1) Ao iniciar a sessão, o terapeuta Théo permitiu que o seu cliente Otávio
iniciasse falando sobre suas questões e até mesmo a forma como ele gostaria que as sessões fossem conduzidas, ainda que esse cliente estivesse procurando soluções rápidas, Théo lhe permitiu lugar de fala, conduzindo-o a abrir-se ao longo dessa conversa. Theo sempre conduziu Otavio a se expressar da forma como desejava, com o que lhe vinha à mente, e apenas depois expressava a sua opinião, mostrando bom entendimento e sutileza ao acolher a demanda do seu cliente.
2) Resistência na psicanálise significa “o conjunto das reações de um
analisando, cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise” Roudinesco et al (1998). A resistência tenta sabotar a associação livre. No filme, a resistência se fez presente quando Otavio foge do assunto que o levou na sessão anterior a ter um ataque de ansiedade. Aparece também quando, para fugir de um assunto que o terapeuta Théo o questiona, ele imediatamente olha no relógio e aponta o final da sessão, indo embora na sequência.
3) A personagem pode procurar a psicanálise por enfrentar conflitos
internos não resolvidos, dificuldades nos relacionamentos interpessoais e sintomas de ansiedade ou depressão. No caso do Otávio, a impressão de estar sofrendo um ataque cardíoco, fazer exames que não resultaram em nada fez com o médico sugerisse a busca de uma terapia pois poderia ser crise de ansiedade.
4) Regra fundamental (associação livre): Essa regra consiste
fundamentalmente no compromisso assumido pelo analisando em associar livremente as ideias que lhe surgissem de forma espontânea na mente e verbalizá-las ao analista, independentemente de suas inibições ou do fato se ele as julgasse importantes ou não. O pai da psicanálise instruía seus pacientes no sentido de que contassem “tudo que lhes viesse à cabeça”. No filme, isso se mostra quando Théo permite que Otávio fale livremente sobre as suas questões, apenas analisando-o, mas deixando que o cliente prossiga com os pensamentos que lhe vem à mente.
Regra de abstinência: Essa regra diz respeito à necessidade de o
psicanalista abster-se de qualquer tipo de atividade que não seja a de interpretar, portanto ela inclui a proibição de qualquer tipo de gratificação externa, sexual ou social, a um mesmo tempo que o analista deveria preservar ao máximo o seu anonimato para o analisando. No filme Otávio questiona a Théo se ele tem filha e como ele lidaria caso acontecesse o mesmo com a sua filha. Théo por sua vez, se abstém de qualquer informação sobre a sua vida pessoal, voltando a questionar sobre o analisando, mas prestando total apoio.
Regra da atenção flutuante: Refere-se ao estado especial de
consciência de que o terapeuta necessita para ser capaz de ouvir o paciente e detectar o que há de mais significativo em sua história. Em outras palavras, a atenção flutuante é um estado de atenção em que o analista se concentra em tudo o que o paciente diz, sem privilegiar nenhum elemento específico. Algo como abrir mão de coisas que não são importantes ou relevantes no que ele diz e atender apenas aquelas que servem para captar a essência do problema. No filme isso se mostrou quando Théo ouve atentamente todas as falas de Otávio, não se deixando levar pela sua interpretação pessoal das suas próprias demandas.
Regra da neutralidade: A neutralidade diz respeito à imparcialidade, ou
seja, o analista deve aceitar seu paciente pelo que ele é e como ele é, no entanto isso não significa ser indiferente. Tal regra deve ser entendida no que diz respeito aos desejos do analista, suas crenças e opiniões pessoais. O analista não está na posição de tomar partido, pois ele está do lado da verdade que lhe é apresentada. No filme, Théo aceita até mesmo as opiniões errôneas de Otávio sobre o seu trabalho como analista, não o corrigindo, acolhendo suas frustrações e o conduzindo na medida em que a sessão flui. Théo observa atentamente o seu cliente, acolhendo-o da forma como ele se mostra, sem algum preconceito, apesar de já ter lido a sua história na mídia.
Regra do amor às verdades: o psicanalista deve ser honesto, verdadeiro
e ético permitindo com que o conteúdo do analisando se faça presente – sem interferências- no setting analítico. Em todos os momento em que Otavio expressou ansiedade, medo, nervosismo... Théo o acolheu, conduzindo-o sem interferências.
Regra da preservação do setting: É muito importante que o uso
adequado das “regras técnicas” freudianas implica necessariamente a preservação do setting constituído. Cabe ao enquadre a função de normatizar, delimitar, estabelecer a assimetria (os lugares, os papéis e as funções do analista e do paciente não são simétricos), bem como a não-similaridade (eles não são iguais). Caso contrário, o analista tenderá a contra-atuar, e haverá uma confusão entre os lugares e os papéis de cada um dos integrantes do par analítico. Assim, também é função do enquadre manter um contínuo aporte do “princípio da realidade”, que se contrapõe ao mundo das ilusões próprias do “princípio do prazer” do paciente. O manejo clínico da interpretação na psicanálise envolve a habilidade do terapeuta em analisar e compreender os conteúdos inconscientes trazidos pelo paciente, e em seguida, comunicá-los de forma cuidadosa e significativa. O terapeuta deve levar em consideração a dinâmica do paciente, suas defesas e resistências, para escolher o momento adequado e a forma mais eficaz de interpretar. o paciente mostra padrões repetitivos de comportamento destrutivo em seus relacionamentos. O terapeuta pode interpretar esses padrões como uma expressão de conflitos não resolvidos com figuras significativas do passado, encorajando o paciente a investigar essas questões emocionais mais profundas. No filme, 1a sessão, Theo percebe como ela fala e se preocupa sempre com a filha que está longe, o funcionário que não respeitou e como tudo saiu de seu controle. Já na 2a sessão, ele demonstra poder finaceiro, a falta de controle ainda continua em relação a filha. E mais evidente com a morte daquela que ele julgava ser a ponte que trazia para perto o presença do irmão falecido. Theo consegue chegar a uma hipótese de que a falta de controle que Otavio costumava ter está se perdendo e ele não sabe como agir. 5) Quando o paciente passa a se interessar por tudo o que se relaciona com a figura do terapeuta, atribuindo a isso por vezes maior importância do que a que demonstra por suas próprias questões, parece se desviar de sua própria doença. Estamos diante de uma relação transferencial. No início do tratamento, observa-se a emergência de um vínculo muito agradável na situação analítica. O paciente mostra-se entusiasmado com a pessoa do analista, supervaloriza suas qualidades, é amável, reage de modo favorável às interpretações, esforçando-se por compreendê-las. Essa relação amistosa não perdura infinitamente. Logo surgem dificuldades no tratamento, que se revelam de diversas maneiras, refletindo-se na impossibilidade de o paciente continuar seguindo a regra fundamental.
6) ...
7) Segundo Freud, os mecanismos de defesa são “processos
inconscientes realizados pelo Ego, i.e., ocorrem independentemente da vontade do indivíduo”. Portanto, defesa é, na verdade, a operação pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo dessa forma o aparelho psíquico. Sendo assim, Otávio procurou ajuda terapêutica como uma busca para afirmar que sempre esteve correto, mesmo diante de tantas falhas. Otávio busca validação dos seus erros, sejam profissionais e familiares, acreditando que o erro não está em si, mas em todos à sua volta. Ele condena erros de seus subordinados, da mídia, dos seus filhos, protegendo-se de qualquer tipo de falha que ele mesmo tenha cometido.
8) Contransferência: conjunto das manifestações do inconsciente do
analista relacionadas com as da transferência do seu paciente. Quando ele fica pensando no comportamento dele com sua própria filha.