Você está na página 1de 5

CURSO DE PSICOSSOMÁTICA 

 
 
 
Margarida Ferreira​ - CRP 15/0248 
Rosana Melo Brito​ - CRP 15/1798 
Tatiana Nogueira Moraes​ - CRP 15/1680 
Antonisia Ribeiro da Silva​ - CRP 15/2104 
 
 
 
 
MÓDULO 6 -​ AS DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS E O 
SISTEMA CIRCULATÓRIO 
 

Desde a antiguidade, o coração vem sendo objeto de estudo, e apresenta sua


construção simbólica, como sendo o centro das emoções, dotado de sentimentos
positivos ou negativos que representam o modo de ser do indivíduo. Para além dessa
perspectiva figurativa, trata-se de um dos órgãos mais nobres do corpo, responsável
pela circulação, pulsação e vida. Por estes motivos, estudos recentes têm buscado
estabelecer, por meio da psicocardiologia, uma correlação entre traços e fatores de
personalidade e outras variáveis psicossociais, com a ocorrência e prognóstico de
doença arterial coronariana (DAC). A DAC é a manifestação cardíaca da doença
aterosclerótica, que determina o bloqueio no fluxo de sangue para as artérias
coronárias.

Os riscos clássicos para desenvolvimento da DAC são de ordem biológica,


física, e de estilo de vida. Doenças cardiovasculares continuam sendo a principal
causa de morte no mundo. O estudo dos fatores de estresse, personalidade, estilo de
enfrentamento e suas relações com a DAC é de grande importância para a
compreensão dos mecanismos que levam as pessoas a desenvolverem cardiopatias
coronárias. Entretanto, estudos de DAC caracterizam-se por serem altamente
complexos, em razão da grande quantidade de fatores de risco tradicionais, como o
tabagismo, obesidade, hipercolesterolemia, etc., interagindo com estresse e traços de
personalidade.

A partir de pesquisas empíricas de comportamentos e características comuns


em pessoas com cardiopatias, buscou-se identificar um padrão que pudesse estar
associado ao desenvolvimento da patologia. Tal padrão comportamental, seria
responsável por disparar uma reação de estresse constatada por alterações
mensuráveis na reatividade fisiológica do indivíduo 1 . A esse padrão, atribuiu-se o
nome de Padrão Comportamental Tipo A (TABP). Características da TABP:
Qualidades de comportamentos, que incluem hostilidade, competitividade
exacerbada, levando o indivíduo a uma orientação agressiva e ambiciosa em relação
ao outro, estado de alerta físico e psicológico, tensão muscular e estilo de fala
rápida/explosivo.

Um senso de urgência crônica leva à agitação, impaciência e aceleração


habitual da maioria das atividades, que pode resultar em irritabilidade, raiva e
autoconceito rebaixado. Mais recentemente foi criado um novo modelo teórico sobre
a influência de fatores psicológicos como causa da DAC, fundamentada na teoria dos
cinco fatores de personalidade (FFM), denominado “Personalidade tipo D” (TDP)
por Denollet Vaes e Brutsaert (2000), que representaria indivíduos que apresentam
quadro de estresse crônico. Características personalidade tipo D: Afetividade
negativa é definida como a predisposição emocional de vivenciar uma variedade de
estados de ânimo negativos (sensíveis à irritabilidade, pequenas frustrações, mais
propensos a ansiedade, hostilidade, culpa, raiva, rejeição, depressão, tristeza,
distress e dificuldade em controlar impulsos).

A Inibição social é a tendência a reprimir a expressão de emoções em


situações de interação social, é consciente e tem por objetivo evitar a desaprovação
do outro. O indivíduo avaliado como TDP vive permanentemente um estado
emocional conturbado, permeado de sentimentos negativos, mau humor, depressão,
ao mesmo tempo em que busca inibir a expressão desta afetividade negativa ao se
defrontar com situações de interações sociais. Emoções negativas, expressas ou
ocultas e coping focado na emoção são respostas ao estresse, comuns tanto ao Tipo A
quanto ao tipo D, e relacionadas à cardiopatia coronária.

O estresse psicológico é um determinante chave para a saúde e doença e seu


papel estende-se a inúmeros distúrbios, dos quais se sabe que o surgimento e curso é
influenciado pelo sistema imunitário. É importante salientar que não é a vivência dos
afetos por si só que gera doenças cardiovasculares. Sentir emoções não,
necessariamente, causam doenças do coração.

Já se sabe que a elevação da pressão, das taxas de colesterol e de triglicérides


são respostas normais do nosso corpo às emoções. O fator principal está na forma
como essas pessoas vivenciam esses afetos, qual intensidade e qual frequência com
que eles ocorrem. Essas vivências ocorridas continuamente tornam as taxas
permanentemente alteradas, favorecendo o desencadeamento de doenças desse tipo.

Intervenções ao paciente personalidade tipo A: Foco na redução e intensidade


de atividades laborais, mudanças no padrão de competitividade, desenvolvimento do
vínculo de confiança e interação saudável com o outro, reconhecimento da
sobrecarga/limites, novos meios de canalização da raiva e estresse, buscando
diminuir a sobrecarga fisiológica e emocional.

Intervenções ao paciente personalidade tipo D: Trabalhar pensamentos mais


realistas e menos negativos, valorização de pequenas vitórias, aumento da
autoestima e autovalorização, estratégias de interação social, autoconfiança,
trabalhar na redução de comportamentos de hostilidade, culpabilização. Foco na
valorização dos próprios desejos e redução da necessidade de aprovação externa.

Em ambos os casos, a psicoeducação e modificação dos padrões de


enfrentamento são necessários, entretanto, pode ser bastante útil identificar o perfil
de comportamento e coping dos pacientes. O psicólogo tem a possibilidade de
intervenções hospitalares focadas na “causa” principal (características crônicas),
sensibilizando paciente e familiares sobre a importância da mudança dos padrões
funcionais na prevenção à recorrência de eventos cardiovasculares.

Referências:

1. Rosenman, R. H., Brand, R. J., Sholtz, R. I., & Friedman, M. (1976).


Multivariate prediction of coronary heart disease during 8.5 year follow-up in the
Western Collaborative Group Study. The American Journal of Cardiology, 37(6),
903-910.

2. Ader R, Cohen N, Felten D. Psychoneuroimmunology: interactions between the


nervous system and the immune system. Lancet. 1995;345(8942):99-103.

3. Leonard BE, Myint AM. Immune dysfunction, depression and neurodegeneration.


Acta Neuropsychiatr. 2009;21 Suppl 2:45-6.
4. ​Raison CL, Capuron L, Miller AH. Cytokines sing the blues: inflammation and the
pathogenesis of depression. Trends Immunol. 2006;27(1):24- 31.

5. Miller AH. Norman Cousins Lecture. Mechanisms of cytokine-induced behavioral


changes: psychoneuroimmunology at the translational interface. Brain Behav
Immun. 2009;23(2):149-58.

6. Altemus M, Rao B, Dhabhar FS, Ding W, Granstein RD. Stress-induced changes in


skin barrier function in healthy women. J Invest. Dermatol. 2001;117(2):30917.

Você também pode gostar