Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A questão é que todos nós, simplesmente por sermos humanos, vez e outra
temos problemas graves para resolver. Temos dores que demoram a passar,
temos dificuldades… e temos problemas psicológicos também. Temos
ansiedade. Temos depressão. Temos desesperança.
Aliás, até por uma questão de equilíbrio, pessoas que dedicam toda a vida a
buscar saúde mental tendem a ter uma sombra imensa nesse sentido. Grandes
terapeutas tendem a visitar suas grandes angústias, sua solidão intensa e seu
pânico do futuro com alguma frequência. De vez em quando, também surtam,
também se perdem e também contemplam (e cometem) suicídio.
Mais ou menos por aí aparece nossa maior hipocrisia como terapeutas:
Quantos de nós nos achamos bons demais para admitir que temos problemas?
Quantos psicólogos você conhece que dizem não precisar de terapia? Ou pior,
que dizem coisas como “Não vou indicar um paciente pra fulana, ela toma
antidepressivo desde a época da faculdade”? Ou “Não conta pra ninguém, mas
ela tentou se matar no tempo da faculdade… Não chama ela não.”?
Burrice. Por preconceito, deixamos de ser e de conviver com ótimos
profissionais.
Quando a loucura é rotina, cada um encontra seu método para se manter são.
Viver com um transtorno mental é ainda mais difícil quando você passa o
dia inteiro cuidando do transtorno dos outros.
Às vezes estamos particularmente vulneráveis. Por mais irresistível que a
gente seja, às vezes até um psicólogo leva um pé na bunda. E é nesse dia que
o paciente vai ter conhecido uma pessoa com o mesmo nome do seu ex, e eles
vão ter ido no mesmo restaurante que você ia com seu ex, e as histórias vão
parecer que aconteceram de propósito para machucar.
É nessa hora que você segura firme até o fim da sessão, se despede do
paciente e vai usar todos os lencinhos da sua sala enquanto cai no choro. Com
pressa, porque a próxima sessão vai começar em dez minutos. E o próximo
paciente vai contar do pé na bunda que tomou.
Não é uma rotina fácil, mas com cuidado e respeito a gente aprende a se
dosar até onde consegue.
Minha amiga do começo do texto precisou reduzir a carga horária no lugar
onde trabalhava (e a quantidade de comida na despensa, porque o salário
diminuiu junto). Outro colega sai para dar uma volta na quadra entre um
atendimento ou outro. Eu aprendi a não marcar ninguém no horário seguinte
toda vez que atendo alguém que tenha sofrido violência sexual.
Quando a loucura é rotina, cada um encontra seu método para se manter são.