Você está na página 1de 15

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique

Licenciatura em Administração Pública

Julieta António Matsinhe

Maxixe

2023
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique

Licenciatura em Administração Pública

Trabalho de História das Ideias Politicas sobre


A Participação Política e Engajamento Cívico
em Moçambique, a ser entregue na Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas para obtenção
da nota da Avaliação 3.

Maxixe

2023
INDICE

CAPITULO I ................................................................................................................................ 2

1. Introdução ...................................................................................................................... 2

1.1. Objectivos ...................................................................................................................... 4


1.1.1. Objectivo geral ......................................................................................................... 4

1.1.2. Objectivos específicos .............................................................................................. 4

1.2. Metodologia ................................................................................................................... 4

CAPITULO II ............................................................................................................................... 5

2. Desenvolvimento ........................................................................................................... 5

2.1. Contexto Politico e Histórico ......................................................................................... 5

2.2. Estruturas Políticas ........................................................................................................ 6

2.3. Participação Política ...................................................................................................... 7

2.4. Engajamento Cívico ....................................................................................................... 8

2.5. Factores Socioeconómicos ............................................................................................. 9

2.6. Desafios e Barreiras ....................................................................................................... 9

2.7. Impacto da Participação ............................................................................................... 10

CAPITULO III ........................................................................................................................... 11

3. Conclusão..................................................................................................................... 11

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 13

1
CAPITULO I
1. Introdução
Diante do cenário de enfraquecimento dos laços sociais e cívicos, do aumento da intolerância e
do cepticismo acerca da classe política, dos partidos e demais instituições políticas, o conceito
de engajamento cívico e político tem despertado o interesse de cientistas políticos por se
apresentar como um radar capaz de identificar as habilidades e valores dos indivíduos capazes
de sustentar a democracia. As diversas transformações sociais das últimas décadas também
ocasionaram mudanças no mundo político e, dentre elas, a alteração do papel dos cidadãos no
processo democrático e a própria natureza das democracias. É sob este contexto que o presente
trabalho se dispõe a analisar a participação política e engajamento cívico em Moçambique.
A participação política e engajamento cívico é um tema cada vez mais relevante na sociedade
contemporânea. Afinal, como garantir que as decisões tomadas pelo governo reflictam as
necessidades e demandas da população? Como aumentar a transparência e a efectividade das
políticas públicas? Este trabalho explora o papel do cidadão na participação política e
engajamento cívico, discute estratégias para aumentar o envolvimento da sociedade civil. Como
podemos incentivar a participação activa dos cidadãos? Quais são os desafios enfrentados pelos
movimentos sociais que buscam influenciar as decisões do governo? Neste trabalho pretende-se
discutir tudo isso e muito mais. A participação cidadã é fundamental para a construção de
políticas públicas que atendam às necessidades da sociedade. Os cidadãos têm o direito de
participar activamente do processo de tomada de decisões e de influenciar as políticas públicas
que afectam suas vidas. A participação cidadã pode garantir que as políticas públicas sejam mais
democráticas, transparentes e eficazes. Existem várias maneiras pelas quais os cidadãos podem
participar activamente da construção de políticas públicas. Eles podem participar de audiências
públicas, reuniões comunitárias, grupos de trabalho e consultas públicas. Além disso, os
cidadãos podem se envolver em organizações da sociedade civil e movimentos sociais que
trabalham em questões específicas. É importante que os cidadãos se informem sobre as políticas
públicas em discussão e façam suas vozes serem ouvidas. As políticas públicas são decisões
tomadas pelo governo para resolver problemas sociais, económicos e políticos. Elas afectam
directamente a vida dos cidadãos, desde o acesso à saúde e educação até o desenvolvimento
económico e a protecção ambiental. As políticas públicas são importantes porque ajudam a
garantir o bem-estar da sociedade como um todo. Apesar da importância da participação cidadã
na política, existem muitos desafios que os cidadãos enfrentam para se envolver no processo de
tomada de decisões. Muitas vezes, as políticas públicas são complexas e difíceis de entender, o
que pode dificultar a participação dos cidadãos. Além disso, a falta de transparência e a
2
corrupção podem minar a confiança dos cidadãos nas instituições políticas. Existem muitos
exemplos de iniciativas bem-sucedidas de participação popular na construção de políticas
públicas. Um exemplo é o Orçamento Participativo, que permite que os cidadãos decidam como
parte do orçamento público será gasto em suas comunidades. Outro exemplo é o que reúne
organizações da sociedade civil e especialistas em segurança pública para discutir políticas e
propor soluções. As redes sociais têm um papel importante na mobilização e engajamento da
sociedade em questões políticas. Elas permitem que os cidadãos se conectem com outras
pessoas que compartilham suas preocupações e ideias, além de fornecer uma plataforma para a
disseminação de informações e opiniões. As redes sociais também podem ser usadas para
pressionar os governos a tomar medidas em relação a questões específicas. É importante que os
cidadãos sejam cada vez mais activos na política porque isso pode ajudar a garantir que as
políticas públicas sejam mais democráticas, transparentes e eficazes. Além disso, a participação
cidadã pode ajudar a combater a corrupção e a garantir que os recursos públicos sejam usados de
forma justa e eficiente. O envolvimento dos cidadãos na política pode ter um impacto
significativo no futuro do país.

3
1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral

 Analisar a Participação Política e Engajamento Cívico em Moçambique

1.1.2. Objectivos específicos

 Compreender a história política de Moçambique

 Investigar as instituições políticas em Moçambique

 Analisar como os cidadãos moçambicanos participam da política

 Explorar como os factores socioeconómicos influenciam a participação política e o


engajamento cívico

 Identificar as barreiras que os cidadãos enfrentam ao tentar se envolver na política e na


sociedade civil em Moçambique.

 Avaliar o impacto da participação política e do engajamento cívico na governança e no


desenvolvimento do país.

1.2. Metodologia
A metodologia utilizada para execução deste trabalho foi exploratória.
A pesquisa é exploratória devido ao estudo do levantamento bibliográfico e outras fontes de
dados, para o aprofundamento do tema abordado.
Na construção da abordagem teórica deste trabalho, foram consultados livros sobre
Administração Geral, Administração de Recursos Humanos na pesquisa bibliográfica.
Diante das colocações dos autores, entende-se que as metodologias escolhidas são as mais
adequadas para o tipo de estudo proposto.

4
CAPITULO II
2. Desenvolvimento

2.1. Contexto Politico e Histórico


A experiencia de eleições democráticas em Moçambique tem sido marcada pelo duplo desafio
que é estabelecer a paz depois de décadas de conflito e criar políticas de desenvolvimento
económico que satisfaçam as necessidades mínimas da população.
Ao passo que outras nações deram independência aos seus territórios coloniais nos anos que se
seguiram a 1a Guerra Mundial, Portugal continuou a governar Moçambique durante quase mais
três décadas. Em 1962, vários grupos políticos anticoloniais criaram a Frente de Libertação de
Moçambique ou FRELIMO. Dois anos depois, surgiu um movimento armado contra o domínio
português e, após uma década de luta intermitente, Portugal cedeu o controlo e concedeu a
independência a Moçambique, a 25 de Junho de 1975.
No período que se seguiu à independência, a Frelimo beneficiou de vasto apoio popular
enquanto partido libertador. Os líderes da campanha militar da Frelimo fundaram um estado uni
partidário e, em 1977, o partido declarou-se marxista-leninista. A Frelimo possuiu controlo
absoluto do Estado durante duas décadas, ao longo das quais expandiu a sua estrutura
organizativa e desenvolveu-se tanto ao nível nacional, como local. Contudo, enquanto as áreas
urbanas e industrializadas foram sistematicamente privilegiadas, o desenvolvimento agrário
estagnou. A guerra civil teve o seu início na década a seguir à independência, não conseguindo
controlar grande parte das áreas rurais. Nessas áreas esquecidas do centro de Moçambique, os
governos da Rodésia e do Apartheid sul-africano apoiaram a criação de um movimento de
resistência armada, a Resistência Nacional Moçambicana ou RENAMO. Apos a independência
do Zimbabwe em 1980, a África do Sul tornou-se o grande apoiante da Renamo, e o conflito
intensificou-se quando a Renamo se tornou o principal adversário da autoridade da Frelimo.
Depois do misterioso acidente de avião de Samora Machel em 1986, o seu sucessor iniciou
negociações de paz com a Renamo. A Constituição que daí resultou em 1990, propunha
mudanças fundamentais quanto ao carácter do Estado de Moçambique e da sua economia,
estabelecendo um sistema multipartidário, uma economia de mercado e as condições que iriam
permitir a realização de eleições livres. Os Acordos Gerais de Paz de Roma puseram
formalmente fim à guerra civil, em 1992. O conflito tinha ceifado a vida de mais de um milhão
de moçambicanos, forcado um milhão e setecentos mil a refugiarem-se nos países vizinhos e
tinha deixado vários milhões de pessoas deslocadas dentro do seu próprio país.
As infra-estruturas sociais e económicas ficaram em ruinas, e os mecanismos políticos que

5
permitiriam encetar o diálogo e gerir o futuro do país simplesmente não existiam.
A seguir aos acordos de paz, a Renamo recebeu um generoso financiamento no valor de
dezassete milhões de dólares de um fundo fiduciário das Nações Unidas para ajudar a
transformar o movimento rebelde num partido politico.
Apesar da generosidade do financiamento, a transição para o multipartidarismo foi um processo
árduo, dado que a maioria dos líderes da Renamo tinha tido treino militar, mas pouca instrução
ou experiencia política. Também lhe faltava uma ideologia solida que fosse além da posição à
Frelimo, e sofreu com a rígida centralização das estruturas no seio do partido.
Moçambique realizou as suas primeiras eleições em 1994. A recém-formada Comissão Nacional
de Eleições (CNE), composta por membros nomeados de acordo com a representação partidária,
supervisionou a realização das eleições, que foram administradas pelo Secretariado Técnico de
Administração Eleitoral (STAE). Embora não isentas de controvérsia, as eleições foram
consideradas livres, justas e bem-sucedidas. Joaquim Chissano foi eleito presidente com 53%
dos votos. O seu partido ganhou a maioria dos duzentos e cinquenta lugares na Assembleia
Nacional, enquanto a Renamo conseguiu cento e doze lugares. Embora ambos os partidos
políticos se tenham adaptado ao novo sistema multipartidário continuaram a contestar as regras
básicas do jogo, frequentemente fazendo com que a reforma do sistema eleitoral fosse lento e
contencioso.

2.2. Estruturas Políticas


A noção de instituição remete para uma dupla tradição jurídica defendida, por um lado, por
Hauriou (1925) e, por outro lado, por Émile Durkheim (2010). Para Durkheim (2010), as
instituições não são propriamente um estabelecimento físico, mas moral, compreende as regras,
os valores e as normas socialmente definidas e aceites pela sociedade. Na sua obra “Da divisão
do trabalho social”, Durkheim (2010), defende a necessidade de se estabelecer uma
solidariedade orgânica entre os membros de uma sociedade, ou seja, ele vê a instituição como
um fenómeno estritamente orgânico e objectivo, caracterizando-se por ser uma ordem superior
aos indivíduos e aos grupos.
Conforma Maciel (2004), fazem parte das Instituições Politicas em geral, os partidos políticos,
os Estados, os Governos, as instituições públicas, os grupos de pressão, sindicatos, organizações
sociais das mais variadas, o chamado terceiro sector, as grandes corporações económicas, as
organizações regionais e internacionais, as entidades de representação profissional e corporativa,
os mídia. Todos se tornaram fundamentais protagonistas do processo decisório da política.

6
2.3. Participação Política
Depois de uma década de entusiasmo com as perspectivas criadas pela “transição democrática”
dos anos 1990, existe hoje um debate sobre os desafios da “consolidação democrática”. A
representação e a participação política estão entre as áreas mais problemáticas e a questão do
papel das eleições é central. Não obstante o interesse e a literatura crescentes sobre os novos
espaços e formas de participação cívica e política para além do campo político tradicional
(nomeadamente no contexto e funcionamento de alguns movimentos e organizações cívicas,
associações e outras ONGs), as eleições continuam a ser uma das instituições-chave da
democracia representativa e continuam a ser o mais importante instrumento de legitimação do
poder político e do governo. O problema, como salientou Said Adejumobi há alguns anos é que
as eleições na sua actual forma aparecem, em muitos países africanos, como uma “sombra
desvanescente de democracia”, pondo em causa o frágil projecto democrático.
A investigação sobre eleições e governação nas democracias africanas emergentes é ainda
embrionária. Depois de vários processos eleitorais existe agora material empírico suficiente para
justificar um esforço de pesquisa mais sistemático sobre a organização, natureza e efeitos dessas
eleições. A questão fundamental é: estarão as eleições a desempenhar realmente o seu papel
suposto de instrumentos capazes de garantir a participação efectiva dos cidadãos na formação de
governos legítimos?
A pesquisa nesta temática estende-se à análise do discurso político e inclui um projecto
específico sobre o fenómeno da abstenção que tem afectado os processos eleitorais
moçambicanos, especialmente depois de 1999.
A participação dos cidadãos no processo político, a sua capacidade de influenciar a formulação
das políticas públicas, a receptividade do governo às demandas da população e a transparência
com que trata os seus assuntos são indicadores da qualidade da democracia. Para além da
forma mais elementar de participação política que é o voto livre e periódico para a escolha dos
representantes, um regime democrático deve oferecer aos cidadãos outras formas de
participação e envolvimento no processo político. Tal participação depende não só das
liberdades e direitos formalmente estabelecidos por uma Constituição, mas, acima de tudo, da
capacidade real de organização, mobilização e advocacia da sociedade civil e politica.
Inquéritos de opinião pública são importantes instrumentos na avaliação do alcance,
representatividade e legitimidade de políticas públicas, instituições e autoridades de
determinado país. Com amostras devidamente desenhadas, tais pesquisas podem identificar
áreas nas quais mudanças devem ser introduzidas, comprovar ou rejeitar opiniões, assim como
demonstrar o funcionamento das diferentes estruturas e mecanismos sociais.
7
Em Moçambique, as marcas do autoritarismo colonial e do controle social exercido durante o
período colonial de partido único ainda presentes nas instituições e práticas politicas do pais, e
são percebidas e vivenciadas pelos cidadãos.
O direito de manifestação tem sido frequentemente reprimido por parte das autoridades
policiais. Quando se trata de manifestações contrárias ao Governo, nos seus diversos níveis
(distrital, provincial e central), em particular as promovidas pela oposição, tal direito mostra-se
frágil na sua protecção. Um exemplo disso são as constantes incursões policiais contra os
antigos trabalhadores da ex-república Democrática Alemã, que reivindicam o pagamento de
somas que lhes são devidas pelo governo e cujas manifestações são frequentemente limitadas,
chegando mesmo a ser proibidas. Num outro caso, de grande repercussão, ocorrido em 2000,
dezenas de cidadãos simpatizantes da RENAMO morreram numa cadeia no distrito de
Montepuez, em Cabo Delgado, na sequência de manifestações de protesto contra os resultados
das eleições presidenciais e parlamentares de 1999 e da violência que a elas se seguiu.
A falta de autorização prévia também parece estar sendo utilizada para coibir manifestações, ao
invés de garantir que estas ocorram em segurança. Bastante ilustrativo deste facto, a
manifestação de antigos militares, desmobilizadas de guerra das Forças Armadas de
Moçambique (FADM), reivindicando melhores pensões foi interrompida pela polícia por
alegada falta de autorização como a manifestação fora anunciada com alguma antecedência
pelos meios de comunicação social, um número considerável de polícias fizeram-se às ruas
naquele dia, o que, contudo, não teve como objectivo proteger os manifestantes. Não bastasse a
interrupção, 20 manifestantes foram levados em custódia e permaneceram presos por três dias,
sob acusação de terem perturbado a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas.

2.4. Engajamento Cívico


Os passos subsequentes são totalmente excluídos da possibilidade de deitar mão às decisões
feitas pelos adultos. Por exemplo, partidos como Frelimo, Renamo e MDM possuem
quotas de cerca de 20% de representação da juventude nas listas eleitorais. Este princípio
é teoricamente muito interessante caso todos fossem para o Parlamento, as Assembleias
Provinciais e Municipais, ao Governo ou à outros órgãos de decisão. Porém, sucede que o
compromisso inicial não reflecte o resultado eleitoral uma vez que sendo por listas fechadas,
a entrada aos órgãos é feita mediante a proporcionalidade do desempenho eleitoral. Ou
seja, os jovens podem constituir 20% das listas de candidatos à deputados por um determinado
partido político, porém a posição destes jovens nestas listas vai decidir a sorte de cada
um deles. Normalmente, os lugares cimeiros são ocupados pelo cabeça de lista, seguido de

8
membros influentes e os jovens figuram na cauda, amiúde. Transformar esta realidade de
meros espectadores e participantes para activos parceiros e, beneficiários directos e finais
destes compromissos vai exigir decisões arrojadas por parte das lideranças do Estado e
Governo. E isto passa por mudança de mentalidade. Os jovens devem deixar de serem vistos
como problema e passar a ser considerados como solução.

2.5. Factores Socioeconómicos


Em linhas gerais, o nível de escolaridade cede, progressivamente, mais espaço para que outros
factores posicionais e contextuais passassem a explicar melhor a disposição dos moçambicanos
ao engajamento na vida política. Tais factores reflectem a não solução da desigualdade social
existente no país: um efeito aditivo sobre a participação política, no qual os altos estratos sociais
e, em especial, os mais engajados na prática religiosa, não necessariamente de níveis escolares
superiores, tendem a ser mais interessados, participativos, porém menos aderentes à cidadania
democrática. O conjunto destes factores conduz à confirmação de que a escolaridade tem
exercido um efeito distinto em Moçambique. Sobre os moçambicanos, estudos revelam uma
gradativa redução de sua capacidade de predizer e tornar os cidadãos mais interessados,
participativos e aderente à democracia. Apesar do importante avanço, o processo de expansão
do acesso ao ensino superior ainda parece ter surtido um efeito insuficiente sobre as
desigualdades sociais existentes, o que, por consequência, se reflecte, directa e indirectamente,
sobre a proficiência cognitiva, o engajamento cívico e político e a adesão dos moçambicanos à
democracia.

2.6. Desafios e Barreiras


Um conjunto de barreiras impede a participação política dos cidadãos, desde a demografia até a
cultura. O estatuto económico também serve como uma barreira à sua participação. O acesso à
recursos e as oportunidades nos megaprojectos são, na maioria das vezes, controladas pelo
poder politico. O simples facto de não ter meios de acesso aos locais de decisão e, o acesso à
informação são barreiras copiosas que no computo geral, deixam o cidadão alheio a si próprio.
A sua efectiva participação é mitigada pela necessidade de satisfazer as necessidades básicas
como emprego e educação. O tempo e as barreiras geográficas igualmente complicam a
participação dos cidadãos. Como estudantes ou trabalhadores, maior parte de moçambicanos
tem pouco tempo para cuidar da participação política. Outros desafios incluem falta de espaço
físico para reunião, falta de cooperação entre os jovens, as disciplinas partidárias e as questões
relativas à liderança. A aprovação da Lei sobre o Acesso à Informação pode ser um contributo
para um maior engajamento político dos cidadãos.
9
2.7. Impacto da Participação
A participação política impacta sobre a efectividade das políticas públicas; a transparência na
actuação do Estado; a legitimidade das políticas públicas; o fortalecimento da democracia.
A participação popular pode contribuir para a redução da desigualdade social ao permitir que as
demandas das populações mais vulneráveis sejam ouvidas e atendidas pelo Estado. Com a
participação dos cidadãos mais afectados pelas desigualdades sociais, é possível elaborar
políticas públicas mais adequadas às suas necessidades e promover uma distribuição mais justa
dos recursos públicos. O orçamento participativo é um mecanismo de participação popular que
permite que a sociedade defina as prioridades de investimento dos recursos públicos em
determinada região. Com o orçamento participativo, o cidadão pode propor obras e serviços
públicos que considera prioritários para a sua comunidade, contribuindo para a construção de
políticas públicas mais adequadas às necessidades locais. A participação popular pode
influenciar a construção de políticas públicas de diversas formas, como por exemplo:
identificando as principais demandas da comunidade; propondo soluções e alternativas para os
problemas locais; fiscalizando a execução das políticas públicas; e avaliando os resultados
alcançados. O cidadão tem um papel fundamental na construção de políticas públicas, pois é ele
quem conhece as necessidades e demandas da comunidade em que vive. Ao participar de
audiências públicas, conselhos municipais, reuniões comunitárias e outras formas de
participação popular, o cidadão pode contribuir para a elaboração e implementação de políticas
públicas mais efectivas e adequadas às necessidades locais.

1
0
CAPITULO III
3. Conclusão
Os cidadãos se têm mostrado ávidos em participar dos processos políticos, mas reconhecem
estarem em dívida com as ferramentas básicas nomeadamente, educação e informação. Para
além do voto, a maioria dos mecanismos participativos a que os cidadãos têm acesso é a
consulta e auscultação. Estes fóruns, apesar de nobres não só porem deliberativos, inclusivos e
abertos. O sistema de quotas estabelecido por alguns partidos políticos para a participação dos
jovens em órgãos de tomada de decisão afigura-se um elemento encorajador, porém, muito
mitigado na sua eficácia por conta do sistema eleitoral baseado em listas fechadas, aliado ao
processo de socialização política, que muitas vezes filtra e pretere o jovem para uma posição
terciária. A Política Nacional da Juventude, por sua vez, apesar de interessante nos seus
propósitos, ela é em si mesma denunciadora do que o Estado não é capaz de fazer. No seu
conteúdo a Política anuncia “elevar o grau de participação dos jovens no desenvolvimento
económico, político, social, cultural e desportivo; criar mecanismos que permitam a efectivação
dos objectivos das associações e organizações juvenis e; desenvolver programas e projectos que
visem a melhoria das condições económicas e sociais dos jovens, tanto das comunidades rurais
como das urbanas” que na prática está longe de acontecer.
Esta política está longe de servir como referencia para o diálogo política se dela não emanarem
acções concretas que se reflictam no Orçamento Geral do Estado em relação a distribuição de
renda, a educação, a saúde e ao apoio não partidarizado às iniciativas de geração de trabalho e
de renda. A participação política dos moçambicanos só ser efectiva se estes se levantarem em
torno de agendas concretas e destas progressivamente e direcção à uma agenda mais alargada.
Ao apontar o nível local como o mais participativo, o estudo mostra que quanto maior for o
movimento associativo juvenil ao nível local melhor e mais eficaz poderá ser na sua interacção
com órgãos públicos e privados na defesa de interesses. Os jovens desdobram-se em múltiplas
iniciativas na busca de soluções.
Nos processos eleitorais, jovens em alguns pontos do país têm chamado à si a responsabilidade
de buscar novas formas de controlo informal dos apuramentos de voto através da criação de
supervisores não previstos pela lei. Estes, respeitando os 300 metros de distância das mesas de
voto têm controlado a circulação nas assembleias de voto de modo a prevenir fraudes eleitorais,
face a elevada desconfiança prevalecente em relação aos órgãos de gestão eleitoral e à polícia. A
saída neste cenário seria a transição da mera participação como eleitor para a abertura de mais
oportunidades de engajamento tolerante e inclusivo dos cidadãos como observadores,
candidatos, brigadistas e delegados de candidaturas nos processos eleitorais.
1
1
Portanto, o desafio actual é fazer com que a voz da juventude transforme os assuntos que
realmente incidem sobre ela num problema político capaz de construir agenda de advocacia,
implementação e monitoria governativa.
É tempo para os jovens questionarem o seu compromisso com a democracia, mormente a
conciliação entre a tolerância à opinião do outro, a capacidade de aceitar que os outros podem
ter uma melhor visão do que eles e, a capacidade de gerar posições autónomas. Só com uma
postura rebelde, mas com respeito ao diálogo, é que os cidadãos poderão conquistar espaços
cimeiros no processo de decisão capazes de suplantar o carácter cosmético e estatístico da sua
actual representatividade. Os jovens moçambicanos devem buscar incessantemente
oportunidades para se graduar como principais agentes de mudanças democráticas que garantam
a sua voz nos processos de decisão, independente da forca política na qual militem. Eles não
devem apenas estar prontos para o futuro, eles devem hoje mesmo serem capazes de fazer as
decisões necessárias para influenciar o seu futuro.

1
2
BIBLIOGRAFIA

1) Chichava, S. (2017). "Participação Política e Democracia em Moçambique: Uma Luta pelo


Controle." Journal of Contemporary African Studies, 35(3), 309-328.

2) CIP (Centro de Integridade Pública). (2019). "Relatório Anual sobre Democracia, Direitos
Humanos
e Governança em Moçambique." Maputo, Moçambique.

3) Hanlon, J. (2015). "Moçambique: Quem Dita as Regras?" Oxford Research Group.


Disponível em: [link].

4) Muholove, R. M. (2018). "Participação da Juventude na Política e Engajamento Cívico em


Moçambique." Journal of Youth Studies, 21(6), 783-799.

5) CRESA (Centro de Recursos para Eleições Sustentáveis em África). (2020). "Relatório


sobre
Eleições em Moçambique: Lições Aprendidas e Desafios." Maputo, Moçambique.

6) Lei 2/97, de 18 de Julho. BR 1ª Série nº 7, de 18 de Fevereiro de 1997.


Nguenha, E. & Chimunuana, O. (2007).

7) Análise Fiscal de Cinco Municípios de


Moçambique parceiros do Projecto de Governação Municipal da USAID.
PROGOV, Maputo.

8) Manual de Historia das Ideias Politicas

1
3

Você também pode gostar