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1. Introdução
Neste presente trabalho visa fazer uma análise teórica e conceptual sobre governação
local, descentralização corlejadas do paradigma das reformas do estado e da descentralização,
trazendo um conceito de governação e seus resultados no processo de descentralização, onde
também analisaremos as reformas legais operadas em Moçambique num contexto das
reformas dos governos locais, ilustrando os momentos de avanço e retrocesso da
descentralização no país. O grupo optou por analisar o saneamento básico do xipamanine
onde iremos ter como objectivos identificar e descrever os aspectos gerais do bairro como a
situação actual de saneamento, aspectos socioeconómicos e os aspectos naturais que de certa
forma acabam influenciando o problema. Feito isso, iremos falar dos estágios da governação
política ao nível local onde iremos apreciar os processos de participação, transparência,
responsabilização e o nível da governação económica onde iremos apreciar os níveis de
satisfação dos cidadãos beneficiários dos serviços públicos.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral
 Analisar cientificamente as reformas da governação e da descentralização local.

1.1.2. Objectivos específicos


 Conceituar governação e seus resultados no processo de desenvolvimento económico
local;
 Ilustrar momentos de avanço e retrocesso de desenvolvimento económico local; 
Descrever os problemas de Saneamento no Bairro do Xipamanine; e
 Desenvolver uma abordagem de governação politica e de governação económica.

1.2. Metodologia
Quanto ao método de revisão, procuraremos descrever as opções metodológicas
adoptadas para a concretização do trabalho desenvolvido. Pois, importa, acima de tudo, que o
investigador seja capaz de conhecer e de pôr em prática um dispositivo para a elucidação do
real, isto é, no seu sentido mais lato, um método de trabalho. Este nunca se apresentará como
uma simples soma de técnicas que se trataria de aplicar tal e qual se apresentam, mas sim
como um percurso global do espírito que exige ser reinventado para cada trabalho.

O carácter metodológico adoptado na realização deste trabalho, como forma de garantir a


confiabilidade das informações apresentadas, faz uso dos dois processos, nomeadamente:
científico investigatório e Dedutivo.

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O presente trabalho baseou-se na pesquisa bibliográfica, que permitiu buscar informação dos
documentos públicos e reconhecidos na internet, também informações advindas de manuais
contendo a informação a respeito do tema.

1.3. Problematização
O rápido crescimento da população urbana em Moçambique, a incapacidade das
infraestruturas e serviços urbanos básicos para satisfazer esta população, levam numerosos
problemas especialmente os ambientais, na cidade de Maputo, um dos principais problemas
ambientais que relaciona˗se com o deficiente saneamento do meio ambiente.

Entretanto, estes problemas não são uniformes no espaço. Baquete (2001), indica que estes
problemas variam em função da localização da área urbana em causa, tamanho da população,
nível de renda e desenvolvimento económico, dimensão espacial; os problemas de
saneamento afectam mais os pobres do que os ricos.

1.4. Justificativa
A escolha do caso deve-se pelo facto do saneamento básico ser um princípio que
garante o desenvolvimento da conservação do ambiente e bem-estar da população, na medida
que, impacta directamente a vida dos cidadãos, e as actividades que englobam esses serviços
são essências para a prevenção de doenças e aumento de qualidade de vida da população. E
pelo facto de verificar se ausência de um serviço abrangente de deposição das águas pluviais,
e colecta de resíduos sólidos que são descartados em locais inadequados ao longo do bairro,
sendo assim os problemas do saneamento do meio que se manifestam no bairro Xipamanine
tem resultando casos graves relacionados com a saúde pública.

2. Quadro Teórico-Conceptual
Segundo Balandier (1987), a compreensão dos sistemas de organização política das
sociedades passa pela análise das suas interacções sociais, culturais e simbólicas.

No contexto de análise, em algum momento, no processo de participação política na


governação local, percebe-se que existe uma abordagem que tende a não ter em conta com as
formas particulares de organização políticas das comunidades. Contudo, nesse sentido, os
grupos tendem a interagir entre eles em função das estratégias adoptadas pelo governo,
criando e reconfigurando os mecanismos formais de governação, estabelecendo-se espaços de
interacção através dos quais se assiste um processo de identificação entre os actores sociais
envolvidos.

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O interacionismo (Goffman, 2002; 1975) defende que a interacção é elemento que constitui
as formas de comportamento, e a natureza dos objectos do mundo social é simbólica;
acredita-se que o que o comportamento humano é auto-dirigido e observável, no sentido
simbólico e interacional, permitindo o ser humano planear e dirigir suas acções em relação
aos outros e conferir significado aos objectos que ele utiliza para realizar seus planos. Esta
teoria permite˗nos olhar para a definição da governação local tendo em conta um conjunto de
interacções entre os actores envolvidos.

Assim sendo, optamos pela teoria interacionista, na sua vertente da representação social,
como uma perspectiva que orientou a pesquisa. A operacionalização desta teoria permitiu
compreender a lógica da construção dos processos de identificação, status social em relação
com os espaços onde eles se manifestam. Esta teoria permitiu-nos compreender como é que
os residentes interagem e se auto-representam no processo da governação local, através da
identificação e descrição dos mecanismos de participação destes e, como é que através dos
seus recursos próprios interferem e reconfiguram os processos governativos.

3. Revisão Literária
O modelo de governação e a forma como é conduzida são aspetos particularmente
críticos para a implementação de políticas públicas e constituem uma importante
problemática dos estudos urbanos. A governação urbana, que pressupõe o planeamento, a
regulação e a gestão de várias dimensões urbanas, nomeadamente ambientais, sociais,
culturais e económicas, enfrenta uma série de dilemas em torno do grau e da qualidade de
democraticidade que promove (FERREIRA & FERREIRA 2015).

3.1. Governação urbana


O desenvolvimento de modelos de governação mais democráticos e participativos
encontra˗se um contexto mais favorável no nível local. Este é o nível que se vem afirmando
como a escala privilegiada de renovação da ação pública, enquadrada no processo de
descentralização, em processos que se difundem pela Europa e pela América do Norte, ainda
que um pouco incipientes em Portugal. O desenvolvimento local tem sido o domínio
específico de várias organizações internacionais num processo que vem decorrendo desde os
anos 80 (Henriques, 2006). É o nível onde as políticas melhor podem promover a
sustentabilidade social e responder à desafios de integração que são globais ou comuns a
grande parte das aglomerações urbanas mundiais, esperando-se mesmo que as comunidades
de sucesso sejam as que são capazes de reinventar a cidadania local (Polèse e Stren, 2000).

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Apesar de pouco extensa, a literatura especializada sugere um quadro interrogativo em torno
dos contextos de proximidade, que justifica um questionamento sobre se estes favorecem ou
não maior transparência e imputação de responsabilidades, maior prontidão na reação da
classe dirigente aos problemas das pessoas e das suas necessidades de identificação territorial
e se podem ou não promover uma democracia mais participada e aberta à sociedade civil
(Francisco, 2007).

Segundo Isabel e Claudino (2015), existem alguns mecanismos que permitem a participação
directa dos cidadãos nas deliberações municipais, como os referendos locais assentes em
assembleias deliberativas ou o direito de petição. Contudo, na maior parte dos casos, as
informações fornecidas numa fase adiantada dos processos e com elevados níveis de
compromissos que as deliberações apenas vão formalizar, tornam qualquer iniciativa
extemporânea. Assim, a transparência das políticas urbanas depende grandemente da vontade
e do grau de comunicação dos executivos. Os políticos da oposição, muitas vezes com
experiência de governação e detentores das chaves de interpretação que facilitam a leitura das
intenções e efeitos das decisões dos executivos, estão, por sua vez, muito condicionados pelas
suas próprias agendas políticas e partidárias, sendo muito difícil perceber quando estão a
informar e alertar os cidadãos ou apenas a travar combates políticos pela necessidade de
visibilidade política e partidária na comunicação social.

Na base das interações da triangulação entre corpos técnicos, decisores políticos e cidadãos,
existe uma cultura organizacional hierárquica que não promove, em cada um daqueles
elementos, individualmente, institucionalmente ou em parcerias, uma governação centrada
nos direitos individuais de participação na gestão das dimensões urbanas fundamentais
(sociais, ambientais ou económicas). De facto, as práticas representativas do modelo de
governação local cerceiam as possibilidades de controlo social e de participação cívica nas
políticas públicas e comprometem o acompanhamento real das decisões políticas pelos
cidadãos (FERREIRA & FERREIRA 2015).

Segundo Daniel Francisco, a ideia de governança (ou governância, como a designa) surge nos
anos 1980, dando corpo a modos de organização “mais horizontais, cooperantes e
consensuais (sobretudo entre o público e o privado), onde a noção de «rede» é fundamental”,
substituindo práticas hierárquicas de governo e o monopólio dos atores governamentais nos
processos de decisão pública (Francisco, 2007a: 6).

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A par destas tendências de governação, a governação urbana traduz uma nova forma de
governar e um novo posicionamento dos atores dos setores público e privado que são
envolvidos através de parcerias e outras redes (Andersen e Kempen, 2001: 7).

No contexto da governação local, a integração dos cidadãos requer mecanismos


políticos democratizados, baseados numa descentralização administrativa e na participação
activa dos cidadãos na gestão municipal. Os governos municipais precisam de rever o modelo
de gestão do seu próprio poder, afirmar os interesses da sua comunidade acima das diferenças
partidárias ou ideológicas e defender os seus interesses específicos junto dos governos
nacionais que, representando as redes de cidades, podem atuar como atores coletivos
dinâmicos na economia global (Borja e Castells, 1997).

A governação local enquanto um fenómeno social, coloca diferentes indivíduos a interagir,


através da partilha de experiências adquiridas ao longo das trajetórias enquanto membros de
uma colectividade. As relações entre estes indivíduos são estabelecidas num contexto
particular e específico, com uma lógica própria, onde a definição de objectivos e interesses
individuais e colectivos estariam associados com os recursos disponíveis por parte de cada
indivíduo, grupo social ou determinados pelo “campo de possibilidades” (Velho 2004)
socialmente definido. A compreensão destas “nuances” passou pela compreensão dos
processos sociais e mecanismos de organização que interferem na procura de soluções dos
problemas sociais, representando-se uns aos outros e construindo e reconstruindo como forma
de gestão dos seus trajectos sociais.

3.2. Análise teórica e conceptual sobre governação local


Na África sub-sahariana, os programas de reajustamento estrutural implementados a
partir dos anos 1980 foram acompanhados por uma série de reformas focalizadas sobre “a
necessidade de instituições públicas eficazes” (Chevallier 2003: 212).

A Antropologia examina os processos políticos tomando como ponto de entrada, discussões


clássicas que marcaram o processo de desenvolvimento da antropologia como um ponto de
transição para a compreensão das formas ditas contemporâneas de organização política
(Balandier 1987; Evans-Pritchard 1940). Mas, neste contexto de análise propusemo-nos a
analisar os processos políticos tendo como foco questões de debate a nível de instituições
locais (Dinerman 1999; Swartz 1968) com vista a analisar esses processos políticos na sua
relação com as práticas de actores e instituições. Esta abordagem permite compreender as
assimetrias de poder entre os actores envolvidos no processo da governação local, os espaços
construídos e as identidades e categorias sociais que norteiam os actores intervenientes.

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A descentralização é um conceito de natureza política que encerra a ideia da existência de um
Governo Político (autónomo) das entidades descentralizadas (Correia 2002). A
descentralização em curso no país desde a década de 90, traduz-se num processo de
descongestionamento de competências, desde o nível central até ao local (Canhanga 2007).
Este processo vem-se desenvolver com a Constituição da República aprovada em 1990 e, a
introdução do Estado de Direito.

A Constituição de 1990 abriu espaço para a introdução de diversa legislação ligada as


reformas de descentralização com maior enfoque para a Lei 2/97, de 18 de Fevereiro que cria
as Autarquias Locais, doptada de uma autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
Com a Lei 8/2003 de 19 de Maio desconcentram-se competências do Governo Central para
os Governos Locais, para que os seus níveis tomem decisões relacionadas com o
desenvolvimento do respectivo território (Forquilha 2007).

Segundo Otayek (2005), este processo de transições políticas associadas à ideia da


democracia, veio a favorecer a emergência de novos actores, mobilização da Sociedade Civil,
a construção dum campo político local e a renovação das práticas participativas.

Na base destas leis, foram definidos três objectivos de implementação de uma governação
local Democrática em Moçambique, a saber:

a) Organização dos cidadãos para facilitar o diálogo com o Estado ou Governo, Seu
principal parceiro;
b) Aprofundamento e consolidação da democracia como principal meio de alcançar a
unidade nacional;
c) Desenvolvimento local.

Através destas leis, segue-se uma lógica organizacionista, onde pensa-se que a participação
[efectiva] dos cidadãos em processos e actividades de governação são um instrumento de
Harmonização nacional (Unidade Nacional), Consolidação da paz e Democracia em
Moçambique. Este pressuposto pode ser compreendido a partir de um relatório de
autoavaliação de Moçambique apresentado pelo Mecanismo Africano de Revisão de Pares
(MARP) da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD).

O processo da Governação Local segue uma lógica formal de organização que através dela
procura determinar mecanismos de harmonização por meio de abordagens e metodologias
Participativas. Ora, o fundamento dessas abordagens centram-se na ideia segundo a qual “a
Sociedade Civil continua fraca em termos de participação em programas de governação local,

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havendo a necessidade de se implementar instrumentos capazes de garantir uma
autoorganização para um diálogo permanente entre esta e seus eleitos." Como defende
Forquilha (2007), a Governação Local constitui-se como um campo político onde vários
actores, com recursos a uma diversidade de instrumentos, actuam, (re)constroem suas
identidades e representações, este processo consagra-se com um espaço, embora formalizado,
onde se podem estabelecer relações formais e informais.

3.2.1. Vantagens da descentralização


A descentralização constitui a transferência de autoridade na planificação e na tomada
de decisões. No sector público em particular, os processos descentralizadores frequentemente
tomaram a forma do repasse desse poder decisório do nível central aos da base. Mas a
existência de diversas experiências descentralizadoras demonstra que estes processos
permitem avançar na construção de realidades completamente diferentes.

Segundo Buarque (1999) a descentralização pode contribuir significativamente para o


desenvolvimento local, resultante, normalmente, de iniciativas e capacidades endógenas das
populações locais e municipais e suas instâncias político-administrativas. Neste sentido,
apesar de representar um movimento restrito e independente, a descentralização pode
representar uma base importante para estimular e facilitar o desenvolvimento local, criando as
condições institucionais para organização e mobilização das energias sociais e decisões
autónomas da sociedade.

De acordo com Massalila (1999) citado em Assura (2005) a descentralização permite uma
melhor planificação de metas, dos recursos e a mobilização dos recursos locais para aumentar
os recursos nacionais, uma vez que os beneficiários de desenvolvimento são envolvidos em
todos ciclos de planificação.

3.2.2. Momento de avanço da descentralização em Moçambique


Esta abordagem olha para o processo de descentralização na sua perspectiva
funcional, onde a participação dos cidadãos de forma efectiva seria um contributo deste
processo para a pacificação do país e do processo da democratização, sob uma necessidade
absoluta para dar resposta à diversidade em Moçambique. Esta abordagem, ao procurar
mostrar a funcionalidade deste processo de descentralização e desconcentração, permite-nos
compreender a lógica destes programas. Esta abordagem pode ser compreendida a partir dos
seguintes autores Faria (1999), Brito (2003), Bilério (2007), Ernesto (2003), Tajú (2002).

Faria (1999) no seu estudo sobre o processo de descentralização em 2011 no distrito de


Namaacha, revela que no processo de planeamento descentralizado, a nível do governo

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distrital, existem constrangimentos dentre os quais, o fraco envolvimento das comunidades
locais na gestão do processo de desenvolvimento. Partindo do mesmo pressuposto, Faria
(1999) defende a introdução de iniciativas de capacitação das comunidades de modo que a
sua participação seja efectiva, que passa pelo fornecimento de instrumentos através dos quais
as populações locais podem se envolver.

Bilério (2007) na sua vez, em estudo de caso realizado no município de Inhambane,


questiona “até que ponto um governo é democrático”, e afirma que os governos locais
constituem-se como Um meio para a consolidação da democracia, onde para tal, é necessário
uma participação efectiva dos cidadãos, uma igualdade de voto, pois quando as populações
elevam suas actividades a nível micro, contribuem para a elevação do macro. A não
efectividade dos objectivos da descentralização tem sido associada à dita falta de participação
da população em programas políticos. Neste sentido, algumas pesquisas de terreno concluem
existir, por um lado a falta de comunicação entre as entidades municipais e a população em
causa. As visitas aos bairros são vistas como sendo um indicador da participação e a falta de
comprometimento entre os actores políticos e as camadas sociais, faz com que não se
mantenha um contacto físico com esta comunidade local. Não existem essas visitas, devido a
um mal-entendido por parte dos deputados, onde pensa-se que para serem reeleitos precisam
de se relacionar com os membros dos aparelhos dos partidos e não na defesa dos interesses
dos seus eleitorados (Brito, 2003; Bilério, 2007; Ernesto, 2003; Tajú 2002).

Esta abordagem ao procurar discutir a natureza da funcionalidade da descentralização e


desconcentração à luz da participação local, olha por um lado, para a descentralização e
desconcentração do poder como programas e pacotes inatos pela sua natureza, perdendo de
vista as diferentes trajectórias que eles vão assumindo. Por outro lado, a participação local é
tida como um dado por si próprio, como um pacote passível de ser implementado em todos os
contextos moçambicanos.

3.2.3. Momento de retrocesso da descentralização em Moçambique


Esta abordagem é caracterizada por um aspecto crítico do processo da
descentralização, focando-se particularmente, sobre a questão da participação local como um
fim deste processo. Segundo esta abordagem, a descentralização política vem aumentar o
monopólio do poder por parte dos Órgãos Locais do Estado (OLE) e chefes comunitários,
provocando uma série de conflitos de poder político. Portanto, para esta abordagem a
participação local não existe como tal e, se existe, não é precisa e não tem nenhuma
efectividade. Esta abordagem pode ser compreendida a partir dos autores seguintes: Forquilha
(2007), Caceres (2007), Canhanga

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(2007), Chichava (1999), Amaral (2006), Araújo (1969), Mussane (2002). Mucabele (2004)
numa abordagem sobre a planificação participativa, explora e analisa o papel das autoridades
tradicionais neste processo.

Esta análise, para ele, passa pela compreensão da questão participação dos cidadãos em
projectos de governo (Idem, p.14). Este autor, ao considerar que “a participação dá se quando
a formulação do projecto necessita de interacção entre grupos de beneficiários e a
efectividade do projecto depende do processo de negociação entre os beneficiários, gestores e
financiadores do mesmo”, olha para a participação comunitária como um pré-requisito que
faz com que os programas do governo o sucesso.

O trajecto histórico que Moçambique teve e as políticas adoptadas logo após a independência,
estão caracterizados por um pluralismo débil (a democracia continua algo superficial) e um
sistema de poder dominante (dificuldade de distinguir o Estado do partido no poder),
caracterizado por uma forte dinâmica centralizadora do poder (em todos os domínios),
movidas em parte por aspectos herdados das lógicas e práticas coloniais (hierarquizado e
centralizado) (Caceres 2007; Canhanga 2007; Chichava 1999; Forquilha 2007).

Nesse sentido, Forquilha (2007) faz uma análise deste processo de descentralização ao
afirmar que as reformas de descentralização dificilmente podem alargar a base de
participação dos cidadãos no processo de tomada de decisão a nível local, assim como não
permite reduzir a distância entre o Estado e os cidadãos.

Segundo Chichava (1999), a descentralização é uma organização de actividades da


administração Central do Aparelho do Governo Central, através de medidas administrativas e
fiscais que permitam a transferência de responsabilidades e recursos para agentes criados
pelos órgãos de administração central ou medidas políticas que permitem atribuição pelo
Governo Central, e poderes, responsabilidades em recursos específicos para as autoridades
locais. É neste contexto de políticas governamentais que em Moçambique assistiu-se a
existência de duas formas de descentralização e desconcentração de poderes, a
Administrativa e Política.

Forquilha (2007) defende que a descentralização e a desconcentração ganham impulso com o


processo de transição política dos anos 90, sob o objectivo de reforçar a democracia e
favorecer a emergência de novos actores, a mobilização da sociedade civil, a construção dum
campo político local e a renovação das práticas participativas.

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Nesta perspectiva, este processo em Moçambique, surge como uma viragem de todo o
processo de centralização do poder que se vinha desenrolando logo após a independência. A
adopção de um Estado descentralizado em Moçambique, visava superar a forte centralização
da Administração pública, com vista a aproximar o Estado dos cidadãos como forma de
promover aos cidadãos o serviço mínimo na saúde, educação, transporte e habitação
(MALIPA, 2014).

Com o processo de descentralização e desconcentração do poder, o governo objectiva-se a


colocar as populações a participar na resolução dos seus problemas quotidianos,
permitindolhes que formulem leis próprias, mas dentro do padrão legal geral do país. Esta
desconcentração implica a alocação de actividades administrativas com base em critérios
espaciais (para outros pontos fora da sede do Governo) e funcionais (através da criação de
órgãos de autonomia administrativa) (Amaral 2006; Araújo 1969; Chichava 1999; Mussane
2002).

4. Caracterização da área de estudo do Bairro


de Xipamanine no Âmbito das Reformas de Saneamento

4.1. Breve Historial


Este bairro escapou processo de expansão da cidade de cimento sobre o caniço que na
década 50 conduzi-o a expulsão da população das zonas periféricas como Mahotas e jardim,
este facto deveu-se as condições naturais que eram desfavoráveis para construções solidas.
No início da década 90, xipamanine passou antigo bairro da Munhuana cuja população tinha
sido desalojada pelo governo na sequência das cheias de 1977. Mas tarde as pessoas foram
regressando sem contudo se formar uma estrutura administrativa. A ocupação desordenada do
espaço começou no tempo colonial, pois uma grande parte deste bairro pertencia aos colonos
que alguns deste vendia as terras para os negros e que por sua vez esses repartiam para alugar
ou vender ou ainda oferecer aos outros, sem nenhum ordenamento do espaço.

4.2. Problemas de Saneamento no Bairro do Xipamanine


Os factores que afectam o processo de saneamento do meio ambiente no bairro de
Xipamanine dividem-se em dois factores: (i) factores globais, aqueles que afectam o
saneamento do meio na cidade de Maputo, como aumento da população desproporcional, a
capacidade de serviços urbanos básicos (agua potável, colecta do lixo, rede de drenagem e
esgotos), controlo da ocupação de terra e deficiência na coordenação entre os diversos

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intervenientes no saneamento; e (ii) factores locais, compreendem o lençol freático, densidade
populacional e de construções e a percepção ambiental dos moradores.

4.3. Abordagem de governação politica


Para uma análise da descentralização, Gramsci fala de crise de hegemonia, ou seja,
uma crise de representação, na medida que há um distanciamento cada vez maior entre
representantes e representados. A crise de hegemonia é então, fundamentalmente, uma crise
politica, uma crise de direcção ou, se quisermos uma crise de representação politica.

Na vertente participativa, a descentralização visa aprofundar o exercício de vida democrática


interessando os cidadãos pelos problemas públicos através da possibilidade de influência e
participação na gestão da administração pública. Na vertente de equilíbrio de poderes, a
descentralização, ao respeitar os direitos e liberdades locais, constrói um sistema pluralista
que evita os abusos da administração central e limita o poder do estado em face de sociedade
civil (Formosinho et al 2005).

Assim partimos do pressuposto anteriormente descrita de que a revolução passiva é a


ferramenta de explicação histórico-politica de factos sociais contemporâneos ao autor,
mantendo a sua característica principal, qual seja: “…a modernização do Estado através de
uma série de reformas e guerras, procurando evitar, assim, uma roptura revolucionária.
Partindo desta análise, concluímos que o bairro de xipamanine tem enfrentado crises de
representação politica.

4.4. Abordagem de governação económica


As reformas trouxeram pontos negativos e positivos para o bairro de Xipamanine.
Quanto aos pontos negativos, enquanto a população da cidade de Maputo aumentava como
resultado do crescimento natural, a entidade responsável pela recolha de lixo reduzia o
numero de trabalhadores pela metade devido a questões orçamentais e deixou de varrer os
bairros suburbanos. Por outro lado as instituições envolvidas no saneamento do meio neste
bairro, deram assistência financeira, técnica e social.

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5. Conclusão
O saneamento do meio no bairro de Xipamanine atravessa enumera dificuldades. Pois sistema
de drenagem das águas pluviais residuais é deficiente, facilitando a ocorrência de varias
doenças patogénicas, devido a charcos covas onde a água é acumulada por alguns residentes,
para ale, de transtornar peões e automobilistas. As latrinas tradicionais e seu maneio
representam perigo de contaminação do solo e do lençol freático. Portanto o saneamento
básico, não atende às necessidades dos residentes, devido a vários factores como défice dos
elementos que compõem o saneamento básico, e gestão ineficiente de poucas infra-estruturas
sanitárias.

Os moradores de Xipamanine e outros actores˗chave em questões de saneamento mostram˗se


sensíveis em relação ao estado actual de salubridade neste bairro, mas enfrentam dificuldades
de ordem técnica, financeira e legal. Concluimos também que,a nível comunitário, a
participação nas limpezas do bairro, apesar de ser fraca devido a perca de poder mobilizador
do grupo dinamizador, se encontra numa fase embrionária promissora, porem a falta de
motivação e de divisas se torna um dos principais obstáculos desta fraca participação.

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