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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA ........................................................ 4

1.1 Fenômenos em Psicopatologia ............................................................ 5

2 O normal e o patológico .............................................................................. 9

3 O diagnóstico em saúde mental ................................................................ 11

3.1 Avaliação Psicopatológica .................................................................. 13

4 As funções mentais ................................................................................... 14

4.1 Transtornos Mentais ........................................................................... 15

4.2 Manifestação dos sintomas e transtornos mentais ............................. 16

5 Síndromes Depressivas ............................................................................ 17

6 Síndromes Maníacas e Transtorno Bipolar ............................................... 19

7 Síndromes Ansiosas ................................................................................. 22

7.1 Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG.................................. 22

7.2 Crises de Pânico ................................................................................ 23

7.3 Transtorno de Pânico ......................................................................... 23

7.4 Transtorno Fóbico .............................................................................. 23

7.5 Transtorno de Estresse Pós-Traumático ............................................ 24

7.6 Transtorno Obsessivo Compulsivo ..................................................... 24

7.7 Transtorno Hipocondríaco .................................................................. 24

8 Síndromes Psicóticas ............................................................................... 25

8.1 Esquizofrenia...................................................................................... 25

8.2 Transtorno Delirante ........................................................................... 26

8.3 Transtorno Esquizoafetivo .................................................................. 27

9 Síndrome Psicomotora.............................................................................. 27

9.1 Síndrome de Agitação Psicomotora ................................................... 27

9.2 Síndromes de Estupor ........................................................................ 28


1
9.3 Síndrome de Comportamento Disruptivos na Infância e Adolescência
28

9.4 Transtorno disruptivos da desregulação do humor ............................ 29

9.5 Transtorno de Oposição Desafiante ................................................... 29

9.6 Transtorno da Conduta....................................................................... 29

9.7 Transtorno Explosivo Intermitente ...................................................... 30

10 Transtornos Alimentares ........................................................................ 30

10.1 Anorexia Nervosa ............................................................................ 31

10.2 Bulimia Nervosa .............................................................................. 32

11 Transtorno devido ao uso de substâncias e comportamentos aditivos .. 33

11.1 Transtornos por uso de substâncias ............................................... 34

11.2 Transtornos induzidos por substâncias ........................................... 35

11.3 Transtornos por uso do álcool ......................................................... 35

11.4 Transtornos por uso da maconha ................................................... 35

11.5 Transtorno por cocaína e crack....................................................... 36

12 Transtornos associado ao sono ............................................................. 37

12.1 Transtorno de insônia ..................................................................... 37

12.2 Transtorno de hipersonolência ........................................................ 38

12.3 Síndrome das pernas inquietas....................................................... 38

12.4 Transtornos do sono relacionados à respiração ............................. 39

12.5 Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano .............................. 39

12.6 Narcolepsia ..................................................................................... 40

12.7 Parassonias .................................................................................... 40

13 Sexualidade e Psicopatologia ................................................................ 40

14 Transtornos ou disfunções sexuais ....................................................... 41

14.1 Disfunções do desejo e da resposta sexual .................................... 41

14.2 Transtornos parafílicos e parafilias ................................................. 42


2
14.3 Homofobia e Transfobia .................................................................. 42

15 Transtornos Neurocognitivos ................................................................. 43

16 Demências e outros transtornos neurocognitivos de longa duração ..... 43

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA

Segundo o autor Campbell (1986), a psicopatologia é o ramo da ciência que


cuida da natureza essencial da doença ou transtorno mental, quais são suas causas,
as mudanças estruturais e funcionais a ela associadas e suas maneiras de
manifestação. Numa compreensão mais ampla, a psicopatologia pode ser descrita
como o conjunto de conhecimentos pertinentes ao adoecimento mental do ser
humano. É um conhecimento que busca ser organizado, esclarecedor e
desmistificante.

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Estudo que propõe ser científico, a psicopatologia não abarca parâmetros de


valor, tão pouco acolhe supostas verdades. No estudo e na prática da psicopatologia,
não há preconceitos ao que se estuda; tem como objetivo a observação, identificação
e compreensão dos diferentes componentes do transtorno mental. Na psicopatologia
não se aceita suposições, verdades rígidas, inflexíveis, seja qual for sua natureza,
filosófica, religiosa, biológica ou psicológica. Portanto o entendimento buscado está
propício a reavaliações, considerações, reestruturações contínuas.

O campo da psicopatologia inclui uma variedade de fenômenos humanos


especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença
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mental. São vivências, estados mentais e padrões comportamentais que
apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências das
pessoas com doenças mentais apresentam dimensão própria, genuína, não
sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões complexas com
a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é totalmente estranho
ao mundo das experiências psicológicas “normais”). (Dalgalarrondo, 2019)

Para Dalgalarrondo (2019), apesar de se beneficiar das tradições neurológicas,


psicológicas e filosóficas, a psicopatologia não se confunde com a neurologia das
chamadas funções corticais superiores (não se resume, portanto, a uma ciência
natural dos fenômenos relacionados às zonas associativas do cérebro lesado) nem
com a hipotética psicologia das funções mentais desviadas. Assim, podemos defini-la
como uma ciência autônoma, e não um prolongamento da neurologia, da
neuropsicologia ou da psicologia (seja ela experimental, seja ela psicométrica ou
social). Ela é ricamente nutrida por essas tradições, mas não se confunde com elas.

“[...] quanto mais reconhece e caracteriza o típico, o que se acha de acordo


com os princípios, tanto mais reconhece que, em todo indivíduo, se oculta
algo que não pode conhecer” (Jaspers, 1979, p. 12).

1.1 Fenômenos em Psicopatologia

O conhecimento pela doença ou transtorno mental, se dá pela observação


minuciosa de suas manifestações, assim como qualquer busca por conhecimentos. A
observação propicia a exposição dos fenômenos e sua disposição. Que irá
determinar, especificar, organizar o objeto de estudo em certa concepção, se
direcionando com determinada coerência na observação e classificação.
Dalgalarrondo (2019) classifica três distintos tipos de fenômenos humanos na
psicopatologia, sendo eles:
Fenômenos semelhantes em todas ou quase todas as pessoas. É o plano
dos fenômenos psicológicos, fisiológicos, daquilo que é o normal. De modo geral, todo
ou quase todo ser humano sente fome, sede ou sono. Aqui se inclui também o medo
de um animal perigoso, a ansiedade perante desafios difíceis, o desejo por uma
pessoa amada, etc. Embora haja uma qualidade pessoal própria para cada ser
humano, certas experiências são basicamente semelhantes para todos.

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Fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes. É o plano em que
o psicológico e o psicopatológico se sobrepõem. São fenômenos que o ser humano
comum experimenta, mas que apenas em parte são semelhantes aos vivenciados
pela pessoa com transtorno mental. Assim, todo indivíduo comum pode sentir tristeza,
mas a alteração profunda, avassaladora, que uma paciente com depressão psicótica
experimenta é apenas parcialmente semelhante à tristeza normal. A depressão grave,
por exemplo, com ideias de ruína, lentificação psicomotora, apatia, etc., introduz algo
qualitativamente novo na experiência humana.
Fenômenos qualitativamente novos, distintos das vivências normais. É o
campo específico das ocorrências e vivências psicopatológicas. São praticamente
próprios a apenas (ou quase apenas) certas doenças, transtornos e estados mentais.
Aqui, incluem-se alguns fenômenos psicóticos, como alucinações e delírios, ou
cognitivos, como turvação da consciência, alteração da memória nas demências,
entre outros.
De acordo com Dalgalarrondo (2019), a psicopatologia é, por natureza e
destino histórico, um campo de conhecimento que requer debate constante e
aprofundado, no qual não há e não pode haver uma teoria ou perspectiva amplamente
hegemônica. Aqui, o conflito de ideias não é uma debilidade, mas uma necessidade.
Não se avança em psicopatologia negando e anulando diferenças conceituais e
teóricas; evolui-se, sim, pelo esforço de esclarecimento e aprofundamento de tais
diferenças, em discussão aberta, desmistificante e honesta.
Dentre as principais linhas de estudo da psicopatologia que se dispõe de modo
aleatório, devido rigorosas razões didáticas, pode-se destacar:

PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA E PSICOPATOLOGIA DINÂMICA – a psiquiatria


descritiva, refere-se especialmente a definição das maneiras que ocorrem as
mudanças psíquicas, a organização dos sintomas, detalha e qualifica a manifestação
doentia como sinais quase que específicos.
A psiquiatria dinâmica se volta para a essência das experiências, as mudanças
intrínsecas dos afetos, vontades e receios da pessoa.
A prática em saúde mental requer a conciliação de ambas abordagens descritiva
dinâmica.

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Quando um médico se defronta com a grande tarefa de ajudar uma pessoa
psiquicamente enferma, vê à sua frente dois caminhos: ele pode registrar o
que é mórbido. Irá, então, a partir dos sintomas da doença, concluir pela
existência de um dos quadros mórbidos impessoais que foram descritos. [...]
ou pode trilhar outro caminho: pode escutar o doente como se fosse um amigo
de confiança. Nesse caso, dirigirá a sua atenção menos para constatar o que
é mórbido, para anotar sintomas psicopatológicos e, a partir disso, chegar a
um diagnóstico impessoal, e mais para tentar compreender uma pessoa
humana na sua singularidade e co-vivenciar suas aflições, seus temores,
seus desejos e suas expectativas pessoais (Bleuler, 1985, p. 1).

PSICOPATOLOGIA MÉDICA E PSICOPATOLOGIA EXISTENCIAL – Na concepção


médica o estudo se volta para o corpo humano, na biologia do ser, como ser universal.
Então o sofrimento mental é descrito como desajuste, transtorno, alteração no cérebro
ou parte dele, o sistema biológico.
Na concepção existencial, a percepção do paciente é em sua vivência individual,
única, como um ser natural e biológico, na sua extensão fundamental, ser
substancialmente histórico e humano. Nessa concepção a construção do ser se dá
através de suas vivências sociais, singulares, que são determinantes para sua
construção pessoal. Aqui o sofrimento mental tem sua causa tanto no desajuste
psicológico quanto biológico, significando a singularidade de cada ser que se constrói
em grande parte de maneira dolorosa.
PSICOPATOLOGIA COMPORTAMENTAL/COGNITIVISTA E PSICOPATOLOGIA
PSICANALÍTICA – Sob o olhar comportamental, o indivíduo é percebido como um
complexo com comportamentos perceptíveis, passível de dimensionar, controlados
por impulsos peculiares e comuns, como também pelas consequências inerentes aos
comportamentos. O comportamento se fundamenta em determinados preceitos e
motivadores do conhecimento. Não separada do olhar comportamental, a concepção
cognitiva, focaliza nas abstrações cognitivas singular de cada pessoa. As abstrações
são fundamentais para desenvolvimento mental, seja ele são ou doentio. As
manifestações dos sinais procedem de comportamentos e abstrações
desequilibrados, assimilados e ampliados a partir das vivências social e familiar. Já a
concepção psicanalítica vê o indivíduo como um ser determinado por vários fatores,
comandado por energias, vontades, confrontos internos, inconscientes. Nessa
perspectiva os afetos têm relevância, pois seriam eles que controlam a psique. O
autocontrole, a coerência, autonomia aqui é um devaneio para o ser humano.

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PSICOPATOLOGIA CATEGORIAL E PSICOPATOLOGIA DIMENSIONAL – A linha
de estudos categorial classifica as doenças mentais, descrições específicas,
particularizadas, muito bem delimitados, com caráter biológico, da qual o
reconhecimento rigoroso, estabelece um dos papéis da psicopatologia. Deste modo
as patologias são identificadas em sua natureza básica, pois nessa perspectiva há a
distinção clara das mesmas.
Paralelo ao estudo categorial, tem a linha de estudo dimensional, que se aproxima
mais à rotina da clínica. Nessa perspectiva as patologias são dimensionadas por
exemplo a esquizofrenia tem formas mais ou menos deteriorantes, com
sintomas/comprometimentos leves à graves. Nesse sentido podemos exemplificar as
extremidades dimensionais em psicopatologia como: depressão moderada, bipolar ou
grave, transtornos afetivos menores, esquizofrenia benigna ou deficitária.

PSICOPATOLOGIA BIOLÓGICA E PSICOPATOLOGIA SOCIOCULTURAL – A


perspectiva biológica se volta para os aspectos neurofisiológicos, cerebrais das
doenças mentais. Nesse viés, o todo transtorno mental ocorre devido alterações nos
mecanismos neurais e de áreas específicas, no funcionamento cerebral. O psiquiatra
Griesinger (1997) sintetiza essa concepção “[...] doenças mentais devem ser vistas
como afecções do cérebro”. Já na perspectiva sociocultural os transtornos mentais
são entendidos como condutas divergentes, que se manifestam em resposta a
condições socioculturais, tais como migração, pobreza, discriminação, estresse
ocupacional entre outros. Analisados sob o olhar de seu cenário sociocultural,
histórico e simbólico. Os transtornos e sintomas são significados de acordo com os
valores e normas culturais eminentes, sendo passíveis de estudos, uma vez que a
cultura é fator substancial na delimitação entre o normal e patológico, desde o
estabelecer de um transtorno à terapêutica que trata destes.

PSICOPATOLOGIA OPERACIONALPRAGMÁTICA E PSICOPATOLOGIA


FUNDAMENTAL – A atuação operacional-pragmática, delineia os sintomas e
transtornos de modo eventual, de acordo com seu aproveitamento prático, direcionado
à produção de estudos. Nesse olhar, a essência das doenças e sintomas e seu
embasamento não são relevantes. Em contrapartida a concepção da psicopatologia

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fundamental, concentra-se no embasamento teórico e histórico de toda definição
patológica, que realça a ideia de doença mental como suplício, indiferença, paixão.
Tais divisões denotadas expõe a diversidade conceitual assim como
aplicabilidade prática das abordagens. Percepções que agregam de modo imparcial
são mais interessantes, pois sobressaem às divisões dos aspectos ambientais e
biológicos.

2 O NORMAL E O PATOLÓGICO

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Para Almeida Filho (2000), o conceito de saúde e de normalidade em


psicopatologia é questão de grande controvérsia, sendo fundamental o
questionamento permanente e aprofundado sobre o que seriam o normal e o
patológico.
Determinar o que é normal ou patológico não é tarefa fácil, pois tal definição se
relaciona ao que é desejável ou não, aprazível ou não, e mesmo que de modo implícito
tendo a rotular a pessoa como normal ou anormal. Ademais, a conduta e a condição
mental dos indivíduos são aspectos relevantes, inerentes aos propósitos humanos,
que não permanece inerte no cuidado para com os sentimentos, condição mental e
comportamento alheio.

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Como afirma Dalgalarrondo (2019), classificar de normal/anormal ou
patológico/saudável alguém cuja orientação do desejo erótico é homossexual ou cuja
identidade de gênero é de transgênero afeta marcadamente milhares de pessoas
reais, para as quais essas definições interferem diretamente em suas vidas. Assim, o
debate sobre normalidade em psicopatologia é um debate vivo, intenso, interessado,
repleto de valores (explícitos ou não), com conotações políticas e filosóficas (explícitas
ou não) e conceitos que implicam o modo como milhares de pessoas serão situadas
em suas vidas na sociedade.
Casos onde o comprometimento mental é grave, produzindo distúrbios
intensos, bem como psicose grave, demência profunda, delimitar entre o saudável e
patológico é menos complexo. Todavia, em casos onde os sintomas/sinais são mais
leves, e casos onde a definição é complexa, a definição entre saudável e patológico
se torna delicado.

O conceito de normalidade em psicopatologia também implica a própria


definição do que é saúde e doença/transtorno mental. Os próprios termos
levantam discussão. No século XIX, usava-se o termo “alienação”, oriundo do
direito; no século XX, passou-se a usar o termo “doença mental”; e, nas
últimas décadas, com os sistemas diagnósticos Classificação internacional
de doenças e problemas relacionados à saúde (CID) e Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais (DSM) ganhando protagonismo, passou-se
a usar o termo “transtorno mental”. (Dalgalarrondo, 2019)

Sobre a normalidade, Canguilhem (1978) diz, há vários e distintos critérios de


normalidade e anormalidade em medicina e psicopatologia. A adoção de um ou outro
depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do
profissional ou da instituição em que ocorre a atenção à saúde. Entre os critérios
basilares acerca da normalidade aplicados na psicopatologia, podemos destacar:
normalidade como ausência de doença, onde a ausência de sinais e sintomas é
sinônimo de saúde, sendo este um critério muito precário por se embasar na negativa
dos sintomas para determinar a normalidade, conforme cita LERICHE (1936), “a
saúde é a vida no silêncio dos órgãos”; normalidade ideal, cria-se hipoteticamente um
ideal que se constitui na sociedade, que dependerá dos aspectos ideológicos,
dogmáticos, socioculturais de cada sociedade; normalidade estatística, este quantifica
os fenômenos, sua ocorrência e regularidade, delimita-os na população, sendo
também um critério falho, pois a frequência não significa que é saudável; normalidade
como bem-estar, critério disposto pela Organização Mundial da Saúde e, 1946,
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caracterizando a normalidade como bem-estar físico, mental e social, por ser muito
amplo poucas pessoas se adequariam; normalidade funcional, relaciona-se a
questões funcionais, onde patológico é quando o fenômeno é disfuncional,
desestruturado causando dor, sofrimento ao indivíduo ou para os que estão ao seu
redor; normalidade como processo, ressalta-se questões dinâmicas da evolução
psicossocial, suas alterações ao longo do tempo, sua concepção é de grande utilidade
quando se refere à psicopatologia clínica de crianças, adolescentes e idosos;
normalidade subjetiva, a concepção subjetiva do indivíduo tem maior relevância no
tocante a sua condição de saúde, tal critério deixa lacunas o sentir-se feliz ou
saudável, pode estar presentes em muitas pessoas, inclusive em situação de fase
maníaca do transtorno bipolar; normalidade como liberdade, onde a ausência, perda
da liberdade de viver, existir é caracterizado como doença mental, como afirma Henry
Ey (2008),[...] as enfermidades físicas são ameaças à vida, as enfermidades mentais
são ataques à liberdade. [...] no transtorno mental [...] o processo mórbido travando,
bloqueando, dissolvendo a atividade psíquica, diminui a liberdade e responsabilidade
do paciente mental; normalidade operacional, tal critério é parcial, com desígnios
objetivos e claros, ao determinar o que é normal e patológico, empenha-se
funcionalmente acerca do conceito.
Diante do exposto, percebe-se a variabilidade dos critérios de normalidade bem
como sua aplicabilidade, que dependerá da orientação teórica do profissional ou
instituição, não descartando a possibilidade da aplicação de diversos critérios.
Contudo uma conduta de análise, atenta do profissional é necessária.

3 O DIAGNÓSTICO EM SAÚDE MENTAL

Para o diagnóstico em saúde mental, faz-se necessário seguir alguns princípios


das ciências médicas, que também apresentam questões singulares, como destaca
Dalgalarrondo (2019):
O diagnóstico de um transtorno psiquiátrico é quase sempre baseado
preponderantemente nos dados clínicos. É importante ressaltar, entretanto, que os
exames complementares (semiotécnica armada) não substituem o essencial do

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diagnóstico psicopatológico: uma história clínica bem colhida e um exame do estado
mental minucioso, ambos interpretados com habilidade; o diagnóstico
psicopatológico, com exceção dos quadros psico-orgânicos (delirium, demências,
síndromes focais, etc.), de modo geral, não é baseado em mecanismos etiológicos
supostos pelo avaliador. Baseia-se principalmente no perfil de sinais e sintomas
apresentados pelo paciente na história do transtorno, desde que surgiu até o momento
atual da avaliação. De modo geral, não existem sinais ou sintomas psicopatológicos
específicos de determinado transtorno mental; O diagnóstico psicopatológico é, em
inúmeros casos, apenas possível com a observação do curso do transtorno. Dessa
forma, o padrão evolutivo de determinado quadro clínico obriga o psicopatólogo a
repensar e refazer continuamente seu diagnóstico. Uma das funções do diagnóstico
em medicina é prever e prognosticar a evolução e o desfecho da doença (o
diagnóstico deveria indicar o prognóstico). Ressaltou o psiquiatra brasileiro Leme
Lopes (1954), o diagnóstico psiquiátrico deve ser sempre pluridimensional. Várias
dimensões clínicas e psicossociais devem ser incluídas para uma formulação
diagnóstica completa: identifica-se um transtorno mental como a esquizofrenia, a
depressão, a dependência de álcool, etc., diagnosticam-se condições ou doenças ou
condições físicas associadas (hipertensão, cirrose hepática, obesidade, etc.) e
avaliam-se a personalidade e o nível intelectual desse paciente, sua rede de apoio
social, além de fatores ambientais protetores ou desencadeantes; Confiabilidade e
validade do diagnóstico em psicopatologia, a confiabilidade de um procedimento
diagnóstico (técnica de entrevista padronizada, escala, teste, diferentes
entrevistadores, etc.) diz respeito a sua capacidade de produzir, em relação a um
mesmo indivíduo ou para pacientes de um mesmo grupo diagnóstico, em
circunstâncias diversas, o mesmo diagnóstico. Ao mudar diferentes aspectos do
processo de avaliação (avaliador ou momento de avaliação), o resultado final
permanece o mesmo. Assim, quando a avaliação é feita por examinadores distintos
ou em diferentes momentos, obtém-se o mesmo diagnóstico. Tem-se um indicador de
reprodutibilidade do diagnóstico.

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3.1 Avaliação Psicopatológica

A avaliação dos pacientes em psicopatologia é realizada principalmente através


de entrevistas. Esta não deve ser considerada superficial, apenas um questionar o
paciente sobre determinados aspectos da vida. Na verdade, além da observação
cuidadosa dos indivíduos, é também a principal ferramenta de conhecimento da
psicopatologia. Por intermédio da entrevista feita com habilidades e estratégias, os
profissionais podem obter valiosas informações clínicas diagnósticas, compreender a
dinâmica emocional do paciente e, mais relevante, pragmaticamente, para as
intervenções e planos de tratamento mais adequados.
A prática profissional em saúde mental tem como pilares essenciais, atingir
compreensão significativa do atendimento ao paciente, e nesse momento conduzir de
maneira proficiente e produtiva. Os elementos centrais da avaliação na entrevista
psicopatológica são a anamnese e exame psíquico. Inclui-se também a avaliação
física, avaliação neurológica, avaliação psicológica (psicodiagnóstico), exames
complementares.
O método e a aptidão em desenvolver entrevistas são características
essenciais e imprescindível do especialista da saúde mental em particular. Essa
aptidão pode ser desenvolvida ou ser característica do perfil do especialista, de sua
percepção das relações interpessoais, sendo neste caso instintiva.
Em primeiro lugar, pode-se dizer que as habilidades do entrevistador são
reveladas pelas perguntas que faz, pelas perguntas que evita e quando e como falar
ou apenas pela decisão de calar-se. Uma particularidade essencial dos
entrevistadores é a aptidão de estabelecer uma relação empática e tecnicamente útil
com a prática clínica. O profissional deve ser capaz de acolher a dor do paciente,
propiciar uma escuta qualificada, ouvindo suas dificuldades e características. Além de
serenidade e respeito, os profissionais também precisam de certo temperamento e
habilidade para instituir limites para os pacientes ofensivos ou severos, a fim de se
proteger e garantir o contexto da entrevista. A entrevista bem desenvolvida dependerá
do “felling” do profissional em discernir o momento em que se faz necessário ouvir o
paciente com tranquilidade e atenção do momento em que sua intervenção e
participação são mais significantes.

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A primeira entrevista bem estruturada e elaborada é primordial para um bom
desenvolver do tratamento, proporciona ao paciente segurança, alívio, confiança, do
contrário onde a estruturação não existe, havendo desencontros, causando
sentimentos de hostilidade no paciente, tende ao afastamento do tratamento.
Dalgalarrondo (2019) destaca, logo no início, o olhar e, com ele, toda a comunicação
não verbal já têm sua importância: é o centro da comunicação, que inclui toda a carga
emocional do ver e ser visto, do gesto, da postura, das vestimentas, do modo de sorrir
ou expressar sofrimento.

“A primeira impressão tem o seu valor próprio e dificilmente poderá ser


recapturada em ocasiões posteriores [...] com maior frequência, essa
impressão é correta, mesmo que desapareça aos poucos ou passe a ser
considerada como enganosa, quando a atenção estiver voltada para os
detalhes, as ideias e as informações fornecidas pelo paciente”. Mayer-Gross,
Slater e Roth (1976).

4 AS FUNÇÕES MENTAIS

Fonte: super.abril.com.br

Embora se perceba basilar a análise minuciosa das funções mentais


estremadas tal como suas variações, importante salientar que a disjunção da atividade
mental e da vida em diversos planos ou funções psíquicas mostra-se um movimento
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por demais ilusório. Tal disjunção refere-se somente ao procedimento de interpretação
da vida mental, demonstrando-se prestadio por um lado propiciando análise minuciosa
de certas questões da vida psíquica (normal e patológica), porém perigoso, por tender
a equívocos e reducionismo indevido, fomentando a crença na autonomia de tais
fenômenos. O exercício clínico leva a presumir que a afetividade, memória, a vontade,
a consciência sejam esferas autônomas e naturais, independentes.
Nesse sentido Dalgalarrondo (2019) pontua, deixa-se de lembrar o que elas
realmente são, isto é, construtos aproximativos da psicologia e da psicopatologia que
permitem uma comunicação mais fácil e um melhor entendimento dos fatos. Que fique
claro: não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas
compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa na sua totalidade
que adoece.
Na doença mental, discorre-se não somente sobre as séries dos sintomas que
se manifestam com frequência expondo sua origem. Sendo tais sintomas,
componentes da doença mental, conectados e dispostos entre si. A divisão de
qualquer psicopatologia se torna perigoso para o diagnóstico.

Em um ato psíquico, apenas pode ocorrer uma separação teórica, não uma
separação real, entre as distintas qualidades psíquicas de que se trata. [...]
na observação e descrição do mundo das manifestações psíquicas e
psicopatológicas tendemos, de há muito, à fragmentação: descrevemos
funções psíquicas singulares (como a sensação, a percepção, a atenção, a
memória, o pensamento, o juízo). [...] se reunirmos estes fragmentos, ficamos
com a impressão de que a vida psíquica pode ser compreendida como um
mosaico, a partir de uma soma de manifestações isoladas. Esta impressão,
não obstante, não corresponde à realidade. [...] cada função parcial na vida
psíquica e cada aspecto da realidade psíquica só existem em vinculação
estreita com toda a vida e com a realidade psíquica total. (Eugen Bleuler
1985, p. 16)

4.1 Transtornos Mentais

De acordo com Ferreira (1999), transtorno tem por característica um


comportamento que exprime contrariedade, decepção, marcadas por atitudes que
revelam desarranjo ou desordem neurológica. Em alguns casos, o termo pode referir-
se também a qualquer perturbação da saúde.
Transtornos mentais (ou doenças mentais, transtornos psiquiátricos ou
psíquicos, entre outras nomenclaturas) são condições de anormalidade, sofrimento
ou comprometimento de ordem psicológica, mental ou cognitiva. Em geral, um
15
transtorno representa um significativo impacto na vida do paciente, provocando
sintomas como desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da
memória.
Dentre os fatores causadores, a genética, a química cerebral (problemas
hormonais ou uso de substâncias tóxicas que afetam o cérebro) e o estilo de vida são
tidos como os principais desencadeadores dos diversos transtornos existentes.
Doenças em outras partes do corpo podem afetar a mente, e inversamente,
transtornos ou doenças mentais podem também desencadear outras doenças pelo
corpo, produzindo sintomas somáticos.
Uma doença ou transtorno mental pode ser cuidado por meio de intervenção
medicamentosa, ou diversas formas de psicoterapia. O diagnóstico envolve o exame
do estado mental e seu histórico clínico, podendo também ser utilizados testes
psicológicos, exames neurológicos, de imagem e exames físicos.

4.2 Manifestação dos sintomas e transtornos mentais

Importante destacar a particular ligação entre histórico de vida, eventos vitais e


propósito de vida do indivíduo. Ademais, no que refere aos sintomas quanto às
síndromes, interessante elucidar as prováveis condições que predispõe, tais como
fatores genéticos, vivências emocionais tanto na infância como na adolescência,
circunstâncias precedentes de vida e precipitantes como stress, rompimentos, causas
atuais e o aparecimento dos desarranjos mentais. É indispensável atentar a forma que
se manifesta no decorrer da vida, a junção das condições biológicas, psicológicas e
sociais para a incidência de sintomas, síndromes ou transtornos mentais.
Então em psicopatologia, acredita-se que junto às condições genéticas
(gestacional e perinatal), que antecedem o começo da vida relacional do indivíduo,
existem as razões predisponentes. No desenvolvimento gestacional, as pessoas
trazem junto de si uma fragilidade própria, a hereditariedade, para os diversos
transtornos. Tais razões predisponentes se constituem com a conexão da fragilidade
própria e as vivências iniciais, que compõem a primeira e segunda infância.
As síndromes são grupos de sinais e sintomas que se agregam de modo regular
e são analisados na atuação clínica diária. Esses agrupamentos regulares dos
sintomas, são desenvolvidos por diversas razões. De acordo com Lemes Lopes
16
(1980), identificar síndromes é o primeiro passo no sentido de ordenar a observação
psicopatológica dos sinais e dos sintomas dos pacientes.
O diagnóstico sindrômico é uma prática clínica simples, porém habilidosamente
relevante no discernimento clínico. Segundo Van Den Berg (1970) é uma indicação
preciosa para o diagnóstico. Desse modo, o discernimento clínico se desenvolve
progressivamente no decorrer das avaliações iniciais, promovendo um entendimento
mais intenso acerca do paciente e seu desarranjo mental.
Para Dalgalarrondo (2019), é interessante e mais útil que os transtornos sejam
definidos segundo sistemas internacionais de diagnóstico e classificação,
estabelecidos por grupos de pesquisadores e profissionais experientes (como DSM-5
e CID-11), com vocabulário e construtos compreendidos e utilizados de forma estável
pelos profissionais e pesquisadores, visto que, dessa forma, o conhecimento pode
progredir no mundo todo, de modo mais rápido e fecundo.

Em muitas situações clínicas, por dispor-se de pouca informação sobre o


paciente, pela dificuldade intrínseca do caso ou pela insuficiência de
conhecimento científico, faz-se necessário utilizar e se contentar
provisoriamente com o diagnóstico sindrômico (Eisenberg, 1993).

5 SÍNDROMES DEPRESSIVAS

Na perspectiva da psicopatologia, as síndromes depressivas apresentam como


características relevantes o humor triste, o desânimo, relativamente acentuado. Na
depressão, a tristeza e o desânimo são, desmedidamente profundos e prologados
comparados às reações corriqueiras de tristeza que se manifestam no decurso da
vida. Os quadros depressivos caracterizam-se por uma multiplicidade de sintomas
afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e cognitivos, relativos à
autovaloração, à vontade e à psicomotricidade. (Dalgalarrondo,2019).
Em quadros graves de depressão, é passível de se manifestarem sintomas
psicóticos, como alucinação ou delírio, notável mudança psicomotora (lentidão), como
também fatos biológicos associados.
Dos sintomas característicos das síndromes depressivas podemos citar
conforme Dalgalarrondo (2019):
17
Tristeza, sentimento de melancolia, na maior parte do dia, todos ou quase todos
os dias;
Choro fácil e/ou frequente Apatia (indiferença afetiva) na maior parte do dia,
todos ou quase todos os dias;
Sentimento de falta de sentimento
Sentimento de tédio, de aborrecimento crônico Irritabilidade aumentada (a
ruídos, pessoas, vozes, etc.), na maior parte do dia, todos ou quase todos os dias;
Também se manifestam comumente a angústia, ansiedade, o desespero e a
desesperança, entre outros agrupamentos de sinais e sintomas como alterações da
volição e da psicomotricidade, alterações ideativas, alterações da esfera instintiva e
neurovegetativa, alterações da autovaloração, alterações cognitivas, sintomas
psicóticos.
Sobres as síndromes depressivas, vale ressaltar que são distribuídas em
subtipos, sendo eles – Episódio de depressão e transtorno depressivo maior
recorrente; Transtorno depressivo persistente e transtorno distímico; Depressão
atípica; Depressão tipo melancólica ou endógena; Depressão psicótica; Estupor
depressivo ou depressão catatônica; Depressão ansiosa ou com sintomas ansiosos
proeminentes e transtorno misto de depressão e ansiedade; Depressão unipolar ou
depressão bipolar Depressão como transtorno disfórico pré-menstrual; Depressão
mista; Depressão secundária ou transtorno depressivo devido a condição médica
(incluindo aqui o transtorno depressivo induzido por substância ou medicamento).

18
6 SÍNDROMES MANÍACAS E TRANSTORNO BIPOLAR

Fonte: www.minutopsicologia.com.br

Belmaker, (2004) destaca que, a base da síndrome maníaca são sintomas de


euforia, alegria exacerbada, elação (expansão do Eu), grandiosidade ou irritabilidade
marcante, desproporcionais aos fatos da vida e distintos do estado comum de alegria
ou entusiasmo que o indivíduo sadio apresenta em sua vida.
Nos quadros maníacos, frequentemente se nota o taquipsiquismo (aceleração
das funções psíquicas), ocasionando agitação psicomotora, loquacidade e pressão
para falar, exaltação, bem como aceleração do pensamento e escape das ideias. Para
o diagnóstico, o quadro deve permanecer por pelo menos uma semana, no entanto a
média de permanência do episódio maníaco gira em torno de três meses.
Geralmente o indivíduo em estado maníaco, demonstra-se eufórico, alegre,
brincalhão, como também arrogante, irritado e por vezes agressivo. As alterações
ocorrem também na área ideativa, com pensamentos de conteúdo de grandiosidade,
imprecisão, alegria, sendo imprudente e aparente. De acordo com Binswanger (1973)
na mania “o paciente fala mais do que pensa”.
Dalgalarrondo (2019) pontua que, o manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais (DSM-5) exige, para o diagnóstico de episódio maníaco, que
estejam presentes, na maior parte do dia, por pelo menos uma semana (geralmente
duram bem mais que isso), além de humor elevado (euforia, elação), pelo menos mais
três dos sintomas de mania (quatro, se o humor for apenas irritável).

19
Sobre os sintomas de mania podemos citar: aumento da autoestima,
diminuição da necessidade de sono, loquacidade, logorreia, pressão para falar,
alterações formais do pensamento, distraibilidade, aumento de atividade ou agitação
psicomotora, envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas ou
danosas, labilidade afetiva, agitação psicomotora, arrogância, heteroagressividade.,
desinibição social e sexual, grandiosidade, ideias de grandeza não psicóticas,
confusão, irritabilidade, euforia, expansibilidade (sensação do eu engrandecido,
elação), redução da necessidade de sono, comportamentos de ataque ou
comportamentos violentos, hiper-religiosidade (aumento de atividades religiosas,
pregação, canto de hinos, etc.), catatonia, incontinência fecal e/ou sujidade
(comportamento de urinar ou defecar em qualquer lugar).
Dos sintomas psicóticos no episódio de mania podemos citar: delírio de
grandeza, delírio de perseguição, delírio de passividade, alucinações auditivas,
alucinações visuais, alucinações olfativas, história de sintomas psicóticos no passado,
transtornos do pensamento.
As síndromes maníacas são descritas nos subtipos – mania franca ou grave,
mania irritada ou disfórica, mania com sintomas psicóticos, mania mista ou mania com
características mistas, hipomania (ou episódio hipomaníaco), ciclotimia ou transtorno
ciclotímico.
O transtorno bipolar tem caráter fásico (episódios), possui vários tipos. Tanto
os episódios de mania e depressão acontecem de forma um tanto quanto definida no
tempo, com certa frequência, com períodos atenuados, onde o humor da pessoa fica
normal, eutímico, com o regresso das modificações psicopatológicas intensas.
Mesmo com a probabilidade de períodos de melhora quase completa, o
transtorno bipolar é um transtorno mental grave, com consequências significativas no
que tange a decadência na qualidade de vida, na performance e interação social dos
indivíduos acometidos, como também dano neuropsicológico e propensão a doenças
físicas e suicídio. A probabilidade de suicídio é intensificada em indivíduos que
manifestam episódios mistos, aumento dos sintomas ansiosos e mudança súbita dos
episódios, geralmente no início do transtorno bipolar, que não recebem tratamento
adequado. Em casos de comorbidades com transtornos de personalidade ou uso de
substâncias ilícitas (drogas) a probabilidade é ainda maior.

20
Então o transtorno bipolar é caracterizado como do tipo I e II e ciclagem rápida.
Sendo que no tipo I, pode-se dizer mais leve, apresenta os episódios depressivos
alternados com período normal e ao menos uma fase maníaca, já no tipo II apresenta
episódios depressivos com fases hipomaníacas. No caso do transtorno bipolar I e II,
os sintomas característicos da fase maníaca são: autoestima elevada ou
grandiosidade muito falante, loquaz ou logorreico, fuga de ideias distraibilidade, queda
da necessidade de sono, aceleração psicomotora, desinibição social e/ou sexual ou
aumento do gasto de dinheiro, aumento envolvimento em atividades prazerosas de
risco. Para o diagnóstico é preciso identificar humor anormal elevado, expansivo ou
irritável e com ao mais três dos sintomas supracitados, com duração mínima de uma
semana.
De acordo com Dalgalarrondo (2019) o episódio hipomaníaco, deve se
apresentar por pelo menos quatro dias, haver três ou mais sintomas bem demarcados
de humor persistentemente elevado, irritado ou expansivo. Não pode haver sintomas
psicóticos, assinala que os sintomas não perturbam claramente o funcionamento
profissional ou social, e não há necessidade de hospitalização.
No transtorno bipolar tipo ciclagem rápida, caracterizado pela alteração súbita
de episódio, em seu diagnóstico é necessário que seja observado no período de dozes
meses a manifestação ao menos quatro episódios bem definidos e distintos de
transtorno do humor, mania (ou hipomania) e/ou depressão.
Embora seja um tema polêmico e centro de muita discussão, o transtorno
bipolar pode acometer crianças e adolescentes. Nesse caso para o diagnóstico de
episódio de mania antes da adolescência, a identificação de sintomas como
grandiosidade, fuga de ideias ou pensamento acelerado, hipersexualidade, euforia,
diminuição da necessidade de sono é um requisito. Estudioso ampliam esses
sintomas, defendendo que a irritabilidade, impulsividade, raiva e ataques de birra,
concentração ruim, hiperatividade e dificuldades comportamentais são sintomas
apresentados na infância que podem configurar o transtorno bipolar infantil, nesse
sentido tal diagnóstico na infância se torna mais frequente.

21
7 SÍNDROMES ANSIOSAS

Fonte: www.galenoalvarenga.com.br

As síndromes ansiosas têm uma incidência significante na sociedade, grande


parte da população sofreu ou já sofreu algum transtorno de ansiedade e/ou fobia.
Pode-se dizer que as síndromes ansiosas num primeiro momento são referenciadas
em dois ordens, sendo ansiedade generalizada, livre e flutuante que apresentam uma
característica permanente e constante, e as crises de ansiedade abruptas
relativamente intensas, também chamadas crises de pânico. Quando tais crises se
manifestam de modo recorrente, caracteriza o transtorno de pânico.

7.1 Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG

É caracterizada pela manifestação de sintomas ansiosos descomedido, estão


presentes em grande parte do dia e permanece por muito meses. Ocasionando
irritabilidade, ansiedade e preocupação na pessoa. O diagnóstico deve ser feito
através da análise dos sintomas, sua duração e interferência na vida pessoal, social

22
e no trabalho, se está causando sofrimento na vida da pessoa. Os sintomas
característicos da TAG são: falta do sono, dificuldade em relaxar, angústia contínua,
irritabilidade elevada e dificuldade em concentrar-se, dores de cabeça, dores
musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e
sudorese fria.

7.2 Crises de Pânico

Como descreve Dalgalarrondo (2019), as crises de pânico são crises


marcantes de ansiedade, nas quais ocorre importante descarga do sistema nervoso
autônomo. Nelas ocorrem sintomas como batedeira ou taquicardia, suor frio, tremores,
desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamentos em
membros, dedos e/ou lábios. Nas crises intensas, os pacientes podem experimentar
diversos graus da chamada despersonalização, que se revela como sensação de a
cabeça ficar leve, de o corpo ficar estranho, sensação de perda do controle, estranhar-
se a si mesmo. Pode ocorrer também a desrealização, ou seja, a sensação de que o
ambiente, antes familiar, parece estranho, diferente, não familiar.

7.3 Transtorno de Pânico

De acordo com Dalgalarrondo (2019), o transtorno de pânico é denominado


com a manifestação de crises recorrentes, com evolução do medo de ter novas crises,
desconfortos com prováveis consequências da crise (perda do controle, ataque
cardíaco ou sentimento de enlouquecer) e sofrimento intrínseco relevante. Tal
transtorno pode ou não ser manifestado junto de agorafobia, causando desconforto
expressivo e medo de lugares extensos e agrupamentos.

7.4 Transtorno Fóbico

Esse transtorno é descrito por medo agudo e incoerente, desmedidos,


ocasionados por momentos, objetos ou animais que absolutamente não apresentam

23
à pessoa risco real e congruente à força de tal medo. Dentre os transtornos fóbicos
podemos citar Agorafobia, fobia simples ou específica, ansiedade social e fobia social.

7.5 Transtorno de Estresse Pós-Traumático

Caracterizado pela elevada manifestação de ansiedade que surge após a


vivência da pessoa a uma ou mais situações excessivamente ameaçadores,
traumáticos e horríveis (como violência sexual, rapto, assalto, homicídio,
desabamentos, incêndios, catástrofes naturais, entre outros). O indivíduo é pego por
lembranças recorrentes da situação vivida no trauma, normalmente essas lembranças
trazem consigo emoções fortes (ansiedade, medo, sensações físicas).

7.6 Transtorno Obsessivo Compulsivo

São caracterizados por pensamentos, imaginação e imagens obsessivas e por


ação, ritos ou condutas compulsivas, agindo como uma imposição sobre o indivíduo,
fazendo-o se submeter a tal situação, como se estivesse sendo obrigado a tal ato.

7.7 Transtorno Hipocondríaco

Nesse transtorno a pessoa busca continuamente por atendimento médico e


serviços de saúde devido ao temor de adoecer, assim ele pode “se assegurar” de não
ter doenças. Muito embora exista o anseio de adoecer, não caracteriza
comportamento delirante, pois em algum momento a pessoa pode questionar o
excesso de preocupação. Constantemente comorbidades de personalidade se
manifestam junto a este transtorno.

24
8 SÍNDROMES PSICÓTICAS

Fonte: gilsantosnoticias.com

As síndromes psicóticas são caracterizadas por vivências como delírios e


alucinações, desestrutura significativa do pensamento e do comportamento.
Sensação de perseguição ou ameaça, mudanças na vida familiar, social e pessoal,
são situações que se manifestam com frequência nesses quadros.
Dalgalarrondo (2019) expõe que a orientação da psiquiatria clínica, enfatiza a
noção de psicose como presença de sintomas psicóticos (delírios, alucinações,
desorganizações marcantes de pensamento e comportamento). Esses elementos
clínicos são os critérios de identificação e diagnóstico de psicoses propostos pela
CID11 e DSM-5.

8.1 Esquizofrenia

A esquizofrenia é das síndromes psicóticas com mais incidência no mundo. Nos


primeiros estudos, a esquizofrenia era classificada com subtipos, a paranoide,
catatônica, hebefrênica, simples, no entanto tais classificações não foram mantidas
pelos sistemas de classificação atuais por não se demonstrarem úteis. Assim os
estudos buscaram identificar grupos de sintomas e comportamentos que manifestam
nas diversas faces da esquizofrenia, estes grupos de sintomas em alguns casos se
combinam de modo variado. Os grupos de sintomas foram delimitados da seguinte
25
forma: sintomas negativos; positivos; de desorganização; psicomotores/catatonia;
humor; prejuízos cognitivos.

8.2 Transtorno Delirante

De acordo Dalgalarrondo (2019), o transtorno delirante é uma forma distinta de


psicose próxima à esquizofrenia, que se caracteriza pelo surgimento e pelo
desenvolvimento de um delírio ou sistema delirante (vários delírios de alguma forma
interligados tematicamente) com considerável preservação da personalidade, da
afetividade, da cognição e do resto do psiquismo do indivíduo acometido. Não deve
haver pensamento e/ou comportamento francamente desorganizado ou sintomas
negativos marcantes.

O transtorno delirante, tal como descrito nos sistemas diagnósticos atuais


(CID-11 e DSM-5), é um construto heterogêneo. Poucos casos são
subagudos e transitórios, com remissão completa após alguns meses, e
outros evoluem para quadros mais graves de esquizofrenia. Entre esses dois
extremos, há pessoas com delírios persistentes, que expressam a ideia
clássica de paranoia (Opjordsmoen, 2014).

A ocorrência do transtorno delirante é mais comum em pessoas acima de 40


ou 50 anos de idade e normalmente tem um percurso crônico e estável. A duração do
delírio deve durar ao menos um mês (DSM-5) ou três meses (CID-11), podendo ser
mais longa, durando anos.
Há também o transtorno psicótico agudo que apresenta sintomas parecidos
com a esquizofrenia, como o delírio e alucinação. Tem surgimento agudo bem como
a remissão dos sintomas é também rápida.
Dalgalarrondo (2019) alerta que, o transtorno psicótico agudo pode confundir-
se com transtorno de estresse pós-traumático ou com quadros graves e prolongados
de transtorno dissociativo (frequentemente denominado na tradição psicopatológica
de histeria). Transtornos ou traços de personalidade do grupo B (sobretudo
transtornos da personalidade borderline e histriônica) e transtorno da personalidade
esquizotípica, além de traços de personalidade do tipo “psicoticismo”, podem preceder
ou predispor as pessoas a apresentar transtorno psicótico agudo/breve.

26
8.3 Transtorno Esquizoafetivo

O transtorno esquizoafetivo é caracterizado pelo surgimento de sintomas


requisitados para o diagnóstico de esquizofrenia em conjunto (no mesmo episódio,
concomitantemente, ou com espaço de poucos dias entre eles) com sintomas próprios
de um quadro de depressão maior, de mania ou de episódio misto (para a CID-11,
concomitância com duração de pelo menos um mês).

9 SÍNDROME PSICOMOTORA

As síndromes psicomotoras são classificadas como de agitação psicomotora e


as de estupor e lentificação psicomotora. Compreender essas síndromes é muito
importante para a atuação clínica em psiquiatria e atendimentos à saúde mental.

9.1 Síndrome de Agitação Psicomotora

Nas síndromes de agitação psicomotoras, é percebida intensa aceleramento


da esfera motora e elevação da excitabilidade; ademais, o paciente se apresenta
desinquieto, andando de um lado para outro, gesticulando, expressando contínua
inquietação. Podem estar relacionados à agitação psicomotora sintomas como
loquacidade ou logorreia, insônia, irritabilidade, hostilidade e agressividade.
A agitação psicomotora é classificada por subtipos como, agitação maníaca,
paranoide, catatônica, psico-orgânica, nas demências, nos quadros de deficiência
intelectual, explosiva associada a transtorno da personalidade, histriônica, ansiosa.
Na agitação maníaca pode-se identificar agitação psicomotora intensa,
logorreia, inquietude, ideia de grandeza, irritabilidade, arrogância, irritabilidade.
Na agitação paranoide pode-se identificar ideias delirantes, desconfiança,
estado de vigília, tensão.
Na agitação catatônica identifica-se impulsividade, reações agressivas,
presença de alucinação e delírio.
Na agitação psico-orgânica identifica-se confusão mental, desorientação,
dificuldade de compreensão das situações ao redor. Sua maior incidência é em
situações de uso abusivo de drogas, síndromes de abstinência.
27
Na agitação nas demências, em pessoas acometidas por alzheimer, dentre
outras, identifica-se muita desconfiança, medo, cognição comprometida.
Na agitação nos quadros de deficiência intelectual, devido ao comprometimento
cognitivo, e ter dificuldade em lidar com determinadas situações, pode manifestar
choro, grito, birra, agressividade num momento de agitação.
Na agitação explosiva associada a transtorno da personalidade, pessoas
acometidas por tais transtornos tem propensão a reagir a frustrações, de maneira
agressiva e explosiva. Essa agitação pode surgir subitamente e sumir quando a
pessoa consegue o que deseja.
Na agitação histriônica tem por característica um comportamento de chamar a
atenção, teatral, a pessoa se demonstra escandalosa, buscando ser o centro das
atenções.
Na agitação ansiosa, pessoas com quadros elevados de ansiedade
apresentam inquietude, tensão nas mãos, ato de roer unhas, profunda angústia.
Devido a ansiedade intensa há o risco de suicídio.

9.2 Síndromes de Estupor

De acordo com Rasmussen et. al. (2016) as síndromes de estupor incluem


quadros de diferentes etiologias, com retardo psicomotor em graus variáveis e
ausência de reatividade com preservação de consciência. Definida pela inabilidade ou
negativa das pessoas em responder, reagir ou conduzir-se conforme exigências do
ambiente. Frequentemente a pessoa apresenta mutismo, se limitando à sua cama ou
a uma cadeira, sem interação social, não se alimenta. Tal comportamento é
involuntário, a pessoa não escolhe agir assim.
Dalgalarrondo (2019) expõe que existem quatro subtipos de estupor,
relacionados a quadros nosológicos específicos ou distintos mecanismos produtores:
estupor depressivo, estupor na esquizofrenia, estupor psicogênico e estupor orgânico.

9.3 Síndrome de Comportamento Disruptivos na Infância e Adolescência

Tem maior presença na infância e adolescência, se associa ao autocontrole do


comportamento e das emoções. A presença desse transtorno traz dificuldades com o
28
controle emocional, potencializa condutas agressivas que infringem direitos de outros,
atos destrutivos consigo e como os outros, causando atritos com regras sociais.

9.4 Transtorno disruptivos da desregulação do humor

Tem por característica principal a irritabilidade crônica grave. Seu diagnóstico


geralmente é realizado antes dos dez anos de idade, no entanto não pode ser feito
em crianças menores de seis meses. Os sintomas manifestados neste transtorno são
explosão de raiva, humor constante irritável e zangado, podem surgir em diferentes
ambientes.

9.5 Transtorno de Oposição Desafiante

A respeito desse transtorno, Dalgalarrondo (2019) fala que nessa condição,


observa-se, em crianças e adolescentes, humor de base irritável ou raivoso, assim
como comportamento frequentemente desafiante ou questionador e índole vingativa.
E complementa, o comportamento desafiante e/ou questionador revela frequente
questionamento de figuras de autoridade (pais, professores, pessoas adultas com
papel de educador ou disciplinar), recusa a obedecer a regras ou pedidos de tais
figuras e atitude desafiadora dirigida a tais pessoas. Crianças com o transtorno com
frequência culpam outros por seus erros ou mau comportamento e incomodam
deliberadamente as demais pessoas.
Crianças com esse transtorno apresentam humor raivoso, se incomodam com
facilidade e com frequência perdem a calma.

9.6 Transtorno da Conduta

Também chamado de transtorno dissocial de conduta, é definido por condutas


violentas que violam normas (leis, regras, direitos alheios), de modo recorrente e
resistente. Para seu diagnóstico é necessário a presença desses comportamentos
num período mínimo de um ano.

29
9.7 Transtorno Explosivo Intermitente

Caracterizado por explosões comportamentais regular, a criança ou


adolescente não consegue conter os impulsos de agressividade, acarretando em
verbalização agressiva com xingamentos, discussões violentas, agressividade física
(com pessoas ou animais), podendo também quebrar objetos.
A dimensão da agressividade expressa durante as explosões é claramente desproporcional em
relação às provocações ou aos estressores psicossociais desencadeantes. Deve-se atentar aqui para
o fato de as explosões de agressividade não poderem ser premeditadas, não terem objetivos de atingir
a um fim predeterminado tangível (obter dinheiro, intimidar os outros ou obter mais poder). São
explosões impulsivas, e não instrumentais para obter ganhos desejados. (Dalgalarrondo, 2019 )

10 TRANSTORNOS ALIMENTARES

Gerbasi et al. (2014) enfatiza que a conduta alimentar é motivada pelas


sensações básicas de fome, sede e saciedade. Estas são geradas, controladas e
monitoradas por diversas áreas do organismo: o hipotálamo (centro da saciedade) e
várias estruturas límbicas e corticais, mediadas por substâncias como a insulina, a
leptina e a grelina. Além disso, mudanças sociais e culturais relacionadas ao padrão
de beleza, sobretudo feminina (beleza magra), têm tido impacto internacional sobre a
prevalência e o curso das síndromes de comportamento alimentar, que têm
aumentado em muitas regiões do mundo.

30
10.1 Anorexia Nervosa

Fonte: encrypted-tbn3.gstatic.com

É definida pela presença de baixo peso relacionado ao peso ideal por


consequência da redução de alimentação necessária, a pessoa não se alimenta,
provoca vômitos, faz uso de laxantes, diuréticos e anorexígenos, levando a perda de
peso autoinduzida. Existindo um empenho infindável de emagrecer por medo
exagerado e doentio de ficar ou parecer gordo.
Há busca implacável de magreza e medo intenso e mórbido de parecer ou ficar
gorda, trazendo outras complicações para a saúde. Ela apresenta dois subtipos, o tipo
restritivo e o tipo compulsão alimentar purgativa.

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10.2 Bulimia Nervosa

Fonte: www.infoescola.com

A bulimia nervosa para Mehler (2003) é descrita por preocupação excessiva


com controle do peso corporal, que leva o paciente a tomar medidas extremas, como
vômitos autoinduzidos, purgação, enemas e diuréticos, a fim de mitigar os efeitos do
aumento de peso decorrente da ingestão de alimentos. A pessoa acometida por esse
transtorno apresenta medo resistente de comer e a vontade de se alimentar,
propiciando episódio de hiperfagia, os constantes de “ataques à geladeira”. Pessoas
acometidas por este transtorno normalmente é negam tal prática quando
questionadas por profissional da saúde. É dividido em níveis de gravidade, sendo leve,
moderada, grave e extrema.
O transtorno de compulsão alimentar tem por característica, a pessoa
manifesta o ato de comer compulsivamente, tem o sentimento que perdeu o controle
em comer, sofre rejeita seus comportamentos, sente culpa, mas nesse caso não
apresenta comportamentos purgativos.
No transtorno de ruminação há a presença de conduta recorrente e proposital
de regurgitar o alimento engolido.

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11 TRANSTORNO DEVIDO AO USO DE SUBSTÂNCIAS E COMPORTAMENTOS
ADITIVOS

Fonte: www.adesg.net.br

Substâncias como cafeína, tabaco, álcool, cocaína, maconha, crack, opioides,


alucinógenos, anfetamínicos, sedativos, inalantes, hipnóticos e ansiolíticos agem
sobre o cérebro, proporcionam sensação de prazer ou excitação (ativando o sistema
de recompensa do cérebro). Gardner (2011) destaca que as principais estruturas
desses circuitos são o nucleus accumbens (NAc), a área tegmental ventral e a
amígdala, e o principal neurotransmissor envolvido é a dopamina.
Há uma tendência maior das pessoas com transtornos mentais graves em
desenvolver dependência à essas substâncias.
Dalgalarrondo (2019) cita que segundo a Classificação internacional de
doenças e problemas relacionados à saúde (CID-11), os transtornos devidos a
substâncias são ordenados em categoria única, para cada tipo de substância (álcool,
cocaína, maconha, etc.). Nessa categoria (p. ex., transtorno devido ao álcool), para
cada tipo de problema, deve-se, quando necessário, acrescentar os especificadores

33
ou subtipos – por exemplo, transtorno devido ao álcool: intoxicação, dependência,
abstinência e quadros psicopatológicos induzidos.
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), classifica
os transtornos associados a substâncias em dois grupos, sendo transtornos por uso
de substâncias e transtornos induzidos por substâncias.

Não há uma razão única que explique, para todas as pessoas, por que se
passa a usar substâncias ou quando e por que tal uso se torna um transtorno
destrutivo para o indivíduo e para a sociedade (Dawes et al., 2000).

Observa-se que o começo do uso de substâncias, geralmente na adolescência,


é associado a aspectos como a curiosidade, convivência (companheiros (as) que já
fazem o uso), busca por aceitação pelo grupo, sentimento de pertença a uma
subcultura, prazer em infringir normas (fazer algo ilegal), desejo de diminuição de
sentimentos desagradáveis como ansiedade, solidão, impotência, tensão, tristeza,
baixa autoestima.

11.1 Transtornos por uso de substâncias

Nessa situação, é identificado o uso constante e habitual de uma substância,


mesmo diante dos prejuízos relevantes que o uso traz. A pessoa acometida por esse
transtorno não consegue ter controle sobre o uso, é submetido a problemas
psicossociais e sociais visíveis, prejuízos psicológicos e físicos, apresenta tolerância
e abstinência.
A pessoa apresenta sentimento de fracasso, devido às tentativas frustradas em
cessar o uso, a fissura, que geralmente é incitada pelo ambiente de uso da substância.
Apresenta comprometimento na responsabilidade em cumprir deveres como trabalho,
estudos, assim como a deserção de atividades importantes da vida. Não conseguindo
extinguir o uso mesmo com os s prejuízos em sua vida pessoal, o afastamento das
pessoas, isolamento, bem como os prejuízos na saúde física. A tolerância à
substância utilizada é cada vez maior, ou seja, a necessidade do aumento da
quantidade utilizada, para obtenção do efeito esperado. Apresente também a
abstinência, que ocorre quando o teor da substância no organismo diminui causando
ansiedade, tremores, insônia, sudorese, os sintomas variam de acordo com a
substância usada.
34
11.2 Transtornos induzidos por substâncias

De acordo com Dalgalarrondo (2019), os transtornos induzidos são, devidos


aos efeitos fisiológicos da substância no cérebro. Há uma relação específica entre o
uso e a síndrome induzida. Trata-se de quadros geralmente reversíveis que podem
durar horas ou dias, mas que não ultrapassam, de modo geral, um mês sem o uso da
substância. Os transtornos induzidos podem ser a intoxicação, a síndrome de
abstinência da substância, diversas psicopatologias como depressão, transtorno
neurocognitivo, ansiedade, psicose, delirium. A intoxicação apresenta mudanças
mentais e comportamentais, perda do grau de consciência, confusão da atenção, do
pensamento, da percepção, do julgamento, da psicomotricidade, agressividade,
provocados pelo consumo intenso de uma substância.

11.3 Transtornos por uso do álcool

De acordo com a CID-11, os transtornos oriundos do uso de álcool representam


um modelo de consequências negativas subsequente ao uso da substância, até
mesmo intoxicação, uso arriscado, dependência, síndrome de abstinência e
transtornos mentais induzidos pelo álcool.
Duffy (1995) cita que é comum que o indivíduo negue terminantemente ou
minimize que o álcool seja um problema em sua vida, que usa bebidas alcoólicas de
forma claramente perigosa e prejudicial, que não consegue parar de beber ou que
perdeu o controle sobre seu padrão de ingesta. O uso abusivo de álcool pode causar
delirium tremens, alucinose alcoólica (alucinações audioverbais), delírio de ciúmes,
embriaguez patológica.

11.4 Transtornos por uso da maconha

O transtorno por uso da maconha tem como fatores de risco problemas nas
relações familiares, dificuldades escolares, influência de familiares próximos, o fácil
acesso à droga. O início do uso normalmente é antes dos quinze anos e seus efeitos
pode variar entre sensação de prazer, relaxamento, riso sem motivo, muita fome,
35
confusão da percepção tempo-espacial, dispersão da atenção e concentração, boca
seca, olhos vermelhos.

11.5 Transtorno por cocaína e crack

A cocaína pode ser inalada, injetada ou fumada (no caso do crack). A ação da
cocaína no organismo quando aspirada é rápida, durando até 45 minutos. No caso do
crack, a ação é imediata, no entanto dura cerca de 10 minutos, causando enorme
fissura para o uso, favorecendo a dependência, sendo esta uma das dependências
mais graves.
Dalgalarrondo (2019) destaca que os efeitos imediatos mais frequentes da
cocaína (pó ou crack) são: “sensação subjetiva de bem-estar ou euforia”, de estar
“mais ativo, mais alerta, autoconfiante ou forte”, com “mais energia” e pensamento
acelerado, fisicamente, pode haver taquicardia, aumento da frequência respiratória,
sudorese, dilatação das pupilas, tremores leves de mãos e pés, tiques e contrações
musculares de língua e mandíbula, ansiedade e crises de pânico, sensação de
desconfiança, perseguição, sua ação no coração está relacionada a risco aumentado
de infarto do miocárdio, arritmias, dor torácica, acidentes vasculares cerebrais e morte
súbita em jovens usuários.
Outros transtornos como jogo e apostas, dependência da internet, compulsão
por sexo e compras, trazem também grandes prejuízos às pessoas por ele acometido
como a perda de controle e a intensidade crescente de prioridade de tal atividade, o
que prejudica significativamente outros aspectos relevantes da vida.

36
12 TRANSTORNOS ASSOCIADO AO SONO

Fonte: encrypted-tbn1.gstatic.com

A necessidade do sono é uma questão individual, há pessoas com maior


necessidade dele para sentir-se descansada e outras que com poucas horas de sono
estão renovadas para realizar suas atividades diárias. Portanto para seu diagnóstico,
é importante uma anamnese minuciosa, sobre os comportamentos ligados ao sono e
à sonolência, de preferência acompanhado com alguém de seu convívio que trará
observações quanto seu padrão de sono e vigília. Geralmente, dificuldades com o
sono são seguidas de depressão, distúrbios cognitivos, ansiedade, agravando o
transtorno.
Entre os transtornos de sono mais relevantes podemos destacar o transtorno
de insônia, transtorno de hipersonolência, síndrome das pernas inquietas, transtornos
do sono relacionados à respiração (apneias do sono), transtornos do sono-vigília do
ritmo circadiano (tipo fase do sono atrasada e fase do sono avançada), narcolepsia,
parassonias (sonambulismo, terror noturno, bruxismo). Estes tem elevada frequência
e grande impacto na sociedade.

12.1 Transtorno de insônia

Segundo especificações da APA (2014), a insônia é um dos sintomas mais


comuns em saúde mental; calcula-se que cerca de um terço da população adulta
37
tenha pelo menos alguns dias de insônia clinicamente significativa durante um ano e
que 6 a 10% da população adulta apresentem o transtorno de insônia. É caracterizado
pela dificuldade em “pegar no sono” e permanecer dormindo, acordar pela madrugada
e não conseguir mais dormir, que devem ser observadas ao menos três vezes na
semana por um período mínimo de três meses. Além do cansaço, baixa produtividade,
a insônia causa prejuízos na qualidade de vida, na saúde física e emocional.
Entre os fatores que estão relacionados ao sono podemos citar a ingestão de
café à tarde ou à noite e de bebidas alcoólicas à noite, alimentação copiosa à noite,
trabalhos difíceis e estressantes no período noturno, atividade tensa no período
noturno, televisão no quarto, hábito de despertar e levantar da cama a cada dia em
horários muito diferentes, trabalho em turnos. Já os que facilitam o sono são o hábito
de acordar todos os dias na mesma hora, não forçar o sono e retirar o despertador do
lado da cama, atividades relaxantes no período noturno, quarto escuro, fresco e
silencioso, peso corporal adequado, atividade física regular.

12.2 Transtorno de hipersonolência

Neste caso, mesmo dormindo, a pessoa relata excesso de sono ao longo do


dia. Dalgalarrondo (2019) enfatiza que pessoas com esse transtorno conseguem
dormir rapidamente, e há boa eficiência do sono (≥ 90%); entretanto, podem ter
dificuldade para acordar pela manhã e, às vezes, parecem confusas ou atáxicas
(desequilíbrio motor) ao acordar. Queda da habilidade motora, percas de memória,
confusão no tempo e no espaço e sensação de atordoamento são alguns sintomas
vivenciados por pessoas acometidas por esse transtorno quando acordadas no meio
do sono.

12.3 Síndrome das pernas inquietas

Esta síndrome é caracterizada pela precisão de movimentar as pernas durante


o sono, podem ter sensação de desconforto nas pernas, formigamentos. O
desconforto é aumentado quando a pessoa está em repouso, aliviando com o
movimento. É agravado devido a inatividade, prejudicando o sono.

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Esse desconforto se intensifica com o repouso e melhora com o movimento. A
sensação se agrava durante período de repouso ou inatividade e é pior no final da
tarde ou à noite, prejudicando gravemente o sono.

12.4 Transtornos do sono relacionados à respiração

A apneia do sono caracteriza-se pela ocorrência de muitas pausas respiratórias


curtas, de 10 a 50 segundos, durante o sono. Nos episódios de apneia, o indivíduo
pode roncar, a saturação sanguínea de oxigênio cai, e, com frequência, ocorre breve
despertar (Dalgalarrondo, 2019).
Esse transtorno é subdividido em:
Apneia e hipopneia obstrutivas do sono que é um tipo de apneia/hipopneia provocada
pelo bloqueio das vias aéreas superiores, abalando-as. Comumente relacionado à
obesidade, pescoço curto, mudanças estruturais da cavidade orofaríngea. Roncos são
comuns nesse caso.
Apneia central do sono é causada pela oscilação no empenho respiratório
(involuntário), apresenta episódios repetidos de apneia e hipopneia durante o sono.
Neste caso, com frequência, a pessoa acordo ao longo da noite, muitas vezes
sentindo sufocamento, tendo sonolência, insônia, cansaço pela manhã.
Hipoventilação relacionada ao sono, apresenta respiração no sono reduzida
associada a níveis elevados de gás carbônico. Pessoas acometidas por esse
transtorno sentem sonolência exagerada ao longo do dia, dores de cabeça ao
amanhecer, insônia.

12.5 Transtornos do sono-vigília do ritmo circadiano

É caracterizado por um modelo insistente ou periódico de conturbação do sono


causado pelas mudanças do sistema circadiano (regulação fisiológica do ritmo sono-
vigília durante 24 horas), onde há instabilidade entre o ritmo circadiano endógeno (o
ritmo biológico do indivíduo, durante o dia) e os horários de sono e de vigília propostos
pelo ambiente físico (como a luminosidade) e social, podendo ser as regras da família,
ou requisitos do trabalho e/ou escola.

39
12.6 Narcolepsia

Nesta situação, a pessoa tem uma necessidade incontrolável de dormir,


cochilar durante o dia, com sonolência acentuada e repentina, Dalgalarrondo (2019)
descreve que além da sonolência diurna, a narcolepsia manifesta-se clinicamente por
ataques de cataplexia, que é uma crise breve (de segundos a minutos) de perda
bilateral de tônus muscular, com manutenção da consciência, geralmente
desencadeados por risos ou brincadeiras. A pessoa acometida por este transtorno,
cai inesperadamente no chão. Para seu diagnóstico os ataques devem se manifestar
ao menos três vezes por semana, pelo período mínimo de três meses.

12.7 Parassonias

São caracterizadas por fatos comportamentais ou fisiológicos diferentes


relacionados a estágios característicos do sono ou da transição sono-vigília,
mudanças do despertar ou despertar incompleto. O sonambulismo, o terror noturno,
o sonilóquio, a paralisia do sono, bruxismo, enurese noturna, pesadelos, são situações
presentes nesse transtorno.

13 SEXUALIDADE E PSICOPATOLOGIA

Basson (2006) descreve que a sexualidade, desejo fundamental do ser, ocupa


um lugar central em nossa condição existencial. Ela compreende três dimensões
básicas: biológicas, psicológicas e socioculturais.
Na dimensão biológica temos os aspetos neuronais, hormonais e
anatomofisiológicos genitais. Na dimensão psicológica destaca-se aos aspectos
singulares e individuais da vontade erótica, das fantasias sexuais e da extensão
subjetiva de prazer que a vida sexual pode produzir. Nas dimensões socioculturais
estão referenciados padrões culturais, atos, produções e objeções expressa por cada
sociedade relacionados à sexualidade.

40
14 TRANSTORNOS OU DISFUNÇÕES SEXUAIS

Nas palavras de Dalgalarrondo (2019) as disfunções sexuais são síndromes


que incluem as várias formas pelas quais indivíduos adultos apresentam dificuldades
na experiência pessoal de atividade sexual não coercitiva. E de acordo com CID-11 a
disfunção sexual para ser conceituada como tal, necessariamente tem que apresentar
as condições abaixo:
 Ocorrência frequente do transtorno ou disfunção, podendo estar ausente
em algumas situações;
 O transtorno deve estar presente por pelo menos alguns meses;
 O transtorno deve estar associado a sofrimento ou disfunção
clinicamente significativos.

14.1 Disfunções do desejo e da resposta sexual

Nesse transtorno, acontecem disfunções que prejudicam a satisfação/prazer


do ato sexual. Dos distúrbios relacionados com esse transtorno podemos citar a
inibição do desejo sexual que é caracterizada pela constante inibição de desejo de
cunho sexual, que é influenciada aos valores culturais, idade e momento da vida da
pessoa acometida. Se esta ausência do desejo sexual causa sofrimento na pessoa
acometida ou em seu parceiro (a), identifica-se o transtorno. Dificuldades intrínsecas,
proibição voltada para assuntos sexuais, ligação da sexualidade ao pecado devido
normas culturais, sentimento de culpa, bem como disfunções fisiológicas são fatores
que favorecem a inibição do desejo sexual.
Vale citar também o transtorno da dor gênito-pélvica/penetração (ocorre na
mulher), transtorno do orgasmo feminino (dificuldades ou ausência de excitação),
transtorno erétil (falha parcial ou total em alcançar e/ou manter a ereção), transtornos
da ejaculação (ejaculação precoce ou retardada).

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14.2 Transtornos parafílicos e parafilias

Esses transtornos se referem a formatos de fantasias, estímulos sexuais que


envolvem sofrimento expressivo vivenciado pela pessoa acometida por este
transtorno. Neste caso a realização do estímulo sexual acarreta prejuízo a outros,
como quando o outro não consente a realização sexual, ou quando envolve pedofilia.
Entre os transtornos parafílicos estão o transtorno exibicionista, o transtorno
voyeurista, transtorno do sadismo sexual, transtorno do masoquismo sexual,
transtorno pedofílico, transtorno fetichista, zoofilia, transtorno transvéstico, transtorno
frotteurista. Para o diagnóstico é necessária a relação com elevado sofrimento ou
prejuízo para si e/ou outros, com a duração mínima de seis meses.
Na hipersexualidade ocorre estímulos e comportamentos sexuais exacerbados, que
causa sofrimento significativo, sejam em homens ou mulheres. Há a tendência em
tensões excessivas e recorrentes com fantasias sexuais, uma precisão excessiva de
sexo.

14.3 Homofobia e Transfobia

São tipos de preconceitos repulsivos que agridem psicologicamente a pessoa


homossexual ou transgênero. A homofobia e são relatos e convicções, condutas, atos
e práticas de ódio, para com pessoas homossexuais somente pelo fato de serem
homossexuais ou bissexuais. Na transfobia ocorre o mesmo para com a população
transgênero, na maioria das vezes mais expressiva. São formas de preconceito e
discriminação hediondas e inaceitáveis e que devem ser claramente combatidas.
A homofobia internalizada e a transfobia internalizada retratam a autoimagem
negativa construída, internalizada pela pessoa LGBT, que desencadeia sentimentos
de vergonha, culpa, experiências negativas direcionada a si própria. Está relacionada
a valores, mensagens e ideologias socioculturais e políticas negativas.

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15 TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS

Nesses transtornos se encaixam delirium, demências, transtorno amnéstico,


Alzheimer, Parkinson, encefalite, insuficiências renal ou hepática, entre outros. Esses
transtornos se subdividem em delirium e transtorno neurocognitivo de longa duração.
O delirium é uma síndrome aguda onde acontece rebaixamento do nível da
consciência e alteração da atenção, desorientação alopsíquica, pensamento ilógico,
confuso e desorganização do discurso, alterações da sensopercepção, alteração do
humor, labilidade afetiva, agitação psicomotora, sonolência, alucinações visuais,
sonolenta, com pensamento muito confuso, desorientada, com alucinações visuais,
perturbação do ciclo sono-vigília.

16 DEMÊNCIAS E OUTROS TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS DE LONGA


DURAÇÃO

Dalgalarrondo (2019) expõe que na grande maioria das vezes, as demências


são transtornos que surgem na senilidade (após os 65 anos), mas também ocorrem,
embora bem menos frequentemente, na forma pré-senil (entre os 50-65 anos). As
perdas cognitivas nas demências evoluem para déficits bem mais marcantes do que
em transtornos como esquizofrenia e transtorno bipolar. O autor enfatiza que esses
transtornos não são transtornos do desenvolvimento que surgem na infância,
adolescência ou juventude e permanecem ao longo da vida.

Nas demências, o curso das perdas cognitivas e da limitação da vida


funcional é quase sempre progressivo (na esquizofrenia, por exemplo, as
perdas tendem a ser precoces e mais estáveis). Os TNCs (demências) são
causados por doenças neurodegenerativas e cerebrovasculares, ou seja, têm
uma etiologia neuropatológica específica e bem estabelecida.
(Dalgalarrondo, 2019)

De acordo com CID-11 a demência é caracterizada como uma síndrome mental


orgânica, e ela manifesta o declínio do funcionamento cognitivo prévio, afetando a
memória, linguagem, funções executivas, julgamento, atenção, velocidade de
processamento, cognição social, velocidade psicomotora e habilidades visuoespaciais
ou visuoperceptivas.

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A doença de alzheimer é derivada de uma condição neurodegenerativa que se
apresenta por perdas cognitivas, especialmente da memória episódica e da
aprendizagem. Sendo também prejudicadas, a linguagem, a capacidade
visuoconstrutiva e perceptomotora.
Doença cerebrovascular se refere ao conjunto de quadros de perdas cognitivas
que configuram um TNC, maior ou leve, e nos quais a doença cerebrovascular, seja
decorrente de acidentes vasculares em grandes vasos, seja de doença microvascular,
é o principal fator, a patologia dominante ou exclusiva que determina o declínio
cognitivo e a demência (Dalgalarrondo, 2019). Seu diagnóstico é mais assertivo
através de exames que mostram se há lesão no cérebro relacionada à doença
cerebrovascular.
Na degeneração lobar frontotemporal acontece o comprometimento da
memória de trabalho, da atenção e da cognição social, além de prejuízo no controle
dos impulsos. Produzindo relevantes alterações da personalidade e do
comportamento.
Doença com corpos de Lewy é uma demência alfa-sinucleidopatia. Acontece
devido a uma modificação anormal nos neurônios da região do córtex cerebral e
apresenta os sintomas prejuízo cognitivo flutuante, alucinações visuais, declínio
cognitivo progressivo, sintomas de parkinsonismo, transtorno comportamental do
sono REM, efeitos colaterais dos antipsicótico.
A demência mista é o acometimento por duas ou mais razões que ocasionam
o declínio cognitivo e demência, podendo acontecer com quaisquer junções de
disfunções que acarretam a demência.
O transtorno amnéstico é caracterizado pela queda agravada da memória em
comparação à idade da pessoa acometida e seu grau intelectual. Apresentando uma
queda desigual da memória se comparado aos outros domínios cognitivos, dificuldade
em fixar informações, apreender assuntos novos bem como recordar os assuntos
aprendidos.

No contexto da psicopatologia contemporânea, faz-se necessário o esforço


contínuo de integração de conhecimentos e construtos das neurociências cognitivas,
da epidemiologia clínica e da farmacologia, em acentuado desenvolvimento e
crescente influência, com a perspectiva de se valorizar de forma cuidadosa e hábil a

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importância indelével e decisiva da cultura e dos processos sociais na experiência
subjetiva e interpessoal, intrínsecas aos transtornos mentais. (Choudhury; Kirmayer,
2009)

45
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