Você está na página 1de 14

A psicologia no hospital

geral
Profª Sílvia Cristina Alves Andretta
CRP. 06/54539
Reflexão
John Powell descrita em Miranda e Miranda(1986, pág. 120):

“Meus sentimentos são como minha impressão digital, como a cor dos meus olhos
e o tom de minha voz: únicos e irrepetíveis. Para você me conhecer, é preciso que
conheça meus sentimentos.

Minhas emoções são a chave para a minha pessoa. Quando lhe dou essa chave,
você pode entrar e compartilhar comigo o que tenho de mais precioso para lhe
oferecer: eu mesmo”.
Caso clínico
José: Eu sou diretor de uma escola em minha cidade, vim para uma reunião que estava sendo
feita aqui em São Paulo. Já havia algum tempo que eu sentia um desconforto, mas não entendia
de onde vinha. Disse para minha esposa que ao sair da reunião passaria aqui no hospital para
fazer uma consulta. Foi assim, vim para a consulta e já fiquei internado, agora não sei mais o
que está acontecendo.
Este foi um discurso onde ficou claro de que o incomodo não se restringia apenas ao
desconforto físico, que havia por trás um campo muito maior a ser investigado. Diante disso
foram realizadas intervenções no sentido de levar o paciente a sentir na terapeuta uma
audiência não punitiva e que seus sentimentos pudessem ser eliciados. Assim segue-se :
Discurso ocorrido um dia antes da cirurgia
Terapeuta: Sim José, o que ocorreu com você deixou-lhe bastante confuso. Seu quadro clínico é
muito complicado, mas estive pensando, que teoria você faz sobre o que lhe ocorreu?
José: Não sei muito bem, penso em várias coisas...não sei direito...será que é isso?...não sei, mas
acho que é. (silêncio)
Terapeuta: O que está ocorrendo nesse momento com você?
José: Culpa. Me sinto culpado. O que está acontecendo comigo é porque mereço. O que fiz não
foi certo, não queria estar sentindo isto agora.
Terapeuta: Você gostaria de estar falando sobre essa culpa, sobre o que está sentindo?
José: Não só gostaria, mas preciso muito. Não sei como lhe dizer, é tão vergonhoso que eu não
sei nem como, me sinto muito mal por isso.
Terapeuta: É parece estar difícil ainda falar sobre isso, me parece que é algo não muito aceito
pela sociedade, por outras pessoas.
José: É, é isso mesmo. Mas preciso lhe contar se não vou explodir, já não agüento mais.
Terapeuta: Como lhe disse no começo, não estou aqui para julgar, achar certo ou errado o que
tenha lhe ocorrido, apenas vou ouvir e lhe ajudar.
Nesse momento a terapeuta sinalizou a neutralidade, comportamento que neste caso foi
um Sd de uma audiência não punitiva, levando a extinção do comportamento de não
verbalizar o encoberto.
José: É, eu fiz, não, não cheguei a fazer nada, mas...eu me apaixonei pela pessoa errada.
Por quê...por que tinha que ser justamente essa pessoa. Nunca me apaixonei por
ninguém dessa forma, nem pela minha esposa. O pior é que não tenho como fugir, não
tenho como deixar de vê-la. Poxa, tanta menininha na escola e eu me apaixono
justamente por quem não deveria. Você acredita que eu me apaixonei pela minha nora.
Não é certo. Ela é esposa de meu filho, mãe de meus netos...tanta menina na escola, por
quê? É não entendo.
Terapeuta: É José, que confusão que está ocorrendo com você, que desconforto
enorme que você se encontra.
José: Sim, estou bastante confuso. E o pior é que ela vai sempre em casa. Meu filho não
pode nem sonhar com isso, imagine só como ele ficaria...não quero nem pensar.
Terapeuta: Como foi que você percebeu que estava apaixonado?
José: Sabe, eu sempre achei ela bonita, mas nunca me ocorreu nada. Quando meu filho
precisou reformar a casa dele, eles foram morar lá em casa, aí começou minha desgraça; ela
andava pra baixo e pra cima com shorts super curto, toda hora passava na minha frente daquele
jeito, eu fui ficando louco. Cheguei até sonhar diversas vezes com ela. Quando estava com
minha esposa pensava nela, não é justo, não é possível.
Terapeuta: E o que você fez com todos esses sentimentos?
José: Eu já não agüentava mais; daí um dia eu contei para ela. Contei tudo o que estava
ocorrendo, como contei aqui para você. Ela se propôs a me ajudar, disse que não andaria mais
de shorts em casa e que iria procurar ficar mais distante. Além disso, logo a casa do meu filho
ficou pronta e agora ela só vai em casa aos domingos para almoçar. Meu filho foi transferido de
local no serviço e agora eles terão que mudar, vai ser melhor ainda, vão para outra cidade.
Terapeuta: Bem José, me parece que o que ouve foi bastante sério e que mudou sua vida...
José: E como, até deixei de me relacionar com os meus amigos, só queria resolver esse
problema, mas não sabia como.
Terapeuta: Realmente, é complicado, ainda mais que se trata da esposa de seu filho; como você
disse, se fosse outra menina da escola não seria tão difícil assim. Mas a questão é que não foi e
você está repleto de sentimentos que não consegue compreender nem resolver, o que será que
aconteceu?
José: É...virou doença. Acho que não tinha para onde sair e criou esse tumor. Eu não podia
falar para ninguém, ninguém iria me entender. Não havia como, eu tinha que engolir e sofrer
sozinho, não podia falar. Agora olha só, tudo isso se transformou em um tumor.
Terapeuta: É, esta é a sua teoria. O que você pretende fazer agora?
José: Não quero mais me sentir assim, foi bom poder contar para você e não guardar tudo isso
para mim, eu estava sufocado, você tirou um peso muito grande de minhas costas.
Terapeuta: Que peso?
José: A culpa. Você me compreendeu. Tinha medo de falar e ser recriminado,
mas você me compreendeu, me ouviu. Acho que não agüentaria segurar mais,
iria explodir, ainda bem que você apareceu. Agora quero fazer a cirurgia e levar
minha vida para frente.
Terapeuta: Sentimentos são sentimentos e só quem sente é que é capaz de
saber como conhecê-los, e conhecendo-os existe como mudar. Acho que é isso
que você quer me dizer, que você não quer mais guardar, porque sentir não dá
para não acontecer.
José: É, é isso mesmo.

A terapeuta se despede desejando boa sorte na cirurgia e diz que irá até a UTI
para vê-lo após a cirurgia.
O que ocorreu nesse caso é que o paciente estava sobre um controle aversivo de que se contasse um fato
que socialmente e culturalmente é recriminado seria punido. Houve ai uma aprendizagem por regra do
comportamento de sentir-se atraído pela nora, no entanto, na presença de um estímulo não punitivo
pode haver a verbalização do sentimento culpa que permeava o desconforto do paciente. Sendo
verbalizado trouxe consigo antecedentes de sua história de reforçamento, contingências as quais
ocorreram o comportamento e previsões para comportamentos futuros.

No seguimento, fui visitá-lo na UTI. Ele estava com receio de dormir e não acordar. A terapeuta disse:
José, não fique preocupado, ocorreu tudo bem em sua cirurgia, você venceu! Não fique com medo de
fechar os olhos, faz parte de sua recuperação, você está tomando medicamentos que o fazem dormir,
logo você acordará e verá que está bem. Pode fechar os olhos e dormir. Nos veremos na segunda feira.
Na segunda feira ele já se encontrava no quarto. Nesse dia relatou a terapeuta que sua
visita à UTI foi muito importante, pois, ele estava com muito medo. Relata também
que estava feliz porque os médicos falaram que ele teria que ficar 3 dias na UTI e ele
havia ficado apenas 1 dia; disseram ainda que não foi preciso colocar a bolsa e que a
recuperação dele estava ótima e que teria alta provavelmente na terça feira, sendo que o
tempo previsto era de aproximadamente duas semanas após a cirurgia. Coloca que a
situação dele poderia ter sido diferente se não tivesse “desabafado”(sic) comigo. O
paciente saiu de alta hospitalar no dia previsto e se propôs a continuar atendimento
psicoterápico na cidade onde mora.
Psicologia hospitalar
• A inserção do psicólogo nos hospitais: a questão da humanização
História da psi hospitalar 1
História da psi hospitalar 2

• O ambiente hospitalar: o que esperar


Ambiente hospitalar
Psicologia clínica
• Formas de encaminhamento: inter-consultas, reuniões multidisciplinares

• Onde o psicólogo atua: setting da psicologia hospitalar

• Como o psicólogo é requerido no hospital: psicoterapia breve

• Equipe multiprofissional
Tarefas básicas do psicólogo hospitalar
• A função de coordenação, relacionadas às atividades com os funcionários da instituição.
• A função de auxilio à adaptação, intervindo na qualidade do processo de adaptação e
recuperação do paciente internado.
• A função de inter-consulta: auxiliando outros profissionais a lidarem com o paciente.
• A função de enlace, de intervenção, por meio de delineamento e execução de programas
com os demais profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos
pacientes.
• Assistência direta: atua diretamente com o paciente.
• A função de gestão de recursos humanos: aprimora os serviços dos profissionais da
instituição, o que contribui de forma significativa para a promoção de saúde.
Vídeos
• Patch Adams

• Ética

Você também pode gostar