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O que representa

esquerda em Alagoas? Ou 1
desempenho dos partido
progressistas nestes últ1rn"' l
anos? Como sobrev1v u
esquerda após 647 Ou 11 <> ~ 11 1
dos movimentos soc1c 1 11 v,
política alagoana? Ou, 1 1 , 1 ,r.,,,,.,.,
da crise na esquerda no 1 .1,1 1>
A eleição de Ronaldo l s ·
; representa uma vitória pc r
esquerda em Maceió? Ou,il
futuro dos partidos pro r I t ,
em Alagoas? Estas são 11 11111
cf C rv lho das questões levantad,J 11 ,,.., t 1
, , 11 11 11sa, de forma pion-eira, a atuaçao do 11 1,
1 /1 1 , 1 ...,,Jo , PSB, PDT e PSDB em Alagoas .
1 , 1Jr ndo na formação histórica e nos ind1 ,1(l<,1
l 111 micos da atualidade a explicação para mtJrt 1 ci
1 1 • obre a realidade política alagoana, o aut r
1 11 ,, ções, personagens e opiniões que ajL1 J r,
, , dificuldades atuais da esquerda alago, 11
11 1lt11 de "ALAGOAS 1982-1992: A ESOUf r I AI M
1 1 1 • 1111J1 r) nsável para todos aqueles que qu 1r 11, 1
' \'.l"' ll111 ,, 1 pouco do Brasil usando como pano d l 11111 I
11 rn nores estados. O texto ágil e envolvi 111
, r t , muito de perto todas as pessoas qul ci,
11, 1 ,, 1a t1v ram envolvimento partidário, 1 1101 ,11 1
'" '"" 11 últ ,mos dez anos da história recent cl AI, 11'"·,..
111 of or Cícero Péricles, com este livro, p 11,111
v z - Já stá na sua terceira obra quo, t 1111 n 11
111 ostudrosos do tema enriqueçam su,..,.., 11 Ir
, t 1l>l1ogr af,a, no assunto, é praticamente 1n , t 1, t


1
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Piofessor do Depa,1aJ1V:nto de F.conomfa ti


ldest1e e,,, Sociologia pela UFSC

11 i 1

o
1

Cícero Pérlcles de Qirvalbo


MACEIÓ, AL
1993

Lumen/Engenho/Edufal

Apoio

TEOT4•NIO fll.EI.A

1ª Edição
1ª Impressão
1.000 exemplares
l111pr sso no Brasil/printed in Brazil
1
© 1993 Projeto Primeira Prova (Convênio Lumen/Engenho)
e Cícero Péricles de Oliveira •

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


Créditos Editoriais
Projeto Primeira Prova
Prof. Luiz Dantas Vale (Editor)
Projeto gráfico e capa: Engenho de Comunicação Ltda. Jorge Pfau, Luiz SUMÁRIO
Dantas Vale (Direção de arte) e Jorge Alves (arte final).
Composição eletrônica e finalização a laser: Lumen Editoração
Eletrônica Ltda. Prof. Salomão A. de Barros Lima, Nadia Regina L. de
Barros Lima (diretores) e Ana Paula Cavalcante Loureiro (digitação).
Comercialização e distribuição: Edufal Editora Universitária. Conselho
Editorial: Prof. Eduardo Magalhães Júnior (Presidente), Bibl. Silvia APRESENTAÇÃO ............................ .....................
. 9
INTRODU Ã .
Regina Cardeal, Profll Branca Rosa Silveira de M. Fragoso, Profª ç o64........................
Lindoya Martins Correia, l'rof. José Bento Pereira Barros, Prof. Alberto O GOLPE DE E O MDB ............................... . 11
A ESQUERDA E O VOTO .................................. . 15
Eduardo Cox Cardoso, Prof. l1dson Mário de Alcântara, Prof. José 21
Peixoto dos Santos, Prof. llclbl•rlo Jorge V. dos Santos e Prof. Paulo OS ANOS OITENTA .......... ~~:~:~······························ 23
Vanderley Ferreira OS MOVIMENTOS SOCIAIS ······························
27
A PRESENÇA DA "TRIBUNA.DE.ALAGOAS;;· 31
Impressão e acabamento: Grófica <.I(> Senado Federal
Apoio:
f9~7~R~~~~3~s~ PMDB ······················· 33
34
1985: A PRIMEIRA DERROTA······························
37
1986: A SEGUNDA DERROTA ····························
43
1988: A TERCEIRA DERROTA ····························
51
1989: A QUARTA DERROTA ····························
55
1990: A QUINTA DERROTA ·······························
1992: A SEXTA DERROTA? ................... ············· 58
A ESQUERDA EM CRISE · ................................. . 62
Cntal1111,1,; 11, 1111 1,,1111· 70
Universldnú,• 11..,1,,,,,I d1 1 t\lllf\<1uq a) A Herança Coloni~i············,····················
lllhll<>II•, ,t ( 1'1111 ,l 1 71
b) A Sociedade Civil ·· ······························
Divis,111 dt• '1'1,11111111·1111, l ,·,•111, n 72
=========-- -=== = = = = = i l c) A Fragilidade Políti·~~······························
86
C331a Carvalho, C!cer<1 l'~rl, lt· ,li• t lllv, li,1
d) A Fragilidade Orgânic~··.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-. 94
Alagoas 1980 -191)2: 11 1•11,1111 •1tl,1, 111, 11,11• / NOTA ~IA AConjuntura Regional ........................ . 97
Cícero Pórlcl,•H lh' l lllvP11,1 1 ,11 ,111111 M11,Pl(1 N L ............. ............................................. .
BIBLIOGRAFIA 100
EDUFAL / l,UMI IN / 11,NI ,1 ,NI ll 1 111 111
p.110: 1111,, •••••••••••••••••••• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 106
Bibliogra f111

1. Partldc1~ p111flh ,, t\ l,1111111 l'lHII / 111112


2. Participo, ,, l',,1111t ,, 1 l11r1111 ~ l'JHO / 111'l2
3. Alag<>,1H 1',,lllh 11 ,, li" 1•11111 l•IHO 111112,
4. Esqu1•r1l11 (l 1 ,,, l11 l',,I Ih 1) 1 ltt1tlo

C l>I J, 1 1111 '(lit 1 ~)''1 111111/1''º:l."

l 11111·~11111111 Ili 1,, )hllíl 1 11,1 111111·1111,111,11· l'11h111 •h·,1 ,111, 1111 ,111 ', 11~1I ~1,1, 1 ti AI .
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

-
APRESENTAÇAO

presente ensaio sobre a trajetória da esquerda alagoana


entre 1980 e 1992 não é um trabalho conclusivo, na
medida em que este processo ainda está em curso e
s(>bre ele existe um reduzido volume de material disponível
para consultas. A ausência de uma maior reflexão acerca dos
, ignificativos acontecimentos da década de 80 em Alagoas
111,plica na necessidade de uma produção de novos estudos e
ll(>vas investigações para a compreensão deste período.
Este ensaio surge dessa preocupação e é resultado de
Jll'S<Juisas em periódicos locais e de circulação nacional,
1, ll' U 111entos de órgãos públicos, partidos políticos e sindicatos,
(li. l'ltt·sos de parlamentares alagoanos, bem como de análises
• e,L,st•rvações do autor que participou da política alagoana no
J> •rl<>ti<) estudado. Reveste-se, desta forma, em uma tentativa
1' t l•ílclir sobre um período recente e atual da vida alagoana,
1 • ,I ·,111do a atuação das correntes de esquerda no Estado.
() objetivo central é contribuir para o preenchimento de

11111, 1,, 1111 c xistente na produção intelectual de Alagoas, onde
1111111111l1tlL't'\lC as análises políticas são feitas de forma memoria-
li 1 1,1, 11111r1 distanciamento que nos faz compreender melhor
1 ,1, 1, 1· •111olos do passado, mas que pouco ajudam no
l 111 •1•11111•11l(> da realidade presente.

()
'
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise - Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

O parâmetro que orienta todo o trabalho, servindo _de


base para a análise da trajetória da esquerda alagoana~ e a
representação parlamentar e a presença no poder executivo e
nos movimentos populares alcançados pelos partidos progres-
sistas naquele período. A seqüência de derrotas acumuladas _no
plano político entre 1985 e 1992 justificam o título do ensaio.
O espaço de um ensaio não comporta o aprofundamento
de muitos temas e por isso certos aspectos importantes da
recente vida política alagoana serão tratados de forma breve. -
INTRODUÇAO
As indicações bibliográficas tentam cobrir essa limitação e,
além dos trabalhos citados ao longo do texto, outras pesquisas
que se encontram em fase de conclusão farão, em breve, parte
desta bibliografia, como a do jornalista Jorge Oliveira sobre a
trajetória política do ex-governador Muniz Falcão e a versão
do ex-deputado Djalma Falcão sobre o período Collor em xatos dois séculos de existência da polarização esquer e

Alagoas (1978-1989). A produção universitária está representa- da/ direita, continua esta dicotomia sendo a razão de um
da nas teses de mestrado de Alberto Saldanha, que historia o intenso debate. Oriunda da disposição dos parlamentares
movimento estudantil em Alagoas, depois de 64, a de José franceses na Assembléia Nacional, onde do lado esquerdo do
Nascimento de França a.n alisando o movimento comunitário plenário ficavam os representantes das classes populares e do
nos anos 80 e a de Paulo Décio Arruda que discorre sobre o lado direito os deputados da aristocracia refratários às mudan-
movimento sindical rural em Alagoas, entre 1961 e 1986. ças, esta terminologia passou a representar as correntes
Sem objetivar produzir um texto de intervenção, espero divergentes na luta política em relação ao futuro da sociedade
que este ensaio possa contribuir na discussão sobre as formas apitalista.
de participação política nos partidos, sindicatos e outras Hoje, para os liberais e conservadores de todos os
modalidades de organização social que buscam ultrapassar o 11,alizes, depois da derrubada do Muro de Berlim e da
quadro político vigente, numa perspectiva de mudança q':e LiL·t·rocada do socialismo nos países do Leste Europeu, o
resulte na ampliação dos atuais limites impostos à democracia l'l>11f1·onto esquerda/ direita deixou de ter sentido. Mesmo a
política. llL rmanência de economias centralmen,te pl~nificadas e de
1

~, ,vernos socialistas em vários países da Asia, Africa e América


1, 1ti11a, parece significar muito pouco na discussão sobre o "fim
,1., t,islória". 1
Neste momento em que a esquerda assiste à quebra de

1 (. 111,rl a crise 110 Leste europeu e seus desdobramentos verificar o


11IIK11 "'<. 'rlMt> (to socialismo', teoria marxiana e alternativa comunista" de
),, 1 1'1111111 N1•ttc1 11a Revista Serviço Social & Sociedade, n 2 37, dez/91)

10 11
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

alguns de seus paradigmas e daquilo que o sociólogo José sociedade capitalista. Este é um debate tão atual que, polemi-
Paulo Netto chama de "cruzada antimarxista"(Netto, 1992:10), zando com o escritor Rodolfo Konder, a filósofa Marilena
insisto nos termos esquerda e direita, concordando co~ o Chauí, respondeu (FSP, 13/12/92) à idéia de que não mais
pensador italiano Noberto Bobbio o qual, em recente entre~sta existe distinção entre esquerda e direita, da segui11te forma:
(Isto É 11/12/91), afirma 9-ue ' .à parte o fato_de que, c~ntrarzand?
aquilo que se lê amiúde nos 1ornazs: nas entre~zs~as com zntelectuazs "... a distinção esquerda/direita é imorredoura. Co~110 te1·minolo-

desorientados, a distinção semântica entre dzrezta e esquerda nada gía ela é datada. Qual é data? E a grande assentúléia geral da
perdeu no seu valor". . _ , Revolução Francesa em que os jacobinos estão sentados à
A ofensiva neoliberal insiste em que a polar1zaçao esta esqu~da e os gírondinos à direita. Portanto, a ter111inología é
na dicotomia arcaico/ moderno, sendo "moderno" o país/ eco- datada para exprimir algo que vai além dela e o Clai,de Lefort
percebeu isso de forma luminosa. O que diz Lefo1·t? [/e diz que
nomia que acelere/restaure os mecanismos d~ mercado: existe ao longo da história uma polarização po/{tica entre um
apague os traços deixados pela presença estatal, 1n~egre-se a "alto" e um "baixo" da sociedade e que ela se dá 110 insta1ite
ordem capitalista inte1·nacio11al de forma su~~rdmada ou em que o "baixo" da sociedade diz que o "alto" 11ão é 1iatu1·al,
competitiva. A lógica d o 1nercado passa a ser a umca forma de mas existe pela ação política. Então, no dia er11 qite 11ão l1ouver
auto-regulação da sociedade, mesmo quan~~ s: sabe que eJa sociedade porque a sociedade se caracteriza por uma divisão
leva a um aumento das desigualdades soc1a1s, a manutençao originária - e é Maquiavel quem diz isso e não Marx -, nesse
das injustiças e ao distanciamento do Estado da defesa da dia ficará fora de moda falar em "alto" e "baixo", radicais e
conservadores, reacionários e progressistas, esque1·da e di,·eita ".
cidadania. ; d" ·
Mas a permanência da dicotomia esquerda 1re1ta, Mantendo o sentido da permanência 11a distinção
apesar destes novos argument?s,. insiste e1:1- aparecer. Es_tas l'Squerda/ direita, o quadro democrático sob a hegemonia das
categorias políticas têm uma intima relaçao com o antigo Íl>rças conservadoras exige uma esquerda co1nbativa, um
confronto entre progressistas e conservadores. Esquerda prl)jeto claro e definido para as várias esferas públicas,
representa desde o século pa~s~~o. um, p_rojeto de ~u~ança iifcrenciando-se dos projetos conservadores que, ao mesmo
cujo centro é a abolição dos pr1v1leg1os t1p1cos do cap1ta:_l1s~o, l ·1npo em que afirmam defender os interesses gerais, na
identificando-se com as conquistas que representavam J_ust1ça ~li', lica excluem sistematicamente os interesses políticos,
social, numa perspectiva sociali~ta. como forma, s~per1or de 't'<111ô1nicos e sociais das classes subalternas.
organização da so~iedade. ~ d_1re1ta, ao contrario, _sempre A luta, dentro de um quadro democrático, exige a
esteve associada a permanenc1a das estruturas vige~t_es, ·~>,11·ação entre esses dois projetos políticos para que a
priorizando a eficiência na administração. dos negocios 11t·it•<lade 1nelhor compreenda suas diferenças e faça sua opção
privados e públicos, cedendo no campo s_oc~al s:mpre _que •11t1·t• ,1s duas concepções de organizar a sociedade; pois,
pressionada pelos "de baixo". Esquerda e d1re1ta sao _pr?Jetos
distintos de desenvolvimento associados a metas e pr101·zdades "... contrariamente ao que vem sendo reforçado pelo debate
diversas" (Diniz & Boschi, 1990: 17). . . JJOlítico, ou seja, que a distinção esquerda/direita te1·ia perdido
É por essa razão que a divisão esquerda/ drr~1ta mantém o ser1tido, pode-se afirmar que é precisamente a definição clara
sua razão política de ser, assumindo formas d1ferent:s de 1/e se11s / imites o que poderia garantir, não apenas a formulação
apresentar as alternativas para o futuro e/ ou superaçao da 1/1• 110/ílicas eventualmente eficazes, como a própria consolidação
,/ri /ll'cJ!'l'SSO de1noc1·ático. Sem uma oposição clara e uma direita

12 13
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

assumida, fica difícil romper com o círculo do populismo e com tantos problemas mas rinci
o vezo oportunista das classes dominantes b,rasileiras, que
julgam possível o enfrentamento de crises ganhando sempre"
(Diniz & Boschi, 1990:20) :r:isl~ntação ~olítica_ ~rogressista no estado. Ao coi:::i~ d:
crença ~~~~a~ ete~m1n1st~ do processo histórico, baseada na
O conceito "esquerda" fica limitado à definição dada por vitória final : ~ ~~ex?;avel" do ~o-~alismo, no fatalismo da
Cesare Galvan quando diz que "... esquerda só se pode entender retrocesso ; da esta ~a1r_ a poss~b!l1dade da regressão, do
como opção política por alguma transformação, ou seja, algo históricos não aceitag esf:º~tia ~1sao ~bert~ dos pr~ce~s_os
totalmente incompatível com dogmas. Na medida em que a mudança evidentemente, não caminha em~:nm? _simplis~a. A h1stor1a,
(desfazer-se dos dogmas) acontecer, isso significaria a própria ta da Pre · ., · unico sentido. A con uis-
gestação a geração de alguma esquerda que mereça este nome"
(Galvan, 1991:46). da vida regional som~:Joª~; leumtadd1reçaolao avanço político
Esquerda e mudanças são termos evocados simultanea- , A ' •aque es que em todo
mente ao longo das décadas. Neste ensaio convencionamos pai~ mantem a esperança utópica na constru - o
chamar "esquerda" ao conjunto dos partidos políticos progres- sociedade alternativa ao capitalismo. çao de uma
sistas PT, PCdoB, PCB/PPS, PSB assim como, em determina-
das situações, os partidos de "centro" - PDT, PSDB e parte do
PMDB -, ou seja, o conjunto de forças empenhadas no aprofun-
damento da democracia política e na institucionalização de O GOLPE DE 64 E O MDB
uma nova cidadania.
Mudança em Alagoas como em todo o Brasil, a partir da
metade dos anos 60, é sinônimo de democratização, de
ampliação da participação popular na administração pública, participação de Alagoas no e;i~óâ:~ Bandeira assim relata
de abertura de espaços de atuação política para a sociedade li •

civil com suas entidades funcionando sem o cerceamento l~ .. comerczantes e latifundiários formaram um exército particu-
imposto pelo regime militar, como ocorreu até o advento da S r de 10.000;omens, sob a supervisão do próprio Secretário de
Nova República. s:ftrança, loronel João Mendonça, todos treinados para
Este ensaio aborda um período, dentro do qual a o agem e uta de guerrilhas Dos 28 u o . .
organizados no Estado 22 d.' h ~d P s empresarzazs
esquerda conheceu várias etapas de uma trajetória que teve h . , zspun am e pelo menos 150
omens e 15.000 lztros de combustíveis cada um p d
seu início em 1980, afirmou-se em 1982 para declinar a partir meh·alhadora foram distribuídos 1 000 t. E . ara ca a
de 1985. Seis eleições aconteceram durante o período conside- M · d fi · · zros. a esse Estado-
. az~r e _azendezros e comerciantes se somaram 1.800 produto-
rado (1982, 85, 86, 88, 89 e 90) e a esquerda continua sendo , es e a~ucar e pequenos proprietários, levando cada um pelo
residual, em termos de votos e representação política, tal como ine~os cznco homen~ armados. O Governador Luís Cavalcante
flf ,o,nva o empreendimento que se inseria , .
há uma década atrás. 1•,<;t1·atécria glob l · Al ' , ~em duvzda, numa
Esse resultado, evidenciado pelas dificuldades d e o a , pozs agoas, pela sua sztuaç - ,f·
,.,,,,stiti,iria, como Estado-tampão h ao geogra1zca,
S<)b1·cvivência da esquerda durante as eleições municip ais de , e; . . , uma cun a entre Perna•Y1bu
'.,, ,. , l'1·g1pe, cu;os Governadores Arraes e S . , '. -
l l)<J2, l{•va-nos a não apenas procurar descobrir as razões de ,,l,•11/ ,fi<·11vn111 com o procrrama de r~formas A ezxa~ D~rta, se
o· :1• • organzzaçao desse
1'1
1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

Exército clandestino, com know-how da CIA, custou cerca de legais até 1965 são obrigados a escolher entre a ARENA e o
100 milhões de cruzeiros" (Bandeira, 1978:60). MDB e o segundo turno entre Muniz Falcão e Rui Palmeira
não acontece mais. Alagoas passa a ser governada, durante
Passado o vendaval de cassaçõe~ e prisões que caracteri- quase todo o ano de 1966, por um interventor: General João
zaram o primeiro ano do golpe militar, acontece a eleição p~~a José Batista Tubino.
governador em outubro de 1965. A espinha dorsal do que viria Com a decretação do Al-4, toda a U.n ião Democrática
a ser o MDB em Alagoas, a coligação reformista PSP/ PTB, Nacional/UDN, a maioria do Partido Social Democrático/PSD,
venceu o pleito mas, como não obt~ve a maiori~ abs_oluta ~e além do Partido De1nocrata Crislão/PDC, Partido Liberal/PL
votos (ver Quadro 1) necessitava, a luz da l~~islaça? e~tao e Partido Trabalhista Nacional/PTN vão compor a ARENA em
vigente, de prévia homologação da Assembleia Legisla~iva, Alagoas. A oposição legal em Alagoas, o MDB, ficou basica-
sobretudo daqueles que se opunham às propostas populistas mente formado pelo Partido Social Progressista/PSP, Partido
do ex-governador Mu11iz Falcão. A Assembléia Legislativa, em ' Trabalhista Brasileiro/ PTB, Partido Socialista Brasileiro/ PSB,
votação secreta, po1· u1na maioria de 21 deputados contra 11, Partido Social Trabalhista/PST e pela parte minoritária do
desconheceu o resultado das urnas e negou a posse do Partido Social Democrata/PSD.
candidato vencedor. Em 1966 acontece a primeira eleição disputada entre as
,,ovas frentes eleitorais. ARENA e MDB se enfrentam numa
l'Scolha que incluía uma vaga no Senado, renovação da
QUADRO 1 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES PARA bancada alagoana na Câmara Federal e a eleição para a
GOVERNADOR/1965 - ALAGOAS Assembléia Legislativa. Como não poderia deixar de ser a
Candidato Votos <>posição fragilizada perde para o partido governista. A
AllENA faz seis deputados federais contra três do MDB e 23
Muniz Falcão / PSP / PTB / PSB 59.285
lll•pu tados estaduais contra 12 da oposição. A situação elege
Rui Palmeira / UDN / PSD / PL 43.584 'l'l'<)lônio Vilela (ver Quadro 2) e fica com os três representan-
27.391 ll111 ,1lagoanos no Senado.
Arnon de Mello / PDC / PTN
Geraldo Sampaio / MTR 3.271
João Uchôa/PST 1.466 QUADRO 2-RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA
O SENAD0/1966 - ALAGOAS
Fonte: Diário de Alagoas. 09/10 / 95. ~

Candidato / Partido Votos •

Ao final de 1965, os militares decretam o Ato Institucio- l'1•t1I 11i<.> Vilela - ARENA 66.162
nal Nº 2, que extingue os partidos políticos no país; logo l 'ilv,• Ir• I éricl es - MDB 54.441
depois decreta o AI-3, que determina a realizaçã? de eleições
indiretas para governador; e no começo de 1966 e decretado o Fonte: Gazeta de Alagoas 26/ 11 / 66
AI-4, que institui o sistema bipartidário. Estes três decreto~ d a.
ditadura atingem em cheio a política alagoana. Os partido. l) Ml)13 até 1968 contava com um órgão de imprensa
11
111 11 11 I )i, rit> de Alagoas", que tivera importante papel na

IG 17
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

vitória de Muniz Falcão em 1956 e que desde sua morte, em l> PCR entrou em colapso e não mais voltou a atuar em
1966, era mantido com recursos de políticos oposicionistas Alagoas. O Movimento Revolucionário 8 de Outubro/MR-8
liderados pelo deputado Rubens Canuto, morto em acidente i;urgiu em Alagoas no final dos anos 70, através da distribui-
de carro em 1968. A saída de circulação do "Diário de Alago- Çíl<) do jornal "Hora do Povo" sem, no entanto, criar estrutura
as", único espaço aberto à oposição, representou um enorme ~'ll•rmanente. Entre 64 e 75 estas organizações tinham por tática
prejuízo para o MDB que perdia assim seu único espaço de ,1tuar fora do MDB.
comunicação social. A mudança desta posição somente se daria após a
A partir do Ato Institucional Nº 5 que, assinado em 1968 l'(>tnpleta derrota das propostas das organizações rcvolucion.á-
dava poderes ditadoriais à Presidência da República, o MDB rl,1s que defendiam outras vias que não a parlamc11tar e de
foi vítima de uma repressão sistemática - cassações de manda- 111.1ssas para derrubar a ditadura. O final deste período
tos, censura, etc., chegando a cogitar sua autodissolução. Nesse L'<1l11cide com a inflexão política no quadro nacional quando da
período (1964 - 1975) parte da oposição brasile~a, sua ala •. 111nga.dora vitória oposicionista em 1974, inclusive em
esquerdista e radical não se integra ao MDB, considerado ~or All1goas, onde o pequeno e frágil Movimento Democ1·ático
ela instrume11to de legiti1nação da ditadura (a ARENA era tida l\r11silciro conseguiu captar uma imensa votação e vencer em
2
·d d "
como o parti o o sim e o · " MDB d o sim, sen or . Em
" . h ") M,1<.' ·ió.
Alagoas a Ação Popular/ AP, organização da esquerda cr~stã, A conjuntura política alagoana a partir de 1974 refletia
foi a primeira corrente esquerdista a di~I?utar espaços po~íticos , ]ttt1d ro brasileiro onde:
com o PCB nos anos 60. A AP parti·c ipou da fundaçao .da
FETAG e tinha forte influência no movimento estudantil. "... a abertura promovida pelo governo Geisel tinha como uma
Passado o golpe de 64, a AP continuou o ,trabalho no campo de suas metas a revalorização das eleições como fonte de
alagoano, onde, em 1968, foi preso em Agua Branca, Aldo legitimidade do regime, em parte baseado em falsas expectativas
Arantes, um dos seus dirigentes. Na fusão da AP com o extraídas da vitória que seu pa1·tido - a A1·ena - obtivera no
PCdoB em 1973, os militantes daquela organização engajaram- pleito de 1970. Em que pese a fo1·te repressão política e a
censura à imprensa, a relativa liberdade concedida à propagan-
se no novo partido. . . . da eleitoral possibilitou ao MDB, o partido de oposição, obter
Entre 1968 e 1973, o Partido Comunista Brasileiro ttma significativa vitória nas eleições de 1974, fato que surpre-
Revolucionário/PCBR e a Vanguarda Armada Revolucioná- endeu os próprios dirigentes e militantes do partido, invertendo
ria/VAR - Palmares mantiveram contatos esporádicos em ,1s expectativas de todos os que estavam atentos ao momento
Alagoas, que cessaram com o desmant:lamento d~ss~s 110/ítico ". (Nunes, 1987:88)
organizações. Outro grupo, o Partido Comunista Revoluciona-
rio / PCR atuou no Estado entre 66 e 73. Liderado por um A1111. ilr1lcs, em 1970, o MDB tinha sido derrotado pela
alagoano - Manoel Lisboa de Moura -, o _PCR chego~ _a. 11NA lf ltl' vc11ceu a disputa para as vagas ao Senado (ver
comandar o trabalho no Movimento Estudantil. Com a prisao 1111 . ), t•lt1gcr1do quatro deputados federais contra apenas
de seus dirigentes em Recife e de vários militantes em Maceió, 111 MI >I\ v 10 deputados estaduais contra cinco do MDB.
111 • l(1111 t)tlrlc da oposição defendendo o voto nulo, o
1 li 11,·1· l'l>l Ma ció.
1
(sobre a luta da esquerda nesse período ver "A Revolução Faltou
2 l 111 1 >7•1, t) MDB melhora o desempenho, elege dois
ac> Encontro" de Daniel Aarão Reis, Ed. Brasiliense, 1990). 1 li ,1,, l1•1lt•r,1is e sete estaduais e vence a ARENA na

l (1 19
,
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

QUADRO 5 -RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA


Capital, como mostra o Quadro 4: .. O SENAD0/1978/ALAGOAS
A frente de oposição encontrava-se fragilizada por sua
pequena representatividade na primeir~ ,~écada. depois do Candidatos Votos
golpe. A ditadura criou, entre outros artif1cios, o instituto da José Moura Rocha - MDB 157.703
sublegenda que acomodava a representação po~ítica dentro do
Luiz Cavalcante - ARENA 117.302
partido governista Aliança Renova~ora Nacional/ ~RENA,
mais tarde PDS, iniciativa que esvazia o MDB na maior parte Rubens Vil lar - ARENA 51.402
dos municípios. José Sampaio - ARENA 21.024

QUADRO 3 - RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA Fonte: TRE/ AL


O SENAD0/1970/ALAGOAS
Votos no Estado Votos em Maceió
Candidato/Partido
' A ESQUERDA E O VOTO
98.253 13.900
Arnon de Mello - ARENA
96.994 15.918 _O fim do regime militar permitiu que se articulasse a
Luiz Cavalcante - ARENA
63.941 17.987 rela~a~ entr: o elementar exercício da cidadania política - 0
Aurélio Vianna - MDB
16.888 i.ufragio universal - e os partidos de esquerda. Estes, a
Mendes de Barros - MDB 51.819
• •xemplo dos partidos conservadores, deveriam mediar a
V<>ntade popular e o poder institucionalizado tanto no
l l . ,
f ar amento como no Executivo. Mas, ao contrário do imagina-
Fonte: Gazeta de Alagoas 24/11/70
<i<> pelo pensamento progressista durante o regime ditatorial,
Em 1978 o MDB aumenta sua votação e vence novamen- ' ~sque:da encontrou. enorme~ barreiras e entraves que
te em Maceió, sendo, no entanto, derrotado no cômputo geral 11b1,tacul1zaram seu pro1eto de afirmação e crescimento.
do Estado, na vaga para o Senado, pelo artifício d.a :ublegen~a Herdeira de uma rica discussão sobre os caminhos
(ver Quadro 5). Mesmo assim, garante a eleiçao de dois t, 1 po~er, a esquerda brasileira colocou na prática a reflexão
deputados federais e sete estaduais. I • t1111 importante teórico socialista quando este afirmava que:

QUADRO 4- RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA "... se as condições mudaram na guerra entre os Estados, não o
m~daram menos ~ara a luta de classes. O tempo dos golpes de
O SENAD0/1974/ALAGOAS
~ao, das revoluçoes executadas por pequenas minorias cons-
Votos no Estado Votos em Maceió cientes à fren~e ~e massas inconscientes, esse tempo já passou.
Candidatos a Senador
21.995 On~e a, quest~o e uma completa transformação da organização
Teotônio Vilela - ARENA 140.989
social, e preciso que as p1·óprias massas cooperem, que elas já
95.213 34.630 tenl1am a compreensão do que está em jogo, que elas saibam das
Pedro Muniz Falcão - MDB
r11zões de_sua intervenção (... ). Mas, para que as massas
Fonte:TRE/ AI , l'l)/ll1l1'eendam o que há a fazer, é necessário um longo e

1 21
,, l
\
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perseverante trabalho" (Engels, 1981 :222). ~d-re~entação da oligarquia fende-se, recompondo-se 111ais
. ia_n e em t~rno de uma nova coalizão entre as for as d
A esquerda - no que pese o fato de parte dela ter partici- d1re1ta com discurso modernizado N ç ª
pado do processo de luta armada - fez uma opção clara pela proce_sso eleitoral em Alagoas to~a ::e r~;â_.feríodc), o
estratégia democrática para lutar pelo socialismo, contrapondo- <)_corrido na maioria dos Estados brasileiros: o cam 1;re:c d()
se à "modernização conservadora" do modelo brasileiro de st~ta (que__ inc~ui, além da esquerda, os liberais-denfocr!~~: )
desenvolvimento, disputando a hegemonia política através da Sl> re sequenciadas derrotas e cada vez mais os a tid
via democrática, participando das eleições regulares, organi- i·eprese~tante_s_ das forças conservadoras crescem e d~~ina:
zando-se em partidos políticos legais, disputando espaços, <> cc11ár10 pol1t1co.
aceitando as regras do jogo democrático mas, sem, no entanto
conseguir crescer, pois regionalmente continuava diminuta,
quase sem expressão.
A palavra "derrota" utilizada neste ensaio supõe a perda ANOS OITENTA
de alguma coisa. A primeira referência é a ~leiçã~ de 1982,
quando os partidos de esquerda, na sem1-legal1dade (os
partidos co1nunistas) ou ainda em forma de correntes - ~ue d , E~ Alagoas, em quase todos os setores políticos entra-se
dariam origem mais tarde ao PSB, PSDB, PT e PDT - obtell} 11 ' ~ca a de 80 com a consciência plena do frac;sso dos
v rl<>S governos que se sucederam na vigência do .
suas primeiras conquistas eleitorais desde o golpe militar. E 111l!il ir (Luiz Cavalcante Lamenha Filho AfrA . rLeg1me
bom lembrar que a esquerda nunca teve forte expressão r I ld s . / ' an10 ages
eleitoral em Alagoas, nem mesmo no período 1946/7, quando v ' e> uruagy e Guilherme Palmeira) no seu enfrentament~
11111·._1 <> subdesenvolvimento regional O balanço 1· d
o PCB conseguiu eleger três deputados estaduais - André •I ·c'í •· G · rea iza o
, > i>1 >pt to overno do Estado em 1983 é um ve d d .
Papini Góes, Moacir Andrade e José Maria Cavalcanti, ou l 11 , tó · r a e1ro
' ~lltl; a rio ao~ governantes estaduais do período em UE.
mesmo antes do Golpe de 64. Sua intervenção era mais sentida
nas lutas sociais onde sua influência ultrapassava seu tamanho 11
l I l , 11 .~1~1cu sob ~it~dura militar. Depois de duas década;de
1 <11l 1'-·' 11 e de milagres" 42ot 10 da p 0 pu1açao
- Economica- .
orgânico. O uso da idéia de diminuição do espaço da esquerda /\ · '
1 11 1 l1v,1 c11contrava-se desempregada ou subem d .
é justificada em todo o trabalho em função da comparação 1111 , ,1 ~l,11·ccla que estava ocupada 68ot b' pre~a a,
feita entre os resultados (votos e representação parlamentar) 1 , . , 10 rece ia a te um
1 ,, 11111111110; 55% da população acima de 15
dos partidos progressistas nas várias eleições acontecidas na li ll ·l , ..,8r11 d . anos era
,, l .> ;o as crianças entre 7 e 14 anos não freqüenta-
década de 80. i1 , ,l,11,. 1 c>s 138.000 alunos que frequentaram a 1ª , .
O período estudado, 1980 / 92 marca no plano nacional
1 • 111 l'lll 1979, apenas 55.000 se inscreveram na 2ª ::;~:
os anos finais do regime militar, o surgimento da Nova
1 HII, l'llll1l l]tlL' parte desses alunos era repetente· somente
República e a eleição de Fernando Collor para a Presidência d a
República. No plano estadual marca um período em que <) 1 1,,,,111,1 ·,tl> era atendida por serviço de coleta de es ot
PMDB, representante de uma oposição há anos distante de> 1 1 i I i • ,' 1i1 •11 ,1H 3()% era servida por água potável (Estad~ d~
poder, cresce e torna-se uma real alternativa oposicionisl ; ' , 1 IH,l). 1)rt11na parecido é descrito no docume11to
11 1111•11l,1l , <ll)1·e a s co11dições de habitação trans o
reaparecem legalmente os partidos comunistas e socialista; ,, li 11 1111111 •111,1 ·, 11 ,, etc. ' P rtcs

2?. 2'1
1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

., . O movimento sindical. O momento de crescimento do


As novidades políticas dos anos 80 Jª se pronunciavam movimento sindical no plano nacional já acontecera em 1979
a partir do final dos anos 70, quando alguns novos elementos quand~ 3,2 I?ilhões de trabalhadores desafiaram as lei~
aparecem para fortalecer a oposição organizada e~ Alagoas. rel:'r~ss1vas ~ fizeram greve em todo o Brasil. A campanha pela
A Campanha Pró-Anistia Ampla Geral e !~restrita l~nç~da anistia ocorria paralela à rearticulação do movimento su1dical.
ainda em 1979, o ressurgimento do Movimen!o Sindical O marco em Alagoas na direção do novo movime11to sindical
independente, a reorganização das entidades que lide~avam o ,1cont_ece_com as eleições quase simultâneas de novas diretorias
movimento estudantil e o aparecimento de novos movimentos 11c>s sindicatos dos jornalistas e urbanitários.
sociais - comunitário, feminista e ecológ-ico - dão à oposição e . O ~ovimento dos trabalhadores em Alagoas começou a
à política alagoanas uma nova fisionomia. s ' 11~surg1~ contra as antigas práticas sindicais, com a vitória
i(>S, J_ornalist~s, em junho de 1978. Mesmo apoiado por forças
A Anistia. A campanha nacional pela anistia para todos f 1>l1ti~as locais, como Divaldo Suruagy e Albérico Cordeiro, o
os presos políticos e perseguidos pelo regime militar t~ouxe j1,r1~al1sta Alberto Jamb? !oi derrotado por Freitas Neto que
para a pequei1a esquerda alagoana um n:omen_t0 de unidade lllÍl:r?u a ~hapa de opos1çao, vencendo as eleições, ressaltadas
efetiva. Esta ca1npa11ha obtinha imensa simpatia de pa_r!e ~a 11,,s Jornais do sul como a primeira derrota política de Su-
população, na medida em que apontava P,ª~ª a rec?ncil~açao uugy, no Est~do. Logo em seguida, foi organizado o 17º
nacional, libertando das cadeias presos políticos anti-fascistas, ,111g~esso Nacional da categoria, onde foi lida, sob forte clima
trazendo de volta centenas de exilados. Em Alagoas a campa- 111l>~1onal, a cart~ de Haroldo Miranda, irmão do desaparecido
nha foi dirigida e materializada pela Sociedade A~agoana de ~ 111 ltco Jayme Miranda, a primeira denúncia sobre o desapare-
Defesa dos Direitos Humanos, fundada e animada _por 111 •11to de políticos do país pós-golpe de 64 declinando nome
militantes da esquerda, familiares de presos e desap~recido~ ·11· ' U11s tância. '
políticos alagoanos - Jayme Mi~anda, C?_astone Beltr~o, Jose . Ao Sindicato dos Jornalistas de Alagoas juntou-se o
Dalmo Guimarães, Luís de Almeida ArauJo, Manoel Lisboa d_e 11J1cé.ll<> dos Radialistas, dirigido por Adelmo dos Santos.
Moura e Odijas de Carvalho-, filiados do PMDB e J?e!s_o~al1- l 11Jl1> tlé.l mobilização e da nova fase sindical dos profissionais
dades liberais que e1nprestavam seus n~m~s ~ esta iniciat:~ª· 1 r,•,1 e.te ~om_unicação foi decretada e deflagrada, um ano
A campanha pró-anistia marcou sua ex1stencia ~om reun1oes ~ ,1., ,1 pr1me1ra greve em Alagoas após o golpe militar.
regulares, atos públicos, divulgação de ?1-aterial _sobre sua N,•s ll' n1esmo ano a oposição venceu no Sindicato dos
importância e, principalmente, como polo aglutinador d e 11ll1,1,t,1res ~~s Indústrias Urbanas, liderada por Pedro Luís
militantes mais destacados da esquerda alagoana. Tanto a 1 ,, (11~1e,~1r1a a ser o Presidente do Diretório Regional do
existência de vários presos e exilados políticos alagoanos,
11, ~ LJ 1/ Alagoas), repres~ntante dos funcionários da
como a participação ativa dos membros desta ~ampan~a nos 1 1 111l11,1 tlt• Abastecimento d' Agua e Saneamento do Estado
eventos nacionais pró-anistia, deram c?nteúd~ a~nda mais for~~· ' f,1 1,1 r !_ ' AS~L, ~o1?panhia ~nergética de Alagoas/CEAL
ao movimento. Com aprovação da Lei da Anistia v?ltam pa1,1
1 1111 1,111l11,1 l l1dreletr1ca do Sao Francisco/CHESF/ AL. A
Maceió: Selma Bandeira, Valmir Costa e Rholine ~on dl'1 1 ,1 · ,·l1,1i 1 ,1s oposicionistas nos Sindicatos dos Jornalistas
Cavalcante, presos em Recife; Nilson Miranda e _An1val c.l < 1 1 1111,111,,s (• ~cgt1ida de novas vitórias em outras categorias
Miranda, exilados em Portugal e Dinamarca, respect1vamenll',
1 "111 1111 ,11 l,11 s co,110 bancários, médicos, metalúrgicos,
1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

professores, construção civil, engenheiros~ et~., assi~ c?mo_ a CLA T e formaram a CGT em Alagoas.
criação de vários novos sindicatos e assoaaçoes profissionais. Um dado importante para o Movimento Sindical é a
No Sindicato das Indústrias Urbanas concentrou-se o lenta mudan~a no comportamento da Federação dos Trabalha-
trabalho das oposições sindicais e de lá partiram os movimen- dores n~ Agricultura/FETAG que vai, passo a passo, acompa-
tos para a organização da Primeira Conferência Nacional das nhar o ritmo da Confed~ração dos Trabalhadores na Agricultu-
Classes Trabalhadora/! CONCLAT em 1981. O I Encontro ra/CONTAG quanto a sua atuação político-sindical. Neste
Estadual da Classe Trabalhadora/ENCLAT foi realizado nos process? ª. FETAG/ AL institui um programa de criação de
dias 1, 2 e 3 de maio desse ano e nele estiveram presentes os novos sindicatos rurais (hoje, em janeiro/93, já constituem 89)
sindicatos dos jornalistas, radialistas, metalúrgicos, trabalhado- l'Strutura uma assessoria técnica e absorve praticamente toda~
. res de hotelaria, ADUF AL, enfermeiros, trabalhadores da u,s corre_ntes de esquerda em seus sindicatos e na própria
construção civil, professores, trabalhadores das indústrias ~l'deraçao. A FET AG, fundada em 1963, modificou sua
urbanas, bancários, trabalhadores de fiação e tecelagem de imagem antes marcada como uma entidade cartorial, legiti-
Floriano Peixoto, estivadores, odontologistas, sindicatos dos 1na11do-se ao participar efetivamente, desde 1987, das grandes
trabalhadores rurais de Capela, Cajueiro, Carneiros, Palmeira jl>r11adas de luta como a Campanha Salarial dos canavieiros
dos Índios, Santana do Ipanema, Viçosa e Flexeiras. Estes JUe envolveu mais de 200.000 assalariados, promovend~
sindicatos resolveram organizar a Intersindical, que representa- 11ualmente o Encontro Estadual das Trabalhadoras Rurais de
va o primeiro passo para a organização autônoma dos traba- Alagoas, um fórum de denúncias sobre a vida das 150.000
lhadores alagoanos depois do golpe de 64. 11,ulheres trabalhadoras rurais sindicalizadas no Estado ou
O II ENCLAT realizou-se em abril de 1982. Em 1983 a "' 11unciando tanto o trabalho clandestino de 50.000 crian~as e
Intersindical organiza o III ENCLA T, preparatório para o ll>ll'scentes entre 6 e 13 anos, que ajudam os pais no corte da
I Congresso Nacional da Classe Trabalhadora/CONCLA~. 111, como o transporte ilegal de trabalhadores rurais em
11
Refletindo as divergências nacionais sobre o futuro do movi- ti<>lê~cs" (Cf. FSP. 23/10/91). Seu contraponto desde 1988 é
mento sindical, o III ENCLAT divide-se. Antes do término dos M1>v11ncnto dos Sem Terras/MST que atua, preferencialmen-
trabalhos do Encontro, representantes dos sindicatos dos 1 , •111 áreas de co~itos pela i:osse de terra como ocorre, por
jornalistas, radialistas, urbanitários, co~strução civil, conduto- 111~,1,,, em Flexe1ras e Joaqurm Gomes, municípios da zona
res rodoviários autônomos, engenheiros, trabalhadores em ,, t ·,, 11nvieira.
asseio e conservação, petroleiros, associação dos economistas,
associação dos servidores do BNH, associação dos aposentados
da Petrobrás e sindicato dos trabalhadores rurais de Anadia
retiram-se do plenário denunciando manobras do PCdoB M<>VIMENTOS SOCIAIS
quanto ao registro de entidades e co~trole de dele?ad_os. Estes
sindicatos irão formar, meses depois, a Frente Sindical, quL' N I t•st<·ira_ ~o <:_rescimento do espaço político, novos
escolheria os delegados ao Congresso de fundação da CUT / 1 111 •11111, sc1c1a1s vao surgindo. A partir de 1980 e com o
CONCUT, organizando posteriormente a CUT / AL. O. 111 1 , I , Nc>v.1 República, o avanço das instituições demo-
sindicatos que permaneceram no III ENCLAT, liderados pelt> 1 l' 1 l'<>.11solidação das liberdades proporcionam e
Si11dicato dos Médicos, escolheram os delegados ao I CON t 11 1,1 ,l,11-, 111lL'1·csscs até então reprimidos dos chamados

27
••

Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

setores populares. . Ronaldo Lessa, ocupam espaços neste movimento.


Há uma mudança no país detectada por Luiz Werneck
Viana (1990:11): Os estudantes. Em 1979 o Diretório Central dos Estudan-
tes /DCE da Universidade Federal de Alagoas/UFAL é
"... a modernização burguesa do vintênio autorít~rio não s~ reconquistado por forças progressistas, reorganizam-se vários
limitou a alterar a situação e o alinhamento das elites entre si. Centros Acadêmicos tanto na UF AL como no Centro de
Afetou radicalmente a composição e o sis~ema de ?rientação d~s
classes subalternas, especialmente as mais organizadas, atraves Estudos Superiores de Maceió/CESMAC e na Escola de
do seu impacto sobre a estrutura demográfica e social,. g~rando Ciências Médicas, e a partir deste espaço funda-se a União dos
novos seres sociais e ocupações modernas e redefinindo a Estudantes do Estado de Alagoas/UEEA, que também passa
identidade de outros. " a representar os interesses dos universitários das faculdades
isoladas de Arapiraca e Penedo. Pouco tempo depois a União
Os novos movimentos sociais participam da luta dos Estudantes Secundários de Alagoas/DESA é reestruturada
democrática, onde há uma tendência a ultrapassar o marco depois de ter sido fechada, pela repressão política, cm 1968. A
parlamentar, politizando ~s ~onflit?s sociais, ocupan~o toda a importância deste movimento advinha de sua capacidade de
construção da sociedade civil. Assrm, aparece~ ~a decada de mobilização e de formação de quadros políticos, além da
80 os movimentos comunitário, feminista, ecologico e reapare- repercussão que suas iniciativas tinham na sociedade. Da área
ce, com nova fisionomia, o movimento estudantil. estudantil são originários quase todos os quadros dirigentes
regionais do PT, PCdoB, PCB/PPS e PSB. Deste segmento
Os moradores. Trazendo uma experiência vivida no Rio também saíram vários militantes para a direção da União
de Janeiro, o jornalista Reinaldo Cabral funda a Associação d~s Nacional dos Estudantes/UNE, entre eles Aldo Rebelo, hoje
Moradores e Amigos do Jacintinho/ AMA-JA, que se torn~ria deputado federal pelo PCdoB de São Paulo.
0
laboratório pioneiro do movimento de ~oradores organiza-
dos, primeiro em Maceió, para depois, espa~har-se pelo . ~s 1!-1-ulheres_. Uma outra novidade na política alagoana
interior, chegando ao sertão alagoano. Movimento que foi a cr1.açao de entidades feministas. Tomando como exemplo
atingiria seu auge anos depois, quando passou a ser represen- os movimentos surgidos no eixo Rio-São Paulo que organizam
tado por quatro federações: Federação dos Moradores de o Centro da Mulher Brasileira/CMB e a Sociedade Brasil Mu-
Alagoas/FAMA, Federação dos Amigos e ~oradores de lher/ SBM e lideradas em um primeiro momento por militantes
Alagoas/FAMAL, União dos ~o~adores do Sertao de Alagoas- de esquerda, as feministas alagoanas criam em março de 1982,
/UMSA e União dos Comunitarios/UNI~?M· . a União das Mulheres de Maceió /UMMA, que organiza o
Espaço privilegiado da luta pol~tica, o movrmento "Encontro das Mulheres de Maceió". Em dezembro de 1984
comunitário atraiu, logo após o seu surgrmento, as forças d_e surge o Centro da Mulher Alagoana/ CEMA, uma articulação
esquerda emergentes. O PCdoB aposta na criação e fortalec:- entre filiadas do PMDB liderada pela deputada Selma Bandei-
mento da FAMA, o PCB investe na FAMAL e o PDT, atraves ra, contrárias à orientação adotada pela UMMA, comandada
do trabalho pessoal do ex-prefeit~ Corin!~º C~mpello, pelas militantes do PCdoB. Nessa época a representação
organiza a UNICOM. Além dos partidos politicos, lide~es e política feminina, apesar das mulheres contituírem 45,7% do
r>at·lamentares da oposição, a exemplo de Selma Bandeira e eleitorado, é de apenas 7,8% ou 65 dos 829 vereadores do

, li ? C)
1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

afro-brasileiros e na luta contra a d" . . - .


Estado e 9,6% ou 9 dos 95 prefeitos. a tradição da comemoração d 20 1~cr1m1naçao racial, criando
Estes movimentos começam a levantar a discussão sobre da morte de Zumbi e do dia Ja Cone ~ov~mbro, aniversário
o papel da mulher como sujeito político autônomo, provocan- ment~, liderado pela Associação Cu;~enr a Neg~a. O Movi-
do a discussão sobre a discriminação no trabalho, a violência tambem a criação do p ra Zumbi, consegue
a que é sujeita a mulher (algumas de suas denúncias tornam-se sede da República dos p:rque N~cional da ~erra da Barriga,
destaques nacionais), a sua situação no código civil, o direito Indigenista, que luta pela md ares. u1:_ge tambem o Movimento
emarcaçao das re · d'
ao controle da própria fecundidade e a descriminalização do W assus, Xucuru K · · 1 . . , servas 1n 1genas
aborto, num movimento que se amplia até conseguir, por força liderado pelo caciq;;1R;is ::;gu_1-Boto, Ka_rapotó e Xocó, e é
de um polêmico decreto do Governo estadual, criar o Conselho en1no, assassinado em 1990.
Estadual dos Direitos da Mulher/ CEDIM. Para uma população
majoritariamente de mulheres (ver Quadro 6) a condição
feminina no trabalho, na educação e na saúde é colocada na
ordem do dia.
QUADRO 6 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE ALAGOAS Com o fechamento 11
·, •
'

Pop. Feminina Pop. Masculina "Desafio" que funcionou e tr dran e porta-voz. O semanário
Ano Pop. Total
806.881 766.756 1980, apesar de ser um ór ~o ~a ezembro ?e 1978 e começo de
1970 1.573.637
971.052
'
e ter. sido enquadrado ~a Lei c2:~:da imprensa ~lternativa
1.982.531 1.011.539
1980 mantinha com a oposi ão os 1 ,., g~rança Nacional, não
1.252.913 1.186.017 de Alagoas" O h' t ç aços organ1cos que teve o "Diário
1990 2.438.930 . ia o entre 1968 1979 f .
decisão política de se criar . e 1 . o1 rompido com a
A fundação de um · ~:l ~~~ vmcu~ado à oposição.
10
Fonte:IBGE
0
a frente de oposição nd final ~ar10 reabrindo espaços para
Os ecologistas. Um outro fenômeno da sintonia da esquerda alagoana um marco . e, 1_979, representa para a
esquerda alagoana com os novos movimentos sociais foi o articulam uma série de t h1stor1co a partir do qual se
surgimento, no começo dos anos 80, do movimento ecológico, - ou ros eventos A "T 'b d
nao representava um resultado da f. . r1 una e Alagoas"
trazendo para Alagoas uma nova temática a ser discutida. alagoana, mas uma decisão pol't· d orça interna da oposição
Organizados principalmente no "Movimento Pela Vida", os que rompera com o gove 1 icfad o senador Teotônio Vilela
ecologistas colocam na pauta de discussão da política estadual · rno e eral e ·
111strumento de pressão l'ti . p~ec1sava de um
aspectos inéditos no discurso político dominante: derrubada da 11um momento de mud po 1 ca, ou se1a, um Jornal diário. Foi
Mata Atlântica, poluição através de lixo hospitalar, localização anças que:
da fábrica Salgema e do Pólo Cloroquímico, que passaram a ,, .
... surgiu então a Tribuna de Ala o . .
fazer parte de quase todos os programas políticos a partir senador Teotônio Vilela b ~ as, inspirada e mantida pelo
daquele momento. Tribuna para um jornalis!ue a ~zu e sustento.u as p~gínas da
Merece registro o surgimento nesta época do Movimento vo. P1·aticando este tipo de~ mazls. amplo, ª.r'.o;ado e informati-
;orna ismo, facilitado à época pelos
Negro Unificado/MNU, centrado na afirmação dos valores

31
30
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

ventos da abertura, a T1·ibuna de Alcigoas d11va em suas páginas qua_lida~e


mais baixo.da informação entre 6 , .
n s ao seu nzvel historicamente
o que nenhum outro jornal tinha co1·agern de publicar" (Dan-
. , Tão baixo que, se al m . .
tas Vale, 1984:101). a historia de Alagoas e ~ d pesqt11s,1dor q1t1se,· reconstruir
m pe1·10 o recen t , J· f. •
constatar como fia tos de t r,,,isce,, d1•t1f 11/. •e, ,car,z ~
estc1rrec1do

em
O diário "Tribuna de Alagoas", se afirma a partir de 1980 d? nosso povo sin1plestne11t'e fo. !''.1po1·tr111c,.· 1c1 71a1·a a vida
como porta-voz dos vários segmentos da sociedade civil distorcidos nas pági11as d 1c1 til .º''' ti ~,los o,, 71erve1·snn1ente
alagoana que se articulam na esteira do crescimento da gravações de nossos ~~ ~l;!~sos 1or11111.~011 110 c111e restar das
1992·5)
· · ,10 ,c,111·10.<1 ,le ,·11tlio , tv ,, (M.11·a11daI
oposição organizada em Alagoas, representada no Partido do
Movimento Democrático Brasileiro.
Em todos os momentos políticos a "Tribuna de Alagoas"
teve um papel destacado. A ampla circulação apoiada em uma
distribuição que atingia quase todo o Estado garantia uma
grande tiragem, e já no primeiro trimestre de 1981 a Tribuna
registrava tiragens diárias acima de 10 mil exemplares (Caval- ? PMDB, representando u . ..
o partido vencedor nas ele. - ;a possibilidade real de ser
cante, 1987). Ancorada em uma equipe jornalística de primeira
linha a nível regional, o jornal alcançou credibilidade e espaços um amplo leque d:çoes e 1982, aglutinava em seus
prestígio junto à sociedade politizada, que não mais passava :;as forças da oposição alago::~: ~ba;-,~ando representantes
sem a leitura diária da "incômoda" "Tribuna de Alagoas", único o tradicional do açúcar a parti·d' sd e i eres do empresaria-
F A , os e esquerd . d .
periódico dentre os seus congêneres a fazer oposição ao enomeno tipico na olític a ain a ilegais.
Governo Figueiredo, criticando a administração Guilherme marco_u todas as eleições e~ Ala aoalag~ana, a ~ip?larização
Palmeira em Alagoas e combatendo a gestão de Fernando a partir do bom desempenh d ~ s pos-64, principalmente
Collor na Prefeitura de Maceió. A "Tribuna de Alagoas" de polarização sui generis p~i o d Bem 1974. Um processo
f,..1ncionou durante sete atribulados anos e quando fechou as era frágil e sem capacidad~ d s um e seus lados, a Oposição
portas, no começo de 1987, já havia passado por outros na primeira década após o ~o;es!~~:
efetiva, principalment~
proprietários, conhecido outras orientações e sofrido muitas h A rearticula - d P
çao e uma frente i itar.
l't·
pressões. A marca do jornal era tão importante que, quando da c ances de ocupar o Palácio d p~ ~ ica com força real e
perspectiva de sua volta em janeiro de 92, sob o controle do estadual, se dá a partir do os_ Martrrios, sede do governo
empresário Paulo César Farias, tesoureiro das campanhas de Vilela com o partido pelo ~~~piment_o do senador Teotônio
Collor a Governador e a Presidente da República, uma nova A passagem de Teotônio ~l 1 ora eleito em 1974, a ARENA
polêmica foi criada, pois a "Tribuna de Alagoas" voltava para como fundador do PMDB e a para o MDB em 1979 e depoi~
disputar o mercado com os tradicionais diários de Maceió - ~ara o partido situacionisi:. r::e~_ent~u um sentido desfalque
"Jornal de Alagoas", "Jornal de Hoje" e "Gazeta de Alagoas". -ª~do-lhe um forte estímuÍo prií:n º1~ frente democrática e
Analisando o período em que a Tribuna esteve fora de r1a1s. No ano seguinte o d co a em de recursos mate-
L'lcito pela ARENA, ta~bé eputado federal Murilo Mendes
circulação, o jornalista Anivaldo Miranda afirma que:
11:
Com a ampliação do se transfere para o PMDB. '
"... o monopólio da informação até então vigente, aliado à íl llprovação da Anistia nopfioc~s~o de abertura política e com
censura e à manipulação grosseira da notícia, remeteram a , na e 1979 voltam para Maceió

1
33
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise 1

Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

e integram-se nas fileiras do PMDB antigos militantes de Guilherme p l ·


esquerda como Selma Bandeira, Ronaldo Lessa e Nilson Bulhões. a me1ra, Fernando Collor de Mello e Geraldo
Miranda entre outros, que trazem um reforço especial à frente
oposicionista, tentando animar os Movimento Trabalhista e . Na oposição estava o PMDB (ex MD .
n12ado pelos liberais de - B), partido hegemo-
Juvenil, assim como alguns Diretórios do Interior do Estado. d / . - mocratas - compo t d
e~?crat1co que resistiram à ditadur n~n es o centro
A entrada de membros históricos da esquerda representava pol1tica, possibilitando ass. . ~ e gar~nt1ram a transição
um contraponto ao crescimento de sua ala direita, porque na cráticas na Constituinte Eir; a cr1'.jªº das instituições demo-
medida em que o PMDB se fortalecia, as dissidências do PDS,
que não conseguiam conviver em seus diretórios, migravam
classes médias urbanas~ d=
ea~:f .º er~ o _representante das
do, além dos setores mais rid· 1·ª insatisfeita do empresaria-
para o partido de oposição. falta de alternativa ab . ica izados da esquerda que por
O crescimento tanto à esquerda como à direita do PMDB lºd r1gavam-se na lege d O p
I erado por José Moura Rocha / n ª: MDB era •

fazia com que se vislumbrasse um cenário extremamente senador Teotônio Vilela . / t' Jose C_osta : Djalma Falcão. O
polarizado, sem espaços para uma "terceira via". Assim é que concorrer à reeleição m' 1ª en ermo, ficou impossibilitado de
mesmo existindo naquele ano um movimento para a formação . d , as manteve o apo· PMD
ªJU ara a construir e se em h 10 ao B que
do PT e PDT, estes não conseguem se organizar nem obter oposicionista. pen ou na campanha da frente
registro junto ao Tribunal Regional Eleitoral para concorrer em
Márcio Moreira Alves descre
1982, ficando Alagoas como o único Estado brasileiro onde retirada da candidatura de T t A :7e ºvs· momentos políticos da
estes partidos não participam das eleições, com parte de seus eo on10 1lela:
militantes apoiando candidaturas dentro do PMDB. ,, T , M
·· · 1ose oura Rocha um l 't · .
dominantes alagoanas ;orno e:ºu~:~: c~nszderado pe[as classes
governo e ocupou o lu dq Ti ,Aa _andonou a disputa pelo
• brilhante dPnutado da bgar de ebot?nio. José Costa, o mais
. -r anca a, a riu mão d . -
1982: O PRIMEIRO TESTE garantida e aceitou as incertezas d e uma reeleiçao
Suruagy, ex-governador háb 'l o e~{entamento com Divaldo
tes locais e gestor dos z·m' i negocia or dos conflitos de chefe-
Foi em 15 de Novembro de 1982 que a esquerda alagoa- [ançou nas eleições em a ensos recursos qu O e J'
· e overno Federal
na, enfrentou seu primeiro e duro teste nas urnas depois de 64: /Jt'lo voto-cabresto e ppeol io daos seguidores. Costa foi derrotado
o esespero d · , ·
eleições gerais para Governador, Deputado Federal e Estadual, 11•/11111/11111/e vitória em M ., d a miserza, mas teve
. aceio, on e a op · ·- , . .
Prefeito, Vereador e um terço do Senado, numa renovação /1 ,1111/1· ,lifi,·il. O seu sacriff . d iniao e mais livre e a
I
11 11 11,·11111, 11,,111 ,/,, PMDB l l '.l'czo, e o e Moura
. Roch ..
a, permztzram
quase completa da representação política de Alagoas. Essas oca , a constitui - d b
1111111 11 /1, 111 11,, < ·, 111111 .11 ,lc>s V:
1
d çao e uma ancada
eleições representaram na época um mecanismo plebiscitário
/•! ,, ,, /, 1•11 /111/,, i", /111/11,:i.~ ~~~;;es_~a capital e a eleição de
de julgamento do governo, como haviam sido as eleição de 1,1,1/1/, ,1 ' /11111 Jl,1 111 /, ,,,, ,. 11 ,111li1:,,,s:;1~ '~s, ctomdo ~ ex-presa
1974 e 1978. O lado situacionista representado pelo Partido ,, ( / 1 111 1 ' ,•?J ' t i es u antil Ronaldo
Democrático e Social/PDS (ex-ARENA), partido da moderniza-
ção conservadora, do capitalismo autoritário e da exclusão 11I
social, porta-voz dos setores mais retrógrados do empresariado t 1 1
,1111 ,, 1111 11111 >rt·j11tfi ...·nd o
e dos latifundiários, era liderado por Divaldo Suruagy, 1 1 1111 ,, l f 1 1' 1f 1 1 , '"" •• e fe > V ( l l t)
ft f I I li ljt 11 li li 1 1 111 li-,
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

municípios onde não tivesse lançado chapas e candidatos a formam então uma nova bancada ao lad
PMDB - Kátia Born G 'Ih o da esquerda do
prefeito e vereador. Por razões diversas o PMDB não pôde somando-se à tradicio~~l e~:.::alcão e _F~rn?ndo Costa -
apresentar candidatos em 10 municípios - Canapí, Campo Marinho Muniz Falcão, Mauro da oposia,o~ista - Pedro
Al~gre, Japaratinga, Minador do Negrão, São Sebastião, Olho Guimarães e Bráulio Cav 1 Guedes, Mario Mello, Tito
d' Agua Grande, Coité do Nóia, Mata Grande, Traipú e nista tinha um núcleo ce~t~:rt:. Esta nova bancada oposicio-
Piranhas, o que representou um prejuízo real de 45.000 votos. que durante toda a legislatura cirma~o por sua al? esquerda
A vinculação era uma arma para imobilizar os coronéis do res, homogeneizando o man ava os demais vereado-
sertão, amarrando-os ao PDS. O resultado final foi a vitória do tanto na gestão do refeit~omport~~ento político do PMDB,
partido governista, marcando, no entanto, um crescimento do aliado, Djalma falcão. adversario, José Bandeira, como na
significativo da frente oposicionista (ver Quadro 7). O PMDB •
elegera três deputados federais, nove deputados estaduais,
vários prefeitos no interior do Estado, principalmente na Zona piPUADRO 7 - RESULTADO DAS ELEIÇÕES
da Mata, e um grande número de vereadores. Os partidos de RA GOVERNO E SENADO - 1982ALAGOAS
/
esquerda, ainda ilegais, abrigados na legenda do MDB, Candidatos a Governador Candidatos a Senador
passaram a ter representantes no Legislativo: o PCdoB elege Divaldo Suruagy (PDS) 257.839 Guilherme Palmeira (PDS) 259.581
Eduardo Bomfim deputado estadual e dois vereadores na
Capital - Edberto Ticianelli e Jarede Viana; o PCB viabiliza a José Costa (PMDB) 206.856 José Moura Rocha (PMDB) 202.572
eleição de Freitas Neto como vereador em Maceió. O cresci-
'~ento também foi significativo na esquerda do PMDB que Fonte: TRE/ AL
começou a ter presença no partido. Seus representantes mais
destajca~os são Renan Calheiros, que foi para a Câmara dos
Deputados depois de um brilhante mandato na Assembléia
Legislativa, Selma Bandeira e Ronaldo Lessa eleitos deputados 1985: A PRIMEIRA DERROTA.
estaduais. Vítima de um acidente automobilístico a médica e
deputada Selma Bandeira morreria em 1986. Os anos 83 / 84 transcorreram sob . .
A Assembléia Legislativa conheceu então um forte cresci- mandato do então presidente Jo- p· .º signo do final do
preparava sua sucessão Em to ao igu:iredo e do clima que
mento da bancada oposicionista. Aos tradicionais representan- nha das "Diretas Já" E . AI do o Brasil começara a Campa-
tes do PMDB - Mendonça Neto, Moacir Andrade, Diney impulso com o en ~-a:ent~g;as essa campanha toma grande
Torres, Afrânio Vergetti, Francisco Melo e Ismael Pereira - O
reticências. Peque~o~ atos vão PMDB, passa~o o período de
somam-se novos parlamentares como Selma Bandeira, Ronaldo
Lessa e Eduardo Bomfim, que passam a compor uma bancada grande manifestação popular :os~1:11-a;~ ate ac?ntecer uma
om milhares de essoas in' , ia e Janerro de 1984,
sensivelmente mais atuante que a anterior. A própria Câmara ,iitadura, em defesf da d do _as ruas protestar contra a
Municipal de Maceió foi amplamente renovada com a vitória i·os escolherem seu presid:-r;;t~cr;_cia e pelo dir_eito dos brasilei-
do PMDB, formando uma maioria de 13 vereadores, contra 8
111c11te vitoriosa mas erm'ti. campanha nao fora completa-
do PDS, adquirindo uma nova fisionomia. Vereadores comu-
•Jcição pelo CoÍégio 'fueito i rdumpa s~ída parlamentar, com a
nistas - Jarede Viana, Edberto Ticianelli e Freitas Neto - ra o residente Tancredo Neves.

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

os Ministérios ór - 'bl'
Nesse Colégio Eleitoral votaram as bancadas alagoanas na Estado; a uni~ersY~~ds epue icot s federais e toda a máquina do
Câmara, Senado e a representação da bancada majoritária ou ras escolas d · .
to d as as estações de televisão t d . e en_sino superior,
(PFL) na Ass~mbléia Legislativa. Três deputados federais do rádios FM e quatro AM doi e o os os J~rna~s diários, seis
PDS votaram com Paulo Maluf: Geraldo Bulhões, Fernando livrarias; além de concen'trar s teatros, seis c~e~as e oito
Collor e Nelson Costa. O PMDB e a bancada dissidente do parte mais importante d q~a~e todas as industrias e a
PDS, que viria formar o PFL, votaram com Tancredo Neves: . . o comercio e do · t b
inc1usive o fluxo tu , t· sis ema ancário·
ris ico acontece q tO d O '
José Costa, Mendonça Neto, Manoel Affonso, José Thomás municípios
· vizinhos · o qu uase
e ocorre em M · , em Maceió e
Nonô, Albérico Cordeiro, Carlos Lyra, Luiz Cavalcante e imediatas repercussões em t d aceio tem amplas e
Guilherme Palmeira. A representação da Assembléia Legislati- Maceió tem mais status do o a flagoas. A Prefeitura de
va votou de forma unânime em Tancredo: Roberto Torres, ou até mesmo que uma que qua_ quer Secretaria de Estado .
Laércio Malta, Edval Gaia, Emílio Silva e Benedito de Lyra. •• _
11 opiniao pública" al
representaçao no Congre N ·
A sso acional
A morte de Tancredo Neves e a posse de José Sarney partem quase todos it::ª _concentra-se em Maceió, de ond~
marcam o começo da vida da Nova República. A legalização estadual. vimentos renovadores da política
dos partidos de esquerda e a conquista do direito de escolher
Para ampliar essa importân . 1. -
os prefeitos das capitais dão um novo conteúdo político ao ano tou uma contribuição es . l· eia, a e eiçao de 85 acrescen-
de 1985. Volta-se a escolher pelo voto direto os prefeitos das somente para Maceió, os p:rc~~~ apes~r de _se~ uma disputa
capitais e de municípios considerados pelo regime militar de rádio e tv, estadualiza~do a Ji~s~~~am diariamente tempo
"áreas de segurança nacional". Em novembro de 85 c· p ·. .
Maceió, que não tinha prefeito escolhido diretamente Prefeitura de Maceió. Pelo ;;r~~diandidato~ _disputarain a
desde 1965, entra no clima redemocratizante da Nova Repúbli- ta/PDT é candidato o radialista Sab· Democr~tico Trab~lhis-
ca. A macrocefalia da Capital tornava essa eleição algo mais
que uma disputa municipal. Maceió, com seus 709.000 habitan-
de seu prestígio como apresent d mJ Romariz, na plenitude
Povo na TV" levado ao ar ela T;, or o pro~rama "A Vez do
' tes, concentra toda a vida política de Alagoas. E uma cidade com o apoio de personalldades Alagoas, ~anal 5, contando
polarizada entre áreas de rápido crescimento vertical e áreas recém saído do PMDB ara _como Jose Moura Rocha _
compostas por bairros periféricos e mais de 60 favelas onde, Conselheiro do Tribuna) de ~rg~ruz~r o PDT no Estado - e do
segundo estudos da Prefeitura Municipal de Maceió realizados tário daquela emissora Sab· o; as e_raldo Sampaio, proprie-
em 1988, viviam em condições subnormais 29% da população o PFL/PDS através do. d' ino ~ma~iz tentava polarizar com
(Farias, 1992). As áreas periféricas são segregadas, sem infra- iscurso anti-mal fi t "
momento, feria O PMDB u s a que, naquele
estrutura, onde habita a grande parcela da população margina- 1
campanha de Paulo Mal~f~o pqua_ d? g~upo 9-u~ sustentara a
lizada, com parte dela vivendo sob permanente ameaça nos Partido dos Trabalhadores/P;efi encia ~avia i?gressado. O
períodos das chuvas, num fenômeno que se repete todos os Cabral, que não contou co ª~àou o Jornalista Reinaldo
anos 3

teve seu desempenho p . ~? p;rti o para fazer campanha e
Na Capital estão atualmente as representações de todos Gonçalves em plena ~JU i~a pela_ sa!da de seu vice José
O

'indical urbanitário Jose' isppu ~, subs,tituido pelo dirigente


. ereira o 'Perei · h " 0 .
oinunista Brasileiro/PCB reso1veu ' fazer sua
rin acampanha
· Partido
de
~ (sobre Maceió ver a monografia "Urbanização e Pobreza Urbana - o
aso de Maceió" de Frederico Teles de Farias, UFAL, 1992).
3
1 'lf\
t
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
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. - veitando o tempo de rádio e televisão e


legal1zaç~o, a~ro . Mi nda que tivera seu mandato de derrota política para a esquerda. Uma derrota que pode ser
lançou o Jornalista N1ls~~4 ~=ndo' como vice Rubens Colaço explicada:
vereador cassa~o ~m . , hecido militante político. (1) pela inapetência e inexperiência administrativas de uma
Rodrigues, ex-s1nd1cal1st~ e_ con_ manteve-se e a coligação equipe sem exercício de poder, o que gerou uma situação
A tradição da po ar1zaçao ex- refeito e deputado caótica e de ingovernabilidade, que chegou ao final do
PDS/PFL ~presento~ o no~~e~~ar o /MDB que, depois de mandato com a sensação de nunca ter assumido de fato a
estadual Joao ~ampa1~ p;r~~i ão gerada pela disputa interna administração municipal; (2) pela falta de um Plano Geral e de
um longo per1odo ~e in e çor Renan Calheiros e Ronaldo planos setoriais - havia um excesso de intenções e pouca
entre as correntes l1deradash p a encabeçada pelo deputad~ realização, e uma absoluta falta de prioridades, o que dificulta-
Lessa, la~çou uma _forte ~oª~orno vice o ex-deputado Jose va a relação com a Câmara Municipal, levando a um processo
federal Djalma ~alca? ten e ainda contava com o apoio do de isolamento; (3) pela crise financeira e administrativa
Costa, numa coligaçao q~ t . fra estrutura montada pelas municipal em que vivia a prefeitura de Maceió com uma
PCdoB e PSB. Com uma or ': idn -m 1985 os recursos do superpopulação de 16.000 funcionários, que sofreu o cerco do
- idas ain a e -
novas adesoes consegu
, . J - Lyra e o apoio o . d 1·ornal, rádio e tv da governo estadual, o qual só repassava o ICMS devido através
empresar1~ oao O
_ e com
O
prestígio de quem de decisão judicial e; (4) pela falta de intervenção da esquerda
Organizaçao A:non de r.el!es de 1970, 1974, 1978 e 1982, a organizada na Capital.
vencera. na capital
frente liderada pelonasp~~ foi vitoriosa, como mostra o Após três meses da posse do novo prefeito, o PSB, que
Quadro 8. não chegara a participar do governo, rompe com a administra-
ção Djalma Falcão acusando-o de não ter honrado os compro-
UADRO 8 - RESULTADO DA E,LEIÇÃO missos da campanha; o PCdoB, meses depois, segue o mesmo
Q PARA PREFEITO DE MACEI0/1985 caminho e retira os militantes que apontara para algumas
~, direções de órgãos municipais, e o próprio vice-prefeito José
Candidato Votação Costa anuncia seu desinteresse pelo cargo. Tudo isso contri-
Djalma Falcão (PMDB/PCdoB/PSB) 56.174 buiu para que o PMDB fizesse uma das mais desastrosas
administrações de que já se teve registro. Pouco tempo depois
João Sampaio (PFL/PDS) 51.481
de assumir, a nova equipe de governo passou a ser identifi-
Sandoval CAju (PTB) 2.009 cada com práticas e procedimentos do passado, generalizando-
Nilson Miranda (PCB) 1.091 se a percepção de que a tão sonhada mudança frustrara-se,
concedendo espaços para a crítica dos setores políticos à direi-
Reinaldo Cabral (PT) 1.010
ta. O PMDB, sem bases nos movimentos sociais, desagregava-
Fonte.• IRE/ AL se e a esquerda organizada não era uma alternativa política,
pois não reunia forças suficientes para disputar a hegemonia
1 . , . eleitora
A vitoria . 1 d O PMDB na Capital. não representou
d · a política em Maceió. Como resultado dessa experiência, o
'
'
monia dos setores oligárquicos que omm - PMDB, em 1988, teve que devolver a administração municipal
aram
quebra da hege d es d e 1964. Foi, a curto prazo, uma às mãos do PDS/PFL.
ininterruptamente
Um fato - inesperado - da maior importância, que
11()

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1
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

alteraria a política alagoana a partir daquele momento, ocorreu


no PMDB naquele mesmo ano. Um forte grupo político do naci~nal. Já o grupo dissidente do PDS vai
depois que este vence no Col, . . para o PMDB
PDS, em conflito aberto com a corrente que viria a formar o nenhum sintoma de mud eg10 Eleitoral, sem apresentar
PFL em Alagoas (Divaldo Suruagy, Guilherme Palmeira e José ança na prát· l' ·
meses antes, os políticos do PDS não I~a po I~ca. Derrotados
Thomás Nonô), liderado pelos deputados federais Fernando qual já estava controlado elos p dem ir para o PFL, o
Collor e Geraldo Bulhões - o mesmo que organizara a campa- Tancredo N
. eves.
o .P parlamentares que apoiaram
caminho encontr .
nha reacionária de Paulo Maluf à Presidência da República -
filia-se ao PMDB logo após a derrota no Colégio Eleitoral,
gerando a maior crise desde sua fundação. Desorganizada e e torná-la bas; de lançamento rda s1m.J?at1ca legenda do PMDB
sem unidade interna que permitisse a construção partidária, a projeto reformista e todo o leg:d~rdeto p_ar~ 1~86; ou seja, o
frente oposicionista abriu espaços no período entre 1982/1985 vão parar nas mãos do grup d. .d e res1stenc1a à ditadura
para que a onda conservadora fizesse sua reciclagem imaginá- o 1ss1 ente do PDS
A entrada da co . ·
ria e assumisse o discurso da mudança.
Mantendo uma tradição que pertence à direita, a de
grupos que v1r1am assumir o PCB e o PCd os
sempre tomar a iniciativa na política estadual, Fernando parte da esquerda do PMDB . oB; de outro lado,
Collor, Geraldo Bulhões e João Lyra, na linha da frente e d
do estadual Ronaldo Le·s sa a corrente liderada pelo dcpul,1-
Antonio Hollanda, Euclydes Mello, Francisco Hollanda, Paulo ção da frente o osicionista , e_scontente com a descaractcriit1
César Farias e Rubens Villar, no segundo escalão, lideraram a do PDS tambp , apos a entrada do grupo ori1•i11. ri<>
encampação do PMDB, quase sem encontrar resistências, com , em rompe com O PMDB f n1
Socialista Brasileiro/PSB em Ala ' ormando <> _l ,11:lilf11
um claro projeto a médio prazo: instalar-se no Palácio dos perdido José Moura Rocha goa~. O PMDB, 9111• Jíl 111111,1
Martírios em 1986. Não interessava portanto, a esse grupo, e em 1982 d , seu candidato a S<.'11,1cJc,1· t•111 1978
nenhum conflito até às eleições e, sem alarde, trabalharam o , per e sua parte mais d
zado pelas correntes .
d r·
e esqucr ' L' ict1 l11•gl·1111,11i -
controle da estrutura partidária. Desta forma apoiaram os ma1s conservadoras (su .1 ,1I· f .
remanescente fi 1 · · ' • ,1 e 1•111c>L'1·át1c,1
nomes de Djalma Falcão e José Costa para a Prefeitura de do PDS) q ~a cob1:1P etamente suborditléc1da ac>s dissidc11tcs
Maceió, ajudando a coligação liderada pelo PMDB a eleger o , ue am em se aproveitam do PMDl3 , ,
Prefeito da Capital, uma antiga aspiração da frente oposicionis- momento um partido que co11trolava o Covcr110 Fcdc~~:u Jc
ta. Para não deixar dúvidas sobre o predomínio dos dissiden-
tes do PDS no PMDB, é Fernando Collor que encerra a
campanha de Djalma Falcão na televisão mostrando a nova
fisionomia que o PMDB iria ter até 1989. 1986: A SEGUNDA DERROTA.
Há uma diferença substancial entre a passagem de
Teotônio Vilela da ARENA para o MDB e a entrada do grupo O que os dissidentes do PMDB .
dissidente pedessista no PMDB, em 1985. Teotônio radicalizou Fragilizado, sem poder contar co previram aco~t~ceu.
suas críticas ao regime militar tornando insustentável sua corrente de esquerda O PMD1; sua pequena mas ef1c1entc
presença no partido governista; sua passagem para o MDB candidato a governador d aponta Fernando Co]lor
ocorreu pela identidade com as propostas para a política
a og1ca impera na chapa para o Senado. Oposi-
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

cionistas prestigiados como Mendonça Neto e Teotônio Vilela Parlamentar /DIAP, tiveram um importante papel nas votações
Filho compõem uma aliança com políticos qu~ fizeram c~rreira no C?n~resso Constituinte. O DIAP, no final dos trabalhos
na ARENA/PDS como João Lyra e Rubens Villar. Polarizando constituintes publicou uma avaliação de cada parlamentar
a eleição estava a coligação PDS/PFL com Guilherme Palmeira como mo~tra o quadro 9, levando em conta os votos dado~
saindo candidato a Governador e lançando Divaldo Suruagy, n~s questoes que interessavam diretamente aos trabalhadores
Mendes de Barros e João Azevedo nas duas vagas em disputa ta~s _como estabilidade no emprego, turno de 6 horas, salári~
m~i~o real, ~ireito de greve, reforma agrária, férias, avi$o
para o Senado. previo proporcional, comissão de fábrica, etc.
O Partido Socialista Brasileiro, que já havia rompido com
o prefeito Djalma Falcão, o qual ajudara a eleger, organiza
uma coligação lançando os nomes do deputado estadual QUADRO 9 - DESEMPENHO DOS CONSTITUINTES
Ronaldo Lessa (PSB) para Governador, e Freitas Neto (PCB) e '
ALAGOANOS SEGUNDO O DIAP
Lauro Farias (PL) para a disputa das duas vagas no Senado, PARLAMENTAR Nota lºtumo Nota 22tumo Nota final
numa coligação de muitos partidos (PT, PSB, PCB, PDT e PL) Albérico Cordeiro 4,5 4,0 4,25
e pouca representação eleitoral. .
A Frente Popular, cujo objetivo era canalizar os ':'ºtos de Antônio Ferreira 3,5 ZERO 1,75
protesto, foi asfixiada pelos dois grandes blocos em disput_a e Divaldo Suruagy 4,5 3,0 3,75
quase desapareceu. Excetuando o fenôt:'~no eleitoral Sabmo Eduardo Bomfim DEZ DEZ DEZ
Romariz, que além dos votos necessarios para ~e eleger,
viabilizou a ida de mais três deputados estaduais para a Geraldo Bulhões 6,5 8,0 7,25
Assembléia Legislativa (Romariz teve 34.785, João Neto 6.405, Guilherme Palmeira 3,5 4,0 3,75
Manuel Lins Pinheiro 4.722 e José Augusto 3.986 votos), a
José Costa 6,5 DEZ 8,25
Frente teve um baixíssimo rendimento eleitoral e mesmo
apresentando fortes nomes como os de José Moura Rocha e J.Thomás Nonô 1,5 2,0 1,75
Fernando Barreiros não conseguiu fazer nenhum deputado Renan Calheiros DEZ DEZ DEZ
federal. Sem chances de eleger candidatos majoritários, a
Roberto Torres 5,5 6,0 5,75
Frente Popular conseguiu, no entanto, inviabilizar a candidatu-
ra do industrial João Lyra ao Senado ao fazer uma campanha Téo Vilela 8,5 DEZ 9,25
sistemática de denúncias, possibilitando a eleição de Teotônio Vinicius Cansanção 1,5 1,0 1,25
Vilela Filho.
Esta eleição tinha ainda uma característica especial, que Fonte: DIAP
era a disputa para a escolha dos constituintes que elaborariam
a nova Carta Magna. A coligação liderada pelo PMDB fez a Um enorme prejuízo para a esquerda foi a ausência do
maioria dos constituintes. Parlamentares conservadores como PCdoB . na compos_ição liderada pelo PSB. Força política
Geraldo Bulhões e Roberto Torres são eleitos ao lado de expre~s1va no movimento estudantil e sindical O PCdoB
Teotônio Vilela Filho, Renan Calheiros, Eduardo Bomfim e José s 'd~z1do pela possibilidade de "mudanças peÍo alto" nã~
Costa, que segundo o Departamento. Intersindical de Apoio .1po1ou a Frente Popular, admitindo que Collor teria feit~ uma

44 4
. .

1 1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

"reciclagem", tornando-se um democrata decidido a fazer Preferencial pelos Ri " .


reforma agrária nas terras de usineiros devedores do Estado e PCdoB d I cos , ana1isando a tática eleitoral do
a combater a violência política, além de acreditar que a frente , a qua o trecho a seguir é representativo:
liderada por Fernando Collor estaria quebrando "a hegemonia
política da principal fração das classes dominantes". Por outro "A Frente Popular tem o dom de mostrar ue fazer , .
servir aos oligarcas é uma tarefa difí ·1 q - ,P_ol1t1ca ;em
lado, os esforços dos articuladores da Frente Popular não No entanto, nem todos os setO:escz, mas n~o e zmposszvel.
resultaram na conquista daquela força política, que já em pensam assim e O PCd B , .P~ogr_esSzstas alagoanos
/ o e o caso mazs a vzsta ( ) e he
março anunciavam em edição especial do jornal "Vanguarda": do as propostas do PCd B . . , . ... on cen-
. o imagznavamos que ade,·isse
;eto progressista da Frente Popular Nos ªHº ,:ro-
"o PCdoB não comporá nem compactuará com interesses PCdoB está nos bra . enganamos. o;e o
exclusivistas ou de grupos que prejudiquem a fundamental campanha de Fernan~~s c!o11:~s ~tes,;os financiadores da
articulação da ampla frente unitária, necessária à derrota dos estar nos braços de Suruagy e Guilhean , quemd sabe, poderá
d" rme, fazen o no entanto
conservadores e da direita agrupados no PDS-PFL. :~ zscurso progressista, para melhor servir à cla;se dorninan~
O PCdoB reafirma o alerta a todos os oposicionistas
sinceros: o único caminho possível para a vitória de Suruagy
em novembro próximo, será a divisão das oposições ". , . Jérgio Barroso, dirigente estadual do PCdoB respond
~r1e e ~rtig~s de Valber Castro no contundente "Recad e a
O PCdoB tinha tempo de tv e rádio, uma expressiva portun1stas, artigo saído em 28/11/86 "G o aos
militância partidária e votos para seus candidatos proporcio- Alagoas", onde afirma: na azeta de
nais. Indo para a Frente Popular, aquela corrente de esquerda
esvaziaria a coligação liderada pelo PMDB de seu discurso "apêndice do Sindicato da Indústria do A çúcar da C t.
aparentemente progressista, retirando-lhe a legitimidade que dos Usineiros, de setores da g,·ande b ~ oopera zva
lhe dava à esquerda. Mas o pragmatismo eleitoral do PCdoB torno da Federação das Indústrias e ;;~e;ia agrupa1a ~m
Químicas, ,zum autêntico "lobby,, d. . 'da gema lndust1-zas
que, mesmo legalizado em 1985, manteve Eduardo Bomfim G ·zh . zrzgz o por Suruagy
filiado ao PMDB até 1987, não deixou perceber que, mantendo ui er":e Palmeira ª. serviço de um projeto político reaci(lnárii
e essencialmente antz-mudancista, a tql "frente o l ,,
a mesma votação na Frente Popular, o PCdoB elegeria um lançar-se abertamente contra o povo al P pu ar , ao
deputado federal - Eduardo Bomfim ~eve 21.000 votos e faltou , · · , . agoano, escreveu a
à Frente Popular 11.000 votos para eleger o primeiro consti- :1:~;t::isle~:up1lda e ridícula da história da estratégia política
e_ei ora em nossa terra. (... ) Já em abril deste ano o
tuinte; além de uma deputada estadual - Alba Correia que teve PCdoB manifestava compreensão do quadro político da su -
4.270 votos, votação superior ao último eleito da Frente do govern~ ~ da disposição das forças sociais em luta. Ent~:::i
Popular, mas que ficou como suplente longínqua na coligação ~: n;cessa~o quebrar a hegemonia política da principal fração
com o PMDB. - c a~s~s º"!znant~s. Dos setores responsáveis pela sustenta-
A presença do PCdoB na coligação liderada pelo PMDB çao ~olztzca e fznancezra dos dirigentes e caciques partz'da' . d
reaçao com 5 G . rios a
gerou uma intensa polêmica na esquerda alagoana. Nas PCdo É d ,1. od uruaGgy, uilherme e outros. (... ) - Assim o
, ~1en e um overno Estadual mais aberto ,
:~;l~cra7;os ~ transpare~tes no tratamento da adm,in:::~t;;
páginas da "Tribuna de Alagoas" (8/11/86 e 14/11/86) o
secretário-geral do PT e candidato a deputado federal, Valber zca._ m overno mais ~ensível aos angustiantes roblemas
Castro, escrevia uma série de cinco artigos intitulada "A Opção qre afligem a grande maioria dos trabalhadores : do
a agoano. (... ) Quando o governador eleito Fernando Collo1~:~~
4íl
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

suas primeiras declarações, reafirma compromiss~s de campa- desequilibrando a eleição a favor de Fernando Collor de Mello.
nha, 0 povo encara com alento e grande exp~ctati~a. Expecta- Neste quadro, venceu uma parcela da velha classe política,
tiva de mudanças, pelas quais o PCdoB continuara lutando. A reconduzida ao poder com uma nova roupagem, que aparenta-
despeito dos oportunistas da Nova Direita". va um suposto interesse em viabilizar as mudanças que o
dramático quadro social exigia e que se ampliara sob os vários
. Anivaldo Miranda, dirigente do PSB, encerra a polêmic~, governos estaduais da ARENA/PDS 4 •
respondendo a Barroso e defendendo a ~ren:e Popular atrave~ A frente eleitoral liderada pelo PMDB, amparada pela
do Editorial "Espasmos do 'comunismo enver~onhado conjuntura favorável criada a partir do sucesso do Plano
publicado na "Tribuna de Alagoas" em 29/11/86, afirmando: Cruzado, conseguiu realizar uma campanha que retomava as •
tradicionais bandeiras oposicionistas, polarizando com o PFL
" nada disto salvará a cúpula do PCdoB da responsabilidade como se aquela fosse uma eleição plebiscitária de ano a trás.
que teve no maior retrocesso po~ítico-eleito~al que A!a15oas
O eleitorado reagiu em sintonia com o discurso muda11ci ta do
conheceu em muitos anos. Nada disto apagara da memoria do
povo O papel que o PCdoB desempenhou ao avalia~ com seu PMDB, pois nos últimos vinte anos passou "... a identifica,· o
falso discurso de "esquerda" o projeto do coronelismo e do MDB como o partido dos pobres que empreendia uma luta co1zt1·a os
malufismo. E muito menos dará a Barroso e ao PCdoB, mesmo partidos dos ricos e do governo. Voltava-se, na verdade, contra e 11ão
aquinhoados com migalf:as gor~as no a~a~ato de Estado, a a favor de um projeto político determinado" (Nunes, 1987:89). A
possibilidade de neutralizar o 1mportant1ss1m? papel. d:sem- Frente Popular não conseguiu retomar os laços existentes entre
penhado pela Frente Popular, hoje a verdad~ira oposiçao em a opinião democrática e os interesses emergentes das classes
Alagoas e o repositório das pessoas,_ dos partidos e das forças subalternas, relação que existia entre o voto autônomo, até
efetivamente comprometidos com os. interesses do trabalhadores.
(... ) ao contrário do PCdoB que sai deste processo desgastad~,
mesmo das pequenas cidades, e o MDB/PMDB durante o
comprometido até o pescoço co~o guarda-chu~a f~ reaçao
período ditatorial (ver Quadro 10 e 11)
malufista, a Frente Popular cumpriu o seu papel hzstorico, ~os-
trou ao povo alagoano que é possível a luta por um caminho QUADRO 10- RESULTADO DA ELEIÇÃO
independente dos grandes b!ocos conservadores do noss? Estado PARA O GOVERN0/1986/ALAGOAS
e saiu das eleições política e moralmente fortale~ida para
desesp~ro dos que vendem suas consciências e depoi~ se_ntem Candidato a Governador Votação
ódio e inveja dos que não os acompanham em dzreçao ao Fernando Collor - PMDB/PTB/PCdoB/PSC 400.241
. ,,
pântano do oportunismo .
Guilherme Palmeira - PFL/PDS/PDC 327.232
Nesta eleição as duas grandes coligações em disp~ta Ronaldo Lessa - PSB/PT /PCB/PDT /PL 30.073
contavam com todos os elementos para vencer uma ele1çao:
apoio financeiro dos grandes gru~os econômicos, espaço nas Fonte: TRE
rádios e televisões, estrutura material de fortes chapas propor-
cionais. O governador em exercício José Tavares, que t~ve s~u
nome preterido para disputar o G?ve~no pel_as forças situacio- 4
(sobre a situação de Alagoas nesta época ler o bem documentado
nistas de então, deu apoio ostensivo a candidatura do PMDB
t\ tudo ''Perfil Sócio-Econômico do Estado de Alagoas", SEPLAN,
1 1
numa atitude de retaliação contra as lideranças do PFL/PDS, 1987).

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- - - - -- - - - - -
- índices de doenças endêmicas, não há atendí111ento dt u1·gência.
QUADRO 11- RESULTADO DA ELEIÇAO
PARA O SENADO - 1986/ALAGOAS A saúde foi liquidada pelo Governo estadual do S1·. Collor de
Mello. Alagoas não tem estradas - destruíd,1s 110 Governo
Candidato ao Senado Votação Collor. Alagoas não tem educação (... ) Alagoas dei viol1~1tcia, - a
334.137 Ass~mb~éia Legisl~tiva, recém-eleita, representa q11,1Sl' o t'SJJe/110
Divaldo Suruagy - PFL/PDS/PDC do szndzcato do crzme do Estado. Alagoas retrocede,, ci1117lienla
Mendes de Barros - PFL/PDS/PDC 70.555 anos em quatro, com o Governo Collor de M el/o" (N1 lo, 1

1991:56).
João Azevedo - PFL/PDS/PDC 61.324
========
Teotônio Vilela Filho - PMDB/PTB/PCdoB 298.185 O PCdoB que participava do Conselho Político do
Governo Collor fez, através de seu representante no Congresso
Rubens Villar - PMDB/PTB/PCdoB/PSC !';Jacional, uma avaliação daquele período afirmando que
======= Collor "... conseguiu a proeza de transformar o Estado de Alagoas,
Mendonça Neto - PMDB/PTB/PCdoB/PSC
121.709 de cred?r em devedor ~os usinei1·os pelos próximos dez anos, graças
João Lyra - PMDB/PTB/PCdoB/PSC
aos dois acordos graciosos que fez com os chamados "Barões do
Lauro Farias - PSB/PT /PCB/PDT /PL 26.531 açúcar", que custaram ao povo alagoano a falência do Banco do
25.171 Estado e a completa desorganização de sua economia". Mais tarde,
Freitas Neto - PSB/PT /PCB/PDT /PL
comentando a ausência de Collor nos debates televisivos do
Fonte: TRE primeiro turno das eleições presidenciais de 89, o então
deputado Eduardo Bomfim afirmava que Collor de Mello:
· O breve períoclo que o PMDB e seus aliados (PTB,
PCdoB e PSC) passaram no Governo - assim como se dera na "... não teria como explicar os acordos com os usineiros, os
experiência realizada na Prefeitura de Maceió - ficou marcado favorecimentos com dinheiro público às suas empresas de
pela frustração na expectativa de muda~ças. Fer_n~ndo Collor comunicação, as contratações de empresas de consultoria sem
licitação, os gastos absurdos com "a verba secreta", o acoberta-
soube tirar, no entanto, no plano nacional, dividendos da
mento da sonegação de impostos - denunciada pelos próprios
perseguição real que lhe movia o Governo Sarney, principal- fiscais de tributos estaduais -, o marasmo completo que tomou
mente quando, como governador de Alagoas, anunciou seu conta do Governo Estadual naqueles dois anos; a total ausência
apoio à tese do mandato de quatro anos e rompeu com o de projetos, planos, metas ou realizações; que esperar de um
PMDB. A nível regional, porém, todas as bandeiras de candidato que promoveu, quando governador, o maior arrocho
campanha ficaram sem efeito e nenhuma das mudanças salarial da história do funcionalismo público de Alagoas? "
prometidas ocorreu. Passados dois anos de governo, o PCdoB (Bomfim, 1989 :7-9 ).
rompeu politicamente com a administração estadu~l e a ala
democrática do PMDB era afastada pela corrente oriunda do
PDS/ ARENA. Mendonça Neto, ex-Secretário de Planejamento 1988: A TERCEIRA DERROTA
do Governo Collor, já rompido com o governo que ajudara a
eleger, analisa assim esse período: As eleições municipais de 88 podem ser caracterizadas
pela rearticulação das forças derrotadas pelo projeto Collor em
"... Alagoas sofreu. Sua saúde foi destruída, aumentaram os

60 51
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
- - -- - - - - -
85 e 86. No interior do Estado os grupos conservadores em chapa que, até o mês de agosto daquele ano, parecia imbatível.
oposição ao governo estadual vencem grande parte das Os experientes quadros políticos do PDS / PFL, alijados
disputas para as prefeituras e elegem também maiorias nas do poder após duas derrotas consecutivas - 1985 e 1986 -
câmaras de vereadores de muitos municípios. Nesse pleito a ~rticulam, juntamente com o grupo sobrcvive11te do PDS:
frente conservadora foi vitoriosa na maioria das prefeituras liderado pelo ex-governador Tcobaldo Barb sa, urn Ia11cc tático
alagoanas: PFL (35), PTB (18) e PSC (3). O PMDB, apesar de provando o domínio que tinham 11a at·tc d, sc)brcvivência
deter o governo estadual, elegeu apenas 31 e tanto o PDT política. Até às vésperas da Co11ve11çãc) que dcfi11l1·in c)s 1101ncs
como o PSB elegeram três prefeitos cada. dos candidatos, a coligação co11scrvacic>r ma11lcVl' o 11c)tnc do
Maceió, por se constituir no maior e mais importante e~-prefeito !oão Sampaio, que .f 1·a dcr1·lllé.1<.l{> 'm 85 por
centro urbano de Alagoas, com inegável peso político estadual, Djalma Falcao e que nao conseguia, até aqu ,1 , 111t,1ncr1lo, unir
chamou para si as atenções gerais na medida em que os nem empolgar a frente política derrotada por Ct>llor cm 86.
grupos hegemônicos da política regional lançaram os seus Mas, às vésperas da Convenção, aprese11ta1n uma novidade
melhores nomes nesta disputa. O governo estadual apoiando que consegue impactai· o lado mais conservador: o senador
o deputado federal Renan Calheiros e a oposição conservadora Guilherme Palmeira, ex-governador de Alagoas e ex-d pu tado
lançando o senador Guilherme Palmeira. estadual, aparece como o nome que unifica a coligação
Na disputa para a Prefeitura de Maceió em 1988, a derrotada nas duas últimas eleições. A histórica habilidade dos
esquerda alagoana voltou a sofrer outra derrota. A falta de •
quadros políticos da classe dominante ficou mais uma vez
aproximação política (e mesmo de contatos eventuais), ~emonstrada. A frente PFL/PDS faz uma grande campanha,
determinada pela ausência de vida orgânica dos partidos que aJudada tanto pelo lamentável estado em que se encontrava
compunham a Frente Popular, impediu que nas eleições de ~aceió~ administrada pelo PMDB, como pelos recursos
1988 esta coligação reeditasse a mesma amplitude de 86, ainda financeiros do industrial João Lyra, interessado direto na
que tivesse melhor desempenho nas urnas. PSB e PCB se eleiçã~ ~e Guilh;rme Palmeira, pois como primeiro suplente
reagrupam (como sempre, poucos meses antes da eleição) e assumiria por tres anos o mandato de Senador da República.
reestruturam a Frente Popular para lançar o ex-prefeito Dilton Renan Calheiros sem poder negar sua ligação com a adminis-
Simões, conhecido por suas posições liberais e por elogiadas tração municipal, enfrentando a oposição do conjunto dos
passagens na Secretaria de Planejamento e na Prefeitura de funcionários públicos municipais e, mais importante, do
Maceió. O Partido dos Trabalhadores, apesar dos insistentes funcionalismo estadual já em oposição declarada a Fernando
apelos das agremiações que com ele já tinham feito aliança em Collor, acaba derrotado pela frente PFL/PDS (ver Quadro 12).
86, fica prisioneiro do corporativismo partidário e lança seu . A Frente Popular, com Dilton Simões, no que pese ter
presidente, Pedro Verdino, como candidato e isola-se da feito uma campanha mais eficiente que em 1986, sentiu a
Frente. O PCdoB, pragmaticamente, apoia a frente liderada ausên.cia dos outros partidos de esquerda - PCdoB e PT-, não
pelo PMDB e sustentada pelo Governo estadual. O PMDB, já c_onseguindo expressar, nem canalizar os interesses populares,
completamente descaracterizado, articula uma coligação de 10 ficando em terceiro lugar elegendo apenas três vereadores. Ao
partidos (PSDB/PTB/PSC/PCdoB/PTR/PJ/PDT /PMC/PV e ª~
PT ~estou .penúltima colocação e uma imagem negativa de
PMDB), sem fisionomia própria, para apoiar Renan Calheiros, partido politico, sem conseguir eleger nenhum representante
do PSDB, tendo Sabino Romariz, do PDT, como vice, numa , Câmara Municipal, repetindo o fenômeno de 1985, quando

'
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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

o número de votos obtidos naquela eleição foi menor que o de entr~ os nomes destes parlamentares e a desgastada adminis-
filiados. O ex-secretário de Planejamento, Mendonça Neto, traçao do PMJ?B na Prefeitura, ainda que o comportamento
rompido com o Governo Collor, também lançou-se candidato deles tenha sido de independência em relação ao Poder
a Prefeito. Abrigado numa pequena legenda cartorial e sem Executivo; (2) pelo esquema fisiológico no período eleitoral,
espaços no horário eleitoral não conseguiu participar da montado pelo PDS/PFL com o apoio do Governo Federal
campanha municipal, obtendo votos simbólicos. através da compra de votos, fornecimento de cestas da LBA:
etc.; e (3) pela falta de disposição do eleitorado maceiocnse em
QUADRO 12 - RESULTADO DA ELEIÇÃO votar nos vereadores escolhidos em 1982, ainda que eles
PARA PREFEITO DE MACEIÓ/1988 tenham se ~estacado como os mais atuantes naquela legislatu-
ra, numa atitude de aparente vontade de renovação.
Guilherme Palmeira - PFL/PDS 67.830
. ': Prefeitura de Maceió volta, assim, para as mãos da
Renan Calheiros - PMDB/PSC/PTR/PCdoB/PJ 61.188 coligaçao PFL/PDS enquanto a representação na Câmara
Dilton Simões - PCB/PSB 27.730 Municipal sofre um retrocesso político, diminuindo sensivel-
'
875
mente o número de v~readores de esquerda, agora res trito a
Pedro Verdino - PT Ronaldo Lessa (PSB), Enio Lins (PCdoB) e Claudio11or Araújo
Mendonça Neto - PMN 548 (PSDB).
Guilherme Palmeira, que se apresentara como candidato
Fonte: IRE de perfil nitidamente conservador, ao contrário do que
prometera, largou a Prefeitura de Maceió nas mãos do vice
Dois destaques marcaram esta eleição. O primeiro foi a
João Sampaio, para candidatar-se ao senado. Acusado de má
posição assumida pelo Prefeito Djalma Falcão. Com uma
gestão dos recursos municipais, o vice não conseguiu terminar
administração que, segundo o IBOPE, tinh~ na época da
o mandato. Pressionado pelo Governo do Estado, aba11donou
eleição um índice de rejeição de 73,6% (Ultima Palavra
o cargo entregando-o a Pedro Vieira, suplente de vereador
11/11/88) e atacado por todos os candidatos a vereador -
nomeado pelo governador para apoiá-lo nas eleições de 92.
exceção para Pedro Camucé Falcão, seu irmão - e por todos os
A pequena bancada de esquerda nada mais pode fazer
candidatos a prefeito, Djalma Falcão resolveu votar em branco
que protestar contra a entrega da Prefeitura ao candidato
e aproveitando um espaço no programa do PFL, na reta final
indicado pelo Palácio dos Martírios.
da campanha, fez um duro ataque a Renan Calheiros, influen-
ciando decisivamente o resultado da eleição.
O segundo destaque dessa eleição foi a penalização da
bancada mais progressista na Câmara Municipal de Maceió.
Todos os vereadores eleitos em 1982 que se posicionaram à 1989: A QUARTA DERROTA
esquerda - Fernai1do Costa, Freitas Neto, Jarede Viana,
Guilherme Falcão, Kátia Born e até mesmo Pedro Marinho . . Es~~ul~do p~lo destaque que lhe deram alguns dos
Muniz Falcão, antigo recordista de votos na capital - foram principais ?rgaos da imprensa nacional, sinalizando um espaço
derrotados (Edberto Ticianelli não disputou a eleição), num que poderia ocupar, Fernando Collor começa a articular sua
fenômeno que pode, talvez, ser explicado: (1) pela ligação campanha para a Presidência da República. O que de início

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1
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

parecia uma aventura política, cons?lidou_-se e se tran~for~ou QUADRO 13 - RESULTADO DA ELEIÇÃO


no fenômeno já analisado sob vários prismas por cientistas PRESIDENCIAL 1989 / 1º TURNO/ALAGOAS
políticos, sociólogos e jornalistas. Candidato/Partido Votos no Estado Votos em Maceió
O ano de 1989 transcorreu sob o signo da sucessão
Fernando Collor - PRN 554.612
P residencial. O crescimento
.
da candidatura Collor a nível
d e governa d or li mo d erno li e
111.389
nacional, firmada na rmagem Luís Inácio da Silva - PT 76.227 23.342
"moralizador", ajudado, e muito, pela eficiente_ utilização da
Mário Covas - PSDB 67.240 31.590
televisão como meio de comunicação e assummdo o amplo
sentimento de rejeição ao Governo Sarney, repercutiu em Leonel Brizola - PDT 63.071 18.564
Alagoas, estreitando, por conseg~inte, o espaço de outras Ulisses Guimarães - PMDB 9.138 2.648
candidaturas, principalmente as mais progressistas no espectro
Roberto Freire - PCB 5.674 1.508
político nacional. . .
Uma eficiente máquina eleitoral foi concretizada pela
Fonte: 1'RE
aliança entre o governo estadual, liderado pelo vice-governa-
dor Moacir Andrade - que assumiu a chefia do Governo do ,
pelo PFL José Thomás Nonô afirmava no jornal "Ultima
Estado após a renúncia de Fernando Collor - e os chefes Palavra" (24/11/92) que em Alagoas haveria urna disputa
políticos que controlavam os colégios _eleitorais de quase _todos entre o "PC" e "PCC": "Teremos o Partido de Collor lutando pa1·a
os municípios interioranos. Esta aliança buscou apoio no tomar os votos do Partido Contra Collor". O mesmo deputado
articulado discurso de Collor contra Sarney, trabalhando com avaliava que "... pelo Brasil afora, Lula deverá classificar Col/01· e
a perspectiva de que sua el:içã~ P?d~ria trazer enormes seus aliados da direita de agentes do latifúndio e do capital i11.terna-
benefícios para o Estado, entao d1scrrm1nado pelo G?verno cional, responsáveis pela manutenção da atual política econômica no
Federal. Esta estratégia permitiu potencializar o s~nti~ento país. Aqui, Lula já pode contar com votos garantidos de direitistas
"bairrista" que, alimentado por uma bem montada maquina de confessas. Caso a Frente Brasil Popular adote uma postura de
propaganda, resultou numa vitória esmagadora de Fernando flexibilidade, a votação desses setores estranhos aos militantes petistas
Collor, em Alagoas (ver Quadro 13). . .. pode ser dilatada". Tal não aconteceu e Alagoas deu o maior
Assim, no primeiro turno das eleições pres~denc1~is a
soma dos votos dados a Brizola, Lula, Roberto Freire, Ulisses QUADRO 14- RESULTADO DA ELEIÇAO-
Guimarães e Mário Covas fazia prever outro massacre no PRESIDENCIAL 1989/2º TURNO/ALAGOAS
segundo turno. E foi o que aconteceu. A can~idatura d~ L1:1la
não conseguiu sequer repetir a votação ?~tida no primeiro Candidato/Partido Votos no Estado Votos em Maceió
turno pelos candidatos do campo democrat1co, enquanto que Fernando Color - PRN 682.989 153.737
Collor atraiu os votos de Afif Domingos, Paulo Maluf,
Luís Inácio da Silva - PT 214.890 73.317
Aureliano Chaves e Ronaldo Caiado.
Um fato inusitado, explicável pelo antagonismo regional,
Fonte: TRE
foi o apoio de setores conservadores, lider~dos pelo senador
Divaldo Suruagy, à candidatura Lula. O entao deputado federal í11dice de aprovação à candidatura conservadora de Fernando

',6 57
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em cria

Collor entre os Estados brasileiros, ainda que sobre este resul- ele todos os deputados estaduais e a maic)ri,1 cl<>S J)l'l'Íl•il<)S
tado pesem as denúncias de fraude eleitoral. A campanha da alagoanos. A coligação conservadora PSC/Pl-l ),/ l''l'li / 1'1 'l'/-
oposição, no segundo turno, restringiu-se à Capital e mesmo PMDB/PMN apoiava Geraldo Bulhões contra ,1 ír<·11l1• l 1 l{N/ ·
aqui foi derrotada (ver Quadro 14). PRP /PTR/PDC/PL que apoiava Renan Call1t•i1·,,s. l ',11·,1 <>
Senado a Coli~ação PFL/ PTB reelege Guilherme 1,,,11111•i r,1 1 l 111<·
11
derrota Francisco Mello (homônimo de Francisco Cl1tl'1>" M1•l< 1
vice-governador na chapa de Geraldo Bulhões) cl,1 l•r1•11l1:
1990: A QUINTA DERROTA PRNIPRP. I

A rearticulação das frações da representação co11scrv,1< ltl


O ano de 1990 é desastroso para a esquerda em Alagoas, ra ~r~vava que os gr~pos em disputa não tinham divcrg 111·1,1,
po!iticas ~ndamentais; excetuando a vida política passadit <11 i:-;
que entrou na eleição para marcar posição ficando, desta vez,
dois candidatos majoritários, ficava difícil distinguir difc1· •11ç,1l'i
ainda menor. No plano nacional sentia-se a forte presença
alagoana no Palácio do Planalto e, no plano estadual, o entre as duas coligações.
Governo Moacir Andrade anunciara que tudo faria para eleger O cientista político Bolívar Lamounier (1991:76) ar1ul1sl1
um sucessor que fosse apoiado pelo Presidente da República. assim esta eleição:
No primeiro momento este candidato parecia ser Renan
"... é pequena, co~o ~e sabe, a expressão econômica de Alagoas,
Calheiros, que levara Fernando Collor para o PMDB e lançara estado que contrzbuz em menos de 1 % para o PIB e abrig,1
sua candidatura ao governo de Alagoas em 1986 e que fora apenas 1,4 % do eleitorado nacional. Se tivesse prevalecido ao
coordenador da campanha vitoriosa para a presidência, lon~o, ~o processo o posicionamento dos principais candidatos
tornando-se então líder do partido do Governo, o PRN, na no zn!czo da campanha, o enfrentamento alagoano não poderia
Câmara dos Deputados. ser vzsto como um embate ideológico e nem mesmo como uma
Aos poucos a outra alternativa oficial, Geraldo Bulhões, questão de apoio ou oposição ao governo federal. Embora
que havia sido companheiro de Collor na ARENA/PDS e com algumas diferenças existissem nas bases políticas de Geraldo
~~l~ões e Ren~n Calheiros, o que ambos representavam, no
ele desembarcara no PMDB em 1986, começa a receber apoio
znz~zo, eram a!znhamentos menos ou mais comuns da política
de importantes figuras do Governo Federal e de parte da regional. Asszm não teria se distinguido dos outros estados
máquina estadual, reduzindo progressivamente os espaços da pequenos ~ pobres do Nordeste e do Norte. O fato, porém, é que
candidatura Renan Calheiros. Os setores ainda mais conserva- Alagoas vzveu em 1990 um processo eleitoral francamente tu-
dores não aceitavam Renan Calheiros, cujo passado de multuado. Foi o último estado a conhecer o seu governador, em
esquerda e suas amplas áreas de atrito com os quadros 20 de janeiro de 1991, após uma disputa em que fraudes e
oriundos da ARENA/PDS criaram uma expectativa de rompi- outras irregularidades foram fartamente comprovadas.
mento. Em pleno andamento da campanha ocorre uma Se Alagoas ocupou constantemente o noticiário nacional
isto se deveu, é claro, às ir1·egularidades que lá se verificaram;
definição do Governo estadual em apoio a uma das candidatu- e também ao fato, que não se pode totalmente dissociar do
ras. Esta ruptura acontece quando a l1egemonia fica claramente anterior, de ser o Estado de origem do presidente da República.
nas mãos do grupo liderado por Geraldo Bulhões. Moacir Um dos candidatos ao governo do Estado, Renan Calheiros, era
Andrade assume a campanha de Bulhões, antigo aliado de o líder do governo na Câmara dos Deputados, cargo q1-1e
Fernando Collor desde os tempos da Prefeitura, trazendo com conservou até um estágio avançado da competição. Esta conexão

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

com o poder nacional foi por certo o grande.fator 1e a_ci7:a1:7en- . Nessa eleição, as correntes progressistas, novamente,
to da eleição local. Foi ela que exponenczou a z1tczdencza de ficam no gueto. PSB/PCB/PCdoB e PT formam uma frente de
práticas que em outros estados não ocorreram ou puderam ser
mantidas dentro de limites aceitáveis: o chamado abuso do esquerd~ co~ o claro objetivo de marcar presença, sem
poder econômico; transporte ilegal de eleito~es,_ distribui~ã? de conseguir atrair o PSDB e o PDT, que vão procurar espaços
alimentos em troca de votos; uso das maquinas munzczpal,
estadual e federal; violação de urnas, preenchimento prévio de QUADRO 16 - RESULTADO DA ELEIÇÃO
cédulas, mapismo e outras formas de adulteração dos resultados. PARA O GOVERNO 1990/2º TURNO/ALAGOAS
Estas práticas, a julgar pelas ações levadas aos tribunais e pelos
copiosos relatos da imprensa, não ocorreram apenas em outubro, Geraldo Bulhões - PSC/PFL/PMN/PTB/PMDB 424.480
justificando a anulação de numerosas urnas, mas também nas Renan Calheiros - PTR/PRN /PRP /PDC/PL 218.945
eleições suplementares de dezembro e novamente durante o
segundo turno, em janeiro". Fonle: TRE

Denúncias de corrupção eleitoral levaram o Tribunal nas" d~as can?-idaturas apoiadas por Collor. O professor
Regional Eleitoral a constatar fraudes e anular 50.000 votos de Antonio Cerveira de Moura (PT) e o jornalista Regis Cavalcan-
250 urnas, marcando eleições suplementares para dezembro de te (PCB), respectivamente candidatos ao Governo e ao Senado
90. No segundo turno, adiado para janeiro de 91:" ~eraldo formavam a chapa majoritária desta frente de esquerda (ve;
Bulhões que já tentara ser nomeado governador bionico em Quadro 17).
1978, e fora por quatro vezes deputado federal pela ARE-
NA/PDS, revelando-se como inexpressivo representante dos QUADRO 17- RESULTADO DA ELEIÇÃO
interesses das oligarquias sertanejas, venceu Renan com 66% PARA O SENADO 1990/ALAGOAS
dos votos (ver Quadros 15 e 16). Bulhões, coerente com seu Guilherme Palmeira - PFL/PTB 347.200
passado conservador, torna-se notícia nacio1;1al .ªº estrear a
cavalaria da Polícia Militar lançando-a, nos primeiros momen- Francisco Mello - PRN/PRP 168.128
tos de seu governo, contra trabalha~ores sem-t~r~a ~' l~go Regis Cavalcante - PCB/PSB/PT /PCdoB 41.837
depois, contra os professores que faziam suas reivindicaçoes
na Praça dos Martírios. _ Fonte: Gazeta de Alagoas, 23/01/91
QUADRO 15 - RESULTADO DA ELEIÇAO
PARA O GOVERNO 1990/1º TURNO/ALAGOAS Numa inversão de expectativas, o candidato ao Senado
da Frente Popular consegue uma votação duas vezes maior
Geraldo Bulhões - PFL/PMDB/PSC 325.395 qu~ o candi_dato a governador. Apenas três nomes (dos quais
Renan Calheiros - PRN /PTR/PL 297.415 dois renunciaram!) são lançados para a Câmara dos Deputados
22.615 n~ma clara demonstração de fragilidade. A chapa para a
Antônio Moura - PT /PSB/PCB/PCdoB '
disputa de vagas na Assembléia Legislativa teve igual desem-
Antônio Grillo - PSD 14.803 penho e apesar de nela constarem nomes conhecidos como o
d~ deputado federal Eduardo Bomfim e do deputado estadual
Fonte: Gazeta de Alagoas, 10/11/89
Joao Neto, a Frente não consegue eleger nenhum representan-

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

te. Pela primeira vez desde 1978, a Assembléia Legislativa domíni~ conservador no interior do Estado. O bloco governis-
conhece uma composição completamente desfalcada de líderes t~, 9-u_e Jª teve a ARENA, PDS e PFL como partidos-guia, agora
oposicionistas ligados a partidos ou correntes de esquerda. O divi?-~do em pequenas siglas sob o controle de grupos ou
retrocesso político resultante de uma composição quase fam~ias, venceu a maioria esmagadora das prefeituras e
exclusivamente fisiológica do parlamento estadual, forçou a co1:1ti~uou ~om o controle da totalidade das câmaras munici-
Câmara Municipal de Maceió a assumir um papel de caixa de pai_s, _mclusi_ve a de Maceió, o que pode ser comprovado na
ressonância política substituindo o papel que tradicionalmente eleiçao de Rita Correia para exercer, durante o mês de janeiro
pertencia à Assembléia Legislativa Estadual. 0 mand~to-taml?ão n_a P~efeitura. A frente conservadora elege~
80 prefeitos, assim distribuídos: PDC (5), PDS (6), PFL (14), PL
(8), _PRP (1), PSC (29), PST (7), PTB (3), PTR (7). A oposição
muitas vez~s, e~ coligações com grupos governistas, vence~
em_ 19 mu_ni~ipio~: PMDB (10), PSDB (7), PT (1) e PSB (1). A

1992: A SEXTA DERROTA? elei!a maioria nao tem compromisso com a organização
autonoma da J?Opula_ção; são vereadores que exercerão 0
As eleições de 1992 foram um ensaio geral e um teste mand~to part-time, nao tendo uma idéia concreta do que
decisivo para os grupos envolvidos na luta-interoligárquica, deverao fazer quando no exercício do cargo. Prefeitos sem
correntes políticas que já trabalham na perspectiva de 1994. p~ograma de governo, que sequer ouviram falar de um Plano
Geraldo Bulhões com suas várias frentes eleitorais prepara-se Dir;tor e que apenas cumprem um objetivo: manter tudo como
para enfrentar a articulação oposicionista baseada no PMDB, estfl.
agora cohabitad0 por antigos oposicionistas que em 1985 . A .pr:se~ça frágil da esquerda em vários município e até
aderiram ao projeto Collor - Renan Calheiros, Djalma Falcão sua inex~stencia enquanto força organizada na maioria deles,
e José Costa e pelos antigos formadores do PFL no Estado - prenunciava a sexta derrota consecutiva das forças empenha-
Divaldo Suruagy e José Thomáz Nonô -, que se afastaram do das nas mudanças sociais e políticas em Alagoas. A previsibili-
Partido da Frente Liberal depois que este aderiu ao Governo dade dessa _derrota era garantida pela debilidade da esquerda
Collor. Nas eleições deste ano os partidos menores gravitaram em seu con1unto.
na órbita dessas duas opções. A vitória de um dos dois lados Tomando como referencial a presença no interior do
em cada um dos municípios abria espaços para a consolidação Estado dos quatro partidos mais à esquerda_ PT, PPS, PCdoB
do projeto para 1994. e _PSB - ??servamos que em 71 dos 99 municípios a representa-
O resultado em todo o Estado, nos 100 municípios ça~ politica da esquerda não se apresentava como alternativa
(foram emancipados em 1991 mais três: Pariconha, Estrela de eleitoral._ Nas localidades. onde a esquerda participava de
Alagoas e Paripueira), foi o esperado. Nesta avaliação utiliza- ~lgum ~ipo de frente eleitoral essas coligações refletiam a
mos como critério o mesmo que foi usado para as eleições de incapacidade de _realizar alianças sob a hegemonia política das
1988: o balanço deve ser visto no conjunto de todas as cem formas ~rogressistas e atestavam o isolamento, a pobreza e 0
prefeituras e câmaras municipais com suas 937 vagas em p~ag~atis,111;0 q~e as le~avam a assumir a tática da "sobrevi-
disputa. vencia min~a ; ou se1a, a escolha por uma chapa menos
As mudanças nominais nas direções das prefeituras e na comprometida com o atraso - e às vezes nem isso conseguiam
maioria das câmaras de vereadores não alteram o perfil de

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

- para, dentro dela, tentar eleger um ve~ead_?r. . restava aos partidos de esquerda a possibilidade de marcar
Reproduziremos aqui todas as coligaçoes regi~tradas no presença em alguns municípios e tentar obter alguns magros
TRE, com a participação de algum destes q~~tro partidos, para resultados que lhes permitissem sobreviver até a chegada de
dar uma imagem mais aproximada da ~agilidade da esquerda tempos melhores.
organizada no Estado de Alagoas: Anadia: PSB/PD~/~L/PSD- E o resultado final foi pífio: extraordinariamente o PT
/PDT. Arapiraca: PCdoB/PL. Barra de Santo Antonio: PSB/- conseguiu eleger o prefeito e um vereador em Água Branca e
PMN /PMDB. Batalha: PSB/PSDB. Boca da Mata: PC~o~/- mais _um vereador em Jacaré dos Homens. O PSB elegeu os
PDS/PL/PMN /PMR e PSB/PRN/PSD/PRP. CaJueiro: prefeitos de Porto Calvo e Matriz de Camaragibe e vereadores
PT /PTR/PSDB/PMDB. Delmiro Gouveia; PT /PSB e PCd?B/- em sete municípios. Em todo Estado, o PPS e o PCdoB
PDT. Dois Riachos: PSB/PDS/PSC/PMDB. Girau ~o Ponciano: elegeram um vereador cada. São dados que não deixam
PSB/PDS/PSC/PSDB/PDT /PFL/PTR/PSD. Inhapi: PT /PSD/- margens de dúvida para que se qualifique este resultado com.o
PMDB. Junqueiro: PSB/PDS/PDT /PMDB. Marechal Deod~ro: a sexta derrota eleitoral da esquerda em Alagoas.
PSB/PTR/PSC/PDC/PDT /PSDB. Matriz de Camaragibe: . Em Maceió, único município com eleição previs ta cm
PSB/PSD/PTB/PSDB. Murici: PSB/PSD/PL/PST /PSD~. O~ho dois turnos, a esquerda saiu, novamente, dividida. De um lado
d' Água das Flores: PCdoB/PDS/PTR. Palmeira dos Indios: a coligação PSDB/PMDB/PPS/PCdoB/PV lançando a candi-
PSB/PRN/PDT /PMDB. Pão de Açúcar: PT /PSB/PCdoB/- datura Téo Vilela e, de outro, a frente PSB/PT apoiando
PTR/ PSDB. Porto Calvo: PSB / PDC / PTR e PPS / PSDB. Porto Ronaldo Lessa. Um processo tumultuado de negociações
de Pedras: PSB/PDS/PFL. Rio Largo: PSB/PCdoB/PPS/PDT /- impediu que, no primeiro turno, estes partidos marchassem
PMDB/PFL. São Luís do Quitunde: PSB/PTB/PL/PTR/PST /- ui:iidos para enfrentar o bloco governista comandado pela
PSDB / PMDB e PPS / PDT / PMN / PDS. São Miguel dos aliança PFL/PSC/PTB, que apoiava José Bernardes 5• O
Campos: PCdoB/PRN/PMN/PDC/PTB/PV /PSDB e PT /PPS- resultado foi surpreendente - no plano majoritário - em relação
'PSB/PST /PRP. Santana do Ipanema: PCdoB/PPS/PMDB/PL. aos números anunciados pelos institutos de pesquisa, inclusive
Teotônio Vilela: PT /PSB/PTR/PTB/PSDB. União ~os Palma: o DataFolha, que apontavam o favoritismo do candidato
res: PT /PSB. Em Água Branca, Colônia de Leopoldina, Jacare governista, seguido de Téo Vilela. O boletim, divulgado pelo
dos Homens e Penedo o PT saiu isoladamente. A presenç~ ~e TRE somente um mês depois, confirmava as duas candidaturas
candidatos progressistas em legendas controladas pelo Palaci? que iriam para o segundo turno (ver Quadro 18).
dos Martírios, como, por exemplo, Viçosa, Penedo e Ma~~gogi, A decisão do primeiro turno, em Maceió, teve caracterís-
é um fato curioso explicado pela inexistência ou fragilidade ticas que, em alguns aspectos, nos chamam a atenção:
dos partidos democráticos naqueles municípi~s. . _ 1º) retorna-se a tradição que existiu entre 1965 e 1988 de
Excetuando Maceió, onde havia a grande insatisfaçao dos vitória eleitoral da oposição - não da esquerda ou de setores
vários setores de classe média com os governos fed:ral, progressistas - na capital, tradição interrompida em 1989 com
estadual e municipal em relação às denúncias de corrupçao e a vitória de Collor para presidente e a de Geraldo Bulhões
à crise econômica, aliada à apresentação de fortes no~es na
esquerda à. câmara de ver~adore~,, c~iando a expectativa de 5
so~re as articula~õ_es entre os partidos de esquerda para a apresentação
vitórias parciais, nos demais municip1os as chan~es de _al~um ~e cand1~~turas e a t~ti~a de cada um ~eles em relação a eleição municipal
tipo de vitória eram remotas. Numa perspectiva otimista, m Mace10, ver o polem1co texto de An1valdo Miranda "O PPS e as eleições
c.le 1992" (s/ ed .).

64 or

Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

QUADRO 18 - ELEIÇÕES MUNICIPAIS governo-oposição, que remetia à polarização dos anos oitenta
DE 1992/MACEIÓ 1 º TURNO e votou co1:t~a, ~as dentro da nova conjuntura municipal. Os
votos oposic1on1stas e_ de protesto foram carreados, principal-
Ronaldo Lessa - PSB/PT 51.785
mente, para a candidatura do PSB/PT. Primeiro porque
José Bernardes - PFL/PTB/PSC 50.131 Ronald~ Lessa conseguiu indentificar-se como a oposi_ção real,
47.518 na medida em que não tinha apoiado em nenhum momento o
Téo Vilela - PSDB/PMDB/PCdoB/PPS/PV
Rrojeto Fernando Collor; Téo Vilela apoiou a candidatura
Votos Nulos 47.056
Çollor_ ao Governo de Alagoas em 1986 e optou pela pre e11ça
Votos Brancos 22.302 ostensiva em sua campanha de fi uras marcadamente conser-
14.943 vadoras como Diva! o uruagy e José Thomás Nonô, rccém-
Abstenção
~
'
~~egados do l_,f~. Essa tática não ajudou na construção de un,a
Fonte: Gazeta de Alagoas, 14/10/92 imagem de can~idato oposicionista, que já se achava prejudica-
da pela. sua orig~.n:1 de classe - "_usineiro" - explorada pelos
para Governador. Os dois candidatos de oposf~ão - Téo Vilela se~s dois adversarios; segundo, Ronaldo Lessa soube é!_pro-
e Ronaldo Lessa - somaram 65% dos votos validos; ".eitar melhor a campanha pró-impeachment que tomou a
2º) 0 imenso número de votos nulos, em ?ranco e o ruas ~~ Maceió dias antes das eleições; terceiro1 Lessa foi
índice de abstenção que, somados, representam mais de 80.000 beneficiado pela ausência dos dois candidatos no debate
eleitores ou 35% do eleitorado. Fenômeno que pode ser mar~ado no fin_al da campanha; quarto, os dois candidatos que
explicado pelo descrédito na r~p~esentação polít~ca alagoa~a. teoricamente lideravam as pesquisas preservaram Ronaldo
Este índice é maior que o da eleiçao de 1970, o mais expressivo Lessa de críticas e ataques, pensando em conseguir o apoio
no período ditatorial; . . . para o segundo turno. Os ataques mútuos tanto prejudicavam
3º) 0 descrédito das pesquisas eleitorais que apontavam a imagem dos dois candidatos como ajudaram a firmar a de
até O dia da votação uma larga margem de vantagem para o Ronaldo Lessa acima das denúncias de campanha.
candidato governista. O IBOPE, dia;1-te ~os inúmero~ pr_oble- O resultado nas eleições proporcionais, onde a coligação
mas criados a partir de 1990 - pressao di~e~a s~bre o_insti~to, PSB/PT não conseguiu eleger um vereador sequer, reflete o
pressão sobre os pesquisadores, etc. - decidiu nao mais realizar quadro real da força eleitoral destes dois partidos.
pesquisas na capital alagoana e o DataFol~a, que se ave~tu_rou Pode-se
• • •
considerar, diante desse resultado I
a vitória
a fazê-las, teve seu prestígio abalado pois seus prognosticos oposicionista na capital, no primeiro turno, como urrra vitória
admitiam a possibilidade de não ocorrer 1:m, s_eg~ndo ~rno; ~a esquerda alagoana? Os dois candidatos oposicionistas
4º) novamente o descrédito e~ :elaçao a ~ustiça eleit?ra~. fizeram campanhas de denúncias do Governo Collor e críticas
Vários municípios tiveram suas eleiçoes questionadas, princi- ao Governo Estadual e à Administração Municipal, caracteri-
palmente a de Maceió, que, a exemplo _de 1990, teve u_rnas zando duas alternativas contrárias ao esquema Collor /Bulhões
anuladas e eleições suplementares requeridas no TSE. Mais de e ~ Pe?ro Vieira. ~ percurso do candidato majoritário da
300 pedidos de impugnações e reco1:tagem e?t~aram no_ TRE col1gaçao PSB/PT foi sempre vinculado às lutas democráticas
e Maceió ficou como a única capital brasileira a adiar o do povo alagoano e isso pode ser contabilizado como um
segundo turno para o ano seguin~e; . . . . . ganho, mas, a não correspondência de votos na chapa propor-
5º) parte importante do eleitorado re1eitou a dis1untiva

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise •
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

cional - que teve aproximadamente 10% dos votos dados ao ª campanha em andamento.
candidato a Prefeito - revela o lado frágil deste fenômeno. O
janeiri :e:~tado do segundo turno, realizado no dia 1O de
mesmo pode-se dizer do candidato do PSDB, que não traduziu ca . ' rmo_u a perspectiva da polarização entre o
a votação majoritária em sua chapa proporcional. A votação
expressiva para prefeito não impediu a derrota de fortes
nomes como os de Claudionor Araújo e Júlio Bandeira, dos 21 vereadores de M . ?s eput~dos estaduais e 15
aceio e o candidat . ~
conhecidas lideranças sindicais e políticas em Maceió, que
apoiavam Téo Vilela. Os dois candidatos de oposição não
conseguiram capitalizar toda a insatisfação reinante e tiveram - e contou com O PMDB lid d . para realizarem-se
menos votos que a soma dos nulos, brancos e abstenção. o PSDB, através de Téo . era o por Divaldo Suruagy e com
A soma dos votos dados aos candidatos a vereadores
pelo PCdoB, PPS, PSB e PT não alcançou 5% do eleitorado segundo turno, a formação da frente .dase~ zo~-~e assim, no
maceioense, mesmo adicionando a esta soma o voto de mesmos partidos tentaram m - posiçoes, que estes
turno A - as nao concretizaram no primeiro
legenda. Esta disparidade entre o número de votos nos
representantes da esquerda organizada e a votação dos
candidatos majoritários da oposição torna claro o peso real da campanha do PFL ~~~aldo tnti-co~unis;111-o_ primário na
esquerda nesta eleição. Ainda que ressalvemos a capacidade vota ão ' o essa saiu vitorioso com uma
destes pequenos partidos em mobilizar, para os candidatos e po; Té~u;ii:rarensent~ a s?ma exata dos votos obtidos por ele
o primeiro turno (Quadro 19).
majoritários, o voto oposicionista e de protesto anti-Collor e
anti-Bulhões, este mesmo voto, no entanto, não foi canalizado QUADRO 19 - ELEIÇÕES MUNICIPAIS
para os representantes populares, na medida em que a opção DE 1992/MACEIÓ/2º- TURNO
do eleitorado continuou a ser determinada antes pelas caracte-
rísticas do candidato do que pelas do partido. Os partidos de Ronaldo Lessa/PSB/PT 97.919
esquerda continuaram assim com uma pequena e isolada José Bernardes/PFL/PTB/PSC 50.522
bancada na Câmara Municipal de Maceió. Votos Nulos
Passada a contagem dos votos confirmou-se a falta de 49.020
Votos Brancos
unidade entre os partidos de esquerda de ambas as coligações, 3.992
e mesln) dos partidos de centro-esquerda, em relação ao Abstenção 32,l~
segundo turno, revelando a inexistência de um projeto que
envolva a pequena esquerda alagoana. A falta de decisão e Fonte: Gazeta de Alagoas 12/01/92.
agilidade políticas dos partidos que apoiaram Ronaldo Lessa,
Esta avaliação fica interrom .d . d"
em realizar alianças que garantissem a vitória no segundo A derrota política da li _ pi ª aqui, ia 14 de janeiro.
turno e governabilidade na Prefeitura, revela a imaturidade e diante de uma frente an~~ctªJ:º g?ve~l~amen!al na capital
insegurança que poderão levar para a administração munici- um overno ue . , vera agi izar o isolamento de
pal. Um exemplo disso é que o apoio - que já estava declarado
- do PCdoB e PPS foram selados às vésperas da eleição, com fé1·1·e d s · e manem-se graças ao controle
o as ecretarias da Segurança Pu'bl"ica e d a F1f1Zenda,

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apoiado por políticos - deputados federais e estaduais - eleitos (~) A !ferança Colonial • Estado herdeiro de uma
em plena era Collor. O total descolamento entre o governo formaçao social onde a produção açucareira voltada para 0
estadual e a sociedade alagoana deverá gerar novos fatos mercad~ e~terno era realizada nos grandes latifúndios, tendo
políticos, principalmente os decorrentes do afastamento de a esc_ravidao como forma de organização do trabalho até fins
Collor e da posse de Itamar Franco. Com a vitória da oposição, do ~eculo passa~o, Alagoas continua penalizada por todas as
a esquerda - ou parte dela -assumirá, com todas as suas sequelas que dai derivam.
limitações, a administração da capital alagoana para, talvez, Co~ uma economia em transição de um perfil agrário
mostrar os caminhos da superação de uma crise que vem par~. um tipo urbano-industrial, Alagoas tem uma população
rolando desde há uma década. politicament~ ~esor~~nizada, em sua maioria desinfoi·mada
s?bre seus direitos civis, dominada pelo medo e pela ignorân-
Cl~ _que gerou, naturalmente, uma sociedade política proble-
matica. Uma situação de tal forma alarmante, que fez a Ordem
A ESQUERDA EM CRISE dos _A~vogados do Brasil, secção de Alagoas, acionar a
Comissao
. . de Acesso à Justiça, porque , segundo ela "... so, uma
minoria te~ aces_so à Justiça para garantir os seus direitos. O grosso
Tomando os resultados eleitorais - tanto os destinados a da populaçao nao tem qualquer chance, quando necessita, de dar
ocupar espaços no Legislativo como no Executivo - como andam_ento a u,m processo no Judiciário até porque, para conseg11 i1-
parâmetros da presença da esquerda em Alagoas, pode-se faze_r. ~s~o,,, tera que gastar, no mínimo Cr$ 50 mil, com custas
perguntar: quais as razões deste declínio constante e regular ;udiciarias (Gazeta de Alagoas: 16/02/92) Ala t
ou estagnação no número de votos e, conseqüentemente, de lt' · . goas em
~ issi?1as taxas de analfabetismo - 43% - e de mortalidade
representantes dos partidos de esquerda nas Câmaras Munici- infantil.- 99 em cada mil crianças com até 1 ano -, e uma
pais, Assembléia Legislativa, Congresso Nacional, Prefeituras economia dependente ~e ?ns pouc?s prodl1tos de exportação
e Governo Estadual? Poder-se-ia tentar responder levantando ge~ando desemp:ego ~ronico que atinge contingentes ponderá-
alguns tópicos para a reflexão. Pontos que permitam encontrar veis da _p~pulaçao ativa, levando à formação de expressiva
características próprias da sociedade alagoana e, por decorrên- economia ~nformal. A maioria esmagadora da população é
cia, da esquerda em Alagoas. Evidentemente que os tópicos pobre e vive em casebres sem as mínimas condições de
escolhidos., e respectivos desenvolvimentos no texto, não têm
a preten~ã<? de esgotar o estudo das razões dessas dificuldades,
~sobre ~ formação do Estado de Alagoas consultar alguns textos ainda
6
nem a procura de respostas que expliquem essa situação.
Assim é possível, acredito, discutir a sociedade alagoana e sua em arculaçao: '.'.ºBanguê nas Alagoas" de Manuel Diégues Jr. 2ª ed.
EDUFAL, 1980; Palmares: A Guerra dos Escravos" de Décio Freitas 5ª ed
esquerda política através de sua herança colonial, que implica Mercado Aberto, 1985; "~ l!topia Armada" de Dirceu Lindoso, Ed~ Paz ~
na existência de uma frágil sociedade civil, onde a presença Terra~ _198? e o~ manuais ilustrativos como "História de Alagoas" de
dos partidos se revela política e organicamente frágil, soman- G~~selia Silva Pinto (1979), "Forntação Histórica de Alagoas" de Cícero
do-se a tudo isso uma conjuntura desfavorável que vem Per1cl~s de Carvalho (1982) e "Notas Sobre a História de Alagoas" de Isabel
ajudando a esquerda a acumular uma série de derrotas desde Lou~e1ro de Albuquerque (1989). Interessante também são os antigos manuais
~eed1ta~os recentemente: "História de Alagoas" de Moreno Brandão (1981)
1985. Os cinco tópicos expostos tentam sistematizar essas Históna da~ Alagoas" de Craveiro Costa (1983) e "História da Civiliza ã~
características. Ja Alagoas de Jayme de Altavilla (1988)). ç

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

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- tem uma ex ectativa de vida de 47 política (Estado) • Esses organismos, tais como os partidos,
sindicatos, associações comunitárias, são os locais privilegiados
anos, ri-:: =~~~~-::nômico desolador que nem a propaganda onde as classes sociais buscam ganhar aliados e exercer a
~~~!1, nem os folhetos destinados aos turistas conseguem hegemonia através da direção política e do consenso. Ao
7 contrário, na sociedade política (Estado) as classes sociais
esconder • • eia de
exercem uma dominação mediante a coerção e a repressão.
A

Essa debilidade estrutural explica a permanend


resente em to os os Para os autores que trabalham na perspectiva do
marxista italiano Antônio Gramsci, está no nível da força dos
;~;e;:~bida dos qre fazem política/ dur~nte _os períod?s sem organismos que compõem a sociedade civil, a chave da
distinção entre sociedade do tipo "ocidental" ou "orie11tal".
O "Ocidental" seria a sociedade onde há um equilíbrio entre
repete-se: merca ' . 1/ti Uma verdadei- ' Estado e sociedade civil, enquanto "oriental" seria aquela 011de
cabresto desinteresse partidário, apatia po i ca. / .
ra muraÍha à ampliação das conquistas democraticas. o Estado é tudo e a sociedade civil é primitiva e gelati11osa.
Para um importante teórico desta corrente marxista "... o
. hz'sto'rz·ca ampla' a. democracia
" numa perspec t zva . . _ estável Brasil está há já alguns anos num acentuado processo de ocide1ita-
1-~~ulta não apenas do fortalecimento d~s znst~,tuzçoes rdre~;n~ lização; ou seja, a sociedade civil tem se tornado cada vez mais
tativas mas também da desconcentraçao das c~a~lc,es_ e v~ ~ complexa em nosso País (... ) estamos num processo em que ainda se
' ,í · M x Weber _ isto é dos przvz egzos soczo-
a que se re1 erza a ' . l ( l 't · ) torna preciso consolidar e fortalecer a sociedade civil, a fim de que o
, . Antes disso a democracia dzta forma po z ica e
economicos. ' . . manente e Brasil se torne definitivamente uma sociedade de tipo ocidental, ou
a substantiva (econômica e social) vivem em per
inevitável tensão" (Lamounier, 1991:30). seja, democrática" (Coutinho, 1986:133). Aqui trataremos
brevemente dos movimentos organizados - sindical, comunitá-
É essa herança que penaliza e obstaculiza a existência de rio, estudantil, ecológico e feminista - e dos partidos políticos
que ajudam a compor a sociedade civil em Alagoas.
uma sociedade civil digna desse nome.

(b) A Sociedade Civil. Sociedade civil é um co1;cei~o q~e O Movimento Sindical. A fragilidade da sociedade civil
aparece como um grande problema para a esquerda em
Alagoas. Apesar dos avanços registrados nos anos 80 é baixa
a taxa de sindicalização; assim, o movimento sindical não
representa, ainda, a maioria dos trabalhadores, e grande parte
dos sindicalizados é dirigida por diretorias pelegas, imobilis-
tas, de sindicatos assistencialistas. Sua parte combativa é
prisioneira da luta econômica contra a sub-remuneração da
força de trabalho, que lhe toma toda a energia, obrigando-a a
. 1 oano ver "Informações Sócio-
7 (sobre o subde_se,n~olv1men~~n:s~g SEPLAN, 1992, o mais recente e
Econômicas dos Mun1c1p1os Alagt . de alfabetização e escolarização,
detalhado estudo . con~e~~ohabs ·t a~as l abastecimento d' água e rede de 8
mortalidade infantil, def1c1t a 1 aciona , (ver o ensaio Sobre o Conceito de Sociedade Civil, de Ivo Tonet,
l•:l)UFAL, 1989).
esgoto em cada um dos municípios do Estado).

72 73

Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

viver sob o predomínio de políticas defensivas e, desaparelha- sociedade extremamente desigual e injusta" (SEPLAN, 1987:25).
da9, não consegue agir politicamente fora d?. âmbito l?uramen- Diante destes números o movimento sindical fica paralisado
te corporativo, nem oferecer respostas polit~~as gerais. pela urgência da questão salarial.
Como ilustração deste universo de dificuldades, toma-
mos a Central Única dos Trabalhadores/CUT, a mais represen- QUADRO 20
tativa das centrais e a única em funcionamento em Alagoas, -
POPULAÇAO ECONOMICAMENTE ATIVA (910.670 PESSOAS)
que em dez anos de existência conseguiu a ~lia5ão de ~8 EM 1988 E VALOR DO RENDIMENTO MÉDIO MENSAL
entidades dentro do universo de mais de 200 sindicatos, nao até½ piso salarial 145.206 16,0%
possuind~ assim um real enraizamento nas bas;s ~o ~ovimen-
de ½ a 1 piso salarial 198.511 21,8%
to sindical. Estas filiações incluem apenas tres smdicatos de
trabalhadores rurais: Craíbas, Inhapí e Delmiro Couveira, mais de 1 piso salarial 220.186 24,1%
nenhum deles localizado na Zona da Mata, onde , funcionam. . os de 2 a 3 pisos salariais 72.392 8,0%
53 sindicatos da economicamente importante area ·canavierra,
hoje distribuídos em quatro pólos sindicais: Litoral Norte, mais de 3 e menos de 5 pisos 60.254 6,6%
Litoral Sul, Vale do Mundaú e Vale do Paraíba. Nem mesmo mais de 5 47.683 5,2%
a desativação da Central Geral dos Trabalhad~res / ~G!em sem rendimentos 166.438 18,3%
1990 com a passagem dos sindicatos sob a influencia do
PCd~B para a CUT, modificou esta situação. . Fonte: IBGE/PNAD
A perversidade na distribuição de re~da, uma da~ mais
concentradas no Brasil, pode ser vista nos numeros publicados A FET AG / AL, no que pese seu crescimento, tornando-se
pelo IBGE (1990) resultado da Pesquisa Na_cional Por ':mostra- a maior estrutura sindical alagoana tanto pelo número de
gem de Domicílio. Tomando a Populaçao Economicamente sindicatos, 89, quanto pelo número de sindicalizados, mais de
Ativa (PEA) como parâmetro, vê-se que apenas 5.2% d~ P~A 100 mil, continua sendo uma entidade politicamente frágil
percebem mais que 5 salários_mínimos, enquan~o 56% nao tem (apesar da CONTAG ter entrado para a CUT, a FET AG, / AL
rendimentos ou, quando muito, suas rendas nao ultrapassa1? até agora não se mobilizou para participar da Central Unica
0 salário mínimo. Tomando a população com 10 anos ou mais dos Trabalhadores). Longe da autonomia necessária para a
de idade, observa-se que 74% não têm rendimento algum ou representação dos trabalhadores e dos pequenos produtores
percebem até 1 salário mínimo, enquanto apenas 3% conse- rurais alagoanos, a entidade demonstra um alto grau de
guem receber mais que 5 salários (ver Quadr~ 20 e ,~l). Um~ dependência das iniciativas do aparelho de Estado. A FET AG-
situação que o próprio governo estad1:al_ confi~ma: a renda_e I AL está distante de ser a estrutura capaz de enfrentar, no
uma das mais concentradas do país, e os nzvezs de vida da populaçao plano político, a representação conservadora e patronal do
alagoana são dos mais baixos existentes, produzindo um tipo de campo alagoano, composta pela Cooperativa dos Usineiros,
Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas/ ASPLANA
e Federação da Agricultura no Estado de Alagoas. A fragilida-
(um dado significativo é que o DIEESE/Departarnento Intersi:°"dical de
9 de política levou a FET AG a alinhar-se com o Governo Collor,
Estudos Sócio-Econômicos permanece há dez anos corno um projeto a ser a assumir as campanhas de Renan Calheiros em 88, de Collor
implantado).

74 7

Alago 1vBU-1vvz: a 11qu1ra1 m cr111 A11go1 1v110-1u11a: a 11qu1rda 1m cria
------ ----------
QUADRO 21 Governo/ Trabalha dores Rurais, visto que, até aqueles cliu.~
PESSOAS LE 10 ANOS OU MAIS (TOTAL
, DE 1.689.629) tivemos Governos que não reconheciam a nossa condição de
E VALOR DO RENDIMENTO MEDI O MENSAL Trabalhadores e líderes rurais, categoria profissional enraizada
na história do nosso Estado".
SEGUNDO AS CLASSES DE RENDIMENTO MENSAL
até ½ piso salarial 193.762 11,4% A falta de políticas agrária e agrícola direcionadas para
de ½ a 1 piso salarial 275.233 16,4% a maioria dos que vivem no campo gerou uma difícil e
explosiva situação que a FETAG tem de enfrentar no trato
mais de 1 e menos de 2 pisos 235.361 14,0%
diário com a repressão aos trabalhadores, sindicalizados ou
de 2 a 3 pisos salariais 77.558 4,6% não, violência institucionalizada que se expressa na morte de
mais de 3 e menos de 5 pisos 65.020 3,8% vários líderes e trabalhadores rurais. A estrutura fundiária em
Alagoas é extremamente concentrada (ver Quadros 22 e 23):
mais de 5 pisos 52.452 3,1%
82% das propriedades têm menos de 10 ha. mas sua área
sem rendimentos 790.203 46,7% ocupa apenas 11 % do espaço, enquanto 62% da área agrícola
é ocupada por 3% das propriedades maiores de 100 ha. Nas ·
Fonte: IBGE/PNAD áreas de pequenas propriedades sobrevive o minifúndio
incapaz de manter o agricultor em regime produtivo. Nas
para Presidente e novamente Renan Calheiros em 1990. Para
áreas de grandes propriedades dominam a pecuária extensiva
esta última eleição, a FET AG divulgou uma carta aberta a
e as culturas que exigem maior grau de mecanização e,
Renan na qual afirmava:
portanto, maior capitalização, como o plantio da cana-de-
"... no momento político atual, com a eleição do Presidente açúcar. Esta é a mais forte marca da herança colonial, afetando
Fernando Collor de Mello, queremos trazer para Alagoas sua enormemente a vida da classe trabalhadora em Alagoas.
experiência, dinamismo e especialmente trabalho ~ara que •
continuemos a proposta de elaborar uma Alagoas mais Demo- Movimento Comunitário. As características do movi-
crática, mas socialmente justa, e com a participação da classe mento comunitário, como a do interesse por soluções imedia-
Trabalhadora Rural junto ao governo de V.Excia. . tas, aliada à facilidade na criação de associações de moradores,
Como V.Excia. bem sabe, os Trabalhadores Rurais de torna-o vulnerável à manipulação político-eleitoral. O movi-
nosso Estado sempre estiveram ao lado das candidaturas mais mento comunitário em Alagoas não teve destino diferente do
conseqüentes, ou sejam, as candidaturas RENAN/Deputado
Federal; Collor/Governo de Alagoas; Renan/Prefeito de Maceió resto do país e foi desmobilizado pela forte manipulação
e, recentemente Collor/Presidente da República. partidária de suas entidades. O duro teste eleitoral desiludiu
Historicamente, a aliança Collor/Trabalhadores Rurais, àqueles que, baseados no movimento de moradores, postula-
no Governo da Mudança, a partir de março de 1987, possibili- ram vagas no parlamento; e nem mesmo lideranças e dirigen-
tou aos camponeses o reconhecimento por parte da sociedade a tes comunitários, na época das eleições, como Reinaldo Cabral,
importância da nossa classe obreira que virtualmente contribui José Lessa Gama e Corintho Campello tiveram sucesso em
para o desenvolvimento d_o Estado, , deixa~do Alagoas ~a suas iniciativas. Hoje a UNI COM, FAMAL, FAMA e UMSA
condição de 2º produtor nacional de açucare alcool. A conquis-
são lembranças dos períodos pré-eleitorais de 85, 86 e 88. Por
ta do Governo da Mudança possibilitou um avanço nas relações
outro lado, a intervenção estatal, via Programa Nacional do

76 77
A11g0111980·1992: a e1qu1rda em cri••

QUADRO 22 - NÚMERO DE PROPRIEDADES


POR TAMANHO EM HECTARES dos moradores. A capacidade de cooptação das li<lt•r ,111 1
comunitárias pela máquina estatal demonstra qu1..• 1111!)11 z 1
ANO 1975 1980 1985 econômica e luta social nem sempre andam junta8. O 111,,v .
Tamanho \N.Total 115.576 117.986 142.774 mento comunitário espelha, mais que qualquer OtJtr,,, 1
pobreza política da sociedade alagoana. Condição es a ,1ss1111
> 10 ha. 90.514 91.438 117.774 compreendida:
li 10 - 100 ha. 21.246 22.399 21.649
100 - 1000 ha. 3.565 3.787 3.829 "... politicamente pobre é a pessoa ou grupo que vive a cortdi~·,,,,
de massa de manobra, de objeto de dominação e manipulação,
+·de 1000 ha. 250 244 225 de instrumento a serviço dos outros. Isso se dá na esfera do
poder, onde o pobre aparece como matéria de dominação, na
Fonte.• IBGE senzala da vida, coibido em sua autodeterminação. Uma face
aguda dessa pobreza é a falta de consciência dela mesma, porque
UADRO 23 - ÁREA OCUPADA POR TAMANHO uma das condições fundamentais de superação é tomar cons-
Q DE PROPRIEDADE EM HECTARES ciência dela e partir para um projeto de autopromoção. A
pobreza política extrema é aquela que é percebida como condição
ANO 1975 1980 1985 histórica natural e normal, onde a manipulação não somente é
Área Total 2.284.369 2.396.571 2.363.772 desapercebida, mas até mesmo desejada, porque incorporada ao
ritmo da vida tido como normal (... ) Pobreza política é falta de
> 10 ha. 247.175 247.755 270.335 participação, é a coerção da conquista da participação, é a
10 - 100 ha. 609.516 649.419 632.980 inconsciência histórica e imposta da necessidade da autodeter-
minação. Nossa sociedade é miserável neste sentido, porque
100 - 1000 ha. 961.623 1.040.724 1.063.009
ainda é uma senzala. Não somos um povo capaz de autodeter-
+ de 1000 ha. 466.055 458.070 397.447 minação e de conquistar seu espaço próprio e criativo, mas
massa de manobra nas mão de uma oligarquia tão restrita
Foi: ,te: IBGE quanto tacanha" (Demo, 1988:21-22)

· Es ecial de Assun- Hoje, uma outra entidade, a Federação dos Moradores de


Alagoas/FAMOAL, criada em 1991 com os destroços do que
ainda existia de movimento comunitário, representa quase 100
associações espalhadas em Maceió e em alguns municípios do
de selecionar as famílias carente!, es~1?u. de luta de
interior, existindo como pólo aglutinador deste movimento em
Comunitário de suas preocupa~:~ ao~~::::-:nente tomasse sua nova fase. A Federação das Associações Comunitárias de
moradores, fazendo co~ due o :e - d!
Programa, caísse no Maceió/FACOM é um movimento sem nenhuma autonomia
1
1
corpo para que, deJ:>01s a ex :a~:odesa arecendo. diante da máquina do Estado, a ponto de fazer suas convoca-
1
tórias através do Diário Oficial do Estado (12/06/92). O
esse per10 , . " . 11 os cabos- Movimento dos Sem-Teto, a ramificação urbana do Movimento
c lcitorais, sem nenhum compromisso com as u Sem-Terra, inicia seus primeiros passos fazendo um levanta -

78
/í)
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

mento do estoque de terrenos baldios em Maceió, organizando possibi~i~ade_ de fazer política específica com maiores chances
as primeiras ocupações, num processo de reagrupamento de de part1cip~çao de uma parcela mais numerosa de estudantes
forças, tentando encontrar respostas para os problemas criados e, por seguinte, torna~em-se entidades de massa. A lógica do
pela acelerada urbanização por que passa o Estado de Alagoas aparelho, na _qual .º interesse pela conquista da maioria de
como a grave questão habitacional que, levando-se em conta cargos _nas diretorias se sobrepõe à luta pela ampliação e
o número de famílias com rendimentos até 5 salários mínimos fortalecrm_ento da en?dade, impediu a renovação de quadros
que vive em domicílios alugados, cedidos e com outras e o aparecimento de lideranças expressivas como ocorreu entre
condições de ocupação, conhece um déficit de, aproximada- 78/82. A ~ESA conhece agora a concorrência de outra
mente, 170 mil moradias, o equivalente a 38% do estoque de represent~çao secundarista, a União Maceioense de Estudantes
moradias do Estado (SEPLAN, 1987:273). Em Alagoas as áreas S~cundaristas/UMES que, objetivando combater a partidariza-
urbanas incham com o grande contingente de trabalhadores , çao e ou/t~os possíveis desvios da atual gestão na UESA, faz
não-qualificados que migram das áreas ainda mais estàgnadas uma politica paralela para esvaziar sua concorrente atuando
(ver Quadro 24). como um dócil instrumento da Secretaria de Ed~cação. o
fec~amento da UEEA e. o completo esvaziamento das outras
QUADRO 24 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO entidades estudantis confirmam esta crise.
EM ALAGOAS
Pop. Rural % Pop. Total .. Movi?1entos ~cológi_co e Feminista. As novidades
ANO Pop. Urbana %
pos~ti~as vem de dois movimentos: ecológico e feminista. o
1970 626.326 40% 947.301 60% 1.573.637 femmi~ta, que com a sua atividade permanente de denúncias
1980 976.536 49% 1.006.055 51% 1.982.591 e. ~e. div1:1lga_ção_ dos_ d~eitos das mulheres, tem conseguido
1.028.281 42% 2.438.930 vitorias ins_titucionais ~portantes como a Delegacia da
1990 1.410.649 58%
Mulher, enti~ade conquistada pelas feministas, que levanta e
Fonte: IBGE fornec~ os_ numeros da violência sobre a mulher em Alagoas
entre )ª~e1ro de 1990 e setembro de 1991, registrando 4153
Movimento Estudantil. O movimento dos estudantes foi ?corr/e~cias, /fazendo 6926 notificações e instaurando 50
se esvaziando por ter sido incapaz de identificar-se com os inqueritos at~ esta data. Neste mesmo período, 43 mulheres
problemas específicos do mundo estudantil. Não houve uma fora!11. assassinad~s (Cf. "O Diário" de 8/3/92). O movimento
transição. A política "do contra" dos anos 70 e começo dos femmista tem estimulado a produção dos grupos intelectuais
anos 80 não se transformou em uma proposta clara, nem em c?~º o que publica regularmente a coleção "Gênero & Cidada~
formas novas que entusiasmassem os estudantes a participar n~a (EI?l!FAL! onde importantes informações sobre a condi-
deste movimento. A partidarização das diretorias é tão çao feminina sao enc~~tradas. No seu segundo número Gulho,
evidente que por vezes partido e entidade confundem-se. O 1992), por exemplo, - Mulher e Saúde" - a coleção registra que
DCE da UFAL, o DCE do CESMAC e a UESA são entidades ap 7nas 30% d~s gestantes em Alagoas têm acesso a atenção
onde os estudantes sem vínculos com os partidos políticos não pre-natal, considerando-se apenas uma consulta médica e que
têm nenhum tipo de participação. Mais uma demonstração de apenas 59% ~os partos são feitos em hospitais.
fragilidade, o aparelhamento das entidades roubou-lhes a O Movimento Ecológico representado principalmente

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

pelo Movimento Pela Vida e por um movimento derivado - a el~mentares direitos do "homem" (... ) A pregar um anticon1 11.
Brigada Ecológica - em sua pertinaz camp~~ha co~tra o nismo contraditório (pois defende a candidatura Fernr111,/o
desmatamento das florestas tropicais e a poluiçao. ambiental, Barreiros em coligação com o PCB), o arcebispo Edvrrl,lo
,:1maral revela sua preferência pelo continuísmo, não //1, ,
introduz a temática ecológica de forma :anguardis~a, .provo- l17!portando _s~ tal continuísmo é o ressurgimento dos tempos dr,
cando uma grande discussão sobre o polo cloroquimico e o ditadura militar violenta, sangüinária, corrupta, destruido 1·,1
meio ambiente em Alagoas. dos mais elementares direitos do homem".
A esquerda em Alagoas diferentemente .de outr~s
Estados, não tem contado com o apoio na hierarquia da IgreJa No entanto, merece destaque o apoio dos setores
Católica que, pelo contrário, tem ~e chocado com os agentes progressistas e minoritários da Igreja Católica ao movimento
pastorais e tomado posições políticas que refl~te;11 o pensa- sindical rural, ao Movimentos dos Sem Terra. Destaque
mento conservador desta Igreja, como na ele.iç.ao de .1936, também para a Federação de órgãos Para Assistência Social e
quando a Arquidiocese de Maceió em nota ofic!~~, assina~a Edu~a:i?nal/FASE, n~ tentativa de criar movimentos supra-
11
pelo arcebispo D. Edvaldo Amaral, orienta seus fiei.s para nao partidarios como o Forum Permanente Contra a Violência em
votarem em candidatos apoiados pelos c.omu~istas. Esta Alagoas" e o Fórum da Saúde do Trabalhador".
posição mereceu uma breve resposta do Jornalista Juarez _ Não poderi~ ence~rar esta parte sem fazer uma aprecia-
Ferreira publicada na Gazeta de Alagoas (13 / 1 / 86) com o ! çao breve, como e o carater deste ensaio, sobre os partidos de
título "Mudança e Anti-Comunismo" na qual afirma: esquerda - aqui falaremos do PSB, PCdoB, PT, PPS, além do
PDT e. PSJ:?B- em Alagoas, reconhecendo no entanto, que estas
"... não questiono o direito de a Arquidioce~e- de M~ceió organizaçoes merecem um estudo à parte. Esta apreciação
manifestar-se formal e publicamente sobre a~ el~içoes do dia 15 torna-.se ~ecessária pela importante contribuição destas
' e mesmo revelar os candidatos de sua preferencia, a exemplo do

~édico Fernando Barreiros, candidato a deputado federal pelo
organizaçoes para o fortalecimento da sociedade civil
Partido dos Trabalhadores (PT) em coligaçã? com o. ~DT, O Partido Socialista Brasileiro/PSB, historicamente um
PSB,PDC - e pasmem! - PCB (Partido Comunista B:asileiro). dos mais antigos partidos brasileiros, foi extinto em 1965 e
Questiono, sim, a tônica central .d~ nota episcopal -. o volt~u .à cena política graças à conjuntura especial na Nova
anti-comunismo - e, diante das contradiçoes e dos oport~nis- Republica. Em Alagoas, o PSB foi o porto seguro dos dissiden-
mos, ponho em dúvida a seriedade do doc_umento da Igre1a em tes do PMDB, que em 1985 não aceitaram a entrada do grupo
Maceió, que objetiva, disfarçadamente porem com pouca clarez~, liderado pelo então deputado federal Fernando Collor. Dos
confundir o eleitorado alagoano, sobretudo no que se refere as partidos _de e~que~da foi o único que conseguiu alguma
candidaturas ao governo do Estado.
A "nota oficial" assinada por Dom E_dvaldo Am~ral penetraçao no interior do estado elegendo prefeitos e vereado-
considera reprováveis as presenças do Partido ~omunista res .. A saída, em 1988, de sua corrente mais à esquerda para 0
Brasileiro (PCB) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) antigo PCB e o rompimento do grupo liderado pelo ex-
nas coligações lideradas respectivamen~e por Ronal~~ Lessa e deputado estadual João Neto, em 1992, tiraram muita da força
Fernando Collor. Na opinião do arcebispo de Maceio, º. PC~ do PSB. O sucesso da candidatura Ronaldo Lessa trouxe
"defende os postulados marxistas e conspira contra o pluripa:t~,- ânimos para o PSB em Alagoas.
darismo e a expressão livre do povo nu"!ª demo~racza , O Partido dos ~rab~lhadores / PT conheceu em Alagoas
enquanto O PCdoB "é por!ador de u~a.ideologia destruidora d~ um processo de organizaçao atabalhoado que não lhe permitiu
democracia, além de atéia e materialista, negadora dos mais
'

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

ter uma direção estável. Os seus primeiros o~g~nizadores, de sua nova legalidade, em maio de 1985. A reconstituição dos
assim como a maioria de seus candidatos nas eleiçoes de 1985, laços com o n?vo movimento sindical e o crescimento enquan-
86, e 88, não se encontram mais nos qua~ros do PT de t~ legen?a :leitoral, foram enormemente prejudicadas por suas
Alagoas. O fortalecimento das correntes orga~izada..:' - C~nver- dissençoes internas. O afastamento do ex-secretário geral Luís
gência Socialista Democracia Socialista e Articulaçao - aJudou Carlos_ Pre~t~s, em 1980 e os sucessivos "rachas" a partir de
no processo de ;,_udança que atravessou a pa~tirAde_1989. ~T'? 1982, imobilizaram o PCB, penalizado ainda pela "crise do
em Alagoas viveu sua primeira década de exist:ncia adminis- socialismo" na qual o partido era identificado com o modelo
trando suas crises internas causadas essencialm_ent: pela de or~anização ~ocial instalado nos países do Leste Europeu.
incapacidade de fazer política num quadro que nao tinha a Tudo isto esvaziou o partido, que não conseguiu se afirmar
moldura de São Bernardo do Campo. Diferentemente de sua durante a legalidade, fazendo com que sua direção propusesse
estrutura nacional, em Alagoas o PT conta com poAuc~s um Congresso de refundação que resultou 11 0 PPS. Em
quadros no movimento sindical urbano e uma quase ausencia Alagoas o PCB marchou unido para o PPS.
no movimento sindical do campo. A política eleitoral do PT O_ Parti~o Democrático/ Trabalhista/ PDT surge como
oscila entre O isolamento autárquico como em 1985 e 1988, a expressao da liderança de Jose Moura Rocha, qu organiza o
alianças amplas , inclusive com o Partido Liberal em_ 1?86, e PDT em Alagoas em 1983 com as dissidências do PMDB e PDS
com 0 PMDB no segundo turno das eleições presidenciais.
_ Em no interior e capital. O PDT, no que pese, 11acionalmente, ter
Alagoas o PT é um partido ainda em formaçao. posições que se confundem com a esquerda, não co11seguiu o
O Partido Comunista do Brasil/PCdoB despon~ou no ~esmo desempenho em Alagoas, onde seu percurso político
início da década de 80 como o mais organizado partido de ~cou marcado por uma guinada conservadora. Essa guinada
esquerda em Alagoas. Em determinado mo~ento o PCdoB fica clara no plano eleitoral: em 85 sai isolado e em 86 partici-
tinha a hegemonia no movimento estudantil, presenç~ ~~s pa da Frente Popular. Em 1988 definiu-se por um acordo com
movimentos sindicais urbano e rural. Uma estrutura partidaria o governo Collor, razão do afastamento de José Moura Rocha.
que permitiu eleger vários parlamentares em 198_2, um Em 89, liderado pelo deputado Zeca Torres, realizou a
deputado constituinte em 1986 e um vereador na capi~al em c~mp~nha de Leonel Brizola. Em 1990 faz alianças nas propor-
88. A concorrência de outras forças de esquerda no dec~inante cionais com o esquema de Geraldo Bulhões. No interior do
movimento estudantil, o crescimento do PT no movimento Estado sua composição heterogênea explica as mais conserva-
sindical onde comanda a CUT, os equívocos do PC~oB no doras coligações. Na maioria dos municípios, o PDT não
plano político - aposta em Collor em_ 8~ e Renan <=:_alherros _em obteve resultados positivos e nem conseguiu eleger nenhum
88 _ e a quebra de seu modelo, o socialismo albanes, pen_aliza- dos seus candidatos a prefeito.
ram O PÇdoB que vem diminuindo sua presença no movrmen- O Partido da Social Democracia Brasileira/PSDB, surge
to político em Alagoas. . . / / em Alagoas para acompanhar o grupo paulista liderado por
o Partido Popular Socialista/PPS (ex-PCB), recem-saido Franco Montoro e Mário Covas que rompe com o PMDB
de um Congresso de refundação, estréia a nova legenda. O controlado por Orestes Quércia. Reflete no Estado as ambigüi-
PCB durante os anos 40/ 60 foi a única força da esq~erda da_des _do comportamento nacional da direção tucana. No
organizada em Alagoas, declinando organicamente depois do pri~eiro teste, em ~8, lança Renan Calheiros para Prefeito da
golpe militar, e11contrando-se em estado quase residual quando Ca.pital, em 1989 e a base da campanha de Mário Covas,

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

apoiando Lula no segundo turno e, em 1990, par~cipa, n~s desde ~ ~iol~ncia pura e simples, que elimina fisicamente os
proporcionais, da frente que apoiou Renan Calheiros. Ho1_e a~vers~rios, a m_ontagem de uma complexa rede de comunica-
tenta reeditar o papel exercido pelo PMDB como pólo agluti- çao social, que filtra ou sonega informações, deforma os fatos
nador da oposição moderada ao governo estadual. e e?altece valores reaci?nár~o~; e um forte esquema político-
Esse quadro, traçado em breves linhas, demonstra a ele~toral, que trabalha a insuficiente autonomia dos eleitores do
pobreza de nossa sociedade civil. Pobre e pequena, a esquerda, meio r_ural, deslegitimando o processo eleitoral, prática que
representada pelas organizações progressistas só tem um sobrevive desde o Império.
produto a apresentar: sua fragilidade política. . _A violência institucionalizada em Alagoas mereceu do
f
histor_iador gaúcho ~éc~o re!tas (1986:39) uma observação
(e) A Fragilidade Política. A fragilidade política da especial _no que toca a existencia do "sindicato do crime". Para ·
esquerda, sofrendo permanente descompasso entre suas o. pesquisador, este fenômeno de patologia social e política
propostas e a realidade social qu_e pretende_ transformar, com diferentemente do que se divulga: '
dificuldades imensas para analisar a realidade alagoana e
apreender as particularidades do processo da formação so~ial "... não se trata simplesmente de assassinatos decorrentes de
de Alagoas dentro da história brasileira, su~s marcas própria~, Pª:ª~~icas rixas de fami1ia. Esta é uma versão deliberadamente
mistificadora que visa precisamente a mascarar os interesses
sua história política 10, sua composição socral e suas contradi-
p~líticos e ec~nômicos per_seguid~s. Não são tampouco organiza-
ções, revela-se na ausência de táticas e estratégias comuns, ~o~s ~ent~~l:zadas , e_ hierarquiz~das, tipo Máfia; o termo
fazendo com que ela, na política regional, seja relegada para si_ndicato e metafo:~co. Menos ainda se constituem de margi-
um plano sec,undário, às v_e'!'es decorativo na luta ~ter- nais, malgrad~ se utilizem dos mesmos; integram-nos elementos
oligárquica. "E alta a probabilidade_ do fracasso_ na !en_tativa de ' da classe dominante local e regional.
mudar um dado estado de coisas agindo sob a influencia de um Na verdade, estes chamados sindicatos são instrumentos
conhecimento precário, impreciso ou falso" (Werneck Vianna, de _do_minação de classe, nos níveis político e econômico. Urn dos
ob;etivos destes grup?s consiste em estalielecer sua hegemonia
1990:36). . dentr_o d~ classe domi1:ante local ou regional, o que suscita um
A representação política conser~ador~ é extremam:n~e conflito intra-classe. A base desta hegemonia, exercem a domi-
competente em seu papel. São quase_ cinco seculos de dorr_:un~o nação sobre as classes subalternas. Quando o terror e 0
político continuado. As classes dominantes, na sua aversao as assassinato atingem elementos da classe dominante, há escânda-
formas democráticas de governo, montaram ao longo de lo e comoção com larga repercussão nos meios de comunicação
séculos um forte esquema de sobrevivência política que vai Se _as_ vítimas. são trabalhadores e camponeses que ousara~
resi~t~: _aos d~t~mes dos potentados, o fato se restringe ao
noticia:io policial e é rotulado como produto de vinditas
pessoais.
(sobre este tema ver os ensaios de Luíz Sávio de Almeida: "A
10
República e o Movimento Operário em Alagoas", EDUFAL, 1989, e ''.Raízes (... ) No passado, os sindicatos reinavam quase exclusiva-
do Comunismo em Alagoas", EDUFAL, 1992, que tratam da origem e mente_no Sert~o. _Em anos recentes, em certos Estados, o poder
evolução das organizações socialistas em Alagoas, entre 1890 e 1930; e os e.ª açao dos sindicatos se dilataram ao Agreste e ao Litoral. A
ensaios de Dirceu Accioly Lindoso: "A Interpretação da Província", SECULT, cidade de Ma~eió, p~r exemplo, vive dominada pelo medo. A
1985 e "Uma Cultura em Questão: a Alagoana, EDUFAL, 1981, que, morte se configu~a ~i c?mo um~ P:esença cotidiana e familiar.
estud.ando a forxnação intelectual alagoana fazem uma interessante análise da (... ) A existencia dos sindicatos da Morte denuncia a
história política estadual).

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise
Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

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incapacidade dessas classe~ . dominantes para :~ercer sua Um fenômeno chama a atenção do "Jornal do Br· sil , l>

domin4ncia através de praticas puramente ~oliti~as . o que qual em editorial (19 / 9 / 92) complementa essa descriçãc):
provém, por sua ve~, do c~r~ter ~asicamente pre-capitalista das
estruturas econômico-sociais. Nao bastassem a fome, a doença "Os membros da casta política alagoana que despont,1111 1111,
e a injustiça, ainda por cima aquele povo 1eve sup?rtar palavras enraivecidas de Pedro Collor parecem ser os re11111111•to
situações ultrajantes desse tipo: o Estado a serviço do crime e centes mais retrógrados e prepotentes do mundo subdese,111,1/111
o crime a serviço do Estado." do. Quando se fala de nordestinização do Brasil, o pejorali11,11,1 •
refere única e exclusivamente a essa elite siciliana repagi11111/11
Aspecto importante e complement~~ às observ~ções ~e no Faubourg Saint-Honoré. Novos ricos deslumbrados 11111
gadgets comprados em Miami e com lombadas decorativa 1111,,i
Décio Freitas é a distinção entre classe d1r1gente e ol1ga~qu1a,
estantes ".
que ajuda a compreensão do atual estágio político e social de
Alagoas. Para o economista Luíz Gonzaga Belluzzo A descrição do perfil das classes dominantes alagoa11as
"... a verdadeira classe dirigente é capaz de definir objetivos a
ajuda a entender seus métodos e sua atuação políticas, come),
longo prazo para o país ~ d~ construir as instituições adequadas por exemplo, a violência, um método tão grave que motivott
para o bem-estar da maioria. . a articulação de 35 entidades da sociedade civil em torno de)
(... ) as oligarquias são incapazes de l:var em col":ta o~ interes- "Fórum Permanente Contra a Violência em Alagoas", movi
ses da minoria e de conter seus interesses imediatos em mento que elaborou o dossiê "As Várias Faces da Violência cm
benefício da construção do futuro. _ Alagoas" (Maceió, FASE:1992) onde encontramos informações
(... )as oligarquias não só estão· afastadas do povo. Esta~ ~ada e denúncias de violências cometidas contra mulheres, índios,
vez mais afastadas do País, encharcadas de um cosm?politismo menores e trabalhadores alagoanos.
provinciano. (... ) não é de espantar que, sem pro1eto e sem
ambições coletivas, alheias ao sofrimento de se~ ~ovo, se
Outro de seus métodos é a utilização das legendas cartc>-
dediquem ao roubo, ao peculato, à sonegação e ao farisaismo das riais que (des)·a pareceram ao sabor dos interesses político.
acusações recíprocas, como uma quadrilha que se ~~sentende_ n~ locais. O Tribunal Regional Eleitoral registra a existência de 63
repartição do butim. Este arr~medo de classe dir~gente nao e legendas, sendo que 22 estão aptas a disputar as eleições, num
oligárquica porque rouba ou difama, mas rouba e difama porque processo em que a "...fragilidade das organizações partidá1·ias,
é oligárquica" (Belluzzo,1992). frouxas e inorgânicas para permitir maior liberdade para os represen-
tantes políticos das oligarquias e corporações econômicas em relação
O escritor José Nêumanne (1992:32) obse~va que na ~~se ao eleitorado e aos partidos, simultaneamente, é característica
de dominação da oligarquia alagoana estao as fam1l1as recorrente do sistema partidário, dominado pelo personalis1no1
tradicionais e que: clientelismo e individualismo" (Sabóia, 1992:3).
Pequenos e numerosos partidos são criados do dia pai·,
"Tenham elas as sedes de suas propriedades nos e~genhos e a noite, sem nenhum conteúdo programático, apenas base de'
usinas ou nas fazendas de gado do sertão, essas famílias nu~ca
lançamento de candidaturas de representantes dos setores mais
conheceram a lei que punisse algum de ~eus n:em~os. 1:]m fil~o
de coronel pode dispor até da vida alheia, pois a i~uni_dade e a atrasados e conservadores regionais, que nos processos
palavra-chave da cultura medieval alagoana. A lei exist: para eleitorais, apesar das diferentes siglas, somam-se no me. 111<>
os outros, a plebe ignara. A posse de um sobrenome ilustre bloco reacionário, localizando-se segundo seus inl •r ' H. l',
livra qualquer um de suas malhas. "
111
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fisiológicos menores. Fenômeno que chama a atenção na elites e de como é difícil derrotá-las, ª<! f!!~mo tempo •111 ttttl'
medida em que: a esquerda_
,,..M••-·--·-
par~e -~~1:!~':!!~da a uma infância perman •11t1 !'

"O Brasil não conheceu alguns dos processos históricos que .,


levaram à sedimentação dos sistemas partidários mais bem QUADRO 25 - NUMERO DE PARTIDOS
sucedidos. Os sistemas europeus desenvolveram-se, em muitos E CANDIDATOS A VEREADOR/MACEIÓ
casos, a partir de clivagens de intensidade nem remotamente
comparável no caso brasileiro. Aqui, os conflitos de classe não Ano Nº de Candidatos Nº de Partidos
tiveram esse efeito, em virtude do caráter rudimentar da 1982 121 2
estrutura produtiva, durante toda a primeira metade deste '

século e do controle desses conflitos pela organização corporati- 1988 427 17


va, a partir dos anos trinta". (Lamounier, 1986:19). 1992 493 22
Maceió é um exemplo desta dispersão onde o número de
Fonte: Gazeta de Alag1111
partidos e de candidatos a vereador aumenta a cada eleição .,
(ver Quadros 25 e 26) sem que isso, no entanto, signifique um QUADRO 26 - NUMERO DE VEREADORES
fortalecimento da participação política na sociedade ou do POR PARTIDO E·coLIGAÇÃO/MACEIÓ/1992
sistema partidário:
Coligação Partido e nº de candidatos Total
As classes dominantes em Alagoas, criaram uma cultura
política que se reflete no elitismo da representação, no c~mpa- Frente de Oposição PSB(19) PCdoB(2) PV(l)
drio11, na utilização da máquina pública de forma privada. Popular P:MDB(54) PPS(l) 77
Neste último aspecto encaixam-se as denúncias f_eitas pelo Frente de Renovação PRP(34) PMDB(6) PMN(9)
deputado Cícero Ferro de como os esquemas político-eleitorais Municipal PSD(61) PMR(l) ) 111
.
mantêm-se através da utilização direta desta máquina, que Vamos Salvar Maceió PDT(61) PL(ll) 77
emprega 72.000 funcionários no Estado e 14.000 na Prefeitura '
'

União por Maceió PFL(16) PSC(41) PTB(12) 69


de Maceió.
O sucesso desta política reacionária e seu domínio sobre Frente Social-Democrata PST(15) PDC(16) PTR(48) 79
as circunstâncias dizem bem da maturidade . política destas Frente Maceió Popular PSB(15) PT(ll) 26
Frente Democrática
(um aspecto dessa cultura ao mesmo tempo cômico e folclórico é a
11
e Nacional PDS(52) PRN(2) 54
eterna bajulação aos poderosos do dia - conhecido popularmente corno "pu~a-
saquismo". O DETRAN / AL quebrou a tradição de se usar a ordem alfabética Fonte: Diário Oficial, 14/7 / <J;.,
na identificação dos veículos para agradar ao então Governador José Tavares
(JT), ao presidente Collor (FC), ao deputando Cleto Falcão _(CF~ e, agora, ao
governador Bulhões e sua esposa (GB) e (DB). A denom1naçao de ruas e Nem mesmo o recadastramento eleitoral em 1986
conjuntos habitacionais foi sempre privilégio para ~omenagens a mort?s impediu as manipulações de várias ordens, como ficot1
ilustres, mas os aduladores não perdem tempo: D1valdo Suruagy, Joao provado na eleição de 1990. Alagoas depois de ser nolí i11
Sampaio e até à ex-primeira-dama, Rosane Collor, entre outros, são pelos crimes políticos e pelo envolvimento de algumas d s 11c1
homenageados em vida).

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

personalidades em casos de corrupção, novamente chamou a des teóricas e doutrinárias, a esquerda não tem apresentado
atenção nacional de forma negativa: foi o único Estado a propostas alternativas à estratégia das forças conservadoras e
realizar eleições suplementares em dezembro de 90 e um de direita e essa parece ser uma das razões da ausência de
segundo turno em janeiro de 1991. O alto grau de manipulação uma oposição sistemática e eficaz aos governos estaduais. Os
obrigou o TRE a fazer, durante os meses de abril e maio de 92, segmentos de esquerda encontram dificuldades em dialogar
uma revisão em todo o eleitorado alagoano, numa atitude entre si e se digladiam não por questões de princípios, mas
inédita na história política do Brasil. O resultado final confir- por mera disputa de espaços políticos preferindo mais comu-
mou o que todos já sabiam: o instituto do voto é vulnerável, mente o enfrentamento, ao debate aberto e construtivo.
mesmo com a tecnologia da informática e com a fiscalização , Uma constatação: funcionando legalizados ou na semi-
do TRE. O forte esquema de fraude e corrupção eleitoral foi legalidade desde 1980, os partidos e as correntes progressistas
flagrado: em alguns municípios, como Flexeiras e Joaquim em Alagoas (PCdoB, PCB/PPS, PT, PSB e, de alguma forma,
o PDT e o PSDB, além de setores do PMDB) nunca consegui-
QUADRO 27 - EVOLUÇÃO DO Nº DE ELEITORES ram discutir e planejar uma política de ação que extrapolasse
EM ALAGOAS uma eleição próxima. Isoladamente nenhum destes partidos
vence eleição alguma ou consegue reunir forças para hegemo-
nizar o movimento político ou social. Estes partidos mostram-
Ano Nº De Eleitores se até hoje incapazes de estruturar uma frente política com
1982 734.325 força para hegemonizar uma aliança com as forças de centro-
1.165.688 esquerda e liberais; e assim, não criaram um novo bloco
1988
histórico capaz de traduzir uma correlação de forças política
1989 •
1.270.552 e socialmente mais avançada que a conhecida até agora .
'

1991 1.352.507 Refletindo sobre a luta democrática nos anos 80 e a


852.290 necessidade de novas política para as forças progressistas,
1992
Herbert José de Souza (1980:121-2) coloca que:
Fonte: TRE
"... a vertente democrático-popular deve ser capaz não só de
Gomes, apenas 23% do eleitorado registrado confirmou sua contrapor teórica e ideologicamente seu projeto ao do bloco
existência. Meio milhão de votos a menos levanta suspeitas burguês, transformá-lo na força aglutinadora e mobilizadora do
conjunto de classes subordinadas, mas também transformá-lo
sobre todos os últimos resultados eleitorais, principalmente
em um movimento político, cujo objetivo fundamental é
sobre as eleições de 1990 (ver Quadro 27). conquistar todas as linhas de luta em tocas as trincheiras da
Em geral, as respostas da esquerda à política da oligar- sociedade.(... ) Outro problema político central para a vertente
quia alagoana carecem de consistência, o que ora a leva a democrático-popular é como aliar-se, nesta etapa, à vertente
posições ultra-radicais, caindo no isolamento, ora ao pragma- liberal e simultaneamente desenvolver a fundo seu projeto com
tismo reboquista e, até por vezes, adesista. Sem conseguirem vocação hegemônica. Em outras palavras, como desenvolver seu
definir-se como aliadas estratégicas na construç'ã o de uma projeto no contexto e nos marcos da questão será dada por sua
outra sociedade, as organizações de esquerda perdem-se no capacidade de aliviar-se sem alienar-se, de concentrar-se no
desenvolvimento de suas forças, de suas bases, isto é, ,to
labirinto das pequenas discussões. Mergulhada em dificulda-
'I
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movimento popular. Este desenvolvi!11ent? supõe a _definição de mente atrasadas. A vida partidária, que somente existe nos
uma estratégia de conquista de trincheiras ao nivel da luta períodos pré-eleitorais, é uma marca da cultura política que o
ideológica, econômica e política. MDB/PMDB moldou entre 1965 e 1982 e que a esquerda
herdou e mantém até os dias de hoje. A fragilidade das
A experiência de 1986 na Frente Po~ular~ na qual
estruturas dos partidos e organizações de esquerda constitui
partidos de esquerda hegemonizavam uma co~igaç~o ?nde se um problema crônico. Pequena, sempre com problemas
incluía o Partido Liberal, diferentemente da coligaçao lidera~a
financeiros, refletindo uma sociedade polarizada entre os
pelo PMDB, no mesmo ano, onde a hegemonia pertencia
muito ricos e os muito pobres, a esquerda em sua opção pela
claramente às forças conservadoras oriundas do PDS pa~a maioria, trabalhadora ou não, vê-se diante de um quadro
apoiar O projeto Collor, demonstra a ne~essidade de se refletir absolutamente desolador.
sobre a possibilidade da esquerda ampliar seu espaço sem, no
Partidos com pouca vida orgânica (sem reuniões
entanto ceder no essencial ao projeto conservador.
regulares, debates internos, elaboração de políticas setoriais,
A falta de projetos a apresentar é uma das difi~uldades
publicações periódicas, etc.) ficam prisioneiros dos chefes
adicionais para a esquerda nas eleições desta década. A
locais e dos poucos abnegados filiados. A pouca vida partidá-
ausencia e e con onto entre os programas favorec: a _c.rreita,
ria é concentrada em Maceió. Falta a esses partidos recursos
que joga com a inércià (pois tem o P?~er economic~ e a materiais para que se mantenham funcionando e, ainda assim,
máquina do Estado nas mãos) e, no maxi~o, numa atitude
não têm sedes estruturadas para as necessidades políticas
reativa, coloca pontos genéricos que podem alimentar_ qualquer
locais; carecem de recursos financeiros para materializar a
tipo de discurso. -6,_esquerda.1, ~e~ _pro9ra~a ~ sem inovar ,n a discussão de idéias, processo que se daria pela elaboração e
forma de fazer cam anha fica prisioneira do r~~o apresenta- publicação de boletins, jornais e livros, criando condições para
º pe o esquema tradici · al e a cada eleiçao te~ta, em o exercício da investigação, da reflexão e da crítica. Como não
· esespero, via ilizar algum ~?m~ para representa_-~ª no têm estrutura financeira, não podem formar nem manter
earlamento. Nem mesmo a ~eg~encia de derrotas mob1l1za os quadros profissionais qualificados. Falta-lhes recursos huma-
setores de esquerda para uma reflexão e uma mudança de
nos para efetivar suas políticas. A emigração de quadros para
comportamento. . outros Estados sangra-lhes o seu potencial 12• A luta constante
· Nenhum partido de esquerda ou o conJu~to _desses
para sobreviver faz com que os raros militantes, os seus "inte-
partidos apresenta à sociedade al~goana uma ~1reça~, um lectuais orgânicos", pouco produzam para estas organizações,
projeto político que expresse o movrmento: as aArt1culaçoes, ~s
inquietações dessa sociedade. Como nao tem expressao 12
estadual - estão todos concentrados em Maceió - não refletem O período ditatorial praticamente anulou a possibilidade de forniação
as inquietações dos setores sociais de maneira ar~culada. A de quadros progressistas. No primeiro momento houve a prisão de todos os
militantes de esquerda. Posteriormente a emigração levou uma parcela desses
incapacidade desses partidos de express~r a soc1eda~e, de quadros e os que aqui ficaram tiveram que conviver com a dura repressão.
interpretar suas tendências e. l?ropor pr?J~tos alternativos é Passado o período ditatorial a esquerda sofreu com a morte prematura de
agravada por sua imensa fragilidade organ1ca. alguns de seus militantes e a constatação de que os projetos dos seus partidos
não eram suficientemente interessantes para engajar dezenas de quadros
(d) A Fragilidade Orgânica. A fragilid~de das ins~i~i- experimentados, que preferiram outros projetos que não o da militância
Jlolítica. O escritor alagoano Luís Nogueira, nos seus ensaios, batizou este
ções, partidos incluídos, é uma marca das sooedades pol1t1ca- ít•11ôn1 no de "geração dispersada".

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;
'

ao tempo em que por falta de uma política mais clara não trocam de programa com a mesma facilidade como mudam de
conseguem atrair a intelectualidade pro~ressista: A po~~eza da discurso.
esquerda a faz pragmática, sem conseguir planeJar políticas de . . A esquerda, no que pese suas dificuldades, consegue ser
médio ou longo prazo, concretizando alianças determinadas distinta dessa geléia partidária. Uma reflexão de Umberto
pela necessidade de sobrevivência material. Cerroni (1982:22) esclarece:
Um reflexo deste quadro é a inexistência de uma
imprensa sindical ou ligada aos movimentos políticos de "... o partido político pode ter duas variantes: um partido
caráter popular, onde a e~querda atua priori!ari~mente. políti~o d~tado de certa organicidade geral - mesmo que
Excetuando a preocupação isolada de alguns s1nd1catos - aproximativa -, de uma mescla entre política e cultura, entre
urbanitários, bancários, médicos e jornalistas - o movimento de polí~ica e concepção de mundo, e um partido político que é, na
trabalhadores não tem comunicação regular com a base que realidade, apenas um subpartido (Gramsci o denomina de
diz representar. Referindo-se à política de controle da impren- ''fração de um partido maior"), um sub-partido dotado apenas
de uma sub-cultura e que pressupõe ou exige tacitamente, de
sa local por parte dos grupos econômicos e do Estado que os um "partido maior", a exposição e funcionamento no que se
representam, Joaldo Cavalcante diz: "... a verdade é que Pº: trás refere à concepção do mundo e da vida. "
de todas essas práticas circunstanciais existe uma estrutura sedimen-
tada para coibir o exercício pleno ~a liberd~de de imprens~ _e, numa . As organizações de esquerda têm um patrimônio - a
outra dimensão, manter a comunidade desinformada, politicamente seriedade_ provada em várias circunstâncias, o permanente
desorganizada e a serviço da multiplicação da fortuna de uma c~mpromisso com a ~udança social e uma militância despren-
minoria privilegiada" (Cavalcante,1987:24). dida - que lhes permite perspectivar uma situação diferente. da
Um fato que merece estudo e reflexão da esquerda que hoje se encontra. Mesmo diferenciando-se dos partidos
alagoana hoje, é a experiência da imprensa comunista em c~nservadores, a esquerda, por sua fragilidade, fica abalada
Alagoas entre 1946 e 1964, quando o PCB manteve o semaná- diante de qualquer conjuntura regional desfavorável.
rio "A Voz do Povo". Impresso com imensas dificuldades, o
jornal comunista intercalava períodos de plena legalidade . (e) A Conjuntura Regional. A conjuntura regional a
(1946/7 e 1956/1964) com fases de intensa repressão, co~~ n~s •
p_artir de 1986 e a conjuntura nacional, a partir de 1989,
Governos Silvestre Péricles e Arnon de Mello. Essa experiencia aJudam a explicar o declínio da esquerda. As vitórias de
pode ser um indicativo de um caminho para os partidos de Collor, em 1986 para Governador, contando com a oposição da
esquerda atualmente sem canal regular de comunicação com maioria dos partidos da esquerda alagoana e, em 1989, · para
a sociedade alagoana. Presidente da República, quando a esquerda entrou em bloco
Mesmo pobres e pequenos, esses partidos - PSB, PT, como adversária de sua candidatura, colocaram um novo
PCB/PPS e PCdoB - esforçam-se para se manterem atuando ingrediente na política regional.
dentro de uma linha coerente com seus programas e estraté- Diferentemente dos governadores do período autoritário
gias. São partidos vincadamente comprometidos co~ mudan- (1965-1985), Fernando Collor não caracterizava de forma clara
ças políticas e sociais, diferentes da legendas cartoriais que, ao a representação política da oligarquia alagoana. Naquele
longo desta última década apareceram e, da. mesma forma perí~d? era_ relativamente fácil identificar politicamente a
rápida como chegaram, se foram com seus chefe.s e líderes, que admm1straçao estadual colocada no Palácio dos Martírios

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graças à intervenção dos militares ou a eleiç?e_s como~~ !982, sem projeto maior e sem nenhuma originalidade, estava mais
onde as regras do jogo dificultavam ao maX1Ino a vitoria de preocupado em viabilizar a campanha de Collor à Presidência
uma candidatura oposicionista. Político hábil, Collor soube em Alagoas e para isso administrava as disputas entre os
cercar-se de quadros da oposição, absorver o discurso progres- grupos políticos do interior e encaminhava a sucessão estadual
sista - que não era o seu, quando prefeito biônico de Maceió que resultou na eleição de Geraldo Bulhões. Como prêmio pelo
e deputado federal pelo PDS - e apresentar-se com uma cumprimento das tarefas, foi nomeado para dirigir a Secretaria
imagem moderna. Eleito com uma plataforma avançada, que Nacional de Irrigação. Geraldo Bulhões escolhido num
incluía a defesa da reforma agrária e do meio ambiente, processo questionado pelas inúmeras fraudes eleitorais
combate à corrupção e à impunidade, mudanças nos sistemas registradas pelo TRE, retoma a política em linha direta com as
de saúde e educação, conseguiu um forte trânsito juntos aos tradições mais conservadoras. Movimentos sociais são casos
movimentos sociais, principalmente o sindical rural e comuni- para tratamento policial. A impunidade ainda é mais efetiva.
tário, o que denunciava uma significativ~ mu~~nça polític~ _em A influência do governo estadual nas eleições municipais
relação aos seus antecessores, sempre identificados politica- mantém-se e nenhuma mudança positiva é sentida nas
mente com a representação dos grupos mais conserva?~res. políticas públicas.
Essa nova política deixava a maioria da esquerda, no minimo, A eleição de Collor à Presidência significou uma
paralisada. intervenção ainda mais pesada em Alagoas. O apoio do Palácio
Aos poucos essa política foi se esvaindo. O posiciona- do Planalto a grupos locais tornou ainda mais desigual a
mento contrário à localização do Pólo Cloroquímico no disputa antes limitada a adversários que obtinham o apoio, no
complexo lagunar transformou-se numa defesa intransigente máximo, do Palácio dos Martírios. Em 1990 evidenciou-se esse
da instalação de novas indústrias no mesmo local que antes 1 tipo de intervenção estatal, demonstrando que a "República de
Collor condenara; a ameaça de tomar terras de usineiros Alagoas" não era apenas uma brilhante invenção jornalística.
inadimplentes junto ao Banco do Estado deu lugar a um Em determinado momento, alagoanos ocupavam o Ministério
acordo - no qual o Estado obrigava-se a devolver _o IC~S pago ~a Ação Social, a LBA, a Secretaria Nacional de Irrigação, a
pelos usineiros em safras passadas - que, de tao lesiv~, aos liderança do Governo no Congresso Nacional, a Secretaria-
interesses públicos, o vice-governador tratou de denuncia-lo; Geral do Ministério da Educação, a Superintendência da
a ilusão inicial de uma convivência entre Estado e movimentos SUDENE, a Presidência da EMBRA TUR, a Secretaria do
populares foi substituída pela realidade da repressão policial Ministério da Saúde e a Secretaria Especial da Presidência da
aos movimentos grevistas e toda a propaganda em torno das •
República, órgãos naturalmente com forte poder de influência
mudanças no setor estatal não escondeu a inconsistência das sobre o Estado de Alagoas.
políticas públicas - principalmente a educacional e de s~ú~e Era uma questão institucional delicada para um Estado
pública - implicando tudo isto num afastam~nto da a~mirus~ extremamente dependente do governo federal em termos de
tração estadual da maioria dos "companheiros de viagem recursos financeiros. O reforço dos setores mais conservadores
oriundos do PMDB e na caracterização da administração pelos vários órgãos públicos federais dificultava a ação das
Collor como mais um governo conservador. forças de oposição. Para muitos, essa foi uma das razões da
A política instaurada por Fernando Collor foi parcial- ?iminuição da esquerd~ no mapa regional. Mas as regras do
mente modificada pelo seu sucessor, Moacir Andrade, que, Jogo estavam estabelecidas e coube à esquerda, no pla110

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

nacional, mostrar que seria difícil marchar rumo à jus!iça social "... além de um resultado contingente de conflitos, tem que ser
e à igualdade de oportunidad,e~ num quadro que nao f?sse o um programa político. Não, pelo menos não necessariamente,
da institucionalidade democrat1ca, com todas as garantias do um programa partidário, mas certamente de vários partidos, os
quais, a despeito de suas muitas divergências sobre outras
Estado de Direito.
questões, terão que inscrever a construção da democracia como
A campanha pró-impeachment mobilizou a socie_d~~e a primeira de suas prioridades. E mais: terá que ser um
alagoana e permitiu à oposição comemorar uma v1tor~a programa rião só dos partidos, por plurais e numerosos que
política13 • A posse de Itamar Fr~nco em uma nova co~:pos1- sejam, mas também de instituições intelectuais, culturais, reli-
ção partidária, incluindo os par~d?s de esquer_da, I?odifica a giosas, sindicais, profissionais, etc. Em uma palavra: terá que
conjuntura vivida desde 1986, al1v1ando a tensao cr1ad~ pelas ser uma cultura organizada"
consecutivas vitórias de Collor em 86 e 89 e a de Bulhoes em
1990. O novo governo federal assume tomando posições de E dentro da perspectiva de ser poder, a esquerda
neutralidade quanto às decisões políticas em Alagoas, repre- aprendeu em suas várias experiências de governo que ".. .as
sentando um avanço para as forças democráticas, permitindo questões da vida social e econômica não podem ser vistas como
disputas entre forças políticas sem o auxílio desigual represen- alheias ao sentido de uma democracia moderna .. Todos sabemos que
tado pela maciça intervenção federal. um dos impulsos importantes da democratização é o crescimento do
emprego, a correção da desigualdade social extrema, a redistribuição
da renda, etc. " (Weffort, 1988:27); ou seja, para haver democracia
política em Alagoas tem que existir uma política eficaz de
NOTA FINAL reversão do quadro herdado do período colonial que, por não
ter sido modificado no período republicano, persiste em se
apresentar por meio de todos os indicadores sócio-econômicos
A esquerda fez uma clara opção pel~ via democr,á!ica conhecidos. Essa situação herdada dificulta enormemente
para chegar ao poder, aceitando as regras do Jogo democr~tico, qualquer política que aposte na organização autônoma da
definindo sua estratégia de aprofundamento da demo~rac~a, n~ sociedade civil, pois a forma de Estado que tem Alagoas é bem
medida em que "democracia é o único regime que organz~a; z~to e, diferente do tipo liberal-democrático vigente no Estado
institucionaliza, o consentimento popular, sem o qual a legztzmz1ade capitalista moderno que, "... pôde e pode coexistir (ainda que numa
parece" (Weffort, 1988:24). A democracia, para Francisco relação de integração/contradição) com formas políticas criadas pelas
Weffort (1988:29): classes subalternas em seu processo de autodefesa, de luta contra os
interesses das classes dominantes" (Coutinho, 1987:50).
O fortalecimento da sociedade civil, ou seja, o crescimen-
13
O isolamento do Governo Collor era tão evidente que até a bancada to de formas autônomas de organização e movimentos
alagoana na Câmara dos Deputado~ votou Apelo_pedido de afastamento do populares e de trabalhadores, é condição primeira para o
Presidente. Cleto Falcão, Jose Thomaz Nono, Luiz Dantas, Mendonça Neto, sucess·o de qualquer projeto de mudança, pois dela é que surge
Olavo Calheiros e Roberto Torres disseram "sim"; Antônio Hollanda e o apoio 1!1-ais amplo para as alterações no quadro social
Augusto Farias não foram votar e Vit~rio Malta disse "não".AN_o pr_ocess~ de vigente. "E necessário conceber a estratégia socialista como uma luta
irnpeachrnent, realizada no Senado, Divald~ Suru~gy e Teoton10 ~1l~la F1l~o
votaram pela cassação e Guilherme Palmeira retirou-se do plenar10 e nao de longo prazo, que tenda a articular a luta parlamentar com a luta
votou.

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

por diversas formas de democracia diret~" (Lacl~u: 1980:136). , prefeituras administradas pela esquerda em Espanha. As
A construção de uma alternativa politica no Estado e vitórias das coligações progressistas em várias capitais
seguramente a principal questão colocada para os partidos de brasileiras, em 1992, merecem uma discussão por parte da
esquerda. Uma alternativa capaz de articular respostas esquerda alagoana.
imediatas e que ataque a crise conjuntural como, por exemplo, Falta nitidez nas propostas dos partidos 5Íe esquerda na
as propostas do Fórum de Desenvolvime~t? lider~d~ pel? disputa política a partir da redemocratização. E um fenômeno
Governo Fleury (PMDB) em São Paulo, a politica administrati- nacional no qual Fernando Henrique Cardoso (1991:9) distin-
va do Governo Ciro Gomes (PSDB) no Ceará ou as alternativas gue os dois tempos de atuação das forças democráticas:
de administração municipal popular de Jacó Bittar (PDT) em
Campinas ou de Luíza Erundina (PT) em São Paulo. Alterna- "... as oposições tendo ganho a batalha contra o autoritarismo,
tivas com propostas que não sejam limitadas pela crítica tão não souberam vestir a camisa das lutas econômicas e sociais. '
somente ideológica, razão de um discurso cansativo, desgas- Ou melhor, não souberam vesti-la por conta própria; discutem
e torcem pelos atos do Executivo, criticam-nos e mesmo os
tante e anacrônico, mas baseadas numa democratização radical apoiam quando coincidem com seu ideário partidário, sem, no
da gestão, reforma administrativa e participação popular nas entanto, "politizar" a questão.
decisões importantes. . O que quer dizer, neste sentido, "politizar"? Quer dizer
Depois de tantas derrotas, com pouca perspectiva de mostrar a ligação entre atos e práticas. Não havendo esta
ampliar forças e utilizando como critério de avaliação para ligação, um governo "conservador" pode ter seu caráter
qualquer política o seu resultado e não suas intenções, pod~-~e confundido por ter praticado um ato "progressista", e vice-
então chegar à conclusão de que deve ser alterada ~ estr_a~e9ia versa. ,
- se assim se pode denominar - que somente permite vitorias E isso que desconcerta o eleitorado e faz dos políticos,
especialmente dos parlamentares, ao ver do povo, ''farinha do
dos representantes das forças políticas e sociais conservadoras, mesmo saco ".
como tem sido a regra até agora.
As experiências da Frente Ampla no Uruguai, a Unidade Possivelmente, se planejassem uma estratégia de longo
Popular no Chile, a Esquerda Unida na Espanha - frentes prazo, os agrupamentos de esquerda poderiam fazer com que
político-eleitorais com características perenes, congi:_egando as exigências de trabalho comum, embasadas nos testes de
todos os partidos de esquerda, que, no entanto, mantem suas 1986, 1988, 1989 (segundo turno da campanha presidencial) e
identidades próprias - podem ser exemplos positivos de como 1990, servissem para que a Frente Popular pudesse criar raízes,
partidos pequenos, sem recursos financeiros, com poucos cristalizar sua imagem junto à população, consolidar-se como
quadros experimentados e profissionalizados, somam suas •

opção política permanente e não conjuntural. Esta alternativa


forças e enfrentam as grandes e tradicionais representações os levaria a uma estrutura sólida em termos de recursos

conservadoras. O programa desta frente é discutido regular e humanos e materiais, mantendo, ao mesmo tempo, a identida-
periodicamente, e as bandeiras que o compõem unem for~as de partidária de seus integrantes. Nesta perspectiva os
políticas que têm da população o crédito que lhes permite partidos de esquerda poderiam trabalhar a longo prazo, para
vencer importantes eleições. São exemplos deste modo de que se constituísse uma organização político-eleitoral com
organização a eleição de Salvador Allen~e,no Chile, em ~9!3; feição nítida, ao invés de um processo de aglutinação de
a vitória para a Prefeitura de Montevideu, e/ ou as varias 111ovimento de protesto sem nenhuma vocação de governo,

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reunindo uma frente política capaz de travar uma disputa do governante como chefe salvacionista carismático, que
politizada com a representação conservadora, promovendo abandona as mediações institucionais e se relaciona diretamente
como o "povo"); sentimento difuso de que as leis são meras
rupturas com o passado político e respondendo aos anseios de
cristalizações de interesses minoritários e de privilégios (mere-
mudanças reais da maioria dos 2,5 milhões de alagoanos. cendo aplauso quem as transgride para o "bem do povo", já que
Uma frente progressista capaz de romper com a cultura não são reconhecimento e garantia de direitos); medo da vida
do bipartidarismo, construindo a alternativa política que fosse urbana com suas inseguranças, violências e misérias e a
além das soluções para o drama sócio-econômico da população impossibilidade de frear a urbanização por uma reforma agrária
alagoana, embasada na ampliação das conquistas democráticas (pois esta causa um medo mai'or, o do "comunismo"); ressenti-
como também na eliminação da miséria social. Uma proposta mento nacionalista contra o atraso terceiro-mundista e desejo
distinta que privilegie a questão democrática. de aceder à sociedade de abundância do Primeiro Mundo
(aderindo a todo aquele que prometer realizar essa passagem e,
Democracia política que se traduz principalmente pelo
portanto, ser "moderno"); o descrédito do "socialismo real" e o
fim do crime organizado, do império da violência policial e de alívio com a paralisia da utopia socialista (aderindo a todo
sua resultante: a impunidade. Os dados sobre violência são aquele que afastar a 'ameaça vermelha')".
assustadores, em qualquer período. A "Tribuna de Alagoas" '
(24/9/87) fez um levantamento: entre 15 de março e 15 de 1 Os dados sobre a eleição municipal de 3 de Outubro de
agosto de 87 ocorreram 400 assassinatos em Alagoas. Numa 1992 não deixam margem sobre a fragilidade, no âmbito
comprovação da impunidade reinante e, muitas vezes, do estadual, da representação política dos partidos de esquerda,
1
envolvimento policial, apenas 53 pessoas estavam presas ou depois de sete disputas eleitorais. A experiência política
respondendo a processo. Exatamente como denuncia o diário acumulada entre 1982 e 1992 não foi suficiente para que a
Folha de S. Paulo: "números da Secretaria de Segurança do Estado esquerda, através de seus partidos, tivesse um projeto unifica-
mostram que de dez crimes ocorridos no Estado [de Alagoas], em do, capaz de romper a cultura da polarização entre grupos
sete há envolvimento de policiais" (FSP:8/ 4/92). Trata-se da conservadores. A vitalidade demonstrada em 1982 foi cedendo
concretização do Estado de Direito através do qual se instalem lugar a uma progressiva debilidade, explicada pelas sucessivas
os mecanismos de defesa da cidadania e da participação derrotas nos projetos defendidos por estas correntes de
coletiva em todos os níveis de decisão, a exemplo das expe- esquerda a partir de 1985.
riências municipais bem sucedidas, como nas "administrações O resultado final, no plano estadual, aponta, com
participativas" de Piracicaba/SP e Lages/SC. certeza, para a necessidade de modificações nas políticas
Uma frente política que reverta o quadro de poder destes partidos. A próxima eleição, em 1994, cujo ensaio geral
instalado, poder que tem sua legitimidade (que produz foi o pleito de 3 de Outubro, exigirá da esquerda uma nova
obediência e adesão) fincada, como diz Chauí (1992): tática eleitoral. Fragilizada como se encontra, conseguirá ser
apenas um elemento decorativo nas composições conservado-
"... sobre as raízes profundas da história e da sociedade brasilei- ras. Trabalhando em outra perspectiva, poderá ser uma
ra: desconfiança face à política (como ação coletiva) e aos alternativa real para a modernização política em Alagoas.
políticos (como representantes); percepção da política como
espaço de privilégios, corrupção e impunidade; desprezo pelo
Estado (enquanto ineficiência corrupta dos funcionários) e
desejo de um Estado forte (enquanto identificado com a pessoa

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Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise Alagoas 1980-1992: a esquerda em crise

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