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Gestão do

Terceiro Setor
Daniele Melo de Oliveira

Unidade 3

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autora
DANIELE MELO DE OLIVEIRA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
A AUTORA
DANIELE MELO DE OLIVEIRA
Olá. Meu nome é Daniele Melo de Oliveira. Sou formada em
Administração de Empresas, possuo especializações nas áreas de Gestão
da Negócios Empresariais, Gestão Educacional, Logística Empresarial e da
Qualidade. Sou Mestre em Ciência, tecnologia e Sociedade, pelo Instituto
Federal do Paraná. Atualmente, atuo como docente na Federação das
Indústrias do Estado do Paraná. Sou apaixonado pelo que faço e adoro
transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas
profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu
elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você
nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do desen- houver necessida-
volvimento de uma de de se apresentar
nova competência; um novo conceito;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações es-
necessários obser- critas tiveram que ser
vações ou comple- priorizadas para você;
mentações para o
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo, se
ou detalhado; forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamento atenção sobre algo
do seu conhecimento; a ser refletido ou
discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoaprendi- volvimento de uma
zagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Gestão no terceiro setor..........................................................11

Contratos sem fins lucrativos....................................................18

Contratos e nomenclaturas no terceiro setor........................21

Gestão financeira no terceiro setor........................................30

Gestão de riscos em projetos no terceiro setor.....................38


8 Gestão do Terceiro Setor

03
UNIDADE
Gestão do Terceiro Setor 9

INTRODUÇÃO
O terceiro setor é um assunto que muitos brasileiros não dão tanta
importância ou mesmo desconhecem a amplitude das suas ações. As
organizações não governamentais, sem fins lucrativos, são um braço do
Estado no desenvolvimento de diversas ações de caráter social.
Acredita-se que o terceiro setor tenha se expandido no mundo,
do ponto de vista econômico, pela Inglaterra e Estados Unidos, num
momento de dificuldades econômicas desses países, em que o Estado
deixa de prestar alguns serviços sociais. Estimulam-se então a formação de
organizações não governamentais na propagação de economias liberais.
Basicamente a estrutura administrativa de uma organização não
governamentais não sofre interferência do Estado, possuem autonomia,
gestão própria as quais não visam fins lucrativos. Contam também com
grande parte da mão de obra advinda de voluntários.
Atualmente as áreas em que as ONGs mais atuam, suprindo as carências
do Estado são: cultura, saúde, educação, qualidade de vida, capacitação
profissional, cuidado com os animais, meio ambiente e suprimentos sociais
diversos, como por exemplo de combate à fome e a miséria.
Achou interessante? Ao longo dessa unidade você vai aprender
muito mais sobre gestão, contratos e riscos do terceiro setor. Estamos
iniciando uma nova jornada de aprendizagem. Embarque nessa trajetória e
explore todos os conhecimentos aqui apresentados. Avante! Bons estudos!
10 Gestão do Terceiro Setor

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:
1. Reconhecer as especificidades dos contratos do Terceiro Setor;
2. Reconhecer as nomenclaturas de contrato;
3. Auxiliar no processo de gestão de contratos do terceiro Setor;
4. Identificar riscos inerentes aos processos.

Você sabia que o terceiro setor está em ascensão e movimenta


milhões em reais em todo o Brasil? Isso mesmo! Mas apesar desse setor
ser composto por entidades e organizações sem fins lucrativos há uma
série de exigências administrativas, fiscais, jurídicas e contratuais a serem
seguidas e cumpridas, cabível de severas punições quanto os atos ilícitos.
Movimentos em prol de ações sociais sempre existiram na história e vem
se modificando com as modificações da sociedade. Nesse sentido, é cada
vez mais necessário a formação de profissionais com conhecimentos nas
práticas do terceiro setor.
Percebeu o quanto o conteúdo é importante e significativo? Então
prepare-se para iniciar uma nova jornada de estudos. Vamos lá!
Gestão do Terceiro Setor 11

Gestão no terceiro Setor

OBJETIVOS
Caro aluno, você sabia que as organizações do terceiro
setor possuem administração e autonomia própria? Pois
é, hoje o terceiro setor é visto como uma organização de
grande força na economia do mercado. Estima-se que as
entidades que compõe o terceiro setor movimente, em
produtos, serviços e empregos, milhões de reais a todo
ano no Brasil. Desde os primórdios das ações voluntárias
na civilização humana o terceiro setor vem passando por
várias modificações na sua estrutura de gestão. Até pouco
tempo, por exemplo, esse segmento era conhecido como
paraestatal o qual sofreu alterações de cunho legal. Em
prol da sociedade moderna as organizações sem fins
lucrativos precisam trabalhar com foco numa gestão
eficaz, procedendo com exigências legais e administrativas
vigentes, firmando contratos, prestando contas dos
recursos financeiros, materiais e das atividades de trabalho
das pessoas envolvidas no processo. Tudo isso deve
ocorrer de forma transparente em prol da credibilidade da
própria organização e de melhorias para com a sociedade.
E então motivado a embarcar neste incrível universo? Então
vamos lá! Avante! Bons estudos.

Por muito tempo a nomenclatura “paraestatal” foi utilizada como


sinônimo de terceiro setor. Esse termo foi bastante difundido pelo
Professor Hely Lopes Meirelles, considerado um grande consolidador
do direito administrativo no Brasil. Na visão do professor entidades
estatais eram aquelas que contribuem com o Estado, nelas estavam
sociedades de economia mista, como por exemplo Petrobrás, Banco do
Brasil, empresas públicas, como a caixa econômica federal e serviços
sociais autônomos (Sistema S) . Ao longo do tempo entendeu-se que
as empresas públicas e mistas não fazem parte das paraestatais, essa
visão consolidou-se pela publicação do decreto 200/67 o qual trata da
descentralização administrativa e da Reforma administrativa de 1998.
12 Gestão do Terceiro Setor

As funções das paraestatais têm cunho eminentemente social,


profissional e solidário - oferecendo cursos de formação, serviços
de treinamento, apoio à criação de empresas atividades de lazer
e culturais (colônia de férias, teatro, cinema, publicações, debates
etc.). Ao Estado cabe instituí-las e estabelecer uma forma de
financiamento público para suas atividades. Sua disciplina normativa
funda-se em leis e (ou) regulamentos públicos específicos, além de
seus estatutos internos. (MOREIRA 2002, p.311)

IMPORTANTE
Paraestatais significa estar ao lado do estado.

De uma forma geral, o que movimenta as organizações sem


fins lucrativos é a vontade de ajudar o próximo. Atitudes voluntárias de
caráter social, moral e de justiça, já eram identificadas como necessárias
e remontam há mais de cinco mil anos na história pelas comunidades
egípcias e vem se ramificando no curso da sociedade, ao longo dos
anos, adaptando-se as necessidades de modificações das sociedades.
A imagem 1 remete a origem histórica de atitudes voluntárias no
Egito antigo.

Imagem 1– Egito antigo

Fonte: Pixabay
Gestão do Terceiro Setor 13

A força de trabalho moderna, por exemplo, requer maior


desenvolvimento intelectual, no uso e domínio de diversas tecnologias,
tecnologias do que atividades braçais repetitivas. Dentro dessa nova
necessidade de emprego da sociedade menos favorecida muitas
organizações não governamentais investem em treinamento e
desenvolvimento, preparando mão de obra de acordo com as novas
necessidades do mercado de trabalho.

O trabalhador manual pertence ao passado e que neste novo


contexto já não há mais espaço para ele. O principal recurso de
capital, o investimento básico, mas também o centro de custos
de uma economia desenvolvida é o trabalhador intelectual,
que põe em prática tudo o que seu intelecto absorveu por
intermédio de uma educação sistemática; isto é, conceitos,
ideias e teorias, em vez do homem que põe em ação apenas
sua habilidade manual e braçal. (DRUCKER 1975, p. 35).

Na década de noventa houve um movimento de modificação da


estrutura da administração pública, influenciando em mudanças nas
organizações de prestação de serviços não governamentais. Atualmente,
reconhece-se as paraestatais pelas entidades que compõem o chamado
terceiro setor, formada pelas organizações sociais, entidade de apoio,
serviços sociais autônomos e organizações da sociedade civil pública.
A imagem 2 remete as entidades que compõe o terceiro setor.

Imagem 2- Organização do Terceiro setor

Organizações Entidades de
Sociais Apoio

Serviços Sociais Organizações da


Autonomos Sociedade Civil de
Interesse Público

Fonte: A autora
14 Gestão do Terceiro Setor

•• Organizações sociais, também conhecidas como OS, é uma


entidade privada sem fins lucrativos que pode receber benefícios do
primeiro setor para o desenvolvimento de ações sociais;
•• Entidades de apoio, são pessoas jurídicas, privadas que
realizam serviços sociais;
•• Serviços sociais autônomos, pessoa jurídica por lei como
entidade privada vinculada ao sistema sindical;
•• Organizações da sociedade civil de interesse público, também
conhecida como OSCIP, é uma qualificação jurídica a entidades privadas
que atuam no setor público prestando serviços de interesse social.

Uma organização do terceiro setor inicialmente precisa ter


um modelo de gestão bem estruturado, com rotinas e práticas
administrativas, para o exercício da sua missão. Uma das etapas
fundamentais é a definição do seu quadro estrutural organizacional,
definindo quem irá executar as principais áreas de administração. Dessa
forma o processo de comunicação de uma ONG ocorrerá com maior
qualidade tanto interno quanto externo a organização.
A imagem 3 remete a estruturação de um modelo de gestão.

Imagem 3 – gestão

Fonte: Pixabay
Gestão do Terceiro Setor 15

IMPORTANTE
Normalmente os fundadores e colaboradores que
participaram da assembleia de fundação da ONG é quem
oficializam as funções básicas.

A imagem 4 remete a estrutura organizacional de uma instituição do


terceiro setor composta pela assembleia geral, diretoria e conselhos fiscais.

Imagem 4 – estrutura organizacional

Assembleia geral

Assembleia geral

Conselho fiscal Conselho fiscal Conselho fiscal

Fonte: a autora

As organizações não governamentais do terceiro setor, assim


como do primeiro se segundo setores, precisam ter sustentabilidade do
ponto de vista econômico para garantir a sua longevidade organizacional.
A responsabilidade jurídica e financeira do terceiro setor é ainda maior,
considerando as ações de cooperação com o Estado. Para fins de
elementos constitutivos o Estado está dividido em:
•• Elemento humano- povo;
•• Elemento físico – território;
•• Elemento político – governo.
16 Gestão do Terceiro Setor

IMPORTANTE
Primeiro setor – caracteriza-se pela administração direta;
segundo setor- administração indireta, terceiro setor –
coopera com o Estado.

É importante ressaltar que as fiscalizações das entidades do


terceiro setor são bastante rígidas, podendo inclusive uma organização
ser desenquadrada da característica de organização não governamental,
caso não ocorra a prestação de contas e manutenção de documentos,
contratos regulares conforme legislação. As principais exigências nesse
âmbito para o terceiro setor são:
•• O correto atendimento das obrigações fiscais propostas pelo
governo, para a manutenção da sua condição social, sem fins lucrativos;
•• Transparência aos órgãos públicos e financiadores de projetos
na apresentação de relatórios;
•• Organização e transparência de documentos financeiros e fiscais.

O artigo 1º da lei nº 9637/98 determina que: “o poder executivo,


poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino
a pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, a proteção
e preservação do meio ambiente, á cultura, á saúde, atendidos aos
requisitos previstos em lei.”

IMPORTANTE
O terceiro setor vive de transparência.

Considerando as inúmeras exigências de caráter administrativo


e jurídico, às organizações do terceiro setor devem trabalhar com um
modelo de gestão focado em resultados. Para tanto são necessários
“dados”, “informações” fidedignas para as tomadas de decisão.
Gestão do Terceiro Setor 17

É fato que experiência e habilidades contribuem muito para uma


gestão qualitativa, “num repassar de experiências”. Considerando que
as organizações sem fins lucrativos contam com significativa ajuda de
trabalhos voluntários, há sempre o risco de que ocorra uma gestão com
base em emoções. Todavia uma vez que a administração se torne mais
produtiva, baseada na tomada de decisões técnicas a organização não
governamental crescerá com maior sustentabilidade.
O gestor do terceiro setor pode tomar por base de gestão
ferramentas da administração focada na construção e análise de
indicadores de negócio.
A imagem 5 remete as ferramentas da administração que são aos
indicadores de negócio focados nas receitas, despesas e resultados.

Imagem 5 – Indicadores de negócio

Receitas

Indicadores

Despesas Resultados

Fonte: a autora

•• Os indicadores de processo, indicam se as ações propostas


pelo gestor estão sendo eficazes, parcialmente eficazes ou ineficazes.
São necessários medições periódicas das ações de melhoria, verificando
as necessidades de ajuste nas decisões tomadas;
•• A Periodicidade, a coleta de informação vão depender do
negócio da ação não governamental. As medições podem ser semanais,
mensais ou trimestrais;
•• A Publicidade dos indicadores deve ocorrer tanto para a
sociedade quanto para os colaboradores das organizações, deixando
claro os resultados.
18 Gestão do Terceiro Setor

Contratos sem fins lucrativos


Pode-se afirmar que em todos as atividades administrativas,
mesmo as sem fins lucrativos, as práticas dos contratos são importantes,
ainda que não haja um modelo próprio para o terceiro setor. Lembrando
que o contrato nada mais é do que o firmamento de um documento
lavrando o interesse de pelo menos duas partes interessadas.
Apesar das organizações do terceiro setor não possuírem fins
lucrativos e prestarem relevantes serviços a sociedade elas tem várias
obrigações jurídicas sendo controladas por órgãos como o FISCO e o
Ministério público, além das exigências contratuais formandas. Havendo
ilicitude do contrato que envolva verbas públicas o ministério público
pode solicitar ao juiz que decrete a indisponibilidade dos bens da
entidade e de seus dirigentes tanto no Brasil quanto no exterior.
Os contratos sem fins lucrativos firmados com as organizações
do terceiro setor podem ter objetivos diversos nos âmbitos: culturais,
doação de dinheiro e bens materiais, estágio não remunerado, de
trabalho voluntário, serviços culturais, etc.
As principais formas de contrato da Administração pública com o
terceiro setor são: contratos de gestão, termos de parceria e convênios.
Exemplo: cláusulas contratuais de doação de dinheiro para fins
educacionais.
Gestão do Terceiro Setor 19

CONTRATO DE DOAÇÃO
CLÁUSULA PRIMEIRA: A DOADORA, dá em doação a instituição
________, a importância de R$ ... (...), mediante apresentação de recibo.

CLÁUSULA SEGUNDA: Com a assinatura e consequente


recebimento dos valores por parte da instituição ____________,
efetiva-se a doação, obrigando-se a recebedora sob condição
resolutiva e cláusula penal a cumprir com os seguintes
procedimentos:
a) apresentação de contratos de matrículas;
b) apresentação mensal de cópias das listas de chamada;
c) apresentação trimestral das notas parciais dos alunos;
d) comprovação de acompanhamento didático pedagógico
dos alunos.
CLÁUSULA TERCEIRA: A não apresentação parcial ou total
dos documentos comprobatórios firmados neste contrato por parte
da instituição não governamental, obriga o mesmo a devolver a
DOADORA a importância doada.
CLÁUSULA QUARTA: O presente contrato tem vigência de
um ano, a contar desta data.

Local,___________dia_________mês___________ano__________.

____________________
DOADOR

____________________
Instituição não governamental
____________________
TESTEMUNHAS(1)
CPF:
____________________
TESTEMUNHAS(2)
CPF:
20 Gestão do Terceiro Setor

RESUMINDO
tanto o Estado quanto às iniciativas privadas quando
assinam contratos com as organizações do terceiro setor,
eles visam estimular as atividades de caráter social. Mesmo
as atividades de caráter voluntário ou doações devem ser
firmadas por documentos legais, preferencialmente os
contratos
Gestão do Terceiro Setor 21

Contratos e nomenclaturas no terceiro


setor

OBJETIVOS
Caro aluno, você sabia que você faz parte de uma parte
da população privilegiada que possui informações sobre
o terceiro setor? Isso mesmo! Pois, muitos cidadãos
brasileiros não sabem que o terceiro setor existe, muito
menos para que ele serve, ou se faz parte da administração
pública direta ou indireta. Considerando a pequena parcela
da população que tem real conhecimento do terceiro
setor, desses ainda, poucos sabem que para as atividades
sociais ocorrerem de fato, são necessárias celebrações
de contratos. Os contratos administrativos de gestão do
terceiro setor são um assunto relativamente novo, fruto da
reforma administrativa que ocorreu no ano de 1998, a qual
inicialmente não tratava dos contratos de gestão. A partir
da emenda constitucional número 19/98 o tema contrato
passa a ser tratado com maior especificidade. E então
motivado a ingressar em mais essa etapa de estudos?
Então vamos lá!

Não é possível determinar com exatidão a origem dos contratos


na história da humanidade, contudo no Direito antigo, há mais de
3.000 a.c no Egito antigo, já se fazia menção a documentos similares
ao termo contrato. Na bíblia, a menção a palavra “Aliança” remonta ao
compromisso no firmamento de contrato de Deus com a população de
determinadas comunidades como por exemplo os hebreus.
A imagem 6 remete a origem histórica, bíblica dos contratos
interpretados pela palavra aliança.
22 Gestão do Terceiro Setor

Imagem 6- contrato x aliança

Fonte: Pixabay

Todavia é possível apontar quatro períodos históricos em que os


contratos foram relevantes: período romano, período medieval, período
liberal e período social.

IMPORTANTE
No período romano os contratos caracterizavam-se pela
burocracia, pois seguiam uma formatação pré concebida
em respeito aos costumes sociais da época, concretiza-
se o NEXUM, conhecido como mais antigo dos contratos
solenes do direito romano, na formatação de interesses
entre as partes contratadas onde o devedor poderia se
tornar um escravo do credor.

É importante entender que qualquer atividade seja ela do


primeiro, segundo ou terceiro setor precisa seguir regras jurídicas desde
a sua fundação até o encerramento das suas atividades, principalmente
no que tange os contratos sejam eles de doação, serviços prestados
ou fomento financeiro. Mas antes de falarmos com mais ênfase em
contratos é importante frisarmos quatro nomenclaturas importantes:
•• Fatos jurídicos- são fatos que tem relevância para o mundo
jurídico;
•• Fatos naturais – inerentes a natureza normalmente não tem
efeito jurídico, mas podem ter repercussão para o mundo jurídico;
Gestão do Terceiro Setor 23

•• Atos jurídicos – atos provocados pela ação humana que tem


repercussão jurídica;
•• Atos lícitos – negócios jurídicos só serão firmados por atos lícitos.

A imagem 7 remete a celebração de um contrato, firmando


interesses entre as partes.

Imagem 7 – Celebração de contratos

Fonte: Pixabay

IMPORTANTE
Um contrato é um negócio jurídico bilateral, composto por
pelo menos duas partes.

Exemplo: fatos naturais podem ser exemplificados como uma


brisa, um vento e fatos naturais que se tornam jurídicos, por exemplo,
pode ser uma tempestade que abalou a estrutura física de uma cidade,
destruindo carros, etc.
É de extrema importância que os gestores do terceiro setor
compreendam as leis e normas básicas de direito contratual para bem
cumprir com a missão e obrigações contratuais das organizações não
governamentais, mantendo a organização legível, lícita, bem como
prezando pela sua imagem perante a sociedade. Para a celebração de
um contrato não se pode descartar:
24 Gestão do Terceiro Setor

•• O entendimento da lei como uma norma jurídica que se torna


obrigatória;
•• Que o direito contempla as normas de conduta humanas, as
quais podem ser modificadas com o passar do tempo;
•• Os costumes, que são a repetição de práticas de uma
comunidade local que se tornam obrigatórias.

IMPORTANTE
a palavra direito deriva do latim popular, directum, que
significa dirigir, endireitar, fazer andar em linha reta

Um contrato bastante rotineiro no terceiro setor envolve o fomento


de recursos financeiros. Esse é um negócio jurídico que envolve partes
interessadas em “repassar recursos”, podendo ser do primeiro ou segundo
setor e a outra em “fazer acontecer as ações sociais”, responsabilidade do
terceiro setor. A partir daí serão formuladas obrigações que se dividem
em principais e acessórias. Em suma os contratos exigem equilíbrio dos
interesses e benefícios entre as partes envolvidas.
•• Obrigações principais, na entrega dos serviços ou de um bem
material;
•• Obrigações acessórias, dependem da obrigação principal.

A imagem 8 remete aos contratos como um negócio jurídico que


precisa de equilíbrio entre as partes.

Imagem 8- contrato x negócio jurídico

Fonte: Pixabay
Gestão do Terceiro Setor 25

No contrato são estipuladas normas e obrigações entre as


partes. Nele são descritos os preâmbulos: na identificação das
partes contratantes e o contexto onde as cláusulas contratuais são
estabelecidas e descritas.
A elaboração de um contrato inicia com a apresentação de
uma proposta, na exposição de ideias a serem discutidas. Ambas as
partes podem concordar ou não com as ideias descritas, solicitando
modificações dos termos sugeridos. Se necessário será elaborada uma
contraproposta por qualquer uma das partes envolvidas.
As obrigações contratuais são entendidas como um vínculo jurídico
entre as partes que assinam o contrato. Em relação ao pagamento este
é entendido como um ato voluntário das obrigações, todavia necessário
e passível de quebra contratual.
Legalmente não há um padrão rígido para a estruturação de
contratos, contudo eles devem seguir alguns requisitos mínimos para a
sua confecção, entendido juridicamente como princípios gerais. São eles:
•• Autonomia da vontade – entende-se pelo consentimento das
partes que estão livres em estipular cláusulas contratuais;
•• Força obrigatória (Pacta Sunt Servanda) – uma vez celebrado
o contrato é obrigatório;
•• Relatividade dos efeitos dos contratos - o contrato gera
obrigações entre as partes, mas para terceiros geralmente isso não
ocorre;
•• Fundação social do contrato – refere-se ao respeito das normas
sociais, cumprimento de padrões éticos, no respeito a coletividade;
•• Boa fé objetiva – refere-se a ética interna dos contratos, na
lealdade negocial estabelecendo uma relação de confiança.

O artigo 421 da constituição estabelece que:” a liberdade de


contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.”
Legalmente um contrato também poderá ser extinto pelo
cumprimento ou descumprimento de suas cláusulas. São elas:
•• Cumprimento – ocorre quando os objetivos foram alcançados
ou o tempo estabelecido para o seu cumprimento tiver se esgotado;
26 Gestão do Terceiro Setor

•• Não cumprimento- quando ocorre o descumprimento


pelas partes envolvidas no contrato ou modificações significativas nos
elementos do contrato, podendo levar a sua extinção;
•• Resilição – o contrato se desfaz pela manifestação de uma ou
ambas as partes. Se a extinção do contrato se der por ambas as partes
se chama de distrato. Se firmada somente por uma: renúncia, a qual
deve ser comunicada por escrito em aviso prévio;
•• Resolução – extinção do contrato em virtude do
inadimplemento de uma das partes;
•• Rescisão – quebra do contrato por lesão ou perigo.

Os contratos existem para beneficiar as instituições sejam elas


entidades do primeiro, segundo e terceiro setor. Todavia o recurso
financeiro é o elemento de maior impacto para o funcionamento de uma
organização. No terceiro setor caso não ocorra uma doação monetária
espontânea, o fomento financeiro celebrará por contratos.
O artigo número 37 da emenda constitucional 19 de 1998 dispõe que:
“a autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades
da administração direta e indireta poderá ser ampliada por contratos”.

IMPORTANTE
A constituição federal não usa o termo contrato de gestão,
usa apenas a expressão contrato.

A gestão de contratos firma a legalidade jurídica entre as partes,


em prol da manutenção e do bom relacionamento entre elas. Assim
havendo o descumprimento de cláusulas contratuais por qualquer parte
haverá penalidades, as quais devem ser redigidas no próprio documento.
Normalmente os contratos do terceiro setor ganham ênfase na
realização dos serviços prestados e pelo fato da captação de recursos
emergir do setor público o qual é amplamente fiscalizado. Dessa forma o
contrato visa garantir a idoneidade das ações e das próprias instituições
que estão interagindo, limitando a possibilidade de falhas ou fraudes
contratuais. Para tanto são necessários:
Gestão do Terceiro Setor 27

•• Verificação dos termos acordados, através de leitura técnica e


jurídica minuciosa;
•• Acompanhamento do ciclo do contrato, na elaboração
opcional de cronograma comparativo da previsão e realização de prazos
e prestações de contas na apresentação de documentos administrativos,
jurídicos, certidões e notas ficais.

O contratante que dispõe de recursos financeiros pode


estabelecer a apresentação e cumprimento metas de desempenho
a serem atingidas. Elas podem ser controladas por indicadores de
desempenho. É possível também que tais exigências estejam redigidas
em contrato.

IMPORTANTE
O Estado pode também contratar os serviços das
organizações não governamentais.

Cada vez mais os contratos das organizações do terceiro estão


rígidos, sendo um ponto positivo para a prospecção de um setor mais
eficiente. Havendo conflitos entre interesses público e privados no
contrato, prevalecerá o interesse público.
O quadro 1 remete as principais nomenclaturas que devem ser
conhecidas pelos gestores do terceiro setor.
28 Gestão do Terceiro Setor

Quadro 1- nomenclaturas do terceiro setor

Nomenclatura Descrição
Refere-se a Máquina do estado, vai garantir o
Administração
cumprimento dos objetivos constitucionais. Executa
pública
atos administrativos
União de pessoas que se organizam para fins
Associação
econômicos. Baseado na lei nº 10.406
AGU Advocacia geral da união.
Dar gratuitamente um bem ou recurso material ou
Doação
financeiro.
EFC Escrituração Contábil Fiscal
Estado Ente político que possui objetivos constitucionais
Entidades de São pessoas jurídicas, privadas que realizam
apoio serviços sociais.
Filantropia Significa boa vontade com o próximo.
São compostas por pessoas jurídicas de direito
Fundação provado sem fins lucrativos e podem ser constituídas
por indivíduos, empresas ou poder público.
OSCIP Organização da sociedade civil de interesse público.
Organizações São organizações internacionais constituídas por
multilaterais governos nacionais. Ex: ONU. UNESCO, FMI.
OS Organizações Socais, de relevância pública.
ONG Organização não governamental.
São paralelos ao Estado. Exercem Funções
Paraestatais administrativas paralelas ao Estado, fazem serviços
muito parecidos.
Sistemas sociais autônomos, composto por
Sistema “S” entidades tais como: SESI; SEST,SENAI;SESI, SESC,
SENAC e SESCOOP.
Fonte: a autora
Gestão do Terceiro Setor 29

IMPORTANTE
As entidades que compõe o Sistema “S” são desobrigadas
a promover concurso público, conforme, conforme decisão
do supremo tribunal federal, tema 569, tratado como uma
exceção.

RESUMINDO
De uma forma geral os contratos têm importância
fundamental para com a sociedade, pois garante a
segurança jurídica, a geração de negócios e de riqueza
tanto a nível de capital quanto social. A todo o momento
celebramos contratos sejam eles: educacionais, de
transporte, saúde, de trabalho etc., cujos não podem ir
contra os interesses da sociedade. O terceiro setor tem a
liberdade de celebrar contratos desde que haja licitude.
30 Gestão do Terceiro Setor

Gestão financeira no terceiro setor

OBJETIVOS
Caro aluno, você sabia que as organizações que compõe o
terceiro setor devem ter as suas contas financeiras em dia,
bem como da contabilidade regular para poderem prestar
serviços à sociedade? Isso mesmo, esse é um dos desafios
do terceiro setor. Nasce aqui a importância do profissional
administrativo financeiro, bem como do contador focado
em instituições sem fins lucrativos. Como qualquer empresa
as organizações do terceiro setor precisam de recursos
financeiros para o seu funcionamento. Para o fomento
desses recursos advindos do setor público, Estado,
as organizações não governamentais devem cumprir
as diretrizes dispostas pelo regime jurídico conhecido
como marco regulatório através da lei nº 13.019. Essa lei
melhorou os níveis de chamamento público, trazendo
maior segurança financeira e jurídica, dando as mesmas
oportunidades de fomento as ONGs de norte a sul do país.

A partir de agora você está convidado a descobrir mais sobre a


gestão financeira do terceiro certo. Vamos lá?! Avante e bons estudos!
A contabilidade em especial no setor público vem passando por
muitas mudanças voltadas para a controladoria, no zelo das instituições.
No que se refere às atividades do terceiro setor, o marco regulatório
através da lei nº 13.019, exige maior organização da gestão administrativa
e financeira das entidades que compõem esse setor, tornando ainda
mais importante a regularização de contas, garantindo a transparência e
idoneidade das instituições não governamentais.
As entidades do terceiro setor assim como as do segundo setor
são fiscalizadas contabilmente, sendo passível a realização de auditorias
das suas contas a nível interno e externo, de forma a salvaguardar a
instituição de riscos financeiros e fraudes que descaracterizem a sua
missão de ação social. Tais práticas são benéficas para a manutenção da
idoneidade e gestão eficaz dessas instituições.
Gestão do Terceiro Setor 31

IMPORTANTE
A auditoria interna é realizada por profissional contabilmente
capacitado pertencente ao quadro de colaboradores
da organização e auditor externo é um profissional apto
contabilmente que não pertence a organização.

Tanto as instituições sem fins lucrativos tais como: partidos


políticos, escolas, dentre outras, quanto as filantrópicas que recebem
dinheiro para exercer atividades tais como asilos, APAEs (Associação de
pais e amigos dos excepcionais) e demais organizações do terceiro setor
devem legalmente prestar contas financeira-contábil tanto a receita
federal, estados, municípios e União quanto a sociedade.
Mas o que o terceiro setor deve ser prestado contas do ponto de
vista financeiro?
•• De todas as entradas e saídas de dinheiro;
•• Doações financeiras e materiais;
•• Ou seja, de tudo o que acontecer materialmente.

IMPORTANTE
Fazem parte do terceiro setor: creches, abrigos, instituições
filantrópicas, etc.

As demonstrações financeiras e prestações de contas do terceiro setor


devem acontecer de forma clara e transparente, cumprindo com os requisitos
legais do marco regulatório, no que tange principalmente os convênios que
firmam as parcerias entre os segmentos: primeiro, segundo e terceiro setores.
O marco regulatório estipula diretrizes para a aplicação de
recursos públicos no terceiro setor. Ele é considerado como uma agenda
política que veio para aprimorar o relacionamento das organizações não
governamentais com o primeiro setor.
A imagem 9 remete aos três grandes eixos do marco regulatório
que são distribuídos nas novas formas de contratação, sustentabilidade
econômica e certificações legais.
32 Gestão do Terceiro Setor

Imagem 9- Marco regulatório

Contratação

Certificação

Sustentabilidade

Fonte: a autora

IMPORTANTE
O primeiro setor deve dispor de editais públicos dando a
todas as organizações do terceiro setor, com pelo menos
três anos ou mais de existência, a mesma oportunidade de
participação.

O marco regulatório divide-se em três grandes eixos:


•• Novas formas de contratação – do poder público para com a
organização do terceiro setor para o desenvolvimento de ações e serviços
específicos. Todo o repasse de valores financeiros deverá acontecer sob
a forma de convênios, administrado pelo SICONV, plataforma de acesso
Gestão do Terceiro Setor 33

público do governo federal que realiza a gestão financeira, de prestação


de contas entre os setores. Através dela é possível que a sociedade em
geral acompanhe a administração dos recursos públicos;
•• Sustentabilidade econômica – o marco regulatório reconhece
a possibilidade de pagamento da equipe de colaboradores que vai
trabalhar dentro de determinado projeto. Todos esses profissionais
devem estar previstos em projeto devidamente apresentado e aprovado.
Os profissionais remunerados envolvidos no projeto devem comprovar
habilitação técnica compatível com o escopo;

Certificação – tanto a organização não governamental quanto os


seus dirigentes que pleitearem recursos públicos, devem estar com a
saúde econômica e fiscal regulares. Todas as certidões administrativas
financeiras da organização devem estar em ordem, demonstrando
legalidade e equilíbrio financeiro das suas contas. A organização sem
fins lucrativos não pode ter pendências de contas financeiras referentes
a projetos anteriores, mesmo que esses tenham sido encerrados.
Os editais aos quais uma organização não governamental venha
a participar poderá solicitar certidões e documentações contábeis
financeiras diversas, de acordo com a especificidade jurídica do projeto.
Regularmente há recursos financeiros disponíveis pelas
esferas municipais, estaduais e federais para o financiamento de
projetos de interesse da sociedade. Para tanto as ONGs devem estar
administrativamente preparada com as contas financeiras, contábeis e
jurídicas regulares.

IMPORTANTE
Os convênios realizados entre primeiro e terceiro setor,
atualmente foram substituídos por termo de colaboração
e fomento.

A imagem 10 remete as responsabilidades de gestão financeira


no terceiro setor.
34 Gestão do Terceiro Setor

Imagem 10 - Contabilidade no terceiro setor

Fonte: Pixabay

Para o profissional contador não há diferenças entre o trabalho de


organização da contabilidade pública e a privada, ainda que cada setor
tenha as suas particularidades legais.
A prestação de contas financeira-contábil no terceiro setor é tão
relevante quanto a do primeiro ou segundo setor. Todavia há diferenças
técnicas principalmente no que tange ao recolhimento de impostos pois
o terceiro setor não recolhe a maioria deles, por não gerar lucros.
O quadro 2 remete aos impostos recolhidos pelo terceiro setor.

Quadro 2 – impostos

Imposto Descrição Terceiro setor

PIS sobre a folha de Paga


pagamento

INSS patronal É isento desde


que comprove
ações filantrópicas
através de selo de
certificação.

Fonte: a autora
Gestão do Terceiro Setor 35

Exemplo: o terceiro setor é isento de recolhimento de imposto de


renda por não ter faturamento.
A contabilidade do terceiro segue as diretrizes regidas pelo
Conselho Federal de Contabilidade dispostas por padrões internacionais.
Qualquer profissional formado em contabilidade poderá atuar na
gestão contábil-financeira do terceiro setor, o qual aplicará as normas
contábeis vigentes conforme legislação. A prestação de contas deverá
ser apresentada para as esferas municipais, estaduais e federal, bem
como para os conselhos regionais vigentes.

IMPORTANTE
A doação de valores simbólicos deve ser declarada no
terceiro setor.

As obrigações acessórias no terceiro setor, são as informações


prestadas ao FISCO. A principal delas refere-se à isenção ou imunidade
de imposto de renda, a qual deve ser analisada caso a caso por instituição.
Em relação aos bens patrimoniais o terceiro setor deve explicar
contabilmente de onde são originados e como são aplicados. Um
balanço patrimonial divide-se em Ativos, compostos de bens e direitos
e passivos que são todas as obrigações, ou seja, a pagar da instituição.
O quadro 3 remete a divisão dos ativos e passivos de uma
organização.

Quadro 3 – Balanço patrimonial

Patrimônio

Ativo Passivo

Bens + Direitos Obrigações

Fonte: a autora

O quadro remete a demonstração discriminada do balanço


patrimonial de uma organização do segundo setor a qual será base para
a organização contábil do terceiro setor.
36 Gestão do Terceiro Setor

O gestor financeiro do terceiro setor em conjunto com o


profissional de contabilidade irá trabalhar em prol da igualdade entre o
ativo e passivo da organização.
O patrimônio líquido representa a demonstração de todos os
investimentos realizados na organização, incluindo bens materiais
como terrenos, casas, carros, etc., para que ela aconteça, deduzindo as
obrigações compostas de pagamentos de contas fixas como água, luz,
telefone, funcionários, pagamentos a fornecedores diversos e impostos.
A imagem 11 demonstra a fórmula do patrimônio líquido.

Imagem 11- Patrimônio líquido

Patrimônio líquido = bens + direitos - obrigações

Fonte: a autora

O quadro 4 demonstra a estrutura de um balanço patrimonial

Quadro 4 – Balanço patrimonial

Patrimônio
Ativo Passivo
Bens Obrigações
Caixa Fornecedores
Banco em Conta movimento Salários a pagar
Mercadorias Financiamentos a pagar
Veículos Impostos a pagar
Máquinas
Móveis
Imóveis
Direitos
Clientes
Duplicatas a receber
Promissórias a receber
Aluguéis a receber
Fonte: a autora
Gestão do Terceiro Setor 37

Num balanço patrimonial entende-se as nomenclaturas dispostas


da seguinte forma:
•• Um carro será chamado de veículo;
•• Dinheiro será chamado de caixa;
•• Os itens comprados para revenda são chamados de mercadoria;
•• As salas comerciais utilizadas na atividade são chamadas de imóveis;
•• As compras diversas a prazo são chamadas de duplicatas a pagar;
•• As compras a prazo de mercadorias são chamadas de fornecedores;
•• As vendas diversas a prazo são chamadas de duplicatas a receber;
•• As vendas a prazo de mercadorias são chamadas de clientes.

As doações no terceiro setor são bastante comuns e de extrema


relevância para o funcionamento da maioria das organizações. Elas são
classificadas como: condicionadas e incondicionadas, cujos lançamentos
contábeis são realizados iguais a qualquer outro fato contábil.
•• Doação Condicionada, com fins específicos, ou seja, o doador
condiciona a doação dele a uma finalidade determinada;
•• Doação Incondicionadas, sem fins específicos, ou seja, o
doador entrega o valor ou bem a entidade do terceiro setor e ela o aplica
da melhor forma que julgar.

Exemplo: na doação condicionada o doador pode condicionar a doação


de um terreno para fins educacionais ou de um equipamento para fins de saúde.

RESUMINDO
Para atuar profissionalmente no terceiro setor o profissional
contador deve considerar que esse setor conta em grande
parte com trabalhos voluntários, o qual não consegue
ofertar grandes salários aos colaboradores do quadro
tampouco a um contador. Havendo cobrança financeira
dos serviços prestados por parte do profissional contador,
este deverá calcular os honorários com base no número
de horas gastas com o efetivo trabalho, considerando o
número de lançamentos realizados e de funcionários da
instituição. Em muitas instituições não governamentais tanto
o gestor financeiro quanto o contador têm alguma relação de
solidariedade com a instituição e presta trabalhos voluntários.
38 Gestão do Terceiro Setor

Gestão de riscos em projetos no terceiro


setor

OBJETIVOS
Caro aluno, projetos sociais nascem todos os dias no Brasil,
geridos por pessoas com capacidades técnicas diferentes,
todavia com a mesma missão de atendimento social.
Colocar um projeto no papel é um grande desafio! Para
aumentar a qualidade dos serviços prestados pelo terceiro
setor é preciso trabalhar em prol da eficiência na gestão
de projetos. Nesse aspecto os riscos também devem ser
mensurados, o principal deles é do projeto não dar certo
ou pior, por falta de recursos sobretudo financeiros das
atividades prestadas a sociedade serem interrompidas.
Um gestor de projetos sociais acima de tudo deve ser um
investigador, procurando desvendar as reais necessidades
da comunidade local, pesquisando também outras
organizações que já prestam serviços similares, unindo
força de trabalho no desenvolvimento de parcerias. Após
o gestor deve colocar no papel a ideia, validando-a para
então prospectar os recursos financeiros através de editais
de fomento publicados pelo primeiro e segundo setor.

Perceberam a importância de projetos no terceiro setor? São


inúmeros os riscos que os circundam! Esse segmento precisa cada vez
mais de profissionais capacitados para o bem social. Vamos lá? Avante
aos estudos!

IMPORTANTE
Sem dinheiro um projeto não se torna realidade!

Todo projeto seja ele do primeiro, segundo ou terceiro setor


deve ter um gestor que planeje e coloque em prática tudo o que foi
escrito. Em todos os ramos de atividade sejam eles público ou privado
Gestão do Terceiro Setor 39

os recursos humanos, financeiros e materiais para as ações práticas dos


projetos são limitadas. Considerando que projetos do terceiro setor tem
como missão o atendimento em prol de determinada sociedade a qual
já possui carências e dificuldades diversas, a etapa de investigação é
fundamental para minimizar os riscos sobretudo de ineficiência.
As pessoas responsáveis por conduzir estas tarefas são chamadas
de administradores ou gestores, que vem do ato de coordenar os
recursos organizacionais no sentido de obter eficiência e eficácia, bem
como o alto grau de satisfação entres as pessoas que fazem o trabalho
e o cliente que o recebe. (CHIAVENATO, 1999, p. 40).
A imagem 12 remete a necessidade de o cumprimento da etapa
de investigação antes do projeto ser colocado em prática.

Imagem 12- etapa de investigação

Fonte: Pixabay

O gestor pode investigar o ambiente organizacional para execução


futura do projeto realizando várias indagações tanto a nível interno
quanto do externo, justificando a relevância da ideia principal planejada.
No ambiente interno deve-se considerar os recursos financeiros e
materiais disponíveis, a mão de obra a ser contratada e por voluntários.
A nível externo devem-se considerar todos stakeholders, aspectos
culturais, educacionais e econômicos da região.
Para Martins e Campos (2009, p.5) “recurso é tudo aquilo que gera
ou tem capacidade de gerar riqueza, no sentido econômico do termo”.
40 Gestão do Terceiro Setor

IMPORTANTE
Stakeholders, são todas as partes interessadas em um
projeto ou ação.

A imagem 13 remete as perguntas investigativas para um projeto


ser realizado.

Imagem 13- investigação

Quais as
O problema a necessidades
ser resolvido do local a ser
no projeto é implantado o
real? projeto?

O gestor de
projeto está O projeto
conversando vai causar
com a impacto
comunidade positivo?
local?

É possível É preciso
reunir vários alterar o
projetos em projeto?
um?

Fonte: a autora

Uma organização nada mais é do que a inter-relação de


processos na força de trabalho na interação de áreas, departamentos,
pessoas e serviços. Toda a organização não governamental, assim
como organizações do primeiro e segundo setor tem por objetivos
básicos a manutenção dos seus processos, da prestação de serviço e
do crescimento institucional. Para o terceiro setor essas ações têm como
Gestão do Terceiro Setor 41

reflexo o aumento da qualidade dos serviços sociais prestados, num


impacto positivo à comunidade.
A gestão de projetos consiste no planejamento e controle das
tarefas e atividades de forma que os objetivos traçados sejam alcançados.
Vale ressaltar que a palavra planejamento na administração remete a
ações futuras. Para que esta etapa ocorra com a máxima excelência a
organização não governamental deve contar com a gestão participativa,
no comprometimento de todos os membros da sua equipe.

Administrar recursos escassos tem sido a preocupação dos


gerentes, engenheiros, administradores e todas as pessoas
direta ou indiretamente ligadas às atividades produtivas,
tanto na produção de bens tangíveis quanto na prestação de
serviços. (MARTINS E CAMPOS 2009, p. 4).

Na fase de planejamento serão definidas as metas do projeto,


métodos de trabalho para atingimento das metas propostas e
averiguação das necessidades de treinamento e desenvolvimento da
mão de obra da organização não governamental.
Um planejamento bem estruturado de projeto proporcionará
uma visão global das necessidades de mercado, simplificará tarefas
onerosas e desnecessárias, valorizando os colaboradores internos, no
aperfeiçoamento contínuo dos serviços prestados à comunidade.
A imagem 14 remete ao alinhamento das ações para o sucesso
de um projeto.

Imagem 14 – sucesso do projeto

Alinhamento das Sucesso do projeto


ações

Fonte: a autora
42 Gestão do Terceiro Setor

A gerência um projeto evita imprevistos e antecipa ações


desfavoráveis que podem ser replanejadas. Para a eficácia de um projeto
o gestor precisa seguir alguns passos importantes alinhando as ações:
•• Definição da ideia do projeto, mensurando o que será realizado,
reunindo todos os dados disponíveis;
•• Pesquisa da história e cultura da comunidade local a ser
atendida, justificando o projeto;
•• Mensuração quantitativa dos benefícios tanto para os parceiros
do projeto quanto para a sociedade atendida;
•• Mensuração dos custos para a realização do projeto;
•• Plano de captação de recursos financeiros;

A imagem 15 remete aos passos para o alinhamento das ações de


um projeto do terceiro setor.

Imagem 15 – alinhamento das ações

Ideia

Recursos História e
financeiros cultura

Custos Benefícios

Fonte: a autora

A metodologia é uma etapa muito importante para diminuir o


risco de ineficiência de um projeto do terceiro setor. A estruturação de
método de trabalho, na definição de um passo a passo. Quanto mais
alinhado um projeto estiver, maiores serão as suas chances de sucesso.
Gestão do Terceiro Setor 43

Assim o gestor do terceiro setor não trabalhará somente com um sonho,


mas uma ideia pautada em dados reais e estruturados.
“A metodologia pode ser desenvolvida a partir da definição
de objetivos determinando as etapas e os procedimentos que serão
executados durante a coleta de dados”. Faria (et al, 2007)
A imagem 16 remete a transformação de um projeto em sonho
pelo alinhamento das ações.

Imagem 16- projeto x sonho

Fonte: Pixabay

A imagem remete a necessidade de alinhamento das ações para


o sucesso de um projeto, em especial do terceiro setor.
Podemos fazer uma analogia da metodologia de trabalho a
uma grande escada. Cada degrau pode ser comparado a uma etapa
de trabalho ou processo a ser desempenhado, cujo não pode ser
descartado. Após a subida de todos os degraus o “sonho”, projeto, será
alcançado.
A imagem 17 remete a analogia do processo de metodologia com
escadas.
44 Gestão do Terceiro Setor

Imagem 17- analogia da metodologia

Fonte: Pixabay

Outra etapa bastante importante na gestão de projetos é a


estruturação de indicadores de desempenho, na comparação dos itens
previstos com os realizados, principalmente no que tange o impacto
social do projeto. Principalmente, quando os recursos financeiros advêm
do segundo setor faz-se necessário medir o custo x benefício.
A imagem 18 remete a estruturação de indicadores de
desempenho.

Imagem 18- Indicadores de desempenho

Fonte: Pixabay
Gestão do Terceiro Setor 45

Em suma se o gestor de projetos de uma organização não


governamental deve agir como administrador, procedendo com
planejamento, cumprindo com as etapas de investigação dos ambientes
interno e externo, no desenvolvendo uma metodologia de processos e
trabalho, bem como da estruturação de indicadores de desempenho
para o acompanhamento das ações previstas e realizadas. Com essa
estratégia de gestão os riscos de um projeto não sair do papel ou mesmo
ser interrompido diminuirão muito!
O quadro 5 remete a discriminação das etapas e riscos dos
projetos do terceiro setor.

Quadro 5 – etapas para a diminuição de riscos do projeto

Etapa Discriminação Riscos

Investigação Dos ambientes Diminuem


internos e externos
Metodologia Do trabalho e Diminuem
processos
Indicadores Do previsto e Diminuem
realizado
Fonte: a autora

RESUMINDO
Devido as inúmeras desigualdades sociais, cresce no Brasil
a necessidade de desenvolvimento de projetos pelas
entidades que compõem o terceiro setor. Quanto maior o
nível do gerenciamento dos projetos maior será a qualidade
dos serviços prestados a sociedade. A gestão de projetos
diminuindo os riscos organizacionais é um grande desafio
para os gestores das organizações não governamentais,
sendo o maior deles o risco financeiro.
46 Gestão do Terceiro Setor

SAIBA MAIS
Artigo:
“Organizações privadas sem fins lucrativos: a participação
do mercado no terceiro setor”.
Disponível através do link:
h t t p : // w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _
arttext&pid=S0103-20702000000200015
“Lei nº 13.019 – De responsabilidade fiscal.”
Disponível através do link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/
Lei/L13019compilado.htm
“Escritório das nações unidas de serviços para projetos”.
Disponível através do link: https://nacoesunidas.org/
agencia/unops/
“Sistema público de escrituração fiscal”
Disponível através do link: http://sped.rfb.gov.br/projeto/
show/269
Gestão do Terceiro Setor 47

BIBLIOGRAFIA
CARRIO, Rosinha Machado. Organizações privadas sem fins lucrativos: a
participação do mercado no terceiro setor. SCIELO, 2000. Disponível em:<http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702000000200015>
Acesso em: 19 de abr. 2020.

CHIAVENATO. IDALBERTO, Administração nos novos tempos. 2ª Ed – Rio de


janeiro: Campus, 1999.

DRUCKER, Peter. Administração. São Paulo: Editora Pioneira de Administração


e Negócios, 1975.

Escritório das nações unidas de serviços para projetos. Nações Unidas.


Disponível em:<https://nacoesunidas.org/agencia/unops/> Acesso em: 19 de
abr. 2020.

FARIA, Ana Cristina de; CUNHA, Ivan da; FELIPE, Yone Xavier. Manual Prático
para a Elaboração de Monografias – Trabalhos de Conclusão de Curso,
Dissertações e Teses. Petrópolis: Vozes, 2007.

Lei nº 13.019 – De responsabilidade fiscal. Planalto. Disponível em:<http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13019compilado.htm>
Acesso em: 19 de abr. 2020.

MARTINS, GARCIA E CAMPOS RENATO PAULO. Administração de Materiais e


Recursos Patrimoniais. 3º ed. São Paulo. Saraiva. 2009.

MOREIRA, B Egon, Terceiro setor da administração pública. Organizações


Sociais. Contrato de Gestão. Organizações Sociais, Organizações da Sociedade
Civil de interesse público e seus “vínculos contratuais” com o Estado. Rio de
Janeiro – 2002. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/viewFile/46914/44559

Sistema público de escrituração fiscal. SPED. Disponível em:<http://sped.rfb.


gov.br/projeto/show/269> Acesso em: 19 de abr. 2020.
Gestão do Terceiro Setor

Daniele Melo de Oliveira

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