas com as narrativas de
testemunhas, próximas à histeria, feitas para policiais e outras pessoas (relatos
estes que não foram feitos diretamente a mim porque, de um modo geral, durante
as investigações que realizava para o Livro Azul chegava, quase sempre, à cena
do avistamento muitos dias mais tarde); com os efeitos secundários fisiológicos
e psicológicos (não há provas de que o carro esteja adiante dos bois; a histeria e
os distúrbios psicológicos ocorriam depois, e não antes do acontecimento); com
os sonhos tumultuados durante semanas a partir do avistamento e às vezes, até
mesmo de uma modificação quanto ao modo de ver a vida e filosofar resultante
do encontro. Para uns foi parecido com uma experiência religiosa, mas como
geralmente havia muitas testemunhas envolvidas (enquanto que experiências
religiosas são acontecimentos profundamente pessoais), suas experiências não
podem ser classificadas como tal.
A proximidade física do acontecimento deveria, sem dúvida, tornar a
experiência vívida e inesquecível. Num dos casos, o carro onde quatro pessoas
viajavam parou misteriosamente, e as luzes e o rádio deixaram de trabalhar
durante o curto interlúdio em que um objeto brilhantemente iluminado pairou
bem a frente do veículo. O policial (veja Apêndice 1, CEII-13) que ouviu o
relato mais tarde, declarou: “As quatro pessoas que se encontravam no carro
pareciam terrivelmente apavoradas. Quem mais falou foi o motorista. Os dois
homens estavam no banco dianteiro e as mulheres no de trás.’’ Comentou-se que
o estado do outro homem era tal que “nem conseguia articular as palavras”.
Disseram que a sua voz estava trêmula e ele tremia como vara verde.
No caso clássico de Loch Raven, Maryland, o carro no qual viajavam dois
homens foi parado, involuntariamente, ao se aproximarem de uma ponte sobre a
qual estava pairado um OVNI profusamente iluminado (veja Apêndice 1, CEII-
4). Os homens declararam durante a entrevista com a Força Aérea:
“Resolvemos, então, colocar o carro entre nós e o objeto. A estrada era muito
estreita: de um lado havia o lago, e do outro o despenhade-iro. Não havia jeito de
fugir. Provavelmente teria sido o que faríamos se pudéssemos, mas ficamos
terrificados com o que víamos ”.
Geraímente, a testemunha procura racionalizar o acontecimento para si
mesma, mas quase sempre não o consegue, e eu estou pessoalmente convencido
de que muita gente relatou a experiência porque passou, tão somente porque
desejava saber desesperadamente se alguém mais tinha compartilhado de uma
mesma experiência ou de outra semelhante. Muitas pessoas disseram para mim
que se tornassem a passar por uma experiência daquele tipo, nunca mais
contariam nada.
Através de contatos pessoais com diversos pilotos sei que, sob nenhuma
circunstância, eles relatariam oficialmente as próprias experiências. Sabem o que
fazem. Alguns confessaram-me que gostariam de poder esquecer que tudo aquilo
tivesse acontecido. Foi preciso usar de muita persuasão com pessoas deste tipo,
dar minha palavra de honra de que os relatos e os nomes nunca seriam usados
publicamente para que pudesse conseguir as suas histórias 2
Voltando aos efeitos físicos nesta categoria de avistamentos, talvez o mais
impressionante — e, sem dúvida, um dos mais difíceis de se explicar em termos
do nosso atual conhecimento do mundo físico são os casos relatados
universalmente nos quais um OVNI desligou o motor do carro, as luzes, etc.
Por que este efeito físico, dentre tantas outras coisas? Os OVNIs poderiam
interferir nas coisas humanas de muitas outras maneiras e de forma mais
significativa, quer me parecer! Mas, assim mesmo isto é o que se relata:
aparentemente, os carros são abordados em estradas desertas, resultando, às
vezes, nem sempre, na parada do motor e as luzes e o rádio deixando de
funcionar. Poderia até parecer que os OVNIs consideram os carros como coisas
que devam ser investigadas. Esta é a impressão que se tem ao interrogar os
observadores e através do estudo de seus relatórios. Mas não estamos aqui para
perguntar por que (pelo menos, enquanto não dispormos de mais fatos);
examinamos o que foi narrado, escolhendo os relatórios feitos por aquelas
pessoas que nos parecem as testemunhas de maior confiança.
Podemos dar início à construção do protótipo desta subdivisão de casos
como um que ocorreu numa estrada deserta, fora da periferia de uma pequena
cidade do Wisconsin, à noite, logo no início da primavera (veja Apêndice 1,
CEII-2). Inicio exatamente com este caso porque a testemunha principal (uma
professora escolar e ex-comissária de bordo) quase que incidentalmente citou um
testemunho físico — a descrição de uma sensação temporária de perda de peso
— que talvez possa, presumivelmente, fornecer uma pista para a natureza do
fenômeno;
A testemunha assim descreveu o acontecimento:

....aquela coisa apareceu de uma depressão na colina, numa velocidade
incrível mas muito suavemente mesmo, como algo que estivesse deslizando, mas
mais baixo do que um avião.... e pairou.... e parou por cima daquele carro (um
veículo que tinha acabado de ultrapassar o da testemunha). Foi então que as suas
(do outro carro) luzes apagaram e eu passei para o acostamento porque julguei
que se tratasse de um rapazote. Ele tinha desligado as lanternas e eu não queria
bater nele.... enquanto isto meus faróis diminuíram de intensidade ligeiramente,
mas não me preocupei até que o motor, as luzes e o rádio pararam de funcionar.
Isto aconteceu quando ele (o OVNI) saiu de perto daquele carro e desceu a
autoestrada.... e ficou em cima de nós. Quando olhei através do para-brisas fui
forçada a inclinar-me sobre o volante, olhar direto para o alto e lá estava ele, em
cima de nós.... com o carro parado. Eu tinha aberto a janela quando as luzes do
outro carro foram apagadas, e ainda continuava aberta naquele momento.... e não
ouvi som algum.

Pergunta: Você está totalmente consciente de ter desligado o motor do seu carro,
ou ele parou de funcionar por si mesmo?
Resposta: Não, fui eu quem o desligou.
P: Você parou o carro?
R: E o carro continuava funcionando?
P: Bem, estou me referindo ao motor.
R: Sim, o motor estava girando.
P: E depois, o que aconteceu?
R:... .e, depois, esse objeto vermelho aproximou-se, plainou, veio para cima de
nós. E, de repente, tudo ficou realmente parado....
P: Muito bem, agora diga-me uma coisa. Se tivesse alguma fórmula mágica para
colocar alguma coisa no céu que se parecesse muito com aquilo que viu, que
coisa corriqueira teria posto lá em cima que mais se parecesse com o formato
daquilo que viu?
R: Hum.... o senhor conhece aqueles rolos de massa pronta do Bisquick ou
Pillsbury, que a gente deixa guardado no refrigerador e depois comprime de
encontro a borda da bancada da cozinha conseguindo o formato de um triângulo,
em seguida enrola novamente e fica com a forma de um crescente ? Era isso que
parecia.
P: Entendo. Não sou exatamente um cozinheiro mas posso imaginar a coisa.
Vamos lá.... conhece os bumerangues australianos?
R: Australianos?
P: Sim, bumerangues. Sabe qual é o aspecto de um bumerangue?
R: Nunca tive um. Seria assim, porém mais arredondado do que chato.
P: Vamos ver, você estava sempre dizendo que era vermelho. Mas qual a
tonalidade do vermelho?
R: Pintura a óleo. A cor mais aproximada, a meu ver, deveria ser um vermelho
alaranjado.... E parecia com um pôr do sol índio ou algo dessa gama de cor.
P: Dava a impressão de ser um objeto sólido, ou parecia ser só luz?
R: Bem, quando veio para cima de nós, ficou mais nítido. O que estou querendo
dizer é que ficou com o formato mais definido, mas parecia ser mais sólido e
perto das extremidades era mais como (flocoso);
P: Ele ficou sempre imóvel?
R: Hum.... quando estava no alto sim. Está claro que sempre estava no ar, mas
quando ficou bem em cima da gente (estava), e eu tentei acionar o motor, tentei
e tornei a tentar e, enquanto aquilo esteve em cima de nós não consegui de jeito
algum fazer com que o carro pegasse. Não queria nada.... mas nada mesmo. Não
dava, nem mesmo, um pequeno sinal, um ronco pequeno que fosse e foi assim (a
esta altura, a testemunha fez uma descrição gráfica, acompanhada por efeitos
sonoros, dos barulhinhos que o starter fazia enquanto ela tentava,
desesperadamente, acionar o motor.) Muito bem, girei a chave e ele fez “ruuu” e
só isso. Depois nem isso fez. Parecia uma bateria descarregada.
P: Agora diga-me uma coisa, quando ele partiu, foi direto para cima, para os
lados, ou como?
R: Não, não subiu direto para o alto. Foi para trás do carro, do meu lado, e
dirigiu-se para um campo, na direção de uma casa de fazenda que havia lá....
Deslocou-se suavemente, muito suavemente e não hesitou nem saltou.
P: Quanto tempo levou para desaparecer?
R: Não desapareceu logo. Finalmente, quando saiu de perto do carro deu uma
espécie de pulo. Girei a chave para acionar o motor e este fez um barulho mais
ou menos assim ur-ur-ur; e, afinal, consegui colocar o motor funcionando....
Nessa altura, eu já tinha dominado o carro e tinha chegado perto de um moinho
em Cochrane.... E vi o objeto atravessando o leito da estrada de ferro
deslocando-se bem baixinho, bem junto (dos trilhos).

A entrevista com a professora foi extensa. Um outro trecho não só deixa
claro as sensações da testemunha como também descreve um fenômeno já
relatado em outros casos, que talvez dê uma indicação da física do OVNI.

....o senhor veja se me entende, se ficar em casa à noite e tudo estiver
quieto, ainda assim há os ruídos da vida, o senhor compreende, não? Mas
quando esta coisa estava lá, não havia nada, nem mesmo os ruídos da vida.
Nada, nada mesmo. Era um silêncio estranho.... Outra coisa da qual me
recordo.... era como se eu estivesse livre de peso e etérea. Algo semelhante à
primeira vez que se toma um avião e este decola ou quando cai num vácuo.
Tinha a impressão de que tudo estava leve e sem peso.
Uma coisa que me lembro também.... meus pés queimavam e esta
sensação perdurou durante algum tempo. Quando saí do carro pela primeira
vez, senti como se estivesse pisando sobre brasas. Sempre pensei que se
visse uma dessas coisas, sairia e me dirigiria para ela, porém aquilo não se
parecia com nenhuma coisa da terra, portanto limitei-me a ficar no carro, que
estava totalmente parado e não consegui me locomover. Acho que esperava
por algo que nem mesmo sei o que fosse.

Transcreverei, agora, uma rápida sinopse de um outro relatório, que jamais
teria sido feito se uma pessoa interessada no assunto não tivesse escutado uma
observação durante uma partida de basquete, feita por pessoas que lhe eram
desconhecidas. Aproveitou a ocasião para se dirigir a estas pessoas e redigiu o
relatório inicial por elas. Posteriormente, esta gente concordou em ser
entrevistada por Raymond Fowler e seus colegas da Nova Inglaterra. Tratava-se
de um caso “típico” de Encontro Imediato — começando com a aeronave
iluminada, que inicialmente julgaram tratar-se de um helicóptero, vista de
alguma distância. Pouco depois ocorreu a aproximação, enquanto o carro e o
OVNI viajavam de encontro e, tanto o carro como o sistema elétrico pararam de
funcionar.
Trechos da entrevista gravada nos darão o relato da sua experiência em suas
próprias palavras. (Veja Apêndice 1, CEII-8).
Janice notou a presença do objeto e Kim aproximou-se. Elas queriam saltar
do carro, mas eu não. De repente, o automóvel afogou e o rádio e as luzes
pararam de funcionar. Aí todos perderam a vontade de sair do veículo. Para falar
com sinceridade, estava apavorada demais para poder observar bem o objeto. Só
reparei as quatro luzes quando estas passaram. Finalmente, Kim conseguiu fazer
com que o carro pegasse.

Esta testemunha do incidente disse também:

Janice perguntou: “O que é isto?” Dei uma espiada pela janela e
respondi: ‘‘Deve ser um helicóptero”. Janice não queria aceitar a minha
sugestão e, foi então, que Kim ficou toda nervosa. No começo, ela (Kim)
disse brincando: “Deve ser um OVNI ou um disco voador”. De repente, a
coisa já não nos parecia engraçada.... Estava apavorada e recusei-me a sair
do carro. Tínhamos acabado de encostar o carro. De repente, o motor afogou,
as luzes e o rádio pararam de funcionar. O objeto foi embora, o carro pegou.

Kim, a motorista, disse:

Quando nós nos aproximamos do objeto, o carro afogou e as luzes e o
rádio deixaram de funcionar ao mesmo tempo. Depois, tentei acionar o carro
por duas vezes enquanto o objeto parecia estacionário. Julgando que os faróis
e o rádio estivessem puxando muita força da bateria.... desliguei os dois
botões da luz e do rádio. A seguir, tornei a tentar a acionar o carro, por mais
duas vezes. Não quis pegar. Logo em seguida, tivemos a impressão que o
objeto começava a se afastar de onde estávamos. Tornei a girar a chave de
ignição e imediatamente o motor pegou, provando que não estava afogado....
Como tínhamos trocado a bateria há apenas três semanas (antes do
avistamento), não creio que tenha sido algum problema com o carro.
Mantive o pé na embreagem durante todo o tempo pois afastava-me para o
acostamento para parar.
... Vi um objeto no céu, à nossa esquerda, que a princípio parecia ser um
avião. À medida que nos aproximávamos, reparei que era grande demais e
estava muito baixo para ser um avião e chamei a atenção de minhas amigas...
O objeto deslocava-se na mesma direção que nós, no começo, depois parou
por um minuto mais ou menos, após o que voou e o carro tornou a pegar. O
objeto não fazia barulho e não afetou a iluminação da estrada3.

As três testemunhas, profundamente inteligentes, estavam claramente
atormentadas pela incapacidade muitas vezes encontrada, das testemunhas
colocarem em termos descritivos e práticos os ele mentos de seu avistamento.
Por exemplo, para responderem a pergunta sobre o que colocariam no céu que
tivesse a mesma aparência do que viram, Kim disse: “Conjunto material eretor
com luzes brancas refletindo sobre ele e luzes vermelhas na parte de cima”. A
resposta de Ellen à pergunta foi: “Quatro holofotes?” Janice declarou: “O objeto
era um trapezóide regular, muito embora não fosse capaz de delinear seu exato
contorno. Dava a impressão de ter uma luz fraca na parte superior, talvez uma
pequena estrutura’ ’.
“Luzes vermelhas quase tão intensas quanto um forno elétrico aquecido”;
“Brilhava em volta das luzes brancas. Refletia como se fosse algum tipo de
metal”; “Nunca vi uma coisa como aquela antes”; “0 objeto era grande demais
para poder ser qualquer tipo de aeronave. 0 formato era estranho e não se
parecia, de forma alguma, com um balão ou um helicóptero”; “O objeto pairava
numa posição fixa, depois virou e desapareceu rumo ao oeste. Ascendeu e sumiu
do nosso campo visual.” Estes fragmentos de entrevistas com diversas
testemunhas são, dificilmente, o tipo de descrição que se podia esperar de
estudantes premiados, redatores de jornais escolares e seu almanaque, caso
estivessem descrevendo uma aeronave comum, mesmo quando vista sob
condições fora do comum.
Num caso ao qual nos referimos (veja Apêndice 1, CEII-13) em termos das
reações das testemunhas, o policial que primeiro conversou com os
observadores, declarou:

O motorista declarou que o carro não queria acelerar enquanto o objeto
esteve próximo.... perdeu força e cuspiu como “se não estivesse recebendo
gasolina suficiente”. Quando o objeto parecia estar mais próximo a eles, já
não era mais brilhante mas “um objeto com um formato de lentes, bem nítido
e delineado com uma fosca luz de cor âmbar — parecida com a cor de uma
luz de tráfego de advertência, apenas mais fraca na colocação”. Não acredito
que alguém conseguisse reproduzir as expressões faciais e o medo que estas
pessoas deixavam transparecer.

O desenho que o motorista fez, posteriormente, do objeto revela poucos
detalhes importantes, mostrando apenas um objeto com o formato de um ovo
cuja superfície estava coberta por pequenos objetos interiores parecidos com os
faróis de um carro. “Cada um destes”, diz o relatório, “emitia um feixe de luz
branca muito intensa, fazendo com o que o objeto, como um todo, parecesse
emitir raios de luz para todas as direções. Depois, ele parecia um objeto com o
formato de uma lente bem definida, de tonalidade âmbar”.
O protótipo do Encontro Imediato de Segundo Grau é posteriormente
embelezado por um relato de um avistamento de um OVNI, ocorrido num
cemitério, depois da meia-noite (veja Apêndice 1, CEII-5), sobre o qual afirmou
uma das testemunhas: “Nunca vi coisa alguma comparável a este objeto”. Os
dois relatores deste acontecimento saíram de carro, já noite avançada, para ver os
galhos vergados das árvores sob o peso da neve após uma forte tempestade.
Ao passarem pelo cemitério, que parecia mergulhado numa névoa, apesar da
noite estar clara como um cristal, uma luz brilhou em meio a bruma. Pensando
que havia um incêndio no cemitério e que a bruma fosse, na verdade, fumaça,
fizeram a volta com o carro após terem percorrido uma curta distância e
retomaram à cena. O relatório feito pelo investigador conta:

Ele fez outra volta com o carro, baixou as janelas e pegou a estrada que
conduzia ao cemitério e à luz (que estava bem em cima do campo santo)....
Saiu do automóvel, fechou a porta (a janela permaneceu aberta) e começou a
apontar para o objeto. Simultaneamente, aconteceram diversas coisas: o
carro parou de funcionar, bem como o rádio, e as luzes se apagaram; sentiu
um choque elétrico e seu corpo ficou amortecido e imobilizado; o braço que
estivera apontando para o objeto foi puxado de encontro ao teto do carro e
bateu com tanta força que deixou uma marca no gelo e na neve.... Mr. W.
não pôde mover um só músculo, muito embora pudesse ouvir e sua cabeça
parecesse funcionar normalmente. A seguir, as luzes e o rádio acenderam
outra vez e o objeto que estivera oscilando para frente e para trás, emitiu um
zunido, acelerou, ascendeu diretamente para o alto e sumiu acima da bruma.

Já tivemos oportunidade de falar sobre o caso da Represa de Loch Raven
quando abordamos a questão das reações das testemunhas (veja Apêndice 1,
CEII-4). Agora, em termos do objeto e de seus efeitos físicos descritos voltamos
a uma parte de uma transcrição de uma entrevista realizada pela Força Aérea
com uma das testemunhas:

Logo depois que se passa a represa.... a ponte aparece grande diante de
você a uma distância de 200 ou 250 jardas de distância. Vimos, desta
distância, aquilo que nos pareceu um objeto grande, chato, com um formato
semelhante a um ovo, dependurado entre 100 ou 150 pés acima da
superestrutura superior da ponte sobre o lago.
Diminuímos a marcha e resolvemos chegar mais perto e investigar o
objeto.... Quando chegamos a cerca de 80 pés da ponte, o carro morreu
inteiramente. Dava a impressão de estar com o sistema elétrico em pane: os
faroletes apagaram, os faróis apagaram e o motor morreu. Mr. S., que dirigia
o automóvel, apertou os freios (depois do motor ter morrido), girou a chave
na ignição por uma ou duas vezes. Não ouvimos nenhum som; a esta altura
estávamos bem amedrontados. Observamos o objeto.... durante uns 30 ou 40
segundos e, então, não tenho muita certeza sobre a sequência dos
acontecimentos nesta altura, parecia emitir um feixe de luz branca muito
brilhante e, nós dois, sentimos calor sobre os rostos. Ao mesmo tempo,
escutamos um barulho muito forte, que interpretei como uma explosão
surda.... Em seguida, muito rapidamente.... o objeto começou a subir
verticalmente. Não modificou sua posição (aspecto), pelo menos assim nos
pareceu, durante a subida. O único aspecto diverso que notamos quando se
deslocava foi o fato de ter se tornado muito brilhante e as bordas ficarem
difusas de modo que não podíamos imaginar seu formato enquanto ascendia.
Levou de 5 a 10 segundos para sumir totalmente. Estávamos muito
assustados.... Voltamos para uma cabina telefônica em cerca de 15 minutos.
Ligamos para a Unidade de Observação Terrestre, mas sem resultado.
Simplesmente não quiseram acreditar no que contávamos.

Até que o assunto OVNI conquiste suficiente respeitabilidade científica, para
que as pessoas mais jovens com imaginação científica e coragem possam
realizar investigações adequadas em torno do assunto, só nos restam as mais
insatisfatórias descrições de objetos profusamente iluminados, ovais, que
realizam as mais inacreditáveis façanhas. Teremos que nos contentar com a
afirmação de que os Encontros Imediatos do Segundo Grau envolvem um OVNI
que parece ter a estranha propriedade de ser capaz de interferir com as ignições
dos carros da forma mais inacreditável.
Como isto possa acontecer — de vez que devemos acreditar que ocorram, a
menos que testemunhas, aparentemente responsáveis não passem todas de
mentirosos patológicos — é tão estranho à física de 1972 quanto o era a origem
da energia solar para a física de 1912. Sabia-se àquela época que o sol possuía
fontes de energia completamente desconhecidas para nós; estava ali e durante
centenas de milhões de anos brilhava da mesma forma, conforme o demonstram
os ossos fossilizados de animais que viveram centenas de milhões de anos antes.
Mas como ele fazia esse passe de mágica de fabricar energia, fazendo-a surgir do
nada, não o sabíamos. Contudo, com relação a eáte caso, sabíamos que
acontecia; quando a nossa física alcançou o sol, por assim dizer, tomamos
conhecimento de como aquilo ocorria. No tocante ao Encontro Imediato do
OVNI com carros, ainda não podemos provar, fora de qualquer dúvida, que
aquilo que os observadores contam tenha realmente acontecido. Ainda estamos
na fase de coletar dados.
Por enquanto, vamos considerar a probabilidade que os motores afogam e os
faróis e rádios deixam de funcionar por coincidência, quando um motorista vê
um OVNI de perto.
Todos nós já vimos carros parados no acostamento, o capô levantado, à
espera do reboque. Seria praticamente impossível que um automóvel ficasse
totalmente imobilizado e depois de alguns instantes “consertar-se sozinho’’, mas
assim mesmo isto pode suceder. Talvez, por exemplo, um fio que estivesse
frouxo voltasse à sua posição normal de algum modo. Mas, para conjugar este
acontecimento de pouca probabilidade com o aparecimento simultâneo de uma
estranha luz descendo do céu e flutuando sobre o carro, este ficando enguiçado
somente enquanto a luz esteve presente, na melhor das hipóteses, é uma coisa
duvidosa.
É lógico que é muito mais fácil afastar totalmente a questão rotulando-a de
“psicológica” (não importa o que isto signifique no contexto) e voltar aos
assuntos corriqueiros e compreensíveis. Entretanto, não estaríamos agindo de
acordo com os elevados ideais da ciência, que significa ficar curioso com relação
a todas as coisas que acontecem no meio ambiente do homem, investigando-as e
sopesando-as e, com a maior calma, considerando as evidências.
Se a probabilidade de um acontecimento em qualquer um dos casos é
extremamente baixa, considere-se a probabilidade de coincidência na sequência
dos acontecimentos que se seguem.... se realmente ocorreram conforme foram
relatados.
Na noite de 2 de novembro de 1957, por volta das onze horas, exatamente
uma hora depois dos russos terem lançado seu segundo satélite artificial que
transportava um cachorro (isto certamente foi uma coincidência), mas antes que
os americanos tomassem conhecimento do fato, o patrulheiro A. J. Fowler,
policial de serviço em Levelland, no Texas (com uma população de 10.000
habitantes), recebeu o primeiro de vários telefonemas estranhamente
semelhantes. (Veja Apêndice 1, CEII-1).
O primeiro foi dado por Pedro Saucedo, que, com o colega Joe Salaz, andava
de carro quatro milhas oeste fora de Levelland, quando um objeto
brilhantemente iluminado, com o formato de um torpedo (segundo a descrição
de Saucedo) aproximou-se rapidamente do automóvel. Fowler escutou Saucedo
aterrorizado, relatar a incrível história de como enquanto o objeto passava
próximo em cima do carro, os faróis se apagaram e o motor morreu. Uma cópia
autenticada da declaração de Saucedo diz:

A quem possa interessar: no dia 2 de novembro de 1957, viajava rumo
noroeste pela estrada 116 no meu caminhão. Mais ou menos a quatro milhas
de distância de Levelland, vi uma chama enorme à minha direita e à frente....
Julguei que fosse um raio. Mas quando este objeto chegou aonde me
encontrava foi diferente, pois desligou o motor e os faróis do meu caminhão.
Então parei, saltei e dei uma olhada, mas ele era tão rápido e estava tão
quente que fui obrigado a me atirar no chão. Ele também tinha cores —
amarelo, branco — e tinha a aparência de um torpedo, com uns 200 pés de
comprimento e deslocando-se a uma velocidade compreendida entre 600 e
800 milhas.

Segundo o relato, assim que o OVNI se afastou os faróis tornaram a
funcionar por si mesmos e Saucedo achou que o caminhão pegou com
facilidade. Os dois homens rumaram para Whiteface, a dez milhas oeste de
Levelland e, de uma cabine telefônica, ligaram para o policial Fowler. Ao que
parece, este último achou que o homem devia ter bebido alguns drinques a mais
e afastou a narrativa da sua cabeça.
Considerando de per si, o testemunho de um motorista de caminhão
assustado, e inculto, por mais sincero que tenha sido com relação à narrativa,
tem pouca credibilidade. Mas, uma hora depois, Powler recebeu um outro
telefonema, desta feita de Mr. W. de Witharral. Fowler ficou sabendo que ele
(Mr. W.) estava dirigindo seu carro a quatro milhas leste de Levelland (a direção
na qual o objeto de Saucedo tinha desaparecido) quando encontrou um objeto
profusamente iluminado, com o formato de um ovo, com uns 200 pés de
comprimento, pousado bem no meio da pista. A medida que Mr. W. se
aproximava, o motor afogou e os faróis apagaram-se.
Segundo o observador, o objeto estava iluminado como uma imensa luz de
neon e envolvia a área inteirinha com um clarão fortíssimo. O observador
decidiu saltar do carro, mas quando assim agiu, o objeto ergueu-se e, a uma
altitude de cerca de 200 pés, a luz do OVNI ou seu clarão desapareceu por
completo. Em seguida, Mr. W. declarou não ter tido a menor dificuldade para
girar o motor do carro.
Poucos instantes depois, o policial Fowler recebeu outro telefonema, de
outro morador de Whitharral que, no momento do incidente, encontrava-se a
umas 11 milhas ao norte de Levelland. Declarou na delegacia que tinha deparado
com um objeto pousado na estrada e quando se aproximou — o leitor pode
concluir a frase — o motor do carro afogou e os faróis extinguiram-se. Porém,
assim que o objeto partiu, poucos instantes depois, tudo voltou à normalidade.
Mas as coisas não pararam por aí. Segundo um depoimento assinado que se
encontra arquivado no Livro Azul, à meia-noite e cinco daquela noite de sábado
em novembro, um calouro da Texas Tech, de dezenove anos, dirigindo seu carro
a cerca de 9 milhas a leste de Levelland, notou que o motor começava a falhar, o
amperímetro no painel passou para a marcação de descarregado, depois voltou
ao normal e o motor “começou a cuspir como se estivesse sem gasolina’’. O
carro acabou parando; depois, os faróis diminuíram e vários segundos depois
extinguiram-se.
Intrigado com o desenrolar dos acontecimentos, saiu do carro e deu uma
olhada no motor mas não encontrou nada errado. Ao fechar o capô, virou-se e,
então, ele relatou, percebeu pela primeira vez um objeto de formato oval, chato
na parte inferior, pousado mais a frente, na estrada. Avaliou que devia ter cerca
de 125 pés de comprimento e iluminava sob uma luz verde-azulada. Declarou
que o objeto parecia ser de um material parecido com o alumínio, mas sem
marcas ou outros detalhes a mostra. Amedrontado, voltou ao carro e tentou,
desesperadamente, mas em vão, colocar o motor em movimento.
Conformado, sentou-se e observou o objeto pousado na estrada bem diante
dele (não esclareceu a distância calculada entre o objeto e ele) durante vários
minutos, desejando que aparecesse um outro carro por ali. Mas isto não
aconteceu. Finalmente, o OVNI ergueu-se no ar. “quase que reto” e desapareceu
“num lapso de segundo”. Logo depois, o carro voltava a funcionar totalmente.
— Então voltei para casa muito devagarinho — prossegue o depoimento — e
não comentei com ninguém o avistamento que tive até que meus pais voltaram
para casa, após terem passado fora o fim de semana.... por medo de ser vítima da
zombaria pública. Eles convenceram-me a relatar isto e assim procedi, diante do
xerife, por volta de uma e trinta da tarde de domingo, 3 de novembro.
À meia-noite e quinze o policial Fowler ainda recebeu outro telefonema,
desta feita de um homem que fazia a ligação de uma cabine telefônica próxima a
Whitharral. Este observador relatou seu encontro com o objeto estranho num
ponto situado a cerca de nove milhas ao norte de Levelland. Novamente, o
objeto brilhante estava pousado numa estrada secundária e à medida que o carro
se aproximava, as luzes extinguiram-se e o motor parou de funcionar. Pouco
depois, o objeto ascendia verticalmente, muito depressa e, ao alcançar uma
altitude de cerca de 300 pés, suas luzes apagaram-se e ele desapareceu do campo
visual. Conforme o leitor já deve estar sabendo, a esta altura, as luzes do carro
tornaram a acender e o carro foi posto em movimento sem a menor dificuldade.
Neste ponto, o policial Fowler tinha, finalmente, percebido que alguma coisa
fora do normal estava acontecendo. Notificou o xerife e seus colegas de plantão
procedendo alguns dentre eles a sair para investigar. Dois deles reportaram luzes
fortes, vistas por alguns segundos apenas, mas não tiveram nenhum encontro que
parasse os "arros.
Quebro novamente a minha regra de só utilizar casos com testemunhas-
múltiplas pelo fato de ser este depoimento independente o relato do mesmo
objeto essencialmente, com idênticos efeitos físicos, observado em locais
próximos mas diversos. A testemunha isolada declarou que às 0:45 dirigia seu
veículo ligeiramente a oeste de Levelland, portanto, perto do local onde Saucedo
tinha localizado o objeto, umas duas horas antes, quando avistou o que se
assemelhava a uma grande bola de fogo alaranjada, distante cerca de uma milha
à frente. A bola chegou mais perto e pousou suavemente na autoestrada, a cerca
de um quarto de milha mais a frente do observador. Ela cobriu toda a parte
asfaltada da estrada.
A testemunha comunicou que o motor do caminhão que dirigia “morreu” e
os faróis apagaram-se. Enquanto isto, o objeto deixou-se ficar pousado na
estrada à sua frente, com uma iluminação tão forte que clareou toda a cabine do
seu caminhão. Contou o observador que, cerca de um minuto depois, a bola fez
uma ascensão vertical e, naturalmente, tudo voltou à normalidade. Este encontro
não foi comunicado no momento ao policial Fowler mas sim no dia seguinte.
Possivelmente, uma pista significativa para alguns, dentro do processo ainda
desconhecido, jaz no fato de que o relator declarou que quando o OVNI
aterrissou ele mudou a sua cor original vermelho-alaranjada para um verde-
azulado, mas que a ela voltou ao decolar. E, talvez seja interessante observar que
o objeto ou objetos sempre aterrissaram sobre o asfalto, a não ser por uma vez,
quando pousou numa estrada secundária cujo leito era de terra batida.
Mas isto não é tudo. À uma e quinze da madrugada, o policial Fowler
recebeu outro telefonema, desta feita de um motorista de caminhão, que dava
mostras de estar apavorado, e que era de Waco, no Texas, e que naquele
momento encontrava-se a nordeste de Levelland, “numa estrada lisa de
Oklahoma”. O homem relatou para Fowler que o motor e os faróis do veículo
tinham deixado de funcionar inesperadamente ao aproximar-se de um objeto
ovoide brilhante e iluminado, a uns 200 pés de distância. Disse que ele brilhava
intermitentemente “como o anúncio em neon” e que calculava que tivesse 200
pés de comprimento. Informou que assim que saltou do caminhão, o OVNI
partiu velozmente para cima com um ronco e desapareceu.
O policial Fowler declarou que o motorista do caminhão estava
extremamente excitado quando lhe telefonou e muitíssimo preocupado com
aquele encontro imediato. Quando o objeto partiu, o motor e as luzes do
caminhão voltaram a funcionar na perfeição.
A esta altura, já havia alguns carros-patrulha procurando o objeto relatado. O
xerife Ciem e o Delegado Pat McCulloch eram mantidos informados por Fowler
enquanto rondavam a região. A uma e meia da madrugada, enquanto passavam
pela Oklahoma Fiat Road, a quatro ou cinco milhas de Levelland, os dois
homens localizaram uma luz ovalada, “parecendo um luminoso pôr de sol do
outro lado da rodovia,” além de 300 ou 400 jardas ao sul do carro-patrulha. “Ele
iluminou o asfalto todo à nossa frente durante uns dois segundos”, disse Ciem.
Os patrulheiros Klee Hargrove e Floyd Gavin vinham atrás deles, no seu
carro, a algumas milhas. Hargrove declarou no depoimento assinado:

Eu estava me dirigindo para o sul pela rodovia conhecida como
Oklahoma Fiat Road e procurava localizar um objeto não-identificado cuja
existência tinha sido comunicada à Polícia de Levelland.... Vi um flash
estranho, que parecia estar mais adiante na estrada a uma distância de uma
ou uma milha e meia.... O flash movia-se do leste para o oeste e dava a
impressão de estar perto do solo.

O guarda Lloyd Ballen, de Anton, no Texas, também comunicou ter visto o
objeto, embora sua declaração tivesse sido: “Deslocava-se tão rápido que dava a
impressão de ser apenas um feixe de luz que se
mexia do leste para o oeste’’.
Nenhum dos carros desses patrulheiros foi afetado, porém Ray Jones, do
Corpo de Bombeiros de Levelland, que também andava a procura do OVNI,
declarou que os faróis do carro diminuíram de intensidade e o motor engasgou,
mas não morreu, assim que localizou um ‘‘feixe de luz’’ ao norte de Oklahoma
Fiat.
O policial Fowler declarou que recebeu um total de 15 telefonemas
informando a respeito do OVNI e acrescentou: “Todos que ligaram estavam
muito excitados ’ ’.
Em termos de probabilidades, que todos os sete casos de carros isolados que
foram desarranjados e em seguida rápida e automaticamente consertados depois
da passagem do estranho objeto iluminado, no espaço de umas duas horas,
pudessem ser atribuídos a coincidência está fora do universo da estatística — se
os relatos são realmente independentes (e o são, segundo os testes que usamos
exaustivamente).
Suponhamos que atribuamos o acontecimento a uma histeria em massa,
ainda que isto não inclua um mecanismo que afogue motores, extinga as luzes e
pare os rádios. Os observadores eram independentes a menos que todos
estivessem, por exemplo, escutando uma estação de rádio local que transmitisse
essas notícias4. (Não houve um único investigador que jamais tivesse abordado
esta importante questão para descobrir se as estações tinham sido notificadas e se
transmitiram as notícias.) Sabemos que Fowler, a princípio, não levou em
consideração os relatos e, é improvável que tenha notificado a estação local
quase que imediatamente. Porém, vamos supor que ele ou alguma outra pessoa o
tenha feito e que todos os carros dos rádios estivessem sintonizados nesta
estação. Ainda assim precisaríamos de uma explicação para os efeitos físicos
comunicados a menos que os atribuamos a uma fraude inequívoca e não à
histeria.
O que era necessário no momento era uma rápida reação do Livro Azul e
uma investigação séria e detalhada. O Capitão Gregory, à época chefe do Livro
Azul, realmente entrou em contato telefônico comigo, mas naquele tempo, como
a pessoa diretamente responsável pelo rastreamento do novo satélite russo,
encontrava-me virtualmente de serviço às vinte e quatro horas do dia e estava
incapacitado de cuidar do assunto ou de qualquer outro. Hoje em dia não me
sinto orgulhoso por ter concorrido para que o Capitão Gregory classificasse o
acontecimento como “ball lightning’’ — relâmpago em bola, alicerçado na
informação de que, naquele momento, tinha havido uma tempestade elétrica na
área de Levelland, Ficou demonstrado que não era este o caso. Os observadores
comunicaram mau tempo e bruma, mas nenhum raio. Além disso, se tivesse me
dignado a refletir um pouco sobre o assunto, teria logo percebido a ausência de
qualquer evidência de que uma espécie de fogo de santelmo pudesse parar
automóveis e desligar faróis.
Contaram-me que a investigação realizada pelo Livro Azul consistiu no
aparecimento de um homem a paisana no escritório do xerife, por volta das onze
e quarenta e cinco da manhã de 5 de novembro; deu dois passeios de carro
durante o dia e, depois, declarou ao xerife Clem que tinha concluído as
investigações.
Um repórter de jornal disse, posteriormente, que reconhecera o investigador
e identificou-o como um sargento da Força Aérea5
De qualquer forma, o Livro Azul foi alvo de uma forte pressão. Num
memorando, datado de 4 de dezembro de 1957, o Capitão Gregory queixava-se
que.... “como o resultado da pressão tanto por parte do público como da
imprensa.... o Secretário-Adjunto da Defesa solicitou que o ATIC entregasse
imediatamente uma análise preliminar à imprensa.... um pedido muito difícil
devido à escassez de dados6.’’
A interferência com veículos nas autoestradas é apenas um dos efeitos físicos
relatados nesta categoria de Encontros Imediatos. Existem também informações
— e possíveis de serem fotografados — a respeito de efeitos sobre coisas vivas,
sobretudo plantas e árvores7 Várias testemunhas queixaram-se de paralisia
temporária nos membros quando os encontros ocorreram muito próximo a elas.
Mais de 300 casos de “círculos devastados e chamuscados” e “marcas de
aterrissagem” relatados foram catalogados, quase sempre associados com um
avistamento de OVNIs muito próximo. Estes, como os OVNIs de um modo
geral, foram comunicados em várias partes do globo e há um padrão definido. O
protótipo fica patente através do exame de alguns poucos casos. Basicamente,
nestes casos de observação de um OVNI, como naqueles da primeira categoria
ou os da segunda que já foram por nós descritos, é visto pousado ou pairando
próximo ao solo. Depois que ele parte, a testemunha encontra uma marca
circular no chão — às vezes quase que um círculo perfeito — que,
invariavelmente, a pessoa jura não se encontrava ali anteriormente. Dentre os
casos catalogados por Phillips até aqui, 65 por cento ocorreu à noite. Se
resolvermos considerar apenas os casos de testemunhos-múltiplos do catálogo de
Phillips, de acordo com a nossa praxe geral, deveríamos abandonar dois terços
dos casos. Ainda assim, com os quase cem restantes, as testemunhas declararam
que em três quartos, o OVNI foi visto no solo e, aproximadamente, num quinto
deles, à altura da copa de uma árvore. Praticamente em todos os casos de
testemunhas-múltiplas o OVNI é visto no local onde mais tarde os observadores
descobrem as marcas, ou então, próximo a ele.
As testemunhas nestes casos selecionados incluíam algumas pessoas com
experiência técnica — médicos, piloto de linha aérea, engenheiro, comandante
de navio, supervisor de mina — bem como fazendeiro, operário de fábrica,
padre, patrulheiros, etc.
As marcas no solo são descobertas quase que imediatamente nos casos
ocorridos durante o dia e, na manhã seguinte, nos casos, mais frequentes,
observados à noite. Uma curiosidade natural leva as testemunhas ao local da
aterrissagem e ali elas encontram, geralmente, uma marca que se enquadra ao
padrão geral: ou uma depressão circular, uniforme, queimada ou desidratada, ou
um anel cujo diâmetro total pode ter 30 pés ou mais, mas que tem de 1 a 3 pés de
espessura (isto é, os diâmetros internos e externos do anel diferem nessas
medidas, enquanto o próprio anel pode ser bastante largo.) Os diâmetros que são
comumente comunicados são de 20 a 30 pés. Informa-se com muita frequência e
de todas as partes do mundo que os anéis persistem durante semanas ou meses
— às vezes anos — e que o interior do anel, às vezes todo o círculo, fica estéril
durante uma ou duas estações.
Muitas testemunhas comunicaram uma paralisia temporária nos seus
membros quando o encontro ocorreu muito próximo a elas.
O principal problema com os anéis de um OVNI é estabelecer que, na
verdade, houve uma ligação entre o aparecimento de um OVNI e as marcas no
solo ou, às vezes, com as copas das árvores chamuscadas ou danificadas. Como
era de se esperar, a tendência tem sido no sentido de ignorar os anéis e as marcas
de aterrissagem do exame científico, atribuindo-os a fraudes ou causas naturais,
deixando assim a tarefa da investigação nas mãos de um punhado de
investigadores particulares, como por exemplo Ted Phillips.
É preciso ter cuidado para não confundir estes ‘ ‘Anéis de Encontros
Imediatos” com aquilo que é vulgarmente conhecido como fairy rings, (anéis de
fadas) que nada mais são do que o crescimento de fungo, no qual este,
começando a aparecer num ponto central, vai se espalhando e formando um
círculo cada vez maior. Desconheço a existência de qualquer fungo que tenha a
capacidade de produzir queimaduras, tostados ou chamuscados em folhas ou
podem dar a estas a aparência de terem ficado expostas a um intenso calor vindo
do alto.
Retornando ao plano geral de ilustrar o protótipo através de sinopses de
casos individuais selecionados, começaremos por um que foi investigado tanto
por Phillips como por mim mesmo. Este avistamento aconteceu em Iowa, em
julho de 1969-Duas mocinhas declararam terem ficado muito amedrontadas,
certa noite, já bem tarde, quando, ao olharem através da janela de seu quarto na
fazenda, viram uma aeronave “tradicional” iluminada, deslizando para longe da
casa, acompanhada por um som parecido ao de um jato (veja Apêndice 1, CEII-
12). O pai de uma delas, um fazendeiro, tinha examinado naquela tarde o campo
que estava preparando para ó cultivo da soja e tinha-o considerado em perfeitas
condições.
Pouco depois da aparição do OVNI caiu uma chuva fina e, na manhã
seguinte, bem cedinho, o fazendeiro saiu a fim de verificar se, por acaso, a chuva
tinha causado algum dano ao pedaço de terra onde pretendia semear a soja.
Descobriu, para seu espanto, um círculo devastado com 40 pés, bem no meio do
campo, onde nada havia até meio dia antes. Não conseguiu encontrar uma
explicação para aquilo. As garotas tinham-lhe contado a sua experiência mas ele
não a levara em consideração até ver a situação do campo de soja. O local onde
as mocinhas afirmavam ter visto o objeto enquadrava-se à posição do anel de
plantas destruídas.
Várias semanas mais tarde fui até a fazenda e vi a marca circular. As folhas
de cada planta estavam pendidas nos galhos como se tivessem ficado expostas a
um intenso calor, mas as hastes não estavam nem partidas nem vergadas e não
havia marcas de qualquer tipo no solo. A impressão que se tinha era que o calor
ou o agente destrutivo tinha sido aplicado diretamente de cima e de bem
próximo mas sem um contato direto.
O objeto que poderia estar associado ao círculo, segundo as declarações das
garotas, tinha sido observado de pouca distância, através da janela, em seguida
tinha virado para o noroeste (viera do sul; as meninas estavam olhando por uma
janela que ficava voltada para o norte e o campo ficava a uma milha da casa,
mais ao sul) e desapareceu, deixando apenas um clarão alaranjado no céu.
Segundo seu relato, rodopiava na direção oposta aos ponteiros do relógio e tinha
o formato de uma tigela pouco profunda, virada para baixo e com a parte inferior
curva.
Parecia ter uma tonalidade opaca, metálica e cinza-escuro com uma faixa de
luzes laranja-avermelhada em volta, mais ou menos em dois terços do objeto,
entre a parte de baixo e a de cima. Fora a iluminação da luz alaranjada que
delineara o formato do objeto. Não se viam protuberâncias e luzes esparsas —
apenas o cinturão laranja. Quanto ao tamanho, declararam ter três ou quatro
vezes o diâmetro da lua, e uma das pequenas achou que parecia tão grande
quanto um automóvel visto à mesma distância.
O fazendeiro recusou-se a me deixar entrevistar as pequenas devido à
publicidade local, porém, ele mesmo acomodou as coisas levando-me para ver o
círculo e respondendo às minhas perguntas. Ele não desejava publicidade
posterior, não fez a menor tentativa para capitalizar sobre o acontecimento e
deixou-me com a sensação de que se tudo aquilo tinha sido uma mistificação,
seria muito difícil encontrar uma razão plausível para que tivesse resolvido
destruir uma parte de seu campo (e de que maneira?) de vez que não queria
publicidade nem pretendia auferir lucros financeiros.
Tem sido relatado com frequência, mas muito raramente cuidadosamente
documentado, de que logo após um encontro imediato com um OVNI os galhos
mais altos das árvores adjacentes foram encontrados quebrados e as folhas
murchas. Temos aqui um outro campo fértil para a investigação. Um caso deste
tipo foi posto à minha disposição através da gentileza do Dr. Peter Millman, no
Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá, muito embora ele, pessoalmente,
não o tivesse investigado. O relatório da investigação procedia do Departamento
Nacional de Defesa. A seguir, apresento um trecho do relato da aparição, que
ocorreu próximo à beira de um lago no Ontário setentrional, a 18 de junho de
1967. (Veja Apêndice 1, CEII-18.)

Enquanto voltavam de barco para casa, após terem visitado alguns
vizinhos, (as duas testemunhas) notaram um objeto brilhante pairando a 50
pés das copas das árvores, a cerca de um quarto de milha de distância.
Viraram o barco para o objeto a fim de terem condição de observá-lo mais de
perto quando, inesperadamente o objeto, desenvolvendo uma velocidade
elevada, desceu na direção do barco. Mr. G. fez uma rápida e apressada
retirada, usando a força total do motor de 75 cavalos a fim de alcançar a
praia e sair do barco. O objeto voltou, então, à sua posição de flutuação
anterior. O barco foi novamente posto em movimento e tentaram voltar à
casa que tinha acabado de visitar, mas, novamente, tiveram a impressão de
que o OVNI fazia uma descida rápida rumo ao barco. Este foi levado
imediatamente para a terra e Mr. e Mrs. G. correram para a casa de um outro
Mr. G. e acordaram todas as pessoas que ali se achavam. O objeto pairou
durante 10 a 15 minutos e, depois, desapareceu rapidamente rumo oeste-
noroeste.... Não se ouviu barulho algum em qualquer momento.... as
condições do vento eram calmas, mas Mr. G. declarou que as copas das
árvores agitaram-se visivelmente quando o objeto fez as duas descidas.

Citação do relatório oficial do governo:

O objeto foi descrito como tendo um formato oval com uma ligeira elevação
em cima, como se fosse um baldaquim. A cor era brilhante.... metálica e
vítrea. Não havia luzes visíveis, apenas as copas das árvores pareciam ter um
reflexo branco quando o objeto realizou as descidas para aproximar-se do
barco. O objeto inclinou-se durante a descida mas deu a impressão de
ascender horizontalmente e voar também horizontalmente ao desaparecer. O
objeto estava bastante claro a olho nu, com a lua refletindo sobre ele. Mr. G.
(Calculou) o tamanho aproximado em 25 a 30 pés de largura e cerca de 10 a
15 pés na parte mais grossa. Ao desaparecer, o objeto adquiriu uma
tonalidade alaranjada. As testemunhas não escutaram nenhum barulho nem
as pessoas que estavam ocupando duas cabines a menos de um quarto de
milha de distância do local onde, supostamente, o objeto flutuava. Uma das
pessoas na cabine.....observou que estivera ouvindo naquele momento um
rádio transistorizado, sintonizado na estação CKRC na faixa dos 630 KCS,
quando começou a escutar tanta estática e interferência que resolvera
desligá-lo. Olhou pela janela.... pensando que pudesse estar ocorrendo
alguma tempestade com trovões na área mas percebeu que o céu estava
límpido. Verificou o rádio e encontrou-o em perfeitas condições de
funcionamento.... Nenhuma das testemunhas tinha ingerido bebidas
alcóolicas na noite da aparição. Mr. G. tem boa visão, não precisando usar
óculos. Diversas amostras das folhas murchas foram trazidas para Winnipeg
a fim de que fossem analisadas.

O último depoimento refere-se ao inexplicável dano causado às partes
superiores das árvores que as testemunhas atribuíram ao aparecimento do OVNI.
O relatório diz o seguinte:

O Departamento de Desenvolvimento Florestal e Rural afirma não ter
condições de dar uma explicação àquilo que provocou o fenecimento das
folhas em três tipos de árvores diversas: isto é, bétula, aveleira e cerejeiras
selvagens, examinadas na área de onde foram tiradas, anteriormente, as
amostras enviadas. Não há evidência de pestes Ou insetos. Diversas árvores
estão afetadas, mas nenhuma delas segundo um padrão uniforme e os danos
são observados, sobretudo, nas partes mais altas. O Departamento Florestal
declara que a causa poderia ter sido calor, muito embora nenhuma outra
evidência (normal) indique ser esta a origem dos danos verificados.

O Dr. Millman ignorou a luz como se estivesse seguro que se tratava do
planeta Vénus, que, na realidade, àquela época, se punha a noroeste. Mas,
voltamos novamente neste caso a nos debatermos com todo o problema OVNI.
Ninguém se deu ao trabalho de descobrir, neste caso, em que direção os
observadores estavam olhando inicialmente, como também ninguém teve o
cuidado de lhes perguntar se tinham visto tanto Vénus como a luz ao mesmo
tempo. É claro, a gente pode muito bem ficar imaginando como duas pessoas de
demonstrada estabilidade emocional poderiam ter alucinações tais a ponto de
acreditar que Vénus tivesse feito duas descidas rápidas na direção do seu barco,
fazendo-as usar a força total do motor a fim de fugir. Esta é outra questão que
deveria ter sido investigada com maiores detalhes.
Caso após caso pode ser citado para construir-se o protótipo, mas isto seria
de muito pouca valia. Parece não existir uma diferença fundamental no aspecto
dos casos de Encontros Imediatos que produzem efeitos físicos e daqueles que
não produzem; em ambas as categorias precisa-se de informações mais
detalhadas.
Talvez a sinopse de outros três casos seja suficiente:

Mrs. J.... foi atraída para a janela por aquilo que lhe pareceu serem as
luzes de aterrissagem de um avião. A luz era muito forte e parecia estar
vindo direto para o quintal.... Temendo que as luzes fossem de um avião que
estivesse caindo na direção da sua casa, pegou as três filhas às pressas e
levou-as para o quintal para longe das luzes que se aproximavam, que,
àquela altura, tinham-se transformado numa enorme luz intensa branca e
muito luminosa. Ás quatro testemunhas assustadas permaneceram no
quintal.... olhando a luz que vinha baixo e rumo à casa numa linha reta;
inesperadamente, elevou-se em diversas centenas de pés, ao largo de um
grupo de sempre-verdes que contornava o pátio e mergulhou ao lado de lá de
algumas árvores altas e tocou o solo. A luz intensa iluminou a área adjacente,
inclusive o lado da casa e o quintal.... O objeto também foi aparentemente
observado por um patrulheiro da fronteira que tinha recebido um alerta pelo
rádio. Foi “seguido” aparentemente pelo mesmo objeto, que estava bastante
baixo. O patrulheiro parou o carro, desceu e observou-o desaparecer. As
quatro testemunhas (no mesmo lugar) e o policial noutro sozinho deram a
mesma descrição do objeto como tendo cerca de 30 pés de diâmetro,
ligeiramente abobadado, silencioso e com uma luz clara muito intensa.
O objeto permaneceu pousado por diversos minutos e, a seguir, ascendeu
quase que na vertical numa velocidade incrível e desapareceu rumo ao
nordeste. No local onde o objeto desceu, sobre uma camada de umas 16
polegadas de neve, havia uma marca com cerca de 10 a 12 pés de diâmetro e
o solo sob a camada de neve derretida mostrava ter sido chamuscado. Umas
esteiras de formato oval com 8 polegadas de comprimento, com uma
separação de 8 polegadas entre si, numa fila única, foram encontradas
partindo do local de pouso até um grupo de sempre-verdes, onde
desapareciam. Um mês depois a área circular ainda mostrava sinais da
“aterrissagem”.

Não mantive um contato pessoal com o caso acima (veja Apêndice 1, CEII-
21), mas incluí-o aqui porque se encaixa ao padrão e foi investigado por um
investigador de OVNI competente8.
Outro caso leva-nos até a província de Quebec, no Canadá, onde a 11 de
maio de 1969 (veja Apêndice 1, CEII-22), M. Chaput, um operário de uma
fábrica de papel, foi acordado na sua fazenda de dez acres às duas da madrugada
pelos latidos do seu cachorro. Olhando para fora viu, segundo declara o relatório
de um investigador canadense com muita experiência em OVNIs, uma fonte de
luz intensa iluminando seu campo distante uns 600 pés. Era tão forte que
iluminava toda a área â sua volta, e até mesmo a casa. Saiu e pôde, ver a sua
sombra projetada sobre a casa. Chaput, ao ser entrevistado, disse que notou que a
luz não podia se encontrar a mais de 15 pés acima do solo. A seguir, a luz sumiu,
mas pôde ouvir um som abafado ecoando à distância.
Na manhã seguipte, dirigiu-se ao local do incidente com um dos filhos
adolescentes e uma criança menor e encontrou não só uma marca circular do tipo
“tradicional” mais “Três depressões circulares, distanciadas igualmente de modo
a formar um triângulo, e uma depressão retangular com uma ou duas polegadas
de profundidade”, perto do ponto mediano da base do triângulo. O investigador
pensa que as três depressões igualmente distanciadas talvez tenham sido feitas
por pernas ou almofadas de aterrissagem e a depressão retangular tenha sido
causada por uma escotilha empurrada para baixo com muita força.
Deixando de lado a conjetura, permanece o fato de que temos aqui mais um
dos 300 e mais casos catalogados de marcas sobre o solo supostamente
associadas com um avistamento muito próximo de OVNIs. O problema que
apresentam é provocador e decepcionante ao mesmo tempo — decepcionante
porque para se poder ir mais além com o problema, necessitamos de muitos mais
dados do que aqueles com os quais contamos, ainda que o padrão que surge
através de relatórios de todas as partes do mundo parece ser suficiente para
termos uma ideia clara do assunto.
Um último caso com o qual também não tive ligação, mas que está incluído
no arquivo do Livro Azul sob a classificação de fraude, aparentemente foi
remetido para o Livro Azul pelo adido aeronáutico de Paris que, por sua vez, se
animou a escrever por causa de uma carta a ele endereçada através do Chefe-
Adjunto do Estado Maior, Inteligência e Aquartelamento da USAF. (Veja
Apêndice 1, CEII-16). A carta continha a seguinte declaração:

Embora não se dê crédito a este relatório, a experiência anterior com
incidentes desta natureza requer que os arquivos da USAF devem indicar que
algum tipo de ação oficial foi realizada, caso ocorra alguma pesquisa oficial
ou pública relacionada com este incidente.

O incidente em questão refere-se a uma aparição comunicada e ocorrida a 14
de abril de 1957, em Vins sur Caramy, na França. Se o isolarmos do contexto de
outros casos de Encontros Imediatos, não temos a menor dúvida de que parece
bizarro e deve receber um grau muito alto de Estranheza. Poder-se-ia até mesmo
tentar desculpar a atitude do redator do comentário da força aérea, Capitão G. T.
Gregory, então chefe do Livro Azul. Mas não pode ser afastado do contexto.
Trata-se, apenas, de um entre centenas de casos relatados de Encontros
Imediatos. Se aplicarmos aos OVNIs, a técnica adotada numa “galeria de tiro”
quando se derruba um pato de cada vez, a medida que vão surgindo no stand, e
estudarmos isoladamente cada caso de OVNI sem levarmos em consideração a
sua relação com casos semelhantes, torna-se relativamente fácil refutá-los sob a
alegação de que são irrelevantes e desconexos. Porém a coisa é totalmente
diversa se nos conscientizarmos de que não se trata apenas de um único pato de
cada vez mas sim de um bando aparecendo junto.
Aqui segue uma rápida sinopse do caso em si. Segundo foi comunicado, uma
curiosa máquina metálica, com o formato de um pião com cerca de 5 pés de
altura, pousou numa estrada a uns 300 pés de duas camponesas idosas francesas.
Assim que aterrissou, um matraquear ensurdecedor partiu de uma placa de
sinalização metálica que se achava a 15 ou 20 pés do local do pouso. A placa
vibrava de forma violenta.
Os gritos das mulheres e o barulho do sinal foram ouvidos por um homem
que se achava a uns 300 metros de distância. Pensando que tivesse havido um
desastre, foi correndo ao encontro das camponesas. Chegou ainda em tempo de
ver o “pião” pular do asfalto a uma altura de uns 20 pés, virar e aterrissar pela
segunda vez, desta feita noutra estrada que cruzava com a primeira.
Enquanto virava, sobrevoou outra placa de sinalização da estrada e esta,
como a anterior, vibrou com violência, ressoando como se tivesse sido sujeita “a
um impacto violento que se repetia ritmicamente”. Contudo, a máquina não fazia
o menor ruído. Não passou perto de um terceiro sinal (ao que parece metálico
também). Este ponto assume importância se aceitarmos o testemunho da polícia
local que, com o investigador, colocou uma bússola perto dos dois sinais que
tinham vibrado e encontraram um desvio de cerca de 15 graus. A bússola
colocada junto do Renault no qual tinham ido até o local só indicou um desvio
de 4 graus, porém não notaram nada com relação ao terceiro sinal que não tinha
vibrado.
O Livro Azul classificou este caso como Fraude sem qualquer prova, ao que
parece por acharem que não podia ser outra coisa. No entanto, o auxiliar da
polícia francesa naquela área responsabilizou-se pela integridade das
testemunhas — “Afirmou logo que as testemunhas não só são dignas de
confiança como também estão acima de qualquer suspeita de fraude”;
Se procurarmos uma explicação “natural” para este caso, sugeriria uma
explicação meramente meteorológica ao invés de uma fraude. Pode-se
argumentar, embora eu não o faça, que um redemoinho de areia com a aparência
de um pião aproximou-se, bateu de encontro aos sinais, tinha a aparência
metálica, pousou em cada estrada por uma vez e “magnetizou” os sinais.
Como não tive oportunidade de entrevistar os observadores pessoalmente, só
posso alicerçar o meu julgamento no relatório do investigador francês que
(segundo me parece realizou um bom trabalho com relação ao interrogatório,
conforme fica patenteado através da leitura do relatório por inteiro). Um
redemoinho de areia não se encaixa, simplesmente, nos fatos relatados.
Este é um dos poucos casos incluídos neste livro com os quais não tive
algum tipo de envolvimento pessoal. Talvez o leitor deseje excluí-lo do resto da
evidência, usando-o, apenas, como um exemplo da atitude oficial com relação ao
fenômeno OVNI. Mas o caso se encaixa a todo o resto.
O protótipo do Encontro Imediato de Segundo Grau delineia-se claramente
através dos casos selecionados que acabamos de apresentar, mas o leitor e eu
devemos estar desapontados por não dispormos de uma quantidade mais
significativa de dados para retratá-lo. Talvez o Grau de Estranheza destes casos
seja tão elevada que desafia literalmente a descrição que a traduz para os termos
quantitativos conhecidos da física e da astronomia. No que diz respeito à
estranheza, encontramos uma categoria ainda ríiais assombrosa na que se segue a
esta, nos Encontros Imediatos de Terceiro Grau.

NOTAS

10. ENCONTROS IMEDIATOS DE TERCEIRO GRAU

Eu.... acenei. Para nossa surpresa a figura (no OVNI) fez o mesmo....
Todos os rapazes da missão soltaram a respiração de repente em espanto....
— Extraído do relatório feito pelo Padre Gill a respeito de um
avistamento em Boainai, Papua, Nova Guiné.

Chegamos agora ao aspecto mais incrível e mais estranho de todo o
fenômeno OVNI. Para ser sincero, omitiria com prazer esta parte se o pudesse
fazer sem prejudicar a integridade científica: Encontros Imediatos de Terceiro
Grau, aqueles em que são relatadas a presença de criaturas animadas. (Uso a
palavra “animadas” ao invés de “vivas” para deixar aberta a possibilidade de
robôs ou algo diferente de “carne e osso”). Estas criaturas têm sido denominadas
de várias formas “ocupantes”, “humanoides”, “Ufonautas” e até mesmo
“OVNIsapiens ou UFOsapiens.
Infelizmente, não se podem omitir dados simplesmente porque talvez não
sejam do agrado de alguém ou não estejam encaixadas às ffoções que se têm.
Nós nos retraímos diante de relatórios sobre ocupantes, muito embora
poderíamos ter vontade de ouvir atentamente relatos a respeito de outros
encontros com OVNIs. Por que? Neste “festival de absurdos”, segundo a
denominação usada por Aimé Michel para esta parte do fenômeno OVNI, por
que poderia ser diferente o relato de um carro parado na autoestrada por uma luz
ofuscante que partia de um eneenho desconhecido daquele a respeito de um do
qual saíram duas ou três criaturas animadas, tanto no tocante à estranheza como
ao absurdo essencial?
Não há nenhuma razão lógica, mas ainda assim confesso sentir um certo
preconceito que é difícil de explicar. Será a confrontação ao nível animado que
nos perturba e repulsa? Talvez enquanto é a nossa própria inteligência que
contempla o relatório sobre uma máquina, apesar de estranha, continuamos a nos
sentir um tanto superiores diante de tal contemplação. Encontros com seres
animados, possivelmente com uma inteligência de qualidade diversa da nossa, dá
uma nova dimensão da nossa, dá uma nova dimensão ao nosso medo atávico do
desconhecido. Traz consigo o espectro da disputa pelo território, a perda da
hegemonia planetária.... medos que possuem raízes profundas.
Outra coisa nos incomoda: os humanoides parecem ser capazes de respirar
nossa atmosfera, adaptar-se à pressão do nosso ar e à força da gravidade com
pouca dificuldade. Algo nos parece terrivelmente errado sobre isso. Isto
implicaria que eles devem ser de um lugar — outro planeta? — muitíssimo
parecido com o nosso. Talvez o nosso mesmo? Mas como? Ou será que são
robôs que não precisam se adaptar ao nosso meio ambiente?
Nosso senso comum rejeita a própria ideia de humanoides e dá origem a
muita brincadeira, escárnio e piadas a respeito de homenzinhos verdes. Eles
tendem a atirar todo o conceito OVNI por terra. Talvez os OVNIs pudessem
realmente existir, dizemos, mas humanoides? E se estes são realmente fantasias
da nossa imaginação, o mesmo deve acontecer com os OVNIs comuns. Mas
estes estão apoiados em pessoas que gozam de reputação e não podemos aceitá-
los, simplesmente, como interpretações errôneas. Será que todos esses relatores
de OVNIs estão realmente doentes? Em caso afirmativo, que doença será esta?
Será que todas estas pessoas estão afetadas por algum “vírus” estranho que não
ataca pessoas “de bom senso”? Mas que moléstia estranha deve ser esta, que
ataca as pessoas em todos os caminhos da vida, sem levar em consideração sua
especialização ou vocação e fazendo-as, por um período de tempo muito
limitado — às vezes por apenas alguns minutos — comportarem-se de modo
estranho e ver as coisas que são refutadas pelas atitudes e ações certas e estáveis
que sempre mostraram durante outros momentos de suas vidas.
Ou será que os humanoides e os OVNIs anunciam igualmente uma
“realidade” paralela que, por algum motivo, só se manifesta a algum de nós e por
períodos muito limitados? Mas qual seria esta realidade? Há algum filósofo na
casa?


Existem muitas perguntas e muita informação relacionada que é difícil de
entender. Contudo, o fato é que os encontros com ocupantes não podem ser
rejeitados: são numerosos demais. Existe uma coletânea de literatura,
surpreendente e profundamente provocante sobre o assunto dos humanoides.
Num catálogo preparado por Jacques Vallée, que contém 1.247 casos de
Encontros Imediatos, 750 são relacionados a casos nos quais foi contada uma
aterrissagem da aeronave. Destes, mais de 300, ou cerca "de 40 por cento, foram
relatadas informações sobre a existência de humanoides vistos dentro ou em
volta do aparelho pousado. Para ambos os tipos, pousos com ou sem
humanoides, cerca de um terço era composto de casos com múltiplas
testemunhas l.
Ninguém seria capaz de suspeitar a magnitude do problema do humanoide
através da leitura dos arquivos do Livro Azul da Força Aérea2. (Dos milhares de
relatórios recebidos pela Força Aérea, apenas 48 foram classificados como
aterrissagens de OVNIs e em apenas 12 destes apareceram os humanoides —
isto durante os anos em que tive acesso aos relatórios.) Durante o mesmo
período foram relatados 223 casos de humanoides originados em diversas partes
do mundo.
O modo como a Força Aérea resolveu os poucos casos de aterrissagens e,
menos ainda, aqueles que envolviam humanoides é, em si mesmo, de
considerável interesse3. Apesar da concepção errônea de que os relatórios sobre
OVNIs deste tipo são resultantes de alucinações, somente 2 dos 48 casos foram
atribuídos a isto. Seis foram classificados sob um termo também um tanto ou
quanto vago “Psicológico”; dois, “Relatórios que não merecem confiança”, que
na terminologia do Livro Azul significa, na realidade, “loucos”; seis foram
considerados como fraudes mas calcados em provas escassas. A maioria foi
considerada como contendo “dados insuficientes” — um termo muito ao gosto
do Livro Azul quando se tinha a impressão de que daria muito trabalho
conseguir dados adicionais.
De um modo geral, não havia praticamente um prosseguimento das
investigações e, quando havia, era de pouca monta. Houve nove casos de
relatórios envolvendo aterrissagens de aeronaves desconhecidas, mas ainda
assim não se fez a menor tentativa no sentido de verificar um maior número de
fatos. Foram alcançados níveis elevadíssimos de “avaliação criativa” ao atribuir
o famoso caso de Socorro, no Novo México, a uma luz no solo e ao ainda mais
célebre caso de Hill a uma inversão do radar, uma avaliação singularmente
inadequada de vez que nenhuma observação através de radar fazia parte deste
caso específico naquela hora da noite.
Alguém pode estar se perguntando porque a Força Aérea só recebeu 12 dos
casos relatados como Encontros Imediatos de Terceiro Grau, num total de 65 nos
Estados Unidos, ou, por falar nisso, apenas 48 dos 190 casos de aterrissagens nos
Estados Unidos. Quero crer que muitos destes casos “morreram”- na base aérea
local para a qual foram relatados. Como já vimos, a política padrão do Livro
Azul era considerar como “caso” apenas aqueles incidentes que chegavam a ele
através dos canais oficiais da Força Aérea. Como as aterrissagens e, sobretudo,
“homenzinhos verdes” não deveriam ser levados a sério (por uma política
oficial), é provável que o oficial responsável na base local tenha considerado
desavisado transmitir mensagens
“absurdas”.
E difícil comprovar esta suposição, mas ainda assim sabemos através de
fontes independentes que as aterrissagens de OVNIs foram comunicadas como
tendo ocorrido na Base Aérea de Blaine (12 de junho de 1965), na Base Aérea de
Cannon, no Novo México (18 de maio de 1954) e na Base de Deerwood Nike
(29 de setembro de 1957). Nenhuma delas foi comunicada ao Livro Azul, e se
houve avistamentos nas bases militares ou aéreas e não eram relatados, é
perfeitamente cabível que os relatórios a respeito de aterrissagens — e sobretudo
os casos com ocupantes — que eram feitos tão somente através de telefonemas
dados por civis às bases da Força Aérea eram considerados como tendo se
originado de algum “maluco” e, portanto, não eram merecedoras de atravessar os
canais militares. Um caso deste tipo, para o Livro Azul, teria sido considerado
solucionado a nível local.
Durante todo o tempo em que fui consultor para o Livro Azul, somente em
duas oportunidades pediram-me para dar uma olhada em casos de aterrissagens:
o caso de Socorro, no Novo México, que envolvia ocupantes (veja Apêndice 1,
CEIII-1) e no caso de Dexter em Michigan, que foi uma aterrissagem
comunicada apenas por duas das diversas pessoas envolvidas. Julguei o caso de
Socorro extremamente convincente mas o de Michigan não me convenceu, ainda
que o último tenha criado um interesse maior junto ao público. Portanto eu
poderia fugir, sem maiores problemas, desta bizarra categoria, baseado no fato
de que escolhi para julgar apenas aqueles acontecimentos nos quais estivesse
diretamente envolvido, uma regra que segui, quase que sem exceção, nas outras
cinco categorias de OVNIs. Porém , apesar da minha falta de conhecimento
direto com os Encontros Imediatos de Terceiro Grau, sinto-me na obrigação de
chamar a atenção para o que foi relatado nesta categoria em todas as partes do
mundo. Assim agirei, transmitindo ao leitor os diversos relatos disponíveis nas
revistas sobre OVNIs, as mais conceituadas, e já citadas, e em dois livros
inteiramente dedicados ao assunto: The Humanoids (editado por Charles Bowen)
e Passport to Magonia (de Jacques Vallée).
O leitor verá que há uma enorme semelhança nas narrativas dos casos de
ocupantes nos relatórios vindos de todas as partes do mundo. Ficará sabendo que
eles são similares não só no que diz respeito à descrição da aparência da maioria
dos humanoides, mas também nas ações relatadas. Tomará conhecimento de que
os ocupantes, pelo que afirmam as testemunhas, apanham amostras de terra e
pedras e levam-nas para bordo da sua aeronave, da mesma forma que fizeram os
astronautas americanos na lua; verá que demonstram, aparentemente, um
interesse pelas instalações e veículos humanos; chegará, até, a ver que eles
fogem diante de coelhos, cachorros e fertilizantes!
Seria muito útil, parece-me, se pudéssemos provar que os Encontros
Imediatos de Terceiro Grau diferem, sistematicamente, das outras cinco
categorias de OVNIs. Em seguida, poderíamos, com uma certa satisfação,
ignorá-los. Mas eles não diferem de forma alguma — por distribuição
geográfica, pelo tempo de ocorrência, em números e especialmente nas espécies
de observadores — exceto que o número relativo de casos com múltiplas
testemunhas é ligeiramente menor (cerca de um terço de casos de Terceiro Grau
têm diversas testemunhas) e que embora a testemunha pareça representar a
mesma parte da população daquelas das outras categorias, não são tantos os
observadores que possuem qualquer tipo de formação técnica. Não há pilotos,
operadores de tráfego aéreo, operadores de radar ou cientistas que tenham
comunicado terem visto humanoides, segundo meus registros. Contudo, há
pessoas com outros tipos de posições responsáveis: sacerdotes, policiais,
engenheiros eletrônicos, funcionários públicos, diretores de banco, militares,
mineiros, fazendeiros, técnicos, carteiros, engenheiros ferroviários, médicos e
outros empregados bem pagos e dignos de crédito.
Evidentemente, não são apenas os doidos que informam ter visto
humanoides. Na verdade, não conheço um relatório deste tipo que tenha partido
de uma pessoa que demonstrasse perturbação mental. Possivelmente, não parece
haver tanta gente com um alto nível de especialização técnica e sofisticação que
tenha feito relatórios envolvendo humanoides como o fizeram em outros
relatórios sobre OVNIs exatamente porque o próprio treinamento e sofisticação
levaria as pessoas deste tipo a se precaverem a fim de não se exporem ao
ridículo e à zombaria.
Em resumo, parece que não podemos subdividir o fenômeno OVNI,
aceitando algumas partes e rejeitando outras. Devemos estudar todo o fenômeno
ou nenhuma parte dele. Os Encontros de Terceiro Grau devem ser incluídos
neste livro, com a maior justiça.
Procurando seguir o melhor que possa a política que adotei para discutir
apenas aqueles casos nos quais tive um envolvimento pessoal, escolherei aqueles
poucos casos nos quais tive, ao menos, um envolvimento superficial e dos quais
consegui obter alguma documentação. Infelizmente, o caso mais convincente
chegou a mim através de fontes particulares ao preço da anonimidade e,
portanto, não pode ser amplamente discutido.
Este caso contou com quatro observadores (veja Apêndice 1, CEIII-2), todos
eles chefes de família ocupando posições de responsabilidade. Dois estão
trabalhando num setor que exige autorização militar e seus empregos ficariam
em risco caso o anonimato fosse violado (Digo isto não para espicaçar, mas sim para enfatizar
aos meus colegas cientistas como é difícil conseguir dados neste campo. Num certo sentido, regredimos aos
dias que antecederam à criação da Roygl Society na Inglaterra, quando os cientistas eram obrigados a se
esconder, por assim dizer, percorrendo ruelas como membros do "Colégio Invisível"). Segundo o
relato, este caso ocorreu em Dakota do Norte, em novembro de 1961, sob chuva
e neve, já noite avançada. Os quatro homens observaram a aterrissagem de uma
aeronave iluminada num campo totalmente desimpedido e deserto e, pensando
que um avião se encontrava em sério perigo, pararam no acostamento, pularam a
cerca e foram correndo rumo àquilo que julgavam ser um avião. Sua surpresa foi
compreensivelmente grande quando descobriram humanoides em volta do
engenho, um dos quais acenou, ousadamente, para que se afastassem e de uma
forma ameaçadora. Um dos homens disparou um tiro contra o humanoide, que
caiu por terra como se tivesse sido atingido. A aeronave partiu imediatamente e
os homens fugiram.
No dia seguinte, muito embora não tivessem contado a ninguém a sua bizarra
experiência, segundo fui informado, um dos homens foi chamado no emprego e
conduzido à presença de alguns homens que nunca vira antes. Pediram-lhe para
que os levasse até sua casa, onde examinaram a roupa que ele usava na noite
anterior, sobretudo as botas, e partiram sem dar a menor explicação. Pelo que me
consta, nenhum dos homens envolvidos tornou a ouvir qualquer referência ao
incidente. Aí está o mistério.
Dois outros casos, aquele de Temple, em Oklahoma, (23 de março de 1966)
e o de Atlanta, no Missouri; 3 de março de 1969), devem ser omitidos devido às
nossas regras; trata-se de casos de apenas uma testemunha.
Um caso que deveria ser excluído para que obedecêssemos às mesmas regras
é o acontecimento, extremamente interessante, de Socorro, no Novo México, a
24 de abril de 1964 (veja Apêndice 1, CEIII-1), porém como examinei este caso
em bastante detalhes tocarei nele.
Embora houvesse outras testemunhas que comunicaram ter visto o OVNI,
somente Lonnie Zamora, um policial de Socorro, encontrava-se numa posição
para poder ver os ocupantes. Minhas investigações iniciais, orientadas no sentido
de arrasar com a narrativa de Zamora, procurando contradições e também
tentando demonstrar que ele não era uma testemunha fidedigna, foram
infrutíferas. Fiquei impressionado com a alta consideração que os companheiros
tinham por ele e eu, pessoalmente, desejo hoje em dia aceitar o seu testemunho
como verdadeiro, sobretudo porque ele se enquadra ao padrão global.
O incidente de Socorro é um dos clássicos da Literatura sobre OVNI e será
bastante um resumo sucinto. No dia 24 de abril de 1964, à tarde, Zamora estava
de serviço. Por volta das 3:45, achava-se ele envolvido na perseguição a um
motorista que ia em alta velocidade ao sul da cidade. Perdeu o carro de vista
quando sua atenção foi atraída para um engenho que descia soltando uma chama.
Ao mesmo tempo ouviu ruídos de explosão que vinham da direção do aparelho.
Embora ainda se achasse a alguma distância, pôde ver o aparelho pousado, que
se parecia com um automóvel em pé e ele notou a presença de duas pessoas
usando macacões brancos junto do objeto.
A seguir, ele perdeu de vista o objeto devido ao terreno acidentado e só
voltou a vê-lo depois de uma curva quando alcançou uma parte mais elevada da
estrada. Muito surpreso, viu um objeto metálico ovoide pousado num vale raso
sobre, pernas que saíam do engenho. A essa altura, encontrava-se a menos de
150 pés de distância, bastante próximo para avistar uma insígnia no lado do
aparelho. Sons altos que partiam do interior do objeto fizeram Zamora procurar
uma proteção o mais rápido que lhe foi possível. Olhando para trás por cima do
ombro, ele viu o aparelho ascender verticalmente e decolar na horizontal,
desaparecendo pouco depois na direção do “Six Mile Canyon”.
Zamora já tinha comunicado pelo rádio à base o que vira e o Sargento
Chavez já estava a caminho. Se não tivesse feito uma curva errada, o sargento
ainda teria chegado a tempo de ver a aeronave. Mas, quando chegou encontrou
Zamora tremendo da cabeça aos pés.
— O que foi, Lonnie? Até parece que viu o demônio! — disse Chavez.
— Talvez tenha mesmo — retrucou Zamora.
Vários dias depois, visitei o local e verifiquei as marcas de aterrissagem e as
plantas carbonizadas. Chavez, contou-me durante uma demorada entrevista, ter
visto as marcas e as plantas carbonizadas, que ainda fumegavam quando ele
chegou ao local.
As medidas tomadas no local mostraram que as diagonais do quadrilátero
formado pelas quatro marcas de aterrissagem cruzavam-se quase que exatamente
em ângulo reto. Um teorema geométrico declara que se as diagonais de um
quadrilátero encontram-se em ângulo reto, os pontos medianos dos lados do
quadrilátero situam-se na circunferência de um círculo e, por isto, é de
considerável interesse o fato de que o centro do círculo ali formado coincidia,
virtualmente, com a marca principal de queimado no solo. Sob certas
circunstâncias, o centro de gravidade do aparelho deveria ter estado diretamente
em cima do centro do círculo, dando, por isto, à presença do queimado um maior
significado.
Durante as minhas sucessivas visitas prossegui com as investigações sobre a
credibilidade de Zamora e ouvi referências a uma testemunha não identificada
que tinha parado num posto de gasolina um pouco ao norte da cidade a fim de se
abastecer. Enquanto ali se achava, falou a respeito do encontro que tivera, um
pouco ao sul da cidade, com uma estranha aeronave que parecia estar em apuros
e que se preparava para aterrissar. Disse que devia estar com problemas pois
tinha visto um carro-patrulha (o de Zamora) dirigindo-se através do terreno
arenoso na sua direção. Não pôde identificar o aparelho como um avião comum.
Esforcei-me então ao máximo para que a Força Aérea tentasse através do
serviço de inteligência de localizar a outra testemunha, mas ela não demonstrou
o menor interesse em fazê-lo. Pensei, naquela época, que se o caso fosse do
âmbito federal e envolvesse narcóticos ou falsificação de dinheiro, o FBI teria,
sem dúvida alguma, localizado a testemunha que faltava. Porém como se tratava
de um simples caso de OVNI, o habitual processo de nada se fazer foi
observado.
O Encontro Imediato de Terceiro Grau que contou com o maior número de
testemunhas foi o ocorrido a 26-27 de junho de 1959, envolvendo o Reverendo
William Booth Gill, um sacerdote anglicano e graduado pela Universidade de
Brisbane, que chefiava uma missão em Boainai, na Papua, Nova Guiné. (Veja
Apêndice 1, CEIII-3-) A primeira vez em que ouvi referências detalhadas do
caso foi ao passar pelo Ministério da Aeronáutica da Grã-Bretanha durante uma
visita oficial realizada em 1961 através do Livro Azul.
Fiquei sabendo, naquela época que o ponto de vista militar britânico com
relação ao problema OVNI era, fundamentalmente, idêntico ao do Livro Azul;
de fato, o governo inglês (assim como outros governos) esperavam que a Força
Aérea dos Estados Unidos resolvesse o problema. Informaram-me, quase que
bruscamente, que tendo em vista os fundos e facilidades colocados à disposição
da Força Aérea Americana não lhes restava quase nada a fazer sobre o problema
e que, francamente, achavam que a Força Aérea estava fazendo algo, mas com
resultados negativos.
O Ministério da Aeronáutica Britânico não levou a sério o avistamento do
Padre Gill e entregaram-me, quase que aliviados, o relatório que tinham sobre o
assunto; a impressão era que ele estava atrapalhando e ocupando espaço nos seus
arquivos. A partir daí tive um acesso completo ao relatório e recebi também uma
gravação extensa feita pelo Reverendo Gill e, mais recentemente, uma gravação
com uma hora de duração feita pelo meu colega Fred Beckman com o
Reverendo Gill.
Antes que emitamos um julgamento sobre este caso, creio que o Reverendo
Gill deva ser ouvido. Este é de uma sinceridade absoluta, como o demonstram
diversos trechos das gravações. Fala de um modo, descansado, acadêmico,
entrando calmo e cuidadosamente em detalhes. O tipo e o conteúdo das fitas são
profundamente convincentes. Seria bem difícil que um sacerdote anglicano
engendrasse uma história, envolvendo mais de vinte e quatro testemunhas,
apenas com a intenção de mistificar. Os que criticam este caso, geralmente
ignoram que este relatório é apenas um entre cerca de outros 60 na área de Nova
Guiné, quase que na mesma época, todos investigados por um colega de Gill, o
Reverendo Norman Cruttwell, que redigiu um relatório cobrindo toda a série5,
dos quais apenas um, o caso em questão, envolvia humanoides.
O Departamento do Ar, Reino Unido da Austrália, no entanto, estava em
dúvida, muito embora não me conste que tenham entrevistado o Padre Gill
pessoalmente. Assim escreveram a um colega:

CANBERRA ACT

28 de janeiro de 1970

Prezado Senhor,
Acuso o recebimento de sua carta, datada de 12 de novembro de 1969,
com referência a um avistamento aéreo incomum, em Boainai, Papua, Nova
Guiné. A RAAF não chegou a nenhuma conclusão definitiva a respeito do
relatório e pesquisas realizadas junto ao Reino Unido e os Estados Unidos
não acrescentaram pistas ou respostas.
Como resultado disto, os avistamentos foram classificados como
fenômenos aéreos, porém, há uma maior probabilidade de que se tratasse de
reflexos sobre uma nuvem de uma fonte de luz maior de origem
desconhecida.
Sinceramente.

A carta está certa num sentido. Quando o OVNI profusamente iluminado
visto pelo Reverendo Gill e seus diversos companheiros ascendeu verticalmente
para o alto, iluminou as nuvens enquanto por elas passava. A carta também está
perfeitamente coerente ao declarar que a fonte de luz era de origem
desconhecida!
Aqui estão alguns trechos tirados do relatório das aparições na Nova Guiné.
Primeiro, extraídos de anotações feitas num caderno à época dos avistamentos.

Os avistamentos de Boainai culminaram com um período relativamente
curto mas impressionantemente agudo de atividade de OVNIs na vizinhança
da Nova Guiné oriental. Os OVNIs foram observados tanto pelos nativos da
Papua como por eurp-peus.Os avistamentos foram comunicados por papuas
instruídos e por nativos, totalmente analfabetos, praticamente sem contato
com as civilizações ocidentais e totalmente ignorantes a respeito de “discos
voadores”.

A carta seguinte foi enviada pelo Padre Gill a um amigo de uma missão das
vizinhanças:

Caro David,

Preste atenção nestes dados extraordinários. Estou quase convencido
sobre a teoria da “visitação”... . Não mais duvido da existência destas
“coisas” (de fato, isto já não me é mais possível de vez que vi uma delas
pessoalmente), mas a minha mente simples ainda exige prova científica antes
que possa aceitar a teoria do espaço exterior. Estou inclinado a acreditar que,
provavelmente, muitos OVNIs devem ser alguma forma de fenômeno
elétrico ou, quem sabe, algo gerado pelas explosões de bombas
A vida é, por vezes, estranha, não acha? Ainda ontem, escrevi-lhe uma
carta.... dando-lhe minhas opiniões acerca dos OVNIs. Agora, menos de
vinte e quatro horas mais tarde, mudei um pouco de opinião. Ontem à noite,
nós que nos encontramos em Boainai, tivemos uma experiência de atividade
de OVNIs, com duração de umas 4 horas e não tenho dúvidas, de forma
alguma, de que eram dirigidas por seres de algum tipo. Por vezes a
experiência foi extasiante. Aqui vai o relato. Por favor mostre-o aos outros,
mas tome muito cuidado pois não possuo cópia....

Caro David,

atômicas, etc.... Tudo é, para mim, de difícil compreensão; prefiro esperar
que algum rapaz esperto consiga agarrar um para exibi-lo na Martin
Square....
Seu,
William Duvidoso.

Exatamente no dia seguinte, esta carta era escrita à mesma pessoa:

Viva,
Bill Convencido.
P.S. Você acha que Port Moresby deve ser posto ao corrente?

Num discurso, disse o Reverendo Gill:

....e quando já estava quase dobrando o canto da casa, algo atraiu a
minha atenção lá no céu e olhei para cima na direção do poente. E lá
avistei, num ângulo de 45 graus, aquela luz descomunal. Está claro que
nem mesmo naquele momento imaginei que fosse um disco voador.
Pensava, ora, há pessoas que podem imaginar coisas assim, mas eu....
nunca. E lá estava ele. Chamei Eric Kodawara e disse: ‘ ‘O que está
vendo lá em cima?” Respon-deu-me ele: ‘‘Acho que há uma luz”. Falei:
‘‘Muito bem, entre e vá contar ao professor Steven Moi. Diga-lhe para
que venha até aqui depressa”. E, então, Eric afastou-se e reuniu todas as
pessoas que encontrou e lá ficamos todos nós com os olhos presos
naquilo. A seguir, dirigimo-nos para o campo de jogos e o avistamento
continuava. Tenho tudo registrado aqui. A esta altura já tinha resolvido
pegar um caderninho de notas e um lápis e pensei, ora, se alguma coisa
vai acontecer será agora e decerto, amanhã, quando despertar vou achar
que foi tudo um sonho e que, na verdade, não vi. Se escrever tudo aqui a
lápis, saberei, pelo menos, que não estava sonhando.

Estes são os trechos tirados do caderno de notas:

Hora: 18:45, céu com algumas nuvens baixas. Avistei forte luz
branca, direção noroeste. 18:50, chamei Steven e Eric. 18:52, chega
Steven e confirma, não é uma estrela. 18:55 mando Eric chamar outras
pessoas. Um objeto movimenta-se na parte superior.... homem? Agora
três homens.... que se deslocam, brilhando, fazendo alguma coisa no
convés. Desapareceram. 19:00 Homens 1 e 2 novamente. 19:04 tornam a
desaparecer. 19:10 camada de nuvens sobre o céu a uma altitude de
aproximadamente 600 metros. Homem 1, 3, 4, 2 (apareceram nesta
ordem). Luz azul elétrico muito tênue. Homens desapareceram, a luz
mantém-se. 19:20 o OVNI desaparece em meio as nuvens. 20:28 céu
claro, nuvem pesada sobre Dogura. Avistado o OVNI acima de mim.
Chamei o pessoal da estação. Deu a impressão de descida, ficou maior.
20:29 segundo OVNI localizado sobre o mar — às vezes plainando.
20:35 mais outro sobre a Aldeia Wadobuna. 20:50 Nuvens novamente
em formação. O OVNI maior estacionário e maior. Outros surgem e
desaparecem em meio as nuvens. Enquanto descem através das nuvens, a
luz reflete-se como um halo imenso de encontro às nuvens — a menos de
600 metros, talvez menos ainda. Todos os OVNIs muito nítidos. A nave
“mãe” continua grande, nítida, estacionária. 21:05 nuvens esparsas,
números 2, 3, 4 desaparecem. 21:10 número 1 desaparece acima no meio
das nuvens. 21:20 A nave “mãe” volta. 21:30 “Mãe” desaparece, vai
embora por sobre o mar na direção de Giwa. 21:46 OVNI reaparece
acima-, está flutuando. 22:00 continua no mesmo lugar, estacionário.
22:10 plainando, vai para trás de uma nuvem. 22:30 plainando muito alto
num pedaço de céu limpo entre as nuvens. 22:50 céu muito encoberto,
rtâo há sinal do OVNI. 23:04 chuva pesada. Folha de dados de
observação de OVNIs 18:45 — 23:04. Assinado William B. Gill.

A narrativa feita pelo Reverendo Gill sobre o acontecimento contém esta
informação:

19:12 homens 1 e 2 apareceram — luz azulada. Devo mencionar aqui
que o teto era de aproximadamente uns 600 metros e calculei esta altura
tendo como base uma montanha. E tudo isto, é claro, aconteceu bem abaixo
do teto de nuvens. A esta altura, num espaço de 25 minutos, o céu tinha
ficado todo encoberto. Às 19:20 o OVNI meteu-se por entre as nuvens, bem
no meio delas. Às 20:28 o céu começava a limpar novamente, embora
continuasse pesado, a camada de nuvens estava mais peSada sobre Giwa.
Então avistei o OVNI sobre ela. Tornei a chamar o pessoal da estação pela
segunda vez naquela noite por volta das oito e vinte e oito e ele pareceu
descer, ficar maior.... Outros iam e vinham por entre as nuvens.... Lembro-
me que tínhamos então nuvens esparsas. Eles estavam descendo por entre as
nuvens e o brilho dos discos refletia-se na base das nuvens e então eles
tornavam a passar por entre as nuvens e davam a impressão de estarem se
divertindo com aquilo.
Depois veio a noite seguinte e esta é que foi interessante. Uma aeronave
grande foi avistada por uma das enfermeiras do hospital às 18:00.... A coisa
aconteceu assim: estávamos caminhando, e esta coisa desceu a uma altura
que calculamos fosse a mais baixa até aquele momento, e praticamente
nunca mais o veríamos de tão perto. Ele deixou-se cair quando estava a uns
90 ou 150 metros. Não estava escuro e podíamos vê-lo com toda a nitidez.
Continuava brilhante e faiscante, mas parecia muito perto e nítido. E lá
estava novamente a pessoa no convés, como o denominei, na parte superior.
E a professora disse “Fico imaginando se ele vai aterrissar no campo de
jogos”. Eu disse: “Por que não?” E então acenamos, assim, — Alô — e
ficamos um tanto surpresos a esta altura pois a “coisa” acenou de volta. E
então Eric, que estava comigo, meu companheiro constante, acenou com os
dois braços, juntalmente com um outro rapaz, e as figuras acenaram também
com os dois braços.

Embora eu não tenha investigado pessoalmente o caso Gill da Nova Guiné,
atualmente um dos “clássicos”, fico impressionado pela qualidade e número das
testemunhas e pelo caráter e modo de proceder do Reverendo Gill, conforme fica
revelado através de seu relatório e gravações.
O Dr. Donald Menzel, por si mesmo denominado “o arquiini-migo dos
OVNIs”, dé Harvard, adotou um ponto de vista característico e oposto. Na sua
Análise do Caso Papua-Padre Gill (veja Apêndice 2), ele refuta o caso todo
como se fosse um avistamento de Vénus baseado na hipótese de que o
Reverendo Gill não estava usando seus óculos no momento. Infelizmente, não se
deu ao trabalho de verificar os seguintes itens: O OVNI, às vezes, foi visto sob
uma camada de nuvens; Vênus foi assinalada pelo Padre Gill, isoladamente; e
este usava, durante todo o tempo, os óculos adequados.
Um outro caso clássico de Encontro Imediato de Terceiro Grau é o
avistamento de Kelly-Hopkinsville, a 21 de agosto de 1955, (veja Apêndice 1,
CEIII-4), no qual foram os humanoides que ocuparam o centro do palco, tendo
sido o OVNI mencionado apenas de passagem. Minha ligação com este caso foi
puramente fortuito, pois não havia sido convocado para me pronunciar então.
Alguns meses depois da ocorrência, estava envolvido no estabelecimento de 12
estações para rastreamento de satélites em diversas partes do mundo, dispondo
de muito pouco tempo para investigar os OVNIs. Contudo, aconteceu que um
dos técnicos em eletricidade por mim contratados para trabalhar nos mecanismos
de sincronização do relógio de cristal das câmeras para satélites Baker-UNnn era
um tal de Bud Ledwith, que, vim a saber mais tarde, tinha sido engenheiro e
locutor na Estação de Rádio WHOP de Hopkinsville, no Kentucky, Ledwith,
logo no dia sucessivo ao caso Kelly, deu início a uma investigação detalhada por
sua própria conta. Consegui com ele a história completa e declarações
juramentadas assinadas e esboços.
O caso Kelly-Hopkinsville, se considerado inteiramente a parte do padrão
geral dos avistamentos de OVNIs, parece claramente disparatado, a ponto de
ofender o bom senso. O bom senso, contudo, não demonstrou ser um bom guia
na passada história da ciência. Os registros do Livro Azul sobre o acontecimento
são superficiais e quanto à investigação realizada a respeito foi muito
inadequada ou praticamente nula. Assim mesmo, o caso foi arquivado pelo Livro
Azul sob a classificação de “Não-Identificado”. Quanto a isto não resta a menor
dúvida.
Ledwith interrogou as sete testemunhas adultas e pediu que cada uma
desenhasse um esboço daquilo que se recordavam sobre a aparência dos
ocupantes. Cada testemunha adulta forneceu uma declaração assinada. Em
seguida, Ledwith fez um desenho composto (retrato falado) dos ocupantes e
pediu aos observadores que o assinassem. Gentilmente, abriu-me os seus
arquivos, inclusive os desenhos originais e as notas e autorizou-me a usá-los
como melhor me aprouvesse.
Como este caso clássico tem sido focalizado alhures, será suficiente
apresentar aqui um breve resumo: Um OVNI “convencional” foi visto, por
apenas uma testemunha aterrissando numa sarjeta perto da casa da fazenda
ocupada pela família Sutton. Esta testemunha, voltando para a casa da fazenda,
contou o que acabara de ver. Seu relato foi rapidamente rejeitado e alvo de
alguma zombaria. Não tinha ainda se escoado uma hora, quando os moradores
da casa foram alertados por um latido violento do cachorro que se encontrava no
pátio. Dois dos homens presentes dirigiram-se para a porta dos fundos para ver
quem estava chegando. Um homenzinho “brilhante”, com olhos
descomunalmente grandes, os braços erguidos acima da cabeça “como se
estivesse sendo assaltado”, lentamente aproximou-se da casa.
Naquela região do país, as pessoas da classe econômico-social das
testemunhas “atiram primeiro para fazer perguntas mais tarde”. Foi exatamente
isto o que os dois Sutton fizeram, segundo o que afirmaram, um com um rifle 22,
o outro com uma espingarda. Ambos dispararam as armas quando os
“Ufonautas” encontravam-se a cerca de seis metros da casa; o barulho foi
descrito “como se tivesse atirado de encontro a um balde”. O visitante deu uma
virada rápida e fugiu rápido para o meio da escuridão.
Pouco depois, outro visitante apareceu à janela e foi recebido a tiros
disparados pela janela. A tela exibe uma recordação (um buraco de bala) desta
agressão contra o invasor. Tendo ido para fora a fim de verificar se tinham
matado o intruso, aqueles que se achavam atrás do primeiro homem viram
quando este parou por um instante sob um pequeno anexo do telhado, uma mão
semelhante a uma garra descer e tocar no seu cabelo. Novos disparos, dirigidos
contra a criatura no telhado e contra uma outra que fora avistada, de repente, no
galho de uma árvore próxima. Aparentemente, esta foi atingida em cheio, mas
flutuou na direção do solo (uma manobra que haveria de se repetir) e fugiu.
Nada parece acovardar mais um camponês do Kentucky do que a falta de
eficiência de uma arma e, pouco depois , toda a família estava dentro de casa
com as portas trancadas. De vez em quando os visitantes tornavam a aparecer
nas janelas.
Umas três horas mais tarde, a família resolveu que já tinha aguentado demais
este sítio, e, tomando uma rápida decisão, os 11 ocupantes da casa enfiaram-se
em dois carros e rumaram para a cidade em busca da polícia. Isto aconteceu às
23 horas da noite. De vez que é necessário haver uma motivação muito forte
para que 11 pessoas se metam em carros, já noite alta, e façam 7 milhas ou mais
para chegarem à delegacia policial em buscá de ajuda, podemos fazer uma ideia
do terror do qual deve ter se apoderado a família a essa altura.
Quando voltaram, a polícia examinou toda a área, as lanternas trabalhando
sob considerável tensão, mas nada foi encontrado.
Segundo as testemunhas , depois que a polícia partiu e tudo voltara a
tranquilidade e escuridão, as criaturas reapareceram.
O relato de Ledwith 6 a respeito de como conseguiu a descrição dos
homenzinhos é relevante:

Quando cheguei (à estação de rádio) todos me cumprimentavam e
indagavam: “Já viu os homenzinhos verdes?’’ Perguntei o que significava
aquilo e consegui um relato vago sobre os acontecimentos daquela noite.
Lembrando-me de um artigo que tinha lido, não fazia muito tempo, numa
revista, a respeito do modo como a polícia obtinha um retrato falado através
das descrições das testemunhas, e resolvi elucidar o caso. Já tinha estudado
desenho e talvez pudesse fazer alguns esboços.
Levei comigo um dos rapazes da estação, para ter uma testemunha que
observasse e escutasse e provasse que eu não tinha influenciado ou guiado as
pessoas que pretendia entrevistar.

Apesar dos acontecimentos da véspera, os homens da casa tinham saído para
seus afazeres programados. As mulheres concordaram em conceder-me a
entrevista.


Não influenciei as mulheres de forma alguma enquanto os retratos eram
desenhados. Elas eram extremamente positivas não tinham visto; foi uma
questão, ape-suas orientações a respeito do formato dos rostos, olhos, mãos e
corpo. Se, por acaso, eu me adiantava e fazia uma sugestão a respeito de
como deveria ser determinado aspecto elas me corrigiam lògo.... Não
demorou muito para que a “aparição’’ começasse a tomar forma. Os olhos se
assemelhavam a pires, grandes e postos a uma distância de mais ou menos
doze centímetros um do outro, parecendo encobrir a metade de um lado do
rosto. A cabeça, em si, era redonda e inteiramente calva em cima....
Passamos ao corpo. Ninguém tinha certeza se havia ou não um pescoço, por
isso passamos adiante. Segundo as mulheres, o corpo era magro, com uma
figura reta e sem curvas.... Os braços eram estranhos; tinham praticamente o
dobro do comprimento das pernas.... as mãos eram colossais, volumosas. A
única parte do rosto que não conseguiram descrever foi o nariz.... Tentei
desenhar um.... mas ninguém tinha certeza se estaria certo ou não, por isto
apaguei-o.

Depois de ter passado três horas entrevistando as mulheres da casa, Ledwith
e seu companheiro receberam permissão para voltar naquela noite, quando os
homens já estariam de volta. Assim fizeram, chegando um pouco antes deles.
Quando os homens chegaram, “havia uma fila de carros estacionados num
espaço de meia milha em ambas as direções.’’ Quando “Lucky” Sutton, que era
a personalidade dominante da família chegou à cena “Entrou em casa como um
urso. ’’

Seus olhos caíram sobre o meu desenho que estava em cima da mesa.
Sem dizer uma única palavra, sentou-se.... tornou a olhar o desenho.... e
disse: “Não, o rosto é praticamente redondo, não forma uma ponta.”
Começamos a trabalhar sobre os desenhos dos homens, usando os das
mulheres como guias e fazendo as modificações indicadas pelos três
homens.... A boca foi assunto de discussão; Lucky teimava que não havia
boca nenhuma. E se houvesse, não passava de uma linha reta que cortava o
rosto. Para agradar aqueles que tinham visto a boca, desenhei uma linha reta,
elevada, de orelha a orelha.
Aquelas sete pessoas tinham-me contado histórias praticamente paralelas
e desenhos quase que idênticos. Teriá sido impossível que tantas pessoas me
narrassem coisas falsas e descrevessem retratos que se combinavam tanto a
menos que tivessem combinado tudo antes, sobre o aspecto de cada detalhe
(e acontecimento); porém, três dos homens tinham partido de manhã muito
cedo, dirigindo-se para Evansville e não tinham ainda voltado para casa.
Aquelas não eram entrevistas nas quais uma pessoa olhava para a outra e
perguntava: “Foi assim que você pensou que fosse?” Não, todas as sete
estavam seguras a respeito do que tinham visto e nenhuma modificaria sua
declaração.... mesmo se submetida a um interrogatório cruzado. Uso esta
palavra no seu largo sentido no que diz respeito a Lucky; não se pode
reinquirir Lucky Sutton.
....à medida que a narrativa se espalhava para fora da família, ia sendo
adulterada em todos os sentidos; todos que contavam a história pareciam
acrescentar suas próprias ideias sobre a aparência das criaturas. Por isto,
agrada-me que tivéssemos agido com antecipação. Nossa entrevista matinal
foi o primeiro relato completo dos acontecimentos da noite. A horda de
curiosos ainda não havia se reunido. Naquela noite, conversamos com os
homens da mesma maneira, logo depois que chegaram em casa, antes que
tivessem oportunidade de discutir com os outros a primeira entrevista. Fiquei
muito impressionado com a sinceridade de todos eles, tanto os homens
quanto as mulheres....

Os participantes deste caso foram alvo de tanta publicidade contrária e
vítimas de tamanha hostilidade que, pouco depois, se recusavam a discutir o
assunto corn qualquer pessoa, tornando difíceis novos encontros. Contudo, uma
investigação bem sucedida teve lugar quase um ano mais tarde por um dos
investigadores mais sinceros e dedicados ao problema OVNI que jamais
conheci, Isabel L. Davis, da Cidade de Nova Iorque, que fez uma viagem por sua
conta até Kelly. Sob a influência de sua personalidade tranquila mas assim
mesmo determinada, conseguiu convencer diversas das testemunhas originais a
rever e discutir, minuciosamente, os acontecimentos de 21 e 22 de agosto de
1955.
Isabel Davis escreveu um relato completo sobre a sua visita, um documento
excelente que merece ser publicado e, gentilmente, ofereceu-me uma cópia do
manuscrito, que, em essência, apóia inteiramente as investigações anteriores
realizadas por Ledwith. Estes relatos, considerados lado a lado, dão-nos uma
visão de um acontecimento completamente inexplicável e, em termos comuns,
realmente bizarro.
Sete adultos e quatro crianças confirmaram os pontos essenciais do
acontecimento. As testemunhas não eram “de status inconsistente’’, e esta teoria,
proposta pelo D. I. Warren7, não se encaixa neste avistamento nem a muitos
outros. Warren afirma que as pessoas com uma condição econômica
incompatível com sua capacidade intelectual e formação cultural estão mais
fadadas a fazer relatórios sobre OVNIs: por exemplo, uma pessoa com pouco
treino ocupando uma condição social e econômica relativamente elevada, ou
vice-versa.
Não teria dado tanta atenção ao caso de Kelly-Hopkinsville não fosse o fato
de conhecer bem os principais investigadores, Ledwith e Davis, sobretudo o
primeiro, de vez que esteve sob minha chefia direta por quase dois anos no
programa de rastreamento de satélites.
Existe uma razão bem maior ainda: os “humanoides’’ são, eles próprios, um
protótipo que se repetiu por diversas vezes através dos anos, retornando, como
Vallée observa de modo tão convincente em Passport to Magonia, aos mitos e
lendas de diversas culturas. E bastante improvável que os Suttons, “que não
tinham telefone, rádio, televisão, livros, nem mesmo muito móveis’’, estivessem
a par do assunto OVNI e pudessem saber que por diversas vezes no passado
criaturas como as que relataram já tinham sido descritas. A semelhança com “a
gente pequena” descrita por diversas culturas é impressionante.
Está claro que não encontramos razões para afirmar que as criaturas de Kelly
foram obra da imaginação, ou, ao contrário, que as lendas antigas tiveram sua
origem devido ao aparecimento, em tempos passados, de criaturas deste tipo ou
ainda que verdadeiros humanoides foram vistos. Como em muitos outros
aspectos de todo o fenômeno OVNI, a exigência é que se façam maiores estudos.
Os Suttons estavam convencidos de que tinham tido uma experiência
verdajdeira, um modelo de reação que tenho achado consistentemente. Vamos
deixar que o relatório de Isabel Davis enfatize este ponto:

Afinal de contas, os Sutton apegavam-se à sua história. Obstinada e
revoltadamente, insistiam que diziam a verdade. Nem os adultos, nem as
crianças aventaram a possibilidade de uma mentira ou um engano — em
público ou para os parentes; não houve o mínimo sinal de retratação.

As observações posteriores feitas por Davis a respeito da ausência de uma
‘‘racionalização de proteção” usada pelos observadores de OVNIs que, embora
pessoalmente convencidos, manifestam o desejo de se manter nas boas graças de
seus semelhantes, dizendo algo parecido com “E claro que podia ter sido um
avião.... talvez tivesse me enganado” — acompanhando suas palavras com um
riso embaraçado ou um trejeito. Segundo declara ela:

Os Suttons jamais demonstraram estar propensos a se desdizerem a fim
de voltar a cair nas boas graças da sociedade.... Sua recusa em ceder, uma
polegada sequer, recusa que lhes custou caro, ao ceticismo talvez não prove a
veracidade de sua história, mas, sem dúvida, diz-nos algo a respeito deles
mesmos.

Talvez alguém queira objetar que o caso Kelly contou com apenas 1
testemunha, no que diz respeito ao OVNI, muito embora 11 pessoas tenham
visto seus ocupantes. Portanto, tratou-se muito mais de um Encontro Imediato
com ocupantes do que com um engenho. Em muitos casos de registros de
OVNIs os ocupantes foram vistos com clareza mas sua aeronave só foi avistada
por um instante. No caso de Socorro, no Novo México, obviamente, ocorreu
exatamente o oposto. Zamora viu os ocupantes apenas de alguma distância, mas
o aparelho de bem perto.
Agora, apresentarei um caso de “contatado”, não porque eu aceite o habitual
relator contatado mas sim por não se tratar de um caso contatado no sentido
comum: não tem nuances de um culto de OVNI ou de pseudoreligião, nem
mensagens cósmicas banais e de
pouco conteúdo. Aiém disto, foi um caso cuidadosamente pesquisado e o tema
do livro The Interrupted Journey, de John Fuller. Trata-se da história de Betty e
Barney Hill.
No entanto, não creio que se enquadre ao padrão dos Encontros Imediatos de
Terceiro Grau, portanto, não irá contribuir na elaboração do protótipo desta
categoria. Incluo-o aqui, de certo modo, para demonstrar o contraste existente
entre ele e a história habitual relatada pelos contatados num caso típico de
Encontro Imediato de Terceiro Grau. Além do mais, o caso é bastante conhecido
do público, e gerou grande interesse (Este é um caso que teve uma das maiores publicidades,
devido ao resultado do livro de Fullered sua condensação numa revista de caráter nacional. Raramente,
quando de debates populares, deixei de rectber perguntas relacionadas a ele) [Veja Apêndice 1,
CEIII-5].
O caso de Betty e de Barney Hill — do casal de raça mista (ele era negro, e
ela branca) de Nqw Hampshire que, sob repetidas sessões isoladas de hipnose,
realizadas pelo psiquiatra Dr.Benjamim Simon, narrou uma história de um
Encontro Imediato de Terceiro Grau, durante o qual foram levados para bordo de
uma “espaçonave” — evidentemente despertou um tremendo interesse. Como a
história é inteiramente focalizada no livro de Fuller, tudo quanto nos resta a fazer
será um resumo sucinto. (Veja Apêndice 1, CEIII-5).
Betty e Barney, voltando do Canadá onde tinham ido gozar férias e viajando
por uma estrada deserta já noite avançada, observaram a descida de um OVNI. A
um certo momento este aterrissou bloqueando a estrada e impedindo-os de
continuar a viagem. Alguns humanói-des aproximaram-se do casal.
Cerca de duas horas mais tarde, os Hill encontravam-se 35 milhas mais
adiante do ponto de aterrissagem, mas sem se recordarem de nada que ocorrera
durante este espaço de tempo. Esta amnésia não deixava de os preocupar,
levando-os a sofrerem problemas físicos e mentais; finalmente, decidiram
procurar o Dr. Simon, cujos sucessos nos casos de amnésia são notórios.
Sob diversas sessões de hipnose, revelaram, separadamente, o que tinha
supostamente acontecido. As duas histórias estavam concordes em bastantes
detalhes, embora nem Betty e nem Barney tivessem tomado conhecimento do
que cada qual revelava sob a hipnose, a não ser muito mais tarde.
Sob efeito da hipnose, declararam que tinham sido levados para bordo da
espaçonave, cada qual por sua vez, tinham sido muito bem tratados pelos
ocupantes, assim como os seres humanos teriam lidado com animais para
experiência; e depois soltaram-nos, condicionando-os, antes, sob sugestão
hipnótica, para que não se lembrassem de nada a respeito daquela experiência. O
método como foram postos em liberdade, ao que parece, ajudou a consolidar a
amnésia, que aparentemente só foi quebrada pela contra-hipnose.
As experiências médicas constaram da introdução de uma agulha no umbigo
de Betty Hill e na coleta de aparas de unha e lâminas de pele. Num incidente
“divertido”, a dentadura postiça de Barney foi retirada; a tentativa de fazer o
mesmo com Betty, que tinha seus próprios dentes, falhou, naturalmente (Podemos
imaginar um assunto científico apresentado num congresso no “planeta X no qual é descrita sua expedição à
Terra e durante a qual descobriu-se que os homens negros possuem dentes removíveis mas que as mulheres
brancas têm dentes que não saem!).
Pouco tempo após a publicação do livro de Fuller, ele e eu fomos convidados
para jantar na casa do Dr. Simon com os Hill, fora da cidade de Boston.
Conforme ficara acertado anteriormente entre as partes, o Dr. Simon colocou os
Hill em transe hipnótico e permitiu que eu os interrogasse. Isto representou para
mim uma experiência formidável, pois enquanto Barney descrevia o seu rapto
para bordo da espaçonave ficou perturbado emocionalmente e o Dr. Simon
encontrou sérias dificuldades para mantê-lo calmo.
O conteúdo emocional da experiência dos Hill foi aparecendo “claro e em
bom tom”, mas tudo considerado, o conteúdo informativo da sessão de uma hora
e meia foi mínimo. Em parte esta falta era devida sem dúvida à minha própria
inexperiência em interrogar alguém que estivesse sob hipnose. Por vezes, tanto
Betty como Barney falaram vagarosamente, exceto nos momentos de grande
tensão emocional. As perguntas diretas eram frequentemente respondidas
entrecortadamente, fazendo-me recordar, às vezes, a dificuldade que se tem em
obter informações de pessoas seriamente doentes; havia longas pausas. Todavia,
em nenhum momento tive a impressão de que havia uma tentativa deliberada
para evitar a transmissão de alguma informação. Mais tarde, à hora do jantar, os
Hills estavam espirituosos, encantadores e falantes. Não havia dúvidas que eram
normais e sadios.
Serão suficientes alguns trechos da minha sessão de hipnose com eles para
ilustrar tanto a intensidade da experiência emocional revelada através da hipnose
como a muito visível sinceridade dos indivíduos.
DR. SIMON: Muito bem, agora estamos voltando ao final da viagem até o
Niagara Falis, quando estavam regressando e tiveram a experiência com o objeto
voador não-identificado, O que está sentindo neste instante? Foi raptado ou não?
BARNEY: Sinto que fui raptado.
DR. SIMON: Foi raptado?
BARNEY: Sim. Não quero acreditar que tenha sido raptado, logo digo que sinto
pois assim fica mais fácil para mim aceitar alguma coisa que não quero
reconhecer que tenha acontecido.
DR. SIMON: O que o faria sentir-se mais a vontade?
BARNEY: Dizer que sinto.
DR. SIMON: Compreendo. Por que se sente pouco a vontade a este respeito ?
BARNEY: Porque é uma história tão esquisita. Se alguém me contasse ter
passado por algo assim, não iria acreditar e detesto profundamente ser acusado
de algo que não fiz quando sei que não o fiz.
DR. SIMON: Agora diga-me, de que é acusado?
BARNEY: Se não acreditam que fiz alguma coisa quando eu sei que o fiz.
DR. SIMON: Vejamos, suponha que tenha absorvido o sonho de Betty.
BARNEY: Gostaria muito disto.
DR. SIMON: Gostaria disto; e isso poderia ser verdade?
BARNEY: Não....
BARNEY: (aos berros): Não gostei que tivessem posto aquilo em mim! Não
gostei que me tocassem!
DR. SIMON: Está certo, está certo. Agora eles não estão tocando em você, não
estão tocando em você de forma alguma. Esqueça-se disto. Agora, o Dr. Hynek
vai falar com você e Mr. Fuller talvez também fale com você e todos dois
obedecerão às instruções que eles lhes darão como se estivessem sendo dadas
por mim. Responderão a todas as perguntas que lhes forem formuladas e
obedecerão a quaisquer instruções dadas por nós três enquanto estiverem sob o
transe. Mas, depois disto, só responderão a mim.
HYNEK: Barney, você vai se recordar de tudo claramente, e quero que me relate
o que está acontecendo; você acabou de escutar o bip-bip-bip; quero que me
conte com que se parecia este som, e depois, cada qual vai reviver e contar-me o
que está acontecendo enquanto estão viajando pela estrada.

Inesperadamente, Barney começa a falar, presumivelmente, a partir do
momento em que encontraram os humanoides:

BARNEY: Betty, está lá fora.... está lá fora, Betty! Oh meu Deus, isto é uma
loucura. Estou atravessando uma ponte.... não estou na Estrada 3. Oh, meu Deus!
Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! (Barney está respirando muito fundo). Ai, Jesus,
não acredito. Há homens na estrada. Não acredito. Não quero ir. Não pode estar
ali. É a lua.
DR. SIMON: Prossiga, Barney. Você recorda-se de tudo claramente.... tudo está
claro./
BARNEY: Estou do lado de fora do carro e estou descendo uma estrada que vai
para o meio do mato. Há um brilho alaranjado; há algo ali. Oh, oh, se estivesse
com o meu revólver; se estivesse com o meu revólver (falava isto num tom de
voz excitado desesperado). Subimos a rampa. Gostaria de dar cacetadas, mas não
posso. Gostaria de bater, mas não posso. Minhas emoções.... tenho que me
debater.... preciso!.... Meus pés bateram no chão, e estou num corredor. Não
quero ir. Não sei onde se encontra a Betty. Não estou machucado; não vou bater,
mas vou bater se me machucarem, de alguma forma. Estou entorpecido. Não
sinto os dedos. Minhas pernas estão paralisadas. Estou em cima de uma mesa!
DR. SIMON: Está tudo bem. Pode parar por aí. Está sobre a mesa, mas está
quieto e calmo e irá descansar até que eu diga Escute, Barney”. Não escutará
nada do que eu disser por algum tempo. Betty, o que está acontecendo? -
BETTY-Estamos viajando.... Barney freia e eles cantam, ele vira rapidamente
para a esquerda. Não sei porque está fazendo isto. Vamos nos perder no meio do
mato. Fizemos uma curva. (Pausa) Barney tenta acionar o carro.... não quer
pegar. Agora estamos no meio do mato e eles estão se aproximando de nós. Há
algo com o homem da frente que está se aproximando. Foi aí que fiquei
assustada; é preciso sair do automóvel e correr, para me esconder no meio do
mato....
DR. SIMON: Pare, Betty, para por um instante. Não quer escutar nada daquilo
que direi.
Há um intervalo, enquanto Barney chora de um modo muito desesperado e o
Dr. Simon desdobra-se para acalmá-lo. Finalmente, dirige-se novamente a Betty.
DR. SIMON: Betty, agora pode me ouvir.
BETTY: Está bem.
DR. SIMON: Continue.
BETTY: Agora quero abrir a porta do carro, sair, correr e ir me esconder no
meio do mato....
HYNEK: Alguma vez já tinha visto algo que se parecesse com isto?
BETTY: Não.
HYNEK: A luz brilhava acima dele? Podia ver a luz ao mesmo tempo?
BETTY: A noite estava enluarada. Não estava tão claro quanto à luz do dia, mas
eu podia ver. Estava no solo e havia como que um aro em volta da borda.
HYNEK: O objeto estava apoiado sobre pernas ou encostado ao solo?
BETTY: O aro estava um pouquinho acima do solo e havia uma rampa que foi
abaixada.
HYNEK: De que tamanho, Betty? Compare o objeto com alguma coisa que você
conheça, Betty, em tamanho.
BETTY: Estou procurando me lembrar....
HYNEK: Que tal um vagão de trem? Era maior do que um vagão ferroviário ou
menor?
BETTY: Não consigo imaginar o tamanho de um vagão de trem. Se ele
aterrissasse aqui na rua.... deixe-me ver, iria do canto daquela casa em frente e
ultrapassaria a garagem.
HYNEK: O que pensava à medida que se aproximava cada vez mais?
BETTY: Pensava em fugir dali se pudesse.
HYNEK: E porque não podia?
BETTY: Tinha impressão de que não podia. Eu.... o homem deles estava ao meu
lado. Tudo quanto pude dizer foi “Barney, Barney, acorde”. O homem
perguntou-me se o nome dele era Barney. Não lhe dei resposta porque achava
que não era da sua conta. E, depois, quando chegamos.... vi isto.... sabia que iam
querer que entrássemos ali. Eu não queria ir. Não parava de lhes dizer que não
queria ir.... Eu não quero ir. E ele disse para continuar, para ir, que apenas
desejavam realizar alguns testes simples. Assim que terminassem, eu voltaria
para o carro.
HYNEK: Eles disseram a você de onde tinham vindo?
BETTY: Não.
HYNEK: Que tipo de sons faziam?
BETTY: Pareciam com.... palavras.... como sons de palavras.
HYNEK: Palavras inglesas?
BETTY: Não.
HYNEK: E você compreendeu-os?
BETTY: Sim.
HYNEK: E como explica isto?
BETTY: Era.... só consigo imaginar.... como se aprendesse francês.
HYNEK: Aprendesse francês?
BETTY: É.
HYNEK: Acha que era francês?
BETTY: Não, mas era como se aprendesse francês. Quando você ouve pela
primeira vez a palavra em francês, você pensa nela em inglês.
HYNEK: Entendo. Quer dizer que escutou aqueles sons em alguma língua, e
compreendia-os como se fossem inglês, é isso?
Dr. Simon tocou na cabeça de Betty. “Toco na sua cabeça agora e você
descansará e relaxará e não escutará mais nada até que torne a tocar na sua
cabeça novamente, -— disse ele. “Não escutará mais nada daqui para diante.
Barney, agora pode me ouvir, sente-se bem e relaxado. Disseme que tinha
entrado naquele veículo, não é verdade?
BARNEY: Sim.
DR. SIMON: Eles tinham-no levado para dentro e colocaram-no sobre uma
mesa.
BARNEY: Foi.
DR. SIMON: E falaram com você, não foi isso?
BARNEY: Foi.
DR. SIMON: Diga-nos como eles falavam; responda ao Dr. Hynek a esse
respeito.
HYNEK: Barney, você os viu abrir as bocas e, caso afirmativo, quanto as
abriam?
BARNEY: Suas bocas moviam-se e eu podia vê-los.
HYNEK: Procure me dizer que tipo de sons emitiam ou se significavam alguma
coisa conhecida para você. Conhece algum animal que emita sons iguais aos
deles?
BARNEY: Não.
HYNEK: Como eram os sons? (Sons entrecortados oh! oh! oh! foram emitidos
por Barney).
HYNEK: O que achou dos sons ou não achou nada?
BARNEY: Pensava apenas se pudesse erguer meus punhos....
HYNEK: Isto aconteceu enquanto se encontrava sobre a mesa?
BARNEY: Foi. Queria brigar. Não sabia onde Betty se encontrava. Mas assim
mesmo, cada vez que me mexia ou debatia aquela luz forte que estava na minha
cabeça mantinha-me calmo.

O fato de que a maior parte do caso dos Hill tivesse sido revelado apenas sob
hipnose torna-o atípico. A primeira parte deste caso ocorreu como muitos outros
ocorrem.... uma luz no céu que aumenta e torna-se mais intensa à medida que se
aproxima, a aterrissagem e a experiência assustadora do encontro. Mas o
sequestro, os testes físicos e a inteira sequência dos acontecimentos até que se
viram a 35 milhas mais adiante na estrada duas horas mais tarde, com uma
amnésia total a respeito destas duas horas, é atípico.
Se não considerarmos totalmente aquilo que foi revelado somente sob a
hipnose, a primeira parte se enquadra ao padrão. A parte atípica não é passível
de estudo a não ser como um acontecimento fora do comum. Quando e se outros
casos de revelação hipnótica de encontros imediatos tornarem-se disponíveis
para estudo (não devemos nos esquecer que os Hills só procuraram tratamento
vários anos mais tarde), estaremos em condições de observar se também formam
um padrão.
E o que sabemos sobre os próprios ocupantes? Ao que parece eles vêm em
dois tamanhos, grande e pequeno, sendo o primeiro o predominante. Os
humanoides de Hopkinsville e muitos daqueles relatados em Passport to
Magonia são bastante semelhantes no que diz respeito à aparência dos
“homenzinhos” da lenda e da história — duendes benfazejos das lendas
escocesas, anões, etc.... Cabeças grandes, pés compridos e, geralmente, uma
cabeça plantada diretamente sobre os ombros sem qualquer evidência de
pescoço, é assim que são, geralmente, descritos. Os humanoides maiores são
retratados como sendo do tamanho dos homens, ou um pouquinho maiores, e de
um modo geral muito bem formados. Às vezes são qualificados de bonitos. Os
pequeninos, segundo os relatos, têm cerca de três pés e meio de altura.
Mas aqui não é o lugar para se tentar uma taxonomia dos humanoides; será
melhor, quanto a isso, que o leitor busque informações em Humanoids de Bowen
e em Passport to Magonia de Vallée.
Finalmente, o que pode ser dito a respeito dos Encontros Imediatos de
Terceiro Grau? Diferem dos outros casos de Encontros Imediatos apenas por
definição, pela informação da presença de ocupantes e pelo fato de que estes
encontros não são geralmente relatados por pessoas soflsticadas e com uma
formação superior como acontece com os outros tipos de encontros. Fica em
aberto a questão se estas experiências aconteceram com pessoas de formação
superior; e a menos que estas relatem incidentes deste tipo, os Encontros
Imediatos de Terceiro Grau não existem, virtualmente, e não podem ser
estudados.
As circunstâncias determinaram que no trabalho por mim realizado durante
mais de vinte anos tivesse tido um contato direto com muitos casos desta
categoria; por esta razão, sobretudo, prefiro calcar o problema OVNI nos
protótipos das cinco primeiras categorias de OVNIs: Luzes Noturnas, Discos
Diurnos, Radar Visual e Encontros Imediatos de Primeiro e de Segundo Graus.
Sinto que domino muito mais estes grupos devido ao meu trabalho junto aos
diversos relatores de casos incluídos nestas cinco categorias. Portanto, vejo-me
forçado a deixar nas mãos do próprio leitor o julgamento do peso destes
Encontros Imediatos de Terceiro Grau, mas sempre deixando claro que talvez
ainda venha, a se descobrir que os casos envolvendo os humanoides são a chave
para a solução de todo o problema.

NOTAS


PARTE III - DAQUI PARA ONDE VAMOS?


INTRODUÇÃO: O COLÉGIO INVISÍVEL

Agora que você, leitor, já tem uma visão geral, embora introdutória, a
respeito do fenômeno OVNI e, sobretudo, do problema básico, pode avaliá-lo e,
espero, deplorar o modo como este vem sendo tratado nestes vinte ou mais anos.
Nesta parte, examinaremos a maneira como a Força Aérea lidou com o problema
publicamente, em seguida o modo como o Comitê Condon, na Universidade do
Colorado, tratou-o. Finalmente, sugerirei um modo positivo de lidar com o
assunto.
À medida que uma pessoa vai se familiarizando com a riqueza do material
neste campo e o modo como tem sido tratado, ela sentirá, como aconteceu
comigo, a frustração que alguém talvez experimente ao procurar descrever as
cores de um pôr do sol para um cego de nascença. O cego não assumiu,
deliberadamente, a sua cegueira mas ao que parece o mundo da ciência colocou
vendas nos olhos da ciência, mas não totalmente sem a boa razão. A confusão
que envolve o assunto tem sido grande e o seu “patrocínio” entregue, com muita
assiduidade, a pessoas mal preparadas para assessorá-lo e tratá-lo com espírito
de crítica. Estes fatores anexados ao “limiar da loucura” foram suficientes para
fazer com que a maioria dos cientistas evitasse o assunto OVNIs.
O primeiro passo importante que foi dado com a finalidade de retirar as
vendas dos olhos dos cientistas foi, na-minha opinião, a declaração do Comitê
Especial do Instituto Americano de Aeronáutica e Astronáutica, em dezembro de
1968, e a publicação de estudos sobre o caso OVNI na sua publicação Journal of
Astronautic and Aeronautics. Estes deixam perfeitamente claro um desafio à
curiosidade humana e, logo, aos cientistas, embora não fique esclarecido a que
disciplina científica ele se prende. No presente momento, o problema pertence
exclusivamente aos físicos, sociólogos, psicólogos e, até mesmo, ao estudioso do
oculto.
Conto com provas positivas através de correspondência pessoal e conversas
de que os cientistas estão demonstrando um interesse crescente pelo assunto
mas, na maioria dos casos, ainda desejam ficar no anonimato. Realmente, está
crescendo um “Colégio Invisível’’ formado por pessoas preparadas científica e
tecnicamente que estão intrigadas a respeito do fenômeno OVNI e que, caso lhes
sejam dadas oportunidade, tempo e os meios indispensáveis, estão bastante
desejosas de realizar um estudo sério a respeito. Representam elas um grupo
internacional pronto a aceitar o desafio do OVNI.
11. A FORÇA AÉREA E O OVNI — PÁGINAS DO LIVRO
AZUL


DEPARTAMENTO DA FORÇA AÉREA
CHEFIA DA DIVISÃO DE TECNOLOGIA EXTERIOR (AFSC)
BASE AÉREA DE WRIGHT—PATTERSON, OHIO 46433

Gabinete do Comando Dr. J. Allen Hynek
Observatório de Dearborn 4 Set 1968
Evanston, Illinois 60201

1. Durante os últimos anos o senhor vem criticando, publicamente, o Projeto
Livro Azul pela sua falta de avaliação científica de alguns relatórios sobre
objetos voadores não-identificados.

2. Gostaria que o senhor dirigisse seus esforços, durante os próximos trinta
dias, no sentido de definir as áreas de falha científica que existem,
atualmente, na divisão do Projeto Livro Azul. Por favor limite seu papel à
metodologia científica que deveria ser adotada e não se imiscua na política
ou na história da Força Aérea.

3. Suas sugestões devem ser precisas, detalhadas e práticas. Seu relatório
deve chegar ao meu gabinete até 1 de Outubro de 1968.
RAYMOND S. SLEEPER CORONEL, USAF
Comandante.

A carta reproduzida acima constituiu a primeira vez, nos meus 20 anos de
associação com a Força Aérea como consultor científico, em que fui solicitado,
oficialmente, a fazer uma crítica e aconselhar no tocante à metodologia científica
e sua aplicação ao problema OVNI. É realmente verdade que durante algum
tempo anterior ao recebimento desta carta vinha criticando, cada vez mais o
Livro Azul, mas, ao que parecia, isso não tinha chegado à atenção e a atuação
oficial. Agora estava claro que, finalmente, estavam prestando atenção.
Evidentemente, agradava-me a ideia de ter uma audiência oficial e a minha
resposta foi completa (veja Apêndice 4). A fim de situar a minha resposta dentro
de uma perspectiva adequada faz-se necessário um resumo rápido da história do
Livro Azul e da minha associação a ele e para que se veja, com clareza, o papel
representado tanto pelo Pentágono como pela fraternidade científica no que diz
respeito à formação e a consolidação do comportamento do Livro Azul com
relação ao problema OVNI. Devem ter notado que a carta do Coronel Sleeper
não incluía um pedido no sentido de que se fizessem comentários sobre a
política. Isto continuou a ser determinado, como sempre o fora, em níveis bem
mais elevados, através dos canais do Pentágono.
Quinze anos antes, o prestigioso painel Robertson tinha trabalhado
parcialmente durante cinco dias (de 14 a 18 de janeiro de 1953) e transmitira as
seguintes conclusões e recomendações políticas:

(a.) Que a evidência apresentada sobre Objetos Voadores Não-
Identificados não mostra nenhuma indicação de que estes fenômenos
constituam uma ameaça física direta contra a segurança nacional.
Acreditamos, firmemente, que não hajam casos remanescentes que indiquem
que o fenômeno possa ser atribuído a artefatos estrangeiros capazes de atos
hostis e que não há evidência de que o fenômeno indique a necessidade de
uma revisão dos atuais conceitos científicos.
(b.) Que a constante ênfase dada aos relatos deste fenômeno resulta,
nestes tempos difíceis, numa ameaça ao perfeito funcionamento dos órgãos
de defesa do corpo político. Citamos, como exemplos, o atravancamento dos
canais de comunicação por relatórios irrelevantes, o perigo de sermos
levados pelos constantes alarmes falsos a ignorar as verdadeiras indicações
de ação hostil e o cultivo de uma psicologia nacional doentia na qual uma
habilidosa propaganda hostil poderia introduzir um comportamento histérico
e uma falta de confiança nociva no que diz respeito à autoridade
devidamente constituída.

A lista oficial recomendava:

(a.) Que as agências de segurança nacional tomem medidas imediatas
para afastar os Objetos Voadores Não-Identificados da condição especial que
têm tido e da aura de mistério que, infelizmente, conquistaram.
(b.) Que as agências de segurança nacional criem políticas de
inteligência, treinamento e educação pública destinadas a preparar as defesas
materiais e o estado de espírito cívico do país a fim de que prontamente
reconheçam e reajam da maneira mais eficiente contra as verdadeiras
indicações de intenções ou ações hostis.

Quer nos parecer que a atenção do grupo estava muito mais dirigida para um
problema de defesa e segurança do que para um problema científico. Isto poderia
se esperar, de certo modo, de vez que a reunião tinha sido convocada e instruída
pela CIA. Nenhuma menção foi feita, ou explicações fornecidas, para os
inúmeros casos “Não-Identificados” que já existiam nos arquivos do Livro Azul.
Como os casos tinham sido selecionados para eles pelo Livro Azul, que já tinha
se pronunciado a respeito do assunto dos OVNIs, fica patente a natureza
prejudicial do “julgamento dos OVNIs”. Os membros do augusto quadro eram
exemplos do velho ditado “Quando você é capaz de manter a serenidade quando
todos à sua volta perderam a sua, você não entende a situação”. O quadro não
teve acesso a diversos casos realmente intrigantes.
Quando da criação do quadro, o Battelle Memorial Institute, de Columbus,
no Ohio, estava realizando uma pesquisa estatística (que, tempos após, apareceu
no Relatório N. 14 do Livro Azul, um documento notável se a pessoa se der ao
trabalho de ler nas entrelinhas) , e dentro do adequado espírito científico os
funcionários do Battelle assinalaram (Uma carta datada de 9 de janeiro de 1953, endereçada ao
Capitão E. J. Ruppelt, primeiro chefe do Livro Azul) que havia uma nítida falta de dados
sólidos e que até mesmo os relatórios bem documentados apresentavam uma
certa dúvida com relação aos dados. Solicitaram uma classificação dos
elementos antes que fossem tomadas amplas decisões políticas e insinuaram
(embora fossem diplomatas demais para dizê-lo abertamente) que todo o quadro
Robertson tinha agido de modo precipitado e que, provavelmente, não chegaria a
parte alguma. Mas, o painel Robertson conseguiu algo; tornou o assunto dos
OVNIs desrespeitado cientificamente e, por quase 20 anos, não foi dada a devida
atenção ao assunto no sentido de se conseguir o tipo de dados necessários pelo
menos para decidir sobre a natureza do fenômeno OVNI. As relações públicas
da Força Aérea nesta área foram excepcionalmente chocantes e o público
deixado sozinho para tomar suas próprias decisões; a atitude da Força Aérea foi
o resultado de “uma mascarada’’ ou de um governo e confusão ?
A Força Aérea entrou, oficialmente, na “arena dos discos voadores’’ a 22 de
janeiro de 1948, como o resultado de uma troca de cartas, na última parte de
1947, entre o comandante geral daquilo que era então a força aérea do exército e
o chefe do Comando de Equipamento Aéreo, Centro Aéreo de Inteligência
Técnica (ATIC) da Base Aérea de Wright-Patterson, em Dayton, Ohio.
Os acontecimentos do verão de 1947 tinham sido inquietadores: muitas
pessoas, aparentemente responsáveis, começaram a redigir relatórios demais
sobre objetos estranhos observados no céu — pilotos, policiais, pilotos
comerciais, observadores militares, etc. A Força Aérea, encarregada da defesa
aérea do país, preocupou-se logo com aquilo. A primeira explicação que veio à
mente, é claro, foi que uma potência estrangeira tinha desenvolvido um artefato,
novo e potencialmente perigoso, colocando a nossa segurança sob uma ameaça
patente. Por mais assustador que isto pudesse parecer, tratava-se de um conceito
que a mente militar pôde captar de imediato e contra o qual sentia que podia
lutar frente a frente. As investigações relacionadas com a tecnologia da
inteligência estrangeira eram bem no âmbito da Força Aérea. E assim nasceu o
Projeto Sign às vezes incorretamente denominado “Projeto Discos’’. Seu pessoal
começou a trabalhar, de forma crítica, sobre a primeira série de relatórios, e
muito pouco tempo depois, pediram-me para que verificasse quais dentre eles
teriam possivelmente um teor astronômico.
Mas as ações relatadas dos “discos voadores’’ não se encaixavam no padrão
conhecido do desenvolvimento técnico dos engenhos militares e somente uma
fração podia ser atribuída, com certeza, a objetos ou acontecimentos
astronômicos. Bem cedo a opinião dentro do Projeto Sign encontrava-se
nitidamente dividida: tratava-se-de uma tecnologia estrangeira ou uma tecnologia
realmente desconhecida? Aeronaves espaciais? Uma psicose coletiva? Um
nervosismo de pós-guerra?
A divisão acentuou-se ainda mais à medida que se tornava cada vez mais
evidente que a explicação de tecnologia estrangeira “normal’’ era insustentável.
Tinha surgido um “lapso na explicação”. Ou todo o fenômeno tinha que ser
“psicológico” (uma expressão que era usada com frequência pela necessidade de
uma explicação convincente) , ou havia algo por trás do fenômeno que ninguém
queria admitir. Quando a inteligência se vê, repentinamente, diante de “fatos”
que são decididamente desagradáveis, que se recusam a se adaptar na imagem
padronizada e reconhecida do mundo, faz-se um esforço alucinado para
complementar este vazio de uma forma muito mais emocional do que científica
(que exigiria uma admissão honesta da deficiência do nosso conhecimento).
Fazem-se esforços alucinados para se conseguir uma explicação ad hoc que
“salvará o fenômeno” ou então desacreditar os dados. Quando nos vemos diante
de uma situação que está muito acima do nosso “limiar da compreensão’’,
parece surgir uma censura mental inata que tende a bloquear ou marginalizar um
fenômeno que é “muito estranho’’ e a procurar abrigo naquilo que nos é familiar.
A história da ciência está repleta de “modos de explicar” cuja finalidade é
preservar o status \quo. A descoberta de fósseis de espécies extintas, apontando
nitidamente para o conceito da evolução biológica, deparou com diversas
tentativas para demolir os “dedos - fósseis” que apontavam inequivocamente
para a evolução Darwiniana. Também muitas foram as explicações oportunistas,
antes que finalmente os fatos exigiram a aceitação da teoria da circulação
sanguínea, a hipótese heliocêntrica, o hipnotismo, os meteoritos, as bactérias que
geram as moléstias e tantos outros fenômenos que são aceitos nos nossos dias.
Em 1948, o Projeto Sign deparou com uma falta de explicação de âmbito
maior e buscou a ajuda de seus conselheiros científicos, tanto na Força Aérea
como na fraternidade científica. Sua reação foi a já esperada, aquela que sempre
ocorreu através dos séculos: “Não pode ser; logo, não é”. O hiato da explicação
estava muito além do limiar da compreensão, logo a esperada recusa para “pesar
e considerar”, o comumente aceito cunho científico, pôs-se em evidência.
Deve-se enfatizar, como um ponto de justiça para com a classe científica,
que os elementos de dados disponíveis eram apresentados de forma deficiente e
misturados com uma grande quantidade de absurdos — relatórios idiotas,
equívocos com a observação de Vênus e meteoros por parte dos mais ignorantes
— todos contendo uma carga emocional.
Dentro das atribuições restritas que tinha junto ao Projeto Sign (onde devia
apenas separar os relatórios que podiam ser atribuídos a causas astronômicas)
logo me dei conta de casos que, examinados por seu valor nominal, eram
verdadeiros desafios para a ciência. Estava claro para mim que, devido à
escassez de dados científicos concretos, seu mistério poderia evaporar facilmente
se tais relatórios fossem devidamente acompanhados e investigados. O problema
relacionado à falta de uma investigação adequada esteve presente desde o início.
Naquele tempo eu nada mais era do que um jovem na classe dos cientistas e
como não me sentia inclinado a me transformar num mártir ou bancar o idiota
por causa de dados incompletos, resolvi permanecer neutro e deixar que o
fenômeno se comprovasse ou não por si mesmo. Os conselheiros mais velhos do
Pentágono tinham mostrado total desprezo do problema dos discos voadores e
tinha que admitir para mim mesmo que, ainda que os elementos fossem
desafiadores, nada tinham de cientificamente conclusivo. Somente muitos anos
mais tarde, e quando dados de natureza semelhante continuaram à fluir não só
neste país mas também de muitos outros, tive ocasião de perceber que o
fenômeno começava realmente sendo provado: havia um excesso de
acontecimentos que não podiam ser explicados em termos “comuns”.
A atitude oficial do Pentágono foi, em grande parte, ditada pela classe
científica. Afinal de contas, não há um único general de divisão que deseje servir
de objeto de riso para os mais proeminentes membros da hierarquia científica. O
Dr. Menzel, professor de astronomia da Universidade de Harvard, foi, é lógico,
um exemplo disto de vez que, aparentemente, demonstrou um interesse
compulsivo pela questão do disco voador, embora este assunto estivesse bastante
afastado de seu campo científico. Declarou ele, em alto e bom som, que os
OVNIs eram um absurdo e patrocinou, sobretudo, a “teoria da miragem” dos
discos voadores. Atribuiu ele propriedades as miragens e propriedades de
miragem aos OVNIs, que, a partir daí, demonstraram ser inteiramente
insustentáveis, até mesmo pela Força Aérea2.
Mas não devemos acusar apenas o Dr. Menzel por ter sucumbido à síndrome
do “vazio na explicação”, embora não restem dúvidas de que ele ajudou a
influenciar a posição “científica” adotada pelo Pentágono. Praticamente todos os
cientistas deram pouca atenção ao problema, e alguns até se deliciavam em
pontificar diante do público leigo. A maior parte da condenação da ciência era
bem fundamentada. Relatórios baseados em interpretações errôneas existiam em
abundância e o contingente de loucos estava sempre a espreita para se projetar
ou tornar sua presença conhecida através de movimentos de cultos ao disco
voador e de tratados e pronunciamentos pseudo-religiosos.
Reconheço que senti muito prazer em causar embaraço e confusão não só a
grupos deste tipo mas também aos excitados geradores de relatórios de OVNIs.
Satisfazia-me, por exemplo, ao estabelecer que um relato de “uma nave-mãe e
outras quatro” tinha, sem dúvida, se originado da observação através de um
pequeno telescópio do planeta Júpiter e seus quatro satélites maiores e provar
que o que uma mulher denominara de “nave espacial com caudas iluminadas”
nada mais era do que um meteoro brilhante.
Mas, os 237 relatórios originais do Projeto Sign não eram convincentes e não
endossavam “visitantes espaciais”. Quando voltei a examinar estes casos, em
1970, percebi a sua marcante qualidade. Os relatórios da década de 50 e os de
1966 e 1967 eram de uma importância superior tanto no que diz respeito à Grau
de Estranheza quanto ao que ficou estabelecido sobre o caráter das testemunhas.
Realmente, em 1947-48, não havia muita razão para que se ficasse excitado.
Havia, sem dúvida, alguns relatórios que se fossem tomados pelo seu valor
direto, não sugeriam uma explicação física natural, mas até mesmo estes eram
deficientes de vez que tinham sido investigados inadequadamente. Muitos dados
essenciais estavam faltando. Entre os primeiros 237 casos de OVNIs não havia
um só Encontro Imediato que se aproximasse da qualidade de detalhes dos mais
recentes relatórios desta categoria e quanto aos relatórios de radar eram
pouquíssimos (e assim mesmo ruins). A categoria predominante nos enigmáticos
casos do Projeto Sign era a dos Discos Diurnos e alguns raros casos excitantes
de Luzes Noturnas.
Ainda hoje, se tivesse acesso apenas aos dados dos primeiros casos da Força
Aérea, sem que conhecesse os padrões do relatório OVNI que mais tarde
tornaram-se evidentes em todo o mundo, chegaria à mesma conclusão alcançada
em 1949: havia alguns relatórios realmente estranhos mas cujos elementos eram
insuficientes para servir de base a conclusões positivas. Ainda assim, tornaria a
expressar a conclusão de 1953: o assunto é válido para que se processe uma
investigação científica mais profunda.
Para que sejamos justos com a Força Aérea, devemos recordar que tanto
quanto tenha sido justificadamente criticada com relação aos OVNIs, a sua
missão, sobretudo em 1949, não era científica mas defensiva. A responsabilidade
da Força Aérea foi cumprida quando ela demonstrou que o fenômeno OVNI não
mostrava provas imediatas de ser hostil e que não se constituía numa ameaça
contra a segurança nacional.
Se, nessa altura, a Força Aérea tivesse entregue o problema para uma
organização científica reconhecida, com tradição e sem pensar em auferir lucros,
talvez a história dos OVNIs tivesse sido totalmente diferente. Teria sido
suficiente um pequeno grupo de pessoas com uma tarefa científica a cumprir,
que compreendesse os problemas básicos e que, de vez em quando, alicerçado
numa base segura, publicasse suas descobertas em publicações conceituadas.
Ao invés disto, a Força Aérea adotou outro caminho. Tão logo o Pentágono
estabeleceu uma firme política com relação ao OVNI e rejeitou a histórica
“Estimativa dá Situação” (que uma facção do Projeto Sign tinha enviado
diretamente à cúpula através dos canais competentes), a qual concluía que os
relatórios dos discos voadores colocavam em evidência a existência de uma
inteligência extraterrestre, a Força Aérea passou por um longo período de
relações públicas infeliz e amadorístico. A publicidade e a relação pública se
utilizando de circulares deficientes, que quase sempre eram mal vistas e
contraditórias, deram introito a uma época de confusão, de 1950-1970. A
insistência no sigilo oficial e constante “segredo oficial” de documentos era
praticamente desnecessária de vez que o Pentágono tinha declarado que o
problema, na realidade, não existia.
O papel representado pela Força Aérea durante este período tanto era
essencial como enigmático. Era essencial porque o mundo (mais precisamente
outras repartições governamentais de outros países que também estavam
recebendo relatórios sobre OVNIs) apoiavam-se na Força Aérea dos Estados
Unidos. Quando eu perguntava o que estava sendo feito nesses países a respeito
do problema OVNI, responderam-me em diversas oportunidades que como os
Estados
Unidos, com todo o seu dinheiro e facilidades, estavam lidando com o problema,
o que mais poderiam fazer as outras nações com tào poucos recursos?
Aguardariam o pronunciamento dos Estados Unidos sobre o assunto. '
Era enigmático porque a outra pergunta era óbvia: se nada mais havia com
relação ao fenômeno OVNI além de identificações erradas, fraudes, etc., por que
razão o programa OVNI era mantido? Por que adotar um comportamento de
relações públicas confuso e desorientado perante a opinião pública e que, por
diversas vezes, conduzia a insultar a inteligência de pessoas competentes ?
Algumas das classificações feitas pelo Livro Azul com relação a relatórios
sinceros eram, com tanta frequência, ingênuas e irrelevantes ao ponto de terem
que ser modificadas posteriormente. Seria tudo aquilo uma cortina de fumaça,
um trabalho de cobertura para o qual o Livro Azul era a frente, sendo o
verdadeiro trabalho e a informação realizados por outra repartição?
Se tivesse sido criado logo de saída, uma comissão ou um grupo científico de
atuação constante, a Força Aérea teria conquistado nesta área tanto a
respeitabilidade científica como uma imagem dignificada. O público poderia ter
sido conscientizado, através de canais não sensacionalistas, sobre o que era
embaraçoso e ainda desconhecido, quais os relatórios que tinham provado,
através de investigações, serem o resultado de identificações erradas, fraudes,
etc. Assim que o povo não temesse mais se expor ao ridículo, teriam sido
assegurados seu apoio e interesse. Poderia ter sido determinado se havia algum
“sinal” sobre o “ruído”; se existia um material empírico realmente novo, nos
relatórios globais sobre OVNIs. Uma comissão científica não-militar operando
num nível sério teria, possivelmente contado com a cooperação de outros grupos
científicos internacionais. Foi um erro cometido logo no início envolver o
assunto numa atmosfera de ficção científica militar, um equívoco aumentado
posteriormente pela aparente duplicidade nos pronunciamentos públicos. Se este
tranquilo grupo de trabalho científico tivesse revelado após um estudo profundo,
que não havia sinais de “elementos científicos” nos relatórios, isto teria sido
aceito de uma forma geral, exceto, é claro, por parte dos loucos e dos cultistas.
E, inversamente, caso surgissem indicações deste tipo poderiam ter sido
realizadas pesquisas profundas e estudos.
O caminho seguido foi totalmente diverso. O Projeto Sign começou com
uma prioridade 2A, sendo a IA a mais elevada. Pouco tempo depois de me tornar
consultor do projeto, fiquei sabendo que desde o início tinha havido dissenções
internas. Havia aqueles que insistiam que os discos voadores eram artefatos
russos; outros achavam que vinham do espaço sideral e outros ainda, é claro,
julgavam que o assunto era um total absurdo.
Quando da minha nomeação, pediram-me que trabalhasse inteiramente
independente dos outros consultores e dos membros do Projeto Sign. Este
isolamento, ao que parecia, era para haver uma certeza de que eu não seria
influenciado por nenhuma das facções existentes. Meu relatório final, realizado
com a assistência sem par de Mrs. Charles Summerson, foi entregue depois que
o Projeto Sign foi um tanto misteriosamente transformado em Projeto Grudge, a
11 de fevereiro de 1949-Não tinha tomado conhecimento da modificação pois
procurava fazer o melhor que podia a fim de achar algumas modificações
astronômicas lógicas para o maior número dos 237 relatórios em mãos.
A mudança para o Projeto Grudge assinalou a adoção de uma atitude rígida
de desprezo com relação ao problema OVNI. Agora, as declarações das relações
públicas sobre os casos específicos de OVNIs tinham pouca semelhança com os
fatos do caso. Se este continha apenas alguns elementos que pudessem ser
atribuídos a um avião, balão, etc., passava a ser, automaticamente, este o projeto
considerado quando era dada publicidade à imprensa do fato.
O Capitão Ruppelt, referindo-se a esse “desprezo” como parte de uma
cortina de fumaça intencional para dissimular os fatos acrescendo-os com
confusão, escreveu: “Isto não é verdade; tratava-se, tão somente, de falta de
coordenação. Mas, se a Força Aérea tivesse tentado lançar esta cortina de
confusão, não teria conseguido realizar um trabalho mais perfeito”3. Como um
exemplo, Ruppelt cita algumas notícias divulgadas pelo Pentágono que
indicavam os discos voadores como (a) uma desintegração meteórica de tal
forma que seus cristais absorvem a luz solar, (b) a luz solar em nuvens baixas e
(c) pedras de granizo que se achatavam e deslizavam. Ruppelt estava certo ao
dizer: “O problema foi tratado com uma confusão organizada” . Já em 1949, a
confiança na capacidade da Força Aérea ou a vontade de lidar com este
problema já começava a declinar. Ruppelt caracterizou este período da forma
excelente no livro de sua autoria “Report ou Unidentified Flying Objects”
Relatório sobre Objetos Voadores Não-Identificados). Na realidade, este livro
devia ser lido por todos aqueles que estejam seriamente interessados na história
deste assunto. Achei-o uma pessoa honesta e seriamente intrigada a respeito de
todo o fenômeno através dos contatos que tivemos.
A transição do Projeto Sign para o Projeto Grudge aconteceu antes da
entrega do meu relatório e, quando o fiz, o clima com relação a qualquer tipo de
investigação séria sobre discos voadores tinha se tornado um tanto frio. “Esta
modificação drástica da atitude oficial”, escreveu Ruppelt. “É tão difícil de se
explicar quanto o era acreditar nela para muitas pessoas que estavam a par do
que se passava dentro do Projeto Sign”4. Também escreveu: “Este período de
modificação de “pensamento” também me preocupou. Ali estavam pessoas
decidindo que nada havia de certo no assunto OVNI, exatamente quando os
relatórios pareciam estar melhorando de qualidade. Pelo que pude ver, caso se
devesse proceder a qualquer mudança no modo de pensar, esta deveria ter sido
num sentido totalmente oposto5... ”
Apoio esta opinião incondicionalmente. Os primeiros relatórios, sobretudo
aqueles que estudei primeiro no Projeto Sign, eram de uma qualidade bastante
inferior àqueles que começaram a chegar depois. Alguns limitavam-se a conter
umas poucas dúzias de palavras, faltando os detalhes necessários para uma
classificação adequada.
Ruppelt atribuiu a modificação da atitude ao fato de que os militares desejam
obter respostas e não mistérios. “Anteriormente, caso aparecesse algum relatório
interessante” — escreveu ele — “e eles queriam uma resposta, tudo que
conseguiam era um “poderia ser verdadeiro, mas não temos condições de prová-
lo”. No momento atual uma solicitação deste tipo é satisfeita com brevidade:
“Tratava-se de um balão”, e todos desde os membros da ATIC até o Pentágono
ficavam satisfeitos. Tudo corria às mil maravilhas”6.
Ruppelt descreveu o período que se seguiu a criação do Projeto Grudge
como “O Obscurantismo”. Todo um pessoal novo, ao invés das pessoas mais
experimentadas do Projeto Sign, estabeleceu e adotou o teorema da Força Aérea:
“Não pode existir, logo não existe”. Ruppelt diz: “Tudo estava sendo avaliado
sob a premissa de que os OVNIs não podiam existir”7, e “Continuavam a chegar
bons relatórios sobre OVNIs num percentual de perto de dez por mês, mas não
eram verificados ou investigados. A maioria era posta de lado”10
Nos anos seguintes, quando eu era consultor do Projeto Livro Azul, nenhum
relatório que chegasse através dos canais militares oficiais era posto de lado, mas
só se faziam tentativas insignificantes para se realizar qualquer tipo de
investigação séria. Isto era mais verdadeiro ainda quando se tratava de casos
complicados e fora do comum. Quase sempre acabavam sendo classificados
como “Não-Identificados” e abandonados. O objetivo tinha sido alcançado: O
OVNI tinha sido identificado como “Não-Identificado”.
Em abril de 1949, pouco tempo após a criação do Projeto Grudge e após ter
entregue o meu relatório, fui completamente afastado do gabinete do OVNI, em
Dayton. Portanto, só vim a saber muito mais tarde o que tinha acontecido
durante o “Obscurantismo”.
O próprio relatório por mim redigido contava com mais de 300 páginas,
muitas delas praticamente em branco, pois a página continha apenas a
declaração: “Não existe uma explicação astronômica para este relatório”. Minha
obrigação estava cumprida. Às vezes, aventurava-me um pouco mais: “Podemos
supor que foi observado um grupo de balões (aparato de raios cósmicos), cujo
deslocamento nada mais era do que um reflexo do deslocamento do avião.
Na introdução do relatório, escrevi: Parece haver, entre o público de um
modo geral, duas atitudes para com os discos voadores: um, que todos os
avistamentos são identificações errôneas ou fraudes, e, dois, que deve haver algo
nisso. Procurei considerar cada relatório desde o início como uma declaração
honesta feita pelo observador e não abraçar nenhuma das duas atitudes
anteriormente citadas.
Observei o que infestava então e o que continua infestando o setor de OVNI:
a deficiência de dados e qualquer tipo de esforço no sentido de sanar a questão.
Praticamente todos os dados com os quais lidamos nestas 300 páginas são
incompletos e inexatos e alguns nitidamente contraditórios. Portanto, foi
evidentemente impossível alcançar conclusões científicas definitivas. A maioria
delas são apresentadas em termos de probabilidade, cujo grau é debatido nos
relatórios individuais’’.
Cerca de dois meses antes, o Projeto Sign declarava, num relatório sigiloso
que só vim a conhecer anos depois:

Não existe evidência definitiva ainda que confirme ou negue a verdadeira
existência de objetos voadores não-identificados como tipos de aviões novos
e desconhecidos. Uma quantidade limitada de incidentes foi identificada com
objetos conhecidos.
Foi realizada sobre alguns dos relatórios uma análise técnica, baseada na
possibilidade de que os objetos sejam realmente tipos de aviões não-
identificados e não convencionais, a fim de determinar a aerodinâmica, a
propulsão e as características de controle necessárias para que o objeto
pudesse funcionar segundo a descrição do relatório. Os objetos observados
foram agrupados em quatro categorias segundo as suas configurações:

1. Discos voadores, isto é, aeronaves com silhueta rebaixada;
2. Fuselagens com o aspecto de um torpedo ou charuto, sem asas ou
lemes visíveis durante o voo;
3. Objetos esféricos ou com o formato de balões;
4. Bolas de luz.

Os três primeiros grupos são capazes de realizar voos através de meios
aerodinâmicbs ou aerostáticos e podem ser impulsionados e controlados por
métodos conhecidos pelos projetistas aeronáuticos.

Mesmo em 1949, os OVNIs apareciam nos mesmos padrões, que persistiram
nos anos subsequentes.
A “barreira de frustração ’ continuou. Não foi feita nenhuma tentativa para
reunir todos os elementos que estavam disponíveis. Os investigadores da Força
Aérea não se deram ao trabalho de reunir o que estava diante deles. Por diversas
vezes, começando com um simples tópico na última página de um jornal de
cidade pequena, consegui reconstruir, com o auxílio paciente dos observadores,
uma narrativa coerente dos acontecimentos relatados e, de um modo geral,
encontrei nas pessoas envolvidas uma total cooperação desde que lhes
assegurasse que a nossa entrevista não resultaria no ridículo ou numa
publicidade desfavorável. Os arquivos do Livro Azul estão repletos de
casos rotulados como “Elementos Insuficientes”, quando em muitos casos a
classificação correta seria “Investigações Insuficientes”.
A medida que os anos foram se escoando, ficou perfeitamente claro para
mim que nenhum caso do Livro Azul tinha recebido um “tratamento idêntico ao
do FBI”; ou melhor, não houve um só caso que tivesse sido investigado em
profundidade até que se tivesse conseguido todas as pistas ou evidências ínfimas
possíveis, como é o comportamento padrão adotado nos raptos, redes de
narcóticos e casos de assaltos a banco.
O Livro Azul adotou uma atitude diametralmente oposta. Quando um caso
parecia ter uma possível explicação numa identificação errônea (e, portanto,
deveria ser excluído de uma investigação posterior mais detalhada), O Livro
Azul abstinha-se do esforço de telefonar, realizar interrogatórios, etc., a fim de
poder relacioná-lo a um planeta, uma missão de reabastecimento ou qualquer
outra ocorrência natural. Portanto, lançaram seus cachorros atrás de simples
ladrões de galinhas mas ignoraram as presas potencialmente mais importantes.
Se cada um das muitas centenas de casos do Livro Azul classificados como
“Não-Identificados”, tivesse contado com um investigador consciencioso e com
uma formação científica e com uma capacidade de reação imediata (acesso
imediato ao transporte para o local do acontecimento relatado dentro de 24
horas) teriam se juntado muito maiores informações. Os verdadeiros Graus de
Estranheza e de Probabilidade teriam sido determinados com muito mais certeza.
Fiz diversas tentativas, inclusive algumas diante de subcomissões do Congresso,
a fim de que contássemos com facilidades deste tipo.... mas de nada adiantaram.
Quase sempre o Livro Azul não se preocupava em investigar até que o
acontecimento envolvendo o OVNI tivesse ganho projeção junto à imprensa (um
bom exemplo disto foi o caso de Portage County), ou até que um congressista
fizesse um inquérito porque um de seus eleitores julgava não ter sido tratado de
forma correta pelo Livro Azul. Nada dava origem a uma reação mais imediata e
violenta por parte do Livro Azul do que um inquérito promovido pelo
Congresso. Contudo, ainda assim, o esforço era no sentido de arranjar uma
resposta rápida mas satisfatória e não dirigido a um estudo sério do caso.
Observei, frequentemente, momentos quando o único objetivo do Livro Azul era
“livrar-se do congressista às suas costas” arrumando qualquer tipo de explicação
possível, ao invés de fazer um esforço para montar uma investigação científica.
Logo, o programa não se modificou através dos anos. Os relatórios
chegavam e eram tratados de uma forma inteiramente rotineira, sempre na
pressuposição de que tinham sido originados por pessoas sem formação,
incapazes de identificar qualquer’tipo de ocorrência natural. Quando as coisas
ficavam realmente difíceis, o rótulo “Não-Identificado” era usado, mas o esforço
investigador parava ali. Presumia-se, tacitamente, que se se tivesse feito um
esforço exaustivo no
sentido de identificar a origem do relatório, este não teria sido coroado de êxito.
Então, para que, se podemos agir assim, desperdiçaríamos tamanho esforço para
com um fenômeno Não-Identificado?
O percentual dos Não-Identificados permaneceu essencialmente o mesmo
com o passar dos anos. A Tabela 1 cobre os primeiros 237 relatórios sobre-
OVNIs recebidos pela Força Aérea; ela demonstra que cerca de 20 por cento
destes satisfazem a atual definição de OVNI, ou seja, deixou os peritos sem
saída. Vinte anos mais tarde, o Comitê Condon, usando presumivelmente uma
melhor seleção de casos e uma quantidade maior de cientistas, não teve
capacidade para descobrir soluções para mais de 25 por cento dos casos por ele
examinados. Ao que parece, com o passar dos anos, continuou a persistir um
resíduo inalterável de “relatórios incríveis redigidos por pessoas dignas de
confiança’’.

TABELA 1


A 7 de outubro de 1968, dirigi minha resposta ao Coronel Sleeper:

Dirijo meu relatório apenas ao senhor, pois como ficará evidente, se o atual
pessoal do Livro tivesse acesso a ele, qualquer tipo de contato pessoal posterior
com ele seria por demais embaraçoso para ambas as partes envolvidas.... Talvez
seja de seu interesse saber que, em todos os meus vinte anos como consultor, o
senhor é o primeiro comandante que jamais me solicitou fazer, por escrito, uma
avaliação do Livro Azul. Teria ficado muito satisfeito em tê-lo feito antes, mas
em todas as vezes que procurei aconselhar sobre procedimentos e metodologia....
foi-me, educada mas firmemente, lembrada.... a posição que ocupava dentro
daquela organização.
Espero, sinceramente, que no final das contas.... possa auxiliar na
transformação do Livro Azul naquilo que o público e o mundo científico foi
narrado que ele fosse.... uma organização investigadora dedicada à defesa da
pátria mas realizando, concomitantemente, um bom trabalho científico.... Já é
tempo para que o Livro Azul não seja mais chamado, como o fez algum goza-
dor ‘ ‘A Sociedade para a Explicação do Não-Investigado”.
O senhor preferiu referir-se a métodos de “melhoria de produto”. Embora
isto seja uma metáfora raramente usada pelos cientistas, parece-me ser bem feliz
de vez que é prático pensar-se em termos daquilo que é o produto do Livro Azul,
quem é o.... consumidor, como é “embalado” o produto, qual é a “imagem” do
produto e como devemos “por mãos a obra” para melhorar o produto.
O senhor enfatizou que eu não devia me preocupar com a história do Livro
Azul; contudo.... as audiências de 1960 em Washington são pertinentes a este
relatório. As minhas recomendações com relação às modificações que deveriam
ser processadas no Livro Azul àquela época foram aplaudidas pela Comissão
Smart mas nunca contaram com fundos (embora estes tivessem sido
prometidos), portanto meus esforços não deram em nada.
Como o meu relatório é bastante extenso, prefaciei-o com um sumário
sequencial dos pontos abordados e das recomendações feitas.

SUMÁRIO

A. Conclui-se que nenhuma das duas missões do Livro Azul (AFR 80-17), (1)
para determinar se o OVNI é uma possível ameaça para os Estados Unidos e (2)
usar os dados científicos ou técnicos obtidos num estudo dos relatórios sobre
OVNIs, estão sendo convenientemente executadas.
B. A equipe do Livro Azul, tanto em quantidade como pela formação científica,
é totalmente inadequada para realizar as tarefas designadas sob AFR 80-17.
C. O Livro Azul sofre internamente por ser um sistema fechado que se tornou
vítima do tipo de operação fechada adotada. Não tem havido, praticamente,
nenhum tipo de diálogo científico entre o Livro Azul e o mundo científico
exterior. As extensas instalações científicas da Força Aérea têm sido usadas de
maneira totalmente inadeq.uada na execução da missão do Livro Azul. Os
invulgares talentos e as instalações da AFCRL (Laboratórios de Pesquisa da
Força Aérea era Cambridge) e do AFOSR (Secretaria de Pesquisa Científica dá
Força Aérea), por exemplo, têm sido raramente usados. A falta de um diálogo
científico entre os membros do Livro Azul e os cientistas de fora tem sido
chocante.
D. Os métodos estatísticos empregados pelo Livro Azul não passam de uma
imitação grotesca.
E. Tem ocorrido falta de atenção com relação a casos significativos de OVNIs,
segundo o julgamento deste consultor e de outras pessoas, e demasiado tempo
vem sendo dedicado a casos rotineiros que contêm pouca informação e às tarefas
de relações públicas periféricas. Deveria haver uma concentração sobre dois ou
três casos significativos com um potencial científico, por mês ao invés de um
esforço tênue e disseminado entre mais de 40 a 70 casos mensais. Tem-se dado
muita atenção aos casos com apenas uma testemunha e aos casos em que apenas
foram observadas pequenas fontes de luz no céu à noite e muito pouca atenção
para com os casos de Grau de Estranheza elevada e relatados por testemunhas de
reputação reconhecida.
F. A informação transmitida ao Livro Azul é profundamente inadequada. O
Livro Azul carrega um pesado fardo devido ao fracasso, quase que completo,
dos funcionários lotados nas bases aéreas e encarregados da transmissão de
informações adequadas sobre OVNIs para o Livro Azul. Muitas informações,
que poderiam ter sido obtidas através de interrogatórios conscienciosos levados a
cabo por aqueles oficiais encarregados da pesquisa sobre OVNI são omitidas,
jogando a carga sobre os ombros do Livro Azul para reabrir o interrogatório a
fim de conseguir uma informação adicional, às vezes do tipo mais elementar mas
necessário — por exemplo, direções do vento, tamanhos angulares e velocidade,
detalhes sobre a trajetória, qualificações e natureza das testemunhas,
observadores adicionais, etc. A necessidade mais premente dentro do Livro Azul
é um aumento dos dados originais.
G. A atitude básica e o modo de tratar o assunto dentro do Livro Azul são
ilógicos e não científicos de vez que foi adotado um sistema de trabalho que
dissimula e determina o método da investigação. Poderíamos explicá-lo sob a
forma de um Teorema:

A cada caso relatado de OVNI, se estudado isoladamente e sem ser
correlacionado e considerado com outros casos de OVNIs neste e em outros
países, é sempre possível atnbúir uma explicação natural ainda que remota,
se se trabalhar tão somente sob a hipótese de que todos os relatórios sobre
OVNIs, pela própria natureza das coisas, devem ser o resultado de causas
bem conhecidas e aceitas.

O teorema tem seu Corolário:

É impossível para o Livro Azul avaliar um relatório sobre OVNI como
qualquer outra coisa que não seja uma interpretação errônea de um objeto
ou fenômeno natural, uma fraude ou uma alucinação. (Mesmo naqueles
relativamente escassos casos nos quais, até este procedimento encontrou
dificuldades, o relatório foi classificado como “Não-Identificado'’ mas sem
qualquer indicação de que o teorema tinha sido infringido abertamente.)

H. O consultor científico do Projeto tem sido usado de forma inadequada. Só lhe
são apresentados para pesquisa aqueles casos que o monitor do projeto considera
válidos. Sua liberdade de operação, inclusive um acesso pessoal direto tanto aos
arquivos dos classificados confidenciais como dos não-classificados, tem sido
tremendamente limitada e impedida. Frequentemente escuta comentários a
respeito de casos interessantes somente após um ou dois meses do recebimento
do relatório pelo Livro Azul e não se faz a mínima tentativa de colocar o
consultor no circuito operacional, a não ser da forma mais superficial.
A impressão de todos através dos anos era de que o Livro Azul era uma
operação séria e em total desempenho. Talvez o povo imaginasse uma repartição
espaçosa, dotada de pessoal competente, com fileiras de móveis de arquivo, um
terminal de computação para consultar o banco de dados sobre OVNIs e grupos
de cientistas estudando tranquilamente os relatórios, assistidos por uma equipe
de assistentes.
Mas, infelizmente, a verdadeira situação era totalmente o oposto. A operação
era, de um modo geral, chefiada por um oficial de patente mais baixa. Nos meios
militares a importância dada a uma missão está geralmente presa à patente do
oficial em comando. Os oficiais de patentes relativamente baixas encarregados
do Livro Azul eram de um modo geral assistidos por um tenente e, às vezes, por
apenas um sargento. Durante um período bastante longo, um sargento possuidor
de uma insignificante formação técnica foi incumbido de avaliar a maioria dos
relatórios recebidos.
Esta operação não era exatamente de primeira linha e com uma prioridade
elevada. O pessoal designado para trabalhar no Livro Azul era ínfimo para que
se pudesse fazer justiça a um fenômeno que, quase sempre, preocupava
imensamente o povo. Para complicar ainda mais as coisas, o pessoal só tinha
condições de dedicar uma parte de seu tempo ao problema técnico que se achava
ao seu alcance. Durante minhas frequentes visitas ao Livro Azul durante o
transcorrer dos anos, observei que a maior parte do trabalho no projeto era
limitado às questões superficiais, tudo feito num ritmo lento.
Ademais, os oficiais de baixa patente do Livro Azul não tinham condições
para dar início ao tipo de investigações que eram necessárias e pelas quais eu
lutava com frequência. Os militares são inteiramente hierárquicos; um capitão
não pode chefiar um coronel ou um major numa outra base aérea a fim de que
obtenham informações para ele. A única coisa que pode fazer é solicitar. Como o
Livro Azul nunca contou com um coronel no comando, era impraticável
executar de forma adequada a tarefa que lhe fora entregue. Ao revisar casos que
tinham chegado no decorrer do mês anterior, pedia com frequência para que
fossem obtidas informações adicionais que, às vezes, eram cruciais. Os
resultados, na melhor das hipóteses, eram mínimos; os oficiais lotados nas outras
bases estavam geralmente ocupados demais para aprofundar mais a investigação.
E por que deveriam fazê-lo? Todos eles sabiam que, de qualquer maneira,
tratava-se de uma tarefa sem maior significado.
O Livro Azul era um “disfarce” de vez que o problema determinado era
comentado por um motivo ou outro. Durante os anos em que trabalhei com o
Livro Azul, não recordo de um único debate que tenha tido lugar para tratar
seriamente da metodologia empregada, da melhoria do processo de recolhimento
de dados ou de técnicas para que se conseguisse realizar um interrogatório válido
das testemunhas.
O leitor poderá perguntar!, a esta altura, por que motivo não sitiei contra o
Pentágono, pedindo ação ou simplesmente porque não me demiti mostrando meu
desagrado. Temperamentalmente, eu sei aguardar minha hora tranquilamente.
Também não gosto de brigas, sobretudo com militares. Mas, o mais importante,
é o fato do Livro Azul ter uma reserva de dados (apesar de deficientes) e minha
associação com ele dava-me acesso a estes dados. De certa forma eu banquei o
Kepler para o Tycho Brahe9do Livro Azul.
Se tivesse exigido uma atuação por parte do Pentágono, sabia perfeitamente
bem a opinião que prevalecia e reconhecia que, se falasse demais, ficaria logo
desacreditado, rotulado como um ovnimaníaco e, certamente, perderia a
oportunidade de estudar os dados e toda a atuação de que ainda pudesse gozar.
Sempre fui de opinião que “a verdade aparecerá” no seu devido tempo; se havia,
realmente, dados científicos válidos no fenômeno OVNI, à medida que o tempo
fosse passando e o recolhimento de dados melhorando, até mesmo os céticos
mais hostis não teriam como escondê-los. Por tradição, o astrônomo adota uma
escala de tempo bastante longa.
Contudo, de um modo geral, os dados do Livro Azul eram deficientes quanto
ao conteúdo e, o que é ainda pior, eram mantidos virtualmente sob uma forma
imprestável. O Livro Azul mantinha seus dados totalmente virgens, apesar de ter
acesso às técnicas eletrônicas de processamento de dados as mais modernas. Os
casos eram arquivados com referência apenas à data e nem ao menos se tentou
fazer um índice indicativo. Se os dados tivessem sido padronizados de forma a
poderem ser lidos por máquinas, o computador poderia ter sido usado nos
padrões de relatórios a fim de comparar os elementos de um com outros e para
determinar por exemplo, as seis categorias básicas de avistamentos usadas neste
livro. Como todos os milhares de casos eram registrados apenas
cronologicamente, até mesmo uma questão tão simples como fazer uma tabela
dos avistamentos em diferentes situações geográficas, segundo os diversos tipos
de testemunhas, etc., era impraticável a não ser que isto fosse realizado
manualmente, através do reexame de cada um dos relatórios. Jacques Vallée e eu
idealizamos um meio elementar para a computação dos dados10 contidos nos
arquivos do Livro Azul e submetemos esta proposta à apreciação direta do Major
Quintanilha que a rejeitou sumariamente.
Tendo em vista o que acabamos de expor e as declarações do Serviço de
relações públicas, quase sempre contraditórias e vazias, no que dizia respeito aos
relatórios sobre OVNIs, que até o homem comum das ruas julgava
inconvincentes, não é para se ficar surpreso se muitas vezes comentava-se que a
“investigação” dos OVNIs realizada publicamente pela Força Aérea nada mais
era do que um testa de ferro para a verdadeira pesquisa que estava sendo
realizada em algum “setor mais categorizado”.
Se eu fosse o capitão de uma equipe de debates cuja tarefa naturalmente,
seria a de reunir todos os fatos favoráveis para o seu lado e cuidadosamente
evitar os outros, seria capaz de defender ambos os lados do argumento. No
entanto, não descobri, em momento algum, qualquer evidência que pudesse ser
apresentada como uma prova válida de que o Livro Azul era, efetivamente, uma
operação de disfarce. Todavia, várias informações, indicações e trechos de
conversas poderiam ter sido utilizados com algum esforço como uma afirmativa
à tese do disfarce. Por exemplo, certa vez em que fiz perguntas relacionadas com
os dados específicos de determinado caso, foi-me comunicado pelo cientista
chefe do Pentágono que tinha sido avisado pelos que ocupavam escalões bem
superiores, para me aconselhar a não “me adentrar mais no assunto”. Quem
quiser que tire daí as próprias deduções.
Numa nação onde a segurança é um assunto muito cuidado, onde a
inteligência central é uma íirte apurada, pareceu-me muitas vezes que todos os
relatórios sobre OVNIs, aqueles mais provocadores, eram abandonados sem uma
aparente pesquisa posterior — sem dúvida um procedimento ilógico, senão
perigoso, a menos que se soubesse a priori que o relatório na realidade não tinha
um valor potencial de informação para a segurança da nação (ou que era, mas
estava sendo cuidãdo em outro setor). Por exemplo, um relatório a respeito de
cinco discos que se deslocavam rapidamente, feito por um membro de ótimo
gabarito dentro do 524.° Esquadrão de Inteligência baseado em Saigon e
observado por ele do teto do quartel-general do esquadrão, não foi tocado pelo
Major Quintanilha e nem pelo Livro Azul sob a alegação de que ‘‘o avistamento
não tinha ocorrido dentro dos limites continentais dos Estados Unidos”. Deveria
parecer quase que inconcebível que o oficial de inteligência em questão não
tivesse sido posteriormente interrogado por alguma autoridadç; isto era certo
numa região de batalha ativa onde o seu avistamento poderia ter pressagiado um
novo engenho militar do inimigo.
Outro exemplo, um dentre muitos, foi este: no primeiro dia de agosto de
1965 e nos dois outros subsequentes ocorreu a ‘‘onda do Meio-Oeste”. De
diversos estados foram comunicadas estranhas Luzes Noturnas por policiais
comprovadamente responsáveis de ronda em diversos lugares numa área que
abrangia centenas de milhas quadradas. O Livro Azul ignorou este
acontecimento alegando tratar-se de ‘‘estrelas vistas através de camadas de
inversão”, embora não conheça um único astrônomo que tenha jamais
testemunhado efeitos de inversão que gerassem os efeitos relatados. Tanto as
experiências como os cálculos passados mostram que efeitos ilusórios deste tipo,
nos quais as estrelas se deslocam num arco de céu de tamanho considerável,
simplesmente não podem ser o resultado de uma inversão atmosférica.
Contudo, não foram os policiais os únicos a comunicar este fato. O que se
segue é uma transcrição direta de um memorando do Livro Azul: Nas primeiras
horas da manhã de l.° de agosto de 1965, os seguintes telefonemas foram
recebidos pelos escritórios do Livro Azul pelo tenente Anspaugh, que se
encontrava de serviço naquela noite:

1:30 da madrugada: O Capitão Snelling, do posto de comando da Força
Aérea Americana próximo a Cheyenne, Wyoming, telefonou para informar que a
estação de rádio local tinha recebido de 15 a 20 telefonemas a respeito de um
objeto redondo emitindo várias cores mas nenhuma espécie de som, tinha sido
avistado sobre a cidade. Dois oficiais e um controlador da base tinham
informado que, após ter sido visto diretamente sobre a torre de operações da
base, o objeto tinha começado a se deslocar rapidamente rumo ao nordeste.
2:20 da madrugada — O Coronel Johnson, Comandante da base aérea de
Francis E. Warren, próxima a Cheyenne, no Wyoming, ligou para Dayton para
avisar que o oficial comandante do Almoxarifado do Exército em Sioux, tinha
visto cinco objetos a 1:45 e comunicou uma suposta formação de dois OVNIs
que tinham sido relatados anteriormente sobrevoando E Site. A 1:49 membros do
voo E viram, segundo informaram, o que parecia ser a mesma combinação
avistada a 1:48 pelo grupo G de voo. Dois grupos de segurança foram enviados
do voo E a fim de proceder a investigações.
2:50 da madrugada — Mais nove OVNIs avistados e as 3:35 o Coronel
Williams, oficial comandante do Almoxarifado do Exército em Sioux, Sidney,
Nebraska, informou que cinco OVNIs rumavam para o leste.
4:05 da madrugada — O Coronel Johnson voltou a telefonar para Dayton
para comunicar que às 4:00 o voo Q tinha visto nove OVNIs: quatro a noroeste,
três a nordeste e dois sobre Cheyenne.
4:40 da madrugada — O Capitão Howell, do Posto de Comando da Força
Aérea, chamou Dayton e a Agência de Inteligência da Defesa para relatar que
um Grupo Estratégico do Comando do Ar em Site H-2 tinha comunicado, às
3:00, um objeto branco ovalado diretamente acima. Posteriormente o Grupo
Estratégico do Comando do Ar passou a seguinte informação: Relatórios da
Base Aérea de Francis E. Warren (Localização B-4, 3:17 da madrugada) — Um
OVNI, a 90 milhas leste de Cheyenne, numa velocidade média elevada e
descendo — oval e branco, com linhas listradas brancas dos lados e uma luz
pisca-pisca vermelha no centro deslocando-se para o leste; segundo a fonte,
aterrissou a 10 milhas leste do local.
3:20 da madrugada — Sete OVNIs vistos a leste do sítio.
3:25 da madrugada — Sítio E informou que seis OVNIs estavam empilhados
na vertical.
3:27 da madrugada — G-l informou um ascendendo e ao mesmo tempo E-2
comunicou que mais dois OVNIs juntaram-se aos sete, totalizando nove.
3:28 da madrugada — G-l comunicou um OVNI descendo mais adiante, indo
rumo ao leste.
3:32 No mesmo local um OVNI ascendendo e nivelando.
3:40 da madrugada — Sítio G informou um OVNI a 70 graus azimute e um a
120 graus. Agora vêm três do leste, empilhados verticalmente, passando pelos
outros dois, tendo todos os cinco rumado para o oeste.
Quando perguntei ao Major Quintanilla o que estava sendo feito com relação
às investigações sobre aqueles relatórios, respondeu-me que os avistamentos
nada mais eram além de estrelas! Isto é, evidentemente, tanto quanto afirmar que
o nosso Comando Estratégico do Ar, responsável pela defesa do país, contra
ataques vindos do ar, era composto por um notável conjunto de incompetentes
que confundiam estrelas cintilantes com aeronaves estranhas. Estas são as
pessoas que, algum dia, talvez possam ter a responsabilidade da deflagração de
uma guerra nuclear.
Para alguns, incidentes como estes mencionados seria uma prova conclusiva
prima facie, de que a hipótese de disfarce era a correta, sob a alegação de que
nenhum grupo encarregado da defesa do país poderia ter sido tão burro assim.
Por outro lado, o nosso hipotético capitão de equipe de debates poderia
reunir uma quantidade ainda maior de reservas de evidências para concluir justo
o oposto: que toda a operação Livro Azul era uma trapaça e estava alicerçada na
premissa categórica de que as coisas inacreditáveis relatadas não poderiam ter
qualquer fundamento de fato. Afinal de contas, a ciência compreende
perfeitamente bem o mundo físico, tem consciência do que é e do que não é
possível. Como as atuações relatadas a respeito dos OVNIs obviamente não se
enquadravam nesta imagem do mundo, só podiam ser fantasias da imaginação
produzidas de uma forma ou de outra.
Minha associação toda ao Livro Azul mostrou de modo claro que raramente
o projeto demonstrava qualquer tipo de interesse científico com relação ao
problema OVNI. Certamente, eles não se dirigiram aquilo que poderia ter sido
considerado o problema central do fenômeno OVNI: será que existe um
processo, ainda desconhecido, físico, psicológico, ou até mesmo paranormal que
origina estes relatórios sobre OVNIs que sobrevivem a uma seleção rígida e
ainda assim continuam deveras enigmáticos?
Uma tamanha falta de interesse renega qualquer acusação de “disfarce”; eles
simplesmente deram de ombros. Existe outra argumentação para o ponto de vista
da “não existência de um disfarce”: os subalternos da hierarquia militar (e todos
os oficiais que trabalharam no Livro Azul eram dessa classe — geralmente
capitães ou majores, dois dos quais foram finalmente promovidos a tenente-
coronéis mas nunca a coronéis) almejavam, sobretudo, duas coisas: a promoção
e uma aposentadoria próxima. Portanto, nos assuntos controversos sempre era
considerado mais inteligente não “lutar contra a maré”, a fim de agradar o oficial
superior e não criar onda. Logo, quando os oficiais superiores, que não estavam
a par dos fatos mas eram sim ligados à estrutura rígida do pensamento militar
transmitido de cima para baixo, opinavam em qualquer assunto controverso
(fosse sobre OVNIs ou não) deixando claro o “modo de pensar certo”, não havia
um único oficial subalterno que se opusesse ou mesmo o questionasse, a menos,
é claro, que estivesse 99 por cento seguro de que poderia comprovar que a razão
da controvérsia estava do seu lado — e isto rapidamente.
Como o Pentágono tinha-se expressado em termos bem claros a respeito dos
OVNIs, nenhum oficial do Livro Azul em sã mente tendo em vista a sua
consciência militar com relação à promoção, iria se pronunciar contra, mesmo
que tivesse suas opiniões próprias sobre o assunto.
Um outro fator foi acrescentado à teoria do não-disfarce. As mudanças nas
repartições do Livro Azul eram bastante constantes. Mais cedo ou mais tarde o
oficial encarregado do projeto estaria fora dele, bem mais perto da promoção e
da reforma, se ele ficasse qujetinho em seu lugar. De 1952 a 1969 o projeto foi
chefiado pelo Capitão Ruppelt (que só tornou público seus pontos de vistas
depois que deixou a Força Aérea), Capitão Hardin (que tinha ambições de ser
corretor da bolsa), Capitão Gregory (para quem a promoção era o princípio e o
fim da existência), Major Friend e finalmente o Major Quintanilla, cuja direção
foi a mais demorada. Dentre todos aqueles ao lado de quem servi no Livro Azul
foi o Coronel Friend que conquistou meu respeito. Tivesse ele seus pontos de
vista particulares, era um realista completo e prático e, “sentando-se numa
posição em que podia ver o placar’’, reconhecia as limitações de seu cargo mas
comportou-se com dignidadé e uma ausência total do estilo bombástico que
caracterizava diversos dos outros diretores do Livro Azul.
Ora, cada um pode fazer a sua escolha e formar uma opinião própria a
respeito do fato do Livro Azul ser um disfarce ou simplesmente uma bagunça.
Mas, era evidente que o Livro Azul agia desordenadamente e totalmente
divorciado da comunidade científica. Os membros da classe científica estavam, é
lógico, de mãos dadas com a hipótese do engano e da identificação errônea (não
havia necessidade de haver uma troca de ideias com o Livro Azul, que mantinha
a mesma opinião), e alguns membros denunciaram os relatores sobre OVNIs
com uma violência verbal sem par. Esta fase do fenômeno total tinha muitos
aspectos de uma moderna caça às bruxas.
Mas o Livro Azul já não existe mais e o seu encerramento levantou a
questão: para quem se deve enviar os atuais relatórios sobre OVNIs? Que os
avistamentos continuam a ocorrer é indiscutível (além de serem relatados extra-
oficialmente), conforme é demonstrado por qualquer serviço de recortes de
notícias que cobre os jornais das cida-dezinhas e as publicações de tiragem
pequena. No momento em que este livro está sendo redigido não existe nenhuma
repartição oficial ou governamental para onde se remetam relatórios deste tipo 1 .
Existem muitas organizações especializadas espalhadas pelo mundo que
aceitam avidamente relatórios sobre OVNIs, às vezes com muita avidez e pouca
exigência, a fim de disporem de material para suas publicações. Durante os
últimos vinte anos, centenas de organizações sobre OVNIs, formadas por civis,
começaram a surgir em muitas partes do mundo, sobretudo na França, Inglaterra,
Alemanha, Japão, Itália, Austrália, em alguns países latino-americanos e,
naturalmente, nos Estados Unidos. Muitas delas sobreviveram muito pouco, mas
cada qual a seu modo era o receptáculo para relatórios sobre OVNIs que cobriam
um amplo espectro de credibilidade e solidez. A maior parte das organizações
recebiam relatórios e faziam uma seleção mínima e uma investigação
insuficiente. Geralmente, isto era o resultado não de uma falta de interesse ou
mesmo de capacidade (embora alguns grupos não tivessem ao menos uma
iniciação de conhecimentos científicos) mas sim por falta de fundos e de tempo.
Muitas das organizações publicavam boletins mais ou menos periódicos.
Frequentemente, não passavam de simples folhas de papel mimeografado, porém
a maioria deles tinha uma existência ainda mais curta do que as organizações
que as geravam. Existiam e ainda existem algumas revistas, independentemente
de grupos patrocinadores de investigadores particulares. Sobressaem-se dentre
eles a FSR, Flying Saucer Keview, publicada em Londres desde 1954. É um
verdadeiro cofre de tesouros dê relatórios sobre OVNIs dos quais alguns foram
investigados com bastante profundidade, mas a maioria emparelha com a média
dos relatórios do Livro Azul. O leitor experimenta uma forte sensação de
frustração ao ler estes relatórios; em cada caso o leitor consciencioso sente a
falta de maiores detalhes; estes só são dados muito raramente. Infelizmente, não
existe uma só revista que conte com um suficiente apoio financeiro para dedicar
páginas e mais páginas aos detalhes que satisfariam os investigadores sérios, que
são relativamente poucos. As revistas em circulação contam com assinantes que,
na sua grande maioria, satisfazem-se com resumos; receio que alguns de seus
leitores desejem tão somente serem embalados por contos inacreditáveis .
A França conta com duas publicações das melhores: Phenomè-nes Spatiaux e
Lumières dans la Nuit. Servem como órgãos de publicação para dedicados
grupos cie investigadores — especialmente na França — que, na surdina,
puseram mãos a obra a fim de coligir dados de boa qualidade, talvez de uma
forma mais sistemática do que os grupos existentes nas outras partes do mundo.
Estes grupos trabalham graciosamente e com fundos limitados com o objetivo de
coligirem dados, evitando esforços para localizar as testemunhas de OVNIs e
realizando interrogatórios habilidosos. A Austrália, Nova Zelândia, Japão,
Canadá, Suécia e Itália são algumas das outras nações que publicam revistas ou
boletins sobre OVNIs. Há necessidade que se crie uma organização internacional
que poderia atuar como centro seletivo para revistas deste tipo e seus conteúdos.
Por várias vezes, foi sugerido que as Nações Unidas, talvez a UNESCO, poderia
agir em tal capacidade mas até a presente data qualquer sugestão deste tipo foi
engavetada.
Nos Estados Unidos só existiram duas organizações civis viáveis para a
investigação de OVNIs. A mais antiga, APRO (Organização para Pesquisa de
Fenômenos Aéreos), atualmente localizada em Tucson, Arizona, foi criada em
1952, no Wisconsin. A APRO realizou um excelente trabalho no que diz respeito
ao coligir dados sobre OVNIs, cujos resumos vem sendo publicados pelo Apro
Bulletin.
Quatro anos após a fundação da APRO, surgiu a NICAP (Comissão Nacional
de Investigações de Fenômenos Aéreos), localizada em Washington D. C., e
fundada para desenvolver-se e ter um quadro bem amplo de sócios. Ambas as
organizações sofreram por falta de apoio financeiro, o que significou, é lógico, a
impossibilidade da realização de investigações dispendiosas. A APRO tem um
aspecto internacional, conforme fica evidenciado pelo considerável número de
consultores e associados estrangeiros.
Muito embora ambas as organizações sejam coletoras seriamente
intencionadas de dados sobre OVNIs, cada uma abriga inevitavelmente nos seus
quadros sociais uma quantidade considerável de pessoas apaixonadas pela ideia
dos OVNIs, pessoas estas que são entusiastas demais e fáceis de contentar. Mas,
apesar disto, nem a APRO nem a NICAP são de modo algumas organizações
“doidas” no amplo sentido da palavra e contam com muitos membros idôneos,
muitos dos quais possuem uma considerável formação técnica e científica.
Houve muito pouca coincidência nos relatórios entre o Livro Azul e a APRO
ou a NICAP. Dr. Saunders observou que ao compilar relatórios para o programa
de computação da comissão Condon que nem chegou a vingar, a única
coincidência de relatórios ocorreu em torno dos casos que tiveram uma
publicidade intensa. As três organizações possuíam arquivos de OVNIs
essencialmente independentes.
Agora que já não existe o Livro Azul, perguntam-me com bastante
frequência se a Força Aérea está realmente fora do assunto OVNI.
Provavelmente a resposta encontra-se numa carta oficial do Pentágono escrita
após o encerramento do Livro Azul. Esta declara:
O Comando de Defesa Aérea (ADC) está encarregado da defesa aeroespacial
dos Estados Unidos.... Consequentemente, o ADC é responsável pelos
fenômenos aéreos desconhecidos relatados de várias formas e os dispositivos da
publicação conjunta da Força Aérea-Marinha-Exército (JANAP 146) decide a
respeito do processamento de relatórios recebidos através de fontes não-
militares.
No JANAP-146 E, atualmente em atuação, os dispositivos e instruções para
a informação de objetos desconhecidos no ar pelo pessoal militar estão
explicitamente estabelecidos. Contudo, convém recordar que o militar está
interessado, originalmente, em aviões não-identificados, sobretudo aqueles que
poderiam ser de procedência estrangeira. Tais aviões são, sem dúvida, objetos
voadores não-identificados, ainda que não satisfaçam a definição adotada neste
livro. Nunca há uma questão a respeito de que não sejam aviões (que são objetos
voadores) e que sua origem seja não-identificada.
Durante o longo tempo em que colaborei com o Livro Azul, mantive alguns
encontros bastante interessantes com as testemunhas de OVNIs, alguns contatos
igualmente interessantes, porém menos divertidos com o pessoal militar, e tive
uma visão mais íntima do modo de atuar de um projeto pseudocientífico. O
Livro Azul era essencialmente uma operação fechada, |na qual A falava com B e
B com C e C falava com A. Havia pouca influência por parte de grupos
científicos externos. É concebível que no seu modo oficial, militar inato, era
deixado a proceder desengonçadamente, enquanto, independentemente, estava
sendo dada uma atenção séria oficial a alguns poucos casos selecionados que
talvez nem tivessem chegado através dos canais do Livro Azul. Simplesmente o
ignoro. Na minha posição de consultor periódico, nunca fui merecedor dá
confiança dos oficiais mais graduados do Pentágono no que diz respeito a este
assunto. O JAN AP-146 E ainda existe e está atuante e responde pelo
processamento dos relatórios sobre fenômenos aéreos desconhecidos
procedentes tanto de fontes militares como das não-militares. Provavelmente
nada mais precisa ser dito.

NOTAS

1. Eu era um membro associado deste quadro mas não era convidado a
participar de todas as sessões. Numa das que participei, os filmes célebres
de Tremontain, no Utah, e de Great Falis, Montana, foram exibidos (estes
filmes são bastante conhecidos por aqueles que acompanharam a saga dos
OVNIs) e rejeitados sob a alegação de que nada mais eram além de gaivotas
e avião, respectivamente. 0 painel, é claro, não contou com o benefício da
análise detalhada do caso de Great J Falls ("Observational Evidence of
Anomalistic Phenomena”, Journal of Astronautical Sciences, Volume XV,
N.° 1, 1968, pág. 31-36) realizada pelo Dr. M.L. Baker, patrocinada pela
Douglas Aircraft Company, por quem o Dr. Baker tinha sido contratado.
Nos seus escritos conclui o Dr. Baker:....“as imagens não podem ser
explicadas por nenhum fenômeno natural atualmente conhecido”.
2. Mesmo àquela época, não fiquei satisfeito com o que me pareceu uma
investigação demasiadamente superficial dos dados e pela falta de
curiosidade dos membros do painel e da vontade de se aprofundar mais no
assunto. Em 1953, já havia muitas centenas de casos com um Grau de
Estranheza bastante elevada (era um resquício dos casos iniciais do Projeto
Sign); o plantei deve ter examinado uns doze, mais ou menos. Não me
pediram para assinar o relatório elaborado na época, e não o teria feito caso
tivesse sido solicitado a fazê-lo.
3. Menkello, F. G. “Quantitative Aspect of Mirages". Relatório N.° 6112,
Menkello é um Primeiro Tenente da Força Aérea, lotado no Centro de
Aplicações Técnicas do Meio Ambiente. “É fácil mostrar que as ‘Tentes de
ar” e as “inversões violentas” postuladas por Gordon e Menzel, entre
outros, necessitariam de temperaturas de muitos milhares de graus Kelvin
para que pudessem originar as miragens que lhes são atribuídas”.
4. Ruppelt, Edward. Reporton Unidentified Flying Objects. pág. 80.
5. lbid., p. 81.
6. lbid., p. 81.
7. Ibid., p. 82.
8. Ibid., p. 83.
9. Tbid., p. 88.
10. Kepler, o astrônomo alemão que, incapaz de reunir dados por si só,
usava aqueles obtidos através dos anos por Tycho Brahe, o astrônomo
dinamarquês que, por sua vez não sabia o que fazer com seus excelentes
dados. Kepler e Brahe tiveram muitas discussões, mas apesar disto Kepler
sabia que precisava daqueles dados para elaborar a sua teoria do
deslocamento planetário. Portanto, dava tempo ao tempo.
11. Application of Electronic Data Processing Techniques to Unnusual
Aerial Phenomena: Organization and Development of an Inquiry System.
Apresentado por J. A. Hynek em julho de 1966.
12. Alguns cientistas e eu, na Universidade de Northwestern, concordamos,
com esse objetivo, atuar como um centro receptor de relatórios sobre
OVNIs, sobretudo os enviados por pessoas com formação científica e
técnica. É muito importante que os dados com um valor científico em
potencial não sejam perdidos.
12 - NEM SEMPRE A CIÊNCIA É AQUILO QUE OS
CIENTISTAS FAZEM


É dever da Ciência não afastar sumariamente os fatos somente por
parecerem eles extraordinários e por não ter ela condições de explicá-los.
— atribuído a Alexis Carrel.

A 6 de outubro de 1966, a Universidade do Colorado e a Força Aérea dos
Estados Unidos celebraram um acordo formal para o estabelecimento de uma
comissão científica e cujo objetivo era estudar (e presumivelmente acabar de
uma vez por todas) o complexo problema dos OVNIs com o qual a Força Aérea
vinha lutando há vinte anos. A comissão seria dirigida pelo Dr. Edward U.
Condon, um físico de reputação consagrada, famoso não só pelos seus feitos
científicos mas também por sua coragem em se pronunciar a respeito de assuntos
controvertidos.
Dois anos mais tarde, apareceram os resultados do trabalho da comissão: um
relatório volumoso, incoerente e deficiente, com 937 páginas de texto, sendo que
muito menos da metade dedicado à investigação de relatórios sobre OVNIs. O
relatório inicia-se com um sumário, singelamente indireto, redigido pelo Dr.
Condon, que muito astutamente evitou mencionar que dentro do corpo do
relatório estava contido um mistério persistente; a comissão não fora capaz de
fornecer explicações adequadas para mais de um quarto dos casos examinados.
Contudo, não fosse o fato de que o público em geral só tivesse tido acesso
imediato, através da imprensa, só do conteúdo do sumário do relatório, e suas
indicações de que o problema OVNI tinha sido “solucionado”, poucos seriam os
motivos de crítica ao Relatório Condon. Este cobre uma área nova muito
diminuta. Outros, antes de Condon, tinham demonstrado que os dados
disponíveis não eram, nem de longe, suficientes, para se estabelecer a hipótese
de visitas extraterrestres. Condon limitou-se, e apenas parcialmente, a refazer os
procedimentos daqueles que tinham maiores conhecimentos do que ele e seu
grupo.
As conclusões e recomendações estão compreendidas na primeira parte do
sumário de dois capítulos. Duas declarações são essencialmente esclarecedoras:

Uma pesquisa cuidadosa do registro, como se encontra disponível para
nós leva-nos a concluir que o prosseguimento de um ulterior estudo
exaustivo a respeito dos OVNIs na esperança de que se obtenha um avanço
da ciência provavelmente não se justifica.

Isto foi, sem dúvida, o beijo da morte para qualquer tipo de investigação
futura em nome da procura de conhecimento. Ainda assim vamos encontrar esta
corriqueira declaração:

Portanto, achamos que todas as repartições federais, e também as
fundações particulares, deveriam levar em consideração as propostas de
pesquisas sobre OVNIs juntamente com as outras que lhes são oferecidas
com base em uma mente aberta e sem preconceito. Embora julguemos que,
no momento atual, nada de válido resultaria de uma pesquisa deste tipo, cada
caso isolado deveria ser cuidadosamente considerado segundo seus próprios
méritos.

Trata-se realmente de uma obra prima na qual foi atirado um pedaço de
carne política aos cachorros da crítica. Não seria possível imaginar uma
declaração mais insincera e, sem dúvida, o Dr. Condon, um mestre do mundo
político-científico, seria o primeiro a reconhecê-la como tal. Pode-se facilmente
imaginar o desespero de uma repartição de subsídios governamental, sempre às
voltas com o problema de falta de verbas, se tivesse mais a seu encargo
pesquisas deste tipo diante do sumário esmagador de Condon com relação a
situação. Não demoraria muito tempo e os congressistas estariam recebendo
cartas e brados indignados de queixas daqueles que tivessem tido rejeitados seus
pedidos para conseguirem fundos que seriam aplicados em campos científicos já
estabelecidos, perguntando-lhes porque razão suas propostas tinham sido
rejeitadas enquanto “esta tolice dos OVNIs” conseguia apoio 2 .
O resto do exaustivo relatório não permite uma descrição sucinta. Trata-se de
uma compilação desarticulada de assuntos parcialmente relacionados, cada um
cie um autor diferente, mesmo se alguns setores tratam diretamente das
investigações de casos de OVNIs selecionados. Lidos cuidadosamente.... são
estes que desmentem o sumário do relatório Condon. Portanto, nas entrelinhas e
escondidos em meio ao relatório, encontramos declarações várias e provocantes,
como por exemplo: “Concluindo, embora não possamos deixar de lado as
explicações convencionais ou naturais, estas parecem-nos mínimas neste caso e
a probabilidade que houvesse pelo menos um OVNI verdadeiro presente é
razoavelmente possível”. E noutro lugar: “Este deve permanecer como um dos
casos registrados de radar mais inexplicáveis e, neste momento, não temos
condições de chegar a uma conclusão”. Novamente: “Quer nos parecer que este
avistamento desafia uma explicação através dos meios convencionais” . Outra:
“Os três avistamentos inexplicados que foram coligidos de um enorme número
de relatórios são um desafio para o analista’’. E para coroar a síndrome da falta
de explicação, que se faz presente como um fio de tecelagem através das páginas
do relatório, encontramos esta observação reveladora: “Este avistamento fora do
comum deveria, portanto, ser atribuído a categoria de algum fenômeno quase
certamente natural, que é tão rafo que, aparentemente, nunca foi verificado
anteriormente nem posteriormente”. (Como pode este acontecimento fora do
comum aparecer entre os 90 escolhidos entre que poderiam ter sido
selecionados? Quantos serão os outros acontecimentos identicamente “raros”
que ainda se encontram escondidos entre os 24.910 relatórios restantes?)
A tese do presente capítulo é simplesmente esta (a) o assunto da matéria
objeto de estudo do grupo Condon foi definido incorretamente, e (b) a comissão
pesquisou o problema errado.
Condon definiu o OVNI como apenas alguma coisa que intrigou um
determinado tipo de observador. Não foi exigido que o OVNI de Condon
passasse por um processo de seleção antes de ser admitido para estudo na
qualidade de um OVNI: um relatório que permaneceu inexplicado após ser
submetido a um exame minucioso realizado por pessoas tecnicamente
preparadás. Logo, a comissão teve, na realidade, como objetivo encontrar uma
explicação natural que se enquadrasse ao problema. Na minha opinião tal
comportamento deveria ter sido adotado no processo inicial da seleção. O fato de
que mais de 25 por cento dos casos estudados não pudessem ser relacionados a
causas naturais significa, simplesmente, que somente 25 por cento dos casos
estudados eram selecionáveis para estudo como se fossem OVNIs.
Eram estes casos (e muitos outros que a Força Aérea tinha classi ficado
como “Não-Identificado”) e apenas estes, que deveriam ter sido estudados
exaustivamente. A história da ciência já provou que são as coisas que não se
enquadram, às aparentes exceções a regra, que assinalam as possíveis aberturas
para o conceito do mundo que nos cerca. E eram estes casos que deveriam ter
sido estudados sob diversos ângulos. A comissão houve por bem considerar tão
somente o problema de estabelecer se os relatórios OVNIs (e muitos outros
relatórios de não-OVNIs) indicavam a hipótese de que a terra estava sendo
objeto da visita de inteligências extraterrestres (ETI). OVNI = ETI era a
equação. A comissão não tentou estabelecer se os OVNIs constituíam,
realmente, um problema para o cientista-, físico ou social. Nem mesmo a
questão de que os intrigantes relatórios sobre OVNIs, originários de todas as
partes do mundo, poderiam constituir “observações empíricas realmente novas”,
foi levada em consideração. Logo, a comissão estudou, na realidade, o problema
das identificações errôneas e suas interpretações equívocas como uma prova de
que a terra estava sendo visitada por seres extraterrestres. Talvez este seja um
problema para os sociólogos e psicólogos, que poderiam estar realmente
interessados em saber que muitas milhares de pessoas não são capazes de
identificar Vénus, um meteoro ou as luzes de pouso de um avião e interpretam
suas identificações errôneas como se fossem visitantes do espaço sideral.
O problema era — e continua sendo — saber se o fenômeno dos relatórios
sobre OVNIs, provenientes de mais de uma centena de países representa algo
genuinamente novo para a ciência, totalmente afastado de qualquer teoria
preconcebida (como o é a ETI) que possa ser responsável pelos relatórios.
Nenhuma crítica formulada ao Relatório Condon pode evitar a menção da
escolha de dados para estudo. Por ter se concentrado amplamente nos casos do
momento (40 dos 90 casos estudados tinham ocorrido no ano de 1967) e também
em relativamente poucos casos dos milhares que tinha à sua disposição, os
membros da comissão não puderam prestar atenção aos padrões mundiais das
aparições durante os vinte anos anteriores. Havia mais de 12.000 relatórios da
Força Aérea à disposição da comissão bem como os milhares dos arquivos da
NICAP e da APRO (esta última não os colocou à disposição da comissão,
principalmente por julgar que o seu modo de enfocar o assunto era
excessivamente deficiente sob o ponto de vista psicológico). O Dr. Saunders
observou que nos seus estudos estatísticos sobre os relatórios OVNIs (não
incluídos no Relatório Condon porque Saunders foi excluído da comissão)
encontrou pouca imbricação nos arquivos da Força Aérea e da NICAP, exceto
quando se tratava de casos que tinham tido grande publicidade. Pelo que
conheço dos arquivos da APRO creio que o mesmo ali se aplica.
Portanto, ainda que se pudesse defender a ênfase dada à utilização de casos
da época, a validade deste procedimento está calcada na pressuposição de que
estes (e cerca de mais 50) representavam os 25.000 distribuídos em vários
arquivos. Por exemplo, apenas alguns poucos casos utilizados neste livro para a
elaboração de um protótipo das diferentes categorias é que foram estudados e
nenhum deles foi explicado (Reconheço que poderia fundamentar o meu caso
nesta premissa com êxito completo).
O Relatório Condon não estabeleceu coisíssima alguma. Contudo, se for lido
com todo o cuidado, o relatório constitui um bom argumento para o estudo do
fenômeno OVNI, o melhor que poderia ter sido elaborado, trabalho este
executado num curto espaço de tempo e por um grupo de especialistas nas suas
disciplinas e sem terem um conhecimento anterior do assunto.
Para que se compreenda as atitudes do Relatório Condon é da máxima
importância saber como se originou. Pode-se dizer no sentido literal da palavra
que ele foi criado devido ao “gás do pântano”. Quando, em 1966, sugeri o gás do
pântano como a possível origem daquela quantidade imensa dos avistamentos no
Michigan, em Dexter e Hillsdale, nas quais luzes fracas eram observadas sobre
áreas pantanosas (a explicação nunca teve a intenção de cobrir toda a gama das
histórias geradas nessa área, em geral, àquela época), o gás do pântano
transformou-se numa expressão familiar a nós e um sinônimo humorístico para
OVNls. Os OVNIs, o gás do pântano e eu éramos motivo de sátira da imprensa e
objetos de muitas caricaturas maravilhosas (das quais possuo uma coleção).
Quero acreditar que se um OVNI, naquela época, fosse observado ne deserto do
Saara, seria atribuído ao gás do pântano.
Os bons cidadãos de Michigan não gostaram da gozação criada e uma dupla
bipartidária de congressistas (Weston Vivian, representante democrata de Ann
Harbor e o líder da minoria republicana, Gerald Ford) convocaram-me para uma
audiência sobre o assunto3. Algumas citações da audiência são relevantes e de
interesse aqui:

O PRESIDENTE: (L. MENDÉL RIVERS): Dr. Hynek, tem algo que o
Senhor gostaria de nos dizer?
HYNEK: Senhor Presidente, a imprensa foi muito indelicada comigo.
PRESIDENTE: O senhor deveria ser o presidente desta comissão.
HYNEK: A imprensa descreveu-me como “um joguete da Força Aérea” e
declarou que só digo aquilo que a Força Aérea ordena. Gostaria... de ler para
a comissão uma declaração... que evidentemente não foi ditada pela Força
Aérea.
PRESIDENTE: Gostaria que o senhor agora aumentasse o volume do
microfone....
HYNEK:... o tipo de atividade que a imprensa noticiou a respeito de
Michigan não é incomum. Tudo quanto aconteceu foi que os incidentes
de Dexter e Hillsdale, ainda que de pouco significado científico, atraiu o
interesse nacional. Agora, incidentes parecidos, além de outros bastante
mais inexplicáveis, vêm ocorrendo há muitos anos.... Apesar da aparente
futilidade do assunto, acho que eu seria relapso para com a Força Aérea
devido à minha responsabilidade científica se não tivesse observado que
todo o fenômeno OVNI talvez tenha aspectos que tornem válida a
atenção científica.... Estou satisfeito que a minha presença diante desta
comissão me proporcione a oportunidade para reiterar as minhas
recomendações. Especificamente, a minha opinião é que o conjunto de
dados acumulados a partir de 1948.... merece um exame minucioso
realizado por um painel de cientistas físicos e sociais, e que se deveria
solicitar a este mesmo painel que examine o problema OVNI de forma
crítica com a finalidade expressa de determinar se existe realmente um
problema de maior importância.
PRESIDENTE: O senhor declara não poder negar este tipo de relatório que
não pode expor ao ridículo aqueles que os fizeram. São pessoas
profundamente responsáveis em vários setores da vida, aquelas que os
redigiram (é interessante que muitas destas palavras estivessem sendo
usadas pelo presidente. Tinha-nos dito ele, pouco tempo antes, que a sua
mulher estava bastante interessada nos OVNIs).... Pois muito bem, está
nos dizendo nesta manhã que deveria haver um quadro de cientistas
abalizados e autorizados pela Força Aérea para quem estas coisas podem
ser entregues e de quem deveria partir um relatório?
HYNEK: Sim senhor, estou dizendo isso mesmo. Isto seria a essência da
minha declaração. Contudo, fui antecipado pelo Secretário Brown, que
comentou que um Conselho Científico tinha recomendado a mesmíssima
coisa.

Justamente poucas semanas antes, uma comissão especial da Junta
Consultiva Científica, sob a presidência do Dr. Brian O’Brien, tinha aconselhado
entre outras coisas: “Devem ser celebrados contratos com algumas universidades
escolhidas a fim de que forneçam equipes científicas para investigar rapidamente
e em profundidade certos avistamentos selecionados de OVNIs.... As
universidades deveriam ser selecionadas de forma a ter uma boa distribuição
geográfica....”
A comissão O’Brien tinha sido criada por uma carta do Major General E. B.
Le Bailly, Diretor de Informação da Força Aérea dos Estados Unidos, que dizia
mais ou menos isto:

Nessa conformidade, solicita-se que um quadro de trabalho científico....
seja organizado para rever o Projeto Livro Azul.... e para aconselhar a Força
Aérea a respeito das melhorias que deveriam ser introduzidas....
O Dr. J. Allen Hynek, que é o presidente do Observatório Dearborne da
Universidade de Northwestern, é o consultor científico do Projeto Livro
Azul. Ele demonstrou muita vontade de trabalhar em conjunto com um
quadro deste tipo a fim de colocar este problema dentro de uma perspectiva
adequada. O Dr. Hynek debateu este problema com o Dr. Winston Markey, o
ex-diretor científico da Força Aérea.

Pouco tempo antes disto acontecer tinha recebido uma carta remetida pelo
Tenente-Coronel J. F. Spaulding, do Departamento de Informação da Força
Aérea, focalizando este problema, ao qual respondi em parte:

Refleti muito sobre a sua carta datada de 13 de agosto (de 1965), na qual
o senhor levanta a questão de explorar junto à Academia Nacional de
Ciências a possibilidade dela dar uma olhada no problema OVNI.... Em
primeiro lugar, a ideia de se ter uma organização civil assistindo a Força
Aérea no que diz respeito ao problema OVNI, seja trabalhando lado a lado
com aquela arma ou absorvendo totalmente o assunto, não é uma coisa nova.
Esta hipótese foi estudada, várias vezes, nos últimos 18 anos. Em 1952, o
Battelle Memorial Institute, em Columbus, recebeu o encargo de realizar
uma pesquisa estatística sobre os relatórios OVNI até aquela data. Não fui
ouvido naquela oportunidade como consultor, porém durante o tempo em
que o Coronel Friend se encontrava à frente do Livro Azul, criamos um
quadro de cientistas, selecionados do Wright Field, que se encontrava com
regularidade para ajudar nas classificações. Se bem me recordo....
(incluímos) um psicólogo e até mesmo um capelão! Mas como este esforço
partira de dentro da casa, sem contar com o apoio superior, o quadro teve
pouco tempo de existência.
Mais tarde ainda, SAFOI ou o seu equivalente, estudou a possibilidade
de se fazer uma abertura deste tipo com a NASA e a NSF para se contar com
uma assistência semelhante, porém após algumas reuniões.... não se chegou a
ponto algum. Com a exceção de uma outra tentativa posterior, no sentido de
despertar o interesse da Instituição Brookings em pesquisar o assunto, o
problema continuou sendo da alçada da Força Aérea e, eu diria, que
provavelmente continuará assim....

Portanto, minha opinião neste presente momento.... é que um quadro de
cientistas civis.... seja solicitado a examinar o problema OVNI de forma crítica
com a finalidade expressa de determinar se existe, realmente, um problema
maior.... O quadro deveria ser um painel atuante.... cujos membros estejam
ansiosos para fazer uma boa quantidade de pesquisa em casa entre as reuniões.
Gostaria, é lógico, de auxiliar um quadro deste tipo da melhor forma que me
seja possível e até tiraria algum tempo de licença na minha universidade caso
isto auxiliasse a colocar este problema dentro de uma perspectiva apropriada.
Cópias desta carta foram enviadas ao Dr. Winston Markey, Cientista-Chefe
da Força Aérea dos Estados Unidos e ao Dr. Harold Brown, Secretário da Força
Aérea. O uso de diversas frases idênticas na carta do Coronel Bailly, alguma
semanas mais tarde, endereçada à Junta Consultiva Científica demonstra que a
minha carta, pelo menos, foi lida nos locais apropriados.
Afinal, (após várias tentativas infrutíferas de colocar o estudo dos OVNIs a
cargo da universidade Ivy League) a Universidade do Colorado aceitou este
desafio a 6 de outubro de 1966. Eu não deveria fazer parte do grupo de pesquisa,
possivelmente sob a alegação de que a comissão deveria ser composta apenas
por aqueles que nada sabiam a respeito do assunto e, portanto, poderiam enfocá-
lo de forma inteiramente nova. Este critério, aparentemente louvável, tinha seus
próprios perigos inerentes ao caso e era, de certa forma, o mesmo que pedir a um
grupo de calouras em culinária para dar uma olhada na haute cuisine e abrir um
restaurante de três estrelas.
Não obstante, compreendi a racionalização e, inicialmente, fiquei satisfeito
com as perspectivas. Recordo-me de um encontro sobremodo agradável na casa
do Dr. Franklin Roach, um dos componentes da comissão e meu companheiro
em astronomia de muitos aifos, durante a qual o Dr. Condon e diversos outros
membros da comissão estiveram presentes. Tinha-se a sensação de uma aventura
como aquela que precede o início de uma longa viagem. Contudo, até mesmo
naquela noite, percebi a atitude basicamente negativa do Dr. Condon (e também
a da Sra. Condon que era especialmente forte), porém achei que se tratava
apenas de um ceticismo natural por parte de um cientista que ainda não tinha
tido oportunidade para examinar os dados. Àquela altura, não fazia ideia do
quanto aqueles dados iriam ser esparsos e selecionados ineficientemente.
Não se tinha passado muito tempo, assim que a comissão deu início ao seu
trabalho, e eu já começava a ouvir histórias perturbadoras, primeiro de um,
depois de outros de meus amigos que estavam associados ao Projeto Colorado.
Parecia haver uma verdadeira dificuldade para definir o problema: os três
psicólogos divergiam seriamente a respeito do que deveria ser estudado pela
comissão. Um deles insistia que as pessoas estavam “apenas vendo coisas”, e ele
não aceitaria, nem mesmo por um instante, a possibilidade de que houvesse um
verdadeiro fenômeno físico digno de ser estudado. No seu questionário dedicou
uma página aos elementos dos avistamentos e vinte para as reações psicológicas
do observador.
Outro psicólogo se entusiasmou com a ideia de que todo o problema OVNI
não passava da hipótese ETI. Outro, concordando com esta teoria, estabeleceu a
impossibilidade de se distinguir um ETI, se é que existia, de uma categoria que
abrangesse todos os tipos de avistamentos.
Um dos cientistas físicos propôs o uso de uma câmara estéreo em cuja lente
seria colocada uma grade de difração de tal modo que o espectro das luzes dos
OVNIs pudesse ser determinado. Ele desconhecia que a mesma ideia tinha sido
proposta e posta em uso limitado em 1954 pelo Dr. Joseph Kaplan, um dos
organizadores do Ano Internacional Geofísico. Pouco tempo depois eu tinha
demonstrado que, segundo testes atuais, o engenho era inadequado exceto no
tocante a luzes muito fortes. Ainda tenho em meu poder uma das câmeras
Videon estéreo distribuídas naquele tempo às bases aéreas, um souvenir dos
“velhos tempos’’ dos OVNIs. E tudo isto “para um enfoque novo’’ ao problema!
O Dr. Saunders aderiu à hipótese do ETI como a solução central que deveria
ser testada. Sem dúvida, esta era a coisa mais espetacular que se podia fazer,
muito embora não houvesse uma verdadeira prova de que isto constituísse o
problema básico. Contudo, ao definir isto como a questão central a respeito dos
OVNIs, a comissão começou a conquistar a opinião popular. Na mente do povo
o OVNI é virtualmente um sinônimo de visitantes espaciais, geralmente
considerados como “homenzinhos verdes’’.
No entanto, o modo de tratar o assunto proposto por Saunders, tão logo ficou
definido e foi adotado, era excelente: no ‘ ‘resumo da comissão Condon’’, que
Jacques Vallée e eu fomos convidados a fazer nas primeiras semanas de sua
existência, tínhamos ambos insistido com veemência que todos os dados
disponíveis, convenientemente pesados, sobretudo àqueles que faziam parte dos
arquivos da Força Aérea, deveriam ser colocados em termos que pudessem ser
lidos por máquina a fim de que os computadores eletrônicos pudessem ser
usados com relação à análise dos dados. Saunders começou a “computar’’ os
dados disponíveis e, à época em que foi despedido da comissão, já tinha muitos
milhares de casos passados para a fita magnética. (No momento da elaboração
deste livro ele já tem uns 30.000 casos gravados, a disposição de uma análise
sofisticada). Como Saunders “caiu no desagrado’’ de Condon, nenhum de seus
trabalhos estatísticos foi incluído no relatório, que “satisfez” seus leitores com
uma análise de uns 90 casos, muitos deles de ocorrência recente na época, e em
muitos casos não satisfaziam a definição de OVNI adotada nesta obra. Eu e
Vallée praticamente! imploramos junto à comissão para que se procurasse
padrões em milhares de relatórios, insistimos que era fundamental obter uma
perspectiva total da situação dos OVNIs. Só poderia ver que tipo de coisas
estavam sendo relatadas e por quem se assim agisse. Mas, inversamente, a
comissão Condon mergulhou numa amostragem esparsa de casos sem ao menos
saber se esses casos específicos se encaixavam à imagem total. Será que eles (os
casos) eram realmente representativos dos relatórios verdadeiramente
inexplicáveis.
O melhor passatempo da comissão era a busca de uma metodologia, o que
lhe absorvia muito. Embora o relatório exiba o título ‘‘Estudo Científico de
Objetos Voadores Não-Identificados”, teria ele sido realmente científico? Ou, na
verdade, poderia ter sido? Será que os métodos padrões da ciência, tão bem-
sucedidos nas áreas em que as experiências podem ser repetidas sob condições
controladas no laboratório, podem ser aplicados ao fenômeno OVNI?
Já se disse que não é o assunto, mas a metodologia empregada que determina
se um estudo é científico ou não. De um modo geral isto pode ser aceito, mas
será verdade nesta área especial... do OVNI? Partindo-se do pressuposto de que
“os melhores” relatórios sobre OVNIs são contos inacreditáveis narrados por
pessoas de credibilidade, como pode alguém estudá-los a não ser analisando-os,
classificando-os e descrevendo-os em termos mais exatos e de forma mais
ordenada do que aquela contida no relatório em estudo? Que tipo de visões
novas, novas evidências podem ser introduzidas a não ser através de mais
detalhes que substanciem uma estória já por si só inacreditável?
No procedimento científico consagrado, a pessoa, geralmente, tem alguma
hipótese para testar. “Se — então” é o epítome do método científico. Se isto é
isto, então sucederá aquilo, e a hipótese de nada vale a menos que o “então”
possa ser testado, possa ser comprovado ser verdadeiro ou falso. Este último é
particularmente importante, ou seja, a demonstração de que uma hipótese pode
ser inequivocamente falsa. Existe alguma experiência crucial que possa ser feita
ou alguma observação que provará ser a hipótese falsa? Em caso negativo, como
é possível que alguém estabeleça uma distinção entre uma hipótese e outra?
A comissão Condon resolveu testar a hipótese do ETI, ou seja que os OVNIs
eram uma prova concreta de visitas extraterrestres. Como se pode demonstrar
que isto é falso? Pode-se preparar uma rede de observação complicada e nenhum
OVNI aparecer. Será isto uma prova negativa? Não. Pode-se sempre dizer que os
OVNIs guiados de forma inteligente sabiam que estavam sendo esperados e por
isto evitaram a armadilha que lhes fora preparada.
Verdade, é que a comissão Condon julgou praticamente um terço de seus
casos sem explicação, mesmo que esta fosse parcialmente adequada. Os
“peritos” estavam atônitos. O que significaria isto com relação a hipótese ETI?
Nada. Poderia haver muitas explicações, dependendo do tipo de pressuposição
inicial que se queira ter a ousadia de formular. Por exemplo, se alguém deseja
postular a existência de mundos além do físico (astral ou etéreo), poderá
satisfazer com facilidade e virtualmente explicar todos os relatórios sobre os
malabarismos dos OVNIs. Mas como irá estabelecer que a hipótese é
verdadeira? Se não se tiver um método operacional para prová-lo, a coisa deixa
de ser ciência. As hipóteses continuam sendo hipóteses e nos deparamos com
“as setenta e duas seitas antagônicas”.
Mesmo se a comissão Condon tivesse contado com dados muito mais
amplos, teria abraçado uma tarefa inútil. A única hipótese que a comissão
poderia ter testado de maneira produtiva era: Existe um fenômeno, descrito pelo
conteúdo dos relatórios sobre OVNIs, que não é expleicável fisicamente no
presente momento. Esta hipótese pode ser provada falsa através do simples
expediente de explicar, pelos atuais princípios físicos, os trinta ou mais casos
que a comissão foi incapaz de tratar satisfatoeriamente e, é claro, as muitas
centenas de outros que não foram examinados pelo grupo Condon. Ainda assim,
sempre se pode trazer à baila novos casos, dizendo: “Aqui está, vocês não
explicaram este”, mas a razão ordena que se um predeterminado número, n, de
casos (examinados por um plantel de pessoas bem versadas no assunto, que
tinham submetido os casos a uma seleção cuidadosa a fim de excluir
virtualmente pássaros, balões, aviões, meteoros, planetas, etc.) possa ser
explicado, o assunto fica encerrado a menos que uma nova observação e dados
dessemelhantes sejam apresentados. Inversamente, se os casos de teste não
podem assim ser explicados, é quase que evidente a existência de um fenômeno,
praticamente por definição, que não é explicado pelos atuais princípios da física.
Uma leitura acurada de relatório estabelece que a comissão avançou
demasiado, inadvertidamente, a fim de estabelecer as hipóteses da “não-
explicação” enquanto se debatia com a hipótese do ETI. Segundo ela própria
admitiu, seus “peritos” estavam verdadeiramente atônitos perante os
relativamente poucos casos examinados e mesmo se tivessem tentado outros
casos não havia nenhuma indicação de que teriam sido bem sucedidos, de vez
que outros investigadores, com conhecimentos mais profundos, também não
tinham uma explicação que os satisfizesse.
Na minha opinião, foi uma grande infelicidade que certos acontecimentos
tenham ocorrido e conduziram ao afastamento do Dr. Saunders. Se este tivesse
continuado a integrar a comissão, o seu curso teria, certamente, sido diferente na
eventualidade de ter sido aceita a sua orientação. Ainda que ele tivesse se
concentrado em testar a hipótese do ETI, teria logo percebido que apesar da
hipótese não poder ser provada ou desaprovada, a hipótese de “não-explicável
pelos atuais princípios da física” era óbvia.
O Dr. Condon evidentemente estava consciente do valor do Dr. Saunders
para o projeto, pois antes da demissão, quando requeria fundos adicionais (mais
$259.146 à verba inicial de $313.000) escreveu na proposta oficial:

O Dr. Saunders tem muitos deveres. Tem estado dirigindo a compra,
catalogando e organizando o arquivo dos avistamentos... Saunders tem sido o
responsável, com a assistência de outros membros do Grupo de Estudo, pelo
desenvolvimento da entrevista e dos avistamentos revelados nos relatórios...
O Dr. Saunders também é o responsável pela análise estatística dos dados
sobre OVNIs. No momento em que este documento está sendo redigido, ele
completou os formulários de cerca de 1.200 relatórios de avistamentos para
serem lidos mecanicamente. Julga-se que outros dados serão acrescidos em
formulários à respeito de muitos outros avistamentos quando se tiver
desvendado as técnicas para codificar uma série de parâmetros que são
difíceis de manipular estatisticamente.... A fim de promover uma articulação
destas funções inter-relacionadas, Saunders ficou com a responsabilidade de
todas elas: a manutenção do registro do avistamento, a análise estatística, a
formulação das perguntas feitas nas entrevistas e os formulários de
avistamento. Há uma outra função relacionada: a tomada de decisão perante
o sinal no sentido de que sejam enviados grupos de investigação ao campo
para o estudo de relatórios de avistamentos. Saunders também é o
responsável por isto.

Pouco tempo depois desta carta ter sido escrita, Condon afastou Saunders por
“incompetência”.
Os acontecimentos que levaram ao afastamento de Saunders e de um outro
membro da comissão, Dr. Levine, e a despedida pouco depois de Mary Louise
Armstrong, a assistente administrativa de Condon, são tratados no livro de
Condon, ao qual já me referi.
Ao invés de extrair a essência de milhares de casos, o que Saunders estava
realizando muito bem, o relatório contém apenas 87 casos investigados, mais
três avistamentos inexplicados observados por astronautas (o investigador destes
avistamentos declarou laconicamente que eles.... “são um desafio para o
analista”).
O Relatório Condon foi publicado a 9 de janeiro de 1969, juntamente com o
selo de aprovação da Academia Nacional de Ciências. Esta concluía:

a) Na nossa opinião, a extensão do estudo foi adequado à sua finalidade:
um estudo científico do fenômeno OVNI.
b) Julgamos que foram bem escolhidos a metodologia e o modo de tratar o
assunto de acordo com os consagrados padrões da investigação científica.

Estas declarações implicam que o método científico é realmente aplicável ao
problema OVNI, um ponto que já questionei. Como a hipótese que estava sendo
testada pela comissão (ETI) não pode ser provada falsa, ou melhor, seria
impossível provar ser ela negativa — uma possibilidade exigida pelo método
científico — o método não é aplicável a menos que o problema seja definido
novamente e de maneira adequada.
Todavia, dando à academia o benefício da dúvida, a metodologia da
comissão Condon poderá ser aprovada errada em outras áreas. Vamos focalizar
aqui a metodologia sem a confundir com o assunto. Minhas críticas à
metodologia usada pela comissão Condon teriam sido as mesmas ainda que o
assunto não tivesse sido os OVNIs mas o ciclo de vida da baleia cinzenta (se o
estudo tivesse sido dirigido no sentido de testar apenas uma única teoria, talvez
que a baleia cinzenta fosse o resultado de uma criação especial) ou as causas do
câncer (caso o estudo tivesse se limitado à teoria de que o câncer é causado por
uma alimentação imprópria).
A academia concordaria que o método científico implica que o problema
específico a ser estudado deve ser definido e relevante para com o campo maior
que o contém.
Na página 9 do Relatório Condon, o OVNI é assim definido: “Um objeto
voador não identificado é aqui definido como um estímulo para um relatório
feito por uma ou mais pessoas de algo por elas visto no céu (ou de um objeto que
se pensou pudesse voar mas visto quando pousado na terra) que o observador (as
itálicas minhas) não pôde identificar como se tivesse uma origem natural comum
e que lhe pareceu suficientemente inexplicável para que se desse ao trabalho de
redigir um relatório a respeito.... “E o problema é definido: “O problema torna-se
então o de se aprender a reconhecer os diversos estímulos que dão origem a
relatórios sobre OVNIs’’.
Método científico! Que espécie de pesquisa científica é esta que pressupõe
uma resposta antes mesmo de ser iniciada? A pressuposição está clara nesta
altura: os OVNIs são todos eles interpretações errôneas de coisas naturais e todo
o trabalho da comissão era aprender e memorizar as variedades de estímulos
naturais que dessem origem a relatórios sobre OVNIs e de tal sorte que a única
coisa que se precisava dizer era: “Isto deve ter sido Vénus; este aqui deve ter
sido as luzes de aterrissagem de um avião’’. Não havia lugar no conceito do
problema elaborado por Condon nem ao menos para a possibilidade da seguinte
declaração: “Este era provavelmente um OVNI’’.
Logo, este princípio do método científico foi violado: o problema foi mal
definido e os relatórios realmente intrigantes cujo estímulo gerador não era
óbvio não se relacionavam com o campo maior. Além disto, não se pode deixar
ao encargo do observador, que representa de um modo geral a média do povo, a
definição do problema e rotular o OVNI. Isto só pode ser feito por aqueles
capazes de fazer uma seleção crítica exatamente daqueles relatórios que se
enquadram na definição de Condon — aqueles que são originados por estímulos
naturais.
De uma forma mais ampla, o problema é sem dúvida encontrar o estímulo
que gerou o relatório sobre OVNI. Mas, assumir de saída que o estímulo gerador
deve ser, necessariamente, de apenas um tipo — interpretações errôneas — é, de
fato, uma violação ao método científico. Ao que parece, a comissão definiu o
problema como uma necessidade de descobrir um estímulo natural, mas ainda
assim escolheu a hipótese de uma inteligência extraterrestre para ser pesquisada.
Vênus não é uma inteligência extraterrestre; um meteoro é extraterrestre, mas
não é certamente uma inteligência e assim por diante.
Um outro princípio fundamental do método científico com o qual sem
dúvida a Academia concordaria: os dados escolhidos para estudo deveriam ser
relevantes com relação ao problema.
A questão da relevância pode referir-se tanto ao problema que a comissão
investigava (visita extraterrestre) como para aquele que eles não investigaram: os
relatórios sobre OVNIs, selecionados adequadamente, assinalam ou não o
aparecimento de dados observados de forma empírica realmente nova?
Em ambos os casos a maioria dos relatórios que foram realmente utilizados
não era relevante; um pesquisador experimentado teria isolado as interpretações
errôneas óbvias que intrigavam uma ou duas pessoas mas que não teriam
enganado um perito. Na realidade, 14 dos 87 casos tinham sido, previamente,
classificados pelo Livro Azul como interpretações errôneas, mas ainda assim
Condon deixou que os relativamente poucos casos examinados fossem
absorvidos pelos casos triviais. Teria sido melhor que estes 14 casos tivessem
sido substituídos por 14 casos dentre as diversas centenas que o Livro Azul
classificara como “Não-Identificados”. Era nestes casos que a solução do
problema deveria se encontrar, se de fato existisse.
Somente dez casos de Encontros Imediatos, que são sem dúvida os mais
interessantes de todos os relatórios OVNIs, foram examinados pelo grupo de
Condon. Destes a comissão não conseguiu explicar seis de forma alguma, dois
foram considerados inconclusivos, um “psicológico”, e um era definitivamente
Vênus! Este último deveria ser lido por todos os pesquisadores de OVNIs. É um
exemplo fantástico do quanto o planeta Vénus pode ser persuasivo em relação a
um OVNI não selecionado. Policiais de onze condados foram “ludibriados” por
este planeta. Trata-se de um caso de especial valor para os psicólogos e,
sentimo-nos tentados a afirmar, por aqueles que têm a responsabilidade da
contratação de policiais.
Há muito tempo, e calcado na minha experiência, não creio que se deva
considerar seriamente um caso envolvendo o aparecimento de um “OVNI”, que
surge noite após noite, em horário predeterminado. É quase certo que ele
resultará num avião ou um planeta, sobretudo se alguém informar que ele não
aparece nas noites nebulosas. Contudo, os casos deste tipo são tão fáceis de se
filtrar que fornecem um motivo de recreação humorística aliviando-nos de um
problema perplexo demais.
A academia, quer me parecer, concordaria se tratar de uma boa metodologia
científica evitar tendência, preconceito e escárnio ao se tratar de um problema.
A resposta para a pesquisa de um problema jamais deveria ser antecipada de vez
que isto influencia enormemente o modo de se lidar com o próprio problema.
Nos contatos por mim mantidos com os doze ou mais membros da comissão e
associados ao grupo de escudo do Colorado com os quais tive o prazer de
conversar não encontrei preconceitos pronunciados no modo de encarar o
assunto. Havia diferenças de pontos de vistas, é lógico, mas não uma tendência
corrosiva e emocionalmente carregada. Contudo, se alguém julgar o diretor do
projeto, tão somente através de suas ações e palavras faladas e escritas, não nos
parece ter sido este o caso. Sempre muito rudemente franco, não hesitou em
revelar suas atitudes mais íntimas durante as conferências que realizou, de
tempos em tempos, em diversas partes do país. Uma das primeiras, realizada
quando o projeto não contava ainda três meses, foi em Corning, Nova Iorque
(noticiada no exemplar de 26 de janeiro de Elmira, New York Star-Gazette).
Condon declarou, segundo a notícia: “Minha tendência neste preciso momento é
recomendar ao governo que abandone, de imediato, este assunto. Minha atitude
agora é que não existe nada com relação a ele.... porém não devo chegar a
nenhuma conclusão antes que se complete um ano. Talvez ele (o problema
OVNI) fosse um estudo válido para aqueles grupos interessados em fenômenos
meteorológicos”.
Todo o homem tem direito a ter opiniões próprias, mas um cientista tem uma
responsabilidade social a mais devido à sua posição e profissão. Suas palavras,
sobretudo aquelas irrefletidas, podem se tornar peso exagerado dentro da
imprensa. Vemos aqui Condon afirmando que o projeto não é válido (poucos
meses mais tarde pediu mais $259.146 para continuar o trabalho) e em seguida
demonstrando sua convicção de que os OVNIs devem ser, por necessidade, um
fenômeno natural (meteorológico), juntamente com uma implicação de que não
havia razão para um maior aprofundamento no assunto.
Bem mais tarde, neste mesmo ano, Condon falou no National Bureau of
Standards, em Washington. Segundo os relatos dos membros da audiência, e por
sua própria admissão posteriormente, Condon concentrou-se quase que
exclusivamente em focalizar os três casos narrados por “birutas’’ nos quais
esteve envolvido..
Penso que a Academia Nacional também concordaria na sua avaliação da
aplicação do método científico que nenhum cientista deveria permitir
conscientemente o escárnio como sendo uma parte consagrada de seu método
científico. Contudo, quando um assunto parece se encontrar além do âmbito da
ciência (e a história está repleta de exemplos), a troça e a zombaria às custas do
outro indivíduo não incomoda a consciência do cientista. Assim, a resposta
escrita do Dr. Menzel a um questionário sério que indagava “O que deveria ser
feito com os relatórios sobre OVNIs que não podem ser explicados” foi: “Atire-
os na lata de lixo!
Aparentemente, o Dr. Condon achou que os OVNIs se encontravam além do
âmbito da ciência (embora seu relatório seja intitulado como “Estudo Científico
dos Discos Voadores Não-Identificados”), pois ele também recorreu à pilhéria e
às piadas às custas dos outros. Saunders assinala5 preocupação de Condon com
relação aos aspectos doidos do problema OVNI e seus gracejos aparentemente
insensíveis para com aqueles envolvidos com o problema (embora tenha ficado
perfeitamente esclarecido que os “doidos” não redigem relatórios coerentes e
articulados sobre OVNIs): Saunders observa: “O pior de tudo é que o modo
como tratava as pessoas destes casos ofendiam-me como psicólogo. Talvez
necessitassem de. ajuda, mas não de zombaria. Parecia que Condon tinha
perdido todo o senso de perspectiva e estava sacrificando estes infelizes para
descarregar suas frustrações pessoais.... Tinha-se a impressão de que tão logo
Condon tinha se divertido bastante com um caso, passava imediatamente para
outro”. Certa vez, relata Saunders em seu livro, Condon telefonou para o
governador de Utah para adverti-lo sobre uma esperada aterrissagem anunciada
(por uma pessoa que ‘‘mantinha contato” com os extraterrestres) de um OVNI
retangular em Salt Flats Bonneville.
Em outra oportunidade, passou uma informação para Washington com a cara
mais limpa sobre um oferecimento (de três bilhões de dólares) feito a ele por
‘‘um agente do Terceiro Universo” para a construção de um espaçoporto a fim
de que as naves daquele universo pudessem aterrissar no nosso mundo.
Confesso que a tentação de rir diante das excentricidades dos quase-loucos é
grande. Eu adotei com um objetivo sadio, uma espécie de alívio jocoso numa
conferência pesada, uma fotografia que ilustrava uma história publicada numa
revista popular intitulada ‘‘Um Disco Voador Salvou a minha Virgindade”, um
desenho dos Três Reis Magos olhando para uma estrela, um deles dizendo aos
outros ‘‘Gás de Pântano’’ e outras piadas que envolviam OVNIs.
Contudo, já em 19536 eu escrevia:

A zombaria não é uma parte do método científico, e o público não
deveria aprender que é.... O fluxo constante de relatórios, frequentemente
feitos de acordo com observadores dignos de confiança, levanta as questões
da obrigação e da responsabilidade científicas. Quando o tumulto de
relatórios variados é esbulhado, segundo as palavras de Pooh Bah, ‘‘todo o
detalhe corroborativo que pode emprestar uma verossimilhança artística para
uma narrativa que de outra forma seria ousada e nada convincente”, existe
qualquer resíduo que seja digno da atenção científica? Ou, caso não haja, não
existe, ainda assim, uma obrigação para comunicá-lo ao público — não em
palavras de evidente escárnio, mas seriamente, para manter a fé que o
público deposita na ciência e nos cientistas?

A relevância da ciência junto à vida diária tem sido seriamente questionada
nos nossos tempos. Atitudes desdenhosas, declarações pontificais ex cathedra e
requisições para que a autoridade seja venerada tão somente porque um cientista
assim disse.... estas coisas não ajudam. O público, de quem deve vir todo o apoio
ao esforço científico, deveria ter oportunidade de ver a ciência como uma
aventura procurada com humildade de espírito, com dignidade e respeito, e para
o benefício de todos. Deveria ser enfatizado que, na ciência, nunca se sabe onde
a pesquisa nos levará — (“se conhecemos a resposta antecipadamente, não se
trata de uma pesquisa”) — que o objetivo fundamental da ciência é satisfazer a
curiosidade humana, experimentar o desconhecido e abrir novos caminhos para a
aventura intelectual. Esta sempre foi a norma pela qual a ciência lutou, ainda que
os cientistas, por serem inteiramente humanos, frequentemente tenham dado
inadvertidamente uma impressão oposta.
Acredito que a Academia Nacional concordaria estar de acordo com a
metodologia científica, que um diretor de um projeto científico deveria
compreender o problema. Prova irrefutável de que Condon não entendeu a
natureza e a extensão do problema nos é dada nos exemplos de OVNIs que usou
para corroborar o sumário de seu relatório. Cito, agora, as palavras de W. T.
Powers 7, com a autorização de um jornal:

Condon utiliza como exemplos exclusivamente os casos tolos, fáceis de
explicar ou relatados deficientemente. Não há uma única palavra sobre o fato
de que seus colegas apresentam, no mesmo volume, casos que resistiram as
tentativas de explicações as mais meticulosas e que não eram tolos, relatados
com deficiência ou fáceis de explicar.
Condon conclui a sua parte sobre “os avistamentos de OVNIs em radar”
sem mencionar os casos pelos quais seu próprio staff não encontrou base
para uma explicação do tipo “uma propagação anômala” afirmando: “Tendo
em vista a importância do radar para a operação segura de todos os aviões, é
essencial que seja feita uma pesquisa mais aprofundada.... Contudo,
julgamos que isto possa ser feito através de um ataque direto ao problema....
ao invés de.... investigar os casos de OVNIs”.
Em resumo, Condon não admite que os relatórios de radar sobre OVNIs
possam nos dizer algo sobre os OVNIs — tudo que os relatórios deste tipo
podem fazer, aparentemente, é nos revelar uma propagação anômala. A
possibilidade de que um radar localize um OVNI, através de um conjunto de
radar que esteja funcionando bem sob condições atmosféricas normais, não é
mencionada de forma alguma, nem mesmo como uma possibilidade. Mas,
apesar disto, encontramos três casos deste tipo que foram cuidadosamente
pesquisados entre os relatórios inseridos no texto mais adiante.

É edificante examinar os casos individuais que Condon selecionou para
exemplificar os pontos assinalados no seu sumário. A fim de evitar conclusões
forçadas, farei uma lista e um rápido comentário sobre todos os casos usados por
Condon (como exemplos) de modo a não cometer o mesmo pecado que estamos
criticando. (A falta de espaço não nos permite citar todos aqui.) O primeiro
exemplo é um caso de luzes à noite (balão de ar quente), o mesmo ocorre com o
segundo (Saturno). Nenhum dos dois teria sobrevivido como um OVNI se
tivesse sido, logo, examinado por um pesquisador experimentado.... Outro
exemplo diz respeito a um homem cujos antepassados vieram de outra galáxia....
outro está relacionado com o planeta Clarion, uma fantasia criada por certos
grupos de OVNI maníacos e crentes. Isto merece uma página inteira!
Depois chegamos às fotografias. Uma página inteira é dedicada a uma foto
que se concluiu ser um erro ou uma fraude. A respeito de um caso que seu perito
em fotografia considerou bastante séria, Condon limita-se a declarar: “as
imagens de OVNIs saíram tão pouco nítidas que não justificam uma análise
fotogramétrica”. Mas assim mesmo, no final do texto: “Este é um dos poucos
relatórios sobre OVNIs em que todos os fatores pesquisados, geométricos,
psicológicos e físicos parecem estar de acordo com o consenso de que um objeto
voador invulgar, prateado metálico, com o formato de um disco, com um
diâmetro de dezenas de metros e, evidentemente artificial voou dentro do campo
visual de duas testemunhas”. A descrição da análise fotogramétrica ocupou as
páginas 399 a 407 do relatório. Condon conclui esta seção do seu sumário com
uma rápida menção a uma fotografia de um “rastro da urso” e um brilho de lente
(na capa da edição Bantam do Relatório Condon vemos uma bonita fotografia a
cores de um brilho de lente, uma fotografia que jamais teria sido levada a sério
por um pesquisador experimentado). Condon não faz menção da análise
exaustiva feita sobre o filme de Great Falis, Montana, realizada pelo Dr. R. M.
L. Baker, análise esta que foi submetida à comissão Condon.
Vem em seguida os mal funcionamentos de automóveis. Condon declara
incorretamente que apenas um caso chamou a atenção de seu grupo.... Não
menciona o outro caso (caso 12) em que foi relatado o mal funcionamento do
carro (como também, na verdade, não se deu ao trabalho de pesquisar pelo
menos um da centena de casos, ou mais, que estavam à sua disposição. Segundo
a norma da metodologia científica, deve-se proceder a um exame da literatura
antes do início de uma pesquisa, a fim de que os investigadores fiquem a par do
que foi feito anteriormente e assim diminuir as possibilidades de duplicações
desnecessárias) no qual a testemunha foi descrita como pessoa competente,
possuidora de uma personalidade prática, treinada e acostumada a manter a sua
presença de espírito diante de situações inesperadas.
Condon menciona os avistamentos dos astronautas, porém limitando-se
apenas a dizer que “nada foi visto que pudesse ser imaginado como um disco
voador’ ’ ou um veículo dirigido por um ser do espaço sideral, ainda que admita
que o Dr. Roach, o astrônomo que fez uma investigação meticulosa dos
avistamentos dos astronautas, tenha os denominado como “um desafio para o
analista’’. Condon não estava interessado em enfrentar o desafio, muito embora
o Dr. Roach tivesse declarado: “O primeiro da lista é sobremodo enigmático, um
avistamento diurno de um objeto mostrando detalhes tais como braços que se
projetam de um corpo que possui uma extensão angular notável. Se a listagem da
NORAD dos objetos próximos... .no momento do avistamento está completa,
como tudo leva a crer que sim, deveremos encontrar uma explicação racional ou,
então, mantê-lo na nossa lista de “não identificados”. Aparentemente, Condon
não estava interessado em nenhuma das duas alternativas. Powers inclui muitos
outros detalhes e observações.
Estes últimos exemplos demonstram o forte fator de seleção no sumário de
Condon — nenhum deles é do tipo de relatório sobre OVNI que despertaria a
atenção de um investigador experiente. É evidente que Condon,
sistematicamente, evitou trazer à baila, como exemplos do seu relatório, os casos
mais intricados e que deturpou sistematicamente aqueles poucos casos intricados
que mencionou, com a intenção de anarquizar ou ignorar o que era inexplicável e
engendrando possíveis explicações mesmo quando a análise detalhada quase que
os excluía totalmente.
Se Condon tivesse realmente desejado tratar o assunto de acordo com a
física, por que razão não investigou se um fenômeno físico desconhecido era ou
não responsável por alguns relatórios OVNIs de categorias cuidadosamente
escolhidas? Por que motivo perdeu seu tempo e nosso dinheiro seguindo com
persistência relatórios de luzes no céu e relatórios sobre Vénus e, sobretudo, por
que elaborou aquela hipótese sobre ETI que nada mais era do que um fogo de
palha? Quando nem ao menos se sabe se um fenômeno real mente existe, como
se pode testar qualquer tipo de adivinhação sobre suas causas ?
Condon estava respondendo não aos seus colegas cientistas que tinham
atribuído um possível valor à pesquisa dos OVNIs aos apelos dos contatados, à
multidão de crentes ignorantes, às perguntas ingênuas dos mal informados. Não
quis lidar com o problema começando ao nível em que outros, tão competentes
quanto ele, tinham realizado os estudos a respeito dos OVNIs. Ao invés de
atacar as ideias daqueles que eram fáceis de serem atacados... o relatório Condon
e sobretudo os comentários deste último.... são uma afronta a seus colegas
cientistas. Contudo, está totalmente claro que o sumário que redigiu é, na
verdade, tendencioso e que a Academia Nacional de Ciência foi inteiramente
trapaceada.
Estas palavras de Mr. Powers são realmente violentas e está claro porque os
“editores pertencentes à sociedade estabelecida de Science recusaram-se a
publicá-las. Contudo, deveria ser recordado que Mr: Powers não discutia os
OVNIs; discutia a metodologia científica e perguntava se os métodos da ciência
tinham sido usados no relatório Condon, conforme a Academia Nacional
declarara ter sido feito. Talvez devêssemos indagar se a comissão designada pela
Academia com o objetivo de revisar o relatório tinha realmente cumprido a sua
tarefa. Se não o fez, podemos desculpá-la com maior facilidade. Condon tinha
diversas outras obrigações e jamais pretendeu dedicar tempo integral aos
OVNIs. Designou Mr. Robert Low para ser o administrador de seu projeto e, à
medida que o tempo foi passando, Condon foi-se afastando cada vez mais da
comissão e Low transformou-se no verdadeiro dirigente do projeto Colorado. É
uma questão de conjectura de se imaginar qual teria sido o resultado do projeto
caso tivesse sido escolhido um outro administrador científico. Recordo-me do
desapontamento sentido quando, por ocasião de uma visita feita por mim a
comissão, quando esta contava apenas quinze dias de existência, Low fez um
esboço no quadro negro de como ó relatório seria feito, quais seriam,
provavelmente, os títulos de abertura de capítulos, quanto espaço seria dedicado
a cada um, percebendo-se já naquela época ter ele decidido qual a substância e a
feição que teriam o relatório.
Foi Low quem escreveu o célebre memorando, o instrumento da demissão de
Saunders e Levine8. A mensagem principal, que já foi amplamente citada,
redigida a 9 de agosto de 1966, praticamente três meses antes do início oficial do
projeto, era esta: “O truque seria, creio eu, descrever o projeto de modo a que,
para o público, parecesse um estudo totalmente objetivo mas, para a comunidade
científica, representaria a imagem de um grupo de pessoas que não acreditam
nos OVNIs, tentando da melhor forma possível ser objetivo mas com uma
expectativa praticamente nula de encontrar um disco”.
Acredito que Low tenha sido criticado indevidamente demais devido a este
memorando. Posso imaginar o dilema que foi forçado a enfrentar. Queria que a
sua universidade conseguisse o contrato (seja lá porque razão mercenária fosse)
e convencer a administração universitária de que deveria aceitá-lo. Ele tinha
consciência, da mesma maneira que eu o tinha há anos, que a opinião científica
era tal que até mesmo uma menção séria sobre o assunto era a mesma coisa que
castigar, pondo-o na berlinda científica. Ele desejava invocar um toque de
respeitabilidade. Mas o caminho escolhido não foi feliz.
Saunders e Levine foram despedidos sumariamente após terem chamado a
atenção de alguns companheiros para este memorando; as notícias a respeito da
sua existência espalharam-se e chegaram após algum tempo para entrar no
“exposé” de Fuller na revista Look 9
Depois do afastamento forçado de Saunders e Levine, a assistente
administrativa de Condon, Mary Louise Armstrong, que conhecia os trabalhos
mais íntimos de toda a comissão, defrontou-se com o problema de continuar ou
não trabalhando para um homem por quem perdera praticamente todo o respeito.
Duas semanas depois abandonava o projeto, expondo suas razões numa carta
ponderada, que deveria se tornar uma questão de registro (veja Apêndice 3) pois
fornece uma visão para a vida interior da comissão e à qual os futuros
historiadores da ciência devem poder ter acesso.
Transcrevo um excerto da carta10 na parte em que se relaciona com a questão
em discussão:
De vez que está evidente para o pessoal do projeto OVNI, bem como para o
senhor (Condon) que nós nos encontramos diante de um verdadeiro dilema a
respeito do desacordo e de baixo teor de entusiasmo dentro do estudo como um
resultado das duas últimas semanas, parece-me ser necessário examinar aquilo
que, na minha opinião, tem sido a causa primordial dos problemas que existem...
Acho que há uma “falta de confiança’’ quase que unânime nele (Low) como
o coordenador do projeto e quanto ao exercício de seu poder nesta posição... A
atitude de Bob desde o início tem sido negativa. Bob demonstrou pouco
interesse em manter-se a par dos avistamentos, fosse através de leitura ou
conversando com aqueles que o; fizeram.... Saunders, cuidadosamente, separou
relatórios numa base de check-out, para que todos os integrantes da comissão
tivessem uma oportunidade de lê-los e nunca encorajou as discussões propostas
para que acontecessem.... Na minha opinião, gastou muito demais do seu tempo
preocupando-se a respeito dos tipos de “linguagem’’ a serem empregados no
relatório final para poder evitar, do modo mais astucioso, ter algo a dizer que
fosse definitivo sobre o problema OVNI. Muito pouco tempo, por outro lado, foi
gasto no tocante à revisão dos dados nos quais deveria alicerçar suas
conclusões....
For que motivo Saunders, Craig, Levine, Wadsworth Ah-rens e outros
chegaram todos a conclusões diametralmente contrárias às de Bob? Não tenho a
impressão de que se juntaram ao projeto com qualquer tipo de preconceito
especial com relação ao problema OVNI. Creio que existe um acordo bastante
razoável entre o conjunto dos membros de que há dados suficientes com relação
à questão OVNI que justifiquem estudos posteriores. Isto não quer dizer, como
nenhum de nós o afirmaria, que estamos sendo indubitavelmente visitados por
naves espaciais.... Oportunamente, deverá haver um debate no qual os dois lados
da questão sejam discutidos pelo grupo, porém colocar estas ideias sobre um
pedaço de papel sob a forma de conclusões e debatê-las com pessoas estranhas
ao projeto é presunçoso e errado.... Estou impressionada, pois quer me parecer
que ele está procurando de todas as maneiras dizer o mínimo possível no
relatório final, mas fazê-lo da forma mais negativa possível. Cito Dave Saunders,
quando digo que a sugestão de Bob para que pudéssemos usar notas de rodapé
para quaisquer opiniões da minoria provocou a seguinte resposta por parte de
Dave: ‘‘O que faremos.... daremos notas de rodapé aos títulos?”
A gente tem a impressão de que, de algum modo, o quadro negro deveria ser
apagado e o trabalho realizado de novo adequadamente.

NOTAS

1. Os membros que formavam a comissão e uma história esclarecedora
sobre os dois anos de sua existência podem ser encontrados em UFOs?
Yes! da autoria de David Saunders e Roger Harkins (Signet Book N.°
3754). A formação da comissão sem uma história esclarecedora
também pode ser encontrada no Relatório Condon, “A Scientific
Study of Unidentified Flying Objects”. Todos os dois livros devem ser
lidos pelos leitores interessados nas ações do grupo Condon.
2. A fim de testar a recomendação feita por Condon às repartições do
governo de distribuições de fundos, submeti duas propostas sérias de
pesquisa, uma à ‘‘National Aernautics and Space Administration
(NASA) e outra à National Science Foundation. Todas as duas foram
sumariamente rejeitadas não porque estivessem indignas da ciência
(ou pelo menos assim declaravam as cartas a mim enviadas) mas
devido à falta de fundos.
3. Conferência do Comitê das Forças Armadas da Câmara dos
Representantes, 89.° Congresso, 5 de abril de 1966, N.° 55.
4. Saunders, obra citada, pág. 141.
5. Saunders, obra citada, Capítulo 15, ‘‘Condon’s Favorite Cases”.
6. ‘‘Unusual Aerial Phenomena” Journal of the Optical Society of
America, abril de 1953.
7. Powers, W.T. ‘‘ A Critique of the Condon Report’ ’. Sua publicação
foi rejeitada pela Science em 1969-
8. Saunders, obra citada, Capítulos 19 e 20.
9. Fuller, John G. “Flying Saucer Fiasco "Look, 14 de maio de 1968.
10. Mrs. Armstrong autorizou-me gentilmente a citar a sua carta para o
interesse do registro histórico.
13 - O CASO DIANTE DE NÓS


La Commedia é finita!
— Canio, Pagliacci.

Na verdade, a comédia deveria estar terminada e um trabalho sério iniciado.
O problema dos OVNIs pode ser atacado de forma produtiva e pode ser
estabelecido um programa positivo. Antes de mais nada, vamos esclarecer
inteiramente qual é o problema, sumariando o que os capítulos anteriores
demonstraram e aquilo que não tentaram provar ou estabelecer. Eu diria que
ficou estabelecido que:

1) Existe um fenômeno, descrito pelo conteúdo dos relatórios sobre
OVNIs (conforme foram definidos nesta obra), que merece um estudo
sistemático e rigoroso. A extensão deste estudo deve ser determinada pelo
grau em que o fenômeno é considerado um desafio para a inteligência
humana e até onde pode ser considerado potencialmente produtivo no que
diz respeito ao esclarecimento e ao progresso da humanidade.
2) Embora considerando-se a maneira lamentável e desorganizada como
os dados ficaram disponíveis para um estudo, o conjunto de dados indica um
aspecto, ou domínio, do mundo natural que ainda não foi explorado pela
ciência.
3) Para que se possa realizar um estudo do fenômeno, que seja
mais objetivo e direto, os dados disponíveis requerem uma melhor
organização, sistematização e a adoção de uma terminologia uniforme no
tocante a sua descrição e classificação. A referida organização e
sistematização deve ser aplicada na coleta e processamento de novos dados.
4) As investigações que procuraram refutar o acima exposto não
conseguiram formar um caso. O Livro Azul e o Relatório Condon são os
principais exemplos de tais esforços infrutíferos.
5) O poder probatório das quatro declarações acima sugere de modo
acentuado, que existem novas observações empíricas que descrevem um fato
novo — a existência de OVNIs (conforme foi definido neste livro) — que
precisa ser enquadrado dentro de uma estrutura aceitável de conceitos e, se
possível, explicado. Um trabalho posterior de caráter não tendencioso é,
evidentemente, o passo seguinte que deverá ser dado.

Também é de outra tanta importância ter-se em mente, da forma mais clara,
aquilo que os capítulos anteriores não tentaram estabelecer, provar ou
demonstrar. Não ficou demonstrado:

1) Que o novo fato implícito acima (5), exige uma guinada fundamental
no nosso modo de ver o mundo natural.
2) Qual a explicação verificável para o fenômeno OVNI. Deve ser
formulado um modo organizado de focalizar o assunto. Em linhas gerais,
deveriam ser tomadas as seguintes medidas:
a) O problema deve ser rigorosamente definido e os aspectos extrínsecos
devem ser esclarecidos e afastados do problema central.
b) Devem ser delineados métodos de ataque exequíveis e maleáveis,
devendo-se tomar muito cuidado no sentido de evitar caminhos envolventes,
altamente custosos ou limitados (por exemplo, o estabelecimento de milhares
de estações de observação equipadas por homens, ou postos de observação
automáticos custosamente equipados).

O PROBLEMA DEFINIDO

A fim de que se possa definir com clareza o problema dos OVNIs devem ser
adotadas as seguintes medidas:

1) Delinear com uma precisão bem mais perfeita do que foi feito até aqui
os parâmetros do fenômeno. Em outras palavras, caracterizar da forma mais
definitiva possível a estranheza do fenômeno: quais são os fatores de
estranheza que encontramos comumente nas diversas categorias de
observação de OVNIs? Em resumo, o que há para se explicar?
Pelo menos no presente momento, o problema não é explicar ou
solucionar o fenômeno OVNI. Isto, é lógico, trata-se do problema fi nal, mas
há profundas indicações de que nós, atualmente, não possuímos
conhecimento suficiente para chegar à solução final. Mas, isto sim, contamos
com os meios à nossa disposição para caracterizar explicitamente aquilo que
necessita ser explicado, através do estudo de relatórios sobre OVNIs
cuidadosamente selecionados e pesquisados.
2. Determinar com uma precisão bem maior do que até aqui a ordenada
do diagrama S-P, ou seja, a probabilidade de que a estranheza do fenômeno
OVNI seja realmente aquela que foi declarada. Em outras palavras, de um
estudo dos relatores sobre OVNIs procedentes de todas as partes do mundo,
devemos adotar o “critério de aposta’’ de Hume ao acreditar que os relatores
do fenômeno não estavam inteiramente e cabalmente errados a respeito do
que eles relataram.

Baseado nas provas dos anos passados, das quais já demos uma visão geral,
tenho a dizer que seria capaz de apostar uma quantia razoável como os relatores
selecionados estavam relatando um fato novo.... OVNIs. (UFOs).
Este, portanto, é o problema: construir, com a máxima precisão possível, um
diagrama S-P para ser usado naqueles relatórios sobre OVNIs que satisfaçam o
critério de seleção. E como podemos enfrentar isto?
A massa de relatórios OVNIs, originários de todos os países do mundo, pode
ser tratada de duas maneiras: estatisticamente, no todo, ou especificamente, um a
um.
Como os números dos relatórios OVNIs com uma quota de estranheza alta
são agora contados aos milhares, um enfoque estatístico pode ser bastante
produtivo e os métodos sugeridos pela moderna teoria de informação são sem
dúvida aplicáveis. Métodos sofisticados de restabelecimento de informação,
reconhecimento de padrão e teste de significação, serviram num grande número
de disciplinas para isolar o “sinal’’ do “ruído’’ era situações que, a primeira
vista, pareciam insolúveis.
Um método ainda mais simples, embora poderoso, para demonstrar a
significância dos padrões é comparar quantidades consideráveis de avistamentos
de uma determinada categoria com uma quantidade ainda mais ampla da mesma
categoria. Jacques Vallée procedeu a um exame deste tipo que ser^e como
exemplo. Comparou, estatisticamente, 100 casos de Encontros Imediatos
ocorridos na Espanha (usou a sua designação de Tipo I, que inclui todas as
nossas 3 categorias de Encontros Imediatos) com 1.176 casos da mesma
categoria, originários de todas as partes do mundo excetuado da Espanha.
Comparou a ocorrência de casos nos quais o objeto era relatado como tendo sido
visto no solo (geralmente pairando ou deslocando-se mais ou menos ao nível das
copas das árvores), aqueles que envolviam a presença de ocupantes e as
percentagens destes últimos relatados no solo ou próximos ao solo:


Do mesmo modo, a distribuição de casos com ocupantes entre os casos no
solo, e próximo ao solo, foi praticamente idêntica. Os casos “sem objeto’’
referem-se a relatórios de “humanoides’’ cujas naves estariam, presumivelmente,
escondidas nas proximidades.
Disciplinas reconhecidas como a sociologia e economia atribuíram uma alta
significação a uma correlação deste tipo. Indica a existência de “invariantes’’
nos avistamentos de uma determinada categoria. Se assim não fosse, por que o
significante exemplo da Espanha (que incluía virtualmente todos os casos bem
relatados ocorridos naquele país na última década) deveria ser tão semelhante ao
grupo bem mais amplo do resto do mundo (excluindo-se a Espanha) que contém
também casos bem relatados praticamente no mesmo período de tempo?
Qualquer estudo sério a respeito do problema OVNI deveria incluir, por
necessidade, esta correlação e padrão de estudo. Pesquisas através das categorias
dos avistamentos — estudos das correlações existentes entre as intra e
intercategorias — a fim de que fiquem estabelecidas as distribuições geográficas
e estacionais (de que maneira as diversas categorias estão relacionadas segundo
este aspecto?), e estudos envolvendo a cinética demonstrada pelos OVNIs dentro
de cada categoria (os Discos Diurnos e as Luzes Noturnas possuem as mesmas
proporções de “arrancadas rápidas, planações e guinadas fechadas’’?) devem ser
realizados.
Na categoria das Luzes Noturnas, para citar apenas uma das muitas maneiras
de tratar o problema, as mudanças de cor relatadas estão relacionadas com o
modo de movimentação do OVNI? Quando ocorre uma aceleração rápida, qual é
a cor predominante que muda nos relatórios de todo o mundo e como se
diferencia, se é que existe tal diversidade, nos relatórios de regiões vastamente
afastadas do globo?
Um grupo científico responsável empenhado num estudo deste tipo, se
tivesse acesso a dados preparados de forma a serem lidos pelo computador, logo
demonstraria, além de qualquer dúvida razoável, se havia algo importante no
problema OVNI. A correlação Vallée, exposta acima, se repetida de maneira
apropriada na busca de padrões entre os casos mundiais Radar-Visual e Discos
Diurnos, de país para país, implicaria no reconhecimento (caso a correlação
fosse positiva) de que o fenômeno OVNI representava “observações empíricas
novas” que (por definição de observações empíricas novas) não são
acompanhadas pela nossa atual estrutura científica.
Pode-se indagar, com razão, porque tudo isto não foi feito antes. O assunto
estava bastante ligado a nós durante mais de vinte anos. Contudo, uma reflexão
rápida demonstrará como isto teria sido uma realização impossível.
Recentemente, o grupo Comdon gastou meio milhão de dólares, ostensivamente,
para estudar o assunto cientificamente, mas os membros nem sequer se deram ao
trabalho de considerá-lo como tal. Como seria possível, portanto, para grupos
particulares que não dispunham de fundos, de dados preparados de forma
adequada e, geralmente, sem formação científica realizarem uma tarefa deste
tipo? O Livro Azul não tomou em consideração, nem de longe, este modo de
tratar o assunto apesar do seu consultor científico tê-lo recomendado com fervor.
Lembrem-se, também, que os muitos milhares de casos do Livro Azul estavam
arquivados em pastas e apenas cronologicamente, sem cantar ao menos com um
índice de referência por mais elementar que este fosse.
Da mesma forma como ocorreu em diversos outros campos de estudos logo
no seu início, a respeitabilidade científica foi adquirida pouco a pouco, sendo
que um estudo amplo só é possível quando o assunto já conquistou um pouco de
aceitação. Mas, ainda que os relatórios sobre OVNIs deixassem de aparecer
neste momento e nenhum relatório passível de aceitação fosse apresentado a
partir de agora, na minha opinião, os dados que estão espalhados por aí, se
corretamente processados, poderiam estabelecer a natureza explícita do
fenômeno OVNI além de qualquer dúvida.
Entretanto, os relatórios sobre OVNIs não cessaram de aparecer, de forma
alguma, no momento em que este livro está sendo redigido, muito embora
recebam muito pouca atenção por parte da imprensa, sobretudo a urbana. Logo,
torna-se difícil avaliar o grau de atividade do OVNI. Os relatórios,
principalmente aqueles que procedem de pessoas com formação científica e
técnica, são aceitos por mim e meus colegas de Evanston, Illinois, para serem
registrados, ficando subentendido que serão utilizados tão somente para fins
científicos. Grupos de pesquisa particulares sobre OVNIs, espalhados por muitos
países, continuam a receber relatórios, cujas sinopses são publicadas na literatura
sobre o assunto.
O segundo modo de tratar o assunto de forma potencialmente produtiva é o
exame, em profundidade, dos casos individuais de múltiplas testemunhas,
sobretudo os mais recentes. Uma concentração, nos casos de Encontros
Imediatos, sobretudo os de Segundo Grau, promete claramente um bom
resultado, de vez que a evidência relatada de presença física pode contribuir
dados físicos quantitativos.
O modo de tratar o caso individual requer pessoas especializadas em
interrogatórios, que também possuam um conhecimento bastante íntimo das
diversas manifestações do fenômeno OVNI, e estejam capacitadas a reconhecer
as características dos relatórios originados devido às comuns identificações
equívocas. É imprescindível que estejam a par tanto da psicologia como da física
elementar.
Ainda que se contasse com um punhado de investigadores de primeira linha
e que tivessem “uma capacidade de reação imediata’’ de modo que pudessem,
dentro de um ou dois dias (preferivelmente horas depois), estar no local da
ocorrência relatada, poderiam, lado a lado com os relatores originais, reconstruir
as circunstâncias do acontecimento relatado, no local exato da sua ocorrência, e,
quem sabe, sob circunstâncias as mais semelhantes, obter pelo menos dados
semiquantitativos.
Um hábil interrogador pode extrair dados valiosos de um caso que tem meses
— ou até mesmo anos — de idade. A experiência comprovou que os
acontecimentos com OVNIs permanecem presentes na memória dos relatores e
que, os detalhes úteis e válidos ainda podem ser conseguidos muito tempo após
terem ocorrido, sobretudo quando a experiência foi um tanto ou quanto
traumática. Cheguei à conclusão de que o maior obstáculo à investigação de
antigos casos não é a falta de memória das testemunhas mas a frequente
impossibilidade de se localizar os relatores. À medida que o tempo vai se
passando e devido à mobilidade, cada vez maior, de pessoas e famílias torna-se
difícil obter o endereço mais recente de uma testemunha chave. As vezes,
conforme o demonstrou McDonald com relação aos casos de La-kenheath e
Texas-Oklahoma, 2 os relatores foram localizados anos mais tarde após ter-se
feito um esforço descomunal nesse sentido. Nestes casos em especial as
testemunhas demonstraram um grande espírito de cooperação.
Um investigador experiente tem capacidade para extrair dos relatores o
máximo de informações, traduzindo declarações vagas como “ele desapareceu
rápido demais’’ para “acelerou no espaço de um segundo numa velocidade
angular de 10 graus por segundo e desapareceu na camada de nuvens na direção
oeste-noroeste’’. Se o investigador experimentado chegar ao lugar da ocorrência
o mais rápido que lhe for possível poderá obter outros dados além do tamanho
aparente, cores, direções, condições meteorológicas, direção do vento, posição
do sol, ou da lua ou dos planetas. Desta forma, aquilo que de um modo geral
sobre-existe apenas como uma declaração anedótica ou um relato impreciso de
uma experiência assustadora ou incomum, pode ser transformado numa narrativa
mais precisa da ocorrência relatada. O investigador deveria sempre tentar
localizar testemunhas independentes do acontecimento relatado, mesmo que isto
represente um esforço considerável.
Através do estudo dedicado de casos cuidadosamente selecionados e da
comunicação de seus resultados, talvez em congressos nacionais ou
internacionais, os investigadores estariam capacitados a responder, dentro em
breve, à importante pergunta: existe um verdadeiro fenômeno OVNI que
representa, realmente, algo novo para a ciência? Os investigadores
experimentados em OVNI gritarão de angústia diante desta declaração; estão tão
convictos de que o fenômeno OVNI constitui um dado empírico realmente novo
que considerariam o acima exposto como um ponto elementar que poderia ser
esquecido facilmente. Não obstante, o fato deve ser provado quase da mesma
forma como foi finalmente demonstrado, há quase dois séculos, que pedras
“caíam” realmente do céu.
A combinação de um enfoque estatístico sofisticado e de estudos detalhados
de determinados casos de múltiplas testemunhas, estabeleceriam, quase que
certamente se os OVNIs são ou não na verdade observações empíricas novas até
aqui não reconhecidas como tal pela ciência.
Este modo de abordar o assunto é essencial para a solução de uma situação
que atualmente é confusa. Os pontos de vistas vão desde aqueles que consideram
toda a questão como absurda (seja através de considerações feitas a priori ou na
crença de que o Relatório Condon foi definitivo) e, portanto, recusam-se a
dedicar um momento sequer ao exame dos dados, até aqueles que examinaram
os dados atuais e estão convencidos, nesta base, que o fenômeno OVNI
representa um novo campo da ciência. A única maneira de acabar com esta séria
polarização do problema é através de um estudo concentrado. E de que forma
podem ser realizados estudos deste tipo?
Podemos começar com o conhecimento de que o fenômeno OVNI é global,
que os relatórios sobre OVNIs persistem neste e em outros países, apesar do
Relatório Condon e do encerramento das atividades do Projeto Livro Azul, e que
muitos pequenos grupos formados por pessoas com formação científica,
sobretudo jovens cientistas, estão demonstrando interesse pelo assunto e
desagrado pelo modo como ele foi tratado no passado. Há alguns que julgam
cada vez mais difícil compreender porque razão a Academia Nacional de
Ciências endossou totalmente o Relatório Condon e a sua metodologia.
Muito tempo antes da divulgação do Relatório Condon, o AIAA (Instituto
Americano de Aeronáutica e Astronáutica) requereu a duas das suas comissões
técnicas — A comissão do Meio Ambiente Atmosférico e a Comissão da Física
Espacial e Atmosférica — para que estabelecessem uma subcomissão que se
dedicasse ao problema OVNI. Solicitaram ao Dr. Joachim P. Kuettner, do ESSA
Research Laboratories, em Boulder, no Colorado, que presidisse a comissão.
Em dezembro de 1968, numa das publicações oficiais da AIAA, o Journal of
Astronautics and Aeronautics, a comissão declarava (pouco antes de ter sido o
Relatório Condon divulgado a 8 de janeiro de 1969): “A comissão procedeu a
um cuidadoso exame da condição atual do problema OVNI e concluiu que a
controvérsia não pode ser solucionada sem que estudos posteriores e sérios de
caráter científico quantitativo sejam realizados e que o problema merece a
atenção das comunidades de engenharia e dos cientistas”
Cerca de dois anos mais tarde, no mesmo jornal a subcomissão dos OVNIs
publicou um artigo intitulado: “OVNI: Uma avaliação do Problema’’. Apesar de
escrito de forma bastante cuidada não deixava de ser uma crítica ao modo como
a comunidade científica tinha tratrado o problema dos OVNIs anteriormente. A
comissão, comentando o Relatório Condon, quase que dois anos após a sua
publicação, declarava:

Para que se compreenda o Relatório Condon, que é de difícil leitura,
devido em parte a sua organização, o interessado deve estudar o todo do
relatório. Não é suficiente que leia os sumários, como por exemplo os
redigidos por Sullivan e Condon, ou sumários de sumários nos quais, ao que
parece, se apoiam a grande maioria dos leitores e os meios de comunicação.
Existem diferenças nas opiniões e nas conclusões tiradas pelos autores dos
diversos capítulos e há diferenças entre estes e o sumário de Condon. Nem
todas as conclusões contidas no próprio relatório estão inteiramente
refletidas no sumário de Condon. Mais adiante, vamos encontrar no
Relatório desta comissão:
O capítulo da autoria de Condon, “Sumário do Estudo’’ contém muito
mais do que o título indica; revela muitas das suas conclusões pessoais. Não
há dúvida que um dos motivos pelo qual Condon foi convidado, foi para
tratar do projeto a fim de que fizesse julgamento de valores. Sentimo-nos
felizes por contarmos com o julgamento de um homem tão experimentado e
conceituado; mas não temos que concordar com ele. A subcomissão de
OVNIs não encontrou uma base no relatório que justificasse a sua predição
de que não havia nada de valor científico que pudesse ser esperado de
estudos posteriores.

Mais adiante, ainda vamos encontrar:

Considerando todas as provas que ficaram à disposição da atenção da
subcomissão, julgamos difícil ignorar o pequeno resíduo de casos bem
documentados, mas inexplicáveis, que constituem o âmago da controvérsia
sobre os OVNIs.

A comissão também foi de opinião igual a minha no que diz respeito à
hipótese extraterrestre (ETI):

Já deixamos claro o nosso desencanto com relação aos argumentos que
envolvem a possibilidade dos OVNIs serem de origem extraterrestre, de vez
que não existe, neste momento, uma base científica suficiente para que seja
tomada uma posição num, ou noutro sentido.... a subcomissão dos OVNIs
acha que a ETI, por mais tentadora que possa ser, não deveria ser levada em
consideração de vez que introduz um inatingível elemento de especulação;
mas a subcomissão também sente de modo vigoroso, sob um ponto de vista
científico e da engenharia, que é inaceitável ignorar simplesmente uma
quantidade substancial de observações inexplicáveis e encerrar a questão
sobre elas calcada em conclusões prematuras.

A comissão do AIAA sugeriu uma medida adequada e inicial no que diz
respeito a uma nova forma de estudar o problema:

A subcomissão considera como a única forma promissora para se lidar
com o assunto uma continuação do esforço em nível moderado, dando-se
ênfase a uma melhora de coleta de dados através de meios objetivos e de
análises de alta qualidade científica.

A confusão geral que envolve o assunto e a falta de atenção por parte dos
cientistas não permitiram, realmente uma coleta correta de dados. Mesmo após
vinte anos de compilação de dados feita de forma esporádica e desorganizada
tudo quanto existe é uma imensa coleção de dados heterogêneos, quase sempre
consistindo de um pouco mais do que relatos digressivos e anedóticos. Os mais
de 12.000 casos da Força Aérea estão classificados apenas com referência a
ordem cronológica, sem que tivesse sido elaborada, sequer, uma tentativa no
sentido de se fazer um índice de referências e o mesmo se aplica aos arquivos de
muitos pesquisadores particulares e de organizações.
Portanto, o primeiro passo significa começar quase que do zero: compilação
e processamento de dados. Isto pode parecer um modo muito vulgar para se lidar
com um tópico altamente excitante, mas até agora só contamos com uma
estrutura imaterial e sem substância erigida sobre um terreno de areia movediça
dos dados não processados e geralmente incompletos, que são mais qualitativos
do que quantitativos. O que se pode fazer?
Minha ponderada recomendação é que, neste e em outros países, um núcleo
de cientistas interessados e engenheiros deveria estabelecer, sobre uma base
modesta porém constante, um livre “instituto” para o estudo do fenômeno
OVNI. A extensão, diversificação e objetivo do trabalho de cada instituto seria
estabelecido pelos fundos e tempo disponíveis. Naturalmente, a questão de
fundos será sempre problemática e teria que ser requerida localmente e junto a
fontes particulares ou, em certos casos, junto aos governos e às associações
científicas. Podem-se realizar muitas coisas, até mesmo com poucos recursos,
desde que sejam administrados com propriedade.
Como o fenômeno é global, eleve ser mantido um contato entre os grupos
dos diversos países e torna-se necessária uma forma de comunicação,
desenvolvendo-se, eventualmente, numa publicação internacional dedicada a
este tipo de estudo.
Também recomendaria veementemente, que um país membro das Nações
Unidas propusesse na Assembleia Geral a criação de uma comissão dentro da
estrutura das Nações Unidas para auxiliar é facilitar as comunicações entre estes
pequenos grupos de cientistas de diversos países (Em 18 de junho de 1966, U Thant, o
Secretário Geral das Nações Unidas àquela época, demonstrou a Mr. John Fuller e eu o grande interesse que
sentia pelo problema OVNI. Durante um debate que demorou uma hora falou-nos sobre o interesse
semelhante que tinham demonstrado diversos membros da Assembleia Geral de diversos países. Disse-nos
que simpatizava com a ação das Nações Unidas, mas que esta teria que ser iniciada por uma nação-
membro). Esta comissão, é claro, não iria onerar as Nações Unidas nem
dependeria do seu apoio no tocante a parte diretiva mas seria, na verdade, um
“posto de triagem” para a troca de informações. Neste sentido ela atuaria como
diversas outras já existentes “uniões científicas” (como por exemplo, a
International Astronomical Union) o fazem. Fornecem os meios para que os
especialistas de uma nação sejam conhecidos nas outras e possam comunicar e
planejar programas mútuos sem a necessidade de uma publicação formal. Por
exemplo, a International Astronomical Union conta com mais de 40 comissões,
cada qual cobrindo uma das facetas da astronomia e facilitando a comunicação
entre os astrônomos que buscam suas particulares especialidades astronômicas.
Da mesma forma, há uma necessidade de especialização nos estudos do
fenômeno OVNI. O progresso é alcançado através da especialização; quantos
trabalhadores sérios têm havido até aqui, no campo do OVNI que poderiam ter
sido comparados, de um modo geral, aos que praticam a medicina geral em
medicina. Embora possa parecer exagerado para o leitor, há um amplo espaço,
no estudo do fenômeno OVNI, para os especialistas da mesma forma que
acontece no campo da medicina onde encontramos cardiologistas, pediatras,
ginecologistas, e assim por diante. Phillips, por exemplo, especializou-se no
estudo das marcas deixadas no solo pela aterrissagens de OVNIs segundo
relatadas. Trabalho especializado semelhante é necessário nos casos relatados
que se referem à interferência com os sistemas de ignição dos carros, aos efeitos
dos OVNIs sobre animais, às trajetórias e cinética do voo do OVNI, à
morfologia dos humanoides, à comunicação com ocupantes, às características
espectrais das luzes noturnas e à bem outros aspectos do fenômeno OVNI .
Podemos até visualizar ocasionais congressos internacionais (como acontece a
cada três anos no caso da Astronomical Union) durante os quais os especialistas
podem se reunir e relatar o que descobriram. Os programas especiais de pesquisa
séria seriam, é lógico, escolhidos pelos cientistas cooperantes. Se fosse eu o
responsável por um planejamento deste tipo, antes de mais nada dividiria o
programa total em duas partes mais importantes, que seriam respectivamente
denominadas ativa e passiva.
Os objetivos do programa ativo seriam obter observações quantitativas do
próprio fenômeno OVNI. Isto envolveria, de uma forma ideal, estar presente no
momento do avistamento, equipado com câmaras, espectrógrafo, gravador,
contador geiger, equipamento de infravermelho, equipamento topográfico, etc., a
fim de se filmar o acontecimento, fotografar as formas do OVNI, conseguir
espectrogramas a fim de determinar se a radiação compreendia uma radiação
contínua ou linhas de emissão e absorção, ajustes de triangulação cuidadosos a
fim de determinar as distâncias e a medição meticulosa das marcas de
aterrissagem, árvores quebradas, etc. Em suma, estes especialistas
documentariam quantitativamente o acontecimento enquanto realmente ocorria.
Contudo, este ideal só poderia ser conseguido por acaso. A ocorrência de um
Encontro Imediato com um OVNI, afinal de contas, é tão imprevisível quanto à
queda de um meteorito e às possibilidades de se conseguir medidas quantitativas
deste acontecimento — por exemplo, a filmagem da aterrissagem de um
meteorito — são, na verdade, muito poucas. Por exemplo, não conheço um único
astrônomo que tenha observado a aterrissagem de um meteorito no momento
exato em que ocorria, (é claro que o cintilar de um meteoro no céu é uma coisa
totalmente diversa — estou me referindo aqui à aterrissagem de um objeto
físico).
A comparação é pertinente, pois já houve um tempo em que a existência de
meteoritos era negada pela ciência oficial e as histórias de sua queda, contadas
por testemunhas de confiança, eram consideradas como “contos da carochinha’’,
simplesmente porque parecia despropositado que pudessem cair pedras do céu.
Conta-se que em 1801 Thomas Jefferson teria dito que era mais fácil para ele
acreditar que dois professores ianques estavam mentindo do que que estivessem
caindo pedras do céu.
Vamos supor, no entanto, que Thomas Jefferson tivesse criado uma comissão
Ben Franklin a fim de resolver a questão se caíam, realmente ou não, pedras do
céu. Caso Ben Franklin tivesse resolvido montar estações para observação de
aterrissagens de meteoritos por todo o país, o custo teria sido proibitivo e os
resultados, salvo algum incidente feliz, teria sido nulo. Ainda que existisse a
fotografia naquela época, as despesas para a colocação de estações fotográficas a
cada cem jardas através de todos os Estados Unidos teria sido, é claro,
totalmente fora de cogitação. Com toda a certeza um programa “ativo’’ deste
tipo com relação aos meteoritos teria resultado em nada. Da mesma forma, a não
ser que se depare com um incidente fortuito, criar postos de observação
espalhados por todo o mundo (de vez que não devemos nos esquecer que se trata
de um problema global) seria inteiramente proibitivo no que diz respeito aos
custos e, de qualquer forma, bem poderia resultar em nada.
É muito comum noticiar-se que os avistamentos de OVNIs parecem se reunir
sempre nas áreas “quentes de OVNIs”. Se isto não for devido à publicidade,
histeria e sugestionabilidade generalizada (e, naturalmente, o sistema de seleção
padronizado dos relatórios estabeleceria de imediato se os relatórios sucessivos
se classificavam como relatórios sobre OVNIs), se fossem deslocados, às
pressas, para aquela região os equipamentos para se proceder â observação, a
probabilidade de conseguir dados de primeira mão cresceria imensamente. Ao
que parece ocorrem realmente ondas de relatórios sobre OVNIs (Oklahoma em
1965, na zona rural da França em 1954 e na Argentina em 1963) e que, portanto,
há alguma esperança neste sentido.
A parte passiva do programa seria, é claro, o cuidadoso estudo estatístico dos
dados conforme já foi esclarecido. Uma ligação entre as duas fases seria a
investigação ativa de casos bastante recentes, nos quais o objeto relatado já se foi
há muito tempo mas deixou suas marcas no solo, nas plantas e, naturalmente, na
memória dos observadores. A compilação rápida de dados, antes que um caso
fique velho demais, é da máxima importância.
Este aspecto exige a disponibilidade de investigadores com treinamento total
e a urgência requer que o trabalho seja realizado em horário integral quando a
ocasião assim o exigir. E isto exige fundos adequados.
Se os fundos não fossem problema (!) e eu estivesse dirigindo um instituto
OVNI, treinaria, pessoalmente, um certo número de investigadores que
trabalhassem em horário integral e então quando aparecesse um relatório sobre
OVNI particularmente interessante, designaria dois deles para pesquisar o caso
até que fossem conseguidos os mínimos detalhes dos dados disponíveis. Isto
poderia levar uma semana, um mês, seis meses ou até muito mais tempo. Não
teria importância; este seria o seu trabalho em horário integral até que todas as
pistas, todas as testemunhas disponíveis tivessem sido exploradas e todas as
medições possíveis tivessem sido feitas.
A atual situação deficiente dos dados sobre OVNIs foi provocada, primeiro:
o relator original, geralmente, desconhece quais são precisamente os dados
necessários; e, segundo, os investigadores fizeram seu trabalho como se fosse
um hobby, durante fins de semana ou sempre que tinham algum tempo
disponível e, quase sempre, não estavam preparados convenientemente para
realizar a coleta de dados relevantes. A fase ativa do programa de um instituto
seria, portanto, realizada numa “base de convocação” e o aspecto passivo seria
um programa de continuação de redução de dados.
Nas duas décadas passadas foram reunidos dados em grandes quantidades
mas de qualidades bastante variáveis. Na sua forma atual assemelha-se muito
mais a um minério de baixo teor, que ainda deve ser processado e refinado antes
que tenha algum valor. Ou talvez seja mais apropriada a analogia do caso de
Marie Curie e as toneladas de pechblenda que ela teve que beneficiar antes que
contivessem uma migalha de radium. Aqueles que dentre nós lidaram com o
problema OVNI estão convencidos de que há uma probabilidade bastante alta de
que haja “radium na pechblenda” das quantidades de relatórios. Ainda que a
tarefa de separar e refinar os ciados existentes sobre OVNIs venha a ser hercúlea
prevejo uma maravilhosa recompensa à espera da pessoa ou do grupo que
assumir esta tarefa com dedicação. Pois se existe realmente “algum proveito” no
minério dos dados de OVNIs, este poderá, perfeitamente bem, representar uma
brecha científica da maior magnitude. Talvez venha a exigir uma re-distribuição
e recomposição de diversos conceitos estabelecidos do mundo físico, muito
maiores do que aquelas que foram necessárias quando da descoberta da teoria da
relatividade e do quântum mecânico para que estes pudessem ser absorvidos pela
anterior bem acomodada imagem do mundo.
Torna-se essencial se conseguir que as diversas organizações de OVNIs
espalhadas pelo mundo cooperem no sentido de colocar seus arquivos à
disposição de um estudo estatístico maior para que se possa alcançar um sucesso
total. Embora os casos atuais possam ser estudados localmente, um estudo
estatístico maior só pode ser realmente significativo se forem usados os dados
reunidos, no passado, em todo o mundo. Evidentemente, isto exigiria que o
trabalho fosse realizado por uma organização que merecesse o respeito das
organizações individuais de todas as nações; acredito que isto pudesse ser
conseguido bem mais facilmente se o esforço universal contasse com o
patrocínio de uma união científica internacional ou das Nações Unidas. Nos
Estados Unidos, as organizações particulares APRO e NICAP precisariam estar
totalmente seguras de que a sua cooperação não seria considerada da forma
descortês demonstrada pela Comissão Condon.
De acordo com a lei, os arquivos do Livro Azul não são confidenciais e
encontram-se a disposição dos verdadeiros pesquisadores científicos. Os
arquivos da Grã-Bretanha, da França, da Austrália, e de muitos outros países,
tanto os oficiais como os particulares, representam uma fonte potencial de dados
valiosos, mas poderão estar sujeitos a diversos regulamentos de segurança. Ao
que me é dado entender os arquivos militares britânicos, que contém relatórios
sobre OVNIs, não podem vir a público antes que se passem 30 anos.
Não obstante, não é necessário que se tenha acesso a todos os dados
existentes para que se possa realizar um estudo estatístico válido. Contudo, tudo
que se tornar disponível deverá ser incorporado sob um formato homogêneo.
Muitos grupos e pessoas com diferentes experiências em processamento de
dados e em investigação de OVNIs estão, neste momento, se empenhando em
colocar seu material em forma legível para a máquina. Embora isto seja uma
atitude louvável, se seus modos de codificar não forem mutualmente
compatíveis, a mistura de dados do mundo inteiro resultará em nada ou será
necessário que seja refeita na base de um código uniforme. Torna-se necessário,
o mais rápido possível, que se celebre um acordo internacional a respeito do
método de codificar os dados sobre OVNIs; isto bem poderia ser realizado de
saída pela comissão patrocinada pelas Nações Unidas.
Uma adequada computação de dados é absolutamente necessária ao se
procurar padrões de comportamento nos OVNIs, ao se estabelecer ás correlações
e ao buscar possíveis diferenças ou semelhanças de comportamento demonstrado
nos diversos países. Mas não se trata de uma simples catalogação e “muito
trabalho’’. O computador moderno utilizado com cautela (uma linguagem não
processual sofisticada) pode estabelecer correlações significativas caso elas
existam. Por exemplo, a respeito das centenas de casos relatados envolvendo
falhas no funcionamento de carros na presença de OVNIs, o que têm esses casos
em comum? Em que eles diferem? O que parou de funcionar primeiro — o
rádio, as luzes, o motor? E quando um OVNI exibe uma sequência de cores, qual
a mais frequente, qual a sequência mais comum?
Estes tipos de análises, conjugados ao programa ativo das investigações in
locum com um verdadeiro caráter científico deveria satisfazer o primeiro
objetivo de um programa positivo de OVNI: estabelecer a realidade do OVNI
como um assunto reconhecido para um posterior estudo científico. Se pudermos
estabelecer padrões definidos e outras correlações nos relatórios sobre OVNIs
procedentes de diversos países e redigidos por pessoas possuidoras de diferentes
níveis culturais, a probabilidade de que tais correlações tivessem ocorrido por
acaso, como o resultado de identificações errôneas, haveria de se tornar mínima.
Portanto, a probabilidade que o OVNI represente alguma coisa realmente nova
na ciência — observações empíricas novas — passaria a ser, praticamente, uma
certeza.

NOTAS

1. Flying Saucer Review. Edição Especial N. 4, Agosto de 1971, págs.
57-64.
2. Journal of Astronautics and Aeronautics. Volume9, N. 7. Julho de
1971, pág. 66.
3. Novembro de 1970.
4. Extraído de uma carta particular de Julian Hennessey dirigida a
Sir John Langford-Holt, M.P.: “No proceder normal dos
acontecimentos os registros de OVNIs deveriam permanecer
interditados ao escrutínio do público até que se tornem disponíveis,
sob as regras normais, no final de 30 anos. Contudo, se uma
organização científica de padrão elevado tivesse fortes motivos para
requerer acesso aos nossos registros, sua solicitação seria então
considerada segundo seus próprios méritos”.
EPÍLOGO - ALÉM DO HORIZONTE DO LIVRO AZUL


Especular antes que se esteja de posse de todas as provas é um erro
capital. Isto toma o julgamento tendencioso.
— Sherlock Holmes, Um Estudo em Escarlate

Holmes, não resta dúvida, exagerou, pois nunca dispomos de “todas” as
provas. Contudo, numa pesquisa qualquer chega um momento no qual o
investigador sente que há um corpo de evidências suficientes para especular de
forma produtiva, sobretudo sugerindo pistas para uma investigação posterior. Os
resultados de tais teorias, por sua vez, estimulam a especulação futura.
Entretanto, no que diz respeito ao problema OVNI é preciso uma quantidade
bem maior de provas antes que a especulação possa ser positiva. Após mais de
vinte anos de envolvimento com o problema, continuo com poucas respostas e
sem uma hipótese viável. E não tenho a mínima vontade de atuar como um
profeta.
Refiro-me a “envolvimento” e não a estudo, de vez que durante vários anos
de tal envolvimento achava, como o fizeram praticamente todos os meus
colegas, que o assunto era disparatado e sentia-me muito pouco inclinado a
estudá-lo com seriedade. Posteriormente, à medida que foi se tornando cada vez
mais claro para mim que o assunto era digno de estudo, não tinha fundos, nem o
mecanismo e, sem dúvida, muito pouco tempo devido à premência de deveres
profissionais para realizar o tipo de estudo que fosse bastante amplo para ser
significativo.
Minha tarefa como consultor da Força Aérea decididamente não me forneceu
o mecanismo necessário, embora me tenha propiciado dados para possíveis
estudos futuros. Portanto, quando a comissão Condon foi criada, ainda que
soubesse que dela iria fazer parte, aplaudi a medida com uma antecipação
ingênua e cheia de esperança. Reconhecia que os fundos à disposição da
comissão eram suficientes para atacar o problema de forma total, mas achava
que se os fundos fossem gastos de forma prudente, a investigação conduzida sem
preconceito e sob um espírito realmente científico, haveria de ficar demonstrada
a necessidade de se realizar um estudo mais profundo. Na verdade, uma leitura
cuidadosa do relatório e de seus casos intricados, deu origem a esta
demonstração. Vários cientistas confessaram-me que foi um estudo do Relatório
Condon que os fez perceber que o problema OVNI era digno de ser investigado.
Mas a história da comissão Condon já foi narrada. Na minha opinião, o repúdio
de suas conclusões sumárias está apenas à espera de um estudo tranquilo e
imparcial sobre o fenômeno OVNI, um estudo que organizará, aperfeiçoará e
colocará em ordem as provas; somente então poderemos acolher e testar as
hipóteses de forma proveitosa.
Contudo, seria muito tolo de minha parte se esperasse que estas explicações
do fenômeno OVNI já não tivessem sido apresentadas, tanto as passíveis quanto
as de teor altamente fantasiosas. Na realidade, uma boa parte da literatura
“entusiasta” dedica-se à sua exposição, ou à aceitação, de uma determinada
hipótese — é claro que quase sempre a hipótese extraterrestre.
O investigador sério deveria resistir a tentação de uma especulação
prematura, sobretudo quanto a isto, de vez que este assunto é cerceado por uma
série de dificuldades que não são normalmente encontradas em outras pesquisas
científicas. Por exemplo, num assunto típico de pesquisa de primeira linha tão
elementar quanto as partículas da física,.cada nova peça de dado experimental é
logo confrontado com múltiplas hipóteses elaboradas pelos teóricos. Eles
sentem-se “a salvo” propondo teorias na base de insuficiente nova evidência
(muito antes que “toda evidência” esteja disponível) por estarem operando
totalmente dentro dos limites de uma estrutura reconhecida e aceita de conceitos
físicos. De fato, muitos teóricos apressam-se em desenvolver modelos teóricos
do sistema focalizado preocupando-se apenas casualmente com a verificação
empírica. Para eles a elaboração de uma teoria é um jogo profissional, destinado
a provocar os pesquisadores a fim de que criem novas experiências que
comprovarão, ou não a teoria. O teórico fica satisfeito em ambos os casos. Por
exemplo qual o teórico astrofísico que teria pensado em esperar até que cada
pulsar tivesse sido inteiramente catalogado e estudado antes de fazer
especulações em torno das estrelas nêutrons ?
As vezes acontece que a teoria precede qualquer observação empírica. Certa
feita, um astrônomo apresentou a teoria de que a superfície da lua era revestida
por uma camada tão espessa de poeira que as naves terrestres seriam capazes de
afundar nela. Quando a Apoio forneceu o desmentido a esta teoria, o astrônomo
em questão, por acaso, baixou sua cabeça de vergonha? De forma alguma!
Prosseguiu na elaboração de muitas novas teorias, algumas das quais
demonstraram ser corretas. Ele sabia, como um dos melhores astrofísicos da
nossa época que era, que a elaboração de teorias não só é divertido mas que pode
ser uma forte motivação para a ação, sobretudo se for bastante controversa.
Infelizmente, existem diversos problemas relacionados com os OVNIs que
desaconselham este tipo de especulação desinibida. O primeiro é de origem
filosófica. A tradição científica, desde os tempos de Galileu, desenvolveu uma
estrutura metodológica e lógica que demonstrou ser altamente positiva ao
permitir que compreendamos uma ampla classe de fenômenos. Esta tradição é
consagrada junto à comunidade científica simplesmente porque tem funcionado
com um sucesso ímpar. Neste procedimento os que realizam experiências
costumam procurar manipular o meio ambiente de tal maneira que os aspectos
significativos do fenômeno são isolados daqueles espúrios e irrelevantes. Usando
outras palavras, ele desenvolve os meios para separar “o sinal” do “ruído”. Desta
forma a relação precisa entre as quantidades e os itens sugerem-se por si
mesmos; no caso das ciências físicas estas relações são, quase sempre, um modo
de expressar sob forma matemática.
Como ocorre na astronomia, mesmo quando uma experiência ativa de
laboratório é bloqueada, o astrônomo ainda pode “separar o sinal do ruído”
através do uso de instrumentos especiais quando o fenômeno (como por exemplo
uma eclipse) torna-se disponível. A relação entre certos parâmetros associados o
fenômeno torna-se então aparente e um teste e experiência posteriores poderão
estabelecê-la, então, além de quaisquer dúvidas. Transformam-se num “fato
científico” . Se não houvesse a possibilidade de se operar da maneira acima
descrita, a ciência seria imensamente mais complexa; seria, virtualmente,
impossível extrair e separar os elementos fundamentais, inerentes ao fenômeno,
da plêiade de coisas irrelevantes e coincidentes sempre presentes quando se
procede a uma situação observada.
O caso dos OVNIs encontra-se nesta situação, acha-se inteiramente além de
qualquer tipo de controle experimental. Além do mais, eles são efêmeros, não
programados e inoportunos para um observador que, na maioria das vezes, não
tem competência para fazer uma análise fria da situação totalmente inesperada e
surpreendente. Consequentemente, os aspectos significativos do fenômeno
podem passar desapercebidos em meio aos incidentais, bastante mais evidentes
— que são enfatizados nos relatórios.
Todavia, os OVNIs não estão sós nesta categoria; dividem estas particulares
dificuldades com diversos outros fenômenos, como por exemplo o relâmpago-
bola e os meteoritos, quando devemos nos apoiar nas observações fortuitas feitas
por leigos no assunto a fim de obtermos dados. Eis porque assuntos como estes
só conseguiram ganhar respeitabilidade científica de modo tão vagaroso,
sobretudo quando foi difícil de se encontrar uma explicação, de vez que o
fenômeno não se encaixava na estrutura científica do momento.
Talvez até tenhamos que enfrentar o fato de que a estrutura científica, por
sua própria lógica interior, exclui certas classes de fenômenos às quais os OVNIs
podem pertencer. Um dos aspectos mais desesperadores e até mesmo revoltantes
do assunto é a sua aparente irracionalidade. Contudo, como nosso conceito de
racionalidade é um produto paralelo da sociedade cientificamente orientada na
qual vivemos, não deveríamos nos surpreender que um fenômeno inacessível ao
comportamento científico, nos pareça irracional.
É justamente aqui que nos defrontamos com a segunda dificuldade do
problema OVNI. Ele não pode ser separado, pelo menos por enquanto, da
condição social na qual está encastoado. Estamos habituados com o quase que
total isolamento existente entre as ciências do comportamento e as ciências
físicas, mas apesar disto encontramos neste problema uma situação na qual as
duas estão inexoravelmente misturadas. Separadas ou não, resta a ver se os
componentes comportamentais e os físicos não triviais emergirão como um
estudo sério para ambas as disciplinas, mas seria prematuro reduzir a
importância de qualquer uma das duas.
Esta discussão, é lógico, seria desnecessária se contássemos com uma
explicação óbvia a respeito dos OVNIs. Quando alguém se sente frustrado é fácil
demais apegar-se a uma explicação semelhante àquelas de “homens em Marte” e
ignorar os diversos aspectos dos OVNIs que as contradizem. Mas, assim agir é
cair exatamente naquela armadilha que acabamos de debater. Talvez estejamos
aumentando, inadvertida e artificialmente, a significância dos aspectos patentes
enquanto a parte que ignoramos — ou que não é relatada pelas testemunhas
inexperientes — talvez contenha a pista de todo o assunto.
O que precisa ser explicado já o foi e de maneira detalhada quando da
descrição dos seis protótipos observacionais básicos de OVNIs a partir do
capítulo 6 até o décimo primeiro. Os aspectos mais persistentes e enigmáticos
parecem ser a localização do fenômeno no tempo e no espaço, suas
características inteligentes ao que tudo indica (de um tipo bastante infantil), a
impressão que causa de estar operando fora das reconhecidas leis da física e sua
estranha preferência por determinadas situações. A presença, frequentemente
relatada, de “humanoides” capazes de se deslocarem com naturalidade no meio
ambiente altamente restrito da Terra e sua associação com a “nave”, mostrando,
às vezes, uma massa de inércia próxima ao zero, mas ainda assim com a
capacidade de deixarem vestígios físicos de sua presença, trata-se sem dúvida de
um fenômeno que está além dos limites da física dos meados do século vinte.
Mas haverá, certamente, assim esperamos, uma ciência do século vinte e um e
outra do século trinta e talvez elas consigam atingir o fenômeno OVNI assim
como a ciência do século vinte compreendeu a aurora boreal, uma proeza
incompreensível para a ciência do século dezenove, que também não foi capaz
de explicar como o sol e as estrelas brilhavam.
Trabalhamos sob o foco luminoso do presente, apenas ligeiramente
conscientes da penumbra do passado e totalmente incapazes de iluminar a
escuridão que envolve o futuro. Vamos imaginar, por um instante, uma caravana
de carroças cobertas há pouco mais de um século, realizando sua longa viagem
rumo ao oeste. Estão acampados para a noite, as carroças dispostas num círculo,
as sentinelas a postos e os viajantes reunidos em torno de uma fogueira para se
aquecerem e divertirem. Alguém refere-se ao futuro, mas fala com palavras e
conceitos de sua época, como aliás não podia deixar de fazê-lo. Porém, mesmo
que tivesse sido inspirado por alguma musa para falar em realizar a viagem
inteira em poucas horas, voando pelos ares e a. respeito de assistirem cenas na
televisão e escutar vozes falarem para um outro continente, esta pessoa bem
dotada não conseguiria traduzir com palavras nem ao menos um vislumbre de
como todas estas maravilhas poderiam acontecer. O vocabulário necessário para
descrições deste tipo — elétrons, transistores, circuitos integrados, motores a
jato — o jargão das comunicações técnicas só apareceria dentro de cem anos.
Ele se veria totalmente às tontas, em busca de palavras que fossem capazes de
transmitir seus pensamentos.
Será que alguém se aventuraria a imaginar o vocabulário técnico do ano
373475 (pressupondo-se que ainda exista uma vida inteligente na terra) e
predizer os conceitos e conhecimentos para os quais elas servirão como veículo?
Será que, em algum lugar do espaço, já existe um conhecimento e tecnologia
tão avançados? O sol, nossa estrela mãe, nada mais é que uma estrela entre
bilhões na nossa galáxia, e esta é apenas uma dentre muitos milhões de outros,
cada uma com seus bilhões de estrelas. Estatisticamente, é improvável que o
nosso sol seja a única estrela entre quadrilhões de outras que tenham planetas.
Isto seria praticamente o mesmo que se declarar que as bolotas só podem ser
encontradas caídas junto a apenas um carvalho no mundo.
Ainda que limitemos nosso pensamento às bilhões de estrelas que estão
presentes apenas na nossa galáxia, sabemos que ela já existia bilhões de anos
antes do sol aparecer. Portanto o palco foi preparado há muito tempo para esta
possibilidade, a possibilidade de civilização muito mais adiantadas do que nós,
tão mais adiantadas quanto nós o somos com relação aos ratos. Por exemplo,
Fred Hoyle conjecturou ser possível existir uma rede de comunicações
intergalática mas que nós somos como um colonizador, perdido em meio as
florestas virgens, que ainda não tem um telefone.
Ideias deste tipo, que um dia já foram proibidas ç até mesmo revoltantes para
as nossas mentes geocêntricas, já não nos chocam mais de vez que,
paulatinamente, fomos saindo do nosso provincialismo cósmico. Contudo,
conceitos deste tipo têm pouco a ver de modo direto, com nosso problema, neste
momento exceto o fato deles apresentarem uma possível hipótese para ser
estudada. Mas, falar de visitantes extraterrestres ou de noções mais esotéricas
ainda, como a viagem do tempo ou de universos paralelos, é tão incongruente
quanto à hipótese de alucinações em massa com relação aos OVNIs, neste
presente momento. Kuhn comentou que o progresso científico tende a ser mais
revolucionário do que evolucionista e os conceitos acima são, apesar de sua
natureza bizarra, simples alongamentos imaginativos de conceitos presentes.
Quando surgir a tão esperada solução do problema OVNI, acredito que ela
provará não ser simplesmente um pequenino passo na marcha da ciência mas um
salto quântico gigantesco e totalmente inesperado.

NOTAS

1. Hoyle, Fred. Of Men and Galaxies. Seattle: University of Washington
Press, 1964, pâg.47.

APÊNDICE 1: DESCRIÇÕES DAS APARIÇÕES DESCRITAS
NO TEXTO


APÊNDICE 2: ANÁLISE DO CASO PAPUA-PADRE GILL
REALIZADA POR DONALD H. MENZEL

Neste caso espetacular o Padre Gill e um grande número de nativos papuas,
analfabetos, relataram ter visto no céu alguns objetos impressionantes. A maior
parte dos avistamentos aconteceu no começo da noite, logo depois do pôr do sol.
Parece-me altamente significativo que Vénus estivesse bastante visível, pondo-
se cerca de três horas depois do sol. Alcançou o seu alongamento máximo à leste
em 23 de junho e atingiu o brilho máximo a 26 de julho.
Parece-me significativo que, apesar do brilho de Vénus, nenhum dos
avistamentos do Padre Gill e do grupo da Missão se refiram a este planeta. Dois
policiais reconheceram que Vénus “poderia ser vista daquela localização
aproximadamente na mesma direção onde foi vista, pela primeira vez, a luz
brilhante”. Um deles declarou ter visto o planeta Vénus mas era de opinião de
que o objeto visto pelo grupo da Missão encontrava-se mais baixo do que aquele
planeta e mais ao norte. Contudo, isto é a expressão de uma opinião, muito mais
do que uma observação definida. Roibert L. Smith, cadete policial patrulhei-ro,
viu Vénus logo no início da noite de 6 de julho, mas, aparentemente, não avistou
nenhum OVNI. Menciona ter olhado para o céu bem após a meia-noite e ter
visto um objeto brilhante, que quase com certeza devia se tratar do planeta
Júpiter. Também viu algumas “estrelas cadentes”.
Diversos peritos declaram que o OVNI “se parecia com uma estrela” .
Todavia, ainda resta a ser explicado as impressionantes evoluções relatadas,
principalmente, pelo Padre Gill. Não me parece um fato convincente que uma
quantidade de moças e rapazes da Missão tenham corroborado a observação.
Talvez o que se segue seja a explicação e, de fato algumas experiências por
mim realizadas indicam que ela poderia ser a explicação correta. Algumas delas
ainda poderiam ser verificadas. Primeiro, precisamos especular que o Padre Gill
e Stephen Gill Moi (professor) estejam ambos míopes em alto grau e que não
estivessem usando óculos quando do avistamento. Provavelmente deviam ter
também bastante astigmatismo, de sorte que a imagem de Vénus era maior e,
definitivamente, mais alongada. Algo deste tipo é necessário para responder pela
diferença da aparência do OVNI segundo o relato feito pelos dois indivíduos. O
Padre Gill afirmava que o veículo esteve mais distante dele na horizontal;
Stephen teve-o mais na vertical. O olho humano executa movimentos erráticos, o
que faz com que um objeto, como uma estrela ou planeta, pareça estar vibrando,
quando, na realidade, o objeto está imóvel. Os efeitos atmosféricos explicam as
rápidas mudanças de cores.
Mas o que dizer a respeito dos homens que acenavam? Será que isto foi uma
impressão? Num olho míope, a amplitude dos movimentos da pálpebra sobre a
pupila produz uma espécie de lâmina ótica. A natureza e as imagens fora de foco
dos cílios e uma difração resultante do modo de olhar vesgo, com os olhos
semicerrados que as pessoas míopes adotam ao tentarem melhorar sua visão. O
aceno dos ocupantes e os relatados acenos de volta talvez não tenham sido vistos
de um modo tão geral conforme pensou o Padre Gill. Ele comentou ter havido
risinhos de alegria e surpresa, talvez ambos. Não teriam sido de incredulidade
estes risinhos devido à incapacidade de ver o que o Padre Gill estava dizendo
ver? Afinal, numa Missão deste tipo, os nativos deviam estar condicionados para
milagres e coisas assim.
Com a finalidade de simular este fenômeno arranjei uma lente positiva de
óculos com cerca de quatro graus de dioptria. Pretendia repetir a experiência
com lentes que tivessem um astigmatismo considerável, a fim de assegurar a
suposta condição de míope do Padre Gill. Em seguida, piscando eu podia
facilmente imaginar algo do fenômeno por ele relatado. Parte do efeito talvez
tenha sido provocado pela difração da pálpebra além de outras irregularidades,
como por exemplo, células de sangue na retina. Estas, quase certamente se
revelariam sob as circunstâncias descritas. O Padre Gill simplesmente supôs que
as outras pessoas estivessem vendo o mesmo que ele. Embora um grande
número de “testemunhas” tenha assinado o relatório, duvido muito que
soubessem o que estavam assinando ou porquê. Sem dúvida ficariam confusas
porque seu grande líder estava vendo coisas que eram invisíveis para eles. Por
outro lado, não deveriam ter sentido uma surpresa muito grande porque, afinal
de contas, consideravam o Padre Gill como um homem santo. Muitas pessoas
neste mundo precisam de óculos e não os usam. Gostaria muito de saber se o
Padre Gill usa óculos ou não, qual o seu grau de vista e, finalmente, se estava
com os óculos naquela noite. De vez que uma hipótese bastante simples satisfaz,
sem grande esforço, as observações relatadas, considerarei o caso do Padre Gill
solucionado. Ademais, quer me parecer que os mesmos fenômenos sejam
responsáveis por alguns dos casos mais surpreendentes e não solucionados que
se encontram nos arquivos na Força Aérea.

20 de dezembro de 1967

APÊNDICE 3: PEDIDO DE EXONERAÇÃO DE MARY
LOUISE ARMSTRONG AO DOUTOR EDWARD CONDON


24 de fevereiro de 1968.

Dr. Edward U. Condon, Diretor.
Projeto UFO
Universidade do Colorado
Boulder, Colorado 80302

Prezado Dr. Condon:

Esta carta será uma apresentação por escrito dos pontos por nós discutidos na
manhã de quinta-feira, 22 de fevereiro de 1968.
Como está evidente para o pessoal do projeto UFO, assim como para o
senhor, que nos encontramos diante de um verdadeiro dilema devido ao
desacordo e a baixa moral dentro da pesquisa como uma consequência das duas
últimas semanas, julgo ser necessário examinar aquilo que, na minha opinião, foi
a causa fundamental dos problemas existentes. Desejo sinceramente que o
projeto prossiga numa base muito diferente da anterior, que a comunicação entre
o senhor e o seu pessoal venha a melhorar imensamente e que aquilo que todos
nós esperamos da pesquisa venha a ocorrer: isto é, um relatório final que
satisfaça a todo mundo.
Creio que todos os membros do projeto devem, até um certo ponto, dividir a
responsabilidade da atual situação, se não for por outra razão pelo menos por não
o termos procurado, antes, para dirimir nossas dúvidas. Contudo, acredito
firmemente que, se não tivesse sido Bob o indivíduo que administrou o projeto
diretamente e numa base diária, não nos encontraríamos nesta situação. Julgo
que haja uma quase que unânime “falta de confiança” nele como o coordenador
do projeto e quanto à sua maneira de exercer o poder desta posição. (Devo
ressaltar logo de saída que eu compreendo que cada um deve representar apenas
suas próprias opiniões e que ao me referir aos outros membros do projeto apenas
declaro minhas observações pessoais no que diz respeito às suas dissatisfações).
Ao seguir estão expostas as minhas razões e a discussão delas, por que
motivo julgo Bob o responsável pelo conflito e porque, na minha opinião se o
senhor tivesse ficado na direção de nossas atividades não teria ocorrido um
conflito tão sério quanto este.
A atitude adotada por Bob, desde o início, tem sido negativa. Apesar de
duvidar que ele viesse a concordar com esta declaração, creio que a maioria do
pessoal estaria de acordo. Bob demonstrou muito pouco interesse em manter-se
informado sobre os avistamentos, seja através de leitura ou conversando com
aqueles que os leram. Num certo ponto de nossa pesquisa, ficou combinado que
um determinado número de pessoas da equipe leria um grupo de relatórios,
indicados, de modo sistemático, e, posteriormente, nos reuniríamos para que elas
relatassem o que tinham lido. Desta forma, esperava-se estimular algum debate
significativo quanto aquilo que podia ser dito, se fosse o caso, sobre os
relatórios. Saunders, cuidadosamente, separou alguns relatórios baseado em
verificações, de modo á que todos os membros da comissão pudessem ter a
oportunidade de lê-los. Pelo que me consta, Bob deu uma rápida olhadela em
alguns, mas, na verdade, nunca os leu é, certamente, nunca nos estimulou para
que realizássemos as sugeridas reuniões onde poderíamos debater os casos.
Parece-me que ele, na qualidade de coordenador, deveria ter tomado a iniciativa
a fim de assegurar a execução do programa. Além disto, uma grande parte
daquilo que desejo discutir mais adiante e que está relacionado com a redação
prematura por parte de Bob, do relatório final, está neste momento diretamente
ligado aquilo que pode e não pode ser dito a respeito dos relatórios dos
avístamentos. Na minha opinião, ele perdeu muito tempo com a preocupação a
respeito do tipo de ‘‘linguagem '’ a ser adotada no relatório final de modo a
evitar, astutamente, uma declaração definitiva a respeito do problema OVNI.
Por outro lado, foi gasto muito popco tempo com a revisão de dados nos quais
ele poderia ter alicerçado suas conclusões.
Não faz muito tempo, Bob queixou-se a mim que deveria fazer parte da
comissão que se reuniria a fim de decidir quais os avistamentos que deveriam ser
investigados por nossos grupos de campo, mas que não tinha sido contratado
quando chegara o momento de se tomar estas resoluções. Perguntei a Norman se
isto era verdade e ele negou categoricamente. Ele afirmou que Bob tinha sido
consultado, todas as vezes, para participar, mas se recusara, na maioria das
vezes. Contudo, ainda que Norman não tivesse entrado em contato com ele,
poderia ter participado de qualquer diálogo, caso o desejasse realmente, devido a
sua posição, coisa impraticável para qualquer outro membro da comissão e que,
este sim, teria carradas de razões para se queixar se não tivesse sido incluído em
qualquér um dos processos que envolvessem uma tomada de decisão. Sem
dúvida, a responsabilidade de tomar a iniciativa cabia a Bob. Afinal de contas,
ele, na qualidade de coordenador do projeto, tinha o poder de trocar o
procedimento a qualquer momento que o desejasse.
Isto dá origem à questão do que fez Bob realmente com o seu tempo. Parece-
me que a maior parte dele foi sem significado e afastado daquilo que deveria ter
sido nosso estudo, levando-se em conta as limitações de tempo e de orçamento.
Bob viajou muito. Reconheço que muitas destas viagens estavam ligadas a
assuntos que eram relevantes para o problema OVNI — relevante ao modo como
o pessoal considera a “relevância” — isto é, compilando informações a respeito
do caso Heflin, investigando dois avistamentos da época (logo no começo do
projeto) e visitando SRI, Rand, Hippler e Ratchford. Todavia, muitas das
viagens me pareceram nada ter de importante para com os aspectos do problema
OVNI. Bob realizou várias conferências (que, evidentemente, não era uma das
responsabilidades do nosso projeto). Algumas delas incluíam a Boeing
Corporation, em Seattle, The Rand Corporation, em Santa Mônica, a American
Meteorological Society em Colorado Springs e a IEEE em Los Angeles. Ele
justificou este “tour de conferências” como sendo educacional, ou associado a
universidades ou lidando com instituições científicas. Contudo, quanto ao
aspecto da viagem parece-me que a maior mal-versação de tempo em viagens foi
quando de sua ida a Europa. Mesmo admitindo que exista uma justificativa para
alguém ir a Europa (ou à América do Sul, África ou qualquer lugar fora dos
Estados Unidos) a fim de verificar qual é a situação dos OVNIs
internacionalmente. Quando se faz uma viagem à Europa eu acharia que visitar
Michel e Bowen seria apropriado, e um dever quase que acharia que visitar
Michel e Bowen seria apropriado, e quase que compulsório. Contudo, visitar o
Ministro da Defesa da Inglaterra, o Grupo de Defesa Sueco, Loch Ness e um
homem chamado Erich Ha-lik, em Viena (que, pelo que me consta, representa
apenas uma entre as muitas pessoas das quais recebemos cartas diariamente
sugerindo como construir “discos voadores”, solucionar os problemas do sistema
de propulsão, etc.) parece tão afastado do problema dos OVNIs, senão
inteiramente irrelevante, e fora do objetivo daquilo que nosso projeto pode
realizar dentro de um tempo limitado. Além disto, embora Bob tenha debatido a
sua viagem à Europa com seu pessoal, nunca pus os olhos num relatório por
escrito. Anteriormente, fora ele quem insistira na necessidade de uma
documentação para cada viagem que devêssemos realizar.
Poder-se-ia argumentar, e com razão, que Bob teve muitas coisas com que
lidar, sobretudo problemas eminentemente administrativos (i.e. finanças,
subcontratos, organização do gabinete e as tarefas que cada um deveria executar)
e que contribuiu para que este tipo de trabalho fosse feito. Além disto, é verdade
que o pessoal tinha toda a liberdade para realizar as tarefas como bem lhes
aprouvesse. Todavia, concomitantemente, Bob iniciou uma série de projetos
individuais, mas não chegou até o fim e nem mesmo se manteve a par das
realizações dos outros. Se o fez, não acredito que tivesse podido justificar a
redação de seus pensamentos como se fossem conclusões para o relatório final
quando, não só o relatório não é seu e nem ele é o Diretor, mas não consultou as
pessoas que tinham efetuado todo o trabalho com os dados. Como se explica que
Craig, Saunders, Levine, Wadsworth, Ahrens e outros chegaram todos a
conclusões radicalmente contrárias as de Bob? Não me parece que eles tenham
ingressado no projeto com qualquer tipo de preconceito particular com relação
ao problema OVNI. Acho que existe um consenso bastante válido entre os
membros da equipe de que há suficiente dados na questão OVNI que justifiquem
um estudo posterior. Isto não quer dizer, coisa que nenhum de nós declararia,
que estamos, realmente, sendo visitados por veículos espaciais. Mas, afirmar no
nosso relatório final, como penso que Bob gostaria de fazer, que apesar de não
podermos provar que a “ETI” (hipótese extraterrestre) não existe, podemos
declarar que não há muita prova que sugira que ela exista, não seria correto. Não
posso entender como pode ele fazer uma declaração deste tipo quando aqueles
que tiveram o trabalho de mergulhar na informação de avistamento não julgam
ser isto verdade. Eventualmente, deverá ter lugar um diálogo durante o qual
ambos os lados da questão serão discutidos pelo grupo, porém colocar estas
ideias num pedaço de papel sob a forma de conclusões e discuti-las com pessoas
estranhas ao projeto é pretensioso e errado.
No memorando enviado por Bob para David Williamson, da NASA, a 12 de
dezembro de 1967, o primeiro declara:

1. “Diante da ausência de dados científicos, nossa resposta será,
provavelmente, (fenômenos aéreos de origem desconhecida
[OVNIs] que representam um fenômeno ou estímulo fora do
alcance do conhecimento científico atual) que são possíveis mas
que não há nada que possa apoiar a afirmativa de que sejam
verdadeiros”....
2. “A segunda parte da carta (carta de Dolittle para J.T. Ratchford,
datada de 2 de agosto de 1967) estabelece a exigência com relação
ao lado técnico do estudo. Estipula que o atual estado do
conhecimento das ciências física, comportamental e social seja
proveitoso para o objetivo da política pública. A questão aqui é que
a nossa tarefa é de fazer ciência (mas, naturalmente, a nossa
descoberta é que não temos condições de fazer ciência física de
vez que não existem dados); a responsabilidade da Força Aérea é
aplicar as descobertas científicas nas decisões da política pública....
3. “Deixamos a Força Aérea fora de perigo, e não deveríamos, senão
nos limitarmos a declarar simplesmente que não fomos capazes de
chegar a nenhuma conclusão a respeito do problema OVNI, apesar
de termos lançado mão de todos os instrumentos científicos’’.

A primeira declaração levanta a questão da impossibilidade de se usar a
ciência no estudo dos OVNIs. Creio que a maioria dos membros da equipe
contestaria isto com veemência. A segunda declaração parece dizer que não é
nossa tarefa, ou responsabilidade, fazer recomendações sobre a questão dos
OVNIs, mas apenas rever o problema cientificamente e submetê-lo à Academia
Nacional de Ciências. Estou inclinada a concordar que, visto a interpretação
estrita do contrato e a carta de Dolittle, isto poderia estar certo. Mas quem dentre
nós não percebe que isto é, antes de mais nada, uma questão de responsabilidade
pública e que devemos realmente fazer recomendações, pelo menos no sentido
de se esclarecer se o problema OVNI merece ou não um estudo posterior. O
terceiro item dá a impressão de que devemos chegar a uma “solução” e que se
não respondermos positiva ou negativamente a questão do ETI, não chegamos a
uma “solução”. Quer me parecer que a palavra solução possui um significado
muito diferente para Bob do que para o resto da equipe e, possivelmente, para o
senhor também.
O próprio fato de Bob ter discutido o estudo sobre OVNIs de forma tão livre
com pessoas como Williamson, Asimov, Branscomb, Higman (e outros) e,
conquanto não me pareça haver nada errado em tais debates, fico imaginando
porque alguns de nós foram acusados, ainda há pouco tempo, de não termos o
direito de falar com McDonald, Hynek, Hall, os Lorenzens, etc, da mesma
maneira. Ele não está apenas discutindo com estas pessoas o que o projeto está
fazendo e a “metodologia”, mas sim indagando sobre a melhor maneira como
“nós” deveríamos redigir as conclusões a que ele chegou. Estou impressionada
com o fato de que ele parece estar se esforçando muito para dizer o menos
possível no relatório final, e fazê-lo da forma mais negativa possível. Não me
parece uma conclusão injusta de nossa parte afirmar que Bob não está nos
representando e temos bastante razão para achar que o nosso trabalho, segundo a
interpretação dele, talvez não cause muito impacto nem tenha muita importância.
(Cito Dave Saunders quando digo que a sugestão de Bob de que poderíamos usar
notas de rodapé para as opiniões de somenos importância provocou a seguinte
pergunta por parte de Dave: O que vamos fazer? Dar notas de rodapé ao título ?
’’)
Assim como Bob procurou apoio junto a “estranhos” para aquilo que vai
escrever no relatório final, por que não é razoável que nós, sentindo que aquilo
que dissemos não causou a mínima impressão junto as opiniões preconcebidas
de Bob, tambem não podemos procurar apoio junto a “estranhos”? Na realidade,
a alegação de prejulgamento não constitui o assunto capital aqui. Mesmo se ele
não tivesse prejulgado o problema, o que acho que fez, seus métodos para
alcançar as conclusões seriam merecedores de uma crítica profunda.
Reconheço que houve um envolvimento muito grande com pessoas estranhas
ao projeto. Não me parece que o fato de falarmos com essa gente que mencionei
antes (McDonald, Hynek, etc.) estivesse errado, a não ser no sentido de que, às
vezes, era fácil demonstrar nossas frustrações e talvez, nos termos da ética
restrita do trabalho de escritório, porque não tenha sido sempre tão discreta
quanto deveria. Estive presente à reunião realizada em Denver, no começo de
dezembro, quando Saunders, Levine, McDonald e Hynek estiveram juntos para
discutir as possibilidades de ações que talvez ajudassem a manter o
prosseguimento do estudo dos OVNIs. Tudo que foi debatido ali era totalmente
independente do projeto da Universidade do Colorado e não seria, de forma
alguma, uma ameaça para o projeto. Ademais, estou a par que nessa reunião
McDonald recebeu uma cópia do memorando enviado por Bob aos reitores
Manning e Archer, apesar de já conhecer o conteúdo deste há muito tempo. A
essência do memorando, não importa sob que circunstância foi redigido ou o
fato de que se tratava de uma informação interna escrita antes do início do
projeto, serve, sobretudo, para substanciar a meu ver a alegação de que Bob não
realizou um trabalho honesto de se representar no estudo dos OVNIs.
Quanto à carta enviada por McDonald a Bob, na qual ele se refere, por
diversas vezes, à informação de que “membros do projeto” lhe tinham dado, eu
estive presente a conversa mantida em Tucson, no mês de março de 1067 na qual
Bob, na minha presença e de Jim Wadsworth, deu, virtualmente, a McDonald a
maioria das informações que ele poderia querer se desejasse ser antagônico ao
projeto. Nessa oportunidade disse Bob: Condon não precisa examinar casos, que
é o que nós estamos (inclusive ele mesmo) fazendo. Em resposta à pergunta de
McDonald sobre o número de cientistas que estavam no projeto (tanto sob o
ponto de vista de especialidades e como homem-horas), Bob respondeu que
tínhamos tantos quanto necessitávamos e que McDonald não precisava nos dizer
como realizar o projeto. Ademais, Bob disse que o senhor não estava dedicando
muito tempo ao projeto, mas que nem isto era preciso. (Acho que ele mesmo
julgava poder realizar o trabalho. No entanto, acredito que todo o pessoal teria
concordado de que precisávamos do senhor). Portanto, se McDonald está certo
quanto às acusações de que nosso projeto não foi dirigido com acerto ou de
modo científico, parece-me difícil agora reconhecer que somos bem mais
culpados do que Bob por termos transmitido esta informação para ele. Dave e
Norman foram criticados e lhes disseram que o que tinham feito era
indesculpável, que não deveriam ter comentado uma informação escrita com
alguém estranho no projeto. Foram demitidos por causa disto. Estou dizendo que
se o fato de ter dado a McDonald o memorando foi uma quebra de ética de
trabalho, Bob e todos nós também rompemos esta ética. Ainda há pouco tempo,
Bob pediu-me para enviar ao Dr. Menzel alguns casos relatados e investigados
pelo Projete da Universidade do Colorado. Estes casos, é claro, contêm
informações confidenciais e acho difícil estabelecer uma diferença entre mandar
informações sobre casos e enviar um memorando interno — pelo menos em
princípio. De qualquer forma, devido a isto, o projeto só conta atualmente com
dois ou três membros seniors.
O senhor declarou que o que Dave e Norman fizeram à Universidade em
termos de subdivisões que resultariam numa imagem ruim para o
estabelecimento, é imperdoável. Creio que aquilo que fizeram neste sentido é
perfeitamente comparável a publicação do nosso relatório final como um livro
comercial que traria lucros para a Universidade. Quer me parecer que a
Universidade não faria uma imagem boa se parecesse que pretendíamos auferir
lucros com este projeto. Pois é exatamente isto que Bob tem feito na última
semana — vem contratando editores para ver quem publicará nosso relatório.
Creio ser compreensível que Dave e Norman tenham sentido um dever de
lealdade para algo mais do que o projeto OVNI da forma como ele existiu. Até a
demissão deles senti a mesma coisa. E o mesmo se passou com a maioria dos
outros. Depois destes últimos dias, reconheço que eu, e alguns outros,
cometemos um erro muito grande por não o termos procurado logo. Mas isto é
em retrospectiva e, naquela época, achava que o senhor não seria tão simpático
aos nossos sentimentos como o foi. Erroneamente ou não, achávamos que Bob o
representava, que trocava ideias com o senhor com frequência e que, portanto, o
senhor estivesse bem informado a respeito daquilo que ele fazia e da nossa
posição. Quando da nossa reunião em setembro, logo após as declarações que o
senhor fez para o The Rocky Moun-tains News, achamos que tínhamos
“cumprido a nossa parte’’ e que a nossa dissenção estava bastante clara. Creio
que esperávamos que o senhor, depois disto, viesse a dedicar mais tempo
procurando corrigir aquilo que talvez fosse uma impressão errônea de nossa
parte com relação a sua pessoa. Além disso, quando estávamos discutindo, mais
cedo naquele mesmo dia, os problemas que suas declarações poderiam trazer
para o staff, Bob desculpou-se por não tomar parte do debate, sob a alegação de
que se participasse de uma conversa sobre o nosso desacordo com relação àquilo
que o senhor dissera e que nos desagradava, não teria condições de “voltar’’ à
administração. Não entendo o que tinha a ver a sua permanência na reunião e a
sua volta ao trabalho em Regent Hall, mas sem dúvida aquela não foi uma
maneira diplomática de contornar a situação e não deixou em nós uma boa
impressão sobre a posição dele.
Dr. Condon, parece-me que já me alonguei demais e portanto terminarei,
informando-o que estou me demitindo do cargo de assis tente administrativa do
Projeto UFO. Agradeço-lhe muito por ter me dado ouvido, com tanta
consideração, na quinta-feira. Tudo quanto me resta a dizer é que o que escrevi
nesta carta foi uma das coisas mais difíceis que jamais fiz e se não fosse o fato
de eu acreditar firmemente no que digo jamais o teria feito.

Sinceramente,
Mary Louise Armstrong

APÊNDICE 4: TRECHOS DE UMA CARTA DE J. ALLEN
HYNEK PARA O CORONEL RAYMOND S. SLEEPER

7 de outubro de 1968

SEÇÃO A

O Livro Azul foi encarregado de duas missões pela AFR 80-17, ambas
ostensivamente de igual importância, de vez que os regulamentos não
especificam em contrário. São elas: (1) determinar se o OVNI é uma possível
ameaça aos Estados Unidos e (2) utilizar os dados, científicos ou técnicos,
obtidos através do estudo dos relatórios sobre OVNIs. Nenhuma das duas
missões foi adequadamente executada.
Primeiro, a única base lógica para que se possa declarar que os OVNIs não
constituem uma possível ameaça contra os Estados Unidos é que, até aqui, nada
aconteceu contra este país que tivesse se originado nesta fonte. Primeiro, muitos
relatórios só são investigados semanas, ou até meses, depois que foram
redigidos; evidentemente, se o objetivo fosse a hostilidade esta teria acontecido
muito antes do relatório ser investigado. (Isto é a mesma coisa que investigar os
avisos do radar que foram ignorados de Pearl Harbor três semanas após o
acontecido). Nada ocorreu, portanto, pode-se concluir que os OVNIs, seja lá o
que forem, não tiveram até o momento intenções de praticar hostilidade.
Segundo, diversos relatórios de alto valor potencial para os serviços secretos
são deixados de lado pelo Livro Azul. Exemplos: (a) [Trecho de um documento
confidencial, de um avistamento comunicado a 5 de maio de 1965, contendo
confidencial liberado, confidenciabilidade refere-se tão só ao nome, local, e
missão da nave. “.... o sinaleiro chefe comunicou o que pensou se tratar de um
avião.... Quando observados através de binóculos, foram avistados três objetos
muito próximos um do outro; um era de primeira grandeza, os outros dois de
segunda. Os objetos viajavam em velocidades muito altas, deslocando-se na
direção do navio a uma altitude indeterminada. Os.... quatro alvos móveis foram
detectados no.... radar de busca aérea, em quotas de até 22 milhas, e
mantiveram-se ali durante seis minutos. Quando estavam acima do navio, os
objetos separaram-se numa formação circular diretamente acima, e
permaneceram assim por uns três minutos, aproximadamente. Esta manobra foi
observada tanto visualmente como pelo radar. O objeto luminoso que plainava a
um quarto de estibordo apareceu maior no osciloscópio do radar. Os objetos
realizaram diversas mudanças de curso durante o avistamento, confirmadas
visualmente e pelo radar, e foram rastreados em velocidades superiores a 3.000
(três mil) nós. Desafios foram feitos pelo IFF, mas não foram respondidos. Após
a manobra de flutuação, que durou três minutos, os objetos deslocaram-se na
direção sudeste numa velocidade elevadíssima. As evoluções descritas acima
foram observadas pelo comandante, todo o pessoal de serviço na ponte e a
tripulação que se achava na parte de cima’’.
Este relatório foi sumariamente classificado pelo Livro Azul como um
“avião”, e, pelo que me conste, nunca sofreu uma investigação posterior. Por que
razão podemos afirmar que o avistamento não representou uma “possível
ameaça” contra os Estados Unidos? Somente por não ter acontecido nada? Será
que vamos atribuir uma incompetência deste quilate aos oficiais do navio e ao
comandante por terem feito este relatório a menos que todas as testemunhas
estivessem realmente intrigadas? Será concebível que estes oficiais não
soubessem reconhecer um avião se os objetos tivessem a trajetória, a aparente
velocidade e as manobras características de aviões ? Não encontramos no
relatório qualquer menção à possibilidade de que estivessem observando uma
aeronave comum. O próprio fato dos desafios da IFF não terem obtido respostas
deveria ter nos impelido a aprofundar a investigação. Isto implica em avião
inimigo. Mas o relatório nem mesmo sugere a possibilidade de que fossem
aviões inimigos comuns. O documento confidencial nos arquivos do Livro Azul
não contém outros dados técnicos referentes ao próprio avistamento. Será que o
diretor do Livro Azul não deveria ter demonstrado, ao menos, alguma
curiosidade a respeito deste avistamento? Ainda assim quando toquei neste
assunto por mais de uma vez, ele foi afastado com indiferença. São casos como
este (mas não este, pois jamais foi dado a público) sem falar na questão de uma
possível ameaça, que pôs lenha na fogueira, quando o público, de tempos em
tempos, referia-se às acusações de que a Força Aérea seria um “disfarce para
alguma outra coisa. É muito difícil para o povo compreender como um país, cuja
atitude militar é tão segura, pôde ter afastado um caso como este a menos que os
militares soubessem mais do que afirmavam.
(b) Trechos de relatórios confidenciais liberados recebidos no Quartel-
General da USAF, procedentes do Distrito Aéreo de Saigon e transmitido ao
Livro Azul a 26 de maio de 1967. A data do avistamento era 17 de abril de 1967,
ou seja, mais de um mês antes da FTD ter recebido o relatório. Se tivesse sido
uma possível ameaça, o Livro Azul, sem dúvida, não teria tomado conhecimento
dela! Por que demorou tanto a transmissão para o FTD? O relatório declara o
seguinte:
Declaração de um membro do 524° Destacamento de Inteligência Militar,
Saigon Field Office, 205/8 Vo Tanhm Saigon, Vietnam: “Por volta de 02:20, de
17 de abril de 1967, observei cinco (5) objetos grandes, iluminados e ovalados,
deslocando-se numa formação cerrada e a alta velocidade no céu. Nesta hora,
achava-me no telhado do Saigon Field Office do 524° Destacamento de
Inteligência Militar.... . Comecei a ver estes objetos próximos ao horizonte, à
minha esquerda, e observei-os cobrir todo o meu campo visual num espaço de
tempo que me pareceu inferior a cinco (5) segundos. Durante este tempo, os
objetos deslocaram-se de onde os tinha visto inicialmente, próximo do horizonte
à minha esquerda, passando praticamente por cima de mim, numa altitude que
parecia elevadíssima, e desaparecendo por trás de algumas nuvens que se
achavam no horizonte à minha direita. O céu encontrava-se parcialmente
encoberto mas no momento do avistamento, a área na qual se deslocaram estava
límpida, com exceção de algumas pequenas nuvens esparsas, acima das quais
eles pareciam estar. Enquanto passavam sobre as nuvens desapareciam no meu
campo visual, até que apareciam do outro lado. Também observei que, à medida
que passavam entre a minha linha visual e uma estrela, esconderam esta última e
bloquearam sua luminosidade até que a ultrapassaram. Isto foi uma indicação de
que os objetos não eram transparentes. Estava claro que não se tratava de
nenhum avião convencional devido ao seu tamanho, formato, velocidade e pelo
fato de não produzirem nenhum ruído audível para mim. Antes de localizar estes
objetos, estivera observando diversos aviões convencionais, movidos à hélice,
como a jato também, e não tenho a mínima dúvida de que eram bem maiores do
que qualquer avião a jato que já tivesse visto no céu. Também deslocavam-se
numa velocidade média, que calculei ser, pelo menos cinco vezes maior do que
qualquer avião movido a jato que eu jamais tenha visto. Encontravam-se distante
demais e deslocavam-se rápido demais para que se pudesse fazer uma descrição
detalhada. A única coisa que pude notar é que eram realmente de formato oval e
reluziam de uma luz branca constante. Pareciam estar numa posição vertical,
mais do que horizontal, com relação a terra, e a formação flutuava lentamente
enquanto passavam. Cerca de cinco (5) minutos mais tarde, depois que já tinham
desaparecido do meu campo visual, diversos aviões a jato, que me deram a
impressão de se achar a uma grande altitude e deslocando-se rapidamente,
surgiram à minha direita e às minhas costas quando olhei na mesma direção de
onde tinham surgido os ovais. Foram em direção à área onde eu tinha perdido de
vista os objetos e ao alcançarem este ponto, viraram para a direita deles e
seguiram o mesmo curso dos objetos que eu vira anteriormente. Estes aviões não
estavam em formação, mas sim espalhados. Nunca tive uma opinião formada a
respeito de objetos voadores não identificados. Como também nunca tinha visto
um antes. Contudo, acredito que aqueles objetos fossem naves espaciais de
algum tipo. Estou convencido que não se tratavam nem de reflexos, nem de
aviões convencionais, meteoritos ou planetas”.
O relatório acima fora enviado oficialmente para o Livro Azul procedente do
Quartel-General da Força Aérea Americana, mas apesar disto o Livro Azul
classificou-o como ‘‘Apenas uma Informação”. Não se fez mais nada a respeito
e nem se tentou uma avaliação, acredito que com a desculpa, de que o fato
ocorrera fora dos limites continentais dos Estados Unidos. O fato de ter ocorrido
numa área muito sensível pareceu não preocupar o diretor do Livro Azul! Ainda
assim o Livro Azul declara que os OVNIs não constituem urna ameaça à
segurança deste país. Em que base? Apenas porque até o presente momento nada
aconteceu.
Será possível que nenhuma das estruturas militares dos Estados Unidos
prestou atenção a este avistamento, ou relacionou-a a outros relatórios
semelhantes? Será que o Livro Azul não sente a menor curiosidade científica,
nem a mínima curiosidade quanto ao padrão dos OVNIs? Aparentemente, não!
Dçvo assinalar que nenhum destes casos foram-me mostrados pelo pessoal
do Livro Azul. Descobri-os, por acaso, durante uma de minhas visitas enquanto
remexia em alguns papéis que se achavam sobre uma escrivaninha e não nos
arquivos; não tenho autorização para remexer nos arquivos. Somente tenho
acesso a eles quando requeiro um caso específico. Mas como posso requisitar
um caso específico, a fim de examinar seus possíveis méritos científicos, se
desconheço a sua existência? Tenho certeza, através das atitudes anteriores do
Livro Azul, que jamais me teriam mostrado estes casos; felizmente deparei com
eles (e muitos outros) apenas por acaso. E, devo dizer a esta altura, que quando
requisito um caso e peço uma cópia de algumas partes do citado caso liberado,
não tenho permissão para tirar uma cópia na máquina xerox a apenas alguns
passos de distância — mesmo quando me ofereci a fornecer meu próprio
material xerox! Devo requerê-lo através da ‘‘Reprodução” e, portanto, isto
significa uma espera de diversas semanas antes que receba algumas folhas de
papel que poderiam estar em minhas mãos em coisa de poucos minutos. Portanto
a minha utilidade como consultor pouco significa.
(c) Com relação ao último exemplo veja, por obséquio, a Seção G que trata
da atitude não científica e desregrada dentro do Livro Azul. Os dois casos já
citados aplicam-se, igualmente bem, dentro da Seção H, de vez que o pessoal do
Livro Azul não demonstrou para com eles a mínima atitude básica de
curiosidade científica e o seu consultor científico não recebeu nenhuma
informação a respeito da existência destes relatórios.

SEÇÃO B

O pessoal do Livro Azul, tanto no que diz respeito a seu número como na
relação à formação científica, está totalmente incapacitado para realizar as
tarefas que lhe foram designadas pelo AFR 80-17 mesmo se pretendesse
executá-las.
Esta conclusão será amplamente apoiada pelo que se segue nas outras seções,
mas está claro que para lidar com um fenômeno que deixou muitas pessoas
intrigadas, um problema que realmente exige um enfoque multidisciplinar, dois
oficiais que apenas possuem um diploma em física expedido por uma instituição
de somenos importância no ensino superior, não constituem uma força tarefa
adequada para este problema. Contudo, ainda que estes oficiais fossem prêmios
Nobel, não teriam condições de fazer frente a tantos relatórios que chegam ao
escritório do Livro Azul. Seria suficiente um caso desconcertante para manter
ocupado um grupo de investigadores durante dias ou até semanas; tentar tratar
adequadamente de dois ou três casos por dia além de todos os outros deveres que
devem cumprir na repartição (veja Seção E) é evidentemente impossível.

SEÇÃO C

O Livro Azul sofre prejuízos internos de vez que a fala com b, b fala com c e
c fala com a. Recentemente, tem sido apenas uma questão de a e b e quase
sempre parece ser apenas b; isto é, somente uma pessoa fica encarregada da
avaliação de um relatório, sem que se realize uma checagem. O Livro Azul é um
sistema fechado. Parece, por assim dizer, que tornou-se a vítima de uma
operação a círculo fechado, da sua própria propaganda. Tem havido muito pouco
diálogo entre o Livro Azul e o mundo científico exterior ou entre o Livro Azul e
as diversas seções científicas dentro da própria Força Aérea. Tem havido muito
pouca troca de ideias germinativas, e pouco ou nenhum contato com outros
grupos, sobretudo os grupos de engenharia civil, que expressaram interesse pelo
problema. Eu, como consultor recebi, provavelmente, mais correspondência de
outros cientistas e engenheiros a respeito dos OVNIs do que o próprio Livro
Azul, de vez que estas pessoas estão a par do tipo de operação fechada daquela
instituição e todos sabem que o Livro Azul só dará tipos de respostas
estereotipadas PR. Pelo que sei, há muito pouca correspondência científica
contida nos arquivos do Livro Azul; isto se deve, possivelmente, ao fato de que
os cientistas desejam manter correspondência com pessoas que possuam uma
formação parecida com a deles. Seria inútil, por exemplp, indagar do Livro Azul
quais as razões científicas que o levaram a avaliar um determinado caso,
digamos, como gerado por uma inversão atmosférica: o Livro Azul nunca
utilizou o know-how meteorológico disponível dentro da própria Força Aérea a
fim de determinar que grau de inversão é necessária para produzir os efeitos
relatados pelas testemunhas, se é que se tratava de uma inversão. O enfoque tem
sido muito mais qualitativo que quantitativo; têm-se dado o mesmo valor a uma
inversão de dois graus e a uma de dez e nem ao menos uma vez vi a ótica
geométrica ser aplicada ao delineamento do raio num determinado caso avaliado
como tendo sido causado por uma inversão. O pessoal não é aquele adequado a
este tipo de trabalho Ainda há pouco tempo pedi ao cientista-chefe (veja
Apêndice A) para dar início a uma requisição junto ao AFCRL para computar e
fornecer tabelas ao Livro Azul que mostrariam os efeitos óticos que se podem
esperar de inversões de temperatura de vários graus de intensidade.
Da mesma forma, diversos cálculos astronômicos têm sido feitos pelo Livro
Azul sem que se tivesse ouvido o consultor científico (que, afinal de contas, é
um astrônomo) o que provocou o escárnio da imprensa. A leva de relatórios
provenientes do meio-oeste datados de 31 de julho até 1 de agosto de 1965
podem ser citados como exemplos.

SEÇÃO D

Os métodos estatísticos empregados pelo Livro Azul são uma imitação
grosseira do ramo da matemática conhecido como Estatística. Um capítulo de
uma tese de doutorado da Universidade de Northwestern, que será publicada
dentro em breve, trata especificamente deste aspecto e, posteriormente, citarei
algumas partes dela (Herbert Strentz, A Study of Some Air Force Statistical
Procedures in Recording and Reporting Data on UFO Investigations, incluído
em A Survey Of Press Coverage ofUFOs, 1947-1967, uma tese de doutorado na
Faculdade Medill de Jornalismo, Universidade de Northwestern”) e prefaciarei
com as minhas observações que, casualmente, apresentei por repetidas vezes aos
membros do Livro Azui mas sem nenhum resultado. Finalmente, cheguei à
conclusão que era inútil continuar tentando educar o pessoal do Livro Azul a
respeito desses assuntos.
Quando da avaliação de casos o costume tem sido empregar os termos
“possível” ou “provável” como moderadores de uma determinada avaliação;
logo, “um provável avião” ou “um provável meteoro” são usados com
frequência. Contudo, na compilação dos casos, no final do ano, estes
moderadores são tranquila e conveniente - mente esquecidos. Portanto, “um
possível avião” transforma-se simplesmente num “avião (o caso Redland, [veja
Seção G] aparecerá na classificação final de 1968 como um “avião”) e o público
será levado a acreditar que não houve nenhuma dúvida e que algum pobre
coitado, ou pobres coitados, tinham tomado um drinque a mais, ou simplesmente
tinham ficado superexcitados ou sugestionados.
Mas um estatístico nos diria que as palavras “possível” e “provável” devem
nos dar alguma ideia de probabilidade de porcentagem. Quanto provável? 50%
provável? Apenas 100% provável é a certeza. Creio que encontraremos uma
concordância geral entre os estatísticos que o justo seria atribuir 50% de
probabilidade ao caso de “um provável avião” e, talvez 20% de probabilidade ao
termo “um possível avião”. Logo se, no final do ano, 200 casos foram
classificados como “avião” na contagem final, mas 100 deles eram “prováveis”
aviões e 100 eram “possíveis aviões” então a probabilidade é que dos 200 casos
apenas 50 + 20 = 70 eram realmente aviões e que portanto os outros 130 podem
não ter sido um avião! Pois o que mais significam “possível” ou “provável” a
não ser que não se tem certeza de que fossem aviões? Mas a hipótese do
“observador iludido” está tão arraigada no modo de pensar do Livro Azul que
nenhuma outra possibilidade é pesquisada. Isto, dificilmente, é um método
científico.
Outro método ilógico e não científico do Livro Azul é o seguinte: a partir do
ano de 1947 até 1966, o Livro Azul colocou 1.822 casos de um total de 10.136
na categoria de “informação insuficiente”. Posso apontar que a decisão de fazer
esta classificação é inteiramente subjetiva, a menos que seja usada às vezes, uma
regra de conveniência. Encontrei a seguinte anotação num caso recente: “De
acordo com a atual política, o avistamento é considerado como Dado
Insuficiente, de vez que só foi relatada à Força Aérea após trinta dias de sua
ocorrência”! Mas de que modo, e baseado em que forma de raciocínio, pode um
avistamento comunicado 40 dias após sua ocorrência e contendo amplas
informações, ser classificado como insuficiente? Isto seria, dificilmente, um
modo de agir científiéo. Se um de meus alunos cometesse um absurdo como este
com relação ao método científico eu o reprovaria.
“De acordo com a atual política”.... Política de quem? O consultor científico
nunca foi escutado a respeito disto, ou para dizer a verdade, muito pouco sobre
outros métodos.
Voltando aos casos generalizados que exibem a classificação de “Dados
Insuficientes”: é muito interessante observar que estes casos são considerados
solucionados estatisticamente, como se se dando a um caso o rótulo de Dado
Insuficiente constituísse a sua solução!
Aqui, novamente, o público torna a ser ludibriado. Minhas estatísticas pessoais,
neste espaço de vinte anos, demonstram que, dos 10.137 casos, 557 estão
classificados como Não Identificados e 1.822 como Dados Insuficientes, O Livro
Azul publicou relatórios de que apenas 5.4% dos casos permaneceram Não
Identificados, esquecendo-se, convenientemente, dos 1.822 casos adicionais ou
17.6%, que permanecem inexplicados. Portanto o número correto de não
identificados deveria ser 23 %! Quando, em anos passados, debati isto com os
oficiais do Livro Azul, a sensação que tive foi que eles me diziam: “Isto é a
Força Aérea. Temos todas as respostas, e quem é o senhor para sugerir uma
modificação nos nossos métodos?’’ Diante de atitudes como esta, eu era aquilo
que a Tchecoslováquia era para a Rússia; a resistência só teria redundado em
derramamento de sangue e achei que era indigno para mim discutir tais assuntos
com o pessoal insuficientemente preparado que era, tradicionalmente, designado
para tomar parte do Livro Azul. Durante um período bastante longo, um sargento
sem nenhum antecedente científico, a não ser em psicologia, estava realizando
praticamente todas as avaliações de casos (Sargento Moody). Eu permanecia na
posição de consultor científico diante disto tudo em parte devido ao meu desejo
de ter acesso aos dados que um dia, quem sabe, eu ainda poderia usar de um
modo mais produtivo e até certo ponto pela vontade de dirigir o fenômeno UFO
e também pelo senso de responsabilidade diante da continuidade que eu vinha
mantendo com o projeto há anos.
Farei citações diretas agora da tese de doutorado que mencionei
anteriormente: “O problema foi posto em evidência numa notícia transmitida
num dia 6 de outubro de 1958 pelo Departamento de Defesa a respeito da
atividade do Livro Azul desde 1 de julho de 1957 até 31 de julho de 1958. O
comunicado dizia: ‘Mais de 84% dos avistamentos relatados sobre OVNIs foram
definitivamente estabelecidos (ênfase acrescentada) como fenômenos naturais....
ou objetos feitos pelo homem. “Não só os rótulos de provavelmente e
possivelmente foram retirados das estatísticas, como os avistamentos
anteriormente considerados apenas possivelmente explicados eram agora
“definitivamente estabelecidos’’ — não devido a investigações que tivessem
sido realizadas posteriormente, mas devido aos procedimentos adotados.
“O Tenente Coronel Hector Quintanilla.... admitia que a frase
“definitivamente estabelecido’’ era “desorientadora’’. Contudo, ao defender o
procedimento geral, ele indagou: ‘Onde mais se poderia colocá-la (a explicação
possível-provável)? Categorias em demasia tornariam o relatório atravancado
demais. ‘Acrescentava que continuando com as categorias provável-possível ano
após ano resultaria apenas em mais trabalho para o Livro Azul e levaria a mais
questões”.
Agora, pergunto-lhe, comandante, isto é ciência? Madame Curie preocupou-
se porque o seu trabalho estava “atravancado demais”? Ou que um procedimento
científico ‘‘resultaria apenas em mais trabalho” ? Poderia concluir aqui o meu
caso a respeito do modo não científico como o pessoal do Livro Azul tratou o
assunto.
Prossigo com mais outras citações tiradas da tese de doutorado. ‘‘A amostra
estratificada mensal (Mr. Strentz refere-se agora a como fez as suas estatísticas)
foi tirada de cada ano alternado a começar pelo de 1948, o primeiro ano
completo em que a Força Aérea fez a pesquisa do OVNI. Foram selecionados
três meses de cada ano par, desde 1948 até 1966 — um mês de janeiro,
fevereiro, ou março, um mês de maio, junho ou julho e outro do mês de outubro,
novembro ou dezembro. Isto forneceu-nos uma secção cruzada de OVNI e da
atividade do pessoal do Livro Azul.... 1.034 cartões (o Projeto registra 10.073
cartões de registros forma 329) foram examinados. O número de avistamentos
registrados pelo Livro Azul para os mesmos meses era de 1.117. Logo, havia
cartões à disposição de mais de 90% dos relatórios registrados durante os meses
amostra (não há nenhuma menção porque não era de 100%). Os 1.034 cartões
também representavam 9% do número de relatórios sobre OVNIs registrados
pela Força Aérea desde 1948 até 1966 — 11.038.”
Posteriormente, Mr. Strentz declara no seu trabalho: ‘‘Por uma questão de
rotina, o Projeto Livro Azul considerou os casos de Dados Insuficientes
prováveis ou possíveis como ‘‘solucionados de vez que não se procedeu a
investigações posteriores e os relatórios foram classificados”. (Nenhum cientista
consideraria um caso de ‘‘Prova Insuficiente” como “solucionados”. Estes não
seriam, simplesmente incluídos nos dados.) Esta é uma forma de rotular a atitude
do Livro Azul — falsa, não científica mas uma coisa adorável para o desfile dos
rapazes PR.
O relatório Strentz prossegue: “Conforme foi demonstrado na Tabela 1 (não
reproduzida aqui) a análise dos sumários revelou que 270, ou 24% dos 1.117
relatórios sobre OVNIs eram “não solucionados” ou “duvidosos”. Os 270 eram
aqueles relatórios classificados como Dados Insuficientes ou Desconhecidos
sendo a grande maioria pertencente ao primeiro. As análises dos cartões
individuais demonstraram que 538, ou 51% dos 1.034 casos estavam “sem
solução”. Os 528 eram casos classificados provável, possível, Dados
Insuficientes e Desconhecidos.
Assim, simplesmente elevando a condição dos casos prováveis e possíveis
para uma posição “estabelecida”, a escrituração melhorou a capacidade
investigadora do Livro Azul, reduzindo o número de casos “não solucionados”
de 51% para 24%. Além disto, o Departamento de Defesa, enfatizando apenas os
casos Desconhecidos, tornou público não os 51% ou os 24% mas “menos de
2%”, “menos do que 1% ” e “209%”. Portanto, o Livro Azul passou como sendo
científico e fez um bonito papel perante os rapazes da imprensa. Quando esta
tese de doutorado for publicada pela Faculdade de Jornalismo Medill da
Universidade de Northwestern, a elevada capacidade científica e a proeza do
Livro Azul ao explicar apenas mais ou menos dois por cento dos casos virá a
público — menos da metade dos casos submetidos ao Livro Azul foram
solucionados!
A parte da tese de doutorado de Mr. Strentz, que lida com a estatística do
Livro Azul, conclui-se com as seguintes palavras: “A maioria dos relatórios
sobre OVNIs parece na verdade “não solucionados”. Portanto porque não
reconhecer que eles existem, que é praticamente impossível determinar o que um
indivíduo disse ter visto no céu? A metodologia estatística usada pelo Livro Azul
parece ter resultado de: (1) os esforços dispendidos pela Força Aérea para
explicar cada um dos relatórios sobre OVNIs porque (2) a Força Aérea recebeu o
difícil e desagradável encargo de provar que os OVNIs não existem. Talvez a
missão da Força Aérea pudesse ser reformulada no sentido de lidar apenas com
relatórios que contenham algum lastro científico e não com qualquer um que se
refere a uma luz deslocando-se ou flutuando no céu. Assim, talvez a Força Aérea
e a imprensa poderiam ter alguma coisa na qual trabalhar, além de lidar com
estatísticas ilusórias”.
Só posso dizer amém a tudo isto. Logicamente, isto nos conduz ao ponto
seguinte, E.

SEÇÃO E

Houve falta de atenção para com casos significativos de OVNIs, conforme o
julgamento do consultor científico e de outras pessoas, e foi dispendido tempo
demasiado com casos rotineiros que só continham informações mínimas;
exigem-se demasiado esforço e tempo do pessoal do Livro Azul para a execução
de tarefas externas (relações públicas, respostas a cartas a respeito de avaliação
de casos antigos e respostas a pedidos de informação sobre fontes várias e
insignificantes.) O staff do Livro Azul, a menos que seja bastante ampliado, para
executar uma missão científica, deveria concentrar-se em dois ou três casos
significativos por mês (devendo estes casos serem escolhidos através de uma
consulta feita ao quadro científico) cujo resultado final seria um relatório
científico detalhado sobre cada caso, publicado como um relatório científico e
posto à disposição do público. Os casos escolhidos deveriam ser aqueles que
contam com mais de uma testemunha (exceto em condições excepcionais) e não
casos nos quais são vistas luzes à distância à noite, ou aqueles em que as
testemunhas são julgadas pouco dignas de confiança e incapazes de formular
respostas coerentes às perguntas formuladas. Há muito tempo, na qualidade de
consultor científico do Livro Azul, criei um método para julgar os casos dignos
de atenção: uma classificação bidimensional através da qual um caso é julgado
por sua Estranheza e pela credibilidade final das testemunhas do avistamento.
Por Estranheza refiro-me à medida da dificuldade de se explicar, com
honestidade, o avistamento através dos conhecidos fenômenos e princípios
físicos; a Credibilidade final das testemunhas só pode, é claro, ser determinada
pelas suas atitudes passadas, pelos registros médicos e sociais e através da
aplicação de testes psicológicos sempre que for possível. Uma credibilidade
aproximada pode ser rapidamente avaliada através do simples julgamento do
número de testemunhas e da responsabilidade de cada uma delas na vida diária.
Evidentemente, somente os casos com elevadas quotas de Estranheza e
Credibilidade devem ser tomados em consideração. Em resumo, o Livro Azul
tem perdido muito tempo até aqui com casos de pouca significação e, em outras
áreas, perdido tempo em tarefas externas.
Ademais, tão logo um caso tenha sido classificado como Não Identificado ou
Desconhecido ele está concluído, no que diz respeito ao Livro Azul. Na ciência,
o desconhecido, o inexplicável, é o começo e não o final de uma pesquisa. Um
cientista ao deparar em seu laboratório com algo que não consegue explicar não
é um cientista se o rotular com “desconhecido” e arquivá-lo, dedicando o resto
de seu tempo a assuntos rotineiros. O Livro Azul deveria preocupar-se
exatamente com os Desconhecidos, não fazendo cálculos impressionantes (?) de
quantas pessoas são capazes de identificar um satélite ou um meteoro. Isto talvez
tenha algum interesse para um sociólogo, mas dificilmente despertará o interesse
de um físico.

SEÇÃO F

O tipo de informação que é transmitido ao Livro Azul é terrivelmente
inadequado e, sem dúvida, a causa da ineficiência encontrada dentro da própria
instituição. Esta recebe uma pesada carga devido a incapacidade demonstrada
pelos oficiais, lotados nas bases aéreas locais, ao transmitirem informações
adequadas-sobre os OVNIs ao Livro Azul e, até poderia afirmar, que na época
em que não havia oficiais encarregados de informes OVNI, lotados nas diversas
bases aéreas, a coisa era bem pior.
Várias “informações”, de possível valor crucial quanto à avaliação de um
caso não se encontram no relatório original. Vi coisas deste tipo ocorrerem
tantas vezes que chega a ser revoltante. Na melhor das hipóteses, o relatório
inicial sobre o OVNI chega a Dayton como relatório de tipo inteligência e
dificilmente um relatório científico, porém seu conteúdo e valor poderiam ser
muito melhorados se os oficiais encarregados dos OVNIs, lotados nas bases
aéreas locais, encarassem suas missões com seriedade. Muitas informações, que
poderiam ter sido obtidas através de um interrogatório consciencioso realizado
pelo oficial encarregado do OVNI, são omitidas, atirando, portanto, a carga
sobre o já deficiente pessoal do Livro Azul que tinha que reabrir o interrogatório
a fim de conseguir a informação necessária — às vezes do tipo mais elementar e
óbvio, por exemplo, direção do vento, tamanhos e velocidades angulares,
detalhes da trajetória, contraste do objeto com o céu, possibilidade de existência
de outras testemunhas, etc. Um exemplo fundamental disto é o caso Redlands,
da Califórnia, citado mais adiante, veja Seção G, no qual a culpa deve ser
colocada quase que toda no oficial local, que enviou tão pouca informação ao
Livro Azul que este não conseguiu reconhecer a sua importância.
Quer me parecer que o Livro Azul nunca recebeu autoridade bastante para
remeter um caso de volta à origem” e requerer uma informação maior e imediata
do interrogador local. Se os militares possuem algo, o possuem devido à sua
estrutura de comando, os meios através dos quais podem ser requeridas
informações, e não polidamente solicitadas apenas e correr o risco de ver este
pedido ignorado. Uma das necessidades mais prementes do Livro Azul é o
aumento dos dados originais. ‘‘Estamos fundindo um minério de teor muito
baixo”.

SEÇÃO G

A atitude fundamental dentro do Livro Azul é não científica pois uma
hipótese de trabalho foi adotada, e esta é quem determina e dá uma falsa
interpretação ao modo de tratar o problema. Formulamos um teorema:

Para cada caso de OVNI relatado, se tratado por si só sem se levar em
consideração as similaridades com outros casos de OVNIs, ocorridos neste e
em outros países, sempre é possível atribuir uma possível explicação natural
quando se opera a priori, baseado apenas na hipótese de que todos os
relatórios sobre OVNIs devem ser o resultado de uma causa bastante
conhecida e aceita, devido ao modo como entendemos, atualmente, a
natureza do mundo.

COROLÁRIO:

É impossível para o Livro Azul avaliar um relatório sobre OVNI sem que
este seja classificado como uma interpretação errônea de um objeto ou
fenômeno natural, uma fraude, ou uma alucinação. (A classificação como
‘‘não-identificado” não constitui uma avaliação).

O investigador não deve adotar uma ideia, ou uma conclusão preconcebida,
não deve selecionar aqueles dados insignificantes que favorecem a sua hipótese
e ignorar aqueles que a contradizem, eis aí a essência do método científico. No
teorema acima encontra-se o pior erro jamais cometido pelo Livro Azul. Este
está tão seguro de sua hipótese de trabalho que nos recorda o caso daquele
médico que estava tão certo de que todas as inchações abdominais eram
resultantes de tumores que foi incapaz de reconhecer que a sua paciente estava
grávida.
Deixe-me escolher apenas um exemplo, dentre tantos outros, para ilustrar a
acusação feita acima, mas um que ilustra muito bem a falta de rigor do método
científico usado pelo Livro Azul.
Escolho o incidente de Redlands, Califórnia, um caso recente, ocorrido a 4
de fevereiro de 1968, e que não foi pesquisado por ninguém do Livro Azul, mas
sim investigado superficialmente por um membro da Base Aérea de Norton e,
durante três meses, pelo Dr. Phillip Seff, professor de geologia, pelo Dr.
Reinhold Krantz, professor de química, pelo Dr. Judson Sanderson, professor de
matemática e pelo artista John Brownfield, professor de arte (que fez um esboço
artístico baseado nas descrições feitas, independentemente, pelas testemunhas, e
cujo resultado final foi por elas verificado), todos eles membros do corpo
docente da Universidade de Redlands. É interessante observar que ninguém do
Livro Azul foi considerado apto a contatar estes investigadores e debater sua
investigação, ao menos, pelo telefone.
O caso em si diz respeito a um avistamento relatado por umas vinte
testemunhas, envolvendo um objeto com sete luzes na parte inferior, que se
assemelhavam a jatos, e uma fila de oito a dez luzes na parte superior que eram
de cores alternadas. Foi relatado pelas testemunhas que viram o objeto a baixa
altitude, (calculada em cerca de 300 pés), seguindo uma direção nordeste durante
cerca de uma milha, em seguida de ter parado e planando rapidamente, ter dado
um salto para diante, voltado a plainar, para em seguida disparar para cima,
parar, planar novamente, depois flutuar rumo ao noroeste, ganhar altitude e, a
seguir, disparar para o noroeste numa velocidade incrível. Ficou sob observação
durante uns cinco minutos. Calculou-se que o objeto deveria ter pelo menos 50
pés de diâmetro. As estimativas relacionadas à altitude de 300 pés e ao diâmetro
de 50 pés devem ser consideradas em conjunto; somente o diâmetro aparente
pode ser julgado, naturalmente, mas presumindo-se uma determinada distância
chegou-se ao cálculo de 50 pés. Evidentemente, se o objeto estivesse a muitas
milhas de distância, o diâmetro aparente não modificado teria levado a um
objeto inacreditavelmente grande. Por isto estas estimativas não podem ser
sumariamente desprezadas.
O leitor deverá estar indubitavelmente interessado em saber que o Livro
Azul classificou este objeto como ‘‘um provável avião”. O fato de ter chegado-
se a tal conclusão sem que se tivesse realizado uma investigação é, naturalmente,
um exemplo chocante da metodologia empregada pelo Livro Azul. A Base
Aérea de Norton informou que o radar March da Base Aérea não registrou alvos
fora do comum (ignorando inteiramente o fato de que um objeto a 300 pés de
altitude não teria sido captado por este radar) e que um pequeno avião tinha
aterrissado no aeroporto de TriCity às 19:15 PST, apesar de uma verificação
procedida junto as anotações da polícia e ao fato de que todas as testemunhas
terem sido unânimes em afirmar que o avistamento não poderia ter ocorrido
antes das 19:20. Ademais, um controle realizado pelos professores universitários
(mas que o Livro Azul aparentemente não investigou) junto às autoridades do
aeroporto, demonstrou que o avião estava vindo de Los Angeles e jamais se
aproximara mais do que seis milhas de distância de Redlands e que, portanto,
nunca passou sobre a referida cidade, enquanto todas as testemunhas afirmavam
que, na verdade, o objeto estava acima e bem junto da cidade. O avião que
aterrissou (que o Livro Azul nem se deu ao trabalho de inquirir) era um modelo
Bonanza, um avião monomotor que os professores ,se deram ao trabalho de
investigar enquanto estava no hangar do aeroporto. (O caso de Redlands é o
tema único de um livro que se encontra atualmente em produção por David
Branch e Robert Klinn, intitulado: Inquiry at Redlands).
A discrepância existente entre o que foi relatado e a avaliação feita pelo
Livro Azul é tão grande que chega a ser engraçada. Além do mais, a lei
estabelece que os aviões não podem sobrevoar Redlands numa altitude inferior a
1.000 pés. Parece inconcebível que vinte ou mais testemunhas dessem uma
interpretação errônea a um avião de pequeno porte, monomotor, a muitas milhas
de distância, como se fosse um avião não convencional, profusamente iluminado
que saltou, plainou e afastou-se, partindo direto para cima, dentro das nuvens.
Mas, o Livro Azul não deu a mínima importância a este caso, assim como a
muitos outros como comprovar, nem que havia uma possibilidade de que alguma
coisa estranha pudesse ter sucedido. Da forma mais “incientífica” possível, cada
item foi afastado e sofreu uma crítica preconcebida para o lado da hipótese de
trabalho do Livro Azul. O Livro Azul declarou, contra todas as evidências, (I)
que a hora da observação comunicada estava errada (2) que um objeto estranho ,
voando a baixa altitude teria sido captado pelo radar (apesar do fato de ter sido
comprovado que aviões em voo baixo durante exercícios de teste tinham
conseguido passar despercebidos à defesa coberta pelo radar) (3) que nenhuma
das testemunhas era capaz de estabelecer uma diferença entre seis milhas e 300
pés (4) que todas as testemunhas eram incapazes de distinguir a diferença entre
um avião pequeno, monomotor, que não teria capacidade para carregar uma
bateria que alimentasse luzes extremamente fortes nas partes inferior e superior e
(5) que as testemunhas não saberiam diferenciar entre as manobras lentas de um
avião preparando-se para aterrissar a milhas de distância e um objeto que
segundo foi relatado saltava, plainava e desenvolvia alta velocidade. Finalmente,
(6) presumia-se que os professores envolvidos não tinham suficiente inteligência
para reconhecer por si mesmos (tendo estado no local e tendo “reconstruído o
crime’’, por assim dizer) a possibilidade de que as testemunhas tivessem
confundido um avião em manobras de aterrissagem e que tivessem errado
individualmente a respeito da hora, local, deslocamento, luminosidade e
números de luzes. E, acima disto está implícita uma outra pressuposição tácita,
ainda que educadamente dissimulada, que não só as testemunhas como também
os professores eram loucos ou incompetentes, pois somente sob tal suposição
poderia alguém classificar este caso como “um provável avião”.
Devemos recordar que o Livro Azul não realizou nenhum tipo de
investigação, local ou por telefone, que a Base Aérea de Norton realizou a tarefa
em menos de dois dias úteis de trabalho e quando se procurou saber se todas as
testemunhas tinham sido entrevistadas por um representante da Força Aérea,
apenas uma delas respondeu afirmativamente.
Pois bem, caso fosse comprovado que todas as testemunhas e os
investigadores particulares eram incompetentes, loucos e psicóticos, e que na
realidade fora um avião quem dera origem ao avistamento, uma conclusão deste
tipo só poderia ser formulada por mera intuição e não através de uma
investigação “científica” que tivesse sido realizada pelo Livro Azul. Em
qualquer tribunal de justiça seria inimaginável permitir que um promotor
distorcesse, negasse e ignorasse o testemunho de várias testemunhas de um
crime a fim de provar a culpa do réu. E na ciência gostamos de empregar
métodos ainda mais rigorosos, objetivos e não tendenciosos do que os utilizados
num tribunal onde a influência emocional pode estar presente, e realmente se faz
presente.

SEÇÃO H

O Livro Azul fez mau uso do seu consultor científico e da ligação científica
que este representa. Ele só tem acesso limitado aos arquivos, de vez que antes de
mais nada deve estar a par de um determinado caso para depois então solicitar
sua ficha. Frequentemente não tomava conhecimento da existência de casos até
que, acidentalmente, deparava com eles ou sua atenção era atraída a eles por
repartições externas.
Durante seus vinte anos de associação com o Livro Azul, somente agora lhe
solicitaram para analisar a metodologia empregada. Agora, pediram-lhe para
recomendar os meios para “melhorar”. O produto, atualmente, tem pouco valor
público, a imagem do produto é deficiente, o produto não inspira confiança junto
ao público e o método empregado no processamento da matéria prima, na
embalagem do produto e na sua distribuição violam vários dos princípios de um
bom negócio. Incidentalmente, o produto também não está vendendo bem.
Tendo em vista o pessoal limitado do Livro Azul, limitado em números e em
formação científica , pode parecer impossível realizar alguma coisa válida e
estou tentado a recomendar que o Livro Azul seja abolido como
fundamentalmente sem valor e que o problema seja entregue a pessoal científico
competente. Pois, com grande probabilidade o problema OVNI não
desaparecerá, neste ou em outros países, com ou sem o Livro Azul. A AFR 80-
17 declara nitidamente que os objetivos do Livro Azul são: “Determinar se o
OVNI constitui uma possível ameaça contra os Estados Unidos e usar os dados
científicos e técnicos obtidos através do estudo dos relatórios sobre OVNIs’’. A
frase chave aqui é “através do estudo dos relatórios sobre OVNIs’’. Devo
perguntar, que estudo? Se o senhor respondesse que este é um assunto meu, devo
replicar que sou apenas uma pessoa, cujo tempo já está quase todo dedicado a
assuntos acadêmicos. Como um consultor posso me esforçar para orientar e
aconselhar e, a não ser em circunstâncias excepcionais, isto é tudo quanto posso
fazer. Contudo, aconselhei seriamente, no passado, como deveria ser realizado o
estudo dos relatórios sobre OVNIs de modo a que se pudesse obter fosse o que
fosse que neles houvesse revelando um valor científico. E este método não foi
aquele empregado no caso Redlands e em tantos outros. Como costumo dizer
sempre aos estudantes: “Se vocês acham que conhecem as respostas
antecipadamente, não estão pesquisando’’. Estudar os relatórios sobre OVNIs
significa considerá-los como dados de pesquisa e trabalhar com eles como um
cientista experimentado o faria ao lidar com dados obtidos por ele através da
observação da natureza ou no laboratório. Admitamos que os relatórios sobre
OVNIs sejam fragmentados e quase sempre-subjetivos; o mesmo ocorre com os
relatórios recebidos pela inteligência, pelos sociólogos e ao se proceder a uma
pesquisa de opinião pública. Mas, ainda assim, consegue-se realizar algo com
eles. Mas quando o Livro Azul recebeu o relatório sobre OVNI, anteriormente
citado (veja Seção A), da parte de um membro do 524° Destacamento da
Inteligência Militar operando em Saigon, um observador experimentado,
relatório este que versava sobre objetos totalmente não-convencionais que
cobriram um ponto a outro do horizonte em cinco segundos embora estivessem
voando mais alto do que as nuvens e bloqueando estrelas enquanto por élas
passavam, o Livro Azul recusou a atender a minha solicitação urgente para que
fosse realizada uma pesquisa sob a alegação (1) que ocorreu fora dos Estados
Unidos e, portanto, não lhes dizia respeito, e (2) antes de mais nada não devia,
provavelmente, haver nada de relevante no relatório!
O Livro Azul também se recusou a atuar, a meu pedido, num relatório
redigido pelo Dr. Roger Woodbury, Diretor Adjunto do Laboratório
Instrumental do MIT (avistamento ocorrido a 14 de janeiro de 1966); solicitei
que fosse feita uma investigação total pelos oficiais da inteligência local, que
poderiam estabelecer, sem a menor dúvida, se estava sendo realizado, naquela
oportunidade, algum exercício científico especial em qualquer uma das bases
locais. A apatia científica demonstrada pelos oficiais do Livro Azul, nesta em em
diversas outras oportunidades, deixou de me surpreender. Quando alguém dispõe
de um relatório redigido por um cientista de renome, que opera num dos maiores
laboratórios científicos do país, deveria ser dispensada a ele toda a atenção. Os
cientistas que produziram o Polaris deveriam merecer toda a consideração ao
relatarem um acontecimento excepcional.
Em suma: a metodologia do Livro Azul nada tem de científico de vez que
nenhum cientista realizaria pesquisas que envolvessem apenas uma hipótese
preconcebida e afastaria, sumariamente, até mesmo a possibilidade de uma outra
hipótese; ele manifestaria uma curiosidade científica sobre os dados que tinha
em suas mãos; tentaria encontrar padrões nos dados ao invés de lidar com eles
como se só existissem no vazio. O Livro Azul por exemplo, afastou-os em caso
após caso porque a base aérea local informava que não havia aviões naquela
região. Neste caso, argumenta o Livro Azul, o observador evidentemente tinha
se enganado. O sistema científico próprio de se lidar com o assunto seria, é
lógico, procurar uma solução que fosse consistente com o dado básico do
relatório e não com a hipótese de trabalho.

SEÇÃO I

Devo ressaltar que fiz recomendações no passado a fim de “melhorar o
produto’’, mas que estas não foram acatadas. Refiro-me ao documento (AFCIN-
4E2x) intitulado, ATIC UFO Investigation Capability e assinado pelo Coronel
Evans. Este documento se originou das audiências mantidas em Washington de
13 a 15 de julho de 1960.
Encontravam-se presentes a 15 de julho: Mr. Robert Smart, da comissão dos
Serviços Armados, Mr. Spencer Beresford, Mr. Richard Hines e Mr. Frank
Hammil, da Comissão da Casa da Ciência e de As-tronáuticas, Mr. John Warner,
da CIA (Assistente para a Ligação Legislativa do Mr. Allen Dulles), Mr. Richard
Payne, da CIA (Conselheiro Técnico), Mr. John McLaughlin, Assistente
Administrativo do Secretário da Força Aérea, M/Gen. A.H. Leuhman e B/Gen.
E.B. Le-Bailly, SAFOI, B/Gen. Kingsley e Coronel James McKee, SAFLL,
Tenente-Coronel Sullivan, da AFCIN-Pla. Tenente Coronel Tacker, SAFOI-3d,
Major J. Boland, SAFLL, Major Robert Friend e eu.
Caso as recomendações feitas nessas audiências (recomendações que apoiei
com decisão) tivessem sido implementadas, o Projeto Livro Azul teria
possivelmente no dia de hoje um registro científico decente ao invés de ser uma
repartição que redige cartas, arquiva e orienta que na verdade é.
Estas recomendações eram:

1. O Livro Azul deveria ter a capacidade de investigar aqueles casos que
indicassem possuir um potencial de alta inteligência ou de significação
científica, e também, aqueles que despertassem um interesse público fora do
normal. Ao fazer estas recomendações, Mr. Smart declarou que a capacidade de
pesquisa das bases da Força Aérea é limitada a casos de rotina e que a Força
Aérea deveria ter tanto a quantidade como a capacidade de conduzir a operação
OVNI. Interpretou-se isto como se o Livro Azul devesse investigar os casos
excepcionalmente importantes e uma indicação de que estava se dando uma
prioridade importante a isto foi que durante um espaço de tempo o programa de
fundos foi autorizado diretamente pelo Gabinete do Secretário da Força Aérea.
(Isto nunca foi feito — numa carta datada de 21 de setembro de 1960 o Livro
Azul recebeu uma comunicação de que não poderiam ser autorizados fundos
adicionais ou pessoal e que as investigações deveriam ser realizadas com os
recursos e o pessoal disponíveis naquele momento). Isto, conjugado ao fato de
que deveres meramente rotineiros ocupam uma grande parte do tempo do
pessoal, atualmente deficiente e totalmente inadequado, e que o pessoal do
momento não foi escolhido pelos seus antecedentes científicos (julgado em base
de treinamento científico, registro de publicação científica ou qualquer um dos
métodos padrão atuais nas universidades para realizar a seleção para as suas
faculdades de ciências) mas sim, parece, pelo expediente de qualquer oficial que
aconteça estar disponível ou que dê a certeza de que ‘‘o barco não será
torpedeado” devido a grande insistência no sentido de que seja feito um trabalho
científico (refiro-me, sobretudo, aos oficiais anteriores encarregados do Livro
Azul, que mais pareciam estar sentados por ali a espera de sua reforma ou um
especialmente que gastava grande parte de seu tempo planificando um escritório
de corretagem que iria montar após a reforma) ou por alguém que fosse bastante
inteligente para utilizar as magníficas instalações científicas da Força Aérea, tais
como a Air Force Cambridge Laboratories, onde se encontram peritos em radar e
meteorologia. Por exemplo, na longa história do Livro Azul, Cambridge não foi
solicitado, nem mesmo por uma vez, para calcular se as inversões as quais se
atribuíam o avistamento eram realmente suficientes, quantitativamente, para ser
responsável pelo avistamento do OVNI. (Na verdade a palavra inversão
transformou-se num factotum no Livro Azul — como havia uma inversão de 3o a
6.000 pés isto foi usado para explicar um avistamento feito por um avião a
15.000 pés!)
2. Mr. Smart solicitou que os sumários de todos os casos significativos
fossem remetidos ao seu gabinete. (Pelo que me conste isto nunca foi feito).
3. O Projeto Livro Azul deve ter mobilização imediata e capacidade para
investigar casos importantes. (Esta recomendação estava grandemente baseada
na minha insistência junto a comissão de que o Livro Azul invariavelmente era
“sobrepujado” por organizações civis na investigação de casos. Não sei por
quantas vezes a NICAP e a APRO tinham entrevistado a testemunha antes dos
homens da Força Aérea e eu cheguei a saber das muitas testemunhas que os
interrogatórios realizados pelos civis eram frequentemente muito mais
detalhados do que os feitos pela Força Aérea. Também chamei a atenção para a
necessidade de melhora na coleta de dados. Na maior parte das vezes os
relatórios remetidos pela Base Aérea locais constituíam um desperdício de
teletipo, conforme ilustrado por uma célebre passagem quando o TWX
transmitiu duas páginas de endereços e a mensagem: “Apenas mais um OVNI”.
Este era o conteúdo da mensagem!)
O Livro Azul, para funcionar de maneira apropriada, deveria ter um diretor
de alta patente capaz de assegurar o cumprimento dos regulamentos da Força
Aérea ao nível da base aérea local não só do regulamento mas do seu espírito
também. Disseram-me, por repetidas vezes, que o Livro Azul servia de motivo
de zombaria ao nível local e ouvi comentários a respeito dos métodos
superficiais, e até mesmo descorteses, usados nas investigações. Sei de fonte
limpa, que importantes peças de informação foram omitidas em casos nos quais
o oficial que procedia ao interrogatório aparentemente não se deu ao trabalho de
formular perguntas relevantes, que teriam servido para estabelecer uma noção
quantitativa, como por exemplo, as velocidades angulares, a aparente
luminosidade, a cinética do objeto relatado e sem dúvida não tentou encontrar
outras testemunhas. (Quanto a este ponto o Major Quintanilla comunicou-me
que o “Livro Azul não era uma repartição investigadora” — mas como, em
nome de Deus, pode uma tarefa científica ser realizada sem uma investigação! ?
As investigações são a alma da ciência).
Assim vemos que muito antes de conversarmos sobre a “melhoria do
produto” devemos encontrar os meios para melhorar a matéria prima da qual,
eventualmente, brota o nosso produto.
Também chamei a atenção da Comissão Smart que quando estão faltando
certos dados originais, como quase sempre acontecia, era imprescindível um
contato telefônico imediato com as testemunhas-chave — não dois ou três meses
mais tarde, mas horas após o recebimento do TWX. A primeira ordem de
trabalho do Livro Azul deveria ser o imediato escrutínio de um relatório
recebido, para decidir se é “significativo” nos termos já especificados e, em caso
positivo, decidir imediatamente quais as informações adicionais necessárias e
procurar consegui-las logo — convocando o consultor científico no ato, e não
semanas mais tarde, para pedir-lhe que auxilie na compilação da informação.
Apesar do meu tempo ser bastante limitado, conto com um quadro científico
auxiliar excelente que poderia ser usado, de tempos em tempos, na obtenção de
tal informação. Refiro-me, especialmente, ao William Powers, um engenheiro de
sistemas, que repetidamente provou sua habilidade para interrogar testemunhas
exaurientemente e que inspira a confiança. Mr. Fred Beckman, da Universidade
de Chicago, também tem sido de grande valia para mim e de maneira
inteiramente voluntária.
Infelizmente, as recomendações feitas e aplaudidas em Washington nunca
foram implementadas. O resultado foi que com o pessoal limitado, seus muitos
outros deveres, um sentimento inato de que todo o assunto não era válido e a
declaração do Diretor do Projeto de que ‘‘não somos uma repartição
investigadora’’ o Livro Azul é uma operação rotineira, enfadonha e sem
inspiração — e de maneira tão profunda que seria psicologicamente impossível
para mim manter um contato diário com ela. (Na verdade, o Tenente Marano
queixou-se a mim que o seu forte desejo de ser transferido deve-se sobretudo ao
fato de não ter tido oportunidade de aplicar seu conhecimento científico no seu
trabalho).
A Força Aérea deveria, finalmente, reconhecer o fenômeno OVNI como um
problema científico global, com uma probabilidade de grande potencial, e tentar
satisfazer a segunda parte de sua dupla missão solicitando que o Livro Azul
conte com a ajuda de um painel científico, tirado das diversas missões científicas
já existentes na Força Aérea bem como de grupos científicos externos; e que este
painel inicie seu trabalho do ponto em que parou a Comissão Condon.
Contudo, seria ainda melhor, a longo prazo, solicitar que a segunda missão
do Livro Azul fosse inteiramente afastada da Força Aérea e entregue a um grupo
de civis, formado por cientistas capacitados em várias disciplinas, de vez que o
modo de tratar o problema sem dúvida abrange diversas disciplinas.
Cabe ao senhor decidir quais dos dois caminhos deve seguir, segundo as
exigências da situação. Coloco-me inteiramente ao seu dispor no sentido de
auxiliá-lo tanto a alcançar a sua decisão como a implementá-la.

J. Allen Hynek, Diretor
Lindheimer Astronomical Research Center
Northwestern University
Evanston, Illinois.































SEDEGRA — RIO
Imprimiu

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