Você está na página 1de 6

Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas


Psicologia
Clínica Psicanalítica I
Professor Dr. Francisco Ritter
Sara Maria de Moura Groff

AVALIAÇÃO I

A partir dos episódios assistidos:

1) Cite exemplos de clarificação, confrontação, interpretação (da parte do terapeuta) e


insight (da parte da paciente);

A) Terapeuta

● Clarificação:

Alguns exemplos de uso da técnica de clarificação ocorre quando Theo e Carol conversam
sobre a ligação dela para Tony antes da segunda sessão. Neste momento, a paciente se mostra
bastante agitada e irritada, o que instiga Theo a investigar mais de perto o que havia ocorrido
durante aquele telefonema - o porquê de ela estar se sentindo assim:

“Por que você se arrependeu de ter contado para ele?”

“Por que você acha isso?”

“E o que mais?”

“Por que você tá nervosa?”

“Por que você se acha uma idiota?”

“Tá se sentindo melhor agora?”


● Confrontação:

Em relação ao uso da técnica de confrontação, elas aparecem em trechos que Theo coloca
em questionamento algumas das ideias trazidas por Carol como certezas, a fim de que ela
possa repensá-las. Essas intervenções podem proporcionar possíveis mudanças na forma de
pensar da paciente em relação a determinadas questões de sua vida, em especial, ao fato de
estar doente e precisar de ajuda e cuidados:

“E você precisa de alguém igual o Tony para cuidar de você?”

“Mas talvez eles realmente queiram te ajudar indicando o tio dela. Ele é um dos melhores,
não é?”

"Então você me procurou para ter uma justificativa para não continuar o tratamento?"

● Interpretação:

Durante os episódios, a utilização da técnica de interpretação aparece em momentos que o


terapeuta traz à tona conteúdos passados e inconscientes, mostrando à paciente como eles
influenciam suas percepções sobre o presente e sobre as outras pessoas. Um exemplo de
interpretação por parte de Theo ocorre quando ele fala para Carol sobre a época em que ela
conta que estava sonâmbula e sentindo-se deprimida:

“Eu acho que você estava com medo. Um medo insuportável. Daí você teve que se separar
para perceber as coisas do lado de fora.”

Ainda, outros dois exemplo da utilização dessa mesma técnica pode ser visto no momento
em que Theo fala com Carol sobre a relação dela com seu ex namorado Tony:

“Parece que o Tony ainda vive perto de você, mesmo estando mais próximo da Alice. Ele
está disposto a te ajudar. Ele está dizendo que você precisa procurar um excelente médico
para começar logo o tratamento. Ele está dizendo que a coisa mais importante agora é você
cuidar da sua doença.”

“Você contou para ele porque ele podia te ajudar. Para te dar segurança, para colocar ordem
na situação, mas agora você não quer a ajuda dele. E toda essa situação tá te deixando com
raiva.”

E, por último, em relação ao primeiro terapeuta em que Carol havia ido anteriormente e a
história que ele contou para ela, Theo diz à paciente:
“Você é que nem o homem do deserto, que quer e precisa de ajuda, mas acha que ninguém
pode te ajudar.”

B) Paciente

● Insight:

No decorrer das sessões, Carol vai narrando suas experiências de forma mais fluida, com
menos resistências em relação aos conteúdos inconscientes que vão aparecendo. Se na
primeira sessão ela se mostra contrariada diante da necessidade do tratamento contra o
câncer, a partir da segunda ela vai expondo mais de si e de sua vida. Nessa segunda sessão,
ela conta sobre sua relação com seu ex namorado. E na terceira sessão, por sua vez, Carol vai
se abrindo mais sobre a relação com sua família. Sendo assim, durante esse processo
terapêutico, ela vai se dando conta, por exemplo, de algumas questões familiares, como a
relação com seus pais e seu irmão. O insight aparece no momento em que ela consegue
perceber e conectar sua forma de agir diante seus familiares - tanto no passado quanto no
presente - sempre querendo não dar trabalho nem preocupação para eles, já que a condição de
seu irmão já tomava bastante o tempo deles. Logo, o insight e a conexão entre esses modos
de agir (na infância e agora na adultez) aparecem, primeiramente, quando fala sobre a viagem
que fez com os pais para o Rio de Janeiro quando era criança e, depois, quando relata a razão
de não querer contar à mãe e demais familiares que está com câncer:

"Eu não contei pra eles que eu havia me afogado. Eu não queria causar mais uma
preocupação à toa."

"Ela já tem problemas demais com o Pedro, eu não quero causar mais um problema pra ela."

2) Comente sobre a trajetória da transferência da paciente;

Ao chegar no consultório, Carol se apresenta brevemente a Theo e, em seguida, começa a


falar mal de seu terapeuta anterior. Como havia se incomodado com a forma de atuação desse
outro profissional, o considerando incopetente, ela já chega até o consultório de Theo
bastante desconfiada. Todavia, a partir do momento que revela o motivo principal da procura
pelo atendimento, a relação entre Carol e Theo vai se estreitando, já que ele reage a essa
informação com bastante empatia. No primeiro episódio, Carol apresenta uma resistência
extrema acerca do início do tratamento contra o câncer, o que acaba levando ela a discutir
bastante, e até se irritar, com a postura de Theo sobre isso. Ela fica bastante brava com ele em
alguns desses momentos iniciais. Já da segunda sessão em diante, Carol vai gradualmente
expondo mais sobre suas relações, demonstrando confiar em Theo e dizendo que sente que
ele está envolvido, de fato, com o seu caso. Logo, é possível perceber que essa relação de
transferência vai sendo construída através de um vínculo de confiança dela em relação ao seu
terapeuta. Sendo assim, fica notável como ela vai, aos poucos, se despindo de suas defesas -
do seu medo de se mostrar vulnerável e imperfeita, sobretudo, do seu receio de pedir ajuda e
precisar de cuidados. Esse processo de rompimento das resistências vai se mostrando cada
vez mais presente no decorrer das sessões conforme Carol vai se sentindo mais confortável
para falar sobre suas relações consigo mesma e com os outros. Ou seja, é a partir do início do
processo terapêutico que ela vai se permitindo se enxergar por completo, sendo menos refém
das projeções de seu rígido superego. Dessa forma, fica nítido como ela vai acolhendo essa
ambivalência que a constitui e criando com Theo uma relação terapêutica que a possibilita ser
todas essas versões de si - não apenas a "criança perfeita" que cresceu e continua temendo sua
imperfeição. Em suma, na relação psicoterapêutica com Theo, Carol vai percebendo que pode
ser tudo aquilo que não podia ser em família, frágil e vulnerável, já que seu irmão era a maior
preocupação de seus pais. Espero que, durante as sessões seguintes, ela vá se percebendo de
forma cada vez mais empática, até finalmente aceitar que, sim, precisa de ajuda.

3) Comente sobre a postura do terapeuta: ele se envolveu de forma


contratransferencial? Ou sua postura foi adequada?

Em minha concepção, acredito que, sim, Theo teve uma postura bastante adequada
enquanto terapeuta mediando esse caso. Considero que ele possa ter soado um pouco
insistente quanto aos pedidos de que Carol iniciasse logo os tratamentos contra o linfoma,
tendo, por exemplo, ido atrás da opinião de um amigo médico seu e comentado com sua
analista sobre como esse caso estava mexendo com ele, que fazia ele lembrar de sua filha. Em
um trecho do terceiro episódio ele até acaba comentando com a própria paciente:

"Carol, eu agora vou te falar como pai: se um filho meu estivesse doente e escondesse isso de
mim, isso, sim, seria uma martelada na minha cabeça.Você precisa começar o tratamento,
rápido! Eu acho que você ainda não teve coragem de começar porque você ainda não contou
pra ninguém da sua família. Ninguém da sua confiança."

No entanto, se tratando de uma situação tão séria e perigosa quanto a dela, creio que essa
preocupação de Theo era necessária, ainda mais sendo ele uma das poucas pessoas que
sabiam sobre a doença dela. E, por conta disso, em minha opinião ele agiu, sim, de forma
adequada e ética, sabendo separar essa situação dos seus conflitos familiares com a filha.
Logo, durante as sessões, acho que ele manteve uma boa postura profissional, tendo sido
empático e cuidadoso com sua paciente - que era o que ela mais precisava naquele momento
de tamanha vulnerabilidade.

4) Por último, diga o que você acha da forma de Theo de trabalhar: você seria como ele
no trabalho clínico? Manteria a mesma distância do paciente (ou seria mais distante? ou
se aproximaria mais?); usaria mais empatia (ou menos)?

De modo geral, posso dizer que admiro muito a forma como o terapeuta Theo trabalha,
principalmente o modo como ele conduz o processo psicoterapêutico. Em especial, acho
muito interessante o jeito como ele tenta criar um ambiente com uma atmosfera acolhedora
para seus clientes, a fim de que eles possam se sentir confortáveis naquele espaço. No caso de
Carol, embora num primeiro momento ele demonstre uma certa distância em relação a ela,
mantendo uma postura mais silenciosa, considero que, ao longo da sessão, esse
posicionamento vai se modificando. Se, de início, ele se apresenta mais contido, no decorrer
do atendimento ele vai se manifestando mais, de forma mais aberta e empática ao fazer suas
colocações. Além disso, gosto também do modo como ele dá espaço e liberdade para a
cliente falar de si sem seguir um roteiro estruturado, como, por exemplo, sem logo de início
perguntar o motivo da procura do atendimento. Isso fica evidente no momento inicial do
episódio, quando Carol pergunta o que ele gostaria que ela falasse, e, em seguida, ele
responde "o que você quiser me falar". Essa atitude dele de não utilizar uma pergunta
específica e direcionada nesse primeiro contato presencial possibilita que Carol vá aos
poucos narrando sua vida, gradualmente encarando suas resistências, até chegar na queixa
principal - o motivo de ela ter procurado apoio psicoterapêutico. A partir daí, é possível
perceber como o desenrolar da sessão vai se dando de forma mais fluida do que no início,
através da associação livre. Já em relação à minha postura enquanto futuro terapeuta em
comparação a Theo, acho que eu seria um pouco mais calorosa no momento de recepção dos
clientes, dando a mão ou um abraço, no início e no final das sessões. Tentaria também ser um
pouco menos distante inicialmente, além de bastante empática, assim como Theo foi. E,
finalmente, em relação ao meu futuro trabalho clínico, posso afirmar que, sim, eu trabalharia
com essa abordagem e também com esse modelo semelhante ao de Theo. No meu caso, desde
o início do curso, me identifico mais com a Psicanálise, sendo ela a abordagem com a qual
pretendo atuar futuramente. Além disso, durante minha experiência acadêmica, realizei um
dos estágios no CAPS Prado Veppo, tendo lá realizado meus atendimentos clínicos com base
nessa perspectiva teórica. Nesse sentido, os conteúdos que tivemos nas aulas e as leituras
acadêmicas que fizemos nas disciplinas com embasamento psicanalítico me auxiliaram muito
nesse momento, que foi para mim extremamente gratificante. Portanto, sim, depois de
formada, pretendo continuar atuando na clínica tendo como suporte e base a Psicanálise e seu
arcabouço teórico-metodológico.

Você também pode gostar