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Psicopatologia I Sebenta de Psicopatologia I FPCEUC: MIP 2018/2023

Setembro – Dezembro de 2019 Inês Pinhel

MÓDULO I

A psicopatologia é a ciência que estuda os estados psíquicos anormais ou da doença mental e dos
seus sintomas. Quando falamos de estado normal ou não normal em psicopatologia não nos
estamos a referir a uma distinção entre bom e mau, mas sim àquilo que faz parte de uma “norma
média”, que estará ou não dentro de uma norma para a maioria das pessoas de um determinado
sexo, numa determinada esfera sociocultural, sendo ou não, portanto, esperado.
É esperado que uma criança de 4 anos, ou nesta na faixa etária, possa urinar
Por exemplo:
na cama. Contudo, se este comportamento se verificar numa criança de 12 anos, este
não é esperado e, como tal, considerado não normal. Um dos primeiros passos é
perceber se este problema está relacionada com alguma causa orgânica; no caso de não
estar, é onde nós psicólogos entramos.

Etimologia: O termo psicopatologia é de origem grega e traduzido num sentido literal significa “o
estudo da patologia da alma/mente”.
Psyché + pathos + logos
Alma + doença + estudo

Definição do objeto de estudo: De acordo com Sims (2003), a psicopatologia corresponde ao


estudo sistemático das vivências, cognições, atitudes e comportamentos que são produto de uma
perturbação mental.

PSICOPATOLOGIA EXPLICATIVA vs PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA


Ao longo dos tempos o termo psicopatologia foi usado sob duas vertentes:
Psicopatologia Explicativa – incide na explicação com base em construtos e modelos teóricos, isto
é, o que é que explica que uma determinada pessoa tenha desenvolvido uma anorexia e não uma
depressão, por exemplo – psicologia clínica cognitivo-comportamental ou da psicologia dinâmica.
Psicopatologia Descritiva – refere-se à descrição precisa e objetiva e à categorização das
manifestações/sintomas psicopatológicos (observáveis e subjetivos). A psicopatologia descritiva
pode ser definida como um conjunto sistemático de princípios gerais, enunciados descritivos e
regras cuja função é identificar, descrever e classificar o comportamento e a sintomatologia que
resulta de uma perturbação psicopatológica.

Em Psicopatologia, o pensamento e a linguagem usados devem ser sistemáticos e


rigorosamente conceptuais

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A problemática do conceito de normal e de doença em Psiquiatria:

A DOENÇA OU PERTURBAÇÃO MENTAL


É um fenómeno marcado simultaneamente pela especificidade psicológica, uma vez que as
perturbações mentais possuem uma dimensão própria/una e não se descrevem apenas como
exageros de estados “normais”, mas possuem também uma ligação com a psicologia normal,
sendo que a psicopatologia não totalmente estranha ao mundo das experiências e vivências
psicológicas “normais”.
A doença é, ao mesmo tempo, uma categoria natural e uma construção social

Devemos ainda ter em consideração o facto de o comportamento do indivíduo ser atualizado no


seu espaço social, sendo, portanto, determinado pelas suas referências sociais e contextuais. O
espaço social determina, assim, a normalidade/anormalidade do comportamento.

Perturbação Psicológica: é definida através de 4 condições


1. Alteração ou quebra no funcionamento cognitivo, emocional e/ou comportamental do
indivíduo
2. Existência de sofrimento pessoal acentuado
3. Limitação no funcionamento do indivíduo*1
4. Resposta atípica ou não culturalmente esperada

Tudo o que é diferente não tem de ser patológico! Somente deve ser alvo de intervenção aquilo
que é patológico.

1ª Condição
Em algumas situações a separação entre o funcionamento normal e a perturbação/distúrbio é
menos clara. Por exemplo, a timidez vs a ansiedade social ou a tristeza vs a depressão clínica.
A perturbação psicopatológica é um fenómeno dimensional, mais do que um conceito ou
categoria que está ausente ou presente.
A dimensão da disfunção será qualificada através dos outros critérios de sofrimento e de
limitação. Por exemplo, é a intensidade do medo e os outros critérios, como o sofrimento e as
limitações associadas, que nos indicarão o grau de disfuncionalidade.

*1 Exemplo de uma anorética que deixa de ir comer com os amigos, comer em casa é um frete, deixa de ir à praia por
passar a ter mais pelos (devido à má nutrição), entre outros.

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2ª Condição
A existência de sofrimento associado a determinado padrão emocional, cognitivo e/ou
comportamental é considerado como condição necessária para a definição de uma perturbação
psicopatológica. No entanto não é um critério suficiente uma vez que:
▪ O sofrimento é inevitável e inerente à experiência humana
▪ Alguns distúrbios e comportamentos anormais não provocam a perceção de sofrimento
associado para o próprio

3ª Condição
É necessário definir o que é uma limitação. Por exemplo, a timidez não é uma limitação, mas se
esta for acentuada que se traduza no evitamento de várias situações, tais como ir à faculdade,
estar com um grupo de amigos, conhecer pessoas novas, o qual tem repercussões na
concretização de diferentes objetivos, então diremos que esta característica está associada a
limitações significativas para o funcionamento pessoal.

4ª Condição
Um resposta atípica = será algo que se desvia da média ou do que é frequentemente/
culturalmente esperado. A ideia de que é normal tudo o que viola as normas sociais duma cultura
é útil porque aponta a importância das diferenças culturais quando analisamos um
comportamento em termos das normalidade ou da sua anormalidade. Contudo alguns
comportamentos violam normas sociais (ex.: crimes) e não são necessariamente perturbações
psicológicas.

Concluímos que:
→ Nenhum dos critérios isoladamente nos permite falar de perturbação, só o seu conjunto
ou a combinação das diferentes condições
→ Todos os critérios assentam no critério quantitativo, no conceito de dimensão

Os Psis (psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas) têm uma tendência enorme para patologizar tudo. Em
psicopatologia não existe “branco ou preto”. Falamos em graus; um grau de medo, um grau de
ansiedade, um grau de stress, sempre enquadrados num contexto.
O sofrimento é uma condição inevitável na nossa história, sendo que a psicopatologia implica a
existência de sofrimento. O sofrimento é uma condição necessária para a psicopatologia, mas
não suficiente, isto é, não estamos perante uma patologia sempre que existe sofrimento, mas
para haver uma patologia, é necessário haver sofrimento. Muitas vezes a forma como lidamos
com determinadas situações só aumenta o nível de sofrimento – importância dos mecanismos
de regulação emocional.

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Uma perturbação bipolar é uma variação entre um estado maníaco e um estado depressivo.

Um depressivo é a típica pessoa que tem uma visão negativa sobre si e sobre a sua
relação com o mundo. No oposto do estado depressivo temos o estado maníaco, a
mania. No polo maníaco as pessoas estão numa grande euforia (derivado de
desequilíbrios bioquímicos), existindo um sentimento de grandiosidade, muitos
comportamentos de risco e picos de desinibições.

A psicopatologia ensina o terapeuta a ouvir, a tomar conhecimento, a descrever. Promovendo o


desenvolvimento das “ferramentas” para a:

→ Avaliação
→ Elaboração de hipóteses diagnósticas
→ Construção de intervenções terapêuticas congruentes

Em psicopatologia o objetivo é ajudar o doente e isto pressupõe que o clínico deva ser capaz de
captar, o mais objetivamente possível as vivências e os comportamentos do indivíduo no seu
contexto biográfico, psicológico e sociocultural.
Para a orientar a intervenção, começa-se por fazer uma avaliação. Contudo, posteriormente, à
medida que se vai fazendo a intervenção vai-se continuando a avaliar.
 Por norma, numa consulta, trata-se as crianças e os adolescentes pela 2ª pessoa do
singular. A partir daí é importante a envolvência com o paciente, mas com alguma
distanciação, sendo que, por isso, se deve passar a intervir com o paciente na 2ª pessoa
do plural.

ESPAÇO TERAPÊUTICO : duas cadeiras iguais, colocadas ligeiramente inclinadas uma para a outra,
não frente a frente para diminuir o desconforto que possa surgir para o paciente; ligeiramente
afastadas para não sufocar o paciente e, no caso de se tirar alguns apontamentos à medida que
se faz a avaliação, colocar o caderno de modo a que o paciente o possa ver.
MindFullness tem-se mostrado altamente eficaz, de acordo com vários estudos. MindFullness
não é relaxamento, não é reiki.

CONSTRUÇÃO DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA


Esta construção envolve um trabalho considerável por parte do terapeuta, sendo necessário a
aceitação genuína das dificuldades do outro, uma atitude de não julgamento, ter uma atitude
compassiva e uma motivação para aliviar e/ou prevenir o sofrimento.
Uma das coisas igualmente importante na construção da relação terapêutica e no processo de
avaliação é compreender que nem todos os doentes se encontram no mesmo nível de atitude
relativamente a um mesmo problema.
Um dos pré-requisitos para a intervenção é o reconhecimento de necessidade de ajuda. Contudo,
muitos dos pacientes, principalmente os que apresentam problemas aditivos (drogas, álcool,
entre outros), chegam até nós em fase de negação.

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Para entender o doente não importa tanto a realidade objetiva, as coisas em si que ele vive ou
percebe, mas o modo como ele as vivencia, a sua vivência das coisas. Para psicopatologia a
vivência e o comportamento de um ser humano enquadra-se e só tem significado dentro do seu
contexto biopsicossocial.

O PROCESSO DE AVALIAÇÃO EM PSICOPATOLOGIA


O processo avaliativo assume um papel fundamental ao longo da terapia, sendo que a avaliação
inicial da sintomatologia do doente, da sua história, do funcionamento atual e dos objetivos
esperados na terapia constitui o alicerce base para a compreensão dos processos que produzem
e que mantêm as dificuldades deste indivíduo.
Construção da relação terapêutica
Prontidão/motivação para a mudança:

→ Identificação do estádio de motivação para a mudança


→ Reconhecer o padrão de espiral da mudança
→ Aceitação das crenças da doente como genuínas
→ Análise dos prós e contras da manutenção do padrão do comportamento problemático
→ Projetar o futuro

A PRONTIDÃO PARA A MUDANÇA: MODELO DE PROCHASKA E DICLEMENTE


A prontidão para a mudança indica-nos em que grau de prontidão é que aquele doente se
encontra para a mudança. Ela não deve ser pensada como um problema de personalidade, como
um traço ou algo imutável, mas antes como um estado. A motivação para a mudança é um estado
de prontidão influenciado por diversos fatores, que tem flutuações em determinados momentos
ou em diferentes situações. A motivação, por sua vez, pode ser definida como uma característica
dinâmica, isto é, “um estado interno influenciado por fatores externos”.
O modelo de Prochaska e DiClemente é representado por um círculo, que traduz um processo
contínuo de mudança, que percorre diferentes estádios motivacionais.
 O processo de mudança é gradual e sequencial
 As pessoas que mudam através de uma sequência definida de estádios qualitativamente
diferentes

Este modelo
permitiu
desenvolver e testar
técnicas específicas
destinadas à
promoção da
motivação para a
mudança.

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As recaídas são consideradas como lapsos em que o processo volta ao início, mas não significa
que o processo anterior não tenha tido efeitos, pode ter resultado numa aprendizagem, apesar
de ter terminado numa recaída. As recaídas são frequentes de acontecer. Alguns doentes têm
um processo muito bom de mudança, mas tendo uma recaída, desistem facilmente (“drop-out”).
Por exemplo: No comportamento bulímico, temos uma doente com episódios de
descontrolo frequentes. Pode acontecer a doente passar a ter uma dieta saudável e
equilibrada, sem estes episódios de descontrolo e num dado momento ter uma recaída
e voltar à situação anterior.

 Modelo de Prochaska & DiClemente: Implicações Terapêuticas


Racional: os níveis de mudança como dimensões para organizar o conteúdo da psicoterapia. O
modelo implica que o terapeuta assuma diferentes atitudes e utilize diferentes estratégias
terapêuticas, dependendo do estádio de motivação em que o doente se encontre. Em cada
estádio o focus do tratamento deve ser apropriado aos processos específicos que caracterizam
cada estádio de mudança.

Estádio de Pré-Contemplação
Estádio em que os doentes aparecem e dizem “Eu não sei o que estou aqui a fazer, é um exagero,
não tenho nenhum problema”. O doente não assume o seu problema, acreditando ter tudo sob
controlo. É frequente em doentes com problemas aditivos e distúrbios alimentares.

Identifica o seu comportamento, mas nega a gravidade do seu problema

Ponto de entrada do processo de mudança


➢ O indivíduo não considera a possibilidade de mudança, porque não existe consciência do
problema;
➢ Os pré-contempladores podem não querer mudar, pois avaliam os prós do seu
comportamento-problema como muito superiores aos contras, isto é, apenas
consideram os custos da mudança, ignorando as suas vantagens.
Quanto maior o confronto do terapeuta, mais o doente se defende e nega. Nesta fase não é
produtivo ter uma atitude de confrontação; devemos tentar recolher informação (o impacto, a
frequência do comportamento, os ganhos – todos os comportamentos quando se repetem
sistematicamente é porque têm algum ganho; muitos comportamentos são colmatados com o
intuito de fugir a emoções negativas. Dizemos ao doente o seguinte “Se este comportamento
tem tido todos estes custos para si e, mesmo assim, continua a tê-lo, quais são os seus ganhos?”.
Ao perguntarmos ao paciente os prós, ele chegará à conclusão dos contras que acaba por
verbalizar e, deste modo, tomar mais consciência. Por outras palavras:

 O terapeuta deverá fornecer informação e feedback sobre o problema de forma a


promover a perceção do mesmo e a possibilidade de mudança

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 A confrontação direta é encarada como contraproducente, dado que poderá suscitar


uma atitude defensiva e de oposição por parte do paciente

O objetivo é aumentar a consciencialização do problema e facilitar o movimento para o estádio


de contemplação.

Estádio de Contemplação
Representado por uma balança é um estado de ambivalência, no qual os prós e os contras oscilam
constantemente entre si.
➢ O indivíduo tem alguma consciência do problema, já considera a possibilidade de
mudança, avaliando os prós e os contras do comportamento problema e a mudança
➢ No discurso surgem razões de preocupação e motivações para a mudança e justificações
para o comportamento atual e racionalizações que minimizam a preocupação
O contemplador é aquele que considera a mudança e que ao mesmo tempo a rejeita

Muitas vezes esta fase de ambivalência é confundida com manipulação – fase em que os pais
dizem que os filhos são muito mentirosos.
Por exemplo: Fumador.
“Sei que devia deixar de fumar, faz mal à saúde, o meu amigo ficou
com sérios problemas no pulmão, mas eu fumo muito menos do que ele e também faço
algum exercício.”.

O objetivo é promover o desequilíbrio entre os argumentos ambivalentes, favorecendo as razões


para a mudança e evidenciar as consequências da “não mudança”.
A terapia/entrevista deve criar uma atmosfera positiva para a mudança, no estado de
ambivalência, devendo esta ser aceite como parte do processo de mudança. Dependendo do
nosso estado emocional, vamos dando mais valor aos prós ou aos contras (oscila, não é
constante).
O valor da entrevista motivacional centra-se no facto da pessoa descobrir por si as vantagens e
desvantagens da mudança; é o próprio doente que apresenta os argumentos para a mudança, o
que reflete um aumento da sua motivação intrínseca.
Humanidade comum é quando não nos sentimos bichos raros. Estas estratégias de humanidade
comum são boas para criar a tal atmosfera positiva para a mudança. Exemplos de humanidade
comum são grupos de alcoólicos anónimos, toxicodependentes, luta contra uma determinada
doença, entre outros.

Estádio de preparação para a mudança

Todo o processo de mudança tem um custo significativo e causa-nos stress – “uma janela de
oportunidade para a mudança”.
o existe um compromisso com a mudança

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o os custos da manutenção do comportamento problema são conceptualizados como


superiores aos seus benefícios

o se neste período o indivíduo entrar num estádio de ação o processo de mudança


prossegue, caso contrário o sujeito regressa ao estádio de contemplação.

O terapeuta deve criar a mudança como um processo acessível e realizável. O objetivo do


terapeuta é ajudar o paciente a encontrar uma ESTRATÉGIA de mudança aceitável, acessível,
apropriada e efetiva.
Nesta fase, o terapeuta deverá avaliar os níveis do comprometimento para a mudança, clarificar
e definir objetivos terapêuticos realista e acessíveis para o paciente e promover a fase de ação
ou mudança efetiva.
A atitude compassiva é identificarmos o grau de sofrimento implicado, termos a motivação para
ajudar o paciente. Devemos conseguir definir estratégias muito pequeninas, mas que possa
ajudar no processo de mudança – mesmo sendo uma “migalhita” para nós, é um grande passo
para o paciente, causando naturalmente ansiedade.
As ameaças, quer sejam reais ou imaginárias, ativam exatamente as mesmas zonas cerebrais e
têm a mesma resposta fisiológica.

Estádio de ação

Propor e implementar estratégias, que devem ser sequenciais.


É definido como um período em que o indivíduo tem intenção de mudar e empenha-se em ações
particulares/específicas com vista à mudança.
No entanto, entrar num processo de mudança não é garantia que a mudança persiste e que a
alteração do comportamento seja sistemática ou efetiva. Isto significa que a recaída pode ocorrer
neste estádio, assim como pode ocorrer em qualquer estádio da mudança. Nós só combatemos
os nossos medos de forma sistemática.
Em termos terapêuticos:
➢ O objetivo é implementar estratégias de promoção de uma mudança efetiva e
estratégias de prevenção de recaída
➢ Implementação de estratégias de mudança específicas e apropriadas à realização dos
objetivos de mudança, que se traduzem em ganhos para o indivíduo
➢ Utilização de estratégias que aumentem a perceção de autoeficácia, reforço e a
atribuição causal interna dos sucessos
➢ Identificação dos fatores de risco de uma recaída

Estádio de manutenção

A manutenção de um determinado comportamento ou de uma aprendizagem não é o fim de um


processo, envolve uma continua mudança.
Neste estádio, o desafio é:
→ manter as mudanças alcançadas

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→ estudo da perceção da mudança


→ generalização a novas áreas
→ prevenir as recaídas

Recaída
O modelo de Prochaska e DiClemente considera a recaída como uma ocorrência normal e que é
inerente ao processo de mudança.
No caso da ocorrência da recaída o terapeuta deverá evitar o desencorajamento e a
desmoralização e promover o reinício do processo: voltar a contemplar a mudança, prepara-se
para a ação e ativar recursos sem ficar “preso” perante a recaída.
Em termos terapêuticos, o racional é que alguns avanços e retrocessos no ciclo de mudança são
comuns antes de se solidificarem os novos padrões de comportamento.

Cada recaída representa mais um passo em direção à mudança

Compreender  Explicar
Compreender: atualizar as vivências do outro em mim; tenho de me colocar no lugar do outro =
transcendência, e só assim pode haver a atribuição de SIGNIFICAÇÃO.
Explicar: estabelecer relação entre fenómenos constantes. A ciência explica.

Temos duas grandes modalidades de avaliação:

Compreensibilidade estática - Compreensibilidade de um caso


Exame Mental em termos genéticos
(transversal) (longitudinal)

Compreensibilidade Genética
Relação temporal com os factos; leitura longitudinal dos acontecimentos e das vivências do
paciente. Importância dos conceitos de:
→ Conceito de Reação
→ Conceito de Desenvolvimento
→ Conceito de Processo
Conceito de Reação:
Existe um funcionamento prévio.
Funcionamento de base → Reação a determinado acontecimento de vida
(major life event) com alteração do comportamento (situacional) → Após um
determinado espaço temporal, o comportamento retorna à linha base.

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Conceito de Desenvolvimento:
Um estilo de funcionamento ou uma personalidade de base que se desenvolve após um
acontecimento de vida.
Episódio após o qual o sujeito não retoma à linha de base do
comportamento anterior a este acontecimento.
Caso de anorexia. Uma paciente que decide fazer uma
Exemplo:
pequena dieta num dado momento da sua vida, e passado este momento, ao invés da dieta se
ter desvanecido (ou mantido saudavelmente) agravou-se. Em vez de o comportamento
desaparecer, torna-se mais rígido e acaba por dominar a vida de uma pessoa.

Conceito de Processo:
No processo existe uma rutura brusca com o desenvolvimento ou o funcionamento prévio. É um
fenómeno não compreensível, mas explicável, sendo um processo característico das psicoses.
Existência de dois acontecimentos sem relação nenhuma, a partir de determinado momento uma
pessoa deixa-se de se comportar de uma dada forma e passa a agir
de outra forma diferente, sem relação com a anterior.
Processo característico em quadros psicóticos. É um processo que não tem uma lógica, é
Exemplo:
explicável sobretudo a nível de processos biológicos e genéticos, mas não compreensível.

Compreensibilidade Estática
Relação causal entre fenómenos simultâneos. Resulta a psicopatologia descritiva, na qual se
procura utilizar técnicas de observação e descrição que sejam razoavelmente padronizadas.
A avaliação neste caso deve ir ao encontro da diminuição do julgamento crítico e da subjetividade.
Tornar a linguagem o mais padronizada possível para ser compreensível por qualquer proffisional
que pegue no processo.
A utilização destas técnicas, levou a que os psicopatologistas visem que áreas de fenómenos
mentais eram razoavelmente independentes entre si, resultam assim áreas a explorar que no seu
conjunto se denomina por Exame Mental.

AVALIAÇÃO DO PROBLEMA

O que fazemos numa consulta é:


1. Qual é o problema? (segundo o doente)
Por vezes, aquilo que o doente pretende como ajuda não é aquilo que vamos dar.

2. Com que se relaciona?


3. O que faz ou fez para o resolver?
4. Resultados a curto ou longo prazo. (O curto prazo é o que mantém o problema.)

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Limitações? Do 1, 3 e 4

ENTREVISTA CLÍNICA

1. Dados Biográficos (nome, idade, agregado familiar, estado civil, profissão, nível de
popularidades, …)
2. Motivo da consulta (apresentação do doente, factos que o doente acompanha ou
documentos escritos apresentam como justificação para a consulta, objetivos da terapia
verbalizados pelo doente) – (apresentação: doente que chega até nós em agosto com
uma casaco comprido de penas; doente com as unhas sujas e cheiro desagradável; se o
doente vai sozinho ou acompanhado; se vai por indicação do tribunal, dos professores,…)
3. Dificuldades atuais (uma descrição dos comportamentos problema nas suas
componentes motora, cognitiva, fisiológica e emocional)
 Compreensão do problema (compreensão da forma como o problema afeta as
várias áreas da vida do indivíduo; compreensão do impacto do problema nos
outros significativos para o doente)
4. Início e Desenvolvimento das dificuldades (dados relativos ao início e desenvolvimento
das dificuldades)
5. Desenvolvimento e História Prévia (Parâmetros – gravidez e parto, desenvolvimento
psicomotor, padrões de intervenção familiar, escolaridade, relações interpessoais,
religião, sexualidade, breve história de saúde)
6. Formulação do caso (modelo de compreensão “Porque é que aquela pessoa com aquela
história desenvolveu aquele problema?”; interpretação dos dados da história clínica e
hipótese de diagnóstico;
Predisponentes → história do desenvolvimento
Precipitantes → início e desenvolvimento
Manutenção → dificuldades atuais (IMPORTANTE: estas relações não são lineares, o caso resulta da
conjunção de todas elas, estando uma coisa associada maioritariamente a outra, mas não de forma isolada).

Diagnóstico Diferencial, ou seja, é este diagnóstico e não aquele porque qualquer coisa

EXAME MENTAL
Por vezes, uma determinada sintomatologia é explicada por causas orgânicas, como por exemplo
a existência de tumores no cérebro ou problemas na tiroide, não tendo sempre um teor
psicológico.

O exame mental é um dos componentes da avaliação psiquiátrica e inclui a observação e a


descrição do comportamento do doente de uma forma objetiva e sem crítica (sem qualquer tipo
de julgamentos). Ele procura revelar os sinais e sintomas da doença, sendo um corte transversal
no estado e sintomatologia do doente e constitui a parte objetiva da avaliação do doente.

Nenhum sintoma isolado pode ter uma leitura, ou seja, no exame mental veremos onze grandes
áreas e, ao realizar uma leitura deveremos trabalhar com todas elas.

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São estas:
 Apresentação do doente
 Motricidade e linguagem
 Contacto
 Consciência e atenção (avaliar o estado da consciência é essencial para dar um rumo distinto a um conjunto de sintomas.
Mudam não os sintomas, mas os significados a eles atribuídos.)
 Humor, afetividade e ansiedade
 Pensamento
 Perceção
 Alterações da estrutura do Eu
 Memória
 Inteligência
 Funções Biológicas Vitais (da fome, da sede, do desejo sexual, do sono, …)

O diagnóstico é o ato final do exame mental, o que significa que nenhumas destas áreas deste
exame é suficiente para elaborar o diagnóstico – temos de conjugar a avaliação das várias áreas.

APRESENTAÇÃO DO DOENTE
“Observar a pragmática”. A observação da pragmática inicia-se no primeiro momento de
contacto com o doente;

▪ Como vem?
▪ Com quem vem o doente?
▪ Como se apresenta?
▪ Qual a sua postura?

No exame mental estamos constantemente a formar hipóteses. Se o paciente vem de livre


vontade, e é capaz de identificar o seu problema e sua gravidade, podemos dizer que estamos
perante um insight (capacidade de compreensão e discernimento). Uma patologia de natureza
psicótica, normalmente, não têm insight.

Há doenças que não são de carácter psicótico, mas nas


quais os doentes aparecem igualmente num estado de “não
insight”, como por exemplo, distúrbios alimentares e
problemas aditivos.

A apresentação do doente dá-nos de imediato uma primeira ideia acerca da gravidade da


situação, da crítica que o doente mantém sobre a sua doença e vai permitir, ainda que de uma
forma grosseira, traçar duas grandes linhas gerais de pesquisa posterior:

Patologia Psicótica
•Neste caso o doente não tem crítica adequada e, habitualmente, vem à consulta forçado por outros.

Patologia Neurótica
•O doente tem crítica razoável de situação e procura ajuda de livre vontade ou aconselhado por outros.

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A psicopatologia é a interação de vários fatores. Por exemplo, se o meu pai for alcoólico, não quer
dizer que eu o venha a ser também, depende da exposição de um outro conjunto de fatores a
que estarei exposta. A psicopatologia é, portanto, multideterminada.

A nossa curiosidade deve ser mediada pela ética profissional, isto é, ao aprofundar determinados
assuntos, aquando de uma intervenção, devo procurar-se saber se certos pormenores serão
exclusivamente importantes para ajudar o paciente a refletir sobre a situação ou se apenas vão
colmatar a minha curiosidade.

Aparência em relação a:

 Idade
O doente parece muito mais jovem ou velho que a sua idade real?

 Higiene
O doente tem uma aparência limpa e cuidada ou mostra sinais de ausência de cuidados de higiene pessoal?
O doente apresenta um odor marcadamente forte (por exemplo: álcool, fezes, perfumes, água de colónia)?

 Vestuário
O doente apresenta-se vestido de forma adequado em relação ao género, idade, contexto, nível socioeconómico ou estação do ano?

 Constituição corporal
O doente tem uma estatura (altura e peso) “normativa” (ou é excessivamente baixo ou alto para a imagem, magro ou obeso)?

 Postura

MOTRICIDADE E LINGUAGEM
A motricidade é a atitude e movimento do humor ativo. Os movimentos físicos dos doentes
podem revelar indicações acerca do humor, nível de energia, força muscular, coordenação e
atitude.

Acinesia Catatonia Normal Agitação


(Não há mobilidade nenhuma) (Está mais permanente durante a consulta toda)

Bradicinesia Hipoativa Inquietação Hiperatividade

O nível de atividade do doente pode oscilar desde a hiperatividade à bradicinesia (movimento


lento, como uma doença de Parkinson) e até à acinesia ou imobilidade (ausência de movimento;
por exemplo: doente catatônico).

É a atividade motora que traduz Contorcer as mãos, limpar um suor


Inquietação preocupação imaginário da face

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É um pouco mais intensa que a O doente é incapaz de estar sentado, levanta-

Agitação inquietação
se e dá pequenos passeios pelo gabinete, volta

a sentar-se, mexe-se várias vezes, e é também

mais duradoura

O indivíduo pode estar Correndo pela sala, agitando os braços, falando

mais alto, gritando, pode atirar objetos, pode


Hiperatividade descontroladamente excitado tentar executar várias tarefas sem acabar

nenhuma

ALTERAÇÕES MOTORA E DE LINGUAGEM NEUROLÓGICAS

Apraxias: O doente é incapaz de fazer o movimento adequado à intenção.


Por exemplo: quer acender um fósforo e leva a caixa para atrás da orelha

Tremores: Tremores estáticos, posturais e da ação e intencional – tremores de causa


neurológico

1. Tremor estático – é um tremor que aparece quando o indivíduo está em repouso e tende
a desparecer quando faz um movimento, não interfere muito com os movimentos com
intenção. Pode surgir no parkinsonismo, na tireotoxicose, no alcoolismo, no abuso de
drogas e em síndromes de privação. Pode aparecer também em pessoas idosas e em
personalidades ansiosas.

2. Tremor de Postura ou de Ação – tremores ausentes quando o corpo está em repouso,


mas estão presentes quando o corpo está numa determinada postura. Aparece no
hipotiroidismo, toxicidade por drogas ou ansiedade.

3. Tremor Intencional – aparece quando se executa um movimento voluntário com


determinado objetivo, interfere com movimento finos. Exemplo: pede-se ao doente para
levantar a mão e tocar no nariz, mas este não o consegue fazer precisamente. É mais
frequente na esclerose múltipla.

Reflexo de Apertar: O doente aperta, automaticamente, todos os objetos colocados na sua


mão. É usualmente indicador de alterações neurológicas. Se o doente
estiver consciente e apresentar este reflexo unilateral, isto indica lesão
no lobo frontal do lado oposto. Se bilateral indica uma alteração difusa
no córtex lateral, que pode ser ou não reversível.

Reações Magnéticas: Quando se toca na palma da mão do doente, com um dado objeto ou um
dedo, afastando lentamente, verifica-se que a mão do doente segue o
dedo ou o objeto como se fosse um íman. Pode aparecer em doenças
neurológicas e na catatonia.

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ALTERAÇÕES MOTORAS COMPREENSÍVEIS PSICOLOGICAMENTE

Tiques: São contrações breves, repetidas e involuntárias, de alguns grupos musculares


(predominam na face, mas podem atingir outros músculos). A maioria dos
doentes tem um reportório de tiques limitados a um ou vários movimentos
repetidos. O doente, com grande esforço, pode dominá-los durante uns
segundos. É frequente aparecerem em doentes neuróticos.

Compulsões: É uma tendência, incoercível a executar uma ação contra a própria vontade. São
ações que acompanham as obsessões e são produto motórico de um
pensamento obsessivo. É um ato voluntário, sendo essa a grande diferença entre
a compulsão e o tique. É típica dos indivíduos com Perturbação Obsessiva-
Compulsiva, tendo geralmente um carácter ritualístico e é feita com o objetivo
de diminuir a ansiedade.

As obsessões surgem como comportamentos de ritual que têm o objetivo de evitar que algo de
mal aconteça.

Uma vez que as compulsões são realizadas de uma forma ritualística, elas acabam por
comprometer a vida do indivíduo. Para ser compulsão tem de ter impacto na vida da pessoa
(costuma estar associado a um número de horas que se leva a realizar determinada tarefa).

▪ Irracional
▪ Não desejada nos voluntários
▪ Egodistónica
▪ Estereotipado (sempre o mesmo ato)
▪ Ritualístico (é executado sempre da mesma maneira)

Manuseamento: O doente manipula tudo o que estiver ao seu alcance (por exemplo:
pequenos objetos, o vestuário, os cabelos). Traduzem normalmente
estados de ansiedade severa.

Maneirismo: Consistem na execução de gestos e movimentos dirigidos, ou na


manutenção de posturas poucos habituais, de forma reiterada. São
formas altamente estilizadas de fazer as coisas e podem, por isso,
parecer bizarra e exageradas. Podem existir em indevidos sem doença,
(por exemplo: nos artistas ou nos adolescentes ansiosos) ou com
determinadas Perturbações da Personalidade. São também frequentes
em doentes esquizofrénicos.

Perseveração: Depois de atingida a sua finalidade, o movimento continua a repetir-se


de forma persistente e desnecessária. É a incapacidade ou a dificuldade
de mudar de uma tarefa para outra. É tipicamente verbal, como uma
repetição inapropriada de uma palavra ou frase fragmentada –
VERBIGERAÇÃO – mas também pode ser física ou motora. Pode aparecer
em estados ansiosos, mas também nas esquizofrenias e doenças
cerebrais orgânicas.

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ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM NEUROLÓGICAS

Disartria: É uma dificuldade em articular palavras.

Disfasia: O doente não é capaz de nomear os objetos embora possa reconhecê-los. Fica
ansioso e utiliza perifasias, ou sejam em vez do nome tenta dizer para que servem
os objetos. É característico de psicossíndrome cerebral orgânico.

Afasia: É uma alteração da fala que resulta da interrupção das conexões transcorticais
das áreas da fala, sensitivas e/ou motoras.

Afasia Sensorial (afasia de Wernicke): O doente é incapaz de compreender o que se lhe diz
apresentando muitas vezes uma logorreia sem sentido.
Há, pois dificuldade na receção da informação. A lesão
localiza-se na 1ª circunvalação temporal.

Afasia Motora (afasia de Broca): O doente compreende o que se lhe diz, mas não é capaz
de responder. Pode apresentar estereotipias verbais. A
lesão localiza-se na 3ª circunvalação frontal ascendente
do hemisfério cerebral dominante, geralmente o
esquerdo.

Ecopraxia: É a imitação de ações motoras simples como, por exemplo, bater palmas, estalar
os dedos. Os doentes em ecopraxia copiam as ações do entrevistador e também
de outras pessoas do seu ambiente, de forma involuntária e inapropriada.

Ecolalia: O doente ecoa uma parte ou tudo o que se lhe diz, repetidas vezes, quer perceba
ou não o que lhe foi dito. Por exemplo, se se falar numa língua totalmente sua
desconhecida, ele ecoa da mesma forma como se tivesse percebida.

ALTERAÇÕES MOTORAS E DA LINGUAGEM PSICÓTICAS

Logoclonia: Nesta caso, é a última sílaba da palavra que o doente repete. Por exemplo:
quando se lhe pergunta “Já comeu hoje?” o doente responde “já comi hoje-je-je-
je…”

Palilália: É repetida uma palavra completa com velocidade cada vez maior e audibilidade
cada vez menor.

Coprolália: Isto é, dizer obscenidades e profanidades de uma forma compulsiva e explosiva.


É frequente nos indivíduos com Síndrome de Gilles de la Tourette, mas também
acontece na Esquizofrenia.

Verbigeração: É a repetição contínua de uma ou mais frases ou séries de palavras fragmentadas.


É impossível compreender o que o doente diz. Por exemplo, “cheguei logo, cão,
comboio, escrevo uma carta, carro, comi, viagem de avião”.

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Neologismos: São palavras inventadas pelo doente, ou palavras vulgares utilizadas por ele com
sentido diferente. São frequentes nos esquizofrénicos.

CONTACTO
Que tipo de contacto estabelece o doente com o clínico?

o Exuberante (ex.: mania, alcoolismo)


o Amigável/cooperante
o Frio
o Hostil
o Deprimido (ex.: lentificado, triste, com grandes pausas no discurso)
o Negativista (ex.: resistência, aparentemente desmotivado/a a qualquer interferência (por exemplo: na esquizofrenia, atraso mental
grane e demência)
o Pode também acontecer que não se possa estabelecer qualquer contacto com o doente,
neste caso poderemos registar no exame mental AUTISMO

Nota: Posso interferir com o meu estado de humor, alterando a minha postura. Por norma a nossa
postura é reflexo do nosso humor. O estado de humor interfere com os músculos, assim como o
contrário, é uma relação bidirecional.

CONSCIÊNCIA E ATENÇÃO
AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA:

Este é um dos aspetos mais importantes no exame mental, uma vez que a valorização de toda a
psicologia pode depender do estado de consciência do doente.

Os sinais ou sintomas de psicofarmacologia têm um significado completamente diferente quando


há ou não alterações do estado de consciência.

Um estado de consciência claro exige que a pessoa tenha nitidamente diante de si aquilo que vê,
o que pensa, que saiba o que quer e o que faz.

Exige consciência do ambiente e do eu

Consciência do ambiente – ORIENTAÇÃO ALOPSÍQUICA

→ Corresponde à orientação no tempo e no espaço e pesquisa-se perguntando a data, o


local ondo o doente se encontra, de onde veio, ect.

Consciência de eu – ORIENTAÇÃO AUTOPSÍQUICA

→ Corresponde à orientação em relação a si próprio e pesquisa-se perguntando marcos de


referência pessoais.

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Na avaliação do estado de consciência é, também, importante avaliar se o doente presta atenção


ao que lhe perguntamos e se responde adequadamente às questões formuladas.

Alterações do estado de consciência e orientação apontam para quadros orgânicos: As alterações


do estado de consciência podem ser originados por causas, como por exemplo

 Tóxicos
 Lesões cerebrais
 Doenças metabólicas
 Reações psíquicas anormais

Contudo, há alterações do estado de consciência que são consideradas normais e que qualquer
pessoa pode experimentar, o sono e o sonho.

Outras situações em que a consciência está alterada:

Lipotímia – ou desmaio
Hipnose – implica também uma alteração do estado de consciência
Estados crepusculares – acontece em certas situações de epilepsia
Estado de estupor – é o estado que antecede ao estado de coma, pois o indivíduo só
reage a estímulos fortes
Coma

A avaliação do estado de consciência é um aspeto muito importante pois a valorização de toda a


psicopatologia que se possa encontrar vai depender essencialmente dele. Por exemplo, sintomas
que poderiam ser classificados de esquizofrénicos, não o poderão ser logo à partida, se o doente
não estiver consciente e orientado. Só quando a consciência está clara é que se pode falar em
alucinações, ideias delirantes e delírios autênticos. Na esquizofrenia não há alteração do estado
de consciência.

ATENÇÃO

A atenção representa a síntese que um determinado indivíduo faz num determinado momento
de todos processos cognitivos. Quando os mecanismos de atenção estão perturbados isso
significa que há sofrimento. As alterações dos processos de atenção traduzem habitualmente
alterações cerebrais.

A atenção pode ser ativa ou passiva.

Atenção Ativa: quando o indivíduo foca a sua atenção em algum acontecimento interno
ou externo.

Atenção Passiva: quando é o acontecimento, interno ou externo, que atrai a atenção do


indivíduo sem nenhum esforço da sua parte.

As duas formas estão intimamente relacionadas pois quanto maior for a atenção ativa, tanto
menor será a passiva; ou seja, para que esta entre em ação a intensidade dos estímulos tem de
ser maior.

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As alterações da atenção ativa, sob forma de distratibilidade ocorrem em várias situações,


nomeadamente, fadiga, ansiedade, depressão, mania, esquizofrenia, estados orgânicos.

Por exemplo, nos doentes deprimidos e ansiosos a atenção ativa está prejudicada ou diminuída;
porque os doentes se focam demasiado nas suas preocupações e problemas, não prestando a
atenção habitual ao que o rodeia. Daí ser frequente estes doentes apresentarem queixas de
dificuldade de concentração e de memória que são de carácter subjetivo, não traduzindo lesões
orgânicas.

Os sinais primários de esquizofrenia são alucinações e delírios. Contudo existem doentes que
possam ter alucinações e delírios e não sejam diagnosticados como esquizofrénicos – a diferença
é que os esquizofrénicos têm um estado de consciência claro, e daí o ponto da consciência e da
avaliação ser tão importante.

HUMOR, AFETIVIDADE E ANSIEDADE


O estado humor será o estado emocional que dura já há algum tempo, constituindo uma
disposição permanente – reativa ou endógena – para reagir aos acontecimentos com uma
determinada espécie de emoção que dá colorido à vida total do indivíduo.
Humor endógeno – traço de humor depressivo, é inerente a uma personalidade que não
é reativa a um dado acontecimento.
Humor sintónico – Quando o indivíduo não tem uma patologia do afeto, diz-se que é
sintónico. Ou seja, é uma alteração do estado de humor, sem a existência de patologia,
por exemplo: um indivíduo estar num enorme estado de euforia por ter ganhado o
euromilhões. Diz-se, portanto, que o humor é adequado ao contexto, está em sintonia.

O humor pode variar entre o:

Pólo tristeza – humor depressivo em que tudo é visto pelo lado negro, nada na vida tem graça,
perda de força e de energia.
A depressão pode ser classificado pela TRÍADE DEPRESSIVA – má visão do eu, dos outros e
do futuro. Vê os outros como não apoiantes e críticos, e o futuro como só trazendo coisas
piores.
Muitos dos sintomas dos depressivos são resultado de processos adaptativos, à exceção
da sua perceção das coisas. A perda de energia, por exemplo, é um fator de manutenção
para o estado depressivo. “Porque é que vai estar a desperdiçar energia se a luta está
perdida?” é o pensamento deste tipo de pacientes.

Pólo de euforia – elação de humor em que se denota uma felicidade intensa, euforia, excesso de
confiança e fuga de ideias. Típico dos quadros maníacos, em que há a libertação de um excesso
de energia.

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Nas perturbações bipolares o que existem não são estes dois polos em simultâneo, mas sim uma
transição de estados maníacos a estados depressivos e vice-versa.
Avaliação do estado do Humor:

 Eutímico (ex.: humor normal, estabilizado)


 Disfórico (ex.: depressivo)
 Apático
 Ansioso
 Zangado
 Eufórico

Humor Depressivo: Caracterizado por desânimo, tristeza, tonalidade negativa persistente e


dor moral
Humor Elevado, Eufórico e Elação: Estado de ânimo elevado, sentimento exagerado de
bem-estar
Humor Eutímio: Caracterizado por um estado de ânimo normal, abrangendo as pequenas
oscilações não patológicas, provocadas por fatores desencadeantes, com
uma reação proporcional ao estímulo
Humor Disfórico: Estado de animo desagradável, com predomínio de sensação de mal-
estar e irritabilidade
Humor Ansioso: Estado desagradável e nervosismo, inquietação, vivência subjetiva de
medo
Humor Lábio: Variações rápidas. Os doentes passam do riso ao choro rapidamente, por
exemplo, síndrome cerebral orgânico e epilepsia
Humor Delirante: O doente sabe que à sua volta se passa algo de estranho, mas não sabe
bem o que é, acha que o que aconteceu não é por acaso e que tem a ver
com ele, com a sua influência (esquizofrenia)

Existem reações ou respostas mal adaptativas em que há uma variação da quantidade, e não da
qualidade, de carga emocional, isto é, são estados emocionais exacerbados:
1. Reações depressivas
2. Euforia
3. Estados ansiosos

REAÇÕES DEPRESSIVAS
É a reação emocional à frustração crónica e ao desapontamento; emoção típica é a tristeza, que
pode ser considerada “normal” quando se segue a uma perda significativa, pode ser considerada
como “anormal” ou patológico, constituindo a depressão neurótica se se prolongar no tempo ou
pode ser gravemente patológica (depressão endógena), quando existe um humor triste mórbido,
associado a sentimentos de desespero, infelicidade e preocupações excessivas podendo atingir
uma intensidade delirante.

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Metáfora da zebra: as respostas de defesa dos animais são


ativadas quando aparece o perigo iminente. Quando esse
perigo desaparece, os animais voltam ao estado de
tranquilidade. Nos humanos não é tanto assim, mesmo
quando o perigo desparece, ficamos a pensar nisso, mesmo
que não tenha efetivamente acontecido nada.

EUFORIA
Pode ocorrer como forma reativa, mas geralmente é patológico, por exemplo podem aparecer
associados a lesões do lobo frontal, esclerose e esquizofrenia hebefrénica.
A perceção de ameaça é um antecedente cognitivo da ansiedade. A ansiedade é um padrão de
respostas complexo que envolve alterações cognitivas, afetivas, fisiológicas, comportamentais e
motivacionais.
A ansiedade é uma reação ou resposta emocional global que apresenta sintomas a três níveis
diferentes (embora interligados):

 Nível vegetativo
Manifestação orgânica da ansiedade.
 Nível motor
Corresponde às manifestações de ansiedade visíveis a nível do comportamento.
 Nível cognitivo
Refere-se aos pensamentos do doente, isto é, uma preocupação constituída por uma
sucessão de pensamentos dolorosos, desagradáveis que se traduzem, geralmente, num
medo difuso perante perigos reais ou imaginários.
A ANSIEDADE ENQUANTO RESPOSTA EVOLUCIONÁRIA ADAPTATIVA.
Muitos dos doentes que chegam até nós, a primeira coisa que nos pedem é que os ajudemos a
deixar de sentir a ansiedade.
Em estados de perigo apresentamos respostas automáticas, sobre as quais não temos influência.
Quando há perceção de ameaça, quer seja um perigo físico ou psicológico, há uma ativação, uma
tensão muscular que nos prepara para responder em termos comportamentais.
Luta, fuga ou congelamento são os três tipos de resposta do nível motor à sensação de
ansiedade/perigo iminente.
A ansiedade tem um papel adaptativo na nossa vida, não é agradável sentirmo-nos ansiosos, mas
tem uma função adaptativa. Só em casos de ansiedade extrema é que o dia a dia do indivíduo
começa a ser afetado pela negativa.

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A experiência de graus ligeiros de ansiedade em situações sociais é um fenómeno frequente, e


não impede um funcionamento social adequado podendo mesmo em certos casos ter até um
efeito benéfico no desempenho social.
A ansiedade deve ser conceptualizada como uma dimensão com uma variação de grau:

→ Desde um grau ligeiro e/ou moderados: comum a todos os humanos e em consonância


com determinados contextos, assumindo possíveis funções reguladoras do
comportamento social
→ Até a graus extremos: com interferência negativa e significativa no desempenho social e
no funcionamento psicossocial do indivíduo

1. A ansiedade representa legado evolucionário e a sua importância para a adaptação e


sobrevivência não deve ser subestimada dado o papel vital que a ansiedade desempenha
na sobrevivência do organismo
2. Existe uma continuidade entre ansiedade normal e a patológica, sendo uma diferença
mais de grau do que de tipo
3. A diferença reside essencialmente em que na ansiedade patológica há uma perceção
enviesada e sobreavaliada de ameaça ou perigo, enquanto na ansiedade normal há uma
correspondência mais estreita entre a avaliação de ameaça e os perigos objetivos do
meio ambiente
Nas perturbações ansiosas existe um enviesamento seletivo no processamento de informação
ameaçadora a nível da atenção, interpretação e memória.

PENSAMENTO
Podemos definir como pensamento normal aquele que atinge diretamente o objetivo a que se
propõe, através de uma ideia diretriz idealizada. As alterações do pensamento podem ser:
▪ Do curso
▪ Da forma
▪ Da posse
▪ Do conteúdo

ALTERAÇÕES DO CURSO DO PENSAMENTO


Designa-se de taquipsiquia a sucessão rápida de pensamentos e de bradipsiquia uma lentificação
do curso do pensamento.
Alterações do curso do pensamento:
 Fuga de ideias (taquipsiquia)
Caracteriza-se por uma sucessão rápida de pensamentos, sem direção, sendo a
associação de ideias feita por relações ocasionais, semelhanças, provérbios, ditados
antigos. Apesar desta alteração do pensamento, geralmente é possível compreender o
conteúdo do discurso. No entanto, em casos mais graves o discurso pode tornar-se
incoerente e incompreensível. É uma alteração do curso do pensamento típica dos
doentes maníacos, ocorre também na esquizofrenia e em estados orgânicos.
 Inibição do pensamento (bradipsiquia)

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O número de ideias e imagens mentais está diminuído sendo o curso lento. O doente
expressa este sintoma, usualmente, dizendo ter dificuldade em tomar decisões e em se
concentrar ou prestar atenção.
 Bloqueio do Pensamento (bradipsiquia)
O curso do pensamento é interrompido, subitamente, não voltando ao ponto de
paragem, podendo surgir depois de um outro pensamento totalmente novo. Bloqueios
sucessivos podem dar origem ao “descarrilamento” de ideias, isto é, pensamento
saltitante (típica dos doentes com esquizofrenia).
 Pseudo-bloqueios
Alterações do curso do pensamento que ocorrem em pessoas exaustas e ansiosas
quando perdem o “fio da conversa”, parecendo bloquear, mas apercebem-se disso
dizendo muitas vezes “esqueci-me do que ia dizer”. Nestes casos, geralmente, retomam
algum tempo depois a sua linha de pensamento. Estes fenómenos não são verdadeiros
bloqueios, podendo designar-se de “pseudo-bloqueios”.

O pensamento, sem alteração de forma, atinge diretamente os seus objetivos através de uma
diretriz adequada.

ALTERAÇÕES DA FORMA DO PENSAMENTO


→ Perseverante
As operações mentais persistem para além do ponto me que estão relevantes, ou seja,
há uma ideia sobrevalorizada que emerge, sistematicamente, em detrimento de todas as
outras instituindo-se como diretriz inapropriada. Pode assumir a forma de preocupação
excessiva ou ruminação. É muito frequente nas alterações cerebrais focais ou
generalizadas podendo também aparecer na depressão.

→ Circunstancial
Caracteriza-se pelo excesso de detalhes e informações pouco importantes, prejudicando
o processo de comunicação dos aspetos essenciais. O pensamento atinge o seu objetivo,
mas até lá vai-se processando, lentamente, com muitos detalhes triviais e
desnecessários. Parece traduzir egocentrismo. Frequente em indivíduos com
esquizofrenia e perturbação obsessivo-compulsivo. Graus moderados também podem
encontrar-se em personalidades obsessivas e em pessoas sem
psicopatologia. O discurso traduz uma incapacidade de distinguir o
essencial do supérfluo, sendo incluídos inúmeros detalhes inúteis ou
outros elementos como rimas, provérbios, trocadilhos.

→ Tangencial
O pensamento foge sistematicamente do objetivo, mas pelas respostas que o doente dá
posteriormente infere-se que o indivíduo compreendeu o que lhe foi questionado.
Alguns doentes com esquizofrenia apresentam esta alteração na forma do pensamento
utilizado, por vezes, para-respostas (respostas “ao lado”). Alteração
do pensamento semelhante ao circunstancial, mas em que o
raciocínio não atinge o objetivo.

→ Sobrinclusivo
O doente não é capaz de estabelecer os limites dos conceitos, trazendo material
irrelevante que prejudica as operações mentais. É uma alteração muito característica dos

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doentes com esquizofrenia. Há a introdução de elementos completamente diferentes


com o discurso.

→ Incoerente ou desagregado
Não existe qualquer articulação lógica do pensamento. Encontra-se em doentes com
síndrome cerebral orgânico e em doentes com esquizofrenia que apresentam
deterioração das competências cognitivas.

→ Pressão do Pensamento
É caracterizado pela sensação de que ocorrem à mente um grande número de
pensamentos ou ideias. Os pensamentos são rápidos, abundantes e variados. É frequente
na esquizofrenia.

ALTERAÇÕES DA POSSE DO PENSAMENTO


O normal do indivíduo experimentar os seus pensamentos como sendo seus, tendo a perceção
de que é ele que os controla. Em algumas doenças psiquiátricas existe uma perda do controlo ou
sentido de posse do pensamento.
❖ Obsessão
É a incapacidade do indivíduo se libertar de um conteúdo da consciência, embora quando
este ocorre ele saiba que é absurdo ou sem sentido, este persiste sem causa e Cintra a
sua vontade, originando-lhe grande ansiedade e despertando luta interna.
As obsessões têm cinco características essenciais:
▪ Emanam o próprio eu
▪ Impõem-se contra a vontade do indivíduo
▪ Despertam a luta interna
▪ Tem um conteúdo absurdo ou falta de sentido
▪ Tem tendência à iteração ou repetição
Os pensamentos intrusivos estão na base das obsessões (?), para que não se torne
obsessão, devemos aceitá-los.
As obsessões são definidas por:
1. Pensamento, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são
experimentadas como intrusivos e inapropriados e que provocam ansiedade ou
mal-estar intenso
2. A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou
neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação
As obsessões associam-se, frequentemente, a rituais compulsivos caracterizando a
perturbação obsessivo-compulsivo. Também podem ocorrer na depressão, esquizofrenia
e, mais raramente, em quadros orgânicos, principalmente, pós-encefalíticos.

❖ Fobia
É um medo irracional, de um objeto, atividade ou situação que origina um desejo
irresistível para evitar o objeto, atividade de situações temidos (estímulos fóbicos).
O indivíduo reconhece que o seu medo é excessivo ou desproporcionado em relação ao
perigo real que representam os estímulos temidos.

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Caracteriza a perturbação de fobia específica ou fobia social.

❖ Inserção, roubo ou divulgação


Alienação do Pensamento
O doente experimenta os seus pensamentos como estando sob controlo das
forças exteriores ou tem a sensação de que outros participam dos seus pensamentos. A
alienação do pensamento é característica da esquizofrenia devendo-se à perda das
fronteiras do EU e o ambiente circundante.
É totalmente diferente das obsessões, pois neste caso o doente não encara os
pensamentos como estranhos a si nem como estando fora do seu controlo, embora
apareçam contra a sua vontade.
Poderá dizer-se que tem pensamentos estranhos, vindos de fora, que lhe são
impostos por alguém que os insere na sua cabeça – INSERÇÃO DE PENSAMENTO – ou que à
medida que pensa os pensamentos são retirados por influências externas – ROUBO DO
PENSAMENTO – ou ainda que toda a gente sabe o que ele pensa – DIVULGAÇÃO DO
PENSAMENTO.
No roubo e divulgação do pensamento, à medida que o doente pensa, outros
pessoas lhe roubam os pensamentos sendo estes, assim, divulgados.

Alterações do conteúdo do pensamento


As alterações do conteúdo do pensamento são constituídas por delírios, definidos como
falsas crenças inabaláveis e em desacordo com o passado cultural e social ou história do
indivíduo (não suscetíveis à argumentação lógica).
Delírio = crença errónea que é vivida com convicção absoluta e que não cede ao
raciocínio ou à argumentação lógica
Propriedades do delírio:
• Certeza – mantida com absoluta convicção
• Incorrigibilidade – não passível de mudança por força de contra-argumentação
ou prova em contrário
• Implausabilidade ou falsidade do conteúdo – impossibilidade, bizarro ou
patentemente inverídico
Podemos distinguir dois tipos de delírios:

1. Os delírios primários
Aquele que não está associado a qualquer acontecimento psicopatológico prévio
(que não podem ser compreendidos a partir de qualquer outro fenómeno
psicológico mórbido). São característicos dos quadros da Esquizofrenia, podem
também surgir em estados orgânicos, principalmente na psicose epilética

Os verdadeiros delírios têm origem em experiências delirantes primárias que não


podem ser deduzidas de nenhum outro fenómeno mórbido

2. Os delírios secundários
Surgem como resultado de uma elaboração psicológica prévia ou eventualmente
em função do humor. Isto é, estes delírios surgem no seguimento de uma
alucinação, humor alterado ou outro delírio, sendo frequente nas psicoses e
algumas depressões graves.
Por exemplo, é a partir de experiências de roubo e divulgação do pensamento
que depois o doente estrutura os delírios na tentativa de explicar a origem. Pode

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dizer que resultam de feitiçaria, de raios atómicos, implantação de microchips,


de telepatia, etc.

Os temas ou conteúdos dos delírios são variados e consoante sejam profusos ou


não assim dizemos que o delírio é rico ou pobre.
Delírios:

✓ Grandeza
Ideia de ser possuidor de poderes e qualidades superiores. É mais
frequente em doenças do espectro da esquizofrenia, na mania, na
paralisia geral.
✓ Ciúme
Podem levar a comportamentos agressivos perigosos para a pessoa que
o doente crê ser infiel. É mais frequente no alcoolismo e na paranoia.
✓ Culpa
Doente sente que cometeu um erro irreparável, vergonhoso e merce
todos os castigos, embora para as outras pessoas seja um erro sem
importância. É mais frequente nas depressões graves.
✓ Ruína
Inclui crenças de que tudo está a chegar ao fim, em relação à profissão,
ao mundo ou à situação económica. É mais frequente nas depressões
graves. Alguns doentes deprimidos podem dizer que já nada existe, que
perderam tudo, que parte do seu corpo está apodrecido ou que eles
próprios já estão mortos – DELÍRIO DE COTARD
✓ Místicos
O indivíduo crê que foi escolhido para cumprir uma determinada missão
encomendada pela divindade
✓ Eróticos / Erotomaníacos
O indivíduo crê que é amado por alguém com quem nunca falou ou que
é inacessível
✓ Persecutórios
Ideia de que pessoas ou organizações estão a tentar fazer mal ao doente,
difamá-lo ou a tentar enlouquecê-lo *
✓ Autorreferenciais
O indivíduo crê que tudo o que acontece no mundo é especialmente
dirigido a si
✓ Outros

*”os meus colegas de trabalho conspiravam contra mim e têm a intenção de


me matar” – Persecutórios
“vou revelar os 80% da atividade cerebral desconhecida, para dar 100% de
capacidades intelectuais aos pobres humanos” – grandiosidade

Todos estes tipos de delírios podem ocorrer na Esquizofrenia, sendo,


contudo, os mais frequentes, nesta condição clínica os delírios de carácter
persecutório e autorreferencial.

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As ideias delirantes podem agrupar-se, logicamente, a partir de um erro


inicial, constituindo se assim um delírio sistematizado. Quando se articulam
mal dizemos que o delírio é insistematizado ou mal sistematizados. O mal
sistematizado surge na fase inicial da esquizofrenia e outras psicoses agudas.
O delírio bem sistematizado aparece em desenvolvimentos de quadros de
esquizofrenia paranoides adiantados.
Perceção delirante é um sinal de primeira linha para o diagnóstico de
esquizofrenia. É caracterizada pela atribuição de um significado falso, novo
e completamente injustificado a uma perceção normal, isto é, é uma
experiência, sempre primária, que consiste na atribuição de um novo
significado, geralmente no sentido autorreferencial, a um objeto percebido
normalmente. Esse novo significado não se compreende como originário do
estado afetivo do doente ou de atitudes prévias. Deve ser distinguida da
interpretação delirante.

Perceção Delirante  Um amigo oferece uma bebida a um doente. Este vê


que é uma cerveja (perceção correta), mas imediatamente foge convicto de
que o amigo o está a acusar de ser um criminoso e o vai denunciar.
Interpretação Delirante  Um doente, que tem um delírio persecutório, ao
ouvir ranger as escadas afirma que é um detetive a espiá-lo.

PERCEÇÃO
A perceção é o conhecimento do mundo, do meio ambiente e do próprio meio somático a partir
dos dados sensórias, ou seja, dos órgãos dos sentidos. A perceção tem um carácter objetivo e é
independente da vontade.
Enganos Sensoriais:
Ilusões
Alucinações

Ilusões
Estímulos de um objeto são percecionados e combinados com uma imagem mental de modo a
produzir uma perceção falsa, diz-se que é uma perceção incorreta de um estímulo externo. Existe
por isso uma perceção normal, mas o estado emocional ou outras circunstâncias vão transformar
esta perceção. Em si mesmas não são patológicas podendo ser corrigidas pelo indivíduo.
Exemplo: Uma pessoa que anda à noite numa rua escura, como não distingue
corretamente o que a rodeia e vai algo receosa pode interpretar sombras
inofensivas como pessoas ameaçadoras. As ilusões também são
frequentes em doentes delirantes.

Alucinações
A alucinação vem de “dentro” do indivíduo embora ele lhe reaja como se fosse uma verdadeira
perceção vinda de fora. Perceção sem objeto que ocorre na mente, ou de um outro modo, é um
aperceção experienciada na ausência de um estímulo externo no órgão sensorial

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correspondente. Ocorrem como na perceção verdadeira, só que provêm de dentro, embora o


sujeito reaja como se fosse uma perceção verdadeira vinda de fora. As alucinações podem ocorrer
em qualquer modalidade de sentido:
▪ Auditivas*
▪ Visuais
▪ Olfativas
▪ Gustativas
▪ Tácteis

*São as mais frequentes. Podem ser:

→ Elementares
Correspondendo a ruídos
→ Parcialmente Organizadas
Formando padrões de música ou melodias
→ Completamente Organizadas
Correspondendo a vozes. Estas vozes podem ser imperativas, comentarem ou falarem
entre si, a aina, corresponderem a sonorização do pensamento

Os deprimidos, com delírio de culpa, podem ouvir vozes reprovadoras, que não são contínuas
como na esquizofrenia, constituídas por uma ou duas palavras ou frases muito curtas e ditas,
geralmente, na 2ª pessoa, como, por exemplo “Patife”, “Não prestas”, “Mata-te”, etc. Se um
doente, que parece deprimido, ouve vozes contínuas e persistentes deve suspeitar-se de
esquizofrenia ou doença orgânica.

As alucinações auditivas típicas no quadro clínico da Esquizofrenia são:


Um tipo de alucinação auditiva, que é um sinal primário de esquizofrenia, é o eco do pensamento.
Consiste em ouvir os próprios pensamentos falados em voz alta.
Na divulgação e roubo do pensamento, à medida que o doente pensa, outras pessoas roubam-
lhe os pensamentos sendo estes, assim, divulgados.

As alucinações Visuais podem ser:


As alucinações visuais, embora também possam aparecer na esquizofrenia, são mais frequentes
em estados orgânicos agudos. No delirium tremes é frequente os doentes verem animais, tais
como ratos, insetos, aranhas, cobras – alucinações zoópsicas.
Podem ser:
→ Elementares
Corresponde a flashes ou pontos luminosos
→ Parcialmente Organizadas
Formando padrões, retas, formas ou contornos
→ Completamente Organizadas
Correspondendo à visualização de pessoas. No caso destas alucinações podemos ter
algumas formas particulares:

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 Alucinações Oflativas - são muito raras, correspondendo habitualmente


a patologia orgânica, ou no caso particular das Depressões Graves, em
que pode existir a sensação constante de cheiro a podre oriundo do
próprio.
Alucinações do olfato podem ocorrer na esquizofrenia, em estados
orgânicos e, mais raramente, nos deprimidos. Por vezes, podem anunciar
uma crise convulsiva epilética;
 Alucinações Gustativas - são de difícil interpretação, ocorrem na
esquizofrenia e em estados orgânicos agudos;
Tácteis* – em que existem alterações ao nível do tato;
Os doentes sentem que animais passeiam pelo corpo. Podem
aparecer na esquizofrenia, estados orgânicos e na psicose por
cocaína.
Somáticas* - que consistem em torções corporais ou dores
violentas que os doentes descrevem de forma bizarra. Por
exemplo,” Sinto que me arrancam os órgãos e me rasgam a
carne”.

 Alucinações Funcionais - apenas presentes na presença de um estímulo


específico; Por exemplo, o doente que ouve o relógio bater e ao mesmo
tempo a voz de Deus, concluindo que Deus fala com ele através desse
som.
 Alucinações Reflexas - um estímulo num campo sensitivo produz uma
alucinação noutro; Por exemplo, o doente que ao ouvir um espirro sente
dor de cabeça estando convencido que é o espirro que provoca a dor de
cabeça.
*Podemos ter:
o Cenestésicas ou Viscerais, sensações profundas dos órgãos internos ou de alteração da
posição dos mesmos;
o Cinestésicas, relacionadas com movimento dos músculos e articulações;

Existem alguns tipos especiais de alucinações, dos quais destacamos:

 Alucinações Extra-Campicas - surgem fora do campo visual; Por exemplo, o dente que
olha ao longe e diz ver alguém atrás de si;
 Alucinações Autoscópicas - ou seja, a pessoa visualiza-se a si própria, mas não como na
imagem em espelho.

As principais causas de alucinações são alterações dos órgãos sensoriais, privação de sentidos,
afeções do Sistema Nervoso Central, substâncias tóxicas alucinogénicas, emoções intensas,
sugestão e também a privação de sono.
Estas alterações podem ser devidas a perturbações da perceção, da memória, da consciência, a
atividade delirante, a perturbações do afeto e lesões orgânicas. Envolvem toda a personalidade
do indivíduo predominando na esquizofrenia. A maior parte dos sintomas esquizofrénicos são
aspetos da perda dos limites entre o EU e a realidade. Muitas destas alterações já foram descritas

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nas secções anteriores (alienação do pensamento, perceção delirante, experiências de


passividade ou influência).

Outras alterações da estrutura do EU:

→ Despersonalização - É a perda da identificação espacial de si próprio. O indivíduo não


toma consciência da sua própria atividade, julgando-se uma pessoa diferente, sente-se
desligada ou diz sentir-se um robot;

→ Desrealização - É uma sensação de irrealidade do mundo exterior, em que existe um


reconhecer da realidade onde se encontra, no entanto a existe a sensação de que algo
está diferente, vive as situações com uma sensação de irrealidade; é mesma coisa que a
despersonalização, mas é em relação ao mundo;

→ Autonegação - o individuo nega existir, nega a sua própria existência (acontece na


esquizofrenia e na depressão muito profunda);

MEMÓRIA
Memória consiste na capacidade de adquirir, reter e utilizar uma experiência vivenciada. A
memória compreende três fases:
1. Fase de fixação e conservação: a experiência vivenciada é armazenada e
conservada;
2. Fase de evocação: a vivência é recordada;
3. Fase de reconhecimento: a memória é identificada e atualizada na vivencia
presente;

Existem fundamentalmente dois tipos de memória:


- A memória de curto prazo (fixação)
- A memória de longo prazo (evocação)

Avaliação:
Para avaliar a memória de fixação pode-se indicar 2 ou 3 objetos, palavras ou cores e pedir ao
doente para repetir imediatamente depois.
A memória de evocação pode avaliar-se ao longo da entrevista através do questionamento acerca
de dados da história pessoal do doente (ex.: datas pessoais importantes, tratamentos prévios) ou
de outros acontecimentos importantes, como datas ou nome de figuras históricas).

As principais alterações de memória são:


→ Amnésia: incapacidade total ou parcial para recordar experiências passadas e pode ser
de origem orgânica ou emocional;
→ Paramnésia: falsificação ou ilusão da memória pela distorção da recordação;
→ Hipermnésia: grau exagerado de retenção e recordação de experiências passadas

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AMNÉSIAS:
Há amnésias orgânicas e psicogénicas podendo as últimas ser catatímicas, histéricas e ansiosas.
Relacionam-se com situações com grande carga emocional. Nas catatímicas o indivíduo reprime
memórias para tentar evitar o sentimento desagradável que elas produziriam.
São mais frequentes em indivíduos que sofrem patologia neurótica, mas também podem ocorrer
em pessoas saudáveis, correspondendo geralmente a uma amnésia parcial.
Amnésias orgânicas - devem-se a alterações da perceção e atenção e também à incapacidade de
um registo permanente. Por exemplo, no traumatismo craniano a amnésia quando abrange
acontecimentos anteriores designa-se retrógrada; A amnésia antrógrada resulta da incapacidade
de fazer registos permanentes o que acontece em muitos estados orgânicos agudos. O doente
parece estar em plena consciência, mas não recorda os factos que vão ocorrendo.

PARAMNÉSIAS:
Distorções patológicas da memória, caracterizadas pelo facto de o sujeito confundir simples
representações com recordações autênticas. Falsas recordações subsistem aos factos reais que
não são recordados. As distorções da memória são alterações qualitativas.
Saliente-se as confabulações que são falsas recordações são falsas memórias com que o doente
preenche as suas lacunas amnésicas. Na paramnésia do reconhecimento, existem falsos
reconhecimentos, como fenómenos de déjá-vu e dejá-vecu.

ALTERAÇÕES QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS:


Nas demências há perda de memória para acontecimentos recentes e só mais tarde há perda de
memória de acontecimentos remotos. Aqui as alterações são quantitativas. As dismnésias ou
distorções de memória são alterações qualitativas. Salientam-se as confabulações que consistem
em falsas memórias, em que o doente preenche as suas lacunas mnésicas.

AVALIAÇÃO:
Memória Recente: “Pode dizer-me o seu nome?” “Que tipo de medicação fez hoje?” “Para que
horário estava agendada a nossa consulta hoje?”
Memória Remota: “Onde estava no dia 25 de Abril?” (Para doentes com idade > 45 anos) “Onde
e em que ano casou/licenciou?”
Memória Imediata ou de novas aprendizagens: “Vou dizer-lhe 3 cores e daqui a 5 minutos vou
pedir-lhe para repetir essas cores”.

INTELIGÊNCIA
A inteligência refere-se basicamente à totalidade das habilidades cognitivas (de pensar e agir) do
indivíduo e representa a eficiência global das capacidades cognitivas.
Alterações da inteligência existem, fundamentalmente, em dois grupos de patologias: nas
demências (nas quais o déficit intelectual é alcançado um determinado nível de inteligência) e
nas oligofrenias (onde ocorre pela interrupção do processo de desenvolvimento).

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Avaliação:
Na prática, a inteligência mede-se testando a capacidade do indivíduo para resolver verbal ou
não-verbalmente problemas e formar conceitos, usando palavras, números, símbolos ou ações.

FUNÇÕES BIOLÓGICAS VITAIS


São a fome, a sede, o sono, a líbido e o instinto de conservação.

ALTERAÇÃO DO APETITE/FOME
→ Diminuição;
→ Aumento;
→ Alterações do padrão alimentar (não culturalmente esperadas)

A diminuição ou perda de apetite/restrição alimentar severa é um sintoma muito frequente nos


quadros clínicos de anorexia nervosa e de depressão.
Em depressões atípicas pode haver polifagia, episódios de ingestão compulsiva e aumento de
peso. Há ainda doentes que apresentam caprichos alimentares, selecionando cuidadosamente os
alimentos, e outros com aberrações alimentares (ex.: pica), principalmente esquizofrénicos e
dementes. A aberração mais conhecida e a coprofagia (o doente come as próprias fezes).

Alteração da sede
Alterações da sede são, com mais frequência, de origem orgânica, mas também pode existir
polidipsia isolada em alterações psiquiátricas.
Polidipsia consiste em apresentar sede em demasia e, como consequência, uma tendência
incontrolável de ingerir líquidos, geralmente água; Os pacientes com essa condição podem
chegar a beber dez litros de líquido por dia e podem desenvolver hiponatremia (deficiência
orgânica de sódio), em que a concentração de sódio no sangue fica muito baixa.
Existe uma polidipsia psicogénica (potomania), na qual os pacientes têm um desejo compulsivo
de beber quantidades excessivas de água. A potomania resulta sempre de alguma desordem
mental, tais como esquizofrenia, anorexia nervosa, perturbação bipolar ou depressão. A razão
pela qual esses pacientes desenvolvem uma sede insaciável ainda não é bem conhecida, mas
parece resultar de desequilíbrios neuro químicos associados a essas doenças.

Alteração do sono
A insónia é a dificuldade em conciliar o sono ou permanecer adormecido, ou uma alteração no
padrão do sono que, ao despertar, leva à perceção de que o sono foi insuficiente O sono está
prejudicado em quase toda a patologia psiquiátrica.
A insónia inicial (dificuldade em iniciar o sono) é frequente em doentes com preocupações
ansiosas (e.g., doentes com perturbações ansiosas e doentes com perturbações obsessivas; A

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insónia terminal (acordar de madrugada) é mais típica da depressão endógena também se pode
denominar de insónia intermédia quando o doente acorda a meio da noite; Na depressão atípica
pode existir hipersónia queixando-se o doente de dormir mais do que o seu habitual.
Existem outras variantes de perturbações do sono: sono leve, interrompido por sonhos
desagradáveis e pesadelos, sono demasiado profundo, insónia quase total, sonambulismo,
soníloquos (falar de noite), bricomania (ranger os dentes), enurese noturna, ritmo de sono
invertido, etc., sendo este último frequente no síndrome cerebral orgânico -os doentes dormem
de dia e agitam-se a noite.

Alteração da líbido
A líbido pode estar aumentada nos doentes maníacos e diminuída ou ausente nos doentes
deprimidos. Para além destes quadros clinicamente mais frequentes a libido encontra-se
alterada, em grau variável, em muitas outras situações, como, por exemplo, em certos síndromes
cerebrais orgânicos e neuroses.
Podem existir também alterações da pragmática sexual ejaculação precoce, disfunção erétil e
orgástica, entre outras - o que ocorre com mais frequência em indivíduos com problemas de
natureza ansiosa, devendo sempre pesquisar-se patologia orgânica, principalmente em casos de
impotência primária.

Alteração do instinto de conservação


O instinto de conservação está alterado em todos os doentes que manifestam tendências
suicidas, como por exemplo, nas depressões, psicoses ou nas perturbações de personalidade.

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MÓDULO II

PERTURBAÇÕES DA PERSONALIDADE
Conceito de traços de personalidade: Os traços de personalidade são características amplas e
duráveis que tornam o comportamento humano relativamente consistente em diferentes
circunstâncias, possibilitando uma compreensão mais concreta e singular da sua personalidade.

Traços de personalidade versus Perturbações da personalidade


Se os traços de personalidade são padrões persistentes de perceção, de relacionamento e de
pensamento sobre o próprio, os outros e o ambiente que são apresentados em diversos
contextos pessoais e sociais, estes traços de personalidade constituem Perturbações da
Personalidade quando são mal adaptativos, inflexíveis que provocam sofrimento e têm um
impacto negativo significativos.

Perturbações da Personalidade:
Uma Perturbação da Personalidade carateriza-se por um padrão persistente de experiência
interna e de comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do
indivíduo. É um padrão:
→ Difuso e inflexível
→ Com início na adolescência ou fase adulta jovem
→ É estável ao longo do tempo
→ Provoca sofrimento ou prejuízo significativo

Grupos ou Clusters
As Perturbações da Personalidade (PPs), de acordo com a classificação do DSM 5 estão
organizadas em três grupos/clusters, com base nas suas caraterísticas semelhantes.

O Grupo A inclui as PP Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica.


A Indivíduos com estas PPs frequentemente parecem esquisitos ou
excêntricos.

O Grupo B inclui as PP Antissocial, Borderline, Histriónica e Narcisista.


B Indivíduos com estas PPs tendem a parecer dramáticos, emotivos ou
erráticos.

O Grupo C inclui as PP Evitante, Dependente e Obsessivo-compulsiva.


C Indivíduos com estas PPs parecem excessivamente ansiosos ou
medrosos.

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Critérios gerais segundo DSM 5:


A. Um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo.
Esse padrão manifesta-se em duas (ou mais) das seguintes áreas:
1. Cognição (i.e., formas de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e eventos)
2. Afetividade (i.e., variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional)
3. Funcionamento interpessoal.
4. Controlo de impulsos

B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma faixa ampla de situações pessoais e


sociais.

C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no


funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

D. O padrão é estável e de longa duração, e seu surgimento ocorre pelo menos a partir da
adolescência ou do início da fase adulta.

E. O padrão persistente não é mais bem explicado como uma manifestação ou


consequência de outra perturbação mental.

F. O padrão persistente não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (por
exemplo: droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (por exemplo:
traumatismo).

O diagnóstico das Perturbações de Personalidade exige avaliação dos padrões de funcionamento


de longo prazo do indivíduo, e as características particulares da personalidade devem estar
evidentes no início da fase adulta. Os traços de personalidade que definem estas perturbações
devem também ser diferenciados das características que surgem em resposta a acontecimentos
de vida stressores ou estados mentais mais transitórios (por exemplo: perturbações depressivas
ou ansiosas, intoxicação por substância). Para o diagnóstico é necessário avaliar a estabilidade
dos traços de personalidade ao longo do tempo e a sua generalização a diferentes contextos.

Diagnóstico
O diagnóstico das Perturbações de Personalidade é um processo complexo e pode ser dificultada
pelo facto de o indivíduo não reconhecer estas características, que definem uma Perturbação de
Personalidade, como problemáticas. Para ajudar a superar esta dificuldade, o recurso a
informações suplementares oferecidas por outros informadores (pessoas significativas) podem
ser muito úteis.

Desenvolvimento e curso
As características de uma Perturbação da Personalidade costumam tornar-se reconhecíveis
durante a adolescência ou no início da vida adulta.
As Perturbações da Personalidade podem ser aplicadas em crianças ou adolescentes nos casos
(relativamente raros) em que os traços mal adaptativos da personalidade são difusos,
persistentes e não estão associados a um determinado estágio do desenvolvimento ou

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perturbação mental. Para que uma Perturbação da Personalidade seja diagnosticado em um


indivíduo com menos de 18 anos de idade, as características devem estar presentes pelo menos
há um ano. A única exceção diz respeito à Perturbação de Personalidade Antissocial, que não
pode ser diagnosticado em indivíduos com menos de 18 anos.
Critérios DSM 5: No manual de diagnóstico DSM 5 são, ainda, descritos critérios diagnósticos
específicos para cada uma das Perturbações de Personalidade.

(1) Perturbação da personalidade paranoide (A)


(2) Perturbação da personalidade esquizoide (A)
(3) Perturbação da personalidade esquizotípica (A)
(4) Perturbação da personalidade antissocial (B)
(5) Perturbação da personalidade borderline (B)
(6) Perturbação da personalidade histriônica (B)
(7) Perturbação da personalidade narcisista (B)
(8) Perturbação da personalidade evitante (C)
(9) Perturbação da personalidade dependente (C)
(10) Perturbação da personalidade obsessivo-compulsiva (C)

Perturbações da Perturbações da Perturbações da


Personalidade Paranoide Personalidade Esquizoide Personalidade Esquizotípica

Cluster A – Perturbações de Personalidade Paranoide

Características Clínicas:
A característica essencial da Perturbação de Personalidade Paranoide é um padrão de
desconfiança e suspeição em relação aos outros, traduzindo-se por uma constante interpretação
das motivações ou ações dos outros como malévolas e perigosas. Esse padrão começa no início
da vida adulta e está presente em contextos variados.
Estes indivíduos suspeitam e questionam a lealdade ou confiança de amigos ou sócios, mesmo
na ausência de evidências que suportem tal desconfiança. Examinam minuciosamente as ações
destes (amigos e/ou colegas) em busca de evidências de intenções hostis.
Qualquer desvio percebido da confiança ou lealdade serve de apoio a seus pressupostos
subjacentes.
Tendem a interpretar significados ocultos e ameaçadores em comentários ou eventos benignos.
Por exemplo, um indivíduo com esta PP Paranoide pode interpretar como desonesto um erro
honesto e sem intenção de um funcionário de uma loja como uma tentativa deliberada de dar

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troco a menos ou entender um comentário bem-humorado de um colega de trabalho como um


ataque pessoal sério, ou ainda elogios como tentativas de manipulação.
Estes indivíduos podem ser patologicamente ciumentos, muitas vezes suspeitando de que o
parceiro é infiel, mesmo sem qualquer justificação objetiva. Podem reunir "evidências" triviais e
circunstanciais que apoiem suas crenças de ciúme. Desejam manter controlo total das relações
íntimas para evitar serem traídos e podem constantemente questionar as ações, as intenções e
a fidelidade do cônjuge ou parceiro.
Tendem a ser rápidos no contra-ataque e reagem com raiva aos insultos ou suspeitas percebidas,
sob a forma de argumentações ofensivas, queixas recorrentes, indiferença ou hostilidade.
Características associadas:
o São geralmente de difícil convivência;
o Tendem a provocar uma resposta hostil nos outros;
o São rígidos, críticos em relação aos outros e incapazes de trabalhar em conjunto;
o Apresentam dificuldades severas no estabelecimento de relações íntimas;
Nota: Traços paranoides podem ser adaptativos, particularmente em ambientes ameaçadores.
As Perturbações de Personalidade Paranoide deve ser diagnosticado apenas quando tais traços
são inflexíveis, mal adaptativos e persistentes, causando prejuízo funcional ou sofrimento
subjetivo significativos.
Um padrão de desconfiança e suspeita difusa em relação aos outros, de modo que suas
motivações são interpretadas como malévolas, que surge no início da vida adulta e está presente
em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
1. Suspeita, sem suporte suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por
outros.
2. Preocupação, com dúvidas injustificadas, acerca da lealdade ou da confiabilidade de
amigos e sócios.
3. Relutância em confiar nos outros devido a medo infundado de que as informações serão
usadas de forma malévola contra si.
4. Percebe significados ocultos humilhantes ou ameaçadores em comentários ou eventos
benignos.
5. Guarda rancores de forma persistente (i.e., não perdoa insultos, injúrias ou desprezo).
6. Percebe ataques a seu caráter ou reputação, que não são percebidos pelos outros, e
reage com raiva ou contra-ataca rapidamente.
7. Tem suspeitas recorrentes e injustificadas acerca da fidelidade do cônjuge ou parceiro
sexual.
Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo
com sintomas psicóticos ou outro transtorno psicótico e não é atribuível aos efeitos fisiológicos
de outra condição médica.

Diagnóstico Diferencial:

A Perturbação de Personalidade Paranoide não deve ser diagnosticado se o padrão de


comportamento ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, perturbação bipolar
ou depressiva com sintomas psicóticos ou outro transtorno psicótico ou se é atribuível aos efeitos
fisiológicos de uma condição neurológica (p. ex., epilepsia do lobo temporal) ou a outra condição
médica.

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Cluster A – Perturbações de Personalidade Esquizoide

Características Clínicas:
A característica essencial da Perturbação de Personalidade Esquizoide é um padrão difuso de
distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de emoções em contextos
interpessoais. Estes indivíduos tendem a parecer ser socialmente isolados ou "solitários “,
preferindo ficar sozinhos e demonstrando pouco desejo de intimidade ou em fazer parte de uma
família ou de outro grupo social Frequentemente estes indivíduos não têm amigos próximos ou
confidentes, exceto um possível parente de primeiro grau.

Indivíduos com Perturbação de Personalidade Esquizoide costumam manifestar completa


indiferença à aprovação ou à crítica dos outros e não parecem preocupados com a avaliação
externa. Habitualmente, mostram-se sem reatividade emocional visível, e apenas raramente
respondem de forma recíproca a gestos ou expressões faciais, como sorrisos ou acenos.
Costumam mostrar um afeto restrito e tendem a parecer frios e distantes.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Esquizoide tendem a reagir de forma passiva a
circunstâncias adversas e apresentam dificuldade em reagir adequadamente a acontecimentos;
podem apresentar uma dificuldade particular para expressar raiva, mesmo em resposta a
provocação direta; Esse padrão surge no começo da vida adulta e está presente em vários
contextos.

Características Clínicas Associadas:

Devido à falta de competências sociais, os indivíduos com Perturbação de Personalidade


Esquizoide têm poucos amigos, raramente namoram e costumam não casar. O funcionamento
profissional pode estar prejudicado, em especial quando há necessidade de envolvimento
interpessoal; No entretanto, estes indivíduos podem ser bem-sucedidos quando trabalham em
condições de isolamento social.

Um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma gama restrita de expressão de
emoções em contextos interpessoais que surgem no início da vida adulta e estão presentes em
vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
1. Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família;
2. Quase sempre opta por atividades solitárias;
3. Manifesta pouco ou nenhum interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa;
4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma;
5. Não tem amigos próximos ou confidentes que não sejam os familiares de primeiro grau;
6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros;
7. Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo;
Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, perturbação bipolar ou depressiva
com sintomas psicóticos, outra perturbação psicótico ou perturbação do espectro autista e não
é atribuível aos efeitos psicológicos de outra condição médica.

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Diagnóstico:
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Esquizoide podem, às vezes, desenvolver
Perturbação Depressiva. A Perturbação de Personalidade Esquizoide ocorre com frequência
concomitantemente com as Perturbações de Personalidade Paranoide, Esquizotípica e Evitante.

Diagnóstico Diferencial:
A Perturbação de Personalidade Esquizoide não deve ser diagnosticado se o padrão de
comportamento ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, perturbação bipolar
ou depressiva com sintomas psicóticos, outra perturbação psicótico ou perturbação do espectro
autista ou se é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma condição médica neurológica (p. ex.,
epilepsia do lobo temporal) ou a outra condição médica.

Prevalência:
A Perturbação da Personalidade Esquizoide é incomum em contextos clínicos.

Cluster A – Perturbações de Personalidade Esquizotípica

Características Clínicas:
A característica essencial da Perturbação de Personalidade Esquizotípica é um padrão difuso de
déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para
relacionamentos íntimos, bem como por distorções cognitivas ou precetivas e comportamento
excêntrico. Esse padrão surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos.
Indivíduos com Perturbação da Personalidade Esquizotípica apresentam com frequência ideias
autorreferenciais (i.e., interpretações incorretas de incidentes casuais e eventos externos como
tendo um sentido particular e incomum especificamente para a pessoa). Estas devem ser
distinguidas de delírios de referência, nos quais as crenças são mantidas com convicção delirante.
Esses indivíduos podem ser supersticiosos ou preocupados com fenômenos paranormais que
fogem das normas de sua cultura. Estes doentes são frequentemente desconfiados e podem
apresentar ideias paranoides (p. ex., acreditar que os colegas de estão a planear esquemas de
diminuição do seu estatuto/reputação).
Em geral, são incapazes de compreender sinais interpessoais e de lidar com os afetos que são
necessários para relacionamentos sociais; parecendo interagir com os outros de forma formal e
desadequada. Estes indivíduos são normalmente considerados esquisitos ou excêntricos devido,
por exemplo, à sua apresentação, ao seu comportamento que não atende às convenções sociais
(p. ex., o indivíduo pode evitar contato visual, usar roupas manchadas ou que não lhe servem e
ser incapaz de participar em brincadeiras).

Um padrão difuso de deficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade
reduzida para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou percetivas e
comportamento excêntrico, que surge no início da vida adulta e está presente em vários
contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência).
2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são
inconsistentes com as normas subculturais (p. ex., superstições, crença em clarividência,
telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações
bizarras).

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3. Experiências percetivas incomuns, incluindo ilusões corporais.


4. Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico,
excessivamente elaborado ou estereotipado).
5. Desconfiança ou ideação paranoide.
6. Afeto inadequado ou constrito.
7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar.
8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau.
9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada
mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo.
Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo
com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista.

Características Clínicas Associadas:


Indivíduos com Perturbação de Personalidade Esquizotípica costumam procurar tratamento mais
devido à sua sintomatologia ansiosa ou depressiva, do que devido às caraterísticas da sua
perturbação de personalidade. Cerca de 30 a 50% dos indivíduos diagnosticados com esta PP têm
um diagnóstico simultâneo de Perturbação Depressiva. Existe considerável concomitância de
Perturbação da Personalidade Esquizoide, Paranoide, Evitante e Borderline.

Prevalência:
A prevalência da Perturbação da Personalidade Esquizotípica em populações clínicas é baixa (0 a
1,9%), com uma prevalência estimada mais alta na população em geral (3,9%; National
Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions).

Perturbações da Perturbações da
Personalidade Antissocial Personalidade Histriónica

Perturbações da Perturbações da
Personalidade Borderline Personalidade Narcísica

Cluster B – Perturbações de Personalidade Antissocial

Características Clínicas:
A característica principal da Perturbação de Personalidade Antissocial é um padrão difuso de
indiferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início da
adolescência e continua na vida adulta. Esse padrão também já foi referido como psicopatia ou
sociopatia; A mentira, falsidade e manipulação são caraterísticas centrais desta PP.
Para que este diagnóstico seja estabelecido é necessário o indivíduo tenha no mínimo 18 anos de
idade, mas devem ser identificados sinais de perturbação de conduta antes dos 15 anos; A
perturbação da conduta envolve um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual

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os direitos básicos dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são
violados (tais como: agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo
ou grave violação a regras).
Pessoas com Perturbação de Personalidade Antissocial com frequência desrespeitam os desejos,
direitos, enganam e/ou manipulam os outros para obter ganho ou prazer pessoal (p. ex.,
conseguir dinheiro, sexo ou poder).
Manifestam um padrão de impulsividade que pode ser manifestado por fracasso em fazer planos
para o futuro. As decisões são tomadas no calor do momento, sem análise e sem consideração
em relação às consequências a si ou aos outros; isso pode levar a mudanças repentinas de
emprego, residência e/ou relacionamentos. Indivíduos com Perturbação de Personalidade
Antissocial tendem a ser irritáveis e agressivos e podem envolver-se repetidamente em lutas
corporais ou cometer atos de agressão física.
Os indivíduos com Perturbação de Personalidade Antissocial podem envolver-se em
comportamento sexual ou uso de substância com alto risco e com consequências nocivas. Podem,
ainda, apresentar comportamentos consistentes que caraterizam uma conduta de abuso e
negligenciar em relação a uma criança.
Estes indivíduos podem, ainda, demonstrar indiferença perante atos seus que provocaram
sofrimento ou prejuízos graves a outros (e.g., depois de terem ferido, maltratado ou roubado).
Podem minimizar ou negar a gravidade do seu comportamento, ou demonstrar total indiferença.
Tendem a demonstrar incapacidade de justificar o seu comportamento, dando razões superficiais
e fúteis ou culpam mesmo as vítimas (“a vida é assim”, “um perdedor merece perder”, “teve o
que devia/merecia ter”).

Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre
desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes:
1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme
indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos
ou de fraude para ganho ou prazer pessoal.
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou
agressões físicas.
5. Descuido ou desprezo pela segurança do próprio ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma
conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação
a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas.
O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. Há evidências de perturbação da conduta com
surgimento anterior aos 15 anos de idade. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá
exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou perturbação bipolar.

Características Clínicas Associadas:


Indivíduos com Perturbação da Personalidade Antissocial podem concomitantemente apresentar
disforia, perturbações ansiosas ou depressivas, perturbações associadas ao uso de substância, ao
jogo e ao controlo de impulsos. Estes indivíduos apresentam, também, com frequência aspetos

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de personalidade que correspondem a critérios de diagnóstico para outras Perturbações da


Personalidade, tais como borderline, histriônica e narcisista.
A probabilidade de desenvolvimento de uma Perturbação da Personalidade Antissocial na idade
adulta aumenta se tiver ocorrido uma perturbação do comportamento do indivíduo durante a
infância (antes dos 10 anos) e se houve déficit de atenção/hiperatividade associado. Abuso ou
negligência infantil, vinculação insegura ou comportamento parental inconsistente podem
aumentar a probabilidade de a perturbação da conduta evoluir para uma Perturbação da
Personalidade Antissocial.
Prevalência:
Taxas de prevalência de 12 meses da Perturbação da Personalidade Antissocial, de acordo com
os critérios de DSMs de edições anteriores, situam-se entre 0,2 e 3,3%.

Cluster B – Perturbações de Personalidade Borderline

Características Clínicas:
A característica principal da Perturbação de Personalidade Borderline é um padrão difuso de
instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e de afetos e de impulsividade
acentuada que surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Borderline experienciam um medo intenso de
abandono e vivenciam uma raiva inadequada perante qualquer separação, mesmo de curto
prazo, ou quando ocorrem alterações inevitáveis de planos (e.g., pânico, raiva ou fúria quando
alguém importante para eles se atrasa alguns minutos ou precisa cancelar um compromisso). O
medo do abandono associa-se à intolerância a ficar só e à necessidade de ter outras pessoas ao
redor. Os esforços desesperados para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas como
automutilação ou comportamentos suicidas.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Borderline apresentam um padrão de
relacionamentos instável e intenso. Assim, estes indivíduos tendem a num primeiro momento (1ª
ou 2ª encontro) a idealizar cuidadores ou companheiros potenciais, a exigir ficar muito tempo
juntos e partilhar os detalhes pessoais mais íntimos logo no início de um relacionamento. No
entanto, este padrão tende a mudar rapidamente da idealização à desvalorização, sentindo que
a outra pessoa não se importa ou não gosta o suficiente, não dá o suficiente à relação ou não está
"presente" o suficiente.
Esses indivíduos podem demonstrar comportamentos de cuidado para os outros, mas somente
com a expectativa de que o outro estará presente quando chamado, como uma espécie de troca
para “assegurar” que terá o mesmo tipo de tratamento sempre que o necessitar. Estes doentes
apresentam, com frequência, mudanças dramáticas e repentinas na forma como percebem ou
avaliam os outros, passando rapidamente e alternadamente de apoiantes, generosos a cruéis e
egoístas. Estas mudanças traduzem, em geral, a desilusão com um cuidador cujas qualidades de
dedicação haviam sido irrealisticamente idealizadas ou cuja rejeição ou abandono era esperado.
Há mudanças súbitas e dramáticas na autoimagem, caracterizadas por metas, valores e
aspirações vocacionais inconstantes. Podem ocorrer mudanças súbitas de opiniões e planos
sobre carreira profissional, identidade sexual, valores e amigos.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Borderline mostram impulsividade em áreas
potencialmente autodestrutivas. Por exemplo, apostar, gastar dinheiro de forma irresponsável,
comer compulsivamente, abusar de substâncias, envolver-se em sexo desprotegido ou dirigir de

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forma imprudente. Apresentam recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou


de comportamento de automutilação.
A ideação suicida recorrente é com frequência o motivo do pedido de ajuda terapêutica. Os
comportamentos autodestrutivos, no contexto da Perturbação Borderline, são geralmente
precipitados por ameaças de separação ou rejeição ou por expectativas de que o indivíduo
assuma maiores responsabilidades.
A automutilação pode ocorrer durante experiências dissociativas e com frequência traz alívio por
reafirmar a capacidade do indivíduo de sentir ou por expiar a sensação de ser uma má pessoa.
Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem, dos afetos e de
impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos,
conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir
comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.)
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela
alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da
perceção de si mesmo.
4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos,
sexo, abuso de substância, condução irresponsável, compulsão alimentar).
(Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.)
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento
auto- mutilante.
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (por ex., disforia
episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas
e apenas raramente de mais de alguns dias).
7. Sentimentos crónicos de vazio.
8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (por ex., mostras frequentes
de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes).
9. Ideação paranoide transitória associada a stress ou sintomas dissociativos intensos.

Prevalência:
A prevalência média estimada da Perturbação de Personalidade Borderline na população geral é
de 1,6%, embora possa chegar a 5,9%.

Desenvolvimento e Curso:
Existe uma variação considerável no curso da Perturbação de Personalidade Borderline. O padrão
mais comum é o de instabilidade crónica, com episódios graves de descontrolo afetivo e
impulsivo e recursos sistemático a serviços de saúde mental. No entanto, o impacto negativo
associado à Perturbação de Personalidade Borderline e o risco de suicídio associado tende a
diminuir com a idade.
Embora a tendência para emoções intensas, impulsividade e intensidade nos relacionamentos
normalmente perdura a vida toda, indivíduos em intervenções terapêuticas tendem a
demonstram uma melhoria significativa no seu padrão de funcionamento.
Questões Diagnósticos Relativas ao Género:
A Perturbação de Personalidade Borderline é diagnosticado predominantemente (cerca de 75%)
em indivíduos do sexo feminino.

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Diagnóstico Diferencial:
A Perturbação de Personalidade Borderline ocorre frequentemente de forma concomitante com
perturbações depressivos ou bipolares, e, quando atendidos critérios para ambos, as duas
condições podem ser diagnosticados. No entanto, e visto que a apresentação momentânea da
Perturbação de Personalidade Borderline pode ser mimetizada por um episódio depressivo ou
bipolar, o clínico deve evitar realizar um diagnóstico adicional de Perturbação Borderline com
base apenas na apresentação momentânea, sem ter documentado que o padrão teve começo
precoce e curso prolongado.
Se um indivíduo apresenta características de personalidade que atendem aos critérios para um
ou mais de uma Perturbação de Personalidade, para além da Perturbação Borderline, todos
podem ser diagnosticados. Ainda que a Perturbação de Personalidade Histriónica possa ser
também caracterizado por busca de atenção, comportamento manipulativo e por mudanças
rápidas nas emoções, a Perturbação de Personalidade Borderline distingue-se por ser
autodestrutiva, ataques de raiva nos relacionamentos íntimos e sentimentos crónicos de vazio
profundo e solidão.

Cluster B – Perturbações de Personalidade Histriónica

Características Clínicas:
As características principais da Perturbação de Personalidade Histriónica são:

→ a necessidade patológica de ser o centro das atenções.


→ a emocionalidade difusa e excessiva e
→ o comportamento de procura de atenção social
Esse padrão disfuncional surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Histriónica sentem-se desconfortáveis ou não
valorizados quando não são o centro das atenções. Estes indivíduos são, normalmente,
caraterizados como pessoas cheias de vida e dramáticas. O seu comportamento visa atrair
atenção para si e, habitualmente numa fase de conhecimento inicial conseguem captar uma
atenção social positiva pelo seu entusiasmo, expressividade, abertura e/ou sedução.
Caso não sejam o centro das atenções, podem apresentar comportamentos excessivos e
manifestações mais dramáticas (p. ex., inventar histórias, criar uma cena) para atrair o foco da
atenção para si. Este padrão comportamental é também facilmente identificado em contexto de
consulta (p. ex., elogiar, levar presentes ao clínico, dar descrições dramáticas de situações,
queixas excessivas de sintomas físicos e psicológicos que são substituídos por novos sintomas a
cada nova consulta).
A aparência e o comportamento de indivíduos com PP Histriónica apresentam, muitas vezes, um
comportamento desadequado de cariz sedutor e mesmo sexualmente provocador. Este tipo de
comportamento pode ser dirigido não só para indivíduos por quem a doente tem interesse
romântico ou sexual, mas pode também ocorrer numa grande variedade de relacionamentos
sociais, ocupacionais e profissionais.
Os indivíduos com PP Histriónica tendem a demonstrar opiniões fortes e extremadas, com um
discurso impressionista, mas que carece de detalhes, associada a uma expressão teatralizada das
emoções (p. ex., chorar de forma inconsolável em ocasiões sentimentais de importância menor,
ter ataques de raiva repentinos). No entanto, as emoções parecem ser ligadas e desligadas de
forma súbita.

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Diagnóstico:
Um padrão difuso de emocionalidade e procura de atenção em excesso que surge no início da
vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos
seguintes:
1. Desconforto em situações em que não é o centro das atenções.
2. A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento
sexualmente sedutor inadequado ou provocativo.
3. Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções.
4. Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si.
5. Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes.
6. Mostra auto dramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções.
7. É sugestionável (i.e., facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias).
8. Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade
Outras características clínicas:
Estes indivíduos podem manifestar dificuldades significativas nos seus relacionamentos
interpessoais, por exemplo:
→ tendem a provocar o afastamento dos amigos devido às suas exigências de atenção
constante
→ não costumam tolerar ou situações que envolvem atraso de gratificação, sendo suas
ações costumeiramente voltadas à obtenção de satisfação imediata.
Com frequência, a Perturbação de Personalidade Borderline, Narcisista, Antissocial e Dependente
ocorrem de forma concomitante ao diagnóstico de Perturbação de Personalidade Histriónica.
Muitos indivíduos podem exibir traços da personalidade histriónica. Estes traços apenas
constituem uma perturbação de personalidade quando são inflexíveis, mal adaptativos e
persistentes e causam prejuízo funcional ou sofrimento subjetivo significativos.

Prevalência:
Dados de 2001-2002 estimam uma prevalência de perturbação de personalidade histriónica de
1,84%.

Questões Diagnósticas Relativas ao Género:


Embora em contextos clínicos, esta perturbação de personalidade foi diagnosticado com mais
frequência no sexo feminino; de forma contrastante, alguns estudos usando avaliações
estruturadas informam taxas de prevalência similares entre ambos os sexos.

Cluster B – Perturbações de Personalidade Narcísica

Características Clínicas:
A característica essencial da Perturbação de Personalidade Narcísica é um padrão difuso de
grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta
e está presente em vários contextos.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Narcísica tendem a sobrevalorizar as suas
capacidades e a exagerar a importância das suas conquistas, com frequência parecem
pretensiosos e arrogantes. Comumente implicitamente aos julgamentos ou avaliações

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sobrestimadas das suas realizações e conquistas está uma atitude de desvalorização das
contribuições dos outros.
Podem sentir que só são compreendidas por outras pessoas especiais ou de condição elevada, e
apenas com elas se devem associar, podendo atribuir qualidades como "únicas", "perfeitas" e
"dotadas" àquelas com quem se associam. Indivíduos com PP Narcísica acreditam que suas
necessidades são especiais e superiores em relação às pessoas comuns. Tendem a insistir em ser
atendidos apenas por pessoas "top" (médico, advogado, cabeleireiro, instrutor) mas podem
desvalorizar essas mesmas pessoas ou instituições caso não os atendam com as referências
diferenciais (a que consideram ter direito) ou se os desapontam.
Indivíduos com esta PP Narcísica geralmente exigem admiração excessiva e tendem a ter uma
sensação de possuir direito a tratamento especial favorável. Por exemplo, podem supor que não
precisam aguardar em filas e que suas prioridades são mais importantes do que as dos outros.
Esta sensação de possuir direitos especiais, combinada com falta de interesse e de sensibilidade
aos desejos e necessidades dos outros, pode resultar na exploração consciente ou involuntária
de outras pessoas.
Perante a crítica de outros tendem a reagir com desdém, fúria ou contra-ataque desafiador.
Embora ambição e confiança desmedidas possam levar a grandes conquistas, mas o desempenho
pode ser comprometido pela intolerância a críticas ou derrotas.

Diagnóstico:
Um padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração
e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos,
conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:
1. Tem uma sensação grandiosa da própria importância (p. ex., exagera conquistas e
talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas
correspondentes).
2. É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal.
3. Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado
a outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada.
4. Exige admiração excessiva.
5. Apresenta um sentimento de possuir direitos (i.e., expectativas irracionais de tratamento
especialmente favorável).
6. É explorador em relações interpessoais (i.e., tira vantagem de outros para atingir os
próprios fins).
7. Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as
necessidades dos outros.
8. É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam.

Prevalência:
As estimativas de prevalência da Perturbação de Personalidade Narcísica, com base nas
definições do DSM-IV, variam de 0 a 6,2% em distintas amostras de comunidades.

Desenvolvimento e Curso:
Traços de personalidade narcisistas podem ser particularmente comuns em adolescentes e não
indicam necessariamente que a pessoa vai desenvolver uma Perturbação de Personalidade
Narcísica. Muitos indivíduos altamente bem-sucedidos exibem traços de personalidade que
podem ser considerados narcisistas. Esses traços somente constituem uma Perturbação de

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Personalidade Narcísica quando são inflexíveis, mal adaptativos e persistentes e causam prejuízo
funcional ou sofrimento subjetivo significativos.

Questões Diagnósticas Relativas ao Género:


Entre aqueles diagnosticados com Perturbação de Personalidade Narcísica, 50 a 75% são do sexo
masculino.

Perturbações da Perturbações da Perturbações da Personalidade


Personalidade Evitante Personalidade Dependente Obsessivo-compulsiva

Cluster C – Perturbações de Personalidade Evitante

Características Clínicas:
A característica principal da Perturbação de Personalidade Evitante é um padrão difuso de
inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa que surge
no início da vida adulta e está presente em vários contextos.
Esta perturbação de personalidade tem habitualmente um impacto negativo mais significativo
nas áreas de funcionamento social e profissional Indivíduos com Perturbação de Personalidade
Evitante tendem a evitar atividades no trabalho que envolvam contacto interpessoal significativo
devido a medo de crítica, desaprovação ou rejeição. Ofertas de promoções na vida profissional
podem não ser aceites pelo fato de novas responsabilidades poderem resultar em críticas de
colegas.
Apesar de seu forte desejo de participação na vida social, estes indivíduos tendem a evitar novas
relações interpessoais. Este comportamento de evitamento social deve-se à perceção das outras
pessoas como extremamente críticas e desaprovadoras. Indivíduos com Perturbação Evitante
não participam de atividades em grupo, a não ser que tenham sinais e provas repetidas de apoio,
atenção e aceitação.
A intimidade interpessoal costuma ser difícil, embora consigam estabelecer relacionamentos
íntimos quando há certeza de aceitação sem críticas. Podem agir de forma reservada, ter
dificuldades de conversar sobre si mesmos e conter os sentimentos íntimos por medo de
exposição, do ridículo ou de sentirem vergonha.
O foco principal de preocupação na Perturbação de Personalidade Evitante é a avaliação externa
negativa, a humilhação e rejeição. Ao menor sinal de desaprovação ou crítica, habitualmente
sentem-se extremamente magoados. Tendem a ser tímidos, quietos, inibidos e "invisíveis" pelo
medo de que toda a atenção seja crítica, degradante ou rejeitante. O comportamento destes
indivíduos carateriza-se por uma monitorização constante (i.e., vigiam e avaliam) dos
movimentos e das expressões das pessoas com quem têm contacto.
Estes indivíduos avaliam-se como socialmente incapazes ou inferiores, sem atributos,
características ou competências capazes de atrair uma atenção positiva por parte dos outros.
Estes indivíduos tendem a evitar de forma incomum em assumir riscos pessoais ou de se envolver
em quaisquer novas atividades, pois consideram que não estão “à altura” ou que terão um
comportamento desadequado. A preferência por um estilo de vida restrito pode resultar da sua
necessidade de certeza e segurança.

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São descritos pelas outras pessoas como "envergonhados", "tímidos", "solitários" e "isolados".
Outras perturbações comumente diagnosticadas com a Perturbação de Personalidade Evitante
incluem as perturbações depressivas, bipolar e de ansiedade. A Perturbação de Personalidade
Evitante é muitas vezes diagnosticada concomitantemente com a Perturbação de Personalidade
Dependente.
A Perturbação de Personalidade Evitante também tende a ser diagnosticada concomitantemente
com a Perturbação de Personalidade Borderline e outras perturbações do Grupo A (i.e.,
paranoide, esquizoide ou esquizotípica).

Prevalência:
Dados do National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions de 2001-2002
sugerem uma prevalência de 2,4% para a Perturbação de Personalidade Evitante.

Desenvolvimento e Curso:
O comportamento evitante habitualmente inicia-se na infância pré-verbal ou verbal por meio de
timidez, isolamento e medo de estranhos e de novas situações. Embora a timidez em crianças
seja um precursor comum da Perturbação de Personalidade Evitante, na maior parte dos
indivíduos ela tende a desaparecer lentamente com o passar dos anos. Em contraste, indivíduos
que desenvolvem uma Perturbação de Personalidade Evitante podem ficar cada vez mais tímidos
e evitantes na adolescência e no início da vida adulta, quando os relacionamentos sociais com
novas pessoas se tornam especialmente importantes.
Esse diagnóstico deve ser usado com muita cautela em crianças e adolescentes, para os quais a
timidez e o evitamento podem ser adequadas do ponto de vista do desenvolvimento.

Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero:


A Perturbação de Personalidade Evitante parece ser igualmente frequente em ambos os sexos.
Um padrão difuso de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade à avaliação
negativa que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme
indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
1. Evita atividades profissionais que envolvam ou exigem contacto interpessoal significativo
por medo de crítica, desaprovação ou rejeição.
2. Não se dispõe a envolver-se com pessoas, a menos que tenha certeza de que será
recebido de forma positiva.
3. Mostra-se reservado nos relacionamentos íntimos devido a medo de passar por
experiências de vergonha ou de ser ridicularizado.
4. Preocupa-se com críticas ou rejeição em situações sociais.
5. Inibe-se em situações interpessoais novas devido a sentimentos de inadequação.
6. Vê a si mesmo como socialmente incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros.
7. Reluta de forma incomum em assumir riscos pessoais ou se envolver em quaisquer novas
atividades, pois estas podem ser constrangedoras.

Cluster C – Perturbações de Personalidade Dependente

Características Clínicas:

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A característica essencial da Perturbação de Personalidade Dependente é uma necessidade


difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego e a temores
de separação. Este padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos. Os
comportamentos de dependência e submissão formam-se com o intuito de conseguir cuidado e
baseiam-se numa auto-perceção de não ser capaz de funcionar adequadamente sem a ajuda de
outros.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Dependente apresentam grande dificuldade em
tomar decisões quotidianas (p. ex., a cor de camisa a vestir ou levar ou não o guarda-chuva) sem
uma quantidade excessiva de conselhos, opiniões e tranquilizações dos outros.
Esses indivíduos tendem a ser passivos e a permitir que outros (frequentemente apenas uma
pessoa) tomem a iniciativa e assumam a responsabilidade pela maior parte das decisões na sua
vida. Adultos com a Perturbação de Personalidade Dependente costumam depender do pai, mãe
ou cônjuge para decidir onde morar, o tipo de trabalho a realizar e os vizinhos com quem fazer
amizade.
Estes indivíduos sentem-se tão incapazes de ser autónomos (i.e., a funcionar por conta própria)
que podem vir a concordar com coisas que consideram erradas apenas para não arriscar perder
a ajuda de outros significativos. Não se enfurecem ou zangam justificadamente com outros de
cujo apoio e cuidados necessitam, por medo de estes se afastarem deles.
Os indivíduos com Perturbação de Personalidade Dependente têm uma imagem de si próprios
como incapazes de funcionar independentemente e apresentam-se como incapazes e como se
necessitassem de assistência constante. No entanto, na maioria dos casos têm competências para
funcionar adequadamente caso tenham certeza de que outra pessoa estará a supervisioná-los e
a aprovar o seu trabalho.
Esta necessidade de manter um vínculo tende frequentemente a resultar em relacionamentos
desequilibrados ou mal adaptativos. Essas pessoas podem fazer sacrifícios extraordinários ou
tolerar abuso verbal, físico ou sexual. A crença de que são incapazes de funcionar na ausência de
um relacionamento íntimo motiva-os a tornarem-se rápida e indiscriminadamente
ligados/dedicados a outra pessoa.
As relações sociais tendem a ser limitadas às poucas pessoas de quem o indivíduo é dependente.

Prevalência:
Dados de 2001-2002 estimam uma prevalência de Perturbação de Personalidade Dependente de
0,49%.

Desenvolvimento e Curso:
Este diagnóstico deve ser usado com cuidado, ou até não ser usado, em crianças e adolescentes,
para os quais um comportamento dependente pode ser apropriado do ponto de vista do
desenvolvimento.

Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e
apego que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado
por cinco (ou mais) dos seguintes:
1. Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de
conselhos e opiniões de tranquilização de outros.
2. Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de
sua vida.

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3. Tem dificuldades em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio
ou aprovação. (Nota: Não incluir os medos reais de retaliação.)
4. Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais
a falta de autoconfiança no seu julgamento ou nas suas capacidades do que a falta de
motivação ou energia).
5. Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer
coisas desagradáveis.
6. Sente-se desconfortável ou desamparado quando sozinho devido a medos exagerados
de ser incapaz de cuidar de si mesmo.
7. Procura com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após
o término de um relacionamento íntimo.
8. Tem preocupações irreais com medo de ser abandonado à própria sorte.

Outras questões diagnósticas:


A Perturbação de Personalidade Dependente pode ocorrer em indivíduos que apresentem outra
condição ou incapacidade médica grave, mas nesses casos a dificuldade em assumir
responsabilidade precisa ir além daquilo que estaria normalmente associado a essa condição ou
incapacidade.

Cluster C – Perturbações de Personalidade Obsessivo-compulsiva

Características Clínicas:
A característica essencial da Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva é uma
preocupação com ordem, perfeccionismo e controlo mental e interpessoal à custa de
flexibilidade, abertura e eficiência. Este padrão surge no início da vida adulta e está presente em
vários contextos.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva tentam manter uma
sensação de controlo por meio de atenção cuidadosa a regras, pequenos detalhes,
procedimentos, listas, cronogramas ou forma, a ponto de o objetivo principal da atividade ser
perdido.
São excessivamente cuidadosos e propensos à repetição, prestando extraordinária atenção aos
detalhes e conferindo repetidas vezes na procura de possíveis erros. Este tipo de funcionamento
tende a associar-se ao descuido do ponto de vista e interesse dos outros (que se podem
incomodar ou prejudicar muito com os atrasos) e com as inconveniências que resultam desse
comportamento. Por exemplo, quando esses indivíduos esquecem onde colocaram uma lista de
coisas a fazer, gastam tempo demais procurando a lista em vez de gastar alguns instantes fazer
de novo a lista ou de passarem à execução das tarefas.
O perfeccionismo e os padrões elevados de desempenho autoimpostos causam disfunção e
sofrimento significativo a estes indivíduos. Podem ficar de tal forma envolvidos em tomar cada
detalhe de um projeto absolutamente perfeito que este jamais é concluído.
Indivíduos com esta Perturbação de Personalidade demonstram dedicação excessiva ao trabalho
e à produtividade, a ponto de excluir atividades de lazer e amizades Podem procrastinar
atividades agradáveis, como as férias, de modo que elas podem jamais ocorrer. Quando
realmente dedicam algum tempo para lazer ou férias, sentem-se bastante desconfortáveis, a não
ser que tenham consigo algum tipo de trabalho de modo a terem a perceção de não estarem a
"desperdiçar o seu tempo".

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Igualmente, os passatempos e atividades de entretenimento são encaradas como tarefas sérias


que exigem organização criteriosa e trabalho duro para serem dominadas. transformam o jogo e
brincadeiras em tarefas estruturadas e rigorosas.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva podem ser excessivamente
conscienciosos, escrupulosos e inflexíveis acerca de assuntos de moralidade, ética ou valores.
Estes indivíduos tendem a respeitam autoridade e regras com extrema consideração e insistem
em obedecer às regras de forma bastante literal e inflexível.
Uma outra caraterística nuclear destes indivíduos é o seu autocriticismo, isto é, são críticos
impiedosos em relação aos próprios erros.
Indivíduos com esta Perturbação de Personalidade podem ser incapazes de livrar-se de objetos
usados ou sem valor, mesmo na ausência de valor sentimental. Estes indivíduos tendem a
justificar esta dificuldade como "nunca se sabe quando poderá ser útil” ou “posso vir a precisar
disto" e ficam incomodados se alguém tenta se livrar de coisas que eles guardaram. São muitas
vezes caraterizados pelos outros como “acumuladores de coisas inúteis ou ferro-velho”.
Estes indivíduos apresentam dificuldades significativas em trabalhos de grupo. Nestes contextos
tendem a manifestar as suas ideias de forma teimosa e injustificada, insistem que tudo precisa
ser feito a seu modo. Com frequência dão instruções bastante detalhadas sobre como tudo deve
ser feito (p. ex., só há uma forma certa de lavar os pratos ou de colocar os pratos na máquina de
lavar) e manifestam grandes dificuldades em concordar com as ideias de outra pessoa, ficando
irritados quando estes sugerem alternativas criativas.
Indivíduos com esta Perturbação de Personalidade geralmente manifestam as suas
emoções/afeto de forma altamente controlada ou artificial e podem sentir grande desconforto
na presença de outros que se expressam com emocionalidade. As relações quotidianas são sérias
e formais, e estes sujeitos tendem a parecer sisudos em situações em que outros sorririam e
ficariam alegres (p. ex., saudar um namorado no aeroporto).
Prevalência:
A Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva é uma das perturbações da personalidade
mais prevalentes na população em geral, com prevalência estimada entre 2,1 e 7,9%.

Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero:


Em estudos sistemáticos, a Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva é diagnosticada
aproximadamente duas vezes mais em indivíduos do sexo masculino.

Diagnóstico diferencial:
Apesar dos nomes semelhantes, a Perturbação Obsessivo-compulsivo (POC) pode ser distinguida
da Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva pela presença, no primeiro, de obsessões
e compulsões verdadeiras. Quando atendidos os critérios para Perturbação Obsessivo-
compulsivo e Perturbação da Personalidade Obsessivo-compulsiva, ambos devem ser
registadas/diagnosticadas.
Indivíduos com Perturbação de Personalidade Narcisista podem também professar compromisso
com o perfeccionismo e acreditar que os outros não fazem bem as coisas, mas estão mais
propensos a achar que atingiram a perfeição, ao passo que os indivíduos com Perturbação de
Personalidade Obsessivo-compulsiva costumam ser acentuadamente autocríticos.
Quando moderados, traços da personalidade obsessivo-compulsiva podem ser especialmente
adaptativos, sobretudo em contextos de alto desempenho. Esses traços somente constituem

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uma Perturbação de Personalidade Obsessivo-compulsiva quando são inflexíveis, mal adaptativos


e persistentes e causam prejuízo funcional e sofrimento subjetivo significativos.
Um padrão difuso de preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental e interpessoal
à custa de flexibilidade, abertura e eficiência que surge no início da vida adulta e está presente
em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes:
1. Excessivamente preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários
a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido.
2. Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex., não consegue
completar um projeto porque seus padrões próprios demasiadamente rígidos não são
atingidos).
3. É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades
de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira).
4. É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de
moralidade, ética ou valores (não explicado por identificação cultural ou religiosa).
5. É incapaz de libertar-se ou livrar-se de objetos usados ou sem valor mesmo quando não
têm valor sentimental.
6. Dificuldade ou relutância em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos
que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas.
7. Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como
algo a ser acumulado para futuras catástrofes.
8. Exibe rigidez e teimosia.

Perturbações Bipolares e Esquizofrenia


PERTURBAÇÕES BIPOLARES

As perturbações bipolares constituem perturbações afetivas cujo principal sintoma é a alteração


no estado de humor.
A bipolaridade é caracterizada por alterações acentuadas no estado de humor, com episódios de
intensa depressão e outros de extrema euforia contagiante, designados clinicamente de
episódios depressivos e de mania. Podem ocorrer também episódios mistos, nos quais estão
presentes tanto sintomas depressivos, como maníacos.

Características Clínicas:
Os indivíduos com Perturbação Bipolar podem apresentar um aumento da atividade/energia,
aumento da impulsividade e empobrecimento da concentração, ocorrendo estes fenómenos de
forma episódica (e.g., durante um período de dias). O aumento da impulsividade e a diminuição

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da atenção/concentração é acompanhado por alterações do humor, mais concretamente


elevação de humor e grandiosidade.

Perturbações afetivas:

Perturbações Bipolares no DSM5:


→ Perturbação Bipolar I
→ Perturbação Bipolar II
→ Perturbação Ciclotímica
o Perturbação Bipolar induzido por substância/medicamento
o Perturbação Bipolar devido a outra condição médica
o Perturbação Bipolar não especificado

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→ Perturbação Bipolar I
Bipolaridade I é considerado o
“tipo clássico”, caracterizado por
episódios completos e profundos
de mania e por episódios
depressivos graves e invalidantes.

→ Perturbação Bipolar II
Bipolaridade II é caracterizado
por estados mais leves de euforia
e excitação. Consiste em
episódios de hipomania
caracterizados por um humor
persistente e interruptamente
mais elevado que o normal.

→ Perturbação Ciclotímica
Ciclotimia é o quadro mais leve da
perturbação bipolar, marcado por
osculações crónicas de humor. É
caracterizada por períodos
frequentes e curtos de sintomas
depressivos e hipomania,
separados por períodos de humor
eutímico.
O diagnóstico de Perturbação
Ciclotímica é realizado em adultos que têm pelo menos dois anos (um ano em crianças) de
períodos hipomaníacos e depressivos, sem jamais atender aos critérios para um episódio de
mania, hipomania ou depressão maior.

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Perturbações Bipolares:

Quanto tempo dura um episódio/crise?


Varia muito, a pessoa pode estar em fase maníaca ou depressiva durante alguns dias ou durante
vários meses. Os períodos de estabilidade entre as crises podem durar dias, meses ou anos. O
tratamento adequado encurta a duração das crises e pode preveni-las.

Segundo o DSM 5, para o diagnóstico de Perturbação Bipolar I é necessário o preenchimento dos


seguintes critérios diagnóstico para o episódio maníaco. Este episódio maníaco pode ter sido
precedido ou ser seguido por episódios hipomaníacos ou por episódios depressivos major.
Episódio Maníaco:
A. Período distinto de humor anormal e persistentemente elevado,
expansivo ou irritável e uma atividade ou energia dirigida a
objetivos anormal, com uma duração de pelo menos uma
semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias;

B. Durante o período de alteração de humor e aumento da energia


ou atividade estão presentes num grau de sofrimento e

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representam uma alteração notória do comportamento


habitual, 3 (ou mais) dos seguintes sintomas (4 se o humor é
apenas irritável):
(1) Autoestima aumentada e grandiosidade;
(2) Diminuição da necessidade de dormir;
(3) Mais falador do que o habitual ou pressão para
continuar a falar;
(4) Fuga de ideias ou experiência subjetiva de aceleração do
pensamento;
(5) Distratibilidade relatada ou observada;
(6) Aumento da energia dirigida a objetivos (sociais,
emprego, escola, sexuais) ou agitação psicomotora;
(7) Envolvimento excessivo em atividades com potenciais e
elevadas consequências desagradáveis (gastos;
indiscrições sexuais);

C. A alteração do humor é grave o suficiente para provocar um


défice marcado no funcionamento social ou ocupacional, ou
para necessitar de hospitalização para prevenir dados para o
próprio ou outros, ou quando existem características psicóticas;

D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma


substância (abuso de droga, medicação ou outro tratamento) ou
secundário a uma condição médica;

 Nota: Os critérios de A-D constitui o episódio maníaco. É requerida a ocorrência de um episódio


maníaco, pelo menos uma vez na vida, para a realização do diagnóstico de Perturbação Bipolar I.
Durante o episódio maníaco, o indivíduo pode-se envolver em vários projetos novos ao mesmo
tempo. Os projetos podem ser iniciados com pouco conhecimento do tópico. Apesar da falta de
qualquer experiência ou talento particular, o indivíduo pode dar início a tarefas complexas, como
escrever um romance ou buscar publicidade por alguma invenção impraticável.
Os níveis de atividade aumentados podem se manifestar em horas pouco habituais do dia.
Autoestima inflada costuma estar presente, variando de autoconfiança sem críticas a
grandiosidade acentuada, podendo chegar a proporções delirantes (e.g., de ter um
relacionamento especial com uma pessoa famosa) são comuns.
Uma das características mais comuns é a redução da necessidade de sono.

Episódio Hipomaníaco:
A. Período distinto de humor anormal ou persistentemente
elevado, expansivo ou irritável e uma atividade ou energia
dirigida a objetivos anormal, com uma duração de pelo menos
de 4 dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase
todos os dias;

B. Durante o período de alteração de humor e aumento da energia


ou atividade estão presentes, persistem 3 (ou mais) dos

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seguintes sintomas (4 se o humor é apenas irritável),


representando uma alteração notória do comportamento
habitual e estando presentes num grau significativo:
1. Autoestima aumentada e grandiosidade;
2. Diminuição da necessidade de dormir;
3. Mais falador do que o habitual ou pressão para
continuar a falar;
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de aceleração do
pensamento;
5. Distratibilidade relatada ou observada;
6. Aumento da energia dirigida a objetivos (sociais,
emprego, escola, sexuais) ou agitação psicomotora;
7. Envolvimento excessivo em atividades com potenciais
elevadas consequências desagradáveis.

C. O episódio está associado com uma mudança inequívoca do


funcionamento que não é característica da pessoa quando não
está sintomática;

D. A perturbação do humor e a mudança são observáveis pelos


outros;

E. O episódio não é suficientemente grave para provocar um défice


marcado no funcionamento social ou ocupacional ou para
necessitar de hospitalização;

F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma


substância (droga de abuso) ou secundário a uma condição
médica.

 Nota: Os critérios de A-F constituem um episódio hipomaníaco. Os episódios hipomaníacos são


comuns na Perturbação Bipolar I, mas não são exigidos para a realização do diagnóstico de
Perturbação Bipolar I.

Episódio Depressivo Major:

A. Estão presentes 5 (ou mais) dos seguintes sintomas durante o mesmo


período de 2 semanas e representam uma alteração relativamente ao
funcionamento prévio; pelo menos um dos sintomas é (1) humor depressivo,
e (2) perda do interesse ou prazer.

1. Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias,


indicados ou pelo relato subjetivo (e.g., sente-se triste ou vazio) ou pela
observação dos outros (e.g., parece choroso);

Nota: Em crianças e adolescentes o humor pode ser irritável.

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2. Diminuição clara do interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as


atividades durante a maior parte do dia, quase todos os dias (indicado
pelo relato subjetivo ou pela observação);

3. Perda de peso, quando não está a fazer dieta, ou aumento de peso


significativo (e.g., uma alteração de mais de 5% do peso corporal num
mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias;

4. Insónia ou hipersónia quase todos os dias;

5. Agitação ou inibição psicomotora quase todos os dias (observável por


outros, e não meramente pelo relato subjetivo de se sentir agitado ou
lentificado).

6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias (ex.: a pessoa pode


sentir-se fatigada sem esforço físico; as tarefas mais pequenas requerem
um esforço substancial);

7. Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada (que


pode ser delirante: o indivíduo que está convencido que é responsável
pela pobreza no mundo) quase todos os dias (não meramente
autocensura ou sentimentos de culpa por estar doente);

8. Diminuição da capacidade de pensamento ou concentração, ou


indecisão, quase todos os dias (ou pelo relato ou pela observação de
outros);

9. Pensamentos recorrentes acerca da morte (não somente acerca do


medo de morrer; crença de que os outros estariam melhor se a pessoa
estivesse morta), ideação suicida recorrente sem um plano específico ou
uma tentativa de suicídio ou um plano específico para cometer suicídio.

B. Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou deficiência no


funcionamento social, ocupacional, ou qualquer outra área importante;

C. Os sintomas não são provocados pelo efeito fisiológico direto de uma


substância (e.g., abuso de droga, medicação) ou um estado físico geral (e.g.,
hipotiroidismo)

Perturbação Bipolar I Perturbação Bipolar II Perturbação Ciclotímica


Preenchimento dos Preenchimento dos Durante pelo menos 2 anos existiram
critérios para pelo critérios para pelo numerosos períodos com
menos 1 episódio menos 1 episódio sintomas hipomaníacos que não
maníaco hipomaníaco, e pelo preencheram critérios para um
menos um episódio episódio hipomaníaco e numerosos
depressivo major períodos com sintomas
depressivos que não preencheram
critérios para EDM

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Os episódios maníaco Inexistência de episódio Durante esse período de 2 anos, os


ou depressivo major maníaco prévio períodos hipomaníaco e
não são melhor depressivo estiveram presentes pelo
explicados por uma menos metade do tempo e o
perturbação indivíduo não esteve sem sintomas por
esquizoafetiva, mais de 2 meses seguidos
esquizofrenia,
perturbação
esquizofreniforme,
perturbação
delirante, outra
perturbação de
espectro da
esquizofrenia com
outra especificação
ou não especificada,
ou outra perturbação
psicótica
Os episódios maníaco ou Nunca estiveram preenchidos os critérios
depressivo major não para EDM, maníaco ou
são melhor Hipomaníaco
explicados por uma
perturbação
esquizoafetiva,
esquizofrenia,
perturbação
esquizofreniforme,
perturbação delirante,
outra
perturbação de espectro
da esquizofrenia com
outra especificação
ou não especificada, ou
outra perturbação
psicótica
Os sintomas do Critério A não são mais
bem explicados por uma
perturbação esquizoafectiva,
esquizofrenia, perturbação
esquizofreniforme, perturbação delirante,
outra perturbação de
espectro da esquizofrenia com outra
especificação ou não
especificada, ou outra perturbação
psicótica
Os sintomas não são provocados pelo
efeito fisiológico direto de uma
substância (por ex., abuso de droga,
medicação) ou um estado físico
geral (por ex., hipotiroidismo)

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Os sintomas causam mal-estar


clinicamente significativo ou défice no
funcionamento social, ocupacional ou
noutras áreas importantes do
funcionamento

Distribuição por idades:


A Perturbação Bipolar é rara em pré-adolescentes.

Etiologia:

Fatores genéticos: Quando um dos pais apresenta perturbação bipolar, a probabilidade de o filho
ter a doença é de 25% a 50%. Quanto maior for a distância no grau de parentesco, menor a
possibilidade de manifestação da doença.
Hormonais: a atividade do sistema imunológico está diminuída tanto na mania como na
depressão. Costuma ocorrer uma grande atividade da TSH (hormona que estimula a tiroide) e
uma redução nos níveis das seguintes hormonas:
GH (hormona do crescimento)
FSH (folículo-estimulina)
LH (hormona luteinizante)
Testosterona

Psicológicos: Ruminação, Elevado nível neuroticismo; Dificuldades na regulação emocional; Baixa


autoestima.

Tratamento:

Estabilizadores do humor – fármacos que atuam tanto nos sintomas maníacos como nos
depressivos.
Lítio
Valproato
Carbomazepina
Lamotrigina

Outros dados:
o 60% das pessoas com doença bipolar manifestam também problemas com álcool e
drogas;
o A doença atinge cerca de 10% da população, sendo 1% a 2% a do tipo I (mais forte) e até
8% dos tipos mais leves (II, III, IV e ciclotimia);
o Mais de 70% dos doentes apresentam outras perturbações psiquiátricas associadas
(ansiedade, perturbações alimentares);

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ESQUIZOFRENIA

Os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem uma gama de perturbações cognitivas,


comportamentais e emocionais, mas NENHUM SINTOMA É PATOGNOMÓNICO (i.e., característica
diferencial e específica) desta perturbação.
O diagnóstico envolve o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas associados a um
funcionamento profissional ou social prejudicado. Indivíduos com Esquizofrenia apresentarão
variações substanciais na maior parte das características, uma vez que a esquizofrenia é uma
síndrome clínica muito HETEROGÊNEA;

Sintomas Nucleares:
1. Alucinações Auditivas
2. Experiências de Controlo
3. Delírios
4. Alterações do Pensamento (Discurso)
5. Comportamento Motor Desorganizado ou Anormal
6. Sintomas negativos

1. Alucinações Auditivas
Perceções falsas na maior parte das vezes sob a forma de sons ou vozes dialogadas,
comentadoras das ações do indivíduo ou vozes de comando

2. Experiências de Controlo
O indivíduo sente-se sob controlo de forças externas e poderosas. Experiência a sensação de que
uma força externa penetrou a sua mente e corpo (espíritos, raio-X, implantação de transmissores
de rádio, ultra-sons, etc.)

3. Delírios
Crenças falsas pessoais acerca do mundo que resistem ao confronto com a lógica, e que podem
ter várias formas. Os delírios de referência são crenças de que o comportamento e as observações
dos outros estão de alguma forma relacionadas connosco (na rua, na TV, na rádio, etc.)

4. Alterações do Pensamento
Sensação de que certos pensamentos foram inseridos ou tirados da mente, ou que são divulgados
(os outros podem ouvi-los, mesmo a longas distâncias)

5. Comportamento Motor Desorganizado ou Anormal


Que se pode manifestar de diversas formas, desde um comportamento infantilizado (ou tolo) até
a uma agitação imprevisível, associado a dificuldade na realização de tarefas quotidianas. Pode
surgir o comportamento catatónico, o qual se traduz por uma redução acentuada na reatividade
aos estímulos ambientais. Sintomas Desorganizados:
 Desorganização do Discurso:
Discurso tangencial e descarrilamento
 Afeto Inapropriado:
O doente pode rir ou chorar em alturas em que isso é inapropriado. Os afetos
podem mesmo surgir discordantes (por exemplo, relatar jovialmente a morte de
alguém que lhe foi muito dolorosa)
 Comportamento Desorganizado:
O comportamento revela a ausência de um objetivo determinado

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6. Sintomas Negativos
Embotamento Afetivo; Alogia (pobreza do discurso); Apatia; Avolição; Anedonia e
Associabilidade. Dois dos sintomas negativos mais proeminentes na esquizofrenia são a
expressão emocional diminuída (que inclui reduções na expressão facial de emoções, no contato
visual, na entonação da fala e nos movimentos das mãos, da cabeça e da face, os quais
normalmente conferem ênfase emocional ao discurso) e a avolia (uma redução em atividades
motivadas, ou incapacidade de iniciar e persistir em atividades com uma finalidade.)
 Embotamento Afetivo:
▪ Expressão facial invariável (aparência imóvel e sem resposta da face do
sujeito, monotonia)
▪ Reduzido contacto ocular e reduzida expressão corporal
▪ Diminuição dos movimentos espontâneos
▪ Ausência de gestos expressivos
▪ Ausência de inflexões vocais

 Alogia (pobreza do discurso):


▪ Pobreza dos conteúdos da linguagem
▪ Respostas breves, lacónicas ou sem conteúdo
▪ Aumento do tempo de latência da resposta
▪ Diminuição na capacidade cognitiva (pensamentos) e na fluência ou
produtividade do discurso

 Apatia (abulia):
▪ Descuido no arranjo pessoal e na higiene
▪ Pouco empenho a nível do trabalho
▪ Falta de energia

 Avolia:
▪ Incapacidade de iniciar e persistir em atividades com objetivo

 Anedonia e Associabilidade:
▪ Perda do interesse ou capacidade de ter prazer
▪ Perda de interesse pelo sexo
▪ Perda de interesse pela diversão Incapacidade para sentir intimidade
Incapacidade para criar amigos

Critérios DSM 5: A esquizofrenia dura pelo menos seis meses, incluindo ao menos um mês de
sintomas da fase ativa (critério A).
A. Presença de dois (ou mais) dos seguintes sintomas, cada um por uma porção de tempo
significativa durante um período de 1 mês (ou menos se tratados com sucesso):
1. delírios;
2. alucinações;
3. discurso desorganizado (por exemplo, descarrilamento ou incoerência frequente);
4. comportamento marcadamente desorganizado ou catatónico;
5. Sintomas negativos (isto é, embotamento afetivo, alogia ou avolição);

B. Desde o início da perturbação e por um período significativo de tempo, uma ou mais


áreas principais de funcionamento, tais como o trabalho, o relacionamento interpessoal
ou o cuidado com o próprio, estão marcadamente abaixo do nível atingido antes do início

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(ou quando se inicia na infância ou na adolescência, a incapacidade para atingir o nível


interpessoal, académico ou ocupacional esperado)
C. Os sinais contínuos da perturbação persistem pelo menos durante seis meses. Neste
período de seis meses deve estar incluído pelo menos um mês de sintomas (ou menos,
se o tratamento tiver êxito) que preencham o Critério A (isto é, sintomas de fase ativa) e
podem estar incluídos períodos de sintomas prodrómicos ou residuais. Durante estes
períodos prodrómicos ou residuais, os sinais da perturbação podem manifestar-se
apenas por sintomas negativos, ou se estiverem presentes de forma atenuada dois ou
mais dos sintomas enumerados no Critério A (por exemplo, crenças estranhas,
experiências percetivas pouco habituais)

D. A Perturbação Esquizoafetiva ou a Perturbação do Humor com Características Psicóticas


foram excluídas devido a: (1) os episódios depressivos major ou maníacos não terem
ocorrido simultaneamente com os sintomas de fase ativa; ou (2) caso os episódios do
humor tenham ocorrido durante os sintomas de fase ativa, mas a sua duração total tenha
sido mais curta do que a duração dos períodos ativos e residuais

E. Exclusão de perturbações relacionadas com substâncias/estados físicos gerais: a


perturbação não é devida aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por
exemplo, abuso de drogas, ou medicamentos) ou a um estado físico geral.

F. Relação com uma Perturbação Global de Desenvolvimento: caso exista história de


Perturbação Autística ou outra Perturbação Global de Desenvolvimento, o diagnóstico
adicional de Esquizofrenia só é realizado se estiverem presentes ideias delirantes ou
alucinações proeminentes pelo período mínimo de um mês (ou menos, se tratadas com
êxito).

Diagnóstico Diferencial:

Perturbações relacionadas: perturbação esquizofreniforme, perturbação esquizo-afectiva,


perturbação delirante, perturbação psicótica breve. Diferenciam-se da esquizofrenia pela
natureza e duração dos sintomas psicóticos (Hirsch & Weinberger, 1995; Mckenna, 1997).

Indivíduos com perturbação bipolar ou depressão unipolar crónica (psicótica) podem também
manifestar características psicóticas, tais como alucinações e delírios (Goodwin & Jamison, 1992; Sands & Harrow,
1994).

Avaliação diagnóstica:

Uma das dificuldades na avaliação das perturbações psiquiátricas (esquizofrenia) é a colocação


dos doentes em categorias que não são sempre mútua/ exclusivas (esquizofrenia e perturbação
bipolar).

A distinção entre esquizofrenia e as perturbações afetivas depende do grau e persistência da


perturbação do humor e da relação dos sintomas psicóticos (alucinações e delírios) e o estado de
humor (Gelder, Gath & Mayou, 1989).
Quando os delírios são consistentes e congruentes com o estado de humor é uma indicação clara
para perturbação afetiva. Por exemplo, um indivíduo deprimido pode ter a crença forte e

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Psicopatologia I Sebenta de Psicopatologia I FPCEUC: MIP 2018/2023
Setembro – Dezembro de 2019 Inês Pinhel

inabalável de que se comporta imoral/ (delírio de culpa) só na presença de um estado de humor


disfórico.

O conceito de perturbação esquizoafetiva (Kasannin, 1933) engloba todos os indivíduos que


apresentam sintomas de ambas as perturbações.

Existem vários estudos que mostram que a maioria dos indivíduos com doença mental crónica e
persistente apresentam uma mistura de sintomas afetivos (maníacos e depressivos) e sintomas
psicóticos (Kendell & Gourlay, 1970; Brockington et al, 1991; Kendell & Brockington, 1980).

Epidemiologia:
Prevalência entre os adultos – 0.5 a 1.5 % Início – Agudo ou Insidioso, na maioria dos casos com
sintomas prodrómicos.
Fatores de Bom Prognóstico – Boa adaptação pré-mórbida, início agudo, idade de início mais
tardio, ausência de anosognosia, sexo feminino, acontecimentos precipitantes, perturbação de
humor associada, tratamento logo após o início da doença, duração breve da fase ativa, ausência
de alterações estruturais cerebrais, história familiar de perturbação de humor e ausência de
história familiar de esquizofrenia.

Idade de início:
→ A esquizofrenia surge frequentemente entre o fim da adolescência e meados dos 30
anos;
→ O início antes da adolescência é raro;
→ A idade de pico do início do primeiro episódio psicótico é no início da idade adulta; entre
o início e a metade da faixa dos 20 anos para o sexo masculino e fim dos 20 anos para o
feminino.

→ Casos com início na infância tendem a apresentar uma evolução menos positiva. Crianças
que mais tarde recebem o diagnóstico de esquizofrenia são mais propensas a ter sofrido
perturbações e psicopatologia emocionais e/ou comportamentais não especificadas,
alterações intelectuais e na linguagem e atrasos motores sutis.

→ Casos com início tardio (i.e., após os 40 anos de idade) são mais comuns nas mulheres.
Frequentemente, o curso caracteriza-se por predominância de sintomas psicóticos com
preservação do afeto e do funcionamento social.

Curso e Evolução:

O curso é heterogéneo. O curso e a evolução da esquizofrenia é determinado por uma variedade


de fatores biológicos, psicológicos e sociais, tais como: condições de vida, género, estatuto
socioeconómico, personalidade pré mórbida, etc. Os resultados de diversos estudos mostraram
que a esquizofrenia se distribui equitativamente ao longo de diferentes grupos culturais (Birchwood
& Jackson, 2001).

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