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TRATAMENTO DE DISFUNÇÕES SEXUAIS A LUZ DA TERAPIA

COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Disfunção Sexual Masculina: Ejaculação Precoce

No decorrer da história, verificamos que tivemos significativas evoluções no


contexto da sexualidade humana, pois o tempo nos trouxe mais
esclarecimentos e a quebra de tabus e mitos que ocultavam o conhecimento
acerca da sexualidade. O acesso a esse tipo de conhecimento era detido,
principalmente pelos ditos intelectuais e pelos moralistas. Com a quebra desse
tabu, o homem passou a conhecer mais seu corpo, sentimentos e sexualidade,
desta forma, criou-se uma abertura para o alívio de possíveis disfunções
sexuais no meio terapêutico.

Disfunção sexual diz respeito a variados segmentos que levem a algum tipo de
sofrimento emocional decorrente de um comportamento sexual
irregular/insatisfatório a nível psicofisiológico. Com relação ao homem, hoje
iremos discutir sobre a ejaculação precoce a luz da TCC.

Disfunções Sexuais

As disfunções sexuais são adquiridas, em qualquer estágio da vida, de maneira


que são explicadas através de processos de aprendizagem, podendo, portanto,
serem revertidas mediante intervenções baseadas nos princípios de
aprendizagem, tendo a TCC muita eficácia.

As disfunções sexuais são divididas em primárias e secundárias: As primarias


são aquelas disfunções em que o indivíduo nunca obteve nenhum tipo de bem-
estar nas relações sexuais com o outro e/ou sozinho. As secundárias são
entendidas como aquelas em que o indivíduo deixa de sentir prazer nas
relações em algum momento da vida.

A disfunção sexual se caracteriza pelo abandono de uma das fases do


intercurso sexual: Desejo, excitação, platô, orgasmo ou resolução.
Ejaculação Precoce

Dentre as disfunções sexuais masculinas, um das mais recorrentes é a


ejaculação precoce ou ejaculação prematura, sendo a de maior preocupação
dos homens. Porém, existem poucas pesquisas na literatura que falem sobre o
assunto, métodos e profissionais que prestem serviço na problemática.

A disfunção por ejaculação precoce se caracteriza pela incapacidade de reter


voluntariamente a ejaculação. O tratamento para esse diagnóstico só é
indicado quando ocorre junto da parceira ou do parceiro e quando o tempo
entre a penetração e a ejaculação é muito curto ou quando há ejaculação antes
mesmo da penetração. Porém é preciso levar em consideração os aspectos
contextuais da situação, a estimulação precisaria ser mínima e ocorrer várias
vezes.

A aprendizagem está fortemente ligada a essa problemática segundo


pesquisas e que os homens se condicionariam a uma fácil e rápida ejaculação,
estabelecendo isso para a vida toda. Além disso, a ansiedade também tem
demonstrado forte influencia, assim não há somente condicionamentos.

Porém, há uma problemática quanto à definição do que seria “precoce”, visto


que não há um consenso. A ejaculação precoce se caracteriza por a pessoa
“ejacular antes do que queria”, assim, precisam ser consideradas as questões
psicossociais de rendimento e masculinidade.

Fatores Predisponentes e Mantenedores da Ejaculação Precoce

O número de pensamentos disfuncionais durante a atividade sexual é muito


maior em pacientes com disfunção sexual do que em pacientes sem o
transtorno. Esses pacientes tendem a apresentar ideias sobre fracasso,
negação, insatisfação e falta de pensamentos eróticos.
Existem muitas considerações que precisam ser percebidas pelo terapeuta e
paciente com relação a isso, como o nível de estresse e carga emocional que o
homem vai para a relação sexual, fazendo com que ele aumente ou diminua a
sensopercepção erótica, já que ele está extremamente adrenérgico e excitado.

Então a pessoa acaba por perceber somente a ejaculação precoce e o


orgasmo prematuro, sem levar em consideração as distorções cognitivas. A
ejaculação precoce é somente o efeito e não a causa em si.

Os condicionamentos podem surgir no início da vida adulta, com as rapidinhas


nos carros e em espaços adultos, bem como da masturbação exacerbada e
rápida. Questões sociais e cobranças de masculinidade.

O ejaculador prematuro leva consigo muita ansiedade e uma enorme parcela


de culpa por não ter um bom desempenho sexual e um enorme
desapontamento, pois seu prazer sexual é incompleto e muito rápido. Esta
situação o deixa numa situação de muita vergonha e infelicidade, levando a
consequência amarga, pois o ejaculador prematuro passa evitar os contatos
sexuais no medo de frustrar na relação.

Os efeitos psicológicos de angústia e de incapacidade não deixam outra saída


ao ejaculador precoce a não ser buscar ajuda, de outra forma os efeitos serão
altamente destrutivo para sua relação conjugal.

Tratamento da Ejaculação Precoce na Terapia Cognitivo-Comportamental

Existem vários tratamentos para o retardamento da ejaculação precoce como,


por exemplo: a masturbação antes do coito, banho de chuveiro frio, uso de
álcool e sedativos, repetitivas práticas sexuais com a parceira até o orgasmo, o
uso de preservativo ou a aplicação de analgésico no pênis para diminuir a
sensibilidade, a prática de exercícios mentais para desviar atenção no ato
sexual focalizada em experiência desagradável. Todos estes métodos de uma
forma ou outra auxiliam como mecanismo para retardar o início da excitação
aguda, mas não melhoram o controle, desde que seja atingida intensa
excitação erótica.
No tratamento para as disfunções sexuais devem-se englobar fatores afetivos,
cognitivos e comportamentais.

É muito comum que após a investigação do caso o terapeuta perceba que a


disfunção sexual pode ter sido desencadeada por falta de informação e/ou por
tabus morais. Nesse caso, faz-se necessário que o terapeuta realize uma
psicoeducação sexual na terapia.

Os principais objetivos na terapia sexual são:

A) Definir a natureza da disfunção sexual e quais são as mudanças desejadas;

B) Obter informações que permitam ao terapeuta propor uma formulação em


termos de fatores predisposicionais, precipitantes e mantenedores;

C) Com base nesta formulação, definir qual o melhor tipo de intervenção


terapêutica;

D) Iniciar o processo terapêutico;

E) Avaliar o processo e introduzir eventuais mudanças no planejamento, se


necessário;

F) Tomar medidas para a prevenção de recaídas.

O fundamental na Terapia Sexual é o conhecimento do próprio corpo;


esclarecimentos sobre os efeitos da ansiedade na resposta sexual humana;
aprendizagem de como se comunicar com o outro; práticas de relaxamento;
valorização das fantasias; desfocalização dos genitais como centro de prazer.

No caso das disfunções sexuais, para o tratamento faz-se necessário à


proibição da penetração durante o tratamento até segunda ordem, pois a
penetração é o que causa a maior ansiedade no que consiste ao desempenho
sexual. Para ser tratada a ejaculação precoce, primeiro o homem deve treinar a
masturbação sozinho e parar antes de ejacular, programando um tempo maior
a cada exercício de masturbação, cada vez mais os estímulos podem ser
introduzidos aos poucos (por exemplo: a fantasia, o óleo na mão, as revistas ou
filmes, a parceira, etc).

Na condição terapêutica, inicialmente efetua-se uma avaliação buscando


conhecer o histórico detalhado do paciente, que apresenta seu sintoma e sua
disfunção; é orientado ao casal que cabe exclusivamente a eles a
responsabilidade do sucesso do tratamento, expondo ao casal um quadro
realista do que pode ser esperado. Busca verificar no paciente e na esposa se
existe alguma anomalia física nos órgãos genitais oriunda de doença ou
mesmo congênita; em dúvida, o paciente é orientado a fazer uma avaliação
médica, para que se possa dar continuidade ao tratamento.

Serão discutidos durante a entrevista inicial outros fatores que contribuem para
o sucesso do tratamento, como a dedicação, a franqueza, a respeito de
sexualidade, a quebra dos mitos e as crenças errôneas a respeito do
comportamento sexuais. Concluindo a primeira parte, o casal é orientado como
dever de casa a realizar estimulação sexual mútua, isto é, apenas até o ponto
de levar o marido à ereção. O paciente deve deita-se de costa, enquanto sua
esposa manipula seu pênis manualmente (ou oralmente se preferir),
recomenda-se a ele focalizar a atenção exclusivamente nas sensações eróticas
oriunda de seu pênis, enquanto o mesmo estiver sendo manipulado. Ele é
orientado para não deter sua atenção à sua mulher porque a ansiedade e
conflitos que surgem da preocupação com a parceira e das suas reações
constituem distrações da experiência sexual.
Disfunções Sexuais em Mulheres

A disfunção sexual feminina (DSF) pode ser definida como um distúrbio de


alguma das fases da resposta sexual – desejo, excitação, platô e orgasmo ou
dor no coito que resultem em desconforto e promovam impacto na qualidade
de vida e nos relacionamento interpessoais. Assim como no homem, envolvem
diversos problemas, com causas tanto biológicas quanto psicossociais, sendo
multifatorial em sua etiologia. O Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV-TR)
define Disfunções Sexuais como perturbações no desejo sexual e alterações
fisiopsicológicas que caracterizam o ciclo da resposta sexual, causando
sofrimento acentuado e dificuldade interpessoal.

Os fatores etiológicos comuns às DSFs incluem a presença de estados


emocionais negativos, como a raiva, depressão, ansiedade e medo, fatores
individuais relacionados a baixa autoestima, má imagem corporal, ansiedade
de desempenho, experiências prévias traumáticas com dores ou abuso sexual,
fatores educacionais e culturais relacionados a contributos na formação de
crenças errôneas e desinformação acerca da sexualidade, mensagens
parentais negativas, ortodoxia religiosa e aspectos subjetivos do
relacionamento conjugal.

O conteúdo de cada sessão depende das experiências e reflexões trazidas


pelas participantes a cada semana. De maneira geral, estabelece-se uma
sequência semiestruturada de tarefas baseadas em técnicas cognitivas
destinadas a provocar mudanças nas percepções que a paciente traz sobre si
mesma e sobre o relacionamento em que se encontrava, permitindo desta
forma uma ressignificação e mudança de pensamentos e crenças
disfuncionais. A paciente é orientada a não buscar o coito durante o processo
de tratamento, devendo informar esta condição ao parceiro. Inicialmente é
pedido que a paciente observe o próprio corpo diante do espelho e identifique
os pontos que consideravam positivos.

A fase seguinte envolve a visualização e exploração dos próprios genitais, sem


ênfase na obtenção de orgasmo, mas com foco nas sensações obtidas e
pensamentos a elas associados. Superada esta etapa, foi proposta a
participação dos parceiros na tarefa de casa, por meio de toques e carícias
mútuos pelo corpo, excluindo-se as zonas genital e mamária. O objetivo deste
exercício é conseguir desvincular a ideia de proximidade física, carinho e afeto
da obrigatoriedade de iniciar uma atividade sexual com penetração.

A partir deste ponto, as participantes foram estimuladas a elaborar suas


próprias estratégias e exercícios a serem desenvolvidos em casa, atribuindo-
lhes poder no processo decisório e na responsabilização pelos resultados
obtidos. As etapas seguintes envolveram manipulação mútua incluindo a região
genital, o coito sem a exigência de resultado, e o coito livre.

Seu uso no tratamento das disfunções sexuais femininas baseia-se nas


mudanças dos pensamentos disfuncionais associados à prática sexual. Para
Nobre e Gouveia, pacientes com disfunção sexual apresentam frequência
maior de pensamentos disfuncionais durante a atividade sexual que pacientes
sem disfunção. Ideias sobre fracasso, negação, insatisfação e falta de
pensamentos eróticos foram mais frequentes de maneira significativa em
mulheres disfuncionais, evidenciando o potencial da TCC para atuar
diretamente sobre estes pensamentos. Muitas mulheres podem se beneficiar
apenas pela oportunidade de expor seus problemas em um ambiente
acolhedor, considerando a TCC uma boa alternativa para aquelas que
necessitam de psicoterapia, seja isoladamente ou em conjunto com outras
técnicas.

Considera-se a importância do nojo ou repulsa ao sexo como fator


desencadeador das DSF. A partir deste ponto de vista, a TCC seria o método
terapêutico mais adequado para o tratamento das DSF que tivessem este
componente emocional como fator desencadeante.

ALGUMAS TÉCNICAS E ESTRATÉGIAS:

Psicoeducação das disfunções sexuais, psicoeducação do modelo cognitivo,


técnicas comportamentais, inventário Beck de ansiedade (BAI), conceituação
cognitiva, cartão de enfrentamento, registro de pensamentos disfuncionais
(RPD), tomada de decisões, exame das evidências, descoberta guiada,
questionamento socrático, aumento das atividades prazerosas e prevenção de
recaídas.

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