Você está na página 1de 33

INTRODUÇÃO À

FENOMENOLOGIA

Profª Luiza Sionek


• Será que conhecemos os objetos tal como
eles são “em si mesmos”?
• Ou conhecemos apenas uma representação
mental (uma imagem) do que eles são?
O problema do • Como é possível o conhecimento dos
objetos?
conhecimento • Quais são as condições, limites e
possibilidades de um conhecimento das
coisas mesmas?
• Conhecimento ocorre a partir da
correlação entre sujeito e objeto
O problema do conhecimento

• Duas escolas filosóficas se destacaram para responder a essas perguntas:


• 1. Racionalismo
• Defende primazia do sujeito na construção do conhecimento em relação
ao objeto, isto é, o que vemos da realidade não corresponde exatamente
ao que “as coisas são em si mesmas”
• A fonte do conhecimento são as ideias claras e distintas que são
alcançadas através do próprio exercício racional e dedutivo
O problema do conhecimento

• Duas escolas filosóficas se destacaram para responder a essas perguntas:


• 2. Empirismo
• Corrente filosófica que defende a independência ontológica da realidade
em relação aos nossos esquemas conceptuais e mentais.
• As ideias ou imagens que temos dos objetos da realidade correspondem
à própria realidade das coisas
• A fonte de conhecimento é a realidade conhecida por meio de nossas
sensações e experiências
René • Influenciou o pensamento da
época ao defender que os sujeitos
Descartes eram seres racionais capazes de
alcançar o conhecimento
(1596- verdadeiro
• É considerado o fundador do
1650) racionalismo moderno
Ideias de Descartes

• Utilizando a dúvida metódica Descartes buscou alcançar, através do exercício


racional, verdades indubitáveis
• Defendia que a razão era a única capaz de chegar ao conhecimento da
realidade, a partir de pensamentos lógicos e dedutivos
• Defendeu que ideias claras e distintas, descobertas através da dúvida
metódica, são verdadeiras, pois Deus não daria ao homem uma razão que o
enganasse sistematicamente
• Para Descartes, jamais devemos admitir uma coisa como verdadeira a não ser
que ela seja evidentemente verdadeira
Pensamento racional como fonte de certeza e
verdade
• Para Descartes, quando buscamos ideias claras e distintas, devemos
abandonar o conteúdo ou conhecimento derivados da percepção dos
nossos sentidos
• Ele defende que a razão contém ideias inatas que são prévias à toda
experiência e que são essas ideias que devem guiar o nosso
conhecimento
• “Penso, logo existo”
• 1. Verificar se existem evidências reais e
indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa
estudada
• 2. Analisar em suas unidades mais simples e
estudar essas unidades
Método
• 3. Sintetizar – ordenar novamente as
cartesiano unidades estudadas
• 4. Enumerar e revisar todas as conclusões e
princípios utilizados, a fim de manter a
ordem do pensamento e ter a certeza de
que nada foi esquecido
• Defende que a fonte de todos os
conceitos e conhecimentos
humanos é a experiência sensível
(cinco sentidos)
Empirismo • Ocorre então o deslocamento do
foco do conhecimento do sujeito
do conhecimento (racionalismo)
para o objeto do conhecimento
(empirismo)
• Para John Locke não existem
Empirismo ideias inatas, nem pensamento a
priori (anterior à experiência) e
de Locke todo conhecimento estaria
fundado na experiência.
(1632-
1704) • O homem nasce como se fosse
“uma folha em branco”
Empirismo • Ser é ser percebido
• Para Berkeley, uma substância material
de Geoge não pode ser conhecida em si mesma. O
que se conhece, na verdade, resume-se
às qualidades reveladas durante o
Berkeley processo perceptivo.
• O conhecimento dos objetos se daria
(1685- pela percepção dos mesmos.
• Ou seja, é impossível separar objeto e
1753) percepção.
Empirismo • Para Hume as percepções provocam impressões vivazes e
estas são mais intensas e claras que as ideias, que seriam
meras cópias das impressões.
radical de • A sensação é origem do conhecimento. As representações
mentais têm origem nas sensações. A confiança nos

David sentidos nos leva a admitir a existência de um mundo


exterior à nossa mente.
• Hume critica o ceticismo radical de Descartes e propõe um
Hume ceticismo moderado:
• Os sentidos podem nos enganar, por isso, sua

(1711- informação deve ser apoiada com a razão.


• “Nada está no intelecto que não tenha estado antes nos
sentidos”
1776)
Hume e problema do conhecimento

• Não há impressões acerca de leis universais ou de relações necessárias entre dois fenômenos
(causalidade)
• Por isso não podemos considerar o conhecimento como absolutamente verdadeiro
• Para Hume a relação causal não existe realmente nos objetos, mas sim no espírito (mente
humana)
• Não existem ideias, princípios ou regras inatas na razão. Toda associação de causalidade
entre fenômenos seria derivada do hábito.
• É o hábito que me faz concluir que existe uma causalidade A → B e, esperar sua ocorrência.
• →Conhecimento científico seria contigente (válido apenas nas condições atuais da natureza)
• Para Kant tanto o racionalismo quanto o
empirismo são concepções insuficientes para
explicar o conhecimento humano (o que
Immanuel podemos saber)
• Há condições a priori do entendimento de
Kant qualquer experiência → a razão impõe aos
objetos conceitos a priori

(1724- • O conhecimento para Kant só é possível


porque existem as faculdades humanas de

1804) cognição, ou seja, “estruturas” mentais que


nos possibilitam organizar as percepções e o
conhecimento. Essas estruturas são
transcendentais e a priori, comuns a todos os
indivíduos
Conhecimento para Kant

• Duas fontes:
• 1. Sensibilidade: modo receptivo-passivo por meio do qual os objetos nos
afetam, sendo a intuição a maneira como nos referimos a esses objetos
• 2. Entendimento: modo pelo qual os objetos são pensados como conceitos
(categorias)
Racionalismo ou empirismo?
• “Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem
entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo
são vazios, intuições sem conceitos são cegas”
Kant (1781) – Crítica da Razão Pura, p. 75
Edmund • Matemático e filósofo
• Aluno de Franz Brentano (psicologia

Husserl descritiva) e mestre de Martin Heidegger


• Contexto – Crise européia

(1859- • Principais Obras: As investigações lógicas


(1900-1901), A crise das ciências
europeias e a fenomenologia
1938) transcendental (1936)
Husserl
• Buscou imprimir um novo impulso à investigação para constituir uma
ciência do conhecimento
• Buscou realizar uma profunda crítica da ciência positivista e da razão
objetiva vigentes em sua época
• Para ele era necessário construir um novo método para o
conhecimento
• A fenomenologia seria então um método para conhecer a essência
das coisas e da própria consciência
Crítica ao Positivismo e às ciências naturais
• Positivismo defendia o primado do objeto e anulação de qualquer
subjetividade
• Só tem valor o conhecimento objetivo
• Para Husserl, isso afastou a ciência e o conhecimento do seu
verdadeiro propósito: o mundo da vida
• Para ele, o erro do naturalismo ingênuo das ciências é considerar o
mundo como dado e preexistente, como objetivo e independente da
consciência de um sujeito
• → ATITUDE NATURAL
Crítica ao Positivismo e às ciências
naturais

• Husserl critica a perspectiva das ciências positivas, pois para elas os objetos
são considerados como independentes do observador
• Reducionismo empirista
• Empirismo: sujeito passivo, que meramente recebe e descreve os fatos
como ocorrem no mundo natural e são captados pela sua experiência
Crítica ao Positivismo e às ciências
naturais

• Husserl defende que os objetos se apresentam enquanto fenômenos para


uma consciência.
• Objeto se constitui enquanto objeto a partir de sua relação com uma
consciência
• Objeto não é independente do sujeito que o conhece
• Nem sujeito é independente dos objetos que conhece
Crítica às Ciências Humanas e à
Psicologia

• Segundo Husserl, o problema da Psicologia e das Ciências Humanas é ter


usado o mesmo método das ciências naturais
• O psicologismo é essa tomada dos objetos humanos, tais como se fossem
objetos físicos
• Etimologia:
• Fenômeno, do grego Phainomenon:
“aquilo que aparece”, o que se
manifesta, que estava escondido.
• Verbo grego phainomenai: “eu
“Fenomenologia” apareço”

• O que “aparece”, aquilo que se mostra à


luz, o brilhante (phaino)
• Desvelar, trazer à luz, manifestar, mostrar
Fenomenologia
• Busca conhecimento seguro e verdadeiro → Husserl defende uma
atitude científica (atitude fenomenológica) em relação à experiência

• Sujeito ativo, que organiza e estrutura os fenômenos a partir da


apreensão e configuração, pela consciência intencional, do sentido
intrínseco aos fenômenos, tal como vivenciados pelo sujeito

• Superação da dicotomia sujeito-objeto


• → coconstituintes
Fenômeno

• Fenômeno é, para a fenomenologia, algo que compreende,


concomitantemente, tanto o aparecer quanto aquilo que aparece: a relação
indissociável entre sujeito e mudo, a consciência e seus objetos
• Trata-se de uma relação interdependente, coconstituinte entre o aparecer e
o que aparece, entre sujeito do conhecimento e mundo conhecido, entre
consciência que conhece e o mundo que se mostra cognoscível.
Fundamentação de uma filosofia como
ciência de rigor

• Três condições
• 1. Ausência de pressupostos a partir da investigação das coisas e dos problemas,
abstendo-se por completo de qualquer juízo anterior
• 2. Caráter a priori universal através do estudo da consciência, que emerge como
condição de possibilidade do próprio conhecimento (consciência transcendental)
• 3. Evidência apodítica enquanto o manifestar-se de um “objeto” como tal na
consciência, numa equação completa entre o pensado e o imediatamente dado
Solo seguro

“E agora, recordemos a meditação cartesiana sobre a dúvida. Ao considerar as múltiplas


possibilidades de erro e ilusão, posso enredar-me num tal desespero cético que acabe por dizer:
‘nada de seguro há para mim, tudo é duvidoso’. Mas, logo se torna evidente que, para mim, nem
tudo pode ser duvidoso, é indubitável que eu assim julgo e, por conseguinte, seria absurdo
querer manter uma dúvida universal. E em cada caso de uma dúvida determinada é
indubitavelmente certo que eu assim duvido. E o mesmo se passa em toda cogitatio. Sempre
que percepciono, represento, julgo, raciocino, seja qual for a certeza ou incerteza, a
objetualidade ou a inexistência de objetos desses atos, é absolutamente claro e certo, em
relação à percepção, que percepciono isto e aquilo e, relativamente ao juízo, que julgo isto e
aquilo, etc.”
(Husserl, 1990, p. 54)
Em outras palavras...

• O que importa é sobretudo que “eu percebo”!

• Questiona a pretensão à neutralidade do sujeito (acesso neutro e total ao


“objeto”) bem como uma consciência destacada do mundo.
• Observador está no mundo, constitui-se no e pelo mundo, ao mesmo tempo
que constitui o mundo...
• Fundamento a partir do qual fará sua investigação
• Consciência sempre é consciência de alguma coisa
• Crítica à consciência “substancial”
• Consciência não é um “depósito” de lembranças e
imagens. Não é passiva, como se apenas recebesse
as impressões do mundo
• Consciência, para Husserl, é uma atividade
direcionada às coisas
Consciência • Toda consciência é consciência de alguma coisa,
transcendental determinando-se como atividade constituída por
atos (percepção, imaginação, volição, paixão, etc),
com os quais visa algo. E não como substância, pois
possui um modo de ser definido pela capacidade de
transcender, quer dizer, dirigir-se a outra coisa.
Intencionalidade da consciência

• Intencionalidade -> consciência sempre dirigida a algo, assim como o mundo


sempre se apresenta para a consciência
• Corresponde à correlação consciência-mundo, sujeito-objeto, mais originária
que o sujeito ou o objeto, pois esses só se definem nesta correlação.
• É uma “corrente de experiências vividas” (seja as cogitata – imaginar,
desejar, recordar, etc – seja as que se dão na percepção como absoluta)
• *ser consciente → percepção das vivências
Pólos da experiência:

N OES IS: ATO DE P E RCE BER

N OE MA: OBJE TO P E RCE BI DO


Como é possível o conhecimento?

• A fenomenologia, de acordo com seu próprio rigor da atitude filosófica, de


acordo com a interrogação sistemática, que analisa as condições, limites e
possiblidades de um conhecimento das mesmas.
• Husserl questiona:
• “Não devia haver uma percepção intuitiva de outros dados como dados
absolutos, por exemplo, de universalidades, de tal modo que um universal
chegasse intuitivamente a dado evidente por si e de que fosse absurdo
duvidar?” (Husserl, 1990, p.77)
• A fenomenologia se interessa pelo
fenômeno tal como ele se apresenta à
consciência
• Propõe retorno à totalidade do mundo
“Voltar às vivido
coisas • A tarefa da fenomenologia será analisar as
vivências intencionais da consciência para
mesmas” perceber como se produz aí o sentido dos
fenômenos

• Como? → Método fenomenológico

Você também pode gostar