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Macroeconomia ANPEC - Curso Cecı́lia Menon Notas de Aula

Macroeconomia ANPEC - Curso Cecı́lia Menon


Notas de Aula - Oferta e Demanda Agregada
Profa. Marina Delmondes de Carvalho Rossi

No modelo IS-LM tı́nhamos a hipótese de que o nı́vel de preços era constante. Nele
não considerávamos os impactos das polı́ticas sobre o nı́vel de preços da economia. Ou
seja, era uma análise de curto prazo. Para fazer uma análise de médio prazo precisamos
considerar inflação.
A curva de demanda agregada (DA) é deduzida do modelo IS-LM. Ela mostra a
relação negativa entre o nı́vel de renda, Y, e o nı́vel de preços da economia, P. Já a curva
de oferta (OA) mostra uma relação negativa entre renda e nı́vel de preços e pode ser
deduzida da curva de Phillips e será estudada com mais cuidado nessas notas de aula.
A interseção das curvas DA e OA nos dará a renda e nı́vel de preços de equilı́brio da
economia. Graficamente teremos:

OA

P0 E

DA

0 Y0 Y
Figure 1: Equilı́brio DA-OA

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1 Demanda Agregada (DA)


Podemos obter a curva de demanda agregada ao analisarmos o equilı́brio simultâneo no
mercado de bens e financeiro (IS-LM). Lembrando que tı́nhamos:

Relação IS: Y = C(Y − T ) + I(Y, r) + G + N X0 ,


M
Relação LM: = L(Y, i).
P

Juntando as duas relações temos:

 
M
Y =Y , G, T, N X0
P

Intuitivamente, um aumento no nı́vel de preços reduz a oferta real de moeda, ou seja,


a curva LM se desloca para a esquerda. Logo, o novo equilı́brio temos um nı́vel de
preços maior e um nı́vel de renda menor. Assim, sabemos que a curva de demanda é
negativamente inclinada. É verdade que um aumento no nı́vel de preços também terá
impacto na inflação esperada e, portanto, na taxa real de juros. Isso faria com que a
IS se deslocasse para a direita. Estudaremos esse efeito mais a frente. Por enquanto, o
importante é saber que esse impacto não é suficiente para mudar o sinal da inclinação
da DA.

M M
P1 > P0 =⇒ < =⇒ LM se desloca para a esquerda.
P1 P0

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i P
LM (P1 )
LM (P0 )

i1 P1

i0 P0

IS DA

0 Y1 Y0 Y 0 Y1 Y0 Y
Figure 2: Deduzindo inclinação da DA

Vimos que a curva DA é negativamente inclinada, porém é importante saber como a


inclinação depende de alguns efeitos.

1. Efeito Keynes: esse é o nome para o impacto do nı́vel de preços sobre a oferta
real de moeda. Esse efeito provoca um deslocamento da LM que não é causado
por polı́tica monetária e é o principal canal para saber a inclinação da curva DA.

2. Efeito Pigou: esse efeito traz um canal adicional de como uma variação no nı́vel
de preços impacta a demanda agregada. Além do canal tradicional - redução da
oferta real de moeda e, portanto, deslocamento da LM para a esquerda, temos
também, um impacto via mercado de bens. Lembrando que o Efeito Pigou diz que
o consumo das famı́lias é uma função positiva também dos saldos monetários reais.
Nesse caso temos:

 
M
C = f Y − T, ,
P

∂f
em que ∂M
> 0. Logo, um aumento em P reduz consumo, deslocando a IS para
P
baixo.

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i P
LM (P1 )
LM (P0 )

i0 P1
i1
i0 P0

IS(P0 ) DA
IS(P1 )
0 Y 1Y 0 Y0 Y 0 Y1 Y0 Y
Figure 3: Inclinação DA - Efeito Pigou

Assim, temos que o Efeitou Pigou tornou a DA menos inclinada (mais horizontal).
Mudanças no nı́vel de preços provocam variações na renda por conta dessse canal
adicional.

3. Expectativas: As expectativas desempenham um papel importante sobre a de-


manda agregada. Vimos isso quando estudamos os diferentes modelos de consumo
e investimento. Sabemos que tanto consumo como investimento dependem não
apenas das variáveis correntes, como também das expecativas para essas variáveis
no futuro.

C = g (Y − T, YFe − TFe ) ,

com g1 > 0 e g2 > 0. YFe denota a renda esperada para o futuro e TFe denota
a tributação esperada para o futuro. Logo, aumentos em Y e YFe aumentam o
consumo e reduções em T e TFe também. Já para o investimento temos:

I = h (Y, r, YFe , rFe ) ,

em que r é a taxa real de juros corrente, rFe é a taxa de juros real esperada para
o futuro. h1 > 0, h2 < 0, h3 > 0, h4 < 0. Logo, o investimento aumenta com
aumentos em Y e YFe , assim como com reduções em r ou em rFe .

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A inclusão dessas variáveis esperadas faz com que a IS seja mais inclinada (mais
vertical). Isto porque no eixo temos apenas as variáveis contemporâneas, que
passam a ter um impacto menor sobre o consumo e investimento, isso acontece
quando levamos em conta o papel das expectativas para essas variáveis no futuro.
Logo, como a IS é mais vertical, temos que quando a LM se desloca por conta
de um variação no nı́vel de preços, o nı́vel de renda de equilı́brio muda menos.
Portanto, temos uma curva DA mais inclinada (mais vertical).

Obs.: estudaremos o Efeito Mundell-Fleming quando tornarmos as exportações


lı́quidas endógenas.

É importante ressaltar que qualquer variável (exceto o nı́vel de preços) que desloque
a IS e/ou a LM provoca um deslocamento da curva DA, incluindo as expectativas.

2 Oferta Agregada (OA)


Para entendermos a curva de oferta agregada precisamos distinguir entre o curto e o
longo prazo. No curto prazo, temos uma relação positiva entre nı́vel de preços e renda.
Já no médio (longo) prazo, essa relação deixa de existir e a OA torna-se vertical, com a
economia em pleno emprego. Isso acontece porque os preços se ajustam. Graficamente
temos:
P P

OA
OA

P1 P1

P0 P0

0 Y0 Y1 Y 0 Y PE Y
Figure 4: Oferta Agregada Curto vs Médio (Longo) Prazo

Agora iremos apresentar a equação que descreve essa relação positiva entre nı́vel de
preços e renda no curto prazo.

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Y = YP + α(P − P e )

em que α > 0. Note que essa curva tem algumas propriedades. Primeiramente, quando
o produto é igual ao produto potencial, o preço é igual ao preço esperado. Isto é,

Y = YP ⇐⇒ P = P e

Além disso, quando o preço estiver acima do preço esperado então essa economia estará
acima do potencial.

Y > YP ⇐⇒ P > P e
Y < YP ⇐⇒ P < P e

Vamos então apresentar alguns modelos que justificam a existência dessa relação.

1. Modelo das Ilhas de Lucas (Informação Imperfeita)


De forma sintética, temos que as firmas querem produzir mais quando observam um
aumento no preço relativo do bem que produz, mas não deseja ajustar a produção
quando há uma variação no nı́vel geral de preços.
Por conta de um problema de informação, quando as firmas observam um
aumento no preço do seu bem, elas não sabem se isso é por conta de um amento
no preço relativo ou por conta de um processo inflacionário. Elas atribuem certas
probabilidades para ambas as possibilidades e ajustam a sua produção com base
nessas probabilidades. O fato é que, nesse cenário, um aumento no nı́vel geral
de preços provocará um aumento na produção e teremos uma curva de oferta
positivamente inclinada.

Y = YP + α(P − P e )

É importante ressaltar que a inclinação da curva α1 será maior quando os produ-




tores atribuirem maior probabilidade a choques inflacionários, ou seja, em econo-


mias com grande volatilidade na demanda agregada. Já em economias
mais estáveis, ao observar uma variação no preço as firmas atribuirão maior
probabilidade a uma mudança de preço relativo e, portanto, ajustarão mais a sua
produção. É interessante pensar no caso em que as firmas atribuem probabilidade
um a choques inflacionários. Nesse caso, ao observar um aumento de preço elas
não ajustam a produção e, portanto, a curva de oferta agregada é vertical.

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2. Friedman e Phelps (Informação Imperfeita)


Friedman e Phelps argumentam que, no curto prazo, ao observarem salários nom-
inais maiores, os trabalhadores sofreriam de uma ilusão monetária, acreditando
que essas mudanças eram reais e, portanto, aumentariam a sua oferta de trabalho.
Isso geraria um aumento de produção no curto prazo. Porém, com o passar do
tempo os trabalhadores observariam um aumento no nı́vel geral de preços e esse
efeito se reverteria.

3. Modelo de Preços Rı́gidos (Custos de Menu)


A ideia por trás desses modelos é de que, para as firmas, é custoso alterar os seus
preços ao observarem variações na demanda. Existem diversas justificativas para
isso: contratos (salários) com tempo fixo, custos de menu, custo de informação,
etc. Sendo assim, nem toda variação na demanda provoca uma variação no preço
cobrado.
É claro que parte das firmas podem seguir preços flexı́veis no curto prazo, por
estarem em mercados com contratos menos rı́gidos, por exemplo. Para entender
como isso nos leva a uma curva de oferta agregada positivamente inclinada vamos
supor que uma fração s das firmas pratiquem preços rı́gidos e (1 − s) pratiquem
preços flexı́veis. As firmas que praticam preços flexı́veis seguem a seguinte equação
de precificação.

pF = P + b(Y − Y P ),

em que P é o nı́vel geral de preços dessa economia, Y é a demanda e pF é o


preço desejado (ótimo). Ou seja, essas firmas monitoram Y e P e respondem às
suas variações. Já a parcela s que tem preços rı́gidos não ficam monitorando e
reagindo a essas variações em P e Y . Essas firmas formam expectativas para P e
Y e escolhem o preço com base nelas. Portanto, elas seguem a seguinte equação
de precificação.

pR = P e + b(Y e − Y P ) = P e ,

em que P e é o preço esperado e Y e é o produto esperado. A segunda igualdade é


uma condição de consistência. Agregando temos:

P = spR + (1 − s)pF
= sP e + (1 − s)[P + a(Y − Y P )]
(1 − s)
= Pe + b(Y − Y P )
s

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No curto prazo temos s > 0 e, portanto, ∂Y


∂P > 0. No longo prazo todas as firmas
∂Y
ajustam preço e ∂P = 0 pois s = 0. Logo, temos uma curva OA vertical no nı́vel
pleno emprego.

4. Problemas de Coordenação
Ao observarem variações no nı́vel de preços ou na demanda, as firmas desejariam
aumentar seus preços por certa magnitude. Porém, por conta de questões de
concorrência, elas ajustam menos o seu preço para não perderem mercado. Se as
firmas pudessem coordenar, todas aumentariam os seus preços na mesma proporção
do estoque de moeda e, com isso, a expansão monetária não teria efeito real e a
OA seria vertical.

5. Mercado de Trabalho
Uma outra forma de racionalizar a curva de oferta agregada é pensando no mercado
de trabalho e na determinação de preços e salários. Podemos pensar que os salários
são determinados através de uma barganha entre trabalhadores e firmas. Logo,

W = P e F (u, z)

em que P e é o nı́vel de preços esperado, u é a taxa de desemprego, z é uma variável


abrangente que afeta o poder de barganha dos trabalhados (seguro desemprego,
taxa de rotatividade, salário-eficiência, etc;). Temos Fu < 0 e Fz > 0.
Vamos supor que as firmas produzam utilizando uma função de produção Y = AN ,
em que N é o número de trabalhadores. Temos então que preços são determinados
pelas firmas como sendo um mark-up em relação aos custos . Nesse caso,

P = (1 + µ)W

em que µ > 0 é um markup. Esse parâmetro é exógeno e depende do nı́vel de


concorrência, preço dos demais insumos, etc. Juntando as duas equações e notando
que u = 1 − N Y
L = 1 − N , temos a nossa curva de oferta agregada:

 
e Y
P = P (1 + µ)F 1 − , z
L

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3 Modelo de Demanda e Oferta Agregada


Agora que vimos de onde vem as curvas DA e OA podemos utilizar esse modelo para
analisar flutuações econômicas e efeitos de polı́tica econômica (fiscal e monetária) no
curto e no longo prazo. O horizonte é determinado não pelo tempo, mas sim pelo
comportamento dos preços. Enquanto no curto prazo existe rigidez de preços, o longo
prazo é caracterizado por total flexibilidade de preços. Podemos agora considerar alguns
casos especiais.

3.1 Estática Comparativa


Utilizaremos o modelo OA-DA para entender o impacto de polı́tica fiscal e monetária
sobre essa economia, tanto no curto como no longo prazo.

3.1.1 Expansão Monetária


Vamos considerar que houve uma expansão monetária de M0 para M1 . Além disso,
vamos supor que, antes da mudança na moeda nominal, o produto esteja no seu nı́vel
natural. O aumento em M provocará um deslocamento da DA (lembre-se que a LM se
desloca para a direita). Esse deslocamento fará com que o novo produto, Y1 esteja acima
do potencial e P > P e . Esse é o efeito de curto prazo dessa polı́tica. Porém, no médio
prazo temos que os agentes irão revisar as suas expectativas de preços para cima e, com
isso, a OA se deslocará para cima até o ponto em que Y = YP e P = P e (convergência
das expectativas). Graficamente temos:

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OA0
OA

0
Pe = P2 E2
1
P E1
Pe E

DA0
DA

0 YP Y1

Y
i

LM
LM 0
LM 00

i E
i0 E1
B

IS

0 YP Y1 Y
Figure 5: Efeitos de uma Expansão Monetária

Antes da expansão monetária a economia estava em equilı́brio dado pela interseção


das curvas IS-LM (ponto E). O efeito no curto prazo da expansão monetária é o de
deslocar a curva LM para baixo (de LM para LM’), movendo o equilı́brio do ponto E
para o ponto E1 . A taxa de juros nominal é menor e o produto é maior.
Observe que há dois efeitos em ação por trás do deslocamento da curva LM para
LM’. Um é devido ao aumento da moeda nominal (supondo nenhuma alteração de preço

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no curto prazo - a LM iria para LM”). O outro, que compensa parcialmente o primeiro,
deve-se ao aumento do nı́vel de preços já no curto prazo (movimento ao longo da curva
OA que desloca a LM” para LM’).
Ao longo do tempo, o fato do produto estar acima de seu nı́vel natural implica
que o nı́vel de preços continua a aumentar (deslocamento da OA via mudanças em P e
e aumento em P via movimento ao longo da DA’). Esse movimento ao longo da DA’
significa que o nı́vel de preços está aumentando e, portanto, a LM se desloca para cima
(oferta real de moeda cai). Isso acontece até o ponto em que o produto retorna ao
potencial e P = P e . Sendo assim, no novo equilı́brio, temos que tanto a taxa nominal
de juros como o produto retornam ao seu nı́vel inicial.
Finalmente, devemos notar que temos a neutralidade da moeda no longo prazo.
Isto quer dizer que, no longo prazo, uma expansão monetária não afeta as variáveis reais
da economia. Note que, tanto o produto como a taxa de juros retornaram ao seu valor
inicial.

3.1.2 Contração Fiscal


Agora vamos analisar o efeito de uma contração fiscal, por exemplo, uma redução nos
gastos do governo. Novamente, vamos assumir que a economia encontra-se inicialmente
em pleno emprego. A redução em G provoca um deslocameno para baixo da IS, que
implica em um deslocamento para baixo da curva DA. Assim, no curto prazo, teremos
um produto abaixo do potencial e um nı́vel de preços abaixo do nı́vel de preços esperado.
Porém, ao longo do tempo, os agentes revisarão as suas expectativas de preços para
baixo e isso provocará um deslocamento para baixo da OA, que implica em um redução
também do nı́vel de preços. Isso acontecerá até o ponto em que o produto retorna ao seu
nı́vel potencial e o nı́vel de preços converge para o nı́vel esperado (agora mais baixo).
Lembre-se que o ajuste via preço corresponde a um deslocamento para a direita da LM.
Logo, no novo equilı́brio, teremos uma taxa de juros nominal mais baixa. Graficamente,
temos:

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OA
OA0

Pe E
1 E1
P
Pe = P2 E2

DA
0
DA

0 YP Y1

Y
i
LM
LM 0
LM 00
i E

i0 E1
i00 E2

IS
0
IS
0 Y1 YP Y
Figure 6: Efeitos de uma Expansão Monetária

3.2 Casos Especiais

3.2.1 Longo Prazo: Modelo Clássico


O modelo clássico é utilizado para analisar o longo prazo e é caracterizado pela curva
OA vertical. Ou seja, o nı́vel do produto é o de pleno emprego (ou potencial), que será
determinado pelo estoque de capital e tecnologia dessa economia. Podemos justificar uma

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curva OA desse formato ao pensar que, no longo prazo, preços são totalmente flexı́veis.
A curva DA continua caracterizando os pontos em que existe equilı́brio simultâneo no
mercado de bens e financeiro (IS-LM).

OA

P0 E

DA

0 Y
Figure 7: Modelo DA-OA com OA vertical: essa é uma análise de longo prazo com
produto no pleno emprego (Y P ) e nı́vel de preços que se ajustam integralmente com a
demanda.

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3.2.2 Curtı́ssimo Prazo: Modelo Keynesiano


Nesse caso extremo temos a curva OA horizontal. Ou seja, há rigidez total de preços.
Temos então que o produto é determinado pela demanda, o que implica na validade do
Princı́pio da Demanda Efetiva pelo qual a demanda cria a sua própria oferta.

E
P0 OA

DA

0 Y0 Y
Figure 8: Modelo DA-OA com OA horizontal: temos rigidez total de preços e o nı́vel
do produto é determinado pela demanda.

3.3 Inflação
A análise do modelo de oferta e demanda agregada no longo prazo, em que a curva OA é
vertical, nos remete à teoria quantitativa da moeda, na qual MV̄ = PY. Isolando a oferta
real de moeda e utilizando a constante marshaliana k = V̄1 e estando no nı́vel de produto
de pleno emprego Y P , temos:

M
= kY P
P

Temos uma inflação puramente monetária, pois aumentos no nı́vel de preços P ocor-
rem apenas devido a aumentos na oferta nominal de moeda M, de modo que a oferta
real de moeda se mantenha constante.
A situação acima, no modelo de oferta e demanda agregada, no entanto, corresponde
ao caso em que o deslocamento da DA é decorrente de alterações na polı́tica monetária,

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ou seja, de um deslocamento da curva LM. A teoria quantitativa da moeda nada tem a


dizer sobre variações no nı́vel de preços decorrentes de alterações na demanda agregada,
ou seja, a inflação de demanda.

3.3.1 Inflação de demanda


A inflação de demanda é decorrente de aumentos no nı́vel de preços, devido a um au-
mento da demanda agregada, ou seja, um deslocamento da curva DA para a direita. O
deslocamento da curva DA pode ser efeito tanto de deslocamentos da curva LM como
da curva IS, como nos casos abaixo.
Deslocamento da LM:

• Polı́tica monetária expansionista.

Deslocamento da IS:

• Polı́tica fiscal expansionista;

• Variações nos componentes autônomos da demanda;

• Desvalorização da moeda doméstica, aumentando o saldo comercial (focaremos


nesse caso quando estudarmos economia aberta)

3.3.2 Inflação de Oferta

A inflação de oferta é decorrente de aumentos no nı́vel de preços devido a reduções na


oferta agregada, ou seja, deslocamentos na curva OA para a esquerda. Variações na
oferta agregada podem ser efeito de diversos fatores relacionados ao custo de produção,
e que não estão relacionados a polı́ticas fiscais ou monetárias. Em geral, estes fatores são
considerados exógenos nos modelos econômicos e são, por isso, chamados de choques
de oferta. Alguns exemplos são listados abaixo.

• Variações nas safras agrı́colas, por motivos climáticos como secas, excesso de chu-
vas, etc;

• Aumento nos preços de insumos importados, como petróleo, gás natural, etc. Estes
aumentos podem ter sua origem de guerras ou ameaças de guerra, por exemplo.

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P P
OA0
OA OA

P1
P1
P0 P0

DA0
DA DA

0 Y0 Y1 Y 0 Y1 Y0 Y
Figure 9: Inflação de demanda e de Oferta.

4 Curva de Phillips
Originalmente, a curva de Phillips era focada no mercado de trabalho, considerando,
apenas, a inflação de salários. As implicações da curva de Phillips, no entanto, foram
estendidas para explicar a relação entre a inflação de preços em geral e o desemprego
no curto prazo. Sendo a inflação de salários gw definida pela variação do nı́vel geral de
salários W , temos:

Wt+1 − Wt
gw ≡
Wt

A curva de Phillips original foi uma observação empı́rica de uma relação negativa
entre inflação de salários e taxa de desemprego. Esta relação pode ter a representação
abaixo:

gw = c − αu

em que u é a taxa de desemprego, α > 0 é uma constante, e c é uma constante.

L−N
u≡
L
Aqui N é o nı́vel de emprego, L é a força de trabalho.

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Para se obter o nı́vel geral de preços a partir dos salários, assume-se que os preços dos
bens e serviços cobrem o custo do trabalho W e uma margem de lucro (markup) z. O
parâmetro a representa a produtividade do trabalho, ou seja, uma unidade de trabalho
com remuneração W produz a unidades de produto.

(1 + z)W W a
P = =⇒ =
a P 1+z
Uma implicação da igualdade acima é que os salários reais são constantes, com isso
a variação do nı́vel de preços é igual à variação dos salários, ou seja, π = gw . Pode-se
então, reescrever-se a curva de Phillips referindo-se à inflação do nı́vel geral de preços π
e não somente à inflação de salários gw .

π = c − αu

u∗
u

CP

Figure 10: Curva de Phillips representando a relação negativa entre a inflação e a taxa
de desemprego.

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5 Expectativas
A curva de Phillips original, definida acima, não incorpora uma variável de extrema
importância na determinação da inflação, as expectativas dos agentes quanto a inflação
futura. Assume-se que na ausência de pressões do mercado de trabalho, a inflação não
seria igual a zero e sim igual à expectativa de inflação π e , uma vez que os agentes
formadores de preço terão esta variável como referência. Portanto, quando π e 6= 0 temos
que a relação correta é dada por:

gw − π e = c − αu
π = π e + c − αu

A curva de Phillips acima é chamada de curva de Phillips modificada, ou curva


de Phillips aumentada pelas expectativas. Ela nos permite explicar fenômenos
como a estagflação, situação na qual, temos inflação alta em conjunto com alta taxa
de desemprego. Neste caso, a expectativas de inflação são muito altas, de modo que
a inflação realizada, mesmo que em menor nı́vel devido ao alto desemprego, ainda seja
considerada alta.
Partindo da curva de Phillips (original ou modificada) podemos definir a taxa natu-
ral de desemprego ou taxa de desemprego não aceleracionista como sendo aquele
nı́vel de desemprego condizente com uma inflação estável. Ou seja, podemos reescrever
a curva de Phillips pensando no hiato do desemprego.

πt = πte − α(ut − u∗ )

em que u∗ é a taxa natural de desemprego.

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πe

CP

0 u∗ u
Figure 11: Curva de Phillips com expectativas.

6 Lei de Okun
A Lei de Okun estabelece uma relação negativa entre o desemprego e o nı́vel de produto
da economia. Esta relação é baseada no desvio, tanto do nı́vel de desemprego quanto do
de produto em relação aos seus nı́veis de longo prazo, respectivamente, a taxa natural
de desemprego e o produto potencial da economia. Desta forma, temos a seguinte
representação da Lei de Okun:

Y − Y ∗ = −ω(u − u∗ )

A Lei de Okun representa o primeiro passo para derivarmos a curva de oferta agregada
(OA) positivamente inclinada a partir da curva de Phillips.

7 Obtendo a Curva de Oferta Agregada


Já utilizamos a hipótese que a inflação de salários, utilizada na curva de Phillips original,
é repassada aos preços da economia e, por isso, já estamos considerando a inflação dos
preços em geral em nossa análise. Da curva de Phillips π = π e - α(u − u∗ ), aplicamos a
Lei de Okun para substituir o desemprego pelo produto:

α
πt = π e + (Y − Y ∗ )
ω
Para transformarmos a curva de Phillips em uma curva de oferta agregada resta apenas
uma pequena transformação, usarmos o nı́vel de preços em lugar da inflação.

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Pt+1 Pe α
= t+1 + (Y − Y ∗ )
Pt Pt ω
Multiplicando por Pt :

α
e
Pt+1 = Pt+1 + Pt (Y − Y ∗ )
ω
Reorganizando os termos e utilizando um novo parâmetro λ, temos uma versão da curva
de oferta agregada:

e
Pt+1 = Pt+1 [1 + λ (Y − Y ∗ )]

π P

OA

πe Pe

CP

u∗ u Y∗ Y
Figure 12: Curva de Phillips vs Curva de oferta agregada.

8 Expectativas

8.1 Expectativas Adaptativas


Como a expectativa de inflação é uma variável não observável, a forma mais simples
adotada para implementar o modelo de curva de Phillips acima foi a adoção das ex-
pectativas adaptativas. As expectativas adaptativas baseiam-se na simples hipótese que

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a inflação esperada é igual à inflação passada, ou seja, π e = πt−1 . Desta forma, se o


desemprego estiver em sua taxa natural teremos uma taxa de inflação estável. Por isso,
muitas vezes essa versão é chamada de curva de Phillips aceleracionista.

πt = πt−1 − α (u − u∗ )

8.2 Expectativas Racionais


Apesar da sua simplicidade, as expectativas adaptativas assumem que, além da inflação
passada, não existem outras informações disponı́veis para os agentes econômicos a re-
speito da evolução da taxa de inflação (ou que existe, mas os agentes não usam essas
informações). Isto não é razoável em um mundo em que as informações são difundidas de
forma cada vez mais rápida. As expectativas racionais ocuparam um lugar de destaque
na literatura econômica ao assumir que, os agentes usam todas as informações disponı́veis
para formar suas expectativas (inclusive, o seu conhecimento do modelo econômico).
As expectativas racionais não implicam que os agentes sabem, com certeza, a in-
flação futura. A economia é sujeita a choques imprevisı́veis e, além disso, decisões não
antecipadas de polı́ticas econômicas podem ser tomadas, surpreendendo os agentes. Em
outras palavras, a inflação futura é função tanto de variáveis conhecidas pelos agentes
econômicos, que são usadas para formar suas expectativas, como de variáveis descon-
hecidas pelos agentes, que vão fazer com que a inflação venha a diferir de seu valor
esperado.
Suponha que a taxa de crescimento da oferta de moeda, originalmente constante
em 4%, aumente e se mantenha para sempre em nı́vel mais alto, seja este nı́vel 8% e
conhecido pelo público. Sob expectativas adaptativas, assumimos que os agentes ignoram
esta informação e definem π e = 4% . De acordo com a curva de Phillips, teremos no
primeiro perı́odo:

πt = πt−1 − α (ut − u∗ )
0, 08 = 0, 04 − α (ut − u∗ )
0, 04
ut = u∗ −
α
A inflação acima das expectativas causou uma redução no desemprego, ficando este
abaixo do nı́vel de pleno emprego. No segundo perı́odo e nos perı́odos seguintes teremos:

πt+1 = πt − α (ut+1 − u∗ )
0, 08 = 0, 08 − α (ut+1 − u∗ )
ut+1 = u∗

Já sob expectativas racionais, teremos no primeiro perı́odo:

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πt = π e − α (ut − u∗ )
0, 08 = 0, 08 − α (ut − u∗ )
ut = u∗

Essa situação se repete no segundo perı́odo e nos seguintes. Ou seja, a taxa de


desemprego não se altera, se mantendo em seu nı́vel natural. Apenas a surpresa infla-
cionária é capaz de afetar a taxa de desemprego e esssa surpresa não ocorre na hipótese
de expectativas racionais do exemplo acima, pois os agentes instantaneamente ajustam
suas expectativas com base na nova taxa de crescimento da oferta de moeda.
Uma surpresa inflacionária, que afetaria a taxa de desemprego, poderia ocorrer sob
expectativas racionais se o Banco Central anunciasse uma taxa de crescimento da oferta
de moeda de 6%, por exemplo, mas, de fato, surpreendesse a população com a taxa de
8%. Neste caso, terı́amos no primeiro perı́odo:

πt = π e − α (ut − u∗ )
0, 08 = 0, 06 − α (ut − u∗ )
α (ut − u∗ ) = 0, 06 − 0, 08
0, 02
ut = u∗ −
α
Ou seja, ocorre uma redução na taxa de desemprego, pelo fato do Banco Central ter
surpreendido os agentes com um aumento maior do que o esperado na oferta de moeda.

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π π

8% 8%

4% 4%

CP 0
CP CP

ut u∗ u u∗ u
Figure 13: Expectativas Adaptativas e Expectativas Racionais

9 Razão de sacrifı́cio

A razão de sacrifı́cio é o custo necessário, em termos de desemprego ou de produto, para


gerar uma redução na inflação. No caso das expectativas adaptativas, este custo não
depende do prazo para que o objetivo seja atingido. A razão de sacrifı́cio é dada por:

1
ut − u∗ = − (πt − πt−1 )
α
1
ut+1 − u∗ = − (πt+1 − πt )
α
∗ 1
uτ − u = − (πτ − πτ −1 )
α
τ
X 1
(ut − u∗ ) = − (πτ − πt )
α
i=t

Razão de sacrifı́cio:


− u∗ )
i=t (ut 1
− =
(πτ − πt ) α

No caso das expectativas racionais, a razão de sacrifı́cio depende da credibilidade


da polı́tica. Se for possı́vel convencer os agentes que a inflação se reduzirá, de modo

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que a inflação esperada seja igual ao valor desejado, a razão de sacrifı́cio será zero. Essa
credibilidade depende de como os agentes enxergam o comportamento do Banco Central,
em especial, as preferências do banqueiro central.
Note que, também podemos definir a razão de sacrifı́cio como sendo em termos de
perda de produto. Para tanto, basta utilizarmos a relação dada pela a Lei de Okun.

10 Indexação

Suponha que uma fração λ dos preços se ajusta com base na inflação observada e a
fração restante, 1 – λ, é totalmente flexı́vel.
A curva de Phillips:

πt = πte − α (ut − u∗ )

é reestrita como:

πt = λπt + (1 − λ) πte − α (ut − u∗ )

Isolando πt :

α
πt = πte − (ut − u∗ )
1−λ
Neste caso, a indexação aumenta o efeito de variações no desemprego sobre a inflação,
uma vez que esta é realimentada pela reação dos preços indexados.

11 Histerese

A hipótese da taxa natural de desemprego considera que oscilações na demanda agregada


afetam a produção e o emprego no curto prazo. No longo prazo, no entanto, a economia
volta ao nı́vel de produto de equilı́brio e à taxa natural de desemprego.
O fenômeno da histerese, por sua vez, consiste na influência de variações prolongadas
na demanda sobre a taxa natural de desemprego. Sendo assim, uma recessão poderia
ter efeitos permanentes.
Esses efeitos podem ser consequência da perda de competências e da capacidade pro-
dutiva de trabalhadores que ficaram desempregados durante uma recessão. No momento
de recuperação da economia estes trabalhadores não têm mais condição de se recolocar
no mercado de trabalho. Desta forma, uma recessão leva a um aumento da taxa natural
de desemprego no longo prazo.

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