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Econômica do Brasil
Professora Doutora
Ariane Maria Machado de Oliveira
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira
Diretor Administrativo
Eduardo Santini
UNIFATECIE Unidade 3
Web Designer Rua Pernambuco, 1.169,
Thiago Azenha Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102,
Saída para Nova Londrina
FICHA CATALOGRÁFICA Paranavaí-PR
FACULDADE DE TECNOLOGIA E (44) 3045 9898
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ.
Núcleo de Educação a Distância;
OLIVEIRA, Ariane. Maria Machado de. www.fatecie.edu.br
Formação Econômica do Brasil.
Ariane. Maria Machado de Oliveira.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 91 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira dos Santos. do site ShutterStock
AUTORA
Prezado(a) aluno(a), é com imenso prazer que lhe apresento nosso material de
estudos da disciplina de Formação Econômica do Brasil. Ao longo desta apostila você terá
um contato profundo com conteúdo de formação histórica, imprescindível para que você,
enquanto aluno(a), construa uma base cultural indispensável à expressão de um posiciona-
mento reflexivo, crítico e comparativo, acerca da formação econômica do Brasil. Ao final da
apostila você terá desenvolvido competências e habilidades que lhe permitirão compreender
as diferentes fases da economia brasileira e seu processo de formação econômica, desde a
economia colonial, passando pela formação do estado nacional, pela economia escravista,
pelo início da formação do capital industrial, até a crise de 1929 e a revolução de 1930.
Na Unidade I começaremos nosso bate-papo analisando o contexto mundial diante
do período chamado Grandes Navegações. Serão apresentados a você os principais as-
pectos da empresa agrícola no período colonial e como essa obteve êxito. O processo de
colonização e o estabelecimento de colônias espanholas e portuguesas serão debatidos
no intuito de demonstrar sua importância no processo de ocupação territorial brasileiro e
suas consequências econômicas. O processo de desenvolvimento da indústria açucareira
e o uso da mão-de-obra escrava será também tema central desta unidade, para, por fim,
abordarmos a pecuária como atividade de subsistência.
Já na Unidade II você irá saber mais sobre a expansão da colonização. Primeira-
mente você conhecerá mais sobre o funcionamento do sistema administrativo na colônia,
para, em seguida, compreender o processo de formação do complexo econômico nordesti-
no. Em seguida veremos a respeito do período chamado era do ouro, quando a descoberta
de metais preciosos fez deslocar o centro dinâmico da economia do nordeste para a região
centro-sul. Ainda nesta unidade será abordado o renascimento da agricultura e o fim da era
colonial.
Na sequência, na Unidade III falaremos a respeito do processo de transição da
economia escravista para a economia de trabalho assalariado. O primeiro assunto da uni-
dade será o chamado passivo colonial, que foram as dívidas deixadas por Portugal que
acabaram por gerar crise financeira e instabilidade política. Veremos então o que levou ao
declínio da renda na primeira metade do Século XIX, bem como os problemas ocasiona-
dos pela falta de mão-de-obra e a pressão abolicionista internacional. Quanto à segunda
metade do século XIX, veremos como a transição para a economia assalariada levou a um
crescimento e à geração de um fluxo de renda. A atividade cafeeira surge nessa unidade,
como destaque no processo de avanço econômico.
Em nossa Unidade IV vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina, com aspectos
da transição para o sistema industrial. Primeiramente, veremos como a crise cafeeira preju-
dicou o processo de desenvolvimento da economia brasileira e quais foram os mecanismos
de defesa adotados. A crise de 1929, que levou ao período chamado de Grande Depressão,
também será vista nesta unidade. Por fim, veremos como se deu o processo de transição
da economia brasileira para os primeiros sinais de industrialização.
Com tudo isso que veremos, poderemos interpretar e analisar a evolução da eco-
nomia brasileira, centradas nas transformações ocorridas na estrutura econômica do país
entre o período colonial até o final dos anos de 1930. Convido você a mergulhar no processo
de formação da economia brasileira, para que possa compreender como chegamos onde
estamos nos dias de hoje.
Desejo sucesso profissional e pessoal para você.
UNIDADE I....................................................................................................... 7
Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das
Grandes Navegações e Ocupação Territorial
UNIDADE II.................................................................................................... 28
Expansão da Colonização
UNIDADE III................................................................................................... 53
Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
UNIDADE IV................................................................................................... 71
Economia de Transição para um Sistema Industrial
UNIDADE I
Contextualização Mundial – O Mundo
Durante o Período das Grandes
Navegações e Ocupação Territorial
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
Plano de Estudo:
● Grandes navegações e ocupação territorial do continente americano;
● O processo de ocupação territorial brasileiro;
● Fatores de êxito da empresa agrícola;
● Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas;
● As Colônias de Povoamento do Hemisfério Norte;
● Economia Escravista de Agricultura Tropical;
● Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira;
● Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária.
Objetivo de Aprendizagem:
● Fornecer subsídios necessários aos alunos para a montagem de um referencial
teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na formação
socioeconômica brasileira até o período de predominância do capitalismo industrial.
7
INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) aluno(a)! Dando início a nossa primeira unidade da disciplina de Forma-
ção Econômica do Brasil, abordaremos questões que nos levem a compreender o mundo
durante o período das grandes navegações e como se deram as ocupações territoriais. As
grandes viagens marítimas feitas pelos europeus, no final do século XV, nos despertam in-
teresse e curiosidade quanto aos métodos e desafios enfrentados pelos navegadores, que,
mesmo com pouca tecnologia e ferramentas ainda primitivas, enfrentaram o mar, ainda em
parte desconhecido, movidos por questões econômicas, políticas, religiosas e até mesmo
pelo fascínio que ele despertava.
Além de abordarmos alguns aspectos do período das grandes navegações, vamos
buscar compreender como se deu o processo de povoamento do hemisfério norte, pas-
sando pelas colônias espanholas e portuguesas, pelo período da economia escravista de
agricultura tropical, pelo processo de capitalização e nível de renda na colônia açucareira e
sua projeção até a pecuária.
A primeira unidade apresentará, então, inicialmente uma análise do período que
vai do pré-colonial a meados do século XVI, abordando o processo de ocupação territorial
das Américas em busca de compreender como se deu a evolução econômica do Brasil
pré-colonial ao período colonial. Em seguida, poderemos constatar, ao longo da unidade,
que o início do período colonial foi marcado pelo estabelecimento de colônias portuguesas
de exploração, que tiveram o açúcar como principal produto durante décadas, e mão-de-
-obra escrava. Por fim, buscaremos compreender de que maneira a indústria açucareira
influenciou no surgimento da pecuária.
Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o sis-
tema político e administrativo na colônia, formação do complexo econômico nordestino,
a mineração e a ocupação no centro-sul, o renascimento da agricultura até o fim da era
colonial, em 1822. Nas duas últimas unidades do livro, estudaremos, então, a economia de
transição para o trabalho assalariado, bem como para o sistema industrial.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 8
1 GRANDES NAVEGAÇÕES E A OCUPAÇÃO TERRITORIAL DO CONTINENTE AME-
RICANO
Monarcas e nobres competiam por poder e recursos na Europa do século XV. Uma
sociedade com pouca oferta de mão de obra, que ainda sofria perturbações econômicas e
sociais causadas pelas devastações da Peste Negra. Ao mesmo tempo, tratava-se de uma
sociedade que tinha desejo por objetos de luxo, iguarias exóticas e de ouro que permitisse
comprar esses artigos do Oriente com quem ela tinha um saldo comercial permanentemen-
te desfavorável (ELLIOT, 2004). O autor destaca ainda que a sociedade europeia se sentia
ameaçada em suas fronteiras orientais pela presença hostil do Islã e pelo avanço dos
turcos otomanos. Com o incremento do comércio interno durante o século XV e as invasões
Otomanas dificultando em certa parte o fluxo de mercadorias do Oriente, restou às nações
europeias buscar novas fronteiras para seu desenvolvimento econômico.
O desenvolvimento de novas técnicas de cartografia e o surgimento da bússola
forneceram aos navegadores ferramentas que possibilitaram a exploração do Atlântico.
Segundo Koshiba & Pereira (1996), instrumentos de navegação, como embarcações mais
resistentes e modernas, a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante etc.,
há muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse período, bastante divulgados entre os
europeus e aperfeiçoados por eles.
Esse período ficou conhecido como Expansão Comercial Europeia e deu início às
grandes navegações. Países como Portugal e Espanha se lançaram ao mar em busca de
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 9
novas riquezas e nesse processo descobriram as Américas. Segundo Di Carlo (2015), tal
feito acabou inserindo o reino espanhol no processo de expansão marítimo-comercial que,
desde o início daquele século, já havia propiciado significativas conquistas para o Império
português ao longo de todo século XV.
O clima de disputa entre portugueses e espanhóis se acirrou com a ascensão dos
espanhóis na exploração de novas terras. Nesse contexto, o papa Alexandre VI assinou,
em 1493, a Bula Inter Coetera, que buscava estabelecer os limites de exploração colonial
entre as duas nações, evitando, assim, um conflito de maiores proporções. Segundo Pinto
(1979), Portugal buscava garantir primeiramente seu monopólio na costa africana e a Es-
panha preocupava-se em legitimar a exploração nas terras localizadas a oeste.
No ano de 1494, o rei português Dom João II exigiu a revisão do primeiro acordo
assinado pelo papa Alexandre VI, pois, segundo ele, tal divisão não satisfazia os interesses
lusitanos. Alguns historiadores relatam que havia fortes indícios de que os portugueses
tinham conhecimento de outras terras localizadas na porção sul do continente descoberto,
o que veio a ser confirmado por documentos encontrados séculos mais tarde. Para evitar
o desgaste de um conflito militar, os espanhóis aceitaram a revisão dos acordos com uma
nova intermediação do papa.
Pouco tempo depois do Tratado de Tordesilhas (1494) ser assinado, nações eu-
ropeias incipientes no processo de expansão marítima, questionavam sua legitimidade,
por ser um acordo restrito aos países ibéricos (Portugal e Espanha). O sucesso de na-
vegadores como Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral forneceu as duas nações,
Portugal e Espanha, terras a serem exploradas. A descoberta das novas terras não gerou,
no entanto, uma ação imediata das duas nações no intuito de colonizar os territórios, os
portugueses, por exemplo, não ocuparam imediatamente o extenso território de que tinham
tomado posse.
Segundo Prado Júnior (1981), até quase meados do século XVI, portugueses
e franceses traficavam ativamente na costa brasileira o pau-brasil. Era uma exploração
rudimentar que não deixou traços apreciáveis, a não ser na destruição impiedosa e em
larga escala das florestas nativas de onde se extraía a preciosa madeira. Não se criaram
estabelecimentos fixos e definitivos. Limitaram-se a organizar algumas expedições e a
erguer construções precárias em alguns pontos do litoral, as feitorias, para organizar a
extração e o embarque de pau-brasil para a Europa (BERNAND; GRUZINSKI, 1997). Este
foi o primeiro produto explorado em nosso território.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 10
Para darmos sequência ao nosso estudo, é importante que você compreenda como
se deu o processo de evolução da economia brasileira, analisando a Tabela 1.
Fonte: a autora.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 11
executar tal plano, Portugal envia ao Brasil Martim Afonso de Sousa, para fundar a primeira
colônia de exploração, em 1530.
Para proteger a extensa costa brasileira de outros povos europeus que desembarca-
vam no Brasil, a coroa portuguesa implantou, em 1534, o sistema de capitanias hereditárias.
Para Prado Júnior (1981), o plano, em suas linhas gerais, consistia no seguinte: dividiu-se
a costa brasileira (o interior, por enquanto, era para todos os efeitos desconhecido) em
doze setores lineares, com extensões que variavam entre 30 e 100 léguas. Tratava-se de
um sistema no qual as terras eram cedidas a donatários, pessoas de confiança do rei de
Portugal, que se comprometiam a povoar a terra com portugueses e fomentar a atividade
econômica.
Mesgravis (2015) destaca que as obrigações e direitos dos donatários para com
a Coroa estavam definidos em um documento chamado Regimento, que acompanhava a
Carta de Doação assinada pelo rei. Tal documento preservava os privilégios do rei, ou seja,
a Coroa mantinha a autoridade final sobre todos os assuntos coloniais e o donatário tinha
obrigações militares e econômicas.
REFLITA
Você sabia que nesse sistema, os donatários podiam distribuir lotes de terras denomina-
dos sesmarias, criar vilas, cobrar tributos e escravizar indígenas? Em troca eram obriga-
dos a pagar ao governo português um décimo de tudo o que produzissem e ganhassem.
Na realidade, as capitanias pertenciam ao rei e não aos donatários, porém eram heredi-
tárias, pois passavam de pai para filho.
Fonte: a autora.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 12
Segundo Nieuhof (1981), eram 15 capitanias em que o território brasileiro foi dividido
e que foram doadas para 12 donatários, sendo que alguns receberam mais de uma. Eram
elas: Maranhão (dois quinhões, isto é, duas porções), Ceará, Rio Grande, Itamaracá (mais
tarde recriada com o nome de Paraíba), Pernambuco, Baía de Todos-os-Santos, Ilhéus,
Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (dois quinhões, um dos quais, mais
tarde, foi rebatizado como Rio de Janeiro), Santo Amaro e Santana. Podemos observar
tal divisão por meio da Figura 1, que apresenta as capitanias definidas a partir da linha
imaginária do tratado de Tordesilhas.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 13
A falta de produtos de abastecimento, o clima e os frequentes ataques indígenas reagindo
contra a escravização e a invasão de suas terras dificultavam ainda mais o desenvolvimento
das capitanias hereditárias.
Segundo Mattos, Innocentini e Benelli (2012), apenas as capitanias de Pernambu-
co e de São Vicente se firmaram, com a produção açucareira e a criação de gado, e nelas
foram fundados povoados. Estabelecida em 1532 por Martim Afonso de Sousa, dois anos
antes até de a capitania ser criada e ele se tornar seu donatário, São Vicente foi a primeira
cidade fundada no Brasil.
Ao constatarem que o sistema de capitanias não estava alcançando seu propósito,
em 1549 Portugal implanta uma outra forma de governo, que centralizava as decisões
políticas e econômicas. No chamado governo-geral a coroa portuguesa passa, então, a
retomar o controle sobre as capitanias, dando origem às províncias, que passaram a cons-
tituir os atuais estados brasileiros.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 14
1.2 Fatores do Êxito da Empresa Agrícola
Quase 30 anos após a descoberta de Pedro Álvares Cabral o Brasil ainda desper-
tava pouco interesse em Portugal, que se concentrava no comércio de especiarias vindas
da Índia. A redução do comércio com as Índias coincidiu com os ataques que passaram a
acontecer na costa Brasil. O surgimento da empresa agrícola açucareira vem da necessida-
de de Portugal financiar a defesa dos novos territórios. Ao contrário da Espanha que obteve
resultados imediatos com o ouro e a prata, Portugal dependia do sucesso das empresas
coloniais para a ocupação e financiamento da defesa das áreas. Os fatores de sucesso
estão relacionados com uma grande demanda por açúcar vindo da Europa, e parcerias com
nações como Holanda, que dominavam toda navegação comercial da época.
Segundo Furtado (2007), um conjunto de fatores particularmente favoráveis tomou
possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola europeia. Os portugueses
haviam já iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente gran-
de, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu:
o açúcar. Essa experiência resultou ser de enorme importância, pois, além de permitir a
solução dos problemas técnicos relacionados com a produção do açúcar, fomentou o de-
senvolvimento, em Portugal, da indústria de equipamentos para os engenhos açucareiros.
Esse conhecimento foi preponderante para a montagem dos novos engenhos na colônia,
bem como para a produção de todo o maquinário necessário.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 15
É importante salientar que os esforços iniciais da coroa portuguesa foram pre-
ponderantes para o sucesso da empresa agrícola. Portugal reconhecia que a ocupação
e torná-los viáveis economicamente eram as únicas maneiras de garantir tais territórios.
Outro fator que deve ser observado é a exploração de escravos, no princípio nativos e
posteriormente vindos da África, que forneceram a mão-de-obra para os engenhos e que,
sendo não remunerada, viabilizava e aumentava em muito a lucratividade do negócio.
Todavia de nada adiantava produzir muito açúcar e não ter mercados para escoar
tal produto. Inicialmente a superprodução gerou uma queda de preço no mercado interna-
cional, tendo em vista a dificuldade de encontrar mercados para consumir tais volumes.
Nesse ponto, os holandeses foram fundamentais, pois já dominavam o comércio dentro da
Europa e conseguiram os mercados que Portugal necessitava para o seu produto. Segundo
Furtado (2007), os holandeses contribuíram não somente com sua experiência comercial.
Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países Baixos.
Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses não se limitaram a financiar
a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que capitais flamengos participaram
no financiamento das instalações produtivas no Brasil, bem como no da importação da
mão-de-obra escrava.
O êxito da empresa agrícola açucareira foi o que proporcionou aos portugueses
se fixar nas longas extensões de terra que possuíam nas Américas, de tal maneira que no
século seguinte, quando o Tratado de Tordesilhas passou a ser mais fortemente questiona-
do por outras nações, Portugal já estava fixado de tal maneira nestas áreas que dificultava
muito possíveis invasões.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 16
SAIBA MAIS
Para mais informações leia: FERLINI, V. L. A. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1994.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 17
1.3 Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 18
colônias espanholas tivessem se concentrado também na produção de açúcar e gerado
uma concorrência para as colônias portuguesas isso poderia ter um impacto muito profundo
no empreendimento português.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 19
escrava. O aumento da produção ocasionou também redução no preço de tais produtos
no mercado internacional, o que gerou uma crise e impactou diretamente no modelo de
colonização dessa região. A partir desse momento o Brasil passa também a ser impactado,
o modelo inicial de colonização do Caribe e Antilhas com pequenas propriedades garan-
tia ao Brasil quase que um monopólio na produção do açúcar, que dependia de grandes
propriedades para ser produzido. Com as novas grandes propriedades, que utilizavam
mão-de-obra escrava, viabilizou-se a produção de açúcar no Caribe e Antilhas.
Um fator que acelerou este processo foi a expulsão dos holandeses do território
brasileiro em Pernambuco, detentores de técnicas e equipamentos para a produção. Após
a expulsão eles preferiram se associar a ingleses e franceses já instalados a montarem
suas próprias propriedades. Dessa maneira, apenas uma década após a expulsão dos ho-
landeses do Brasil uma pujante economia açucareira se estabeleceu na região. Isto gerou
uma outra consequência, que foi a migração dos povos de origem europeia, tanto ingleses
quanto franceses, para dar lugar aos escravos, que foram em sua maioria para colônias
no Hemisfério Norte, que, como citamos foram inicialmente um fracasso, porém com o
aumento da população o mercado interno se fortaleceu, se tornando quase auto suficiente
e dependendo minimamente de importações.
A recente monocultura açucareira estabelecida nas Ilhas do Caribe fez com que
alguns produtos agrícolas deixassem de ser produzidos e passassem a ser importados.
Isso beneficiou as colônias da América do Norte, que passaram a fornecer tais suprimentos.
Mas não eram só de suprimentos básicos que necessitavam as Ilhas, era preciso madeira
para encaixotar o açúcar, bem como animais para mover as moendas dos engenhos etc.
Para fazer o transporte de todas estas mercadorias entre América do Norte e Caribe eram
necessários muitos navios e isso fez florescer uma indústria naval no Norte. Tudo isso
fortaleceu a região que detinha um forte mercado interno e que ainda possuía um grande
cliente nas Antilhas e Caribe para as suas exportações.
Com isso inicia-se a terceira etapa da exploração das Américas. Na primeira etapa
temos viagens extrativistas se utilizando de mão-de-obra nativa, visando metais preciosos
e produtos como o Pau-Brasil, em segundo momento se estabelecem grandes empresas
agrícolas, utilizando força de trabalho escrava importada. Já na terceira etapa, sobretudo
no Hemisfério Norte, temos o surgimento de uma economia mais próxima do que era a
economia europeia, focada primeiramente no mercado interno e sem uma separação clara
entre as atividades para exportação e para o mercado interno.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 20
2 ECONOMIA ESCRAVISTA DE AGRICULTURA TROPICAL
Encontrar toda força de trabalho necessária para tocar a colonização foi o grande
problema encontrado pelos colonos portugueses no início. O clima hostil para os padrões
europeus, as condições precárias e todas as incertezas ligadas a tal aventura afugentava
um número maior de portugueses. Dentro desse cenário os colonos utilizaram como primei-
ra alternativa a captura e escravização de nativos.
Essa atividade foi tão importante que algumas comunidades tinham como principal
atividade econômica a captura e comercialização de indígenas. Os nativos tiveram papel
fundamental nessa primeira etapa, auxiliando na instalação dos engenhos e construindo
as bases do que viria a ser a indústria açucareira no Brasil. Os escravos africanos são
introduzidos posteriormente em um momento em que os engenhos já funcionavam e eram
capazes de arcar a importação e compra de escravos.
Prado Júnior (1981) cita que o processo de substituição do índio pelo negro pro-
longou-se até o fim da era colonial. Contra o escravo negro havia um argumento muito
forte: seu custo. Não tanto pelo preço pago na África, mas em consequência da grande
mortalidade a bordo dos navios que faziam o transporte. Mal alimentados, acumulados de
forma a haver um máximo de aproveitamento de espaço, suportando longas semanas de
confinamento e as piores condições higiênicas, somente uma parte dos cativos alcançavam
seu destino. Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil, destes
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 21
muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi, assim, sempre muito elevado, e
somente as regiões mais ricas e florescentes podiam suportá-lo.
Essa estrutura de agricultura tocada por escravos foi a base do início da colonização
do Brasil. Com mão-de-obra sem custos de salário e em grande quantidade, era possível
operar as fazendas e os engenhos que dependiam de um número alto de funcionários
e o não pagamento de salários maximizava ainda mais os lucros e tornava a atividade
altamente rentável.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 22
REFLITA
Fonte: a autora.
Nas palavras de Furtado (2007), é óbvio que os recursos advindos do açúcar não
eram utilizados dentro da colônia, onde a atividade econômica não-açucareira absorvia
ínfimos capitais. O autor supõe então que parte do capital investido na economia açuca-
reira pertencesse aos comerciantes europeus e que grande parte da renda gerada com
tal atividade retornava para a Europa, pois era advinda de um capital que pertencia aos
comerciantes europeus.
Sitima (2014) relata que a atividade açucareira tinha dimensões suficientes para in-
fluenciar o desenvolvimento de outras regiões da colônia, porém esse potencial sempre foi
desviado para o exterior por decisões políticas de evitar uma concorrência com o mercado
metropolitano.
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 23
SAIBA MAIS
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 25
LEITURA COMPLEMENTAR
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 26
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: História do Brasil Colônia
Autor: Laima Mesgravis
Editora: Contexto
Sinopse: Escravidão, exploração colonial, choque de culturas,
pau-brasil, cana-de-açúcar, minas de ouro, bandeirantes, jesuí-
tas... São muitos os temas associados ao Brasil no período colo-
nial. Todos eles estão presentes neste livro, pequeno apenas em
extensão, uma vez que é rico em informações e interpretações. A
historiadora Laima Mesgravis, da USP, consegue a proeza de ser
sucinta e abrangente, utilizando como base textos de cronistas,
religiosos e autoridades da época, além de trabalhos históricos
produzidos nos séculos XX e XXI. O leitor atento ficará surpreso ao
encontrar, já na Colônia, traços da diversidade do povo brasileiro,
assim como a base de nosso sistema hierárquico. É no passado
colonial que podemos encontrar os melhores e piores traços da
nossa cultura. Obra destinada a professores e estudantes da área,
assim como a todos que se interessam pelas nossas raízes pro-
fundas.
FILME/VÍDEO
Título: Vermelho Brasil
Autor: Sylvain Archambault
Ano: 2014
Sinopse: A história da expedição de Villegagnon ao Brasil por
volta de 1555 e sua luta para criar uma colônia, a chamada França
Antártica, nas terras conquistadas pelos portugueses. Filmado
em Paraty, no Rio de Janeiro, o filme comete deslizes, entre eles,
ser falado em inglês (e não em francês, a língua dos invasores).
A brasileira Giselle Motta vive a índia Paraguaçu e Pietro Mário,
brasileiro de origem italiana, aparece em dois papéis: o de um
marinheiro e o de um francês que vive entre os índios. O ator por-
tuguês Joaquim de Almeida interpreta João da Silva, um lusitano já
perfeitamente integrado com os indígenas e que representa o seu
país colonizador.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6IAcEAV7hAM
UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 27
UNIDADE II
Expansão da Colonização
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
Plano de Estudo:
● Sistema Político e Administrativo colonial;
● O estabelecimento do Governo-Geral;
● Formação do complexo econômico nordestino;
● Expansão territorial;
● A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul;
● O Renascimento da Agricultura;
● O fim da era colonial;
● A independência do Brasil.
Objetivos de Aprendizagem:
● Contextualizar a evolução do sistema político e administrativo da colônia, desde as
capitanias hereditárias até a instauração do Governo-Geral;
● Estabelecer a importância da mineração no processo de ocupação no centro-sul e
a mudança do centro econômico do Nordeste para Minas Gerais;
● Fazer com o que o(a) aluno(a) compreenda como se deu o ressurgimento da
agricultura pós crise da mineração e como se deu o fim da era colonial.
28
INTRODUÇÃO
SAIBA MAIS
O rei João III reconheceu que a intervenção real era oportuna e necessária para
evitar o colapso do sistema de capitanias e a possível perda de seu império americano para
rivais estrangeiros. Em 1548 anunciou a nomeação de Tomé de Sousa como governador-
-geral residente da colônia. A capitania da Bahia também foi reivindicada como terra real.
Tomé de Sousa chegou ao Brasil em março de 1549 com uma poderosa frota de seis navios
e mais de 1.000 soldados.
Segundo Araújo (2000), Salvador surgiu com o foro de cidade – uma prerrogativa
exclusiva do rei de Portugal –, e a sua construção foi ordenada por D. João III em 1548, no
regimento dado a Tomé de Souza, que iniciou as obras da cidade. Também por determi-
nação regimental, Salvador foi erguida em outro lugar, no alto de uma colina e mais para
dentro da baía de Todos os Santos, onde hoje se encontra o Centro Histórico.
Embora algumas capitanias individuais tenham sobrevivido até o século XVIII, a
fundação de Salvador como capital da colônia e sede do novo governo central marcou a
afirmação direta e visível da autoridade real pela primeira vez no Brasil e, consequentemen-
te, significou o abandono do sistema de capitania como o modelo preferido da Coroa de
governo colonial. Na verdade, os donatários foram obrigados a abrir mão de seus poderes
exclusivos em relação à arrecadação de impostos, administração da justiça e defesa do
território.
O envio de reforços militares mostrou-se sensato, porque Sousa e seus suces-
sores, mais notavelmente Mem de Sá, que foi governador-geral de 1558 a 1572, tiveram
que combater as tentativas francesas de tomar posse do território brasileiro. Prado Júnior
(2012) relata que durante mais de dois séculos despejaram na América todo o resíduo das
lutas político-religiosas da Europa. A ameaça mais grave surgiu em 1555, quando uma frota
francesa comandada pelo almirante Nicolas Durand de Villegagnon entrou na Baía de Gua-
nabara e, em aliança com os índios Tamoios, fundou uma pequena comunidade conhecida
como “Antártica Francesa” na Ilha de Sergipe. O objetivo ostensivo era estabelecer um
refúgio para os Huguenotes franceses1. A resposta portuguesa ao empreendimento brasi-
leiro de Villegagnon foi intransigente. Após uma série de ataques das forças portuguesas a
partir de 1565, os franceses foram finalmente expulsos em 1567.
Operações militares dirigidas contra os franceses resultaram então no estabeleci-
mento de novos assentamentos portugueses ao longo do litoral brasileiro que se estende
1 Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França.
SAIBA MAIS
O que foi a União Ibérica, conhecida também como Dupla Monarquia?
A chamada União Ibérica ocorreu após a crise dinás-
tica iniciada com a morte do rei D. Sebastião de Por-
tugal, na famosa Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de
agosto de 1578. Com a debilidade do último dos Avis,
D. Enrique, e com a agressiva reclamação ao trono
feita pelo rei espanhol Felipe II (1555-1598), bem res-
paldado por seu exército sob o comando do duque
de Alba (1507-1582), tem início a maior “união de rei-
nos” da história moderna. Durante 60 anos, Portugal
e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica,
controlando, além das possessões europeias, gran-
des áreas ultramarinas na América, África e Ásia. As-
sim, nas primeiras duas décadas do século XVII o objetivo central da burocracia hispa-
no-lusa era assegurar a posse das imensas regiões de ultramar, nas quatro partes do
mundo conhecido, constantemente ameaçadas pelos concorrentes oceânicos: França,
Inglaterra e principalmente Holanda. No caso do Estado do Brasil essa política iria tra-
duzir-se na criação de novas unidades administrativas que desembocariam na criação
do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621.
Fonte: Cardoso (2011).
4 El dorado é uma antiga lenda indígena da época da colonização da América que atraiu muitos
aventureiros europeus. A lenda falava de uma cidade que foi toda feita de ouro maciço e puro.
SAIBA MAIS
A Inconfidência Mineira foi abordada por estudiosos de várias maneiras diferentes. Há
quem a defina como um movimento que buscava a liberdade da colônia portuguesa
frente à metrópole. Outros já esboçam contornos mais regionais atribuindo sua “quase”
eclosão ao descontentamento da população de Minas para com o excesso da carga
tributária imposta pelo governo português. Teremos ainda pesquisadores que tomam
os interesses particulares como propulsores do movimento. É fácil perceber que o tema
é, ainda hoje, polêmico, principalmente no que diz respeito ao papel de cada um dos
envolvidos.
Fonte: Almeida (s.d.).
Qual a importância da vinda da família real para o Brasil, em seu processo de indepen-
dência?
Para complementar seus estudos, acesse o canal “Brasil 500 anos” do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística que apresenta um breve panorama sobre o processo
de ocupação do território brasileiro, com ênfase nas contribuições prestadas por distintos
grupos étnicos.
Acesse: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf
Resumo
A leitura da formação territorial brasileira nos dois primeiros séculos de colonização
sempre esteve pautada nos tratados de fronteira e/ou nos ciclos econômicos, produzindo
a compreensão de que a sua principal característica foi uma ocupação filiforme e em ar-
quipélago. Torna-se necessário superar essa compreensão, uma vez que novos estudos
têm evidenciado intensa articulação política, econômica e social entre os primeiros núcleos
coloniais, entre esses com a metrópole, com a bacia do Rio da Prata e com África, num
processo de solidariedade espacial (territorial).
Palavras-chave: Formação territorial, Brasil Colônia, ocupação em arquipélago
LIVRO
• Título: Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)
• Autor: Lucas Figueiredo
• Editora: Amazon
• Sinopse: Lucas Figueiredo traz à vida, pela primeira vez, a
trajetória dura e demorada em direção à descoberta de nossas
riquezas minerais — e suas consequências. A América Portuguesa
estava entre as nove províncias gemológicas do mundo. Com um
solo impregnado de pedras preciosas, sobretudo, diamantes. Mas
foram mais de dois séculos até a Coroa ver algum sinal de riqueza.
E apenas a metade do tempo para dilapidar esses recursos. Em
cem anos, Portugal torrava mais de metade do metal precioso pro-
duzido no mundo naquele período. Uma sucessão de monarcas
perdulários, administradores corruptos e sonegadores de impostos
desfilam nas páginas de Boa Ventura com a familiaridade nascida
da boa pesquisa. Lucas, com vários Prêmios Esso na bagagem,
segue as pegadas fincadas nas picadas da mata por gerações
de aventureiros. E traça um painel da grande transformação
brasileira: estimulada pela corrida do ouro, a imigração contribuiu
para transformar uma colônia esquálida de 300 mil habitantes em
robusta colônia de 3,6 milhões. A busca pelo metal ajudou a ocu-
par e proteger as fronteiras do Brasil, a desenvolver a agricultura
e até mesmo as artes. Só uma coisa não restou desse período...
Seu principal protagonista: o ouro brasileiro. Pulverizado por toda
Europa.
FILME/VÍDEO
• Título: República Guarani
• Ano: 1982
• Sinopse: Através de imagens de arquivos e depoimentos de cé-
lebres historiadores das mais diversas nacionalidades e linhas de
pesquisa, Sylvio Back remonta os passos das missões jesuíticas
que aportaram no Brasil e na América do Sul no século dezessete
para compreender as formações e os costumes das antigas co-
munidades indígenas nativas que foram dizimadas pelo homem
branco.
• Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2lW528AXLKI
Plano de Estudo:
● Passivo Colonial - Crise financeira e instabilidade política;
● Declínio a longo prazo do nível de renda na primeira metade do século XIX;
● Economia cafeeira;
● Problemas de mão de obra;
● Nível de renda e ritmo de crescimento na segunda metade do século XIX;
● Fluxo de renda na economia de trabalho assalariado.
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o passivo colonial e o período de crise financeira;
● Abordar o surgimento da economia cafeeira e os problemas ocasionados pela falta
de mão-de-obra;
● Estabelecer a importância do rompimento do trabalho escravo e os incrementos de
renda do trabalho assalariado.
53
INTRODUÇÃO
Nesta unidade poderemos analisar o chamado passivo colonial que nada mais é
do que uma dívida externa portuguesa que foi transferida para o Brasil. Junto a isso, co-
nheceremos um pouco mais sobre a crise financeira enfrentada pelo Brasil e a instabilidade
política do início do Século XIX.
A estagnação nas exportações e os gargalos internos que impediam o Brasil de
alcançar progresso técnico e econômico serão analisados ao longo da unidade. O surgi-
mento da indústria cafeeira também será abordado, levantando aspectos importantes deste
ciclo econômico de destaque.
Outro ponto importante que será visto ao longo da unidade está relacionado ao
processo de transição da economia escravista para assalariada, o que veio a gerar maior
dinamismo para a economia, aumentando seu fluxo de renda. Veremos porque esse siste-
ma econômico voltado ao mercado externo, possibilitado pela geração de renda do trabalho
assalariado no mercado interno, acabou levando a um desequilíbrio externo.
Na próxima unidade veremos as causas dessa tendência ao desequilíbrio externo,
bem como a concentração de renda gerada. Em seguida estudaremos a crise cafeeira e
seus mecanismos de defesa, até a chegada da Grande Depressão e o início do processo
de industrialização brasileiro.
No fim do século XVIII e começo do século XIX, a Europa passava por uma grande
efervescência política e econômica, isso fortaleceu, de certa forma, os movimentos políticos
no Brasil, enquanto europeus resolviam seus problemas internos. De toda forma, tudo isso
também prolongou a instabilidade financeira que havia se iniciado com o começo da crise
do ouro. Essa crise iniciou-se por volta de 1785, quando as minas de ouro, após anos de
intensa mineração, começaram a se esgotar.
Outro ponto para o Brasil eram os acordos assinados em 1808 e 1810. A Abertura
dos Portos em 1808, assinado por D. João VI, em Salvador, depois de fugir de Portugal,
permitiu que outras nações pudessem fazer negócios diretamente com produtores bra-
sileiros e, assim, quebrava o monopólio português. Em 1810, o Tratado de Cooperação
e Amizade fortaleceu essa posição e ampliou benefícios dos ingleses, também mostrou
uma mudança de rumo em direção a uma política econômica mais liberal substituindo o
mercantilismo. Esses tratados retiraram poder de influência de Portugal sobre a colônia e
iniciaram o processo que culminou com a Independência.
Segundo Furtado (2007), esses acontecimentos, em uma perspectiva ampla, dei-
xam mais ou menos evidente que os privilégios concedidos à Inglaterra constituíram uma
consequência natural da forma como se processou a independência. Não houve pagamen-
A exaustão das minas de ouro e diamante na segunda metade de século XVIII tor-
nou a economia brasileira novamente dependente de exportações agrícolas, com algodão
e agora complementando com tabaco e açúcar. Em 1830, um novo produto havia surgido:
o café, uma exportação que abasteceria a economia exportadora do Brasil pelos próximos
140 anos. O café foi comercializado pela primeira vez com sucesso no final do século XVIII,
no Brasil, na província do Rio de Janeiro, onde o solo era altamente adaptável ao mato de
café. Nas décadas de 1830 e 1840, essa província se tornou o centro do cultivo de café,
com a cidade do Rio como centro de exportação. O Rio de Janeiro abrigava bancos, corre-
toras e docas que ligavam o Brasil ao mercado mundial de café na Europa Ocidental e na
América do Norte. Os escravos eram a principal fonte do trabalho necessário para plantar
os pés de café, cultivá-los e colher o que se tornariam os grãos de café. Alguns escravos
foram adquiridos do tráfico de escravos, que, embora tecnicamente ilegal desde 1826,
continuou até 1850. Outros foram comprados nas plantações de açúcar menos rentáveis,
especialmente no Nordeste.
Os solos da província do Rio de Janeiro foram progressivamente esgotados com
o cultivo intensivo de café, pois a topografia montanhosa ajudou a acelerar a erosão do
solo. Mas o Brasil não tinha escassez de terras não utilizadas (ou subutilizadas). Embora a
produção no Rio tenha permanecido alta, em meados do século XIX, o centro de cultivo de
café estava se movendo para o sul e oeste do Rio, espalhando-se por São Paulo e Minas
Gerais, onde o solo mostrou-se tão produtivo ou melhor que o solo do Rio.
A marcha do café para o sul e o rápido aumento da produção brasileira geraram
uma demanda crescente por mão-de-obra. Com o fim do comércio de escravos em 1850, os
produtores de café foram forçados a comprar de escravos dentro do Brasil. Isso criou uma
mudança demográfica para o Sudeste, semelhante (embora em menor escala) à mudança
do século XVIII em direção a Minas Gerais durante o boom da mineração. Os fazendeiros
nordestinos que venderam seus escravos receberam pagamento. Fato que não impediu os
políticos nordestinos de denunciarem a “perda” de sua força de trabalho que migrou para o
sul mais próspero.
Em 1830, o Brasil era a maior economia escravista do mundo, com mais escravos
do que pessoas livres. Mas a população escrava do Brasil não se sustentava, exigindo que
o Brasil dependesse fortemente das importações de escravos. Segundo Furtado (2007),
pela metade do século XIX, a força de trabalho da economia brasileira estava basicamente
constituída por uma massa de escravos que talvez não alcançasse 2 milhões de indivíduos.
O primeiro censo demográfico realizado em 1872 indicava que existiam, no Brasil, aproxi-
madamente 1,5 milhão de escravos. Considerando que no começo do século havia pouco
mais de 1 milhão de escravos no Brasil, e que nos primeiros 50 anos do século XIX se
importou muito provavelmente mais de meio milhão, conclui-se que a taxa de mortalidade
era superior à de natalidade.
Skidmore (1999) cita que havia basicamente três razões principais para essa
dependência brasileira da importação de mão-de-obra. Primeiro era que devido à sua
dependência histórica do tráfico de escravos, havia muito mais homens do que mulheres
escravas no Brasil. Segundo, os escravos brasileiros eram mantidos em condições de vida
tão sombrias que sua saúde era comprometida, reduzindo ainda mais a taxa de natalidade
dos escravos. E, por fim, a expectativa de vida de um brasileiro escravo era de apenas
dois terços da expectativa de um homem branco brasileiro, em contraste com os Estados
Unidos, no período escravista, em que um escravo chegava a alcançar 90% da expectativa
de vida de seus senhores.
Cabe destacar que qualquer empreendimento que se pretendesse realizar no Bra-
sil teria de enfrentar a inelasticidade da oferta de trabalho, sendo que a necessidade de
importações brasileiras de mão-de-obra no decorrer do século chegaram a ser três vezes
maiores do que as norte-americanas.
Os britânicos, como os outros colonos europeus do Novo Mundo, tinham, é claro, lu-
crado com a escravidão africana por séculos através de suas colônias de escravos na
América do Norte e no Caribe. Eles também lucraram com investimentos no comércio
de escravos em si. E foi um distinto político ou clérigo britânico que encontrou qualquer
lógica moral convincente contra a escravização antes do século XVIII. No final do século
XVIII, no entanto, a opinião pública britânica em geral havia se tornado abolicionista. As
ideias iluministas levaram a novas atitudes sobre às relações humanas, onde a redução
dos seres humanos ao status subumano para ganho econômico começou a despertar
oposição apaixonada na Grã-Bretanha como princípio imoral e anticristão.
Essa mudança moral tornou-se tão poderosa que em 1833 o Parlamento britânico proi-
biu a escravidão nas colônias atlânticas britânicas. A opinião pública também pressiona-
va o governo britânico a suprimir o florescente comércio de escravos da África Ocidental
para o resto do Novo Mundo. A principal motivação para a ação britânica era de fato
moral e ideológica, mas uma dimensão econômica também entrou no cálculo político.
Os Estados Unidos já haviam proibido o comércio em 1807. Isso deixou as Colônias
do Caribe sem comércio de escravos, colocando-as em um ambiente de desvantagem
competitiva devido aos custos de mão-de-obra, em relação às economias escravistas,
como Cuba e Brasil. Acabar com o comércio de escravos em todo o mundo teria a van-
tagem coincidente de corrigir esse desequilíbrio competitivo.
Então, os britânicos pressionaram cada vez mais o Brasil, o que foi sentido de várias
maneiras. Primeiro, em 1826, a Grã-Bretanha pressionou o Brasil a assinar um tratado
concordando em acabar com o comércio de escravos dentro de três anos. Embora não
houvesse apoio a essa medida entre a elite brasileira, eles dificilmente poderiam resistir
explicitamente aos britânicos, a quem eles estavam fortemente endividados, politica-
mente e financeiramente. Os sucessivos governos brasileiros lidaram com o problema
simplesmente negligenciando a aplicação do tratado de 1826. Negligenciaram também
uma lei de 1831 que declarou que todos os escravos entrando no Brasil estariam auto-
maticamente livres. Navios escravos continuaram descarregando suas cargas humanas
na costa brasileira, desafiando abertamente a proibição legal.
A Marinha Real britânica, a principal força naval do mundo, partiu interceptar os navios
negreiros e libertar as cargas negras. Embora eles tenham tido algum sucesso, um fluxo
maciço continuou a chegar entre os anos de 1830 e 1840. Apesar da indignação expres-
sa na imprensa e no parlamento ingleses, cerca de 712.000 novos escravos invadiram
o Brasil durante esses dois décadas, com média de 35.000 por ano. (Como o comércio
era tecnicamente ilegal após 1831, esses números são apenas estimativas).
REFLITA
A forma como os imigrantes europeus vieram ao Brasil para trabalhar nas plantações de
café pode ser considerado um regime de semiescravidão devido a suas características?
Fonte: a autora.
A partir do fim do sistema escravocrata, nos últimos 20 anos do século XIX, cresce
relativamente o setor assalariado, que pode ser considerado o principal acontecimento na
economia da segunda metade do século XIX. Para que possamos compreender as trans-
LIVRO
• Título: 1822
• Autor: Laurentino Gomes
• Editora: Globo Livros
• Ano: 2015
• Sinopse: Em 1822 o escritor compara diferentes relatos sobre o
dia 7 de setembro, que redefiniu os rumos do nosso país. Mais do
que desmistificar o grito da independência às margens do Ipiranga,
o escritor analisa como D. Pedro conseguiu, apesar de todas as
dificuldades, fazer do Brasil uma nação de proporções monumen-
tais. Laurentino observa como as mudanças provocadas pela fuga
da família real portuguesa, em 1808, deram início a um processo
de maior autonomia, que pressionou o príncipe regente a declarar
a independência do Brasil. O autor mostra como as Guerras Na-
poleônicas, a Revolução Francesa e a independência dos Estados
Unidos influenciaram as ideias de brasileiros que defendiam o fim
da submissão à metrópole, formando um ambiente favorável à
criação de um novo país. No entanto declarar a independência
foi apenas o começo. Com os cofres brasileiros esvaziados por
D. João VI em seu retorno a Portugal, D. Pedro se viu diante do
desafio de reduzir os gastos do governo, construir a ideia do que
é “ser brasileiro” e reprimir as revoltas internas. Para alguns bra-
sileiros, era necessário romper radicalmente com os portugueses
e proclamar a república, enquanto outros não viam motivo para
ser parte do país que estava surgindo. Além das proporções con-
tinentais representarem uma dificuldade ao projeto de preservar
a unidade do território colonial, em 1822 o Brasil já apresentava
um cenário de extrema desigualdade. Enquanto cidades como Rio
de Janeiro e Salvador contavam com uma população urbana, uni-
versidades e instituições governamentais, em outras regiões era
praticada apenas a agricultura de subsistência. Foi necessário um
esforço de vários personagens para estabelecer uma nova nação.
Laurentino une a pesquisa a um texto leve e saboroso, que trata
história como um assunto cativante, que nos leva a compreender
melhor as origens do Brasil e como problemas estruturais ainda
influenciam a nossa realidade.
Vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Reportagem e aclamado
como Livro do Ano de Não Ficção, 1822 é uma leitura essencial
para todos que desejam compreender melhor o nosso país.
FILME/VÍDEO
• Título: Independência ou Morte
• Ano: 1972
• Sinopse: Tendo como ponto de partida o dia da abdicação de
D. Pedro I (Tarcísio Meira), é traçado um perfil do monarca desde
quando ainda menino veio da Europa, enquanto sua família fugia
das tropas napoleônicas, até sua ascensão à Príncipe Regente,
quando D. João VI (Manoel da Nóbrega) retorna para Portugal. Em
pouco tempo a situação política torna-se insustentável e o regente
proclama a independência, mas seu envolvimento extraconjugal
com a futura Marquesa de Santos (Glória Menezes) provoca oposi-
ção em diversos setores, gerando um inevitável desgaste político.
Plano de Estudo:
● As tendências ao desequilíbrio externo, nível de emprego e concentração de renda
no final do século XIX;
● A crise da economia cafeeira;
● Mecanismos de defesa e a crise de 1929;
● As raízes da industrialização.
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o processo de desequilíbrio das contas externas e seus
impactos para a economia;
● Compreender as causas da crise da economia cafeeira;
● Entender as causas da crise de 1929 e qual foi o impacto no processo de
industrialização brasileiro.
71
INTRODUÇÃO
SAIBA MAIS
Você sabe o que é Balança Comercial e para que ela serve? E o que significa superávit
e déficit na balança comercial, você sabe?
Balança comercial é um registro econômico que representa as importações e exporta-
ções de bens entre os países. Dizemos que a balança comercial de um determinado
país está com superávit quando ele exporta mais do que importa. Quando o país importa
mais do que exporta, dizemos que a balança comercial está com déficit, negativa ou
desfavorável.
Fonte: a autora.
Nesse sentido, em períodos de crise o mais importante era manter os níveis estáveis
de empregabilidade, com a consequente geração de renda e aquecimento da economia.
Ao final do século XIX e começo do século XX uma série de fatores acabou por
criar um ambiente extremamente favorável à economia cafeeira. Um dos primeiros fatores
foi a falta de oferta no mercado externo. Produtores asiáticos, sobretudo do Ceilão, atual
Sri Lanka, passavam por uma grande crise após verem suas lavouras serem devastadas
pela ferrugem-do-café, fungo que matava as plantas. O problema da mão-de-obra já estava
resolvido com os imigrantes que procuravam trabalho no Brasil. Outro fator importante foi a
Proclamação da República, que, ao descentralizar o poder e dar mais poder aos estados,
deu também mais poder e autonomia para os produtores de café que controlavam a política
de seus estados.
O fato da grande maioria da produção mundial de café no final do século XIX ter
se concentrado no Brasil deu aos cafeicultores brasileiros a oportunidade de controlar o
mercado internacional. Bastaria reserva financeira para reter parte da produção e diminuir
a oferta no mercado internacional e, assim, forçar a alta do preço. Porém, em 1893, a
crise da economia americana, que era destino de boa parte do café do Brasil, acabou por
causar uma queda no preço internacional da mercadoria, essas quedas de preço eram
compensadas para os produtores através da desvalorização da moeda nacional, alterar o
câmbio fazia com que os cafeicultores recebessem os mesmos valores se considerarmos a
moeda nacional ao valorizar as moedas estrangeiras. Isso não foi capaz de absorver todas
O acordo demonstrou a força dos cafeicultores e fez com esse acordo vigorasse
até a grande crise de 1929. A efetividade do sistema matinha o preço do café sempre alto,
mas isso ocasionava um outro problema constante, a lucratividade alta atraía cada vez
mais investimentos em produção que, por consequência, aumentavam cada vez mais a
produção. Apesar do Convênio de Taubaté ter estabelecido que uma das medidas era coibir
a criação de novas lavouras na prática, tal medida era impossível de ser cumprida pelos
estados, pois estes não eram capazes de oferecer alternativas de investimento que se
equiparavam aos lucros obtidos com o café.
No fim da década de 20 a exportação era capaz de absorver apenas 2/3 da produ-
ção nacional. Os mecanismos de proteção criados pelos cafeicultores, como o de Taubaté,
eram tão eficientes que mantinham os preços sempre altos, isso atraía mais investidores.
Caliari e Bueno (2010) mencionam que a situação piorou depois de 1922, quando as novas
medidas de estímulo eliminaram as políticas (que não já eram ineficientes) de redução
SAIBA MAIS
Você sabe o que é Balança Comercial e para que ela serve? E o que significa superávit
e déficit na balança comercial, você sabe?
Balança comercial é um registro econômico que representa as importações e exporta-
ções de bens entre os países. Dizemos que a balança comercial de um determinado
país está com superávit quando ele exporta mais do que importa. Quando o país importa
mais do que exporta, dizemos que a balança comercial está com déficit, negativa ou
desfavorável.
Fonte: a autora.
Furtado (2007) afirma que o preço do café era dado por fatores da oferta e não da
procura, uma vez que ele observa que os preços, durante a década de 30, se mantiveram
sem variações, apesar da recuperação dos países industrializados. Além disso, o consumo
de café por esses países também se manteve constante.
A garantia do preço mínimo de compra do café era ao mesmo tempo garantia de
manutenção da taxa de emprego no setor cafeeiro e nos setores ligados a este. Grandes
colheitas evitavam a queda da renda no setor, mesmo com a desvalorização da moeda
nacional. Esses dois fatores, combinados, evitavam pressões de desemprego em cenários
de preços em queda, como foi entre 1931 e 1939. A política de defesa do setor cafeeiro fun-
cionou como um verdadeiro programa de fomento da renda nacional anticíclica e colaborou
para amenizar as quedas de inversões da economia brasileira no começo da década de 30.
Em 1933, período de maior colheita, por exemplo, as receitas brasileiras foram de 1 milhão
de contos, mas, por conta dos estoques de café, que somavam 1,1 milhão de contos, o
total foi de 2,1 milhões, valor próximo aos 2,3 milhão de 1929. Sendo assim, Furtado (2007)
conclui que a recuperação da crise internacional se deu por esses fatores internos.
REFLITA
Será que os estímulos oferecidos pelo governo para a produção de café beneficiaram ou
prejudicaram a economia brasileira no final do século XIX, início do século XX?
Fonte: a autora.
O Brasil já criava sua indústria em pequena escala desde o início do século XIX. Sua
tática era fabricar para consumo doméstico aqueles produtos cujos custos eram inferiores
às importações concorrentes. Em geral, eram produtos cujo valor era baixo proporcional-
mente ao seu peso – tornando o preço das importações particularmente exorbitante em
relação ao seu verdadeiro valor. Sabão, materiais de construção e bebidas foram os princi-
pais exemplos. Os têxteis eram outra área para a industrialização precoce, uma vez que o
equipamento de capital necessário era relativamente barato para importação. A maioria dos
bens de capital e produtos intensivos em tecnologia – como trilhos de trem, locomotivas,
turbinas e artilharia de campo – continuaram sendo importados por muitos anos, pagos
pelos ganhos de exportação, principalmente de café e borracha natural.
A industrialização ocorreu em grande parte sem o apoio do governo até 1930, a
maioria da elite política acreditava que a industrialização era contra os interesses econômi-
cos de longo prazo do Brasil. Aqui eles estavam repetindo as doutrinas de seus credores na
Europa e na América do Norte, que ainda eram instruídas nas doutrinas do liberalismo de
Manchester – isto é, uma crença na economia de mercado livre, com intervenção mínima
do governo e uma dependência do livre comércio.
As tarifas brasileiras, por exemplo, tinham como objetivo principal produzir receitas
e não proteger a indústria doméstica (aproximadamente 70% da receita federal vinha de
impostos de importação entre 1890 e 1910). Segundo Villela (2009), durante a Primeira
República o comércio internacional teve um peso significativo para a economia brasileira.
O total de exportações e importações chegou a atingir 36% do PIB no ano de 1895, com
a média de 28% entre 1889 e 1930. Ainda segundo Villela (2009), em termos absolutos,
as exportações partiram de 28,5 milhões de libras, em 1889 e alcançaram 65,7 milhões de
libras, em 1930, com um pico de 117,4 milhões de libras, em 1919. Já as importações au-
mentaram de 24 milhões de libras para 53,6 milhões de libras entre 1889 e 1930, atingindo
seu maior valor em 1928 (97,4 milhões de libras).
Além da crença liberal, não havia uma forte burguesia industrial para pressionar
suas reivindicações junto aos políticos. Mesmo quando presidentes como Floriano Peixoto,
na década de 1890, ou Afonso Pena, no início do século XX, se engajavam em retórica
pró-indústria, estavam longe de estar prontos para adotar medidas abrangentes, como, por
exemplo, uma política monetária forte, necessária para efetivação de seus discursos.
SAIBA MAIS
Vimos ao longo desta unidade que a explosão na produção de café que causou
o boom da economia brasileira em meados do final do século XIX se transformou em um
problema no início do século XX, quando o mercado mundial de café teve um excesso
de oferta, principalmente por conta da superprodução brasileira. O lucro das exportações
declinou com a queda dos preços do café no exterior, um declínio que foi agravado por um
aumento desde 1898 no valor câmbio da moeda brasileira (devido ao aumento da entrada
de capital estrangeiro). Como o Brasil era de longe o maior produtor mundial de café (75%
da produção mundial em 1900-1901), era natural que os brasileiros usassem seu poder de
mercado para tentar manipular o preço. O termo usado para isso era “valorização”.
Vimos que os cafeicultores estabeleceram sistemas de estímulo à cafeicultura, mas
esses mesmos estímulos forçaram uma superprodução e que, com a crise de 1929, ficou
insustentável manter o preço alto como estava. Vimos também como a crise causou a
fuga de capital estrangeiro e o fim das reservas e como as novas políticas de estímulo à
cafeicultura ajudaram o país a se recuperar da crise. Por fim, abordamos aspectos iniciais
sobre o processo de industrialização brasileiro e como nossa economia passou de um
modelo primário exportador rumo ao novo padrão de acumulação.
A MODERNIDADE REPUBLICANA
Maria Tereza Chaves de Mello
Professora do Departamento de História da PUC/RJ
Resumo
A difusão de uma cultura democrática e científica no final do Império criou uma
disponibilidade mental e afetiva à idéia de república no Brasil. Este termo, por sua vez,
permitiu aos contemporâneos experimentar o processo histórico, já que nele se congregava
uma oposição ao passado e a expectativa social de futuro.
LIVRO
• Título: O Romance do Café
• Autor: Beatriz Garcia
• Editora: Alfa Ômega
• Sinopse: O Romance do Café, de Beatriz Garcia, resultado de
um trabalho que durou dez anos, é um livro histórico-literário, que
aborda a origem, a evolução da cafeicultura no Vale do Paraíba
fluminense e paulista, a Depressão Periférica, o Nordeste Pau-
listano e o Planalto Ocidental, Estado de São Paulo. Analisa a
importância econômica e sociocultural do ciclo dessa planta, que
sacudiu a estrutura da sociedade brasileira no limiar do século
XIX até os primeiros anos da Era Vargas, quando na conturbada
vida nacional ocorreram o processo de estatização da economia
brasileira e a crise agrícola, com a decadência da rubiácea, assim
como o fenômeno que hoje se repete: a queda do preço da terra.
Apaixonada pela terra, Beatriz Garcia envereda pelos caminhos
da geografia e do ecossistema das regiões abordadas antes do
período cafeicultor, para, em seguida, abordar o conteúdo socioe-
conômico, chegando à conclusão de que a agricultura monocul-
tora, como a do café, voltada para o comércio exterior, traz como
consequência grandes dificuldades para o País, que – segundo a
autora – necessita de “uma agricultura diversificada, voltada para
o mercado interno e externo, com o homem assentado à terra, com
uma agricultura viável, pois a terra não vale apenas pelo dinheiro,
mas, muito mais, pelo que produz. Afinal, terra é sempre terra!”
A Editora Alfa-Omega – coerente com seus 25 anos de luta por
um Brasil mais reflexivo – sente-se honrada ao lançar este livro
que se tornará imprescindível na biblioteca de quem se preocupa
com as pungentes questões brasileiras. Este livro, o segundo
lançamento de Beatriz Garcia, apresenta consistente bibliografia
sobre o período cafeeiro. Seu primeiro livro – Uma História de
Amor Entre-Guerras – recebeu o prêmio literário da Secretaria da
Cultura de Ribeirão Preto.
FILME/VÍDEO
• Título: Revolução de 30
• Ano: 1980
• Sinopse: Documentário que reúne mais de trinta documentários
e filmes de ficção, fotografias e registros sonoros mostrando os
momentos que antecederam o conflito, seu desenrolar e conse-
quências. Seu fio condutor é o documentário Pátria Redimida, rea-
lizado, na época, por João Batista Groff, com cenas filmadas em
zonas de combate: Itararé, Ribeira e Catiguá. Inclui comentários
críticos de Boris Fausto, Edgar Carone e Paulo Sérgio Pinheiro.
A trilha sonora traz antigas gravações de discursos e músicas
do período, algumas compostas especialmente para celebrar a
revolução: hinos a João Pessoa, a Miguel Costa e Juarez Távora.
Direção de Sylvio Back. Brasil, 1980.
Como o foco desta apostila foi o de abordar a formação econômica do Brasil, cabe
também destacarmos fatos históricos importantes para a compreensão e absorção do
conteúdo.
A seguir estão alguns fatos importantes para você pesquisar e conhecer mais!
ARAÚJO, U. C. A baía de Todos os Santos: um sistema geo-histórico resistente. Bahia Análise &
Dados, Salvador, v. 9, n. 4, 2000.
BLOG DO ENEM. Revoltas coloniais nativistas do século XVIII - História Enem e vestibular.
2018. Disponível em: https://blogdoenem.com.br/revoltas-coloniais-nativistas-seculo-xviii/
CALIARI, T.; BUENO, N. P. O ciclo do café durante a República Velha: uma análise com a abor-
dagem de dinâmica de sistemas. Belo Horizonte: Nova Economia, 2010.
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Prezado(a) aluno(a),