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CASO CLÍNICO – DISFUNÇÃO SEXUAL MASCULINA

O descontrole ejaculatório que Ronaldo apresentava era bem acentuado e persistia desde a sua primeira
experiência em contatos mais íntimos com pessoas do sexo oposto e com a relação sexual propriamente
dita. A cada nova experiência sexual, uma situação de frustração, seguida por sentimento de culpa,
apresentava-se ao cliente. Isso compôs um contexto geral de aversividade, que contribuiu, por fim, para
uma “baixa autoconfiança” (comportamento verbal) de que ele conseguiria um dia ter uma relação sexual
adequada – ou, pelo menos, da forma como desejava. O terapeuta compõe sua intervenção no intuito de
alterar tais contingências, tornando-as reforçadoras positivas. Nesse caso em particular, a situação aversiva
decorria da extrema falta de repertório que tanto o cliente quanto sua esposa possuíam em relação a
comportamentos que resultariam na atividade sexual reforçadora. Devido a uma história frustrante em
relação à atividade sexual, os estímulos discriminativos (SDs) que sinalizavam a emissão de tal classe de
respostas (aproximar- se da parceira, falar sobre sexo, fazer “as preliminares”, etc.) adquiriram
propriedades aversivas, tornando-se estímulos discriminativos pré-aversivos (SAVs). Dessa maneira, as
contingências em questão produziam comportamentos respondentes colaterais ansiosos cada vez mais
pungentes, bem como foram extremamente efetivos em selecionar repertórios de esquiva cada vez mais
elaborados de sua parceira.

Diante do contexto aversivo, respostas de evitação do parceiro sexual eram reforçadas negativamente. Em
muitas ocasiões, quaisquer comportamentos de sua esposa que pudessem sugerir ou levar o encadeamento
comportamental à relação sexual eram evitados.

Queixa

O cliente chegou à clínica após procurar um posto de saúde. Fora atendido por um médico urologista e dois
psicólogos. Havia passado por várias clínicas de atendimento em Psicologia, mas relatou não ter se
beneficiado das intervenções. Quando os atendimentos iniciaram, estava medicado com Paroxetina
(antidepressivo), que lhe foi receitado pelo urologista no posto de saúde por possuir o efeito colateral de
retardar a ejaculação. Essa foi a verbalização de sua queixa: “o problema maior, ela (a secretária) deve ter
passado para você, é ejaculação precoce”.

História

O cliente era do sexo masculino e tinha 26 anos. Trabalhava havia oito anos em uma empresa como
inspetor de qualidade, e esse foi seu único trabalho. Iniciara como estagiário nessa organização durante o
ensino técnico e não procurara quaisquer outras oportunidades de emprego. Estava casado há quase quatro
anos; sua esposa era poucos meses mais jovem. Possuíam uma filha de três anos, que foi concebida antes
do casamento. A única mulher com a
qual teve relações sexuais foi sua atual esposa, que também não possuía quaisquer experiências sexuais
anteriores.

C: Bom, ahh.... eu fui o primeiro dela, e ela foi.... vice-versa. Ela foi primeiro comigo, e eu fui a primeira
vez com ela. Aí então, eu não sabia e ela não sabia direito, principalmente ela não sabia; eu em teoria:
filme, TV.

O cliente, embora tivesse tido outras oportunidades, nunca conseguira engajar--se em uma relação sexual
bem-sucedida, pois ejaculava precocemente todas as vezes, antes da penetração. A falta de exposição
prévia de ambos, o cliente e sua esposa, a contingências para que seu repertório de comportamentos sexuais
pudesse ser modelado contribuiu enormemente para que a disfunção se iniciasse e perdurasse até então. O
urologista afirmou que ele não possuía problemas fisiológicos ou anatômicos; receitou Anafranil e, depois,
Paroxetina, ambos antidepressivos. O urologista encaminhou o cliente para a psicóloga do Posto de Saúde,
que não pôde dar continuidade ao tratamento devido à longa fila de espera.

Quando estava sob efeito da medicação, ele relatava uma substancial melhora no tempo relativo que
demorava a ejacular. Contudo, devido à demora em conseguir consultas no Posto de Saúde, eventualmente
ele parava de tomar o remédio por falta de receitas. Esse tipo de medicação, ao ser interrompida
bruscamente, leva a um estado de ansiedade aumentado, o que, nesse caso, piorava ainda mais a condição
sexual. Ronaldo relatava haver outras oportunidades para ter uma relação sexual; contudo, devido a uma
ansiedade muito grande, acabava por ejacular precocemente. Conseguiu realizar sua primeira relação
sexual com idade entre 20 e 21 anos. Seus comportamentos sexuais foram selecionados tardiamente e,
devido à ansiedade, como já dito, adquiriram um caráter aversivo.

C: O que, até essas datas, eu tive, acho que só uma oportunidade antes, que no esfrega-esfrega, eu acabei
ejaculando, e aí tipo, já era... acho que o principal não foi falta de vontade, nem falta de oportunidade (...).

C: Me senti, logo como a M [terapeuta anterior] falou, me senti, falei assim: ‘porra, se não tivesse gozado
eu teria feito relação com a menina’. É um prazer gozar, mas eu queria continuar e sem ejacular para fazer
o serviço completo, por assim dizer.

O caráter aversivo das relações sexuais malsucedidas começou a ser selecionado em sua história
ontogenética desde os primeiros contatos com as contingências sexuais, visto que, quanto maior era seu
insucesso, maior era sua ansiedade e mais rápido ele ejaculava. As relações funcionais entre as respostas
emitidas pelo cliente e o ambiente foram, cada vez mais, contribuindo para que seu estado ansioso
aumentasse.

Várias exposições às contingências sexuais ocorreram com consequências aversivas para o cliente, sendo
simples perceber que a situação antecedente, como um todo, da relação sexual adquiriu um caráter
extremamente aversivo, de modo que passou a eliciar cada vez mais comportamentos respondentes de
ansiedade e, ocasionando a ejaculação precoce e mais um insucesso na relação sexual.

C: Ficava desapontado, né. Aí que eu falei “pô, tem alguma coisa errada comigo”... E eu sabendo do
problema, falava pra ela que “ah, tava muito cansado”, “trabalhei hoje o dia inteiro”; a gente se encontrava
de noite, e, se fosse rápido, tão rápido, falava que eu tava muito cansado.

O cliente, devido à aversividade das contingências que estavam em vigor durante a relação sexual,
começou a emitir cada vez mais frequentemente comportamentos de fuga ou esquiva para adiar ou mesmo
interromper a contingência aversiva antes mesmo que ela entrasse em operação, ou seja, começou a evitar o
contato sexual com sua esposa. Contudo, essa situação começou a incomodá-lo enormemente, sendo,
talvez, o motivo principal que o fez procurar o posto de Saúde e aderir ao tratamento. Embora Ronaldo
relatasse sutileza nas consequências que sua esposa proporcionava diante da situação aversiva, elas
continuavam a eliciar comportamentos respondentes desagradáveis nele. Os trechos abaixo ilustram as
consequências aversivas por parte da esposa:

C: “Ela reclama [da ejaculação precoce] só quando para ela está gostoso mesmo... Porque homem, para
homem, está bom todo dia... Para mulher, nem sempre. Então, principalmente nos dias em que ela estava
achando bom, estava gostando, não está só acontecendo uma transa, está sendo feito amor.... Nesses dias,
ela sente essa falta[de mais tempo de relação sexual]: ‘Pô, mas já acabou?!’. Alguma coisa nesse sentido;
ela diz que está sendo rápido, mas diz com jeitinho. Sem achar que eu sou o culpado assim, direto, não....
ela fala com jeitinho, que não me deixa desapontado.”
C: “Então, eu fico chateado, tipo assim, ‘poxa eu poderia ter continuado.... não consegui....’, me sinto
culpado... Só que eu tento também, até certo ponto, não me rebaixar [não assumir a culpa ou o
“transtorno”].”

C: “Mas eu sempre tento dar carinho para ela.... para não ser só sexo.... para relação ser um amor, né?
Vamos fazer amor, não transar”... Pode-se dizer, portanto, que existia em seu repertório a discriminação
entre o significado de dois comportamentos: um deles seria “fazer amor” e o outro “transar”, esse segundo
com um caráter pejorativo. Em diversas sessões, o cliente explicou que, com sua esposa, ele queria “fazer
amor”, o que nem sempre conseguia devido à disfunção sexual já instalada. Todavia, quando relatava
oportunidades que teve com outras mulheres (sem sucesso) de engajar-se em uma relação sexual, referia-se
a essas como quase ter “transado”.

Demasiados eram os momentos em que a regra fazia-se predominante sobre as consequências da


contingência que estaria em funcionamento. Em um indivíduo que não teve seu comportamento
devidamente selecionado, gerando uma disfunção que acarreta grande sofrimento para ele, fazer com que
ele fique sensível às consequências do ambiente natural, se é que elas existem, é fato primordial para a
construção de um repertório adequado às contingências da relação sexual com sua esposa. Entretanto, as
consequências liberadas por sua esposa, na situação sexual, apenas possuíam um papel de eliciar
comportamentos respondentes desagradáveis no cliente. A esposa nunca forneceu consequências adequadas
às respostas do marido no sentido de selecionar uma classe operante bem adaptada. Nesse caso, o papel da
esposa em construir a disfunção sexual do cliente foi fundamental, pois ela proporcionava as principais
consequências aos comportamentos do cliente.

Além disso, no início de sua adolescência, o cliente esteve inserido em um ambiente muito conservador,
que condenava quaisquer práticas sexuais, inclusive a masturbação. Como ele era um ótimo seguidor de
regras, ou seja, seu comportamento era em grande medida controlado pela descrição verbal de
contingências feitas por outras pessoas, teve muita dificuldade em desenvolver um repertório inicial de
conhecimento de seu próprio corpo, o que viria a tornar-se um problema maior quando fosse experimentar
sua primeira relação sexual com sua esposa.

C: Pelo fato de eu saber que elas [mãe e avó] achavam que era feio, era pecado, eu fazia tudo para não me
pegarem. Eu ia ao banheiro, sem ninguém perceber, ou conseguia uma revistinha.... Era tudo por baixo dos
panos.

Um fato bem característico observado para a fundamentação da falta de repertório de respostas adequadas à
situação sexual foi a inabilidade de o cliente conhecer seu próprio corpo. Já possuía poucas oportunidades
para explorar sua sexualidade, visto a rigidez quanto às regras da família, e quando as possuía não obtinha
sucesso no comportamento em que tentara se engajar. O cliente relatou que não conseguira ejacular em
uma masturbação até completar seus 21 anos. Deduziu-se que a impossibilidade de ele conseguir algum
tempo satisfatório para dedicar à masturbação, devido a contínuas interrupções por parte de seus familiares
enquanto utilizava o banheiro, confluiu para que o cliente não tivesse a oportunidade de explorar e
descobrir seu próprio corpo satisfatoriamente. Tudo isso culminou no fato de não conhecer a sua própria
sexualidade e, posteriormente, a de sua esposa.

C: Ver [na adolescência] os caras falando: “pô, fui tomar um banho... gozei... sujou até o azulejo”. E eu
sem conseguir gozar. Demorava um pouco, sei lá, não conseguia entender... Talvez por ser acomodado...
ficava meio assim, só pelo fato de ser acomodado... Aí, quando ouvia alguma coisa, ficava com aquilo na
cabeça; aí quando ia para tentar solucionar, tentava e não dava... “deixa assim... tá bom...”. Não dava tanto
valor, por assim dizer. Aí foi, né? Sou um homem e sei qual o meu problema. Meu problema não é só
meu... É da minha esposa, apesar de que ela não acha que não é nem meu... Ainda bem... porque se fosse...
Até certo ponto, eu tive sorte... Se fosse uma outra mulher... Até eu vejo reportagem que mulher chega ao
ponto de querer largar do marido [que tem problemas sexuais], assisti em uma reportagem do Jornal
Nacional.

A cultura na qual ele se inseria tinha um papel fundamental em lhe “apresentar” os contextos nos quais
deveria emitir determinada resposta e as consequências que poderia esperar. Dessa maneira, durante toda
sua história de reforçamento, ele se expôs muito pouco a contextos nos quais não teria repertório adequado
para se inserir. Pouquíssimos comportamentos seus haviam sido modelados (ou seja, Ronaldo apresentava
baixa variabilidade comportamental); o responder pelo controle instrucional era sempre a “melhor” e mais
provável alternativa.

O controle instrucional de como suas respostas deveriam ser era tão presente, que após um mês de namoro
(com sua atual esposa), a resposta que seu ambiente e cultura ditavam ser correta era que eles firmassem
um compromisso. A partir de diversos relatos de Ronaldo, pôde-se inferir que os motivos que o levaram a
iniciar tal relacionamento pouco tinham a ver com a simpatia ou o afeto que ele nutria pela mulher, mas
sim com o fato de seu ambiente social proporcionar estímulos reforçadores condicionados generalizados (p.
ex., elogios, atenção, evitar críticas).

C: Isso. Então, aí, eu..... como estava ficando com ela há um mês e meio, pedi ela em namoro. Então,
depois eu depositei um pouco mais de confiança em mim, depois de quase um mês a gente ficando... por
isso, eu estava conhecendo ela mais.... sabendo que ela não era daqui, era do Nordeste, e falava para mim
que era virgem... bom, isso daí eu não posso negar... uma menina de 22 anos..... uma coisa meio rara... não
é impossível, mas meio raro uma mulher nessa idade estar virgem ainda. Bonito de se ver, né?.

C: E ela sempre falava para mim que nunca ia transar comigo; só depois do casamento dela; tanto comigo
quanto com qualquer outra pessoa, era uma... promessa dela.... também para uma disciplina familiar. Aí,
começamos a ficar mais íntimos, o namoro começou a ficar um pouco mais quente.

Em vários momentos levantou-se a hipótese de o cliente ter procurado alguém que justamente não lhe
fizesse uma demanda comportamental à qual ele não poderia corresponder. Vê-se que encontrou alguém
que não liberava muitas consequências aversivas para seus comportamentos “inadequados”. Contudo, sua
esposa também pouco produzia consequências reforçadoras positivas para seus comportamentos; desse
modo, não ocorriam quaisquer seleções quanto a um repertório adequado à relação sexual.

C: A mulher, apoio ela, mas estava a ponto de largar... Talvez se minha esposa tivesse alguma experiência
anterior, com algum outro homem, eu “estaria lascado”; nosso namoro teria durado pouco... Até eu achar
uma virgem para eu poder me casar.

Após algumas sessões de análise das contingências presentes na história de vida do cliente, bem como as
em operação no momento da terapia, pôde-se constatar algumas que selecionaram e mantiveram os padrões
comportamentais que ele apresentava:

Na sua história de vida, o cliente:

1. Seguia as regras determinadas pela família.


2. Quando as regras não eram seguidas, o comportamento era punido, produzindo comportamentos de
esquiva e sentimentos de culpa.
3. Não apresentava variabilidade comportamental, desenvolvendo um repertório restrito e estereotipado.
4. A família descrevia os comportamentos sexuais como inadequados (para um indivíduo que se
“especializou” em seguir regras, tal descrição de contingência pode tê-lo engajado em muitas situações de
culpa).
5. O cliente desenvolveu pouco repertório social: falava pouco em público, não tinha amigos, quase nunca
ia a festas e raramente tentava sair ou “ficar” com alguma menina.
6. Não emitiu comportamento de masturbar-se (temia possíveis punições sociais e sentimentos de culpa),
não vindo a conhecer o próprio corpo.
7. Na primeira experiência sexual, teve ejaculação precoce. Esse evento aversivo o levou a se esquivar de
outras tentativas, ficando com um repertório restrito e baixa “autoconfiança”, mantida por contingências
aversivas.

No momento da terapia, o cliente:

8. Apresentava déficit de repertório social: não tinha amigos, não se expunha às situações sociais, falava
pouco no trabalho e sua baixa assertividade o levava a cumprir demasiadas horas-extras.
9. Seu repertório era muito governado por regras: religiosas, familiares e do trabalho.
10. Não variava seus comportamentos, não expressava suas ideias e seus sentimentos.
11. Tinha uma relação mantida por contingências amenas com a esposa e pouco se relacionavam com
outros casais ou amigos.

Com a descrição feita acima, pode-se claramente constatar que a história de contingências de reforçamento
do cliente convergiu para selecionar um repertório que o expôs a um ciclo vicioso, no qual suas respostas
para inúmeros contextos do ambiente social (e sexual) eram “inadequadas”, ou mesmo, inexistentes.
Fechando o ciclo, o repertório que “sobrou” ao cliente não lhe proporcionava contextos para que fossem
selecionadas respostas alternativas, que poderiam ser mais adequadas ao seu âmbito social.

Resultados

Consistentemente, o cliente passou a observar mais as respostas emitidas pela sua esposa, respostas que,
funcionalmente, eram consequências aos seus comportamentos. Em alguns momentos, tais consequências
eram estímulos reforçadores positivos eficientes em selecionar as respostas adequadas do cliente. Essa
estimulação eliciou cada vez menos respostas condicionadas (de ordem fisiológica), ou seja, o que
comumente chamamos de ansiedade passou a atuar de forma menos contundente nas contingências
operantes do ato sexual.

Quanto menores eram as respostas condicionadas do cliente, menor era o descontrole ejaculatório e mais
adequada era sua relação sexual com a esposa. Ciclicamente, as contingências em funcionamento durante a
relação sexual se tornaram reforçadoras positivas. Como veremos mais adiante, essa informação é verídica
para nosso cliente; todavia, para sua esposa, as relações funcionais que encetaram nesse momento eram, de
certa maneira, aversivas.

Ao serem selecionados comportamentos mais adequados do cliente na relação sexual, ele passou a trazer à
terapia novas descrições de topografias de respostas que emitia, quais eram selecionadas pela apreciação de
sua esposa e quais não eram.

Dessa forma, ele apresentou maior variabilidade operante. Emitia respostas cada vez mais diversificadas no
contexto das preliminares sexuais. No momento em que as contingências em atuação tornaram-se
reforçadoras positivas, o cliente relatou “desejar” mais frequentemente ter relações sexuais com sua esposa.
Não poderíamos esperar diferente: como é bastante demonstrado por estudos empíricos no laboratório com
animais não humanos e humanos, consequências reforçadoras positivas aumentam a probabilidade de
recorrência futura da resposta à qual foi relacionada funcionalmente.

Em última análise, é justamente esse efeito que entendemos como seleção. Entretanto, a despeito de as
relações funcionais entre suas respostas e consequências serem positivas para Ronaldo, para sua esposa as
respostas emitidas por nosso cliente passaram a ter caráter aversivo. No início da terapia, não se esperava
que ela começasse a emitir comportamentos de fuga e esquiva de relações sexuais mais duradouras. Ele
observou que as respostas emitidas pela esposa durante a relação sexual eram pouco frequentes e,
provavelmente, de baixa magnitude. Tal fato, e provalvemente o controle instrucional proporcionado ao
cliente pelo terapeuta, fez com que ele ficasse sob controle discriminativo dos comportamentos da esposa e,
por fim, relatasse a “descoberta” de que a falta de repertório nesse contexto não era apenas sua. Ao
discriminar essa peculiaridade quanto ao comportamento de sua esposa, houve uma regressão quase que
instantânea nos avanços comportamentais que ele demonstrara até o presente momento.

O cliente relatou sentir-se “mal” e sem direções de ação; em linhas gerais, ele não possuía repertório para
lidar com essa contingência aversiva que se iniciou. Nessa situação, o terapeuta alterou o rumo da
intervenção. Não mais eram descritas contingências possíveis no ato sexual, mas sim respostas que ele
poderia emitir no sentido de se reaproximar de sua esposa. Conjuntamente, emitir respostas que tivessem
função de SD para que ela pudesse se comportar e o cliente selecionar algum repertório dela. Todavia, as
respostas da esposa pouco se alteraram. Além disso, ela apresentou uma variabilidade operante de
comportamentos de fuga-esquiva muito sofisticada nas situações em que seu marido tentava quaisquer
aproximações, culminando em sua filha ser alocada para dormir na mesma cama que ambos, “no meio do
casal”. Isso ocorreu sem quaisquer outros motivos aparentes, pois a menina possuía um quarto próprio e
não sofria de nenhuma enfermidade ou outra condição que merecesse um cuidado maior.

Com a inflexibilidade demonstrada por sua esposa, inúmeras contingências em funcionamento no cotidiano
do cliente adquiriram caráter aversivo, principalmente a terapia que, desde seu início, não era “vista com
bons olhos” por ela. Dessa maneira, ele diminuiu a frequência às sessões. Seu absenteísmo foi bastante
grande, o que resultou no desligamento do serviço provido pelo instituto no qual era atendido.

Devido à direção que a terapia adquiriu em seu final, conclui-se analisando que, nos casos de disfunção
sexual, é extremamente importante que haja o conluio de ambos os cônjuges. Mesmo que um deles não
frequente a terapia, é necessário que haja o acordo na identificação da disfunção e na disponibilidade para
trabalhar em prol da solução (Carey, 2003; Carvalho, 2001). Esse caso mostra claramente que, apesar das
mudanças bem-sucedidas nas contingências às quais o cliente se expunha, o fato de sua esposa não aderir à
terapia, ou mesmo não trabalhar para a mudança nessas contingências, foi fundamental para que os
comportamentos mais adequados na relação sexual não fossem eficazmente selecionados, muito menos
mantidos em funcionamento por longos períodos de tempo.

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