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Macroeconomia ANPEC - Curso Cecı́lia Menon Notas de Aula

Macroeconomia ANPEC - Curso Cecı́lia Menon


Notas de Aula - Paridade de Juros e Câmbio
Nessas notas de aula iremos estudar alguns conceitos importantes para então poder-
mos entender modelos macroeconômicos com economia aberta. Para tanto, é essencial
entendermos os determinantes da taxa de câmbio e como essa taxa afeta importações e
exportações.

1 Definindo Taxa Real de Câmbio


Essa paridade estabelece uma relação entre as taxas de câmbio, de juros e o nı́vel de
preços de diferentes economias abertas. Dada uma taxa de câmbio nominal, e, que
representa o preço da moeda estrangeira em termos da moeda doméstica, isto é, UR$
S$ , a
taxa de câmbio real,  é dada por:

eP ∗
=
P

em que P e P representam, respectivamente, o nı́vel de preços doméstico e externo.
Uma taxa de câmbio real elevada corresponde a uma taxa real desvalorizada e indica
que os bens domésticos são relativamente baratos. Isso, por sua vez, contribui para a
competitividade das exportações. Já uma taxa de câmbio real baixa corresponde a uma
taxa real valorizada e indica que os bens domésticos são relativamente caros. Isso reduz
a competitividade da produção doméstica no mercado internacional.

2 Paridade do Poder de Compra

A teoria da paridade do poder de compra da taxa de câmbio diz que os movimentos na


taxa de câmbio refletem, principalmente, as diferenças nas taxas de inflação entre dois
paı́ses. Existem duas versões, a absoluta e a relativa.

2.1 Paridade do Poder de Compra Absoluta

Essa versão baseia-se na lei do preço único. Isto é, um bem homogêneo deve ter o mesmo
preço quando expresso na mesma moeda. Aplicando essa lei aos bens e agregando todos
eles em uma cesta temos que a taxa de câmbio real deve ser constante e igual a um.

eP ∗
= =1
P
Note que a lei do preço único não leva em conta, por exemplo, custos de transportes e
tarifas de importação/exportação.

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2.2 Paridade do Poder de Compra Relativa

Essa versão é mais fraco e não diz que a taxa de câmbio real deve ser igual a um, mas sim
que ela deve ser constante. Portanto, a taxa nominal se ajusta com base no movimento
relativo dos nı́veis de preços de dois paı́ses.

eP ∗
= =α
P
em que α é uma constante qualquer. Isso, por sua vez, implica que

∆e 1+π
= − 1 ≈ π − π∗
e 1 + π∗
Um fato estilizado é que o câmbio é muito mais volátil do que o nı́vel de preços.
Portanto, alterações na taxa de câmbio nominal serão refletidas, no curto prazo, em
alterações na taxa de câmbio real, ou seja, gerando desvios da paridade do poder de
compra. Sendo assim, temos que a polı́tica câmbial consegue influenciar a competitivi-
dade da economia, ao menos no curto prazo.

3 Paridade de Juros

A paridade de juros é obtida através de uma condição de não arbitragem. Ou seja, não
pode haver ganho sem risco e custo. Para deduzirmos a paridade vamos pensar em duas
possı́veis aplicações:

1. Aplicação em um tı́tulo doméstico e obtenção do valor remunerado no futuro em


moeda doméstica.

2. Compra de moeda estrangeria seguida de aplicação em tı́tulo estrangeiro e, no


futuro, obtenção do valor remunerado em moeda estrangeira seguida de recompra
da moeda doméstica.

A paridade de juros tem duas versões: a versão coberta e descoberta. Iremos estudar as
duas.

3.1 Paridade Descoberta de Juros

A paridade é calculada com base na taxa de câmbio esperada para o momento de con-
versão dos recursos remunerados de volta para moeda doméstica. Com isso temos:

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eE
t+1
1 + it = (1 + i∗t )
et
Simplificando:

∆eE
i ≈ i∗ +
e
Note que os resultados nas operações acima ex post não serão necessarimanete os mes-
mos, uma vez que ele é baseado na expectativa de variação da taxa de câmbio dada que
a taxa de câmbio futura não é conhecida.

3.2 Paridade Coberta de Juros

Na paridade coberta de juros, o resultado da condição de não arbitragem é garantido


porque ao invés de utilizar a expectativa da taxa de câmbio futura utiliza-se esse preço
obtido através da negociação de contratos futuros. Nessa versão temos:

eFt+1
1 + it = (1 + i∗t )
et
Note que a taxa de câmbio do mercado futuro é conhecida no momento da operação.
Esta taxa independe da taxa de câmbio efetivamente realizada no futuro. Obviamente,
em equilı́brio deveremos ter eE F
t+1 = et+1 .

4 Curva J

A Curva J ilustra o efeito tı́pico de uma variação na taxa de câmbio sobre as exportações
lı́quidas no curto e no longo prazo. Ela considera o efeito imediato de uma variação na
taxa de câmbio sobre os preços em termos da moeda doméstica que, com o passar do
tempo, vai sendo dominado pelo seu efeito sobre as quantidades, que atua com uma certa
defasagem.
Vamos considerar as exportações lı́quidas medidas em termos de bens domésticos,
ou seja, a quantidade importada é convertida para uma quantidade equivalente de bens
domésticos exportados:

N X = X() − M ()

Da equação acima podemos obter então como que as exportações lı́quidas varia com a
taxa de real de câmbio.

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dN X dX() dM ()
= − − M ()
d d d

4.1 Curto Prazo

No curto prazo as quantidades importadas e exportadas não são afetadas pela taxa de
câmbio, ou seja, não há efeito volume. Ocorre apenas o efeito preço.

dX() dM ()
= =0
d d
Portanto, temos que:

dN X
= −M () < 0
d
Ou seja, no curto prazo, uma desvalorização do câmbio têm um efeito negativo sobre as
exportações lı́quidas.

4.2 Longo Prazo

Com o passar do tempo as quantidades passam a responder, ou seja, há efeito volume.

dX() dM ()
>0 <0
d d
Dessa forma, o efeito final sobre as exportações lı́quidas de uma variação na taxa de
câmbio dependerá se o efeito volume superar ou não o efeito preço.

dN X() dX() dM ()


>0↔ − > M ()
d d d
A evidência empı́rica indica que os efeitos volume são consideráveis no longo prazo e
superam o efeito preço. Graficamente temos:

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NX

N X0

5 Condição de Marshall-Lerner

Vamos agora deduzir a condição de Marshall Lerner, que nos diz sob quais condição uma
depreciação cambial leva a um aumento nas exportações lı́quidas. Retomando a relação
entre exportações lı́quidas e taxa de câmbio real:

dN X() dX() dM ()


= − −M
d d d
Multiplicando por d:

dN X = dX − dM − M d

Dividindo pelas exportações:

dN X dX dM M d
= − −
X X X X
Vamos assumir que o ponto de partida é de equilı́brio externo, isto é, N X = 0. Desta
forma temos que X = M . Portanto,

dN X dX dM M d
= − −
X X M M
dX dM d
= − −
X M 

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Portanto, uma desvalorização cambial (aumento em ) leva a um aumento nas ex-


portações lı́quidas se:

dX dM d
− >
X M 
Como sabemos que as importações variam negativamente com a taxa de câmbio, pode-
mos escrever a condição acima como:


∆X ∆M ∆
+ >
X M 

Ou seja, haverá um aumento das exportações lı́quidas se a soma do percentual de au-


mento das exportações com o percentual de redução das importações superar o aumento
percentual da taxa de câmbio. Podemos reescrever essa condição em termos de elastici-
dades.


∆X  ∆M 
+ >1
X ∆ M ∆

Ou seja,

ηX + ηM  > 1

A condição determina que haverá um fortalecimento das exportações lı́quidas se a soma


das elasticidades das importações e das exportações em relação à taxa de câmbio real for
maior do que 1. Usaremos essa condição quando estudarmos o modelo Mundell-Fleming/
IS-LM-BP.

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