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RESUMO
Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um tema permeado por várias correntes
teóricas, tais como as teorias do acionista (stockholder), das partes interessadas (Stakeholders)
e contrato social. Há, ainda, as abordagens Ética e Estratégica da RSE. Inseridos na
abordagem estratégica estão os estudos das relações entre desempenho social e desempenho
financeiro das empresas. No entanto, como a maioria desses estudos é realizada no eixo EUA-
Europa, e concentra-se em grandes empresas, pesquisas indicam que as investigações sobre o
fenômeno devem expandir-se para países emergentes e incluir as pequenas e médias empresas
(PMEs) como objeto de análise. Assim, este trabalho revisa aspectos centrais da literatura de
RSE, desempenho social e desempenho financeiro, buscando responder às seguintes questões
i) PMEs com desempenho financeiro nulo ou negativo limitam-se apenas a investir em
práticas de RSE obrigatórias? ii) PMEs com desempenho financeiro positivo investem em
práticas de RSE além das obrigatórias? e, iii) a forma de condução das práticas de RSE
impacta o desempenho financeiro de PMEs? Para responder a essas questões, o presente
ensaio teórico tem como objetivo geral delinear um modelo conceitual e sugerir proposições
de pesquisa para serem testados por futuros estudos empíricos quanto à: a) investigar a
relação entre desempenho social e desempenho financeiro em PMEs; b) verificar se a
capacidade financeira de PMEs influencia na natureza (obrigatória e espontânea) das práticas
de RSE desenvolvidas e, c) identificar se a forma de condução das práticas de RSE
(estratégica e indiscriminada) impacta o desempenho financeiro das PMEs.
1
1 INTRODUÇÃO
Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um tema permeado por várias correntes
teóricas. Dentre as principais estão as seguintes teorias: do acionista (stockholder), das partes
interessadas (stakeholders), do contrato social (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009) e as
abordagens Ética e Estratégica (FARIA; SAUERBRONN, 2008). Apesar de diferentes visões,
essas perspectivas teóricas destacam o crescente interesse e preocupação da sociedade por
questões socioambientais. Esse fato faz da RSE um guia orientador de condutas e práticas
(éticas, morais e legais) para organizações e indivíduos. Sob esse guia, empresas alteram suas
práticas de negócios visando compatibilizar produtos e serviços com novas demandas sociais.
No entanto, o entendimento da RSE como fator chave para o alcance de metas econômicas e
de geração de riqueza (GARRIGA; MELE, 2004) gera algumas controvérsias. Enquanto
algumas empresas realizam investimentos em RSE para atender a reivindicações de clientes,
colaboradores, fornecedores e outros grupos interessados, existem gestores que resistem a
realizá-los, sob o argumento de que tais investimentos são inconsistentes com seus esforços
de maximização de lucros (McWILLIAMS; SIEGEL, 2000).
Essas controvérsias, assentadas sobre a falta de consenso quanto à definição e
conteúdo exatos de RSE (FREDERICK, 1994; DAHLSRUD, 2008), impulsionam esforços
quanto à expansão do conceito ético e filosófico de RSE (considerado amplo e vago) em
direção a um construto mais adequado para refletir a ação gerencial da empresa
(FREDERICK, 1994). Desses esforços surgem os estudos sobre o desempenho social
empresarial (um subconstruto da RSE), realizados desde meados da década de 1970 (WOOD,
1991; 2010). Tais estudos compõem a abordagem estratégica da RSE (FARIA;
SAUERBRONN, 2008) e buscam responder questões relacionadas às pressões sociais
exercidas sobre as empresas, tais como: as empresas podem responder às pressões sociais?
Como e até que ponto elas irão responder? Quais os custos e os efeitos que essas respostas
terão? (FREDERICK, 1994). O foco da abordagem estratégica da RSE é o desempenho social
empresarial e tem a finalidade de explicar se a RSE leva a empresa a maiores ganhos, bem
como produzir instrumentos (ferramentas de gestão) capazes de melhorar o desempenho
social e ético das empresas (FARIA e SAUERBRONN, 2008).
A relevância da avaliação do desempenho social empresarial tornou-se um consenso
na literatura de RSE (RUF et al., 1998; McWILLIAM; SIEGEL, 2000; WOOD, 2010).
Segundo Ruf et al. (1998) avaliar o desempenho social importa tanto a pesquisadores como a
gestores. Pesquisadores estão interessados em investigar as relações entre diferentes medidas
organizacionais e o próprio desempenho social, enquanto gestores podem empregar
informações do desempenho social em seus modelos de tomada de decisão (RUF et al., 1998).
Compondo os estudos sobre desempenho social está o contínuo exame da relação entre
desempenho social e desempenho financeiro das empresas e as suas possíveis correlações de
causa e efeito (McWILLIAMS; SIEGEL, 2000; ORLITZKY et al., 2003; LUO;
BHATTACHARYA, 2006; MARGOLIS et al., 2007).
Entretanto, o foco dos estudos nessa temática tem sido as grandes corporações,
inclusive os realizados fora do eixo EUA-Europa. Apesar de a literatura reconhecer a
importância do estudo dos impactos sociais e ambientais de pequenas e médias empresas
(PMEs), os trabalhos não caminham nessa direção (JENKINS, 2006). Assim, o presente
ensaio teórico apoia-se sobre o conhecimento gerado por estudos realizados dentro da
abordagem estratégica da RSE e na premissa de que toda empresa pode ser avaliada em
termos de desempenho social (WOOD, 1991) para contribuir com a literatura quanto à
investigação do fenômeno em empresas de menor porte.
Como pesquisas indicam que empresas com maior capacidade de recursos investem
mais em RSE do que aquelas com baixa capacidade (WADDOCK; GRAVES, 1997; MELO,
2012) e, considerando que as práticas de RSE podem ser classificadas em obrigatórias e
2
espontâneas (SCHWARTZ; CARROLL, 2003), as duas primeiras questões de pesquisas desse
texto são: i) PMEs com desempenho financeiro nulo ou negativo limitam-se apenas a investir
em práticas de RSE obrigatórias? ii) PMEs com desempenho financeiro positivo investem em
práticas de RSE além das obrigatórias? Considerando também que estudos indicam que o
investimento estratégico em RSE retorna em benefícios para a empresa (MCGUIRE, et al.,
1988; BRAMMER; PAVELIM, 2006; WADDOCK; GRAVES, 1997) e em consequente
melhoria do desempenho financeiro (SINGAL, 2014), a terceira questão de pesquisa
formulada é: iii) a forma de condução das práticas de RSE impacta o desempenho financeiro
de PMEs?
Com base nessas questões, este trabalho tem por objetivo geral delinear um modelo
conceitual e sugerir proposições de pesquisa para serem testados por futuros estudos
empíricos que pretendam: i) investigar a relação entre desempenho social e desempenho
financeiro em PMEs brasileiras; ii) verificar se a capacidade financeira de PMEs influencia na
natureza (obrigatória e espontânea) da RSE desenvolvida; e iii) identificar se a forma de
condução da RSE (estratégica e indiscriminada) impacta o desempenho financeiro dessas
empresas.
2 MARCO TEÓRICO
O marco teórico aborda o avanço do tema RSE na literatura de gestão, discorre sobre
as controvérsias conceituais, delimita os conceitos de responsabilidade social, desempenho
social e desempenho financeiro, bem como encerra as dimensões do desempenho social a
serem exploradas.
5
A metodologia do balanço social do IBASE confronta os investimentos realizados
pelas empresas nas diversas frentes do desempenho social com a receita líquida. Os índices
podem ser calculados mensalmente e anualizados. Em relação aos empregados, as frentes
mais comuns previstas no balanço social são os investimentos, obrigatórios ou espontâneos,
feitos em folha de pagamento, encargos sociais, alimentação, previdência privada, saúde,
segurança e medicina do trabalho, educação, cultura, capacitação e desenvolvimento
profissional, creche, participação nos lucros e resultados etc.
Na dimensão comunidade, investimentos espontâneos relacionam-se a educação,
cultura, saúde e saneamento, habitação, esporte, lazer e diversão, creche, alimentação,
combate à fome e segurança alimentar. E os investimentos obrigatórios vinculam-se às
práticas de gerenciamento do impacto da empresa na comunidade, em termos de geração de
lixo, mau cheiro, tratamentos de efluentes e outras formas de poluição.
A dimensão clientes não é contemplada pelo balanço social do IBASE. Nesse caso,
sugere-se que sejam utilizadas, como referência, as iniciativas previstas na dimensão clientes
e consumidores, contida nos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, um
relevante instrumento de avaliação da RSE fornecido pelo Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social. Nesse instrumento, os investimentos, obrigatórios e espontâneos,
direcionam-se para o setor de serviço de atendimento ao cliente (SAC), contemplando,
principalmente, o treinamento de funcionários. Os investimentos ainda são aplicados em
programas com foco em saúde e segurança do consumidor, processos de identificação e
gerenciamento de danos potenciais dos produtos ou serviços e em outras frentes relacionadas
ao código de defesa do consumidor.
Waddock e Graves (1997) afirmam ainda que enquanto os investimentos das empresas
com forte desempenho financeiro direcionam-se para ações com impactos de longo prazo,
como as de melhoria das escolas da comunidade, as empresas com problemas financeiros têm
pequena capacidade para investir em atividades de RSE voltadas à comunidade, como as
relacionadas à filantropia empresarial. Ou seja, as empresas com desempenho financeiro nulo
ou negativo tem dificuldades para investir em práticas RSE espontâneas, classificadas no
domínio ético do modelo conceitual de Schwartz e Carroll (2003).
8
Nesse sentido, este trabalho considera que PMEs com desempenho financeiro anterior
nulo ou negativo, por enfrentam restrições financeiras, tendem a investir seus recursos apenas
em práticas de RSE obrigatórias, conforme a proposição 2:
• P2: PMEs com desempenho financeiro anterior negativo ou nulo investem apenas
em práticas de RSE obrigatórias.
10
Figura 1: Modelo conceitual da pesquisa
T‐1 T T, T+1
Desempenho Social
Desempenho Desempenho
Financeiro Dimensões Financeiro
Empregados – Comunidade ‐ Clientes
Naturezas das ações Formas de Execução
Negativo P2 P3
Obrigatórias
Integradas à estratégia Aumenta
ou nulo
P1
Positivo
P4
Espontâneas Indiscriminadas Reduz
Fonte: o autor
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sob a abordagem estratégica da RSE, estudos sobre o desempenho social empresarial
são realizados há quatro décadas, tendo como foco de análise as grandes corporações. Tais
estudos, além de procurar explicar as relações entre desempenho social e financeiro, têm
procurado produzir ferramentas de gestão capazes de aprimorar o desempenho social das
empresas. Apesar de reconhecer a relevância dos impactos sociais e ambientais das PMEs,
essas pesquisas não têm investigado o fenômeno nesse tipo de organização. Esse fato motivou
a realização do presente ensaio teórico.
Após revisar parte do conhecimento gerado pelo campo, este texto propõe um modelo
conceitual e sugere proposições de pesquisas para serem testados por futuros estudos
empíricos. Espera-se que as futuras pesquisas empíricas possam evidenciar se peculiaridades
específicas vivenciadas por PMEs, tais como maior vulnerabilidade às mudanças ambientais,
problemas relacionados às finanças (CAMPOS et al. 2008), visão de curto prazo e gestão
menos profissionalizada (NAKAMURA; ESCRIVÃO, 1999), levam as PMEs a investirem
mais recursos financeiros em práticas de RSE obrigatórias e menos em espontâneas. Além
disso, espera-se que os trabalhos empíricos evidenciem se as práticas de RSE impactam o
desempenho financeiro dessas empresas.
A realização desse ensaio teórico parte do pressuposto de que investigar o desempenho
social de PMEs pode gerar valiosas contribuições teóricas para esse campo de estudo e
fomentar a tomada de decisão dessas empresas.
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