Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2 de Outubro de 2015
Conteúdo
1 Apresentação 6
2 Motricidade e Linguagem 8
2.1 Alterações Motoras Neurológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.1.1 Alterações da Linguagem Neurológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.2 Alterações Motoras Compreensı́veis Psicologicamente . . . . . . . . . . . . . 12
2.3 Alterações Motoras e da Linguagem Psicóticas . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3 Contacto 18
6 Pensamento 31
6.1 Alterações do curso do pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
6.2 Alterações da forma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6.3 Alterações da posse do pensamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
6.4 Alterações do conteúdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2
7 Alterações da Perceção 37
7.1 Distorções sensoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
7.1.1 Alterações de intensidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
7.1.2 Alterações da qualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
7.1.3 Alterações da forma espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
7.2 Enganos Sensoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
7.2.1 Ilusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
7.2.2 Alucinações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
9 Memória 43
10 Inteligência 45
Referências 49
3
Introdução
4
a um corte transversal no estado e sintomatologia que o doente apresenta. Para fazê-lo é
necessária um bom conhecimento da Psicopatologia.
Para facilitar a sistematização e a orientação a seguir no exame mental apresenta-se uma
ordem a que poderá obedecer a observação e registo dos dados psicopatológicos:
1. Apresentação do doente
2. Motricidade e Linguagem
3. Contacto
4. Consciência e Atenção
6. Pensamento
7. Perceção
8. Alterações da Estrutura do EU
9. Memória
10. Inteligência
5
Capı́tulo 1
Apresentação
Começa-se por fazer uma avaliação do tipo de doente a observar, anotando se ele vem por
iniciativa própria, se forçado por outros ou se enviado pelo seu médico assistente.
Isto dá logo uma primeira ideia acerca da gravidade da situação, da crı́tica que o doente
mantém sobre a sua doença e vai permitir, embora de uma forma grosseira, traçar duas
grandes linhas gerais de pesquisa posterior:
(a) Patologia Psicótica - o doente não tem crı́tica adequada e, habitualmente, vem forçado
por outros.
(b) Patologia Neurótica - o doente tem crı́tica razoável da situação e vem de livre vontade
ou aconselhado.
Quando se avalia o aspecto fı́sico (Biótopo) isso pode dar pistas de possı́veis fontes
traumáticas - por exemplo, o biótipo displásico, origina muitas vezes conflitos por alterações
da imagem corporal. Os outros biótipos que podemos encontrar são o normolı́neo, o bre-
vilı́neo, o longilı́neo, o atlético e o asténico. Classicamente, e segundo alguns autores, embora
nem sempre assim aconteça, o biótipo brevilı́neo, ou pı́cnico parece ser mais propenso ao de-
senvolvimento de doenças afetivas; o longilı́neo mais ao desenvolvimento de esquizofrenia e
o atlético e asténico mais propensos para doenças de foro neurótico.
6
Pela forma como o doente se veste e cuida da sua higiene pessoal (tendo em linha de
conta, ao avaliar estes aspectos, o ambiente social em que ele está inserido) pode ver-se se
será um perfeccionista, um exibicionista ou um ”desleixado”.
7
Capı́tulo 2
Motricidade e Linguagem
Em determinados casos, durante a primeira avaliação, o psiquiatra só dispõe dos dados
colhidos pela observação da apresentação do doente e do seu comportamento motor.
Para estabelecer um juı́zo prévio, podem tirar-se daqui informações muito valiosas.
Em relação à motricidade deve registar-se, de uma forma geral, se o doente está agitado,
inquieto, lento, apático, estático, hiperativo ou estuporoso.
Por vezes, não é fácil dizer se o doente está inquieto, agitado ou hiperativo, visto entre
estas três situações existirem apenas diferenças de gradação cujos limites são difı́ceis de
precisar. A inquietação é a atividade motora que traduz preocupação podendo manifestar-
se, por exemplo, por contorcer as mãos, por limpar um suor imaginário da face, etc.
A agitação é um pouco mais intensa, podendo o doente ser incapaz de estar sentado na
cadeira, - levanta-se e dá pequenos passeios pelo gabinete, volta a sentar-se, mexe-se várias
vezes, etc. - e, geralmente, é também mais duradoura.
Na hiperatividade o indivı́duo pode estar descontroladamente excitado, correndo pela
sala, agitando os braços, por vezes falando muito alto, ou gritando; pode atirar objetos,
pode tentar executar várias tarefas nunca conseguindo acabar nenhuma. A hiperatividade
pode apontar-nos, por exemplo, para a pesquisa de doenças cerebrais orgânicas ou de psicose
manı́aco-depressiva, em fase manı́aca.
8
A lentificação motora para quadros afetivos do tipo depressivo.
A inquietação para quadros ansiosos. A apatia e o estupor para quadros psicóticos
esquizofrénicos, ou outros, ou para uma depressão muito grave.
Devemos também verificar a postura; se ela é tensão ou flácida, se expansiva ou retraı́da
e se há ou não esteriotipias motoras - estas últimas são mais caracterı́sticas da esquizofrenia.
Embora com algumas variações individuais e culturais, a expressão facial ou mı́mica, é
de extrema importância.
Exemplo. É caracterı́stico dos latinos uma grande expressividade emocional. Eles acompa-
nham, habitualmente, a fala com amplos gestos. Ao contrário destes, os anglo-saxónicos são
pouco expressivos, muito parcimoniosos. Assim, um latino em Londres pode, eventualmente,
ser considerado hipomanı́aco ou mesmo manı́aco, se não se tiverem em atenção as diferenças
culturais.
9
Por vezes, as mesmas alterações motoras podem aparecer quer em quadros orgânicos,
quer em situações psiquicamente compreensı́veis, quer ainda em psicoses.
Algumas predominam mais nuns quadros do que noutros. Em muitos casos é impossı́vel
separá-las de acordo com os quadros em que aparecem. A divisão que se apresenta é, pois,
um pouco arbitrária em alguns aspectos, visando apenas facilitar a sua compreensão:
1. Sistema Piramidal
10
Apraxias - O doente é incapaz de fazer o movimento adequado à intenção.
Tremor estático - É um tremor que aparece quando o indivı́duo está em repouso. Pode
surgir no parkinsonismo, na tireotoxicose, no alcoolismo, no abuso de drogas e em
sı́ndromes de privação. Pode aparecer também em pessoas idosas e em personalidades
ansiosas. Por vezes pode ser um sintoma histérico.
11
Disfasia - O doente não é capaz de nomear os objetos embora possa reconhecê-los. Fica
muito ansioso e utiliza, com frequência, perifrasias, ou seja, em vez do nome tenta dizer
para que servem os objetos. É caracterı́stica do psicossı́ndrome cerebral orgânico.
Afasia - É uma alteração da fala que resulta das conexões transcorticais das áreas da fala,
sensitivas e/ou motoras. Há dois tipos:
Gaguez - Alteração da fala, de todos bem conhecida, e que se agrava nos estados ansiosos.
Manuseamentos - O doente manipula tudo o que estiver ao seu alcance - pequenos objetos,
o vestuário, os cabelos, etc. Traduzem, normalmente, ansiedade.
12
normais (nos artistas, por exemplo), nos adolescentes ansiosos, inseguros e imaturos,
em personalidades anormais. São também muito frequentes nos esquizofrénicos.
As alterações motoras psicóticas podem ser subjetivas ou objetivas. Aqui serão abordadas
apenas as objetivas.
Subjetivas
13
experimenta os seus pensamentos, sentimentos e ações como sendo estranhos a ele, isto é um
sintoma de primeira linha para o diagnóstico de esquizofrenia.
Objetivas
1. Estados Acinéticos:
Flexibilidade cérea - Neste caso existe um tensão muscular muito fraca e fácil de
vencer; como se fossem velas de cera, os membros do doente deixam-se colocar
nas posições mais variadas, muitas vezes incómodas e aı́ permanecem fixos. A
estas posições fixas, imóveis, que se mantêm por algum tempo, também se chama
catalepsia.
2. Estados Hipercinéticos:
14
batem com a cabeça na parede, etc. Quase todos os movimentos cessam rapidamente,
sendo logo substituı́dos por outros. Este estado pode chegar a durar semanas ou meses.
15
Sincinésias - São formas menores de automatismos. Há contrações isoladas e in-
voluntárias de pequenos grupos musculares. Aparecem também na esquizofrenia
catatónica.
Ecopraxia - É a imitação de ações simples como, por exemplo, bater palmas, estalar
os dedos. Os doentes com ecopraxia copiam as ações do entrevistador e também
de outras pessoas do seu ambiente.
Ecolália - O doente ecoa uma parte ou tudo o que se lhe diz, repetidas vezes, quer
perceba ou não o que lhe foi dito.
Se se falar numa lı́ngua totalmente sua desconhecida, ele ecoa da mesma forma
como se tivesse percebido.
Exemplo.
Palilália - É repetida uma palavra completa com velocidade cada vez maior e audi-
bilidade cada vez menor.
(a) demências
(c) catatonia
16
(d) alterações do estado de consciência
Exemplo. ”Cheguei logo, cão, comboio, escrevo uma carta carro, comi viagem
de avião!!”
Estupor - É um estado em que o doente fica mudo e imóvel, como que paralisado.
(c) catatonia
17
Capı́tulo 3
Contacto
Que tipo de contacto estabelece o doente com o clı́nico? Que atitude tem em relação ao seu
estado?
É um contacto cordeal e adequado? - Pode não ser um caso psiquiátrico.
É um contacto superficial? - Pode ser por defesa.
É um contacto exuberante? - Pode tratar-se de uma mania, de um alcoolismo.
É um contacto difı́cil? - Pode estar deprimido.
É negativista? - Pode tratar-se de uma esquizofrenia.
É um contacto hostil ou indiferente? ”Não se rala com o que lhe está a acontecer?- Pode
ser uma personalidade anormal ou uma histeria, por exemplo.
Em alguns casos o contacto pode não ser possı́vel porque o doente vive voltado para dentro
de si. Chama-se a isto autismo e é uma situação que se pode encontrar na esquizofrenia.
Negativismo é uma forma de contacto em que existe uma resistência, aparentemente
desmotivada, a qualquer interferência. Pode encontrar-se na esquizofrenia, atraso mental
grave e demências. Pode ser passivo, quando toda a interferência é recusada e as ordens não
são executadas, ou ativo, quando o doente faz o oposto do que lhe é pedido.
18
Capı́tulo 4
Este é um aspecto muito importante pois a valorização de toda a psicopatologia que se possa
encontrar vai depender essencialmente dele.
Assim, por exemplo, sintomas que poderiam ser classificados de esquizofrénicos, não
o poderão ser logo à partida, se o doente não estiver consciente e orientado. Alterações do
estado de consciência e orientação apontam, mais significativamente, para quadros orgânicos.
Portanto, só quando a consciência está clara é que se pode, propriamente, falar em
alucinações, ideias delirantes e delı́rios autênticos.
Podemos definir consciência como a sı́ntese que o indivı́duo faz, num dado momento, de
todas as suas atividades psı́quicas, percetivas e motoras.
Um estado de consciência claro exige, pois, que a pessoa tenha, nitidamente, diante de
si aquilo que vê, o que pensa, que saiba o que quer e o que faz; exige, por outras palavras,
consciência do ambiente e do eu.
Os sinais objetivos da clareza da consciência são:
19
O outro sinal objetivo é a capacidade de responder a perguntas e de prestar atenção.
As alterações do estado de consciência não são uniformes, podendo também ser originadas
por causas diversas, que se devem pesquisar, como, por exemplo, tóxicos variados, lesões
cerebrais, doenças metabólicas, reações psı́quicas anormais.
Há alterações do estado de consciência que são consideradas normais e que qualquer
pessoa pode experimentar como, por exemplo, o sono e o sonho.
Outras situações em que a consciência está alterada são a lipotı́mia, a hipnose, o coma -
com variadı́ssimas causas - certos estados epilépticos crepusculares e nas convulsões.
As alterações da consciência podem ser temporárias (Exemplo. crises convulsivas)
intermitentes, definitivas, flutuantes ou progressivas como, por exemplo, nas demências.
Um dos aspectos mais importantes que condiciona a clareza de todas as nossas vivências é
a atenção. Dela dependem toda uma série de alterações ligeiras da consciência - obnubilação
- que é difı́cil caracterizar dado que os doentes apenas manifestam uma distractibilidade
aumentada.
Todos nós já vivenciámos a experiência de que, por exemplo, quando estamos absorvidos
numa leitura, a intensidade da nossa consciência é menor porquanto estamos distraı́dos em
relação ao que se passa à nossa volta.
A atenção pode ser ativa ou passiva.
Ativa quando o indivı́duo foca a atenção em algum acontecimento externo ou interno.
Passiva quando é um acontecimento, interno ou externo, que atrai a atenção do indivı́duo
sem nenhum esforço consciente da sua parte.
As duas formas estão intimamente relacionadas pois quanto maior for a atenção ativa,
tanto menor será a passiva, ou seja, para que esta entre em ação a intensidade dos estı́mulos
tem que ser maior.
Alterações da atenção ativa, sob a forma de distractibilidade, ocorrem em várias situações:
(a) fadiga
(b) ansiedade
20
(c) depressão
(d) mania
(e) esquizofrenia
Por exemplo, nos deprimidos e ansiosos, a atenção ativa está prejudicada - diminuı́da -
porque os doentes se focam demasiado nas suas preocupações e problemas, não prestando a
atenção habitual ao que os rodeia. Daı́ o ser frequente apresentarem queixas de dificuldade
de concentração e dificuldades de memória que são de carácter subjetivo não traduzindo
lesões orgânicas.
21
Capı́tulo 5
22
É importante saber se existe uma variação diurna perguntando ao doente se o seu humor
varia da manhã para a tarde. O humor deprimido matinal é mais frequente na depressão
endógena.
Perante as várias situações da vida, o indivı́duo pode responder duma maneira global,
ficando emocionalmente relacionado com essas situações. É neste sentido que se entendem
os afetos, usando-se o termo afetividade para designar a vida emocional total do indivı́duo.
Chamam-se doenças afetivas as perturbações em que a alteração principal ou primária é a
do humor.
Os afetos podem ser superficiais como acontece, por exemplo, nos histéricos e psicopatas,
profundos ou inadequados.
Os esquizofrénicos apresentam, frequentemente, uma indiferença afetiva total ou afetos
ambivalentes; por exemplo, amam e odeiam, simultaneamente, de uma forma intensa.
Quando não existe patologia do afeto diz-se que o indivı́duo é sintónico.
Existem indivı́duos que apresentam uma resposta emocional aumentada em que o
humor varia desde a euforia à tristeza com leves mudanças do seu ambiente emocional. São
indivı́duos altamente sugestionáveis e que facilmente se comportam de forma desinibida.
Em oposição a estes existem os emocionalmente frios que apresentam diminuição da
resposta emocional, indiferença geral e ausência de sentimentos finos.
Alguns autores afirmam que a privação materna e uma infância desagradável podem
originar indivı́duos deste tipo, no entanto, há pessoas que tiveram experiências semelhantes
e que não apresentam esse temperamento, o que leva a pensar que também haja alguma
predisposição constitucional.
Devido à indiferença e pobreza emocional, estes indivı́duos podem confundir-se, por vezes,
com esquizofrénicos hebefrénicos. A distinção faz-se pela existência, nos últimos, de uma
alteração recente da expressão emocional enquanto que os primeiros foram sempre frios.
As crianças e adolescentes são dois grupos emocionalmente instáveis. Com o crescimento
surge, naturalmente, o desejo de auto-afirmação e liberdade; começa a entrada no mundo
23
adulto de responsabilidades que ainda não se compreendem bem e com que não se sabe lidar
de forma adequada, o que pode gerar conflitos de vária ordem com os adultos e, secun-
dariamente, sentimentos de insegurança, atitudes ambivalentes e expressões exageradas das
emoções.
Habitualmente, o indivı́duo adulto mantém um balanço emocional resistindo aos efeitos
dos estı́mulos externos, no entanto, cada pessoa tem o seu ponto de rutura a partir do qual
surgem alterações emocionais.
O tipo de reação e a sua duração vão depender essencialmente da personalidade do
indivı́duo (constituição, fatores de aprendizagem e socio-culturais) e da situação traumática.
Existem reações emocionais normais em que há uma variação da quantidade e não da
qualidade das emoções, ou seja, são emoções normais exageradas.
A reação emocional mais frequente é a ansiedade. Podemos defini-la como uma resposta
emocional global que apresenta sintomas a três nı́veis diferentes embora interligados:
1. Nı́vel vegetativo
2. Nı́vel motor
3. Nı́vel cognitivo
24
O primeiro atua facilitando que os órgãos se mobilizem, executem trabalho ou funções
violentas, acelerando a frequência cardı́aca, elevando a T.A., provocando a libertação de
glicose no sangue, etc.
O segundo facilita o restabelecimento de energia, baixando a T.A., reduzindo a frequência
cardı́aca, etc.
A atividade destes dois sistemas é coordenada por centros que se localizam no hipotálamo.
Na região anterior localiza-se o centro coordenador do parassimpático e na região posterior
o centro do simpático.
Ambos estes sistemas, com efeitos antagónicos, se encontram num equilı́brio dinâmico
que está constantemente a ser alterado por ação de vários estı́mulos internos, externos e por
modificações intracerebrais condicionadas por estados emocionais que influenciam os órgãos
efetores dos nervos vegetativos, podendo dar palidez, sudação, palpitações, diarreia, etc.
Em condições fisiológicas a ativação de um sistema inibe o outro e vice-versa. Em de-
terminadas situações este equilı́brio dinâmico pode alterar-se passando a haver desvio do
balanço ergotrópico/trofotrópico num ou noutro sentido.
Fisiologicamente verifica-se que nas emoções agudas simples como o medo, por exem-
plo, a resposta primária é parassimpática e, só secundariamente, é que aparecem descargas
simpáticas com secreção aumentada de adrenalina. Nas emoções crónicas (neuroses) estão
envolvidas descargas simultâneas ergotrópicas e trofotrópicas com consequente perturbação
do comportamento.
25
as costas, o pescoço e os ombros. São devidas ao aumento do tónus muscular.
Corresponde aos pensamentos do doente. Muitas vezes referem-e a este aspecto dizendo
”sinto-me tenso”. Querem dizer não tensão muscular mas ”tensão nervosa”, ou seja, pre-
ocupação constituı́da por uma sucessão de pensamentos dolorosos, desagradáveis, que se
traduzem, geralmente, num medo difuso ante perigos reais ou imaginários. Geralmente, os
doentes apenas se apercebem do componente vegetativo, não tomando consciência da ligação
dos sintomas com os seus problemas de vida que são a causa da sua ansiedade. É frequente
fazerem atribuições incorretas ao que sentem pensando que têm doenças fı́sicas graves, o que
os leva a percorrer vários serviços de medicina e cirurgia na tentativa de as esclarecer.
As situações ansiosas são bastante frequentes na prática clı́nica, razão pela qual se deve
conhecer bem o problema da ansiedade para melhor podermos tranquilizar os doentes,
ajudando-os a interpretar corretamente os seus sintomas, cortando com a ”corrida”a vários
médicos e com o cı́rculo vicioso que se estabelece entre os três nı́veis atrás descritos. Um au-
mento de pensamentos desagradáveis leva a um aumento dos sintomas vegetativos e motores
e vice-versa. É importante que o doente perceba bem este mecanismo para não cronificar as
suas queixas.
A ansiedade pode aparecer no indivı́duo normal como reação adaptativa a determi-
nadas circunstâncias ambienciais que imponham ao indivı́duo uma expectativa de perigo,
surgindo enquanto a ação efetiva, de luta ou fuga, ainda não possa ser executada.
A ansiedade pode constituir um traço individual, ou seja, ser um aspecto contı́nuo da
estrutura da personalidade. O traço é comum e persistente, não patológico, podendo até ser
útil para um bom desempenho do indivı́duo.
Pode ser um sintoma - este é transitório, perturbador, não é comum e pode fazer parte
de vários quadros clı́nicos. Está presente em quase todos os quadros psiquiátricos e em
26
muitas situações orgânicas, como, por exemplo:
1. tireotoxicose
3. sı́ndrome pós-concussão
4. coreia
5. aterosclerose cerebral
6. S. de Parkinson
27
Exemplo. Fobia a sangue, a cães, fobia social, etc.
No campo psiquiátrico, como já foi referido atrás, a ansiedade pode aparecer em, prati-
camente, toda a patologia, predominando nas Neuroses.
A emoção tı́pica desta reação é a tristeza. Pode ser normal se se segue a uma perda
ou desapontamento significativos para a pessoa e durar apenas alguns dias. Pode
ser anormal, constituindo a Depressão neurótica, se se prolonga no tempo, ou pode ser
mais gravemente patológica como na depressão endógena em que existe um humor triste
mórbido, associado a sentimentos de desespero, infelicidade, preocupações excessivas e
outros sintomas psicofisiológicos, podendo mesmo atingir intensidade delirante.
A reação depressiva pode aparecer também em doenças orgânicas ou ser induzida por
drogas.
1. Doenças Endócrinas
(e) Hiperparatiroidismo
2. Doenças Virais
(a) Pneumonias
(b) Hepatite
28
(c) Gripe
3. Outras
1. Reserpina
2. alfa-Metil-Dopa
3. Propanodol
4. Guanetidina
5. Clonidina
6. Hidralazina
7. Levodopa
8. Corticosteróides
9. Tuberculostáticos
10. Citostáticos
11. Estrogénios
12. Progesterona
Euforia - É outro tipo de reação que podemos definir como uma felicidade exagerada. É
geralmente patológica podendo, no entanto, ocorrer de forma reativa como, por exem-
plo, quando se recebe a notı́cia de uma herança inesperada. Aparece nos indivı́duos
hipertı́midos.
29
Os ciclotı́midos, distı́midos e personalidades irritáveis têm curtos episódios de euforia
que não são mórbidos. Reações de euforia podem também aparecer em lesões do lobo
frontal, esclerose disseminada e esquizofrenia hebefrénica.
30
Capı́tulo 6
Pensamento
Durante a entrevista procura-se que o doente discorra de maneira espontânea para se averi-
guar se há ou não alterações do seu pensamento. O pensamento normal é aquele que atinge
diretamente o objetivo que se propõe através de uma ideia diretriz adequada.
As alterações que podemos encontrar podem ser do curso (ou corrente), da forma, da
posse ou do conteúdo.
Fuga de ideias - Caracteriza-se por uma sucessão rápida de pensamentos, sem direção,
sendo a associação de ideias feita por relações ocasionais, semelhanças, provérbios, di-
tos antigos, etc. É tı́pica dos manı́acos, podendo geralmente compreender-se o discurso,
embora em alguns casos mais graves este possa tornar-se incoerente. Ocasionalmente
pode encontrar-se também em esquizofrénicos excitados e em estados orgânicos, sobre-
tudo resultantes de lesões hipotalâmicas.
31
curso lento. O doente exprime-o dizendo ter dificuldade em tomar decisões, ser incapaz
de se concentrar ou prestar atenção. É uma alteração tı́pica da depressão inibida.
Deve salientar-se que pessoas exaustas e ansiosas perdem, com facilidade, o fio da
conversa, parecendo bloquear, mas, apercebem-se disso dizendo muitas vezes ”esqueci-
me do que ia dizer”e, geralmente, retomam algum tempo depois a sua linha de pen-
samento. Estes fenómenos não são verdadeiros bloqueios, podendo designar-se de
”pseudo-bloqueios”.
Pensamento circunstancial - O pensamento atinge o seu objetivo mas até lá vai-se
processando, lentamente, com muitos detalhes triviais e desnecessários. Parece traduzir
egocentrismo, podendo fazer parte da alteração da personalidade epiléptica.
32
respostas que o doente dá posteriormente infere-se que ele percebeu a questão ini-
cial que lhe foi colocada. Alguns esquizofrénicos negativistas apresentam este tipo de
pensamento utilizando, por vezes, para-respostas (respostas ”ao lado”).
O normal é o indivı́duo experimentar os seus pensamentos como sendo seus, sentindo que
é ele que os controla. Em algumas doenças psiquiátrica existe uma perda do controlo ou
sentido de posse do pensamento.
33
5. Tem tendência à iteração ou repetição.
Poderá dizer que tem pensamentos estranhos, vindos de fora, que lhe são impostos
por alguém que os insere na sua cabeça - inserção de pensamento - ou que à
medida que pensa os pensamentos lhe são retirados por influências externas - roubo
do pensamento - ou ainda que toda a gente sabe o que ele pensa - divulgação do
pensamento.
Estas são constituı́das pelos delı́rios que podemos definir como falsas crenças inabaláveis
(não suscetı́veis de argumentação lógica), em desacordo com o passado cultural e social do
34
doente.
Os verdadeiros delı́rios têm origem em experiências delirantes primárias que não podem
ser deduzidas de nenhum outro fenómeno mórbido. A ideia delirante é, pois, uma ideia
errada que resiste ao confronto lógico com a realidade, sendo secundária a qualquer outro
fenómeno mórbido psicológico. Pode compreender-se partindo de uma base errada. Pode
ocorrer em todas as psicoses e em reações psicogénicas.
Exemplo. Doente que tem uma dor de barriga e afirma ter um carcinoma. Faz todos os
exames e o médico confronta-o dizendo que a sua dor abdominal não está relacionada com
o cancro. Mas o doente continua a afirmar e a acreditar que tem um cancro.
35
Perceção delirante - É uma experiência, sempre primária, que consiste na atribuição de
um novo significado, geralmente no sentido de auto-referência, a um objeto percebido
normalmente. Esse novo significado não se compreende como originário do estado afe-
tivo do doente ou de atitudes prévias. Deve ser distinguida da interpretação delirante.
Exemplo.
de Perceção delirante: Um amigo oferece um bebida a um doente. Este vê que é uma
bebida (perceção correta) mas imediatamente foge convicto de que o amigo o está a
acusar de ser homossexual e o vai denunciar.
36
Capı́tulo 7
Alterações da Perceção
Nas alterações da intensidade existem duas variedades que se designam por Hiperestesia e
Hipostesia. A hiperestesia corresponde a um aumento da intensidade das sensações, podendo
resultar de emoções intensas ou de uma baixa do limiar fisiológico.
Exemplo. O doente ansioso pode perceber pequenos ruı́dos como grandes estrondos.
37
No delı́rio, para além de existir uma atenção deficiente, o limiar para todas as sensações
está aumentado, havendo por estes dois motivos, dificuldades de perceção. Quando se aborda
um doente delirante é importante recordar isto pois se se falar alto e lentamente consegue-se,
quase sempre, que se tranquilize e coopere.
Às alterações da forma espacial chama-se dismegalópsia. Podem resultar de doenças da re-
tina, alterações da acomodação e convergência e de lesões centrais. Ocasionalmente, podem
ocorrer no envenenamento por atropina ou hioscina. O doente pode ver os objetos mais pe-
quenos, ou mais longe do que na realidade estão, designando-se esta alteração de micrópsia.
À alteração contrária chama-se macrópsia.
A metamorfopsia é uma perceção irregular, resultante, geralmente, da existência de
cicatrizes com retração na retina.
7.2.1 Ilusões
São falsas perceções produzidas pela combinação de estı́mulos vindos de um objeto com uma
imagem mental. Em si mesmas não são patológicas podendo ser corrigidas pelo indivı́duo.
Resultam da perda de clareza da perceção e de emoções intensas.
Exemplo. Uma pessoa normal que anda à noite numa rua escura, como não distingue
corretamente o que a rodeia e vai algo receosa pode interpretar sombras inofensivas como
38
pessoas ameaçadoras. As ilusões também são frequentes em doentes delirantes.
7.2.2 Alucinações
Podemos defini-las, de uma forma breve, como ”perceções sem objeto”. A alucinação vem
de ”dentro”do indivı́duo embora ele lhe reaja como se fosse uma verdadeira perceção vinda
de fora.
Podem ocorrer em qualquer modalidade de sentido - auditivas, visuais, olfactivas, gusta-
tivas e tácteis.
Se constituı́das apenas por ruı́dos ou ”flashes”de luz designam-se de elementares; se
constituı́das por música ou desenhos são particularmente organizadas; se constituı́das
por vozes, pessoas, objetos ou animais diz-se que são organizadas.
Quando representam cenas completas denominam-se de alucinações cénicas.
As principais causas de alucinações são alterações dos órgãos sensoriais, privação de
sentidos, afeções do Sistema Nervoso Central, substâncias tóxicas alucinogénicas, emoções
intensas, sugestão e também a privação de sono. Por sugestão podem aparecer, por exemplo,
em histéricos com graves alterações do comportamento.
Os deprimidos, com delı́rio de culpa, podem ouvir vozes reprovadoras, que não são
contı́nuas como na esquizofrenia, constituı́das por uma ou duas palavras ou frases muito cur-
tas e ditas, geralmente, na 2a pessoa como, por exemplo: ”Patife”, ”Não prestas”, ”Mata-te”,
etc.
Se um doente, que parece deprimido, ouve vozes contı́nuas e persistentes deve suspeitar-se
de esquizofrenia ou doença orgânica.
Alucinações auditivas, sob a forma de vozes, são mais caracterı́sticas de esquizofrenia
sendo frequente referirem-se ao doente na 3a pessoa. Por vezes dão-lhe ordens que ele se
sente obrigado a executar - são as alucinações imperativas - outras vezes falam umas com
as outras - vozes dialogadas. Quando comentam o doente e as suas ações na 3a pessoas
chamam-se vozes comentadoras.
39
Por vezes as vozes abordam temas sexuais. São desagradáveis para o doente mas, ocasi-
onalmente, podem ser amigas e tranquilizadoras, ou então dizer disparates incompreensı́veis
ou usar neologismos.
Um tipo de alucinação auditiva, que é um sinal primário de esquizofrenia, é o eco do pen-
samento. Consiste em ouvir os próprios pensamentos falados em voz alta. Na divulgação
e roubo do pensamento, à medida que o doente pensa, outras pessoa lhe roubam os pensa-
mentos sendo estes, assim, divulgados.
É a partir destas experiências que depois o doente organiza os delı́rios na tentativa de
explicar a origem. Pode dizer que resultam de feitiçaria, de raios atómicos, de telepatia,
rádio, televisão, etc.
As alucinações visuais, embora também possam aparecer na esquizofrenia, são mais fre-
quentes em estados orgânicos agudos. No delirium tremens é frequente os doentes verem
animais, tais como ratos, insetos, aranhas, cobras - alucinações zoópsicas.
As cénicas predominam em alterações psiquiátricas associadas à epilepsia, sendo fre-
quentes visões de fogo e de cenas religiosas.
Alucinações do olfacto podem ocorrer na esquizofrenia, em estados orgânicos e, mais ra-
ramente, nos deprimidos. Por vezes, podem anunciar uma crise convulsiva epiléptica (aura).
Alucinações do gosto também ocorrem na esquizofrenia e em estados orgânicos agudos.
Alucinações tácteis - Os doentes sentem que animais passeiam pelo corpo. Podem apa-
recer na esquizofrenia, estados orgânicos e na psicose por cocaı́na. Nesta última associam-se
a ideias persecutórias e são conhecidas por ”micróbio da cocaı́na”.
Há doentes que se queixam de sensações elétricas e sexuais. Quando isto acontece na
ausência de lesão cerebral o diagnóstico mais provável é de esquizofrenia. A mulher esqui-
zofrénica pode queixar-se de ser vı́tima de abusos sexuais e o homem de orgasmos e ereções
forçados. Na privação de sono surgem alucinações hipnagógicas, situação que não é necessa-
riamente patológica.
40
Outros tipos de alucinações
Aluciações extracampinas - O doente tem alucinações que estão fora do campo sensorial.
Exemplo. Doente que olha ao longe e diz ver alguém atrás de si.
Alucinações funcionais - Há um estı́mulo real que causa a alucinação sendo experimen-
tado ao mesmo tempo que esta.
Exemplo. Doente que ouve o chilrear dos pássaros e simultaneamente ouve a voz de
Deus. Ouve o relógio bater e ao mesmo tempo a voz de Deus, concluindo que Deus
fala com ele através dos ruı́dos.
Alucinações reflexas - Um estı́mulo num campo sensitivo produz uma alucinação noutro.
Exemplo. Doente que ao ouvir um espirro sente dor de cabeça estando convencido
que é o espirro que provoca a dor de cabeça.
Os doentes que têm alucinações reagem de formas variadas. Nos estados orgânicos ficam,
habitualmente, aterrorizados, assim como no inı́cio da esquizofrenia. Mais tarde, na esqui-
zofrenia, quando o doente pensa ter descoberto a origem das alucinações pode ficar muito
zangado e atacar pessoas que julga responsáveis por elas. Muitas vezes fica, simplesmente,
irritado devido à persistência e conteúdo abusivo das vozes.
Alguns doentes inteligentes podem aperceber-se que é anormal ouvir-se vozes, negando a
sua existência. Outros ficam serenos vivendo com as suas alucinações como se fossem velhos
amigos.
41
Capı́tulo 8
Alterações da imagem corporal - O doente diz que o seu corpo ou partes do seu corpo
estão diferentes do que eram.
42
Capı́tulo 9
Memória
43
capaz de desempenhar padrões complicados de comportamento, o que não acontece quando a
amnésia é orgânica. É mais frequente quando o indivı́duo tenta escapar de alguma dificuldade
ou responsabilidade.
A amnésia ansiosa deve-se à interferência da ansiedade excessiva com a perceção e a
compreensão.
44
Capı́tulo 10
Inteligência
Idade mental
Q.I. = × 100 (10.1)
Idade cronológica
45
cálculo através de pequenas contas de subtrair ou somar; propondo-lhe que se imagine em
situações concretas difı́ceis e perguntando-lhe como as resolveria. Por exemplo : ”Que faria
se encontrasse um envelope endereçado caı́do na rua?”.
46
Capı́tulo 11
47
erétil e orgástica, entre outras - o que ocorre com mais frequência em indivı́duos com proble-
mas de natureza ansiosa, devendo sempre excluir-se patologia orgânica, principalmente em
casos de impotência primária.
O sono está prejudicado em quase toda a patologia psiquiátrica. A insónia inicial (di-
ficuldade em iniciar o sono) é frequente em doentes com preocupações ansiosas, como os
obsessivos, por exemplo. A insónia terminal (acordar de madrugada) é mais tı́pica da
depressão endógena. Existem outras variantes de perturbações do sono: sono leve, interrom-
pido por sonhos desagradáveis e pesadelos, sono demasiado profundo, insónia quase total,
sonambulismo, sonilóquios (falar de noite), bricomania (ranger os dentes), enurese noturna,
ritmo de sono invertido, etc., sendo este último frequente no sı́ndrome cerebral orgânico -
os doentes dormem de dia e agitam-se à noite. Na depressão atı́pica pode existir hipersónia
queixando-se o doente de dormir mais do que o seu habitual.
Antes do encerramento do capı́tulo da psicopatologia far-se-á ainda uma breve referência
ao senso crı́tico. É importante pesquisar se o doente mantém esta capacidade conservada
ou se a sua crı́tica e auto-crı́tica são inadequadas são inadequadas ou estão ausentes, o que
pode acontecer em várias situações psiquiátricas. Crı́tica e auto-crı́tica estão ausentes nas
psicoses, mas, graus moderados e variáveis de alteração desta capacidade também podem
encontrar-se em doenças afetivas, distúrbios de personalidade, entre outros.
Finalizando, relembra-se que a existência de sintomas psicopatológicos isolados tem valor
relativo, devendo o doente ser analisado como um todo, quer no seu funcionamento orgânico,
quer social e psı́quico, pois existem múltiplas relações entre estes três aspectos. O conheci-
mento da psicopatologia é essencial para o diagnóstico diferencial e consequentemente para
uma ajuda mais eficaz ao doente.
48
Referências
49