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Formação

Econômica do Brasil
Professora Doutora
Ariane Maria Machado de Oliveira
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira

Diretor de Ensino e Pós-graduação


Daniel de Lima

Diretor Administrativo
Eduardo Santini

Coordenador NEAD - Núcleo


de Educação a Distância
Jorge Van Dal

Coordenador do Núcleo de Pesquisa


Victor Biazon
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Secretário Acadêmico Centro, Paranavaí-PR
Tiago Pereira da Silva (44) 3045 9898

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UNIFATECIE Unidade 3
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UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102,
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FICHA CATALOGRÁFICA Paranavaí-PR
FACULDADE DE TECNOLOGIA E (44) 3045 9898
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Núcleo de Educação a Distância;
OLIVEIRA, Ariane. Maria Machado de. www.fatecie.edu.br
Formação Econômica do Brasil.
Ariane. Maria Machado de Oliveira.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 91 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira dos Santos. do site ShutterStock
AUTORA

Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira

● Doutora em Administração Estratégica pela PUC/PR (2018).


● Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (2005).
● Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina
(2002).
● Coordenadora do curso a distância de Economia, Gestão Financeira e Comércio
Exterior da Kroton Educacional S/A.

Atua como docente de Economia/Finanças há 13 anos. No ano de 2013 foi Pro-


fessora Colaboradora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Campus CP). Por
dois anos foi coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Pública e
Negócios Imobiliários no NEAD - UniCesumar. Atuou como Coordenadora Geral e Coor-
denadora do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais e Coordenadora do
projeto de pesquisa Consultoria Júnior na Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do
Paraná - UniFatecie (2008 - 2011).
Área acadêmica de atuação: Economia e todas as subáreas e Administração Fi-
nanceira/Empresarial.

Link lattes: http://lattes.cnpq.br/7783844445395674


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), é com imenso prazer que lhe apresento nosso material de
estudos da disciplina de Formação Econômica do Brasil. Ao longo desta apostila você terá
um contato profundo com conteúdo de formação histórica, imprescindível para que você,
enquanto aluno(a), construa uma base cultural indispensável à expressão de um posiciona-
mento reflexivo, crítico e comparativo, acerca da formação econômica do Brasil. Ao final da
apostila você terá desenvolvido competências e habilidades que lhe permitirão compreender
as diferentes fases da economia brasileira e seu processo de formação econômica, desde a
economia colonial, passando pela formação do estado nacional, pela economia escravista,
pelo início da formação do capital industrial, até a crise de 1929 e a revolução de 1930.
Na Unidade I começaremos nosso bate-papo analisando o contexto mundial diante
do período chamado Grandes Navegações. Serão apresentados a você os principais as-
pectos da empresa agrícola no período colonial e como essa obteve êxito. O processo de
colonização e o estabelecimento de colônias espanholas e portuguesas serão debatidos
no intuito de demonstrar sua importância no processo de ocupação territorial brasileiro e
suas consequências econômicas. O processo de desenvolvimento da indústria açucareira
e o uso da mão-de-obra escrava será também tema central desta unidade, para, por fim,
abordarmos a pecuária como atividade de subsistência.
Já na Unidade II você irá saber mais sobre a expansão da colonização. Primeira-
mente você conhecerá mais sobre o funcionamento do sistema administrativo na colônia,
para, em seguida, compreender o processo de formação do complexo econômico nordesti-
no. Em seguida veremos a respeito do período chamado era do ouro, quando a descoberta
de metais preciosos fez deslocar o centro dinâmico da economia do nordeste para a região
centro-sul. Ainda nesta unidade será abordado o renascimento da agricultura e o fim da era
colonial.
Na sequência, na Unidade III falaremos a respeito do processo de transição da
economia escravista para a economia de trabalho assalariado. O primeiro assunto da uni-
dade será o chamado passivo colonial, que foram as dívidas deixadas por Portugal que
acabaram por gerar crise financeira e instabilidade política. Veremos então o que levou ao
declínio da renda na primeira metade do Século XIX, bem como os problemas ocasiona-
dos pela falta de mão-de-obra e a pressão abolicionista internacional. Quanto à segunda
metade do século XIX, veremos como a transição para a economia assalariada levou a um
crescimento e à geração de um fluxo de renda. A atividade cafeeira surge nessa unidade,
como destaque no processo de avanço econômico.
Em nossa Unidade IV vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina, com aspectos
da transição para o sistema industrial. Primeiramente, veremos como a crise cafeeira preju-
dicou o processo de desenvolvimento da economia brasileira e quais foram os mecanismos
de defesa adotados. A crise de 1929, que levou ao período chamado de Grande Depressão,
também será vista nesta unidade. Por fim, veremos como se deu o processo de transição
da economia brasileira para os primeiros sinais de industrialização.
Com tudo isso que veremos, poderemos interpretar e analisar a evolução da eco-
nomia brasileira, centradas nas transformações ocorridas na estrutura econômica do país
entre o período colonial até o final dos anos de 1930. Convido você a mergulhar no processo
de formação da economia brasileira, para que possa compreender como chegamos onde
estamos nos dias de hoje.
Desejo sucesso profissional e pessoal para você.

Obrigada e bons estudos!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 7
Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das
Grandes Navegações e Ocupação Territorial

UNIDADE II.................................................................................................... 28
Expansão da Colonização

UNIDADE III................................................................................................... 53
Economia de Transição para o Trabalho Assalariado

UNIDADE IV................................................................................................... 71
Economia de Transição para um Sistema Industrial
UNIDADE I
Contextualização Mundial – O Mundo
Durante o Período das Grandes
Navegações e Ocupação Territorial
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira

Plano de Estudo:
● Grandes navegações e ocupação territorial do continente americano;
● O processo de ocupação territorial brasileiro;
● Fatores de êxito da empresa agrícola;
● Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas;
● As Colônias de Povoamento do Hemisfério Norte;
● Economia Escravista de Agricultura Tropical;
● Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira;
● Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária.

Objetivo de Aprendizagem:
● Fornecer subsídios necessários aos alunos para a montagem de um referencial
teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na formação
socioeconômica brasileira até o período de predominância do capitalismo industrial.

7
INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a)! Dando início a nossa primeira unidade da disciplina de Forma-
ção Econômica do Brasil, abordaremos questões que nos levem a compreender o mundo
durante o período das grandes navegações e como se deram as ocupações territoriais. As
grandes viagens marítimas feitas pelos europeus, no final do século XV, nos despertam in-
teresse e curiosidade quanto aos métodos e desafios enfrentados pelos navegadores, que,
mesmo com pouca tecnologia e ferramentas ainda primitivas, enfrentaram o mar, ainda em
parte desconhecido, movidos por questões econômicas, políticas, religiosas e até mesmo
pelo fascínio que ele despertava.
Além de abordarmos alguns aspectos do período das grandes navegações, vamos
buscar compreender como se deu o processo de povoamento do hemisfério norte, pas-
sando pelas colônias espanholas e portuguesas, pelo período da economia escravista de
agricultura tropical, pelo processo de capitalização e nível de renda na colônia açucareira e
sua projeção até a pecuária.
A primeira unidade apresentará, então, inicialmente uma análise do período que
vai do pré-colonial a meados do século XVI, abordando o processo de ocupação territorial
das Américas em busca de compreender como se deu a evolução econômica do Brasil
pré-colonial ao período colonial. Em seguida, poderemos constatar, ao longo da unidade,
que o início do período colonial foi marcado pelo estabelecimento de colônias portuguesas
de exploração, que tiveram o açúcar como principal produto durante décadas, e mão-de-
-obra escrava. Por fim, buscaremos compreender de que maneira a indústria açucareira
influenciou no surgimento da pecuária.
Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o sis-
tema político e administrativo na colônia, formação do complexo econômico nordestino,
a mineração e a ocupação no centro-sul, o renascimento da agricultura até o fim da era
colonial, em 1822. Nas duas últimas unidades do livro, estudaremos, então, a economia de
transição para o trabalho assalariado, bem como para o sistema industrial.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 8
1 GRANDES NAVEGAÇÕES E A OCUPAÇÃO TERRITORIAL DO CONTINENTE AME-
RICANO

Monarcas e nobres competiam por poder e recursos na Europa do século XV. Uma
sociedade com pouca oferta de mão de obra, que ainda sofria perturbações econômicas e
sociais causadas pelas devastações da Peste Negra. Ao mesmo tempo, tratava-se de uma
sociedade que tinha desejo por objetos de luxo, iguarias exóticas e de ouro que permitisse
comprar esses artigos do Oriente com quem ela tinha um saldo comercial permanentemen-
te desfavorável (ELLIOT, 2004). O autor destaca ainda que a sociedade europeia se sentia
ameaçada em suas fronteiras orientais pela presença hostil do Islã e pelo avanço dos
turcos otomanos. Com o incremento do comércio interno durante o século XV e as invasões
Otomanas dificultando em certa parte o fluxo de mercadorias do Oriente, restou às nações
europeias buscar novas fronteiras para seu desenvolvimento econômico.
O desenvolvimento de novas técnicas de cartografia e o surgimento da bússola
forneceram aos navegadores ferramentas que possibilitaram a exploração do Atlântico.
Segundo Koshiba & Pereira (1996), instrumentos de navegação, como embarcações mais
resistentes e modernas, a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante etc.,
há muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse período, bastante divulgados entre os
europeus e aperfeiçoados por eles.
Esse período ficou conhecido como Expansão Comercial Europeia e deu início às
grandes navegações. Países como Portugal e Espanha se lançaram ao mar em busca de

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 9
novas riquezas e nesse processo descobriram as Américas. Segundo Di Carlo (2015), tal
feito acabou inserindo o reino espanhol no processo de expansão marítimo-comercial que,
desde o início daquele século, já havia propiciado significativas conquistas para o Império
português ao longo de todo século XV.
O clima de disputa entre portugueses e espanhóis se acirrou com a ascensão dos
espanhóis na exploração de novas terras. Nesse contexto, o papa Alexandre VI assinou,
em 1493, a Bula Inter Coetera, que buscava estabelecer os limites de exploração colonial
entre as duas nações, evitando, assim, um conflito de maiores proporções. Segundo Pinto
(1979), Portugal buscava garantir primeiramente seu monopólio na costa africana e a Es-
panha preocupava-se em legitimar a exploração nas terras localizadas a oeste.
No ano de 1494, o rei português Dom João II exigiu a revisão do primeiro acordo
assinado pelo papa Alexandre VI, pois, segundo ele, tal divisão não satisfazia os interesses
lusitanos. Alguns historiadores relatam que havia fortes indícios de que os portugueses
tinham conhecimento de outras terras localizadas na porção sul do continente descoberto,
o que veio a ser confirmado por documentos encontrados séculos mais tarde. Para evitar
o desgaste de um conflito militar, os espanhóis aceitaram a revisão dos acordos com uma
nova intermediação do papa.
Pouco tempo depois do Tratado de Tordesilhas (1494) ser assinado, nações eu-
ropeias incipientes no processo de expansão marítima, questionavam sua legitimidade,
por ser um acordo restrito aos países ibéricos (Portugal e Espanha). O sucesso de na-
vegadores como Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral forneceu as duas nações,
Portugal e Espanha, terras a serem exploradas. A descoberta das novas terras não gerou,
no entanto, uma ação imediata das duas nações no intuito de colonizar os territórios, os
portugueses, por exemplo, não ocuparam imediatamente o extenso território de que tinham
tomado posse.
Segundo Prado Júnior (1981), até quase meados do século XVI, portugueses
e franceses traficavam ativamente na costa brasileira o pau-brasil. Era uma exploração
rudimentar que não deixou traços apreciáveis, a não ser na destruição impiedosa e em
larga escala das florestas nativas de onde se extraía a preciosa madeira. Não se criaram
estabelecimentos fixos e definitivos. Limitaram-se a organizar algumas expedições e a
erguer construções precárias em alguns pontos do litoral, as feitorias, para organizar a
extração e o embarque de pau-brasil para a Europa (BERNAND; GRUZINSKI, 1997). Este
foi o primeiro produto explorado em nosso território.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 10
Para darmos sequência ao nosso estudo, é importante que você compreenda como
se deu o processo de evolução da economia brasileira, analisando a Tabela 1.

Tabela 1 - Períodos da história do Brasil e principais produtos produzidos

Fonte: a autora.

A partir da Tabela 1 você pode compreender a cronologia dos fatos associando-a


à evolução histórica econômica do Brasil. A tabela apresenta os principais fatos e produtos
explorados desde o período pré-colonial até o período republicano. Em especial até a era
do café, cuja crise se deu em meados dos anos de 1930.

1.1 Processo de Ocupação Territorial Brasileiro

Segundo Furtado (2007), o início da ocupação econômica do território brasileiro é


em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha
pelas demais nações europeias. A França, por exemplo, organizava suas expedições
marítimas ao Brasil como forma de questionar o Tratado de Tordesilhas, argumentando
que a legitimação da exploração colonial deveria se basear no princípio da posse útil, ou
seja, que as terras deveriam estar sendo exploradas economicamente. A ocupação se fazia
necessária, portanto, para garantir a posse e a questão econômica passou a ter também
caráter político.
Os espanhóis eram capazes de financiar a defesa de tais áreas com o sucesso
da exploração de metais preciosos nos novos territórios descobertos e a Portugal, que
ainda não havia encontrado metais preciosos em suas terras, restou buscar alternativa à
mineração e através da exploração agrícola fomentar a defesa de seus territórios. Para

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 11
executar tal plano, Portugal envia ao Brasil Martim Afonso de Sousa, para fundar a primeira
colônia de exploração, em 1530.
Para proteger a extensa costa brasileira de outros povos europeus que desembarca-
vam no Brasil, a coroa portuguesa implantou, em 1534, o sistema de capitanias hereditárias.
Para Prado Júnior (1981), o plano, em suas linhas gerais, consistia no seguinte: dividiu-se
a costa brasileira (o interior, por enquanto, era para todos os efeitos desconhecido) em
doze setores lineares, com extensões que variavam entre 30 e 100 léguas. Tratava-se de
um sistema no qual as terras eram cedidas a donatários, pessoas de confiança do rei de
Portugal, que se comprometiam a povoar a terra com portugueses e fomentar a atividade
econômica.
Mesgravis (2015) destaca que as obrigações e direitos dos donatários para com
a Coroa estavam definidos em um documento chamado Regimento, que acompanhava a
Carta de Doação assinada pelo rei. Tal documento preservava os privilégios do rei, ou seja,
a Coroa mantinha a autoridade final sobre todos os assuntos coloniais e o donatário tinha
obrigações militares e econômicas.

REFLITA

Você sabia que nesse sistema, os donatários podiam distribuir lotes de terras denomina-
dos sesmarias, criar vilas, cobrar tributos e escravizar indígenas? Em troca eram obriga-
dos a pagar ao governo português um décimo de tudo o que produzissem e ganhassem.
Na realidade, as capitanias pertenciam ao rei e não aos donatários, porém eram heredi-
tárias, pois passavam de pai para filho.
Fonte: a autora.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 12
Segundo Nieuhof (1981), eram 15 capitanias em que o território brasileiro foi dividido
e que foram doadas para 12 donatários, sendo que alguns receberam mais de uma. Eram
elas: Maranhão (dois quinhões, isto é, duas porções), Ceará, Rio Grande, Itamaracá (mais
tarde recriada com o nome de Paraíba), Pernambuco, Baía de Todos-os-Santos, Ilhéus,
Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (dois quinhões, um dos quais, mais
tarde, foi rebatizado como Rio de Janeiro), Santo Amaro e Santana. Podemos observar
tal divisão por meio da Figura 1, que apresenta as capitanias definidas a partir da linha
imaginária do tratado de Tordesilhas.

Figura 1 – Capitanias Hereditárias do Brasil

Fonte: Cintra (2013).

Historiadores destacam alguns dos obstáculos ao sistema de capitanias hereditárias


que levaram a seu fracasso. Mattos, Innocentini e Benelli (2012) citam que a maioria dos
donatários não tinham recursos para investimentos, e alguns não demonstravam interesse
em ocupar suas terras. Outro fator levado em conta era a distância entre a colônia e a me-
trópole portuguesa, que dificultava o transporte de pessoas para a povoação dos territórios.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 13
A falta de produtos de abastecimento, o clima e os frequentes ataques indígenas reagindo
contra a escravização e a invasão de suas terras dificultavam ainda mais o desenvolvimento
das capitanias hereditárias.
Segundo Mattos, Innocentini e Benelli (2012), apenas as capitanias de Pernambu-
co e de São Vicente se firmaram, com a produção açucareira e a criação de gado, e nelas
foram fundados povoados. Estabelecida em 1532 por Martim Afonso de Sousa, dois anos
antes até de a capitania ser criada e ele se tornar seu donatário, São Vicente foi a primeira
cidade fundada no Brasil.
Ao constatarem que o sistema de capitanias não estava alcançando seu propósito,
em 1549 Portugal implanta uma outra forma de governo, que centralizava as decisões
políticas e econômicas. No chamado governo-geral a coroa portuguesa passa, então, a
retomar o controle sobre as capitanias, dando origem às províncias, que passaram a cons-
tituir os atuais estados brasileiros.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 14
1.2 Fatores do Êxito da Empresa Agrícola

Quase 30 anos após a descoberta de Pedro Álvares Cabral o Brasil ainda desper-
tava pouco interesse em Portugal, que se concentrava no comércio de especiarias vindas
da Índia. A redução do comércio com as Índias coincidiu com os ataques que passaram a
acontecer na costa Brasil. O surgimento da empresa agrícola açucareira vem da necessida-
de de Portugal financiar a defesa dos novos territórios. Ao contrário da Espanha que obteve
resultados imediatos com o ouro e a prata, Portugal dependia do sucesso das empresas
coloniais para a ocupação e financiamento da defesa das áreas. Os fatores de sucesso
estão relacionados com uma grande demanda por açúcar vindo da Europa, e parcerias com
nações como Holanda, que dominavam toda navegação comercial da época.
Segundo Furtado (2007), um conjunto de fatores particularmente favoráveis tomou
possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola europeia. Os portugueses
haviam já iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente gran-
de, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu:
o açúcar. Essa experiência resultou ser de enorme importância, pois, além de permitir a
solução dos problemas técnicos relacionados com a produção do açúcar, fomentou o de-
senvolvimento, em Portugal, da indústria de equipamentos para os engenhos açucareiros.
Esse conhecimento foi preponderante para a montagem dos novos engenhos na colônia,
bem como para a produção de todo o maquinário necessário.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 15
É importante salientar que os esforços iniciais da coroa portuguesa foram pre-
ponderantes para o sucesso da empresa agrícola. Portugal reconhecia que a ocupação
e torná-los viáveis economicamente eram as únicas maneiras de garantir tais territórios.
Outro fator que deve ser observado é a exploração de escravos, no princípio nativos e
posteriormente vindos da África, que forneceram a mão-de-obra para os engenhos e que,
sendo não remunerada, viabilizava e aumentava em muito a lucratividade do negócio.
Todavia de nada adiantava produzir muito açúcar e não ter mercados para escoar
tal produto. Inicialmente a superprodução gerou uma queda de preço no mercado interna-
cional, tendo em vista a dificuldade de encontrar mercados para consumir tais volumes.
Nesse ponto, os holandeses foram fundamentais, pois já dominavam o comércio dentro da
Europa e conseguiram os mercados que Portugal necessitava para o seu produto. Segundo
Furtado (2007), os holandeses contribuíram não somente com sua experiência comercial.
Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países Baixos.
Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses não se limitaram a financiar
a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que capitais flamengos participaram
no financiamento das instalações produtivas no Brasil, bem como no da importação da
mão-de-obra escrava.
O êxito da empresa agrícola açucareira foi o que proporcionou aos portugueses
se fixar nas longas extensões de terra que possuíam nas Américas, de tal maneira que no
século seguinte, quando o Tratado de Tordesilhas passou a ser mais fortemente questiona-
do por outras nações, Portugal já estava fixado de tal maneira nestas áreas que dificultava
muito possíveis invasões.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 16
SAIBA MAIS

Como você imagina que funcionavam os engenhos de açúcar no período colonial?


O historiador Jefferson Evandro Machado Ramos descreve as etapas do processo de
produção de açúcar no Brasil Colônia com base nos trabalhos de Furtado (2005) e Skid-
more (2003).
1º - A cana-de-açúcar era plantada, pelos escravos, em extensos canaviais.
2º - Os escravos cortavam a cana-de-açúcar e carregavam em carros de bois até a
moenda, que ficava na parte interior do engenho.
3º - Nas moendas (grandes máquinas movidas por moinho d’água, força humana ou por
bois), a cana-de-açúcar era esmagada. O caldo de cana era obtido nessa etapa.
4º - O caldo de cana era colocado em grandes caldeiras para passar por um processo
de fervura. O resultado, depois de horas, era um caldo bem grosso (pastoso).
5º - O caldo grosso era levado até a casa de purgar, onde era colocado em recipientes
de barro, em formato de cone, com um furo na parte inferior. Esse furo possibilitava o
escorrimento do restante da água. O caldo ficava nesse local de 3 a 5 dias, até que toda
água escorresse.
6º - No final da etapa anterior, o resultado era uma espécie de bloco de açúcar, em for-
mato de cone e de cor amarelada. Esses “pães de açúcar”, como eram chamados, eram
transportados para a Europa, local em que seriam clareados (refinados) e vendidos aos
comerciantes locais e consumidores finais.
Fonte: Ramos (2010).

Para mais informações leia: FERLINI, V. L. A. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1994.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 17
1.3 Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas

A principal diferença entre as colônias espanholas e portuguesas é que a Espanha


encontrou, em seus territórios, povos altamente desenvolvidos, com sistemas de hierarquia
e conhecimentos profundos acerca de seus mundos, tais como os Incas e Astecas. Portugal,
no entanto, encontrou uma população nativa muito mais dispersa, que ainda não apresen-
tava uma organização social tão elaborada. Outra grande diferença eram os números de
habitantes. As colônias espanholas possuíam muito mais população nativa que a Espanha
pôde utilizar como mão-de-obra na mineração, através de acordos com as elites nativas.
O grande sucesso da indústria açucareira portuguesa poderia ter despertado nos
espanhóis algum interesse em replicar tal empreendimento em seus domínios que tinham
um solo melhor que o do litoral brasileiro e gozavam de posição geográfica mais próxima da
Europa que o Brasil, o que facilitaria a exportação. O grande sucesso obtido na mineração de
metais preciosos, no entanto, fez com que os espanhóis não se voltassem para tal atividade.
O sucesso espanhol na exploração de metais preciosos acabou gerando problemas
internos na economia da Espanha, pois a riqueza trazida com o ouro e a prata gerou uma
forte inflação. Setores produtivos de manufatura também foram afetados, pois a população
local preferia viver direta ou indiretamente de subsídios fornecidos pelo governo. Isto fez
com que a Espanha tivesse que passar a importar cada vez mais produtos, o que afetou
diretamente a balança comercial espanhola. Tudo isto combinado gerou grande crise inter-
na que teve também desdobramentos políticos e impactou na administração das colônias.
Todos esses problemas internos que afetaram a Espanha e a administração de
suas colônias fez com que não se tornassem um concorrente ao açúcar brasileiro. Se as

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 18
colônias espanholas tivessem se concentrado também na produção de açúcar e gerado
uma concorrência para as colônias portuguesas isso poderia ter um impacto muito profundo
no empreendimento português.

1.3.1 As colônias de povoamento do hemisfério Norte


O acontecimento mais impactante para o Brasil no século XVII foi o surgimento
de uma forte concorrência para os produtos que o Brasil produzia. Inicialmente, países
como França, Holanda e Inglaterra invadiram e passaram a estabelecer colônias nas Anti-
lhas e Caribe, com o objetivo de ocupar posições estratégicas para uma possível invasão
das colônias espanholas da América Central e do Sul, que passavam por uma forte crise
junto com a coroa. Plano que nunca chegou a se concretizar devido às rivalidades entre
Inglaterra e França. Por conta do caráter político de tais ocupações, o sistema adotado foi
o de pequenas propriedades cedidas a europeus. A Inglaterra teve mais facilidade que a
França para povoar, pois tinha um excedente interno de população desocupada, resultado
de mudanças na agricultura, que acabou por gerar uma forte turbulência política, religiosa
e social, de tal modo que alguns grupos preferiam encarar o desafio de uma vida nova nas
Américas.
Segundo Furtado (2007), as tentativas de colonização da América do Norte ha-
viam sido um fracasso, pois o clima propiciava a produção dos mesmos produtos que
se produziam na Europa, tendo em conta o custo de transporte de tais produtos para os
mercados consumidores e a mão-de-obra barata que a Europa dispunha à época, ficava
economicamente inviável manter tais colônias. Nas Antilhas e Caribe, no entanto, devido ao
clima, era possível produzir uma gama muito maior de produtos, sobretudo usando peque-
nas propriedades. Produtos como café, anil, tabaco e algodão tinham grande potencial de
mercado na Europa e geraram grandes lucros para as companhias colonizadoras.
Esse sucesso comercial de tais produtos passou a demandar um número cada vez
maior de mão-de-obra europeia e isso se tornou uma grande dificuldade, mesmo usando o
sistema de servidão temporária, em que condenados poderiam substituir sua condenação
por trabalhos em tais colônias, não foi o suficiente para suprir toda a necessidade. Para
solucionar tal problema, a ideia foi introduzir escravos vindos da África, mas isso alterou
também os produtos produzidos e até mesmo as propriedades, desta forma, elas passaram
a se dividir em dois tipos: as pequenas propriedades, que empregavam europeus, e as
grandes propriedades, que empregavam escravos.
Desta maneira, surge uma grande concorrência entre as pequenas propriedades
produtoras de produtos tropicais e as grandes propriedades que empregavam mão-de-obra

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 19
escrava. O aumento da produção ocasionou também redução no preço de tais produtos
no mercado internacional, o que gerou uma crise e impactou diretamente no modelo de
colonização dessa região. A partir desse momento o Brasil passa também a ser impactado,
o modelo inicial de colonização do Caribe e Antilhas com pequenas propriedades garan-
tia ao Brasil quase que um monopólio na produção do açúcar, que dependia de grandes
propriedades para ser produzido. Com as novas grandes propriedades, que utilizavam
mão-de-obra escrava, viabilizou-se a produção de açúcar no Caribe e Antilhas.
Um fator que acelerou este processo foi a expulsão dos holandeses do território
brasileiro em Pernambuco, detentores de técnicas e equipamentos para a produção. Após
a expulsão eles preferiram se associar a ingleses e franceses já instalados a montarem
suas próprias propriedades. Dessa maneira, apenas uma década após a expulsão dos ho-
landeses do Brasil uma pujante economia açucareira se estabeleceu na região. Isto gerou
uma outra consequência, que foi a migração dos povos de origem europeia, tanto ingleses
quanto franceses, para dar lugar aos escravos, que foram em sua maioria para colônias
no Hemisfério Norte, que, como citamos foram inicialmente um fracasso, porém com o
aumento da população o mercado interno se fortaleceu, se tornando quase auto suficiente
e dependendo minimamente de importações.
A recente monocultura açucareira estabelecida nas Ilhas do Caribe fez com que
alguns produtos agrícolas deixassem de ser produzidos e passassem a ser importados.
Isso beneficiou as colônias da América do Norte, que passaram a fornecer tais suprimentos.
Mas não eram só de suprimentos básicos que necessitavam as Ilhas, era preciso madeira
para encaixotar o açúcar, bem como animais para mover as moendas dos engenhos etc.
Para fazer o transporte de todas estas mercadorias entre América do Norte e Caribe eram
necessários muitos navios e isso fez florescer uma indústria naval no Norte. Tudo isso
fortaleceu a região que detinha um forte mercado interno e que ainda possuía um grande
cliente nas Antilhas e Caribe para as suas exportações.
Com isso inicia-se a terceira etapa da exploração das Américas. Na primeira etapa
temos viagens extrativistas se utilizando de mão-de-obra nativa, visando metais preciosos
e produtos como o Pau-Brasil, em segundo momento se estabelecem grandes empresas
agrícolas, utilizando força de trabalho escrava importada. Já na terceira etapa, sobretudo
no Hemisfério Norte, temos o surgimento de uma economia mais próxima do que era a
economia europeia, focada primeiramente no mercado interno e sem uma separação clara
entre as atividades para exportação e para o mercado interno.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 20
2 ECONOMIA ESCRAVISTA DE AGRICULTURA TROPICAL

Encontrar toda força de trabalho necessária para tocar a colonização foi o grande
problema encontrado pelos colonos portugueses no início. O clima hostil para os padrões
europeus, as condições precárias e todas as incertezas ligadas a tal aventura afugentava
um número maior de portugueses. Dentro desse cenário os colonos utilizaram como primei-
ra alternativa a captura e escravização de nativos.
Essa atividade foi tão importante que algumas comunidades tinham como principal
atividade econômica a captura e comercialização de indígenas. Os nativos tiveram papel
fundamental nessa primeira etapa, auxiliando na instalação dos engenhos e construindo
as bases do que viria a ser a indústria açucareira no Brasil. Os escravos africanos são
introduzidos posteriormente em um momento em que os engenhos já funcionavam e eram
capazes de arcar a importação e compra de escravos.
Prado Júnior (1981) cita que o processo de substituição do índio pelo negro pro-
longou-se até o fim da era colonial. Contra o escravo negro havia um argumento muito
forte: seu custo. Não tanto pelo preço pago na África, mas em consequência da grande
mortalidade a bordo dos navios que faziam o transporte. Mal alimentados, acumulados de
forma a haver um máximo de aproveitamento de espaço, suportando longas semanas de
confinamento e as piores condições higiênicas, somente uma parte dos cativos alcançavam
seu destino. Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil, destes

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 21
muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi, assim, sempre muito elevado, e
somente as regiões mais ricas e florescentes podiam suportá-lo.
Essa estrutura de agricultura tocada por escravos foi a base do início da colonização
do Brasil. Com mão-de-obra sem custos de salário e em grande quantidade, era possível
operar as fazendas e os engenhos que dependiam de um número alto de funcionários
e o não pagamento de salários maximizava ainda mais os lucros e tornava a atividade
altamente rentável.

2.1 Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira


Passada a dificuldade inicial em se estabelecer, a indústria açucareira tem cresci-
mento vertiginoso no final do século XVI com um investimento de cerca de 1,8 milhão de
libras esterlinas e um acréscimo de 20 mil escravos trazidos da África.
Segundo Furtado (2007), não se pode afirmar com precisão sobre a renda gerada
por essa economia, mas estima-se que podia chegar até 2 milhões de libras em anos
favoráveis, o que representava muito para uma população de aproximadamente 30 mil
habitantes europeus que viviam na colônia. Mas cabe destacar que toda essa riqueza era
concentrada nas mãos dos proprietários de engenho.
A atividade açucareira se mostrava tão rentável que chegava a fornecer um retorno
de aproximadamente 90% ao senhor do engenho, o que é facilmente explicado pelo baixo
custo de produção. Segundo Furtado (2007), apenas 5% eram gastos com o pagamento de
transporte e armazenamento, 2% eram pagos para alguns assalariados: homens de vários
ofícios e supervisores do trabalho dos escravos e outros 3% eram gastos na compra de
gado para tração e de lenha para as fornalhas.
Os dados apresentados demonstram a grande capacidade de geração de renda
da atividade açucareira no final do século XVI. Furtado (2007) cita que os ganhos com a
produção açucareira eram capazes de promover uma duplicação em sua capacidade de
produção a cada dois anos. Havia também um grande volume de absorção da produção de
açúcar pelos mercados demandantes, o que evitou uma crise de superprodução.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 22
REFLITA

Se a plena capacidade de autofinanciamento da indústria açucareira não era utilizada,


que destino tomaram os recursos financeiros que sobravam?

Fonte: a autora.

Nas palavras de Furtado (2007), é óbvio que os recursos advindos do açúcar não
eram utilizados dentro da colônia, onde a atividade econômica não-açucareira absorvia
ínfimos capitais. O autor supõe então que parte do capital investido na economia açuca-
reira pertencesse aos comerciantes europeus e que grande parte da renda gerada com
tal atividade retornava para a Europa, pois era advinda de um capital que pertencia aos
comerciantes europeus.
Sitima (2014) relata que a atividade açucareira tinha dimensões suficientes para in-
fluenciar o desenvolvimento de outras regiões da colônia, porém esse potencial sempre foi
desviado para o exterior por decisões políticas de evitar uma concorrência com o mercado
metropolitano.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 23
SAIBA MAIS

Plantation é o nome dado a um modelo de exploração econômica em que se destacam


como aspectos principais: a concentração da propriedade da terra, a monocultura, con-
trole de grande número de trabalhadores escravos e produção voltada para o mercado
externo. Durante o período colonial brasileiro, esse foi o modelo adotado em larga es-
cala, sendo a cana-de-açúcar o principal produto cultivado até meados do século XVIII.

Fonte: Diégues Júnior (1958).

2.2 Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária

Na segunda metade do século XVI a atividade agrícola para exportação tomou


tamanho vulto que um mercado paralelo se formou para abastecer as grandes fazendas de
suas necessidades. Os lucros com o açúcar eram tão elevados que inclusive a própria pro-
dução para subsistência foi abandonada por muitas delas, pois era antieconômico destinar
áreas de produção de cana a tal fim.
Furtado (2007) destaca que era no setor de bens de produção que o suprimento
local encontrava maior espaço para expandir-se, pois as duas principais fontes de energia
dos engenhos – a lenha e os animais para tração – podiam ser supridas localmente com
grande vantagem. Sendo assim, o autor cita que a separação das duas atividades (açuca-
reira e criatória) no Nordeste foi que impulsionou a criação de gado na região e promoveu
a penetração e ocupação do interior do território brasileiro.
De acordo com Prado Júnior (1981), a pecuária se destinava a satisfazer as ne-
cessidades alimentares da população. Mas a pecuária, apesar da importância relativa que
atinge e do grande papel que representa na colonização e ocupação de novos territórios,
continuava sendo uma atividade visivelmente secundária e acessória, tendo sempre um
lugar se segundo plano, estando subordinada às atividades principais da grande lavoura e
sofrendo de grande incerteza.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta unidade foi o de fornecer a você, aluno(a), a capacidade de


desenvolver um referencial teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na
formação socioeconômica brasileira até o período de avanço da economia açucareira, para
a pecuária. Para tal, primeiramente abordamos o processo de colonização do território bra-
sileiro, bem como o sucesso da empresa agrícola neste contexto. As colônias espanholas
e portuguesas foram destacadas como fundamentais ao avanço da atividade econômica.
Ao abordarmos a colonização do hemisfério norte, vimos como um processo que
havia fracassado no começo obteve sucesso posteriormente devido à criação de um merca-
do interno fortalecido, e clientes externos, como a indústria açucareira das Antilhas. Desta
forma, pudemos conhecer as primeiras três etapas da colonização americana, focadas
primeiramente na economia extrativista, em seguida na indústria agrícola e, por fim, no
fortalecimento do mercado interno, com um sistema econômico mais parecido com o que
estava em vigor na Europa.
Em seguida, foram apresentados aspectos da economia escravista de agricultura
tropical, em que as rendas geradas nos engenhos de açúcar se mostravam expressivas,
mas que não foram suficientes para gerar um reinvestimento que levasse ao desenvol-
vimento econômico. O surgimento da atividade pecuária foi o último tópico abordado na
unidade, considerando ser esta uma atividade de subsistência, sendo fonte quase única de
alimentos e de matéria-prima (couro) que se utilizava praticamente para tudo.
Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o siste-
ma político e administrativo na colônia, a formação do complexo econômico nordestino, a
mineração e a ocupação no centro-sul, até o fim da era colonial, em 1822.

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 25
LEITURA COMPLEMENTAR

Para complementar os assuntos discutidos ao longo da primeira unidade, acesse


os conteúdos a seguir:

Título: Capitanias Hereditárias e desenvolvimento econômico: herança colo-


nial sobre desigualdade e instituições
Autor(es): Enlinson Mattos
Thais Innocentini
Yuri Benelli
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os eventuais efeitos da heran-
ça colonial na formação dos municípios brasileiros sobre suas condi-
ções atuais de desigualdade de distribuição de terra e renda e sobre a
qualidade das instituições. Em particular, empregam-se área, latitude,
longitude e a data de fundação para identificar os municípios perten-
centes aos territórios das Capitanias Hereditárias (CHs). Em seguida,
busca-se estimar se essa característica histórica dos municípios está
correlacionada com suas instituições atuais, considerando diversos
controles, tais como: área proporcional da capitania; haver pertencido
aos ciclos da cana e do ouro; estar no litoral; sua distância em relação
a Portugal; tipo de solo; quantidade de chuva; altitude; temperatura
média; e as variáveis socioeconômicas municipais. Os resultados su-
gerem de forma robusta que o município que pertenceu à área des-
tinada às CHs (um aumento de um desvio-padrão) está associado a
uma concentração maior de terras (Censo Agrícola de 1996), medida
pelo índice de Gini (aumento de meio desvio-padrão), a menores gas-
tos públicos locais e a menor persistência política. No entanto, não
se encontrou associação robusta sobre os seguintes indicadores dos
municípios brasileiros: desigualdade de renda, Produto Interno Bruto
(PIB) municipal per capita, número de agências bancárias públicas, de
cartórios e empresas públicas no município, nem na governança local
e no acesso à justiça local.
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/5081

Título: Economia brasileira: uma visão histórica


Autor(es): Eustáquio José Reis
Resumo: Esta resenha sobre Economia Brasileira: uma visão histórica reúne ar-
tigos sobre uma enorme variedade de temas da história econômica
brasileira. Exceto por uma contribuição de demógrafos e duas outras
de historiadores, as demais são assinadas por economistas. Apesar
das contribuições que alguns dos artigos trazem para a pesquisa e o
ensino da nossa história econômica, o livro deixa a desejar pelas defi-
ciências e negligências no trabalho de organização e editoração.
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7129

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 26
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: História do Brasil Colônia
Autor: Laima Mesgravis
Editora: Contexto
Sinopse: Escravidão, exploração colonial, choque de culturas,
pau-brasil, cana-de-açúcar, minas de ouro, bandeirantes, jesuí-
tas... São muitos os temas associados ao Brasil no período colo-
nial. Todos eles estão presentes neste livro, pequeno apenas em
extensão, uma vez que é rico em informações e interpretações. A
historiadora Laima Mesgravis, da USP, consegue a proeza de ser
sucinta e abrangente, utilizando como base textos de cronistas,
religiosos e autoridades da época, além de trabalhos históricos
produzidos nos séculos XX e XXI. O leitor atento ficará surpreso ao
encontrar, já na Colônia, traços da diversidade do povo brasileiro,
assim como a base de nosso sistema hierárquico. É no passado
colonial que podemos encontrar os melhores e piores traços da
nossa cultura. Obra destinada a professores e estudantes da área,
assim como a todos que se interessam pelas nossas raízes pro-
fundas.

FILME/VÍDEO
Título: Vermelho Brasil
Autor: Sylvain Archambault
Ano: 2014
Sinopse: A história da expedição de Villegagnon ao Brasil por
volta de 1555 e sua luta para criar uma colônia, a chamada França
Antártica, nas terras conquistadas pelos portugueses. Filmado
em Paraty, no Rio de Janeiro, o filme comete deslizes, entre eles,
ser falado em inglês (e não em francês, a língua dos invasores).
A brasileira Giselle Motta vive a índia Paraguaçu e Pietro Mário,
brasileiro de origem italiana, aparece em dois papéis: o de um
marinheiro e o de um francês que vive entre os índios. O ator por-
tuguês Joaquim de Almeida interpreta João da Silva, um lusitano já
perfeitamente integrado com os indígenas e que representa o seu
país colonizador.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6IAcEAV7hAM

UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 27
UNIDADE II
Expansão da Colonização
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira

Plano de Estudo:
● Sistema Político e Administrativo colonial;
● O estabelecimento do Governo-Geral;
● Formação do complexo econômico nordestino;
● Expansão territorial;
● A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul;
● O Renascimento da Agricultura;
● O fim da era colonial;
● A independência do Brasil.

Objetivos de Aprendizagem:
● Contextualizar a evolução do sistema político e administrativo da colônia, desde as
capitanias hereditárias até a instauração do Governo-Geral;
● Estabelecer a importância da mineração no processo de ocupação no centro-sul e
a mudança do centro econômico do Nordeste para Minas Gerais;
● Fazer com o que o(a) aluno(a) compreenda como se deu o ressurgimento da
agricultura pós crise da mineração e como se deu o fim da era colonial.

28
INTRODUÇÃO

Daremos início aqui ao conteúdo da segunda unidade da disciplina de Formação


Econômica do Brasil. Nesta unidade poderemos aprofundar nossos conhecimentos acerca
do processo de expansão da colonização brasileira. Cabe lembrar que o projeto de colo-
nização surgiu efetivamente devido às pressões dos outros países europeus, que também
estavam em busca de nossas riquezas. Na unidade I vimos que o sistema de capitanias
hereditárias, que até então comandava a administração da colônia, havia fracassado de-
vido à grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), a falta de recursos
econômicos e os constantes ataques indígenas. Nesta unidade veremos, então, que o fim
desse sistema foi marcado pelo estabelecimento do Governo Geral no ano de 1548, cujo
objetivo era centralizar a administração, tendo mais controle da Coroa Portuguesa.
Veremos também nesta unidade a necessidade que os portugueses tinham de
encontrar ouro e prata, a exemplo da Espanha, pois apenas o comércio de especiarias no
Oriente já não era suficiente para a obtenção de receitas. Veremos também como a desco-
berta do ouro alterou o centro econômico da colônia do Nordeste, para a região centro-sul.
Você verá também que, ao longo da história brasileira, ciclos sucessivos de cres-
cimento econômico antes da industrialização, como a produção de cana-de-açúcar no Nor-
deste no século XVII, o ciclo do ouro em Minas Gerais no século XVIII, e a produção do café
no Sudeste nos séculos XIX e XX, foram criados e deixaram características importantes
do subdesenvolvimento brasileiro: baixa produção e falta de diversidade de exportação,
bem como estrutural heterogeneidade, especificamente, um vasto setor subempregado
existente lado a lado com um setor moderno de alta produtividade. Abordaremos então o
estabelecimento do governo-geral, para, em seguida, constatarmos como se deu o proces-
so de colonização do centro-sul, em especial com a descoberta do ouro. Por fim, o término
da era colonial será abordado na última seção, a partir da chegada da família Real ao
Brasil, seu estabelecimento, até o processo de independência do Brasil, no ano de 1822.

UNIDADE II Expansão da Colonização 29


1 EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO

1.1 Sistema Político e Administrativo da Colônia

Para analisarmos como se deu processo de desenvolvimento do sistema político e


administrativo no Brasil colonial, vamos relembrar alguns fatos importantes vistos na primeira
Unidade da disciplina. Cabe lembrarmos que embora a Coroa Portuguesa tenha declarado
rapidamente a sua posse do novo território nos termos do Tratado de Tordesilhas, ela não
mostrou, no início, desejo de incorrer em quaisquer despesas para criar uma administração
colonial ou para imitar a Espanha e embarcar em uma grande missão civilizatória no Novo
Mundo. Segundo Prado Junior (2012), nessas condições, colonizar ainda era entendido
como aquilo que dantes se praticava: fala-se em colonização, mas o que o termo envolve
não era mais do que o estabelecimento de feitorias comerciais, como os italianos vinham
de longa data praticando no Mediterrâneo.
Apesar da atitude geral de indiferença, no entanto, vimos que o Brasil não foi com-
pletamente negligenciado. Embora não houvesse ouro e prata de fácil acesso, a monarquia
portuguesa reconheceu que lucros respeitáveis poderiam ser obtidos a partir do comércio.
Como havia sido a prática na África Ocidental, a maioria das despesas decorrentes da
montagem de navios e realização de comércio foram arcadas por indivíduos privados. Isso
era conseguido pelas concessões da corte para criar feitorias e negociar com a população
local. Segundo Furtado (2007), em troca, os comerciantes concordavam em pagar uma

UNIDADE II Expansão da Colonização 30


parte fixa de seus lucros à Coroa e manter a estação comercial como um posto avançado
do império português.
Em 1502, foi dado o monopólio do comércio de madeira brasileira ao novo comer-
ciante cristão, Fernando de Noronha, que se comprometeu a organizar a defesa do litoral
e enviar novas missões exploratórias. Feitorias foram estabelecidas ao longo da costa,
mas os comerciantes portugueses tinham pouco incentivo para avançar para o interior. Em
contraste com a América Espanhola, não havia sinais da proximidade de metais preciosos
nem populações nativas numerosas ou civilizações avançadas. Além disso, o avanço para
além do litoral foi seriamente impedido pela proximidade de floresta e selva densas, altas
cadeias de montanhas além de rios com fortes corredeiras. Além disso, havia a ameaça
de índios hostis, animais selvagens, insetos venenosos e cobras. As feitorias no Brasil
provaram, portanto, ser precárias e inicialmente não tiveram muita importância.
O descuido da Coroa Portuguesa em relação ao Brasil foi afetado pela invasão
de concorrentes franceses que também foram atraídos pela disponibilidade e potencial
econômico do comércio de madeira no Brasil. Um navio francês teria chegado à costa
brasileira em 1504, mas eles não costumavam estabelecer feitorias em terra, e faziam
negócios diretamente com os índios. Isso não só representava um desafio para a reivindi-
cação portuguesa de monopolizar o comércio de madeira no Brasil, como também levou a
um aumento no fornecimento para a Europa, o que ocasionou redução nos preços e nos
lucros portugueses. Segundo Smith (2002), o Rei português denunciou os comerciantes
franceses como piratas e enviou navios para patrulhar as águas brasileiras. Consciente de
que o rei da França não reconhecia as reivindicações portuguesas e espanholas previstas
no Tratado de Tordesilhas, o Rei João III (1521 a 1557) decidiu antecipar possíveis inter-
ferências de outras nações, afirmando seu próprio controle sobre o Brasil. Para isso, no
entanto, exigiu a provisão de uma presença militar e civil portuguesa permanente no novo
território.
Foi então que deu início à primeira tentativa da Coroa portuguesa de organizar a
ocupação e colonização do Brasil, por meio do sistema de capitanias que vimos na Unidade
I. Você lembra que em tal sistema, havia um acordo semelhante a um pacto feudal, feito
entre o rei e cada donatário no qual este último e seus herdeiros recebiam a terra (carta
de doação) e em troca se comprometiam não só a pagar impostos ao rei, mas também a
estabelecer e desenvolver a terra e a prover sua defesa contra os índios e invasores es-
trangeiros? Com os arrendamentos para o comércio de madeira brasileira, os donatários e
seus herdeiros assumiram todos os custos para estabelecer as capitanias. O donatário, no

UNIDADE II Expansão da Colonização 31


entanto, exercia poderes de jurisdição civil e criminal e também foi autorizado a subdividir
sua capitania em lotes menores e separados de terras não cultivadas conhecidas, como
sesmarias. Inicialmente havia tanta terra disponível que algumas sesmarias individuais
eram enormes. O maior variou de 40 a 100 milhas quadradas e estabeleceu um precedente
para a criação de grandes propriedades que seriam uma característica proeminente da
futura distribuição de terras no Brasil.
Logo ficou evidente que o sistema de capitania era muito ambicioso e impraticável.
Não havia aristocratas, comerciantes ou camponeses portugueses suficientes dispostos a
emigrar para um país tão vasto e subdesenvolvido como o Brasil. Em contraste, a África e a
Índia ainda permaneciam mais atraentes e destinos menos perigosos. Smith (2002) cita que
apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco foram inicialmente bem-sucedidas. As
outras capitanias estavam em estado de caos. Segundo historiadores, donatários enviavam
súplicas ao Rei João III, em 1548, dizendo que se o Rei não ajudasse as capitanias, perderia
suas terras. No entanto o sucesso da indústria açucareira em São Vicente e Pernambuco
demonstrou potencial para produzir renda regular e bons lucros (SMITH, 2002). O sonho de
encontrar metais preciosos também permaneceu.

SAIBA MAIS

Nenhum representante da grande nobreza se incluía na lista dos donatários, pois os


negócios na Índia, em Portugal e nas ilhas atlânticas eram, por essa época, bem mais
atrativos.
A atribuição de doar sesmarias deu origem à formação de vastos latifúndios. A sesma-
ria foi conceituada no Brasil como uma extensão de terra virgem, cuja propriedade era
doada a um sesmeiro, com a obrigação – raramente cumprida – de cultivá-la no prazo
de cinco anos e de pagar o tributo devido à Coroa.
A herança dos sistemas de capitanias hereditárias pode ser sentido até hoje através do
coronelismo e das famílias que seguem mantendo o poder em certos estados.

Fonte: Fausto (1996, p. 25).

UNIDADE II Expansão da Colonização 32


1.2 O Estabelecimento do Governo-Geral

O rei João III reconheceu que a intervenção real era oportuna e necessária para
evitar o colapso do sistema de capitanias e a possível perda de seu império americano para
rivais estrangeiros. Em 1548 anunciou a nomeação de Tomé de Sousa como governador-
-geral residente da colônia. A capitania da Bahia também foi reivindicada como terra real.
Tomé de Sousa chegou ao Brasil em março de 1549 com uma poderosa frota de seis navios
e mais de 1.000 soldados.
Segundo Araújo (2000), Salvador surgiu com o foro de cidade – uma prerrogativa
exclusiva do rei de Portugal –, e a sua construção foi ordenada por D. João III em 1548, no
regimento dado a Tomé de Souza, que iniciou as obras da cidade. Também por determi-
nação regimental, Salvador foi erguida em outro lugar, no alto de uma colina e mais para
dentro da baía de Todos os Santos, onde hoje se encontra o Centro Histórico.
Embora algumas capitanias individuais tenham sobrevivido até o século XVIII, a
fundação de Salvador como capital da colônia e sede do novo governo central marcou a
afirmação direta e visível da autoridade real pela primeira vez no Brasil e, consequentemen-
te, significou o abandono do sistema de capitania como o modelo preferido da Coroa de
governo colonial. Na verdade, os donatários foram obrigados a abrir mão de seus poderes
exclusivos em relação à arrecadação de impostos, administração da justiça e defesa do
território.
O envio de reforços militares mostrou-se sensato, porque Sousa e seus suces-
sores, mais notavelmente Mem de Sá, que foi governador-geral de 1558 a 1572, tiveram
que combater as tentativas francesas de tomar posse do território brasileiro. Prado Júnior
(2012) relata que durante mais de dois séculos despejaram na América todo o resíduo das
lutas político-religiosas da Europa. A ameaça mais grave surgiu em 1555, quando uma frota
francesa comandada pelo almirante Nicolas Durand de Villegagnon entrou na Baía de Gua-
nabara e, em aliança com os índios Tamoios, fundou uma pequena comunidade conhecida
como “Antártica Francesa” na Ilha de Sergipe. O objetivo ostensivo era estabelecer um
refúgio para os Huguenotes franceses1. A resposta portuguesa ao empreendimento brasi-
leiro de Villegagnon foi intransigente. Após uma série de ataques das forças portuguesas a
partir de 1565, os franceses foram finalmente expulsos em 1567.
Operações militares dirigidas contra os franceses resultaram então no estabeleci-
mento de novos assentamentos portugueses ao longo do litoral brasileiro que se estende

1 Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França.

UNIDADE II Expansão da Colonização 33


de São Vicente até o Vale do Amazonas. Nesse processo houve conflito frequente com
índios locais, resultando em sua submissão e expulsão. Esforços foram feitos, no entanto,
para converter os índios ao cristianismo. Na verdade, seis jesuítas chegaram com a frota
de Tomé de Sousa em 1549. Liderados pelo padre Manoel da Nóbrega, desempenharam
um papel importante na promoção da política de pacificação e no aculturamento dos índios.
Nas palavras de Fausto (1996), vieram com o governador-geral os primeiros jesuítas –
Manuel da Nóbrega e seus cinco companheiros –, com o objetivo de catequizar os índios e
disciplinar o ralo clero de má fama existente na Colônia
A autoridade e influência da Igreja foi consideravelmente reforçada pela criação da
diocese da Bahia em 1551. Na segunda metade do século XVI, as atitudes portuguesas
em relação ao Brasil haviam mudado significativamente. Embora o vasto interior ainda
permanecesse praticamente inexplorado e desconhecido para os europeus, o Brasil não
era mais apenas uma coleção de feitorias, mas uma colônia contendo vários assentamen-
tos fortificados permanentes, um governo central e uma diocese localizada no capital de
Salvador e o início de uma indústria açucareira fluorescente.

SAIBA MAIS
O que foi a União Ibérica, conhecida também como Dupla Monarquia?
A chamada União Ibérica ocorreu após a crise dinás-
tica iniciada com a morte do rei D. Sebastião de Por-
tugal, na famosa Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de
agosto de 1578. Com a debilidade do último dos Avis,
D. Enrique, e com a agressiva reclamação ao trono
feita pelo rei espanhol Felipe II (1555-1598), bem res-
paldado por seu exército sob o comando do duque
de Alba (1507-1582), tem início a maior “união de rei-
nos” da história moderna. Durante 60 anos, Portugal
e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica,
controlando, além das possessões europeias, gran-
des áreas ultramarinas na América, África e Ásia. As-
sim, nas primeiras duas décadas do século XVII o objetivo central da burocracia hispa-
no-lusa era assegurar a posse das imensas regiões de ultramar, nas quatro partes do
mundo conhecido, constantemente ameaçadas pelos concorrentes oceânicos: França,
Inglaterra e principalmente Holanda. No caso do Estado do Brasil essa política iria tra-
duzir-se na criação de novas unidades administrativas que desembocariam na criação
do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621.
Fonte: Cardoso (2011).

UNIDADE II Expansão da Colonização 34


O excelente porto e a localização estratégica da Baía de Guanabara levaram os
portugueses a estabelecer uma nova cidade que se chamava (São Sebastião do) Rio de
Janeiro. Embora as ameaças francesas persistissem, especialmente no Norte, onde Daniel
de La Touche2 fundou o assentamento de São Luís, em 1612, eles nunca foram militarmente
poderosos o suficiente para minar o controle português do Brasil.
Straforini (2008) cita em seus estudos sobre a formação territorial brasileira nos
dois primeiros séculos de colonização, que a criação do Estado do Maranhão, em 1621,
não impediu a consolidação e avanço dos portugueses pelo vale do rio Amazonas, pois,
durante o período da Monarquia Dual (União Ibérica), a administração do Brasil e do Ma-
ranhão, na prática, cabia ao conselho formado pelo clero e pela aristocracia lusitana, logo,
pelos portugueses.
Apesar da tentativa de centralização do governo colonial em Salvador e São Luís,
um sistema descentralizado permaneceu firme durante a maior parte do período colonial,
pois a distância geográfica e as dificuldades de comunicação fizeram com que a capacida-
de do governador-geral de interferir nos assuntos locais fosse muito limitada. Além disso,
o Brasil colonial proporcionou um contraste acentuado com a América Espanhola ao não
desenvolver grandes cidades e centros administrativos, como a Cidade do México e Lima,
de onde irradiavam poder real e autoridade.
De fato, historiadores relatam que, principalmente por razões econômicas e de se-
gurança, a população do Brasil preferiu se reunir em municípios compostos por pequenas
cidades e vilas, muitas das quais estavam localizadas próximas a grandes plantações de
açúcar. Os municípios eram, portanto, o foco do governo local. Os poderosos latifundiários e
plantadores locais conhecidos como “homens bons” serviram como conselheiros (vereado-
res) no Senado ou câmara municipal que era o equivalente ao cabildo3 hispano-americano.
A composição exata dos conselhos variava, mas eram geralmente presididas por um juiz
ordinário que também atuava como oficial de justiça permanente.

1.3 Formação do Complexo Econômico Nordestino

No Nordeste brasileiro duas atividades se destacavam: a açucareira e a pecuária.


Ambas tinham sistemas de produção que não sofriam grandes modificações, isso fazia com

2 Daniel de La Touche, sob o título de Senhor de La Ravardière, foi um experiente Lugar-tenente


General da Marinha Francesa do século XVII. Nobre, de religião protestante, liderou a expedição francesa
que, em 1612, deu início as pretensões de colonização no Norte do Brasil.
3 Cabildo era uma corporação municipal instituída na América Espanhola durante o período colonial
que se encarregava da administração geral das cidades coloniais.

UNIDADE II Expansão da Colonização 35


que não houvesse investimentos para aumentar produtividade ou reduzir custos. Porém,
devido ao baixo investimento e custos baixos, tais atividades se adaptavam muito bem a
alterações no preço de seus produtos. Era lucrativo continuar produzindo mesmo que o
preço caísse muito.
A atividade canavieira dependia da compra de equipamentos e importação de
mão-de-obra, já a pecuária não, nela o aumento do rebanho acontecia de forma natural,
assim como a incorporação de terras e a mão de obra, pois considerando que a atividade
era capaz de prover alimento em abundância, isso causava um aumento ainda maior da
população nestas atividades.
A queda no preço do açúcar na segunda metade do século XVII reduziu a lucra-
tividade do setor, mas não a ponto de torná-lo inviável, a atividade continuou operando
mesmo vendo seus lucros caírem fortemente. A situação, porém, se complicou ainda mais
no século XVIII com o aumento do preço dos escravos e a transferência de parte da força
de trabalho para as minas de ouro em Minas Gerais. No caso da pecuária, a redução da
demanda de seus produtos não parou a proliferação do rebanho e mão-de-obra, seja a que
crescia naturalmente no seu entorno ou a que abandonava os engenhos que passavam
por dificuldades, sempre encontrava trabalho. Mesmo que fossem atividades limitadas à
subsistência.
Toda essa redução na lucratividade da indústria açucareira e, por consequência,
na pecuária que era fornecedora dos engenhos, fez com que a renda diminuísse na região
Nordeste a ponto de ter início algumas atividades de manufatura local, destinadas a forne-
cer produtos que em outras épocas eram importados. Nesse cenário, o couro teve papel
importante como matéria-prima.
Fica claro, no entanto, que do fim século XVII até começo do século XIX a economia
nordestina passou por um processo no qual as atividades mais especializadas e industriais
foram dando lugar a uma economia de subsistência que causou um retrocesso em relação
ao nível de renda e desenvolvimento. De toda forma, houve um grande aumento popula-
cional devido às atividades de subsistência, uma população cada vez maior e com renda
cada vez mais baixa ou inexistente. Esse processo de crescimento e empobrecimento do
Nordeste brasileiro tem consequências que podemos observar até os dias de hoje quando
pensamos em todos os problemas financeiros que a região atravessa.

UNIDADE II Expansão da Colonização 36


2 EXPANSÃO TERRITORIAL

A União Ibérica facilitou a exploração territorial e a colonização do Brasil, porque


retirou as restrições de fronteira que dividiam o continente que havia sido estabelecido
pelo Tratado de Tordesilhas em 1494. Mas o principal motivo para a exploração europeia
no interior ainda era a busca por metais preciosos. Soma-se a isso o desejo de capturar
índios para trabalhar como escravos nas plantações de açúcar em rápida expansão. As
expedições mais celebradas foram as organizadas pelos bandeirantes de São Paulo. Os
bandeirantes eram uma combinação de índios e europeus, muitos dos quais eram uma
mistura de origem branca e indígena, conhecidos como mamelucos. Eles ganharam seu
nome a partir das bandeiras distintas que eles carregavam para identificar a si mesmos.
Percorrendo enormes distâncias a pé por semanas, meses e até anos, os bandeirantes
adquiriram uma reputação formidável e heroica. Um padre jesuíta comentou: “Eles vão sem
Deus, sem comida, nus como os selvagens, e sujeitos a todas as perseguições e misérias
do mundo. Os homens se aventuram por 200 ou 300 léguas no sertão, servindo ao diabo
com um martírio tão incrível, a fim de negociar ou roubar escravos” (SKIDMORE, 2002, p.
15). Expedições variavam muito em tamanho e duração. Uma expedição em 1628 incluiu
69 brancos, 900 mamelucos e 2.000 índios. Os bandeirantes foram pioneiros implacáveis,
cujas incursões ajudaram a disseminar o domínio e a autoridade portuguesa e, assim,
estimularam mais assentamentos e o desenvolvimento comercial do interior.

UNIDADE II Expansão da Colonização 37


A exploração e o assentamento também foram influenciados pela preocupação de
impedir que outras nações europeias invadissem o território português, especialmente ao
longo do litoral norte. Pontos fortificados foram fundados na Filipeia (atual João Pessoa),
em 1585, Natal, em 1599 e Fortaleza, em 1611. São Luís foi resgatada dos franceses
em 1614 e tornou-se a primeira capital do Estado do Maranhão, criada em 1621. Uma
importante base militar foi criada em Belém, em 1616, para controlar a foz do rio Amazonas.
Uma expedição organizada por Pedro Teixeira saiu de Belém em 1637 e passou dois anos
navegando pelo vasto rio. Embora Portugal tenha reivindicado a soberania sobre todo o
Vale do Amazonas, o assentamento português foi restringido durante grande parte do sé-
culo XVII às cidades de São Luís e Belém. Além das cidades costeiras, a autoridade real foi
representada pelo estabelecimento de postos militares e pelas atividades missionárias das
Ordens Religiosas. Franciscanos, jesuítas e carmelitas estabeleceram aldeias nas quais
comunidades de índios locais foram reunidas para fins de conversão ao cristianismo e
aculturação.
No Nordeste, a maior parte da população europeia estava localizada próxima às
plantações de açúcar, localizadas na faixa litorânea. Como vimos na Unidade I, a crescente
exigência de alimentos e de transporte para a indústria açucareira estimulou o desenvol-
vimento da pecuária. Durante o século XVII, os rebanhos de gado gradualmente se espa-
lharam para além do litoral e para as pradarias circundantes do interior ou “sertão”, e mais
especificamente na Bahia e em Pernambuco. A expansão para o interior foi desencorajada
pela falta de estradas e trilhas, pelo clima extremamente seco e pela hostilidade dos índios.
Foi só na descoberta do ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, que houve um
grande e sustentado movimento de pessoas vindas do litoral para o sertão.
Mais ao sul da colônia, a cidade do Rio de Janeiro aproveitou suas excelentes
instalações portuárias naturais para se desenvolver como um grande porto. São Paulo
também emergiu como uma importante base para o intercâmbio comercial e ponto de
partida para os bandeirantes organizarem suas expedições ao interior. Poucos europeus
se aventuraram mais ao sul. As exceções foram missões jesuítas criadas para proteger e
aculturar os índios e alguns pontos fortificados, como Laguna, em Santa Catarina, e Colônia
do Sacramento, no Rio da Prata, que foram destinados principalmente postos militares para
afirmar reivindicações portuguesas para posse do território.

UNIDADE II Expansão da Colonização 38


2.1 A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul

Os portugueses sempre se interessaram por metais preciosos. Eles queriam, acima


de tudo, encontrar o ouro, a moeda mais suprema no comércio mercantilista da Europa.
Em 1695 foram descobertas reservas de ouro em Minas Gerais, e depois de quase dois
séculos de exploração infrutífera de metais preciosos, parecia que o Brasil finalmente havia
se tornado outro el dorado4. A fronteira da mineração atraiu um enorme fluxo de migrantes
que buscavam fazer fortunas.
A descoberta do ouro desencadeou uma corrida imediata de migrantes de todo o
Brasil, especialmente do Nordeste, já que Minas Gerais rapidamente se tornou a região que
mais crescia no Brasil do século XVIII. Prado Júnior (2012) relata que as primeiras desco-
bertas positivas de ouro no centro de Minas Gerais ocorreram em meados de 1696. Houve
também um aumento repentino nos recém-chegados de Portugal. Essa saída da juventude
portuguesa tornou-se tão grande que, em 1705, a Coroa até tentou (sem sucesso) retardar
o fluxo. Em décadas, o Brasil tornou-se o maior produtor de ouro do mundo.
Na década de 1720, o Brasil também começou a produzir diamantes. Finalmente,
Portugal poderia desfrutar do tipo de bonança que a Espanha havia ganhado séculos antes.
Essa produção de ouro e diamante teve um resultado muito positivo, financiando o surgi-
mento de uma rica cultura no Centro-Sul do Brasil.
Depois de ser praticamente desabitada pelos europeus, a população mineira subiu
de 30.000, em 1709, e para 300.000, em 1775, um número que equivalia a 20% da popula-
ção estimada da colônia. As cidades mineiras do século XVIII viram a construção de igrejas
cristãs em um estilo barroco brasileiro único. Antonio Francisco Lisboa (“Aleijadinho”) se
destacou pelas igrejas que projetou em Ouro Preto, Sabará e São João Del-Rei, e por suas
esculturas em tamanho real dos profetas em Congonhas do Campo. Ele superou o estigma
de sua cor, sem mencionar a hanseníase, para se tornar um dos gigantes da história da
arte brasileira.

4 El dorado é uma antiga lenda indígena da época da colonização da América que atraiu muitos
aventureiros europeus. A lenda falava de uma cidade que foi toda feita de ouro maciço e puro.

UNIDADE II Expansão da Colonização 39


SAIBA MAIS

No fim de sua vida, Aleijadinho realiza as 12 esculturas intituladas Os Profetas na pe-


quena cidade de Congonhas do Campo. O material usado é a pedra-sabão, caracterís-
tica em muitas obras do escultor. Executadas entre 1796 e 1805, momento em que o
artista está debilitado por sua doença, são feitas com ajuda de outros artesãos subordi-
nados a Aleijadinho, o que explica as diferenças entre seus estilos e leva a crer que nem
todas foram feitas pelo próprio escultor. Todos os profetas têm cabelos encaracolados,
cobertos por turbantes, e olhos levemente puxados – traço recorrente nas esculturas do
artista. Os profetas, localizados no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, têm
caráter monumental e mesclam “realismo e caricatura”, como ressalta o historiador da
arte inglês John Bury.
Fonte: Bury (2006, p. 39).

O grande crescimento demográfico refletiu o fato de Minas Gerais ter deslocado


do Nordeste o centro econômico da colônia. Minas Gerais também foi usada como base
para exploração e assentamento à medida que os garimpeiros se mudaram para fazer
novas descobertas de ouro e diamantes em Mato Grosso, em 1719, e Goiás, em 1725.
Inicialmente, a maioria dos garimpeiros viajou para a região mineira em árduas viagens
que duravam semanas e meses pelas rotas interiores de São Paulo ou ao longo do rio São
Francisco, mas a rota preferida e mais rápida passou a ser a “Estrada Nova” do centro
administrativo de mineração de Ouro Preto até o porto do Rio de Janeiro. Isso aumentou
muito a crescente importância geográfica e econômica do Rio de Janeiro e contribuiu para
a decisão de transferir a capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763.
A abertura de novas áreas no interior resultou em uma grande reorganização do
governo colonial e na vigorosa afirmação da autoridade real. O envio de um grande número

UNIDADE II Expansão da Colonização 40


de oficiais e soldados reais mostrou-se necessário para garantir a cobrança de impostos,
a prevenção do contrabando e a manutenção da lei e da ordem em uma região que expe-
rimentou frequente escassez de alimentos e violência endêmica. Uma causa particular da
agitação social foi a atitude dos paulistas, que compunham a maior parte da primeira leva
de garimpeiros. O conflito resultou em um breve período de hostilidade aberta e violência
conhecida como a “Guerra dos Emboabas” – um confronto travado de 1707 a 1709 pelo
direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro na região do atual estado de
Minas Gerais, no Brasil.
A perturbação forneceu à Coroa uma justificativa para impor sua autoridade na
região mineira. Estradas foram construídas para o transporte seguro de ouro e foram guar-
dadas por uma rede de tropas militares. A interferência direta dos funcionários reais foi mais
acentuada em suas tentativas de supervisionar e registrar a produção de ouro, a fim de
garantir o pagamento do imposto conhecido como quinto (“o quinto real”).
Segundo Prado Júnior (2012), o sistema estabelecido era o seguinte: para dirigir
a mineração, fiscalizá-la e cobrar tal tributo, criou-se uma administração especial, a Inten-
dência de Minas, sob a direção de um superintendente. Tal sistema deveria vigorar em
cada capitania onde fosse descoberto o ouro, sendo que tais intendências independiam
inteiramente de governadores e quaisquer outras autoridades da colônia, sendo subordina-
das unicamente ao governo metropolitano de Lisboa.
O ressentimento local se transformou em uma breve revolta armada na (Vila Rica
do) Ouro Preto, em 1720, que foi brutalmente reprimida. A autoridade real foi ainda mais
rigorosa no Distrito Diamantina, no norte de Minas Gerais. Considerando que a Coroa tinha
sido reativa em sua política para os ataques sobre o ouro, agiu rapidamente ao saber da
descoberta de diamantes em 1729.
O Distrito de Diamantina foi declarado propriedade real e foram impostas restrições
ao movimento de pessoas que entravam e saíam da área. A extração e venda de diamantes
foram estritamente regulamentadas. A indústria foi declarada como um monopólio real em
1771. No entanto o contrabando não podia ser eliminado e era frequentemente conduzido
com o conluio das autoridades locais. Em contraste com a habitual aplicação frouxa do
domínio português no Brasil, no entanto, a indústria de diamantes deu um exemplo da ten-
tativa de implementação do sistema mercantilista no qual o tesouro foi extraído da colônia
em benefício do país-mãe.
As minas de ouro e diamante, como as plantações, dependiam do trabalho escravo
africano — necessitando de uma mudança de escravos africanos de outros lugares do Bra-

UNIDADE II Expansão da Colonização 41


sil, bem como de novas entregas do comércio de escravos do Atlântico Sul. O que o boom
da mineração não fez foi mudar o padrão básico do desenvolvimento econômico colonial
brasileiro. Assim como os produtos agrícolas tropicais (como açúcar, algodão e tabaco), a
mineração de ouro e diamante não estimulou o crescimento econômico amplamente neces-
sário para a industrialização. As riquezas minerais foram para Portugal, onde resgataram
um reino em declínio. Portugal estava com um déficit constante no seu comércio com a
Inglaterra, e grande parte do ouro brasileiro foi para cobrir as dívidas portuguesas com
a Inglaterra. Esse ouro também foi para manter o estilo de vida da corte real e as ordens
religiosas.
A capacidade de produção limitada das jazidas, a falta de aprimoramento da ati-
vidade e a falta de preparo técnico foram os principais elementos que contribuíram para o
rápido esgotamento das minas. Além disso, as ações políticas adotadas pelos portugueses
contribuíram ativamente para a crise da atividade mineradora. Incidentes entre minerado-
res e autoridades portuguesas começam a acontecer devido ao aumento da fiscalização
e a cobrança de impostos, a medida que os metais começam a faltar. Foi assim que em
1789 ocorreu o fato chamado Inconfidência Mineira, um levante anticolonialista que marcou
efetivamente a crise da atividade mineradora no Brasil.

SAIBA MAIS
A Inconfidência Mineira foi abordada por estudiosos de várias maneiras diferentes. Há
quem a defina como um movimento que buscava a liberdade da colônia portuguesa
frente à metrópole. Outros já esboçam contornos mais regionais atribuindo sua “quase”
eclosão ao descontentamento da população de Minas para com o excesso da carga
tributária imposta pelo governo português. Teremos ainda pesquisadores que tomam
os interesses particulares como propulsores do movimento. É fácil perceber que o tema
é, ainda hoje, polêmico, principalmente no que diz respeito ao papel de cada um dos
envolvidos.
Fonte: Almeida (s.d.).

Após a crise do ouro, no final do século XVIII, ressurgem as atividades agrícolas.


Produtos como açúcar, algodão e tabaco voltam a ser valorizados, principalmente devido
ao advento da revolução industrial.

UNIDADE II Expansão da Colonização 42


2.2 O Renascimento da Agricultura
Você já sabe que o açúcar esteve até o final do século XIII entre os principais
produtos de exportação depois que a madeira do Brasil foi praticamente extinta, sendo
cultivado em grande parte dentro da zona úmida no litoral nordestino e exportado para o
comércio europeu, dominado pelos holandeses.
Os preços internacionais do açúcar caíram entre 1670 e 1680, à medida que o
aumento da produção nas Antilhas cortou a participação de mercado mundial do Brasil.
Porém, a busca portuguesa pelo ouro foi finalmente satisfeita no início da década de 1690
e, como vimos na seção anterior, os achados (que mais tarde incluíam diamantes) foram
localizados nos atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e sul da Bahia.
Ainda durante o período colonial, no século XVIII, o Brasil passou por uma fase
de transição entre a mineração e o advento do café. Na realidade, a passagem da colônia
para o Estado Nacional, surgiu com a independência do Brasil, em 1822. Nessa fase, que
abrange o final do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, a mineração entrou
em crise, ao mesmo tempo em que a economia colonial se reorganizava com base na
grande lavoura mercantil exportadora, dando origem ao renascimento agrícola.
A Figura 1 apresenta informações sobre os principais produtos de exportação da
colônia nos séculos XVII e XVIII. Como podemos observar, o açúcar prevalece como prin-
cipal produto de exportação até a segunda metade do XVIII. Quanto ao ouro, ganha sua
importância no século XVIII e já aponta seu declínio na participação do mercado externo,
no início do século XIX, quando ressurge a agricultura.

Figura 1 – Exportações da colônia - 1600 a 1800

Fonte: Blog do ENEM (2018).

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Com o declínio da mineração, ressurgiu, então, novamente a agricultura, que voltou
a ocupar a posição dominante que prevaleceu nos dois primeiros séculos da colonização.
Mas segundo Prado Júnior (2012), o que estimulou a volta para o cultivo da terra não
foi apenas a crise do ouro, mas novos mercados para seus produtos que surgiram com
o incremento das atividades econômicas e das relações comerciais, com o advento da
Revolução Industrial.

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3 O FIM DA ERA COLONIAL

3.1 A Chegada da Família Real ao Brasil

Depois de durar três séculos, as colônias portuguesas e espanholas, impérios no


Novo Mundo, entraram em colapso no início do século XIX. Enquanto a libertação das
colônias espanholas envolveu 15 anos de guerra civil de 1810 a 1825, o mesmo resultado
no Brasil foi obtido de forma muito menos traumática, em apenas um ano de luta. Foi uma
transição relativamente pacífica e rápida que se deveu muito à influência das forças diplo-
máticas e militares na Europa, começando com a inesperada vinda da família real portu-
guesa para o Brasil. Napoleão Bonaparte, imperador francês, impôs o Bloqueio Continental
que visava proibir todo o comércio entre a Europa continental e a Grã-Bretanha, sendo
que Portugal também recebeu um ultimato para cumprir, mas postergou sua execução. A
resposta caracteristicamente indecisa de Dom João refletia um medo da França misturado
com relutância em prejudicar a estreita relação comercial que tinha com a Grã-Bretanha.
Em retaliação, as forças francesas sob o comando do general Andoche Junot, invadiram
Portugal em novembro de 1807.
Diante da perspectiva iminente de captura pelo exército invasor francês, Dom João
optou por deixar Lisboa e buscar exílio temporário no Brasil. A ideia da família real residente
nos trópicos parecia radical, mas não era inteiramente nova. No século XVIII, o diplomata
veterano Luís da Cunha, havia previsto que a importância econômica e política do Brasil

UNIDADE II Expansão da Colonização 45


acabaria resultando na realocação da sede do governo real para o Novo Mundo. De re-
pente, a ideia tornou-se realidade em 1807, por uma questão de conveniência, ao invés de
um cuidadoso planejamento. A evacuação também foi fortemente apoiada pelos ingleses,
tradicionais, parceiros comerciais de Portugal.
O embarque foi marcado por grande confusão. Muitas dificuldades foram encon-
tradas durante a viagem, como uma tempestade que dividiu a frota. Navios superlotados
ficaram sem comida e água. Uma infestação de piolhos exigia que as mulheres raspassem
suas cabeças. Em 22 de janeiro de 1808, parte da frota em que o príncipe regente viajou
chegou à Bahia. Quando Dom João desembarcou em Salvador, ele foi o primeiro monar-
ca europeu a colocar os pés no solo do Novo Mundo. Sua curta estadia em Salvador foi
memorável devido à assinatura de um importante ato comercial para o Brasil. O príncipe
regente emitiu um decreto em 28 de janeiro, abrindo os portos do Brasil para comercializar
com nações amigas. A medida foi importante, pois significava o fim oficial do sistema mer-
cantilista que havia impactado o Brasil por três séculos, indo em direção a uma economia
mais liberal, sob influência dos ingleses.
Apesar de Dom João ter ficado grato com a ajuda britânica, o decreto não foi so-
mente um agradecimento aos comerciantes britânicos, pois a decisão de abrir os portos foi,
em grande parte, uma resposta de emergência, influenciada pela necessidade eminente de
aumentar receita proveniente de direitos aduaneiros e impedir comerciantes locais de pra-
ticar contrabando em larga escala. Além disso, a medida foi agradável para os interesses
brasileiros, especialmente aqueles que produziram açúcar e algodão para o comércio de
exportação.
Dom João finalmente chegou ao Rio de Janeiro, em 7 de março de 1808. Os mem-
bros do tribunal e os funcionários do governo viajaram com o príncipe regente, para que
ficasse evidente que o Rio de Janeiro se tornaria instantaneamente a capital e o centro do
império português. Os ministérios do governo foram rapidamente estabelecidos juntamente
com um exército, academia, faculdade de medicina, imprensa e instituições financeiras. O
crescente prestígio e importância do Brasil ficou evidente em dezembro de 1815, quando
Dom João criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves que alterava o status do Brasil
de colônia para reino. Isso colocava Brasil e Portugal em pé de igualdade.
Apesar de seus privilégios políticos e econômicos, muitos portugueses cortesãos e
especialmente Carlota Joaquina ansiavam por retornar a Portugal. Expressaram abertamen-
te seu desprezo pelo Brasil e pelos brasileiros e provocaram o sentimento anti-português
em todos os níveis da sociedade brasileira. Nenhum brasileiro nato foi nomeado ministro do

UNIDADE II Expansão da Colonização 46


governo ou membro do Conselho, o órgão de prestígio que assessorou o rei em questões de
estado. Ressentimento contra a arrogância e a influência portuguesa foi uma característica
da Revolução Pernambucana, a única revolta separatista que ocorreu durante o período de
Dom João. A rebelião começou em Recife, em março de 1817, com a proclamação de uma
república que exigia maior autonomia local, incluindo a expulsão de todos os portugueses
da província. O movimento atraiu amplo apoio da elite, incluindo alguns oficiais do exército,
proprietários de terras, comerciantes e muitos sacerdotes, razão pela qual ficou conhecida
como a “revolução dos sacerdotes”. A repressão foi violenta com várias mortes e prisões,
e o receio português era de que revoltas similares fossem incentivadas por Pernambuco.
A vinda da família real para o Brasil sempre foi vista como uma medida temporária.
A perspectiva de um retorno seguro a Portugal começou a se tornar possível a partir de
1811, quando as tropas francesas foram forçadas a recuar da região da Península Ibérica.
Mesmo após a derrota final de Napoleão, em 1815, e apesar dos desejos de muitos dos
seus cortesãos, Dom João relutava pessoalmente em empreender a longa viagem marítima
do Rio de Janeiro a Lisboa.
Dom João temia, no entanto, perder seu trono se ele não retornasse a Portugal,
sobretudo após as revoltas do Porto em 1820, quando se estabeleceram as chamadas
Cortes Constituintes. Em face disso, Dom João partiu do Brasil em 26 de abril de 1821,
deixando seu filho Pedro, de 23 anos, como príncipe regente. Dom João acreditava que o
Brasil logo buscaria a independência.
O retorno do rei a Lisboa, em julho de 1821, não desviou a determinação das
Cortes em restaurar a relação colonial entre Portugal e Brasil. As Cortes votaram para
privar o Brasil de seu status de reino e exigir que o herdeiro do trono, o príncipe Pedro, re-
tornasse a Portugal. Antecipando a resistência colonial, foram preparadas tropas para envio
ao Rio de Janeiro e Pernambuco. A obediência às Cortes se asseguraria colocando todas
as províncias sob o controle de um governador militar que seria diretamente responsável
pelas instruções de Lisboa.

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REFLITA

Qual a importância da vinda da família real para o Brasil, em seu processo de indepen-
dência?

Fonte: A autora, 2020.

3.2 A Independência do Brasil

A atitude de confronto adotada pelas Cortes despertou o criticismo e oposição


no Brasil. A elite brasileira, representada pelos grandes proprietários de terras, principais
plantadores e comerciantes urbanos, teve posicionamento igual aos vizinhos da América
espanhola ao se opor à tentativa de restabelecimento de áreas metropolitanas ao controle
da Europa. Eles temiam a restauração de privilégios para os europeus e o restabelecimento
de monopólios comerciais anteriores. A estadia da Corte no Rio de Janeiro não apenas
elevou o prestígio e status do Brasil, mas também proporcionou benefícios econômicos
que a elite brasileira relutava em perder. A recusa em submeter-se à autoridade das Cortes,
no entanto, fez surgir a ideia de separação de Portugal e do estabelecimento de um Brasil
independente.
A resistência brasileira à legislação aprovada em Lisboa foi influenciada pela lenti-
dão nas comunicações causadas pela distância geográfica e pela incapacidade de Portugal
em ameaçar o Brasil com uma força militar forte o suficiente. Também pesou a presença
real no Brasil do príncipe Pedro, membro da realeza e herdeiro do trono. A elite brasileira,
que liderou o movimento pela independência, pediu que ele rejeitasse a exigência das
Cortes de que ele deveria regressar a Portugal.
Em famosa declaração, feita em 9 de janeiro de 1822, Pedro recebeu uma petição
do Conselho Municipal do Rio de Janeiro, pedindo que ele ficasse no Brasil, o que resultou
no conhecido “Dia do Fico”. Embora nascido em Portugal e preferindo a companhia dos
portugueses a brasileiros para cargos do governo, Dom Pedro agradou aos brasileiros ao
indicar José Bonifácio de Andrada e Silva, nascido no Brasil, para atuar como seu principal
consultor político, com o título de Ministro do Reino. Educado na Universidade Coimbra

UNIDADE II Expansão da Colonização 48


e um estadista de considerável intelecto e discernimento político, José Bonifácio ficaria
conhecido como o “Patriarca da Independência”.
Guiado por José Bonifácio, o príncipe decretou, em maio, que nenhum ato das
Cortes teria força legal no Brasil sem a sua aprovação. Dom Pedro também assumiu o
título de Defensor Perpétuo do Brasil. O título foi significativo e teve importância o uso do
termo “perpétuo”, pois implicava que o príncipe pretendia permanecer no Brasil. No dia 7 de
setembro, a caminho de Santos para São Paulo, ele recebeu notícias que as Cortes o con-
sideravam um traidor e insistiam em seu imediato regresso a Portugal. Uma carta de José
Bonifácio explicou ao príncipe que o compromisso era impossível e disse ele: “de Portugal
só podemos esperar escravidão e horror, volte e tome uma decisão” (SMITH, 2002). Nesse
cenário foi que Dom Pedro sacou sua espada e, desafiadoramente, deu sua resposta às
Cortes com o grito de “independência ou morte”. O “Grito do Ipiranga” proclamou a inde-
pendência do Brasil depois de mais de três séculos como colônia de Portugal. A data de 7
de setembro seria comemorada a partir daí, anualmente, como o Dia da Independência do
Brasil.

UNIDADE II Expansão da Colonização 49


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A economia colonial brasileira começou, como discutido no início da unidade,


como uma série de postos comerciais, conhecidos como feitorias, espalhados pelo litoral
brasileiro. Quando o aumento do compromisso português na década de 1530 deu origem
às capitanias, vimos que a principal cultura foi o açúcar, cultivado em enormes plantações,
com economias de escala. Com o fracasso das capitanias hereditárias, vimos que Portugal
implantou o chamado Governo-Geral, que marcou a afirmação direta e visível da autoridade
real pela primeira vez no Brasil, significando, então, o abandono do sistema de capitania
como modelo preferido da Coroa Portuguesa.
Em seguida, vimos como o Nordeste chegou a ser o centro econômico da colônia,
com a atividade açucareira sendo foco para exportação e a pecuária se desenvolvendo
como atividade secundária e de subsistência. Posterior a isso, abordamos a chamada era
do ouro e vimos como a fase da mineração alterou o centro dinâmico da economia para a
região centro-sul do Brasil. Foi destacado também que, assim como os produtos agrícolas
tropicais (como açúcar, algodão e tabaco), a mineração de ouro e diamante não estimulou o
crescimento econômico suficientemente necessário para a industrialização. Nesse contex-
to, abordamos como ocorreu o ressurgimento da agricultura, após o declínio da atividade
mineradora.
Por fim, vimos nesta unidade que a vinda da família real alterou a vida no Brasil
colônia e também o status do Brasil, que passou a ser reconhecido como reino. Vimos
em seguida que, em face das pressões vindas de Portugal, Dom João decide retornar a
Lisboa, deixando seu filho Dom Pedro como príncipe regente. Após a partida da família real,
as exigências vindas de Portugal desagradavam os brasileiros e geravam medo de que
antigas práticas, como o monopólio e cobranças de impostos, retornassem. Tudo isso fez
nascer rapidamente o desejo de se separar de Portugal. Pesava ainda o fato de Dom Pedro
ter tomado partido na causa brasileira e se rebelado contra Portugal. Com o apoio de José
de Bonifácio, o Patriarca da Independência, homem de grande intelecto e brasileiro nato,
declarou a Independência do Brasil 1822.

UNIDADE II Expansão da Colonização 50


LEITURA COMPLEMENTAR

Brasil 500 anos

Para complementar seus estudos, acesse o canal “Brasil 500 anos” do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística que apresenta um breve panorama sobre o processo
de ocupação do território brasileiro, com ênfase nas contribuições prestadas por distintos
grupos étnicos.

Acesse: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf

A FORMAÇÃO TERRITORIAL BRASILEIRA NOS DOIS PRIMEIROS SÉCULOS


DE COLONIZAÇÃO

Resumo
A leitura da formação territorial brasileira nos dois primeiros séculos de colonização
sempre esteve pautada nos tratados de fronteira e/ou nos ciclos econômicos, produzindo
a compreensão de que a sua principal característica foi uma ocupação filiforme e em ar-
quipélago. Torna-se necessário superar essa compreensão, uma vez que novos estudos
têm evidenciado intensa articulação política, econômica e social entre os primeiros núcleos
coloniais, entre esses com a metrópole, com a bacia do Rio da Prata e com África, num
processo de solidariedade espacial (territorial).
Palavras-chave: Formação territorial, Brasil Colônia, ocupação em arquipélago

Leia o artigo completo em:


https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/1379/1169

UNIDADE II Expansão da Colonização 51


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)
• Autor: Lucas Figueiredo
• Editora: Amazon
• Sinopse: Lucas Figueiredo traz à vida, pela primeira vez, a
trajetória dura e demorada em direção à descoberta de nossas
riquezas minerais — e suas consequências. A América Portuguesa
estava entre as nove províncias gemológicas do mundo. Com um
solo impregnado de pedras preciosas, sobretudo, diamantes. Mas
foram mais de dois séculos até a Coroa ver algum sinal de riqueza.
E apenas a metade do tempo para dilapidar esses recursos. Em
cem anos, Portugal torrava mais de metade do metal precioso pro-
duzido no mundo naquele período. Uma sucessão de monarcas
perdulários, administradores corruptos e sonegadores de impostos
desfilam nas páginas de Boa Ventura com a familiaridade nascida
da boa pesquisa. Lucas, com vários Prêmios Esso na bagagem,
segue as pegadas fincadas nas picadas da mata por gerações
de aventureiros. E traça um painel da grande transformação
brasileira: estimulada pela corrida do ouro, a imigração contribuiu
para transformar uma colônia esquálida de 300 mil habitantes em
robusta colônia de 3,6 milhões. A busca pelo metal ajudou a ocu-
par e proteger as fronteiras do Brasil, a desenvolver a agricultura
e até mesmo as artes. Só uma coisa não restou desse período...
Seu principal protagonista: o ouro brasileiro. Pulverizado por toda
Europa.

FILME/VÍDEO
• Título: República Guarani
• Ano: 1982
• Sinopse: Através de imagens de arquivos e depoimentos de cé-
lebres historiadores das mais diversas nacionalidades e linhas de
pesquisa, Sylvio Back remonta os passos das missões jesuíticas
que aportaram no Brasil e na América do Sul no século dezessete
para compreender as formações e os costumes das antigas co-
munidades indígenas nativas que foram dizimadas pelo homem
branco.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2lW528AXLKI

UNIDADE II Expansão da Colonização 52


UNIDADE III
Economia de Transição para o Trabalho
Assalariado
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira

Plano de Estudo:
● Passivo Colonial - Crise financeira e instabilidade política;
● Declínio a longo prazo do nível de renda na primeira metade do século XIX;
● Economia cafeeira;
● Problemas de mão de obra;
● Nível de renda e ritmo de crescimento na segunda metade do século XIX;
● Fluxo de renda na economia de trabalho assalariado.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o passivo colonial e o período de crise financeira;
● Abordar o surgimento da economia cafeeira e os problemas ocasionados pela falta
de mão-de-obra;
● Estabelecer a importância do rompimento do trabalho escravo e os incrementos de
renda do trabalho assalariado.

53
INTRODUÇÃO

Nesta unidade poderemos analisar o chamado passivo colonial que nada mais é
do que uma dívida externa portuguesa que foi transferida para o Brasil. Junto a isso, co-
nheceremos um pouco mais sobre a crise financeira enfrentada pelo Brasil e a instabilidade
política do início do Século XIX.
A estagnação nas exportações e os gargalos internos que impediam o Brasil de
alcançar progresso técnico e econômico serão analisados ao longo da unidade. O surgi-
mento da indústria cafeeira também será abordado, levantando aspectos importantes deste
ciclo econômico de destaque.
Outro ponto importante que será visto ao longo da unidade está relacionado ao
processo de transição da economia escravista para assalariada, o que veio a gerar maior
dinamismo para a economia, aumentando seu fluxo de renda. Veremos porque esse siste-
ma econômico voltado ao mercado externo, possibilitado pela geração de renda do trabalho
assalariado no mercado interno, acabou levando a um desequilíbrio externo.
Na próxima unidade veremos as causas dessa tendência ao desequilíbrio externo,
bem como a concentração de renda gerada. Em seguida estudaremos a crise cafeeira e
seus mecanismos de defesa, até a chegada da Grande Depressão e o início do processo
de industrialização brasileiro.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 54


1 ECONOMIA DE TRANSIÇÃO PARA O TRABALHO ASSALARIADO

1.1 Passivo Colonial - Crise Financeira e Instabilidade Política

No fim do século XVIII e começo do século XIX, a Europa passava por uma grande
efervescência política e econômica, isso fortaleceu, de certa forma, os movimentos políticos
no Brasil, enquanto europeus resolviam seus problemas internos. De toda forma, tudo isso
também prolongou a instabilidade financeira que havia se iniciado com o começo da crise
do ouro. Essa crise iniciou-se por volta de 1785, quando as minas de ouro, após anos de
intensa mineração, começaram a se esgotar.
Outro ponto para o Brasil eram os acordos assinados em 1808 e 1810. A Abertura
dos Portos em 1808, assinado por D. João VI, em Salvador, depois de fugir de Portugal,
permitiu que outras nações pudessem fazer negócios diretamente com produtores bra-
sileiros e, assim, quebrava o monopólio português. Em 1810, o Tratado de Cooperação
e Amizade fortaleceu essa posição e ampliou benefícios dos ingleses, também mostrou
uma mudança de rumo em direção a uma política econômica mais liberal substituindo o
mercantilismo. Esses tratados retiraram poder de influência de Portugal sobre a colônia e
iniciaram o processo que culminou com a Independência.
Segundo Furtado (2007), esses acontecimentos, em uma perspectiva ampla, dei-
xam mais ou menos evidente que os privilégios concedidos à Inglaterra constituíram uma
consequência natural da forma como se processou a independência. Não houve pagamen-

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 55


tos para Portugal, mas devia o Brasil assumir a responsabilidade de parte do passivo que
portugueses contraíram para sobreviver como potência colonial, isso é o que chamamos
de Passivo Colonial.
Apesar do rumo supostamente liberal que portugueses sob influência dos ingleses
tentaram estabelecer na economia do Brasil, ficava claro que esse não foi o caso, pois,
mesmo com os privilégios que ingleses detinham para os seus produtos, eles não se preo-
cuparam em abrir mercado para os produtos brasileiros, como o açúcar, que concorria com
o açúcar inglês produzido nas Antilhas.
Tal fato trouxe problemas para a economia brasileira, pois os ingleses tentavam, de
todas as formas, proibir a importação de escravos africanos que barateavam a produção
dos produtos brasileiros. Além disso, os ingleses ansiavam por mercados consumidores
para seus produtos oriundos da Revolução Industrial. Isso colocou em confronto a classe
dominante brasileira que eram os grandes produtores agrícolas e os ingleses. Segundo
Fausto (1996), é comum associar essa tendência antiescravista ao interesse britânico em
ampliar mercados, que conseguiram vantagens sobre os concorrentes com a Revolução
Industrial. Entretanto essa associação contém apenas parte da verdade. O movimento
abolicionista tem influência também dos novos movimentos surgidos nos países mais avan-
çados da Europa, influenciados pelo pensamento ilustrado e até religioso, como é o caso
da Inglaterra. A isso se soma, no caso francês, a revolta de negros libertos e escravos nas
Antilhas. Em fevereiro de 1794, a França, durante a Revolução Francesa, decretou o fim da
escravidão em suas colônias; a Inglaterra fez o mesmo em 1807.
Segundo Furtado (2007), é impossível afirmar se o Brasil teria tido melhores resul-
tados se tivesse mais liberdade, de qualquer forma os benefícios oferecidos aos ingleses
atrapalharam em muito a economia brasileira. A estagnação do mercado interno gerou uma
redução no volume de importações e era taxando essas importações que o estado arre-
cadava boa parte dos seus recursos. Desta forma surgiu o dilema de taxar as exportações
e atingir os senhores da grande agricultura. Diante disso debateram sobre aumentar os
impostos sobre as importações ou ver seus lucros reduzidos, taxando as exportações.
Com toda essa dificuldade financeira o recém-criado governo brasileiro vê seu po-
der diminuir em uma época em que as insatisfações surgiam de todas as partes do país, no
Norte e Nordeste havia crise com a queda do preço do açúcar e do algodão que caiu ainda
mais. A região Sul passava também por dificuldades com o declínio do ouro, tendo em vista
que era o ouro que criava mercado para a produção de bovinos do Sul. Isso despertou
várias revoltas armadas no Norte e uma longa guerra civil no Sul.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 56


Nesse contexto conturbado surge um novo produto agrícola com potencial para es-
timular a enfraquecida economia brasileira, o café, que será visto mais a fundo nas próximas
seções. A partir de 1820 a produção de café se concentrou no entorno da capital e sede do
Império e isso fortaleceu o governo contra as revoltas políticas que vinham acontecendo no
Norte e no Sul. Apesar disso, o governo não conseguia equacionar as suas contas.
Apesar de após a independência o novo governo ter conseguido aumentar a arreca-
dação sem ter que destinar parte destes recursos a Portugal, ainda assim havia um enorme
déficit entre o que o governo arrecadava e o que necessitava para manter o recém-criado
aparato de estado. Havia pouco espaço para aumento de arrecadação de tributos antes que
todos os acordos com a Inglaterra deixassem de estar em vigor, todavia isso só aconteceria
em 1844. A alternativa encontrada foi imprimir mais dinheiro para financiar o Império. Isso
teve efeito na moeda brasileira, que viu o seu câmbio se desvalorizar em relação às moedas
estrangeiras, o que causou o encarecimento de importações e impactou diretamente uma
economia que ainda dependia da importação para fornecimento de muitos produtos. Essa
consequência foi mais sentida pelas populações urbanas, os grandes produtores rurais
conseguiam ser quase que autossuficientes e não eram tão atingidos pelo aumento de
preços nas importações.
Segundo Furtado (2007), os efeitos se concentravam sobre as populações das ci-
dades compostas de pequenos comerciantes, servidores públicos e do comércio, militares
etc. Como consequência, a inflação causou um empobrecimento dessas classes, o que
ajuda a entender a origem urbana das revoltas da época e o aumento da animosidade con-
tra os portugueses, os quais, sendo boa parte dos comerciantes, eram responsabilizados
pelos males que o aumento dos preços causava para o povo.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 57


1.2 Declínio a Longo Prazo do Nível de Renda na Primeira Metade do Século XIX

Um aumento das exportações era a condição básica para o desenvolvimento da


economia brasileira na primeira metade do século XIX, segundo Furtado (2007). Sem
apoio para ampliar sua capacidade de importação, seria impossível o Brasil fomentar sua
industrialização, devido a total carência de base técnica. Ou seja, para que o Brasil tivesse
se desenvolvido no mesmo ritmo que os EUA, precisaria de uma demanda intensa de
exportações, mas, no entanto, o Brasil não possuía uma indústria desenvolvida para tal.
Nesse processo de busca pelo desenvolvimento e pela industrialização brasileira,
Dom João VI tentou estabelecer uma indústria siderúrgica, que, não por falta de protecio-
nismo, fracassou, pois o mercado para tais produtos era praticamente nulo e nenhuma
indústria criaria mercado para si mesma, nas palavras de Furtado (2007).
Simonsen (2005) destaca que o declínio da mineração levou o Centro-Sul à sua
primeira grande crise por falta de uma produção rica e exportável, em uma sociedade atra-
sada, com baixa capacidade técnica, em que a alta proporção da população escrava não
permitia um comércio interno suficientemente rico para o seu progresso.
Para que houvesse o processo de industrialização, este deveria ter início na pro-
dução de produtos que já tinham um considerável mercado, como os tecidos, por exemplo,
que eram a única manufatura que até mesmo a população escrava tinha acesso. Porém a
queda nos preços dos tecidos ingleses tornou praticamente impossível a defesa da indús-
tria local, não fosse pelo estabelecimento de cotas de importação, o que não seria viável,

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 58


pois reduziria substancialmente a renda real da população, que já passava por grandes
dificuldades.
O Brasil estava sobrevivendo essencialmente da produção e do consumo interno,
pois os ciclos econômicos estavam em decadência. Nesse sentido, Furtado (2007) destaca
que o principal motivo do declínio da economia foi a queda no volume de exportações. Du-
rante esse período, a taxa de crescimento médio anual do valor em libras das exportações
brasileiras não excedeu 0,8%, enquanto a população crescia a uma taxa anual de cerca
de 1,3%. Levando em consideração qualquer margem de erro, o autor considera que este
foi o período em que a renda per capta foi a mais baixa em todo o período da colônia. O
mesmo autor considera ainda que a principal causa do grande atraso relativo da economia
brasileira na primeira metade do século XIX pode ser considerado o estancamento das
exportações.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 59


2 A ECONOMIA CAFEEIRA

A exaustão das minas de ouro e diamante na segunda metade de século XVIII tor-
nou a economia brasileira novamente dependente de exportações agrícolas, com algodão
e agora complementando com tabaco e açúcar. Em 1830, um novo produto havia surgido:
o café, uma exportação que abasteceria a economia exportadora do Brasil pelos próximos
140 anos. O café foi comercializado pela primeira vez com sucesso no final do século XVIII,
no Brasil, na província do Rio de Janeiro, onde o solo era altamente adaptável ao mato de
café. Nas décadas de 1830 e 1840, essa província se tornou o centro do cultivo de café,
com a cidade do Rio como centro de exportação. O Rio de Janeiro abrigava bancos, corre-
toras e docas que ligavam o Brasil ao mercado mundial de café na Europa Ocidental e na
América do Norte. Os escravos eram a principal fonte do trabalho necessário para plantar
os pés de café, cultivá-los e colher o que se tornariam os grãos de café. Alguns escravos
foram adquiridos do tráfico de escravos, que, embora tecnicamente ilegal desde 1826,
continuou até 1850. Outros foram comprados nas plantações de açúcar menos rentáveis,
especialmente no Nordeste.
Os solos da província do Rio de Janeiro foram progressivamente esgotados com
o cultivo intensivo de café, pois a topografia montanhosa ajudou a acelerar a erosão do
solo. Mas o Brasil não tinha escassez de terras não utilizadas (ou subutilizadas). Embora a
produção no Rio tenha permanecido alta, em meados do século XIX, o centro de cultivo de
café estava se movendo para o sul e oeste do Rio, espalhando-se por São Paulo e Minas
Gerais, onde o solo mostrou-se tão produtivo ou melhor que o solo do Rio.
A marcha do café para o sul e o rápido aumento da produção brasileira geraram
uma demanda crescente por mão-de-obra. Com o fim do comércio de escravos em 1850, os
produtores de café foram forçados a comprar de escravos dentro do Brasil. Isso criou uma
mudança demográfica para o Sudeste, semelhante (embora em menor escala) à mudança
do século XVIII em direção a Minas Gerais durante o boom da mineração. Os fazendeiros
nordestinos que venderam seus escravos receberam pagamento. Fato que não impediu os
políticos nordestinos de denunciarem a “perda” de sua força de trabalho que migrou para o
sul mais próspero.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 60


2.1 Os Problemas da Mão-de-Obra

Em 1830, o Brasil era a maior economia escravista do mundo, com mais escravos
do que pessoas livres. Mas a população escrava do Brasil não se sustentava, exigindo que
o Brasil dependesse fortemente das importações de escravos. Segundo Furtado (2007),
pela metade do século XIX, a força de trabalho da economia brasileira estava basicamente
constituída por uma massa de escravos que talvez não alcançasse 2 milhões de indivíduos.
O primeiro censo demográfico realizado em 1872 indicava que existiam, no Brasil, aproxi-
madamente 1,5 milhão de escravos. Considerando que no começo do século havia pouco
mais de 1 milhão de escravos no Brasil, e que nos primeiros 50 anos do século XIX se
importou muito provavelmente mais de meio milhão, conclui-se que a taxa de mortalidade
era superior à de natalidade.
Skidmore (1999) cita que havia basicamente três razões principais para essa
dependência brasileira da importação de mão-de-obra. Primeiro era que devido à sua
dependência histórica do tráfico de escravos, havia muito mais homens do que mulheres
escravas no Brasil. Segundo, os escravos brasileiros eram mantidos em condições de vida
tão sombrias que sua saúde era comprometida, reduzindo ainda mais a taxa de natalidade
dos escravos. E, por fim, a expectativa de vida de um brasileiro escravo era de apenas
dois terços da expectativa de um homem branco brasileiro, em contraste com os Estados
Unidos, no período escravista, em que um escravo chegava a alcançar 90% da expectativa
de vida de seus senhores.
Cabe destacar que qualquer empreendimento que se pretendesse realizar no Bra-
sil teria de enfrentar a inelasticidade da oferta de trabalho, sendo que a necessidade de
importações brasileiras de mão-de-obra no decorrer do século chegaram a ser três vezes
maiores do que as norte-americanas.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 61


SAIBA MAIS
As pressões abolicionistas europeias

Os britânicos, como os outros colonos europeus do Novo Mundo, tinham, é claro, lu-
crado com a escravidão africana por séculos através de suas colônias de escravos na
América do Norte e no Caribe. Eles também lucraram com investimentos no comércio
de escravos em si. E foi um distinto político ou clérigo britânico que encontrou qualquer
lógica moral convincente contra a escravização antes do século XVIII. No final do século
XVIII, no entanto, a opinião pública britânica em geral havia se tornado abolicionista. As
ideias iluministas levaram a novas atitudes sobre às relações humanas, onde a redução
dos seres humanos ao status subumano para ganho econômico começou a despertar
oposição apaixonada na Grã-Bretanha como princípio imoral e anticristão.
Essa mudança moral tornou-se tão poderosa que em 1833 o Parlamento britânico proi-
biu a escravidão nas colônias atlânticas britânicas. A opinião pública também pressiona-
va o governo britânico a suprimir o florescente comércio de escravos da África Ocidental
para o resto do Novo Mundo. A principal motivação para a ação britânica era de fato
moral e ideológica, mas uma dimensão econômica também entrou no cálculo político.
Os Estados Unidos já haviam proibido o comércio em 1807. Isso deixou as Colônias
do Caribe sem comércio de escravos, colocando-as em um ambiente de desvantagem
competitiva devido aos custos de mão-de-obra, em relação às economias escravistas,
como Cuba e Brasil. Acabar com o comércio de escravos em todo o mundo teria a van-
tagem coincidente de corrigir esse desequilíbrio competitivo.
Então, os britânicos pressionaram cada vez mais o Brasil, o que foi sentido de várias
maneiras. Primeiro, em 1826, a Grã-Bretanha pressionou o Brasil a assinar um tratado
concordando em acabar com o comércio de escravos dentro de três anos. Embora não
houvesse apoio a essa medida entre a elite brasileira, eles dificilmente poderiam resistir
explicitamente aos britânicos, a quem eles estavam fortemente endividados, politica-
mente e financeiramente. Os sucessivos governos brasileiros lidaram com o problema
simplesmente negligenciando a aplicação do tratado de 1826. Negligenciaram também
uma lei de 1831 que declarou que todos os escravos entrando no Brasil estariam auto-
maticamente livres. Navios escravos continuaram descarregando suas cargas humanas
na costa brasileira, desafiando abertamente a proibição legal.
A Marinha Real britânica, a principal força naval do mundo, partiu interceptar os navios
negreiros e libertar as cargas negras. Embora eles tenham tido algum sucesso, um fluxo
maciço continuou a chegar entre os anos de 1830 e 1840. Apesar da indignação expres-
sa na imprensa e no parlamento ingleses, cerca de 712.000 novos escravos invadiram
o Brasil durante esses dois décadas, com média de 35.000 por ano. (Como o comércio
era tecnicamente ilegal após 1831, esses números são apenas estimativas).

Fonte: Skidmore (1999, p. 67-72).

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 62


A pressão britânica para acabar com o comércio de escravos acabou agravando
uma situação já precária, e com a impossibilidade de imigração africana, o déficit de mão-
-de-obra precisava ser sanado o mais rápido e possível. A mão-de-obra disponível além da
escrava era advinda de uma complexa relação entre proprietário de terras, trabalhadores
livres e economia de subsistência. Para sanar os problemas enfrentados pelos produtores
de café, quanto à escassez de mão-de-obra, a alternativa que parecia mais possível seria
a imigração europeia.
Sabendo-se que a ausência de mão-de-obra seria um grande empecilho para o
desenvolvimento da economia cafeeira e o governo sozinho não daria conta de sanar esse
problema, a classe dirigente desta economia resolveu buscar soluções, sendo assim, em
1842 o senador Vergueiro decidiu ir diretamente à Europa contratar imigrantes para tra-
balharem em suas terras (SITIMA, 2014). Com o sucesso das primeiras iniciativas, outros
fazendeiros resolveram seguir seu exemplo. Portanto, fica visível que essa nova estrutura
que atraía europeus, logo se transformaria em um regime de semiescravidão.
Com efeito, o custo real da imigração corria totalmente por conta do imigrante,
que era a parte financeiramente mais fraca. O Estado financiava a operação,
o colono hipotecava o seu futuro e o de sua família, e o fazendeiro ficava com
todas as vantagens. O colono devia firmar um contrato pelo qual se obrigava
a não abandonar a fazenda antes de pagar a dívida em sua totalidade. É fácil
perceber até onde poderiam chegar os abusos de um sistema desse tipo
nas condições de isolamento em que viviam os colonos, sendo o fazendeiro
praticamente a única fonte do poder político (FURTADO, 2007, p. 185).

REFLITA

A forma como os imigrantes europeus vieram ao Brasil para trabalhar nas plantações de
café pode ser considerado um regime de semiescravidão devido a suas características?

Fonte: a autora.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 63


SAIBA MAIS

Leia a dissertação de mestrado intitulada: A substituição da mão-de-obra escrava e a


opção pela grande imigração no estado de São Paulo.

Esta dissertação constitui um estudo sobre o processo de substituição da mão-de-obra


escrava pela mão-de-obra livre no Estado de São Paulo. Para tanto se propõe a discutir
o problema enfrentado pelos fazendeiros de café, a quem, a iminente perda da mão-de-
-obra escrava constituía-se num verdadeiro desastre do ponto de vista operacional das
fazendas, na medida em que estes empresários dependiam inteiramente deste modo
de produção não-remunerado para auferir o lucro previsto nas suas fazendas. Pare-
ceu-nos muito intrigante a opção feita pelos fazendeiros e pelo governo do Estado de
São Paulo em buscar uma alternativa aparentemente mais cara e logisticamente mais
difícil, qual seja, de financiar e trazer trabalhadores europeus, lançando mão da valo-
rização da mão-de-obra livre nacional. Os motivos que levaram a esta opção serão o
alvo desta dissertação. Para efeito didático dividimos este trabalho em quatro capítulos.
No primeiro capítulo faremos um breve estudo sobre as origens do Estado de São Pau-
lo, mostrando sua conjuntura de poucas oportunidades na segunda metade do século
XVIII e início do século XIX. No segundo capítulo estudaremos os trabalhadores livres
nacionais, veremos como encontravam saída para sobrevivência no sistema binomial
da colônia, bem como, entraremos um pouco no seu convívio social, muitas vezes vio-
lento e de constante desejo de afirmação por meio da força. No terceiro capítulo entra-
remos no estudo da legislação trabalhista, estudaremos as leis trabalhistas do período
imperial de 1830, 1837 e 1879, com isso, mostraremos que a questão legal foi mais um
subterfúgio para elites paulistas imporem seu desejo pela vinda do europeu. No quarto
capítulo capítulo abordaremos a questão do imigrante nas fazendas de café do Estado
de São Paulo; os sistemas de trabalho empregados, os problemas enfrentados pelos
constantes endividamentos dos imigrantes, os conflitos gerados pelos maus-tratos dos
fazendeiros, o aumento das populações e a ocupação do interior do Estado, e por fim, o
impacto financeiro trazido para o caixa de São Paulo com a imigração subsidiada. Nas
considerações finais apresentaremos uma síntese das conseqüências geradas com a
opção pelo imigrante, enfatizando que esta opção teria um impacto econômico funda-
mental nos anos que se seguiram, não apenas no Estado de São Paulo, mas no país
inteiro.

Leia na íntegra em:


https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/9346/1/Thiago%20de%20Novaes%20Franca.pdf

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 64


3 NÍVEL DE RENDA E O RITMO DE CRESCIMENTO NA SEGUNDA METADE DO
SÉCULO XIX

O principal motor da economia brasileira na segunda metade do século XIX eram


as exportações. Nesse período, segundo Furtado (2007), a economia brasileira estava
dividida em três setores principais. O primeiro era formado pelo açúcar e algodão e pela
vasta zona de economia de subsistência a eles ligado no Norte. O segundo, formado pela
economia principalmente de subsistência do sul do país. O terceiro, tendo como centro a
economia cafeeira na região Sudeste.
O primeiro setor era formado pelo Nordeste e ia do Maranhão a Sergipe, sendo que
na área litorânea estavam localizadas as grandes propriedades produtoras de açúcar para
exportação e no entorno as áreas de subsistência (a Bahia não está incluída, pois estava
vivendo uma situação particular com o aparecimento do cacau e do fumo). Na região Nor-
deste, Furtado (2007) descreve um aumento populacional de 80% ante a um incremento
de 54% no faturamento com as exportações. Tendo em vista esse crescimento despropor-
cional entre população e renda, fica claro que para se manter a renda per capita na região
na segunda metade do século XIX, em relação à primeira metade, era necessário haver
um aumento significativo da produção de subsistência, o que é sabido que não ocorreu. De
tal forma que fica claro que houve, apesar do aumento em volume das exportações, uma
redução na renda per capita dessa região.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 65


No segundo setor, o de subsistência no Sul do país, houve um aumento considerá-
vel de população. O aumento das exportações em outras regiões do Brasil criava mercado
interno para os produtos produzidos nessa região e atraía população. No Paraná, o sur-
gimento da cultura da erva-mate e a sua exportação contribuíram para um incremento de
renda, mais ao Sul a dinâmica atividade pecuária tinha grande mercado interno e externo
para a carne em forma de charque. De tal forma que houve um considerável aumento na
renda per capita dessa região.
O terceiro setor no Sudeste era o cafeeiro que passou por um aumento substancial
das exportações durante esse período e viu o preço do café subir no mercado internacional,
o que gerou diversas transformações e fez a cafeicultura ser uma atividade determinante
economicamente para o Brasil a partir desse ponto. Tudo isso causou um aumento na
renda per capita dessa região.
Havia também duas regiões que devemos mencionar. A primeira é a Bahia, que
encontrou no cacau um novo produto para exportação, todavia o mercado para tal produto
ainda era pequeno. Outro produto que produziu resultados melhores para os baianos na
segunda metade século XIX foi o fumo. De qualquer forma, o sucesso de algumas áreas
se contrastava com o empobrecimento de outras, o que faz com que, de forma geral, não
houvesse um aumento de renda per capita. A última região e que ganhou extrema im-
portância, sobretudo, no fim do século foi a Amazônia, onde a produção de látex a partir
das seringueiras passou a representar, segundo Furtado (2007), em 1890, cerca de 15%
do volume em dinheiro gerado pelas exportações brasileiras. Boa parte desse dinheiro
era gasto em importações, pois a produção de borracha causava o abandono de certas
produções locais, o que levava a importar um grande número de artigos que antes eram
feitos ali, mesmo assim a renda per capita na Amazônia aumentou substancialmente.
Com exceção do Nordeste, a maioria das regiões do Brasil experienciou um au-
mento na renda per capita, se analisarmos os números totais para o país, veremos que
também foram positivos. Tivesse o Brasil mantido o mesmo ritmo de crescimento no século
XX, teríamos nível de desenvolvimento comparável às nações europeias.

3.1 Fluxo de Renda na Economia de Trabalho Assalariado

A partir do fim do sistema escravocrata, nos últimos 20 anos do século XIX, cresce
relativamente o setor assalariado, que pode ser considerado o principal acontecimento na
economia da segunda metade do século XIX. Para que possamos compreender as trans-

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 66


formações estruturais que levariam o Brasil a se tornar uma economia de mercado interno
na primeira metade do século XX, é preciso analisar o mecanismo de geração de renda
promovido pelo novo sistema de trabalho assalariado. Sistema esse que apresenta muitas
diferenças da anterior economia de subsistência, que era estável e sem dinamismo.
A nova economia cafeeira baseada no trabalho remunerado também era constituída
por diversas unidades produtoras ligadas ao mercado externo. Segundo Furtado (2007), o
processo de fluxo de renda começava a partir do momento em que a produção é vendida
ao exportador. Essa renda cobriria a depreciação do capital e a remuneração dos demais
fatores de produção (terra e trabalho, essencialmente). O autor divide, então, a análise em
dois tipos de renda: a do assalariado e a do proprietário.
Tal fluxo de renda acontecia da seguinte maneira: a renda dos assalariados era
revertida praticamente apenas para seu autossustento e a renda dos proprietários, cujo
excedente era destinado ao acúmulo de capital. Desta forma, o fluxo de renda gerado pelo
setor exportador impulsiona de forma ampla a economia interna. Furtado (2005, p. 153)
explica que
os gastos de consumo [...] vê constituir a renda dos pequenos produtores,
comerciantes e etc. [...] a soma de todos esses fatos terá necessariamente
de exceder de muito a renda monetária criada pela atividade exportadora.
[...] Crescendo a massa de salários pagos, aumentaria automaticamente a
procura de artigos de consumo .

Sendo assim, um aumento no impulso externo levava a um aumento de ganhos


salariais e, consequentemente, no aumento de itens de consumo movimentando ainda
mais a economia. Ou seja, os salários seriam o núcleo da economia de mercado interno.
Na próxima unidade entenderemos o porquê desse sistema baseado em exportações ter
provocado uma tendência ao desequilíbrio externo.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 67


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade pudemos ver como a economia brasileira se desenvolveu desde a


independência; como os acordos com os ingleses que ficaram como passivo de Portugal
dificultaram a economia brasileira; as quedas de exportações na primeira metade do sé-
culo e o agravamento da crise que havia se iniciado com o declínio do ciclo do ouro; os
movimentos abolicionistas que europeus abraçaram, baseados em um pensamento mais
esclarecido e motivos religiosos tentaram interromper a escravidão no Brasil. Após anos
conseguiram interromper a importação de escravos e forçar o Brasil a buscar mão-de-obra
assalariada.
Vimos como o nível de renda aumentou em quase todo país, com exceção do
Nordeste, com o fortalecimento do café, ciclo do látex na Amazônia e fortalecimento da
Região Sul. Abordamos também como a renda do trabalho assalariado era destinada a des-
pesas de sustento, enquanto proprietários de terra destinavam recursos para acumulação
de capital.
Na próxima unidade abordaremos como essas características levaram a um dese-
quilíbrio externo e a concentração de renda. Estudaremos a crise da economia cafeeira e
seus mecanismos de defesa e, por fim, abordaremos a crise de 1929 e a sua consequência
na formação econômica do Brasil.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 68


LEITURA COMPLEMENTAR

Capitalismo, escravidão e a economia cafeeira no Brasil no longo século XIX


Autor: Rafael de Bivar Marquese

Resumo: O artigo examina as descontinuidades das relações entre a economia-


-mundo capitalista e a escravidão negra nas Américas a partir do exame da economia do
café no longo século XIX. No período de 1790 a 1888, é possível identificar três momentos
distintos nessas relações, nos quais as interações entre forças globais e forças locais pas-
saram por transformações substantivas. O primeiro momento (décadas de 1790 a 1820) foi
marcado pela crise da economia cafeeira construída na base caribenha durante o século
XVIII; o segundo momento (décadas de 1820 a 1860) testemunhou o arranque do comple-
xo cafeeiro no Brasil, diretamente conectado à consolidação da nova ordem industrial no
Atlântico Norte; o terceiro momento foi travejado pela crise da economia escravista cafeeira
brasileira, resultante da Guerra Civil norte-americana (1861-1865) e da reorganização da
economia-mundo capitalista durante a chamada Grande Depressão (1873-1896)

Leia na íntegra acessando: http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/srh/article/view/19825

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 69


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: 1822
• Autor: Laurentino Gomes
• Editora: Globo Livros
• Ano: 2015
• Sinopse: Em 1822 o escritor compara diferentes relatos sobre o
dia 7 de setembro, que redefiniu os rumos do nosso país. Mais do
que desmistificar o grito da independência às margens do Ipiranga,
o escritor analisa como D. Pedro conseguiu, apesar de todas as
dificuldades, fazer do Brasil uma nação de proporções monumen-
tais. Laurentino observa como as mudanças provocadas pela fuga
da família real portuguesa, em 1808, deram início a um processo
de maior autonomia, que pressionou o príncipe regente a declarar
a independência do Brasil. O autor mostra como as Guerras Na-
poleônicas, a Revolução Francesa e a independência dos Estados
Unidos influenciaram as ideias de brasileiros que defendiam o fim
da submissão à metrópole, formando um ambiente favorável à
criação de um novo país. No entanto declarar a independência
foi apenas o começo. Com os cofres brasileiros esvaziados por
D. João VI em seu retorno a Portugal, D. Pedro se viu diante do
desafio de reduzir os gastos do governo, construir a ideia do que
é “ser brasileiro” e reprimir as revoltas internas. Para alguns bra-
sileiros, era necessário romper radicalmente com os portugueses
e proclamar a república, enquanto outros não viam motivo para
ser parte do país que estava surgindo. Além das proporções con-
tinentais representarem uma dificuldade ao projeto de preservar
a unidade do território colonial, em 1822 o Brasil já apresentava
um cenário de extrema desigualdade. Enquanto cidades como Rio
de Janeiro e Salvador contavam com uma população urbana, uni-
versidades e instituições governamentais, em outras regiões era
praticada apenas a agricultura de subsistência. Foi necessário um
esforço de vários personagens para estabelecer uma nova nação.
Laurentino une a pesquisa a um texto leve e saboroso, que trata
história como um assunto cativante, que nos leva a compreender
melhor as origens do Brasil e como problemas estruturais ainda
influenciam a nossa realidade.
Vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Reportagem e aclamado
como Livro do Ano de Não Ficção, 1822 é uma leitura essencial
para todos que desejam compreender melhor o nosso país.

FILME/VÍDEO
• Título: Independência ou Morte
• Ano: 1972
• Sinopse: Tendo como ponto de partida o dia da abdicação de
D. Pedro I (Tarcísio Meira), é traçado um perfil do monarca desde
quando ainda menino veio da Europa, enquanto sua família fugia
das tropas napoleônicas, até sua ascensão à Príncipe Regente,
quando D. João VI (Manoel da Nóbrega) retorna para Portugal. Em
pouco tempo a situação política torna-se insustentável e o regente
proclama a independência, mas seu envolvimento extraconjugal
com a futura Marquesa de Santos (Glória Menezes) provoca oposi-
ção em diversos setores, gerando um inevitável desgaste político.

UNIDADE III Economia de Transição para o Trabalho Assalariado 70


UNIDADE IV
Economia de Transição para um
Sistema Industrial
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira

Plano de Estudo:
● As tendências ao desequilíbrio externo, nível de emprego e concentração de renda
no final do século XIX;
● A crise da economia cafeeira;
● Mecanismos de defesa e a crise de 1929;
● As raízes da industrialização.

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o processo de desequilíbrio das contas externas e seus
impactos para a economia;
● Compreender as causas da crise da economia cafeeira;
● Entender as causas da crise de 1929 e qual foi o impacto no processo de
industrialização brasileiro.

71
INTRODUÇÃO

Relembrando a última unidade, vimos aspectos econômicos como renda, oferta de


mão-de-obra, exportações, relacionadas à economia brasileira do século XIX. O surgimento
da economia cafeeira foi abordado, bem como a dinâmica da economia de trabalho assala-
riado e o fluxo circular da renda. Nesta unidade abordaremos inicialmente as características
que levaram a um desequilíbrio externo e à concentração de renda no Brasil.
Em seguida veremos como foi o processo que levou à crise cafeeira e de que
maneira mecanismos de defesa criados pelo setor causaram uma superprodução de café
a longo prazo. Abordaremos também como a crise de 1929 foi o golpe final para o período
de altos preços do café.
Analisaremos como a crise de 1929 atingiu o Brasil e de que maneira o café, já
com preços mais baixos ainda assim foi capaz de fomentar a retomada da economia. Para
finalizar, veremos como se deu o início do processo de industrialização do Brasil.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 72


1 ECONOMIA DE TRANSIÇÃO PARA UM SISTEMA INDUSTRIAL

1.1 As Tendências ao Desequilíbrio Externo no Final do Século XIX


Na unidade anterior vimos a dinâmica de funcionamento da economia brasileira
na segunda metade do século XIX, em que o trabalho assalariado passou a ser o motor
do crescimento e da geração de renda. Vimos também como se propagava o fluxo de
renda criado pelas exportações. Esse novo sistema econômico porém, apresentava alguns
problemas, dentre eles estava a dificuldade em atender as regras do padrão-ouro, que era
um princípio da economia internacional, em que cada país deveria dispor de uma reserva
metálica suficientemente grande para cobrir os déficits ocasionais de sua balança de pa-
gamentos (FURTADO, 2007). Nesse processo de financiamento das trocas internacionais,
cada país deveria contribuir de acordo com sua participação no comércio internacional e da
extensão das flutuações de sua balança comercial.

SAIBA MAIS
Você sabe o que é Balança Comercial e para que ela serve? E o que significa superávit
e déficit na balança comercial, você sabe?
Balança comercial é um registro econômico que representa as importações e exporta-
ções de bens entre os países. Dizemos que a balança comercial de um determinado
país está com superávit quando ele exporta mais do que importa. Quando o país importa
mais do que exporta, dizemos que a balança comercial está com déficit, negativa ou
desfavorável.
Fonte: a autora.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 73


O problema de tal sistema era que o Brasil era exportador de produtos primários,
ou seja, tínhamos uma elevada participação no mercado internacional, mas uma renda
monetária com tal comércio, relativamente baixa. Nas palavras de Furtado (2007), seu
intercâmbio per capita era relativamente muito maior que sua renda monetária per capita.
Como nossa necessidade de importação também era elevada, tal desequilíbrio abalava
nossa economia, pois exigia uma retirada significativa de circulação monetária do mercado
interno. O problema do desequilíbrio externo se agravou com a crise que se instalou nos
centros industriais, em que os preços caíram no mercado externo, diminuindo em muito a
entrada de divisas no país.

1.1.1 Nível de emprego e concentração de renda

Nesse novo sistema com mão-de-obra assalariada, a economia de subsistência


se transformava em economia exportadora, o que beneficiava os cafeicultores, que re-
vertiam o lucro em seu favor. O aumento do salário médio no país refletia o aumento de
produtividade que se ia alcançando através da transferência de mão-de-obra da economia
de subsistência para a economia exportadora. Nesse contexto, o empresário podia reter
as melhoras de produtividade obtidas nas exportações, pois não havia pressão alguma no
sistema que os forçasse a transferir renda aos assalariados.
O proprietário da terra precisava aperfeiçoar seus processos de cultivo ou inten-
sificar a capitalização para que conseguisse aumentar sua produtividade física, seja de
mão-de-obra ou de terra, aplicando maior quantidade de capital por unidade de fator de
produção. O empresário não tinha estímulos para aumentar a produtividade de terra ou
mão-de-obra devido às condições em que se desenvolvia a cultura do café. Essa era a
forma racional de crescimento de uma economia em que existia capacidade ociosa de terra
e mão-de-obra, e onde era escasso o capital.
Por sua própria natureza, a plantação de café significa uma inversão a longo
prazo com grandes imobilizações de capital. [...] O abandono da plantação de
café significaria para o empresário um grande prejuízo, dado o montante do
capital imobilizado. [...] Dada a natureza da atividade econômica, a única for-
ma de lograr, a curto prazo, aumentos de produtividade física seria cortando
na folha de salários, o que não constituía uma solução do ponto de vista do
conjunto da coletividade (FURTADO, 2005, p. 168).

Nesse sentido, em períodos de crise o mais importante era manter os níveis estáveis
de empregabilidade, com a consequente geração de renda e aquecimento da economia.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 74


2 A CRISE DA ECONOMIA CAFEEIRA

Ao final do século XIX e começo do século XX uma série de fatores acabou por
criar um ambiente extremamente favorável à economia cafeeira. Um dos primeiros fatores
foi a falta de oferta no mercado externo. Produtores asiáticos, sobretudo do Ceilão, atual
Sri Lanka, passavam por uma grande crise após verem suas lavouras serem devastadas
pela ferrugem-do-café, fungo que matava as plantas. O problema da mão-de-obra já estava
resolvido com os imigrantes que procuravam trabalho no Brasil. Outro fator importante foi a
Proclamação da República, que, ao descentralizar o poder e dar mais poder aos estados,
deu também mais poder e autonomia para os produtores de café que controlavam a política
de seus estados.
O fato da grande maioria da produção mundial de café no final do século XIX ter
se concentrado no Brasil deu aos cafeicultores brasileiros a oportunidade de controlar o
mercado internacional. Bastaria reserva financeira para reter parte da produção e diminuir
a oferta no mercado internacional e, assim, forçar a alta do preço. Porém, em 1893, a
crise da economia americana, que era destino de boa parte do café do Brasil, acabou por
causar uma queda no preço internacional da mercadoria, essas quedas de preço eram
compensadas para os produtores através da desvalorização da moeda nacional, alterar o
câmbio fazia com que os cafeicultores recebessem os mesmos valores se considerarmos a
moeda nacional ao valorizar as moedas estrangeiras. Isso não foi capaz de absorver todas

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 75


perdas, pois causava, todavia, o encarecimento das importações e em uma economia sub-
desenvolvida gerava também pressão inflacionária.
Após a crise de 1893 outro problema se estabelece, a superprodução. Contando
com uma vasta área de terras para ser explorada, abundância de oferta de mão-de-obra e a
alta lucratividade da atividade, a expansão das culturas foi uma consequência lógica. Sem
poder controlar o câmbio e com um excesso de produto no mercado interno, isso poderia
derrubar os preços no mercado externo. Diante desse cenário, a oligarquia cafeeira dotada
de todo poder conquistado com o sucesso financeiro e com os fundamentos da República
que dava autonomia aos estados, reúne-se em 1906 no Convênio de Taubaté para definir
um plano de assistência à economia cafeeira. O resultado desse encontro foi resumido nas
quatro diretrizes estabelecidas:
1. Ficou acertado que o governo compraria e armazenaria o excedente da produ-
ção a fim de reduzir a oferta no mercado mundial.
2. Definiu-se que o governo financiaria essas compras com empréstimos interna-
cionais.
3. O pagamento dos juros e amortização desses empréstimos ocorreria com di-
nheiro proveniente de um novo imposto indexado em ouro sobre a exportação
do café.
4. Que os governos estaduais das regiões produtoras desestimulariam a abertura
de novas áreas de produção a fim de conter o aumento de oferta.

O acordo demonstrou a força dos cafeicultores e fez com esse acordo vigorasse
até a grande crise de 1929. A efetividade do sistema matinha o preço do café sempre alto,
mas isso ocasionava um outro problema constante, a lucratividade alta atraía cada vez
mais investimentos em produção que, por consequência, aumentavam cada vez mais a
produção. Apesar do Convênio de Taubaté ter estabelecido que uma das medidas era coibir
a criação de novas lavouras na prática, tal medida era impossível de ser cumprida pelos
estados, pois estes não eram capazes de oferecer alternativas de investimento que se
equiparavam aos lucros obtidos com o café.
No fim da década de 20 a exportação era capaz de absorver apenas 2/3 da produ-
ção nacional. Os mecanismos de proteção criados pelos cafeicultores, como o de Taubaté,
eram tão eficientes que mantinham os preços sempre altos, isso atraía mais investidores.
Caliari e Bueno (2010) mencionam que a situação piorou depois de 1922, quando as novas
medidas de estímulo eliminaram as políticas (que não já eram ineficientes) de redução

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 76


da área plantada. Com isso, se produzia cada vez mais num círculo vicioso, que tornou
impraticável absorver 1/3 de uma produção tão grande.
A procura por café aumentava de maneira lenta e constante, mas não a ponto de
demandar tais volumes de produção durante a década de 20, mesmo com todo crescimento
da economia americana. Ficava evidente que todo café comprado e estocado pelo governo
não tinha grande valor, pois não havia mercado para tal, a partir de 1927 um grande volume
de capital privado vindo exterior começa a entrar no Brasil, da mesma maneira entravam
empréstimos para o governo para comprar a grande produção excedente.
Já passando por uma crise interna causada pela superprodução de café, o Brasil e
o mundo são atingidos pela Depressão de 1929. Com ela todo o capital privado que tinha
ingressado no Brasil desapareceu, levando todas as reservas em ouro obtidas através
de empréstimos que davam lastro ao dinheiro. O país encontrava-se endividado e sem
reservas, toda essa crise resultou na Revolução de 1930.

SAIBA MAIS
Você sabe o que é Balança Comercial e para que ela serve? E o que significa superávit
e déficit na balança comercial, você sabe?
Balança comercial é um registro econômico que representa as importações e exporta-
ções de bens entre os países. Dizemos que a balança comercial de um determinado
país está com superávit quando ele exporta mais do que importa. Quando o país importa
mais do que exporta, dizemos que a balança comercial está com déficit, negativa ou
desfavorável.

Fonte: a autora.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 77


2.1 Mecanismos de Defesa e a Crise de 1929

Em meio à crise mundial, a produção de café se encontrava em altos níveis e


continuava crescendo devido às grandes plantações de 1927-1928. Porém, segundo Fur-
tado (2007), era impossível obter crédito no exterior para financiar a retenção de novos
estoques, pois o mercado internacional de capitais se encontrava em profunda depressão e
o crédito do governo havia desaparecido com o fim das reservas. Nesse contexto, não seria
justo abandonar os cafezais e, então, a classe dirigente cafeeira optou pela baixa no preço
do produto, sendo que todos juntos assumiriam a perda.
A estratégia lógica encontrada foi a da destruição dos excedentes de produção,
como já vimos, pois a demanda se mantinha menor do que a oferta. Além disso, os preços
do café baixavam seguidamente nos anos 30, enquanto outros produtos primários tendiam
a aumentar. As estratégias que o Brasil adotava foram consideradas eficientes, chegando
a ser melhores do que as de países mais avançados. Segundo Sitima (2014), a renda
nacional em 1933 já dava sinais de recuperação, enquanto que nos EUA os sinais de
melhoras só começaram a aparecer em 1934.
Furtado (2007) explica, em sua obra, como funcionava o mecanismo clássico de
defesa através da taxa cambial. A acumulação de estoques de 1929, a ligeira liquidação das
reservas metálicas brasileiras e as precárias perspectivas de financiamento das grandes
safras previstas para o futuro aceleraram a queda do preço internacional do café, que havia
começado com a de todos os produtos primários em fins de 1929.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 78


Essa queda assumiu proporções catastróficas, pois, de setembro de 1929 a
esse mesmo mês de 1931, a baixa foi de 22,5 centavos de dólar por libra para
8 centavos. Dadas as características da procura do café, cujo consumo não
baixa durante as depressões nos países de elevadas rendas, essa tremenda
redução de preços teria sido inconcebível sem a situação especial que se
havia criado do lado da oferta. Basta ter em conta que o preço médio pago
pelo consumidor norte-americano, entre 1929 e 1931, baixou apenas de 47,9
para 32,8 centavos por libra (FURTADO, 2005, p. 184).

Furtado (2007) afirma que o preço do café era dado por fatores da oferta e não da
procura, uma vez que ele observa que os preços, durante a década de 30, se mantiveram
sem variações, apesar da recuperação dos países industrializados. Além disso, o consumo
de café por esses países também se manteve constante.
A garantia do preço mínimo de compra do café era ao mesmo tempo garantia de
manutenção da taxa de emprego no setor cafeeiro e nos setores ligados a este. Grandes
colheitas evitavam a queda da renda no setor, mesmo com a desvalorização da moeda
nacional. Esses dois fatores, combinados, evitavam pressões de desemprego em cenários
de preços em queda, como foi entre 1931 e 1939. A política de defesa do setor cafeeiro fun-
cionou como um verdadeiro programa de fomento da renda nacional anticíclica e colaborou
para amenizar as quedas de inversões da economia brasileira no começo da década de 30.
Em 1933, período de maior colheita, por exemplo, as receitas brasileiras foram de 1 milhão
de contos, mas, por conta dos estoques de café, que somavam 1,1 milhão de contos, o
total foi de 2,1 milhões, valor próximo aos 2,3 milhão de 1929. Sendo assim, Furtado (2007)
conclui que a recuperação da crise internacional se deu por esses fatores internos.

REFLITA

Será que os estímulos oferecidos pelo governo para a produção de café beneficiaram ou
prejudicaram a economia brasileira no final do século XIX, início do século XX?

Fonte: a autora.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 79


3 AS RAÍZES DA INDUSTRIALIZAÇÃO

O Brasil já criava sua indústria em pequena escala desde o início do século XIX. Sua
tática era fabricar para consumo doméstico aqueles produtos cujos custos eram inferiores
às importações concorrentes. Em geral, eram produtos cujo valor era baixo proporcional-
mente ao seu peso – tornando o preço das importações particularmente exorbitante em
relação ao seu verdadeiro valor. Sabão, materiais de construção e bebidas foram os princi-
pais exemplos. Os têxteis eram outra área para a industrialização precoce, uma vez que o
equipamento de capital necessário era relativamente barato para importação. A maioria dos
bens de capital e produtos intensivos em tecnologia – como trilhos de trem, locomotivas,
turbinas e artilharia de campo – continuaram sendo importados por muitos anos, pagos
pelos ganhos de exportação, principalmente de café e borracha natural.
A industrialização ocorreu em grande parte sem o apoio do governo até 1930, a
maioria da elite política acreditava que a industrialização era contra os interesses econômi-
cos de longo prazo do Brasil. Aqui eles estavam repetindo as doutrinas de seus credores na
Europa e na América do Norte, que ainda eram instruídas nas doutrinas do liberalismo de
Manchester – isto é, uma crença na economia de mercado livre, com intervenção mínima
do governo e uma dependência do livre comércio.
As tarifas brasileiras, por exemplo, tinham como objetivo principal produzir receitas
e não proteger a indústria doméstica (aproximadamente 70% da receita federal vinha de
impostos de importação entre 1890 e 1910). Segundo Villela (2009), durante a Primeira
República o comércio internacional teve um peso significativo para a economia brasileira.
O total de exportações e importações chegou a atingir 36% do PIB no ano de 1895, com
a média de 28% entre 1889 e 1930. Ainda segundo Villela (2009), em termos absolutos,
as exportações partiram de 28,5 milhões de libras, em 1889 e alcançaram 65,7 milhões de
libras, em 1930, com um pico de 117,4 milhões de libras, em 1919. Já as importações au-
mentaram de 24 milhões de libras para 53,6 milhões de libras entre 1889 e 1930, atingindo
seu maior valor em 1928 (97,4 milhões de libras).
Além da crença liberal, não havia uma forte burguesia industrial para pressionar
suas reivindicações junto aos políticos. Mesmo quando presidentes como Floriano Peixoto,
na década de 1890, ou Afonso Pena, no início do século XX, se engajavam em retórica
pró-indústria, estavam longe de estar prontos para adotar medidas abrangentes, como, por
exemplo, uma política monetária forte, necessária para efetivação de seus discursos.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 80


Apesar das crenças doutrinárias, no entanto, a industrialização prosseguiu, ainda
que modestamente, em grande parte como consequência não intencional de outras políti-
cas governamentais (especialmente sobre taxas de câmbio), as quais, embora usualmente
projetadas para proteger o setor de exportação de bens primários, ajudavam as indústrias
domésticas. É verdade que uma tarifa ostensivamente alta foi instituída em 1895, seguida
por uma tarifa mais modesta em 1900, que permaneceu em vigor até 1930. Mas as tarifas
nunca foram destinadas a pôr em risco a “vocação agrícola e cultural” do Brasil, como
gostavam os cafeicultores e seus apologistas. Uma política ambiciosa de industrialização
exigiria muito mais do que tarifas mais altas. Exigiria amplo crédito, um sistema financeiro
eficiente, incentivos à importação de bens de capital e aumento do investimento em capital
humano (especialmente educação) e infraestrutura. Uma política tão abrangente, que a
Alemanha e o Japão estavam seguindo, nunca foi um questionamento para a grande maio-
ria da elite brasileira. No entanto, em 1910, São Paulo, por exemplo, estava no caminho
que o tornaria, na década de 60, o maior parque industrial do mundo em desenvolvimento.
Como líder em modernização, São Paulo também está na vanguarda, medida por
esses critérios de modernização, como educação pública, instalações sanitárias e transpor-
te. Isso deu aos paulistas um senso de superioridade em relação ao resto do Brasil. De fato,
porém, outras partes do Brasil estavam progredindo lentamente na frente da industrializa-
ção, principalmente os estados do Centro-Sul, do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e algumas
regiões fora dessa área, principalmente a Bahia, no Nordeste.
Cano (2012) considera que a década de 20 representa para o Brasil um processo
de transição econômica e social, a partir do chamado modelo primário exportador, rumo a
novo padrão de acumulação – o do crescimento para dentro –, que seria desencadeado a
partir da Crise de 1929 e da Revolução de 1930.
Até então, o setor exportador era o centro dinâmico da economia; adicionalmente,
apresentava alta rentabilidade e especializava-se em um número reduzido de produtos,
tendo como característica o plantation (latifúndio, mão de obra escrava, monocultura e ex-
portação). A atividade industrial reduzida, juntamente com o setor agrícola de subsistência,
era incapaz de dar à economia interna um dinamismo próprio.
As razões que levaram à substituição desse modelo pelo “modelo de industria-
lização por substituição de importações” decorrem da Crise norte americana de 1929 e
coincide com o colapso da economia cafeeira, decorrente da ocorrência de uma sequência
de supersafras ao final da década de 1920/início de 1930, provocando a queda de 2/3 dos
preços internacionais do produto.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 81


O novo modelo adotado de industrialização por substituição de importação, consis-
tia na produção interna de um bem antes importado. Setores industriais são desenvolvidos
especificamente para o atendimento do mercado interno, sem preocupação nenhuma com
exportação, e são protegidos da concorrência internacional através de medidas típicas de
proteção da indústria nacional.

SAIBA MAIS

Para melhor compreender o processo de industrialização brasileiro, leia o artigo intitula-


do: O processo de industrialização no Brasil: um retrospecto a partir da dinâmica
da dualidade brasileira

Ana Paula Camilo Pereira, Márcio Rogério Silveira

O artigo é composto de algumas considerações sobre o processo de industrialização


brasileira. Para isso, contextualizamos a industrialização e organização do espaço bra-
sileiro em articulação com as fases expansivas e recessivas da economia mundial, a
partir dos ciclos de Kondratieff e de Juglar, bem como dos pactos de poder estabeleci-
dos no País. Consideramos, para tanto, as análises de Ignácio Rangel sobre a econo-
mia brasileira, tendo como parâmetro a dinâmica da dualidade brasileira e a proposta
de retomada do crescimento econômico a partir do planejamento e do princípio da con-
cessão de serviços públicos à iniciativa privada, ou seja, a transferência de recursos
destinados às empresas que dispõem de capacidade produtiva excedente para setores
estrangulados da economia e que necessitam de investimentos. Dessa forma, o artigo
analisa o contexto histórico e econômico do Brasil admitindo a evolução e o desenvolvi-
mento industrial, a atuação estatal e as repercussões atuais para a economia brasileira.

Fonte: Pereira, A. P. C.; Silveira, M. R. O processo de industrialização no Brasil: um retrospecto a partir da


dinâmica da dualidade brasileira. Revista Ensaios FEE. v. 31, n. 2, p. 321-344, dez. 2010. Disponível em:
https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/2229

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 82


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos ao longo desta unidade que a explosão na produção de café que causou
o boom da economia brasileira em meados do final do século XIX se transformou em um
problema no início do século XX, quando o mercado mundial de café teve um excesso
de oferta, principalmente por conta da superprodução brasileira. O lucro das exportações
declinou com a queda dos preços do café no exterior, um declínio que foi agravado por um
aumento desde 1898 no valor câmbio da moeda brasileira (devido ao aumento da entrada
de capital estrangeiro). Como o Brasil era de longe o maior produtor mundial de café (75%
da produção mundial em 1900-1901), era natural que os brasileiros usassem seu poder de
mercado para tentar manipular o preço. O termo usado para isso era “valorização”.
Vimos que os cafeicultores estabeleceram sistemas de estímulo à cafeicultura, mas
esses mesmos estímulos forçaram uma superprodução e que, com a crise de 1929, ficou
insustentável manter o preço alto como estava. Vimos também como a crise causou a
fuga de capital estrangeiro e o fim das reservas e como as novas políticas de estímulo à
cafeicultura ajudaram o país a se recuperar da crise. Por fim, abordamos aspectos iniciais
sobre o processo de industrialização brasileiro e como nossa economia passou de um
modelo primário exportador rumo ao novo padrão de acumulação.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 83


LEITURA COMPLEMENTAR

A MODERNIDADE REPUBLICANA
Maria Tereza Chaves de Mello
Professora do Departamento de História da PUC/RJ
Resumo
A difusão de uma cultura democrática e científica no final do Império criou uma
disponibilidade mental e afetiva à idéia de república no Brasil. Este termo, por sua vez,
permitiu aos contemporâneos experimentar o processo histórico, já que nele se congregava
uma oposição ao passado e a expectativa social de futuro.

Leia o artigo na íntegra em:


http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-77042009000100002&script=sci_arttext

DA DÉCADA DE 1920 À DE 1930: TRANSIÇÃO RUMO À CRISE E À INDUS-


TRIALIZAÇÃO NO BRASIL
Wilson Cano
Professor Titular do Instituto de Economia da Unicamp, São Paulo, Brasil
Resumo
O artigo discute a transição econômica e social pela qual passa o Brasil na década
de 1920, quando prevalecia o modelo primário exportador em direção a novo padrão de
acumulação, com a industrialização e a urbanização, iniciado após a “Crise de 1929” e
da Revolução de 1930. A análise das principais transformações econômicas e sociais é
acompanhada por um tópico que trata da importante – e controversa – questão teórica de
Base e Superestrutura, expondo algumas das limitações deste enfoque teórico.

Leia o artigo na íntegra em:


https://anpec.org.br/revista/vol13/vol13n3bp897_916.pdf

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 84


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: O Romance do Café
• Autor: Beatriz Garcia
• Editora: Alfa Ômega
• Sinopse: O Romance do Café, de Beatriz Garcia, resultado de
um trabalho que durou dez anos, é um livro histórico-literário, que
aborda a origem, a evolução da cafeicultura no Vale do Paraíba
fluminense e paulista, a Depressão Periférica, o Nordeste Pau-
listano e o Planalto Ocidental, Estado de São Paulo. Analisa a
importância econômica e sociocultural do ciclo dessa planta, que
sacudiu a estrutura da sociedade brasileira no limiar do século
XIX até os primeiros anos da Era Vargas, quando na conturbada
vida nacional ocorreram o processo de estatização da economia
brasileira e a crise agrícola, com a decadência da rubiácea, assim
como o fenômeno que hoje se repete: a queda do preço da terra.
Apaixonada pela terra, Beatriz Garcia envereda pelos caminhos
da geografia e do ecossistema das regiões abordadas antes do
período cafeicultor, para, em seguida, abordar o conteúdo socioe-
conômico, chegando à conclusão de que a agricultura monocul-
tora, como a do café, voltada para o comércio exterior, traz como
consequência grandes dificuldades para o País, que – segundo a
autora – necessita de “uma agricultura diversificada, voltada para
o mercado interno e externo, com o homem assentado à terra, com
uma agricultura viável, pois a terra não vale apenas pelo dinheiro,
mas, muito mais, pelo que produz. Afinal, terra é sempre terra!”
A Editora Alfa-Omega – coerente com seus 25 anos de luta por
um Brasil mais reflexivo – sente-se honrada ao lançar este livro
que se tornará imprescindível na biblioteca de quem se preocupa
com as pungentes questões brasileiras. Este livro, o segundo
lançamento de Beatriz Garcia, apresenta consistente bibliografia
sobre o período cafeeiro. Seu primeiro livro – Uma História de
Amor Entre-Guerras – recebeu o prêmio literário da Secretaria da
Cultura de Ribeirão Preto.

FILME/VÍDEO
• Título: Revolução de 30
• Ano: 1980
• Sinopse: Documentário que reúne mais de trinta documentários
e filmes de ficção, fotografias e registros sonoros mostrando os
momentos que antecederam o conflito, seu desenrolar e conse-
quências. Seu fio condutor é o documentário Pátria Redimida, rea-
lizado, na época, por João Batista Groff, com cenas filmadas em
zonas de combate: Itararé, Ribeira e Catiguá. Inclui comentários
críticos de Boris Fausto, Edgar Carone e Paulo Sérgio Pinheiro.
A trilha sonora traz antigas gravações de discursos e músicas
do período, algumas compostas especialmente para celebrar a
revolução: hinos a João Pessoa, a Miguel Costa e Juarez Távora.
Direção de Sylvio Back. Brasil, 1980.

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 85


WEB

Como o foco desta apostila foi o de abordar a formação econômica do Brasil, cabe
também destacarmos fatos históricos importantes para a compreensão e absorção do
conteúdo.

A seguir estão alguns fatos importantes para você pesquisar e conhecer mais!

♦♦ O Primeiro Reinado (1822 – 1831)


♦♦ Constituição de 1824
♦♦ Abdicação de Dom Pedro I
♦♦ O Período Regencial (1831 – 1840)
♦♦ Reformas institucionais
♦♦ O Segundo Reinado (1840 – 1889)
♦♦ Guerra do Paraguai
♦♦ Crise do Segundo Reinado
♦♦ A Primeira República (1889 – 1930)
♦♦ A Revolução de 1930

Conheça mais sobre o assunto lendo o livro:

FAUSTO, B. A História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1996.


Disponível em: https://mizanzuk.files.wordpress.com/2018/02/boris-fausto-historia-do-brasil.pdf

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 86


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BLOG DO ENEM. Revoltas coloniais nativistas do século XVIII - História Enem e vestibular.
2018. Disponível em: https://blogdoenem.com.br/revoltas-coloniais-nativistas-seculo-xviii/

BRASIL. Decreto nº 5.108, de 18 de dezembro de 1926. Altera o systema monetário e estabelece


medidas econômicas e financeiras. Rio de Janeiro, 1926. Disponível em: https://www2.camara.
leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-5108-18-dezembro-1926-564612-republicacao-88572-pl.
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UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 88


CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a),

Neste material observamos de que forma se deu a formação da economia brasileira


até os anos 30. Para tanto, abordamos como se deu a descoberta e o início da exploração
territorial brasileira. No início vimos também que as atividades extrativistas formavam a
única atividade econômica brasileira no início do período colonial. Vimos como a cobiça
por parte de outras nações europeias pelo território brasileiro forçou Portugal a colonizar o
Brasil e ocupar as terras descobertas. Aprendemos que a primeira estratégia de Portugal
foi a de estabelecer as capitanias hereditárias para a ocupação e exploração econômica
do território brasileiro. Porém vimos que esse modelo fracassou, o que forçou a coroa
portuguesa a estabelecer o Governo-geral, em que o estabelecimento de uma capital e a
presença de uma autoridade real transformaram o Brasil, de fato, em uma colônia e não
apenas uma simples área de exploração. Com isso, observamos o nascimento da indústria
açucareira, que foi uma das mais importantes atividades econômicas para o Brasil até o
final do século XVIII.
Destacamos também que o sucesso da indústria açucareira alimentou outras ati-
vidades a sua volta, como a pecuária. Observamos que a expulsão dos holandeses do
território brasileiro criou nas Antilhas e Caribe um outro polo produtor de açúcar que passou
a concorrer com o açúcar brasileiro, causando uma queda no preço do produto no mercado
internacional. Essa queda gerou uma mudança na dinâmica da economia nordestina, fa-
zendo aumentar a atividade de subsistência e causando uma desindustrialização da região.
Tudo isso associado a um aumento populacional que causou uma queda na renda per
capita, sendo que os efeitos dessa crise e o empobrecimento da população nordestina
podem ser sentidos até os dias de hoje.
Acompanhamos também, ao longo da apostila, o processo de descoberta e de
crescimento da mineração no final do século XVII. Vimos então como essa descoberta
alterou o fluxo de mão-de-obra escrava no Brasil, trazendo para Minas Gerais muitos es-
cravos africanos que se encontravam nas lavouras açucareiras do nordeste. Esse processo
alterou o centro dinâmico da economia brasileira para o Sudeste. Porém a exploração

UNIDADE IV Economia de Transição para um Sistema Industrial 89


desenfreada e sustentada pela fartura de mão-de-obra escrava fez esgotar as jazidas já no
final do século XVIII, fazendo com que a agricultura voltasse a ser novamente a principal
fomentadora da economia brasileira.
Por fim, vimos como a chegada da família real portuguesa ao Brasil, fugindo de
guerras napoleônicas, mudou o status do Brasil de colônia para reino, dando início então
ao fim da era colonial. Vimos também, ao longo da apostila, como a crise do ouro e o
renascimento da agricultura, em especial com o aparecimento do café, levaram a um novo
impulso de crescimento da economia brasileira na primeira metade do século XIX, com o
Brasil já independente. Em seguida vimos como o sucesso da agricultura cafeeira gerou
uma carência de mão-de-obra, o que se agravou com as pressões abolicionistas europeias,
que, impulsionadas por novas ideologias e pensamentos religiosos, lutavam contra a es-
cravidão. Eis que surge a mão-de-obra assalariada, formada em sua maioria por imigrantes
que buscavam, no Brasil, novas oportunidades.
Finalmente, analisamos como o sucesso da indústria cafeeira, no final do sécu-
lo XIX, gerou um excesso de produção e de que maneira acordos estabelecidos entre
cafeicultores e governo brasileiro acabou por estimular ainda mais a produção, gerando,
junto com a crise de 1929, a chamada crise da economia cafeeira. Essa crise faz cair a
oligarquia cafeeira que comandava a política brasileira até então, com a revolução de 1930.
O Brasil passa então a focar em desenvolver sua atividade industrial, buscando modernizar
a economia do país.

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