Você está na página 1de 13

ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E


DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL
RESUMO
O objetivo do artigo é identificar como uma empresa multinacional de papel e celulose desenvolve
programas sociais em uma região compreendida por 47 municípios no estado de Minas Gerais. A escolha
da empresa X foi definida pela sua importância na indústria mineira, bem como pelo destaque dado aos
programas sociais da empresa no meio empresarial, que vivencia iniciativas centralizadas de incentivo ao
voluntariado. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a concepção da responsabilidade social
empresarial e uma pesquisa de campo qualitativa com agentes sociais na região de atuação da empresa.
A metodologia empregada na pesquisa foi construída por meio de um conjunto de entrevistas semi-
estruturadas, utilizando a análise do discurso como técnica para pontuação das conclusões do trabalho.
Os resultados demonstram que a prática da responsabilidade social se situa num contexto mais significativo
que o mero discurso empresarial.

Epaminondas Bittencourt
UFMG

Alexandre Carrieri
UFMG

ABSTRACT This article show how a multinational company that produces paper and pulp in 47 municipalities in the Brazilian state of Minas
Gerais develops social programs. Choice of company X was due to its importance in the industrial web of the state, as well as by the relevance of
the company’s well regarded social programs, generally centrally managed and emphasizing voluntary work. After a brief survey of the literature
on corporate social responsibility a field research followed using as subjects social agents in the region covered by company X programs. Methodology
was based on semi-structured interviews. Content analysis of interviews was punctuated to reach the conclusions. The results demonstrate that
the social responsibility practice is situated at a deeper context than allowed by managerial discourse.

PALAVRAS-CHAVE Poder, responsabilidade social, cidadania corporativa, responsividade social.

KEY WORDS Power, social responsibility, corporate citizenship, social responsiveness.

10 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 10 06.09.05, 15:49


EPAMINONDAS BITTENCOURT • ALEXANDRE CARRIERI

INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO

O objetivo do artigo é identificar como uma empresa Corporação e sociedade


multinacional do setor econômico de papel e celulo- Qual o papel desempenhado pelas corporações na so-
se desenvolve programas sociais via ideologia da res- ciedade? Esta pergunta é fonte de um considerável
ponsabilidade social, estando envolvidas relações com debate no meio acadêmico e no interior das próprias
agentes políticos, ambientalistas, microempreendedo- corporações, originando um grande número de traba-
res e lideranças comunitárias em uma microrregião lhos baseados em teorias econômicas e organizacio-
composta por 47 municípios no estado de Minas Ge- nais. Os relacionamentos entre indústrias, mercados e
rais. A empresa possui importante presença regional sociedade, no auge da produção industrial, deram ori-
devida aos tributos pagos e empregos gerados, e tam- gem ao conceito de responsabilidade social das em-
bém pelos programas sociais por ela implementados. presas, fruto da crescente importância das atividades
As atividades produtivas da empresa têm sido vistas industriais no contexto social, envolvendo interferên-
de maneira discordante, envolvendo diferentes ato- cias no meio ambiente, infra-estrutura urbana, relacio-
res sociais, que questionam as políticas desenvolvi- namento humano e mudanças de valores culturais nas
das que buscariam construir uma imagem socialmen- comunidades industriais.
te responsável. Apresentando a responsabilidade social como a obri-
O artigo apresenta uma perspectiva da cidadania gação das corporações em perseguir políticas, tomar
corporativa como uma relação de poder em que cabe decisões e seguir linhas de ação em consonância com
aos diferentes agentes (stakeholders) negociar os in- objetivos e valores desejáveis pela sociedade, Howard
teresses próprios com as corporações. O referencial Bowen, em sua obra Social Responsabilities of the
teórico está estruturado em pesquisa bibliográfica Businessman (1953), estabeleceu a associação entre as
que abrange diversas concepções sobre a responsa- operações em larga escala das corporações e seus di-
bilidade social, culminando numa análise acerca da versos impactos na sociedade como um todo (Preston,
difusão dos valores da cidadania corporativa em todo 1975). A definição de Bowen de responsabilidade so-
o universo empresarial, o que leva à geração de mo- cial com ênfase em objetivos e valores sociais expres-
vimentos diferenciados com o mesmo objetivo: a sa duas premissas importantes: a de que as corporações
veiculação de uma imagem socialmente responsável. devem a razão de sua existência a um contexto social
Tais movimentos, que variam de ações centralmen- e que essas corporações são agentes sociais que refle-
te planejadas por associações empresariais, como o tem e reforçam valores (Wartick e Cochran, 1985).
incentivo ao voluntariado, a programas focalizados Relacionado à primeira premissa, está em vigor um
de cunho filantrópico, resultam da avaliação de que contrato social constituído de direitos e obrigações que
as organizações operam em um ambiente social que fundamentam a legitimidade do negócio, e associada
exige mais do que somente as obrigações legais e à segunda premissa, a capacidade das corporações de
financeiras (Mcintosh, 2001). A metodologia de pes- desenvolverem políticas e regras que interferem no
quisa desenvolvida no estudo de caso é qualitativa, ambiente social. Portanto, “uma dimensão ética para o
baseada em um conjunto de entrevistas semi- comportamento e responsabilidade social do negócio é
estruturadas, com a utilização da análise do discur- o resultado lógico” (Wartick e Cochran, 1985, p. 758).
so dos personagens envolvidos, sendo observadas as De acordo com Preston (1975), a partir do desen-
formações discursivas públicas da organização, ex- volvimento do trabalho de Bowen, surgiram três prin-
pressas por meio do código de ética e pela fala ge- cipais correntes teóricas fundamentando conceitos
rencial, bem como as formações discursivas de agen- sobre o papel das corporações na sociedade: a institu-
tes enunciadores vivenciando relações conflituosas cionalista, a organizacional e a filosófica. O foco dos
com a organização. A conclusão do trabalho mostra institucionalistas está na relação das corporações com
que a ideologia da responsabilidade social ultrapas- o universo social mais amplo. As contribuições teóri-
sa as fronteiras do discurso hegemônico da impor- cas situadas no campo organizacional compreendem a
tância da ética na condução dos negócios, situan- relação corporação–sociedade em um universo locali-
do-se em um contexto de relações de poder em que zado no âmbito das organizações, regidas, principal-
ocorrem conflitos envolvendo dominação e subor- mente, pela eleição da estratégia como instrumento
dinação. destinado a promover a adaptação das corporações às

EDIÇÃO ESPECIAL • 2005 • © RAE • 11

010-022 11 06.09.05, 15:49


ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

mudanças ambientais. A análise filosófica se baseia, A essência da empresa livre é se dirigir rumo ao lucro
sobretudo, em concepções teóricas prescritivas com por qualquer caminho que seja consistente com sua
relação à responsabilidade social, estando aí situadas própria sobrevivência em um sistema econômico. A
posições de cunho neoliberal, filantrópicas e de maior queda nos lucros não é a única coisa que pode des-
comprometimento com questões sociais por parte das truir um negócio. A ossificação burocrática, uma le-
corporações. gislação hostil e uma revolução podem fazer isso muito
Jones (1983) afirma que os estudos sobre a relação melhor. O capitalismo como o conhecemos pode exis-
corporação–sociedade carecem de um paradigma teó- tir somente em um ambiente de democracia política e
rico no estrito sentido definido por Kuhn (1970) de- liberdade pessoal. Isso requer uma sociedade
vido à ausência de uma estrutura de pesquisa integra- pluralista, onde exista divisão e não centralização de
da, ou seja, teorias, métodos e valores unificadores. O poder. Não queremos um estado de bem-estar no go-
autor propõe uma estrutura integrada para a análise verno, não o queremos nos sindicatos e, pelas mes-
do relacionamento corporação-sociedade, baseada nos mas razões, não o desejamos nas corporações (LEVITT,
trabalhos de Daniel Bell – na obra The Cultural 1958, p. 44).
Contradictions of Capitalism (1976) – e Michael Novak –
na obra The Spirit of Democratic Capitalism (1982) –, Na análise de Levitt, por melhores que sejam as in-
que visualizam a sociedade como o resultado de três tenções dos gerentes das organizações por meio de
subsistemas: econômico, político e cultural. O subsis- ações de desenvolvimento de programas de bem-es-
tema econômico é composto pelas corporações priva- tar para os empregados, de envolvimento com pro-
das, públicas, mercados financeiros; o subsistema po- gramas governamentais, comunitários, filantrópicos,
lítico deriva do aparelho regulador governamental; e educacionais, são todas preocupações periféricas que
o subsistema cultural é composto pelas relações fami- podem criar, nas corporações, um modelo equivalente
liares, credos e valores socioculturais. ao Estado unitário ou à igreja medieval. O autor afir-
Ainda de acordo com Jones (1983), a compreensão ma que “se existe alguma coisa errada hoje é que as
da relação corporação-sociedade é possível por meio corporações estão concebendo suas ambições e ne-
do estudo da interação dos três subsistemas, o que re- cessidades muito amplamente. A verdade não é que
sulta na definição de controle social do negócio. O elas sejam estritamente orientadas para o lucro, mas
controle social do negócio deve ser trabalhado a par- sim que elas não são estritamente orientadas para o
tir da seguinte questão: qual a compatibilidade entre lucro” (Levitt, 1958, p. 44). Sob o envolvimento so-
os processos e produtos do subsistema econômico com cial, o poder que a corporação ganha como “igreja
os valores dos subsistemas político e cultural? O au- comercial”, ela o perderá como um agente capitalista
tor propõe uma matriz de controle social do negócio motivado pelo lucro (Levitt, 1958, p. 46). Assim, ain-
em que se estabelecem variáveis associadas, entre ou- da para o autor, os negócios precisam sobreviver, e
tras, ao controle de mercado, ao comportamento em precisam de segurança contra ataques e restrições do
processos decisórios e à existência de grupos de poder seu maior inimigo potencial, que é o Estado. O bem-
que exercem pressão sobre a corporação. estar e a sociedade não fazem parte do negócio das
Em oposição ao conceito de responsabilidade social corporações. As idéias defendidas por Levitt (1958)
conduzindo o relacionamento corporação–sociedade, acerca do controle social dos negócios são semelhan-
Preston e Post (1981) afirmam que corporação e socie- tes, em sua totalidade, às posições teóricas susten-
dade são apenas sistemas interligados por intermédio tadas por Hayeck em relação à doutrina liberal na
dos mercados e políticas públicas: a contraposição sociedade:
envolvendo responsabilidade social por parte das cor-
porações é aprofundada por Levitt (1958) com rela- A argumentação liberal propugna pelo melhor uso
ção aos postulados apresentados por Bowen (1953). possível das forças de competição como um meio
De acordo com Levitt (1958), as corporações deveriam de coordenar os esforços humanos e não preten-
reconhecer as funções do governo e permitir que este de que as coisas devam ser deixadas como estão.
cuidasse do bem-estar social, de forma que elas pu- É baseada na convicção de que onde se puder cri-
dessem cuidar dos aspectos materiais do bem-estar. Na ar uma efetiva concorrência, aí se terá a melhor
concepção desse autor, a função do negócio é gerar maneira, entre todas, de guiar os esforços indivi-
um alto nível sustentável de lucro: duais. Com efeito, um dos principais argumentos

12 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 12 06.09.05, 15:50


EPAMINONDAS BITTENCOURT • ALEXANDRE CARRIERI

a favor da concorrência é que ela dispensa a ne- nas das corporações. A terceira está fundamentada na
c e s s i d a d e d e u m c o n t ro l e s o c i a l c o n s c i e n t e necessidade de construção de um poder na sociedade
(HAYECK, 1977, p. 35). que se contraponha ao crescente poder das corpora-
ções industriais, sendo o bem-estar social dependente
Seguindo o mesmo espectro ideológico, Friedman da soma de interesses representados na luta pelo po-
(1988) aborda a responsabilidade econômica das der na sociedade. A quarta, representada por corren-
corporações fundamentada na doutrina econômica tes teóricas filosóficas humanistas, associa o poder
clássica, em oposição às premissas da responsabili- social das corporações ao controle totalitário e
dade social corporativa. De acordo com esse autor, monolítico da mente e do espírito humano. Por fim, a
a única responsabilidade social dos negócios é ma- quinta concepção teórica identifica a necessidade de
ximizar os lucros nas regras do jogo. Em suas pala- uma reformulação da ética capitalista, cujo princípio
vras, básico da propriedade deveria ser ampliado para um
número maior de cidadãos, o que resultaria no incre-
Há poucas coisas capazes de minar tão profundamen- mento do sistema capitalista e na maior lealdade dos
te as bases de nossa sociedade livre como a aceitação proprietários capitalistas.
por parte dos dirigentes das empresas de uma respon- Nesse quadro, Frederick (1960) afirma que o de-
sabilidade social que não a de fazer tanto dinheiro senvolvimento da perspectiva da responsabilidade so-
quanto possível para seus acionistas. Trata-se de uma cial no universo das corporações está relacionado à
doutrina fundamentalmente subversiva. Se os homens crescente conscientização em torno da produção e dis-
de negócios têm outra responsabilidade social que não tribuição socialmente efetiva. Dessa forma, a respon-
a de obter o máximo de lucro para seus acionistas, sabilidade social “implica uma postura pública em re-
como poderão eles saber qual seria ela? Podem deci- lação aos recursos humanos e econômicos da socieda-
dir sobre que carga impor a si próprios e a seus acio- de, significando que estes recursos devem ser utiliza-
nistas para servir ao interesse social? (FRIEDMAN, dos objetivando amplos fins sociais” (Frederick, 1960,
1988, p. 120). p. 60). Ainda segundo o autor,

Expressando uma visão sobre a crescente preocupa- Não existem fórmulas mágicas nem mecanismos
ção das corporações em relação à doutrina da res- automáticos que garantam os resultados que o pú-
ponsabilidade social, Frederick (1960) enfatizou que blico deseja. Consciência, somente, os homens de
isso se deve ao colapso do laissez-faire como filoso- negócios cristãos não possuem o bastante. O equi-
fia e ordem econômica. Segundo esse autor, essa re- líbrio de poder é igualmente insuficiente. É verda-
volução é resultado dos desafios estabelecidos pela de que não podemos escapar totalmente de nossa
psicologia ao conceito de um homem econômico ra- herança cultural, mas, lentamente, estamos acumu-
cional, pela sociologia ao comportamento individua- lando conhecimentos sobre nós mesmos e sobre os
lista e pela antropologia ao questionamento da or- homens de negócios que podem possibilitar a re-
dem natural das coisas. A derrocada da filosofia do solução de alguns dos problemas relacionados à
liberalismo deu origem a um vácuo filosófico após o responsabilidade do negócio (FREDERICK, 1960,
fim da Segunda Guerra Mundial, o que implicou a p. 61).
ruptura com a teoria social que estabelecia a harmo-
nia entre os interesses privados e os interesses da Na verdade, o intenso debate que envolve a perspectiva
sociedade como um todo. da responsabilidade social no ambiente dos negócios
Conseqüentemente, a partir da década de 1950 sur- na sociedade americana, aliado ao desenvolvimento das
giram, na sociedade americana, cinco importantes cor- políticas públicas oriundas do Estado de bem-estar so-
rentes teóricas sobre a responsabilidade social das cial no continente europeu, faz com que – no ciclo de
corporações. A primeira visão é a de que os gerentes expansão das corporações multinacionais por meio dos
deveriam voluntariamente defender os interesses pú- investimentos diretos em todo o mundo – o desempe-
blicos utilizando o poder de uma maneira responsá- nho social das corporações seja considerado uma im-
vel. A segunda apela para os princípios da ética cristã, portante variável não apenas para a formulação de es-
a criação do executivo de negócios cristão, que privi- tratégias, mas também para um contínuo relacionamen-
legia ações sociais nobres acima das atividades cotidia- to com a sociedade civil organizada.

EDIÇÃO ESPECIAL • 2005 • © RAE • 13

010-022 13 06.09.05, 15:50


ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

Desempenho social corporativo qualquer ação das corporações estão condicionadas à


Strand (1983) afirma que os objetivos e as metas que legitimidade na sociedade. Assim, o comportamento
determinam e viabilizam a performance de qualquer de qualquer corporação pode ser classificado como
organização, e os processos e os recursos humanos que imbuído de obrigação social, responsabilidade social
originam os produtos ou serviços prestados, são res- ou responsividade social.
tringidos e modelados pelo contexto sociocultural no Obrigação social é o comportamento da corporação
qual a organização desenvolve suas atividades. Ou seja, em resposta às forças de mercado ou restrições de or-
“a performance social de qualquer organização não é dem legal. Epstein (apud Sethi, 1975) mostra que o
uma componente distinta de sua efetividade como critério legal é insuficiente para determinar a legiti-
agente econômico” (Strand, 1983, p. 90). Segundo o midade da corporação porque negligencia os proces-
autor, o estudo de adaptação das organizações ao am- sos políticos e sociais. O critério legal, econômico tra-
biente social no qual estão situadas é limitado, princi- dicional é necessário, mas não suficiente, para a legi-
palmente, pelas definições inconsistentes de respon- timidade da corporação, e afirma que “a corporação
sabilidade social e pela ausência de um paradigma acei- que infringir essa regra não sobreviverá” (Sethi, 1975,
tável que formalize estruturas de referência para a pes- p. 62). A responsabilidade social é definida como a
quisa científica. atitude cujas expectativas sociais ainda não foram co-
As ações de adaptação das organizações ao ambien- dificadas em requisitos legais, não implicando altera-
te podem ser analisadas por intermédio de três com- ções substanciais nas atividades relacionadas com o
ponentes. A primeira se refere ao desenvolvimento de negócio da corporação ou no estilo de comportamen-
demandas e expectativas sociais apresentadas à orga- to consagrado. Obriga a corporação a desenvolver ní-
nização, ou seja, quais são as demandas sociais e que veis mais altos de flexibilidade na atuação social. Por
grupos pressionam a organização, que demandas so- responsividade social é entendido o papel a ser de-
ciais seriam de responsabilidade da organização, eta- sempenhado pela corporação a longo prazo, num con-
pa conhecida como responsabilidade social. A segun- texto social dinâmico. Pressupõe que a corporação
da componente, denominada responsividade social, antecipe as prováveis mudanças futuras no cenário
está associada aos processos organizacionais gerados social, que podem ser resultantes da atuação da pró-
quando as organizações recebem, interpretam e pro- pria corporação ou de problemas sociais em que as
cessam as demandas, o que implica perguntar: quais corporações precisem desempenhar um papel signi-
os processos adequados para tomar decisões relativas ficativo. Nas palavras de Sethi, “as corporações devem
às demandas sociais? Com que processos as organiza- iniciar políticas e programas que minimizem os efeitos
ções implementam suas decisões? A terceira compo- adversos de atividades suas, presentes e futuras, que
nente, nomeada resposta social da organização, refe- possam gerar crises e tornar-se catalisadoras de ondas
re-se às respostas específicas das organizações às de- de protestos” (Sethi, 1975, p. 63). As três etapas de clas-
mandas e ao controle dos resultados dessas respostas. sificação do comportamento das corporações definidas
Sethi (1975) utiliza a expressão “desempenho social por esse autor estão relacionadas no Quadro 1.
da corporação”, acentuando que este é temporal e cul- Carroll (1979) define responsabilidade social das
turalmente determinado. corporações como um conjunto de obrigações para
com a sociedade e que estão incorporadas em quatro
Uma ação específica é mais ou menos socialmente categorias: responsabilidade econômica, responsabili-
responsável apenas em uma estrutura temporal e am- dade legal, responsabilidade ética e responsabilidade
biental sob referência das partes envolvidas. A mes- discricionária. Estas estão associadas respectivamente
ma atividade empresarial pode ser considerada so- aos valores de produção de bens e serviços que a socie-
cialmente responsável sob um conjunto de circuns- dade deseja, ao respeito às leis, ao respeito a padrões
tâncias em uma cultura e socialmente irresponsável éticos, e ao fortalecimento de trabalhos voluntários.
em outro tempo sob diferentes circunstâncias (SETHI, O autor propõe um modelo de desempenho social das
1975, p. 59). corporações em que, além da dimensão responsabilida-
de social, estão presentes outras duas: responsividade
O autor define a legitimidade como o melhor indica- social e áreas sociais em que as responsabilidades da
dor de avaliação de desempenho social das corpora- corporação estão envolvidas (consumidor, meio am-
ções. Sua justificativa é que a relevância e validade de biente, segurança do produto). Carroll associa a res-

14 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 14 06.09.05, 15:50


EPAMINONDAS BITTENCOURT • ALEXANDRE CARRIERI

ponsividade social aos processos gerenciais de respos- coração da ideologia. Portanto, participa, juntamente
ta às demandas sociais, variando em um contínuo de com mecanismos simbólicos e políticos, de um siste-
posturas, a saber, reativa, defensiva, de acomodação ma de reprodução das organizações. De acordo com
e proativa. Esse modelo tridimensional proposto pelo Srour (1994), a ética é uma relação social, uma rela-
autor requer que a dimensão responsabilidade social ção de forças, dependente de padrões morais específi-
seja definida pela corporação, que a área social seja cos sob condições históricas precisas em que atuam
identificada, para, posteriormente, a corporação qualifi- agentes coletivos que buscam construir a hegemonia
car a filosofia de resposta ou responsividade social. de seus valores morais peculiares. Srour mostra que
Na realidade, as diversas concepções sobre perfor- toda organização desenvolve suas atividades em um
mance social das corporações propiciaram o aprofun- ambiente hostil, em que todos os agentes procuram
damento da discussão sobre a ética na gestão empre- satisfazer seus próprios interesses. Os valores hege-
sarial, consolidando um padrão de referência na rela- mônicos nas coletividades com as quais as corpora-
ção com a sociedade. De acordo com Weber (1979), a ções interagem pressionam estas a buscarem sintonia
ética é um discurso de legitimação e encontra-se no com esses valores, no sentido de preservarem a pró-

Quadro 1 – Classificação: comportamento da corporação.


ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3
OBRIGAÇÃO SOCIAL RESPONSABILIDADE SOCIAL RESPONSIVIDADE SOCIAL
Busca de legitimidade Limitada a critérios legais e Aceita a limitação dos critérios Desempenha papel mais am-
econômicos. legais e de mercado. Conside- plo no sistema social.
ra outras variáveis. Avaliação da
performance social.

Normas éticas Valor do negócio é neutro. Ge- Estabelece normas para rela- Advoga normas éticas institu-
rentes se comportam de acor- cionar com as comunidades. cionais mesmo se atingem
do com seus próprios padrões. Não enfrenta normas sociais. seus próprios interesses.

Indicadores sociais Limitados aos interesses dos Construídos para finalidades le- Presta contas à sociedade de
para ações da corporação stakeholders. gais, mas ampliados para in- forma mais ampla.
cluir os grupos afetados.

Estratégia operacional Adaptação defensiva. Máxima Adaptação reativa. Adaptação proativa. Antecipa
exteriorização de custos. futuras mudanças sociais.

Resposta a pressões sociais Nega deficiências. Ignora insa- Assume responsabilidade na so- Informação livre. Discute ati-
tisfação pública. lução de problemas cotidianos. vidades com grupos externos.

Ações governamentais Resiste às atividades regula- Coopera com os governos para Comunica-se abertamente com
tórias exceto em situações melhorar o padrão da indústria. os agentes políticos, reforçan-
para proteção de posição de Preserva discrição gerencial nas do a legislação existente.
mercado. decisões corporativas.

Atividades político-legislativas Busca manutenção do status Amplia o trabalho com grupos Auxilia o corpo legislativo a
quo e privilegia o lobby. externos. melhorar as leis vigentes.

Filantropia Contribui quando benefício di- Contribui para causas estabe- Contribui para causas novas e
reto é claramente demonstrado. lecidas e não controversas. controversas.
Fonte: Sethi (1975, p. 62)

EDIÇÃO ESPECIAL • 2005 • © RAE • 15

010-022 15 06.09.05, 15:50


ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

pria imagem resguardando a continuidade do negó- va e contenção da intervenção do estado na economia


cio. Assim, agir eticamente significa para as organiza- em um contexto (década de 1950) de ameaça à “or-
ções estar em conformidade com a moral socialmente dem estabelecida”. A evocação voluntária dessas res-
predominante, porque as relações travadas entre em- ponsabilidades pelos homens de negócios é, ao me-
presa e contrapartes são relações de força, relações de nos, uma alternativa possível para se evitar um maior
poder. Ainda de acordo com o autor, controle da economia pelo Estado. Por meio do fun-
damento econômico e da gestão profissional, as em-
Em outras palavras, parece inescapável reconhecer presas procuram obter a taxa de retorno do empre-
que, ao lado da função econômica, as empresas de- endimento enfatizando relações internas e externas,
sempenham uma função ética. Os empresários te- e otimizando o gerenciamento a partir da mudança
rão de admiti-lo, não por altruísmo nem por re- de valores da cultura organizacional, em que os ad-
pentino insight democrático, mas, pela imposição ministradores profissionais são incitados a romper
das relações de poder presentes. Agir eticamente, com a opinião tradicional de que só importa o acio-
então, converte-se em questão de bom senso e em nista para sobreviver num mundo mais democrático
estratégia de sobrevivência. Cabe aqui ler o con- e restritivo das ações empresariais (Alves, 2003).
ceito de responsabilidade social como orientação Partindo dos preceitos apontados pelo autor, é possí-
para os outros, não por mera deliberação pessoal, vel investigar como as corporações trabalham os va-
mas como contingência dos interesses em jogo lores da responsabilidade social no universo da es-
(SROUR, 1994, p. 10). tratégia organizacional, resultando em ações orien-
tadas para o marketing, seja na construção de parce-
Na visão do autor, a empresa capitalista – mesmo es- rias intituladas de desenvolvimento local ou por meio
tando em um ambiente social composto por códigos de atividades filantrópicas, com destaque para o in-
morais – apenas se comporta de acordo com uma ética centivo ao voluntariado.
de responsabilidade social quando seus interesses de Os estudos desenvolvidos por Carrion e Garay
reprodução estão sob risco. A gestão empresarial mol- (2000) indicam maior preocupação por parte das
dada pela ética é resultante de uma relação de forças corporações pelo denominado “investimento social
entre atores internos e externos ao universo organiza- privado”. A prática da filantropia cede lugar a cres-
cional. Conforme proposto por Mintzberg (1983), uma centes iniciativas de fortalecimento de parcerias estra-
relação de poder em que se apresentam influenciadores tégicas para a execução de projetos localizados e
internos e externos que formam coalizões que se rela- monitorados pelas próprias corporações, bem como de
cionam sob a forma de barganha. trabalhos voluntários liderados pelos próprios agen-
Srour (1994) estabelece uma associação importan- tes das organizações, particularmente em campanhas
te entre abordagem ética, ideologia econômica e ideo- de apelo social. Isso pode demonstrar que as organi-
logia política. Para o autor, é importante distinguir zações encontram dificuldade em convencer a audiên-
entre uma ética da realização pessoal, elitista, indivi- cia externa se a audiência interna não estiver aceitan-
dualista, de base calvinista, de outra ética da salvação do a mensagem, produzindo processos de comunica-
e do dever, paternalista, assistencialista e altruísta, de ção externos e internos interligados (Cheney e
base católica. Essas duas visões originam ações funda- Christensen, 2001).
mentadas em princípios relacionados à ética, aos va- Garay (2001) desenvolveu pesquisas buscando com-
lores humanos e à cidadania corporativa. A própria preender as principais razões do crescimento do
construção teórica sobre a importância da percepção voluntariado empresarial. De acordo com esse autor,
de responsabilidade social por parte das empresas, de- o voluntariado possibilita – além da consolidação de
senvolvida sob os princípios da moral protestante, está uma imagem corporativa favorável – o aumento do
relacionada à concepção da sociedade capitalista, ao nível de identidade dos voluntários com a empresa, o
fundamento econômico e de gestão das empresas, ao estímulo ao desenvolvimento do papel institucional
ordenamento institucional da sociedade (Alves, 2003). do executivo, o fortalecimento da cultura corporativa
A partir de uma leitura de Bowen, Alves (2003) de- e maiores oportunidades para o desenvolvimento de
monstra a preocupação do autor na formulação da competências funcionais. Essa análise é corroborada
doutrina da responsabilidade social corporativa como por Falconer e Fischer (2001), ao pesquisarem a rela-
instrumento para a defesa dos valores da livre iniciati- ção entre estratégia e voluntariado empresarial.

16 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 16 06.09.05, 15:50


EPAMINONDAS BITTENCOURT • ALEXANDRE CARRIERI

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS produção inicial de um significado lingüístico no qual


se combinam palavras que envolvem narrativas, me-
O método de pesquisa destinado a investigar os pro- táforas e formas simbólicas que necessitam ser legiti-
gramas desenvolvidos pela organização sob a denomi- madas na sociedade, gerando a produção de textos no
nação da responsabilidade social foi desenvolvido por intuito de manter ou mudar o significado associado às
meio de um conjunto de entrevistas semi-estruturadas ações. Os textos são incorporados em formações dis-
versando sobre políticas de desenvolvimento local, cursivas quando são adotados como significados gene-
preservação ambiental e concepção de responsabilida- ralizados, sustentados e interligados a um universo
de social. Foram envolvidos 10 agentes políticos, am- discursivo consensualmente validado, o que confere
bientalistas, microempreendedores, lideranças comu- legitimidade ao produtor do texto. Um texto tem maior
nitárias na região de atuação da empresa, além da uti- probabilidade de influenciar o discurso quando evoca
lização das fontes oficiais da organização sobre as ini- outros textos, quando a interdiscursividade habilita o
ciativas de cunho social. As análises relacionadas à texto a se projetar noutros discursos para manter sua
pesquisa foram construídas a partir da utilização da legitimidade e seu significado (Fairclough, 2001).
análise do discurso, que possibilita o estudo da estru- Nesse sentido, a análise da pesquisa procura inicial-
tura lingüística dos atos de fala buscando as relações mente identificar como a organização produz o que
com normas, preferências e expectativas sociais, cul- Phillips, Lawrence e Hardy (2004) denominam catego-
turais e políticas. Os discursos dos personagens refle- rias sociais, que formatam a compreensão e o compor-
tem representações ideológicas, uma visão de mundo, tamento dos atores em relação à responsabilidade so-
o ponto de vista a respeito da realidade, a justificativa cial, produzindo uma ordem social que dificulta a ado-
e a explicação da ordem social. O texto – manifesta- ção de comportamentos que não sejam legitimados por
ção dos personagens envolvidos no contexto de atua- ela, resultando em disputas originárias de relações de
ção da organização – é o encontro de um plano de con- poder. A produção da ordem social ocorre via lingua-
teúdo, em que se localiza o discurso, com um plano gem, um recurso convencional para influenciar a atitu-
de expressão, que no universo empresarial se materia- de e o comportamento das pessoas por intermédio da
liza via mídia escrita, oral e nos trabalhos cotidianos persuasão, argumentação ou utilização de ameaças, em
com as comunidades (Fiorin, 1988). que o enunciador despolitiza a mensagem, tornando
A análise do discurso explora como as idéias social- mais palatável o exercício da influência. Dessa forma,
mente produzidas e incorporadas nas organizações são referenda-se que grupos mais bem posicionados nas
criadas e mantidas por meio do relacionamento entre relações de poder produzem formações discursivas acei-
discurso, texto e ação. Na perspectiva de Phillips, tas para uso geral (Bradac e Hung Ng, 1993).
Lawrence e Hardy (2004), as instituições não são so- Sendo uma pesquisa de natureza qualitativa, a legi-
mente construções sociais, mas construções sociais que timidade das proposições inferidas não deve repousar
se constituem por meio do discurso. Essa análise é no número de casos ou de instâncias, mas no modo de
corroborada por Fairclough (1995, p. 38), ao afirmar lidar com o essencial na explicação das regularidades
que “toda instituição social é um aparato de intera- descobertas (Fernandes, 1973). Assim, a base de da-
ções verbais, ou uma ordem discursiva, que facilita e dos foi construída por intermédio da análise de docu-
restringe a ação social de seus membros, fornecendo mentos públicos da organização e entrevistas semi-
uma estrutura social para ação de seus integrantes”. estruturadas com integrantes da organização, agentes
De acordo com Phillips, Lawrence e Hardy (2004), políticos e lideranças comunitárias. Partindo de um
as instituições são produzidas e reproduzidas por in- protocolo de estudo de caso (Yin, 2001), o trabalho
termédio de processos de institucionalização, que tor- de campo se baseou em observação direta, procuran-
nam possíveis certos caminhos de pensar e atuar. Pela do interações sociais informais para uma maior con-
óptica discursiva, a implicação é “que as instituições fiabilidade das evidencias, objetivando documentar um
são construídas primariamente mais através da pro- fenômeno de interesses por meio do conhecimento dos
dução de textos do que por ações” (Phillips, Lawrence comportamentos, crenças e atitudes associadas à ocor-
e Hardy, 2004, p. 638). Entretanto, ainda segundo os rência de tal fenômeno.
autores, as ações afetam o discurso por meio da pro-
dução de textos objetivando a constituição de um Caracterização da empresa
modo discursivo de institucionalização. Isso se dá pela A organização envolve a parceria entre uma empresa

EDIÇÃO ESPECIAL • 2005 • © RAE • 17

010-022 17 06.09.05, 15:51


ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

multinacional e outra brasileira. A partir de 2001, em conceito de crescimento sustentável e sua importância
uma negociação avaliada em US$ 600 milhões, o par- para as comunidades inscritas em sua área de atuação.
ceiro internacional adquiriu integralmente o controle
acionário. A empresa atua em 47 municípios no esta- Por meio da bandeira de “melhoria da qualidade de
do de Minas Gerais, gerando aproximadamente 9 mil vida nas comunidades”, a organização desenvolve nos
empregos diretos e 27 mil indiretos, destinando quase municípios ações sociais como distribuição de calça-
toda a produção para o mercado externo. A principal dos e material escolar para o ensino fundamental, além
fonte de matéria-prima da empresa é a floresta de euca- de disponibilizar pequenas áreas para a plantação e o
liptos, sendo por ela reconhecida em compromisso pú- cultivo sob agricultura familiar. É importante obser-
blico via código de ética da organização. Detentora de var no discurso oficial da organização a preocupação
certificações ISO 9001 e ISO 14001, a empresa desen- com o social. O texto produzido pela gerência da or-
volve programas sociais sob a perspectiva da responsa- ganização é individual, mas o conteúdo do discurso é
bilidade social com iniciativas geralmente focadas nas caracterizado pelo contexto social em que a organiza-
áreas educacional, ambiental e de produção agrícola. ção está inserida, o da valorização do lema da respon-
A organização desenvolve programas como Ação e sabilidade social pelas corporações. Como agente
Cidadania nas comunidades, envolvendo atendimen- enunciador, o dizer da gerência da organização é a re-
to médico, jurídico, campanhas educativas e de en- produção inconsciente do dizer de seu grupo social,
tretenimento infantil. As ações implementadas pela não sendo ela livre para dizer, mas coagida a dizer o
organização sob o lema da responsabilidade social são que seu grupo diz (Fiorin, 1998). É a busca de sintonia
formuladas por intermédio do Instituto de Ação e Ci- com o discurso hegemônico no intuito de preservar a
dadania, constituído para a execução de parcerias agrí- própria imagem (Srour, 1994). Enquanto o discurso é
colas, culturais e socioambientais na área de atuação a materialização das formações ideológicas, a forma
da organização. A análise da pesquisa busca identifi- como a gerência apresenta as ações que compõem a
car, por meio das formações discursivas dos diversos doutrina da responsabilidade social é o espaço reser-
atores, as estratégias de persuasão utilizadas no intui- vado à manipulação consciente, cujos elementos de
to da promoção de influência nas relações de poder, já expressão são organizados da melhor forma para vei-
que as estratégias de persuasão confirmam que a lin- cular o discurso. Segundo Fiorin (1998, p. 42), “o dis-
guagem afeta e é afetada pelas relações de poder entre curso é, pois, o lugar das coerções sociais, enquanto o
os diversos grupos sociais (Bradac e Hung Ng, 1993). texto é o espaço da liberdade individual”.
O discurso formalizado na sintaxe “[...] a empresa
contribuirá para a preservação do meio ambiente, con-
ANÁLISE E DISCUSSÃO forme determinações legais definidas em sua política
ambiental [...]” pode ser entendido como uma estra-
A atuação da gerência da organização nas comunida- tégia discursiva de persuasão ideológica baseada no
des tem sido alvo de conflitos envolvendo administra- silêncio (Faria, 1992), pois privilegia o dito “contri-
dores municipais, ambientalistas e parlamentares. Em buirá para a preservação do meio ambiente tendo como
decorrência da visão de cidadania corporativa, a ge- referência sua política ambiental”, silenciando as con-
rência da organização, influenciador interno, apresenta cepções dos outros agentes sociais com relação aos
publicamente os seguintes princípios no código de impactos das atividades da organização sobre o meio
ética da corporação: ambiente. De acordo com Mintzberg (1983), é o refle-
• nas comunidades onde atua, a empresa priorizará o xo de uma relação de poder em que a coalizão interna
respeito e estabelecerá parcerias voltadas para ações da organização procura dominar a influência dos enun-
que promovam a melhoria da qualidade de vida da ciadores, influenciadores, presentes na coalizão exter-
comunidade, buscando desenvolver e preservar a cul- na. Esse autor qualifica essa forma de intervenção
tura local, e minimizar os impactos decorrentes de suas como a priorização de objetivos econômicos e sociais
atividades; numa perspectiva puramente gerencial.
• a empresa contribui para a preservação do meio ambien- Um ponto comum das entrevistas coletadas é o en-
te conforme determinações legais definidas em sua volvimento de controle social e poder. As manifesta-
política ambiental por entender a importância do tema ções dos agentes discursivos demonstram que não exis-
para o desenvolvimento de seu negócio, com base no te um relacionamento externo entre linguagem e so-

18 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 18 06.09.05, 15:51


EPAMINONDAS BITTENCOURT • ALEXANDRE CARRIERI

ciedade, mas um relacionamento interno e dialético As atividades da empresa X estão transformando a


(Fairclough, 1989). Isso é ilustrado com os depoimen- nossa região em pequenas comunidades ilhadas por
tos a seguir: eucaliptos, onde as atividades agrícolas são
destruídas. A responsabilidade social da empresa,
Nós não abrimos mão de um debate amplo sobre a diferente do dito, deveria se dar na perspectiva da
atuação da empresa nos municípios. A relação da em- preservação ambiental e do desenvolvimento econô-
presa com as comunidades não pode se limitar a me- mico regional, o que não existe (Formação discursiva
ras atividades filantrópicas. É preciso diminuir a ga- 4 – Diretor de meio ambiente da prefeitura do muni-
nância e pensar na vida humana, na destruição da cípio B).
biodiversidade, na destruição do tecido social,
provocada pela expansão da monocultura do É possível observar que a formação discursiva 3, em
eucalipto” (Formação discursiva 1 – Deputado esta- que “para a empresa só vale o economicamente viá-
dual). vel”, indica uma restrição de conteúdo (Fairclough,
O nosso município é pobre, vivemos de um peque- 1989) em relação ao universo do agente enunciador.
no comércio e produção agrícola. Cresceram mui- Demonstrando ainda, via enunciação, “já está influen-
to as plantações de eucalipto, mas a empresa aten- ciando no nosso conselho municipal de meio ambiente
de os nossos pedidos, principalmente na educação para desestabilizar a atual direção”, uma restrição do
municipal, com a doação de material escolar e na papel do sujeito, garantindo a dominação da organi-
infra-estrutura com a ajuda na manutenção das zação por meio da subjugação do agente enunciador.
nossas estradas. Evitamos participar muito do con- Na formação discursiva 4, “a responsabilidade social
flito levantado pela ONG, que existe aqui na re- da empresa X, diferente do dito, deveria se dar na
gião, porque na realidade o poder da empresa é perspectiva da preservação ambiental”, apresenta-
muito grande” (Formação discursiva 2 – Prefeito se uma restrição de conteúdo em que o agente enun-
do município A). ciador conclui por uma atuação da organização di-
ferente do publicamente enunciado. Assim, o pu-
É possível distinguir nas formações discursivas tipos blicamente enunciado equivale ao “poder ideológi-
diferenciados de restrições exercidas por um agente co, o poder de projetar práticas próprias, tendo como
sobre outro, em uma autêntica relação de poder: na base o senso comum, que é significativo complemento
formação discursiva 1, o “não abrir mão de um deba- para o poder político e econômico” (Fairclough, 1989,
te amplo sobre a atuação da empresa X nos municí- p. 33).
pios”, o enunciador deixa implícita uma restrição de Na formação discursiva 5, o enunciador questiona
relacionamento social (Fairclough, 1989), em que a os programas implantados pela organização:
organização mantém relação de domínio utilizando-
se do instrumento da audiência restrita. Na forma- O que é responsabilidade social? É a empresa X redu-
ção discursiva 2, “evitamos participar muito de con- zir o número de nascentes de água da região de 280
flito [...] porque, na realidade, o poder da empresa é para 95? As atividades filantrópicas desenvolvidas por
muito grande”, o enunciador expressa uma restrição ela junto às comunidades que perpetuam o poder são
do papel do sujeito (Fairclough, 1989), em que este de fato uma preocupação social? Qual o sentido do
ocupa uma posição de total subordinação no relacio- investimento em treinamento ambiental feito pela
namento com a organização. empresa maciçamente com os professores em toda a
região, tendo como base estritamente sua política am-
Empreendimento com responsabilidade social deve ser biental? (Formação discursiva 5 – Dirigente de ONG
ecologicamente correto, economicamente viável e so- atuante na região).
cialmente justo. Para a empresa X, só vale o economi-
camente viável, e da mesma forma que ela atua na Merece destaque o enunciado “qual o sentido do in-
política nos diversos municípios. Também já está in- vestimento em treinamento ambiental feito pela em-
fluenciando no nosso conselho municipal de defesa presa maciçamente com os professores em toda a re-
do meio ambiente, para desestabilizar a atual direção gião tendo como base estritamente sua política am-
(Formação discursiva 3 – Presidente do conselho mu- biental”, em que está presente uma restrição de con-
nicipal de meio ambiente do município B). teúdo por parte da organização com o objetivo de le-

EDIÇÃO ESPECIAL • 2005 • © RAE • 19

010-022 19 06.09.05, 15:51


ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

gitimar a dominação. Segundo Fairclough (1989), em blicação de balanços sociais é prática comum das mai-
qualquer sociedade existirão mecanismos para reali- ores empresas, o que possibilita informações sobre o
zar a socialização das práticas relacionadas a conheci- modo como as organizações desempenham suas fun-
mentos e crenças, relações e identidades sociais. A ções sociais.
coordenação imposta no exercício do poder é deno-
minada doutrinação, dessa forma, “qualquer sistema
educacional é um caminho político de manter ou mo- CONSIDERAÇÕES FINAIS
dificar a apropriação de discursos através dos conhe-
cimentos e poderes que eles conduzem” (Fairclough, A ideologia da responsabilidade social empresarial tem
1989, p. 65). O treinamento promovido pela organi- sua origem em uma geopolítica mundial em tensão por
zação junto aos professores é uma iniciativa de uma disputa ideológica envolvendo o liberalismo, par-
gerenciar as interações com o ambiente social, uma ticularmente a escola neoliberal, e o crescente movi-
peça de reprodução contínua dos valores da gerência mento pela intervenção do Estado na economia, por
da organização (Phillips e Brown, 1993). meio da concepção do Estado de bem-estar social,
As formações discursivas 6 e 7 mostram que a for- materializado pela social-democracia européia. Esse
ma lingüística sempre se apresenta aos locutores num debate socioeconômico no período de reconstrução da
contexto ideológico preciso. Nesse sentido, a situação economia capitalista no contexto da guerra fria, pós-
social mais imediata e o meio social mais amplo deter- Segunda Guerra Mundial, está presente nos postula-
minam completamente a estrutura da enunciação dos de H. Bowen (1953), ao afirmar a doutrina da res-
(Bakhtin 2004), como mostrado a seguir: ponsabilidade social como uma alternativa possível
para se evitar um maior controle da economia pelo
A nossa empresa possui padrão internacional. As- Estado. Em meio ao conflito entre a teoria neoliberal
sim, nós necessitamos preocupar com nossos cola- e a concepção da responsabilidade social corporativa,
boradores, os empregados e a sociedade, que se re- vale destacar as manifestações que indicam a preocu-
lacionam conosco. A responsabilidade social é a éti- pação em torno da ética nos negócios como necessária
ca que guia nossas ações, conforme as grandes or- para a própria sobrevivência das organizações, devido
ganizações (Formação discursiva 6 – Gerente 1 da às relações de poder que envolvem as organizações e
organização). os diversos influenciadores externos. Conseqüente-
A empresa exige em nossas ações sempre pensarmos mente, a ideologia da responsabilidade social demons-
no social. Os nossos programas de atendimento às tra a preocupação das organizações com a pressão dos
comunidades atendem as necessidades em diversas influenciadores externos nas relações sociais de po-
áreas que fazemos questão de contemplar no plane- der, resultado de mudanças sociais que impulsiona-
jamento estratégico empresarial. Podemos destacar ram a aceitação de novas normas, que, por sua vez,
as áreas de educação e meio ambiente como princi- tornaram comportamentos anteriores socialmente ina-
pais (Formação discursiva 7 – Gerente 2 da organi- ceitáveis. Na realidade, o discurso da ideologia libe-
zação). ral, do negócio estritamente associado ao lucro, tor-
nou-se contraproducente para as exigências de dife-
As enunciações reproduzem um produto puro da in- renciação na economia capitalista competitiva.
teração social, a incorporação da ideologia da respon- Da hegemonia do discurso da responsabilidade so-
sabilidade social pelas corporações. O indivíduo fala a cial no ambiente empresarial decorre a relevância do
linguagem de seu grupo, pensa do modo que seu gru- desempenho social das corporações, em que ações so-
po pensa, ou somente num sentido muito limitado ciais são mensuradas por intermédio de balanços es-
pode criar por si mesmo um modo de falar e pensar pecíficos que possibilitam a institucionalização de
(Mannheim, 1968). comportamentos e a difusão de políticas de marketing
No Relatório da Diretoria de 2003, a gerência da or- no mercado. Isso significa que há uma batalha em bus-
ganização considera que ocorreram melhorias substan- ca das mentes das pessoas numa estrutura social que
ciais no relacionamento com os diversos stakeholders. valoriza imagens de representação e a manipulação de
Faz um balanço positivo dos projetos sociais desen- símbolos (Castells, 1999).
volvidos, embora não disponibilize publicamente o Sob a tipologia proposta por Sethi (1975) acerca do
balanço social. De acordo com Puppim (2003), a pu- desempenho social das corporações, a organização

20 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 20 06.09.05, 15:51


EPAMINONDAS BITTENCOURT • ALEXANDRE CARRIERI

deste estudo de caso pratica um conjunto de ações porações, que na realidade se encerra nas relações de
enquadradas na definição de obrigação social, parti- poder que envolvem grupos de pressão na sociedade,
cularmente na compreensão das normas éticas como é traduzido pela visão hegemônica da gerência. Por-
estritamente associadas ao padrão estabelecido pela tanto, a pressão dos influenciadores externos sobre a
gerência da organização, na postura de resposta às pres- organização é importante não só para a rediscussão
sões sociais, ignorando a insatisfação de agentes polí- da governança corporativa, mas também para com-
ticos referenciados na sociedade. Isso conduz à pensar o poder resultante das prerrogativas de natu-
priorização da execução de projetos filantrópicos nas reza gerencial.
comunidades em substituição à formação de parcerias
objetivando o fortalecimento da economia regional. Na
realidade, o comportamento da organização em rela-
ção à ideologia da responsabilidade social é motivado
pela insuficiência de legitimidade derivada exclusiva- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mente do atendimento aos padrões exigidos de ordem ALVES, E. Dimensões da responsabilidade social da empresa: uma abor-
legal e econômica no mercado. dagem desenvolvida a partir da visão de Bowen. Revista de Administração,
A ideologia da responsabilidade social, incorpora- São Paulo, v. 38, n. 1, p. 37-45, 2003.
da pela organização, faz parte de um movimento de BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004.
resposta aos ataques sofridos pelas grandes corpora-
ções, que são percebidas como sistemas fechados, de BOWEN, H. Social Responsabilities of the Businessman. New York, 1953.
legitimidade questionável, com enorme poder políti-
BRADAC, J.; NG, HUNG. Power in Language. London: Sage, 1993. v. 3.
co, econômico e social. Por intermédio desse movi-
mento, a organização desenvolve uma intervenção mais CARRION, R.; GARAY, A. Organizações privadas sem fins lucrativos: a
qualificada em direção à dominação dos influencia- participação do mercado no terceiro setor. Análise, Porto Alegre, v. 11, n.
1, p. 203-222, 2000.
dores externos nas relações de poder. Aliada à pratica
filantrópica, a organização, ao desenvolver programas CARROLL, A. Three-dimensional conceptual model of corporate perfor-
comunitários, busca não apenas o fortalecimento da mance. Academy of Management Review, v. 4, n. 4, p. 497-505, 1979.
própria imagem, como também o desenvolvimento
CASTELLS, M. A Era da Informação: o poder da identidade. São Paulo: Paz e
interno de competências. Em virtude da concepção da Terra, 1999. v. 2.
ideologia da responsabilidade social como uma pura
peça da estratégia empresarial, a gerência da organi- CHENEY, G.; CHRISTHENSEN, L. Organizational identity. In: The New
Handbook of Organizational Communication. London: Sage, 2001. p. 231-
zação visualiza as possíveis contribuições ou reivindi- 269.
cações de outros atores sociais, organizados como pon-
tos geradores de conflitos, o que impossibilita uma FAIRCLOUGH, N. Language and Power. New York: Longman Inc., 1989.
relação mais equilibrada de poder. De outra forma, a FAIRCLOUGH, N. Critical Discourse Analysis: The Critical Study of Language.
tensão resultante no cenário de atuação da organização London: Longman, 1995.
em decorrência das disputas com influenciadores ex-
ternos organizados impede a constituição de barganha FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Ed. UNB, 2001.

de natureza integrativa nas relações de poder, em que FALCONER, A.; FISCHER, R. Voluntariado empresarial: estratégias de
poderiam ser exploradas iniciativas conjuntas que empresa no Brasil. Revista de Administração, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 15-
potencializassem o desenvolvimento econômico e so- 27, 2001.
cial sustentável. FARIA, A. M. O preço da passagem no discurso de uma empresa de ônibus.
Numa relação de poder em que um conjunto de Departamento de Lingüística, FALE/UFMG, Belo Horizonte, p. 1-7, 1992.
atores permanece inteiramente submisso, a interface
organização–sociedade é realizada sob uma única FERNANDES, S. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. São Pau-
lo: Queiroz/EDUSP, 1973
via. A difusão da ideologia da responsabilidade so-
cial essencialmente sob a óptica gerencial acaba FIORIN, L. J. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1998.
ocultando um antigo debate sobre o controle das
FREDERICK, W. The growing concern over business responsibility.
corporações na sociedade, reduzindo-o a uma dis- California Management Review, v. 2, p. 54-61, 1960.
cussão dicotômica entre a prática ou não da cidada-
nia corporativa. Assim, o comportamento das cor- FRIEDMAN, M. Capitalismo e liberdade. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

EDIÇÃO ESPECIAL • 2005 • © RAE • 21

010-022 21 06.09.05, 15:51


ARTIGOS • RESPONSABILIDADE SOCIAL: IDEOLOGIA, PODER E DISCURSO NA LÓGICA EMPRESARIAL

GARAY, B. A. Programa de Voluntariado Empresarial: modismo ou ele- PUPPIM, J. Um balanço dos balanços sociais das 500 maiores empresas
mento estratégico para as organizações? Revista de Administração, São Pau- S.A. não-financeiras do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCI-
lo, v. 36, n. 3, p. 6-14, 2001. AÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PES-
QUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 27., 2003, Atibaia. Anais. Atibaia: ANPAD,
HAYECK, F. O caminho da servidão. Porto Alegre: Globo, 1977. 2003.

JONES, T. An integrating framework for research in business and society: PRESTON, L. Corporation and society: the search for a paradigm. Journal
a step toward the elusive paradigm? Academy of Management Review, v. 8, of Economic Literature, p. 435-453, 1975.
n. 4, p. 559-564, 1983.
PRESTON, L. E.; POST, J. E. Private management and public policy.
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1970. California Management Review, v. 23, n. 3, p. 58-62, 1981.

LEVITT, T. The dangers of social responsibility. Harvard Business Review, p. SETHI, P. S. Dimensions of corporate social performance: an analytical
41-50, sep.-oct.,1958. framework. California Management Review, v. 13, n. 3, p. 58-64, 1975.

MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. Rio de Janeiro: Zahar, 1968. SROUR, R. Ética empresarial sem moralismo. Revista de Administração,
São Paulo, v. 29, n. 3, p. 2-22, 1994.
MCINTOSH, M. Cidadania corporativa – estratégias bem-sucedidas para
empresas responsáveis. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. STRAND, R. A Systems paradigm of organizational adaptations to the so-
cial environment. Academy of Management Review. v. 8, n. 1, p. 90-96,
MINTZBERG, H. Power in and around Organizations. Englewood Cliffs, NJ: 1983.
Prentice Hall, 1983.
WARTICK, S.; COCHRAN, P. The evolution of the corporate social perfor-
PHILLIPS, N.; LAWRENCE, T.; HARDY, C. Discourse and institutions. mance model. Academy of Management Review, v. 10, n. 4, p. 758-768,
Academy of Management Review, v. 29, n. 4, p. 635-652, 2004. 1985.

WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.


PHILLIPS, N.; BROWN, J. Analyzing communication in and around
organizations: a critical hermeneutic approach. Academy of Management YIN, R. Estudo de caso, planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman,
Journal, v. 36, n. 6, p. 1547-1576, 1993. 2001.

Artigo recebido em 23.08.2004. Aprovado em 18.07.2005.

Epaminondas Bittencourt
Secretário de Administração e Recursos Humanos, Prefeitura Municipal de Nova Lima – MG e membro
do GGI/UFMG-CEPEAD. Mestre em Administração pela UFMG-CEPEAD.
Interesses de pesquisa nas áreas de relações de poder, identidade, liderança e cultura organizacional.
E-mail: ebn@cepead.face.ufmg.br
Endereço: Rua Curitiba 832, Centro, Belo Horizonte – MG, 30170-120.

Alexandre Carrieri
Professor da UFMG-CEPEAD e coordenador do GGI/UFMG-CEPEAD. Doutor em Administração pela
UFMG-CEPEAD.
Interesses de pesquisa nas áreas de cultura e identidade organizacional.
E-mail: alexandre@cepead.face.ufmg.br
Endereço: Rua Curitiba 832, Centro, Belo Horizonte – MG, 30170-120.

22 • © RAE • VOL. 45 • EDIÇÃO ESPECIAL MINAS GERAIS

010-022 22 06.09.05, 15:52

Você também pode gostar