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I lá
algum tempo venho me preocupando com a formação de terapeutas
comportamentais, e especialmente com a formação de terapeutas dentro da graduação
em Psicologia. Tenho presenciado por parte dos alunos vários comportamentos de esquiva
desde das \arefas mais simples como a entrevista Inicial até dos casos de queixas
psiquiátricas. Em geral o aluno que chega para o atendimento tem muito medo de errar,
achando que nada sabe e nada aprendeu para executar sua tarefa.
Em 1993, durante a Reunião Anual de Psicologia de Ribeirão Preto fui convidado
a falar numa mesa redonda intitulada “Bases teóricas aplicadas à prática clinica: as
contingências na sessão terapêutica", na qual apresentei o trabalho “O impacto do
atendimento sobre a pessoa do terapeuta". Nesse texto, eu analisava teoricamente
alguns comportamentos apresentados por terapeutas iniciantes e não iniciantes, e, a
partir de sentimentos possivelmente expressos por eles, buscava encontrar as
contingências que estariam em operação controlando seus comportamentos. Mais à
frente eu analisei a importância das emoções e comportamentos encobertos numa análise
funcional, especialmente na análise feita dentro de uma sessão terapeutica. Finalmente
discuti o papel das emoções do terapeuta.
1. Ansiedade
Nâo fui diferente de ninguém. O primeiro caso que atendi, na Clínica Psicológica
da PUC-SP causou-me uma enorme ansiedade, semelhante a que vejo hoje meus alunos
de 4o ano apresentarem quando estâo se preparando para seu primeiro atendimento. E
a situação de atendimento em clínicas escola ó relativamente protegida. Mas, ainda que
existisse nessa época a vantagem de podermos escolher o caso que atenderíamos,
ainda que o atendimento estivesse planejado para ser em dupla de terapeutas, ainda eu
que soubesse que minha dupla seria o professor (que por um acaso era o Hélio Guilhardi)
e ainda que eu soubesse que ficaria no atendimento por poucas sessões porque haveria
rodízio de alunos terapeutas para atender o caso, eu me sentia ansioso.
Posso descrever várias contingências presentes que causavam a ansiedade.
Uma delas era a própria queixa “escolhida" para o atendimento: um rapaz de 21 anos
que tinha ejaculação precocel Não tínhamos a menor idéia do que fazer frente a isto.
Outra, era o fato de estar na presença do professor que, embora desse alguma segurança
de que “seguraria a barra" se alguma besteira fosse feita, era alguém que eu admirava e
queria a admiração recíproca. Se ele fizesse qualquer interferência que fosse em sentido
diverso da minha seria fatall Uma terceira era o fato de que atrás do espelho estariam
outros doze colegas observando o atendimento e avaliando meu desempenho. Para
completar, numa aula teórico-prática que havíamos tido para fundamentar o futuro
atendimento, eu havia sido terapeuta num role-playing no qual, por duas vezes, havia
expressado meu juízo de valor para a cliente fictícia, o que era inadmissível.
Frente a este quadro, eu só poderia ter ficado inseguro e ansioso, como todos
nós já ficamos nessa situação. Mas, aprendi a enfrentar os problemas. O professor
indicou-nos literatura específica para o atendimento do problema trazido pelo cliente;
antes do atendimento combinou comigo uma série de intervenções que eu poderia fazer
independentemente do que o cliente trouxesse como conteúdo, e que eu deixasse para
ele aquilo que eu julgasse náo dar conta; durante o atendimento foi extremamente gentil,
incentivando-me a participar da entrevista; e o espelho? Ah, o espelho sumiu, quando
sentei na frente do cliente e a fascinação e a curiosidade sobre um problema "real"
tomaram conta de mim. A vontade também de aprender como atender também contribuiu
para que o espelho fosse esquecido.
Nos atendimentos subsequentes, que saudades dessa situação protegida!
2. Medo
3. Raiva
meus e a expressei durante a sessão terapêutica. Em nenhuma das três, por sorte, nâo
perdi os clientes. No entanto não os aconselho a imitarem meu comportamento, pois
julgo-o completamente inadequado em pelo menos dois dos casos. O terceiro, vim a
saber que era adequado a posteriorí. Acho que não vale a pena arriscar. Meus alunos
presentes me perdoem, pois já devem ter-me ouvido contá-los.
Bem , o primeiro caso, é o de um garoto de 12 anos que veio à terapia “forçado"
por seus pais. O motivo era mau rendimento escolar que ele apresentava, segundo
interpretação de sua mãe porque soubera que era adotado.