Você está na página 1de 77

Fundamentos do

Comércio Internacional
Professor Dr. Marcos Aurélio Brambilla
Diretor Geral
Gilmar de Oliveira

Diretor de Ensino e Pós-graduação


Daniel de Lima

Diretor Administrativo
Eduardo Santini

Coordenador NEAD - Núcleo


de Educação a Distância
Jorge Van Dal

Coordenador do Núcleo de Pesquisa


Victor Biazon
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Secretário Acadêmico Centro, Paranavaí-PR
Tiago Pereira da Silva (44) 3045 9898

Projeto Gráfico e Editoração UNIFATECIE Unidade 2


André Oliveira Vaz Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Revisão Textual Paranavaí-PR
Kauê Berto (44) 3045 9898

UNIFATECIE Unidade 3
Web Designer Rua Pernambuco, 1.169,
Thiago Azenha Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898

UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102,
Saída para Nova Londrina
FICHA CATALOGRÁFICA
Paranavaí-PR
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFATECIE.
Credenciado pela Portaria N.º 527 de 10 de junho de 2020,
(44) 3045 9898
publicada no D.O.U. em 15 de junho de 2020.
Núcleo de Educação a Distância;
BRAMBILLA, Marcos Aurélio. www.unifatecie.edu.br
Fundamentos do Comércio Internacional.
Marcos. Aurélio Brambilla.
Paranavaí - PR.: UniFatecie, 2020. 77 p.
As imagens utilizadas neste
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária livro foram obtidas a partir
Zineide Pereira dos Santos. do site ShutterStock
AUTOR

Professor Dr. Marcos Aurélio Brambilla

● Doutor em Teoria Econômica pela UEM (Universidade Estadual de Maringá).


● Mestre em Economia Regional pela UEL (Universidade Estadual de Londrina).
● Bacharel em Ciências Econômicas pelo UniFCV (Centro Universitário Cidade
Verde).
● Professor Mediador EAD no UniCesumar (Centro Universitário Cesumar).
● Professor de graduação no Instituto Adventista Paranaense (IAP).
● Professor de graduação no UniFCV (Centro Universitário Cidade Verde).
● Professor de pós-graduação no UniFCV (Centro Universitário Cidade Verde).
● Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4609573696140389
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!


Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é
o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto
com você, construir nosso conhecimento sobre os fundamentos do comércio internacional.
Além de conhecer seus principais conceitos e definições, vamos explorar fatos históricos e
as mais diversas situações do comércio internacional presentes entre as nações.
Na Unidade I começaremos a nossa jornada pela evolução das teorias do comér-
cio internacional, partindo do contexto mercantilista. Essa noção é necessária para que
possamos compreender o início das teorias de comércio internacional. E, assim, podemos
trabalhar com a teoria das vantagens absolutas, teoria das vantagens comparativas e com
os fatores específicos e modelo de Hecksher-Ohlin.
Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre os blocos econômicos.
Para isso, vamos detalhar as políticas comerciais que podem ser adotadas pelos países
e, por fim, serão apresentados os diferentes tipos de blocos econômicos e sua taxonomia.
Depois, nas Unidades III e IV, vamos tratar especificamente das taxas de câmbio,
regimes cambiais e das políticas macroeconômicas internacionais. Ao longo da Unidade III
vamos destacar as diferentes taxas de câmbio, os regimes cambiais e como isso influencia
o comércio com os demais países e, por fim, será apresentado o balanço de pagamentos e
sua relação com as políticas comerciais. Na unidade IV vamos entender o papel da política
macroeconômica internacional, das regulamentações econômicas e dos diferentes tipos de
empresas no mundo globalizado.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

Muito obrigado e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 6
Conceitos do Comércio Internacional

UNIDADE II.................................................................................................... 23
Blocos Econômicos

UNIDADE III................................................................................................... 43
Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais

UNIDADE IV................................................................................................... 59
A Política Macroeconômica Internacional
UNIDADE I
Conceitos do Comércio Internacional
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• Conceitos de comércio internacional, teorias de comércio e sua evolução;
• Vantagens absolutas;
• Vantagens comparativas;
• Fatores específicos e modelo de Hecksher-Ohlin.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as teorias de comércio internacional.
• Compreender os tipos de teorias de comércio internacional.
• Estabelecer a importância das teorias de comércio internacional.

6
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à primeira unidade da apostila.


Vamos dar início ao estudo sobre os fundamentos do comércio internacional. Essa
é uma área do conhecimento que estuda as teorias do comércio internacional. Estas têm
grande importância por compreenderem as decisões de comércio dos países. No entanto,
antes de iniciar o estudo das teorias do comércio internacional, foi abordado o período que
antecede as teorias tradicionais do comércio internacional, período esse conhecido como
Mercantilismo.
Com o propósito de atingir o crescimento econômico da nação, o Mercantilismo foi
um período no qual os países adotavam políticas de comércio internacional que tentavam
proporcionar maiores ganhos com o comércio internacional. Após as ações verificadas no
Mercantilismo, foram criadas as teorias desenvolvidas por autores clássicos. A primeira
teoria foi desenvolvida por Adam Smith, a sua teoria foi chamada de teoria das vantagens
absolutas, essa teoria falava basicamente que os países deveriam produzir o bem mais
barato e importar o bem que era mais caro para produzir.
A partir da teoria de vantagens absolutas, David Ricardo buscou melhorar essa teo-
ria, criando a teoria das vantagens comparativas. Segundo essa teoria, os países deveriam
se especializar na produção de bens em que possuíam vantagens comparativas, ou seja,
os países deveriam produzir bens em que apresentavam maior produção ou menor custo
relativamente.
Em seguida, serão apresentadas as teorias neoclássicas, ou seja, as teorias mais
modernas do comércio internacional, sendo o Teorema de Hechscher-Ohlin e, por fim, as
extensões da teoria da vantagem comparativa, que foi abordada a economia de escala e a
concorrência imperfeita no mercado internacional.
Desejamos um ótimo estudo!

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 7


1 CONCEITOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL, TEORIAS DE COMÉRCIO E SUA
EVOLUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a), neste tópico foram abordados conceitos sobre o comércio
internacional e, antes de iniciar o estudo sobre as teorias do comércio internacional, é im-
portante conhecer o período anterior à criação das teorias tradicionais do comércio interna-
cional, com o intuito de saber como se deu a origem das teorias de comércio internacional,
esse período é conhecido como Mercantilismo, portanto, vamos conhecer mais sobre esse
período.
A economia internacional teve início juntamente com o começo do Estado nacional
moderno. O movimento de união das regiões e municípios nos Estados nacionais levou a
uma integração política e econômica. A integração política contribuiu para o surgimento dos
Estados absolutistas, ou seja, que centraliza o poder nas mãos de uma pessoa, assim as
decisões eram tomadas pelos monarcas sem considerar a opinião da população. A união
econômica deu início às práticas realizadas entre os Estados nacionais conhecidas como
Mercantilismo (GONÇALVES, 1998).
Segundo Salvatore (2000), o Mercantilismo surgiu entre os séculos XVII e XVIII,
por meio de ensaios e panfletos que continham um tipo de filosofia econômica, escrita por
banqueiros, comerciantes, filósofos e funcionários públicos. Desse modo, o Mercantilismo
foi um período no qual os países praticavam políticas de comércio internacional na tentativa
de obter maiores ganhos com o comércio internacional, assim, a partir desses preceitos, os
Estados buscavam atingir o crescimento econômico da nação.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 8


Para facilitar o entendimento de como funcionava as normas estabelecidas pelos
mercantilistas, Brue (2006) apresenta algumas definições que representam esse período,
sendo: o ouro e a prata como riqueza; a política protecionista; o nacionalismo; a colonização
e a monopolização do comércio; a relevância de contar com uma grande de mão de obra;
eram contrários a impostos ou qualquer outra restrição interna sobre o transporte de bens.
Portanto, os mercantilistas consideravam que as nações ricas apresentavam uma
grande quantidade de ouro e prata, ou seja, quanto maior o volume de metais preciosos,
maior era a riqueza do Estado nacional. Além disso, adotavam políticas protecionistas,
cobravam taxas de importação de matérias-primas e manufaturas que poderiam ser produ-
zidos internamente e as importações de matérias primas que não poderiam ser produzidas
internamente eram isentas de taxas.
Para ser uma nação poderosa, deveria acumular riqueza por meio da exportação
aos países próximos, pois, assim, poderiam colonizar outras nações para se tornar uma
nação mais poderosa. Sendo que os benefícios adquiridos pelas colônias eram propriedade
do país colonizador.
Os mercantilistas também não eram a favor de cobranças de taxas internas ou
outras restrições, essas cobranças poderiam prejudicar as empresas, levando ao aumento
de preços das exportações e, consequentemente, a nação se tornaria menos competitiva
no mercado internacional.
Outra característica que os mercantilistas consideravam importante era uma grande
população de trabalhadores, pois quanto maior a população maior era produção de bens
para a exportação e, considerando os baixos salários dos trabalhadores, a nação apresen-
tava significativos ganhos no comércio internacional com acumulação de metais preciosos
advindo dos superávits que a nação apresentava devido às condições aqui apresentadas.
Desse modo, conforme Gonçalves (1998), a política mercantilista tem o intuito de de-
fender a presença de um monarca absoluto e contribuir com a integração econômica, jurídica
e administrativa nacional e procura proteger o Estado nacional contra as ameaças externas.
Os mercantilistas entendiam que, para uma nação ficar rica e poderosa, era ne-
cessário vender mais para outras nações do que comprar, ou seja, a exportação deveria
ser maior que a importação. Com o superávit da balança comercial, apresentaria maior
entrada de ouro e prata na nação, pois acreditavam que quanto mais acumulassem de
metais preciosos (ouro e prata), mais rica e poderosa seria a nação. Contudo, devido à
limitação da existência de ouro e prata, não existiria a possibilidade de todas as nações
apresentarem ganhos no comércio internacional. Para que uma nação acumulasse metais
preciosos, outra nação deveria perder (SALVATORE, 2000).

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 9


2 VANTAGENS ABSOLUTAS

Considerando as políticas econômicas adotadas pelos mercantilistas, que tinham


o propósito de aumentar o saldo da balança comercial, aumentando as exportações e
diminuindo as importações, surgem questionamentos se o comércio internacional deveria
se limitar a isso. Assim, conforme Salvatore (2000), a obra que marca o início da ciência
econômica é intitulada de A Riqueza das Nações, de 1776, de Adam Smith.
A partir dessa publicação, surge a teoria de comércio internacional. O argumento de
Adam Smith para o comércio internacional é de que, para que duas nações comercializem
produtos é necessário que as duas apresentem algum benefício. Se uma nação perdesse
ou não apresentasse nenhum ganho, não haveria motivo para comercializar no mercado
internacional (SALVATORE, 2000).
O autor sugere, então, que para existir o comércio internacional entre os países,
é preciso que esse comércio seja mutuamente benéfico. Portanto, foi criada a teoria
das vantagens absolutas, que se refere ao comércio mutuamente benéfico, sendo que o
país deve exportar o bem que apresentar maior vantagem absoluta e importar o bem que
possuir menor vantagem absoluta.
Desse modo, a análise pode ser realizada pela produtividade e pelo custo. Para
a análise pela produtividade, para o produto que o país apresentar maior produção por
unidade de trabalhador, o mesmo deve ser exportado e, o produto que o país apresentar
menor produção deve importar. Para a análise do custo, o produto que apresentar menor

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 10


custo de produção o país deve exportar, e o bem que for mais caro a termos absolutos para
produzir o país deve importar, haja vista que o comércio de duas nações nessas condições
é mutuamente benéfico.
A seguir, é possível observar um exemplo numérico para a análise, em que
será considerada a teoria das vantagens absolutas para a melhor compreensão dessa
teoria. A Tabela 1 apresenta a produtividade e o custo de produzir soja e trigo no Brasil
(BR) e nos Estados Unidos (EUA) para a análise de qual bem cada país deve exportar e
importar conforme a teoria das vantagens absolutas.

Tabela 1 - Teoria das vantagens absolutas

Bens
Produtividade (produção por Custo (horas de trabalho
horas de trabalho) necessário para produzir 1kg)
Países Soja Trigo Soja Trigo
BR 2 1 2 4
EUA 1 2 4 2
Fonte: adaptado de Salvatore (2000).

Pela análise da produtividade, a produção de soja por horas de trabalho é de 2


no Brasil, sendo que o custo de trabalho necessário para produzir 1 kg de soja é de 2,
enquanto nos Estados Unidos a produção de soja por horas de trabalho é de 1, sendo que
o custo de trabalho necessário para produzir 1 kg de soja é de 4. A produção de trigo por
horas de trabalho é de 1 no Brasil, sendo que o custo de trabalho necessário para produzir
1 kg de soja é de 4, enquanto nos Estados Unidos a produção de trigo por horas de trabalho
é de 2, sendo que o custo de trabalho necessário para produzir 1 kg de trigo é de 2.
Como o custo de produzir soja no Brasil é menor e o custo de produzir trigo é menor
nos Estados Unidos, Brasil e Estados Unidos deveriam se especializar na produção de soja
e trigo, respectivamente. Assim, o Brasil deveria exportar soja e importar trigo e os Estados
Unidos devem exportar trigo e importar soja.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 11


3 VANTAGENS COMPARATIVAS

A contribuição da teoria do comércio internacional de Adam Smith é de grande


importância. No entanto, a comercialização de dois bens entre dois países apresentará
benefícios absolutos para ambos. Diante disso, é de suma importância a contribuição de
David Ricardo com a teoria das vantagens comparativas. De acordo com Salvatore (2000),
a teoria das vantagens comparativas é uma das mais relevantes teorias da economia até
os dias de hoje, com aplicações empíricas.
Podem ser verificadas, na teoria das vantagens comparativas de David Ricardo,
algumas características, no qual devem ser levadas em consideração para a melhor com-
preensão da teoria, sendo:
a) O comércio de duas economias com diferenças em suas estruturas de produção;
b) O único fator de produção é o trabalho;
c) As duas nações produzem dois produtos;
d) As economias apresentam diferenças no nível de tecnologia;
e) São considerados rendimentos constantes de escala;
f) Não é considerado custo de transporte.

Para a melhor compreensão das características associadas à teoria das vantagens


comparativas, foi verificado mais a fundo cada uma delas. Conforme Gonçalves (1998), a
primeira característica destaca que o comércio entre dois países é mutuamente benéfico,

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 12


ou seja, é preferível uma nação comercializar bens com outros países do que ser uma
economia fechada, devido à diferença de produtividade do trabalho nas diferentes nações.
A segunda e a terceira características apresentadas estão relacionadas, pois a
segunda pressupõe que existe apenas o fator de produção trabalho, sendo necessário
para a produção de dois bens em dois países (terceira característica). Deste modo, os
países alocam uma quantidade de trabalho para a produção de cada bem e, a partir disso,
realizar a análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
A quarta característica está relacionada às tecnologias das economias. De acordo
com Krugman e Obstfeld (2005), o nível de tecnologia de cada nação é determinado pela
produtividade do trabalho das indústrias, sendo que a produção é medida pela necessidade
de cada unidade de trabalho.
Outra característica diz respeito aos rendimentos constantes de escala, ela apre-
senta que a produção não é alterada para cada hora de trabalho por trabalhador, ou seja, a
produção de cada hora de trabalho será a mesma em todo o período (SALVATORE, 2000).
Por fim, a sexta e última característica não considera o custo com transporte. Por-
tanto, é pressuposto que a circulação de bens entre os países não apresenta taxas ou
custos relacionados ao transporte das mercadorias entre os países, é considerado apenas
o custo relacionado à quantidade de horas de trabalho por unidade de trabalho (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2005).
Agora, a partir das características apresentadas, é possível definir o que seria a
teoria das vantagens comparativas. Conforme Gonçalves (1998), a teoria ricardiana pode
ser definida como a especialização de cada país no bem em que possui vantagens compa-
rativas, ou seja, o país deve se especializar na produção de bens em que é mais eficiente.
Desse modo, os países apresentam ganhos com o comércio internacional, com exceção de
casos em que os países apresentarem custos relativos iguais entre os produtos.
Essa teoria é um avanço da teoria das vantagens absolutas, pois dois países que
apresentam dois bens devem apresentar para cada bem uma vantagem absoluta, caso não
aconteça, pela teoria das vantagens absolutas não será benéfico. A teoria das vantagens
comparativas mostra que, mesmo um país não apresentando vantagem absoluta em algum
bem, o comércio pode ser benéfico. O comércio pode ser benéfico por meio da especiali-
zação de bens em que o país apresente vantagem comparativa, ou seja, maior vantagem
absoluta e importe bens em que não apresente vantagem relativa, ou seja, com menor
vantagem absoluta.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 13


Para verificar a teoria das vantagens comparativas em exemplos numéricos, exis-
tem duas maneiras. Uma delas é por meio da produtividade de dois bens entre dois países,
no qual utilizam a mesma quantidade de trabalho. Outro modo muito utilizado é pelo
custo de produção, neste caso, são analisados os custos para a mesma quantidade de
produção em cada bem.
É possível verificar no Quadro 1 um exemplo prático das vantagens
comparativas pela produção, em que os bens são soja e trigo, sendo os países, A e B.

Quadro 1 – Produção de soja e trigo nos países A e B

Países
A B Total
Soja 10 5 15
Produção por trabalho hora Trigo 8 2 10
Total 13 11 24
Fonte: adaptado de Salvatore (2000, p. 20).

Quando é verificada a quantidade que cada país produz de cada bem, deve ser
calculada a produtividade relativa de cada bem para cada país. Para a soja, a produtividade
relativa do país A (PRSA) é a relação entre a produção de soja por trabalho hora do país A
(PSA) e a produção de soja por trabalho hora do país B (PSB). Para o trigo, a produtividade
relativa do país A (PTA) é a relação entre a produção de trigo por trabalho hora do país A
(PTA) e a produção de trigo por trabalho hora do país B (PTB). Para o país B é o inverso.
Portanto, o procedimento foi apresentado a seguir.

Para o bem soja:


PRSA = PSA / PSB PRSB = PSB / PSA
PRSA = 10 / 5 PRSB = 5 / 10
PRSA = 2 PRSB = 0,5
Para o bem trigo:
PRTA = PTA / PTB PRTB = PTB / PTA
PRTA = 8 / 2 PRTB = 2 / 8
PRTA = 4 PRTB = 0,25
Diante das estimações realizadas, percebemos que a maior produção relativa do
país A é de trigo e a maior produção relativa do país B é de soja. Portanto, os países A e B
devem se especializar na produção de trigo e soja, respectivamente. Sendo assim, foi apre-
sentada no Quadro 2 a produção de cada país com as suas respectivas especializações na
produção dos bens.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 14


Quadro 2 – Produção de soja e trigo nos países A e B considerando suas especializações

Países
A B Total
Soja - 10 10
Produção por trabalho hora Trigo 16 - 16
Total 16 10 26
Fonte: o autor.

Conforme as produções apresentadas, o país A deve produzir 16 unidades de trigo


e o país B deve produzir 10 unidades de soja. Quando comparado a produção total das
duas economias, percebe-se que há um aumento da produção total dos bens, a produção
das nações, sem a especialização, produz 24 unidades, enquanto a produção com especia-
lização dos países, considerando suas vantagens comparativas, é de 26 unidades. A seguir
foi apresentado, no Quadro 3, um exemplo prático para análise de custos da produção, em
que foram apresentados os custos de algodão e tecido para os países Alfa e Beta.

Quadro 3 – Custo para a produção de algodão e tecido nos países Alfa e Beta

Países
Alfa Beta Total
Algodão 8 4 12
Trabalho hora necessário para
Tecido 15 6 21
a produção de uma unidade
Total 23 10 33
Fonte: adaptado de Salvatore (2000, p. 22).

Em relação à análise dos custos relativos, foram identificados os custos de pro-


dução de cada país para cada bem, em seguida deve ser calculado o custo relativo de
cada bem para cada país. Para o algodão, o custo relativo do país Alfa (CRAA) é a relação
entre o custo em trabalho hora de produzir uma unidade de algodão no país Alfa (CAA) e
o custo em trabalho hora de produzir uma unidade de algodão no país Beta (CAB). Para o
trigo, o custo relativo do país Beta (CRTA) é a relação entre o custo em trabalho hora de
produzir uma unidade de tecido no país Alfa (CTA) e o custo em trabalho hora de produzir
uma unidade de tecido no país Beta (CTB). Para o país B é o inverso. Desse modo, segue
o procedimento:

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 15


Para o bem algodão:
CRAA = CAA / CAB CRAB = CAB / CAA
CRAA = 8 / 4 CRAB = 4 / 8
CRAA = 2 CRAB = 0,5
Para o bem tecido:
CRTA = CTA / CTB CRTB = CTB / CTA
CRTA = 15 / 6 CRTB = 6 / 15
CRTA = 2,5 CRTB = 0,4
A partir das estimações realizadas, verificamos que o menor custo relativo do país
Alfa é de tecido e o menor custo relativo do país Beta, consequentemente, é de algodão.
Portanto, os países Alfa e Beta devem se especializar na produção de tecido e algodão,
respectivamente. Sendo assim, no Quadro 4 foram apresentados os custos de produção
de cada país, com as suas respectivas especializações nos custos de produção dos bens.

Quadro 4 – Produção de soja e trigo nos países A e B considerando suas especializações

Países
A B Total
Algodão 16 - 16
Trabalho hora necessário para
Tecido - 12 12
a produção de uma unidade
Total 16 12 28
Fonte: o autor.

Conforme os custos apresentados, para o país A, o custo para produzir uma unida-
de de algodão é de 16 horas de trabalho e para o país B o custo para produzir uma unidade
de tecido é de 12 horas de trabalho. Se comparar com o custo total das duas economias,
percebe-se que ocorre uma redução do custo total dos bens. O custo das nações sem a
especialização é de 33 horas de trabalho, enquanto o custo com especialização dos países
considerando suas vantagens comparativas é de 28 horas de trabalho.
Portanto, conforme os exemplos apresentados, a teoria das vantagens compara-
tivas pode apresentar duas formas de análise, pela produtividade e pelo custo, mas que
apresentam o mesmo objetivo: verificar quais produtos os países devem se especializar,
levando em conta a produção do bem que cada nação é mais eficiente.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 16


4 FATORES ESPECÍFICOS E MODELO DE HECKSHER-OHLIN

Vimos o modelo das vantagens comparativas que considerava como fator de pro-
dução apenas o trabalho. Agora vamos conhecer o modelo conhecido como modelo de
Hecksher-Ohlin, em que considera dois fatores de produção, trabalho (L) e terra (T). Nesse
modelo é verificada a relação entre os fatores de produção nos países e a proporção em
que são utilizados para a fabricação de diferentes bens, sendo assim, também é conhecido
como teoria da proporção dos fatores.
Desse modo, o modelo de Hecksher-Ohlin pode ser exposto da seguinte maneira:
Uma nação exportará a commodity cuja produção exija a utilização intensiva
do seu fator relativamente abundante e barato e importará a commodity cuja
produção exija a utilização intensiva do seu fator relativamente escasso
e raro. Em resumo, a nação relativamente rica em mão de obra exporta a
commodity relativamente intensiva em mão de obra e importa a commodity
relativamente intensiva em capital (SALVATORE, 2000, p. 96).

Segundo Krugman e Obstfeld (2005), o modelo de Hecksher-Ohlin pode ser abor-


dado a partir de sete pressupostos:
1. Os bens produzidos por uma nação são alimentos e roupas;
2. Para produzir os bens, são considerados dois fatores de produção que são
escassos, sendo trabalho (L) e terra (T);
3. É considerada a concorrência perfeita nos mercados;
4. Para as nações pode ser constatado que a fabricação de alimentos é terra-in-
tensiva e a fabricação de tecidos é trabalho-intensiva;

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 17


5. Os países possuem os mesmos gostos e o mesmo nível de tecnologia;
6. As nações apresentam a mesma capacidade de produção com dois fatores de
produção;
7. Foi considerado que o país local apresenta a relação entre trabalho e terra mais
alta do que o país estrangeiro.

Diante dos pressupostos apresentados, é possível obter uma melhor compreensão


do modelo. A seguir é possível visualizar a quantidade de fatores de produção, trabalho e
terra, empregadas, em que irá depender da quantidade disponível pela nação. Sendo que
cada país escolhe se especializar na produção do bem em que o fator de produção é in-
tensivo, nesse caso, foram apresentados os fatores de produção necessários para produzir
alimento (Figura 1).

Figura 1 - Possibilidades de insumos na produção de alimentos

Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2005, p. 50).

As informações da Figura 1 se referem à quantidade de cada fator de produção


para a produção de uma unidade de alimento em uma economia. Conforme Krugman e
Obstfeld (2005), em relação à diferença do modelo das vantagens comparativas, a respeito
dos fatores de produção, ressalta-se que, com esse modelo, o produtor tem a possibilidade
de alocar os fatores de produção da forma que preferir. Por exemplo, o produtor pode utilizar
uma quantidade maior do insumo trabalho para produzir alimento, devido à necessidade de
mais trabalhadores para a preparação do plantio de alimentos.
Contudo, em uma análise da razão salário-renda da terra (w/r) em relação à razão
terra-trabalho (T/L), é possível compreender melhor o quarto pressuposto apresentado

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 18


do modelo de Hecksher-Ohlin. Assim sendo, foi apresentada na Figura 2 essa relação,
considerando a produção de tecidos e a produção de alimentos, representada pelas curvas
TT e AA, respectivamente.

Figura 2 - Preço de fatores e escolhas de insumos

Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2005, p. 51).

Na Figura 2 a curva TT representa a produção de tecidos, enquanto a curva AA


representa a produção de alimentos, dado pela relação entre a razão salário-renda da terra
e razão terra-trabalho. Pode ser observado que para qualquer nível de preços, para a pro-
dução de alimentos sempre a relação terra-trabalho será maior que na produção de tecidos.
Desse modo, verificamos a validade do quarto pressuposto do modelo, pois como a relação
terra-trabalho é maior na produção de alimentos, a produção de alimentos é terra-intensiva
e como a produção de tecidos é menor, a produção de tecidos é trabalho-intensiva.
Considerando como funciona o comportamento da produção de cada economia,
vamos avaliar como os países devem decidir em quais bens se especializarem, dado que
podem escolher como alocar dois fatores de produção. Portanto, no modelo de Hecksher-
-Ohlin, as nações apresentaram enfoque na produção de bens que contém maior abundân-
cia de fatores de produção (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Observe que a produção de alimentos é terra-intensiva e a produção de tecidos é
trabalho-intensiva. Diante disso, o país que apresentar abundância no fator de produção
terra deve se especializar na produção de alimento, exportar alimento e importar tecido. Por
outro lado, os países que apresentarem abundância no fator de produção trabalho, deve se
especializar na produção de tecido, exportar tecido e importar alimento.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 19


De um modo geral, o modelo Hecksher-Ohlin apresenta informações para a melhor
compreensão para cada nação e, posteriormente, para o comércio internacional. Sendo
que possui aplicações para ambos os casos.

SAIBA MAIS
Na literatura científica existem aplicações de teorias econômicas como do modelo de
Hechscher-Ohlin, um exemplo é o artigo intitulado Liberalização comercial, salários reais
e emprego: uma aplicação do modelo de fatores específicos para o Brasil, de autoria de
Frederico Hartmann de Souza, que apresenta o impacto da liberalização comercial no
Brasil, usando o modelo de fatores específicos que se refere ao modelo de Hechscher-
Ohlin.
O artigo está disponibilizado nos anais do Encontro Nacional de Economia por meio do
link: http://www.anpec.org.br/novosite/br/encontro-2010.

REFLITA
O artigo Os Efeitos do Comércio Exterior sobre a Distribuição de Renda, de Eli Hecksher,
apresentou o esboço do que viria a se torna a “teoria moderna do comércio internacio-
nal”. Como essa teoria pode contribuir para o comércio internacional hoje?
Fonte: Salvatore (2000, p. 69).

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 20


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da unidade. Vimos os conceitos, a teoria e


a evolução do comércio internacional, como se deu a origem das teorias de comércio
internacional. O período anterior ao Mercantilismo e, assim, foi possível avaliar os fatos
que ocorreram nesse período e como isso acarretou no início das teorias de comércio
internacional.
O início das teorias de comércio internacional se deu por meio de Adam Smith,
com a teoria das vantagens absolutas. Segundo o autor, as nações deveriam produzir bens
em que tinham custos de produção mais barato, ou seja, as nações devem exportações
produtos que são mais baratos para produzir e importar produtos mais caros para produzir.
Outro autor da escola clássica, David Ricardo, apresentou também uma importante
contribuição para a teoria do comércio internacional com uma nova teoria que seria um
avanço da teoria de Adam Smith, ele desenvolveu a teoria das vantagens comparativas.
Segundo David Ricardo, os países deveriam se especializar na produção de bens em que
possuíam maior vantagem relativa. Desse modo, as nações deveriam exportar bens que
possuem maiores vantagens relativas e importar bens que possuem menores vantagens
relativas.
E, por fim, o modelo de Heckscher-Ohlin da escola neoclássica, que apresentou
uma teoria mais moderna em relação às teorias apresentadas anteriormente. Essa teoria
não considera apenas o fator de produção trabalho na produção de bens dos países, ela
considera também a terra. Dessa forma, é possível avaliar como os produtores escolhem a
alocação dos fatores produtivos internamente e para o comércio internacional.
Assim, chegamos ao final da unidade. Esperamos que tenha gostado.
Ótimo estudo!

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 21


LEITURA COMPLEMENTAR

MOREIRA, U. Teorias do comércio internacional: um debate sobre a relação entre cresci-


mento econômico e inserção externa. Revista de Economia Política, v. 32, n. 2, p. 213-
228, 2012.

MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Economia Internacional e Comércio Exterior
Autor: Jayme de Mariz Maia
Editora: Atlas
Ano: 2014
Sinopse: O desenvolvimento do comércio internacional vem
ganhando uma importância cada vez maior, sendo capaz de
transformar nações pequenas e pobres em respeitáveis potências
econômicas. No caso brasileiro, o comércio exterior tem dado
importante contribuição para nossa economia. Ele deu à nossa
produção maior competitividade porque permitiu que nossas in-
dústrias produzissem em escala superior à capacidade de nosso
mercado interno. Com isso ganhamos custos menores e também
ganhamos empregos. Mesmo assim, nossas exportações ainda
são pequenas, se comparadas com as exportações mundiais, o
que mostra a necessidade de dedicarmos mais cuidados com os
problemas relacionados com a Economia Internacional e o Comér-
cio Exterior. Evolução do Comércio Internacional, Blocos Econômi-
cos e Organismos Regionais, Mercado Cambial, Teorias Clássicas
e Modernas de Comércio Internacional, Paraísos Fiscais, o Brasil
e a Economia Mundial e o Brasil e o Comércio Internacional são
alguns dos tópicos abordados. Livro-texto para as disciplinas
Economia Internacional e Comércio Exterior dos cursos de Admi-
nistração (Habilitação em Comércio Exterior) e Economia. Leitura
relevante para profissionais da área de Comércio Internacional.

FILME/VÍDEO
Título: Adeus, Lenin!
Ano: 2004.
Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a
Sra. Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacor-
dada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista.
Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim
Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Da-
niel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas
mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os
acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada,
Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir
à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de
vídeos.

UNIDADE I Conceitos do Comércio Internacional 22


UNIDADE II
Blocos Econômicos
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• Políticas comerciais;
• Abertura econômica para países em
desenvolvimento;
• Formação de blocos econômicos e sua taxonomia.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as políticas e estratégias
comerciais;
• Compreender os tipos de políticas e estratégias comerciais;
• Estabelecer a importância das políticas e estratégias
comerciais.

23
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) a esta unidade da apostila.


Nesta unidade será estudado sobre as políticas comerciais e a formação dos blocos
econômicos internacionais e sua taxonomia. Essa é uma área do conhecimento que aborda
sobre como os países se comportam no comércio internacional e quais suas decisões.
Inicialmente, foram estudados os diferentes tipos de instrumentos de política
comercial, sendo as tarifas de importação, as cotas de importação, os subsídios às ex-
portações e as restrições voluntárias às exportações. Cada uma das políticas possui suas
especificidades, porém todas apresentam o mesmo objetivo: proteger a indústria nacional
por meio da restrição de importações para o doméstico.
Em seguida, será apresentado como se deu a abertura econômica nos países em
desenvolvimento e sua relação com as políticas comerciais. Passando pelo período das
economias primário-exportadoras, seguindo para o Processo por Substituição de Importa-
ções até chegar ao período de abertura comercial dos países em desenvolvimento.
Por fim, vamos estudar sobre os blocos econômicos e sua taxonomia. Sendo que
as estratégias comerciais realizadas pelos países podem ser divididas em regionalismo,
integração econômica e multilateralismo. Serão abordadas as especificações de cada um
dos diferentes tipos de blocos econômicos.
Desejamos um ótimo estudo!

UNIDADE II Blocos Econômicos 24


1 POLÍTICAS COMERCIAIS

Nesta unidade foram abordados os instrumentos das políticas comerciais e sua


adoção em países em desenvolvimento. Além disso, também foram apresentadas as
estratégias comerciais por meio da formação de blocos econômicos, que ocorreram princi-
palmente com a abertura comercial.

1.1 Instrumentos de Política Comercial


As políticas comerciais são ações que os países adotam em relação ao comércio
internacional. Sendo que podem ser utilizados diferentes instrumentos nesse sentido, como
as tarifas ou impostos de importação, os subsídios às exportações, as cotas de importação
e as restrições voluntárias às exportações.
Inicialmente, vamos falar das tarifas de importação, mais especificamente da tarifa
aduaneira, que é considerada a mais simples das políticas comerciais. As tarifas aduanei-
ras se referem a uma tarifa cobrada na importação de alguma mercadoria (KRUGMAN;
OBSTFELD, 2005). Essa tarifa pode apresentar duas formas, apresentadas a seguir:
● Tarifas específicas: para as tarifas específicas, como o nome diz, é cobrado
um valor específico, fixo, para cada unidade da mercadoria importada. Por
exemplo, para cada saca de milho importada é cobrado o valor de US$ 5,00.
● Tarifas ad valorem: para as tarifas ad valorem, o importador deve pagar um
percentual do valor total de mercadorias importadas. Por exemplo: é cobrado
um percentual de 15% do valor total de importação de notebooks.

UNIDADE II Blocos Econômicos 25


Entre os instrumentos de políticas comerciais, a tarifa aduaneira, de acordo com
Krugman e Obstfeld (2005), além de ser o mais simples, é a política comercial mais velha
adotada pelos países. A principal motivação das nações adotarem esse tipo de política é
que, além de ser uma fonte de receita para o governo, contribuía para proteger a indústria
de alguns setores importantes na economia, devido à elevação do preço de produtos das
indústrias que fosse objetivo do governo proteger.
A seguir é possível avaliar os efeitos de uma política de tarifas aduaneiras para o
país doméstico, que adota a política, para o país estrangeiro e para o mercado mundial.
Inicialmente vamos verificar a derivação da curva de demanda por importações e da curva
de oferta de exportações (Figuras 1 e 2).

Figura 1 – Derivando a curva de demanda por importações do país local

Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Analisando a Figura 1, conforme as curvas de oferta e demanda de determinado


bem, verificamos que um aumento do preço desse bem leva a uma redução da quantidade
demandada, enquanto os produtores elevam a quantidade ofertada do bem. Diante desse
cenário, a quantidade demandada de importação também apresenta queda.
Portanto, o preço de determinado bem apresenta relação inversa com a quantidade
demandada do bem do próprio país e com a quantidade demandada do país estrangeiro
(importação). A seguir, na Figura 2, foi apresentada a derivação da curva de oferta de
exportação do país estrangeiro.

UNIDADE II Blocos Econômicos 26


Figura 2 – Derivando a curva de oferta de exportações do país estrangeiro

Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Considerando a Figura 2, conforme as curvas de oferta e demanda de determinado


bem, verificamos que uma redução do preço desse bem leva a um aumento da quantidade
demandada do país externo, enquanto os produtores do país estrangeiro reduzem a quan-
tidade ofertada do bem. Quanto às exportações do país estrangeiro, ocorre uma redução
da quantidade ofertada para exportação.
A partir da derivação das curvas é possível verificar o preço de equilíbrio mundial,
em que poderá ser apresentado no ponto em que ocorre o cruzamento das curvas de de-
manda por importações do país doméstico e de oferta de exportações do país estrangeiro.
Portanto, a política de tarifas de importação tem como propósito a proteção de
determinados setores da economia doméstica. Pois com a adoção da política, os preços
para importação ficam mais caros e desestimulam a importação para o país doméstico,
fazendo com o preço dos bens nacionais fiquem mais atrativos para o consumo interno.
Sendo assim, foram apresentados na Figura 3 os efeitos de uma política de tarifa
no país doméstico, no país estrangeiro e no mercado mundial. Os efeitos são apresentados
diante de uma condição inicial de equilíbrio mundial em que a demanda por importações do
país doméstico é igual a oferta de exportações do país estrangeiro.

UNIDADE II Blocos Econômicos 27


Figura 3 – Efeitos de uma política de tarifa

Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Supondo uma política de tarifas sobre a soja no país doméstico, um aumento dos
preços de P¹ para P² (preço com a tarifa) leva há uma queda da quantidade demandada e
estimula os produtores a aumentar a oferta. A partir disso, as importações sofrem redução.
As consequências para o mercado mundial é que com o aumento do preço da soja, há uma
queda da quantidade de Q¹ para Q².
Além disso, a adoção da política contribui não apenas para o aumento do preço
do país doméstico, mas também para a redução do preço no país estrangeiro. Assim, há
um aumento das exportações e uma redução das importações. Nesse cenário, a Figura
4 mostra os custos e os benefícios que a política de tarifa causa para os consumidores e
produtores da economia doméstica.

Figura 4 – Excedente do consumidor e do produtor

Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

UNIDADE II Blocos Econômicos 28


O excedente do consumidor, apresentado na Figura 4 pela área da letra a, repre-
senta quanto o consumidor obteve de prejuízo ao realizar a importação. Desse modo, deve
ser verificado, primeiro, a diferença entre o preço que ele estaria disposto a pagar e o preço
que realmente ele pagou e posteriormente a quantidade. Para uma melhor compreensão,
vamos considerar um exemplo, suponha que um país estaria disposto a pagar por cada
computador $ 1.000,00, sendo que ele compraria 100 unidades de computador. Porém ele
pagou $ 1.100,00 e comprou 80 unidades de computador.
A diferença entre o preço que o consumidor pagaria e o preço pago foi de $ 100,00,
sabendo disso, deve ser considerada a quantidade que realmente foi importada. Portanto,
calculamos a área que apresenta o custo do excedente do consumidor, que uma parte
foi de $ 80.000,00, na outra parte, que vai até a curva de demanda, deve ser multiplicada
a diferença do preço, já mencionada, e a diferença na demanda pelo bem, sendo de 20
unidades, e o resultado divide por dois, sendo o valor de $ 2.000,00, somando com $
80.000,00, assim, a perda do excedente do consumidor apresenta o valor de $ 82.000,00.
Quanto ao excedente do produtor, que foi apresentado pela letra b, representa o
ganho do produtor ao realizar a importação. Inicialmente, também deve ser considerada a
diferença entre o preço que ele estaria disposto a pagar e o preço que realmente ele pagou
e, em seguida, a quantidade. Seguindo com o exemplo citado, e considerando que a quan-
tidade ofertada aumentou de 100 para 120 unidades de computador, deve ser verificado
o valor do ganho do produtor até a quantidade inicial de exportação, obtido por meio da
multiplicação de 1.000 por 100, sendo de $ 100.000,00.

o ganho da receita do governo.

UNIDADE II Blocos Econômicos 29


Figura 5 – Custos e benefícios das tarifas para o país doméstico

Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Desse modo, identificamos que a utilização de uma política de tarifas de importação


resulta no aumento do preço do bem, aumento da produção interna e redução do consumo
interno. O custo para a economia é a perda do excedente do consumidor e, em relação aos
benefícios, eleva o excedente do produtor e o ganho do governo com arrecadação.
Contudo, atualmente esse instrumento de política comercial não é a principal
medida adotada pelos países. Também são utilizadas outras políticas comerciais, como
a de cotas de importação e restrições voluntárias às exportações. No qual depende dos
objetivos do governo para o comércio internacional.
Em relação aos subsídios às exportações, representam uma política voltada para
estimular as exportações no país. Um subsídio à exportação se refere a um pagamento a
uma empresa ou indivíduo que exporta. Sendo que esse valor também pode ser específico
ou ad valorem. Com a adoção da política de subsídios às exportações, os exportadores
exportam o bem até o ponto em que o preço doméstico excede o preço estrangeiro no valor
do subsídio.
Em relação às consequências da política de subsídios às exportações, foram iden-
tificadas as mesmas consequências das política de tarifas de importação, resultando no
aumento do preço do bem, aumento da produção interna e redução do consumo interno.
Quanto ao custo para a economia, também há perda do excedente do consumidor e o
governo perde com os gastos com subsídios; em relação aos benefícios, eleva o excedente
do produtor. Portanto, a diferença em relação às tarifas de importação é que, nesse caso, o
governo não ganha, mas apresenta prejuízo, pois deve arcar com os subsídios aos agentes
exportadores.

UNIDADE II Blocos Econômicos 30


Outra política muito utilizada é a de cotas de importação. Na política de cotas de
importação há uma restrição sobre a quantidade importada. Assim como na política de tarifa
de importação, também pode ser elevado o preço do bem importado no país doméstico.
Além disso, uma elevação dos preços no mesmo montante de uma tarifa limita as
importações ao mesmo nível. A grande diferença dessa política em relação às tarifas de
importação é que, nesse caso, o governo não arrecada com a política. O valor que seria
arrecadado pelo governo é recolhido por quem recebe as licenças para importar.
Por fim, temos a política de restrição voluntária às exportações. Essa política é uma
cota sobre o comércio imposta pelo país exportador, sendo que, em geral, essa política é
imposta a pedido do país importador. Assim sendo, equivale a uma cota de importação com
mais custos, sendo maiores que as tarifas. Portanto, a receita arrecadada é de posse do
país estrangeiro.
A política de restrição voluntária às exportações, diferente das demais políticas,
essa política não é adotada pelo país doméstico, porém, como foi mencionado, ela é adota-
da pelo país estrangeiro a pedido do país doméstico, a fim de limitar as importações do país
doméstico. Apesar das diferentes especificações dos instrumentos de políticas comerciais
estudados até aqui, todos possuem o mesmo objetivo: reduzir as importações.

UNIDADE II Blocos Econômicos 31


2 ABERTURA ECONÔMICA PARA PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Até esse momento estudamos sobre os instrumentos de políticas comerciais e


como eles funcionam, porém, é preciso entender também quais as nações que utilizam e
quais seus motivos. No mundo, existem economias mais ricas e as mais pobres, para
definir é utilizado o valor do Produto Interno Bruto (PIB).

Contudo, devemos diferenciar a análise das maiores economias e das economias


mais ricas. Quando apresentamos as maiores economias, estamos apresentando os maio-
res valores do PIB total, enquanto que, quando falamos em economia mais ricas, a análise
apresenta os maiores valores do PIB per capita1, conforme foram apresentados na Tabela
1 para o ano de 2017.

1 PIB per capita é o valor total do PIB dividido pela população.

UNIDADE II Blocos Econômicos 32


Tabela 1 – Produto Interno Bruto e Produto Interno Bruto per capita, 2017

MAIORES ECONOMIAS ECONOMIAS MAIS RICAS

País PIB (em PIB per capita País PIB (em PIB per
bilhões $) ($) bilhões $) capita ($)

Estados Unidos 19.485,2 60.054,9 (12º) Liechtenstein 6,1 (153º) 166.021,7

China 12039,0 8.682,2 (90º) Mônaco 6,4 (151º) 165.421,0

Japão 4.838,1 38.219,7 (31º) Luxemburgo 56,5 (75º) 106.805,8

Alemanha 3.333,0 44.976,4 (22º) Bermuda 6,5 (150º) 102.192,1

Reino Unido 2.346,9 39.757,7 (28º) Suíça 657,8 (20º) 801.01,2

Índia 2.331,4 1.923,3 (162º) Noruega 354,2 (30º) 75.295,3

França 2.301.2 38414,9 (30º) Islândia 21,4 (109º) 73.060,2

Brasil 1.771,8 9821,4 (85º) Irlanda 311,0 (35º) 69.603,9


Fonte: IBGE, 2019.

Podem ser observadas na Tabela 1 as oito maiores economias do mundo no ano


de 2017, no qual a maior economia do mundo era os Estados Unidos, seguido pela China,
Japão, Alemanha, Reino Unido, Índia, França e Brasil. No entanto, essas economias não
são necessariamente ricas ou desenvolvidas, podemos destacar o Brasil e a Índia, que são
economias em desenvolvimento, porém estão na posição de 85º e 162º maiores economias
do mundo, respectivamente. Um fator que pode ser determinante para a grande produção
de bens e serviços finais nessas economias é sua extensão territorial e da população.
Por outro lado, as economias mais ricas apresentam o maior PIB per capita, ou
seja, considera a produção medida por pessoa, uma comparação mais viável de riqueza
entre as nações. A economia mais rica do mundo, em 2017, era Liechtenstein, seguida de
Mônaco, Luxemburgo, Bermuda, Suíça, Noruega, Islândia e Irlanda. Podemos notar que as
quatro economias mais ricas possuem o valor total do PIB relativamente pequeno, quando
observado sua posição, dentre os 211 países que foram extraídos os dados. Isso pode ser
explicado pelo baixo número de pessoas residentes no país.
Deve ser destacado que muitos países desenvolvidos não estão entre as econo-
mias mais ricas. Quanto aos países em desenvolvimento, mesmo que seja uma grande
economia, não pode ser considerada rica ou desenvolvida. Nesse sentido, a tentativa de
alcançar o patamar das economias mais avançadas tem sido uma preocupação central da
política comercial dos países em desenvolvimento.

UNIDADE II Blocos Econômicos 33


Segundo Fritsch (2014), até o final da década de 1920 as economias em desenvol-
vimento apostavam na produção de produtos primários, como o Brasil, em que seu principal
produto de exportação era o café. No entanto, no início do século XX, as grandes economias
passavam por sucessivos choques externos, que iniciaram em 1914 e foram até a primeira
metade da década de 1920. Sendo que o ápice foi em 1929, com a Grande Depressão, que
acarretou prejuízos para muitas economias.
No Brasil, que tinha como principal produto exportador o café, o governo teve que
adotar uma política extrema de defesa do preço do café, comprando os estoques de café,
devido à queda da oferta mundial. No entanto, houve, naquele período, uma superprodução
de café que agravou ainda mais a situação. Diante desse cenário, o governo guardou uma
parte do estoque de café e chegou até queimar outra parte do café (FRITSCH, 2014).
Segundo Krugman e Obstfeld (2005), a partir da década de 1930 houve uma mu-
dança na adoção de políticas comerciais de muitas economias em desenvolvimento. Essas
economias procuraram adotar políticas comerciais para barrar a importação de produtos
manufaturados, para que pudessem incentivar a indústria nacional, essa mudança ficou
conhecida como industrialização pela substituição de importações.
O motivo principal pelo qual houve essa mudança para proteger as economias
em desenvolvimento é conhecido como argumento da indústria nascente. Esse argumento
diz que países em desenvolvimento apresentam uma vantagem comparativa potencial na
manufatura, no entanto, as novas indústrias manufatureiras não podem concorrer com as
já estruturadas manufaturas dos países desenvolvidos (SALVATORE, 2000).
Portanto, muitas economias em desenvolvimento acreditavam que alguns dos seus
setores industriais poderiam se desenvolver com o tempo e se tornarem competitivos no
comércio internacional. No entanto, para que isso ocorra, no início elas devem ser prote-
gidas por meio de políticas comerciais, com a adoção de políticas que criam barreiras às
importações.
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), apesar de ser um argumento convin-
cente, sendo utilizado por muitos países em desenvolvimento até a década de 1970, os
economistas identificaram nessa estratégia algumas armadilhas, tendo de ser usado com
cuidado. Não é sempre que a indústria, que possivelmente será competitiva, terá que ser
protegida. Por exemplo, temos o caso da Coréia do Sul, um país que, na década de 1980,
foi um grande exportador de automóveis, porém tudo indica que não surtiria resultados
desenvolver essa indústria na década de 1960, devido à escassez de capital e de trabalho
qualificado.

UNIDADE II Blocos Econômicos 34


Portanto, para uma nação adotar políticas que favorecem a industrialização nacio-
nal, deve apresentar condições favoráveis, como a abundância dos fatores de produção.
Além dos fatores de produção existem as chamadas falhas de mercado que prejudicam a
industrialização doméstica. As falhas de mercado são representadas por dois argumentos:
mercados imperfeitos de capitais e o problema de apropriabilidade.
A falha de mercado dos mercados imperfeitos de capitais se refere a um país não
possuir instituições financeiras que permitam que a poupança de setores tradicionais seja
utilizada para financiar novos investimentos. Os lucros iniciais baixos dos setores manu-
fatureiros serão um obstáculo ao investimento, mesmo que os retornos de longo prazo
desse investimento sejam elevados. Portanto, os setores industriais precisam da poupança
adquirida dos setores tradicionais para que possam se desenvolver.
A falha de mercado do problema de apropriabilidade pode assumir diferentes for-
mas, porém todas possuem a ideia em comum de que em uma indústria manufatureira
nascente gera benefícios sociais pelos quais não são compensadas. As empresas que
entram primeiro em uma indústria podem ter que arcar com custos iniciais de adaptação,
de tecnologia ou de abertura de novos mercados.
Enquanto outras firmas podem seguir as líderes sem incorrer nesses custos iniciais,
assim, as firmas pioneiras não recebem quaisquer retornos desses reembolsos. Diante
disso, não existem incentivos para a criação de uma nova indústria por parte das empresas
que seriam pioneiras.
Conforme Krugman e Obstfeld (2005), apesar do desenvolvimento das nações
estarem em função das políticas comerciais adotadas, há outro fator que dificulta o
desenvolvimento do país, o desenvolvimento desigual dos setores. Os países que têm
esse desenvolvimento desigual são caracterizados com uma economia dual. Ou seja, são
nações em que o setor manufatureiro apresenta um desenvolvimento muito maior que o
desenvolvimento do setor tradicional.
Para identificar o dualismo econômico em uma economia, podem ser verificados
alguns sintomas:
● O valor do produto por trabalhador é muito maior no setor moderno do que no
resto da economia;
● Além do produto por trabalhador, o salário também é mais elevado;
● Retornos do capital não são necessariamente maiores;
● Maior intensidade de capital no setor manufatureiro do que na agricultura.

UNIDADE II Blocos Econômicos 35


Além disso, existem duas políticas que podem contribuir para o dualismo econômi-
co, salários elevados na indústria e de cotas de importação. Com a política de salários, as
empresas oferecem salários elevados na indústria para reduzir a rotatividade e aumentar
o esforço no trabalho, colaborando para a desigualdade dos setores. Em relação à adoção
de cotas de importação, com o comércio mais livre os salários seriam menores, assim, não
contribuiria tanto para a desigualdade dos salários entre os setores.
A partir da década de 1980, especialmente na década de 1990, houve uma mudan-
ça no ponto de vista do desenvolvimento econômico e política comercial. As nações em
desenvolvimento procuraram se especializar na produção de bens relativamente eficientes,
ou seja, especialmente nos setores tradicionais.
Os fatores que podem ter contribuído foram, principalmente, aos avanços tecnoló-
gicos e pesquisas para a produção no campo. Diferente do que acontecia até a década de
1930, em que se especializavam na produção concentrada, no caso do Brasil, por exemplo,
o café, agora procurariam se especializar em uma diversidade de produtos.
Além disso, com os avanços tecnológicos que ocorreram, houve o fortalecimento
da agroindústria, agora os países em desenvolvimento não só exportavam as commodities,
mas também produtos industrializados que tinham como matéria-prima os produtos agrí-
colas.
O Brasil, que apresenta condições favoráveis para a agricultura, é um exemplo
desses avanços que ocorreram. Podem ser citadas algumas ações que aconteceram no
país que foram consequências desses avanços, como o desenvolvimento de cooperativas
agroindustriais e políticas do governo para o fortalecimento de agricultores familiares com
a criação do Programa Nacional do Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) em
1995.

UNIDADE II Blocos Econômicos 36


3 FORMAÇÃO DE BLOCOS ECONÔMICOS E SUA TAXONOMIA

Devido às mudanças nas políticas comerciais ocorridas nas últimas décadas, a


globalização dos mercados e avanços tecnológicos, transformando a estrutura do comércio
internacional, foi possível observar uma abertura do comércio internacional, além da ado-
ção de estratégias de comércio internacional que impacta diretamente nos diversos setores
da economia.
Desse modo, foram criadas novas formas de estratégias de comércio internacional,
sendo conhecidas como: regionalismo, integração econômica e multilateralismo. Cada
uma dessas estratégias apresenta suas especificidades e são conhecidas como blocos
econômicos.
O regionalismo é uma forma de integração econômica ou política de uma determi-
nada região, originando os blocos regionais. Um exemplo é a Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe (CEPAL). Um dos fatores que motivam os países para o regio-
nalismo é a insatisfação com as negociações multilaterais junto ao órgão internacional do
comércio. Esse fator é considerado a principal motivação, pois as rodadas de negociações
realizadas pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) não eram capazes de impedir
os aumentos tanto de barreiras tarifárias como não tarifárias.
Outro fator se refere ao tratamento diferenciado dos produtos agrícolas ou produtos
manufaturados intensivos em mão de obra. O que se percebia eram ações consideradas
bem sucedidas na redução de barreiras para os setores manufatureiros, ou seja, para os

UNIDADE II Blocos Econômicos 37


setores industriais. Nesse sentido, os países em desenvolvimento, nos quais as produções
eram em produtos primários, eram motivados a realizar esse tipo de estratégia de comércio
internacional para auferir ganhos, já que as transações favoráveis seriam para os setores
industriais.
Podem ser encontrados três formas de acontecer o regionalismo: blocos regio-
nais; regionalismo; e polarização. Os blocos regionais se referem à formação dos blocos
regionais, ou seja, consiste na finalidade de concentrar o comércio internacional entre os
países de um determinado acordo bilateral ou acordo formal de integração econômica. O
regionalismo apresenta elementos de proximidade geográfica. A finalidade, basicamente, é
a mesma de concentrar o comércio internacional entre os países que fazem parte do bloco.
A polarização é uma modalidade que possui características mais específicas, ou seja, visa
a concentração do comércio internacional entre grupos de países em desenvolvimento com
um grupo de países industrializados.
A estratégia comercial mais comum é conhecida como integração econômica. A
integração economia é a união de economias que ultrapassa as fronteiras geográficas, com
o intuito de reduzir as barreiras ao comércio. Temos como exemplo a União Europeia (EU)
e o Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul).
As motivações para o processo de integração são de natureza econômica e incen-
tivam os países à formação de blocos que garantam benefícios aos países membros do
acordo. A integração econômica é composta por fases no seu processo, em que os países
que fazem o acordo devem passar. Essas fases são apresentadas a seguir:
A. A zona preferencial de comércio: essa fase é conhecida como acordos de
cooperação comercial e caracteriza-se pela eliminação parcial das tarifas em
geral, sob a forma de concessões mútuas (ou não) de redução de tarifas, com
ou sem fixação de cotas de importação. Tendo como exemplo a Associação
Latino-Americana de Integração (ALADI).
B. A zona de livre comércio: essa segunda fase da integração é caracterizada pela
extinção de tarifas aduaneiras e outras restrições ao comércio entre os países
participantes do acordo. A vantagem desse acordo é que cada país preserva
sua autonomia na política comercial em relação aos países fora do acordo, ou
seja, possuem liberdade para práticas de tarifas aduaneiras diferenciadas. Um
exemplo dessa fase é o Tratado de Livre Comércio das Américas (NAFTA).
C. A união aduaneira: essa fase se caracteriza pela ausência de barreiras ao co-
mércio entre os países participantes do acordo. Além disso, os países membros

UNIDADE II Blocos Econômicos 38


devem adotar a prática de uma tarifa externa comum a ser aplicada a países
fora do bloco. Um exemplo é o Mercosul.
D. O mercado comum: é a fase que ocorre a eliminação de barreiras às trocas de
mercadorias e fatores de produção. Portanto, os países desse mercado devem
se estimular a utilizar os instrumentos de suas políticas em conjunto. O exemplo
dessa fase é a União Europeia.
E. A união econômica: se refere à fase de integração que envolve perda de sobe-
rania nacional para gerir determinadas políticas. É uma fase em que se estabe-
lece uma autoridade supranacional com aplicação das políticas comuns entre
os países partícipes da união e o exemplo para essa fase é a União Europeia.
F. A união política: é a fase que constituiu a formação de uma confederação de
estados que discutem apenas as áreas acordadas entre esses estados. Tra-
ta-se de uma união política que deve ter práticas de cooperação no âmbito
da política externa e de defesa. Ou seja, é uma fase em que os países não
apenas adotam políticas em comum, mas tem uma cooperação nas políticas de
defesa de setores estratégicos para os países do acordo, sendo que a União
Europeia também é o único bloco que chegou nessa fase de integração. Assim,
a União Europeia é o bloco econômico que apresenta a fase mais avançada de
integração econômica.
G. A integração econômica total: considerado o estágio mais avançado de integra-
ção econômica sendo caracterizado pela criação de uma moeda única comum e
de um banco central regional independente, em que se configura a formação de
uma união monetária. Esse estágio pressupõe a perda total de autonomia dos
estados nacionais na gestão da política monetária. Ainda não chegamos nessa
etapa de integração, por isso não há exemplos para citar.

O multilateralismo se refere à participação de vários países que se esforçam para


atingir um objetivo comum. Seria necessário adequar as regras do comércio mundial ao
chamado livre comércio e aos benefícios para o bem-estar econômico, garantindo o livre
comércio em escala mundial. Portanto, o multilateralismo visa beneficiar o comércio entre
os países em todo o mundo, para gerar ganhos não apenas para um grupo de países, mas
para o máximo de países no mundo por meio das regras do comércio mundial.

UNIDADE II Blocos Econômicos 39


SAIBA MAIS
Existem muitos trabalhos na literatura científica que falam sobre políticas e/ou estraté-
gias comerciais, um exemplo é o artigo intitulado de A Rodada Doha, as mudanças no
regime do comércio internacional e a política comercial brasileira, de autoria de Susan
Elizabeth Martins Cesar e Eiiti Sato, em que discutem os atuais desafios do multilate-
ralismo tradicional no comércio, presentes nos impasses da Rodada Doha, diante das
novas realidades do comércio internacional globalizado.
O artigo está disponibilizado nos anais do Encontro Nacional de Economia por meio
do link: https://www.redalyc.org/pdf/358/35823357011.pdf.

REFLITA
A presente unidade mostrou as relações comerciais que cada país pode ter com o resto
do mundo, com diferentes políticas e estratégias comerciais. Pautado nos conhecimen-
tos adquiridos, o Brasil poderia adotar alguma ação diferente em relação ao comércio
internacional para contribuir com a retomada do crescimento econômico?

UNIDADE II Blocos Econômicos 40


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final desta unidade conhecendo sobre as políticas


comerciais e as estratégias do comércio internacional. Foi estudado na unidade sobre os
instrumentos de política comercial, que acarretam um aumento do preço dos produtos
importados para o favorecimento da indústria nacional.
Foi verificado que existem custos e benefícios da política comercial, os custos
podem ser medidos pela perda do excedente do consumidor e os benefícios podem ser
medidos pelos ganhos do excedente do produtor. Pois, com o aumento dos preços, o pro-
dutor apresenta ganhos, enquanto os consumidores apresentam prejuízos, visto que devem
pagar os bens mais caros. Além disso, o governo também ganha com a arrecadação.
Os outros instrumentos de política comercial também resultam no aumento de pre-
ços das importações, porém existem outras diferenças. As cotas de importações apenas
limitavam as importações no país doméstico, assim, diferente do que ocorria com a política
de tarifa, o governo não arrecadava. Na política de subsídios às exportações, além do
governo não arrecadar, ainda arcava com os pagamentos de subsídios às empresas. E a
política de restrições voluntárias às exportações, diferente das demais, não era adotada
pelo país doméstico, era realizada pelo país estrangeiro. No entanto, geralmente essa
política era adotada a pedido do país doméstico, desse modo, a arrecadação era destinada
ao país estrangeiro.
Por último, foi estudo sobre a criação dos blocos econômicos e suas especificações.
Sendo que os blocos podem ser classificados em regionalismo, integração econômica e
multilateralismo. Além disso, foi verificado que a integração econômica mais avançada que
existe é a União Europeia.
Assim, chegamos ao final da unidade, esperamos que tenha gostado.
Ótimo estudo!

UNIDADE II Blocos Econômicos 41


LEITURA COMPLEMENTAR

PIANI, G.; KUME, H. Fluxos bilaterais de comércio e blocos regionais: uma aplicação
do modelo gravitacional. Rio de Janeiro: IPEA, 2000. 17 p. (Texto para Discussão, n. 749).

MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Economia Internacional.
Autor: Edgar Cândido Carmo e Jefferson Mariano.
Editora: Saraiva.
Ano: 2017.
Sinopse: Economia Internacional apresenta um panorama dos
principais temas em discussão atualmente sobre a área, como:
comércio internacional, livre comércio e protecionismo, integração
econômica e blocos regionais, globalização, sistema financeiro
internacional, taxa de câmbio e balanço de pagamentos. Em sua
terceira edição atualizada e ampliada, a obra ganha um novo ca-
pítulo que aborda a crise financeira global e seus impactos sobre
a economia brasileira. De maneira clara e sem complicações,
trata-se de um conteúdo que ajudará os graduandos a se familiari-
zarem com os conceitos e as terminologias utilizadas na economia
moderna.

FILME/VÍDEO
Título: Babel
Ano: 2006
Sinopse: Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região
montanhosa do Marrocos. Entre os viajantes estão Richard (Brad
Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de americanos. Ali perto
os meninos Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid)
manejam um rifle que seu pai lhes deu para proteger a peque-
na criação de cabras da família. Um tiro atinge o ônibus, ferindo
Susan. A partir daí o filme mostra como esse fato afeta a vida de
pessoas em vários pontos diferentes do mundo: nos Estados Uni-
dos, onde Richard e Susan deixaram seus filhos aos cuidados da
babá mexicana; no Japão, em que um homem (Kôji Yakusho)
tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a filha surda
(Rinko Kinkuchi) a aceitar a perda; no México, para onde a babá
(Adriana Barraza) acaba levando as crianças; e ali mesmo, no
Marrocos, onde a polícia passa a procurar suspeitos de um ato
terrorista.

UNIDADE II Blocos Econômicos 42


UNIDADE III
Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• Taxas de câmbio;
• Regimes cambiais e sua influência no fluxo comercial e na economia como um todo;
• O balanço de pagamentos e sua relação com as políticas comerciais.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar a taxa de câmbio, regimes cambiais e o balanço de
pagamentos;
• Compreender os tipos de regimes cambiais e o balanço de pagamentos;
• Estabelecer a importância dos regimes cambiais e do balanço de pagamentos.

43
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à terceira unidade da apostila.


Nesta unidade vamos conhecer mais alguns aspectos relevantes sobre a economia
internacional. Nesse contexto, será abordado mais afundo sobre as transações entre os
países no comércio internacional e como são contabilizadas essas transações.
Como já vimos, o comércio gera ganhos para a economia mundial. No entanto,
algumas economias podem se beneficiar, enquanto outras podem apresentar prejuízos no
comércio internacional. Inicialmente, foram apresentados os conceitos e definições das
taxas de câmbio, como interfere nas transações no comércio internacional, quais os tipos
de taxas de câmbio e quais suas utilidades.
Em seguida, será abordado o que são e como funcionam os regimes cambiais nas
nações, sendo que são adotados como um tipo de política econômica, em que depende
dos objetivos do governo. Além disso, foi verificado como os regimes cambiais impactam na
economia e quais os impactos para a economia mundial.
Por fim, vamos conhecer a estrutura do Balanço de Pagamentos que representa
um registro contábil de todas as transações internacionais realizadas de um país com o
resto do mundo, ou seja, as transações entre residentes e não residentes. E, ainda, qual a
importância de conhecer essas contas e identificar qual a real situação financeira de uma
nação no comércio internacional, para que, assim, o governo tome as melhores decisões
em termos de políticas comerciais.
Desejamos um ótimo estudo a todos!

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 44


1 TAXAS DE CÂMBIO

O câmbio é considerado um dos preços mais importantes em uma economia aber-


ta, pois o valor das transações comerciais entre os países é dado por meio desse preço.
Sendo assim, o câmbio possui um papel fundamental na economia, sendo utilizado por
todos, de forma direta ou indireta.
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005, a taxa de câmbio pode ser definida
como o valor pago de uma moeda para adquirir outra. Portanto, a taxa de câmbio entre dois
países pode ser obtida de duas formas, uma para cada país, sendo que a valor da taxa de
câmbio é dado pelo preço em unidades monetárias do país doméstico, para adquirir uma
unidade monetária do país estrangeiro.
Considere dois países, Brasil e Estados Unidos, sabemos que R$ 4,00 vale US$
1,00. Considerando o Brasil como país doméstico, o valor da taxa de câmbio é de R$ 4,00
/ US$ 1,00. Para achar a taxa de câmbio em que, os Estados Unidos é o país doméstico,
devemos verificar quantos dólares são necessário para comprar um real, sabemos
que US$ 1 vale R$ 4,00, portanto, dividimos 1/4, então, a taxa de câmbio para os
Estados Unidos é de US$ 0,25 / R$ 1,00.
De acordo com Ratti (1997, a variação na taxa de câmbio é dada pela oferta e
demanda por moeda estrangeira. Com um aumento da demanda por moeda estrangeira,
ocorre uma depreciação cambial, ou seja, há uma elevação da taxa de câmbio, pois são
necessárias mais unidades de moeda doméstica para comprar uma unidade de moeda

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 45


estrangeira. Por outro lado, um aumento da oferta de moeda provoca uma apreciação
cambial, ou seja, uma redução na taxa de câmbio, assim, é necessário menos unidades de
moeda doméstica para comprar uma unidade de moeda estrangeira.
Consequentemente, como a taxa de câmbio se refere à relação dos preços entre o
país doméstico e o país estrangeiro, uma depreciação cambial no país doméstico, provoca
uma apreciação cambial no país estrangeiro, enquanto a apreciação no país doméstico
resulta em uma depreciação cambial no país estrangeiro (SALVATORE, 2000).
Para as transações comerciais entre as nações, a moeda com maior aceitação é
o dólar, com isso, os bens e serviços negociados no comércio internacional devem ser co-
mercializados nessa moeda. Além dessa moeda, o Euro (€) e a Libra Esterlina (£) também
apresentam grande aceitação. Com uma alteração no valor da taxa de câmbio, o preço de
bens e serviços no comércio internacional pode ficar mais caro ou mais barato.
Sabendo o valor da taxa de câmbio entre euro e dólar, podemos verificar qual o
valor das exportações da Espanha para os Estados Unidos. Sendo o valor ganho em euros
para a Espanha e o valor gasto para os Estados Unidos; sendo o valor do câmbio de €
1,00 / US$ 1,00 e o valor total das exportações de computadores de US$ 100.000,00, dado
por 100 unidades desta mercadoria, temos que o valor gasto para os Estados Unidos é de
US$100.000,00, enquanto o valor ganho da Espanha era de € 100.000,00.
Considerando as mesmas informações apresentadas no parágrafo anterior, uma
depreciação cambial da Espanha, onde eleva a taxa de € 1,00 / US$ 1,00 para € 2,00 / US$
1,00, provoca alterações nos gastos dos Estados Unidos e nos ganhos dos Estados Unidos
para essa comercialização. Para os Estados Unidos a taxa de câmbio é de US$ 0,50 / €
1,00, assim, o valor gasto dos Estados Unidos é de US$ 50.000,00, enquanto o ganho das
exportações da Espanha é de € 100.000,00.
Isso mostra que houve uma depreciação cambial para a Espanha e, com isso, hou-
ve um benefício para as exportações. Para os Estados Unidos, enquanto importador, essa
mudança no câmbio representou uma apreciação cambial, portanto, também acarretou em
um benefício, pois o custo de importação dos computadores ficou menor. Por outro lado,
essa alteração na taxa de câmbio não é benéfica para a importação na Espanha e para os
exportadores nos Estados Unidos.
Nesse sentido, podemos destacar as vantagens e desvantagens da depreciação
cambial e da apreciação cambial. Podemos citar como vantagens da depreciação cambial
o incentivo às exportações no país, pois o país fica mais competitivo no comércio interna-
cional, gerando, assim, melhores saldos na balança comercial. Por outro lado, prejudica os

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 46


importadores, com o aumento dos preços dos produtos importados, e em uma situação de
alta inflação, pode agravar mais a situação, levando esse aumento de preços aos consu-
midores.
Quanto à apreciação cambial, traz incentivos aos importadores, com o preço de
bens e serviços mais baratos, e pode contribuir para barra da inflação. No entanto, a apre-
ciação cambial não é benéfica para os exportadores, com a redução do ganho no comércio
internacional, pois a nação fica menos competitiva no comércio internacional.
Conforme Gonçalves (1998), existem dois tipos de taxa de câmbio, a taxa nominal
de câmbio e a taxa real de câmbio. Até agora vimos a taxa nominal de câmbio, que se
refere a quantas unidades monetárias do país doméstico são necessárias para adquirir
uma unidade monetária do país estrangeiro. Formalmente, esse tipo de taxa de câmbio
pode ser expresso por:

𝑃𝑃
𝑒𝑒 =
𝑃𝑃∗

Em que,
● 𝑒𝑒 : representa a taxa nominal de câmbio;
● 𝑃𝑃 : representa o preço do país doméstico;
● 𝑃𝑃∗ : representa o preço do país estrangeiro.

Em relação à taxa real de câmbio: é a taxa em que se podem realizar trocas de


bens e serviços de um país pelos bens e serviços de outro país. Portanto, a taxa de câmbio
real compara os preços de bens domésticos e importados na economia doméstica, ou seja,
em moeda local. A taxa real de câmbio depende da taxa nominal de câmbio estrangeiro e
dos preços dos bens nos dois países medidos em moedas locais. Assim, a equação da taxa
real de câmbio pode ser expressa por:

𝐸𝐸 . 𝑃𝑃∗
𝑒𝑒𝑅𝑅 =
𝑃𝑃

No qual,
● 𝑒𝑒𝑅𝑅 : representa a taxa real de câmbio;
● 𝐸𝐸 : representa a taxa nominal de câmbio estrangeiro;
● 𝑃𝑃 : representa o preço do país doméstico;
● 𝑃𝑃∗: representa o preço do país estrangeiro.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 47


A taxa real câmbio, diferente da taxa nominal, ela compara o preço de bens e
serviços entre dois países na moeda do país local. Enquanto a taxa nominal de câmbio
apresenta o preço em unidades de moeda doméstica em relação a uma unidade da moeda
estrangeira. Para uma melhor compreensão, segue uma aplicação prática.
No comércio de notebooks entre Brasil e Estados Unidos, sabendo que o Brasil é
o país doméstico, vamos considerar que um notebook custa R$ 3.000,00 no Brasil e nos
Estados Unidos esse mesmo notebook custa US$ 1.500, sendo que a taxa nominal de
câmbio para os Estados Unidos é de R$ 0,25 US$/R$. Vamos identificar qual a taxa mais
depreciada para o país doméstico, ou seja, para o Brasil.
Inicialmente, devemos identificar qual a taxa nominal de câmbio. Sabe-se que a
taxa nominal de câmbio para os Estados Unidos é R$ 0,25 US$/R$, portanto, sabemos que,
enquanto o preço local (P) é R$ 1,00, o preço do país estrangeiro é US$ 0,25, então temos
que a taxa nominal de câmbio é:

𝑃𝑃 1,00
𝑒𝑒 = ∗
= = 𝑅𝑅$ 4,00/𝑈𝑈𝑈𝑈$
𝑃𝑃 0,25

Sabemos o preço da taxa nominal de câmbio, agora podemos calcular o preço da


taxa real de câmbio para o notebook. Como a taxa real de câmbio é referente aos bens e
serviços, vamos utilizar o preço do notebook nos países:

𝑒𝑒 . 𝑃𝑃∗ 4,00 . 1500


𝑒𝑒𝑅𝑅 = = = 𝑅𝑅$ 2,00/𝑈𝑈𝑈𝑈$
𝑃𝑃 3000

Diante desse cenário, verificamos que a taxa real de câmbio é mais apreciada
que a taxa nominal de câmbio. O que influencia a taxa real de câmbio é o nível de preços
dos bens e serviços de uma economia em relação à outra. Considerando Brasil e Estados
Unidos, quanto maior a inflação no Brasil, ceteris paribus1, mais depreciada fica a taxa
real de câmbio e, assim, os bens e serviços brasileiros ficam mais baratos que os bens e
serviços nos Estados Unidos, desestimulando as importações.
Ao mesmo tempo em que há uma apreciação da taxa real de câmbio nos Estados
Unidos, sendo que para eles é mais vantajoso importar do Brasil que consumir os bens e
serviços no seu país, visto que os bens e serviços ficam mais caros nos Estados Unidos.
Com um aumento de preços no país estrangeiro (Estados Unidos) ocorre o efeito contrário.

1 Ceteris paribus é uma expressão do latim que significa “tudo o mais é constante”, ou seja, as demais
variáveis permanecem inalteradas.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 48


2 REGIMES CAMBIAIS E SUA INFLUÊNCIA NO FLUXO COMERCIAL E NA ECONOMIA
COMO UM TODO

Neste tópico será abordado acerca dos regimes cambiais. Como já foi visto no
tópico anterior, podemos verificar como realizamos a conversão de uma moeda para outra,
a fim de realizar uma compra ou mesmo para comprar moeda estrangeira. Além disso,
aprendemos como comparar os preços de bens e serviços entre dois países.
As nações possuem estratégias para atender suas necessidades econômicas,
sendo uma das mais importantes, a política externa, especialmente em economias abertas.
A política cambial apresenta impacto direto na taxa de câmbio, influenciando os agentes
econômicos que participam do comércio internacional.
Segundo Gonçalves (1998), os três principais tipos de regimes cambiais são o regi-
me de câmbio fixo, o regime de câmbio flutuante e o regime de bandas cambiais, também
conhecido como flutuação suja. No regime de câmbio fixo, a taxa de câmbio é definida
pelo governo, e o Banco Central deve mantê-la por meio de intervenções no mercado de
divisas2, comprando ou vendendo divisas.
Como já foi estudado anteriormente, o que determina a taxa de câmbio é a oferta e
demanda por moeda estrangeira. Desse modo, o Banco Central utiliza as reservas interna-
cionais para manter a taxa de câmbio inalterada. Quando há uma depreciação cambial, os

2 Divisas se refere à moeda estrangeira.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 49


agentes estão demandando mais moeda estrangeira, então o governo vende divisas. Com
o aumento da oferta de divisas o câmbio se aprecia.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 50


interferir no nível de preço do país e, ainda, prejudica os importadores com o aumento de
preços de bens e serviços.
Em relação ao regime de bandas cambiais, pode-se dizer que está entre o regime
de câmbio fixo e o regime de câmbio flutuante. As alterações da taxa de câmbio, assim
como no regime de câmbio flutuante, são determinadas pelo mercado de divisas, porém é
determinado um limite máximo e mínimo em que a taxa de câmbio pode flutuar. Caso ocorra
uma situação de ultrapassar esse limite, o governo pode intervir no mercado cambial, com-
prando ou vendendo divisas para que a taxa de câmbio retorne ao intervalo estabelecido.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 51


3 O BALANÇO DE PAGAMENTOS E SUA RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS COMER-
CIAIS

O Balanço de Pagamentos apresenta os registros das mais variadas formas de


transações comerciais de um país com o resto do mundo, sendo que, de acordo com Krug-
man e Obstfeld (2005), podem ser classificadas em três grandes contas: exportações e
importações de bens e serviços; compra e venda de ativos financeiros; e outras atividades
que resultam em transferência de riqueza entre as nações.
Além da importância de controlar todas as contas que apresentam transações co-
merciais, é possível realizar comparações entre os países devido à forma unificada que as
nações adotam para realizar esses registros. Essa forma se refere ao Manual de Balanço
de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional (BPM), que, no decorrer dos anos,
sofreu algumas alterações, vamos estudar a edição mais recente (6ª edição).
O comércio internacional tem grande influência sobre as economias. Desse modo,
a partir das informações obtidas no Balanço de Pagamentos é possível realizar algumas
análises estatísticas, que servem como base para a tomada de decisão acerca do comércio
internacional; assim, o governo procura adotar as melhores políticas comerciais. Além dis-
so, esses dados são de interesse do público em geral, dado o modo que é divulgado pelos
meios de comunicação (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Para entender como funcionam as transações comerciais de um país com o resto
do mundo, primeiro, é necessário saber a classificação dessas transações. De acordo com

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 52


Salvatore (2000), as transações devem ser classificadas como débitos e créditos. A moeda
utilizada hoje é o dólar, que apresenta maior hegemonia mundial, aceita pelas nações.
Os créditos se referem ao recebimento em valores monetários de países estran-
geiros, portanto, no Balanço de Pagamentos os créditos devem ser lançados com valor
positivo (+) por estarem entrando recursos financeiros no país. Por outro lado, os débitos
são as transações relativas aos pagamentos às outras economias, assim, essas transações
são lançadas com sinal negativo (-) no Balanço de Pagamentos, nesse caso, estão saindo
recursos financeiros do país.
Vale ressaltar que todas as contas contabilizadas no Balanço de Pagamentos se-
guem o princípio das partidas dobradas, vindo da contabilidade. Conforme esse princípio,
cada conta é lançado duas vezes no Balanço de Pagamentos, um lançamento é realizado
como crédito e outro é realizado como débito no mesmo valor, sendo que no final o valor
dos débitos deve ser igual ao valor dos créditos no Balanço de Pagamentos (SALVATORE,
2000).
Segundo Krugman e Obstfeld (2005), o Balanço de Pagamentos é dividido em três
contas gerais que apresentam as diferentes formas de transações entre residentes e não
residentes, sendo:
1. Conta Corrente (CC): essa conta registra as transações comerciais de bens e
serviços de rendas de capital e do trabalho e as transferências unilaterais de
renda entre o país e o resto do mundo.
2. Conta Capital (CK): nessa conta são registrados os fluxos de capitais entre o
país e o resto do mundo.
3. Conta Financeira (CF): essa conta registra as transações de ativos financeiros,
reais e intangíveis entre residentes e não residentes.

Os lançamentos de transações com outros países são realizados nessas três con-
tas. Para a melhor compreensão da estrutura do Balanço de Pagamentos, foram apresen-
tadas, no Quadro 1, contas mais especificas referente a 6ª Edição do Manual de Balanço
de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional (BPM6).

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 53


Quadro 1 – Resumo da estrutura do Balanço de Pagamentos (BPM6)
1 CONTA CORRENTE (CC)
1.1 Balança Comercial (BC)
Exportações (X)
Importações (M)
1.2 Balança de Serviços (BS)
Transportes
Seguros
Royalties
Viagens
Aluguel de equipamentos
Serviços empresariais, profissionais e técnicos
Outros serviços
1.3. Renda Primária (Balança de Rendas) – (PR ou BR)
Salários
Lucros e dividendos
Juros
1.4. Renda Secundária (Transferências Unilaterais) – (RS ou TU)
Doações
Ajuda humanitária
1.5. Saldo em Transações Correntes (1.5 = 1.1 + 1.2 + 1.3 + 1.4)
2 CONTA CAPITAL (CK)
Patentes
Propriedade intelectual
Direitos autorais
3 CONTA FINANCEIRA (CF)
Investimento Estrangeiro Direto (IED)
Ações
Títulos Públicos
Empréstimos e Financiamentos
Amortizações
4 ERROS E OMISSÕES
5 SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (SBP) (5 = 1 + 2 + 3 + 4)
6 HAVERES DA AUTORIDADE MONETÁRIA (HAM) (6 = -5))
Ouro
Reservas internacionais
Fonte: adaptado do Banco Central do Brasil (2019).

Na Conta Corrente (CC), a primeira conta apresentada é a Balança Comercial (BC),


nessa conta será realizado o registro das mercadorias, ou seja, dos bens tangíveis. Seu saldo
é dado por meio da diferença entre Exportações (X) e Importações (M). Quando o valor das
Exportações supera o valor das Importações, temos um superávit na BC. Caso contrário,
quando as Importações superam o valor das Exportações, a BC apresentará um déficit.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 54


Em seguida é apresenta a Balança de Serviços (BS), nessa conta serão agregadas
as transações de serviços, ou seja, de bens intangíveis. Nesses registros são considerados
os serviços de não fatores, isto é, que não envolvem qualquer transação relacionada com
os fatores de produção, como, por exemplo, transportes e seguros.
A terceira conta da CC se refere às Rendas Primárias (RP), nela serão registradas
as transações que estão relacionadas aos fatores de produção. Portanto, as transações re-
lacionadas ao capital são referentes aos juros, lucros e dividendos e quando nos referimos
ao trabalho, pode ser representado pelo salário.
Outra conta da CC é a Renda Secundária, que representa todos os recebimentos
ou pagamentos realizados, tanto em moeda quanto em bens, sem que tenha contrapartida
do outro país. Nesse caso, são envios de recursos ou recebimento de recursos entre resi-
dentes que moram em países diferentes, em que pode ser classificado como doações e/
ou ajuda humanitária. E, por fim, a última conta da CC é o Saldo em Transações Correntes
(STC), que apresenta o somatório das quatro contas citadas da CC.
A Conta Financeira (CF) registra as aquisições de ativos e de passivos que fazem
parte dos investimentos diretos, em carteira e outros investimentos. Nessa conta são regis-
trados o Investimento Estrangeiro Direto, as ações, os títulos e depósitos, os empréstimos
internacionais e os créditos comerciais.
A Conta Capital (CK) se refere ao registro de transferências de ativos reais, não
financeiros e intangíveis. Entre residentes e não residentes podemos citar como exemplos
as patentes, as propriedades intelectuais e os direitos autorais. Os Erros e Omissões (EO)
devem ser registrados, devido à ocorrência de imperfeições no momento de se registrar as
diversas contas no BP.
O Saldo do Balanço de Pagamentos (SBP) é encontrado por meio do somatório do
STC, a CK, a CF e os EO. O resultado final do SBP (déficit ou superávit) irá revelar a posição
do país em relação às suas transações como um todo com o resto do mundo. Por fim, temos
os Haveres da Autoridade Monetária (HAM), que são os ativos de reserva internacional con-
trolados pelo governo, que estão disponíveis para financiar desequilíbrios no BP.
Essa conta será equivalente ao SBP, porém será registrada com o sinal contrário.
Sendo assim, quando for apresentado um sinal negativo do BP, os HAM aumentam no
mesmo valor, caso for positivo, há uma redução dos HAM no mesmo valor. Desse modo,
quando for lançado nessa conta um valor com o sinal negativo, temos o aumento nas re-
servas, pois o BP foi superavitário, por outro lado, quando o resultado lançado for positivo,
temos uma queda nas reservas, pois o BP apresentou um déficit.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 55


Diante das especificações apresentadas do Balanço de Pagamentos, é possível
compreender que o seu saldo revela a “saúde” do comércio internacional de uma nação.
Caso o país apresente um déficit, deverá cobrir esses créditos; caso não possuir reservas
internacionais ou não desejar utilizar as reservas disponíveis, o país deve captar recursos
por meio de empréstimos e/ou financiamentos no comércio internacional.
No entanto, em uma situação de superávit, a nação se encontra em uma situação
oposta, em que está acumulando reservas internacionais. Assim, as principais contas que
devem ser observadas nesse contexto são as contas corrente e capital. Segundo Salvatore
(2000), essas duas contas estão relacionadas a negócios e lucros (com exceção da Renda
Secundária) e são conhecidas como transações autônomas, enquanto a conta financeira
é denominada de transações de acomodação, pois são utilizadas para equilibrar as contas
de transações autônomas.
Diante disso, as políticas comerciais são de extrema importância para o balanço de
pagamentos, afetando diretamente as transações autônomas, especialmente a CC, devido
à imposição às importações e o favorecimento da industrial nacional. Com isso, contribui
para melhores resultados na Balança de Pagamentos por meio do saldo nas transações
correntes, o qual favorece as transações autônomas do país.

SAIBA MAIS
Vimos que as transações que ocorrem entre as nações no Balanço de Pagamentos de-
vem ser conversíveis em dólar, moeda aceita mundialmente. Porém, em determinadas
situações, em que necessitamos de moedas de outros países, precisamos saber o valor
necessário, para isso, é utilizada a taxa de câmbio. Para obter a taxa de câmbio para
qualquer moeda o Banco Central disponibiliza a conversão por meio do site: https://
www.bcb.gov.br/.

REFLITA
Dada a importância da taxa de câmbio para o comércio internacional entre os países,
qual a melhor estratégia para uma nação: desvalorizar/depreciar ou valorizar/apreciar a
taxa de câmbio?
Fonte: o autor.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 56


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da unidade, com conhecimentos sobre taxas


de câmbio e Balanço de Pagamentos. Vimos os conceitos e a teoria das taxas de câmbio
e como são apresentadas as contas de transações comerciais internacionais. Assim, pu-
deram ser verificados os mais diversos tipos de transações entre uma economia e o resto
do mundo.
Inicialmente, foi apresentado como são realizadas as trocas entre mercadorias por
meio da taxa de câmbio e a influência de uma depreciação/desvalorização cambial ou de
uma apreciação/valorização cambial no preço. Além disso, foram apresentadas a taxa de
câmbio nominal e a taxa de câmbio real, mostrando a diferença entre elas, além de suas
utilizações específicas.
Posteriormente, foram evidenciados os regimes cambiais, no qual podem ser utili-
zados como uma política econômica do governo. Desse modo, verificou-se que a taxa de
câmbio pode influenciar na economia, sendo para estimular a atividade econômica ou para
contribuir para o controle da inflação, devido à mudança nos preços de bens e serviços que
são comercializados em transações internacionais.
No último tópico foram abordados aspectos relacionados às transações comerciais
de uma economia com o resto do mundo. Sendo assim, aprendemos como é estruturado
o Balanço de Pagamentos de uma economia e o conceito de cada conta e, ainda, a es-
pecificação de como cada conta é lançada. Além disso, foi estudado como avaliar o saldo
do Balando de Pagamentos, evidenciando as contas mais importantes, com o intuito de
colaborar para que o governo adote as melhores políticas comerciais.
Assim, chegamos ao final da unidade, esperamos que tenha gostado. Ótimo estudo!

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 57


LEITURA COMPLEMENTAR

OREIRO, J. L. Autonomia de política econômica, fragilidade externa e equilíbrio do balanço


de pagamentos. A teoria econômica dos controles de capitais. Economia e Sociedade, v.
13, n. 2, 2004.

MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Economia Internacional
Autor: Maria Auxiliadora Carvalho e César Roberto Leite Silva
Ano: 2017
Editora: Saraiva
Sinopse: Compreender as consequências das mudanças econô-
micas internacionais sobre a dinâmica da economia doméstica e
sobre o desempenho das empresas foi importante no passado e
tornou-se uma necessidade ainda mais premente nesses tempos
de redução das barreiras entre mercados. Existem vários livros
sobre o assunto, mas são poucos os de autores nacionais. Este
livro aplica a teoria à prática com exemplos da realidade brasileira,
com ênfase na experiência recente, o que torna o estudo mais
interessante e de maior utilidade para estudantes e profissionais.
A quinta edição de Economia Internacional mantém o propósito de
possibilitar o aprendizado de forma intuitiva sem desprezar o rigor
da teoria econômica. Ela traz o balanço de pagamentos com sua
estrutura adaptada às normas da 6ª edição do Manual de Balanço
de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6),
além de temas como as crises dot-com e subprime, mercado de
câmbio e especulação financeira e a recuperação dos anos 2000.
Com as suas constantes atualizações, o livro se consolida cada
vez mais como referência no mercado, sendo um instrumento
essencial para todos os interessados no tema.

FILME/VÍDEO
Título: Trabalho interno
Ano: 2010
Sinopse: Em 2008, uma crise econômica de proporções globais
fez com que milhões de pessoas perdessem suas casas e empre-
gos. Ao todo, foram gastos mais de US$ 20 trilhões para combater
a situação. Através de uma extensa pesquisa e entrevistas com
pessoas ligadas ao mundo financeiro, políticos e jornalistas, é des-
vendado o relacionamento corrosivo que envolveu representantes
da política, da justiça e do mundo acadêmico.

UNIDADE III Taxas de Câmbio e Regimes Cambiais 58


UNIDADE IV
A Política Macroeconômica
Internacional
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• A política macroeconômica internacional;
• A regulamentação econômica internacional e os organismos internacionais;
• A globalização, a empresa no mundo globalizado e a internacionalização de empresas.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar política macroeconômica internacional;
• Compreender os tipos de regulamentações econômicas internacionais e os organismos
internacionais;
• Estabelecer a importância da globalização, da internacionalização de empresas e das
empresas multinacionais e transnacionais.

59
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à esta unidade da apostila.


Nesta unidade será estudado sobre as políticas macroeconômicas internacionais,
regulamentações econômicas, globalização e as empresas no mundo globalizado. Essa
área do conhecimento aborda sobre como os países adotam suas políticas macroeconômi-
cas internacionais e como isso pode afetar a economia internacional.
Inicialmente, serão apresentados os principais objetivos dos países, sendo eles
internos e externos e suas diferentes formas de desenvolvimento. Sendo que, os países
sempre estão em busca do desenvolvimento, mas cada nação tem suas peculiaridades,
o que não torna uma tarefa fácil. Países como o Brasil apresentavam características que
propiciavam se tornar uma nação agroexportadora, devido a suas condições geográficas
favoráveis para o plantio.
Em seguida, será estudado como se deu a abertura econômica nos países em
desenvolvimento e sua relação com as políticas comerciais. Passando pelo período das
economias primário-exportadoras, seguindo para o Processo por Substituição de Importa-
ções até chegar ao período de abertura comercial dos países em desenvolvimento. Além
do contexto histórico, serão apresentadas as mudanças das políticas ocorridas a partir do
avanço da globalização e abertura econômica no final do século XX.
Posteriormente, será apresentada a importância das regulamentações econômicas
internacionais e o papel dos organismos internacionais, especialmente a partir do fim do sé-
culo XX. Vamos verificar como esses organismos internacionais contribuíram para melhorar
as relações internacionais, dadas pelas regras estabelecidas, podendo esse organismo ser
a nível mundial ou regional.
Por fim, vamos estudar a globalização, a empresa no mundo globalizado e a inter-
nacionalização das empresas. Será abordado o conceito de globalização e a importância
das empresas no mundo globalizado, além de entender como funcionam as empresas
multinacionais e transnacionais.
Desejamos um ótimo estudo!

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 60


1 A POLÍTICA MACROECONÔMICA INTERNACIONAL

Segundo Krugman e Obstfeld (2005), as economias abertas têm como um dos


principais objetivos atingir o equilíbrio interno e externo. O equilíbrio interno está relacio-
nado à utilização dos fatores de produção1, se a economia apresenta pleno emprego dos
fatores de produção e estabilidade no nível de preços. Quanto ao equilíbrio externo, se
refere às transações correntes, um país não apresenta equilíbrio externo quando o déficit
em transações correntes chega a patamares impagáveis, mesmo no futuro.
Para alcançar o equilíbrio interno, os recursos produtivos devem estar plenamente
empregados e o nível de preços deve estar estável. Caso os fatores de produção estiverem
subutilizados, ou seja, existem fatores de produção que não estão sendo utilizados. Com
isso, o país não está produzindo em sua capacidade máxima, levando à pobreza.
Por outro lado, a utilização dos fatores produtivos acima do normal também apre-
senta problemas para a economia, sendo diferente de quando os recursos são subutilizados.
Nesse caso, por exemplo, uma empresa que tem funcionários que excedem seu horário de
trabalho em determinados períodos, levam a maior utilização das máquinas que o normal,
e assim, estas tendem a quebrar mais e se depreciar mais rápido.
As duas situações apresentadas podem apresentar influência sobre o nível de pre-
ços. Desse modo, as incertezas quanto à variação no nível de preços prejudicam a tomada

1 Fatores de produção ou recursos produtivos se referem a todos os elementos necessários para a


produção em uma econômica, no qual são representados pelas máquinas, equipamentos, matéria-prima e
mão de obra.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 61


de decisão dos agentes econômicos. Quando há uma utilização excessiva dos fatores de
produção, os preços e salários tendem a se elevar; na subutilização dos fatores produtivos
ocorre o contrário. Diante disso, o governo adota medidas com o intuito de manter a insta-
bilidade do nível de preços (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
No cenário internacional, as nações estão em busca do desenvolvimento econô-
mico. Na economia mundial os países são classificados como economias desenvolvidas e
economias em desenvolvimento. São consideradas economias desenvolvidas os países
que apresentam alta renda per capita, enquanto as economias em desenvolvimento têm
baixa renda per capita. Outro indicador que pode avaliar mais precisamente o desenvol-
vimento é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o qual considera, além da renda,
indicadores de saúde e de educação.
Conforme Salvatore (2000), no comércio internacional, as economias em desen-
volvimento ou mais pobres tendem a exportar mais produtos básicos. Por outro lado, as
nações desenvolvidas exportam mais produtos industrializados, devido a maior eficiência
nas produções dessas mercadorias, respectivamente. Ainda deve ser ressaltado que as
economias sempre estão procurando se desenvolver. Considerando esse aspecto, se pode
verificar que, com o passar do tempo, houve mudanças na política macroeconômica inter-
nacional, especialmente em países em desenvolvimento.
Com destaque para o Brasil, até a década de 1920, o país apresentava especia-
lização em um produto, o café, sendo que, devido a grandes produções que ocorriam, as
autoridades monetárias brasileiras adotavam uma política de defesa de preço do café, que
chegou a situações de não apenas comprar o excedente de café, mas também queimar
uma parte do estoque do café. Em 1927 houve uma produção recorde da safra de
café; em 1929, houve outro recorde na produção, ano da Grande Depressão, que fez a
demanda dos países industrializados por produtos básicos reduzirem. Desse modo, os
preços caíram para um terço do valor no início do ano e, ao longo do ano, os preços do
café apresentaram um colapso (FRITSCH, 2014).
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), não apenas o Brasil, mas outros países
em desenvolvimento apostaram em uma nova política internacional. Foi o início de um
processo em que os países menos desenvolvidos procuraram substituir suas importações,
tendo início na Segunda Guerra Mundial, indo até a década de 1970. Nesse processo, as
nações em desenvolvimento tinham como objetivo produzir produtos manufaturados em
vez de importar.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 62


No caso do Brasil, foi adotado o Processo de Substituição de Importações (PSI.
O argumento mais importante do PSI era o argumento da indústria nascente. Esse argu-
mento dizia que países em desenvolvimento têm uma vantagem comparativa potencial na
manufatura, porém as novas indústrias manufatureiras não podem concorrer com as sóli-
das manufaturas dos países desenvolvidos. Ou seja, segundo esse argumento, os países
apresentavam potencial para desenvolver suas indústrias no longo prazo, mas, no início,
precisavam de proteção, pois não conseguiriam competir com as indústrias dos países
desenvolvidos.
Essa nova política seria uma alternativa para os países em desenvolvimento não
sofrerem tanto com as crises externas, como na Grande Depressão, procuravam industria-
lizar o país para atender a demanda interna e não ficar mais vulnerável a choques externos.
Para isso, o país concedia subsídios à produção de manufaturas e subsídios à exportação
de alguns bens manufaturados.
Contudo, alguns economistas alertavam para problemas que poderiam
ocorrer com o argumento da indústria nascente. Sugeriram que deveriam ser tomadas
algumas precauções ao adotar essa política de industrialização no país. Para adotar o
argumento da indústria nascente, seria necessário ir além do conceito de que as
indústrias sempre devem ser protegidas quando novas, de modo que a nação poderia
apresentar duas falhas de mercado que inviabilizaria a adoção dessa política, apresentar
mercados imperfeitos de capitais e/ou apresentar o problema de apropriabilidade.
O país não poderia apresentar mercados imperfeitos de capitais, ou seja, o país
deveria possuir instituições financeiras que permitissem que a poupança de setores tradi-
cionais fosse utilizada para financiar novos investimentos. Portanto, os ganhos adquiridos
com os setores tradicionais deveriam ser utilizados para financiar novos setores industriais.
Outra falha de mercado que o país não pode apresentar é o problema de apro-
priabilidade, essa falha pode assumir diversas formas, no entanto, todas possuem a ideia
em comum de que uma nova indústria gera benefícios sociais pelos quais não são com-
pensadas. Ou seja, o custo inicial de uma empresa industrial pioneira, seja de instalações,
tecnologias, adaptações, entre outros, não será recompensado, de modo que as novas
empresas da indústria entraram no mercado sem precisar arcar com esses custos iniciais,
o qual foi custeado pela empresa pioneira.
Além disso, a substituição de importações pode promover o dualismo econômico.
Uma economia dual apresenta a divisão de uma economia em dois setores com níveis de
desenvolvimento muito diferentes. As políticas comerciais adotadas podem levar ao dualis-

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 63


mo econômico, que pode ser explicado por dois argumentos: o primeiro é que as empresas
oferecem salários elevados na indústria para reduzir a rotatividade e aumentar o esforço
no trabalho e o segundo se refere à adoção de cotas de importação, com o comércio mais
livre, os salários seriam menores (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
A nação com dualismo econômico apresenta algumas características na sua eco-
nomia, sendo elas:
● O valor do produto por trabalhador é muito maior no setor moderno do que no
resto da economia;
● Além do produto por trabalhador, o salário também é mais elevado;
● Retornos do capital não são necessariamente maiores;
● Maior intensidade de capital no setor manufatureiro do que na agricultura.

A partir da década de 1980 houve uma mudança na política internacional, como foi
visto anteriormente, o argumento da indústria nascente possui falhas. Krugman e Obstfeld
(2005) relatam o exemplo da Coréia do Sul, mais especificamente da indústria automo-
bilística. Na década de 1980 o país se tornou exportador de automóveis. Porém foi uma
época em que apresentavam boas condições para desenvolver essa indústria, talvez não
fosse possível desenvolver essa indústria na década de 1960, devido a falta de trabalho
qualificado e de capital.
No Brasil, na década de 1970 houve a inserção do agronegócio2 no Sul do país. E
ainda é criada uma empresa de pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), que favoreceu ainda mais o agronegócio brasileiro. Entretanto essa mudança
na estrutura produtiva surtiu efeitos para a população, que vivia principalmente no campo.
A consequência da entrada do agronegócio no Brasil foi o fechamento de postos de
trabalho no campo em função das máquinas que faziam o trabalho, assim, os trabalhadores
ficaram sem emprego no campo, o que resultou no êxodo rural. Sendo que uma parte dos
pequenos proprietários de commodities também foi para a cidade, enquanto a outra parte
dos pequenos proprietários foi para outros lugares. Alguns foram para o Paraguai, pois
o país tinha interesse nas terras próximas a Itaipu, que foi inaugurada em 1984, então
vendiam terras baratas para plantio, e outros foram para o Cerrado, que era o destino de
quem não tinha dinheiro, pois a região estava sendo preparada para o plantio.
A abertura comercial entre os países a partir da década de 1990 mudou a forma
com que as nações consideravam a política macroeconômica internacional. Agora, além da

2 O agronegócio vai desde o plantio até a manufatura/industrialização do produto.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 64


inserção da tecnologia no campo, favorecendo a agroindústria, os países também diversifi-
caram os produtos destinados ao comércio internacional.
As mudanças ocorridas na política macroeconômica internacional proporcionaram
transformações significativas em alguns países. Inicialmente podemos falar da maior eco-
nomia do mundo, os Estados Unidos, de 1970 até 20173 o país apresentou o maior Produto
Interno Bruto (PIB) do mundo (UNSD, 2019).
No entanto, quando é observado o comportamento da riqueza nesse período,
medido pelo Produto Interno Bruto per capita (PIBpc), os Estados Unidos, da posição de
3º como país mais rico, em 1970, passa para a posição 12º. Isso pode ser explicado pelo
desenvolvimento de países menores no período, beneficiados pela globalização e
pela maior interação comercial entre os países (UNSD, 2019).
Deve ser ressaltado que os países de Liechtenstein e Mônaco ficaram entre os dois
países mais ricos do mundo, medido pelo PIBpc no período. Isso se deve especialmente
à população desses países, estando entre as menores populações do mundo, ambas não
chegaram a 40 mil habitantes em 2017, assim, mesmo o PIB total não apresentando um
valor elevado, quando dividido pela população, apresenta um valor elevado (UNSD, 2019).
Outro indicador que pode ser verificado para comparar o desenvolvimento é o Índi-
ce de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH teve início em 1990, indicador que considera,
além da renda, dimensões de saúde e educação. Três países que podem se destacar com
altos níveis de desenvolvimento são: Noruega, Suíça e Austrália, países que apresentaram,
em 2017, os maiores níveis de desenvolvimento, respectivamente (UNDP, 2019).
No caso do Brasil, apesar da melhora na comparação com outros países, conside-
rando o PIB e o PIBpc, entre 1970 e 2017, e o IDH, entre 1990 e 2017, ainda tem muito a se
desenvolver. O país apresentou, em 2017, o 7º maior PIB do mundo, contudo, apresentou
o 76º maior PIBpc, e ainda ficou na posição de 79 quando comparado ao indicador de
desenvolvimento dos países (IDH) (UNSD, 2019; UNDP, 2019).
O caso mais extremo, no que se refere à influência das políticas macroeconômicas
internacionais, foi a China. Em 1970, o país apresentava o 7º maior PIB do mundo e em
1990 era a 11º maior economia do mundo. Devido as grandes mudanças ocorridas nas
relações internacionais entre os países, em 2017, a China se tornou a 2º maior economia
do mundo, quanto ao PIBpc, de 1970 a 2017, a posição da China passou de 71º para 5º
maior PIBpc do mundo (UNSD, 2019).

3 Período de disponibilidade de dados.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 65


Em termos de desenvolvimento econômico (IDH) também houve uma
melhora, porém, em 2017, a China apresentou o 86º maior desenvolvimento entre os
países, mostrando que é essencial o crescimento econômico das nações, mas não é
suficiente para o desenvolvimento econômico. Desse modo, é possível verificar que, para
uma economia se desenvolver, é essencial investir em outras áreas, como saúde e
educação (UNDP, 2019).
Como pode ser veri icado em alguns casos, o período em que ocorreram o
avanço da globalização e a maior abertura comercial pode ter contribuído com o
crescimento econômico de algumas nações, e até com o desenvolvimento econômico.
Essas mudanças variaram de país para país, conforme a política adotada em cada nação.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 66


2 A REGULAMENTAÇÃO ECONÔMICA INTERNACIONAL E OS ORGANISMOS INTER-
NACIONAIS

Nas últimas décadas, devido à ocorrência de modificações na economia mundial,


como a globalização dos mercados e avanços tecnológicos, foi transformada a estrutura
do comércio internacional. Isso muito se deve a inserção do agronegócio nos países em
desenvolvimento, que tinha como finalidade a maior participação no comércio internacional,
como mencionado no tópico anterior.
Assim, a abertura comercial contribuiu para a maior participação dos países no
comércio internacional, especialmente países em desenvolvimento. Além da adoção de
políticas de comércio internacional, que impactam diretamente nos diversos setores de
uma economia, surgiram estratégias de comércio internacional para maiores ganhos entre
os países, no qual podem ser considerados os blocos econômicos.
Com a maior intensidade das relações internacionais, devido à abertura comercial,
as atuações de organismos internacionais se tornaram de grande importância. Essas insti-
tuições contribuíam para o ordenamento das relações internacionais, com influência fiscal
e política. Dentre os organismos internacionais mais importantes, podem ser citados alguns
com diferentes funções:
1. O Fundo Monetário Internacional (FMI), fundado em 1944. Esse organismo
internacional conta com a participação de 188 países. Ele funciona como um
agente que financia os países conforme suas necessidades. Esse organismo

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 67


tem como objetivo principal manter a estabilidade financeira e monetária no
mundo, o aumento do nível de emprego e a diminuição da pobreza.
2. A Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1945 é a maior organi-
zação internacional do mundo. Apresenta como objetivos principais questões
relacionadas às pessoas, como o respeito aos direitos humanos e a manutenção
da paz mundial.
3. A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada no ano de 1994, e tem a
participação de 149 países membros. Esse organismo internacional apresenta
atuação voltada ao comércio internacional, com o intuito de realizar a fiscaliza-
ção e regulamentação do comércio mundial e gerenciar os acordos comerciais
entre as nações.
4. A Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi
criada em 1961, e possui 36 países membros. Essa organização tem como ob-
jetivos principais o desenvolvimento econômico e a manutenção da estabilidade
financeira entre os países membros por meio de padrões internacionais.
5. A Organização dos Estados Americanos (OEA), criada em 1948, conta com a
participação de 35 países do continente americano. Tem como objetivos princi-
pais a integração econômica, o combate ao tráfico de drogas, ao terrorismo, às
armas e o combate à corrupção.
6. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é um organismo internacional
da ONU, criada em abril de 1919. Atua, em nível mundial, em assuntos relacio-
nados ao trabalho e relações trabalhistas, com o objetivo de promover a justiça
social entre as nações.
7. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) é uma das
missões regionais da ONU, fundada em 1948. A CEPAL apresenta uma atuação
nos países da América Latina e no Caribe para promover o desenvolvimento
econômico destes, por meio de políticas públicas.

Cada Estado possui independência para tomar suas decisões econômicas con-
forme seus objetivos em seus mercados internos. Contudo, nas relações internacionais,
devem seguir as regulamentações estabelecidas pelos organismos internacionais.
Com isso, esses organismos internacionais visam o benefício conjunto das nações
com as relações internacionais, realizando políticas internacionais que contribuam para
o seu desenvolvimento. Cada organismo internacional apresenta objetivos específicos,
podendo ser de ordem mundial ou de ordem regional. Assim, essas instituições estabe-
lecem propostas para o benefício em conjunto das relações internacionais para os países
membros.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 68


3 A GLOBALIZAÇÃO, A EMPRESA NO MUNDO GLOBALIZADO E A INTERNACIONA-
LIZAÇÃO DE EMPRESAS

No contexto da integração econômica entre as nações, as empresas possuem um


papel fundamental, pois são as principais responsáveis por oferecerem os bens e ser-
viços que são comercializados. Os agentes representados pelas empresas promovem a
integração entre os países por meio do comércio internacional, sendo influenciados pela
abertura comercial, que permitiu o avanço do comércio. Entretanto, deve ser ressaltado que
os agentes econômicos representados pelas pessoas físicas, apresentam uma parcela da
participação nas relações comerciais.
Esses fatores se devem ao fenômeno chamado globalização. A globalização pode
ser definida como um processo de integração econômica e social entre os países. Sendo
assim, os agentes econômicos estão “próximos” nas relações internacionais, houve maior
facilidade de comércio internacional para as empresas, maior mobilidade para as pessoas
se deslocarem e realizarem compras internacionais, ainda houve uma maior facilidade
em realizar investimentos estrangeiros para pessoas e empresas, rompendo as barreiras
geográficas.
Conforme Gonçalves (1998), a globalização pode ser dividida em globalização
financeira e globalização produtiva. Sabendo disso, o foco desse tópico pode ser represen-
tado pela globalização produtiva, que se refere à concorrência internacional, à integração
das estruturas produtivas das economias nacionais e internacionalização da produção.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 69


Em relação à concorrência internacional, não existe a possibilidade de uma es-
timativa exata. Contudo, a partir da abertura comercial, dada especialmente na década
de 1990 e, consequentemente, o aumento das relações internacionais entre os agentes
econômicos, os governos apresentam atenção especial para as políticas externas, com
o intuito de conseguir maior competitividade no comércio internacional. Como vimos nas
unidades anteriores, uma desvalorização cambial resulta em uma maior competitividade
no comércio internacional, mas em qual magnitude deve acontecer essa desvalorização?
Essa é uma questão a ser definida pelos governos de cada nação.
O movimento do comércio internacional contribui para a integração produtiva das
economias nacionais, a qual pode ser verificada pela relação de contas nacionais. Portanto,
pode ser observado, na Tabela 1, o crescimento do Investimento Estrangeiro Direto (IED) e
do Produto Interno Bruto (PIB per capita) em diferentes períodos a partir do ano 2000.

Tabela 1 – Internacionalização da produção

Variação no período (%)


Indicador
2000-2005 2005-2010 2010-2015
Investimento Estrangeiro Direto (IED) - 30 44 49
Produto Interno Bruto per capita (PIB per capita) 1,81 1,01 1,53
Fonte: UNCTAD, United Nations Conference on Trade and Development (2019).

Entre 2000 e 2005, o IED apresentou redução e o PIB per capita, crescimento,
sendo assim, pode-se falar que houve uma menor integração entre as economias mundiais,
enquanto o IED reduziu 30%, houve crescimento da economia mundial de 1,81%. Por outro
lado, nos períodos entre 2005 e 2010 e entre 2010 e 2015 ocorreu um aumento do IED
maior que o PIB per capita, nesse caso houve maior integração entre as economias mun-
diais, o IED cresceu 44% e 49% nos períodos, respectivamente, sendo que o crescimento
da economia mundial foi de 1,01% e 1,53%, respectivamente.
Desse modo, a integração produtiva das economias nacionais resulta na interna-
cionalização produtiva, que acontece quando os residentes de um determinado país podem
adquirir bens e serviços produzidos em outros países. De acordo com Culpi (2016), as
nações apresentavam diferentes padrões de consumo, fato que se modificou com o pro-
cesso de globalização, hoje diversos países apresentam padrões de consumo semelhantes
devido à facilidade de acesso a bens e serviços, que rompeu com as barreiras geográficas.
Assim, a internacionalização produtiva está relacionada ao acesso de produtos de
vários países. Por exemplo, os brasileiros podem consumir produtos produzidos na China,

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 70


dado a acilidade do comércio internacional, em que são oerecidas relações contratuais
e pelos IEDs, tendo como principais agentes as empresas, por isso, apresentam maior
importância para o sistema econômico internacional.
Nas relações contratuais, as empresas estrangeiras do país local a produção
apre-senta origem no país doméstico. Por outro lado, no IED a atuação das empresas
estran-geiras nos países locais é por meio de filiais/franquias. Ou seja, essa
internacionalização da produção diz respeito à facilidade de acesso de pessoas físicas e
organizações entre os países.
As organizações que realizam IED são empresas denominadas de transnacionais
ou multinacionais. Segundo Culpi (2016), com o avanço da globalização os indivíduos e
o governo deixaram de ser os principais agentes econômicos, sendo agora as empresas
transnacionais, mas que não possuem responsabilidade com os países, buscando apenas
benefícios econômicos para se instalar.
Portanto, as empresas do país de origem e das filiais podem apresentar interes-
ses econômicos divergentes. Atualmente, grande parte das empresas internacionais é
transnacional, citamos algumas das principais como sendo: Nestlé, Microsoft e Ford, que
apresentam origem brasileira são: grupo JBS, Natura, Gerdau e Tigre.
Além das empresas transnacionais, outro importante agente econômico no co-
mércio internacional é representado pelas empresas multinacionais, que, conforme Culpi
(2016, p. 62), podem ser definidas como “corporações localizadas em mais de três países
e que controlam as atividades estrangeiras por meio do arranjo da firma”.
Com a globalização, houve um expressivo avanço tecnológico, novas formas de
fabricação, diversificação de produtos e redução de custos. Desse modo, as empresas
multinacionais foram influenciadas a aumentar sua produção, com uma empresa matriz
e outras filiais pelo mundo, no qual seguem as recomendações da empresa do país de
origem.
Diante disso, é possível diferenciar as empresas multinacionais e transnacionais.
Enquanto as empresas multinacionais são formadas por um grupo de empresas, no qual
apresenta uma matriz no país de origem que direciona as diretrizes para as demais, as
empresas transnacionais também possui uma empresa matriz no país de origem; porém, as
empresas dos demais países possuem interesses próprios, podendo até entrar em conflito
com os interesses do país de origem. Assim, nas empresas multinacionais as decisões das
empresas são tomadas pelo país de origem, e nas empresas transnacionais, as empresas
possuem poder de decisão em seus respectivos países.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 71


SAIBA MAIS
A literatura científica aborda, de diferentes formas, a globalização, uma dessas formas
está relacionada à formação de blocos econômicos, como no artigo intitulado Os efeitos
da globalização nos processos de integração de blocos econômicos, de autoria de Fer-
nanda Calil Petri e Beatriz Teixeira Weber, em que discutem os aspectos da globalização
para a formação de blocos econômicos.
O artigo está disponibilizado nos anais do Encontro Nacional de Economia por meio
do link: http://coral.ufsm.br/mila/publicacoes/reppilla/edicao02-2006/2006%20%20arti-
go%205.pdf.

REFLITA
Considerando as mudanças ocorridas pelo processo da globalização no contexto eco-
nômico, reflita sobre as consequências para a economia mundial, considerando as van-
tagens e desvantagens para as pessoas.
Fonte: o autor.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 72


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da unidade conhecendo sobre as políticas


macroeconômicas internacionais. Foram verificadas nesta unidade as políticas macroe-
conômicas internacionais, regulamentações econômicas, globalização e as empresas no
mundo globalizado. Com essa teoria podemos entender como se deram as transormações
nas políticas macroeconômicas entre as nações.
Primeiro verificamos que os países sempre buscam se desenvolver, para isso,
procuram adotar as melhores políticas econômicas. Até o início do século XX os países se
especializam na fabricação de produtos manufaturados, enquanto países menos desen-
volvidos se especializavam na fabricação de commodities. Depois da crise de 1929 houve
uma mudança na política internacional, especialmente nos países desenvolvidos devido à
queda da demanda mundial. No final desse século, com a globalização e a maior abertura
comercial, houve uma nova mudança na política macroeconômica internacional, e ainda
verificamos indicadores para identificar o crescimento e desenvolvimento dos países.
Em seguida, foi apresentada a importância das regulamentações econômicas
in-ternacionais e como os organismos internacionais influenciam nessas
regulamentações. Vimos que esses organismos internacionais estabelecem normas que
contribuem para a melhora das relações internacionais a nível mundial ou regional e,
assim, os países tenham condições de se desenvolver.
Por fim, estudamos a globalização, a empresa no mundo globalizado e os tipos de
internacionalização das empresas. Foi abordado o conceito de globalização e a importância
das empresas no mundo globalizado, além de verificar como as empresas multinacionais
e transnacionais podem contribuir para o desenvolvimento das nações por meio de inves-
timentos externos.
Assim, chegamos ao final da unidade.
Esperamos que tenha gostado. Ótimo estudo!

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 73


LEITURA COMPLEMENTAR

CARNEIRO, J.; DIB, L. A. Avaliação comparativa do escopo descritivo e explanatório dos


principais modelos de internacionalização de empresas. Revista Eletrônica de Negócios
Internacionais, v. 2, n. 1, p. 1-25, 2007.

MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Economia Internacional
Autores: Robson Ribeiro Gonçalves, Mario Rubens Mello Neto,
Nora Raquel Zygielszyper e Virene Roxo Matesco
Editora: FGV Management
Ano: 2015
Sinopse: O objetivo deste livro é oferecer um guia conciso de eco-
nomia para os atuais e futuros profissionais da área de comércio
exterior. Os negócios internacionais são um campo de interesse
crescente, seja para os estudiosos, seja para os profissionais e
suas empresas, seja para os governos. O intercâmbio econômico
entre as nações tem crescido fortemente nas últimas décadas,
tanto no âmbito comercial quanto no financeiro. Como consequên-
cia, o grau de interdependência dessas nações se elevou, bem
como a complexidade e a velocidade das trocas mercantis e dos
fluxos de capital. A cada capítulo, apresentamos temas direta ou
indiretamente relacionados com o comércio externo e os fluxos de
capital entre países. Nosso objetivo é colocar o estudo da ciência
econômica em um contexto global, explicitando como a ação de
pessoas, empresas e governos moldam e ao mesmo tempo é
influenciada pelos negócios internacionais.

FILME/VÍDEO
Título: Commanding heights
Ano: 2012
Sinopse: Dividido em três episódios, o documentário destrincha
a história econômica da segunda metade do século XX. Entre os
temas abordados, estão a reconstrução do pós-guerra, a constru-
ção do Estado de bem estar social, as crises do capitalismo e do
socialismo. O filme tem o mérito de mostrar a mudança, cheia de
dramas, das economias nacionais para se adequar na competição
global.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 74


REFERÊNCIAS

ABREU, M. de P.; WERNECK, R. L. F. Estabilização, abertura e privatização, 1990-1994. In: ABREU,


M. de P. (Org.). A Ordem do Progresso: Dois Séculos de Política Econômica no Brasil. Rio de Ja-
neiro: Elsevier, 2014. p. 313-330.

BACEN – Banco Central do Brasil. Estatísticas. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/


historicoestatisticas. Acesso em: 23 set. 2019.

BRUE, S. L. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Thomson, 2006.

CULPI, L. A. Empresas transnacionais: uma visão internacionalista. Curitiba: Intersaberes, 2016.

FRITSCH, W. Apogeu e crise na Primeira República, 1900-1930. In: ABREU, M. de P. (Org.). A Or-
dem do Progresso: Dois Séculos de Política Econômica no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
p. 45-78.

GONÇALVES, R. A Nova Economia Internacional: Uma Perspectiva Brasileira. Rio de Janeiro:


Elsevier, 1998.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Países. Disponível em: https://paises.ibge.


gov.br/#/mapa/comparar/brasil?indicador=77849&tema=5&ano=2018. Acesso em: 23 set. 2019.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 6. ed. São Paulo:
Pearson Addison Wesley, 2005.

RATTI, B. Comércio internacional e câmbio. 9. ed. São Paulo: Aduaneiras, 1997.

SALVATORE, D. Economia Internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development. FDI Statistics. Disponível em:
https://unctad.org/en/Pages/DIAE/FDI%20Statistics/FDI-Statistics.aspx. Acesso em: 10 dez. 2019.

UNDP – UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. Data. Disponível em: http://hdr.undp.


org/en. Acesso em: 10 dez. 2019.

UNSD – UNITED NATIONS STATISTICS DIVISION. Data. Disponível em: https://unstats.un.org/


unsd/nationalaccount/. Acesso em: 10 dez. 2019.

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 75


CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeito dos
fundamentos do comércio internacional, para tanto abordamos as definições teóricas e um
contexto histórico. Nesse aspecto, acreditamos que tenha ficado claro para você a impor-
tância do comércio internacional para um país e quais as políticas e estratégias podem ser
adotadas para que uma nação busque alcançar seus objetivos.
Destacamos também a importância histórica das políticas macroeconômicas inter-
nacionais, dado pelas mudanças ocorridas no contexto do comércio internacional devido ao
avanço da globalização e da maior abertura comercial. Além dos aspectos históricos, foram
abordados exemplos práticos para a melhor compreensão do comércio entre os países.
Levantamos também aspectos históricos que nos levaram a chegar no contexto
em que estamos atualmente da economia internacional. Esse olhar para o passado para
entender o presente e visualizar o futuro é algo inerente aos profissionais que atuam direta
ou indiretamente com o setor externo para que sejam gestores eficientes e antenados.
A partir de agora acreditamos que você já está preparado(a) para seguir em frente
desenvolvendo ainda mais suas habilidades para criar e desenvolver estratégias profissio-
nais de sucesso no mercado exterior e realizar bons negócios.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado!

UNIDADE IV A Política Macroeconômica Internacional 76

Você também pode gostar