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Dedicatória

Aos meus irmão: Patrício Penicela, Essita Penicela, Amos Penicela e Elisa Penicela, a minha esposa
Maria Arnaldo e os meus filhos: Eugénio, Belarmino, Avelino, Leonardo e Hortência.
Aos meus amigo: Américo Pedro, Rui Manuel Zeca, Baptista Maneru Mapaia.
Abstract

O presente trabalho está estruturado da seguinte maneira:

1. Pré-textuais
Dedicatória
Agradecimento e
Prefácio
Lista de símbolos e abreviaturas
2. Capítulo I-Introdução
3. Capítulo II-Preliminares
Apresentação do tema de pesquisa;
Apresentação do problema;
Objectivos;
Pressupostos básicos;
Revisão preliminar da biografia;
Metodologia
Perguntas de estudo
Significado
Dificuldades e impacto ético

4. Capítulo III-Social antripology

Neste capítulo irá se abordar sobre:

O decurso da pesquisa;

As constatações;

Os resultados bem como;

A conclusão.
Acknowledgement

Agradeço a participação e colaboração das seguintes personalidades por terem dado sua valiosa
contribuição para a produção da presente monografia:
Dr. Peter Simone Macore, que com muito zelo e de forma incansável orientou-me em todas as fases
da elaboração do trabalho desta monografia. Os seus comentários, correcções, sugestões
particularmente as críticas frontais foram de importância vital para a materialização do trabalho.
Obrigado!
Uma palavra de agradecimento estende-se ao professor Samuel Isaias que leccionou a cadeira de
Inglês.
Agradeço ainda duma forma especial ao amigo e irmão Américo Pedro Chadreque que
incansavelmente apoiou desde o começo do curso até a elaboração do trabalho de monografia,
correcções e contribuições no que tange a área informática, o meu muito obrigado.
Aos meus colegas da turma e especialmente do grupo de estudo: Rui Manuel Zeca carinhosamente
designado por RUMAZE, Francisco Macuitica Manuel, Paulino Fernando e Dona Verónica Job
Fazenda, a eles vão as minhas palavras de agradecimento.
Lista de abreviaturas usadas no documento

AGP -Acordo Geral da Paz


CC -Conselho Constitucional
CNE -Comissão Nacional de Eleições
FRELIMO- Frente de Libertação de Moçambique
OLE- Órgãos Locais do Estado
ONG- Organizações Não Governamentais
OSC -Organização da Sociedade Civil
PROL- Programa de Reforma dos Órgãos Locais
STAE- Secretariado Técnico de Administração Eleitoral

GUMO- Grupo Unido de Moçambique


COREMO- Comité Revolucionário de Moçambique
OMM- Organização Mulher Moçambicana
OJM-Organização da Juventude Moçambicana
ONP-Organização Nacional dos Professores
ONJ-Organização Nacional de Jornalistas
RENAMO-Resistência Nacional de Moçambique
FMI-Fundo Monetário Internacional

PRE-Programa de Reabilitação Económica

IPCC-Instituições de Participação e Consulta Comunitária

CCD-Conselho Consultivo do Distrito

IPCC-Instituições de Participação e Consulta Comunitária


CCPA-Conselho Consultivo do Posto Administrativo
FL- Fórum Local

PARPAs-Planos para a Redução da Pobreza Absoluta


CDL-Comissões de Desenvolvimento Local
CMC-Comissões de Maneio Comunitário
CDC-Comités de desenvolvimento Comunitária

Capítulo I-Introdução

O presente trabalho irá abordar sobre a “O impacto da participação da comunidade no


desenvolvimento da economia local do distrito de Bárue”. A participação da comunidade no
planeamento do desenvolvimento local vem sendo uma abordagem em crescente relação aos
efeitos da globalização do distrito de Bárue na província de Manica. O desenvolvimento
económico local promove o empreendedorismo e a definição de estratégias para o
desenvolvimento económico local, aumentando o capital humano, financeiro e social, a criação
de relações através da construção de relações, da construção de capital social e a planificação
participativa no desenvolvimento económico do distrito de Bárue na província de Manica.

A democracia, segundo Aristóteles (s/d), compreende a forma de governo onde todos (cidadãos que
gozam dos seus direitos) participam de todos os cargos sem excepção, tal é o caso da democracia
antiga “que era concebida numa relação intrínseca e simbiótica com a polis”(Sartori, 1994:35).
Este constitui o modelo ideal da democracia que face as exigência que apresenta, tornou-se, não
apenas inaplicável nas sociedades modernas, mas também foi visto por alguns autores como sendo
impossível em qualquer sociedade. Segundo Rousseau (2002), esta forma de governo requer
elementos difíceis de reunir, pois, primeiramente exige um Estado bastante pequeno em que seja fácil
congregar o povo, e onde cada cidadão possa facilmente conhecer todos os outros.
O conceito “participação” é, nos dias de hoje, central no debate sobre o desenvolvimento entre
académicos, agências de desenvolvimento bem como de instituições financeiras internacionais como o
Banco Mundial e o Fundo monetário Internacional.
Como assinala Woods (2000) a nova ortodoxia defende que uma maior participação local dos cidadãos no
processo de tomada de decisões na planificação e desenho de políticas e programas garante um maior
cometimento e acção na sua implementação e manutenção”. De uma forma geral tem sido os argumentos
em torno da eficiência que têm dominado as intervenções das principais instituições financeiras
internacionais e das agências de desenvolvimento.
O pressuposto de base é o de que uma maior participação aumenta a eficácia e eficiência dos
investimentos feitos em programas ou projectos contribuindo para a democratização, empowerment e
uma melhor sustentabilidade dos projectos de desenvolvimento.
Nesse sentido, a participação1 é vista como algo positivo, benéfico e decisivo sobretudo para quem
participa (Cleaver, 1999) visto que se assume que os beneficiários (regra geral, os pobres, marginalizados
e os mais vulneráveis) devem ser-lhes dadas oportunidades para se desenvolverem. Há, pois, um
reconhecimento tácito que aos pobres falta-lhes a capacidade de tomar decisões sobre suas próprias
condições e influenciar as decisões e políticas mesmo ao nível dos projectos (Biekart, 2006).
Todavia, tentativa de aumentar a participação dos indivíduos nos processos de desenvolvimento e
políticos tem falhado por duas razoes fundamentais: primeiro, a falta de cometimento por parte das
agências e agentes externos promotores do processo de participação; segundo, a falta de vontade política
por parte dos governos (Dijkstra and
Lodewyckx, 2006). Acrescentaria mais duas razoes. Primeiro, que o excesso de participação pode
degenerar no que Cooke e Kothari (2002) designa por “tirania da participação” (.....); segundo, o facto de
se negligenciarem as dinâmicas locais de poder conduz, em muitas circunstancia, a conflitos (Hickey et
al, 2004)2.
Com efeito, a efectividade da participação depende do contexto e da finalidade que se espera dela. Em
termos de finalidade, na literatura sobre o desenvolvimento, a participação tem sido distinguida enquanto
um meio para acção com enfoque para os aspectos de eficiência (participação como um instrumento para
alcançar melhores resultados nos programas e projectos) e participação como fim que focaliza os aspectos
de equidade e “empowerment”, isto é, a participação como um processo que aumenta a capacidade dos
indivíduos para melhorar as suas condições de vida e facilita mudanças sociais a favor dos grupos
desfavorecidos e marginalizados. De acordo com White (1996) não existe incompatibilidade entre o meio
e fim da participação.
A distinção da participação como meio e fim conduz a classificar a participação em duas categorias:
nominal/ instrumental (virada para a eficiência) e transformativa (empowerment).
Contudo, Buchy (2005) salienta que mesmo em abordagens transformativas a finalidade é muitas vezes
instrumental. As pessoas são capacitadas para serem mais eficientes e capazes de participarem no
processo de desenvolvimento. Neste sentido, a participação é um desafio filosófico e politico grande e
abrangente que está para além das comunidades promoverem seu desenvolvimento com as suas próprias
mãos.
De uma forma geral, a institucionalização da participação visa controlar sistematicamente os processos e
o respectivo enquadramento no funcionamento das instituições existentes. Como recorda Cleaver (1999),
os discursos sobre participação estão fortemente influenciados pelo novo institucionalismo, teorias que
sugerem que as instituições ajudam a formalizar expectativas mútuas de comportamentos cooperativos,
permitindo o exercício de sanções contra a não cooperação e assim reduzir os custos de transacções
individuais.
A questão que se coloca é como melhorar a participação pública no processo de governação.
O debate em torno da participação na governação é um tema actual e relevante no actual contexto
sociopolítico de Moçambique dada a importância da participação na consolidação da democracia. Como
assinalam Dijkstra and Lodewyckx (2006) na segunda metade dos anos 1990, o governo de Moçambique
estava preocupado com o problema de sua limitada legitimidade e efectividade na governação local.
Terminada a Guerra estava em curso o processo de reconstrução do país e o alargamento da presença do
Estado para locais que esteve ausente devido a mesma Guerra. Foi nesse contexto que iniciou com
medidas conducentes ao estabelecimento e institucionalização da participação dos cidadãos na vida social
e política do país.
Este artigo parte do pressuposto que uma participação activa dos cidadãos na governação é um requisito
essencial para a consolidação da democracia, e explora o alcance da institucionalização dos espaços de
participação dos cidadãos na governação dos pais. Dado que, a participação dos indivíduos aumenta,
também, a sustentabilidade (e eu acrescento, a legitimidade) das politicas do governo e promove o
desenvolvimento social. e acordo com (Stiglitz, 2002).
O artigo discute o conceito participação com base na literatura como pressuposto para enquadramento da
participação em Moçambique no contexto da governação. De seguida faz-se uma breve contextualização
da participação em Moçambique nos períodos colonial pós-colonial Num terceiro momento são
apresentação resumida das instituições de consulta e participação comunitária a cada escalão. Uma analise
dos espaços de participação disponíveis em Moçambique é feita a partir das instituições criadas para esse
efeito. Por último são avançadas algumas notas em jeito de conclusão.
Capítulo II- Primeira iniciação

1. Apresentação do tema de pesquisa

O impacto da participação da comunidade no desenvolvimento da economia local do


distrito de Bárue

2. Stariment of the problem

A deficiente participação da comunidades sobretudo as comunidades Rurais na tomada de


decisão nas comunidades nos diversos pontos de Moçambique é causada pela falta de divulgação
de políticas de administração inclusiva; o elevado índice de analfabetismo da população rural; o
conflito de interesses por parte dos líderes comunitários que não convidam a população como
forma de manter se no poder. Igualmente concorre para este problema a descriminação política
agudizada pela guerra dos 16 anos que o país atravessou.

A continuidade da exclusão da população local ou seus representantes na tomada de decisões


leva a que maior parte dos recursos da zona seja explorada pelos estrangeiros sem protecção da
comunidade local pois, esta estará revoltosa contra os administradores; a alocação dos fundos,
infra-estruturas poderá ser implantadas nos lugares indevidos por desconhecimento da zona por
parte dos líderes.

3. Background

Em Moçambique assim como outros países da África Sub-Sahariana, tem se vivido nos últimos
tempos uma era política tranquila na qual a preocupação dos governantes e da sociedade em
geral tem sido em trono da busca do “desenvolvimento”. Nesta ordem, as populações tem vindo
a serem mobilizadas para participarem na tomada de decisões sobre qualquer área do
desenvolvimento na sua comunidade. A exemplo disso cita se a colocação de postos de socorro
nos locais escolhidos pela comunidade em debate público aberto, abertura ou reabilitação de
estradas e pontes estratégicos para a comunidade e governo; a colocação de vedas para caça em
locais escolhidos pelos líderes comunitários e seus anciões.

No mesmo intervalo em que se verifica estes melhorias, observa se a grande procura pelos
recursos naturais como são s casos de turmalinas, ouro e madeira só para citar alguns exemplos.
Observa-se no entanto que quando se trata de recursos valiosos, a população não é consultada
sobre as medidas de exploração bem como os ganhos que isto traz para o país e porque não para
a comunidade onde esse recurso é retirado.

Falando no exemplo típico de madeira, a população apenas é apelada a não fazer as queimadas
descontroladas nas florestas, a não fazer o abate de algumas árvores valiosas para corte de
madeira, porem, assiste as empresas de corte de madeira a devastarem as floresta sem sequer
perguntar para onde estão levar este recurso, o que se ganha com isto no país e muito menos
questionam sobre os ganhos comunitários.

4. Propósito

O tema tem por objectivo apurar até que ponto a população do Distrito de Bárue é consultada
para a tomada de decisões que lhes dizem respeito. Neste contesto, o tema é limitado ao estudo
junto as comunidades rurais de Bárue comparando com o Posto Administrativo de Dombe em
Sussundenga .

Acolha destes dois pontos deveu-se ao facto de estes serem potenciais produtores de madeira,
recurso que nos últimos anos tem vindo a ganhar mercado. Ainda em Bárue, nos últimos anos
tem vindo a ser descobertas muitas minas de turmalina pelo que o autor achou que o estudo
localizado destes poderá trazer a realidade doutros pontos do país sobretudo no que diz respeito a
gestão comunitária de recursos naturais e avaliar a participação das comunidades na tomada de
decisão.

5. Significado

O presente trabalho identifica se com as comunidades mais ricas em recursos naturais e visa
motivadas a participarem duma forma ordeira nos forros de tomada de decisão. Por outro lado,
pretende-se motivar os administradores locais a trabalharem em sintonia com as comunidades na
tomada de decisões que visam desenvolver a mesma comunidade, daí que o trabalho assume se
como tendo um significado social na medida em que procura resolver o problema não dum forma
singular mas sim duma comunidade .

6. Objectivos

6.1. Objectivos gerais

 Avaliar o nível de participação das comunidades na tomada de decisões

6.2. Objectivos específicos:

 Identificar aspectos que justificam a participação comunitária na tomada de decisões;


 Identificar os principais ganhos das comunidades rurais na exploração dos recursos
naturais nas suas localidades;
 Indicar as razões da fraca participação comunitária na tomada de decisões;
 Propor medidas que visam o maior envolvimento das comunidades nos forros de
decisão.

7. Revisão da bibliografia relacionada

Definição dos Conceitos

Na democracia os governos são representativos porque são eleitos (Manin, Przeworski e Stokes,
2006), por outro lado, para Lüchmann (2007), a trajectória da constituição dos modelos de
democracia tem sido marcada pelas noções de representação e participação, que embora
referenciados na ideia de participação política, ambos conceitos registam, com orientações
diversas, dois modelos centrais de organização política democrática, que são a democracia
representativa e a democracia participativa.
“O modelo da democracia representativa, assente na ideia de que as decisões
políticas são derivadas das instâncias formadas por representantes escolhidos
por sufrágio universal, e o modelo da democracia participativa, por sua vez
baseado na ideia de que compete aos cidadãos, no seu conjunto, a definição e
autorização das decisões políticas, constituem os dois modelos centrais de
organização política democrática” (LÜCHMANN, 2007:3).
Entretanto, tanto a democracia representativa bem como a participativa constitui o culminar de
um longo processo, no qual a democracia, segundo Sartori (1994) adquiriu diversos significados
relativos a contextos históricos muito diferentes, assim como a ideais muito diferentes.
Na sua génese a democracia, segundo Aristóteles (s/d), compreende a forma de governo onde
todos (cidadãos que gozam dos seus direitos) participam de todos os cargos sem excepção, tal é o
caso da democracia antiga “que era concebida numa relação intrínseca e simbiótica com a
polis”(Sartori, 1994:35).
Este constitui o modelo ideal da democracia que face as exigência que apresenta, tornou-se, não
apenas inaplicável nas sociedades modernas, mas também foi visto por alguns autores como
sendo impossível em qualquer sociedade. Segundo Rousseau (2002), esta forma de governo
requer elementos difíceis de reunir, pois, primeiramente exige um Estado bastante pequeno em
que seja fácil congregar o povo, e onde cada cidadão possa facilmente conhecer todos os outros.
Em segundo lugar, para Rousseau (idem), a democracia exige uma grande simplicidade de
costumes, que antecipe a multidão de negócios e as discussões espinhosas, e por fim, bastante
igualdade nas classes e nas riquezas, ou seja, pouco ou nenhum luxo.
Esta impossibilidade de adoptar-se a democracia nos moldes de Aristóteles levou a formulação
de vários conceitos e modelos de democracia. Bobbio (1997) afirma que o único modo de se
chegar a um consenso quando se fala de democracia, entendida como contraposta a todas formas
do governo autocrático, é o de considerá-la caracterizada por um conjunto de regras que
estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões colectivas e com quais procedimentos.
Esta definição apresentada por Bobbio (idem) contempla elementos que podem ser encontrados
em Schumpeter (1961):
“A filosofia da democracia do século XVIII pode ser expressa da seguinte
maneira: o método democrático é o arranjo institucional para se chegar a certas
decisões políticas que realizam o bem comum, cabendo ao próprio povo decidir,
através da eleição de indivíduos que se reúnem para cumprir-lhe a vontade”
(SCHUMPETER, 1961:300).
Destes dois conceitos podemos reter que a democracia nas sociedades actuais apenas é possível
através de representantes que devem ser eleitos pelos integrantes de uma determinada sociedade
e obedecendo determinadas regras previamente definidas.

Desta forma, pode-se concluir que, como afirma Sartori (1994): “…o auto-governo directo, real,
não pode ser pressuposto; requer a presença e a participação real das pessoas interessadas. É
impossível ter uma democracia directa à distância e auto-governo significativo de ausentes, (…)
Assim, quando vastos territórios e nações inteiras estão envolvidos, a democracia directa torna-
se uma fórmula impraticável” (SARTORI, 1994:40).
Face a esta impossibilidade, de uma democracia directa, surgem novos modelos da democracia
como forma de aproximar o ideal democrático a realidade dos governos existentes. Dahl (1977)
designa-os de poliarquias, e que compreendem os sistemas mundiais reais que estão mais
próximas da democracia.

Quando se fala da representação política, encontramos os autores contratualistas no centro do


debate. Thomas Hobbes, cujo pensamento procura justificar o absolutismo como única forma de
garantir a sobrevivência do homem, pode ser considerado como sendo um dos pioneiros da teoria
da representação política. Para Hobbes (2007), o homem deveria renunciar ou transferir os seus
direitos, sendo que a transferência sempre é feita em benefício de uma ou mais pessoas.
“Cedo eu transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a
esta assembleia de homens, com a condição de tu transferires a ele teu direito,
autorizando de maneira semelhante todas as suas acções. Feito isto, à multidão
assim unida numa só pessoa se chama Estado” (HOBBES, 2007:61).
Esta visão da representação, embora discutível, é encontrada em autores que procuram estudar a
representação na actualidade. Pitkin (1967) define representante como sendo alguém que foi
autorizado a agir, portanto, alguém que não tinha o poder de agir anteriormente passa a ter esse
poder atribuído por um conjunto de pessoas (representados), salientando que a relação entre o
representante e o representado deve ser recíproca e não unilateral.
Com base no conceito de Pitkin (idem), podemos afirmar que a representação implica fazer
presente alguém que está ausente, quer através de um contrato defendido por Hobbes, bem como
através de eleições onde a fonte do poder é o sufrágio.
Por outro lado, Manin, Przeworski e Stokes (2006), vêem a representação como sendo
accountability, pois assumem que os eleitores podem reforçar a representação, utilizando os seus
votos para escolher políticos e políticas públicas, para sancionar o governante em exercício.
Manin (1995), examinando as origens do governo representativo estabelece quatro princípios que
são encontrados em todos tipos do governo representativo. O primeiro princípio é de que os
representantes são eleitos pelos governados, o segundo defende que os representantes conservam
uma certa independência parcial diante das preferências dos eleitores.
A ideia de que a opinião pública sobre assuntos políticos pode se manifestar independentemente
do controle do governo e que as decisões políticas são tomadas após debate compreendem o
terceiro e o quarto princípio respectivamente.

8. Perguntas de pesquisa

De forma a atingir os objectivos propostos acima, pergunta-se :

 Será que faz sentido, uma criança do interior do distrito de Bárue fazer o nível primário
sentado sobre um tronco quando uma criança da cidade faz o mesmo nível sobre uma
carteira feita de madeira que vem do campo.
 Quem é que responde pela gestão dos recursos nas comunidades é o governo ou as
empresas exploradoras destes recursos;
 A quem é que a população deve cobrar os seus direitos pela protecção que tem vindo a
fazer, ao Governo ou as empresas?

9. Metodologias

Os métodos e procedimentos constituíram todas as vias adoptadas para a efectivação do


presente trabalho com vista ao cumprimento dos objectivos anteriormente mencionados. O
autor recorreu para a consecução deste trabalho aos seguintes métodos e técnicas:
9.1. Revisão bibliográfica e análise bibliográfica e documental
A revisão bibliográfica e análise bibliográfica e documental foram para sustentar a base teórica
sobre o tema da pesquisa. Estes métodos permitiram ao autor obter vária informação através de
leitura e análise bibliográfica e documental de livros, revistas, Boletins da República e páginas
da internet, assim como para o conhecimento antecipado do papel das florestas na sociedade e
seu uso sustentável.

9.2. Observação directa

Segundo CHIZZOTTI (1998:90), a observação directa, "permite uma descrição fina dos
componentes de uma situação, nomeadamente, os sujeitos e seus aspectos pessoais e
particulares, o local e suas circunstâncias, o tempo e as variações, as acções e suas
significações, os conflitos e a sintonia de relações interpessoais e sociais e atitudes e os
componentes diante da realidade."

9.3. Analítico geográfico


Analítico geográfico serviu para a fundamentação das abordagens – ao descrever qualquer
aspecto foi necessário mostrar os seus pressupostos.

9.4. Indutivo
Indutivo – foi usado no estudo de caso, analisou-se os dados obtidos das entrevistas e do material
escrito de forma indutiva, permitindo chegar à ideias conclusivas

9.5. Participativo-geográfico
Foi usado no estudo das percepções pessoais (na recolha de dados), o autor procurou ir à
realidade do ambiente natural, colocando-se assim, num instrumento principal da pesquisa.

9.6. Entrevista
A entrevista serviu para saber e ter o sentimento e noção do que a população da área de estudo
pensa acerca dos ganhos tirados da perda das suas florestas. As entrevistas foram estruturadas e
os conteúdos e procedimentos foram organizados com antecedência, desenvolvidos a partir de
um conjunto fixo e estruturado de perguntas precisas cuja ordem e redacção permaneceu para
todos entrevistados.

9.7. Questionário
O questionário serviu para saber o sentimento de cada indivíduo. Umas levaram para responder
com mais vagar, outras tiveram que ir pedir ajuda ao próximo (por possuir baixo nível de
escolaridade) e passado algumas horas ou um dia foi recolhido pelo autor.

9.8. Inquérito
O inquérito serviu para saber na hora o que os residentes inqueridos sabiam a cerca da
participação nos órgãos de decisão.

9.10. Comparativo
Comparativo – usado basicamente para comparar as respostas obtidas pela população de Dombe
e de Bárue na matéria da sua participação na tomada de decisão.

10. Limitações

O desenvolvimento do tema teria sido comprometido, mais não inviabilizado pelas seguintes
razões:

 Falta de cultura de fornecimento de informação por parte de algumas entidades


solicitadas;
 Dificuldades financeiras pois, o projecto teve financiamento próprio do autor, sem
nenhum patrocinador igualmente pela falta de política de ajuda aos trabalhos de
investigação científica;
 Escassez de obras que debruçam sobre o tema para consulta
 As distâncias das zonas de pesquisa também constituíram um embaraço.
11. Implicações éticas.

O tema trará para as comunidades um ganho na medida em que estarão informados sobre o seu
papel social e decisivo na tomada de decisões paras suas comunidades. Desta forma, haverá mais
motivação para a participação destes não só como habitantes da zona, mais, como detentores de
decisões vitais.

A divulgação dos resultados desta pesquisa, trarão para os administradores locais uma nova visão
no direccionamento de certos fundos tendo sempre em conta a as decisões da própria população
local ou seis representantes.

Desta forma teremos em Moçambique uma comunidades que andam de maus dados com os seus
dirigentes e não haverá imparcialidade de riqueza como se verifica actualmente

Capítulo III-Breve Análise Do Processo De Descentralização Em Moçambique

Moçambique proclamou a sua independência em 1975 após longos anos de colonização


portuguesa. Com a independência, a Frelimo adoptou a planificação centralizada da economia
como forma de governação do país.
Este período vigorou, formalmente, até 1990 altura que se introduz uma nova constituição que
implantava o pluralismo social e político no país. Esta constituição culminaria com a realização
das primeiras eleições multipartidárias na história do país em 1994 e autárquicas em 1998.
Entretanto, apesar da abertura política verificada na década de 90, o legado histórico
manifestava-se no país, pois segundo Bilerio (2007), a centralização do poder verificado nas
duas décadas que se seguiram a independência traduziu-se numa continuada ausência de acesso
dos cidadãos às políticas do Estado e na inexistência de mecanismos de controlo; a população
continuava sem participar na elaboração e implementação de políticas públicas.
A não participação dos cidadãos, minava o sucesso das estratégias que visavam desenvolver o
país e consolidar o regime implantado no Moçambique independente. Deste modo,
reconhecendo-se a importância das comunidades era imperioso a criação de mecanismos e
espaços que garantissem a sua participação.
É nesta lógica que, segundo Nguenha (2009), o governo de Moçambique iniciou com o processo
de descentralização e desconcentração através de várias estratégias incluindo a criação das
autarquias, com o objectivo de organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas
da sua comunidade e promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da
democracia.
A aprovação da lei 3/94, considerada a primeira lei da descentralização no âmbito do programa
de reforma dos órgãos locais (PROL)12, que criava, segundo Faria e Chichava (1999), o quadro
legal e institucional de reforma dos órgãos locais, pode ser vista como sendo o take-off das
estratégias para a implementação dos governos locais no país, especificamente as autarquias.
A lei-quadro dos distritos municipais, ou seja a Lei 3/94 é, segundo Nuvunga (2000), uma
democratização nos níveis hierárquicos de Administração Estatal abrangidos pelo PROL,
portanto a introdução dos mecanismos democráticos na selecção dos representantes governo a
nível local. Esta democratização manifesta-se por um lado pelo processo da eleição de titulares
dos órgãos distritais e por outro pela abertura de espaço para a participação e responsabilização
dos titulares dos órgãos distritais pela população.

3.1. O contexto legal institucional para a participação em Moçambique

Embora o enfoque deste artigo é o período referente a segunda República (de 1990 ate a
actualidade) uma breve analise histórica da participação em Moçambique tanto no período
colonial como no pós-colonial3 é importante para a compreensão da qualidade e do nível de
participação política.
Em Moçambique as tentativas de materialização de participação política dos indivíduos pode ser
datada do tempo colonial com a constituição de associações locais de carácter cultural e
recreativo como o Grémio Africano e o Brado Africano “ como forma de reacção ao estado
critico, económico e social, a que se viram remetidos, em consequência às tendências
discriminatórias e à marginalização social e política impostas pela administração colonial
portuguesa (Rocha, 2002).
Estes grupos não sendo eminentemente políticos seguiam fins políticos de contestação ao regime
politico exigindo quer autonomia em relação a metrópole ou reivindicando uma identidade
nacional. O desenvolvimento da ideia de nacionalismo moçambicano beneficiou, em grande
medida, da acção de indivíduos filiados nessas organizações. Embora limitadas nos seus
movimentos e acções, estas organizações estabeleceram mecanismos de participação política que
contribuíram para elevar a consciência sobre a necessidade de libertar os pais do domínio
colonial português.
De alguma forma, a luta de libertação nacional pode ser considerada o auge dessa consciência
nacional que alargou o espaço de participação dos indivíduos sobre a política ou na política.
Como indica Cabaço (2007) durante a luta armada de libertação nacional a FRELIMO
introduziu, em 1970, os comités eleitos pela população como uma forma de participação no
exercício do poder nas zonas libertadas.
As estruturas de participação criadas durante a luta armada foram transferidas para o
Moçambique independente. Por exemplo, os comités do partido foram primeiramente
estabelecidos em 1973, dentro das Forças Populares de Libertação de Moçambique, e em 1974,
estes comités são transformados em Grupos Dinamizadores.
Fora da Frelimo se haviam constituído alguns partidos políticos como o Grupo Unido de
Moçambique (GUMO), Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO) a par dos outros
que existiam na clandestinidade durante a luta pela independência. Estes partidos políticos
reivindicavam o direito de participar no poder em igualdade de circunstancias que a Frelimo. A
Frelimo entendia que cabia a ela o direito de governar o pais dado o seu papel na luta de
libertação nacional. Esta posição da Frelimo prevaleceu durante as negociações que deram
origem aos acordos de Lusaka a 7 de Setembro de 1974.
Surgia, assim, uma divergência profunda entre a Frelimo que exigia “reconhecimento como
único representante legítimo do “povo” e alguns ciclos da parte portuguesa a optarem por uma
inclusão de outros grupos. O que sucedeu foi que Portugal teve mesmo que ceder e reconhecer o
direito à independência de Moçambique e a FRELIMO como único movimento legítimo para
assumir o poder no novo país Independente” (Jossias, 2007:29).
Após a independência são constituídos as assembleias populares, organizações democráticas de
massas como a Organização Mulher Moçambicana (OMM), Organização da Juventude
Moçambicana (OJM), Organização Nacional dos Professores (ONP), Organização Nacional de
Jornalistas (ONJ) como instituições de participação popular baseado em princípios de
democracia popular e centralismo democrático. Para a Frelimo, o conceito de democracia
popular era basicamente um socialista guiada pela Frelimo como o centro de poder com a
obrigação de organizar as massas em direcção ao objective único de unir as acções dispersas
(Frelimo, s/d: 95).
Esta concepção de democracia popular e centralismo democrático contrasta com a natureza
política que o conceito de democracia encerra. Como afirma Schumpeter (1943)
O método democrático consiste num arranjo institucional para alcançar decisões políticas nas
quais os indivíduos adquirem o direito de decidir por meio de competição pelo voto.
Assim fica evidente, que a participação na política visava unicamente a materialização do
projecto político da Frelimo: criar a nação. A missão destas organizações era a de enquadrar as
populações e usar estas estancias para mobilizar diferentes grupos (mulheres, jovens,
professores, jornalistas) para materializar o se projecto político.
Por essa razão, os partidos políticos e movimentos e associações cívicas que não comungavam
com a ideologia da Frelimo foram banidas e proibidas de actuar no país. Igual sorte teve as
autoridades tradicionais, os cultos e ritos animistas bem como outras práticas culturais como o
lobolo (Decreto n° 6/78 de 22 de Abril de 1978). Estas proibições e formas de controlo social
usadas pela Frelimo contribuíram para o surgimento de movimentos de contestação localizadas
que mais tarde deram corpo a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) que confrontou
o governo numa guerra que durou 16 anos.
Os efeitos internos combinados da guerra, da seca e das políticas macro – económicas falhadas e,
os factores externos no âmbito da guerra fria (confrontação dos blocos socialista e capitalista)
conduziram a uma crise da economia de Moçambique sem precedentes7.
O governo da República Popular de Moçambique solicitar apoio financeiro a alguns países
ocidentais e instituições financeiras internacionais - Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional (FMI) - para fazer face a crise económica do País.
Moçambique foi aceite como membro o Banco de Mundial e do FMI e começou a implementar o
Programa de Reabilitação Económica (PRE) em 1987. Para o FMI a liberalização económica
devia ser acompanhada pela liberalização política8, ou seja, defendiam que o sucesso das
reformas económicas só podia ser garantido com reformas no sistema político que garantissem o
direito a propriedade privada, liberdades de expressão, informação e associação, defesa dos
direitos humanos, defesa das liberdades individuais entre outros (Adalima, 2008).
Efectivamente, a aprovação da constituição em 1990, inaugura a segunda República9 e marca
uma nova era na vida política dos pais. A constituição de 1990 estabeleceu, por um lado, o
quadro legal de protecção e respeito das liberdades de associação (capítulo II, artigo 52), de
expressão e de imprensa (capítulo II, artigo 48), de participação política (capítulo II, artigo 53), o
direito à propriedade privada (capítulo V, artigo 82) entre outros aspectos (Adalima, 2008).
Por outro lado, a descentralização política consagrada através da institucionalização de órgãos
locais eleitos por residentes numa determinada área territorial, com competência e poder de
decisão próprios, compostos por órgãos representativos e órgãos executivos perante estes
responsáveis (CRM: cap. IX do título III, P.48).
Do ponto de vista da participação, a descentralização tem sido vista como um dos principais
instrumentos de articulação entre o Estado e a sociedade. Assume-se que a descentralização
política, em princípio, promove uma maior participação e controle popular sobre a actuação da
administração pública10.
Assim, o artigo 110 da lei 2/97 de 18 de Fevereiro, estabelece que os cidadãos moradores no
município podem apresentar individualmente ou através de organizações sociais, verbalmente ou
por escrito, sugestões, queixas, reclamações ou petições à Assembleia Municipal.
O número 2 do artigo 28 estipula que no desempenho das suas funções, os órgãos das autarquias
locais poderão auscultar as opiniões e sugestões das autoridades tradicionais reconhecidas pelas
comunidades como tais, de modo a coordenar com elas a realização de actividades que visem a
satisfação das necessidades específicas das referidas comunidades.
A alínea c) do número 1 do artigo 96 determina que são deveres dos órgãos autárquicos contactar
as populações da autarquia. A alínea c) do número 1 do artigo 74 estabelece que a Assembleia
Municipal pode reunir-se extraordinariamente, a requerimento de, pelo menos, 5% de cidadãos
eleitores inscritos no recenseamento eleitoral do município.
Em termos organizacionais, a lei 8/2003 estabelece que o governo distrital promove e apoia as
iniciativas de desenvolvimento local com a participação das comunidades e dos cidadãos na
solução dos seus problemas (art. 39, alínea m) No escalão mais a baixo, a alínea a) do artigo 47,
estabelece que compete ao Chefe do Posto Administrativo promover e organizar a participação
das comunidades locais, na solução dos problemas locais. A alínea c) do mesmo artigo
acrescenta que “…dando prioridade as camadas mais vulneráveis”.
Na estruturação das Instituições de Participação e Consulta Comunitária (IPCC), o Diploma
Ministerial 107-A/2000b que regulamenta o Decreto 15/2000 de 25 de Junho determina que o
Conselho Consultivo do Distrito (CCD) é a instituição máxima de consulta no distrito mas, no
entanto, reconhece a existência de outras instâncias de consulta abaixo deste nível territorial.
A estratégia Global da Reforma do Sector Público (2001-11) estabelece, nos seus objectivos, que
“o sector público seja democratizado e com alto grau de institucionalização de formas
participativas que permitam não só identificar com maior segurança os anseios e necessidades
dos cidadãos, mas também, que crie um espaço para a participação da sociedade na busca de
soluções para os problemas de desenvolvimento”.
Pelo Decreto 11/2005, no art. 100, determina-se “os órgãos locais do Estado devem assegurar a
participação dos cidadãos, das comunidades locais, das associações e de outras formas de
organização, que tenham por objecto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que
lhes disserem respeito”.
Pela descrição acima feita, fica evidente que o método de trabalho preconizado como forma de
relacionamento dos órgãos locais do Estado com as comunidades é o da auscultação e consulta
tal como estabelece o Decreto nº 15/2000, no art. 2, nº2. Essa auscultação é materializada através
das Instituições de Participação e Consulta Comunitária (IPCC).
O breve historial apresentado sobre o processo de institucionalização da participação é uma
tentativa de mostrar como em cada momento histórico este conceito foi usado de acordo com os
interesses políticos do regime vigente. Tanto no período colonial como no pós-colonial (primeira
República) a participação política era mais limitada dado o
carácter de forte controle social dos regimes. Com o multi-partidarismo são alargados os espaços
de participação e formalizados mecanismos de articulação entre as diferentes instituições.
Contudo, a qualidade da participação política no actual contexto é ainda fraca e é o reflexo de
longos anos de forte controle estatal (colonial e pós-colonial). Este aspecto será desenvolvido
mais adiante no tópico referente aos espaços de participação. A seguir apresenta-se, de forma
resumida, as instituições de consulta e participação comunitária nos diferentes escalões
territoriais vigentes na segunda República.
Capítulo IV-Alguns espaços de participação existentes em Moçambique

4.1. Conselho Consultivo do Distrito


O Governo Distrital é actualmente o Órgão Local do Estado dotado de cada vez maior
protagonismo na programação, coordenação e gestão da intervenção do Estado a nível local. O
Conselho Consultivo do Distrito permite que haja um diálogo eficaz entre a direcção do distrito
(o Administrador do Distrito e os Dirigentes Distritais) e a sociedade civil local. O CCD é a
instituição que permite aos vários grupos sociais do distrito colaborar com as autoridades da
administração local, na busca de soluções para as questões fundamentais que afectam a vida das
populações, o seu bem-estar e o desenvolvimento sustentável do seu território.

4.2. Conselho Consultivo do Posto Administrativo


Duma forma parecida com o CCD, o Conselho Consultivo do Posto Administrativo (CCPA) é
uma instituição de diálogo entre o aparelho de Estado e as comunidades locais nas diversas
localidades do distrito. O CCPA inclui o Chefe de Posto, representando a administração local; os
responsáveis dos sectores e serviços públicos localizados no Posto Administrativo, líderes locais
provenientes dos Fóruns Locais do PA. É no âmbito do CCPA que as preocupações e as
preferências provenientes das várias localidades serão sujeitas a um diálogo colectivo e,
subsequentemente, organizadas e periodizadas antes de serem abordadas a nível distrital.
Os espaços de participação criados pelas autoridades referentes aos diferentes níveis assumem
que as comunidades são homogéneas e dotadas de interesses comuns que podem ser articulados
no âmbito da consulta e auscultação. Não tomam em consideração as dinâmicas internas de
poder e estratificação existentes e os efeitos adjacentes da intervenção externa. Com efeito, a
participação é vista como instrumental no sentido de que as comunidades são agentes passivos e
que participam por via de consulta. Este espaço tem o mérito de poder agregar, pelo menos em
teoria, os diferentes agentes comunitários para o exercício participativo para o desenvolvimento
local. Portanto, CCPA não sendo um mecanismo formal11 representa um espaço de interlocução
com os mecanismos formais.
Paralelamente, a sociedade civil12 tem trabalhado na criação de outros mecanismos que podem
ser enquadrados no domínio dos “espaços reivindicados” como forma de não só emancipar-se
como também complementar os espaços criados pelo governo no âmbito da acção governativa.
4.3. Fórum local
O Fórum Local (FL) é concebido como uma instituição da sociedade civil que tem como
objectivo organizar os representantes das comunidades e dos grupos de interesse locais para
permitir que eles definam as suas prioridades e exprimam junto aos CCPAs e CCDs.
Os FLs são constituídos nos Postos Administrativos, geralmente em número entre dois e quatro
por PA, variando consoante a extensão territorial, dimensão da população, actividades e formas
de organização dos habitantes.
Contrariamente aos CCs, os Fóruns não são instituições de diálogo entre representantes do
Estado e as comunidades mas sim uma instância onde a sociedade civil se prepara internamente
para entrar nesse diálogo a partir do nível do Posto Administrativo.
Portanto, o FL é a instância de base para a agregação de preferências no âmbito do processo de
planificação distrital.

4.4. Comités comunitários


Os Comités Comunitários são concebidos para permitir que as comunidades se mobilizem na
identificação e procura de soluções para os seus problemas. Actualmente existem no país várias
formas de Comités Comunitários designadamente os denominados Comités de desenvolvimento
Comunitário (CDC); Comissões de Desenvolvimento Local (CDL); Comissões de Maneio
Comunitário (CMC) de terra e/ou outros recursos naturais; comités de agua, de escolas e de
saúde comunitária; bem como outras instituições de natureza associativa a nível local.

4.5. Os observatórios de desenvolvimento


A formulação do primeiro Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) em
2001 contou com pouco envolvimento de actores não estatais. A solução encontrada pelo
governo para a participação da sociedade civil foi a criação dos Observatório da Pobreza
(Waeterloos, 2004).
Primeiramente (a partir de 2003) designados Observatórios de Pobreza e a partir de 2005
Observatórios de Desenvolvimento foram criados como um espaço de interacção entre o governo
de Moçambique, parceiros de cooperação e sociedade civil onde se faz a análise do desempenho
em relação ao PARPA. Este espaço resulta das políticas estabelecidas pelo Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional nos finais da década 1990 que visavam o alívio da pobreza dos
países altamente endividados.
Estes países foram solicitados pelas instituições supracitadas a conceberem Planos para a
Redução da Pobreza Absoluta (PARPAs) com envolvimento, para além do governo, de actores
não estatais sobretudo ONGs, organizações religiosas, sector privado entre outras em suma a
sociedade civil (Fraser, 2005). Basicamente, os OD são um fórum de dialogo entre o governo e a
sociedade civil (Hodges e Tibana, 2005; Francisco e Matter, 2007) na monitoria da acção
governativa.

4.6. Espaços criados (“Invited spaces”) e espaços reivindicados (“claimed


spaces”)
Os conselhos locais dos diferentes níveis (distrito, posto administrativo, localidade e povoação)
são, por excelência, os espaços de interacção entre os órgãos do Estado e as populações a nível
local, assegurando os processos de participação e consulta comunitárias. Partindo deste
pressuposto é importante distinguir os espaços institucionalizados para o exercício da
participação. Regra geral são distinguidos dois tipos de espaços participativos:
espaços criados (“invited”) que são, essencialmente, de cima para baixo (“topdown”) e são
concebidos para integrar as comunidades e; os chamados espaços reivindicados (“claimed”) que
sendo criados pelos grupos ou comunidades visam pressionar as entidades políticas e
administrativas13 promovendo mudanças. Embora sejam espaços autónomos eles não são
mutuamente exclusivos, estando o desafio em cada contexto criar o ambiente para a combinação
dos 2 espaços.
Os espaços de participação apresentados acima são fundamentalmente “Invited”space no sentido
de que foram criadas pelo governo e outras agências com o objectivo de envolver a população,
sobretudo os grupos sociais considerados mais desfavorecidos. A lógica das Instituições de
Participação e Consulta Comunitária (IPCC) responde a esse desígnio de alargar o espaço de
participação das comunidades. Assim, as IPCC são vistas como uma instituição baseada num
processo através do qual pessoas, especialmente as mais desfavorecidas, influenciam as decisões
que lhes afectam, ou seja, o processo de consulta e participação deve trazer para o processo de
decisão as preocupações de todas as pessoas que se querem fazer ouvir o que implica
abrangência, equidade e respeito pelas formas de organizações legítimas existentes desde que
não se contradigam com as leis vigentes no país.
Contudo, o impacto da participação das pessoas nas IPCC tem sido de limitado alcance no
processo de tomada de decisão a nível local (Dijkstra and Lodewyckx, 2006; Gonçalves, 2008;
Forquilha, 2009; Canhanga, 2009). De acordo com Gonçalves (2008:2) “pouco ou quase nada se
sabe sobre o grau de representatividade dos diferentes grupos sociais nesses conselhos; os
mecanismos para a selecção dos seus membros; o fluxo de informação dos governos distritais
para os conselhos locais/cidadãos e vice-versa; os mecanismos de prestação de contas dos
governos distritais aos conselhos locais e destes aos cidadãos; os mecanismos de monitoria dos
planos anuais e quinquenais dos distritos (PESODs e PEDDs, respectivamente); os processos de
tomada de decisão nas sessões dos conselhos locais, etc.”. Portanto, conclui Gonçalves (2008)
ainda se sabe relativamente pouco acerca da natureza e qualidade do funcionamento dos
conselhos locais. Analisando o funcionamento dos Observatórios de desenvolvimento chega-se a
conclusões similares. Desde que a sociedade civil começou a fazer parte dos OD em 2003
através do “posicionamento da Sociedade Civil” que era um documento que reflectia a análise
feita sobre a situação das províncias em relação ao PARPA, poucas criticas ou observações
foram acatadas pelo governo (G20, 2005). As sessões dos OD transformaram-se momentos de
críticas a desempenho do governo o que fez com que o governo rotulasse a sociedade civil, em
algumas províncias, como fazendo parte da oposição política.
Embora, os OD sejam vistos como um fórum de procura de soluções conjuntas sobre os
problemas da província, poucas sugestões são efectivamente incorporadas na acção do governo.
Os OD são convocados e adiados pelo governo sem informação prévia aos outros intervenientes
do processo numa clara demonstração de poder e controle sobre o processo14.
Embora os Observatórios tenham sido estabelecidos como “fórum consultivo para a participação
activa das forças vivas da província no processo de monitoria e avaliação do PARPA”, poucos
membros da Sociedade Civil são capazes de explicar como se operacionaliza a “monitoria” do
PARPA ou qual é o resultado do processo de “consulta” em eles participava (Gonçalves e
Adalima, 2008).
Pelas razões acima indicadas, o processo de participação nos diferentes espaços em Moçambique
é instrumental ou nominal e está virado para legitimar acção do governo.
Em concreto, a institucionalização da participação não corresponde a uma efectiva capacidade de
engajamento e influência no processo de tomada de decisões. No caso concreto dos
Observatórios de Desenvolvimento, a participação da sociedade civil é nominal e não se traduz
na transformação do fórum num espaço de tomada de decisões sobre o desenvolvimento.
Pois, a participação deve centrar-se na “transformação” da prática de desenvolvimento vigente e,
mais radicalmente, nas relações sociais; nas práticas institucionais que limitam a possibilidade de
participação dos indivíduos e conduzem a exclusão social.
Esse projecto transformativo só se pode realizar se houver ligação entre participação e cidadania,
articulando as esferas políticas, comunitárias e sociais. Aos cidadãos é reconhecida a capacidade
de acção e de intervenção e não de simples usuários dos serviços de outros agentes (Gaventa,
2004).
Cabe ao cidadão enquanto homem equipado de um aparato racional para tomar decisões políticas
consequentes. Entretanto, a participação popular na vida política tem sido feita prioritariamente
via organizações ou grupo de organizações formais ou não, quer sejam partidos políticos, grupos
ou coligações de partidos, associações cívicas. Quando os actores individuais aparecem, estão
corporizados nas figuras de líderes comunitários, líderes religiosos e outras figuras de destaque
nos contextos sobre os quais o Estado incita os processos participativos.
Esta situação ilustra que estamos em presença de um paradoxo: a estruturação do sistema político
baseado em partidos mas cabe ao cidadão a capacidade de acção e intervenção.
O indivíduo enquanto cidadão, fora no esquema partidário, encontra limitado espaço para
participar na política com a excepção dos momentos eleitorais onde há um esforço tanto do
Estado como da sociedade civil para mobilizar para a sua participação activa nas eleições. O
objectivo nestes momentos é mais de mobilização de votantes e não de envolvimento consciente
dos cidadãos nas decisões que tem influência sobre suas vidas.
A participação torna-se num instrumento de manipulação política dado que é um exercício de
legitimação de um determinado manifesto de governação que poucas vezes é cumprido. Talvez
esta seja uma das razões que contribui para que os candidatos independentes não tenham
possibilidades de se afirmarem no actual contexto político moçambicano.
Basta olhar para os resultados eleitorais desde 1994 para concluir que os candidatos
independentes têm uma presença e resultados insignificantes.
Existe um potencial para a criação de (claimed spaces) baseados nos cidadãos fora do esquema
partidário. Precisamos de uma transformação radical do sistema criando espaço para que surja e
desenvolva-se uma consciência cívica crítica. Para Gonçalves (2008) essa transformação deve
começar no próprio sistema educativo que está desenhado para criar patriotas (indivíduos
obedientes à nação) e não cidadãos.
Corroborando com Gonçalves (2008), existe uma certa descontinuidade entre os ideais do
sistema educativo, virados para uma educação mais patriótica, e os princípios do liberalismo que
colocam no indivíduo, o centro do exercício das liberdades individuais de associação, escolha e
decisão.
Teremos o projecto de formar para a cidadania? Parece que não, o actual “Plano Estratégico da
Educação e Cultura” mostra que a prioridade é formar empreendedores e desarascadores da vida;
é transformar as escolas em oficinas de empreendedores e não oficinas de cidadania onde desde a
tenra idade as crianças poderiam aprender e ensaiar a participação e a cidadania.
O grande desafio a plena participação dos cidadãos na política em Moçambique passa pela
consolidação dos (invited spaces) pelo exercício critico que pode conduzir a emergência de
(claimed spaces). Neste contexto, uma imprensa abrangente, diversificada, critica, autónoma e,
sobretudo, com independência política e económica. E, acima de tudo, uma atenção especial
deveria ser dada às rádios comunitárias que, muitas vezes, constituem as principais fontes de
informação das populações nos distritos e, por isso, potenciais contextos de exercício de
questionamento e fiscalização das acções do poder público do dia.
Portanto, tal imprensa só será possível se estiver garantido, na sua plenitude, o direito de acesso à
informação pública. O direito à informação em Moçambique ainda não está concretizado,
fundamentalmente quando se trata de acesso a ficheiros estatais e governamentais.
Apesar de a nossa “Lei Mãe” – a Constituição da República” dispor que o direito à informação é
reconhecido em Moçambique, na prática ainda existe um grande deficit informativo na
sociedade, derivado fundamentalmente da ausência de legislação específica sobre a matéria.
Portanto, embora o direito à informação seja um direito constitucional, não existe uma lei que
regulamente o seu exercício.

.
CHAPTER V-DISCRIÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa foi conduzida por 8 especialistas contratados pólo autor, decorreu no Distrito de Bárue, na
Localidade de Nhampassa envolvendo uma amostra de 20 famílias. Foram ainda inqueridos 4 técnicos
que operam na área de exploração de madeira, 4 de exploração mineira e 4 administradores sendo o Chefe
do Posto administrativo de Nhampassa, o líder comunitário da mesma localidade, o Secretário do Partido
FRELIMO, e o régulo.

A escolha desta localidade deveu-se ao facto da mesma ser potencialmente rica em madeira, e minério de
turmalina que tem vindo a ser bastante procurado nos últimos anos.

5.1. Descrição da comunidade de Nhampassa no distrito de Bárue

O posto administrativo de Nhampassa localiza-se no Distrito de Bárue, na região Norte da Província de


Manica. Faz Fronteira com o Posto Administrativo de Inhazónia a sul, O posto Administrativo de
Nhamagua, pertencente ao Distrito de Macossa a Este, A Norte, faz fronteira com o Posto administrativo
de Cruzamento Macossa e no oeste limita se com o Posto administrativo de Choa pela Serra Choa.
Tem uma população de cerca de 23000 habitantes distribuídos pelas 5 localidades.
A população dedica-se principalmente a agricultura, e criação de animais sendo com maior destaque para
o cabrito, comércio e recentemente o garimpo.

5.2. Principais riquezas do posto

Dentre vários recursos da região, destaca se o garimpo nas minas de turmalina descobertas recentemente
ao acaso e que atraíram para região vários garimpeiros de diversas regiões incluindo de nacionalidades
estrangeiras (sobretudo Nigerianos). Por outro lado, e sobretudo com escocês da turmalina surge o novo
atractivo para a região que é a madeira que tem vindo a ser explorada principalmente pelos chineses em
parceria com empresários moçambicanos.

5.3. Principal madeira explorada em Nhampassa


A região oferece boa qualidade de madeira de árvores nativas que são:
Panga-panga, umbila, chanfuta, pau-preto, etc, e que tem atraído a vários operadores no ramo como são o
caso dos chineses que em parceria com operadores locais potenciam-nos de maquinarias e abatem vastas
áreas florestais sem descriminação.
CAPÍTULO VI- CONSTATAÇÕES NA COMUNIDADE

Observa se que a comunidade não está informada sobre seu papel na tomada de decisão sobre o
desenvolvimento comunitário. Feita a pergunta quem é que se encarrega de decidir os aspectos de
colocação de infra-estruturas (hospitais, escolas, moagens, etc) na zona os inqueridos responderam:
“O Estado chama o régulo para o Distrito, este leva consigo seus Sagutas (anciões) e
decidem sobre onde deve construir a escola”. [Nhamunda 54 anos Morador de
Nhampassa]
O mesmo observa se face a situação de extracção de Turmalinas:
“Estas covas foram descobertas ao acaso pelos nossos filhos durante a caça, como as
pedras eram bonitas, resolveram mostrar ao chefe do posto, dai prontos não tivemos mais
direito delas, apareceram muita gente que nós não sabemos de onde vem. Lutar connosco
para ter as pedras e finalmente vedaram o local e não deixaram mais ninguém da zona
cavar.” [Manasse, moradora de Nhampassa]

Este donos das minas levaram os nossos campos de cultivo não nos pagaram nada, vedaram sítio que não
tem turmalina e não ninguém capinar na zona, não nos pagaram nossos campos de cultivo e nós não
ganhamos nada com estas pedras mas fomos nós que descobrimos, elas são nossas.” [Chipossi, Morador
de Nhampassa]

Consultado o regulo Mukarati defendeu se dizendo que:


“Tudo é do estado e nos o povo não podemos mandar o governo, a população pensa que o
régulo galha dinheiro com estas pedras mas não, a verdade é que eu vivo do meu campo,
quem aqui na zona tem melhor campo de cultivo mais que eu! Eu também não sei para
onde vão estas pedras e nem sei quem o dono daquela empresa, quem sabe é o estado.”
[Ernesto Mukarati, régulo da zona]

Este depoimentos indica que a população da zona e os seus representantes não estão a tirar nenhum
proveito da extracção de turmalinas da zona de Nhampassa. Importa então analisar a política da
exploração da madeira na mesma zona.
Falando da exploração de madeira, o régulo da zona foi a tempo de afirmar que não rem sido informado
sobre quem e de onde vem a pessoa que vem explorar a madeira na sua zona.
“ As pessoas que cortam madeira nesta zona as vezes não falam com Mambo, não fazem
cerimónia de pedido aos espíritos da zona e quando cortam não deixam nada para a
população da zona” [Ernesto Mukarati, régulo da zona]

“As pessoas que exploram madeira só falam com o régulo da zona e não dão nada a
população. Pior é que quando te apanham a cortar panga-panga, levem a cadeia.”
[Manuel Phofo aluno de 13 anos de idade]

“Nesta escola já houve carteiras dadas pela GTZ nos anos 1997, quando estas ficam
estragadas, as crianças levam bancos das casas ou então sentam-se nestes bancos (troncos
de árvores improvisadas). Os operadores no ramo de madeira só se limitam a retirar o
produto e não deixam nenhum benefício a população. No ano passado tivemos que falar
com um destes operadores, a única resposta que tivemos foi de que ele pagava impostos
pelo trabalho que faz, não tem obrigação de fazer nada a favor da comunidade. Disse nos
ainda que faria qualquer coisa pela sua compreensão e não porque assim a lei o manda
fazer. Garantiu que iria negociar com os outros operadores do ramo para ver o que
poderiam fazer e até então nada nos disse . [Fernando Francisco, Director adjunto
Pedagógico da escola Primária Completa de Nhampassa]

CAPÍTULO VII-CONCLUSÃO
Olhando para o contexto institucional da participação em Moçambique fica evidente que a
criação destes espaços é da iniciativa do governo e das agências estrangeiras. Com efeito, tanto
os mecanismos criados pelo governo bem como os criados pela sociedade civil são
marcadamente formais. Os mecanismos de participação não só são institucionalizados como
também são caracterizados por uma forte centralização que se reproduz dos escalões mais altos
aos mais baixos.
E isso encontra suporte nos princípios defendidos pelo Banco mundial e o FMI que postulam que
a participação popular deve contribuir para uma maior eficiência dos programas, ou seja, os
custos da não participação podem ser muito altos porque conduzem ao fracasso dos projectos.
A participação tanto para as instituições financeiras internacionais como para os governos foi
transformada num aspecto técnico que quando aplicado correctamente contribui para aumentar a
eficácia dos projectos e programas.
Uma análise do processo participativo em Moçambique indica que os “espaços convidados” têm
sido crescentemente criados e as comunidades integradas em vários processos de consultas mas
continuam ainda formais e centralizados “top down”. A criação de novas instituições em
Moçambique criou oportunidades de participação popular no processo de governação. Todavia, o
enfoque nos mecanismos formais de participação inibe, de alguma forma, que iniciativas
informais sejam cada vez mais presentes. E é legítimo questionar em que medida as abordagens
participativas promovem ou contribuem efectivamente
para uma plena participação na governação?
Efectivamente, as comunidades não têm estado a usar eficientemente os espaços existentes quer
por fraca capacidade de agir dentro do contexto institucional específico quer por ausência de
vontade política das autoridades relevantes. Todavia, é nas comunidades que reside a
responsabilidade de criar novos espaços e articular o processo de participação nos espaços
existentes. Com efeito, uma maior emancipação popular ou empowerment é necessária para criar
esse espírito crítico. Uma questão óbvia a ser colocada é como criar uma comunidade crítica? A
quem cabe a responsabilidade de promover o empowerment comunitário? As respostas a estas
questões são inconclusivas. Contudo, o Estado pode através da adopção de princípios de co-
governação promover uma maior capacitação/empowerment comunitário.
Com as constatações da pesquisa acima, pode se chegar a conclusão de que:
 A população é ignorada pelos administradores, não é convida nos forros de tomada de decisão;
 A população não tira proveito dos recursos naturais da sua região, não sabe sequer quanto é que o
país ganha por estes recursos;
 Para deslocar a população de uma zona onde for descoberto algum minério importante, esta não
tem sido indemnizada pelos danos dos seus campos e outros bens, em suma, os tomadores de
decisão não tem respeitados a população local como parte integrante do processo administrativo
cabendo a esta ocupar a posição de cumpridores de ordens.
 Os recursos da zona como é o caso da madeira não tem sido usados na zona, são transportados em
troncos, daí resulta que as crianças destas zonas estudam sentados sobre troncos enquanto a zona
produz madeira que é usada em outros cantos do mundo. A maior inquietação neste ponto surge a
partir do momento em que se observa o contrário para com as crianças que frequentam o mesmo
nível nas escolas das cidades, onde a partir do primeiro ano tem pelo menos uma carteira para se
sentar.

7.1. Recomendações

Mediante as constatações desta monografia, recomenda se o seguinte:


 Os administradores locais devem criar ou revitalizar os órgãos representativos da população nos
seus foros de tomada de decisões;
 A política de responsabilidade social das empresas de exploração de matéria prima devem ser
aplicadas neta região e devem ser fiscalizadas de forma a evitar o espírito de deixa andar por
parte dos empresários;
 Deve se capacitar na medida do possível alguns membros da comunidade de forma a perceberem
as políticas de gestão dos recursos naturais;
 Deve se estabelecer alguma taxa em valores monetários a serem geridos na zona de exploração e
que a mesma será paga pelo explorador dos recursos junto a administração como forma a garantir
o cumprimento.
 A colocação de infra-estruturas numa determinada região deve ser feita mediante a opinião da
comunidade como forma de evitar colocação de um bem onde não é muito necessário, a mesma
medida surge considerando que a maior parte dos casos, os administradores indicados pelo
Governo não são nativos da zona e desconhecem as reais preocupações dos moradores.

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Lei n0 10/97 de 31 de Maio
Lei n0 8/2003; Boletim da República; I Série - Número 20; 10 Suplemento; 19 de Maio de 2003.
Lei n0 9/97, de 31 de Maio;
Lei n0 3/2008 de 2 de Maio; Cria 10 novos Municípios de Vila

ANEXOS

GUIÃO DE ENTREVISTAS

Organizações da Sociedade Civil (população)


1. Qual é o papel das OSC’s na governação local/municipal?
2. Como é garantida a participação da sociedade civil e do cidadão singular na governação
(A questão varia em função do nível de envolvimento da organização na
Governação local).
3. A AM reclama a fraca participação das OCS nas suas sessões? O que estará por detrás
deste fraco interesse?
4Como é feita a articulação entre as OSC locais e a Assembleia Municipal?
5. O que acha que pode ser feito/melhorado para a participação efectiva das organizações
locais no funcionamento da Assembleia Municipal?
6. Até que ponto acha ser relevante a participação do cidadão/ sociedade civil na
governação municipal?
7. Que avaliação faz da participação da sociedade civil e do cidadão na governação
municipal?
8. Em relação ao sistema eleitoral (listas fechadas), que avaliação se faz?

9. O domínio absoluto do partido no poder tem alguma influência na fraca participação da


SC?
10. Nos últimos 12 meses qual é a tendência da participação. Aumento/melhoria ou
diminuição?
11. Até que ponto confia nas instituições do Governo? E que análise faz do nível de
confiança nessas instituições?

GUIÃO DE ENTREVISTAS

Administração distrital de Bárue

2. Como funciona o processo de planificação e elaboração de projectos/planos?


3. Como é garantida a participação da sociedade civil e do cidadão singular na governação?
4. Quais são os espaços criados para reivindicação dos direitos do cidadão?
5. Como é medida o nível de participação?
6. Até que ponto acha ser relevante a participação do cidadão/ sociedade civil na governação?
7. Que avaliação faz da participação da sociedade civil e do cidadão na governação?
8. Nos últimos 12 meses qual é a tendência da participação. Aumento/melhoria ou
diminuição? Porque?
Questionário

O presente questionário é parte integrante do processo de recolha de dados para a elaboração do trabalho do fim de curso
(Monografia) de Octávio Leonel de Sousa, estudante da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo
Mondlane.
O objectivo principal do questionário é de perceber a relação que existe entre os munícipes com a Assembleia Municipal e
o seu nível de confiança em relação as instituições públicas.

Número do
Respondente Bairro Data
Nome Idade Sexo M F

1. Até que ponto você tem interesse em assuntos políticos


Muito Interesse 3
Um Certo Interesse/Algum Interesse 2
Pouco Interesse 1
Não Sabe (não ler) 9
2. Durante o ano passado, quantas vezes
contactou uma das seguintes pessoas
para resolver um problema importante
ou para lhes dar a sua opinião Nunca
Apenas
Uma Vez
Algumas/Poucas
Vezes
Muitas
Vezes
Não
Sabe
A.Presidente do Conselho Municipal 0 1 2 3 9
B.Um Vereador Municipal 0 1 2 3 9
C.Um Membro (Deputado) da Assembleia
Municipal 0 1 2 3 9
3. Pense da última vez que contactou um
daqueles líderes; Você foi: Sozinho Em grupo
Não Aplica (não contactou
ninguém)
Não
sabe
A.Sozinho ou em Grupo 1 2 7 9
Problema
comunitário
Problema
Pessoal
Não Aplica (não contactou
ninguém)
Não
sabe
B.Discutir um problema da comunidade ou um
problema pessoal 1 2 7 9
4. Durante o Ano Passado,
quantas vezes contactou as
seguintes pessoas para resolver
um problema importante ou para
lhes dar a sua opinião Nunca
Apenas uma
vez Algumas/Poucas vezes
Muitas
Vezes Não sabe
A.Um líder religioso 0 1 2 3 9
B.Um líder tradicional 0 1 2 3 9
C.Qualquer outra pessoa influente 0 1 2 3 9
REPRESENTAÇÃO

5. Pense da última vez que contactou um


daqueles líderes; Você foi:
Sozinho Em grupo
Não Aplica (não contactou
ninguém)
Não
sabe
A.Sozinho ou em Grupo 1 2 7 9
Problema
comunitário
Problema
Pessoal
Não Aplica (não contactou
ninguém)
Não
sabe
B.Discutir um problema da comunidade ou um
problema pessoal 1 2 7 9
6. E capaz de me dizer o nome de
Sei
mas
não
me
lembro
Nome
Correcto
Nome
Incorrect
o
Não
sabe
A.Um vereador Municipal
Sim.
Nome:_____________________ 1 2 3 9
B.Um membro/deputado da
Assembleia Municipal
Sim.
Nome:_____________________ 1 2 3 9

7. Até que ponto você confia no(a)


Nem Um
Pouco
Só Um
Pouco Razoavelmente Muito Não sabe
A.Presidente do Município 0 1 2 3 9
B.Membro/Deputado da Assembleia Municipal 0 1 2 3 9
C.Partidos Políticos 0 1 2 3 9
D.Tribunais 0 1 2 3 9
E.Polícia 0 1 2 3 9
F.Líderes Tradicionais 0 1 2 3 9
8. Quanto Tempo (ler as opções)
Quase todo seu tempo
Pelo menos uma vez por semana
Pelo menos uma vez por mês
Pelo menos uma vez por ano
Nunca
Não sabe

A.Um membro/deputado da Assembleia passa neste


bairro
4
3
2
1
0
B.Um membro/deputado da Assembleia deveria passar neste bairro visitar o bairro/cidadãos

9. E membro de algum(a) Sim Não Não Sabe


A.Partido Político
B.Congregação Religiosa
C.Organização da Sociedade Civil

10.Nome do Entrevistador: __________________________________________

LISTA DE ENTREVISTADOS
1. Anastácio Matavele Fórum das ONG’s de Manica
2. Argentina Mucavele Administração e Finanças
3. Cláudio de Oliveira Vereador CMCXX (obras e vias municipais)
4. Carlos Simione Mula Liga dos Direitos Humanos (Xai-Xai)
5. Matias Parruque Presidente da Assembleia Municipal
6. Natércia Duvane Associação Lado-Lado
7. Rita Muianga Presidente do CMCXX

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