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O psicodiagnóstico é um processo que geralmente começa com um encaminhamento

para consulta com um psicólogo clínico. Este processo visa identificar e avaliar
problemas prévios para chegar a um diagnóstico. No entanto, entre os primeiros sinais
ou sintomas e a primeira consulta, podem surgir dúvidas, fantasias e busca por
explicações, retardando a ajuda e potencialmente agravando o problema.

A detecção do problema que requer avaliação clínica pode ser difícil, pois os sintomas
podem estar dentro dos limites da variabilidade normal. A falta de distinção entre
ajustes ocasionais e prolongados também pode levar as pessoas a confiar no tempo
para resolver os problemas. Quando se trata de adultos, há uma tendência a enfrentar
o problema sem ajuda ou tentar resolvê-lo através de mudanças externas.

A natureza e a expressão dos sinais e sintomas psiquiátricos são profundamente


influenciadas pelos recursos pessoais, capacidades de enfrentamento e defesas
psicológicas do paciente. Portanto, a percepção da dificuldade, a gravidade atribuída
aos sintomas, as dúvidas sobre a existência de patologia e outros fatores podem
influenciar a interação clínica e a coleta de dados durante o psicodiagnóstico.

É importante para o psicólogo examinar as circunstâncias que precederam a consulta,


avaliar as percepções do problema e atribuir significado adequado aos sinais e
sintomas. Isso pode ser uma tarefa desafiadora, especialmente para psicólogos
iniciantes.

SINAIS E SINTOMAS
Na psicologia e psiquiatria, os termos "sinais" e "sintomas" têm origem na medicina,
mas possuem uma acepção comparável nas três áreas. Geralmente, "sinais" referem-
se a comportamentos observáveis, enquanto "sintomas" são experiências internas do
sujeito. No entanto, essa distinção se torna vaga ou praticamente inexistente no
contexto da doença mental, devido à natureza subjetiva da psicopatologia.

Os transtornos psiquiátricos exigem uma compreensão do amplo contexto das queixas


do paciente, e os sintomas podem se expressar tanto internamente quanto através de
comportamentos observáveis. A distinção entre sinais e sintomas pode ser uma
questão de ponto de vista. Alguns argumentam que um sintoma é essencialmente um
sinal de perturbação, mesmo que não tenha sido explicitamente identificado como tal.

Na prática clínica, os sintomas são considerados presentes quando os limites da


variabilidade normal são ultrapassados, indicando uma possível significação clínica.
Essa compreensão é essencial para uma avaliação completa e adequada dos
transtornos mentais.

CRITÉRIOS USUAIS DE DEFINIÇÃO DE UM PROBLEMA


Identificar um problema envolve reconhecer alterações nos padrões de
comportamento, que podem ser quantitativas ou qualitativas. Na maioria das vezes, as
mudanças percebidas são de natureza quantitativa, representando variações em um
continuum entre saúde mental e psicopatologia.

Alterações quantitativas podem se manifestar como um exagero ou diminuição de


comportamentos considerados normais, em resposta a eventos da vida. A intensidade
e persistência dessas alterações podem indicar sua relevância clínica. Por exemplo,
mudanças de comportamento desproporcionais às causas ou persistentes além do
esperado podem ser sinais de alerta.

Critérios de intensidade e persistência também podem ser aplicados ao


desenvolvimento, considerando os limites normais para diferentes faixas etárias. O
julgamento clínico sobre o que constitui uma variação normal pode variar entre
famílias e culturas.

Mudanças qualitativas, por sua vez, geralmente chamam a atenção por seu caráter
estranho ou bizarro. Embora sejam frequentemente associadas a problemas mais
graves, podem ser explicadas culturalmente. No entanto, um único sintoma não é
diagnosticamente conclusivo e deve ser avaliado dentro do contexto global do
paciente.

A abordagem diagnóstica atual enfatiza o uso de critérios operacionais, exigindo a


presença de um conjunto específico de características sintomáticas durante um
período determinado para estabelecer um diagnóstico.

PROBLEMAS PSICOSSOCIAIS E AMBIENTAIS: ACONTECIMENTOS DA VIDA


O conceito de estresse, originalmente desenvolvido no contexto da pesquisa
endocrinológica no século XX, foi ampliado para explicar a relação entre o indivíduo e
o ambiente, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial. Esse conceito foi
considerado útil para entender uma variedade de situações pessoais, herdando
importância do conceito de crise, que se refere a uma reação associada à dificuldade
de lidar com uma situação específica.

Enquanto a crise se refere mais a uma reação imediata a uma situação, o estresse
enfatiza o impacto a longo prazo e o potencial para consequências futuras,
dependendo tanto do estressor quanto da vulnerabilidade do indivíduo. Durante a
Segunda Guerra Mundial, o estresse foi estudado como um precipitador de doenças
mentais, levando à compreensão do estresse como um fator-chave no
desenvolvimento de transtornos mentais.

No DSM-III-R, a avaliação da gravidade do estresse foi incluída como parte da


avaliação multiaxial, considerando seu papel no desenvolvimento, recorrência ou
exacerbação de transtornos mentais. Embora o rigor científico tenha levado a uma
visão mais equilibrada, o estresse continua sendo um conceito importante,
especialmente nos Transtornos de Estresse Agudo e Pós-traumático, além de
influenciar a avaliação de problemas psicossociais e ambientais no diagnóstico e
tratamento de transtornos mentais. Embora exista uma associação entre fatores
socioeconômicos e transtornos mentais, como a esquizofrenia, atualmente poucos
teóricos sustentam que o ambiente socioeconômico seja a causa direta, mas
reconhecem seu importante efeito no curso dos transtornos.

A AVALIAÇÃO DA PSICOPATOLOGIA*
psicodiagnóstico consiste na identificação de forças e fraquezas no funcionamento
psicológico, com foco na existência ou não de psicopatologia, distinguindo-se de
outras formas de avaliação psicológica de diferenças individuais.

Na psicopatologia, destacam-se dois modelos: o categórico e o dimensional. O modelo


categórico envolve o julgamento clínico sobre a presença de uma configuração
específica de sintomas, enquanto o modelo dimensional mede a intensidade
sintomática.

Tradicionalmente, os psiquiatras têm dado mais ênfase ao modelo categórico,


enquanto os psicólogos, na prática, costumam utilizar mais o modelo dimensional. No
entanto, na maioria das vezes, o psicodiagnóstico envolve uma combinação de
abordagens quantitativas e qualitativas, utilizando uma variedade de estratégias
diagnósticas, como entrevistas, instrumentos psicométricos, técnicas projetivas e
julgamento clínico.

A escolha das estratégias e a abordagem adotada no processo diagnóstico dependem


dos objetivos e da natureza do problema em questão. É essencial manter canais de
comunicação com outras áreas e estar atento a questões fundamentais para
determinar um diagnóstico preciso.
TRANSTORNOS MENTAIS E CLASSIFICAÇÕES NOSOLÓGICAS
O termo "transtorno" é sinônimo de "perturbação mental", abrangendo uma variedade
de condições que se situam entre a normalidade e a patologia. Este termo é preferido
em vez de "transtorno mental", visto que este último sugere uma distinção entre
transtornos "mentais" e "físicos", que é considerada reducionista.

No DSM-IV, um transtorno mental é definido como uma síndrome ou padrão


comportamental ou psicológico clinicamente importante que está associado ao
sofrimento, incapacitação ou risco significativamente aumentado de consequências
adversas. É destacado que um transtorno mental não deve ser apenas uma resposta
culturalmente sancionada a um evento específico. Além disso, deve ser considerado
uma manifestação de disfunção comportamental, psicológica ou biológica no indivíduo.

O DSM-IV adota uma abordagem ateórica em relação às causas dos transtornos


mentais e baseia-se em critérios operacionais específicos para o diagnóstico. Ele
prevê uma avaliação multiaxial, com os transtornos mentais listados nos Eixos I e II,
transtornos físicos ou condições médicas adicionais no Eixo III, problemas
psicossociais e ambientais no Eixo IV, e um julgamento do nível geral de
funcionamento no Eixo V.

É essencial para profissionais que realizam psicodiagnóstico estar familiarizados com


os sistemas de classificação nosológica, como o DSM-IV e a CID-10, pois esses
sistemas são utilizados para comunicação entre profissionais e para fornecer códigos
de transtornos em documentos como atestados e laudos. Ao realizar um diagnóstico, é
importante examinar cuidadosamente todos os critérios e considerar características
distintivas do caso, bem como critérios de exclusão de outros diagnósticos.

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