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GRADUAÇÃO

Unicesumar

ECONOMIA DO
SETOR PÚBLICO

Professora Me. Daniela Carla Monteiro


Professor Me. Diego Figueiredo Dias

Acesse o seu livro também disponível na versão digital.


Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Diretoria Executiva
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Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
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Gerência de Processos Acadêmicos
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Supervisão de Produção de Conteúdo
Nádila Toledo
Coordenador de Conteúdo
Eder Rodrigo Gimenes
Designer Educacional
Lilian Vespa
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
200 p. Flávia Thaís Pedroso
“Graduação - EaD”.
Qualidade Textual
1. Economia 2. Setor 3. Público 4. EaD. I. Título. Jaqueline Mayumi Ikeda Loureiro
Ilustração
ISBN 978-85-459-1842-4 Rodrigo Barbosa da Silva
CDD - 22 ed. 330
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade,
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento
compatível com os desafios que surgem no mundo
contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois, conforme Freire (1996): “Os ho-
mens se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e se encontram integrados à proposta pedagógica,
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação profissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades e aplicando conceitos teóricos
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm
como principal objetivo provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo, possibilitando o desenvol-
vimento da autonomia em busca dos conhecimentos
necessários para a sua formação em nível pessoal e
profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enque-
tes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões.
Além disso, lembre-se que há uma equipe de profes-
sores e tutores que se encontra disponível para sanar
suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade
e segurança sua trajetória acadêmica.
CURRÍCULO

Professora Me. Daniela Carla Monteiro


Possui Mestrado em Economia Regional pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL - 2013), Especialização em Direito do Estado – área de
concentração em Direito Administrativo pela Universidade Estadual de
Londrina (UEL - 2006) e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade
Estadual de Maringá (UEM - 2002). É professora adjunta do Departamento
de Ciências Econômicas da Faculdade Cidade Verde (FCV) e professora
formadora (EAD) no Centro Universitário de Maringá (Unicesumar).

<http://lattes.cnpq.br/0168207316464790>

Professor Me. Diego Figueiredo Dias


Diego Figueiredo Dias é Mestre em Economia pela Universidade Estadual
de Maringá, onde também se graduou em Ciências Econômicas. Atuou
como professor de graduação e pós-graduação em diversos cursos das
Ciências Sociais Aplicadas desde 2006. Coordenou o curso de graduação em
Administração da Associação Educacional do Cone Sul - MS em 2010. Em 2010
e 2011 coordenou os Cursos Superiores em Tecnologia de Gestão Financeira;
Gestão Comercial; Negócios Imobiliários; e Gestão Pública do Núcleo de
Educação a Distância do Unicesumar (Centro Universitário de Maringá-
PR). Também coordenou os cursos de pós-graduação na área de Gestão.
Foi coordenador dos Polos de Apoio Presencial do Núcleo de Educação a
Distância do Unicesumar (Centro Universitário de Maringá-PR).

<http://lattes.cnpq.br/0458701505878523>
APRESENTAÇÃO

ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá, caro(a) acadêmico(a), bem-vindo(a) ao livro de Economia do Setor Público. É com
muito prazer que apresento a você este livro, resultado de um trabalho feito com muito
carinho. Sou a Professora Me. Daniela Carla Monteiro, autora deste material, o qual pre-
parei com muita dedicação para que você aprenda acerca do relevante papel do setor
público na economia.
Assim, ressalto que os assuntos que você estudará nesta disciplina serão de grande re-
levância para sua formação, ao passo que o domínio dos conteúdos ministrados aqui
propiciarão uma nova maneira de pensar, já que reúne discussões sobre: (a) o setor pú-
blico na economia; (b) as atribuições econômicas dos estados modernos; (c) sistema
tributário, incidência tributária e eficiência; (d) estrutura, crescimento e contenção das
despesas e das dívidas públicas; (e) orçamento público: conceitos, princípios, ciclos e
orçamento participativo. Meu objetivo, ao escrever este livro, foi criar meios para que
você compreenda, da melhor maneira possível, conceitos, instrumentos e mecanismos
que fazem parte da economia do setor público, pois o ajudarão a encontrar possíveis
respostas às inúmeras questões socioeconômicas com as quais nos deparamos cotidia-
namente.
Ainda nessa vertente, o conhecimento em questão proporcionará a você melhor com-
preensão das políticas de cunho econômico vigentes no país, de modo que o exercício
da cidadania se fortalecerá. A título de exemplo, considere um cidadão que conheça
bem o contexto socioeconômico do país em que vive. Tal cidadão será capaz de identi-
ficar e de avaliar com mais propriedade, em um período eleitoral, as propostas de viés
socioeconômico dos candidatos, não é mesmo?
Ressalto ainda que, embora os conteúdos do livro tratem apenas de modo introdutó-
rio e simplificado os principais conceitos, instrumentos e mecanismos que envolvem o
tema, ele permitirá a compreensão de questões de extrema relevância. Por isso, sugiro
que aproveite!
Com relação à estrutura geral, o livro foi organizado em cinco unidades que foram elen-
cadas da seguinte maneira: Unidade 1, O Setor Público na Economia, nesta unidade,
você aprenderá, entre outros, o papel, as competências e as principais relações do se-
tor público no contexto econômico. Na Unidade 2, Atribuições Econômicas dos Esta-
dos Modernos, por sua vez, você aprenderá sobre as funções econômicas do governo
e sobre as falhas de mercado que justificam a intervenção do Estado na Economia. Se-
quencialmente, na Unidade 3, Sistema Tributário, Incidência Tributária e Eficiência, você
aprenderá sobre as características do sistema tributário vigente, bem como sobre os
efeitos da tributação sobre a atividade econômica. Posteriormente, na Unidade 4, Es-
trutura, Crescimento e Contenção das Despesas e das Dívidas Públicas, você aprenderá
sobre despesa pública, déficit governamental, dívida nacional e política fiscal. Por fim,
na Unidade 5, Orçamento Público: Conceito, Princípios, Ciclos e Orçamento Participati-
vo, você aprenderá sobre conceitos e princípios do orçamento público. Ademais, apren-
derá, entre outros, sobre ciclos orçamentários, etapas de elaboração do orçamento e
orçamento participativo.
APRESENTAÇÃO

Vale relembrar que este livro, caro(a) acadêmico(a), foi pensado para você enquanto
cidadão ativo em nosso país e enquanto estudante de graduação. Nesse sentido,
fique atento aos conteúdos que serão ministrados e estabeleça relações do mesmo
com as situações vigentes no mundo e no país em que vivemos.
Ademais, dedique-se a ler e a interagir com os textos, fazer anotações, anotar e es-
clarecer suas dúvidas, verificar as indicações de leitura, realizar novas pesquisas so-
bre os assuntos abordados, responder às atividades de autoestudo, entre outros.
Lembre-se de que toda e qualquer informação ou conhecimento adicional contri-
bui, e muito, para a construção e para a solidificação de sua formação.
Por fim, esperamos que esta iniciação ao conhecimento da economia do setor pú-
blico seja de grande valia para a sua vida pessoal e profissional. Em caso de dúvidas,
encontro-me à sua disposição juntamente com a equipe Unicesumar.
Um forte abraço!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA

15 Introdução

16 Política Econômica

20 Política Fiscal

28 Política Monetária

29 Políticas Externas: Cambial e Comercial

31 Política de Rendas

32 Considerações Finais

40 Referências

41 Gabarito

UNIDADE II

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS

45 Introdução

46 Atribuições Econômicas do Setor Público

55 As Falhas de Mercado

65 Estado Provedor versus Estado Regulador

70 Considerações Finais

78 Referências

79 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA

83 Introdução

84 Definição e Espécies de Tributos

89 Contribuições Sociais e de Intervenção de Domínio Econômico

92 Princípios Tributários

97 Competências Tributárias

99 Os Impostos e sua Classificação 

107 Os Efeitos Da Tributação sobre a Atividade Econômica

113 Considerações Finais

121 Referências

122 Gabarito

UNIDADE IV

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS


DÍVIDAS PÚBLICAS

125 Introdução

126 Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública

138 Déficit Governamental

148 Necessidade de Financiamento do Setor Público, Déficits e Dívida Pública

151 Considerações Finais

160 Referências

161 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

ORÇAMENTO PÚBLICO

165 Introdução

166 Aspectos Institucionais do Orçamento Público

167 Princípios Orçamentários

170 Orçamento Público no Brasil

186 A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

190 Considerações Finais

198 Referências

199 Gabarito

200 Conclusão
Professora Me. Daniela Carla Monteiro
Professor Me. Diego Figueiredo Dias

INSTRUMENTOS DE

I
UNIDADE
POLÍTICA ECONÔMICA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Explicar o que é política econômica.
■■ Compreender a política fiscal enquanto principal instrumento de
política econômica.
■■ Analisar a relevância da política monetária enquanto instrumento de
política econômica.
■■ Discutir as políticas cambial e comercial enquanto instrumentos
externos de política econômica.
■■ Estudar o instrumento de política econômica conhecido como
política de rendas.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Política Econômica
■■ Política Fiscal
■■ Política Monetária
■■ Políticas Externas: Cambial e Comercial
■■ Política de Rendas
15

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à primeira unidade do livro de


Economia do Setor Público. Aqui, você aprenderá sobre os instrumentos de
política econômica. Os objetivos a serem atingidos na unidade em questão
são: (a) explicar o que é política econômica; (b) compreender a política fiscal
enquanto principal instrumento de política econômica; (c) analisar a relevância
da política monetária enquanto instrumento de política econômica; (d) discu-
tir as políticas cambial e comercial enquanto instrumentos externos de política
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

econômica; (e) estudar o instrumento de política econômica conhecido como


política de rendas. Nessa direção, visando atingir os objetivos de aprendizagem
elencados, a referida unidade foi dividida em quatro tópicos, que são: (1) Política
Econômica; (2) Política Fiscal; (3) Políticas Externas: Cambial e Comercial; (4)
Política de Rendas.
O primeiro tópico tratará do conceito de política econômica, além de apre-
sentar seus principais instrumentos: (a) Política Fiscal; (b) Política Monetária;
(c) Política Cambial; (d) Política Comercial; (e) Política de Rendas. No segundo
tópico, por sua vez, chamado de Política Fiscal, será tratada a política fiscal expan-
sionista, tanto via aumento de gastos quanto via redução de tributos, e da política
fiscal contracionista nos âmbitos da redução dos gastos públicos e do aumento da
tributação. Posteriormente, no terceiro tópico, será discutida a política monetá-
ria. Esta se refere à atuação do Estado na economia sobre a quantidade de moeda
e títulos públicos. Sequencialmente, o quarto tópico tratará dos instrumentos
de política econômica externos, a saber: política cambial e política comercial.
Essas políticas atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo da econo-
mia. No quinto e último tópico será discutida a política de rendas, que se refere
à intervenção direta do governo na formação de rendas.
Assim, ao término desta unidade, você terá aprendido, ainda que sucinta-
mente, sobre os principais instrumentos de política econômica. Bons estudos!

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
POLÍTICA ECONÔMICA

Com o objetivo de atuar nos âmbitos da produção, circulação e consumo dos bens
e serviços, o governo tem adotado um conjunto de medidas, chamado de política
econômica. Tanto o conteúdo quanto o alcance dessas medidas são variáveis. O
que quero dizer é que a política econômica varia de economia para economia e
depende muito do modo de produção em que está inserida e do grau de diversi-
ficação da economia. Ademais, depende do ponto de vista dos chefes de estado
e/ou chefes de governo quanto ao papel do Estado na economia e quanto aos
objetivos que pretende alcançar.
Afinal, quais são os objetivos de política econômica que usualmente têm sido
discutidos? De acordo com Albergoni (2008, p. 215), os referidos objetivos são:
• Crescimento – melhoria ou expansão dos recursos, implantação de
infraestrutura adequada e adequação da poupança externa e interna.

• Alto nível de emprego – geração de empregos compatível com o


aumento da população, de forma a manter a renda e os salários.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


17

• Estabilidade econômica – estabilidade dos preços e equilíbrio nas


transações internacionais.

• Distribuição de renda justa – distribuição da renda gerada na so-


ciedade de forma compatível com as necessidades de consumo dos
indivíduos.

Note que tais objetivos, quando alcançados, geram crescimento econômico que,
por conseguinte, podem gerar desenvolvimento econômico. Para que você possa
compreender melhor o que estou explicando, vamos conhecer os dois conceitos
supramencionados. Segundo Vasconcellos e Garcia (2014, p. 110), quando se fala
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em “crescimento econômico, está se falando em crescimento da renda nacional


per capita, ou seja, em colocar à disposição da coletividade uma quantidade de
mercadorias e serviços que supere o crescimento populacional”.
A renda per capita, por sua vez, é um indicador para a apuração da melhora
do padrão de vida das pessoas, embora haja críticas com relação a esse indica-
dor operacional. O que quero dizer é que existem economias que estão entre as
maiores rendas per capita do mundo e não possuem o melhor padrão de vida
em relação a outros países, que também possuem renda per capita elevada (ex.:
países árabes).
Sendo assim, faz-se necessário, para um crescimento econômico de longo
prazo, que seja elevado o produto potencial da economia. Tal condição será
possível, entre outros, por meio do: (a) aumento nos recursos disponíveis; (b)
avanço tecnológico. Este diz respeito a novos métodos de organizar a produção
e de qualificá-la.
Nesse caminho, incorrendo em desemprego e em capacidade ociosa, poder-se-á
aumentar o produto nacional da economia, por meio de políticas econômicas de curto
prazo que fomentem a atividade produtiva, mas, atenção, curto prazo significa dizer
que não dará resultado por muito tempo. Ou seja, existe um limite no que tange à
quantidade que se pode produzir com os recursos e com a tecnologia que se tem.

Política Econômica
18 UNIDADE I

Pois bem, caro(a) aluno(a), falemos agora de desenvolvimento econô-


mico. É comum os estudantes confundirem a empregabilidade dos dois termos.
Crescimento econômico é diferente de desenvolvimento econômico. Observe que
o conceito de crescimento evidencia a empregabilidade de variáveis quantitati-
vas. O desenvolvimento, por sua vez, considera tanto as variáveis quantitativas
quanto as variáveis qualitativas. Entre estas estão: educação, saúde, infraestru-
tura, saneamento básico, qualidade de vida, entre outros.
Em outras palavras, quando se incorre em desenvolvimento econômico,
incorre-se em variações positivas de ordem quantitativa e qualitativa. Pode-se

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dizer que é possível que haja crescimento sem desenvolvimento, mas que não
será possível desenvolvimento sem crescimento, compreende? Esse é o caso do
Brasil. Enquanto economia subdesenvolvida, nossos períodos de crescimento
nem sempre possibilitam desenvolvimento.

O crescimento econômico pode facilitar a solução de problemas relativos à


pobreza, pois os conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo podem
ser abrandados quando ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a
renda dos pobres sem diminuir a dos ricos. Entretanto, no Brasil e em outros
países em desenvolvimento, as metas de crescimento e equidade distribu-
tiva têm-se mostrado conflitantes, fundamentalmente devido ao fator edu-
cacional, com a maioria da mão de obra com baixa qualificação e, portanto,
com baixos rendimentos.
Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p. 110).

Considere que no âmbito da política econômica, habitualmente, empregam-se


termos utilizados para classificar medidas e ações. Você encontrará muitos des-
ses termos ao longo desta unidade, então, é importante que os compreenda bem.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


19

Os termos mais comuns são: (a) curto prazo – longo prazo; (b) conjuntu-
ral – estrutural; (c) estabilização – crescimento/desenvolvimento. Os primeiros
termos, descritos em (a), referem-se ao horizonte temporal tanto para aplicar
instrumentos de política econômica quanto para averiguar as respostas da sua
empregabilidade. Destaca-se que o critério temporal, via de regra, é subjetivo e
discutível. Os termos descritos em (b) referem-se à responsabilidade do governo
quanto à regulação e ao controle da economia. Esse tipo de ação é empregado
por meio de mecanismos que afetam a demanda agregada num intervalo bem
curto de tempo. Os aspectos comportamentais da economia que, em geral, estão
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em foco nesse contexto, são: (1) Resultado das contas do governo; (2) Equilíbrio,
Superávit ou Déficit do balanço de pagamentos; (3) Volume de emprego; (4)
Ritmo de variação inflacionária.
Nessa direção, pode-se dizer que a política de cunho estrutural remete à socie-
dade como um todo a problemas de ordem qualitativa ou estrutural, bem como
a problemas de ordem microeconômica. A solução para tal depende de mudan-
ças de cunho institucional. Ademais, depende de mudanças de regras, costumes,
normas, leis ou padrões sociais. Essas mudanças conceituam entre os agentes
econômicos, suas relações, motivações e expectativas. Tais mudanças estabele-
cem direitos, obrigações e incentivos que, por sua vez, determinam resultados.
Por fim, os termos descritos em (c) referem-se às políticas de estabilização
que procuram o equilíbrio macroeconômico, via variáveis de ordem conjuntural,
por serem de respostas rápidas. Assim, as políticas de desenvolvimento não só
afetam o crescimento de curto prazo, mas também a construção de uma estru-
tura econômica com capacidade de sustentação a longo prazo. Ou seja, implicam
reformas estruturais de longo prazo.
Você aprenderá, a partir de agora, os instrumentos de política econômica, a
saber: (a) política fiscal; (b) política monetária; (c) política cambial; (d) política
comercial; (e) política rendas. Vamos lá?

Política Econômica
20 UNIDADE I

POLÍTICA FISCAL

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O primeiro instrumento de política econômica que você aprenderá é a “polí-
tica fiscal”. Essa política, como todas as outras que você aprenderá na sequência,
deverá manter uma estreita ligação com os objetivos que os governos perseguem,
dentre os quais estão: (a) crescimento do produto interno bruto (PIB); (b) pleno
emprego; (c) melhor distribuição de renda; (d) taxa de inflação baixa e estável; (e)
taxas de juros baixas; (f) investimentos em expansão; (g) equilíbrio no balanço
de pagamentos (que trata das contas externas).
Destaca-se que conseguir atingir mais de um objetivo é o grande desafio que
os governos enfrentam, porque, via de regra, há conflitos entre eles. O objetivo
de crescimento do PIB, por exemplo, pode colidir com o de taxas de inflação
baixas ou o objetivo de reduzir os impostos pode resultar no aumento da dívida
pública interna, e ter consequências negativas sobre as contas públicas.
Assim, é fundamental compreender que cada um dos instrumentos de polí-
tica econômica que você estudará nesta unidade, tem direta influência sobre as
variáveis que compõem a demanda agregada. O que quero dizer é que a inter-
venção governamental na economia, por meio de um ou mais instrumentos de
política econômica, deve afetar o consumo privado, o investimento privado ou
as exportações, de modo a alterar o nível da demanda agregada, o que influen-
ciará no nível do produto interno bruto, na geração da renda nacional e no nível
de emprego.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


21

A demanda agregada é composta pelos seguintes componentes: (1) De-


manda de Consumo (C) – bens e serviços para as famílias; (2) Demanda de
Investimentos (I) – a demanda das empresas por fábricas, equipamentos
e caminhões de entregas (bens de capital), por exemplo; (3) Demanda de
gastos do Governo (G) – para hospitais, contabilistas e forças armadas, por
exemplo; (4) Demanda de Exportações (X) – a demanda dos estrangeiros
por bens e serviços que vendemos ao exterior, tais como café e soja; (5) De-
manda por Importados (M) – demanda por bens e serviços do exterior (de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

consumo ou investimento) pelas famílias, empresas e pelo governo.


Fonte: Albergoni (2008, p. 219)

Afinal, o que é política fiscal? A política fiscal, dentre os instrumentos de política


econômica, é a principal ferramenta para a correção das distorções do mercado.
Entre outros objetivos de política econômica, ela é também um relevante ins-
trumento para viabilizar-se crescimento econômico ou estabilidade econômica.
Em outras palavras, é a política de gastos e receitas do governo. A referida polí-
tica começou a ser utilizada a partir de 1930, visto que a política monetária do
período não estava sendo eficaz para combater os efeitos da grande depressão.
De acordo com Vasconcellos e Garcia (2014):
A política fiscal refere-se a todos os instrumentos de que o governo
dispõe para arrecadar tributos e controlar suas despesas. A política tri-
butária, além de influir sobre o nível de tributação, é utilizada, por meio
da manipulação da estrutura e alíquotas de impostos, para estimular
(ou inibir) os gastos de consumo do setor privado. (VASCONCELLOS;
GARCIA, 2014, p. 112)

A constante utilização desta política, a partir da década de 1930, fez com que
surgissem discussões acerca dos limites dos gastos públicos. Os governos tor-
naram-se altamente endividados no final dos anos 70 e com o Brasil não foi
diferente. Os gastos do governo compõem-se de despesas correntes e de inves-
timentos. Nas despesas correntes, incluem-se quatro itens:
■■ O consumo do governo (pagamento dos funcionários e despesas, como
energia elétrica e materiais).

Política Fiscal
22 UNIDADE I

■■ As transferências (despesas do setor público destinadas ao setor privado,


sem contraprestação de serviços ou fornecimento de bens, por exemplo,
a assistência e a previdência social).
■■ Os juros (pagamento de juros tanto da dívida interna como externa).
■■ Os subsídios são gastos do governo que têm como objetivo fazer com
que os consumidores adquiram alguns bens e serviços por preços meno-
res do que se daria pelo mercado normal; ou são gastos do governo que
tem como objetivo fazer com que o produtor receba preços maiores pelo
seu produto, ou seja, o subsídio tanto pode ser para o consumidor como

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
para o produtor.

Nas despesas de investimento, por sua vez, incluem-se os gastos do governo


que visam aumentar a capacidade de geração de bens e serviços no país, tais
como construção de estradas, rodovias, escolas, hospitais, hidrelétricas etc.
Analisando-se, genericamente, a evolução dos gastos públicos no Brasil, pode-
-se afirmar que as despesas correntes, que se situavam ao em torno de 20% do
PIB na década de 70, passaram a ser crescentes a partir do ano 2000, enquanto
as despesas com investimentos, que eram de 3,0%, passaram a ser decrescentes.
Complicado, não é mesmo? Pois analisando a grosso modo, o governo tem gas-
tado cada vez mais com a manutenção da máquina pública, com transferências,
juros e subsídios, do que com a construção de escolas e hospitais, por exemplo,
que são tão relevantes para a população.
Assim, o objetivo básico da política fiscal, enquanto instrumento de polí-
tica econômica, é conduzir, com eficiência, a área administrativa do governo,
promovendo o bem-estar da população, mediante a realização de obras de inte-
resse da sociedade e com a eficácia na arrecadação tributária para fazer frente
às despesas orçamentárias. Essas políticas devem manter estreita ligação com os
objetivos que os governos perseguem, embora muitos sejam conflitantes entre
si. Entre esses objetivos, conforme você já aprendeu, estão: (a) crescimento do
PIB; (b) pleno emprego; (c) distribuição da renda; (d) taxa de inflação baixa e
estável; (e) taxas de juros baixas; (f) investimentos em expansão; (g) equilíbrio
no balanço de pagamentos.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


23

A política fiscal pode ser empregada de maneira expansionista ou de maneira


contracionista. Pode ser implementada tanto para expandir a demanda da eco-
nomia e combater efeitos de crise como para restringir a demanda e conter, por
exemplo, pressões inflacionárias. É importante que você saiba, no entanto, que
o que determina como a política será empregada nada mais é do que o objetivo
que o governo pretende atingir. Nesse sentido, começarei a expandir seu conheci-
mento acerca da política fiscal por meio da política fiscal expansionista. Vamos lá?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

POLÍTICA FISCAL EXPANSIONISTA: AUMENTO DOS GASTOS


VERSUS REDUÇÃO DE TRIBUTOS

Primeiramente é importante você compreender que o objetivo da política fis-


cal expansionista é expandir a atividade econômica. Em outras palavras, se o
governo pretende expandir a atividade econômica, ele poderá apostar na execu-
ção de uma política fiscal expansionista, que poderá ser utilizada de duas formas:
(1) aumentando os gastos do governo ou (2) reduzindo tributos.
Imagine que, ao realizar uma política fiscal expansionista, o governo opte
pelo aumento dos gastos. Considere a seguinte situação: o governo brasileiro
decidiu realizar um investimento, construindo uma nova sede para uma uni-
versidade federal em uma determinada cidade. Para realizar esse investimento,
o governo teve que considerar despesas de investimento, que, de maneira bem
simples e genérica, resumem-se a despesas com a contratação da construtora que
realizará a obra (prestação de serviços) e com o material de construção neces-
sário para tal (insumos/matéria-prima). As empresas envolvidas na construção
da nova sede precisarão realizar investimentos em sua capacidade produtiva
para atender a essa nova demanda, como a contratação de pessoal. Observe que
em um primeiro momento temos um “aumento” do investimento das empresas
envolvidas diretamente na construção da sede. Tais trabalhadores, obviamente,
receberão salários que, por sua vez, serão utilizados de acordo com suas neces-
sidades de consumo. Note que um dos componentes da demanda agregada, aqui
representado pela letra (C), representando o consumo das famílias, aumentará.

Política Fiscal
24 UNIDADE I

Por conseguinte, para atender ao aumento da demanda das famílias por


bens de consumo, as empresas locais, como supermercados, farmácias, restau-
rantes, lojas de vestuário, entre outros, também realizarão investimentos, a fim
de expandir a sua capacidade de produção. Você está percebendo, por meio do
nosso exemplo, o efeito dominó? Certamente sim, não é mesmo? Novamente, o
componente investimento sofre expansão, só que agora com empresas que não
estão diretamente envolvidas na obra que construirá a sede da universidade.
Observe que, tanto as empresas que estão envolvidas diretamente quanto as
empresas que estão indiretamente, acabam por estimular outras empresas for-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
necedores de produtos ou bens de capital.
É importante ressaltar que o efeito dominó, como aqui estou chamando para
que você possa compreender melhor, tem um limite, mas tem efeitos de expan-
são além daquele relacionado à construção da sede da universidade. A variação
da demanda agregada a partir de um aumento de gastos é o que nós, economis-
tas, denominados multiplicador keynesiano de gastos do governo.

De acordo com a Teoria Keynesiana, você sabia que um aumento nas despe-
sas do setor público tem como efeito um aumento da atividade econômica
mais que proporcional a essa variação?
(Leide Albergoni)

O multiplicador keynesiano de gastos do governo pode ser representado por


meio da seguinte equação:

∆DA
KG =
∆G
Em que:
KG: multiplicador keynesiano de gastos do governo..
ΔDA: variação da demanda agregada.
ΔG: variação dos gastos do governo.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


25

Nessa direção, caro(a) aluno(a), considerando o nosso exemplo hipotético da


construção da sede da universidade, se o estado gastar R$ 10 milhões para fina-
lizar a obra e o aumento da demanda agregada for da ordem de R$ 20 milhões,
o multiplicador keynesiano de gastos do governo será de:

20
K=
G = 2
10
Ou seja, o multiplicador indica que, para cada R$ 1,00 gasto na construção da
sede da universidade, gerou-se um aumento de R$ 2,00 na demanda agregada.
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Você consegue perceber a eficácia da política fiscal expansionista para o fim que
ela se propõe? Tenho certeza que sim. Logo, se o objetivo é expandir a atividade
econômica, podemos certamente afirmar que, por meio do exemplo utilizado,
o objetivo é facilmente atingido.
Agora, imaginemos que, ao realizar uma política fiscal expansionista, o
governo opte pela redução dos tributos sobre as atividades de consumo de
produção ou sobre a renda das famílias. Primeiramente, consideremos sobre as
atividades de produção e consumo. Assim, imagine que o saco de arroz de 5 qui-
los que você compra todos os meses no mercado custe R$ 15,00. Sendo que desses
R$ 15,00, R$ 10,00 correspondam ao custo de fatores e que R$ 5,00 correspon-
dam aos tributos, ou seja, uma alíquota de 50%. Assim, é possível afirmar que
com uma renda de R$ 150,00 é possível adquirir 10 sacos de arroz de 5 quilos.
Agora, considere que, realizando uma política fiscal expansionista via tribu-
tos, o Estado reduza a alíquota para 20%, reduzindo, assim, o preço do saco de
arroz de 5 quilos para R$ 12,00. Note que, nesse novo contexto, com uma renda
de R$ 150,00, seria possível comprar 12,5 quilos. Portanto, fica evidente, por
meio do simples exemplo adotado, que a redução da alíquota de tributos sobre
a produção e o consumo implica em aumento do consumo, certo?
Agora, pensaremos juntos na tributação sobre a renda. Observe que uma
redução da tributação resultará em aumento da renda disponível, certo? Por
exemplo, se você tem uma renda de R$ 10.000,00 por mês e se a alíquota de tri-
butação é de 27,5%, sua renda disponível será de R$ 7.250,00. No entanto, se
a alíquota for reduzida para 15%, então a renda disponível passará a ser de R$
8.500,00. Observe que nessa simples mudança de alíquota você passará a ter R$

Política Fiscal
26 UNIDADE I

1.250,00 a mais para gastar. Nessa direção, é fato que o aumento da sua renda e
de todas as pessoas que forem beneficiadas com a diminuição da alíquota impac-
tará sobre o consumo e estimulará as empresas a realizarem investimentos para
expandir a produção, certo? No que isso implicará, caro(a) aluno(a)? Em cres-
cimento econômico. Novamente, por meio do exemplo adotado, consegue-se
verificar a eficácia da política fiscal expansionista para o fim que ela se propõe,
qual seja: expandir a atividade econômica, que implica em geração de empre-
gos e, consequentemente, de renda.
Por fim, destaco que a empregabilidade dessa política com tais características

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é utilizada principalmente em períodos em que a economia não caminha bem
sozinha, então, faz-se necessária a intervenção do governo. A título de exemplo,
cito o momento em que o governo brasileiro reduziu ou isentou o Imposto sobre
Produtos Industrializados, popularmente conhecido como (IPI) de alguns produ-
tos da indústria nacional (carros e linha branca), fazendo-os ficar mais baratos,
estimulando as vendas e, por conseguinte, a atividade econômica como um todo.

POLÍTICA FISCAL CONTRACIONISTA: AUMENTO DA CARGA


TRIBUTÁRIA VERSUS REDUÇÃO DOS GASTOS DO GOVERNO

Da mesma forma que iniciei a explicação sobre política fiscal expansionista, ini-
ciarei a da contracionista, explicando qual é o seu objetivo. Pois bem, o objetivo
da política fiscal contracionista é “obter estabilidade econômica”. Em outras pala-
vras, se o objetivo do governo for estabilizar a economia, ele poderá valer-se de
uma política fiscal contracionista, que poderá ser realizada de duas formas: (1)
aumentando a carga tributária; (2) reduzindo os gastos do governo.
Iniciaremos o seu aprendizado pela redução de gastos públicos. Essa redu-
ção, quando necessária, é popularmente chamada de ajuste fiscal. Tenho certeza
que você já deve ter ouvido muitas vezes esse termo, não é mesmo? Afinal, não
é novidade para você e nem para ninguém que o grau de endividamento do
governo brasileiro sempre foi motivo de preocupação para todos nós. Destaco
que quando o Estado opta por reduzir seus gastos, consequentemente, reduz a

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


27

sua necessidade de financiamento do déficit. Tal condição, por sua vez, resulta
na redução do endividamento.
Por outro lado, a redução dos gastos diminui a pressão sobre a demanda agre-
gada. Aquele “efeito dominó” que você acabou de aprender é reduzido e pode deixar
de acontecer. Note que estamos falando do efeito contrário ao estudado ou do
efeito que a falta de gastos, via investimentos, pode provocar. Ademais, a redução
dos gastos públicos faz com que o nível de preços não sofra alterações relevantes,
justamente por conta de a incapacidade da oferta agregada atender a um possível
aumento da demanda agregada. Destaco que não haverá necessariamente uma
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queda da demanda, no entanto, é fato que o ritmo de expansão será muito menor
do que antes de promover redução dos gastos públicos.
Não obstante, falemos agora do aumento da tributação. Se apenas a tributa-
ção sofrer um aumento, sem que o setor público reduza suas despesas, o objetivo
da política com essas características não será atingido ou não será tão efetivo.
Lembra-se dele, certo? Estabilidade econômica é o objetivo. Como é possível
manter a economia estável, aumentando tributação sem reduzir despesas? Você
se lembra que aprendeu que a redução de tributos aumenta o consumo? Pois
bem, o aumento de tributos provoca o efeito contrário. O aumento da tributação
sobre a produção, consumo ou renda reduz o consumo, ao passo que as pessoas
terão menor disponível para gastar.
Destaco que os efeitos do aumento da tributação sobre a atividade econômica
são intensos, muito mais do que a redução de gastos públicos, desestimulando a
atividade de produção. Com isso, registro que essa política é tomada quando a
demanda da economia está muito elevada, podendo causar pressões inflacionárias.

Política Fiscal
28 UNIDADE I

POLÍTICA MONETÁRIA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A política monetária também é um dos mais relevantes instrumentos de política
econômica. A política em questão é decorrente da atuação do governo sobre a quan-
tidade de moeda e títulos públicos existentes na economia. A política monetária é
empregada quando o governo atua sobre a quantidade de moeda e títulos públicos.
Para tal, o governo se vale de alguns instrumentos a saber: (a) emissões; (b)
reservas compulsórias; (c) Open Market; (d) redescontos; (e) regulamentação
sobre crédito e taxa de juros.
Nessa direção, por exemplo, se um dos objetivos do governo for controlar
a inflação, via política monetária, deverá destruir moeda, ou seja, diminuir o
estoque monetário da economia. Como poderá fazer isso? O governo, via Banco
Central do Brasil, poderá, entre outras formas existentes, aumentar a taxa de
juros, aumentar as reservas compulsórias ou vender títulos no mercado aberto.
Todavia, se a meta for crescimento econômico, o processo seria o inverso.
Ou seja, o governo teria que reduzir a taxa de juros e a de reservas compulsó-
rias. Ademais, teria que comprar títulos no mercado aberto, o que resultaria em
aumento de liquidez da economia.

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


29

Observe que as políticas fiscais e monetárias podem ser aplicadas para a


mesma finalidade, recorrendo a diferentes meios alternativos. Logo, diz-se que
a política econômica deve ser posta em prática mediante nteração adequada de
instrumentos fiscais e monetários, evitando que conflitos sejam gerados.
Destaca-se que a política fiscal tende a ser mais eficaz quando o objetivo é a
melhoria na distribuição de renda, tanto na taxação de rendas mais altas como
pelo aumento dos gastos do governo, com destinação a setores menos favorecidos.
A política monetária, por sua vez, é mais difusa no tocante à questão distributiva.
Por fim, uma vantagem que comumente é apontada pela política monetária
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sobre a fiscal é que a monetária, logo após a sua aprovação, pode ser implemen-
tada, ao passo que depende apenas de decisões decorrentes das autoridades
monetárias. Ressalta-se que o processo fiscal, via de regra, é mais lento, pois
depende de votação no Congresso Nacional e está vinculado a princípios, tais
como o da anterioridade, o que por sua vez faz com que a defasagem de tempo
aumente entre a tomada de decisão e a implantação das medidas fiscais.

POLÍTICAS EXTERNAS: CAMBIAL E COMERCIAL

Finalmente chegamos às políticas externas: (a) cambial e (b) comercial. Você


sabe por que essas políticas são de caráter externo? Porque atuam sobre as vari-
áveis com ligação direta com o setor externo da economia, sendo: (a) câmbio;
(b) estímulos fiscais e creditícios.
Começaremos conhecendo um pouco mais sobre a política cambial, como
o nome sugere, refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. As auto-
ridades monetárias, via Banco Central do Brasil, podem fixar a taxa de câmbio.
Quando esse tipo de decisão é tomado, diz-se que estamos num regime de taxas

Políticas Externas: Cambial e Comercial


30 UNIDADE I

fixas de câmbio. No entanto, se a decisão for contrária sobre fixar o câmbio, ou


seja, permitindo que seja flexível e determinado pelo mercado de divisas, diz-se
que estamos num regime de taxas flutuantes de câmbio. Assim, fixar ou deixar flu-
tuar dependerá do resultado via política cambial que o governo pretende atingir.
Concentremo-nos em conhecer um pouco mais sobre a política comercial.
De acordo com o que vimos, ela diz respeito aos instrumentos de incentivos às
exportações ou ao estímulo e desestímulo às importações. Em outras palavras,
refere-se a estímulos fiscais, tais como crédito-prêmio do ICMS, IPI, entre outros;
e creditícios, entre eles taxa de juros subsidiadas às exportações e ao controle

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
das importações. Destaca-se que o controle das importações é feito via barrei-
ras quantitativas e tarifas sobre as importações.
Faz-se necessário ressaltar que as decisões de política cambial e comercial são de
alçadas diferentes. A cambial é de alçada das autoridades monetárias e, a comercial,
dos ministros do Planejamento, Indústria, Comércio e Agricultura, com o apoio do
ministério das relações exteriores (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014).

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


31

POLÍTICA DE RENDAS
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Para discutirmos esse último instrumento de política econômica, faz-se neces-


sário que você compreenda a que ela se refere. Segundo Vasconcellos e Garcia
(2014, p. 113), “refere-se à intervenção direta do governo na formação de renda,
via o controle (fixação da política salarial) e congelamento de preços”. Em outras
palavras, por meio desse tipo de política, o governo interfere na formação de
salários. Adotando essa medida, fixa-se a política salarial e o salário mínimo.
Você tem ideia da relevância de uma política dessa natureza? Tenho certeza que
sim, afinal, somos trabalhadores e, desde cedo, somos motivados a nos qualificar
para um bom emprego que, c onsequentemente, ofereça-nos boa remuneração.
Agora, caro(a) aluno(a), quero que você reflita sobre o que acabou de apren-
der, se seu salário é determinado, no Brasil, por meio da política de rendas
enquanto instrumento de política econômica, certo? Não acha interessante? Já
havia pensado dessa forma ou já sabia disso? Quanto ao controle de preços via
congelamento, saliente que o intuito é evitar que os agentes econômicos respon-
dam prontamente, em algumas situações, as influências comuns do mercado.
Afinal, o principal objetivo da política de rendas via política de fixação de
salário e congelamento de preços nada mais é do que conter a inflação, ou, melhor
dizendo, evitar que a inflação se expanda.

Política de Rendas
32 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) acadêmico(a), finalizamos a primeira unidade do livro de Economia do


Setor Público. Relembremos, ainda que brevemente, tudo o que estudamos, Você
se lembra que, inicialmente, aprendeu sobre política econômica? Ao compreen-
der esse conceito, compreendeu também quais são os principais instrumentos
desse tipo de política.
Tenho certeza que muito do que você aprendeu nesta unidade lhe será de
grande valia, pois poderá, a partir de agora, observar com um olhar mais crítico

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a política econômica em curso em nosso país. Por conseguinte, você aprendeu,
num primeiro momento, sobre o principal instrumento: a política fiscal, que,
como vimos, pode ser de cunho expansionista ou contracionista, dependendo
apenas do objetivo que o governo pretende atingir, sendo eles: (a) expansão da
atividade econômica ou (b) estabilidade econômica, respectivamente. Pois bem,
após aprender sobre política fiscal, você aprendeu sobre política monetária, cam-
bial, comercial e de rendas.
Assim, após tanto aprendizado, você será capaz de identificar cada política,
por meio das variáveis que o governo manipular. Quero dizer que se a variável for
a taxa de juros, você saberá que é política monetária; se for câmbio, que é polí-
tica cambial; se forem estímulos fiscais e creditícios, será de renda; e, se for na
formação de rendas e salários, será de rendas. Interessante, não é mesmo? Você
tinha ideia da quantidade de atuações que são de competências do governo? Ou
melhor, você tinha ideia da relevância da atuação do governo com essas políticas?
Espero que esta primeira unidade tenha sido proveitosa e que você tenha
gostado de aprender sobre instrumentos de política econômica. Parabéns pelo
aprendizado!

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA


33

1. A política fiscal é um dos principais instrumentos para a correção das distor-


ções de mercado. No entanto, é também um importante instrumento para se
obter o crescimento econômico, a estabilidade econômica, entre outros obje-
tivos de política econômica. Considerando esse contexto, avalie as afirmativas
que se seguem:
I. A política fiscal contracionista tem como objetivo expandir a atividade eco-
nômica.
II. A política fiscal expansionista pode ser empregada de duas formas: pelo au-
mento dos gastos ou pela redução dos tributos.
III. Numa política fiscal expansionista, tanto o aumento dos gastos quanto a re-
dução dos tributos têm como efeito a tendência de déficit no resultado fiscal.
IV. Uma política fiscal expansionista não tem efeitos para o resultado do setor
público.
Assinale a alternativa que apresenta a afirmativa correta:
a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

2. A política utilizada pelo governo para arrecadar tributos e para controlar seus
gastos é denominada política fiscal. Assim sendo, por meio da política fiscal via
tributação, o governo controla a estrutura e as alíquotas tributárias, inibindo
ou estimulando os gastos de consumo do setor privado. Já se for via política de
gastos, o governo controla seus investimentos no sistema.
A respeito desse assunto, avalie as afirmações a seguir e assinale com V, as ver-
deiras, e F, as falsas:
I. A diminuição do IPI para a aquisição de eletrodomésticos (linha branca), rea-
lizada pelo governo brasileiro há alguns anos, pode ser apontada como uma
política fiscal expansionista.
II. Uma política fiscal expansionista é decorrente do aumento de gastos e/ou
aumento dos tributos.
III. Uma política fiscal restritiva é utilizada pelo governo com o intuito de esti-
mular a demanda, via consumo.
34

As afirmações I, II e III são respectivamente:


a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V, e V.

3. Política Fiscal é o nome dado às ações do governo destinadas a ajustar seus


níveis de gastos, monitorando e influenciando a economia de um país. Nos
diversos manuais de Economia, a política fiscal está intimamente ligada à po-
lítica monetária, podendo-se afirmar, em termos bastante simplistas, que as
duas políticas econômicas são como irmãs, pois ambas buscam influenciar um
aspecto da economia: a política monetária modificará o comportamento da
moeda, e a política fiscal operará frente aos gastos estatais. Todo o governo in-
variavelmente utilizará as duas políticas sob várias combinações e graduações,
num esforço para orientar as metas econômicas de um país.
(INFOESCOLA. Política fiscal. Disponível em: <https://www.infoescola.com/
economia/politica-fiscal/>. Acesso em: 21 fev. 2019).
Considerando o enunciado e as ideias que transmitidas, analise as asserções a
seguir e a relação proposta entre elas:

I. Os instrumentos de ação da política fiscal são: arrecadação de impostos e


gastos do governo, que são divididos em despesas correntes e investimen-
tos. Assim sendo, a política fiscal tem influência sobre a demanda agregada.
PORQUE
II. A arrecadação incide diretamente sobre o nível de consumo, e os gastos
públicos são caracterizados como um componente próprio da Demanda
Agregada (DA = C + I + G + X - M).

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:


a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa correta da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é justificativa
correta da I.
c) A asserção I é proposição verdadeira, e a II é proposição falsa.
d) A asserção I é proposição falsa, e a II é proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.
35

4. As políticas (a) fiscais, (b) monetárias, (c) comerciais, (d) de rendas e (e) cam-
biais são os principais instrumentos empregados pelo governo no exercício de
suas funções. Com elas, espera-se que a economia cresça, que a distribuição de
renda melhore, que os preços se mantenham estáveis, que os juros não sejam
abusivos e que o desemprego não atinja números alarmantes. Ou seja, tais po-
líticas, enquanto mecanismo de atuação dos governos, são empregadas isola-
da ou concomitantemente para se atingir os objetivos descritos. Considerando
esse contexto, avalie as afirmativas que se seguem:
I. O consumo privado, o investimento privado ou as exportações podem ser
afetados pela política econômica, por meio de ação governamental, o que,
por sua vez, resulta em alteração da demanda agregada.
II. A partir de 1930, o controle dos agregados monetários passou a combater
os efeitos da grande depressão, o que, por sua vez, dispensou uma atuação
governamental, via política fiscal, mais efetiva.
III. Uma das dificuldades enfrentadas pelo governo para atingir mais de um
objetivo perseguido, ao executar uma determinada política, é a geração de
conflito entre eles. Um exemplo desses conflitos é o aumento da dívida pú-
blica causada pelas advertências entre o crescimento do PIB e as taxas de
inflação baixas.
IV. A política fiscal pode ser utilizada de modo expansivo ou restritivo, isto é, para
objetivos distintos. Ou seja, pode ser utilizada tanto para expandir a demanda
da economia como para restringir a referida demanda.
Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas:
a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
36

5. Você aprendeu que o governo utiliza a arrecadação tributária para manter


bens públicos, tais como escolas, hospitais, e demais instituições, além de
utilizar tais receitas tributárias para pagar o funcionalismo público, ou seja,
os servidores. Assim, para atingir, entre outros, esses objetivos, a arrecadação
tributária pode aumentar ao longo do tempo. A sociedade, em contrapartida,
espera que, com tantos tributos por ela pagos, os serviços públicos essenciais
sejam oferecidos com qualidade, o que, na maioria das vezes, não acontece.
A respeito desse contexto, avalie as afirmações a seguir e assinale com V, as
verdadeiras, e F, as falsas.
I. A política fiscal contracionista está relacionada com o aumento dos tributos
ou com o corte dos gastos públicos, diminuindo, consequentemente, a de-
manda da economia.
II. A condução eficiente da área administrativa do governo é o objetivo básico
da política fiscal, para que, mediante a realização de obras de interesse da
população e com eficiência da arrecadação tributária, o bem-estar da popu-
lação seja promovido.
III. A política fiscal expansionista está relacionada com o aumento dos tributos
ou a minimização dos gastos públicos, aumentando, consequentemente, a
demanda da economia e a geração de empregos e de renda.
As afirmações I, II e III são respectivamente:
a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, V e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.
37

GASTOS SOCIAIS APÓS O PLANO REAL


O período 1994\1995 foi caracterizado por uma nova retomada do gasto público so-
cial. Em 1995, seu patamar atingiu 20,5% do PIB, sendo superior aos níveis elevados
alcançados no final da década de 80. Dessa vez, não somente a expansão econômica
após o imediato lançamento do Plano Real pode explicar a elevação dos gastos sociais.
Destacam-se fatores estruturais que influenciaram e continuarão influenciando a dinâ-
mica dos gastos sociais no final da década de 90 e no século seguinte, tais como: (a) as
mudanças na estrutura etária da população brasileira; (b) a necessidade de inserção do
Brasil no mercado internacional (efeitos da globalização e integração dos mercados); e
(c) as mudanças no papel do Estado.
Vale salientar que a expansão dos gastos sociais ocorrida nos dois anos que seguiram
após o Plano Real não acontece de forma homogênea. Além disso, instalou-se um pro-
cesso de especialização por parte das esferas de governo com relação ao financiamen-
to e reponsabilidade pela execução do gasto social. As áreas que apresentaram maior
expansão entre 1994 e 1995 foram previdência, assistência social, trabalho e organiza-
ção agrária. As funções de educação, cultura, desporto, transporte urbano e de massas
cresceram na mesma proporção do PIB, enquanto saúde, saneamento, e habitação e
urbanismo tiveram reduzidas suas participações em relação ao PIB. Observa-se que não
ocorreram mudanças significativas, no tocante à origem e execução do gasto total, po-
dendo destacar apenas ligeiro aumento na participação dos municípios, tanto no finan-
ciamento como na sua execução.
Em termos desagregados é possível detectar um aprofundamento do processo de espe-
cialização do gasto social público por governo de esfera de governo. Isso reflete, por um
lado, aumento das obrigações da União em áreas como a previdência, impedindo o avan-
ço com mais recursos e outra funções. Por outro, observa-se um movimento mais ordena-
do na divisão de responsabilidades, tanto no financiamento como na execução do gasto,
sobretudo em áreas em que os governos subnacionais possuem capacidade de atuação
mais eficiente, por poderem refletir, com proximidade, as preferências locais.
A União elevou sua participação nos gastos com assistência e previdência social, traba-
lho, ciência, tecnologia e organização agrária. Essas são funções que a União deve assu-
mir, devido às suas características de escopo nacional. Destaca-se o crescente aumento
na demanda por benefícios previdenciários do INSS e do seguro-desemprego. Esse úl-
timo foi influenciado por uma maior flexibilização nas regras de acesso ao programa e
pelo aumento do desemprego estrutural na economia. Os estados e municípios eleva-
ram sua responsabilidade no financiamento e na execução dos gastos nas áreas de edu-
cação, cultura, desporto, saúde, saneamento, habitação e urbanismo. Na área de saúde,
ressalta-se o crescimento da participação dos municípios em razão do fortalecimento
do processo de descentralização ocorrido a partir da criação do Sistema Único de Saúde
(SUS). No setor de saneamento, a responsabilidade fica a cargo dos governos estaduais
em razão da necessidade de maiores montantes de investimentos exigidos na oferta, na
distribuição de água e na construção de rede de esgotos.
38

O Brasil atravessa um processo de transição demográfica que se acentuou nas últimas


décadas e que se aprofundará nas décadas seguintes. A taxa de crescimento média da
população, que no período de 1950 a 1970 foi de 3% a.a., passou para 1,9% a.a. na déca-
da de 80 e caiu 1,4% a.a. na década de 90, projetando menores taxas para as próximas
décadas. Essa redução é explicada pelo aumento do nível de escolaridade da popula-
ção brasileira e pela adoção dos métodos anticoncepcionais. Combina–se a esse fato
o aumento da expectativa de vida devido ao avanço da medicina nas áreas preventiva
e curativa. As consequências dessas mudanças no perfil demográfico são o envelheci-
mento da população brasileira e a redução relativa da participação dos jovens. Estimati-
vas do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) apontam para redução de 43,1%, em 1995
e para 29,1% em 2020 da participação do contingente com menos de 19 anos na popu-
lação total. No outo extremo, a população acima dos 60 anos praticamente dobraria sua
participação no período, elevando de 7,8% para 15%.
As implicações para o gasto social se refletem no aumento de demanda por benefícios
previdenciários e nos gastos na área de saúde para idosos, principalmente com doenças
de natureza crônico-degenerativas (aparelho respiratório, estrutura óssea, neoplasias
etc.). Com relação à questão previdenciária, a transição demográfica foi um dos fatores
responsáveis pela deterioração nas contas do INSS e pelo aumento das aposentadorias,
reformas e pensões no setor público.
A redução na proporção de crianças implicaria uma menor pressão nos orçamentos pú-
blicos por serviços como saúde materno-infantil e escolas do 1º grau. No entanto, cresce
a demanda por serviços educacionais para a população em idade ativa (de 15 a 65 anos).
Essa transição demográfica ocorre de forma desigual entre as classes sociais e regiões
do país. A taxa de fecundidade é maior entre as classes de menor nível de renda e nas
regiões Norte e Nordeste. O mesmo pode ser dito para as populações rurais em relação
às urbanas. Acrescenta-se a isso o déficit existente na oferta de serviços públicos no Bra-
sil. A conclusão é que se pode ter grande alívio nos gastos sociais em educação e saúde
direcionados para populações em baixa idade. Assim, o Brasil, além de continuar pres-
sionado por demandas predominantes em países com baixo grau de desenvolvimento,
ainda teria que voltar sua atenção para a cobertura de doenças típicas de países mais
desenvolvidos, características da população idosa.
As mudanças tecnológicas que ocorreram a partir da década de 80 na microeletrônica,
na informática e nas telecomunicações são disseminadas por toda atividade econômica.
Esse novo ciclo tecnológico também contribuiu para aprofundar o processo da integra-
ção comercial e financeira entre nações. A formação de grandes blocos comerciais exige
dos países maior competitividade internacional na disputa pelos mercados. A grande
questão que deixo para reflexão é: quais os impactos desses fenômenos econômicos
sobre os gastos sociais?
Fonte: Rezende (2007, p 324-327).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Gestão por competência no setor público


Rogério Leme
Editora: Qualitymark
Sinopse: a obra aborda a aplicação da Gestão por Competências no serviço
público, no qual a cultura e a maneira de superar os desafios do projeto são
especiais, em função das relações trabalhistas serem diferentes do setor
privado, tais como o concurso público, o estágio probatório, a estabilidade
do servidor, entre outras. Os autores apresentam um material pautado nas metodologias do
Inventário Comportamental para Mapeamento de Competências e da Avaliação de Desempenho
com Foco em Competências.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

ALBERGONI, L. Economia. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008.


REZENDE, F. A. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2007.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. H. Fundamentos de Economia. 3. ed. Saraiva, 2009.
41
GABARITO

1. C.
2. C.
3. A.
4. D.
5. C.
Professora Me. Daniela Carla Monteiro
Professor Me. Diego Figueiredo Dias

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS

II
UNIDADE
DOS ESTADOS MODERNOS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender as principais atribuições econômicas do setor público.
■■ Discutir as falhas de mercado mais relevantes existentes na economia.
■■ Entender o papel dos Estados Provedores e dos Estados Reguladores.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Atribuições econômicas do setor público
■■ As falhas de mercado
■■ Estado Provedor versus Estado Regulador
45

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à segunda unidade do livro


“Economia do Setor Público”. Você aprenderá sobre as atribuições econômicas
dos Estados Modernos. Os objetivos a serem atingidos na unidade em questão
são: (a) compreender as principais atribuições econômicas do setor público; (b)
discutir as falhas de mercado mais relevantes existentes na economia; e (c) enten-
der o papel dos Estados Provedores e dos Estados Reguladores.
Visando atingir os objetivos de aprendizagem elencados, esta unidade foi
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dividida em três tópicos: 1) Atribuições Econômicas do Setor Público; 2) as falhas


de mercado; 3) Estado provedor versus Estado regulador.
Iniciaremos o primeiro tópico com uma contextualização baseada na impor-
tância da participação do Estado na economia, haja vista que ela vem crescendo
ao longo do tempo por diversas razões: o desemprego, a inflação, os déficits, os
juros, entre outros. Ademais, sabe-se que cabe ao Estado a busca pelo bem-estar
da população como um todo. Por conseguinte, o tópico apresentará as principais
funções econômicas do setor público, sendo: (a) função alocativa; (b) função dis-
tributiva; (c) função estabilizadora.
No segundo tópico, por sua vez, será feita uma breve discussão acerca das
mais relevantes falhas de mercado, quais sejam: (a) Bens Públicos; (b) externa-
lidades; (c) Poder de Mercado; (d) assimetria de informações.
No terceiro e último tópico, serão apresentadas as principais competências
de um Estado Provedor e de um Estado Regulador. Ademais, serão tratados os
principais aspectos da regulação no Brasil.
Assim sendo, ao término da unidade, você saberá quais as principais funções
econômicas do governo e o que cada uma delas representa para o bom andamento
da nação, bem como saberá quais são as mais relevantes falhas de mercado exis-
tentes na economia e como o governo tem atuado na tentativa de corrigi-las e/
ou minimizá-las. Além disso, poderá diferenciar um Estado Provedor e de um
Estado Regulador. Bons estudos!

Introdução
46 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DO SETOR PÚBLICO

Ao final do século XIX e início do século XX, observou-se, no mundo capitalista,


a formação de grandes monopólios, que passaram a limitar a oferta de produtos
e a aumentar os preços. Isso fez com que os governos iniciassem uma reflexão
sobre seu verdadeiro papel na economia.
O pensamento que predominava naquela época era o da “mão invisível”,
de Adam Smith. Foi ele quem transformou a economia em ciência a partir da
publicação do livro A riqueza das nações, em 1976, em que expunha suas ideias
liberais, entre elas: a de que os mercados eram autorreguláveis e, portanto, não
precisavam de intervenções do Estado.
No ano de 1890, nos Estados Unidos, criou-se uma lei contra os trustes – um
truste se forma quando empresas se fundem com o intuito de dominar a oferta
de produtos e serviços -, que foi chamada de Lei Sherman. Esta visava comba-
ter os grandes conglomerados que estavam prejudicando a concorrência e os
consumidores. A partir desse momento, a eficácia da chamada “mão invisível”
passou a ser questionada. Tal questionamento ficou ainda mais evidente a partir
da grande depressão, que veio com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929,

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


47

ao passo que havia uma clara crise de superprodução e o Estado precisava inter-
vir para solucionar o problema. Em outras palavras, a depressão advinda da crise
de 1929 deu origem a estudos que justificaram a intervenção do governo na eco-
nomia para combater, entre outros, a inflação e o desemprego.
A partir de então, o Estado passou a incorporar em suas funções ativida-
des que iam além da manutenção da justiça e segurança, passando também a
ofertar bens públicos, como eletricidade, rodovias, saneamento básico, ferro-
vias, portos etc.
Nessa direção, ao longo do tempo, a participação do Estado na economia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cresceu e vem crescendo por diversas razões, dentre elas: o desemprego, a neces-
sidade de manutenção do poder de compra da moeda e as mudanças tecnológicas
e populacionais. Ademais, a existência de alguns problemas na livre movimenta-
ção de mercado fez com que o Estado também tivesse que intervir fortemente e
executar alguns papéis importantes para a melhor condução da economia com
fins de promover o bem-estar a toda população.
Em outras palavras, pode-se dizer que as atribuições econômicas do setor
público ganharam força nos três primeiros quartéis do século passado, corrobo-
rando com a doutrina que via com bons olhos a necessidade de intervenção do
Estado na economia. Nesse período, houve também mudanças na visão da socie-
dade quanto a preferir a intervenção efetiva do governo em assuntos econômicos,
principalmente quando se tratava de ações relacionadas à distribuição de renda.
De acordo com Rezende (2007),
As duas grandes guerras mundiais também provocaram alterações de-
finitivas nas preferências da coletividade quanto à necessidade de in-
terferência do governo, visando à promoção do bem-estar social, isto
é, uma distribuição de renda mais equitativa e uma ampliação das ati-
vidades previdenciárias e de assistência social para o atendimento das
classes menos favorecidas. No pós-guerra, por sua vez, a preocupação
com os problemas de desenvolvimento econômico constituiu-se em
outro fator importante para aumentar as atribuições do governo – es-
pecialmente em países retardatários na corrida pelo desenvolvimento.
(REZENDE, 2007, p. 18).

O referido autor reafirma que de uma atuação inicial pouco invasiva, como
vimos, na qual lhe cabia apenas a prestação de serviços essenciais à população,

Atribuições Econômicas do Setor Público


48 UNIDADE II

entre eles, acesso à justiça e à segurança pública, o papel do Estado na econo-


mia se modificou substancialmente.
Em decorrência dessa evolução, para fins de resultado, as atribuições eco-
nômicas do governo passaram a ser classificadas em três grandes categorias,
quais sejam: (a) promover ajustamento na alocação de recursos; (b) promo-
ver ajustamento na distribuição da renda; (c) manter a estabilidade econômica
(MUSGRAVE, 1959 apud Rezende, 2007). Essas categorias originaram funções
e são popularmente conhecidas como função alocativa; função distributiva; e
função estabilizadora. É fato que cada uma dessas funções possui característi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cas e competências distintas que você passará agora a conhecer.

FUNÇÃO ALOCATIVA

Sabe-se que o mercado privado não consegue fornecer “tudo” o que a população
precisa ou tudo que a população pode pagar. Ou seja, alguns bens e serviços a
iniciativa privada não tem interesse em ofertar, ao passo que o dispêndio finan-
ceiro para ofertar não é compatível com o retorno por ele gerado e com o esforço
para uma eficiente gestão. A título de exemplo, podemos citar a segurança nacio-
nal, como um tipo de serviço que a iniciativa privada, se assim pudesse, não teria
interesse em oferecer. Em contrapartida, existem outros bens e serviços que ofe-
rece de maneira muito eficiente, tais como os serviços de assistência à saúde, mas
tais serviços oferecidos são excludentes, pois uma boa parte da população não
pode pagar por eles. É aí que entra o exercício da função alocativa.
O exercício da função alocativa visa corrigir as falhas deixadas pelo mercado,
isto é, corrigir as lacunas deixadas no oferecimento de bens e serviços pela ini-
ciativa privada. Essas falhas/lacunas são o “não oferecimento” de determinados
bens/serviços ou o oferecimento excludente. Para corrigi-las, o governo tende
a oferecer os produtos e serviços identificados para a população com o menor
custo possível.
Em outras palavras, a existência da função alocativa é decorrente da neces-
sidade de atuação do governo nos casos em que não há eficiência e/ou interesse

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


49

da iniciativa privada ou quando a natureza da atividade indicar a necessidade


de presença do Estado.
Assim, de acordo com Nascimento (2010), a função alocativa do setor público
refere-se à “alocação de recursos” por parte do governo a fim de oferecer bens
públicos, tais como praias, praças, segurança nacional e rodovias, e bens semi-
públicos ou meritórios, como saúde e educação.
Os bens públicos são bens que são consumidos por várias pessoas ao mesmo
tempo, sem dispêndio financeiro, por exemplo, as ruas, a iluminação pública,
as praias, entre outros. São indivisíveis (todo indivíduo tem acesso a “mesma”
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

disponibilidade do bem público), não excludentes (quando alguém adquire um


bem público, isso não exclui o direito de outra pessoa adquirir também) e não
rivais (rivalidade é a situação em que o consumo de um bem por uma pessoa
reduz a quantidade disponível desse bem para o restante da sociedade).
Os bens/serviços semipúblicos ou meritórios possuem parte das característi-
cas dos bens públicos, ou seja, apenas algumas características. As características
que não possuem o tornam um bem semipúblico, podendo ser ofertado tanto
pelo governo quanto pelo mercado. Esses bens são passíveis de exclusão, isto
é, são excludentes. A título de exemplo, podemos citar a prestação de serviços
educacionais. O referido serviço é oferecido tanto pela iniciativa privada quanto
pelo governo. Fica bem evidente a classificação desse tipo de serviço enquanto
bem semipúblico, pela exclusão por ele gerada, aos indivíduos que não podem
pagar pelo serviço.
Assim, faz-se relevante destacar que produzir roupa e energia elétrica são
atividades bem distintas que nos fazem crer que a produção de roupa será de res-
ponsabilidade do setor privado, enquanto a produção de energia elétrica será de
responsabilidade do setor público. Na verdade, nada impede que o governo passe
também a responsabilidade da geração de energia elétrica para o setor privado,
porém o Estado deve ser o controlador dessa atividade para garantir que toda a
nação tenha acesso a este bem, essencial para a qualidade de vida da população.
Para financiar o processo de fornecimento de bens públicos ou semipúblicos,
o governo utiliza-se, entre outros, da tributação, ou seja, retira dinheiro da popu-
lação na forma de impostos e devolve na forma de bens e prestações de serviços.

Atribuições Econômicas do Setor Público


50 UNIDADE II

Em suma, a função alocativa trata do fornecimento de bens e serviços por


parte do governo, que não são oferecidos de maneira adequada pelo setor pri-
vado devido às falhas de mercado.
Trata-se do processo em que o governo divide os recursos para utilização no
setor público e privado, ofertando bens e serviços, como rodovias, segurança,
saúde, educação, iluminação pública, construção de praças públicas, manuten-
ção de praias, dentre outros exemplos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
FUNÇÃO DISTRIBUTIVA

A função distributiva é a função eco-


nômica do setor público destinada a
promover ajustes distributivos, ou seja,
ajustes na distribuição de renda. Nesta
função, o Estado se comporta como um
agente mediador que transfere aos menos
favorecidos uma renda proveniente de
tributos e subsídios governamentais. Tal
função se faz necessária em decorrên-
cia da existência de muitas famílias e/
ou pessoas que vivem abaixo da linha de
pobreza no Brasil. Assim sendo, o governo, por meio dessa função, precisa criar
meios de assistir as famílias e as pessoas, de modo que elas tenham condições
mínimas de se manterem e se prepararem para sair de tal condição.
Não se trata de uma função com programas ou ações de cunho permanente,
ou uma função que não cria meios para uma mudança de cenário, muito pelo con-
trário. Cabe a essa função, por meio de algumas ações e programas, socorrer as
famílias ou pessoas num primeiro momento, estabilizá-las e criar “meios assisti-
dos”, tal como a obrigatoriedade de frequentar a escola, para seu desenvolvimento.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


51

Alguns governos marcaram suas gestões pela ênfase no exercício dessa fun-
ção. Em alguns casos, as ações e os programas por eles promovidos foram efetivos,
em outros casos não. O que quero dizer é que, atualmente, alguns programas ou
ações criadas no passado ainda vigoram, dada a sua efetividade, enquanto outros
foram extintos, pois não eram tão efetivos quanto se esperava. O Programa Fome
Zero; Bolsa Família, Bolsa Escola e Fundo Social de Emergência (FSE) são exem-
plos de programas e/ou ações que foram implementadas por meio do exercício
da referida função.
Pode-se dizer que a função distributiva consiste em arrecadar tributos dos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mais ricos ou das regiões mais desenvolvidas e transferi-los para os mais pobres
e regiões mais carentes. Existem impostos, enquanto espécies de tributos, por
exemplo, que são capazes de onerar mais quem tem mais a pagar, ou seja, os mais
ricos; o Imposto de Renda, popular IR, é um bom exemplo. Portanto, é dessa
maneira que o Brasil vem tentando distribuir melhor a renda que é injustamente
distribuída no atual modo de produção, o capitalismo.
Essa função é vista como uma das mais relevantes, por alguns doutrinado-
res, pois, segundo eles, a distribuição no sistema capitalista não é feita da forma
mais justa. Considerando o processo de evolução da economia, cabe ao Estado
criar mecanismos que melhorem a distribuição de renda da população e, para
tal, vale-se de impostos diretos, indiretos, isenções, incentivos, subsídios etc.
Em 2012, foram divulgadas algumas pesquisas que revelaram que o Brasil,
em 2011, teve o melhor índice de distribuição de renda desde o início da década
de 60. O governo utilizou vários programas para que isso fosse alcançado, porém
os mais relevantes foram o Bolsa Família e o Prouni.

Atribuições Econômicas do Setor Público


52 UNIDADE II

FUNÇÃO ESTABILIZADORA

Diante da incapacidade do mercado


de promover eficientemente a estabili-
dade, o emprego e o desenvolvimento,
faz-se necessário que o Estado colo-
que em prática inúmeras políticas
que, mais uma vez, sejam capazes de
corrigir tais falhas provocadas pelo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mercado. Essa ação é realizada por
meio de uma função conhecida como
função estabilizadora.
Podemos dizer que a função estabilizadora tem por objetivo a manutenção
da estabilidade econômica, cujo intuito é diminuir o impacto econômico e social
em cenários de recessão ou crises. Ou seja, as decisões no plano macroeconômico
visam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Por meio do exercício dessa
função, os níveis de preços são mantidos estáveis, os efeitos das crises ou reces-
são são minimizados e os níveis de emprego tendem a permanecer constantes.
Em outras palavras, pode-se dizer que a função estabilizadora é a qual o
governo procura atingir um de seus objetivos, que é a “estabilização econômica”,
ou seja, a estabilidade dos preços, uma das condições necessárias para que os
investimentos aumentem e, com eles, o crescimento econômico, o emprego e a
renda nacional.
Essa função é considerada, pelos estudiosos de gestão pública, bastante atual,
afinal, o Estado busca constantemente o equilíbrio macroeconômico. Este signi-
fica a busca pelo crescimento econômico, aumentando constantemente os níveis
de emprego na economia, sem esquecer a manutenção do poder de compra da
moeda nacional, ou seja, a baixa inflação.
De acordo com Nascimento (2010), a função estabilizadora corresponde à
aplicação das diversas políticas econômicas, pelo governo, a fim de promover o
emprego, o desenvolvimento e a estabilidade, quando o mercado é incapaz de
assegurar o alcance desses objetivos. Ou seja, é a intervenção do governo para
atingir algumas metas de estabilidade macroeconômica.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


53

Ao realizar as suas intervenções na economia, cujas consequências afe-


tam todos os agentes, o governo evidentemente visa alcançar alguns objetivos.
Basicamente, podemos citar quatro objetivos da intervenção governamental via
políticas econômicas:
1. Estabilidade dos preços (inflação baixa).
2. Crescimento econômico, ou seja, crescimento da produção (de modo a
garantir aumento de renda e de emprego).
3. Melhor distribuição/repartição da riqueza (em particular da renda pes-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

soal e regional).
4. Equilíbrio nas contas externas, ou seja, que o país possa arcar com os
compromissos financeiros assumidos com os demais países.

Destaca-se que a prioridade do governo, diante desses objetivos se altera ao longo


dos anos, de acordo com cada governo, por exemplo, no início dos anos 80, o ajuste
externo era mais prioritário para o governo do que a estabilidade ou o crescimento.
Desde 1986, com o Plano Cruzado e os demais planos econômicos (Bresser,
Verão, Collor I e Collor II, até chegar ao Plano Real), a prioridade número 1 pas-
sou a ser a estabilização econômica.
Para o governo Lula, que se iniciou em janeiro de 2003, os objetivos de polí-
tica econômica mudam um pouco em relação ao governo anterior, em que a
estabilidade vinha em primeiríssimo lugar.
Entre alguns dos problemas macroeconômicos que um país pode enfren-
tar, estão:
■■ A inflação (ou seja, aumento generalizado dos preços de bens e serviços).
■■ A recessão ou baixo crescimento da economia.
■■ O desemprego elevado.
■■ A distribuição desigual de renda.
■■ Variação cambial (o real em relação ao dólar pode variar muito, num
determinado período).

Atribuições Econômicas do Setor Público


54 UNIDADE II

■■ Os problemas no balanço de pagamentos (que registra o resumo contábil


das transações econômicas do Brasil, por exemplo, com o resto do mundo).
■■ As dificuldades para pagamento das contas externas, taxas de juros ele-
vados no mercado interno entre outros.

Assim sendo, com o objetivo de resolver ou pelo menos minimizar esses tipos de
problemas econômicos, os governos fazem quase que diariamente intervenções na
vida das pessoas e das empresas, via decisões políticas com interesse econômico.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A preocupação fundamental em manter a estabilidade econômica consiste
em controlar o nível agregado de demanda, com o propósito de atenuar o
impacto social e econômico de crises de inflação ou depressão. O controle
da demanda agregada implica intervir sobre o crescimento das despesas
privadas e governamentais de consumo ou de investimento por meio, por
exemplo, do controle dos gastos públicos, do crédito e dos níveis de tributa-
ção. Vale a pena notar que problemas de estabilidade econômica são parti-
cularmente importantes no caso de economias subdesenvolvidas, na medi-
da em que a manutenção da estabilidade constitui um requisito importante
para que seja alcançado o objetivo de manutenção de taxas elevadas de
crescimento.
Fonte: Rezende (2007, p. 20).

A estabilização econômica, embora tenha um sentido mais abrangente, podemos


entendê-la como sinônimo de estabilidade de preços, isto é, a busca por manter
a inflação em nível baixo (em geral, abaixo de 6% ao ano, para um país como o
Brasil, já pode ser considerado um objetivo alcançado, enquanto para os EUA,
esse nível é em torno de 2,5% ao ano).
Taxas elevadas de inflação trazem distorções para a sociedade, ao passo que
pioram a distribuição de renda (os mais pobres não conseguem, com o mesmo
sucesso dos mais ricos, fazer aplicações de seu dinheiro no mercado financeiro),
faz com que as aplicações financeiras passem a ter prazos menores (desestimu-
lando os investimentos das empresas e dificultando a aquisição de moradias, por
exemplo), entre outros.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


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AS FALHAS DE MERCADO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No mundo prático, o que prevalece são os mercados imperfeitos. Esses mercados


são responsáveis por inúmeras falhas que justificam, até certo ponto, a interven-
ção do governo. As falhas que estudaremos neste material são: (a) a existência
de bens públicos; (b) a existência de externalidades; (c) a existência de poder de
mercado; (d) a existência de assimetria de informação.

BENS PÚBLICOS

Ao estudar a função alocativa, você aprendeu que ela trata do fornecimento de


bens e serviços por parte do governo que não são oferecidos de maneira ade-
quada pelo setor privado devido às falhas de mercado. Assim sendo, pode-se
dizer que a existência de bens públicos promove uma falha de mercado, que é
contornada pela atuação governamental. Vamos ver o porquê?
Considere, por exemplo, a defesa nacional, que hoje é classificada como
um serviço público. O consumo desse serviço por nós, brasileiros, é claramente
não rival e não exclusivo. Quero dizer que um brasileiro que acabou de nascer,
por exemplo, ao também consumir esse serviço, não promoverá a diminuição

As Falhas de Mercado
56 UNIDADE II

do serviço de defesa nacional aos que já estão usufruindo dela (não rivalidade).
Ademais, o fato de um cidadão brasileiro a mais consumir o referido serviço,
não exclui o direito de usufruir deste serviço os que já estão usufruindo e de
outros que queiram vir a usufruir (não exclusivo). Logo, pode-se dizer que um
bem público puro compreende duas características principais, sendo: (a) a não
rivalidade; (b) a impossibilidade de exclusão de consumo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Lembre-se: um bem público é um bem não exclusivo e de consumo não
rival, que pode ser disponibilizado a baixo custo para muitos consumidores,
mas que, uma vez disponibilizado, pode ser consumido por outros.
(Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld)

Afinal, por que um bem público gera falha de mercado? Porque o mecanismo de
mercado ou a iniciativa privada oferecessem ineficientemente ou simplesmente
não se interessam em oferecer esse tipo de bem ou serviço. A falta de interesse ou
a ineficiência é decorrente do fato de que não há incentivo algum para se ofere-
cer um bem ou um serviço que possa ser consumido por qualquer pessoa e sem
custo, já que a característica da não rivalidade e exclusão deve ser respeitada. É
aqui que entra a atuação do governo, pois caberá a ele ofertar tais bens e serviços.
A atuação do governo, no entanto, não para por aí. Há também os famosos
bens, chamados de semipúblicos ou meritórios. Em outras palavras, esse tipo
de bens/serviços também cabe ao governo fornecer. A título de exemplo, pode-
mos citar como um serviço semipúblico a educação. Observe que tal serviço,
no Brasil, não possui as características de um bem público puro, ao passo que,
embora seja não rival, é excludente. Nessa direção, cabe também ao governo for-
necê-lo, ainda que parcialmente.
Diante do contexto apresentado, caro(a) aluno(a), convido-o(a) a refle-
tir sobre o seguinte questionamento: o crescimento populacional exerce efeito
direto sobre o volume de bens públicos e semipúblicos?

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


57

Certamente que sim, não é mesmo? Imagine um contexto em que o número


de habitantes venha crescendo consideravelmente. Quanto mais pessoas, maior
será a necessidade de bens e serviços, como: (a) educação; (b) saúde; (c) segu-
rança, entre outros. Ademais, incrementos em termos de urbanização também
serão necessários o que, por conseguinte provocará um aumento na demanda
por serviços urbanos, entre eles: (1) corpo de bombeiros; (2) praças; (3) ruas;
(4) policiamento; (5) trânsito; (6) saneamento básico etc. É fato também que tais
incrementos ampliam mais que proporcionalmente, veja bem, eu disse mais que
proporcionalmente as necessidades de creches, escolas e hospitais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Por outro lado, há que se destacar que pode haver mudanças de ordem etá-
ria da população. Em outras palavras, a população pode ser considerada mais
jovem ou pode ser considerada mais idosa, e tal consideração pode influenciar,
e muito, na atuação governamental. Suponha, por exemplo, que determinada
população seja considerada em sua maioria jovem. Suas demandas, em decor-
rência dessa característica, estarão mais voltadas a bens e serviços que atendam
às suas necessidades, tal como educação. No entanto, se a modificação se refere
ao aumento da população inativa por idade elevada, a demanda será outra e o
governo terá que se preocupar muito mais com necessidades de outra natureza,
como pensões e aposentadorias.
Em suma, nas situações elencadas, além do crescimento da demanda de bens
públicos e semipúblicos, expandem-se os gastos governamentais com o ofereci-
mento e a manutenção dessas atividades.

É correto afirmar que a medida em que um país se desenvolve, amplia-se o


número de bens, serviços públicos e semipúblicos que precisarão ser supri-
dos pelo governo?

Por fim, é preciso destacar que o aumento do nível de renda per capita e do padrão
de vida da população amplia o tempo disponível para o entretenimento, o que
implica, novamente, na necessidade de atuação governamental para a criação

As Falhas de Mercado
58 UNIDADE II

de novos tipos de bens/serviços públicos, quais sejam: (a) museus, (b) parques,
(c) jardins, (c) praias (REZENDE, 2007). Assim sendo, você consegue perceber
o quanto é importante a atuação governamental no oferecimento desses bens e
serviços e na minimização das falhas dessa natureza que o mercado gera?
Tenho certeza que sim! Para finalizar essa falha de mercado, convido-o(a)
a pensar sobre como o processo de crescimento econômico requer a manuten-
ção constante de bens e serviços oferecidos pelo governo. Não só a manutenção
como a criação de novos bens/serviços de caráter público, ao passo que a atua-
ção governamental neste âmbito precisa acompanhar a evolução dos mercados

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que, cotidianamente, criam novas obrigações aos governos.

EXTERNALIDADES

Via de regra, caro(a) aluno(a), os agentes econômicos constantemente tomam


decisões que buscam atender pura e simplesmente seus objetivos. Estes, para as
unidades produtivas e para as famílias, são respectivamente: a maximização dos
lucros e o alcance do nível mais alto de bem-estar.
No entanto, segundo Andrade (2004)
Existem várias ações realizadas por empresas ou indivíduos que afe-
tam, positivamente ou negativamente, outras empresas ou indivíduos.
Ou seja, em várias oportunidades, eles desconsideram os impactos das
suas ações sobre outros agentes econômicos. (ANDRADE, 2004, p. 16)

Assim, quando a ação de um agente econômico afeta negativamente o outro,


incorre-se no que chamamos de externalidades negativas. São exemplos destas:
■■ Contexto: tirar o carro da garagem e dirigir nas ruas de uma grande cidade.
■■ Ação: impõe custos aos demais motoristas e a sociedade.
■■ Custos gerados: (a) ruas congestionadas; (b) maior probabilidade de aci-
dentes; (c) aumento da poluição.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


59

■■ Contexto: ambiente fechado.


■■ Ação: indivíduo acende um cigarro em um ambiente fechado.
■■ Custos gerados: (a) desconfortos a outras pessoas que passam a ser fuman-
tes passivas.

■■ Contexto: fábricas poluindo rios.


■■ Ação: poluentes sendo lançados nos rios.
■■ Custos gerados: prejuízos para os habitantes da região que utilizam o rio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para atender às suas necessidades.

Em compensação, quando a ação de um agente econômico afeta positivamente


o outro, incorre-se no que chamamos de externalidades positivas. São exemplos
de externalidades positivas:
■■ Contexto: plantação de uma árvore.
■■ Ação: uma pessoa planta uma árvore.
■■ Benefícios gerados: beleza, sombra, menos poluição a quem plantou e
a diversas pessoas.

■■ Contexto: invenções científicas.


■■ Ação: uma vacina contra uma determinada doença.
■■ Benefícios gerados: minimização ou extinção da doença a seus criado-
res e a toda sociedade durante várias gerações.

■■ Contexto: uma sala de aula.


■■ Ação: um aluno faz uma pergunta inteligente e oportuna ao professor.
■■ Benefícios gerados: além de beneficiar o aluno que fez a pergunta, bene-
ficia os demais, que também aprendem.

As Falhas de Mercado
60 UNIDADE II

Lembre-se: a externalidade nada mais é do que a ação de um produtor ou


consumidor que afeta outros produtores ou consumidores, mas que não é
considerada no preço de mercado. Ela pode ser tanto positiva quanto ne-
gativa.
(Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em outras palavras, as externalidades implicam tanto custos quanto benefícios
sociais diferentes dos custos e benefícios privados. Assim sendo, o sistema de
preços reflete apenas os custos e os benefícios privados.
É exatamente diante deste contexto que se faz necessária a presença do
governo que, em alguns casos, incorporará as externalidades aos custos priva-
dos, via alguns mecanismos, tais como: (a) incentivos fiscais ou (b) tributação.
A título de exemplo, retomaremos o exemplo das fábricas poluindo rios, pio-
rando a qualidade de vida das pessoas. Diante desse contexto, o que o governo
poderá fazer? O governo fará com que os malefícios causados sejam incorpo-
rados aos custos privados de produção. Em outras palavras, o governo também
poderá regular a emissão de poluentes, multando ou taxando as referidas fábri-
cas. Assim sendo, o custo privado elevar-se-á, aproximando-se do custo social.
E em se tratando de externalidades positivas? Qual o papel do governo?
O papel do governo, em algumas situações dessa natureza é fazer com que os
benefícios gerados pelas externalidades alcancem o maior número de pessoas,
de modo a maximizar o bem-estar de todos. Retomemos o exemplo das vacinas.
Considerando-o, caberá ao governo campanhas de conscientização, separação
dos indivíduos em grupos de risco, disponibilização gratuita da vacina à popu-
lação, entre outros. Por conseguinte, o governo também aumentará o benefício
privado mediante a distribuição de vacinas ou descontos para a população que
esteja fora de risco.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


61

PODER DE MERCADO

Em geral, os mercados são classificados como mercados não competitivos.


Um mercado não competitivo é aquele que as unidades produtivas individuais
decidem quais preços vão cobrar por seus produtos. Nesse caso, o preço médio
predominante dos produtos é o conhecido preço de mercado.
Assim sendo, podemos dizer que as unidades produtivas que fazem parte desse
tipo de mercado detêm “poder de mercado”, que nada mais é do que a capacidade
que vendedores ou compradores têm de influenciar o preço de uma mercadoria.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Uma empresa (ou um grupo de empresas) possui poder de mercado se for


capaz de manter seus preços sistematicamente acima do nível competitivo
de mercado sem, com isso, perder todos os seus clientes. Em um ambiente
em que nenhuma firma tem poder de mercado, não é possível que uma
empresa fixe seu preço em um nível superior ao do mercado, pois se assim
o fizesse, os consumidores naturalmente iriam procurar outra empresa para
lhe fornecer o produto que desejam, ao preço competitivo de mercado.
Fonte: Conselho Administrativo de Defesa Econômica (2011, on-line)¹.

Os monopólios, os oligopólios, os monopólios bilaterais, entre outros, são exem-


plos de estruturas de mercado decorrentes de mercados não competitivos, ou
seja, mercados em que a forma de competição é imperfeita.
A principal característica dessas estruturas de mercado é o controle da oferta
de bens e serviços que, por conseguinte, resulta em preços mais elevados, quando
comparados aos preços que são praticados no mercado competitivo. Destaca-se
que um mercado competitivo é aquele que possui muitos compradores e vende-
dores, de tal modo que nenhum comprador ou vendedor pode, individualmente,
influir de forma significativa nos preços (PINDYCK; RUBINFELD, 2010, p. 7).
Em outras palavras, nenhum comprador ou vendedor pode, individualmente,
influenciar a determinação do preço de mercado. Logo, o que prevalece é um
único preço.

As Falhas de Mercado
62 UNIDADE II

Diante do exposto, destaca-se que é evidente que preços mais elevados pre-
judicam os consumidores e é exatamente ponto que o governo tende a atuar, ou
seja, limitando o poder de mercado das firmas, para corrigir a referida falha. A
imposição do limite é feita por meio de várias formas de regulação, quais sejam:
(a) fixação de preço máximo; (b) fixação de lucro máximo; (c) estímulo à con-
corrência, via incentivos diretos à instalação de competidores ou via limitação
de fusões.
Rezende (2007) nos explica ainda que:
No Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública – Tele-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
comunicações e Energia Elétrica –, o governo criou a Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel) e a Agencia Nacional de Telecomunicações
(Anatel), com o intuito de regular as atividades desses setores, por natu-
reza pouco competitivos e que prestam um serviço essencial à popula-
ção. (REZENDE, 2007, p. 29)

Também é preciso destacar que existem diversos órgãos do governo com a fun-
ção de regular o mercado, entre eles: o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica, popularmente conhecido como CADE. O conselho em questão é
uma autarquia em regime especial em todo o território nacional, mas, atenção,
o CADE não é uma agência reguladora da concorrência.

Você sabia que não estão dentre as atribuições do CADE regular preços e
analisar os aspectos criminais das condutas que investiga? E que suas ativi-
dades não se confundem com a defesa do consumidor dos trabalhadores,
ou outras políticas públicas?
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica)

Em outras palavras, cabe ao CADE “julgar e punir” administrativamente em


“instância única” aqueles que infringirem a ordem econômica. Ademais, é de
competência do CADE averiguar atos de concentração econômica, cujo intuito
é evitar que aconteçam de maneira excessiva frustrando, assim, a competitivi-
dade de determinados mercados.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


63

Em suma, vide Quadro 1, são funções do Conselho Administrativo de Defesa


Econômica: (a) prevenir; (b) repreender; (c) educar.

Quadro 1 - Funções do Conselho Administrativo de Defesa Econômica

FUNÇÕES DESCRIÇÃO
Controle de fusões, aquisições, incorporações e outros atos de
Preventiva concentração econômica entre grandes empresas, que possam
colocar em risco a livre concorrência.
Combate a cartéis e outras condutas nocivas ao ambiente con-
Repressiva
correncial.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Disseminar a cultura da concorrência, instruir o público em geral


sobre as diversas condutas que possam prejudicar a livre con-
corrência; incentivar e estimular estudos e pesquisas acadêmicas
sobre o tema, firmando parcerias com universidades, institutos
Educativa
de pesquisa, associações e órgãos do governo; realizar ou apoiar
cursos, palestras, seminários e eventos relacionados ao assunto;
editar publicações, como a Revista de Defesa da Concorrência e
cartilhas.
Fonte: adaptado de CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica (2011, on-line)¹.

ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES

De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 550) “quando compradores e ven-


dedores possuem informações diferentes sobre uma transação, ocorre o que é
chamado de assimetria de informações”.
Em outras palavras, a assimetria de informação é uma falha de mercado
muito comum que requer uma efetiva atuação do governo para a sua correção
ou minimização. Afinal, você sabe a que se refere a assimetria de informações?
Refere-se a informações incompletas, ou seja, ocorre quando os consumidores
ou os produtores não conseguem obter informações exatas ou inteiramente ver-
dadeiras a respeito dos preços de mercado ou da qualidade do produto/serviço
a ser oferecido/consumido.
Pode-se dizer que essa “falta de informações” pode impedir que alguns mer-
cados alcancem um bom desenvolvimento. A título de exemplo, podemos citar

As Falhas de Mercado
64 UNIDADE II

duas situações: (1) um ofertante pode produzir e ofertar quantidades excessi-


vas de um determinado bem ou quantidades insuficientes; (2) um demandante
pode adquirir um produto que lhe cause prejuízo ou pode deixar de demandar
um produto que lhe traga benefícios.

A seleção adversa é uma forma de falha de mercado que ocorre quando, por

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
causa de informações assimétricas, produtos de diferentes qualidades são
vendidos a um preço único; dessa maneira, vendem-se inúmeros produtos
de baixa qualidade e pouquíssimos de alta qualidade.
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 552)

Caro(a) aluno(a), destaca-se que a intervenção governamental pode ajudar nesse


tipo de problema. Você saberia dizer como? Tem ideia de qual é o papel e as com-
petências do governo nesse processo?
O papel do governo, como já foi dito no início desse tópico, é tentar minimi-
zar, corrigir ou até mesmo, em alguns casos, excluir a assimetria de informações
e ele faz isso de diversas maneiras, entre elas: (a) por meio da instituição de leis
e; (b) por meio de fiscalização sobre as informações que todo produtor e con-
sumidor devem dispor.
As instituições de leis são extremamente necessárias, ao passo que deter-
minam o que deve ser informado pelos fabricantes, sob a pena de a informação
disponível ao consumidor ser deficiente. Você já prestou atenção nas informa-
ções que são discriminadas nas embalagens dos produtos que você escolhe no
supermercado e leva para casa?
Tenho certeza que sim. Observe que além do valor nutricional do produto,
as descrições trazem informações do tipo: (a) para alérgicos a lactose; (b) para
diabéticos, entre outros, cujo intuito é diminuir a assimetria de informações e
zelar pelo bem-estar das pessoas.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


65

Quanto à fiscalização, destaca-se que esse é um trabalho árduo e constante


dos governos, que por meio desta linha de atuação visam gerar e manter “infor-
mação completa”, tanto para produtores quanto para consumidores.

ESTADO PROVEDOR VERSUS ESTADO REGULADOR


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Atualmente, caro(a) aluno(a), muito se fala sobre a necessidade de reforma do Estado


na América Latina. Essa proposta de reforma visa uma considerável mudança na
natureza das atribuições. Ou seja, propõem-se por meio dessa proposta, que se
migre de um contexto de convivência com um Estado Provedor de bens e servi-
ços para um Estado cuja função estaria alicerçada na regulação.
A proposta de um Estado Regulador começou a ganhar força diante da onda
de privatizações e de outros aspectos, entre eles: (a) cenário político (b) contexto
econômico. Em outras palavras, a proposta de um Estado Regulador passou a
desenvolver-se quando mudanças de atitudes e métodos passaram a ser indis-
pensáveis entre Estados e entre Estados e Sociedade.

Estado Provedor versus Estado Regulador


66 UNIDADE II

De acordo com Rezende (2007):


A globalização financeira, a abertura comercial, a privatização de em-
presas públicas, a formação de blocos regionais e o fortalecimento dos
poderes locais (descentralização) altera radicalmente o contexto no
qual se situavam as estratégias de desenvolvimento dos países da re-
gião, exigindo, em contrapartida, profunda revisão do papel a ser de-
sempenhado pelo Estado nesse momento. (REZENDE, 2007, p. 30)

Assim sendo, não se refere apenas à regulação de novos mercados decorrentes


de privatizações, mas também de regular com outro viés os aspectos da vida eco-
nômica em geral, tanto interna quanto internacionalmente. A título de exemplo,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cita-se a necessidade de uma intervenção mais efetiva, via regulação, nos merca-
dos financeiros e nos fluxos internacionais de capitais, com o propósito de evitar
crises, ao passo que esses fluxos são altamente voláteis. A partir de então, pas-
saram a ser criadas novas instituições para mediar os conflitos em tais relações.
No âmbito doméstico, a abertura comercial tem criado a necessidade de se
repensar em mecanismos de defesa da concorrência. Destaca-se que a ausência
de barreiras tarifárias, em algumas situações, não coloca fim a práticas restritivas
ao livre comércio, muito menos ao abandono a práticas desleais em sua atuação.
Rezende (2007, p.31) nos ensina ainda que:
As exigências da competitividade demandam nova postura diante do pro-
cesso de fusão e incorporação de empresas, em face da importância da
escala produtiva para a preservação de padrões de competitividade com-
patíveis com os apresentados por grandes conglomerados internacionais.

Sendo assim, a transição de um Estado Provedor para um Estado Regulador traz


importantes desafios para os países da região. Faz-se necessário mudar a cultura
instituída, diga-se de passagem, que é extremamente burocrática, bem como
criar padrões de gerenciamento das políticas públicas. Ademais, precisa-se criar
parcerias e formas de controle social. Não obstante, é preciso que as ações dos
governos sejam cada vez mais transparentes, pois um Estado Regulador custa
caro, ao passo que a regulação gera custos sociais que nem sempre são percebidos.

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


67

Você sabia que quanto maior for o espectro de questões a serem objeto da
regulação, maior será a transferência para o setor privado de custos até en-
tão suportados pelo governo, o que exigirá maior rigor na aferição de seus
benefícios?
(Fernando Rezende)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

No Brasil, a discussão acerca da necessidade de regulação enfrenta dificulda-


des, principalmente por falta de experiência nesse assunto, afinal, são muitos
anos de predominância da intervenção direta do Estado nas vidas econômica e
social do país. Nessa direção, destaca-se que as entidades públicas encarregadas
de produzir bens e serviços à população, tornaram-se mais poderosas do que
os órgãos que deveriam controlá-las. Isto é, o conhecimento técnico migrou da
Administração Pública para as empresas estatais, o que gerou uma situação na
qual o concessionário assumiu atribuições do poder concedente.
Ainda no que diz respeito à regulação no Brasil, convém mencionar que duas
áreas são tidas como prioritárias: a primeira delas refere-se aos mercados que
advirão do processo de privatização da infraestrutura e de serviços urbanos; já
a segunda, à instituição e à operação de mecanismos de defesa da concorrência,
no plano doméstico e internacional.
No debate sobre a regulação, no Brasil, na primeira metade da década de
90, principalmente após a aprovação da Emenda Constitucional (EC), que que-
brou o monopólio do Estado na infraestrutura, algumas questões ocuparam o
centro das atenções, quais sejam: (a) a questão da autonomia do órgão regula-
dor; (b) a questão da representatividade dos interesses envolvidos; (c) a questão
da expansão; (d) a questão da equidade. No entanto, destaca-se que a autonomia
do órgão regulador foi o principal foco do debate, em face das discussões acerca
dos limites que a autonomia deveria, ou não, ter (vide Quadro 2).

Estado Provedor versus Estado Regulador


68 UNIDADE II

Quadro 2 - Ampla autonomia versus limites da autonomia

A tese de que os membros da comissão reguladora devem gozar


de ampla autonomia, dispondo de mandato fixo e não poden-
do ser demitidos “ad nutum”, precisa ser examinada com maior
Ampla
rigor, em face das particularidades existentes no caso brasileiro.
Autonomia
Em primeiro lugar, é preciso analisar a natureza das atribuições
do órgão regulador, em face do alcance e do ritmo geografica-
mente diferenciados da privatização e suas implicações sociais.
Precisam ser demarcados a luz das preocupações mais gerais
com o planejamento setorial e a formulação de políticas vol-
tadas para a expansão e modernização dos setores que estão
Limites da

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sendo privatizados. O impacto inicial da privatização sobre as
Autonomia
desigualdades regionais e sociais requer cautela e preocupação
por parte do governo, para evitar conflitos que possam compro-
meter o próprio avanço do processo.
Fonte: adaptado de Rezende (2007, p. 32).

Diante do exposto, com base em Rezende (2007, p. 32), é possível refletirmos


sobre alguns questionamentos, sendo eles:
1. Como conciliar a autonomia do órgão regulador com a preserva-
ção de algum grau de inferência do setor público em questões es-
tratégicas para o país?

2. Como a privatização deverá avançar a ritmos geograficamente di-


ferentes, como administrar a convivência de empresas públicas e
privadas em um contexto de articulação do poder público com o
órgão regulador?

3. Como evitar que a privatização acarrete um aumento na exclusão


de um expressivo contingente de usuários em potencial do acesso
aos serviços?

4. Como evitar que a privatização acarrete um aumento na exclusão


de um expressivo contingente de usuários em potencial do acesso
aos serviços?

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


69

Considerando os questionamentos levantados é possível afirmar que a questão


da autonomia não pode, em hipótese alguma, ser vista de forma dissociada das
demais questões, ao passo que está diretamente ligada à questão da representati-
vidade. É fato que a administração dos órgãos reguladores deve ser feita por um
colegiado. E, afinal, como ele deveria ser composto? Para uns, por integrantes
dos três principais interesses envolvidos: (a) governo; (b) produtores; (c) usuá-
rios, em uma composição partidária e tripartite. Para outros, por profissionais
independentes com conhecimento técnico para tal, preservando, em relação aos
interesses envolvidos, uma maior independência.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A divergência de opiniões quanto à forma que o colegiado deveria ser consti-


tuído está diretamente relacionada às atribuições do órgão regulador. Sobre esse
assunto, Rezende (2007) postula que:
Os limites da autonomia do órgão regulador e de seu colegiado são
dados pelo enorme desafio da expansão e modernização da infraes-
trutura e sua importância para o desenvolvimento do país. Essa é uma
questão que usualmente não se apresenta nos casos usados como re-
ferência para a análise da situação brasileira – a experiência europeia
e, em particular, a britânica -, pois ali se tratava de situações nas quais
a infraestrutura já estava usualmente construída, enquanto no caso
brasileiro boa parte dela ainda está por construir. Nessas condições, a
privatização não significa uma retirada do setor público das áreas que
estão sendo privatizadas, mas uma nova forma de convivência entre
ambos – público e privado –, cabendo à primeira dose grande de res-
ponsabilidade no que tange ao planejamento e aos investimentos com
vista em evitar indesejável agravamento das disparidades regionais.
(REZENDE, 2007, p. 33).

Dessa maneira, a conciliação entre a autonomia do órgão regulador e a pre-


servação de alguma forma de ingerência estatal precisa ser considerada. Logo,
uma política de expansão e modernização da infraestrutura, por exemplo, não
pode ater-se somente a visões setoriais. Faz-se necessário considerar a relevância
de um equilíbrio na oferta de energia, transportes, telecomunicações, serviços
urbanos, entre outros, pois só assim haverá aproveitamento efetivo das poten-
cialidades de desenvolvimento de cada região.

Estado Provedor versus Estado Regulador


70 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) acadêmico(a), finalizamos a segunda unidade do livro “Economia do


Setor Público”. Vamos relembrar, ainda que brevemente, tudo o que estudamos?!
Você se lembra que, inicialmente, aprendeu sobre a necessidade de interven-
ção do Estado na economia? E, sequencialmente, quais são as principais funções
econômicas do setor público?
Agora que você já aprendeu tais questões, será capaz de diferenciar as fun-
ções alocativa, distributiva e estabilizadora, não somente enquanto estudante de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
economia do setor público, mas enquanto cidadão, pertencente a esse contexto.
Ou seja, ao analisar as políticas públicas implementadas pelos governos, será
capaz de perceber se o objetivo deles é alocar, distribuir ou estabilizar.
Pois bem, após aprender tais pontos, você estudou sobre as falhas de mer-
cado mais relevantes existentes na economia, sendo: (a) Bens Públicos; (b)
Externalidade; (c) Poder de Mercado; e (d) Assimetria de Informações. São inte-
ressantes, não é mesmo? Tendo aprendido, verifique no dia a dia, por meio dos
noticiários e/ou outras fontes de informação, de que modo o governo tem atu-
ado no sentido de corrigir e/ou minimizar essas falhas.
Por fim, você aprendeu sobre o Estado Provedor e o Estado Regulador. A
partir desse aprendizado, será capaz de avaliar qual o tipo de Estado que atual-
mente vigora e se exerce corretamente as suas competências.
Espero que esta unidade tenha sido proveitosa e que você tenha gostado de
aprender, ainda que sucintamente, sobre as atribuições econômicas dos Estados
Modernos.
Parabéns pelo aprendizado!

ATRIBUIÇÕES ECONÔMICAS DOS ESTADOS MODERNOS


71

1. Você aprendeu que as funções ou atribuições econômicas do governo têm se


expandido consideravelmente, refletindo na evolução de princípios teóricos
que recomendam a necessidade de intervenção dos estados na economia.
Nessa direção, as preferências da coletividade quanto a não intervenção ou
intervenção também mudaram e, atualmente, existe uma expressiva divisão
de opiniões quanto a essa possibilidade.
A respeito desse assunto, avalie as afirmações a seguir e assinale com V, as ver-
dadeiras, e F, as falsas:
(( ) A função alocativa do setor público se justifica em decorrência da existência
de falhas de mercado.
(( ) A função estabilizadora do setor público é decorrente da necessidade do
Estado ordenar e distribuir renda no país.
(( ) Por meio de instrumentos de política fiscal, monetária, cambial, comercial e
de rendas, o Estado intervém na economia por meio de função estabilizadora.
As afirmações I, II e III são respectivamente:
a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.

2. Atualmente, a necessidade de atuação do setor público na economia é uma


realidade, mas nem sempre foi assim. Em alguns momentos da nossa história
e da história mundial, essa intervenção era vista como retardatária e desneces-
sária. Todavia, há quem diga que essa necessidade de intervenção via funções
alocativa, distributiva e estabilizadora, muito mais atrapalha do que ajuda. As-
sim sendo, essas visões (favoráveis ou contrárias) dependem da corrente de-
fendida por seus doutrinadores.
Considerando o enunciado e as ideias que ele transmite, analise as asserções a
seguir e a relação proposta entre elas:
I. Observou-se, no mundo capitalista, ao final do século XIX e início do sécu-
lo XX, a formação de grandes monopólios. Assim sendo, a oferta passou a
sofrer limitações e os preços aumentaram. Isso fez com que os governos
iniciassem uma reflexão sobre o seu verdadeiro papel na economia.
72

PORQUE
II. O pensamento que predominava naquela época era o da “mão invisível”, de
Adam Smith, que difundia a ideia de que os mercados eram autorreguláveis
e, portanto, não precisavam de intervenção do Estado.
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa correta
da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é justificativa
correta da I.
c) A asserção I é proposição verdadeira, e a II é proposição falsa.
d) A asserção I é proposição falsa, e a II é proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

3. Sabe-se que o setor público tem diversas funções a serem cumpridas e, dentre
elas, estão as funções consideradas econômicas. Em outras palavras, a existên-
cia de alguns problemas na livre movimentação de mercado faz com que o
Estado tenha que intervir e cumprir alguns papéis importantes para a melhor
condução da economia.
A partir do enunciado e das ideias que transmitidas, leia atentamente as afir-
mações a seguir e, na sequência, assinale a alternativa correta.
I. A função estabilizadora corresponde à aplicação das diversas políticas eco-
nômicas, pelo governo, a fim de promover o emprego, o desenvolvimento e
a estabilidade, quando o mercado é incapaz de assegurar o alcance desses
objetivos.
II. A função alocativa consiste em arrecadar impostos e contribuições dos mais
ricos ou das regiões mais desenvolvidas e transferi-los para os mais pobres
e regiões mais carentes.
III. A função distributiva do setor público refere-se à alocação de recursos por
parte do governo, a fim de oferecer bens públicos, bens semipúblicos ou
meritórios.
IV. A função alocativa diz respeito à atuação do governo quando não houver
eficiência da iniciativa privada ou quando a natureza da atividade indicar a
necessidade de presença do Estado.
73

Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas:


a) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas I e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

4. As externalidades ocorrem quando as atividades produtivas e de consumo


promovem efeitos indiretos sobre outras atividades de produção e de consu-
mo, de modo que tal efeito não influa diretamente nos preços de mercado.
Assim sendo, pode-se dizer que as externalidades podem ser tanto positivas
quanto negativas. Considerando esse contexto, avalie as afirmativas a seguir:
I. O governo deve atuar no sentido de estimular a geração de externalidades
positivas, via incentivos.
II. O governo deve atuar sempre no sentido de estimular o processo de gera-
ção de externalidades negativas.
III. A geração de empregos é uma externalidade positiva causada pelo proces-
so produtivo.
IV. As externalidades surgem quando se incluem nos preços de mercado efei-
tos “externos” da produção e do consumo.

Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas:


a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.
74

5. Vimos que os mercados não são de concorrência perfeita, pois as empresas


com custos decrescentes conseguem produzir com escala alta e reduzir os seus
custos médios. Isso faz com que sejam cada vez mais concentradoras e centra-
lizadoras, gerando grandes oligopólios e/ou monopólios. Considerando esse
contexto, avalie as afirmativas a seguir:
I. O governo, infelizmente, nada pode fazer para proteger a concorrência e os
consumidores, contra a formação dos oligopólios e/ou monopólios.
II. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) é uma sociedade
de economia mista que atua coibindo os abusos contra a concorrência e
contra o consumidor.
III. Quando grandes empresas decidem se juntar, o CADE faz uma análise para
verificar se essa junção não será prejudicial aos consumidores.
IV. O CADE é a última instância, na esfera administrativa, responsável pela deci-
são final sobre a matéria concorrencial.
Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas.
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
b) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
d) Somente a afirmativa I está correta.
e) Somente a afirmativa IV está correta.
75

AUTORIDADE PÚBLICA
Diante da necessidade de suprir “interesses coletivos” que, por sua vez, não são ofereci-
dos - eficientemente - pela iniciativa privada ou que os indivíduos sozinhos não conse-
guem alcançar, justifica-se a existência do Estado. Nessa direção, diante da existência
do Estado para tal competência, os interesses supracitados passam a ser denominados
interesses públicos.
Assim sendo, cumpre enfatizar que o direito reconhece o interesse público, titularizado
pelo Estado, como mais relevante que o interesse privado, titularizado pelos particula-
res. Logo, quando o interesse público se choca com o interesse privado, a preferência
será sempre do interesse público. Em outras palavras, a proteção jurídica do interesse
privado é menos intensa que a que foi dada ao interesse público. No entanto, vale ob-
servar que não se trata de supremacia do interesse público frente ao interesse privado e
sim de prioridade. Isto é, supremacia é a qualidade do que está acima de tudo e o inte-
resse público não está acima da ordem jurídica. Destaca-se ainda que o interesse públi-
co reconhece o direito privado, respeitando seus limites. A título de exemplo, podemos
citar a desapropriação via indenização em vez de confisco, quando o interesse público
tiver prioridade sobre o privado frente à propriedade de um imóvel.
Em se tratando de autoridade pública, faz-se relevante mencionar que ela decorre da
maior importância dada aos interesses públicos. E essa maior importância é fruto da
qualificação feita pelo constituinte ou pelo legislador, dos interesses classificados como
mais importantes. Logo, pode-se dizer que o interesse público para o mundo jurídico
surge quando as normas atribuem ao Estado poderes de autoridade.
São duas as formas pelas quais o poder de autoridade manifesta-se (vide quadro XX),
sendo elas:

Quadro 1 - Formas pelas quais o poder de autoridade manifesta-se

Forma 1: Impondo, unilateralmente, Forma 2: Atribuindo direitos aos particula-


comportamentos (deveres) aos particu- res, por meio de vínculo não obrigacional.
lares por comandos imperativos (que são * Atende ao requerimento voluntário do
impostos sem discussão). próprio interessado.
* Produzida unilateralmente pelo Estado.
Exemplos: Exemplos:
a. Lei: uma vez em vigor passa a obrigar a. Autorização para exploração de ativi-
o particular. dade perigosa.
b. Sentença: imposição de decisão às b. A concessão de cidadania a estran-
partes envolvidas. geiros por decreto presidencial.
76

c. Ato administrativo de lançamento de c. O reconhecimento do direito de


tributo: vincula compulsoriamente o propriedade por usucapião.
contribuinte.
d. Revogações:
e. Anulações:
f. Modificação ou extinção unilateral
dos contratos.
Obs: É permitido nessa forma o uso da
coação, para obrigar o particular a aten-
der ao comando estatal.
Fonte: adaptado de Sundfeld (2004, p. 154-158).

Nessa direção, discute-se ainda a outorga de direito que o doador faz ao donatário e a
outorga de direito que o Estado faz ao particular. Na outorga de direito que o doador faz
ao donatário (direito privado) há o vínculo obrigacional, tratando-se do repasse do bem.
Já na outorga de direito que o Estado faz ao particular, não há vínculo obrigacional, o
que há é atribuição de um direito (ex.: usucapião).
Assim sendo, fica claro que o poder estatal é meramente instrumental, ao passo que
só se justifica em decorrência de interesses públicos que são reconhecidos pela ordem
jurídica.
Por fim, em função da autoridade pública atribuída ao Estado, diz-se que as relações
jurídicas entre ele (polo superior) e os particulares (polo inferior) são verticais, em fun-
ção da superioridade. Já nas relações privadas são horizontais, ao passo que não há
exercício de autoridade de um sobre o outro. A verticalidade da relação supracitada é
apontada como uma característica do direito público. Mas, é importante ressaltar que
existem outros princípios que caracterizam tal relação, entre eles a submissão do Estado
ao ordenamento jurídico. Logo, o direito público não é construído apenas no princípio
da autoridade pública.
É fato ainda que nem sempre o Estado exerce poderes de autoridade pública em relação
aos particulares. Há casos, por exemplo, em que ocorrem vínculos obrigacionais entre
eles (contrato de empréstimo entre o Estado e um banco) e casos em que o Estado,
segundo alguns doutrinadores, submete-se ao direito privado. Mas, mesmo sem autori-
dade pública, sua submissão ao direito privado não é uma submissão convencional, pois
exercerá função, respeitará o princípio da igualdade e assim por diante. Assim sendo, a
ausência de autoridade pública na relação Estado-particular apenas assemelha o direito
público ao privado, ou seja, em hipótese alguma haverá semelhança absoluta.
Fonte: Sundfeld (2004).
MATERIAL COMPLEMENTAR

Introdução à Gestão Pública


Clézio Saldanha dos Santos
Editora: Saraiva
Sinopse: esse livro tenta reunir conceitos, em uma única obra, sobre o processo
administrativo e as grandes áreas funcionais da gestão pública. Tendo o cunho
essencialmente didático, procura abordar conceitos sobre temas antigos,
como o planejamento, a organização, a direção e o controle estatal, mas que
estão sempre em voga. A evolução da ciência administrativa remeteu pesquisadores e professores
para o aprofundamento teórico desses temas em várias áreas, contudo, para auxiliar a práxis da
gestão pública, propõe-se aqui o conhecimento dos marcos conceituais e de seus desbravadores
em uma publicação moderna. Acredita-se que a partir da leitura dessa obra, confrontando os dados
concretos da realidade das organizações públicas brasileiras, contribui-se para o entendimento
sobre as funções e intervenções do Estado brasileiro. Enquanto cidadão ou servidor público, essas
reflexões contribuirão cada vez mais para a evolução e transformações dos sistemas administrativos
públicos, assim como para a construção da cidadania brasileira.

Material Complementar
78
REFERÊNCIAS

ANDRADE, E. C. Externalidades. In: BIDERMAN, C. ARVATE, P. (Orgs). Economia do


Setor Público no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
NASCIMENTO, E. R. Gestão Pública. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2010.
REZENDE, F. A. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2007.
SUNDFELD, C. A. Princípios Gerais do Direito Público. In:_____. Fundamentos do
Direito Público. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 154-158.

REFERÊNCIA ON-LINE
¹ Em: <http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/copy_of_com-
petencias/capa-interna>. Acesso em: 21 fev. 2019.
79
GABARITO

1. A.
2. A.
3. D.
4. B.
5. C.
Professora Me. Daniela Carla Monteiro
Professor Me. Diego Figueiredo Dias

III
SISTEMA TRIBUTÁRIO,

UNIDADE
INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E
EFICIÊNCIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Definir tributos e suas respectivas espécies.
■■ Apresentar os principais princípios tributários.
■■ Discutir as competências tributárias.
■■ Entender a classificação dos impostos.
■■ Analisar os efeitos da tributação sobre a atividade econômica.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Definição e espécies de tributos
■■ Princípios Tributários
■■ Competências Tributárias
■■ Os impostos e sua classificação
■■ Os efeitos da tributação sobre a atividade econômica
83

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à terceira unidade do livro de


Economia do Setor Público. Aqui, você aprenderá sobre sistema tributário, inci-
dência tributária e eficiência. Os objetivos a serem atingidos nesta unidade são: (a)
definir tributos e suas respectivas espécies; (b) apresentar os principais princípios
tributários; (c) discutir as competências tributárias; (d) entender a classificação
dos impostos; (e) analisar os efeitos da tributação sobre a atividade econômica.
Nessa direção, visando atingir os objetivos de aprendizagem elencados, a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

unidade foi dividida em cinco tópicos: (1) definição e espécies de tributos; (2)
Princípios Tributários; (3) Competências Tributárias; (4) os impostos e sua clas-
sificação; (5) os efeitos da tributação sobre a atividade econômica.
Iniciaremos o primeiro tópico conceituando tributos e suas respectivas
espécies, sendo: (a) impostos; (b) taxas; (c) contribuições de melhorias; (d) con-
tribuições sociais; (e) contribuições de intervenção no domínio econômico. Por
conseguinte, o segundo tópico tratará dos principais princípios tributários, quais
sejam: (a) Princípio da Neutralidade; (b) Princípio da Equidade, subdivido em:
Princípio do Benefício e Princípio da Capacidade de Pagar. No terceiro tópico
faremos uma breve discussão sobre competência tributária, que nada mais é do
que a atribuição, conferida pela Constituição Federal de 1988, União, Estados,
Municípios e Distrito Federal da prerrogativa de instituir tributos. No quarto e
antepenúltimo tópico, por sua vez, trataremos da classificação dos impostos, quais
sejam: (a) diretos e indiretos; (b) regressivos e progressivos; (c) específicos e ad
valorem; (d) proporcionais ou neutros. No último tópico, aprenderemos acerca
dos efeitos da tributação sobre a atividade econômica, mais especificamente os
efeitos Evasão Fiscal, segundo Laffer, Tanzi e Patinkin ou Bacha.
Assim sendo, ao término desta unidade, você saberá como funciona, de
modo geral, o sistema tributário brasileiro e se é um sistema eficiente ou não.
Bons estudos e forte abraço!

Introdução
84 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DEFINIÇÃO E ESPÉCIES DE TRIBUTOS

De acordo com a Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Art. 3º), que dispõe
sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributá-
rio aplicáveis à União, Estados e Municípios:
Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,
instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plena-
mente vinculada (BRASIL, 1966, on-line).

Assim sendo, o Art. 5º da referida Lei esclarece ainda que os tributos são subdi-
vididos em três espécies: (a) impostos; (b) taxas; (c) Contribuições de Melhorias.
Ademais, a literatura reconhece como espécies de tributos as (d) contribuições
sociais e as contribuições de intervenção no domínio econômico.
Vamos conhecer, ainda que sucintamente, cada uma dessas espécies? Tenho
certeza que gostará desse conteúdo e que, a partir dessa aula, passará a empregar
corretamente os termos tributários. Digo isso, porque é muito comum as pes-
soas chamarem toda prestação pecuniária de imposto e este é apenas uma das

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


85

espécies de tributos. Ou seja, o correto é empregarmos a denominação tributo


quando quisermos nos referir de forma genérica a toda e qualquer prestação
pecuniária compulsória. Vamos lá?

IMPOSTOS

Segundo Viceconti e Neves (2010, p. 444), “imposto é o tributo cuja obrigação


tem por fato gerador uma situação independentemente de qualquer atividade
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

estatal específica, relativa ao contribuinte”.


Observe que a definição dos autores deixa claro que o fato gerador do imposto
não está vinculado a uma atividade estatal específica. Afinal, o que isso quer
dizer? “Os impostos servem para financiar inúmeras despesas decorrentes do
funcionamento da máquina pública, bem como à prestação de serviços públi-
cos” (COSTIN, 2010, p. 82). Em outras palavras, não se arrecada impostos para
financiar as despesas “X” ou “Y”; arrecada-se para financiar as despesas que se
fizerem necessárias diante da arrecadação. Ou seja, os impostos são arrecada-
dos pelo Estado para garantir suas despesas gerais, não estão atrelados, então, a
nenhuma contraprestação específica (COSTA; SOUZA, 2008).

Você sabia que os impostos incidem sobre a riqueza, a renda e o consumo


dos cidadãos?
(Leite Albergoni)

Destaca-se ainda que ao instituir impostos, o Estado está decidindo, de certa


forma, como obterá recursos financeiros dos agentes econômicos, ou seja, dos
cidadãos (pessoa física) e das unidades produtivas (pessoa jurídica), aos quais
dará fim público. Faz-se relevante esclarecer ainda que o dinheiro obtido por
meio de tais impostos é o “instrumento pelo qual os recursos reais advindos do

Definição e Espécies de Tributos


86 UNIDADE III

âmbito privado são transferidos à manutenção ou à construção de bens coletivos


que atenderão às necessidades da sociedade em geral” (MÓCHON, 2007, p. 125).

Os impostos representam a maior parte das receitas do setor público. Ao


instituí-los é possível apurar quem são os contribuintes de direito e quem
são os contribuintes, de fato. Os contribuintes de direito são as pessoas de-
signadas pela Lei para pagar o imposto, de modo que não conseguem, em

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
hipótese alguma, transferi-lo para outrem. O contribuinte de fato é aquele
que suporta o ônus fiscal, mesmo não sendo designado pela lei para supor-
tá-lo.
Fonte: a autora.

São exemplos de impostos vigentes no Brasil: (1) IPI - impostos sobre produtos
industrializados; (2) IE - impostos sobre produtos nacionais exportáveis; (3)
II - impostos sobre importação de produtos; (4) IR - imposto sobre renda e
proventos de qualquer natureza; (5) IOF - imposto sobre operações de crédito,
câmbio e seguro ou valores mobiliários; (6) ITR - imposto sobre propriedade
territorial rural. Todos os impostos supracitados são de competência da União,
ou seja, cabe a ela a prerrogativa de instituir e arrecadar impostos dessa natu-
reza. Tal competência é atribuída pela Constituição da República Federativa do
Brasil (1988) e é privativa, facultativa, não prescreve, não se prorroga, não se
renuncia e, por fim, é indelegável.

TAXAS

Segundo Viceconti e Neves (2010, p. 444), “As taxas têm como fato gerador o exer-
cício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço
público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição”.
Note que, ao definir “taxas”, os autores chamam atenção para o fato de que
elas têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia. Você sabe o

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


87

que significa isso? “Poder de Polícia é a faculdade de limitar ou condicionar que


o Estado tem, entre outros, sobre o exercício dos direitos individuais; da liber-
dade ou da propriedade” (PIETRO, 2017, p. 158). Essa faculdade visa instituir o
bem-estar coletivo. Ademais, os referidos autores chamam a atenção para a ins-
tituição de taxas para fins de utilização, efetiva ou potencial de serviço público
específico e divisível.
A título de exemplo, podemos citar a taxa de: (a) coleta de lixo; (b) combate a
incêndios; (c) conservação e limpeza pública; (d) controle e fiscalização ambien-
tal; (e) controle e fiscalização de produtos químicos; (f) emissão de documentos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(níveis federais, estaduais e municipais); (g) licenciamento anual de veículos.

Você sabia que a taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos
aos que correspondem a impostos?
(Silvério das Neves e Paulo Viceconti)

Em outras palavras, Costa e Souza (2008) lecionam que a taxa é exigida tendo em
vista uma atuação estatal determinada, ou seja, é cobrada daqueles que provo-
cam uma atuação por parte do Estado e se beneficiam dela, de maneira direta e
específica. Para exemplificar a fala dos autores, reflita e responda a seguinte ques-
tão: qual a atuação cobrada por parte do Estado para que você pague a taxa de
coleta de lixo? Certamente, você respondeu: que o lixo seja recolhido semanal-
mente no bairro, que seja tratado e destinado corretamente para não contaminar
o meio ambiente, certo? Pois bem, é exatamente assim que as taxas funcionam.
Nós, enquanto cidadãos contribuintes, exigimos do Estado determinada atuação
que, por sua vez, exige de nós uma contraprestação, ou seja, o pagamento da taxa.
Logo, pode-se afirmar que a razão de ser da taxa é a necessidade estatal de
cobrir custos pela execução de atividades que são usufruídas por um contribuinte
ou grupo determinado deles. Ou seja, “[...] é o recolhimento relativo ao pagamento
por um serviço específico prestado pelo setor público” (COSTIN, 2010, p. 82).

Definição e Espécies de Tributos


88 UNIDADE III

CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIAS

Para Viceconti e Neves (2010, p. 444), “a contribuição de melhoria é o tributo


cobrado em decorrência da execução de obras públicas que tenham como decor-
rência a valorização imobiliária do patrimônio das pessoas”. Em outras palavras,
“[...] é um valor pago para financiar uma obra pública, incidente somente na
região por ela beneficiada” (COSTIN, 2010, p. 82). Isto posto, considere a seguinte
situação: imagine que próximo à sua casa, o Estado resolva investir na constru-
ção de uma praça, que terá pistas para skate, para ciclismo e para caminhada.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Também será feita uma academia para a terceira idade e um parquinho para as
crianças. Legal, não é mesmo? Quem não gostaria de ter uma praça assim perto
de casa?! Pois bem, é exatamente num contexto como esse que se institui as con-
tribuições de melhorias, ou seja, é necessário dinheiro para financiar uma obra
como essa. Ademais, essa obra valorizará seu imóvel, que ficará próximo a um
lugar tão agradável para crianças, adultos e idosos.

Você sabia que as contribuições de melhoria decorrem dos gastos do Estado


com obras públicas que valorizem as propriedades ao seu entorno?
(Patrícia Costa e Sharon Souza)

É exatamente por isso que esse tributo tem esse nome. Observe que se trata de
uma “contribuição de melhoria”, ou seja, contribuir porque melhorará. Em outras
palavras, é uma contraprestação pela valorização do meu imóvel e também por
poder usufruir da praça. São exemplos também de contribuições de melhorias:
(a) a pavimentação e o asfaltamento de vias; (b) a construção de museus; (c) a
construção de avenidas e viadutos.
Enfim, concluímos as três espécies de tributos: (a) impostos; (b) taxas; e (c)
Contribuições de Melhorias, previstas no Art. 5º da Lei n. 5.172/1966. Vamos
relembrar aqui, ainda que brevemente, tudo que você aprendeu sobre tais espé-
cies? Para tal, preparei o Quadro 1, que o(a) ajudará a comparar as espécies que

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


89

você já aprendeu, bem como identificar as principais diferenças existentes entre


elas. Espero que o(a) ajude a estudar e que auxilie no processo de aprendizagem.

Quadro 1 - Espécies de tributos previstos no Art. 5º da Lei n. 5.172/1966

CONTRIBUIÇÕES DE
IMPOSTOS TAXAS
MELHORIAS
Aquele não vinculado a uma É o recolhimento relativo ao Um valor pago para finan-
despesa pública específica. pagamento por um serviço ciar uma obra pública, in-
Ex.: IRRF; ICMS - que finan- específico prestado pelo cidente somente na região
ciam diversas despesas setor público. por ela beneficiada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

associadas ao funciona- Ex.: taxa de iluminação pú- Ex.: asfalto.


mento da máquina pública blica, taxa de coleta de lixo
e à prestação de serviços ou taxa de licenciamento
públicos. anual de veículo.
Fonte: adaptado de Costin (2010, p. 82).

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E DE INTERVENÇÃO DE


DOMÍNIO ECONÔMICO

As contribuições sociais estão previstas no Art. 195 da Constituição da República


Federativa do Brasil, de 1988:
Art. 195: A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos pro-
venientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma


da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou cre-


ditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

Contribuições Sociais e de Intervenção de Domínio Econômico


90 UNIDADE III

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não


incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
regime geral de previdência social de que trata o Art. 201.

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a


ele equiparar (BRASIL, 1988, on-line).

Note que o artigo é taxativo ao postular que toda a sociedade é responsável


por financiar a seguridade social, tanto de forma direta quanto de forma indi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
reta. Observe ainda que essa expropriação é lícita, pois é regulamentada por lei.
Assim sendo, os recursos advirão dos orçamentos de todos os entes federados,
por meio das contribuições elencadas nos incisos I, II, III e IV, respectivamente.
Nessa direção, cumpre esclarecer que as “contribuições sociais” tem
como finalidade “financiar a seguridade social”. Em outras palavras,
tem como finalidade financiar as ações do Estado que se fizerem neces-
sárias para assegurar os direitos relativos à saúde, a previdência e a as-
sistência social (VICECONTI; NEVES, 2010, p. 445-446, grifo nosso).

As contribuições sociais se assemelham aos tributos. Possuem fato gerador, base


de cálculo e alíquotas. Incidem, como vimos no Art. 195 da CF/88, em suma,
sobre: (a) o faturamento e a receita, o lucro e a folha de salários dos empregado-
res e das empresas; (b) os rendimentos do trabalhador e dos demais segurados
da previdência social; (c) a receita de concursos de prognósticos; e (d) a impor-
tação de bens e serviços.
As contribuições de intervenção no domínio econômico, por sua vez, são de
competência exclusiva da União, conforme previsto no Art. 149 da Constituição
da República Federativa do Brasil, como instrumento de sua atuação nas res-
pectivas áreas.
Art. 149: Compete exclusivamente à União instituir contribuições so-
ciais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das catego-
rias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III,
e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribui-
ções a que alude o dispositivo.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


91

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contri-


buição, cobrada de seus servidores, para o custeio, em benefício destes,
do regime previdenciário de que trata o art. 40, cuja alíquota não será
inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da
União (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003).

§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico


de que trata o caput deste artigo: (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 33, de 2001).

I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação; (Incluído


pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros


ou serviços; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de
19.12.2003).

III - poderão ter alíquotas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº


33, de 2001).

a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor


da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 33, de 2001).

b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada. (Incluído


pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001).

§ 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá


ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei. (Incluído pela Emen-
da Constitucional nº 33, de 2001).

§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma


única vez (Incluído pela Emenda Constitucional nº 33, de 2001).

Art. 149-A: Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir con-


tribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de
iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 39, de 2002).
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere
o caput, na fatura de consumo de energia elétrica (Incluído pela Emen-
da Constitucional nº 39, de 2002) (BRASIL, 1988, on-line).

Assim, destaca-se que, atualmente estão em vigor duas modalidades de


contribuição de intervenção no domínio econômico, quais sejam: “(1) A CIDE-
combustíveis, cuja arrecadação deve ser destinada ao setor de transportes; e a
(2) CIDE- remessas para o exterior, que deve ter seus recursos destinados a

Contribuições Sociais e de Intervenção de Domínio Econômico


92 UNIDADE III

programas de desenvolvimento científico e tecnológico” (VICECONTI; NEVES,


2010, p. 446).

Você sabia que a Lei n. 10.336/01 instituiu a Contribuição de Intervenção


no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização
de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico
combustível (CIDE)?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS

De acordo com os principais estudiosos do assunto, são dois princípios da tribu-


tação: (a) Princípio da Neutralidade e (b) Princípio da Equidade, que subdivide
em: (1) Princípio do Benefício e (2) Princípio da Capacidade de Pagar.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


93

PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE

Segundo o princípio da neutralidade, o


sistema tributário deve interferir mini-
mamente na alocação de recursos por
parte do setor privado da economia.
Destaca-se que a alocação de recur-
sos é efetuada com base no sistema de
preços e tal afirmação quer dizer que
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o sistema tributário não deve ser um


fator que contribua para a modifica-
ção substancial de tais preços. Então,
pode-se dizer que por trás do princípio
da neutralidade, tem-se a ideia implí-
cita de que o mercado é um eficiente
alocador de recursos.
No entanto, na prática, é fato que nenhum tributo é totalmente neutro, ou
seja, todos interferem de uma forma ou de outra na alocação de recursos. A título
de exemplo, considere um imposto sobre a sua renda. Tal imposto desestimulá-
-lo(a) a exercer mais de uma atividade produtiva ou atividades produtivas que
impliquem no recolhimento de muito imposto. Em contrapartida, considere um
imposto sobre as vendas, independentemente da alíquota ser única ou diferen-
ciada por produto (geral ou seletivo). O referido imposto obviamente modifica
os preços e muda a decisão tanto de produtores quanto de consumidores.
É consenso entre os especialistas em finanças públicas, que o imposto melhor
representante do “princípio da neutralidade” é o chamado poll tax, um imposto
de mesmo valor per capita para todos os habitantes da população. Ou seja, ricos
e pobres pagariam o mesmo valor. Ressalta-se que, se por um lado o poll tax
melhor representa o “princípio da neutralidade”, por outro, desconsidera total-
mente o princípio da capacidade de pagar, a qual trataremos mais adiante.

Princípios Tributários
94 UNIDADE III

Tais especialistas, segundo Viceconti e Neves (2010), afirmam também que


(vide Quadro 2):

Quadro 2 - Considerações acerca de determinados impostos

IMPOSTO DESCRIÇÃO
O imposto de renda deve ter altas taxas médias de alíquota e
baixas taxas marginais, uma vez que a decisão trabalho versus
lazer é tomada na margem; isto quer dizer que um imposto pro-
De renda gressivo com alíquotas de 18, 20 e 22% é, por exemplo, preferível
a outro com alíquotas de 10, 20 e 30%: a alíquota média, em am-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
bos os casos, é de 20%, mas as taxas marginais do primeiro são
menores do que as do segundo.
Os impostos sobre vendas devem incidir preferencialmente sobre
Sobre vendas produtos de demanda inelástica em relação ao preço porque as dis-
torções a serem provocadas na alocação de recursos são menores.
Em princípio, impostos gerais sobre vendas (com alíquota única
Gerais sobre para todos os produtos) são preferíveis, pois são mais neutros
vendas a impostos seletivos sobre vendas (com alíquotas diferenciadas
para todos os produtos).
Fonte: adaptado de Vicenconti e Neves (2010, p. 442).

Você concorda com a visão dos especialistas em finanças públicas? Vale a pena
refletir, não? Sabe-se que atualmente, na prática, não é comum visualizarmos o
princípio da neutralidade. Ou seja, as distorções provocadas pelos tributos são,
de modo geral, reais e efetivas.
Nessa direção, ressalta-se ainda que, em alguns casos, o governo se afasta do
princípio da neutralidade. Esses casos referem-se aos bens não meritórios, bens
que por princípios éticos se deseja coibir, como bebidas alcoólicas e cigarros.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


95

PRINCÍPIO DA EQUIDADE

De acordo com o princípio da equidade, o sistema tributário deve ser justo. Ele é
subdividido em: (a) princípio do benefício; (b) princípio da capacidade de pagar.

Princípio do benefício

Estruturar um sistema tributário com base em princípios não é algo muito


simples, pelo contrário, é complexo e desafiador. Ao estruturar um sistema tri-
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butário com base no princípio do benefício, estruturar-se-á um sistema no qual


cada cidadão contribuirá para o financiamento dos gastos do governo de forma
proporcional aos benefícios por eles recebidos, decorrentes do fornecimento de
bens e serviços públicos. Assim, quanto mais benefícios o cidadão receber, mais
deverá contribuir por meio do pagamento de tributos.
Considerando esse contexto, caro(a) aluno(a), gostaria de convidá-lo a refletir
sobre a seguinte questão: é fácil aplicar o princípio do benefício para o finan-
ciamento dos bens e serviços públicos? Certamente não, concorda? Eles, como
sabemos, são fornecidos coletiva e indiscriminadamente. Assim sendo, fica difí-
cil identificar o quanto cada indivíduo é beneficiado e, portanto, qual deveria
ser a sua contribuição para que pudessem ser fornecidos. A título de exemplo,
considere o serviço público Defesa Nacional. É possível identificarmos o quanto
cada cidadão brasileiro é beneficiado por esse serviço? Ou o quanto cada cida-
dão brasileiro utiliza desse serviço público? Como determinar o quanto cada um
de nós deveria contribuir para que tal serviço pudesse ser fornecido? Observe
que essas questões não são fáceis de serem respondidas e, por esse motivo, não
é fácil a aplicação do princípio do benefício para o financiamento dos bens e
serviços públicos.

Princípios Tributários
96 UNIDADE III

Em contrapartida, é mais fácil a aplicação do referido princípio a tributos


cujo fato gerador seja o serviço que o governo coloca à disposição dos cidadãos,
como o caso das taxas (ex.: taxa de iluminação pública) e das contribuições de
melhorias (ex.: asfalto). Note que nesses dois tipos de tributos é possível visua-
lizar o benefício que cada cidadão contribuinte poderá auferir, de modo que a
carga tributária poderá ser adequada tal.

Princípio da capacidade de pagar

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Ao estruturar um sistema tributário com base no princípio da capacidade de
pagar, admite-se que o sistema tributário só será justo se cada cidadão contribuir
para o erário público na proporção de sua capacidade de pagamento. A capaci-
dade de pagamento do cidadão contribuinte é, via de regra, mensurada pela sua
renda. Assim, quanto maior a renda, maior a capacidade de pagamento e quanto
menor a renda, menor a capacidade de pagamento.
Nessa direção, Viceconti e Neves (2010) explicam que:
A consequência desse princípio é que pessoas que possuam idêntica ca-
pacidade de pagamento devem contribuir com o mesmo montante de
tributo (a chamada equidade horizontal) e que pessoas com capacidade
de pagamento distintas devem contribuir de forma também desigual
no montante de tributos, de forma que as de maior capacidade con-
tribuam mais (equidade vertical)(VICECONTI; NEVES, 2010, p. 443)

Ainda, destaca-se que embora haja muitas controvérsias teóricas a respeito do


princípio, a maioria dos estudiosos de finanças públicas julga que, para o sistema
tributário atender ao princípio da capacidade de pagar, principalmente no que se
refere à observância da equidade vertical, ele deve ser constituído predominante-
mente por impostos progressivos. Os impostos progressivos são aqueles que oneram
os mais riscos ao passo que contribuem mais que os mais pobres.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


97

COMPETÊNCIAS TRIBUTÁRIAS
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A Constituição da República Federativa do Brasil conferiu à União, aos estados,


ao Distrito Federal e aos municípios a prerrogativa de instituir tributos. Essa
prerrogativa é decorrente de uma atribuição dada pela Constituição Federal aos
entes políticos do Estado e é chamada de “competência tributária”. A competên-
cia tributária é exclusiva, restrita, imprescritível, irrenunciável, não prorrogável
e indelegável. Ademais, é facultativa e mesmo que o ente competente não exerça
a faculdade, nenhum outro ente não competente poderá exercê-la.
A competência tributária da União está prevista nos Arts. 153 e 154 da
Constituição Federal de 1988 e os tributos que podem ser instituídos são:
■■ IPI - Imposto sobre produtos industrializados.
■■ IE - Imposto sobre produtos nacionais exportáveis.
■■ II - Imposto sobre importação de produtos.
■■ IR - Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza.
■■ IOF - Imposto sobre operações de crédito, câmbio, seguro ou valores
mobiliários.
■■ ITR - Imposto sobre propriedade territorial rural.

Competências Tributárias
98 UNIDADE III

■■ Compete também à União instituir contribuições sociais, de intervenção no


domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas.
■■ A arrecadação da União em relação às contribuições sociais é administrada
pela Receita Federal, o PIS/Pasep, que é a contribuição para o Programa
de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público.
■■ Outras duas contribuições são o Cofins e a CSLL que, respectivamente,
tratam da contribuição para financiamento da seguridade social e a con-
tribuição sobre o lucro líquido.
A competência tributária dos estados e do Distrito Federal está prevista no

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Art.155 da Constituição Federal de 1988, e os tributos que podem ser instituí-
dos por eles são:
■■ Transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens e direito.
■■ ICMS, que é o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços, que
incide sobre as operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal.
■■ IPVA, que é o imposto incidente sobre a propriedade de veículos
automotores.

Esses entes podem ainda instituir contribuição para custeio de previdência de


seus servidores, bem como para custeio de iluminação pública.
Por fim, a competência tributária dos municípios está prevista nos Arts.156
da Constituição Federal de 1988 e os tributos que podem ser instituídos são:
■■ IPTU - Impostos sobre propriedade predial e territorial urbana.
■■ ITBI - Impostos sobre transmissão de bens intervivos.

■■ ISS - Impostos sobre serviços de qualquer natureza.

Além disso, os municípios podem cobrar para custeio de previdência de seus


servidores, bem como para custeio de iluminação pública.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


99

OS IMPOSTOS E SUA CLASSIFICAÇÃO


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Neste tópico, você aprenderá sobre os impostos e sua classificação. Os impostos


são classificados em: (a) diretos; (b) indiretos; (c) ad valorem; (d) regressivos; (e)
progressivos; (f) proporcionais ou neutros. Você perceberá o quanto é impor-
tante saber quem é o contribuinte de direito e quem é o contribuinte de fato.
O contribuinte de direito é a pessoa designada pela lei para pagar o imposto.
O contribuinte de fato, por sua vez, é a pessoa que suporta o ônus fiscal. Assim
sendo, um contribuinte de direito pode transferir, quando for possível, o ônus
fiscal ao contribuinte de fato.
Para que você possa compreender melhor, considere a seguinte situação: uma
empresa do setor automobilístico, ao produzir um carro novo, terá que recolher
o Imposto sobre Produtos Industrializados, o IPI. Logo, podemos dizer que a
empresa é o contribuinte de direito, pois é ela que recolhe o imposto. No entanto a
referida empresa transfere o ônus fiscal ao consumidor final, ou seja, quem com-
pra o carro. Em outras palavras, ao precificar o veículo, o contribuinte de direito

Os Impostos e sua Classificação


100 UNIDADE III

transfere o valor do imposto ao consumidor (quem comprará o carro). Assim,


podemos dizer que na situação analisada o consumidor final será o contribuinte
de fato porque é ele quem suportará o ônus fiscal. Interessante, não é mesmo?
Você já tinha parado para analisar os impostos dessa forma? Certamente não,
pois em função da correria do dia a dia, vivemos no modo automático e nem
sempre prestamos a devida atenção.
Pois bem, a partir de agora, proponho que você passe a analisar todos os seus
impostos, ou seja, todos os impostos que você tem que pagar com esse olhar.
Garanto que esse exercício lhe fará muito bem e perceberá que você é muito mais

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
um contribuinte de fato do que um contribuinte de direito.
Nessa direção, vamos conhecer a primeira classificação de impostos? Você
tem ideia sobre quem incide os impostos diretos? Será que é sobre o contribuinte
de direito ou sobre o contribuinte de fato?

IMPOSTOS DIRETOS

Impostos diretos são aqueles em que o contribuinte de direito é o contribuinte


de fato, ou seja, quem recolhe o imposto arca com seu ônus e não o repassa para
ninguém. Logo, é exatamente por isso que se chama direto.
Vamos conhecer um imposto direto? Considere o Imposto de Renda Pessoa
Física (IRRF), sabe-se que todas as pessoas, que aufiram renda acima de um deter-
minado valor no mercado formal, precisam pagar imposto de renda. Observe
que a nomenclatura do imposto já diz que o mesmo é “retido na fonte”, o que
significa dizer que não há como escapar. O que quero dizer é que não há como
não recolher, ou seja, a evasão fiscal não é uma possibilidade. Sabemos que é
crime, no Brasil, mas infelizmente acontece e não há como transferir o ônus fis-
cal a outrem. Em suma, quem tem renda suficiente para a imposição do imposto
paga e pronto, “sem choro nem vela”, como diziam os avós.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


101

Você sabia que, segundo os economistas, os impostos diretos são aqueles


que incidem sobre a renda e a riqueza (patrimônio)?
(Paulo Viceconti e Silverio das Neves)

Além do Imposto sobre a Renda, são exemplos de impostos diretos o Imposto


Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos
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Automotores (IPVA). Vale ressaltar que o IPTU, enquanto imposto direto, gera
muita polêmica. Muitos alunos questionam sobre o fato de serem locatários de
imóveis residenciais e comerciais e serem os responsáveis pelo pagamento do
IPTU, porque assim foi acordado em contrato. Numa situação como essa, o IPTU
deixaria de ser um imposto direto e passaria a ser um imposto indireto, pois o
contribuinte não estaria sendo o contribuinte de direito. Assim, o que dizer-lhe
sobre o tão polêmico IPTU? A literatura o classifica como um imposto direto,
ao passo que é de competência do proprietário do imóvel arcar com o seu ônus.
Ou seja, transferir o IPTU para um terceiro, no nosso exemplo, um locatário,
não é regra, pois depende do contrato de locação estabelecido. O que quero dizer
é que em alguns casos funciona assim e, em outros, não. Para evitar confusão,
principalmente na hora de estudar para a prova ou no momento de realizar um
concurso, considere sempre que é um imposto direto.
Em suma, imposto direto, contribuinte de direito, tudo bem? Agora, conhe-
ceremos os impostos indiretos. Fique atento(a) para os exemplos e para a principal
diferença existente entre eles, ou seja, entre o direto e o indireto.

Os Impostos e sua Classificação


102 UNIDADE III

IMPOSTOS INDIRETOS

Nos impostos indiretos, o contribuinte de direito repassa o ônus do tributo a


outrem, ou seja, ele recolhe o imposto, mas o repassa geralmente no preço das
mercadorias ou serviços. Isso significa que nem sempre o contribuinte que paga
é, efetivamente, quem suporta em definitivo a carga tributária. Você se lembra do
exemplo do IPI que incide sobre os carros novos? Pois bem, ele se aplica aqui, pois
o Imposto sobre Produtos Industrializados é um exemplo de impostos indiretos.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você sabia que os impostos indiretos são aqueles que incidem sobre a pro-
dução, as vendas, a circulação ou o consumo de bens e serviços? São exem-
plos de impostos indiretos: (a) o imposto sobre serviços (ISS) e (b) o imposto
sobre importação (II).
(Paulo Viceconti e Silverio das Neves)

Analisemos outro exemplo. Considere o Imposto sobre Circulação de Mercadorias


e Serviços, aquele que chamamos pela sigla ICMS. Você sabia que no preço de
praticamente tudo que você compra tem ICMS? Certamente sim, não é mesmo?
Comece a observar daqui para a frente as etiquetas com os preços nos supermerca-
dos ou numa loja de eletrodomésticos, pois hoje é comum aparecer discriminado,
nessas etiquetas, o valor do imposto. Isto posto, a grande questão é: quem é o
contribuinte de fato? O consumidor final, que compra o produto e o leva para a
sua casa. Em outras palavras, o consumidor final do produto ou serviço é quem
arca com a carga tributária, embora não seja designado pela lei como contri-
buinte de direito desses impostos.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


103

A diferença básica entre os tributos diretos e indiretos está na maneira pela


qual eles afetam os indivíduos na sociedade. Enquanto o tributo direto inci-
de sobre os rendimentos, renda e riqueza dos indivíduos, o indireto é cobra-
do normalmente no preço final dos bens e serviços adquiridos pelos indiví-
duos. De certa forma, o peso de cada um desses impostos afeta diretamente
a eficácia do sistema de tributação como um instrumento de correção das
desigualdades na distribuição da renda.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: Riani (2013, p. 106-107).

Compreende quando foi dito que, a partir desta aula, você descobriria que é
muito mais um contribuinte de fato do que um contribuinte de direito? Tenho
certeza que sim e, tenho certeza também, que você deve estar se perguntando
se é justo, ou não, um sistema tributário estruturado dessa maneira. Essa é uma
questão bastante polêmica e divide opiniões entre os estudiosos do assunto, mas
vale a pena refletir.
Em síntese, imposto indireto, contribuinte de fato, tudo bem? Agora, vamos
conhecer os impostos classificados como ad valorem!

Impostos ad valorem

Os impostos classificados como ad valorem são aqueles impostos que “deter-


minam o valor da arrecadação de acordo com uma alíquota. Assim, o valor
arrecadado depende da base de cálculo sobre a qual incide” (TAMÉZ; JÚNIOR,
2007, p. 49). Considere, a seguir, a título de exemplo, a tabela progressiva do
Imposto de Renda:

Os Impostos e sua Classificação


104 UNIDADE III

Tabela 1 - Tabela progressiva do Imposto de Renda - Mensal

BASE DE CÁLCULO PARCELA A DEDUZIR DO


ALÍQUOTA
MENSAL, EM R$ IR, EM R$
Até 1.903,98 Isento Isento
De 1.903,99 até 2.826,65 7,5% 142,80
De 2.826,66 até 3.751,05 15% 354,80
De 3.751,06 até 4.664,68 22,5% 636,13
Acima de 4.664,68 27,5% 869,36
Fonte: Brasil (2018, on-line)¹.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Note que a alíquota pode variar de 7,5% a 27,5%. Assim, esse imposto, ou seja,
o imposto de renda, além de ser um imposto direto, também é um imposto ad
valorem, ao passo que o valor do referido imposto é determinado de acordo com
uma alíquota que será aplicada sobre determinada base de cálculo. Nessa direção,
o valor que será arrecadado dependerá tanto da alíquota previamente deter-
minada quanto da base de cálculo sobre a qual a alíquota em questão incidirá.
Em suma, um imposto é classificado como ad valorem quando o valor arre-
cadado é determinado por uma alíquota que incidirá sobre determinada base.
No caso da tabela apresentada, observe que quanto maior a renda (acima de R$
4.664,68), maior a alíquota e, consequentemente, maior o valor da arrecadação.

Você sabia que o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) pode ser classifi-
cado como um imposto direto e um imposto ad valorem ao mesmo tempo?

Por fim, destaco que os impostos ad valorem podem ser arrecadados tanto pelos
contribuintes de direito (IRRF) quanto pelos contribuintes de fato (ICMS).
Agora, conheceremos os impostos classificados como específicos.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


105

IMPOSTOS ESPECÍFICOS

Nos impostos específicos, “o valor do imposto é fixo em termos monetários”


(TAMÉZ; JÚNIOR, 2007, p. 48). A Título de exemplo, pode-se citar o Imposto
Sobre Produtos Industrializados (IPI) de R$ 1,50 (um real e cinquenta centa-
vos) por maço (box) de cigarro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente até 31 de maio


de 1999 sobre os cigarros classificados na posição 2402.20.00 da TIPI, era
calculado sob a forma de alíquota ad valorem efetiva de 41,25% sobre o
preço de venda a varejo do cigarro. A partir de primeiro de junho de 1999,
com a edição do Decreto n. 3.070, de 27 de maio de 1999, com base no Art.
84, inciso IV, da Constituição Federal, e no Art. 1 º, § 2 º, alínea “b”, da Lei n.
7.798, de 10 de julho de 1989, o IPI incidente sobre os cigarros passou a ser
calculado sob a forma de alíquota específica de acordo com a classe fiscal
de enquadramento do produto. Para saber mais, acesse: <http://idg.receita.
fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/regimes-e-controles-especiais/cigar-
ros-tributacao>.
Fonte: Brasil (2016, on-line).

O que diferencia um imposto ad valorem de um imposto específico? Certamente


a forma como é cobrado, não é mesmo? Note que não depende de base inci-
dente e que não se fala de alíquota, mas de um valor fixo em termos monetários
por produto.
Logo, pode-se dizer que o imposto sobre produto industrializado pode ser
tanto um imposto específico quanto um imposto ad valorem. Isto posto, o que
determinará a sua classificação será a natureza do objeto, ou seja, do produto ou
do serviço a ser taxado. Agora, conheceremos os impostos classificados como
regressivos.

Os Impostos e sua Classificação


106 UNIDADE III

IMPOSTOS REGRESSIVOS

De acordo com a Agência Câmara de Notícias (2008, on-line)², os impostos


regressivos são aqueles em que a alíquota diminui a proporção que os valores
sobre os quais incide são maiores. Assim sendo, pode-se dizer que tem rela-
ção inversa ao nível de renda do contribuinte. Nessa direção, quanto maiores
os valores sobre os quais incide a alíquota, menor a alíquota; ou quanto meno-
res os valores sobre os quais incide a alíquota, maior a alíquota. Observe que, ao
conceituar os impostos regressivos, fica claro que são capazes de onerar mais o

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contribuinte menos favorecido, ou seja, o mais pobre, em decorrência da rela-
ção inversa ao nível de renda.
Considere, por exemplo, os impostos indiretos como ICMS e IPI, que não
incidem sobre a renda, mas sobre o preço das mercadorias e utilizam a mesma
alíquota para todos os contribuintes. Imagine um consumidor da classe A que
compra um saco de arroz de R$ 10,00 e nele há 18% de ICMS embutido, note
que esse consumidor pagará R$ 1,80 de imposto. Nessa direção, se um consu-
midor da classe D comprar o mesmo arroz, ele também pagará os mesmos R$
1,80. Por isso, no Brasil, proporcionalmente o pobre é mais onerado, devido a
esse tipo de imposto.

IMPOSTOS PROGRESSIVOS

Segundo a Agência Câmara de Notícias (2008, on-line)², os impostos progressi-


vos são aqueles em que a alíquota aumenta a proporção que os valores sobre os
quais incide são maiores, mantendo uma relação positiva com o nível de renda.
Em outras palavras, a medida que a renda aumenta, mais o cidadão contribuinte
pagará de imposto.
Em suma, a relação entre a carga tributária e a renda cresce com o aumento
do nível desta, ou seja, a estrutura tributária, baseada em impostos progressivos,
onera proporcionalmente mais os segmentos sociais de maior poder aquisitivo.
Considere, por exemplo, o imposto direto “Imposto de Renda Pessoa Física ou
Jurídica”, que incide sobre a renda. Lembre-se que são utilizadas alíquota distintas

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


107

entre os contribuintes, de acordo com a renda. Quem ganha mais, paga mais e,
quem ganha menos, paga menos.

IMPOSTOS PROPORCIONAIS OU NEUTROS

Ainda de acordo com Vasconcellos (2009), os impostos proporcionais ou os


neutros não existem no Brasil e são aqueles em que o aumento na contribuição
é proporcionalmente igual ao ocorrido na renda. A relação entre carga tributá-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ria e renda permanece constante, com o aumento no nível de renda, onerando


igualmente todos os segmentos sociais.

OS EFEITOS DA TRIBUTAÇÃO SOBRE A ATIVIDADE


ECONÔMICA

Neste tópico, você estudará três efeitos da tributação sobre a atividade econô-
mica, sendo: (a) Efeito Evasão Fiscal, segundo Arthur Laffer; (b) Efeito Tanzi;
(c) Efeito Patinkin ou Bacha.

Os Efeitos Da Tributação sobre a Atividade Econômica


108 UNIDADE III

O EFEITO EVASÃO FISCAL SEGUNDO ARTHUR LAFFER

Os especialistas em Ciências Sociais e Jurídicas têm


procurado mostrar que há uma relação inversa entre
as alíquotas (taxas) de impostos e o volume total arre-
cadado pelos governos. Essa relação é conhecida como
Curva de Laffer, em homenagem ao economista Arthur
Lafer, por ter iniciado estudos nessa área.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - Arthur Laffer
Fonte: Wikipedia (2010, on-line)³.

Arthur Laffer é um economista norte-americano, que foi membro do go-


verno Reagan e concentrou seus estudos na área de economia do Setor
Público. Atualmente, Arthur Laffer tem 78 anos e entre os seus principais
trabalhos está a Curva de Laffer.
Fonte: autora.

Arthur Laffer, procurou mostrar o efeito evasão (como mostra a Figura 2).
Observe que a figura mostra uma clássica relação entre as alíquotas dos impos-
tos numa economia e a arrecadação tributária do governo. Note que na taxa zero
de alíquota, o governo não arrecada nada, à medida que a alíquota aumenta, a
arrecadação também aumenta, mas há limites, ou seja, há determinada alíquota,
denominada tmax que garante arrecadação máxima.
Observe na figura que para alíquotas superiores à tmax, a arrecadação passa a
decrescer. Para a alíquota t0, por exemplo, o volume de recursos arrecadados pelo
governo seria menor (apenas A0). Qual seria a razão para isso? Acredita-se que a
principal razão para tal comportamento é o estímulo à evasão fiscal e o desestí-
mulo às atividades produtivas, quando as alíquotas são excessivamente elevadas.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


109

to

t max
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ao A max
Arrecadação tributária (R$)
Figura 2 - Curva de Lafer
Fonte: Vasconcellos (2009).

O ideal, portanto, seria que o governo encontrasse uma “tarifa ótima”, para que
pudesse estimular o pagamento de impostos e também a atividade econômica,
com mais empresas funcionando, mais o governo arrecadaria. Em outras pala-
vras, o efeito evasão perderia força sobre a atividade econômica.

O ideal é que o sistema de tributação distorça, o mínimo possível, o preço


relativo dos produtos. Nesse sentido, o imposto sobre a renda, além de ser
socialmente mais justo, evita também esse tipo de problema. Você já parou
para pensar nos efeitos de um imposto sobre a demanda da economia?
(Flavio Riani)

Sabe-se que hoje, no Brasil, muitas empresas fecham devido a não capacidade de
pagamento dos tributos e, também, muitas pessoas sonegam impostos, pois são
muito caros. Se o governo diminuísse as tarifas, será que mais empresas seriam
abertas e mais pessoas pagariam seus impostos? Isto é o que Laffer sugere.

Os Efeitos Da Tributação sobre a Atividade Econômica


110 UNIDADE III

EFEITO TANZI
Quando a inflação reduz a receita tributária, em termos reais, em decorrência
da defasagem entre o fato gerador do imposto e sua efetiva coleta, e recebimento
dos recursos pela autoridade fiscal, diz-se que ocorreu o efeito Tanzi.
Em outras palavras, esse efeito é decorrente de inflação elevada, ao passo
que, em períodos de considerável inflação, há defasagem entre o momento da
geração do imposto e o do seu efetivo recolhimento.
Ou seja, a inflação reduz o valor real do imposto, embora o valor nominal
seja o mesmo a ser arrecadado pelo governo. Isso prejudica as finanças públi-

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cas, provocando déficits (gastos maiores que as receitas).
É como se o governo calculasse o imposto no final de um determinado ano
e em janeiro do ano seguinte mandasse imprimir os boletos para que fossem
entregues nas casas das famílias em fevereiro, com prazo para pagamento em
março. Períodos em que a inflação é elevada, o valor de dezembro estará defa-
sado em relação a março e o governo perderá dinheiro.

A defasagem na arrecadação varia entre os países e de acordo com o tipo de


imposto. Nos países desenvolvidos, a defasagem média é menor do que nos
países em desenvolvimento, principalmente devido à maior eficiência da
administração e dos sistemas tributários. A defasagem média é menor para
impostos sobre a renda (de um mês para aqueles retidos na fonte) e maior
nos impostos indiretos (de 6 a 10 meses para impostos sobre o consumo de
bens e serviços).
Fonte: Rezende (2001, p. 342).

Vale lembrar que o Brasil já chegou a ter 80% de inflação em um único mês,
longe da nossa realidade atual. Portanto, o efeito Tanzi já foi muito presente na
economia brasileira. Qual é a forma que os governos encontraram para mini-
mizar esse efeito? A resposta está na adoção da indexação do sistema tributário.
Em outras palavras, cobrando os impostos em termos de um índice que acom-
panhe a evolução da inflação.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


111

No Brasil, criou-se a Unidade Fiscal de Referência (UFIR), uma espécie de


moeda indexada para o pagamento dos impostos. No auge da hiperinfla-
ção brasileira (entre o final de 1989 e início de 1990), a UFIR sofria variações
diárias, acompanhando a aceleração inflacionária. Com o advento do Plano
Real, buscou-se eliminar os mecanismos de indexação que alimentavam a
memória inflacionária. Manteve-se a UFIR, mas sua frequência de variação
foi reduzida.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: Rezende (2001, p. 342).

Em suma, estudos como o de Tanzi, em meados de 1978, sugerem uma relação


inversa entre a eficiência do sistema tributário e a utilização do imposto infla-
cionário. Destaca-se que países cuja base de tributação seja, em grande parte,
formada por uma população de baixa renda, possuem administração tributá-
ria ineficiente e dependem efetivamente do imposto inflacionário. Não menos
importante, faz-se relevante destacar que a elevação das alíquotas dos impostos
convencionais num sistema tributário desse tipo impõe à população uma carga
tributária muito elevada e concentrada, com distorções de eficiência e equi-
dade. Logo, o que se sugere é o financiamento dos gastos públicos por meio do
aumento dos impostos inflacionários e a elevação de sua participação na receita
total. Portanto, pode-se afirmar que uma melhoria da eficiência do sistema tribu-
tário poderá reduzir a dependência da receita oriunda do imposto inflacionário.

Os Efeitos Da Tributação sobre a Atividade Econômica


112 UNIDADE III

EFEITO PATINKIN

De acordo com o efeito Patinkin, a elevação dos preços pode proporcionar a


redução do déficit público por meio da queda real nos gastos públicos. Observe
que esse efeito é contrário ao efeito Tanzi que acabamos de discutir. Para que
ocorra tal redução, basta o governo adiar pagamentos e postergar aumento de
salários num ambiente de aceleração inflacionária. A título de exemplo, considere
uma inflação de 1.000% ao ano e um atraso de 15 dias no salário ou no paga-
mento dos benefícios previdenciários. Note que tal atraso será responsável por

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
uma redução real de 10,5% nesses gastos. No Brasil, esse tipo de procedimento
ficou popularmente conhecido como administração dos recursos na “boca do
caixa”, em que as liberações para investimento e custeio eram feitas discriciona-
riamente, de acordo com as demandas mais urgentes.
Nessa direção, ressalta-se que o efeito Patinkin também tem a função de
acomodar ex ante, pela Lei Orçamentária, o conflito distributivo na disputa dos
vários setores por recursos fiscais. Ademais, destaca-se que o efeito Patinkin se tor-
nou mais forte à medida que a inflação atinge patamares mais elevados, ao passo
que o déficit público tende a ajustar-se, dado que os gastos não estão indexados,
enquanto a receita acompanha muito mais de perto a aceleração inflacionária.
Isto posto, é fato que o déficit público efetivo será sempre menor do que aquele
registrado no orçamento, dada a erosão real nos gastos.

SISTEMA TRIBUTÁRIO, INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA E EFICIÊNCIA


113

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) acadêmico(a), estamos no fim da terceira unidade do livro de Economia


do Setor Público. Vamos relembrar, ainda que brevemente, tudo o que estuda-
mos? Você se lembra que, inicialmente, aprendeu o que é tributação? Que os
impostos; as taxas; as contribuições de melhorias; as contribuições sociais; e as
contribuições de intervenção no domínio econômico são espécies de tributos?
Diante de tal aprendizado, enquanto cidadão contribuinte, a partir de agora você
saberá diferenciar cada uma das espécies tributárias, bem como identificar a rele-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

vância de cada uma delas.


Por conseguinte, você aprendeu os principais princípios do sistema tribu-
tário vigente, sendo: (a) Princípio da neutralidade; (b) Princípio da Equidade,
que se subdivide em: Princípio do Benefício e Princípio da Capacidade de Pagar.
Eles fizeram sentido para você? Espero que sim.
Sequencialmente, você aprendeu sobre competência tributária. Assim, passe
a verificar, na prática, no seu dia a dia, qual é o ente político do Estado que mais
onera seu orçamento criando tributos. Ainda nessa direção, você aprendeu o que
são impostos diretos e indiretos; regressivos e progressivos; específicos e ad valorem;
e proporcionais ou neutros. Quanta informação, não é mesmo? O sistema tribu-
tário brasileiro é altamente complexo e compreende uma série de peculiaridades.
Por fim, você aprendeu os efeitos da Evasão Fiscal, segundo Laffer, Tanzi e
Patinkin ou Bacha, que são efeitos da tributação sobre a atividade econômica.
Antes de estudar economia do setor público, você tinha ideia que a tributação
poderia influenciar dessa maneira a economia? Pois bem, influenciou e influen-
cia consideravelmente. Diante desse contexto, pense em uma alternativa que
poderia ser adotada pelos governos para melhorar a eficiência do sistema tri-
butário vigente.
Espero que esta terceira unidade tenha sido proveitosa e que você tenha gos-
tado de aprender, ainda que sucintamente, sobre o sistema tributário brasileiro.
Parabéns pelo aprendizado!

Considerações Finais
114

1. Você aprendeu que os impostos, as taxas e as contribuições de melhorias são


três espécies de tributos dispostos na Constituição da República Federativa do
Brasil. Assim sendo, tais tributos compõem o sistema de tributação do Brasil e
são cobrados da população mediante atividade administrativa. Atualmente há
inúmeros tributos vigentes, sendo que alguns estão vinculados a uma contra-
prestação e outros, não. A respeito desse assunto, avalie as afirmações a seguir
e assinale com V, as verdadeiras, e F, as falsas:
I. A contribuição de melhoria é o tributo incidente sobre a valorização imobi-
liária ocorrida nos imóveis circunvizinhos de uma obra pública em razão de
sua construção.
II. Serviços relacionados a asfaltos e calçamentos não são considerados con-
tribuições de melhorias, já que são cobrados impostos a proprietários de
veículos automotores (IPVA).
III. A contribuição de melhoria é o tributo que onera o contribuinte sem consi-
derar sua capacidade contributiva.
As afirmações I, II e III são respectivamente:
a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.

2. A Constituição Federal outorgou à União, aos estados, ao distrito federal e


aos municípios competências tributárias. Em outras palavras, a Constituição
da República Federativa do Brasil concedeu à União, aos estados, ao distrito
federal e aos municípios a atribuição de desenvolver tributos em suas esferas
governamentais, em que os referidos entes possuem limitação de autonomia
e poder. A partir do enunciado, avalie as asserções a seguir e assinale com V, as
verdadeiras, e F, as falsas:
I. Os impostos sobre circulação de mercadorias e serviços de transportes in-
terestadual e intermunicipal são de responsabilidade dos estados e do go-
verno federal.
II. É de competência do governo federal a cobrança de impostos mediante aos
rendimentos de qualquer natureza, além de produtos industrializados, im-
portados e exportados.
III. Impostos como o ITBI e IPTU são de competência dos municípios.
115

As afirmações I, II e III são respectivamente:


a) V, F, V.
b) F, F, V.
c) V, F, F.
d) F, V, F.
e) F, V, V.

3. Sabe-se que o governo federal, os estados e os municípios são esferas organi-


zadas com o objetivo principal de compor a administração do Brasil e que dis-
põem de liberdade política, administrativa e financeira dentro de suas funções.
Além disso, cabe a eles, dentro de suas competências estabelecidas pela Cons-
tituição Federal de 1988, atuar na esfera tributária. A respeito desse assunto,
avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.

I. Uma das principais fontes de receita do setor estatal são as taxas. Por meio
delas, alguns objetivos fundamentais traçados pela constituição federal, tais
como educação e saúde, são possíveis de serem alcançados.
PORQUE
II. É por meio do sistema tributário nacional que o estado pode atingir, mesmo
que parcialmente, seus objetivos, já que com base nele é possível prever e
concretizar alguns investimentos/gastos.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta:


a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é justificativa correta da I.
b) A asserção I é preposição verdadeira e a II é falsa.
c) As asserções I e II são proposições falsas e uma não pode ser justificada pela
outra.
d) As asserções I e II são proposições verdadeiras e uma não pode ser justifica-
da pela outra.
e) A asserção II é verdadeira e a I é falsa.
116

4. Os tributos no Brasil são classificados em: (a) impostos; (b) taxas; e (c) contribui-
ções de melhorias. Todos os tributos mencionados, embora sejam importantes e
contribuam efetivamente para a composição da carga tributária brasileira, são os
impostos que, por sua vez, promovem o maior montante, em termos de arreca-
dação. Em outras palavras, pode-se dizer que é no imposto que está, em termos
de tributos, a maior fonte de arrecadação do governo. De posse dessas informa-
ções e considerando o conhecimento obtido no material de estudo e videoaulas
sobre Tributação no Brasil, relacione as colunas que se seguem:
1) Impostos diretos.
2) Impostos indiretos.
3) Impostos específicos.
4) Impostos regressivos.
5) Impostos progressivos.

(( ) Aqueles em que o contribuinte de direito repassa o ônus do tributo a outrem.


(( ) Aqueles em que o contribuinte de direito é o contribuinte de fato.
(( ) Ocorrem quando o aumento na contribuição é proporcionalmente maior
que o aumento ocorrido na renda.
(( ) Aqueles em que o valor do imposto é fixo em termos monetários
(( ) Ocorrem quando o aumento na contribuição é proporcionalmente menor
do que o incremento ocorrido na renda.

Logo, a sequência correta é:


a) 2, 1, 5, 3 e 4.
b) 1, 2, 3, 4 e 5.
c) 1, 3, 5, 2 e 4.
d) 3, 5, 4, 1 e 2.
e) 2, 1, 3, 5 e 4.
117

5. A Curva de Laffer apresenta associação entre a arrecadação tributária e as va-


riações de alíquotas dos impostos na economia. Quando as alíquotas são bai-
xas, a associação entre as duas variáveis é crescente, ou seja, se as alíquotas
aumentarem, a arrecadação aumentará também. Após ultrapassar um ponto
máximo, a relação passa a ser decrescente. Considerando esse contexto, avalie
as afirmativas que se seguem:
I. A Curva de Laffer foi apresentada pelo economista Arthur Laffer, que, por
sua vez, originou o seu nome.
II. O motivo da Curva de Laffer passar a ser descendente a partir de certo pon-
to e é decorrente do estímulo à evasão e/ou sonegação fiscal e o desestí-
mulo às atividades produtivas, motivados por alíquotas tributárias elevadas.
III. Se uma alíquota prevalecente numa determinada economia estivesse na
parte descendente da Curva de Laffer, a redução nas alíquotas dos impostos
contribuiria, opostamente, para diminuir, e não para aumentar a arrecadação.
IV. Arthur Laffer afirmou que, se o governo aumentasse as alíquotas, mais em-
presas seriam abertas e mais pessoas pagariam seus impostos.
Assinale a alternativa que apresenta a afirmativa correta:
a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
118

EDUCAÇÃO FISCAL E ORÇAMENTO DA RECEITA


Em um cenário constituído de direitos e obrigações fiscais, especialmente aquele voltado
à gestão adequada dos gastos públicos por parte dos governantes; a compreensão de
uma cidadania ativa, participativa e solidária é um passo importante que as Administra-
ções Tributárias mais modernas perseguem no contexto da socialização dos tributos.
Nessa perspectiva, não há que se falar em sociedade sem o pagamento de impostos.
Essa condição está diretamente ligada ao desenvolvimento econômico e social de um
povo. Está claro que tanto a sonegação fiscal quanto a corrupção impedem a realização
dos próprios direitos fundamentais, ou seja, o poder do estado de despender recursos
para a saúde, educação e segurança. Elas ressaltam privilégios e desigualdades, enfra-
quecendo a cidadania e a democracia.
Então, a tributação deve ser compreendida como um dever de cooperação que pos-
sibilita a atuação estatal nas suas mais diversas áreas, especialmente na vida social e
econômica das pessoas. Dessa forma, o conhecimento da questão dos impostos possi-
bilitará o fomento da cidadania, proporcionando os conhecimentos e habilidades que
capacitam a compreensão do mundo e a atuação consciente na melhoria da realidade
social de todos.
O tributo é um instrumento que pode e deve ser utilizado para promover as mudanças
e reduzir as desigualdades sociais. O cidadão, conhecedor da função social do tributo,
como forma de redistribuição da renda nacional e elemento de justiça social, é capaz de
participar dos processos de arrecadação, aplicação e fiscalização do dinheiro público.
Assim sendo, destaca-se ainda que para atender às necessidades da sociedade, o governo
precisa prestar serviços e realizar obras – o que exige gastos. Receita pública é o dinheiro
que o governo dispõe para manter sua estrutura e oferecer bens e serviços à sociedade,
como hospitais, escolas, iluminação, saneamento etc. Para poder fazer isso, o governo pre-
cisa arrecadar dinheiro e faz isso de diversas maneiras. Essa arrecadação vem de impostos,
de aluguéis e venda de bens, prestação de alguns serviços, venda de títulos do tesouro
nacional e recebimento de indenizações. Assim como na despesa, o governo organiza o
orçamento, para saber quanto recebe de cada uma dessas fontes, por meio da classifica-
ção da receita. E também como nas despesas, o processo de obtenção de receitas é orga-
nizado em fases, que ajudam a planejar e monitorar sua execução.
As receitas do governo são estimadas, uma vez que vêm de arrecadações que podem
sofrer variações ano a ano. No entanto, o governo sempre faz previsão de receitas. Isso
permite saber quanto de gastos poderá ser planejado, ou seja, quando e quais ações o
governo poderá realizar para o bem-estar da população.
119

Por se tratar de estimativa, o governo pode arrecadar mais que o estimado. Isso pode
acontecer porque a economia se desenvolveu mais e, assim, houve maior arrecadação
com impostos. O contrário também pode ocorrer: uma crise inesperada pode reduzir a
entrada de dinheiro. Nesse caso, o governo precisa reduzir os gastos trabalhando com
um orçamento inicial e um atualizado. E também diferencia o valor estimado do efe-
tivamente arrecadado. O inicial é aquele previsto antes mesmo de o ano começar. O
atualizado reflete mudanças que influenciaram, para cima ou para baixo, a previsão da
receita. O valor arrecadado é o que entrou, de fato, no caixa do governo.
Dentro desse processo, há ainda as receitas extraorçamentárias, recursos que entram
na conta da União de forma temporária. Por exemplo, quando o governo exige caução
das empresas e depois precisa devolver o dinheiro. Esses recursos não fazem parte do
orçamento e não podem ser utilizados pelo governo para as ações.
Fonte: Brasil ([2019], on-line)4 e Brasil ([2019], on-line)5.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Finanças públicas
Fernando Rezende
Editora: Atlas
Sinopse: passados mais de 20 anos de seu lançamento, Finanças Públicas volta
agora, em sua segunda edição, com importantes mudanças. Novos capítulos
foram introduzidos e seções inteiras foram totalmente reformuladas para sanar
notórias deficiências acumuladas ao longo do tempo. A parte institucional
foi atualizada e a apresentação gráfica pôde beneficiar-se das modernas técnicas de editoração.
O resultado é um livro renovado, preservando as características básicas que contribuíram para
sua grande aceitação. O traço marcante do texto continua sendo o foco que põe na aplicação de
conceitos teóricos ao entendimento da realidade brasileira. Ao dedicar especial atenção a esse
aspecto, o livro se atém a uma preocupação de especial importância para o estudo da disciplina de
finanças públicas, em que a compreensão dos problemas institucionais é essencial para a passagem
da teoria à prática. Fiel ao objetivo inicial, essa segunda edição se volta principalmente para os
estudantes de cursos de graduação. Em linguagem simples e direta, apoiado em abundantes
evidências da realidade brasileira, o texto busca sustentar o interesse dos alunos pelo estudo dessa
disciplina que, nos últimos anos, merece crescente atenção de professores e estudantes em face do
papel destacado que o equilíbrio e a responsabilidade fiscais ostentam atualmente na formulação
de políticas e estratégias de desenvolvimento.
121
REFERÊNCIAS

ALBERGONI, L. Economia. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2008.


BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de
1988: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 22 fev. 2019.
______. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário
Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados
e Municípios. Brasília, 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L5172.htm>. Acesso em: 22 fev. 2019.
COSTA, P. A.; SOUZA, S. C. F. Tributação, Política fiscal e desenvolvimento econômi-
co. In: III ENCONTRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS, 2008, Londrina. Anais... Londrina:
ENET, 2008. p. 1-15.
COSTIN, C. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
MOCHÓN, F. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
PIETRO, M. S. Z. D. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2017.
REZENDE, F. Finanças Públicas. São Paulo: Atlas, 2001.
RIANI, F. Economia do Setor Público: uma abordagem introdutória. São Paulo:
Atlas. 2013.
TÁMEZ, C. A. S.; MORÃES JÚNIOR, J. J. Finanças Públicas: Teoria e mais de 350 ques-
tões. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. H. Fundamentos de Economia. 3. São Paulo:
Saraiva, 2009.
VICECONTI, P. E. V; NEVES, S. das. Introdução a Economia. São Paulo: Frase, 2010.

REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: <http://receita.economia.gov.br/acesso-rapido/tributos/irpf-imposto-de-ren-
da-pessoa-fisica>. Acesso em: 22 fev. 2019.
² Em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/121866.html>. Acesso
em: 22 fev. 2019.
³ Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Laffer#/media/File:Artur_Laffer.jpg>.
Acesso em: 22 fev. 2019.
4
Em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/acesso-rapido/direitos-e-deveres/educa-
cao-fiscal>. Acesso em: 22 fev. 2019.
5
Em: <http://www.transparencia.gov.br/pagina-interna/603237-orcamento-da-re-
ceita>. Acesso em: 22 fev. 2019.
GABARITO

1. A.
2. E.
3. E.
4. A.
5. B.
Professora Me. Daniela Carla Monteiro
Professor Me. Diego Figueiredo Dias

IV
ESTRUTURA, CRESCIMENTO E

UNIDADE
CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS
DÍVIDAS PÚBLICAS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar o conceito, a execução e as fases da despesa pública.
■■ Compreender os diversos conceitos de déficits.
■■ Discutir a necessidade de financiamento do setor público, déficits e dívida
pública.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Conceito, execução e fases da despesa pública
■■ Déficit Governamental
■■ Necessidade de financiamento do setor público, déficits e dívida pública
125

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) acadêmico(a)!


Seja bem-vindo(a) à quarta unidade do livro de Economia do Setor Público.
Aqui, você aprenderá sobre Estrutura, Crescimento e Contenção das despesas e
das dívidas públicas. Os objetivos a serem atingidos nesta unidade são: (a) apre-
sentar o conceito, a execução e as fases da despesa pública; (b) compreender os
diversos conceitos de déficits; (c) discutir a necessidade de financiamento do
setor público, déficits e dívida pública. Visando atingir os objetivos de aprendi-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

zagem supramencionados, a unidade foi dividida em três tópicos, a saber: (1)


conceito, execução e fases da despesa pública; (2) Déficit Governamental; e (3)
necessidade de financiamento do setor público, déficits e dívida pública.
Iniciaremos o primeiro tópico definindo e caracterizando despesa pública.
Sabe-se que despesa pública nada mais é do que o montante de dispêndios realiza-
dos pelos entes públicos para custear bens e serviços públicos, que são oferecidos
à sociedade ou para a realização de investimentos. Os serviços públicos ofere-
cidos e os investimentos realizados são classificados como despesas correntes e
de capital, respectivamente. Ademais, trataremos ainda neste tópico das fases de
execução da despesa pública, bem como do seu crescimento ao longo do tempo.
No segundo, por sua vez, será o momento de tratar sobre as várias denominações
de déficits existentes: (a) primário; (b) nominal; e (c) operacional. Ressalto, que
também tratarei nesse tópico, ainda que brevemente, das situações que permi-
tem o efeito contrário, ou seja, que geram superávit. Por fim, após o aprendizado
sobre tais denominações, a discussão será acerca da necessidade de financia-
mento do déficit público e dos meios que viabilizam o financiamento quando
se faz necessário, tais como a venda de títulos da dívida pública à população.
Assim, ao término desta unidade, você saberá de que modo se comporta a
estrutura, o crescimento e a contenção das despesas e das dívidas públicas. Tenho
certeza que você gostará de aprender sobre esse rico assunto tão indispensável
à sua formação. Então, mãos à obra!

Introdução
126 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCEITO, EXECUÇÃO E FASES DA DESPESA PÚBLICA

Antes de iniciarmos o aprendizado sobre despesas públicas, é preciso que você


saiba que o Estado possui algumas responsabilidades e que, para o desenvolvi-
mento de suas funções, vê-se forçado a realizar investimentos para a promoção
de emprego, de renda e de estabilidade econômica. Nessa direção, o governo,
assim como qualquer outro ente econômico, precisa arrecadar para poder gastar.
Tal arrecadação é feita por meio da tributação e, nesta unidade, você verá que o
governo aplica esses recursos na forma de custeios e de investimentos. Portanto,
pode-se dizer que a despesa pública se constitui do dispêndio realizado pelo
governo para a manutenção e desenvolvimento (investimento) dos bens e serviços
públicos, com a finalidade de atender bem a população que paga seus tributos.
Diante desse contexto, ressalto que assim como em nossa vida pessoal, o
governo precisa saber gastar, ou seja, deve gastar de acordo com aquilo que
arrecada. Se gastar mais do que arrecada, terá um resultado negativo, chamado
déficit. Se arrecadar mais do que gasta, o resultado positivo será denominado
superávit, assunto que estudaremos com mais profundidade ainda nesta unidade.

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


127

Comecemos, então, aprendendo sobre esse rico assunto, conceituando des-


pesa pública e aprendendo quais são seus requisitos, a forma como é dividida e
de que maneira ocorre o seu processamento.

DESPESA PÚBLICA: REQUISITOS, DIVISÃO E PROCESSAMENTO

Caro(a) aluno(a), iniciaremos este tópico


conceituando despesa pública. Tenho
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

certeza que você, antes mesmo de conhe-


cer cientificamente esse conceito, seria
capaz de definir despesa pública, não é
mesmo? Então, vamos lá, complementar
essa ideia. Despesa pública nada mais é
do que o conjunto de dispêndios que os
entes públicos realizam. Em outras pala-
vras, a despesa pública é o montante de
dispêndios que os entes públicos realizam com a aquisição de bens e serviços
que são oferecidos à sociedade e com a realização de investimentos que, por sua
vez, também serão convertidos em bens e serviços que satisfarão as necessida-
des da sociedade.
Nessa direção, quando se fala em bens e serviços que serão prestados à
sociedade, é importante compreender que se está falando das despesas que são
denominadas despesas correntes, e quando se fala das despesas que originarão
investimentos se está falando de despesas de capital.
Compreenderemos melhor, então, as duas grandes categorias econômicas nas
quais as despesas públicas estão divididas: (a) Despesas Correntes e (b) Despesas
de Capital.
As “despesas correntes” são os gastos realizados pelo governo dos quais
não resultam um acréscimo ao seu patrimônio. Os gastos do governo com
o pagamento do funcionalismo, pagamentos de contas de água, luz, telefo-
ne, de serviços de limpeza, segurança, etc. são classificados como despesas
correntes, pois nada acrescentam ao patrimônio do governo, ao contrário,
o diminuem (VICECONTI; NEVES, 2010, p. 437 grifo nosso).

Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública


128 UNIDADE IV

Assim, de acordo com a Lei n. 4.320/1964, as despesas correntes são subdividi-


das em: (a) despesas de custeio e (b) transferências correntes (vide Quadro 1):

Quadro 1 - Subdivisão das despesas correntes

DESPESAS DE CUSTEIO TRANSFERÊNCIAS CORRENTES


• Pessoal Civil. • Subvenções Sociais.
• Pessoal Militar. • Subvenções Econômicas.
• Serviços de Terceiros. • Pagamentos a Inativos e Pensionistas.
• Encargos Diversos. • Salário-família.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• Juros da Dívida Pública.
• Diversos.
Fonte: adaptado de Brasil (1964, on-line).

Note que as despesas de custeio compreendem os gastos realizados pelo governo


com o pagamento do funcionalismo, classificado como pessoal civil, militar e com
os serviços de terceiros, além dos encargos diversos. Observe que tais despesas
são realizadas para manter os serviços públicos. As transferências correntes, por
sua vez, compreendem os gastos realizados pelo governo com o pagamento de
Subvenções Sociais, Econômicas, Inativos e Pensionistas, Salário-família, Juros
da Dívida Pública e Diversas. Logo, têm-se nessa classificação os pagamentos de
aposentadoria, pensões, seguro-desemprego, entre outros. Ademais, estão com-
preendidas nas transferências correntes, as subvenções sociais e econômicas que
compreendem os recursos “doados” pelo governo para cobrir despesas de cus-
teio das entidades beneficiadas, sendo: (a) instituições públicas ou privadas de
caráter assistencial e sem fins lucrativos; ou (b) empresas públicas ou privadas.
Agora, conheceremos com mais propriedade o que compreende as despe-
sas de capital. Estas são os gastos que implicam no aumento do patrimônio do
governo ou que, pelo menos, não implicam na redução do patrimônio do governo.
Quando este constrói um hospital, por exemplo, tal dispêndio tem como conse-
quência o aumento de bens de propriedade do governo ou de bens que coloca
à disposição da coletividade.

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


129

As despesas de capital, por sua vez, de acordo com a Lei n. 4.320/1964, são
subdivididas em: (a) Investimentos; (b) Inversões Financeiras e (c) Transferências
de Capital (vide Quadro 2).

Quadro 2 - Subdivisão das despesas de capital

(A) INVESTIMENTOS (B) INVERSÕES FINANCEIRAS (C) TRANSFERÊNCIAS DE


CAPITAL
• Aquisição de imóveis.
• Participação em
• Obras Públicas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Constituição ou
• Serviços em regime de aumento de capital • Amortização da dívida
programação especial. de empresas ou pública.
• Equipamentos e Instalações. entidades comerciais ou
financeiras. • Auxílios para obras públicos.
• Material permanente . • Auxílios para
• Aquisição de títulos
• Participação em equipamentos e
representativos de
Constituição de instalações.
capital de empresas em
empresas ou entidades • Auxílios para intervenções
funcionamento.
industriais ou agrícolas. financeiras.
• Constituição de fundos
• Aumento de capital de • Outras contribuições.
rotativos.
empresas ou entidades
industriais ou agrícolas. • Concessão de empréstimos.
• Diversas inversões
financeiras.
Fonte: adaptado de Brasil (1964, on-line).

Viceconti e Neves (2010) explicam que:


A diferença entre “investimentos” e “inversões financeiras” é que, no pri-
meiro caso, a despesa de capital correspondente gera um acréscimo no
PIB enquanto que, no segundo caso, não há aumento, mas apenas mo-
dificação estrutural do PIB. Desse modo, para que a dotação orçamentá-
ria seja classificada como investimentos deve resultar em bem de capital
novo; caso se adquira bem de capital já utilizado, trata-se de inversões
financeiras (VICECONTI; NEVES, 2010, p. 439).

Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública


130 UNIDADE IV

As operações governamentais, que podem ser classificadas como “investimen-


tos” e como inversões financeiras, são respectivamente (vide Quadro 3):

Quadro 3 - Operações governamentais classificadas como investimentos e como inversões financeiras

INVESTIMENTOS INVERSÕES FINANCEIRAS


• Planejamento e execução de obras. • Aquisição de Imóveis, ou de bens de
• Aquisição de imóveis necessários à reali- capital usados.
zação de obras. • Aquisição de títulos representativos do
• Programas especiais de trabalho. capital de empresas ou entidades de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
qualquer espécie, já constituídas, quan-
• Aquisição e construções de instalações novas.
do a operação não importe aumento
• Equipamentos novos. do capital.
• Materiais permanentes novos. • Constituição ou aumento do capital de
• Constituição ou aumento do capital de entidades ou empresas que visem a
empresas que não sejam de caráter co- objetivos comerciais ou financeiros,
mercial ou financeiro, e sim de caráter inclusive operações bancárias ou de
estritamente industrial ou agrícola. seguros.
Fonte: adaptado de Viceconti e Neves (2010, p. 439-440).

Note que a participação no capital de empresas só será investimento se as duas


hipóteses, a seguir, cumprirem: (a) o título representativo do capital deve ser de
emissão para constituição ou aumento do mesmo; e (b) a empresa deve produzir
bens, como produtos industriais, agrícolas etc. Ressalta-se que títulos adquiridos
de terceiros e empresas do ramo financeiro, comercial, bancário ou de seguros
são classificados como inversões financeiras e não como investimentos. Nessa
direção, se um órgão público adquire ações do Banco do Brasil, independente-
mente de ser uma nova emissão ou negociada com terceiros, tratar-se-á de uma
inversão financeira, e não de um investimento, porque o Banco do Brasil é uma
entidade bancária.
As ações da Petrobrás, por exemplo, poderão resultar em investimentos, se
forem decorrentes de emissão para aumento de capital, também poderão resul-
tar em inversões financeiras, se adquiridas de terceiros ou de emissões antigas.
Por fim, mas não menos importante, são transferências de capital as dotações
para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público/
privado devam realizar, “independentemente de contraprestação direta em bens

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


131

ou serviços, constituindo essas transferências em auxílios ou contribuições e em


dotações para amortização da dívida pública” (VICECONTI; NEVES, 2010, p. 440).

Você sabia que as despesas públicas devem ser autorizadas pelo Poder Legis-
lativo, por meio do ato administrativo, que é chamado orçamento público?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Pois bem, tendo conceituado despesas públicas, quero que você se concentre em
compreender os requisitos dalas: (a) utilidade; (b) legitimidade; (c) discussão
pública; (d) possibilidade contributiva; (e) oportunidade; (f) hierarquia dos gas-
tos; e (g) legalidade. Afinal, o que cada um desses requisitos prevê?
■■ Requisito utilidade: as despesas públicas devem atender a um número
relevante de pessoas. A despesa pública deve ser direcionada a uma defi-
ciência pública que ajude a um número significativo de contribuintes.
■■ Requisito legitimidade: as despesas públicas devem atender necessida-
des públicas reais.
■■ Requisito discussão pública: as despesas públicas devem ser discutidas
e aprovadas tanto pelo poder legislativo quanto pelo tribunal de contas
do respectivo ente. Ou seja, nenhuma despesa pública poderá ser reali-
zada sem discussão ou aprovação do legislativo e do tribunal de contas.
■■ Requisito possibilidade contributiva: prevê que as despesas públicas
devem considerar a possibilidade de a população conseguir arcar com
a carga tributária decorrente da despesa. Em outras palavras, as despe-
sas públicas precisam estar de acordo com a possibilidade contributiva
de seus cidadãos.

■■ Requisito oportunidade: prevê que as despesas públicas devem ser rea-


lizadas no momento certo e oportuno.
■■ Requisito hierarquia de gastos: prevê que as despesas públicas devem ser
realizadas de acordo com a hierarquia definida. Ou seja, as mais impor-
tantes ou essenciais devem ser realizadas primeiro.

Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública


132 UNIDADE IV

■■ Requisito legalidade: prevê que as despesas públicas devem ser realiza-


das somente com base em autorizações legais. Sem elas, a despesa pública
não poderá realizar-se.

Tanta para algo que, aparentemente, é tão simples de ser compreendido e seria,
se a despesa não fosse pública. Então, caro(a) aluno(a), seguiremos em frente
para finalizar esse tópico. A partir de agora, você compreenderá como a des-
pesa se divide e como se dá seu processamento. Começaremos pela divisão: (1)
Despesa Orçamentária e (2) Despesa Extraorçamentária. A despesa orçamentária
é aquela que, como vimos, depende de autorização legislativa para ser realizada.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Além de depender de autorização legislativa, ela depende de crédito orçamen-
tário para concretizar-se. Dividem-se, como vimos, de acordo com o Art. 12
da Lei n. 4.320/1964, em: (a) despesas de custeio e (b) despesas de capital. As
Despesas Extraorçamentárias são aquelas que os pagamentos não dependem de
autorização legislativa. Não fazem parte do orçamento público. Logo, correspon-
dem à devolução de valores arrecadados na categoria receita extraorçamentária
(BRASIL, 1964, on-line).
Por fim, destaco que o “processamento da despesa” nada mais é do que o
montante de atividades realizadas por órgãos públicos cujo fim destina-se a
adquirir bens e serviços. Assim, o processamento envolve dois estágios: (a) a
fixação da despesa, que se subdivide em: (1) estimativa da despesa (fase em que
se estima as despesas para o ano-financeiro); e (2) conversão das estimativas em
orçamento (conversão por meio da Lei Orçamentária Anual) e (b) a realização
da despesa. No estágio de realização da despesa, têm-se a programação desta,
que nada mais é do que a programação dos gastos que cada ente vinculado ao
ente gerenciador da despesa poderá dispor.

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


133

ESTÁGIOS OU FASES DA DESPESA

Segundo a Lei n. 4.320/1964, a despesa pública passa pelos seguintes estágios:


(1) empenho; (2) liquidação; e (3) pagamento. De acordo com a referida Lei,
executar a despesa pública nada mais é do que realizar a despesa contemplada
no orçamento público. Essa execução, simplificadamente, compreende os três
estágios, apresentados e descritos na Figura 1 e no Quadro 4, respectivamente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ESTÁGIOS DA DESPESA PÚBLICA


Conheça as três etapas da despesa pública, dinheiro gasto pelo governo para
oferecer serviços públicos ou realizar investimentos

3.
Pagamento
Fase em que se entrega o
2. dinheiro ao credor, após
Liquidação autoridade competente
1. determinar que a despesa
Empenho Etapa em que é combrada liquidade seja paga.
a prestação de serviços, a
Fase em que é entrega de bens ou a
criada a obrigação realização de obras.
de pagamento da Envolve todos os atos de
despesa pelo verificação e conferência.
governo.

Figura 1 - Estágios da Despesa Pública


Fonte: adaptada de Brasil ([2019], on-line)¹.

Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública


134 UNIDADE IV

Quadro 4 - Estágio das Despesas Públicas

EMPENHO LIQUIDAÇÃO PAGAMENTO


Entrega dos bens ou servi- Entrega do dinheiro ao cre-
Criação da Obrigação de
ços prestados (Verificação e dor, mediante autorização
Pagamento
Conferência) da autoridade competente
Estágio que é realizada a
Estágio em que o dinheiro
verificação e a conferência Neste estágio, estando tudo
é reservado para paga-
do que foi comprado pelo em ordem, o governo rea-
mento futuro, cujo intuito
governo. Nessa direção, é liza o pagamento, ou seja,
é organizar o dispêndio do
verificado e conferido se o paga ao fornecedor contra-
governo. Tal estágio evita
bem ou o serviço foi entre- tado os bens e/ou serviços
que se gaste mais do que o

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
gue de acordo com o que que foram adquiridos
previsto.
foi comprado/contratado.
Fonte: adaptado de Brasil ([2019], on-line)¹.

Antes de se chegar ao empenho é necessário que se realize uma licitação.


De acordo com Costa (2013, p. 67), “licitação é o procedimento administra-
tivo pelo qual a administração pública seleciona a proposta mais vantajosa
para a celebração de contrato de seu interesse por meio de convocação de
pessoas físicas ou jurídicas interessadas no oferecimento de bens e serviços”.
Fonte: Costa (2013, p. 67).

Você aprenderá, a seguir, a classificação da despesa pública, de acordo com


Nascimento (2010): (a) quanto à entidade executora do orçamento; (b) quanto à
categoria econômica; (c) quanto ao impacto na situação líquida patrimonial; (d)
quanto à regularidade; (e) quanto à espécie; (f) quanto ao lugar; (g) quanto ao
efeito econômico; (h) quanto à necessidade de ser atendida; e (i) quanto aos fins.

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


135

AS DESPESAS PÚBLICAS E SUA CLASSIFICAÇÃO

A primeira classificação que abordarei aqui é (a) quanto à entidade executora do


orçamento. Essa classificação se subdivide em: Despesa Orçamentária Pública e
Despesa Orçamentária privada (vide Quadro 5).

Quadro 5 - Quanto à entidade executora do orçamento

DESPESA ORÇAMENTÁRIA PÚBLICA DESPESA ORÇAMENTÁRIA PRIVADA


Realizada por entidade pública via autori- Realizada por entidade privada via autori-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

zação legislativa. zação orçamentária por conselho superior.


Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Agora, relembremos a categoria econômica, classificação que vimos no início


da unidade, sendo composta por despesas correntes e por despesas de capital
(vide Quadro 6).

Quadro 6 - Quanto à categoria econômica

DESPESA CORRENTES DESPESA DE CAPITAL


Despesas que não ajudam na compra de Despesas que ajudam na compra de um
um bem de capital. bem de capital.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Por conseguinte, trataremos da classificação quanto ao impacto na situação


líquida patrimonial. Essa classificação se subdivide em: efetiva e por mutação
(vide Quadro 7).

Quadro 7 - Quanto à categoria econômica

EFETIVA (DESPESAS CORRENTES) POR MUTAÇÃO (DESPESAS DE CAPITAL)


Esse tipo de despesa, ao ser efetivada, Esse tipo de despesa, ao ser efetivada, não
reduz a situação líquida do patrimônio. reduz a situação líquida do patrimônio.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública


136 UNIDADE IV

Sequencialmente, tratarei da classificação quanto à regularidade. Essa classifica-


ção se subdivide em ordinária e extraordinária (vide Quadro 8).

Quadro 8 - Quanto à Regularidade

ORDINÁRIA EXTRAORDINÁRIA
Despesas frequentes, previstas no orça-
Sem previsão no orçamento. Despesas even-
mento. Decorrente de manutenção dos
tuais, decorrentes de situações calamitosas.
serviços estatais.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Agora, a classificação quanto à espécie que se subdivide em: in natura e em
dinheiro (vide Quadro 9).

Quadro 9 - Quanto à espécie

IN NATURA EM DINHEIRO
Que não necessitam de dinheiro. Despesas que são liquidadas em dinheiro.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Não menos importante, tratarei na sequência da classificação quanto ao lugar,


que se subdivide em interna e externa (vide Quadro 10).

Quadro 10 - Quanto ao lugar

INTERNA EXTERNA
Despesas feitas no Brasil com moeda
Despesas feitas no Brasil em real (R$).
estrangeira.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


137

Na mesma direção, o efeito econômico que se subdivide em: produtiva e não


produtiva (vide Quadro 11).

Quadro 11 - Quanto ao efeito econômico

PRODUTIVA NÃO PRODUTIVA


Tais despesas dão retorno financeiro ao Tais despesas não dão retorno financeiro
governo. ao governo.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

A seguir, a classificação quanto à necessidade de ser atendida, que se subdivide


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

em: úteis e necessárias (vide Quadro 12).

Quadro 12 - Quanto à necessidade de ser atendida

ÚTEIS NECESSÁRIAS
Tais despesas não podem ser adiadas ou
Tais despesas podem ser adiadas ou atrasadas.
atrasadas.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Por último, os fins, que se subdividem em: constitucional, administração finan-


ceira e informação (vide Quadro 13).

Quadro 13 - Quanto aos fins

CONSTITUCIONAL ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA INFORMAÇÃO


Despesa cujo fim é manter Despesas cujo fim é a dívida Despesas para auxílio
órgãos estruturais. pública. financeiro do setor público.
Fonte: adaptado de Nascimento (2010).

Note que as nove classificações apresentadas da despesa pública nos mostram


o quão relevante é conhecer e tratar a despesa pública adequadamente. Não se
trata de uma “simples despesa”, mas de despesa pública, com todas as particula-
ridades que as envolve, afinal trata-se de aplicar dinheiro público, ou seja, de se
aplicar dinheiro que pertence a todos nós. Pense nisso!

Conceito, Execução e Fases da Despesa Pública


138 UNIDADE IV

DÉFICIT GOVERNAMENTAL

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Caro(a) aluno(a), diz-se que quando a receita pública é menor do que os gas-
tos, o orçamento público entra em déficit. Afinal, tal resultado (déficit) é ou não
é ruim? Segundo Móchon (2007), duas relevantes correntes teóricas respon-
dem a essa questão, sendo: (a) a keynesiana e (b) a clássica. Você perceberá que
as duas concepções seguem linhas muito distintas. Procure compreender cada
linha e tente se posicionar. Você deve tentar perceber qual das duas linhas mais
lhe convence. A polêmica, por um lado, é decorrente dos problemas advindos do
financiamento do déficit público, assunto que trataremos no próximo tópico, por
outro, é decorrente da rigidez institucional que limita a política fiscal enquanto
instrumento de estabilização.
Iniciemos seu aprendizado com o que dizem os economistas ditos clássi-
cos. Segundo eles, a política fiscal é desnecessária, ao passo que a economia é
possuidora de mecanismos autocorretivos. Nessa direção, eles defendem que o
gasto público deve ser minimamente limitado e, o orçamento público, anual-
mente equilibrado.

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


139

Para os economistas denominados keynesianos, a economia é considerada


instável e não percorre um caminho invariável rumo ao pleno emprego, ao passo
que os ajustes que se fazem necessários durante o percurso não acontecem exa-
tamente da maneira como preveem os economistas clássicos. De acordo com a
corrente keynesiana, diante de uma recessão, por exemplo, motivada por insu-
ficiência da demanda agregada, o setor público deve efetivamente intervir via
articulação de gastos e impostos.
Registro aqui a primeira e mais evidente das discordâncias entre as duas cor-
rentes. Os acreditam que o orçamento deve estar em equilíbrio, mas durante todo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o ciclo, não só anualmente. Nessa direção, aceitam que em períodos de recessão


os déficits ocorram, ao passo que serão posteriormente compensados nas fases
expansivas do ciclo (superávit).

O conceito de pleno emprego dos recursos produtivos, compatível com cer-


to nível de desemprego (o denominado desemprego friccional), derivado
do funcionamento normal do mercado de trabalho, aparece como um obje-
tivo no esquema keynesiano.
Fonte: Móchon (2010, p. 182).

Aluno(a), responda mentalmente a pergunta que fiz no início do tópico, ou seja,


com qual das duas correntes você mais se identifica? Com a corrente clássica ou
com a keynesiana? Observe que o posicionamento de ambas é bem diferente com
relação ao déficit e à forma como o orçamento deve se manter equilibrado. Por
conseguinte, você aprenderá agora sobre as flutuações cíclicas e o déficit público.

Déficit Governamental
140 UNIDADE IV

Considere que a economia se encontre em recessão. É fato que num cenário


como esse a arrecadação de tributos cai pela queda da atividade, certo? É fato,
também, que o gasto público em vez de cair, aumentará, ao passo que precisará
amparar os desempregados, por exemplo, pagando seguro-desemprego. Logo,
esse é um cenário perfeito para o déficit público instituir-se. Agora, considere
o caminho contrário. Imagine que o contexto hipotético que estamos criando
aqui é de diminuição do desemprego e aumento dos níveis de renda da popula-
ção. O resultado de tal cenário é transferência pública caindo e receita tributária
aumentando, certo? O que, por sua vez, resultará em diminuição do déficit orça-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mentário ou aumento do superávit.

Você sabia que durante as expansões, as transferências públicas aumentam


e a receita tributária cai, o que eleva o déficit orçamentário (ou em aumento
do superávit)? Pense sobre isso.
(Francisco Móchon)

Como esses ciclos (recessivos e expansivos) provocam efeitos sistemáticos sobre


os gastos e as receitas, faz-se conveniente dividir o déficit em déficit cíclico e défi-
cit estrutural. O déficit cíclico, de acordo com Móchon (2010, p. 182) “é a parte
de déficit orçamentário que varia com o ciclo econômico: durante as recessões,
haverá déficit e, nas expansões, superávit”. Em outras palavras, o déficit cíclico
é a parte que pode ser atribuída ao estado atual, ou seja, que pode ser atribuída
ao momento em que se encontra a economia. Assim, se o ciclo atual for reces-
sivo, haverá déficit cíclico; caso contrário, haverá superávit cíclico.
Pode-se dizer que haverá déficit cíclico quando a produção estiver abaixo do
produto interno bruto potencial e um superávit cíclico quando a produção efe-
tiva superar a produção potencial. Quando a economia estiver situada no nível de
pleno emprego, no entanto, o déficit cíclico será igual a zero (MÓCHON, 2010).

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


141

Enfim, chegou a vez de tratar do chamado déficit estrutural. “[...] a parte do


déficit orçamentário que independente do ciclo econômico; deve-se a desajus-
tes estruturais entre a receita e os gastos públicos” (MÓCHON, 2010, p. 182).
Em outras palavras, o déficit estrutural é a parte do déficit que não é decorrente
de flutuações cíclicas. Ou seja, é decorrente de um desajuste entre a estrutura
de gastos e as receitas públicas. Logo, pode-se dizer que, ao sair de um contexto
de recessão, por exemplo, é possível eliminar o componente cíclico do déficit,
mas não o estrutural.
Afinal, para que serve a distinção entre déficit cíclico e estrutural? Para
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

reconhecer a influência das flutuações cíclicas no orçamento do setor público.


Faz-se relevante mencionar ainda que o orçamento também afeta as flutuações
cíclicas. Quero dizer que mudanças de caráter orçamentário durante expansões
e recessões ajudam a minimizar as flutuações cíclicas, pois são como estabiliza-
dores automáticos.
Assim, a política fiscal enquanto instrumento estabilizador da atividade eco-
nômica pode fazer com que acreditemos que a referida política só auxiliará no
controle da economia se os responsáveis pela política econômica vigente acom-
panharem cautelosamente as tendências e se conseguirem, de certa forma, prever
acontecimentos que, por sua vez, influenciarão na tomada de decisões.
Mochón (2010, p. 182) relembra que “a política fiscal se ocupa de decisões
sobre a receita e os gastos públicos e sobre o déficit ou superávit orçamentário,
em termos de seus efeitos sobre a renda nacional, o emprego total e o nível geral
de preços”. Embora faça sentido discutir acerca de uma política fiscal ativa, que
se traduz em medidas explícitas quanto aos gastos e às receitas do governo, com
o intuito de estabilizar a economia, faz mais sentido ainda discutir com efetivi-
dade os efeitos automáticos do sistema tributário.
Você está lembrado que quando os impostos são proporcionais a arrecadação
se altera de forma automática (e no sentido inverso) conforme o produto nacio-
nal varia? O aumento de impostos, à medida que o produto nacional aumenta,
reduzirá a força da expansão, e o contrário ocorrerá durante uma recessão.
Pode-se dizer que os impostos proporcionais são um estabilizador automático
da atividade econômica. Afinal, o que é um estabilizador automático? É qual-
quer fato do sistema econômico que tende a diminuir de forma mecânica a força

Déficit Governamental
142 UNIDADE IV

das recessões e/ou das expansões da demanda, tornado desnecessárias medidas


deliberadas de política econômica (MOCHÓN, 2010).

O déficit e o superávit públicos são variáveis de fluxo que medem a diferen-


ça entre gasto público e a receita tributária durante determinado período,
normalmente um ano. A dívida pública, ao contrário, é uma variável, esto-
que que mede tudo o que o Estado deve em determinado momento do

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tempo. De maneira mais específica, a dívida pública pode ser definida como
o valor total dos títulos emitidos pelo governo que se acham em poder do
público. Em um título é uma promessa pagar determinada quantia numa
data futura.
Fonte: Móchon (2010, p. 183).

Não obstante, se os impostos aumentam com o Produto Nacional Bruto (PNB)


enquanto parte dos gastos de transferência se movimenta em sentido contrário,
tem-se que o orçamento do setor público tenderá ao déficit, durante as recessões,
e ao superávit, durante as expansões, respectivamente. Assim, comportando-se
de forma expansionista durante as recessões e de forma contracionista durante
as expansões, o orçamento público ajudará a reduzir a amplitude das variações
dos gastos, proporcionando maior estabilidade no próprio funcionamento da
economia.
Você conhecerá três outros importantes conceitos de déficit: (a) primário
ou fiscal; (b) operacional; (c) nominal ou total. Vamos lá?

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


143

DÉFICIT PRIMÁRIO OU FISCAL

A mensuração do resultado primário ou fiscal tem por objetivo apresentar o


comportamento das finanças públicas, ou melhor, objetiva indicar se as finan-
ças públicas estão em ordem. O resultado primário mostra se o governo está, ou
não, gastando de acordo com as suas receitas. Se a apuração do resultado indicar
superávit, a resposta será sim, ou seja, sim, o governo está gastando de acordo
com as suas receitas. Porém, se o resultado indicar déficit, a resposta será não,
isto é, o governo não está gastando de acordo com as suas receitas. Afinal, como
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o superávit ou o déficit primário é mesurado? Souza (2009), esclarece que


Uma economia terá superávit primário quando as receitas não finan-
ceiras – isto é, aquelas que não envolvem juros, correções e amortiza-
ções decorrentes de empréstimos concedidos ou aplicações feitas no
passado – superarem as despesas não financeiras – isto é, aquelas que
não envolve juros, correções e amortizações decorrentes de dívidas
contraídas no passado. No caso inverso, ou seja, quando as receitas não
financeiras se igualarem às despesas não financeiras, ou mesmo quan-
do ficarem abaixo destas, haverá déficit primário (SOUZA, 2009, p.
136, grifo nosso).

Note que o resultado primário nada mais é do que a diferença entre o gasto público
e a arrecadação tributária num determinado exercício, desconsiderando juros e
correções de dívidas passadas. Destaca-se que nem sempre o resultado primário,
quando positivo, é suficiente para arcar com todas as despesas financeiras, ou
melhor, para arcar com todas as despesas advindas de dívidas anteriores, como
o pagamento dos títulos públicos, os juros e as correções monetárias. É a partir
daí, ou seja, desse ponto, que passa a ser relevante o conceito do resultado ope-
racional, que você conhecerá no próximo tópico.

Déficit Governamental
144 UNIDADE IV

Resultados fiscais apurados em 30.11.2018

De acordo com o Banco Central do Brasil ([2019], on-line)²,


O setor público consolidado registrou superávit primário de R$7,8 bi-
lhões em outubro. No Governo Central e nas empresas estatais houve
superávit de R$10,2 bilhões e R$690 milhões, respectivamente, e nos
governos regionais, déficit de R$3,1 bilhões no mês.

Nessa direção, observe que o setor público tem arrecadado mais do que tem
gastado no período analisado (outubro/2018), ao passo que nos referimos a um

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
superávit primário na casa dos R$ 7,8 bilhões. O destaque para fazer jus a esse
superávit vai para o governo central e para as empresas estatais, que registra-
ram em conjunto um considerável resultado primário, ao contrário dos governos
regionais, que registraram déficit da ordem de 3,1 bilhões.

Figura 2 - Resultado Primário (-)Superávit (+) Déficit


Fonte: Banco Central do Brasil ([2019], on-line)².

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


145

Ainda segundo o BCB ([2019], on-line)²,


No ano, o resultado primário do setor público consolidado foi deficitá-
rio em R$ 51,5 bilhões, comparativamente a déficit de R$ 77,4 bilhões
no mesmo período de 2017. No acumulado em doze meses até outu-
bro, o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 84,8
bilhões (1,24% do PIB), 0,05 p.p. do PIB inferior ao déficit acumulado
até setembro.

Assim sendo, note que o resultado primário consolidado foi deficitário, mais
especificamente em R$ 51,5 bilhões (acumulado no ano até outubro de 2018).
Observe ainda que, de acordo com a Figura 2, no acumulado em 12 meses até
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

outubro, o déficit registrado foi de R$ 84,8 bilhões. Em suma, em outubro, o setor


público apresentou superávit, no entanto, no acumulado no ano até outubro e
no acumulado em 12 meses até outubro, registrou déficit.

DÉFICIT OPERACIONAL

O resultado operacional, podendo resultar num déficit operacional ou num


superávit operacional é igual ao “saldo do resultado primário mais as despesas
com pagamentos de juros reais (juros nominais menos a inflação) das dívidas
contraídas no passado” (SOUZA, 2009, p. 137). Em outras palavras, o resultado
operacional pode ser mensurado tanto excluindo-se do resultado total a corre-
ção monetária e cambial, como acrescentando-se ao resultado primário os juros
reais de dívidas passadas.

DÉFICIT NOMINAL OU TOTAL

O resultado nominal, por sua vez, que poderá resultar em déficit nominal ou
em superávit nominal, é “igual ao saldo operacional mais a correção monetária
e cambial” (SOUZA, 2009, p. 137).

Déficit Governamental
146 UNIDADE IV

Resultados fiscais apurados em 30.11.2018

Com base nos dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil ([2019], on-line)²,
Os juros nominais do setor público consolidado, apropriados por com-
petência, alcançaram R$ 13,9 bilhões em outubro, comparativamente
a R$ 35,3 bilhões em outubro de 2017. Contribuiu para essa redução
o resultado das operações de swap cambial (ganho de R$19,3 bilhões
em outubro de 2018 ante perda de R$ 1,8 bilhão em outubro de 2017).
No acumulado em doze meses, os juros nominais atingiram R$ 379,7
bilhões (5,55% do PIB), reduzindo-se em relação ao período de doze

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
meses encerrado em outubro de 2017 (R$ 414,2 bilhões, 6,36% do PIB).

Ou seja, os juros nominais caíram aproximadamente 60 pontos percentuais de


outubro de 2017 para outubro de 2018. Tal queda é resultante das operações
de swap cambial, ao passo que por meio dos contratos dessa natureza, o Banco
Central do Brasil realiza operações que equivalem a “venda” de moeda no mer-
cado futuro, o que por sua vez, reduz a pressão sobre a alta da moeda. Por fim,
destaca-se que no acumulado em 12 meses os juros atingiram, no período ana-
lisado, 5.55% do PIB contra 6.36% do PIB em relação ao período de doze meses
encerrado em outubro de 2017.

outubro acúmulo no ano acúmulo em 12


até outubro meses até outubro

Figura 3 - Juros nominais - setor público consolidado


Fonte: Banco Central do Brasil (on-line)².

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


147

Ainda segundo o BCB ([2019], on-line)²,


O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resulta-
do primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 6,1
bilhões em outubro. No acumulado em doze meses, o déficit nominal
alcançou R$ 464,4 bilhões (6,79% do PIB), reduzindo-se 0,40 p.p. do
PIB em relação ao déficit acumulado no mês anterior.

Assim, para finalizar esse tópico, preparei para você um quadro resumo dos três últi-
mos conceitos que aprendeu. Espero que ajude na memorização do conteúdo. Como
vimos, os conceitos são de fundamental importância para a sua formação. Observe
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que é possível, num dado momento, termos, por exemplo, superávit primário e
déficit nominal, não é mesmo? A partir de agora conhecendo bem esses concei-
tos, você conseguirá compreender e explicar corretamente, como isso é possível.

Quadro 14 - Quadro Resumo dos Conceitos de Superávit e Déficit

SALDO NEGATIVO SALDO POSITIVO


Receitas Não Financeiras
DÉFICIT PRIMÁRIO (-) SUPERÁVIT PRIMÁRIO
Despesas Não Financeiras
Resultado Primário
DÉFICIT OPERACIONAL (+) SUPERÁVIT OPERACIONAL
Despesas com Juros Reais
Resultado Operacional
DÉFICIT NOMINAL (+) SUPERÁVIT NOMINAL
Correção Monetária e Cambial
Fonte: adaptado de Souza (2009, p. 137).

Déficit Governamental
148 UNIDADE IV

NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR


PÚBLICO, DÉFICITS E DÍVIDA PÚBLICA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quando se fala em necessidade de financiamento de déficit governamental, fala-
-se em medidas que precisam ser tomadas, além daquelas ditas tradicionais para
financiar o déficit. Em outras palavras, quando o governo está no vermelho, ou
seja, em situação de déficit, ele precisa buscar meios para financiá-lo. Uma medida
chamada tradicional é via política fiscal, instrumento de política econômica.
Assim, ela não sendo suficiente para corrigir o déficit, ou melhor, para financiar
o déficit, o governo pode valer-se de meios denominados extrafiscais: (a) emis-
são de moeda e (b) venda de Títulos da Dívida Pública ao setor privado. Vamos
conhecer separadamente de que maneira cada um desses meios é empregado?

O aumento ou a diminuição da dívida pública indica não apenas a existên-


cia de déficits ou superávits públicos, mas também o aumento da redução
nos pagamentos de juros que o setor público deve fazer aos que de detêm
os títulos do Estado. Quanto maior a dívida pública, maiores serão os juros
anuais que o Estado terá de pagar por ela.
Fonte: Móchon (2010, p. 183).

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


149

a. Emissão e Moeda: por meio deste meio, o Tesouro Nacional (União) pede
emprestado, ao Banco Central do Brasil, a moeda. Em outras palavras, o
Banco Central do Brasil cria moeda, aumentando a base monetária para
financiar a dívida do Tesouro. Esse procedimento também é conhecido
como “monetização da dívida”. Destaca-se que esse meio “não aumenta
o endividamento público”, no entanto tem forma eminentemente infla-
cionária. Com esse meio, gera-se o imposto inflacionário.
b. Venda de títulos da dívida pública ao setor privado: este meio faz com
que o governo troque títulos por moeda que já está em circulação, des-
monetizando a economia. Isso significa que, a princípio, qualquer efeito
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de pressão inflacionária é descartado. Financiar o déficit público dessa


maneira, no entanto, provoca elevação da dívida pública. Ademais, para
conseguir tornar a venda desses títulos ao setor privado, o governo pre-
cisa adotar uma política de juros atrativa, o que, por sua vez, resultará na
elevação adicional do endividamento.

Você sabia que a dívida pública aumenta quando ocorrem déficits públicos
que elevam o número de títulos estatais em poder do público? Os superá-
vits, ao contrário, reduzem o número de títulos em poder público e, assim
aliviam a dívida pública. Pense sobre isso.
(Francisco Móchon)

Quanta informação envolve a despesa pública, não é mesmo? Você tinha ideia
dessa gama de detalhes e informações? Espero que você tenha gostado de apren-
der sobre esse rico assunto, tão relevante para a sua formação. Nessa direção, para
finalizar, separei para você um material, preparado pelo Banco Central do Brasil,
em 2018, para que você saiba exatamente como se comporta a dívida líquida do
setor público e a dívida bruta do governo geral.

Necessidade de Financiamento do Setor Público, Déficits e Dívida Pública


150 UNIDADE IV

DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO (DLSP) E DÍVIDA BRUTA


DO GOVERNO GERAL (DBGG)

De acordo com o Banco Central do Brasil (on-line)²,


A DLSP alcançou R$ 3.642,5 bilhões (53,3% do PIB) em outubro, au-
mento de 1,1 p.p. do PIB em relação ao mês anterior. O efeito da valo-
rização cambial de 7,1% no mês contribuiu para esse crescimento com
R$87,5 bilhões (1,3 p.p. do PIB). No ano, o crescimento de 1,7 p.p. na
relação DLSP/PIB refletiu, em especial, a incorporação de juros nomi-
nais (aumento de 4,6 p.p.), o déficit primário (aumento de 0,8 p.p.), o

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
efeito da desvalorização cambial acumulada de 12,4% (redução de 1,8
p.p.) e o efeito do crescimento do PIB nominal (redução de 2,1 p.p.).

Assim sendo, observe o quanto é “pesada” a dívida líquida do setor público no


período analisado. Note que falamos de uma dívida que corresponde a, aproxi-
madamente, 53,3% do PIB, o que significa muito, não é mesmo? Observe, ainda,
que o Banco Central do Brasil atribuiu também à valorização cambial a respon-
sabilidade para esse crescimento. Ademais, considerou a incorporação dos juros
nominais, o déficit primário, a desvalorização cambial acumulada e o efeito do
crescimento do PIB nominal.

Figura 4 - Dívida Líquida do Setor Público e Dívida Bruta do Governo Geral


Fonte: Banco Central do Brasil ([2019], on-line)².

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


151

Segundo o BCB ([ 2019], on-line)²,


a DBGG - que compreende o Governo Federal, o INSS e os governos
estaduais e municipais - alcançou R$ 5.231,4 bilhões em outubro, equi-
valente a 76,5% do PIB, reduzindo-se 0,7 p.p. do PIB no mês. No ano,
a relação DBGG/PIB registra expansão de 2,5 p.p, decorrente da incor-
poração de juros nominais (aumento de 5,1 p.p.), do efeito da desvalo-
rização cambial (aumento 0,5 p.p.) e do crescimento do PIB nominal
(redução de 3,0 p.p.).

Ou seja, com a dívida bruta do governo geral, o grau de endividamento não é


nada diferente, muito pelo contrário, é tão alarmante quanto o da dívida líquida,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao passo que falamos de uma dívida que corresponde a 76,5% do PIB. Destaca-se
que a expansão da dívida pública do governo geral/PIB considerou os juros nomi-
nais do período, o efeito desvalorização cambial e o crescimento do PIB nominal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) acadêmico (a), finalizamos a quarta unidade do livro de Economia do


Setor Público. Relembremos aqui, ainda que brevemente, tudo o que estudamos?
Você se lembra que, inicialmente, aprendeu o que é despesa pública? Na sequên-
cia, aprendeu por quem a despesa é autorizada, seus requisitos e a forma como
ela é dividida. Não podemos deixar de relembrar que, nesse primeiro momento,
você aprendeu sobre os estágios da despesa, que são divididos em: (a) fixação;
(b) empenho; (c) liquidação; e (d) pagamento.
Pois bem, agora que você já estudou acerca das questões importantes com-
preendidas pela despesa pública, será capaz de diferenciar os dispêndios que se
dão tanto pela administração pública direta quanto pela administração indireta.
Destaca-se, ainda, que também será capaz de compreender com mais facilidade
os dispêndios, via investimentos que o governo se vê forçado a realizar, para que
suas atividades econômicas possam ser desenvolvidas. Lembre-se sempre que
além desses dispêndios, vimos que existem aqueles destinados ao atendimento

Considerações Finais
152 UNIDADE IV

das necessidades básicas da população, como saúde, segurança, educação e trans-


porte público.
Após compreender tais pontos, você aprendeu sobre os conceitos nominais
e primários de déficit/superávit público. Tais conceitos são interessantes, não é
mesmo? Tendo você aprendido sobre eles, passe a verificar, na prática, por meio
dos noticiários, como tem se comportado o déficit/superávit primário e nomi-
nal do Brasil.
Por fim, mas não menos importante, não poderia deixar de mencionar o
quanto você aprendeu sobre a necessidade de financiamento do déficit público.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nessa direção, diante do contexto aprendido, pare e reflita sobre as medidas
que os governos vêm adotando recentemente para controlar o déficit brasileiro.
Espero que esta quarta unidade tenha sido proveitosa e que tenha gostado
de aprender, ainda que sucintamente, sobre estrutura, crescimento e contenção
das despesas e das dívidas públicas. Parabéns pelo aprendizado! Um forte abraço.

ESTRUTURA, CRESCIMENTO E CONTENÇÃO DAS DESPESAS E DAS DÍVIDAS PÚBLICAS


153

1. Você aprendeu que o governo, entre inúmeros outros instrumentos, utiliza


a política fiscal, via aumento/diminuição de impostos ou aumento/corte de
gastos para tentar solucionar e/ou minimizar o problema do “saldo negativo”,
decorrente da relação dispêndio público versus receitas. A referida política, no
entanto, nem sempre é capaz de atingir o resultado esperado. Assim sendo,
caso o saldo desfavorável permaneça é necessário que o governo busque fon-
tes de financiamento para o déficit gerado.
A respeito desse contexto, avalie as afirmações a seguir e assinale com V, as
verdadeiras, e F, as falsas:
(( ) Pode-se citar como fonte de financiamento do déficit público a venda de
títulos da dívida pública para o setor privado.
(( ) A venda de títulos da dívida pública ao setor privado, além de financiar o
déficit público, reduz ao longo do tempo o montante da dívida pública.
(( ) A emissão da moeda, enquanto fonte de financiamento do déficit público,
já causou diversos transtornos para o Brasil, ao passo que, em alguns períodos
inflacionou a economia.
Assinale a alternativa correta:
a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.

2. Definem-se como despesas públicas, dispêndios diretos e indiretos gerados


pela administração pública. Assim sendo, pode-se dizer que os dispêndios são
promovidos pelas três esferas governamentais, pelas autarquias e pelas fun-
dações. Além disso, faz-se relevante destacar que, para que haja possibilida-
de de desenvolvimento das atividades econômicas, o governo precisa realizar
dispêndios com investimentos para promover empregos, renda e estabilidade
econômica aos cidadãos.
A respeito desse contexto, avalie as afirmações a seguir e assinale com V, as
verdadeiras, e F, as falsas:
(( ) Os dispêndios do governo são altos, sendo assim, o governo precisa saber
gastar de acordo com o valor arrecadado, para que seu resultado final não
aponte superávit.
154

(( ) As despesas públicas geradas por meio de autorizações legislativas podem


ser identificadas de três maneiras, sendo elas: (a) de acordo com sua finalidade;
(b) de acordo com a natureza do dispêndio; e (c) de acordo com o agente en-
carregado da execução.
(( ) Dispêndios destinados ao atendimento de necessidades básicas da popula-
ção, como segurança, educação, saúde e transporte, são de competências da
administração pública.
Assinale a alternativa correta:
a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.

3. Você estudou que as despesas públicas podem ser definidas como os recursos pú-
blicos que são gastos com base em autorizações legislativas, o que significa dizer
que os gastos são pensados, avaliados e, até mesmo, planejados. Assim, as priori-
dades e o montante de recursos destinados por área são traçados de modo que as
necessidades da população sejam, ainda que parcialmente, satisfeitas.
Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir e assinale com V, as
verdadeiras, e F, as falsas:
(( ) A transparência, o custeio e os investimentos são formas de gastos dispos-
tos pela classificação de acordo com a natureza do dispêndio. Tal classificação é
importante para que se possa acompanhar a participação do governo perante
a promoção do bem-estar econômico.
(( ) A classificação, quanto ao agente encarregado da execução, é responsável
pelos gastos diretos e indiretos, em que se levam em consideração as despesas
correntes, despesas de capital e despesas de transparência de capital.
(( ) A aquisição de imóveis, concessão de empréstimos e constituição de fundos
rotativos são exemplos de inversões financeiras. Esse tipo de despesa de capi-
tal é de responsabilidade do agente responsável pelo gasto, da administração
direta ou indireta.
155

Assinale a alternativa correta:


a) V, V e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.

4. A diferença entre a variação dos débitos fiscais entre dois períodos define a
ocorrência de superávit ou de déficit nominal, em outras palavras, é o balan-
ço entre as receitas totais e as despesas totais que equivale à necessidade de
financiamento do setor público. O superávit nominal, por exemplo, ocorre
quando há promoção do superávit primário, já que esse saldo torna possível o
pagamento de juros de dívidas públicas.
Sobre esse assunto, avalie as afirmativas que se seguem e assinale com V, as
verdadeiras, e F, as falsas:
(( ) A correção monetária não é incluída no conceito nominal de déficit, somen-
te as despesas financeiras fazem parte desse tipo de saldo.
(( ) Ao longo do tempo, com o superávit primário alcançado pelos governos,
tem sido possível quitar constantemente as dívidas.
(( ) Foi a partir de 2013 que o Brasil passou a apresentar déficits nominais decor-
rentes dos superelevados gastos com juros.
Assinale a alternativa correta:
a) V, V e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.
156

5. De acordo com Viceconti e Neves (2010, p. 468), “os gastos totais do governo
compreendem não apenas as despesas correntes (consumo de bens e serviços,
transferências e subsídios), mas também as chamadas despesas de capital, que
são os gastos que o Governo faz com investimentos” (aquisição de bens de
capital e variação de estoques).
Considerando esse contexto, avalie as afirmativas que se seguem:
I. A emissão de moeda e o lançamento de títulos públicos no mercado aberto
não são formas de financiar o déficit público.
II. O déficit público pode ser financiado por vias de recursos extrafiscais.
III. Em uma situação de déficit, uma das medidas do governo para a correção
da referida situação é utilizar a política fiscal, via aumento de impostos ou
corte de gastos.
IV. Se as despesas públicas, distribuídas entre o consumo governamental e o
investimento público, superar a receita tributária, têm-se uma situação de
superávit.
Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas:
a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
157

OBSERVATÓRIO DA DESPESA PÚBLICA


(PORTARIA N. 1.215, DE 25 DE JUNHO DE 2009)
No dia 18 de dezembro de 2008, a Controladoria-Geral da União (CGU) inaugurou o Ob-
servatório da Despesa Pública (ODP), atrelado ao Programa de Governo de Controle In-
terno, Prevenção e Combate à Corrupção. O ODP foi constituído como unidade perma-
nente de acompanhamento dos gastos governamentais, com o objetivo de contribuir
para o aprimoramento do controle interno e de ser uma ferramenta de apoio à gestão
pública. Em seu discurso de inauguração, o Ministro de Estado Chefe da Controladoria-
-Geral da União, Jorge Hage, assim definiu o papel do ODP: “A união de modernas tecno-
logias com uma equipe altamente especializada, como estamos montando na CGU, vai
permitir a análise da despesa pública por diversos ângulos. Não apenas vai acender uma
espécie de luz amarela, que chamará a nossa atenção para casos que merecem maior
análise, como ajudará no entendimento de cenários e na tomada de decisões por parte
dos próprios dirigentes de cada órgão do governo”.
O foco de atuação do ODP está na geração de informações especializadas mediante a
geração de Trilhas de Auditoria de suporte à “malha fina” de fiscalização do gasto pú-
blico federal, e na geração de painéis de suporte à tomada de decisão de inteligência
investigativa da CGU ao aprimoramento da gestão pública. O ODP conta com equipe
altamente especializada em técnicas de inteligência investigativa e faz uso de ferramen-
tas de Inteligência de Negócios (BI), processamento analítico de dados (OLAP), proces-
samento estatístico e análise investigativa em seus laboratórios. Assim, o ODP busca
salientar, por meio dos alertas emitidos sistemicamente, a identificação de indícios de
possível má utilização de recursos públicos, fatos, que necessitam de uma averiguação
mais detalhada por parte dos auditores especializados da CGU.
O principal objetivo do ODP é que as despesas públicas sejam constantemente monito-
radas. Em suma, o Observatório da Despesa Pública (ODP) é uma unidade de ciência de
dados do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU). Utiliza-se
de bases de dados, metodologia própria e técnicas de análise de dados para a produção
de informações estratégicas que subsidiam a atuação das áreas finalísticas da CGU. As
análises conduzidas no ODP são direcionadas à identificação de situações que possam
constituir irregularidades, de modo a prevenir suas ocorrências. Dessa forma, o Obser-
vatório funciona como uma “malha fina” das despesas públicas – mais uma maneira para
garantir a correta aplicação do dinheiro do contribuinte. Composto por técnicos espe-
cializados e usando tecnologia moderna, o ODP aplica método científico para cruzar
dados de diferentes fontes, à procura de sinais de má aplicação dos recursos federais. O
Observatório apura, por exemplo, a existência de relações pessoais entre sócios de uma
empresa e os servidores do órgão que a contratou.
Uma vez que o ODP tem o objetivo de contribuir para o aprimoramento do controle
interno e funcionar como ferramenta de apoio à gestão pública, os resultados gerados
pela unidade servem como insumo para realização de auditorias e fiscalizações con-
158

duzidas pela CGU, bem como para informar aos gestores sobre indicadores gerenciais
relativos à realização de gastos públicos, de modo a permitir análises comparativas,
subsidiando a tomada de decisões para melhoria da aplicação dos recursos públicos.
As informações geradas não são necessariamente relativas a fraudes ou mau uso do
dinheiro público, mas são situações “estranhas”, em que há grande possibilidade de isso
acontecer. Por esse motivo, os dados apurados são encaminhados aos auditores da CGU,
para que verifiquem se há irregularidades e tomem as providências necessárias.
O observatório da Despesa Pública (ODP) já conquistou alguns prêmios. Eles demons-
tram o valor que a iniciativa tem para aumentar a transparência da gestão e prevenir a
corrupção, por meio do uso de ferramentas e tecnologias avançadas.

PRÊMIOS INTERNACIONAIS
UNITED NATIONS PUBLIC SERVICE AWARDS 2011
Categoria: Avançando na Gestão do Conhecimento Governamental.
O United Nations Public Service Awards é o mais prestigioso reconhecimento interna-
cional de excelência no serviço público dado pela ONU. Premia os resultados e contri-
buições inovadores das instituições que conduzam a uma gestão pública mais efetiva e
responsável nos países em todo o mundo. Por meio de uma competição anual, o prêmio
promove o papel, profissionalismo e visibilidade do serviço público.

PRÊMIOS NACIONAIS
(a) Prêmio Conip de Excelência em Inovação na Gestão Pública 2013
Categoria: Sistemas de Informações Gerenciais e Geográficas.
Projeto: Banco de Preço de Referência, da Controladoria Geral da União.
(b) Prêmio Excelência em Governo Eletrônico (e-Gov) 2010
Categoria: e-Administração.
(c) Prêmio Conip de Excelência em Inovação na Gestão Pública 2009
Categoria: melhor projeto de informática pública.
(d) Prêmio TI & Governo 2009
Categoria: e-Democracia.

Fonte: Brasil (2014, on-line)2, Brasil (2018, on-line)3 e Brasil (2016, on-line)4.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Economia do Setor Público no Brasil


Ciro Biderman e Paulo Aryate
Editora: Campus
Sinopse: organizado pelos economistas Ciro Biderman e Paulo Aryate, o livro
é uma compilação de textos de 30 autores para entender a política econômica
brasileira. Os textos escolhidos pelos autores para a obra Economia do Setor
Público no Brasil indicam os avanços alcançados na economia pública nos
últimos 30 anos e apresentam ideias que contribuem para o desenvolvimento do país, por meio
do conhecimento da realidade brasileira e do fortalecimento da identidade nacional. Entre os
caminhos apontados pelo livro para formar uma política econômica de sucesso está o papel do
governo, que deve se preocupar não só em distribuir renda, mas também em corrigir falhas no
mercado.

Material Complementar
160
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito


Financeiro para elaboração e controles dos orçamentos e balanços da União, dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Brasília, 1964. Disponível em: < http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4320.htm>. Acesso em: 05 fev. 2019.
COSTA, E. P. Direito Administrativo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
MOCHÓN. F. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
MOCHÓN. F. Princípios de Economia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
NASCIMENTO. E. R. Gestão Pública. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
VICECONTI, P. E. V; NEVES, S. Introdução à Economia. São Paulo: Frase, 2010.
SOUZA, J. M. Economia Brasileira. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/entenda-a-gestao-publica/execucao-
-despesa-publica>. Acesso em: 25 fev. 2019.
² Em: <https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url=https:%2F%2Fwww.
bcb.gov.br%2Fftp%2Fnotaecon%2Fnotecon3-p.asp>. Acesso em 25 fev. 2019.
3
Em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/informacoes-estrategicas/observatorio-da-
-despesa-publica>. Acesso em 25 fev. 2019.
4
Em: <http://www.cgu.gov.br/assuntos/informacoes-estrategicas/observatorio-da-
-despesa-publica/premiacoes>. Acesso em: 25 fev. 2019.
161
GABARITO

1. A.
2. E.
3. A.
4. B.
5. C.
Professora Me. Daniela Carla Monteiro
Professor Me. Diego Figueiredo Dias

V
UNIDADE
ORÇAMENTO PÚBLICO

Objetivos de Aprendizagem
■■ Explicar os aspectos institucionais do orçamento público.
■■ Compreender os princípios orçamentários.
■■ Analisar o orçamento público no Brasil.
■■ Discutir a Lei de Responsabilidade fiscal.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Aspectos institucionais do orçamento público
■■ Princípios Orçamentários
■■ Orçamento Público no Brasil
■■ A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)
165

INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à quinta e última unidade do livro


de Economia do Setor Público. Nesta etapa, você aprenderá sobre orçamento
público. Os objetivos a serem atingidos são: (a) explicar os aspectos institucionais
do orçamento público; (b) compreender os princípios orçamentários; (c) anali-
sar o orçamento público no Brasil; e (d) discutir a Lei de Responsabilidade fiscal.
Nessa direção, visando atingir os objetivos de aprendizagem elencados, a
referida unidade foi dividida em quatro tópicos: (1) Aspectos institucionais do
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

orçamento público; (2) Princípios Orçamentários; (3) Orçamento Público no


Brasil; e (4) A Lei de Responsabilidade Fiscal.
O primeiro tópico tratará dos aspectos institucionais do orçamento público
sob duas óticas, sendo: (a) tradicional e (b) contemporânea. No segundo tópico,
por sua vez, serão tratados os principais princípios orçamentários: (a) Princípio
da Unidade; (b) Princípio da Universalidade; (c) Princípio do Orçamento Bruto;
(d) Princípio da Anualidade; (e) Princípio da não vinculação das receitas; (f)
Princípio da Discriminação ou Especialização; (g) Princípio da Exclusividade;
e (h) Princípio do Equilíbrio. Posteriormente, no terceiro tópico, será discutido
o orçamento público no Brasil, cuja elaboração segue os passos determinados
pela Constituição Federal de 1988. Por fim, no quarto e último tópico será dis-
cutida a Lei de Responsabilidade Fiscal enquanto instrumento de política fiscal.
A Lei de Responsabilidade Fiscal foi instituída, em 1998, com o objetivo de pro-
porcionar ao setor público equilíbrio orçamentário.
Sendo assim, ao término desta unidade, você terá aprendido, ainda que gene-
ricamente, sobre a variedade de aspectos que o orçamento público possui, entre
eles: (a) político; (b) jurídico; (c) contábil; (d) econômico; (e) financeiro; e (f)
administrativo. Para melhor aproveitamento do processo de ensino-aprendiza-
gem, sugiro que faça todas as atividades propostas. Bons estudos!

Introdução
166 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ASPECTOS INSTITUCIONAIS DO ORÇAMENTO PÚBLICO

Sabe-se que o orçamento público possui seis importantes aspectos: econô-


mico; financeiro; administrativo; político; jurídico; e contábil. De acordo com
Vasconcellos e Garcia (2014, p. 264), no entanto, “para fins didáticos é comum
estudar o orçamento público em duas partes, conhecidas como orçamento tra-
dicional e orçamento moderno”.

ORÇAMENTO TRADICIONAL

Em meados de 1822, período em que o liberalismo econômico predominava,


surge na Inglaterra o orçamento público. Ressalta-se que nesse período a resis-
tência à participação do Estado na economia e ao crescimento das despesas
públicas era relevante. Nessa direção, o orçamento, chamado de orçamento tra-
dicional, cuja função era disciplinar as finanças públicas e possibilitar aos órgãos
de representação sobre o executivo controle político, estava a serviço da concep-
ção do Estado Liberal, ao passo que a sua finalidade era nada mais nada menos
do que manter o equilíbrio das contas públicas.

ORÇAMENTO PÚBLICO
167

Sendo assim, a neutralidade caracterizava as contas públicas. O que quero


dizer é que os aspectos econômicos não estavam em primeiro plano e o gasto
público também não tinha relevância em termos econômicos.

ORÇAMENTO MODERNO

A partir da década de 30, o Estado começou a abandonar a neutralidade econô-


mica que caracterizava o pensamento liberal e passou a intervir de forma mais
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

efetiva na economia, de modo não só a corrigir as distorções correntes, mas


também a estimular programas de desenvolvimento. Assim, a partir do pensa-
mento Keynesiano, o governo passou a ter novas atribuições, que lhe transferiu a
responsabilidade pela manutenção da atividade econômica. Nessa direção, come-
çaram a ter grande importância as alterações orçamentárias. Ou seja, a função
de instrumento de administração do orçamento foi aperfeiçoada. O orçamento
passou a auxiliar o executivo na programação, na execução e no controle do pro-
cesso administrativo.

PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS

Caro(a) aluno(a), começarei este tópico definindo princípios. Os princípios cor-


respondem a um aglomerado de normas que devem ser seguidos por pessoas ou
instituições. No caso que estudaremos, ou seja, o orçamento público, os princípios
devem retratar normas ou padrões de conduta a serem seguidos por uma insti-
tuição, como o Estado. A finalidade de empregabilidade deste é fazer com que o
orçamento seja mais efetivo e coerente. Nessa direção, entre tantos princípios que
balizam o orçamento público, separei para você oito deles, indispensáveis para
melhor compreensão dos assuntos que trataremos posteriormente. Vamos lá?

Princípios Orçamentários
168 UNIDADE V

PRINCÍPIOS DA UNIDADE

O primeiro princípio que você aprenderá é o da unidade, o qual postula que


apenas um orçamento deve possuir entidade pública financeiramente autossu-
ficiente. Afinal, quem são essas entidades? São aquelas cujas receitas e despesas
não estão agregadas no orçamento central. Em outras palavras, as entidades
públicas financeiramente autossuficientes são os organismos que, dos recursos
do tesouro nacional, não dependem para sua manutenção. A título de exemplo,
pode-se citar as sociedades de economia mista e as autarquias previdenciárias.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você sabia que as fundações universitárias são exemplos de entidades não
autossuficientes?

PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE

Segundo o princípio da universalidade, o orçamento obrigatoriamente deve


conter todas as receitas e as despesas do Estado. Em outras palavras, esse preza
que todas as receitas e despesas do Estado devem estar compreendidas no orça-
mento. Para ser universal, o orçamento deve considerar todas as despesas e todas
as receitas. Tal prerrogativa se faz necessária para que o poder legislativo possa
exercer de maneira eficaz sua função, qual seja, o controle.

PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO

De acordo com o princípio do orçamento bruto, o orçamento deverá conter, em


valores brutos, todas as parcelas da receita e da despesa, ou seja, sem nenhuma
dedução. Tal prerrogativa se faz necessária para que as inclusões de importâncias
líquidas sejam impedidas (saldos positivos ou negativos).

ORÇAMENTO PÚBLICO
169

PRINCÍPIO DA ANUALIDADE

O princípio da anualidade faz referência ao período de tempo, via de regra, um


ano, em que um orçamento deve ser elaborado. Assim, de acordo com o período
de funcionamento do legislativo, o ano orçamentário é determinado.

PRINCÍPIO DA NÃO VINCULAÇÃO DAS RECEITAS


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

De acordo com o princípio da não vinculação das receitas, a receita não poderá
estar vinculada a determinados gastos. Ou seja, nenhuma parte das receitas,
poderá estar vinculada a gastos. O referido princípio impede a vinculação de
receitas.

PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO OU ESPECIALIZAÇÃO

O princípio da discriminação preza para que tanto as receitas quanto as despesas


devem aparecer no orçamento de maneira discriminada. Tal prerrogativa se faz
necessária para que fique claro não só a origem como a discriminação dos recursos.

PRINCÍPIO DE EXCLUSIVIDADE

Quando se fala em princípio de exclusividade, fala-se em matérias de natureza


orçamentária, sendo tratadas, exclusivamente, no orçamento. Em outras palavras,
no orçamento não se deve tratar de nenhuma matéria que não seja de natureza
orçamentária. Afinal, o que se pretende com ele? Pretende-se impedir que maté-
rias de caráter não financeiro sejam tratadas e aprovadas no orçamento.

Princípios Orçamentários
170 UNIDADE V

PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO

No princípio do equilíbrio, preza-se pelo equilíbrio orçamentário, considerado


fundamental. Para tal, com o advento da teoria keynesiana, a partir da década
de 30, o gasto público passou a adquirir a relevante função de estabilizador da
economia.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ORÇAMENTO PÚBLICO NO BRASIL

O orçamento público, no Brasil, constitui-se a partir da elaboração e da exe-


cução de três leis básicas: (a) Plano Plurianual - planejamento de médio prazo,
que deve obrigatoriamente ser realizado por meio de Lei; (b) Lei de Diretrizes
Orçamentárias; e Lei de Orçamento Anual. As três leis básicas são conhecidas
popularmente como PPA; LDO e LOA, respectivamente. Em outras palavras,
no Brasil, seguindo os passos determinados pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, o orçamento é elaborado. Para tal, o Poder Executivo
estabelece, por meio de Lei, o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os
orçamentos anuais. Destaca-se que, juntas, as referidas leis planejam e materia-
lizam a execução de políticas para a União, os estados, o Distrito Federal e os

ORÇAMENTO PÚBLICO
171

municípios, ou seja, para cada ente da federação. Nessa direção, neste tópico,
você aprenderá a função de cada uma dessas leis na composição do sistema orça-
mentário brasileiro. Vamos lá?

O PLANO PLURIANUAL (PPA)

O Plano Plurianual (PPA), como já mencionado, enquanto projeto, refere-se a


um plano de ação, ou melhor dizendo, a um planejamento, feito a médio prazo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e, obrigatoriamente, realizado por meio de lei. Mas, afinal, o que compreende tal
planejamento? Compreende a identificação das “prioridades” para um período
de quatro anos. Ademais, a identificação dos “investimentos” de grande porte,
também para um período de quatro anos. Em suma, cabe ao projeto do plano
plurianual identificar prioridades e investimentos de grande porte que deverão
ser trabalhados, ao longo do período supracitado.

Você sabia que o Plano Plurianual (PPA) é regulamentado, no Brasil, pelo De-
creto n. 2.829, em 1998, que, em suma, estabelece, entre outros: (1) medidas;
(2) gastos; e (3) objetivos que deverão ser perseguidos pela administração
ao longo de quatro anos?

Nessa direção, observe o que leciona o Art. 165, § 1º da Constituição Federal de


1988 sobre o plano plurianual:
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:

I - o plano plurianual;

II - as diretrizes orçamentárias;

III - os orçamentos anuais.

§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma re-


gionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública
federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as
relativas aos programas de duração continuada [...] (BRASIL, 1988,
grifo nosso, on-line)¹.

Orçamento Público no Brasil


172 UNIDADE V

Note que a lei que originará o Plano Plurianual conterá, de forma regionali-
zada, diretrizes, objetivos e metas da administração pública Federal tanto para
as “despesas de capital” e outras delas decorrentes quanto para as relativas aos
“programas de duração continuada”. Você sabe o que são despesas de capital e
despesas relativas aos programas de duração continuada? Pois bem, falaremos
primeiro das despesas de capital. Estas decorrem da formação ou aquisição de
bens de capital. Logo, contribui com o Produto Interno Bruto (PIB), que nada
mais é do que a soma de todos os bens e serviços finais, produzidos numa deter-
minada economia em um determinado intervalo de tempo. Assim, as despesas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de capital compreendem: (a) os investimentos; (b) as inversões financeiras; e (c)
as transferências de capital (veja o Quadro 1).
Agora, conheceremos um pouco mais sobre as despesas relativas aos progra-
mas de duração continuada. Tal despesa é originada por meio de ato normativo.
É decorrente de despesa corrente e, por ser continuada, sua execução compre-
ende um período superior a dois exercícios financeiros. Em outras palavras, é
uma despesa corrente que pode ser originada por meio de lei, de medida pro-
visória ou de ato administrativo normativo e, em decorrência da sua natureza,
sua duração é maior que dois exercícios financeiros.
Destaca-se que as despesas correntes correspondem, de modo geral, ao
consumo do setor público de recursos para o funcionamento e manutenção da
máquina pública. Posto isto, compreendem (1) as despesas de custeio e as (2)
transferências correntes. As despesas de custeio consideram a manutenção de
serviços públicos e o atendimento de obras de conservação e adaptação de bens
imóveis. As transferências correntes, por sua vez, consideram despesas de enti-
dades públicas e privadas, cuja contrapartida direta não são bens ou serviços.

ORÇAMENTO PÚBLICO
173

Quadro - Despesas de Capital

DESPESAS DE CAPITAL DESCRIÇÃO

Investimentos (1) obras; (2) instalações; (3) equipamentos; (4) material


permanente; (5) constituição ou aumento de capital de
Dotações Orçamentárias para: empresas (sem caráter comercial ou financeiro).

(1) compra de imóveis ou bens de capital já em utiliza-


Inversões Financeiras ção; (2) compra de títulos representativos do capital de
Dotações Orçamentárias para: empresas já constituídas; (3) aumento ou constituição de
empresas (comercial ou financeira).
Transferências de Capital (1) investimentos; (2) inversões financeiras (pessoas de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Dotações Orçamentárias para: direito público ou privado).


Fonte: adaptado de Gonçalves (2010, on-line)².

Diante do que você aprendeu até aqui, cabe ressaltar que o projeto do Plano
Plurianual é encaminhado pelo Executivo ao Congresso até 31 de agosto do
primeiro ano de cada governo, mas só começa a valer no ano seguinte. Ou seja,
considere o Presidente da República eleito para assumir em 2019. Tal presi-
dente encaminhará ao Congresso, até 31 de agosto de 2019, o projeto do Plano
Plurianual elaborado por ele. O plano só começará a valer em 2020, o que sig-
nifica dizer que o presidente eleito que assumir em 2019 governará um ano com
o Plano Plurianual do presidente anterior, isto é, do presidente que está saindo,
e que deixará um ano de seu plano para o próximo governo que poderá ser ele
mesmo, caso seja reeleito. Em outras palavras, a vigência do Plano Plurianual do
presidente eleito para assumir em 2019 vai até o final do primeiro ano do pró-
ximo governo. Você tem ideia de qual é a finalidade do plano plurianual passar
de um governo para outro?
Isso ocorre para promover a chamada “continuidade administrativa”. dessa
maneira, o novo gestor, no caso do nosso exemplo, Jair Bolsonaro, poderá ava-
liar e até mesmo valer-se de partes do plano que está sendo findado.
Em suma, o plano plurianual é aprovado por lei quadrienal e está sujeito
a ritos e a prazos. Faz-se relevante destacar que por tratar-se de lei quadrienal,
é possível acompanhar a atuação do gestor público durante o período, princi-
palmente nos programas de duração continuada, tanto daqueles que já foram
instituídos quanto daqueles que ainda instituirão. Nessa direção, os gestores, de
modo geral, devem respeitar o princípio da continuidade da prestação do serviço

Orçamento Público no Brasil


174 UNIDADE V

público, o que significa dizer que o interesse público deve prevalecer sobre os
interesses do gestor, decorrentes de seu plano de governo.
Você conseguiu perceber que com a obrigatoriedade do plano plurianual
faz se necessário que os gestores “obrigatoriamente” planejem suas ações e seus
orçamentos? Certamente que sim, não é mesmo? Tal obrigatoriedade visa não
ferir as diretrizes contidas no referido plano. Assim, por meio do PPA, espera-
-se do gestor apenas a execução de investimentos voltados a programas previstos
no PPA do período vigente.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você sabia que a Constituição da República Federativa do Brasil aponta que a
iniciativa privada também deve voltar suas ações para o desenvolvimento de
áreas ou de setores que são abordados pelo PPA vigente? Tem ideia do motivo?

Aprendemos um pouco sobre o plano de ações do Plano Plurianual. Cada plano


de ações de um determinado PPA é subdividido em 7 ações, quais sejam:
■■ Objetivo e entidade governamental responsável pela execução do projeto.
■■ Valor monetário (R$).
■■ Prazo para conclusão.
■■ Financiamento (fontes).
■■ Situação que o plano visa mudar (indicador).
■■ Bens e serviços necessários para a efetivação do previsto.

■■ Regionalização do plano.

Sendo assim, cada plano de ação será previamente destinado a uma unidade
responsável, independentemente do envolvimento de outras unidades de esfera
pública se envolverem na execução. Cada ação prevista no PPA terá um “encar-
regado”. Esse encarregado será determinado diretamente pela Administração
Pública. Destaca-se que a integração de várias esferas do poder público e com o

ORÇAMENTO PÚBLICO
175

setor privado é sempre muito bem-vinda e que deve ser buscada, ao passo que
tal integração viabiliza melhor execução do plano.
Por fim, faz-se relevante destacar que em todos os anos que vigora a lei qua-
drienal que dá origem ao PPA, uma avaliação do andamento das medidas é feita.
Nessa direção, avalia-se não só o contexto de execução atual, mas também as medi-
das que podem sofrer acréscimos ou supressões (maior ou menor prioridade),
de modo a evitar desperdício de dinheiro público em ações pouco relevantes. É
com base nessa avaliação que o alicerce para a elaboração do orçamento anual
deverá ser traçado. As pesquisas de satisfação pública são exemplos de recursos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que podem ser empregados no processo avaliativo ano a ano.

A LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LDO)

Segundo o Art. 165, parágrafo 2º, da Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988, a Lei de Diretrizes Orçamentárias compreenderá:
§ 2º as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo
as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orienta-
rá a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações
na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agên-
cias financeiras oficiais de fomento (BRASIL, 1988, on-line)¹.

Observe que a Lei de Diretrizes Orçamentárias, popularmente chamada de LDO,


tem essencialmente a finalidade de “orientar a elaboração dos orçamentos fiscais,
bem como orientar a elaboração dos orçamentos da seguridade social de investimen-
tos das unidades produtivas estatais”. Assim, busca sintonizar a Lei Orçamentária
Anual, chamada de LOA com as diretrizes, os objetivos e as metas da administra-
ção pública, estabelecidas no PPA (Art. 165, § 1º) (BRASIL, 1988, on-line)¹.
Nessa direção, cabe destacar que, considerando o princípio da anualidade
orçamentária, estudado no início desta unidade, a Lei de Diretrizes Orçamentárias
será elaborada, todos os anos, pela Administração. Ademais, terá que ser apro-
vada pelo Legislativo que aprovando-a, devolverá para sanção ao executivo.

Orçamento Público no Brasil


176 UNIDADE V

Você percebeu que a Lei de Diretrizes Orçamentária é elaborada todos os


anos e tem como objetivo identificar e destacar as prioridades do governo
para o próximo ano?

Destaca-se ainda que de acordo com a Constituição da República Federativa do


Brasil (1988, on-line)¹, Art. 57, §2º:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Fe-
deral, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.

§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas para o


primeiro dia útil subsequentes, quando recaírem em sábados, domin-
gos ou feriados.

§ 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do


projeto de lei de diretrizes orçamentárias (grifo nosso).

O artigo em questão deixa claro, em seu § 2º, que a Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988 não prevê rejeição do projeto de lei de diretrizes orça-
mentárias. Em outras palavras, sem a aprovação do projeto de Lei das Diretrizes
Orçamentárias não será interrompida a sessão. Assim, cabe ao executivo entre-
gar o projeto para análise e aprovação.

Você sabia que a Lei de Diretrizes Orçamentárias orienta a elaboração da Lei


Orçamentária Anual, com base no que foi estabelecido no Plano Plurianual?

ORÇAMENTO PÚBLICO
177

Não obstante, faz-se relevante mencionar que a importância da Lei de Diretrizes


Orçamentária foi ampliada com a instituição da Lei Complementar n. 101, de
2000, ao passo que a referida lei determinou a previsão, além das já determina-
das pela CF/88, de outras situações, quais sejam:
a. Estabelecer os critérios para o congelamento de dotações, quando as
receitas não evoluírem de acordo com a estimativa orçamentária.

b. Estabelecer controles operacionais e suas regras de atuação para


avaliação das ações desenvolvidas ou em desenvolvimento.

c. Estabelecer as condições de ajudar ou subvencionar financeira-


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mente instituições privadas, fornecendo o nome da instituição,


valor a ser concedido, objetivo etc., sendo importante ressaltar que
serão nulas as subvenções não previstas na LDO, excluindo casos
de emergência.

d. Estabelecer condições para autorizar os entes a auxiliar o custeio


de despesas próprias de outros entes, como por exemplo, gastos
de quartel da Polícia Militar, de Cartório Eleitoral, Recrutamento
Militar, de atividades da Justiça etc.

e. Estabelecer critérios para o início de novos projetos, após o ade-


quado atendimento dos que estão em andamento.

f. Estabelecer critérios de programação financeira mensal.

g. Estabelecer o percentual da receita corrente líquida a ser retido


na peça orçamentária, como Reserva de Contingência (GONÇAL-
VES, 2010, p. 18).

Ademais, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) também deverá considerar


os “anexos de metas fiscais”. Em outras palavras, além de se estabelecer e defi-
nir as situações que são contempladas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, os
chamados anexos de metas fiscais deverão acompanhar a LDO. Afinal, o que
deverá conter nesses anexos? De acordo com Gonçalves (2010), deverão conter:
a. Metas anuais para receitas, despesas, resultados nominal e primá-
rio e montante da dívida para o exercício a que se referirem e para
os dois exercícios seguintes.

b. A avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior.

Orçamento Público no Brasil


178 UNIDADE V

c. O demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e me-


todologia de cálculo que justifiquem os resultados pretendidos,
comparando-as com as fixadas nos três últimos exercícios, evi-
denciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da
política vigente.

d. O demonstrativo da evolução do patrimônio líquido nos últimos


três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos ob-
tidos com a alienação de ativos.

e. A avaliação financeira e atuarial de todos os fundos e programas


de natureza atuarial.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
f. O demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de re-
ceita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de cará-
ter continuado.

g. A avaliação dos passivos contingentes e outros riscos capazes de


afetar as contas, informando as providências, caso se concretizem,
como por exemplo, é importante verificar os processos judiciais de
devolução de tributos questionáveis, ou demanda de reivindica-
ções salariais não concedidas (GONÇALVES, 2010, p. 18).

Em suma, observe que o anexo de metas fiscais, entre outros, abrangerá: (a) a
previsão da receita e da despesa por três anos (resultados primário e nominal);
(b) a previsão da dívida pública por três anos, a partir dos passivos financeiro e
permanente; (c) a análise e avaliação das metas do ano anterior em termos de
cumprimento; (d) a evolução do patrimônio líquido; (e) a análise e a avaliação
dos fundos de previdência (servidores públicos); (f) a estimativa da expansão
das despesas obrigatórias de caráter continuado (DOCC); (g) a estimativa de
compensação de renúncia de receitas, por meio de remissões, isenções, subsí-
dios e anistias.

Você notou que a Lei de Diretrizes Orçamentárias é um elo entre o Plano


Plurianual e a Lei Orçamentária Anual?

ORÇAMENTO PÚBLICO
179

Pois bem, para finalizar o aprendizado acerca da Lei de Diretrizes Orçamentárias


ressalto que a referida Lei, nada mais, nada menos, serve como um ajuste anual
das metas que foram traçadas no Plano Plurianual. A título de exemplo, pode-se
citar, entre outros: (a) ajuste na cobrança de tributos; (b) metas para o superávit
primário do governo; e (c) reajuste do salário mínimo. Ademais, ressalto que a
política de investimento das agências oficiais de fomento, tal como o BNDES, tam-
bém é de competência da LDO. Assim, é possível afirmar que a Lei de Diretrizes
Orçamentárias é a responsável por determinar o que é possível ser realizado no
ano subsequente de sua elaboração. A LDO deve ser enviada até o dia 15 de abril
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de cada ano para o congresso e deve obrigatoriamente ser aprovada até o dia 17
de julho (no caso da União).

A LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL (LOA)

Enfim, caro(a) aluno(a), chegamos na Lei Orçamentária Anual (LOA). Ela tem
por objetivo concretizar os objetivos e as metas propostas no Plano Plurianual,
segundo as diretrizes estabelecidas pela LDO, em conformidade com o princípio
da unidade do orçamento público, também estudado no início desta unidade.
Nessa direção, leciona o Art. 165, § 5º da Constituição de 1988, que:
§ 5º - A lei orçamentária anual compreenderá:

I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, ór-


gãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive funda-
ções instituídas e mantidas pelo Poder Público.

II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta


ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.

III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entida-


des e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem
como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público
(BRASIL, 1988, on-line)¹.

Orçamento Público no Brasil


180 UNIDADE V

Quem elabora a Lei Orçamentária Anual? O Poder Executivo. Quem aprova


a referida Lei? Certamente, o Poder Legislativo. A Constituição da República
Federativa do Brasil, de 1988, estabelece que o Orçamento Público deve ser
votado e aprovado até o final de cada legislatura. Assim, cabe ao chefe do Poder
Executivo de cada ente público enviar a proposta do orçamento ao legislativo.
Conheceremos, de acordo com Gonçalves (2010), detalhadamente, os três
tipos de orçamentos compreendidos na LOA, sendo:
i. O Orçamento Fiscal, que compreende os poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, os Fundos, Órgãos,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Autarquias, inclusive as especiais, e Fundações instituídas e man-
tidas pelo ente público; abrange, também, as empresas públicas e
sociedades de economia mista em que o Poder Público, direta ou
indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a
voto e que recebam desta quaisquer recursos que não sejam prove-
nientes de participação acionária, pagamentos de serviços presta-
dos, transferências para aplicação em programas de financiamento
atendendo ao disposto na alínea “c” do inciso I do art. 159 da CF e
refinanciamento da dívida externa.

ii. O Orçamento de Seguridade Social, que compreende todos os órgãos


e entidades a quem compete executar ações nas áreas de saúde, pre-
vidência e assistência social, quer sejam da Administração Direta ou
Indireta, bem como os fundos e fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público; compreende, ainda, os demais subprojetos ou
subatividades, não integrantes do Programa de Trabalho dos Órgãos
e Entidades mencionados, mas que se relacionem com as referidas
ações, tendo em vista o disposto no art. 194 da CF; e

iii. O Orçamento de Investimento das Empresas Estatais: previsto no


inciso II, parágrafo 5º do art. 165 da CF, que abrange as empresas
públicas e sociedades de economia mista em que o Estado, direta
ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a
voto (GONÇALVES, 2010, p. 19, grifo do autor).

Em suma, pode-se dizer que a Lei Orçamentária Anual é o “orçamento anual”


propriamente dito. Em outras palavras, todos os gastos do governo para o ano
X estão detalhadamente previstos na LOA. Destaca-se que na LOA, encontra-se
também, além da fixação das despesas do governo, a estimativa de receita. Como
você sabe, ao passo que aprendeu sobre esse assunto na Unidade 3, as receitas são
decorrentes dos tributos subdivididos em impostos, em taxas e em contribuições

ORÇAMENTO PÚBLICO
181

de melhorias. Assim, por meio da LOA, é possível identificar as fontes de recur-


sos advindas dos contribuintes e dos beneficiários desses recursos. Ressalta-se
que a Lei Orçamentária Anual é dividida por áreas, como educação e saúde.

Você sabia que a Lei Orçamentária Anual prevê também quanto o governo deve
arrecadar para que os gastos programados possam, de fato, ser concretizados?
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A Lei Orçamentária Anual, quando bem planejada, estará em sintonia com os


objetivos e metas do PPA. A referida Lei, tratando-se da União, ao passo que cada
nível de governo elabora seu próprio projeto orçamentário, deve ser enviada ao
Congresso até o dia 31/08 de cada ano e aprovada pelo congresso até 22 de dezembro.

O PPA é a peça de mais alta hierarquia entre a tríade orçamentária, embora


esta seja somente constituída de leis ordinárias. Esse é o modelo disposto
em nossa Carta Magna, que determina em seu Art. 165, § 7º, que os orça-
mentos devem ser compatibilizados com o plano plurianual. O § 2º deste
artigo exige que a LOA deve ser elaborada conforme dispuser a LDO. E no
Art. 166, § 3º, I, prevê a admissão de emendas ao orçamento somente se
compatíveis com o plano plurianual e com a LDO. Para saber mais, acesse:
<http://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/cidadao/entenda/cur-
sopo/planejamento.html>.
Fonte: Câmara dos Deputados ([2019], on-line).

Observe o ciclo integrado de planejamento e orçamento estruturado na Figura 1.


Note que contempla as três leis que você estudou até aqui, bem como a integração
entre elas. Por conseguinte, estudaremos no próximo tópico as execuções orçamen-
tária e financeira, o que lhe ajudará a compreender melhor a finalização do ciclo.

Orçamento Público no Brasil


182 UNIDADE V

E não se esqueça: as leis orçamentárias estudadas são de iniciativa do Poder


Executivo. Lembre-se sempre que o referido poder as envia, sob a forma de pro-
posta, para análise e aprovação do Poder Legislativo. Após aprovadas, cabe ao
poder em questão fiscalizar a sua execução que, por sua vez, será de competên-
cia do poder executivo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - Ciclo integrado de planejamento e orçamento
Fonte da imagem: Câmara dos Deputados ([2019], on-line)³.

Sem mais delongas, a técnica utilizada na elaboração das três leis orçamentá-
rias estudadas, sendo a do “Orçamento Programa”, ao permitir uma linguagem
comum nas relações entre a três leis, permite a integração entre o planejamento
e o orçamento.

ORÇAMENTO PÚBLICO
183

EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA

A execução orçamentária e financeira ocorre ao mesmo tempo, ao passo que


uma está atrelada à outra. Mesmo que haja orçamento, se não houver financeiro,
a despesa não se concretizará. No entanto, se o recurso financeiro estiver dispo-
nível, com restrições, novamente a disponibilidade orçamentária de nada valerá.
Afinal, qual o conceito de execução orçamentária e qual o conceito de exe-
cução financeira? A execução orçamentária nada mais é do que a utilização dos
“créditos” na Lei Orçamentária Anual. A execução financeira, no entanto, nada
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

mais é do que o emprego de recursos financeiros em projetos pertencentes às


unidades orçamentárias determinadas pelo orçamento.
Você tem ideia de como a execução orçamentária propriamente dita tem iní-
cio? Ela tem início efetivamente após a publicação da Lei Orçamentária Anual. Ou
seja, sendo a lei publicada, a execução orçamentária e a programação financeira
passam a ter suas normas observadas. A partir daí as informações orçamentá-
rias são lançadas. Por conseguinte, cria-se o “crédito orçamentário” e, a partir
dele, tem início efetivamente a execução.

Na técnica orçamentária, é habitual se fazer a distinção entre as palavras cré-


dito e recursos. O primeiro termo designa o lado orçamentário e, o segundo,
o lado financeiro. Crédito e recurso são duas faces de uma mesma moeda. O
crédito é a dotação ou a autorização de gasto ou sua descentralização, e, o
recurso, é o dinheiro ou o saldo de disponibilidade bancária.
Fonte: Gonçalves (2010, p. 20).

E o que é executar o orçamento? Executar o orçamento é pôr em prática a reali-


zação das despesas previamente planejadas, mas há condições e a principal delas
é que esse gasto seja legal, de legalidade, ou seja, tem que estar autorizado pelo
Poder Legislativo. Ademais, é necessário, de acordo com a Lei n. 4.320/1964, que
a execução das despesas cumpra três estágios, a saber:

Orçamento Público no Brasil


184 UNIDADE V

■■ O empenho.
■■ A liquidação.
■■ O pagamento (BRASIL, 1964, on-line)4.

Atualmente, encontra-se em aplicação a sistemática do pré-empenho an-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tecedendo esses estágios, já que, após o recebimento do crédito orçamen-
tário e antes do seu comprometimento para a realização da despesa, existe
uma fase geralmente demorada de licitação obrigatória junto a fornecedo-
res de bens e serviços que impõe a necessidade de se assegurar o crédito até
o término do processo licitatório.
Fonte: Gonçalves (2010, p. 20).

Falaremos um pouco sobre o primeiro estágio da despesa chamado de empe-


nho, definido como o ato em que a autoridade competente cria a “obrigação de
pagamento”. Por meio do empenho, registra-se o compromisso da despesa orça-
mentária. Empenho da despesa e nota de empenho têm o mesmos significado?
Certamente não, embora, na prática, exista a unificação dos dois procedimen-
tos. Afinal, o que é a nota de empenho? Nada mais do que a materialização do
empenho.
Nessa direção, vale destacar que muitos alunos me perguntam sobre a obri-
gatoriedade do Estado em efetuar o pagamento, estando a despesa legalmente
empenhada, ou seja, muitos acreditam que, empenhada de forma legal, o Estado
tem a obrigação de pagar. Essa não é uma informação verdadeira, ao passo que o
Estado só será obrigado, se o implemento de condições previstos estiver conclu-
ído. Em outras palavras, a Lei n. 4.320/1964 estabelece que as despesas públicas
só devem ser pagas, independentemente do valor que forem, se estiverem liqui-
dadas. A liquidação, como vimos, faz parte do segundo estágio, que passaremos
a conhecer melhor a partir de agora.
No segundo estágio é que serão verificadas as prestações dos bens e dos ser-
viços adquiridos pelo ente, bem como a conclusão das obras. Note que mencionei

ORÇAMENTO PÚBLICO
185

“verificação” dos serviços prestados ou dos bens entregues e conclusão das


obras, o que significa dizer que nada será pago antes da sua conclusão e, con-
sequentemente, da sua verificação. Em suma, sem término ou conclusão, sem
pagamento. Lembrando tudo precisa ser comprovado por meio de documen-
tos que evidenciem que o credor cumpriu com todas as obrigações assumidas.
A grande questão é: qual a finalidade desse estágio? Você saberia responder? É
um tanto lógico, não é mesmo?
A finalidade do segundo estágio é certificar, entre outros, a origem da despesa;
o objeto a ser pago; o montante exato a pagar; o fornecedor que deve receber. Só
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

assim será possível extinguir a obrigação, que será efetuada por meio da chamada
nota de lançamento. Destaca-se que esta só será emitida após a identificação e
validação de todos os atos. Tais atos envolvem desde o fornecimento do material
ou início da prestação de serviço até o reconhecimento da despesa. Via de regra,
o fornecimento do material ou a conclusão da prestação de um determinado
serviço origina a emissão de uma nota fiscal, que deve ser entregue ao servidor
competente, acompanhada de uma cópia da nota de empenho. O referido ser-
vidor, em posse da nota fiscal, atesta em seu verso o recebimento do material ou
a conclusão do serviço/obra.
Por fim, chegamos ao último estágio da despesa, chamado de pagamento.
Esse é o momento mais esperado pelos fornecedores, compreende a entrega de
numerário ao credor do Estado, que, por conseguinte, extingue o débito. Quem
efetua esse procedimento? A tesouraria. Normalmente, o pagamento é feito via
depósito em conta corrente do fornecedor.
Ressalta-se, ainda, que todo o procedimento relatado está balizado nos
princípios que regem a administração pública e, em especial, nos princípios
constitucionais orçamentários que você estudou no início da unidade. O motivo
para tal cuidado é garantir sempre o interesse público.

Orçamento Público no Brasil


186 UNIDADE V

A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Em 4 de maio de 2000, foi instituída a Lei Complementar n. 101, cuja denomi-
nação é Lei de Responsabilidade Fiscal. (LRF) e tem amparo no Capítulo II, do
Título VI, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. A Lei em
questão foi criada com o intuito de estabelecer “normas de finanças públicas”. Tais
normas, por sua vez, foram criadas com o intuito de criar “responsabilidade na
gestão fiscal”, ao passo que com essa responsabilidade instituída, o equilíbrio das
contas públicas poderia ser alcançado e mantido. Ademais, a ideia no momento
de sua instituição era de que tal conduta preveniria desvios.
Destaca-se, ainda, que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi instituída com
algumas premissas, sendo: ações que compreendem atividades de planejamento;
controle; transparência; e responsabilização de indiscutivelmente todos os órgãos
da administração pública. A grande questão para se refletir aqui é: de onde veio
essa necessidade? Ou melhor, de onde veio a necessidade de se instituir uma lei
com as características da Lei de Responsabilidade Fiscal? Veio dos constantes
desequilíbrios fiscais (receitas menores do que os gastos) enfrentados pela admi-
nistração pública brasileira.

ORÇAMENTO PÚBLICO
187

Diante de um cenário de constantes desequilíbrios fiscais, impactos negati-


vos foram gerados sobre a economia. Tais impactos, afetaram várias gerações. A
título de exemplo, podemos citar: (a) endividamento público; (b) elevada carga
tributária; (c) taxas elevadas de juros; (d) inflação.
Você tem ideia do que um contexto como esse pode gerar sobre as finan-
ças públicas? Certamente sim. É notório que esse contexto coloque as “finanças
públicas”, como dizem por aí, numa saia justa, ao passo que provoca recuo de
investimentos, bem como impede que serviços essenciais à população, como
saneamento, educação, saúde e moradia, sejam fornecidos com qualidade.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Sancionada durante o segundo e último mandato do ex-presidente da


República, Fernando Henrique Cardoso, pretendeu-se, por meio da instituição
da Lei de Responsabilidade Fiscal, promover, no Brasil, um “ajuste fiscal per-
manente”, ao passo que a LRF estabeleceria também, entre outros, para todos os
entes da federação, o princípio da disciplina fiscal. Em outras palavras, a Lei de
Responsabilidade Fiscal incorporou normas e princípios decorrentes de outras
vivências de rigor fiscal.
Os modelos de vivência tomados como referência, foram: (1) o do Fundo
Monetário Internacional (FMI); (2) o Fiscal Responsibility Act, de 1994; (3) alguns
princípios do Tratado de Maastrich, de 7 de fevereiro de 1992; e (4) Elementos
do Budget Enforcement Act, de 1990.
Nessa direção, buscou-se, no processo de implantação da Lei em questão,
normatizar os registros contábeis dos órgãos e das entidades da Administração
Pública Federal. Essa normatização foi referente à gestão orçamentária, finan-
ceira e patrimonial.
De acordo com Gonçalves (2010), vale destacar algumas das normas esta-
belecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo:
a. Os limites de gasto com pessoal. A lei fixou limites para essa despesa em
relação à receita corrente líquida para os três Poderes e para cada nível
de governo: União (50%), estados, Distrito Federal e municípios (60%).
b. Os limites para o endividamento público (estabelecidos pelo Senado Fede-
ral por proposta do Presidente da República).
c. Proibição de socorro financeiro entre União, estados e municípios.

Orçamento Público no Brasil


188 UNIDADE V

d. Metas fiscais anuais definidas para os três exercícios seguintes.


e. Mecanismos de compensação para despesas de caráter permanente; ao
passo que o governo não poderá criar uma despesa continuada sem indi-
car fonte de receita ou redução de outra despesa.
f. Mecanismo para controle das finanças públicas em anos de eleição, pois
a Lei impede a contratação de operações de crédito por antecipação de
receita orçamentária no último ano de mandato e proíbe o aumento das
despesas com pessoal nos 180 dias que antecedem o final do mandato.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As administrações que não cumprirem a lei perdem o direito de repasse vo-
luntário de verba da União (por exemplo, o repasse de parte do IPI e IR ar-
recadado pela União aos estados e municípios). Além disso, os responsáveis
podem sofrer sanções por crime de responsabilidade fiscal. Nessa direção,
pode-se dizer que com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ganhou-se maior
eficiência na ação governamental, obrigando estados e municípios a explo-
rarem as receitas próprias, contribuindo decisivamente para o ajuste fiscal.
Fonte: Vasconcellos e Garcia (2014, p. 268).

Observe que a Lei de Responsabilidade Fiscal é um relevante instrumento de


ajuda aos governos de todos os âmbitos. Assim, ela tem sido empregada para a
melhor gestão dos recursos públicos, tanto no que se refere às receitas e despe-
sas públicas, quanto à gestão do patrimônio público e ao grau de endividamento.
Considerando o contexto até então discutido, pode-se dizer que a Lei de
Responsabilidade Fiscal sanciona a transparência como mecanismo de controle
social, por meio da publicação de demonstrativos de execução orçamentária. Ou
seja, apresenta ao contribuinte um relatório de como os recursos por ele pagos
estão sendo empregados pelos governantes.

ORÇAMENTO PÚBLICO
189

Faz-se relevante destacar que a Lei de Responsabilidade Fiscal Brasileira


prevê ressarcimento e punição aos gestores que não cumprirem as normas por
ela estabelecidas. Sobre esse assunto, ressalta-se que a Lei n. 10.028/2000, tipifi-
cou três condutas relacionadas ao déficit nas contas públicas, sendo:
■■ Despesa que excedem o limite estabelecido em lei, inscritas em restos a pagar.
■■ No último ano do mandato ou legislatura, contrair obrigação, cuja des-
pesa não pudesse ser paga no mesmo exercício financeiro.
■■ Deixar de promover o cancelamento do montante de restos a pagar ins-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

crito em valor superior ao permitido em lei (BRASIL, 2000, on-line)5.

Note que a referida lei (Lei n. 10.028/2000) contribuiu para a prática fiscal dese-
jada se consolidar, conforme passou a punir (ressarcimento e reclusão) os gestores
públicos pelo descumprimento da LRF.
Por fim, caro(a) aluno(a), ressalto que com o objetivo de implantar e difun-
dir uma nova cultura para o gerenciamento dos recursos públicos, bem como de
incentivar uma atuação mais cidadã, especialmente em termos de participação
do contribuinte no processo de fiscalização da aplicação dos recursos públicos
e de seus resultados, a Lei de Responsabilidade Fiscal, ao ser instituída, vislum-
brou que a obediência a essas novas normas e princípios permitirá um “ajuste
fiscal permanente” no Brasil, enquanto que a disciplina fiscal proposta pela lei
proporcionará a reestruturação e o fortalecimento da situação financeira de todos
os entes da Federação. Por conseguinte, será possível a esses gestores adminis-
trar com maior disponibilidade de recursos que, por sua vez, serão transferidos a
investimentos em programas de desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Orçamento Público no Brasil


190 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) acadêmico(a), finalizamos a quinta e última unidade do livro de Economia


do Setor Público. Vamos relembrar aqui, ainda que brevemente, tudo o que
estudamos?
Você se lembra que, inicialmente, aprendeu sobre orçamento público na
vertente tradicional e na vertente contemporânea? Você se lembra que na ótica
tradicional a principal função do orçamento era disciplinar as finanças públicas
e possibilitar controle político sobre o executivo aos órgãos de representação?

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Muito interessante, não é mesmo? Nessa direção, vale relembrar que, na ótica
contemporânea, o orçamento público enquanto instrumento de administração,
foi aperfeiçoado e passou a auxiliar o executivo na programação, na execução e
no controle do processo administrativo.
Por conseguinte, você aprendeu os mais relevantes princípios orçamentários,
sendo: (a) princípio da unidade; (b) princípio da universalidade; (c) princípio
do orçamento bruto; (d) princípio da anualidade; (e) princípio da não vincula-
ção das receitas; (f) princípio da discriminação ou especialização; (g) princípio
da exclusividade; e (h) princípio do equilíbrio. Qual deles você mais gostou de
aprender? Confesso que o meu preferido é o da discriminação, uma vez que acre-
dito ser importantíssimo aparecer discriminadamente, no orçamento, as receitas
e as despesas. Em outras palavras, é indispensável a clareza quanto à origem e à
destinação dos recursos, não é mesmo?
Pois bem, após aprender tais pontos, você aprendeu sobre o orçamento público
no Brasil, cuja elaboração segue os passos determinados pela Constituição Federal
de 1988. Por fim, aprendeu que, para melhorar a eficiência dos gastos públicos,
foi aprovada, no Brasil, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa lei trouxe uma
nova noção de equilíbrio para as contas públicas, pois fez com que o chamado
equilíbrio das contas primárias se tornasse autossustentável.
Espero que esta quinta unidade tenha sido proveitosa e que você tenha gos-
tado de aprender sobre orçamento público. Parabéns pelo aprendizado!

ORÇAMENTO PÚBLICO
191

1. Ao ser instituída em 4 de maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal esta-


beleceu limites para gastos com “pessoal”, tendo como base um percentual da
Receita Corrente Líquida. Em outras palavras, estipulou um limite de despesas
com pessoal para a União, para os estados, para o Distrito Federal e para os muni-
cípios. Tal medida, entre outras, objetivava proporcionar um equilíbrio orçamen-
tário no setor público. Considerando o enunciado, avalie as afirmações a seguir e
assinale com V, as verdadeiras, e F, as falsas:
(( ) Além dos limites para gastos com “pessoal”, com a implantação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, os “socorros” financeiros entre a União, os estados e os
municípios foram proibidos.
(( ) Concomitantemente aos limites para gastos com pessoal, foram estabeleci-
dos limites de endividamento para a União e para os estados, entretanto, esse
limite não se estendeu aos municípios.
(( ) A partir da implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal, as despesas
feitas pelos administradores no final do mandato passaram a ter um limite
pré-estabelecido.
As afirmações são respectivamente:
a) V, F e V.
b) F, F e V.
c) V, F e F.
d) F, V e F.
e) F, V e V.

2. O orçamento público se transforma em lei após passar por um processo de


ampla negociação, em que os governos federais, estaduais e municipais dei-
xam claro como pretendem gastar, em curto e médio prazo, os recursos ar-
recadados com impostos, contribuições sociais e outras fontes de receita. A
elaboração do orçamento público é obrigatória a todos os níveis de governo
e segue uma periodicidade prevista em lei e na Constituição Federal de 1988.
Assim, ele acontece de forma cíclica, de maneira que todas as ferramentas se
encaixem, ou seja, formando uma orientação lógica para orientar o orçamento
público. Isso é chamado de ciclo orçamentário.
(POLITIZE. Orçamento público: entenda como é definido. Disponível em: < ht-
tps://www.politize.com.br/orcamento-publico-como-e-definido/>).
192

Considerando o enunciado e as ideias que ele transmite, analise as asserções a


seguir e a relação proposta entre elas:

I. A lei que institui o Plano Plurianual, popularmente conhecido como PPA,


estabelece as metas e as prioridades da Administração Pública Federal e as
despesas de capital para o exercício financeiro subsequente.
PORQUE
II. É ela que orienta a elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que
dispõe sobre as alterações na legislação tributária e estabelece a política de
aplicação das agências oficiais do governo.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:


a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa correta
da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é justificativa
correta da I.
c) A asserção I é proposição verdadeira, e a II é proposição falsa.
d) A asserção I é proposição falsa, e a II é proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

3. A Lei Complementar n. 101/2000 visa o controle dos gastos da União, dos es-
tados, do Distrito Federal e dos municípios. Sancionada pelo ex-presidente da
República Fernando Henrique Cardoso, a lei determina que as finanças sejam
apresentadas detalhadamente ao Tribunal de Contas da União, dos estados e
dos municípios. Considerando o contexto apresentado, pode-se afirmar que,
um dos principais objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal é:
a) Estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade
na gestão fiscal.
b) Planejar os gastos públicos por meio da PPA, LDO, LOA, IPCA, e IGP-M.
c) Correr riscos frente ao orçamento fiscal.
d) Evitar desvios na gestão do orçamento público, somente por meio da LOA.
e) Inserir, na discussão e na elaboração do orçamento, a participação popular.
193

4. O governo brasileiro tem uma importante ferramenta de política fiscal que tem
como objetivo possibilitar o equilíbrio orçamentário do setor público. Essa fer-
ramenta é a Lei Complementar 101, do ano de 2000, conhecida com a Lei de
Responsabilidade Fiscal, importante para moralizar os gastos públicos e dar
mais transparência em sua aplicação. A respeito desse assunto, avalie as asser-
ções a seguir e a relação proposta entre elas.

I. O não cumprimento da Lei 101/2000 pode acarretar, para as administrações,


punições, entre elas ressarcimento e reclusão.
PORQUE
II. Em alguns casos o não cumprimento de determinadas regras e princípios
pode ser crime fiscal.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é justificativa correta


da I.
b) A asserção I é preposição verdadeira e a II é falsa.
c) As asserções I e II são proposições falsas, e uma não pode ser justificada
pela outra.
d) As asserções I e II são proposições verdadeiras e uma não pode ser justifica-
da pela outra.
e) A asserção II é verdadeira e a I é falsa.

5. Vimos, em nossas aulas, que as administrações que não cumprirem a Lei de


Responsabilidade Fiscal (LRF) podem sofrer punições, como a perda do direito
do repasse da União de alguns impostos, como o IPI ou IR. Além disso, os admi-
nistradores podem ainda ser indiciados por crimes de responsabilidade fiscal.
Considerando esse contexto, avalie as afirmativas que se seguem:
I. Ação planejada e transparente não é um dos postulados da Lei de Respon-
sabilidade Fiscal.
II. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu proibição de socorros financei-
ros entre a União, estados e municípios.
III. O principal objetivo da Lei de Responsabilidade Fiscal é proporcionar o
equilíbrio orçamentário do setor público.
IV. A Lei de Responsabilidade Fiscal não conseguiu moralizar os gastos públi-
cos, tão pouco dar mais transparência aos mesmos.
194

Assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas:


a) Somente a afirmativa I está correta.
b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
c) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
195

APRECIAÇÃO DO ORÇAMENTO PELO PODER LEGISLATIVO


MOGNATTI (2008) descreve, de forma sucinta, o processo de apreciação do orçamento
no Congresso Nacional. Reconhece que é o Poder Executivo que determina a formação
da agenda para o conjunto de políticas públicas a serem formalizadas no orçamento.
No âmbito do Poder Legislativo federal a apreciação das peças orçamentárias cabe à
Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) (Art. 166, § 1º, I
e II, CF), composta por trinta Deputados Federais e dez Senadores da República, com
igual número de suplentes, regida pela Resolução nº 1 do Congresso Nacional, de 26
de dezembro de 2006 (Resolução nº 1/06-CN). A CMO emite parecer e delibera sobre os
projetos de lei do plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e suas
alterações (créditos adicionais), além de outras matérias de cunho orçamentário. Em seu
âmbito são apresentadas as emendas aos projetos para inclusão dos interesses dos par-
lamentares, respeitando os prazos, limites e condições determinados pela Resolução.
Cada proposta de PPA, LDO ou LOA recebe proposições acessórias durante sua tramita-
ção, que auxiliarão na análise das proposições principais e determinarão regras para atu-
ação dos relatores e a apresentação de emendas. Dentre essas proposições acessórias
destacam-se o parecer preliminar, os relatórios setoriais (somente no caso do projeto da
LOA), as emendas e os destaques. As emendas podem ser apresentadas pelos parlamen-
tares de forma individualizada ou coletiva. As emendas individuais são apresentadas
por qualquer parlamentar detentor do mandato e também por relatores das propostas,
sendo estas limitadas à correção de erros ou omissões contidas nos projetos em análise.
As emendas coletivas derivam do consenso dos parlamentares reunidos em comissões
permanentes de cada Casa do Congresso Nacional – Emendas de Comissão – ou dos
parlamentares pertencentes à mesma unidade da federação – Emendas de Bancada. No
caso das Emendas de Comissão, sua apresentação fica condicionada à aprovação pela
maioria de seus membros, e as Emendas de Bancada devem constar de ata assinada por,
no mínimo, 3/4 (três quartos) de deputados federais e 2/3 (dois terços) de senadores da
respectiva unidade da federação para serem submetidas à apreciação da CMO.
Um resumo desse procedimento pode ser visualizado no desenho criado por
MOGNATTI (2008):
196

Poder
Executivo
elabora,
consolida,
sanciona,
publica e
controla

Fonte: Câmara dos Deputados ([2019], on-line)6 e Mognatti (2008).


MATERIAL COMPLEMENTAR

Fundamentos de Economia
Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos e Manuel Enriquez Garcia
Editora: Saraiva
Sinopse: Fundamentos de Economia é um livro dirigido a estudantes e
profissionais das áreas de Ciências Humanas em geral, que fornece uma visão
abrangente das principais questões econômicas de nosso tempo. Trata-se de
um livro introdutório de Economia Aplicada, no qual os autores explicam com
clareza e concisão conceitos e problemas econômicos fundamentais, de forma que os estudantes
possam ter melhor compreensão da realidade econômica.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

MOGNATTI, M. C. F. Transparência e Controle na Execução das Emendas Parla-


mentares ao Orçamento da União. 2008. 79 p. Monografia (Curso de Especializa-
ção em Orçamento Público) - Instituto Serzedello Corrêa do Tribunal de Contas da
União, Unilegis, Brasília, 2008.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. H. Fundamentos de Economia. 3. ed. São Pau-
lo: Saraiva, 2014.

REFERÊNCIAS ON-LINE
¹ Em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.
htm>. Acesso em: 25 fev. 2019.
2
Em: <https://jus.com.br/artigos/14940/o-orcamento-publico-brasileiro/3>. Aces-
so em: 25 fev. 2019.
³ Em: <http://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/cidadao/entenda/curso-
po/planejamento.html>. Acesso em: 25 fev. 2019.
4
Em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4320.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019.
5
Em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10028.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019.
6
Em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10028.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019.
199
GABARITO

1. A.
2. E.
3. A.
4. A.
5. C.
CONCLUSÃO

Caro(a) acadêmico(a), chegamos ao final do livro de Economia do Setor Público.


Aqui, procurei proporcionar a você conhecimentos sobre os seguintes temas: (a) o
setor público na economia; (b) as atribuições econômicas dos estados modernos;
(c) sistema tributário, incidência tributária e eficiência; (d) estrutura, crescimento e
contenção das despesas e das dívidas públicas; e (e) orçamento público: conceitos,
princípios, ciclos e orçamento participativo.
Meu objetivo ao escrever este livro foi apenas criar meios para que você pudesse com-
preender da melhor maneira possível as variáveis que fazem parte da economia do se-
tor público, ao passo que tal compreensão o ajudará a encontrar possíveis respostas às
inúmeras questões socioeconômicas com as quais você se deparará cotidianamente.
Vale lembrar que a construção do conhecimento acerca dos assuntos abordados
neste livro foi estruturada em cinco unidades, subdivididas da seguinte maneira:
Unidade 1, na qual aprendeu, entre outros, o papel, as competências e as principais
relações do setor público no contexto econômico; Unidade 2, por sua vez, apren-
deu sobre as funções econômicas do governo e sobre as falhas de mercado que
justificam a intervenção do Estado na Economia; na Unidade 3, sequencialmente,
aprendeu sobre as características do sistema tributário vigente, bem como sobre os
efeitos da tributação sobre a atividade econômica; na Unidade 4, posteriormente,
aprendeu sobre despesa pública, déficit governamental, dívida nacional e política
fiscal; e na Unidade 5, aprendeu sobre conceitos e princípios do orçamento público,
bem como sobre ciclos orçamentários, etapas de elaboração do orçamento e orça-
mento participativo.
Em suma, agora você já sabe quais são as variáveis fundamentais que fazem parte
da economia do setor público e está apto a compreender, ainda que de modo geral,
a atuação do Estado na economia brasileira.
Até a próxima!

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