197

Responsabilidade
social,sustentabilidade
e governança
corporativa em um
contexto ético
Rubens Navesl

A ética avança na pauta das organizações. Destacam-se,

pelo seu forte conteúdo ético, movimentos como os de
responsabilidade social empresarial, de sustentabili-
dade e de governança corporativa, que vêm se tornando
verdadeiros fatores competitivos. Empresas e entidades
passam a estabelecer códigos de ética, difundindo seus
conceitos e suas práticas em relatórios sociais e em outros
instrumentos de comunicação.

ÉriCA2 VEM SENDO um tema cada vez mais considerado no ambiente

empresarial. Preocupadas com o bom conceito que querem trans-
mitir ao público, as organizações, de forma crescente, passam a ter

l. Advogado, professorlicenciadoda Faculdadede Direito da Pontifícia Universidade de São Paulo

Departamento de Teoria Geral do Direito. Sócio-fundador
(PUC-SP), na qual exerceu a chefia do da
Rubens Naves, Santos Jr., Hesketh —Escritórios Associados de Advocacia.
2. Diante da abrangência do tema "ética" e de suas várias interpretações, muitas vezes divergentes,
ressaltamos as considerações de Marilena Chauí (1992)a propósito da questão "os fins justificam os
com a natureza dos fins e, portanto, para fins éticos
meios?" : "Os meios precisam estar de acordo os
precisam ser éticos também. Em outras palavras, se a finalidade da ética é a virtude e o bem,
meios
198 Responsabilidadesocial,sustentabilidadee governança
corporativaem um contextoético Rubens Naves 199

consciência de que a falta de ética pode ferir sua reputação e sua eficiência,
PRÁTICAS RELEVANTESPARA AS ORGANIZAÇÕES
em razão da insegurança causada nos dirigentes e da desmotivação gerada
nos colaboradores por ações destituídas de ética, o que só redunda na eleva-
Responsabilidade social empresarial
çao de custos para elas.
Ao nortear a conduta de uma organização em relação aos stakeholders, A responsabilidade social empresarial, que começou a ser difundida de
ou seja, aos grupos de pessoas que afetam suas açóes ou são por elas forma mais intensa a partir dos anos 1990,levou as organizações a se com-
afetados, a ética assume uma dimensão prática e torna-se um valioso
ins- prometerem com o desenvolvimento social, aperfeiçoando suas ações para
trumento de orientação da gestão, prevenindo a ocorrência de conflitos que tenham impactos positivos na sociedade. Ela é conceituada como
de interesse e de uma série de outras irregularidades. Pensar
em termos
de longo prazo e disseminar as experiências positivas alimenta a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com
os proces-
sos internos e fortalece a imagem corporativa, consolidando o conceito todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas
de organização que atua em consonância com o que a sociedade empresariaiscompatíveiscom o desenvolvimentosustentávelda sociedade,
percebe preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a
como sendo os melhores valores.
diversidade e a redução das desigualdades sociais (VIMOS, 2004).
"Responsabilidade social empresarial", "sustentabilidade" e "gover-
nança corporativa" são temas que hoje integram, progressivamente,
o
contexto ético das organizações, ao mesmo tempo em que a comunicação Trata-se aqui de uma ideia extremamente ampla, fundada em uma expe-
também adquire crescente importância em seus processos de mudanças, riéncia internacional,não sendo essa a única definição existente para o con-
assegurando a sua transparência e a prática de ações positivas. ceito de responsabilidade social empresarial. De um modo geral, podemos
No momento, as organizações se veem diante do desafio de difundir dizer que esta é compreendida como as açóes de uma empresa que benefi-
em
um âmbito maior os seus valores económicos, sociais e ambientais ciam a comunidade, ultrapassando o mero cumprimento de suas obrigações
pois já
não é mais suficiente que elas os cultivem tão-somente no espaço interno. legais 3. O que é certo é que suas açóes precisam estar baseadas em princípios
Devem "exteriorizá-los", de modo que a sociedade os perceba, traduzidos éticos. Há quem diga que o fato de uma organização obedecer a regras esta-
em seu comprometimento efetivo com a responsabilidade social empresa- belecidas já a torna responsável. Isso não deixa de representar um avanço
rial, em um contexto marcado pela ética. diante do notório desrespeito às normas no mundo empresarial, mas não é
Falar hoje sobre ética implica necessariamente um olhar sobre o mundo suficiente. É necessário que ela se envolva de fato, conscientemente, com os
e a nossa realidade. Nesse sentido, deve-se ter uma visão multidisciplinar valores morais e sociais e não apenas com os aspectos financeiros e legais.
dos fatos, não restrita a aspectos específicos. Não basta simplesmente Ocorre que, apesar da infinidade de reflexões já feitas sobre o tema,
desen-
volver um trabalho excelente. Por vez se dispõe de argumentos grande parte das organizações ainda não se acha realmente compromissada
brilhantes,
mas, se não ganharmos a "guerra da comunicação", podemos ver nossos com a ética no desenvolvimento de suas atividades. Elas agem muitas vezes
esforços caírem por terra. Afinal, todos os atores preocupadas apenas em transmitir uma imagem positiva à sociedade por
envolvidos nas relaçOes
empresariais de qualquer natureza são seres humanos
que sofrem o impacto meio dos veículos de comunicação, em cuja agenda o tema de "empresas
da realidade na qual vivemos. socialmente responsáveis" tem estado presente de forma permanente.
Vejamos, a seguir, três temas relevantes que se vinculam
intimamente
com a comunicação e a temática da ética nas organizações.
3. Cabe lembrar que, em um ambientelegal sofisticado(como, apesar de tudo, está se tornando 0
brasileiro), nem sempre a legislaçãoimpõe um comportamento socioecologicamente responsável às
jurídicas não necessariamente "esgotam" os parâmetros
os meios precisam ser bons e virtuosos, sem o
que não há ética, uma vez que as açoes realizadas em empresas. Uma coisa é certa: as exigências
organizações.
vista de um certo fim. já fazem parte do próprio fim a ser atingido, são o caminho
para ele." a serem levadcs em consideraçá0 pelas
200 Responsabilidade social,sustentabilidade e governança corporativa em um contexto ético
Não obstante a dimensão já alcançada por esse assunto, muitas orga-
nizações ainda não se posicionaram realmente quanto a ele. É visível a
deficiência da mobilização e do empenho de empresas e entidades diante
de problemas que abrangem a sociedade como um todo. Um exemplo é
o caso da dengue. Não existe uma colaboração conjunta das empresas na
prevenção desse mal que ameaça proliferar como uma epidemia ao longo
do País. Aliás, é notório que, em questões como essa, não há uma integração
nem mesmo das políticas públicas, faltando muitas vezes o diálogo entre os
governos federal, estaduais e municipais.
Frequentemente se veem empresas sendo apresentadas como socialmente
responsáveis quando seus investimentos se concentram em marketing e não
em ações sociais. Por outro lado, temos exemplos de empresas investem efeti-
vamente em ações que impactam positivamente a sociedade como um tod04.
Vale citar aqui, a propósito, a visão de um autor do mundo académico:
Muitas empresas reconhecidas e enaltecidas pela mídia como socialmente res-
ponsáveis atingem essa visibilidade por
apoiarem projetos sociais, que para
alguns autores se classificamcomo ações discricionárias,sem, no entanto, atender
a critérios mínimos de conformidade nas demais dimensões —econômica,legal
e ética. Ou seja, devem-se evitar juízos de valor precipitados ou visões erróneas
quanto à real conformidade e responsabilidade ética e legal da atuação empre-
sarial. Empresas muito engajadas em ações sociais não deveriam ser automati-
camente classificadas como socialmente responsáveis, sem que seja feita uma
análise de suas práticas negociais (FEDATO,2005, p. 41).
Henri-Claude de Bettignies (2008, p. 74), professor da China Europe
International Business School (Ceibs) 5, refere-se a uma reação normal dos
empresários: "O bem comum é de responsabilidade do governo e das ONGs
e não das empresas." Afirma ainda que, "para substituir esse pensamento
deve-se apresentar o bem comum como uma estratégia". Explica que as
empresas que têm um comportamento antiecológico e incompatível com a
ética serão eliminadas da preferência da sociedade ao ter de optar entre uma
4. Podemos citar a Fundação Abrinq e seu programa "Empresa amiga da criança", o qual tem forte
presençano combateao trabalhoinfantil.
5. A Ceibs,com sede em Shangai, tem como missão apoiar o desenvolvimentoeconómicoda China
e promovera integraçãodesse país na economiamundial,preparandolíderescompetentes,preo-
cupados com a adequação às forças dominantes da globalizaçãodos negócios,à concorrênciae à
cooperaçãointernacional. (Nota do editor de texto).
Rubens Naves 201
ação responsável e ganhos econômicos,agir de forma ética é muito mais
custoso para as empresas. Em outras palavras, adotar medidas responsá-
veis —a exemplo de procedimentos que façam com que suas ações evitem a
degradação do meio ambiente —exige investimentos que implicarão custos
que, na maioria das vezes, os gestores não estão dispostos a suportar. Esses
custos, no entanto, não serão maiores do que os que poderão decorrer da
não-adoção de medidas éticas. Por exemplo, a organização multada por
uma ação ambientalmenteincorreta despenderá determinado valor para
sanar o problema e não receber mais penalizações. No entanto, se não fizer
esse investimento ou não adotar o procedimento ético apropriado, pagará
toda vez que o dano for repetido. Assim, o valor considerado alto em um
investimento torna-se relativamente baixo se considerada a responsabiliza-
ção futura decorrente da não-adoção de medida correta.
Fazendo uma comparação das diferenças de foco da responsabilidade
social empresarial entre os Estados Unidos e a Europa, Bettignies aponta
que nos Estados Unidos os temas ética nos negócios, código de conduta
e governança corporativa são mais discutidos, enquanto na Europa as
empresas abordam com mais frequência a responsabilidade social empre-
sarial e a cidadania corporativa.
A responsabilidadesocial empresarial deixou de ser algo discretamente
vinculado ao cotidianodas empresas, passando a fazer parte, nos últimos
dez anos, de seus negócios, vinculando-se à sua missão estratégica e a tudo
que elas fazem (DUNN, 2008, p. A14). Diante do alto índice de cobrança, por
parte da sociedade,quanto a uma atuação corporativa responsável, cabe às
empresas se empenharem na divulgação das ações sociais que desenvol-
vem, tendo em vista que grande parte dos interessados no assunto ainda
permanecem desinformados 6.
O Instituto Ethos apresenta os seguintes indicadores, como instrumentos
de aprendizado e de autoavaliação das empresas: valores; transparência e
governança; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e
clientes; comunidade;e governo e sociedade. Esses indicadores objetivam
incentivá-las a incoroporar a prática da responsabilidade social a seu plane-
jamento estratégico,em benefício do desenvolvimento sustentável. Aquelas
permitir aos parceiros o acesso ao diagnóstico de
que os utilizam podem
"Responsabilidadesocial das empresas: percepção do consumidor brasileiro —2006-
6. Ver pesquisa ANALYSIS,2008).
2007" (AKA11J-E•nmMARKET
 Rubens Naves
ético
Responsabilidade social, sustentabilidade e governança corporativa em um contexto

pontos carentes de aperfeiçoamento;por outro, a organização, ao capacitar

sua gestão socialmente responsável. Organizações de vários ramos os têm facilitará
sua equipe, conheceráe compreenderá a opinião de todos, o que
adotado para aprimorar seu modelo de gestão. mais a
sobremaneira a elaboraçãode novas estratégias de longo prazo. De
Não nos esqueçamos também de que a responsabilidade social se vincula a fazer
mais, uma ampla participaçãoassegura que a sustentabilidade passe
a preceitos estabelecidos na própria Constituição brasileira, a qual atribuiu
parte da cultura da empresa e não apenas da visão de seus dirigentes.
uma série de obrigações ao Estado, às organizações da sociedade civil e às serão orga-
Organizações socialmenteresponsáveis, sem dúvida, também
empresas. É o caso, por exemplo, do artigo 227, que aponta a observância futuras. De
mações sustentáveis,beneficiandoa geração atual e as gerações
dos direitos da criança e do adolescente como responsabilidade do Estado, (apud
acordo com o diretor executivodo Instituto Ethos, Paulo Itacarambi
da família e da comunidade (NAVES,2008). sustentabilidade
GRANDI, 2008), "uma empresa estará promovendo a
benéficos para
quando produzir retorno para todos". Ademais, os impactos
Sustentabilidade a população tendem a perenizá-la na sociedade.

Para ampliar ainda mais a competitividade das organizações, a susten-

tabilidade não é menos importante do que a responsabilidade social, che-
Governança corporativa
gando os dois conceitos a complementar-se em muitos aspectos. O termo a noção de
'sustentabilidade" tem vários significados, prevalecendo a ideia de que é
A necessidadede modernizaçãodas empresas fez surgir
de grande impor-
governança corporativa no Brasil.Esse conceitoreveste-se
preciso prover o melhor para as pessoas e para o ambiente no presente e de forma ética no
com vista ao futuro. Assim, a sustentabilidade está ligada a uma visão de
tância para as organizações que desejam consolidar-se
processos, costumes, políticas,
longo prazo e se constitui em fator de motivação para a organização que mercado atual. Envolvendo um conjunto de
como uma empresa deve ser
consegue conduzir suas açóes de forma ética. leis e regulamentos que orientam a maneira
instrumento relevante
A empresa precisa contribuir com o desenvolvimento da sociedade, dirigida, administrada ou controlada, trata-se de um
corporativa é definida como
monitorando os impactos económicos, sociais e ambientais de suas ações em para uma boa gestão. A governança
relação às diversas partes interessadas. A preocupação com seus stakeholders e monitoradas, envolvendo os
o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas
é primordial para as operações sustentáveis de uma organização. de administração, diretoria,
relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho
As boas práticas de governança corpo-
Savitz (2007,p. 74) aponta passos importantes para a criação de uma auditoria independente e conselho fiscal. facilitar seu acesso ao
valor da sociedade,
cultura de sustentabilidade em uma empresa, entre os quais os seguintes: rativa têm a finalidade de aumentar o
(IBGC, 2008).
desenvolver uma visão clara; aperfeiçoar o autoconhecimento; desenvolver capital e contribuir para sua perenidade
e reforçar a liderança; e estabelecer uma mentalidade de longo prazo. Já está
comprovado por meio de estudos que as empresas que adotam boas práti- da transparência, equidade,
cas socioambientais se destacam das demais e têm um valor de mercado até A governança é regida pelos princípios
corporativa, reconhecidos como
19% maior do que estas (GVCES, 2008). prestação de contas e responsabilidade
2008),cuja adoção torna uma orga-
princípios e valores básicos (IBGC,
A sustentabilidade estará assegurada a partir do momento em que a orga- sustentável. A transparência se refere
nização eticamente responsável e
nização tiver uma visão clara do que é ser sustentável e qual a importância interna e externa; a equidadegarante o
disso para ela. Quando uma empresa realmente conhecer que impactos suas à valorização da comunicação atores envolvidos (stakeholders);
todos
atividades exercem sobre a sociedade, ela estará em condições de aprimorar tratamento justo e igualitário a
agentes diretivos que assumam publica-
sua sustentabilidade. O envolvimento dos colaboradores internos é de espe- a prestação de contas exige dos
praticarem; e, por fim, a responsabilidade corpo-
cial importância para tanto. Por um lado, eles podem auxiliar a identificar os mente todos os atos que
204 Responsabilidade social, sustentabilidade e governança corporativa em um contexto ético
rativa, noção muito similar ao que conhecemos como sustentabilidade,
implica que os dirigentes (conselheiros e executivos) zelem pela orga-
nização, assegurando uma visão de longo prazo. Assim, a governança
corporativa contempla o relacionamento ideal no qual a sociedade deve
atuar. É visível a presença da ética em uma empresa que se pauta por
esse sistema. Destarte, fica clara a importância de um instrumento como
o código de ética, que propicia a adoção e a prática de ações corretas
nas organizações atuais.
IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DA COMUNICAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTODAS ORGANIZAÇÕES
Ética
Na condução das atividades da organização, é fundamental e absolu-
tamente necessário que uma organização se paute segundo padrões éti-
cos, os quais normalmente são registrados em códigos, manuais e outros
instrumentos da mesma natureza. O comportamento ético é garantia de
um bom ambiente de trabalho e de valorização a imagem da empresa
diante de seus públicos, tanto internos como externos. De acordo com
Tansey (1995, p. 100),
a alta administraçãoda empresa deve estar conscientede que a forma de sua
atuação para fora, para o mercado, terá reflexos internos. [„.l Os padrões éticos
são a base do comportamento dos funcionários.
Além do mais, a preocupação dos dirigentes com a atuação da
organi-
zação diante do mercado acaba sendo um fator de aprimoramento
de sua
conduta e de suas açóes, na busca da superação dos
empecilhos que nor-
malmente obstaculizam o seguimento de padrões plenamente
éticos. Entre
estes se acham, por exemplo, o "comportamento burocrático"
e a "falta de
responsabilidade social".
Quanto ao primeiro ponto, é incoerente apregoar
que a organização
pratica a ética se existe um enormedistanciamentonas
empresa e a sociedade. Chame-se a atenção para o caso
relaçãoentre a
de empresas que
RubensNaves 205
vendem uma excelente imagem ao público mas cujas ações não condizem
com o marketingapresentado. E, no que se refere à responsabilidade
social, sua ausênciamostra claramente que a empresa não se comporta
segundo padrões éticos.
A responsabilidadede uma organizaçãopoderá ser medida em função
de seus resultadossociais.Portanto, todos os atores envolvidos devem
comprometer-se, de forma permanente, com uma atuação ética em seu con-
texto. Dessa forma, a organização não será alvo de escândalos nem perderá
sua reputação, situações que acarretariam para ela custos elevados e sua
desmoralização pública.
Comunicação
Supõe-seque a organizaçãoque se pauta pela ética e cujas ações são
norteadas pela responsabilidade social e pela sustentabilidade económico-
sociambientalestá ipsofacto, implícita e explicitamente, preocupada com
sua transparência,exercendo a comunicação um papel de destaque nesse
contexto tanto interna quanto externamente.
Manter o diálogo com os colaboradores é de extrema importância, pois,
além de motivá-los, a organização mostrará a eles que é realmente trans-
parente em suas ações. Tratar todos os funcionários com equidade valoriza
a equipe e fortalece a imagem da organização, além de redundar em mais
confiança nela por parte da sociedade 7.
As organizações devem também manter um bom relacionamento externo,
que talvez seja o que dá mais visibilidade às suas ações positivas. Todavia,
de acordo com o princípio da transparência adotado pela governança corpo-
rativa, a comunicação não deve se restringir a pontos específicos, devendo
contemplar todos os públicos de interesse, sem privilegiar este ao aquele,
disponibilizando as mesmas informaçõestanto para os grandes com,o os
pequenos stakeholders.A empresa que agir dessa forma se revelará efetiva-
mente ética e transparente em sua comunicação.
os colaboradoresé destacada por todos os gestores. Cite-se. por
7. A importânciado diálogoC@m
exemplo, Marcio Polidoro (apud ABRACOM,2008),diretor de Comunicação Empresarial do grupo
Odebrechtem 2002.para quem«a comunicaçãointerna tem status importante porque está atrelada
ao conceito de que as organizaçoes sao essencialmente as pessoas que dela fazem parte".
 contexto ético
206 Responsabilidade social,sustentabilidade e governança corporativa em um
Para nós, mais do que uma estratégia das empresas„ a comunica-
çâo integra o conhecimento, tendo uma metodologia própria. Nesse
sentido, ela é reconhecida como uma disciplina independente dentro
de uma universidade. A área académica de "comunicação" se conecta
hoje com a de relaçõespúblicas e, pela sua importância social, goza
de autonomia em termos científicos e seguramente impacta as demais
áreas de conhecimento.
Vale lembrar, a propósito, o que diz a Associação Brasileira de Comuni-
cação Empresarial (Aberje):
Na sociedade atual um dos fatores que indicam que uma empresa tem respon-
sabilidade histórica é a sua preocupação em estabelecerpráticas de diálogo per-
manente com seus públicos estratégicos e a sociedade, fato que demonstra seus
valores e sua transparência. Diálogo é comunicação feita com ética, profundidade
no trato das questões, contribuição para o desenvolvimento da sociedade, apre-
sentada com qualidade industrial e editorial (ABERJE,2008).
Cada organização encontrará o melhor modo de difundir as ações
que desenvolve com foco na responsabilidade social empresarial e
sustentabilidade. Sua divulgação impactará positivamente a sociedade,
pois expressa a preocupação e a contribuição da empresa com temas
de relevância, relacionados com o desenvolvimento social. Afinal, con-
forme assegura Pinto (2001,p. 28), "ações duradouras, comunicadas de
forma adequada, trazem frutos duradouros".
Apesar de o conceito de responsabilidade social empresarial se estar
incorporando cada vez mais nas empresas, as pesquisas mostram que a
sociedade realmente ainda não se deu conta disso. A cobrança por
uma
atuação corporativa responsável permanece em alta no País,
mas ainda
existem muitos desinformados e pessoas que nem ao menos ouviram
falar dessa temática s.
Diante do imenso poder de influência que a comunicação
exerce em
toda sociedade, podem surgir fortes efeitos negativos
caso o comuni-
cador não observe princípios éticos, podendo até
denegrir, facilmente,
as imagens de governos, empresas e entidades. Nesse
cenário, é impor-
8. VerAkatu-Ethos-Market Analysis (2008).
Rubens Naves
207
tante que organizações pautadas por boas açóes se posicionem e
adotem
medidas para combateras distorções daquelas que não se preocupam
com o bem-estar social.
Uma vez seguidos os conceitos éticos, as organizações responsáveis
podem utilizar diferentes meios para destacar suas açOes positivas.
No entanto, os investimentos para tanto não devem ser superiores
àqueles feitos nas açóes propriamente ditas. Desenvolver projetos,
realizar semináriose palestras que abordem temas capazes de gerar
retorno positivo constituem-se em iniciativas estratégicas para a cons-
cientização da população.
CONSIDERAÇÕESFINAIS
De forma sintética, podemos elencar as seguintes considerações:
A permanência das organizações no mercado se sujeita a uma cons-
tante adaptaçãoaos conceitosdisseminados com a finalidade de
melhorar as relações sociais e tornar duradouras as ações positivas,
beneficiando as gerações atuais e as futuras;
Devemoster uma visão ampliada do papel da comunicação
dentro das organizações. A integração com a sociedade deve
ir além da conquista de clientela e da suposta competição com
outras empresas;
As empresas têm como desafio externar os valores éticos, contri-
buindo para a preservação do meio ambiente e o bem-estar social,
evidenciando sua cooperação positiva com a sociedade e não apenas
a preocupação com os interesses internos da organização;
• A prática de ações que realmente trazem impactos positivos para
sociedade e fazer delas um balanço tornará a empresa mais verda-
deira, afastando-a dos desvios comumente presentes naquelas que,
querendo apresentar boa imagem, abusam da publicidade com
apelos que contrariam suas reais intenções;
As organizações que adotam uma comunicação transparente e prin-
cípios da responsabilidade social e da ética se ditinguem daquelas
que negligenciam esses aspectos em sua própria atividade, além de
terem maiores chances no mercado, que irá escolher as empresas
econômica, social e ambientalmente corretas.
208 Responsabilidade social, sustentabilidade e governança corporativa em um contexto ético
Rubens Naves 209

REFERÊNCIAS IBGC. Governançacorporativa.

São Paulo: Instituto Brasileiro de Gover-
nança Corporativa.
ABERJE. Empresas e comunicação. In: Ilma associação profissional e científica. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/Secao.
aspx?CodSecao=17>. Acesso em: 08 abr. 2008.
São Paulo: Aberje —Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Dis-
ponível em: <http://www.aberje.com.br/novo/oque_aberje.asp>. Acesso . Princípios elencados no código de melhores práticas de governança corpo-
em: 08 abr. 2008.
rativa do IBGC. São Paulo: IBGC, 2004.

ABRACOM. Nada substitui o diálogo. São Paulo: Abracom —Associação

Bra- ETHOS. Responsabilidade socialdas empresas: a contribuição das universida-
sileira de Agências de Comunicação, 31 dez. 2002.Disponível em: <http://
des. Vol. 3. São Paulo: Peirópolis, 2004.
www.abracom.org.br/descricao.asp?id=962>.Acesso em: 04 abr. 2008.
NAVES, Rubens. Escritóriosresponsáveis. Revista Fórum CESA, a. 3, n. 6, p.
AKATU-ETHOS-MARKET ANALYSIS. Responsabilidade social das empresas:
28-39,jan./mar. 2008.Entrevista concedida a Ivonete D. Lucirio.
percepçãodo consumidor brasileiro —2006-2007. São Paulo: Instituto Akatu;
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social; Market Analysis
GVCES. Empresa 'sustentável' vale mais. O Estado de S. Paulo, 27 ago. 2008.
Brasil, 2008.Disponível em: <http://www.akatu.org.br/akatu_acao/publi-
Disponível em: <http://www.ces.fgvsp.br/index.cfm?fuseaction=noticia&
cacoes/ responsabilidadeocialempresarial/ rse-percepcao-do-consumidor-
IDnoticia=125731&IDidioma=I.>Acesso em: Acesso em: 04 set. 2008.
brasileiro-2006-e-2007>. Acesso em: 05 abr. 2008.

PINTO, Christina Carvalho. Valor ou modismo? O marketing social deve

BETTIGNIES. Henri-CIaude de. Ética e responsabilidade social.
Revista ele- ser relexo da personalidade da empresa. Guia Exame de boa cidadania corpo-
trônica Ideia Socioambiental,São Paulo, n. 7, p. 74-75, dez. 2006.
Entrevista rativ, Editora Abril, n. 754, 2001.
concedida a Marina Terra. Disponível em: <www.ideiasocioambiental.com.
br>. Acesso em: 04 abr. 2008.
SAVITZ, Andrew. Um ponto doce da sustentabilidade. Ideia Socioambiental,
CHAUÍ, Marilena. O público, o privado, despotismo. São Paulo, n. 9 p. 74-75,dez. 2007.Entrevista concedida a Caio Neumann.
In: NOVAES, Adauto
(Org.). Ética. São Paulo: Companhia de Letras, 1992.
p. 345-390. TANSEY,Lori. Oqueéética. [Entrevista oncedida a Clayton Netzem dez. 20051.
DUNN, Robert. Um conceito que se evolui e se In: FORMENTINI, Márcia; OLIVEIRA, Tiago Mainieri de. Ética e responsabili-
populariza. Gazeta Mercantil, dade social: repensando a comunicação empresarial. Disponível em: <http://
São Paulo, p. A14, OI abr. 2008. Disponível
em: <www.ideiasociambiental. www.portalrp.com.br/bibliotecavirtual/responsabilidadesocial/0189.
com.br>. Acesso em: 04 abr. 2008.
htm>. Acesso em: 05 abr. 2008.
FEDATO, Maria Cristina Lopes. Responsabilidade
social corporativa: benefício
social ou vantagem competitiva? Um estudo
das estratégias da atuação so-
cial empresarial e sua avaliação de
resultados. 2005.Dissertação (Mestrado
em Administração) —Universidade de
São Paulo, 2005.

GIRANDI, Giovana. Mudança a passos lentos.

O Estado de S. Paulo, Caderno
Especial, p. H2, 04/08/2008.