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21/09/2021

PRINCIPAIS SÍNDROMES QUE


INTERESSAM AO DIREITO

PSICOLOGIA FORENSE II
2021.2

CURSO DE DIREITO – FADIR – UFMS


PROF. SANDRA AMORIM
CURSO DE PSICOLOGIA – FACH – UFMS

SÍNDROMES QUE INTERESSAM AO DIREITO

 SÍNDROME - elenco de sintomas que ocorrem em conjunto e


caracterizando ou predizendo a existência de uma doença , seja
na esfera orgânica (física), seja no plano psicológico (mental).
 Existem algumas síndromes que se relacionam de maneira mais
estreita com o Direito, e, por isso mesmo, constituem objeto
específico de estudo da Psicologia Jurídica.

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SÍNDROME DE ALIENAÇÃO
SINDROME PARENTAL
DA ALIENAÇÃO PARENTAL(SAP)

 Considera-se ato de Alienação Parental a interferência na formação psicológica


da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores,
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade,
guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
 A Alienação Parental é uma forma de violência psicológica que, se caracteriza
por um conjunto de práticas efetivadas por um genitor (na maior parte dos
casos), denominado alienador, capazes de transformar a consciência de seus
filhos, com a intenção de impedir, dificultar ou destruir seus vínculos com o
outro genitor, denominado alienado, sem que existam motivos reais que
justifiquem essa condição.
 Porém, não são apenas os genitores que podem alienar, mas qualquer parente
ou outro adulto que tenha autoridade e responsabilidade pela criança ou
adolescente.
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SÍNDROME DAS FALSAS MEMÓRIAS

 Enquanto a SAP é um distúrbio do afeto, configura como uma


alteração da função mnêmica, que se expressa por relações
gravemente perturbadas, podendo, dependendo da intensidade e
persistência, incutir falsas memórias, sem que, entretanto, ambas
estejam diretamente correlacionadas.
 A memória pode ser equivocada em relação a qualquer tipo de
fatos da vida, mas a forma mais perversa de implantar falsas
memórias é a imputação infundada de abuso sexual.

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SÍNDROME DE MÜNCHAUSEN
 Consiste em um transtorno psicológico em que a pessoa, de forma
compulsiva, deliberada e contínua, causa, provoca ou simula sintomas de
doenças.
 Propriamente dita ou clássica – usa a si próprio
 Por Procuração – produz ou inventa, de forma intencional, sintomas em seu filho,
fazendo com que seja considerado doente.
 Sinais: fabricação da doença; vontade de submeter-se a numerosos
procedimentos (inclusive dolorosos); personalidade e identidade frágeis na sua
constituição (busca de cuidados emocionais); baixa autoestima; “maquiagem”
de informações; troca frequente de locais de atendimento. Não se pode
confundir com “simulação”, por exemplo, para obter afastamento do trabalho.

SÍNDROME DE ESTOCOLMO
 Essa Síndrome foi primeiramente descrita em 1973 após o sequestro de um banco em
Estocolmo, na Suécia, em que as vítimas estabeleceram laços de amizade com os
sequestradores, de modo que acabaram por visitá-los na prisão, além de afirmarem que não
houve qualquer tipo de violência física ou psicológica que pudesse sugerir que suas vidas
estavam em perigo.
 A Síndrome de Estocolmo é um transtorno psicológico comum em pessoas que
encontram-se em situação de tensão, como por exemplo no caso de sequestros, prisão
domiciliar ou situações de abuso, por exemplo. Indica regressão a estágios de
desenvolvimento mais arcaicos. Nessas situações as vítimas tendem a estabelecer relações
mais pessoais com os agressores.
 Corresponde a uma resposta do inconsciente frente a uma situação de perigo, o que leva a
vítima a estabelecer uma conexão emocional com o sequestrador, por exemplo, o que faz
com que sinta-se segura e tranquila. (Obs. Nexo com a violência doméstica/Lei Maria da
Penha).
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SÍNDROME DE ESTOCOLMO
 Características da vítima:
 Mantem vinculo bidirecional com o agressor;
 Sentimento de empatia com o algoz;
 Se sente agradecida pelos mínimos favores do agressor;
 Nega ou racionaliza a agressão contra ela;
 Nega seu ódio contra o agressor;
 Fica em constante estado de alerta a fim de satisfazer as necessidades do
agressor;
 Percebe as pessoas que querem ajuda-la como más e o agressor como bom;
 Sente como se o agressor a protegesse;
 Tem dificuldades de abandonar o agressor, mesmo depois de estar livre dele;
 Tem medo que o agressor volte por causa dela, mesmo depois de preso ou
morto.
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SÍNDROME DO IMPERADOR

 Relacionada as mudanças da pós-modernidade, no que se refere ao tipo de educação dos


pais aos filhos. Algumas crianças evidenciam, desde cedo, comportamentos destrutivos,
agressivos e violento. Não se submetem às regras, desconhecem a palavra “não”
(narcisismo primário/ragilidade do superego). Basta serem minimamente contrariadas em
seu desejo e logo manifestam comportamentos inadequados.
 Características: na infância – chamar atenção (centro das atenções); agitação;
manipulação; desobediência; falta de respeito; oposição; desafiante; destruição de
brinquedos; na adolescência – nada lhe basta; falta de empatia; intolerância; falta de
sentimento de culpa; ausência de solidariedade; arrogância; tirania; incapacidade de
vinculação afetiva; irresponsabilidade; gosto pelo desafio e perigo; hedonismo; violência;
destrutividade; mentiras; destemor ao castigo; comportamentos de risco; falta de
sentimento de culpa; dentre outros.

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SÍNDROME DO IMPERADOR

 Características dos pais/responsáveis: submissos, fracos e desvalidos. Ao serem


incapazes de estabelecer limites, tornam-se condescendentes.
 Predomínio de : permissividade; obediência; são cordatos; não sabem dizer “não”;
tolerantes; culpabilizados; mesmo tendo consciência do erro cometido, frente às
situações escolares, policiais ou judiciais, buscam justificar o comportamento; defesa
incondicional dos comportamentos perante professores e outros representantes de
autoridade.
 Cria-se uma espécie de “amor reverencial” pelo filho “imperador”, que não pode
experimentar nenhum tipo de frustração para não ficar “traumatizado” (“bebês gigantes”).
 Reflete o “vazio” das funções materna, paterna e de educadores que desistiram de educar,
assumindo um caráter permissivo e transferindo para outros a tarefa de educar.
 Ressalta-se que o “imperador” nunca será um ganhador.

AMOK
 Palavra de origem malaia que significa “se engajar furiosamente na batalha”.
 Enquadrada em um “Quadro de Síndromes Ligadas à Cultura” – episódio dissociativo
caracterizado por um período de retraimento seguido de um ato explosivo.
 Corresponde a uma súbita e injustificada explosão de cólera selvagem, que faria com que
uma pessoa com particular inclinação para a violência, usando algum tipo de dispositivo
(faca, arma, explosivo, por ex.) sai correndo loucamente atacando, mutilando ou matando,
sem qualquer critério, pessoas ou animais que estiverem em seus caminhos, num
comportamento de extrema violência, tresloucado, que somente terminaria com a
contenção física ou, em outras vezes, com o suicídio.
 Aumento nas ultimas décadas. Agente geralmente do sexo masculino, adolescente ou
adulto jovem, aparentemente destituído de um motivo determinado e claro, que investe
cegamente em uma ação violenta (por ex. extermínio e alunos de uma escola), em geral
cometem suicídio após o fato. Atenção ao contexto social! (ex. intolerância às diferenças).
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AMOK
 Características – padece de uma solidão muito peculiar; pessoa privada de afetos básicos (“falha
básica”); não possui um sentimento de pertencimento.
 Amok – metáfora, elefante apartado da sua manada (Ìndia)
 Acontece um deslocamento e um movimento dissociativo para se inserir, de qualquer maneira, ao
estatuto de “sujeito”, nem que seja pela via da submissão destrutiva do outro. Por isso sua reação
é uma resposta desproporcional, despropositada, dramática e excessiva, descontrolada e
imprevisível e de enorme força destrutiva, muitas vezes fazendo a inclusão do outro na sua própria
morte.
 Essa síndrome engendra uma realidade complexa, que encontra explicações psicanalíticas, culturais
e sociais de amplo relevo, abrangendo a teoria dos vínculos e da comunicação humana, condições
que o inscrevem no marco da multifatorialidade.
 Chama atenção ao fato que muitos episódios de massacre ocorrem geralmente em instituições
que tratam de questões ligadas à liberdade e aos direitos humanos (ex. instituições de ensino,
universidades, etc.).
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CUTTING
 Expressão que se origina do verbo em inglês, “to cut” (corta-se).
 Configura como um ato autoagressivo, revestido de uma tentativa de recompensa de
encontrar prazer no comportamento de cortar-se e de criar cicatrizes no corpo,
que, depois, são escondidas e eventualmente exibidas como forma de ataque ao
outro ou vanglorio identitário, o que evidencia, em parte, a necessidade de sinais de
pertendimento a um grupo. Muitas vezes as cicatrizes se mantem ocultas, em uma
mescla de sigilo e vergonha.
 Revela-se, portanto, um comportamento intencional, que envolve a agressão direta
ao próprio corpo (punho, braço, pernas, barriga) através do ato de cortar-se, sem
intenção consciente ao suicídio (embora possam ocorrer lesões ocasionalmente
fatais).
 Fatores agregados: distúrbios alimentares (anorexia, bulimia), de identidade, uso de
álcool e outras drogas, necessidade de chamar atenção das pessoas, perdas afetivas
importantes, desejo de atacar a família e os padrões vigentes da sociedade, etc.

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CUTTING
 Descrito por seus agentes como forma de obtenção de prazer que alivia
sentimentos de dor e tristeza, de raiva ou ódio. Ou seja, trata-se de uma
forma de esconder uma “outra dor”, uma dor maior, tal como abandono,
rejeição, depressão, baixa autoestima, problemas familiares ou de identidade,
dentre outros.
 Trata-se de uma estratégia de reduzir a ansiedade e a angústia existencial. Na
adolescência pode representar sentimentos de busca de identidade, através
de modelos distorcidos, que realizam as mesmas práticas ou expressam
sentimentos semelhantes aos seus (ex. vídeos que circulam na internet).
 Tudo que não pode ser simbolizado (conflito), que não acede ao simbólico e
como tal não chega a palavra, transforma-se em sintoma.
 Quando o imaginário não consegue elaborar o sentimento, a mente cala e o
corpo de alguma forma “fala”.
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STALKING

 Stalking: “A perseguição implacável”. Na acepção da palavra. caçadores que perseguem


furtivamente animal que querem caçar.
 Padrão de comportamento repetitivo, persistente e invasivo de seguir e de importunar
insistentemente a vítima, na maioria das vezes uma mulher, geralmente com sucedâneo do
termino de uma relação amorosa mal sucedida, na qual prevalecem sentimentos de rejeição,
fracasso e ciúmes. Mas pode ocorrer com figuras pseudoconhecidas, como artistas, por
exemplo.
 Insere-se no contexto de abuso e violência e, em algumas circunstância, a partir do controle
e da ameaça, pode se tornar fisicamente cruel.
 Por tratar-se de uma serie de condutas que podem ser muito diversificadas, é bastante difícil
delimitar os comportamentos que configuram o fenômenos e nem sempre se constitui algo
ilegal. (Atenção! Art. 7º da Lei Maria da Penha)
 Não é restrito ao espaço doméstico e à violência contra a mulher.

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STALKING

 As condutas envolvem sempre uma intrusão persistente e repetida através da


qual uma pessoa procura se impor à outra mediante contatos indesejados, às
vezes ameaçadores, gerando insegurança, constrangimento e medo na vítima.
 A vitima pode assumir comportamentos evitativos: trocar numero de telefone,
alterar a rotina de horários, os caminhos e os percursos que habitualmente
fazia, aumentar segurança pessoal, dentre outros.
 Em geral a procura de ajuda se inicia na família, depois se estende a
profissionais da área jurídica e da saúde, até chegar no registro policial e à
tomada de providências judiciais por intermédio de processo, geralmente
quando os outros meios já se demonstraram insuficientes para fazer cessar o
implacável comportamento perseguidor.

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REFERÊNCIA BÁSICA

 TRINDADE, J. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do


Direito. 6ª ed. rev. atual. e amp. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2012.

 Obs. Os capítulos relacionados a esta síntese estão disponibilizados


no Classroom.

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