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APRESENTAÇÃO

Professor Dr. Marcos Aurélio Brambilla

● Doutor em Teoria Econômica pela UEM (Universidade Estadual de


Maringá).
● Mestre em Economia Regional pela UEL (Universidade Estadual de
Londrina).
● Bacharel em Ciências Econômicas FCV (Faculdade Cidade Verde).
● Professor Mediador EAD - UniCesumar.
● Professor de graduação no Instituto Adventista Paranaense (IAP).
● Professor de graduação na Faculdade Cidade Verde (FCV).
● Professor de pós-graduação na Faculdade Cidade Verde (FCV).
● Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4609573696140389
Seja muito bem-vindo (a)!

Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso
já é o inicio de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora.
Proponho, junto com você construir nosso conhecimento sobre os fundamentos
do comércio internacional. Além de conhecer seus principais conceitos e
definições vamos explorar fatos históricos e as mais diversas situações do
comércio internacional presentes entre as nações.

Na unidade I começaremos a nossa jornada pela evolução das teorias do


comércio internacional, partindo do contexto mercantilista. Esta noção é
necessária para que possamos compreender o início das teorias de comércio
internacional. E assim, podemos trabalhar com a teoria das vantagens absolutas,
teoria das vantagens comparativas e com os fatores específicos e modelo de
Hecksher-Ohlin.

Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre os blocos


econômicos. Para isso, vamos detalhar as políticas comerciais que podem ser
adotadas pelos países e, por fim, serão apresentados os diferentes tipos de
blocos econômicos e sua taxonomia.

Depois, nas unidades III e IV vamos tratar especificamente das taxas de câmbio,
regimes cambiais e das políticas macroeconômicas internacionais. Ao longo da
unidade III, vamos destacar as diferentes taxas de câmbio, os regimes cambiais
e como isso influencia o comércio com os demais países e, por fim, será
apresentado o balanço de pagamentos e sua relação com as políticas
comerciais. Na unidade IV, vamos entender o papel da política macroeconômica
internacional, das regulamentações econômicas e dos diferentes tipos de
empresas no mundo globalizado.

Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta
jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos
abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento
pessoal e profissional.

Muito obrigado e bom estudo!


UNIDADE I
CONCEITOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• Conceitos de comércio internacional, teorias de comércio e sua evolução.
• Vantagens absolutas.
• Vantagens comparativas.
• Fatores específicos e modelo de Hecksher-Ohlin.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as teorias de comércio internacional.
• Compreender os tipos de teorias de comércio internacional.
• Estabelecer a importância das teorias de comércio internacional.
INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), bem vindo (a) a primeira unidade do livro.
Vamos dar início ao estudo sobre os fundamentos do comércio internacional. Essa
é uma área do conhecimento que estuda as teorias do comércio internacional. As teorias
do comércio internacional tem grande importância por compreender as decisões de
comércio dos países. No entanto, antes de iniciar o estudo das teorias do comércio
internacional, foi abordado o período que antecede as teorias tradicionais do comércio
internacional, período esse conhecido como Mercantilismo.
Com o propósito de atingir o crescimento econômico da nação, o Mercantilismo foi
um período no qual os países adotavam políticas de comércio internacional que tentavam
proporcionar maiores ganhos com o comércio internacional. Após as ações verificadas
no Mercantilismo, foram criadas as teorias desenvolvidas por autores clássicos. A
primeira teoria foi desenvolvida por Adam Smith, a sua teoria foi chamada de teoria das
vantagens absoluta, essa teoria falava basicamente que, os países deveriam produzir o
bem mais barato e importar o bem que era mais caro para produzir.
A partir da teoria de vantagens absolutas, David Ricardo buscou melhorar essa
teoria, criando a teoria das vantagens comparativas. Segundo essa teoria, os países
deveriam se especializar na produção de bens em que possuíam vantagens
comparativas, ou seja, os países deveriam produzir bens em que apresentavam maior
produção ou menor custo relativamente.
Em seguida, serão apresentadas as teorias neoclássicas, ou seja, as teorias mais
modernas do comércio internacional, sendo o Teorema de Hechscher-Ohlin e, por fim,
as extensões da teoria da vantagem comparativa, que foi abordada a economia de escala
e a concorrência imperfeita no mercado internacional.
Desejamos um ótimo estudo a todos!
1 CONCEITOS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL, TEORIAS DE COMÉRCIO E SUA
EVOLUÇÃO

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194554931

Olá caro (a) aluno (a), neste tópico foi abordado conceitos sobre o comércio
internacional, e antes de iniciar o estudo sobre o as teorias do comércio internacional, é
importante conhecer o período anterior à criação das teorias tradicionais do comércio
internacional, com o intuito de saber como se deu a origem das teorias de comércio
internacional, esse período é conhecido como Mercantilismo, portanto, vamos conhecer
mais sobre esse período.
A economia internacional teve início juntamente com o começo do Estado nacional
moderno. O movimento de união das regiões e municípios nos Estados nacionais levou
a uma integração política e econômica. A integração política contribuiu para o surgimento
dos Estados absolutistas, ou seja, que centraliza o poder nas mãos de uma pessoa,
assim as decisões eram tomadas pelos monarcas sem considerar a opinião da
população. A união econômica deu início às práticas realizadas entre os Estados
nacionais conhecidas como Mercantilismo (GONÇALVES, et. al, 1998).
Segundo Salvatore (2000) o Mercantilismo surgiu entre os séculos XVII e XVIII,
por meio de ensaios e panfletos que continham um tipo de filosofia econômica, escrita
por banqueiros, comerciantes, filósofos e funcionários públicos. Desse modo, o
Mercantilismo foi um período no qual os países praticavam políticas de comércio
internacional na tentativa de obter maiores ganhos com o comércio internacional, assim,
a partir desses preceitos, os Estados buscavam atingir o crescimento econômico da
nação.
Para facilitar o entendimento de como funcionava as normas estabelecidas pelos
mercantilistas, Brue (2006) apresenta algumas definições que representam esse período,
sendo: o ouro e a prata como riqueza; a política protecionista; o nacionalismo; a
colonização e a monopolização do comércio; a relevância de contar com uma grande de
mão de obra; eram contrários a impostos ou qualquer outra restrição interna sobre o
transporte de bens.
Portanto, os mercantilistas consideravam que as nações ricas apresentavam uma
grande quantidade de ouro e prata, ou seja, quanto maior o volume de metais preciosos,
maior era a riqueza do Estado nacional. Além disso, adotavam políticas protecionistas,
cobravam taxas de importação de matérias-primas e manufaturas que poderiam ser
produzidos internamente e as importações de matérias primas que não poderiam ser
produzidas internamente era isenta de taxas.
Para ser uma nação poderosa, a mesma deveria acumular riqueza por meio da
exportação aos países próximos, pois assim poderiam colonizar outras nações para se
tornar uma nação mais poderosa. Sendo que, os benefícios adquiridos pelas colônias
eram propriedade do país colonizador.
Os mercantilistas também não eram a favor de cobranças de taxas internas ou
outras restrições, essas cobranças poderiam prejudicar as empresas levando ao
aumento de preços das exportações, e consequentemente, a nação se tornaria menos
competitiva no mercado internacional.
Outra característica que os mercantilistas consideravam importante era uma
grande população de trabalhadores, pois quanto maior a população maior era produção
de bens para a exportação, e, considerando os baixos salários dos trabalhadores, a
nação apresentava significativos ganhos no comércio internacional com acumulação de
metais preciosos advindo dos superávits que a nação apresentava devido às condições
aqui apresentadas.
Desse modo, conforme Gonçalves (1998), a política mercantilista tem o intuito de
defender a presença de um monarca absoluto e contribuir com a integração econômica,
jurídica e administrativa nacional e procura proteger o Estado nacional contra as ameaças
externas.
Os mercantilistas entendiam que para uma nação ficar rica e poderosa era
necessário vender mais para outras nações do que comprar, ou seja, a exportação
deveria ser maior que a importação. Com o superávit da balança comercial, apresentaria
maior entrada de ouro e prata na nação, pois acreditavam que quanto mais acumulassem
de metais preciosos (ouro e prata), mais ricos e poderosos seria a nação. Contudo,
devido a limitação da existência de ouro e prata, não existiria a possibilidade de todas as
nações apresentarem ganhos no comércio internacional, para que uma nação
acumulasse metais preciosos, outra nação deveria perder (SALVATORE, 2000).
2 VANTAGENS ABSOLUTAS

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Considerando as políticas econômicas adotadas pelos mercantilistas, que tinha o


propósito de aumentar o saldo da balança comercial, aumentando as exportações e
diminuindo as importações, surgem questionamentos se o comércio internacional deveria
se limitar a isso. Assim, conforme Salvatore (2000), a obra que marca o início da ciência
econômica é a obra intitulada de A Riqueza das Nações de 1776 de Adam Smith.
A partir dessa publicação, surge a teoria de comércio internacional. O argumento
de Adam Smith para o comércio internacional é de que, para que duas nações
comercializem produtos é necessário que as duas apresentem algum benefício. Se uma
nação perdesse ou não apresentasse nenhum ganho, não haveria motivo para a mesma
comercializar no mercado internacional (SALVATORE, 2000).
O autor sugere então que para existir o comércio internacional entre os países, é
preciso que esse comércio seja mutuamente benéfico. Portanto, foi criada a teoria das
vantagens absolutas, que se refere ao comércio mutuamente benéfico, sendo que, o país
deve exportar o bem que apresentar maior vantagem absoluta e importar o bem que
possuir menor vantagem absoluta.
Desse modo, análise pode ser realizada pela produtividade e pelo custo. Para a
análise pela produtividade, para o produto que o país apresentar maior produção por
unidade de trabalhador, o mesmo deve ser exportado e, o produto que o país apresentar
menor produção deve importar. Para a análise do custo, o produto que apresentar menor
custo de produção o país deve exportar e, o bem que for mais caro a termos absolutos
para produzir o país deve importar, haja vista que, o comércio de duas nações nessas
condições é mutuamente benéfico.
A seguir é possível observar um exemplo numérico para a análise, em que será
considerada a teoria das vantagens absolutas para a melhor compreensão dessa teoria.
A Tabela 1 apresenta a produtividade e o custo de produzir soja e trigo no Brasil (BR) e
nos Estados Unidos (EUA) para a análise de qual bem cada país deve exportar e importar
conforme a teoria das vantagens absolutas.
Tabela 1 – Teoria das vantagens absolutas
Bens
Produtividade (produção por Custo (horas de trabalho
horas de trabalho) necessário para produzir 1kg)
Países Soja Trigo Soja Trigo
BR 2 1 2 4
EUA 1 2 4 2
Fonte: adaptado de Salvatore et. al (2000)

Pela análise da produtividade, a produção de soja por horas de trabalho é de 2 no


Brasil, sendo que o custo de trabalho necessário para produzir 1kg de soja é de 2
enquanto nos Estados Unidos a produção de soja por horas de trabalho é de 1, sendo
que o custo de trabalho necessário para produzir 1kg de soja é de 4. A produção de trigo
por horas de trabalho é de 1 no Brasil, sendo que o custo de trabalho necessário para
produzir 1kg de soja é de 4 enquanto nos Estados Unidos a produção de soja por horas
de trabalho é de 2, sendo que o custo de trabalho necessário para produzir 1kg de soja
é de 2.
Como o custo de produzir soja no Brasil é menor e o custo de produzir trigo é
menor nos Estados Unidos, Brasil e Estados Unidos deveriam se especializar na
produção de soja e trigo, respectivamente. E assim, o Brasil deveria exportar soja e
importar trigo e os Estados Unidos deve exportar trigo e importar soja.
3 VANTAGENS COMPARATIVAS

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A contribuição da teoria do comércio internacional de Adam Smith é de grande


importância. No entanto, a comercialização de dois bens entre dois países apresentará
benefícios absolutos para ambos. Diante disso, é de suma importância a contribuição de
David Ricardo com a teoria das vantagens comparativas. De acordo com Salvatore
(2000), a teoria das vantagens comparativas é uma das mais relevantes teorias da
economia até os dias de hoje, com aplicações empíricas.
Podem ser verificadas, na teoria das vantagens comparativas de David Ricardo,
algumas características, no qual devem ser levadas em consideração para a melhor
compreensão da teoria, sendo:
a) O comércio de duas economias com diferenças em suas estruturas de
produção.
b) O único fator de produção é o trabalho.
c) As duas nações produzem dois produtos.
d) As economias apresentam diferenças no nível de tecnologia.
e) São considerados rendimentos constantes de escala.
f) Não é considerado custo de transporte.
Para a melhor compreensão das características associadas à teoria das vantagens
comparativas, foi verificado mais a fundo cada uma delas. Conforme Gonçalves (1998),
a primeira característica destaca que o comércio entre dois países é mutuamente
benéfico, ou seja, é preferível uma nação comercializar bens com outros países do que
ser uma economia fechada. Isso é devido à diferença de produtividade do trabalho nas
diferentes nações.
A segunda e a terceira característica apresentada estão relacionadas, pois a
segunda pressupõe que existe apenas o fator de produção trabalho, sendo necessário
para a produção de dois bens em dois países (terceira característica). Desse modo, os
países alocam uma quantidade de trabalho para a produção de cada bem, e a partir disso,
realizar a análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
A quarta característica está relacionada às tecnologias das economias. De acordo
com Krugman e Obstfeld (2005), o nível de tecnologia de cada nação é determinado pela
produtividade do trabalho das indústrias, sendo que a produção é medida pela
necessidade de cada unidade de trabalho.
Outra característica diz respeito aos rendimentos constantes de escala, ela
apresenta que, a produção não é alterada para cada hora de trabalho por trabalhador, ou
seja, a produção de cada hora de trabalho será a mesma em todo o período
(SALVATORE, 2000).
Por fim, a sexta e última característica não considera o custo com transporte.
Portanto, é pressuposto que a circulação de bens entre os países não apresenta taxas
ou custos relacionados ao transporte das mercadorias entre os países, é considerado
apenas o custo relacionado à quantidade de horas de trabalho por unidade de trabalho
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Agora, a partir das características apresentadas, é possível definir o que seria a
teoria das vantagens comparativas. Conforme Gonçalves (1998), a teoria ricardiana pode
ser definida como a especialização de cada país no bem em que possui vantagens
comparativas, ou seja, o país deve se especializar na produção de bens em que é mais
eficiente. Desse modo, os países apresentam ganhos com o comércio internacional, com
exceção de casos em que os países apresentarem custos relativos iguais entre os
produtos.
Essa teoria é um avanço da teoria das vantagens absolutas, pois dois países que
apresentassem dois bens deveriam apresentar para cada bem uma vantagem absoluta,
caso não acontecesse, pela teoria das vantagens absolutas não era benéfico. A teoria
das vantagens comparativas mostra que, mesmo um país não apresentando vantagem
absoluta em algum bem, o comércio pode ser benéfico. O comércio pode ser benéfico
por meio da especialização de bens em que o país apresente vantagem comparativa, ou
seja, maior vantagem absoluta e importe bens em que não apresente vantagem relativa,
ou seja, com menor vantagem absoluta.
Para verificar a teoria das vantagens comparativas em exemplos numéricos,
existem duas maneiras. Uma delas é por meio da produtividade de dois bens entre dois
países, no qual utilizam a mesma quantidade de trabalho. Outro modo muito utilizado, é
pelo custo de produção, nesse caso, é analisado os custos para a mesma quantidade de
produção em cada bem.
É possível verificar no Quadro 1, um exemplo prático das vantagens comparativas
pela produção, em que os bens são soja e trigo, sendo os países, A e B.

Países
A B Total
Soja 10 5 15
Produção por trabalho hora Trigo 8 2 9
Total 13 11 24
Quadro 1 – Produção de soja e trigo nos países A e B
Fonte: Adaptado de Salvatore (2000, p. 20).

Quando é verificada a quantidade que cada país produz de cada bem, deve ser
calculada a produtividade relativa de cada bem para cada país. Para a soja, a
produtividade relativa do país A (PRSA) é a relação entre a produção de soja por trabalho
hora do país A (PSA) e a produção de soja por trabalho hora do país B (PSB). Para o
trigo, a produtividade relativa do país B (PSA) é a relação entre a produção de trigo por
trabalho hora do país B (PTB) e a produção de soja por trabalho hora do país A (PTA).
Para o país B é o inverso. Portanto, o procedimento foi apresentado abaixo.

Para o bem soja:


PRSA = PSA / PSB PRSB = PSB / PSA
PRSA = 10 / 5 PRSB = 5 / 10
PRSA = 2 PRSB = 0,5

Para o bem trigo:


PRTA = PSA / PSB PRTB = PSB / PSA
PRTA = 8 / 2 PRTB = 2 / 8
PRTA = 4 PRTB = 0,25

Diante das estimações realizadas, percebemos que a maior produção relativa do


país A é de trigo e a maior produção relativa do país B é de soja. Portanto, os países A e
B devem se especializar na produção de trigo e soja, respectivamente. Sendo assim, foi
apresentada no Quadro 2, a produção de cada país com as suas respectivas
especializações na produção dos bens.
Países
A B Total
Soja - 10 10
Produção por trabalho hora Trigo 16 - 16
Total 16 10 26
Quadro 2 – Produção de soja e trigo nos países A e B considerando suas especializações
Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme as produções apresentadas, o país A deve produzir 16 unidades de trigo


e o país B deve produzir 10 unidades de soja. Quando comparado a produção total das
duas economias, percebe-se que há um aumento da produção total dos bens, a produção
das nações sem a especialização produz 24 unidades, enquanto a produção com
especialização dos países considerando suas vantagens comparativas é de 26 unidades.
A seguir foi apresentado no Quadro 3 um exemplo prático para análise de custos da
produção, em que foi apresentado os custos de algodão e tecido para os países Alfa e
Beta.

Países
Alfa Beta Total
Algodão 8 4 12
Trabalho hora necessário para a
Tecido 15 6 21
produção de uma unidade
Total 23 10 33
Quadro 3 – Custo para a produção de algodão e tecido nos países Alfa e Beta
Fonte: Adaptado de Salvatore (2000, p. 22).

Em relação à análise dos custos relativos, foram identificados os custos de


produção de cada país para cada bem, em seguida, deve ser calculado o custo relativo
de cada bem para cada país. Para o algodão, o custo relativo do país Alfa (CRAA) é a
relação entre o custo em trabalho hora de produzir uma unidade de algodão no país Alfa
(CAA) e o custo em trabalho hora de produzir uma unidade de algodão no país Beta
(CAB). Para o trigo, o custo relativo do país Beta (CRTA) é a relação entre o custo em
trabalho hora de produzir uma unidade de tecido no país Alfa (CTA) e o custo em trabalho
hora de produzir uma unidade de tecido no país Beta (CTB). Para o país B é o inverso.
Desse modo, segue o procedimento abaixo.

Para o bem algodão:


CRAA = PSA / PSB CRAB = PSB / PSA
CRAA = 8 / 4 CRAB = 4 / 8
CRAA = 2 CRAB = 0,5

Para o bem tecido:


CRTA = PSA / PSB CRTB = PSB / PSA
CRTA = 15 / 6 CRTB = 6 / 15
CRTA = 2,5 CRTB = 0,4

A partir das estimações realizadas, verificamos que o menor custo relativo do país
Alfa é de tecido e o menor custo relativo do país Beta, consequentemente, é de algodão.
Portanto, os países Alfa e Beta devem se especializar na produção de tecido e algodão,
respectivamente. Sendo assim, no Quadro 4, foram apresentados os custos de produção
de cada país com as suas respectivas especializações nos custos de produção dos bens.

Países
A B Total
Algodão 16 - 12
Trabalho hora necessário para a
Tecido - 12 16
produção de uma unidade
Total 16 12 28
Quadro 2 – Produção de soja e trigo nos países A e B considerando suas especializações
Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme os custos apresentados, para o país A, o custo para produzir uma


unidade de algodão é de 16 horas de trabalho e para o país B o custo para produzir uma
unidade de tecido é de 12 horas de trabalho. Se comparar com o custo total das duas
economias, percebe-se que ocorre uma redução do custo total dos bens. O custo das
nações sem a especialização é de 33 horas trabalho, enquanto o custo com
especialização dos países considerando suas vantagens comparativas é de 28 horas de
trabalho.
Portanto, conforme os exemplos apresentados, a teoria das vantagens
comparativas podem apresentar duas formas de análise, pela produtividade e custo, mas
que apresentam o mesmo objetivo, verificar quais os produtos que os países devem se
especializar, levando em conta a produção do bem que cada nação é mais eficiente.
4 FATORES ESPECÍFICOS E MODELO DE HECKSHER-OHLIN

Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/logistics-supply-chain-delivery-service-


concept-1438230290

Vimos o modelo das vantagens comparativas que considerava como fator de


produção apenas o trabalho. Agora vamos conhecer o modelo conhecido como modelo
de Hecksher-Ohlin, em que considera dois fatores de produção, trabalho (L) e terra (T).
Nesse modelo é verificada a relação entre os fatores de produção nos países e a
proporção em que são utilizados para a fabricação de diferentes bens, sendo assim,
também é conhecido como teoria da proporção dos fatores.
Desse modo, o modelo de Hecksher-Ohlin pode ser exposto da seguinte maneira:
Uma nação exportará a commodity cuja produção exija a utilização
intensiva do seu fator relativamente abundante e barato e importará a
commodity cuja produção exija a utilização intensiva do seu fator
relativamente escasso e raro. Em resumo, a nação relativamente rica em
mão de obra exporta a commodity relativamente intensiva em mão de
obra e importa a commodity relativamente intensiva em capital
(SALVATORE, 2000, p. 96).
Segundo Krugman e Obstfeld (2005) o modelo de Hecksher-Ohlin pode ser
abordado a partir de sete pressupostos:
1. Os bens produzidos por uma nação são alimentos e roupas.
2. Para produzir os bens são considerados dois fatores de produção que são
escassos, sendo trabalho (L) e terra (T).
3. É considerada a concorrência perfeita nos mercados.
4. Para as nações pode ser constatado que a fabricação de alimentos é terra-
intensiva e a fabricação de tecidos é trabalho-intensiva.
5. Os países possuem os mesmos gostos e o mesmo nível de tecnologia.
6. As nações apresentam a mesma capacidade de produção com dois fatores de
produção.
7. Foi considerado que o país local apresenta a relação entre trabalho e terra mais
alta do que o país estrangeiro.
Diante dos pressupostos apresentados, é possível obter uma melhor compreensão
do modelo. A seguir é possível visualizar a quantidade de fatores de produção, trabalho
e terra, empregadas, em que irá depender da quantidade disponível dos mesmos pela
nação. Sendo que, cada país escolhe se especializar na produção do bem em que o fator
de produção é intensivo, nesse caso, foram apresentado os fatores de produção
necessários para produzir alimento (Figura 1).

Figura 1 - Possibilidades de insumos na produção de alimentos


Fonte: Adaptado de Krugman e Obstfeld (2005, p. 50).

As informações da Figura 1 se referem à quantidade de cada fator de produção


para a produção de uma unidade de alimento em uma economia. Conforme Krugman e
Obstfeld (2005), em relação à diferença do modelo das vantagens comparativas, a
respeito dos fatores de produção, ressalta-se que com esse modelo, o produtor tem a
possibilidade de alocar os fatores de produção da forma que preferir. Por exemplo, o
produtor pode utilizar uma quantidade maior do insumo trabalho para produzir alimento,
devido à necessidade de mais trabalhadores para a preparação do plantio de alimentos.
Contudo, em uma análise da razão salário-renda da terra (w/r) em relação à razão
terra-trabalho (T/L), é possível compreender melhor o quarto pressuposto apresentado
do modelo de Hecksher-Ohlin. Assim sendo, foi apresentada na Figura 2 essa relação,
considerando a produção de tecidos e a produção de alimentos, representada pelas
curvas TT e AA, respectivamente.
Figura 2 – Preço de fatores e escolhas de insumos
Fonte: Adaptado de Krugman e Obstfeld (2005, p. 51).

Na Figura 2 a curva TT representa a produção de tecidos, enquanto a curva AA


representa a produção de alimentos, dado pela relação entre a razão salário-renda da
terra e razão terra-trabalho. Pode ser observado que para qualquer nível de preços, para
a produção de alimentos sempre a relação terra-trabalho será maior que na produção de
tecidos. Desse modo, verificamos a validade do quarto pressuposto do modelo, pois
como a relação terra-trabalho é maior na produção de alimentos, a produção de alimentos
é terra-intensiva e como a produção de tecidos é menor, a produção de tecidos é
trabalho-intensiva.
Considerando como funciona o comportamento da produção de cada economia,
vamos avaliar como os países devem decidir em quais bens se especializarem, dado que
podem escolher como alocar dois fatores de produção. Portanto, no modelo de Hecksher-
Ohlin, as nações apresentaram enfoque na produção de bens em que apresentarem
maior abundância de fatores de produção (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).
Observe que a produção de alimentos é terra-intensiva e a produção de tecidos é
trabalho-intensiva. Diante disso, o país que apresentar abundância no fator de produção
terra, deve se especializar na produção de alimento e exportar alimento e importar tecido.
Por outro lado, os países que apresentarem abundância no fator de produção trabalho,
deve se especializar na produção de tecido e exportar tecido e importar alimento.
De um modo geral, o modelo Hecksher-Ohlin apresenta informações para a melhor
compreensão para cada nação e posteriormente para o comércio internacional. Sendo
que, possui aplicações para ambos os casos.
SAIBA MAIS

Na literatura científica existem aplicações de teorias econômicas como do modelo


de Hechscher-Ohlin, um exemplo é o artigo intitulado de “Liberalização comercial,
salários reais e emprego: uma aplicação do modelo de fatores específicos para o Brasil”,
de autoria de Frederico Hartmann de Souza, no qual apresenta o impacto da liberalização
comercial no Brasil usando o modelo de fatores específicos que se refere ao modelo de
Hechscher-Ohlin.

O artigo está disponibilizado nos anais do Encontro Nacional de Economia por meio do
link: <http://www.anpec.org.br/novosite/br/encontro-2010>.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

O artigo “Os Efeitos do Comércio Exterior sobre a Distribuição de Renda” de Eli


Hecksher apresentou o esboço do que viria a se torna a “teoria moderna do comércio
internacional”. Como essa teoria pode contribuir para o comércio internacional hoje?

Fonte: Salvatore (2000, p. 69).

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), chegamos ao final da unidade conhecendo sobre as teorias do
comércio internacional. Vimos os conceitos, a teoria e evolução do comércio
internacional, como se deu a origem das teorias de comércio internacional. O período
anterior ao Mercantilismo, e assim, foi possível avaliar os fatos que ocorreram nesse
período e como isso acarretou no início das teorias de comércio internacional.
O início das teorias de comércio internacional se deu por meio de Adam Smith com
a teoria das vantagens absolutas. Segundo o autor, as nações deveriam produzir bens
em que tinham custos de produção mais barato, ou seja, as nações devem exportações
produtos que são mais baratos para produzir e importar produtos mais caros para
produzir.
Outro autor da escola clássica, David Ricardo apresentou também uma importante
contribuição para a teoria do comércio internacional com uma nova teoria que seria um
avanço da teoria de Adam Smith, ele desenvolveu a teoria das vantagens comparativas.
Segundo David Ricardo os países deveriam se especializar na produção de bens em que
possuíam maior vantagem relativa. Desse modo, as nações deveriam exportar bens que
possuem maiores vantagens relativas e importar bens que possuem menores vantagens
relativas.
E, por fim, o modelo de Heckscher-Ohlin da escola neoclássica, em que
apresentou uma teoria mais moderna em relação às teorias apresentadas anteriormente.
Essa teoria não considera apenas o fator de produção trabalho na produção de bens dos
países, ela considera também a terra. Assim, é possível avaliar como os produtores
escolhem a alocação dos fatores produtivos internamente e para o comércio
internacional.
Assim, chegamos ao final da unidade, esperamos que tenham gostado, ótimo
estudo a todos!
LEITURA COMPLEMENTAR

MOREIRA, U. Teorias do comércio internacional: um debate sobre a relação entre


crescimento econômico e inserção externa. Revista de Economia Política, v. 32, n. 2,
p. 213-228, 2012.
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO

Título: Economia Internacional e Comércio Exterior.

Autor: MAIA, Jayme de Mariz.

Editora: Atlas.

Ano: 2014

Sinopse: O desenvolvimento do comércio internacional vem ganhando uma importância


cada vez maior, sendo capaz de transformar nações pequenas e pobres em respeitáveis
potências econômicas. No caso brasileiro, o comércio exterior tem dado importante
contribuição para nossa economia. Ele deu à nossa produção maior competitividade
porque permitiu que nossas indústrias produzissem em escala superior à capacidade de
nosso mercado interno. Com isso ganhamos custos menores e também ganhamos
empregos. Mesmo assim, nossas exportações ainda são pequenas, se comparadas com
as exportações mundiais, o que mostra a necessidade de dedicarmos mais cuidados com
os problemas relacionados com a Economia Internacional e o Comércio Exterior.
Evolução do Comércio Internacional, Blocos Econômicos e Organismos Regionais,
Mercado Cambial, Teorias Clássicas e Modernas de Comércio Internacional, Paraísos
Fiscais, o Brasil e a Economia Mundial e o Brasil e o Comércio Internacional são alguns
dos tópicos abordados. Livro-texto para as disciplinas Economia Internacional e
Comércio Exterior dos cursos de Administração (Habilitação em Comércio Exterior) e
Economia. Leitura relevante para profissionais da área de Comércio Internacional.
FILME/VÍDEO

Título: Adeus, Lenin!

Ano: 2004.

Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin
Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram
o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua
cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel
Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe
prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner
permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja
assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUE, S. L. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Thomson, 2006.

GONÇALVES, R. A Nova Economia Internacional: Uma Perspectiva Brasileira.


Rio de Janeiro: Elsevier, 1998.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 6. ed.


São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005.

SALVATORE, D. Economia Internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.


UNIDADE II
BLOCOS ECONÔMICOS
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• Políticas comerciais
• Abertura econômica para países em desenvolvimento
• Formação de blocos econômicos e sua taxonomia

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar as políticas e estratégias comerciais
• Compreender os tipos de políticas e estratégias comerciais
• Estabelecer a importância das políticas e estratégias comerciais
INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), bem vindo (a) a esta unidade do livro.
Nesta unidade será estudado sobre as políticas comerciais e a formação dos
blocos econômicos internacionais e sua taxonomia. Essa é uma área do conhecimento
que aborda sobre como os países se comportam no comércio internacional e quais suas
decisões.
Inicialmente, foram estudados os diferentes tipos de instrumentos de política
comercial, sendo as tarifas de importação, as cotas de importação, os subsídios às
exportações e as restrições voluntárias às exportações. Cada uma das políticas possui
suas especificidades, porém, todas apresentam o mesmo objetivo, de proteger a indústria
nacional por meio da restrição de importações para o doméstico.
Em seguida, será apresentado como se deu a abertura econômica nos países em
desenvolvimento e sua relação com as políticas comerciais. Passando pelo período das
economias primário-exportadoras, seguindo para o Processo por Substituição de
Importações até chegar ao período de abertura comercial dos países em
desenvolvimento.
Por fim, vamos estudar sobre os blocos econômicos e sua taxonomia. Sendo que,
as estratégias comerciais realizadas pelos países podem ser divididas em regionalismo,
integração econômica e multilateralismo. Serão abordadas as especificações de cada um
dos diferentes tipos de blocos econômicos.
Desejamos um ótimo estudo a todos!
1 POLÍTICAS COMERCIAIS

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Nesta unidade foram abordados os instrumentos das políticas comerciais e adoção


das mesmas em países em desenvolvimento. Além disso, também foram apresentadas
as estratégias comerciais por meio da formação de blocos econômicos, que ocorreram
principalmente com a abertura comercial.

Instrumentos de política comercial

As políticas comerciais são ações que os países adotam em relação ao comércio


internacional. Sendo que, podem ser utilizados diferentes instrumentos nesse sentido,
como as tarifas ou impostos de importação, os subsídios às exportações, as cotas de
importação e as restrições voluntárias às exportações.
Inicialmente, vamos falar das tarifas de importação, mais especificamente da tarifa
aduaneira, que é considerada a mais simples das políticas comerciais. As tarifas
aduaneiras se referem a uma tarifa cobrada na importação de alguma mercadoria
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005). Essa tarifa pode apresentar duas formas, apresentadas
a seguir:
● Tarifas específicas: para as tarifas específicas, como o nome diz, é
cobrado um valor específico, fixo, para cada unidade da mercadoria
importada. Por exemplo, para cada saca de milho importada é cobrado o
valor de US$ 5,00.
● Tarifas ad valorem: para as tarifas ad valorem, o importador deve pagar
um percentual do valor total de mercadorias importadas. Por exemplo: é
cobrado um percentual de 15 por cento do valor total de importação de
notebooks.
Entre os instrumentos de políticas comerciais, a tarifa aduaneira, de acordo com
Krugman e Obstfeld (2005), além ser o mais simples, é a política comercial mais velha
adotada pelos países. A principal motivação das nações adotarem esse tipo de política é
que, além de ser uma fonte de receita para o governo, contribuía para proteger a indústria
de alguns setores importantes na economia, devido à elevação do preço de produtos das
indústrias que fosse objetivo do governo proteger.
A seguir é possível avaliar os efeitos de uma política de tarifas aduaneiras para o
país doméstico, que adota a política, para o país estrangeiro e para o mercado mundial.
Inicialmente vamos verificar a derivação da curva de demanda por importações e da
curva de oferta de exportações. (Figuras 3 e 4).

Figura 3 – Derivando a curva de demanda por importações do país local


Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Analisando a Figura 3, conforme as curvas de oferta e demanda de determinado


bem, verificamos que, um aumento do preço desse bem, leva a uma redução da
quantidade demandada, enquanto os produtores elevam a quantidade ofertada do bem.
Diante desse cenário, a quantidade demandada de importação também apresenta queda.
Portanto, o preço de determinado bem apresenta relação inversa com a
quantidade demandada do bem do próprio país e com a quantidade demandada do país
estrangeiro (importação). A seguir, na Figura 4 foi apresentada a derivação da curva de
oferta de exportação do país estrangeiro.
Figura 4 – Derivando a curva de oferta de exportações do país estrangeiro
Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Considerando a Figura 4, conforme as curvas de oferta e demanda de determinado


bem, verificamos que, uma redução do preço desse bem, leva a um aumento da
quantidade demandada do país externo, enquanto os produtores do país estrangeiro
reduzem a quantidade ofertada do bem. Quanto às exportações do país estrangeiro,
ocorre uma redução da quantidade ofertada para exportação.
A partir da derivação das curvas é possível verificar o preço de equilíbrio mundial,
em que poderá ser apresentado no ponto em que ocorre o cruzamento das curvas de
demanda por importações do país doméstico e de oferta de exportações do país
estrangeiro.
Portanto, a política de tarifas de importação tem como propósito a proteção de
determinados setores da economia doméstica. Pois com a adoção da política, os preços
para importação ficam mais caros e desestimula a importação para o país doméstico,
fazendo com o preço dos bens nacionais fiquem mais atrativos para o consumo interno.
Sendo assim, foram apresentados na Figura 5 os efeitos de uma política de tarifa
no país doméstico, no país estrangeiro e no mercado mundial. Os efeitos são
apresentados diante de uma condição inicial de equilíbrio mundial em que a demanda
por importações do país doméstico é igual a oferta de exportações do país estrangeiro
Figura 5 – Efeitos de uma política de tarifa
Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Supondo uma política de tarifas sobre a soja no país doméstico, um aumento dos
preços de P¹ para P² (preço com a tarifa) leva há uma queda da quantidade demandada
e estimula o os produtores a aumentar a oferta. A partir disso, as importações sofrem
redução. As consequências para o mercado mundial é que com o aumento do preço da
soja, há uma queda da quantidade de Q¹ para Q².
Além disso, a adoção da política contribui não apenas para o aumento do preço
do país doméstico, mas também para a redução do preço no país estrangeiro. E assim,
há um aumento das exportações e uma redução das importações. Neste cenário, a Figura
6 mostra os custos e os benefícios que a política de tarifa causa para os consumidores e
produtores da economia doméstica.
Figura 6 – Excedente do consumidor e do produtor
Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

O excedente do consumidor apresentado na Figura 6 pela área da letra a,


representa quanto o consumidor obteve de prejuízo ao realizar a importação. Desse
modo, deve ser verificado, primeiro, a diferença entre o preço que ele estaria disposto a
pagar e o preço que realmente ele pagou e posteriormente a quantidade. Para uma
melhor compreensão, vamos considerar um exemplo, suponha que um país estaria
disposto a pagar por cada computador $ 1.000,00, sendo que ele compraria 100 unidades
de computador. Porém, ele pagou $ 1.100,00 e comprou 80 unidades de computador.
A diferença entre o preço que o consumidor pagaria e o preço pago foi de $ 100,00,
sabendo disso, deve ser considerada a quantidade que realmente foi importada.
Portanto, calculamos a área que apresenta o custo do excedente do consumidor, que
uma parte foi de $ 80.000,00, na outra parte que vai até a curva de demanda, deve ser
multiplicada a diferença do preço, já mencionada, e a diferença na demanda pelo bem,
sendo de 20 unidades, e o resultado divide por dois, sendo o valor de $ 2.000,00,
somando com $ 80.000,00, assim, a perda do excedente do consumidor apresenta o
valor de $ 82.000,00.
Quanto ao excedente do produtor, que foi apresentado pela letra b, representa o
ganho do produtor ao realizar a importação. Inicialmente, também deve ser considerada
a diferença a diferença entre o preço que ele estaria disposto a pagar e o preço que
realmente ele pagou e em seguida a quantidade. Seguindo com o exemplo citado, e
considerando que a quantidade ofertada aumentou de 100 para 120 unidades de
computador, deve ser verificado o valor do ganho do produtor até a quantidade inicial de
exportação, obtido por meio da multiplicação de 1.000 por 100, sendo de $ 100.000,00.
Em seguida, na outra parte que vai até a curva de oferta, deve ser multiplicada a
diferença do preço com a diferença na quantidade ofertada pelo bem, sendo de 20
unidades, e o resultado divide por dois, sendo o valor de $ 2.000,00, somando com $
100.000,00, portanto, o ganho do excedente do produtor apresenta o valor de $
102.000,00.
A Figura 7 apresenta o gráfico com os custos e benefícios da política de tarifa. A
área da letra a representa o ganho do excedente do produtor. As áreas das letras a, b, c
e d, representam a perda de excedente do consumidor. As áreas das letras c e e
representam o ganho da receita do governo.

Figura 7 – Custos e benefícios das tarifas para o país doméstico


Fonte: Krugman e Obstfeld (2005).

Desse modo, identificamos que a utilização de uma política de tarifas de


importação, resulta no aumento do preço do bem, aumento da produção interna e
redução do consumo interno. O custo para a economia é a perda do excedente do
consumidor e, em relação aos benefícios, eleva o excedente do produtor e o ganho do
governo com arrecadação.
Contudo, atualmente esse instrumento de política comercial não é a principal
medida adotada pelos países. Também são utilizadas pelos países outras políticas
comerciais, como a de cotas de importação e restrições voluntárias às exportações. No
qual depende dos objetivos do governo para o comércio internacional.
Em relação aos subsídios às exportações, o mesmo representa uma política
voltada para estimular as exportações no país. Um subsídio à exportação se refere a um
pagamento a uma empresa ou indivíduo que exporta. Sendo que, esse valor também
pode ser específico ou ad valorem. Com a adoção da política de subsídios às exportações
os exportadores exportam o bem até o ponto em que o preço doméstico excede o preço
estrangeiro no valor do subsídio.
Em relação às consequências da política de subsídios às exportações, foi
identificado as mesmas consequências das política de tarifas de importação, resulta no
aumento do preço do bem, aumento da produção interna e redução do consumo interno.
Quanto ao custo para a economia, também há perda do excedente do consumidor e o
governo perde com os gastos com subsídios, em relação aos benefícios, eleva o
excedente do produtor. Portanto, a diferença em relação às tarifas de importação é que,
nesse caso, o governo não ganha, o mesmo apresenta prejuízo, pois deve arcar com os
subsídios aos agentes exportadores.
Outra política muito utilizada é a de cotas de importação. Na política de cotas de
importação há uma restrição sobre a quantidade importada. Assim como na política de
tarifa de importação, também pode ser elevado o preço do bem importado no país
doméstico.
Além disso, uma elevação dos preços no mesmo montante de uma tarifa limita as
importações ao mesmo nível. A grande diferença dessa política em relação às tarifas de
importação é que, nesse caso, o governo não arrecada com arrecadada. O valor que
seria arrecadado pelo governo é recolhido por quem recebe as licenças para importar.
Por fim, temos a política restrição voluntária às exportações. Essa política é uma
cota sobre o comércio imposta pelo país exportador, sendo que, em geral essa política é
imposta a pedido do país importador. Assim sendo, equivale a uma cota de importação
com mais custos, sendo maiores que as tarifas. Portanto, a receita arrecadada é de posse
do país estrangeiro.
A política de restrição voluntária às exportações, diferente das demais políticas,
essa política não é adotada pelo país doméstico, porém, como foi mencionada, a mesma
é adotada pelo país estrangeiro a pedido do país doméstico, a fim de limitar as
importações do país doméstico. Apesar das diferentes especificações dos instrumentos
de políticas comerciais estudados até aqui, todos possuem o mesmo objetivo, que é
reduzir as importações.
2 ABERTURA ECONÔMICA PARA PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

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Até esse momento estudamos sobre os instrumentos de políticas comerciais e


como eles funcionam, porém, é preciso entender também quais as nações que utilizam
e quais seus motivos. No mundo existem economias mais ricas e as mais pobres, para
definir é utilizado o valor do Produto Interno Bruto (PIB).
Contudo devemos separar a análise quando comparamos países em, as maiores
economias, no qual apresentam os maiores valores do PIB total e, por outro lado, a
análise das economias mais ricas, em que apresentam os maiores valores do PIB per
capita1, conforme foram apresentados na Tabela 2 para o ano de 2017.

Tabela 2 – Produto Interno Bruto e Produto Interno Bruto per capita, 2017
MAIORES ECONOMIAS ECONOMIAS MAIS RICAS
País PIB(em PIB per capita País PIB(em PIB per capita
bilhões $) ($) bilhões $) ($)
Estados Unidos 19.485,2 60.054,9 (12º) Liechtenstein 6,1 (153º) 166.021,7
China 12039,0 8.682,2 (90º) Mônaco 6,4 (151º) 165.421,0
Japão 4.838,1 38.219,7 (31º) Luxemburgo 56,5 (75º) 106.805,8

1
PIB per capita é o valor total do PIB dividido pela população.
Alemanha 3.333,0 44.976,4 (22º) Bermuda 6,5 (150º) 102.192,1
Reino Unido 2.346,9 39.757,7 (28º) Suíça 657,8 (20º) 801.01,2
Índia 2.331,4 1.923,3 (162º) Noruega 354,2 (30º) 75.295,3
França 2.301.2 38414,9 (30º) Islândia 21,4 (109º) 73.060,2
Brasil 1.771,8 9821,4 (85º) Irlanda 311,0 (35º) 69.603,9
Fonte: IBGE.

Podem ser observadas na Tabela 2 as oito maiores economias do mundo no ano


de 2017, no qual a maior economia do mundo era os Estados Unidos, seguido pela China,
Japão, Alemanha, Reino Unido, Índia, França e Brasil. No entanto, essas economias não
são necessariamente ricas, ou desenvolvidas, podemos destacar o Brasil e a Índia que
são economias em desenvolvimento, porém estão na posição de 85º e 162º maiores
economias do mundo, respectivamente. Um fator que pode ser determinante para a
grande produção de bens e serviços finais nessas economias é sua extensão territorial e
da população.
Por outro lado, as economias mais ricas apresentam o maior PIB per capita, ou
seja, considera a produção medida por pessoa, uma comparação mais viável de riqueza
entre as nações. A economia mais rica do mundo em 2017 era Liechtenstein, seguida de
Mônaco, Luxemburgo, Bermuda, Suíça, Noruega, Islândia e Irlanda. Podemos notar que
as quatro economias mais ricas possuem o valor total do PIB relativamente pequeno,
quando observado sua posição, dentre os 211 países que foram extraídos os dados. Isso
pode ser explicado pelo baixo número de pessoas residentes no país.
Deve ser destacado que muitos países desenvolvidos não estão entre as
economias mais ricas. Quanto aos países em desenvolvimento, mesmo que seja uma
grande economia, não pode ser considerada rica ou desenvolvida. Nesse sentido, a
tentativa de alcançar o patamar das economias mais avançadas tem sido uma
preocupação central da política comercial dos países em desenvolvimento.
Segundo Fritsch (2014) até o final da década de 1920 as economias em
desenvolvimento apostavam na produção de produtos primários, como o Brasil, em que
seu principal produto de exportação era o café. No entanto, no início do século XX as
grandes economias passavam por sucessivos choques externos que iniciaram em 1914
e foram até a primeira metade da década de 1920. Sendo que o ápice foi em 1929, com
a Grande Depressão, que acarretou em prejuízos para muitas economias.
No Brasil, que tinha como principal produto exportador o café, o governo teve que
adotar uma política extrema de defesa do preço do café, comprando os estoques de café,
devido à queda da oferta mundial. No entanto, houve naquele período uma
superprodução de café que agravou ainda mais a situação. Diante desse cenário, o
governo guardou uma parte do estoque de café e chegou até queimar outra parte do café
(Fritsch, 2014).
Segundo Krugman e Obstfeld (2005), a partir da década de 1930 houve uma
mudança na adoção de políticas comerciais de muitas economias em desenvolvimento.
Essas economias procuraram adotar políticas comerciais para barrar a importação de
produtos manufaturados, para que pudessem incentivar a indústria nacional, essa
mudança ficou conhecida como industrialização pela substituição de importações.
O motivo principal pelo qual houve essa mudança para proteger as economias em
desenvolvimento é conhecido como argumento da indústria nascente. Esse argumento
diz que países em desenvolvimento apresenta uma vantagem comparativa potencial na
manufatura, no entanto, as novas indústrias manufatureiras não podem concorrer com
as já estruturadas manufaturas dos países desenvolvidos (SALVATORE, 2000).
Portanto, muitas economias em desenvolvimento acreditavam que alguns dos
seus setores industriais poderiam se desenvolver com o tempo e se tornarem
competitivos no comércio internacional. No entanto, para que isso ocorra, no início elas
devem ser protegidas por meio de políticas comerciais, com a adoção de políticas que
criam barreiras às importações.
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), apesar de ser um argumento
convincente, sendo utilizado por muitos países em desenvolvimento até a década de
1970, os economistas identificaram nessa estratégia algumas armadilhas, tendo de ser
usado com cuidado. Não é sempre que a indústria que possivelmente será competitiva
terá que ser protegida. Por exemplo, temos o caso da Coréia do Sul, um país que na
década de 1980, foi um grande exportador de automóveis, porém, tudo indica que não
surtiria resultados desenvolver essa indústria na década de 1960, devido a escassez de
capital e de trabalho qualificado.
Portanto, para uma nação adotar políticas que favorecem a industrialização
nacional, deve apresentar condições favoráveis, como a abundância dos fatores de
produção. Além dos fatores de produção existem as chamadas falhas de mercado que
prejudicam a industrialização doméstica. As falhas de mercado são representadas por
dois argumentos: mercados imperfeitos de capitais e o problema de apropriabilidade.
A falha de mercado dos mercados imperfeitos de capitais se refere a um país não
possui instituições financeiras que permita que a poupança de setores tradicionais, seja
utilizada para financiar novos investimentos. Os lucros iniciais baixos dos setores
manufatureiros serão um obstáculo ao investimento, mesmo que os retornos de longo
prazo desse investimento sejam elevados. Portanto, os setores industriais precisam da
poupança adquirida dos setores tradicionais para que possam se desenvolver.
Quanto à falha de mercado do problema de apropriabilidade, pode assumir
diferentes formas, porém todas possuem a ideia em comum de que em uma indústria
manufatureira nascente gera benefícios sociais pelos quais não são compensadas. As
empresas que entram primeiro em uma indústria podem ter que arcar com custos iniciais
de adaptação, de tecnologia, ou de abertura de novos mercados.
Enquanto que outras firmas podem seguir as líderes sem incorrer nesses custos
iniciais, e assim, as firmas pioneiras não recebam quaisquer retornos desses reembolsos.
Diante disso, não existem incentivos para a criação de uma nova indústria por parte das
empresas que seriam pioneiras.
Conforme Krugman e Obstfeld (2005), apesar do desenvolvimento das nações
estarem em função das políticas comerciais adotadas, há outro fator dificulta o
desenvolvimento do país, o desenvolvimento desigual dos setores. Os países que tem
esse desenvolvimento desigual são caracterizados com uma economia dual. Ou seja,
são nações em que, o setor manufatureiro apresenta um desenvolvimento muito maior
que o desenvolvimento do setor tradicional.
Para identificar o dualismo econômico em uma economia, podem ser verificados
alguns sintomas:
● O valor do produto por trabalhador é muito maior no setor moderno do que no resto
da economia.
● Além do produto por trabalhador, o salário também é mais elevado.
● Retornos do capital não são necessariamente maiores.
● Maior intensidade de capital no setor manufatureiro do que na agricultura.
Além disso, existem duas políticas que podem contribuir para o dualismo
econômico, salários elevados na indústria e de cotas de importação. Com a política de
salários, as empresas oferecem salários elevados na indústria para reduzir a rotatividade
e aumentar o esforço no trabalho, colaborando para a desigualdade dos setores. Em
relação à adoção de cotas de importação, com o comércio mais livre os salários seriam
menores, e assim, não contribuiria tanto para a desigualdade dos salários entre os
setores.
A partir da década de 1980, especialmente na década de 1990 houve uma
mudança no ponto de vista do desenvolvimento econômico e política comercial. As
nações em desenvolvimento procuraram se especializar na produção de bens em que,
relativamente são eficientes, ou seja, especialmente nos setores tradicionais.
Os fatores que podem ter contribuído foram, principalmente, aos avanços
tecnológicos e pesquisas para a produção no campo. Porém, diferente do que acontecia
até a década de 1930, em que se especializavam na produção concentrada, no caso do
Brasil, por exemplo, o café. Agora, procurariam se especializar em uma diversidade de
produtos.
Além disso, com os avanços tecnológicos que ocorreram, houve o fortalecimento
da agroindústria, agora os países em desenvolvimento, não só exportavam as
commodities, mas também, produtos industrializados que tinham como matéria-prima os
produtos agrícolas.
O Brasil, que apresenta condições favoráveis para a agricultura é um exemplo
destes avanços que ocorreram, podem ser citadas algumas ações que aconteceram no
país que foram consequências desses avanços, como o desenvolvimento de
cooperativas agroindustriais e políticas do governo para o fortalecimento de agricultores
familiares com a criação do Programa Nacional do Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF) em 1995.
3 FORMAÇÃO DE BLOCOS ECONÔMICOS E SUA TAXONOMIA

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Devido às mudanças nas políticas comerciais ocorridas nas últimas décadas, a


globalização dos mercados e avanços tecnológicos, transformando a estrutura do
comércio internacional. Foi possível observar uma abertura do comércio internacional,
além da adoção de estratégias de comércio internacional que impacta diretamente nos
diversos setores da economia.
Desse modo, foram criadas novas formas de estratégias de comércio
internacional, sendo conhecidas como: regionalismo, integração econômica e
multilateralismo. Cada uma dessas estratégias apresentam suas especificidades e são
conhecidos como blocos econômicos.
O regionalismo é uma forma de integração econômica ou política de uma
determinada região, originando os blocos regionais. Um exemplo é a Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL. Um dos fatores que motivam os
países para o regionalismo é a insatisfação com as negociações multilaterais junto ao
órgão internacional do comércio. Esse fator é considerado a principal motivação, pois as
rodadas de negociações realizadas pelo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) não
eram capazes de impedir os aumentos tanto de barreiras tarifárias como não tarifárias.
Outro fator se refere ao tratamento diferenciado dos produtos agrícolas ou
produtos manufaturados intensivos em mão de obra. O que se percebia eram ações
consideradas bem sucedidas na redução de barreiras para os setores manufatureiros, ou
seja, para os setores industriais. Nesse sentido, os países em desenvolvimento, nos
quais suas produções eram em produtos primários eram motivados a realizar esse tipo
de estratégia de comércio internacional para auferir ganhos, já que as transações
favoráveis seriam para os setores industriais.
Podem se encontrados três formas de acontecer o regionalismo: blocos regionais;
regionalismo; e polarização. Os blocos regionais se refere a formação dos blocos
regionais, ou seja, consiste na finalidade de concentrar o comércio internacional entre os
países de um determinado acordo bilateral ou acordo formal de integração econômica. O
regionalismo apresenta elementos de proximidade geográfica. A finalidade, basicamente,
é a mesma de concentrar o comércio internacional entre os países que fazem parte do
bloco. A polarização é uma modalidade que possui características mais específicas, ou
seja, visa a concentração do comércio internacional entre grupos de países em
desenvolvimento com um grupo de países industrializados.
A estratégia comercial mais comum é conhecida como integração econômica. a
integração economia é a união de economias que ultrapassa as fronteiras geográficas,
com o intuito de reduzir as barreiras ao comércio. Temos como exemplo a União Europeia
– EU e o Mercado Comum do Cone Sul – Mercosul.
As motivações para o processo de integração são de natureza econômica e
incentivam os países a formação de blocos que garantam benefícios os países membros
do acordo. A integração econômica é composta por fases no seu processo, em que os
países que fazem o acordo devem passar, essas fases são apresentadas a seguir:
A. A zona preferencial de comércio: essa fase é conhecida como acordos de
cooperação comercial e caracteriza-se pela eliminação parcial das tarifas em geral, sob
a forma de concessões mútuas (ou não) de redução de tarifas, com ou sem fixação de
cotas de importação. Tendo como exemplo a Associação Latino-Americana de
Integração (ALADI).
B. A zona de livre comércio: essa segunda fase da integração é caracterizada pela
extinção de tarifas aduaneiras e outras restrições ao comércio entre os países
participantes do acordo. A vantagem desse acordo é que cada país preserva sua
autonomia na política comercial em relação aos países fora do acordo, ou seja, possuem
liberdade para práticas de tarifas aduaneiras diferenciadas. Um exemplo dessa fase é o
Tratado de Livre Comércio das Américas (NAFTA).
C. A união aduaneira: essa fase se caracteriza pela ausência de barreiras ao
comércio entre os países participantes do acordo. Além disso, os países membros devem
adotar a prática de uma tarifa externa comum a ser aplicada a países fora do bloco. Um
exemplo é o Mercosul.
D. O mercado comum: é a fase que ocorre a eliminação de barreiras às trocas de
mercadorias e fatores de produção. Portanto, os países desse mercado devem se
estimular a utilizar os instrumentos de suas políticas em conjunto. O exemplo dessa fase
é a União Europeia.
E. A união econômica: se refere a fase de integração considerada em que envolve
perda de soberania nacional para gerir determinadas políticas. É uma fase em que se
estabelece uma autoridade supranacional com aplicação das políticas comuns entre os
países partícipes da união e o exemplo para essa fase é a União Europeia.
F. A união política: é a fase que constituiu a formação de uma confederação de
estados que discutem apenas as áreas acordadas entre esses estados. Trata-se de uma
união política que deve ter práticas de cooperação no âmbito da política externa e de
defesa. Ou seja, é uma fase em que os países não apenas adotam políticas em comum,
mas tem uma cooperação nas políticas de defesa de setores estratégicos para os países
do acordo, sendo que a União Europeia também é o único bloco que chegou nessa fase
de integração. Assim, a União Europeia é o bloco econômico que apresenta a fase mais
avançada de integração econômica.
G. A integração econômica total: considerado o estágio mais avançado de
integração econômica sendo caracterizado pela criação de uma moeda única comum e
de um banco central regional independente, em que se configura a formação de uma
união monetária. Esse estágio pressupõe a perda total de autonomia dos estados
nacionais na gestão da política monetária. Ainda não chegamos nessa etapa de
integração, por isso não há exemplos para citar.
O multilateralismo se refere à participação de vários países que se esforçam para
atingir um objetivo comum. Seria necessário adequar as regras do comércio mundial ao
chamado livre comércio e aos benefícios para o bem-estar econômico, garantindo o livre
comércio em escala mundial. Portanto, o multilateralismo visa beneficiar o comércio entre
os países em todo o mundo, para gerar ganhos não apenas para um grupos de países,
mas para o máximo de países no mundo por meio das regras do comércio mundial.
SAIBA MAIS

Existem muitos trabalhos na literatura científica que falam sobre políticas e/ou
estratégias comerciais, um exemplo é o artigo intitulado de “A Rodada Doha, as
mudanças no regime do comércio internacional e a política comercial brasileira”, de
autoria de Susan Elizabethth Martins Cesar e Eiiti Sato, em que discutem os atuais
desafios do multilateralismo tradicional no comércio, presentes nos impasses da Rodada
Doha, diante das novas realidades do comércio internacional globalizado.

O artigo está disponibilizado nos anais do Encontro Nacional de Economia por meio do
link: <https://www.redalyc.org/pdf/358/35823357011.pdf>.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

A presente unidade mostrou as relações comerciais que cada país pode ter com
o resto do mundo, com diferentes políticas e estratégias comerciais. Pautado nos
conhecimentos adquiridos, o Brasil poderia adotar alguma ação diferente em relação ao
comércio internacional para contribuir com a retomada do crescimento econômico?

Fonte: Elaborado pelo professor.

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), chegamos ao final desta unidade conhecendo sobre as políticas
comerciais e as estratégias do comércio internacional. Foi estudo na unidade sobre os
instrumentos de política comercial, que acarretam em um aumento do preço dos produtos
importados para o favorecimento da indústria nacional.
Foi verificado que existem custos e benefícios da política comercial, os custos
podem ser medidos pela perda do excedente do consumidor e os benefícios podem ser
medidos pelos ganhos do excedente do produtor. Pois com o aumento dos preços o
produtor apresenta ganhos, enquanto que, os consumidores apresentam prejuízos, pois
devem pagar os bens mais caros. Além disso, o governo também ganha com a
arrecadação.
Os outros instrumentos de política comercial também resultam no aumento de
preços das importações, porém, existem outras diferenças. As cotas de importações
apenas limitavam as importações no país doméstico, assim, diferente do que ocorria com
a política de tarifa, o governo não arrecadava. Na política de subsídios às exportações,
além do governo não arrecadar, ainda arcava com os pagamentos de subsídios às
empresas. E a política de restrições voluntárias às exportações, diferente das demais,
não era adotada pelo país doméstico, era realizada pelo país estrangeiro, no entanto,
geralmente essa política era adotada a pedido do país doméstico, desse modo, a
arrecadação era destinada ao país estrangeiro.
Por último, foi estudo sobre a criação dos blocos econômicos e suas
especificações. Sendo que, os blocos podem ser classificados em regionalismo,
integração econômica e multilateralismo. Além disso, foi verificado que a integração
econômica mais avançada que existe é a União Europeia.
Assim, chegamos ao final da unidade, esperamos que tenha gostado ótimo estudo
a todos!
LEITURA COMPLEMENTAR

PIANI, G.; KUME, H. Fluxos bilaterais de comércio eblocos regionais: uma


aplicação domodelo gravitacional. Rio de Janeiro, RJ: IPEA, 2000. 17 p. (Texto para
Discussão, n. 749).
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO

Título: Economia Internacional.

Autor: CARMO, Edgar Cândido; MARIANO, Jefferson.

Editora: Saraiva.

Ano: 2017.

Sinopse: “Economia Internacional” apresenta um panorama dos principais temas em


discussão atualmente sobre a área como: comércio internacional, livre comércio e
protecionismo, integração econômica e blocos regionais, globalização, sistema financeiro
internacional, taxa de câmbio e balanço de pagamentos. Em sua terceira edição
atualizada e ampliada, a obra ganha um novo capítulo que aborda a crise financeira
global e seus impactos sobre a economia brasileira. De maneira clara e sem
complicações, trata-se de um conteúdo que ajudará os graduandos a se familiarizarem
com os conceitos e as terminologias utilizadas na economia moderna.
FILME/VÍDEO

.
Título: Babel.

Ano: 2006.

Sinopse: Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Marrocos.


Entre os viajantes estão Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de
americanos. Ali perto os meninos Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid)
manejam um rifle que seu pai lhes deu para proteger a pequena criação de cabras da
família. Um tiro atinge o ônibus, ferindo Susan. A partir daí o filme mostra como este fato
afeta a vida de pessoas em vários pontos diferentes do mundo: nos Estados Unidos,
onde Richard e Susan deixaram seus filhos aos cuidados da babá mexicana; no Japão,
onde um homem (Kôji Yakusho) tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a
filha surda (Rinko Kinkuchi) a aceitar a perda; no México, para onde a babá (Adriana
Barraza) acaba levando as crianças; e ali mesmo, no Marrocos, onde a polícia passa a
procurar suspeitos de um ato terrorista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRITSCH, W. Apogeu e crise na Primeira República, 1900-1930. In: Abreu, M. de P.


(Org.). A Ordem do Progresso: Dois Séculos de Política Econômica no Brasil. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2014. p. 45-78.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Países. Disponível em:


https://paises.ibge.gov.br/#/. Acesso em: 23 set. 2019.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 6. ed. São


Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005.

SALVATORE, D. Economia Internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.


UNIDADE III
TAXAS DE CÂMBIO E REGIMES CAMBIAIS
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• Taxas de câmbio.
• Regimes cambiais e sua influência no fluxo comercial e na economia como um todo.
• O balanço de pagamentos e sua relação com as políticas comerciais.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar a taxa de câmbio, regimes cambiais e o balanço de
pagamentos.
• Compreender os tipos de regimes cambiais e o balanço de pagamentos.
• Estabelecer a importância dos regimes cambiais e do balanço de pagamentos.
INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), bem vindo (a) a terceira unidade do livro.
Nesta unidade, vamos conhecer mais alguns aspectos relevantes sobre a
economia internacional. Nesse contexto, será abordado mais afundo sobre as transações
entre os países no comércio internacional e como são contabilizadas essas transações.
Como já vimos, o comércio em uma escala mundial gera ganhos para a economia
mundial. No entanto, algumas economias podem se beneficiar, enquanto outros podem
apresentar prejuízos no comércio internacional. Inicialmente, foram apresentados os
conceitos e definições das taxas de câmbio, como interfere nas transações no comércio
internacional e quais os tipos de taxas de câmbio e quais suas utilidades.
Em seguida, será abordado o que são e como funcionam os regimes cambiais nas
nações, sendo que são adotados como um tipo de política econômica, em que depende
dos objetivos do governo. Além disso, foi verificado como os regimes cambiais impactam
na economia e quais os impactos para a economia mundial.
Por fim, vamos conhecer a estrutura do Balanço de Pagamentos que representa
um registro contábil de todas as transações internacionais realizadas de um país com o
resto do mundo, ou seja, as transações entre residentes e não residentes. E ainda, qual
a importância de conhecer essas contas e identificar qual a real situação financeira de
uma nação no comércio internacional, para que assim, o governo tome as melhores
decisões em termos de políticas comerciais.
Desejamos um ótimo estudo a todos!
1 TAXAS DE CÂMBIO

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globe-over-611972594

O câmbio é considerado um dos preços mais importantes em uma economia


aberta, pois o valor das transações comerciais entre os países são dadas por meio desse
preço. Sendo assim, o câmbio possui um papel fundamental na economia, sendo
utilizado por todos, de forma direta ou indireta.
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), a taxa de câmbio pode ser definida
como o valor pago de uma moeda para adquirir outra. Portanto, a taxa de câmbio entre
dois países pode ser obtida de duas formas, uma para cada país, sendo que a valor da
taxa de câmbio é dado pelo preço em unidades monetárias do país doméstico, para
adquirir uma unidade monetária do país estrangeiro.
Considere dois países, Brasil e Estados Unidos, sabemos que R$ 4,00 vale US$
1,00. Considerando o Brasil como país doméstico, o valor da taxa de câmbio é de R$
4,00 / US$ 1,00. Para achar a taxa de câmbio em que, os Estados Unidos é o país
doméstico, devemos verificar quantos dólares são necessário para comprar um real,
sabemos que US$ 1 vale R$ 4,00, portanto, dividimos 1 / 4, então, a taxa de câmbio para
os Estados Unidos é de US$ 0,25 / R$ 1,00.
De acordo com Ratti (1997), a variação na taxa de câmbio é dada pela oferta e
demanda por moeda estrangeira. Com um aumento da demanda por moeda estrangeira,
ocorre uma depreciação cambial, ou seja, há uma elevação da taxa de câmbio, pois é
necessário mais unidades de moeda doméstica para comprar uma unidade de moeda
estrangeira. Por outro lado, um aumento da oferta de moeda provoca uma apreciação
cambial, ou seja, uma redução na taxa de câmbio, e assim são necessários menos
unidades de moeda doméstica para comprar uma unidade de moeda estrangeira.
Consequentemente, como a taxa de câmbio se refere à relação dos preços entre
o país doméstico e o país estrangeiro, uma depreciação cambial no país doméstico,
provoca uma apreciação cambial no país estrangeiro, enquanto a apreciação no país
doméstico resulta em uma depreciação cambial no país estrangeiro (SALVATORE,
2000).
Para as transações comerciais entre as nações a moeda com maior aceitação é o
dólar, com isso, os bens e serviços negociados no comércio internacional devem ser
comercializados nessa moeda. Além dessa moeda, o Euro (€) e a Libra Esterlina (£)
também apresentam grande aceitação. Com uma alteração no valor da taxa de câmbio,
o preço de bens e serviços no comércio internacional pode ficar mais caro ou mais barato.
Sabendo o valor da taxa de câmbio entre euro e dólar, podemos verificar qual o
valor das exportações da Espanha para os Estados Unidos. Sendo o valor ganho em
euros para a Espanha e o valor gasto para os Estados Unidos. Sendo o valor do câmbio
de € 1,00 / US$ 1,00 e o valor total das exportações de computadores de US$ 100.000,00,
dado por 100 unidades desta mercadoria. Temos que o valor gasto para os Estados
Unidos é de US$100.000,00, enquanto o valor ganho da Espanha era de € 100.000,00.
Considerando as mesmas informações apresentados no parágrafo anterior, uma
depreciação cambial da Espanha, onde eleva a taxa de € 1,00 / US$ 1,00 para € 2,00 /
US$ 1,00 provoca alterações nos gastos dos Estados Unidos e nos ganhos dos estados
Unidos para essa comercialização. Para os Estados Unidos a taxa de câmbio é de US$
0,50 / € 1,00, assim, o valor gasto dos Estados Unidos é de US$ 50.000,00, enquanto o
ganho das exportações da Espanha é de € 100.000,00.
Isso mostra que, houve uma depreciação cambial para a Espanha, e com isso,
houve um benefício para as exportações. Para os Estados Unidos, enquanto importador,
essa mudança no câmbio representou uma apreciação cambial, portanto, também
acarretou em um benefício, pois o custo de importação dos computadores ficou menor.
Por outro lado, essa alteração na taxa de câmbio não é benéfica para a importação na
Espanha e para os exportadores nos Estados Unidos.
Nesse sentido, podemos destacar as vantagens e desvantagens da depreciação
cambial e da apreciação cambial. Podemos citar como vantagens da depreciação
cambial, o incentivo às exportações no país, pois o país fica mais competitivo no comércio
internacional, gerando assim, melhores saldos na balança comercial. Por outro lado,
prejudica os importadores, com o aumento dos preços dos produtos importados, e em
uma situação de alta inflação, pode agravar mais a situação, levando esse aumento de
preços aos consumidores.
Quanto à apreciação cambial, traz incentivos aos importadores, com o preço de
bens e serviços mais baratos, e pode contribuir para barra a inflação. No entanto, a
apreciação cambial não é benéfica para os exportadores, com a redução a redução do
ganho no comércio internacional, pois a nação ficar menos competitiva no comércio
internacional.
Conforme Gonçalves (1998) existem dois tipos de taxa de câmbio, a taxa nominal
de câmbio e a taxa real de câmbio. Até agora vimos a taxa nominal de câmbio, que se
refere a quantas unidades monetárias são necessárias do país doméstico para adquirir
uma unidade monetária do país estrangeiro. Formalmente, esse tipo de taxa de câmbio
pode ser expresso por:

𝑃
𝑒=
𝑃∗

Em que,
● 𝑒: representa a taxa nominal de câmbio;
● 𝑃: representa o preço do país doméstico;
● 𝑃∗ : representa o preço do país estrangeiro.
Em relação à taxa real de câmbio, é a taxa em que se podem realizar trocas de os
bens e serviços de um país pelos bens e serviços de outro país. Portanto, a taxa de
câmbio real compara os preços de bens domésticos e importados na economia
doméstica, ou seja, em moeda local. A taxa real de câmbio depende da taxa nominal de
câmbio estrangeiro e dos preços dos bens nos dois países medidos em moedas locais.
Assim, a equação da taxa real de câmbio pode ser expressa por:

𝐸 . 𝑃∗
𝑒𝑅 =
𝑃

No qual,
● 𝑒𝑅 : representa a taxa real de câmbio
● 𝐸: representa a taxa nominal de câmbio estrangeiro;
● 𝑃: representa o preço do país doméstico;
● 𝑃∗ : representa o preço do país estrangeiro.
A taxa real câmbio, diferente da taxa nominal, ela compara o preço de bens e
serviços entre dois países na moeda do país local. Enquanto a taxa nominal de câmbio
apresenta o preço em unidades de moeda doméstica em relação a uma unidade da
moeda estrangeira. Para uma melhor compreensão, segue uma aplicação prática.
No comércio de notebooks entre Brasil e Estados Unidos, sabendo que o Brasil é
o país doméstico, vamos considerar que um notebook custa R$ 3.000,00 no Brasil e nos
Estados Unidos esse mesmo notebook custa US$ 1.500, sendo que a taxa nominal de
câmbio para os Estados Unidos é de R$ 0,25 US$/R$. Vamos identificar qual a taxa mais
depreciada para o país doméstico, ou seja, para o Brasil.
Inicialmente, devemos identificar qual a taxa nominal de câmbio, sabe-se que a
taxa nominal de câmbio para os Estados Unidos é R$ 0,25 US$/R$, portanto, sabemos
que, enquanto o preço local (P) é R$ 1,00, o preço do país estrangeiro é US$ 0,25, então
temos que a taxa nominal de câmbio é:

𝑃 1,00
𝑒= ∗
= = 𝑅$ 4,00/𝑈𝑆$
𝑃 0,25

Sabemos o preço da taxa nominal de câmbio, agora podemos calcular o preço da


taxa real de câmbio para o notebook. Como a taxa real de câmbio é referente aos bens
e serviços, vamos utilizar o preço do notebook nos países:

𝑒 . 𝑃∗ 4,00 . 1500
𝑒𝑅 = = = 𝑅$ 2,00/𝑈𝑆$
𝑃 3000

Diante desse cenário, verificamos que a taxa real de câmbio é mais apreciada que
a taxa nominal de câmbio. O que influencia a taxa real de câmbio é o nível de preços dos
bens e serviços de uma economia em relação à outra. Considerando Brasil e Estados
Unidos, quanto maior a inflação no Brasil, ceteris paribus1, mais depreciada fica a taxa

1
Ceteris paribus é uma expressão do latim que significa “tudo o mais é constante”, ou seja, as demais
variáveis permanecem inalteradas.
real de câmbio, e assim, os bens e serviços brasileiros ficam mais baratos que os bens e
serviços nos Estados Unidos, desestimulando as importações.
Ao mesmo tempo em que, há uma apreciação taxa real de câmbio nos Estados
Unidos, sendo que para eles é mais vantajoso importar do Brasil que consumir os bens
e serviços no seu país, visto que os bens e serviços ficam mais caros nos Estados Unidos.
Com um aumento de preços no país estrangeiro (Estados Unidos) ocorre o efeito é ao
contrário.
2 REGIMES CAMBIAIS E SUA INFLUÊNCIA NO FLUXO COMERCIAL E NA
ECONOMIA COMO UM TODO

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Neste tópico foi abordado acerca dos regimes cambiais, como já foi visto no tópico
anterior, podemos verificar como realizamos a conversão de uma moeda para outra, a
fim de, realizar uma compra ou mesmo para comprar moeda estrangeira. Além disso,
aprendemos também como comparar os preços de bens e serviços entre dois países.
As nações possuem estratégias para atender suas necessidades econômicas,
sendo uma das mais importantes, a política externa, especialmente em economias
abertas. A política cambial apresenta impacto direto na taxa de câmbio, influenciando os
agentes econômicos que participam do comércio internacional.
Segundo Gonçalves (1998), os três principais tipos de regimes cambiais, o regime
de câmbio fixo, o regime de câmbio flutuante e o regime de bandas cambiais, também
conhecido como flutuação suja. No regime de câmbio fixo, a taxa de câmbio é definida
pelo governo, e o Banco Central, deve mantê-la por meio de intervenções no mercado
de divisas2, comprando ou vendendo divisas.
Como já foi estudo anteriormente, o que determina a taxa de câmbio é a oferta e
demanda por moeda estrangeira. Desse modo, o Banco Central utiliza as reservas
internacionais para manter a taxa de câmbio inalterada. Quanto há uma depreciação
cambial, os agentes estão demandando mais moeda estrangeira, então o governo vende
divisas, com o aumento da oferta de divisas o câmbio se aprecia.
Caso houver uma apreciação cambial, o governo deve comprar moeda
estrangeira, assim haverá um aumento da demanda por divisas, fazendo com que a taxa
de câmbio volte ao seu patamar fixado por meio da depreciação cambial. Diante desse
cenário, o governo não pode alterar a oferta de moeda doméstica.
Desse modo, podemos perceber que uma das desvantagens do regime de câmbio
fixo é a perda de política monetária. Além disso, com um câmbio apreciado as empresas

2
Divisas se refere a moeda estrangeira.
se tornam menos competitivas no comércio internacional, com o menor ganho, pois os
bens e serviços ficam mais baratos.
Por outro lado, quanto às vantagens do comércio internacional, as empresas que
importam matéria-prima contam com preços mais atrativos. E ainda, com o câmbio fixado,
pode contribuir para o controle da inflação por meio de uma âncora cambial. Com o preço
de bens e serviços do exterior mais competitivo no mercado doméstico, as empresas
nacionais tendem reduzir os preços, resultando em um controle do nível de preços.
Como exemplo para o controle do nível de preços é o caso do Brasil, na
implementação do Plano Real em 1994, um real valia um dólar dos Estados Unidos. Isso
também foi possível pela abundante quantidade de reservas internacionais, o primeiro
semestre deste ano, a inflação estava em torno de 40% e 50% ao mês. Sendo que no
primeiro mês com a nova moeda, a inflação foi de 10% e no final do ano chegou a 1%,
mostrando o resultado dessa política naquele momento (ABREU e WERNECK, 2014).
Quanto ao regime de câmbio flutuante, a taxa de câmbio é definida pelo mercado
de divisas, sem a intervenção do governo, ou seja, é dado pela oferta e demanda de
divisas. Sendo assim, a taxa de câmbio flutua de acordo com os movimentos do mercado,
um aumento da demanda por divisas aumenta a taxa de câmbio, ou seja, ocorre uma
depreciação da taxa de câmbio. Enquanto o aumento da oferta de divisas resulta em uma
apreciação da taxa de câmbio.
Esse regime cambial também apresenta vantagens e desvantagens para uma
economia. Com a moeda nacional desvaloriza os agentes exportadores se beneficiam
com a maior competitividade no comércio internacional, além disso, o governo não
intervém no mercado de divisas, ficando livre para direcionar as políticas monetárias para
atender outros objetivos, como estimular a atividade econômica.
As desvantagens do regime de câmbio flutuante é que, a taxa de câmbio pode ser
tornarem muito voláteis, apresentando oscilações bruscas. Desvalorizações elevadas
podem interferir no nível de preço do país, e ainda, prejudica os importadores, com o
aumento de preços de bens e serviços.
Em relação ao regime de bandas cambiais, pode-se dizer que está entre o regime
de câmbio fixo e o regime de câmbio flutuante. As alterações da taxa de câmbio, assim
como no regime de câmbio flutuante, são determinadas pelo mercado de divisas, porém,
é determinado um limite máximo e mínimo em que a taxa de câmbio pode flutuar, caso
ocorra uma situação de ultrapassar esse limite o governo de intervir no mercado cambial
comprando ou vendendo divisas para que a taxa de câmbio retorne ao intervalo
estabelecido.
3 O BALANÇO DE PAGAMENTOS E SUA RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS
COMERCIAIS

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O Balanço de Pagamentos apresenta os registros das mais variadas formas de


transações comerciais de um país com o resto do mundo, sendo que, de acordo com
Krugman e Obstfeld (2005), podem ser classificadas em três grandes contas:
exportações e importações de bens e serviços; compra e venda de ativos financeiros; e
outras atividades que resultam em transferência de riqueza entre as nações.
Além da importância de controlar todas as contas que apresentam transações
comercias, é possível realizar comparações entre os países, devido à forma unificada
que as nações adotam para realizar esses registros. Essa forma se refere ao Manual de
Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional (BPM), em que, no
decorrer dos anos sofreu algumas alterações, vamos estudar a edição mais recente (6ª
edição).
O comércio internacional tem grande influência sobre as economias. Desse modo,
a partir das informações obtidas no Balanço de Pagamentos, é possível realizar algumas
análises estatísticas, que serve como base para a tomada de decisão acerca do comércio
internacional, e assim, o governo procura adotar as melhores políticas comerciais. Além
disso, esses dados são de interesse do público em geral, dado o modo que é divulgado
pelos meios de comunicação (KRUGMAN e OBSTFELD, 2005).
Para entender como funcionam as transações comerciais de um país com o resto
do mundo, primeiro, é necessário saber a classificação dessas transações. De acordo
com Salvatore (2000), as transações devem classificadas como débitos e créditos. Sendo
que, a moeda utilizada hoje é o dólar, que apresenta maior hegemonia mundial, aceita
pelas nações.
Os créditos se referem ao recebimento em valores monetários de países
estrangeiros, portanto, no Balanço de Pagamentos os créditos devem ser lançados com
valor positivo (+) por estar entrando recursos financeiros no país. Por outro lado, os
débitos são as transações relativas aos pagamentos às outras economias, assim, as
essas transações são lançadas com sinal negativo no Balanço de Pagamentos, nesse
caso, está saindo recursos financeiros do país.
Vale ressaltar que, todas as contas contabilizadas no Balanço de Pagamentos,
segue o princípio das partidas dobradas, vindo da contabilidade. Conforme esse
princípio, cada conta é lançado duas vezes no Balanço de Pagamentos, um lançamento
é realizado como crédito e outro é realizado como débito no mesmo valor, sendo que, no
final deve o valor dos débitos deve ser igual ao valor dos creditos no Balanço de
Pagamentos (SALVATORE, 2000).
Segundo Krugman e Obstfeld (2005), o Balanço de Pagamentos é dividido em três
contas gerais que apresentam as diferentes formas de transações entre residentes e não
residentes, sendo:
1. Conta Corrente (CC): essa conta registra as transações comerciais de bens e
serviços de rendas de capital e do trabalho e as transferências unilaterais de renda
entre o país e o resto do mundo.
2. Conta Capital (CK): nessa conta são registrados os fluxos de capitais entre o país
e o resto do mundo.
3. Conta Financeira (CF): essa conta registra as transações de ativos financeiros,
reais e intangíveis entre residentes e não residentes.
Os lançamentos de transações com outros países são realizados nessas três
contas. Para a melhor compreensão da estrutura do Balanço de Pagamentos, foi
apresentado abaixo no Quadro 1, contas mais especificas referente a 6ª Edição do
Manual de Balanço de Pagamentos e Posição de Investimento Internacional (BPM6).
Na Conta Corrente (CC) a primeira conta apresentada é a Balança Comercial (BC),
nessa conta será realizado o registro das mercadorias, ou seja, dos bens tangíveis. Seu
saldo é dado por meio da diferença entre Exportações (X) e das Importações (M).
Quando o valor das Exportações supera o valor das Importações, temos um
superávit na BC. Caso contrário, quando as Importações supera o valor das Exportações,
a BC apresentará um déficit. Em seguida é apresenta a Balança de Serviços (BS), nessa
conta, serão agregadas as transações de serviços, ou seja, de bens intangíveis. Nestes
registros são considerados os serviços de não fatores, isto é, que não envolvem qualquer
transação relacionada com os fatores de produção, como, por exemplo, transportes e
seguros.

Quadro 1 – Resumo da estrutura do Balanço de Pagamentos (BPM6)


1 CONTA CORRENTE (CC)
1.1 Balança Comercial (BC)
Exportações (X)
Importações (M)
1.2 Balança de Serviços (BS)
Transportes
Seguros
Royalties
Viagens
Aluguel de equipamentos
Serviços empresariais, profissionais e técnicos
Outros serviços
1.3. Renda Primária (Balança de Rendas) – (PR ou BR)
Salários
Lucros e dividendos
Juros
1.4. Renda Secundária (Transferências Unilaterais) – (RS ou TU)
Doações
Ajuda humanitária
1.5. Saldo em Transações Correntes (1.5 = 1.1 + 1.2 + 1.3 + 1.4)
2 CONTA CAPITAL (CK)
Patentes
Propriedade intelectual
Direitos autorais
3 CONTA FINANCEIRA (CF)
Investimento Estrangeiro Direto (IED)
Ações
Títulos Públicos
Empréstimos e Financiamentos
Amortizações
4 ERROS E OMISSÕES
5 SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (SBP) (5 = 1 + 2 + 3 + 4)
6 HAVERES DA AUTORIDADE MONETÁRIA (HAM) (6 = -5))
Ouro
Reservas internacionais
Fonte: Adaptado do Banco Central do Brasil – 2019.

Quando o valor das Exportações supera o valor das Importações, temos um


superávit na BC. Caso contrário, quando as Importações supera o valor das Exportações,
a BC apresentará um déficit. Em seguida é apresenta a Balança de Serviços (BS), nessa
conta, serão agregadas as transações de serviços, ou seja, de bens intangíveis. Nestes
registros são considerados os serviços de não fatores, isto é, que não envolvem qualquer
transação relacionada com os fatores de produção, como, por exemplo, transportes e
seguros.
A terceira conta da CC se refere às Rendas Primárias (RP), nela serão registradas
as transações que estão relacionadas aos fatores de produção. Portanto, as transações
relacionadas ao capital são referentes aos juros, lucros e dividendos e quando nos
referimos ao trabalho, pode ser representado pelo salário.
Outra conta da CC é a Renda Secundária, a qual representa todos os
recebimentos ou pagamentos realizados, tanto em moeda quanto em bens, sem que
tenha contrapartida do outro país. Nesse caso, são envios de recursos ou recebimento
de recursos entre residentes que moram em países diferentes, em que pode ser
classificado como doações e/ou ajuda humanitária. E, por fim, a última conta da CC é o
Saldo em Transações Correntes (STC), no qual apresenta o somatório das quatro contas
citadas da CC.
A Conta Financeira (CF) registra as aquisições de ativos e de passivos que fazem
parte dos investimentos diretos, em carteira e outros investimentos. Nessa conta são
registrados o Investimento Estrangeiro Direto, as ações, os títulos e depósitos, os
empréstimos internacionais e créditos comerciais.
A Conta Capital (CK) se refere ao registro de transferências de ativos reais, não
financeiros e intangíveis entre residentes e não residentes podemos citar como exemplos
as patentes, as propriedades intelectuais e os direitos autorais. Os Erros e Omissões
(EO) devem ser registrados, devido à ocorrência de imperfeições no momento de se
registrar as diversas contas no BP.
O Saldo do Balanço de Pagamentos (SBP) é encontrado por meio do somatório
do STC, a CK, a CF e os EO. O resultado final do SBP (déficit ou superávit) irá revelar a
posição do país em relação as suas transações como um todo com o resto do mundo.
Por fim, temos os Haveres da Autoridade Monetária (HAM), que são os ativos de reserva
internacional controlado pelo governo, que estão disponíveis para financiar desequilíbrios
no BP.
Essa conta será equivalente ao SBP, porém será registrado com o sinal contrário.
Sendo assim, quando for apresentado um sinal negativo do BP os HAM aumenta no
mesmo valor, caso for positivo, há uma redução dos HAM no mesmo valor. Desse modo,
quando for lançado nesta conta um valor com o sinal negativo, temos o aumento nas
reservas, pois o BP foi superavitário, por outro lado, quando o resultado lançado for
positivo, temos uma queda nas reservas, pois o BP apresentou um déficit.
Diante das especificações apresentadas do Balanço de Pagamentos, é possível
compreender que, o seu saldo revela a “saúde” do comércio internacional de uma nação.
Caso o país apresente um déficit, o mesmo deverá cobrir esses créditos, caso não
possuir reservas internacionais ou não desejar utilizar as reservas disponíveis, o país
deve captar recursos por meio de empréstimos e/ou financiamentos no comércio
internacional.
No entanto, em uma situação de superávit, a nação se encontra em uma situação
oposta, onde está acumulando reservas internacionais. Assim, as principais contas que
devem ser observadas nesse contexto são as contas corrente e capital. Segundo
Salvatore (2000), essas duas contas estão relacionadas a negócios e lucros (com
exceção da Renda Secundária) e são conhecidas como transações autônomas,
enquanto a conta financeira é denominada de transações de acomodação, pois são
utilizadas para equilibrar as contas de transações autônomas.
Diante disso, as políticas comerciais são de extrema importância para o balanço
de pagamentos, afetando diretamente as transações autônomas, especialmente a CC,
devido à imposição às importações e o favorecimento da industrial nacional. Com isso,
contribui para melhores resultados na Balança de Pagamentos por meio do saldo nas
transações correntes, o qual favorece as transações autônomas do país.
SAIBA MAIS

Vimos que as transações que ocorrem entre as nações no Balanço de


Pagamentos devem ser conversíveis em dólar, moeda aceita mundialmente. Porém, em
determinadas situações no qual necessitamos de moedas de outros países, precisamos
saber o valor que precisamos, para isso, é utilizada a taxa de câmbio. Para obter a taxa
de câmbio para qualquer moeda o Banco Central disponibiliza a conversão por meio do
site: <https://www.bcb.gov.br/>.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Dado a importância da taxa de câmbio para o comércio internacional entre os


países, qual a melhor estratégia para uma nação, desvalorizar/depreciar ou
valorizar/apreciar a taxa de câmbio?

Fonte: o autor.

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), chegamos ao final da unidade com conhecimentos sobre taxas
de câmbio e Balanço de Pagamentos. Vimos os conceitos e a teoria das taxas de câmbio
e como são apresentadas as contas de transações comerciais internacionais. Assim,
podem ser verificados os mais diversos tipos de transações entre uma economia e o resto
do mundo.
Inicialmente, foi apresentado como são realizadas as trocas entre mercadorias por
meio da taxa de câmbio, e a influência de uma depreciação/desvalorização cambial ou
de uma apreciação/valorização cambial no preço. Além disso, foram apresentadas, a taxa
de câmbio nominal e a taxa de câmbio real, no qual foi mostrando a diferença entre elas,
além de suas utilizações especificas.
Posteriormente, foram evidenciados os regimes cambiais, no qual podem ser
utilizados como uma política econômica do governo. Desse modo, verificou-se que a taxa
de câmbio pode influenciar na economia, sendo para estimular a atividade econômica ou
para contribuir para o controle da inflação, devido à mudança nos preços de bens e
serviços que são comercializados em transações internacionais.
No último tópico foram abordados aspectos relacionados às transações comerciais
de uma economia com o resto do mundo. Sendo assim, aprendemos como é estruturado
o Balanço de Pagamentos de uma economia e o conceito de cada conta, e ainda, a
especificação de como cada conta é lançada. Além disso, foi estudo como avaliar o saldo
do Balando de Pagamentos, evidenciando as contas mais importantes, com o intuito de
colaborar para que o governo adote as melhores políticas comerciais.
Assim, chegamos ao final da unidade, esperamos que tenha gostado, ótimo estudo
a todos!
LEITURA COMPLEMENTAR

OREIRO, J. L. Autonomia de política econômica, fragilidade externa e equilíbrio do


balanço de pagamentos. A teoria econômica dos controles de capitais. Economia e
Sociedade, v. 13, n. 2, 2004.
MATERIAL COMPLEMENTAR - LIVRO

Título: Economia Internacional.

Autor: CARVALHO, Maria Auxiliadora; SILVA, César Roberto Leite.

Ano: 2017.

Editora: Saraiva.

Sinopse: Compreender as consequências das mudanças econômicas internacionais


sobre a dinâmica da economia doméstica e sobre o desempenho das empresas foi
importante no passado e tornou-se uma necessidade ainda mais premente nesses
tempos de redução das barreiras entre mercados. Existem vários livros sobre o assunto,
mas são poucos os de autores nacionais. Este livro aplica a teoria à prática com exemplos
da realidade brasileira, com ênfase na experiência recente, o que torna o estudo mais
interessante e de maior utilidade para estudantes e profissionais. A quinta edição de
Economia Internacional mantém o propósito de possibilitar o aprendizado de forma
intuitiva sem desprezar o rigor da teoria econômica. Ela traz o balanço de pagamentos
com sua estrutura adaptada às normas da 6ª edição do Manual de Balanço de
Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6), além de temas como as
crises dot-com e subprime, mercado de câmbio e especulação financeira e a recuperação
dos anos 2000. Com as suas constantes atualizações, o livro se consolida cada vez mais
como referência no mercado, sendo um instrumento essencial para todos os interessados
no tema.
FILME/VÍDEO

Título: Trabalho interno.

Ano: 2010.

Sinopse: Em 2008, uma crise econômica de proporções globais fez com que
milhões de pessoas perdessem suas casas e empregos. Ao todo, foram gastos mais
de US$ 20 trilhões para combater a situação. Através de uma extensa pesquisa e
entrevistas com pessoas ligadas ao mundo financeiro, políticos e jornalistas, é
desvendado o relacionamento corrosivo que envolveu representantes da política,
da justiça e do mundo acadêmico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, M. de P.; WERNECK, R. L. F. Estabilização, abertura e privatização, 1990-


1994. In: Abreu, M. de P. (Org.). A Ordem do Progresso: Dois Séculos de Política
Econômica no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 313-330.

GONÇALVES, R. A Nova Economia Internacional: Uma Perspectiva Brasileira.


Rio de Janeiro: Elsevier, 1998.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 6. ed.


São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005.

SALVATORE, D. Economia Internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

RATTI, B. Comércio internacional e câmbio. 9. ed. São Paulo: Aduaneiras,


1997.
UNIDADE IV
A POLÍTICA MACROECONÔMICA INTERNACIONAL
Professor Doutor Marcos Aurélio Brambilla

Plano de Estudo:
• A política macroeconômica internacional.
• A regulamentação econômica internacional e os organismos internacionais.
• A globalização, a empresa no mundo globalizado e a internacionalização de empresas.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar política macroeconômica internacional.
• Compreender os tipos de regulamentações econômicas internacionais e os organismos
internacionais.
• Estabelecer a importância da globalização, da internacionalização de empresas e das
empresas multinacionais e transnacionais.
INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), bem vindo (a) a esta unidade do livro.
Nesta unidade será estudado sobre as políticas macroeconômicas internacionais,
regulamentações econômicas, globalização e as empresas no mundo globalizado. Essa
área do conhecimento aborda sobre como os países adotam suas políticas
macroeconômicas internacionais e como isso pode afetar a economia internacional.
Inicialmente, serão apresentados os principais objetivos dos países, sendo eles
internos e externos e suas diferentes formas de desenvolvimento. Sendo que, os países
sempre estão em busca do desenvolvimento, mas cada nação tem suas peculiaridades,
o que não torna uma tarefa fácil, países como o Brasil apresentava características que
propiciavam se tornar uma nação agroexportadora, devida suas condições geográficas
favoráveis para o plantio.
Em seguida, será estudado como se deu a abertura econômica nos países em
desenvolvimento e sua relação com as políticas comerciais. Passando pelo período das
economias primário-exportadoras, seguindo para o Processo por Substituição de
Importações até chegar ao período de abertura comercial dos países em
desenvolvimento. Além do contexto histórico, serão apresentadas as mudanças das
políticas ocorridas a partir do avanço da globalização e abertura econômica no final do
século XX.
Posteriormente, será apresentada a importância das regulamentações
econômicas internacionais e o papel organismos internacionais, especialmente a partir
do fim do século XX. Vamos verificar como esses organismos internacionais contribuíram
para melhorar as relações internacionais, dadas pelas regras estabelecidas, podendo
esse organismo ser a nível mundial ou regional.
Por fim, vamos estudar a globalização, a empresa no mundo globalizado e a
internacionalização das empresas. Será abordado o conceito de globalização e a
importância das empresas no mundo globalizado, além de entender como funcionam as
empresas multinacionais e transnacionais. Desejamos um ótimo estudo a todos!
1 A POLÍTICA MACROECONÔMICA INTERNACIONAL

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internet-concept-businessman-461458600

Segundo Krugman e Obstfeld (2005), as economias abertas têm como um dos


principais objetivos atingir o equilíbrio interno e externo. O equilíbrio interno está
relacionado à utilização dos fatores de produção1, se a economia apresenta pleno
emprego dos fatores de produção e estabilidade no nível de preços. Quanto ao equilíbrio
externo, se refere às transações correntes, um país não apresenta equilíbrio externo
quando o déficit em transações correntes chega a patamares impagáveis, mesmo no
futuro.
Sabendo que para alcançar o equilíbrio interno, os recursos produtivos devem
estar plenamente empregados e o nível de preços deve estar estável. Caso os fatores de
produção estiverem subutilizados, ou seja, existem fatores de produção que não estão
sendo utilizado, com isso o país não está produzindo em sua capacidade máxima,
levando à pobreza.
Por outro lado, a utilização dos fatores produtivos acima do normal também
apresenta problemas para a economia, sendo diferente de quando os recursos são
subutilizados. Nesse caso, por exemplo, uma empresa que tem funcionários que
excedem seu horário de trabalho em determinados períodos, levam a maior utilização
das máquinas que o normal, e assim, as mesmas tendem a quebrar mais e se depreciar
mais rápido.
As duas situações apresentadas podem apresentar influência sobre o nível de
preços. Desse modo, as incertezas quanto à variação no nível de preços prejudicam a
tomada de decisão dos agentes econômicos. Quando há uma utilização excessiva dos
fatores de produção os preços e salários tendem a se elevar, e na subutilização dos
fatores produtivos, ocorre o contrário. Diante disso, o governo adota medidas com o
intuito de manter a instabilidade do nível de preços (KRUGMAN e OBSTFELD, 2005).

1
Fatores de produção ou recursos produtivos se referem a todos os elementos necessários para a
produção em uma econômica, no qual são representados pelas máquinas, equipamentos, matéria-prima e
mão de obra.
No cenário internacional, as nações estão em busca do desenvolvimento
econômico. Na economia mundial os países são classificados como economias
desenvolvidas e economias em desenvolvimento. São consideradas economias
desenvolvidas os países que apresentam alta renda per capita, enquanto as economias
em desenvolvimento tem baixa renda per capita. Outro indicador que pode avaliar mais
precisamente o desenvolvimento é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o qual
considera além da renda, indicadores de saúde e de educação.
Conforme Salvatore (2000), no comércio internacional, as economias em
desenvolvimento ou mais pobres tendem a exportar mais produtos básicos, por outro
lado, as nações desenvolvidas exportam mais produtos industrializados, devido a maior
eficiência nas produções dessas mercadorias, respectivamente. E ainda, deve ser
ressaltado que, as economias sempre estão procurando se desenvolver. Considerando
esse aspecto, se pode verificar que, com o passar do tempo houve mudanças na política
macroeconômica internacional, especialmente em países em desenvolvimento.
Com destaque para o Brasil, até a década de 1920 o país apresentava
especialização em um produto, o café, sendo que, devido a grandes produções que
ocorriam, as autoridades monetárias brasileiras adotava uma política de defesa de preço
do café, no qual chegou a situações de não apenas comprar o excedente de café, mas
também queimar uma parte do estoque do café. Em 1927 houve uma produção recorde
da safra de café, em 1929, houve outro recorde na produção, ano da Grande Depressão,
que fez a demanda dos países industrializados por produtos básicos reduzirem. Desse
modo, os preços caíram para um terço do valor no início do ano e ao longo do ano os
preços do café apresentaram um colapso (FRITSCH, 2014).
De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), não apenas o Brasil, mas outros
países em desenvolvimento apostaram em uma nova política internacional. Foi o início
de um processo em que, os países menos desenvolvidos procuraram substituir suas
importações, no qual teve início na década na Segunda Guerra Mundial até a década de
1970. Nesse processo as nações em desenvolvimento tinham como objetivo produzir
produtos manufaturados em vez de importar.
No caso do Brasil, foi adotado o Processo de Substituição de Importações (PSI).
O argumento mais importante do PSI era o argumento da indústria nascente. Esse
argumento dizia que, países em desenvolvimento tem uma vantagem comparativa
potencial na manufatura, porém, as novas indústrias manufatureiras não podem
concorrer com as sólidas manufaturas dos países desenvolvidos. Ou seja, segundo esse
argumento os países apresentavam potencial para desenvolver suas indústrias no longo
prazo, mas no início precisavam de proteção, pois não conseguiriam com competir com
as indústrias dos países desenvolvidos.
Essa nova política seria uma alternativa para os países em desenvolvimento não
sofrerem tanto com as crises externas, como na Grande Depressão, os mesmos
procuravam industrializar o país para atender a demanda interna e não ficar mais
vulnerável a choques externos. Para isso, o país concedia subsídios à produção de
manufaturas e subsídios à exportação de alguns bens manufaturados.
Contudo, alguns economistas alertavam para problemas que poderiam ocorrer
com o argumento da indústria nascente, sugeriram que deveria ser tomadas algumas
precauções ao adotar essa política de industrialização no país. Para adotar o argumento
da indústria nascente, seria necessário ir além do conceito de que as indústrias sempre
devem ser protegidas quando novas, de modo que, a nação poderia apresentar duas
falhas de mercado que inviabilizaria a adoção dessa política, apresentar mercados
imperfeitos de capitais e/ou apresentar o problema de apropriabilidade.
O país não poderia apresentar mercados imperfeitos de capitais, ou seja, o país
deveria possuir instituições financeiras que permita que a poupança de setores
tradicionais, seja utilizada para financiar novos investimentos. Portanto, os ganhos
adquiridos com os setores tradicionais devem ser utilizados para financiar novos setores
industriais.
Outra falha de mercado que o país não pode apresentar é o problema de
apropriabilidade, essa falha pode assumir diversas formas, no entanto, todas possuem a
ideia em comum de que uma nova indústria gera benefícios sociais pelos quais não são
compensadas. Ou seja, o custo inicial de uma empresa industrial pioneira, seja de
instalações, tecnologias, adaptações, entre outros, não será recompensado, de modo
que, as novas empresas da indústria entraram no mercado sem precisar arcar com esses
custos iniciais, o qual foi custeado pela empresa pioneira.
Além disso, a substituição de importações pode promover o dualismo econômico.
Uma economia dual apresenta a divisão de uma economia em dois setores com níveis
de desenvolvimento muito diferentes. As políticas comerciais adotadas podem levar ao
dualismo econômico, no qual pode ser explicado por dois argumentos, o primeiro é que
as empresas oferecem salários elevados na indústria para reduzir a rotatividade e
aumentar o esforço no trabalho e o segundo se refere à adoção de cotas de importação,
com o comércio mais livre os salários seriam menores (KRUGMAN e OBSTFELD, 2005).
A nação com dualismo econômico apresenta algumas características na sua
economia, sendo elas:
● O valor do produto por trabalhador é muito maior no setor moderno do que no resto
da economia.
● Além do produto por trabalhador, o salário também é mais elevado.
● Retornos do capital não são necessariamente maiores.
● Maior intensidade de capital no setor manufatureiro do que na agricultura.
A partir da década de 1980, houve uma mudança na política internacional, como
foi visto anteriormente, o argumento da indústria nascente possuem falhas. Krugman e
Obstfeld (2005) relatam o exemplo da Coréia do Sul, mais especificamente da indústria
automobilística. Na década de 1980 o país se tornou exportador de automóveis. Porém,
foi uma época em que apresentavam boas condições para desenvolver essa indústria,
talvez não fosse possível desenvolver essa indústria na década de 1960, devida a falta
de trabalho qualificado e de capital.
No Brasil, na década de 1970 houve a inserção do agronegócio2 no Sul do país. E
ainda é criada uma empresa de pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), que favoreceu ainda mais o agronegócio brasileiro. Entretanto,
essa mudança na estrutura produtiva surtiu efeitos para a população, que vivia
principalmente no campo.
As consequências da entrada do agronegócio no Brasil foi o fechamento de postos
de trabalho no campo em função das máquinas que faziam o trabalho, assim, os
trabalhadores ficaram sem emprego no campo, o que resultou no êxodo rural. Sendo que,
uma parte dos pequenos proprietários de commodities também foi para a cidade,

2
O agronegócio vai desde o plantio até a manufatura/industrialização do produto.
enquanto a outra parte dos pequenos proprietários foi para outros lugares. Alguns foram
para o Paraguai, pois o país tinha interesse nas terras próximas a Itaipu, que foi
inaugurada em 1984, então vendia terras baratas para plantio e outros foram para o
Cerrado que era o destino de quem não tinha dinheiro, pois a região estava sendo
preparada para o plantio.
A abertura comercial entre os países a partir da década de 1990 mudou a forma
com que as nações consideravam a política macroeconômica internacional. Agora, além
da inserção da tecnologia no campo, favorecendo a agroindústria, os países também
diversificaram os produtos destinados ao comércio internacional.
As mudanças ocorridas na política macroeconômica internacional proporcionaram
transformações significativas em alguns países. Inicialmente podemos falar da maior
economia do mundo, os Estados Unidos, de 1970 até 20173 o país apresenta o maior
Produto Interno Bruto (PIB) do mundo (UNSD, 2019).
No entanto, quando é observado o comportamento da riqueza nesse período
medido pelo Produto Interno Bruto per capita (PIBpc), os Estados Unidos da posição de
3º como país mais rico em 1970, para a posição de 12º. Isso pode ser explicado pelo
desenvolvimento de países menores no período, em que foram beneficiados pela
globalização e pela maior interação comercial entre os países (UNSD, 2019).
Deve ser ressaltado que, os países de Liechtenstein e Mônaco ficaram entre os
dois países mais ricos do mundo medido pelo PIBpc no período. Isso se deve
especialmente à população desses países, estando entre as menores populações do
mundo, ambas não chegaram a 40 mil habitantes em 2017, assim, mesmo o PIB total
não apresentando um valor elevado, quando dividido pela população, apresenta um valor
elevado (UNSD, 2019).
Outro indicador que pode ser verificado para comparar o desenvolvimento é o
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH teve início em 1990, indicador que
considera além da renda, dimensões de saúde e educação. Três países que podem se
destacar com altos níveis de desenvolvimento são: Noruega, Suíça e Austrália, países
nos quais apresentaram em 2017 os maiores níveis de desenvolvimento,
respectivamente (UNDP, 2019).

3
Período de disponibilidade de dados.
No caso do Brasil, apesar da melhora na comparação com outros países,
considerando o PIB e o PIBpc entre 1970 e 2017 e o IDH entre 1990 e 2017, ainda tem
muito a se desenvolver. O país apresentou em 2017 o 7º maior PIB do mundo, contudo,
apresentou o 76º maior PIBpc, e ainda, ficou na posição de 79 quando comparado o
indicador de desenvolvimento dos país (IDH) (UNSD, 2019; UNDP, 2019).
O caso mais extremo, no que se refere à influência das políticas macroeconômicas
internacionais foi a China. Em 1970, o país apresentava o 7º maior PIB do mundo e em
1990 era a 11º maior economia do mundo. Devido as grandes mudanças ocorridas nas
relações internacionais entre os países, em 2017 a China se tornou a 2º maior economia
do mundo, quanto ao PIBpc, de 1970 a 2017, a posição da China passou de 71º para 5º
maior PIBpc do mundo (UNSD, 2019).
Em termos de desenvolvimento econômico (IDH), também houve uma melhora,
porém, em 2017 a China apresenta o 86º maior desenvolvimento entre os países.
Mostrando que, é essencial o crescimento econômico das nações, mas não é suficiente
para o desenvolvimento econômico. Desse modo, é possível verificar que, para uma
economia se desenvolver é essencial investir em outras áreas como saúde e educação
(UNDP, 2019).
Como pode ser verificado em alguns casos, o período em que ocorreram o avanço
da globalização e a maior abertura comercial pode ter contribuído com o crescimento
econômico de algumas nações, e até com o desenvolvimento econômico. Essas
mudanças variaram de país para país conforme a política adotada em cada nação.
2 A REGULAMENTAÇÃO ECONÔMICA INTERNACIONAL E OS ORGANISMOS
INTERNACIONAIS

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economics-art-417098884

Nas últimas décadas, devido à ocorrência de modificações na economia mundial,


como a globalização dos mercados e avanços tecnológicos, foi transformada a estrutura
do comércio internacional. Isso muito se deve a inserção do agronegócio nos países em
desenvolvimento que tinha como finalidade a maior participação no comércio
internacional, como mencionado no tópico anterior.
Assim, a abertura comercial contribuiu para a maior participação dos países no
comércio internacional, especialmente países em desenvolvimento. Além da adoção de
políticas de comércio internacional que impacta diretamente nos diversos setores de uma
economia, surgiram estratégias de comércio internacional para maiores ganhos entre os
países, no qual podem ser considerados os blocos econômicos.
Com a maior intensidade das relações internacionais, devida à abertura comercial,
as atuações de organismos internacionais se tornaram de grande importância. Essas
instituições contribuíam para o ordenamento das relações internacionais, com influência
fiscal e política. Dentre os organismos internacionais mais importantes, podem ser
citados alguns com diferentes funções:

1. O Fundo Monetário Internacional (FMI) fundado em 1944. Esse organismo


internacional conta com a participação de 188 países. Ele funciona como um
agente que financia os países, conforme suas necessidades. Esse organismo tem
como objetivo principal manter a estabilidade financeira e monetária no mundo, o
aumento do nível de emprego e a diminuição da pobreza.
2. A Organização das Nações Unidas (ONU), criada em 1945 é a maior organização
internacional do mundo. A mesma apresenta como objetivos principais questões
relacionadas às pessoas, como o respeito aos direitos humanos e a manutenção
da paz mundial.
3. A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada no ano de 1994, e tem a
participação de 149 países membros. Esse organismo internacional apresenta
atuação voltada ao comércio internacional, com o intuito de realizar a fiscalização
e regulamentação do comércio mundial, e ainda, gerenciar os acordos comerciais
entre as nações.
4. A Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) foi
criada em 1961, esta organização internacional possui 36 países membros. Essa
organização possui como objetivos principais o desenvolvimento econômico e a
manutenção da estabilidade financeira entre os países membros por meio de
padrões internacionais.
5. A Organização dos Estados Americanos (OEA) criada em 1948, conta com a
participação de 35 países do continente americano. Tem como objetivos principais
a integração econômica, o combate ao tráfico de drogas, ao terrorismo e as armas
e o combate à corrupção.
6. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é um organismo internacional da
ONU, criada em abril de 1919. Atua, em nível mundial, em assuntos relacionados
ao trabalho e relações trabalhistas, com o objetivo de promover a justiça social
entre as nações.
7. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) é uma das
missões regionais da ONU, fundada em 1948. A CEPAL apresenta uma atuação
nos países da América Latina e no Caribe para promover o desenvolvimento
econômico dos mesmos por meio de políticas públicas.

Cada Estado possui independência para tomar suas decisões econômicas


conforme seus objetivos em seus mercados internos. Contudo, nas relações
internacionais, devem seguir as regulamentações estabelecidas pelos organismos
internacionais.
Como isso, esses organismos internacionais visam o benefício conjunto das
nações com as relações internacionais, realizando políticas internacionais que
contribuam para o seu desenvolvimento. Cada organismo internacional apresenta
objetivos específicos, podendo ser de ordem mundial ou de ordem regional. E assim,
essas instituições estabelecem propostas para o benefício em conjunto das relações
internacionais para os países membros.
3 A GLOBALIZAÇÃO, A EMPRESA NO MUNDO GLOBALIZADO E A
INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS

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scheme-how-world-1156923271

No contexto da integração econômica entre as nações, as empresas possuem um


papel fundamental, pois as mesmas são as principais responsáveis por oferecerem os
bens e serviços que são comercializados. Os agentes representados pelas empresas
promovem a integração entre os países por meio do comércio internacional, sendo
influenciados pela abertura comercial, que permitiu o avanço do comércio. Entretanto,
deve ser ressaltado que os agentes econômicos representados pelas pessoas físicas,
apresentam uma parcela da participação nas relações comerciais.
Esses fatores se devem ao fenômeno chamado globalização. A globalização pode
ser definida com um processo de integração econômica e social entre os países. Sendo
assim, os agentes econômicos estão “próximos” nas relações internacionais, houve maior
facilidade de comércio internacional para as empresas, maior mobilidade para as
pessoas se deslocarem e realizar compras internacionais, e ainda, houve uma maior
facilidade em realizar investimentos estrangeiros para pessoas e empresas, rompendo
as barreiras geográficas.
Conforme Gonçalves (1998), a globalização pode ser dividida em globalização
financeira e globalização produtiva. Sabendo disso, o foco desse tópico pode ser
representado pela globalização produtiva, a qual se refere à concorrência internacional,
à integração das estruturas produtivas das economias nacionais e internacionalização da
produção.
Em relação à concorrência internacional, não existe a possibilidade de uma
estimativa exata. Contudo, a partir da abertura comercial, dada especialmente na década
de 1990 e, consequentemente, o aumento das relações internacionais entre os agentes
econômicos, os governos apresentam atenção especial para as políticas externas, com
o intuito de conseguir maior competitividade no comércio internacional. Como vimos nas
unidades anteriores uma desvalorização cambial resulta em uma maior competitividade
no comércio internacional, mas em qual magnitude deve acontecer essa desvalorização?
Essa é uma questão a ser definida pelos governos de cada nação.
O movimento do comércio internacional contribui para a integração produtiva das
economias nacionais, a qual pode ser verificada pela relação de contas nacionais.
Portanto, pode ser observado na Tabela 3 o crescimento do Investimento Estrangeiro
Direto (IED) e do Produto Interno Bruto (PIB per capita) em diferentes períodos a partir
do ano 2000.

Tabela 3 – Internacionalização da produção


Variação no período (%)
Indicador
2000-2005 2005-2010 2010-2015
Investimento Estrangeiro Direto (IED) - 30 44 49
Produto Interno Bruto per capita (PIB per capita) 1,81 1,01 1,53
Fonte: UNCTAD, United Nations Conference on Trade and Development

Entre 2000 e 2005 o IED apresentou redução e o PIB per capita crescimento,
sendo assim, pode-se falar que houve uma menor integração entre as economias
mundiais, enquanto a o IED reduziu 30%, houve crescimento da economia mundial de
1,81%. Por outro lado, nos períodos entre 2005 e 2010 e entre 2010 e 2015 ocorreu um
aumento do IED maior que o PIB per capita, nesse caso houve maior integração entre as
economias mundiais, o IED cresceu 44% e 49% nos períodos, respectivamente, sendo
que o crescimento da economia mundial foi de 1,01% e 1,53%, respectivamente.
Desse modo, a integração produtiva das economias nacionais resulta na
internacionalização produtiva, em que acontece quando os residentes de um
determinado país podem adquirir bens e serviços produzidos em outros países. De
acordo com Culpi (2016), as nações apresentavam diferentes padrões de consumo, fato
que se modificou com o processo de globalização, hoje diversos países apresentam
padrões de consumo semelhantes devidos à facilidade de acesso a bens e serviços, que
rompeu com as barreiras geográficas.
Assim, a internacionalização produtiva está relacionada ao acesso de produtos de
vários países. Por exemplo, os brasileiros podem consumir produtos produzidos na
China, dada pela facilidade do comércio internacional, nas quais são oferecidas relações
contratuais e pelos IEDs, tendo como principais agentes as empresas, por isso,
apresentam maior importância para o sistema econômico internacional.
Nas relações contratuais as empresas estrangeiras do país local a produção
apresenta origem no país doméstico. Por outro lado, no IED a atuação das empresas
estrangeiras nos países locais é por meio de filiais/franquias. Ou seja, essa
internacionalização da produção diz respeito à facilidade de acesso de pessoas físicas e
organizações entre os países.
As organizações que realizam IED são empresas denominadas de transnacionais
ou multinacionais. Segundo Culpi (2016), com o avanço da globalização os indivíduos e
o governo deixaram de serem os principais agentes econômicos, sendo agora as
empresas transnacionais, mas que não possuem responsabilidade com os países,
buscando apenas benefícios econômicos para se instalar.
Portanto, as empresas do país de origem e das filiais podem apresentar interesse
econômicos divergentes. Atualmente, grande parte das empresas internacionais é
transnacional, das quais podem ser citadas algumas das principais sendo, a Nestlé,
Microsoft e Ford, que apresentam origem brasileira são: grupo JBS, Natura, Gerdau e
Tigre.
Além das empresas transnacionais, outro importante agente econômico no
comércio internacional é representado pelas empresas multinacionais, que conforme
Culpi (2016, p. 62), pode ser definida como “corporações localizadas em mais de três
países e que controlam as atividades estrangeiras por meio do arranjo da firma”.
Com a globalização, houve um expressivo avanço tecnológico, novas formas de
fabricação, diversificação de produtos e redução de custos. Desse modo, as empresas
multinacionais foram influenciadas a aumentar sua produção, com uma empresa matriz
e outras filiais pelo mundo, no qual seguem as recomendações da empresa do país de
origem.
Diante disso, é possível diferenciar as empresas multinacionais e transnacionais.
Enquanto as empresas multinacionais são formadas por um grupo de empresas, no qual
apresenta uma matriz no país de origem que direciona as diretrizes para as demais, as
empresas transnacionais também possui uma empresa matriz no país de origem, porém,
as empresas dos demais países possuem interesses próprios, podendo até entrar em
conflito com os interesses do país de origem. Assim, nas empresas multinacionais as
decisões das empresas são tomadas pelo país de origem, e nas empresas
transnacionais, as empresas possuem poder de decisão em seus respectivos países.

SAIBA MAIS

A literatura científica aborda de diferentes formas a globalização, uma dessas


formas está relacionada à formação de blocos econômicos, como no artigo intitulado de
“Os efeitos da globalização nos processos de integração de blocos econômicos”, de
autoria de Fernanda Calil Petri e Beatriz Teixeira Weber, em que discutem os aspectos
da globalização para a formação de blocos econômicos.
O artigo está disponibilizado nos anais do Encontro Nacional de Economia por meio do link:
<http://coral.ufsm.br/mila/publicacoes/reppilla/edicao02-2006/2006%20%20artigo%205.pdf>.

#SAIBA MAIS#

REFLITA

Considerando as mudanças ocorridas pelo processo da globalização no contexto


econômico, reflita sobre as consequências para a economia mundial, considerando as
vantagens e desvantagens para as pessoas.

Fonte: o autor.

#REFLITA#
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro (a) aluno (a), chegamos ao final da unidade conhecendo sobre as políticas
macroeconômicas internacionais. Foi verificado nesta unidade as políticas
macroeconômicas internacionais, regulamentações econômicas, globalização e as
empresas no mundo globalizado. Com essa teoria podemos entender como seu deu as
transformações nas políticas macroeconômicas entre as nações.
Primeiro, verificamos que os países sempre buscam se desenvolver, para isso,
procuram adotar as melhores políticas econômicas. Até o início do século XX os países
se especializam na fabricação de produtos manufaturados, enquanto países menos
desenvolvidos se especializavam na fabricação de commodities. Depois da crise de 1929
houve uma mudança na política internacional, especialmente nos países desenvolvidos
devido à queda da demanda mundial. No final desse século, com a globalização e a maior
abertura comercial, houve uma nova mudança na política macroeconômica internacional,
e ainda verificamos indicadores para identificar o crescimento e/ desenvolvimento dos
países.
Em seguida, foi apresentado a importância das regulamentações econômicas
internacionais e como os organismos internacionais influenciam nessas
regulamentações. Vimos que esses organismos internacionais estabelecem normas que
contribui para a melhora das relações internacionais a nível mundial ou regional, e assim,
os países tenham condições de se desenvolver.
Por fim, estudamos a globalização, a empresa no mundo globalizado e os tipos de
internacionalização das empresas. Foi abordado o conceito de globalização e a
importância das empresas no mundo globalizado, além de verificar como as empresas
multinacionais e transnacionais podem contribuir para o desenvolvimento das nações por
meio de investimentos externos.
Assim, chegamos ao final da unidade, esperamos que tenha gostado, ótimo estudo
a todos!

LEITURA COMPLEMENTAR
CARNEIRO, J. DIB, L. A. Avaliação comparativa do escopo descritivo e explanatório dos
principais modelos de internacionalização de empresas. Revista Eletrônica de
Negócios Internacionais, v. 2, n. 1, p. 1-25, 2007.
MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO

Título: Economia Internacional.

Autor: GONÇALVES, Robson Ribeiro; MELLO NETO, Mario Rubens; Zygielszyper,


Nora Raquel; Matesco, Virene Roxo.

Editora: FGV Management.

Ano: 2015

Sinopse: O objetivo deste livro é oferecer um guia conciso de economia para os


atuais e futuros profissionais da área de comércio exterior. Os negócios
internacionais são um campo de interesse crescente, seja para os estudiosos, seja
para os profissionais e suas empresas, seja para os governos. O intercâmbio
econômico entre as nações tem crescido fortemente nas últimas décadas, tanto no
âmbito comercial quanto no financeiro. Como consequência, o grau de
interdependência dessas nações se elevou, bem como a complexidade e a
velocidade das trocas mercantis e dos fluxos de capital. A cada capítulo,
apresentamos temas direta ou indiretamente relacionados com o comércio externo
e os fluxos de capital entre países. Nosso objetivo é colocar o estudo da ciência
econômica em um contexto global, explicitando como a ação de pessoas, empresas
e governos moldam e ao mesmo tempo é influenciada pelos negócios
internacionais.
FILME/VÍDEO

Título: Commanding heights.

Ano: 2012.

Sinopse: Dividido em três episódios, o documentário destrincha a história


econômica da segunda metade do século XX. Entre os temas abordados, estão a
reconstrução do pós-guerra, a construção do Estado de bem estar social, as crises
do capitalismo e do socialismo. O filme tem o mérito de mostrar a mudança, cheia
de dramas, das economias nacionais para se adequar na competição global.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CULPI, L. A. Empresas transnacionais: uma visão internacionalista. Curitiba:


Intersaberes, 2016.

FRITSCH, W. Apogeu e crise na Primeira República, 1900-1930. In: Abreu, M. de


P. (Org.). A Ordem do Progresso: Dois Séculos de Política Econômica no Brasil.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 45-78.

GONÇALVES, R. A Nova Economia Internacional: Uma Perspectiva Brasileira.


Rio de Janeiro: Elsevier, 1998.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional: teoria e política. 6. ed.


São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005.

SALVATORE, D. Economia Internacional. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

UNDP – United Nations Development Programme. Data. Disponível em:


http://hdr.undp.org/en. Acesso em: 10 dez. 2019.

UNSD – United Nations Statistics Division. Data. Disponível em:


https://unstats.un.org/unsd/nationalaccount/. Acesso em: 10 dez. 2019.

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