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CURSO DE PSICOSSOMÁTICA 

 
 
 
Margarida Ferreira​ - CRP 15/0248 
Rosana Melo Brito​ - CRP 15/1798 
Tatiana Nogueira Moraes​ - CRP 15/1680 
Antonisia Ribeiro da Silva​ - CRP 15/2104 
 
 
 
 
MÓDULO 1 -​ PSICOLOGIA PSICOSSOMÁTICA 
 
- Breve histórico 
O termo psicossomática surgiu a partir do século passado, depois de séculos
de estruturação, quando Heinroth criou as expressões psicossomática (1918) e
somatopsíquica (1928) distinguindo os dois tipos de influências e as duas diferentes
direções. Contudo, o movimento só se consolidou em meados deste século com
Alexander e a Escola de Chicago. Porém as incertezas sobre a relação mente-corpo se
expressam na própria denominação psico-somático (com hífen) ainda utilizada entre
estudiosos destes fenômenos e por médicos em geral.

- O Brasil e a psicossomática

Na década de 60, surge no Brasil um período que se estabelecia como “A


Revolução dos Corpos”. No Brasil, a grande maioria dos que militam na
Psicossomática são psicanalistas, psiquiatras e psicólogos que trabalham com
referenciais analíticos, na linha do que os americanos chamariam de uma Psiquiatria
Dinâmica. O profissional da saúde brasileiro, e não apenas o médico, trabalha de um
modo geral, cada vez mais, com o enfoque psicossomático durante a consulta, na
elaboração do diagnóstico, bem como na prescrição terapêutica.

- Evolução da psicossomática

A​) Inicial, ou psicanalítica, com predomínio dos estudos sobre a gênese inconsciente
das enfermidades, sobre as teorias da regressão e sobre os benefícios secundários do
adoecer, entre outras;

B​) Intermediária, ou behaviorista, caracterizada pelo estímulo à pesquisa em


homens e animais, tentando enquadrar os achados à luz das ciências exatas e dando
um grande estímulo aos estudos sobre estresse;
C​) Atual ou multidisciplinar, em que vem emergindo a importância do social e da
visão da Psicossomática como uma atividade essencialmente de interação, de
interconexão entre vários profissionais de saúde.

A psicossomática não é hoje em dia apenas uma prática médica, como


pensavam seus pioneiros; ela se expandiu por todas as áreas da saúde. Assim, os
psicólogos encontraram na psicossomática um excelente campo de trabalho, e estão
aderindo maciçamente a essa prática. Há alguns anos, criaram a Sociedade de
Psicologia Hospitalar, uma entidade poderosíssima que realiza congressos com
aproximadamente 3.500 participantes.

- O que é a psicossomática? 

As doenças psicossomáticas surgem como consequência de processos


psicológicos e mentais do indivíduo desajustados das funções somáticas e viscerais e
vice-versa. Caracterizam-se as possibilidades de distúrbios de função e de lesão nos
órgãos do corpo, devido ao mau uso e ao efeito degenerativo, e descontroles dos
processos mentais. Diferenciam-se neste ponto das doenças mentais, em que o mau
desempenho não é opcional.

Psicossomática, em síntese, é uma ideologia sobre a saúde, o adoecer e sobre


as práticas de Saúde, é um campo de pesquisas sobre estes fatos e, ao mesmo tempo,
uma prática de saúde integral. Hoje, o termo psicossomática está mais restrito à
visão ideológica deste movimento e às pesquisas que se fazem destas ideias, ou seja,
sobre a relação mente-corpo, sobre os mecanismos de produção de enfermidades,
notadamente sobre os fenômenos do estresse.

Na moderna Psicossomática, esse conceito evoluiu para o estudo da pessoa


como ser histórico, que é um sistema único constituído por três subsistemas: corpo,
mente e social. Pelo menos no seio do International College of Psychosomatic
Medicine e da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, a concepção de
Psicossomática, hoje, não se configura como ramo da Psiquiatria. É uma atitude de
Medicina Integral, que concebe o ser humano – tanto na saúde como na doença –
como um ser biopsicossocial. Isso implica que o profissional da área da saúde deve ir
além da realidade física dos pacientes, sem no entanto negá-la (Eksterman, 1978).
- Psicologia e psicossomática 
Atualmente o papel de emissários da Psicossomática e da Psicologia Médica
vem sendo exercido não apenas por médicos (psicanalistas em sua maioria), mas
também por profissionais da saúde mental, como psiquiatras e, sobretudo,
psicólogos.

O profissional de saúde pode ampliar seu potencial de ação na medida em que


abre seus canais de comunicação, aprofundando o diálogo de pessoa a pessoa. Sendo
empático nos colocamos na posição do outro. Sendo as principais formas
terapêuticas: a reflexão de sentimentos, o focalizar em pistas não verbais, a auto
expressão, o ato de colocar limites, produzindo o confronto, a resolução conjunta de
impasses, a orientação antecipatória e o reasseguramento.

Com efeito, um dos ramos clínicos mais recentes da Psicologia é o da


Psicologia Hospitalar, justamente dedicado ao comportamento clínico, tanto dos
doentes em sua vida em geral, como na sua relação com seu médico. A
Psicossomática é, portanto, uma nova visão da Patologia e da Terapêutica, tornando
possível o axioma antropológico do objetivo médico. Em outras palavras, trouxe para
o pensamento médico-científico e para a prática assistencial o mote clássico: tratar
doentes e não doenças.

Funções como a de Enfermagem, Assistência Social, Nutrição e Psicologia,


comprometidas com o cuidado geral e a dimensão social da patologia, além da
condição existencial do doente, abrem perspectivas conectadas com a Psicossomática
e a ela recorrem para buscar apoio teórico. A progressiva e maciça participação do
psicólogo na área de saúde, nos hospitais, nos ambulatórios, nos postos de saúde, até
nos serviços clínicos particulares, nas mais variadas especialidades e tipos de
atendimento, tem estimulado uma crescente preocupação com as questões
psicológicas.

A despeito dessa efervescência do interesse no aspecto “psicossocial” da


assistência, as linhas mestras da questão psicossomática ainda mal foram tocadas na
prática. Recordemos que as linhas mestras resumem-se em duas:

l) A patologia no homem sempre deve levar em conta a dimensão simbólica de


que é constituído, o que impõe o conhecimento dos aspectos psicossociais do doente;
2) O êxito terapêutico está estreitamente vinculado à relação dinâmica
médico-paciente. A introdução do psicólogo só produzirá efeitos psicossomáticos
efetivos se esse profissional estiver comprometido com essas duas linhas mestras,
infelizmente nem sempre tem sido o caso.

A participação do psicólogo também padece de alguns defeitos estruturais.


Sua institucionalização na área de saúde, tem sido orientada segundo as
necessidades de ajustar os pacientes a modelos assistenciais. Prática que não
favorece uma compreensão, nem da relação médico-paciente, nem das dificuldades
psicodinâmicas do paciente. Frequentemente, assim, o psicólogo passa a ser mais um
agente dos interesses da instituição do que das necessidades efetivas do paciente.

Psicossomática, é um estudo das relações mente-corpo com ênfase na


explicação psicológica da patologia somática, uma proposta de assistência integral e
uma transcrição para a linguagem psicológica dos sintomas corporais.

Já não nos surpreendem generalizações em que se afirma que todas as


doenças, males e distúrbios são psicossomáticos; assim como a Medicina já deixou o
sorriso irônico e cético ante interpretações psicanalíticas de manifestações corporais.
Ainda é pouco, embora estejamos esmiuçando a intimidade físico-química das
dimensões moleculares e desvelando as mais estranhas fantasias do inconsciente. É
pouco para se estabelecer a unidade psicossomática em que a mente e o corpo
possam ser representados mais que como partes de um todo, o próprio todo: o
sujeito da existência.

- Holismo 
Procura adicionar aos tradicionais saberes médicos calcados dentro de uma
metodologia própria das ciências naturais , todo um conhecimento que deriva das
ciências humanas e sociais. Descartam-se, portanto, as noções ou raciocínios
etiológicos tendentes ao biologismo, ao psicologismo e ao sociologismo.

O conceito de holismo, básico para a Psicossomática, foi introduzido na


Medicina por Smutes, em 1926. O termo advém do grego holos, que significa todo.
Esse conceito estabelece noções acerca da natureza biopsicossocial do homem, na
saúde e na doença, bem como o respectivo tratamento (Lipowski, 1984; Rodrigues,
1989 e Prite, 1987).
O estudo e a pesquisa devem sempre levar em conta a pessoa como um todo e
não as partes isoladas (Pontes, loc. cit.). A Medicina Psicossomática investiga e
oferece caminhos para uma prática na promoção de saúde mais voltada para o
paciente – portanto menos voltada para o sintoma ou para a doença.
Dessa maneira, a Psicossomática tem seus pilares assentados sobre os
conhecimentos da Fisiologia (em especial, da Psicofisiologia), da Psicologia Social, da
Patologia Geral, das Psicologias Dinâmicas (notadamente, a Psicanálise) e das
concepções holísticas. Esse tipo de perspectiva desemboca em um tipo de proposta
metodológica interdisciplinar, em que os diferentes subsistemas da unidade
biopsicossocial humana são adequados e concomitantemente abordados.
Entende-se aqui, por método interdisciplinar, “uma postura científica, que
trata das interações e dos métodos comuns às diferentes especialidades” (Japiassu,
1976). O estudo e a compreensão da biografia do indivíduo nos permite perceber que
os fenômenos humanos têm sempre uma motivação, nada acontecendo por acaso.
Assim, o processo de adoecer deixa de ser um evento casual e passa a ser integrado à
sua biografia. O indivíduo, no decorrer do seu desenvolvimento, constrói e estrutura
formas de ser e reagir aos diferentes estímulos aos quais pode ser submetido no
sentido de manter a homeostase do sistema humano.

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