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MOVIMENTOS PENDULARES E
ACUMULAÇÃO DO CAPITAL*
ABSTRACT: the isstte of mobility has gained particular reievance in the era ofglobalization and ll>ithin
it are highlighted 0 the httman over the geographic space, extended in density, intensity and rl!Ythm.
Important part of these flo!I'S is made ttp of IJ'orkers JJ'ho are sttijected to constant displacement in search of
better IJ'orking conditions and income. In sttmmary this labor mobility has been interpreted ttsing t!J!o main
theoreticai approaches: the basic neoc!assical and Marxist base, both with different meanings of IJ'ork,
market and geographic space. In this attic!e IJ'e return to ottr comtmtting, a specific form of labor mobility,
and IJ'e aim to offer a nm• intetpretation on them, tmderstanding them as an essentialpart of the expanded
reproduction of capital that is embodied in the local scale. For this, IJ'e contrasted the tii'O theoretical
approaches mentioned above, from IJ•hich "'e ll'ill adopt the Marxist tmderstanding of mobility and spatial
development, finalfy reaching an o11tline of concepts from the relationship betJJ;een these tJJ'o elements and the
phenomenon ofpendttiotts.
KEYWORDS: labor mobility; comm11ting; capital acmtmt!ation.
* O presente artigo contém a síntese de parte das reflexões teóricas realizadas por ocasião de nosso
trabalho de conclusão do curso de bacharelado em geografia da FCT/ UNESP, orientado pelo Prof.
Dr. Antonio Thomaz Júnior e apresentado em novembro de 2010, sob o tít1.1lo "A mobilidade espacial
do trabalho e o desentiolvimento desigual e combinado do território em escala local estudo de caso dos municípios de
Presidente Prudente-SP e A lvares 1\tfachado-SP''.
** Aluno do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Geografia da
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), bolsista CAPES e membro do Centro de
Est1.1dos de Geografia do Trabalho (CEGeT).
trabalhadores não residentes nos são impelidos a buscar trabalho num local
municípios em que estão instaladas? distante por conta das desigualdades de
Façamos uma reflexão a esse respeito. níveis de desenvolvimento territorial1
modo radical a dos estudos sobre o pelas leis inexoráveis do mercado e pela
desenvolvimento espacial que seguiram o racionalidade imanente ao homem, num
4
paradigma do desenvolvimento espacial processo que ten de sempre ao equilíbrio .
promulgado pelos autores filiados à escola Vale a pena salientar que este p ressuposto
teorético-quantitativa de Geografia, que teórico-conceitual serviu como esteio às
7
Ibid., p. 228.
8
Jbid., p. 336; grifo do autor.
6 9
/ bid.,p. 194. Ibid., p. 339.
residência dos indivíduos. Aqui, casos, por força desta mesma diferença nos
pretendemos estendê-lo e aplicá-lo ritmos de desenvolvimento, aqueles que
também aos movimentos cotidianos, haviam ficado para trás, podem alcançar e
diários e intermunicipais de trabalhadores, até mesmo ultrapassar os que dispunham
aos movimentos pendulares. de vantagem inicial. A explicação para tal
Vimos que a compreensão de diferença nos ritmos de desenvolvimento
mobilidade perfeita do trabalho defendida encontra-se na possibilidade de utilização
pelos neoclássicos está sustentada em uma de técnicas de produção e/ ou organização
constitutivos, que se articula com a tese da conceito para analisar a fase imperialista do
mobilidade do trabalh o defen dida por capitalismo que culminou com a pnmeua
Gaudemar, aplicando-a a escala local e ao grande guerra mundial e os grandes
próprio fenômeno da pendularidade. reananJOS geopolíticos por ela
engendrados 12 . Contudo, se procurarmos
e nações, fazendo com que, em certos sua argumentação, nos explica o autor que
casos, os que começam com uma
vantagem sobre os outros, podem
11
Ib id., Ibidem.
incrementá-la ao passo que em outros 12
Ver sua obra: "Imperialismo: fase final do
capitalismo ".
a desigualdade do ritmo, que é a lei contraditórios, que os o põe, que faz com
mais geral do processtts histórico, 14
que se choquem) que os quebra ou os sup erd ' •
evidencia-se com maior vigor e
complexidade nos destinos dos países A in corporação crescente do
atrasados. Sob o chicote das
materialismo histórico e dialético enquanto
necessidades externas, a vida
retardatária vê-se na contingência de m étodo às ciências sociais, sobretudo a
avançar aos saltos. D essa lei universal
partir da década de 1960, levou os
da desigualdade dos ritmos decorre
outra lei que, por falta de geógrafos a também lançarem olhares por
denominação apropriada, chamarem os
m eio dele à realidade partindo de seu
de L ei do desenvolvimento combinado, que
significa aproximação das diversas ponto de vista peculiar. No cerne dessas
etapas, combinação de fases
análises e dos debates delas resultantes
diferenciadas, amalgama das formas
arcrucas com as ma1s modernas figurava um espaço geográfico o ntológico,
(TR O T SKY, 1967, p. 25).
ou seja, um ente15 componente do real
concreto, e não mais um esp aço abstrato
Ainda que T rotsky esteja aplicando
como defendiam os bastiões da G eografia
sua compreensão analítica às relações que
teorético-quantitativa. D este modo,
ocorrem no âmbito da econorma
seguindo os pressupostos do materialismo
internacional, ela não deve ser restringida a
histórico e dialético somos levados a
condição de resultado, tão som en te, das
concluir que o esp aço geográfico está
observações empíricas. E la também o é,
sujeito às leis indicadas acima, que defmem
mas é muito mais do que isso. T rata-se de
seu processo constante de (re)constmção e
um raciocínio que tem por base os
(re)ordenamento .
princípios da própria filosofia materialista
Suertegaray sintetiza esta revolução da
histórica e dialética. A formulação de
concepção de desenvolvimento espacial de
T rotsky expressa particularmente uma das
m odo bastante interessante para nossas
leis da dialética, a da "interpenetração de
finalidades, explicando que "a construção
contrários (CORRÊA, 1986, p . 42)" ou
16
do conceito de espa.ro geográfico implica
ainda, da "unidade dos contrários" como
trabalharmos outras duas categorias: tempo
chamou H enri Lefebvre ao dissertar sobre
e espaço" (2000, s/ p), que se
a lógica dialética (LEFEBVRE, 1991, p .
manifestaram-se de maneiras diferenciadas
238). Para Le febvre, "a contradição
ao longo da história do pensamento
dialética é uma inclusão (plena, concreta)
13 14
dos contraditórios um no outro (...)" , e Grifo do autor.
15
Na definição filosófica: aquilo que existe ou
cabe ao método dialético "captar a ligação, julgamos existir.
16
Grifo nosso. Note-se a diferenciação proposital
a unidade, o movimento que engen dra os
entre a categoria espaço, mais abrangente, e o
conceito de espaço geográfico, uma de suas
13
Ibid., p. 238. especificações.
podemos por assim dizer, foi o fator concentrava diversas tarefas, o que levava a
determinante do processo engen drado pela um elevado grau de auto-suficiência
divisão do trabalho, que a ele estava (MÉSZÁROS, 1995, p . 45) . Sob o sistema
subordinado. O autor enxerga na evolução metabólico do há a
trabalho. Assim sendo, "a divisão espacial ANTU N E S, 1999, p. 20-25; BIHR, 1998,
ou territorial do trabalho não é um p. 144); uma característica igualmente
processo separado, mas está implícito, peculiar do modo de produção capitalista.
desde o início, no conceito de divisão do Podemos depreender com base nisto
21
trabalho" . que em nossos dias, dado o estágio do
Em sentido oposto, a segunda processo de globalização e
tendência apresentada, a de igualização, consequentemente, a ubiquidade relativa
decorre p rincipalmente da necessidade das relações capitalistas nos quatro
a estas duas tendências, en con tra-se uma uma mesma região e finalmente, entre os
terceira, igualmente importante, sem a qual setores internos de uma cidade.
o capitalismo ficar-ia circunscr-ito a H á, portanto, por todo lado a
determinados espaços. Referimo -nos a convivên cia entre espaços dinâmicos e
tendência Jmiversa!izante do capital, gerada pela prósperos e espaços decadentes e
21
Ibid. , p. 152. fiz emos perceber, pode ser apreen dida em
22
Jbid. , p. 170- 171.
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