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No modelo IS-LM tı́nhamos a hipótese de que o nı́vel de preços era constante. Nele
não considerávamos os impactos das polı́ticas sobre o nı́vel de preços da economia. Ou
seja, era uma análise de curto prazo. Para fazer uma análise de médio prazo precisamos
considerar inflação.
A curva de demanda agregada (DA) é deduzida do modelo IS-LM. Ela mostra a
relação negativa entre o nı́vel de renda, Y, e o nı́vel de preços da economia, P. Já a curva
de oferta (OA) mostra uma relação negativa entre renda e nı́vel de preços e pode ser
deduzida da curva de Phillips e será estudada com mais cuidado nessas notas de aula.
A interseção das curvas DA e OA nos dará a renda e nı́vel de preços de equilı́brio da
economia. Graficamente teremos:
OA
P0 E
DA
0 Y0 Y
Figure 1: Equilı́brio DA-OA
M
Y =Y , G, T, N X0
P
M M
P1 > P0 =⇒ < =⇒ LM se desloca para a esquerda.
P1 P0
i P
LM (P1 )
LM (P0 )
i1 P1
i0 P0
IS DA
0 Y1 Y0 Y 0 Y1 Y0 Y
Figure 2: Deduzindo inclinação da DA
1. Efeito Keynes: esse é o nome para o impacto do nı́vel de preços sobre a oferta
real de moeda. Esse efeito provoca um deslocamento da LM que não é causado
por polı́tica monetária e é o principal canal para saber a inclinação da curva DA.
2. Efeito Pigou: esse efeito traz um canal adicional de como uma variação no nı́vel
de preços impacta a demanda agregada. Além do canal tradicional - redução da
oferta real de moeda e, portanto, deslocamento da LM para a esquerda, temos
também, um impacto via mercado de bens. Lembrando que o Efeito Pigou diz que
o consumo das famı́lias é uma função positiva também dos saldos monetários reais.
Nesse caso temos:
M
C = f Y − T, ,
P
∂f
em que ∂M
> 0. Logo, um aumento em P reduz consumo, deslocando a IS para
P
baixo.
i P
LM (P1 )
LM (P0 )
i0 P1
i1
i0 P0
IS(P0 ) DA
IS(P1 )
0 Y 1Y 0 Y0 Y 0 Y1 Y0 Y
Figure 3: Inclinação DA - Efeito Pigou
Assim, temos que o Efeitou Pigou tornou a DA menos inclinada (mais horizontal).
Mudanças no nı́vel de preços provocam variações na renda por conta dessse canal
adicional.
C = g (Y − T, YFe − TFe ) ,
com g1 > 0 e g2 > 0. YFe denota a renda esperada para o futuro e TFe denota
a tributação esperada para o futuro. Logo, aumentos em Y e YFe aumentam o
consumo e reduções em T e TFe também. Já para o investimento temos:
em que r é a taxa real de juros corrente, rFe é a taxa de juros real esperada para
o futuro. h1 > 0, h2 < 0, h3 > 0, h4 < 0. Logo, o investimento aumenta com
aumentos em Y e YFe , assim como com reduções em r ou em rFe .
A inclusão dessas variáveis esperadas faz com que a IS seja mais inclinada (mais
vertical). Isto porque no eixo temos apenas as variáveis contemporâneas, que
passam a ter um impacto menor sobre o consumo e investimento, isso acontece
quando levamos em conta o papel das expectativas para essas variáveis no futuro.
Logo, como a IS é mais vertical, temos que quando a LM se desloca por conta
de um variação no nı́vel de preços, o nı́vel de renda de equilı́brio muda menos.
Portanto, temos uma curva DA mais inclinada (mais vertical).
É importante ressaltar que qualquer variável (exceto o nı́vel de preços) que desloque
a IS e/ou a LM provoca um deslocamento da curva DA, incluindo as expectativas.
OA
OA
P1 P1
P0 P0
0 Y0 Y1 Y 0 Y PE Y
Figure 4: Oferta Agregada Curto vs Médio (Longo) Prazo
Agora iremos apresentar a equação que descreve essa relação positiva entre nı́vel de
preços e renda no curto prazo.
Y = YP + α(P − P e )
em que α > 0. Note que essa curva tem algumas propriedades. Primeiramente, quando
o produto é igual ao produto potencial, o preço é igual ao preço esperado. Isto é,
Y = YP ⇐⇒ P = P e
Além disso, quando o preço estiver acima do preço esperado então essa economia estará
acima do potencial.
Y > YP ⇐⇒ P > P e
Y < YP ⇐⇒ P < P e
Vamos então apresentar alguns modelos que justificam a existência dessa relação.
Y = YP + α(P − P e )
pF = P + b(Y − Y P ),
pR = P e + b(Y e − Y P ) = P e ,
P = spR + (1 − s)pF
= sP e + (1 − s)[P + a(Y − Y P )]
(1 − s)
= Pe + b(Y − Y P )
s
4. Problemas de Coordenação
Ao observarem variações no nı́vel de preços ou na demanda, as firmas desejariam
aumentar seus preços por certa magnitude. Porém, por conta de questões de
concorrência, elas ajustam menos o seu preço para não perderem mercado. Se as
firmas pudessem coordenar, todas aumentariam os seus preços na mesma proporção
do estoque de moeda e, com isso, a expansão monetária não teria efeito real e a
OA seria vertical.
5. Mercado de Trabalho
Uma outra forma de racionalizar a curva de oferta agregada é pensando no mercado
de trabalho e na determinação de preços e salários. Podemos pensar que os salários
são determinados através de uma barganha entre trabalhadores e firmas. Logo,
W = P e F (u, z)
P = (1 + µ)W
e Y
P = P (1 + µ)F 1 − , z
L
OA0
OA
0
Pe = P2 E2
1
P E1
Pe E
DA0
DA
0 YP Y1
Y
i
LM
LM 0
LM 00
i E
i0 E1
B
IS
0 YP Y1 Y
Figure 5: Efeitos de uma Expansão Monetária
no curto prazo - a LM iria para LM”). O outro, que compensa parcialmente o primeiro,
deve-se ao aumento do nı́vel de preços já no curto prazo (movimento ao longo da curva
OA que desloca a LM” para LM’).
Ao longo do tempo, o fato do produto estar acima de seu nı́vel natural implica
que o nı́vel de preços continua a aumentar (deslocamento da OA via mudanças em P e
e aumento em P via movimento ao longo da DA’). Esse movimento ao longo da DA’
significa que o nı́vel de preços está aumentando e, portanto, a LM se desloca para cima
(oferta real de moeda cai). Isso acontece até o ponto em que o produto retorna ao
potencial e P = P e . Sendo assim, no novo equilı́brio, temos que tanto a taxa nominal
de juros como o produto retornam ao seu nı́vel inicial.
Finalmente, devemos notar que temos a neutralidade da moeda no longo prazo.
Isto quer dizer que, no longo prazo, uma expansão monetária não afeta as variáveis reais
da economia. Note que, tanto o produto como a taxa de juros retornaram ao seu valor
inicial.
OA
OA0
Pe E
1 E1
P
Pe = P2 E2
DA
0
DA
0 YP Y1
Y
i
LM
LM 0
LM 00
i E
i0 E1
i00 E2
IS
0
IS
0 Y1 YP Y
Figure 6: Efeitos de uma Expansão Monetária
curva OA desse formato ao pensar que, no longo prazo, preços são totalmente flexı́veis.
A curva DA continua caracterizando os pontos em que existe equilı́brio simultâneo no
mercado de bens e financeiro (IS-LM).
OA
P0 E
DA
0 Y
Figure 7: Modelo DA-OA com OA vertical: essa é uma análise de longo prazo com
produto no pleno emprego (Y P ) e nı́vel de preços que se ajustam integralmente com a
demanda.
E
P0 OA
DA
0 Y0 Y
Figure 8: Modelo DA-OA com OA horizontal: temos rigidez total de preços e o nı́vel
do produto é determinado pela demanda.
3.3 Inflação
A análise do modelo de oferta e demanda agregada no longo prazo, em que a curva OA é
vertical, nos remete à teoria quantitativa da moeda, na qual MV̄ = PY. Isolando a oferta
real de moeda e utilizando a constante marshaliana k = V̄1 e estando no nı́vel de produto
de pleno emprego Y P , temos:
M
= kY P
P
Temos uma inflação puramente monetária, pois aumentos no nı́vel de preços P ocor-
rem apenas devido a aumentos na oferta nominal de moeda M, de modo que a oferta
real de moeda se mantenha constante.
A situação acima, no modelo de oferta e demanda agregada, no entanto, corresponde
ao caso em que o deslocamento da DA é decorrente de alterações na polı́tica monetária,
Deslocamento da IS:
• Variações nas safras agrı́colas, por motivos climáticos como secas, excesso de chu-
vas, etc;
• Aumento nos preços de insumos importados, como petróleo, gás natural, etc. Estes
aumentos podem ter sua origem de guerras ou ameaças de guerra, por exemplo.
P P
OA0
OA OA
P1
P1
P0 P0
DA0
DA DA
0 Y0 Y1 Y 0 Y1 Y0 Y
Figure 9: Inflação de demanda e de Oferta.
4 Curva de Phillips
Originalmente, a curva de Phillips era focada no mercado de trabalho, considerando,
apenas, a inflação de salários. As implicações da curva de Phillips, no entanto, foram
estendidas para explicar a relação entre a inflação de preços em geral e o desemprego
no curto prazo. Sendo a inflação de salários gw definida pela variação do nı́vel geral de
salários W , temos:
Wt+1 − Wt
gw ≡
Wt
A curva de Phillips original foi uma observação empı́rica de uma relação negativa
entre inflação de salários e taxa de desemprego. Esta relação pode ter a representação
abaixo:
gw = c − αu
L−N
u≡
L
Aqui N é o nı́vel de emprego, L é a força de trabalho.
Para se obter o nı́vel geral de preços a partir dos salários, assume-se que os preços dos
bens e serviços cobrem o custo do trabalho W e uma margem de lucro (markup) z. O
parâmetro a representa a produtividade do trabalho, ou seja, uma unidade de trabalho
com remuneração W produz a unidades de produto.
(1 + z)W W a
P = =⇒ =
a P 1+z
Uma implicação da igualdade acima é que os salários reais são constantes, com isso
a variação do nı́vel de preços é igual à variação dos salários, ou seja, π = gw . Pode-se
então, reescrever-se a curva de Phillips referindo-se à inflação do nı́vel geral de preços π
e não somente à inflação de salários gw .
π = c − αu
u∗
u
CP
Figure 10: Curva de Phillips representando a relação negativa entre a inflação e a taxa
de desemprego.
5 Expectativas
A curva de Phillips original, definida acima, não incorpora uma variável de extrema
importância na determinação da inflação, as expectativas dos agentes quanto a inflação
futura. Assume-se que na ausência de pressões do mercado de trabalho, a inflação não
seria igual a zero e sim igual à expectativa de inflação π e , uma vez que os agentes
formadores de preço terão esta variável como referência. Portanto, quando π e 6= 0 temos
que a relação correta é dada por:
gw − π e = c − αu
π = π e + c − αu
πt = πte − α(ut − u∗ )
πe
CP
0 u∗ u
Figure 11: Curva de Phillips com expectativas.
6 Lei de Okun
A Lei de Okun estabelece uma relação negativa entre o desemprego e o nı́vel de produto
da economia. Esta relação é baseada no desvio, tanto do nı́vel de desemprego quanto do
de produto em relação aos seus nı́veis de longo prazo, respectivamente, a taxa natural
de desemprego e o produto potencial da economia. Desta forma, temos a seguinte
representação da Lei de Okun:
Y − Y ∗ = −ω(u − u∗ )
A Lei de Okun representa o primeiro passo para derivarmos a curva de oferta agregada
(OA) positivamente inclinada a partir da curva de Phillips.
α
πt = π e + (Y − Y ∗ )
ω
Para transformarmos a curva de Phillips em uma curva de oferta agregada resta apenas
uma pequena transformação, usarmos o nı́vel de preços em lugar da inflação.
Pt+1 Pe α
= t+1 + (Y − Y ∗ )
Pt Pt ω
Multiplicando por Pt :
α
e
Pt+1 = Pt+1 + Pt (Y − Y ∗ )
ω
Reorganizando os termos e utilizando um novo parâmetro λ, temos uma versão da curva
de oferta agregada:
e
Pt+1 = Pt+1 [1 + λ (Y − Y ∗ )]
π P
OA
πe Pe
CP
u∗ u Y∗ Y
Figure 12: Curva de Phillips vs Curva de oferta agregada.
8 Expectativas
πt = πt−1 − α (u − u∗ )
πt = πt−1 − α (ut − u∗ )
0, 08 = 0, 04 − α (ut − u∗ )
0, 04
ut = u∗ −
α
A inflação acima das expectativas causou uma redução no desemprego, ficando este
abaixo do nı́vel de pleno emprego. No segundo perı́odo e nos perı́odos seguintes teremos:
πt+1 = πt − α (ut+1 − u∗ )
0, 08 = 0, 08 − α (ut+1 − u∗ )
ut+1 = u∗
πt = π e − α (ut − u∗ )
0, 08 = 0, 08 − α (ut − u∗ )
ut = u∗
πt = π e − α (ut − u∗ )
0, 08 = 0, 06 − α (ut − u∗ )
α (ut − u∗ ) = 0, 06 − 0, 08
0, 02
ut = u∗ −
α
Ou seja, ocorre uma redução na taxa de desemprego, pelo fato do Banco Central ter
surpreendido os agentes com um aumento maior do que o esperado na oferta de moeda.
π π
8% 8%
4% 4%
CP 0
CP CP
ut u∗ u u∗ u
Figure 13: Expectativas Adaptativas e Expectativas Racionais
9 Razão de sacrifı́cio
1
ut − u∗ = − (πt − πt−1 )
α
1
ut+1 − u∗ = − (πt+1 − πt )
α
∗ 1
uτ − u = − (πτ − πτ −1 )
α
τ
X 1
(ut − u∗ ) = − (πτ − πt )
α
i=t
Razão de sacrifı́cio:
Pτ
− u∗ )
i=t (ut 1
− =
(πτ − πt ) α
que a inflação esperada seja igual ao valor desejado, a razão de sacrifı́cio será zero. Essa
credibilidade depende de como os agentes enxergam o comportamento do Banco Central,
em especial, as preferências do banqueiro central.
Note que, também podemos definir a razão de sacrifı́cio como sendo em termos de
perda de produto. Para tanto, basta utilizarmos a relação dada pela a Lei de Okun.
10 Indexação
Suponha que uma fração λ dos preços se ajusta com base na inflação observada e a
fração restante, 1 – λ, é totalmente flexı́vel.
A curva de Phillips:
πt = πte − α (ut − u∗ )
é reestrita como:
Isolando πt :
α
πt = πte − (ut − u∗ )
1−λ
Neste caso, a indexação aumenta o efeito de variações no desemprego sobre a inflação,
uma vez que esta é realimentada pela reação dos preços indexados.
11 Histerese