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EDITORA UNISINOS
2012
APRESENTAÇÃO
Boa leitura!
REFERÊNCIAS
ARMANI, Domingos. Como Elaborar Projetos? Guia Prático para a Elaboração e Gestão de Projetos
Sociais. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para
estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
STEPHANOU, Luis; MULLER, Lúcia Helena; CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Guia para a
elaboração de projetos sociais. Porto Alegre: Editora Sinodal e Fundação Luterana de Diaconia,
2003.
SUMÁRIO
ANEXOS
SOBRE OS AUTORES
CAPÍTULO 1
COMPETÊNCIAS DO ADMINISTRADOR EM
PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS
As organizações sem fins lucrativos possuem crescentes papéis políticos, econômicos e sociais.
Elas adquirem importância na provisão de serviços sociais para a população, uma vez que o
Estado não consegue provê-la de todos. Logo, representam uma possibilidade de mudança social
para aumentar a qualidade de vida das pessoas (BEKER, 2012).
P ara a elaboração de uma proposta de intervenção social, deve ser discutida a importância
de diagnosticar, compreender e intervir em um determinado contexto social (P OLGATI et
al., 2011). No contexto deste livro, utilizado na atividade acadêmica P rojeto Social II, o
objetivo é implantar e implementar projetos sociais e/ou avaliar os resultados obtidos,
propondo melhorias no processo, assim como avaliar e propor projetos de consultoria de
gestão para organizações do terceiro setor.1
2.1 O diagnóstico
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Célia M. de (coord.). Gestão de projetos sociais. 3. ed. rev. São Paulo: Associação de Apoio
ao Programa Capacitação Solidária (AAPCS), 2001. BARBIER, René. A pesquisa-ação. Brasília:
Liber Livro Editora, 2007.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1994.
HUDSON, Mike. Administrando organizações do terceiro setor. São Paulo: Makron Books, 1999.
PAGLIUSO, Antonio Tadeu. In: LIMA, Manolita C.; OLIVO, Silvio (org.). Estágio supervisionado
e trabalho de conclusão de curso: na construção da competência gerencial do administrador. São
Paulo: Thomson Learning, 2007.
POLGATI, Silvia de Oliveira (org.) et al. Projeto Social I. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS,
2011.
QUEIROZ, Marco. O planejamento estratégico e as organizações do terceiro setor. In: VOLTOLINI,
Ricardo (org.). Terceiro setor planejamento e gestão. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2004.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para
estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Revista Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v31n3.pdf>. Acesso em: 5 mai. 2012.
VIEIRA, Marcelo M. Falcão; ZOUAIN, Deborah Moraes. Pesquisa qualitativa em administração:
teoria e prática. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.
As fases de um projeto são divididas para fins didáticos, mas não podem ser
consideradas isoladamente, dependem das fases anteriores da elaboração de um
projeto e também das fases posteriores de execução do mesmo. Por exemplo, os
indicadores e sistemas de avaliação são definidos pelos objetivos estabelecidos para a
intervenção do projeto. Os objetivos, por sua vez, dependem do diagnóstico da
situação, ou seja, do conhecimento e da relevância do problema a ser investigado.
Todas as fases apresentam pontos de contato entre si, o que nos parece importante
para o estabelecimento de padrões de avaliação de projetos. Costuma-se considerar
que a avaliação é a fase que acompanha todas as outras, que fornece feedback para a
construção da fase posterior e serve também para correção de rota durante todo o
percurso do projeto, o que nos confirma a inter-relação entre todas as fases.
O conjunto das fases de um projeto constitui o seu “ciclo de vida”, que tem um
papel importante no seu acompanhamento, pois ajuda a monitorá-lo, a tomar decisões
e a definir estratégias para sua realização. Por exemplo, o conhecimento sobre o ciclo
de vida de um projeto auxilia na montagem de uma equipe, no estabelecimento do
trabalho de cada membro, do período de realização das tarefas e de entrega de
resultados. M ais do que definir etapas ou fases do projeto, o ciclo de vida permite a
caracterização de cada fase, diferenciação com relação às outras fases, o que é
necessário realizar em cada uma delas, facilitando o gerenciamento do projeto. Do
contrário, o desconhecimento ou a interpretação errônea do ciclo de vida pode criar
falsas expectativas, como, por exemplo, sobre mudanças que não serão realizadas ou
priorizadas no desenvolvimento do projeto. A percepção equivocada do ciclo de vida
do projeto pode também evitar que sejam percebidas oportunidades de mudanças
entre diferentes fases, pois, “toda passagem de fase é, por natureza, um período de
mudanças”. Esse entendimento é de suma importância para que a equipe do projeto
possa tirar o melhor proveito de todas as fases e possa exercer o gerenciamento das
mesmas, tomando decisões produtivas ao seu desenvolvimento (RUGGERI, 2012).
As fontes, ou de onde partem as propostas de projetos sociais, são relevantes para a
definição de indicadores de avaliação. A fim de entender a dinâmica das relações entre
as diversas fontes de projetos sociais, partimos da corrente divisão da sociedade entre
primeiro, segundo e terceiro setores. Os três setores da sociedade equivalem ao Estado
(1° setor), mercado (2°) e sociedade civil (3°), sendo que essa classificação não
corresponde a uma ordem cronológica de existência ou de importância, e sim de
relacionamento entre eles. A sociedade civil precede a existência do Estado e do
mercado, mas o Estado foi o primeiro setor a instituir-se e foi responsável pelo
estabelecimento das regras de mercado. O terceiro setor, que parte da sociedade civil,
mas que não pode ser confundido com ela, foi organizando-se por meio de seus
relacionamentos com as comunidades e os outros dois setores já institucionalizados. O
terceiro setor seria a parcela da sociedade que luta por proteção social e é representada
por diferentes tipos de organizações: não governamentais, sem fins lucrativos,
filantrópicas, de direitos civis, de interesse público, entre outras. É comum pensar que
os projetos sociais sejam de domínio exclusivo das ONGs, mas eles são propostos
por inúmeros tipos de organização preocupadas com a salvaguarda da sociedade, além
do governo e de empresas com fins lucrativos.
As fontes das propostas de projetos sociais são relevantes, pois os setores têm
diferentes envolvimentos com a sociedade civil. Enquanto o primeiro setor é
compulsoriamente envolvido com o bem-estar social, pois tem obrigação de prover
infraestrutura, saúde, educação, qualidade de vida moradia etc., para uma comunidade,
os segundo e terceiro setores são fontes de investimento em projetos sociais por
opção ou conveniência. Essas condições alteram as formas com que os projetos são
avaliados e os critérios ou indicadores para analisar seus desempenhos. Por exemplo, o
Estado pode propor um projeto de saneamento de uma zona carente de infraestrutura
da cidade, com a construção de esgotos, rede de encanamentos, condução de água
potável. Esse projeto, da mesma forma que outros semelhantes, visa à proteção social,
receberá financiamento (algumas vezes, a fundo perdido), deverá apresentar contas e
realizar todas as fases previstas em um projeto social, mas será avaliado como de
obrigação do Estado. Se o mesmo tipo de projeto é proposto por uma empresa ou por
uma ONG, os indicadores de avaliação e as razões pelas quais o projeto é realizado
serão diferentes. A avaliação, neste casos, são baseados em critérios ou indicadores
mais genéricos, de efetividade, de eficácia, de impacto, custos-benefícios, entre outros.
Examinaremos algumas características e tipos de indicadores no próximo item.
3.4.1 Contexto
Específico. A área na qual as atividades do projeto são implementadas é da
comunidade (município no estado do Rio Grande do Sul). Nesta municipalidade,
residem 2.624 pessoas, entre essas uma população indígena de 970 pessoas (176
núcleos familiares e 302 crianças). Esta minoria, tradicionalmente ligada à própria
terra, aos próprios usos e costumes, hoje vive em um regime de precária subsistência,
derivada em parte da renda de algumas plantações administradas pela Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) e, em parte, do trabalho ocasional em latifúndios da
região.
Os espaços físicos, sociais e culturais na comunidade são mínimos e em péssimas
condições. A escassa atenção da educação às minorias tem ocasionado o aumento da
dispersão de jovens ao longo dos anos, principalmente devido ao uso exclusivo da
língua portuguesa (homologante) e não da língua indígena (valorizante e determinante
para a manutenção da cultura e do patrimônio cultural).
A precariedade dos serviços sanitários causa graves repercussões para a saúde
desta população. A desnutrição e algumas doenças como pneumonia e diarreia são
ainda causas de mortalidade, em especial entre as crianças. Devido à pobreza da
população indígena, um dos únicos recursos para tratamento de saúde praticado na
reserva é a medicina tradicional. Não existem oportunidades de trabalho na
comunidade. Os jovens não têm exemplos de trajetórias de crescimento pessoal e
profissional no interior da comunidade; os seus pais, habituados a um regime de mera
subsistência, não promovem modelos de vida alternativos, ao contrário, personalizam
a falência das políticas nacionais indígenas.
Essa falta de perspectivas e provisoriedade levam ao abandono da comunidade por
parte dos jovens, que, com frequência, dirigem-se à capital do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre. A urbanização desta cidade faz com que muitos jovens indígenas, que
partem de suas comunidades, encontrem nas favelas a criminalidade, violência,
alcoolismo, drogas e prostituição.
3.4.4 Objetivos
Sustentar a cultura indígena através da valorização de suas manifestações culturais e
do artesanato tradicional, com percursos formativos de requalificação direcionados e
com a constituição de três cooperativas inteiramente gestadas pelos indígenas da
comunidade.
3.4.5 Resultados esperados
a. construção e funcionamento de dois laboratórios (centros de formação
profissional) para a produção de artesanato local;
b. formação de 60 jovens em técnicas de artesanato local e gestão de
cooperativas artesanais;
c. constituição de três cooperativas de produção e venda de artesanato indígena.
3.4.7 Partners
Universidade local, a colaboração entre ONG e universidade é direcionada ao
enriquecimento do programa de apoio às culturas indígenas no Rio Grande do Sul,
para a realização de módulos de formação profissional, garantindo, com o
conhecimento sobre a cultura indígena, a sustentação sociocultural do projeto.
Governo Federal, através da fundação que promove o crescimento e o
desenvolvimento da comunidade. A colaboração visa garantir apoio institucional do
projeto e sua inserção em um plano programático regional mais amplo. A função da
fundação é promover o desenvolvimento econômico da comunidade para melhorar a
qualidade de vida de todos os cidadãos do estado do Rio Grande do Sul, preservando e
incentivando as peculiaridades e potencialidades desta comunidade.
Prefeitura Municipal, juntamente com a ONG, promove o conhecimento e a
integração entre a comunidade indígena e os outros cidadãos do município. Colabora
com a ONG na promoção de serviços educativos e sociais para os adultos, e favorece
indicações importantes para a promoção da comunidade indígena no município.
3.4.8 Anexos
Grade da M atriz Lógica do Projeto (anexo 1) apresentanda no final deste livro.
REFERÊNCIAS
BANCO MUNDIAL, Curso Líderes 2004. Matriz de marco lógico: uma ferramenta de elaboração de
projetos. Disponível em: <http://disaster-info.net/lideres>. Acesso em: 18 mar. 2012.
BRANDÃO, Maria de Fátima; TRÓCCOLI, Bartholomeu. Um modelo de avaliação de projeto de
inclusão digital e social: Casa Brasil. 2006. Disponível em: <http://br-ie.org>. Acesso em: 27 mar.
2012.
CARNEIRO, Margareth Fabiola dos Santos. Metodologia de gerenciamento de projetos. 2010.
Disponível em: <http://pmkb.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2012.
COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis: Vozes, 2011.
CROCE ROSSA ITALIANA. LA ROCCA, Irene. 2007. Fare un progetto nel sociale: vade-mecum.
Disponível em: <http://cri.it/flex/cm/pages>. Acesso em: 08 mar. 2012.
RODRIGUES, Maria Cecília. Retorno econômico de projetos sociais corporativos: limites da
avaliação. 2010. Disponível em: <http://idis.org.br/bibliotec/artigos>. Acesso em: 25 mar. 2012.
RUGGERI, Renê. Gerenciamento de projetos no terceiro setor. Rio de Janeiro: Brasport, 2011.
______. Definindo o ciclo de vida dos projetos: utilizando e diferenciando fases e etapas. 2011.
Disponível em: <http://www.administradores.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2012.
TERRIBILI FILHO, Armando. A escolha de indicadores de projeto. 2009. Disponível em:
<http://www.baguete.com.br/artigosDetalhes.php?id=861>. Acesso em 29 mar 2012.
VALARELLI, Leandro Lamas. Indicadores de resultados de projetos sociais. Disponível em:
<http://www.fcm.unicamp.br>. Acesso em: 29 mar. 2012.
ZAKARIA, Fareed. O mundo pós-americano. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Este capítulo está organizado em tópicos que discutem (a) razões para o crescente
interesse por projetos em empresas, de diferentes setores da sociedade e com diferentes
critérios de avaliação, onde buscamos entender diferenças e pontos de contato entre
avaliações de projetos empresarias (P E) e projetos sociais (P S); (b) tipos de avaliação
específica para projetos sociais, onde examinamos alguns critérios e fatores
condicionantes das avaliações de P S. Corremos o risco de repetir temáticas abordadas no
capítulo anterior, mas como já explicitado, as fases de um projeto são estreitamente
relacionadas, e essa é uma verdade quando consideramos as relações entre a construção ou
eleição de um sistema de indicadores e a avaliação propriamente dita.
4.1 Introdução
Os executores de projetos sociais são frequentemente criticados por falta de
profissionalismo, por amadorismo, principalmente nas fases de avaliação e prestação
de contas. Essas críticas são dirigidas, em especial, a organizações do terceiro setor
que, como reação, têm-se aproximado de organizações do segundo setor, para
benchmarking de suas metodologias de gerenciamento de projetos. A avaliação é uma
etapa que, se bem conduzida, aponta carências do projeto, tais como objetivos pouco
claros e difíceis de mensurar, falta de rigor metodológico, utilização de métodos de
coleta de informações ou avaliação pouco confiáveis.
Como afirmamos no capítulo anterior, os projetos sociais têm características que os
distinguem de outros projetos e isso pode estar na base da “inabilidade” em avaliar o
atingimento de objetivos, de usar adequadamente recursos, de alcançar a efetividade
das propostas etc. Existe uma resistência nos executores de projetos sociais em
utilizar metodologias de avaliação e gestão de projetos de áreas mais técnicas, como
engenharia e TI. As justificativas para essa resistência vão desde a natureza dos
projetos sociais, que envolvem uma participação maior das populações envolvidas,
uma aproximação afetiva com culturas e valores dessas populações, até as
características dos indicadores utilizados para a avaliação dos projetos sociais:
intangíveis, qualitativos, indiretos etc.
Este capítulo busca aproximar as metodologias de avaliação de projetos realizadas
nas organizações privadas, com fins lucrativos, e a prática de projetos sociais. É
importante salientar, como já mencionado no capítulo sobre indicadores, que os
projetos sociais não são exclusividade das empresas do terceiro setor, e diferentes
organizações privadas, governamentais, com ou sem fins lucrativos, propõem projetos
sociais e enfrentam dificuldades semelhantes no item avaliação. Considerando o caso
específico do segundo setor, as organizações estão mais habituadas a realizar projetos
de tipo técnico, com metodologias consagradas, mas no caso de seus investimentos em
projetos sociais, podem também encontrar dificuldades para transferir essas
metodologias para a avaliação de resultados.
Este capítulo tenta enfrentar essa difícil tarefa, examinando algumas metodologias
correntes na gestão de projetos, associando-as aos requisitos dos projetos sociais.
Para tanto, não podemos deixar de considerar algumas importantes diferenças entre
projetos sociais (PS) e projetos empresariais (PE), que alteram seus ciclos de vida e
suas gestões. A primeira distinção a ser feita é que nos PS não são previstos produtos
ou serviços a serem lançados no mercado consumidor, o que um PS entrega é um
produto ou serviço de utilidade pública, como saneamento, educação, conscientização.
Os resultados obtidos pelos PS são de difícil quantificação econômico-financeira,
sendo que a avaliação de retorno se dá por meio de indicadores de satisfação de uma
necessidade social. Quanto aos fundos de financiamento para os projetos, em um PE
geralmente os recursos provêm da própria empresa executora, enquanto um PS busca
financiamento de outras fontes e agências fomentadoras, inclusive de empresas com
fins lucrativos. No caso dos PE, o ciclo de vida é mais curto, pois o resultado do
projeto passa rapidamente para a fase seguinte de produção, comercialização ou
utilização do bem ou serviço; já no caso dos PS, os seus produtos ou passam a fazer
parte do portfólio de serviços da organização ou são disseminados como tecnologia de
intervenção social para outras organizações que atuam no mesmo setor (M ARINO;
CANCELLIER, 2010, p. 2).
Outro fator que condiciona o tipo de avaliação escolhida é a dimensão, ou escala dos
projetos, o que significa que a avaliação de projetos grandes difere em vários aspectos
da avaliação de projetos pequenos ou menores. O tamanho do projeto é decorrente do
número de pessoas envolvidas em sua execução (grupo executor), de seus objetivos de
mudança (população-alvo), assim como dos recursos envolvidos (materiais, humanos
e financeiros).
A estratégia de avaliação em projetos grandes é analítica e objetiva. A avaliação
pode ser parcial, realizada em todas as etapas da execução do projeto, para medir
objetivos intermediários (transversais), objetivos específicos (longitudinais e
transversais), para avaliar a articulação dos diversos processos (diagnóstico,
implementação, execução etc.), para medir o grau de eficiência administrativa da
organização na execução do projeto. Nos projetos pequenos, por outro lado, a
estratégia de avaliação é geralmente qualitativa, de análise compreensiva da situação do
projeto.
A lógica da avaliação em projetos grandes é principalmente dedutiva, onde os
objetivos do projeto são dados por um modelo de causalidade e são expressos por
meio de hipóteses. A avaliação das hipóteses exige a construção de variáveis e
indicadores para verificar o quanto o projeto atingiu seus objetivos. Em projetos
pequenos, a lógica avaliativa é indutiva, realizada a partir da observação da realidade e
da consideração de hipóteses genéricas, podendo ser construídas ou modificadas a
posteriore (COHEN; FRANCO, 2011, p. 115-116).
Em termos gerais, para avaliar um projeto devemos levar em consideração: o
universo do estudo, as unidades de análise, as hipóteses, o modelo de amostra, o plano
de análise, o contexto, os instrumentos de coleta de dados, e os métodos de análise dos
dados. Novamente percebemos a interelação entre as diversas fases, principalmente
para entender que avaliação não é algo feito somente ao final do projeto.
REFERÊNCIAS
ARMANI, Domingos. Como elaborar projetos? Guia prático para a elaboração e gestão de projetos
sociais. Porto Alegre: Tomo, 2000.
BRANDÃO, Maria de Fátima; TRÓCCOLI, Bartholomeu. Um modelo de avaliação de projeto de
inclusão digital e social: Casa Brasil. 2006. Disponível em: <http://br-ie.org>. Acesso em: 27 mar.
2012.
Carneiro, Margareth Fabiola dos Santos. Metodologia de gerenciamento de projetos. 2010.
Disponível em: <http://pmkb.com.br.> Acesso em: 28 mar. 2012.
COHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Avaliação de projetos sociais. Petrópolis: Vozes, 2011.
Croce Rossa Italiana. LA ROCCA, Irene. Fare un progetto nel sociale: vademecum. 2007.
Disponível em: http://cri.it/flex/cm/pages>. Acesso em: 08 mar. 2012.
JAEGER NETO, José I. Qual o valor das iniciativas de gestão de projetos? 2012. Diponível em:
<http://www.administradores.com.br>. Acesso em 28 mar. 2012.
MARINO, Eduardo; CANCELLIER, Everton L. P. Ciclo de vida de projetos sociais. 2010.
Disponível em: <http://construindoredes.org.br>. Acesso em: 18 mar. 2012.
RUGGERI, Renê. Gerenciamento de projetos no terceiro setor. Rio de Janeiro: Brasport, 2011.
______. Definindo o ciclo de vida dos projetos: utilizando e diferenciando fases e etapas. 2012.
Disponível em: <http://www.administradores.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2012.
TERRIBILI FILHO, Armando. A escolha de indicadores de projeto. 2009. Disponível em:
<http://www.baguete.com.br/artigosDetalhes.php?id=861>. Acesso em: 29 mar. 2012.
Este capítulo repousa no paradoxo de que, apesar da amplitude dos problemas sociais e da
crescente preocupação com as falhas de mercado que geram desigualdades, os estudos
sobre inovação social ainda não representam parcela significativa das pesquisas
acadêmicas. O conjunto de abordagens, metodologias e práticas ainda não constitui um
corpo consolidado de conhecimentos e não há uma teoria que lhes dê suporte. Assim,
busca-se aprofundar o entendimento sobre como se processa a gestão de inovações
sociais, numa tentativa preliminar de contribuir para o estabelecimento de marcos teóricos
e referenciais sobre o tema. A premissa fundamental que norteia este capítulo é de que a
gestão da inovação social se diferencia da gestão tecnológica e sua condução requer
modelos distintos dos tradicionais modelos desenvolvidos para a gestão tecnológica.
P artindo-se da suposição de que a inovação social possui características próprias – em
função de o processo ser conduzido através de uma constante interação entre
desenvolvedores e beneficiários – procura-se aqui apresentar três focos principais − o
empreendedorismo social, as organizações e os movimentos sociais − no entorno dos
quais tendem a se alinhar as pesquisas sobre o tema. O corte proposto se refere aos
arranjos ou aos meios de ação e de aglutinação de recursos utilizados por diferentes
atores, permitindo o entendimento das mudanças geradas pela inovação social através dos
três focos distintos: indivíduos, organizações e movimentos.
5.1 Introdução
A inovação se tornou tema obrigatório nas discussões sobre competitividade e
desenvolvimento econômico. Ainda mais, como sinônimo de novidade, aparece na
mídia em anúncios publicados em jornais e revistas, em outdoors e em veículos
eletrônicos. A vulgarização do termo o afastou do significado inicialmente estabelecido
por Joseph Schumpeter e que até hoje serve como conceito básico na maioria dos
estudos acadêmicos sobre o tema – de que a inovação se vincula à geração de valor
econômico. No Brasil, particularmente, os estudos sobre a gestão da inovação têm
seguido fundamentalmente os ditames schumpeterianos. De fato, Schumpeter se
revela como um dos autores mais citados pelos pesquisadores (BIGNETTI et al.,
2008), principalmente nas ciências sociais aplicadas. Embora ocorra uma expansão do
conceito de inovação, abrangendo, por exemplo, inovações organizacionais e de
mercado, a massiva concentração dos estudos acadêmicos se dá na tradicional inovação
tecnológica, de processos e produtos. Sem dúvida, o avanço da economia globalizada
obriga as empresas a inovar constantemente, e as pesquisas acadêmicas sobre inovação
buscam justamente analisar o fenômeno e entender como as empresas se mantêm
competitivas. Uma avaliação realizada em artigos apresentados durante três anos na
área de Gestão da Tecnologia e Inovação do Encontro Nacional da Associação
Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), por exemplo,
mostrou a predominância de quatro temas: organização e inovação; pesquisa e
desenvolvimento; relações interorganizacionais; e inovação em serviços (BIGNETTI,
2006).
Paralelamente à economia global, entretanto, a economia social avança aos saltos,
uma vez que as estruturas existentes e as políticas estabelecidas se mostram
insatisfatórias na eliminação dos mais prementes problemas dos tempos atuais, como
as desigualdades sociais, as questões da sustentabilidade, as mudanças climáticas e a
epidemia mundial de doenças crônicas (M URRAY et al., 2010). Os exemplos de
iniciativas de apoio a comunidades carentes são incontáveis, mas os resultados, em
face da escassez de recursos e da grandeza do problema, ainda são modestos. Ações
voluntárias, grupos de ação social, iniciativas na economia solidária, ONGs, e tantos
outros, proliferam e casos de sucesso, a maioria em pequena escala, são reportados na
mídia. Programas oficiais de combate ao analfabetismo, à fome, às drogas e às doenças
crônicas têm mitigado o sofrimento das populações necessitadas. M ovimentos sociais
procuram preencher lacunas deixadas pela retração ou pela inação do Estado.
Evidentemente, a complexidade dos problemas acumulados por décadas de
marginalização possui inúmeras causas e poucas soluções. A inovação social surge,
assim, como uma das formas de se buscar alternativas viáveis para o futuro da
sociedade humana.
O paradoxo que se estabelece é que, apesar da amplitude dos problemas e da
crescente preocupação com as falhas de mercado que geram desigualdades, os estudos
sobre inovação social ainda não representam parcela significativa das pesquisas
acadêmicas e o conjunto de abordagens, metodologias e práticas ainda não se constitui
um corpo consolidado de conhecimentos. O presente texto procura ser uma tentativa
preliminar de aprofundar o entendimento sobre como se processa a gestão de
inovações sociais, contribuindo, assim, para o estabelecimento de marcos teóricos e
referenciais sobre o tema.
A inovação social é aqui definida como o resultado do conhecimento aplicado a
necessidades sociais através da participação e da cooperação de todos os atores
envolvidos, gerando soluções novas e duradouras para grupos sociais, comunidades ou
para a sociedade em geral.
A premissa fundamental neste texto é de que a gestão da inovação social se
diferencia da gestão tecnológica e sua condução requer modelos distintos dos
tradicionais modelos desenvolvidos para a gestão tecnológica. Analisam-se aqui três
focos principais das pesquisas sobre inovação social: o empreendedorismo social, as
organizações e os movimentos sociais. Da mesma forma, entende-se que metodologias
de pesquisa específicas devem ser adotadas de modo que se contemplem as
particularidades inerentes ao processo de inovação social.
Algumas observações iniciais são necessárias. Em primeiro lugar, busca-se entender
a forma como o processo de inovação social se desenvolve. A literatura discutida
aponta para um processo de constante relação entre desenvolvedores e beneficiários,
numa construção social resultante da interação entre os atores participantes. Assim, a
descrição de como surgem as ideias, como se dá a interação, quais as controvérsias que
resultam e como elas são resolvidas propicia o surgimento de aspectos importantes do
processo de inovação social.
Em segundo lugar, empregam-se os termos empreendedores e gestores para
caracterizar atores de natureza distinta. Os empreendedores são entendidos como
indivíduos visionários, enérgicos e resilientes que, a partir de uma ideia ou de um ideal,
desenvolvem por iniciativa própria e por esforço inicial pessoal projetos sociais
relevantes. Os gestores, mesmo possuindo muitas vezes essas mesmas características
pessoais, partem de um arranjo organizacional já estabelecido e, em geral, condicionam
suas ações às restrições estruturais e funcionais a eles impostas.
Em terceiro lugar, partindo-se da premissa de que a inovação social possui
características próprias – em função de o processo ser conduzido por meio de uma
constante interação entre desenvolvedores e beneficiários – são apresentados três
focos principais no entorno dos quais tendem a se alinhar as pesquisas sobre o tema: o
empreendedorismo social, as organizações sociais e os movimentos sociais
(M ULGAN et al., 2007).
Este capítulo está estruturado da seguinte forma. Inicialmente, apresentamos como
evoluiu o conceito de inovação, o significado tradicional atribuído a ela e algumas das
definições de inovação social encontradas na literatura A seguir, são levantados alguns
pontos distintivos entre inovação tecnológica e inovação social. Procede-se, depois, a
um apanhado da literatura que trata do tema inovação social e ilustram-se diferentes
formas de abordagem encontradas na literatura. Finalmente, analisam-se os três focos
antes citados, trazendo os principais autores encontrados na literatura que discutem
cada um deles.
5.2 A evolução do conceito de inovação social
Tradicionalmente, a inovação tem sido vinculada ao ganho econômico e à geração do
lucro. Os estudos sobre o tema, em geral, partem das concepções schumpeterianas de
que “novas combinações” permitem a obtenção de lucros extraordinários. No seu
clássico Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung (Teoria do Desenvolvimento
Econômico), lançado em 1912, Joseph A. Schumpeter estipulava que o
desenvolvimento é definido por essas novas combinações, englobando cinco situações
(SCHUM PETER, 1985, p. 48):
A variedade das noções que hoje se estabelecem sobre a inovação social se vincula
ao fato de essas noções mostrarem como esse tipo de inovação procura beneficiar os
seres humanos antes de tudo, diferentemente das noções econômicas tradicionais
sobre inovação, voltadas fundamentalmente aos benefícios financeiros. Ao longo da
discussão neste capítulo, as características da inovação social merecerão atenção
especial no sentido de procurar tornar o conceito mais claro e melhor especificado.
O primeiro foco possível se refere às mudanças sociais geradas pelo indivíduo. São
inovações resultantes das ações de iniciativas pessoais, realizadas por indivíduos
motivados por uma missão, ambiciosos, estratégicos, talentosos, voltados para
resultados e com paixão para fazerem a diferença (BESSANT; TIDD, 2009, p. 335;
DEES, 2001). O empreendedorismo social é o principal foco de estudo sob este
prisma.
Um segundo foco viável de estudo se liga à organização. Tomada no conceito mais
amplo, expresso por Chester Barnard, em sua obra The Functions of the Executive
(1938) como “um sistema de atividades ou forças conscientemente coordenadas de
duas ou mais pessoas” (BARNARD, 1968, p. 73), a organização é considerada como
um arranjo cooperativo formal em que os propósitos individuais se alinham aos
propósitos coletivos. Ainda mais, em sua amplitude, o conceito abrange empresas
privadas, empresas sociais, instituições públicas e privadas, governos e outras
modalidades formais de organização.
O terceiro foco possível refere-se aos movimentos. Do ponto de vista histórico, os
grandes movimentos, como o feminismo e o ambientalismo, por exemplo, surgiram
como agentes de mudança social radical (M ULGAN et al., 2007). Na literatura, os
movimentos possuem uma acepção ampla, incluindo tanto relações sociais não
institucionalizadas, ou relações fluidas não consolidadas (principalmente os
movimentos sociais no nível local), como formações de redes formais ou informais de
atores.
5.5.2 As organizações
Embora as iniciativas individuais representem um mecanismo significativo para o
surgimento das inovações sociais, como mostram os exemplos assinalados, essas
inovações também se originam através de organizações e de instituições existentes ou
criadas especificamente para atender necessidades sociais. A diferença com relação ao
empreendedor individual se estabelece pelo arranjo formal prévio, pela forma inicial de
mobilização dos recursos e pelo gerenciamento do processo de inovação.
A literatura, ao abordar as inovações sociais realizadas por organizações, refere-se
tanto às mudanças realizadas internamente como àquelas direcionadas para o
ambiente. Quando realizadas no seio das organizações, as mudanças ocorrem no
sentido de estabelecer uma nova divisão do trabalho, uma modificação nas estruturas
de poder ou uma melhoria na qualidade de vida no trabalho (CLOUTIER, 2003). O
termo “social” empregado nessa concepção, portanto, traduz as iniciativas internas
para aumentar a autonomia dos empregados, favorecer o empowerment e valorizar a
pessoa humana. Na visão dos humanistas radicais, o homem não é um meio para
alcançar um fim, mas carrega a sua própria finalidade (CHANLAT, 2000). Assim, a
organização é considerada como o espaço da convivência humana e há uma prescrição
no sentido de estabelecer-se uma “teoria do sujeito”, ao contrário das teorias
organizacionais tradicionais que tratam o homem como um objeto a ser dirigido e
controlado (AKTOUF, 1996; CHANLAT, 2000). Evidentemente, alguns autores,
particularmente dentro de uma visão utilitária e funcionalista, empregam o termo
“social” em outra acepção, como mudanças em grupos ou como novos arranjos sociais
visando ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento de inovações tecnológicas
(CLOUTIER, 2003).
Quando as inovações sociais são direcionadas da organização para o ambiente, o
objetivo básico é o atendimento de necessidades de grupos e de comunidades. Neste
caso, é importante ressaltar que o termo organizações é encontrado na literatura no seu
sentido mais amplo, envolvendo todos os arranjos cooperativos formais.
Nidumolu et al. (2009) argumentam não haver incompatibilidade entre a
competitividade, ou os lucros, e atitudes empresariais socialmente responsáveis,
advogando pela adoção de estratégias empresariais e pelo desenvolvimento de
inovações voltadas para a sustentabilidade. Empresas como Cisco e Procter & Gamble
são citadas como exemplos da convergência entre resultados econômicos e políticas
ambientais responsáveis. Organizações com fins lucrativos, ou empresas comerciais,
podem realizar ações de cunho social de diversas formas: no controle de suas
operações visando à preservação do ambiente, no desenvolvimento de projetos junto à
comunidade e na criação de fundações ou de outros arranjos institucionais.
Austin et al. (2006) discutem quatro variáveis que explicam a diferença entre as
empresas voltadas exclusivamente para o lucro e as empresas com fins sociais: falha
de mercado, missão, mobilização de recursos e medidas de desempenho. Uma falha de
mercado surge quando as forças comerciais são incapazes de atender a uma
necessidade ou quando os resultados econômicos gerados pelos agentes econômicos
são ineficientes ou indesejáveis. Geram-se, assim, oportunidades para
empreendimentos sociais. As diferenças entre as missões de empresas exclusivamente
comerciais e empresas voltadas para o social se manifestam na gestão e na motivação
dos colaboradores. Ainda mais, a mobilização dos recursos humanos conduz a
diferentes resultados, pois as recompensas numa empresa social são diferentes de uma
empresa comercial e as compensações não pecuniárias cobrem, em parte, as
compensações financeiras. Finalmente, as medidas de desempenho do impacto social
se mostram como fator diferenciador entre empresas voltadas ao social e empresas
voltadas ao lucro e aos acionistas. Nesse sentido, para o social, são os stakeholders
(isto é, todos os que influenciam ou são influenciados pela empresa) e não os
stockholders (os acionistas) que têm importância.
O conceito de organização social tem merecido crescentes espaços na literatura.
Dart (2004), por exemplo, relata que a organização social surge como oposição à
organização sem fins lucrativos na medida em que possui estratégia, estrutura, normas
e valores que representam uma inovação radical com relação a organizações mais
voluntaristas, pró-sociais e que, tradicionalmente, vivem de doações e de subvenções.
Emerson e Twersky (1996) discutem a dualidade do compromisso com a justiça social
e com o empowerment econômico que alimenta os negócios com propósitos sociais.
As organizações não governamentais e as pequenas iniciativas comunitárias têm
encontrado, nas últimas décadas, dificuldades em sobreviver com doações dos
cidadãos e com recursos públicos. O antigo gestor social se vê compelido a adotar
práticas gerenciais e estratégias voltadas para a profissionalização, pois os recursos
públicos começam a se direcionar para outras prioridades (EM ERSON; TWERSKY,
1996).
As discussões deste texto se referiram, fundamentalmente, a formas privadas de
organizações voltadas para o desenvolvimento social. Evidentemente, o papel das
instituições públicas deve ser também ressaltado, pois em todas as esferas
governamentais são desenvolvidas ações inovadoras que visam a atender necessidades
de indivíduos, grupos e comunidades carentes ou que buscam transformações sociais
permanentes.
5.5.3 Os movimentos
Se as organizações sociais são formas essencialmente estruturadas e formalizadas
visando a atingir fins específicos, dentro das regras estabelecidas pelo sistema vigente,
os movimentos sociais se apresentam como empreendimentos coletivos que emergem
nos espaços deixados pela retirada ou pela inação do Estado. Os movimentos são
caracterizados pelas ações de conflito e contestação que empreendem atores
pertencentes à sociedade civil, que se lançam nas fímbrias das desigualdades buscando
soluções sociais através de parcerias, alianças, serviços coletivos, práticas de
resistência e lutas populares (BELLEM ARE; BRIAN, 2004; ROLLIN; VINCENT,
2007). As organizações, por um lado, se caracterizam como lugares fixos, como
endereços em grande parte permanentes, através dos quais expandem suas ações em
escala local, regional, nacional e, até, global. Os movimentos, por outro lado, possuem
maior mobilidade e fluidez, promovem a criação de espaços de comunidade e
desenvolvem um processo de construção identitária (CAILLOUETTE et al., 2009).
Da mesma forma, os movimentos sociais tendem a possuir um caráter menos
permanente, apresentando um ciclo de vida que se caracteriza pelo surgimento, pela
expansão do movimento e por seu declínio, em função da institucionalização ou da
incorporação das mudanças na sociedade. A ação social acaba por perder seu ímpeto
inovador até que outras pressões, insatisfações e novas necessidades sociais
impulsionam um novo ciclo de mudanças (M ULGAN et al., 2007; SINGOCOM ,
2007).
Numa perspectiva histórica, é possível considerar que os estudos sobre
movimentos sociais são traduzidos através de duas linhas distintas de pensamento, ou
de enfoques, sobre a ação social que poderiam ser classificadas como reformista e
anarquista-utópica (SINGOCOM , 2007). O enfoque reformista se baseia na busca de
mudanças sociais para um determinado grupo ou para a sociedade como um todo
dentro do sistema político e social vigente, através de medidas institucionais de
reformas da legislação, de políticas ou de ações. O enfoque anarquista-utópico, de
caráter mais autoritário e fragmentado, busca mudanças sociais que signifiquem
desvios do status quo, através de ações contra o sistema estabelecido. Como se
observa, uma alternativa para os estudos sobre inovação social através dos
movimentos poderia alinhar-se com as discussões da sociologia da ciência ao longo do
eixo regulação-mudança radical (BURREL; M ORGAN, 1979).
A literatura sobre movimentos sociais aborda o tema dentro de uma concepção
ampla do termo, que se estende desde relações sociais formalizadas até relações não
consolidadas e informais. Assim, diferentes movimentos ao longo dos últimos séculos
são relatados (M ULGAN et al., 2007), como, por exemplo, a campanha
antiescravidão, o ambientalismo (desde suas versões iniciais como o movimento pela
proteção de florestas e paisagens até as recentes lutas pela preservação da
biodiversidade e em prol da sustentabilidade), o feminismo, a mobilização pelos
direitos das pessoas portadoras de deficiências, as lutas antirraciais, as campanhas em
prol dos direitos de minorias, os movimentos dos sem-terra e dos sem-teto etc.
A formação dos movimentos sociais tem uma gênese distinta tanto das ideias e
iniciativas do empreendedor como dos objetivos das organizações. A sociedade civil se
organiza de forma autônoma, independente de grandes corporações, de instituições
governamentais ou de grupos dominantes (BELLEM ARE; TREM BLAY, 2007). Há
uma recomposição do social, com novas práticas grupais, organizacionais, sindicais e
políticas e cada ator participante “deixa sua posição de exterioridade para pensar sua
intervenção e agir com os grupos aos quais essa intervenção se aplica”
(BELLEM ARE; TREM BLAY, 2007, p. 15).
Na geração dos movimentos sociais, diferentes atores unem suas forças em
parcerias em vez de viverem de forma isolada. Na constituição dessas relações e
parcerias, embora as identidades permaneçam, passam a prevalecer as dimensões
comunitária e cidadã que são essenciais para reforçar o poder das ações conjuntas. As
parcerias formadas acabam por construir o capital social e “introduzem não apenas a
confiança, as normas de reciprocidade e um aprendizado na colaboração, mas,
também, uma identidade territorial” (CAILLOUETTE et al., 2009, p. 19). Assim, os
movimentos são impulsionados pelas ações conjuntas de atores que se identificam em
suas aspirações, ou em suas angústias, buscando atingir os atributos principais dos
movimentos sociais exitosos: validade, unidade, volume e compromisso (M ULGAN
et al., 2007). Portanto, “uma reflexão sobre a inovação social exige uma reflexão
sobre a ação coletiva, isto é, sobre o ator e sua relação com o ambiente institucional
com o qual ele se confronta, mas igualmente, e paradoxalmente, sobre o qual ele
apoia sua ação” (KLEIN et al., 2009, p. 4).
Uma questão atual, que ainda não tem merecido suficiente atenção por parte dos
pesquisadores sobre inovação em movimentos sociais, refere-se à utilização da
internet e ao papel desempenhado pelas redes sociais como mecanismos de
mobilização. De fato, o mundo assiste atualmente ao surgimento de movimentos
sociais praticamente instantâneos e que têm servido como formas de pressão social
avassaladoras. Sem dúvida, as reações em cadeia provocadas pela rápida propagação
de ideias, contestações e acontecimentos se mostram como campos férteis para a
pesquisa sobre como movimentos sociais recentes adquirem momentum e se
propagam em larga escala.
Em resumo, os movimentos sociais engendram inovações sociais, ou seja, novas
soluções para necessidades e aspirações sociais. Essas inovações são, principalmente,
inovações radicais, pois levam a mudanças estruturais e culturais profundas que se
refletem em toda a sociedade.
Reitor
Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, SJ
Vice-reitor
Pe. José Ivo Follmann, SJ
E DITORA UNISINOS
Diretor
Pe. Pedro Gilberto Gomes, SJ
© do autor, 2012
2012 Direitos de publicação e comercialização da Editora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
EDITORA UNISINOS
ISBN 978-85-7431-524-9
CDD 658.404
CDU 005.8
Esta obra segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa vigente desde 2009.
Editor
Carlos Alberto Gianotti
Acompanhamento editorial
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Revisão Editoração Capa
Márcia Cristina Hendrischky dos
Tatiane Cross Silveira Isabel Carballo
Santos