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Módulo 14 → Atividade 16 - Redação III (Prática Clínica)

SITUAÇÃO I
O aluno acha que todas as pessoas são iguais, que são egoístas, que o homem é mau por natureza.
Não aceita os ensinamentos aqui passados sobre cada pessoa ser única.
(Exemplo: “Cada pessoa deseja tirar proveito das outras, não existe bondade e amor em ninguém”.)
R: Em primeiro lugar “CADA PESSOA” é muita gente. De igual modo “NÍNGUEM” também é
muita gente. Eis um típico exemplo de “Como o mundo me parece”(Tóp.01). Bom, estamos diante
de uma pessoa que talvez tenha sofrido muito. Que tenha vivido muitas frustrações. Que talvez não
tenha muitas experiências boas com o ser humano. Vejo isso observando o modo como ele
Universaliza os seus Termos. Vejo uma Axiologia frágil no sentido de valor. Porém forte, no sentido
de convicção de sua afirmação (Expressividade). Sem dúvida que há precipitação nos Termos e em
seus Pré-Juízos sobre o fato de usar “cada pessoa” e “ninguém”. Mas se está entre nós é sinal que
não está totalmente convencido de seus Termos (unívocos e equívocos). Que faz uma Busca sim.
Que sua Epistemologia não está impermeável. Com Autogenia baixa com certeza. Vejo muitas
Matematizações. Ou seja, há muito que fazer ainda. Ou que talvez esteja presa em uma Paixão
Dominante, que impede de ver o ser humano com outros olhos, com mais tolerância talvez. Eu
compartilharia “O Emílio” de Rosseau. Talvez, de repente, ela não saiba de fato que “nascemos
todos bons”. Discutiria com ele sobre o que ele entende do meio com o “corruptor do homem”
(Rosseau). Caso seja uma pessoa religiosa apelaria para (Gn 1,26) sobre “a imagem e semelhança
de Deus”. Vejo um Discurso Incompleto, pra falar a verdade. Porque se digo “cada pessoa” - é o
termo que ele usa, então aqui ele se inclui. Ao se incluir, das duas uma: ou se acha também uma
pessoa sem bondade e amor, ou não se dá conta da Universalização que faz. Claro que há uma
terceira via ou quarta, enfim. O fato é que ela precisa ser entendida no momento em que vive. Na
verdade esse aluno lembra muito o momento que vivo. É algo tentador se convencer da Biologia do
Crime – explicação biológica do crime. É tentador dizer a todos os milhões de encarcerados no
mundo inteiro que “o mal habita em vosso sangue”. E que tal mal só aflinge aos dois PP – Pobre e
Preto. Tentador porque procuramos explicações para o crime que cometemos. Isso para alguns (eu
por exemplo) seria alentador. Nas expressões do aluno vemos claros desprezos às Idiossincrasias de
“CADA UM” de nós. Arrisco-me a dizer que tal aluno não faz senão por ignorância. Recuso-me a
acreditar que o faça de bom conhecimento. Na verdade, ao fazer uma Análise da Estrutura deste
aluno vejo como fraca. Porém, não tenho como dizer que é fraca em relação a que. Não tenho como
acessar os outros Tópicos. O que posso dizer que o momento que este aluno vive tem a ver com o
que pensa sobre si inclusive (Tóp.02). Por fim, para quem não conhece o aluno já se viu até muita
coisa.
SITUAÇÃO II
O aluno pergunta se pode ser atendido por um filósofo clínico enquanto realiza este curso de
especialização nesta área. Você acha isso indicado? Poderia atrapalhar os estudos?
R: Acredito que de forma nenhuma atrapalharia. Aqui onde estou temos acompanhamento
psicológico. Temos voluntários, voluntárias que têm muita preparação e experiências com a
população carcerária. Há uma senhora que por exemplo está há mais de 20 anos trabalhando com
detentas. Há autoridades com tempo igual dentro de presídios masculinos. Ou seja, tudo isso não
me atrapalha em nada fazer a Filosofia Clínica. Muito pelo contrário, é justamente a Filosofia
Clínica que tem feito toda a diferença na minha vida. Que “eles e elas” não me ouçam. Contudo,
entenderiam perfeitamente. Por quê? Porque somos únicos. Cada um reage diferente a esta mesma
Metodologia Apaqueana. Idem com a Filosofia Clínica na vida dos inúmeros Partilhantes. Por um
longo tempo estive com acompanhamento pessoal de uma psicóloga que me ajudou muito e em
nada me atrapalhou com a Filosofia Clínica. Acredito portanto, que se caso fosse eu um Partilhante
não veria problema em estar cursando a especialização. Muito pelo contrário. Bom, na verdade, essa
tem sido a minha experiência. De repente, não poderia ser a deste aluno. O fato é que ao menos este
aluno teria mais familiaridade com os vocábulos que o Filósofo Clínico lhe apresentasse. As
experiências são únicas. Para quem vem da Graduação em Filosofia é um pouco mais fácil os
vocábulos ao menos. Nada garante, porém, que a experiência do outro não seja até melhor que a
minha.
SITUAÇÃO III
O aluno passa por problemas pessoais e escreve dizendo que gostaria de utilizar o que está
aprendendo aqui em seus problemas pessoais. Ou seja, explica que diante de uma separação
dolorosa de um ente querido quer experimentar o uso da Filosofia Clínica.
R: É exatamente o que acontece comigo: separação dolorosa (de meu filho). Primeiramente, por
exemplo, mudou completamente o modo como via o “meu mundo” (Tóp.01). Vi que era um mundo
em meio a tantos. Hoje ao me olhar no espelho, vejo alguém que não conhecia (Tóp.02). O que
percebo hoje ao meu redor é diferente de tudo que podia imaginar. Jamais imaginava isso para
sequer um dia em minha vida (Tóp.06). Hoje não consigo mais generalizar nada (Tóp.07). Percebo
felizmente quantos padrões ainda repito (Tóp.12). Claro que minha Semiose(Tóp.15) e meus
Significados(Tóp.16) foram todos chacoalhados. Hoje percebo quantas Matematizações
acumulei(Tóp.29). Mas a parte boa é que consigo identificá-los com maior frequência.
Consequentemente meus Princípios de Verdade(Tóp.26) foram alterados. Se não ao menos
questionados. E agora não mais Somatizo tantas coisas como faz um “João da Silva e Silva”
(ASPECTOS MATEMATIZÁVEIS EM FIL.CLÍN.- 2003, Lúcio Packter). E novamente digo que
não podemos universalizar as experiências. A minha experiência tem sido muito boa. Não sei como
seria com este aluno (jovem, adulto ou idoso). Entretanto, “pensar é perigoso”(Hannah Arendt).
Mas a mesma filósofa nos ensina do crime que é “não pensar”. Ou seja, mesmo perigoso sendo a
aventura de lidar com o pensar filosófico digo assim: vai doer, mas ninguém vai morrer. Quero
acreditar eu. Claro que sabemos do perigo que é o mundo da Filosofia. Tive muitos problemas com
alunos que faziam leituras sem um devido acompanhamento e acabavam descambando para o
extrememismo, no caso de leituras Nietzschianas. Por fim, o que acredito ser mais importante.
Somente o Especialista (terapeuta), seja da área da filosofia ou de outra, saberá aplicar corretamente
a técnica terapêutica. A autoanálise é possível, porém muito perigosa. A maioria, por exemplo, de
nossas Paixões Dominantes não nos damos conta. Reagimos as mesmas coisas e a coisas diferentes
do mesmo modo.  Enfim.
SITUAÇÃO IV
O aluno explicou para dois profissionais de outras áreas o funcionamento da Filosofia Clínica. O
primeiro achou interessante; o segundo, não aprovou. Como o aluno pode conduzir diálogos com
profissionais de outras áreas em bases éticas e respeitosas?
R: Novamente me faço de exemplo. Primeiramente, antes de tudo deve ter claro os argumentos.
Vivo isso aqui. Evito os enfrentamentos com alguns profissionais. Primeiro por respeito, pois são
pessoas voluntárias dignas de todo meu respeito e carinho. Preciso ter ciência que uma terapia mais
ou menos nova. De pouca pulverização nas camadas populares. Na verdade, acredito eu que seja
assim, porque tô preso já tem cinco anos. Enfim. Em seguida lembrar que todas “as estradas levam
a Roma”. Quem não conhece alguém que encontrou o caminho a seguir com coisas simples? Uma
simples troca de espaço (Tóp.14) muda tudo na vida de algumas pessoas. Mudança de amigos
(Autogenia) Salva suas vidas. Altera a densidade para cima. Fortalece suas Estrutura de
Pensamento. Ou seja, não há fórmula pronta e por conseguinte não há terapia única. Há aquelas
pessoas abastadas que em uma simples caminhada numa trilha religiosa europeia mudam suas
vidas. Ou seja, o Sensorial, as Emoções, Agendamentos, a Representação de Mundo (Tóp.01),
Buscas, Significados, Experimentações, enfim, vários tópicos serão acionados em uma simples
trilha religiosa européia. Perdão, mas não tenho como não usar o exemplo que vivo com a
Metodologia Apaqueana. Quando visitantes vêm aqui o argumento que usamos são os números. É a
forma que mais convencem as pessoas (Tóp.10). Mas no caso de Filosofia Clínica, propriamente
sou eu o argumento. Perdão pela falta de modéstia. Mas atentar para minhas evoluções de quando
cheguei acredito que é um bom argumento. Enfim. Claro que não farei isso dessa forma. Seria no
mínimo arrogante. Talvez até ofensivo. Não conhecemos as pessoas. O fato é que, acredito eu,
manter um diálogo sem pormenores, curto sem polêmicas é um bom caminho. Assim o fiz uma vez
com uma psicóloga. A humildade de manter-se no seu lugar (aluno ou preso no meu caso) também
ajuda ainda mais. Mesmo por que precisamos nos manter sempre na posição de aprendizado. Até
mesmo diante de um Partilhante no futuro. E por fim acredito que sempre a humildade cabe em
qualquer lugar. Ou seja, evitar o confronto. Evitar a vaidade de dizer a última palavra numa
discussão. Evitar comparações com esta ou com aquela terapia é fundamental para um diálogo
respeitoso. E por que não convidar esta pessoa a desafiar seu ceticismo com a Filosofia Clínica,
participando de algum evento do curso? Acredito que não seria ofensivo ou deselegante. Enfim.

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