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Aos meus irmão: Patrício Penicela, Essita Penicela, Amos Penicela e Elisa Penicela, a minha esposa
Maria Arnaldo e os meus filhos: Eugénio, Belarmino, Avelino, Leonardo e Hortência.
Aos meus amigo: Américo Pedro, Rui Manuel Zeca, Baptista Maneru Mapaia.
Abstract
1. Pré-textuais
Dedicatória
Agradecimento e
Prefácio
Lista de símbolos e abreviaturas
2. Capítulo I-Introdução
3. Capítulo II-Preliminares
Apresentação do tema de pesquisa;
Apresentação do problema;
Objectivos;
Pressupostos básicos;
Revisão preliminar da biografia;
Metodologia
Perguntas de estudo
Significado
Dificuldades e impacto ético
O decurso da pesquisa;
As constatações;
A conclusão.
Acknowledgement
Agradeço a participação e colaboração das seguintes personalidades por terem dado sua valiosa
contribuição para a produção da presente monografia:
Dr. Peter Simone Macore, que com muito zelo e de forma incansável orientou-me em todas as fases
da elaboração do trabalho desta monografia. Os seus comentários, correcções, sugestões
particularmente as críticas frontais foram de importância vital para a materialização do trabalho.
Obrigado!
Uma palavra de agradecimento estende-se ao professor Samuel Isaias que leccionou a cadeira de
Inglês.
Agradeço ainda duma forma especial ao amigo e irmão Américo Pedro Chadreque que
incansavelmente apoiou desde o começo do curso até a elaboração do trabalho de monografia,
correcções e contribuições no que tange a área informática, o meu muito obrigado.
Aos meus colegas da turma e especialmente do grupo de estudo: Rui Manuel Zeca carinhosamente
designado por RUMAZE, Francisco Macuitica Manuel, Paulino Fernando e Dona Verónica Job
Fazenda, a eles vão as minhas palavras de agradecimento.
Lista de abreviaturas usadas no documento
Capítulo I-Introdução
A democracia, segundo Aristóteles (s/d), compreende a forma de governo onde todos (cidadãos que
gozam dos seus direitos) participam de todos os cargos sem excepção, tal é o caso da democracia
antiga “que era concebida numa relação intrínseca e simbiótica com a polis”(Sartori, 1994:35).
Este constitui o modelo ideal da democracia que face as exigência que apresenta, tornou-se, não
apenas inaplicável nas sociedades modernas, mas também foi visto por alguns autores como sendo
impossível em qualquer sociedade. Segundo Rousseau (2002), esta forma de governo requer
elementos difíceis de reunir, pois, primeiramente exige um Estado bastante pequeno em que seja fácil
congregar o povo, e onde cada cidadão possa facilmente conhecer todos os outros.
O conceito “participação” é, nos dias de hoje, central no debate sobre o desenvolvimento entre
académicos, agências de desenvolvimento bem como de instituições financeiras internacionais como o
Banco Mundial e o Fundo monetário Internacional.
Como assinala Woods (2000) a nova ortodoxia defende que uma maior participação local dos cidadãos no
processo de tomada de decisões na planificação e desenho de políticas e programas garante um maior
cometimento e acção na sua implementação e manutenção”. De uma forma geral tem sido os argumentos
em torno da eficiência que têm dominado as intervenções das principais instituições financeiras
internacionais e das agências de desenvolvimento.
O pressuposto de base é o de que uma maior participação aumenta a eficácia e eficiência dos
investimentos feitos em programas ou projectos contribuindo para a democratização, empowerment e
uma melhor sustentabilidade dos projectos de desenvolvimento.
Nesse sentido, a participação1 é vista como algo positivo, benéfico e decisivo sobretudo para quem
participa (Cleaver, 1999) visto que se assume que os beneficiários (regra geral, os pobres, marginalizados
e os mais vulneráveis) devem ser-lhes dadas oportunidades para se desenvolverem. Há, pois, um
reconhecimento tácito que aos pobres falta-lhes a capacidade de tomar decisões sobre suas próprias
condições e influenciar as decisões e políticas mesmo ao nível dos projectos (Biekart, 2006).
Todavia, tentativa de aumentar a participação dos indivíduos nos processos de desenvolvimento e
políticos tem falhado por duas razoes fundamentais: primeiro, a falta de cometimento por parte das
agências e agentes externos promotores do processo de participação; segundo, a falta de vontade política
por parte dos governos (Dijkstra and
Lodewyckx, 2006). Acrescentaria mais duas razoes. Primeiro, que o excesso de participação pode
degenerar no que Cooke e Kothari (2002) designa por “tirania da participação” (.....); segundo, o facto de
se negligenciarem as dinâmicas locais de poder conduz, em muitas circunstancia, a conflitos (Hickey et
al, 2004)2.
Com efeito, a efectividade da participação depende do contexto e da finalidade que se espera dela. Em
termos de finalidade, na literatura sobre o desenvolvimento, a participação tem sido distinguida enquanto
um meio para acção com enfoque para os aspectos de eficiência (participação como um instrumento para
alcançar melhores resultados nos programas e projectos) e participação como fim que focaliza os aspectos
de equidade e “empowerment”, isto é, a participação como um processo que aumenta a capacidade dos
indivíduos para melhorar as suas condições de vida e facilita mudanças sociais a favor dos grupos
desfavorecidos e marginalizados. De acordo com White (1996) não existe incompatibilidade entre o meio
e fim da participação.
A distinção da participação como meio e fim conduz a classificar a participação em duas categorias:
nominal/ instrumental (virada para a eficiência) e transformativa (empowerment).
Contudo, Buchy (2005) salienta que mesmo em abordagens transformativas a finalidade é muitas vezes
instrumental. As pessoas são capacitadas para serem mais eficientes e capazes de participarem no
processo de desenvolvimento. Neste sentido, a participação é um desafio filosófico e politico grande e
abrangente que está para além das comunidades promoverem seu desenvolvimento com as suas próprias
mãos.
De uma forma geral, a institucionalização da participação visa controlar sistematicamente os processos e
o respectivo enquadramento no funcionamento das instituições existentes. Como recorda Cleaver (1999),
os discursos sobre participação estão fortemente influenciados pelo novo institucionalismo, teorias que
sugerem que as instituições ajudam a formalizar expectativas mútuas de comportamentos cooperativos,
permitindo o exercício de sanções contra a não cooperação e assim reduzir os custos de transacções
individuais.
A questão que se coloca é como melhorar a participação pública no processo de governação.
O debate em torno da participação na governação é um tema actual e relevante no actual contexto
sociopolítico de Moçambique dada a importância da participação na consolidação da democracia. Como
assinalam Dijkstra and Lodewyckx (2006) na segunda metade dos anos 1990, o governo de Moçambique
estava preocupado com o problema de sua limitada legitimidade e efectividade na governação local.
Terminada a Guerra estava em curso o processo de reconstrução do país e o alargamento da presença do
Estado para locais que esteve ausente devido a mesma Guerra. Foi nesse contexto que iniciou com
medidas conducentes ao estabelecimento e institucionalização da participação dos cidadãos na vida social
e política do país.
Este artigo parte do pressuposto que uma participação activa dos cidadãos na governação é um requisito
essencial para a consolidação da democracia, e explora o alcance da institucionalização dos espaços de
participação dos cidadãos na governação dos pais. Dado que, a participação dos indivíduos aumenta,
também, a sustentabilidade (e eu acrescento, a legitimidade) das politicas do governo e promove o
desenvolvimento social. e acordo com (Stiglitz, 2002).
O artigo discute o conceito participação com base na literatura como pressuposto para enquadramento da
participação em Moçambique no contexto da governação. De seguida faz-se uma breve contextualização
da participação em Moçambique nos períodos colonial pós-colonial Num terceiro momento são
apresentação resumida das instituições de consulta e participação comunitária a cada escalão. Uma analise
dos espaços de participação disponíveis em Moçambique é feita a partir das instituições criadas para esse
efeito. Por último são avançadas algumas notas em jeito de conclusão.
Capítulo II- Primeira iniciação
3. Background
Em Moçambique assim como outros países da África Sub-Sahariana, tem se vivido nos últimos
tempos uma era política tranquila na qual a preocupação dos governantes e da sociedade em
geral tem sido em trono da busca do “desenvolvimento”. Nesta ordem, as populações tem vindo
a serem mobilizadas para participarem na tomada de decisões sobre qualquer área do
desenvolvimento na sua comunidade. A exemplo disso cita se a colocação de postos de socorro
nos locais escolhidos pela comunidade em debate público aberto, abertura ou reabilitação de
estradas e pontes estratégicos para a comunidade e governo; a colocação de vedas para caça em
locais escolhidos pelos líderes comunitários e seus anciões.
No mesmo intervalo em que se verifica estes melhorias, observa se a grande procura pelos
recursos naturais como são s casos de turmalinas, ouro e madeira só para citar alguns exemplos.
Observa-se no entanto que quando se trata de recursos valiosos, a população não é consultada
sobre as medidas de exploração bem como os ganhos que isto traz para o país e porque não para
a comunidade onde esse recurso é retirado.
Falando no exemplo típico de madeira, a população apenas é apelada a não fazer as queimadas
descontroladas nas florestas, a não fazer o abate de algumas árvores valiosas para corte de
madeira, porem, assiste as empresas de corte de madeira a devastarem as floresta sem sequer
perguntar para onde estão levar este recurso, o que se ganha com isto no país e muito menos
questionam sobre os ganhos comunitários.
4. Propósito
O tema tem por objectivo apurar até que ponto a população do Distrito de Bárue é consultada
para a tomada de decisões que lhes dizem respeito. Neste contesto, o tema é limitado ao estudo
junto as comunidades rurais de Bárue comparando com o Posto Administrativo de Dombe em
Sussundenga .
Acolha destes dois pontos deveu-se ao facto de estes serem potenciais produtores de madeira,
recurso que nos últimos anos tem vindo a ganhar mercado. Ainda em Bárue, nos últimos anos
tem vindo a ser descobertas muitas minas de turmalina pelo que o autor achou que o estudo
localizado destes poderá trazer a realidade doutros pontos do país sobretudo no que diz respeito a
gestão comunitária de recursos naturais e avaliar a participação das comunidades na tomada de
decisão.
5. Significado
O presente trabalho identifica se com as comunidades mais ricas em recursos naturais e visa
motivadas a participarem duma forma ordeira nos forros de tomada de decisão. Por outro lado,
pretende-se motivar os administradores locais a trabalharem em sintonia com as comunidades na
tomada de decisões que visam desenvolver a mesma comunidade, daí que o trabalho assume se
como tendo um significado social na medida em que procura resolver o problema não dum forma
singular mas sim duma comunidade .
6. Objectivos
Na democracia os governos são representativos porque são eleitos (Manin, Przeworski e Stokes,
2006), por outro lado, para Lüchmann (2007), a trajectória da constituição dos modelos de
democracia tem sido marcada pelas noções de representação e participação, que embora
referenciados na ideia de participação política, ambos conceitos registam, com orientações
diversas, dois modelos centrais de organização política democrática, que são a democracia
representativa e a democracia participativa.
“O modelo da democracia representativa, assente na ideia de que as decisões
políticas são derivadas das instâncias formadas por representantes escolhidos
por sufrágio universal, e o modelo da democracia participativa, por sua vez
baseado na ideia de que compete aos cidadãos, no seu conjunto, a definição e
autorização das decisões políticas, constituem os dois modelos centrais de
organização política democrática” (LÜCHMANN, 2007:3).
Entretanto, tanto a democracia representativa bem como a participativa constitui o culminar de
um longo processo, no qual a democracia, segundo Sartori (1994) adquiriu diversos significados
relativos a contextos históricos muito diferentes, assim como a ideais muito diferentes.
Na sua génese a democracia, segundo Aristóteles (s/d), compreende a forma de governo onde
todos (cidadãos que gozam dos seus direitos) participam de todos os cargos sem excepção, tal é o
caso da democracia antiga “que era concebida numa relação intrínseca e simbiótica com a
polis”(Sartori, 1994:35).
Este constitui o modelo ideal da democracia que face as exigência que apresenta, tornou-se, não
apenas inaplicável nas sociedades modernas, mas também foi visto por alguns autores como
sendo impossível em qualquer sociedade. Segundo Rousseau (2002), esta forma de governo
requer elementos difíceis de reunir, pois, primeiramente exige um Estado bastante pequeno em
que seja fácil congregar o povo, e onde cada cidadão possa facilmente conhecer todos os outros.
Em segundo lugar, para Rousseau (idem), a democracia exige uma grande simplicidade de
costumes, que antecipe a multidão de negócios e as discussões espinhosas, e por fim, bastante
igualdade nas classes e nas riquezas, ou seja, pouco ou nenhum luxo.
Esta impossibilidade de adoptar-se a democracia nos moldes de Aristóteles levou a formulação
de vários conceitos e modelos de democracia. Bobbio (1997) afirma que o único modo de se
chegar a um consenso quando se fala de democracia, entendida como contraposta a todas formas
do governo autocrático, é o de considerá-la caracterizada por um conjunto de regras que
estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões colectivas e com quais procedimentos.
Esta definição apresentada por Bobbio (idem) contempla elementos que podem ser encontrados
em Schumpeter (1961):
“A filosofia da democracia do século XVIII pode ser expressa da seguinte
maneira: o método democrático é o arranjo institucional para se chegar a certas
decisões políticas que realizam o bem comum, cabendo ao próprio povo decidir,
através da eleição de indivíduos que se reúnem para cumprir-lhe a vontade”
(SCHUMPETER, 1961:300).
Destes dois conceitos podemos reter que a democracia nas sociedades actuais apenas é possível
através de representantes que devem ser eleitos pelos integrantes de uma determinada sociedade
e obedecendo determinadas regras previamente definidas.
Desta forma, pode-se concluir que, como afirma Sartori (1994): “…o auto-governo directo, real,
não pode ser pressuposto; requer a presença e a participação real das pessoas interessadas. É
impossível ter uma democracia directa à distância e auto-governo significativo de ausentes, (…)
Assim, quando vastos territórios e nações inteiras estão envolvidos, a democracia directa torna-
se uma fórmula impraticável” (SARTORI, 1994:40).
Face a esta impossibilidade, de uma democracia directa, surgem novos modelos da democracia
como forma de aproximar o ideal democrático a realidade dos governos existentes. Dahl (1977)
designa-os de poliarquias, e que compreendem os sistemas mundiais reais que estão mais
próximas da democracia.
8. Perguntas de pesquisa
Será que faz sentido, uma criança do interior do distrito de Bárue fazer o nível primário
sentado sobre um tronco quando uma criança da cidade faz o mesmo nível sobre uma
carteira feita de madeira que vem do campo.
Quem é que responde pela gestão dos recursos nas comunidades é o governo ou as
empresas exploradoras destes recursos;
A quem é que a população deve cobrar os seus direitos pela protecção que tem vindo a
fazer, ao Governo ou as empresas?
9. Metodologias
Segundo CHIZZOTTI (1998:90), a observação directa, "permite uma descrição fina dos
componentes de uma situação, nomeadamente, os sujeitos e seus aspectos pessoais e
particulares, o local e suas circunstâncias, o tempo e as variações, as acções e suas
significações, os conflitos e a sintonia de relações interpessoais e sociais e atitudes e os
componentes diante da realidade."
9.4. Indutivo
Indutivo – foi usado no estudo de caso, analisou-se os dados obtidos das entrevistas e do material
escrito de forma indutiva, permitindo chegar à ideias conclusivas
9.5. Participativo-geográfico
Foi usado no estudo das percepções pessoais (na recolha de dados), o autor procurou ir à
realidade do ambiente natural, colocando-se assim, num instrumento principal da pesquisa.
9.6. Entrevista
A entrevista serviu para saber e ter o sentimento e noção do que a população da área de estudo
pensa acerca dos ganhos tirados da perda das suas florestas. As entrevistas foram estruturadas e
os conteúdos e procedimentos foram organizados com antecedência, desenvolvidos a partir de
um conjunto fixo e estruturado de perguntas precisas cuja ordem e redacção permaneceu para
todos entrevistados.
9.7. Questionário
O questionário serviu para saber o sentimento de cada indivíduo. Umas levaram para responder
com mais vagar, outras tiveram que ir pedir ajuda ao próximo (por possuir baixo nível de
escolaridade) e passado algumas horas ou um dia foi recolhido pelo autor.
9.8. Inquérito
O inquérito serviu para saber na hora o que os residentes inqueridos sabiam a cerca da
participação nos órgãos de decisão.
9.10. Comparativo
Comparativo – usado basicamente para comparar as respostas obtidas pela população de Dombe
e de Bárue na matéria da sua participação na tomada de decisão.
10. Limitações
O desenvolvimento do tema teria sido comprometido, mais não inviabilizado pelas seguintes
razões:
O tema trará para as comunidades um ganho na medida em que estarão informados sobre o seu
papel social e decisivo na tomada de decisões paras suas comunidades. Desta forma, haverá mais
motivação para a participação destes não só como habitantes da zona, mais, como detentores de
decisões vitais.
A divulgação dos resultados desta pesquisa, trarão para os administradores locais uma nova visão
no direccionamento de certos fundos tendo sempre em conta a as decisões da própria população
local ou seis representantes.
Desta forma teremos em Moçambique uma comunidades que andam de maus dados com os seus
dirigentes e não haverá imparcialidade de riqueza como se verifica actualmente
Embora o enfoque deste artigo é o período referente a segunda República (de 1990 ate a
actualidade) uma breve analise histórica da participação em Moçambique tanto no período
colonial como no pós-colonial3 é importante para a compreensão da qualidade e do nível de
participação política.
Em Moçambique as tentativas de materialização de participação política dos indivíduos pode ser
datada do tempo colonial com a constituição de associações locais de carácter cultural e
recreativo como o Grémio Africano e o Brado Africano “ como forma de reacção ao estado
critico, económico e social, a que se viram remetidos, em consequência às tendências
discriminatórias e à marginalização social e política impostas pela administração colonial
portuguesa (Rocha, 2002).
Estes grupos não sendo eminentemente políticos seguiam fins políticos de contestação ao regime
politico exigindo quer autonomia em relação a metrópole ou reivindicando uma identidade
nacional. O desenvolvimento da ideia de nacionalismo moçambicano beneficiou, em grande
medida, da acção de indivíduos filiados nessas organizações. Embora limitadas nos seus
movimentos e acções, estas organizações estabeleceram mecanismos de participação política que
contribuíram para elevar a consciência sobre a necessidade de libertar os pais do domínio
colonial português.
De alguma forma, a luta de libertação nacional pode ser considerada o auge dessa consciência
nacional que alargou o espaço de participação dos indivíduos sobre a política ou na política.
Como indica Cabaço (2007) durante a luta armada de libertação nacional a FRELIMO
introduziu, em 1970, os comités eleitos pela população como uma forma de participação no
exercício do poder nas zonas libertadas.
As estruturas de participação criadas durante a luta armada foram transferidas para o
Moçambique independente. Por exemplo, os comités do partido foram primeiramente
estabelecidos em 1973, dentro das Forças Populares de Libertação de Moçambique, e em 1974,
estes comités são transformados em Grupos Dinamizadores.
Fora da Frelimo se haviam constituído alguns partidos políticos como o Grupo Unido de
Moçambique (GUMO), Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO) a par dos outros
que existiam na clandestinidade durante a luta pela independência. Estes partidos políticos
reivindicavam o direito de participar no poder em igualdade de circunstancias que a Frelimo. A
Frelimo entendia que cabia a ela o direito de governar o pais dado o seu papel na luta de
libertação nacional. Esta posição da Frelimo prevaleceu durante as negociações que deram
origem aos acordos de Lusaka a 7 de Setembro de 1974.
Surgia, assim, uma divergência profunda entre a Frelimo que exigia “reconhecimento como
único representante legítimo do “povo” e alguns ciclos da parte portuguesa a optarem por uma
inclusão de outros grupos. O que sucedeu foi que Portugal teve mesmo que ceder e reconhecer o
direito à independência de Moçambique e a FRELIMO como único movimento legítimo para
assumir o poder no novo país Independente” (Jossias, 2007:29).
Após a independência são constituídos as assembleias populares, organizações democráticas de
massas como a Organização Mulher Moçambicana (OMM), Organização da Juventude
Moçambicana (OJM), Organização Nacional dos Professores (ONP), Organização Nacional de
Jornalistas (ONJ) como instituições de participação popular baseado em princípios de
democracia popular e centralismo democrático. Para a Frelimo, o conceito de democracia
popular era basicamente um socialista guiada pela Frelimo como o centro de poder com a
obrigação de organizar as massas em direcção ao objective único de unir as acções dispersas
(Frelimo, s/d: 95).
Esta concepção de democracia popular e centralismo democrático contrasta com a natureza
política que o conceito de democracia encerra. Como afirma Schumpeter (1943)
O método democrático consiste num arranjo institucional para alcançar decisões políticas nas
quais os indivíduos adquirem o direito de decidir por meio de competição pelo voto.
Assim fica evidente, que a participação na política visava unicamente a materialização do
projecto político da Frelimo: criar a nação. A missão destas organizações era a de enquadrar as
populações e usar estas estancias para mobilizar diferentes grupos (mulheres, jovens,
professores, jornalistas) para materializar o se projecto político.
Por essa razão, os partidos políticos e movimentos e associações cívicas que não comungavam
com a ideologia da Frelimo foram banidas e proibidas de actuar no país. Igual sorte teve as
autoridades tradicionais, os cultos e ritos animistas bem como outras práticas culturais como o
lobolo (Decreto n° 6/78 de 22 de Abril de 1978). Estas proibições e formas de controlo social
usadas pela Frelimo contribuíram para o surgimento de movimentos de contestação localizadas
que mais tarde deram corpo a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) que confrontou
o governo numa guerra que durou 16 anos.
Os efeitos internos combinados da guerra, da seca e das políticas macro – económicas falhadas e,
os factores externos no âmbito da guerra fria (confrontação dos blocos socialista e capitalista)
conduziram a uma crise da economia de Moçambique sem precedentes7.
O governo da República Popular de Moçambique solicitar apoio financeiro a alguns países
ocidentais e instituições financeiras internacionais - Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional (FMI) - para fazer face a crise económica do País.
Moçambique foi aceite como membro o Banco de Mundial e do FMI e começou a implementar o
Programa de Reabilitação Económica (PRE) em 1987. Para o FMI a liberalização económica
devia ser acompanhada pela liberalização política8, ou seja, defendiam que o sucesso das
reformas económicas só podia ser garantido com reformas no sistema político que garantissem o
direito a propriedade privada, liberdades de expressão, informação e associação, defesa dos
direitos humanos, defesa das liberdades individuais entre outros (Adalima, 2008).
Efectivamente, a aprovação da constituição em 1990, inaugura a segunda República9 e marca
uma nova era na vida política dos pais. A constituição de 1990 estabeleceu, por um lado, o
quadro legal de protecção e respeito das liberdades de associação (capítulo II, artigo 52), de
expressão e de imprensa (capítulo II, artigo 48), de participação política (capítulo II, artigo 53), o
direito à propriedade privada (capítulo V, artigo 82) entre outros aspectos (Adalima, 2008).
Por outro lado, a descentralização política consagrada através da institucionalização de órgãos
locais eleitos por residentes numa determinada área territorial, com competência e poder de
decisão próprios, compostos por órgãos representativos e órgãos executivos perante estes
responsáveis (CRM: cap. IX do título III, P.48).
Do ponto de vista da participação, a descentralização tem sido vista como um dos principais
instrumentos de articulação entre o Estado e a sociedade. Assume-se que a descentralização
política, em princípio, promove uma maior participação e controle popular sobre a actuação da
administração pública10.
Assim, o artigo 110 da lei 2/97 de 18 de Fevereiro, estabelece que os cidadãos moradores no
município podem apresentar individualmente ou através de organizações sociais, verbalmente ou
por escrito, sugestões, queixas, reclamações ou petições à Assembleia Municipal.
O número 2 do artigo 28 estipula que no desempenho das suas funções, os órgãos das autarquias
locais poderão auscultar as opiniões e sugestões das autoridades tradicionais reconhecidas pelas
comunidades como tais, de modo a coordenar com elas a realização de actividades que visem a
satisfação das necessidades específicas das referidas comunidades.
A alínea c) do número 1 do artigo 96 determina que são deveres dos órgãos autárquicos contactar
as populações da autarquia. A alínea c) do número 1 do artigo 74 estabelece que a Assembleia
Municipal pode reunir-se extraordinariamente, a requerimento de, pelo menos, 5% de cidadãos
eleitores inscritos no recenseamento eleitoral do município.
Em termos organizacionais, a lei 8/2003 estabelece que o governo distrital promove e apoia as
iniciativas de desenvolvimento local com a participação das comunidades e dos cidadãos na
solução dos seus problemas (art. 39, alínea m) No escalão mais a baixo, a alínea a) do artigo 47,
estabelece que compete ao Chefe do Posto Administrativo promover e organizar a participação
das comunidades locais, na solução dos problemas locais. A alínea c) do mesmo artigo
acrescenta que “…dando prioridade as camadas mais vulneráveis”.
Na estruturação das Instituições de Participação e Consulta Comunitária (IPCC), o Diploma
Ministerial 107-A/2000b que regulamenta o Decreto 15/2000 de 25 de Junho determina que o
Conselho Consultivo do Distrito (CCD) é a instituição máxima de consulta no distrito mas, no
entanto, reconhece a existência de outras instâncias de consulta abaixo deste nível territorial.
A estratégia Global da Reforma do Sector Público (2001-11) estabelece, nos seus objectivos, que
“o sector público seja democratizado e com alto grau de institucionalização de formas
participativas que permitam não só identificar com maior segurança os anseios e necessidades
dos cidadãos, mas também, que crie um espaço para a participação da sociedade na busca de
soluções para os problemas de desenvolvimento”.
Pelo Decreto 11/2005, no art. 100, determina-se “os órgãos locais do Estado devem assegurar a
participação dos cidadãos, das comunidades locais, das associações e de outras formas de
organização, que tenham por objecto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que
lhes disserem respeito”.
Pela descrição acima feita, fica evidente que o método de trabalho preconizado como forma de
relacionamento dos órgãos locais do Estado com as comunidades é o da auscultação e consulta
tal como estabelece o Decreto nº 15/2000, no art. 2, nº2. Essa auscultação é materializada através
das Instituições de Participação e Consulta Comunitária (IPCC).
O breve historial apresentado sobre o processo de institucionalização da participação é uma
tentativa de mostrar como em cada momento histórico este conceito foi usado de acordo com os
interesses políticos do regime vigente. Tanto no período colonial como no pós-colonial (primeira
República) a participação política era mais limitada dado o
carácter de forte controle social dos regimes. Com o multi-partidarismo são alargados os espaços
de participação e formalizados mecanismos de articulação entre as diferentes instituições.
Contudo, a qualidade da participação política no actual contexto é ainda fraca e é o reflexo de
longos anos de forte controle estatal (colonial e pós-colonial). Este aspecto será desenvolvido
mais adiante no tópico referente aos espaços de participação. A seguir apresenta-se, de forma
resumida, as instituições de consulta e participação comunitária nos diferentes escalões
territoriais vigentes na segunda República.
Capítulo IV-Alguns espaços de participação existentes em Moçambique
.
CHAPTER V-DISCRIÇÃO DA PESQUISA
A pesquisa foi conduzida por 8 especialistas contratados pólo autor, decorreu no Distrito de Bárue, na
Localidade de Nhampassa envolvendo uma amostra de 20 famílias. Foram ainda inqueridos 4 técnicos
que operam na área de exploração de madeira, 4 de exploração mineira e 4 administradores sendo o Chefe
do Posto administrativo de Nhampassa, o líder comunitário da mesma localidade, o Secretário do Partido
FRELIMO, e o régulo.
A escolha desta localidade deveu-se ao facto da mesma ser potencialmente rica em madeira, e minério de
turmalina que tem vindo a ser bastante procurado nos últimos anos.
Dentre vários recursos da região, destaca se o garimpo nas minas de turmalina descobertas recentemente
ao acaso e que atraíram para região vários garimpeiros de diversas regiões incluindo de nacionalidades
estrangeiras (sobretudo Nigerianos). Por outro lado, e sobretudo com escocês da turmalina surge o novo
atractivo para a região que é a madeira que tem vindo a ser explorada principalmente pelos chineses em
parceria com empresários moçambicanos.
Observa se que a comunidade não está informada sobre seu papel na tomada de decisão sobre o
desenvolvimento comunitário. Feita a pergunta quem é que se encarrega de decidir os aspectos de
colocação de infra-estruturas (hospitais, escolas, moagens, etc) na zona os inqueridos responderam:
“O Estado chama o régulo para o Distrito, este leva consigo seus Sagutas (anciões) e
decidem sobre onde deve construir a escola”. [Nhamunda 54 anos Morador de
Nhampassa]
O mesmo observa se face a situação de extracção de Turmalinas:
“Estas covas foram descobertas ao acaso pelos nossos filhos durante a caça, como as
pedras eram bonitas, resolveram mostrar ao chefe do posto, dai prontos não tivemos mais
direito delas, apareceram muita gente que nós não sabemos de onde vem. Lutar connosco
para ter as pedras e finalmente vedaram o local e não deixaram mais ninguém da zona
cavar.” [Manasse, moradora de Nhampassa]
Este donos das minas levaram os nossos campos de cultivo não nos pagaram nada, vedaram sítio que não
tem turmalina e não ninguém capinar na zona, não nos pagaram nossos campos de cultivo e nós não
ganhamos nada com estas pedras mas fomos nós que descobrimos, elas são nossas.” [Chipossi, Morador
de Nhampassa]
Este depoimentos indica que a população da zona e os seus representantes não estão a tirar nenhum
proveito da extracção de turmalinas da zona de Nhampassa. Importa então analisar a política da
exploração da madeira na mesma zona.
Falando da exploração de madeira, o régulo da zona foi a tempo de afirmar que não rem sido informado
sobre quem e de onde vem a pessoa que vem explorar a madeira na sua zona.
“ As pessoas que cortam madeira nesta zona as vezes não falam com Mambo, não fazem
cerimónia de pedido aos espíritos da zona e quando cortam não deixam nada para a
população da zona” [Ernesto Mukarati, régulo da zona]
“As pessoas que exploram madeira só falam com o régulo da zona e não dão nada a
população. Pior é que quando te apanham a cortar panga-panga, levem a cadeia.”
[Manuel Phofo aluno de 13 anos de idade]
“Nesta escola já houve carteiras dadas pela GTZ nos anos 1997, quando estas ficam
estragadas, as crianças levam bancos das casas ou então sentam-se nestes bancos (troncos
de árvores improvisadas). Os operadores no ramo de madeira só se limitam a retirar o
produto e não deixam nenhum benefício a população. No ano passado tivemos que falar
com um destes operadores, a única resposta que tivemos foi de que ele pagava impostos
pelo trabalho que faz, não tem obrigação de fazer nada a favor da comunidade. Disse nos
ainda que faria qualquer coisa pela sua compreensão e não porque assim a lei o manda
fazer. Garantiu que iria negociar com os outros operadores do ramo para ver o que
poderiam fazer e até então nada nos disse . [Fernando Francisco, Director adjunto
Pedagógico da escola Primária Completa de Nhampassa]
CAPÍTULO VII-CONCLUSÃO
Olhando para o contexto institucional da participação em Moçambique fica evidente que a
criação destes espaços é da iniciativa do governo e das agências estrangeiras. Com efeito, tanto
os mecanismos criados pelo governo bem como os criados pela sociedade civil são
marcadamente formais. Os mecanismos de participação não só são institucionalizados como
também são caracterizados por uma forte centralização que se reproduz dos escalões mais altos
aos mais baixos.
E isso encontra suporte nos princípios defendidos pelo Banco mundial e o FMI que postulam que
a participação popular deve contribuir para uma maior eficiência dos programas, ou seja, os
custos da não participação podem ser muito altos porque conduzem ao fracasso dos projectos.
A participação tanto para as instituições financeiras internacionais como para os governos foi
transformada num aspecto técnico que quando aplicado correctamente contribui para aumentar a
eficácia dos projectos e programas.
Uma análise do processo participativo em Moçambique indica que os “espaços convidados” têm
sido crescentemente criados e as comunidades integradas em vários processos de consultas mas
continuam ainda formais e centralizados “top down”. A criação de novas instituições em
Moçambique criou oportunidades de participação popular no processo de governação. Todavia, o
enfoque nos mecanismos formais de participação inibe, de alguma forma, que iniciativas
informais sejam cada vez mais presentes. E é legítimo questionar em que medida as abordagens
participativas promovem ou contribuem efectivamente
para uma plena participação na governação?
Efectivamente, as comunidades não têm estado a usar eficientemente os espaços existentes quer
por fraca capacidade de agir dentro do contexto institucional específico quer por ausência de
vontade política das autoridades relevantes. Todavia, é nas comunidades que reside a
responsabilidade de criar novos espaços e articular o processo de participação nos espaços
existentes. Com efeito, uma maior emancipação popular ou empowerment é necessária para criar
esse espírito crítico. Uma questão óbvia a ser colocada é como criar uma comunidade crítica? A
quem cabe a responsabilidade de promover o empowerment comunitário? As respostas a estas
questões são inconclusivas. Contudo, o Estado pode através da adopção de princípios de co-
governação promover uma maior capacitação/empowerment comunitário.
Com as constatações da pesquisa acima, pode se chegar a conclusão de que:
A população é ignorada pelos administradores, não é convida nos forros de tomada de decisão;
A população não tira proveito dos recursos naturais da sua região, não sabe sequer quanto é que o
país ganha por estes recursos;
Para deslocar a população de uma zona onde for descoberto algum minério importante, esta não
tem sido indemnizada pelos danos dos seus campos e outros bens, em suma, os tomadores de
decisão não tem respeitados a população local como parte integrante do processo administrativo
cabendo a esta ocupar a posição de cumpridores de ordens.
Os recursos da zona como é o caso da madeira não tem sido usados na zona, são transportados em
troncos, daí resulta que as crianças destas zonas estudam sentados sobre troncos enquanto a zona
produz madeira que é usada em outros cantos do mundo. A maior inquietação neste ponto surge a
partir do momento em que se observa o contrário para com as crianças que frequentam o mesmo
nível nas escolas das cidades, onde a partir do primeiro ano tem pelo menos uma carteira para se
sentar.
7.1. Recomendações
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ANEXOS
GUIÃO DE ENTREVISTAS
GUIÃO DE ENTREVISTAS
O presente questionário é parte integrante do processo de recolha de dados para a elaboração do trabalho do fim de curso
(Monografia) de Octávio Leonel de Sousa, estudante da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo
Mondlane.
O objectivo principal do questionário é de perceber a relação que existe entre os munícipes com a Assembleia Municipal e
o seu nível de confiança em relação as instituições públicas.
Número do
Respondente Bairro Data
Nome Idade Sexo M F
LISTA DE ENTREVISTADOS
1. Anastácio Matavele Fórum das ONG’s de Manica
2. Argentina Mucavele Administração e Finanças
3. Cláudio de Oliveira Vereador CMCXX (obras e vias municipais)
4. Carlos Simione Mula Liga dos Direitos Humanos (Xai-Xai)
5. Matias Parruque Presidente da Assembleia Municipal
6. Natércia Duvane Associação Lado-Lado
7. Rita Muianga Presidente do CMCXX