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organizadora

.
...' .
--'"

_ SOCIEDADE CIVIL
E ESPAÇOSPÚBLICOS
· no Brasil·

EB
PAZ E TERRA
roduto de um amplo pr~jeto de in- EVELINA DAGNINO
P vestigação nacional, vinculado a
umapesqw•sa comparativa envolvendo
(organizadora)

pesquisadoras/es em 22 países, este


importante volume oferece abor~-
gens analíticas incisivas e dados em~1-
ricos inéditos sobre um amplo e vana-
do leque de experiências da socie~~e
civil brasileira, realçando a sua partla-
pação em diversos tipos de espaços
públicos constituídos na última déca-
da. Por meio de seis detalhados e rigo-
rosos estudos de caso - que abrangem
várias regiões do Brasil e incluem uma SOCIEDADE CIVIL
vasta gama de atores, temáticas, inser- E
ções institucionais e formatos organi- ESPAÇOS PÚBLICOS NO BRASIL
zacionais - o livro traz uma instigante
leitura sobre as contribuições do campo
da sociedade civil para o processo de
construção democrática, avaliando seus
avanços,contradições e desafios. Os ca-
pítulos que examinam essas experiên-
cias rejeitam conclusões fáceis que nos
levariam, por um lado, a celebrar a so-
ciedade civil "virtuosa" ou, por outro, a Esta edição contou com a participação do Convênio Sociedade Civil e Espaços
"demonizar" o Estado. Em vez disso, Públicos no Brasil, Fundação Ford/Instituto de Filosofia e Ciências Humanas -
nos oferecem novos marcos conceituais UNI CAMP
e panoramas empíricos capazes de tor-
nar mais agudas nossas análises sobre o
\ potencial desses "encontros" e outros
/ espaços públicos recentemente consti- MEC/UFF/NÍ)~C- !J._ . Mattrial : Li1To ")
Fornecedor:j)f ·. ~ N. F iscal n". \ 1 t-
tuídos para a extensão e o aprofunda- Prcço.:2,J_ O N" Item: ~~ 4
mento da democracia. Unidade . I Nº do e mpenh o /

Sintetizando os principais resulta- ~ ~ ) h) ~ O,ô j 4(p5


dos dos estudos de caso sobre o Bra-
sil, um dos capítulos finais, de autoria
da organizadora deste livro e coorde-
nadora da pesquisa nacional, desen-
volve uma análise provocativa da o
UNICAMP
~
PAZE TERRA
© by Evelina Dagnino

CIP.Brasil. Caralogação•na•fonre Índice


Sindicam Nacional dos Ediroresde Livros, RJ.

5662

Sociedade civil e espaçospúblicos


no Brasil / Evelina Dagnino (organizadora). -
São Paulo : Paz e Terra, 2002

ISBN 85•2 l 9•0440• l

1. Sociedade civil - Brasil. 2. Espaços públicos - Brasil.


3. Democracia. I. Dagnino, Evelina.

02.0014
c oo .30 1
c o u .3 16
Apresentação............................................. .................................................. 7
000133
~ .,J:APíTULO 1. Sociedade Civil e EspaçosPúblicos no Brasil- Evelina
"'
Dagnino ............. ............... ........................................................................ . 9

CAPÍTULO2. O Orçamento Participativo: As Experiênciasde Porto


Alegree Belo Horizonte - LeonardoAvritzer ........................................... . 17

CAPÍTULO3. Os Conselhos Gestorese a Democratizaçãodas Políticas


Públicasno Brasil- Luciana Tatagiba .............. .............................. .......... 47

CAPÍTULO 4. A Atuação das Organizações Não-Governamentais : Entre


o Estado e o Conjunto da Sociedade -A na Cláudia ChavesTeixeira........ 105
EDITORA PAZ ETERRAS/A
Rua do li ·iunfo, 177
SantaI figêni s- P CAPÍTULO5. Os Fóruns Temáticos da Sociedade Civil : Um Estudo Sobre
ª:.ªº aulo, SP - CEP O1212.0 1o
o Fórum Nacional de Reforma Urbana - CarlaAlmeida Silva .................
ld .: (OI 1) 3337.3399 143
Rua Gencn l V, • •
. , cnanc,o Flores, 305 . sala 904
Rro de J~'.1ciro, RJ- CEP 22441-090
~ CAPÍTULO6 . As Relações entre o Movimento Sem Terra (MST) e o Estado :
lei.: (021) 2512.8744 Programas de Alfabetização de Jovens e Adulros no Paraná - Maria
E·mail:vcnd· @ Antônia de Souza ...............................•..••••••••••..•......................................... 187
H as pazcterra.com.br
omc Page·w
· ww.pazererra.com.br
CAPÍTULO7 . O Conselho Cearense de Direitos da Mulher/ CCDM _
Espaço de Interlocução entre as Demandas dos Movimentos de Mulheres
2002 e o Estado - Gema Galgani5. L. Esmera/doe MagnóliaAzevedo Said ......
lnrpn:sso no B . 229
rasi// Prilited Íli 8mzi/
- . d d c·vil Espaços YúDHcos e a \...,Unscruçao
~., 8 Soc1e a e 1 ' . .. .
~ CAP[TUW_ · l Limites e Poss1b1ltdades - Evelma Dagnino
Democráuca no Bras1. ..

. d d Civil e Governabilidade Democrática nos And


eAPfTuLO 9· Socte a e
U V ~ 0 Panorâmica na Entrada do Século XXI _ Ald,
es e
no Cone Sul: ma isa . . o
Panftchie PaulaValeriaMufzozChmnos .............................................. .
Apresentação
• dade Civil e Governabilidade no México - Alberto
CAPfTULOl O· Socte
J O/vera-··································································································· 33I

Sobre os Autores ····· ... ..... ....... .. .. .. . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 363

Este volume apresenta os resultados do projeto de pesquisa "Sociedade Civil e


Espaços Públicos no Brasil", realizado durante os anos de 1999 e 2000 como parte
de um projeto internacional intitulado Civil Societyand Governance,desenvolvido
em 22 países, sob a coordenação do Institute of Development Studies - IDS, da Uni-
versidade de Sussex, na Inglaterra , e financiado pela Fundação Ford. Com a inten -
ção de permitir ao leitor inserir o caso brasileiro no panorama mais amplo da socie-
dade civil na América Latina, incluímos também análises dos resultados gerais do
projeto em outras regiões do continente : México, Andes (Peru e Colômbia) e Cone
Sul (Argentina e Chile) .
A realização do projeto possibilitou, ao longo de dois anos, um intenso proces-
so de discussão sobre a temática da sociedade civil, tanto no âmbito nacional quan -
to no latino-americano e internacional gerando inúmeras reuniões de trabalho,
seminários e debates, que reuniram os pesquisadores , coordenadores e debatedores
convidados, bem como ativistas da sociedade civil. A diversidade das experiências
empíricas e das visões - teóricas e políticas - que atravessava esses vários espaços
de debate contribuiu para a riqueza do processo e para um alargamento do univer -
so de referências sobre a temática . No Brasil, a partir dos seis estudos de caso rea-
lizados, o projeto possibilitou o início de uma avaliação sobre a experiência recen-
te de constituição de espaços públicos de vários tipos, apontada como uma das
grandes novidades do nosso - difícil - processo de construção democrática. O
impulso democratizador da participação da sociedade civil nesses espaços - seus
limites e suas possibilidades - é o grande eixo articulador das páginas que se

7
• ue essa avaliação possa vir a co ntribuir para d
r ,
a mten çao e q . d o ebat
seguem. N oss . lm ente , sobre as perspectivas e seu aprofund e '}
bre esse processo e, especia arnento
SO . . CAPÍTULO 1
na sociedade brasi1eira. d , Fundação Ford e especia lm ente a Elizabeth l
, os de agra ecer a . eeds
Gosranam . 0 apoio constante ao proJeto . Somos panícula '
. , . d O Rio de Janeiro, b Ih rrnen-
do escnrono mpanharam o no sso tra a o e co ntribuír am d .
d batedores que aco ( ec1-
te gratos aos e . ersões: Pedro Pontu al Ação Educativa), Sonia E
uas sucessivas v , . . . Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil
sivamente nas ~ . d d Ca lifórnia, San ta Cruz), Serg10 Baierle (CIDADE, Porra
d Universida e a (U · ·d
Alvarez ( a li ( NJCAMP) e Zander Navarro niver s1 ade Federal d
h l Menegue o U o
Alegre) , Rac e . Peter Hout zager e John Humphrey (do fDS-Uni-
d d O Sul) assim como Evelina Dagnino
Rio Gran e ' de Estudo s sobre a Co nst ru ção Democrática do Insti-
º.
versity of Sussex). Gr~poH
·1 fi e Ciências uman a
s da UN ICAMP participou inten samente do pro-
. .
curo de Fi oso 1ª l .d longo do projeto e foi um Interlocutor valioso.
. r o desenvo Vl o ao . , .
cesso d e d iscussa fi h . denadore s do proJ eto no Mex1co e na região
1 Aldo Pan ic l , coor
Alberto O vera e ·th , ios do s nossos d esafios e genero samente ajuda-
Sul comparti aram var . . .
An des-eone ' Ih lém das fronteiras na c10na1s, na perspecti va de
d r o nosso o ar par a a . . -
ram a est en e . b O papel da socie dade c1v1l n a construçao da
l ·no-amencana so re .
uma reflexao an
r

. F. ai te agradecemos ao In stituto de Filosofia e


· continente . m men ' . . .
d emocraoa no brigou O projeto e forneceu o apoio msmu-
Ciências Humanas da UNICAMP, que a
A sociedade civil brasileira, profundamente marcada pela experiência autoritá -
cional necessário. ria do regime militar instalado em 1964, ~xperimenta, a partir da década de 70, um
Evelina Dagnino significativo ressurgimento . Esse ressurgimento, que tem como eixo a oposição ao
~Estado autoritário, foi tão significativo que é visto , por alguns analistas, como de
fato 3!-fundação efetiva da sociedade civil no Brasil, já que sua existência anterior
estaria fortemente caracterizada pela falta de autonomia em relação ao Estado
,,(°i vritzer , 1994) .
~ - Considerada ~ l!nico núcleo possível de resistência a um Estado autoritário, a
( / soci~ad ;ci vÚ~ e organizou de maneira substancialmente unificada no co~ba~ a
êsse Estado, desempenhan _do papel fundamental no longo processo de transiçã~ .
democrátic a. A luta unificada contra o autoritarismo, que reunia os mais diversos
setores sociais 1inovimentos sociais de vári os tipos , sindicatos de trabalhadores , asso-
ciações de pro fissior:ais - como advogados , jornalistas -, universidades, Igrejas ,
imprensa , partidos políticos de oposição, etc.), contribuiu decisivamente para uma
visão _homogeneizada da sociedade civil, q_ue deixou marcas p~oJui:i~~s no 1e~a~ ---
teórico e político sobre o tema . .
- -Apa -rtir dá .volta da vigência das instituições democráticas formais básicas (elei -
ções, livre organização político-partidária , liberdade de imprensa, etc .), o ava nço
do processo de construção democrática contribuiu para explicitar os diferentes
projetos político s que se definiam, expressando visões diferenciadas inclusive
quanto aos rumos de sse proces so, tornando assim mais clara a própria heteroge-
neidade da soc iedade civil. Além di sso, o retorno dos mecani smo s democr áticos

9
. . ~ !'ricas acentuou o reconhecimento da irnp ,
d . snru1çoes po I • Ottanc·
no níve1 as m . ,. e enraizados histoncamente , ordenarn .'ª dos
. aurontanos qu ' . e a socied
mecanismos . ntribuindo assim para rorta lecer uma visã0 ade va~no ~itmo da ~emocratização. O agravamento das desigualdades sociais e econô-
·1 · seu conjunto, co . . . que]0
bras1eJrano . 110 próprio terreno da sociedade civil e não ca. micas e um efeito amplamente reconhecido da implementação dessas políticas.
. I pela democracia , . ªPenas
liza a uta Id medida em que o retorno as mstituições for . no Menos notórias são as suas conseqüência
s sobrea capacidade de mobilizaçãoe organi-
Esrado. Por outro . _
a o, na - . d
duziu O encammhamento a equado por pane d s,.
rnais bá. zaçãopolíticasda sociedadecivil, especialmente dos setores populares e das classes
da democracianao pro . 1 , . o Esta médias, duramente afetados pelo desemprego e pela recessãoeconômica. ~ §fQ_!::-
~a_s d l são e desigualdade soc1a nas suas vanas express~ ·
d0 dos problemas e exc u - oes, fllas ~~0 -~~~_e~_!_~ ntes nas formas de atuação da sociedade civil como, por exemplo, a
. .d. m seu agravamento , aguçaram-se percepçoes que enfat'
antes comCI iu co O , . - d d . iza01 crescentei~p _0 rt! ~cia das organizações não-governamentais (ONGs),poderiam ser_
_ . _ radicalizaçãoda propna noçao e emocrac1a rnas tarnb.
não só a amp1iaçao e d d . ern analisadasnessa perspectiva.
. d d e. dar O controle do Esta o por part e a sociedade. E
a necess1dae e aprorun . . . h . , . xpres-
~ ~ s há na soCiedade brasdeua OJeuma enfase signifi .
, sando essas preocupaçoe , . . cativa
_ d a nova cidadania(Dagnmo, 1994). A redefinição da no _
na consrruçao e um . . . Çao O Desenho da Pesquisa
ç, de ci'dadama, . empreendida pelos movimentos soc1a1 . s e por. outros
. . setoressoeia1 · .s
na década de BO, aponta na direção de uma sociedade mais 1gualnária ern todos
A realizaçãodo projeto de pesquisa Civil Societyand Governanc e, proposto pela
~ os seus mve1 , ·s, ___
baseada no _ reconhecimento dos seus -membro · s como suieitosport
:; a- Fundação Ford em 22 países, adotou no Brasil, como seu eixo articulador central,
doresde direitos, inclusive aquele de participar efetivamente na gestão da socieda- a problemática dos espaços públicos. Há um conjunto de razõesque justificam esse
de. Além disso, apesar dos vários significados que esse termo tem adquirido nos recorte. Em primeiro lugar, eles configuram campos privilegiadosde análise do
últimos anos, como parte de uma disputa política pela sua apropriação, a ênfase eixo geral proposto para o projeto global da Fundação, que são as relações, os
na questão da cidadania aponta para a importância de assegurar uma das condi- encontros1 entre a sociedade civil e o governo e os modos como esses encontros
çõesmesmasde existênciada sociedade civil: a vigência de um conjunto de direi- podem ou não contribuir para o aperfeiçoamentodos governosna direção do avan-
tos, tomados como parâmetros básicos da convivência em sociedade. ço da democracia. Isso é evidente no caso dos espaçospúblicos que se constituem
Uma conseqüênciaconcretafundamental dessas visões tem sido a emergênciade como esforçosde controle social do Estado, visando a-m~i~rtransparênciae publi-
experiênciasde construção de espaços públicos,tanto daqueles que visam promover ~ o d~s políti~as públicas, ·assim como à participaçãoefetivana sua formulação
o debateamplo no interior da sociedade civil sobre temas/intere sses até então excluí- e setores da sociedade civil desprovidos de outras formas de acessoa espaços de
dos de uma agenda pública, como daqueles que se constituem como espaços de ~ ãõ: -No cãso dos espaços pú1Tícos c~n~tituídos no interior da sociedade civil,
ampliaçãoe democratizaçãoda gestão estatal. Estamos aqui nos referindo à imple- ~ âmbito local como em âmbito nacional- como por exem~lo, en~remui- V./1/ r
mentação, ao longo da última década, dos vários conselhos, fóruns, càmaras seto- tos outros, o Fórum Nacional da Reforma Urbana ou a Conferência Nacional de ' , -d.
riais, orçamentosparticipativos, etc. -- • . .., Saúde- , seu objetivo central é o debate entre interessesdiferenciadosque possa
~ r à ~; ção de cons;nsos e à formulação de agendas que venham a se
s~
Esse processode democratização, qu~ inicia com as lutas contra a ditadura
militare se estende aos nossos dias, sem previsão quanto ao seu término, não é li-
~;itpó bÍÍcase ~bjeto de consideraçãopor p_~_ne do.Es_~a~o. Nesse sentido, se a
·referê
n cíã aotsra do permanece presente, há uma dimensão adicional que enfatiza
near, mas deve ser entendido como desigual no seu ritmo , nos seus efeitossobre as
diferentes areas
' · 1 e po1ítica, combinando avanços, estagnaçãoe are'
da vi'da soc1a a organizaçãoe o fortalecimento dos próprios atores da sociedadecivile da sua arti-
culação, uma dimensão cuja relevâncianão deve ser obscurecidapela ênfase mais
mesmo retrocessos. Esse entendimento permite dar conta da complexa dinâmica
geral do projeto internacional, a qual compartilhamos, na interface direta entre
que apresenta ª-construção da democracia como um processo mulrifacerado que sociedadecivil e Estado.
resulta da disputa ent d' · · d · d de
.. . re IStlntos proJetos políticos que, no interior a soCJeª Além disso, a investigação dessesespaçospossibilitaria a análisede experiências
civil e dos diversos níve· dO ~ bre
. is aparato escara!,confrontam distinta s concepçoes so inéditase recentesem nosso país e o exame de váriashipótesesque têm sido levan-
a próp:1ªnaturezae os limites desse processo. tadasna literatura e no debate político sobre o seu potencialdemocratizante. Assim,
Assim, se a correlaçãod fi . · . ç·os
• e orças enrre esses vários pro1·etos permmu av.H1
importantes durante 0 fi I d . ..,
turai • . ma os anos 80, na década de 90 o efeito dos :11ustt'S ôflll 1. Adoramosaqui o termo "enconrros", utilizado também no co111c xto do projeto internacional, par.1designar, com
sconstitunvos das p0 1· · . ., · a amplitude e a flexibilidade que ele carrega, os vários ripos de relação que se esrabelece
m entre sociedadecivil e Estado.
iticas neo1iberais veio determinar dificuldades signibl.1n-
li
10
. . belecem a convi vência entr e interlocutore s
,n medida em que est.1 . Portador
· d 'f. •. d O s provêem espaços regulado s demo crattcarnent es de
interesses I erencia ' e para a
. _ d fl'ro · e para a constru ção de con sensos, essas experi ên . ad111 j_
nrstraçao e con , ~ . - . c1as Pode . Os Encontros entre Estado e Sociedade Civil
. . . . . os de constru ção de uma d1men sao propnamenre púbt· r1ani
consncuu e~paç - _ . , . . zca na s .
. ·1 i·,·a di'stinr a da regul açao produ zida pela logica estnra do Estado 0 c1e. Cenários

)
d ade bias, e , , - .
Sendo espaços de con vivência e debat e, esses espaço s pot . ou do
mercado . _ _ . . . _ encialrne
riam e fortal ecenam o apr endi zado e a con soltdaçao de urn " nte
requ ere ~ rio mais amplo dos encontros entre Estado e sociedade civil está eviden -


, . . . . a cultur ·
direitos", por meio do exerc1c1Oefenvo da c1dada111a. a de ~~~ ~~~ 7n .~tituído pelo pr~c~sso de de~ocratização ~elo qual passa o país cks.de ç>
Mais aind a, a diver sidade tem ática e de composição des ses espa , final da decada de §0.. ~ -~ev1tal1zaçãoda sociedade civil, com o aumento do associa~
. . . ços, alem d
orau variad o de sucesso e as difi culdad es e !unire s encontrados conft o _!ivismo, a emergência de moviment~s s~~i; is orga~izados : a reorganizaçã ~ ~arridá-
º . . . , . . ' goravam u
r cenário mu ito n co e diferen ciado , aberto a pe squi sa. Sua mvestigação
. _
análise das man1festa çoes con creta s da heterog eneidade e complexidade da
.
... ni
perrn1t1ri
ªª
ria, etc ., fenômenos qualificados por um intenso debate sobre a natureza da demo-
cratização , constitui uma face desse processo . A outra, resultado da primeira , é a
sição da sociedad e civil, bem como o embate entre as diferente s conce c~mpo. fy ] própria democratização do Estado , que , mediante o restabelecimento de vários dos
d esen I10 d emo crartco , . - p· 1
que a compoem . _ ma mente , a participação nesses
pçoes de
r1
1
procedimentos democráticos formais , abre-se ao acesso das novas forças políticas
de ator es sociais fundamentai s na constituição da sociedade civil , corno as espaços ~ constituídas na luta contra o regime autoritário . A nova Constituição de 1988 é o
os movimento s sociais de vários tipos, permitiria a possibilidade d ONGs e marco formal desse processo .
. , .- . -- - . e avançar no
ent endimento das caractenstJcas atuais desses atores e de sua atuação . _g~ :':~ _form~_çõ_es no âmbito do Estado e da sociedade civil se expressam em _
A partir de sse conjunto de parâmetros teóricos e empíricos b1 novas relações entre eles: o antagonismo, o confronto e a oposição declarados _que
. - , . , esta e ecemos
C.
uma defimçao de temat1cas , atores e processos a serem pesquisado
. _
mçao procuramos contemplar a preocupação de evitar a concenr
. .
par a assegurar uma representat1v1dade nacional mínima para a p
.
-
N
s. essa defi-
raçao regional
·
.
.
f
'--"
~
..,!;!
e..:_i_:_
avam ..~_~sa~-i:_elaçõ
m esp~ço rel~~~vo_s_°:~sta1:_
_e~-~~ -período _da resistênci~ cont~a a di~ad1:1
~~~Ipara uma__
~ _perdem
postura _cfe nefociação que aposta na possi-
bilidade de uma atuação conjunta, expressaparadigmaticamente na bandeira da "par-
. . _ esqu1sa, especial-
mente considerando as dimensoes do país e suas profundas d · ld d . ticipação da sociêdade' civil •~, A adesão a esse novo "paradigma" se dá , eviden temen-
· · · . . -- --~~ .!J
t~ª a es reg10- te, de forma diferenciada . Tal diferenciação se faz presente tanto no interior do
na1s, rn~lu s1ve . com respeito aos
. . .- . níveis de organização da sociºed d · ·1
a e CIVI . o D
Estado, uma vez rompida a relativa homogeneidade do período autoritário , como
ponto. . de _vista do s procedimentos . metodológicos ' a perspectiva a'd ot ad a ·me · lu1 ·u
no interior da sociedade civil, cuja _heterogeneidade _se de~vela _COI.:!l. o avanço da dis- \
a unltzaçao de procedimentos tanto quantitativos como qualitar 1vos, ·
. . _
permm ssem a obtençao de resultados que expressassem a complexidade da reali-
que nos E_uta pela construção democrática _e uma crescente d~versifi~;~~ão de atores , interes- . 'V
dade p esqui sada . s_es_e posições _política~. f,..qu~stão da particip~ç~o da s~ciedade ~i~il é um el_emen-A ,.l
to fundamental de diferenciação entre os vanos proJetos polmcos em disputa. ~
A definição da pe squisa contemplou então os seguintes estudo s de caso, expos-
tos no s capítulo s que se seguem : Ape~~~das difere~~ª~ é P?ssível ~firf!l-
Y-_~~o en~<!_n~~~~--ª -~r~~de novi1a _1e 9-~ _os JP-1
'
anos 90 trazem consigo é uma aposta generalizada na poss1b1hdade de uma aty.1.- J)Jf':
"To7~-;;J
Ç ~~;t ; · d~ ,;e~contros" e~tre o Estado e a sociedade civil. Nesse sentido, a / .
--- ' 'I' ✓
l . O Or çamento Participativo : As Experiências de Porto Alegre e Belo Hori-
zonte
pe~quisa se constituiu também numa avaliação , no início da nova década , dos ~JíJ.t"')'
resultados dessa aposta . ~
.2
O s Conselho s Ge stores e a democratização das política s públicas no Brasil Os cenários mais específicos de~ses ~ncontros ~ão varia,d~s, e o desenho do pro- {j.;~
3. A Atua ção das Org · - N - G · Entre o Estado e ª
. amzaçoes ao - overn am enta1s: jeto procurou aproximar -se dessa d1vers1dade. Assim, os vanos estudos de caso pro-
Sociedade Civil curaram contemplar os diferentes formatos que esses encontros têm assumido . As
4 dimensões ao longo das quais se dão as variações podem ser resumidas da seguinte
· Os Fórun s Temáticos da Sociedade Civil : O Fórum Nacional da Refonna
Urbana - FNRU maneira , chamando -se a atenção para o fato de que essas categorias não são estan -
5 ques, mas se inter -relacionam :
· As rela ções entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (1'!ST) e 0
Estado · Program d Alf: b . ,
· as e a ettzaç ão de Joven s e Adulros no Parana
6 . O Con selho C d o· .
earen se os Irettos da Mulher (CC D1'1)
13
1?.
r belecidasnos encontros :
1. Natureza das relaçoesesta
4 . Objetivos e funções :
. d inclusive por meio de legislação, com objet'
) relaçõesformal,za as, fi 'd l' d !Vos
, fun
ª çõese proced',mentos razoavelmente de 101 os, a em e um carát
. ' . . er perrn
- Procuramos incluir uma gama variada de espaços com diferentes propósitos :
, I Os exemplos mais upicos senam os casos dos C a- desde espaços _formalizados e estáveis, que exercem funções consultivas ou deliberati -
nenre ou escave. onse[h
Gestoresde PolíticasPúblicas e o Conselho Cearense dos Direitos da Mos vas com respeno às políticas públicas (como os diferentes conselhos e os Orçamen -
lher; com nuances relativas, caberiam dentro dessa categoria tambérnU- tos Participativos), até os espaços de encontros mais pontuais , que se destinam à exe-
Orçamentos Participativos e alguns padrões das relações Estado-o os cução dessas políticas (parcerias com 0N Gs e com o MST) . Incluímos espaços de
' . 1. 1
Quando a existênciadessesencontros e prevista em ei e a assume urn , ·
Ní,s relações que se estruturam a partir da sociedade civil, cujo objetivo principal é a arti-
. . _ . cara- culação de seus vários setores para exercer pressão e monitoramento sobre a atuação do
ter mandatório, que tem 1mp1,caçoes importantes para o seu funci
onarnen - Estado (FNRU e 0NGs) .
to na prática.
b) relaçõesmenos formalizadas,pontuais, cuja iniciativa (do Estado ou da
ciedadecivil)pode variar: são os casos do FNRU, do MST e de algun d
S OS IOt-
/º· Um estudo dessa natureza é necessariamente seletivo , e as lacunas são inevitáveis .
matoSde relaçãoEstado-ONGs. Esses formatos mais fluidos abrigam ..
. ' . defi101
- e proced'imentos vanave1s, 'dos conJ·unturalme 06Jett- Procuramos então, ao explicitar os critérios de escolha e, especialmente, os parâme-
vos, funçoes . tros teóricos que os fundamentam, indicar ao leitor a lógica interna que presidiu o
nte e mais
permeáveistalvezàs correlaçõesde forças vigentes em cada caso. desenho e a realização da pesquisa, cujos resultados apresentamos neste volume .
Os capítulos 2 a 7 relatam os estudos de caso realizados no Brasil. O capítulo 8
analisa as principais conclusões da pesquisa e examina algumas questões teóricas que
2. Temáticas: elas suscitam . Os capítulos 9 e 10 são análises dos resultados da pesquisa "Civil
Society and Governance" em outras regiões da América Latina: México, Andes
Procuramosrecobrir temas variados em torno dos quais os encont b (Peru e Colômbia) e Cone Sul (Argentina e Chile) . A inclusão desses estudos per -
I · ros se esta e-
ecem, considerandoque eles têm distintos significados e implicaço-es S - mitirá ao leitor um panorama mais amplo sobre a sociedade civil na América Lati -
I d d' · · • e a questao na , destacando as especificidades regionais e possibilitando urna visão comparativa
gera a 1mmu1çãoda desigualdade é o tema de fundo de t d I
I ·ri · o os os casos, e a reve- de parte do continente latino -americano .
a espec1tcidadesnos vários terrenos em que é tratada O
_ . s temas presentes nosnos-
soscasossao as questõesde gênero d - r
" , . ,, , e ucaçao e re10rma agrária, equipamentos urba-
nos e acessoa cidade ' saúde, raça e meio ambiente .
Referências bibliográficas

AVRITZER, Leonardo . "Modelos de sociedade civil: uma análise da especificidade do caso


3. Tipos de atores envolvidos: brasileiro". ln : Avritzer, L. (org.). Sociedade civil e democratização , Belo Horizonte. Dei
Rey Editora, 1994 .
Aqui a variaçãoinclui, em rela - . ' . . DAGNINO , Evelina. "Os movimentos sociais e a emergência de uma nova noção decida -
(federal estad 1 .. çao ao Estado, os diferentes 01ve1sdo Execun vo / dania". ln : Dagnino , Evelina (org.). Os an oi .90: po lítica e sociedade no Brasil. São Paulo,
' ua e municipal) 0 L · 1 ·
ção à socied d . .
,. ª e civ1l,
. '
a d1versidad d
egis ativo e agências estatais específicas. Emrea·
A • • d·
1
Brasiliense, 1994 . J:J
vanos tipos de . e e atores contempla, com enfases d1ferenoaas,
movimentos
Iheres, associaço- d b . sociais · - d
e associaçoes (movimentos de sem-terra, e 111
u· 'J. /., t
. es e airro · . • de
Jovens, de negros . '. movimentos populares de moradia, movimento~_
. ' am6tentaltstas) d . · açao
mais frouxos ' setores a sociedade com níveis de organtz
, como, por exem lo , . fazem
representar nos e Ih P ' os usuanos dos serviços de saúde que se _
onse os de Saúd · . laçoes
que mantêm com d . e, partidos políticos (seja por me10das re .
'd os ema1sato . ) uni·
vers1ades Igr . res, seJa representados por seus parlamentares '
' eJae 0NGs.
15
re sua populaç ão passo u nesse período de 394 mil
1980 . No caso de Porto Aleg ' .
. ·ih- e 125 mil · no caso de Belo Horizonte, sua populaç ão
CAPÍTULO 2 habitantes para um m1 ao ' . .
passou de 352 mil habitantes para um milh ão e 780 mil (mGE, 1983) . A maior pan e
das decisões relativas ao local de assentamento, ao transporte e ao acesso à saúde e
educação desse enorme contingente foi tomada durant e o período autoritário . Tais
O Orçamento Participativo: decisões significaram a remoção da população de baixa renda para a periferia das
As Experiências de Porto Alegre e Belo Horizonte* grandes cidades, em áreas com infra-estrutura precária, q~a se nenhum saneamento
básico, com poucas escolas e postos de saúde . Nesse senttdo, no caso brasileiro, 0
autoritarismo determinou práticas da vida cotidiana que se expressaram na relação
LeonardoAvritzer entre o poder estatal e a população das grandes cidades .
A partir de meados dos anos 70, começa a ocorrer no Brasil o que se convencio -
nou chamar de surgimento de uma sociedade civil autônoma e democrática. Tal fato
esteve relacionado com diferentes fenômenos : um crescimento exponencial das asso-
ciações civis, em especial das associações comunitárias (Boschi, 1987 ; Santos, 1983;
Avritzer, 2000); uma reavaliação da idéia de direitos (Dagnino , 1994) ; a defesa da
idéia de autonomia organizacional em relação ao Estado (Sader, 1988) ; e a defesa de
formas públicas de apresentação de demandas e de negociação com o Estado (Costa,
1994; 1997). Especialmente nas grandes cidades, essas novas práticas redefinem a
Os processos de democratização na América Latina são parte in~egrante da tercei~a forma de fazer política, levando a um aumento significativo do número de associa-
onda de democratização . Esta teve, sob O ponto de vista da ação coleuva, uma caractens- ções comunitárias e à intensificação da sua forma de relação com o Estado .
tica diferente da segunda onda: os atores sociais, no decorrer do processo de luta contra Se a democratização brasileira pode ser analisada em função das mudanças nas prá-
· · naram-se capazes de limitar o poder do Estado (Manor, 1998:1) e, ao
o autontar1smo, tor . . . , , . ticas dos atores sociais em âmbito local, ela também pode ser analisada sob o ponto de
eraram potenciais organizativos e insutuc10na1sno mvel das propnas
mesmo tempo , g . . - ·a1 l' · vista da continuidade de práticas políticas tradicionais , na medida em que a transição
· - c1v1s
assoc1açoes · · (M anor, 1998·· 1), criando alternauvas de organ1zaçao
. . soo e po . _mca. para a democracia e a Assembléia Constituinte ocorreram sob o controle de atores
·1 processo de luta contra o autontansmo e de tran s1çao para
N o caso d o Bras1 , 0 f, políticos ligados ao regime autoritário (Avritzer, 1998; Martins , 1987) . No entanto, o
· e · marcado pelas seguintes características : a construção de uma es e-
a d emocrac1a 101 • l d fato de os atores políticos conservadores terem detido o controle do processo consti-
,· · · · d mocráticas em que práticas dommantes e exc u entes
ra de praticas sociais mais e ' . _
e · d (Alvarez Dagnino e Escobar, 1998); a reaval1açao de uma tra - tuinte , derrotando a sociedade civil organizada em questões tão relevantes quanto a
IOram questiona as , e d
. - l al b ' em relação à democracia (Weffort, 1989); e a de1esa e um reforma agrária ou a forma do sistema político , não impediu a abertura de espaços
d1çao cu tur am 1gua .
- ntre sociedade civil e Estado (Avntzer, 1994; 1998). De sse para um conjunto de políticas participativas inovadoras, algumas delas expressas nos
campo d e d emarcaçao e . .
· · lturais de construção democrática emerg1ram e novas demais estudos de caso deste livro.' Nes se sentido, o que ocorreu no Brasil pós-demo-
modo , novos potenc1a1s cu , .
práticas movimentos e instituições tornaram -se poss1ve1s. cratização foi um conflito de atores e de práticas, algumas ligadas às inovaçõe s inrro-
' l d · - no Brasil desenvolveu-se fundament alm ente em du~idas pelos movimento s sociais em nível público e outras, aos elementos de conri -
A luta pe a emocrauzaça 0 _
• b" l as cidades brasileiras foram o centro da constru çao do nUidade próprios ao mecanismo de reprodução do sistema político brasileiro.
am 1to loca , uma vez que . . . . .
· · , · , O autoritarismo no caso bras1le1ro, implicou um proJe-
proJeto autontano no pais. ' . . . _ . _
• - · ·xos principai s foram a mdu sm ahzaçao e a urbam zaçao.
to de mo d ern1zaçao CUJOS e 1 . 1· En'.r ~ os e scudos d e caso qu e co mp õem este livro , as npc riên c ias d o O rçamc:nrn Participati vo , d os Co n -c-
• d d ºdade s brasileiras cresceu dramati camente entre 1950 e lh os Seron a1s e d o Fó rum N · 1d . R e U b . . . . . · - •.:-.0 L-o.rrid ;is.
A maior parte as gran es c1 . ,. aciona e ero rrn a r ana n ver:.1111 a sua o n gc.:11 1 1nsntu c1o nal L'l11<1ecisoc.:
du,ant e_a Assemb leia Na cio n ªI eo nsc,cu111c . · · e, d ec1soe • - s que o u transfenram
. . para o rnurn .c1p1
, .0 a dec1sao· - so . b ic· • torni.1>
.
d e gescao , o u p assaram a requ ere 1.. · · - d . _ . . . . , ... • •1Jllb1.:n-
, . p ,. c·cip·iram J a pesqu iso sobre o Or çamento Participativo como estagiá- , . a parn c1pa çao e assoc 1aço es c 1v1s para a dec isão so bre pro Jet o s nas :ucas · .
• Marcelo K Silva e Gloria erpetuo par 1 • • • • , • • tal, d e• •saud e, d e refo rm a urba, i ·•º · (V 'd
1 e o s. cs tu d os d e L u c,an
. a T ara g 1.ba e C, arb Alm e .ida S,.. 1v:1 so b n: º'. C o nsdh · m.
· , .· d Sérgio Baierle e Evelma Dagnmo, que concnbu,ram dec1s1va111 encc
rios. Gostaria de agradecer aos comentai ,os e Scto n a,s e° Fó rum N acio nal <la Refo rm a Urb a n a.) Tal faro , no e ncanto , n:io in valida o a rg um ento J o co ntr o le da s
para o formato final deste artigo. fo rças co nse rvad o ras sobr e O • • , • · · . , . 1 J lo nruccs-
. . . . . pi ocesso con srmunn :. Ap ena s apo nra o carárc:r con rrad1rn r10 do rc:su " ' 0 L . r
,o co n sin u nll c: e: a po ssibilid ade po r d e ab e ri a d t: u rili,.ação de in st:lncia, pani c ip ,ni vas pd:i soc ic.: daJ e civ il.
17
lK
há um aumento significativo na orgamzaçao da população d b .
dos anos 70, . . . _ . _ e aixa
Este artigo é parte do projeto de pesquisa internacional Civil Society and Gover- duas CJ.dades por me10 da constttu1çao de assoc1açoes comuni ·ta' . .
renda d as ' . . . nas 1nde
nance, projeto que tem, entre seus objetivos , analisar os limites das políticas estatais endentes e autônomas em relação ao Estado que re1vmd1cam a legaliza _ -
P . - d . f çao das
e o papel das organizações civis em melhorar a qualidade da vida democrática . O áreas urbanas ocupadas, a melhora d a con d 1çao e m ra-estrutura da per ·c .
nosso objeto, o Orçamento Participativo, consiste na mais inovadora prática de ges- . . , - Ileria das
duas cidades e da qualidade dos serviço s de saude e de educaçao . Tal proces so l
tão democrática em nível local surgida no Brasil no período pós-autoritário . Este . . . . ,. B l evou
a um crescimento do assoc1anv1smo comumtano : em e o Horizonte ,
artigo terá três partes, cada uma abordando algumas das preocupações centrais do . . , . . 'd d d ' o nurnero
de associações comun1tanas existentes na c1 a e passa e 71 para 534 ne ,
projeto Civil Society and Governance. Na primeira parte, faremos uma descrição sse peno
do (Avritzer, 2000). Houve, no caso de Porto Alegre, uma renovação sig ·e-. . -
detalhada do Orçamento Participativo, enfatizando os seus elementos participativos . . _ ._ ni11cat1va
de lideranças e a cnaçao da UAMPA - Umao das Associações de Mo d
e os mecanismos públicos de tomada de decisão; na segunda parte, será feita uma ra ores d
Porto Alegre - em 1983. e
análise do mecanismo de inovação institucional, mostrando como a pré-existência
de práticas participativas na sociedade civil aumenta as possibilidades de sucesso dos O Partido dos Trabalhadores 2 venceu as eleições para a prefeitura d p
. e ono Ale-
gre em 1988 e, depois de um ano de gestão, começou a implementar O O
arranjos participativos introduzidos pelas administrações públicas em âmbito local. · · ·
to Pamc1panvo .
o ._
PT venceu as ele1çoes para a Prefeitura de B I H ·
rçamen -
Na terceira parte, iremos analisar as formas de inter -relação entre os atores da socie- . . e o onzonre em
dade civil e as formas participativas; na seção conclusiva deste artigo, iremos anali - 1992 e 1med1atameme colocou em prática o Orçamento Pare· · · O
. . 1c1pat1vo. objeti -
sar as potencialidades e os limites da inter-relação estreita entre Estado e sociedade vo da _pnme1ra parte do nosso trabalho é descrever comparativamente
0
civil, tal como ela existe no caso do Orçamento Participativo (OP) . duas cidades . OP nas

Orçamento Participativo : O Orçamento Participativo em Porto Alegre


Uma Nova Forma de Gestão Pública Democrática
O Orçamento Participativo em Porto Ale re consiste .
O Orçamento Participativo (or) foi introduzido pela administração do Partido são pela população sobre as prioridades de o!ras ~m um processo de dec1-
dos Trabalhadores (PT) em Porto Alegre a partir de 1989 e, em Belo Horizonte, a processo envolve duas rodadas de assembl ,. _da ~r~fe1tura do município . Esse
da de assembléias em â b º l ai E e1as reg1ona1s Intercaladas por uma roda-
partir de 1993. Ambas as cidades constituíram, durante o período autoritário, bons m no oc . m uma seg d f: d, .
exemplos da interferência dos atores autoritários nas formas de vida cotidiana da Conselho do Orçament 0 p . . . un ª ase, a-se a mstalação do
art1c1pat1vo um ór - d Ih -
população de baixa renda. Porto Alegre teve um crescimento populacional de mais prioridades orçamentária d ºd'd ' gao . e canse e1ros representantes das
s eci I as nas assembl' · · •
de 5% ao ano durante o período autoritário; Belo Horizonte teve a sua população administrativa do orç eias regionais e locais . A confecção
amemo ocorre no G b · d l .
multiplicada em quase cinco vezes no mesmo período . Durante o autoritarismo, (GAPLAN), órgão ligado G . ª mete e P aneJamemo da Prefeitura
ª0 ª6 mete do Prefeito .
dois tipos de "políticas urbanas" predominaram nas duas cidades . No caso de Porto
Alegre, cuja tradição associativa remonta aos anos 50 e 60 (Baierle, 1998), as áreas
ocupadas pela população de baixa renda praticamente não receberam obras de infra - Fases do Orçamento Participativo em Porto Alegre
estrutura urbana . A parte menos organizada da população foi removida e alocada
em uma região distante do centro da cidade, denominada Restinga . Porco Alegre é uma cidade d º . .
Processo semelhante ocorreu em Belo Horizonte, a primeira cidade planejada mapa 1). Na prim · e ividida em dezesseis reg1oes administrativas (vide
. eua rase do O P - 1·
do Brasil, fundada na última década do século XIX e cujo planejamento não foi regionaise as assemblé' , . ' sao rea izadas a primeira rodada de assembléú1. .
ias tematicas (vide figura 1).
capaz de comportar o deslocamento da população de baixa renda do campo para a
cidade. Em 1960, já existiam na cidade setenta favelas, nas quais viviam mais de 2. Está além d bº .
os o Je11vos deste .
25 mil pessoas (Moreira, 1999 :56) . Durante o período autoritário, devido à menor pena, no encanto, ressalrar , , artigo traçar um a histó ria d ).. · . • · .· 1
o autoricarism • que O I Te criado 110 d. . 0 I .u t1do dos rrabalhadnr .:s 11<1 Ilr.ts1I. \ .1kn -1 ·
o e teve como s. ~ ccorrer do proc , . d . . . . rrI
organização da população de baixa renda da cidade, uma grande parte das favelas Base da Igreja C . . . cus undadores inenib . d csso e o rgan11.ação da soc ied.1ck brasil.:1rauJ ll ·
. at611ca e 1111
elecc · ros o cha111 ad 0 · . . • · ..- ·· de
mo a luta dos m • ua,s e membros d . novo s111 (11c 1l1s111
0 . 111
c111b
rns ,l:1sl.o nrn,o<>
mais centrais foi removida para a periferia da cidade . Apenas a partir de meados r ov1mentos com . á . . os inov1nie111. d . 1 . •,i-
1ossc a princípio d. • .d Uni[ nos no Brasil d ·d os e c ass.: 111 .:d,a . .:sse sentid o . d e csrcw pro._
ing, a para esse es e a sua fund e . • I . . • J 11.lú
s atores. (Vide Ke k , aç.io , ame a qu e a sua co ncepçJo de go" 111'
19 e ' 1991 e Utzig, 1996).

) ()
, ,. locais
. , . de assem bteuts
As assemb léias regionais são assemb léias nas quais os moradore s do s bairros de RodAd,1interme d ,1u-1a
cada uma dessas regiões se reúnem . Portanto , o critério de participação é da
moradia, e o de decisão é o da maioria. As assemb léias temáticas são assemb Oléias . . • conta com .a té doze áreas . temáticas,
, . que são as
O Orçamenro Parnopa _nvo ão organização da cidade , polmca hab itacio-
realizadas em cinco áreas - saúde e assistência socia l, transporte e circulação, or - pavimenraç , . 'd .
segum . res·. saneamenro,
. - f ndiária , ass1sten. , c1a. soc ial ' .sau e, tr ans p' orte
. e Ncirculação,
ganização e desenvolvimento d a cidade, cultur a e lazer e desenvolvimento econô - 1
mico . O critério de participação é o interesse pelo tema, e as decisões são também na e regulanzaçao I u esporte e Iazer, desenvolvimento eco nom1 co . a segunda
educação, áreas de azer: I· dada de assembléias intermed iárias, os delega-
tomadas por maioria . As assemb léias temática s obedecem ao me smo calendário , constituída pe ª ro · 1) b Ih d · ·
das regionais . fase do or, que e
1 - (h á uma van açao co nforme a regiona
. _
. -
tra a am em 01s tipos
b .
O número de p articipantes co n stitui a base para o cálculo do número de delega - dos/a popu d açao . _ d as pnon
h. rqu1zaçao . ·dades e defirnçao da s o ras na ds sub-re giões.
dos que irão p articipar, n a próxima fase , nas assemb léias intermediárias e nos fóruns de ativida
. . -ieradas pnon
es: . .d a d es e, o proce sso pelo qu .al a com unih . ade elege as
de delegados . Os m ora dor es se inscrevem individualmente ; no entanto, a sua parti - A h1erarquizaçao
. . ridades entre os d oze t e mas acima m enc10.nado s. A 1erarquização
cipação em assoc iações civis é indicada no processo de inscrição nas assemb léias. suas
, cinco pno
ompatibilização. entre tres
, cr itérios .· 0 acesso anten or da populaç
l - ão ao
. bern
e úblico _ , a popu Iaçao
uma c em questao _ da região e a d ec isão d a popu - açao
b . O ' bl"
pnrn eiro
p . , . .
dos cntenos menc10na osd _ o acesso anterior d a p op ula
. çao ao
- em 1pu 1co ern
questão _ é quanu ·fi1cad o em a Igu ma s áreas ' co m o pa v1menta çao, ta co rno rnos-
1 - Humaitá/ Ilh as/Navegantes rra a tabela 1:
2 - Noroeste
3 - Leste
4 - Lomba do Pinheiro Tabela 1: Carência de pavimentação elaborada para o OP 99
5 - Norte !Regiões ~ !devias
1

.1 Pavimentadas Não-pavimentadas Carê


6 - Nordeste ncia em%
I Huma1ta/ 117.704 1
100.808
7 - Partenon 16.896 14,35
Navegantes
/Ilhas
8 - Resti nga
Noroeste 147.375
9 - G lóri a 146.345 1.030 0,70
1O - Cruzeiro
~ Leste
- 154.545 136.402 18.143
- -
11,74
11 - Cristal
Lombado Pinheiro
r- 90.310 39.818 50.492
- t--
55,91
12 - Centro-Sul
Norte 130.910 110.819 --
13 - Extremo-Sul I Nordeste -- --
56.470 ~
r - - -- -,-- - 20.091
- - 15,35
7.23~ _
I 4 - Eixo Balt azar Partenon 122.080
,- - 19.237 34,07
98.969 23.111
15 - Sul ~Restinga
1
- -- - 18,93
+
73.109 65.110
16 - Ce ntro Glória
L 7.999 10,94
- 77.665 47.517
Cruzeiro --
71.658 -- --- 30.148
r
38,82
-
--, 62.325
~ tal
- 28.590 27.420
-- --9.333 -- 13,02
Centro-Su
1
-
- - r- -
1.170
+-
4,09
. d e1ega d os sao
- .. até 100 presente s napresentes
primeira,
Os critérios para a esco lh a d os 1O1 e 250 ui --,- - 50.000- - -- 27,98
d d d ez presentes ; entre
assembléia regional, 1 del ega o para ca a 2 1 e 400, 1 delegado para cada 3 0 pre- altazar
-
-
l
183.290
-
-~ 145 _
--40.148
8.!:555
- 143.142
- - -
78,10
1 delegado para cada 20 presentes ; entre 5 d res Todos os presen - -- - 1.590 1,91
sen~es;mais de 401 presentes, delegado para ca ª 40 presen · ~Centro
- .!_
42:015 130.44.§_
16.569
-
11,27
- -
tes têm direito a um voro.
1 Totais
Fonte : Prefeitura de Porto Alegre .
f 346.155_
2.008.731 r
345.015
1.598.640
-
410.091
1.140 0,33

21

22
Assim, no caso da pavimentaç - . em Belo Horizonte
. _ ao, a porcentagem de ruas asfaltadas obedece as n t ' inattVO
faixas que vao de 0 , 1 até 20,9%, de 21 a 40,9% , de 41 a 60 9<¾ d 61 79 9º¾ O Orçamentor'flr ter
0 1. d' A , o, e a , oe
de 80 10 .em 1ante . população total da região é t am b em ' quant1nca ·e. d a, e as regwes
·-
são classificadas com notas que vão de 1 a 4 . Até 30 .999 h a b Jtante
' ·-
s, a reg1ao ganha
nota um ; de 31.000 a 60 .999 nota doi s·, e assim por d 1ºante . D esse mo d o, nas ro d a-
das intermediárias são votadas
. as cinco prioridades da sub -reg1ao, ·- as , quai·s serao-
dadas notas em ordem
. mversa
. . à sua prioridade . Por exemplo · 'd d
, pnon a e numero ,
um recebe nota cmco, pnondade número dois a nota quatro , e assim por diante .
Portanto, 0 número máximo de pontos que uma proposta de uma regional pode -
rá alcançar é quinze, isto é, cinco pontos se ela tem mai s de 120 mil habitante s,
cinco pontos se ela teve menos de 20% de acesso prévio ao bem público em que s-
tão e cinco pontos se esse bem se tornar a sua primeira prioridade e a primeira prio -
ridade da cidade . Dessa maneira, as prioridade s da região são escolhidas .
As rodadas intermediárias envolvem ainda, uma vez determinadas quai s serão as
prioridades da regional, a disputa de obras específicas pelas diferentes comunidades
no interior da sub-região . Nesse caso, mais uma vez ocorrem assembléias nas sub-
regiões, nas quais os diferentes grupos da população disputam , entre as prioridade s
já determinadas , para estabelecer qual será a obra a ser contemplada.
A terceira fase do OP consiste na segunda rodada de assembléias regionais. Ne sse
momento, são então homologadas as hierarquias e as demandas da regional e são
eleitos os conselheiros da região no Conselho do Orçamento Participativo . Cada
regional elege dois conselheiros titulares e dois suplentes .

Conselhodo Orçamento Participativo

O Conselho do Orçamento Participativo é instalado no mês de julho de cada


ano. Sua composição é a seguinte : dois conselheiros por regional (32), dois conse-
lheiros eleitos por cada assembléia temática (10), um representante da UAMPA -
União das Associações de Moradores de Porto Alegre - e um do Sindicato dos Ser-
vidores da Prefeitura , perfazendo um total de 44 membros . As suas atribuições são :
debater e aprovar a proposta orçamentária do município, confeccionada no GAPLAN,
tendo como base as deci sões sobre hierarquização e prioridades de obras tomadas
nas assembléias intermediárias; rever a proposta orçamentária final elaborada pela
prefeitura; acompanh:: .r a execução das obras aprovadas ; discutir os critérios técni -
cos que inviabilizam a execução de obras aprovadas .
A terceira fase do OP consiste na segunda rodada de assembléias regionais. Nesse
momento, são então homologadas as hierarquia s e as demandas da regional e são Mapa da cidade de Belo Horizonte
eleitos os conselheiros da região no Conselho do Orçamento Participativo . Cada Regiões Administrativas
regional elege doi s conselheiros titulare s e doi s suplentes .

23
No caso de Belo Horizonte , o me cam·smo d o orçamento e, d 1stmto:
' · ão propiciam um processo interno de debate 0
três rodada s acordo com a nossa o b serva Ç ' . d . t ,ouve
de assembléias regionais , até 1998 , e duas , a partiºr de 1999 . o orçamento e, e1ab o- 'd d eno s carente s ret1rarem as suas emanda s de obras e .....e
casos de comuni a es m . . . . "' iavor
rado na Secretaria do Planejamento . 'd d · carentes depois de v1s1tas a essas comunidades dur
de comuni a es mais ' ante as
· diferentes proposta s de obra s emergem ao final das vi . ,
caravanas. O u sep, sitas as
._ postas são votadas umas contra as outras no Fórum de Pr· .d
regwes, e essas pro _ , . 10n a-
fases do Orçamento Participativo em Belo Horizonte . · Diferentemente de Porto Alegre. ,_ nao ha
d es Reg10na1s. , . em Belo Horizonte urna
votaçao- d e obra por obra e ' sim, uma compos1çao polmca entre os delegado s
. . . pre-
Em Belo Horizonte, o Orçamento Participativo envolve três rodadas de assem- sentes ao Fórum de Prioridades Reg10na1s. Assim, uma chapa englobando diversas
bléias regionais . Na primeira, a Secretaria do Planejamento, por meio da Coorde-
propostas de obras é votada contra uma outra _chapa _co~ p~opos~as de obra s dife-
nação do Orçamento Participativo, apresenta em cada uma das regionais o resulta-
rentes . Ao final da última rodada de assembléias reg1ona1s sao eleaos os delegados
do do ano anterior, isto é, o número de obras aprovadas pelo O P na regional e o seu
que irão participar da CO MF O RÇA.
encaminhamento - se a obra se encontra em fase de licitação, de execução ou de
A COMFOR ÇA é a Comissão de Fiscalização das Obras aprovadas pelo Orçamen -
conclusão.
Na segunda rodada, é apresentada pela prefeitura a disponibilidade de recursos to Participativo . O número de membros da COM FO RÇA varia de ano para ano , con-
para obras do OP, determinada da seguinte maneira: 50% dos recursos disponíveis forme O número de presentes nas assembléias do O P. Entre os delegados eleitos na
são divididos igualmente entre as nove regionais e 50% dos recursos são determina - terceira rodada de assembléias e presentes ao Fórum de Prioridades Regionai s, 20%
dos a partir da classificação da regional no IQVU - Índice de Qualidade de Vida são escolhidos para serem membros da COM FORÇA. As atribuições da CO MFO RÇA são
Urbana, um índice que envolve uma composição entre população e renda no muni - as seguintes : fiscalizar o andamento das obras ; acompanhar o processo de licitação
cípio. Quanto maior o IQVU da regional, menor é a quantidade de recursos a ela des- pública das obras ; discutir problemas técnicos envolvidos nas obras com os órgãos
tinados pela seguinte fórmula : técnicos da prefeitura, em especial com a SUDECAP - empresa de obras da prefeitu -
ra de Belo Horizonte .
PVR = popr* As diferenças no método de elaboração e implementação do Orçamento Partici-
E 1/y pativo nas duas cidades parecem indicar alguns elementos relevantes :
Em primeiro lugar, o que parece ser mais relevante na estrutura do O P é precisa-
Ainda na segunda rodada, as principais propostas de obras a serem realizadas em mente o elemento que se repete, ou seja, as assembléias por região . A importância
cada uma das sub-regiões já são apresentadas (no total são 37 sub -regiões), dando- dessas assembléias deriva do fato de que elas criam um método público de decisão
se início a um processo de avaliação pela prefeitura da viabilidade técnica. acerca das obras pela população, fornecendo uma resposta ao particularismo e à
A terceira rodada de assembléias regionais envolve a votação das obras a serem exe- forma obscura de decisão que costuma ser prática corrente nas administrações
cutadasnaquela região. Nessa fase são eleitos os delegados, de acordo com os seguin - municipais no Brasil. As assembléias regionais introduzem uma forma democrática
tes critérios: de I a 200 participantes, um delegado para cada dez presentes; de 201 e pública de negociação entre a população . Democrática porque a participação da
a 41Oparticipantes, um delegado para cada quinze participantes; acima de 41 O, um população torna-se o critério para a escolha de delegados e conselheiros, transferin -
delegado para cada vinte participantes . Apesar de esse critério ser semelhante ao do para essa mesma população uma capacidade decisória que ela não detinha anre-
adotado em Porto Alegre, no caso de Belo Horizonte, cada regional terá também riormente. Pública porque os critérios de carência e a população da região são
direito a um delegado por associação comunitária legalmente constituída na ~eg_ião. conhecidos, e as reuniões nas quais as decisões sobre a hierarquização de prioridade s
Ainda como parte da terceira rodada, ocorrem as chamadas Caravanas das Pnonda - são tomadas são abertas a todos e a palavra é franqueada. Desse modo, a parricip~-
des. Ascaravanas são um processo de negociação entre os membros de cad~ ~ma das ção e a discussão com critérios claros substituem a forma p~:rticularisca de discrib~'.-
comunidades (ou sub-regiões) de cada regional do OP . Elas envolvem a vis_u_a pelos ção de recursos existente anteriormente . É importante também frisar que a viabili-
delegadoseleitos a cada uma das propostas de obras apresentadas . Essas v1s1tas, de dade do O P - isco é, o fato de as assembléias se realizarem com uma boa presença
e con seguirem deliberar - deve-se ao fato de a assembléia local ser prática corren-
·- o e E e· un 1a con stant e co m o valo r de 2,7 1828 18.
• popr e· a popul ação da região, y é a renda me'd',a d a reg1a te das associações de moradore s, tanto em Porto Alegre quanto em Belo Horizonte ,
desde o final dos ano s 70 .
25
26
d Or amento Participativo à agregação de maiorias pel
te a proposta e ç fi " .d ,. o
Tabela 2: Comparação entre o OP em Porto Alegre e Belo Horizonte la-se c1aramen ) d e dem tal posição ao a umarem que a 1 eia do O
Souza (I 997 eren rça.
rT. Genro~ . . .d de de Porto Alegre começou com a campanha [do P ]
1 Abrangência Incentivo à Forma de Mecanismo Forma de IPrincipal Parncipanvo na c1 a T
organiza- disponibilização deliberativo menro . ,, (Genro e Souza, 1997:23) . No entanto, curiosarnen
monitoramento ação atual
ara a prefeitura em 1988 ·
1
" P . . . ,, _ te
ção da dos p h e a expressão Orçamento art1C1pat1vo nao constav d
os aurores recon ecem qu ' . . a a
sociedade recursos e de governo da campanha de Oltv10 Dutra. para a prefettura, em 1988.
platarorma
civil
"Naquele momento , 0 programa de governo d~ Parttdo .dos Trabalhadores propu-
Porto Todos os Setores Critério Reuniões Centralizada Incentivo a nha democratizar as decisões de uma nova gestao a partir de conselhos populares"
Alegre recursos de organizados combinando intermediárias programas
(Genro e Souza, 1997:23). Os autores, no entanto, desobrigam-se de discutir corno
investimento indicam carência e e Conselho envolvendo
se deu a passagem da propo sta de governar com os conselhos populares para a pro-
da cidade delegados população custeio
Belo 50% do Delegados a Critério
do~ ---·-
Terceira rodada
---
Descentralizada
- --
Incentivo à
posta de Orçamento Participativo .
Com o objetivo de determinar a forma como ocorreu o proces so de inovação ins-
Horizonte investimento mais para as combinando e Fórum das participação
da regional regiões mais renda média
titucional, realizamos um trabalho de entrevistas e consultas a documentos . o pri-
Prioridades em questões
organizadas e população Regionais não-materiais
meiro documento por nós loca}izado, no qual aparece a expressão "Orçamento Par-
ticipativo", é um documento da UAMPA - União das Associações de Moradore s de
Porto Alegre. Em uma reunião realizada em 26 de março de 1986, com O objetivo
Em segundo lugar, existe uma forma de monitoramento das decisões tomadas de discutir a participação dos movimentos populares no governo Alceu Collares
pelas assembléias regionais e/ou temáticas , e isso parece ser decisivo . Esse monitora- ~PDT), aparece o diagnóstico acerca da centralidade do orçamento público : "o mais
mento pode variar : em Porto Alegre, é exercido pelo próprio Conselho do OP, 1~p~rtan~e na Prefeitura é a arrecadação e a definição de para onde vai O dinheiro
enquanto em Belo Horizonte é exercido por um organismo criado especificamente
. _ E a partir
publico. . daí .que vamos ter ou não verbas para o atendimento das re1vm · · -
para esse fim, a COMFO RÇA . O monitoramento constitui a resposta política do OP a d1Caç~~das vilas e bamos populares . Por isso, queremos intervir diretamente na
uma tendência generalizada nas administrações locais no Brasil de insulamento das
defimçao do orçamento municipal e queremos controlar a sua aplicação" . E m · ,
burocracias técnicas . Com o monitoramento, a população consegue influenciar na fi d d. " , ais a
rente,_o oc~mento iz: queremos decidir sobre as prioridades de investimento em
execução de suas decisões .
cada vila, bamo e da cidade em geral"• Esse parece ter sido o ponto de partida para
um pr~c~ss~nboqual o orçamento e sua elaboração foram se tornando os elementos
centrais o e ate político na cidade de Porto Alegre A questa~odo
Orçamento Participativo : Avaliando a Dinâmica da Inovação ti · orçamento con-
nua presente nas preocupações da UAMPA entre 1986 e 1988 d
e a Relação Estado-Sociedade Civil r I d ; no ocumento que
esu tou o seu segundo congresso (1987) l l
- d . ' e ª vo ta a aparecer , na parte dedicada às
açoes o movimento comunitário com a .
Investigar a origem do processo de inovação institucional que levou ao surgi- participação d • ' . , . seguinte elaboração : "procurar ampliar a
mento do OP justifica-se em função da possibilidade de determinar a capacidade da o movimento comunttano d . . - . .
ção e definição d . . na ª mmi str açao mumc1pal , na elabora-
sociedade civil de introduzir mudanças na vida política e melhorar as políticas diri - º orçamento mumc1pal ,O 1
as mudanças na estr t l' . e e emento que vai tornar possível [sic]
gidas à população de baixa renda (Manor, 1998:2) . Ao mesmo tempo , a investiga - u ura po ittca urbana " N 0 ,.
se por um lado a UAMP . · entanto, e importante perceber que,
ção sobre a forma como uma política participativa em nível público influencia a A e o movimento c · , · d
papel central na ident·fi _ d
1 ICaçao , omunttano e Porto Alegre tiveram um
sociedade civil nos ajudaria a saber quais políticas podem fortalecer a sociedade civil o carater · d
outro, o formato espe ,e d O contencioso a questão do orçamento , por
como agente capaz de melhorar a qualidade da vida política (Manor , 1998 :2). c1rico O rçament O p · · ·
No momento inic·1 I d articipattvo não estava ainda claro.
A centralidade da questão do orçamento público como centro de disputa entre 1iferação de forma d ª a gestão
.
.
Olívi 0 D
utra, em Porto Alegre, houve uma pro-
diferentes práticas políticas em nível local é certamente um fenômeno novo no Bra- .
d iferentes s escentra1izadas de . . - .
áreas da d • . _ parttcipaçao que cada um dos secretános das
sil. Sua origem é não apenas indeterminada, como também objeto de disputa e de d _ ª m1n1straçaomunicip l
articulação de diferentes discursos políticos . No Partido dos Trabalhadores, articu - e ucaçao, habitação ª propos . Assim e que , nas areas de sau' de,
A • , ,

1 , entre outras come d


ª go esperado dada _ ' çam ª espontar propostas de participação,
a concepçao genérica d . . !'
27 e parttc1pação, própria da proposta Pº t-

28
rica do PT (Feddozzi, 1999) . Foi nesse co nte xto qu e a Secretaria de Planej amento . da um dos elementos in stitucionais d o OP e, ao m esm o te?n
'fi a a aurona de ca 61,. lh po,
pensou em ampliar a participação na elaboraç ão do orçamento da cidade . Ao tt ic ' fi 1 dquirido p or eles, assem eia, co n se o, GA PLAN e CRc
aponta o formato i,na a .
mesmo tempo. desponta um co njunto de reivindi cações em cada um a das Secreta -
rias. reivindicações essas decorrente s de um repre samento de demanda s e de um a
percepção. por parte do s atores soc iais, so bre a po ssibilidade de suas demand as 1 bela 3· Proposta Original e Formato Final do OP
a
serem acendidas por uma administração popular . Propostaoriginal Formade deliberação Desenhofinal
1
O primeiro passo para a criação do Orçamento Participati vo como uma propo s- Associações assembléias locaise
baseada na deliberação proposta das associações 1

ra polírica organizada de relação entre a administração local e os mo vimento s popu - de Moradores controlepela população direta em nível local de moradoresprevaleceu
lares foi a decisão tomada no s primeiro s sessenta dia s do governo Olívio Outr a de das decisõessobre em nívellocal
centralizar rodas as demanda s em um órgão, a CRC - Coordenação de Relações orçamento
com a Comunidade . "Trinta dias de governo e nós entendemos que tínhamos que Partidodos conselhosde baseada em delegados proposta do Partido dos
---;

esrabelecer dentro do gabinete do prefeito uma coordenadoria de relações co m a Trabalhadores trabalhadorese um elegendonovos Trabalhadoresprevaleceu 1

população, para começarmos um grande diálogo com a cidade . N ão sabíamos bem mecanismopara a delegados no nível intermediário 1

o que era, ma s o diálogo tinha que existir" (Lima, 1999). A escolha da C RC é mer a- eleiçãode um conselho (conselhodo orçamento
mente casual, na medida em que o seu papel era de um órgão municipal encarrega -
municipal participativo)
do de fornecer atestados de utilidade pública a entidades da sociedade civil. No
Administração inversãode baseada em uma proposta da administração
entanto, a sua existência como órgão estruturado permitiu que ela cumprisse o papel
Local prioridadesno processo combinaçãoentre municipalmantevea
de centralizar as demanda s de toda a cidade .
de tomadade decisões participaçãoe conexão entre a
Faltava ainda um terceiro elemento para a constituição do Orçamento Partici -
administração participaçãoe a operação
parivo, que era o seu formato específico . O formato do OP nem seguiu a propo sta
concentraçãodas das instituições
da UAMPA e nem a concepção do PT . Alguns elementos foram centrais nessa discu s-
reivindicações
no administrativas(GAPLAN
,
são: por um lado , a prefeitura entro u com a idéia de que a participação da popu -
1 nívelda CRC CRC, CROP)
lação no orçamento deveria ser individua l, e não por entidades , tal como reivindi -
cava a UAMPA . Foi assim qu e surgiu a idéia de assemb léias de moradores em nível
local. Em segundo lugar , o Partido dos Traba lhadore s, devido a sua identificação
com uma concepção neomarxista de po lítica, defendia a idéia de conse lhos parale - É poss~vel, port ant o, afirm ar qu e a propo sta de Or çamento Part icipativo foi
los à administração , capazes d e se constituir em um germe de poder político para - gerada _na mt erseção entre sociedade civil e admini stra ção estatal , o que po ssibilitou
q ue a identifi cação de um tema co t · so - no caso , o o rçam ento - pelos
lelo (Abbers, 1996). Foi essa concepção de conselhos paralelos gerando outros con - . n encio
selhos que deu origem ao Conselho do Orçamento Participativo . É nece ssário , no movim. . ent_os comun itários de Porto A1 e
egre 10sse e
tran srorm a d a em um a proposta de
' ·os na e1ab ora çao
part1cipaçao do s .ator. es comun i't an - d o or çam ento . E, bastan te claro
encanto, deixar claro que as dif ere nte s propo stas de organização in stitucion al não
foram implem ent adas no formato originalmente propo sto . Assim , no caso do Con - ~ue, sem ª contnbui ção decisiva da admini str ação d o Partido do s Trabalhadores na
implem ent ação da propo st 1 - ·
a, e a nao ren a se torn ado real id ad e; m as é igualmente
selho do OP, ele se coo rdena com um co njunto de assemb léias region ais, por um
correto afirm ar qu e a ausência d 0
lado, e com um conjunto d e órgãos da administração estat al, por outro . Por fim , o . tem a orça m en to na prop os ta de govern o do PT
para a Prefenura de Port o Al d . .
papel da administração públic a foi defender um a estrutura de compatibilização e . b . egre em onstra qu e a 1dent1ficação do rema orçamen-
to 101o ra do movime nto co · , • Q
entre o processo de produção do OP e a pre sença de um conjunto de órgãos insti- mumt ano . uant o ao for m ato esp ecí fico do OP, pare-
rucionaisque têm o seu papel modificado . A C RC e o GA PI.AN são exemplo s dessa ce b astant e claro qu e ele não p o . . . . .
d e ssui um a aut o n a m di vidu alizável: ele não correspon-
e ao rorm ato proposto elo .
estratégia de constru ção in stitucional que torn a o OP o resultado da ação de div er- e P s m ovim ento s co mun itár ios e nem tamp ouco ao
rorm ato proposto pelo PT El é
sosatores, cada qual adaptando a sua co n cepç ão de organização instituci onal à con - . . . _ . · e resu 1tad o de p ropo stas feitas p or cad a um dos aro-
res e d as mst1tu1çoes disponíveis .
~epçãode outro s ator es e às exigências legais par a a produção de um orçamento, . , . para impl em ent á-las. É int eressant e tam bém obser-
1st0 é, prazos, submissão à Câ m ara d os Vereadores e formato legal. A tabela 3 iden - var qu e a ex1stenc1a de uma ro 0st , . ._
Ção e t d · . _ P P ª de m ulnp las au to rias faz co m qu e a colabora
n re a m 1111 straçao local e so . d d . . . .
cie ª e civ il sep ma is ace ntu ad a.
29
30
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o o <.O o L/"l

Orçamento Participativo : Avaliação da Dinâmica Participativa ....
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N M O)
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<::t L/"l L/"l <.O
que nos parece relevante é avaliar o sucesso do Orçamento N

Part1c1pat1vo em relação à participação da popu lação . As tabelas 4a e 46 abaixo con - <::t ....,..,.,
1.0 ,..,., ,..,., o N ,..,.,
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.... N m ........
N O)
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<::t L/"l O)
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têm os dados sobre a participação no OP nas duas cidades .
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Tabela 4 a : Par t icipa ção no OP e m Belo Ho rizonte ,..,., co <::t
<::t r- ;:;:;
m co ;:::
N L/"l O) 1.0 <::t
1
op/an o Primeira Segunda Terceira 1
Fórum regional r- r- o
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1
rodada rodada rodada 1
(delega dos) 1 co o r:1
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1
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195 ,..,., L/"l o o ,..,., <::t ,..,., 1

1.314 M ,..,.,
1.0 O) r- o
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9.586
17.597
17.937
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98
99/2000
3.416
Etapasuprimida
3.08 1
2.905
11.871
16.323
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Fonte : Prefeitura de Belo Horizo nt e.
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N
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1.0 "'
As tabelas 4a e 46 mostram alguns fatos relevantes relativos à dinâmica da parti - N N

cipação . Em primeiro lugar, a participação nos primeiros anos em Porto Alegre é r-


.... ,..,.,
r- co <::t co
~ o o
O) O) O) 1.0 1.0 L/"l N L/"l N
N ,..,., :;:;:
1.0 o
N 1.0 1.0
,..,., N <::t L/"l 1.0 1.0 1
baixa, em geral, e muito baixa em algumas regionais, como a Glória, por exemplo , <::t
,-t-t--t--t-+-t-+-l-+-l-+-
N 1.0 L/"l N
....-- ,..,.,
_:::+ -L---1-L~ ~ ~
N N N <::t L/"l L/"l

na qual apenas dez pessoas participaram no primeiro ano .


Em segundo lugar, é interessante n otar como a participação em Belo Horizonte
co co
:::: 1.0
r-
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N
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começa mais alta do que em Porto Alegre, mas também varia mais . No caso de Belo ...
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.... ,..,., co
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1 1 <lJ

,..,., co co co
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N L/"l <::t L/"l
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N 1.0 L/"l N O) O'\
Horizonte, o índice inicial é alto po rque, d evido ao conhecimento da experiência de C'I
a, N
.... .... ,..,., ;:;:; ;:;:; N
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N
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N ~, ~N m o L/"l
1.0
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Porto Alegre, já está clara, para os atores comunitários, a efetividade do método . Ao <i: O"I
....
a, ú:i
o ,..,.,
N r-
,..,., L/"l L/"l o L/"l <::t 1.0 <::t N o O)
~1 ~
,..,., r- 1
mesmo tempo, a incerteza sobre a continuidade do OP afeta a participação a partir 1:
N
.... L/"l O) L/"l
....
r- 1.0
....
o 1.0 co co ....
r- Q)
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de 1997. Nesse ano, a sucessão para a prefeitura da cidade co loca o prob lema da o i -o
Cl. ! ê
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continuidade do OP, levando a uma diminuição da participação . Na medida em que E
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o OP é identificado com a administração do Partido dos Trabalhadores, a sua efe- Cl. 11-r--t-r--t--l-+-~+-!-+--+---!--- ....
_Jl
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.... ~ uE
o
tividade é questionada nos momentos eleitorais, nos quais a continuidade da pro-
posta política do PT não está garantida . No entanto, o caso de Belo Horizonte é
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,..,.,
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,..,., L/"l <::t
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<::t ~ j~
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·s.
também interessante por mostrar a independência relativa da credibi lidade do
o
1n,
H1-t-H--t-+H--+-t--+-J--J-_J___~'
,..,., ~l
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1
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Orçamento Participativo das administrações do PT . A credibil idade do OP em Belo "' oO"I


Horizonte foi construída na relação entre administração púb lica e atores sociais du -
e.
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rante a execução do Orçamento Participativo . É o que mostra a recuperação dos
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]
índices de participação no OI', a partir de 1999, durante a gestão Célia de Castro,
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prefeito do PSB (Partido Socialista Brasileiro), que, na sua administração, deu conti -
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nuidade ao OP . .e ·õ, o ""
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31 "'- "' L.U
-
32
. . bastante significativa : 17,7% dos entrev·
é amda assim, ista-
Um segundo fator parece importante de ser discutido em relação à participação : não é tão grande, mas ' . ~ unitárias criadas na década de 70 e 44,8% _
d soCiaçoescom . sao
trata-se das desigualdades internas da população e da forma como elas têm afetado a dos são membros e as . d nos 80 . Nesse senudo, parece claro que O a
. ~ s ena as nos a sso-
participação no OP. Pesquisa da organização não-governamental CID ADE, em conjun - membros de associaçoe . OP nas duas cidades . O que ocorre é uma e
. . . itário é antenor ao ena
to com a prefeitura de Porto Alegre, mostra uma evolução no padrão de participação C1at1v1smo comun. , . tir da criação do OP .
das mulheres no OP . Essa participação passou de 46 ,7% em 1993 para 51,4% em a dmam1ca, a par . . d d
mu d ança na su . d medir dois upos e mu anças : uma primei
or meio o survey, . ra,
1998, passando, então, a constituir a maioria dos participantes do OP. 3 Se esse fato Procuramos, p d óprias associações, que senam as mudanças de prá-
parece ser positivo - no que diz respeito à possibilidade de políticas participativas . no campo as pr . .
pred ommanre l . , . de uma forma pública de pamcipação; procuramos
virem a se constituir em formas igualitárias de participação-, é, no entanto , neces- . cadas pe a ex1stenc1a , . . .
ncas prov~ . d neira uma forma publica de participação implica
sário notar que a participação das mulheres diminui à medida que passamos da par- também mvesugar e que ma . d .
. 1 ção entre os atores associa os e o sistema político . A
ticipação em assembléias para a participação qualificada como conselheiros do OP, tal mudanças importantes na re a . ~
. . b . d tões procurou, portanto, determmar quem sao os atores
como mostra a tabela 5 abaixo. Os dados da tabela 5 nos permitem afirmar que a pnme1ra arena e ques .
eqüidade entre gêneros se expressa mais na participação ampliada do que na escolha . . . d OP em Porto Alegre e Belo Honzonte . No caso de Belo
associados part1c1pantes 0
. ~ homens em 60 3% dos casos e mulheres em 39,7%, a grande
de lideranças compatíveis com o perfil dos participantes . Honzonte, e1es sao ' .
ma10na com mais d e 40 anos (76 ,7%)·, a maioria tem primeiro grau completo ou
• · ·
Tabela 5: Participação no OP por gênero incompleto (42,5%), ainda que o percentual com alta escola~idade seja também
Sexo lbge/Porto 1993 1995 1998 Deleg OP 1 ConsOP alto: 23,3% têm terceiro grau completo ou incompleto . A ma10r parte tem renda
1 Alegre 1 familiar entre 2 e 5 salários mínimos (30, 1o/o).
Mulheres 53,2% 46,7% 46,8% 51,4% 45,3% 1
48,7% Os dados para Porto Alegre não variam demasiadamente em relação a Belo Hori-
Homens 46,8% 47,6% 52,2% 48,4% 54,7% 1
51,3% zonte. Também no caso de Porto Alegre, o grupo predominante é de homens
Nr --- 5,7% 0,2% (58,5%), o que acentua a tendência já apontada acima de um desequilíbrio entre a
Fonte: CIDADE. presença de mulheres e sua participação em posições de liderança . A média de idade
dos participantes varia também, em relação a Belo Horizonte : o maior contingente,
Com o objetivo de determinar quais são as práticas dominantes no OP e como no caso de Porto Alegre, tem entre 50 e 59 anos .(31,3%), com participação signifi-
tais práticas vêm transformando o relacionamento entre Estado e sociedade civil, cativa de contingentes mais jovens. No tocante à renda e à escolaridade, existem
aplicamos um survey4 em 10% dos dirigentes de associações que participam do OP pequenas variações entre as duas cidades : o maior contingente de participantes, nos
em Belo Horizonte (73 pessoas) e em 5% dos dirigentes de associações que partici - dois casos, é o de indivíduos com primeiro grau completo ou incompleto, 42,5%
pam do OP em Porto Alegre (122 pessoas). Em primeiro lugar, foi possível notar a
no caso de Belo Horizonte, e 40,6% em Porto Alegre . O número de participantes
presença dos atores comunitários que emergiram nos anos 70 e 80 . No caso de Belo
com segundo grau completo ou incompleto é um pouco maior em Porto Alegr~:
Horizonte, entre os entrevistados, 53,4% são membros de associações criadas na
38,5% contra 30, 1o/oem Belo Horizonte, mostrando um índice médio de escolari-
década de 80. No caso de Porto Alegre, a novidade do associativismo comunitário
dade mais alto no caso de Porto Alegre. No caso da renda, há uma coincidência em
termos de faixa (2 a 5 salários mínimos) .
3. É necessário mencionar qu e a mar gem de erro da pesqu isa é de aproximadamente 5% . No en tanro , ta l mJr - Valeª pena separar a média de escolaridade da média de renda dos participant~s
gem não invalida o faro de haver uma série hi stórica co m margem de erro semelhant e e, nessa série histórica, a par-
ticipação das m ulheres ter aumentado em cada um a das pesqui sas realizadas . a~sociadosdo OP e vale a pena também compará-la com a média do rotai dos parn-
4. O survey foi aplicado a parti r de um a amostra de membro s da s assoc iações civ is qu e participam do O P. O cipante~ do OP, associados e não associados . A média de renda dos participan~es _do
banco de dados das associações foi co nstituíd o d e form a ligei rame nt e dif ere nt e na s du as cidades. No caso de Belo
OP, mais uma vez
segun d os d ad os d a pesquisa
° . da ONG CIDADE, nao~ d·c
uere s1gn1fi
-
Horizonte, ele foi consti tuíd o a partir de um a lista de associações civis fornecida pelo ca rtório de associ açõe s civis .
cauvamente da m 'dº1 d d d . quan-
da cidade. Essa lista foi com pleta da co m um cadastro de assoc iações co munitária s participantes do or . No caso de
e ª e ren a os habitantes de Porto Alegre . No entanto, d
Pano Alegre, o banco de dado s foi for m ado a partir de um cadastro de participantes do or detido pela Prefeitura
do passamos da médº d d d . . 'dº de ren ª
d~ cidade. Em um caso se chegou a um banco com 800 assoc iações e, no outro , :i um banco co m 2.440 associa - . . ia e ren a os part1c1pantes em geral para a me ia , ·
çoes. Foi sorteada uma amost ra co m 80 associações em BH e 122 em Porto Alegre . A margem de erro para Porr o
d os part1c1pantesass . d 1 d" repanc1a
Alegre foi de 5% e para Belo H orizo nt e, 10% .
ocia os, encontramos uma discrepância maior. Ta isc
se acentua à medida Nesse caso,
IJIIP-NDC , que passamos da variável renda para escolaridade .
o numero d . . ranro,
BIBLIOTECACENTRAL DO GRAGOATÁ e participantes com segundo grau completo é de 26,3% e, por
33 CÔD.DAOBRA I CÓD.:::,
e, 1,.':.''.MPI.AR
l\.C... ~t::..._'::;.
'"'.l... - ') Q ~ l""'\ - A
caso das listas de carências que cumprem 0
.fi ~ o Esse parece ser 0 . , . papel d
superior ao número de participantes que detêm apenas o primeiro grau completo estraU JCaça · . . ção se constitua como enceno para a distribu · _ e
(19,5%) . Há, nesse caso , um grande hiato entre a escolaridade dos participantes do . ue apenas a parnc1pa . . içao dos
evitar q . . N ue tange às discrepância s entre níveis educacionais el
OP e dos seus participantes associados (vide tabela 6 abaixo) . recursos matena1s. o q b , a cor-
., b do por diver sos autores, que o servam que o grande d ..
robora algo Ja o serva . . ~ . . tv1sor
Tabela 6: Escolaridade e renda familiar entre os participantes e entre os . ·pação e não-parnc1paçao consntm, de fato, o nível edu .
de águas entre a part1c1 . . cac10 .
associados ,, b . Avritzer 2000) . No entanto, nada parece indicar que as di
nal ( ver a, 1995, ' . . . . scre-
Todosos participantes Associados Associados • . d , 1 educacional impliquem diferenças na d1smbu1ção dos recu
panc1as e mve ~ . , . . . rsos
em PortoAlegre participantesdo OP participantesdo OP . . (vo Iraremos a essa que stao mais a frente, quando d1scut1rmo s a distriºbu1- .
matena1s
em PortoAlegre em BH
ção dos recursos do OP entre a população) . .
Escolaridade
(maior 1º grau incompleto 2º grau completo 1º grau incompleto
O segundo elemento que procuramos afenr no survey foram as prática s partici-
faixa) (46,1%) (26,3%) (27.4%)
pativas dominantes entre os atores associados . Nesse caso, procuramo s aferir 05
Renda(maiorfaixa) (até 2 sm 30,3%) 2 a 5 sm (34,4%) 2 a 5 sm (30,1%)
seguintes aspectos : número médio de pessoas que se reúnem em uma associação
Fonte : CIDADE e Pesqu isa Ford .
comunitária que participa do OP; a freqüência das reuniões das associações; média
Os dados apresentados acima são relevantes para a discussão sobre política parti - de pessoas presentes nas reuniões ; a relação entre as associações e outras entidades
cipativa. Eles parecem demonstrar três fenômenos até agora ignorados pela literatu - da sociedade civil. O nosso objetivo aqui é determinar a qualidade da vida associa-
ra sobre o assunto : em primeiro lugar , que a participação da população de baixa tiva para, em seguida, discutir o tipo de participação no OP que ela permite e, por
renda no OP é semelhante à sua representação na população da cidade . Portanto , fim, discutir como as interações entre as associações civis e o poder público se modi-
diferentemente do que supõem autores como Reis (1995), que argumentam que as ficaram depois do surgimento do OP .
políticas participativas privilegiam extratos da população já organizados e de renda Os atores associados que participam do OP têm uma trajetória associativa seme-
mais alta, a participação , no caso de Porto Alegre , é compatível com a representação lhante em cada uma das duas cidades . No caso de Porto Alegre, tal como mostra a
do segmento de renda mais baixa na população em geral . Em segundo lugar , é tabela 7, a origem das associações e das práticas comunitárias é ligeiramente ante-
importante notar que o contraste na participação entre os atores associados e não rior a Belo Horizonte, se tomamos a série até o final dos anos 80 .
associados é mais significativo no caso da escolaridade do que da renda . No caso de
Porto Alegre, a maior parte dos participantes associados se concentra na faixa do Tabela 7: Período de fundação das associações às quais pertencem os
segundo grau completo (26 ,3%) , com uma concentração significativa de atores na partícipes no OP
r---
faixa do superior completo (I 6, 1%). No caso de Belo Horizonte , apesar de o primei - T- - -- ·- ---
Datadefundação PortoAlegre ~elo Horizon~
~
1
i--
ro grau representar a faixa de escolaridade com maior presença, é importante ressal- 1945a 1959 4,2% 5,5%
tar que 23 ,3% dos participantes associados têm nível superior completo e incomple-
to e 21,9% têm segundo grau completo , proporções bem acima da dos participantes
em geral e da população em geral. Em terceiro lugar , existem discrepâncias entre a
renda, a escolaridade e o gênero dos participantes em geral e das assim chamadas
f- 1960a 1969
1970a 1979
1980a 1989
1990a 1999
7,3%
17,7%
44,8%
--t 8,2%
15,1%
53,4%

"lideranças". As discrepâncias entre a renda e a escolaridade das lideranças e dos seto - 24,0% 13,7%
Fonte : Pesquisa Ford .
res associados que participam do OP em relação aos setores não associados podem ser
interpretadas de diversas formas : elas poderiam sugerir uma estratificação no interior
Dua s variações cham _ . como j.í
do OP, estratificação essa que poderia levar no futuro a algum tipo de particularis - fi . am a atençao neste caso : a primeira debs e que, .
a irmamos acima . . . . . o no)
mo, isto é, a uma participação auto -interessada desses atores . anos 70 d , o assoc1at1v1smocomunitário de Porto Alegre foi mais aov . d1
0 que o de Belo H · • . aurom ·
É, no entanto , interessante ressaltar que a análise das deliberações do OP e dos forma · . . onzonte e isso talvez aj ud e a exp licar J co- lo
inst1tuc1onal do OP ·d E segunl
seus beneficiários não corrobora a tese da estratificação . Pelo contrário , alguns dos lugar é i na c, ade de Porto Alegre, di scutida anres . m ." 11
, nteressante também b ocianvo eI
mecanismos institucionais do OP têm cumprido o papel de não permitir esse ripo de Porra Alegre d perce er que o OP teve maior impacto 3 55 -iJ·
0 que em Belo H · . de ass0 L
çóes criadas na d, d onzonre, se compararmos a porcentJgeJl\
35 eca a de 90 nas dua s cidades .
. d res políticos ames e u~JJu1s ao UP
1 dos Media o
Ao compararmo s as prática s associativas nas dua s cidades per cebemo s uma gran - Tabela 8: Pape PortoAlegre I BeloHorizonte
de semelhança . No caso de Belo Horizonte , a maior parte das associaçõe s se reúne não sim
sim não
mensalmente (56, 2 %) , e o número médio de pessoas que freqüentam as reuniões da ºdadeconseguia 49.3%
A comunr 37,3% 49,3%
entidade varia entre 16 a 30 pessoas na maior parte dos casos. Das associações 62,7%
obteracesso
a benefícios
95,9% se relacionam com outros grupos organizados , entre os quais se destacam
materiais
antesda
outra s associaçõe s comunitárias . No caso de Porto Alegre , a maior parte das associa-
existência
doOP? recorriama mobilização
ções também se reúne mensalmente (46,9%) e o número médio de pessoas que fre- mobilização da recorriam
a
Dequemodoosbenefícios
qüent am as reuniões da entidade varia entre 31 e 100 pessoas, ou seja, existe um a comun
idade políticos da político
s
eramconseguidos?
tendência maior à participação entre os atores comunitários em Porto Alegre . Da s 54% 41% comunidade 60%
associações 91 ,7% se relacionam com outros grupo s organizado s, entre os quai s se 34%
destacam outras associações comunitárias (82% das interaçõe s) . É po ssível, portan - não sim não
A comunidade
obteve sim
to, observar um padrão semelhante de práticas associativas na s duas cidade s. 11,4% 60,3%
ganhos
materiais
com 89,6% 39,7%
Quando analisamos as práticas anteriores à existência do O P, observamo s um a
diferença significativa entre as duas cidades . Perguntamos nas duas cidades se a enti - O OP?

Houve
a necessidade
de sim não sim não
dade ou a comunidade conseguia benefícios materiais antes da existência do o r e de
obtenção
dealgumtipo 28% 72% 32,9% 67,1%
que forma esses benefícios eram conseguidos . No caso de Belo Horizonte, os entre-
vistados se dividiram em dois blocos iguais : 49 ,3% responderam que conseguiam deintervenção
extraOP?
benefícios materiais antes da existência do OP e 49 ,3% responderam que não. Ao Houveintervenção
de sim não sim não
responder sobre a forma como conseguiam esses benefícios , 60% desses entrevi sta- políticos
? 0% 100% 1 7,3% 92,7%
dos afirmaram consegui -los através de contatos ou relações pessoais com políticos . Fonte : Pesquisa Ford

Apenas 34 % responderam que conseguiam através da mobilização ou pressão da


comunidade . No caso de Porto Alegre, 62 ,7% afirmaram que as associações/comu -
nidades conseguiam benefícios materiais antes da existência do O P. Se, no entanto , veram ganhos materiais. Em muitos dos casos (26% ) foi necess ,irio algum tipo de
a possibilidade de conseguir benefícios era maior em Porto Alegre do que em Belo intervenção da comunidade para garantir a implementaç ão das obra s aprovadas.
Horizonte , a porcentagem das associações que recorriam aos políticos é menor : 41 % Nesses casos, fizemos a pergunta sobre a forma de inrervenção : a de políticos rcw-
em Porto Alegre afirmavam recorrer ao s políticos ao passo que 54% afirmav am beu zero por cento de resposta em Porto Alegre . 30,8 % dos enrrevisrndo s recorrr-
recorrer à mobilização (vide tabela 8) . ram à regional. mostrando a efetividade das formas institucionais exisrenres n:i
O perfil das práti cas do s atore s associados nos permite confirmar aquilo qu e a intermediação da relaça.oentr e Estado e sociedad e civil. Jáno caso de Belo Horizon-
literatura sugere em relação às dua s cidade s: Porto Alegre tem uma formação hi stó - te, G0,3% declaram que as suas comunidade s obtiveram . ganhos mat eriais ;ttr,ivJs do
rica mais ativa, com mai s participação , men os relaçã o com mediadore s político s e \JP . Em 32 9% dos casos 10 e 1· . '·· · :1 , li,
. _ ' necessan o mtervir· para garantir. o bo m anLamcntot -:
mais mobilização do s pr óprio s atore s comunit ário s. Belo H orizonte tem uma for - obras. Nesses casos 20 5º¾ d . , . . .. 1 .1
, ' ' 0 os atore s co mu111tanos entr evistados rrcorret.in
mação histórica mais con servador a, com meno s mobilizaç ão e m aior pre sen ça do s l.O ,\lrüRÇA e 27,3% rec dº , . , , f . ··1,llS
1 . orreram Iretam enr e a reg io nal. Ap ena s r m 6.~~10 l 0 ~ L, ·
mediadores políti cos. Tal tradi ção só mudou muito recent em ent e. O int eressante , louve intervenção de polí . , O . . . r .. f'l' nn
nível d· _ . . . ncos. u seia, ap esar de pdtica s :1ssoc1anvas Cll~ttn..
no entanto , é observar qu e, ao anali sarmo s as pr áticas do s ato res co munit ários a s0C1e dade Civil é , l e. , , . . . . l f . ·oLtbt1-
ração e E ' passive aurmar qu e e o formaro msnruc1011:1 l e L
depois da implant ação do OI' , elas tend em a con vergir na m aior part e dos aspectos. ntre stado e sociedad · ·1 . · 1·r ··1ri\'.tn.1
natureza da ,. e civ, qu e determ111a uma mudan ça s1g11 tl,
Procuramos aferir, em relação às pr á ticas pos terior es à impl ant ação do O P, os s prancas políticas.
seguintes aspectos: a qu antid ade de ga nho s m ateriais obtid os p elas co mun idad es; a Se compararmos a tradi ão . ·. . ' . . , . l· 11:1~ ;it1dti
OP, nos dois casos ç associ,mva e as prati cas po stenor es a 11np ·11 ·
forma como esses ganh os foram co nseguidos; as form as de negociação co m a Prefei- podem os fazer • , ·
,is seguinte s obse rvações :
tura em cada um a das du as cidades e a p artici p ação ou n ão dos po lít ico s n essas
negociações. No caso de Porto Alegre, em 89,6 % dos casos as comuni dade s obti - • ambos d ··
. emonsrram a exisr' . ·onn11111 .1
nos que a no enc,a de um forre movim e nto de arorrs L I'1r·
, sso ver, está n· b I O . .. n c't1ll 1 •
37 ª ase e o sucesso da proposra de 1<s·11
tra que a forma de dehberaçao pública é su .
alia ão do or mos Perior '
uma av_ ~ . . existentes, em virtude da sua capacidade de cri . as outras
ticipativo . Não é à toa que a proposta foi, em primeiro lugar, levantada pelo formas msuruc10na1s ºd d ar mais efi,·,
movimento popular de Porto Alegre. É também devido à adequação da forma • · eqü1 a e. c1en
eia administranva e ma10r . . -
institucional da participação a práticas preexistentes entre os atores comuni - 8) mostrou que , ao se avaliar a capacidade de Porto Al
Navarro (199 , . l d egre de e
tários que a participação desses mesmo s atores é grande . Ou seja, do ponto de . d de saneamento publico ao ongo o tempo , podemo b ons-
rrwr a sua re e , . d - d s o servar
vista institucional , parece ser de fundamental imp ortância que as propostas de dessa capacidade apos a mtro uçao o Orçamento p . . um
claro aumento art1cip .
participação pública operem a partir de práticas já existentes. O caso da for- l987 foram construídos em média 5.296 metros de san ativo.
Entre 1983 e ' . . . eamento
mação do O P em Porto Alegre parece interessante justamente por esse moti vo: 'dºa em 1988 quando Olív10 Dutra fo1 eleito, era de 8 091 Por
ano. A me 1 ' · metros. En
apesar de diversas propostas de políticas participativa s terem surgido no come-
ço da administração Olívio Dutra , aquelas que se mostraram viáveis se basea- 1989 e 1992, a média anual passou para 21.67~ e, entr _e 1993 e 1996, passou tre
ram em pr áticas preexistentes , especialment e na prática introduzida pelas 61.334. É possível, portanto, observar, no que diz respeito à eficiência ' uma rnelh para
0
ra no desempenho da administração pública. -
associações com un itárias de realização de assembléias em âmbito local. Por-
tanto , a preexistência e a origem de certas práticas na própria sociedade civil É importante também notar que a melhora no desempenho não é ap
. enas quan-
estão ligadas ao sucesso do formato instit ucional, no caso do OP . titativa no sentido de metros de saneamento ou de asfalto, ma s é tamb ,
' ern uma
• parece claro qu e a existência de um a tradição associativa anterior é apenas melhora qualitativa. Tanto no caso de Porto Alegre, quanto no caso de Belo H .
onzon-
um dos fatores envolvidos e que o formato públi co do OP é tão relevante te, é possível mostrar que a eqüidade na forma de distribuição dos recursos pu' bl'tcos
quanto o elemento tradição associativa . O sucesso do OP como política par- está melhorando . A tabela 9 mostra a porcentagem dos recursos do Orçamento Par-
ticipat iva está ligado ao fato de ele oferecer uma alternativa à assim chamada ticipativo em Belo Horizonte que foi investida em vilas e favelas.
tradição dos mediadores políticos , uma tradição na qual os político s distri - É possível perceber tanto o potencial de aumento da eficiência quanto O poten-
buem bens materia is como favor (Avritzer, 1998) . O fenômeno relevante , no cial de aumento da eqüidade na distribuição de recursos através do Orçamento Par-
caso do OP , é a capacida de que ele tem de transferir dos mediadores políticos
ticipativo. A relevância do OP como política participativa parece ser a sua capacidade
para a popul ação a decisão sobre distribuição de bens materiai s através da
de se tornar um instrumento de participação da população de baixa renda e de trans-
criação de um conj unt o de elementos públicos : assembléias, listas de acesso
ferência de recursos materiais públicos para essa faixa da população. Não existem
anterior a ben s materiais, critérios de carência. Todos esses elemento s, publi -
dúvidas de que, nesse aspecto, o OP é uma política pública altamente bem-sucedida.
cament e conhecidos, criam um empecilho ao particulari smo e contribuem
Ele inverte prioridades estabelecidas nessas cidades há décadas e consegue colocar
para o sucesso do OP .
limites claros à ação dos mediadores políticos, substituindo-os por fóruns nos quais
ª população toma as principais decisões quanto à distribuição de recursos materiais.
Orçamento Participativo e Democracia e1:1Nível Local : Se essasparecem ser as principais virtudes do OP como forma de relação entre Esra-
Algumas Observações Conclusivas do e sociedade civil, é necessário também apontar alguns limites da propo sta identifi
-

Uma avaliação do Orçamento Parti cipati vo mostra qu e, enquanto prática , ele


democratiza a relação ent re a sociedade civil5 e o poder local. Ainda mais relevante , Tabela 9: Recursos alocados na melhoria de favelas e vilas em BH
OP total R$ % Vilase f~~ela
Vilase favelas
94 - - - - ~- 33,52%
5. Algun s autor es, no entanto , têm exage rado de forma empiri cam enre in co nsisrence a fo rr'.1ª co m o O or for - 15,360,390
talece a sociedade civil. O caso mai s gritant e é o de Baio cc ( 1999 ). O autor , :1 partir de uma lisra ~nco mpl eta de 95 - 5,149,126 -~
30,35%
18,185,909 5,520,636
associações civis em Porco Alegre, co m e te dois equ ívocos: em prim eiro lugar, ele argum enr a na_dir eçao de um a bai- 96 -- +--- -•--- 24,38%
xíssima densidade associativa na cid ade pr evia m ent e à ex istência do OI' , fato esse qu e co ntran a to dos os rrab alhos - 27,165,470 6,624,831
existences sobre associações civis na cidade. Em seg undo lugar, ele argum ent a na dir eção de um cresrnn en ro expo- 97 -- 1--
-- - 23,20%
~

26,948,339 6,686,719
nencial das associações civis após a impl ement ação d o OI' . Seg und o o autor , ha veria oco rrid o um crescirnen'.~ de
~
98
15,974,186
~ - -- 1-- -23,49%_
BO%no núm ero de associações na década de 90 , fato esse não co rro borado po r nenhum dos_trabalhos em ptn cos 3,713,775
sobre associações. O s nossos dados apontam pa ra um cresc im en to de 24% no núm ero de assoc iaçõe s civis em Po rco - 99/2000
60,208,600
~
z3,49%_
Alegre depois da criação do OI' e de 13% em Belo H o rizo nt e. Vide Baiocc, 1999 . Total
Fonte: Secretaria Mun .
' 163,842,894
- t-
14, 1444,400 _,_
41,839,487
,c,pa/ de Plane1amento de Belo Horizonte
-
-=25.
~o -

39
era que no caso das chamadas assembléias reg·10 .
, · d bela I Omos ' . na1s
cados na nossa pesquisa . Dois limit es parecem bastante claros: a pou ca democra tiza- A análise ª ta d . ria das decisões contmua envolvendo distrib . _ e1ll
a gran e maio Utçao d
ção na relação entre os próprios atores sociais e a incapacidade de estender o or para Porto Alegre, . . _ ogramas de governo . No caso das prioridades e e
áreas sociais nas quai s o que está em jogo são alternativas de políticas públicas. matena1s e nao pr . . - 6 rn Porto
recursos d . _ fioram relauvas à pavimentaçao , foram relaci·v ,
Um primeiro limite que nos parece bastante claro é a pouca democratização na l 999 6 ec1soes as a pol'
Alegre, em .' f: do um total de 12 decisõe s relativas à que stão mar . t-
relação dos atores comunitários entre si. Se a gran de virtude do or parece ser a sua cicahabitacional, per azen . - . . ena 1' no
enas uma região, a educaçao apareceu como pnondade. Ou .
contribuição na democratização da relação entre Estado e sociedade , alguns dado s total de 16. Em ap b ' bl . T: . d . _ seJa,
. . d decisões se refere a o ras pu tcas . ais ecisoes não env l
parecem indicar que , no tocante à relação no interior das comunidades , permanece a grande ma10na as o vell]
uma relação hierárqui ca e pouco democrática . Perguntado s se a escolha dos delega-
dos foi fácil ou difícil , 60 ,4% dos entrevistados em Porto Alegre responderam que
foi fácil. Entre os que responderam que foi difícil , em 30 ,2% dos casos o motivo da Tabela 10· Prioridades escolhidas em Porto Alegre, em 1999
~~~~ ~ ~ ~~ ~ --------7 -::
2~ª-;;
P;:ri;o:ri
: ;d:;;:
a-;:;
d:e ------- - -,
dificuldade é que ninguém queria ser delegado . Quando se pergunta sobre a forma Região 1ª Prioridade
de escolha das prioridade s de obras da comunidade , algumas diferen ças significati - Nota5 Nota 4
vas entre as dua s cidades também podem ser observadas : no caso de Porto Alegre, Humaitá/ Saúde
- Reforma
ampliaçãoe SaneamentoBásico- EsgotoPluvial~
em 77, 1% dos casos a assembléia da comunidade escolheu as prioridades . Já em Navegantes/construção
dospostosde
Belo Horizonte , as assembléias são citadas em 42 ,4% dos casos e a escolha pela dire-
~l~
lh~as
~ --1f...: s::::
a.:::
úd::e:___
_________ -t ~::-:-----:-
:--:-
:---:-----:--------'
toria em 28,8% do s casos . Esses parec em ser alguns elementos de uma cultur a his- Noroeste Áreasde Lazer PolíticaHabitacional- Reassentamento
toricamente pouco participativa que se manifestam no or . Apesar de a forma assem- Leste PolíticaHabitacional
- Regularização Pavimentação ---J
bléia ser indiscutivelmente mai s adequada para a tomada de uma decisão acerca das
Fundiária
prioridades da comunidade , ainda é significativo o número de comunidades nas
Lomba do Pavimentação SaneamentoBásico- EsgotoCloacal
quais a própria diretoria das associações decide quais serão as prioridades da comu -
Pinheiro
nidade. Isso demonstra que elementos hier árquicos de uma cultura política tradicio -
Norte PolíticaHabitacional
- Regularização SaneamentoBásico- Arroio
nalmente pouco participativa mantêm influência nas formas de deliberação , a des-
Fundiária (drenageme dragagem)
peito da predominância de elementos participativos . Outro elemento , já abordado
Nordeste Educação - EnsinoFundamental PolíticaHabitacional- Urbanização
antes, é a diminu ição da participação das mulheres e da população de baixa renda
nos níveis de liderança . Os dois fatos podem ser indícios de tipos de estratificação Partenon Pavimentação PolíticaHabitacional- Regularização
cujas conseqüências ainda são difíceis de determinar . Os no ssos dados parecem indi - Fundiária
car que a diminui ção da participação do s estratos de baixa renda não tem afetado a Restinga Saneamento
Básico- EsgotoCloacal Educação- Educação Infantil
distribuição do s recursos a seu favor. No entanto , no caso da participação das Glória Pavimentação SaneamentoBásico- EsgotoPluvial- DEP
mulheres, é possível que uma menor participação no s estratos de lideran ça esteja Cruzeiro PolíticaHabitacional
- Regularização Pavimentação
também influenciando aspectos da agenda política aprovada pelo or . Fundiária
O segundo limite do OP que no s parece baseante claro é a sua concentração na Cristal --
PolíticaHabitaciona
i-=.~g~larizaçã~ ~ ne~;;;to - Básic
-;;-- EsgotoPluvial- DEP
questão da distribuição de recursos materiai s. Evidentemen te, cal como sustentamo s r------+- _un~ria _
F 1
nesse texto, tal dimen são tem uma importância central em âmbito local no Brasil. Centro -Sul Pavimentação
- Saneament~ásico - EsgotoP~ vial~ DE ~
No entanto , as políticas públicas em âmbito municipal não se limit am e não podem Extremo-SulPavimentação -- --
SaneamerrtoBásico- Redede Água-
se limitar à distribuição de bens materiai s. Um conjunt o de políticas sociais é, no
caso do Brasil, decidido em âmbito local e existem opções em relação a essas políti - Eixoda DMAE
PolíticaHabitacional
_
cas que precisam ser decididas democraticamente . Por exemp lo : diferentes alterna - J!altazar Saúde- Reforma,ampliaçãoe
Reassentamento
tivasde políticas educacionais ou de políticas d e saúde , entre outros casos de políti - Sul construção de postos de_saúde -P
- Pavi mentação -- - - - -- 1 . 1- DE
cas sociais. Até o momento , a maior parte das decisões do OP diz respeito a quest ões /Centro-- p , -- - - _ Sane~ent~á sico - Esgoto Puvia
1
materiais, tal como mo stra a tabela I O. 1 o iticaHabitacional
- Construçio
- __ de U.H Educação- ProgramaSEJA
Fonte : Prefeitura de p-
0 rto Alegre.
41

/, '")
F m clientelism ro cooperauuu : 1uL,u !!,uvc:rnment parti .
ABBERS, Rebeca. ro . l' . , c1patory 1·
. . · ·ng in Porto Alegre, Braz1l. ln : Po itics and Society: 199B Po icy,
alteração do perfil dos gastos de custeio das pr efeit ur as e, tampouco , envolvem um a and c1v1c organlZI . . d ' bl' . ' 511-537
democratização da s decisões sobre alt ernativ as de políti cas, tais como o tipo de ed u- AFON ' SO Mariza, Azevedo , Sérgio. Cidade, po er pu 1 co e movim ento de f l ·
. . . M' r . B I ave ados 1
cação pública , a concepção de saú de pública, a co ncepção de preservação do meio POMPERMAYER,M. Movim entos sociazs em mas v erais. e o Hori zon . E . · n:
. te. d1tora da
UFMG, 1987.
ambiente . Em 1999, Belo Horizonte co me ço u um movim ent o no sentido de delegar
'•
ALV.
~ '
ocz Sonia
'
DAGNINO , Evelina e ESCO BAR, Arturo . Culture 0 ,
'J
Polit• /" ..
lCS rofzt t
à populaç ão que participa do O P o contro le sobre alguma s política s de governo em Culture. Boulder: Westview Press, 1998. cs of
um processo ch ama do de "op CIDAD E" . A alteração introd uzida pela Prefeitur a de AVRITZER, L. Sociedade civil e democratização. Belo Horizonte : Dei Rey, _
1994
Belo Horizonte tem a inten ção de tornar a população co-partíci pe na decisão sobre AVRITZER L The conflict berween civil and political societies in post-auth o . .
prioridade s de políticas sociais . No "op CIDADE" , a prefeitura ap resenta à popula ção ' · . . ntan an Bra-
zil: an analys1s of the 1mpeachment of Collor de Mello . ln : Corruntion d " ..
a forma como ela prioriza programa s de dive rsas secretaria s e a populaç ão , através da . ( ) . . r an rof1t1ca/
Reform in Brazzl, K. Rosenn, R. Downs or?s ..' ~1am1 : ~orrh-South Center, _
1998
sua parti cipação, pode aceitar o ranking prop osto ou propor um alt ern ativo . No caso AVRITZER , L. Change in the pattern of Assoc1at1onm Braz1l.Journa/ o• fnt eram .
. 'J er1canStu-
de divergência , uma assembléia da cida de com poder de decisão de 50% mais um dies and World Affam , (Fali) 2000.
decide a ordem de prioridades . É muito cedo para avaliar os result ado s desse proce s- BAIOCC, Gianpaolo. Participation, Activism and Politcs. Paper Presented at the C ,I',
on1 erence
so, mas tudo pare ce indic ar qu e um movimento na direção da particip ação da popu - Experiments in D e/iberative Democracy. Madison , 1999 .
lação no estabelecimento de priorid: ::iesentre programa s é o caminho que o or deve BAIERLE, S. The Explosion of Experience : the Emergence of a New Ethical-polirical
seguir para ampliar a participação da população na gestão local. Prin_ciple in Popular Mov~menrs. ln : Culture of Polit ics/Politic s ofCultur es, ALVARE Z,
Soma, DAGNINO, Evelma, ESCOBAR , Arturo , (orgs.). Boulder- Westview p
A análise do OP, em Porto Alegre e em Belo Horizonte , mo stra qu e, no caso da 1998. . ress,
terceira ond a de d emocratização , existe uma mudanç a na per spectiva acerca d o pro-
BOSCHI , R. A arte do associativismo. Rio de Janeiro, Vértice, 1987.
blema institucional . O problema de como criar instituições estáveis está mu ito
BRUNEAU, T. C. The Política/ Transformation of the Brazilian Catholic Church. London,
menos ligado às regras da competição política e às formas do sistema polític o e New York: Cambridge University Press, 1974.
muito mais à relação pública possível de ser estabelecida entre Estado e sociedade . CAMMACH, P. Brazil: the Long March to the New Republic. ln: New Left Review (190):
A análise do or na s dua s cidades demon stra que é, sim, a transferência de potenciai s 21-58, 1990.
de inovação cultural que emergem da s associações civis ou da renovação da cultura CASANOVA,J. Publi c Religions in the Modern World. Chicago : U niversiry of Chicago Press,
pública que pode levar a desenhos democratizantes e, não, a procura de arranjos 1994.
políticos estáveis, mas pouco participativos . Tal afirmação não implica desconside- CONNIFF, M . L. and MCCANN , F. D . Modem Brazil . Elites and masses in historica/pers-
rar o papel desempenhado pelos arranjos institucionais e pela sociedade política no pective. Lincoln: University of Nebraska Press, 1989 .
surgimento dos arranjos participativos . Significa, no entanto, afirmar que a vonta - COSTA, Sergio. Esfera pública, redescoberta da sociedade civil e movimentos sociais.ln:
Novos Estudos, n-38:38-53 , 1994.
de política de implementar políticas participativas depende , para alcançar resultados
COSTA, Sérgio. Contextos da Construção do Espaço Público no Brasil. In: Novos Estudos,
satisfatórios, da preexi stência de práticas participativas no nível da soc iedade civil. n-47: 179- 192, 1997.
Os nossos dado s no caso do OP apontam claramente para os benefício s d a p art ici-
DA~NINO , Evelina. Os movimento s sociais e a emergência de uma nova noção de cidada-
pação na sua capacidade de criar formas estáveis de gestão democr ática . São as nov as
ma. ln : DAGNINO, Evelina. Os anos 90 . São Paulo : Brasiliense, 1994.
práticas capazes de radicalizar o exercício da democracia que tornam esta últim a FARIA, C. F. Democratizando a Relação entre o Poder Público Municipal e a Sociedade Civil:
legítima aos olhos daquele s de cuja autorização a democracia irá sempre depender , F
O
Orçamento Part~cipativo em Belo Horizonte . Belo Horizont e: UFMG, 1996.
dos cidadãos . Especialmente aqueles ci dadãos excluído s que , em um país co mo o EDOZZI, L. lnrerview to Leonardo Avritzer. 1999 .
Brasil, continuam constituindo a maior part e do no sso contingente populacional. FUNG, _A. and WRlGHT , E. O . Experiments in Empowered Defib erative D emocmcy. Wis-
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45
. . m O Estado a negociar suas propo st
. . ão O b ngana ,, . as co
CAPÍTULO 3 nismos de parttctpaç d usual "confusão entre rnteresse públi tn
meca . . dificultan o a co e os
rros grupos sociais, . m rorno do poder estatal e costumam
ou os que circu 1am e . . ~ . exercer
interessesdos grup I E erava-se, ainda, que a part1c1paçao tivesse urn t .
, . direta sobre e e. sp . . d . e eito
influencia . e parucipavam, atuan o, assim, como Ulll f
Os Conselhos Gestores e a Democratização .
direto s
obre os própnos arares qu
.d d ·
ator
. l na romoção da c1 a ama.
das Políticas Públicas no Brasil educact0na P s promessas/expectativas foram cumprida s? At ,
M até onde essas e outra . e onde
as,. ~ d . stâncias de participação democratizou a gestão públic
formalizaçao essas m a e0
ª , . ost Qual é, enfim , o saldo desses 1O anos de aposta na in .
acesso aos 6ens pu 61tc · . st1-
Luciana Tatagiba
. l'd
mc10na d
I a e po 1
l'ti·ca como campo estratégico de luta dos setores
. . progressistas e
, .
democrancos. t po de-se afirmar que ' como resultado dessa part1c1pação, estão se de .1-
1
neando novas tendências na produção das políticas no Brasil? Essas questões são
indicativas de um debate hoje em pauta na sociedade brasileira, para o qual estapes-
quisa visa contribuir . Trata-se de compreender até onde se pode falar em constitui-
ção de novas tendências na produção das políticas públicas no Brasil como resulta-
do desses encontros e quais os seus principais limites e possibilidades .
Como referentes empíricos, irei me deter em um conjunto de estudos voltados
A década de 90 se caracterizou por um movimento muito intenso de atores e for- à análise dos conselhos gestores de políticas públicas - escolhendo, dentre esses, os
ças sociais envolvidos com a invenção partilhada de novos formatos e desenhos de conselhos de saúde, de assistência social e de defesa dos direitos da criança e do ado-
políticas. O agravamento dos problemas sociais e a crise que tem caracterizado o setor
lescente - em vista da importância que esse modelo tem assumido como espaço
público - ao lado de uma demanda cada vez mais crescente dos setores sociais pelo
participativo , a partir da Constituição de 1988. Alguns números são, nesse sentido,
controle do Estado e suas políticas - têm levado ao questionamento tanto do padrão
indicativos. De acordo com Carvalho (1995), entre 1991 e 1993 foram construí-
centralizador, autoritário e excludente que vem marcando a relação entre as agências
dos mais de dois mil Conselhos de Saúde por todos o país, numa média de prati-
estatais e os beneficiários das políticas públicas (enfatizando a necessidade de demo-
camente dois novos conselhos por dia . Em pesquisa mais recente, Carvalho (199 7)
cratização do processo), quanto ao questionamento da capacidade do Estado deres-
volta a acentuar o fenômeno da proliferação dos conselhos : "em julho de 1996,uma
ponder às demandas sociais (enfatizando a questão da eficácia dos resultados) .
O discurso da participação , portanto, lança exigências e busca articular a demo- estimativa(. ..) sugere que cerca de 65% do universo dos municípios brasileiros dis-
cratizaçãodo processocom a eficácia dos resultados- onde a primeira aparece como põem de Conselhos (... ) isso significa a existência de algumas dezenas de milhares
condição de realização da segunda. Claro que a ênfase em um ou em outro ponto, de conselheiros, número equivalente ao de vereadores" (Carvalho , 1997:153-154).
ou a sua efetiva articulação, varia tendo em vista a natureza dos governos, a capaci - Dados do CNS, em documento produzido em 1999, apontam para a existênciade
dade de pressão da sociedade organizada, a setorialização dos projetos etc. Esperava - cerca ~e 45 ~il conselheiros de saúde nas três esferas de governo (CNS, 1992, par.
2).
se que, por meio da participação cidadã nos espaços institucionais, seria possível Pesquisa realizada em São Paulo aponta que estão em funcionamento naquele Esta·
reverter o padrão de planejamento e execução das políticas públicas no Brasil. A do, só na área social, mais de 1.167 conselhos municipais, com uma média de mais
mudança desse padrão seria possível porque a participação provocaria um tensiona - ou menos dez conselheiros em cada um deles (Cepam, 1999). No Estado do Rio
mento nas agências estatais, tornando-as mais transparentes, mais responsáveis , mais Grande do Norte p · • d' . . . · ó 111
, . ' esquisa m tca a existência de 302 conselhos mumc1pais, 5 •
suscetíveis ao controle da sociedade . area social (Arquid' d N l 5 rtr·
iocese e ata , Pastoral da Criança e UFRN, 1998). e son ·
A sociedade poderia exercer um papel mais efetivo de fiscalização e controle mos aos conselheiros - . ·dades e
. nao-governamenta1s todo o contingente de ONGS, enn
estando "mais próxima do Estado", assim como poderia imprimir uma lógica mais movimento s envolvido . _ . , . l' · . desses
Ih . s com ª qual1ficaçao e capacitação tecnica e po inca
democrática na definição da prioridade na alocação dos recursos públicos . Esses conse e1ros, veremos h, . . rimenro
n que ª uma grande concentração de energia e inves .d
esses espaços institucion . . d . is den o
47 sobre eIes. ais os conselhos, o que justifica um olhar ma

48
Bus~ando co nt ~xtuali zar os co nselhos gestores no conjunto do s demai s conse- . . . de Direitos da Mulher, de Cultura , de Esporte d
selhos Municipais . ,, s, e Tra
lhos h oJe ,~m funcwname~t~ n_o paí s, utiliz amo s a distinç ão propo sta na pesqui - · , nio Cul tur al, de Urbanismo etc . . ns.
sa/estudo Co nselh os Mun1c1pa1s e Políticas Sociai s" (IBAM , IP EA, Co munidad e Soli- porres, d e Patnmo
dária, 1997) que di vide os co nselho s em três tipos principais :

Natureza, Composição e Atribuições


• Os Conselhos de Programas: "vin culado s a programa s governamentais concre-
tos, em geral associados a ações emergenciais bem delimitada s quanto a seu
escopo e a sua clientela ( ... ) Em geral, articulam ou acumulam funçõe s execu- Este escudo irá se deter no s conselho s gestores de política s pública s ,
. . . . . , tarnbern
tivas no âmbito do respectivo programa. Trabalham mai s com a noç ão de denominados conselhos setona1s, que emergtram como movação Institucional
. , . á. a par-
clientelas específicas, supostamente beneficiária s do s programa s. Dizem res- tir da Constituição de 1988. 1iorna dos o bngatonos em v nos níveis de defini _
peito não à extensão de direito s ou garantias sociais, mas a meta s incremen - políticas, f,oram cons1ºdera dos Iegaimente m· d.1spensave1s
' · para o repasse de reçao das
e d • Es d · , • • • d
re era1s para ta os e murnc1p10s, cons t1tum o- se como peças centrais no r
cursos
tais, em geral vinculadas ao provimento concreto de acesso a bens e serviços
elementare s ou a meta s de natureza econômica . A participação aqui, em geral , . - d · - d l' •
so de descentrai1zaçao e emocrat1zaçao as po mca s sociais. Moreira P f,aces-
. _ . nos o erece
além de acolher a clientela -alvo ou beneficiária , contempla também as parce- algumas mformaçoe s precio sas acerca da conformação legal dessas no · , .
. . vas tnstanc1
rias e sua potência econômica ou política . Exemplos são os Conselhos Muni - del1beranvas: as
cipais de Desenvolvimento Rural, de Alimentação Escolar , de Habitação , de
Emprego, de Distribuição de Alimentos ". "(...) [os conselhos] são órgãos concebidos para influir constituti
. . vamenre na vontade
• Os Conselhosde Políticas: "( ...) ligados às políticas públicas mais estruturadas ou normanva do Estado, mediante o exercício de competências confi 'd l .
concretizadas em sistemas nacionais (... ) São, em geral , previstos em legislação . . en as pe as respectiv as
1eis cnadoras, que devem trazer as linhas definidoras de seu ca d -
nacional , tendo ou não caráter obrigatório, e são considerados parte integran- . mpo e atuaçao. Não
podem . . os conselhos deliberar sobre matérias que extrapolem os setores das pol'mc . as
te do sistema nacional, com atribuições legalmente estabelecidas no plano da
soc1a1 s sob sua responsabilidade, nem sobre questões que extravasem o âmbito da esfera
formulação e implementação das políticas na respectiva esfera governamental ,
de governo onde foram criados e das atribuições que lhes foram conferidas ( ) O -
compondo as práticas de planejamento e fiscalização das ações . São também selh · ... s con
, _ os conmtuem-se em instâncias de caráter deliberativo , pore' - .
m nao execunvo; sao -
concebidos como fórun s públicos de captação de demandas e negociaç ão de
orgaos com função de controle contudo - . ai
interesses específico s dos diversos grupos sociais e como uma forma de ampliar _ ' nao correc1on das políticas sociais, à basede
anu1açao do poder político. O conselh0 - b ,.
a participação do s segmentos com menos acesso ao aparelho de Estado . Ne ste D' . nao que ra o monopolio estatal da produçãodo
ireno, mas pode obrigar o Estado I b
grupo situam -se os Conselhos (. ..) de Saúde , de Assistência Social, de Educa- d ( ) _ ª e ª orar normas de Direito de forma compartilha-
ª ... em co-gestao com a sociedad . ·1 ( ) O
ção, de Direito s da Criança e do Adolescente ( ...) Dizem respeito à dimen são sobr d'd . e CIVI • ·•• s conselhos devem se deter, também,
e me i as que visem ao rearde . . . , . . -
da cidadania, à universalizaç ão de direitos sociais e à garanti a ao exercício des- ' bl' , . namento mst1tuc10nal dos orgãos da admm1srraçao
Pu ica responsave1s pela execu ão d l' .
ses direito s. Zelam pela vigência desses direitos , garantindo sua inscrição ou d • _ ç as po ltlcas sociais dentro do seu campo específic o
e mtervençao (...) Se tais medidas . l' .
inspiração na formulação da s políricas e seu respeito na execução dela s". chefe d E . imp icarem alterações de competência privaova do
o xecunvo, ou de seus a l d'
• Os ConselhosTemáticos: "( ... ) sem vinculação imediata a um sistema ou legis- autoridad ' bl' uxi lares !retos, depend erão de hom ologação por essas
es pu icas. Tudo o mais q h , . - e
lação nacional , existem na esfera municipal por iniciativa local ou mesmo por expresseO , . d ue ten ª carater de adequação ou reonenraçaoe qu
exerc1c1o e compet' . .
estímulo estadual. Em geral, associam-se a grandes movimentos de idéias ou lagação (ex _ f, . encia prevista na lei de sua criação não necessitade homo·
ceçao ena às delib - d 65)
temas gerais que , naquel e Município , por força de alguma peculiaridade de eraçoes os conselhos de saúde ( .. .)" (Moreira, 1999:
perfil político ou soc ial , acolhem ou enfatizam o referido rema em sua agen -
No que se refere ' . · d·
'd a sua compo siç- l .1 - . . . , io a
da (...) Aqui, mai s do que na s dua s outras modalidade s, os formatos são muito pan ade entre E st d . ao, ª eg1s açao impõe o respeito ao pnn cip
variáveis, embor a, em geral, tendam a segui r as características principais do s
O
a e soc1edad d · -es A
representação go e, como mecanismo de equilíbrio nas eciso .·
conselho s de políti cas, ou seja, a parti cipaç ão de repre se nt ações da sociedade
. 1 vernamental no 1 ' blicos
tttu ares de cargo d d ' - s conse ho s é feita, em geral, por agentes pu , ·.
e a assunção de responsabilidades pública s. Neste grupo, incluem-se os Co n- 1 , s e ireçao na Ad . . onsaveis
pe as areas das pol' · . . mini st raç ão dir eta ou indireta, por resp . ,
- d inca s soc1a1s e r indica
çao o chefe do Pod E ' por outros que atuem n as áreas afins, Pº ,
49 er xecut · (M , presen
ivo o reira, 1999:67) . A soc iedad e civil e re

50
. d demais segmentos, ou seja, o número de representantes dos ,
rada por con selh eiro s escolhido s por seus pare s, em fórum pr óprio , dentr e as ent i- ao conJunto os . Usua-
. d . a1à soma dos demais . Dessa forma , a pandade no caso da saúd .
dades e organizações não -govern amentai s pr estadora s de serviço , de defe sa de dir ei- nos eve ser 1gu e sig-
tos, mo vimento s, associaç ões comunit árias, sindi cato s, associação de usuários, · c.
n1nca, na verdade , uma super -representação. , do
. segmento
" . .dos. usuários . Segun d0
devendo essa compo sição ser pr evista por lei específic a, de acordo com as part icula- C arv alh o, tr ata-se de uma composição pantana que ,, d1scnm10a positivament e os
ridades de cada contexto (Moreira , 1999 :68) . Por ser definid a com o ativid ade de segmentos e grupos com menor ~oder no sistem~ (Carvalho, 1997 :150) . No caso
"relevância públi ca", a função de con selheiro não deve ser remunerad a, à exceção do s de não homologação pelo Executivo das Resoluçoes dos Conselhos de Saúde , estas
membros do conselho tutelar . As reuniõe s do con selh o devem ser ab ert as à comu - devem ser encaminhadas ao Ministério Público .
nidade, que não tem, contudo , direito a voto . Qu anto à din âmic a de fun cionam en- Assim como no caso da saúde, a aprovação do Estatuto da Criança e do Adoles-
ro, cada conselho elabora seu regimento interno que , depois de aprovado em plen á- cente (EC A), através da Lei Federal nº 8 .069, de 13 de julho de 1990, foi o resultado
rio, é submetido à aprecia ção do chefe do Poder Executivo, que o aprova por mei o da mobilização dos movimentos de defesa da criança e do adolescente que, desde 0
de decreto . As decisõe s do conselho devem ter a forma de resolução e devem ser final da década de 70, levantaram a bandeira do atendimento integral e da partici-
publicadas em Diário Oficial ( C EPAM, 1999 :55-62 e Moreira , 1999) . pação da sociedade na formulação das políticas .2 Nesse sentido, para Fones : "o ECA
Para além dessas definições mais gerais , vamos percorrer, de forma sucint a,
é provavelmente o caso mais expressivo de uma política setorial específica que busca
alguns contornos jurídicos dos conselhos em cada área específica.
explorar o potencial das brechas conquistadas na Constituição de 1988 para a intro-
A regulamentação dos conselhos de saúde, como parte do arcabouço jurídico do
dução de mecanismos de participação popular no funcionamento institucional do
Sistema Único de Saúde (sus ), foi resultado de uma intensa mobilização social 1 que
país (Fortes,1996 :21) . É no âmbito do EC A que se definem como diretrizes da polí-
teve início em São Paulo , em meados de 70 , ganhando visibilidade nacional no iní -
cio dos ano s 90 . De acordo com a Lei Federal n 2 8 . 142, de 28 de dezembro de 1990 , tica de atendimento à criança e ao adolescente os conselhos de direitos, e seus res-
pectivos fundos, com composição paritária entre Estado e sociedade e com poder de
0 princípio constitucional da "participação da comunidade " na gestão pública dar-se-
ia, no âmbito da saúde , pelas Conferências de Saúde e por meio dessas instância s deliberar sobre as políticas de atendimento a crianças e adolescentes :
políticas, previstas para os três níveis de governo , de caráter permanente e deliberati -
vo, compostas por governo , prestadores de serviço, profissionais da saúde e usuário s: "São diretrizes da política de atendimento : (...) criação de conselhos municipais, estaduais
e nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos deliberativos e controladores
"O conselho de saúde, em caráter permanente e deliberativo , órgão colegiado composto das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de orga-
por representante s do governo , prestadores de serviço, profissionais da saúde e usuários, nizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais (...) Manutenção de
acuana formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na ins- fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos Conselhos dos Direitos
tância correspondente , inclusive nos aspectos econômicos e finance iros, cujas decisões da Criança e do Adolescente (...) As entidades governamentais deverão proceder à inscri-
serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera de gover- ção de seus programas, especificando os regimes de atendimento (...) junto ao Conselho
no (...) As Confer ências de Saúde e os Conselho s de Saúde terão sua organização e nor- Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (...) As entidades não-governamentais
mas de funcionamento definidas em regimento próprio aprovados pelo respectivo Con - somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitosda
selho. Para receberem os recursos de que trata o artigo 32 dessa lei, os município s, os Criança e do Adolescente" (Lei Federal nº 8.069, art . 88, § 2, § 4, art. 91).
Estados e o Distrito Federal deverão contar com : (...) conselho de saúde, com comp osi-
ção paritária de acordo com o Decr eto 99.438, de 7 de agosto de 1990 " (Lei Federal nQ . Quanto à sua composição, cabe às leis específicas de criação dos conselhos deter-
8142/90, are. 12 , § 22 , § 5, arr. ~. § 2). mmar o perfil das ent1ºdad es que d evem compor a representaçao- nao-governa- men-
tal.. Em geral ' as le1·s preveem
• · · - .
a parttc1paçao de entidades de atendimento· d"ireco a
Quanto à sua composição , a lei de criação dos conselhos de saúde os di stingu e crianças e adole scentes, enti·d a d es d e defesa dos direitos e, de forma menos irequ
e. ..en-
dos demais conselho s por prever a representação paritária dos usuários em relação te, centros de estudos e pesquisas e entidades classistas .
A redefinição da a · • ·
-
·l , e . •
sstSfencta sona so 101 concluída, em termos legais , com
a pro-
.
l. Ver, denrre out ros, 0 rraba lh o de Pedro Ja co bi , "Movime nt os socinis e p olfti cns p úblicas: dem andas por sanea- mulgaçao da Lei nº 8 742 7/l / . · · Ass11n
· ' em 2 1993, após sucessivos vetos presidenciai s.
mento básico e saúde". São Paulo: Co rcez, 1989.

2 - Sob re a mob ilização a f d ECA


51 avor o ' ver, dentr e o ut ros, Sran isci, 199 7 .

52
comono casoda Lei Orgânicada Saúde (LOS) e do Estatuto da Criançae do Adoles- . . . "Essas iniciativas surgu am com o tentativ d
1·ca Teixeira. b ·t· - a e r~
cente (ECA), a Lei Orgânicada AssistênciaSocial(LOAS ) foi resultadoda mobilização ciedade, corno exp t . d 1982 à crescent e mo I izaçao popular b s-
so leitos a parur e . ~ , Uscand0
dosgruposorganizadosda sociedadecivil, num processo demoradoque exigiumuito osta de governos e . rras organ1zaçoes populare s passaram a te
P olínca que ce r com 0
poderde negociaçãoe pressão.3 Os conselhosde assistênciasocial, de acordocom a neutralizar a f,orça P ,. onômicà' ( 1996). Já os conselhos populares -
d crise poltnca e ec . . ' saoespa-
LOAS,são parte integrante do sistemade assistênciasocial, com caráterpermanentee agravarnento ª , rios movimento s soCJats, que tem como caract , .
. · dos pe1os prop enst1cas
deliberativo
, em todos os três níveisda federação. Por meio delese das Conferências ços públicos ena a1· , e O não-envolvim ento institucional . As rela -
, 1 or de form izaçao . Çoesque
municipais, estaduaise federais, cumprir-se-iao preceitoconstitucionalda participa- um mve rnen Es d os partidos políticos unham como condi ção estru
b 1 .am com o ta o e . . turan-
çãoda sociedadena formulaçãoe controledas políticasdo setor: estª e ect . Temos ainda os conselhosadministrativos que esc
te a defesa de sua auconorn1a. . . . . ao vol-
. e direto e parnc1pat1vo das umdades prestador as de serv·
cados ao gerenc1ameno ~ . iços,
"A organização da assistência
socialtem comobaseas seguintesdiretrizes : (...) participa- hospitais etc., mas que nao possuem poder para influir no d
ção dapopulaçãopor meiode organizações representativas, na formulação daspolíticase como esco1as, creches, . . ese-
,- ' bliºcas da área em questão (Teixeira, 1996 e Daniel 1994)
nocontroledasaçõesem todosos níveis(...) O funcionamento dasentidadese organiza- nho das po1mcas pu , . _ , '. ·
Os conselhosgestore s de políticaspubltc~s sao, p~r~anto,espaçospublzcos de cornpo-
çõesde assistência socialdependede préviainscriçãono respectivoConselhoMunicipal
. _ l l
szçaop ura e pari·•a
•· entre Estado e sociedadecivil,
'ria , . de, natureza
. deliberat
. iva, e19a
.
deAssist ênciaSocial,ou no ConselhodeAssistência Socialdo DistritoFederal , conform e
função é formular e controlara exec~ç~od~s poltticas publicas setoriais. Destacando
0 caso(...) A inscriçãoda entidadeno ConselhoMunicipalde Assistência Social(...) é
sua novidade histórica, podemos d1stmgu1r os conselhos gestores de outras expe-
condição essencial
parao encaminhamento depedidode registroe de certificado de enti-
dadede finsfilantrópicos junto ao ConselhoNacionalde Assistência Social(CNAS)(...) é riências de conselhos, tendo em vista:
condição paraos repasses, aosmunicípios,aosEstadose ao DistritoFederal , dosrecursos
de quetrataestaLei, a efetivainstituiçãoe funcionamento de: Conselhode Assistência a) serem espaços públicos com composiçãoplural e paritária. Neles se fazem
Social, de composição paritáriaentre Governoe sociedadecivil;Fundo de Assistência representar organizações da sociedade civil e agências do Estado, portadoras
Social, comorientaçãoe controledos respectivos Conselhosde Assistência Social;Plano de interesses e valores não apenas distintos, mas por vezes antagônicos. Esta
deAssistência Social" (LeiFederaln2 8.742, are. 52 , art. 92 § 3, Art. 30 § 1-3). pluralidade não se relaciona apenas à dicotomia Estado/sociedade, mas se
reflete também nas clivagens internas aos referidos campos . A pluralidadena
De acordocom a referidalei, a composiçãodos conselhosde assistênciasocialestá composição, em vez de um obstáculo - como alguns estudos têm sugerid o
subdivididaem três segmentos:representantesdas entidadesprestadorasde serviços - é, ao contrário, o elemento que responde pela natureza pública e demo-
assistenciaise de assessoria,representantesde usuáriose representantesdos trabalha- crática desses novos arranjos deliberativos . Partindo do suposto de quea plu-
doresda assistênciasocial. A representaçãodos usuários, em geral, congregaentidades ralidade é perfeitamente compatível com a deliberação e de que, portanto,
quelidamcomidosos, pessoasportadorasde deficiênciae criançase adolescentes . Dis- não é preciso sacrificar a primeira para dotar de eficácia a segunda,5 umdos
tingueaindaos conselhosde assistênciasocial,uma atribuiçãode naturezaexecutiva: grandes desafios presentes nessas experiências, como buscarei demonscrarno
a concessão de certificadode filantropiaàs entidadesprestadorasde serviço."1 decorrer do estudo, é a construção de mecanismos - procedimentaise não·
Tendoem vistasua dinâmica de funcionamento, podemos continuar essa tenta- procedimentais - que permitam aos diferentes atores envolvidos nos proces -
tivade caracterização , distinguindo os conselhos gestores de outros três tipos de sos deliberativos, principalmente àqueles em situação de desvantagem.
experiências de conselhos: os comunitários , ospopularese os administrativos (Teixei- expressar e sustentar publicamente sua diferença , de tal forma que rod05
ra,1996e Daniel, 1994). renham a expectativa de influenciar nos resultados da deliberação.
Os conselhos comunitários , comuns nas décadasde 70 e 80, tiveramcomo objeti- b) terem
. no processodta' l6igtco
· o instrumento
· privilegiado d e reso1uça' o dos con· e·
voservirde espaçosde apresentaçãodas demandasda comunidadejunto às elices polí- Anos inerentes a' dº1vers1 ºd ad e dos interesses em jogo .6 O cerne dessa perspe
ticas locais, numa relaçãoque renovaa tradicional relaçãoclientelista entre Estado e tiva liga-se a' natureza pu, bl.1ca do s acordos . A public1
. .d ad e e, aqui· o elenienro

3. Urna análise rnidadosadesseprocessopode ser encontradacm Srein, 1997. e Raichdis.1998.


/tÍtlllorr,:,i•
4. Asconseqüê ncias dessaprerrogativa sfo discutidas em lbicl1elis. 1')'/8 .
eamS.b Ver
"d
ri
argumenração n . 'd
esse senu
ge, M IT Press, I CJ96.
O
. . . ,pltriry
. Plumlmn, 'º 11 •
em James BohmJ n, Public delibemtio11
,111
1

6· Pano aqui da disrin ão r,.-. . ., . .


53 ç ena po1 Bohman cm re d ialogo e d iscurso, op . c1c.

54
qu e di ferenci a a con strução dos acordos no s proce ssos deliberati vos no int e-
rior d os con selhos , di stinguindo- os d a troca d e favore s, das pr ática s client e- .d d dendo da cultura política ou da conjuntur a local bu
renc1a a epen . • sco nest
listas, da coopta ção etc . Os argumento s usados para balizar os acordo s devem dos obstáculos que mais se destacaram na análise d . . e tex10
recuperar ajguns a 6i61
10grar{'ia.
ser po ssíveis d e serem sustentado s publi camente , a partir d e princípio s ético s
elem ent ares relacionad os à vida pública .7
c) fun cionarem co mo instâncias d eliberativas com competência legal para for -
Metodologiada Pesquisa
mular política s e fiscalizar sua implement ação , apont ando no sentido da
demo cratiza ção da gestão . O s con selho s gestore s têm força legal para influir
Esta pesquisa como dito anteriormente , privilegia, dentre os milh
no proce sso de produção da s política s públicas , redefinindo prioridad es, ' , ares de co
recursos orç amentários públ ico s a serem atendido s etc., acenando na direção lhos em funcionamento no pais, os conselhos gestores de políticas , b . nse-
. • . 'ai ' d d e d d' . d .
áreas de ass1stenc1asoct , sau e e eresa os trettos a criança e do ad
pu licas n
' as
da partilha de poder . Ele s podem interferir de forma direta no s modo s de
atuação dos órgãos governamentais e não-governamentais respon sáveis pela
·1
· e . ·1 . d d . e
Para sua realização, un 1zo, como ronte pnv1 eg1a a e tn10rmação u olesce
. nte..
execução das políticas, a cujas áreas estão ligados , "induzindo o Estado à
' m con1untO d
estudos voltados à compreensão do atual funcionamento desses c Ih e
onse os Est
ação" e impondo mecanismos de responsabilização do Estado perante a socie- estudos (listados na bibliografia, ao final do texto) encontram- se · e.s
, em sua rna· .
dade (Moreira , 1999 e Carvalho , 1995) . A competência legal de deliberar sob a forma de teses ou dissertações, embora tenham sido também r iona,
sobr e as política s públicas é a principal força dos conselhos enquanto espa ços . . . . ecuperadasa .
l1ses produzidas por ONGse outra s enndades e movimentos envolvid d' na-
potencialmente capazes de induzir à reforma democrática do Estado . .. ~ os iretarne
com a pamc1paçao nos conselhos. A proposta desta pesquisa não é trabalh nte
particularidades de cada uma dessas experiências, mas, sim concent ar cornas
Se essas car acterísticas transformaram os conselhos gestores em arranjo s institucio- . , ra~~ ~
das afinidades, das semelhanças, buscando construir as generalizações , . ca
nais inéditos, preci samo s compreender até que ponto foi po ssível efetivá -las no s casos e • . ,e-. _ e. , d .d POssiveis. ,-u
rererenc1asaos casos espec11tcosserao 1ettas a me I a que estes se m
concreto s, ou seja , é preciso saber até onde a dinâmica real de funcionamento do s ostrern exern1
res à compreensão do tema em questão. Pa-
conselhos tem permitido que esses princípios inovadores se traduzam em prát icas pol í-
ticas inovadoras no âmbito da gestão dos negócios públicos . As análises a seguir buscam, portanto , refletir um certo padrão O ai ,
. ~ d . t,er percepurel
Embora o pouco tempo de existência dos con selhos, pouco mais de dez ano s, não na avai1açao os conselhos gestores, a partu dos estudos de caso 1 · d
. . se ec1ona os. Por
favoreça afirmaçõe s mai s conclu sivas, a análise da bibliografia , a partir de uma pers- me10 de um exame cuidadoso dessa vasta bibliografia busqu · ·d '{'
. ,. ' e, 1 enrmcar os
pectiva comparada , sugere que muitas são as dificuldades para que esses princípio s temas/problemas mais recorrentes nessas análises as variáveis n1 · · ·1 .
" ,, . . ~ ' ats pnv1egiadas, 0
normativo s se efeti vem na s experiências concreras . Ou seja , apesar de a própria exis- tom mais comum na ava!taçao geral dos conselhos etc A pro' ·. d' · - d
· pna 1v1 sao este
tência dos conselho s já indicar uma importante vitória na luta pela democratiza ção texto reflete as conclusões decorrentes desse exame. Cada um dos t d d
. . emas estaca os
dos processos de deci são , os estudo s demonstram que tem sido muito difícil reverter , o fo1 na medida em que se mostrou relevante no conJ·unro dos est d . ·
. . . . u os, ~eiacomo
na dinâmica concreta de funcionamento do s con selhos, a centralid ade e o protago- tnd1cador da vna!tdade ou dos desafios atua lmente presentes 11essas expenenrns.
· · · DJ
nismo do Estado na definição da s políticas e das prioridade s soci ais. Ape sar de serem mesma ~o~ma, esta pesquisa buscou ficar atenta às saídas encontradas pelos atores
de diferentes orden s os motivo s que impedem os conselho s de assumir de form a mai s que p~mcipa~ dos encontro s, a fim de superar os limites que constrangem suaação,
efetivasuas atribuiçõe s legai s, e de esses motivo s se expre ssa rem de forma muito dife- assumrndo assim uma dimensão não apenas crítica, mas propo siriva.
. !enho consciência das enormes limitações que estudos desse tipo apresentam.:\
unhzação exclusiva, e com objetivo comparativo , de bibliografi,1secund:íria permi-
d 7· Entre nós, essa discussao pode ser encontr ada, denrre outros , em Sônia Alvarez e Evelina Dagnino . Para além
Iª democraciasoc'al ·
I mente existente: ·a e a con fi1guraçao
· nenm s soc1·a1·s, a nova c,'d ad a111
mov 11 - d e espaços pu· 611co
· s te compor um panorama mais ou meno s amp lo em termos de proble1ms t' .1d iJ-
~ternativos.XIX EncontroAnual da ANl'OCS (GT Cu lrn ra e Política) . Caxambú (MG) : out. 1995 ; Sérgio G . Baierle.
tn novoprina'P'
. _ io ',,,· ,, · pra,tica
· co-poatrco: · soc,a
· l e suie,m
· · no s mov 11
· ne n ms pop u 1ares ur banos em Porto AIegre nos ano s
80 8· "ª.'ª ÍJciliiar ª lci1ura, apresentou111
· ~issenaçao de mestrado. Campinas: iFCH-Unicamp , 1992 ; Vera da Silva Telles, Sociedade civil, di reitos e espa- pequl'llogloss.lrin d.is ,i!;b<u1ili,.1d.1,m, uJrpo J,, 1nw:, 11' l,m,,•.
çospublicas P.'t a . . . - .
de _ · 0 is., n 14 , 1994 ; Cla ude Lefort. Pensando o políttco. Ensaios sobre democrac ia, revoluçao e liberda- lho M~nicipal <lcSaiíde/ns: Con1dho E>1ad ual de Saüd,·icN~: t ·:111 ,d hn N.1uu11. d d,· ~.1u<ld,111" l 'un,dh,•
5
e · ao Paulo: Paz e Terra, 199 1; Grupo de Estudos sobre a Co nstrução Demo crárica (GESCD). Movimenms soci.1is ~u~icipal_<lc Assis,ênciaSocial/CiA;: Conselho Fs1.1du al de i\s-i11,·11ci.1Soei.d/e!\ 1,: Con,dh,, N.1,ion.il,k ·"' "'
ª conSrrução democrática no Brasil: sociedade , espaços púb licos eco-ges tão, Campinas : mimco , 1999 . iencia_S~oal/ MIXA: Conselho Mnnicip.d dos llirei1os d.1Cri.111 ç.1e do Adobce111, ·/li P< 1: Con,dh,,hu,lu.i'
dos l1ircnm_<la riançJe <loAdob ccme /nlNANDA:Conselho N.icion.11do, 1)ire11md.1Cn.1111, 1e.!,,.\J,,l<,..u·
IC;Cf>CAs:C.on1elhos d . 1) -r I e . 1 d 1 \J 1 .11 1. 1,1,: 1,,
O . .. ' e CSJ<ª r1JJiçae to A olcsccnrl'ÍI e,\: Fs1.11111 11J .1( 'ri.111ç.1
,. , ,, "'°"' '
55 rganKJdJ Sa,,<lc/i UAI: Lei Orgânicad:1As,istência Social.

56
ções, deixa escapar rodo um detalhamenro que seria fundamental para um maior O reconhecimentodo "outro"
aprofundamento do tema. Atenta a esse contexto, busco, neste estudo, tão tão-
somente o "tom", a expressão mais visível e os contornos mais gerais apreendidos na elo equilíbrio na representação dos interessesgovernamentais e não
A busca p . . . -gover-
análisedo conjunto da bibliografia selecionada. . conselhos não se exaurenas garantias proced1menta1sda paridad
namentais nos . . . . e nurné-
. . deveser construída no cot1d1an o das práticas e das arnculações no . .
nca, antes, . . . interior
dos conselhos. Isto porque a diversidademterna dos refendas campos abre a possibili-
J. Os conselhos como espaços de representação paritária e plural"
dade de múltiplasclivagense articulaçõesno desenrolardos processos deliberativo s 111
Os movimentos organizados da sociedade civil exerceram uma forte influência Os interessesque levam as entidades a disputar assento nos conselhos são os · .
. . . e rna,s
no processo constituinte , resultando dessa influência tanto a criação dos conselhos variados, assim como a própria noção do que sep part1c1parna rormulaçãodas oi'.
· d d . ·1 P 1ti-
quanto a definição de alguns princípios que deveriam ser observados quando da cas. Para muitos representantes da soc1e a e c1v1, estar nos conselhos é uma formad
implementação desses espaços. Um desses princípio s diz respeito à obrigatoriedade conseguirmais recursospara suas entidades e não uma forma de construir coleti·v e
amen-
tÚJ.paridade na composição dos conselhos. Ou seja, compreendeu-se que, nos conse- te O que seria o interesse público em cada área específica. A disputa por recursos, n
lhos, Estado e sociedade deveriam ter igual núm ero de membros, excetuando-se o maioriadas vezesexíguos,os distintos projetos políticos que animam a participa ão ª
caso dos Conselhos de Saúde, para os quais a lei prevê composição paritária dos
. .. e ç ,a
diversidade na compreensãodo que sep part1c1parna rormulação das políticas públi-
usuáriosem relação ao conjunto dos demais segmentos. A paridade, como dito ante- cas, rudo isso torna o campo da sociedade civil, naturalmente heterogêneo, em um
riormente,foi considerada condição preliminar para uma real disputa entre posições
campo altamentefragmentado.Da mesma forma, embora seja possívelconstruirgene-
e interesses divergentes no interior dos conselhos, garantindo dessa forma a legiti-
ralizaçõesacercada natureza da participaçãodo Estado nos conselhos, é preciso reco-
midadee o equilíbrio no processo decisório.
nhecer a heterogeneidadeconstitutiva do ator estatal. No campo das representações
Temosvisto que, nos debates entre os atores que participam dessas experiências,
governamentais, também encontramos sujeitos portadores de distintos interesses , com
assim como nos estudos teóricos voltados à sua compreensão, muit as vezes a ques-
tão da paridade tem ficado reduzida a esta sua dimensão numéric a, com as princi- distintasvisõesdo papel dos conselhos,muitas ve:zescom posturas altamenteaberrasà
pais questões girando em torno da desconsideração do princípio da paridade nas participaçãoda sociedade civil, mesmo quando o enfoque geral adotado pelogoverno
legislações estaduais e municipais que regulament am os conselho s. Esta pesquisa pode ser o de resistênciaa essaparticipação.O reconhecimento dessaheterogeneid ade
fogeum pouco dessa linha e busca recuperar a dimensão propri amente política da constitutiva dos campos societal e estatal pode ser visto nos fragmentos abaixo:
discussãosobre a paridade .
Nessesentido, parto do suposto de que, mesmo que entre sociedade e governo exis- "O 'caldo' diferenciadode organizações,entidades, associaçõesque estão inseridas
na
ta uma igualdade numérica, essa igualdade não é suficiente para garant ir o equilíbrio noçãode sociedadecivil é espantoso. Gruposde interesseseconômicos,associações cor-
no processodecisório. Na dinâmica de funcionamento dos conselhos, os principais
constrangimentosà existência de um a relação mais simétrica entre Estado e sociedade
1O. Um rápido olhar sobre as entidades não-governamentais com assemo cm alguns dos conselhos JnJlisidos
aparece ram relacionadosàs seguintes variáveis: a) a dificuldade dos atores, tanto gover-
dá a dimensão dessa heterogeneidade: CMAs! Dionisio Cerq11 tira/SC:possuiu 1O membros ri1ulares. sendoJ pm,·
namentais quanto não-governamentais, em lidar com a pluralidade, b) a relação conse- não-governamental composta por um representante cio Sindicam dos Trabalhadores Rurais, um Jo Centro Je B,m-
lheiro-entidade; e c) a qualificação dos conselheiros para o exercício de suas funções. estar do Menor, dois do l.ions Club e um do Rotory (IPEAilBAMiCo munidade Solidária.1997:231): aon clf Pi,wi:
composto por dc1.oi10 membros, sendo nove conselheiros não-govern:1111 emais1 reprcsem.111d o :isseguimú i.:niillJ -
dcs: Ordem dos Advogados do Brasil, Sociedade de Pedia1ria, Conselho Regional J,· ServiçoSoci.11 , fokr.1ifoJ.ti
9. Regis1ro a imporrância, p :..1r:1 a d :iboraç:io Jcm.: estudo , dos tkb att·s rl':tliza<los 110 sc:minário '"Osconselhos Associaçõesde Moradores, Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, Visõo Mundial. l'.is<or.il do
de Polhicas Pt'ih1i
gcston.·s c1s no Brasilº , promovido pelo /n s1i1uro Pólis (Assc:ssorb, Formação e Estudos em Polí- Menor, Associação dos Professores do Estado do Piauí (Ferreira, 1997: 115); CEslViróri.i !ES:comp!lstoporrin«'
ricasSociais), cm parn:ria com o Fó rum N;1CÍ011al dl' P:1rricipJç:ío Popular. Núcleo Je Pan icipação Popular da Pre- • bros, 'JO
quat ro mcm rarn cons1·derados rcprcscn1antc~ J a soei·eJ :tl 1e c1·v1
·1orga11r
·lad:1 :t~ sq~ulllll'S
· l' llll·J·,J,,·· /\ s<tKIJ·
.
feitura de Santo André, Fundação Prdeito Faria Lima (CEPAi'vl) e a Associaç:io Brasileirade ONGs(ABONG) . sob a çãode Hospitais, entidades filantrópicas, entidadescivis do meio ambiclllL'.moviml'llW popul.1rde ~.1úlk, ~t·r~'' l·
11

coordenaçãode M:iri;_ido Carmo C:1rv alho e: realizado nos di.1sS e 6 de novembroJ.e 1999. T:.1111bé
111n.·kva111e s :1 resda saúde, Federaçãodos Trabalhadores na Agricuhura, Fedcraç:1udu, 'l,·abalhaJ or<·sdo Comércio.r«krJi·'º ,;
compreensão mais JmpliaJa do rcnu fora111.1s reuniões lÍL'1r:1balho do Projeto Ford no Br:isil, onJc t~>i possível Indústria, Federação da Agricultura, Federação do Comércio (Ferraz, l ')98: 118); CNAs/8,wil: ,ontpü>lll por.·
, , 1 i,s· /\»<JCl,l\J O
recebercrhicase sugesrõcsa!ta,rn.·mc v;1lios:1s. Ao Grupo de Estudos sobn: J Co nsrrução Dcmo1.:
dri cJ (l.1 ::i1...Tl)'--ll.',
·o membros, sendo os nove rcprcscntan11 :s da socicdadl"civil. rcpn..'Sl 'lll :td os pdas scgwnt1..') cnw ,\l 1.: • A OllJ·
muitodos fundamemos rc:óricose práricos usados 11c: s~a pesquis.1. Nacional dos Empregados da LllA, Conselho FcJ eral Jc Serviço Suci.11.Ccntrol Únic.t do, Tr.,b.,Ih.'.doNr~, .. ::.ti d,
- Naciona
. 1de Gereonto1og1a, . Muvunc:
. mo Nac1.011al dos Mc:n.1nos e Meninas . de Ru,i, 1\ ~c;ol·111·.10 l ·'"º
çao · Anjh"- 1
Entidades de Deficientes Físicos, Conferéncia Nacion:il J o, 13ispos do 13rasil. lmtiruto N.,ciunJI d<
57
Sociocconómicas, Fedemção Brasileira de lnsti1uições Jc Excepcion:ii, (Stcin, 1')97:l 'i5-I 56).

58
, . d s estudos de caso demonstra a existência de
Contudo, a ana1ise o . . 1 . unia ce
poracivas, entidades_filantrópicas, 0NGs e federaçõesde moradores... apresentamobjeti- . . - es socierais, pnnopalmente aque as vinculada s à d r tta
resistênciadas organizaço . . - e1esa d
vos, projetose necessidades diferenciadas.Como compatibilizar essapluralidade? (...) À . . hecer a presença das demais orgarnzaçoes como repr os
dlfettos, em recon . , . . . . esenta õ
igualdade ou paridadenuméricajunto aos conselhos não seguenecessariamente uma . d • dade civil. A pesquisa de Cana Aida Pereira da Silva (! ç es
legínmas a soC1e . 994), vo
igualdade de representação , não apenasem funçãodo maior'poderde fogo' do poder , reensão do functonamento de 20 conselhos tutelar es de Sa- p I-
rad a a comp o au]0 1,
público(...) mas tambémpelas dificuldadesadvindasdo ·própriocampoda 'sociedade
recupera esse problema e apont a algumas das suas conseqüências : ,•
civil'"(Lüchmann, 1997:26).

"Mesmosendo paritário,a paridade,em parte pelaideologiabrasileira , pesamaisparao "Os conselheiros tutelaresde São Paulo se consideram legítimos represenranres da
governo, não temjeito. A paridadeé ficr/cia(...) Grandepartedas entidadesnão-gover
- lação e legítimosocupantes destes espaçospu'bt·1cos,uma vez que paruciparam
. das popu..
namentais tinhamconselheiros que eram empregados do governo.O espíritodessescon- ., . rnob1.
0
Jizaçóespró-ECAe pró-CTCAs no mumc1p10. corre que, para os conselheir
os tutelares
selheiros
nãoera de sociedadecivil,elesseguiam a linhado governo.Não representavam para boa parte dos conselheirosmunicipais, os espaços criados pelo ECAsão le íti e
a sociedadecivil"(conselheironão-governamental do CEDCA.i sc, em Moraes, 1998). , h' , . e . , '1 g rnosse
e quando ocupados por pessoas com uma 1stona reira nas utas' dos seg
.d d . E .- . d d .d , ' mentas pró.
"(...) na divisãodo conselhoacho que ela [a paridade]está correta(...) 50% de usuários, c1 a ama. sra v1saoos 1mpe e e cons1 erar os outros , aqueles que não comuna
25%detrabalhadores e 25% governo.Só que a maneiracomoelaacontecena dinâmicaé ' . d' 1 ' . d.d
pranca, o 1scurso, a crença como egmmos can 1 aros a conselheiros rurel Ng rnª
ares. e
quea gentepercebeque o segmentodos usuários,elesestãomuito atreladosao governo. do a legitimidade da participaçãodo 'outro', os conselheiros ameaçam igualm gan-
. . . . entea leg,-
Então , elesacabam,inclusive, ficandocontra os trabalhadores
(...) e a favordo governoem nm,dade dos conselhos tutelares, pois recusam o plural1smo e a existênciado conflit
0
muitascoisas(...)" (conselheiro não-governamental do CMS/Cuiabá, em Silva, 1996: 108). raison d'êtredas experiênciaspoliárquicas e democráticas. Os conselheiros _ 'ª
que naocom-
"Emboraacrediteque a paridadefoi uma fórmulafeliz(...) a práticatem reveladodis- partilham o discurso da cidadania desvalorizam,por seu turno O poder d ·
' e Intervenção
- s (...) paridadearitméticanão significaparidade política.Acreditarnissofoi uma dos Conselhos na esferapública, descrendo assim dos pressupostos que a1·
rorçoe os 1mentam a
ingenuidade de nossa parte. Issonão se resolvemexendo na lei, mudandoo cálculodos defesados direitos e a participação da sociedade (...) pode-se dizer que '
o comportam en-
representantesdo governoe da sociedade.Issovai mudar com certeza, masquandoa ati- to dos dois grupos é anti-poliárquico. O primeiro aceita as normas m
. . . . , esmo porque se
vidadepolíticaforelevadaa um patamaréticoque elahoje não tem"(depoimentode um empenhou-se na sua tnst1tuc10naltzação , mas não aceita o pluralismo d -
a represenr açao
dosidealizadores
do ECA,em Stanisci,1997:118). social nos espaçoscriados por essas mesmas normas. O segundo grup b ,
o se su mete-seas
normas, mas não aceita inteiramente os princípios que as regem. Ambos não se recon he-
Alémde a composiçãoentre os atores societais não ser o resultado necessáriodo cem como iguais e, portanto, não conseguem viver dentro do mesmo espaço, pelo menos
conjuntodas articulaçõesestabelecidas no interior dos conselhos,'.' o princípio ~a até o momento". (Silva, 1994:95)
paridadetende, pelas próprias característicasde nossa cult~~a ~alínea, a se traduz'.r
emvantagenspara o governo, trazendo profundos deseqmltbnos ao processo deci- Muita s vezes, dispositivos legais já reduzem a het eroge neid ade na composiçãodos
sório comodemonstram os relatos acima. conselhos,
. excluind
. o , a priori, a po ss1
·b·t1 1·d ad e d e representaçao
- de certos grupos de
~esse sentido, parece correto supor que a obrigatoriedade legal da paridade interesses. Olwsa, recuperando a experiência do Co nselho Municipal de Saúde de
comoprincípiode equivalência entre Estado e sociedade nos co~selhos,_em,bo~a Vitória , demonstra que apes d Ih d . . . .
, , . ' ar e a esco a as organi zações sooe ta1s ser fetta em
lutamentefundamental, não é, contudo , suficiente para garanttr a equivalencia
abso forum propno sem nenhum · e ' · d d
. , . ' a mter1erenc1a o Estado, e esse processo ser basea o no
real: estaenvolve a continua disputa pela hegemonia · dos canseilios. A
· no 1·ntenor . pnnc1p10 democrático do vot 0 h ' d' - , · · · · d
. , a uma con 1çao previa qu e ltm1ta o conJunro e
· · ecamenre rel·,1c1·on·1
pan'dade, portanto, parece mmns , da 11
a·o ·1p
' enas ao reconhec1 - entidades ao qual é p · ·d ••

f erm1t1 ª ª part1c1pação: só podem candidatar -se entidades que
menro · · 'dade da represenraçao
da 1eg1t1m1 - do "OLitro", 1n ,·1<t·tmbém 1 capacidade de 0
• • ,
açam pane do con selho popular da cidade (Oliosa, 1999). Da mesma forma, Srein
esrabelec
er com ele acordos contingentes em torno de demand;1sespecificas.
12
· Os Conselhos Tutelares são org·rnism . J , . . . . . I· d, Jpli·
cação dos dir·.-. . , . . ' os (.'cararer (.'Xccuu vu e públi...:oque têm por obJL'IIVOzeJT P ' .
11
11 - L110 s t garanr1as conc1do s no EC o·f;1 .. . . . lh cdJn Jt1
11.Pensar issoSl'ria supor que os JIOíl''i l'nvolvidos paut1.•fll
:-itJ;l (j ,tções t: di~ltm os, prioriuriamt 'tlll' por :,_n escolhido~ pela com 'J d A. t:ienre dos demais conselhos, os membros do come O lll J
uni a e, por meio de vot· - , . , b , -·1 . 1994 1\n r.t·
deumaordenaçãoracional consnuí<la a p:in ir d,1J ionomia Fsc.1dox Socil'J,1dt:, n qul.'.' _11J~ longe,__
, nt:1 rcu.1pt't,1 <lc, 1997). Apesar J . ,tçao, e seu tra alho e remunerado (CF l'AM, 1999, S, v.l. . · · I.
. 1 1 J'f .. .. níveis Ji: p1-;rd1c.
1 çJo J l) J 1,1..u1,o
. (.'us conselhos tutelares não ~ st .J . Ul)J o tO
tod
J a complexidade dos processos de co11s1rução dm Kor1 eh t: Ln, 1t'ttnr..::s tu <lcSilva recupera de " . . e arcm contemplados como objeto J e estJJLl os e» .1pc>q '
o1n1.1muu u precisa um problema <.. 1u1.:<:muit o recun enti.:nos L~1Udo~ Jqui sckcion.1...l
u~.

59
60
discute os efeito s da exclu são do Conselh N · 1d p • • . . . mento com O trabalho com a criança está representad
. d , . o aciona e sico 1ogia como mst1tu1ção os ramos de pensa o nele·
represent a tiva os usuanos , no âmbito do CNAS (Stein · 1998 ·160) A a1· d dades avançadas,
os que são contra o Estatuto, os que não estão nem aí p . · as cnti.
- b · · · • v 1an o essas . . . ra isso (... .
exc1usoes, so a perspe ctiva da compo sição do s CEDCA G d C e.
s, o rne s a osta a11rma: 1a, o M N"R
"''
[Movimento Nacwnal de Menmos e Menmas de Rua]
. , rnas tarnb·
) Esta
R Lions e a Associação Comema l, neste ponto ele é mu ito ern 0
orary, o . _ _ . representar·
"(...) hoje, se tivesse qu e reescrever o Estatut o [ECA] - d fi . . 'd d p ém muitas destas enndades nao estao compro metidas com a luta p l . Ivo.
. , nao e mm a como enti a es repre- or , . . e a Itnplanra -
sentativas aquela s qu e trabalham com a criança d 1 ( ) b • do Estatuto com a causa da wa nça. E desta forma, garantida a repres . . Çao
. e o a o escenre ... me arena para qu e ' entat1vidad
fossem as entid ades rep resen ta tivas da p opula ção ( ) p ·, e • setores conservadores da sociedade não se avança na questão da democ . e de
. . , . ... orqu e esse v1es - w 1 o corpora- rac1a no
t1vismo a nossa .m an en a qu e nos fez coloca r ap enas enr 1'd ad es d e at en d 1men
' lho. Avalieque válios conselheiros destas entidades conchavam com a p e . conse-
ro qu e rra ba- . . re1enura
lhassem com cn an ças e adolescent es - obje tivam ente arrasou o p rocesso, p ois, em sua fora dos conselhoscontranando o Regimento votado por eles próprios e, ' Por
, a urn de Ob
maioria, em todo O p aís, elas são p oliticament e muit o frágeis". (G om es da Cos ta, um dos verbas. E aí como é que fica?" (Conselheiro não-governamental do e ter
EDDC/RJ
idealizadores do ECA, em entr evista a Sran isci, 199 7: 126- 127) Camurça, 1994:61) ' ern

O caso do CEDCA do Rio de Janeiro , relatado em Camurça (I 994), é também Heterogenei dade na comp osição, resp eito à dif erença e capa cid ad d
e e const ·
um caso intere ssa nte , ne sse sentido , porque em determinado momento as ONGs adesões em torno de projetos específicos parecem ser condiçõe s n e , . ruir
cessarias ta
ligadas à defe sa de direitos , então hegemônica s, estabeleceram uma norma proibin - para dotar de eficácia as ações dos conselh os como par a ampli ar seu p . nro
. . oten cia1de
do a participação da Polícia Militar , 13 na repre sentação não-governamental , e da s cratizante. É do confronto argument ativo e d a tent ativa de di álogo rno-
entre grup os
entidades filantrópicas e assistencialistas, como representantes da sociedade civil. defendem interesses distintos, e por vezes clar am ent e antag ônic o que
. s, qu e o conselh
Essas exclu sões arranharam a representatividade e legitimidade do con selh o, que extrai a sua força, uma vez que: o
passou a ser reconhecido como "espaço do s movimento s" ou "conselho da opo si-
ção", dado o seu alto nível de homogeneidade interna . Se a exclusão de stes grupo s "Não há como falar em interesse comum, em normas pactuad as d h , ..
. - . . , quan o a su1enos
reduziu as situações de antagonismo , facilitando a tomada de deci sõe s, por outro importantes que nao parttc1pam e portanto não se subm etem a e! ( ) É .
]' d · as ... prenso
lado, afetou negativamente o processo de legitimação da s deliberaçõe s do s conse- amp iar ca a vez mais o grau de publicidade dos espaços de · - .
' bl' . negoc1açao e construir espa-
lhos, enfraquecendo-o s na s negociações com o Estado . ços pu 1cosnos quais um número cada vez maior de interesses s f: .
, . e aça representar. Dife-
A que stão da representação n ão -governamental nos con selho s é um a que stão rentemente dos contrapublICos,é nesses espaços ampli ados que tend , . .
· d enc1as ao corporati-
muito delicada , porque se, por um lado , os conselho s devem responder às exigên - vismo po em ser confrontadas e o aprendizado da difi' ·1 - d .
d ict constru çao o mteressepúblico
cias da pluralidade , por outro , isso pode significar a defe sa de grupo s antidem ocr á- po ~ avançar. O aprofundamento da democracia exige essa ampl iação dos oraus de
ricos, que fazem de sua p articipação nos conselho s condiç ão para a manutençã o d e publicidade dos espaços de discussão, negociação e deliberação Q uanto . dt>. ·r
privilégios e de velh as pr ática s de negociação com o Estado . Com o estabel ecer cri - cado O , bJ' · I 'd · mais 1vers1r1 -
pu ico rnc ui o nesses espaços ar d .
rérios para a defi piç ão d as entid ade s que podem ter ass ent o no s co n selho s, sem ferir
m d • . ' gumentan
an o rec1procamenre a si e aos interesses d d d
°, negociando , pactuando, leoiri-
. o
o princípi o d em oc rático elemenrar qu e é o dir eito à p articip ação n as d ecisões polí- de e maioresas p - . .d d d eman ª os, ma ior o seu grau de publicida-
6 1
oss1 I J a es e avanço demo , . . .
ticas? Além disso , à m edid a que se exclu em g rup os import ant es e repre sent ativos criar O terren ,. , cranco potenciais neste pro cesso, que pode
o prop1c10 a construção d h . "
da sociedad e civ il d a p art icip ação n os co n selho s, o bstacul iza -se o pro cesso de e novas egemo111as. (GESCD, 1999)
influência dem oc ratiza nt e qu e esses esp aços p o d eriam , p o ten cia lm ent e, exerce r Para encerrar esse item é . .
sobre essas organi zações . lenro, porém conrí ' preCJSosalientar q ue os est ud os tamb ém apontam um
" nuo , processo de g - d
conrratendência " d' _ eSraçao o q ue po d eríamos chama r de uma
' na lfeçao da conf; ~ d . ,.
"Seria contraditório com a pos tu ra de mocrática e plu ralista evitar a presença de rodos ormaçao e uma cu ltura po línca demo cranca:
os setores da sociedade civil nos co nselhos. No Conse lho M un icipal de Campos , rodos
"(...) os Conselhos de Saúde , e .
· ·-
ntuiçao de idenrid d .
vem runc1ona11d 0 como espaço s fomentadores dessacons-
a es colenvas e su ·e· ,.
lJ Segundo Ca111urça
, a Polícia Mi /irar havia parric ipado da frente de 111
obilizaçiio em fovur da i11sr.1/.1çfodo representa uma ofi d . 1 Jtos polmco s. A mera existência dos Conselhos
J (Camurça, 1994: 11).
CEDCAIR - , . erra e participação . 1 - - . I' -
cussao publica fi e inc usao, senao na decisão pelo menos 11•1 ' 15
, con igurando fi , . , .
um enomen o médit o na história brasileira, pela escd,ic
61

62
pela velocidade em que ocorre ( ) é . .fi .
. ... s1gn1 !Cativo como o e Ih .
consolidam um a identidade in t º . J _ s onse os, na medida em que . fl , ·a do s interlocutores tradicionais . Os depoimento s
. s 1tuc1ona , vao gerando en . no, so b a 111 uenc 1' .. , . a seguir r
de pertenc1mento e identificação ( b . tre seus membros um sentido - e apontam algumas d e suas consequenc1as : ecu.
peram essa qu esta 0
., . rec proca astante in ovador n I I' · b · •
ra. A expen enc1a do s Conse lh ª cu tura po 1t1ca rasile1-
os tem certamente servido de ca . -
do interesse públ ico , n ão apenas n . mpo para a cons1deraçao "1:necessário representantes (governamentais] com maior con hecimento e maior co
a p erspectiva da busca de i uald d b , . · s vezes, e' qu ew representante s nos co Ih lll~ ·
bém do respeito às dif erenças ( ) tal g ª es as1cas, mas ram- rência para decidir . O que ocorre multa
. . ... processo precede e preside a constituição erma nse os n·
nente de novos su1e1ros sociais que, impulsio d l . . P - têm a decisão. Eles aprovamas coisase depoiselasnão acontecemporque elesnão , ªº
ºd d , I . na os pe o auto interesse, rematizam suas . , . te,nrespfl/.
necess1 a es a uz d o int eresse público" (C Ih do (...) Os conselheiros governamentais tem um comprom isso com O Estado , mas ,
· arva 0 , 199 7, 153, 155, 156)
· - O que e1es querem, as
muito pouco poder de dec1sao. ' vezes, nao
- e, o que E d telll
O sta o quer
Os conselhos, a despeito das suas limitaçõe s assum
h · B ·1 Às vezes eles aceitam determinaçõe s do consel ho, mas ch ega a seu sup erior e ele acha ·
. "fu - , . ,, '
em OJe n o ras1 uma . _ ,, ( / que
importante n:ªº pedagog~ca no sentido da co n strução da cidadania e da rein - deve ser diferente , então ele vo 1ta com outra pos1çao CEDCA se, em Morae s, 1998)
venção do s padroes de convivência democrática
.
Em , · d "fi -
vanos est u os, essa un çao "A representação governamental não tem rido um respald o, quem vai para C 1 Ih O
pedagógica " foi destacada, apontando para um renovado campo das expectativas r nse O é
terceiro escalão. Então, são pessoas que não têm poder de decisão, n ão têm auton . N
acerca do s resultados do envolvimento institucional . 14 om,a. a
prática, a gente rem visto isso, são pessoas com quem a gente tem condições de fechar acor-
dos, com certeza (...) só que é uma aliança frágil, porque você está se aliando com u ,
m tec-
Relaçãodos conselheiros com suas entidades nico, não é ele quem decide no órgão (...) Tanto é qu e n os momentos mais cruciais(. ..)
0
governo federal (...) cham a os representantes do governo e diz como eles têm que a ·
g1rna
Além do respeito à diferença, a efetivação dos conselhos como espaços de que stão da votação" . (Consel heiro não-governamental do CNAS, em Raichel is, 1998:2!2)
representação plural e paritária parece estar também relacionada à naturez a do "( ... ) se eu consi dero vocês, qu e estão aqui , não remo s dif ere nç as, pod emo s assinar qual-
vínculo estabelecido entre os conselheiros governamentais e não-governament ais quer manifesto junt os; agora, eu n ão quero dis cutir com técnico s p o r afinid ade, quero
com suas entidades . Nesse sentido, quanto mais forte a relação conselheiro-enti - saber se o governo vai implementar isso. Estranho , vocês são o governo, eu sou socieda-
dade, maior a possibilidade de que diferentes interesses possam de fato se fazer de civil e po sso falar - 'o govern o' - vocês não . Eu não qu ero saber de vocês porque 0
representar nos conselhos .
governo não está implementado , quero saber porque você, no seu dep artamen to, você
Quanto à representatividadedos conselheirosgovernamentais, os estudo s de caso
que decidiu aq ui, não está implementando" . (Co nselheiro não -governamental do
permitem afirmar a existência de um vínculo muito frágil entre os repr esentantes O 'ANDA, em Sranisci, 1996 : 122) .
governamentais e seus órgãos de origem . Os conselheiros governamentais te ndem a
defender no s conselhos suas próprias opiniões e não as proposta s e po sicio namentos "(. ..) falta de 'vontade política ' por parte d os governos, qu e se expressa geralmente na
resultantes da discu ssã o com as agências estatais envolvidas . Assim, as posições do nomeaç~o de representantes governamentais que não têm nenhum poder real de decisão
governo nem sempre chegam ao conhecimento do conselho, assi m como as discus- no mrenor das instituições às · d e · ·
qu ais pertencem ; essa rorma, as decisões contmuam
sõesdos conselhos costumam não ser acompanhadas pel as agê ncia s esta tais envo lvi- sen do tomadas da forma rradic 1·0 1 d l . . _
na por parte os a tos escalões d as adm1111 srraçoes, sem
das. Muitas vezes, isso de co rre da pouca importância que o Estado co nf ere à sua par - tomar em conta as discussões que ocorrem n os Co n selh os e m e nos ainda as suas delibe-
ticipação no s conselhos, mandando para as reuniõe s pes soas n ão preparadas para a rações" . (113AM,JPEA, Comunida de Solid ária, 199 7 :9 1)
discussão e com pouco pod e r d e de cisão . Essa políti ca de esvaziamento dos conse- "Diante das dificuldades ' · 1 e ·
lhos tem se refletido no s altos índice s d e a u sê n cia do s consel h eiros governamentais . prancas e, ou ra.lra de in t eresse d os membros governam entais
tttul ares (. ..) de participar reg I d . . e · 1-
das reuniões e da grande rotatividade d estes . Isso produz um e nfr aquec'.mento d~s - u arm enre as a t1v1dad es do s co nselho s, quem o raz gera
mente sao os supl en tes indica d 1 · • · 1bas-
conselhos que , apesar de suas pr erroga tiva s legais, não co n seg u em imp ed ir que mui - , . os pe os pnme1ros . O gue seria um a saí d a operaciona '
rance log1ca com freqü ência r fi d nse-
tas questões importantes sejam decididas nos gabi n etes d os altos escalões do gover - lh . . rans onna-se em mecanismo d e esvaziamento os co
os, se a md1cação da supl ênci fi , esmo
ª or rea 1·izada (como ocorre com freqüência). arem
com o desconhecimento por dO . d . d rarefa
Ih , parte 111 icado sobre a finalidade e a narureza ª
14. Voltoa esse tema nos próximo s irens.
que e esta sendo atrib uída E . d expe·
·, • e l · m outr os casos, mesmo sendo da área e possurn
nenc1a , ra ra aos ind icados a le . . "d
°·
. n10 Jo
63 gmm i ade de sustentar qualquer decisão no organ is

64
qual,. são oriundos, e não raro os representantes acabam (numa curiosa inversão de
ruma reunião com seus pares para ser discutido
papeis)exercendo nos conselhospapel mais crítico em relaçãoà inoperância do Gover- cedência.Aí ele tem de marca ' . esseassu
n
no do que os representantes não-governamentais . ., d seus pares, ai sim nos estaremos democranzandoa info -
, sem que d.isso se ongme
· · quaJquer to e trazera opm1ao os ' . . . rrnação
resultadoprático". (CDCAs , em Forres, 1996:5) . _ ( ) eu acho que se nos conseguirmos comg1r isso , ·
A informaçãoe a dec1sao ... . . - " ' nosvamo s
!idade na questão da part1c1paç
ao (conselheironão-
dar uma avançada na qua 4) governa-
Como os depoimentos sugerem, mesmo no caso dos conselheiros governamen- mental do cMs/Cuiabá, em Silva,1996:133-13 .
raispessoalmente comprometidos com o conselho e sua temática, essa fraca relação
. I to das liderançasna relaçãocom o movimento, pois ao bu
com os órgãos de origem tem se traduzido em empecilhos à realização de suas fun- "(...) um certo 1soamen _ . scarern
. - compreensãodas quesroes para a ramada de decisõesnest .
ções. Na análise da literatura foi possível destacar muito s casos nos quais represen- formas de capac1taçaoe ,. , . _ as 1ns-
. , d b m parte do tempo necessar10a amculaçao do moviment (
rantesgovernamentais atuantes e interessados viram sua posição fragilizada nos con- tânc1as , alem e a sorvere , . . , ' . . o ...)
e • ltaneamenteem espec1al1stasna temanca e na amculaçãoco
selhospor não terem condições de honrar os compromissos assumidos. Na falta de transrormam-ses1mu . mo
·c. 1 do O envolvimentode outros membros, o crescimento, organiza ça
-o e
uma posição previamente debatida a ser levada ao conselho, o representante gover- Estado, dl!lCU tan .
namentalpode acabar defendendo uma posição pessoal, com base nela estabelecer mobilizaçãodo movimento.As novasexigênciaspostas ~ as d1ft~u -ldadesde articulaç ão
acordose depois não conseguir o respaldo de sua secretaria ou órgão para imple- conduzemos mov1me · ntos sociais, as organizaçõesda sociedadeCIVIi , a uma posiçãorrra-
mentá-la.Os compromissos assumidos por representantes do governo são interpre- g1.11.zada no 1ntenor
• · do conselho· O segmento . _ dos usuários
. (...) tem
. se mostradobastan·
tados, muitas vezes, como compromissos pessoais e não como compromissos a ,
te vu1nerave1s ...· ( ) por não terem uma pos1çao previamente definida, tomamsuasposi-
seremhonrados pelas instituições . 15 Essa frágil e informal comunicação entre os _ • d.
çoes m 1v1u m , ·d a1 ente a partir do debate realizado nas. reuniões( ... ) Não refletind
o as
conselhose os responsáveis pela execução das políticas no âmbito da administração • - d
pos1çoesa sacie · dade civilorganizada e com inúmeras dificuldades
. para, a partirdasdis-
acabadiminuindo a capacidade de os conselhos atuarem como instâncias geradoras cussões e posiçõestomadasno interior desta instância, suscitaremo debateentreestas
de uma maior responsabilização das agências estatais. organizações , comprometema capacidadedo conselhode se constituir comoummeca-
No campo das representaçõesnão-governamentaistambém foi possível constatar, nismo de ampliaçãodo( ...) espaçopúblico". (CES/ ES, em Ferraz, 1998:147-148)
partindoda análise comparada das experiências, a fragilidade do vínculo entre os
conselheirose suas entidades. De uma forma geral, os conselheiros não-governa- Muitos outros depoimentos recuperam essa ausência de uma via de mão dupla
mentaistêm encontrado pouco respaldo e acompanhamento de suas ações por parte entre conselhose entidades: as pautas do conselho nem sempre são discutidascomas
dasentidadesque representam : entidades, e a posição das entidades nem sempre chega ao conhecimento do conse-
lho, de forma a influir nas deliberações. As entidades, movimentos e 0NGsindicam
"Não estãodiscutindocom a base não. Eu tenho a certezaque não estão. Isso nota que ou elegemseus representantese então tendem a se afastar do cotidiano dos conselho s.
cadaconselheiroque está dentro do conselho ele não recebeu uma deliberaçãodas suas Com isso, os conselheirosacabam emitindo sua própria opinião sobre determinad o
bases,poderespondero que ele quiser ali dentro do conselho. Quer dizer, na prática ele tema, resultado do seu acúmulo pessoal ou da sua adesão às propostas defendidas no
esráemitindouma opinião pessoal.O conselho não está rendo seu papel democrariza- calor do debate. Essa falta de um debate prévio com as entidades e movimentosde
dor. Issoé defeitodo conselho(...) o conselheirochega aqui, recebea pauta e emite opi- origem cem se mostrado muito problemática, principalmente no caso do segmento
niãopróprianão alterando a categoriaou coletividadeque ele mesmo representa. Então dos usuários que, sem um amadurecimento prévio das questões, acaba aderindoàs
o que nós queremosé que, antes da reunião, seja enviada a pauta com 15 dias de ante- posiçõesdefendidas por grupos com maior poder de argumentação e influência.
Essedisranciamencodos conselhos em relação às entidades sociais e aos órgãosda
administraçãopública responsáveispela execução das políticas, para além dos efeit_o s
15. Por outro lado, é importante rcgis1rar que c,s:1personalizaçiio das relações polí1icas, muito pre_sente ne~ses
negativo· s re1atados, traz atn
· d a como conseqüência perversa a baixa
· v1s1
· ·b·1·d
11 ade social
cnconiros, esr:í,co11111d o, longe de ser urna cspecil-icidadc dos conselhos, :mres remere a roda urna rrad,~:lo h,5 ,ort-
co-culturalque por ccno se reproduz crn v:írias experiências participativas. Análises sobre as origens h 1stortcas ,bsa dos conselhos. Ou seja, se, por um lado, as deficiências na comunicação dos canse·
matrize suas perversas heranças podem ser encontradas em, dentre ou1ros, !bimund o FJoro, Os donosdo poder:
lheiros com suas bases se traduzem na conformação de públicos fracos no proc.e ss_o
Fo'.mação do patronato polírico brasileiro. 2' ed. l'on o Alegre: Edirora Globo, 1975; Sérgio Buarque_de Ho!Jncb,
Ra,~1 doBrasil , 17' ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984 ; Teresa Sales, Raízes d:1Jes iguald:idc soct:11 11•1rnlrur.1
del"b
I · no tntenor
eranvo · · dos conselhos, por outro , essas fissuras na comunteaçao
· - d,rn.•
1

poltttcabrasileira. RevistaBrasileim de Ciênci11s Soriais11.25, :1110 9, jun . 94 . fi d I


nuem ª orça os conse hos enquanto públicos que disputam numa esreraP . e úbhca
· 1 S · · •
mais amp ª· em capdandade social, os conselhos são levados ao isolamento eª
' deb1·
65 !idade. Essa é a condição acuai de muitos conselhos, segundo demonstra a análiseda

66
·meiro semestre de 1996, enviaram delegações
. . tre o final de 1995 e o pn . para as
bi~liografia.A avaliação d~ ~oraes sobre o CEDCA,
de Santa Catarina, pode ser gene- c1pais, en . ( )G a esseprocesso , nesta etapa nacional, participaram 14
fi , ·as Estaduais ... raças . d . · 00
ralizadapara a grande ma1onados conselhos hoje em funcionamentono Brasil: eon erenci . . das delegaçõesestadua1s e 10% as nacionais,além d 6
d I d dos quais 90% vieram . e 00
e ega os, . OOO b rvadores (...) Dezenas de milhares de brasileiros part' .
"Houve uma centralização da relaçãoentreo Conselhoe o Governo do Estado, ficando convidados e mais de l . o se . ic1pa-
. M . . • Estaduaise agora desta etapa nacional, em pouco rn . d
paraO segundoplano a buscade legitimidadena relaçãocom a opiniãopública, espe- das conferências u111 c1pa1s, ais e
ram R d. Santos Coordenador-Geral da l(}l Conferência em CN)
cialmenteª socialização de informaçõese a formaçãosobre os direitosda criançae do seis meses". (Nelson o ngues ' ' S

. Com isto, persistiua gestão tradicional e o conselhofoireduzidoà suaexis-


adolescente
tênciaformal". (Moraes, 1998) o que coma promi•ssor as essas iniciativa s é o fato de elas despertarema aten -
çao
do público de cidadãos para os assun~os tratados _n~s _co_nselho s. Ao apo~tar na cons-
. . _ d d' ' ncia mais ampliada, essas 101c1auvas acabam aruculando d
Buscandoreverteressasituação e fortaleceros elos de ligaçãocom o público fora ncuiçao essa au 1e . . .. _ . ,. e
forma muito interessante a luta insucuc10nal com a mob1lizaçao soc1etana, consti-
dosconselhos,criando redes de solidariedadee mobilizaçãosocialem torno de temas
tuindo um círculo virtuoso profundamente promi ssor, como comenta Rizotti,
específicos
, algunsconselhosvêm investindoem diferentesestratégiasde comunicação.
apontando os efeitos da socialização das informações no âmbito da assistência social:
Comessaintenção, o CNScriou uma "ComissãoPermanentede Comunicação", bus-
cando"intensificaros fluxosde comunicação"com a sociedade,e uma das açõesdecor-
"Quanto maior a disseminaçãodessasinformações entre os diversos segmentos sociaisdo
rentesdesseprojeto é a socialização,via internet, das açõese da história do conselho,
município, mais transparente se coma a cadeia de relações institucionais e políticas na
comum banco de dados sobre a saúde atualizadodiariamente.Essainiciativapermite
gestão da assistência: do executivo municipal com o Conselho e, no Conselho, entre os
aocidadãocomum ter acessoàs informaçõessobre a saúde, acompanhandodesde as
membros que o constituem; do Conselho com os segmentos organizados de usuáriose
resoluções do CNSaté as discussõessobre o orçamento.Ainda como parte dessapolíti-
prestadores de serviço da assistência e, finalmente, de todas estas instâncias anteriores
cade comunicação , o II Encontro Nacional dos Conselheirosde Saúde, realizadoem
com a sociedade civil como um rodo (...) a socialização de informações (...) é um impor-
1988,aprovouas seguintespropostas:divulgaçãode boletinsinformativos,serviçosde
disque-denúncias , reuniõesitinerantesdos conselhosmunicipais,criaçãodo jornal dos tante instrumento de democratização das instituições responsáveis por sua execução".
conselhos,descentralizaçãodas reuniões, criaçãodas ouvidorias,implantaçãode caixas (Rizotti, 1999:302-303)
desugestõesem pontos estratégicos,divulgaçãode "Carta Aberra"mensal,amplamen-
Para concluirmos essa discussão acerca da representatividade dos conselheiros, é
tedistribuídaà populaçãoe entidades,realizaçãode eventosinterativoscomo Feirasda
preciso registrar que seria muito difícil, mesmo para o mais bem-intencionad o dos
Saúdeetc.A experiênciado CMS de Cuiabá também parece ter sido muito bem-suce-
dida na tentativa de ampliar a comunicação com o público fora do conselho governos, ou para a mais participativa das comunidades , fazer-se representar de
(Silva,1996). No CMS/Cuiabá, o cargo de ouvidor geralé exercidopor uma pessoaelei- forma qualificada nos inúmeros conselhos hoje em funcionamento . A Con sciruiç:io,
tapeloplenáriodo conselho,que cema função de receberdenúncias e reclamaçõesda ao instituir a obrigatoriedade do s conselhos em diversas áreas , acabou criando uma
população e encaminhá-lasà diretoria do conselho, assim como socializaras informa- extensa rede de con selhos, abrindo espaços difíceis de serem preenchido s. A tentati-
çõessobreos conselhosjunco à sociedade.De acordo com Silva,no momento da pes- va de ocupar esses espaços tem levado, muita s vezes, à sobrecarga de trabalho de
quisa,o cargode ouvidorera exercidopor um representantedos usuários,militante do alguns conselheiro s que acabam atuando em diver sos conselhos ao mesmo tempo.
movimento popularcom reduzido grau de instrução, o que não o impediu de desem- Analisando os problema s decorrente s dessa explosão do s espaços parricipativos,
penharde formaaltamentesatisfatóriasuas funções (Silva, 1996:16). alguns eSrudos caminham no sentido de propor que as entidade s, os movimentose
Outra estratégiausada pelos conselhos como forma de romper seu isolamento as ONGsfaçam um a análi se de cu sto/benefício e escolham os con selhos em que ya!e
políticoé o investimentonas conferências nacionais, estaduais e municipais. Dados a pena participar ' prioriºza n d o os espaço s que orereçam
e
mawre.
s potencia· !'d·
1 ªdes de
da 1Ü' ConferênciaNacional de Saúde, realizada em 1996, surpreendem pela capa- tran sformação das , · . .
agencia s estatai s via produç ão da s política s. 1''
cidadede mobilizaçãoe organização:
16. "[é necessária] uma cena CJutcla d . . . .- . nsellnstJ pdll
desejode oc d os movuncncos no scnm lo Jc não ass11111 ircm css.1 lebre co ._, .
'Aetapanacionalnadamaisé do que a conseqüênciadas etapasMunicipaise Estaduais
. - . . upar ro os os espaços formalmenc '· d , . . . . ·o de p,1rt"'IJ
çao, pnonzando O •d e cri ,, os. Cabe-lhes esrabelccer ,1,s 1m seu propno pro,e" -'illk
Maisdetrêsmil, dos cincomil municípiosdestepaís, realizaramsuasConferências
Muni- . . s espaços e que devem parei · . . ~. - . . 1 ,11.1°1'·"'' ·,
e poss,bdidades e també d d c,par cm ,unçao das neccss1<la<l es da sociedade. ,cgun, 0 J , 111
. ' m, e acor o com seu 'e . !' . . . . _.. ,n d.ir!'·"
Sua reprcscmação não seja mera : ,, . empo socia , ou se1a,respeitando o, passos que pr,c1> .I
mente lonnal ( fc,xeira, 1996: 1O).
67

- 68
. ~ vernamentais também é considerada, pelos p , .
A qualificação
dosconselheiros . ~ d conselheiros nao-go e . . . roprios
cnaçao os d . cipais entraves a uma erenva participação d .
h . como um os pnn . , . a socie-
conseI eJros, " c i de conhecimento, expenencta e subsídios qu
Emboraainda não tenhamosestudosvoltadosespecificamente para a análisedo . ·1 destacando : a iaita . . anto ao
da d e civi ' Ih papel dos conselheiros . E, amda, falta de for _
perfildos conselheiros
, já dispomos de informaçõe
s muito preciosasque se encon- funcionamento do conse o e ~ ,, 95) O , rnaçao
tramdiluídasno conjunto dos estudo, e que nos permitemrealizaralgumasconsi- . .b a nessa discussao ( EQUIP, 19 . Forum Estadu I d
e/ou assessona que contrt u a e
derações
. A mais importantedelas é o reconhecimentounânimeda faltade capaci- mbuco (1998), num levantamento sobre a situaçã d
Reforma Urbana d e Perna o e
dadedosconselheiros , tanto governamentaisquantonão-governamentais , para uma . . • do Recife também deu destaque ao problema da ca .
oito conselhos mu01c1pa1s ' pac1-
intervenção maisativano diálogodeliberativono interiordos conselhos.Essereco- tação/formação dos conselheiros . .
nhecimento caminhajunto com a defesade programasde capacitaçãoe como deba- . ~ sob re esse m esmo tema esnveram presentes em. todos
Vanaçoes . os estudos ana1.1-
tesobre o conteúdodessesprogramas. ite supor tratar-se atualmente do prmc1pal obstáculo a urna
sados, o que nos per m .
~ . e • das representações não-governamentais nos conselhos . Essa rea-
aruaçao mais e1et1va
"(...) haviaum desconhecimento entre os conselheiro
s não-governamentais, de para !idade tem gerado muita perplexidade e perguntas des~adoras como ~sta: "diante
onde seencaminhar as demanda
s; se,parabarrarumaaçãodo Governo , encaminhava- dessas constatações, que colocam em xeque a preparaçao d~s c_onselhe1ros/militan-
seo processo paraa Procuradoria
Geralou para o Judiciário"
. (conselheira
não-governa
-
tes e a qualidade de participação, perguntamo-nos qual o s1gmficado da existência
mentaldoCEDDCAIRJ, emCamurça,1994:55)
dos conselhos, se não estamos preparados para ocupar este espaço e disputar nele urn
"Diantedo baixopoderde mobilização dosmovimento s populares na atualconjunturae projeto " tEQUIP, 1995). _ . .
daausência de umasociedade civilorganizadana maioriadosmunicípios do R.J\1
, ossujei- Mas como melhorar a qualidade da representaçao dos conselheiros soc1etaissem
rasdasociedade civil,queparticipam dosconselhos
, nãopossuem informação , capacitação promover a elitização e a burocratização da participação? Como construir um pro-
reórica
, técnicae políticanecessáriasao exercício
da participação
(...) a realidadedoscon- grama de capacitação, que permita aos conselheiros da sociedade civil dialogar em
selhos é umadecadência, emrodososconselhos quepesquiseiencontreia mesmacoisa,os pé de igualdade com os agentes estatais, sem, contudo, transformá-los em especia-
conselheiros(sociedade civile governamental) estãonosconselhos apenasocupandouma listas, o que acabaria recolocando o ciclo das exclusões por meio do discurso espe-
vaga, nãosabemcoisaalguma,osúnicosquesabemalgumacoisasãoospresidentes e nem cializado? De que forma minorar os efeitos das desigualdades sociais no processo
rodos." (regis
trosdediáriode campo,Arquidiocese de Natalet alli, 1998:61) deliberativo? Num país como o nosso, marcado por altos índices de analfabetismo,
"Problemas relativosà capacitação
, informação
, qualificação
, apesarde atingiremde essa discussão assume contornos dramáticos, principalmente quando a essa caracte-
formamaisagudaos setorespopulares,interpelam , mesmoquede formadiversificad a, rística associa-se outra: a valorização, em nossa cultura política, do argumento téc-
outrosrepresentantes
comcapitalculturalmaiselevado.Reduzidaparticipação da socie- nico em detrimento de outros saberes.
dadecivilcomreduzidadisponibilidade de tempopara enfrentarexcessivademandade O problema da falta de capacitação atinge de forma diferenciada os distintos ato-
resoluçãodeproblemae excessiva cargade orientações
legaise burocráticas
(...) configu- res que participam dos conselhos . Se o acesso às informações e o próprio conheci-
ramumquadrocujamaioraproximação coma efetivação dos objetivosnos termos da mento quanto ao funcionamento da máquina administrativa colocam os conselhei-
leiserianomínimofantasioso". (conselhosde Florianópolis/
se, em Lüchmann , 1997) ros governamentais em vantagem em relação aos representantes da sociedade civil,
entre est es últimos, as diferentes capacidades também oferecem obstáculos à igual-
A pesquisarealizadapela Arquidiocesede Natal, Pastoral da Criança e UFRN, dade de participação nos processos deliberativos :
sobreos conselhosmunicipais do Estado do Rio Grande do Norte nas áreas de
saúde, educação , assistênciasociale criançae adolescentedemonstrouque para 71% "Nós usuários não temos preparo po I'1t1co
• e culcural para estarmos no conseIh0 · Eu noto
dosconselheiros não-governamentais a principaldificuldadepara o exercíciode suas muita dificuldade de garra por parte d o usuano,
, . não porque nao _ querem, mas porque .
funções é a faltade capacitação , problema também destacadopor 63% dos presi- não têm aquela preparaçao , 11nunic1pal
- para po d er defender uma política de sau, d e a nive
dentesdos conselhos . Relatório de pesquisa realizadapela "Escola de Formação (...) enquanto que d d ão porque
os representantes o governo os servidores têm tu O na m
Quilombo dos Palmares" (EQUJP, 1995)nos estadosda Bahia, Alagoas, Paraíba, Ser- eles sabem como fi · , ' ' bem corn°
unciona a saude, sabem como é feito um orçamento, sa . .·
gipe,Ceará,Maranhão,Piauíe Rio Grande do Norte indica que a questão da capa- defender os p ' · d' • diré1ro3
ropnos ireitos, nós usuários - além de os direitos a exames, .
saúde, além de dar a n . ·- 'd d de:u1nhos-
69 ossa opmiao sobre aceitar ou não uma credencial, ª e

70
liar a eficácia de sua açao- : "essa ten dência ind·
. . apazes d e amp d ' ica u
tos organ1zauvos c I rar a capacitação e carater temático . rn
P ita1' d e um
. a inst itui ção a resp eito
· d a sa u' d e, n os - temo s pr ep aro . É muito sério isso"
' nao 'd O de comp emen , que Já
avanço no senu 'd busca de meios para o desenvolvimento d se
(co nselh eiro não -govern amental d o CMS/ C ui abá, em Silva , 1996 : 12 7) . ais difundi a, com a Ih . e urna
encontra m . d . plementação do conse o como tnstituiç -
"( ... ) certo s ator es vão se pro je tand o em relaçã o aos d em ais ( ... ) Isso pod e ser observad o . ·d de colenva e ,m . ao e d
maior capaci ª e .d ,, (Fortes 1996). Nesse senudo, Fortes lembra q _as
na p reval ên cia da s p os ições d o s repr ese nt ant es d os smd1ca
· · ros, profi ss1·ona1s · d e sa úd e e I' . or ele de1101as , . d d· e ue nao
po mcas P , . fi mação e aos conceitos as uerentes áreas de h
gove rno ( ... ) os repr ese nt ante s d as entid ad es p opul ares, n ão p oss uind o o me sm o sab er basta favorecer o acesso a tn or . d d' - con e-
abstêm- se da s di sc ussõ es, p erman ece nd o em uma po sição d e p assivi dad e e de sm o tivaçã~ 'rica da criança; é prectSO ar con içoes aos conselh .
cimento sobre a pro blema - , . eiras
no acompanhamento do proc esso ( ... ) ocorre mai s a presenç a físic a d o qu e a cap acidad e . d d hecimento reelaborar sua açao prauca . Uma saída nessa d'
de parem O esse con ' .• . ire-
de influir n a forma ção d e con se n sos" (Simi o natto e N ogu eira, 199 7 :3 0-3 1) . , , . • ação e socialização das expenenc1as :
ção, sugere, e a s1stemat1z
Os conselhos gestores são arranjos institucionai s inovadore s, dentre outro s moti-
''A mudançacultural e institucionalexigida pela implantação dos conselhos requer, ern
vos, por permitir que setore s tradicionalmente excluídos po ssam influenciar no pro-
funçãodo seu caráterprofundamenteinovador e diante da gama de dificuldades enfren-
cesso de produção das políticas públicas . As regras de composição dos con selhos
esso de sistematizaçãoe circulação de experiências que dem
visam justamente cumprir essa expectativa. Contudo , esse procedimento não é tadas, um amplo Proc ons-
capaz de assegurar que esses setores ocupem de forma eficaz esse espaço e neles rea- rrem como essasdificuldadestêm sido enfrentadas em diferentes contextos. Essasexpe-
lizem os seus interesses . O grande desafio presente nas experiências participativas é riências sistematizadasteriam a função fundamental de realizar a mediação entre a
construir mecanismos capazes de minorar os efeitos das desigualdades sociais no propostanormativado funcionamentoa ser buscado e do papel a ser exercidopelos con-
interior dos processos deliberativos , de forma a permitir que a construção dos acor - selhoscom a realidadepor elesvivida (...) O caráter insubstituível da sistematização
da
dos não esteja sujeita à influência de fatores endógenos como o poder , a riqueza ou práticacomosubsídiopara a capacitaçãodos conselheirosdecorre do fato de que, embo-
as desigualdades sociais pré-existentes . 17 Embora estejamos longe de vislumbrar saí- ra a formulaçãode políticas públicas num espaço participativo tenha sido assumida
das para esse dilema, os estudos têm apontado caminhos interessantes ou, no míni -
como estratégiapela sociedadecivil e incorporada à institucionalidade do país com a
mo, têm construído leituras/interpretações promissoras sobre a questão .
Constituiçãode 1988e o ECA, seu exercícioainda possui caráter experimental". (Fones,
Algumas ONGs têm se dedicado ao trabalho de capacitação dos conselheiros
populares, como é o caso da "Escola de Formação Quilombo dos Palmares" ( EQUIP), 1996:07)
que vem desenvolvendo um trabalho muito interessante na Região Nordeste do
país. O grande diferencial que parece existir no trabalho da EQUIP é que a sua qua- O CNAS e a Secretaria de Assistência Social/Ministério da Previdência Social,em
lificação não se dirige aos conselheiros individualmente, mas às entidades . A pers- parceria com o Ministério da Educação (por meio da TV Escola) e com a TV Educa-
pectiva que adoram é de que não adianta qualificar o representante não-governa- tiva, desenvolveram o "Programa de capacitação à distância para conselheiros e ges-
mental, tendo em vista a enorme rotatividade destes; para a EQUIP, é preciso tores municipais e estaduais de Assistência Social", como uma das suas estratégiasna
qualificar os movimentos e as entidades, combinando conteúdos técnicos e políti- política de capacitação dos conselheiros. Este projeto prevê a realização de cinco pro-
cos, com base na premissa de que o enfraquecimento da ação dos conselheiros não- gramas de uma hora de duração, abertos à participação dos telespectadores , abordan-
governamentais não se restringe ao pouco domínio da técnica, mas também a uma do assuntos que vão desde as linhas mais gerais da política de assistência socialatéo
grande dificuldade cultural de assumir uma postura de negociação com o Estado . papel dos gestores e dos conselheiros. Quanto ao CNS, sua política de capacitaçãoestá
Outras ONGs também se dedicam a esse trabalho de capacitação dos conselheiros, apresentada no do cumento "D'tretnzes
· Nacionais
• ·
para a Capacitação de Conselhei-
como o !BASE, o Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente , o Movimento ros de Saúde",. que defende d . . " ·
. um processo e capacitação descentralizado - respei-
Nacional de Meninos e Meninas de Rua etc . tando as espec1fic1dadese co n d'içoes
- Joca1s · 'd--
. · " - contmuo
, e permanente , com anvi ª
No âmbito dos CDCAs, está sendo realizado um amplo programa de capacitação
des focando dois níveis·· um mais · gera I, voltado à representação de to dos 0s
que inclui em seu "currículo bá sico" temas como planejamento estratégico e de sen-
segmentos, e outro específic0 , eSt rutura d o d e acordo com as necessidades de cada
volvimento de mecanismos gerenciais visando dotar o s conselheiros de in strumen - segmento. ou. grupo (mu Iheres, portadores de deficiência idosos etc. (CNS, "Dirern·
. ·
zes N ac1ona1spara C · - '
ª apacitaçao de Conselheiros de Saúde" s/d) .
17. Bohman , op. cit. Q uanto aos proble · d'uetamente relacionados à dinâmica intern:i d1i
, • d . . mas mais
maquma a mm1strativa às - d . d spa·
' queStoes o orçamento , aos trâmites legais para O e
71

72
. d d ºdéias como procedimentos para a tomada de decisã s-
cho de certas questões etc., muito s estudos têm recuperado a importância das câma- füto e a troca e 1 . o. ao v, .
uam como inibidores da fala e motivo para a exclus- d ar1os
ras técnicas. Por meio delas, seria possível minorar o problema do desconhecimen- os e1ementas que at ao e ce
e discussãodos conselhos. Dentre esses, estarei rec rtos
ro da técnica sem ter que transformar os conselheiros em especiaJistas, o que, como assuntosdo espaçod . . _ . uperando
• destacaramno processo de mvesugaçao, quais sejam· a d (' . os
vimos, pode significar problemas na relação desses com suas bases. Essas câmaras que mais se . · enn1ção
técnicas cumprem a função de produzir estudos e pesquisas voltadas a legitimar as ertinentesou relevantes, o controle dos executivos sobre a agend dos
assuntos P . a tem, .
intervenções e posições assumidas pelo Conselho no debate com o corpo técnico da ca dos conselhos e a recusado Estado em pamlhar o poder de decisão. ari.
prefeitura, e/ou assessorar os conselheiros populares , como os usuários, por exem-
plo, incidindo assim de forma direta sobre as desigualdades de competência entre
os conselheiros. 18 A definiçãodosassuntos"pertinentes"
ou ''relevantes"

*** Antes de analisarmoso processo pelo qual se dá, via de regra a de(' . _
. ' nn1çao d
pautas de discussão, gostaria de fazer algumas considerações a respeito dos as
Comecei esse item afirmando que a paridade na representação dos interesses no . . d , . d assu0•
tos que estiverammais presentes na agen a temauca os conselho s· No s treze
interior dos conselhos não é aJgo que se resolva numa regra numérica de equivaJên-
e dois conselhosmunicipais do Rio Grande do Norte, 69% dos assuntos d. nt~s
cia; antes, é um processo político que envolve a capacidade de construção de redes .. . ,J ,l _ , . ISCUt1-
d0S nos canseIhos dmam respeito a eg1saçao, a orgamzação interna e à m
de solidariedade dentro e fora dos conselhos, de cal forma que seja possível reverter - 'd d e , udan-
ça da gestao; segui os os temas rererentes a prestação de serviços na ár
a tradicional prevalência dos interesses estatais e dos seus interlocutore s habituais. "d d . .d ,, . d ea, ou
eman a repnm1 a , com aproxima amente 32% (Arquidiocese de N I
Paridadena representação - ou a exigência da iguaJdade nas possibilidades de afe- . ata , Pas-
tora a e nança e UFRN, 1998:42). Buscando o significado desses numeras,
1 d ,
tar O resultado da deliberação - concretiza-se à medida que os distinto s atores 0
texto afirma:
envolvidosconquistam , e concedem , espaço para a expressão das diferen ças. Como
busquei demonstrar, não se trata apenas de boa-vontade, mas da necessária constru -
ção de estratégias voltadas a minorar os efeitos da desiguaJdade sociaJ nos processos "Os temasmaisrelacionado s ao controlesocial, ao financiament h •
a1· , ,. o e ao con ec1memo da
dialógicosde tomada de decisão. A pluralidade se constitui como eixo importante re idadede cadasetorou areade polmcapública, apesar da sua ·importanc1 , .a aparecem
pouco.Entretanto,ressalta-setambéma importânciadest
de discussãona compreensão dos conselhos, não porque seu excesso oblitera a efi- , . . ª preocupaça- o dos conselhos
cáciadas decisões, mas, ao contrário , porque é preciso problematizar as condições com o seu propno funcionamentoorgânico(...) Discuss- d . .
b, · ,. oes como a e regimentosao
para que realmente os conselhos sejam espaços públicos de representação pluraJ e as1cas,estrateg1casparaque o conselho possa t .
1 d h, . e envamenteexercerseu papel. Poroucro
paritária.Apesar de todos os problemas , as iniciativas apresentada s no decorrer da a o a que considerar (...) o fatode que a maio . d
, . na os conselhossão experiênciasrecen -
seçãoparecem constituir -se como vertentes promis soras nessa direção . tes (com no max1mo três anos de existência)0 , . .
. d , . que tambem Justificao predomínio de
assuntos1iga os a organização internae a h . .
de Natal, 1998:42) o con ec1mentoda legislação". (Arquidioc ese

2. Os conselhos como espaços público s dialógicos


Confirmando essa característic . .
com município . a, pesquisa realizada pelo ONANDA, em 1994,
Os caminhos pelos quais os conflitos de interesses têm sido resolvidos no inte- s pau1!Stas,conclui· "( ) · • . .
rior dos conselhos nem sempre passam pela explicitação das diferenças e pela cons- cipais ainda estã • I d · "· as pnnc1pa1satuações dos conselhos mum·
o mais vo ta as para s , . c. .
truçãodos acordos por meio do debate de idéias, programas e projeto s. Ao contrá - ção de diretrizes ,. . ua propn a estruturação do que para a deun1 -
e po1nicas para a mf:' . .
rio, o que a bibliografia aponta como tendência é uma imensa dificuldade de tram-se nos estágios • . . . d ancia e Juventude (...) ousam pouco, encon-
s e matu - é ·
m1c1a1 4 18)
explicitaçãodos interesses, do reconhecimento da existência e legitimidade do con- Dentre essasdiscus - . . raçao t cn1ca e política" (Asciutti, 199 : ·
soes mais organi . . 1 .
à elaboraçãodo • . zacionais, ganham destaque as questõesre auvas
. . s regimentos intern N 0 . . . .-
c1pa1sregras de fi • os. regimento interno são definidas as pnn
l8. EmborJ:.1cxisL~ncia Jas c:1m:1ras1tc11ic1'\ l'Stl'jJ, no geral. prtvisrJ nas kis de cri.1ç:ío dos cn11sdhos, ll.'-1c.::-itll . unc1onamento dos 1 . . - o·
do, dcmons1ra111yuc 1m1 sido mu iw diflcil fo,c r rn n, qu e ~s Executi vo, curn prJm c:ss.,s J,:rc:nnin.,ç õcs J,:!\ai1. ced1mentopara a to d d d . _ conse hos, as condições de negooaçao e O P_r.
. ma a e ec1so Est d ·1-
pa1s das áreassocia' s- es.
is em ao Paul0 · d'
u o do CEPAM sobre os conselhos muni~
· ·I · 744
73 m ica que, dos 1.167 conselhos anjlisal o~.

74
. _ d d oimento , percebemos que o que ele chama de "
possuem Regimento Interno (C EPAM, 1999:82) . Dados da pesqui sa so bre o C EDCA sus Na connnuaçao o ep 61 d e. . qu estõ
. . ,, , . is relacionado ao pro ema o nnanc1amento e d es
de Santa Catarina: recuperando a agenda temática do conselho, indicam que, da s 52 estruturais esta muito ma ºd d . o repas-
resoluções encammhadas no s três primeiros mandatos , 20 relacionavam -se direta- se de recursos do Estado para essas enn a es.
mente à sua organ ização interna .
Esses dados parecem se r resultado
do grande investimento do s movimentos , da s "( ) Ahl Muita discussão importante . A questão do Fundo Municipal de S ' d
... . au e se
O NGS, da s univer sidade s e do Governo no se ntido de que os conselhos completas- .d lo Conselho O conselho tem que ser uma espécie de autarqu · r
gerencia o pe · . ~ . ta onde 0
sem seu processo de institucionalização com a elaboração do s regimento s. Com esse . he1ro
• que caísse ali dentro não fosse desviado, certo. Porque é desviado" (conseIhei
dm
objetivo, vários modelo s de regimentos circularam pelo país. Se , por um lado, a não-governamental/prestador de serviços do CMS/Cuiabá, em Silva, 1996: 119_1 ). ro
20
divulgação e a difu sã o de ss es modelo s foram importante s para acelerar o proce sso de
instala ção dos conselhos, por outro, ela s trouxeram algun s inconvenientes, como
Outro segmento que representa a sociedade . civil no Conselho Municipal de
comenta Palma e Silva :
Saúde os trabalhadores da saúde, segmento multo atuante na luta pela c • _
' naçao e
regulamentação dos conselhos , também defende que a função dos conselheiro s nã
"(...) cabe come ntar qu e, a título de assessoria ao proc esso de formação do s conselhos, tanto 0
órgãos do governo federal , quanto dos governos estaduais, d e univer sidade s e de outras ins-
é discutir "questões pequenas, gerências", mas atuar de forma mais global :
tituições divulgaram insistentemente modelos detalhados de criação de conselhos e fundo s,
prática qu e levo u a uma ind esejada padronização , que , se pode ter contribuído para agilizar "(...) o que é tratado aqui? Tem de tudo( ...) a gente se perde mesmo em term d
' os e reu-
0 processo, certamente não contribuiu para seu amadurecimento e para a necessária reflexão nião, em termos do que deveriaser discutido (... ) a gente dá marcha ré march ,
' are, mar-
em corno da constituição desses conselhos. E, por não ter contido diretrizes, mas modelo s, cha ré e não consegue sair disso (...) ficam coisas assim (. ..) não que seJ·amm .
. _ ,, , enos impor-
provocaram significativas distorções , em termos de inadequações das leis às realidades tantes (...) mas eu acho que aqui nao e fórum adequado pra cerras discu -
_ . . ssoes que tem
locais". (Palma e Silva, I 999: I I O) (...) que sao essascoisaspontuais( ..,) não pode ficar tratando ( ) (de] m · ' · .
... muc1asque mui-
tas vezes perde o contexto" (conselheiro não governamental/trabalh d d 'd
a or a sau e do
Além da predominância , ao que tudo
indica conjuntural e profundamente CMS /Cuiabá, em Silva, 1996: 122).
necessária , do s assuntos relacionados à organização interna dos conselhos, uma
outra questão que chamou a atenção, no que se refere à construção da agenda temá- O terc~iro segmento que se faz representar nos conselhos, os usuários d 'd
tica, foi a disputa em torno da definição dos assuntos "relevantes " ou "pertinentes " . ' - ,de d a sau e,
ao contrano , nao so eren e que o conselho deve agir em cima de - "
O caso do CMS de Cuiabá, recuperado na pesquisa de Silva (1996) , é indicativo ·" d questoe s pon-
tuais ' como esvenda o significado das questões consideradas "minúcias" :
dessa disputa que, nesse caso específico , emergiu na fala dos conselheiros através da
dicotomia questões estruturais x questões pontuais:
"Aspautas do Conselho na sua maioria sã0 61 d d
C · b, , pro emas e emandas . Nós não temos em
u1a a um numero de especialistas sufi .
"(...) eu acho qu e ainda falta muito aprendizado, porque o Conselho Mun ici pal de . tctentes para atender (... ) Então a coisa sempre
gira - em qualquer pauta do conselho b . .
Saúde, ele se perde muito nas questõ es pontuais ( ... ) [e com isso] acaba perdendo rempo Àsveze . . dº - aca ª camdo nisso: demanda reprimida (...)
s se re1vm tca no Conselho ( ) I" - .
de tratar aquelas ou eras questões mais estruturais, qu e é realment e esse o papel do CMS . bera favo ·•• amp taçao do posto (ampliação física) vocêdd1-
rave1mente, o secretário de sa , d - . , , ,
Isso é ruim porque , às vezes, algumas atividades que são essenciais no Conselho pa ssam dentro ( ) O Ih u e acata (. ..) mas nao tem nmguem pra porla
... conse o como um ór - d l"b .
batidas. Por exemplo, o orçamento muni cipal (. .. ) Essas discussões de coisas pontuais , papel fund . gao e 1 erattvo, representativo (...) ele tem um
amenta 1 nisso", (conselhe · - d
administrativas, pequ enas do sistema não dev e esta r no Conselho ( ... ) Isso não é que stão CMS/Cuiabá em 51- tro nao -governamental/usuário da saúde 0
' 1va, 1996: 123)
do Conselho" . (Conselheiro não -gove rnam ental/ prestador de serviços do CMS/Cuiab á,
em Silva, 1996 : I I 9- I 20)
O s usuários que têm com , - .
pos1çao maJo · , · . . lho os
assuntos que afetam d º ntana, querem d1scum no conse
Esse depoimento foi dado pelo representante do segmento do s pre sta dore s de !fetamente a "d . . ·1 .
que sentem na pele a f; 1 d _sua v1 a cot1d1ana e a de milhõe s de brast eiros
serviço que congrega as entidades filantrópicas ou privadas que pre s tam se rvi ços ao .
questtonar a falta de
ª ta e qualidad d
. ]"d
· Q retll
e os serviços pre stados pelo sus. ue .
d a d e de ampliação daespec1a 1 ades médº . . ess1-
d e. icas , a qualidade do atendimento , a nec .
75 re e, nm da s fi1 .
0 Ih . . Assun,
as, a me ona n o atendimento erc.

76
·o que os assuntosmais tratadossão envolvidosou necessitand d
enquanto. par~ alguns segmentos "formular políticas públicas" significa traçar as exemp1o, eu ve} - o e ap .
grandes dJremzesnorteadoras da área, atuando mais no atacado, definindo priori-
,, (conselheiro
do conselho •
não-governamentaldo CMS /Sao José, em Krüger 19
, 98·J 1O
10 °
dadesde investimentos, traçando metas de longo prazo etc., para outros, o conselho "No municípiode BomJesus, o processo de esvaziamentodo Conselhoestá l . · )
• . , ,. . . re acionado
exerceseu papel deliberativoquando responde de forma efetivaàs necessidadesime- ao graude importanc1a dos assuntosque e dado pelo secretano murncipal.Ao .
. . d ·- analisar
diatasda população. os documentos, observa-seque na grande ma1ona as reun1oes as pauta .
. s consistia
Estáem jogo nos conselhosuma rica e importante disputa em torno dos assun- numa demandado Estadoparaa aprovaçãode prescnçõeslegaisque requeriama . lll
tos "pertinentes" ou "relevantes", que ora se traduz nas tentativasde definir o que cênciadosconselhos ". (CMSIBomJesus/RJ, em Pinheiro, 1995:60) aquies-
sejaformularpolíticas púb_licas", ora aparece nos debates acerca das "verdadeiras"
atribuiçõesdos conselhos. E claro que os termos dessadisputa nem semprese expli- ''Apesar dos conselheirospoderemindicartemas para a pauta da reunião .
- , ,. . .. ' . seguinte, ist0
citamcomo um todo orgânico e coerente, assim como não estão garantidasa todos naoe umaprancamuitoutilizada,dai se apropnaremdo momento dos i e ,
. - - ,. nrnrrnes \...) A
condiçõesigualitáriaspara influenciar os resultadosdessa disputa, como vimos. central1zaçao do governona elaboraçaoda pauta, na pranca, privilegiaassuntosde
interessee relegaa participaçãodos demaissegmentosaos momentos dos infor seu
'b . d . d rnes, con
m um o assimpara a manutenção o caráter reivindicativo da panici a - . -
Ocontrole
do Estadosobrea agendatemáticadosconselhos ,, ( N ' , . . P çao socialno
CMS-V CMS 1tona -ES,em Oltosa, 1999:93)
Emmuitoscasos, o debate e a negociaçãoem torno dos "assuntosrelevantes"têm "Em gerala pauta das reuniõesé estabelecidapelo gestor ou p 1
.. , e a pasta que ocupa e
sidolimitadospela imposiçãounilateraldos interessestemáticosdo Estado. Isto por- consequentemente, acabasendodefinidaa partir de necessidad d · d d . ' '
es a vm as a rac1 0 a1·
que, em váriosconselhosanalisados, o regimento interno concede ao presidente do dade administrativa
". (Cohn, 1998:161) n 1-
conselho,ou pessoapor ele indicada, a prerrogativade elaborar a pauta das discus-
sões.19 Comodemonstramos depoimentosa seguir,essasituaçãodeu vida a um con-
Buscandoreverter esse controle do governo sobre a d c-. • _ d
textomarcadopela centralidadedo Executivona geraçãoda pauta dos conselhos: enniçao a agenda ,.
ca, o Conselho Estadual de Saúde do Espírito Santo em 1997 . temau-
d d . ' , conseguiu, por mei
"Sequalquerconselheiro desejaincluirum assuntopara discussãoem reunião,ele deve e uma mu ança regimental, regulamentar a criação de uma " d' ,, o
'd mesa uetora com
apresentar, comantecedência,sua solicitaçãoao secretário-executivo
e esteencaminhará posta por um pres1 ente, um vice-presidente um prime1'ro ,. -
,. . ' secretano e um se d
acipresidente Estadualde Saúde), titularda pastaque faz,então,
do conselho[Secretário secretano,escolhidospor meio de votação dentre o pi , . d Ih gun o
d . , . enano o conse O b d
a seleçãodosassuntosa seremincluídosna pauta. Esteexpedientepermiteque alguns o ao prmc1p10da paridade. Foi essa mesa diretora que ' o e ecen-
de e1aborar a pauta das reuniões· "( ) passou a ter a prer ·
assuntos
, normalmentetemasque a secretariade saúdenão tem interesseem discutir . • . d . rogauva
. . · •.. a ex1stenc1a a mesa d ( ) d .
comO CESouparaos quaisaindanão tem uma resposta , não entremem pautaou sejam uma significativamudança na dinâmica de cond - d !~~tora ... pro uz1u
maior preocupação co d c-. • _ uçao as reunioes. Ela demonstra
protelado
s" (CESIES,em Ferraz, 1998:130). m uma enniçao clara d · .
esgoteme ue se· . a pauta , exige que as discussõesse
"(...) é a talcoisamuitopronta,e o pessoalque participado conselhosão poucosaque- . q Jam capazesde gerar deliberações" (Ferraz 1998· 132) A . - d
mesa diretora cu! · , • . cnaçao a
lesqueargumentam, questionam , não aceitam. Então eu acho que vem muito pronto, mmou um processo em , ..
das reuniõese · , . d curso no CES, que e a polmzação da pauta
muitode acordocom a possibilidadedo município, da prefeitura" (conselheironão- a exigenc1a e que ela fo 1b d d
ca. Outra m d'd . b' . sse e a ora a e uma forma mais democrári -
governamental
dos 32 CMASIAMEPAR,em Rizotti,1999:301). e I a, CUJOo Jetlvo tamb '
sociais sobre d . em era aumentar o controle das entidades
os assuntos ebatidos n . .- d
"A secretariade saúdeconduzas deliberaçõesdo Conselho, quer queiraou não, ali nos das atas de •- Q as reunioes os conselhos, recuperou a função
reuniao. uase sempre d
assuntos depautaa relevânciaé dadaconformeos interessesda Secretariade Saúde. Por atas como d e d Kr" trata as como meros registros burocráticos, as
, eren e uger (1998) d
Uma rand , . ' po em transformar-se em aliadas importanres.
g e angustia presente d · . . -
governamenr · d' . nos epoimentos de muito s conselheiros nao-
19. Comoosestudostambém dcmonmam, em cercade 90% dos casos.o presidenredo conselho é o secretário a1s iz respeito às dific ld d
d, pasta.Mesmo
que o regimenro inrcmoesrabeleçaa vmaçãoentre os membrosdo conselho como forma de escolha desenrolard u ª es que eles encontram para acompanhar0
d_opresidente , mesmo nessecaso, é que :1 presidc'ncialiquc com .1 rcprt·sentaçfo governamental. Discus-
, a tendência
os assuntos apresentad . .
reunião é di 'd os nos conselhos. Muitas vezes, um remasurge n,i
sobreessa temaforamenconrradas na grande rrnioria cb s pe,quisasselecionadas
soes . recebendo uma análise mais deti- ' scuu o, votado e enc . h d
daemCohn(1998)
, Rizzoti (1999), Ferreira (1997), Palma e Silva (1999), Camurça (1994) e Oliosa (1999). niões futuras O . _ amm a o, mas volta a ser apresentado ern rc> u-
. s monvos sao os m . .d . . 1 i-
tação das d · - , ais vana os, indo desde a demora nJ 1mprn tt'I
ec1soesate o esquecime d O .'
77 nto que Ja foi discutido e deliberado:

78
"Lembra aquela palesrra sobre a 1\I DS' F . .
_ •
selho e nao fo, resolvido. deveria fi
• º' esquecida.
.
Tud0 ·
que esnver na pauta do Con- e regulamentam ª r
dação entre o Estado e as entidade s filantrópic
as, Par
car se repet111dovárias v ' l ·d normas qu . cais Via de regra, tanto o governo de Itamar F a
mundo assinou a ata mais não foi I .d fi ezes ate ser reso v1 o. Todo outras instâncias governamen · . . d r . ranco
reso v1 o, icou engavetado Est - é , . rique Cardoso res1snr am, e rorma mais ou menos f,
ro, têm ficado vários (...) o conselho _ . . · e nao o un,co assun- uanro O de Fernando Hen . d · orrc,
nao 111 s1ste (...) 0 que não é P d d ._ q . ,. Conselho, ora quesnonan o seu caráter deliberati
reunião é deixado de resolver (...) Você lembra d . assa o e reu111a o em a disputar suas po1mcas no . _ vo, ora
0 um Conselho de opos1çao ao governo - como tr
· - que foi falado no último conselho," d
(conseIhe,ro nao-governamenral do CMs/s- J '/ · argumentando tratar-se e . . . _ anspa-
ao ose se, em Krüger,1998:l 14) cl d encante do MEC (Mm1sténo da Educaçao e Cu ltura) no CN
rece nessa ra a a repres A'>:
Além de refrescar a memória dos conselh · .
. eiros, as atas, continua Krüger, podem "Ele [o governo]não pode evitar o Congresso. Agora, um conse~ho, d e evitará sernpre,
se transformar em in strumento s de reconhecimento d Ih . .
. _ P os conse e1ros a respeito de • o governo, inclusivedo PT ( ... ) Se o governo nao tiver certezaqut vai.
sua pr6pna açao. ara tanto , ela adverte as atas n - d . . quaiquer que sep
_ . . " , ao po em ser muito resumida s -
ara que nao se restrmpm a meros documento s burocráti 'co " • " • . - ganhar, e1e nao va,· submeter essadecisão a conselho nenhum, . porque
. . ele acha que e'urna
P . . s , mas seJam sma 1IZa
dores de, posiçõe s políticas , conflitos consensos e pro " A1, d. _ ação prioritária do governo, ele quer que a sua proposta SeJa vitoriosa (...) qual é a fór-
_ . . . , po stas . em isso, propoe
que, apos sua aprovaçao, sep di stn buída uma cópia da ata para cada conselheiro , mula? É correr por fora!(...) E ele tem meios para fazer isso. Se o governo não quer, se0
facilitando º.acompanhamento dos assuntos pendentes e a comunicação com sua Conselhoé meio contra ele, ele imobiliza o Conselho e tem mil maneiras de fazerisso
entidade. Olwsa, em s~~ e~,tudo sob'.e o CMSNitória/ Es, também acentua a impor - ele neutraliza, não dá muita importância. O governo quer que o Conselho referende su~
tância das atas de reurnao : 0 encaminhamento das 'decisõe s' do conselho, às vezes, políticaou não se meta (...) Eu estou sentindo isso lá, eu já ouvi isso. E daí o Conselho
é prejudicado pela fragilidade no registro das atas e pela falta de acesso a elas no vira um fórum de protesto, mas não de definição de política, vira um fórum de oposi-
rnomenro de sua aprovação (...) ficando sem apoio instrumental e pr ático para os ção!" (Conselheiragovernamentaldo CNAS, em Raichelis, 1998: 187).
encaminhamentos e o seu contro le" (Oliosa,1999 :94) .
Uma das conseqüênciasmais desastrosas dessa compreensão do CNAScomo campo
exclusivo da sociedade civil é a sua desqualificação como espaço público , abrindo a
A recusa
do Estado em partilhar o poder de decisão possibilidade de questionamento da legitimi~ade de suas deliberações, como transpa-
rece nessa fala do representante da Central Unica dos Trabalhadores (CUT)no CNAS:
Os encontros entre Estado/sociedade nos conselhos têm sido afetados negati va-
mentepor uma grande recusa do Estado em partilhar o poder de decisão. Os gover- "A partir do momento em que a representaçãogovernamental é esvaziada, corneca a
nos têm resistido - de forma mais ou menos acentu~da dependendo da naturez a haverurna referênciaao conselhocomo uma coisa assim da sociedade civil. Mas por ~uê?
do governoe do seu projeto político - às novas formas de fiscalização , controle e Porque(...) é a sociedade civilque tem interesseem dar vida aos conselhos (...) AI a preo-
participaçãoda sociedade civil no proce sso de produção das políticas pública s. cupaçãode que o governose desresponsabilize do processo. Essa visão de que o conse-
Vamosrecuperar de forma mais detalhada dois estudos bastante indicativo s dessa lho é da sociedade civilassume um caráter pejorativo, quase como sendo um lugar onde
tendência, destacando algumas nuances presentes nessa complexa mediação entr e a sociedade civil se reúne para brincar de decidir, de participar". (conselheiro não-gover
-
Estadoe sociedade nos conselhos . Começamos com o estudo de Raicheli s ( 1998) namentaldo CNAS, em Raichelis, 1998: 203)
sobreo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS).
Ainstalaçãodo CNAS,em fevereiro de 1994, repre sentou tanto o cumprimento de No
. _ cotidiano .do CNAS
· , essa res1·srenc1
' ·a d o governo em pamlhar · o seu poder de
umpreceitoconstitucional, quanto o desfecho de um longo proces so de luras do s dec1saose traduziu em reiter d · d
ª as tentativas e neutr alização e enfraqu ecimenw d0
setoresmais progressistas da socie dade pelo reco nh ecimento da assistênci a social papel do conselho. Nas falas
. · é
ª seguir, 1· • d
possíve 1denr 1ficar a presença de alguns es-
como"política", e como campo de ação relativo ao mundo "público ". O CNASenfren - tes procedimentos: •
touumasérie de dificuldade s que iam de sde a falta de infr a-estrutur a até as reitera-
dastentativas de esvaziamento do Con selh o por part e do Mini stério do Bem-EStar "Há casosde interferência do E . _ .
CN xecurivo que sao Inacreditáveis! Por exemplo, quando 0
. Emum desses casos, o Ministério , por conta própria e sem fazer publicidade
Social AS aprovauma questão por unanir. .d d ( . - . .-
· f:~1 n, ª e ...) Veiabem, eu nao esrou fabndo Je 111.uo
d~so, resolveu repassar atribuições do CNAS, em especial a definição de critério s e na, estou a.iando de unanimidade O . . . ,. .-
el b · s sete mm1stenos vararam a favor daquela quc:,t,Jll,
a ora-se urna pruposra de decreto .
a-se para a asa Civil do govc:rnu,· ·1
e encarn111h
79
80
Casa Civ il muda o d ecreto , modificand 0 J • .. d.d tre sociedade civil e governo . A sociedade civil
ª gun s art igo
da sua própria representação d ent ro do CNAS " (c
s. Quer dizer p
Ih . -
·
' assa por cima ate
, ,
não e um oco
bl d1v1 1 o en
.
. , .
sentant es dos estados e mun1c1p1os [...] e
, num
Certo
. arcena com repre . . quase se
em Raichelis, l 998 : 190) · onse eiro n ao-governamemal do CNAS , senad o, trazª P _ eles votam mais com a socieda de civil mpre
ostas nas votaçoes, ' encaminh
nas nossasprop ' tas Mesmo no bloco do gove rn o, você tarnb, ª111,
"(. ..) a gente vive solicitando informações so br e fi . d. m mais as nossas propos . ." ern tem
- o 1nanc1ame nt o, demora para vir, mui - ,scure d f: lo de parcerias , elas são pontuais . (conse lhe1·r0 - Par-
tas vezes nao chega o u chega d e maneira truncada N , d r ·
. .
.
· os enn1mos que , a cada trimestre
.
cenas... É I
e aro q ,
°
ue quan . ªI" 1998·208) nao-gover-
a SAS [Secre ta.na d a Assistência Soc ial] deve ap ' namental do CNAS, em RaJCheis, .
resentar a execução orçamentá ria par a a
gente poder acompa nhar . Então , nós vamos estar cobrand d SAS 1 ·
. o a , qu e e a envie n um a . ruais com membros do gove rn o foram por muita s v
linguage m clara, su cmta , par a que a gente poss a ter acesso de faro ". (conse lheiro não- Essas parcenas pon , _ ezes Uti-
, . para fazer frente a enorme concentraçao de pod er n 0 E
governamental d o CN AS, em Raichelis , 19 98 : 190) Jizadas como estra regia . . xecu-
. b potencial deliberauvo do Conselho . Uma outra estrat , .
nvo , que a aIava o , , . . eg1a foi
''A qu estão d o orçamento foi um a barb ari d ad e! (... ) Nós solicitam os ao Ministério da . correlação de forças favoravel no amb1to da soc ied ade . .
buscar cnar um a . . . , . . . c1v11. As
Previdência e Assistência Social informações so bre o orça m ento p ara 1996 e O Ministé- • . Esta duai s e Murncipa1s e a Conferencia Nac10nal de Assistênci· S .
rio disse que não p o di a encam inhar p o rqu e era sigiloso" . (co n selh eiro nã o-governamen -
eon fierencias . a ocial
rivilegiados ne ssa tentanva de se reforçarem os vínculos , .
tal do C NAS, em Raichelis , 1998 : 19 l)
fioram mom ento s P . . .. , . , _ . orga01_
cos com as bases So
ciais e dar vJSJb1hdade publica as questoes
. .
relacionad as a
' as . ,
sisten-
"O conselho tem direito à informação , é de sua competência (. .. ) ma s quando a gente cia social, redefinindo conceitos e propondo novos s1g01ficado s.
cobra a informação com pre ssão (... ) é como se a gente tivesse qu erendo uma coisa que Um outro caso emblem ático do s de safio s envolvidos na relação Estad o/socieda-
não é dir eito nosso , os próprios técnicos têm essa atitude (. .. ) Então , h á uma resistência de nos Co nselhos está registrado em Camurça (1994), na sua pe squi sa sob re funcio-
em passar a informação, porque as pessoas incorporam aquilo como propried ade p art i- namento do CEDCA do Rio de Janeiro (CE DCA/ RJ) . Esta análise tornou mui·t .
' o evi-
cular ". (conselheiro não-governamental do C NAS , em Raichelis , 1998 : 192) dentes as difi culd ades que as entidade s e movimentos da sociedade civil enconrrarn
para oc up ar de forma efetiva os espaços já garantidos institucionalmente, em vista
Embora a linha central de atuação do governo renha sido a de boicotar os traba - da recusa d o Estado em disputar no s Con selhos as suas políticas :
lhos do CNAS, foi possível estabelecer, no nível individual das representações gover -
namentais dentro do Conselho, distintas composições de forças em torno de obje- "Depois de um ano de funcionamento do CEDCA, podemo s notar nos Conselheiros Não-
tivos pontuais . As entidades da sociedade civil no CNAS tiveram sensibilidade para Governamentais (e nas demais entid ades do m eio não-go vernamental , de um a forma ainda
perceber que havia dentro do governo projetos heterogêneos e souberam explorar mais acentuada) uma grande dose de insatisfação co m o relacionamento entabulado. Res-
politicamente essa heterogeneidade, estabelecendo parcerias e costurando consensos sentem-se do desinteresse e esvaziament o do trabalho d o CE DCA (plenárias e com issões) por
em torno de tema s pontuai s . A compreensão do Estado como um ator não mono- parte da maioria das _entidades governamentais, o qu e frustrou a parc eria e seus resulrad
os
lítico foi fundamental para o sucesso de ssa estratégia , como no caso da quebra de concretos (...) O não acarament o do Executivo às propost as saíd as d o Consel ho, em dri os
braço entre O representante do Mini s tério do Planejamento e o representant e do episódios, ao longo do seu primeiro ano de funcionamento, levo u os conselheiros não-
Mini stério da Pr ev idência em torno do orçamento da As sis tência Social , um defen- governamentais a se darem conta do desgaste que era investir num espaço que tinha su1
dendo cortes de gastos e o seg undo, a manutenção do nível dos investimento s: dinâmica
. . sempre emperrad a. o · - , .
senum ento n ao-gove rn a m enr::il e predom111anremente Je
msansfação, conforme d epo iment
O · • n ão-gove rnam enul : ·...O que e·
o d e uma co nselheira
"Um defendi a qu e o orçamento ap rese ntad o pela Pr evi d ência era infl acio n ári~ , que ti~h_a diro no Conselho
. não é I d ·d - - .
eva O em cons1 eraçao pel o Gove rn o!' (. .. ) Segun do os nao-goier·
que corta r (. .. ) e o outro d 1z1a - era. En tao
. · que nao - , na- o e ,·a u m a bri ga e ntr e soCiedad e Civd
. namenra1s, a despei ro de 5 d d . _ - - - e ou
. ua vont a e e at uar, propor leg 1sla.ção, a açao do cFDCA ,ic
e
e governo. Naquele momento, a ge n te rerorçava o b raço d o g over n o qu e lura va por mais. paralisada na inércia g 1 . . " 99' ·31)
overnamenta e na 111d1ferençado Executivo . (Ca mur ça, 1 4 ·
,
recursos para a area · " . (co n se Jhe,r
d a ass 1·ste, n c1a · o nao-g
- ove rn ame nt al do C·NAS , em Ra, -
chelis, 1998:143) Os co n selh eiros governa . d e d inuir:i
sem Ih mentais se e 1e nd em, num discurso que g uar ª
"Nos
' temos hoJe
· uma articu
· lação da soc,e· d a d e c1v1
· ·1, d e um gr up o da soci edade civil, bas- e ança com o que enc d nhe-
ci d , . ontramos no CNAS: por um la.do, d enu n ciam o esco
. . .
tanre organizada , pensada , que atua s1stemat1camente .
A
gora,
é evid ente que o C onse lh o menro a maquina ad · · · d · con·
selheiro s - m1111strattva e da burocracia do Estado, por parte o~
nao-governamenrais · . . . . d 1 ·onsdh0
' por outro , questtonam a legir11111da e l O e
81

82
•r os obje t ivos at é o nd e fosse p ossíve l e
comparand o-a à legitim idade conferid a, pelas urn as, ao govern o e ao seu p[Qgrama. d ft15tigar e pe rsegui ' Po r fi
recusa as, . d mp err am ento s d o Es tado fo ra m a tô nic d rn, tolc ,
Registros dessa compr eensão seguem no s depoimento s: e até resignação di an te os ~ 33) a e sua cond ranci;i
" (Ca mu rça, 1994:3 - l1t. n(
CEDCA · i
"Os represenrantes da sociedade civil são mais angustiados, querem uma mudança rápi-
da, porém o governo se depara com dificuldades reais, que é gerir uma máquina emper- , ia não er a c onsen su a l , as s im como não
, , b io que essa esrrateg eram co
rada (...) A sociedade civil, por não estar envolvida na Admi nistração direta, não consi- E0 v . a 20 Par a alguns, era uma prova de que O nsensll .
a1· ões qu e su sc 1tav . s c o n s Ih a,s
dera as inúmeras dificuldades que surgem entre o planejamento e a ordem de execução as av ,aç . ofícuos à luta pela ampliação da democraci e os llã
eram os esp aço s m ais pr . . . a n em t o
saída do governante, que se imobiliza nos meandros da máquina emperrada". (conselhei- mud a nças sign1ficanva s no campo das política , ªrnPou.
ro governament al do CEDCA/RJ, em Camur ça, 1994:36) co instrum ento s par a s publi cas:

"O Executivo, eleiro em cima de um programa de governo, se recusa a deixar que se un ca se rebelou contr a um a p os ição do Estado . O s co n Ih
"Este ca nseIho n se eiro
inrerfira nesta prop osta, alegando que sua legitimidade vem das urnas". (conselheiro não- . - devem fidelid ad e ao G overno, es t ã o no Con selho f, s não.
govername nt ais nao , ., . , . o erecendo
governamenral do CEDCAIRJ, em Camur ça, 1994:38) _ anto pessoas qu e tem ex penen c 1a com polmca s pública L sua
co 1ab oraçao enqu . s. ogo , é ina
"Brizola (então governador] disse para nós que quem foi eleito pelo povo foi ele, logo sua . , l qu ando O gove rno emp erre o pro cesso , os conselheir o s fiqu . d.
m1ss1ve qu e, . , . d d _ ern ass,srindot
política tinha precedência sobre a nossa". (conselheiro não-governamental do CEDCAI RJ, Éd do conselheiro denunci ar a so c1eda e , quan o estao sendo desr e . •
ever . . spe1tadas suas
em Camurça, 1994:38) pos1·ções . Se O govern o desacata um a medida d o mt e res se da soci edad e , aprovad
CEDCA entra -se com um m andad o d e segurança contra o governo ! ( ... ) Est . _ªno
"O governo já tem o seu program a pronto , logo não tem interesse de ir para o CEDCA ' . . a snu açaode
ermi ssividade dep õe contra os con selheiro s e termma por desacreditar a p , ..
para formular políticas públicas". (conselheiro governamental do CEDCA/RJ, em Camur - P . ropna insti-
tu ição do conselho qu e estes con selh eiros pensam estar defendendo com sua 1, .
ça, 1994:38) , po incade
'passar a mão na cabeç à do Estado ". (conselh eiro não-governamental do CEDCA/
RJ, em
Para ue os conflito s com o governo não result assem num impa sse, os con selhei - Ca mur ça, 1994:34)
q ' . . - . ' .
- rnamentai s adotaram como estrateg1a a negoc1açao com vistas a co nCI-
ros nao-gove . .
.1aç-ao. O lema era "con seguir o máximo rendimento com o mímmo de atrito s com D e fato , vário s depoimentos citado s demonstram como a ênfase na estrat égia da
! . . , .
Estado" (C amurça , 1994:32). Os motivos estavam nã_o apenas .na mtran s1~en c1a co n cili ação acabou levando algun s setores à descrença quanto à capacidade de 0
0
também no reconhecimento da baixa capacidade de amcul a- CEDCA/RJ funcion ar com o um centro formulador de políticas pública s : "Se as ONGs
governamenta I, ma s . . . ..
- - mob 1'J1'zação dos setores orgamzados da soCiedade c1v1l. n ão pod em ter uma posição altiva , se a relação estabelecida no CE D CA é d e submis-
çao, pressao e
são , o melhor a fazer é se con stituírem no seu Fórum próprio e cobrarem direr amen-
"A , · re r · a de não deixar o trab alho se paralisar. Se as comissões estavam te do Es tad o su a açã o" (con selheiro não-governamental do CEDDCA / RJ, em Cam ur-
estrateg1a semp ri01 . . .

à mingua, desfalcadas pela ausência dos Secretários de Estado, deltb_e r~u-se a consmu1- ç~, . 1994 :35). A que stão é que seria muito difícil para os con selheiros da sociedade
çãode 'Comissões inform ais mistas' qu e reuniam os conselheiros mais rnte~essa~os e ati- c1V1lsu st entar em uma estr at égia de confronto , tendo em vista a s dificuld ade s de arri-
vosde rodas as Comissões. Dessa forma, a atu ação das não-governamentais onenrou-se cula ção co m a esfera públic a mai s a mpla :
por um trabalho pacient e de tentar assegurar um a pauta mínim a possível de objetivos,
mesmo que não houvesse tanta clareza no conjun to de seus conselheiros acerca_~o q~e "(. .. ) N ão havia qu em (Fórum , 0NG s) fizesse o trabalh o de m o bili zação e pressão para
resp ald ar a ação d os co ns Ih · - d euo-
propor, e como prop or, no camp o das políticas públi cas. Também sua parn cipaçao . _ e eiro s nao- gov ern am entai s n o C EDCA. O es te mo 0 , ª n"
·
enquanto conJunto · lad o, em b ora supen·or ao gover na111
arttcu , enral, , estava longe de. ser
c1açao ficava sempr e no âmb ' d
desses Co nselh eiro s ( ) O
lto °
CEDCA, n ão h av end o n ada qu e res p aldasse as P
ressões
d rás dos
sat1s1atona para forçar o Esta o a negoc 1açao .. . perce 11 ' fragilidade do conJun-
·e • • d , · - ( ) [ be d o] a . ... govern o passo u a p erc eb er qu e n ão h av ia n ad a po r er
con selh eiros não-go vern am e . ,, ( . . d : o CA, ~in
to da representação não-governamenra I enqu anto po d er coesO
de pressão, e por perceber
.
eamu rça , 1994:44 ,62) m ais · con selh eiro s n ão- gove rn a m ent ais CE °
, , . Co nselho esrava CJen te desra
tambem que o Esrado, arraves de seus represenrantes no •
_ , [ l'd d 61 não-governamental no con-
corre1açaode forças desfavoravel (...) as I eranças o oco .
· , d e Se suas pro posições fossem 20 . As polêm icas em torn o das estrat é ia . ,b.:11
1 '""bili1.1·
seIho buscaram]acordos e acenos ao 111 ves e enrrent amenro. ram o CONAN DA, resulcand .· g s a serem ad o tad as na s negoc iações co m o Estado 1.111
o num a c11se entr e as en tidades não-gove rn ame nt ais (Forte s, 1996 ).

83
84
nentede recursos . Váriosconselheiros
, principalmenteem conferênci
. as e e
Muito impo:t~ntepara a manutençãodeste equilíbriotenso e precáriona rela- ampliados , têm defendidoque os conseIhos possuam rubncas orçah-, ,ncol1tr
. . bT "1entar' os
çãosociedadec1VJl!governo no interior do CEDCA foi a atuaçãodo Presidentedo prias, repassadasaos respecnvosfundos, para via I izarem suas atividades 21tas Ptó_
Conselho, o então chefe do Gabinete da Casa Civil do Governo- "[ele]foi o No balançogeralacercada atuaçãodo CEDC A/RJ,Camurça resgataas d' ..
ponrode equilíbrioe rota d~ passagementre governoe conselho. Funcionando , . d ~ ~ . tst1nt
liaçóespresentesno amb1to as representaçoes
nao-governamenta1s,
chah-, as ava_
comoum anteparoentre as raJ3dasdo governopara a sociedadecivile da socieda- ,. 1~ ' . ~ •11ando
decivilparao governo"(Camurça, 1994:80). Em sua ação de mediadore de anta- çãoparao fatode que, mes~~crmcosem _reaçaoa sttuaçaoe ao potencialdea aten_
o Presidenterepresentavaas ambigüidadesde um governo"conhecidopor
()'onista, tizantedosconselhosa ma10nados entrevistadosdefendeua sua conf . fll.ocr a_
' mu~ad~
duasmarcasdistintivas: uma, seu apelo em favorda criança,que o aproximavada
ideiado Conselho; outra, a sua ação centralizadoraque o faziaresistirà práticade "Todo e qualquerespaçoquea sociedade
consigapara fazervaleras suas .
rerque partilharo poder com a SociedadeCivil" (Camurça, 1994:82). Algumas r b d' . . fl . e propos1 -
válido.r, umespaçoparaco rar 1re1ros
e m uenc1arna rormulaçãod , . Çoe sé
vezes
, essascontradiçõesse explicitavamnas "gentilezas"do governoe nas distintas e pol1t1ca
s"
Camurça , 1994:105) · (em
reaçõesdosconselheirossocietais.
O cEDCA,ao contrárioda grande maioriados conselhos, possuíarodasas condi- "O saldodoCEDCAfoipositivo.Algumas
posições forammarcadas;houveai
õesinfra-estruturais
necessáriasao seu pleno funcionamento. Sua sede ficavano ·' ·as frustrantes
nenc1 ' sed'1menta
, masagorao CEDCAesta do (...) Já foi gurna.sexPe-
çPalácio '. runc10nanos montada
do Governoe vanos e. . '. e
roram remanejados para a prestaçãode ser- ". (emCamurça,1994:l 06)
estrutura toda a
viçono Conselho.Enquanto, para alguns, issosinalizavao prestígioe a boa vonta-
"O CEDCAamadureceu, emboraaindatenhasetoresfalhas. O Conselh ,
dedogovernopara com o CEDCA - "Foi uma demonstraçãode apreçoe de valo- o e cornoum .
rizaçãoda parte do Governo trazer o Conselho para Palácio... Ganhamos que começaa acercar, 'ganhouconjunto', tomouforma,tem personalidade . time
infra-estrutura,
secretárias
, salas, anfiteatroe carro à disposição!"- para outros, o frentea tendênciaé deslanchar
". (emCamurça , 1994:l 06) ' daquipara
"excesso de mordomias"era mais uma tentativa do governode imobilizaros traba- "Tivemosmuitopoucotempoparasaberse esseé realmenteO melh .
or caminho
"(
lhosdocEDCA,via cooptação: Camurça, 1994:l 06) · ern

"(...) foiO excesso


de gentilezas
e amabilidades
do governo
: reuniõesno SalãoVerdecom "O CEDCApodeserumaarmadilha. Vocêentranumarelaçãode par · d
cena, aon e nad .
rodaa mordomia,
garçomservindocafezinho
etc. a instalação
do CEDCAdentrodo Palá- parafrente, ondevocêé encaradocomoinimigo(...) Asencidad fi ªvai
- es icampresas, achan-
cio,comtrêssecretárias
, fax,telefone,o quelevouà imobilização
e ao receiopor partedos do quevaogovernar,quevãoteraçõescontundentes nesteprocesso( ) -r d .
d' ... iu o aquiloque
não-governamentais
deseterconfrontosmaisabertoscomo Governo . Esteexcessode cor- po 1asero sonhodagarant ia doEstatutopodesetransformarna su 1
. a sepucura.OsCon-
tesiainiciaumaaçãomaisagressiva e maisautônomados não-governamentais" . (depoi- selhos,quesenamo canaldecontribuição da Sociedade
Civilao Est d r
- d ,• . a o paraa rormula-
mentos deumconselheiro não-governamental, , em Camurça,1994:49)
do CEDCAIRJ çao e polmcas públicas
e garantias
dedireitospodemmataressesonh ' p 1· .
d' · o. o 1t1c
amenre,
a ten enc1adoCEDCAestásendoo esvaziamento" .(emCamurça,1994:106)
Talvez essasambigüidadessejam resultantes da própria indefinição quanto à
posição ocupadapelos conselhosno conjunto do sistema político. Como veremos Se os estudosvolcadosà compr ~ d d' , . d
. . , . eensao a 111am1eae funcionamentodo Can-
maisafrente,há muita controvérsiasobre se os conselhos fazem ou não parte da seIh. O Nacionalde Assmenc1a SoCla· J (CNAS) e do Conselho Estadu al de Defesa da
Cnançae do Adolescente (CEDCA/ ) . ~ ,
estruturaadministrativa.
Os que pensam que sim defendem, em conseqüência, que ~ RJ apontamcom prernao alguns nos presemes
osconselhos funcionemcomo uma secretaria, usufruindo de rodo o suporte infra- nas re1açoesentre Estadoe · d d
socie a e nesses novos arranjos participativo s, ourros
estudos sugeremque no , 1 . . l .
esrrururalconcedidoa uma secretariade governo. Enquanto, para outros, isso sig- , . d ' rnve murnc1pa , essarelaçãotem sido ainda mais difícil.A
carenc1ae recursosfina · · e . .. d
nificaria
bloquearo potencialcrítico e democrático dos conselhos, defendendo que . . d nceiros, mua-estrutura1 s e humanos sofnda pelagrane
maiona os município
d
s brasil · fl ,'.
eiros, re ete-se de forma dramattcano func10nam
• en
-
estes,emborafinanciadospor recursos públicos, não são governo, nem sociedade
to os conselhos, privadosd d' ~ , . d ·s
civil, masespaçospúblicosde cooperaçãopara formulação das políticas. A queStã0 fi - as con içoes mm1ma s para o bom desempenho e sua
unçoes. Por outro lado · , · . 111
daautonomia dosconselhosestá, portanto, diretamente vinculada ao debate sobre ' mu1ta s vezes a manutençãodesse nível de carenoas re
0 financiamento
dessasexperiências,atravésda garantia do repasse regular e perma-
21. Volro a essaquestão,na úliimaseçãodo texro.
85
86
-- . 1 ,·do pelas pessoas, pelo governo , pelas palavras macias, pela arnabii.d
bo quanto fu I envo v 1 a-
sido um dos principais recursos das prefeituras para manter sob seu controle os con - - ,, Ih . - -governamental do CEDCAI SC, Moraes, 1998 , grifo
de das relaçoes . (conse e1ro nao . s rneus)
selhose as entidades não-governamentais . Esses foram constrangimentos comuns . d lve VeJ·o muitos membros da sociedad e civil g
"( ...) a burocracia se uz e envo . - ostando
verificados no dia -a-dia dos conselhos, segundo verificado na análise da literatura . . b. h d té que têm uma certa ascensao de status . Estiv e re
muito do ga mete e ac an ° a . . paran-
Num contexto com essas características, o diálogo, como forma de resolução pri - iros quando começam a dizer alguma coisa que tern
do , por exemp 1o, os conse lhe , . lima
vilegiada dos conflitos envolvidos na equação pluralidade/deliberação, tem encon - , . (.••) como eles ficam vaidosos 1. ( ... ) a mudança de postura da sociedade
certa ressonanC1a
crado muitos limites para se efetivar como prática concreta nos conselhos . Uma ten -
. .1quan d o vai· se aproxi·mando dos centros de poder( ... ) isso eu chamaria d e neo-cººP-
c1v1
dência verificada na análise da bibliografia , nos casos em que os governos não
conseguem compor um conselho de "aliados", ou quando sua hegemonia está por tação". (Santos , 1992 , grifos meus)
ai um motivo ameaçada, é o boicote e as tentativas de esvaziamento como estraté-
i!s privilegiadas de "convencimento" . Ao lado destas, também se destacaram, como É com base nessa constatação que a publicação do UNI CE F chama a atenção para
!scratégiade desarmamento dos conflitos, as tentativas de cooptação e manipulação . o papel significativo que cabe aos conselheiros não-governamentai s na construção
de um espaço mais igualitário nas relações entre Estado/sociedade no interior dos
"[a relaçãoentre Estado e sociedade nos conselhos] constitui-se uma relação de cumpli- conselhos . Afirma o relatório :
cidade(...) mas uma cumplicidade que não é muito consciente. É possível arriscar dizer
(sic)que em muitos momentos acontece uma trocadefavores que atendem interesses ime- "A parceria entre representantes da sociedade civil e do governo ( ...) não pode significar
diatosde ambos os segmentos. Com isto não quero dizer que, pela falta de um contra- cooptação dos primeiros pelo segundo (...) Os conselheiros que representam a sociedade
onto mais efetivo e uma cumplicidade para atender interesses imediatos, as deci- não podem compactuar com a violação dos direitos a pretexto de salvaguardar as relações
~óes/ações decorrentes daí sejam todas perversas, negando a função pública do conselho."
com o Estado . Não lhe devem fidelidade e não podem curvar -se a ele". (Sêda , 1995 :62)
(cMs/SãoJosé/SC, em Krüger, 1998: 112, grifos meus)
"(...) a permanência de mecanismos de articulação e decisão, em que se reiteram a bar- A relação entre Estado e sociedade civil nos conselhos se dá num contexto per-
ganhaclientelísticae a troca de favores, revelam as te~s~e~existentes em torno dessa rup- meado de referências autoritárias . O enorme poder de controle dos governos sobre os
. mpleta no modelo de gestão e tomada dec1sao . (CESIES
rura mco , em Ferraz,1998:156, conselhos coloca muitas dúvidas acerca das reais condições de estes virem a exercer
grifosmeus) sua vocação deliberativa, que costuma depender da imponância que o projeto polí-
"Frenteà possibilidadede hegemonia dos representantes não-governamentais, o boicote e tico do governo, em cada caso específico, confere ao princípio da participação social.
· de cooptaça-o foram apontadas como estratégias utilizadas pelo governo do Esta- Nessa me sma direção, lê-se no relatório produzido pelo Centro Josué de Castro :
a tentanva
do para obter O equilíbrio político e neutralizar o conselho". (cEocAisc, Moraes, 1998)
"Ca be-no s reconhecer que a tendência dominante nas experiências participati vas foi :ide
"Nosquestionários,existeuma tendência (...) que mostra uma inibição dos agentes dos con-
tipo induzido (··· ) Ou seJ·a , nem a pressao
- d e b a1xo
· para etma,
· ·
nem o s1mp Jes d .tsposin-
··
selhose de suas intervenções,numa perspectiva mais agressivae incisiva de confronto com
vo legal foram suficientes par a garantir, de forma contínua, o funcionamento de insràn-
asposiçõesdo Estado. Por isso, o Conselho não pode ser visto como único espaço de repre-
cias deliberativas com presença popu Iar. A vonta d e po J'm·ca da eq wp
· e de ooverno conn- ·
sentaçãoda sociedadee dos movimentos( ...) Não podemos permitir que os Conselhos, na 0
nua sendo
. decisiva para o estabele cimento
· d e recon 11ec1men
· ' ·, no
tos qu e pr od uzam et~1cact:1
suaaçãoincompetente,venha a legitimar o processo de ajuste do Estado." (EQ UIP, 1995)
funcionamento das formas de participação semidiretas" . (Soares, 1998 :89)
As tentativas de cooptação se6 :.;-.:.-
m os mais diversos caminhos, sendo e~ muitos
Contudo, como dito anterior , · d fo-
casosfacilitadas pelo próprio fascínio peio poder que leva alguns conselheiros ª se mente , e preci so n ão esquecer que, mesmo esa
da s por uma cultura política · á · . , . . . - . ' - de
perceberemcomo uma espécie de novo s funcionários públi cos : , autont na , as expenenc1as de part1c1paçao atr ,ives
co n selhos vem se apresem d d . . do
d . an
emocráttco, no senti do da co
° como momento s importantes
- d
de apren izJ
•pei-
"Quando começamosa ter um espírito de corpo o governopercebeu e começoua compraras n struçao e uma nova c ultura polític.1. A este re~
Não com dinheiro, mas com orgulho, com a vaidade das pessoas (...) começou ª
pessoas. to, alguns estudos destacaram O " 1 d :10 - sc:us
f, . s resu ta os pedagógicos" da participação e l ~
conversarreservadamente
, chamar para algumas reuniões diferenciadas (...) Só agora perce- e e1tos na construção de novo s s · · ,. d2n-
. _ UJettos po 1tt1eos, apontando para uma novJ tct 1
cta em gestaçao que embora aind f , ·1d. -, lfL l -
' ª ragi lant e do padrão prevalecente, par eLc 1
87
88
missora quanto à democratização das relações soe · • ,. . os prestadoresde serviçosas opiniões são de que ,
. b iais e po 11t1casno Brasil. Os frag- concretas. Por exemp1o, entre . .. . , a con_
mentosa seguir uscam captar o sentido dessa novidade : . ai , '· , ais democráticae mais parttctpattva; que o conselh b .
JUntura aru e outra. e m . _ . o a riu
, .. - lar' 'contribuiu na fiscal1zaçao
garanttndo transparê .
"(...) relatos que espaçoa parnc1paçao popu , . , , . . nc,a na
. trazem a percepção de novos sinais·· 'conselhe1ros
· começama apropnar-se

, de . _ d saúde contratadose convemadoscom o sus ; diminuiu O 1•
algunssaberesimportantes ; os conselheirosestão olhando a comum·dade,; muitos• conselhe1.- compra dos serv11i-os e c ten-
ros, quando tomaram posse, tinham uma visão assistencialista,isso foi mudando lentamente telismono setor"' . (Silva, 1996:138)
no próprio exercíciodos conselhos; aos poucos vai se alargandoO honzonte
· ,; com os conse- "Apesardas inúmerasdificuldadesque se têm enfrentadono processode legitimaçã
oe
lhosmultiplicam-seas oportunidades e formas de controle social'. (Palmae Silva,1999:133) organizaçãodos conselhos, observamosque em nosso Estado já vingaram as ptirneir
"Sem dúvida que O processo de participação nos Conselhos, apesar de todas as dificul- experiências
de conselhos. Nós, do Conselho (...) achamospositivo a oportunidade :
dades, representa um avanço e rupturas com ·os modelos de fazer política tradicionais. sentar à mesa com O governo, debater os problemase tentar solucioná-los. Àsvezes, a
Trata-sede um processo que desencadeia aprendizados, institui novos mecanismos de gentenão entende, há conflitos, mas esteexercício é importante para legitimar, na prá-
controle social e contribui para reduzir critérios ad hocdo próprio Estado na administra- tica, direitos já legalmente conquistados". (Conselheiro não-governamentaldo CEDCA/
ção dos recursos públicos". (Lüchmann , 1997) Piauí, em Ferreira, 1997:82)
"Se não tivesse o Conselho , Picadas do Sul não tinha ganho um posto, ia ser São Pedro
de Alcântara, porque o [ex-prefeito] automaticamente ia fazer em São Pedro, que era a É com base nessesregistrosque parececorreto afirmar que o exercícioda participa-
terradele. A gente bateu o pé, fez votação e saiu o Picadas. Aí foi a primeira vez que o ção nos conselhostem levadoao questionamento,por ceno ainda frágil e insuficiente,
prefeitofoi lá no Conselho falar com a gente e queria convencer a gente a votar pra fazer de alguns aspectosde nossatradiçãopolítica.Tem exigido que o Estado dê publicida-
de São Pedro, porque se não tivesse o conselho ele tinha feiro os postos politicamen- de de suasações, apresentecontas,exponhaos critériosque balizaram acordos etc., e da
0
te". (Usuário da saúde do CMS/Cuiabá, em Krüger, 1998 :149) sociedade tem exigidoque se qualifiquepara esse embate, que busque construir rela-
"Estanova forma de gestão está contemplando relações tensas e contraditórias, mas reve- ções mais simétricasque parecempartir, em primeiro lugar, do rompimento da passi-
landoque os tradicionais traços da cultura política local estão perdendo um pouco da v~dade,da cumplicidadecom os desmandos,com as trocas de favores, com a coopta-
- 0 , quando a sociedade civil ensaia os seus primeiros passos de interlocuro- çao. Os conselhosgestoresaparecemcomo espaços nos quais se gesta um importante
sua sustentaÇa .
ra na gestãodos serviços públicos de saúde (...) Destaca-se que, em quase rodos os depo1- aprendi~d~ de convivênciademocrática,tanto para os atores da sociedade quanto do
·ros lembraram o clientelismo político muito presente entre os repre- Estado, md1cand~a gestaçãode uma tendência contrária à privatizaçãodos espaçose
~~ m co~ lhel .
' blico da cidade Situação que está sendo alterada gradanvamenre dos assuntospúbltcos, marcada constituiçãodo Estado e da sociedade no Brasil.
sentantesdo pod er pu ·
· , · d CMS( ) é um novo processo de fazer política pública que está sendo Nesse sentido, podemos concluir que os encontros entre Estado/sociedade nos
coma ex1stenc1a o ·..
'd osso ver aiºnda de maneira muito incipiente , mas, como uma semente de conselhos parece~ regidos por uma lógica contraditória, marcada pela correlação
construt o, a n
democraciaparticipativa (...)". (Krüger, 1998 : 150-158) entre O peso relativo dos traços autoritários das instituições estatais brasileiras e o
peso relativo do recente adensamento da soc1e · ·1, atraves
· dade c1v1 ' da cnaçao
· - de novos
"Os desdobramentos possibilitados por esta publicidade (o controle, ª fiscali~ação , ª
. ) e que só se rornaram poss1ve1s em - políucas.
espaços de negociação e representaçao · Os conseIhos nesse senndo . encar-
imposiçãode mudanças em proJetos e programas , . nam as ambigüidades, os desafios e as promessas de uma forma ' pamlhada
. ' cons-
. - ( ) ntretanto [existem] al<>uns
0 de
funçãoda existência dos conselhos, amda sao pequ enos ... e . _ d trução das políticas públicas' s0 b a egt
' 'de de uma culcura política na qual predon11
•-
. f; d mento do processo de ampltaçao o .
indíciosque permitem vislumbrar um apro un ª d nam referênciasautoritárias.
e 1 - da política de saúde tem se roma o
espaçopúblico, na medida em que a rormu açao .
. . . ( ) e qualquer aro da secretana,
mais permeávelao controle dos diferentes atores sociais ... _ d ***
riamente contar com a aprovaçao o
qualquercontrato, convênio e acordo d eve necessa . . ,_
. . . 'j' de segmentos socta1s antes exc1U1
conselho, ou seja, deve estar su3e1roao cnvo e ana ise Neste item, busquei apont I d . . . ,•
. , . ar ª guns os constrangimentos à efet1v1dade da pr:in-
.
dosdo acessoa estas mformaçoes _ d " (F raz 1998 : 183) ca d1alog1cacomo forma privile . d d 1 - . 1 .-
e ao po er • er ' E d / . gia ª e reso uçao dos conflttos presences na re aç,io
" . MS/C uiabá contr ibuiu para mudar sra o sociedade nos conselho • d . .
Podemos concluir que para os encrev1srados ° C _ . . . s, organizan o a discussão a partir de duas verrrnft')
. . d as ainda não representem açoes tnter-relac1onadas: 0 momento , • d d e-. . _ . • •
muitacoisa na política de saúde, mesmo que tais mu anç . previo e euniçao da agenda e as res1stennas do Jltlí
estatal em disputar nos Conselho- . I' · •. . o
s. Como manter o d1:1logo Lº 111
s suas po 1t1ca
89
90
forma privilegiada de resolução dos conflitos d • l
. . , se um os Inter ocutores se recusa a
dialogar?Quals est ratégias são possíveis , eficazes e democráticas como fiorm d · d do da reforma democráuca . do Estado' "(...) a criação de órgãos. de coordenaça-o das
d ' 'l ~ E a em u-
zir o Estado ao ia ogo . sses são desafios que se recolocam d fi . . .d . ' blicas com a participação de representantes da soCiedade não é novid _
_ . e orma muito vana a, polincas pu . - d . 'd a
assimcomo sao vanadas as respostas possíveis em cada contexto específico. Contu - . . bras1·1e1·ro, rendo acompanhado a amp1iaçao. as_at1v1 ades do Estado
de no D1re1to
do, uma das ações .
freqüentemente recomendadas para a - d
recuperaçao a autonomia
· · de 1930, sem, entretanto, significar uma democrauzaçao das
a partir . decisões, 1·neIu-
dos aroresestata1se seu .
fortalecimento no processo di'alo'gi·co, - d •
e a construçao e canais sive pelas funções meramente consultivas que lhes eram atnbuídas" (Mau,
eficientesde comurncação com a sociedade e com a esfera pública mais ampla. l 999: 132).23É nessa linha de argumentação que Garrido de Paula (um dos idea~:~
zadores do ECA ), responde à pergunta sobre os motivos que levaram à defesa d
. . a
naturezadeliberativados CDCAs no processo constituint e:
3. Os Conselhos como espaços deliberativos
"Vínhamosde uma participaçãoem conselhos consultivose verificamosque essesservi-
Tanro no campo teórico quanto prático , a questão da natureza deliberativa dos
ramaosinteresses do Executivo . Eventualmenterespaldavam algumas de suas ações
Conselhostem estado presente na agenda de discussão sempre permeada por muita , rnas
o Executivonãoestavaobrigadoa acatarnenhumaposição. Agora, se vocêcolocaO con-
controvérsia.Algumas vezes, esse debate acaba se traduzindo em estratégias, mais ou
selho como deliberativo e controlador
, vocêcolocaa idéia de que ele efetivamenreexer-
menosconscientes, de esvaziamento da "radicalidade da partilha de poder" consubstan-
ce poderpúblico". (Garrido de Paulaem entrevistaa Sranisci, 1997: 111)
ciadana deliberaçãocomo uma prerrogativa constitucional. Como alerta Celso Daniel:

Partindo do reconhecimentoda força democratizante que a natureza deliberati-


"Porum lado, é preciso fugir de uma dicotomia formal e excludente [entre consulta ou
va confere aos conselhos, discuto, nesse item, a questão da eficácia deliberativa dos
deliberação]( ...) que não encontra correspondência na realidade concreta da gestão
conselhosrecuperando, com base na análise da bibliografia selecionada · .
pública(...) [por outro lado] é preciso afirmar com clarezaque, em regra, a radicalização . , , . , os pnnc1-
pa1sobstaculosa sua efenvação.
dapartilhade poder, objetivo de uma gestão democrática, envolvenecessariamentecon-
feriraoscidadãosque participam o real direito de decisão, e não apenas de consulta. Há
umadiferençade qualidade entre espaços de deliberação e consulta que não pode ser A eficáciadeliberativa
subestimada" . (Daniel, 1994:30)
Avaliara capacidadedeliberativados conselhos e o seu impa t d
Produçao - d !' · ' bl' c o no processo e
De fato, em alguns casos, um conselho bem -sucedido pode não ter sua ação dire- as po ltlcas pu icas é uma tarefa que ainda so' pod e . d e
· · 1 e ser 1e1ta e wrma
tamenterelacionada à deliberação ("induzir o Estado à ação"), mas ao controle social :e~tanva, seJabpleo faro ~e tratar-se de experiênciasmuito recentes, seja pela dificul-
doEstado(no sentido fiscalizatório, que visa "impedir o Estado de transgredir "), 22ou a e em esta e ecer parametros seguros ar 'l' E
.
comuns presentes na laeratura são de u
P ªª
ana ise. m geral, as avaliaçõesmais
Ih
a umaeficientevocalização das demandas, ou a uma junção feliz dessas característi- vocação deliberativa E b . q e os conse os não estão cumprindo sua
cas.Conselhoscom baixa capacidade deliberativa podem ser fortes no controle da . m ora os monvos apresem d . . .
grande maioria dos e t d . a os SeJam os mais vanados, a
aplicaçãodos recursos orçamentários ou na execução dos programas e projetos . Num s u os aponta a baixa capa 'd d d . - ,.
públicas a partir da pa t' · _ d . ci a e e movaçao das polmcas
r icipaçao a soc1edad · ·1
paísonde as denúncias de corrupção e de desvio do dinheiro público se sucedem participação assumecom . . e civi nos conselhos, sugerindo que essa
ornos mais reativos •. - . .
numritmo alucinante, as possibilidades de sucesso das política s dependem, e muito , geral que os fragmentos . b que propos1t1vos. E essa avaliação mais
doolharatento da sociedade sobre o destino do dinheiro público . ' a seguu, uscam recuperar:
Contudo, esse reconhecimento não pode nos levar, como afirma Daniel , a subes- !'Dependente do Governo do E d
timara importância da deliberação enquanto um preceito legal profundamente ba1.xa representatividade sra o; contando
lh'd
b .
com mem ros governamenra1scom
, esco ' os a partir d 1'd 'd .
impactante,no sentido da radicalização da partilha do poder . É esta prerrogat i~a enfrentando O boicote é ª enr1 ade pessoal com a remánca;
e, ar ' a cooptação·o C Ih .
quetornaos conselhos arranjos institucionais profundamente promissore s no senti - e do Adolescente foi red 'd , . , . ' onse O Estadualdos Direitosda Criança
uz1 o a ex1srenc1afor 1 - .
ma nao desempenhando o papel delibera-
22 23. An1unio G. M. M
· Usoaqui os termos e a distinção propo sms por Ca rvalho ( 1998). p aués, Podere democra. . .
Julo: S/n1ese, 1999. . u pluralismo polírico na Cons1ir11
c111 içfo h :Jeral de l')8S. S.lo

91
92
tivo, necessário à ge st ão participativ a (... ) O s elementos de fragilização/fortal ecimento do , d e rma considerável o conjunto das citações e O se .d
Podenamos aumentar e ro . . . nt1 0
conselho est iveram sempr e ao alcan ce do Executivo , qu e poderia acioná-los favoravel- . . sma vertente na qual ev1denc1a-se a reduzida capa .d
contmuana preso a uma me ' . . c1 a-
mente, caso pretendes se obter , desta maneir a, o respaldo democrático de uma eventual .b . d aços Essa fragilidade del1berat1va vem acompanhada
d e d e l I erauva estes esp · . . _ por
proposta. Na falta desta e, igualment e, no int eresse pela preservação da gestão tradicio- • · a ser melhor investigada, que md1ca uma atuaçao um pouco ,rn.. a,s .
uma ten d encia,
nal, a manut enção formal do CEDCA/sc, enqu anto instância deliberativa cumpr e a exi-
efetiva no controle social do Estado . Ou seja, recu~era º
nd .ºs termos de Carvalho
gência legal e esteriliza as críticas da sociedad e civil organizad a. Configurou -se, desta
(1995), os conselhos parecemestar atualmente m.a1s ca~amados para "impedir o
maneira, a estratégia da não-decisão, implementada pelo poder público catarinen se em
Estado de transgredir" , do que "induzi -lo a agir ", mvestmdo suas energias mais no
relação aos direitos das crian ças e adole scentes . A legitimação do papel do conselho na
controle das prestações de contas e dos serviços prestados pelo Estado, do que na
gestão das políticas (... ) foi buscada na relação com o Governo do Estado , ond e a não-
formulação das políticas .
decisão cond enou-o ao formalismo ". (CEDCA/sc , em Mora es, 1998)
Os motivos apontados estão, em geral, relacionados às constatações feitas ante-
"Observamos a desorganização total dos conselhos , a maioria existe só no papel com a riormente quanto à dinâmica de funcionamento dos conselhos : a centralidade do
finalidade de receber recursos federais (...) não são órgãos que elaboram p olítica públic a. Estado na elaboração da pauta, falta de capacitação dos conselheiros, problema s
Constatei que tanto os representant es do governo como os da sociedade civil são ligados com a representatividade , dificuldade em lidar com a pluralidade de interesses,
politicamente ao prefeito " (trechos do diário de campo dos pesquisadore s sobre a situa - manutenção de padrões clientelistas na relação entre Estado e sociedade , recusa do
ção dos conselhos municipais do Rio Grande do Norte, Arquidiocese de Natal , Pastoral Estado em partilhar o poder etc . Para além desses motivos, a análise da bibliografia
da Criança e UFRN , 1998:56-63) . vincula ainda a fragilidade deliberativa dos conselhos à sua ambígua inserção no
conjunto da institucionalidade e à questão da existência e efetividade dos fundo s.
"Eles [os conselhos] podem se constituir num espaço de democratizaç ão, tant o das polí -
ticas (...) como das formas de defini -las e de controlar a sua impl ementação . A observa-
ção das experiências concretas de implantação do s Conselhos mostra, entretanto , qu e eles
A inserçãoinstitucional
enfrentam sérias dificuldades para efetivar essas potencialidades " (Tomma si, 1997: 90).

"[As] deliberações que o conselho tem tomado (...) não têm ligação com deliberações Os conselhos de políticas , como afirma Draibe , "não se deixam conhecer com
seguidasde tomada de decisões sobre políticas públicas , ond e se defina ~iretri ze~ e siste- facilidade" (Draibe, 1998). Na interface do político com o legal, sua novidade leva
ma de controle para o seu acompanhamento . Deliberações que não estão mterfenndo em a constantes questionamentos que, ao invés de restritos ao campo teórico , extrapo-
questões mais estruturais como , por exemplo , a política fin anceira do Estado (... ) D aí lam par~ ~ terreno das disputas políticas concretas. Na bibliografia selecionada , as
podemos dizer que O conselho ainda não está influindo no proc esso de planej am ent o de ~<"1trovers1asacerca das suas atribuições e competências e sua interface com O
con-
políticas públicas no Estado ". (CEDCA/Pi auí, em Ferreira, 1997:129- 170) J 11Moda máquina burocrático-administrativa ganharam forma em questões como as
q, ,e se seguem :
"No casoconcreto dos município s da AMEPAR-PR, a ação do s Conselhos de Assistência Social
(...) demonstr.:iu-se errática na maior parte das vezes. Isso foi devido , em prim eiro lugar, ao
"F .nbora com identidade e atribuições legais formalmente definidas os Conselhos na
quadro de exigüidad e dos serviços e recursos disponív eis nas localidade s qu e limitava pro-
ve d~ 'e, iniciariam e ainda ho1
·e vivem · , · ,· · ' · 'd
. sua traJetona pranca em me10 a um coniunro e
fundamente as alternativas de ação po ssíveis". (CMASIAMEPARIPR,em Krüger, 1999:197) d.iemas e amb1güidades decorre11t d .
. . ' es os marcos conceituais e contingênci as políticasde
"Não sem razão, a prática de não inclusão do C onselho no pro cesso deci sório da polít i- onde se ongmaram Pertencem a0 , . .
) · governo ou a sociedade? Devem governar ou fiscali-
zar. Devem ampliar suas respons bld d · d
ca de saúde gera nos repr esent ant es, tanto usuários quanto do govern o, um a P_ercepção ª 11 a es executtvas ou aprimorar seus mecanismos e
reducionista da participação o rient ada para um a po stura ao mesmo tempo passiva e rea- acompanhamento? (Carvalho, 1997 , 136)_
. O u seJa,
nva. · o CMS-V e, aciona
· d o p ara h orn o 1ogar proJ·etos do governo e aderir e divul-
''Afinal, o que são os conselhos) C st1.
• a red isº t r ibui ção dos recur sos . · on tuem estruturas governamentais - nesse caso,
gar campanhas e programa s (... ) Este fator es ( ... ) mant em submetidos à lógica do Estado e às - .
- d J d ( ) fi ·
10 nament o do. CMS -V para fi pressoes do sistema de forças hegemônicas? Ou con-
nas maos o govern o. Este, por seu a o ... requ er o un c . . ormam uma esfera pública ao ai ,
• . ' argar O espaço democrático e transformarem-se no tOCIIS
e
ravorecer a ad esao
- e d ar v1·s1·b 1·1·d
1 a d e soc 1·a 1 as
, suas açoe
- s e também para legmm ar o d1s- por excelenc1ada constituição de a 1 . • . . ,. ( )
tores co ettvos e de auronomos suie1ros polmcos ···
curso de 'governo part icip ativo"' (CMS-Vit ória, ES, em Oli osa, I 999 : 1 l l - l 17) · O s conselhos representam e advo a d se
g m, ou também fiscalizam e executam? (...) On e

93
94
localizam as fronteiras que separam co Ih
nse os e governo n 0
rações de políticas? " (Draibe , 1998 :2 ) ' campo concreto das delibe- · mbiro da literatur a pertin ente , se deve ou não o Estado acat
a . - d d 1·b - ar as dec. -
Sejhos, ou , se resolvida a que stao a e i era çao, é preciso acionar . tsoes cl
"Exerce o conselho parcela do poder públi , Q d. os co
. ' . - co. uer izer, ele pode exigir de outros a entes mos de produção dos acordos , extra conselho s, ou ainda m b . . novos Jne _n.
0 respeito as suas dec1soes? Ou não pode> ( ) As d rb - g . . . ' bl . b . E d o t1izar can,s.
'61º , . - . . . ... e I eraçoes desse Conselho vinculam o como O Mrnist éno Pu ico , para o ngar o sta o a acatar a d . atores-eh
poder pu 1co. Quais sao os limites dessa vincul - , H d . . . . - - ' s ecisõe N aves
_ . . . açao. aven o desrespeito a essas delibe- namento conselho -Jegislattvos , a s1tuaçao nao e menos nebul s. o reJ . '
raçoes, quais senam os instrumentos colocados nas - d C Ih osa. ac10 _
" . maos esse onse o para exigir respei- Muita s decisões dos con selho s d evem passar pela aprovação d .
to a elas? (entrevista de um dos idealizadores do ECA 5 · • . • a1ºd d , . . as in stâ .
, em tanisc1, 1997: 114-115) 1attvas, que tem a sua tempor i a e propna e CUJO proces so d d . _ nc1as le .
"A questão a saber é, em caso de desacordo entre as d f, [E ·
e ecisao gis-
. uas es eras xecuuvo e Conselho observado , não está muito voltado à lógica argumentativa m ' con-iotellJ
.• . _ . , as a um . , os
Estadual da Cnança e do Adolescente, CEDCA!RJ] como proced r' O E · subservien cia em relaçao aos governo s. Mais uma vez se reco! Principio d
, e . xecuuvo tem que
acatar as diretrizes emanadas do CEDCA? O CEDCA tem a . oca , porra e
quem recorrer para assegurar a sidad e de construção dos consenso s para além dos limites d nto , a neces
aplicação de suas resoluções ? Quem arbitrará uma pendência entre as duas instâncias ? . os conselho -
que nem sempre estep claro para os atores envolvidos com e . s. Acredito
(...) É correto o Governo constituir um órgão , mobilizar recursos humanos e materiais . - . ssas expenên .
leg1slaçao, ao confenr aos conselhos competências antes exercida cias que a
da sociedade, e depois desconsiderá -lo? Ou, por ter tido a iniciativa de constituí -lo, deve Leg1s .1 . - . d d s pelo Exe~ .
ativo , nao esvaziou o po er essas instâncias, não extin ui ~Ut1vo e
o Governo se obrigar a seguir todas as suas instruções , mesmo que esteja convencido de , -
d esses orgaos . AI. , g u a compe • .
representativos . ias, não acredito que devesse fazê-lo tenc,a
que sua proposta não é mais a correta?" (Camurça, 1994:41)
sistema de contrapeso s e vigilância recíproca do qual depend . 'al~araO berndo
. . ' e a vn idade j . .
"O caráter deliberativo dos conselhos: eles são deliberativos em relação a quê? Quais são os midade da democracia . A questão das interfaces dos conselh e egn1-
• . . os com as dem . .
limitese o alcance desse poder deliberativo? Diz respeito às diretrizes gerais ou pode obrigar 0 tanctas repre sentativas é uma questão ainda em aberto ais ins-
. . . , que carece de defi . _
Executivoa modificar programas e projetos de ações e investimentos?" (Mercadante, 1999:96) legais mas , talvez prmc1palmente, de disposição política par l . . niçoes
d a egit1mar as deci -
os con selhos nos órgãos da administração pública e nos espaço 1 . l . soes
A divisãodas funções entre os conselhos e as instituições administrativas e buro- . d - . s egis arivos
trum o adesoes e reconhecimentos . ' cons-
cráticasquanto à definição, execução e acompanhamento das políticaspúblicas não
estáresolvidano âmbito da legislação pertinente . Na ausência desse marco legal -
e da naturezaambígua da expressão "formular políticas públicas" - essa divisão das A gestão dos fondos
funçõesacaba ocorrendo a partir dos acordos possíveis de serem estabelecidos em
cadacontexto específico e em cada conjuntura particular, variando à medida que se
alterao jogo de correlação de forças entre os participantes . A fragili_dade deliberativa dos conselhos se reflete e se reforça também no proble-
No caso de essas correlações de forças serem muito desfavoráveis, o conselho ma da geSt ao e controle dos fundos . Como dito anteriormente a obrigatoriedade
legal da existência dos fundos n · · d · . . . ' .
podeser levado ao isolamento, passando a uma existência meramente formal, por- , . ac10na1s, esta uais e mumcipa1s relac10na-se à estra-
teg1a de descentralização in d C . . _ .
queobrigatória. Quando isso acontece, ao invés de atuar para a reinvenção institu- _ augura a com a onstttuiçao de 1988. A tent anva era
nao apena s alavancar O proce sso d d . _ fi . . . .
cional, os conselhos gestores podem constituir -se enquanto institucionalidadepara- . . . e escentra 1izaçao 1nanceua, mas mstttmr meca-
msmo s publ1cizadore s na apl" - d d" h . , .
com pouco ou nenhum efeito democratizante sobre as instituições estatais. Esse
1,efa, . . icaçao o m euo publico , uma vez que cabe aos can-
seIhos a admmistração do fi d
é um dos problemas freqüentemente apontados nos estudos de caso, como vimos: . s un os. or me10 dos fundos, e sob o olh ar arenro da
p ·
conselhosfragilizados que não conseguem se legitimar como instâncias de partici- sociedade , dar-se-ia o rep d fc • · , · d
asse os recursos edera1s para estados e murnc1p10s e es-
tes para as entidade s p st d d • · · fi
pação, que acabam sendo renegados à função de legitimadores das decisões dos
d emon stra que re a ora s e serviço . Contudo a análise da b1blwgra 'ª
'
órgãosexecutivos. Como resultado, aborta-se a potencialidade de esses arranjos pro- ~o_ucose avançou nessa direção .
piciarema transformação auto-reflexiva do aparato institucional, por meio da Dado s do Mm1stério d p ·d · • . · d A551·s-
tenc1a ocia MPASI SAS) . dªº revi encia e Assistência Social e da Secretana e .
• · S . I (
democratizaçãodos processos de decisão no interior do Estado. t· · . l 10
icam ª existên cia de con selho s e fundo s estaduai s de assis-
Dessainstitucionalização incompletados conselhos, decorrem as dificuldades em enc1a socia ' em todo s os 27 t d . . a1 dados
afiem d eS a os da federação . No âmbito mun1op , os
definiraté onde as suas deliberações possuem poder vinculante . Não é consenso, no am que , os 5 417 m · , · 50/4rêm
criado os p d · umcipio s brasileiro s, 53,7% po ssuem CMASS, e 45, 0 •
un os, sendo que de st . (fonre.
MPASISAS 19 ) N , es apena s 34,3% estão em fun c10nam enro ,
95 ' 97 · o mvel fed J b . - d LON, eJll
era ' em ora pr evisto d esd e a aprov açao 0

96
J 993, o Fundo Nacional de AssisteAnci· S • l hos conseguem algum sucesso na quest- d
a ocia só fc · · 1 ando os consel ao o o
(Rocha , Abong , 1996 :25) . Nos municípios d Ri Goi imp amado a partir de 1996 vemos é que, qu . se em geral, à qu estão da alocação de rn tça-
0 0 rande do N sucesso resrn nge- ' º ntantes d
e. •
selhos em rnnc10namento possuem fund d arte , 7 53/c o d os can - mento, esse . d finidos. Situand o-se na pon ta fin al do process e
os , sen o que dest 26 . ·, rev1amente e . o, acaba
de recursos (Arquidiocese de Natal Pastoral d C . es apenas % dispõem recursos Jª P . . • ia dos casos, sobre como apli car as "rnigalh ,, rn
. ' a nança e UFRN 1998 ·36) N . , . d ue dec1d1r, na ma10r . . - as ' corno
de J 996 , havia no Estado de Santa Catarina 239
. d
Ih ' . . _- · o in1c10
canse os mumc1pais d d fc d °
ten 9 "N
Krü er· a ma1
•ori·a das vezes, dada a hm1taçao destes recursos pa
, recequ
direitos da cnança e o adolescente e 124 dest , e e esa os afirma g · , 'sinuca' rendo que escolh er um a pri orid ade entr e i , e
. es possu1am fundos, embora o Conselho se ve numa .. nurneras
uma pequena p arcela estivesse funcionando efet" O apenas
. ivamenre . Estado de Santa Cata - 'd d gentes" (cMs/São José-SC, em Kru ger, 1998 : 146). Esse probl
rina, nesse sentido, se destaca no quadro nacional p d . . necess1a es ur . l' . . erna
cA • A . ' or ser um os pnme1ro s a ter 0 . d ais dramático rend o em vista a po ltlca delib erada do g
FIA (Fundo da Inranc1a e Adolescenc1a) em funciona (M mostra-se am a m . . overno
. . menta orae s, 1998) . Forre s, federal de corres de gastos na área social, o qu e vem redu zindo de forrna paulatina
numa rad10grafia nac10nal sobre os fundos vinculado s ao Ih d .
s canse os a cnança e do o percentual de recursos investidos no setor.
adolescente , apresenta dados semelhantes : " no s raros caso
·· · s em que se comp 1etou o
Processo de sua_ regulamentação,
. . . em. geral os fundos apena s conseguuam · ate, o ***
momento doaçoes obttda s v1a , . mcennvo
, . fiscal da iniciativa privada ( ) -
. . . e nao o repa s-
se dos recursos orçamentanos publ1cos que lhes deveriam ser destinado s" (For -
tes,1996:24) . Fortes lembra ainda que, mesmo no caso do CO NAND A, que conta com Nesta seção, busquei recuperar as avaliações mais gerais acerca da eficácia delibe-
entidades da sociedade civil fortes e articuladas , o processo de regulamentação do rativa dos conselhos, destacando como problem as a ela relacionado s: a ambigüida-
Fundo demorou quase três anos para se concluir. de que permeia a relação dos conselhos com o conjunto do sistema político e a ques-
Esses dados demonstram , dentre outras coisas, uma grande resistência dos gover- tão orçamentária. Contudo , gostaria de concluir chamando a atenção para O fato de
nos em instituir mecanismos mais transparentes e democráticos de financiamento e que essas análises foram elaboradas sobre o vazio de informaçõe s acerca dos impac-
repassedos recursos . As acomodações políticas, as trocas eleitoreiras e a corrupção tos das práticas conselhistas sobre o cotidiano das institui ções administrativase
continuam imperando como matriz que orienta a destinação das verbas públicas , burocráticas. Em nenhum dos estudos selecion ado s foi possível "ouvir a voz" do
em acordos na maioria dos casos não-publicizáveis . Os fundos, com sua exigência Estado, ou seja, carecemos de inform ações a respeito de com o as pessoas que estão
intrínsecada publicização, chocam-se com uma cultura política marcada pela apro- diretamente envolvidas com a admini stração vêem as experi ências conselhisras e são
priaçãoprivada do s bens públicos . Raichelis, analisando essa questão no tocante ao por elas afetadas em sua prática cotidiana. Esse é um caminh o a ser avançado no
Fundo Nacional de Assistência Social, ressalta a importância do envolvimento e da âmbito da avaliação dessas experiências.
articulaçãocom outros atores como forma de se atingir uma gestão mais transparen -
te dos recursos:
Considerações Finais
"A questãodo orçamento é crucial e constitui um dos maiores desafios para o Conselho ,
que precisafazer avançar sua interlocução com outras esferas de poder, sobretudo com o . Este est udo teve como objetivo fund ament al contribuir para o debate acerca da
Legislativo.
A criação de mecanismos de articulação política com parlamentares progres- ~iruação ar~al de.funcionament o dos conselho s gesto res de políticas públicas nas
sistas - que se têm insurgido contra as práticas de 'carimbo ' das verbas públicas - é areas da saude, cnança e adolescente e assistência social, no s níveis municipal, eSra ·
umaestratégiapolítica fundamental para enfrentar a cultura política clienrelista presen - dual
. . e federal. Utilizando um d 1 · · ·1 · 'l.
a mero o og1a qu e pn v1 eg1a a ana 1se compar ' a· da dJ
re no universo da assistência social . Ness e quadro , é primordial a adoção de in st rumen - bibliografia secundária s
- . .
' b d • d
' e reve a usca as generalizações po ssíveis. Uma as con .
clu-
tos publicizadores,que dêem visibilidade ao debate sobre o fundo público , 0 que envol- soes mais gerais a que f;0 1. , I h ü 10
. passive c egar é qu e os co nselhos apresentam, no cen,
ve, tambem,
' a interlocução
· • com a esfera 1ud1ciana
sistemática · · · , · , por mew· d e uma atuação atual, uma baIXacapac'd d .. . fl ,ên-
d 111
. b 1 ª e prop os1t1va, exercendo um redu zido poder e t
maisarticulada com o Mini stério Público" . (Raichelis, 1998: 195) eia so re o pro d d e-. •
p , cesso e enrnção das políticas públi cas.
ara a1em dos fatores qu . . d - • rizanre
des . e constrangem e limi tam o potencial emocra
Essa arr·tcuJaçao
- ta 1vez permmsse
. . aos conse Ih os um mawr
· P oder de influência na ses novos arranjos parrici . d re escu -
do é ,. pauvos, conform e apresent ado no decorrer es .
definiçã
0 d , 'fi HoJ·e o que , necessano lembrar ue essoh1s·
os percentuais a serem destinados a cada area espect tca . '
tórico-coni·unr ai q os conselhos estão na co ntr am ão de um proc_
ur marcado p ) - d ' bl oi con1
e ª açao eliberada de redu ção da esfera pu 1 '
97
98
- .
.
olínco mais
. amplo que envolve as expectativas de
, - , transfor
as grandes decisões nacionais sendo tomad · d o de um projeto p . d d Nesse projeto , açoes de carater mobilizatório - -
.. , . . , as ª partir e acordos, em geral não- rorn d soc1e a e. e aço
public1zave1s. S1tuaçaoque se repete em grande d d ' mação do Estado e ª. . ai são complementares e não excludentes . es
. , parte os esta os e municípiosbra- · insnrucwn · · · · d d ·
sileiros,
como
_ vem
. demonstrando
. as diversas c rrs e r. •
m rnnc10namento,ou em vias .
de de natureza mais . d d . il nos espaços mst1tuc1ona1s e ec1são é u
. . -o da soc1e a e ov d, . ma das
instalaçao, hoJe no Brasil. Para além disso conspiram cont ., . A parnc1paça . to transformador, mas sem uv1da não é a , .
. , . , ra essasexpenenc1asos alização desse proJe un1ca
Processosde aJUSte ,. que vem reduzmdo drasticamente os 1·nvest·1mentosnas areas , formas de re . . portante . Os conselhos gestores representam
esmo a mais im . , . um
sociais, e o fortalecimento de práticas e posturas pror.unda mente anti·democraucas
,• forma, nem m , de formas mais democraucas de gestão dos ,
11
na construçao nego-
de resoluçãodos ~o_nflitos, como o uso da violênciacomo meio de contençãodas importante avanç0 . I e âmbito de atuação são naturalmente limit d
. , 61' mas seu potencia a os.
manifestaçõessociais, como vimos mais recentemente na comemoraçãodos 500 c10spu icos, , el a desempenhar no controle da gestão pública e
Anosdo Descobrimento. Esse é um contexto que conspira contra O sucessoe a efe- Os conselhos tem o seu pap . b, A 1· . na
. _ d I - s sociais e políucas, mas tam em tem 1m1tes que lhes sã
tividadedessasexperiências,apontando o risco de, nessecontexto tão adverso, sob democranzaçao as re açoe . l fi d o
lo a sua natureza serona e ragmenta a. A compreen-
0 pretextode fortalecimento da sociedade civil, a atuação dos conselhosreforçaras
inerentes, como, por exemp ' . l
. . d evitar que sobre os conselhos seJam ançadas exageradas
práticasem curso de desresponsabilizaçãodo Estado. são desses 11m1tes po e , _
. tendem inevitavelmente a frustraçao .
A compreensãodessas limitações - relacionadas tanto à dinâmica interna de expectanvas, que d b fi' ·
, í l i' r com esse processo, ou até on e os ene 1c1osdele decor-
funcionamentodos conselhos, quanto às característicasda conjuntura mais ampla Até on de e poss ve . . _ _ _
- fi · ntes para compensar os custos da part1c1paçao, sao questoes que só
_ tem levadoa avaliaçõespessimistasacerca dos resultadosdemocratizantespossí- rentes sao su ic1e . .
.das nesse J·ogo de avanços, recuos, contmu1dades e rupturas que
veisa partir do encontro entre Estado e sociedade. Um dos elementos discursivos po d em ser respon dl .
recorrentesna conformação dessas avaliaçõesé a contraposição lura institucional vem marcando as experiências conselh1stas:
versus
açãomobilizatória.
Tantopor parte dos atores que vivenciam essas experiências, quanto daqueles "Por que estamos falando tanto de conselho hoje? A gente está falando dos conselhos
quese voltam a analisá-las, é muito freqüente a interpretação de que os esforços porque hoje é esse O modelo que foi forjado por nós, foi o que a gente conseguiu acu-
empreendidos na negociaçãocom os governos- quase sempre muito resistentesà mular dentro de um processohistórico, tem toda uma história que leva a isso. Ele vai ser
partilhado poder, como vimos - acabam consumindo as energias dos movimen- 0
modelo definitivo?Eu acho que não! Pode ser que daqui a cinco anos surjam outras
tos,que assimnão conseguem investir no trabalho com suas bases. As dificuldades formasde participação,e pode ser também que a gente avalie que não vale mais a pena
emconciliarações de natureza estratégica e de trabalho junto às bases com ações esseespaço,que a experiênciamostre que ele tem mais limites que possibilidade" (con-
concretasno processode elaboraçãodas políticas públicas, somadasa uma avaliação selheironão-governamentaldo CNAS, em Raichelis, 1998 : 179) .
negativaquanto aos resultados práticos da participação institucional em termos da
melhoriada qualidadede vida do público-alvo, têm levado muitos ator~sd_o c~mpo A institucionalização da participação popular nas políticas públicas foi um gran-
· e democranco
progressista ' · a repensarem a pnon· "dade dada a' dimensão mst1tuc1onal de avanço, uma conquista importante dos setores democráticos à qual é preciso dar
comoformaprivilegiadade luta política no decorrer dos anos 90. . . conseqüência e efetividade na prática concreta . Se os desafios, como vimos , são
nd
Emrelaçãoa esse debate, muito em voga hoje na sociedade brasile_lf~, enre º imensos, grande tem sido também a criatividade na busca de soluções . Apenas 0
• • · 1 - bilizatóriaseJa1mportan- tempo será capaz de dizer se esses esforços serão suficientes, ou se os constrangimen -
que,emboraa polarizaçãoluta msmuc10na versusaçao mo . ..
·J J 'dos na prátJCada parnci- tos e as limitações atuais inviabilizarão os conselhos como um dos campos de luca
te,porprovocarum questionamento dos dI emas envo vi ., .
1 dos dessasexpenenc1ase dos setores progressistas pela ampliação e aprofundamento da democracia no Brasil.
paçãopolíticainstitucional, colocando em xeque os resu ta _
.. . d eficácia ela, contudo, nao
ex1gmdo uma análisemais cwdadosa em termos e sua ' . d
. e d ara desenvolvimento 0
parece capazde nos oferecer caminhos muito recun os P O c.
, . . . 1 r não parece correto aur-
propnodebateque suscita. Isto porque, em pnmeiro uga ' . . , . ._ Referências bibliográficas
.., . . d'ata e mev1taveldo mvesn
marquea desmobilizaçãosocial seja consequencia ime 1 . _ d
. d I essa polanzaçao po e cra-
mentona Institucionalidadepolítica. Em segun
. - d
°
ugar,
cratégiasde lura, quan o o
d .A realização deste levan t amemo b'bl'
quisa. Como se pode ob
. . rase
1 10gráfico constituiu a pnme1ra e da pes-
e recu-
zercomoresultadoo princípio da secundanzaçao as es • 1í 1 , ., . servar, trata-se essencia lm ente de estudos de caso qu _
r d tibilizá-las e arncu ' - a~ em peram expenenc1as de · · - . e Jaç.10
g an e desafioparece ser, ao contrário, como campa parucipaçao da sociedade civil nos processos de iormu

99 100
OE REFORMA URBANA, "Levantamento da situa _
e implementaçãodas políticas públicas. Espero que este levantamento auxilie novas FÓRUM NAO?~Ald R 'fi " Recife: mimeo, 1999. ÇaodosCon.
Ih Mun1c1pa.1s o ect e . .I L r
análises sobre o tema. Aos autores das pesquisas utilizadas como fonte de informa- se .ºs _ dapolíticade assistência
soaa em mflringá e reuiã.
MES T M A constniçao _ P l p ·e, . 6 º· encru··lh
çãopara a realizaçãodeste trabalho, agradeço a contribuição ao debate sobre os desa- GO , · · . . cão de Mestrado, Sao au o: onr1nc1aUniversid d z, a-
das e perspew vas. 0 isserta, a e Católi.
fios da construção democrática entre nós.
ca, 2000. ESTUDOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTI CA (GfSCDJ
GRUPO DE ,.
riiodemocrattca ·t: soae
no Br11S1 · d.ade, espaçospublicos
, · Mov1
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mentossoetfl lS e a constn 'r· e co-geuã-
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103
. d m Estado e como esta relação (re)define os vínculos d
CAPÍTULO 4 re1ac10nan o co O
.
. . ,
d soci·edade Foram escolhidos seis casos especificas de ,
as 0 Ncs e
ºtn
o conjunto a · . . . . vinculas en
ue serão descntos mais adiante . Estes seis casos obv· tre
0 NGs e Est ado , q , . . . lamente 0 _
esgotam
rodas as possibilidades em curso no cenano bras1le!fo mas corn
, . '
ªº
o veremos
A Atuação das Organizações Não-Governamentais : artir da análise desses casos é passivei compreender a disputa entre os p ,. ,
aP ape1sPre-
entre o Estado e o Conjunto da Sociedade sumidos para as 0NGs.
o termo "ONG" foi cunhado.
pela ONU, em 1946, que o definiu co
. mo toda
organização não estabelecida p~r acordo mterg_overnamental (Tavares, 1999). Num
Ana Claudia Chaves Teixeira rimeiro momento, o termo foi usado no Brasil apenas para definir as organ·izaçoe _s
P
internacionais que financiavam projetos de organizações brasileiras . Nos anos 80
Parte dos centros de assessoria ligados a movimentos sociais adorou para s·1 esta'
sigla. Estes centros fundariam, em 1991, a Associação Brasileira de 0NGs. Esta
associação, como qualquer outra organização social, configura sua identidade de
forma conflituosa, através do embate entre as organizações que a compõem e prin-
cipalmente das tentativas de diferenciação e aproximação com o~tras formas de
organização que estão fora dela. As entidades que a compõem não são apenas aqué-
las que eram reconhecidas como centros de assessoria e não são as únicas reconhe-
As Organizações Não -Governamentais, tamb~~ ~~nhecidas pel~ ~igla O~G~,
· · l d d' cada de 90 grande v1s1b1lidade no cenano bras1le1- cidas sob a sigla ONG; afinal, a Associação Brasileira de 0NGs congrega apenas 250
adqu1nram, ao ongo a e ' . .
'm disso os últimos anos também foram acompanhados pela mulnplica - entidades . Contudo, em um campo tão impreciso e indefinido, estudar 0 NGs
ro. Ale ' d . l implica descrever como as organizações se reconhecem e são reconhecidas por esta
- d. ·e - das 0NGs Tanto a imprensa quanto a aca em1a votaram-se
çao e 1vers1ncaçao · . . . b. ·
e · - do que seriam as oNGs e quais seriam os seus pnnc1pa1s o Jetl - sigla. Esta é a vantagem principal de estudar 0NGs que estão no campo da Associa-
para a d eumçao
ção Brasileira - as organizações que fazem parte dela se reconhecem e foram reco-
vos e atribuições . . _ , , _
A dificuldade em medir o número preciso de orgamzaçoes no pais e~ta nao ape- nhecidas por "seus pares".
c, · d d. - tambem no deba -
nas na falta de dados e instrumentos connave1s e me içao, como
1
te sobre O que faz parte ou não do universo das ONGs. • •

Este estudo não pretende afirmar qual definição de ONG é mais acertad~, pois As Interfaces das 0NGs definindo suas Faces
·nterpretações sobre o que seriam 0NGs_esrã_o em d1s_puta.
compreend e-se que as l
Acadêmicos, imprensa, governos, partidos, agências internacwnais, orgam~~os Três setores importantes de interface com as 0NGs merecem destaque na confi-
. • · formulam diferentes defimçoes guração dessas entidades ·. as agencias
• · d e e-. • • · 1, o relªcionJ-
multilaterais e distintas formas de associauv1smo . unanc1amento mternac10na
. ões sobre os papéis das orgam - menta com. movimentos
sobre o que seriam 0NGs, de acordo com as suas vis . . d . soC1ais a que estao de alguma forma vincula as ou c0 111os
· · - d
. . l , p . d d sra disputa de s1gmfica os, o setores sociais com os · ) .
zações civis na sociedade brasilelfa atua .- artm O e _ quais se re acionam e as relações com o Estado . .
. 'l . l fi pelas quais 0NGs esrao se Dentre esses setores · 1 - . d· soCJe-
foco central deste trabalho é invesugar mu up as armas d d ( . ' as arricu açoes com o Estado e com o conJunto '1
a e orgamzada ou não) d . )NGS e
merecem estaque na definição do que senam as e d
con rrol e , ganham poder no País", esrim,1va a
qua 1O pape 1assumido por e) . 1O 11go :i
. " .. ' 1 década d as ern nossa sociedade, pois observou-se ao . ,
1. Amgo de O Estado de São Paulo, de 30/0 7 /2000 , ONt.,s, sen ~ e 90 um duplo movi d . E dO e vice
existência de 500 .000 ONGs no Brasil. . . ~ d , mesrrido Teixeira, A. C. C. ··Iden ti- versa, ambos . mento : a sociedade em direção ao sra . 'es
2. A mesma arg um entação foi desenvolvida cm minh ,t d, ssertaçao e _. _: .
1
d, Democratização" , Dep ,1r- com O ·
os movimentos com
d .
.. • .
conse quenc1a s para a relação dessas org
an1zaǺ
._
dades em Consrr ução : As Organizações Não -Govcrname nrai s no Processo Brasi eJJO e conJunto a sociedade Alé d. • . alcança
tamenro de Ciência Política, Unicamp, 2000 . das pelas 0NGs b . . · m isso, a visibilidade e a imporrancia . res
ras11eiras estão m • l . ran
1111
uno reacionadas a dois processos co nco
105
106
. ..,
que envolvem ª (re)definição de quais seriam os papéis tanto da sociedade quanto bem como passíveis de dar legitimidade às políticas governamentai s
0
do próprio Estado . 0 atual Presidente da República a fazer a polêmica afirmação de ue, que levou
. . d. d . q essas or .
De um lado , após o restabelecimento da democracia , tivemos um processo de zaçóes eram neogovernamentaz s, m 1can o com isso que elas eram gani-
.. pane do
enaça-0 e consolidação de espaços de interlocução entre Estado e sociedade civil ,
. no. Também neste governo fo1 implementado o Programa Comunidad ~over-
1 .d " . " e Soi1dár·
. como a criação de conselhos gestores de políticas públicas nos vários níveis de
taJS incentivando o vo untana o e as parcenas entre Estado e a socied d . 1_ª•
aoverno e orçamentos participativos em algumas cidades brasileiras , bem como Como conseqüenc1a a maior v1s1 i 1 a e a quin a pelas organiza ões ªd e civil
• · d · · ·b·1·d d d · ·d .·
~ínculos mais pontuais em que organizações da sociedade e Estado realizam deter - dade c1v1· ·1 brasi·1eira,
· f,01· aprova da a L ei· d as O rgan1zações
· ç
da Sociedade Cª soc1
. e-
minados projetos . Esses espaços, apesar de todos os problemas e dificuldades Interesse Pu' bl.1co (sanc10na . d a pe lo Pres1·d ente d a República em 23 d ivd de
'fi . 'd' d d. . e março de
enfrentados, foram conquistas de movimentos sociais brasileiros que lutaram para 1999) , que qua l1 ica as pessoas JUrJ 1cas e ire1to privado sem fins lu .
crativos e
ue suas demandas fossem incorporadas de alguma forma nas políticas governa - procura disciplinar as parcerias com recursos públicos (Bocayuva, 1999) . Valeres-
!entais . Foram também formas, especialmente no nível municipal local, de aber - saltar que as mudanças jurídicas eram desejadas pelo con, ·unto das organ · -
. . . _ . , . 1zaçoes
tura por parte de alguns governos e tentativa de construção de uma gestão pública sociais, a fim de que a leg1slaçao se tornasse mais ng1da para evitar que organiza-
rnaisdemocrática . ções financeiras ou entidades não idôneas se beneficiassem do estatuto de "sem
Com canais como esses, tanto a sociedade civil quanto os governos passaram por fins lucrativos ". Para parte das ONGs, era interessante a regulamentação das parce-
reformulações. Várias organizações da sociedade civil se viram obrigadas a aumen - rias com governos, pois , com a escassez progressiva dos recursos proveniente s da
tar a sua qualificação, especialmente aquelas que pretendiam _influenciar _n~ formu - Cooperação Internacional, as várias organizações passaram a considerar os finan-
laçãode políticas públicas . Em alguns setores, como n~s ~ovime~tos sociai_sconso- ciamentos advindos daquelas parcerias como alternativa de subsistência. Contu-
lidados, essa mudança trouxe tensões entre orgamzaçoes mais formalizadas e do, a legislação recente tem sido questionada por parte das organizações, que
·
mov1men tos mais informais , especialmente entre organizações populares" e ONGs temem perder isenções fiscais (garantidas por lei anterior para aquelas reconheci-
ue antes eram conhecidas (e se reconheciam) apenas pelo nome de centros de das como de Utilidade Pública Federal), além de temerem participar de um pro-
;paioe assessoria aos movimentos sociais" (Landim, 19936) e que passaram a amar jeto de reforma do Estado que , segundo elas, estaria em curso para desobrigar o
comoatores políticos com voz própria . . . . Estado da garantia de direitos sociais universais .
No plano internacional, 0 restabelecimento da democr~cia mtens1~cou a te~ - Ne ste contexto , ocorreu uma profissionalização crescente dos agentes de organi-
dênciade aproximações entre ONGs brasileiras com as de diferentes pa1ses, ~traves zações que antes se reconheciam apenas como "de apoio aos movimentos sociais" ou
da construção de redes e articulações em torno dos mais variados temas . O ciclo de que eram parte dos movimentos sociais , como o movimento feminista, por exem-
conferênciasda ONU durante toda a década de 90, foi um importante fator de agiu - plo. O que ante s era um serviço voluntário passou a ser uma profissão (Land im,
.
rmação .' - que antes es t avam d1'spersas· Para as ONGs. brasileiras, . a
entre orgamzaçoes 19936)·. Como con sequenc1a ·· • · d essa pro fi1ssionalização, as ONGs mais· anvas · dentro
Rio-92- Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, realizada na cidade do Rio dos movimento s sociais · · tiveram
· d.fi l
i icu dades em conciliar uma dup a aruaçao •. ·1unco
l -
deJaneiro - é considerada um marco na consolidação de apoios mútuos, tanto no ao Estado e J.unto · d . ( l 999) tive-
. ao conJunto os movimentos . Nos termos de Alvarez ' ..
nívelnacional como internacional. Foi durante essa conferência que O termo ONG ram dificuldades d ·1· r f: d ob1h·
_ . e conci iar sua 1ace técnico-profissional com sua ace e 111
sepopularizou no Brasil. · d d zaçao social.
De outro lado, o processo de a b ertura d e canais· d e m
· t er locução da socie a e
Nem todas as rela - . as o NC5,
· ·1com o Estado foi acompanhado por um processo d e aJUS
civi · t e estrutural que pre- m d· . çoes com o Estado envolvem repasses de recursos par,i d
as a ten enc1a tem sid 0 0 . , órgãos o
d · d de e inserir as ONGs _ no .aumento da obtenção de recursos Junto ª. , 0 B.1::i
· e ·
viatransrenr responsabilidades do Esta o para a sooe a . E
governo b ras1.1euo si-
• .
pro1erode colaboração em políticas compensaronas .
, • A .
par i
t ·r da constataçao de
. . leira, somente ~¾ mdpesquisa realizada em 1993 com filiadas à Associaça (L:J11'
3 , 2 0 as ONG d I fi · rnenco
que éramos herdeiros de um Estado endividado, burocrático e ineficiente em dirn & e ·
d' . • , b ra especialmente o otnm , 1996) E
s ec araram receber este tipo de maneia
. . das decl·i·
,
iversosaspectos, os governos federais posteriores a ª ertu ' rou receber recu d · , m pesqui sa realizada em 1997, metade das filia arre
gov p
erno ernando Henrique Cardoso (1995 - 1998 ; ree ei
l · to para o mandato de rsos e orgãos d 0 . . H , urna P
das organizações q . governo bras1le1ro (Abong , 1998) . ª . ·zaçáo
1999200 )
. - 2 , buscaram aproximações com setores a sooe ª
d · d de considerados qua -
, . . ue, por con d mo 6 J1'
social e temer se si erar sua atuação mais voltada para ª - de
lificadose efi1c1entes
. A
. s ONGs passaram a ser vistas como mais age1s e eficazes, tornar um "b relaçoe5
qualquer tipo com l (,, . . raço do Estado ", se recusa a estabelecer . açóes
e e 1e1xe1ra 2000) d rganiz
' · Entretanto, a maior p arte as 0
107

108
-~
estabelecealgum tipo . de relação
. . com O Es ta d o, SeJa
. mais
. fi 1 . _ d R' Tietê da SABESP (empresapública de Sanearn
repassede recursos, se;a mais mformal , d e tentativa
. de co orma 1
, envolvendo até olu1çaoo io ' ento Básico
. d
P 0
mento sobre os atos dos governos . ntro e ou de acompanha - radodeSãoPau1O)• ts.
Neste estudo, reconhecendo
- essa diversid a d e, o o b;envo
. . ge al é fi
cussãosobre as re-1açoes
. de algumas ONGs t anto com o Estador apro undar adis-
dade em geral. Nao mteressa
. estudar aqui q ua Iquer ONG, mas aquanto l com -a socie- AsoNGSe as FormasdeEncontroscom O Estado3
nhecidasem seus respectivos campos de atuaç-ao e se comprometeque asl que sao reco-
a construção de uma sociedade democrática e
, . . mais. ;usta
. m ONG
. Todas as c aramenteJhºd
com
Para P
ropiciarumaanálisecomparativaentre . as formasde relaç- ao das ONc
ossuemum vmculo ongmal e ainda estabelece m relaçoes _ com mov1ment
. . s esco I.. as Estadopresentes atualmenteem nossa sociedade, foram escolhid ,scom
P
movimentos populares, de o . . e . d as experiê .
. educação
. , estudantil , d e ;ovens,
. d e mulheres, deos ne
sociais:
ros diferenciadasentres1: algumasmaisIOrmahzaas, outras menos, algumas . nc1as
dosportadores
. - . de HIV/Aids, movimento
. . como gessas'
ambiental . p reten d e-se ana 1isar fliruosas,
' h
outrasmais armonJCas
A • e
. om essasexpenenc1as
.' .
mais co
, não se pretend1' n-
organ1zaçoes
. lidam com os dilemas
. e conflitos
. de equ ·
ac10nar sua atuaçao _ simultâ
. - ouclassificarasoNGs
. . dI b l d'
, poisa ma10rparte e as esta e ece 1ferenre
ª rotul
s formasd . ar
nea,Junto
. ao Estado e ao con;unto
. da sociedade civil • Ob l -
servar are açao ONGs-Esta- , 1 e inter
locuçãocomO Estado, mas procurarentender os vmcu os com O Estad ·
do e importante
. na medida em que essas entidades estão ' por um lad o, ca d a vez . d h . o que estão
maisenvolvidas na formulação de políticas públicas e , por outro, sao- vistas
· sendodelineado s nos dias e oJe.
. .. . . como
assumindoas responsabilidade s soc1a1s que o Estado estaria abando nan d o. -r..Hata-se -=-Chegou-se
.
a trêsformasde vínculo, que evidentementenão esgotam d
, . , to asas
de perceber, portanto, como essas organizações influenciam, pressionam ou com - 1manwasposs1ve1 s decontatoscomo Estado, masatravesdos quaisé possível enten-
prometem-secom instituições do Estado . Interessa ainda a relação das ONGs com 0 dercomoasONGs têmseaproximadodele.
seupúblico-alvo, sejam outras organizações da sociedade civil, especialmente movi - Comparando as seisexperiências de interfacedas ONGscom o Estado, pode-se
mentossociais não institucionalizados como ONGs, seja um público mais amplo dizerqueestamoslidandocomtrêstiposde encontro; o primeiro, em que osvíncu -
atendidoatravés desses encontros entre ONGs e Estado . Pretende-se, finalmente , los sãomais fluidose o segundoe o terceiro , nos quaisos compromissosentreos dois
compreenderaté que ponto, com esses momentos de interlocução ou enfrentamen - ladossãomais concretos . Essesencontrosnão esgotamas maneiraspelasquaisO con-
to com o Estado , essas organizações contribuem para uma ampliação da justiça juntodas ONG s searticulacomo Estado,massão três formasimportantesde conta-
social e da participação de setores excluídos . toentreaspanes,querevelammuitodaspossibilidades e dificuldadesde as organi-
A fim de atingir esses objetivos, realizou-se uma pesquisa sistemática de diferen - zações sociais influenciarem , pressionarem e/ou se comprometeremcom governos .
tes"vínculos pontuais" estabelecidos por cinco ONGs da cidade de São Paulo e uma 1
1
A primeiraformapodesercaracterizada como uma relaçãomenos formalque
organizaçãoda cidade do Rio de Janeiro , reconhecidas nacionalmente em suas \envolve , porumlado, pressão , monitoramentoe críticapor parte da ONGjuntoao
áreasde atuação e que estabelecem encontros com governos (federal , estadual ou Estado , e,poroutro,emalgunscasos,proposição , colaboraçãoe acompanhamento
municipal),além de acompanhar e, em alguns casos, propor políticas públicas . As dos passosdos órgãosdogoverno . Nestecaso, encontram-seas experiênciasdaAbia,
experiências, descritas mais adiante são as seguintes : o projeto Brio , de qualific ação da FalaPreta! e da SOSMataAtlântica . Elas serão nomeadas com a expressão
profissionalde jovens negros, do Geledés- Instituto da Mulher Negra e o víncu- "encontropressão".Nelas , não há um contratoformal atrelando as organizações ª
locomo Programa Comunidade Solidária ; a atuação da Fala Preta! - Organiza- umprojetoespecífico . A relaçãocomo Estado, quando ocorre um encontrodesse
çãode Mulheres Negras na implantação da Convenção 111 da OIT, sobre igualda- npo, podeser mais tensa, de oposiçãodeclarada(como foi o caso da SOSMata
de no mercado de trabalho junto ao Ministério do Trabalho ; o Centro de Atlântica
- . duranteO governoFleury, comoveremosadiante) ou pode ser uma rela-
R.efierencia
• · da Juventude (CRJ), concebido pela Ação Educativa e a Pre1enura e· Mu 111 ·- çaomaiscordial ' de maior
· colaboração, com a ONGtentando fazer com que suas
propo stas e suaform d
ci_palde Santo André ; o projeto Kit Legal da ECOS - Centro de Estudos e Comu- , ]'. ª e conceber determrnadas. .
questõespossamser incorp d1
oradas
nicação em Sexualidade e Reprodução Humana , de capacitação de educadores em l aspoincasgovernam · ( d Abirte '
Falp ) enraiscomosãoos casosdos vínculosrelatados ª
program as de prevenção DST/Aid s e a atuação da Al31A - A ssooaçao · - Bras i·1eira · 1 ª reta!· Sempre existi · - .. . . elde pres-
\ iãosob E ramorganizaçoes soc1a1s que exeroam um pap de

--
lnterdis · 1· ºd d 0 M 1111
. ·st ' · '-...: reo srado· AH ·o Pº
d , cip mar de Aids junto ao Programa Nacional d e DSTIA1 s, eno 1erençareside no fatode que hoje em dia essapressa
ª Saude;ª atuação da Fundação sos Mata Atlântica j unto ao Programa de Oes-
3.Atxpressão" ", . .for""'
11111
iluida ro encontroe uulizada do · .. . . J.lnsil'º,k .1
' P curando darconta das . P proJetoSoctc<la dc Civil e EspaçosPúbltcos no '
109 re1açoes(de vários tipos) entrea sociedade civil e o Estado.

110
. feriva Em ambos os casos, a concepção or· .
1 - ro·eros de maneira e . , - 1g1nal
ser exercida de uma forma mais propositiva ou de acompanhament . , . -( execuçaodos P J . - es com a adesão do s orgaos de governo Dic
d 1 o mais prox1mo . arriu das organizaço , · reren-
dos ru°:os roma os pe os ~overnos ~ ~té porque os governos estão mais dispostos das proieros P _ ( d - há formalização do vínculo com o Estado) e d·c
rro pressao on e na0 . _ , _ lre-
ou rêm interesse em se abnr para part1c1pações mais qualificadas da • d d .. 1 ; re do encon _ de serviços (onde a formalizaçao e tao grande que _
, dº ·d d º N soc1e a e c1v1, ) do encontro prestaçao . . . nao
como sera 1scut1 o a tante . o encontro pressão , a falta de laços mais formais com ' reore_ dº') maior entre as partes) , no encontro participativo há vínculo
governos per~ite que a capacidade crítica das organizações seja preservada . As carac- ' erm1teum ia ogo · · d s
P . b •d
formais esta e1ec1 os, ac
ompanhados por um ma10r compromisso o órgão go
_ . ver-
rerísticas gerais desse encontro, portanto, são : 1) não há um contrato formal entre
' ) • a instância O órgao governamental assume aquele proJeto corn
oNG e órgão ~overnamental; 2) as ~~gani_zações se sentem livres para criticar e pro-
curar influenciar nos rumos das poliucas implementadas pelo Estado; 3) quem con -
duz a política (ou o projeto) é o Estado .
! 1
namental. Em u nm
seu. Em resumo, esSe t
,
,. ,
.
ipo de encontro envolve: 1) um contrato formalizado pas ,
. . ,
vel de mudanças se for necessário; 2) espaço para crmcas mutuas; 3) d1v1são de res-
o
s1-

~
Uma segunda forma é aquela caracterizada por um serviço prestado pela ONG, na ' ponsabilidades entre o órgão governamental e ~ ONG. .
ual O Estado se relaciona com ela como se estivesse contratando os serviços de uma Basicamente, esses são os formatos de relaçao com o Estado vislumbrados pelas
q e l . . ONGsestudadas. Evidentemente, dentro da caracterizaç~o geral, encontramos urna
empresa, seja para razer uma consu tona, seJa para contratar um serviço específico .
A ui, os projetos enviados serão aprovados ou negados pelo "órgão financiador ", sem série de nuanças que serão exploradas ao longo deste amgo .
1alquer interferência nos critérios de seleção de quais projetos são melhores e mais ( A seguir, serão descritos brevemente os objetivos e a estrutura dessas organiza-
;dequados. Durante e após a execução dos projetos, as ONGs são avaliadas para ave- ções e o tipo de interlocuçãocom o Estado investigado no interior de cada uma delas,
ri uar se as organizações estão cumprindo com a sua parte. Neste segundo tipo, destacando a importância dessa experiência para a organização . O interesse deste
!demos classificar as experiências analisadas do Geledése da Ecos; ele será nomeado trabalho não foi fazer uma pesquisa exaustiva sobre a ONG, mas sim privilegiar um
p
aqui de "encontro prestação ue J
serviço
· "N. esse encontro, as re laçoe~
- e~tre orgao
' - s gover- momento de encontro, de interação entre as instituições governamentais e os agen-
·s e ONGs são distantes permeadas por cobranças e avaltaçoes ou meramen - tes da organização. Como já foi afirmado anteriormente , cada uma dessas organiza-
namenta1 ' .
re por relações burocratizadas : projetos enviados pela ONG, pareceres e_nv1ados pelo ções estabelece variadas formas de aproximação com o Estado, e aqui foram selecio-
, - governamental respostas das organizações readequando seus proJetos quando nadas experiências pontuais que absolutamente não exaurem a complexidade das
orgao ' . . , • d ·d d
, · re1a to' ri·os detalhados · Eventualmente há a v1s1ta de tecmcos as ent1 a .es
necessano, relações de cada uma das ONGs com governos . Nesse sentido, este estudo de caso
governamentais para acompan _har ~e ~ert~ o trabalho . São relações _quas~ mercantis, revela mais sobre momentos específicos de encontro com o Estado do que sobre
nas quais são exigidas eficiência, ot1m1zaçao de ~ecursos e _alta qual1_ficaçao de quem cada uma das organizações, que evidentemente não podem ser caracterizadas apenas
exerceo serviço,· so b pena de cancelamento ou nao renovaçao do proJeto . Como _ vere- por esses encontros pontuais aqui relatados .
. l
mosad iante, as re aç 0
-es de poder entre as ONGs e o órgão governamental sao bastan -
· e'tri·cas comprometendo a autonomia dessas organizações , pois elas ficam
te assim , di - l' ·
· · , dº t · es do seu "empregador", ou, em outros termos, às reçoes po incas 1. O Projeto Brio, do Geledés- Instituto da Mulher Negra e o Programa
suieirasas Ire nz . d
adotadaspelos governos . Evidentemente, há outros canais pelos quais as ONGs po e~ Comunidade Solidária
atuar, mas esse momento específico de contrato permite pou~o espaç~. Como so
· d
algumasONGs serão selec10na as, e as sao esttm
1 - · uladas a competir entre s1, provocan-. ( _O Geledésfoi fundado em 1988, na cidade de São Paulo . Visa combater o
. d ., • Em vez de fortalecer as redes e aru - racismo. e o sexismo e vª1or12ar
· e promover as mulheres negras, em particular
. ,ea
do divisõesentre elas ou acirran o as Ja existentes .
, , l O b var que há fragmentação , com um comunidade negra em ge 1 S • d
. . '
. .
ra · urgm a necessidade de sensibilizar o moviment o
culaçõesdas quais elas fazem parte , e poss1ve ser
fem101stapara a questão d Ih
conseqüenteenfraquecimento político . d . . _ _ as mu eres negras e o movimento negro para a ques-
O tao das mulheres Nasce d . . .
O terceiro encontro envolve a consolidação de projeto elabora condJURnt~~n ., . h · ' portanto, a mtersecção entre dois movimento s sooais
. . , eia do Centro e ereren - que Ja nn am alguma hist, . é . 4
te entre poder público e ONG. Aqui destacamos ª expenen . . . d Santo ·1· ona pr via no Brasil. Ne stes onze anos de atuação, suas
. - Ed . refe1tura mu01c1pa 1 e m11tantes procuraram d . ºb•1·d ..
ar vis, 1 1 ade para a questão racial do Brasil pamcipan -
eiada Juventude concebido pela Açao ucattva e ª P C d d d
, - ·sp durante o governo ovas . o e to as as conferências d'1 1. ' d
André,e a relação da SOS Mata Atlântica com ª SABE ' . fi d amel1(al- mun a s convocadas pela ONU durante a década e
E 'l • " . . • " is que O ca ractenza un /
ste u timo será denominado parttczpattvo ' Pº O . . d · l· boração e'
, e d ONGs parnc1parem a e a 4. Entrevista com membro do , -
mentenos dois casos analisados e o rato e as , Celedes
, Sao Paulo, 14/7/1999.

1 II 112
· ~ de Mulheres Negras na Impl
90_Procu_raram ain~a desenvolver propostas de políticas públicas que promoves- A FalaPreta!- Orga111zaçao ernentação da
2.
sem a eqüidade degenero e raça , fortalecer a auto-e stima dos jovens negros , e com - Convenção 111
barer a discriminação racial juridicamente .' A organização está estruturada em
quatro programas básicos : direitos humanos , saúde , comunicação e capacitação e . fi d da em 1997, na cidade de São Paulo . Procura prorn
A FalaPreta!rot un a 1· . d over o
e profissionalização . . h ano sustentável buscando e 1mmar to as as formas de d' .
desenvolvimento um . . . - , . . l tscri-
O programa de direitos humanos pretende proteger , assegurar e expandir os . ~ . , . specialmente a discnmmaçao etmco-racia e de gênero 7 A
mmaçao e v101encta, e . e . . tua
direitos básicos de cidadania, promovendo assistência jurídica à população negra e , . a• ações educativas, visando rormar
em quatro areas. . . Jovens rnultiplicadore s ern
capacitando pessoas na luta contra o racismo . O programa de saúde visa ampliar a
consciência e a organização na área de saúde , buscando a transformação das condi - sau' de reprodutiva·, b · ação comunitária,
. , . com o_ obJettvol de resgatar. _a auto-estirn a,

orgamzan o d grupos em bairros penfencos. _de Sao Pau . o; e. arttculaçao política
. . , que
ções de vida da população negra . O programa de comunicação dá suporte aos
procura unir a entidade a outras orga_mzaçoes da soc1eda~e ~1vil em redes, corno a
demaisprogramas , produzindo folhetos, boletins , cartazes e promovendo diálogo
com outros atores da sociedade civil. Por fim, o Projeto Brio - Igualdade de Opor- Rede Nacional de Direitos Reprodutivos, bem como a orgaos governamentais ; d.
ttmidade s faz parte do programa de capacitação e profissionalização . Através dele , pesquisae documentação, que visa promover estudos sobre fatores que afetam a vida
pretende-senivelar as condições de competição social dos jovens negros no acesso a da mulher negra e outros temas relevantes para os negros em geral.
postosde trabalho . Visa oferecer cursos profissionalizantes para jovens entre 15 e 25 Na FalaPreta!foi analisada a experiência dessa organização junto ao projeto de
anos, através de convênios com instâncias públicas e privadas, qualificando , assim , implementação da Convenção 111. Essa convenção, da Organização Internacional
a mão-de-obra negra . do Trabalho (OIT), afirma que não pode haver distinção, exclusão ou preferência
O Projeto Brio foi criado em julho de 96 como resultado de urna demanda do s que altere a igualdade de oportunidades no acesso ou na manutenção do indivíduo
jovensque faziam parte do grupo de rappers, ligado ao Gefedés. O Projeto Brio é com- dentro do mercado de trabalho . Ela foi aprovada pelo Congresso Nacional Brasi-
postopelas seguintes modalidades profissionais : Informática, Mecânica , Saúde , Ser- leiro em 1962 e ratificada pela OIT em 1965. Em 1968, o Decreto de Promulga-
viçosGráficos e Construção Civil. 6 Os cursos oferecidos pelo Gefedés são constituí - ção da Convenção foi assinado pelo presidente da República. Durante toda a dita-
dos por dois módulos : o curso profissionalizante e o módulo básico de educação dura militar (1968 -1985) , o governo brasileiro sempre afirmou que não havia
paraa cidadania. ~ualquer tipo de discriminação no emprego . Em 1992, a C UT (Confederação
De 96 a 98, o projeto foi viabilizado pela Associação de Apoio ao Programa Unica dos Trabalhadores) formulou uma queixa à OIT, denunciando o não cum-
ComunidadeSolidária (AAPCS), associação civil que se define como O G e procura primento da Convenção 111, apresentando dados relativos às desigualdades raciais
captarrecursos através de doações e convênios para executar os projetos prioriz a- no mercado de trabalho. A OIT cobrou do governo brasileiro uma posição e, em
dos pelo programa governamental Comunidade Solidária . A AAPCS abre concursos l 995, 0 Minis~éri~do Trabalho solicitou à OIT uma cooperação técnica para que
todosos anos, selecionando projetos com duração de seis meses . Em 1999 , o Gefe- houvesseª efetiva implementação da Convenção 111 . Pode-se dizer que o governo
dés, com a finalidade de diversificar seus financiadores e evitar uma relação de teve,~ue mudar de atitude por uma pressão de setores da sociedade civil, com 0
dependênciacom a AAPCS , resolveu não mais solicitar recursos para esta entidade . aux1ltode um organismo internacional.
Decidiu, como alternativa, enviar o projeto do curso de mecânica previsto para Formou-se uma coo - • . . . ,
• d peraçao tnpamte entre OIT, Ministério da Justiça e Min 15te-
aqueleano à Fundação Cultural Palmares . Esta Fundação está ligada ao Mini stério no o Trabalho que O · . , • . ·
d0 M' . , . , rgan1zasemmanos por todo o país nas delegacias reg1ona1s
da Cultura e também financia cursos profissionalizantes oferecidos por enridad es tntSrenodo Trabalho fi d ·b· . ' d si-
guald d . ' ª im e sens1 1lizar os fiscais do ministério para as e
a es ocorndas no merc d 0 d
~nvolvidas com a questão racial. O projeto foi aprovado , mas os recursos não for am rios de raç , ª e tra b aIho, especialmente
. . d . ité-
as relaciona as a cr
liberado sare' O fimal desta pesquisa
. (Janeiro
. . de 2000) . O Geieu , J êJ,
• • ' • d ·
Jª acostuma O aos ª e genero. A FalaPr, t , fi01· 'd mimí-
rios e, daí e d' . . . eª· conv1 ada a participar de um desses se
atrasos
. por parte e órgaos financiadores, amda esperava a I eraçao os recur~·o ~.
d - . . 1·b - d m iante, m1c1ouum 1 - . e . - . 'te.
Dessa relaçã ª re açao mrormal com essa comissao tnp artt .
1tou a Reuni- T, . -r
parainiciar o curso . o resu d Ques1ro
Raça/Cor nos s· ao ecntca iripartite sobre Introdução O d
1 isternas de lnform - . d . eiro e
998, que prerend· . açao, ocornda em Brasília, no dia 29 e pn l
ia incorporar o . , . d .das pe o
~-
G. Geiedés ..
..
Kaçao Quem somos nós''.
quesito cor/raça nas estat1st1cas pro uzi
' l'ro1eroBrio - lgunldnde de Oport1111id11des
''. ---:-.::--
7. Folder Faia!'reta!- O . -
rgantZllçaode Mulheres Negms.
113
11 4
_ , rsos suficiente s para levá-lo adiante . O diferencial d
Ministério do Trabalho , especificamente a RA IS - Relação Anual de Informaçõe s nao possu1a recu . . . este enco
em relação aos demais estudados nesta investigação é ntr0
Sociaise o CAGED - Cadastro Geral de Empregado e Desempregados . A reunião com o Esta d o, ' que este
• . - , nem um repasse de verba feito após um concurso, nem al . con_
conrou co_m re~>resentantes d_o g~~erno e da sociedade civil e foi decidido que o que- vemo nao e . go 1nfor
-r t -se de um convênio estabelecido entre dua s parte s que possuem deve tnal.
. seri.1mcluido nos questtonanos do RAJS e CAGE D · Mesmo com est a d ec1sao
s1ro ·- ,o 1ra a resa se
quesiro não foi prontamente incorporado, o que só aconteceu no ano 2000 . cumpridos . A Ação Educa~iva não recebe nada com este convênio e ainda pa t:rn
salário da profissional desunada a assessorar o Centro . g o

3_ A Ação Educativa na implementação do Centro de Referência da Juventude


junto à Prefeitura Municipal de Santo André
4. O Pro')
'eto Kit Legal - Drogas e Aids , da Ecos - Centro de E d
. stu os e
Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana junto ao Pr
AAçãoEducativa, fundada em 1994, na cidade de São Paulo, visa defender direi- ograrna
osT/Aids .
roseducacionais e a qualidade da educação para as camadas populares , além de criar
oporrunidades para a ~xpressão, ~ ação, d~ grupos ju~enis ; _Atua ~m quatro áreas
arualmente: ações colenvas e polmcas publtcas, educaçao bastca de Jovens e adultos, A Ecos foi fundada em 1989, na cidade de São Paulo . Visa contribuir para a
·uvenrudee, por fim , comunicação e documentação . transformação de valores relacionados à sexualidade, saúde e direito s reprodutivos e
J A área de juventude incentiva a organização de grupos juvenis, além de realizar combate a discriminação de gênero , idade , classe e raça . Faz estudos e diagnósticos,
estudose alimentar um banco de dados sobre experiências com jovens e para joven s. produz materiai s educativos, desenvolve recursos humanos , organiza encontros e
Essaaruação é importante se considerarmos que 28% da população brasileira é seminários , assessora grupos e instituições na área de sexualidade, saúde e direitos
compostapor jovens de 15 a 29 anos, segundo a Contagem Populacional de 1996, reprodutivos, relações de gênero, prevenção ao uso indevido de drogas, às doenças
IBGE,e que os jovens são vistos na sociedade brasileira como um problema, como sexualmente transmi ssíveis e à Aids .
umsetor apático, sem atuação coletiva (Abramo, 1998) . A Ação Educativa visa jus- Pelo quarto ano consecutivo, a Ecos teve um projeto, voltado para a capacita-
tamenrereconhecer e incentivar as manifestações juvenis, especialmente as manifes- ção de educadores em programas de prevenção das DST (Doenças Sexualmente
taçõesculturais. . . Transmissíveis)/Aids, aprovado junto ao Ministério da Saúde - Programa Nacio-
Em outubro de 1998, foi formalizado um convênio entre a prefeitura da cidade nal de DST/Aids . Este programa do Ministério é resultado de um acordo de
deSanroAndré, atualmente ocupada pelo Partido dos Trabalhadores, e a Ação Edu- empréstimo entre o Brasil e o Banco Mundial. O eixo prioritário do projeto é a
cativa,para a assessoria na implementação do Centro de Refe~ência da ~uventude descentralização e ele é administrado pelo Ministério da Saúde, que faz parcerias
(CRJ).Este foi resultado de uma demanda da juventude da cidade . A Juventude com entidades executaras.9
petiscareivindicou uma Assessoria da Juventude quando foi formulado O programa O projeto do ano de 1999 da Ecos previa a capacitação de noventa educadoreSlas
degovernodo prefeito Celso Daniel. Quando o prefeito assumiu, ei:n 199~, a Ass~s- de trinta escolas públicas da região metropolitana de São Paulo , atingindo 8.lGO
soria da Juventude foi constituída como parte da Secretaria de Cidadan~a e Açao eSt Udantes de quinta a oitava séries. Pretendia fazer isto produzindo e discribu'.ndº
Social.Consolidada a assessoria, a juventude da cidade (não apenas os pet1st ªs, ma s boletins junto aos adolescentes, discutindo vídeos sobre o uso de drogas, capacitan-
va,nos
· grupos de outros partidos,
. ·
grupos Juvems· 1·iga d os ª' IgreJ·a Católica e grupos
, do os profissionais, distribuindo cartazes e adesivos . 1º Infelizmente, as verbas chega-
. . . .
cu1rurais)pamcipou maciçamente
d O
o rçamento
p arncip
· · ativo da cidade e la con •
-
ram apenas no nna c. 1 do ano , não permitindo que concluíssem o pro1eto · ª1·nd'1' em
,
· • • • b e
seguiuaprovar,em todas as rnstanc1as, ver a para a rormaç
ão do Centro de Referen - 99 ·. Est ª _pesquisa
· acompanhou somente o início da implantação do proJe · ro' ale111
eiadaJuventude. de mvesngar os relatórios dos projeto s anteriores .
AAçao _ . d e 1 ão do proJ·eto do CRJ, que
Educativa foi chamada para aJU ar na rormu aç . _ d
visa . • . . e - expressão e arnculaçao os
promoverum espaço de conv1venc1a, rnrormaçao,
·ov a E
J ens.
- d entro para jovens, mas
ssa ONG já tinha um projeto de construçao e um c
. -~~~~
9 . Programa Nac ional de DST/A'd "/ . . · os rio ['10)'
.' s, nstruções f'rdti cas de f'rocedimentos Adm11usrrn11v
~ . . ·. A - Soc ial d e Sa n ro André e Aç:ío EJucaciva .
ção e Controle d . ., . .
e DST/A1
ds ' M1n1sté no da Saúde 1999 . f-"
· ermode convênio n. 108/98 , enrr e a Sec reta ria d e C 1dadarna e çao 10. Dadosdoproj ero apr · d M. .' · / Droor1s1• , l/t! ·
esenra O ao stér io e aprovado inr irulad o "Ki1 Lega -
1111 "'

115
116
!acionada à atuação junto ao Estado . A int _
5. A atuaçãoda ABIA - AssociaçãoBrasi.1ena
. lnterdi · J' d . . ~ ndamente re 'd d ,. ençao
ProgramaDST/Aidsdo Ministérioda Saúde SC!p
mar e AidsJuntoao Aids estivessepro u Jicidade afetava a capac1 a e cm 1ca das org .
uanto essa cump an1za-
eraperceber o q
Esta associaçãofoi fundadaem 1986, na cid d dO . . ções em relação ao Estado.
_ ª e RiodeJaneiro Atu ,
frentes de trabaIho: promoçaode eventos publ' _ · ª emtres
, . . . , !caçoes e acompanhamento de olí-
ricaspublicas . Para,isso,
. produzboletins, organizaum centrode documentação Pe faz d _ 50 Mata Atlântica no Programa de Despoluição do
rrein
amentos e estag1o s. 6. A aruação da Fun açao i 1
Rio Tietê junto à SABESP
Emuma . década, a Aids tornou-seum graveproblema de sau . no país.
'de pu,61ica
Atéfevereirode 199 7, 103.262
. . ,. d casos
, e 52.099
. mortes relacionadas à Aids h • s1
aviam 'do r . . d m 1986 na cidade de São Paulo. Seus principais obJ.et'
EssaONG101ena a e ' . . . . 1vos
notificados ao Mm1steno a Saude (Castilhoe Chequer, 1997). Desde93, com0 escentesda Mata Aclânnca, valonzar a identidade física e l
sãodefender os reman . . , . cu-
empréstimodo B~n~o,~undial ~itadoacima,há financiamento diretoe fundos públi- •dades que os habitam e conservar o n co pammorno natural hist ,
cos,através do Mm1stenoda Saude, para organizações de portadore s do vírusHIV ou tural das comunt , o-
. l · rente buscando seu desenvolvimento sustentável. A Mata Atl'
nco e cu1rura ex1s , an-
queprestam assistência aosportadoresou, ainda, que realizamcampanhas de preven - . nJ·unto com a Floresta Amazônica, representa um terço das floresr
çãoàepidemia - são genericamente conhecidascomo"oNGs-Aids ", termoabr~ngen - uca, em co . as
tropicais remanescentesno mundo, se~do u~ d~s conJuntos de ecossistemas mais
reque,segundoGalvão(1997), não dá contada diversidade da atuaçãonão-govern a-
ricos em diversidade de espécies vegetais e animais do planeta, onde nascem vários
mental no Brasil.As relaçõescom o governofederaltornaram-semaispróximase a 12
riosque abastecem a maioria das grandes cidades brasileiras. A contínua devasta-
perspectivade aproximação com o Estado, que pareciaremotano inícioda década ,
ção e ameaçade extinçãofizeram com que se reunissem grupos de ambientalistas,
rornou- se umarealidade."Não há mais uma oposiçãodiretà', "o campode forças
jornalistase empresários, que criaram a Fundação SOS Mata Atlântica.
mudou ". Até osanos90, segundoum entrevistado da ABIA, o Estadoerainimigo , era
Existemcinco linhas principais de atuação da entidade: educação ambientale
umconsenso ser contrao Estado, o que não acontecemaisnosdiasde hoje.
cidadania,políticaspúblicas, documentação e informação, desenvolvimento institu-
Conformeeste mesmo entrevistado , algunsriscosreaisestãopresentescomesta
cionale campanhas para o grande público. Os projetos mais relevantes são: a) Estão
proximidade. Entreeles, a cooptação, o riscode viraruma organizaç ão "maistécni-
Tirando o VerdedaNossaTerra,ampla campanha de sensibilização da opiniãopúbli-
ca,menos política", o perigode estabeleceruma'felaçãoapenascomo governofede-
ca para o perigo da destruição da Mata Atlânt ica; b) Atlas da Evoluçãoda Mata
ralenãocomgovernosdos estadose municípios,o que podefazercomque, ao final
Atlântica, projetode monitoramento via satélite realizado em parceria com o INPE
doempr éstimodo Banco Mundial,não se consolidem~arce_rias co~ ou~rosórgãos
(Instituto Nacionalde PesquisasEspaciais), visando mapear e acompanhar o desma-
governamentai s e da sociedadecivile o problemada epidemiada Aidssep abando-
t~mento; c) PóloEcoturístico do Lagamar,projeto que busca viabilizar uma alterna-
nadosemqualquerreaçãoda sociedade. tivade desenvolvimento sustentável para a região do Vale do Ribeira, uma das mais
Ao estudar a ABIA, tratou-se de perceber como se dá O acompanhamentoe
pobres regiões do Estado de s- ao paulo e que possui• o maior . remanescente connn , uo
.
momtoramento
!' · ' bl'
das po mcas pu ICasrea 1za
1· das nesta área por parte da ABIA.
' . _
. . . 1d enhado por ela, a mrençao era de. Mata
. Atlântica ·
' d) const't · - d N, , p , · ,
i utçao o ucieo ro-Tzete,que desenvolve pro1erose ·
Mais doqueanalisardendamenteo pape esemp . at1v
'd ·1· d reriaisproduzidos pelaABIA, d 1dades em prol da recuperaçao - do R'10 Tietê• e do acompanhamento da pol'1n·c1
refletirsobre a atuaçãodas ONG
., .. d d
°
s-Ai s un 12an ma
de proJ·ecos do Programa e recursos hídricos em geral.13
Jªque a Ecos apesarde ter part1c1pao o concurso
' b os das relações entre ONGS _ Dentre estes projetos' fi01· se1ec1o · nada para a pesquisa . a expenenc1
., •a de parnop,
· · ·i-
DST/Aids, temmenoratuação no debate so re os rum Ih çao e acompanham ento dO p · · l d
. - a compreender me or este enco ro;etoTietê, o qual constituiu-se rico exempO e
eo Programa Nacionaldo que a ABIA. A mcençaoer M' · ntro entre o Estado e a socie . , na medida em que arravessou d·c
. dade c1.v1l ueren-
J ' ria conexão com O mis-
campodas ONG s-Aids, que reriasido formadO pe ª prop s-
,. A'd surgem como uma respo
teno
. daSaúde . Segundo Galvão (1997), as ONGS- i s .
d movimentos soC1 · · ·,
a1s P 11. BrunoGaspar Ga . ~ .
junto p . reia o1assistente de p .. . 11/ ,.Ji/,111/l,.1
taimediata frenteà epidemiade Aids e não como parte e . Muitas sur- ao íOJCtode Despoluição d R" T • csquisJ p3 ra O esrndo da aruaçiio tb ri111
0
rl11çiíoso:::i {/( , / _ 1·
ex· . - · das ancenormente. um rdªrório preliminar sobr· p . 10 . ~etc. Quase cod 3 s as t mrcvisras fo ram feiras por ele, .1k1n d.i proJuiJ('"'
.'stentes,comoas demais orgamzaçoesmencwna d' 1(o que não é o 12 F0 J \ ,
· t cr Fundação
e O roJcto í 1erê
SOSM.
. ,. •
• . ' que Sei viu de base para cstc artigo.
g,r · 1 • Banco Mun 1a 13. Foldcr F: d _ 111
ª Admmm
am1nc usivecomdinheiro desceproJeto com O d s de HIV/ Paulo, 28/09/ 1 ~11 açao SOS Mma Adá11ti c11l' cn . . . . 1·111 11,,1.
~:,,,
ca · ão dos porta ore 999. t1cv1sra com llll'lllbro da Fundaç:ío so, ivlJ1.1 At ·
soespecífico da AB!A), fazendo com que a orgamzaç

117 118
a se abri r ao diálogo e a enviar rn
e s algumas de m ais apro xi m ação e O t
ESPpassaram . en salni
res rase , u ras d e op os1ç
· ao
- declarada entre ONGs curares da SAB . b O andamento do proJeto . e11te
de. Os exe . e]acónosso re . .
e go
verno. Tal
. escolh. a deveu -se tam bé m à imp ort ânci·a d
o tema para a pop u Iaçao
_ MataAtlânttca r •mação foi a assmatura de um convên •
eral po is o p roJeto, ao pr ever a d espolu ição do Rio T i'
e te
A b I à 5OS . d dessa aprox1 ~ . io entr
em g ' . _ , a arca um amp o e O maior indica or . r d cividades de educaçao ambiental pela SOS e as
complexo conJunto de qu estoes _, co~ o saneam ent o básico , saúde públi ca, educação real1zaçao e a , d d f, . ./'vJ
arces, prevendo a sr . No cocal, no peno o e evereuo de 1996 Cltq
ambiental, pro blem as d e urb a111 zaçao e oc up ação do solo, ent re out ros. p ursos da SABE ' 'd d a fev
A experiência do Projeto Tietê p od e ser dividid a em dois m om ent os mu ito dis- Atlântica,com rec R$ 217 .090,00 a enu a e, que desenvolv e-
8 a SABESP repassou . . . eu o Pro
tintos,sendo tal divisão reali zad a tanto pelo govern o atu al do Estado de São Paulo reiro de 199 , . ,,, E te consistia basicamente em auvidades de 111 . -
" b ndo o T1ete . s . 1 d onitora
uanro pela prin cipal e m aior ONG envolv ida , a S OS M ata A tlântica. O primeiro jeto O serva d , ao longo do no, envo ven o grupos de . -
d ualidade a agua . . crianças
Âeles, de extremo conflito , co in cidiu co m o m and ato do govern ador do Estado de mento a q r • . . has e outros, que avaliavam o no quanritativ '
. ulaçoesn 6emn a e qu
SãoPaulo, Luís Antonio Fleury (1991 - 1994) ; já o segund o mom ent o, no qua l 0 escoteiros,P0 P . . d a sua situação e as possibilidades de recuperação . a-
overno e a sociedade se apro xim aram , coincidiu com o pr im eiro m and ato ( I 995 - litativamente,d1scuun o
~998)do govern ador M ário C ovas (reeleito p ara o p eríodo 1999 -2000 ).
O momento inici al de formulação do Projeto Tietê (Program a de D espoluição do
. . Possibilidadesde Encontros entre Governos e ONG
Rio Tietê), em 1991 , prin cipalm ent e em funç ão d a fort e pre ssão popul ar que o pre- -'j<Amor e Ód 10. s
cedeu e da proximid ade da Ri o-92, contou com a p arti cipa ção da sociedade civil e
com certa abertura do governo ao diálogo . N o ent anto , ap ós a obten ção de um
ai dos entrevistados das ONGs, as relações com órgãos govername .
Nas p avras . ,,
14
" b .. ,, 15 nta1s
e am de "amor e ódio , ou entre tapas e eiJOS , com momentos mais .
financiamento junt o ao BID (Banco Interamericano de D esenvolvim ent o) em 92, semprewr . .
até a mudança de governo em 1995 , este proce sso de diálo go foi int errompid o. próximosde diálogo, e até uma certa cumphCid_ad~, e mom~ntos de discordância
Conforme O relato de todos os entrevi stad os, o período foi de duro emb ate entr e o profunda. Como foi destacado, a década de 90 s1gmficou maior proximidade entre
iedade civil A SOS Mat a Atl ânt ica não tinha acesso a informa ções organizaçõesda sociedadecivil e governos. As seis experiências relatadas, de encon-
gove rno e a Soc · .
, · s ficando sem meio s de exercer qualquer cont ro le extern o e mult o tro entre ONGs e Estado, mostram possibilidades de diálogo e as dificuldades ainda
1
ou reatono ,
menos de influir no s rumo s do projeto . Segundo membro s de ONGs, perc ebeu -se a enfrentadasnessescontatos. Todas as organizações partilham uma história de emba-
essência "eleiroreira" do pro jeto, que gastava muito com publicidade e iludi a a popu - te com o regimeautoritário brasileiro, na qual a questão da autonomia em relação ao
laçãocom prome ssas de de spolui çã o totalmente irr eais. Al ém dis~o: co m o agravan- Estado era preciosa.Autonomia que significava não uma recusa incondicional em
te,os entrevista . d os d a SABESP (empresa públic a de san eamento ba. s1co d o estado . . de
. participarde qualquer institucionalidade política, mas a busca de um papel de "pro-
SãoPaulo, que fez O empr éstimo junto ao BID ) cit aram a gr ave cn se fin ancelfa v1v1- tagonistada invençãoradical da democracià' . Em vez de buscar apenas a consolida-
da pela empresa naquel e momento . ção democráticado regime político formal, boa parte dos movimentos sociais desse
No final da gestão Fleury, em 19 94, às vésper as da s eleições par a govern a~or, a SOS período investiu na construção de uma democracia mais participativa, procurando
MataAtlântica,tradu zindo a profund a de cep ção qu e perp assava a popul açao, ~enu~ - criar espaçosonde fossepossívela negociação constante (Paoli, 1995) . Ao longo dos
, d' d 1 · - do T ietê a falta de mvesn - an~s_70 e_80, um novo "campo ético-político" foi composto por extensas redes
ciou fortemente na impr ensa os alt os m ices e po Uiçao ,
. , ise política no 0 overno . sociaJs,tecid~ e~ torno de instituições como a Igreja Católica, o ecumenismo secu-
menros e a falsidade das m etas, ch ega ndo a pro vocar ate um a cr ~ .
.d d o nt ava p ara a imp orta n c1a da lar, ª academiacientíficae uma grande quantidade de ONGs. Formou -se uma lingua-
Numa carta aberta aos candid ato s e ao BID, a enn a e ap <
c 1· d m a audi toria externa e pro- gem comum . que . valor1
·zavare Jaçoes
- con'd'tanas, promovia• aruculações
· entre os movi-
conrinuidade do Projeto Tietê, d esd e qu e rosse rea iza ª u . . .
• · - acesso da soCiedade c1v11. mentos, induzia os indº 'd . ea r

funda reformulação dele, com rra nsp are ncia na geS e


, ' .
t ªº .
95 0 roJ·ero foi retoma o, a 6 nn o
d · d d 'd
uvi arem dos formar
. ivi uos a se sentirem sujeitos de suas própnas açoes
· · · 1995)
Apos um ano da posse d e Ma n o Covas, em ' P fi I d C os convenc1ona1s de representação política (D01mo , ·.
•· 1 rrevistados Até 1998, ma ª om o restabelecir'!entO d d
acumul d
.
ª emocrac1a, surgiu a possibilidade de a exper iênc1a
nova mente um processo consi d erad o pos m vo pe os en · , •
. . . P ·o.eto Tie tê avançou em vanos a a neste campo ser 1· d . com o r

pnme1ra etapa de desp oluição , pode-se d ize r que o r J , , . -ão ªP ica a em espaços ma is amplos de negocia çao
. . . _ . 1 terno e a propna execw.,.
senidos:no que se refere à parnc1paçao, ao contro e ex c b · 1 r'•n1ent e
d e é um iator a so u "' 14. Entrevistacom m b
asobrasprevistas. Com a mudança de governo, e ess ' _ _. i · _ 15 - em ro da SOS M. .
d · d ' oni bili zada s para a soLleL ·1 . Ih . Enrrev,sra com membr0 d
0
ata Atlântica , São Paulo , 28/ 0 9/99 . . d S' o p,n,lo,
eterminante,todas as informaçõe s pa ssa ram a se r isp JU O de 1999. GlV (Grupo de Incent ivo à Vida) , ONG de portadores de 111" " ,!

119
120
ranto em espaços mais formalizados (como nos conselh d , . . ,, l i E hum momento , a implementação do CRJ foi t l
fsrado, , . . os gestores e po 1i- de e1vil . m nen . , oca rnenr
' blicas nos vanos níveis de governo) quanto em . d _ e . - Educativa. A prefeitura sempre esteve. a frente , assurnind . e entre.
ricas pu ., . . . espaços am a nao rormali - gue para a A çao
zados como espaço . de dialogo,. que .
exiginam das organizações da s • d d . .
ocie a e civi 1 0 prom1sso
. de dar sustentabilidade completa ao proJeto, procurand
o ate
o o coni.
de conquistar seu dueito a voz . Este artigo discut · e d
rrabalho . ., . e intenaces as ONGs d emand aS da população . Fazia parte da concepção do CRJ estabele nder às
, . cer Ull) d',
corno E stado . Justamente em expenencias nas .quais as relaço-es nao escavam d efi1_
-
sempre aberto entre setores do gov~rno, ~ NG e usuanos, o que fez coll1 u1alo go
·d a priorr como sendo entre .atores numa. situação de iguald a d e. O s me d os d a
01 as encon r , t O n ão por acaso ' fosse, dos mvesttgados nesta pesquisa ' urn d 9
os ll1 • e esse
cooptaÇa - 0 ' da perda da. autonomia,
_ da mampulação dos governos , sa-o comuns aos
meados por conflitos . A situação entre as partes chegou a ficar tão t ais Per.
discursosdessas orgamzaçoes que, mes~o -com todos esses receios, se lançaram na . ensaque a,1 -
. da aventura de encontros com
Educati va pensou em se afastar do programa em mais de urna ocasião Çao
arnsca . . . "orgaos governamentais
. ,, , acrediºtando que as tos resultantes dessa parceria · serao - exp lora d os mais· a dº1ante. · Os confl• 1-
, . as públicas prectsam ser fe1tas em parcena com a sociedade ciºviºl, que o
Pº11nc . .
conhecimentoproduzido e acumulado por elas precisa e pode ser socializado .
Queroimpulso que move as ONGs para a relação com governos é a própria sobre-
0 projeto político que está na base do convênio da Associação de A .
grama Comunidade Solidária ou da Fundação Cultural Palmares corn
relação do Ministério da Saúde, financiado pelo Banco Mundial corn
:~o ªº,Pro.
efedes , ea
.
w~nci·a. Com as mudanças na .cooperação internacional, que mantinha quase todas
, , as ONGs-Ai
asorganizações,houve a necessidade de procurar novas formas de sobrevivência, e a configuram-se como formas de conceber as organizações da socied d . . ds
a e civil com0
aberturade concur~os para que as ONGs se inscrevessem e realizassem seus projetos capazesde atuar em áreas não cobertas pela atuação governamental fu d . _
. _ · ec1soessobre
areciamuito acranva. a onentaçao geral dos programas, como eles serão avaliados e corno
·1· d - - d .- os recursos serão
p Trataremosa seguir dos fatores que possibilitam uma ou outra forma de encon- ut1 iza os, nao sao ec1soesque envolvem as ONGs, executoras d 0 · H, .
. proJeto. a diferen-
troentreONGSe Estado, bem como dos resultados de cada um deles para a constru- ças entre esses dois encontros, mas em ambos não se procura t b 1
. . es a e ecer espaçosem
áodemocrática,privilegiando aqui a democratização do Estado, a fim de que ele se que todos possam construir um mteresse comum . A concepção d · · -
ç
tornasse mais aberto e comprometi ºd o com os vanos ' . grupos exc 1uídos . ·ih d e paruc1paçaopar
u a a por bancos multilaterais e setores da burocracia estatal · , ' -
d . , restnnge-se a execu ção
e projetos. Como já observaram Leroy e Soares (1997) trat - d .
, . ' a se e uma perspern va
tecno-b urocrauca, baseada nos bons resultados do proJ·eto e . d
Fatores para a Definição das Formas de A •- _ , . na economia e recursos
Encontro entre ONG e Estado p:u~1paçaode v1sta,como uma forma de garantir melhor relação custo/benefício. .
0
ongo esta decada, o Banco Mundºal ,
r Os fatores fundamentais que determinam o tipo de relação que será estabeleci -
doentreONGse governos são : o projeto político que perpassa essa relação, o poder efe-
realizar estudos d 1·
rações de finan · (S
dº .
e e mear 1retnzes a fim d ·
c1amento o ares 1997 ·2 l) As
1 e o BID tem cada vez mais procurado
. .
e mcorporar a part1e1pação em suas ope-
zações da soei d d . . . ' · · vantagens para atuar junto a organi-
( tivode cada uma das partes no momento do encontro e o grau de empenho por e a e c1v1 1senam a capa .d d 1 , " .
des pobres e ci ª e que e as tem de chegar às comunid a-
zonas remotas sem ter gr d . . .
\.Erredaspessoasenvolvidas . incentivar a pa · • _ an es gastos, 1dent1ficar necessidadesloca1 s,
rttc1paçao e tran fi · l • ,,
A abertura de espaço para a parceria efetiva entre governo e ONG, desde a ela- do Programa Com .d d S ~ ~r~r tecno ogia (Gibbs et alli, 1999:1O). Porpane
boraçãoaté a implementação de uma política, só ocorreu no caso do CRJ de Santo uni a e olidan d t d
programas gov . a, eS aca -se a constatação de incapacidade os
André,porque o projeto político da prefeitura estava baseado numa concepção da ernamenta1s e proc e " . .
assumam cre ura-se re10rçar a intenção de que os parcelfos
participaçãocomo forma de dividir o poder com o conjunto da sociedade . Como . , scenternente , a res o bTd d
cada miciativa" (C Ih P nsa 1 1 ade pela sustentação , a longo prazo, e
disseumaentrevistada da Ação Educativa , 16 foi uma confluência entre um apelo da onse o da Co .d d
Esse prograrna fo•1 b rnuni a e Solidária , 1998 :5). .
!uvemudeda cidade por políticas públicas voltadas especificamente para o setor e1a orado no · · d H nn-
que, com a intenç- d d pnrneiro mandato do governo Fernan o e
Juvenil,um projeto que a ONG desejava implementar e o empenho da prefeitura. ao e esrnontar o r 1· · escJ-
va baseada a polít" b . . c lente 1srno e o desvio de recursos nos quais
O projeto político partilhado por ONG, possíveis usuários e prefeitura estava -d Ica ras1le1rade · , . d lidJ-
ne ade, o prog· . ass1stenc1a social . Entretanto sob a égide aso
expresso na concepção de que a "gestão pública é feita em parceria com a socieda- , bJ· rarna tern tido e e . ' b'Jidadei
pu icas para as corn •d d orno ere1to a transferência das responsa 1
uni a es farní!" . . de espJ·
' ias e md1víduos, assim como o desmonte
~com mern broda Ação Educativa, São Paulo , 22/ 12/ 99 . 17. Entrevista corn S .
André, 14/7/ 1999 ueli Chan, Assessora da • . ., -,,cial JeS,111rv
· Juvt:ncude, da Secretaria de C idadanr.1 e A\ •10 )
121

122
os construídos na interface do Estado com aso · d d l . . ( ompanhado por vários outros gov
ç . cie a e, se ec1onando suas " · ,, do Henrique ac ernant
m articulações dlfetas do Executivo federal com . _ . . parcenas O governo Fernan . alizada em rodo o mundo de cortar Verb es
e . l'd, . . organ1zaçoes soc1a1s. Ao Conselho da . ndênc1a gener .. . - as do
Comunidade So I ana cabe a direção e controle d . . . . brasileiros)seguiu a te . d arte das ONGS dmg1u -se, entao, para de .s
• · ., . essas ln1Clat1vas: cabe monitorar
avaliar e sistematizar as expenencias para a futura _ d ' . is O discurso e p nunctar
- , . construçao e novos padrões e programas socia .
modelos de atuaçao na area social . Vale ressaltar que em , . .
. , um rnve 1 mais geral, 0 dis- essescortes. d' urso pode não ter muita eficácia prática .
curso do governo Fernando Hennque sempre foi O d • • _ bl ma é que esse isc , Pois a
a part1e1paçao - seus programas Todo o pro e . d ganizaçóes, especialmente em atividades qu s
de governo sempre ressaltaram a necessidade de fortalecer a s · d d • . - b cedidas essas or 1 ,. e erallJ
. . .. oc1e a e c1v11- 18 com aruaçoes em-su d mulheres em um ambu atono, fazer qualifi _
vistas mais a transfenr as responsabilidades com a popul - al ,. . 1 Estado como aten er d caçao de
. . . . . açao em ger pe 1as po 1mcas feiraspe O ' . . rofessores e educadores, po em ser "lidas" p I
soc1a1~ do_que real~ente ab_n~ canais de discussão e partilha efetiva de poder com as b a J. uvenil ou tremar p e a Opi
mão-de-0 _ r provação de que o Estado realmente pode deixar ·
orgamzaçoes da sociedade c1v1I. Para se ter uma idéia, 0 Programa Comunidade Soli- nião úbhca como uma com . . fi d . . para a
p 1 - d problemas soc1a1s,con Jrman o, assim, o discurso ne l'b
dária é presidido por um Conselho de Notáveis, formado por pessoas ilustres . Esse sociedadea reso uçao os d b'l• o I e-
_ , pode como deve se esresponsa 1 1zar dessas ativid d
conselho é formado, entre outras pessoas, por artistas de televisão . Não é permitido ral de que o Estado nao so . . a es.
. d Programa Nacional de Sohdanedade (PRONASOL)do México pe .
que as próprias entidades organizadas da sociedade civil indiquem seus representantes . A anál1se o . . ,. . . . rm1-
e significa subst1tulf poht1cas red1stnbut1vas por política
Outra forma de perceber como o governo Fernando Henrique concebe a parti - te compreender o qu . s com-
cipação da sociedade está no projeto de reforma do Estado, implementado em parte , . Valier e Salama (1994)analisam esse programa para mostrar q
pensatonas. . . . . ua1a
pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. Dentre os processos vislumbrados por visão liberal de luta contra a pobreza. Os dois eixos centrais dessa visão são: i) a
essa reforma está a redefinição das funções do Estado, a fim de que ele reduza seu redução da pobreza será fruto de um crescimento dado pelo liberalismo econômico·
tamanho e seu contingente de pessoal, através de três programas : privatização, ter - ii) é preciso ter uma política social para os mais pobres entre os pobres. '
ceirização e "publicização" (Pereira, 1997) . A privatização é a transferência para o A análise do PR0NASOL permite perceber algumas características centrais de polí-
mercado de setores de produção de bens e serviços, enquanto a terceirização impli - ticas compensatórias: I) as políticas sociais são voltadas apenas para os mais pobres
ca contratação de empresas terceirizadas, mediante licitação pública . Mas a espinha entre os pobres; 2) as políticas sociais são políticas de assistência e não pensadas
dorsal desse projeto - e a face que mais nos interessa neste momento - é a "publi - como direitos sociais garantidos a todos. Afirmam os autores que o Banco Mundial
cização". "Publicização", para Bresser, tem um significado preciso : organizações não- e os governos tentam utilizar as ONGspara identificar os grupos mais necessirados.
estatais assumindo funções de prestação de serviços . Afirmando que a esfera públi - A outra face dessa política é que os mais ricos voltam-se para os serviços privados
ca não pode ser confundida com a atividade estatal, Bresser ressalta a necessidade de (escolas, segurança, saúde) e deixam de tentar utilizar o sistema de proteção social;
que organizações da sociedade assumam as tarefas estatais, de que haja transferência 3) essaspolíticas são descentralizadas e se apóiam na participação popular; a justifi-
dessastarefas para o que ele denomina de campo público não-estatal. Para isso, a já cativa é que a descentralizaçãoe a participação permitem maior eficácia e racionali-
mencionada lei das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - as zação das despesas.
OSC IPs- foi sancionada. As organizações sociais "são pessoas jurídicas de direito Vemos que a participação e a descentralização dos programas liberais coincidem
privado, constituídas sob a forma de associações civis sem fins lucrativos que se com_~and~iraslevan~ad:15 pelos movimentos sociais, mas é preciso ressaltar que esta
habilitam à administração de recursos humanos, instalações e equipamentos perten - pamcipaça~ te_m o _significado de transferir a execução dos projetos para a socieda-
centesao Poder Público e ao recebimento de recursos orçamentários para a presta - de, 0 que nao implica procurar estabelecer formas de interlocução com a sociedade
çãode serviços sociais" (Barreto, 1999 : 120-121) . Como é possível perceber, a con - qu~ re~ultemem partilha da responsabilidade. O que esses projetos fazem é a trans-
cepçãode participação, no governo Fernando Henrique, tem um forte componente ferenc1adas responsabilidad ·d d
es para a soc1e a e, mesmo que parte dos recursos ainda
venha do Estado.

----
de transferência da responsabilidade para a sociedade .
Em alguns governos estad · · · •
_ d . uais ou mun1c1pa1snão há po,sibilidade de participa-
çao e nenhum tipo A SOSM A , .
H 18.. Ver "Avança Brasd: · M ais
. Quatro Ano s d e Des envo 1v,m · e nro pa ra TiO J os" • Propos n· de Gove rno Fern and o , . . _ . · ata tiânttca conseguiu reverter o fechamento inicial
a parnc1paçao,abrmdo num se d
co~~:q ~e Presidenre. "O qu e se prop õe não é nad a m eno s cio que radi ca liza r a demo cracia. "'._
io co mo o utor ga_o~ ·eto d d
J
_ .'
e e ucaçao ambiental E
°
, gun momento, espaço para implementar um pro-
. d
sã d ss~ode cima para baixo, m as co m o inaJi:ívcl e durad o uro cmpreend,m cn ro a muua s ma~s. En~ fuga,_da du
0 0
- d a d em oc,..ac ·,a .·1b re ··1s po rtas· a pamo paçao co le-
• • p roved o r d o be m -es tar , a radi.ca 1.12açao Fl · preCJSo estacar que o governante havia mudado.
tiva . Estado como un1co eury, o governador anterior fi h .
n dur ' cou con ec1do por sua truculência quando ocorreu,
ª con, trução da sociedade de be m -es ta r."
ante o seu governo, o Mass d .
acre ° Carand1ru , no qual III detento s foram assas-
123
124
. . dos após uma rebelião no presídio do Carandiru, localizadona cidade de São d .al O que resultou, por um lado,
. em um alto grau de
11 S , d e o BancoMun 1 ,
1
·1 ª Com a gestao - do novo governador, na v1sao
· - dos entrevistados
· tanto governa- tério da au e
por outro, na ª
f: lra de um movimento social forte, com vín I
. _
paulo. · · d d' '! d, · cu os
·s uanto das ONGs, ma10rescanais e 1aogo foram abertos. AfirmouJosé depen encia e, .d d O poder efetivo dessas organizaçoes é muito peq
,enra1q
11 . d d p . r· , "A 'd . . · e essasenn a es. . _ . , Ueno
riosLeire, supen~ten ente o ro;eto1 tet~: n. 1 éia com essa m~dançaa partir estreitosentr d d ONGsambientais que estao amculadas ha mais t
ado com o po er as . einpo
Ca e . azera sociedadepara dentro do proJeto. E o que é trazer?E o deixartotal-
de95101 rr "1 9 se compar . d de ressão. A permeabilidade de determinadas áreas de gove_
rransparente. e possuemmaior po er p .d d d . d d . ·1 . r
no portanto, e, maior . quanto maior for a capac1 a e a soc,e a e c1v1pressionar. O
rnenre ão significaque o novo governador se tornou totalmente sensívelà partici-
Isson · dade em todas as pol'.mcas pu'bl.1cas. Os avanços, segundo os entrev1s-
. '
tratamento que determma· das questões vão receber por. parte de um governo.depen-
, da soc1e . . , _ . . . das aiianças
' (especialmenteas que foram feitas
paçao G restringiram-seao ProJetoT1etee nao atmg1ramnem a SABESP como de multo . em
. campanhas eleitorais).
d dasON s, Temos, entre os casosdessa pesquisa três exemplos. . Pnme1ro, o lugar que a questão
ra osdo muito . menos O governo estadual. Ao relatar os desafios
. provenientesdo
urn.ro T1ete , · Mantovani, membro da SOS Mata Atlântica,destacou:
'. , , Mano rac1 ·a1ocupa dentro do governoFernando Hennque é resultado de promessas eleito-
ProJero • . H a, ate, um Grupo de Trabalho Interministerial da População Negra pa."a O tra-
ra1s
_c. de na culturada empresa[da SABESP], mostrarque esseé um projeto
tamentoda questãodo negro no Brasil.Segundo, a Assessoriada Juventude em Santo
wr moso desaiJO ' . b, • , André, que é uma resposta a promessas de campanha feitas pelo prefeito Celso
ie . muda a h'istor
ue isso ' ia do Brasil.E aqui dentrosentimostam em res1scen
-
desucesso
,q d para o Governodo Estadoque esseé um indicadorde Daniel.Terceiro, 0 compromissoassumido entre o governo Covas e o Núcleo Pró-
. Temoso desafio e mostrar ., . " zo
Cias. , d maioresprojetosque ia foramfeitos. Tietê para que efetivamenteo rio fosse despoluído.
sucesso,
queessee um os - Há um terceiro fator, não desprezível, para entendermos como funcionam essas
. governos (Fleury e Covas) reside no .fato. de, que o pri- relaçõesentre ONGse governos,que é o papel de pessoasindividualmente compro-
. tre os dois e ai
Adiferençaen . de despoluição do Rio T1etewsse re - metidas, que podem fazer toda a diferença, mesmo que a direção geral do gover-
fi ou para que o proJeto ,.
meiro poucose es orç .. d is como marketing pohuco, enquanto o no a que estão vinculadas não se interesse muito pelo programa em questão. A
. d uulizao o-o ma - d.
menreimplementao, ·eto fosse levado adiante. Em razao isso, entrevistadado Ministério do Trabalho dizia que comparativamente havia pouca
h para que o proJ
segundo se empen ou - tinham acesso aos resultados para que visibilidadedentro do Ministério para o programa da implementação da Conven-
. . vemo as ONGsnao
duranteo pnme1rogo , - d Já durante o segundo governo, a ção 111, resultando em poucos recursos e dificuldades operacionais. Mesmo
h nduçao o processo. . .b .
udessem acompan ar a co .
P . . - - foi mais boicota a, visto qu d . e a mesma traria evidentes contn u1- assim,a entrevistadada FalaPreta!elogiava o trabalho dessa pessoa e do funcioná-
parnc1paçao nao . rio do Ministério da Justiça que, juntos, estavam profundamente sensibilizado s
- arao bom andamento do proJeto. - s da SOSMata Atlânticasur- para a questão da igualdadee contavam com essas parcerias informais com a socie-
çoes P , . considerar que as pressoe . d
Nesrecaso,então,e preciso . .d ração do grau de poderefetivo os dade civil, já que dificilmente teriam condições de formalizar um convênio. Essa
. d . t oduzlf a cons1 e d
ciram efeito- e aqui po emos m r s as experiênciase observarmoscomo ca a entrevistadada FalaPreta!chegou a dizer: "As coisas se constroem em cima das
5 compararmo . ui · ·_ pessoas", querendo dizer que mesmo um governo que desenvolva políticas gerado-
acoresemcadaencontro. e b em rodas elas houve um imp so m1
umadelasfoiiniciada,podemos perce er qube desigualdadeno mercado de craba- ras de mais desemprego e conseqüentemente de maior pobreza e desigualdade
, . da CUT so re a . . d' d
cialdasociedade civil: a denuncia . . de de Santo André re1vm JCan o (como O governofederalatual) pode ter quadros comprometidos com a promoção
OS M t, Atlântica, a Juventu · enos da igualdade. A atuação das organizações muitas vezes se dá nas brechas que se
lho,aspressõesda S aa d C mparativamente, o movimento m.
0
políticas • ·
especiaispara ª J·uventu e etc. Aids que reclamam as e d xigênc1as e abr~m e elas tratam de se aliar e conquistar pessoas que podem ser fundamentais
. r o das ONGs- ' idas na implementaçãode suas pretensões igualitárias Praticamente em rodos os pro-
organizado e fortalwdo parece s~ . , . d S , de mas não conseguemser ouv , .
J.etos analisado h ' e · , · d · penh0
doscrirérios estabeIeci'dos peIO Mm1steno a au . d
' fato de um numero , razoavel
.. s, ª runcionanos o governo comprometidos, e sem eSCeen1
Afragilidade das ONGs -Aids Pº e d estar associa ª ªO
·entes do acordo entre 0 Mm1s-
pessoal provavelm · d
enre muna s os projetos não seriam levados a iante.
d' Mesmo
. d 0 s recursos provem porque, como d t . . . ,. . fi r01a de
delastersidoconstituídaa parnr . eS acaremos a seguir, os 1mped1mentos buro crancos, ª 0
funcionamento da , · . d lvimenco
de proJetos . maquina estatal, dificultam extremamente o esenvo ber
Essa const t - , . d os perce
._
'- l'·IUIO 10/ I 1/1999.
· . - de Estudos do OID, Sao ' ' 1/1999.
. .· ª açao e importante na medida em que po em
19. Palestra
proferida na Reuniaoda Missao _ d . d Siio Paulo, 10/ I a ex1stênc1a de teias de . . . . ,· is (AJvare z
tra proferida na Reuniãoda Missão de ESrn os O
20.Pales
810 . comunicação Interpessoais e inter-orgamzacwna ·_
'
e Dagnino, 1995) ue 1 - em organ1
q envo vem nao apenas pessoas que se encontram
125
126
inclusiveos entrevistados dos órgãos governamentais . A entrevistad d
zaÇóesda sociedade civil. .como tam b,em pessoas - cativareclamou muito da lentidão de rodo o processo de tramitaç ao - aant ª Ação
. Edi,_
dessaspessoasforam ongmalmente de movimento . . . em govemos. Munas
que estao .
uadrosde governo, o que
. evidencia qu s
e os runcio , •
e . soc1a1se passarama compor
rueado Cenerode Referência
. , da Juventude.n
,. Os encontros "presta çao de s à aber
_ enor . .
qrernente
, estarcompamlhando dos mesmos projeto . nanos, .estataispodem, frequen .. - são acompan a os por mumeros papeis a serem preenchidos ' os qua1.-,
. · erv1ços"
1 h d
izaçóes
da sociedade
.. civil. Mesmo aquel e . s
es rnnc10náriospo ltlcos elaborados
- . por orga- parte dos membros das 0NGs, poderiam ser substituídos por um ac ' para uin,
n enrossoe1a1s
. podem se sensibilizar ate, o ponto d que nao vieramdos mov1 .- mais próximo do trabalho das organizações. Evidentemente q ompanhamento
e. h . - ue o control
Jll
projeto5
vislumbradospelas 0NGs. e " toma"m aHadosnos ser reiro - nen uma. orga01zaçao
,. . chegou a sugerir que o·s recursos fosse e precisa
dos sem qualquer cnteno. . alguns , preenc her pa m,. repassa-
ou avaliação. .Mas , para .
' . observar, ainda, que essas 6rechas abertas den d
Foi.possível
elaex1srenc1ade pessoas
. empenhadas, seJ·a porque os governos tro e governos
. (seja cou perder
- Afi a oporru01dade. de estar mais próximo dos re · 6. .
ais o Jetlvos d peis s1gnifi-
Paçáode levardeterminados compromissos ad· ) _ se
1ante sao fundame . sennram na obri- çao. , umou
. . um entrevistado de uma ONG de portad d
ores e HIV-Aid ª organiza-
g delasseamplia
vés . a possibilidade
. de debate e a chance de tornar ntais,
uma re· porque
. d' atra-
- conve010sassmados com o Ministério da Saúde: s sobre os
ronmal nummreresse
• maior para
. O conjunto da popu1açao. • E• a chancedeivm
umicaçao
in
resse,
quepo ena parecer
. d· d ·d d · pamcu lar
• aos olhos da opi •- , 61. te-
niao pu ica, ser reconhecido "É lamentávelque essasparceriastenham um preço t-ao alto . M ais
. do
corno .
umd!feito e c1 a ama. Evidentemente , há expectanvas
· por parte de militan- consomema almado trabalho.Porque as prestaçõesde - . , que o tempo, elas
, . . . . contas sao mu
,
resdeONGSe agentes _
governamentais que nem sempre sao
- confiumadas, resultando e muito maisdo que isso,pnncipalmente aqueles trabalhos voltados aos
meras e o trabalho
portadores".22
emcobranças mutuas e frustraçoes. Este é o tema do pro'xi·mo item.
·
Esta discussãosobre a burocracia é fimd ament al na med1d .
vessao e ate sobre a reforma do Estado no al - . a em que o Brasil atra-
1
. · d b , qu sao suge d d
O Encontro: Expectativase ResultadosEfetivos t1tuc1onalidade
. estatal' a fim de que ela aten d a melh , nd as mo ificações na ·ns-
rando reflem sobre esta discussão é poss' l b or as emandas sociais. Procu-
pode serre Iat1v1zada
.. quando há ' ive. o servar q ue a eiorça dessa burocracia
Oscontatosestabelecidosentre ONGse órgãos governamentaisgeralmentesão grupos pressionando d h, , .
precedidos
de expectativasde ambas as partes. Algumas vezes, essasexpectativassão empen a os na resolução de dete . d 'quan o a vanos interessados
h d
em outros casos, não. A5 maiores expectativasdas ONGsem relaçãoaos
confirmadas,
que o proJeto
. do CRJ de Santo And rmma, • a questão · Um d os pro b lemas centrais para
órgãos
degovernosão de que eles sejam transparentes, abertos, partilhem o poder de do parece ter sido um certo grau ~:~:re:e ta~ta _dificuldade para ser implementa-
decisão
sobreos rumos dos projetos, sejam capazesde formular políticaspúblicasque Como afirmou um membro da P e . e pnondade dentro do próprio governo.
· re1e1tura:
incluamas perspectivasdas organizações, sejam ágeis e que tenham confiança ao
repassarem
recursos
. Por parte do Estado, espera-sedas ONGsque elas sejameficazes , "(
. ...) a importânCla
· da construçãode lí . , .
comboacapacidadeinterna de organização, com quadros profissionaisbem qualifi- igualao tempo que ela [a asses . dp~ tlcas publicas para a juventude tem o tamanho
sona a JUVe . te: pequenininho ".25
nut d e] exlS
cados,
queestabeleçamuma relaçãode confiança com o governo e estejamem sinto-
niacomosobjetivosdo programa a ser implementado. Como veremosa seguir,essas Os propnos
, · usuários d0 e
nem sempre e, prioritária
• (o qu entro
, emendem que a questão apresentada por eles
expectativas
podemser mais ou menos atendidas por ambas as partes.
que expiar
.d d .
aremos mais adiante) T: sem dúvid
e e, . a, um aprendizado • . mreressance
muito . ,
s ·
c1 a e de amo André, a J·uvent damo. fo1 assim · que, no Orçamento Participarivo dª
PrincipaisDificuldadesIdentificadasnos Encontros de renda mírnma
· para a popula u_ e aJudou
. ª votar na implantação
• de um programa
d Nesse caso' ª lent1dão
. pa çao . mais carent e como proJeto . prioritário da CI·d11131
ade.5
rd
Evidentemente,dependendodo vínculo,há dificuldadesdiferences nas ações 0
que a um ª eS rutura ra
buroc ª
á impleme
. -
ntaçao d o Centro pode ser atribuída , ·
t O
r uca (qu e eviºdentemente também fez com que cRJ
""' ONCs e Estado.Contudo, alguns pontos são sinalizadospor rodos, ranto pelos
entrevistad
osdos orgaos
, - estatais,
• quanto pe1os roembros das oNGS· .
Aprim· d'c ld d . · tados é a burocracta 21. Entrevista com b
eira mcu ade ressaltadapor quase to os os ennevis 22. Entrevista com : : m ro da Ação Educati va - >
Tid
IJ/atal l burocráticos 23. Ent revista . mbro do GIV - G

com memb da Prefeitura rupo
' Sao I au lo , em 30/6/1 999
de S de ln cencivo
· à Vida, São Pau· lo julh o d.: 19')') .
·
0
os reclamaramdos problemas acarretados pe os encraves '
anco And ré, Santo André , 14/ 7Í l 999 .

127 128
. passasse a existir quase um ano depois d _ ºd d são elas que conh ece m e nenhum serviço
so , . a aprovaçao no Or .. ~ d s co mum a es, . estad l
dacidade), a pouca importância que a questã d . çamenro Pamc1pativo estao dentro a . te para substituir o qu e as ONGs fazem na local'd d ua
, - o a Juventude tem p ó - · · a1 tem contm gen , . 1 a e" ,,
overno e a compreensao, por parte da ,·uvent d . ara os rgaosde ou mumcip . d d Min istério da Saud e. Outro entrevi stado , en h .'
g u e interessada de ue 'd d afirmou uma entrevista a o . . gen e1ro
ourras prioridades. Isso pode ter agravado a demor " ,: q ª ci a e tem ONG pod e trazer um a perspec tiv a no va, inespe d
· burocráticos. ª natural provocada pelos trâ- da SABESP, recon h ece que a ra a. Ao
~~ . . . d ducação ambi en tal exec utado pel a SOS M ata Atlâ .
elogiar o proJeto e e ntzca, o
Analisando o percurso na implementaçãodo quesito ; e
,. b Ih . raça cor nos rormulário s do entrevistado afirmou:
Mini sreno do Tra a o, a fim de ._ medn a desigualdadeno mercado de trabalho_
decisãoaprovada em uma reuniao com membros do gover d . d d .. "Funcionou maravilhosamente bem, numa perspectiva que eu não imaginava, por
. . no e a socie a e clVII , . ,1. f' . , . que
emJ·aneirode 1998para ser. implementada
,.
em 2000 _ b
, o servamos uma cerra .
monitoramento, para mim, só podena ser com ana 1se is1co-qu1m1ca e bacteriolog1c
' . a. O
. . funcwnanos. dos órgãos governamentai·s (que passive
resisrência por parte. de • 1men- engenheiro é formado assim , com números. O que eles propu seram foi algo não quan-
26
renãoestavam sensibilizadoso suficientepara discriminações de gênero e raça). O tificável, não numérico, algo no sentido mais de percepção".
mecanismo adotadop~los_funcionáriosgovernamentais interessados em ver O pro-
jeroimplementadofoi ac10naros membros da sociedade civil, que prontamente Contudo , há um certo desprep aro também por _pa:rte d as ONGs. Essa mesma
enviaramumaenxurradade e-mailse fax aos escalõesmais altos da burocracia. entrevistada do Mini stério da Saúd e afirma que , multas vezes, os pro jetos não são
Essas experiências ensinam que a burocraciaé responsávelpela lentidão, mas que aprovados porque as ONGsnão sabem fazer um projeto e parecem não conhe cer bem
issoacontece associadoa outros fatoresrelevantes. Primeiro, observa-se que a lista de a popula ção a ser atingida. H á um despreparo também em lidar com as exigências
prioridade s do governonem sempre coincide com a lista de prioridades dos mais governamentai s de preenchimento de relatório s e gerenciamento financ eiro do tra-
diferente s setoresda sociedade. Trata-sejustamente de os setoresconseguirem con- balho. Nem sempre a expectativa do s órg ãos governamentais de lidar com ONGs efi-
vencero conjuntoda população de que seus temas são suficientementerelevantes cazes e eficiente_s, especialmente quando fina~ciam projeto s, é atendida . É impor-
paramobilizar esforçose recursos governamentais. Segundo, assimcomo há pessoas tant e ressaltar, aind a, que nem sempre , por mais que a ONG seja formada por pessoas
dosórgãos governamentaisque se associamindividualmenteàs redes formadas pelas altamente qualificadas, é possível às ONGs dialogar de igual para igual com técnicos
ONG s, rambémhá pessoasno aparelho do Estado, com projetos e visões de mundo de govern o. Um entr evistado da SOS Mata Atl ântica destacava a import ância da
diferentes daquelespropostospelas ONGs, que não se comprometemcom as políticas SABESP divulgar os relatórios técnico s sobre a despoluição do Rio Tiet ê, mas confes-
aserem implementad as e podem interromper o processo. Terceiro, quanto maior a sava a incapacidade em compreender os dados . Como afirmou um entr evistado da
mobi lizaç ão e a pressão por parte da sociedadecivil, maior a agilidadee prontidão Vidágua, ONG que tamb ém participa do Núcleo Pró-Tietê , a oroan 0
ização precisa
comque asdemandas são aceitase transformadasem políticas públicas efetivamente semp re estar se especializando :
implemenr adas. Como reconheceu um membro do Ministério da Justiça:
"Eu estou. vendo
. · ·1se profiss1onal1z
a sociedad e civ1 · · ar. No nosso caso em Bauru, por exem-
"Nãoespera que por obra e graça de algumgovernante possa acontecer uma mudançase plo, participamos de cursos técnicos para pod ermos estar sent and o na mesa e d1scun
. .n-
do assuntos técnicos ( ) você .
nãofor por pressãode um militante(...) Até não deveria ser a palavra de um governo, _ ... tem uma 1inguagem com qu e você conversa com a popu-
. que as coisas
mas,enquanto governo, eu smto • so, acontecem mesmo quando tem essa laçao e outra com o governo m d ' ,
, . . ' as nas uas voce esta faland o sobre o mesmo assunto, que
e ver o no limpo".
ssão, quandotem essaorganização (...)".21
pre

Alem
' da burocracia •e. ld d , J
• uma segunda dmcu Essa dupl a linguagem ar .
a e e o uespre'Paroe afalta de sensibi
- _ T: P ece ser o grande de safio pa ra a m aio r part e das organi-
/idade ' . d ~ A ONGs em geral, têm zaçoes. amo govern o qu am 0 1 - .
. porpartedo Estado para determma as quesroes. s ' sitos ' popu açao a ser atin gid a, ex igem o dom ínio de requi-
rnas, e d' - r soluções Os entre- que nem sempr e são · f: .
. on içoes de compreender os problemas e tentar propo · sat1s aton am ent e cumprido s p elas ONG s.
v1srado5 d , 'dade· "São elas que
os orgãos governamentais reconhecem essa capaci ·
25. Encreviscada d 0 M' ·
111
1scério da Saúd S . . . . 1de oií
~ . . . f-1mwos do Minisrério daJusriç.1, S.:mi-
'~iop _ ª"Alvesdos Santos, Dircrordo Departamento de Direnos u · . , J· , . 1J/8/1')~').
(Doença Sexualmente Tran . • , I)
sm1ss1ve e A' j 8 . .
26. Enrrevisra com Jo ·é C / l t s,
e, eroi de Arn culação co m o Gs <la Coo rdenaç;ío NJciona
rasil1a, 19/ 1O/ 1999
'
..
d/
romoçao - , 111no Rio ue .in <HO, . ' Paulo, 14/ 1/2000 . s .ar os Karabolad, Assessor da Direto ria Técn ica e Meio Ambie11r e J.1,,1BN• ~.1o
ª gualdade de Oporrunidadese /mp/emenraçao da Convenç.w n.

129
130
Vm terceiro problema encontrado
por ess . _ anizaçóeshoje, a nível nacional, elas p
as organizaçoe s é de parte das org assaram
,oramasde governo dentro do Estado
Proo· ' O que e raz com que ha ·a 1.
ª lta rotatwz
. ºd
ade deª "Lamenta
velmente, gran "d d tarefas do Estado. E esses financiame
umpíl or e ntos têm
a
ao futuro do trabalho . O C RJ foi implementado p I a1 J e _n seg urança quanto 0
os do Esrado, um c ' m que ir. Agora, quer que trabalhem co
, . e a atu prereuura , ma s d ser braÇ de essasoNGSte m tnulh
totalmente fecha d o se o prox1mo prefeito e sua equ · ºd po e ser d r de dirarparaon Ih Agora quer que trabalhem com crian e-
ipe const erarem desnecessário Pº e - balharcom mu eres. ' . ', ças. Iodas
0
projeto . Mesmo no programa de DST-Ai d s que e I res. Todasvaorra . EI erdeu aquelefeelzng de e esse o meu público'. El .
. - ' nvo ve recur sos externos as
mudanças de mm1stro s podem afetar o andamento d0 ' - balharcom cnanças. a p a vive
. programa. Como afirmou vaotra d ,, zs
um entrevistado do governo : "' da cornetado Esta o .
ao so,..

· 1sso e, uma carac-


"Depende do mini stro de plantão . Isso é um a característica bras 1·letra. , elogia muito a Associação de Apoio ao C .
. da do Geledes, que . - . Otnun1 -
rerísricade qualqu er minist ério e de qualquer pr og rama do mini·ste' n·o. ,-- A entrevista , fi que na negooaçao, quase sempre a sohcitaç· ..
, em uns [m1n1s-
. . i"d, · tambern a 1rrna ' ao 1n1 -
rros] que põem lá em cima [o programa], outros no devido lugar , ou tro s b ur ocrattzam . . dade So 1 ana, _ , d"da e há a exigência de que o mesmo projeto seJ·a li.
(...) Se ele quiser , ele centraliza tudo no gabinete dele".27
·a1d rsos nao e aren 1 . . . ena
c1 e recu O que exige readaptações do projeto ongmal. A enrrevist d
com menos recursos. . . 1.c - aa
, , necessidade de mvesm na qua 1r1caçao profission I d
Para que essa~ mudanç~s não aconteçam , mai s uma vez os funcion ário s que fi a ue o Geledesve a a e
ª lfm q da AssociaçãoApoio ao Comunidade Solidária não fo
acuam nesses proJetos precisam contar com o respaldo do conjunto da socie dade adultos, mas o programa . ' , . rne-
' blico Sendo assim, o Geledese obrigado a se adaptar às .
civil. Lidar com a alternância de poder , uma das características centrais da democra- ce recursos para essepu · . . . _ ex1-
. d c · dores deixando de mvesm na quahficaçao de adultos por cal
cia, é um desafio para essas organizações e a garantia para que os projeto s tenham gências os I1nanc1a , • r: ta
conrinuidade está baseada na capacidade que elas têm de legitimar os projeto s junto de recursos.
à sociedade. A perda de autonomia leva ao risco, mu_iro ~laro para as ONGs-Aids ligadas ao
No caso do s encontros "prestação de serviços", ternos alguns problema s específi - projeto do Ministério da Saúde, de as orgamzaç~es ficarer~ _dependentes
de um tipo
cos que merecem consideração . de financiamento estatal, deixando de construir laços sohdos com outros atores
O primeiro deles é que essas organizações têm pouco poder de fato na delimita- sociais,tais como empresários, organismos internacionais, filantropia e indivíduos
ção das diretrizes do programa. A primeira parte do acordo de empréstimo feito isolados, que precisariam ser sensibilizados e envolvidos pela questão . Nesse senti-
entre Banco Mundial e Mini stério da Saúde foi avaliada e um novo acordo foi esta- do, organizaçõesque já estabeleceramvínculos (políticos e de financiamento ) mais
belecido sem que as ONGs- Aids fossem chamadas a participar do debate . Elas só sólidos com instituiçõesnacionais e internacionais e que possuem outros canaisde
foram convidadas a participar de urna reunião após as d iretrizes do chamado "Aids interlocuçãocom o Estado são menos afetadas por encontros "prestação de serviços"
II" terem sido definidas entre o Banco e o Mini stério . Como disse o entrevistado da do que 0NGsconfiguradas a partir desse tipo de encontro, como boa parte das
AB!A, o concurso de projetos não implica um fortalecimento político des sas organi- ONGs-Ai
ds.
zações,ou seja, não há espaço para a atuação das ONG s j unto ao Progr ama para esta-
beleceros objetivos e as políticas de Aid s dentro do país , n ão h á urna "parce ria pari-
tária". O Ministério chamou ONGs para comporem seus quadros , mas ess~s pessoas Resultadosdos Encontros
foram para lá m ais para re so lver os conflitos com as ONGs (ensinando-as a fazer pro-
jetos, a preencher formulário s) do que p ara realmente influenciar n as di retrizes do Serão ressaltados, a seguir, alguns resultados dos encontros , destacando a especi-
programa. Ressaltando mai s urna vez: os encontros "pre stação de serviços" conce- ficidadede cada um deles.

bem a parti cipação mai s como exec uç ão de projetos do que di sc u ss ão a mpla para ª . No_tipo de encontro prestação de serviços, parece qu e há, para as 0NGs, uma sig-
mficauvamelhoranaqua[I"dade do trab aIho da organização
. . O contato com o gover-
definiçãode políticas púoli cas .
no,-a elaboraçãodo proJ·et0 , as ava11a
· çoes
- a que são submetidas
. , levam essasorgani-
_ Outra conseqüên cia é a própria p erda da autonomia d a orga niz ação . A declar:i-
zaçoesa se qualificaremm · • . - Q •nto
Çaoª seguir é bem ilustrativa : . ais e se espec1a11zarem em determinadas questoes. ua
mais trabalham numa , . . . 1 ci-
d A . area, mais qualificadas se tornam e também mais reconie
as. 0 analisar todos os · . . , . ,d desde
~ projetos que a Ecosfez com o Mm1steno da Sau e
27. Assessor da Coo rdenaç ão
acio nal <le DST-Aids , Brasíli:1, 19/ 10/ 199'! .
28. Entrevistadodo GIV , P I ,
' 5ao au o, Julho de 1999.
131
132
. 'b · , ratuitade remédiosa rodos os portadores do vírus HIV A
tstn u1çaog . . , · s ONGs .
6' é possível
. perceber como os proJ'et os roram
e ficando m Ih . dacompanham a distribuição
e denunciam quandoha qualquerproblema.O ·A1<1,
r199
nais precisos. e ores, mais objetivos,
tado foi uma queda de 38% na taxa de mortalidade pelo vírus. Este nã0 0 resu\-
J\lém disso, há um .novo status, maisprestf:gzo
· para a ONG sim 1 d l - ON
c · ·
consideradosomente um e1e1to a re açao G-governo via prestação d
P de. ser
e projeto ser financiado por . ' . P esmence
. setores do Estªd 0 , como mtrnstério , pelo
- fato
• e. b 'd . d a1· e servi
mas principalmente. um e1e1too .ti o a parm as 1ançasconstruíd as em tor Ços,
d Oao Estado, como a Associação de Apoio ao C .d s, ou orgaos liga-
o . , . . d omurn ade Solidária E · CoordenaçãoNacionalde osr -A1ds. no da
5
zaÇ' o terá mais presug10 arn a se os resultado s fiorem apresentados elo. a organi-
Como resultadodo projeto implementado pela Ecos, com recursos dO . .
ª imprensacomo
pela b bem-sucedidos
. . Essa é uma van tagem para a organização
P ~overno ou ue rio da Saúde,não é possívelavaliar se houve mudanças de comporta Ministé-
a quaJificapara o .ter recursos
, . JUnto a outra. s entidade s nac1ona1
• .s ou .internacionais
'q . ex1g1
senam · ·das para que os adolescentesnao
- mais· se contaminassem memo' que
oumesmooutras mstanc1asgovernamentais . , . , . A'd M , l com doe
sexua1mentecransm1ss1ve1s
. e I s. as e possíve avaliar que a auto-estima
. d nças
Nos encontros mais participativos e naquele s em que h a, uma relaçao - de pres-
fessorese alunosfoi reforçada,que as relaçõesentre professores e alunas melheorou.
pro-
sa
,0 sobre órgãos do. Estado
. , as ONGssão obrigada s a despender mais · energias
• a fi1m
e cançarseus obJet1vos. As relações entre Estado e ONGs tende m a fitear mais • des-
dgaaldas porque os termos "Todaescolaque implantouo programade educaçãosexuale acom
. nos quais o encontro se dará não esta-od efim1'd os a przo-
· ' · f ·1·dd d panhou as tu
osa1uno
, s temmais
. ac1. 1. a e e se comunicar' têm mais
· sol'd . entre e rma . s,
rr.sta
e precisamser negociados a rodo momento . Por outro lado , a vant agem d esse
I anedade
umvmculomuitomais . ,mteressante
. comos professores 'da dentro da esc lles, cnam
, a v1
ripode processoé a possibilidade de estar mais envolvido com O projeto, de poder
outros,com osfunc1onanos fie~maistranqüilà'.3' o a, comos
interfe
rirmais.
Alémdisso, há por parte dessas organizações um aprendizado (difícil) sobre 0
Na avaliaçãode uma professora:
funcionamentointerno dos governos, os mecanismos de decisão e implementação
deumapolítica. Por parte dos membro s dos órgãos do Estado, há o aprendizado
"Éd e suma·importância
essapartenão tão formal- de como ,
sobreas vantagensda transparência ao implementarem qualquer projeto: dosaiunos.E pnmeiro
mas de trabalhara auto-estima . . [ e que
. usa [a camisinha
],
porquesemissonãovai".32 ' a auto-estima]dos professores
,
"O grande segredo dissoé a transparência, ou seja,os dois têm que ser sóciosdo progra-
ma.Nomomenroque vocêé o sóciodo programa,vocêcompreendea situaçãodo outro
29 O resultadodos encontros da SOS Mata .
e outro compreendea tua situação". que um projeto de EducaçãoA b. l e Atl~nticacom a SABESPfoi permitir
O
Tiete.
, Com a educaçãoambientalme ienta
. ,
rosse I l d
mp ementa o junto ao Projeto
Quandoos usuários desses projetos também estão envolvidos, como é o caso do sem o proieto
· Tietê
. e tivessem , roi poss1velque setores d a população conheces-
CRJde Santo André, passa a existir uma cumplicidade maior quanto às direções . da SABESP.
nicos - sobre O rio consideradas pelosréc-
suas percepçoes

tomada
s pelo órgão de governo: O projetodo Geledéserm' .
auto-estimª desses Jovens
. pp dItlu que alguns alunos arrumassem empregoe quea
"Agenteentende, por exemplo, quando a prefeitura tem que cortar um showque ela fazia . que e1es reflettssem
com . sobu esse ser
. elevada' pois
· O mo, d ulo sobre cidadaniafez
re e não fazmaisporque está investindo, por exemplo, numa área socialque é mais
semp direito
. s· o curso e, ministradore sua situação enquanto negros e pobres e sobreseus
c10nadospe1 Geledés . A escolembescolas da red e pamcular
. para alunos neoros sele-
.30
prioritária" O
pagampelo cursoe ainda. receb . para essesalunos,ºque nao
a a re uma.d asse especial -
0
Édifícilmedir, mas estes projetos também geram ganhos para o público-alvo. cursode computaçãocontou em uma aiudª de custo. Uma entrevistada quefez
5
Avalia
r os resultados, em termos dos objetivos esperados, parece ser o grande desa- em uma
. d asse especialformqued os alunos dª sa1a sofreram discriminaçõespore rar
st
fiopara uma boa compreensão desses encontro s. Mas é possível de aca_r alg~ns Depo1s de v'anos
. conflitos a a somente por alunos negros que não pagavarn -
ganhos efetivos. No projeto do Ministério da Saúde, um ganho significanvo foi ª , o grupo formadO por alunos do Geledés
' . den-
foi aceito

3l. Entrevista com


29 E · J , · 1" • s IBESP São Paulo 5/ 1J2000 .
61811 1 32 Enr . membroda Eco s-
· ntrcv1s1a com José Carlos Lcirc, Supcrinrcndcn rc o 1roJCW ,etc, ' · · , , ,,, . revistacom professorada Rs,d ao Paulo, 20/7/ l 999
o. Entrevis1a com membro da União do Movimcnro Secund arista de Sanro André, Sanro AnJr c:, )) · e e Pública Estaduai,
, Sao
_· Paulo, 17/11/ 1999.
3

133 134
. - lhante a' lógica do mercado . As "melhores " (n 1 a1·s d
rr0 da escola, o que os fortaleceue obrigou os dema1s. alunos a 1 ca de compençao seme . ª ªPtadas,
eendera situação. Não é possívelsaberse efet' , _peo menos, com- com mais estrutura) conseguiriam o financiamento .
pr . ivamenreos demaisalunosdeixar
er preconceituosos , mas, como disse a ent • d d am Os governos também pouco abrem espaço para o diálogo, escolhendo pr 0 .
de S revista a o Geledésa _ . ") • d . . Jetos
alunosnegrosforçou o exercíciodo aprendizadoda igualdade: , presençados (no caso dos "encontros prestaçao ,de~ serviços com tum tipo e leg1t1midad
. . e que
podemos questionar. Segun do os orgaos governamen ais, as organizaçõe s são e
' bl ' 1 d · sco-
"O quea gente
. estáquerendo
. , mostrar
. é que tem que conviver
. comisso
. . Não é um lhidas por estarem mais. próximas d o pu 1co-a vo e po erem atingir de for ma llla1.s
mundoexclusivo
, de nmguem
. . . A igualdadede oporrunid
ade temquesedarnaprática
. e eficaz os resultados desejados.. Mas podemos nos . perguntar. se efetivamente as orga-
aspessoas
temqueexercitarissono seucoridiano"
.JJ nizações escolhidas são as mais adequadas . O mvestimento por parte das ON
"pro fi1ss1on. a1·1zaçao ~ " tem resu1tado em. um .
decresc1mo
, . no . .
. . mvestimento em at1v1da
Gs
.. em-
O projetoda implementaçãoda Convenção111, do qual a FalaPreta!participa des voltadas para a articu 1ação com d 1stmtos setores soC1a1s. Disseram os ent revista- .
jáconsegui~ i~plem_entar núcleos pró,-igualdadeem ~oveestadosbrasileiros . Par~ dos que o tempo gasto em elaborar projeto s, fazer relatórios, prestar contas
seter uma 1de1ado impacto dessesnucleos, em Teresma,estado do Piauí, 0 Pró- . 1· d d. f: d , quase
sempre 1mp tea menos tempo para se e tear a tare as e articulação com os setores
Igualdade - Núcleo de Combate à Discriminaçãoe Promoçãoda Igualdadeno diretamente
. .interessados. Se isso ocorre, não .há garantias de que essas O rganizaçoe · _ s
Piauí_ realizapalestras, eventos, envolvendogrupos discriminadostais como os sepm. as mais adequadas para executar os proJetos, nem que esses proJ· et 1
. . os rea men-
negros, mulheres, idosos, portadoresde HIVe portadoresde deficiência.Essenúcleo te'dsepm os mais pemnentes, no sentido de traduzir os interesses soei ais · que tenam .
, .
foiumdosprimeirosimplementadosno Brasile seus membrosvão aos seminários s1 o. construidos
. O . na mterface das 0NGs com as diferentes comunid a d es ou grupo s
regionaisparadivulgarsua experiência. Participamdo Núcleo órgãosgovernamen - soC1a1s .- ra, se. isso é verdade, a. lógica que justifica a escolha de ·
' proJetos (d as O Gs
rais,entidadesciviscomo Ordem dos Advogados,sindicatos, movimentossociaisde que estao mais perto da comumdade e sabem quais são as suas necessid d ) , .
váriostipos. Alémdisso, o Núcleo resolveucasosgravesde denúnciade discrimina- fi d A e · a es e mod1
ca a.b aposta'fique se raz. nessas 0NGs não é tanto de organiza çoes - que constroem-
çõesno mercadode trabalho. seu sa er espec1 teo a pamr dos vínculos com grupos sociais ' m as e, d e organizaçõe . s
Porfim, o projetodo CRJde Santo André propiciouaos gruposjuvenisda cida- q ue se tornaram especial istas em determinados temas .
deumespaçode encontro, de exercíciopara aprender a lidar com a diversidadee Nestes casos, os papéis definidos para cada um dos lad - .,
pluralidade
de opiniões, uma certa compreensãodo que significaum espaçopúbli- cução dos projetos e às entidades governamentais os sao . ~s O~Gs ca~e a exe-
co(apesarde existiremdivergênciasentre os gruposjuvenis, as ONGse os próprios dos projetos . Há uma concent - d d cabe toda a direçao e onentação
raçao e po er nas mãos d , -
funcionários
da prefeiturasobre como usar o espaçofísicodo Centro) e, sobretudo, e as redes de articulação entr 'd d d . os orgaos governamentai s
e as entt a es aso d d . ·1
o público mais amplo n- cie ª e civi , e as relações delas com
umespaçode expressãopara os jovens. N ' ao parecem estar sendo fortalecidas
os encontros em que as organiza ões n- .- .
prestação de serviços há ç ao eSt ao em uma relação próxima de
Disputapelo Poder: Definiçõesdos Papéisdo Estado, ' um certo uso estr t ' · d - .
por parte dos setores g . t1, egico a pressao exercida pelas ONCs
ONGse do Conjunto da Sociedade overnamenta1s e l .d
0NGs-Aids, que mantêm l _ nvo vi os . No caso da ABIA e de outra s
~
menta que elas faze é uma re. açao de p ressao so b re o governo, o acompanha -
m essencial para a . _ d
Podemos nos perguntaraté que ponto essesencontros implicammudançasnas eias, o Programa Nacio l . d. ªP1icaçao os programas de Aids . Sem
· 1· d d · ' gulos· comose con- - na tena ificuld d . se municípios e estados
re1açõesdepoder. Essaquestãoprerna ser ana isa a por ois an : . estao cumprindo sua p ª es para avaliar
'd E d mo conjuntoda soCJe- , .
vanos órgãos governa arte, como
. també d' e. ld
m iucu ade em pression ar sozinho os
solI amasrelaçõesdas ONGstanto com o sta o, quanto co
' e. • 1' · quase mercantil, o resul- mentais que, de l e . .
dade. No casode encontrosem que runc10nauma ogica • . entraves burocráticos 1 a guma rorma, podem preJud1car , corn
, , 'Ih d d H; ma dependenciae uma ,
com b ate a epidemia p ' 0 P eno atend·
imento dos portadores de HIV-Aids e
0
tado e que praticamentenão ha parti a e po er. ª u .
. . H, · d efeitomaléficopara a aftl- l . . ara o Programa N . 1 ·d
subor_dmaçãoàs diretrizesgovernamentais. a am a um , . pe as organizações : aciona , é muito boa a pressão exerci ª
• · funcionandonum:ilog1 -
culaçaoentreasONGs , pois elaspassama compenr entre si,
"(...) ª geme aqui (... ) Ped'10 d o rem 'd'
acompanhando , mesmo com e 10, acompanhando, d enunciand o e esr:111do junro
33.Enrrevisracommembro do Geledé
s, Sao Paulo, 14/7/1999. , o é que o medicamento estava sendo d 1s
. rnbu1un
. , J , pott-1uc o

!35
136
Estadonão tem como controlar sozinho. A socied d . .
· ·
vigiarisso. (...) A Receira Federal está demorando
ª eJ'b
CJVJI tem que ter ess
.
Jd
e pape e "A d I ci·aestárodahora na mídia, roda hora no jornal. Você tem uin
. para J erar (kits de examesim e ega envo!v·1
dos)· O que vai acontecer? (...) Se nós não preSSIOnarmos
.
a Receita Federal 0
porra- da comunidade. A comunidadeestáprocurandoa delegaciapor outras questõ l'llenr o
ente não tem moral para chegar na Receita e ped· p J ' governo · de trabalhoe resc1sao
a emissãoda carteira · - de contrato" ,J7 es que nao
-
sºm " .J4 ir. ara e es' e'est rateg1co
, · [a pressão
dasoNGs-AidsJ .
O convênioestabelecido entre a prefeitura de Santo André e a Ação Ed .
. d
um dos que mais contaram com o envo1v1mento e parte do público
ucatzvafi .
Quando.
os funcionários do governo sentem pou
, .
ld
co respa o por parte dos a ser at"1 .
01
supenores, como e o caso do proJeto de implementaç ~ d C _ Em última instância, foi essepúblico que pressionou para que O proJ'et e _ngido.
seUs ao a onvençao 111 o rosse1111 1
elesdizem: ' mentado. Nessecaso, a AçãoEducativaacabou ficando com um papel m . P e-
, . mais
dano, . de assesson.a. Corno aurmou
e. .
uma entrevistada da ON G: ais secun-
"A gente rem clareza que nós .não somos maioria no governo, remos c1areza que nos ,
remosque trabalhar rodos os dias para poder arranjar maisparceiros. Não basta só von- "(...) na horada execução,o papel que sobrou para a gente era m ·
tadepolítica, precisa ter articulação, precisa ter recurso, precisa ter competênciapara - .- , , Ulto secundáriod
assessor, naoeraumapos1çao onde nos estavamas também investi d . ' e
poderrealizar".35 .- . . n o maisrecursos
cond1çoesde negociarigualmente. A gente entrou com meno . e ern
s recursose iss0
menoscondições ".38 nos dá
Opapelda ONG , aqui, parece ser mais de fiscalizador, de vigia, enquanto ao Esta-
docabe mediar os conflitos , articular atores diferenciados para que O projeto venha Essefoi um problema para a AçãoEducativa.Ela ªJ'ud b
a ceros resultados esperados. Aqui também o governo conta com a capacidade des- . . ou a conce er O •
mas depo1s se sennu com pouca força para acompanh d proJeto,
sasorganizaçõesde "representar" de alguma forma as demandas sociais, e estarem . . ar o seu an amem I .
gm que ela estivessesempre procurando redefi1. ai . o. ssoex1 -
articuladascom interesses sociais mais amplos . As mesmas observações feitas acima D d . ,. nu qu sena a sua 'b .
es e o m1c10do projeto, os funcionários delegados pel e . comn lliÇão.
valempara essasrelações que envolvem pressão . Não há garantias da capacidade des- d . . a prerenura mud .
e uma vez,pre1ud1cando a sua continuidade S . . aram mais
sasorganizaçõesde traduzir o que os mais diferentes grupos desejam, daí a impor- Ih · urguam confino b ai
me or forma de uso do Centro A A - E'd . s so re qu seriaa
. çao ucatzvaquerend . ·1 .
rânciade elasestarem sempre se articulando com outros movimentos sociais e outras espaçopara o maior número de , 1 . o pn v1eg1aro uso do
grupos poss1ve e a JUVent d r d
ONG s, associadasem redes. Cada uma delas pertence a pelos menos duas ou três to estudantil, pretendendoque I e u e, iga a ao movimen-
'b' . e e se transrormasse num d
rede s.A FalaPreta.'tem até uma área denominada "articulação polític a" para forta- s1 ilizar novosestudantespara . espaço on e pudessem sen-
. . o movimento Uma d .
lecer os vínculoscom sociedade civil e Estado . Os núcleos pró-iguald ade pro movi- ttva diz ter aprendido q . as entrevistadas da AçãoEduca-
ue os termos de um c , .
dosa partir do programa de implementação da Convenção 111 também procuram governamentalprecisamestar m . 1 d onven10 com qualquer entidade
b u1toc aros esde o i , . E
incorporarvários setores. O raciocínio presente é que cada um deve falar pelo seu ce er, com essa experiênciad f] ' 01c10. ntretamo , podemos per-
, . d . e con !tos para traç d' .
problema específico: propna efin1çãodos pa ,. ar as uetnze s do Centro, que a
pe1s que cada parte ( r fi .
encontro que se pretenda •. . P e enura, ONG e usuários) terá num
,. pamc1pat1voé perm d
"Começanessaquestão (...) do interlocutor. Na questão racial sempre vai rer um negro papeis combinados entre ea a por um tenso jooo de forças. Os
red fi1111'd as panes no princí . d O . t>
falando
sobre... Na questão do portador de deficiência sempre vai rer alguém falando... e os durante O seu d I . pio projeto freqüentemenre serão
E ., esenvov1mento
Desdeo começonós definimos isso. A estratégia do programa é essa".36 ssa expenencia també .
or . d m mostra como , .
. garnza os na execuçãode l . e import ante a articulação com serore s
Com isso, o próprio órgão governamental, neste caso delegacia regional do tra- tIVes se · qua quer projeto É , 1 ·
. maior capacidade de d", · provave que, se a AçãoEducati va

---
tido mai . ia1ogo com os v , . . . . .
, ganhaimportância no estado onde ele se encontra :
balho s na articulação c . anos setores JUve01s, ou rtvesse111ve s-
uso plur I d0 C om os Jovens org ·- d .
. .. ª entro, parte d . amza os para que pudessem garannr0
na dmmid os conflitos ent .
:4·~ntrevista com membro <la ADIA, Rio de Janeiro, 12/8/ l 999 . a. re a O NC , a prefeitura e usuános e5ca-
S. En1rl'v
. .is1acom e11rn· , ·
cionano • • ·
do M in,srérto ·
<la Jumça , 1-lrasi•'/',a, -JQ/ I 0/ 1<J<JCJ
·· . .. -, _ .
36· En1rev1s1 d· d M' • .
l _ ª ª o J111
18/10/
999
I , · 1 I' . -. ,., Bn· sil (,, •11ern e "-•1•'· lli,hil,.1.
sréno do Trabalho, responsáw recn 1ca pe o 1og1.111 ·
-=--
37. Idem.
38. Enrrevisraco
m membro da ArãoEduc,11
. -
137 iva, Sao Paulo, 22/ 12/ 1999.

138
Considerações Finais : Conseqüên
- · para a Democracia
ctas
. . , e , 1 à elaboração desses mesmos projetos por entidades q
sooa1s, e prerenve . ,
_
uc: nao vi
e a eonstruçao do Espaço Público . , • révia. O que queremos ressaltar aqui e que, ao faz
ram essa h 1stona P . . . er esses ro.
ve.
·s ao se aproveitar de derermmadas brechas, multas organiza _ P Je-
ros pon eual , . Çoes alter
Essesencontros,
. d em todas . as- suas. variantes
. , ap ontam para o quesnoname. t d seus
obj·ecivos e seu modo de trabalho , sem que isso tenha sido fruto d
e urna esco
arn
PªP
éis ancenores e organizaçoes c1v1s e dos governo
. - d 1· d
n
s e sugerem as novas formas
° os
lha clara. -
elasquais escao se e mean o os. encontros possíveis entre esses d 01s . lad os. Além disso, dependendo do tipo de serviço que as ONGs estão prestand .
P Com processo d e democratização, abriu-se a possºbTd d d . d1álo-
.
O . _ . 1 i 1 ª e e um ma10r vidades mais voltadas para a mobilização social, para a sensibilização d o, as ar,-
, . . e novos su. .
go do Escada
. com
_ as orgamzaçoes
,. da sociedade civil ' obrigand o-as a nao apenas cn-.
_ tos para a sua luta especifica, ficam em segundo plano. A pamcipação fi . jei-
. - . . 'd ica restrita ,
, . polmcas dos governos , como também a se en vo1ver na e1ab oraçao
u·car as onencaçoes _
execução do projeto, o que nao exige tanto a at1v1 ade de mobilizaça- 0 soe,·a1 E · ª
olíticaspublicas.
. Por .outro
. lado, o aparelho estatal , enclaus ura d o na tecno- b uro-
deP se da ONG que ela detenha um conhecimento específico, que pode ser 6· . xige-
eracia, se viu obngado . . a Justificar suas ações e abrir canais para 1·nc orporar cad a vez , · e
vanas 10rmas, nao - ·
necessanamente ad vm. d o d os vínculos com os m · o tido de
maisdemandas sooa.1s. " - ,, , . ov1mentos soei .
Nos encontros pressao , ha maior autonomia para as ONGs ais.
Ao mes'.11º,te~po , governos , tanto. ~o nível federal como Estadual e Municipal, . .. l' . , que se sente
l1vres- para criticar as po 1t1cas quando elas não são satisfat' onas · . Entretanr m
emvárias mstanc1as, se desresponsabilizaram da elaboração de políticas pública s
re1açao entre as ONGs e governos é muito instável, pouco fo 1· d o, ª
maisuniversais,com as justificativas de que o país não possuía recur sos para aten - ·b·1· . rma iza a o que
s1 1 na rompimentos definitivos se algum dos lad as cons1ºd erar que ' pos-
l
derà roralidade da população e as organizações civis são mais capazes de atender, 0
está equivocado . outro ado
gaseando menos e com mais eficiência , aos anseios dos grupos menos favorecido s.
Asalternativasmais evidentes que se apresentam são : as organizações podem pro- " No terceiro caso, quando é possível a elaboraç-ao d e proJetos . em ·
encontros participativos" vemos as d' , . d . conJunto nos
gressivamente fazer mais ações pontuais, executando tarefas que eram feitas (ou deve- , mamICas e negociação d 1 .
Num país marcado por um Estado tr d' . 1 . . d sen
a 1c1ona mente pnvau d. , .
o va onzadas.
riamter sido feitas) por governos e, sendo assim, elas apenas têm um papel paliativo ;
tos políticos e de busca de conse d 1 za o, mamICas de pac-
oupodehaver a elaboração de um projeto amplo de articulação entre sociedade civil nsos po em evar a um fi , bl ' .
te democratizada. a es era pu ICa efenvamen-
eEstado,no qual as ONGs teriam um papel fundamental na própria formulação das
políticaspúblicas. Estas duas direções parecem estar sendo tomadas na sociedade bra- ~s,separece ser o diferencial da parceria estabelecid ,
de dialogo abertos entre a SABESP SOS M a em Santo Andre e dos canais
sileiraatual e, através da análise dessas experiências de parceria pontual , é possível ea ~A~ •
ntzca, mesmo com todos os pro-
blemas enfrentados N d .
. esses ois casos diferen d .
pensarnas conseqüências desses dois caminhos . governo federal, 0 confl · t e . . ' te os proJetos administrados pelo
Comas experiências de "encontros prestação de serviços", financiados por órgãos f, t o ro1 incorporado com O d
que oram abertos canais d dºál parte o processo, na medida em
ligadosa governos, temos a fragmentação . Um conjunto de jovens negros, de escolas • e I ogo entre o go .
so, muno pelo contrário d' vemo e a sonedade . Não há consen-
públicasé beneficiado, mas e todos os outros que não têm a sorte de serem beneficia- f , mas a iscussão o fl.
cem azer parte do dia-a-dia d ' con lto, o debate, a discordância pare-
dosporestesprogramas? Com índices acentuados de desigualdade social, o país preci- que l . esses encontros Al , d'
e es seJam realmente b . · em isso, nesses dois projetos , para
sariadepolíticaspúblicas mais universais . Corremos o risco, como afirma Telles ( 1998), ONG . em-sucedidos · ,
. e O movimento social ' exigem-se vmculos acentuados entre a
devero desmonte completo das políticas sociais regidas por princípios un iversais dos dois tip os d e encontro ª0 qua 1 ela está liga d a, muao· mais. até do que os ourros
direitos
e da cidadania, e termos os princípios da justiça social trocados por prin cípios o , .
. que e possível perceb d
decaridadeprivada, havendo uma ênfase na cidadania com uma matriz profundamen - maior ah . . er a compara - ., . ,
O
d d onzontaltdade nas r 1 - çao entre essas expenencias e que quanto
e moralista de acesso aos direiros do indivíduo . O cidadão seria pro-
teindividualista ª e entre as organizações
res d
. e açoes entre
e seu ' b.
.
governos e ONGs, quanto mais prox1m1
· ·
-
o consumidor e q,uem cumpre os seus deveres. Muitas ONGSforam financia-
prietário, emocrátic pu lico ating ·d · h d
d os, que serão a d' 1 0 , mais c egamos próximos eva 1o-
daspelacooperaçãopara executar "projetos pilotos ", de pequeno porte, ª fim_de q~e e consensos
am I O . ' tanto pelos ag
preen idos
, nos processos de confronto e consrruçao
-
umdº . d . I' · ' bhca m:11s
'ª essesprojetos pudessem ser adorad os como parte e uma Pº mca pu P ª· s Intere
explícit
entes governa
sses que atravess E
· • d
mentais quanto pela sooeda e rn,.
ais
ampl M · · d d " ·ecos piloto s"
ª· aISrecentemente o Estado cem sido o financia or esses pro) · o pr os e serem efetivament am _srado e sociedade civil podem se rorn:1r ,na1s
Éeviºd • d ON'' · compromecidas co m ocesso pelo q l e negociados M . . l . dos,
enre que a prestação de serviços por parte e .._
,s . pode . ua os proj·ec - . ais importante do que os resu ta
valoresd ·d d • . h 1 ' • lo l·om 111ov1111cnr0s questionar d . os sao forrn 1 d , . ue
e ci a ama e democracia , qu e ren am a gum VJOl U ois papéi s que E u ª os e fundamental, na m edida e!11q
O stado br as,·1eiro
· assumiu ao longo da l11·sro' ria do
139
140
's· 0 de defensor de interesses privados mais do d • , .
pai · . que e Interesses publ1cos e rfil _ CadastrodasAssociadasà ABONC. São Paulo: f\Bo
papeld~ tutela e controle da organização social. 0
ABONG(! 998) ONG s: Umpe . Am rican G0 'Boom". !nternationalFeminist 'o Nc;_
O dilema que fica, e com ele pretendo terminar este arti·g , d .d d ALVAREZ , S. (1999)"The Lann e l' ltrnal of
_ . . o, e o a capac1 a e
de estabelecer relaçoes mais iguais com E d C 181 2 9
e ri·va das ONGs
ere . . O
.
sta o. orno vimos, a Politics,1:2, º
- · NO E (1995) "Para além da democracia realmente e ·
pressãoexer~ida_pelas org:n1zações da sociedade são fundamentais para um proje- ALVAREZ, S. & DAGNI ' .d.adaniae a configuraçãode espaçospúblicos alter: a1sttentc:
·
mov1menros soc·iais' a novaci An j d ANP0CS 1vos"·
ro ser parric1pat1vo, mas_e fundamental também que a concepção de participação
balhoa resenradono XIXEncontro ua . a . . . .
_ como poder compamlhado , como co-responsabilidade e respeito da autonomia Tra Pd C C (l999) "oNGs brasileiras: um campo rnst1tuc1onal com
BOCAYlNA,Pe ro . unca -1 novos
da organização - seja compartilhada por quem ocupa os órgãos governamentais . si nificados ", Proposta, ano 28, n. 81, PP· 12" 5.. . . .
Se essa concepção de participação não é compartilhada por ambas as partes , as g
CASTILHO , E. A• e CHEQUER' Pedro(1997) . . Ep1dem10log1a
. do HI V/ Aids no BrasT', 1n
.
1 :
oNGSsimplesmente não deveriam executar "projetos pilotos", já que é isso que está Parker,R. (org) ro n l't'
t /Cu, e Aids. Rio de Janeiro: Zaharlf\B
-~ Instituições . _ IA.
aoseu alcance? CONSELHODA COMUNIDADESOLIDARIA (1998) EdzçaoEspecial_ TrêsAnos.
Não há uma resposta definitiva para essa questão, mas a nossa análise aponta que Brasília:Esplanadados Ministérios. . . .
seessesprojetos pontuais forem feitos em detrimento da organização e mobilização DOIMO, A. M. (1995)A vez e a vozdopopular- movimentossoctatseparticipaçãopolíti-
cano Brasilpós-70. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.
dapopulação, bem como da articulação com outros setores sociais, é mais provável
GALVÃO , Jane (1997)"As respostasdas organizaçõesnão-governamentaisbrasileiras fren-
ueO papel dessa organização tenha cada vez mais um caráter paliativo para a ausên-
te à epidemiade HIV/Aids", in: Parker,R. (org) Política,Instituiçõese Aids. Rio de Janei-
;ia do compromisso estatal de formular políticas públicas que garantam a igualda- ro: Zahar/ABIA.
dee a justiça social. GIBBS , C., FUMO, C. & KUBY, T. (1999) Non-GovernmentalOrgflnizationsin World
Como disse um entrevistado das ONGs-Aids: Bank- Supported Projects. Washington:The World Bank.
LANDIM,L. (l 993a)"O setorsem fins lucrativosno Brasil", Série Textosde Pesquisa. Rio
"Aindaque não de forma sistematizada, esse melhor conhecimento foi produzido, essa deJaneiro: /SER.
se produz [com a articulação entre as ONGs]. Mas ela precisa ser melhor sis-
inreligência ____ (1993b)"AInvençãodas 0NGs- do serviçoinvisívelà profissãosem nome".
Tesede Doutorado,Programade Pós-Graduaçãoem AntropologiaSocial,MuseuNacio-
tematizadae valorizada, inclusive nessa relação de parceria com o governo, para que a nal, UFRJ.
gente possaconfrontar efetivamente e influenciar as políticas públicas".39
LANDIM,L. & COTRIM, L. L. (1996) ONGs: Umperfil - cadastrodasfiliadasà Associa
-
çãoBrasileira . SãoPaulo: f\B0NG, ISER.
de ONGs
A fim de conduzirem os governos a ter efetivamente o compromisso com a LEROY , J-P & SOARES , M. C. C. (1998) "Conclusões: Os desafiospara a consrrução da
aranriade igualdade e justiça social, é necessário que haja esforço por pane dessas participação cidadã". ln: in: Leroy,Jean-Pierre & Soares, M . C. C. Bancosmultilateraise
!rganizações de manutenção do caráter de mobilização s~c'.al , a ~m de que a "in_re- desenvolv imentoparticipativono Brasil: dilemase desafios . Rio de Janeiro: FASE/IB .\SE.
PAOLIM C (1995)"M . ·· ·
ligência
" produzida seja resultado efetivo de interesses sooa1s mais amplo~. Se_ass1m , · • ov1mentossoc1a1s no Brasil: em busca de um estatuto político".
ln: HELLMANNM (org) M, · · · J · • •
for, mesmo enfrentando relações de força desiguais com os governos, sera mais ~ac- .. , • • ovimentossociaise uemocractano Bmstf:se11111gente 111w
tem;etto. SãoPaulo: MarcoZero.
rívelque seu modo de conceber as políticas - construído através do contato dire- PEREIRA,L. C. B. (1997) A ,r, J E J J , . .
r0ormauo stauouosflnos90: logtcfle mect1111m10 ; deco11n-o k
to coma população diretamente interessada e de amplas artic _ ulações com outra s Caderno1. Brasília:Mare.
organizaçõe s ideologicamente próximas - possa realmente ser 1111plemenrad o. SOARES , Maria C. C. ( 1998)"A ·. _ ,. . . .. .
Jean-PIerr. parncipaçaona Otlcados BancosMult1laterJ1S , 111: Leror.
e & Soares, M C e B l ·1. . ' .. .
B l d"l · · · ancos mu ti 11tem 1se dese,wolvrmmto p11 rt1opt1t11 •0 110
ras1: t emas e desafios. Rio de Janeiro: FASF /lllf\SE
TELLES, V S. (1990). "Es a o , bl' . .. .
Referências bibliográficas sobr P ç pu ICO e espaço privado na constituição do sowl: noW
e o pensamento de HannahArendt" Tt S ,
_ ___ 0998 ) "A , _ . • empo oc1r1l, v. 2, n. I.
ABRAMO . ", Rev,s· tfl J'T11ventude· br' ano 1,
, Helena (1998) ''A apatia da Juventud e é um M iro nova que5tao social' brasileira". Pragfl: Estudos M111 xútt1s,11· 6.

---
n. l, pp. 14-16.

•isracom membro e.laAUl,1, Rio J c ja neiro , 12/8/ l 999 .


39.Entre1

141

142
CAPfTULO 5 e
. 1 de regulação do mercado global diante de
' bl' a rransnac1ona e . . 1·d um
de uma esrera pu ic de declínio da temtona 1 ade como bas d
A •

d IObalização economJCa, , . e a
contexto e g d parte do Estado do monopolio da esfera pu' bi·
· d 0 1' ica e "da per a por . 1-
idenuda e P it ) S d Teixeira (1999), as redes transnacionai s são form
Os Fóruns Temáticos da Sociedade Civil: ca
"( V · 1999·410 • egun
ieira, .·
°
~ do localismo e do isolamento, objetivando O fo
a-
das tendo em vista a superaça0 . . . rta.
Um Estudo Sobre o Fórum Nacional de Reforma Urbana . - s da sociedade c1v1l que, em certas condições , pod ern
lecimento das orgamzaçoe
. açoes
construir _ comuns . Ainda segundo
~
este autor
. , alguns do s temas que - mais t'ern
. d
funciona o como catalisadores sao os que
. se vmculam com as_ que. stoes urban as,
Carla Almeida Silva como meio • am bi'ente , gênero ' desenvolvimento local,. cooperaçao, cidadania , segu-
.
rança al1mentar e monitoramento do sistema financeiro. . A •

Não pretendemos entrar na discussão sobre a ~o~s1stenc1a real ou não da emer-


gência de uma sociedade civil global e do s seus s1g01ficados para a cidadania, rnas
apenas sublinhar que a formação de redes não é um fenômeno particular do caso
brasileiro. Ela indica uma tendência de expressão política existente no campo socie-
tário de forma mais ampla .
No caso brasileiro, essa tendência parece ter um marco inicial expressivo no con-
texto de preparação e realização da ECO 92 .2 Esse evento criou condições favoráveis
Nos anos 90, com a democratização do país, a sociedade civil brasileira passou a
vislumbrar novas formas de expressão política. É nesta direção que se destaca o sur- para que uma quantidade diversificada de organizações sociais nacionais e interna-
gimento de um número significativo de articulações internas no campo societário, cionais se encontrasse e se reconhecesse como pertencente a um mesmo campo de
formando "redes de movimentos". Conforme Scherer-Warren : atuação política . Este reconhecimento abriu possibilidade para a construção de uma
reciprocidade entre as organizações sociais, na qual vínculos , solidariedade e com-
"Pode-se afirmar que há evidências empíricas de que na última década os movimentos promissos políticos passaram a alimentar a rede de comunicação entre elas.3 Foi exa-
4
populares e seus mediadores passaram por transformações que vão da valorizaç~o das tamente neste período que as ONGs brasileiras procuraram afirmar seu papel como
organizações de base (grassrootsorganizations) , para mais recentemente o reconhec1m:~ - ator político próprio , constituindo-se em sujeitos fundamentais no processo de sur-
gimento de várias e diferentes redes no país , durante toda a década de 90.5
to crescente da importância das articulações , intercâmbios e formação de redes, teman -
· · · ). "(S ch erer-Warren , 1993 · 9) 1
case organizacionais (networ k orgamzatzons Se a ECO92 foi um marco expressivo de encontros e estabelecimento de relações
entre as organizações sociais brasileiras e as internacionais, não podemos deixar de

Promovendo a comunicação entre vanas , · orgamzaçoes


· - soCI·a i·s e , conseqüentemen-
.
2
te, possibilitando a troca de expenencia entre e Ias, as ar ticulações em redes
• A •
. cnam con - - A ECO 92, que ocorreu no Rio de Janeiro, foi um evemo organizado pela Organização das NaçõesUnidas
(ONU). Reuniu represemantes governamentais d d · · J d' · ·· ·
d.1çõespara que projetos polmcos,
, · espaços e 1·mgua gens se1·am comparnlhados d . _
cunr a questão do meio ambieme e do desenvolvimemo.
o mun o 111re1ro e envo veu 1versas orga111zações socw s para d1s-

. d e vanos
, . t iP os de redes forma ' J·
No âmbito internacional, o surgimento álº as por fi
3. Os avanços da tecnologiana área de c
_
ormaçao de um campo de atuação pol't'
· • d· d
omurncaçao nesras u nmas eca as agiram como faciliradores paraa con-
d d. . .. .
1
·c
ONGse movimentos sociais de países d1rerentes eS a t , fundamentando an e
ises que 1 . _ ica que rranscen e a unensao local. consrro1laços de solidariedade e vmcu-
os nac1ona1s e supranacionais alre d , d"1 ·1 . J e - d -- - · · ··
A

4· A pamr. da decada
, °
• ran a rra c ona 101ma e man1fesraçao e orga111zação políncas dos atores sociais.
ehamam a atenção para a emergencia soCie d ªde civil global" . Esse renome-
de 1990 boa p d d . . , .
A •
de uma " •
. ._ O rganizaçao
. _ Nao-Gove
_ rnamental O ' ' arte -
os cenrros
• -
e •
assessonas
.
aos movunenros sociais passou .1 se deh111r
.
como
, de acordo com algumas
no e, leituras, uma respo st a à necessidade da consutuiçao 5 p d 'c m aruaçao propna e nao n1a1 s toralmenre voltados às demandas dos mov1111enw s.
· ara ar alguns exemplos constir ' d · · · I' , 1°
N · 1 F . . ' uiram-se nesre perío o redes que aglurinam organizações tem1111 sras: ' ""
0 ; ~ona e~lnl Sla de Saúde e Direitos Reprodutivos; redes de movirnen1os ambienralisras: Fórum Brasileiro de
se movimentos soc1a1spara o meio . b' . 1•. 1 . .. . . . -. . ,
--- 1 - . ídas na década de 1990: ani cu lações de u~ mes,~o da Cidadani d 5- am ienre, reces oca1s que trabalham com a remanca da c1dada111a. Fo,un
. -A autora nos fornece alguns exemplos das red es con 5 nru - e Br:isileira de oNc..;s,U111.1o a e ao Paulo; rede de organizaçõ . . · · • . · .-- -d ,s
tipo d . . , l· A BON G _ Assoc1açao . . . agências 1II·1 - . ' es sociais para 111 0111tor ar a aplicação dos recursos 1,nanccuo, ·
e associações (CMP - Ce ntral de Mov1rnenros I opu ares , . f, . e de redes que visam sac ia11- mu atera1sno Brasil: Rede Bra il b . 1 . _. . . .. . _ . li . con•
_NacionaJdos Movimenro s de Moradia, etc .); articulações de caráter regwnal ; 0 1maçao a temá1ica d d" · . s so re nsrnu,çoes Financeiras M11lnlatcra1 s; redes que trab,11·1111
os ,reiras da cnança e adolesce11r . Fó ' . _. 1 Ili ,is
exemplos· enrrer e. rum DCA. Podenamos cxa11 sriva111cn1c· cn11111111ar rnanc O ·
zar informações e, mais recenremcnre , à formação de foruns remáricos.
intensidade e rel:~-ro, _paramos ~om eSrcsporque O objerivo é mosrrar que se rra1a de 11111 le1Hl111,·110 '111" g.,nhou
anc1a no Brasil a partir dos anos 90.

143
144
encionar que O período da Assembléia Constituinte (1985 a 1988) possibilitou a nhado por uma presença efetiva e competente do poder público para dar res
~ nsificação dos laços que• 6já existiam no amplo e heterogêneo campo dos movi - questoes- de hab.ttaçao,
- saneamento bastco, ' . ocupaçao - p 1aneJa · da do solo urb postªs a's
1nre
menros populares .no Brasil. Durante este período, os mai s diversos movimentos porte, etc. De acordo com dados fornecidos por MARJCATO (1998), de :~o , trans-
19
rocuraram se arncular para respaldar projetos de lei para a formulação da nova a população urbana brasileira passou de 31,2% para 75, 6% . O resultado d a 1991,
~onstituição, promulgada e~ ~ 988 . D~ntro desse contexto, o Movimento Nacio- · d o po d er pu' blº1co no p 1ane,amento
eia · d o crescimento
· urbano ou essa ausên-
al ela Reforma Urbana foi cnado, articulando uma grande variedade de -sujeitos, momentos , incapacidade de elaborar políticas eficazes, foi a conform~ ~m alguns
n p .
ue se orgamzavam em torno d e carencias
" . vivi
. ºd as no espaço urbano , ou que a1guns ch amam d e "apart.heiºd ur b ano ,,: a segregaçao - d o espaço urban çao do qUe
oll q , . -- . .d d . d . e o entre terr· ,
. ham vinculações com essa temauca, como é o caso de ONGs, sindicatos e intelec - nos provi os e serviços e mira-estrutura e áreas periféricas despr •d tto-
nn . . ov1 as de a
· . Esse movimento transformou-se, posteriormente, no Fórum Nacional de
ruais d1gn_oou totalmente desprovidas de acesso a esses serviços (Silva, 19 ). cesso
99
Reforma Urbana, espaço permanente de encontro desses sujeitos . E compreensível, portanto , o surgimento de vário s movimentos urb
O significado que essa articulação legou ao campo das organizações sociais inse- te todo este período, reivindicando melhores condições de ·d a~os duran-
, . v1 a nas cidades 8 -
ridas na temática urbana foi o de que era possível construir um ator coletivo e a par - porem , nos anos 70 e 80 que esses movimentos ganharam mais · ·b·t ·d · E,
,. . ,. . v1s1 1 1 ade l
tir dele conferir visibilidade ao tema da reforma urbana na sociedade brasileira . Ator vancta po 1mca , pois foram capazes de construir um d1·s e re e-
curso e uma práti .
coletivo que não pressupõe a diluição das identidades envolvidas, mas possibilita a marcados pela autonomia em relação ao Estado e aos mec . d ca social
. . . . . antsmos e repre _
construção de consensos e formulação de ações comuns a partir de uma interação mstttuc1onal. As suas re1vmdicações foram apresentadas com dº . . sentaçao
. o zretto e isso fi .
comunicativa. É, pois, movidos pelo interesse em saber como esse processo se reali- um corte importante em relação aos movimentos urbanos ant . con enu
enores que 1 .
za que investigamos a experiência do Fórum Nacional de Re~orma_Urbana (F~RU), nav;m com o poder público nos parâmetros do paternalismo (Telle~, l 98s;)re ac10-
rocurando compreender o impacto que ele acarreta para as identidades parncula - tema da Reforma Urbana, que já tinha aparecido na sociedade . ·.
~esenvolvidas e quais são as possibilidades e os limites próprios que um ator coleti - anos 60 , é retomado por esses atores no período da Assembléia C . b_rasile1_ra nos
vo apresenta nos momentos de pressão/diálogo junto ao Estado . sentado como um conjunto de reformas necessárias ara alt onst1tu1me. E apre-
gualdades, reivindicando uma "nova éti . l" P . erar esse quadro de desi-
.. ca soc1a 'que trazia com dº - .
tante a polmzação da questão urbana (Sil 1991) .º imensao impor-
1. Fórum Nacional de Reforma Urbana : Breve Histórico fiun d amental para o processo de d va, , compreendtd 1
. - . a como e emento
OM . emocrattzaçao da sociedade br ·1 .
ov1mento Nacional pela Reforma Urb e . as1eua.
O Movimento Nacional pela Reforma Urbana foi formado por movimentos çao- d e uma proposta de emenda ' C . . -ana ro1 o resp onsave ' 1 pe1a apresenta-
de moradia, ONGs, intelectuais vinculados à temática urbana e algumas entidades ª onstttu1çao de · d E
Reforma Urbana , subscrita por 150 ·1 , nomma a menda Popular de
A característica fundamental mi pessoas em todo B ·1
classistas.7 . o ras1 .
Inseridos num mesmo campo de interlocução, estes sujeitos diferenciados tinham que trazia era a afirm - d "d· .
to dos aqueles que nela vivem . . açao o tre1to à cidade" a
em comum O objetivo de construir uma proposta de lei a ser incorporada na Cons- .d e suas teses pnnctpai l)
as ct ades cumprissem su "fi _ . ,, s eram : a necessidade de que
tituição, tornando-se parâmetro para a intervenção do poder público no es~aço urba - .d . a unçao social , garam · d O • . . .
Vt a dignas para todo s no b m JUsttça social e condiçõesde
no na direção de alterar o perfil das cidades brasileiras, marcado por desiguald~d~s espaço ur ano · 2) a b d º
de às condições de necessid d . l ' . . su or mação do direito à proprieda-
sociaisde várias ordens . Desigualdades que foram se afirmando no processo de rapi - . -
1tzaçao a e soc1a, admitindo .
das grande s prop • d d . ' entre outros instrumentos , a pena-
do crescimento urbano pelo qual passou o Brasil. Esse crescimento não foi acampa - ne a es ociosas atr , d b . .
vo e a regularização fund · , . b . aves a co rança de imposto progress1-
tana e ur anizaç- d ,
d emocrática e panici . d . ao as areas urbanas ocupadas ; 3) a gesráo
6. Estamos nos referindo às CEBS - Co mun1'd a d es E c 1estais · · d e Base d ª lgre1·'·1 Ca tó lica ' aos· cent
. ros de assesso-
_ d
pattva a cidade (Silva, 1991 ; Ribeiro, 1995) .

nas, •
aos smd1•
catos, seto res de esquerda e d a acade mia •
qu e estane L 1 ·
ec iam , d es d e os· '·m os 70 ' algum rip o_ de relaçao _ e
· · • f B ., ·1 P· a uma co mpr ee nsao da s relaçoes
rcciproc1dade com o di versificado ca mpo d os mov1m en ros pop u are s no 1·1st · ar • 8. Algun s indicadore s atuai s fo .
entrc o campo d o mov1menw. pop ular e o ut ros ato res soc 1·a1·s, consu . • . ( 1995)
. . lt·'~,,• de,ure o utro s ' Doimo - . - . - diçõe s de vida 'd rnec1dos pela Fu nd aç'io SE \ .. b
7· Denrre as organizações sociai s esravam : FASE - Fed eraçao - d ó• ~ s p·ir a a Ass1stenc1a Soc ial e Educ, 1c10 d' nas c, ades são mar cada , • d · ·., DE so rc a cidade.:de São Paulo mosrram qut' a, con·
e ,gao • . _ d tas que po ssue 'd s '1111 ª por gra nd es 1 · ld <l d n·
nal, ANSUR -A rticula ção Nac iona l d o So lo U rba no , MDF - Movimento de Dd esa dos Favelados, Assoc,a çao os e 48 , % m v, eocassetc e telefon<: (cm : · . e esigua a es. Enquanrn aumenta o número e 11~º ,~
9 1994
M ,. · d J · F deração Nacro nal d os Arqu, - ), aumenta o número de . •_ ' respecnvam<:nt c: 35 % e 32 %,· cm 1998 respccriv,1mcnie: 1 ~ 0
lltuanos, FAMERJ - Feder ação das Assoc iações de Moradore s do Rio e ,m etro , e Esces <lad r, coi ttços e favel· - ( 1994 . ' ' o)
• os oram publicados pelo · I r Ih ,Is ' respccttvamentc : 4,6% e 6,2%; em 1998: 5% e 9· 1·º ·
tetos, Federação Nacional do s Eng enh eiros, etc. (Ma rtin s, 1997) . import ante quer d )Orna ro n de S.Pnulo . 29! n L11
or
cspon e em larga 111 t1·I • ' cm 9/ 1999 . O desempr ego é. arualmenre. ui
e teª pelo aum ento d <l · ·t · ·
as es1gual<la<lcs nas gra nde s cidad es bras1eira, .
145
146
, ulgação da Con stitu ição , o FN RU tarnb ,
Como registra Silva (1991), o trajeto percorrido pela E d d R i: b eqüente a prom d . ern pres-
. , A bl'' C . . men a e ewrma Urba- No período su 5 . _ ciais locais no seu pro cesso e int erlocução •u
na 1unto a ssem eia onst1tumte foi "árdu 0 d 1'fí ·1" D , , O rganizaçoes so . M . . . l nto ao
. l - e ICI · a mesma forma como rou assessona as _ das Leis Org ântca s un1c 1pa1s.
ocorna em re açao a outros temas, houve grande b'l ' _ ' bl' ara a elaboraçao - . . 1 1
. mo 1 izaçao por parte das forças Poder pu ,co Pregistrar . e · na dim ensao muni c1pa , na e abora ção d .
conservadoras para garantu que seus interesses perm . d que 101 . 1 , , . as l eis
_ . . anecessem mtoca os no proces- Importante R f. ma Urbana mais acumu ou vitoria s. D e acord
so de construçao da nova Const1tu1ção . Em relação ao te d R i: U b . e a luta peIa e or o com
, . . .. , . ma a e1orma r ana, os Orgânicas, qu , . d pelo IPPUR e pela Ul'RJ comprova qu e" [...) e
empresanos do setor 1mob1liano garantiram presença sub stant1va · na connguraçao
e. _ 'b . ma pesquisa rea1iza a . as re1or-
R1 eiro, u . 'd. dos município s realizada s após a Con stitui ção F d
da Subcomissão da Ques_tão Urbana e Transporte, na qual a emenda foi discutida .9 no arcabouço JUfl ico e eral
mas . f1 ciadas pela busca de um nov o modelo de política e g _
Por outro lado , se o Movimento Nacional pela Reforma Urbana rep resen t ava a arti•- foram fortemente in uen . . . . b , . . estao
,. iversaltsta e red1smbut1va do s enef1c1os e custos da b
culação de diferentes segmentos para conferir força à "questão urbana" no contexto da cidade, democranca, un ,. ur a-
. _ E m modelo de polm ca urbana profundamente compromet'd
da Constituinte, há que se registrar que esse tema não tinha, naquele momento, ntzaçao. m suma, u . . . . ,, . . 1a
adquirido status de relevância suficiente para atrair a mobilização necessária de todos .d
com os 1 ea1s a . d democracia ' eqüidade e JUsnça social_ [... . ] , (Ribeir
. o, 1995: l0 8).
os setores existentes no interior das forças progressistas . Como resultado, a discus- Há um consenso de que esse processo de renovaçao Jund1ca dos mun icípios foi
são deste assunto no âmbito da Subcomissão da Questão Urbana e Transporte foi resultado da intervenção dos múltiplos sujeitos que , lutando pela Reforma Urbana,
marcada por um caráter "técnico e especializado" (Silva, 1991), restringindo assim conseguiram disseminar uma cultura do direito à cidade na sociedade brasileira
a possibilidade de que o debate fizesse aparecer na cena pública o jogo de interesses (Ribeiro, 1995; Silva, 1999).
políticos presentes em torno deste tema. Outros momentos que marcaram a vida do FN RU foram os evento s internacio-
Como fruto dessa correlação de forças, a questão urbana aparece na Constitui - nais que aconteceram no final do século XX, referentes à temática "meio ambientee
ção de 1988 através de dois artigos . A emenda proposta não foi incorporada à Cons- qualidade de vida": a Eco 92, no Rio de Janeiro , e a Conferência do Habitat, em
tituição na sua totalidade. Na realidade, o artigo incorporado ficou muito aquém Istambul/Turquia, em 1996. Foram importantes porque, além de con solidar O F:S: RL
disso. No entanto, pela primeira vez na história brasileira, estava presente na Cons- como interlocutor no Brasil para a questão urbana junco a atore s internacionais,
tituição um capítulo específico destinado a tratar da Política Urbana que trazia resultaram numa série de compromissos estabelecidos entre as autoridade s governa-
como novidade a orientação para que as cidades cumprissem sua função social e pro- mentais, incluindo o Brasil, na direção de promover um desenvolvimento econômi-
movessem o bem-estar de seus habitantes, numa referência à necessidade de dimi - co com igualdade social e respeito ao meio ambiente . Dispensando grande energia
nuir as desigualdades presentes no espaço urbano . Além disso, a Constituição tam - para articular a sociedade civil brasileira em torno desses eventos , o FNRL' temo
bém admitiu a necessidade da criação de mecanismos de participação da sociedade compromisso de se tornar um interlocutor junto ao Estado brasileiro pau que 01
na gestão da cidade e a abertura para que os cidadãos participassem da elaboração
~ompromissos estabelecidos nesses eventos tornem -se políticas públicas concrern
das Leis Orgânicas Municipais e das Constituições Estaduais .'º
informadas pelos princípios do desenvolvimento sustentável e da justiça social.
A incorporação de um capítulo de Política Urbana na Constituição , mesmo
Após dez anos de existência, o FNRU reafirma seu compromisso de contribuir
ficando longe do conteúdo geral proposto pela Emenda Popular, representou a aber -
tura de um campo importante para a luta política a favor do direito à cidade, tema para que ª Reforma Urbana se concretize no Brasil. Atualmente , su;1 preocupJ(io
central na plataforma de reforma urbana . Essa foi a avaliação dos atores que formu-
está bastante centrada na necess1·d ad e d e atualizar
• sua plataforma de ret-onnJ urb1 :·
na, procurando agluti nar atore s ·importantes que pos sam contrt'b utr · na reflex,o
·
laram a Emenda Popular .
sobre as mudanças p 1 · . , . , d . forniu·
A parnr· desse momento, 1orma-se
i:
o Forum
' N ac 1ºonal de Reforma
. Urbana
. _ e as quais passaram as cidade s na s ulumas deca as e iu
1açao de propostas de pol' .
(FNRU) . De imediato, tinha como tarefa pressionar o Congresso Nacwnal p~ra_v~a- b . . . -· . mudan-
. ltlcas ur anas que estepm em s111to111;1 com ess,i,
b1·1·
1zara regulamentação do cap1cu , 1o d e po l'1t1ca
· U r b ana contido na Consncu1çao
. . ças. Os pnncípio s funda · •
mentai s qu e orientam sua ação são :
. , . contl 'd os na C ons t 1' tuição requerem
Isso porque muitos dos pnnc1p10s . proJetos
, . de
·
1eis específicos para que possam entrar em vigor•
e ga nhar caráter obngacono . "Direito à cidade e à cid d
na _
. . . . - . . es J.1sciJ;iJ
ª anta, entendida como a pam cipaçao dos habitant , 00.
,,
conduçao de seus de ·t' 1 1. . . . b 1.st2ncia,.i 111
s mos. nc u, o d1re1to à terra, aos meio s de su s
. - . ·. . dir erarn enre ligad osaes rcsero r (Silva, 1991).
9. Dos 14 membros d a co m, ssao , cm co eram d 11ct a o u 111 . d l . . r zaçáo d o poder do
10 . .. . . . . . :- F . d ai são m eca nism os e l e.scen tra i II · A pes9ui · 1,'1.1i,-'
• A Le, O rgan, ca Muni cipal e a Co nsmu1 çao -sta u . ·. legislação - . .
·
sa n1encHi 11aJa ro·1 rca- rIZaJJ pelo l l'l' UR - Instituto de l'o lÍlicis l't'1hl,.c.1>L,I·bJ ,w .- t'
árnbito federal para o loc a1, ga ranrind o a esse últim o a ucon o n1ia par a el aborar su:.1pr o pn :.1 . Un,vers,dadc Federal d , .
0 1
' 'º de Ja11ciru· Fo t,un
.. pl'squ .1saJo s 50 mu111( 1pw-;
. . d1-; · 1ri·1ll 11'J0 -, 1,ele>
P·" '·

147

148
tacado nesse histórico do FNRU, vale registrar
'l . I menta a ser d es . . que
dia, à edu cação, à saúd e, ao transpon e público , à aliment ação , ao trabalh o, ao lazer, e à Como u orno e e . íodos cíclicos de maior energia e atividade ,
. . , actenzada por per e po11-
informação . Inclui tamb ém o resp eit o às min o rias, a pluralidad e étni ca, sexual e cultural e sua rraJetóna e car . 'd d de atuação. Um dos ratores que respondern
, d de menor intens1 a e e, por
ao usufruto d e um espa ço culturalm ent e rico e div ersificad o, sem distinções d e gênero, rica e peno os ue se constitui enquanto rorum, ou seja as d·r
, • , ).ustamente porq ' Ire-
etnia, raça, linguagem e crenç a; Ge stã o d em oc ráti ca d a C id ad e, ent endid a como a forma esta caracten st1ca e _ têm interesses e agendas próprias e não é sern
•d d ue O compoem pre
de plan ejar, produzir , op erar e go ve rn ar as cidad es submetid as ao co ntrol e soc ial e à pa rti- rentes entl a es q _ . ia suficiente para garantir vitalidade a um esp
endas estao em sintan . . . aço
cipação d a soci ed ad e civil ; Função social d a Cid ad e e da Propri edad e, com o pr evalência que estas ag i. menta da Consntumte e dos eventos internacionai s
de articulação , como oi o mo .
do interesse co mum so br e o direito indi v idual d e propri edad e. É o uso soc ialment e justo
do espaço urban o p ara qu e os cidadão s se apropri em d o territ ór io , d emocra tizand o seus

2 0 Fórum Nacional de Reforma U~bana


espaços de pod er, d e produçã o e d e cultur a d entro do s p arâm etros d e justiça e da criação
das condi ções ambi entalment e su stentáv eis". (FNRU- folh eto d e apr esent ação) · Enquanto EspaçoPúblico Alternativo

Sua atual coordenação é formada pela s seguinte s organiz aç õe s : A Emenda Popular de Reforma Urbana teve um papel importante não apenas
· campo ·1nstitucional para a luta política . Sua formulação dependeu
porque ab nu o . . .
1) 0NGs : de um processo de interlocução entre os mov~mentos po~ulares, .ONGs, sindicatos e
ANSUR-Associação Nacional do Solo Urbano ; intelectuais , que foi O responsável pela própna construçao coleuva do conceito de
FASE_ Federação de Órgão s para As sistência Social e Educaci o nal ; reforma urbana , conforme atesta este depoimento :
PÓLIS _ Instituto de Estudos , Formação e Assessoria em Polític as Soc iai s
12
(atual secretaria executiva do FNRU) ; "No momento das emendas, a questão da reforma urbana era uma questão a ser construí-
2) Movimentos Populares : . da. Ela já estavapresente para as 0 NGs, pois o movimento popular era muito organizado
_ MNLM _ Movimento Nacional de Luta por Moradia ; em torno da reivindicaçãoà moradia. As pessoas formam movimento popular porque
UNMP - União Nacional por Moradia Popular; querem casa, não porque querem a reforma urbana. Então , a Constituinte foi um mo-
- CMP - Central de Movimentos Populares ; mento especial porque as pessoas tinham um cenário apropriado para apresentarsuas
3) Organizaçõe s sindicai s: . d e· E idéias, com um mecanismo garantindo, que era a Iniciativa Popular de Lei. E hoje seria
- FENAE- Federação Nacional das Associaçõe s de Funcionáno s a a1xa co- até interessante a gente pegar a proposta original e ver o quanto que não está na Consti-

n ô mic a Federal ; . . enh a ria · tuição mas que já está na prática e no discurso das pessoas, dos movimentos. Eu mesur-
FISENGE - Federação Intere stadual do s Sindicatos d e Eng , preendo quando vejo pessoas,em rodos os lugares, dando entrevistas, falando na impren-
FNA- Federação Nacional dos Arquitetos . sa, usando elementos que nunca usariam há dez anos atrás. A emenda teve este papel

· al N últim o, u importante; talvez se não tivesse a necessidade de produzir uma proposta concreta, um
rza seu encontro nac10n . o pen
De doi s em doi s a no s,
. . ·
°
FNRU rea
1
d
m pre sentes c erca e 50 e n
cidades de rod o o Bra - projeto de lei, a questão da reforma urbana ficasse muito abstrata . Ao produzir a emenda,
ocomd o em JUiho de 199 8 , estiver a . . N s encontro s, ren ova m - foi possível trazê-la para o concreto. A emenda conseguiu dar um a 'cara' para ela". (3)'
) ONG s s indicato s. esse
sil, entr e ela s mo v imento s popu are s, ' d . crizes d e aç ão par a o
.
se a coo rd enação e a se cretana - exe c uttva
.- d
.
d
e definem -se as !fe
d f, m a mai s ou m eno s
çã o ocorrem , e or
,? FNR~ possibilita às diferentes organizações a troca de experiências e a sociali:
próximo período . As reumoes a c oor ena zaçao de informaçõe s. Ne sse processo, uma determinada concepção de cidade :
regular, men salmente . con st ruída e passa ª fazer parte do univer so específico das diferentes entidades~E
exatamente por possibi·t·t ·
1 ar a inter l _ . ., • relaçoes
ocuçao entre diferentes expenenoa s e
.. " ·, da secrerari a exccu riva
com as carências urban _ . .. str ução do
. . ·cre 1:1ri.1- l' xec u riva do I:NRU . A rranstc1en~:~o sen1pre aco nn.:ce. por " ,, as que o FNRU traz como poss1b1lidade a con
12. Até ,~a rço de 2000 , a AN SU R ocupo u ·•. s\a l oco rrido <:111 jul ho J o m esm o"".º' c7Jades inrerna s e ,eri :t que novo E t " " re-
PJraou 1raentidade não espe ro u o cnco nu o nacao r ' . . t"' ·:1 ue esrava co 1n d ,ficu
. s e novo est eve expre sso na Emenda Popular de Reforma Urbana ap
conr, de urna Jc cisão Ja ANSUR de repassar essa rcspo n s:1b1lidacc , J· q .. n:io t~,i
. . . , . •IJb or, 1ção dcsrc r,xro ,
"'ºL li1.arsuas ene rgias para so luc1011á-las.
. . . .
. li J , ?000 e, .1rc ·1 e
correu e rn Jll ,o c:: - .
13. O ulwn o cnco n rru 11ac ro11al d o l·N RU O . _ u.: par ric rpar;1111
. • Ver anexo no final do capítulo.
possívdobrer as informaçõe s so br e o núm ero de: o rgan rz'1çoes q

!49 150
da à Assembléia Constituinte . O "novo " n - , .
senta d , ao e um mosaico de diferente s con . MNRU e posteriormente, o FNRU também ofer
óes que se acomo am, mas e o resultado possí l d . - úblicos como o i ' ecerarn
cepÇ ve e uma negociação que esta- em espaços P l •rura sobre a problemática das cidades :
beleceu patamares comuns sobre uma determinada questão . possibilidadesde uma nova et
Estamos compreendendo , portanto , que O Moviment N . a1
. . . - , o acion pe 1a Reforma , . - mútua'. Consigo falar sobre isso muito mais em
bana e depois a const1tu1çao do Forum Nacional d R e U r b ana produztram
. "Houve uma contaminaça0 . - . termos
Vr . . . . e e10rma . .• . ssoal Eu não sena quem sou, nao tena a atuação profi .
aços públicos que poss161lttaram a interlocução e a articul - d . . h da minhaexpenenc1ape · . , , . 1ss1onal
esp , . . . açao e SUJeito s ete- - tivesse'feito a mmha cabeça no forum , nestas arriculaço-e
que tenho se nao , . . _ . s, com
rogêneos que possmam 06Jet1vos . . comuns, e isso foi capaz d e d ar corpo a um ator
. d·c rentes Se tivesseficado so na universidade, nao tena saído d l
eºl etivo. Como
_ ator coleuvo, interpela
. a sociedade e o po d er pu, 61ico . , expoe _ movimentos ue · . . . o ugar.
,..,..as/quesroes/problemas que dizem respeito às formas de e l - · • • O que fez me mover, questionar o que u_nha aprendido , fo1 o contato direto com
te,.. . xc u soes e tnJusttça s
presentes na sooedade . De acordo com o próximo depoimento : modosde ver diferentes.Eu me transformeipor conta deste contato [...] Todo mundo
se transformou
". (9)*
"A Emenda Popular de Reforma Urbana serviu como instrumento imp ort ant e p ara
articular setor es que estavam atuando de forma específica para com eçar a p ensar mai s A partir dos depoimentos registrados , entendemos que o espaço comum d
globalmente a cidade, estab elecendo uma leitura sobr e est e tema que se contrapunh a interlocução gerado pelos atores envolvidos com a temática urbana , corp onuca
·e-. e-
à uadicional man eira como as políticas públicas eram construídas no Bra sil. O m éri - do no FNRU, teve e continua tendo uma função importante de propiciar 0 encon -
to é que saiu destas articulações uma conc epção de cidade baseada na ó tica de stes gru - tro entre experiênciasdiferentes. Esse encontro não fortalece apenas O l
. ator coe -
pos sociais". (2) * ttvo - o fato de a Constituição conter um capítulo de Política Urb ,
. . ana e prova
do fortalecimento do ator colettvo - mas fortalece e qualifica tamb,
· d' ·d • . em os atores
O fato de envolver diferentes organizações , que são portadoras de determinada s m 1v1ualmente_ msendos no processo. Essa qualificação tem um re f1exo impor· -
vivências e experiências, possibilita ao FNR U oferecer subsídios, elementos novo s tante nas atuaçoes de cada um, nos seus respectivos espaços de milit ' · /
atuação profissional. ancia e ou
para a qualificação de cada uma das organizações que dele participam . O próximo
depoimento de uma representante de movimento popular atesta isto : A noção de "espaçospúblicos alternativos" de Fraser (1995) . d
d · • . nos aJu a a com-
preen era importancia e os significadosda constituição dessas art1'c l - .
às · d d · ·1 , u açoes mternas
"A discussão dentro do qualifica a nossa intervenção . Quando você com eça a ter oc1e a e c1v1, corno e o caso do FNRU Par .
FN RU
esfera ública - , , . .' ª ª autora, numa sociedade em que a
outro referencial para além do direito à moradia, você muda o jeito de fazer as co isas. Por os seu~interes::ºe\~esrumeaf:vlel ao~h1stoncamente marginalizados e excluídos, onde
exemplo, nós não ocupamos, hoj e, áreas de proteção ambiental . Não sei se há dez an os as a as nao possuem e 1 · · 'd
presentes, a constituiça- d " l . spaço e egmm1 ade para se fazerem
0 e espaços a ternat " · b'l•
atrás a gente tinha este ripo de leitura. Outro exemplo : no final do s anos 80 , fizem os cimento de urna ident' d d 1
_ivos via 1za a construção e o forrale-
duas ocupações na zona leste de São Paulo . O qu e teria acontecido se n ós não tivéssem os 1 ª e comum. As artt l - d •• . .
possuem reivindicações cu açoes e SUJe1tosdiferenciados que
sido despejado s daquela ocupação ? Aquilo lá iria virar um favelão , porqu e ningu ém tinh a comuns produzem 'd d
sensos, e essesconsensos d ª oportum a e de negociação de con-
a preocupação com tamanho da rua, com nada. Cada famíli a mar cava o seu lor~ e 'b• . , apresenta os atrav, d .
O si 1ltdades de entrar na d , . es e um ator colettvo , têm maiores pos-
pronto. E como é que a gent e ocupa agora ? Com barraco s col etivos . A idéia é qu e ni_n- agen a publica da · d d
nas no momento em _ socie a e. Eles são fortalecidos não ape-
, · · ·star a terra atra vés da ne0 oc 1a- que sao apresent d
guem marqu e seu lot e, porque pnme1ro quer emos conqui . o quando vão permeando a _ ª os por um ator coletivo , mas também
- Depo1·s disto
· , fazer um proJeto
· ur b ani'sttco
· , d emar car o qu e será área públic a, a ru a es 'fi atuaçao e o discu d d' e .
çao. peci tcos de atuação p , . rso os trerentes sujeitos nos seus locais
· é qualid· ad e d e v1'd a. E ssas coi·sas for am send o co nstruíd as, por- 1
[···l, entendendo qu e isso Ê dessaforma o lt1cae profissional.
· que, se O conceito d ·d
que tinha e tem este espa ço [o FN RU]" . (3 ) * trajetória não é hegernônic . e ci ade que foi construído pelo FNRU nessasua
O
de par t
ª eSar presente n na esociedade b rasi·1eira, · ele conseguiu. ganhar leg1t1111
· · 1'da-
. l res m as que estav am in se- co . urna es1era , bl'
Para os setore s que não eram dos movimento s popu ª ' ·~ . .. , m Interlocutoresde out pu ica mais ampla, travando a disputa política
rid · 'd d xpenen cia s d e parttop açao cuia - · ros campos pol' · - ·
os na temáti ca urbana por meio da univ e rs1 a e , as e çoes Internas à socied d . . tttcos. E por isso que de forma geral, as aro-
a e c1v1! '
' que envolvem atores diferenciados , qualificam e
• Ver anexo no final do ca pítu lo . • Veranexo no final d0 ,
capnulo.

15 1

152
e alecern projetos para a disputa naquele s co aços como o FNRU que , possibilitando O e
rorr . n textos em que e st , bém foram os esp ncon-
. r de interesses diferentes, conflitantes
rna10 ·
1/4 É d'
nessa ireção
ª presente
d
um grau
. Importante tam . ulares contribuíram no processo de amadurec·
oro O diálogo que o FNRU proporciona ent . qu_e P
0
emos analisar 0 ovimentos pop ' , unen-
qua . . re O NGs, smd1cato · tro entre ONGSem . d radia. No decorrer da decada de 80, os mov·
ulares subs1d1a cada uma dessas entidades nos s e movimento s . d olíncas e mo ltnen
pop momentos em que t · I to de alternanvas e P_ . s ocupações de lotes nas cidades de grande -
ões corn as agências estatais . Conforme O dep . d ravam mter o- d'1 organizaram muita porre
cuÇ . otmento e um representante da tos de mora ª ~ p l F i um contexto de forte expressão e visibilidad d '
Central de Movunentos Populares : . . a1 te em Sao au o. o 15 e o
pnnop men . . s cidades brasileiras. Paralelamente, alguns núcle d
'fi . h b' acwnal existente na os e
de icit ª lt d' utir a questão da moradia através da autogestão
"Na caravana que fizemos em 1997, levando a Brasília, para o Poder Executivo e Pod er iversidadescomeçavam a isc . , pres-
Legislativo, as nossa s propostas para políticas públicas O FNRU .
un . a1 comunidades que trabalhavam com mut1rão, com de
, _ _ , nos assessorou no que diz tando assessoriasa gumas d l _ sta-
, • d Habitação da Faculdade e Be as Artes de Sao Paulo
respeito a elaboraçao da questao da reforma urban a". (8) * que para O Laboratono e , . ., . . _ , que
. .. d' ~ partir da referencia das expenenc1as de mut1roes do Urugu a1.
c1ou esta 1scussaoa
.
1111
Um outro exemplo pode ser encontrado nos avanços que ocorreram no âmbito No governo do Partido dos Trabalh~dor'e~ na cidade de São Pa~l~ , entre 1989_
da Caixa Econômica Federal (CEF), banco estatal que cent raliza os recursos do FGTS 1993, 0 programa de mutirões autogest1on~~10sga~ha porte de ~olmca pública. 'G
(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), destinados ao financiamento de mora - Baseadanesta experiência,a UNMP- Umao Nacional dos Movimentos por Mora-
dia. O próximo depoimento esclarece como a interlocução entre a associação dos dia Popular _ começa a pressionar o governo do estado de São Paulo para que este
funcionários da CEF e os movimentos de moradia, proporcionado pelo espaço do destinasserecursospara programa de mutirões . Através da pressão e negociação, final-
FNRU,foi fundamental neste processo : mente em 1995foi lançado o Programa Paulista de Mutirões . Os movimentos de
moradia tiveram um peso importante na elaboração de toda a concepção do progra-
"Durante roda a década de 80, iniciamos um processo na CEF de pensar sobre 'a Caixa ma, pois contavam com o acúmulo proporcionado pela experiência anterior realizada
que nós queremos ' . Porque a Caixa era um banco público mas não cumpria o papel na cidadede São Paulo. Como resultado deste processo, atualmente na CDHU - Com-
social que deveria. Achávamos que o FGTS deveria ser centralizado na CEF. Começamos panhia de DesenvolvimentoHabitacional e Urbano , órgão vinculado ao governo do
a realizar seminários com a participação dos trabalhadores da CEF, esclarecendo a neces- estado de São Paulo - existem 23.000 unidades de habitação sendo construídas atra-
sidade de que um banco público centralizasse os recursos do FGTS, pois assim o contro- vés de mutirão, sendo 5.000 unidades gerenciadas por associações filiadas à UNMP. O
le socialseria melhor garantido . Chegamos à conclusão de que para desencadear este pro- q~e nos interessa em toda esta discussão é exatamente a concepção de mutirão que
cesso era fundamental a participação dos movimentos populares . Inclusive porque onenta a atuação da UNMPe que está presente no formato do programa da CDHU:
tínhamos que convencê-los dessa necessidade . Essa aproximação com os movimentos , já
iniciada no processo constituinte, deu um grande salto em 1991 , 1992 . O resultado prá - "Paranós' maisimportanteque o mut'1rao- , ou seja,
· que o trabalho de construir
· as casas,
tico disso é que hoje ouvimos dos movimentos de moradia que a CEF avançou baSt ªnre . é a.autogestãoque o sistemade mut'1rao
- poss1 'b'l'
1na. N a autogestao,
- as pessoasque senam
·
Por exemplo , atua lm ente há uma maior disponibilidad e e um melhor acesso ao crédito objetos
_ · ai passam a ser sujeitos
de uma políticahabitac10n . . dessa polmca,
, . pois. terao
_ nas
de financiamento à moradia . Tudo isto foi resultado , nós não remos dúvidas, do poder maos
. o .controledo processo· Isso raz e ·
com que as pessoas expenmentem ·
outro npo de
- liberado
· · - d o movimento
· · terno que J. á existia na CEF
10 com cidadania,ondenão esperamt dO . d fi 'd
. .
1
u vir e 1n1o pe o poder público, mas onde elaspodem
de pressao com a aprox1maçao .
. . . direção da CEF e os mov1men- definir o upo de casa que 1
os movimentos populares . Pressionamos mternamente a ' b querem, qua material usar, escolher quem acompanharáa
o ra, controlaros recursosus d
tos e as assessorias pressionavam por fora" . (7)*
.
ª os neSta pol'ltlca, fazer uma gestão coletiva deste proces-
so. [....l , Isto possibilitat ,
ornar que e público, mais pu'bl '1coa1n
O · d a (....]".(3)*

- 15._Na sua pesquisa sobre os movimentosde . . - a-


çoesesnveram baseante presentes 1. . moiadia cm Sao Paulo, LAVERDI , 1999) mostra como essasocup
14 . . - . -r-1ntes ara qu e os sujeiras socia is m arginali - 16 O p
· rogramade Mutirões A
1
ª imprensa provo d
° • · 'blica
. ' , . can a temanzação do déficit habitacional na esleraP" . ·.
. Uma discussão sobre co m o os espaço s altc.:rnanvus sao 1111 Pº ' · Je Escudos Sobre ,1 pai de s- p I
zados se f, 1 . r • . 1
p G
J , ser e ncu nrr a<la em : rupo - . .ªº au o, nos anosde 1939 ucoge 199
snonanos co r · h . .
. ' . mo ro, c amado, desenvolveu-se na adm1111srra
- iu111c
ç:1o11
1-
Co orcacçam para interferir na e;:s1era pu 611ca ampa Pº e;:· , . . d · d · ·vil esle rapübli cae ges- çoesc1v1s atravésdo qual estasúltima 3. Cons1s11anum convênio estabelecido entre o poder público e associa·
- nScruçãoDemocr ática: "O s m ovime nro s sociais e J co nsr ru ção <le m ocra u ca: soc ie ª "'ci ' panhá-las, compravame escolhiam as geren_ c,ava~ os recursos das obras, concraravamassessoriatécnica paraaconi·
a associação.- 0 niatenal u11l1zad p . snruen>
taop.a~icipativa", Idéias 5(2)/6( 1) , 2000 , Uni ca mp , Ca mpinas , S I~ • sao os construtores das unid d . .º· or esse programa, os próprios moradores que con
er anexo no final do cap/ru lo . Veranexo no finald , a es hab11ac1onai s.
o cap11ul o.

153
154
Ha,, portanto , todo um universo de quesC
.
fc
oes re erentes à rela ~ Es . ºd ' · [ ] A UNMP tirou alguns princípios mu· I
. ·1permeando a negociação desta políti . çao tado/soc1eda- ber corrupção , interessesparti anos ... . . ,. . ito caros,
de c1v1 ca JUnto ao pod 'bl" . . . . dº d d CDHU que ela estabelecesse cntenos para a inclusãode e 'd
a discussão mais ampla da gestão demo , . d . er pu ico que é fruto mclus1ve re1vmtean o a nri a-
de urn crat1ca a cidade d l' ·
c,ra discussão foi realizada nos mais div e as po 1t1casurba- desno programà'. (3)*
nas. e,;, ersos espaços de enc .
vimentos populares, os centros de assessorias d ontros, nos quais
os !11O e setores O pod , 61"
eram propostas de políticas públicas, nas qua · . d d . ~r pu ico ama- Conforme o próximo depoimento do responsável pelo Programa de Mutirões da
durec . is a soc1e a e CIVll aparecia com
ovo papel. Nesse contexto, toda a discussão sob E d CDHU :
umn . , . re ª men a Popular de Refor-
maur bana ' e depois o propno FNRU, teve um papel ·m
1 portante :
"Algumas entidadesvão mal intencionadas para fazero contrato com a CDHU. Tivernos
"O surgimentodos núcleos nas universidadesque discuti'am a autogestao
_ na decada
, problemascom mutirõescom orçamentosuperfarurado, desvio de verba [...]. Acháva -
de
mos que íamoster que fazer parceriacom a Secretaria de SegurançaPública, auditoria,
80 estavatambém
.
permeado pela discussão
. .
da reforma urbana. tr tudo multo
. mter
. 1,ga-
.
do. Logodepois, com o PT na administração de São Paulo, muitaspessoasque já faziam etc. Mascomeçoa observar, e já até falei issocom o governador, que os próprios rnovi-
estadiscussãoforam para o poder público e levaram esta discussãodos trabalhos com mentosbuscaminstrumentos de fiscalização". (10)*
mutirão
". (11)*
Em face do exposto, é importante sublinhar a dupl a dimensão que os espaços
Discussãoque tinha no FNRU uma referência, mas que também estava presente públicosalternativos
possuem. De um lado, conseguem mobilizar energias para colo-
emoutrosespaços de discussão, outros espaços de encontros . Assim, podemos afir- car na agenda pública uma determinada questão. De outro lado, subsidiam os dife-
marqueO FNRU não foi o único, mas certamente foi um espaço importante onde os rentes atores com novos referenciais e qualificam suas intervenções políticas. Levan-
diferentesatores se "cruzaram " e puderam refletir e fortalecer uma proposta de polí- do em consideração os "encontros com o Estado", essa qualificação é fundamental
ticahabitacionalque hoje, como pontuou um depoimento, não é só uma experiên- para legitimar os atores sociais no processo de interlocução que aí se estabelece.
cia, masjá ganhou, pela proporção que tem, status de política pública: "O mutirão
nãoé maisuma experiência , o Mutirão jd é uma política''. (9) * 1,
Importantetambém salientar que a UNMP traz para o processo de interlocução 3. A Relação FNRu/Congresso Nacional no Processo
juntoà CDHU O referencial mais amplo da gestão democrática da cidade e um con- de A~ompanhan;i~nroda Regulamentação do
juntode outros elementos que fazem parte da plataforma de reforma urbana defen- Capitulo de Polmca Urbana da Constituição
didapeloFNRU:
. no seu surgimento, O FNRU 1-,a t"mh a como um dos obJetlvos
Logo . . importantes
atuar )Unto ao CongressoNacional (CN)
"[...] rodavezque a gente vai sentar com a CDH U, sempre está lá: o controlepúblico, e ,. Ub para que este regulamentasse os princípios
da Po1mca r ana presentes na Consti . ~ d
umasériede outras coisasreivindicadaspelo FNRU". (3)* . ~ ~ . tuiçao e 1988. Esta atuação se dá atravésda
inter1ocuçao e pressao)Unto aos arlam . - . .
. P entares, promoçao e pam c1pação em deba-
e b h a "capilaridade", ou seja, é colo- tes sobre os projetos de lei· divul - d . f,
· ' gaçao as m a rmações sobre o andamento dos pro-
Assim o referencialda re1orma ur ana gan ª um d jetos para outros atores da sociedade ci ·1 .
' . . d · de interface entre Esta o e ara travar a · 1 _ . vi e amc ulação de ações comuns com estes
cadona pauta de discussão dos mais vana os canais . , P Inter ocuçao e pressionar d d .
. . . b' ualificar os movimentos na pra- rentes à política urbana. os eputa os a apreciarem os projetos rde-
soc
1edade.Esse referencial conmbui tam em para q
ricadaautogestão: 0 principal projeto acompanhado 1O .
da Cidade Proi·eto d L . pe rNRU no Congresso Nacional é o Esraturo
" ] fi . lan ado em junho de 1995, muitas ' e e1 nu 5788/90 ·
Estatuto da Cidade é h . ' que partIU do Senado Federal em 1990. O
Depoisqueo programade mutirões [da COHU 01 ç ' programa, ' como con ec1do e . . . .
ºd . ~ V' . s destas ao entrarempara o capítulo de Política U b . ' em como pnn c1pal06Jet1vo regulamentar0
ennadescomeçarama reivindicaro mumao. arta ' . C mos a perce- r ana contido na C . .- , . .

----
- . radaspara isso. omeça regulamentarO uso _ onmcuiçao. Nele esta prevista proposra pará
naotinhamacúmulona discussão, não estavamprepa e a ocupaçao da pro . d d
pne a e urbana, visando garantir que e5ra
• Ver anexo no Íinal do capítulo.
• Veranexono final do cap/rulo.

155 156
rnpra sua função social, tese centra l d a plataforma d r b 3 .1. A relaçãoFNRU!Congresso
Nacional:
cu . b, e rerorm a ur ana defendida pelo
iRLJEste proJeto tam em estabelece as dir etrize s p ara .d d . .
FN · , . qu e a c1 a e seJa planeJada de
e rna dernocranca, pr even do o Plano Diretor co mo d . cutivo principalmente o municipal, foi o alvo pri-
ror . um esses me cani smo s. De forma gerai, o Po d er Exe ' . . _
Após dez anos d e um a tramita ção lenta n a Câ mara d D d . . . d d • ·1b ileira para conquistar a democrat1zaçao do Estado .
. . os ep uta os, o Estatuto v1leg1adoda sooe a e CIVI ras . . l ·d
Cidade foi aprovado pela Comissão de Desenvolvimento U b I . , C N ·onal (cN) sempre foi visto pe a soC1e ade com des-
da . r ano e nten or 0 fato e que o ongresso ao . . . . "
(cDLJI)do Congresso ~acional no dia 1º/ l 2/ 1999 e seguiu então para a Comissão cre'd.1to muito
• gran d e. Conforme nos dizem F1gueuedo e L1mong1 . . : O Congresso
.
de Constituiç ão e Ju stiça . O proces so de aprovação de ste projeto pela C DU! contou Nacional (CN) é uma das raras unanimidades ou quase una~1m1dades nacionais :
corn uma ativa presença do FNRU junto aos depurado s, principalm ente junto ao poucos arriscariam defendê-lo em público . Qualificativos negat _1vos não faltam : ino-
depurado relator d a matéria e também presidente de sta comissão, Inácio Arruda , do perante, paralisado, clienrelista, ausente e tantos outros . Para citar apenas exemplos
rcdo 8 _ Partido Comunista do Bra sil - do Estado do Ceará . retirados das manchetes recentes dos jornais : para 43% da população, o CN é total -
Durante rodo esse período de tram itaç ão no CN, o Estatuto da Ci dad e foi tema de mente dispensável. Para 55% dos entrevistados, a atuação do CN é tida como
muitosdebates no interior do FNRU e entre este e outro s atores da socieda de , como 0 ruim/péssima. Apenas 8% acreditam que o CN é ótimo" (Figueiredo e Limongi ,
sECOVI- Sindicato da s Empresas de Compra, Venda , Locação , Admini st ração de 1994 : 24) .17
Imóveise Condomínios - que repre senta os interesses do setor imobiliário . Como Apenas recentemente verifica-se a emergência de um discurso por parte dos ato-
conseqüência, a versão original do projeto so freu várias alterações . De toda forma, a res da sociedade civil procurando chamar a atenção para a necessidade de se criarem
suaaprovação pela CDU! foi um importante passo na direção de regulament ar princí- mecanismos de controle social sobre o Legislativo, e até mesmo sobre o Judiciário .18
piosimportantes contidos no capítulo de Política Urbana da Constituição : O próximo depoimento aponta alguns elementos que respondem por essa mudan -
ça de postura em relação ao CN :
"[...] é até possível que o sub stitutivo aprovado hoj e não seja perfeit o, mas respeita o pro-
cessode negociação que se arrasta há quase uma década ". (Inform ativo da secretaria exe- "O papel que o CN se prestava até pouco tempo atrás era um papel que nos fazia desa-
cutivado FNRU, 1Q/ l 2/ 1999) creditar nesta instituição. A aceitação do CN como uma instituição que funciona veio a
partir do impeachment do presidente Collor, em 1993 . Este episódio fez com que a
Dois outro s projetos acompanhados pelo FNRU são : o Parcelamento do Solo e o sociedade fizesseuma outra leitura, a de que alguma coisa era possível realizar[ ...]. A par-
FundoNacional de Moradia Popular . Este último foi apresentado so b forma de ini- tir do momento em que a bancada dos partidos de esquerda começou a aumentar, o
ciativapopular de lei em 1991 e contou, para sua elaboração , com a participa ção do Congresso começou a ter um papel mais valorizado [...]. Você também começa a ter uma
FNRU . O principal objetivo de ste projeto de lei é criar um fund o co m recursos pú~li - · O s d eputados rrad1oona1s
nova configuração mesmo na bancada d os parti'd os d e d'!feita. · · ·
cospara ser destin ado ao financiamento de habitação às famílias com renda baLxa. deste. campo
.. começaram
. a perder espa d
ço para outros o mesmo campo mas que tem ' d1s-
·
Oprojeto prevê a cr iação de um conselho com a parti cipa ção d a socie dad e civil para ponib1hdade maior para o diálogo· N-ao que estes pensem como a gente , mas eles acei- ·
tam negociar, ceder alguns pontos". (7)*
gerir esse fundo .
O Fundo também tem qu e enfr enta r ainda um processo lo n go de tramit ação no
e O episódio, do. imneachment dO ·d C li
ongressoaté chegar às m ãos do Pr es 1'd ent e d a R ep u' bl'ICa . .para ser
. sancio nado . _ r presi ente o orem 1993, deposto do cargo em
, • itóna no dia 20/10/1999, razao de denuncias e provas de corr - . .. .
Porem , este projeto também contou com uma imp o rtant e v , d d d l . upçao, proporcionou um aumento da leo-1rnm -
0
· e . . • - J · (CCJ) da Camara d os a e o CN pe a sociedade brasileir AI ' d' d0
poisro1 aprovado pela Com issão d e Co n st1tu1çao e USttÇa ª· em isso, a sua configuração tem passa
D d. fi s importantes no pro- por a1gumas mu d anças : aumento d b d .
eputados. O FNRU e os movimento s de mora ta oram atore _ ª anca a dos partidos de esquerda e mudança
. ·. bT ar a sua aprovaçao . na b anca d a conservadora que, de ois d 1 . - ,
cessode interlocução com os deputados d a CC J para via iz I . P e ª gum tempo de expenmentaçao dernocra-
e orno podemos perceber , nos últimos meses e
d 1999 a atuação do FNRU iunto
. _ d d
aoC . Porém a lenudao o an a- 17 . Os dado s ap resent ados neste artigo foram ret' .
ongresso Naciona l trouxe resultados importantes . ' . . _ de S.Paulo, 19.2. 1993 . irados de uma pesquisa de opinião publiuda pelo jornal Fo/hil
llle · , · da Const1tu1çao rornem -
nto dos projeto s no CN, dificultando que os pnncipws . d _ .. . 18. O _INESC - Instit uto de Escudo s Socioeco nômi cos - , , - .. . b·e-
se efe . , . - der úb lico, ena um e:sg.1:ste nvo atuar JUIH O ao Congresso N· . 1 c, e uma ONG que, JJ ha algum tempo, tem como o 1
rivamente parametro para as mtervençoe s do P 0 P , acion a ' ,azend o o qu e eh d ", b
Ver anexo no fina l do capítul o. ama e w by soc ial".
Porpane dos atores da sociedade civi l que amam neS t e campo .

157 158
·ca aceita a negociação com setores de outros campos 0 l' . E
rt ' l · d P Itlcos . ssas mudança s ,, teve um importante papel. Com o próximo d .
duzem novas e1turas os atores sociai s em rel - d dos "do campo . . " . epo1rn
pro . . açao ao CN e em relação às diver - os eputa b o FN RU conseguiu agu no ambno do s do · en-
sas forças presentes no seu mtenor : ro, podemo s perce er como is projetos
do seu interesse :
"Temos.que pensar também como podemo s ter mais infl uenc1a , · sob re os d eputado s nao _
" . balhO de apresentação do FN RU para os depurados novos d (' .
n ecessanamente do campo da esquerda. O Eduardo '? brinca com a gent d' d .
e 1zen o assim: Fizemosum tra . a - oll1 1sç
'se a gente não fizer nada , a. votação é sempre 4 a 1 para eles' . A corre1açao
- d e rorças
e
.
de Desenvo1v1mento
Urbano e da Comissão de Fmanças . Fomos nós que nu
.
.
' rn 1 interio-
ªº
no
Congressoé esta. Não precisa nem votar , já sabemos O resultado . Portanto, hoje tem que - deputados apresentamos nomes para a relarona destes proJ·eto E
cuçao com os ' . _ . s. ntão
undo 1·á foi aprovado pela Com1ssao de Finanças e a Lei de [) '
ser uma questão fundam ental para nós ampliar nossos int erlocutor es, conseguir ter essa esse resu1tado (o F . . esenvol-
interlocução que deve ser mais centrada no cont eúdo dos projeto s". (3)* . U b no deve ser aprovada até o final do ano) fo1em cima desse trab Ih
v1mento r a . . ,. . a o que a
e Se a gente não nvesse atuado, ido a Bras1lia, tentando cnar este deb
gente 1ez. . . , ,, * ate, com
"É importante ampliar nosso espaço no Congresso . [...] Os contato s antes eram peque- toda a certeza estes dois projetos estanam parados la no CN . (2)
nos, hoje em dia conhecemos muito mais parlamentares . [...] Existe um preconceito
aindagrande em torno da idéia de que apenas o pessoal da esquerda tem propo stas boas. Conforme já mencionado, houve uma ~nterlocução muito próxima entre O FNRU
Muitasvezes isto é um equívoco . Por exemplo, quando o Gustavo Krause era depurado e O presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano deputado Inácio Arruda
pelo PFL, 2º a ANSU R foi lá conversar com ele e a conversa foi muito boa. Se as relações do PC do B, onde o Estatuto da Cidade se encontrava . Por meio desse diílo go, o'
[entreO FNRU e determinadas forças no Congresso] se cristalizam, isto dificulta a nego- deputado comprometeu -se a apressar a tramitação deste projeto na comis i,ão e foi
ciaçãocom as outras [forças]" . (5) * um dos que contribuíram para a realização de um seminário sobre ele, ocorrido
em setembro . Além disso, o FNRU foi um importante parceiro da presidência dessa
É com essa preocupação que no começo do ano de 1.999, início da nova legis- comissão para a organização e realização do evento : I Conferência das Cidades,
latura, 0 FNRU promoveu uma visita de apresentação aos deputados . Nessa ocasião , que ocorreu no início de dezembro de 1999 . Segundo o deputado Inácio Arruda
FNRU mostrou seu interesse em se constituir interlocutor junto aos deputado ~ que "a Conferência pretende assegurar a()Sdiversos atores envolvidos no processo de dis~
0
1mm parte das comissões onde estavam o Estatuto da Cidade e o Fundo Nac10nal
e
. cuss~o~ ~la~oraç~o de políticas e de intervenção no espaço urbano (gestor{s públi-
de Moradia. No entanto, não há dúvida de que os vínculos e os compromissos _q~e cos, m1C1at1vapnvada, organizações da moradia, classistas e não-governamentais e à
ligamO FNRU a alguns deputados do campo de esquerda no CN ainda são a pnnc1 - sociedade em_ geral), um momento de b usca d e so luçoes
- acerca d os aspectos insen-
· ·
pal porca de entrada para o exercício de pressão : dos na queSrao urbana, num espaço político privilegiado , o Parlamento "."'
Essa atuação do FNRU junto ao Congresso está mais fortalecida pelo fato de que,
"Seo Estatuto da Cidade for aprovado, vai ser uma vitória de quase quinze anos. O F~RU recentemente ' o FNRU consegu IU, · atraves' d e uma d as entl ·d ades presente s na sua
teveum papel fundamental neste processo [de pressionar o Congr~sso a ~ar ate~çao a coordenação
_ ' um assessor paramentar
I exc l us1vamente
. orientado para mediar. essa
· d arlamentar es do campo • Se nao fos- relaçao:. agendar reuniões com os d eputa d os, e1ornecer ·informações do andamento
este projeto]. Claro que contamos com o apo10 e P .
f. as coisas não tenam andado, porque d os projetos, analisar a cor 1 - d e
sem eles, se contássemos apenas com a nossa orça, ,, * . re açao e rnrças que estão atuando em torno desses pro-
e ais present e no Congre sso . O ) Jetos etc. Esse assessor tev 1· - d
não temos meios e recursos para acuar d e rorma m e um pape importante para agendar a apresentaçao 0
FNRU aos novos deput d . , . ,.
d . ª os no micio do ano de 1999 . Aliás, tem sido uma prauca
. o a do Fundo de Moradia pelas ca a vez mais constante a 'd l . ao
Tanto a aprovação do Estatuto da Cidade com nte s da Co N . ssumi a pe as organizações sociais que atuam Junco
d' " · úblicas um pouco ª ngresso acional · contrat . 1 , spe-
comissões onde estavam contaram com au iencia s P . _ FNRU e .r d . · ar uma espécie de assessor parlamentar, a guem e
." . essa arocu 1açao entre 0 eia iza o em mediar relaç- I e ·i· , -ra o
sua aprovação. Para a realização dessas au d iencias, seg · d . ao. sso iaci !tara o trabalho do FNRU pois, como are~
Ulnte epo1menro é d raros
pessoalmente : ' sempre esgastante 1r até Brasília para fazer os con
l9. Eduardo Jo rge, de pu rado fed e ral pelo PT/ SI'. . d d' 'd ê n cias no campo do con junto das
º·
2 PFL: Panido d a Fre m e Lib e ra l. Esre p a rt id o fo i c riad o a p a rrir as
1551

forçaspolíticas que apoiava m o regi m e mi lirar no Bras il.


• Veranexo no fina l do capí tul o . ; ~e; ane~~ no final do capítul o
. orna olo Urbano, Ano xv·, 1 l /99 , nº 46 .

159
160
"O acompanham ento do Legislativ o é complicado d . e é a intensidade de Medidas Provisórias já editad
_ porqu e ca a vez qu e temo s que 1r a ter urgente . O rato que h, b 1· - as pelo
Brasília, fazer contatos e pressao sobre os deputado , e .
,l . anos nos mostra que a uma ana izaçao, um esvazia
.. A • s e um esrorço mu1to grand e, é uma
ergia mobilizada . Voce tem que sair do cotidiano para ac h _ . governo nestes u umos A • menta
22
eO ompan ar esta questao mais da sua prerrogativa de urgencia . . . .
nacional". (3)*
. mostra a análise de Figueiredo e Limongi, 0 pod d
Além disso, como nos . er en-
ntralizado em duas estruturas : a Mesa Diretora e O C ,
"[...] os movimentos sociais, principalmente os movimentos de massa, tem d"fi uo do c N é b astante ce O1e-
1 1cu!dad es
A

. d L'd res 23 Essa estrutura restringe bastante o poder e a função das co"" ·
de estrutura mesmo . Para fazer acompanhamento parlamentar, ou você tem uma sede g 10 e i e . b . d l . «11s-
- - on d e d eve ria haver o debate so re os proJetos
soes e eis - e rest ttnge
.
ero Brasília, ou "Iobbysta" contratado , ou então tem que ficar se deslocando para o
, 'pri ·o plenário dos deputados como espaço de debate . Tudo é a
Congresso". (5) * tam b em o pro . cor-
dado nesses espaços centralizados . Qua~do o Execut1~0 tem de ne~ociar com o CN
A acuação junto às esferas executivas canaliza o investimento de energia das orga - alguma lei do seu interesse, "vê minimizadas as suas _incertezas e dificuldades pró-
prias de uma negociação descentralizada . O Execut:vo ~assa a se relacionar dire-
:r
izaçõessociais para um único interlocutor, que tem um poder maior para concreti-
as propostas de políticas . A atuação no Congresso Nacional, ao contrário, é feita
comuma certa dispersão , pois os projetos de interesse dos movimentos sociais estão
tamente com O Colégio de Líderes, a quem tambem interessa, para firmar sua
liderança institucional, reduzir as incertezas do conflito político" (Figueiredo e
emdiferentes comissões, que têm diferentes configurações de correlação de forças : Limongi, 1994: 197). É importante registrar que o Colégio de Líderes tem O poder
de pedir regime de urgência para determinados projetos, e esse dispositivo tam-
"Sehá um conselho municipal ou estadual, dependendo do seu carát er, ele tem incidên - bém acaba sendo usado de forma banalizada, conforme o jogo de interesses pre-
ciasobre as políticas públicas. Junto ao Congresso, as iniciativas são muito disper sas. :É sentes em torno dos projetos de lei . Ou seja, a combinação entre os mecanismos
um investimento de energia muito grande. Os "Iobbys" são feitos e não há muita coor- disponíveis que regulam o funcionamento do CN e a correlação de forças políticas
denação da agenda dos movimentos . Cada um vai lá para defender 'o seu' ". (5) * existentes em torno de determinados projetos determina a lentidão ou a rapidez
com que tramitam nessa instituição .
Apesarde o CN estar aos poucos entrando na agenda política da soci~dade como es~e- Estamos, portanto, tratando de uma instituição que oferece dificuldades para
rapossívelde intervenção política, podemos perceber, através dos depoimento s anteno- que a pressão da sociedade civil, feita geralmente nas comissões, produza resultados
res, algunsfatores que respondem pelas dificuldades presentes neste tipo de atuação . efetivos, pois essa estrutura dentro do CN é esvaziada de poder . O Colégio de Líde-
res e a Mesa Diretora são instâncias menos acessíveis à possibilidade de interlocução
com a sociedade civil.
3.2. CongressoNacional: a estrutura institucional e a cultura que a O resultado que isso traz é que o Executivo ainda continua sendo a esfera de
alimenta e a reforça poder com capacidade real de dar conseqüências concretas às reivindicações das
organizações sociais . Os projetos de interesse do governo federal, por exemplo, são
Temos de levar em consideração que as dificuldades que permeiam a democrati- analisados e aprovados sem grande demora no CN, em contraste com o andamento
zaçãodas relações entre a sociedade civil e o CN brasileiro enc~ntr~m _uma explica- de outros projetos . Podemos citar, como exemplo, o fato de o Congresso Nacional
çãotambém importante na forma como este está estruturado msntucwnalmente e ter aprovado um projeto de lei em 1997, que havia sido apresentado no mesmo ano,
nacultura política· ·
que alimenta .e
e re10rça a1guns aspec tos presentes nessa . estrutura. . instituindo o SFI - Sistema Financeiro Imobiliário . O projeto foi de iniciativa do
· ·
A Consmuição de 1988 recuperou po eres od d CN que haviam sido . reorado .. s governo federal que, segundo o FNRU, contou com setores dos empresários da cons-
. . ( 196 4 -19 8 4) . Apesar dºisso , 0 Poder
duranteo período autontáno _ Execunvo , unli- trução civil para sua formulação :
. . . d ntrole multo forte para deter-
zando-sede alguns dispo smvos, contmua ten o um co . . .
• d L
minara agenda e o ritmo de trabalho do Po er egis anvo · 1 · . Um desses
. d1sposmvos
. , 22. Co nforme div 1 · . Henrique .:diroUe
'e a Med1da
· Provisória, que confere ao governo re e d 1 oder de editar leis de cara-

---
O . u gou O Jornal Folhade S.Paulo, no di a 2/ l 2/ 1999 , o govcrno Fernando . , 3 vezes.
era P reed,rou3 .223MPsdesdel995 O 'd . . d . .. d'sposinvo 8 0 . . 0
· s pre s, ente s ante cesso res, d esde 1985 , hav iam usa o esse 1• d' 0 sinv
H á, atualmente , uma proposta d 1 · d 0 S d . . . .0 desre ,sp
. e e, ena o em di scus são no C N par a colocar l11111c es ao us
, . de uJ,--
-~er anexo no fin al d o capícul o. pelo Execunvo fede ral.
23
, · A Mesa Dir ~tora é com po sta pelo presidente d a Câma ra, sec retár io e o utro s au xiliares. O Cokg,o
res e formado pelas liderança s dos partidos político s.
!61
162
"Sópara.se ter. uma idéia da diferença de tratamento, Iembre-se de que o projeto
• dos . d . l ~ Ap esar di sso , é importante men cionar qu e no cont e
nesse np o e inter ocu çao. . ., . ., ~ . Xto
nipresánosfoi apresentado ao Congresso Nacional no me1·0 d •, de diferent es mo vimento s popular es o Pod er Jud1C1ano Jª n ao é m ais uma esfera dis-
e . o ano e Ja se encontra san-
cionado pelo Presidente da República [...], enquanto que o Projeto do Fundo Nacional . ' l de se tornar aliada em algun s casos:
tant e, 1mposs1ve
de Moradia ~opu_lar - apresentado em 1991 - enfrenta vários obstáculos no seu pro-
cessode tram1ta çao. A grande vantagem alegada no projeto do SFI é a extensãodo meca- "Na década de 80 houve muitos conflitos em torn o da terra nas cidades com as ocupa-
nismo da alienação fiduciária para a aquisição de imóveis urbanos, 0 que garante maior ções. O embate com O Judiciário, naquele período, era mu ito mais difícil do qu e é hoje.
segu rança para os chamados investidores. Tal mecanismo propicia uma retomada ime- Eu, particularmente, acho que hoje, se formos verificar a jur isprud ência sobre esta ques-
diarado imóvel caso o comprador atrase o pagamentodas prestações". (FNRU _ Relató- tão dos conflitos de terra, há muito mais decisões favoráveis às pessoas qu e ocupam cole-
riode atividades - período: janeiro a setembro de 1997) tivamente as áreas urbanas do que na década de 80 . Acho qu e isto se deve ao aum ento
dos casos de conflitos que chegaram ao Judiciário. Os operadores do D ireito começaram
A fragilidadedo CN brasileiro como espaço público de debate amplo e transpa- a ter que enfrentar esta realidade. Ho je, temos, por exempl o, associações de juízes pela
rente - que é conseqüência da combinação de sua estrutura institucional centrali- democracia. Então, de fato, o FNRU, enqu anto articulação, não tem esta inte rlocução
zada e da forma como o jogo de interesses presentes faz uso desta estrutura - e a com o Judiciário, mas os movimentos estão estabelecendo essa int erlocu ção no contexto
falta de uma relação mais horizontal entre as esferas de poder são os maiores obstá- das suas realidades". (2)*
culosparaque as relações entre o legislativo e a sociedade civil sejam mais democrá-
ticas. Essa fragilidade tem origem nos remotos períodos da história brasileira, onde
0 PoderExecutivofoi sempre exercido de forma centralizada e, não raro, autoritá- 3 .3 . A ção institucional e ação societá ria: duas dimensões da lut a pela
ria, mesmo nos momentos onde vigorou o regime democrático. Reforma Urbana
Todasas dificuldades aqui mencionadas respondem pelo longo período de per-
manênciados projetos de leis de interesse do FNRU no CN, sem que eles possam se Em um caso específico , a n ão-regulamentação do Capítulo de Polític a U rbana
constituir efetivamente como parâmetro legal de intervenção no espaço urbano. da Co nstirui_ção não foi ob stáculo para a elaboração de uma lei muni cipal determ i-
Conforme o depurado federal do Partido dos Trabalhadores pelo estado de Minas ~a ndo a ap~icação do IPTU (Impo sto Predial e Territorial Urbano ) Pro gressivo -
Gerais, NilmárioMiranda, que foi um interlocutor importante para o FNRU duran- ~mp or:ante 1~ S t rum e~t~ que permite taxar as propriedades ociosas que n ão atend em
tetodo o esforço de regulamentar o Capítulo de Política Urbana da Constituição : a fun çao social . O pro x1mo depoimento é esclarecedor ne sta direção :
"Infelizmente , a imediata aplicabilidade dos princípios e normas de nossa Consti-
tuição Cidadã vem padecendo graças a uma canhestra interpretação. k grandes "Quando você estabelece no campo · · ·
normativo um conJunto de novas regras, se isto não
matérias do interesse do capital são sempre sujeiras ao beneplácito da auto-aplica-
for acompanha do por um processo cultur al, não se consolida mesmo[ ...]. Em Porto Ale-
ção.Contudo, os projetos de interesse do trabalho e da cidadania se arrastam na gre, por exemplo, após experiência de d d - , • • ·d
. , ez anos e gestao publi ca democrán ca, a lei o
dependência de leis regulamentadoras . Esse tem sido o caso do Estatuto da Cid~- IPTU Progressivo esta sendo aplicad A l • .
de".14Ou seja, a não aplicabilidade imediata do Capítulo de Política Urbana conti- . . ª· e, que permit e isto na cidade poderia estar sendo
quemona da, mas foi estabelecido u d . . .
donaConstituição tem sido um obstáculo grande para a efetividade de instrumen - . , . m processo e negociação ent re o governo mu111 c1pal
e os propnetanos e estes passaram a . .
tosurbaní sticos destinados a democratizar o uso e a ocupação do solo urbano. Nessa d . , . pagar mais imp ostos porqu e não estavam atenden-
o o pnn c1p10 da função social da . d d - ,. ,
questão, temos ainda alguns elementos que devem ser levados em consideração. propn e a e. Entao, esse processo polit1co e fund3 -
menta 1; se ele não existe o question
· · ·s d e ap1icar
Em casos de tentativas de governos munic1pa1 · , os instrumentos con- obstáculo". (2)" ' amemo sobre a legalidade vai sempr e ent rar como
c •• -
t"1dosna onsmu1ção sem lei federal regu Iamenta d ora, a m · terpretação do Judiciário
. .
e· dec,s1va
· · e quase sempre negativa. Portanto , a esrera
e · d. · ' · t mbém se consmu1
JU iciana ª Qu and o um a dete rmin ad a lei m
numa importante
· .
instituição a ser levad a em cons1'd eraça~ 0 para os avanços da. refor-
. n ôm icos ar . d
ra1ga os no esp aço urb
exe com as estrutur as d e p o d er e int eresses eco-
ma urbanano Brasil. Não está, porém , na agenda política atual do FNRU mveStlf sob re um a qu est- . d . ano, como é o caso do I PTU Pro g ress ivo, qu e age

-----
ao muit o el1cad a n 0 b . . d -
caso ras1le 1ro (o p o d er qu e ad vém a pro

l SoloUrbano
24·Jorna , ano XI, março/abril- 1998, n• 39. • Ver anexo no final d o capítulo .

163
164
priedade da terra), ela c~r _re o risco de não ter muita eficácia, se não for acompanha- mente seja respeitada e garantida . As organizações sociais têm um papel fu d
. _ n a-
da por um processo polmco que permita mudanças nas concepções sobre a cidade mental _ para além de lutar pelos avanços na 1egis 1açao - de construir e d"
. ssa is-
or parte da sociedade . A plataforma da Reforma Urbana, com a qual o FNRU tra ~ pura política e cultural na sociedade . É possível dizer que muitos avanços já fora
~alha,contém princípi~s ~ue objetivam alterar fortemente as relações de poder exis- realizados nessa dimensão cultural e política. Citamos anteriormente O caso rn
tentes nas cidades brasileiras . Certamente, esta é uma dimensão importante para Judiciário , que está menos resistente a uma leitura que leve em considera ão do
compreendermos todos os obstáculos existentes para a regulamentação do Capítulo problemas sociais dos conflitos de terra . O próximo depoimento também ç os
aponta
de Política Urbana da Constituição e também para se ter a devida idéia de que este outros avanços:
capírulo, mesmo regulamentado, ainda exigirá um longo processo de lura e negocia -
ão para vigorar de faro . "Eu acho que a política urbana teve um avanço enorme no país em direçã
ç Como exemplo disso, podemos citar as mudanças legislativas ocorridas na esfe- o a essa pauta
(reformaurbana). Por exemplo, ninguém hoje mais fala em desfavelament _
ra municipal . A partir de 1988, houve avanços significativos na elaboração das Leis , . o, em remoçao
Qual e o governohoie que fala em remoção?Hoje, urbanizar favela regula · l ·
Orgânicas Municipais influenciadas pela lura reformista no campo do direito à cida- . f . , nzar e co ocar
m ra-estrutura virou uma palavra de ordem [...]. Estou vinte e cinco an b Ih
de. De acordo com a pesquisa do IPPUR/UFRJ anteriormente mencionada, dos 50 . . os tra a ando
com isso e smto uma diferençamuito grande do que é O padrão da P (' · b
municípios pesquisados, 25 continham, nas suas leis orgânicas, a tese do "direito à Ti _ . . . o ltlca ur ana ho·e
udo bem, a exclusao,d1stnbu1çãode renda permanecem como bl •, . J •
cidade", entendido, de forma geral, como acesso universal aos serviços de infra - M - ,. pro emas serussimos
. as na questao da poliuca urbana alguns patamares foram superados e 'd -r .
estrutura urbana, moradia e lazer . Vários municípios previam a criação de instru - isso é fi d · h venci os. 1 udo
. ruto essacamm ada dos movimentos e dessas articulações e do fac d ,
mentos de controle do uso e da ocupação do solo urbano . Também, em várias leis vai formand fi · · 0 e que voce
o pro 1ss10nais com outra cabeça que também - b . d
orgânicasestão previstos instrumentos para democratizar a gestão da cidade: orça - d , vao a nn o espaços nos s
campos. e trabalho para criar outras formas de atuar e intervir na cidade Cl . eus
mento participativo, obrigatoriedade de prestação de contas do Executivo para a
tem muito caminho pela frente, mas se olhar para trás perceber . ar~ que ainda
população, possibilidade de apresentação pela população de projetos de leis, audiên - nejament b ai ' como era a visão de pia-
ciaspúblicas, conselhos gestores de políticas públicas, planos diretores . Essa mesma o ur ano, toe mente despolitizado,tecnocrático, eu sinto que andamos". (9)*
pesquisaidentifica, porém, que há dificuldades para que esses avanços no campo da
Esses avanços são conseqüências tanto da luta di . . . .
legislaçãose transformem em instrumentos concretos de políticas públicas (Ribeiro, alterar os parâmetros legais d d - d , . ng1da mais especificamente para
1995).Várias orientações inscritas nas Leis Orgânicas não se efetivaram e os muni - e pro uçao e pohucas c b,
to d o o processo de mobilização - d . orno tam em, certamente , de
cípiosonde elas realmente foram transformadas em instrumentos concretos de for- e pressao os movi 1
te na década de 80, estes con , . mentos popu ares. Principalmen -
mulaçãode políticas públicas, na sua grande maioria, foram ou são governados por stru1ram suas arucula - .
tornaram-se visíveis como · · çoes internas, fortaleceram-se e
partidospolíticos que têm o compromisso com a reforma urbana : - SUJenosportadores de d" · . .
çoes e passeatas realizadas Fo ,l . uenos nas mais diversas ocupa-
' bl' . ram estas u umas m . d .
pu ico e da sociedade que "b , ane1ras e Interpelações do poder
"NasLeisOrgânicas e nas Constituições Estaduais 'têm a no ssa mão '. O FNRU é reconhe- . contn u1ram para u .
guissem qualificar a questão b q e os movimentos urbanos conse-
cidopor ter participado deste processo . Agora, evidente que elas [as leis] só se efetivaram . ur ana como questã 0 0 l' .
)Unto ao Congresso para garant ' l . l _ P It!Ca no país . A negociação
concretamentenos governos petistas . Por exemplo, no Rio de Janeiro , conseguimos um - d ir eg1saçoes que fi . .
PlanoDiretor superavançado , mas não foi implementado nenhum a linh a. Então, esta é
truçao e outras formas de m b'l• ª1tmem O d1te1to à cidade e a cons-
o I tzação se comp 1ementam :
a grande questão para nós : o que significa o avanço da institucionalidad e? Essa é uma
"As duas ações têm • .
discussãocomplicada, pois quem heg emoniza a elaboração das política s ainda não é o que ex1st1r
, essa é que é d
campo leg·1s1attvo
· se você nã a ver ade· V<oce, nao- consegue avançosno
nosso campo". (!) *
gue a I' o tem movimento social .
P tear nada que exista 1 . presSionando e também não conse-
pressi d na ei se não tem 111 • . . . .
Se, por um lado, inscrever uma reivindicação na lei é condição para que ela onan o. Por outro lado vo , ovimemo soCiaJorganizado, ex1g111do ,
tura dent d d . , ce também vai confi d . . .
figurecomo direito, por outro lado, este passo não é suficiente para que ela real - . ro ª or em mstitucional. E iguran o as re1v1nd1cações em aber-
contradiçã0 - . u acho que é . , ,
nao existe, na verd d é um movimento de vai e vém. Esta
----:---
Ver anexo no final do capitu lo.
a e uma 1
comp ementaridade". (9)*
• Ver anexo no final do capítulo.

165

166
_ E' ível perceber a existên cia de um consenso sob
A combinação de uma ação institucional_ ue , . . , . ua aruaçao . po ss . re a
· q e aquela feita Junto às estruturas referencia para s e ais pre sente junto aos movimento s locai s. Segu
olíticas existentes, tanto a executiva quanto 1 •l . "d d
necess1 a e de o FNRU se razer m
. ern
P e al .
olrada para rort ecer e qualificar O poder d
ª egis ativa
- d
- e uma ação societária_
. três depoim ento s que expressam esse consenso .
v , d b lh e pressao os movimentos sociais rea-
lizada acraves o era a o de base e de mobilizaçã 0 _ é d e. '
d . um esano presente atual - _ stá presente na dimensão local. Ele quase não aparece e"'
mente para o campo os movimentos sociais no Brasil O d fi . "Atualmente, o FNRU nao e ...
. . . . esa 10 consiste em con -
seguir reunir energias suficientes para dar conta d - ,b . lugar nenhum". (l)*
, . . _ esse equ1 11 no . 1sso também
envolve a propna d1scussao de. como deve ser esse equi·li'br 10.
· A pesar d e ter se cons- fio de dialogar com as pessoas que estão fazendo reforma urba
"O FNRU enfrenta o desa -
tituído no contexto da necessidade percebida de atuar J·unto ao C N para via · b. . , . -r e haver espaços para encontrar estas pessoas. Não é suficiente que
111zar a na na pratica. 1em qu
regulame~ta~ão do Capítulo de Política Urbana da Constituição, é preciso conside-
0
róus , a FASE ou a ANSUR façam isto. t necessário que o Fórum faça. Eu não sei bem
rar que ex1snram, desde o nascedouro do FNRU, algumas organizações que manifes-
como superar esta dificuldade, mas o desafio é penetrar mais onde as coisas estão acon_
taram divergências sobre como deveria se dar - e que peso deveria ter_ esta atua-
tecendo". (3)*
ção do FNRU junto às estruturas institucionais :
"A atuação [do FNRU] é eficiente junto aos organismos estatais e distante da maioria dos
"A questão básica que permeava esta divergência na época era a questão que estava em movimentos de moradia do Brasil. Isso ocorre devido à diversidade de movimentos com
roda a esquerda: vale a pena entrar nas articulações nacionais, enfrentar o Congresso? O graus muito diferenciados de organização e mobilização". (12) *
Congresso é o espaço que leva à alguma mudança, à transformação? A necessidade pre-
sente para as pessoas era o trabalho de base, nos locais". (l)* Essa preocupação, apesar de ser consensual no interior do FNRU, não con segue
ser desdobrada para ações concretas . O elemento principal que responde por essa
Essa divergência esteve presente, de forma mais ou menos intensa, na trajetória dificuldade é a falta de um debate político interno sobre como cada entidade emen-
do FNRU: de qual deve ser a natureza dessa relação do FNRU com os movimentos e as lutas
locais. O s próximos depoimentos, ao expressarem posições diferenciadas sobre o
"Sempre houve uma grande discussão em torno do FNRU, desde o processo da Consti - papel do FNRU no processo de interlocução com o Congresso Nacional e com o setor
tuinte, ter priorizado o campo institucional, a articulação em torno destas legislações imobiliário na questão das legislações, expressam leituras diferenciadas que ilumi-
que estão no Congresso, a lei de desenvolvimento urbano e depois o fundo nacional de nam este ponto :
moradia". (2)*
"Em 94, esta disputa política estava bastante presente . Havia divergência sobre esta atua- "Em relação ao Fundo Nacional de Moradia, havia uma discussão do fórum _com seto-
ção em Brasília, muito centrada no campo institucional, parlamentar ". (6)* res parlamentares representantes dos empreiteiros . Essa representação do FNRU era feita
sem legitimidade. Havia, na verdade, uma auto-representação do FNRU, e isso era ques-
"Teve um momento em que o fórum se dividiu: um grupo priorizava uma ação institu - tionado". (6)*
cional no Congresso para regulamentar as leis e outro achava que tinha que organizar os
movimentos na base, politizar, fazer ocupações, enfim, tensionar essa história da cidade "A presença do FNRU como interlocutõr , tanto na questão da Lei de Desenvolvimento
Urbano, como na questao - dO pun do Nacional
. · Pºr-
de Moradia , foi extremament e nca
pelo movimento . Durante anos, o fórum ficou brigando internamente por causa dessas
posições" . (9)* qu~ estes setores ligados ao campo da reforma urbana puderam estabelecer um process~
de mterlocução com os at d" • . .d. s poli-
. . ores tra 1c10na1s, que sempre negociaram e dect iram ª ..
·
Relacionada . A • to problemático : o tipo de ucas no Brasil: o setor empresarial e o poder público [...]. Houve justamente a possib1li-
a essa d1vergenc1a encontra-se um pon
1 _ d . b l om O conJ· unto dos atores dade de trazer as reivind· - d 1· " (2)'
re açao que o FNRU estabelece, ou evena esta e ecer, c , tcaçoes os setores populares para este debat e púb ico ·
. l b nos_ que esta atuando
sociais - particularmente os movimentos popu ares ur ª . _
e tem nessa arnculaçao uma Enquanto um de · e . pre-
com o tema da reforma urbana e que, d e a 1guma rorma, poimento enrat1za a pouca legitimidade do FNRU para estar
sente numa esfera pública . . , . ern rela-
mais ampla como decorrência da sua distancia
' Ver anexo no final do ca pítul o . • Ver anexo no final do capítu lo .

167
168
ção aos movirr_1e~~os, o our~o Asublinha a importância dessa presença porque propor -
. nou a poss1b1lidade de por numa mesa de negoci·aça-o" a concepçao - d os atores na luta pela reforma urbana, enquanto que as 0NGs e os sindicatos se constit . .
cio ,, . . l - u1narn
ligados ao campo da reforma urbana . como suJ'eitos que "assessoram os movimentos . A arucu açao entre 0NGs rn .
. . , ovirnen-
Estamos querendo mo str ar que , em torno desta discu ssão sobre a atuação insti - tos populares e sindicatos sempre foi tomada como um passo importante P c
. . ara rona-
rucional e ação ~o~ietária , há outras que stões envolvidas que precisam ser explicita - lecer as propostas e as ações de mudanças soc1a1s,porém , esta pesqui sa ident'fi
. . . , l ica que
das. Há um preJUIZOquando essas questões não são explicitadas , porque o debate cada um desses suJe1tos parece manter expectativas reciprocas que , em rn .
não consegue formular saídas para o que é considerado consensualmente como um momentos, não correspon dem aqui ' ·1o que cad a uma d as ent1'd a d es está con Uttos
. eretamen-
problema: te disposta a assumir como papel.
De forma geral, a falta de debate interno é identificado como problem .
"Acho que tem sentido a crítica de que o FNRU tem investido apenas no campo institucio- .
rior do FNRU:
a no Inte-
nal.Mas, se a gente for ver bem, esta crítica não é só em relação a isso, porque, na dimensão
local, os atores também estão trabalhando bastante no campo institucional. Então, tem que "Acho que o principal problema do fórum é que a gente não consegue m .
discutirmelhor, porque já se constatou os problemas, mas não foi dado conseqüência polí- , • internas
genc1as. [...]". (5)* apear as d1ver-
ticapara isso". (5)*
"Esta coordenaçãonão enfrenta os problemas, não enfrenta a necessidade d d .
nuidade às - - e ar conn-
Aqui é necessário fazer algumas ponderações . Claro que a falta de amadureci - suas açoes, nao consegueamadurecer o debate político interno [ ] " ( 1 ·e
nossos) ... · , gnros
mento das divergências internas age como um complicador nessa dificuldade que o
FNRUencontra para estar mais presente "nas bases ", ou melhor , estar mais presente "As entidadesentendem que o fórum tem pa ,. d' c
no cotidiano dos movimentos locais . No entanto, não podemos deixar de mencio- pe1s 11erentes ( ] S d' • •
sem para o debate político . . . .. . e estas 1vergenc1a
s fos-
nar que a sociedade civil brasileira, de forma geral, vive atualmente o desafio de criar , quem estivesseinteressado no FN RU debateria". (4)*
novas alternativas para o trabalho chamado "de base" , para as ações societárias . A
O próximo depoimento nos fornece ai um .
forma como esse trabalho se realizou nos anos 70 e 80 cumpriu um papel impor - da falta da explicitação da d·c g as pistas para compreender as causas
s l!erentes com - .
tantíssimo naquela conjuntura. Mas , nos anos 90, os movimentos se modificaram , preensoes no interior do fórum :
suas estruturas tornaram-se complexas, suas relações com os "antigos" centros de "Nesseembaceocorridoao longo d
assessoriastambém foram alteradas e eles tiveram de construir novas maneiras de . o tempo as p · - . ,
tansmo quando as divergê . ' os1çoesJa se estigmatizaram [ ] Há sec-
mobilização. Ou seja, a formulação de propostas para ativar as energias "das bases", ura e ncias são apresentadas [ ] . , . . ... .
P m torno de concepções M h . ... Ainda ha disputa por espaço, d1s-
garantir uma relação mais próxima entre esta e as estruturas de direção ou, mai s . as OJeos c d
onren ores não estão tão ativos". (6)'
recentemente, de articulação , como é o caso do FNRU, é um desafio hoje presente Um dos desafios que o
para grande parte das organizações sociais. dade de dis - FNRU enfrenta, atualm ,
. cussao política, para q dº e ente, e o de recuperar a sua inrensi-
De qualquer forma , internamente ao FNRUa falta de explicitação das divergências debate Interno C Ue as !rerentes -
· aso contrário O FNRU d concepçoes se façam presentes no
não se limita a esta questão sobre a sua legitimidade para estar numa esfera pública espaço público d •e ' P0 e perder O Ih d , · ·
·c e rnan1restaçãodas d·c que e a a 1dent1dade:ser um
mais ampla, mas também é fato para um conjunto de outras questões . Nessa direção , qu al1ucar a pro st d l!erenças ,
, • po a e Reforrn U b ' que e O que garante a possibilidade de
vale mencionar a própria maneira como cada entidade compreende O seu pape! e 0 mnma com o d fi10 a r ana. Ess d afi .
for esa de se renov . e es 10 parece ter um a relação muno
papel das outras no interior do FNRU. Os depoimentos expõem queixas das segurntes am sempre os ar intername . ,.
na . . mesmos a assurn· nte , pois, ao longo da sua rrajerona,
ordens: "as outras entidades não priorizam o FNRU", "as 0NGs exercem uma prepon - est1gmat1zaçãod irem deterrni d .
do FNRU essas posições p . l na as posiçõe s políticas e isso resultou
derância muito grande no FNRU", "os movimentos são muito passivos dentro do na atuaçã0 . . . an1cu arm . 1
FNRU" F · , perceber tambem , que h a, algumas ]ei'turas no interior do FNRU instnucional , ente, na discussão sobre qual é o pape
· 01 poss1vel , esta e urna e . , .
• "A J . . xigencia acentuada , dado que:
que compreendem que os movimentos popu lares d evenam
· ter um papel de direção

---
ura mstnucional é rn .
Cidade". (9)* uno grande aind - d
a, nao se resume à aprovação do Esraruro :1
'\é er anexo no fina l do capítu lo .
~
er anexo no final do capít ulo
169

170
4. Iniciativas de Interlocução c G
om O overno Federal , . d T b lhadores) no Conselho Curador do FGTS (Fundo d
(Central Umca os ira a . . e
. T d Serviço). A presença desta pessoa no tntenor da SEPUR
O FNRUfoi um ator importante no contexto d . l _ . Garantia por 1empo e . ll
. . · fl · . _ ª amcu açao da sociedade civil
brasileira para m uenciar as d1scussoes ocorridas n E /92 gerou em algumas en tI
·dades que fazem parte do FNRU expectativas na direção d
e
Istambul em 1996 . E sses eventos produziram mo
ª co d ee na Conferencia
.
de
A •

_ d
construçao e um can
al de interlocução entre o governo federal e o FNRU e de con
. , . . . _ s-
mento s e rorte articulação dos - de po!'mca· s urbanas nacionais sensíveis as re1vmdicaçoes dos movimentos
movimentos populares e das ONGs brasileiras que trab Ih , . truçoes , . , . e
A • a am com a temauca urba - de outros atores sociais que trabalham com a remanca urbana. O prox1mo depoi-
na. Destas duas conferencias, saíram dois document . A d.
, . os . a gen a 21 e a Agenda
Habitat, que trazem uma sene de compromissos estabelecidos entre as auto .d d mento atesta a presença dessa expectativa:
.. d nae s
e organizações sociais com o esenvolvimento sustentável O mei·o b' •
. , am 1ente e a Jus-
tiçasoCial. "Na volta de Istambul, estávamostentando construir um canal de interlocução com 0
O FNRU afirma compromisso de divulgar esses documentos na sociedade bra - governo,pois no eventofoi mostradoque havia um certo acordo entre nós e o governo.
sileira e de ser um agente a contribuir para que esses acordos sejam cumpridos EnquantoFENAE, tínhamosuma proximidadecom o Ortega, e, então, começamosa vis-
no país. lumbrarestapossibilidadede interlocução". (7)*
Em 1997, houve um período de negociações entre o FNRU e a SEPURB(Secreta -
ria Nacional de Políticas Urbanas), órgão vinculado ao governo federal e hoje extin- Em um artigo, além de registrar que o Plano Nacional de Habitação de 1996
to , com a intenção de discutir a implementação dos acordos da Agenda Habitat no elaborado pela SEPURBcontinha avanços25 em relação às tradicionais propostas de
Brasil.Durante essa interlocução, a SEPURB comprometeu-se a criar um Conselho política habitacional elaboradas no país, Maricato também revela que a presença
Nacional de Política Urbana . Essa interlocução não produziu resultados concretos . de Edson Ortega na SEPURBsomava para gerar expectativas na direção de constru-
As avaliações feitas pelos atores do FNRU ressaltam duas questões . De um lado , ção de políticas urbanas sensíveis às reivindicações históricas dos movimentos :
haviafalta de compromisso do governo com essa negociação . De outro, ressalta-se a "para ocupar a Diretoria de Habitação da SEPURB,o governo convidou um profis-
própria fragilidade do FNRU nessa interlocução com a SEPURB. Vamos explorar cada sional competente , conhecedor do assunto e ex-representante da CUT no Conse-
umadessas avaliações , tentando compreender as possibilidades que o FNRU tem para lho Curador do FGTS, Edson Ortega" (Maricato, 1998:73) . Segundo a autora, essa
se constituir como interlocutor do governo federal na questão da política urbana. expectativa que o governo federal gerou em relação à política urbana no Brasil
começou com o próprio fato de criar uma Secretaria de Política Urbana que inte-
grava as políticas setoriais de habitação e saneamento . Esse desenho institucional
4.1. Elementos para refletir sobre os espaços públicos de interlocução com o sinalizavaa p~ssibilidade da elaboração de políticas segundo uma ótica global dos
Estado problemas ex,stentes nas cidades brasileiras, integrando a temática da habitação e
do saneamento.
O governo federal adotou, no episódio da Conferência Habitat e na interlocução Contrastando com essas sinalizaçoes
- positivas,
·· os d ocumentos oficiais não resul-
com o FNRU, uma postura ambígua . De um lado, elaborou um Plano Nacional de taram em ações efetivas· gasto · ·ri •
,. . . • u-se s1gni 1canvamente menos do que o previsto na
Açao- voJtad o para o estabelecimento
· d e uma po J'mca · ur·b ª na nacional que , segundo
. po11t1cahab1tac1onalO e · , B . .
e , . . '. om1te rasi1eiro para a HabitatII foi fechado e a SEPURB
1 · 1 '
e e, me u1a as proposições do acor o mternac1ona l d ª Conferência
d · · 'J~
do Hab1tat,
..
mas se mostrou uag,I rnsutucionalment fi ,
e1 . · · haviam parnc1pado do C' E , . e rente a outros orgãos federais como a CEF-
que 01 elaborado sem a participação dos atores soCiais que . A • .al a1xa conom1caFederal (banco est 1 , . ' . - ,
C0 · b d 1996 esse com1te fo, ofiCI - dito à morad· f: , . ata responsavel pela operac1onal1zaçao de cre-
mne Brasileiro para a Habitat li . Em outu ro e
A
' _ ia para as am1l1asd d b ·
. . . . .dade de interlocuçao com e ren a a1xa e média) (Maricato , 1998). Além
rnenrefechado , obstruindo as poss1b1l1dades de contmUI . d
o 1996 um Plano Nac10na 1 e
s atores sociais . Por outro lado, além de preparar em • • 1· d 25. Alguns dos avanços registrados .
H b' . e outros atores soc1a1s ,ga os ro, da exrensã0 d d' • por Mancara nesse pia .- " .
ª nação sensível às reivindicações dos movimentos • - d . os ire1tos de cidadania· r
nhec1menro da r 1 • . . •
h .
' econ ec1111
, no sao: rcconhcc11nenro da cidade ilegal e, porran-
ento da im . ,. _. d - . ,. , . .. - -
a , . . . .. d d ' cutir com o FNRU a cnaçao e e evancia da participação d . pon anua a quesrao fun d 1ana e mb an1snc:1,re<0
essa remanca , sinalizou uma d1spo01bilidade e ,s , d d SEl'URI3por esse eonselho de Políric- U b emocrática na gesrã0 d- I" . . . 1
d . ª r ana; reconhecimento d , . ª po lt1c 1 habn ac1onal a traves da proposr.i ' 0
urnConseIh o Nacional . , . U r b ana .
de Polmca o
r esponsavel entro ª . d ·i c uT
as de rendas mais 6 · " (
d ..
.
aixas Mancam, 1998· 72)
e que o defirn hab' . · I . .
uactona se concent ra de form:1radical n.JSC 1111•1

pro . d Ort ega ex-repre sentant e • ª m1ur a necessidad d 1 · · O urro eleme · J
• \é e e iaver uma diversidad d 1 . nto 11nporranre qu e esre Pl:1110 continh:1cr.1 o , e
cesso de Interlocução com o FNRU era E son ' er anexo no final do capítulo. e e a ternauvas para o atendimento da demanda po r mor:iJia.

17 1
172
disso, não se concretizou a construção d
discutido com o FNRU .
26 ° Conselho N · l
aciona de Política Urbana . h .
"[...) existe no FNRU 01euma co
mpreensão, como també m na esqu erda de forma geral
, , •
As leitura s do, s diferentes participa ntes d o FNRU sob . . h de 'convencer O Governo . Nos sabemos qu e o Governo muitas
de acred 1tar nessa 1tn a
percebidasatraves dos próximos depoimentos : re esse proce sso podem ser - obilização atende nossas reivindicações . Eu não discordo da
vezes nem com pressao e m .
.11nporcanc1a
, . da questao - ,p roposiriva' , mas há um exagero em torno disso porqu e O pro-

"O recuo [do governo em relação à polít' b blema do Brasil não é falta de propostas, mas de vontade política ". (8)*
. . . ica ur ana] é tal que
dável hoje ms1snr numa cobrança quanto à elab _ nem parece ser recornen-
- , l oraçao pelo Governo d e . Esse tipo de leitura está sintonizado com uma atitude mai s ampla, presente hoje
Planode Açao compat1ve com as resoluçõ d C e , . e um erenvo
es a onrerenc1a de Istamb 1 ( ) na sociedade civil bra sileira , de qu estionar so br e se vale ou não a pen a neg ocia r e,
verifica é um total descaso da SEPURB inclus · u ... · O que se
, ive quanto ao seu ' . PI portanto , assumir uma postura propositiva com o Estado em todas as situaçõese pos-
(AdailRibeiro - ANSUR)27 propno ano de Ação".
sibilidadesexistentes. Se, por um lado , os espaços público s de negociação constituí -
"O Governo, na área de política urbana, foi decepcion T. h ._ ,. dos entre as agências estatais e setore s da sociedade permitem a po ssibilid ade de
_ . ante. en o urna v1sao critica nega-
tivade roda a atuaçao da Secretana de Política Urbana d d O demo cratizar os processos de formulação de políticas , por outro, eles não estão isen-
es e processo da Conferência
de Istambul. Nunca ficou claro quais eram as propostas do G overno nesta área".(2)* tos de se constituírem em espaços com pouca capacidade de dar conseqüência às
negociaçõe s construídas no seu interior . É desse fato que decorre o que stionament o
A partir dessas ambigüidadespresentes nas ações do governo , pod emos cons1·d e- anteriormente apre sentado , poi s as energias inve stidas numa interlocução com 0
rarum elemento importante que essa experiência entre O FNRU e a SEPURB levantou. Estado têm o poder de absorver fortemente a rotina das organizaçõe s sociais , e isso
Eleestá expresso no próximo depoimento : pode trazer prejuízos para as possibilidade s de reprodução ou criação de outras alter-
nativa s de atuação política que talvez se mostrem mais eficazes . Não se trata de negar
"Teve todo um esforço para juntar as pessoas para a Conferência do Habitat e rodo 0
todo o avanço que os múltiplo s canais de interface entre poder público e sociedade
processode discussão não teve rebatimento algum. Como é que você explica que depois civil produziram para a democratização do país durante a década de 90. Parec e haver
de rodo este esforço, que foi um momento de vitalidade do FNRU, não teve desdobra- no campo societário hoje , porém, um processo de avaliação sobre esses resultado s
mentoalgum? Talvez a gente encontre a explicação aí: durante o período pós-conferên- que aponta menos para a direção de negá -los e mais para a direção de (re)de scobrir
cia, a principal atividade do FNRU foi tentar articular com a SEPURB a continuidade ~qu~las .for~as d~ atuação não necessariamente voltadas à participação em canais
daquelacomissão para criar o Conselho Nacional de Política Urbana . O FNRU teve um . _ com o Estado . E-
mst1tuc10na1s de mterlocução d·c, ·1d'1zer mais· so b re os s1gn1
1r1c1 · ·fiica-
dos desse proce sso de .avahaçao porque ele ainda esta' aflorand o, nao
- pro d uzrn· resu1-
grau de muito boa vontade com os companheiros pretensamente progressistas da SEPURB!
ta d os concretos ou evidentes ainda.
Quando a SEPURB quis, 'dissipou isso no ar'. Nó s questionamo s essa história do F RU
ficarpendurado na SEPURB. [ ... ] . O Governo não é bobo , quando vai para a discussão já
vaicom um propósito definido ". (6)* 4.2. As dificuldadesdo FNRU d •
no processo e interlocuçãocom a SEPURB
O depoimento anterior registra uma posição crítica em relação ao faro de F~R U ° Para além da co n stataçao
- d e que a SEPURII f, .
investir energias nas negociações com a SEPURB, pois não havia , segundo eSt ª l~H~- não tiveram vontad ,. e O governo ederal, no seu con1unto ,
0 1
e P ltlca para concret · ·
ra, comprometimento do Governo com aquele espaço de discussão . O espaço publi - Política Urbana h , 1 · . izar ª cnaç ão do Conselho Nacional de
, a enuras a respeito da t _ . ..
coconstituído entre o FNRU e a SEPURB estava esvaziado de pod er. processo . O s pró xi d . ª uaçao e 1espon sab1lidade do FNRU neste
mo s epo1mentos ressalt f ·1·
Segundo o pró ximo depoimento : tituir num interlocutor f, . , am as rag1 idade s do FNRU para se cons-
one )Unto a SEPURII:

. . is6dio de negociação com o FNRU ralvez


26. Um depoimento que expressasse a leitura Ja SEPURB sobre ess< ep _ r • ossível, após vári,1s ren- "Qualquer tipo de interlocução com o d , .
nos . d ·1 . . . . • . • ·oc ·sso No cnranw , nao oi P energia maior por pan d . P_º er publico requ er um a articula ção maior, uma
3JU assea l ummar aspecros unporrant es prcsen rcs nesse p r e.. . d Ed O rrega. que, arualmen-
ra,· . . 1• · .. ,1rricularmenre a e son e os atores soc1a1s E . .
rvas,conseguir um depormcnro que expressasse essa crrura, P· · isso o FNRU não tem atualmen te. As ennda-
reesrávinculado ao governo do Esrado de São Paulo. , • 36
27· Esse depoimcnro encontra-se no Jornal Solo Urbano, sec./out .l l 9 97 • ano X, n ·
• Ver anexo no Í!nal <lo capírulo.
· Veranexo no final do capírulo.

173 174
des estão voltadas para ª sua at uação local. Isso fragilizou o FNRU na interlocução com a . ~ d UR teve alguma respon sab ilidade na diftculd a-
s1ruaçao a ANS
SEPURB". (l) * Certamente, eSt a . l"dad e política interna.
. . 1 de manter uma vira 1 .
de v1v1dape FNRU ° . d .
d f: ror vános epo1men
tos registraram o fato d e que as diferentes
"Apesardas dificuldades e da ausência de uma pessoa permanente em Brasília, cob ramos do Como segun
ºd d
ª ' ° ., rºcipar am do FNRU, estão hoje pri orizando
algumas que Jª par 1 . .
governo a implem entação da Agend a Habit ar. " (4, grifos nossos) entl a es, mesmo de envolvimento de nova s part1c1pações no
d 0 !'rica
1 e que o processo
outra agen ª P d lataform a de reform a urb ana que mobilize
"Para efetivar este canal de interlocução com a SEPURB, deveríamos ter dirigido muito FNRU depend e da construção e uma P

mais esforços. Deveríamos ench er a paci ência , ir lá conversar , 'fazer da SEPURB a nossa novamente :
casa"'. (7)*
. . incor orar novasparticipações". (5)*
"O FNRU precisaser mais arranvopara P
Esses depoimento s nos fornecem pi sta s par a compreender como a dinâmica de os setores que já lutaram pela reforma urbana
"É reciso pensar num processo em que ,
um fórum , que articula diferente s entidade s que têm agendas própria s e espaços P , · ta questão como os geografos, por exemplo [...].
encontrem novamente ressonanc1anes ' . ~
diferenciados de atuação política , pode causar dificuldades para a ocupação e con - . , . h • tra que as prioridade s das orgamzaçoes foram se
Existe uma dmam1ca, oJe, que mos
solidação de um espaço de interlocução junto ao poder público . O proce sso de , d [ J Para que a plataforma de reforma urbana se
diversificando durante este peno o. ··· ·
negociação com o Estado exige das organizações sociai s um grau perm anente de potencialize novamente é preciso considerar essa nova conjuntura ". (2)*
funcionamento e a garantia con stante de energia política para o seu próprio forta le-
cimento, que é difícil de manter no caso de um fórum : · , · d os anos 90, o FNRU representava um espaço para a articulação de dife-
No m1e10
· ~ soe1a1s
rentes orgamzaçoes · · q ue , de alguma forma , trabalhavam com a temática
_ das
"Quando você tem a realidade de diferente s entidades que sentam um dia no máximo ·d d ' t almente os espaços se diversificaram bastante . Existem , por
c1 a es; porem , a u , . , , _
para resolver as coisas, fica difícil. As entid ades não vivem para o fórum , cada uma tem exemplo , a Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental,_ que tambem e um~ arti-
suaspróprias atividades, seu dia-a-dia". (7)* culação de diferentes organizações que discutem espec1ficamen _te a questao . do
saneamento , e O Fórum Nacional de Participação Popular, que articula as orgamza-
Foi possível identificar, porém, algumas fragilidades que o FNRU apresentou ne ste ções em torno da temática da gestão democrática das cidades . Várias entidades que
29
processoque são específicas da su a dinâmica . Não necessariamente são explicadas participam da coordenação do FNRU também compõem estas outras articulaçóes :
pelo farode ser ele uma articulação . Então , o tema da reforma urbana já não é mais tão aglutinador como antes , pois,
Em primeiro lugar , ca be observar que a entidade que exerceu a secretaria execu- dependendo do quanto uma ou outra temática ganhe relevância na agenda política
tiva do FNRU até março de 2.000 , a ANSUR, viveu neste último período um momen- do país, surge uma articulação própria de organizações sociais para trabalhar com
28
to político difícil e um a instabilidade financ ei ra que se acentuou no último ano . ela. Segundo algumas leituras, o tema da reforma urbana , na verdade , sempre
Essacrise política vívida internamente pela ANS UR refletiu na sua tarefa de ser secre- encontrou dificuldade para ser mobilizador , pois remete a uma discussão global das
tariaexecutiva do FNRU, como a te sta o próximo depoimento : questões urbanas que é difícil de ser assimilada:

"Acho que o trabalho da ANSU R como secretaria executi va do F RU foi 'co nt aminado ' "Não é que o tema da reforma urbana está fragilizado, ele, na verdade 'nunca pegou'.
pelaprópria crise da ANSU R. Se a ANSU R tivesse maior capaci dade operaciona l interna , Não está muito claro, nunca esteve muito claro. Isto tem relação com a forma de gestão
poderiadedicar maior en ergia ao FN RU" . (5) * das políticas setoriais. Política urbana, geral, é muito abstrata . Até entr e nós existe uma
dificuldade de discutir políticas urbanas de forma que recortem estas questões (sanea-

-:---
Ver anexo no final do capítul o . • Ver anexo no final do caphu lo.
ba/ha~8.
Antes de se consriruir co m o O NG em 199 1, a ANSUR era um a arcicu laçfo d e di versos mov i,~-~n rns <]U L' rr:'.- 2,9. l~odemos perceber corno existem "poncos" de ligação c11rre as difercnres redes exisrcnres. Isso, obviamen[t',
no . an, com a questão urbana. Essa p assagem d e arri cula ção p ara O N L fo i um p rocesso inrerno d1hc d, q11l'o n g1- rnmbem e reproduzido no âmbiro das redes . . ·
, . _ .
· , . .
1ransnaciona1s. 1or exemplo, há enridad es que pam c1pam O .,
J FNRL'e
d,t Coalizaçao lnternac1onaldo Habirar red - , . · 1
t , u_atéa saída de algumas lider anças . O m o ment o atu al d e difi culdad e vivido pela ,I N ~U R é fru rn de v:írios faror l'S u·~ _ ' e que air,cu a orga11.1zaçocs
_ ,. , .·
de van os pa1ses. Percebe-se, ass1111, ' 1
uc :is
Ctrtan1t11teu J 1 . r crentes redes esrao sempre rendo a possibi/'d d, d - .. , [r 111
s-
' ni e e; ainda guar d a relação co m esre processo . • • • •
1
ª t.: e nao apenas trocarem" info rmações , nu s rnuru :tlll ê lll t: ·
m111rnovos temas, rníluenciar agendas.

17 5
176
menro, habitação , transport
. . e). . Porque tudo é setor iºaliºzado na cab eça d as pessoas, as pro - Para concluir esta parte do trabalho , vale registrar que , apesar de todas as dificul-
fissões, as est ruturas lnStltucionai s são setorializadas e, portanto , não é fácil constr uir ª ª
dades apresentadas nesta relação do FNRU com SEPUR~, ausê~cia de uma interlo-
uma visão global de cida de". (9) * cução com O governo federal na questão dos acordos _internacionais é uma lacuna
Percebida pelos seus atores · A avaliação
.
é de que essa interlocução é necessária
,. . para
Portanto , não é muito di~ícil com pre end er o surgimento de outras articulações cobrir o vazio, existente hoje no Brasil, de uma polmca urbana nacional que enfren-
que se volta m para te~as mais recortados, específicos . Não estamos querendo afir-
te a nova conjuntura em que as cidades estão inseridas, pois , se o poder local assu-
mar com isso que existe uma fragmentação negativa no cam po das organizações
me relevância como espaço valorizado de criação política e econômica no contexto
sociais no Brasil. Afinal, podemo s ler essa conjuntura de surgimento de novas arti -
da globalização, ele também precisa ser pen sado na complexidade das suas relações
culações como diversificação positiva , e n ão ne cessaria mente como fragmentação .
Porém, tratando especificamente do s significado s di sso para a questão da reforma com o regional e com o nacional. E é exatamente esse o vazio que uma política urba-
urbana, é possível afirmar que ela não está posta na agenda política da s organizaçõe s na nacional poderia preencher:
sociais. Isso também se deve ao fato reconhecido internamente no FNRU de que é
precisoatualizar a plataforma de reforma urbana, pois as cidades passaram por trans- "As políticas que o governofaz é de atender demandas pontuais, porque não tem quem
formações nesta última década que precisam ser objetos de reflexão . Para conseguir estabeleçaessainterlocuçãocom ele. Você cria um fato político e o governo vai lá e cria
mobilizar e envolver novas participações na questão da reforma urbana , é preci so uma política específica para aquela demanda. Mas não há uma política direcionada
enfrentar as novas questões colocadas : para pensar a questão urbana na sua complexidade. Resolvem-se os problemas pon-
tualmente". (7)*
"Como continuar fazendo a reforma urbana? Estamos vivendo um proc esso de querer
"A política urbana restringe-sea políticasocasionais no Brasil hoje". (5)*
entender isso. A nova conjuntura está colocando questões para as cidades que nós não
estamos enfrentando . Por exemplo, o nível de pobreza está aumentando significativa- "O urbano não está posto na agenda nacional. Não existe 'questão urbana' no Brasil
mente e as nossas políticas habitacionais e de regularização fundiária vão para "o espaço " c~mo t~~ª· Tem a questãofinanceira,a questão da dívida, do emprego, da saúde, a ques-
com o desempr ego. Por outro lado, é preciso recuperar a função social do Estado . A tao agrana. Mas a questãourbana não. O país é urbano e parece que aind - ' .
ficha' ". (9)* a nao caiuesta
reformaurbana só vai acontecer quando hou ver políticas públicas que pensem na exclu-
são, na segregação, na desigualdade ". (l) *
Para se constituir nesse interlocutor . .
. _ b ' conseguir Interpelar o governo federal para
A renovação da Plataforma de Reforma Urbana é hoje um dos principais objeti- a d iscussao so re a questão urbana na su dº - .
ai . . ª imensao nacional, o FNRU terá de enfren-
vos do FNRU. Talvez, nes se processo, o FNR U consiga aglutinar novas organizações e tar gumas importantes dificuldades ue t - h .
tica Além dº d dº . q eS ao 0 Je presentes na sua dinâmica polí-
recuperar um dinamismo maior na sua vida política . . isso, tem e iscutu como d . .
vimos, os fóruns t , . preten e atuar nesta dimen são, pois, como
Aliando-se ao problema de que o tema da reforma urbana não está presente no emancos , por natureza têm - . .
rematizar, a dar visibl d d , _ ' uma vocaçao muito mais voltada a
cotidiano de entidades importantes - como foi citado o exemplo dos geógrafos - 11 a e as questoes na esfer ' bl" ·e. Id
des para ocupar e c lºd
onso I ar um canal d dº
ª -pu 1ca, mas enfrentam du1cu.
a-
está a própria dificuldade registrada nos vários depoimentos de que a representação
do a produzir decisões. e iscussao com o poder público direc10na-
no FNRU,em alguns casos, acontece sem mu ito respaldo institucional das entidades
como um todo . Ou seja, muit as vezes a presença individual de uma pes soa represen-
tando uma entidade não sig nifica que a discu ssã o sobre a reforma urbana flua no
interior desta entidade co mo um todo, ou pelo menos ganhe status de uma di sc us- Considerações Finais
são importante.
A inten sificação do surgimento de v , . . . -s
Todos esses fatores respondem pelo co ntexto dessa desmobilização presente, sociais no Brasil recent anos tipos de fóruns e redes de orga01zaçoe
, emente , traduz a c fi . . ue

---
atualmente, em torno do espaço do FNRU . veio se tornando mais denso e l on iguração de um tecido assoc1anvoq
P ural desde os anos 80 - período de forre interven-

• Ver anexo no final do capítul o . • Ver anexo 110 final do capíu tlo.

177
178
çáo dos movimentos sociais no cenári o político - e que, nesse contexto, forjou A expenenc1a e m . 1997 , tam_
•· · d · terlocuça- 0 entre a SEPURB e o FNRU, ocorrida em
novas formas de expressão política . A própria linh a de continuidade que o Movi- bém nos ajuda a mapear os riscos que estão presentes para .as or~?~1zações sociais
mento Nacional pel a Reforma Ur bana , do s ano s da Constituinte, teve no FNRU quando investem neste tipo de atuação . Se, po~ um lado, a d1spornb1lidade de inter-
expressa,como exemplo , a opção tomada por muitas organ izações sociais de inves- locução acenada por uma determinada agência governamental abre possibilidades
tir nas suas art iculações . O FNRU é, poi s, represent ativo desta alternativa de atuação para a democratização dos processos de formulação de políticas, por outro , essas
política que, no deco rrer da década de 90, tornou -se cada vez mais evidente na so- possibilidades podem encontrar um limite muito concreto caso a correlação de for-
ciedade civil brasileira. ças existentes no conjunto do governo não lhes seja favorável.
Esses espaços de articulações societária s, ao permitir em o encontro de diferente s Nessas situações, é mais importante ainda que os atores sociais possam contar
organizações,viabilizam a construção de projeto s políticos com partilh ados . Na medi- com um certa capacidade de exercer pressão . E, neste aspecto , pudemos perceber
da em que passam a ser expressos por um ator coletivo, esses projetos ganham mais que o FNRU encontra -se atualmente fragilizado . Embora o FNRU seja uma referên-
forçapara entrar na agenda pública da sociedade . A tradução disso, no caso do FNRU, cia importante para os mais variados movimentos locais que se organizam em
pode ser encontrada na visibilidade que conseguiu imprimir para a questão urbana torno da temática urbana , há uma distância nessa relação, isto é, ela não se cons-
na Constituinte , como também na inovação que ocorreu no campo das legislações titui plenamente como uma via de mão dupla, onde haja uma retroalimentação
municipais em relação à temática urbana. Esses fatos são demon strati vos de que o mais regular tanto de informações como de discussão política . O resultado disso
"direito à cidade" ganhou um lugar na agenda pública brasileira, por mais que o con- é que o dia-a-dia do FNRU acaba ficando bastante circunscrito à sua coordenação .
ceito de Reforma Urbana, na sua totalidade , ainda seja abstrato para o conj un to da C~mo já mencionamos, há uma dificuldade interna de formular propostas para
sociedade e até mesmo para alguns setores envolvidos nas luta s sociais urban as. ativar essas relações entre o FNRU e os movimentos locais e essa dificuldade tem
O processo de interlocução que esses espaços produzem para a for~ulaç ão d~s relação com o desafio, presente hoje para as organizações sociais de forma mais
consensos qualifica as concepções existentes sobre os temas disc~tid~s . E por ~e10 geral, de construção de novas alternativas de "trabalho de base", novas alternati-
dessa construção negociada , na qual cada sujeito expõe a sua expenênc1a e a sua leitu- vas de ações societárias .
ra sobre determinada questão , que uma nova concepção vai se formando. O elemen- Não obstante todas as dificuldades para se constituir num interlocutor junco à
to novo que ali é produzido passa a ser incorporado pelas diferentes o~ganizações
~sfera execu~iva federal, o FNRU, nestes dez anos de existência, teve uma atuação
envolvidas,que, a partir de então, possuem novos referenciais para constrmr suas pró-
importante JUnto às esferas legislativas, particularmente junto ao Congresso Nacio-
priasintervenções políticas . Por isso, é importante dimensionar ~ã~ ape~as_o quanto nal, procurando travar relações com os d eputa d os e sena d ores para viabilizar · · · a regu-
as redes são expressões das modificações pelas quais a sociedade C1v1lbras1le~ra~assou lamentação do Capítulo de Pol't" U b d e · ·
. . 1 Ka r ana a onsutmção e aprovar outros proje-
na década de 1990, mas também , e calvez principalmente, o quanto elas propna s res- tos de leis de seu mteresse Ao lo d . , .
pondem pelas modificações operadas em cada segmento associativ~: m_ovime~t~ s . _ · ngo a sua traJetona, o FNRU foi qualificando sua
mtervençao no CN descobrindo n . d
sociais,movimento s urbano s, 0NGs, sindicatos e outro s tipos de organizaçoes soCJais._ . _ '. ovas maneuas e exercer pressão e abrir canais de
mter 1ocuçao, assummdo um pa el fi . e d
Essa possibilidade de qualificação produzida pelo s espaços de _artic~lação foi d . . P que 01 run amental para garantir o andamento
os projetos de seu mteresse nessa i . . - P ,
·1mporcancedurante todo o contexto d os anos 90 , poi·s os vários canais de 10terlocu-
.. . nSntuiçao . orem, a lentidão da tramitação des-
ses projetos no CN nos chama a aten - ,
_ conquistados
çao . .
Junto ao Esta d o, nesse peno, d o, exi·giram dos atores sooa1s a .for- estruturad · çao para a forma como essa instituição esta
ão de política s públi cas. a internamente . As div . _ .
mutação de propo stas mai s elabora d as para a conSt ruç . interlocuça-o - . d ersas comissoes existentes, onde o FNRU trava a
. l - · , ·as enfrentam dificuld ades no , sao esvazia as de pod E •
Enquanto ator coletivo, porém , as arucu açoes societan _ d uso dos me • . . er. xiScem obstáculos - que se manifestam no
. . . ai de interlocuçao com o po er canismos msntucionais 1 . d .
que se refere a ocupar mai s s1stemaucamente um can . . dº , . de funcionam d pe O Jogo e Interesses políticos - no contexto
.
público. Dificuldades qu e dizem respeito ao esa 10 e
d fi d impnm1r uma mamica
.. cutivo e també d
ento° CN que não Ih · .
. . e permite ter autonomia perante o Poder Exe-
. ld O fi ient e que os atores sooa 1s pre- m e se consntuu de f: d
inrerna mais sistemática capaz de dar o respa su ic d " idéias, de explicitaçã ato como uma esferaptíblica de debate e
. ' d A1, disso nos momento s e encon - o transparente de conflitos .
cisam ter numa interlocução co m o Esta o. em ' . _ Apesar de todas essas dificuldad
" . 1 , . ntexto das arncu 1açoes o grau
tros com o Estado ganha parucular re evancia no co
.. ' . .
. _
ntar as diferences organizaçoes
interlocutor na esfer
.
. l °
a nac1ona em rela -
es, FNRU, além de ter estado presente como
.
de leg1t1midad e que um ato r coleuvo tem para repre se fo1também ator im çao aos projetos de lei que tramit am no CN,
. portante no processo d I b . i-
que dele participam . pa1s, que incorporaram . d . e e a oração das Leis Orgânica s Munic
munos os pn , · . . , ·d· -
nopios conudos na questão do direito a e, .1
179
180
de. Constatamos, porém , que há diferentes P · - • . . berro e da disposição dos atores para a mani-
. . osiçoes existentes no mtenor do FNR U olítica depende dO espaço a . , · E'
a respeito do seu papel ne ssa dimen são da luta pela e b . p d' e ,, de expressão da d1V ergenc1a. no processo de
. rerorma ur ana no Brasil, e um festação da "fala nerente ' ,
importante fator de dificuldade envolvida nessa que st- é e 1 d . . _ divergentes que um forum pode renovar e quali-
. ._ ao a ra ta e exp 1icit açao das discussão sobre os pontos , . .
diferentes opm10es e o amadurecimento do debate pol i't ico ' int
· erno . ções Desta forma, um forum se consttt u1 e tern
ficar seus proJetos e concep · .
· parti·cu 1an·d a-
A partir _deste estudo sobre o FNRU , é po ssível identificar algumas 'nternos mas mantém sua capacida de de ser ativo
como base os consensos l , . _
des que estao presente s, de forma geral , na dinâmica de um có n rum tem á nco
· . p ara . • um espaço no qual as diferen ças sao expressas.
concluir, passamos a expô-las : po1mcamente por ser

De uma forma ou de outra, essas questões estão present es no coti d iano do 1-'NRU,
l . Em um fórum, cada organização social inserida tem sua própria din âmi -
acentuadas, atenuadas ou somadas às suas particularid ades própria s.
ca de funcionamento , seus interesses específicos , sua agenda de interven -
ção política. Por isso, é sempre um desafio con struir um funcion ament o
sistemático e regular aos espaços de articulação, pois, como menc ionamos
anteriormente, não é sempre que a agenda e os interesse s das diferente s Referênciasbibliográficas
entidades estão em convergência. Esse fato cria algumas dificuldade s par-
DOIMO , Ana Maria (1995) . A vez e a voz do popular: movimentos sociais e a participação
ticulares em situações em que a interlocução com as agência s governa -
política no Brasil pós 70. RJ, Relume-Dumará, ANPOCS.
mentais depende de um esforço e uma pressão mais cotidiana para ser
: iniciativaspúblicas y sociales de las redes de
G IL, Rafael R. Robles (1998) . Abriendo Veredas
consolidada;
organizacionesciviles. Ciudad de México , Convergencia de Organ ismo s Civiles por Ia
2. Os fóruns temáticos são, por definição, espaços de articulação . Por outro Democracia.
lado, ao se constituir como ator coletivo para intervir numa esfera públi - G RUPO DE ESTUDOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DEMOCRÁTICA (1999): "Os
ca mais ampla, um fórum acaba assumindo o papel de representar um moviment os sociais e a construção democrática: sociedade civil, esfera públi ca e oestão
0
conjunto de organizações . Portanto , as relações internas exigem , nestes participativa", Idéias, IFCH , UNICAMP, 5(2)/6(1) , 2000 .
momentos , não apenas uma coesão mais acentuada , como foi mencion a- FIG~EIREDO , Argelina Cheibub e LIMONGI , Fernando (1995 ): "M udan ça Consritu-
cwnal, desemp enho do legislativo e consolidação instirucional" in Revista Brasileirade
do anteriormente, mas também uma outra dimensão qualitativa. Esta
CiênciasSociais, n2 29, ano 1O, outubro/95 , ANPOCS. '
dimen são qualitativa diz respeito à legitimidade que um fórum tem que ____ (1994) : "O processo legislativo d - 1 1 ' ·
. ,, . e a pro uçao ega no Congresso pos-conm-
possuir para transcender a sua definição de espaço de articulação e se tumt e , m NovosEstudos, nº 38, SP, CEBRAP.
constituir em um ator representativo . O ponto a ser destacado é que esta FRASER, Nancy (1995) . "Rethinking th p 61" 5 h . . ..
f ali • . e u IC P ere - A contnbur1on to the cnttque
relação entre "ser um espaço de articulação" e "assumir um papel de repre- 0
act~J. exiScmgde~ocr~cy ", in ROBBINS , Bruce: The Phantom Public Sphere, Min-
nesota. mnesota 0 mvers1cyPress.
sentação ", nos momentos concretos de participação em esferas pública s
LAVERDI , Robson (1999) . "Na trilha d . . . _ .
mais amplas, mais plurais , pode causar uma certa tensão . Isto porque as mor adia em s-ao p 1 as reivmd,caço es: mo v11nenros popular es de
1
au o e a ut a pela Ret Ub
diferentes organizações tendem, de form a mais acentuada dependend o gos, Revista do Deparra d H ' , ~rma r ana na Constituinte" , Paraná, Didlo-
mento e IStona d U .
dos atores e dos recursos presentes nesta esfera ampliada, a disputar a sua n 2 3. ª niv ers1'd ad e Estadual d e Mannga
. , '
, \'. J ,
própria inserção individual no processo . Ou seja, a forma de relação que MARICATO , Erminia (1998) "P0 l' . b
· ittca ur ana e de I b' -
marxistas, n2 6, SP, edit ora Hucit ec.
· l" , in
1a 1taçao sooa
pmga - estudo·i
se estabelece entre o projeto comum e os projeto s específico s de cada orga -
MARTINS , Lúcia Reftneti (1997) · M, .
nização ganha uma import ância m aior ne stes momento s. E se esta rela~ão FASE. · ovzmentospopulares urbanos e O direito à cidade, SP.
não encontrar o seu equilíbrio, a legitimidade do fórum pode ser questi o- RIBEIRO L · e d .
, u1z esar e Qu eiroz O995) "A . ..
nada pelos seus próprio s membro s; fios da reforma urba;1a", in: VALLADA (m)governabtl1dade da cidade? Avanços e desa-
3. Um fórum tem como base da sua existência os ponto s de intersecção entr e /idade epobreza no Brasil RJ C' l _RES, L. e COE LHO , M . P. (orgs.): Goven111b t-
ROLNIK, Raquel (19 ) ,: ' iv, izaçao Brasileira .
as diferentes entidade s, que são construídos no pro cesso inte~no de ~eg~ci~- º 29
97 1
. nstr um enros urb ,5 . J ,;· ·
n- . ani ricos contra a exclusão soc ial", SP, l o JJ,
ção, no qual as diferente s opiniões são expressas . Se a garanna de exiSt enc'.a
SAU~E JR , Nelson O998) . A partici - .
de um fórum está n a po ssibilid ade de formação do s co nsensos, sua energ1:.1 Polis SP paçao dos cidadãos no controle da adm1111sm1çao
. . - P11'blior,
, •

181
182
HERER-WARRE , Ilse (1993) . Red es de movimentos sociais, SP, Ediç ões Loyola
Anexos
~CVA Ana Amélia da (1999) . "Co nflito s sociais e a construção de espaços públicos no Bra-
~IL ,
r
51
mimeog., SP.
Entrevistas realizadas:*

-----
' . org . (1994) . "Mo radia e cidadania : um d ebat e em movimento", Pólis, SP,
da FASE na coordenação do r NRU;
nQzo. (1991) . "Reforma urban a e o dir eito à cidade ", SP, Pólis, nº 1. . d Grazia representante
1. G razia e
srirzcãvs~, ,,Celso e_"1:"U~, Marco Antonio R (1993) . "As reivindicações populares e 2 N l
· e son
'
Saule Jr representante
. .,
do Instituto Póli s na coordenação do FNRU;
t nte da União Nacional dos Movim ent os por
consriruiçao , SP, Polis, n 13. 3. Evaniza Rodrigues , represen a
TE;XEIRA, Elenaldo Celso (1999) . "~articipação cid adã na sociedad e civil global" , SP, Lua
Moradia Popular na coordenação do FNRU ; .
Nova_ Revista de Cultura e Polít ica, nº 46 . . · entante do Movimento Nacional de Luta pela Mora-
ELLES,Vera da Silva (1987) . "Movimentos soc iais : reflexões sob re a experiência d os anos 4. Madalena Ol 1veira, repres
T in SHERER -WARREN , Ilse e KRISCHKE , P. (orgs .) : Uma revolução no cotidiano? dia na coordenação do FNRU;
70
5~ Brasiliense. 5. Adail Ribeiro , representante da ANSUR na coordenação do FN RU;
VIANNA,Maria Lúcia T. Wernec~ ~1994) . "Lobismo : Um novo c~~ceito ~a~a anali sar a 6. Marco s Asevedo, representante da FNA na coordenação do FNRU;
rriculaçãode interesses n o Brasil , RJ , Cen tr o d e Estudos d e Polmcas Publica s. 7. João Alberto G . Moschkovich , representante da FENAE na coordenação do
VI~ RA, Liszr (1999) . "C idadania globa l e Es tad o n acio n al" , in DADO S, Revista de Ciências
FNRU;
Sociais
, RJ, v. 42 , nº 3 .
8. Raimundo Bonfim, representante da CMP no FNRU;
9. Raquel Rolnik- urbanista, professora titular e coordenadora do curso de mes-
trado em urbanismo da PUC/Campina s e membro do Instituto Pólis . Foi coor-
denadora de Planejamento do município de São Paulo (1989/1992) ;
10. Edson Marques - responsável pelo Programa de Mutirões da CDHU (Compa-
nhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo);
11. Robson Moreno - ex-membro do CAAP (Centro de Assessoria à Autogestão
Popular) . Pelo CAAP, foi assessor no trabalho de acompanhamento de Mutirões
junto à União dos Movimentos por Moradia Popular;
12. Ubiratan Felix, representante da FISENGE na coordenação do FNRU;

Materiais pesquisado s:

1. Materiai s internos do FNRU:


- FNR_u : Considerações sobre o trabalho realizado em 1998, 1999;
- Pro~eto: Vil Encontro do FNRU, 1998;
- Projeto de Assess · T , ·
ona ecnica ao FNRU 1997 ·
- FNRU: Relatório de Ativ ·1d d • . ' '
- Breve b alanç d · ·
ª es: Janeiro a setembro de 1997·'
- o a v1s1taa Brasília, FNRU, 1998·
- Resoluçoes do Vil Encontro do FNRU 1 . '
- Relatório Final de Avalia ãO '
998 , .
ç do FNRU, elaborado por Pedro Jacobi , 1997·

2. Agenda Habitat - Resultado s d , . . ela ---


União dos M · ª Conferencia de Istambul , publicado P
ov1mentos por Moradia .

183
184
·5•. SOLO URBANO, informativo nacional da AssociaçãoNacionaldo - Solo
3 Jornal
· Urbano, exemplares:
set./ 0 Ut · _ 97, ano X, nº 36
nov./dez._ 97, ano X, n2 37;
março /abril _ 98, ano XI, n2 39;
nov./dez._ 98, ano XI, n2 42;
jan.lfev . - 99, ano ~' n2.43;
agosto/99, ano XV, n- 45,
nov./99, ano XV, n2 46.

185
_ ambos inclu sive o desenvolv imento e
f, atos nas relaçoes entre '. . .
!irando novos orm . 2O mo parcena , bastante d1fund1do ao longo
. - d -o de parcenas. ter
amphaçao a noça dº sos realizados pelos representantes governa-
CAPÍTULO 6 O incipalmente nos iscur ,. .
dos anos 9 , pr d ºdé" de descentralização polmc a e de envolvimento da
· rece ao lado a 1 1
ª • É •
mental~, apa - de olíticas que a ela dizem respeito . uma terminologia
unidade na gestao p . . ( . . dº
com b \, . to dos movimentos socta1s que re1vm 1eam pani-
ue faz arte do voca u ano tan
q p r ão de projetos) quanto das .mstanc1as• .
governamen-
AsRelaçõesentre o Movimento dos SemTerra-: MST ci ação e verbas para a rea izaç
P
. .
· ·pação da comunidade como me10 de garantir a realiza-
e Estado: Encontros e Desencontrosna Educa~~º de cais (que sugerem a paruci . _ .
_ d • ) Udizando- se da idéia de descenualizaçao e envolvimento da
Jovense Adultos dos AssentamentosRurais çao e projetos . 1
•d d e · cr·iado O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
comum a e, 101
(PRONERA) ,3 objetivando atender "às demandas sociais por, edu_ cação dos _assenta-
dos",' em âmbito nacional. Na esfera estadual, no Parana, fo1 estabelecida uma
MariaAntônia de Souza relação entre Estado e MST, que recebeu a denominação oficial de "convênio de
cooperação técnico-financeira", caracterizado como um acordo entre a Secretaria
de Educação do Paraná e a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (ANCA) ,
entidade jurídica do MST, para a alfabetização de jovens e adultos dos assentamen-
tos de reforma agrária do Paraná.
Ao longo deste texto, analisaremos as relações Estado e MST , nas esferas esta-
dual e federal, especificamente os programas de alfabetização de jovens e adultos.
A pesquisa, desenvolvida ao longo dos meses de abril a dezembro de 1999, focali-
. d 1i balhadores RuraisSem Terra (MST)e Esta-
- Movimento os ra d zou dois projetos de alfabetização de jovens e adultos implantado s no estado do
Asrelaçoes entre o . d fi I d anos 80 e principalmente, urante
. ºbld deaparur o ma os , d Paraná em áreas de assentamentos rurais.5 O primeiro , denominado EJA6 - Edu-
do adquiriram v1s1 ' ' a . f, tos diferenciados, dentre os quais po emos
osanos 90. Tais relações nveram ormd a osição e conflitos acirrados, tais como cação de Jovens e Adultos, é um Convênio de Cooperação Técnico-financeira
. . os momentos e op , 1· entre a Secretaria de Educação do Estado do Paraná e a ANCAIMST, vinculado ao
destacaros seguintes. d d upação de prédios e áreas pub ,cas;o esta-
, · çóes e esoc . Programa "Gente da Terrà', cujo objetivo era a alfabetização de jovens e adultos.
ueles vinculados as situa . namencais e MST,cais como os pro-
aq • . ·nstânc1as gover . O segundo programa é vinculado ao PRONERA e localizado na região centro-sul do
b ele ci
m ento de conven10 s entre' . ' . a
' s a' reas de assentamentos; as ofensivas
. de educação e de ass1stenc1a · • tecnica . . 1dos de ambos os la os. As
d Paraná, sob responsabilidade da Universidade Federal do Paraná, tendo como par-
,ecos I és dos discursos ve1cua .• ceira a Universidade Estadual de Ponta Grossa; do governo federal, através do Ins-
explíc itas na mídia em gera ' atrav I o deste textodiscutiremos expene~-
-essão multo · s,. no entanto, ao ong
. expI'1c1ta ,, tre ambos os atores. Tais tituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (!NCRA/1>R); e do MST. Seus
censo . d O "encontros en . d
. podem ser caracteriza as com d - do MST, no senndo a objetivos englobam a capacitação, alfabetização e escolarização de jovens e adultos
ctas que . . . ram-se a pressao l
encontros, na área educac10nal, ondgm ~ se do Estado, explícito, por exemp o, dos assentamentos de reforma agrária.
- bém o mteres - d J ens e Os objetivos centrais do estudo de caso foram : caracterizar e analisar as ações
demanda por educaçao e, ta~ , De areamento de Educaçao e ov
nasações dos funcionários vmculaddo s Pao áp em responder às demandas, canto as empreendidas pelo MST na conqui sta de programa s ligados à educação de jovens e
. d Ed ção O aran , .
Adulto s, da Secretana a uca . - - -governamentais.
g an1z a çoes nao e s repres-
. das do Ms·1·, quanto as de or
onun . d • ·1 inda se defroncava com iorte O 1 ,/!r. __...--..
- 1
2 ·_V_
ide observações de Caccia llava ( 1999) sobre a construção de parcerias e as rehções do Estadocom J sacie·

·
No final dos anos 70, ~ socteda e clivt a dos anos 80, as barreiras no esta \ ~-
- . Ao ongo . · - do ossiu1-
i}V dadc CIVIi, no Brasil.
3· O Programa Nacional de Educação na Reforma Agd ria se cciracteri,o u pela parceria entre universidades,
sõesmilitares onundas do Esrad0 · . . Estado foram d,mmum ' p movimcm os socia is e gove rno fede ral. ·
- -- ciedade c1v11e 0
cimento de diálogos entre ª so 4 · Relatório
, de Atividades· 1998/ l 99') , M'll\l·St éno
· do Descnvolv,mcnto
• Agrán•o , INCR A, PRONERA,
· \ 999·
5· Comamos comª pani cipação ,las seguintes auxiliares de pesquisa: Márcia Vaz Luciene Kian e Kdl)' LissJn·
o l'lll ~u~
dra l\ ruch. '
. s e comencáriosao texto, qL~and
.. . . ue ,ecerant quesnonamentO . M:írci:.1Vaz, Roscme1reAparecida 6. Este projeto foi desenvolvido no período de 1996 a 1998 .
1. Agradecime111os especiaisas pessoas q F andes, Evclina Dagnono,
fasepreliminar, dentre elas: Bernardº Mançano ern
Almeida, SaoniraKauchakje e Zandcr Navarro. 188

187
dultos das áreas de assentamentos rurais ; analisar as ações desenvolvidas pelo Esta - representantes do MST estadual ; do MST regional e local (monitores 8 e coordenado -
~º e MSTdurant~ 0 desenvolvimento dos programas de alfabetização ; destacar as res9); da Secretaria Estadual de Educação ; da coordenação nacional do PRONERA·
-es estabelecidas entre MST, Estado e demais instituições envolvidas no proces- professores universitários; estagiários universitários e representantes do INCRA. '
re1aço .
so de alfabetização ; e caractenzar os resultados práticos conseguidos a partir da rela- Foram entrevistados 20 monitores participantes dos projetos de alfabetização de
ão MST e Estado . jovens e adultos, tanto do convênio entre MST e Secretaria Estadual de Educação do
ç Procuramos responder às questões gerais que, com o objetivo de possibilitar uma Paraná, quanto do projeto vinculado ao PRONERA.Os objetivos centrais das entre-
álise comparativa entre os vários países envolvidos, orientavam o projeto Civil vistas resumiram-se à caracterização da prática educativa e dificuldades existente s em
an • ty and Governance, marco mais amplo do projeto brasileiro do qual este estudo cada programa e análise dos atores responsáveis pela existência dos convênios , na
5ocie
de caso é parte, dentre elas : o encontr~ entre ~o:'erno e s_ociedade civ!l resultou e~ ótica dos sujeitos que dele participam . Analisar qual é a presença do Estado, da Uni-
• ou menor coesão dentro da sociedade c1v1l, a parnr da expansao e/ou mob1- versidade e do movimento social na concretização dos programas constituiu-se no
rna10r
. - de seus membros? As organizações adquiriram novas formas, capacidade e eixo norteador das entrevistas . Entrevistamos 30 alfabetizandos participantes dos
11zaçao .
, ·as organizativas como resultado do encontro? O encontro produziu mudan- projetos de alfabetização de vários assentamentos do estado do Paraná, englobando
esrrateg1 . . . ~
'de'i'as crenças e ações, dentro da sociedade c1v1le dos governo s. Fez com que as regiões norte, sul, centro e sudoeste do estado . Foram entrevistados 5 professores
çasnas 1 , . . . . ,. . ~
, · governamentais vissem a sociedade CJvil como mais leg1t1ma e vice-versa . universitários envolvidos com os referidos projetos, de um total de 12. Três dos
asagencias . . ,
udanças no governo? O governo tornou-se mais efenvo , responsave 1, cinco professores já tinham conhecimento do MST e sua dinâmica interna. Os
Resu1rou em m . ,
e democrático? E finalmente, quais os atores que contnbmram para a demais foram conhecendo os materiais produzidos pelo MST à medida que se inse-
cransparente '
. - deste encontro entre governo e sociedade civil? riram no convênio, com a Secretaria da Educação do Estado do Paraná ou no
reaiizaçao d e .d . • d ' b"
O escudo de caso, que trata das relações MST-Esta o, 101 e11n:11t~o para o am 1- PRONERA,exercendo atividades de assessores do processo de capacitação e escolari-
- que durante os anos 90, principalmente, const1tum-se como uma zação ~os monitores. Utilizamos , ainda, os documentos produzidos pelo MST, com
coda ed ucaÇa0 , . , . .
,· de luta dentro do MST e também, tem sido area de interesse nas um- o objetivo de contextualizá-lo historicamente e caracterizar O processo de constitui-
das remancas ' , ·vu1 - d
versidades, ONGs e instâncias governamentais, especificamente apos a di gaçao o ção da área educacional, em seu interior .
censo da reforma agrária, que diagnosticou um alto número de analfabetos nos O artigo está estruturado da seguinte forma:
assentamentos rurais . d d ·
O estado do Paraná foi escolhido como local para um dos es_tudos ,e caso eS~1- l . Tipo de organização da sociedade civil: Movimento dos Trabalhadores Rurais
. MST nos úlnmos tres anos . ao
do à situação de conflito existente entre governo e , Sem Terra (MST). Neste tópico, destacaremos a origem do MST e seus desdo-
_ d ões de despejos envolvendo os sem-
conflitosrelacionados à ocupaçao e terras e aç . . d . . _ ao longo das d'ecad as d e 80 e 90 . p reocupamo-nos em elucidar a
bramentos
. . . d 1998 0 P raná esteve entre os pnmeuos esta os
rerrae polic1a1s. Durante o ano e ' ª • 213 const1tu1çao do setor de Educação existente no MST·
. . l' . no Brasil Atualmente , eXJstem 2 . Origem dos proi'etos de alf: b . - d . ,
em rermos de confluo e v10 encia no campo, · , d . . a ettzaçao e Jovens e adultos dos assentamentos
e d d d MST 7 no estado do Parana, sen o que a rurais organizados pelo MST D
assenramenros rurais, con1orme ª os O 1 ' d ST · rensificou as . ' · estacaremos as ações empreendidas , individual
maioriadas áreas foi conquista a d urante os an os 90 ' quan o o /vi m
. d e conjuntamente, pelo MST e E t d 0
, .
.b ,
s a , que contn mram para a formação dos
ocupaçõesde terra. ,e . . , ·a de projeros já conven10s na área educacional;
d do Parana rot a ex1stenC1
Outro motivo para a esco Ih a d O est a O , ale b . ,. de J·ovens e adul-
refere a ia enzaçao
executadose outros em andamento, no que se l • ento através da
. b o o nosso envo vim , 8 .. A palavra ''mo niror( a)" será utili zada com fre .. A ._ • • • , •

tos das áreas de assentamentos rurais, em com qut: alfabeti zam os joven s e , d I · . . quencia, ,to longo de sce tex ro, p ara no s rd cnrm os as pesso.is
,1 u los nos assemam cn1os n .. . 5- . , . . d . . ·. ;;
possuem o ccnifi cado d . .· . . ~ u.u s. ao asscnra os e assentad as que , em s ua mat0n ,1. nao
extensão universitária, junto a tais projetos . . ·sras com os parti- e ens1110me<. 110 ou proh ssio1nl · - . . " -r. .
ló . realizamo s entrevi mo nirore s(as) recebem C L .. I . _ · ' porranro , sao conhecido s co mo "profe sso res leigos . 1a1s
Quanto aos procedimentos meto d O gicos, d l d 'reas de assentamen - joven s e adulto s no s . • ~" s.o s <.e cap:tcir~çao para que pos sam de se n volver as at ividad es de alfabeti zação co m os
. e b · - d ·ovens e a u ros as ª d ' .1sscntam cnros rur -11s Os
carac1eri1.ado pelo d cscn v0 I . ! · . · ·.
,, .
mesmos monaores participam do pro cesso de esco larização, que e
.
cipanresdos programas de alia euzaçao e J • da foi composta e > · vimcn10 e e anv1dadc s corr " 1• . . . , • , 1
1o nan1 0 , ao final do conv -. • é I . . csponc. ente s ,Ws cont c ud os pre senre s no ensino fund amenra ·
tos rurais existentes no estado do Paraná. A população entrevtSra d e receber a ccnifi cação d emo o >Jet,vo, tanto do M ST , , d E . . . d ' - es
.. · . quanto o stado , que os monitor es esreiam em con iço
e o en sino 1undamental.
,3 . 1co m .b r// mstpr /asse nr am .hm1I J. 9.. Os co o rdenadores são representante s do M ST cu ·- .• . .. . . os
7 · 6/ 08/20 00 Jhrrp ://ww " .su · mon11ores 1,11110 'is n,r d I" b . ' Jª iesponsabd,dade e organizar e acompanhar o trabalho d
, ma s e a ,a erizaç'io 5 30 - , Ih I'd .
· Co nsulr a rc:iliza<la na pá g ina d o MST , n o dia O ' · csco os pela dir eção estadual e regi o nal d o MST.

189 190
J A visãodos monitores, professorese alfab . d
do. O objetivo é analisar o funcion euzdanos sobre a relaçãoMST -Esta- . d l'zaçãodo Encontro Nacional dos Sem-T
amemo o programa . . i! a partir a reaI erra, n
cada um dos envolvidospercebe a pr d e a maneira como movimentosoc1a1, o
esença o Estado d0 d U
sidade. E destacar,também, a visão do fu . , . ' MSTe a niver- anode J984. . do de lucasdo MST,o investimento na ocup _
ºd s nc1onanosdo Estad0 b 90 terceiro per1o açaode
vênioestabeleci o entre as partes já citadas. so re o con- os anos , l d Paranapanema deu destaque ao MST, a partir das v, .
, mo O Ponta o . , d d anas
4 Naturezadas relações entre a sociedade civil (M ) areas co /d' em geral. Esseterceiro peno o estaca-sepel
. 1 - b1 . ST e governo. Procuramos enspresentesna m ia, - a con.
destacara re açao esta e ec1daentre governo e MST • reporra g .. , eas de educação, formaçao e cooperação agríc 1
• e d . cuias configuraçõe
1
s têm
'
!'da ão de matena1s nas ar . - o a. A
assumidoo 10rmato e parcenas, concretizadas nos convenios, . estabelecidos so'. ç " bºl'd d do MSTfoi conquistada a partir das ocupaçoesde terra na reg·-
entreambas as partes. ma1or VISI 11 a e 1 • d d p I
localizada no esta o e ao au o.
Jao s·
Resultados alcançados do Pontal do Paranapanema, '. ., .
5· . com os projetos: apresentaremos uma dº1scussao
- sobre
Fernandes 996)afirma que, a partir de l 979, varias expenencias de ocupaçãode
os resultadosconquistados
. ao longo da relação MSTe Estado, nas questoes- O 'd do no Brasil, marcando uma novafasede luras dos trabalh d
ligadasà área educac10nal. cerra foramseconsol' an .. 13 a o-
. Afi asComunidadesEcles1a1sde Base(CEBs), enquanto lugars ·a1
~~~ ~ , · ~
•a1· -0 serviram"como referenoa para as novas formas de org1J1iza .
e espaçode soei 1zaça , çao
1. O Tipo de Organizaçãoda SociedadeCivil:10 • ·a1
soei que emer
giramcomo foi O casodo MST.
,
AsCEBSeram os lugares onde foiposs·
. ,, 1-
Movimentodos TrabalhadoresRurais Sem Terra (MST) • osparasecomunicarapreendere se orgamzarpara lutar... (p.74)
ve1cnar espaç ' . ·
As rimeiras ocupaçõesdos Sem-Terra foram mediadas por atores envolvidos
P I d · · ·vos14 entre ostra-
com aiteologia da Libertação,desenvo ven o processospart1c1pat1
O MSTé um dos atores da sociedade civil e os elementoscentraisde sua gênese
são: "... 0 aspectosocioeconômico das transformaçõesque a agriculturabrasileira
sofreuna décadade 1970 (...); o ideológico (...) é o trabalho da pastoral,principal-
-~~:'r)
~
12.Temos um;tdiversidade de discussõessobreo ,ema movirnenro s sociais. Dentre elas, destacamos Grzybowski
menteda IgrejaCatólica e da Igreja Luterana (...) e a luta pela democratizaçãoda (1991) quandosalient;t os movime111 os sociais"... corno possíveis práticasconstitUlivasda democracia"(p.13); Sader
sociedade brasileirae contra a ditadura militar..." (Stédile, in Stédilee Fernandes, ( (1988), quando se refereao sujei10 cole,ivocomo"urnacoletividade onde se elaborauma identidadee se organizam
' pr:í,icasatravésdasquaisseusmembros pretendemdefenderinreressese expressarsuasvonrades,constiruinclo-senessas
1999) . O longoprocessode formação do MST pode ser entendido a partir da análi- lutas"; Scherer-Warren(1987)quandodefineos movimenro s sociais como "uma açãogrupal para a transformaçã o (a
sedasituaçãoconcreta dos trabalhadores rurais em cada regiãodo país e da atuação práxi s) voltadaparaa realizaçãodos mesmosobjetivos(o projeto),sob a orienraçãomais ou menos consciente de prin-
dos mediadores(principalmente os membros da Igreja Católica/Teologiada Liber- cípiosvalorativoscomuns (a ideologia)e sobumaorganização diretiva maisou menos definida(a organizaçã o e suadire-
ção)" (p.20). Gohn (1997), que definernovimenros sociais corno "açõessociopolíticas construídas por at0ressociai s
tação) quecontribuírampara a formação do movimento social, caracterizadocomo coletivospertencentesa diferent esclassese camadassociais,articuladascm certos cenáriosda conjunturasocioeco nómi-
ummovimentode massascom caráter sindical, popular e político.
11
.:ª e pollticade ump;1ís,criandoumcampopolíticode_forçasocialna sociedadecivil ..." (p.251). Navarro (2000) ques-
tionaatéque pontoo MSTé um movimentosocial, enf.uizandoque o mesmo é "... mais urna organizaçãoemseuestri-
Srédile(1997, p.l 02) aponta três momentos centrais na constituição do MST. to sentidoe, menos(muito menos,em vários estados), um movimentosocial...". Ao longo de nosso textoeswemos
Afirma que um dos primeiros períodos do Movimento ocorreu entre 1979 e 1983, entendendo o MSTenquanto umaorganizaçãoque po~s ui facetascaracterísticasde um movimento social. conforme
aponta a litcraturJbrasileiracitadaacima, mastambémpossuialguns"novosformatos", no atualcontexto conjunrural.
representando a retomada das lutas massivas pela terra, através da ocupação e da
taiscomo J necess idadeda constantebuscade financiamentos para sustentaçãodo projeto políticoque quer desen ml-
mobilização em várias regiões do Brasil. Estas lutas massivascontribuíram para o ver; osaparato s burocrá ticosconstituídosnas secretariasestaduais e um aparato ideológicoque atrJijovensparJo enl'ol-
vimento com J militânciae exercíc io de lidemnça s locais.Navarro , " respeito do M5T, afirmaque é ··... ilusória J l'is:io
acúmulode conhecimentose articulação entre lideranças, o que propiciou a cami-
· · • e a1 quanto de que é formado exclusiv amenteporum exército de combativose desprendido s voluntários a serviçode umJ nobn:
nhadaparaum segundo período do MST, o da sua consntu1çaororm- , en cau~políüca ". O MSTvem sedistanciandodaquilnqueseriachamadode "movimento social''enqu,11110 coletivo. for•
maçaode idcnudad esscscomuns, urnavc:
e, n11er , que nemsemprea ideologia dclcndidapelos milit.1ntes nacionJis i J
m:5mapretendidae defendida pelosassentados e acampados em gerJI. Porém. h:ínccessid, de de atenrarpm as<Sp<·
. ,. . . . , . d· , . d· . ção Je Com ( 1997) quando cilictd~<lcsd~ MST,0 .~1uc orao Gtrac1criz.l como um movimemo social, or.1como uma "organiz:içjoformalde repn.·-
10. A 1de1a de soc,cdadc c1v1lprcscn1c ncsre rexJOcsca lun ,1mcn1.1 ,1 n.i concep . . .
• . . . • 1· . ·... •as ,,uc se d,m nguem de outros gru- sentaçaode interesses, como_;1Ílrma Navarro. Ainda, Pasqucu i (2000, p.19) afirmaque O ~!ST ..... podetambéms,r
afilfma que a ca1tgoria abriga um coniunm de assoc1:1çoese ormas organll,H1' , . . . VISIO com~uma Empm,, Soaal,pelageraçãode empregos,impostos, melhoria da qualid.,de de viJJ. imp.,cto lo,:li'
. . . .. , . .1 0 iedade e1v,Iengloba o con1un10
1
dposde in1erc
. ssesatuamcs na esfera polít1c:1 (...) e da cconom1
. a ... .• ort,llllO,
_ . · s• _. e ·. s t'III que pameu. rn o cena-
: descnvol v~memoeconômico, sociale humanogerado nos .1ssc111amcnt os Jc Reforma,\gr.íria".
.' movimento s sociais,Organizações Não-Governamentats, :1ssoc1a\·ocs comumt.ma " .1~- EdcrS:tdc
r, !988, em ~11:1 obr:.1
"Quandonovos pl'íSOnagcns cntr.ir,tllll'IHo:n} , afirmaqut'",1s comunidJJl
-s
nopolíticoe social brasileiro. . . . J· cclcsia1sde base(CEBs)se multiplicaram primeirae princip.1 lmcnte n.1""" ' rur.1I(...) cm 1981 c.1lculJ
vJ-s<<nl S0
1 · . . . .. .•• •, l'· 10 l 995 e entrev1sra realiza a com
1.VideMIT, carulha n' 2 - ··vamos org:1mz:1r a base do M~ 1 · '.>.to .tu · 5 •J 'I {di ne milrn_1 iod_oº.país (...) Emrc os mo1ivosde :,.l'11 2xiw, pud1..· mos pensarno c1dH.:rtk·xivd Jc:su:1 form.1org:tnizU . i\r-
J.
JoãoPed S 'd'I . . ' . 97 . ·. 1 u c l p:ígin.127, cm que te , e,
ro te I e, pela Rcv1s1a CarosAmigos. ano 1. n' 8. 19 , esperia me, · na rcv1vQ~mc1a de rdaçõesprim ;íriascornoc.. ,paço dt.:n:ronh1..·cinH:nto pc.:sso
aJ 1urJSl'llS membro s..." {p.l55.156_).
1
OMST. Vide, também, Srédile e Fernandes, 1999. l · ~-.l.1ut11da
. -sc . procmos 1,.,· r t'icip,
. pur · .lli ·,\:os. ,1 1..1I11an
· . 11.c I cs1abdcc1d.1
. l'lltri.: os ~rupos tormJJ
. os nJ!iconn,n,Ja-
<cs rurJ1s, CU
JOob11:
11
vo era disc111 que ,l'i 1:11níli
ir .1si1u:ição concrt·1.1 ..:111 .1s Sl' l'llú: mr.n·:m1.

191
192
balhadores. A .medi ação concret izou-se nos tra balh os de b
casos, carac ten zou-se pel a formação de .d ase que, na maioria dos ,- C d eror é composropor um representante, responsável pela orga-
. comun1 ades grup d f: ,1. assenramenro . a ªs . .
Terra, junto aos qu ais se desenvolvia um d ' . os e am1 ias de Sem- . _ d ela articulaçãocom outros atores, tais como os mediadores (Sin-
. d" proce sso e d1scussã0 b . nizaçao o grupo e p .
cada família. As 1scussões eram conduzidas , l _ d l . so re a situação de . CPT Universidadese ONGs)e com o pr6pno Estado, no andamento das
.
chos bíblico s, de forma que cada um do s P . .
ª uz a enura e · -
•nterpretaçao de tre-
d1catos, ,
arc1c1pantes pud esse ir I'd ·e: negociaçõesligadasranto às desapropriações _d~ terra, quanto à reivindica?º de cré-
enquanto excluído social e, da me sma forma id .6 ' d se ent1llcando
• , . ' enn ican ° o outro como b ditos agrícolasetc. Essesrepresentantes part1c1pamde cursos de formaçao política,
do mesmo grupo . N o in1c10 da organização os gr e mem ro ue os capacitampara a organizaçãopolítico-ideol6gicada base do Movimento.
e ,, . . , upo s eram rormado s por um
número menor d e iam1 ias, assim como havia um te . • d q o setor de Educação, por exemplo, quando foi criado em 1987 e 1988, tinha
- mpo maior e preparação para
0 processo de ocupaçao - como no s relatou uma assentada A 1 como função,segundo Caldarc (2000, p. 161), "a de articular e potencializaras lutas
• d d . • tua mente , as ocupa-
ções são massivas, . o ponto e vista
. _ do núm ero de famílias pr esentes num acampa- e experiênciaseducacionaisjá existentes,ao mesmo tempo que desencadear a orga-
mento, o qu~ dificult a a organ_izaçao e preparação coletiva, tal como era realizada nizaçãodo trabalho onde ele não havia surgido de forma espontânea, ou nos assen-
nos primórdws do MST, acrescida ao fato de que as novas lideran ças são movidas
tamentose acampamentosque fosseminiciados a partir daquele momento".
muito mais pela subjetividade do que pelo conhecimento oriundo de experiências
O setor de Formaçãoocupa-se com a organizaçãode grupos que estudam ques-
em organizações sociais , ou me smo da preocupação com proce ssos participati -
tões conjunturaisdo país, organizaçãopolítica e conhecimento da situação político-
vos/emancipatórios . Há que se destacar, ainda , a rapidez com que tanto as ações de
ocupação, quanto as de despejo s, são realizadas , impossibilitando, muita s vezes, 0 socioeconômicade outros países. O setor de Comunicação é o responsávelpela
desenvolvimento de um proce sso dialógico mai s aprofundado entre os Sem-Terra. organizaçãodos jornais e revistas,que caracterizame analisam a luta pela terra no
Três vertentes sócio-ideológicas, conforme Srédile (1997, p. 102), foram funda- país e em outras regiões.Nos acampamentos, o setor de Comunicação tem como
mentais na constituição/formalização do Movimento , a saber: o trabalho da Pasto- função a divulgaçãodas informaçõessobre os conflitos de terra, pela recepçãodas
ral da Igreja Católica; lideranças do nascente sindicalismo combativo (representado diversaspessoasque chegam ao local, entre outras atividades.
pela Central Única dos Trabalhadores - CUT ) ; e Juradores sociais de diferentes O setor de Produção foi responsávelpela organização de roças comunitárias,
organismos, tais como o Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1999 , Srédile afirmou quando ainda no acampamento, ou seja, pela organização da produção. Posterior-
que dois fatores influenciaram a trajetória ideológica do MST: o "faro de estar sem- mente, no assentamento,é o setor de Produção18 o impulsionador das luras pelocré-
pre muito ligado à realidade ... " e a contribuição da Teologia da Libertação, ou seja, dito agrícola, pela organização interna do assentamento e, principalmente, pela
"... rer abertura para várias idéias" (p.59) . organizaçãode cooperativasde comercialização,de produção ou de crédito. Atual-
Há que se destacar o formato 15 da organização interna e externa do movimento , mente, as discussõessobre a organizaçãoda produção e cooperação agrícolasão rea-
quecemcontribuído para a sua expansão em várias frentes, que vão além da lura pela lizadasno interior da Confederaçãodas Cooperativas de Reforma Agráriado Brasil
rerra.Em 1984, o MST se consolida, definindo instâncias nacionai s, estaduais , regio- e do SistemaCooperativistados Assentados.
naise locais de organização e participação . Estrutura-se, no s anos seguintes, em seto- Os princípios do MST foram definidos no I Congresso dos TrabalhadoresRurais
res de Educação, Produção , Formação, Frente de Massa, Finanças , Comunicação , Sem-Terra, em 1985. São os seguintes:
ProjerosNacionais, setor este que se divide em Relações Internacionai s e Direito s
6
Humanos.Os diferentes setores são organizados tanto no acampamento ,' quanto no Que a terrasó estejana mãode quemnelatrabalha;lutar por uma sociedade sem explo-
radorese explorados;ser um movimentode massas,autônomo, dentrodo movimento
s ruraisnabase;esri-
sindical, paraconquistara reformaagrária;organizaros rrabalhadore
15. O formalO da organização caracreri za-se pel as red es loca is e nacio nais de di stribui ção de informações. bem
· · d 1· - j( · · • d os os locais o nd e h:í presença do
como pda l1neand ade com qu e o proce sso e o rma çao po t1ca oco n e t.:111 ro
'1ST o·1golmeanda<lc
j\ •
· · para referir-me · a um proce sso l 1e repr o d uçao
- d e, co n /1~c1m
· e nr os • entr e os memb ros do MST.
17. Asscntamc.:1110 n:l~rc-sl· :, :irc;1ond1.:os nah.1\ludorcs s1. ·r:ío insi:ibd os, 011seja, a icrr:1conquisrad;i, org:1 ni-
que segue o me~mo form aro cm ro do o paí s. , . . . _ co nsrruíd os ll.l mar em de z:ida cm lotes individuais ou de forma colciiva. Os .issc.. ·ntanh:nto~ n:qHcr1. ·m ., insr.tl.lç.io de roda ,1 infr:1-esirutura
16. Acamparnenw refere-se a urna das forma s de lu1a do MST, v,suolrzada no s b.lfr.1Cos · . . g
básica p.1ra uma con11111id : rnral, iai'i como: escola. (e ntro conwnidri o. igrcj:1s.j reas de lazer. Nem wdos os
ad1.
. . , ., nco : 3 fase 1m cn or ;J enrrJda no
rodoviasou cm áreas cuja propried ad e está send o qu esno nau a.. 1orr:rn ro. o aca mpa me e.: • • • _. • • _. ,·_
nta1~1cntm,tl'm a i11fra-cstn 11urar ompli:ta ; l"St,1 v.ti sc.
JS~<..· :ndo adquirid.t ,\OS poucos, (onforme o repasseJe n:~b~'
~ c . YlSde lur is r 11s com o O!i.1b:11xo ;JSSI
E pan e da luta pela co nqui sta da terra, Jllfll:lfllCllh.' com outra .li 10 111·
fü.. • .

""-»'.'.
ntame1110. · · ' · ._ 'd" ·1organização da COllH lllid.1tk. R1. ·~idc.:aí, pon,11110, um:1 uutr.1 frt·ntt: de.:hn ~1 do i\lST.a lutJ peb. conquiSr,lJJ intrJ-
nd . . 11 . . .• pode ·ico11 1cct ' r em fren te apre ,os
ª os,p.!Ssea ras, man1Ícsraçõcs ele. Co m o uma d as formas e.e 111 :1, o ;11....amp, 11rn::1HO • . 'd" ' bl" t.'~lnllur,lnt:ci.:ss
;Íria para .1vi:1hilid;ilk-d.1 proJu, ·ãolrt:produção d.1 família asst:ntJ(b .
0
p,íblicos º
, •aiscomo u oco rrido cm C uri1iha/ PR , du r,1111co :1110 de 1999. O "'" "'Pª 111" 111 en, treme· 'º prc ' pu ,co 18. Vide Stú lilt: t.' h :T11J11tk·s, l ')99, PP· 95- 112. Sl0dilc.:c.1racteri·1..:1
J prt:ocupaç:io com .1 org:.1 ni1.•1ç.io J,1p_ro·
rcprex-
ntou a rcivindic:1çáo por refo rma agr:íria , edu cação , cré d ito agrí co la, co n1ra .1 vio lência, cnr rc u ur ros. duç:io e cooperação .igrícub , no i111criorJo M~il , pomu :111JuJ criaçJ.oJa Co nfederação J a:,Cooper:ui\.lSJt· l{d ,ir-
lllJ Agr.iria du Brasil (C oncrab) t.' do Sb1c1nJ Cooper:11ivista dos AssemaJos (SCA).

193
194
rnulara participação dos trabalh adores rurais no sindicar0 'd ,. .
_ . . e no parn o po 1mco; dedicar- , _ . amenrai s. bem co mo um a forma de divulgação a res-
se à formaçao de lideranças e construir uma direção polít ' d balh d . do \1 sobr e os orgaos go,ern .
. ica os tra a ores; arncular- . - . - b d . d lura denuo do m on mento .
se com os trabalhadore s da cidade e com os camponese d Am , . L . . de qua.1s sao as an eiras e
s ª enca arma. (Normas peito d . , ·os fundamentais para os representant es do \ J
geraisdo MST, I 989). A disciplina é um os pnnop• . _ l . · ·a
, . d uniõe s respeito às dec1soes co en vas e controle do
começar pelos h orano s e re ' . . . s
, . _ . . al áreas de acampamento s. Em muitos casos, a disciplina
Conforme afirma Fernandes (1998) , o MST, durante a realização do 3 2 Congres- ncws. -1 pnnop mente nas
· dim - ., pressora " dentro do :-.1 T , enquanto. em outros casos
so Nacwnal, em 1995, apresentou uma nova configuração aos seus objetivo s, onde representa uma ensao re . . . . '
e ue rem permitido a connnu1dade da lmha políuco-ideo-
se destacam: corna-se uma d as 1acetas q
lóoica do \I ST. .
Construir uma sociedade sem exploradores e onde o trabalho renha supremacia sobre 0 "'A f,ormaçao- d e qu adros , dentro do \! ST , é a garanua da reprodução
_ dos ideais e
capital;a terra é um bem de rodos. E deve estar a serviço de roda a sociedade; garantir da ideolog ia do mo vimento , em rodas as instâncias do _m~mo. E, também , um dos
crabalhoa rodos, com justa distribuição da terra, da renda e das riquezas; buscar perma- elementos para a garantia de funcionamento da organ1zaçao como um todo . A for-
nentemente a justiça social e a igualdade de direitos econômicos, políticos, sociais e cul- mação política é caracterizada por um conjunto de curso~ d:5envol vido s pelas lide-
turais; difundir os valores humanistas e socialistas nas relações sociais; combater rodas as ranças do :'\IST, de outros movimentos e assessores , na ma.1ona das vezes pesquisado-
formasde discriminação social e buscar a participação igualitária da mulher. (Fernandes, res ou estudiosos da questão agrária. Também a formação política acontece no
1998, p.39-40) cotidiano do \!S T, auavés da prática política.
Os jovens de assentamentos e acampamentos são escolhidos para participar do pro-
O MST teve sua origem ligada a um elemento central, a luta pela terra, seja pelos cesso de formação, ficando até 30 dias em locais específicos , recebendo formação eco-
sujeitosexpropriados de suas áreas, desempregados ou pequenos proprietários; enfim , nómica , ideológica e política , o que os tornará novos líderes locais , regionai s e esta-
0 conjunto de trabalhadores que compõe a categoria Sem-Terra . Este objetivo con-
duais . É constante, em rodos os enconuos do MST, a realização de análises de
creto é motivo do engajamento dos trabalhadores no proce sso de luta . Na relação conjuntura como um dos conteúdos do encontro. A análise de conjuntura econômica
com os mediadores, a luta pela terra adquire um objetivo mais amplo, principalmen- e política é composta dos seguintes conteúdos: as propostas governamentais estaduais
te entre as lideranças do movimento , passando a ser enfatizada a necessidade de trans- e federais em andamento; as propostas defendidas pelo i\lST; a descrição da situação
formaçãoda sociedade. social da população brasileira; caracterização da concentração fundiária; enfun , expli-
Com relação aos princípios organizativos do MST, conforme Stédile (19976, citam-se os atores e a relação de forças entre eles, no cenário brasileiro. São análises rea-
pp.104-105), destacam-se: vinculação permanente com a massa; lutas de massa; lizadas por lideranças nacionais, sociólogos e economistas, vinculados ao :-.tST.
divisãode tarefas; direção coletiva; disciplina; formação de quadros e o desenvolvi- É preciso reconhecer a importância histórica do MST na sociedade brasileira.
mento da mística. 19 A idéia central é de que a "massa" 20 esteja constantemente envol- questionando a propriedade da terra e os valores impregnados nas pessoas sobre o
vidano processo, poi s é o elemento central para a continuidade do movimento ; que desejo de ser proprietário . O movimento vem questionar o estágio da democracia
as luras sejam "massivas" e produzam impacto na sociedade - organizar grandes no país e as contradições existentes nos planos governamentais para o campo . Con-
passeatas,caminhadas e greves de fome , por exemplo, têm sido formas de pressão cordamos com D 'lncao (1997, p .210) quando afirma que o \IST "é uma das mani-
festações mais importantes do processo de democratização da sociedade brasileira
( ... ) coloca novos desafios ao debate político ( ... ) com sua incrível capacidade de
19. Emendemos a míscica co mo um dos momcnw s de d ivu lgação e rep roduç 5o da ideol ogia ddt:'ndi<l
a pelo
MST. É o momento em que os parricipanic s emoc io nam -se di:1n1c d:1 band eira do mm ·ime nto . dos griros de ordem
organização e de mobilização, vem dando força e continuidade ao ainda débil pro-
e das dram:nizaçóes sobre várias tem::hicas do co tidiano da lura t'.' da co njunrura nacional e inrernacio rul. Possui cesso democrático de negociação das questões ligadas à reestruturação da sociedade
lanto_uma basereligiosa, quanro um a dimensão de resgarc da vida co cidia,u . A deflniç:io d.1 mísric i p:ira O :\tST esd
brasileira" . O MST constitui-se, assim, um sujeito coletivo que impulsiona a inserção
descrua em S,édile e Fernande s, 1999 .
lO. E5u é a forma co mo grande pane das lideranças se refere aos Sc m -Tcrra. C o loc.1mos :tsp.ts ~ara~enfariz~ir de novos elementos na configuração da cultura política (organização dos crabalh3 •
queO uso de ral icrrno está prc.:
sc.:mcno'\ vdrios documentos do 1\I ST. hem com o (.k ·sr.1c:1mos qu...· os S...·m- rerrasao
•tor~ que conslro(',n, no cU1idianu JiJlura pela rcrra, Jifornul.' s forma s lk· org.tniz..u;:io. .. o u s~j.i . n:lo .rep~~duzcm
\Omcntc aquelas rndic a<las pda s liJcr :rnças <-', portamo , devem Sl.'r l.'lltl.'ndi<los l.'nqu:11110",1rorl.'s co lr.:uvos de um
21 · O s vícios. sq ~undo O :-OhT. são nro s J cco rrctuc ::.de víc ios histó ricos. r.1is co m o o individu.ilisni o. pt'.'r
s~nJ.:
processode lu1a por mdhorc ·s conJ içõ.., ·!.de vida .
lismo , espomaneismo , anar9ui s1no , imobili smo , co modismo. Jt11o~suíiciên ci:.1,deso ncsriJ::1 i(L).ius 1,.
de. desrc:sp<.' 0lll
p::mhc.:iro
s, entre o utr os. (Vide.:Cadnno publicJ<lo pel o :\l)T , ·c o m o o rg:.J. ni L.tr a ma.ss.l . 1991 )
195
196
dores, formação
. política , negociações
. . política
. s, estratégia s massivas de a t uaçao
- ) , sus-
cirando questwnamentos sobre as m1usnças sociais na sociedade civil. A educação no MST
24

O cenário onde se dá a atuação do MST é permeado pela açao - d o Estad o, que ora
Se manifesta conservador em relação à situação - por exemplo , a moro st·d ad e no A lura pela educação 110 interi or do MST pod _e ser esqu ematizada da seguint e
Processode ,desapropriação_ e resistência
, . na realização da Refiorma Ag , · -, ora par-
rana forma : no conrexro de Jura pela terra , surge a necessidade de escolas; no encant o, den-
ceiro, atraves da elaboraçao de conven10s envolvendo O MST , tais como O Programa tro da própria organização do MST, a preocupaç ão predominante no início da orga-
de A]fabetizaç~ode Jo~ens e Adultos da ~eforma Agrária , ou os convênios que impli- nização escava vinculada com a relação de forças estabelecida entre ele, de um lado, e
cam a hberaçao de tecrncos para atuaçao nos assentamentos, tais como O projeto 0 Estado e a classe dos grandes proprietários , de outro. Os enfrentamento s encre tais
Lumiar.22O cenário político é composto, também, pela ação da classe dos grande s atores fizeram com que a educação ocupa sse um lugar secundário dentro do movi-
proprietários, em grande parte representada pela bancada ruralista existente no Con - mento , sendo organizada a partir de um grupo de pessoas que se respon sabilizou
gresso brasileiro. Durante os anos 80, houve a criação da União Democrática Rura- pelas discussões educacionais e que deu origem ao setor de Educação , criado em
lista (UDR) com o objetivo de defender os interesses dos grande s proprietário s. Poste- J987/ 88 . Com o aumento do número de assentamentos, houve ampliação da discus-
riormente, os proprietários se articularam para a formação de um grupo que atuasse são educacional , que culminou na dinâmica de encontros locais , regionai s e nacio-
no Congresso brasileiro, formando assim, nos anos 90, a bancada ruralista . Neste nais sobre a temática educacional infantil, o ensino fundamental, médio , superior e
contexto, um dos fatores importantes é que o MST não é um movimento localizado , a educação de adulto s. Ao longo dos encontros foram produzidas as propostas peda-
mas sim um movimento nacional, que está presente em 24 dos 26 estados que com- gógicas e os fundamentos político , pedagógico e filosófico da educação para as áreas
põem o país. O MST recebe apoio de sindicatos, CPT 23 e outras entidades nacionais e de assentamentos rurais . As proposta s do MST têm como ponto de partida as discus-
internacionais. Está tecnologicamente atualizado , em termos de comunicação; por sões locais - nos assentamentos - que são levadas para a esfera estadual, onde os
exemplo, possui endereços eletrônicos e sites na internet com informações sobre a principais problemas são evidenciados e analisados . Nesta esfera , são escolhido s os
luta nos vários estados. Seus dirigentes mantêm-se atualizados sobre as discussões representantes que participarão dos encontros nacionais, onde se realiza a caracteri-
político-econômicas nacionais e internacionais, o que os fundamenta em suas críti- zação da educação em todos os estados e onde são elaboradas as propostas de docu-
case propostas políticas . Tornou-se uma organização altamente burocratizada, com- mentos referentes à educação do MST . Os documentos variam desde as propostas de
postade técnicos e profissionais militantes preocupados com a elaboração e execução conteúdos das várias áreas do conhecimento até as análises conjunturais do país.
de projetos vinculados tanto à viabilização social e econômica dos assentamentos A partir do I Congresso Nacional do MST em 1985 , começa a articulação nacio-
ruraisquanto da concretização dos objetivos político-ideológicos da organização. nal para a criação de um setor de Educação dentro do movimento . No final da déca-
Diante deste cenário e da acuai conjuntura político-econômica, as perspecti- da de 80 e início de 90 , o Coletivo Nacional de Educação teve um force desenvol-
vas de viabilização dos assentamentos rurais dependem das articulações do MST , vimento - em termos de discussão da educação escolar - articulando os trabalh os
uma vez que as políticas sociais e de créditos têm sido reduzidas . Assim , o MST nos estados e iniciando o curso de magistério , que tem formado professores para as
adquire formato s que podem ser caracterizados como "empresa social ", mas Escolas de assentamentos . A primeira turma do magistério teve início em 1990, em
acima de tudo como organização da sociedade civil apoiada e sob influências Braga/Rs , na Escola "Uma Terra de Educar", ligada ao Departamento de Educação
mediadoras de inúmeras organizações e outros movimentos sociais que reivindi- Rural (DER) da Fundação de Desenvolvimento, Educação e Pesquisa (FUNDEP),
cam cidadania e democracia . Como afirmou Touraine (1997), "a democracia não atualmente localizado em Veranópolis/R s.
N0 . ' . d
é simplesmente o desaparecimento do monopólio de acesso ao poder em um lnlCJO os anos 80, a preocupação do setor de Educação do MST centralizou-
regime autoritário . A democracia compreende três coisas : limitação do poder do se na organização da escola do acampamento, suscitando reivindicações junto ao
Estado pela sociedade civil; represenratividade social dos dirigentes políticos e
consciência do cidadão ". -
24. .Sobre .
m e 1ópico. a o hr,1Jc C:JIJ .m ('- 000) e.:, c.: ... . c ,a
ss<.:n
· 1 p:1r.1 c ntt.·111.lcm1 • -'
0 s a o n gt.·m J o u :1b:dh0 de eu uci

cnor J o ~ I ~ 1.
çao, no 1111 A :1111oradc ~1aca ( 1 , 146 15 ' ) .· . •· , · b· ·
li d .. i.i .s P· >- - t.llll .o dc:mc:nto s qut.· l.'.011tnbu1r :t 111 na gr:nesc do rrJ a
lú o ~ I ~ r com .1 l.'du c:1ç:io t.·sco br , .1 .\abc..
T 1 , • • 1 • .. ' · • -
- ·d . I . . · <- ( omc.:xiu so ci.1 t.' 11\ ljllc St." crn.:om 1.1 ,l o n gcm J o ~t~T c J pro pn.1sirnJ
22· Convênio 'l"t: cxisriu cnm .: o gov l·m o lt'J cral c a Assoc iaç;í o Nac io nal de Co op er3ç.lo r\grícola/.-\NC.\. p~e- çao e: uc.1c1o na hra~ilc:,r .1: :i pn :ocu 1,.,ção <l-. f 1111ri·- _. _ •, .. _ . _ .
,-; _ ,b · ta.\ sc.:111lt.'rra com .1 t.·scob p.Ir.I o~ tilh os; .1 1111 c I.1u v.I J: 1s m .ic:sc.:
\tn<lo a co111 - :f , . , - N d " 'l00ü o projeto Lurn1:1r pr o csso ras n.1 lu1.1 pda C!<lc ol.1n z.1çâ u no , h~ ·r111111 . . . . . J·
foi t-xrin ro. Sl'lll .llll l' lllO S rurai s.
raraç:m l C l t:CfllC O.\ ;1g r1co /;1s p :1ra ,lllJ;JÇáO 110', :J.S O .lllO e: - '
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na OPa n iz.:.tâo d . . · ~ um .i I Jn: · t.. ,1 o rga nrzaç ;IO e o pcrli l <las pc:ssoas que- co ntn uiram
l3. Comis<;
fo Pa...foral da 'fl:rr ,1. g ( o .\ 1.) 1, cuia prc:oc un aç ,o ccmrJ\ "I . 11 1
·. 1·1vos d ffiO\'lm . cru o. r ·
1· . d
· -se: • rca 11.açao e:cscu<los. c:s1es viscos co mo um os pnn cip•
J · ' ·os
o rgan11_a O

197
198
oder público muni cipal e estadu al, co m o intu ito d . fu . - construi'd os ao Ion go dos cursos e encontr os estad uais e naci onai s, em que
P . ' . , e garanti r o nc1onament o de cos sao
escolas proviso n as nas areas de ocup ação e escolas d fi • • ,a parn·c1paçao
· - d e assessores or iund os de várias un iversidades
. . brasileiras, .espec ialis-
. . . _ e mit1vas nos assent ament os. h
Concomita . up açao com O espaço f'1s1·co esco Iar e com os pro-
. nt e a isso_, h avia a pr eoc tas nas temáticas edu cacionais. Co ntud o, um elemento decisivo na consoli dação dos
fissionais da edu caçao . Em muit as esco las de assent am ent
. . os e acampament os, os materiais é a "realid ade" de cada local, ou seja, o pon to de part ida é O conh ecimen-
rofessores eram o nund os d a cid ade e po uco co nh ecia m sobr I to da prática desenvolvida nas escolas e seus prin cipais desafios_-_A dinâm ica para a
P . . . . e a uca pe 1a terra.
D iante disso, os repr esent ante s d o MST retvmd teava m p rofessores que uvessem
• um produç ão de cais materiais englob a as reuni ões locais, espaço un!t zad o para o levan-
conhecimento do proc esso de lur a e uma fo rm ação voltada para a pro blema u•zaçao - tamento e problem atização das necessidad es e pr áticas edu cacio nais. As reun iões são
da realidade qu e os alun os e suas família s estavam vivenciand o. coordenada s por repr esentantes loca is e estadu ais do MST . Na seqü ênci a, são realiza-
A proposta de edu cação 25 d o MST p arte da s seguint es qu estões: dos encontros estaduais nos quai s ocorre a sistemati zação de do cumen tos sobre a
realidade educacional de cada estado e análi se das experiênci as pedagóg icas em
que tipo de pessoa queremos formar para nossos quadros; que objetivos específicos rêm a desenvolvimento . Finalmente , os encontro s naciona is são organizad os de form a que
escola nesta formação; quais os princ ipais princípio s e orientações metodológicas para os as experiências de cada estado sejam relatada s e nova s prop ostas sejam encaminh a-
professores de assentamento ; que tipo de professor é necessário para este ripo de escola; das, a partir da realização de trabalhos de formaç ão (reflexão sobre as problemáti cas
como deve ser a relação da escola com o conjunt o do assentamento; como deve ser a rela- levantadas) , assessorados por professores univer sitário s, repre sentante s nacionai s do
ção com o Estado e com outr as entidades ; quais os principais desafios para realizar esta MST e membros de Organizações Não-Governamentais que tenham experi ências
proposta em rodas as escolas de assentamento s do MST? (Setor de Educação, 1990, p.3). com as temáticas abordadas em cada encontro .
Nesta dinâmica interna destaca- se a elaboraç ão de parceri as em cada um dos
Nesta propo sta, fica explícito o ideal de formaç ão de pessoas comprometida s estados onde há atuação do MST . As parcerias têm sido realizadas com as univ ersi-
"com a tran sformação social e com a militância direta nas lucas popul ares, capaz de dades e com as Secretarias de Educação de alguns estados . No caso do Paran á, qu an-
pensar e de agir com autonomia ( ... ) o que se quer da escola ainda é qu e ajude a for- do surgiu a reivindicação pela elaboração dos convênios , o setor de Educa ção do
mar personalidade s saudávei s, criativas e coerentes; que estimule a con sciência orga- MST já possuía um acúmulo de materiais e experiência s na área educacional , que

nizativa das crianças e dos joven s ... " (Setor de Edu cação , 1990, p.3 ). fundamentaram a sua ação diante do Estado . Na esfera federal , durante o ano de
Denue os princípios filosóficos da educação do MST; destacam- se: "Edu cação para a 1997, foi realizado o I EN ERA, "Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da
transformaçãosocial, Educação para o trabalho e a coopera ção, Educação voltada para as Reforma Agrária", 27 contando com a participação de várias universidade s, prin cipal-
váriasdimensões da pessoa humana , Educação com/para valores humani stas e socialistas; mente da Universidade de Brasília (UnB) , uma das organizadoras do evento , da
Educação como um processo permanente de formação e tran sforma ção human as". UNESCO , 28 da UN IC EF29 e do MST . Foi deste encontro que surgiu a idéia e a con soli-
Os seus princípios pedagógicos são composto s por : "relação entre pr ática e teo- dação de parcerias relacionadas ao Programa Nacional de Educaç ão na Reform a
ria; combinação metodológica entre proce ssos de ens ino e de capacitação; a realida- Agrária - PRON ERA . Conforme relatou o coordenador nacional do PR ONE RA em
de como base da produção do conhecimento ; conteúdo s formati vos socialm ente entrevista, "tivemos uma reunião, na reitoria da UnB , com professore s e comigo ,
úteis; Educação para o Trabalho e pelo Trabalho , vínculo o rgânico entr e pro cessos discutindo a idéia de aproveitar essa experiência que o MST tinha de educação , para
educativos e processos políticos ; vínculo org âni co entre proce ssos edu cativos ~ pr~- montar um grande projeto nacional de alfabetização, nos assent amento s. Aí com e-
cessos econômicos ; vínculo org ânico entre edu cação e cultur a; auco-organizaçao çou a idéia de uma grande parceria entre governo federal , estadu al, prefeitura s,
dos/das estudante s; criação de coletivos ped agógicos e form ação perm anente das movimento s sociais , sindicatos, igrejas, universidades e outros ".-'º
educadoras/d os edu cadore s; atitude e habilidade s de pesqu isa; combin ação entre C omo desdobramento destas propostas e atividades, realizou- se, em julho de
1998, a primeira "Conferência Nacional por uma Educaç ão B:í.sica do C amp o",
processos pedag ógicos coletivo s e individu ais" .i<, _ ,
A produção de materiais pedagógico s é realizad a pelo setor de Edu caçao, q~e _e
e . . . , - O e · ·s ceór ico-mecodolo g1-
omposco por profis s1ona1s ligados a edu caça o . s rerereno ai , :-27 . ~ ónica Mo lina (~000 ) a n;ili~a o ! l·N FR A l'nq11:1111o11111po n to d t: p:ini d;t 11, 1 :uri cu b ,-;Jo n.icio,ul po r ur11.1cdu -
caçao hi\ 1c;1 do _can~r)O. D1scm l' a aç:io tb soc il'd atk- ci vil, .1 p.1r1ir d,1s ,lrl k uLu;ôl's d o i\l ST. n.1 :1mp li;1ç-Jo dt' dir eitos.
28 . (~r gan r1.:1çao d as N:1çf,l's U nid as p.1r,1 F.dl1c 1ç:io , C il.:nci,1 l' C ultu ra .
25 V d .. . , . - - .- . . scob s de Jca111p.11nenms e .1ssencJ- 29 . h111do das N açü<.: .'>U nidJ \ para ,1 lnE"111 c ia.
. 1 e h..·>.to l.mh as b.1s1c:1.s J a pro posta de cdw .:ac;ao d o /\ 1~1 p.1r.1..,~ e.
30 . E m revi~r.1 rl'a liz:1d a l' lll julho tk- l 99t) .
mcn,o5,- <locurncmo para <li,cussão". Sc1o r Jl.' Edu caçJo, .\ l~T. S;í o Paulo. t 9 9 o.
, sr.
, 1
..G. Vidl" :vlST Prin cípios d a Ed ucaçã o no /\IST . C,ula nos rle E d 11ct1(IÍO, 11· 8 · _ ,t'l ·
199 7 .

200
199
imenco do acordo entre MST e Secretaria
.b . ara o estab eIec
coordenado pelo MST, CNBB,.11 Un B, UNICEF, e UNESCO D • . Esse programa contrl um P . adultos dos assentamentos . O objetivo do
. .• . ·· · urant e a co nferencia foram f: betização de Jovens e
debanda s expenenc1as e propo stas edu cacio nais existe nte s ,
na area rura 1. da Educação para a al ª , áximo de pessoas aprendesse a ler e escrever,
ue um numero m
Um do s result ad os do s en co ntro s de scrito s foi · - acordo era fazer com q . _ do acampamento e do assentamento, confor-
. _ , . a organ 1zaçao do Programa , . para a orgamzaçao "d d "
Nac10nal de Educaçao na R efo rma Agrana visa nd o à ed - . _ condições necessanas d vistadas ilustra cal necess1 a e: vamos supor,
. . ' ucaçao e capactta çao de fi ão de uma as entre .
Jovens e adultos do s asse ntamento s rurai s ' fin an ciado pelo governo re e d
era 1. Um me o MST. Aª trmaç .d viriam os créditos e multas vezes as pessoas não
nco se conso 1I ava,
do s pontos relevante s no estabelecimento de ste pro grama recere
r, -se ao acumu, d quando o assentame . _ ·nham condições de fazer uma leitura dos documen-
1o e d • - de assmar nao ti
experiên cias exi stente s no MST, no cam p o educacional , em cad a um do s esta do s tinham con içoes ' . I • e porque não sabiam ler e escrever".33
. deram a cerra, me us1v ,
onde ele atua . tos e muttos per .b í ara o estabelecimento de um encontro entre MST
Os facores que contn u ram p . . • . d e
. d · J resumem-se aos segumtes : ex1stenc1a e pro1esso-
e Estado, no âmbito e ucac10na , - . fu
d ida formação para aruaçao no ensmo ndamental)
2. A Origem dos Projetos de Alfabetização de Jovens e Adultos no res leigos (professores sem a ev . , . . .
assentamentos rurais; um numero s1gmficat1vo de
Estado do Paraná : o "Encontro" Entre MST e Estado . trabalhando nas escoIas d os . . , .
. d I 1c becos nos assentamentos rurais ; a presença de func10nano s,
Jovens e a u tos ana 1a . . .
· E d J de Educação com disposição para part1c1par dos projetos de
Como afirma Caccia Bava , "o termo parceria indica a disposição de uma ação na Secrecana sta ua '
- · J d s a's a' reas rurais· a reivindicação do MST com relação às escolas e
conjunta entre diferentes partes, mas não qualifica que ação é esta, que relações se ed ucaçao vmcu a o ' ., . . .
estabelecem e com que objetivos ( ... ) o exercício da parceria é um aprendizado
educação para os assentados; o acúmulo de expenenc1as, no 1_ntenor ~º-
M ST, acres-
cido de materiais já sistematizados sobre a educação que se fazia necessana aos assen-
democrático onde a riqueza das contribuições de cada instituição está justamente no
tados; e os projetos de educação para jovens e adultos que já estavam sendo desen-
aporte diferenciado que cada parceiro pode trazer para o projeto conjunto "
(1999 :15). É partindo desta idéia que analisaremos a origem e desenvolvimento dos volvidos em outras regiões do Paraná, nas áreas urbanas, através das parcerias com
encontros entre MST e Estado . 0NGs e governo. Há que se considerar os elementos vinculados à demanda social por
educação , bem como aqueles expressos numa relativa abertura , por parte do gover-
no, para negociar e estabelecer um acordo com os dirigentes do MST .
Os encontros entre governo estadual e MST O encontro foi denominado de parceria entre partes diferentes e, de certa forma, res-
guardava a autonomia de cada uma delas, conforme explicitado no depoimento a seguir:
No Paraná, a primeira relação de parceria entre governo do Estado e MST acon-
teceu no início dos anos 90, durante a gestão do governador Roberto Requião . (...) é uma parceria com diferentes partes e capacidades, mas em condições iguais de par-
Durante o referido governo, havia um diálogo entre MST e Estado , pelo menos nos ceiros, cada um dando a sua contribuição. A Secretaria reconhece a condição do parcei-
primeiros anos da gestão, conforme afirmam os entrevistados pertencentes ao MST. ro, não só do MST, mas dos outros convênios, a gente sabe que eles têm um diferencial
Houve a criação do " Programa Paz na Terra" , no qual um dos objetivos era ameni- conceituado, que eles têm uma metodologia adequada para atender a sua clientela e estão
zar as tensões sociais existentes no campo . buscando estratégias de atendimentos que não são adotadas nas redes públicas de ensi-
A constatação da situação de analfabetismo nos assentamentos e várias reuniõe s no, mas a Secretaria reconhece a capacidade, qualidade e o direito que esses parceirostêm
com representantes do MST e com a Comissão Pastoral da Terra culminaram na cria- de buscar alternativas. (Representante do Departamento de Educação de Jovens e Adul-
ção do "Programa Especial Escola Gente da Terra ", cujo objetivo era "dar um acen- tos/SEED/PR, 1999).
dimento específico e diferenciado " à população rural (de áreas indígenas , assenta-
mento s e assalariados rurais), em termos do en sino fundamental e alfabetização de A parceria est abelecida entre a Secretaria de Educação do Paraná e a entidade
jovens e adultos Y jurídica do MST

- ANCA - ero1· organ1zada
· •
·14 da segumce ·
manetra : o MST se1ecio-
·

3 I. Conferência N.,cional dos Bispos do Brasil. 33. Membro do setor de F<l - !0


. ·32· P·.1rana., ,5ccrc1ana
. • . d E,
de Esrado da Edu caçiio. Supcrin1endcn coa a uu caçao. - Es ·oh Gc nre da Terra: da con-
e • 34· A,s iarefa.s
, . . · ucaçao ' ,\ tST, rnrre visra<laem abril de 1999.
dcsrgnadas a cada um dos . · . ... -. d . . , . . , 'cni-
co-finan .· . . - d parceiros csrao cscnras no lt'rmo de convcrnu de coopt.:r
aç.w lt:
<jll JSl a da lcrr., à con,p1is 1a da palavra. Secretaria do Es1ado da Edu caçiio, C uri1iba. 19 9 5, ce11a, ,rssina o em 1' de a6ril de l 9'JG.

20 1 202
. O de não tinha energia elétrica levavam lampião , vela
nava e contratava os monitore s (professores leigo s que seri· c b . d ) dO de improviso mesmo. n . ,
am os a1ra et1za ores ; cu . d·c: ld d com mdo isso, a dificuldad e do aluno , porque muitas
O Estado repassava uma verba para pagamento de J 00 m on1tores
· d d
e coor ena o- então era muita meu a e e, . . - ..
mais idade d1z1amque nao consegumam aprend er. Eles
res regionais (aqueles que acompanham os trabalhos na s áreas) ; desta verba, 1O% vezes eles, por se ach arem com , , . . .
. bl de visão não enxergam ; cambem , trabalhar o dia meeiro na roça
eram destinadas para . o acompanhamento na s áreas e para a capacitação do s têm muitos pro emas , .
. para uma saIa de au Ia, sem rer as mínimas .condições , é uma dificuldade muito gran-
e ir
monitores . A Secretana de Educação era responsável pelo acompanhamento do
trabalho desenvolvido pela ANCA I MST na área de alfabetização dos jovens e adul- de, um desafio... (Entrevista realizada em abnl , 1999)

cos; por supervisionar a implantação e execução do projeto ; por propor cio nar
cursos de capacitação aos monitores envolvido s no projeto ; por produzir mate- Quanto aos materiais pedagógicos utilizados pelo_s ~onitores, foram produzidos
rial pedagógico, em conjunto com a ANCA I MST; e por repassar à ANCA / MST os pelo setor de Educação do MST, em sua grande ma1on~. Uma parte _dos materiais
recursos financeiros (100 vencimentos equivalente s a 7 0% do pi so inicial do pro- utilizados referia-se aos livros produzidos pelas Secretanas de Educaçao , Estadual e
fessor PA-1) • Municipal. Eram cartilhas, manuais de alfabetização, sugestões de conteúdos nas
A organização das turmas de alfabetização foi estabele cida por meio de uma diferentes áreas do conhecimento . Os monitores participaram de cursos sobre aná-
"Campanha de Educação nos Assentamentos - educação de jovens e adulros" , lise de conjuntura e receberam assessorias de professores universitários que conhe-
articulada pelos representantes do MST, contando com a participação da impren- ciam as propostas educacionais do MST. Há que se destacar que existia um trabalho
sa, denunciando o número de analfabetos nos assentamentos e a não participação com os conteúdos curriculares de cada área do conhecimento . Esse conteúdo era tra-
das prefeituras no processo de alfabetização . A campanha foi divulgada atravé s de balhado pelos professores universitários junto aos monitores, os quais trabalhariam
cartazes sobre a alfabetização e contou com a participação de representante s do com os alunos da alfabetização, de forma que estes pudessem adquirir os conheci-
Estado. Assim, organizaram-se as turmas de alfabetização com os monitore s no s mentos suficientes para a realização da avaliação ou teste de equivalência, organiza-
assentamentos. do pela Secretaria Estadual de Educação.
O MST responsabilizava-se pela organização da capacitação dos monitore~.- o O convênio teve início com 100 monitores . Dos alfabetizandos (era prevista
que foi feito, em alguns casos, com apoio de professores uni~ersi~ários, dos d1~1ge~- uma turma de 20 alunos por monitor), 40% concluíram de 2• a 4• série. Ao final de
tes do MST e da própria Secretaria de Educação -; pela real1zaçao da _alfabenza?ª .º três anos de trabalho, conforme relatório fornecido pelo MST, com relação à capaci-
e formação das turmas; pela elaboração de materiais didáticos etc. Munos matena1s tação dos monitores, 50% concluíram o ensino fundamental; 30% não o concluí-
· didáticos haviam sido elaborados pelos próprios dirigentes do MST, do setor de Edu- ram mas avançaram nos estudos; 12% concluíram o ensino médio e 8% estão cur-
cação, e eram reconhecidos pela Secretaria de Educação, ainda que com algumas sando o ensino superior.
polêmicas, em razão de serem oriundos do MST. . Conforme o MST, no início do convênio havia 6 .250 famílias assentadas no
No início do convênio, havia a preocupação de que os monitores fossem pe~soas estado do Paraná, e em 1999 eram 13.400 famílias assentadas e 6.000 acampadas.
·
com escolaridade equivalente · fu n d amenta 1·, n o entanto , em algumas areas
ao ensino No relatório do I Censo da Reforma Agrária do Brasil (1997) , constatou-se que, no
não existiam monitores com tal escolaridade, o que fazia com que pessoas que cur-
estado do Paraná, 17,36% dos 3.118 beneficiários da reforma agrária entrevistados
saram, às vezes, apenas até a 5ª série, tornassem-se alfabetizadores . são analfabetos; 1,69% possui a alfabetização completa. Cerca de 81 % dos benefi-
O depoimento da representante do MST 1·1ustra o con·d·1ªno do processo de ,alfa- . ciários entrevistados possuem escolaridade equivalente à 4a série. Evidencia-se, por-
.b b trabalho pedagogico
betização, demonstrando que o Esta d o l 1 era a ver a, mas O tanto , a precariedade em que se encontra a educação nas áreas de assentamento,
. .fi o gasto da verba , apresen-
fica sob responsabilidade do MST . Este tem que JUStl JCar , . demonstrando que a exclusão não é apenas com relação à terra.
. - f,
rando os números da alfabenzaçao , con orme esta belecido no convemo.
O encontro entre MST e Estado visando à atuação na área educacional ocorreuª
bas eram utilizadas para o paga - partir da constatação da situação precária da educação nos assentamentos. O Esta-
A gente pode ver pela prestação de contas que as ver , E d or do fundamenta-se na idéia de potencialidade da sociedade civil na busca de solução
. ores p ara as areas e o sra o p
menro dos monitores, para o deslocamento d os supervis Muiras
. . . e mesmo o dos a1unos . para situações que foram geradas no seio das administrações públicas por falta de
munas vezes não contemplava o matenal dos monitores escre-
. 1 derno para os alunos, para investimenros, tais como a precariedade educacional , e que estão sendo objeto ~e
vezes, se chegava em salas de aula que não un 13 um ca . d cão era
. . 1 sem giz, sem qua ro, en demandas por parte da população e do MST. Um ponto a considerar, na viabilizaçao
ver. A infra-estrutura nas escolas, muitas vezes, as escoas
do convênio, no período de 1996- 1998, foi o envolvimento dos funcionários da

203
204
Secretaria de Educação/Departamento de Edu - d J
•al d . caçao e ovens e Adultos que acredi- ·, · / un 1·versi·ta'ri·os·J6
mento de estag1anos , pagamento dos monitor
, es (um salário
_ míni-
avam no potenc1 o MST para a realização d • 'd d
t as at1v1 a es que en J ·
50
de alfabetização . vo viam o proces- mo); pagamento dos coordenadores regionais do MST na a~ea d~ educaçao '. materiais
No ano de 1999, manifestou-se o desencontr d 1.daucos;
,· ·
e viagens dos moni·cores e professores. A uni versidade . part1c1p
_ a com
. . . . o entre governo e MST, no âmbito recursos human os, ou seja, os professores qu e trabalham na capac1taçao para a alfa-
educac1onal, uma vez que, diante da solicitação do MST . d
_ , . ' , por meio a ANCA, para a betização e escolarização dos jovens e adultos. No caso do estado do Paraná, proje-
renovaçao do convemo, houve uma resposta negativa ,
, mesmo apos um ano de nego- to da região sul, existe a participação de professores da rede estadual de ensino, assim
ciações. Segundo o MST, foram os fatores políticos que levaram , - _
. . . . a nao renovaçao do como profissionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Esta-
convên10. Tais fatores estanam vmculados à intensificação d - d
, . . . a açao o MST no esta- dual de Ponta Grossa (UEPG).
do bem como as amudes neoliberais do governo Da 6ti'ca dos r d
' · epresentances 0 O projeto da região sul do Paraná engloba aproximadamente 30 assentamentos
Estado, um dos fatore~ ~stá relacio _nado ao corte geral de verbas do Estado para
rurais. É constituído por 40 turmas de alfabetização, 40 monitore s e 20 alfabetizan-
diversos programas soc1a1s. Os funcionários da Secretaria Estadual envolvidos com
dos em cada turma . O número de alunos por turma está definido no Manual de
a educação de jovens e adultos, quando entrevistados, acreditavam firmemente que
Operações do PRONERA,organizado pela comissão nacional composta por membros
0 convênio seria renovado. Mais uma amostra de que nem sempre os funcionários
das universidades, dos movimentos sociais e do governo federal. Os monitores são
governamentais representam a voz do governo .
reunidos para participar dos cursos de capacitação para alfabetização e escolariza-
ção,37 no período de dois em dois meses. Em cada região, todos os meses são orga-
nizadas oficinas em que são trabalhados os conteúdos referente s tanto à capacitação
O encontroestabelecidoentre movimentos sociais, universidadese para a alfabetização quanto aqueles vinculados ao processo de escolarização. A cada
governofederal mês, um dos professores universitários acompanha o trabalho desenvolvido nos
assentamentos, onde funcionam as turmas de alfabetização.
Com relação à parceria entre MST e governo federal, o ano de 1997 constitui - A avaliação dos monitores é feita através de um processo contínuo de produção
se o marco das primeiras reuniões para a formação do programa. O INCRA é o ~e texws. Tanro no convênio com a Secretaria Estadual de Educação quanto no pro-
órgão do governo responsável pelo repasse de verbas oriundas do Ministério de Jeto vinculado ao PRONERA, há presença da Secretaria de Educação no momento de
Desenvolvimento Agrário às fundações pertencentes às universidades . Oito Esta- certificar os alfabetizandos e os monitores. No entanto , sua presença tem sido pon-
dos iniciaram o processo de alfabetização, capacitação e escolarização desde r~al,_uma vez que a proposta de avaliação é organizada pelos professores universirá-
setembro de 1998 . Atualmente, existem 60 projetos aprovados ; no entanto , nem nos JUnta~ente com o membros do MST e, após, é encaminhada ao Departamenro
todos estão em funcionamento, tendo em vista que alguns deles estão na fase de de Educaçao de Jovens e Adultos, da Secretaria Estadual de Educação.
renovação. Existe um manual de orientação para a elaboração dos projetos que , Cada u~a das partes envolvidas no convênio possui uma autonomia relativa,
posteriormente, são analisados pela Comissão Pedagógica Nacional do rendo em vista que a universidade e o "IST d ·
, . . •v , no caso o projeto da região sul do Para-
PRONERA. Conforme afirmou o coordenador 35 deste, a verba para dar início aos na, discutem e decidem todas as ações con 1·umamenr H , · 1 · e
e. a, me us1ve, uma rorte pre-
projetos foi conseguida através da atuação do MST: caminhadas e manifestos em sença d o MST nos espaços de organ · - d l .
izaçao e esenvo v1menro da educação de jovens
frente ao Palácio do Planalto e reivindicação de verbas para a produção agrícola
nos assentamentos. 36. Os estagiários uniwrsir:írios s1o res onsiv" is 1
. vida nos as . .. 5 1 · ' p < pt O acompanhamento do processo de alfuberiução desenvol-
So bre o desenvolvimento do PRONERA nos esta d os, em pr imeiro lugar é preciso . . .\Cman11.
planciamcntos de 'tubs ·
:nio , lt m co mo da escolariza ão do ·
. ç
· ~~
s mon1torn . O acompanhament o da altabemaçJo ,mplto
. . _ . .
destacar que o projeto, no caso do esta d o d o Parana, , e, u ma parceria entre MST,
. um- _ • ' ' Jllllf:1/lll'fll t: ( 0111 os munirnrt s 1 .
to a escolari1.ação, U.\ l.'SI ,.,, • .- . . . , .
. 1· . •
' l1.:m co rnn Ju x( 10 1unru :is turm.ts dt' :1lt:1b
• . _
enz:1çJo. Qu.in-
. ag1:.1r1o s sao ll.:spon savc1s pdo aco . 1. d . . . . .-
· · aimente d O nordeste ' os parceiros
verst·dades e IN CRA . Em outros estados, pnnc1p • . dsao mo1111on :s no procc:~~o de 1: , . I". _ mp.tn 1.1m e111
0 as au v1J.1des grup.us, ou seJJ, Juxilwn os
37. O s m -. . <l c.:m1r .'1e.:~ iscussao dos tcx(os indicados pdo s profC' ssorcs.
_ d balhadores univers1da es .. omcn1o'i e capar 11açau carac1i..: riz·1m-st: >cl ·1 b -
compostos por alas da Igreja, sindicatos, fed eraçoes e tra .. ' aquisição da leitura t escrita . . ·• · 1 ª t ª oraçao de planos dc aula e deba,c sobre o processoJe
e INCRA. O governo federal é responsave , 1pe 1o repasse d ªs verbas uulizadas no paga- A . -
escolan:1.açao
, ' ou SC
(: o momc, d . 1. li
Ja, c a prcparJç.io do m . . . . .
urnror p.,r.t l lLh.: de a.lfabe11zl' os Jdulros dos assemJJnL .'flWS.
res~orc:.seIe todas a:, ~n:Js <l11u ohrr,1 ..
n io com o co me1'1do e r , · J . .
or i.:spon e 1111.: JO ensino fundam emal. erwolvcndo pro-
lho u con c.:
~com os ll'mas geradores, Ot1 de um ·1 .
c11nc11w. Ambas JS a1iviJ -1J .. .-
. -
r
• c.ss. 10 rea iz;1das conco n111Jn1
. O
c menrc , ;1.trJ\'t.~ Jo rr.1 J-
o rtJnto, capaci1ação ·fi- . ~prox1maçJo do ljlll' !teria u rrabalho com os tem.is n-er;1dorcs ,1.1 co1Kt'p~·.ll.1
dl' !·reire. f>
35. Entrevista realizada t'lll julh o de 1999. ção t' a csculariz.açJo(: o momen:: t~rc-~c:ª.prepara~:iodos prolCssorcs leigos par:1desenvolven.~n a."i.ml.:s Lie Jlt:1bt:riLJ ·
os n1011H
l'lll lJUt.: o rcs aprendem os comeüJ os cquiv:.1l enre:. Jt1 t'llSifü, fon<l.1mt·111.il.

205
206
. ,idulros. m arca da ramo pela e.xperiência j,i acumul ·1d ·1 d d . _ .• . e ·do anteriormente, é a Com issão Pastoral da Terra que
e d . . . _ . . • • P o seror e Educaçao do Um dos arores, 1a ieren .. , se
\l', T. qu,inro p a su,1 arnculaçao d1scursn a1 dura -- É - - do convêni o en tre MSr e govern o do estado . A preocup
· · . .d . _ .. , • • nte as reumoes. . também. envolveu na orgarnzaçao a-
influenciada pela I ennficaçao ou m1hrancia dos profission ·1 15 · d . . .d d
. . _ . · as unners1 a es em ção da Cl'T esrava reiac1·oiiada com O alto _número _ de analfabeto s nos .. assentamento
. s.
refaç;ioao m ovi m ento. o u se1a. nao exis tem muiras di ver<>ênc· b · do no estado man1festaçoes e aros como o Gnto da Terra",
. , . . ::, ias en tre an1 as as par- A cr T vem orgarnzan .
res. rendo em nsta _qu e os proh ss 1ona 1s aruanr es ,·unto ao p ro1eto. • . .· .
em sua ma10na. e
cursos de rormaça -
0 , entre outro s. Em âmb1ro federal , a CNllB apresenta preocupa-
·dentificam-se e detend e m as propostas educacionai s do \fº T \' 1 d à d _
l . . . . · • ., . meu a as . e ucaçao çoes com as ques es relacionadas ao campo . Sua
_ to- _ atuação, . desta se dá através da _ Ci'r,
Pop ular.A autonomia fica limitada d1anre da dependência co m rd - · t·b
açao a I eraçao - ) .
como exp JCI o ·t ac·
i nia· , da Associação de Educaça o Ca rolJCa; do Conselho lndigenis-
de yerbas por parte d o governo federal. . · · · . e dos Movimen tos de Educação de Base, ent re ou tros.
ta M 1sswnano,
Uma da s diferen ças enrr e o convênio estadual e o federal refere-se .ios atores No estado do Paraná, os sind icatos e dema is entidade s, como as federações de
envolvidos no processo. No caso do PRONER.-'.. obrigatoriamente os envolvidos trabalhadores, não têm se envolvido devido a algum as razões, dent re as quais a pró-
devem ser uni vers idade s (respon sáveis pelo proce sso administrativo e pedagógic o). pria ideologia do MST, de um lado, que não admite muita s interve nções e, de outro
os mo\;memos sociais. como o \I ST. na regi ão em qu e pesquisamos. e O 1:-S C RA. lado, a ideologia das associações e federações, que nem sempre vão ao encont ro dos
Ouuos ato res se envolvem n o proc esso . ta.is como a Secretaria Estad ual de Educa- interesses dos assentados. A presença do MST é predominant e em função de que seus
ção. com a qual é realizad a a di scussão so bre a aval iação e certificação dos alunos. militantes se colocam como os responsáveis pelas áreas de assentament os. Além
canto alfubecizandos. quanto m o nitores. A univer sid ade, através de fundações. disso, ele defende uma concep ção diferenciada de educação, onde o ponto de parti-
roma-se responsável pela aplicação da verba liberada . O co nvêni o esta du al envolveu da é sempr e a realidade dos envolvidos no proce sso.
3 Associação Naàonal de Cooperação Agrícola/A NCA, enridade jurid.ica do ;'-.fS T. e a Conforme constatado em entrevistas com represent antes do pr óprio MST,este pos-
própria Secretaria Estadual de Educação. Outro s atores poderiam se inserir no pro-- sui princípios ideológicos, filosóficos e pedagógicos definidos . As relações ou apoio
cesso, no entanto , não estava explícita em contrato a obr igatoriedade da presença de que o movimento busca junto a outras enti dad es resume-se ao apoio político e asses-
um ou outro ator. A dimen são peda góg ica foi assessorada pda Comissão Pedagógi - sorias pedagógicas, quand o é o caso, como acontece com os programas educacionais.
ca da Secretaria de Educação e professor es oriundos de instiruições universiririas.
conforme a demanda do 1-.IST .
3. A visão dos Monitor es, Professores e Alfabecizandos
Sobre os Encontros MST - Estado .
O envolvimento de outros atores
Monitor es
Constatamo s ao lon go da pesquisa que. da s Orga ni zações Não Governamen~us.
apenas o Departamento Sindical de Escudos Rur-.iis (DESER) teve uma presenç-.i pon - Os monitor es são os professores leigos que , em sua ma ioria, possuem escolarida-
rualdurante o ano de 1999 . Foi un1a tentati va de poss ibilitar a renO\~.iç-.lodo con- de precária, ou seja, o ensino fundamental e médio incompletos . São jovens na faixa
vênio entre Secretaria Estadual de Educação e 1--IST,de acordo co m informações etária enrre 15 e 25 ano s, pred omin anteme nte . São escolhido s para serem monito-
obtidas junco à Secretaria Estadual de Educação do Paran:i . Co nforme afirmou um ,i res a partir de critér ios como : a maior escolar idade existente no assentament o; acei-
das representantes do 1-.IST,o Estado tinha receio de que ,1 verba desri nad,1 i'i ed~c-.i- tação da comu nidade; conhecimento e en volvim ento com O MST. São moradores
ção dos assentados viesse a co ntribuir para o fortalecimento d o m o\·imento: por isso. dos assentamenros rurais em vários municí pi os do estado do Paraná. O convênio
houve a necessid ad e de incluir uma Organização Não Gove rnam ent al que pudesse estabelecido entre Secreta ria da Edu cação e MST, durant e 1996 a 1999, contou com
~ - d ,- rocesso de tr-.1-
ser a mediadora na relação 1-.IST-Estad o . A inclu sao e uma l)Nt, no P . ª participação de 100 monitor es. O proje to da região Sul do Para ná, parte do
· _ . . 'd
mnaçao do co nvêmo pode se r arnbu1 a aos con,t.mre, .. . . . con flito s e.x1stenre s. enrre.
. .d d d ole d;is verba s de sun ,1da, PRONE lv\, possuiu 40 mo nitor es durante o ano de 1999 , com a previsão de acrésci-
Estado e o m ovimento. bem co m o i'i ne cess 1 a e e co nrr . _ d mo de 30 monitores para o a no 2000 . D os 40 m o ntt· ores , 24 possuem o ens1110 · fiun-
. d
para o pro1eto, por part e do gove rn o esta ua • I O c--iE·rR foi escolhido em r..u:w e
:, · _ _ _ _ . .
_ . . . . . icipa -ao de ,e u, m emb ro, dam ent al comp leto e 16 não o comp letaram .
sua atuaçao JUnro a co munidad e rural e ;interior p 3 rr \. A inserção dos n · f' •
. lOnttore s nos re endos prog ramas d eu-se atra vés do conta to eScJ-
iunto ao ~l~T . belecido com rep resentant es. do iv,.
" \ --1-, qu e rea 1·1zavam o trabalho de di vu 1gaçao
- e s·ele-

207
208
ção nos assentamento s. C oub e ao M ST a organ · - d dos i·ovens incluídos nos espaços ed ucat ivos poss ibi litado s pel
. _ • . izaçao as turma s de alfabetização e a Portanto , a1gun s . - . d º ºd I o
indicaçao dos monitore s que atuanam em cada tu rma . convenw esenvo Ivem d'rmensões de emanc1paçao 111 1v1 u a q. ue se mani fest am
• . d
O s monitores, quando ind agados sobre a origem d 0 · - • . no moment o em q ue planejam as suas aulas e sen tem a nece ssida de de desenvol-
. proieto, sao unamme s em
dizer que é um proJeto do MST, no qu al o papel do Esrad e ver um processo de pesqui sa, já que não ent end em o conh ec1menro como algo
o rerere-se ao repasse de ver-
bas. É comum encontrarmo s respo stas que destacam b . pron ro e acabado. .
os mem ros 1oca1s do MST
Ti • O s monit ores consideram a alfabetização imp o rtan te para os assent ados, para
como responsávei s .pela . concretização
_ e desenvolvimento do pro1ero. res afiI rmaram
·
desconhecer a part1c1paçao do _Estado junto ao programa de alfabetização. que tenham maior aprendi zado de cidadania . N o enta n to, destacam dificuldades,
Um dos mo111tores, pamc1pante do convênio da Secretaria da Educação com 0 como a distância que têm que percorrer para mmi srrar as aula s; problemas oftalmo-
MST, afirmou que "nem Estado , nem município, nunca ajudaram , nun ca partici- lógicos entre os alfabetizando s, cuja maioria, devid o à idad e avan çada, não consegue
param, quem tocava o trabalho era o MST . O Estado ajuda va na questão financei- enxergar nitid amente ; falta de mater iais; o alto número de desistente s e as interrup-
ra, às vezes os cursos de capacitação eram realizados com recursos próprio s, porque ções que ocorrem ao longo do processo de alfabeti zação. O corre m uita desistência e
0 Estado não bancava . O Estado não incentivava, só dava o dinheiro e o movimen- interrupção dos estudos , conforme relatos , por motivos de tr abalho e, conseqüenre-
to que se virasse. A univer sidade nunca participou do s cursos, só teve um profes- menre , de cansaço. O fator trab alho - envolvim ent o co m a produ ção agrícola _
sor..." : 18 O entrevistado destacou qu e há falta de acompanhamento por part e do é o mais citado como motivo de desistência do s alfabeti zand os.
Estado, alegando que "nunca apareceram para ver como estava o trabalho ". Um Um dos monitores destacou que "o trabalh o de alfabetizaç ão possibilit ou às pes-
outro afirmou que houve alguns avanços no relacionamento entre Estado e MST , soas adquirirem novos conhecim ent os, conseguirem perceber qu e o MST não lura só
como a relação entre a Secretaria de Educação do município e o MST , pois antes por terra, mas por uma sociedade diferent e". Alguns ponto s negativos, men cionados
não havia diálogo . foram a falta de apoio técnico, de acomp anhamento dos profe ssores e demai s coor-
Perguntados sobre a participação das universidade s no projeto , os monitore s denadore s nas turmas de alfabetização, ou seja, a necessidade de pessoas mais capaci-
explicitaram a importância delas para a divulgação de conhecimento s e destacaram tadas para encaminharem as atividades pedagógicas.
que são alguns profissionai s das universidades que se envolvem com os projetos .
Sobre os resultados obtidos até o momento, um afirmou que "resultado a gente
teve muitos. A gente vê pessoas mais felizes, porque conseguiram escrever o nome e Alfabetizandos
issojá é um resultado muito grande p ara nós . Resultado, também , de nós continuar ,
não rer desânimo, tanto nós quanto os alfaberizandos" .39 O s alfabetizandos são joven s e ad ult os da s área s de assentament os rurais.
Uma das monitoras relatou que , quando começou a participar dos cursos de Muita s vezes, não têm conhecimen to do pro cesso qu e d ese n cade o u cad a um dos
capacitação, sentia muita difi culdade, pois vinha de uma escola tradicional. Para con vênio s, po is são convocado s par a co nstituir as turm as e m cad a assen tamen-
muitos dos entrevistados, a inclusão nesses programas edu cacionais represent a a to . Para algun s deles , o proj eto vincul ado ao PR.ONE RA ou à Secretaria Estadual
possibilidade de emancipação social e cultural. Consideram muito importante a de Educação do Paraná não tem diferença de o utro s pro jeto s, co m o O MOBR.AL,
presença nos espaços formativos e a rede de relações sociais que são criadas ao por exemplo .
longo do s projetos . Uma monitora afirmou : "Eu comecei a fazer os cursos e f~r Qua~t o à origem das turma s, um afir mou que "o MST é que se preocup ou com
melhor pra gente ficamo s mais animados . Eu nunca faltei em nenhum cur so. Nos ª edu c~çao aqui no assentam ent o, sempre estavam aqui dis cut indo , dizend o que era
' - , es uisar " .40 Ela
temos qu e estar preparados para tudo . Se nao esta , tem que . P _q necessano
. qu e o povo particip asse. A Sectetana. d a E d u cação não pam .c1p
. ava, nao
-
· · · o curs o de capac1taçao e qu e," pos-•
comenta que era muito tímida antes d e 1111c1ar tmh a. acompanhamento
. f
' ª ava mat en a . estaco u ainda qu e o p roJeto evena·.
lt · l" D · · d
. • fazer curso s ond e voce
tenorm ente, começou a se envolver com o movim ento, a . ,, commu ar, po is a l~ta não termina quan do se co nqui sta a te rra .
. . •d d para os alfabenzando s .
tem que desenvolver a criatividade , para cnar atlVI a es Para os alfaben zando s · , · d ·b·t·d de
. _ ' ª imp o rt anc1a a alfabeti zação refere -se à poss1 i 1 ª
d e mclusao no m undo I t d · e: 1 e
0
e ra , poi s anrmam a necess id ade de apr end er a er
escrever para qu e pos sa . d
JH, Monitor l'llln.:visr:1ducm 11nv-.:111bro de 19~9 .
d .. m assmar os ocumento s do INCRA , ler os ró tul os dos pro-
uto s un 1izados na agriculrur O d ºb . áo
J9 . Monitor c..·111n:vis1ado c 111Sl 'l c lllbro de l ')99 . em 1 - ª· ap ren er a ler e escreve r rep rese nta a li ertaÇ
•10. Mon i1or ,1 cn1n:vis1ad a cm rn1111bro d l· l ')99 . re açao ao uso do carimb o das . dº . . e: um deles,
im p ressões ig 1tais, como aurm a
209
21 0
representa ''dei xar de usa r o d edão" . Demon srram 1 · d . _ · . <icirios. que tém .1 possibiliJ.i de de .Kn 1np.tnh.i
.. . . . ª eg ria quan o dizem que apren- . aimente . entre os a 1un o, uni\ er. . . r
deram a ler e esc reve, , de st.1ca m as difi culdad es e nfr e t d . CIP ál. _ b e O qu e ,ej.1 0 mo ,·1menw .
. , . n a as no assent ament o, tais e elaborar suas an ises ,o r - . - . . . .,
como a d1sranc1a da casa até a esco la; relat a m qu e às . (
vezes o monitor a) tem qu e ir
. e. f -<e IO mcere.<se do , mom10 re, . qu e se mnsrr.1111
Ourro desraque re110 re ere - . . - . . .
até 3 casa das pessoas , chegando a camin har de 5 a 1o quil ô metros . .d -1< [eitur.i s e d1scu. soes d.is 1em .1t1c.1s prop osr.i,
dedicado s e comprometi os com - .
As turma s de alfabeti. zação tê m rido continuidade ' • co n~o rme a d "1spon1•b ·1·d 1 1 a- ._ . - ,c ol.iriz.a.ç.io . Em co ntr.1p.1m d a . h .1 um.1 per cepção
nas reumoe s de capac11açao e e. . . . - . . . ... . . .
de de verba s, e nov as • discussõe s são estabelecid as entre 1M .,º ·r· e univ
·
ers,"d a d es, co m . . d · s e a propn-1 .1plae.1 ç ao da, 1de1.1, pr ese nte, nos tex-
de que a pra11ca os momrore . . . . _
0 intuito de constru ir forma s de romper com as barr eira s co nstruíd as cultural - - b d ºsranre< d o ide.1hLldo pel.1 p ro pn.1 d1reçao do movi-
tos do ~!ST esrao astante 1 - . . _ . . ..
mente , tentando amp lia r as turma s de alfabetização . A idéia d e ampliar a parti- • proces so de ··co n,C1enr1zaç.10 po h11ca . co mo den o-
mento . Esta tem mreresse no _ . _
cipação das pessoas no pro cess o d e alfabetização vem ao enco ntr o da nece ssida- . l· c do monitor com o albber1 zand o nao ocorr e numa
minam: no entanto . a re aça0 . . - .
de de manter os convênio s em funcionamento , poi s um do s mai o res de safios para • . d · .- e a -eiração d os conteud os. e un1-1relaça o que esta em
torma lmear. e u an sm1ssao < .
a coordenação do MST está em criar a dem anda pela educação no s assentamen-
consrru çao. - on d e os ·•ale. ,a beriz.a.ndos estilo bu sc.indo algo _ m.11s . _ d o que conselhos
tos, uma vez que o analfabetismo está constata do . Também, a ampliação da s tur- • • ·d
po 1mco s e 1 eo ogtcos . 1 · · o su -e-so
< ,
do, -
prooramas
<: . . . de albbet12.1
. . çao parece depender
mas tem um se ntido político para o MST, tendo em vista a possibilidade de desen- · r do- profe<sore< umvers11an os. prmc1palmenre na elabora-
d º compromenmen o , - - .. . . .
volver formação políti ca aumentando , portanto, o grau de "consciência políti ca" çao- d e um espaço . eduntiv , o que d além d.is expenenc1as ondiana s . e do_ conhe- .
entre os participantes . nme· nro ·d 1 eo 1og • ·1c0 d ·,tu · ndid o pelo \!• ·"T · t-.las depende. em ,grande mstanc1a , da
açao - governam ent ·il . . 110 .,~nr , ·,do de •1mpliar e dar continuidade aos projero s exis-
teme s em c 1da um dos progr.1nu s.
Osprofessoresresponsdveispela capacitação e escolarização Um dos professores•·' que assessonr.1m o projeto e.,isrente entre :".!ST e Secretaria
Estadual de Educaçfo relatou que fi.:ou ,a bend o da e.,istencü do Setor de Educa-
Os professores também assinalaram a presença do MST como ator central , exer- ção do \!q quando foi co m·idad o ,1 .1ru.1r como orienr.1do r no processo de capaci-
cendo o papel de pressão junto ao Estado e de organização das turmas de alfabeti- ração de monitores . Era respons,h ·el pel.1 ,irea de leitur,1 e alfab eti zação. através da
zação. O IN CRA/PR foi citado como órgão que dá apoio ao convên io, seja disponibi - realiz,içáo de um projero de e.xrens:io universir.ir ia. Relat ou que o objeti ,·o de sua
lizando carros para o transporte de professores e estagiários para os assentamentos, atuação. como um represenrante da univ ersidade. er.1 '"subsidia r a prárica dos alfu-
seja oferecendo materiai s, como as plantas/mapas do s assentamentos onde os proje- betizadore s do convênio. fornecer materiai,. promover um pr ocesso de formação
tos são desenvolvidos . conrínu .i""e. ao bdo disto. o objetiv o dt, \IS T er;1 ··obter apoio da universidade para
Uma das entrevistadas 41 destacou que a existência do PRO ERA representa um a formaçfo continm e .1rn mp ,rnl1:1mento d o p roce'-'o de ,1\fabeti zaç-.io que esr:i,·a
avanço nas relações Estado e MST, no sentido de que o programa foi uma reivindica - com algumas difinild ,1de,. em Yirrude th pou.: :1 e,.:obrid ,1de dos alfabeti zadores··..
ção dele e que, se está em andamento, é justamente pela pressão e pelo reconheci- Segundo o lll t'> lll ll professor. n prnjern tlc: e.xtens:i,, .:ontribu iu par.1 que os moni-
mento que o MST vem construindo na sociedade . Afirmou que o faro de os universi- tores envolvidos no conve niú \IS T - E<r,1do ti.),.,em ,·, rimul.ld os .1conrinuar O pro-
tários terem a oportunidade de se inserir em o utros espaços, que nâo meramente 0 cesso de alfabetizaçfo nos .1ssrn1,1111, ·mos. ,ist<'lll,1tiu:,em .1, pd tica s de alfaberizaçáo
espaço escolar, já é um a conquis ta . . . ·
e proc1LILISSCIII · · p.1r.1\) ILI \),1li\ll ú>m ,,, .1:<-
lll .llt'íl.llS , <.. -\S prm.:
<t'llt;\\l\l, · 1p:11
· ·s •nividades
O utra ;,- a fi1rmou que um d os pontos posmvos
· · d o l' l', ON E-I'"•\ fo1 ter sur <>1do da · \ 1 · \ · 1 1· 1· - e p drica de
0
de assessnn a l eSt" l1\"\) \"l\ :IS l,1r.1111 <"llúlllll\),; <'Ih t' S • l~'.I 1z,1v·.1m orn u çao
· nasceu d a d eman d a d os movimento
base, pois · s• soCia·. ·,s,. artº1culado co m membro . s de. alfabetizaçfo. d,· ,1prt·ntliz.1µ,·m 111.llt 'm,ü i,-.1 ,. pf\,,\11,·.io ,k nureri.tis did ,ít icos.
universidades. O progr ama d eve ria se tran sfo rmar numa política pública, pms Co m rda çáu ;\\lS lll.llt"l"Í.1isl'th1,. 1<
- ..consistcnt,
.
: i,,n.1i, pnidu , id,,., pd,, \I~ I". le afirmou ~ue
.
enquanto projeto/programa
b . .l
pode aca ar a qua que, mon 1
. enro afirmou uma das
· sao ·, e. .1111.1 11·1;1,l"' ... , 1·llt' lll"1 q11c""h .i 11111.1 . . ptl 1·1n.:a
c·,wren.:1,1 . e i'kologi' -
.
enrrev1sradas. Na concepção do s professores, os encontros es .
·tabelecidos entre gover-
_. . J .
c 1 qu e a un,.1
1· - 1 l
1g:1\·,\tl t-'lltlT ttll \,:,; ""s" t' "'\lll\ <.
..
' tH\l:,. . l) t"~t~h.-ú ll qllc" un1
do ~· probk-
• .- d ºferenciada sobre ;v1s1. pnn- .
mas enlre111.1dos11.1 :llll:1\".l\l ju111,,.t<' ~,~ 1 rel.t.:inn .t-S<".h> ,tspecw p,JliEi.:o . .1 in ·
f li ,n-
no e MST contribuem para a co n strução d e uma visao 1

'1I. Professora l'lllrc.:vis1.1da 1.:mou 111hro Jc 19")9 .


'12. Pro fessora t'111rcv is1ad:i cm novembr o <l\.·19'-Jc.).

2 11
do que a militância é colocada em primeiro lugar "em d · d . _ demonstra que a pressão exercida pelo referido movimento para
. d" " , etnmento o processo peda-
gógicopropnamente 1to . benzaçao, como . ,
ue existam os programas sociais voltados para o meio rur al e um fator primordial
No PR0N . ERA,
, .os professores também afirmaram qu e a presença d o conteúdo :ara a continuidad e dos projetos, sejam educacionais_ou de assisténcia técnica. Essa
olítico e 1deolog1co. é _bastante marcante
. . Entretanto , sal"ien taram que os d ocentes
P realidade demonstr a que, no Brasil, a conqui sta de d1re1tos e o desenvolvimento da
atuantes na escolanzaçao e capacitação não necessitam ser rnilit ante s para que pos-
cidadania plena ocorrem por meio de pressões, quand o aco ntecem. Essas pressões
sam fazer
. um . bom trabalho _. Afirmaram que é importante co n h ecer as propostas ainda não garantem um Estado totalmente democr ático, nem governos transparen-
educac10na1sdo MST, mas nao reproduzi-las tal e qual·' caso contra'ri·o , nao - h avena •
tes, mas significam tentativas para a constru ção de um a sociedade menos desigual.
necessidadede participação da universidade .
A relação Estado e MST é visível nos momento s de repasse ou corres de verbas,
Constatamos que a visão dos alfabetizandos, monitores e professores está em
pois o acompanhamento de todo o processo pedagógi co é realizado pelos professo-
concordância em muitos aspectos, dentre eles: a participação parcial do Estado nos
res universitários e coordenadores do MST. Há , de um lado , o domíni o do MST no
projetos através da liberação de verbas ; o MST como um dos atores de forte presen-
andamento dos projetos, uma vez que os professores univ ersitários estão de acordo
ça tanto nos momentos de formação e capacitação para a alfabetização quanto no
assentamento rural; a universidade como fornecedora de recursos humano s que, em com muitas das propostas da coordenação do moviment o. De outr o lado, há 0
sua maioria, têm afinidade política e ideológica com o MST; a precariedade que domínio burocrático e financeiro do Estado , que pode interromper o convênio jus-
envolvea educação de jovens e adultos devido à formação educacional interrompi- tificando cortes orçamentários. O interesse, tanto do MST quant o dos professorese
da tanto entre os monitores quanto entre os alfabetizandos . Os coordenadores do estagiários universitários na continuidade dos convênio s, ficou explícito ao longo de
MST têm clareza da importância política dos programas de escolarização , capacita - todas as entrevistas, pois trata-se de uma preocupação voltada às políticas educacio-
ção e alfabetização, colocando a formação política em primeiro lugar. Assim , há um nais para o campo.
forte conteúdo ideológico visualizado nas místicas (momentos de dramatização e
reflexãosobre o cotidiano das pessoas e a conjuntura do país), nas palavras ou gri-
tos de ordem, na utilização da bandeira do MST e nos depoimentos emotivos de 4. Natureza das Relações Entre Sociedade Civil (MST)e Governo
representantes do MST .
Das entrevistas realizadas com os representantes governamentais, todos afirma - A natureza das relações entre o MST e o governo , conforme os dado s obtidos em
ram a importância dos convênios . A •representante 44 do INCRA/PRdestacou que o pesquisa
_ de campo , resume-se ao segumte
· .. no am
• bº1to d o governo estadual, as reIa-
referido órgão não está participando somente do projeto ligado ao PR0NERA, mas çoes entre a Secretaria
. de Educaçao
- e o MST caractenzaram-
· · em
se corno parcenas,
também de projetos vinculados à assistência técnica aos assentados . que O governo liberava verbas para o funcionamento dos projetos de alfabetização
Afirmou que "o INCRA tem mudado toda a sistemática, a metodologia do traba - em assentamentos rurais, além d e assessonas
• pe d agog1cas
, . . do Departamen-
por rne10
lho, porque nós estamos buscando parcerias com o estado e municípios , em rodas to de Educação de . Jovens e Ad ultos,. o MST responsab"1hza-
· se pela organizaçao
· - das
as áreas e sentidos, desde a educação até a implantação de infra-estrutura nos proje- turmas de alfabenzação
. e do d .
processo e capacitação pedagógica dos monitores -
tos de assentamentos ... " . Portanto, reforça a necessidade e a polttica atual de desen- professores
c b .
leigos, moradores nos assentamentos rurai s, nos quais amariam como
volvimento de parcerias. adlra enzadores. · Essa
. - ocorreu d urante os anos de 1996, 1997 e 1998, peno-
situaçao ,
No caso do Brasil, não podemos nos esquecer do contexto neoliberal e~ que no~ o em que ex1st1uo convênio em S . , _.
e . re a ecretana de Educação do Parana e o M~l -
encontramos, em que o Estado tem se distanciado de suas funções relacwnadas ª eonrorme depoimento da representante da Secretaria de Educação do Par3na,,
D epanamento de Educa - d J
saúde e educação, por exemplo . Assim, nos espaços em que a ausên_cia ~o Estad_o h . çao e ovens e Adultos (DEJA), o governo do estado reco-
torna-se v1s1ve
· , 1, emergem atores como 0 NGs, mov1men· tos e orgamzaçoes sooais
_ n ece o potencial do movime · 1 a]fa-
b . _ p nto socia com relação à atuação no processo de ·
com0 0 d I t régias para ocupaçao do et1zaçao. orranto , o governo d' "b irá
MST, que possui diferentes frentes e uta e eS ra . . . . _ acre lta que o trabalho do tipo parceria contn u
espa , 61º , d · J nos assentamentos rurais, para a d 1mmu1çao do número de 1c azi-
ço pu 1co. A atuação do MST na area e ucac10na , . . nho - ,, ana rabetos. A mesma afirmou que o Estado,s
de .al · ar as anv1dades de alfa- , nao conseguma desenvol • da
monstra tanto a sua capacidade ou potenCI em orgamz demanda d dº . ver PtoJetos de alfabetização que dessem conta
as 1versasorganizaçõ . O er[IIO
parceria no c d d es e comunidades existentes no escado. t
, aso escu a o funci . Esta·
44· En1revisca realizada em ago sro de 1999 . do libera a ve b ' ona ª pamr da definição de papéis, a saber:0
r a para o pagame d e h•"'ento
nto os proressores, viagens de acompan "'"
213
2 14
das turm
. as e mat eriais
. . pedagógico s; o MST executa O proi'eto , e eIe po d e criar
• novas d I' · a que nós remos hoje poderia quem sabe ter uma relação de sucesso Por
arcenas com univer sidade s e ONCs, de form ·, qu e estas d segun o a po me . , ' . /i(, •
P . . • uas possam assessorar o enquanto, o mais eficiente e esta parceria.
processo pedagógico de alfabettz _ação . Ca be ao MST organizar O processo pedagógi-
co, de forma qu~, ao final do ~roJeto, os alunos possam realizar uma prova nas regio-
o governo acredita no pot encial e na ampli ação de suas ações, através do estabe-
nais da Secrerana da Educaçao, com a finalidade de obtenção da certificação refe-
lecimento de convênios ou programas co m as orga niza ções da sociedade civil. Entre-
rente às primeiras séries do ensino fundamental.
tanto , cabe destacar que o discurso sobre o potencial da socie d ade civil vem sendo
Uma das entrevistadas afirmou:
ampliado nesta década de 90, quando os governos enfatizam as parcerias , reconfi-
... quando a Secretaria estabelece convênios, ela está reconhecendo que a sociedadecivil gurando as atribuições do Estado .
tem condições de propor, de participar, de atuar, de contribuir. Ela está reconhecendo Podemos lembrar Rubem César Fernandes (1994 , p. 132) quando afirmou que
que o governo, sozinho, não é suficiente (...) A ação governamental, ela vai ser potencia- novas interações foram criadas ao longo da década de 1990 , destacando que "gover-
lizada, ela vai ter um maior alcance se houver um envolvimento da sociedade civil, assim, nantes recém-eleitos pedem o apoio da 'sociedade civil' para a implement ação de
a grande descoberta da década de 80 .15 algum projeto de importância local" .
No âmbito do governo federal, a natureza das relações também adquire o for-
Conforme afirmou a representante do Departamento de Educação de Jovens e mato de parcerias. O desenvolvimento do Programa de Educação na Reforma
Adultos, "não é uma desobrigação do Estado, é uma relação que o Estado estabele- Agrária - PRON ERA - dá-se através da relação movimento social-universida -
ce com a sociedade civil organizada , reconhecendo a sua condição de atuação e reco- des-governo . A essência do PRO NERA , conforme afirma o seu coordenador , é a
nhecendo que nem sempre a nossa rede estadual de ensino consegue atingir deter- criação e desenvolvimento de parcerias que, em um primeiro momento , seriam rea-
minados grupos, determinadas categorias profissionais ... ". . • . lizadas com o governo federal, mas que aos poucos seriam descentralizadas para os
Com relação à competência de cada uma das partes envolvidas no conveni_o, a estados e municípios .
própria Secretaria de Educação reconhece que os mat~r_iais pedag~gicos produzido s O estabelecimento de uma relação de parceria entre Estado e movimento social
pelo MST são condizentes com as necessidades dos suJe'.tos env_olvi~os no ~rocesso. deve-se, em grande parte, à própria dimensão organizativa do MST, tanto em termos
Os representantes governamentais destacam que, nos dias_atu~is, ha necessidade ~e de reivindicação quanto de potencial para organizar as turmas de alfabetização. Da
realizarparcerias com as prefeituras municipais, com umversidades, com ª lgreJª '. ótic,a_do governo.' há um interesse quantitativo 47 e político, pois o censo da reforma
· ·
smd1catos, ·
movimentos · · e quem mais· ttve1
soc1a1s · ·m· teresse • O argumento central
. e agrana (1997) diagnoSricou um total de 34% de analfabetos 48 nas áreas de assenta-
o de que a Educação de Jovens e Adultos terá sucesso se for realizada em conJunco mentos rurais . O interesse pol1't1
ºco ev1'd enc1a-se
· ·
nos momentos ele1tora.1s· em que os
. d . . 1 1·
com as entidades da soCJeda e c1v11que se oca 1zam n
a região onde será desenvol- da~os numéricos são utilizados para demonstrar a atuação do Estado no campo edu-
vida o processo educacional. •1 cacional. .Da ótica do MST • não h'a somente um mteresse
· , · , p01s
numenco · as lideran-
·
. d E d um movimento socia e se o ças acredttam no potencial da educa çao- para a erormaçao- d · ' · acerca
Quando indagada sobre a parcena o st a O com , l e uma visão crmca
. . d . • .·1 do MST a responsave pe 1a dos acontecimentos que ocorrem ' · ·
Estado, assim, não estaria contnbum o para a ex1stenci, • . . _ . no pais, tais como a discussão sobre os programas
Educaçãode Jovens e Adultos do estado do Paraná afirmou: de pnvattzaçao, ª discussão sobre a titulação da terra, a globalização neoliberalismo,
entre outros temas Assim os T d .. ' . _
· ' mi ttantes o MST unltzam o espaço da escolanzaçao e
- d . . e adultos, essa é a questão. E a
O Estado está contribuindo para a educaçao e JOV~ns ' . aos
. ·r, s têm que se orgamzar quanto
sociedadecivil tem que se organizar; os d1 erenres grupo •as 46 . Idem .
. . uinuar investindo nessas parcen '
seusinteresses. A missão, neste caso, nos obnga ª cai • d 1 ( ) se 47 . Parece- no s que há 11111a inten ção apena s de r l'fi , . . . d vi-
. . . e d ducação de jovens e a u ros ... da para a qualidad e da cduc - ·l · , I . · n oc ' rcar º.rndr cc de a nallab eros do paí s. sem , are nçao e
açao l csenvo vrda co m os , .. 1 I . . 1· . res-
inclusive é a responsabilidade de garantir a oierra e e d · almente saJ a de alfabe, ização e esco la .· 0 0 de uma o rma 3 P
1ovens e ,te u to s. Ha o d esc nvo lv11ne111
.. - . . ,
0 Ms I nao existisse com certeza nos ter/amos outros g
. rupos preocupa os e igu pessoa s llUC elaboram lic f: r rzaçao , o _'l:le po~ co muda a situação educa cio nal d o país, uma vez que poucas são JS
• d uado • ,Ito , unia v1sao crfnca s b . . .i . ·d·· no
, a.1
· - que não é o mais a eq , Co m o di sse o mini stro Paulo R. . d S , o rc os co nr eut os esrudados e so br e o seu próprro corr ,a . .
cn,no e ouz -1 rcc .. · . . • · ih~
envolvidos,ou o Estado poderia, através da descentr, izaçao, berismo no país'' T: 1 d' 1 . , entemente, o governo prcrende em ·· 1O anos errad ica r o 311J •
48 N . a rscu rso prcc o rnma no Brasil de sde a década d e 1940
, · ° Ce nso , toram cnrrevistados 161.556 b
numero de enrrevisrados 46 577 ,e . . lf: b
fi •.· . ·
cne rcrarro s da reforma agrária, de um torai de 199.- 1, . 1
, 8 Do
15 · ll,p• rcseruarn
. . . . . .' 'R cnrr cv israda cm julho de 1999.
c J a Edu caç,iu J c Jovens e Adulros d a sao/ r ' refo rma agrá ria do Brasii: 19~7 . s,10 ,111.1a eras e 15.600 poss uem alfaberizaçãn incomplew. Fonte:: 1 C enso , .1

2 15
216
alfabetização como locai s, tanto para ampliação dº - d . , . .
• e iscussao os pnnc1p1os 1deoló i-
cos do movimento quanto para o desenvolviment 0 d " d - . g co-ideológico . Há dificuldades na construção de proposta s que contenham elemen-
. ª e ucaçao emancipatória ". tos de ambas as partes, que resultem de uma potencialização mútua . No entanto ,
De acordo com os depoimentos do s envolvido s d
_ _ _ nos programas e alfabetização ,
a relaçao ~ IST - _Estado, na elaboraçao dos convênios , somente existe
• em função da ambos os projetos analisados, desde que tenham continuidade, con stituem -se em
_
demanda e pressao do MST . E uma parceria entre atores , . polm
, .- espaços com grande potencial para o desenvolvimento de diálogos, entendendo a
. _ opostos no cenano
co, mas que existe em razao de uma lacuna deixada pelo Estad o - o a1to numero , parceria como um processo de aprendizado democrático .
de analfabetos - e da pressão exercida pela sociedade , representada pelo MST .
Os re~rese~tantes do Estado nem sempre são portadores das concepções gover-
namentais, pois as pessoas que se envolvem nas parcerias possuem uma visão mais 5. Resultados Alcançados na Área Educacional a
flexível, poderíamos dizer , em relação aos movimentos sociais. Não podemos falar Partir da Relação MST-Esrado
de relações que modificam o governo como um todo , mas de fluxos de ações _
contínuas e descontínuas - que contribuem para a existência de parcerias entre ato- Um dos resultados destacados pela Secretaria de Educação do estado do Paraná
res opostos, como Estado e MST. Falamos em ações contínuas para ilustrar a atuação refere-se à possibilidade de universalização do ensino para jovens e adultos , para
de funcionários do Estado que têm interesse e disponibilidade em desenvolver pro- além do mero discurso. A possibilidade de construção teórica e metodológica , da
jetos com o MST . No entanto, as ações tornam-se descontínuas quando há troca-de construção de um novo conceito de educação de jovens e adultos, foi elemento des-
funcionários no interior das instâncias governamentais . As ações são descontínuas tacado pela entrevistada.
quando há ausência ou demora no repasse de verbas aos projetos . Portanto, há uma Não existem números com relação aos resultados do PRONERA, uma vez que a
relação,também, de dependência do MST em relação ao Estado, mantida em função pesquisa foi desenvolvida ao longo de 1999, quando estava em andamento o pri-
da necessidade de verbas . Assim, o próprio Estado possui um controle direto sobre meiro grupo de projetos . Existem avaliações acerca do funcionamento do programa.
os projetos em andamento, um controle financeiro e não pedagógico . Durante o I Encontro de Avaliação49 do PRONERA, foi registrado o seguinte:
O projeto de governo, tanto estadual quanto federal , enquadra-se na nova ver-
tente do liberalismo, em que as desigualdades sociais são acirradas, as políticas Desconhecimentodo Programa em seu conjunto de relações; dificuldades de gerencia-
sociaissão marginalizadas e, portanto, a possibilidade de diálogo tem sido quase ine- mento; projetosfuncionando com característicasde experimentação; insatisfaçõesda equi-
xistente. O projeto político do MST vincula-se à idéia de transformação da socieda - pe; descrenças;parceiros distanciados; problemas de execução e evasão; motivação para
de e, para isto, desenvolve regras rígidas de disciplina e de relações com os atores que desenvolvero projeto, porém sem aceitaçãode interferências;ações pertinentes, isoladase
apóiam suas demandas . Portanto, Estado e MST estabelecem acordos intitulados individuais;divergênciasquanto à metodologia;objetivose metas formais; inexistênciade
convêniosou parcerias, mas o espaço reservado para o diálogo encontra-se bastante análisede eficiênciae eficácia;alfabetizandossatisfeitos;ausência de registrosdas habilida-
resrriro,diante da ausência de porosidade em cada um deles . O diálogo existe entre des transformadasnos mesmos,em função do Programa.
algunsdos sujeitos envolvidos num e noutro espaço, mas não entre a instituição e 0
movimento, como um todo . A avaliação realizada na região nordeste apresenta algumas das características pre-
Conforme afirma Caccia Bava (I 999), sentes na região sul, tais como: desconhecimento do programa como um conjunto
de relações
. ' haJ·a visto que os alcab · 1·
r; etº1zand os v1sua 1zam a presença, apenas, d o MST;
( ) O
··· aprend 1za , · vai· aJ'em d e reconh ecer que as 1·nsticuiçõesassociadassão
. d o d emocranco a. dificuldade
. no relacionamento
. . entre os parceiros, d ev1do
· · a diferenças
· po J'mcas
· e
dif,erences 1 .
, e e requer o reconhecimento por parte d e tod os d e que 1·ustamente porque são ide~lógicas; objetivos e metas distantes da possibilidade e da viabilidade para con-
dif,erencese, que se potenc1al1zam
. . creuzá-los, entre outras .
mutuamente , e1e requer O respeito à multiculturalidade,
O processo de avaliaç- so a1· d O ·-
à autonomiae independência de cada um de seus integrantes (p. l S). de . . ao re iza na reg1aosul do país, nos dias 2 e 3 de agosto
1999 , indicouª necessidade de continuação do PRONERA; necessidade de que
0
De e d dam uma independên-
. cena rorma, os convênios entre MST e Esta O resguar ,.
eia e au . I d I posicionamentos pol1t1- 49 . Avaliação realizada pela equipe pedagógica do PRON
tonom1a; no entanto, ambas são contro a as pe os . , . . ._ .
cosde c d 50 . O processo de avaliação foi re I"· d d' ERA, n.1 reg1ao nordeste do Brasil.
ª ª uma das partes que se mostram, em dº1versos m omenros ' 1rredunve1s ,na. fi - '
O
são: MST (coordenação alfab ·. d ª iza nos ,as 2 e 3 de ago st0 de 1999. Os atores envolvidos na discussão
enzan os e momrore s)· univer "d d f
tornadad . . d d posicionamento polm- o1 coordenad o pelos reprcscnc"nt d I d • s1 a es; ncra e represenranrc s do PRONE RA. O processo
e uma posição que não seja aquela onun a e seu .... es o ncra e o PRON ER:\.

217 218
governo reveja as estratégia s utilizadas no processo de refio , • ( d Esses programas não vêm contribuindo para a existência de governo s tran sparen-
. rma agrana um os alfabe-
tizandos destaca a necessidade de que o governo não cancel b 'd. , tes, os depoimentos demonstram apenas que o governo repassa funções, denominan-
. . .. . e os su s1 10s agncolas aos
assentados, o que, segundo ele , mv1ab1ltza mclusive O proces so d a1cb . _ ) do a sociedade civil apta a ajudar no processo. As relações de poder estão definidas,
. e ra ettzaçao ; os
representantes do INC
_ RA de stacaram
. a neces sidade de m ais
· verba s para o programa. o governo edita medidas provisórias, defende e coloca em prática a idéia de emanci-
Uma das questoes enfauzadas pelo s participante s do processo ava 11anvo · · ero1· a d e pação dos assentamentos, torna a reforma agrária uma questão mercadológica, como
que um ano não é suficiente para a realização de um processo de alfabetização e afirmam os representantes do MST, deixando para a sociedade civil a construção de
escolarização . Outra ques~ão r_elacio~a-s: à motivação dos assentado s para participa - espaços que tratem da questão social, tal como tem acontecido com a educação. Em
rem dos grupos de alfabeuzaçao, pois , amda que o número de analfabeto s seja gran - contraponto, a existência de tais espaços, formados por diferentes atores da socieda-
de, a demanda não está totalmente desenvolvida nos assentamento s. Há a demanda de civil, exige novas respostas do Estado, com relação às demandas existentes em
por parte da coordenação do MST, mas , quando se inicia o proce sso nos assentamen- todas as áreas sociais, que têm sido organizadas com o formato de parcerias , como os
tos, as turmas não possuem o número previsto de alunos (este número , para 0 programas de educação de jovens e adultos . As relações de poder estão definidas, tam-
PRON ERA,deveria ser 20 por turma) . Outro ponto enfatizado na avaliação refere-se bém, no interior do MST que, através de um conjunto de coordenadores locais, regio-
à necessidade de dedicação exclusiva dos monitores ao processo de escolarização , nais, estaduais e nacionais, articula as ações e propostas que serão defendidas junco
capacitação e alfabetização , pois muitos deles se envolvem em atividades políticas e aos professores universitários e que, na maioria dos casos, serão colocadas em práti-
de militância dentro de outros setores do MST. ca, como ocorre no projeto da região sul do Paraná.
Os resultados centrais do encontro entre MST e Estado são : a construção de um Nos depoimentos fica evidente a dificuldade que existe em manter a continuida-
programa voltado para a educação nas áreas de assentamentos rurais ; o estabeleci- de dos convênios . Uma das representantes do MST questiona: "Como podemos
mento de parcerias envolvendo diferentes atores, tais como as universidades ; a con s- garantir um programa de alfabetização se os assentados estão sendo motivados a não
trução de um programa educacional que se originou das reivindicações da base da produzir; não há incentivos; não há política agrícola?". Um assentado alfabetizando
sociedade; a própria concepção de educação e as estratégias metodológicas que são ·1, afirma: "Tenho um filho estudando na cidade, não estou tendo condições de pro-
construídas ao longo do processo e, principalmente, a inclusão dos assentados num duzir e conseguir uma sobra de dinheiro, o que me resta fazer é incentivar o meu
processo de alfabetização e escolarização . Quando destacamos a concepção de edu- filho a ir para a cidade, pois não temos garantia de sobrevivência na terra" .
cação como uma das conquistas, temos como referências os depoimentos de profe s- Os convênios/parcerias têm sido caracterizados como importantes para os assen-
sores e representantes do MST, quando afirmaram que não é a educação quantitati- tamentos, mas a questão refere-se à possibilidade de continuidade . Se a cada térmi-
va que está sendo buscada, mas sim um processo em que os educandos tenham um no de contrato o MSTtem que organizar novas manifestações, onde está O interesse
conteúdo de qualidade, em que a alfabetização plena esteja em desenvolvimento e do Estado em diminuir a pobreza e exclusão social? Portanto, 0 sentido da parceria
não meramente o aprender assinar o nome. A representante da Secretaria Estadual carece de reflexões por parte dos envolvidos no processo . Terá apenas O intuito de
de Educação também alerta para a construção de uma educação diferenciada , que ate_nder a ~ma demanda do MST?Desde 1998, a educação do campo vem sendo
não aquela apenas mnemônica, respaldando assim as propostas do MST. . obJeto de d1s~ussão, não apenas enquanto interesse do MST, mas de um conjunto de
Um dos desafios constatados ao longo dos trabalhos de campo refere-se à parn- at~res envolvidos em l~t~s sociais vinculadas ao campo . Portanto, a parceria consti-
cipação dos assentados nos projetos de alfabetização . Constata-se a necessidade de tui -se um espaço prop1c10 para a discussão da qualidade do ensino, preocupações
desenvolver um trabalho de base com os assentados, em geral, pois eles têm dificul- demonstradas
_
tanto pelo MSTquant 0 por runc1onanos
e · , ·
do Departamento de Ed uca-
dade em perceber a importância da educação . As lideranças têm clareza sobre .º çao de Jovens e Adultos da SEED/PR,bem como do PRONERA.
Potenci·a1d a educação, principalmente como mew · d e fiormaça- 0 política e emanCJ-
_ _ O desafio central manifesta-se em t d · d
_ ermos e projetos políticos . Para o MST, a e u-
a - J
P çao cu tural dos educandos ; no entanto, d entre os assenta d os (as) a educaçao nao. caçao passa a ser fundamental par • , .
. ª garantir o mm1mo de instrução entre os assenta-
dos, assim como para dar continuid d
est, . d b . ' . na terra O envolvi- . , . •
a em pnmeiro plano, mas sim as estratégias e so revivencia . · . . . ª e aos pnnc1p1os político-ideológicos do movi-
m l d 1ºfi Jd des v1sua1s e as d1s- mento, por meio da formação 1f · E ,· d
ento com a produção, vergonha em ir para a escoa, teu ª , . po tica. m contraponto, o projeto polmco os
tân · e Jicam as ausencias na governos, tanto do estado do Paran ' e d
cias entre a moradia e a escola constituem rarores que exp . . , . d . - d fi a, quanto iederal, considera fundamental a es-
sala de aula, além de toda a cultura escolar excludente, presente no imagmano e centr ai1zaçao as unções princi ai ·a1d
. ·d d • . ' P mente nas áreas sociais, afirmando o porenc1 ª
muitos deles. soc1e a e c1v11para tratar de questões J 1· d I'
oca iza as. Isso demonstra que o projeto Pº i-

219 220
rico do governo é de enxugamento das fu _
soc1.a1s
. margm . al.na d as ou relegadas nçoes do Estado ' frrcando as necessidades . d refluxo das ações e acrescidos de novas articul
. aos programa s e ar . d - desencontros caractenza os como . . a-
da e, muitas vezes, com objeti vos ma • . . P cenas e duraçao determina- . d d . .1 O fluxo das ações, pnncrpalmente por parte do governo
. I S qu anrnanvo s do ar . ções da socie a e c1v1• re •
sos de descentralização política , quand d que qu 1tat1vos.Os proces- . d I dos convênios ou atrasos no repasse de verbas par
. o se trata as questõ . . • . ocorre a partir o cance amento . a
cizadosem nossa sociedade, nos dias atua . . . . es sociais, tem sido enfa- . · culado s à área educac10nal, no caso do analisado
is, assim, a sociedade . ·1 .d 0 funcionamento d os proJetos vm . . ·
para desenvolver um papel ou atuar na el b _ / _ crv, tem s, o chamada . l _ d · dade civil são orgamzadas como forma de pressionar
. , a oraçao gestao de políticas , bl" As novas art1cu açoes a soc1e . . . . .
entanto, mumeras lacunas necessitam de aten - d
. .
.
çao, entre e1as cnamos a pró ·
pu icas. No
_ 0 governo; portanto, o recuo o
d Estado propicia o. fortalecimento
_
da sociedade civil
, .
de paruc1pação e democracia , temas que estão mu ·t . prra noçao . •e brechas para a efeuvaçao de um espaço publico que
. . . ' o presentes nos discursos tanto e, com isso, mannestam-se as ,
dos movimento s sociais, quanto das instituições go · p , no caso analisado, está em construção . . . _
. . - . , . vernamenta1s. orem , o formato
de parncipaçao amda e caractenzado por ações presenciais e d e acena · bºJ•d · 1o d e en contros e desencontros que . prop1c1a o forcalec1men -
1 1 ade imedia-
- - Parece h aver um c1c , . . .
ta das propostas elaboradas por "representantes " do grupo e nao - pe 1o "grupo ". · d d · ·1
to d a soc1e a e civi e possi i "bºJiºtaa ampliação dos canais . e pratica s
. . de pamc1paçã
. o,
·
tamo no mter10r · quanto en t re cada um dos atores . da sociedade
, , civil.
. . Com_ isso, .,evi-
·
denc1am-se avanços e recuos nas atividades vinculadas as areas sociais. Sao expenen-
Considerações Finais : Os Encontros e · que camm
c1as · h am lentamente , mas que devem ser consideradas . _ como fundamen- _
Desencontros entre MST e Estado tais tanto para a diminuição da desigualdade quanto para a cnaçao de novas relaçoes
na sociedade civil.
A relação entre MST e Estado nos anos 80 foi visualizada no jogo de forças entre Enquanto os encontros explícitos na elaboração e execução dos convênios de-
atores com poderes e objetivos diferenciados . De um lado, o movimento social em monstram uma possibilidade tímida de diálogo entre as partes envolvidas, os desen-
processode organização e definição de seu ideário político e ideológico, a imagem das contros, por sua vez, aguçam a sociedade civil, para a elaboração de novas estratégias
ocupaçõesde terra e despejos violentos presente no cenário político e social dos anos de manifestação, uma vez que o governo atende às demandas na medida em que a
80 e, ainda, nos anos 90 . De outro lado, o Estado com um aparato administrativo e pressão social torna-se fortalecida. O PRONERA, por exemplo, possui vários atores
repressivo, principalmente nos anos 70 e 80, quando ainda estávamos em meio às .:::nvolvidos,ainda que o financiamento dos projetos e a execução estejam nas mãos
mudançasdo regime ditatorial para o democrático. O Estado continuava sendo ques- de governo, movimentos sociais e MST, mas a existência das outras instituições fona-
tionado sobre a concentração e regularização fundiária, principalmente por parte dos lece a demanda. Portanto, não podemos afirmar que existem grandes mudanças nos
movimentos sociais ligados à terra - indígenas, sem terra , posseiros, por exemplo. governos, a partir de tais encontros, mas sim um potencial para a continuidade da
Nos anos 90, a correlação de forças foi explicitada num cenário político de pre- construção de espaços públicos. No interior da sociedade civil, há a ampliação de
domínio da democracia formal, em que os movimentos sociais tornaram -se espaços interlocuções, como a ''Articulação Nacional Por uma Educação Básica do Campo",
potenciais para a realização de projetos locais envolvendo temáticas de interesse desencadeada pelas ações do MST, ou seja, um avanço nas discussões e reivindicações
tanro da comunidade, quanto dos governos estaduai s e federal . Houve um aumen- educacionais para o campo e não somente para as áreas de assentamentos rurais.
to significativo das experiências de gestão pública , desenvolvida s a partir das ~arce- Os cas_os analisados são exemplos de experiências que surgiram das discussões
riasentre Estado, movimentos sociais e ONGs, por exemplo . Na esfera educ acwna!, desenvolvidas na base da sociedade e entre atores da sociedade civil, ainda que a
s-ao inumeros
· , os projetos em andamento, pnncipa · · Jmente , no que se refere à educa- . maior visibilidade, como ficou demonstrado, tenha sido delegada ao MST . São
Çao- d · · dº N 0 uanto persiste o exemplos de que, nos anos 90, houve uma ampliação da ação da sociedade civil
e Jovens e adultos envolvendo parcenas ,versas. ei '
segurnre
· quest10namenro
• ': "qual é a presença d o Esra d o e d·a so ciedade civil no con- para a elaboração e execução de propostas re1acionadas
· . • . Por sua vez'
a temas sociais

os governos têm utilizado const antemente o dºiscurso da descentralização po l'inca, ·
rext d .
. 0 as parcenas desenvolvidas ao longo
d os anos 90~" · · Ti0 mando como referen- _
eraO 1· - do espaço de amaçao o que, d~ cerca forma, possibilita a ampliação da ação da sociedade civil. Assim, a
nosso estudo de caso , poderíamo s destacar a amp iaçao _ . .
do Ms- . d ras e execuçao de at1v1- construçao de um espaço púb! · , d
' r, cu1a visibilidade é composta por deman as, propos . . _ ico poroso esta em desenvolvimento e depende as
negoc1açoes e, portanto da "bTd d ·d
dades d
, no campo educacional. Quanto ao Esta o, am a qu
· d e tenha havido momen-
. D . _ ' possi I i ª e de diálogo entre as partes envolvi as.
tosde • _ . d · a um distanciamento em essas negociaçoes, poderão originar l' . , . - ,-
negociaçao e concretização dos enconrros, pre omin . , . po iucas publJCas consistentes e nao mera
mente programas de curta dura ão . • ~ d·
relação . . . • . 1iversa1s. Ha , porrc1nto, situação social. ç ' que pouco contnbuem para a mod1ficaçao ª
ao arend1menro dos d1re1tos que devenam ser UI

22 1
222
As duas experiências estudada s são significativa s para pensarmos O potencial da
sociedade civil na construção de espaços democráticos . No entanto , isso não deve exercem somente o pape 1d e pr essão e reivindicação ,. mas .de estabelecimento de con-
.
tratos, sepm eles tecnICo-una
, • e. nceiros , como os aqui .analisados,. ou de outra
, . nature-
diminuir a participação do Estado no que se refere ao atendimento dos direitos con-
siderados universais . Os encontros entre Estado e MST existiram; no entanto, 0 e
za. De qua 1quer rorma, qu ando se trata do MST, existem mteresses pol1t1cos,tanto
. _
número de analfabetos ainda é significativo , tanto na sociedade em geral quanto, e
na esrera d o governo est adual quanto federal, no senudo da anulaçao . das açõese da
especificamente, nas áreas de assentamentos rurais, e, apesar disso, 0 convênio , na visibilidade do mesmo, tendo em vista que é um dos p~u~os movimentos fortaleci-
esferaestadual, entre ambas as partes não foi renovado . Até que ponto os governos · ·1. p ortanto , a interrupção de conven10s e atrasos no repassede
dos na sooe· d ade c1v1
estão interessados em investir nas áreas sociais ou dialogar com os atores da socieda- verbas devem ser analisados também à luz de tais conflitos.
de civil?Até que ponto os movimentos sociais ou 0N Gs conseguem recursos para o - mo d,·nc.1cam suas ações para
O s governos nao . a criação de políticas
, públicas
. _ que
desenvolvimento de um processo educacional de qualidade, sem recursos governa- · · ºd
tenam contmu1 a e d defini
º da . Existem invesumentos escassos na area social, nao no
mentais? No âmbito dos projetos analisados, os recursos governamentais são funda- viés de políticas públicas, mas na criação de programas ou parcerias com _duração_d~fi-
mentais para a continuidade dos trabalhos e, conseqüentemente, da inclusão de inú- nida, explicitando a divisão de tarefas e, principalmente, o ~apel d~ soCJe~adec1v1I.
meras pessoas no contexto da educação escolar. Podemos falar na construção de espaços públicos a partlf de tais conven,os entre
Estamos diante da formulação de políticas para determinados segmentos sociais, MST e Estado? O espaço das relações é definido a partir de uma correlação de forçase
conforme afirma Gohn (1997 :311) " ... numa perspectiva que privilegia áreas temá-
de uma disputa pelo controle das relações que nele se manifestam . Os conflitos pre-
ticas-problema e não mais os atores sociais organizados em movimentos (... ) desta
sentes no espaço dos convênios refletem aqueles existentes na sociedade, entre o gover-
forma, os sujeitos das ações transfiguram-se em problemáticas : a fome , a moradia, o
no e as organizaçõespopulares. Os interessesnão são convergentes, são atores diferen-
desemprego, os sem-terra, os sem-teto etc.".
tes em sua composição e ideário político; no entanto, o potencial para negociações
O MST, através do setor de Educação, torna-se um demandante da educação e,
existe, tendo em vista que cada um dos espaços é composto por sujeitos com capaci-
principalmente, o organizador e executor do convênio existente . De ações sociais
dade para o estabelecimento de diálogos.As parcerias envolvendo atores tão divergen-
reivindicatórias, que permearam os movimentos sociais dos anos 70 e 80, passamos
tes são permeadas por conflitos e não têm uma continuidade, sofrem rup,,turas,oscila-
para ações propositivas nos anos 90, no interior do referido movimento social. O
ções como as existentesno momento, quando um convênio está interrompido e outro
formato que permeia o movimento social nos anos 90 aproxima-o das característi-
paralisado, diante da morosidade burocrática do Estado. O espaço público está em
cas das 0NGs, principalmente quando se trata da formação de técnicos para a elabo-
construção, tanto é que o PR0NERA explicita a reunião de diferentes instituições, movi-
ração de projetos, da articulação e busca de financiamentos para a sua execução . N_o
mentos sociaise governo na execuçãodas atividades vinculadas à educação.
entanto, a organização social em questão possui características ou princípios políu -
O cenário político dos anos 90 no Brasil caracteriza-se pelo processo de democra-
co-ideológicos que a singularizam diante de outros atores da sociedade c~vil. A atua-
tização em construção, talvez os projetos ora analisados possam resultar em experiên-
ção do MST adquire uma relativa autonomia diante da ação dos demais atores da
cias de futuras políticas públicas, o que nos parece bastante distante, por um lado,
sociedadecivil, pelo menos nos Estados em que ele está fortemente presente.
haja visto os interessesde orientação macroeconômica dos governos. Mas, por outro
Essa autonomia é conquistada em função de que, desde os anos 80, 0 MST , por
lado, muitas das organizaçõesda sociedade civil estão empenhadas na construção de
meio· do setor de Educação, desenvolve espaços d e pro d uçao - d e materiais e discussões
., . projetos vinculados às temáticas sociais, bem como exercem pressão sobre os gover-
sobrea realidade educacional nos assentamentos, o que tem resultado em exper~encias
nos.'para q~~ estes não se desobriguem da elaboração de políticas sociais/públicas. A
.
que consolidam e fundamentam sua açao _ dºiante d e outros atores · Ao lado disso,
. o
socie~adeCIVIi, e nela O MST, possui experiênciasno campo educacional que poderiam
Estado, CUJas
· secretarias ganham novas con fi1guraçoes - a ca da gestão ' não possui uma culminar em propostas de p0 lftºicas. pu'blº1cas nao
- necessanamente
• voltad as para 0 s
· de atuação na temática em questão, em espect'fiico n as áreas de assentamen-
traJetóna
· . _ _ assentamentosrurais mas pa tOd ·1 ·
ros rurais. , .
• Constata-se que no Brasil, as prancas ' ra os os setores populares da sociedade bras1e!fa.
e O process 0 de democranzaçao_ sao
lentos e com oscilações concomitantes
' . d es d e negociação e de repressao.
entre at1tu
'
As re1ações entre concomitantes d
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1
• . • eles O Movimento e o Movi,n ele Mulheres
.· . . rc11rescnrarivo; e1ennc .' . en.
CAPÍTULO 7 (l' '((IUl t.:
pO

to Fem inis1·1
. .. 1. 198 1 o debar e no interior d os parti 'd os po 1tttco
' · s sobre a o
Durante o ano e e ' . - d 982 h , b , rga-
.. l vist'IS às ele1çoes e l c ega a am os os movirn
niza iio das campan 11.1scon . ' . . - en.
ç . d. lheres entendem que é importante a mserçao das femi .
Conselho Cearense de Direitos da M Ih / ros. Alguns grupos e mu , - . b 61 , . n1s-
'd , lít 'cos p·ira a inrroduçao do debate so re a pro emattca da mulh
Espaço d e Interlocução entre as D u erd CCDM t;\Snos parti os po t , , ' • 1 . O er
. eman as d os nas plataformas de campanha e para d1sputa1: cargos e et1vos. utros grupos enten.
M ov1mentos de Mulheres e o Estado* dem que se deve priorizar a atuação dos ~ov1mentos em torno da s que stões especí-
ficas da mulh er, preservando sua autonomia . . .
Um segmento importante e influente do movimento de mul~ere s paulista, iden-
Gema Galgani S. L. Esmera/do e Magnólia Azevedo Said tificado com O feminismo socíalista,2 insere-se no PMDB, Partido do Movimento
Democrático Brasileiro, e leva para o interior do partido o debate das reivindicações
dos Movimentos de Mulheres e Feminista, evidenciando a necessidade de criação de
uma política governamental que incorpore os interesses específicos da mulher .
A idéia de criar espaços democráticos e de influir nas políticas públicas leva o grupo
de mulheres ligado ao PMDB a apresentar a Franco Montoro, candidato nas eleições de
1982 ao governo de São Paulo, uma proposta de criação de um Conselho Estadual da
Condição Feminina - CEC F. Com a vitória de Montoro, as mulheres elaboram uma
O ano de 1975 é eleito pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano proposta de conselho e uma minuta de decreto, que é assinado em abril de 1983.
Internacional da Mulher. Essa data é especialmente utilizada pelas mulheres de dife- A experiência positiva do CECF , somada à atuação política de feministas no PMDB e
re~tes partes do mundo para aglutinarem-se em torno de eventos e movimentos vol- à pressão dos movimentos de mulheres, é o elemento responsável pelo surgimento de
tados para a denúncia da condição subalterna, da opressão e da desigualdade viven- Conselhos Estaduais em outros estados, como no Paraná (1985), Rio Grande do Sul
ciadas pela mulher nas diversas dimensões da vida social e para lutarem pela (1986), Rio de Janeiro, Ceará (1986), Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Alagoas.
emancipação feminina. Em 1984, as mulheres paulistas, lideradas pela deputada estadual Ruth Escobar
(eleita em 1982 pelo PMDB, com uma plataforma feminista), organizam uma comis-
No Brasil, as mulheres integram-se em movimentos multifacetados que se vol-
são suprapartidária e produzem a Carta das Mulheres para Tancredo Neves, candida-
tam para a lura pela restauração da democracia, contra o alto custo de vida, por
to à Presidência da República, onde destacam, dentre suas principais demandas, a
melhores condições de vida e por direitos ligados ao trabalho, à afirmação de suas
diferenças e à cidadania. Essa mobilização nacional inscreve, definitivamente, as
1. Sou·,a-Lobo (199 1:267) faz a distinção entre M · d
M · d ovimento e Mulheres e Movimenco Feminista. Para a auro-
mulheres brasileiras no mundo público e político . ra, o ov1menco e Mulhere s refere-se ao movimen . ·1 .
sidndes corres•ond emes;, ,r; , . d _ to que pnvt egia n qu estão da relação entre reivi ndi cações e neces-
· - aemocratzca,
O processo de trans1çao J ' • • • • d
m1cia o pe 1o presidente militar , general. co11f1111dem
r e5.1era
com O deseio de m d
an iepro 11çno,n sabe~ nq 11el
., 1 '
;1: " t' . . .. · · d'
as espec1;,camen te 1 emmznn s ( ..) onde as rew m ,caçoesse
-
, li nr n v1an, ae mudar ns rel - fi •t· • . .
Souza-Lobo indi ca <Jue a aborda .. · . nçoes na nm, la. Com relação ao Movim ento Fem1msra.
Ernesto Geisel no final dos anos 70, vem acompanhado da proliferação de movi - 111
.
stm formados 110 exílio por 111 /'' -
gem teo 11ca apo nta rres v • , •
. d . .
1· · · · fi ·
ei tente s exp 1cac1vas: a primeira refere-s e aos grupos erm-
, . _ bL - da esquerda rearticulação 11neres 1ign as as o,gnni za - l d . d
mentospopulares, consolidação da opos1çao, remo z zzaçao ' , . . n11toconsciência formados duram d _ çoes te esqua a; a seg und a vertente retere-se aos grupos '
. e os anos e repressno, rtgr11p d b d . . . . . ,fo - .
_ 1 d. J,greia Catolzca, embonz a terceira ap resen ta-se nos gr, P fi d .. °an so retu o mtelect11ats q11eexerctnm dmmt as pro soes.
de uma política de oposição, expansão da açao pastora
.
:1 • ª
) O artidos políticos de esquer -
Brasil, próximos do que, na Fr:nos oérmn os por m du rtntes, simpati z antes ou egressas das o,gnnizações de esquerda no
çn, cnractenzado como t ·d ' . "/
contmuassea política repressiva (Soares, 19 94 : 12 · s P . 2. Segund o Ardaillon ( l 989 ·0S) I .
nd
, . en enon uta de classes''.
. . .. para conscrurr seu supor - crinçiiodo CECF em Siio Paulo U '. 1 ' ' u.t~ re encia s vão est rutumr as prin cipais dism ssões ouvid as no período da
da reaproximam -se dos movimentos sociais e111ergentes, · ma , e enom111ad·1femi 11ist . · 1· . Ih r
como parte de uma lura mai s ger·11 d
d ~ d ·
e ' ª
• e trans,ormação r· d' I I
,oc,n tStn, qut: defende a lura pel a ema ncipação da mu e
. . . ,[ /
que e en e um movimcm o auco' 1 ,1 ica e a sociedade . O utr a denominada Jemm1stt1 ra ,ca,
' . d nomu , vo tado es T ' .-
tenc1a _estas configuraçõe s no Brasil é moti vo d . P~~t 1ca men rc para as que stões de intere sse d a mulher. A_ex1s
d
O
.. . de grad uação em Economia Un,v~rsidade da Ca lifórnia, Santa Cn . . i" pole_mi~a entre femini stas da academia . Sôn ia Alvarez (prola, da
· Hávia Regina Mato s Pontes e Maria do Soco rro de Araújo , eSwdant es curso ' do, _discorda da manife stação destas /" ' ~ ,consu tor a tecn1ca desce estu d o) , em entrevi sra à coordena do ra deste estu-
U111dos111 • cn encias no co nrexc b ·1 · . / J Estatfos
Do,nést icalL:Fc, atuaram como bol sista s da pe sc1uisa. mm teve muua expressividade . ° rasi etro e afirma qu e o feminismo radica aos
no 8 ras11ou na América latina.

229
230
. ão de um Conselho Nacional de Direitos da M Ih /
criaÇ . . d M Ih R 1· . u er CNDM, ou de um Minis-
, . dos Dtre1tos a u er. ea 1zam, atnda O semi , • M l'h
rerio ' nano u er e Política com a o presente estu d o inicia-se em junho de 1999, com uma fase exploratóri a
, . . que
ticipação de cerca de 500 mulheres representativas de t 0 d E ' ncamento de dados, documentos , not1c1as de Jornai s e a r .
par . . . os os stados , em que compreen d e o Ieva . . ea11_
uzem um documento com as pnnc1pa1s reivindicaçõ d Ih _ d rrevisras J·unto a mulheres conselheHas e ex-conselheira s, a diri
pro d es as mu eres que é zaçao e 12 e11 . . . gen-
egue a Tancredo Neves . O CNDM é criado em 1986 e se pro - ' tes de ONGs e a lideranças dos movimentos femrn1stas (~entro Popular da
en(r , . , . poe a promover, em
, el nacional, polmcas publicas voltadas para garantir à mulher igua ld ad e d e d'ue1-
. Mulher/ CPM e União das Mulheres Cearenses/UM C) . O matenal coletado e cata-
n1v
ros e de oportunidades . logado propicia uma análise que resulta neste trabalho, que está dividido em três
Na década de 1990, os Conselhos assumem diferentes configurações, a partir do itens . o primeiro recupera a construção do cenário político do Ceará, a partir da
modelo de gestão administrativa assumido pelos diversos partidos políticos . Perce- década de 1980, visando identificar o perfil das mudanças que se gestam e vão
bem-se diferenças substanciais, por exemplo, nas administrações petistas que se configurar a cultura política hoje he~e-mônica no estado e o surgimento , concep -
caracterizam pelo comprometimento em considerar as políticas públicas voltadas ções e atuação dos movimentos femmistas e de mulheres e das ONGs. O segundo
ara a mulher como integrantes e até prioritárias para a consolidação do projeto icem reconstitui, de forma geral, a gênese do l 2 Conselho Estadual, do Conselho
~emocrático que defendem na gestão pública . Entendem, ainda, que esta questão Nacional e, de forma mais detalhada , o surgimento e tendências do Conselho
deve perpassar por todas as instâncias governamentais. Cearense de Direitos da Mulher - CCDM, analisando seu percurso, relações com
O objetivo central deste estudo é conhecer e analisar um cenário de interlocução o Estado, com os movimentos e partidos, projetos realizados e seus desafios atuais.
entre a sociedade civil e o Estado para identificar se os espaços públicos construídos O terceiro icem apresenta reflexões sobre a experiência dos Conselhos como espa-
com a participação dos movimentos feministas e de mulheres, de fato, se consti~uem ço produtor de uma gestão pública democrática, trazendo reflexões sobre suas
em espaçosde ampliação e democratização da gestão estatal e fo~talece~ o apr~ndzza~o possibilidades e limites atuais.
e consolidaçãode uma "cultura de direitos" através do exercício efetivo da cida~ma
· ) Para isso , analisamos as relações que se gestam e se. consolidam.
(Dagnmo, s.n. .
entre O Conselho Cearense de Direitos da Mulher - CCDM, os mov1men~~s ~em1- O Cenário Social e Político no Estado do Ceará
.
mscas, d e mu lh eres e algumas ONGs no Estado do Ceará, enquanto expenenc1a de
Novas formas de fazer política
ampliação de espaços democráticos no país. .. _ . , . .
O CCDMé criado em 1986, a partir da mobiltzaçao umtana dos movimentos ~e
mulheresdo Ceará, contando com o apoio de partidos políticos de esque rd de mo~i- ª: O final da década de 70 demarca a atuação organizada da sociedade civil contra
fi alidade é promover medulas e açoes 0
Esta~o autoritário brasileiro. É uma luta que unifica as diferenças, porque traz
menrossociais e de parlamentares d o PMDB. Sua m .
. J• • da ''h apartici11ação no desenvolvzmen- como eixo central a busca pela recuperação do Estado democrático da liberdade de
quepossibilitemo exercício dos a1re1tos mui, er e a su r )
. ,. , • , lJ '(Artl°LeiN 2 17.170,de2 1411986· expressão social e política e de direitos políticos. '
to socialpolztzco economrco e cuitura ao pars · · . A sociedade civil brasileira se
, d d C , enta elementos que nos perm1- _ . marn esta, entao, em uas grandes frentes d e arua-
·f, - d
A experiência do CCDM no esta o o eara apres . . al . - de çao: uma, urnficadora em torno de quescoes - nac1ona1s
· · e gerais· (d emocrac1a
· ) e outra,
. - d nho insntuc10n , as v1soes
tem analisar criticamente como as vanaçoes no ese . _ demarc~da ~or interesses de classe (lucas por terra, moradia, água, saneamento) .
, . e a óiam ou ocupam cais espa
1
participação e representação e as forças Pº mcas qu _P _ al e fomen- reúne lidera nças po J'mcas· d e centro e de esquerda, entidade
. d anzar a gestao estat .A. pnme1ra
. . s empre-
ços influem no seu potencial para amp 1iar e emocr d d domestica- sana1s nacionais entidad
. '
fi • .
es pro 1ss10na1s, movimentos sociais emergentes, segmen-
. Ih a conformar, e mo o tos da lgrep Católica em ·e - , . · - do
tara igualdade entre homens e mu eres, ou par . _ d olíticas que E . . ' mantiestaçoes publicas voltadas para a democrauzaçao
· ·
do, a pamcipação das mulheres e sua rn uencia · f1 ' · na defin1çao e P stado bras1le1ro. Essa unidade é temporária e pontual.
. ortante para a
, U O urro elemento imp A segunda frente aglut'ma enci'd ad es d o movimento popular e sindic al que, co01
venhama construir uma justiça degenero. m . . lºd de e na relação .
. insnmc10na i a 0 ap010 das ONGs e de in · · -
stJtuiçoes • d lura
compreensãode como o Conselho se movimenta na .d olíticos e, espe- vmculadas às igreJ·as organizam frente s e
. , . , . ·d pelos parti os P em torno de p 0 l' · 'b)' ' 'd da
com a sociedade civil refere-se a mfluencia exerci ª . d · ·1 por parte d os _ tticas pu icas voltadas para a melhoria da qualidade de vi ª
popu 1açao. Em meados d dé d d d . pren-
·ri E st d 0 e soCJeda e civi . ª ca a e 80, com a conquista da liberdade e im
ct icamenre, a concepção da relação entre ª 'd radas exponen- sa, d a 11vre organização 'd, . e des-
o . analidades consi e f; . parti ana e das eleições, as alianças gradativ amente s .
g vernosde Tasso Jereissati e de Ciro Gomes, pers . ·1 · - PSDB . azem para garanttr a afir - d . d socie-
ci . . l D ocracia Brasi etra maçao os tnteresses específicos de cada segmento ª
ais na política nacional do Partido da Socia em
232
231
dade civil, expressando diferenças e divergênc ias
·
quanto ao · . progress1•stas como por partido s .de esquerda,
do para o país. proJeto político almeja- sános , . como o Partido Comuni sta d o
A sociedade civil mostra, então, a sua face het , Brasil - PC do B e o Partido Comunista Brasilelfo - PCB . Em 1985 , a Prefeitu -
. . erogenea, quand 0 . ra de Fortaleza é conquistada por Maria Luíza Fontenelle, do Partido do s Traba-
entro e os segmentos empresana1s urbanos e rurai . os parndos de
e s aproximam -se · lhadores_ PT, que posteriormente apresenta candidato próprio ao governo do
Estado, na chamada Nova República. Têm por obJ.et"ivo Intervir . . . e Integram-se ao
mflue .
de forma decisiva, na definição de políticas econômica . '. nciar e atuar, estado e faz oposição a àquele movimento . A gestão petisca encontra forte s difi-
. . . s e soc1a1s voltadas
interesses. Os movimento s soc1a1se os partido s de esque d para seus culdades e oposições, tanto da parte do governo federal como do estadual. A can-
. . l d . ., . r a reagrupam -se em torno
de obJenvos vo ta os para construlf expenencia s de espaços , bl" didatura de Tasso constrói um discurso de inoperância da esquerda petista, de
. - d . - pu icos, numa pers-
pectiva de amp 11açao e emocratizaçao do Estado , mantendo u ma re1açao _ ,
autono-
modernização e de mudanças no perfil coronelista e clienteli sta do s político s ue
ma com este. detêm o governo estadual e a maioria dos municípios cearenses, até meado s\a
No Ceará, um fato demarca a trajetória dos empresários na Federação das Indús- década de 1980. Tasso apresenta-se como única alternativa de eliminação dessas
triasdo Ceará - FIEC, em 1978, que vai delinear novos cenários na política cearen- práticas , com um fim moralizador do Estado e como meio de acabar com a m · ,
ISe -
se. O Centro Industrial do Ceará - C IC , que até essa data funciona como apêndi- ria e a pobreza absoluta .
ce da Federação da Indústria e do Comércio do Estado do Ceará, é entregue a uma A participação e o apoio do PC do B e do PC B à candidatura de Tasso garant
nova geração, um grupo de jovens empresários, como Beni Veras, Tasso Jereissati, , d em
ao d.1scurso o candidato um caráter de legitimidade e credibilidade da p am dm
SérgioMachado, Amarílio Macêdo, Assis Machado, dentre outros .
movimentos soci~is ideologicamente identificados com estes partidos político s. O
O novo CIC elege Beni Veras3 para seu primeiro presidente (gestão 1978-1980).
PC B atua nos movimentos sociais urbanos desde 1960 e, desde meados da década de
Uma de suas primeiras iniciativas é a de realizar um debate sobre a conjuntura
1970, o PC do B tem inserção nos bairros populares da cidade de Fortaleza n 1
nacional, entre os empresários cearenses e modernos empresários paulistas . d" , as uras
po~ m~ra 1a, por obras de infra-estrutura , por frentes de serviço, integrando ainda
A nova configuração do CIC rompe com o movimento empresarial cearense quan -
a dueçao da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza _ FBFF
do defende um estilo moderno de atuação empresarial e um projeto político diferen-
A p~imeira administração de Tasso no governo do Ceará (.1986-1989 ) vai se
te, de participação e inserção direta no desenvolvimento da sociedade cearense,pauta -
caractenzar por uma proposta de modernizaçáo política que con-1:Ut,,r.'tl
um
do nos seguintes objetivos: constituir-se em fórum democrático de debates sobre questões d' la - 'l'ó ·· novo para-
zgma nas re çoesEstado e Sociedade Civil em que busca o eq "l 'b . , ,
que afetam a sociedade cearense; discutir e influir na soluçáo de problemas, na busca do e+: ·, · da " , , uz z rzo orçamentarzo a
J•ctencza maquina admini strativa" e a probidad . '
desenvolvimentosocial de nossopovo; proporcionar a construçáo de uma nova consciência (Gondim, 1998:35). e no trato com a coisa pública
política, buscando a formaçáo de novas lideranças e métodos de gestáo (Lima Matos,
Uma outra característica forte do over T:
1999:05). Sua direção avalia que a atuação dos políticos cearenses considerados tra- Estado · O g no asso refere-se à combinação entre
e economia . setor público passa a . . .
dicionais,por manterem práticas coronelístas e paternalistas, deve ser enfrentada para industriais no estado d" , . atuar como mdutor dos mvesnmenros
garantirefetivas mudanças no processo de desenvolvimento do Estado . , numa outra mam1ca 4 O d l
emergir conflitos e d' , . , , · novo mo e o de gestão estatal faz
A atuação política dos jovens empresários se consolida no Ceará, com O la~ç_a - 1vergencias no mtenor d , . ,.
movimentos sociais . . os grupos empresana1s, polmcos e dos
memo da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República , em oposi~ao que apoiaram a candidatura Tasso .
No segmento empresarial e político s .
ª' cand'dI atura de Paulo Maluf A atuação na campan
h a pro- , -riancr edo . e o posrenor.
realiza mudanças n d ' urgem confl1tos quando o governo Tasso
· S d
apoioa arney tornam o grupo do C IC visível e o cre enoam ª m · · vesnr com cand1- o trato a gestão úbl"
acostumados à uril' _ . P ica que desagradam esses segmentos,
daturaprópria nas eleições de 1986 . . _ izaçao pnvada do se 1
sociais, 0 governo , p tor est ata . No campo dos movimentos
T: . . . . do Ceará (ele1çoes ena o rograma de A , .
asso Jereissat1 filia-se ao PMDB e sai candidato ao governo seu discurso visa à . . _ poio às Organizaçõe s Populares que, no
d 198 . . d - só pelos empre- , part1c1paçao, e à or . - .
e 6), apoiado pelo Movimento Pró-Mud anças, mtegra O nao to de suas necessid d p ganizaç ao d as populaç ões e ao arend1men-
a es. ara a sua e -
agentes de mudança I . xecuçao , 0 progr ama co nt rata os chamados
----
3. Atual · . .. . .
.
I d . PCB líd er escudann 1 e P
residente do Di recó- s, se ec1onados enrr I'Id . , ~
r" A . v,cc-govern ador , fo, m1l1rame comu 111sr a, vm c u a o ao ' ºd , . P ó-Tancred o Neves, no para realizarem O t b Ih d . e as eranças dos bair ros e das assoc1açoes ,

C,
cadcrnicO d E
á a scola de Ad m1111
. . .. . C . • Supraparn ano r
srração do C ear:í . D1ng1u o omite . . . d Plan ejam ento em 1,
,194 ra a o e apoio m 0 bT - , , .
1 izaçao , organiz ação, assessoria recnica
<ar ,em 1985 D , , , . . d ,T Fo i m1111srro 0 ' e
e se, · e 1987 a 1988 , for assesso r espec ial do governa 01 1 ass O ·
>ador cnrre 199 1 e 1998 .
4. Essa ourr dº · •
a lllain 1ca refere- se à i111planta ã .. .
ç o no esr,ttlo tio recettuário neo liberal.
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234
- -
-
o
. d d • ·1 Pacto atualmente func iona atra vés de
Escada e soe1e a e CIVI. .
canalização das reivindicações para os órg ãos de govern o. Algun s movimentos . rerlocuçao entre . F, Setoriais que devem se reumr com os mais
,n ionais, de seis oruns . . .
sociais5 negam -se a participar do programa , por ent end erem qu e este mesmo dis- seis Pactos Reg . d d sociedade (C1v1l), com secretarias de governo
nto s organiza os a . ,. .
simula a participação popul ar, é in strumento d e co opt ação de lid eranças, desco- variad os segme . _ d onde surgem as 1de1as, proJetos e propo stas de
. palestras e reumoes , e
hece a autonomi a das asso ciaçõe s e tem sentido políti co eleitoral. para realizar
balh O ara o governo estadual . - . "
n O governo Tasso, ao criar e instalar seu Plano de Mud anças, o faz de forma inde- era P fi ue Pacto de Cooperaçao tem t1do , nos Governo s
endente dos partido s de esquerda que o apoi aram (r c do B, PCB) . O isolament o Dirigentes do ClC a umam q O ..
,, . el no debate de problemas sornus e na apresentação
~estes partidos para a negociação de sua s reivindicaçõe s é flagrant e. O diálogo do das Mudanças , importante pap . .
. aos programas governamentais . Muaos assessores do
ovimentos passa a se fazer atravé s do s agent es de mudanças, com- de soluções que se mcorporam . .
governocom Os m . . . _ e do "staff" governamental. Consideram que Ciro abre
.d pessoas das comunidades para func10narem como canais de ligaçao Pacto fizeram e azem par f t .
preend I os por . . deb d, qu··e'ncia ao Pacto e Tasso ouve menos diretamente , mas, atra-
·dade e os órgãos de governo . Em 1988 , na campanha para a prefei- mazs O ate, a menos se
entre a comum . , d os secretarzos , · q ue ve'm até do próprio Pacto, dá seqüência mais na ação (Lima
· · ai d Fortaleza Tasso apresenta Ciro Gome s como seu candidato e o ves .
mra mumcip e ' , . . e
· · candidato do Partido Democrat1co Trabalhi sta (PDT), rato que Matos, 1999:490) .
PC dO B vai ap01ar um ,.
lida O rompimento da aliança entre as forças polmca s. Os "Governos das Mudanças" não reconhecem as manifestações populares como
consº . l . - d le ano o
Em 1990 Tasso filia-se ao PSD B e vai lançar e apoiar, na s e eiçoes aque ,. instâncias legítimas e representativas dos movimentos sociais organizados e reagem
, t do estadual Ciro Gomes para o governo do Estado , par ~ dar con,n- às suas reivindicações, utilizando a polícia para reprimir e dispersar as manifestações .
nome do depu a - ai E m peno -
nuidade à sua proposta de mudanças e modernização na ges~ao-estat . ~ olítico Tanto com os professores estaduais e os policiais civis, como no caso dos trabalha-
do que demarca o crescimento do PSBD no estado , com a fihaçao do _grup ~ dores sem-terra, que por meio de passeatas, de acampamentos, de comissões e de
.d T so sai do governo e vai assumu a pre-
ligadoe simpatizante a Tasso a est e parti 0 · as .. " aff" polí- realização de greves buscam abrir canais de diálogo e negociação, o governo reage,
. do defimuvamente o st
sidênciado Diretório Nacional do PSDB, mscreven negando-se a receber suas lideranças e colocando a polícia para encerrar o movimen-
tico cearense no cenário nacional. ,, ,d com base na modernização to. Muitas dessas manifestações são violentamente reprimidas . Para o movimento
O ciclo dos "Governos das Mudanças , c~nstr~I o micos visando à A popular e sindical, o governo de Tasso reprime mais suas manifestações do que o
os invesumentos econo ,
da gestão pública e na ab ermra para nov . • do primeiro governo governo de Ciro .
· d.1 1 realiza-se a parur
entrada do estado na economia m~n ª' _ ) e, logo após , o segun- Tendo como prática uma política deliberada de desqualificação e de desmobili-
91 1995
Tasso(1987- 1991); segue-se o de Ciro Gomes (19, d 1999 -2002 . zação dos movimentos, os "Governos das Mudanças" não reconhecem a legitimida-
0
do governo Tasso ( 1995-1999), reeleito para O pe~I~ os apresenta for- de e representatividade de seus líderes, nem a justeza de suas reivindicações . Reagin-
. . - d . dade c1v1lnesses govern
A compreensão de paruc1paçao a sacie . . -r d de a composição de do a uma política dirigida ao setor público com caráter de enxugamento e de
d · dmgentes . 1asso, es a1
matosdiferenciados para ca d a um d os ois , . ) delega a este tot redução de conquistas trabalhistas, diferentes categorias profissionais mobilizam-se
. ente por tecmcos , ._,
seu primeiro secretariado (forma d O b asicam . , ciedade civil. Vaie mas não conseguem abrir qualquer canal de interlocução com os dirigentes gover-
,1 decisões Junto a so -
autonomia para ouvir, representa- o e tomar decisões que estao namentais . Se os jovens empresários aceitam a proposta de convocar os movimen-
,d cal confiança e coma e
destacarque esse grupo , em ger al , e e sua to . . a essa relação , razen- t,os sociais e os partidos de esquerda para construírem um governo participativo em
T Ciro centra 1iz d
de comum acordo com o pensamento d e asso. . em de governa or epoca de campanha, é porque isto parece simpático e popular , mas torná-lo concre-
· d d · ·1 passando a imag _ e to e' aigo d'IStante para uma cultura empresarial, que Am arílio M acedo , integrante
do a interlocução direta com a soCie a e civi ' -se em suas maos
,. . . . , · d cisões concentram •d •ficam do grupo do CIC e seu segundo presidente (gestão 1980 - 1981) , resume , afirma ndo:
democrauco e parucipauvo . Na prauca , as e governo s I enn 1
. , d tacar que esses d Coo- ª cabeçade empresário é autocrática. Então , é aqu ela histór ia: ma nda quem pode, obe-
reai1zaum modelo populista . E importante es p to Cearense e
. o CIC e O ac ai de dece, quem tem 1·uíz 0 (M aced o, 1999 :128) . Este empresário entende que O grupo
como sociedade civil, basicamente, os seus p ares, d IC para serem O can .
- .
peraçao, cnado pelos jovens empresános
· d " ·gentes
1f1
O e ' pdolm~oque está ª liderar O governo tem dificuldades de trabalh ar com a pluralid~-
e, dificultando · · · - - ~ o ah-
-- das C omunid ades da assim ª parncipaçao de segmento s da soc ied ade que nao estª
- . - · nd a em 198 '
1 d a Uniao •
1 ção aurono m
a corn nh ados na unidade de pensamento d o segmento empres arial. .
) . São os movimenros qu e se aglu tina m c m corn o d a c n açao , ª.' . •def end erem ,un a re ª.d Revolucio n,ir io Um · ·1vmcu
· lad o a mov imento s sociais urb anos e ª Parudos
Grand F
-- , 1 , s nos ba irros e
e orraleza, por se opo rem à co ndu ção d a FBFF as uca . in cegran ces
do Pa rti o , . setor da sociedad e civi
o Esrad0 - . R0 sa d a Fo nseca, po 11t1cosde esqu d · d . legeu
Co · Sao liderados po r M aria Luí ~a Fo nce nelle e er a,ª partu a criação do Mov imen to Pró-Mu danças que e
lllun,ira - PRC, depois PRO , tendência do PT .
236
235
TassoJereissati em 1986, acreditou ser possível am 1. .
. E d N piar as fronteiras d I' . d . da casacomo espaço social, lugar de resistência, leva as muJL
democracia no sta o. o entanto, a gestão dos "G
' . 1 d ovemo s das Mud
ª po Itlca e a
,, . o recon h ecimento . . De-
explicitar uma pratica vo ta a para os seus pares . anças ve10 . os temas e significados ao seu cotidiano . Organi zam-se
' sem considerar a h •d res a mcorporarem nov . nos
e a pluralidade dos atores sociais . eterogene1 ade . . - s , para discutir e travar lutas
ba!íroS em associaçoe , por ,melhore s condiçõe s de v·d
1 a,
Os movimentos sociais têm procurado tornar públ" . ' blº os (transporte saneamento, agua, saude , escola) . Os moviment
• _ A • JCasas suas demandas e rei- por serviços pu 1c ' . , , os
vindicaçoes, tem exercuado uma nova cultura política de dº •
, .
d
Irenos e e construção de contam com o apoi-0 da IgreJ·a Católtea , que tambem atua atrave s das Comunidad es
espaços publteos fora do Estado e buscado garantir relações , e Eclesiais de Base - CEBs.
. ,. . _ . autonomas rrente a ele,
com uma 1de1ade democracia que nao se aprox1ma do paradigma d ,. d As mulheres assumem esses movimentos pela sua relação com as luta s e reivindi-
emocratico a o-
rado pelo PSDBno Ceará. O que se observa são projetos políticos diferentes e diver- - 1·
caçoes 1gad as a, es1er
e a do mundo reprodutivo e familiar . Sua atuação nas associações
. .
gentes, que estão a excluir os movimentos sociais da participação, da negociação e de bairro , nas CEBse nos Clubes de Mães vai resultar no surgimento de um novo
da produção de espaços públicos . · · · soCia
· 1- a mulher que incorpora . novas descobertas ligadas à relação mulher-
sujeito . , .
O debate público dos conflitos tem sido negado e reprimido em nome do discur- reprodução e à sua identidade como suJeJto polmco . .
so de um gerenciamento eficaz, da terceirização e privatização de políticas públicas e Esses espaços demarcam a iniciação dessas mulheres em outros movimento s,
da eliminação de canais de interlocução com diferentes setores da sociedade civil. como O Movimento contra a Carestia que, para Sader (1995 :212) , é impensávelsem
Nesse sentido, não se dá o reconhecimento da heterogeneidade da sociedade civil, a referênciaaos Clubesde Mães.
que é vista apenas por meio dos empresários e políticos alinhados ao ideário político As mulheres nos movimentos potencializam os primeiros movimentos de mulhe-
do PSDB.Estes exercem poder político conseguindo garantir legitimidade e modificar res voltados para o debate sobre a condição feminina, onde passam a denunciar as
a institucionalidade. Apenas o segmento empresarial é visto como portador de direi- diferentes formas de opressão e discriminação à mulher e a reivindicar necessidades
tos. O não-reconhecimento das diferenças trazidas pelos movimentos sociais é res- como creches, contracepção, igualdade salarial e combate à violência doméstica .
pondido pelo Estado com uma prática autoritária, excludente e repressiva. Uma outra face da organização das mulheres nos anos 70 se expressa nas várias
No Ceará, o PSDBadota uma nova racionalidade no trato da gestão pública, vol- vertentes do chamado movimento feminista que, de um lado, potencializa a eferves-
tada para a eliminação de práticas clientelistas tradicionais de utilização dos recur- cência dos movimentos de contraculrura dos anos 60, em que mulheres trazem
sos públicos. Essa nova racionalidade não incorpora o debate, nem O controle questões ligadas à sua identidade, sexualidade e liberdade e, de outro , aglutina
· J sobre as açoes
socia - estatais.
· A re d uçao
- e mo d ermzaçao
· - da função burocrática . . do. mulheres empenhadas em participar das luras democráticas .
Estado e o estímulo aos investimentos econômicos são considerados as pnncipais As mulheres feministas inserem-se nos movimentos populares, sindicais e nos
·
medI.das para tornar o Estado efi1c1ente e b em-suce dºd
i o. E s t e paradigma político
_ de partidos políticos, dando visibilidade a opressões encobertas e não tratadas na ideo-
- pu' 611ca
gestao · aponta para a d esnecessana ' · me
· lusao
- d a participação ' da t=:aestao de logia marxista. A dimensão de classe social passa a ser tratada em relação com outras
. e da partilha de poder com setores d a soc1e
conflnos · il vinculados as cama-
· d ad e civ categorias, como mulher e, posteriormente, gênero.
das populares . A visibilidade dos Movimentos Feminista e de Mulheres começa a se dar, de fato,
a partir da realização dos Congressos da Mulher . Em São Paulo , 0 I Q Congresso
acontece em 1979 e O 22 em 1980, este reunindo cerca de 4 mil mulheres, com 52
MovimentoFeminista e de Mulheres - Gênese e espeáficidades entidades P_artic_ipantes, sendo 9 feministas declaradas . Nestes congressos, um dos
debates mais acirrados se dá em torno do que e' ou nao - "ser 1emm1s
e · · t a" e sobre as
As . ·1· desde 1964, começam a se posi~ões divergentes entre as mulheres denominadas "políticas " (representativas dos
mudanças políticas instituídas pelo regime mi irar, . d I e crabalha-
tnace· j"1 d J"d de de vida a c ass ;.ªrtl~~s d~, esque rd a, mas aglutinadas no PMD13)e as mulheres autodenominadas
na zar numa progressiva deterioração a qua 1 ª . l O imenco, na femm1stas . O debate não co nsegue aproximar
·
dora a1· d d 'd d s est1mu a surg . as diferenças e resulta na realºIZaça
-o
, que, 1ada ao crescimento desordena o as CJ ª e ' .2 9 36), o con- d e dois eventos separados . 8d
decadad 19 ., . 1 p ra Sader ( 1995· ' para comemorar o Dia Internacional da Mulher - e
e 70, de novas expenenc1as popu ares. ª .. marcada auto- março, em 1981.
textop0 !' . . . . . t s soctatscom a . J
norniad
itico prop1C1aa emergência de novos movimen
)
°
L"tizam espaços
antessilenciaaos
d
Ainda em 1975 algumas
. .'
Jh b - •
mu eres ras11eiras iniciam um movimento nac10na
· 1
' ª contestaçãoà ordem estabelecida, ( .• que Pº 1
na esr,
enommado Movimento Fe . .
lut 1 _
l . .
mmmo pe ª Amst1a - MFPApara atu ar diretamente 111
'leraprivada. a pe a restauraçao do Estado d , . J'
emocratJCo, pela anist ia aos exilado s e presos Pº I-

237 238
Entendendo que as lutas das ~~lheres devem estar integr ada s às _luta s gerais da
. por direitos políticos e pela liberdade de expre ssão · l ,.
ncos, . socia e po 1lttca . Pretendem , ·a e proletária as fem1111scascearenses defendem o paradigm a ,..,...
a .
inar inicialmente, mulheres que, em conseqüência d d"d . classe operan , "' rxista
ag1u t ' .. e me i as repressivas ado- para O qual somente a luta de classes vai pro~o~er trans~or~ações nas relações eco~
elo regime militar , possuem filhos , esposos parentes . .
tadas P ' ou amigos presos, bam - nômicas e, em conseqüência , na s relações soc1a1s. A ausenc1a do debate teórico e a
dos ou exilados .
forte atuação nos partidos políticos de esquerda não tornam visívei s as ambigüidades
Em 1976 ' o MFPAorganiza-se no estado do Ceará ' reunindo m u Iheres d a c1asse
que se refletem nas práticas das feministas , quando trazem para a entidade O debate
rne , profissionais
'di·a . liberais,
_ ex-lideranças estudantis
. . e. militantes de esquer d a (que
direta ou indiretamente sao afetadas pelo Regime Militar) . Com a sanção da Lei da sobre O feminismo da diferença ou o feminismo liberal . Para Vitorino (1994·17). ,a
Anistia, em 1979, o MFPAé extinto e mulheres mais próximas ao segmento político especificidadeda condiçãofeminina parece ser utilizada mais como "causa-pretexto
" do
de esquerda resolvem construir um lugar para canalizar a emergente inserção das que como condiçãodelimitadorade sua natureza, posto que a preocupaçãocentraldas
mulheres no espaço político. referidasdirigentesvoltava-se, primordialmente, para a necessidadede canalizaçãoda
No Ceará, a motivação principal para a criação do movimento feminista se faz potencialidadede militância das mulheresenvolvidas no processode conquistadaAnis-
corno Um d
esdobramento da atuação de mulheres no MFPA.São mulheres vincula - tia. Essa visão se aproxima do segmento de mulheres conhecido como "políticas", de
das ao MDBe ao PC do B, oriundas de movimentos estudantis, de partidos clandes- São Paulo, que se dizem não-feministas .
tinos, de militância nas Comunidades Eclesiais de Base, que alargam sua atuação Durante a realização do I Congresso Estadual da Mulher, em março de 1982,
•mserm· do -se no MFPAe nos movimentos sociais urbanos, em lutas por moradia, cerra que tem a participação de vários grupos de mulheres, com destaque para o Núcleo
e serviços públicos, para traduzir e construir o projeto político de seus pai:cidos. de Estudos, Documentação e Informação da Mulher - NEDIM, da Universidade
Lideram, ainda, movimentos como a Jornada de Luta contra a Fome e o Movimen- Federal do Ceará, a Frente Feminista 4 de Janeiro e o Departamento Feminino do
to Contra a Carestia. Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, surge uma polêmica no
Mas é a atuação dessas lideranças no MFPAque vai produzir a consciência da capa- interior dos grupos de mulheres que participam do evento, sobre a legitimidade e
cidade de aglutinação e de mobilização das mulhe _re~ cearenses : Decidem-se , então, representatividade da UMC, entidade coordenadora do congresso . Alguns segmentos
1 · ça-0 de uma entidade feminista para
peacna .
potenoal1zar e reumr mulheres em corno
. _ fi · · vinculados ao PC do B não se sentem representados nas propostas e encaminhamen-
de questões de seus interesses . A influência das man1festaçoes de ~ulheres e emin_is- tos realizados por aquele grupo e afastam -se da UMC, formalizando, em dezembro
tas realizadas nos espaços mundiais e nacionais reflete-se na necessidade de, cambem de 1982, a criação de outra entidade de caráter feminista, denominada Centro
. d · udanças nas rela-
no Ceará, se criar um movimento que possa cat al 1sar e pro uztr m Popular da Mulher - CPM. A ruptura desses grupos expõe divergências de caráter
· d d D te O I Encontro da Mulher político partidário . Segundo uma ex-diretora da UMC,
ções desiguais sofridas pela m ulh er na sooe a e. uran . ,.
. · d olíticos 7 é lançada a ideia
Cearense, que aglutina as mulheres
6 d d
e 1versos parn os P . '
.d d e · · · se consolidar em 1981, no 11 houve um racha nesse Congresso, porque o PC do B não queria criar a entidade nessa
de constituição de uma entl a e remm1sta que vai 8
. - d U ·- d Mulheres Cearenses/UMC. época. Eu acho até que ele estava cerco. Quena · tirar
· uma com1ssao· - para amadurecer
Encontro da Mulher Cearense, com a cnaçao a mao as . _ d
. e . . e vai acumular d1scussoes e
A entidade se instala como um movimento 1emm 1stª . . , 'b , O
melhor que seriaª entidade, o que faríamos. Mas o pessoal da Maria Luíza queria for-
. . - d ovimento femimsta e acn Ul- mar a entidade, queria sair com uma entidade na mão. As concepções eram diferentes
mteresse específico das mulheres . A denommaçao em 'd d d desenvolver
esta enn a e eve desde o começo· O pessoal dª M ana · Lu1za
, e d a Rosa estava saindo à esquerda do PC do
da à UMC por suas integrantes, porque enten d em que , _ J,,.;das pelas
d . Idade e exciusaoso1,. B, rachou pra criar outra orga ·
umapráxis social voltada para o problema da esigua l aproble- , . . ntzaçao, 0 PRC. Eram •1ntm1gos
- . . · do
desse pessoal que estavavtn
. . - :t1eciíficas
que envo vem a d1re1ta,então não tinha condição de dar certo. (Vitorino , 1994:24)
mulheres em nossasociedade( ..) para discutir questoes esr . e Vitorino , 1994:2).
· fi-emznzna,
ma't1ca · · como a d·tscnmmaçao,
· · - o machi'smo e a sexualtdad (
d Outra
_ liderança da UMC concor d a que nao - h avia
. d1vergenc1as
. , . relac10na
. d as· a' con-
. . das sociais, como escudanr es, uçao da luta das mulheres H · · d. , . · rro-
l d . · avia, sim, 1vergenc1as sobre quem detena o con
6 O
. cnconrrocoma com a parric1pa .
ção de muIheres. . l 1e d'f
1<=•renres serores e•cama
• rioriciri
- : a mulher,o. rra-,
os sao e a enttdade , do poder d " dO e l'ri-
oper'anas,
· prof,1ss.1onai • -
s liberais, reprcsenranres de associaç oesde bairros· OsIh remas P
,1 saúde e o sexo;ª mulher' a hum - d ' iante conrronto de duas forças major itárias na Pº 1
balh o e as leis rrabalhisras;a mulher, a comunidadee o cusro de vida; a mu er, · . ca a esquerda do Ceará. (Vitorino, 1994: 25) .
lia, a educa çãoe a culrura. R . h Fonsec:1e M:1ria Lu1za. Vale dest acar que a m 0 bT1 - d • - de
7N · - do rR C por os,l ' ' . . . izaçao e mulhe res no cená rio n acio nal e a cnaçao
· essemesmo ano, dá-se a cisãodo PC do B, com a criaçao 'd F seci. movimentos fem1111sta s em E . d - . . ea-
· arncipamde sua primeira direção Maria Luíza Fonrene1e e Rosa
8 P ·· on sta os como Sao Paulo m fluencia m as lideranças e
3

240
239
ses no sentido de demarcar um papel e um e _ d fi inismo para fundamentar e direcionar suas prátic E
ren _ d spaço para as lutas das mulheres sobre concepçoes e em . , as. Ste
e0 mpreendem que nao po em estar ausente s na def; d b . ·
l . esa as ande1ras de luta que - se reflete nem se realiza no Ceara .
Ih c
.
' m dimensão nac10na e, para isso, uma articulação c . debate nao '
te d 1 om os movimentos de outros Em 1986, realiza-se o Ili Congresso da Mu er earense, promovido pela UMc.
estados é fun amenta . . l' mi·ca se dá em torno da proposta que deve ser encaminh d
Mas algumas especificidade s prec .isam ser colocada l _ , . Nele, a ma10r po e a aà
. . , . . s em re açao a realidade do . . - Popular do PT (tendo Maria Luíza como prefeita), no que se rec ,
vimento femm1sta do Ceara . Pnme1ro, com relação , . . _ Admm1straçao 1erea
mo . a estreita 11gaçao dessas criação de uma instância municipal voltada para desenvol ~er políticas de interesse
mUlheres com as lucas _ gerais por democracia e a force miºliºt anc1a
' • em parti.dos
da mulher. Um grupo aponta a instalação de uma Secretaria da Mulher e outro, a
políticos. Essa relaçao defi _ne o m~~elo de atuaç~o das mulheres nos espaços
formação do Conselho Municipal de Direitos da Mulher . Este debate expõe a neces-
feministas, em que predommam praticas hegemornzadas pelo partido . De forma
ambígua, ora se aproximam da vertente feminista socialista , ora da vertente femi- sidade de discussão sobre a participação de entidades civis nas instituiçõe s estatais.
nista liberal.
o grupo das fundadoras da UMC, partidárias da prefeita Maria Luíza , defende a par-
Segundo, com relação à inexistência de um debate teórico com feministas da aca- ticipação da entidade na definição de políticas públicas voltadas para os interesses
demia que garanta a fundamentação da concepção feminista que pretendem defen- da mulher, entendendo que esta administração tem compromisso s com as camadas
der. Apesar da existênçia na Universidade Federal do Ceará de um núcleo voltado populares e, então, propõe a criação de uma secretaria vinculada à prefeitura. Essa
ara O estudo da problemática da mulher, o NEDIM (criado em 1981), não se esta- defesa pauta -se na argumentação de que, sendo uma administração comprometida
~elecementre os movimentos e este núcleo relações voltadas para o debate e refle- com os interesses populares, deve garantir a instalação de uma instância que repre-
xõessobre as práticas deles. Os movimentos definem -se por encaminhamentos prá- sente uma política de governo, com poderes de decisão e recursos financeiros defi-
ticos que se dirigem para a denúncia da opressão à mulher, para a discussão e luta nidos, para implementar políticas públicas de interesse da mulher , além de influen-
por direitos e para a realização de debates sobre questões que demarcam diferenças ciar nas políticas dos demais órgãos municipais . O outro grupo, ligado a uma
entre homens e mulheres, no trabalho, no uso do corpo e na sexualidade. Tratam, tendência do PT, defende a autonomia total da entidade diante do poder público
também, da necessidade de realizar discussões sobre as condições de vida de suas municipal e vota pela criação do Conselho, que deve ter representação paritária do
famílias nos bairros, envolvendo questões como carestia, moradia , educação, cre- Estado e dos movimentos feministas . Compreende que a autonomia ante o poder
ches,saneamento, saúde, água, violência , dentre outras . estatal deve ser preservada, mesmo em se tratando de um Governo Popular. Este
Uma terceira especificidade refere-se à pronta mobilização das mulheres para grupo consegue aprovar sua proposta, mas não viabiliza a mobilização das mulheres
abraçaremas lucas gerais. Acuam de forma visível e marcante nas lutas pel~ ~m da para garantir a criação do Conselho Municipal.
ditadura, no Movimento por Diretas Já . Nesses espaços, percebe-se a omissao das . O III Congresso também deve eleger a nova diretoria da UMC, mas as divergên-
lutasespecíficas em nome da militância político-partidária. . cias com relação ao debate e à votação pela criação de Secretaria ou de Conselho
Desde a criação da UMC e do C PM que a sociedade cearense conStr Ói no s~u ima- aci~r~m ª disputa eleitoral pelo controle da entidade, que resulta na anulação das
. , . a representaçao
gmano - d a estreita
. re laçao
- d esses mo vimentos com os parndos de ele1çoese desestruturação da UMC.
.d · entos são profundamente
esquerda,posto que as mulheres que li eram esses movim Somente após o final da gest-ao d e M ana · LUJza, na prefe1tura
. de Fort aleza, em
1"dent1 · - d e l'd
·fi1cadas e assumem posiçao i erança nos pa reidos que representam . . 1988,. o grupo de feministas · · · -
reimc1a açoes voltadas para a reestrucuraçao - dª uMC 1

íd que constroem o movi- Realiza. o IV Congresso e eIege nova d 1reção. '
Desde a ruptura no interior do PC d o B que as l eres . A Desde então, a UMC tem acuadO JUO · to
menro feminista no Ceará se colocam na de fiesa d e proJeto 5
• políticos diferentes.
. _
ª movimentos de bairros ' n ª denuncia
d b
, •
da violência contra a mulher, re 12
a1·ando
. . . - o de radical opos1çao em e ates so~re saúde, trabalho e condições de vida da mulher .
UMCexpressa,dentro do movimento femmista, uma posiça Gon
d a partir do governo - A UMC mtegra-se na cam h l . . ces-
1
reação aos partidos que hegemonizam o poder no E st ª o, d ,. so c · • . pan ª pe a part1c1pação das mulhere s durante O pr0
. . . ulada ao PC o B, apoia onstttu1nre nacional e estad I b" . de suas
zagaMoca. Por outro lado , o C PM, um grupo femmi st ª vmc der que principais · · dº _ ua ' mo il1zando-as para o debate em corno
o . G a Mota por enten re1vin !Caçoese da assi
projeto de renovação iniciado com o governo onzag .' Desde O final d dé d natura de emendas populares . _
a ca a de 80 d d presen
mudançasna sociedade se operam com alianças com ª burguesia. • · ação de te nas grandes m •e _ e urante os anos 90, a entidade tem esta O ) e
O · • l b ra ren do a parncip an11estaçoesco F fHC
movimento feminista, em âmbito nac10na , em O . . m debate estadual promovid .ncra os governos federais (Fora Collor e ora . de
mulh . aço femm1sra u as pe1os mov1menr stn . d" . . "d Jíucos
eres vinculadas a partidos políticos, traz para O esp esquerda. Tem d" · 'd os 1cais ligados à CUT e parti os Pº _
mg1 o sua atua ão . . . . d a ques
ç para construir deb ates políticos msenn °
241
242
- das rceministas precisa aproximar-se das demanda s das dona s d e casa
açao 1
cão da mulher, criticando firmemente
, . O proJeto
. neoliberal . A
g.,,nrü legidmid,de à proposta a ser encaminharia ao candidato M ont oro A P." ª
Coordena, de forma voluntana, 0 Serviço de A 010 . , e ª conJuntura política. .,F . . p , M 1· d . ss1rn
, E . P a Mulher na As · , . é criado Comtte emmmo ro- ontoro, para igar a proposta
• A •
as femi ni.stas a u ,
ria do tad o d o C eara . sse serviço, voltado para a . _ s1stenc1a Judiciá- O
Es. 'd. 1· d . 1 onentaçao e en . h projeto global. . que trate da pobreza, da. v10lencia, da educação e da saúd e, tem as li. rn
uestões JUrl 1cas 1ga as à v10 ência , integra a açao
- de cerca de 14 carrnn fi1 . amencode
q dos ao coud1ano das mulheres dos bairros populares . ga-
Em 1997, a UM C realiza o seu VII Congresso d' pro ss1onais.
. h fi . . , em que iscute a de . d. A falta de abertura do PMDB para um debate mais amplo na soc iedad
ta e craz He le1et Sa fiou, femini sta e acadêmi cª con hec1
, • A
.d a nac1onalm
. mocrac,a 1re- . .- d d . - d e sobre a
debater a tematica Genero e Classe Social. ente, para f,arma. de. consntu1çao . e o. mo. o . e mtervençao
1 - . o Conselho ' um a vez que ele se
consntui
- um mecanismo
. - mst1tuc1ona. e nao uma mstância partid' ana, · gera a for
O Centro .-Popular da Mulher, uma. entidade tamb'em cons1·derada feminista,
çao .de uma .opos1çao
. por parte de diferentes setores não vincul a os ao PMDB ma-
d
. _ hegemomzados pelo PC do 8 e ne1es rea1iza
centra suas_ açoes nos. espaços . trabalhos
de formaçao e consc1ent1zaçao da problemática da opressão à mu Iher, atuando tam- h aviam pamc1pado . da campanha de Montoro e, principalme n e, d e setore s d que
t
bém por meio do Centro de Atendimento à Mulher, em casos de violência. que atu~m orgamza~~mente _n_os bairros, junto a grupos de mulheres . o PT
Pode-se afirmar que essas entidades não conseguem se configurar como espaços As, diferenças teonco-polmcas entre feministas radiºcai·s e remmistae . . s ·a1·
feministas. Primeiro, pela forte relação com o paradigma e prática polírica dos par- mamem-se no processo de criação do C ECF e msugam . . aca 1orado d b soct istas
tidos aos quais estão vinculadas . Em conseqüência, priorizam ações voltadas para a d. em as feministas. As que defendem m u d anças por d entro do s e ates que divi-
lh d
conquista da cidadania no seu sentido mais amplo, sendo as bandeiras feministas integram ao CECF, outras se engajam d apare o e Estado se
têm na militância feminista . ao grupo e mulheres do PT e outras se man-
destacadas apenas em momentos pontuais . Segundo, pela dicotomia entre as bases
e as líderes dessas entidades, que acuam como vanguarda de idéias, ainda sob o o grupo que apresenta posições discordantes não ,
sentar na primeira composição do CEC e consultado nem se faz repre-
manto do paradigma leninista. . b F, mas tem O ' · d
m1Ca astante instigante e pro . . mento e promover uma polê-
d missara no mt . d .
as ao PT. Esse debate, de natureza e . . enor as entidades de mulheres filia-
Os Conselhos Nacional e Estaduais - na medºd ' a em que coloca a discussãoremm1sta
b r·
' po ttiza e qualifica os movimento s,
Lugares de Congruências e Contradições mdovime~tos,o significado de participso - reda natureza do Estado, a autonomia dos
.os mov1mentos, d o relacionamen açao, . e representaç- ao, d e mst1tucional1zação
. . . .
eia estatal. to com ideologias partida'r1·as e com a b urocra-
ConselhoEstadual da Condição Feminina - CECF de São Paulo: o precursor . Muitas feministas se opõem -
limitado mand ato "011c1al",
e. . seu nao
cara'ttanto
" à sua criaç-ao, mas a, sua composi ção, seu
No início dos anos 80 surge em São Paulo o debate sobre a necessidade de uma -
verbas e de P d er efetivo de impl er consultiv O ,, e nao-deliberativo sua falta de
0
at - ' bl ' · da mulher brasilei- estaduai. "u .
'-<: eSt1onam ainda fi ementação d e po l'ltlcas • '
dentro da administração
uaçao governamental específica e voltada para a pro emanca .
ra Lºd d • e · · t organiza-seuma a predominân
A . . d e membrosO do
eia ormato
PMD da repre sencaçao - da sociedade
. civil, que cem
· 1 era a por parlamentares do PMDB e movimentos remmis as, 0
luta 1 · e d º - f minina - CECF, com unidade e a le it. . B.
pe a criação do Conselho Estadual sobre a on 1çao e , .
ob· . d d fi . - d olíticas publicas e de populares ara
ar
g im1dade do PMDB . un
g ntem ao Grupo de E d J to ª alguns segmentos das camadas
Jet,vo e torná-lo um espaço de elaboração e e miçao
dº - d vida das mulheres.
e P st u o da s·
medºd
. do a e1a-
P ªC-apresenta
d r ao governador M - da Mulher do PMDB o apo!O
ituaçao ·
1 as que contribuam para transformar .as con
Form - d b içoes minários
e v1san na o o CE oncoro a pr d .
a-se, enrao, um grupo de escudo que realiza e ates e se serem . . CF, questões com opo sta e cnação do C ECF.
Ih quepartici- cesso dpnonzadas
dº - tratadas denco seu
sao d caráter ' composição . - ª
e áreas de intervençao
boraçãode Propostas.
Segundo Alvarez (1985 : 49) Apud Ardaillon (1989 : 7 ), as mu eres d ntrodo . de suare l iscussão
_ .
e articulação coro o ePMDB'que assume a lider ança de todo o pro-
Paramd . O abalhodo grupo e A e. açao . , para a elaboraçã d m as 1em·mistas · e com o movimento de mulheres
. eSte grupo de estudo como aquelas que apoiaram tr. . a Frentede pnme,ra dir - o e um pro
P
art1do . h . ,fi sionazscomo Blay,apó . eçao toma posse grama voltado para a qu estão da rnulhe·r
Mulhe vm am dos grupos femin istas que reuniam pro ~s. ornoum todo,o pMDB
st
resFeministas,Pró-Mulher e a Casa da Mulher Pault a. C do à "nova efine cos negociaçoes- entre os m em . setemb ro d e 1983, sob a coordena ção de Eva
D mo meta . ovimentos · d o permitir ampla represencaça' o·
eracapazd J fherespertencen tossociais ª criaçãode . ' visan
cl e recebero apoio de significativo número ae rnu , na formulaçao
- de polítcanazs
• de par tzczp
. . açao
- das mulh eres dos vários . sepn eri -
assemédia" , . a, questão da mulher.
, senszvezs zcasque ihes d.zzem resp eito (...) estabelece cornoP'·ío-

243 244
.1.Jepara a sua atuaçáoas áreasde Trabalho Vi' ,. . . d L • rovado no Congresso Nacional, é então criad
rraa , lOtenc1aSa 'd C h f, de ProJeto e e1ap oo
g5:94 Apud Ardaillon, 1989:18). ' tt e e rec es (Costa, Na orma, L . º 7 353 assinada em 29 de agosto de 1985. A sua prime·
19 traves da e1n • , ira
CNDM, ª de setembro de 1985, sob a presidência de Ruth Es
Se, por um lado, o CEC F amplia a agenda política d direçãotoma posse em 11 , . 'd . co.
,. - e o governo, tornando . - Jurai de tendenc1as de parti os e de movimentos d
de ordem po1mca as questoes rererentes à desigualdade d • assunto bar com uma compos1çaoP . e
. d . 1• . e genero, por outro nã0
consegue mtro uz1r. assuntos po emICos,como a legali'zaçao_ do abono 'Ih de São Paulo). O Conselho é cnado com autonomia
(d'icere11temente
_ · ' mu eres r, • · , · d J ·
saro a muitas orgamzaçoes de mulheres. ' que interes- . .
admmistranva .
unanceira, vinculado ao Mm1steno a umça, com statusde
e c.
As conselheiras,na sua maioria próximas ao PMDB part'd • . "Miniministério". .
. • . . ' I o vnonoso nas eleições
vêemfac1l1tadoo esforço em abnr canais de diálogo e negociaç~ d ,. .' Ele precisa enfrentardesafiosde ordem,in~erna e externa, cnand~ estratégiasde
. . . ao e po11t1cas públi-
cas Junto a diversas Secretanas de Estado. Novos relacioname t e. defesa, formulaçãoe direçãode políticaspublICas voltadas para a equidade de gêne-
. . n os se con11guram
com a Secretana de_~rabalho, de Jusnça, de Saúde. O trabalho político se desdobra ro. No interiordo aparelhoestatal, precisavencer obstáculos de múltiplas configu-
na realizaçãoe paruc1pação em conferências, palestras, na produção de campanhas, rações; da estruturaburocráticaà legislaçãoandrocêntrica, as conselheiras deparam-
de cartilhas, vídeos, jornais e pesquisas (em parceria com universidades). o CECF se com práticas paternalistase machistas da parte do alto escalão ministerial.
inaugurarelações com o poder político e a burocracia estatal, qualificandoO deba- Externamente,precisaatingir a sociedade,instigar debates, combater a discrimina-
te e dando consistência estatística e analítica a projetos voltados para a consciência ção e opressãoà mulher e suscitarmudançasnas relações entre os gêneros.
depolíticas com eqüidade de gênero. Atua com categorias como trabalhadorasurba- Promoveexperiênciasinovadoras,criativase traz para o Estado o debate de temá-
nase rurais e mulheres negras. ticas antesconsideradasdo mundo cotidianoe privado. O CN DM define-sepor atuar
Na segunda metade dos anos 80, a sociedade civil brasileira está mergulhada de formaimediataem três linhas: Creches,Violência e Constituinte . Elaboraproje-
num grande movimento pró-mudanças com vistas à concretizaçãode um processo tos para intervirtambémnas áreasda saúde,do trabalho, da educação e da cultura.
democráticopara o Estado brasileiro. A conquista pelo PMDB de governos em Nos primeirosanos, a repercussãoda atuação do CNDM no país é visível.Utili-
importantesEstados brasileiros, a instalação da AssembléiaConstituinte, a definiti- za-seamplamentedos meiosde comunicaçãoe realiza grandes campanhas,10 com0
va inserção das mulheres no mundo público, constroem um cenário favorávelà apoio dos conselhosestaduaisjá instalados. Interfere com pareceres técnicosem
mobilização , à participação e à politização de variadas lutas. anteprojetosdo governoligadosao trabalho feminino e à saúde da mulher. Elabora
propostasde políticaspúblicasligadasà violência, à educação, ao trabalho, à saúde
paraos ministériosrespectivos . Realizae apóia Encontros Nacionais11 com as diver-
Conselho Nacional de Direitos da Mulher - CNDM - origem, realizaçõese s~scate~oriasde mulherese lança inúmeras publicações12 e vídeos, além de finan-
desafios mr proJetos de filmes. A produçãode tais materiaisvisa subsidiar as campanhas, os
encontrose os conselhosestaduais.
O Conselho Estadual da Condição Feminina se insere de forma positiva na 1dade do CNDM maten'al'1za-se quando assume a coor-
No planonacional' a visibil'
estruturado Estado e sua experiência estimula a deputada estadual do PMDB de São denaçãoda campanhaMulh C • .
er e onsmumte, com o lema Comtituintepra valertem
Paulo, Ruth Escobar, a empreender várias iniciativas9 com vistas à criaçãodo Con- queterpalavrade mulher.lan d b
' ça ª em novem rode 1985. Para promover o lançamen·
selhoNacional de Direitos da Mulher - C NDM . to da campanha,as conselhei f: d U·
)' , ras azem uso e um pôster, um livrete e um vídeo. n-
Asinúmeras contradições da experiência do CECF , seja nas suas relaç~esinternas 1zam- se tambemde outdoor d . 1
s, a es1vose ançam a campanha em codo o país.
(como Governo), se;a. nas suas relaçoes
_ com a socte · ·1, os movimentos de
· dade civi
mulheres e eremmistas,
· · 'd d I b -
são cons1 era as na e a oraçao da proposta do CN DM, de 1O. Destaquem-se as campanhas: Comli111i111 . . . con·
mod0 a dar uma configuração mais • d emocrattca
, · e P)urai ao novo Conselho. tr,, a mulher, Discutindo1111esr"la 'J e pm vr1/,,,.rrm t/Ut' ta pal11vm
de mulher.Diga niioà v10lencul
O
11. Em 1986 . I'·. . / ape/da mulher 11 11sociedade.
. . , rc,1,,.., o I l·.nrn111roNacion·d 1 . C . Cons·
rnu,mc, o I Encontro N· .· 1 I ' · ( os onsd lrns da Mulher o Enconrro Nacional Mulhere
, . . .1e ,ona
eonferenc,aNacional d , S· · 1• . . ( e Delegadas de D 1 • . •. . ' • . ,
e cg,,o3s de Delesa da Mulher. Colabor" com a rdi z.,ç.,o
d,1i'
~ . .• " . . , . _..· /1111/hrr r !'olítim. j:í eiradas"" lnrro: .
dn mulher110
e . au, e e Dire11u s da M li , .
. - - u lc1, do I Congresso Nacio113J
. 'rio,.J
da Mulher Rural e do Sen11nJ
d _ A primcir,1refere-se a ' Carta das Mulheres , a segunda ·'°Semni.ll lO . d· d "'"d a Rurh Escobar a 11nngem s meios Í
uça , <le,t I ó . . . . . . . ' .. ,a-se Ju conv,re ., ep b ve o 1, VídeoMulher. , e ro11111111
r11çao.l: m 1987' apóia o I Encontro A Mulher é as Leis Trabalhisras, pro111 0·
. e rc :11 nu. A 1ercc1ra e 1ambf:rn1mpona nrc 1111c1arl\ :l ri.I . . . >J·& publicizou o de are
"'"listra d o·. . . ' ,· . . o Br3sd. Essa me l a 12. Denrrcas publica ões d .
., . . os trctros dJ Mulher, d,1 !·rança, Yvene RouJ y, Pª'ª ',s ,r.ir . Nacional. e Cons . . ç ' estacam-se: Série Mull , . . ·1· 1 ·11 . ~l11lh<'
uJ leg1u1111·d d d . .. ' bl e , e Congresso
ª e o proct'ssu de criação do CND ,11, peranrc a ºP" " "º pu 1 · O trru,nre, MulherTrabalh·,d . ic, e ra )alho com quarro Jo cumenros e as c:ir" 1,1
s'
, ora, V,Ja de Mulher, Esras somos nós, Direi10 Penal, M"nuJis sobre cred1es.

245
246
Ao mesmo tempo em que os movimentos de mulh eres e eremm1 . .
stas aderem ao . . C Ih se reestruturapara atender a demandas gover
amento do Co nselho para que as proposições das Ih h , . ka Darcyde Oliveira, o onse O , _ _ na-
ehai11 . mu eres c eguem a Conm - . . . de interessedo governo. E uma gestao que nao constró·
. e as mulheres, de forma independente, articulam h , . mentaise apoiarprojetos e . . 1
tuint ' . _ , . campan as e estrateg1asatra- . d mulherese remm1stas.
, de manifestaçoes nas praças publJCas,passeatas debat b . . interlocuçõescom os movimentos e
ves ' es, a a1xo-assmadospara as
emendaspopulares.
Algumas variáveis significativas parecem indicar que d
. . , nos anos e 1986 a 1989 ConselhoCearense
de Direitosda Mulher - CCDM- uma experiênciaern
(ge stão Jacquelme P1tanguy), penado em que lança a campa h M Ih C .
. . n a u er e onst1-
debate
tuinte' O Conselho nacional ganha maior legitimidade e crediºb•1·d 11 ade. Sua efi1c1.•en-
eia pode ser explicada
. pela formação
. de um conselho menos pa t"d , • e mais
r I ano . repre-
A participaçãode mulheresfeministase de parlamentares do PMDB do Cearáem
sentativo dos diferentes movimento s de mulheres ' O que gara t •
n e maior apoio . dos
encontrosnacionaispromovidospelo PMDB e pelo CNDM,em Brasília, propiciaos
movimentosàs ações do CNDM. A maior representatividade das conselheiras aumen- primeirosdebatesno Ceará, voltadospara a criação do Conselho Cearensedos
ta a sua legitimidade no interior do Estado e do governo, permitindo maior trânsi- Direitosda Mulher- CCDM
to e apoios institucionais nas ações propostas pelo Conselho. O crM, um dos movimentosfeministascearenses,une-se em 1985 ao Departa-
O CNDMconsegue aglutinar as parlamentares constituintes, os movimentos de mentoFemininodo PMDB , ao PCBe MR-8 , à Federaçãode Bairrose Favelasde For-
mulherese a sociedade em geral para participar dessa campanha. Paralelamente, tra- taleza,ao Sindicatodos Bancários , Sindicatoe Conselho dos Assistentes Sociais, ao
balhana tradução, em formato de lei, das principais reivindicações das mulheres Sindicatode Enfermeiros , ao Sindicatodos Médicose a algumasmulheres da aca-
para encaminhá-las às subcomissões do Congresso. O chamado fobby do batom, demiapara construiruma plataformade trabalho em defesa da criação do CCDM,
grupocomposto por lideranças de mulheres, é uma iniciativa dos movimentos de entendidocomo um espaçode gestãopúblicada sociedadecivil voltado para pre-
mulherese feministas que se articula ao CNDMpara acompanhar os trabalhos dos servare produzirpolíticaspúblicasdo interessedas mulheres. Para uma liderançado
constituintesna elaboração e votação de Emendas Constitucionais. A votação do movimento , a lutapeloConselho, queveiojunto coma lutapelasdiretas , foi umadas
textoconstitucional é acompanhada pelos grupos de mulheres e o CNDM . Observa- maisbonitas , porqueaglutinoutodoo conjuntoda sociedadecivil. O movimento de
seque a Carta Magna aprovada em 1988 incorpora a maioria das reivindicaçõesdas mulheres, o movimento de mulheres de bairro,o movimentosindical,todos esses movi-
mentos,todaa sociedade civilse incorporou na lutapor esseConselho(Entrevistaem
mulheres.
ser./1999).
No final do governo Sarney, o ministro da Justiça determina mudanças subs-
Esse~rupo ~lab~rauma propostade projeto de lei e procura apoios junto à
tanciaisno Con selho Nacional que comprometem significativamente a autono-
Assembleia~e~1slat1va e Câmara de Vereadorespara a sua aprovação. O grupo
mia e o orçamento do CNDMdentro do ministério e também rejeita a indicação
defendeª cnaçaodo CCDM via projetode lei porque entende que deve serconstruí
-
dasrepresentantes dos movimentos de mulheres para a renovação do Conselho. A
do ª partir de ampladiscussãocom a sociedadecivil e encaminhadoatravésdo
presidentaJacqueline Pitanguy reage a essas medid as apresentando a sua renúncia, PoderLegislativopara ter forçade lei.
queé acompanhada pela renúncia de rodas as conselheiras representantes da socie- O movimentopró-CCDMaproxima-seda deputada estadual Maria Dias, do
dadecivil. PMD!ldo Ceará· Esta, embora nao
- se co[oque como remm1sta
e · · no Parlamento ,.
, apoia
fu presidentas de Conselhos Estaduais criam então um Fórum Nacional de Pre- as açõesdas mulherese participada elaboraçãodo projeto de lei de criaçãodo
sidentasde Conselhos da Condição Feminina e Direitos da Mulher, em 1989, com CCDM · da com o apoio
. O movimentoconta ª111 · da vereadorade Fortaleza ' F'er-
, Irea
ª perspectiva
de ser uma instância de artim laçãopolítica e técnica entreosórgãos
gover- rer. Respaldadapelos movimencos
· . d - pe10
, a eputada estadual garante a aprovaçao
namentaisestaduais,responsáveispelas políticas voltadaspara a população feminina. PoderLegiSlativo eª sanção da Lei de Criação do CCDM, n" 11.170, em 2 de abril
(Schumaher& Vargas, 1993 : 360). . de 1986, peloentãogovernadorGonzagaMota.
.
Em 1990, o governo Co llor de Me lio extingue . , Ir" us prerroganvasdo Con- O modelode conselho proposto pelo grupo de mulheres e sancionadopelo
a~ u 111 _
governo, defende uma es•trutura. orgarnzac10na
· • l situada na Secretana · de Gover-
seIhº· No governo seguint e (de Fernando Hennque
· C ardoso) ' apesar
' de. pressoes do. no/SEGO V (ligadª dºiretamenceao governador), compreendida por um Co1egia · d0
. ni-ipolíuca e finance1 -
movunenrode mulheres o Conselho se mantém sem auronoi ' .
r ' . . Sob a presidência de Ros1s- compostopor 24 conselheiras, sendodois terços escolhidas dentre mulheresindic3-
a e sem uma estrutura adequada ao seu func1onamenro.

247
d s pelos Movimentos Democráticos e Populares e u
a , _ . , . m terço composto por repre- M . ntos de Mulheres e o CCDM -
entantes de orgaos e entidades publicas ; uma Dir - E 1
-~ .
s lh'd I eçao xecuuva composta por 1. Os ovC1me faces na Política Partidária
seteconselheiras, esco I as pe o chefe do Poder Execut'
. , .
d l . .
ivo, entre mu heres md ICa- Faces e onera
daspelo movimento popular e democrat1co através de J' , 1.
. - . . Istas tnp ices, para o exercí- .d lo C PM junto a sindicatos, 1-'B FI' e outro s part' 1-
cio das seguintes funçoes : presidenta, vice-presidenta
,. . . .
, . l . .
, secretana gera , pnmeua A articulação empreen d I a pe • d d d •
. . • se após a assinatura o ecreto e criação d
secretana, tesoureua geral, pnmeua tesoureira e secretá · d 1 . do s políticos de esquer d a remicia- . o
. na e mprensa (Lei nº • a indicação do s nomes que comporiam seu 1,
J7. I70, de 2 de abnl de 1986) e uma Secretaria Executiva com , CCDM, em 1986, para garanur . .
. . . . posta por tres cargos . d G aga Mota rende a indicar a deputada estadual do
com1ss10nados(secretáno executivo, assessor J. urídico e assessor t ecmco
, · ) . A Le• tam - Colegiado . O governa or onz . l _
1 . . identa do Conselho . Mas a art1cu açao de mulhere s
bém institui o Fundo Especial dos Direitos da Mulher - FEDM para aten d er as , PM D B, Mana 0 ias, para pre s . .
necessidadesdo CCDM. . . d' tro nome para pre sidenta e para metade da compo sição
re1vm 1ca apresentar ou . . .
A União das Mulheres Cearenses - UMC não participa do grupo que discute a .d · s repre sentantes da soCiedade Civil, ficando a cargo do
d o C o 1eg1a o, ou sep , a
criaçãodo CCDM e promove um debate político com mulheres ligadas à entidade e governador apenas a indicação do s me~bro~ das sec retari _as ~e Est~do : Segundo
simpatizantes, apontando em outra direção . Questiona a participação das mulheres uma de suas lideranças , 0 governador unha intere sse em mdICar pnnc1palmenre
nas instâncias do Estado , deliberando pela não-inserção de seus membros no Cole- nomes ligado s ao PMDB,
giado do Conselho . Entende que essa atuação traria riscos à autonomia do movi-
mento, esvaziaria seu caráter revolucionário, de contestação e crítica ao capitalismo mas O que a gente primava era para que esse Conselho fosse representativo de faro de
e submeteria a luta da mulher à tutela do Estado, entendido como espaço de refor- rodas as forças e de rodos esses movimentos que estavam nessa articulação , e, como tal,
mase de concessões . A UMC aponta o governo como expressão visível da classe bur - nós queríamos que as representantes do Conselho, dentro do Conselho, fossem realmen-
guesae que, por isso mesmo, busca instrumentalizar o movimento de mulheres e te pessoas significativas que refletissem nesse projeto o interesse do coletivo naquele
suasentidades. momento. (Depoimento de uma ex-conselheira, em set./ 1999)
O CPM, que dirige a discussão da criação do CCDM, defende a participação de
seusmembros no Colegiado, por entender que a atuação das mulheres no sistema Um movimento de pressão organizado pelo grupo de mulheres que defende a
de poder deve propiciar a integração dessas na sociedade e a conquista da igualdade instalação do Conselho leva o governador Gonzaga Mota a assinar a nomeação
de direitos. das 24 conselheiras, no dia 8 de março de 1987, sete dias antes da posse do
Uma análise do processo de articulação, constituição, construção , atuação e govern~dor eleito, Tasso Jereissati . Mas Gonzaga Mota não nomeia a 1• Direção
realizaçõesdo CCDM, desde sua criação em 1986 até o ano de 1998, aponta para Executiva do Conselho . Esta somente vai ser nomeada em..20 de janeiro de 1988,
ª existência de três momentos distintos, que serão trabalhados neste relatório pelo então governador Tasso , qu e acata as m · d 1caçoes
' - propostas pe 1o grupo d e
segundo suas especificidades . O primeiro compreende o período desde a assinatu - mulheres . O grupo ' hegemon1·zad O pe [o C PM, garante a md1cação
· · da pres1' d enra
ra da lei de sua criação até o rompimento entre membros do Colegiado, que vai do Conselho, . então parridári d P d b .
a o C B, os mem ros do Colegiado representan -
de 1986 a 1989. O segundo momento inicia-se após a cisão do CPM com° CCDM, tes da sociedade civil e d d J
e representantes e algumas secretarias de Estado . Va e
1em b rar que este grupo st , )' d ' d l . .
com a construção de um novo formato do Conselho e de novas práticas, e com - ,. e a 1ga o 1 eo og1camente ao PC do B e ao PC B, parti -
d os polmcos que dão ap 010 · ' d 'd d0
preende o período de 1989 até 1994 . O terceiro representa um período de te~t~- a can I atura de Tasso . Para compor o Colegiado
CC DM, o grupo faz um rastre d , . .
tivas de rearticulação do Conselho como espaço representativo da sociedade c'.vil, d _ . amemo e nomes de tecrnca s d as sec ret anas de Esra-
o que estao almhadas ideol .
com mic1auvas
· · · · para a regulamentação d e sua 1eg1s
· 1açao
- co mplementar, que vai de · . d'
sep m m 1cados.
ogicamenre ao C PM, conseguindo que seus nomes
1993 a 1998.
Ainda em 1987 -· ..,. un · d . d
Ç
ão l . , . ' ''b s amgo s ª Lei de Criação do CC D M recebem nova re a-
e ª ei e sanc1onad 2l d
mudança - I ª em e dezembro de 1987, sob n" 11.399/87 . Essas
s sao co ocadas pelo ov , . . . -o
---- S •. de Eduoç:ío Sccreraria de da direção . g erno como neces sanas para garannr a nomeaça
13 O . - - . d G rno/ SFGOV, ecrerana . , . ' execunva, porque forrai d. d d 0 is
S 'd · 5 orgaos e entidade s públicas são : Secrerana e ove · S .
au e, Fundação do Serviço Soc ial do Estado do C eará, Secretaria de Cultura , ecretar
ia de Segurança Pública, 1 ro- cargos cornissio d d ecem ª 1reção através da incorporaç ão e
na os e e uma S . d . )
curadoria Geral do Estado e Secreraria de Indú st ria e Comérc io. considerada n , . ecretana e Estado (Secretaria de Pl anepmenro '
ecessana ao Cole iad 0 A -er
g · s mudanças são : o Col egiado passa ª 5
249
250
aricário, com metade de mulhere s representativas do mo vim ento demo crático e
Apesar de concordarem em acuar no '.nterior do ,E~tado , as~mul ,he:es represen -
:opular e metade re~~esentativa d o governo . 14 O Co legiado perde uma repre sen-
tante s da sociedade civil procuram garanur no s domm10 s da açao publi ca um para-
tante da sociedade civil e O governo ganha um a representante . Outra mudança se
digma autônomo de atuação . As conselheiras, na sua maioria oriundas d os movi-
refere à Secretaria Executiva, que p assa a ter ape n as um membro_ assessor jurí-
dico. Os cargos de pre sidenta e de sec retária -gera l d a Direção Executiva passam a mentos populare s e democráticos, defendem a co nstrução de um espaço público que
ser comissionados, extraindo os doi s cargos remunerado s da Secreta ria Executiva. garanta a participação das mulheres, a defesa da igualdade de direito s e a relação
O Colegiado não faz objeções a essas alterações p ara garantir a nomea ção da p autônoma dos movimentos sociais com o governo . Nas nova s relaçõe s com o poder
Direção Executiva. estatal, as feministas procuram expressar e garantir a diferença e a plur alidade na.s
Segundo o depoimento de alguma s conselheiras, as primeir as reuniões no inte- concepções e práticas que defendem para o CCDM . O recei o de cooptação pelo
governo mantém aceso O debate da autonomia, da convivência com a di vers idad e de
nor do Conselho voltam-se para a di scussão sobre o significado do trabalho que pre -
.
rendem realizar, sobre a concepção de mulher, da condição da mulher e do qu e é o idéias nos espaços da institucionalidade .
Conselho. Realizam seminários e participam de eventos nacionai s com esse objeti- Uma ex-conselheira afirma que,
vo _ construir um significado para o Conselho e as questões da mulher .
O debate sobre o significado do Conselho é necessário e importante diant e do pelo fato de várias pessoas de vários partidos, de várias entidades, de várias organizações
dilema que é claramente expresso no depoimento de uma conselheira repre sentante da sociedade civil estarem compondo um órgão que nós inclusive nos diferenciávamos
do governo, quando afirma que dos outros órgãos do Estado, pelo fato da gente estar dentro desse órgão que nós propo-
mos, que nós fizemos a proposta inclusive de projeto de financiamento , e rudo, nós
• fiusa-
0 muito grande: que conselh o tinha semelhança muito grande com
havia uma con entendíamos que tínhamos o direito à nossa independência. (Depoimento de uma ex-
· E ta-0 você querer ir para dentro da estrutura do Estado e ter o mesmo
movimento. n . . conselheira em set./ 1999)
, d ·menro isso é muito complicado. (...) Nessa primeira fase havia demais
carater e movi ,
. , · movimento é que estava dentro do conselho . O conselho e o
isso, porque O propno , · b A posição das feministas conselheiras é clara . Antes de serem Estado , são repre-
• fi d . inclusive . (... ) O movimento reria que, no mm1mo, sa er
movimento se con un 1am, sentantes da sociedade civil. O Conselho, sendo um espaço resultante da s reivindi-
. d · ão poHrica se faz, só se aprende fazendo. E eu acho que o
negociar, e a arte a negoc1aç . 1 cações dos movimentos democráticos, deve gestar novas formas de organização
· de mulheres traziam eram experiências de movimento que naque a
que os movimentos . . l' dentro do Estado, que incorpore novas configurações capazes de garantir uma atua-
, . . d1·catór1·as puramente reivindicatória s. (...) Negociar imp ica em per-
epoca eram re1vm • ção democrática, plural, participativa e questões que o Estado não havia incorpo-
das e ganhos. (Depoimento de ex-conselheira em ser./ 1999) rado até então .
Pode- se afirmar que o primeiro momento de atuação do CCDM é marc ado por
dos mo vim entos feministas
O depoimento de uma conselheira representante uma atuação de independência em relação ao governo e de maior articulação com os
vem referendar a opinião anterior quando afirma que movimentos de mulheres . Essa postura é favorecida pela conjuntura polític a de gran-
des mobilizações populares , voltada para a in stalação e consolidação de um Esrado
]' . ' b]icas no Estado e ser um órgão mais
o Conselho deveria servir para traçar Pº mc as pu ' . , _ • ham a obri- demo crático, qu e culmina com a participação popular no proce sso co nstitu inte.
' 1 d nulh eres que esranam 1a nao cm
democráticoe transparente possive • on e as 1 , ( . anrer a nossa O CC DM realiza importantes feitos nos primeiros ano s de atu ação . Primeiro ~ ª
. 1 . o ou seja, nos qu er amos m
gaçãode rezar na carttlha de qua qu ei govern ' ( ) quedamos o definição co letiva de um Plano de Ação, qu e tem como prioridades as áreas de vi~-
. . d . d um órgão de governo, ... 1encia,
' · 1s sau. , de, cu 1tura , educação, creche, trabalho e rural. Segundo , a ame· ui.ªçao
10dependênc1a, apesar de estarmos en tto e _ d Jher (Depoi-
. . · ai da questao a mu ·
reconhecimento pelo governo, de forma msnm cwn , ' co m os movimentos soc iais urbano s para probl em atizar e publi cizar debates de mr~:
menrode uma ex-conselheira, em set./ 1999) resse da mulh er e participar das co memor ações d o Dia Intern acio nal da Mulher.

. . Secretaria J e Educação; Secn,-


15· Ain~b 110 govl'mo ( ;o nzag.1 f\~ota, C: as~inado u Dt.:c n:tu Lc.:ide c riação da primeira Dei eg:1ci:1de oetCsJJJ
· - b Secrerana Je G overn o .
14. A rcpresenração do governo passa a se rea 1.11.ar arra, ,es e
. · - PúblK·a;
. Secrerana de Segur.inç.1
1 · -'- s ·
ª"ªuc audc; Secretaria Je Ação Soc ial; Secretari-a d e e u 1mra. . Tur ismo
l'r d · . . . C · io e Secrerana
.
e Despo rco,
< an 1
e 1• • ç5o
. d . PI· e·arnenro e oo rc en., ·
Mulher de l:ona lcz.1, l'l ll 5 dt: dt.·t.L'lllhro c.lL' l tJH(, (uitu meses após a c ri .1ç:1o do CC DM) .
16. Nu,• "' "'• de 198 7 • 1'J88 t.:• 198"-.,o <.(· ·IJ1\ l11Heg
· · 1 1 · 1 , o rações do DiJ
. I n rc:r-

,. · • ra a cq111p t'tC pan epm cnr oc asco m t:01 · -- 4:Jo.


ocura ona Geral do Estado ; Se rerana de I nduscna e o merc ll,Kional d., Mullit:r L' 1111
-1111.._i,i111 .il de divulgaç·ão, .11ividades L' viabiliza c:spaçus nos m eios JL'c:uniunu...t\
a1c.:ri

25 1
252
Terceiro, a mobilização da so ciedade civil · . o à legitimidade garantida às conselheiras pelos movirnen
. . para intervu na elaboração de emenda s mado dO eonselh tos
populares para a Constituição Federal e Estadual 17 O • democráticos e populares. . .
, h • · s movimento s de mulhere s do
Ceara recon ecem o importante papel articulador d h d l 0 CPM, que possui estreita relação com os movimentos de banro s e grupos de
. _ . . esempen a o pe o CCDM,18 que
resulta na mcorporaçao de direitos à mulher nas d . . _ Q mulheres vinculados à Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza/FBFFe junto aos
. . uas co nsntmçoe s. uarto a rea-
lização de semmános , cursos, encontros 19 que apro · C Ih d ' . sindicatos apoiados pelo PC do B, garante o debate e a participação dessas entidades
. . . , x1mam o on se o e muita s
mulheres mtegrantes da admm1stração do Estado , de enti'd ad es c1v1s · · , d e assoc1açoes
• - nos projetos e eventos planejados pelo CCDM. Em novembro de 1988, o Conselho
de bairros, de ONGs, às quais os movimentos de mulheres não tinham acesso. Essas reúne cerca de 54 representantes de entidades públicas e civis2º para discutir urna
atividades que envolvem mulheres de secretarias de governo são entendida s como 0 proposta de trabalho voltada para a intervenção na Carta Con stituinte Estadual.
marco para sensibilizar e politizar as mulheres vinculadas aos órgãos do Estado e 0 Essa mobilização reflete a força e a importância atribuída à problemática da mulher
reconhecimento formal da problemática da mulher no interior do Estado , que até e reafirma o reconhecimento ao trabalho realizado pelo CCDM.
então parece diluída nas políticas públicas . Quinto, a construção de uma pequena A postura política e ideológica adotada pelo grupo de conselheiras representantes
infra-estrutura para dar sustentação aos trabalhos do Conselho . Sexto , a participa - da sociedade civil, materializada por uma atuação independente em relação ao Esta-
ção nos eventos nacionais (promovidos pelo CNDM) e alguns em nível internacional, do, incomoda a administração do governo Tasso, porque explicita divergências em
que tratam da condição da mulher . relação ao modelo de participação defendido pelo governo, quando este cria O Pro-
Para garantir a operacionalização do Plano de Ação do CNDM,as conselheiras orga- grama de Apoio às Organizações Populares e contrata os chamados agentesde mudan-
nizam-se em comissões técnicas para definir um Plano de Atuação por área temática e çaspara substituir as ações das lideranças dos bairros. Além disso, a presidenta do
uma estratégia de trabalho. Alguns projetos são elaborados e apresentados às secretarias CCDMpassa a apoiar o projeto governamental, discordando de encaminhamento s da
afins para buscarem-se parcerias e financiamentos . Desse esforço podem-se apontar maioria do Colegiado. Essa relação é tensionada quando chega ao Conselho um
algumas realizações, como o Projeto "Mulher e Sociedade - uma discussão na Esco- documento de exoneração de duas técnicas próximas dos movimentos de mulheres.
la",que culmina com a realização de um seminário para orientadores e supervisores de A presidenta posicio~a-se a favor do governo e o grupo ligado ao CPMinterpreta este
educação vinculados à Secretaria de Educação, que objetiva formar agentes multiplica - 1, ato como uma medida ~oltada para atingir a autonomia do Colegiado , que busca,
dorespara assumirem a Campanha de Educação nas escolas ; o Projeto "Mulher Face a per~anentemente , exerc1_taressa postura em relação ao governo. O grupo decide,
, r
Face- rasgando o véu , fazendo a histórià' em convênio com o CNDM e a UNICEF,que , .,, emao, apresent~r um pedido coletivo de exoneração de seus cargos (um número total
objetivarealizar um diagnóstico da condição da mulher cearense . Esse projeto elab~ra de ~2 conselheiras), por entender que, a partir daquele momento, é inviável a reali-
um vídeo sobre a identidade feminina que utiliza junto a grupos de mulheres, realiza za~o de qualquer trabalho no Conselho. Uma ex-conselheira afirma que ficaram
0 Encontro Estadual "Mulher Face a Face", com a participação de cerca de 1.000 mui:º claras, desde e~:ão,_as d~~culd~despara manter a independência política, a for-
mulheres, e realiza palestras em cidades do interior para divulgar O papel do CCDM maç~o de uma consciencia crmca e ideológica e a diferenciação administrativa que
·
e esnmular · · · o p roJeto
a criação de conselhos mumc1pa1s; · "M u lher e Direitos" ' que quenam dar ao ~onselho , em relação aos demais órgãos do Estado.
realizao Encontro Estadual "Mulher e Legislação Trabalhista" e O Encontro ~ -tad~al Esse acontecimento vai dar mai · 'b'l 'd d , .
. or vis, 1 1 a e as posições ideolóo-icasdivergen-
· · " , que visa
"MuIher e Consntumte · monvar
· e construtr· um movimento de paruc1paçao tes entre o projeto político do d . t>
.d . governo e O os parttdo s de esquerda que haviam
dasmulheres na elaboração da Carta Constituinte Nacional e E st ªdual . apoia o a candidatura de Tasso o
denomma • d "G ' que vem comprovar que a sintonia do então
A atuação das conselheiras representantes d a soCie . d d civil é fundamental para o overno das Mudan ,,
ª e co d' • d ças comª questão das mulhere s passa pela con-
.
garantir a participação de mulheres oriundas d . d' urais e urbano s nos pro- r anc1a esse setor com o pro'eto !' .
e sm tcatos r Ih J po it1co que ele pretende implantar no Estado.
·et . .st d associações de mu eres e
J os, de centrais sindicais de movimentos femmi as, e . . h
de · ' d' da sociedade c1v11ao c a-
enudades de classe . Pode-se atribuir esse aten ime nt o 20. Parricipamreprcsentanrcs de órgãos públ'.1 . ,
lhoiDRT,Secretaria de Ação S ·. 1 F d ~ ~oscomo: Conselhos Municipais, Delegacia Regionaldo Tr:16:1-
E . . . ocia • un açao eleServi O S ·. 1 __ , . , . . · ,·
-;-- ,.

· Em anexo, ver conqui stas no cexco da Assembléia Escadual Co nsm~inc_e. , la metade " para divulgar as
mpresade Ass1srenc1aTécnica e E . .e
U . 'd d -
niversi a es tederal e Esiadual F- l<l·<l..
F d - d ,
.

xtrns.10 Rural, Secrc1·111
ç ocia • FEBE~ICE, Secretana de Saude, D1smro Sanicano,
.· ., . A . . .
· 3 uc gncultura e Rdorma Agdria, Pro1eroRONDON,
, acu a cs e N ucleos S . • . .. 1 . , ..
'

18. o , . . _ C , mbém nao hcara pe un açao e Saude,Hospital <l· . CI' . .


fa· .
.
c: ..
JS , lll] CJS, 1ll Stlluto <lo
' ecictana <e C1drura,Secrerana de Seourançae Jusnç:1
d o . . ·1 .
,
erncnd _CCDMelabora um a cartilha 'A Co nsmu 1çao no eara ra z representar por: s1ndicarosrur-iis, b· . .incei, encre outros órgãos pC1blicos. A sociedadec1v1 se
as discutidas e sugeridas ao Poder Legislativo . . . • eia conrra a mu lher, a saúde da e U~tc) F d - · " ur anos, crnrra1s sincl'.. · • • • • · (crM
10 , e eraçao das Mulheres <l C . -' A. . - ica1s, ce111ros academicos, movimencos lem1111sras'
, . Os e d . - da criança , a v101en do Br· ·1S - o eara, ssociaçao de M li d .
niulh . venros voltam-se para o debate sobre a co n içao Ih . Co nsrirninre . as, cçao Ceará, Pastoralda M li M- . . u leres de vários municípios, Ordem dos Advogaos
0
<:r, planejamento familiar, a mulher e as leis rrabal hiscas e as mu eres na u ier argmalizada, denrre nu1ras represenraçõcs.

253 254
Anteriormente, já havia se dado uma ruptura entre o governo Tasso e o PC do B _ d e de outras políticas relativas à mulher . Segund o 0
anhar a execuçao essas . , papel
fato também decisivo para agilizar a cisão no interior do Con selho . ' p 1·d c:1rmaçãode um sujeito polínco - a mulher- , co ntr apo ndo
de canso 1 ar a au . , . -se à
Alg umas conselheiras ligadas aos movimentos afirmam tambe'm -
que nao se sen- _ d m suj·eico universal da hmona , repre sentad o pel o ho mem . Ter .
consrruçao e u . . . . ce1ro,
tem, de fato, legitimadas como representantes das organizaçõe s de mulheres no Cole- o de desnaturalizar a construção soC1al de papéis d1ferenc1ados para hc mens e
giado.A vinculação do CPM com o PC do B propicia à entidade uma autonomia rela- mulheres, que atribuem basicamente ao homem papéi s no mundo públic o, político
tivadentro do Conselho . Além disso, as feministas do CPM também têm clareza de que e no exercíciodo poder.
lhesfalta uma base de sustentação popular que respalde sua intervenção política , pelo A cisão que se dá no interior do CCDM expressa a ruptura de projeto s políticos
farode sua inserção se dar preferencialmente nos espaços de direção partidária . inconciliáveis. De um lado, a posição do governo de manter um Estado distanciado
Outra dificuldade colocada na relação entre o Conselho e os órgãos governamen - do diálogo entre diferences,de suspender a participação popular e de admin istrar de
tais refere-se ao caráter socialista e feminista atribuído ao CCDM pelo Estado . Com - forma centralizada. De outro lado, o projeto defendido pelas mulheres , de constru-
binando as idéias de participação, igualdade na promoção de políticas para as ção de um Estado democrático, que se alicerça na legitimidade atribuída pelos
mulherese luta contra a opressão, o CPM entende o socialismo como uma ideologia movimentos populares e que deve estar pautado na participação popular e na ges-
que defende a participação popular e a priorização no atendimento às demandas das tão democrática de interesses plurais.
classesmais desfavorecidas . O feminismo é compreendido como uma concepção de O CPM,dentro do CCDM,não tem interesse de manter uma relação dual com 0
lura contra a opressão sobre a mulher, sendo o homem considerado o opressor . Estado, expressa, para dentro , numa relação de submissão ao projeto governamen-
Nessesentido, as conselheiras ligadas ao CPMafirmam a necessidade de exercitar prá - tal e, para fora, numa postura de representação dos interesses dos movimento s e de
ticasautônomas em relação ao Estado e participativas em relação aos movimentos compromisso com eles. ~ primeiro ano da gestão do Conselho é marcado , princi-
para dar ao Conselho um novo perfil institucional. Dessa forma, o Estado passa a p_al~ente, p~la autonomia em relação ao governo e articulação com a scciedade
ver o Conselho de um modo preconceituoso, embalado pelos estigmas construídos CIVIi,favorecida pelo processo de transição política e mobilização constante desta.
na sociedade de que socialismo "é coisa de comunista" e de que feminismo "é coisa No. momento em qu e O Esrad 0 , "d"tto" d emocrattco,
' · se instala, o governo Tasso ini-
de mulher mal amada" . cia a execução de seu proj·eco l1'e" b .
. po tco com ase nos mteresses do segmento empre-
Por estar vinculado à Secretaria de Governo/ SEGOV, o CCDM deveria articular -se sanal moderno do Estado que n- l . .
• . . .d d ' ao contemp a a part1e1pação popular . Diante da
de forma harmônica com todas as Secretarias de Estado, mas essa perspectiva de imposs1611t a e de convivênc·1 .d , .
.
governo, saindo do Conselho.
ª entre I eanos antagônicos, o CPM rompe com o
exercíciode poder incomoda segmentos do governo que expressam insatisfação,
reforçando o discurso preconceituoso sobre o Conselho. Conselheiras entrevistadas
afirmamque encontram dificuldades para marcar audiências com Secretários, quan -
do se identificam, e que não recebem apoios nem solidariedade da parte das primei - 2. CCDM - .1end"enc1as
Cam1'nhos e ,-, .
ras damas. É um sentimento (preconceito) que não se explicita , mas se percebe nas
reaçõesàs tentativas de diálogo e construção de parcerias . Somente quando O gover- Após a saída das conselheiras re
CPM,o Conselho p . . presentantes do movimento femini sta ligadas ao
no tem necessidade de atuar com órgãos internacionais de financiamento (Banco . . assa a intensificar a I b - .
objetiva tornar visíve· e I e a oraçao e execução de pro jeto s. Com isso,
Mundial, BIRD,UNICEF), que cobram uma política de gênero, o Conselho é chama - • . is, iorta ecer e le · · •
canetasgovernament · As b . . gnimar as ações do CCDM no interior das rns-
do ao Palácio ais. su stttu1 - ·
culadas a Secretarias de G çoes no Colegiado se realizam com técnicas vrn-
Apesar de ·se colocar como um Estado d emocr á nco, • 0 gove rno Tasso possui uma. D' . - , overno nara . . . . das
fi · - b e - volcada para abnr ivisoesTecnicas q 1 . t garantir a ampliação e fortalec1menco
eiçao astante conservadora no que se rerere a uma acuaça 0 . ' ue p anejam e ex .
can · d d. , . . . d"ferentes e para a rncorpora - Numa tentativa de ecutam os projeto s.
ais e talogo entre sujeitos soc1a1s com interesses 1 . ta convoca reunião co
manter algu ·d
. ma representação da sociedade civil, a presi en-
ção d . . O C elho traz elementos mova- f, 1 m os parttdos l' · de
e novas temáticas e práticas instituc10na1s . ons . . d . • orma mente com · . po lttcos - PSDB PCB e PDT O PSDB respon
dor , . "d balhados no int enor a msn-
es e ate revolucionários para serem d1scut1 os e era , . d Cons IhO d . uma tnd1cação, o q ' . d elo
tuci l"d d _ d um espaço publico on e a e e ªJUste ao p · ue vem a fort alece r a po stura adora ª P
ona 1 ade. Primeiro, relacionado à pro uçao e A re fOJetopolítico d 0 .
soei d d . . . . dicações de todos os segmen- _ presentação da so · d d . . parttdo he gem ô nico no governo.
e ª e civil deve ter assento para apresentar reivrn . çao do PM d cie a e c1v1!r st · enr:1-
tos or políticas públtcas e acom- DB, o PC B do p e nt a ao PSDB (antes existia a repres
que representam os interesses da mulher, para prop ' C do B e do MR- S) . , .1 Cole-
1nscreve u m novo for mato · º
255 256
. coordenação de um seminário para colher subsídio s pa
. do Este passa a constituir-se basicamente
g1a · , . por representante s de Secretarias de
o cc DM mtegra a . . ra a
Governo e por tecrncas . Essa nova configuração ,. e _ d Casa Albergue para meninas prostitutas . Conta com a P .
implantaçao e uma . an 1-
. • . ' que e mwrm al (porque foge ao . _ das meninas que apresentam sua s proposta s e expectativas e de O NG
odeio definido na Le, de Cnação e não é indicad c1paçao . . s,
rn . d . ª pe 1O governo) , é responsável
lo gradaovo esaparec1mento do Colegiado o C Ih . FEBEMCE e Movimento de Meninos e Meninas de Rua .
pe , . · onse o passa a funcionar
avés de uma estrutura burocrat1ca formada por di·v· - é . . .. A experiência do CCDM no projeto Mulher Meni~a leva o F~rum a sugerir a criação
atr . . . _ isoes t c111caspara v1abd1-
zar os proJeto_s. A diretona nao m~stra qualquer motivação para garantir a for- de um projeto que atue preventivamente com menino s e memnas da periferia. Assiro,
mação e funcioname~to d~ Colegiado , porque O modelo implantado atende às 0 Conselho elabora um novo projeto de educação sexual para adolescentes da periferia

necessidades de sua d1retona, baseadas no reconhecimento institucional e funcio- de Fortaleza, com O objetivo de garantir um espaço de debate sobre cidadania e sexua-
nal pelo governo . lidade. O projeto, denominado Ana Beatriz , é financiado pela UN ICE F e Governo do
O Conselho coordena os projetos Maria Bonita - aprendendo e ensinando uma Estado e vai atender a 300 adolescentes de 1O comunidades da periferia de Fortalez.a.
nova lição, Mulher Menina e Ana Beatriz - Educação sexual: um caminho para a Esse trabalho conta também com a parceria do Movimento de Menino s e Meninas de
cidadania. Rua, de ONGse é considerado a melhor realização do Conselho . Primeiro , pela possi-
O Projeto Maria Bonita tem como finalidade dar oportunidade às mulheres de bilidade de aglutinar entidades interessadas na problemática; segundo, porque esses
novasformas de participação comunitária nas diferentes instâncias de gestão do ser- projetos introduzem inovações no campo metodológico com componente participati-
viço público e capacitar técnicos e estudantes para um maior conhecimento das vo, incluindo a produção de um rico e variado material pedagógico . Para a execução
olíticaspúblicas existentes . O projeto, que conta com a participação de feministas desses projetos são estabelecidas importantes parcerias com órgãos governamentais,
~o CPM na sua elaboração em 1988, garante na proposta uma visão emancipadora e sobretudo com as Secretarias de Saúde e Educação, o que vem favorecer a visibilidade
cidadãàs mulheres de baixa renda. Esse projeto se divide em subprojetos que se rea- do Conselho no interior do Estado. Esse modelo de atuação exige a participação de um
lizam através de oficinas, seminários, elaboração de cartilhas e contemplam as maior número de técnicos, levando o Conselho a ampliar sua Divisão Técnica.
seguintesáreas temáticas: Saúde, Educação, Cultura, Trabalho, Mulher Rural, Vio- Por meio de projetos, o CCDM adota um modo diferente de se relacionar com as
lênciae Creche. Cada área é coordenada por uma Divisão Técnica que elabora ~s organizações da sociedade civil, principalmente com o movimento de mulheres.
. - N ' de Creche , são realizados tre1-
subprojetos acompanha e ava1ia suas açoes. a area Passa a atuar com ONGs, com comunidades demandantes , não mais com movimen-
namentospara' cerca de 90 mu lh eres crec h eiras
· e !'deres
1 comunitárias e o Encontro tos de mulheres . Criam-se critérios de atendimento relacionados às carências e
1. 1 FÊMEA _ Mostra de Artes da necessidades do público .
Estadualsobre Creche; na de Cu 1tura, rea iza-se 0

Mulher;na de Educação, o CCDM assume assento no


Conselho Estadual de Educa-
. °
Se, por um lado, Conselho assume o papel de executor de políticas públicas
Ed ca ão na estrutura da Secretana voltadas
çáo, negocia a implantação do Setor M u lh er e u ç .d d _ para a questão da mulh er, d o ad o lescente e d a cnança,
· por outro, e' atraves'
b a el da mulher na soC1ea e e das açoes do. CC DM que no vos temas sao - incorporados
· ·
de Educação realiza debates nas escolas so re O P P . . pelos órgãos públicos . Assun-
área de V10lencia, rea1iza-se 0
A •

' . - tos · · ~ ·inranu •1, educação sexista saúde reprodu-


forma grupos de mulheres para alfabenzaçao; na . como v10lência à mulher , prost1tu1çao e
ttva, prevenção à Aids e DST s, d entre outros, passam a ser tratados no ' mundo pu'bl"1·
Semináriode Violência contra a Mulher. C '/FEBEMCE convoca
d Menor do eara t co, estatal, pela via do CC DM T b , , al s
Em 1991, a Fundação do Bem- E st ar O • para apresentar
. · am em e através desses programas que guma
, - ) -o-governamentais parcenas são construídas O · · d . o
orgaosgovernamentais (dentre eles, o CCDM e na .d d de Fortaleza. Com ' que vai mtro uz1r nova s relações entre o governo e
. • _ t"tuídas na c1 a e ch amado Terceiro Setor.
um re1atóno sobre a s1tuaçao de menores pros 1 . . - I fantil que pre- A primeira fase do CC DM , d · , · se
. , d C b te à Prosrnu1çao n ) . e marca a por grandes eventos como seminano
isso, promove-se a criação do Forum e om ª d · a )·unto a cnan- encontro s que têm a função st é . d e alecer
, . ' d a ação e ucanv . . . e rat gICa e mobilizar, construir opiniões, rort
tendeatuar com denúncias publicas e atraves e um labora o Projeto apoios a lideranças de nto
deste Fórum e e ' marcar presença e exercer pressão . Já no segu ndo mome
çase adolescentes. O CCDM passa a fazer parte , rza parceria com 0 passa a atuar através de arrie 1 - - prio-
M lh . . d 1• a Tambem rea 1 . b Ih u açoes com pequenos grupos associações, ONGS,
u er Menina para capacitar educadores e u · d s Homens, com ª nza o tra a o educativo na , d . l' . . ' . ·oclu-
M . . a ONG Terra o . A são d . . _ ' area a v,o enc1a, da cnança e adolescente, com ª 1
ovimentode Meninos e Meninas de Rua, com ão desse projeto. a part1c1paçao masculina O h l ' . o e1n
p B . ara a execuç ·1 det · d e empen o no aperfeiçoame nto mecodo ogic '
astoraldo Menor e outras Associações de airro p d· Prostituição Infann na nmento e grandes man ifesr - E d ·1pre-
atuaç- d , . • - d uma C P! a senta ao c Ih açoes e eventos massivos . Também o sra O •
ao ° Forum provoca ainda a cnaçao e onse o demandas de treinamentos para seu s técn icos , prin cipaln1enre
Cârnar ª de Viereadores.
258
257
ara educadores de rua que atuam nas á d . Ih de SegurançaPública e a Comissão de Direitos Hu
P . d fi . reas a cnança e d 0 1 • .
exigências e manc1adores internaciona IS
· . ª escenc1a, resultado de e
e integra o onse o
.1 .
lllanos d
a
AssembléiaLeg1 s anva. .
O depoimento de um membro do Co Ih 'm destacar trabalho realizado pelo CCDM, voltado para
ºd . nse o traz explic - Deve-se tambe O
. . , . a e1abo.
ões empreendi as pela dueção quando e. açoes para as transforma -
Ç ' anrma que _ d enlendasà Lei Orgântca do Mun1c1p10 , nos anos de 1989e 1990 E
raçao e , . . , . · ssa dis.
cussão envolvemembrosdo CCDM, tecntcas do mu_mc1p10e segmentos da socieda.
hoje não se acredita mais em mudança a pa t" d
r ir o macro, não se a dº .
lução milagrosa. A gente aposta hoje no cami h . dº . cre Ita mais em revo- de c·,v·,t e garantea inclusãode algumas emendas de interesse da mulher nos aspectos
n o mais ifíctl, no cotidian O d d
que está em nosso redor. Não houve um mom d ª mu ança de saúde,educaçãoe creche.
, . ento eterminado, mas a verdade é ue Mas O papel executordo Conselhovai di~t~nciando-o_de seu objetivo principal,
houve uma mu d ança d rasnca. Não mudamos em t d . q
, . ermos as utopias que a gente perse-
gue, mas em termos de estrateg1as, com certeza não s . que é o de constituir-seno espaço de propos'.ç~odre medidase aç~e
s quepossi
bilitem
. omos mais as mesmas e a nossa prá-
tica polínca reflete essa mudança. (Barreira, 1994 : 09) 0 exercí
ciodosdireitos
dasmulherese suaspartzcipaçoes
no desenvolvimento social, poz
1,.
tico,econômicoe culturaldoEstadodo Ceará,sendoconsultadocomprioridade e obri -
Essas mudanças refletem também novas relações que se est ab e1ecem com o gover- , quandodaelaboração
gatoriedade depolíticas
públicasreferente
s à condiçãofeminina
nador eleito, Ciro Gomes (gestão 1991-1995) · O governador rec eb e com mator · fire- em todasasinstânciasdaadministraçãoestadual(Objetivo Geral do CCDM). '
qüência a presidenta do Conselho e seja por maior poder de convencimento ou de diá- Parauma de suas conselheiras
,
logo,percebe-se do governo Ciro maior valorização ao trabalho do CC DM, que apóia
e garante a assinatura de vários contratos de projetos, seja com financiamentos esta- o CCDMfoiconstruindoumaexperiência que na práticanão tem muito a ver com0
duais, seja em parceria com instituições internacionais, seja para alocar técnicas que se dizqueo Conselhodevefazer.O Conselhoé um órgãodeliberati vo, masnósexe-
comissionadas nas Divisões Técnicas . Essa receptividade também é percebida nas cutamo . O meutrabalhocomotécnicafoi de elaborarprojetos,de coor-
s muitascoisas
relaçõescom a primeira-dama do Estado, Patrícia Gomes, quando o Conselho a pro- denar projetos, seminários
, encontros, treinamentos,nós construímos algum material
curapara apresentar e defender, junto ao Ministério da Saúde, um Projeto de Preven - didáticoparaos projetos.(entrevi
sta emset./1999)
ção da Aids para a Mulher. A primeira-dama impressiona o grupo do CCDM pela
capacidadetécnica de discutir os termos do projeto e de assumir a sua defesa, apesar É verdadeque o Conselhoadquirecredibilidadejunco ao governadordo Estado,
de não tratar a questão numa perspectiva feminista. Patrícia passa a ser considerada a alguns órgãospúblicose 0NGs, mas cria uma estrutura burocráticaassemelhad aa
uma aliada para defender projetos considerados de bom nível técnico . uma Secretariade Estadoque incorporavíciosde caráter cliencelista.
Ainda no fim de 1989 , logo após a promulgação da Constituição Estadual, o É importantedestacarque nesseperíodo não ocorre renovação do Colegiado,
Conselho incorpora ao Plano de Combate à Violência a meta de criação do Centro nem da direçãoexecutiva , que mantém a mesma presidenta nos oito anos.21 Essa
de Orientação Jurídica e Encaminhamento da Mulher - COJEM e da Casa do e5trutura, aliadaa uma administraçãocentralizadana figura da presidenta, constrói
Caminho. A elaboração do projeto, a instalação e o acompanhamento ao COJEM são relações internas de apadrinhamentoe de práticas de utilização privada dos equipa-
realizadospelo CC DM, Secretaria de Justiça e Secretaria de Governo. O COJEM visa ;ent _os públicose de embates internos pela manutenção de cargos e privilégios.O
prestarassistência jurídica, social e psicológica a mulheres vítimas de discriminação epo1mentode uma conselheira é revelador quando afirma:
e violência.A sua implantação se dá em agosto de 1991 e funciona inicialmente nas
o_Conselho estava
. começando a se trans1 •de de empregos.Eu
d_ependências do Conselho. Segundo depoimento de ex-conselheira, ° COJEM fun-
eormar quaseque num cab1

CJonade forma bastante precária desde o início e deixou de exiSt ir há alguns anos .
naogost
, .o de dizer iss
o • ao. li ac10 esse termo muito pesado, mas ... assi·mpe1a esrru-
,1- E 1 •
tura tecntca ··· e ele não conseguiu se renovar (entrevista com uma conselheira, em
Pelo caráter de complementaridade e articulação dentro de uma polític~ ~e our./1999).
• . a Casa do Cammho
· 1enc1a,
combate a, v10 . e, ena. d a em segui·d a, ª través de conven10
.
entre Secretaria do Trabalho e Ação Social e objetiva abrigar temporanamente O objetivo do Conselh0 e' rambem
, descaractenzado
. . em que seu rela-
mulher , • . d ·d Para complementar as . na medida
. es Vltlmas de agressão, que apresentem nscos e VI ª· c1onamemo com alg ,. - . 1 r de
uns oigaos governamentaisse dá basicamente numa re aça0
at,vidades vo Ita d as para o combate a, v10lencia,
. A
o onse Ih 0 partic ipa de campa-
•C
nhas d d b . , . , bl. _ s que atuam na ,írea
' e e ates e de treinamentos para func10nanos pu ico dt.:B
21. A prtsiJl'IHa, JurJnh: as <luas •e -
t , voltJ . ,
, . .. . . . . . .. ,:onu, 11
g !.toes, sai 1.:111dois penoJos d l'irnr.ll'\ p:ir.t~l' c111Liid.1r.ir t ,
:io~l'
t .1~:-. .: 11murt1lmeme .1prl'si<lt'nci:1do C:onsdhu.
un11

259
260
arceria para a execução de projetos, que , áter burocrático, as resistências internas de ârnbit
P . N- h , tem o CC DM como o , - d ode romper com o car - o pessoa
]
dos proJetos. ao a um esforço nem se . orgao coor enador
• rea 112 ª uma polític d · - P - d argos e proporcionar a renovaçao de posturas.
elamanutençao e c . _ , . .
,
secretarias afins visando à incorporação d . ª e arttculaçao com as
esses PrüJetos e l' · P depo1men
. to de uma ex-conselheiraexpoe o cenano dessa crise. Ela ac,r
n rna:
governamentais. A ausência de uma inter! _ omo po mcas pública s O
, ocuçao com os m . fi . .
de mulheres tambem não favorece a proposi _ d I' . ovimentos emm1stas e
çao e po 1t1easqu h va vivendosem Colegiado.Então, o que era? Era um grupo t. .
desigualdades e as condições de subordinaçã _ e ven am superar as o eonseIho esta ecnico
. . o e opressao das mulhere s O C Jh .mftnrando co,·sasparafazer' inventandocoisaspara fazerpara a mulher. Mas O con~
se dedica basICamente a executar projetos pont . 1 a1· · onse o
. l , . uais, oc IZados e desconrín
Poss1vemente, a ausenc1a da pressão dos mov · uos. to mudou. Enta-0 , com certeza' maisdia, menosdia, essa históriade fazerum pro1.eto
, .- ·1· . d imentos populares e de mulhere s e para isso,outro para aquilo, ia dar em declínio.E internamentetambém O Conselho
tambem a v1sao ut1 1tansta o Conselho por pare d O e
. _ . e governo ravoreceram a s
burocranzaçao e descaractenzação . ua estavaperdendoforçatotalmente , não tinha a mobilização, ia perdera força, querendo
Durante essa fase, o Conselho passa por duas grandes · A · · • ou nãoquerendo.E internamentecomeçavatambéma haveruma dissidência, umesva-
. cnses. pnme!fa , amda em
1990,quando a presidenta do Conselho comunica O seu e d ziamentode qualidade,inclusiveum esvaziamento técnicotremendo. (...) Internamen-
. . . arastamento o cargo para
se candidatar a. um .cargo te, dentrodo governo,já começávamos a perceberque a gente não era mais tãorespei-
. eletivo, mformando ainda que se mantem , na estrutura
·- As
como conselhelfa e mdICando o nome de sua substituta , escolhi' d a em reun1ao. tada.O Conselhotinhase transformado dentro, naquela"coisade mulher". Dá isso aí,
conselheirasreagem à decisão afirmando que a citada reunião não teve quórum nem queé paraelasnãomexeremmuito, elassecalarem.Vaisoltaruns copos,umpapelhigiê-
representatividade e considerando ilegal tal postura. Os membros do Colegiado exi- nico, um carrode vezem quando,que aí o pessoalnão bate muito. (Depoiment o em
gem a regulamentação do CCDM, através da elaboração de seu Regimento Interno e ser./1999)
Estatuto para definir critérios legais à indicação dos membros do Conselho . Sugere-
sea indicação de um nome provisório para a presidência, que deve tomar as medidas A nova presidentaassume um Conselho esfacelado em grupos divididospor
com urgência. Essas demandas não são suficientes para imprimir mudanças substan- interessespessoais,que recebecrescentespressõesde setores do governo, pelagigan-
ciaisno funcionamento do Conselho. As características pessoais e profissionais da ex- tescaestruturade pessoal;22 distanciadodos movimentos de mulheres e feminista s;
presidenra,que possui trânsito livre nas instâncias governamentais e cuja capacidade reduzidoa executorde projetossociais;sem contar com uma legislaçãocomplemen-
de convencimento e de articulação garante o financiamento de inúmeros projetos, tar (RegimentoInterno) para garantir a atuação do Colegiado. Além disso, enfren-
peloapadrinhamento de algumas técnicas e pela sua presença marcante nos diversos tando a "concorrência"da atuaçãocrescentede 0 NGs nas áreas da criança, do ado-
eventosde interesse do Conselho, impedem qualquer tomada de atitude mais enér- lescentee da mulher, que passam a se constituir num espaço privilegiadopelos
gicae decisiva por parte de membros insatisfeitos . Após as eleições, a candidata não órgãosfinanciadorespara a coordenaçãoe execução de programas de combateà
se elegee retorna ao cargo de presidenta, trazendo a "normalidade" ao Conselho . prostituiçãoe de defesados direitosda criança e da mulher.
A segunda crise também é detonada a partir do afastamento da presidenta para O primeirodesafiocolocadopara a presidentainterina é o de procedera umpro-
candidatar-se e vai gerar o terceiro momento desta análise . cessode constituiçãodo Colegiado,para estabelecerum estado de normalidadeins-
titu~ionaldentro do CCDM. Contando com algumas aliadas dentro do Conselho,
oficializa
. atravésde urnaporcana · a convocaçao
- de um processo para a renovaça
·o do
. ? Colegiadoque deve' em segui'da, tn · d'ICarnomes para compor a d1Cetona
. • execut,·vaa
3· Relação Governo - CCDM : Consenso ou Consennmenco .
ser encaminhada
. ao governador (para proceder à escolha e nomeação). A portaria
derermmaque as cand'd que
Essepeno . . . em 199 , e, marca d o pe la 1·ndicação da titular da
' d o, que vai• se m1c1ar
3 . i atas ª representantesda sociedade civil devem provar
Secret G , · em fiun ção da saída da pre- sua enttdadeexistehá j O d' 1ar o
. ana era do Conselho para assumlí. a pres1.d enc1a,
· l pe menos um ano, designa uma comissãopara ivug
s1dent • d ' da propõe-se a assu- processo , receberas prop st d .d • esen-
. ª para se candidatar a um cargo eletivo . A pessoa 10 ica . _ . o as as enr, adescivis,analisare escolheras seisrepr
rancesda sociedadecivil.
rn,ro c d . . d fi d enovação e reanvaçao
argo esde que seja de forma interma , pois e en e ª r . . d· Masa assessora jurídic d0 C Ih elhei-
do Co! . d
. egia o com a con seqüente indicação dos mem ros ª
b d direrona execunva e a
d l , rast · ª onse 0 , que, segundodepoimentosde ex-cons
emInteresse de assu · O d . d pen-
Preside
.d
El c Ih num estado e eg.i-
nta. a acredit a que o Colegiado recoloca o onse O .
rn,r cargo e presidenta,formalizaum documento e sus
1' ade . . d d b· e de idéias e, só assim ,
' propicia a construç ão d e um esp aço plural e e ares 22. O Conselho 1 . . .
e H::gaa possuir cerca de 17 car . . ,
gos conuss1onados nessa fast·.

26 1
262
são do processo baseando-se na argumentação de . , . contempla algumas considerações sobre a "
• u1 ·d d . . que os cmenos definido s na portaria boram um documento que ,, b hº ' . condição
apresentam trreg an a es porque inexistem na L . d C . - . " I - sociais de gênero , um reve IStonco-diagn, .
• ei e naçao e devenam estar legali- feminina" e as re açoes . - ostico do
zados num Regimento Interno também inexi stem A b alh . . . dações em que se destaca a real1zaçao de uma C
, p d . ., . e. at a JUdtc1al se estende por ccoM, algumas recomen . . . . onvenção
nove meses, ate que o o er Judic1ano expede liminar d . . c • Cidadama das Mulheres , que deve defimr D1retnzes E d .
_ . que suspen e a portana . A cnse Estadual pe1a Eienva Sta ua1
s
instalada nao unpede o Conselho de manter O seu func · , _ Combate à Discriminação . O documento propõe a reforrnu] _
. . , 10namento atraves da execuçao para a Igua!dade e . _ açao
de proJetos convemados, ate o final do governo Ciro e iní · d d
. . . . cio o segun o governo Tasso. do Conselho com a seguinte orgamzaçao :
A. cnse
.
se constltUI num movimento
. .
de resistência
.
I d
para sa vaguar ar ca rgo s
Comisswnados e mtcropoderes consolidados no interior de alg dº ·
umas 1v1soes - tecm
, .-
.d posto por doze conselheiras efetivas e doze suplentes, convidadas
cas. Esse Conselho é um espaço no qual o governo não tem trânsito , no qual a auto- eo1eg1a o, com , _ , pe1o
scolhidasarravesda apresentaçao de cumculo s que comprov
nomia do CCDM é garantida para a gestão e execução de projetos, no qual O debate governodo Estado e e . . , . emo
seu envolvimentocom a questão femmma ou de genero, seJa pela produção de estudos
de idéias não mais existe, em que as mulheres que nos últimos anos se incorporam
e pesquisas, seja por ações desenvolvidas. (Documento Proposta de Reestruturaçãodo
aos quadros do CCDM parecem ter mais compromissos com seus interesses pe ssoais
do que com os objetivos de defesa de uma política pública para a mulher . CCDM, 1995)
O Conselho assume uma configuração cujo caráter político e ideológico não
passa mais pela constituição de um espaço democrático com uma face cidadã. Cons- O documento argumenta que
titui-se um espaço de caráter puramente técnico, onde as políticas priorizadas pas-
sam a ser aquelas de interesse e até definidas pelos organismos internacionais (Banco peladificuldade
que se tem hoje, de identificar os grupos/entidades do movimento de
Mundial, FMI, BIRD, UNICEF), que introduzem o debate de gênero numa perspecti - mulheresatuantes no Estado do Ceará, através dos quais poderiam ser escolhidasas
va neutra e de especialização, eliminando a capacidade crítica e feminista, esta, representaçõeslegítimasde cada segmento (...) sugerimos que o Conselho tenha como
defendida na primeira fase do CCDM pelas mulheres do Centro Popular da Mulher. uma de suasaçõesprioritáriasa formaçãode um cadastro das entidades de mulheres exis-
As pessoas ligadas à presidenta interina avaliam que a estrutura do Conselho está tentes no Ceará e que a partir daí provoque a constituição de um Fórum, com o qualse
perdendo sua natureza política e crítica sobre as questões relacionadas à mulher e manteriauma sistemáticade encontros e debates.
realizam articulações com acadêmicas e mulheres vinculadas ao governo para pro-
mover reflexões sobre seus objetivos e concepções, numa perspectiva de gênero , para A proposta inclui, ainda, a redução dos cargos comissionados, dos 17 existentes
oxigenar e atualizar o debate no interior do Conselho . . para 7, e a elaboração do Regimento Interno em parceria com a Procuradoria Geral
Com a posse do governo Tasso (1995-1999), o grupo estabelece nov~s ~nterlo- do Estado, no prazo de 90 dias.
cuções dentro do Estado visando resolver o impasse provocado pela limmar do A saída do CCDM da SEGOVé entendida como uma visão limitada da natureza
Poder Legislativo. O governo, através da Secretaria de Governo/S EGOV, que traz na dos Conselhos de Direitos da Mulher, que difere dos demais Conselhos , e como
st
sua segunda gestão uma proposta de ampla Reforma Administrativa _11~ E ªdo, uma perda_do status de órgão assessor do governo . O CCDM deve se constituir um
compreende a necessidade imediata de dar legalidade ao Conselho . Solicita nomes espaço de mterlocução com tod as as po I'1t1cas • setona1s
. . executadas pelas secretanas
·.
para a criação de um Colegiado Provis6rio, que tem a função de elaborar ~ma _prdo- Passar para a Secretaria do Ti b JhO A - · • · · •fi
. ra a e çao Social, uma secretana serona!, s1gniica
. · ' eia . transferenc1a o assumir novos desafios pa . I' ·
posta de reestruturação do Conselho, com a segumte exrgen · I . ra con stru 1r espaços de articulação e negociação po mca
CN d
DM a SEGOVpara a Secretaria do Traba
Ih A - 5
o e çao ocia '
· 1 porque a reforma pre-
. _ d
vo tados para influenciar e
.
lí . , Ih
propor po tlcas publicas de interesse da mu er na
s
te d . de estimular a cnaçao os secretanas, ficando suas a óes 6 . .. ' . - S ·a]
n e enxugar aquela secretaria e o governo tem mteresse . M . ç ao sa or da sens161l1dadedo secrerano de Açao oci ·
as essa é considerada para O ble-
Conselhos Setoriais, que devem estar situados nesta secrerana. .d _ mas d , . 'd' grupo uma perda estratégica, pois resolve os pro
N . ão de pessoas cons1 era e carater JUrt ico.
esse momento, a presidenta interina realiza a agregaç _ d d'_
das" 'd de Educaçao e e aca e Atravésda Lei n" 12 606 d .
competentes e sérias" de secretarias, como de Sau e e . , • 2.1 Ela- reformula - d C . , e 15 de julho de 1996,24 o governador Tasso assina~
rnic fi d çao o onselho com a , . . - d CD~Ia
as un adoras do NEDIM/UFC, para constituírem O
C 0 legi ado Prov1sono .
s seguintes mudanças : vmculaç ao C °
----.:-:-_ dor ·111 1° J~ 24. Nu mesmo d'
23. A de · - , . é assinada pdo governa < da Mulher ' . 'ª•o governador assina o Decrero 11, 2 , . .·. 1 s !)irei1,
,;
lllar d signaçaodo Colegiado Provisório cumposro por nove p~sso.15 ' endo ·' Secre1ana do T . b· Ih _ 4.374, que reoulamenra o h ,ndo bp ,•u.d 'º
Ço t 1996.
ra ., o e Açao Social a qualidade de g:sro ra do llll 'S JJJU.

263 264
, , . E política no dia-a-dia, acontecendo. O papel primordial d
eraria do Trabalho e Ação Social '· constit uiçao · - d o Conselh sabero que e po1inca. . . o Con.
Secr 0 d Jh · ·a1 Leo-islativoe com o Execuuvo. Mas, como vou dialogar
. sen do Seis representantes da s · d d
ocie a e
.
CJvºI
por oze conse ei-
1 ' esco lh'dI as entre pessoa s ue com - selhoé di ogar com o o· - . , com exe.
ras, h . . d - ran ' eia da educaça-0 , se eu nao sei o que e aquele mund o da Edu _.
rovadamente ten am envolvimento com a condi _ f◄ q• . cuuvo a ms . , - , caçao: A
P - d ,.. · çao emmma e/ou masculina ' d , e O 1irabalhoe Aça-o Social e outro. Sao tres grandes mundos ( ) C .
co rn quesroes e
,.. genero , e seis
. . representante s d e orgaos governamentais ~5 a1' d '
, - Sau e e ou rO, . · ··· narpes.
redução para tres cargos com1ss1onados . , em e soas ara dialogar dentro da estrutura é nossa ma10r, meta, porque ao sair podem
,..os dei.-
P
O Colegiado Provisório o Regiment o Interno que va i. ser transformado
elabora xar pessoas falando de gênero, querendo meter genero dentro de qualquer projeto
. .
rn Decreto Governamental somente em 20 de fevereiro d e 199 7 , com o n 2 24 .375 . (Depoimento_em ser./1999)
e
. d o , um a
No regimento , a estrutura do CCDM passa . a ser campo s t a por um C o 1egia
identa e grupos de. trabalho . A novidade
. é a extinça- 0 d a o ueton
· ·a Executt .va , a Os membros do Conselho têm consciência da reduzida capacidade de pr .
Pres ,. , . . oposi-
indicação pelo Cole~1a _do de uma lista tríplice para a escolha da pre sidenta , pelo ção e de intervenção nas polmcas publicas de mteresse da mulher , dada a complexi-
.
governador, ~ a defimçao das r~prese~tantes da sociedade civil, via seleção por uma dade da máquina estatal. Por isso, definem-se pela aproximação aos órgãos governa-
cornissáo designada pelo Colegiado vigente .
mencais e pela formação de consciências.
Paralelamente ao processo de legalização do Conselho , o Colegiado Provisório man-
A diretoria do Colegiado reconhece, ainda, que um importante desafio é desenvol-
rérn articulações com algumas secretarias de Estado , com destaque para as Secretarias
de Saúde, de Educação e do Trabalho e Ação Social, para restabelecer um diálogo com
da estrutura do Escado, num
ver a competência política e técnica para dialogar dentro

os órgãos do Estado visando integrar ações e criar parcerias. Através da Secretaria de


contextoneoliberal
. ondeaspalavras-chaves
são comnetência
r e eficiênc;,,
"'"· E se pergunta
Saúde cria-se um grupo de trabalho voltado para a implantação do Programa Viva como const_ru1r~sa competência dentro do Colegiado, que também precisa construir
Mulher,26 que pretende realizar uma inserção em todo o Estado e passa a fazer ação edu- a democracia,
. seJaatravés
. da da sociedade civil ' das representant es do gover-
. , indicação
cativano Programa de Prevenção à Aids, com a realização de oito treinamentos . no, seJa para constrmr o diálogo e a negociação entre a sociedade civil e O Estado.
Algumas iniciativas desse Colegiado se destacam, como a realização de um treina- As mulheres assumem a direção do Conselho carregarido todas as amb ' ••'dad
d . .- d igw es
mento para candidatas às eleições de 1996, capacitação de Educadores Sociais para o e constt~u~çao e ~ovos campos de exercício do poder (do privado para o público
Trabalho, realização de Oficinas de Planejamento Familiar e Gênero, um curso sobre do pnvado como espaço público) . O espaço político , público mate-
e_alr~dedfimçaol
Gênero e Cidadania e ampliação do Projeto Ana Beatriz, que se estende até 1996 . n . iza o pe o. CCDM não pode rep ro d uzu. h'1erarqmas
. de poder de matrizes patriar-
,
O Colegiado negocia com o governador Tasso a assinatura de um Termo de Ade- cais e masculmas. Masalgumas co lh . , .
" , . d nse euas e tecmcas adotam comportamentos e
são do governo do Estado do Ceará à Declaração de Beijing , em março de 1996. estrateg1as e poder" masculinas d.
d , . d para se imentar redes de poder e se manter no
Defende o Colegiado uma nova postura de articulação com os programas exis- ommw o espaço público .
tentes nas secretarias de governo visando conhecê-los, abrir um debate sobre a par- Foucaulc (1993 : 189) afirma ue , .
ticipação política do Conselho nos mesmos, fortalecer pessoas envolvidas nos pro- panhadasdeP d - 'd , , , q asgrandes maquinasde poderpodemestaracom-
ro uçoes1 eowgrcasO d _
circular sabe , d · po er, para se fazer forte, forma , organiza e faz
gramas e sensibilizá-las para a questão de gênero . Entende-se que não é ~a is possível O r, atraves e seus apar lh d . .
construir estruturas no interior do Conselho, mas fortalecer e capacuar pessoas vem cotidiana . e os, e suas ideologias . As conselheiras conv1-
mence com as amb1 ...d d d . .
, • , _ • d. · c ltura de defesa de polí- desconstruir para e. gui ª es e uma ideologia de poder que preCISam
estrategicas nos orgaos governamentais para 1ssemmar a u se ammar enquanc 0 . . d
direitos que tem .d . SUJettomulher - sujeito político portador e
ticas de interesse dos gêneros masculino e feminino . ' sua 1 enudade O · 'd . . 0
homem é consid d . . mui ª numa sociedade an drocênmca , em que
Para uma ex-conselheira, era o o SUJettoun · al
Por outro lad ivers portador de direito s.
0 , as conselheiras ad · , · a
e do na nossa meta maio r, na gestão, dialogar efa L mttem que, para conseguir algumexito ness
estªbelecer esse diálogo com o Estado acabou se transrorman
d udo de todos os setores , e
d zer va er uma co - fi . . , ue
mudar de rótulo _ . d . ncepçaoemrmstanos órgãos do Estado , cemq
nossagestão (. .. ) A gente tem que entender um pouco e t ' sair o discurso fi . .
O discurso de g' . emmista para o discurso de gênero.
. enero mscreve s d e. · • C 1 · do
i- S . . .. ~ . _ raria de Saúde , Secreraria do Tr.1b.1l11L1 t' Prov1sórioé pr d - e eunmvamence no CCDM qu ando o O egia
_ ) . ecreran a de C ulrura e Desporru ; Secrerana d e Edu caç,w , Secre e
Rerormulação pa ovoca o pelo governo -r 1 " ra de
Açao Social, Secrecana , · e secrecana· d e JUSCI
· d e Seg u ra n ça Publica · ·ç·1• · d
ln l' ro~ra m.1 e ,\ rc:11
-
iasso a e aborar o documento Propos
. . • . . -
. ra O CCDM" Q C · ia
- 26· Esse progra m a é um a inici,Hiva do gove rn o es radu a l para dar co iir tn LHdade as açoes e • incorpora na sua an T b . oleg1ado, que coma com membro s da acadern .'
a ise so re a co d' - e . . [i in1-
ÇJoIntegral à Saúde <la Mu lhe r/l'AIS,\I , qu e é de sa eivado pelo governo federal.
no numa perspectiva l . n içao remmma a necessidade de tratar O eíll ~
re acional com atir-
o outro , o gênero m asculino. O documento
265
266
ma que compreender as relações entre os s d .
- exos eve intere s d dos e Assessoria ao Trabalhador Rural/ CEAT, Grupo de Ap · ,
de aoverno e nao somente ao CCDM para g . sar ª to as as secretar ias . . . o10 a Pr
:, ' arantu o esclareci d Aids/GAPA, Coleuvo Femm1sca LILLIT H, Centro de Apoio a Pr • evençã0 ,
diferenças entre os sexos e, sobretudo como s menta e como se situam . _ . _ OJetos Co m . a
115 'f• ' e apresentam as d • Ida Assoc1açao Cn sca de Base, Terra dos Homen s e Mo vimento d M . unitário
naçõese as opressõesdiferentemente su11ortadasP h eSzgua des, as discrimi- e en10 s,
r or ornem e por Ih de Rua. os e Meninas
,.,,Jas situaçõessociais da vidaprivada e da vzºdap 'bL· ( mu eres, em diversz
ifi-
•" u zca 1994 :01) O d
a fundamentar as propostas do CCDM numa pers . d , · ocumento passa Algumas delas atuam em parceria com o CCDMna execu ão d .
. . pecuva e genero que fl - d ' · d · ç e projeto 0
como sendo dec1S1vapara uma atuação cidadã e com .d compreende e na re exao e temattcas e mteresse comum , como no d . s P ntuai
' . d ºd . . promeu a com transforma õ ·1 • caso a pro se . s
seja no amb1to a v1 a pnvada, seJa no âmbito da vida pública. ç es, ti , CUJare1evância dá origem ao Fórum de Combate , P . . _ nui ção infan.
. . . - a rostttu1çao I f .
congrega mst1tu1çoesgovernamentais e não-govername t . . n anttl, que
. , . d n ais, com ma ..
d e no mtc10 os anos 90. tor v1s1bilida-
A Expressão Pública das ONGs Questões antes trazidas pelo Conselho como p . . _ .
· - d ' rostttmçao mf ·1
c1a,sao eslocadas para outros espaços de dis - - anu ' DSTs,violên-
- ' bJ· cussao e execuçao .
Na déca~a de 1990, tanto ~ UM C como o C PM não conseguem rever suas práti - sao pu tca assumida pelas ONGs. ' a panu da expres.
cas, no senndo de uma aproximação com grupos de mulheres para contribuir na As ONGs passam a cumprir um pa el ue é
formação de sujeitos políticos atuantes . li~ dos segmentos de mulheres nos p~rtiÂos •d:t eso fio~ dos anos 80, é monopó-
No Estado, esse espaço é ocupado pelas ONGs que , motivadas pela constituição n1stas e de mulheres e, em tese d e quer a, nos movimento s fem·-
lh ' o CDM como · fi al t
da Associação Brasileira de ONGs/ ABONG em 1991 , inserem -se no Fórum de Enti - mu eres na sua relação com o Estad ' . ore ecer o movimento de
dades,27 tornando visível na sociedade o trabalho que realizam . Como sujeitos polí- direito a saúde, educação trab Ih o, para a expressão de suas demanda s
1 ' a o e contra a dis · • _ por
ticos com identidade e perfil próprios, as ONGs passam a contribuir na formulação a guns momentos a função de mediadores d cnmma~ao sexista, exercendo em
teórica e política do movimento de mulheres trabalhadoras rurais e urbanas , com com o poder público. esses mov1meQtos na interlocução
programas dirigidos à formação, assessoria e acompanhamento de coletivos de As ONGs qu e acuam com cnan . d 1
tória p · d ça e ª 0 escente no E t d · · •
mulheres organizados em sindicatos, associações, cooperativas e federações . or meto e parcerias <lema d d 1 s a o m1c1am sua traje-
As primeiras ONGs a atuar com mulheres trabalhadoras rurais numa perspectiva para educadore s de rua integrando a as pe o CCDM para realizar capacitações
I f ·1 ' 0 -se ao Fó d
de mudança nas relações desiguais de gênero são o Centro de Pesquisa e Assessoria dn anti e participando de todas as atividad ru~ e Combate à Prostituição
- 28
ESPLAR e o Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador - os pelo CCDMvoltados para o co b ' es prevista s nos programas coordena-
29 e 3.3.3. desce relatório) M m . ate a prostituição infantil (ver itens 3 3 2
CETRA. A primeira facilita o processo de construção do Coletivo Estadual de e ado! . as o crescimento das I' . d . . ..
Mulheres, vinculado à Federação de Trabalhadores Rurais do Estado do Ceará - escente , em âmb ito O · l po ltlca s e intere sse da criança
nacio · aciona , e o apoio d A •

FETRA
ECE,que tem como tarefa contribuir na organização de comissões de mulhe- na1s a essas ONGs as potencializ e ~genc1as de cooperaç ão inter-
namo de trabalho . am a construu um espaço próprio e autô-
res nos Sindicatos de Trabalhadores Rurais . A segunda articula grupos autônomos Se · , ·
no m1c10dos anos 90
de mulheres vinculados ao Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nor - ras - . essas ONGs em .
açoes, Isto se deve à po ' parcena com o CCDM realizam inúme-
deste - MMTR-CE. São ONGs mistas, de desenvolvimento, que estabelecem rd ªções Com o a . . uca estrutura física fi . '
, . poio internacional d º ' manceua e cogn itiva desses grupos.
com ONGs feministas no país . teonco e . treto, essas ONGs e
N , d bém a desenvolver material para garant" . passam a 10rmar todo um arcabouço
.. esse penado, outras ONGs surgem no Esta o e passam tam O depoimento de um ir~ autonomização .
at1v1dd d . b mo O Centro de Estu- parceiro é revelador:
a es e assessoria junto a mulheres rurais e ur ana s, co
É que a ge
. nte cresceu muito 0 .
~ . b 'erivo d e se co nsriruir em espaço de uma
reíl _ · orum de Ent id ades d o Esta d o d o Ceará na sce em 1986 co m O O 1 .d d . da [are,·a Ca tólica. . 1nfra-eStrutura, os pó! ' movimento cresceu bastante. A gente começou a rer
exao sobr bl , . _ ºd d • dº . . e de enn a es o ttr, e aí ne os começaram a ab st .
eª p ro em an ca ru ral. E co m posto po r ONGs, e nn a es Slll icais _ . o iar a lur-1dos rra- . sse momento cada . ª ecer a gente de informações, a d1scu-
18
- . O E5PLAR, . . . ~ , 974 a orige m se prop oe a ap
b Ih e a p mn e1ra ONG cna d a no Ce ara e m I e, na su ' Ass1m, eu c . enndade passo 1 '
a adores rurais e, p restar
. . assesso n•a em ag n•cu 1rnr a e rc:cno
• 1og 1·a .a lcern ariva. /• d i · lun s de rraba lh,1cIo-
, umpn meu pap I hº , . u pe o momento de se rornar auronom0 •
29. O CET , . . , • · .. ·. c 0 da CUTCE é ·' • proprios , e istonco eu . ,
re, Lirba RAe urn a das ONGs 111 a 1s an u gas d o Cear a , qu e apo ia .1 c n aç.i pes. Mas o Conselh . ' Ja aprendi e agora posso andar com os meus
nos e rurais. menta cient'fi1ico que passou o ensinou mu·Ito a gente, dava cursos, tinha o conheci- .
pra gente e ele de . era
spertou para outro ripo de c01saque
267
268
- das desigualdades soc1a1s (Depoimento de
democracia e a eliminaçao Urna
ara defender as mulheres . O Conselho puxava . . lar, ª ·an/2000).
P . . l _ muita pesquisa , eles tinham muita pro- Diretora de ONG, em J - U "d Jo há
dução e muita art1cu açao com os órgãos . Toda ._ . h . 1 de Conferências das Naçoes ni as, uma tentativa d .
. reuniao tm a sempre alguém do Con - Durante o C 1co e arti-
selho. Era uma presença de qualidade . (Entrevista d b ~ t da UMC de um Fórum de Mulheres para elas se integrar
' e um mem ro de uma ON G em culaçao, por par e , . ... . em aos
set.f1999) • para a IV Conferência Mundial de BeiJing. Poucas ONGs se en .
preparanvos gaJam
nesse processo, que chama a atenção me~os pelo d~b~te _da desigualdade de gênero
Apesar do reconhecimento da contribuição do CC DM , bJ· . . e proposições que se juntam à ~au_tanac1~~al de re1vmd1~a?õ_es _e mais pelas dispu-
, o espaço pu 1co v1venC1a -
1

do nas parcerias entre C CDM e algumas ONGs não é interp re t a d o pe 1as parceiras. tas internas de grupos para capitalizar polmcamente essa m1c1auva. A delegação do
como espaços de produção e ampliação de novas formas de relacionamento com o Ceará a Beijing vai representada por algumas mulheres ligadas à UM C e à ex-prefei-
Estado, onde a democracia precisa ser redefinida e exercitada como valor universal, ta Maria Luíza, ao CCDM e a apenas uma ONG, o CETRA. No retorno da conferên-
em contraposiçãoa uma visão instrumental, valorizando a legitimidade da sociedade cia, as tentativas individuais de rearticular o Fórum são frustradas.
civilagora vista como composta por sujeitos que também fazem política e buscam a No estado do Ceará o movimento feminista não se institucionaliza, ao contrário
da política" através de mecanismos de representação direta (Grupo de
''socialiZ,llção do que acontece em outros Estados, que criam ONGs feministas. Essa ausência pode
Estudos sobre a Construção Democrática, 1999 :8) . ser explicada pela pouca e superficial discussão no interior dos movimentos de
A necessidade das ONGs de constituir-se como espaço autônomo em relação ao mulheres
. , . e feministas
. de questões específicas de interesse da mulher , como sau' de,
Estado reduz possibilidades de experimentação de desconstruções de relações hierár- v10lenc1a,sexualidade, que poderiam instigar o interesse numa atuação especializa-
quicas,desiguais, dominadoras, que predominam nos governos militares . No entan - da e técnica.
to, para as ONGs, o desafio primeiro refere-se à construção de sua identidade que . Aquelas q~e optam por um trabalho com mulheres, portanto, não são originá-
deveser construída a partir da sua autonomia. nas ~os movimentos de mulheres e não se reconhecem como parte integrante do
Apenas as ONGs voltadas para uma atuação de combate à prostituição infantil movime~to, nem O têm como interlocutor privilegiado, apesar de atuarem para for-
realizamparcerias formais com o CCDM, no início da década de 1990. fu ONGs mis- . a mtervenção das mulher es nos seus espaços espec1'fi1cos e nas políncas
talecer · mais·
tas realizam apenas algumas atividades pontuais com o Conselho, quando estas se gerais, através de seus programas de gênero.
referemao planejamento de eventos de caráter massivo . A parceria com o Conselho
é vista como uma grande ameaça à autonomia dessas ONGs, no que concordam com
Schumaher & Vargas (1993: 353), que afirmam que Conclusão
o "Estado" e o "sistema" se mostravam como grandes entidades alheias à nossa exiSt ên- A experiência analisad · · , 1· 1 d
. . . ava· "Estamos conscientes
. _ d
amp11açao a de ·
ª bpropicia

mu up os olhares sobre as possibilidades e
eia. O Estado não merecia confiança e o sistema nos ameaç · , . . _ mocracia so ª Ótica da sociedade civil e do Estado .
e. . • d E d reconhecendo a importancia e Nas e1e1çoesde 1986 im •
de que o sistema, através dos órgãos onc1a1s o sra o, . . dos pol' · d ' portantes segmentos da sociedade civil cearense (parn-
T , . - podendo mais ignorar-nos,
o alcance das idéias feministas e de nossa mi itancia, na 0 é mcos e esquerda empr á · · · · ,· "G -
. .1d ló . o ( ) Sabemos, entretanto, que no d M d ,, ' es nos progressistas e intelectuais) apoiam o over
vem por isso assumindo nosso discurso eo gic ··· . fi . • as u anças porqu d. · d
. . . . . assumidas pelas enudades o 1C1a1s democrát" S . e acre itam num novo regime político - considera o
uma utopia acreditar que as 1dé1asfemm1stas sepm ico. eu discurso defi d • · " r-
rer" do ce , • en e construir uma nova consciência polínca e va
do Estado". nano cearense as pr' · d .. • ni-
festadas pel d . . aucas e uu 11zação privada do espaço público, ma
as a ministrações d , fi al en-
. . - o de exclusão das mulheres e te introduzir _ e carater coronelista e clientelista, podendo in m
Pnorizando na sua atuação a mudança da situa_ç~ . d " .d ais e coletivos, as . uma gestao públi · · orn a
SUJeltOS111 !VI U sociedade ciVI.·1 ca ª partir de novos valores e relações plurais e
trabalhando para que elas se reconheçam como . feminista: o for-
o b d . d luta do movimento
NGs do Ceará assumem a mesma an eira e . to considerarem
1 . . lusão sem no entan A
ta ec1memo da democracia e a luta contra ª exc ' • - s de interesses . 30
· São as con ferências eio
. d 'rica e de negoc1açoe d0 .d s sobre o M
° CC DM um espaço de gestão pública
.
emocra
d Mudanças na 0
,, - cem se mostra
Arnbienic e De
em y-. .
rena, cm 1993 ·
.
Scnvolv1111
e
qu e aco ntec em no s an
enr.o, a EC0 - R· os 9O, com o a C onfer ê nci a das Na çõ es Uni.ª .
92 no 10 de Jan ,· . e e • . . 1 b . DrreJ[ OS
Hurnanos
C úp I M • a onfer ência 1 • e iro , a o n,er e nc1a Mund1a so re os 1994 e J
avaliaçãodessas ONGs é a de que o "Governo as e d a participação popu - u a undi al sobre o Des en vol . nterna c1onal sobre Po pul açã o e D esenv o lviment o no C airo , en1
c l que de1en em
oerenre com seus discursos de campan ia , em vimento Soc ial , cm 19 9 5.

269 270
• • • • rn~rirna 11111lugar d e exercício democrático e de aYanços
De fato, os "Governos das Mudanças" recriam novas rei - .d ·a1 EI11bor.1 t> t. l (),\ 1 ::-ell . , . , li - 11;1
. açoes com o teci o soc1 , • .. -erori ·ii~ retere nt e~ ;l mu 1er. ruo consegue co nsr .
as elegem como mterlocutores privilegiados da soei d d • . . im 1lemenraçio Je program,~s ~ . . . . . , . ruir
m . e a e c1v11o segmento orgam -
zado do empr~sanado moderno do Estado, que se faz representar pelo Centro Indus- Ju;~.-dimensões fondanu:'nta ts m ere nt es ao seu p.1pel.
trl·al do Ceara/cr c e pelo Pacto Cearense . de Cooperaça~ o, espaço dºmg1 · ·d
o pe 1o CIC. . • 1 l . ,i:, , . , ,1 ·1nn•nciJ, 1dc de realizar ,uricu laçõcs. cm 11ivel <lc r)lanei··
C om esses, os governos constroem canais de comunicaça- d · - d . :\ pnme1r,1ue a~ ('(1c n:-st , ' r' . . - . . t ,l-
0 e e negoc1açao e Inte-
resses,q~e se complementam, não só ~el~ perfil dos novos políticos (jovens empre- menw gi.wernamenta,i ,o. k ,iJ ·is
• r,,;u,1 ..-,u.un1r a mcorporaçao da remanca
::-. .
da mulher 11os.

sários onundos d~ crc), como pela pnondade da política governamental à relação Planos de G overno. conw ll m ,1 ,,uesü
'"1 -
o esrrarégica
~
para o desenvolvtmenro do Estado•

Estado e economia, onde o Estado deve cumprir o papel de indutor de investimen - .\ o CCD:S.I e, negada ,l po.ssibilid·,de • de · p·ut
• icip,1ção nas insdn cias de definição de políti-
· que con t·orm,·ttll lltll plann
c1s !:;era1s , · dt' _,
c,overno. Esses planos são elaborados por serores.
tos. Esse paradigma exclui a administração de conflitos, de diálogo e a negociação
~.demdos. e~-r~ir.:
const " ~~0 1·~~L)s. piri
, , l l desenvoh-imento do proj eto político do rsrrn no Ceará,
com segmentos da sociedade civil configurados pelos movimentos populares, sindi -
que prioriza a indús;ri,1. 0 rurismo, a agroindü stria e exclui polític as sociais, como as de
cais, partidos políticos de esquerda, que defendem interesses das camadas populares .
O projeto "democrático" do PSDB não inclui construir novosformatos de sociabi- interesse da mulher. Por ourro lado, o desconhecimento quanto ao funcionam ento da
lidadeque convivam com a pluralidade de interesses, com a heterogeneidadede posi- máquina esr.iral. a falr.1de informações sobre os processos de elaboração das políticas
çõese demandas. gm·ernamenrnis e as dificuldades de propor inicia rivas de monitoramento de políticas
Apesar de os "Governos das Mudanças", em nome da eficiência e da competên - públicas emu:iam o Conselho de qualificação e de poder.
cia, cumprirem sua meta de modernização da máquina burocrática, com um viés A segunda dimensão refere-se à não afirmação do Conselho como órgão representativo
autoritário e centralizador, utilizam-se oportunamente de mecanismos democráticos dos moYimentos feministas e de mulheres do Ceará , não só porque o segmento de
de interlocução com a sociedade civil, fazendo parecer estar havendo participação mulheres representado no Conselho é originário de alguns partidos de esquerda (P\IDB,
dos movimentos sociais e ONGs, na discussão e elaboração de políticas públicas . PC do B, r B e \IR - 8). como tamb ém pela existência de outros segmentos de mulheres
Convivendo com essas contradições, a experiência do Conselho Cearense de denrro e fora de esrrururas partidárias (PT, PRC, Ul\ lC) que não se fazem representar no
Direitos da Mulher/CCDM constitui-se um microespaço público de ricos exercícios Colegiado do Co nselho.
democráticos, de aprendizados e realizações num território institucional, político e
de poder, em que os compromissos e interesses públicos são cotidia~amente te st ª- Em me ado s dos anos 80, a luta de movimentos feministas no Ceará pela criação
dos. Configura-se como espaço d e construçao- d e parcer ,· as externas e mternas volta - do CCD:1,1e sua inserção na primeira diretoria reflete o propósito de inauaurar novas
·
das para a realização de a 1gumas po l'mcas
· pu'blº 1cas d e m
· teresse da criança ' do_ ado- prári_cas políticas para garantir redesenhos 110 espaço da gestão política~ Mas esses
lesceme e da mulher e da mtro · d uçao
- d e novas temauc ' · as , como a questao da . mo vimen~os c~nvivem com dilem as para consolidar um espaço público que garan -
.
v10lência doméstica, do aborto, d , d
a sau e materna, d a A 1ds , da prostituição infannl.
, ta no seu mtenor a preservaça-0 d "·, 1ºd em1ºd a d e d e se us suJettos
· · · · e um pos1c · 1·0 -
soc1a1s
Internamente, as parcenas. se rea 1JZam
· - EMCE e as Secretarias de Saude,
com a FEB . de namenco autônomo. em relaça-o .ao E sra d o. A fiorte mfluenc1• • •a dos paru ºd os po J'mco · s
0 CCDM efetiva parcenas com de esquerda na criação e forr · 1 · d . . . . (CPM
Educação e do Trabalho e Ação Social. Externamente, .
a ecunento os movunento s fenumstas cearenses 1
. G Terra dos Homens, que mte- e U,\fC) é, inicialmente un 1 I d . ,
o Movimento de Meninos e Menmas de Rua e ON
e
ª
·1 ndo da mesma tema
'rica
, ' e emento etermmante para impedir relações autono-
gram o Fórum de Combate à Prostituição Imanu ' trata , • No mas dessas entidades com 0 E st d E . - . . -
. f a ilidades no aporte teonc 0 . d . a º· ssa subordmaçao aos parndos dificulta O ama
com poucos recursos humanos e financeiros e r g espaços de urec1mento e a autonomiza :-- d li . d la-
- çao as mu 1eres nos movimentos e o exerdc10 e re
e
momento em que essas entidades se 1orta ecem
l e se integram a outros çoes vo1tadas para a am r :--d · d . , bl '
A f: l . P iaçao ª emocrac1a e para a produção de espaços pu icos.
articulação específicos, a parceria se encerra. tões específicas da d
ª ta de mformações ' d e propo stas m ais. a rti.cul adas e represenrau ·vas das
d d
. . ., . dO C elho refere-se a ques . eman as as mulheres no int · d O C - ºdária
Um saldo pos1t1vo da expenenc1a ons os públicos, na medi - concorrem enor 0 nselho e a esrreita vincuJaç ao parti
ºd . d para ocupar espaç . l'
mu Iher, que deixam a esfera da v1 a pnva ª . ._ al do rrabalho, a v10 en- para o estranhamento 0 d 1st
a pouca efer· - d '
· . • .
anc1amento dos n1ov1111enros e mu
d Jheres e
. ,
da em que o Conselho torna v1s1vel d b da d1v1sao sexu ivaçao a rep rese - s-
o e ate organismos governa - sibilidade de . ntaçao popular dentro do Conselho . Além di sso , ª Pº
. . d . !ando em a1guns
cia doméstica , a educação diferencia a, m st ªd e de políticas voltadas para 0 suporte no f. · •
atuar por dentro do E st d O .
a
. .
unpnmmdo
!' . . corn
u m a propo sta po tt !C,l
. . com a e1esa emm1s1110sucumbe às . d , . d 1ovi-
mentais a sensibilização e o compromisso
menco de mulh d e . . ' evi enc ias do tamanho, da parca forç a O 11
interesse da mulher e de gênero . eres e a irag1ltdad e d dº
e seu 1scurso teórico .
27 1
272
, bl · e transparentes os di versos interesses e legit imar O co fl•
O primeiro Co legiado do Co nselho é O único . . 2 . Tornar pu ico s . n Ito
• d que traz no seu interior a repre- • mecanismos d e negociação e co n st ruir espaços público s que co
tação de movimentos e mulhe res, através do C PM E _ . p ara cnar . , . . . ns-
sen . 1 h . . . , . sta gestao convive com um a
. tensa disputa pe a egemon1a de projeto s políti cos . l cruam e con so ll.dem dir eitos e ampliem o exerc 1c10 da cid adania;
,n . qu e vai resu tar no afastamen - _ Reconhecer a mulher como sujeito port ador de direitos e interesses legítimo s
de rodas as conselheiras repr esent ante s da socie dad · ·1 3
to , . , . . e civi · 0 grup o que se afasta
ão consegue formular um a crmca polmca )Unto aos movim d Ih e como promotora do d ese nvolvimento ;
n . . . . ent os e mu eres que
venhaprop1c1ar um debate qualificado sobre a importân cia da •. _ ,. 4 . Dar visibilidade às demanda s da s mulhere s no interior do CCDM, seja pela
. . . . . paruc1paçao po 1mca
dos movimentos nos espaços 10sntuc10n a1s, a relação com O Estado e a aut onomia única representação dos mov imentos de mulh _eres, ex pr essa ~elo CPM, seja
dos movimentos ~m relaç ~o ao s partidos e ao Estado . A crítica se resume ao espaço pela sua ausência . Essas demandas são s_ub s_ranc _1almente r~d~z1~as e negadas,
interno do Colegiado, mais parecendo fruto de posições políti cas não consideradas, confirmando a idéia de que quanto mais diver sificado o publico incluído nesses
disputas de partidos, grupos e pessoa s por espaços de poder . espaços,argumentando, negociando, pactuando, legiti": ~n do recipr~camente a si
Desse modo , o debate público sobre a relação movimento de mulhere s e Estado e aos interessesdemandados, maior o seu grau de publz czdad e e maiores as possi-
e/ou a contribuição do feminismo para a sustentabilidade democr ática deixa de bilidades de avanço democrdtico potenciais nesses processos, que pode criar o ter-
ocorrer.Perde-se a oportunidade de pautar a neces sidade de construção de mecanis- reno propício à construção de novas hegemonias (GECD, 199 9 : 39) .
mosinstitucionais que venham a exercer controle social; perde-se a oportunidade de
influir no desenho de políticas públicas com o recorte feminista que promovam e No início do s anos 90, no Estado do Ceará , surgem no vos atores sociais para
empoderem as mulheres. construir cenários públicos democráticos , voltados para os interesses da mulher , fora
Sem a representação e comunicação com o movimento de mulhere s, o Conselho dos domínios do Estado . São 0NGs e grupos informai s que, apesar de atuar desde a
setransforma num espaço burocrático de elaboração e execução de projetos setoriais década de 1980 no Ceará, somente na década de 1990 passam a incorporar a temá-
e de legitimação de um discurso governamental que prega a participação e a cidada- tica da mulher e de gênero no seu planejamenro . Essas entidades pretend em desen-
nia. O movimento de mulheres perde uma boa chance de contribuir , através de um volver programas voltado s para assessorar e defender direito s da mulher e relações
mecanismoinstitucional, para a democratização do poder sobre as decisões das polí- de gênero , mantendo as linhas de trabalho anteriormente realizadas . As 0NG s que se
ticaspúblicas de interesse das mulheres e da sociedade . . . autodenominam mistas são aquelas compostas por homen s e mulher es que desen-
Cabe destacar que permanece a dificuldade das entidades de mul~eres e femmi ~- volvem programas para além da temática da mulher e de gênero . Não se denomi -
tas de construu. parcenas
· com o governo , pe 1a con t rad1"ção entre o discurso e a pra- nam 0NGs feministas porque esse debate é polêmico no interior de entidades que
tica do PSDB. Isto traz reflexões de que mudanças no tecido político (pa~sagem_do congregam homens e até mulheres com formações machi stas, p o rque a representa-
regimemilitar para a Nova Repu'61.ica ) , re flen·d as em novos regimes políncos,
_ d1tos ção simbólica do feminismo se expressa carregada de estigmas . No entanto , algumas
. · 1· - de novas relaçoes entre Esta-
democráticos, não são suficientes para a matena 1zaçao 0N Gs defendem o paradigma feminista na sua ação .
do e sociedade civil. d · fi Mas o discur so femini sta, que não cabe na s negociaç ões governamentais, nem em
. d d . ·1 interior do CCDM evenam or- algumas 0NGs mistas, multiplica-se em outros espaços, atualizand o O seu significado.
As esferas de representação d a soCie a e civi no Ih
• • A d •. ntos feministas e de mu eres In st ala-se no movimento sindical, nos partido s político s de esquerda, n as associações
mar tentáculos para ampliar a mfluenCia os movime . .
. ·bTd d é tolhida pe 1a mcapaci-
nos mecanismos de decisão polínca , mas essa possi 1 1 ª e de classe, nas entidades de assessori a vinculadas à Igr eja Cató lica, para ganhar carac-
dade, ora do Estado , ora da sociedade civil de terísticas novas tão bem identificadas por N varez (1998 :01) , qu ando afirma que 0
f.em,m
· ·smo 1anno-amencano
· · ' , polt-
tem se caracter izado co m o un amplio, heterogeneo
• A u ostas pel a civilidade (...) que( ...)

céntrico, multifacético, y polifanico campo discursivo de actuación lacción ( ..) que se
1. Submeter-se às regras de conv1vencia press P . 'd m vocabul ário
, . d im constitui o por u . extiende más afiá de la organizaciones o gm pos propios dei mov imiento , strictu senso. .
trata-se de uma espec1e e mapa comt , . nos para a coex1s-
arâmetros mmu Para ª autora, o co nteúd o do di scur so fem inista tem sido in corpor ado e amplia -
compreensível a rodos, que esta b· e Iece _os P A ermitem que regras do pelas mulheres nos variados espaços de atuação
, . . . l' . Esses par amecros p .
tenc1a de diversos projetos po mcos . d mum , sem as quais
1 .d s num mun o co .
básicas de convivência sejam esta b e eCI ª . to de que hap um que ya no es so'lO en, tas
, - caLIes, en Loscolectwos
. . , aut on
de attto-r ejl exton º' ,,
, om os, en /, . ta Ileresd<'
. d d d m se acirra r a pon educación pohu/ar. , fiemtm
, •stas mm, estan, en esos esp acws . ) , su· w que- ra111b1<'II" 1
as divisões interna s da soCie a e P 0 e .22) · r , ete. uwnque
/ ,as
99 9 · '
rompimento da vida em comuni ºd a de (G EC D ' 1
274
273
derand o-se aind a os desafio s qu e o co n tex to mundi al ap resenta para a ação das
los sindicatos, en Los.movimi entos estudiantiles, los pa rtidos, ws
, panamentos,
, , corredoresde
ws mulher es na esfera públi ca .
,. ONU, en los labermt os de la academia, en las redesfi , e zn
· , I:orma,es
, d . .
u, . . orma,es 1 e orgamzacwnes O CC DM, co mo os dem ais con selho s setor iais, exerce um papel im portant e no pro-
no -gubernamentafes especrafz
zadas y profesionalizadas, en 'os
,, med· d · ·,
10s e comumcaoon, en el jeto de democ ratiza ção do Estado cearense e br asileiro . Junco s, co nstit uem -se um espa-
ciberespacio, etc. (Alvarez, 1998: O1)
ço qu e garante int erfaces entre governo e sociedade civil, apesar d e seus limit es e con-
No Ceará, caminhando numa outr a direção, o Colegiado do CCDM, na última tradi ções. N esse espaço se manif estam aprendi zado s, denún cias, p rop ostas , dem andas,
estão,analisada neste estudo , opt a por trabalhar com a categoria de gênero para deb ates que podem produzir tran sform ações traduzid as no exercício tran sparente do
!onquistarespaços de interlocução e negociação no interior do governo. Essa cate- poder , em novas relações voltad as para um a gestão públi ca m ais demo crática , na pro-
orianeutraliza o debate polêmico e político atribuído ao feminismo e garante espa- dução de um espaço de encontro s de intere sses plurais , na amplia ção d e ações gover-
gosde inserção e atuaçao
- numa perspectiva' de genero
' , em aiguns programas gover- nam entai s através da inserção de novas tem áticas e demand as.
~amentais. Gênero legitima o governo perante as agências internac ionais de De safios se coloc am ao Conselho para avançar e materializ ar su as potencialid a-
financiamento,quando incorpora um discurso moderno , técnico e de compet ência. des. Primeiro , no que se refere à super ação de uma atu ação informal , p o ntu al e limi-
Alvarez(1998 :04) sugere que, em países como Chile , Colômbia e Peru, tada. Há que ousar para uma atuaç ão m ais profissional , in stituc ional , sem perda de
sua per spectiva política e que amplie articulações no interior do Estad o p ara formar
el imperativode "incorporar ai género" a Lapfanificaci6n para el desarrollo, tan en bogaa consciênc ias e garantir a in serção da problem átic a d a mulher e de gên ero no plane-
nívelglobal,pued e estar !levando a LosEstadosy a las organizaci~nes inter-gubernam,enta- jamento global do Est ado . Segundo , é necessário que os mo viment os e as Oi':Gs dis-
" l "a las ONGsfeminist as locales y trasnacronales mas en su capac1dad tecnzca cutam seu papel n a ampliação do Estado democr ático , n a elabo raçã o d e políticas
lesa consu tar
· · énero que en su capacidad como organizaciones "híbridas" de la
y por su expertrsa;een g, , . . la públicas , exercendo relaçõe s, con struindo proposições , que po ssam sup erar amb i-
sociedad civil O dei movimiento femini sta que promu even la cmdadanra plena para s güidades , receios de perda da autonomi a.
mujeres
. Talvez, diante do s desafios da atualidade , o movimento de mulh eres possa ressig-
nific ar democracia , desenvolvimento e cidadania com base n a te o ria fem inista que
, 0 NGs no início dos anos 90
No estado do Ceará , o governo tam b em procura as I d d' ainda garante um sent ido revolucion ário e de mud anças n as rel ações de genero .
. d as setoriais . No encanto, onge e tscu-
parafirmar parcenas em torno e program . d PI de Desenvolvi- A democracia é um projeto político que requer de scon stru ções d e pos tu ras e
, . !' . todológ1cos e seu ano
ideologia s, seja por parte do governo que hegemoniz a O Es tado , seja da part e da
riros fundamentos teonco-po iucos e me erno apresenta
I ão com as 0NGs, o gov sociedad e civil qu e deve ser considerada na sua heterogen eid ad e.
mentoSustentável para em b asar uma re aç d A NG 1·nsiscem em discu-
· ·' figura os s O s
umaproposta de execução d e proJetos P con . l · termos consideran-
. . -se a dia ogar nesses ,
ura natureza dessa parcena, o governo nega d ·dade de gestão de
· · ·ri diante a oportulll Referências bibliográfi cas
do o debate teórico elemento msigm icance mem não realizar
. d de civil As 0NGS assu
umanova relação entre governo e socie a · . c. anceira que se abate
. ·ri do mas a cnse un . ALYAREZ , S~nia E. En Qu é Estado Estrí el Feminismo? Refl exion es Teóricas y Perspectiv(ls
parceriassem uma discussão de seu sigm ica ' d m realizar parcenas
I umas concor em e 1 - ~om!~ra t,vas. Trabalho apresentado no Semin,írio Internacional "Experiencias de Inves-
sobre as 0NGs nesse período faz com que ª g . , . d limites dessa re açao. ugac1on desde una Perspectiva de Género" . 1998 . (llllllleo
·
do consc1encia os . e .) .
com o governo nos termos propo sros, ren , . d , !ta relevância no qu -----· Feminismos Latino-americanos. ln : Rel)istfl Estudos Femin istas. Rio de Janei-
E b lh om reman cas e a de
ssas 0NGs têm a característica de era a ar c , d ando- se o Grupo A ro: CI EC/ ECO / UFl~J, vol. 6. nº 2/1998. p. 265-284. .
d' . . , saude estac As
iz respeito à sua relação com a vida e n scos ª. , .' A Branca/ GRABe a so- RDAILLO N, Danielle. Estado e M ulher - Conselhosdos Di rt!itos da Nlu lher e DelegacJ(IS tlt
A . d R s1srenc1a sa Defesa da M11lhe1: São Paulo: Relatório Final do Projero de Pesqu isa: A Mulher Brasilei-
po,oe Prevenção à Aids/ GAPA, o Grupo e e
BA ra nos anos 80,_desenvolvido pela Fundação Carlos Chagas. 1989. (mimeo.). J2 1P·
ciaçãodas Prostitutas do Est ado do Cear á/ APROCE. e , ias históricas trazem ele-
O e Ih e suas re1erenc
processo de con stituição do onse O
A • como Rd REIRA, Man a Socorro Chagas. CCDM : da luta p e/11 ig11ald11d e ao reconhecimento
a .diferença. Relatório sob re O cc n 1--. •ado pela UN I - 1:'F. Forra 1c:z. i , 1994 ·
, , ·a sua perm anenoa 1 fi1nanc1
rn 'd d a ex1stenc1 , for- (m1meo.). 23p.
enros para uma reflexão sobre o senti o e su - nsider ando- se as ua ns .
lllecanismo de control e soci al e/ou sua crans form açado , co a sociedade civil e cons 1- DAGNINO , Evelina· Pro· 'lerO d e rn esqursa
·
- Sociedade Civil <' E.;paçosP11 'bt·,,·os 110 a,,,,il.
·
lllaçõ . E d no m erca o e n 1999. (mimeo.).
es ocornd as no s ano s 90, no sta o ,
27
275
GONDIM, Linda Maria de Pontes . Clie t ,. .
d. M da "
"Governos as u nças no Ceará (l 9 87 _1
n eusm o e modermd. d.
) . , ª e_-
A l' . , .
s po ztzcaspublicas , os
994
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. . . ra Ica . 0 J m ovzment · ·
crdtica: sociedade cw 1f, esfera piíbli ca e uestii . . . os soczazse a construção demo-
º
LIMA MATos , Franc1sco Jo se. Apre sentaç ão In · C , . J
. , o partzczpatzva. (mimeo) 1999
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· · enartos ae uma p Of "
Edição Comemorativa dos 80 anos do Ce nt I d .Id ltlca contemporânea.
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_____ . Entrevista Francisco José Lima Matos I . e , · J , •
. _ C . · n . enanos ae uma polttzca contemno-
rânea. Ed1çao omemorat1va dos 80 anos do Centro Ind t · l d C , F ai '.
_ , . us na o eara. ort eza: Edi-
ções Fundaçao Democnto Rocha. 1999 . P. 425-495 .
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. _ . . n . enarzos ae uma po ztzca
contemporânea . Ed1çao Comemorativa dos 80 anos do Centro Industrial do Ceará. For-
taleza:Edições Fundação Demócrito Rocha. 1999 . P. 109-170.
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VITORINO, Grace Troccoli . Feminismo e pós-feminismo : A dupla tessitura dasrelações de gêne-
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277
CAPÍTULO 8 izações da sociedade civil e partidos , ao lado do s conflitos en
res enrre organ . tre a
·
representanv1 'dade advinda das urna s e aquela que se articula no s espaços de pan ,c
. ..
1
pação da sociedade civil. . _ , _
O peso das matrizes culturais no proce sso de co~ struçao demo crat 1ca, enfati-
Sociedade Civil, Espaços Públicos zado por vários aurores, 1 é um componente essencial de sse retrato , ampl amente
e a Construção Democrática no Brasil: reconhecido nos estudos de caso . É nesse campo que as contradiçõe s e a fragmen-
Limites e Possibilidades tação que caracterizam esse processo se mostram mais evidente s. Por um lado, 0
autoritarismo social e as visões hierárquicas e excludente s da socied ade e da polí-
tica constituem obstáculos cruciais na constituição ma s também no fun ciona-
Evelina Dagnino mento dos espaços públicos . Por outro, é precisamente a confrontação desses
padrões que é apontada como um dos principais resultados democratizante s de
' t:\
l,
sua atuação .
'J Os resultados da pesquisa, relatados nos capítulos anteriores, nos possibilitam a
rJ
,.....,
reflexão sobre algumas questões, examinadas a seguir, e que permitem uma visão
mais ampla que tenta integrar o conjunto das experiências investigadas .

O retrato da participação da sociedade civil brasileira nos espaços públicos que Natureza das Relações entre Estado e Sociedade Civil
emer e dos resultados da pesquisa mostra, como esperado, que o processo, de c~ns-_
_g democrática não é linear, mas contraditório ~- f~agmentado . Alem diss~, A aposta na possibilidade de uma atuação conjunta do Estado e da sociedade
rruçao . - --- · --:- --1 · - l · r idade de fatores, eh-
~onstra também que esse processo se vmcu a a uma ~~~-~r o do civil, mencionada antes como uma das características que emergem fortemente
. l ·6·1·d d de conceber a sociedade civil como o demi g
mmandoqua quer possi I 1 a e durante os anos 90, subjacente ao esforço de criação de espaços públicos , não deve
aprofundamento democrático. . E t do não apenas con- obscurecer (e não é contraditória com) um primeiro resultado claro da pesquisa:,!!!...
. . d . 1 · d d 1 go evidentemente, o s a '
Essamultipl1C1da e me UI es e O ' d ,rios níveis (munici- relaçõesque se estabelecementre ambos nos vários tipos de encontrospesquisadossãosem-
fc ocupam O po er nos va
p_retensas,permeadaspelo conflito.A natureza e os graus desse· conflito variam e serão
sideradocomo conjunto d e orças que al cuJ·0 desenho autori-
.al te a estrutura estar ' .
pai,estadual e federal) mas, especI men : . l s narticiP.ativQ§. Inclui discutidos em seguida. M âs,eiü(e . os vários fatores que parecem explicá-los, quere-
,. · d s1stente aos 1121 P.l1-so . r,, · -· · ·--- • •
canopermanece largamente mtoca O e !:E-- - --··:". · · . sociedade civil e o mos desde logo destacar, dadas as conseqüentes implicações teóricas, uma hipótese
, . ' . d. d trad1c1onais entre a ,.
tambemos parudos polmcos, me ia ores , . . te os partidos pohn - explicativa que vincula essa tensão à maior ou menor aproximação , similaridade,
' caractensnca meren '
Estado . Nessa vocação pendular que e sua d. - do Estado (com exce- coincidência, entre os diferentes projetos políticos que subjazem às relações entre
. . . . 1· sempre na ireçao . . - Estado e sociedade civil. Em outras palavras, o conflito e a tensão serão maiores 011
cosno Brasil histoncamente se me maram d ntatividade na soe1e
- . . . d a busca e represe .
çoes,por isso mesmo, not6nas), lim1tan ° su . . os mais eficazes menoresdependendodo quanto compartilham - e com que centralidade ofa zem - as
. an1smos vistos e0010 d. partesenvolvidas.
nalismo etc . A istªn -
A
dadecivil aos momentos eleitorais e aos mec
- d favor o persa I' .ca
nestes momentos· o clientelismo, as re l açoes e ' ralizada com ª P0 in A ap~rente obviedade dessa hipótese se dilui quando reconhecemos que, ern
e·1 . · . . ·d · satisfação gene , d América al~umas mterpretações, a distinção entre Estado e sociedade civil, baseada em deter-
ª entre a sociedade civil e os parti os, ª m O
urros paises ª
'd, ·
Parr, ana, assinalada também pelos estu os r d ealizados em
. d d dessa funçao me
- diado- mmações estruturais, não só é freqüentemente tomada como um dado irredutível
l · • d. precane ª e · d. tas com da realidade, mas também acaba se convertendo numa relação de oposição "natu-
atina(ver Panfichi, neste volume), m icam ª . . de relações mais ire . d
ra A b . _ d ·edade civi 1 . plex1da e
· uscapor parte de orgamzaçoes a soei . d de Assim, a com
oEst d0 , precane ª · , is emba - l . Ver especialmenre C hauí 1984 A . 20006
. ª certamente se vincula tambem ª essa . . l • também os passive e G rup o de Estud os b C ' _' vm zer, 199 5, e me u pr ópr io trabalho em Dag nin o , 1994 , 20 00J,
1neren , . , bl. Brasil me ui so re a 011st ruçao De mocrát ica, 2000 .
te a novidade dos espaços pu 1cos no
280
279
,, ma premissa, num ponto de partida, que nos . d . d d civil para o Estado .2 A não ser que acreditemos na inevitab 'l'd
ral , nu . . . exime e entender os proces- 1
sito da soc1e a e ' . . . . l I ade
,1 icos que a constituem e a explicariam. A conh 'd b . . . a1d O der corruptor do aparato estatal, ha que adm1t1r a possibilidade d
sosPº it . . " ,l d . ,, - eci ª e em d1fund1da visão rad 1c Pº . . . . e que
. dade civil como o o e virtude e do Estado co " te dos proJ·etos democratizantes ongmados na sociedade civil h
da socie-~ . . . mo a encarnação do mal" pelo menos Par ten a
~ esse reduc10msmo . Essa hipótese quer então res 1 , . . te passado a orientar a ação dos ocupantes do Estado, uma vez ad
fazpare - d -- -- • .,_ . sa tar o carater de cons- efienvamen ~ , . equa-
~1íis tórica âessas relaçoes, no sentido de que elas são obJ.et 0 d , . dos ao seu novo lugar . De outra forma, a construçao democrat1ca pela via eleitoral
rruçao . _ ,. a po 11t1cae, por-
cransformáve1s pela açao pol1t1ca. estana,· at·ia's, completamente excluída como possibilidade .
ranto, . . .
A noção de pro;eto político, tomada como aquilo que orienta aquela ação, adqui- Por outro lado, as continuidades autoritárias e conservadoras que reproduzem a
reentão um peso explicativo que pode articular os resultados encontrados . Isso não exclusão na sociedade brasileira estão longe de estarem confinadas no aparato do
querdizer que Estado e sociedade civil sã~ f~rças equival~ntes, que sua ação políti- Estado e certamente respondem a interesses enraizados e entrincheirados na socie-
de ter a mesma natureza ou que as distintas determinações que os estruturam dade civil. Avaliar então o impacto da sociedade civil sobre o desempenho dos
capo .
possamser abstraídas ou ignoradas em nome ~e e~colh~s puramente políticas. Se governos (governance) é uma tarefa que não pode se apoiar num entendimento abs-
essasescolhasse dão sobre a base dessas determmaçoes, nao podem, no entanto, ser trato dessas categorias como compartimentos separados mas precisa contemplar
reduzidasa elas. Os conflitos que permeiam essas relações não podem, portanto, ser aquilo que as articula e as separa, inclusive aquilo que une ou opõe as diferentes for-
simplesmentereduzidos a diferenças nas respectivas "lógicas de atuação", derivadas ças que as integram, os conjuntos de interesses expressos em escolhas políticas : aqui-
decaracterísticasestruturais distintas, do Estado e da sociedade civil. O que signifi- lo que está sendo aqui designado como projetos políticos. 3
cadizerque a clivagem estrutural entre Estado e sociedade civil não é suficiente para
entenderas suas relações e deve ser combinada com outras clivagens que não neces-
sariamentecoincidem com ela, mas a atravessam .
A Partilha do Poder: Limites e Possibilidades
É essa multiplicidade de clivagens que parece estar exemplarment _e colocada ~o
Quando examinamos a natureza dos conflitos relatados nos estudos de caso é
depoimentode um conselheiro não-governamental do Conselho Nacional de Assis-
possível afirmar que o seu foco mais generalizado é a partilha efetiva do poder.
tênciaSocial, recolhido por Raichelis (1998: 143) e citado no eSt udo de caso sobre
Essa questão retoma a importância das diversas concepções sobre a natureza da
osConselhos Gestores :
"participação da sociedade civil", mencionadas na Introdução, como elementos
" d 1 P 'd'ncia era inflacionário, que tinha centrais na configuração de distintos projetos políticos. Essas diferentes concep-
Umdefendiaque o orçamento apresenta o pe a revi e ções se manifestam, paradigmaticamente, de um lado, na resistência dos Execu-
. - d f, didas por diferentes represen-
que cortar (...) e o outro dizia que não era [posiçoes e en tivos em compartilhar o seu poder exclusivo sobre decisões referentes às políticas
. . dad civil e governo. Naque1e
tantesdo governo]. Então não era uma briga entre soete e , públicas. De outro, na insistência daqueles setores da sociedade civil em partici-
, 1 cava or mais recursospara a area
momento,a gente reforçava o braço do governo que u P par efetivamente dessas decisões e concretizar o controle social sobre elas. Essa
daassistência"
. (Grifos meus) polarização est á claramente presente nos Conselhos Gestores e no Conselho Cea-
te expressava o rense d~s Direitos da Mulher (C CD M), e naquelas relações 0NGs - Estado o~de
S
-~
"briga" não era entre sacie d a d e civi
· ·1
e go
vemo certamen
' ti~ vam no es- as funçoes de dec isao - d e po l'mcas
· - e execuçao · estão claramente separa d as, recain-
confl•0 - - .• . . l' ·cos que se con r?n . d~ sobre essas organizações apenas as últimas. Assim, o poder deliberativo pre-
----2!~~re concepções distmtas, proJetos po iu
Paço ' b)' . visto para os Cons eIh os G estores com freqüência se transforma na pra'rica ern
'- pu tco. d terreno mais con-
E h' • l se voltan o ao
ssa tpótese explicativa pode ficar mais c ara '. . b armos o faro de que
eretod ., . , . brasiletra, 1em r . de 2. Trânsito que exigiu uni •?rendi·a ' . rsões, provavel·
ª expenencia de construção democrauca . . 'd d de que os proJetos mente todas v íd' • " do por vezes doloroso para seus protagori ·stas. Em varias ve desse
umdos . .d d l poss1b1h a e . 1·1 ue . er icas, a anedota que circ 1 • d . . - . . . 1 dá conra
seus marcos fundamentais foi a O pe ª . d ciedade c1v eq aprendizado: ouvind
.
. . . d' _ u ava, nas a mm1scraçoes mun1c1pa1s das Frentes Popu ares . d Secre·
o as re1vm ,caçoes do . b d . . cunvo a
cunho d inrenor a so d ara cana de Habitação proc . "M - s mem ros e movun enro s populares pel a moradia, o exe or in•<·
einocratizante que se configuraram no d sem ser leva os p diatamence lhe so esta. . as nao é possível, o Estado tem que enfrenrar essa questão! ". Ao lado, o assess
conduzir , . , ' . d s setores, pu es d . e dos pra no ouvido· "Escuta
3. Estamos usando . .
E d
'o sra o , agora, so mos nós!". . os ,o n·
,
O arnb ain a prattca política de vanos os seu ·ci·pai·s e esta uats • o ter mo pro;etosp li · d s,gnar
· · muni , Juncos de crenças ince o ttcos num sentido próximo da visão gramsciana, para e . d de, qu<
., 1 tto do poder do Estado, no nível dos execunvos sos exemplos desse cran- . . ' resses, concepções d
onentam a ação política d d"c
d .
. _e mun o, represenrações do que deve ser a vida em
soc1e a
P• 1 arn . d umero os Herentes su1e1tos.
entos. Assim, a década de 90 foi cenáno e n

281 282
função consultiva ou até mesmo ape . .
urna nas 1egitimador d .
nosg
abinetes.
.
ª as decisões tomadas • que ser levados em consideração na análise e avaliação do funcionamenr o des-
rem
O conflito pela pamlha efetiva do poder se .e ses espaços.
maniresta tamb ,
0
uma demanda pela ampliação do âmbito d d . _ em em alguns casos A Característica central da maior parte dos espaços. estudados - seu envolvi·men-
com _ , . . as ecisoes envolv·d . .
rivas à fragmentaçao, a setonalização etc. das lí . i as. as queixas ta com políticas públicas, seja na sua formulação, discussão, deliberação ou execu-
re1a . . , po ttcas que resulta d
ue envolvem a parttcipação da sociedade civil sign·fi m os espaços ção_ exige quase sempre o domínio de um saber técnico especializado do qual os
q . ' icam que essa ar ·ih d
oder mesmo quando existe, tem um caráter limitado . p tt a o representantes da sociedade civil, especialmente os dos setores subalternos, em geral
p ' .- b l' . ' . . e restnto , sem ampliar-se
aradecisoes so re po mcas publicas mais amplas que pud . não dispõem. Entender um orçamento, uma planilha de custos, opções de trata-
P . . . , essem ter um impacto
igmficanvo para a sociedade como um todo . Há relatos recorre t d . mento médico, diferentes materiais de construção, técnicas de despoluição dos rios,
S n es essas queixas
nosescudossobre o CCDM, o MST, os Conselhos Gestores e os Orçamentos Partici- há uma infindável lista de conhecimentos exigidos nos vários espaços de atuação.
pativos(OP). No caso deste último, quando se faz referência ao fato de que as deci- Além desse, um outro tipo de qualificação se impõe, o que diz respeito ao conheci-
sõesdo OP estariam circunscritas a "questões materiais". mento sobre o funcionamento do Estado, da máquina administrativa e dos proce-
Aponta nessa mesma direção a característica, freqüentemente assumida pelos dimentos envolvidos .
espaçospúblicos que se constituem no interior do Estado, de isolamento em rela- Essa necessidade de uma qualificação técnica específica tem se revelado um desa-
çãoao conjunto da estrutura administrativa: eles acabam se constituindo como fio importante para a sociedade civil não só porque ela é condição necessária para
"ilhas" separadas, em "institucionalidades paralelas", conservadas à margem e com uma participação efetiva mas também pelas implicações que ela tem assumido na
difícilcomunicação com o resto do aparato estatal. prática. Em primeiro lugar, a aquisição dessa competência técnica por parte das lide-
Os mecanismos que bloqueiam uma partilha efetiva de poder nesses espaços são ranças dos setores subalternos tem exigido um considerável investimento de tempo
vários.Se muitos desses mecanismos têm origem em concepções políticas resistentes e energia que muitas vezes, num quadro de disponibilidade limitada, acaba sendo
à democratizaçãodos processos de tomada de decisão, outros se relacionam com roubado do tempo dedicado à.manutenção dos vínculos com as bases representadas .
características estruturais do funcionamento do Estado, embora as fronteiras entre Esse dilema é central no debate atual no interior da sociedade civil que discute a
essasduasorigens sejam, às vezes, de difícil elucidação . Assim, inúmeras menções nos opção entre luta institucional versus mobilização social, do qual trataremos adiante.
váriosescudosde caso são feitas a traços constitutivos do funcionamento do Estado Uma segunda implicação é que a rotatividade da representação nesses espaços fica
brasileiro(alguns, é bom lembrar, são, em última instância, derivados de escolhas prejudicada: dadas as dificuldades da aquisição dessa competência, os seus eventuais
políticas feitas em algum momento) que operam na direção de dificultarª democra- portadores tendem a ser perpetuados enquanto representantes. Em terceiro lugar, a
. - das decisões: o predomímo. de uma razao
uzaçao - tecno- b uro crática ' o excesso ,, de ausência dessa qualificação não é apenas uma deficiência absoluta: é também uma
"pape1ada", a lenndão,
· · ·
a mefic1enc1a,
A •
a «eral ta d e sensi.b.lidade
i e o despreparo da d deficiência relativa com respeito aos interlocutores governamentais e representantes
. . b
burocraciaestatal; a falta de recursos; a msta i i a e O ·1·d d d s proJ ·eros que resultam e de_o~t~os setores ~~is privilegiados da sociedade civil como, por exemplo, os pro-
..
. - b .d à rotauvidade do exer- ~netanos de hosp1ta1snos conselhos de saúde. Nesse sentido, ela carrega para o inte-
parcenascom o Estado na medida em que estao su men os . _
e' . d d ºfi l sso a mformaçoes, etc. r~or desses espaços públicos uma desigualdade adicional que pode acabar reprodu -
teto o poder, a falta de transparência que 1 icu ta O ace d. - difi-
D • era na mesma treçao, zmdo exatamente o que eles te·m como o b.Jetlvo · e1·1mmar:
· · · · d o aos
o acesso pnvilegia
0 lado da sociedade civil, uma séne de elementos op , . • importan -
culrad . . . . 1· á . aços publicas: o mais . recursos. do Estado que enge d d · ld d · · ·
n ra a esigua a e social mais ampla . Em s1tuaçoes - de
°
n uma pamcipação mais igua it na nos esp L' . ue essa partt- conflito aberto com represe t ·
n antes governamentais nos Conselhos por exemp J0 ,
tedei 'ifi
. es parece ser a exiuência de quatt caçao -
- técnica e po tttca - q
. dessa exigência
. .
ess d fi • · d '
d ª e _iciencia os representantes da sociedade civil tem sido não só utilizada na
A •

c1pa- ó' . d . ·1 A importancia


çaocoloca aos representantes da socieda e civi · d.d O desafio que
está r 1 • em grande me i ª d esdqualificaçãopolítica desses últimos como até cultivada, reforçada pelos seus con-
e acionada com o fato de que ela expressa . ·1 o para o Esta o. ten ores como forma de exercer O I b .
advérn d . ciedade civi com d d d contra e so re as decisões, como aponta o estu-
a novidade desses espaços, tanto paraª so . d d egociação sem per ª o e caso sobre os Conselhos Gestores.
0 reco h · apacida e e n 1 - de
d n ecimemo dos diferentes interesses eª c . . - na formu açao O desafio da qualificação técni . ,,
a aur . , bl. a parncipaça 0 d. vel sucesso em ., . ca, no entanto, tem sido enfrentado com razoa-
,. onomia, a construção do interesse pu ico, ão algumas das imen- expenenc1as como os O p . . .
Po1tttcas , 61· sse interesse s I volve vênios do Est d rçamentos an1eipat1vos e mesmo nos con-
pu icas que efetivamente expressem e . d"zados que e a en a o com o MST onde o r, . .
5-
ºesque • · difíceis apren 1 adquirir a competê . . .d' P opno movimento procurou condições para
nc1a ex1g1 a pelos pro . d 1c b . d
constituem essa novidade. Assim, os Jetos e a ra ettzação. O envolvimento e

283 284
s atores nesse processo de capacitação parece fu d I É . apazes de manter sua autonomia perante àqueles e de reconhecer sua pro.
res, wc
,
outro . n amenta . nesse contexto
apel das 0NGs ganha uma especial relevância sobre · • . _ J pria diversidade interna . No caso do MST, a preservação da sua própria autonomia
que O P . . _ , . cups 1mp1!Caçoes vo ca-
ais adiante . A qualificaçao teclllca de que as ONG - d e do total controle sobre o processo de alfabetização dos assentados parece ter con.
rernos rn . . s sao porta oras parece
•ruir O fator central para explicar a importância que elas ad • . , dicionado O tipo de relação estabelecido com seus próprios aliados : os professores
constt qumram no peno-
do rnais recente . A •
universitários envolvidos nos projetos, por exemplo, ressentem -se da prioridade
No caso do MST, onde a competencia do movimento para a condução do proje- excessiva atribuída à formação política em detrimento do processo pedagógico pro-
de alfabetização foi amplamente reconhecida pelo Estado, há também O envolvi- priamente dito. Essa mesma postura tem sido identificada nas relações entre lide-
to de membros da Universidade como instrumentos da qualificação necessária rança e bases do movimento, onde uma disciplina rígida e o cultivo da autodeno-
mento . . ·
OP houve, pelo menos em Porto Alegre , um mvesumento considerável minada "mística" parecem ser os mecanismos predominantes para manter a coesão
N0 caso do
· Prefeitura e de 0NGs como o C IDAD E na capacitação dos setores popula - do movimento.
da pr Ópna
res envolvidos no processo . . . . Algumas dessas dificuldades envolvem a luta entre projetos políticos opostos e
A importância do desafio da qualificação téclllca tem determmado o surgimen - trazem as marcas da experiência histórica recente, caracterizada pelo confronto . O
is gerais para sua solução . No caso dos Conselhos Gestores, atra - caso dos Conselhos de Defesa da Criança e do Adolescente, estudados por Cátia
code propostas ma . . . .
· · dº - como a instalação de Câmaras T éclllcas ou assessonas espec1a1s Silva e citado no estudo de caso sobre os Conselhos Gestores, relata a resistência
vésde re1vm icaçoes . . .
ociedade civil. Um número bastante s1gmficat1vo de 0NGs dos membros vinculados aos movimentos sociais, cuja luta conduziu à criação des-
ara os representantes d a S . . . . , .
p ·d t refa )·unto aos vános movimentos sociais . Vanas delas - e tes Conselhos, em aceitar a participação de conselheiros não comprometidos com
cem assumi o essa a . _ , .
· d d · ·1 _ concebem a questão da qualificaçao tecmca o seu projeto:
outros setores d a sooe a e civi . al ,
como arte de uma qualificação política mais ampla, onde a dificuldad~ c~ntr e
enfren~r o peso de uma matriz cultural hierárquica que favo~e~e a submissao fr~~- "Os conselheirostutelaresde São Paulo se consideram legítimos representantes da popu-
, d fi polmca como uma at1v1-
te ao Estado e aos setores dominantes, al em e a irmar a lação e legítimosocupantesdestesespaçospúblicos, uma vez que participaram das mobi-
lizaçõespró-ECA e pro-
' CTCAs no mun1c1p10.
. ' . 0 corre que para os conselheiros tutelarese
dade privativa das elites. . _ l' . d resentação da socieda -
Além da qualificação técnica, a qualificaçao po mca a rep m como Para boa parte dos conseIhe1ros · · · os ·espaços criados pelo ECA são legítimosse
· mun1c1pa1s,
. dO ·al nestes novos espaços que traze ' e. quando · ' nas '!utas' dos segmentos pro-
' · fieira
de civil envolve um apren iza d cruel l . . ·d de de atores por - . ocupados por pessoascom 'uma h"1stona '
dº t com uma mu up 1ici a c1dadan1a. Esta visão os impede de ·d ' ,
parte da sua novidade, a convivencia
• A

.

ire ª . .d d ,
Essa diversi a e e ace
ntuada no caso de ,. . cons1 erar os outros , aqueles que não comungam a
pranca, o discurso,a crença como leg'r'
1 imos cand"d · " ·1
tadoresde concepções e interesses d iversos. G as está presente I atos a conselheiros tutelares . (S1va,
,. Conselhos estores m 1994:95)
espaçosde deliberação de po 1mcas como os ( d i·s se esperaria uma
· h êneos ou os qua
mesmo nos espaços relativamente mais orno~ fi Urbana (FNRU), o
. F, Nac10nal da Re orma .. Várias das disputas no interior d 0 CC . .
maior homogeneidade) como o orum . d l alidade e da legin - . • . . , . MD, CUJatraJetória é marcada por profun-
.
CCMo ou o MST e seus simpatizantes.
• o
rec
onhecimento
.
ª P ur
A
.
·a democránca, em
d as d ivergenc1as pamdanas são exem 1
_ . '
-
P os que vao na mesma direção, apontando
"d . . - nas da convivenci para a questao mais ampla da hetero 'd d . .
mi ade dos interlocutores é requ1s1to nao ape s de conflito que l d genet a e mterna da sociedade civil e assma-
geral, mas especialmente dos espaços pu icos,
'bl" enquanto espaço
_ d
, .
nsensos pos siveis
°
an O pape 1que nela desempenham
sam N 'd os
d 1st
' • .
mtos proJetos políticos que a atraves-
• . - 1· a produçao e co . ld . esse senu o, o que os espaços , bl'
ta f: d _ .
- .
pu icos estao colocando é o aprendizado da
tem a argumentação, a negociaçao, as a ianças e a ontam as d1ficu a-
co
mo seus procedimentos
·
fundamentais . s
o
estudos de caso P re a a construçao hegemôrnca
como ponto de p 'd d ' q
ue
requer o reconhecimento da pluralidade
am a e um processo d b
desconcretas desse aprendizado. d"fi entes casos . O reconheci - em torno dos quais a t' _ d . e usca de princípios e interesses comuns
Essas dificuldades assumem naturezas vana· das nos i er ·d d de ar icu 1açao as d1fer b ~
·ssa da capaci ª e do interesse público. enças a ra caminho para a configuraçao
rn l res premi a1·
enro da pluralidade e da legitimidade dos inter ocuto ' dificuldades gener tz~- A experiência do FNRU um es a d .
nego · - , ·s enfrentou domi- rico muito mais homog • ' . pdço e articulação no interior de um campo polí-
d c1açaoe construção dos consensos poss1vei erpassa os setores 1
1d eneo, am a aponta d'fi
as no caso do CCMD. A ausência desse reconheciment~ _P ão da sociedade civi , ª o, a experiência do F , . . para I iculdades semelhantes. Por um
nances d da parnopaç d rnulhe- orum contnbuiu d · · .
' na sua concepção seletiva e exclu ente , • movimentos e resses e para uma vis- . b ec1s1vamente para a ampliação dos mre-
atravess 0 . d e os propnos ao mais a rangente d . . . 1
ª interior do s partidos de esquer ª as reivmd1cações, ilustrada, por exemp o,

286
285
transformação da demanda por moradia
pela 1 . d em uma lu l
a construção co ettva e uma noção ampl ta pe a reforma urbana concepções. No segundo caso, típico dos espaços públicos de constituição obr·1
coJll d 1· . - a e companilhad d , gató-
p r outro la o, a exp icitaçao das divergênc· . a e reforma urba- ria, como os Conselhos Gestores, trata-se do confronto entre projetos distintos, em
na- o ·a1 d .d , , ias internas ao Fór
des especi mente evi o a enfase na prod _ d um encontra difi- situaçõesonde a correlação de forças não reproduz aquela que presidiu a criaçãod
culd a ' . d uçao os consen , . es-
. trumento mais po eroso para a atuação do F , . sos poss1ve1
s, que é tes espaços na Constituição de 1988, como veremos adiante. A definição amplade
o ins . orum como Instru
, . nto ao Congresso Nac10nal e a outras instânci· mento de pres- projeto político que estamos utilizando aqui definitivamente inclui as visõeselitis-
saoJU as.
tas da política (e da democracia) que permeiam nosso universo cultural, bem como
a crença no predomínio de uma razão tecnocrática que, em última instância, é anti-
AAcuação Conjunta entre Estado e Sociedade Civi·l· p • tética em relação à expansão dos espaçospúblicos e à participação da sociedadecivil.
I • C "Ih d . roJetos
Polincos ompam a os, Complementaridades, Parcerias Já no caso do MST,não há evidentemente compartilhamento de projetos políti-
cos. Mas há uma coincidência de objetivos: ao MSTinteressava a alfabetizaçãodos
Alémdo enfrentamento relativamente bem-sucedido das dificuldadesde qualifi- assentadospor razõesvinculadasao próprio projeto político do movimento; ao Esta-
caçãotécnica, o que há de comum entre os casos do 0P e do MST?Primeiro,um grau do interessavao crescimento quantitativo dos baixos índices de alfabetizaçãoexis-
significativode mobilização e organização dos movimentos sociais envolvidos. tentes. Essamera complementaridade pontual é evidentemente precária, como mos-
Segundo,uma coincidência de propósitos entre Estado e sociedadecivil. No caso tram as tensões na relação Estado-MSTao longo do processo e, finalmente, 0
dosors de Porto Alegre e Belo Horizonte, essa coincidência tem origemno compar- cancelamento do convênio com o governo estadual.
tilhamento de um projeto político participativo e democratizante
. É também o casoda No caso do OP em Porto Alegre, seus 12 anos de existência indicam não a ine-
parceriaestabelecida entre a Prefeitura de Santo André e a Ação Educativa, naquilo xistência de conflitos mas a base aparentemente sólida sobre a qual esses conflitos
queO estudo de Ana Cláudia Teixeira denominou de "encontro participativo". No são ,n~gociados.O compromisso das várias forças envolvidas com o projeto parrici-
contextode um outro caso estudado, o de despoluição do rio Tietê, a mudança das pa~o~1~forneceu essa base. Segundo Avritzer (neste volume), não havia uma propos-
relaçõesEstado-Sociedade Civil é determinada pela mudança no governo, com a ta micial clara de orçamento participativo por parte da administração Olívio Durra
substituiçãodo governo Fleury (PMDB) pelo governo Covas (PSDB)e a ascensãode em Porto Alegre ~m 1989. Cada um dos atores relevantes contribuiu com parte da
umprojetopolítico com características distintas . Na mesma direção, ~ ~sru_do sobre proposta: os movimentos comunitários foram autores da proposta de decisãosobre
0
oFNRUmostra como a implementação efetiva das Leis Orgânicas Mumcipaisno que orçamento pelas assembléiasem cada uma das regiões da cidade; o Partido dos
Trabalhadores foi autor da proposta de formaça-0 de conselh os que 1evou a, rorma- r
r
se rerereà reforma urbana se deu naque 1es mumc1p10s· , · governados por forçascom- _
çao do Conselho do Orçamento Part"icipanvo; · · e a p rere1tura e •
foi capaz de estabele-
prometidas com essa concepção . . . . · cer uma conexão clara entre formas '61" d · ·
. . 1' · rncipauvo e democrau- . . pu icas e part1c1paçãoe os tempos e as estru-
A idéiado compartilhamento de um proJeto po mco Pª turas da admmmração municipal o • d ._ ,.
. . a1 d r melhor um elemento 1 • d I · mecanismo e dec1saobaseado em assembleias
zanrepode ser estendida para nos permitir t vez enten e . oca1s,um os e ementos centrais da d . -
·st • · de indivíduos em posi- ·d d ,e . I emocranzaçao das relações de poder nas duas
recorreme mencionado em vários dos estudos : a exi encia . . . ai c1 a es, so ro1possíve graças à existên . , . . .
- . . rometem md1vidu mente I . _ . ,. eia previa deste npo de prática, introduzida
çoes-chave no mtenor do aparato estatal que se comp d ·e- pe as _as~oc1açoes comunnanas nas décadas de 70 e 80
co . . , liado pelos setores a soo
rnosproJetosparticipatórios. Esse compromisso e ava _ b m-sucedida D1stmtado compartilhamento de u . , ·.
dad · ·1 d ·· ·mplementaçao e assimdizer.,·nstr I m pro1eto polmco, a complementaridade , por
e civi envolvidos como um elemento ecisivo na 1 lume). O , umenta , entre os prop, · dO Est
dasv' . M
1
ST e FNRU,neste vo ce conferir a alguns osnos ªdo e da sociedade civil, que pare-
. anasexperiências (ver os estudos sobre as ON GS, • d .. d ai é hostil e nega- encontros um gri á Id
inverso, . I . d. sposição m ivi u . tão central CUJ·a com 1 .d d . . u razo ve e sucessoe estabilidade, é uma ques-
. e igua mente recorrente: pessoas cup i acabam contn- P ex1 a e merece u a1·
tivaern 1 - , . . d d . óes que ocupam, dade se relaciona co f d m tratamento mais detalhado. Sua centr 1-
b . re açao a partJCipação e que, a as as posiç . efetivo dos espaços m o ato e que ela t , , .
ll1ndod . . . . ·1· - d O funcwnamento -r
uma estratégia do Est d . em se construido nos ulnmos anos como
'b]· ec1s1vamentepara a mviabi izaçao . d·ca O relato de 1 ata-
a o para a implen1 - d . .
Pu ico É G como 10 1 encolhimento das suas r . .d entaçao o ªJUste neoliberal que exige0
esponsa6111 ades · • N
giba, nos. o, casoj
de vários dos Conselhos eScores,
, , 1pensar em um
compartilhamento
E d
campo marcado por um ,li , . sociaJs. esse sentido, ela faz parte de um
ind· . capitu o 3. No primeiro caso, e passive _ d inantes no sta o, a con1.uenc1a perver
truído, a partir dos anos 80 d sa entre um projeto participatório, cons-
1v1duI d . cepçoes om , ao re or da ext - d .d d
já ª e projetos, a despeito das eventuais con . subordinada a essas to da democracia e O . d ensao a c1 adania e do aprofun amen-
quea b . . ~ , cessanamenre , proJeto e um Estad0 , .
urocrac1aestatal de carreJra nao esta ne • mmimo que se isenta progressivamente

288
287
seu papel de garantidor de direitos A .
do d" - . perversidade es ,
ontando para 1reçoes opostas e até anrag ' . ta colocadano fato de qu opta por trabalhar com a categoria de gênero para conquistar espaços de interloc _
aP . . . .. on1cas,ambos . e, uçao
ociedadectvt 1ativa e proposttwa.4 Essa confluê . ospro;etosrequeremuma negociação no interior do Governo. Essa categoria neutraliza o debate polêmico e ,e
s . d d . ·1 d ' h nc1a perversa f: 1
ão de socie a e civi se e oje em um terr . az com que a partici- rico atribuído ao feminismo e garante espaços de inserção e atuação numa perspecri: odt-
paÇ d eno minado, onde o , .
, avanço ou o recuo e cada um desses proJ·et E , que esta em Jogo gênero, em alguns programas governamentais. Gênero legitima o governo peran e
eo . . os. sse e um dilema , te as
na grande ma10na dos estudos de caso e cenrrat· d b que estapresen- Agências Internacionais de Financiamento quando incorpora um discurso moderno, tec- ,
te _ . iza o e ate que .
xperiênciasde atuaçao conJunta com O Estado do qu I tenta avaliaras nico e de competência.
e _ ' a trataremosadiante.
As relaçoes entre Estado e 0NGs parecem constituir
' . ' . , um campo exemplardessa
confluencia perversa. Dotadas de competencia tecnica e inserç- . . Assim, o que era uma promessa de compartilhamento de concepções políticas
. . • ao soc1a1, interlocu-
tores "confiáveis" entre
. os vános possíveis interlocutores na soci·ed ade c1v1
• .1, e as embasando uma aliança Estado-sociedade civil (movimento de mulheres) se trans-
1
sãofreqüentemente' vis_tascomo os parceiro~ ~deais pelos setores do Estado empe- forma numa complementaridade instrumental que, por sua vez, parece acabar se
nhados na transferencia de suas responsabilidades para O âmbito da sociedade delineando como uma outra aliança, presidida desta vez estritamente pela lógica do
civil. Uma eventual recusa desse papel (como, por exemplo, a que se deu com projeto governamental de modernização .
algumas0NGs do Ceará, conforme assinala o estudo sobre o CCMD) se dramatiza Uma outra vertente da complementaridade entre Estado e sociedade civil pare-
quando ela se defronta com a possibilidade concreta de produzir resultados posi- ce estar vinculada a temáticas específicas . Assim, em áreas sensíveis, onde o Estado
tivos- fragmentados, pontuais, provisórios, limitados, mas positivos - com não tem qualificação suficiente, o apelo às parcerias com a sociedade civil é fre-
relaçãoà diminuição da desigualdade e à melhoria das condições de vida dos seto- qüente : é o caso das parcerias com 0NGs ambientais, 0NGs - Aids, organizações
ressociais atingidos . feministas, 0NGs vinculadas ao movimento negro, etc. A carência por parte do
Um outro exemplo de complementaridade entre Estado e sociedade civil parece Estado de competências específicas que as 0NGs podem oferecer constitui assim
sero caso do CCMD, instalado como parte do chamado "Governo das Mudanças"no uma co~plementaridade instrumental que tem fornecido uma base sólida para o
Ceará.O discurso modernizante e participativo do novo projeto governamentalcon- estabelecimen~o dessas parcerias. Para aquelas 0NGs cujas competências específicas
trastacom o autoritarismo oligárquico até então dominante na região e consegue0 se constroem incorporando as demandas de movimentos organizados e os direitos
·
apoiode partidos de esquerda e movimentos · · É neste contexto que se dá a
sociais. de grupos sociais marcados pela exclusão, essas parcerias são vistas, tal como no
cnaçaodo CCMD. Rapidamente, no entanto, esse iscurso revela uma prática
. _ . d" .. onde a caso do MST, como um instrumento para afetar a ação estatal na direção da expan-
. d d . ·1 , . erores empresanais moder- são da cidadania .
concepçãode participação da socie a e civi e resmta aos s ..
. af: mo de suas basessociais,
mzanres.Corroído por disputas internas e por um ª stªme . .
. - f; se mais recente que 1imita o
° CCMDpassa por um processo de re d efimiçao na sua ª d
seualcancee significado para a luta das mu Ih eres na soe
iedade Segundo O esru o,
·
A Que stão da Representatividade

. . to de mulheres,o Conselhoseerans- Um outro elemento que deve ser m · d ,


. enciona o e a representatividade das várias
Sema representaçãoe comunicação com o movimen . • · e de Jegiri
- partes envolvidas nos encontros. No caso da soci·edad . ·1 , d. -
fi - de proJetosserona1s · I , . e civi , essa e uma imensao
armanum espaço burocrático de elaboração e execuçao .d d ia O movi- crucia nos vanos casos analisados. Os resultad d .
- articipaçãoe a c1 a an . _ os a pesquisa apontam para uma
maçaode um discurso governamental que pregaª P , d m mecanismo cone Iusao geral nada surpreendente· ·
m d d ntribuir, atraves e u . d h d · quanto maior a representatividade maiores as
. ento e mulheres perde uma boa chance e co . _ d olícicaspúblicas e e ances e uma partilha efetiva do 0 d . ' .
inst" · d b e as dec1soes as P P er na negociação com o Estado . Já mencio-
. ttuctonal, para a democratização do po er so r namos os casos em que um grau si nifi . d ..
• - M , . g cativo e mobilização e organização afeta essa
das mulheres e da sociedade.
Interesse negociaçao. as e preciso explorar as .
q ue se evi•denciaram
.
na pesquisa.
pectos mais complexos da representatividade
AJémd.Isso, o Conselho
.....____ . . inrerior dos dite-
1. A questão da representatividad d
4 ,-:---_ . . ·r dos disr1nros no formas diversas d , . e assume facetas variadas e/ou é entendida e
r . Mes1nose . ·1 1 a assumir s1gn1 ica por parte os vanos ato p I - d0
' ntesp . essas qualidad es da sociedade c1v1 ven iam MST , por exemplo .d . .res. or um ado, a capacidade de pressao
' ºJeros. , se evi encia na reali - d
zaçao e protestos e manifestações de massa

289 290
que, assim como. .o número _
de panici
pantes no Orçam p .
cidade d e mo bJ1JZaçao, atestam as su . ento art1cipativoe sua capa- ~
_ " dos movimentos sociais (Alvarez, 1999) , essa tendência é mundial (v OI
CT ~
.d l' . P as respectivas re . . te volume, para o caso do México) e esteve claramente presente em gr d a,
num senti o c ass1co. or outro lado h , presentat1v1dades,entendidas neS . . . an e parte
· ·d d
represenrat1v1a e, tanto por pane do E d
' ª um deslocam
ento no entendimento da os 22 países onde se desenvolveu a pesquisa sobre Civil Society and Go
sta o quanto d vernance
dade civil. No caso d as ONGs, por exem I por parte de atores da socie- tanto em termos analíticos como na escolha de estudos de caso . '
. d p o, essa represent t" "d d
car para o tipo e competência que pos . ª ivi a e parece se deslo- O predomínio maciço das ONGs expressa, por um lado, a difusão de urn
. , . para-
. d" suem. 0 Estado as v' ·
representativasna me ida em que detém h . e como interlocutoras digma global que mantém estreitos vmculos com o modelo neo-liberal, na medida
um con ec1mento esp 'fi
do seu víncu lo (passado ou presente) c d . eci ico que provém em que responde às exigências dos ajustes estruturais por ele determinado s. Por
om etermmados setor ·· ·
negros,mulheres, portadores de HIV, movim b" . es sociais: Jovens, outro lado, com o crescente abandono de vínculos orgânicos com os movimentos
. fi . entos am 1enta1s,etc. Portadoras de
capacidadeesped ica, munas ONGs passam també " ssa sociais que as caracterizavam em períodos anteriores, a autonomização política das
. d d . "!" . m a se ver como representantes
da soCie a e c1v1 , num entendimento panicul d _ d .. ONGs cria uma situação peculiar onde essas organizações são responsáveis perante as
. . d ar a noçao e representat1v1dade
Consideram am a que sua representatividade vem d f: d . · agências internacionais que as financiam e o Estado que as contrata como prestado-
. . . " o ato e que expressam inte-
ressesdifusos
. na . sociedade, aos
. .quais dariam voz" E • 'd d
• ssa representat1v1a e a vma d .. ras de serviços mas não perante a sociedade civil, da qual se intitulam representan-
tes, nem tampouco perante os setores sociais de cujos interesses são portadoras, ou
então mu1to mais de uma . coincidência entre esses interesses e os deren 1 os pelas
e d'd

ONGsdo que de uma amculação explícita , ou relação orgânica, entre estas e os por- perante qualquer outra instância de caráter propriamente público . Por mais bem-
tadoresdestes interesses . intencionadas que sejam, sua atuação traduz fundamentalmente os desejos de suas
Uma outra manifestação desse deslocamento pode ser identificada no caso do equipes diretivas .
CCDM: as representantes da sociedade civil no Conselho foram indicadas pela sua
vinculaçãonão com os movimentos de mulheres mas com os partidos políticos. Ins- 2. A representatividade nos espaços públicos de interlocução com o Estado cons-
tânciastradicionalmente privilegiadas de representação e aglutinação de interesses, titui um desafio cujas proporções têm provocado um amplo debate, mencionado
nestecaso os partidos conseguiram manter esse privilégio e colocar também sob seu acima, não apenas sobre as formas de assegurá-la como também sobre a avaliação do
controlea representação da sociedade civil no CC DM. Para isso certamente contri- funcionamento desses espaços . A necessidade de articulação entre as organizações da
buiu a partidarização acentuada do movimento de mulheres no Ceará, um fenôme- sociedade civil tem sido apontada como uma forma de assegurar uma representati-
no não isolado no Brasil e na América Latina (ver Panfichi e Mufíoz, neste volume). vidade maior. A enorme emergência de redes de vários tipos, assim como de fóruns
Esse deslocamento da noção de representatividade não é obviamente inocente temáticos como o FNRU,responde a essa necessidade de tornar mais densa a repre-
nem em suas intenções nem em suas conseqüências políticas. Seu exemplo mais sentatividade da sociedade civil, de modo a assegurar uma interlocução eficaz com
extremo é a composição do Conselho da Comunidade Solidária, vinculado ao 0
E st ado , tanto nos processos concretos de negociação como na inclusão de ques-
governofederal, onde a representação da sociedade civil se dá através de convires ª tões específicas na constituição da agenda estatal.
indivíduoscom alta "visibilidade" na sociedade, artistas de televisão, pessoas que «· O i_m~act~ d~ passagem para uma forma de atuação que se caracteriza pela
escrevemcom freqüência na mídia impressa etc. Esse enrendime~ro particular da . mserçao
. mst1tuc1onal" · ·1egia
· e · p nvi · os processos de negociação com o Esta d o no
noçao
- de representatividade a reduz a, v1s1
· •b"l'd ·a1, entendida ' por sua vez, mtenor dos novos espaços t ·d I d
1 1 ad e soCI . _ raz, os pe O avanço democrático tem sido objeto e ava-
l1açao e debate por pane de · . , · O
comoo espaço ocupado nos vários tipos de mídia. , . ·. . . . . movimentos sociais, ONGs e Fóruns temancos .
impulso mais s1gmficativo p d 6 , . .
No caso das ONGs esse deslocamento não é só sustentado pelas propnas orgam- .fi ld d ara esse e ate e uma análise dos ganhos e dos lim1te5 e
za - ' , . . rernacionais, que buscam d 1 icu a es encontrados A - d d b e
çoes mas reforçado pelos governos e pelas agencias m . · st
que ao a representatividade é central nesse e at
. . I - com os movimentos porque, em alguns casos se estab 1 . a-
parceirosconfiáveis e temem a politização da mrer ocuçao , . fre- - . . . ' e ece, como vimos uma polarização entre a atu
SOcia• 1' enrado pela m1d1a, com çao mst1tuc1onal e a mobiliza ão . , , es
.. is e com as organizações de trabalhadores, e ª ,m ·d tificação E l · - ,. . ç social, 0 trabalho de organização junto as bas ·
quên . d 'do uma crescente I en ssa po anzaçao e idenuficad . 1 do
c,a por motivos semelhantes . O resulta O tem si _ " · d de civil" se CCMD b, ª especia mente no caso dos Conselhos Gestores e
entre" . d . 'fi d d expressao soCie a 'mas tam em no caso do FNR . . . ·eral
. soc,e ade civil" e ONGs, onde o s1gn1ica O ª d - em mero de articulação em t d R f, U, CUJO 0 61et1vo é constituir um espaço soCI
restnng d izaçóes, quan o nao orno a e orma U 6 - ·unto
. e ca a vez mais a designar apenas essas organ d d "onguiza- ao Congresso As d "fi ld d r ana mas que tem privilegiado a açao J
s1nônirn0 d " I m sido chama o e • t icu a es na 6 1T - d da
e Terceiro Setor". Reforçada pe o que te ênfase na atuação 1· . . I mo izaçao são percebidas como resulta 0
nst1tuc1ona st 6 l Is
' e a e ecendo-se uma relação de exclusão entre e ª ·
291
292
dificuldades e os limites encontrados nesse tipo d e l . to de um mesmo projeto político. No caso do MST, o movimento mantém 0
As d"d fi d e espaço rerorçam essa po an- con-
-
zaçao na me. i a em que , .un amentam a h
pergunta: os gan os não seriam maiores trole sobre o formato, a concepção, os conteúdos e a execução do convênio corn
. b o
com outro upo de estrategia, que privilegiasse a organização e mobilização na socie- Estado para alfabetização, preservando um grau de autonomia su stancial. Embora
dade civil? ! o papel deste último seja assegurar o financiamento dos recursos necessários, 0 que
Os casos dos Orçamentos Participativos e do MST, por outro lado , têm demons- certamente lhe confere um grau significativo de poder, não é casual que a grande
trado que essa relação de exclusão não é necessária ou inevitável. O MST tem sabido maioria dos entrevistados no estudo insista que os projetos "são do MST" e não do
combinar as duas formas de luta, e os Orçamentos Participativos têm funcionado Estado (ver Souza, neste volume) .
inclusive como estimuladores da organização política e do associativismo , como No caso dos Conselhos Gestores, seu formato obedece a diretrizes básicas, padro-
demonstra o estudo de Avritzer, nesse volume . nizadas nacionalmente, que provém da sua regulamentação legal, em que a partici-
pação da sociedade civil é obrigatória. É inquestionável que a instituição da partici-
No caso das 0NGs, o debate sobre diferentes estratégias de atuação assume outra s pação da sociedade civil em condições paritárias _com a representação governamental,
feições, vinculadas às especificidades desses atore s e à própria diversidade que as apesar dos limites de seu significado efetivo, apontados no estudo de Tatagiba, repre-
caracteriza, como mostra o estudo de Chaves Teixeira , neste volume. Nesse sentido , sentou "uma alteração crucial no padrão anterior de políticas sociais" (Draibe, 1998).
a avaliação da estratégia de atuação conjunta com o Estado através da execução de Essa alteração se tornou possível graças à correlação de forças presente no nível nacio-
rojetos e implementação de políticas públicas passa, para alguns tipos de 0NGs, nal durante a elaboração da Constituição de 1988, para a qual, como sabemos, con-
pela análise dos ganhos que essa atuação traz para as próprias organizações enquan - tribuiu decisivamente a mobilização dos movimentos sociais de cunho democratizan-
~otais. Assim, por um lado, as 0NGs reconhecem as vantagens que a atuação con - te . É preciso então chamar a atenção para o fato de que essa correlação de forças
junta com O Estado lhes traz: além da sobrevivência ma~eri_al, atra~és ~os recurs~s favorável está longe de se reproduzir nos contextos localizados e nos momentos em
financeiros provindos do Estado, um aumento na sua propna capac~taçao , o prestl - que se dá a instalação dos Conselhos nos vários municípios e estados e inclusive no
gio que advém do reconhecimento do Estado e a conseqüente ma10r_~resença na nível federal.
mídia etc. Por outro lado, essa atuação traz também resultados posmvos para o É significativo, portanto, que grande parte da atividade dos Conselhos durante
"público-alvo" (os grupos sociais beneficiados por projeto s específicos) _e para os o seu período inicial tenha se concentrado na discussão do detalhamento desse for-
setores mais amplos que se reconhecem nos "interesses difusos " promovidos pel~s mato, conforme demonstrou a pesquisa . Essa discussão mostrou em inúmeros casos
ONGs . Para aquelas 0NGs que sustentam projetos políticos que vão além da sua pro- um~ ~rof~nda resistência e hostilidade em relação a formatos mais igualitários de
. . , . • d e t que assume a relação com o Estado pamcipaçao por parte dos ocupantes do aparato de Estado. Esses formatos, muito
pna sobrevivencia, a maior parte os rorma os
_ . d t ão pelo Estado e da perda de freqüentemente, representam então cunhas democratizantes inseridas em contextos
oferece motivos de preocupaçao : o nsco a coop aç , . , ,, (
. - ' . técnica menos polmca nas predominantemente . . conservadores
. , sust enta d os por uma estrutura estatal que retem
'
autonomia, o risco "de virar uma organizaçao mais ' . _ .
..,.... . ) a ausência de relaçoes mais os traços autontános que presidiram h " t · · ·
palavrasde um dos entrevistados no estu d o d e ieixeira , , is oncamente a sua constituição . Portanto, o
. ó . essidades do s governos . carater que os Conselhos vão assum · d
igualitárias e a subordinação aos prop sitos e nec . . . . u em ca a caso - meras estruturas governa-
mentais adic10nais ou espaços públ" d · · ·
. tcos on e se constituem atores coletivos e suJe1-
tos políticos autônomos - irá de e d d O
·c P n er resultado da disputa que se trava nos
d1rerentes contextos que os abrigam As •
Formatos Institucionais d" . . · sim, 0 caráter freqüentemente acirrado dessa
r isputa
d
no mtenor dos Conselhos Gest
..,... .b
.
ores, exaustivamente descrito na literatura ana-
. , . úblicos estudados é a questão dos isa a por 1atagi a, pode ser tomado em- . , .
ªº como ev1denc1a ·at
da ameaça potenci que
Uma dimen são import ante nos vanos espaços P . _ · m rigorosamen - representam para a manutenção da estr d
. . . E b periências nao seJa .
respernvos formatos instituc10na1s . m ora as ex N do o r a pesqui- aparato de Estado brasileiro. utura e os modos de decisão dominantes no
, . ,. l diferenças . o caso ,
te comparaveis, e mtere ssante apontar a gumas Participativo como os No caso do FNRU, por exem lo - .
d · · · l d O Orçamento te subordinada à estr t d~ ; s~a atuaçao Junto ao Congresso está inteirarnen -
sa emonstrou que tanto a formulação inicia l - muito próxima
pr d" . antém uma re aça 0 . u ura e tnam1ca de st . las
oce 1memos e práticas que o consutuem m . d de civil envolvidos . implicam, explicitadas . e, com todas as dificuldades que e
co
m as concepções e pr ática s do s setores organ
izados d a socie a
. . d do compartilhamen -
na pesquisa. A centr
ra do Congresso aliada a0 d . ,b .
r - d .
a izaçao e poder no intenor da estrU .
cu-
Fato . d o um mdica or ' esequi 11 no n o t ono
, · entre os poderes executivo e legis-
que tomamo s, como já menc10na o, com

293 294
!ativovigente no governo de Fernando H .
. , l l d ennque C d
·nquesuonave pe o recor e absoluto d M . ar oso, evidenci d 0 d .
1 e e ed1das p • , . ª e maneira consolidação da capacidade propositiva dos movimentos sociais e outro s setores d
civoao Congresso, iaz da pre ssão sobr C rov1sonas5 enviadas 1 E , "d a
e o ongre s pe o xecu- sociedade civil que veio, ao longo dos anos 90, se somar a sua capac1 ade reivindica-
carefadesgastante e pouco atrativa para . so, segundo Almeida s·1
. a sociedade . ·1 1va, uma tória. Esta capacidade propositiva requer, diferentemente da simples reivindicação, 0
Aqui, mais uma vez , o que parec . ctvi .
. - e estar em JO o são . reconhecimento da totalidade de interesses envolvidos e a visão da sociedade no seu
forças,que permitem ou nao à sociedade . ·1 g as vanada s correlações d conjunto, e, portanto, a superação de uma cultura particularista ou corporativista.
c1v1 um pod fc . e
formatosque, por sua vez, afetam as própri ºb• . er e etivo na definição desses Em terceiro lugar, esses espaços têm servido de canais de expressão e defesa de
. as po ss1 did d d
nifica dizer que os formatos institucionais - - a ~~ ~ sua atuação. Isso sig- reivindicações de direitos dos excluídos da cidadania no Brasil e, nessa medida, con-
nao sao vanave1s ind d
expressamos resu 1ta d os d essas correlações d fc epen entes mas tribuído para o reconhecimento deles por parte da sociedade como um todo,
. . e orças tanto no seu d h . .
quanto na sua operac10nalização concreta e dº , . esen o ongmal, mesmo quando esse reconhecimento não se traduz imediatamente em medidas con-
. na mam1ca do seu fu ·
Assim,se formatos mais democrático s certament . ncionamenro . cretas. A participação da sociedade civil na publicização de um enorme número de
e constituem avanço · ºfi1 ·
há inúmeros exemplos, na experiência dos Con Ih d . s sigrn ~~nvos, demandas de direitos tem alterado a face da sociedade brasileira ao longo das duas
. se os, e mecarnsmos utilizados
com sucesso para b ur lar os seus efeitos sobre a dinâ · d fu . últimas décadas. O fato, inquestionável, de que essas demandas encontrem escasso
mica concreta e nc1onamen-
codessesespaços . Essa constatação não é certamente e t h . abrigo nas políticas públicas do Estado não deve obscurecer o avanço que a sua
. . . s ran a aos setores organiza-
dosda sociedade
. que,
_ em face
. da mulupltcação dos Conselho t '
s, em, por vezes, opta- publicização e legitimação no âmbito societal significam .
do por uma _ mserçao
. seletiva. naqueles espaços institucionai ·s em que as corre1açoes -
de forças sao mais favoráveis e os ganhos mais prováveis (Carvalho , 1997).
Desde que Perspectiva Avaliar a Participação da Sociedade
Civil e seus (des) Encontros com o Estado?
O Impacto Cultural sobre Expectativas, Parâmetros e Modelos

Há uma significativa unanimidade nos relatos das experiências estudadas em rela- Duas observações finais me parecem relevantes e dizem respeito aos parâmetros
çãoao reconhecimento de seu impacto positivo sobre o processo de construção de uma em que se baseia a avaliação dessas experiências de "encontro" entre sociedade civile
culturamais democrática na sociedade brasileira. Esse reconhecimento se dá mesmo Estado e das possibilidades de transformação que a sua atuação conjunta encerraria.
noscasosonde a avaliação do impacto mais geral é predominantemente negativa. Em primeiro lugar, a avaliação freqüentemente negativa e o tom crítico que per-
Em primeiro lugar, a própria existência de espaço s públicos com participação ~a meiam parte significativa dos estudos de caso podem indicar que os parâmetros
sociedade civil confronta, como vimos, tanto as concepções elitistas de democracia dessa avaliação receberam uma forte influência das expectativas geradas com a cons-
Como as concepçoes_ tecnocrat1cas
, . • , · so b re a natureza do processo deci-
e autontanas tituição dessas experiências. Se este for o caso, corremos O risco de reproduzir os
sonono mtenor do Estado. Questiona taro b em
' · . . . , o hº1sto, nco· m onopólio estatal sobre mesmos erros de análise que caracterizaram parte importante da literatura sobre o
·· t para uma
ª efinição do que é público e tem também contribuí O posmvamen
d d e ._ papel dos movimentos sociais nos anos 70 e 80 no Brasil. Os movimentos sociais
. d . ara a erosão de uma v1sao
maiortransparência das ações estatais, colaboran assim P ° ,. foram entusiasticamente recebidos, em algumas versões como os novos sujeitos da
"est ·st " d · nossa cultura polmca . Revolução (esta, por sua vez, com o novo nome de Democracia, como apontam
ªt1 a da política brasileira que ainda pre omma na .
E ºfc tem promovido nesses espaços Lechner [1988] e outros). Quando não a fizeram, viram decretada a sua "morte",
m segundo lugar , a convivência com as di erenças d d direitos
1 ·1
o dºfí anto porta or e ' "crise", "refluxo" etc., ou simplesmente, a sua "irrelevância" para a "consolidação"
. ici aprendizado do reconhecimento do outro enqu di ões constituti-
ass1m fl" enquanto roens democrática, quando comparados ª outros atores po I'1t1cos · como os parti"dos, por
como da existência e legitimidade do con ito, , · s estimulam a
vasd d exemplo. Nesse sentido atrib · · d" · · d . - -
ª emocracia e da cidadania. Por outro lad o, esses novos cenano .
da sociedade
. _
cJVJJ o
'
papel de a
u1r m iscnmma amente aos espaços de parnc1paçao
. . _ gentes run amenta1s na transformação do Estado e dª
c d -
--:--_ • a de lei (provisória) mesmo antes sociedade, na el1mmação da d · ld d . c
5. AsM d'd . . • , e ngresso e cem forç M d idas. Dado
. esigua a e e na Instauração da cidadania, transror-
de se e I as Prov1s6 n as são enviad as pelo Exec un vo ao O • ovação das mesmas e . man do as expectativas que estim J j
re111por I d O ela sucessiva ren d a prerroganva , - ._ , u aram a ura política que se travou pela sua cons-
o ab,0 1 e e aprovadas. O cará ter p rov isó rio é co n to rn a P d H enrique no uso ess _ t1tu1çaoem parametros para sua J' -
Uto abu d d p "d en te Fern an ° . aJceraçao. - d c ava iaçao, pode nos levar inexoravelmente à cons-
Presisi . _ so o Executiv o dur ant e o m an dato o reSI d" te aw almenre a su"
a º"g •nalrnen re para qu estões de ur gê ncia, o pr ópr io Co ngresso ,seu tataçao o seu rracasso.

29 5 296
Vma avaliação mais pro du tiva, inclusive d 0 d . lado é fácil co ncord ar com essas crítica s, po r o utr o, um exame .
ponto e v1st l' · 5e, por u m , . , . mais
·nceressados no aprofund ament o da democratização b ·1 . adpo tt1co,_enquanto 'd d
cui a osO pode revelar sua in adequa ção . ,Assim
. ,_e pre ciso. lembrar , por exemplo, que
1 d 1 'd d d ras1eira, eve partir do reco- vário s dos espaços de formulação de polmca s sao defi111dos e de senhad os para fun-
hecimento a comp ex1 a e esse processo e da d' 'd d
n . 1· 'd d d 1 - ivers, a e dos contextos, envol-
do a mulnp 1c1 a e e re açoes entr e forças lí • d cionar como produtores de política s setorializadas e/ou pontu ais: os Co nselhos Ges-
ven . po tlcas on e ele se dá, como ten-
tamos sugenr neste texto. tore s são um exemplo da primeira alternativa ; a maioria da s vária s parcer ias Estado
Assim, por um lado, a avaliação desses espaços pu' bli' d . . _ d _ ONGs em torno de projetos específicos exemplificam açõe s que são, nas suas
cos e part1c1paçao eve
rorná-los não como result ant es do potencial democratizante de uma única - e intenções, não apenas pontuais mas também paliativas e compen satória s.
homogênea - variável, a participação da sociedade civil, mas como resultado de O que parece necessário então é que se explicite os pre ssupo sto s dessas críticas e
relações comple xas de forças het erogêneas, que envolvem atores os mais diversos, se aprofunde a questão que está implícita nelas - modelos alternativo s de formu-
nurna disputa entre proj etos políticos diferenciados à qual a sociedade civil, como lação de políticas públicas - e suas implicações . Se de fato é esta a que stão funda-
virnos, não está infen sa. Em vez de ser tomad a como a nova panacéia universal (num mental implícita nas crítica s que fazemos, é preciso reconhecer , desde logo , que ela
país com as dificuldades de_organizaç ã~ popul ar como o nosso), essa participação tran scende a dimensão da participação da sociedade civil na formulação das políti-
oderá ser mais bem entendida se exammada não só nas relações internas e na diver- cas públicas e se remete ao âmbito mais amplo - e ainda mais complexo - dos
~idade que a sociedade civil - ainda - tende a esconder, como também nas rela- modelos de gestão do Estado , uma distinção com freqüência au sente em avaliações
ões que essa participaç ão mantém com a multipli cidade de dimensões e atores que desse teor .
~ornpõem O cenário onde ela se dá. Por outro lado, e em cons~q~ência, essa a~~i a- Um exercício na direção de tentar explicitar os pressupostos que parecem subja-
çãoexige a particulariz ação do s contexto s ~oncretos dessa ~aruc1pação, a expltrna- zer a essas avaliações pode talvez iluminar sua importância e suas conseqüências e
ção desses cenários comple xos e o entendimento do seu impacto ~o_bre cada um contribuir para esse debate. Um primeiro pressuposto que parece estar implícito
iraremos assim as generalizaçõe s apressadas, tanto as posmvas como as nessas críticas é a idéia de que é necessário algum nível de centralização das políti-
deIes. Ev • d d · ·1
· que di'z respeito à contr ibuição da participação da soc1e a e c1v1 para cas públicas : a alternativa para evitar o seu caráter pontual , fragmentado e setoriali-
neganvas, no · al
a construção democr ática , um proce sso que é, diga-se de passagem, sempre des1gu zado seria a sua formulação (pelo meno s a do seu sentido mais geral) centralizada ,
no seu ritmo e no seu alcance. . que pudesse assegurar a sua implementação em todo o território nacional . Uma pri-
Uma segunda ob servação , na mesma direção, diz respeito a um enten,d1dmendt o meira implicação dessa idéia é que o Estado central (o Executivo no seu nível fede-
, d , • ,· que fazemos ao resu ta o os
implícitoque parece estar por tras as vana s crmca s _ ,. ral) seria a instância adequada para essa formulação das políticas públicas . Uma pri-
. d d . ·1 Estado · o que produzem sao po1mcas
diferentes "encontro s" entre soete ª e civi e · E a1· meira conseqüência disso é óbvia : transformações no sentido das políticas públicas
. ensatórias paliativas etc. ssas av ia-
fragmentadas setorializad as, pontu ais, comp ' . " (para que se dirijam efetivamente à construção da cidadania e à eliminação da desi-
, . "modelo" do que sena a ver-
çõesaparentemente são feitas por contra ste com um - se faz Pelo gualdade), que se tornam possíveis em níveis municipais ou estaduais ou em deter-
. , . , . » . r . - e discussão, no entan to, nao .
minados setore s do Estado central, graças a correlações de forças ma is favoráveis,
dade1rapolmca publi ca , cup exp icitaçao ·ogo nessas críticas.
. I . d parecem estar em J
menos três questões - mter-r e acton a as - te relativamente claro seriam calvez inviabilizadas ou demandariam uma concentração imensa de esforços
. 'd d )'ricas· um comp onen
Pnmeiro, a questão do senti o essas P 0 1 . · , . ' bl' . » éa idéia de que seu (~sto~ falan~o aqui de luta política) para sua viabilização . Uma segunda conseqüên -
. " d de1ra pohnc a pu ica
dessa noção implícita do qu e sep a ver ª .. . d , população como um cia diz respeito à própria participação da sociedade civil nessa elaboração cenrraliza-
, . .
conteudo deve ter um senndo univer sa izan e,
r t d1rtgm o-se a
l d 0 s encontros são pon- d_a d~ políticas _pública~ . _Para além da difícil questão da operacionalização da part'.-
1' · as que resu cam cipaçao da soetedade CIVll,que , problemática no nível local, se torna mu ito mais
todo. Critica-se ent ão o fato de qu e as P0 m c íficos Segundo , e quase
. . . á . s e grupo s espec I • l' . . complexa nas i~stâncias nacionai s, é preciso reconhecer que a articulação das
tua1s e setorializadas se l11n1 ta m a tem nca - dessas po incas.
, . . - itica-se a fragmencaça0 .
como conseqüência da pnm e1ra qu escao, cr . _ não se generalizando ª demanda s da sociedade civil , necessária para atender esse formato centralizado , não
. d sua aph caçao, a1· . e parece corresponder à dinâmica real da sua organização . A pergunta que se coloc~,
seu conteúdo ficaria restrit o ao âm b no e . - do caráter P ,anvo
. F' 1 nt e a ava1iaça0 Im n~ verdade , é se esse modelo centralizado, utilizado amplamente pelo Estado bras1-
outros espaços e outr as temáncas. ma me ' d e elas não contemp ª
letro no passado, é comp r' J ~ de
c
ompensacório dessas políticas parece se re
ferir ao faro e qu
. minorar e compens
ar - ,. , . ª ive com a d emocrat1zação
.
do processo de elaboraçao
a I'1 . d . . em apenas a po 11t1cas publica s atravé s d · · - d . e , g-
e minação radical da desigualdade, se 1rtg . - . ª parttcip açao a sociedade civil. Mai s ainda , se a rra
lll 101
. · us efe1ros. menraçao e a seconalização b, , a-
mamente e de form a localizada - os se ma s tam em o caracer pontual , emergenci al, compen s

297 298
rório não são dimensões caracterí sticas das ó . _ d e fc
/açao orças r, cavorável, adotado formatos que a tornaram permeável , . , a 6rechas
' . . pr pna s dem d .
apresenta hoje no Brasil. an as que a sociedade civil • res não nos deve levar a obscurecer a sua natureza basJCa. E esse O deba-
d emocranzan ,
Essa última pergunta nos leva a um outro . , esta' posto no interior da sociedade civil, sustentado por movirne
pressuposto que . te, a1ias, que . . . " . . . ,, ntos
ro nas avaliações dos espaços públicos de parti . _ d . parece estar 1mplíci- . • e ONGs, quando se coloca a dtsJunt1va entre luta msmuc10nal e "mob,·1·
soCJats tza-
. 'b) ' " d c1paçao a sociedade civ'] S "
dadeira po 1íuca pu ica eve ser necessariame d . i . e a ver- ção social" e se pergunta qual desses desafios - e_dessas ~r~nas - deve hoje no Bra-
. . nre etermmada por um d' -
(quejá nasce) clara , s1stemát1ca, coerente, geral e nacional e , ª. u~çao sil concentrar as energias das organizações da sociedade cJVtl empenhadas no avanço
- d' , que areta o pais inteiro e
roda a sua popu 1açao, essa ueção se confunde então . democrático e na construção de uma sociedade mais igualitária.
. , . . com um projeto político
dommante (ou hegemornco) . Nesse sentido , 0 acesso à form 1 - d ,. Um entendimento alternativo poderia sugerir que os espaços de formulação de
. . . . u açao e polmcas
P úblicas por parte da sociedade c1v1l e dos movimentos soci ·a ·s
1 se · • •
consuruma nao _ políticas constituem uma das múltiplas arenas em _que se trava a disputa hegemô-
apenas na "penetração" do Estado pela sociedade , na expressão de Tarso Genro nica, numa guerra de posições onde ações pontuais, de menor escopo e significa-
(1995), mas na "infiltração" de um outro projeto político , ainda incapaz de chegar do mais imediato, podem vir a se acumular molecularmente na direção de minar
a exercer a hegemonia pelas vias eleitorais convencionais do regime democrático a ordem social desigual e significar a expansão gradual de um projeto hegemôni-
representativo. Se efetivamente esta for a idéia implícita nessas análises críticas, ela co alternativo, se, evidentemente, esse projeto for capaz de manter um vínculo
pecarianão só por, mais uma vez, homogeneizar equivocadamenre a sociedade civil, orgânico em relação a essas ações pontuais, conferindo-lhes uma articulação e
queestá longe de expressar um projeto político único , mas também por conferir um direção próprias.
pesodesmesurado aos espaços de participação como instrumentos centrais da cons- Para que esses espaços possam constituir uma arena desse tipo, é preciso que eles
rruçãohegemônica. 6 Mais ainda, essa idéia suporia a existência de um projeto polí- sejam efetivamente públicos,no seu formato e no seu resultado . Daí a importância,
ticoalternativo já capaz de articular as demandas fragmentadas, setorializadas, pon- por um lado, de resgatar a ênfase no caráter propriamente público que devem ter as
tuais,emergenciais, que caracterizam hoje a atuação da sociedade civil. políticas públicas,reconhecendo que a constituição do interesse público é um pro-
O que estou querendo sugerir é que, subjacente a essas críticas, pode estar uma cesso radicalmente inovador na sociedade brasileira que enfrenta, por isso mesmo,
concepçãosobre o significado das políticas públicas e dos espaços de sua formulação enormes resistências e dificuldades. Isso implica também reconhecer que a dimen-
que contribui para uma visão deslocada da participação da sociedade civil nesses são do conflito é inerente a esse processo, como o é à própria democracia, e que os
espaços,seus limites e possibilidades. Essa visão tenderia a considerar a elabor~ç~odas ,espaçosde formulação de políticas que contam com a participação da sociedade civil
políticaspúblicas como uma arena política aberta, onde a disputa hegemomca se não apenas são inerentemente marcados pelo conflito como representam um avan-
dana · entre contendores equ1v · a1entes e CUJO· resu1ta d o sen·a capaz de definir . o. caráter ço de~ocrático precisamente na medida em que publicizam O conflito e oferecem
. _
gera1dessas políncas . Se elas nao assumem um carater ig
, · ualitário umversal1zantee
, . . , . procedim~ntos e _e~paço para que ele seja tratado legitimamente . A ausência de espa-
. . . - · ficaz e em úlnma mstanoa,
g1obai, a participação da sociedade c1v11 sena enrao me 1 ' . . e ços d~s~etipo ~a~il'.taa tomada de decisões e a formulação de políticas através de um
. ,. . • · ente de maxzmaltsta, conre-
inunl. Esse entendimento que eu chamana provisonam . exerc1C10autontano do poder ' 00 d e O Esra d o ignora · · ·
e desleg1nma o con fl'no ou 0
' d' h mônica que me parece i1u- trata
re a essaarena política uma centralidade na isputa ege ai E d " . _nos espaços privados dos gab metes, ' com os que a eles têm acesso. A d espnva- ·
,. o "ataque front ao sra o nzaçao das estruturas decisór ' d O E d ..
sona,no sentido de que a considera um espaço em que - rende . ias sta o e a publ1C1zaçãodo conflito representam ,
( d travado Essa concepçao portanto, condições favorávei d ·
ª guerrade movimento gramsciana) pode e eve ser . · . •c. a exatamente . s ao avanço e construções hegemônicas alternanvas.
AIém disso, a ênfase na co · · - d .
. d' h emômca e m1nr1c
ªignorara multiplicidade de espaços da ispuca ~~ · cheiradas para e n smuiçao o mteresse público no interior dos espa-
a 1 . - 1 mmamence entrm ços de 10rmulação de polít ' 'blº
quee espaço onde as forças dommances esrao eg . _ fu dada no seu pró- b • . icas pu tcas (e fora deles) pode contribuir para com-
ºP 1· • . · d d uma d1reçao n . ater uma tendenc1a notória n 0 B ·1h .
eraconal12ara dueção dos rumos da socie ª e, Q e essa trincheira ticipação d . d d . . rasi 0 Je, que é a crescente despolitizaçãoda par-
prio · da nas urnas . u a soc1e a e civil A · 1·
projeto político e supostamente sacramenta ., • ado a uma corre- no quadro d f1 • . · ssim, seu envolvimento com as políticas púb icas,
tenh
ª perdido seu caráter monopólico e, graças, corno ia menc10n ' que as tarefas d
ª con uenc1a perversa
_ d
·
que menc10namos acima, tende a fazer co
m
ª gestao o Estado •fi
--=-----
6. l'or
outro
1
ado, se eles são p
.
crceb,d os de
e
1a t0 co mo
..
co 11sn ru1ndo ess
. d
es insrrumenros centrais, nfto haveria
b . lítico que se tr3Vl
acir rado em are P0
do - da polít · R
.
deliberação em t
zca. esgatar e refor
orno
d
a const1tu1
passem ª tomar o lugar - e esgotar o sign1 ica-

- d ·
. .
. _çar esse significado, na disputa, no debate e na
1
Pur~uees1r h· , . • . . 1 o d, fert'nt e o . d ª sociedade civil. çao O mteresse público, é tarefa fundamenta
110 Se.: • s1stenc 1a que eles cnco n tram o u espe rar 3 g
an ar a rc.:
u 111t~rior.

299 300
Isso não significa, desde logo, s ugerir que os iiesul d
damo s repre sentam neces sa ri a mente element o ta os d os enc o ntro s que estu - CAPfTULO 9
- h ' . 1 s mol ec ul a re s .6 .
construçao egemomca a ternativa . Até por u _ , conrn umdo par a uma
. . . q e na o e a p a rti . - d .
civil que asseguraria, sem mai s, este caráter .. c ipaçao a soc iedade
' m as s1m o co nreúd 0
ricas em questão . Mas essa di sc u ssão, prelimi . co ncr eto da s polí -
nar e tentativ a quer a . 1 .
tância deste d e b ate e a Ierrar para a nece ssi dade d
.
. . '
e exp 11c1tar de formam
ssm a ar a impor -
· •d
Sociedade Civil e Governabilidade Demo , .
sa e exa mmar na s suas conseqüências O s ignifi d a is c ui ado- nos Andes e no Cone Sul : Uma V' _ p cr~ti~a
. ' bl. . ca o que esta mo s atribuindo , isao anoram1ca
políuc as pu JCas . Na medida
.. ·1h . , d. . .
em que grande parte d . . _
a p amc1p açao da socie dade
as na Entrada do Século XXI 1
CJVJI no Bras1 OJe esta mgida para os e spaços de formul - d ,. , .
. , . açao e po 1ltlcas publi cas
esse debate esta na base da avaliação dos limites e po ssi bilidade
s essa part1c1paça _o '.
d • .

A/do Panfichi e Paula ValeriaMufíoz Chirinos


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tnef
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P stenc1a e Ia
. d Memoria. Fem1111 smos Y ta
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0 s
.
Maruja Barrig). 'd· ela Fundação For em
d 22 paísesde qua-
.
p.33-35 . ' proje1 0 rambém faz parre de uma iniciariva mundial promovi .1 P_ . ro e Phil Oxhorn conmbu iram com
ro con,i F lipe Porrocane
d. ."entes do mundo. Eloy Neyra, Cynthi a Sanborn , e
iversas idéias para este texto .

301
303

--~,., rP«nrP"ime~to, ao identificar normativamente a sociedade ci·vi·l tes sobre o Brasil e o México mostram que 1 .
~--- - impulso
;__ ,-:i::::- . - . . são as luras pol'. corno ren , d . _ e ª surge com muao maior nitidez
vo terreno para o da democrattzaçao . A_p_~1me1ra s últimas deca as, em opos1çao a projetos político .
um nO -- ~ --- 1t1c
as na . s est ata1s e num contexto de
º
civiscon_rra s9ciaJisq1o_amo_ritáJio vig~11Knos~-~ e- lucascivis pela democracia ( Olvera, 1999) . Nos países que e
. P ) d
.
xammamos
(Ar .
gentma
rama _g;gtirde meadps dos ª-11ºs7Q._Ness.e_Q~ntexto, a sociedade c1v1lemerge como um os estu os são escassos e não há um
Chile' Colômbia e .eru.
. , . d
a maneira unica e con -
'
~~~j.unto..de..iniciatiYas
associativase movimentos sociais independentes do E~ ~o ber a sociedade c1v1l. Por essa razão, nas investigações qu d b
ce e coor enamos, tra a-
_earridoúnico, buscando a constituição de uma esfera E_ública autônoma queslrva de Jhou-se com uma definição mínima e flexível : a sociedade civil é entendida como
-b~separa a paulatina tran_sformação da ditadura em emocracia (Arato e Cohen79°92). uma esfera de ação intermediária, situada entre o Estado e as famílias, em que gru-
A segunda experiência é constituída pe a diamada crise do Estaciode bem-estardos os e associações de indivíduos se organizam de maneira autônoma e voluntária
países capitalistas desenvolvidos,que provocou críticas tanto liberais como progressistas. ~om O objetivo de defender e ampliar a vigência de seus direitos , valores e identida -
Ascríticas liberaiscentraram-se na bancarrota econômica dos Estados e no patrocíniode des, bem como para exercer controle e fiscalizar a ação das autoridades políticas .
um paternalismo cultural em relação aos cidadãos que inibia seu potencial individual.E Não obstante o potencial democratizador da sociedade civil, é preciso evitar sua
as críticas progressistas apontaram a mercantilização e a manipulação burocrática das idealização, já que ela também pode ser um espaço em que estejam pr~sentes rela-
necessidadessociais por parte do Estado. A partir de ambas as críticas, a sociedadecivil ões sociais ~líticas desiguais, excludentes e não-democráticas (Alvarez, Dagnino
emerge como um espaço de experimentação civil de novas formas de solidariedade,coo- ~ Escobar, t22.§J).Por outro lado, a sociedade civil pode ser heterogênea e fragmen -
peração, autonomia, organização e democracia (Tussie e outros, 2000) . rnando-se difícil a tarefa de agregar interesses comuns . Da mesma forma,
tada, to . - , • b
A terceira experiência são as transições latino-americanas de ditaduras militares pode ter um caráter contraditório, pois enquanto algumas o~ganizaçoes c~v1cas u~-
para governos democráticos acontecidas a partir do fim dos anos 70, nas quais as cam perpetuar as injustiças, outras tratam por t~do~ ~s m~10s de reduzi -las. ~ais
organizações civis cumprem um papel fundamental de pressão e denúncia do caráter · d 1 mas organizações podem promover o md1v1dualismo em lugar do mte-
am a, a gu . d ti ai l E A

antidemocrático e violador dos direitos humanos desses regimes. Essas transições resse comum e, inclusive, enfraquecer a democracia, em lugar e ~rt ece- a. m
foram acompanhadas ou seguidas de reformas estruturais neoliberais que modifica- sociedade civil é uma realidade complexa, heterogenea, composta
outras p aiavras, a .
ram o funcionamento da economia e sua relação com o Estado e a sociedade civil. s, práticas e instituições com interesses _divergentes .
Por atore rriculari da-
Teoricamente, a concepção da sociedade civil como uma esfera social autônoma A natureza da sociedade civil na América Lat_!!m:!!a !_llte~..a..~:..u.llJJ_....,4-1-'~':c=
~ =-
se desenvolve no marco da emergência da modernidade no Ocidente. Como susten- . de nossas sociedades, em que sairemos o
des o desenvolvimento 1stonco recente , .
. i: eo I era1s, expen en c1as auton tanas e
ta Av~-9), a sociedade civil aparece associada à diferenciação entre o Estado impacto comhmado e re10rm
e o mercado, entre o direito público e privado, e com a consolidação de um sistema processos inacabados de d~cratização pol~ticad. . . a estrutura econômica
legal moderno que permite a regulação entre os indivíduos e o controle do exercício ,<;;;. -, 1 . soCieda e c1v11com
Embora nãe ---s eja-·l'u"s1ve eqmparar a e Oxhorn (2000) - que
do poder. E também com o reconhecimento da existência de instâncias mediadoras . . . ,. cardar - como o raz
dasd1st1ntassoCiedades, e importante re . . d , . cormas. O impacto das
entre O indivíduo, o Est o, que institucionalizam princípios éticos e tor- ·a1d . dade c1v11 e vanas ••
esta última condiciona o potenc1 a soCie •thados que podem ser-
nam possívelque a o 'dariedade social a modernidade seja associada à idéia de auto- . d O . 1'nteresses comparti
reformaseconômicas de livre merca ena 'd _ d •mportantes atores cole-
nomia e auto-regulação._~P-,erspe.criya..a.so.ciedade civil n;:iAmérica 1acioa apa- • A • 1 - o e consoh açao e i
• .
vir de base para a emergenc1a, arnçµ aça . _ - -governamentais e asso-
~ecevincul~~i:gêocia e às dificuld~ _o de.seovalvimento de nossa P~ . .- organizaçoes nao .
tlvos,como ocorreu em nossa reg1ao com as A
O
meio ambiente, as
~esse sentido, sua análise deveria explicar a forma como os atores . d áticas como gener ' d fi
ctaçõesque se organizam em corno e tem .d d - O custo social as re or -
sociais recuperam uma tradição present'Jno discurso liberal da etapa formativa de . - . • d rticipação ci ª ª· . t am
organ1zaçoesde direitos humanos e e Pª b se territonal, que cen r
nossas repúblicas e · l'd ' . . . d maior · ções com ª ,
' mas que 101repe 1 a na prática políuca e social urante ª . mas leva também à proliferação das organiza . ssitadas de nossos pa1ses.
parte de nossa ~is~ória(Avritzer, 1999).Asdificuldades para construir atores, práncas - . , · d f: ílias mais nece dife-
sua açao em torno da sobrev1vencia as am d d cursos para sustentar
e espaços associativos ind d d . ' . ..
epen entes e tentativas polmcas coercmvas ou co
optado- , . e
Asreformas econom1cas aretam a isp d ' onibilida e e re . . d d diferentes
e a habihda e os
ras d o Estado foram n A I reco- r e · d podem aietar ovos ato-
h . umerosas. cu tura política tampouco esteve propensa ª entes 10rmas de atividade organiza a e . mo hoje surgem n
n ecer a pluralidade e a aut . . , . , . ' . 1 ·vas. grupos para se comprometer - J tiva Assim co , · s dificul -
A . onomia como pnnc1p1os basJCosdas praucas co en na açao co e · es enfrentam sena .
sociedade civil na Am, · L . • 1 tôno· res 'd - o velhos ator . - ue baseiam
ma do E d enca arma, entendida como uma esfera soe1a au . e outros conseguem consoli ar sua aça ' s organizaçoes q
sta o, é uma const - . 1 . d ei(IS' dade5 . debilitam, como ª
ruçao soCJa relauvamente nova . Os poucos escu os A
para manter sua v1genc1a e se

304 305
_ m formas tradicionais de organização e representação de interesses
sua açao e . . segun-
do critérios de classe, especialmente os smd1catos (_o que pressupõe também as difi_ Monetário Internacional (FMI) e pelo B M .
anco und1al com b. . d fi
culdades que enfrentam os trabalhadores do setor informal para se organizar) . os graves pro bl emas econômico s e soe· . d Am , . ' . 0 0 Jetlvo e en rentar
iais a enca Lati
a chamada "década perdida " O na nos anos 80 - duran -
Em outras palavras, a estrutura econômic~ con~iciona os contornos e a fortale- te . ,, · programa , conhecido em 1989 "C
za relativa da sociedade civil que, por sua vez, mflu1 na construção dos direitos cida- so de Washmgron , partia da premissa de . como o onsen-
. · d · d . . que ª ongem dos problema s estava na
dãos e na estabilidade da democracia. Seguindo essa linha de raciocínio, Oxhorn estratégia antenor e m ustnal1zação por bst · • - d .
· . . su 1tuiçao e importaçõe s, caracteriza-
sugere que as sociedades civis fortes refletem uma dispersão relativa do poder polí- da por um excessivo protec10msmo estatal o · d. bº .
. . . . iante isso, o o Jetlvo das reformas
tico, já que esta dispersão é que ajuda a mitigar a tendência nas sociedades capita- estruturais neoliberais era a busca de uma maior eficiência n I - d
. . a a ocaçao e recursos
listas de subordinar os interesses de outros atores e classes sociais menos poderosos Produnvos, mediante . a redução da intervenção do Estado n a economia · . o essa
aos interesses dos atores e das classes dominantes. Em contraste com isso, nas socie- maneira, se redefima O p~pel econômico do Estado e se estabelecia um novo tipo de
dades em que o poder político está mais concentrado, a sociedade civil seria mais relaçãoentre eSt e e a sociedade . A premissa por trás das política s recomendadas era
fraca e as perspectivas para a estabilidade democrática de longo prazo seriam corres- a existência de uma forte complementaridade entre ajuste e crescimento econômi -
pondentemente menores, devido ao fato de que a estabilidade política é mantida co, este último sendo a única garant ia de qualquer esforço redistributivo posterior.3
com a supressão da autonomia da sociedade civil. Se - como sucedeu em nossa Em quase todos os países da América Latina aplicaram-se as políticas de ajuste
região na última década - a mudança econômica aumenta o nível de concentração estrutural: liberalização e desregulamentação dos mercados financeiros, monetários,
econômica ou é acompanhada pela ereção de novas barreiras à ação coletiva de dife- comercial, trabalhista, fundiário, sistema de pensões etc., bem como a retirada do
rentes grupos, isso tende a minar a fortaleza da sociedade civil e permitirá uma Estado da atividade econômica. Contudo , o processo de execução das reformas eco-
maior contração da inclusão social e da democratização. Em outras palavras, onde a nômicaspropostas não teve o mesmo ritmo nem as mesmas características nos países
sociedade civil é fraca, a construção social dos direitos cidadãos (políticos, civis e dos Andes e do Cone Sul . No Chile e na Argentina, as reformas de livre mercado
sociais) é, conseqüentemente, mais limitada ou estreita. 2 foramintroduzidas mais cedo - nos anos 70 - do que em outros países da região,
Não vamos discutir este tema, mas devemos assinalar as dificuldades adicionais antes mesmo de que fossem consideradas de consenso na comunidade financeira
que geraram os processos de transição para a democracia, processos inconclusos e internacional. Em ambos os países, as reformas se iniciaram sob ditaduras militares
com uma série de limitações, que, além disso, se caracterizaram por ter um caráter fortementerepressiyas_e tendo por antecedentes crises econômicas e polític:15bast~te
elitista e deixar à margem a participação dos atores civis. pronunciadas. Todavia, também mostram diferenças importantes entre s1. O Chile
Devemos acrescentar também que esses processos se desenvolveram acompanha - tevea primeira e mais radic;al reforma econômica e_política da região. Em 1973 , 0
dos da manutenção e persistência de estruturas de dependência pessoal e coletiva em generalPinochet tomou 9~oder e instaurou uma ditadura sangre~ta, :companhada
relação ao Estado e aos grupos de poder econômico (Olvera, 1999), pela ausência de uma liberalização radical do comércio e das finanças. Essa combmaçao provocou ª
de u_ma clara separação entre o interesse público e privado no exercício do poder cnse · do setor privado ó' ·auge do consumo d e b ens impor · tados e uma forre sobrevalo-
(Avnrzer . _ . ' , . d - d delo monetarista extremo (Thorp ,
.' _19996) , e por prancas
' · po I'mcas
· que reforçam a confrontação e as reIaçoes
- nzaçaocambial que levou a mtro uçao e um mo . . ,
· b· a fuga de cap1ta1slevaram o pais,
de oposiçao entre os atores, tanto no interior da sociedade civil como nas relações 1998). A deterioração dos termos d e mtercam 10 e
A

Es
deles com o Estado ' em Iugar d a b usca d e acordos e entendimentos mútuos em . . reflexão profunda tanto no ta-
em 1982, a uma crise econômICa que suscitou uma dº •
~ rocesso de apren izagem e ren-
nome do interesse geral (Saba, 2000; Panfichi, 1997). d0 como na sociedade civil. Desde entao, ocorreu um P , . flexí I m
fi1 - ·1· d ºnistração econom1ca ve' co
caçaoque conduziu o governo m1 1tar a uma ª mi - restrições aos
1 · mercado como sao as
Reformas Econômicas umasérie de desvios do mode 1o puro d e ivre l (b, d de preços) financia-
. , d - agríco a an as ,
movimentosde capital a proteção a pro uçao
Precisamente um dos roce d í es , ' . . . ( b íd · disfarçados) etc.
que estud , . P ssos e transformação que experimentaram os Pª s mentosas exportações não trad1c10na1s su s ws
amos e a aplICaçãode u d 1 . o-
1 erai patrocmado
nômica neol"b . m mo e O de reformas estruturais de políuca ec
p IO I p do --- . e olírica propostos pelo Conse nso de Wa~hing_-
e governo dos Estados Unidos, pe o un 3. De acordo com W illiamso n ( 1990) , os dez in st rum entos d P ' blico em subsí dio s para a educ açao eª
'º", f.oram: a disciplina • 1 -
fisca l (redução d o défic it) ; rea ocaçao do gasto p u, d . tipos de câmb io. co mpermvo
· · s,·· Polí-
2._0xhorn sustenra que é rned·· . saude· e d · da s pelo merca o, - • , ore-
dade civil cara a c ianre as lutas (ou sua au , . ) . da socie- . . 'r c,orma tributária; taxas d e juro s pos itiva s erenmna . . . rivatização ; desregulamencaçao, e pr
ara com ourros e o Estad . . senc,a de diferent es grupos organi zados dentro ticasco,n . . . . . . rrangeiro dir eto. p
0 . ercia,s l1bera1s; aben ura para o ,n vesrnnento es
que os direitos cidadãos são socialmente construídos.
\ao da propriedade privada (dir eitos de propriedade) .

306
307
A transição para a democracia , ini_ciada em 198~ ,_con~ribuiu ~ara consolidar a (l985-1990), quando convergiram hiperinfl açao _ _
e recessao , ·
administração flexível do modelo neoliberal. A trans1çao chilena fo1 possível graçasa •srosde violência política e corrupção gene . d . 'com n 1ve1snunc a antes
v1 ra 1IZa a. A cnse eh · l ·
um acto político entre a maioria dos partidos que se comprometeram a manter a em pauta o tema da viabilidade e governabilidade d , ego~_mc us1vea pôr
· · · e IA . 0 pais na reg1ao Do mesmo
insti~ucionalidade, normatividade, e expressão política dos militares na democracia. modo, essa cnse prec1p1tou a ra enc1a do sistem I, . . . ·
l' . ª po ltlco pamdáno e a emergência
o novo governo, encabeçado por Patrício Aylwin (1990), eliminou uma série de A •

de um fenomeno ant1po mco que se expressou no


.
• d ,
surgimento e 11deresautodeno-
medidas repressivas, mas continuou com a mesma política econômica estabelecida minadosmdependentes e na surpreendente vitória eleitoral d Alb F .. .
. . . e erro UJ1mon, em
pelo governo militar, inclusive com um Estado ativo na promoção do crescimento e 1990. O novo governo, dep01s de titubeio s iniciais , aplicou de maneira radical as
da eqüidade. O governo procurou aplicar medidas que tiveram amplo consenso medidaspropostas pelo Conse~so de Washington. Naqueles anos, 0 Estado perua-
cidadão, com o objetivo de dar maior legitimidade à política econômica . Contudo, no mostrava escassa autonomia econômica em relação ao exterior, devido não
como assinala Thorp, a limitação da democracia chilena é que o sistema institucio- somente a sua histórica vulnerabilidade como país produtor de matérias-prima s para
nal continuou sendo autoritário, centralizado e extremamente elitista, apesar dos 0 mercado mundial, mas também a seu isolamento no sistema financeiro interna -
avanços obtidos pela democratização política. cional,causado pela decisão do governo de Alan García de limitar o pagamento da
Podemos dizer então que a aplicação das reformas de livre mercado no Chile foi dívidaexterna (Gonzais de Olarte, op . cit.) .
precoce, sustentada e flexível, sobretudo após a dura aprendizagem ocorrida entre No interior da sociedade peruana, o primeiro governo de Fujimori tinha grande
1982 e 1983. Isso foi possível, segundo Gonzais de Olarte (1998), porque o gover- margemde autonomia com respeito aos grupos tradicionais de interesse e represen-
no teve a capacidade de redefinir as metas das reformas sem perder credibilidade; em taçãopolítica, na medida em que ele mesmo era expressão do repúdio de amplos
conseqüência, pôde estabelecer metas intermediárias para a liberalização, a desregu- setoresda população aos partidos e instituições políticas oficiais. A aplicação orto-
lamentação e a privatização. A chave parece estar na baixa autonomia do governo doxadas medidas propostas pela comunidade financeira internacional se caracten-
diante dos grupos de interesse locais, já que esses grupos têm representação e pre- zou pela total desregulamentação dos mercados, pela privatização g~r~ de em~resas
sença no governo. Mas também por sua alta autonomia em relação ao exterior, já e atividadespúblicas , bem como pela liberalização extrema do comerc 1_0 extenor. A
que os recursos próprios gerados pelo êxito do programa lhe permitiram maiores polmcaeconomJCa se re d uzm
, • A • · a uma po l1t1ca
' · ma croeconômica . estreita,
.. centrada.
margens de autonomia e independência econômica. . , . fi . N - h huma tenrauva de unlizar mecams-
bas1camente nas polincas 1sca1s. ao ouve nen .
. - . às reformas e elas foram imp 1e-
Na Argentina, a aplicação das reformas também foi nos anos 70, mas, de acor- mosdemocráticos de tomada d e d ec1soes em apoto _ d
. . com uma alta concentraçao o
do com a profundidade das reformas, é considerada um caso "intermediário" . Em mentadasem meio a um autontansmo crescente e
lugar de manter um rumo sustentado, em seguida à crise da dívida de 1982-83, ª poderem mãos do Executivo. . d d al ente e com
A • f; m aplica as gra u m
Argentina viveu uma série de esforços contraditórios, combinando medidas liberais Na Colômbia, as reformas economicas ora b" , , •co país da região
e pr~teci~nistas, que revelaram a falta de convencimento de seus governos sobre as . . 90 A Colôm ia e o um
dificuldades,e somente a partir dos anos · d diretamente a cir-
opçoes feitas. A transição para a democracia não significou nenhuma variante para elas respon essem
queadorou o programa de reformas sem que , . mo indica Thorp, a
esse rumo c d· , · F · · , , . Pelo contrano, co
ontra nono. 01 somente a partir de 1990, com o governo do presi- cunstancias econômicas e poliucas severas. d economia em cres-
dente Menem que a A · b l l"b .
1 eralização . "d um Esta o e uma
d _ A ' . rgennna rest a e eceu uma orientação geral liberal na con- paradoxalmente comei e com • em relação ao exte-
uçao econom1ca do país a J , , O . ue sua autonomia
' qua se mamem com algumas variantes ate agora. cimento. Isso se explica parcialmente porq ._ e contribuiu para que
mod e1o desenvolvid0 b· · 1· . , s da reg1ao, o qu ,
- d , . com ma ª pandade cambial com o dólar, uma alta liberai - norera bem maior do que a de outros pa1se . . à tentações dos empres-
zaçao o comerc10, desregulam - . . 0 d. - es de res1stlf s b,
e
P rmaneceram algumas áreas de
entaçao e pnvanzação majoritárias. No entanto, governocolombiano estivesse em con iço ?0 bem como ram em
l - is . . . . . nos anos ' d"d
importantes D regu açao, bem como algumas empresas estªtª tanas disponíveis nos bancos mtern ac wnais · coralmente as me I as
·
0
mesmo modo exe . "d ara d 80 sem assumH
certos setores prod • l ' curaram-se políticas setoriais restnng1 as P . pu esseenfrentar as dificuldades dos anos
unvos, a ém de um 0 l' • (G ais
de Olarte, op. cic.). ª P ltlca social seletiva e focalizada onz de livremercado . as de livre mercado, embo-
F01
· d m as reform aíses da
Os países andinos mostram um . -o somente no s anos 90 que se a orara do que em outros P
ra, lºb d d prudente dos
· 1 eralização tenha sido mais mo era ª e
A •

tardia, mas igualm " d" processo diferente. O Peru teve uma aplJCaça h · m bem a importancia .
fi ente ra 1cal" do r . e mas r - A •con ec1a . b-
oram realizadas a ós um . P ograma de aJuste estrutural. As reror , eg1ao. Os planejadores de política econom1ca . avam valonzan do a esta 1
p a cnse geral ocorrida no final do governo de Alan Garcia conrr0I m que connnu
es financeiros, ao mesmo tempo e
308 309
. d
/ida e mone
tári·a e O conservadorismo fiscal . Por isso, deixaram de pé mecan ·
. _ ismos média dos coeficientes de Gini do , .
que permitiriam , se fosse necessário ,_voltar a r~s_mço~s e ~o~ t~oles (T_horp , 1998)_ a . s pa1seslattno-a • ,
maisde I 5 pontos acima dos países desen 1 'd mencanos e de 0,56, o qualestá
Contudo, os desencontros entre o sistema polmc~ b1pa~ud~no (pamdos liberal e ' ' . vo v1 os ou dos , d
conservador) e amplos setores da sociedade colombiana (smd1cato s urbanos e rurais é apenas compar áve1 a media dos países fi . pa1ses o sudeste asiático e
' b a ncanos Os 20<¾ .
ção de cad a pais rece em tão-somente 3<¾d · 0
mais pobres da popula-
comitês de moradores, elites regionais , outros partid~s político s)_pu seram em xequ~ oL · • 0
as rendas tor ·
extremo,os 2o70 mais ncos detêm 60<¾ . ais, enquanto, no outro
a estabilidade política do país, como ficou dramaticamente evidente nos últimos o, ou se1a,as mesm -
anos , com atos repetidos de exclusão, violência política interna e narcotráfico . no começo dos anos 70 e que durante u é . as proporçoes que se tinha
ma poca pareciam d
Os países que introduziram cedo as fi supera as (B10, 1997).5
re ormas econômic J'b · e
eríodo mais extenso para avaliar seu imp d. . . as I era1s01erecemum
P acto na istnbu1 - d d
Pobreza e Desigualdade : O Impacto das Reformas anos 60, a desigualdade no Chile e na Arg . çao ª ren a. No final dos
. entma era menos severa d 0 ·
ria dos países !armo-americanos . Contudo b , que na maio-
. 'fi . ' em am os os pa1sesa concentra - d
Nos anos 90, a aplicação das reformas econômicas liberais provocou a retomada renda aumentou s1g011cat1vamente após a apl' _ d . . çao ª
icaçao as medidas de a1usr
do crescimento econômico, estancado significativamente na década anterior , embo- 70.6 Na Argentina, entre 1990-92, co - . . e nos anos
_ _ m ª recuperaçao da cnse inflacionária e a
ra o progresso obtido se mostre insuficiente para superar os níveis agudos de desi- recessao,constatou-se uma reduçao da concentr - d d (Al . .
. . . açao ª ren a tlm!f, 1997). Con-
gualdade e pobreza que caracterizam historicamente nossas sociedades . A pobreza e tudo, o coeficiente de Gmi parece haver aument d I' ·
7 , • • a o igeiramente após 1992 (ver
a desigualdade constituem obstáculos estruturais para a democracia na região, já que Tabelal). A tendencia no Chile parece ser mais pre
. ocupante, uma vez que, apesar
favorecem a persistência de debilidades na organização e representação de interesses dasaltas taxas de crescimento durante os anos 90 e um d - · · 'al d
a re uçao m1c1 a concen-
sociais na esfera política e são um fator sempre presente na geração de ciclos recor- traçãoda renda entre fins dos anos 80 e l 992 a desigualdad
. , e cresceu em anos pos-
rentes de populismo e crise (Sanborn e Panfichi, 1997) . tenores (ver Tabela 1). Por outro lado, na Colômbia, a elevada desigualdade de
Com efeito, durante a década de 1990, as taxas de crescimento anual no Peru, rendanão mostrou mudanças . significativas durante os anos 90.s o Peru expenmen- ·
Argentina e Colômbia foram de 5,4%, 4,9% e 3,3% respectivamente, taxas inferio- rouum aumento da desigualdade como resultado da instabilidade e da crise econô-
res aos 7% típicos dos países do sudeste asiático durante esses mesmos anos . A exce- micados anos 80. As cifras existentes revelam uma deterioração adicional constan-
ção foi o Chile, com taxas de crescimento de 7,2% , que o converteram no modelo te durante a década de 90.9
de sucesso das medidas propostas (Banco Mundial, 2000) . No entanto, as taxas de Os resultados pouco satisfatórios, em termos sociais e redistributivos, das refor-
crescimento obtidas se mostraram insuficientes para reduzir a pobreza de maneira maspropostas pelo Consenso de Washington deram lugar à revisão por seus pró-
significativa . Enquanto em 1980, 35% dos lares latino-americanos se encontravam prios criadores das políticas econômicas recomendadas e à formulação, durante a
em situação de pobreza, em 1990, essa proporção atingiu 41 %, para mostrar um última Cúpula das Américas , em 1998, de uma agenda de "reformas de segunda
leve declínio em 1994, com 39%, e chegar em 1997 a 36% - ou seja, quase o geração",também chamada de "Consenso de Santiago". O novo consenso, com o
mesmo nível de 1980. No fim dos anos 90, interrompe-se a tendência à redução da respaldoteórico da nova economia institucional, enfatiza a necessidadede reformas
~obreza observada nos anos precedentes, sobretudo em países em que a recessão é
4
mtensa, como no Peru. Calcula-se que na América Latina, em 2000, existiam apro-
5. Berry(1997) mostra que, na maioria de países latino-americanos em que se realizarJm reformas econômicas
ximadamente 220 milhões de pobres, em comparação com os 197 milhões exisren-
neoliberais, a distribuição da renda piorou significativamente nas últimas duas décadas- uma média de 5-10 pon-
tes em 1990 (CE PAL, 2000) . ios percenruais medidos pelo coeficiente de Gini. Em outro estudo, Altimir ( 1998) chega a conclusões similares.
As taxas de crescimento econômico também não modificaram a histórica desi- 6. VerBerry (op. cit) e Alrimir (1998).
7. Fcrrami e outros (op. cit). Os aurores sustentam que a desigualdade na Argentina, durante os anos 90, mos-
f~;ldade na distribuição da renda dos países da região . Ao contrário, entre 1985 e trauma tendência csdv el, posto que alguns índices sugerem um aumcnro - como o Theil e o Gini- enquanto
-~ ocorreu um aumento na desigualdade da renda que faz da América Latinaª ourrosindican, um decréscimo - o índice de Arkinson.
reg1ao do mundo em que d d. 'b . e· 8. Váriosesiudos (Berry, 1997; Altimir, 1997; Sarmienro, 1999) postulam que na Colômbia a desigualdade
ª ª
ren se istn u1 de maneira mais desigual. Com eieito, aunien,ou duran1c os anos 90. Contud o, dados proporcionados por FerrJnti e outros (op. cit) mostram que depo1S
de 1992, a concenrraç5o da renda se manteve csdve l. Por seu lado. Székdy e Hilgert ( 1999) caracterizam a Colôm-
bia,corno um pais , com <:011sra111edesigualdade na década de 90 - depois
. ·. de um consided vel aumento entre 1991
4 1 93
· A Pesquisa Nacional de N íveis de Vida (ln sii, 1 _ . . i, I no t ~ , k ria haviJo um declínio que compensou a dcrt'rioraç:io. . .
Peru de 50,7% cm 1997 . °
· u C uán, o, 2000 ) mdica um aum enro da pob rt'Za ro ·
par,, 54 , 1% cm 2000 ta 9. CamP0u-'ó nrco· ( 1999) l'xpõe as cifras
. de um cs1uJo do Banca Mun dial que confirmam a rendenc,a apresen-
dJ 110 quadro.

310
3 11
...
Tabela 1: Desigualdade na Região dos Andes e do Cone Sul internacionais como FMI , Banco Mu d .
-- -- -- - ---- -
n 1ª 1. e BID. A socied ªd e civ1
· ·1torna mais · com-
Anos
Plexas as agendas temáticas desses O rganismos,
1
País Gini
- - - - -- - - - - - -- -
1
tendo além d. .
_ ~ gen!!_
na~ _ 1986 0,5 seus mecanismos operativos de funcion E isso um impacto em
- - - --
1989
i
0,58 mas de artic ulação entre cada um d
amemo . mbora existam d'f;
. .
e
1 erenças nas ror-
-- - ----- - - - -- esses organismos mte n . . d
1992 0,51 ·vil o denomina dor comum é q r acwnais e a sacie ade
-----
1
1
-- - - - --
1995
-----
-
-
t- 0,52
-
ct ' . . ue esta aparece representada sobretudo elas 0 NGs
um conceito que h omo loga d iversas formas d
. 1 . .
• - . p
e associaçao co1euva, tanto em nível
'
1996 0,53 nac10na como m ternac10 nal.
1

1
f--- -- --- - f-- -

Chilea/ 1986 0,44 Efetivamente, é importante chamar a atenção 1 -


----- - - ·- para o novo pape que estao
1989 0,59 desempenhan do as ONGs como represe nt antes da sociedade civil em âmbito mun -
··- ~ - - - -
1992 0,53 dial e regiona l. É ver d ade que não se trata da única forma de organização da socie-
1 --- - -
1
1

1
1995
1996
-
-- -
-- --
- ~-
-
-
0,57
0,58
-
dade civil, e talvez n em seja a mais importa nt e, mas é evidente o crescente papel
de inte rlocu tor qu e desem p enh a, tanto com o Estado como com organismos
r- II
Colômbiaa/ 1986 0,57 internacionais . Com efeito, a abertura dos organis mos internacionais , tanto
!
1
--~
1989 0,54 financeiros co m o polít icos (Nações Unidas, O rganização de Estados America -
1 1992 0,57 nos), para atores n ão estatais foi resu ltado de uma série de inte nsas e pro longadas
1 0,56
1 1995 campanh as realizad as p or red es internacionais de 0NGs em busca de reformas
t 1996 0,56 democráticas. São redes temáticas que elaboram articu lações e encadeamentos
1 Perub/ 1991 0,4643 interorganizacionais comp lexos, com capaci dade de construi r agendas políticas
1
1995 0,4832 globais e pr essionar os gove rn os desde a esfera internacio~al. Co_mo veremo~ l~-
1

1
1997 0,5055 go, temas vin cul ados às p ro bl emát icas da mu lher, do me10 am~1ente, d.os ~1rei-
Elabo ração Próp r ia tos humanos e p olít icos estão ent re aqueles que mos tram maior relevanc1a no
ai Dad os tom ados de Ferr anti, Perry, Gil/ e Servé n (2000)
que se veio a ch am ar, em um co nt exto crescentemente globalizado, de sociedade
bl Dados to mado s do qu adro elabor ado por Székely e Hi fg ert ( 1999)
civil mu nd ial.

@ it ucionais em edu_cação, finan':_as,_j


ustiça e_admi nist~ação p_ública, c~mo condi-
para o desenvolvime nt o econom1co e social dos pa1ses latm o-am enca nos. Em
outr as pa lavras, defende-se a necessidade de compl em ent ar os papéis e a ação do
, .
A Soci edade Civil na Região
. d . dades civis dos países que estuda-
Estado e do mercado p ara con seguir o desenvo lvim ent o. 1º A idé ia é qu e o desenvol- Em termos das caracte n sucas gerais as soCle
vimen to não é um pro blema mer amente econômic o e qu e os p roblem as sociais . . lugar observa-se um progres-
mos, podemos assin alar o q ue se segue. Em pnme i~o d' . ' . ,, d organização de
devem ser abordados int egralm ent e, send o insuficien te a ação espon tânea do mer- . e - d s formas tra 1c10na1s e
s1vo enfraquecimento e tra nsrormaçao ª . · parte do con-
cado e a existência de um Estado min imalista. . I' . J'd iedade vigentes na ma10r
interesses,de representação po m ca e so 1 ar e . hado pelo que
Um dos aspectos novos do Co nsenso de Santi ago é o reco nh ecim ento da parti- . , 1O E e processo rol acompan
tinente durante boa parte do secu XX-~ • doras de organiza-
cipação da sociedade civil como um ato r fun da ment al na bu sca de maior democra- . d f; as homogene iza
~tze r O9996) de nom iuo_u _ª _QJ! ,ebra as or~ e . classe operária como
cia, eqüid ade e desenvolviment o de nossas soci edades; sobr etu do , recon hece O papel - d - lenva enranzava a
çao e ação coletiva . Esse mode lo e a ao co . a parn os po mcos
que desempenh am novas formas de associativism o com o en tre outras, as organiza- 'd dania ator vmcu ª 0 ,
da construção d_3..9.-L
ator soci<!.L.pl:UlQ.12-ª,l ' excluído aos beneb-
ções não-govern ament ais. Com efeito, como m ostram i ussie, Rabotni kof e Riggi- g~~d~a d~e=1~
rozzi (2 000 ), na década de 90, a problemática da sociedade civil com eça a ser abor-
~pu lares ou POR.hJlisrn~,_e_c_QJ!L UJnil-agen -·nd~t~eggr~a~r~o=p~o:vo~~~~~;ge~-~
rojetos Eº~l~ít~ic:_:
o~s:...:
h:.:..
o::..;
m
-:-o_.,.g
c..-;
en_ e_1_z-:-:
a-

---
c10s obçidos..ruucia_rão com..a_E_st,ado~Tratava-se e_~ I bilizar as maiorias em
dada de maneira progressiva no discurso e na prática dos organismos financeiros d 'l' -- - ,\ - d uçguJ..!.ª-aru;..e.!.!
m~o~.::= =- ----
- 2Ies ue se1 r~ nta '0 m comg os clfa_m;L.9..LJ1.-3..[
1O. Ver Sriglirz 1998· B· M -1· I .
' ' anco un, "' , 1999 ; Burk , e Perry, 1998 ; O comp o , 1998; Ram os, 1997.
11· para um a análise
. .
crfn ca da s O N Gs , ve,
. AI ·ez e o u tros
vai
(op . c,r
' ).

312
313
1:. vor de obietivos claros e precisos, com discursos holísticos , centrais únic
1a , as den~
balhadores e uma classe política monolítica. que privilegia. relações ativas.
e politicament b'l •
e mo I izadas co O E d
O enfraquecimento das formas tradicionais de ação e representação de interess de levar ad 1ante negociações redistribut' . m sta o, com O fim
, . . ivas, tradição fi .
afetou ~obrerudo as organizações sindicais, qu·e se viram debilitadas pelas transform:: memória e pratica do smdicalismo . Ao m rmemente arraigada na
esmo tempo .
ções estruturais provocadas pela mudança de modelo econômico e a conseqüente neoliberal e privatizante dos serviços públicos d d ~ queSt1ona-sea orientação
. fi . . . . e e ucaçao e saúde A .
transformação do papel do Estado como distribuidor de recursos e mediador de inte- res méd10s pro 1ss10na1ssmdJCalizados (não op , . ) · qu1 temos seto-
. . , . eranos , que tomaram d'1 , . d
resses entre o capital e o trabalho. Diante dessas novas circunstâncias, os sindicatos compromissos pamdanos e que estariam lutando_ sranc1a os
. com marchas e conrr h
viram diminuir significativamente o número de seus afiliados e sua capacidade 1
_ pelo restabe ec1mento de um serviço público qu d' . amare as
. d , . e garanta os irenos sociais da
de negociação coletiva e de pressão política sobre os empresários e o Estado. Além cidadan1a. Trata-se e colegws profissionais poderosos . ..
. . econom1ca e polmcamenre
disso, os sindicatos revelaram crescentes dificuldades para representar as novas cate- com capacidade de .presswnar o Estado e obter benefíci·os para seus auc.i· 1ados. '
gorias de trabalhadores que surgem com as mudanças no mercado de trabalho, ainda Outro processo mteressame se desenvolve na Argentina ond · d' _
. . . . . , e os sm 1catosesrao
que, dentro dessa tendência geral, existam diferenças entre os países da região. muito arraigados na soCJedade CIVll,graças a sua vinculação histórica com O Partido
Na Argentina e no Chile, sociedades com uma tradição sindical amiga e forte- Justicialista, com o Estado, e por ser a própria atividade sindical fonte de uma série
mente consolidada, as organizações sindicais continuaram tendo um papel na luta de prestações ~e s_erviçossocia~s para seus afiliados. Palomino mostra com proprie-
social e política, embora não tão decisiva como no passado. No entanto, para que dade que os smd1catos argentmos, apesar de seu enfraquecimento , contam a seu
isso acontecesse, foram necessárias transformações significativas na composição, nas favor com a legitimidade de suas reivindicações de emprego e salário, próprias de
formas e nas práticas das organizações sindicais. Dos estudos de caso sobre o sindi- uma tradição que faz do direito ao trabalho um verdadeiro paradigma dos direitos
calismo argentino e os colégios profissionais chilenos, feitos por Héctor Palomino sociais.O desdobramento mais recente nos países da região é o surgimento da Cen-
(2000) e Vicente Espinoza (2000), emerge a hipótese de que o "êxito" desses atores, tral de Trabalhadores Argentinos (CTA), que significa uma aposta na redefinição das
ao contrário do que ocorre em outros países da região, se deveria ao fato de que eles formas de representação e ação sindical vigentes até recentemente no modelo homo-
teriam sido capazes de iniciar a transformação de uma lógica de representação de geneizador de organização e ação coletiva. A nova central reúne trabalhadores e sin-
interesses específicos para uma representação social mais ampla e inclusiva. Ade- dicatos estatais, mas estende seu espaço de representação a outras organizações com
mais, isso iria de mãos dadas com mudanças nas pautas clássicas de confrontação demandas diversas, como trabalho para desempregados, acesso à moradia de inqui-
com o Estado. Atualmente, os esforços se orientam para aprofundar o papel de linos e residentes precários das favelas e defesa e promoção dos direitos das minorias
interlocutor social do Estado, em especial ao tratar de incidir - propositivamenre (trabalhadores migrantes, mulheres, crianças de rua etc.) . Os sindicatos de novo tipo
- na definição de políticas públicas mais eqüitativas. reivindicam a autonomia sindical com relação aos partidos e o Estado e, ao mesmo
No Chile, a direção sindical, fortemente golpeada durante os anos da ditadura, tempo, postulam a necessidade de novas articulações com a sociedade civil, como a
teve um papel importante nas mobilizações da sociedade civil pela democracia nos coordenação das luras de organizações sindicais e não sindicais, a combinação de
anos de l 9S3 e 1986. Também esteve presente nas experiências de pacto, tanto modalidades típicas de representação sindical junto com formas de representação
com o governo como com O empresana· d o, d urante a transição para a democracia. · surgidas de outros movimentos sociais . Vários sindicatos que participam da CTA
No , entanto ' .como cham - D M · ·
ª ª atençao a aza (2000), a transição s1gn11cou tam- 'fi in~orporam intelectuais e profissionais e estabelecem convênios com universidades
. ª
6em sub.Qrdin_ação-.das
- · -
-organ1hílçoe.u_1n · d'1ca1s
· aos partidos
• •
políucos os quais· d'm- · e 10stituições acadêmicas, concebendo o aporte de idéias e propo stªs como um
guam seus es~os nar ..J- d - --- ' . recursoest ratégico do sindicalismo .
tit · . ~ --=--F-> - ª acor_yy.1_~overno com os poderes de fato e poderes ins-
uc1ona1s dados da dit d - . No lado oposto, encontram-se o Peru e a Colômbia, onde os sindicatos viram-
maior d -- --2..~ Essa subordmação continuou vigente durante a
parte os anos 90 N d se dramaticamente debilitados pela confluência de crises econômicas , modificações
sociedade · . · esse contexto, destacam-se como atores importantes ª
civi 1os Colégios P fi · · d do mercad0 d e tra b aIh o, madequação
. e d e org an1·zaçãoe práticas sin-
pela legislação d d ' d ro issionais de Médicos e Professores que, obriga os . . de suas rormas .
rivre incorpora
. ª na ura ' se ha viam· e . · d clicaisao • 1. · 0 J1'tica que muitas vezes
- transrormado em associações gremiais e s novos contextos econômicos, ou pela VJO encia P
çao. colocoudi · . . . . . d e zado entre as forças da
Esses colégios r fi . 0
d ngenres e ativistas smd1Ca1sno centro o 1ogo cru .
cuns , . p o iss1onais de d 'd' . r ern e os • 'Ih . O · dicatos perderam afilia-
tancias, respondem _ · asse me ia, convertidos em grêmios pelas c!f- d movimentos terroristas e guern eJros. s sm , .
como mostr E · · ·a ose peso · 1 ,. hecidos mas secundanos
ª spmoza - a uma tradição associanv d . socia e polmco; continuam sendo atores recon '
ª soc1edade civi· -1 ·
, como fica claro no Peru , com a parncipa
· ção da Central Geral
314
315
de Trabalhadores (CG TPO) nas negociações democratizadoras auspic · d
. ia as pel
Organização de Estados Amencanos (OEA) entre o governo do presidente Fu·i ª características comuns entre a liderança de F .. .
ri e os partidos políticos de oposição e representantes da sociedade civil D J mo- . . . . U)lmon no Peru e d M
. . . • essa vez, tina, como regimes presidencialistas dirigidos . ª e enem na Argen-
0 reconhecimento como mterlocutor provém do extenor, da comunidade p , . ' . d b . por outsiders é n ' . J b
o1nica P rocedencia e am os os presidentes . Enquanr 0 UJimone realm ecessanor.em rar a
F .. . , '
internacional, o que mostra que a globalização não é somente econômica mas r •
, arn- aparece de fora do sistema partidário, Menem fc. . . ente uma ngura que
. . . . 01 e1euo presidente
bém política. tante do Partido Just1c1alista. Como recorda Kahatt ( . como represen-
.. . d M 200O), diferente do sucedid
Na Colômbia, sem chegar ao enfraquecimento extremo do sindicali smo perua- com FuJimon, quan o enem conseguiu vencer os b , l . 0
no, os sindicatos perderam o peso de algumas décadas atrás, em conseqüência das 1 .- e . ' . . o stacu os 1egaispara postular
uma nova ree eiçao, rot seu propno pamdo que O impedi
. u, ao negar-sea cerrarfilei-
mudanças estruturais ocorridas, embora mantenham ainda uma participação ariva ras atrás de sua candidatura, o que revela o peso que ainda têm os p 'd A .
nas mobilizações da sociedade civil pela paz e capacidade de pressão . Romero (2000) . . . . . , . aru os. impor-
tância dos partidos e 1dent1dades pamdanas na Argentina também fi 'd
ca evi enre ao
indica que a criação da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), em I 986, foi um se estudar a trajetória do feminismo nesse país, como veremos mais adianre.
marco na história do país, ao tratar de superar o sindicalismo partidarista, promo- Outro fenômeno interessante é a transformação das formas tradicionaisde filan-
ver o pluralismo político e ideológico e formar uma frente comum para responder tropia na Colômbia. Essa atividade constitui uma longa tradição das elicescolombia-
à flexibilização do mercado de trabalho, às mudanças tecnológicas na produção e a nas, embora nas últimas décadas renha crescido em importância, graçasao volumede
uma dramática queda na taxa de afiliação . suas contribuições para distintas organizações da sociedade civil e graçasao seu papel
Por outro lado, também se constata a tendência ao enfraquecimenro dos parti- como uma possível fonte democratizante . A forma organizativaque rem essaprática
dos como instâncias de representação política dos cidadãos . O caso extremo é o do no final do século XX e início do século XXI é a fundação corporativafilantrópica,isto
Peru, onde os partidos literalmente caíram no descrédito cidadão no final dos anos é, uma organizaç~ sem fins lucrativos criada e financiada por uma empresacomer-
80 e início dos 90, para serem substituídos por líderes autodenominados "indepen- cial ou grupo econômico . A transformação das práticas tradicionaisfilantrópicasem
dentes", personalistas, autoritários e com discursos antipolíticos . Fujimori é a expe- fundações modernas é estimulada desde a esfera internacional, com o discursoe a
riência paradigmática, embora não seja a única no Peru, onde os principais líderes prática que destaca a responsabilidade social do empresariado como pane do com-
políticos regionais e até mesmo o candidato Toledo também se definem como inde- promisso cívico dele com a sociedade em que se desenvolvemsuas atividades.
pendentes e marcam diferenças com a chamada "política tradicional" - leia-se polí- Na Colômbia , Cristina Rojas (2000) argumenta que foi durante os anos 90 que
tica partidária (Panfichi, 1997) . A Colômbia constitui um caso intermediário, onde, algumasdas principais fundações empresariais apoiaram iniciativasde ONGs,e_orga-
como sustenta Romero, se desenvolve atualmente um processo de questionamento .
mzações ·
da sociedade · ·1para me Jhorar a gestao
civ1 - pu' bli'cae atuação democranca do
do biparcidarismo, mediante a formação de movimentos políticos regionais, núcleos .
governo. Isso não somente imp 11ca uma amp iaçao. 1· - de agendas, mas também a uans-
descentralistas, redes e mobilizações civis pela paz , que têm também dentro de seus formação da maneira trad1c10nal de conce er a responsabldade
. . b 11 e a prática füanrró-
objetivos o redesenho do Estado para que se torne um regime mais plural . Peru e . . . 'blico Procura-semelhorar a
pica, agora orientada para a sociedade e o mteresse pu · .d d-
Colômbia compartilham a tendência no sentido de uma fragmentação e atomização . . . . . - , bl. . l democraticamente os c1 a aos
admmistração das msntuiçoes pu 1cas e vmcu ar d. . .
dos partidos e movimentos políticos, especialmente em momentos eleitorais . Além . , . a e a conseqüente immu1-
com o Estado. Não obstante , com a atual cnse economic . d
disso, ambos os países contam com sociedades civis amplas e com numerosas or~~- - d oníliros políncos e a ameaça e
çao dos recursos disponíveis, com o aumento os c _ d h do Plano
ni zaçoes,
- mas firagmentadas e com pouca capacidade de influir nas decisoes· - Polw- · . . .
inrernac1onal1zaçãodo conflito armado que supoe
- a execuçao O c ama
, . ão sustentáveis
cas governamentais. e , .
0 lombia, é de se perguntar se as anvi a es e np
. 'd d d . o filantropico ser
O enfr~quecimento dos partidos também está presente na Argentina e no Chile, no futuro imediato .
embora SeJamuito menor que nos Andes. Há uma crescente rnsansraçao
. · e - ci·d ªdã com
o funcionamento d 0 .st l, . - b re os
. si ema po ltlco , sobretudo entre os jovens . Nao o st an '
partidos continua d al. r as . ~ Or anização Civil
de . m sen ° atores com capacidade para representar e can iza Novas Formas de Assoc1açao e g
mandas eleitorais. Ob • . . " . _ ,, , . , · d con-
fronto e _ serva-se, isso sim, a redefirnçao de prancas polmcas e
e ª rormaçao nos ' l · j' ·cas - d formas "uadicionais~e
sempre c b ' u t1mos processos eleitorais, de blocos ou frentes po ltl ' J__u~º formaçao as
-com o enfraquecimento e a ~: .-- - - -
• -
vas formas de associaçao
om ase partidária E 6 h . ·ões, orga · - · -· -- . d volvem-seno . . e -
· m ora ten am -se apontado, em diversas ocasi .. n~a~~oe representação de mteresses, esen -: -· - . lares e disnntas 1ormas
civil - - - - -· .. . - - - - --- - bl máncas pamcu
3 16
_ que expandem uma série de remas, pro e
. ---- ------
.-- --- --

317
de ação coletiva. Esses fenômen os são próprio s da fragmentação e da diversidade
vocadas pela globalização econômica e política , mas também pelo impacto d _ ~ro.
. ._ . ª~re,or. rempo completo durante um ano, 0 que re r
mas neoliberais na estrutura soCJalda regiao e pelo rompimento das formas ho . . A . p esenra em torno d 2 90 d
• 12 moge- Economicamente tiva (PEA) não-agrícola 3 9o/cd e , ¾> a População
neas de organização e ação colenva. Neyra sugere que esses temas particulares e ' o a PEAde se .
se encontram essas OFA), como sua contribu · • , . rviços-setor em que
podem ser interpretados como reações civis a formas contemporâneas de dominação : içao monetana par 1
servidas.No total, segundo Cova e Millán (Z000) . . ª comp etar as rações
dominação do homem sobre a natureza (superexploração dos recursos naturais e des- e • ' a comnbu1çãoe ' · d
organizaçõesrormadas por uma população em p b conom1ca essas
truição do meio ambiente) , dominação dos homen s sobre outros homens (autorita- . - d d, o reza extrema, represem
de 478 m1lhoes e olares, equivalente a 0,81 o/odo PIB de ª em torno
rismo , racismo, discriminação) , e dominação dos homens sobre as mulheres. Diante . . 1995.
As mu Iheres que part1c1pam dessas organizações fo tal
disso, emergem como conceitos liberadores os direitos humanos e cidadãos, a ques- . r ecem seu papel como líde-
tão ambiental, a eqüidade de gênero, a participação cidadã e a democracia. res e promotoras de suas respectivas comunidades , mas as cond'1çoes - de pobrezae
necessidadeextrema desgastam
. _ sua autonomia política · Há uma re1açao
- amb'gua e
1
dependente dessas orgamzaçoes com o Estado ' os municípios, as ONGs, ou outras
Organizações de Sobrevivência organizaçõesinternacionais, que oferecem doações de alimentos fundamentaispara
seu funcionamento, o que muitas vezes cria compromissos políticos de distinta
O surgimento de organizações sociais de base que procuram satisfazera necessi- natureza. É indiscutível que essas organizações aumentaram significativamentea
dade de alimentação dos mais pobres se acentuou dramaticamente nos últimos anos, d~~fil1 .,_.m_~ P-~Q.XalroeoteJ carecem de altos níveis
acompanhando as transformações econômicas recentes. Em realidade, a demanda de organiz!5.ãOe centralização e, em conseqüência, têm pouca capacidadede modi-
por alimentos em países onde a pobreza é um fator histórico esrr_utural n~o é ~go f~s a político e econom1co o país. Isso deve ser i o no mar o de umregi-
novo, tendo inclusive feito parte de estratégias de cooptação políuca ou cl1enrel1 sta me que busca justamente evitar a formação de níveis de representaçãodas mulheres
por parte de Estados e/ou partidos . .No eocaow o " .i:ioizo ft ºdave
",t. oorm1 ' 1mve
' 1d.e fora do nível local e desconfia das que o conseguem, e que assim desprezae desco-
organização e mobilização que adquiriramessas ocganiza_ções,bem como a tent~ nhece o potencial econômico e propositivo que poderiam ter esses setores para
va - - nem sempre .~m.:su cedi.d
· a "~ ~~-•º· ""~ ,,_
~1:1-t-~ ----~=--~1,.;r,, O desenvol- melhoraras políticas de alimentação.
vimento dessas organizações está em relaçâG-com a d1stn u1çao geogra'fi1cadª pobre-
. "b · -
Dos outros países da região, na Colômbia, à medida que a guerra interna se
za nos países da região. O Peru é aqui novamente o caso extremo, com numerosas ampliae envolve novas e extensas áreas do país, observa-seum aumento significati-
º!:Sanizações formadas principalmente por mulheres e que assumem a for~a d~ vo do número de pessoas deslocadas pelo conflito armado, as quais, segundo dados
refeitórios_pOP...IJ
lares, clubes de mães e comitês do copo de leite, e que se dedicamª até 1998, somavam 1.300.000 pessoas (Zuluaga, 1999). A maioria delas é de cam-
prepar<!ÇãO e distribuição diáija de_~Lmentos e!1rª~famfila~_çm situa ão de exrre~a ponesesque fogem das zonas de combate, abandonando seus pertencespara buscar
--- · • · A . J" - capac1-
pobreza. Essas orgaoi1.a~-ameém -a~uam..(;QIDO .J..OSGl □ CJase 5qqa 1za~ao. refúgioem cidades próximas, provocando uma situação de emergênciadevidoª s_uas
t;ção e, even~e.nte~oo-4~ -ren~~.sem membros múltiplase urgentes necessidades materiais . Nesse contexto, numer~s:s 0_rgamza-
· Uma das características dessas organizações é que são as executoras finais de uma - de desJocados são encarrega d as d e conseguu· os mews
çoes · de sobrev1venc1a mate-
. _
série de programas de assistência alimentar tanto do Estado como da cooperação téc- ·J · d f} ' b l Omelhorescond1çoes
na e negociar com as autoridades e os atores o con iro e ic
nica internacional. Sem sua participação, os custos dessa assistência se elevariam con- parao assentamento precário nas cidades. ,
sideravelmente.Em particular, as Organizações Femininas para a Alimentação (oFA), Na Argentma,. . . . . ' . d 1989 1990 multiplicou o numero
a cnse h1pennflac10nana e e 'd d
d e• . . b d B os Aires e outras c1 a es
como são conhecidas no Peru, beneficiaram em 1995 cerca de 25% do total da popu- e rere1tónosinfantis e creches nos batrros po res e uen
d , . . . - d r ência, logo se converte-
lação do país. Igualmente, quase 11% da população entre 15 e 65 anos, considerada o pais. Essas organizações, pr6pnas de s1tuaçoes e eme g . . . •
r _ d O p ido Jusnc1al1sra , que esn-
economicamente ativa, é afiliada ou oferece trabalho voluntário a alguma OFA. Tam - am em terreno de disputa entre distintas facçoes art . . - om
bém existe uma impo rtante contn•b u1çao
• - econom1ca
• . d essas orgamzaçoes,
• - se valorizar- ml em estreita vmcu1açao c
u aram a formação de redes de clientes que atuavam ) A · é preci-
os rec ,. d (G ·11 e outros, 1994 . isso
mos tanto o trª balh0 vo1untáno• (equivalente
. a 154.683 pessoas erabalhando em
so ac
ursos e os apararos polmcos do Esta O n
. .
° .
• ai provemente e
d Paraguai
'
rescemar uma migração econômica mternacwn . países
Bolí • . • ica pwrava em seus
v_1a,Peru e Equador, a qual, conforme a cnse econo~ d drões de com-
12. Document o de traba lho in 1crno , 2000. de ong d' . . . od1fican o os pa
em, mgiu-se para Buenos Aires e Sannago, m
P0 rtamento soCial• e político dos pobres dessas ci'd ª des·
3 18

3 19
Não obstante as variantes nacionais, podemos afirmar
- d b . , . . que , em geral terem uma agenda política escondida e d .
zaçoes e so rev1venc1a se caractenzam por ter uma base . , . ' as 0 rgani- . d e estarem vincul d ' b
. .
em lugar de cnténos de classe, e também por sere~r
comunaana ou d b
m a-,l-,..__.
e na Colôm b 1a, estacam -se a influência e O a . ª as a su versão. No Peru
uas e · das e. airro, . l'd -
católica para a conso 1 açao dessas organiza ões
po10 de setores . .
progressistas da IgreJ3
mente por mulheres pobres que, baseadas em seu apéis t d' . . pnn cipa1- , - d ç ' no marco da g .
ra 1c10na1s e , rodos os pa1ses, nao se po em entender sua .d _ uerra interna. Em
assumem a tarefa de velar pelas necessidades básicas de su asre - =-,e! genero, . conso1t açao e seu st .
spc.c uvas farníli vimento sem o apoio de redes internacionais d . Pº enor desenvol-
finalmente, porque desenvolvem relações complexas com O Estad . as. E, e orgarnzações sim'J d
o e outras inst· . supranacion aJque , d esde o início, lhes deram r Jd p .
1
ares e caráter
ções que envolvem diferentes e cambiantes graus de dependência . nui- , fi . espa o. or meio dess d
. . , , autonomia , di seguiu-se tam bem manc1amento e O recolhimem d ., . as re es, con-
tel1smo, e mteresse mutuo . en- . . . . . o e expenenc1as, sobret dO d
/obbye aliciamento em mst1tu1ções multilaterais co N _ . u e
- d d . . mo as açoes Untdas, assim
~ como a formaçao e re es reg10na1sde organizações de d'1re1tos · h umanos
Em seu estudo sobre a Argentina, Saba (2000) mostra que o retorno a, ·democra-
Organizações de Direitos Humanos e Cidadãos
cia nos anos 80 apresentou
. um enorme desafio ao movimento de d'1re1to
· s h umanos,
Um dos desdobramentos mais interessantes na região é a crescente emergência e já que teve a necessidade de encontrar novas maneiras de fazer seu trabalho e man-
importância de organizações da sociedade civil baseadas na defesa e promoção de ter sua legitimidade. Os julgamentos dos militares acusados de violações dos direi-
uma ampla gama de direitos humanos e cidadãos e que parecem ter sucesso em ter- tos humanos foram o ponto de interseção em que a reclamação dessesdireitos coin-
mos de sua contribuição para a governabiJidade democrática. Essas novas formas de cidiu com a reclamação pelo império da lei e da Constituição. A consistênciadessas
associativismo civil rompem claramente com o modelo homogeneizador de organi- demandas se explica pela continuidade entre o trabalho promovido pelo movimen-
zação e ação coletiva vigente anteriormente e são o ponto de partida do que se deno- to de direitos humanos e o das organizações cidadãs dos anos 80. Saba postula que,
mina a política de direitos, que busca estabelecer um espaço social autônomo do na Argentina, ambos os tipos de organizações de direitos trabalharam para construir
Estado, onde se plasmem os direitos fundamentais da democracia. Para isso, é muito um modelo deliberativo de democracia que privilegia a construção de consensos, em
importante a existência de uma esfera pública e um poder judiciário independente . vez das relações hostis e a confrontação que caracterizaram a prática política ante-
Dos estudos realizados na região se depreende o potencial democratizador dessas rior. Essas organizações promovem ações de defesa do interesse público e com esse
organizações que, com seus novos discursos e práticas, enfatizam a necessidade da objetivo articulam os esforços de advogados, juízes e formadores de uma opinião
cooperação, a realização de acordos, a tolerância, e questionam as velhas práticas pública democrática.
políticas autoritárias e não democráticas, não somente nas relações com o Estado e Tal como na Argentina , o movimento de direitos humanos peruano surge nos
a sociedade política, como também no interior da própria sociedade civil. Nessas anos 70 no marco de um governo militar autoritário , embora reformista e sem o
novas formas de associativismo civil, as organizações sem fins lucrativos (ONGs)são caráter sangrento das ditaduras do Cone Sul. Naquele momento, se concebia a defe-
a forma institucional predominante . sa dos direitos humanos como parte de uma luta maior pela mudança social e polí-
A emergência de uma política de direitos teve como ponto de partida, na Argenti- tica. Foi somente nos anos 80, em um contexto marcado por uma guerra interna
na e no Chile, a experiência de ditaduras militares fortemente repressivas e o retorno cruel entre movimentos guerrilheiros, que usavam o terror como método político, e
ao Est~do de direito, e no Peru e na Colômbia, a Juta pela vigência da lei e da ju stiça, as forças repressivas do Estado peruano , que o movimento de direitos humano~ se
em me 10 ª duros enfrentamentos armados. As primeiras organizações surgem nos anos perfiloucomo defensor dos direitos violados nos enfrentamentos e se pronuncwu
?O, com uma agenda de trabalho dominada pela defesa e o exercício dos direitos claramentecontra qualquer tipo de violência. Trata-se de uma opção que implica
nd
. . .. '. entendido s como d'ue1tos
humanos · ameaça d os pelo autontansmo
. . m1·1·
1tar. JUAr d en u'n- deixarde lado alinhamentos políticos e assumir corporativamente uma age_ ª de
cias 1mc1a1sse referiam a a b usos cometi ·d os contra c1v1s • • e mocentes
. · d e Per- dire't . . ·
1os que tem como ob1et1vo fomentar uma maior emoc d ratização da soCJedade,
suspeitos
tencerem a organiz - J' · d · do tornand0 . . . • C essas posições, se conso-
fi açoes po ltlcas e esquerda, ou que ficavam presos no meJO . -a mais pluralista tolerante e pamc1panva. om
en rentamemo armado
E
fi
entre as orças armadas e os movimentos guernlhe1ros.
. . e
lidaa 00 d ' . .
r enadora Nacional de D1re1tos HumanoS, um
a experiência de trabalho
con1·u • , . . d mundo Segundo Drze-
fa Tm geral, essas
. primeiras
· . - d e d'1re1tos
organizaçoes . humanos eram fiorma d as por nto inedua na América Latina e em munas partes O ·
m1 iares e amigos das vítim I d 'd de wienieck'1 (l d 'd fi • ível graças à presença de
esquerda f: . . as,ª gumas as quais tinham vínculos com parti os 000), essa experiência bem-suce I a 01 poss . .
0
que ac1lttou que · d de uinager - d , . . , .b . _ d I re,·a Católica e outras 1gre-
'
muitas vezes fossem acusadas pelas forças da or em . açao e lideres excepc10na1se a conm u1çao ª g
Jas cristãs.
320
321
A Coordenadora desenvolveu uma cultura institucional que lhe permi·ci·
u res-
ponder à mudança de prioridades no trabalho de direitos humanos e nos equilíbrios Feminismos
internos de poder . Também foi particularmente bem sucedida em utilizar estratégias
O feminismo foi um dos movimento . . .
locais, nacionais e internacionais para assegurar a liberação de prisioneiros inocen- ' . ' s sociais e ideoló . . ., .
durante as ultimas decadas . Tendo como d gicos mais VlSlveis na região
tes, em influenciar diferentes tipos de legislações relacionadas com os direitos huma- • • antece entes hiscóri I
res do míc10 do século XX pelo direito ao sufi á . . cos as utas das mulhe-
nos e no terreno da educação em direitos humanos . Não obstante, seu trabalho teve . d - . r gio, condições de tr balh0 . 1· , .
menos êxito em temas altamente sensíveis no Peru, como a institucionalidade e leis e proteçao à cnança e à mãe a parti'r d
' os anos 70 "
ª
· , •
igua nanas
de ativistas, mulheres de organizações não-g '. uma medna combinação
democrática e a impunidade do exercício do poder, os quais constituem parte de sua overnamentais e acadê . fi . .
nova agenda de trabalho . Do mesmo modo, busca encontrar vias inovadoras para confluíram com as militantes de partidos de esqu d Ih micas ernmistas
. , . er a e mu eres do povo or .
trabalhar direitos econômicos, sociais e culturais, e atingir setores mais amplos da das para a so b rev1venc1a, em espaços de ação e ai' _ ganiza-
. - . retro imentaçao de experiên .
sociedade peruana. muitas vezes nao isenta de tensões " (Barrig, 2000) . cias,
Na Colômbia, as mobilizações pela paz de setores afetados pela guerra interna A luta feminista converteu-se então em uma luta · , · d
umtana e um campo plural
significaram avanços para promover o respeito aos direitos humanos e cidadãos que .buscava
. transformar
, .a situação. das mulheres na sociedade, re1egadas ao espaço
(Romero, 20006) . As mobilizações convocadas pela sociedade civil foram indepen- familiar
. e exclmdas . . da vida política . O feminismo dos anos 70, tal como outros
dentes dos partidos políticos, dos atores armados e do Estado. E fazem parte de um movimentos sociais da época , se caracterizou por uma estrateg1a ' · de confjrontaçao
-
processo de aprendizagem e inovação política que cem no respeito aos direitos com o Estado e os grupos de poder dominantes, tratando de despertar a consciên-
humanos e cidadãos a base de uma nova cultura política que ajude a gerar confian- cia política radical das mulheres contra o poder patriarcal que as excluía da esfera
ça entre grupos da sociedade civil historicamente hostis . Segundo Romero, isso foi pública e do trabalho e impunha formas de domínio sobre seus próprios corpos.
possível graças à confluência de quatro fatores: a participação ativa da Igreja Cató- A militância feminista era acompanhada, na maioria dos casos, de outra militân-
lica na busca de uma solução negociada do conflito armado; o papel dos prefeitos e cia política em partidos de esquerda. A dupla militância, embora alimentasseexpe-
governadores das regiões assoladas pela violência que promoveram expressões cole- riências próximas , não escava isenta de tensões e conflitos causados pelo choque
tivas das sociedades civis locais; o acionar de uma diversidade de associações, redes, entre estruturas partidárias e estruturas feministas, com relação à definição da prio-
ONGs,grupos e indivíduos que pressionam por uma negociação política como parte ridade das lutas das mulheres : contra a opressão de classe ou contra a opressão de
de um paradigma de mudança política diferente da luta armada; e, finalmente, a gênero. Essas tensões muitas vezes deram lugar a divisões entre as mulheres que
mobilização de setores empresariais e profissionais contra o seqüestro e, por conse- optaram por permanecer nos partidos e aquelas que optaram por estratégiasde orga-
guinte, contra a guerra. nização autônoma, com o conseqüente rompimento com as estruturas partidárias.
O impacto político das organizações de direitos varia em cada país da região, A maioria tomou o caminho da organização autônoma, embora María Feijoo (2000)
embora elas tenham em comum ser organizações autônomas do poder do Estado e s~stente a hipótese de que, na Argentina , o peso da identidade partidária foi e é
com capacidade de questionar o poder político e militar. Contudo, os países que amda forte, atravessando inclusive os feminismos existentes hoje nesse país.
têm ~m aparato estacai sólido, profissional, onde há uma efetiva separação de pode- Desde meados dos anos 80 e, fundamentalmente , a partir da década de 1990, no
res' cem melh ores con d"1çoes
- para o d esenvolv1mento
· · impacto
e maior · · 'da-
das anvi marco de um contexto de mudanças estruturais produzidas pelo processode globali-
de~ promovidas pelas organizações de direitos . Da mesma forma , é importante ª zação, do reordenamento neoliberal da economia e dos processosde democratização
existência de um ª imprensa
· 1IVre
· e d emocrat1ca.,. .
Essas orgamzações, ao e1azer uso em curso na maioria dos países da região, o movimento feminiSrase diversifi~a em
amplo do direito ' em especia · 1d o 1· , · nos tribunais, tanto para a defesa, proteçao
1t1g10 - ,uma sér'te d e fc • .
emm1smos que buscam responder com d'1versas estrarégiase. avaliações ,
e promoção de certo d. · as. novas con d 1çoes.' - Como mostram os casos escudados na Argentina' Chile, Colom-
d E s ireitos, como para fiscalizar ou acionar oficiais e estruturas
0 st h1ae Pe 0 fc . . . 'al 'rário para converter-
. ado, requerem u ma comprova d a independência
· do poder judicial. Tambern' ru, em101smo deixa de ser um movimento soCJ uni
precisam da possibilidade d b·t· . . . se em um . , d ção que atravessa um
lados b e mo tzar a opinião pública sobre direitos cidadãos vt0·
I expansivo, policêntrico e heterogeneo campo e ª
por a usos de poder o d a1· - vaScoarranjo de arenas culturais, sociais e políticas (Alvarez, 1998). , . d
de direitos I . u atos e corrupção . Com efeito, a inscitucion 1zaçao
pe a via 1egal é um m . d . . , . . - Hoi·e ·5 d' . e · · mo sendo o vemce e
dos objetivos d . ecanismo e vttal 1mportanc1a para a concreuzaçao ._ exi rem 1versas maneiras de ser e viver o remmis '
essas organizações. un1ao a ig ld d d d' eitos das mulheres, en-
ua a e de oportunidades e a promoção os lf . _
quanto O d . . al e de diferenc1açao entre
tema a relação com o Estado é o pnnc1p rator
322
323
eminismos da região . Este último tema provoca tensões e discussões n .
oS fc . . . o inte-
rior de movimentos e 0NGs femm1stas, colocando-se o dilema de ter que escolhe Além dessas diferenças e não b
. . ' o stante O enfra .
entre duas estratégias políticas diferentes em relação ao Estado : a autonomia ou: ente o femm1smo e o socialismo, ainda s d quecimenro do vínculo original
.d .d d d I e po em observar o . -
articulação . A esse respeito, existem posições muito opostas entre aquelas que que a 1 en ti a e e c asse subordina a de êner O " , _rgan1zaçoesda região em
. ·11·dad e d e genero
sib1 , g
e a preocupação de elas o. s nos nao resO1v1 .dos" entre a sen-
optaram pela via da interlocução e cooperação com o Estado, a tecnização , a pro-
- se, a que faz refer' . W'I
fissionalização, e as que tratam de defender a "essência" do feminismo radical dos apresentam nao somente no movimento de mulhe ~ncia 1Is (2000), se
" . . "d res colomb1ano m b,
anos 70 e que denunciam os custos da institucionalização da agenda feminista, cultura mov1ment1sta as mulheres argentin e . . ' as tam em na
as e as rem101stasd
que inclui a renúncia a temas antes não negociáveis vinculados ao corpo , como 0 ma de Chile. Adicionalmente, na Colômbia esses a· _ ª corrente autôno-
, . . con Jtos nao resolvidosfaz
direito ao aborto. da memona pessoal e coletiva que subsiste e cria d'fi ld d . em parte
• • J icu a es para a amculação d
A profissionalização de uma parte substantiva das ativistas dos movimentos femi- setores entre s1 e com outros movimentos da socied d .. 1 C os
. . . a e c1v1. orno observamos
nistas torna possível encontrá-las em 0NGs profissionalizadas, no Estado e nos orga- antes, a Argentma tem uma pamculandade adicional: a força d ·d •d d .
,. . _ . . as I ent1 a es pam-
nismos de desenvolvimento internacionais . Como indica Barrig (op . cir.), menos danas nas orgamzaçoes femm1stas reproduz nestas as caract , · d I ,.
. _ ensncas a ura pol1tica
provocante que a palavra feminismo, o conceito de gênero se converteu em um local, como a compençao aberta de grupos ' a partidarizaça-0 e O enqu1stamento ·
.
recurso técnico que junta os discursos e mandatos das conferências das Nações Uni-
das com os requerimentos às feministas de assessorias e recursos humanos feitos
desde as dependências públicas e privadas . Talvez pudessem seguir mesma trajetória Meio Ambiente
outros conceitos como Sociedade Civil, Terceiro Setor ou Responsabilidade Social
Empresarial. Com o apoio da cooperação técnica internacional, as 0NGs feministas Outro tema em torno do qual se organizaram iniciativas civis inovadoras na
têm um papel proeminente e altamente controvertido na formação e sustentação de região tem a ver com o impacto destruidor do modelo econômico sobre O meio
redes temáticas de alcance local, nacional, regional e inclusive mundial . São redes ambiente. É certo que, nesse caso, a preocupação internacional com o tema permi-
mais estruturadas, profissionais e com maior capacidade de impulsionar agendas e te sua inclusão "formal" em diversos programas estatais financiados pelos bancos
transnacionalizar os discursos e as práticas feministas (Ríos, 2000). A crescente glo- internacionais e nas estratégias de ação e mandatos de diferentes organizaçõesnão-
balização tornou possível que as feministas sejam capazes de articular-se para além governamentais. Tal como nos dois casos anteriores (organizações de direito huma-
das fronteiras nacionais, de difundir conhecimentos e informações, de mobilizar-se nos e feministas), pode-se observar a atuação de organizações da chamada socieda-
politicamente enquanto grupo de pressão e/ou movimento político capaz de influir de civilglobal. Contudo, a temática ambientalista não parece ter sido assumida com
na construção de agendas em nível internacional. igual importância em todos os países. Na região, destaca-se o Chile. O caso chileno
Destacam-se sobretudo duas reações geracionais diante das mudanças dos últi- é apresentado usualmente como modelo de êxito econômico neoliberal por excelên-
mos anos . De um lado, as "pioneiras" do feminismo dos anos 70, um grupo dest ª- cia; no entanto, é também no Chile que a problemática ambiental calou mais pro-
cado de mulheres que experimentaram intensamente a dupla militância e que hoje fundamente na população. Com efeito, segundo o estudo sobre as 0NGs "verdes"
parecem sentir falta de um feminismo único, coerente, homogêneo, "correto" poli- chilenas realizado por Marcel Claude (2000), essas organizações cumpriram uma
ticamente e vinculado à idéia do desmascaramento do Estado e da sociedade patriar - valiosa tarefa ao levar a "questão ambiental" e os direitos ambientais ao cenário das
cal. De outro lado, uma segunda geração de feministas, educadas nos anos 80, que decisões e ações políticas e ao centro das preocupações da opinião pública. Não obs-
percebem de modo positivo a pluralidade e heterogeneidade do campo femini stª· tante, não se conseguiu ainda transformar a agenda política dos governos da Con-
Trata-s~ ~~ uma geração dispersa do ponto de vista da organização, mas que aprec'.a cerrac·'
. 100 em um modelo de desenvolvimento genuinamente sustentave ' I' nem afe-
as possibilidades que trazem para o avanço do feminismo ações mais institucionali - tar s1gnificativamente
. · .
o setor empresana .I . _
zadas, . ou especializad
, . as, e que pamc1pa· · d e processos de formulação e execuçao - de _ Ao contrário , o que existiria seria um conjunto desarticulado de orgamzaçoes
polltlcas publicas na cionais
. . e de m. f1uenc1a
, . nas agendas internacionais . . N-ao d eve- nao-governamenta1s · com diferentes objetivos, para as quais· e' difícil agrupar-se
. . _e
mos esquecer que amb - d . . l estabeJecervincu
, Ios so, idos. • s instâncias CJdadas.
éd. as as geraçoes e at1v1stas provêm principalmente das casses 1 e permanentes entre s1 e com outra
m ias e altas de nossas s . d d 1 I' Contudo p . . _ d volvimento de uma
ricos e d . ocie ª es, ta como os ativistas dos direitos humanos, po I - ' ouco a pouco, cnam-se cond1çoes para o esen .
, e meio ambiente .
ttnelh
, or capaCI·d ad e tecn1ca
, . que permita . propor aIternattvas
· de desenvolvimento sus- .
entaveIe d. . , . d d ão e ação colenva
' me Jante esta via, melhorar os mve1s e coor enaç
324
325
d O otenCI·a1é enorm e' J.á que existe no Chile a consciência,
. ainda
. difusa , mas
ver e. Pd • ·to econômico vem afetando a qualidade do meio ambie 0 rechaço do liberalismo extremo (com sua ênf . d" , .
alastrada, e que o ex1 , . e . . nte e canto . _ , . ase nos m 1viduos isolados e
depredando os recursos naturais não renovave1s,
. • . o que a1eta o direito dos cidad-aos Í tas na real1zaçao de seus propnos fins), como dos m d l . _
a um meio. saudável e adequado para a ex1stenc1a humana . ego·at
s e polmca
, . que ape lam as , massas anonimas
.. . e mobili , e. osA popu
0
al 11stas de açao
soei .d d- zave1s. tu mente, os pro-
·stas parecem ser ci a aos exercendo ou buscando d. .
cagont . . . . . . exercer seus treitos, os
.
quais devenam . estar SUJettos ao duetto e. ao interesse público •
Conclusões A terceira hipótese apresenta a necessidade urgente que têm os atores da socieda-
de civil de agregar inte~esses em torno de programas e estratégias orientadas para con-
A Sociedade civil entendida como uma esfera social autônoma do Estado e'
!idar a mudança social e o bom governo . A pobreza e a desigualdade na região exi-
' . . , urna
construção social moderna e relativamente recente e desigual nos países andinos s~m esforços para superar as limitações dos interesses particulares e desenvolver
do Cone Sul. O efeito combinado de ditaduras militares, transformações econôrni~ gro ostas efetivas de redistribuição de renda e poder e, ao mesmo tempo, melhorar
cas neoliberais, transições democráticas inacabadas e conflitos políticos armados deu PPcon di.ções de vi dda as ma1onas
as . . I -d . -
. sso supoe emocrattzar nao somente nossa re a-
1
lugar a mudanças substantivas na natureza da sociedade civil, assim como no ti ~ 0 com O Estado ou com a sociedade política, mas também democratizar as relações
0
de relação que esta desenvolveu com o Estado nas últimas décadas. Entre es~s eçapranc
, · as no interior mesmo da sociedade civil. Respeitar a diversidade e deixar . de
mudanças , temos a transformação de formas tradicionais de organização e ação cole- lado práticas de confronto, autoritárias e clientelistas entre membros da sociedade
tiva baseadas em critérios de classe, o declínio de partidos e ideologias políticas con- · ·1 ,
~e~ processo de aprendizagem e transformação. que, por sua vez, representa
vencionais e a expansão de novas formas de associativismo civil que se assentam em dição para o desenvolvimento da democracia.
uma con . , d ·- d.
temas e problemáticas particulares próprias do agudo processo de fragmenta ão Finalmente, desde a esfera internacional, proJetam-se para os paises a reg1ao 1~-
social e política vivido nos últimos anos. Atores tradicionais transformados e no~os .
untas agen d as de temas de interesse global que competem, se complementam, . · ·se N
artt-
-
atores sociais buscam desenvolver ações coletivas destinadas a obter os direitos bási- .
culam, ou se JUStapoe - m com as agendas dos atores locais, . tanto
. estatais como, dc1v1s.
· · ao ·
cos de toda democracia liberal e, desse modo, dar consistência a uma sociedade civil das instituições financeiras internac10nais, mas tambem e msmw-
somente se tratam . . fu d - · d de cará-
autônoma em relação ao Estado e à sociedade política. çõespolíticas supranacionais, igrejas, ONGs internacionais e n açoes pnva _as f1 . nos
~s c~os,estudados fazem q~e formulemos as hipóteses de trabalho que seguem. d· . Ti das elas configuram tramas temáticas e redes que procuram _m wr
A primeira e que o Estado continua sendo um ator crucial, embora tenham ocorri- ter tstmto. o . - com diferentes margens de autonomia e depen -
processosde democrauzaçao em curso,. . . fi . al" das seriam aquelas com
do t~a~sformações importantes na natureza das relações entre o Estado e a socieda- . - d ciedade ctvil mais pro 1ss1on iza
dência. As orgamzaçoes aso d . d d ·vil global. Nesse contexto,
de ci~il. 1:'-5
organizações da sociedade civil mais bem-sucedidas, em termos de sua . ul - fazem parte a soc1e a e c1
mais êxito nas aruc açoes que . al desigualdades e brechas
comnbuição à de~o~ra~ização, parecem ser aquelas que foram capazes de estabele- . t l me é importante assm ar as ·e.
cer uma autonomia significativa . E d como recorda Dagmno neS e vo u ' . _ , • e política - gera, din -
. " . de qual1ficaçao - tecmca
. com respeito ao sta o, ao mesmo tempo que con- entre atores sociais que esta exigencia . , . os públicos .
tinuam te~~o ~ma relação ativa e politicamente motivada com ele. Não é fácil man- . . - ·s igualitar1a nos espaç .
cultando assim uma part1cipaçao mai r. d - . Pedro Mata 5oares
ter o equ1hbno entre autonom · · l - ·, d 1 ra uçao.
cooperaçao, _ cooptação ou confi ia e vmcu - Ad" açao,
. Ja que essa relação pode ser e
d . romaçao
e sociedade civil mais bem d.d -. icionalmente ' as organizações ou casos .•
. , .
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garantira legalidade e a eqill a e as e eiço d' al ente as relações entre
,2 al d ,, reformar ra 1C m . ,,
pa1s . Abre-se uma etapa na qu se everao 'ricas e institmçoes que
ras costumes, pra d
o Estadoe a sociedade, desmontar as reg ' . . e construir um ver a-
.. . · do cliente 1ismo,
permmama reprodução do corporanvismo e d · é resultado da pro-
• fi derrota o regime . ·
de1roEstado de Direito . Pode-se a umar queª · a qual consutum
. . . ela democracia,
longadamobilização da sociedade clVll mexicana ~ . . d de civil mexicana nos
.
0 eixodo desenvolvimento e fortalecimento
. da propna socie a

últimosquinze anos. l d d democrática no México se


O estudo da sociedade civil e da governabi i ª e Anea do país. 3 A com -
con d h'1st , ia contempora b'li
1 -
centrou precisamente nessa fase a ºr ·buiçóes à governa
Posi- d d andas e contn
çao, os espaços de luta, a agenda e em

------- . câmaras de depucados e sena-


1. ~ . o rincipal parndo nas_ elo pRJ. O lascro aucon-
dores( b rrota do velho regime não foi cocal. O PRI é
. eni ora -
ª'" d ª P , ão governados ainda P1 período de conso -
dos do pais s um ongo
lari0 q nao conte com maioria) e 20 dos 31 eSca . sará ainda por
1 Ue esta s· - democracia pas
1dação _ . rtuaçao representa obriga a pensar queª demonscram .
• · o de 2001'
0 ao 1sent d 0
. . d .
2. Oscaso o e riscos de involução. crise pol!tica em pn e1r incluiu 5 escudos e caso.
3. A s dos escados de Yucacán e Tabasco , em plena ácica no México . .1 opular no mundo
1.'AC Pesquisa sobre sociedade civil e governabilidade democr cudo da sociedade c1v1 p
oordrnado . ( NOC) : um es
'ª Nanona!de Organizaâones Cafetaleras e
330 331
mocrática da sociedade civil estiveram fortemente determinados , de Nas páginas que seguem analisaremos .
dad e d e . l . l d um_ . com mais d t lh
do pela centralidade das lutas pela democracia e e1tora e, e outro , pela resi - rneiraparte an aiisaremo s o processo de em • . e a e esse processo. Na pri-
1a , . . d fi s . • , ergenc1a e dese I . .
tência do regime autoritário às iniciativas c1v1s e re orma nas áreas trabalhist •vil mexICana nas tres decadas passadas D nvo v1mento da sociedade
. a, cJ • esse mod
agrária, social e de direitos indígenas . Ess~ proces~o ocorreu simultaneamente à composição, seu potencial e a natureza dos , o, . entenderemos melhor sua
. . . espaços public ·
plena implantação de uma política econ~m1ca neoli _beral _que rompeu com os fun- arre resumiremos as pnnc1pais descobert d os que cnou . Na segunda
p ' as os estudos d .
damentos materiais dos arranjos clientel1stas e part1culanstas em que se fundou o abrangeu, de tal maneira que os problemas d _ , . e caso que essa pesquisa
ª açao polmca d · d d · ·1
velho regime, mas que também destruiu formas de vida, de solidariedade e de limitaçõesdos microespaços públicos disponívei s s - d. . a soc1e a e c1v1 e as
. d d erao iscundos Na terceira p t
sobrevivência das classes populares. O custo social do ajuste neoliberal foi enor- refletindo a partir os estu os de caso, se ofer l · ar e,
.. ecem a gumas recomendações provi-
me, pois aumentou a pobreza e a miséria em todo o país e polarizou ainda mais sórias para fortalecer a governabil1dade democrát' . d . . .
ica a partlf a sooedade c1v1I.
uma sociedade já muito dividida . Finalmente, apresentam -se breves conclusões que un _ , .
. h' , . em preocupaçoes teoncas e de
A simultaneidade do ajuste neoliberal e da transição para a democracia fe- perspecuva 1stonca.
chou alguns espaços de ação e abriu outros, mudando a forma da sociedade civil
mexicana . As lutas dos setores populares, como sindicatos, organizações campo-
nesas e movimentos urbanos, que foram centrais nos anos 70 e começo dos 80, Formação e Desenvolvimento da Sociedade Civil
dando lugar a uma sociedade civil popular, perderam eficácia política e simbóli-
ca na segunda metade da década de 80 e especialmente nos anos 90 . Contraria - Na longa e ainda inacabada transição para a democracia, destacam-se claramen-
mente, nesse mesmo período, as lutas eleitorais adquiriram centralidade, atrain- te duas dimensões clássicas da sociedade civil, que emergem com maior clareza em
do diversos componentes da sociedade civil para o campo das lutas partidárias ou conjunturas de mudança de regime político : a autonomização da sociedade com res-
para a formação de movimentos sociais pró-democráticos. Os êxitos dessas lutas peito ao Estado e a autolimitação dos próprios atores sociais em suas respectivas for-
permitiram que uma parte das elites emergentes provenientes da sociedade civil mas de ação e em suas agendas política s. Com efeito, o fato de que o regime auto-
chegasse aos governos municipais e estaduais, dando lugar ao fenômeno, já ritáriorenha passado por uma longa fase de crise interna a partir de 1982, e que esse
conhecido em outros países, de transferência relativa para o campo dos novos processotenha sido acompanhado de um ciclo lento de liberalização progressivae
governos democráticos das lideranças e iniciativas de mudança que estavam na ulteriordemocratização eleitoral, levou a que a emergência da sociedade civil se pro-
sociedade civil. 4 duzissecomo uma demarcação do social em relação ao estatal, no contexto de luras
No entanto, esse processo não deu lugar a uma ampliação relevante dos espa- sociaisdispersas em termos sociais e geográficos, mas cuja '.ntenci~n_alidade,c.omum
ços públicos e da participação cidadã na vida pública. Embora o território da polí- · espaços po l'mcos
era abnr · novos , o b ter o respe1·to aos direitos soc1a1se polmcos
. da
• • · dº ela via de reformas sucessivas e
tica tenha-se ampliado e aberto espaços para a ação dos atores civis, a política par- cidadania e defender interesses matena1s 1me iaros P
tid~ria ocupa a atenção dos meios de comunicação e monopoliza os espaços de negociaçõescom o regime. , . d , bl ·
deCISão. Nenhum partido, inclusive os de oposição, projetou novas formas de con- A debilidade estrutural dos atores sociais populares e a carenc1a e e~paços ~u ~-
dilatado processo nvesse, es e
t~to com ª cidadania nem abriu novos espaços públicos com transcendência polí- cos alternativos no México fizeram com que esse , . . . ai
1 . rais em seus mve1smuntcip ' esta-
tica. Esse fat~ reflete a debilidade organizativa e programática da sociedade civil i 986, como arena principal, os processos e eao d · bano
. d. . opulares canto o me10 ur
realmente existente e o limitado alcance da idéia de democracia que os partidos dual e federal. Líderes empresariais, mgentes P d, d d er inumerá-
promovem. . . b nos cansa os e pa ec
comorural, e líderes de movimentos civis ur ª. ' arricipar dos par-
. . 1 .ais começaram a p
veislimitações e bloqueios em suas uras secon . '. .d d . representatividade
'd Ih leg1nm1 a e e um,t
ti os políticos de oposição, dando - es uma . ., • forçaram O regime a
rural" (Fernando Cel is) 2. "Gove rnos munici . ' . - - . , . 1 ai O caso d . . . d vimencos soc1a1s
de dois município s d ., , pais, orga111zaçoes nao gove rnam encais e estera publica oc · . . a- e que careciam h1sroncamen te. Gran es mo passar a uma fase de
no esta o ue Moreias' (M Q " . . ·1 partJCIP
ção cidadã na cidade d 0 M . . ,, (C organ uero) 3. Governo democr;ícico, sociedade civ, e d I· ,·a- dos anos 90 eª
"
ra (Reneé de la Torre , J
ex1co
M
arlo s San J
uan
) 4 "G
·
. . . •1 Gua a ;1
rupos c1v1s conservadores e sociedade c,v, en l _
acejerar o ritmo da liberalização no começo
. . _ e uan anue I Ramírez) 5 "M · . . ' bl" ecen 10
cra11zaçao: um estuclo . l AI" . ov ,mentos soc1a1s pró-democráticos, espaços pu ,c05 democratizaçãode 1995 em diante . . . anos 70, na forma de
4 . Isso é pani cub.rmenc e cerco ara
gcnies se tornaram lídere lí . p
~,m
so ire a tflnza Cí · ,, (Alb
erco J. Olvera) . ·u·os diri-
. caso dos grupos con servadores da soc iedad e civil , mwro s de e J
N0 M , . . ·1
exteo, a sociedade c1v1 conte mp o
rânea emergiu nos
, de um movimento 1nt-
. .
s po tlco s e funcionários el · . • . . grandes movunentos
. . . . 1 como arraves
soCia1s populares , assin
eiros arraves do Pamdo Ação Nacional.

332 333
• ~ de alguns grupos empresariais com respeito ao Estado E , normativo que se traduziu em uma revai • _
cial de autonom1zaçao ~ . . . s~es gem onzaçao da d . 1 . a1
. tos classistas viram seus espaços de açao severamente hmttados em conse ma vontade explícita de propiciar a abenur d emocracia e ettor e em
mov1men - u . ~ ª e novos espaços públicos que facili-
..Anciada crise econômica estrutural que começou em 1982, bem como pela deci- ssem a comumcaçao entre governo e sociedad A
que , · ~ ·d ta d d" • h. . e. transformação democrática dos
são do regime de não abrir o espaço eleitoral~ compeuçao _entre partt os. Essa cir- rupos e correntes a 1re1ta istónca mexicana é .d d
g d d 9 . uma novt a e que se produziu ao
cunstância produziu uma radicalização políuca d~s moviment~s populares cujo longo da déca a e O, sem que isso tenha implicad 0 0 b d d .
. _ a an ono e valores tradi-
efeito foi seu maior afastamento do resto da populaçao eª repressao . Enquanto isso, cionais, de costumes e tra d 1çoes ancorados em um co • 1, . d
. , . nceuo c ass1co e conservado-
os movimentos de empresários e classes médias do norte do país eram pioneiros no rismo. O mteressante
.
e que a democrattzação mesma e
. 10rçou essas correntes a ser
uso dos processos eleitorais como espaços de luta para obter ª abertura do regime e relativamente mais tolerantes, a mteragir com outros gr upos e correntes c1v1s.. e a
modificar sua política econômica. ,. . moderar seus aspectos mais reacionários . Contudo, 0 caráter elitista dos grupos con-
Esse fato se explica pela longa presença na arena polmca do Pamdo Ação Nacio- servadores se mantém por razões sociológicas adequadamente descritas no estudo
nal (fundado em 1939)o qual, formado historicamente por uma pequena elite con- de caso. Com efeito, por motivos de origem social, de mecanismos e instâncias de
servadora, com poucos vínculos com a sociedade civil, passou a converter -se no veí- socialização e pela natureza das redes sociais de que participam, os grupos conserva-
culo utilizado pelas elites urbanas emergentes para oferecer uma luta política contra dores funcionam em um espaço social e simbolicamente delimitado e têm pouca
o regime. O PAN sempre defendeu a necessidade da democracia eleitoral e de recu- vocação para interagir com os atores populares . Mas é evidente a importância da
perar o vínculo entre legalidade e legitimidade, destruído pelo regime autoritário. aprendizagem normativa e política pela qual passam alguns desses grupos para a
De 1986a 1992, essa aliança entre elites emergentes e uma velha classe política opo- consolidação e ampliação da democracia. Se as elites sociais são capazes de defender
sitora dirigiu diversos movimentos populares pela democracia no centro-norte do 0 estado de direito, de exigir a transparência e a prestação de contas no exercício de
país e na península de Yucatán. Esses movimentos legitimaram o caráter democrá- governo e de propiciar o diálogo público entre governantes e governados, é claro que
tico do PAN e permitiram que esses novos atores obtivessem progressivamente estarão dando uma contribuição muito importante para a construção da governan-
importantes triunfos eleitorais municipais e estaduais, até acumular, em 1997,uma ce isto é, ao desenvolvimento de formas e instituições de governo relativamente
massa crítica de votos e de posições políticas que possibilitavam a busca da Presidên- abertas e legais. Mas esses grupos carecem de propostas de inovação ins_titucional,
cia da República em 2000. O particular desse processo é que, não obstante ser a limitando-se sobretudo a propostas de caráter normativo e ético, as quais, emb~ra
expressão de verdadeiros movimentos populares, a sua direção política foi muito importantes, não se traduzem necessariamente na de_mocrat~z~ção real da vida
st
centralizada e elitista e se baseou em um pacto estratégico com O próprio regime pública. Esse horizonte relativamente limitado se refletiu na sene de propo 3:5de
au~or~t~rioem matéria de política econômica, terreno no qual O PAN e O governo . 1995-1996 e que se traduzuam
reforma constitucional apresenta d as em Jal isco, em ' ,
cot~ctdtam. O gradualismo e a negociação de alto nível permitiram ao PAN avançar . . ~ d ai ue embora sendo um notavel
posteriormente em uma nova consutmçao esta u q ' . . . _
rapidamente na .escala do poder p ol't"
I ico, mas d esmo b·1· · · ~ popu-
i izaram a parttcipaçao
, • - l
avanço legal, não contem movaçoes re evantes em m
atéria de mst1tu1çoesde conta-
lar que lhe havia dado ·força. Em 1997, as relações entre um movimento social to entre sociedade e governo. . . d ocrático
democrático nas . . . , d·c t Seu auuiornamiento em
,. . cidades e O PAN se haviam desvanec1.d o, d an d o l ugar a uma maqui- , •
A traJetóna da esquerda mexicana e ueren e. 66 - I
na polmco-eleuoral profissional e eficiente 1· . N . . . . . - . l de 1988 quando o voto popu ar
.. . , mas e msta. o entanto, a ongem fo1conseqüência da súb1ta msurreiçao eleitora ' l a1·a-0 de forças
popu lar da legmm1dade do PAN b fi , . . . de uma amp a co tz
d , d. . . ' em como a e icac1a relativa dos governos pamstas, favoreceu Cuauhtémoc Cárdenas, representante ·me se canalizou
eu a ueua mexicana uma not' l fi , . . ·- d castigo contra o regi .
. ,. d ave orça po 1mca e moderou os aspectos mais rea- de centro-esquerda . Nessa ocas1ao, 0 voto e • bólico dos princí -
cionanos e sua doutrina . Comud d. • , . • · J d e . ntava o resgate sim
· d . . o, essa treita democrattca não consegmu 1mpu- e rorma maciça para o candidato que represe seu voto O desejo de
s1onar mu anças s1gmficativas n . . . - · •d d~ pressaram com
visão eficienti· t d d . . as lilStttuiçoes de governo, predominando uma pios do regime revolucionário . Os ci a aos ex . peranças de ascensão
s a a a mm1stração 'bl" , · d 1 l os havia certas es
res que de h . pu ica que contem também elementos mova o- vo tara um passado mítico em que pe O men d das de bem-estar. Os
vem ser recon ec1dos· um . . . d . . trava as eman . .
um maior respeito , l . · ª maior transparência no exercício de governo, soctal e um Estado paternalma que a mmis l . conômica e rotm1za-
a e1 e uma vontad l' . d 1· líd fi cidos pe a wse e .
listas de relação em E d e exp !Cita e romper com os modos c tente- eres dos movimentos populares, en raque formação do Pam -
. . re o sta o e a sociedade d l totalmente para ª
Como tnd1cao estudo de casO d . os pela marginalidade política, se votaram • s correntes e grupos da
d0 d
pos civis de direita p
assaram, em boa
os grupos conservadores em Guadalajara, os gru-
dO d. ª Revolução Democrática, o qua l coo d ens ou as multa
parte país, por um processo de apren iza- esquerda nacional.
334
335
Desse modo, as eleições de 1988 jogaram na arena eleitoral os cidadãos do cen -
, . do governo, de tal forma que se pode inter .
tro e do sul do país que até então haviam permanecido à margem da mobilização oc10 pretar a transiç d
·a como um processo de con strução de novas formas d ao para a emocra-
do norte . A suposição de que essa nova frente era uma espécie de maioria eleitoral c1 . - · · · · d , e governo, mesmo na ausên-
. de movaçoes mst1tuc1ona1s e transcendencia .
automática alimentou as guerras intestinas dentro do novo partido e deu força a eia . nac1ona1.
uma série de lutas pós-eleitorais que ocorreram entre 1990 e 1994. A conjunção do Passaremos agora a analisar com maior detalhe as l' _ .
. . içoes que se tiram de cada um
enfraquecimento dos movimentos populares enquanto tais e a centralidade da arena estudos de caso rea 1
izados . Os eixos desta análise sã .
do5 . . ,. 0 os seguintes: a natureza dos

eleitoral conduziu a uma perda maior de visibilidade dos movimentos populares res soC1a1se polmcos estudados ; os espaços e as formas d . _ .
ato . e mteraçao entre a socie-
como atores civis, à sua sobrepolitização e à reprodução dentro do PRD das práticas dad e civil e o governo ; os efeitos dessa relação em termos de a d' .
. pren 1zagemco1et1va
de clientelismo e corporativismo que caracterizavam o partido oficial. dos atores e da soc,1ed~de em geral e em term_os ~e inovação institucional com capa-
Como demonstra o estudo de caso da Cidade do México, essas inércias políticas cidade de permanenc1a; finalmente, as contnbu1ções para a construção da governa-
se constituíram em um lastro para o governo de Cuauhtémoc Cárdenas entre 1997 bilidade democrática.
e 1999. O PRD carecia do caráter institucional do PAN e dependia demais do caris- Cabe observar que as relações entre a sociedade civil e a construção de uma gover-
ma pessoal e do prestígio do próprio Cárdenas. Em 1997, o PRD não conseguira nabi!idade
democrática são de natureza contingente e estão determinadas por uma
triunfar em nenhum estado, nem em capital estadual ou cidade importante, o que grande variedade de fatores que contêm dimensões macro e microssociológicas
, contex-
indicava que essa formação política era sistematicamente incapaz de atrair as elites tuais e processuais, bem como determinações de ordem cultural, legal e administrativa
emergentes das cidades, compondo-se quase exclusivamente de grupos e correntes que variam de país para país. Tanto no informe geral, como nos estudos de caso que
políticas pré-existentes e de grupos populares mais ou menos clientelizados por líde- apresentamos, demonstramos que a sociedade civil mexicana é altamente complexae
res populistas locais, em sua grande maioria vinculados ao velho movimento urba- diversificada,política e socialmente plural, com uma agenda de demandas sumamente
no popular ou a grupos camponeses com trajetórias na esquerda partidária. heterogênea e cujos distintos componentes possuem capitais culturais, simbólicos e
Tanto o partido de direita como o de esquerda levaram para o governo os dirigen- organizacionaismuito diferentes . Falar de uma sociedade civil é, por esse motivo, pro-
tes dos setores da sociedade civil afins com sua perspectiva programática . O PAN blemático.Enfrentamos, na realidade, um conjunto de atores sociais, instituiçõese prá-
encontrou nos líderes de associações empresariais, de pais de família e de grupos reli- ticastão diverso, heterogêneo e plural que apenas em um sentido altamente simbólico
giosos conservadores a fonte do novo pessoal político, criando, dessa maneira, um representaalgum tipo de unidade analítica. Com efeito, é possívelfalar de uma ~ocie-
novo vínculo entre governo e sociedade civil local. A ausência de relações com outros dade civil somente enquanto esse conjunto de atores se situa em uma relaçãode mde-
grupos sociais foi coberta progressivamente mediante 4ma política social não clien- pendência com respeito ao Estado e limita seus horizontes políticos a uma relação de
telista, mas orientada para a formação de associações cidadãs baseadas no território · · - ou destru1çao
oposiçãoou colaboração, mas nunca d e su bst1tu1çao · - dO próprio Estado•
cuja função seria facilitar a transmissão de demandas da sociedade ao governo, o qual
conservava sempre a capacidade de decisão e implementação das políticas .
Por seu lado, o PRD incorporou os dirigentes de suas múltiplas frações internas Lições dos Estudos de Caso
aos postos de comando e tentou atrair alguns dirigentes de organizações não-gover-
5
namentais para funções de direção e de assessoria. Nesse caso, a relação entre a socie- 1. Grupos Civis Conservadoresem Guadalajara
dade civil realmente existente e o governo assumiu um caráter mais orgânico, devi -
d 'd de mais importante do Méxi-
~º.à militância prévia dos dirigentes do movimento urbano popular no PRD . Os 0 estudo dos grupos conservadores na segun a ci ª .
ís é um preconceito comum
unicos atores externos eram os líderes de algumas 0NGs, os quais, no entanto, entra - co tem o mérito da originalidade, posto que neste pa . d d · ·1
ao campo da socie a e c1v1.
ram no governo a título pessoal e sem que se conhecessem acordos específicos entre pensar que os grupos conservadores não pertencem . . ,. -
0 . . r
Mais ainda, esses grupos não incorporaram em sua mguagem idennrana essa noçao,
governo e esse setor da sociedade civil em matéria de políticas públicas. , . d naru-
Em . E d a um traço propno e sua
. ambos os casos , as movaçoes
· - mst1tuc1ona1s
· · · • foram poucas, como veremos a pois para eles sua demarcação em relação ao sta O er . , . nizacionais
segun , embora os avanços c re C . ens ideo1og1case orga
. om respeno aos ire1tos dos cidadãos e à construçao- d e
· d' · za. 0 m efeito, esse tipo de grupo tem suas ong
um estado de direito tenham 'd O · · · 'd d.
d , . . si importantes. Essas dimensões da governabtl1 a e
emocrauca correlacionam -se · · . . :-- . d U . ersid·,de de Guadalajara, e Reneé da
positivamente com uma maior transparência no exer- l ). Esrudorealizado pelos prolcssores Juan Manuel Ramírez Sá,z, 3 n,v •
orre,do <IESAS·Ücc idenrc.
336
337
nas correntes tradicionais da Igreja Católica, as quais se consideraram injustamente
e média e alta da cidade de Guadalajara que at , _
deslocadaspelo regime da revolução mexicana e sentiram -se vítimas do anticlericalis- s d d e entao haviam .
ro privado . O estu o e caso demonstra que mulh permanecido no âmbi-
mo histórico dos governos mexicanos desde a época do liberalismo do século XIX . · · erespertencent
ervadores erad tc10na1s como a Ação Católica es a grupos ulrracon-
Essa condição de exclusão fez com que a Igreja mexicana tivesse pouco poder s d d fc d é l . e o DH!Ac convergi . .. .
omum e e en er o rec m-e eito governador p . ram na m1c1an va
econômico e cultural no México, em comparação com o restante da América Lati- c . l . d . anista dos ataques dO Ih .
obJ"etivo pamcu ansta e apoiar um governador 'd ve o regime. O
na. As escolas dirigidas por ordens religiosas foram escassas no país, assim como , cons1 erado um
e um homem que representava os bons costumes d fc d'd governante1egítimo
foram pequenos os grupos que promoviam ativamente os valores tradicionais do , . e en l os por essasmulh 1
à formação do Grupo C1v1co de Apoio à Mudança q • .eres, evou
catolicismo. Paralelamente a esse tipo de grupo conservador, surgiram nas três últi- . ue, sem propo-lo explicitam
construiu um novo t1po de espaço público no qual os no . ente,
mas décadas outros de natureza mais propriamente ideológica, como Desenvolvi- . d . . . vos governantesinteragiram
mento Humano Integral A.C. (DHIAC), a Associação Nacional de Pais de Família e com esse segmento d a soc1e ade c1V1l , contnbuindo para tornar transparente exercí-
O

o Movimento Unitário de Renovadora Orientação (desaparecido há uma década), cio de governo e para dar um reconhecimento simbólico ao direito à informação
que trataram de intervir abertamente na esfera pública, atacando os princípios ideo- O estudo demonstra como esse grupo de mulheres, totalmente alheio a. uma
lógicos do regime e promovendo uma agenda conservadora. Segmentos importan - agenda feminista, desenvolveu em seu trajeto mobilizações e convocou a diálogos
tes dos empresários grandes e médios do oeste e norte do país se formaram nesse públicos os governantes, procurando manter -se à margem do PAN e da vida política
tipo de grupo e assumiram um papel público crescente de 1975 em diante . no sentido estrito . Embora tenha feito uso de suas redes elitistas para conseguirseus
No caso de Guadalajara, os diversos grupos conservadores haviam conseguido propósitos , esse grupo transcendeu a mera legitimação do novo governo para se con-
conviver de forma harmoniosa com os governos do PRI enquanto estes não invadiam verter em um interlocutor dele, permitindo que seus membros desenvolvessemas
suas áreas de atuação e respeitavam seus interesses materiais e culturais. O PAN era habilidades da vida pública .
francamente débil em Jalisco, a tal ponto que, ao principiar a década de 90, ainda Por sua vez, o Círculo de Mulheres por e para México tem sua origem na ativaçãode
não havia obtido triunfos eleitorais importantes nesse estado, não obstante o fato de mulheres de classe média alta favoráveis ao PRI, e que procuraram construir uma base
que, desde pelo menos 1983, se haviam registrado importantes lutas democráticas social baseando -se numa agenda de solidariedade de gênero interclassistae imergeracio-
protagonizadas por grupos empresariais e conservadores em Chihuahua, Novo nal. No entanto, a chegada do novo governo panista e a crescenteparticipaçãono grupo
León, Guanajuato, Sonora, Sinaloa e Baja California. de mulheres que simpatizavam com o PAN fez com que a agenda se ampliassepara a idéia
A crise política em Jalisco estourou devido a uma tragédia terrível: a explosão de de fazer propostas ao governo e de exigir dele informações e comas de seusatos. O grupo
um coletor de drenagem no centro da cidade, em abril de 1992. Esse acontecimen - convoca também os funcionários para falar com elas e os foros que se organizam são
to acionou a sociedade civil local e tornou transparentes a ineficácia e a corrupção abertos. Ao mesmo tempo, as necessidades das mulheres do setor popular e as deman-
dos governos estadual e municipal. Como parte da resposta social a essa crise, os das de outros setores sociais são reconhecidas e postuladas por meio dessecanal.
grupos conservadores adquiriram uma dimensão pública e civil. Empresários, líde- Os dois grupos estudados representam um dos tipos da sociedade civil conserva-
res de opin_ião e religiosos se organizaram e compartilharam foros públicos com dora emergente : o conservadorismo -civil liberal-democrático. Significam um avan-
. d · t rlocução do governo com
alguns movimentos populares que surgiram simultaneamente . ço em termos da construção de um novo conceito e m e
· d · d • · 0 exercício do governo; de
O estu do demonstra a notável afinidade que há entre o conservadorismo moral, ª soc1e ade; de exigência de legaltda e e transparencia n
· ' bl ' d · d de civil Contudo , trata-
0
político, 0 econômico e o social. As elites de Guadalajara se reconhecem conser- mtrodução da idéia de responsabilidade pu tea a sacie ª · . d
1 . mo de um conceno mo er-
vadoras e_m cada uma dessas dimensões, mas até 1992, haviam atuado sobretudo no se d e uma fase inicial quase intuitiva , no d esenvo vime
. .. ' fi de suas redes e víncu1os pes-
~ acompanharam seu discurso
. • '. e não no públi co. A parta· d e entao,
plano pnvado no d e c1vtl1dade. Em realidade , esses grupos izeram uso ~ ' bl'
so . d a interlocuçao pu ica com o
dcom
'b a ex1genc1a.de democracia
. ' consi'd eran d o-a a umca
' · resposta . moral e poss1ve
' l a' ais com o novo grupo governante para ace er ª um
m l .. ão do novo governo, mas ao
e dele moral e 1deológ1cado regi A d' · . . . esmo . Na prática, cumpriram funções de egmmaç 'd d~ mo inovaram as
l'b l d . me. ueita social se tornou assim uma direita
1 era - emocrátlca Em 1995 f:azê 10 - d ·c·pação c1 a a, co
das p · . . 'd · 0 h
' PAN gan ou o governo do estado e as prefeituras - nao somente aprenderam a arte a parti 1 • · à interlocução
práti d d . 'bTd de e transparenc1a
nncipa1s c1 ades de Jalisco. cas os grupos conservadores, ao ar v1s1 1 1 ª · ·.
e a0 . d d O urros grupos soC1a1s
Nesse contexto, em realidade aber , l • . servu de canal de transmissão de deman as e · · Tem poucos
sidencialde 19 4 . to em mve nacional pela campanha eleitoral pre- 1; d . . . cidade proposmva.
9 0 avia, sua própria composição limita sua capa é antes simbóli-
' começaram a mteressar-se pela participação cidadã mulheres de elas-
conh . . 1 ~ com o governo
ecimentos técnicos e legais e sua 1~ter ocuçao
338
339
ca. Os grupos reconhecem hoje que precisam de uma maior profissionalizaça-o para da' fazemdela a principal conce _
. ntraçaodemo r'fi
. . Chama a atenção que esses
ser Capazes de falar de igual para igual com o governo ista legal, os habitantes da cidade . g a tcado país No
· entantod
grupos renham sabido manter uma dara autonomia em relação à hierarquia católi-
ca e às organizações empresariais, que são seus referentes naturais nos planos moral
V
podiameleger seu governadornem os dir'
· ' · ) C'd d- d ·
careciamd d'
e treito
igentespolít' ·
s políticosaté !; o po~to~e
97, poisnao
rnuniop1os, 1 a aos e pnrneira d d tcosimediatos (d 1 -
e social, respectivamente. O Grupo de Apoio à Mudança foi capaz de criticar O r, . d . asse o pontod . e egaçoes , antes
social,os h ab1tantes a Cidade do Mé • e vista econô •
prio cardeal de Guadalajara de forma pública devido a suas posições em relaçãopa:: . . xicoeramcidad- mico,culturale
ca.Uma reforma constttuoonal tardiad Ih . aosdesegundaelas .
direitos humanos, e o Grupo de Mulheres por e para México criticou atitudes e polí- eu- eso dtreitod seempolít1-
chefede governo em 1997, formando-seantes e elegerpelaprimeira vez
ticas promovidas pelos empresários . umaassembl ,. 1 . seu
Em resumo, vemos nesse estudo como se gesta no nível microssocial a formação limitadosem 1994. Em 2000, conseguiramI eia eg1slativacompod
. - , e egertambémos d eres
de uma consciência e de uma organização civil fundada nos princípios de autono- cidadeamda nao e legalmenteconsideradaum .d d elegados. Contudoa
, . d . a enu a e federat· . '
mia, publicidade e capacidade crítica. Embora esses grupos sejam muito pequenos do uma espec1e e excepcionalidadejurídica d . . ivae connnuaviven-
. que etxaoscidadãos
para conseguir transformações substantivas no exercício de poder público, o certo é Como se viu no estudo de caso em 1997 C h , umtantonovazio.
. , , uau temocCárde 0 l'd
que criaram uma prática de interlocução em foros públicos e uma idéia de co-res- da esquerda mexicana e de seu partido, 0 PRD b . nas, 1 er moral
. . - , o teveum tnunfoavassI d
ponsabilidade cidadã no governo que significa um precedente positivo no desenvol- primeuas ele1çoespara chefe de governoda cidade Essef h' , . ª ª or nas
vimento de um conservadorismo democrático moderno. . . . 'fi , ato !Stonco gerougran
des expectativas, pois s1gm1cavauma oportunidd , · -
Ficam claras também as limitações desse componente da sociedade civil. É . . - . . a e umcapara a esquerdade
demonstrar
. , . sua capacidade de movaçao . msmucional e d d d
suavomae e emocranzar .
demasiado elitista, apela mais a princípios morais que a direitos, tende mais a legi- a vida publica. No entanto, o expenmentofoi ambíguo · 1· · ado emseus
, mu1to 1m1t
timar que a criticar e lhe é difícil transcender a agenda dos valores morais conserva- alcancese pouco transcendente na vida da nação.
dores. Não consegue conectar-se com outros setores da sociedade, embora tenha
No estudo sobre a cidade do México' faz-seumacaracter,·zaça- 0 dos atores ··
soc1a1s
aprendido a reconhecê-los e, até certo ponto, tolerá-los.
queintervêm decisivamentena açãopolíticacotidiana.Emboramilhõesdecidadãos
Em um país onde o PAN ganhou pela via eleitoral o direito de chefiar a transfor-
tenhamvotado em Cárdenas, numa conjunturaem quehaviaumarejeição popular
mação do regime político, é importante reconhecer que alguns setores conservado-
do PRJe uma ânsia de inovação,a verdadeé que, do pontode vistados atoressociais
res da sociedade civil têm o potencial de aprender no plano normativo, isto é, de se
e políticos, havia uma ausênciade forçasindependentes dospartidoscom capacida-
apropriar dos princípios de transparência, legalidade e prestação de contas como tra-
de realde intervir na vida pública. Apesarde 50%delasse concentrarem nacapital,
?ºs essenciais de um governo democrático e participar na implementação destes. O
asONGsnão representavamuma capacidadede articulação comoutrosatoressociais
1mp~rtame, em todo caso, dada a composição elitista desses grupos, é evitar que as
nemeram portadoras de projetos alternativosde políticapública,coma exceção dos
práticas democráticas se limitem aos componentes da própria elite, que não sejam
capazes de generalizar e institucionalizar os princípios democráticos pelos quais direitosdas mulheres, dos direitosdas criançase de outrasminorias,e partesdeuma
!utam e que p~rcam a oportunidade de ampliar a agenda de suas demandas para agendapública em matéria de moradiae ecologia.Os sindicatosindependentes bri-
mcor~~rar a dimensão da justiça social, sem a qual dificilmente se pode pensar na lharampor sua ausência e as organizaçõesempresariais nãoeramfavoráveis aonovo
estab1bzaçãoda democracia no longo prazo. governo.A densa rede de associaçõesde bairro, gruposculturais, associações deon-
gemreligiosa e outras formas de associacionismo civilse moviammaisemseusres-
. fi - t am comfor-
pecnvosmicroespaços, com agendassetoriaisespecí1Cas e naoconav
2 · O governo da Cidade do México e a Participação Cidadã 6 masde articulaçãoe generalizaçãode interesses . .
. . • sememcnseporcausa
Embora os velhos atores corporativose cliente11staseSt1Ves . ,.
da d m oderextraordmano ,
A Cidade do México é O eix0 • . errata do partido oficial vários deles conservavam u P d 1.
milhõesd h . economico, político e cultural do país. Seus 8,5 com · ' , · dOs trabalhadores a impe-
e a6ltantes, a que se somam outros l O m1'Ihóes que vivem na área conurba- o O smdicato de trabalhadoresda cidade, o gremw , · , _
za , bl' . dicato do metroe umamma
pu ica, os grupos de vendedoresambulantes,0 sm , b , dminisrra-
de de d ' culaçaour anae a a
G. Estud o rcafüado pelo prof Ca rlos San Ju an J 0 . . . .. - . _ pequenosgrupos de interessevincula osª espe d · ham como
nal de Antrop ologia e H istó ria e as .. J . ' Dcp ,ll tarncmo de Estudos Hi stóricos do In sciru ro NacJO- Çacde . s conservaores nn
das são de . , b' . ' scssor O governo da C idade d M' · N· · ·· n, I serviços essenciais à população. Os serore . , d organizações assis-
icsponsa didad e do auror deste texto , - • o ex1co. ao obs tante, as opin iões aqui em1t1-
uc eo a Junta de Ass1stencia
. • . Pnva . da, uma esrranha assoc1açao . e '!'
tenciais . . . 1 d à hierarquiacatoica.
340 CUJad!feçãoestava estreitamentevmcuª ª

341
Por seu lado , a esquerd a também tinha seu s próprios pactos corporativo s com 0
os atores da sociedade civil o reclamaram . N
. , • . a cultura 0 j ' · .
movimento urbano-popular da cidade por meio de seus repre sentantes políticos , functonanos como os atores soctais consi'd . P ttica dominante ta
eram ainda . , nto os
convertidos quase todos em membro s da Assembléia Legislativa depois do arra sador vocação de foros . A idéia de instâncias mi t d um direito do governo a
. . s as e definiçãod . con-
triunfo eleitoral do PRD . Além disso, as múltiplas frações do PRD também reclama - teve mator apo10 . e políticaspúblicas não
ram suas respectivas cotas de poder . Criou-se a Coordenação de Fomento à d s ·
oc1e ade Civil .
O correto consistiria então em desestruturar os velho s arranjos corporativos nova consulca sobre o estatuto legal do govern0 d C'd para impulsionar uma
ainda existentes e desenvolver uma política pública não clientelista, abrindo ao ª 1 ade do M ' ·
de uma campanha para o reconhecimento const"t . ai d . exico, como pane
mesmo tempo novas avenidas de participação cidadã no contexto de graves limita- 1 uc1on a c1dad .
federativa com plenos poderes . A iniciativa foi d . e como enttdade
ções orçamentárias e legais herdadas do passado autoritário . A tensão entre a neces- . esta vez mais de cima do d
baixo, o que determmou que a participação obtid fi . que e
sidade de manter a governabilidade e a urgência de desenvolver novas formas de par - .' . - . 1
a osse re attvamente baixa. A
expenenc1a demonstrou que nao se pode cnar de cima • .
ticipação cidadã na vida política foi resolvida , contra as expectativas , a favor da . . . . um movimento cidadão.
Fmalmente, a nova Lei de Parttctpação Cidadã em t
, . . . '
d ai h
orno a qu ouve um
primeira. Consideraram-se altos demais os riscos de curto prazo que implicava o ata -
longo debate publico,
. cnou
. . a figura
_ dos comitês vicinais, para descentra1·1zaro poder
que sistemático ao poder dos grupos corporativos , dada a circunstância de que 0
próprio Cuauhtémoc Cárdenas seria o candidato presidencial do PRD para as elei- e promover a ma10r parttctpaçao de cidadãos nos assuntos públicos. SanJuan obser-
ções de 2000. vou que o esforço foi pouco frutífero porque a figura legal dos comitês tornou-se
Carlos San Juan demonstrou que se fizeram várias experiências inovadora s com a pouco atraente para a cidadania, pois carecia de poder real e suas capacidadesde
intenção de apoiar outros atores sociais e demonstrar em nível experimental a viabi- vigilância do exercício do governo eram demasiado limitadas. Uma vezmais, 0 pro-
lidade de novos projetos, e que também se promulgaram novas leis que apontavam jeto foi muito tímido devido ao temor de seu possível uso pelos inimigos políticos
precisamente para o desenvolvimento de novas instâncias de participação cidadã. do governo perredista.
Contudo , as experiências em matéria de política social e de inovação legislativa foram A esquerda demonstrou que carecia de um projeto de redefiniçãodas relações
de dimensão reduzida e não conseguiram incorporar novos atores à cena política. entre governo e sociedade, o qual , acoplado ao cerco político e financeiroque o regi-
O caso particular do chamado Parlamento Cidadão demonstra que existe uma me impôs, limitou sua capacidade de inovação. Ademais, sua atitude conservadora
grande distância entre as ONGs e as organizações populares na Cidade do México . estreitou ainda mais seus espaços de ação. Por seu lado, a sociedadecivilda Cidade
Tanto em termos de agenda como .de cooperação em projetos específicos , as diferen- do México, forte e complexa do ponto de vista de sua densidadeassociativa , e dota-
ças são notáveis e os obstáculos ao trabalho conjunto , importantes. Do lado das da dos meios de comunicação mais plurais do país, demonstrou não contar com
ONGs, houve pouca capacidade de proposta e uma baixa capacidade de implemen - idéias fortes e criativas em matéria de democratização da vida pública e carecerdos
tação , enquanto do lado das organizações populares prevalece a cultura da solução líderes e das organizações apropriadas para negociar em um plano de i~ualdad~com
imediata para as necessidades e se dá muito pouca atenção à inovação e à participa- 0 novo governo, impondo-se um particularismo grupal. A dependência~olíuca da
· · d os dºmgentes
ma1ona · · · com respeito
c1v1s · ao grupo governanre se mamfesrou , em
.
ção cidadã desde baixo . Exceção a essa tendência foi o caso da Plataforma Cidadã e
• · - 0 de iniciativas.A propna
do projeto com Novib, a agência holandesa, porquanto se procuraram projetos ino- uma mcapacidade crítica e em pouca energia na promoça ,.
. ui vimenros programaucos
vadore s. Tratou-se de uma experiência em nível microssocial que , embora importan - P1uralidade da sociedade civil a impediu d e ame ar mo
te, não se traduziu em lições para uma política pública mais geral. coerentes, dando lugar à defesa de interesses grupais.
. O_caso dos conselhos consultivos, deliberativos e de assessoria que o governo do
, . 7
Dis_tn~o Fe_deral criou em diversos níveis demonstra também que existe um grande . . S . is Pró-Democraocos
vazio Jurídico na área e que , dado que o governo conserva a capacidade de formar 3 · A Aliança Cívica e os Movimentos oCia
os c~nselhos e designar seus membros à vontade, essas instâncias acabam sendo, na . . aparecido esporadicamente
pránc~ , ~m foro que permite receber demandas, mas não possibilita definir políti - Os movimentos sociais pró-democráucos havi~m , d !990, quase sempre
em dº . . d , d antenores a e d
cas publicas . Em razão de sua composição , o conselho de moradia teve mais êxito iversas cidades do México nas eca as 'd osirores de gran e
nessa matéria ' assim c orno O d e d esenvo 1v1mento
· . . Contudo, nem o governo com0 d ntra li eres op
social reação a fraudes eleitorais descara as co
regulamentou os conselho s para torna , - Jos mais· representativos
. . . . . , nem
e mst1tuc1ona1s

342
--=----
7· E,ru<lo realizado pelo próprio autor deste balanço.

343
r
, . local Mas a partir de 1983, quando pela primeira vez O regim e 1- ..
prest1gto · ' . . n1c1ou Essa mesma agenda foi aplicada nas eleições d .
·va abertura política , os movimentos locai s começaram a estend esta ua1se m . . .
uma relatl . er-se . mente foram o b serva d as e estabeleceu os pa , unic1pa1sque poste-
pouco a pouco por todo o país .. No nort~, _surgiram as pri~eira s lut as popul ares nor . ' . d ' . rametros normativ 1 .
. I u a perrmencia emocrat1ca dos processos el . . os pe os quais se
pós-eleitorais e os primeiros mo~1mentos c1v1spela de~ocra~a do período de tran - JUgo . e1tora1s
. Essa a e d d ,.
•coral combmada com a dos partidos políticos d . _ g n ª emocranco-
sição . Mas foi a macrofraude eleitoral de 1988 e a contmuaçao de fraude s em esca- e1e1 , d e opos1çao, permitiu
se fizessem os Acor os de Chapultepec umas , . d ._ que, em
la estadual e municipal que motivaram numerosos cidadãos a pa ssar à ação na defe- 1995' ' ene e reunioesem
'dos políticos, representantes da sociedade civil e alguns Ih . _que _ospar-
sa da democracia . ti . . conse e1rosele1tora1s cida-
o estudo de caso demonstra que os movimentos pró-democráticos do s ano s 90 dãos. .defimram a agenda
, .
de uma reforma elenoral definitiva .
que garantissea gover-
foram formados principalmente por membros de ONGs, universitários, participan - nab1hdade democrauca 90 futuro . De fato, a reforma eleitoral federal de 1996
tes em grupos cristãos progressistas e alguns líderes sociais locais . Os grupos mais acolheu os elementos básicos desses acordos . Com base nesse novo ordenamento a
significativos nos últimos anos, a Aliança Cívica e o Movimento Cidadão pela oposição conseguiu obter a maioria na Câmara de Deputados nas eleiçõesde 19; 7
Democracia, tiveram uma origem comum, compartilharam parcialmente seus e O rriunfo nas eleições presidenciais de 2000 .
membros e assumirí}m tarefas parecidas. A Aliança Cívica, no entanto, teve um per- o movimento civil pró-democrático contribuiu para a ampliação da esfera
fil de movimento social , enquanto o MCD funcionou mais como uma ONG. pública e exerceu uma pressão simbólica sobre o sistema político, combinandoa crí-
A Aliança Cívica compartilhou com as ONGs o esforço de reivindicar a identi - tica das práticas ilegais do regime com uma série de propostas de reformaque deve-
dade da sociedade civil mexicana . Com efeito , esse setor monopolizou esse concei - riam conduzir a eleições legítimas e legais. Certamente, esse movimentonunca teve
to para si mesmo, com o argumento de que constitui o único setor social organi - uma força social atrás de si. Foram as luras pós-eleitorais dos partidos de oposição
zado independentemente do governo e dos partidos políticos . Essa idéia se que acrescentaram uma pressão social à lura pela democracia eleitoral. Como se
originou no reconhecimento do aumento do número e diversidade das ONGs a par- indicou no estudo, a insurreição zapatista de 1994constituiu um fator determinan-
tir da segunda metade dos anos 80. Mais ainda, seu nível de articulação cresceu te para que o regime concordasse em realizar as reformas eleitoraisnecessárias.
muito ao formarem-se , em 1991-92, as primeiras coordenações nacionais de ONGs, A longa transição mexicana para a democracia eleitoral foi incrementalenqua~-
a Convergência de Organismos Civis pela Democracia e o Foro de Apoio Mútuo . to o regime autoritário decidia administrar as reformas eleitoraiscom o fim de evi-
Evidentemente, essa concepção era errônea, pois a sociedade civil é heterogênea e tar o maior tempo possível sua derrota nas urnas. A longa duração ~o processo_pos-
plural. Contudo, dadas a debilidade e a falta de visibilidade dos setores populares '6•1·
s1 11tou a re1ativa
· conso l"d - d os parn"d os d e oposi·ça-0 , seu crescimentonac10nal
i açao . .
e a centralidade da ação partidária nessa fase da transição, o único setor ativo e alta- . . , • d verdadeirademocraciaele1-
e a aprendizagem coletiva das normas e praticas e uma
mente visível da sociedade civil eram as ONGs e os movimentos próximos desses . ' d áticos como promotores
torai.Nesse processo, o papel dos movimentos pro- emocr
grupos . No entanto, essa reivindicação exclusiva da identidade como sociedade de uma educação cívica foi fundamental. ,. ,
civil contribuiu para aumentar a falta de visibilidade dos setores populares e deixou . . ·1 ró-democrancoa governa-
Nesse aspecto, as contribuições do movimento civi P . .
de lado os setores conservadores, como se não existissem, embora sua força ram- b'J• . h
1 idade democrática foram notáveis, recon ecen o-s q
d e ue se ltm1ramao campo
de
bém fosse crescente . j . ' . d ue nos outros campos
e eJtoral.O estudo de caso da Aliança Civica emonstra q . - de agendas
O est udo de caso demonstra que a urgência de uma saída democrática para ª a- • r exemplo,a cnaçao
Çaoque este movimento decidiu assumlf, como, P0 . d governo por
prolongada crise política aberta pela fraude de 1988 e pela modernização neoliberal cid d· . uole do exerc1c10 o
ª as por meio de consulras públicas e O con dos transcendentes
abrupta motivou cid ªd-aos d e to d o o pais, a participar em uma forma maciça
· e sem lílei0 d0 . . · poucos resuIta
monitoramento cidadão, t1veram mwro
precedentes na observação das eleições de 1994. A criatividade das ONGS que inicial- e duradouros. de problemasgra-
mente convocaram es b·1· J b r A . • - · bólicas em corno . fi
c d" sa mo I ização permitiu que a observação fosse integra eª ª - s consultas públicas foram mobihzaçoes sim renham sido e JCa-
asse imen sões até ent-
mento d
-
ª.º nao Contempladas na luta pela democracia : o moniro
· ra- ves de d 95 1996e 1997-Em6ora d' . dos
or em nacional nos anos de 19 , bl como os treicos
gastos d
ª cobertura eleito I d ·
ra os meios de comunicação;
. .
o monttoramento
dos zes pa h
• , ra c amar a atenção da opinião pu ica so
' b]' bre pro emas
.
., ·a
]'bera!e a convenienci
e campanha; a revisão d O ' d . ' . . 1 . alvigen- tnd1ge j' . nôm1ca neo I e . foi
te; a investi - d numero e eleitores; a critica da lei e e1tor nas, a necessidade de mudar a po mca eco é que seu ereico
gaçao os mecani
d enúncia de · .
d
smos e compra e coação do voco; e a v1g1 an
. r eia e de arn1· ••
e . P iar a gama dos direitos soc1a1sdos me
xicanos, 0 certo
•d'd dos partidos e do go
vemo
irregu 1andades no d 1. . ºnJuncu J fi o dec1 1 0 r·vos da
erores mais ª 1
·
ª da Jornada eleitoral. nessas
ra e não se conectou com um es orç
, . 1 ue entre os s
lllatenas. As consultas deixaram e aro q
344
345
de outros e na concomitante diminui - d
·arnent0 . çao o tamanh0 . , .
sociedade civil e os atores políticos não havia pontes de comunicação e que as con - ci ' pria Aliança. e tnfluenc1anacio-
~ da pro
sultas não faziam parte de movimentos sociais nacionais suficientemente forre s para o udo, a perda de centralidade da Alian C ' .
obrigar o governo a ceder às demandas cidadãs . Essa falta de eficácia provo~ _que a Cont .. , . d . ça 1v1cadentr0 d0 . .
, uma consequenc1a e seu própno êxito N . campo CIVil é
construção de uma agenda cidadã na ausência de grandes mobilizações sociai s não mberil . · a medida em
ca. . se tornaram mais transparentes e legais , . que os processos
é politicamente viável. 1e1rora1s , a urgenc1ado m .
e 'rico foi-se desvanecendo . Muitos dos panicip d . ovimenro pró-
O caso dos projetos de monitoramento do exercício do governo, especialmente o democra . . antes o mov1menr 0
.
às instituições ele1tora1s do país e alguns em u . , se mcor-
programa "Adote um Funcionário ", demonstra que na ausência de leis e in st ituições oraram . , m c1c1o ate ceno ponto
P se incorporaram aos parudos políticos . natu-
que obriguem os governantes a oferecer a informação necessária aos cidadãos que a
r~
refa do
.
monttoramento
do exerc1c10
' . do governo exigeum . .
exigem, os recursos simbólicos e as técnicas de investigação básicas empregadas pela A ta . grau mutto maior
Aliança Cívica resultam insuficientes . Não obstante a Aliança tenha apelado aos sionalização e uma sofisttcação técnica que não está ao alcanc d .
deprofis , . . , . e e um mov1-
direitos constitucionais de petição e informação, não foi possível obrigar o presiden - mentosocial. A permane~c1a d~ Al1~nça CivICacomo organizaçãonão pode ser um
te da República , nem o governador de Tabasco, nem o presidente municipal de Cela- firnem si mesmo, e o mais provavel e que, uma vez esgotadaa faseeleitoralda transi-
ya a divulgar dados tão elementares como suas verdadeiras receitas e a quantidade de ,0 democrática mexicana, essa organização-movimento dê lugar a uma novasériede
pessoal sob seu comando direto, ou as parcelas reais do orçamento público . ç:u os mais especializados em distintas formas de intervençãocivilna vidapública.
Nessa matéria, evidenciou-se a falta de conhecimentos legais , contábeis e técni - g ~ caso da Aliança Cívica demonstra assim os alcancese as limitações dos movi-
cos no campo civil, bem como a ausência de leis e regulamentos que obriguem o mentospró-democráticos . Em conjunturas decisivasda transiçãodemocrática, são
governo a exercer suas funções de uma maneira transparente . A Aliança Cívica não muitoimportantes para impulsionar eventos definidores tais como eleiçõesfunda-
teve capacidade para propor reformas legais nesse campo , o que demonstra que o doras. Contribuem muito para a mudança na cultura política por meio da críticaà
vazio jurídico não é resultado somente da névoa do regime autoritário , mas também
violaçãoda lei, ao clientelismo e à corrupção, e definem da mesmaf~rrnaos ~o~-
da falta de propostas do campo civil. Nesse sentido, as contribuições do movimen - teúdosde uma nova cultura baseada no respeito à lei, na aplicaçãoefetivados d1_re1-
to pró-democrático à governabilidade foram menores .
tose no reconhecimento da dignidade cidadã. Impulsionam os meios~e comu~_1ca-
A Aliança Cívica localiwu outro vazio jurídico que limita o desenvolvimento das
çãoa atuar com maior honestidade e objetividade e criticam os parndos polmco~
organizações civis pró-democráticas. Não existem formas de reconhecimento jurídico
quandonão são capazes de defender as normas democráticas. ~o entanto, por s1
para os grupos que fazem política a partir da sociedade civil. O caso do falido registro . b · sistema polmco a mudar e sua
mesmos carecem de poder su fite1ente para o ngar O . . . d
da Aliança Cívica como Agrupação Política Nacional deixou claras essas limitações , . . s . . nais é relativamente1imita a.
capacidadede proposta em termos lega1s e m nmcio • .
que no entanto são gerais para todas as ONGs, as quais operam também em um vazio • 1· . ~ r anizacionais,econom1case cu1-
Emseu interior expressam tambem as 1m1taçoesO g ._
jurídico que, embora não lhes impeça de contar com um registro legal , tampouco lhes . f .., . competem com gruposou movi
outorga um reconhecimento de sua capacidade profissional, nem prerrogativas para
ruraisde seus próprios membros . Com requencia,_ ,. sempreexer-
. j do sistema po1mco, nem
seu desempenho . Esse problema faz parte de um debate nacional necessário sobre a menrossimilares e a tolerância que rec amam . ~ líricas. Mas, em
~ . ~ .. d"1fi tes onentaçoes po
pertinência de apoiar as ONGs enquanto grupos que promovem projetos inovadores cemem relaçao a orgamzaçoes c1v1scom eren ,. ra a construçãoda
. • ·1 ó-democranco pa
em matéria de política social , defendem novos direitos sociais e atendem a setores des- resumo , as contribuições do movimento CIVI pr l I foramfundamen-
d l' · tolerante e Pura
protegidos prestando serviços que o setor público não consegue oferecer. emocraciaeleitoral e para uma cultura po mca . M, •
t . . , . hoJ·e vive o ex1co.
ais para garamu finalmente a alternan cia que
Apesa~ ~e sua composição social, a Aliança Cívica não foi um paradigma de
democracia mterna . O estudo de caso demonstra que em seu interior existiram ten -
sões muito fortes entre uma direção política centralizada e t•ma militância heterogê- SociedadeCivils
nea e dispersa no território nacional; que se tomaram algumas decisões importantes 4 . Morelos : três rostos dª
. de do México, ocorre-
sem ge~ar _os consen~os necessários e que os projetos e ações da Aliança foram, em
N • dO sul da Cida • · orrân-
sua ma1ona , concebidos sem uma participação ativa de suas bases . A tensão entre 0 pequeno estado de Morelos, situa ao l'cicosda ma10r,mp
tarnem , rocessos Pº J
movimento e organização que é n t al · d - · d · um mesmo período de tempo rres P
ª ur nesse tipo e açao coletiva se tra uzm , neSt e
caso, no esgotamento da confi d al · · d. ------------
.
- M 1•discipmare'
1
s UNAM,
ança por parte e guns grupos reg1ona1s, no 1SCan- 8 ,:----_ . ai de Jnvesrigaçoes u ti
. E;1u<l
o r ·· 1·- 1 Centro Reg1on
ea tzado pelo Prof. Morgan Q uero, e 0
346
347
· ) e fiechar as porcas para uma
, icas de ordem . mítica (o pueblocomo ator co 1euvo
po11t
eia. Primeiro, Tepozrlán enfrentou decididamente um projeto de desenvolvimento
. ação construtiva com os atores e t ·, .
local baseado na con strução de um exclusivo camp o de golfe e num projeto im o- inter x ernos Ja presentes na vida local. Portanto, a
biliário anexo . Depois , nas eleiçõe s municipais de 199 7, o PAN conseguiu ganhar a eiástência de fortes laços comunitários não garante uma capacidade de desenvolvi-
prefeitura da capital, Cuernavaca , graças à crise do governo estadual prií sta, e ten - rnento, m uito menos quando. nem os set ores 1oca1s · nem os externos sao- capazes de
tou mudar a natureza das relações entre o governo e a sociedade . Finalmente , 0 uesrionar essa ordem de coisas.
governo estadual entrou em uma crise de legitimidade ao de scobrir- se que funcio - q O caso de Cuernavaca indica que a criação de instituições modernas destinadas
nários da procuradoria de justiça e da polícia estadual estavam envolvidos na ond a a favorecer a cooperação entre governos locais e ONGs tampouco garante de forma
de seqüestros que assolava Moreia s havia dois ano s. Crimino sos e policiai s perten - automática o êxito do projeto . Fatores políticos, como o partido que governa, deter-
ciam ao mesmo bando . A sociedade civil local organizou uma grande campanh a, minam a seletividade da interlocução e o horizonte dos projetos possíveis. Em Cuer-
exigindo a renúncia do governador, a qual aconteceu finalmente em razão da s pre s- navaca, 0 PANpreferiu aproximar-se de organizações assisrencialisras e de associações
sões do governo federal. tradicionais (pais de família, associações de colonos de classe média alra) e deixar de
O escudo de caso dos municípios de Tepozrlán e Cuernavaca demonstra que as lado as ONGs com perfis de esquerda. Estas, por sua vez, foram pouco proposirivas
relações de cooperação entre as organizações não-governamentais e os governo s devido a fatores de rechaço político e ao reconhecimento de sua incapacidade para
locais não são necessariamente construtivas, apesar da vontade política dos atore s ro or políticas públicas alternativas em nível municipal. Assim, não obstante exis-
participantes. Em Tepozrlán, a mobilização popular teve como base a identidade de p p ' · 1 -
rir uma direção de cooperação com ONGs, na prattca as re açoes entre o governo ,
e
"pueblo", implicando um resgate mítico de um passado indígena. Essa identidade essasorganizações foram determinadas pelas redes preexisten_tes, e ~ão por um esp1-
implicou a exclusão de fato dos atores externos, impedindo-se que as múltipl as ' t de abertura e cooperação . Mais ainda , o governo pamsta , diante da falra de
ONGs assentadas no município participassem das orientações de ação e inclusive do s n ° 1 · · '
interlocutores organizados no espaço territoria , não reS1St1U
- d
a rentaçao_ e pro
mover
,
planos de desenvolvimento no período de franca rebeldia política da população . A desde cima a formação de associações de colonos com o ~'.11 de legmmar sua pro-
cooperação reduziu-se à solidariedade externa, sem dúvida importante para abrir pria política municipal e criar interlocutores que_lhe per'.111t1ssem opor- se aos atores
um espaço político para a comunidade e para divulgar internacionalmente sua lura. corporativos e clientelistas controlados pelo parndo oficial. d l' .
Contudo, apesar da densidade de ONGs na localidade , muito superior a qualquer Esse caso indica que, embora exista alternância no poder local e vontabe po ltl -
outra semelhante no país, surpreende a pouca incidência dessas organizações na . como as ONGs não é possível o ter uma
ca para interagir com novos atores 1oca1s, ' . ,.
definição de políticas públicas no município . Embora tenha havido cooperação - b dº da a menos que barreiras políticas, ideológicas e programau -
cooperaçao em-suce 1 ., · · a que
pontual, não se pode falar de uma integração entre atores locais e externos . . . d D esma forma essa expenenc1a ensm '
cas sejam reconhecidas e e11mma as. ª m ' d fi · nalização e
Essa experiência demonstra que, em condições de aguda contradição políti ca . em ainda do grau e pro 1ss10
em vários casos, as ONGs mextcanas carec . d . ai ra igual com os
entre um município e os níveis superiores de governo , a necessidade de unidade ,. , ·a para negociar e 1gu pa
da sofisticação técnica e po 1mca necessan
identitária reforça o caráter localista dos atores comunais e faz com que os atore s
externo s sejam vistos como apoios conjunturais e não como comp anheiros solidá - governos locais. no caso da campa-
. . d . . ovimento reve sucesso
rios em um projeto de longo prazo . Tudo parece indicar que as ONGs presente s na A auvação da sooeda e ovt 1 como m d • ro se expressou na
'li OI O tamanho o mov1men
comunidade careciam de antemão de aceitação local e que foram incapaze s de inte- nha contra o governa d or e arn ° ea.
d 1998 que contou com
100 mil voranres
grar -se em uma lura de resistênci a e dará-la de um caráter mai s proposirivo . Em grande consulta popular de 8 de março e ' 1 dos meios de comu-
Tepo ztlán, a resistência popular teve êxito em termo s de bloquear um projeto de (25% do eleitorado) . Morgan Quero d e monsrrou . que OT,pape dán foi decisivo, ao
. - h I a resistênoa em epoz ' ºd d-
desenvolvimento que foi imposto à comunidade , mas foi incapaz de articular um nicaçao nessa campan a, ta como n _ d otesro dos c1 a aos.
. d
denunciar os abusos do governa or e ivu dº lgar as açoes e pr . .
projeto alternativo de desenvolvimento . ,. · dade civil consegum
·1·d
Desde o ponto de vista da governa b 1 1 ª e d democrauca , a sooe
Essa experiência deixa claro que a sociedade civil popular rem O poder de resis- . . bem como de respon-
. . Esrado de dlfetro,
tir ª iniciativas modernizadora s impo stas desde fora , ma s acha difícil canali zar esse 1
mpor critério s de legalidade e respeito ao ' .
mesmo poder para a tran sformação das estruturas existente s, me smo sob as condi - sabilização dos governantes . e da crise de legicimidade den -
ções mais favoráveis po ssíveis. As elices locai s emergente s con seguiram reafirm ar sua Mas esse proce sso se deu no marco de uma pro1un 1 · entre d e1·111quen
.. res e
hegemonia em re Iaçao - as
' e1·Hes regiona
· . - s
1 e nacional, a cust a de reprodu zir rrad içoe , . dade · o con u10 . .
vada de uma falta de respeito excrema ª soCJe · . Iimires ao aurontan s-
a 'd , . d de civil pode impor
Uton ades. E nesses casos que a sooe ª
348
349
mo do regime. No entanto , esse poder se limita ao assunto crítico comr 0
ª Qualse dirigidos. A democracia interna que se vive n
Juta, e não pode estender-se a outros temas . · cese . a CNoc como fr d .
, se expressa necessanamenre na democra . . ente e organiza-
çõesna 0 . . c1ainterna dentro d d
izações. Embora os dmgenres principais tenh e ca a uma das
organ am-se preocupad 0 . 1·
5. A Sociedade Civil Popular no Campo : a CNOC9 aneira mais ampla possível a informação e O h . em sacia 1zar
da rn . con ec1mento que
é que em uma organtzação formada principalment possuem, o
O est~~o de caso da Coorde~adora Nacional ~e Organizações Cafeeiras (CNoc) certo , . , . - e por camponeses indí enas
baixiss1mos 01ve1s de educaçao, os assessores cumpre e. _ d . g
nos permitiu entender a complexidade da composição da sociedade civil popular nas corn . . . m runçoes e mtermediá-
. culturais e, às vezes, de brokerscomerc1a1s. Por sua vez d d ..
áreas rurais. Com efeito, a tipologia dos pequenos produtores de café é muito exten- nos . . , , , uma cama a e dmgen-
sa, assim como suas organizações gremiais, que se diferenciam em função da com- tes camponeses . vmcula a macroorgarnzaçao
. _ as assembléias de comum•dade, em um
posição étnica de seus membros, o tamanho das propriedades que possuem, os esquema parecido ao das orgarnzaçoes camponesas mais tradicionais. Contudo, no
padrões de cultivo e sua localização em regiões mais ou menos próximas de grandes casoda C NO C , o que ressaira é a aurocontenção dos dirigentes principais e a rotação
centros urbanos. Há também uma enorme diversidade de espaços de interação em relativa dos líderes camponeses regionais e locais.
que as organizações de produtores de café e os distintos níveis e agências de gover- Fernando Celis indica que as organizações gremiais representativas têm de com-
no se encontram. Fernando Celis observa que o governo não constitui uma unida- binar uma capacidade profissional de gestão e investigação, garantida nessecasopela
de harmônica e coerente, mas que em seu interior convivem lógicas e racionalida- permanência dos assessores experimentados, com um corpo de dirigentes de base
des distintas. em rotação (o que evita a constituição de caudilhismos) e uma tradição de mobili-
O caso da CNOC demonstra que as grandes organizações camponesas surgem no zação e de realização de assembléias que mantém ativadas as bases e dá uma força
calor de lutas sociais que têm um inimigo comum, neste caso, o governo, através de social e um prestígio tal à organização, bem como uma capacidade de resolverpro-
uma empresa paraestatal, o INMECAFE. Essa unidade de objeto e objetivos da ação blemas e demandas, que cimenta internamente a própria organização, a legitima
11ermitiuque diversos grupos mobilizados nos Estados cafeeiros do país interagissem diante de suas bases e lhe permite se reproduzir mesmo no contexto desfavorávelde
e confluíssem politicamente para uma organização notável por sua pluralidade polí- um mercado mundial em crise e uma intervenção estatal incoerente, desmobiliza-
tica, sua direção coletiva e sua capacidade propositiva. dora e, com freqüência, politicamente oposta à CNO C.
A pluralidade não somente é um mérito, mas uma necessidade em uma organiza- Em nenhum outro ramo da agricultura mexicana se produziu uma série de refor-
ção tão heterogênea em sua composição . Com efeito, participam desde micro-orga- mas institucionais tão atrevidas como as que sofreu a cafeiculcura.A retirada súbita
nizações locais até grandes coordenadoras estaduais, como a de Oaxaca (CEPCO), den- do Estado de seu papel hegemônico na economia setorial teve de s_er ,c~mpensa~a
tro das quais, por sua vez, se expressam interesses políticos diversos. A direção coletiva rap1'damente por uma vane· d ad e d e esquemas d.1anced a magnitude medica da cnse
tem que ver com o equilíbrio relativo de forças que há entre suas principais organi- mundial da cafeicultura de 1990-94. .
zações componentes. Além disso, o fato de que os dirigentes reais principais sejam . . .
As msutu1ções . l fi e
que se cnaram para ta 1m roram no
vas em termos de mcorpo-
.
assessoresprofissionais, com longa experiência nas lutas dos cafeicultores, contribuiu . · · do ramo. Nesse senu-
rar ao planeJamento e à gestão quase rodos os atores sociais
para planejar um mecanismo que impedisse o protagonismo pessoal de alguns deles. d0 . . · a ão sem precedentes na
, os Conselhos Operativos Reg10na1s foram uma mov ç . _ ,•
e I d ue as rescnçoespo1iucas
A capacidade propositiva deriva precisamente da formação profissional e da longa u tura mexicana Contudo o estudo de caso emon stra q I
experiência dos assessores, os quais estão entre os maiores especialistas nacionais em im . ' . l da organizaçãoe de contro ar
postas pela necessidade de manter cliente as em ca fi à t rida-
::emas vinculados com o financiamento, a comercialização e a venda do café, bem . d upos a ms s au o
ª transferência das instalações do INM ECAFE por mew e gr d · raro que a
c~mo na organização dos produtores e no caráter das instituições estatais que inter- des b , . d Estado ecermma
' em como a competição entre as agencias O d 'l b ção e gestão de
vem no setor. experi, . - . odeio e e a ora
encia nao servisse para construir um novo m m instrumento
Essa comb·maçao , 1por sua excepcionalidade no contexto agríco Ja mexica-
- notave · polític , 61" se somente em u
. as pu 1cas no setor, mas que se convertes . flito social nas
no oculta ' no enrant 0 , uma gran d e d"1vers1dade
· d.
de formas de relação entre mgen-· paliari , . ra evJtar um con
r ._ vo para uma situação de emergenc1a e Pª
egioes fi . .
ca e1cultoras . . . , l enfrentou a opos1-
A.defi101
· - . l' · cafeeira viave
9 . Estudo realizado por Fern ando C r . - çao e implementação de uma po mca • ulados ao aparato
e is, assessor da Coordenador a Nacional de Organiza ções Cafeeiras. Çaoe in . mponeses vmc . ~
est l compreensão dos grupos corporanvos ca ) baixa profissionahzaçao
ata (como d emonstra o caso da C NC em TI ap acoyan , a
350

3 51
das enrídades esraraís interveniente
. s,. os intere
h . sses político s do s govern adores e . eitoScivis, políticos e sociaisemanados da mod .
interesses das empresa s transnac1on a.1sque OJe control am totalmente a ind . os dir tituiçao
.- 1. .
e nas eis secundártas, 0 certo é q
ern1dadeeste'
. .
.
Jamreconhecidosna
· 1·1zaçao
- d o ca f,'e mexicano cons .1 ue os direitosnã0
. Ass1rn,
· - ob stant e O f: .UstriaJ·-
· 1
zação e a comercia nao . arn de modo pareia e segmentado. Essefi , secumpremou se
. - . d d d , . ato oe que ap1tC . . enomenotemsu .
CNOC e as orgamzaçoes m epen entes e pequenos. ernpre sanos priv ados tenha a
. . •sinohistónco mextcano e é resultadodo altog d d' . . ª ongemno aurori-
proposto uma polínca cafeeira completa que podena ter dado viabilidade _10 rn can . d . . rau e iscnc1on. d d
ou regime para ecidir quando respeitara 1 . . ane a e comque
em um mercado mundial hipercompetidor, as .restrições políticas existe ntes • anula
rarno con[ O . _ , . ei e quandoviolá-1 S
de Direito, nao ha maneira de dar estabilidade .. 61. . ª· emum Esta-
ram essa possibilidade.. Por outro
. lado, as restnções do mercado cafeeiro tornararn - do , prev1s1 1idade 'd
cidadãose à vida pública em geral. e segun adeaos
inviável a subsistência econômica da.s empresa s camponesas, com exceção d·.1 CE _rco
de Oaxaca e de pequenas empresas de café orgânico .
Em resumo , nem sequer a organização camponesa mais numerosa , organiza • da b) Conseguiruma verdadeira separação depoderes
e autônoma que há no México pôde forçar o governo a adotar uma política cafeei- o regime
. _ autoritário
. anulou
. a separaçãode poderes
. • por esta razao,
_ 0 poder
ra racional e a aplicar critérios de bom governo no exercício de suas funçoes - . legislauvonao podia func10nar
. . . , como
. uma
. verdadetramediaçao - entreo Estadoe a
Somente uma mudança radical na composição do governo pode criar condições sociedade,nem o poder_ JUdtciano
,. podia
. garantir os direitoscidad-
aos.Estabelecer
favoráveis a uma interação construtiva entre organizações camponesas e Estado. claramenteessaseparaçaoe imprescindívelpara abriros espaçosde açao - da soCie
. da-
decivil,criando uma interlocuçãomúltipla com os poderesdo Estado e protegen-
do legalmentesua ação. A alternância no poder que se começaa viveratualmente
Propostas para melhorar a Governabilidade Democrática podeser um fator positivo nesseprocesso.
a partir da Sociedade Civil
c) Descentralizaçãodopoder:a caminhode um verdadeiro federalismo
A sociedade civil compõe-se de três elementos correlacionados : um sistema legal A descentralizaçãodo poder é outro requisitoparaque a sociedadecivilrenha
e institucional que estabelece, protege e atualiza os direitos cidadãos; um conjunto poder.A centralizaçãoconduziu ao fechamentode espaçosde negociação emescala
de movimentos sociais e de associações civis que são social, política e ideolog:camen- locale estaduale concentrou de tal maneiraos recursospúblicosno governofede-
te heterogêneos; uma cultura política ancorada numa diversidade de espaços públi- ralquetodos os atores sociaisse viram forçadosa dirigirparaelesuaação,o queos
cos, favorável à tolerância e ao respeito mútuo e inclinada a uma relação crítica com punhanuma posição de desvantagemestratégica.A descentralização devepermitir
o Estado e o mercado . a multiplicaçãodos espaçosde encontro entresociedadee governoe darà socieda-
As contribuições da sociedade civil à construção de uma governahilidade decivilurna maior capacidadede influênciano planejamento e supervisão
de polí-
democrática se situam em cada uma dessas três dimensões . A seguir , analisaremos ticaspúblicasem espaçoslocaise regionaisqueestãoao alcancedesuasprópriasfor-
esse fenômeno, separando por razôes metodológicas esses crês níveis . Agregare- ças.Evidentemente,o aproveitamentodessavantagemdependede que hajauma
mo_s urna quarta perspectiva que se refere aos fatores internos às organizações sociedadecivilforre nessesplanos da realidade.
c1v1sque devem ser Jeva d os em conta nesse processo . Com freqüência. , as reco-
mendações
_ . de políti ca passam por aJto que mudanças tendentes à democranza • - d) Profissionalização e desclientelizaçáo
dosaparatosedasagências doEstado
çao da. vida pública abran gem tam bem ' necessanamente
• · -
as próprias organ1zaçoes A improvisação , a incoerência,os conflitosinternose a fragmentação quecarac-
da sociedade civil. terizavam a ação das agênciasdo Estadoeramfuncionaisdesdeo pontode viSr a da
dominaç- ao poI'mca
· part1culansta
• • que exeroa • o governoauronrano.
· ' · Issolevou. .a uma
_
enormeinencac1a
· " , · operauva, . ao desperdíc10. de recursose ao exces so de polmzaçao
.
das
_ pol'iucas
· publ1Cas
, . . Neste marco é compreens1vel, , masimper
•. doave ' 1' que amda .
1. O sistema legal-institucional
naoexista . . . . M , . A · -0 de umaburocracia
um serviço c1V1! de carreira no exICo. waça
moderna . . d · feruadofoiimpossí-
a) Construirum estadod d ' . ' que a tecnocracianeoliberal,em reona, evenarere '
Como . e 1re1to vel por ra - .. . I sávelporseusaros era
. se viu nos estudos de ca . e a . zoespo1mcas. Uma burocraciaprofiss10nae respon
organizações civis , . , . so, uma demanda recorrente dos mov1menros ntrréticaa0 cararer
, clientelisrado regimeauronrar10.
•, ·
e a ex1stenc1ade um Esta d o de Direito operativo . Em bora os

352
353
escala por carecer de apoio e l'1 .
e) Modificações legais que permitam aos cidadãos exigir a prestação de contas dos na . nnanc1amenropúbJ' S .
ais antigas ou mais próximas da e d _ icos. omenreas orgamzaçõe s
governantes rn s run açoes estran ·
fil de visibilidade e contar com d geirasconseguem manter um
O presidente da República, os governadores e os presidentes municipais comam per um campo e ação l N .
lei desse tipo, a da Cidade do Mé . é . amp º· o México, a primei-
com um marco de prerrogativas legais e extralegais que lhes permitem burlar os ra xico, muuo vaga l · d -
direitos constitucionais de informação e petição. Inovações legais e institucionais são formasconcretas de aplicação. e gera e am a nao encontra
necessárias para garantir o acesso à informação e a prestação de contas .
c) Garantiro acessopúblicoaos meiosae
J . _
comumcaçao
f) Criação de novas instituições híbridas ou mistas de cardter cidadão-estatal em Em países cão desiguaiscomo o México O • ..
áreas sensíveis da vida pública
. ' s movimentossociais e as organizações
civis carecem
. dos
_ recursos para pagar publicidade e d'fu d' -
I n 1r suas açoes. Desse
Nas áreas de contato direto entre governo e sociedade devem-se criar organismos
modo, os c1dadaos.em ._ geral e
. suas organizações
encontr
am munas 11cu ades para
· d'fi ld
híbridos ou mistos entre governo e cidadãos, ao estilo do Instituto Federal Eleitoral,
manifestarsuas opm10ese divulgarsuaspropostase proJ 'etos. No MeXJco
, • , nao- exi.s-
no México, da Defensoria do Povo, na Colômbia, do Orçamento Participativo, no
tem leis de acesso público aos meios de comunicaça'o
, nem d' - ,
as con 1çoestecn1ca· se
Brasil, e das Audiências Públicas, na Argentina. Instituições com capacidade de
representar simbolicamente os cidadãos diante do Estado, dotadas de autonomia st
políticaspara fazê-lo. Parte sub ancial da democratização da vida públicaserá a
legal e orçamentária, que contem com pessoal profissional capacitado, e no interior democratizaçãodo acessoa essesmeios. Emboraa transiçãopara a democraciaem
das quais se tomem decisões vinculantes que se executem de uma maneira transpa- andamento os tenha levado a ser mais pluraise abertos, sua propriedadeestáalta-
rente, prestando contas à sociedade, são necessárias como espaços intermediários menteoligopolizadae não existenenhumaregulamentação de suas atividades(Arre-
entre a sociedade e o governo . Essas instituições teriam a função tríplice de desclien - dondo e Sánchez Ruiz, 1987). Tanto do ponto de vistalegislativo quantodo insri-
teli~r as políticas públicas, promover a participação cidadã e garantir a vigência e rucionalhá muito por fazer nesseterreno.
aplICação real dos direitos cidadãos .

3. Os aspectosculturais
2. A rede associativa e de movimentos sociais
a) Generalizar o acesso
à educação
a) Garantir a liberdade de associação As diferençasabismais de acessoe de qualidadena educaçãoque recebem as
Um dos principais mecanismos pel · · criançase jovens de acordo com a renda de suas famílias
, como farode vivernas
. os quais o regime autoritário submeteu
amplos setores da sociedade civil foi a anulação de fato d 1·b d d d . - cidadesou no campo, ou por tradiçãoreligiosa
, geramuma distribuiçãodesigualdo
b d · • a I er a e e assoc1açao,
so retu ~ n~s smd1eat~s de trabalhadores urbanos e rurais (Middlebrook, 1995), capitalcultural que põe em desvantagemos setoresmaispobres da população , os
nas assoc1açoes patronais ou de em re , • (L quais,com freqüência, desconhecemseus direitosmaiselementares . A tradição do
. . b P sanos una, 1998) e nas associações profis-
s1ona1s, mas tam ém no caso das or ani - . , . clientelismoe do corporativismo se fundou na dependência , tanto pessoalcomo
camponeses (Olver ) O g zaçoes e InS t anc1as de representação dos
a, 1997 · controle est l d O · s culturais que eram, ª~mesmo
coletiva, dos pobres em relaçãoaos intermediário
foi O filtro que perm ·t· . ata registro legal dessas associações tempo, agentesdo Estado. Romperessa dependência exige, enrre ourras coisas, uma
1 iu ao governo impor ' ,.
tivismo oficial Uma d l . representantes e lideres fieis ao corpora -
. mu ança nas eis trab Ih' , • melhordistribuição do conhecimento.
te e necessária para perm · • f1 . ª JStas, agranas e de associações é urgen-
mr o oresc1ment 0 d •
e uma SOCJedadecivil popular . b) Realizarcampanh as maciçasde educaçã o cívica u1
. d .E promotores de uma c -
b). Criar novas formas de reconh . . O exemplobem sucedido da Aliança Cívica e O IF comO . . . ai
eczmento;uríd ' d . _ .. . d' , ·so ensinar os direitosem ger
As organizações civis qu b Ih zco as organzzaçoes czvzs turade respeito aos direitos políticos m 1ca que e preo . _
. e tra a am na pro - d d' . . - , . di óes para sua aphcaçao ou res-
d e proJetos de desenvolvi . . moçao e 1rettos, na 1mplementaçao a população , ao mesmo rempo em que se cnamcon ç , . O i-
mento e em at1v1d d . . e , alarmante no Mexico. reg
reconhecimento do int ,b . ª es assistenciais carecem de formas de pe1to.O desconhecimentodos direitosé um renomeno
. .
_
arecesse uma concessaoou
d eresse pu hco de su . .
0 mundo das 0 NGs no M, . . as atividades . Este é um problema geral me autoritário fez com que o cumprimentode direitosP . -
exJCo, as quais se , b . u d É ecessá rio reverreressas1maçao.
veem o ngadas a trabalhar em peque- maprebenda, e não urnaobrigação do Esra o. n

354 355
c) Melhorara distribuiçãoda renda
gentes. Em realidade, esse pr ob lema é generalizado .
Este fator parece estranho ao campo da cultura. No entanto, está estreitamente , . l E b h . em quase todas as orgarnzações
de carater gremta • m ora ªJªrestrições organi · . .
vinculado a ela. A pobreza leva à perda de auto-estima e à necessidade de vender a , d , 'd . . zacionais que explicam em parte
este fenomeno , sem uv1 a mflui tamb ém a inexist ' • d
lealdade política em troca de pequenos benefícios econômicos que são essenciais para . . d e encia e urna cultur a democrá -
tica na ma10na as rorças da esquerda mexicana. O .
a sobrevivência. No México, a crescente miséria levou à desintegração familiar e à . . . mesmo va1e para munas 0NGs,
emigração em massa, a qual debilita o tecido social (Zermefio, 1998). A pobreza é o
.
que igualmente trabalham em m eto da mform alidade e so'b O contra 1e urnpessoal ou
melhor caldo de cultivo do clientelismo . Uma política agressiva de redistribuição da de pequenos grupos de pessoas. Por elementar congruên · , , .
. _ . . cia, e necessano que as
oNGs e orgarnzaçoes grem1a1s cumpram em seu próprio interi·or - .
renda ajudaria a fortalecer uma cultura da autonomia individual e coletiva. . ,. aqut 1o que exigem
do sistema polmco .

d) Reformaros conteúdose a qualidadeda educação


Durante décadas, as escolas do México ensinaram uma história nacional mítica e b) De~e~se conseguirum maiorgrau de institucionalidadeeformalizaçãonasorga-
ideologizada, e jamais se falou de verdade de direitos nas páginas dos livros de texto. niz.açõ
es CIVIS
Embora nos últimos anos os conteúdos dos livros tenham melhorado, a qualidade da Boa parte das 0 NGs trabalha sem respeitar seus estatutos internos e sem que
educação diminuiu devido aos baixos salários dos professores . Uma reforma educa- funcionem seus órgãos formais de direção . As finanças nem sempre são transparen-
cional completa implica uma mudança na atitude dos professores , a dignificação do tes e as relações trabalhista s quase nunca se fundam nas leis aplicáveis. Durante
trabalho docente e uma revisão completa dos estilos e conteúdos do ensino. anos, a precariedade econômica e política de sua existência explicava a informali-
dade e a improvisação de sua vida interna . Mas a continuid ade desse estilo de tra-
e) Generalizaruma culturada tolerância balho na década de 90, quando ao meno s para as organizações mais importantes
~ intolerância _de tod_os os tifos, baseada em fatores religiosos, ideológicos ou houve maiores recursos , não se justifica . Esse estilo de trabalho leva à impossibili-
polmcos, _ou_e~ h1erarqu1asdegenero ou de geração , constitui uma cultura profun- dade de formar novos quadros , à rotinizaç ão das organizações, à personalização de
dame_nte mc1v1l.Devem-se projetar leis e instituições que combatam a intolerância, sua direção, e, com freqüência , a sua conversão em uma espécie de empresas priva-
especialmente através da garantia do respeito e aplicação universal dos direitos . As eli- das de consultoria .
tes políticas, culturais e sociais têm de assumir atitudes tolerantes e dar O exemplo.
c) Deve-se criar uma cultura da tolerânciaepluralidadeno interiordo mundodas
organizaçõescivis
4 . Sobre o caráter das organizações da sociedade civil No México, as 0NGs de esquerda e os movimento s sociais pró-democr áticos
crataram de retomar par a si a identidade de sociedade civil de mane ira exclusiva
_
As mudanças macropolfticas , legais 1 •
, e cu curais que podem ajudar na consolida- ao longo dos anos 90. Esse uso simbólico da identidade de sociedade civil era
çao e no poder da sociedade civil não excluidor de outras forças e setores sociais . O desconhecimento dos setores con-
. , . garantem per se o seu desenvolvimento . Fato-
res internos as orgarnzações civis d servadores, das organizaçõe s gremiais e profis sionai s, dos grupos culturai s, refletia
_ , . po em ser um dos grandes obstáculos à coopera-
çao com o governo, a inserção na so . d d d . uma falta de tolerância e de plur alidade . Mai s ainda , no interior do próprio
de id O d d' - e . cie ª e as próprias organizações e ao uso
v as con 1çoes1avoráve1s ao seu d l . campo das 0 NGs ocorrer am algumas vezes conflitos por áreas de influ ência, pela
. esenvo v1mento. A sociedade civil realmen-
te existente expressa também em se11 . . . .
. _ mtenor as limnações históricas que padeceu e maior influência sobre as fundações que financi am e pela lideranç a. Essa situação
as con d içoes em que se desenvolveu .
eStá mudando rapid amente e a alternância políti ca deu lugar a novos esforços de
articulação plural nesse tipo de organização. Contudo , ainda há mu ito por fazer
a) As organizaçõescivisdevemserdem , .
Como se pôd b ocrattcase transparentesem seu interior neste campo.
e o servar nos escudos d . .
reproduzem em seu · . e caso, com freqüência as organizações c1v1s
mtenor os mesmos , •
tos e organizações ca . vicws que criticam no Estado . Os sindica- d) Deve-seavançarna profissionalizaçãodas organizações civis .
mponesas mdepend Do mesmo modo que no Estado , as organizações civis que a aspiram ou conse-
verticais e pouco trans entes costumam ser paradigmaticamente
parentes, e concent d . - d' . guiram a permanência e o reconhecimento público devem eStabilizar um corpo pro-
ram ec1soes e visibilidade em seus m-
fissional de empre gado s que lhes permita dotar- se de um a maior capacidad e de pro-
356

357
O Mé~ico tem hoje a oportunidade de avançar s b .
posição, de análise e de intervenção . A instabilidade trabalhista que prevalece no ·1·d d d á . u stant1vamente na construção
overnab1 1 a e emocr tlca e no fortalecimento d .d d . .
setor e a informalidade e localismo como métodos de aproximar-se do pessoal da g . d 'd . a soc1e a e CIVll. Mas,como
rodas as coisas a v1 a, a oportunidade não signifi 'd d . . .
devem ser superados caso se deseje adquirir a capacidade de interagir com o gover - ern . . . . ca necess1 a e nem mev1tab1 -
·d de Para atualizar o potencial hoje existente será n ,.
no em um plano de igualdade . Atualmente, há uma contradição entre a demanda ha · ,. . ,. ecessano que tanto os atores
. 1·s como os poht1cos sepm autocm1cos e construtivos · I
de interlocução e a relativa incapacidade de proposta. 5oc1a . s1mutaneamente, e que
a democracia se estenda progressivamente a todas as ordens da vida social.
e) Deve-se recuperara relaçãoentre ONGse movimentos e organizaçõespopulares
No México, a maioria das ONGs próxima a posições de esquerda surgiu com a
vocação de ajudar os movimentos populares em suas lutas contra o regime autoritá- À Maneira de Conclusão
rio . No entanto, como se observou nos estudos de caso , a partir da crise dos setores
populares da sociedade civil nos anos 80, ocorreu um processo de autonomização A sociedade civil cumpre três funções essenciais na promoção de um conceito de
das ONGs em relação a seu antigo etos e, na década de 90, a democratização da vida overnance
e participação cidadã na vida pública: de um lado, exige a estabilizaçãoe
pública levou este setor a privilegiar sua interlocução com os distintos níveis de :i ência de um Estado de direito; de outro, contribui para a criação, expansãoe per-
governo. Dessa forma, as ONGs alteraram sua missão original e, de alguma maneira, m!nência de uma série de espaços públicos através dos quais os distintos grupos
deixaram um enorme vazio no campo da educação cívica e da transmissão de conhe- · · dem comunicar-se entre si e com os sistemas econômico e político. Final-
waffl ~ . • .
cimentos e habilidades técnicas e organizacionais, das classes médias até os setores ·o desses diálogos pode aJ·udar a construir uma cultura da toleranc1a
mente, por mel '
populares . Em um país tão desigual como o México , é imprescindível que os seto-
e do respeito ao outro . . . •
res organizados da sociedade civil contribuam para a organização e a aprendizagem , ··co a sociedade civil é ainda muito débil e em nenhum dos
No M ex1 , . tres terre-
.
coletiva no seio dos setores não organizados. A política social do Estado não pode ·onados se conseguiu um avanço irreversível. A ma10r conquista
nos antes menc l • d
suprir esta missão, pois não é possível criar organizações civis autênticas desde cima , c · a estabilização da arena eleitoral e o crescente respeito os
como mostra repetidamente a experiência . dos anos recen tes 1'01 ai b
direitos políticos, processo ainda incompleto nos níveis local e estad~ em ~a
Em resumo , o desenvolvimento da sociedade civil exige ações e mudanças insti- , No entanto os direitos trabalhistas continuam sendo violados s1s-
tucionais nos níveis macro e micropolítico , legal e organizacional , e cultural . Do parte do pais. ' , D d
tematicamente, assim como os civis da maioria mais po~re ddopla1s . l1'de:d:; :~::~
mesmo modo, implica a crítica e a transformação dos vícios e tradições próprios da . nçou no respeito a p ura
de vista cultural, po d e-se d izer que se ava . _ d' • · d' _
sociedade civil realmente existente. Concentrar-se somente em um desses aspectos . . - . nte à revalonzaçao dos irenos m ige
não resolverá o problema do conjunto. zapatismo deu uma contnbuiçao importa 1 · J ão federal
. d - traduziu em uma nova eg1saç .
A relação entre os distintos componentes da sociedade civil e os diferentes níveis nas, a qual, no entanto, am a nao se d b'l'd d ssombrosa nos setores
. d se uma e 1 I a e a
de governo é múltipla, complexa e altamente diferenciada. Não podem ser assimi - Desde a perspectiva os atores, tem- . _ e pleno de suas capaci-
'd' b mda nao razem uso
populares e as classes me ias ur anas a
lados em um modelo único , uma vez que seu caráter varia funcional e substantiva-
mente em cada espaço de interação . A relação das organizações gremiais com os apa- dades associativas. . I diversa, sobretudo nos
. u mais comp exa e .
ratos econômicos do Estado não é a mesma que a relação das ONGs com as instâncias A sociedade civil mexicana se torno . _ paços que lhe perm1-
as organ1zaçoese es . e .
de de~nição d~ ~olí~icas públicas . É por isso que uma estratégia de fortalecimento espaçoslocais, mas ainda não conta com . 1 o espaço público 101
. h de corte nac10na. .- .
da soc1ed~de c1v~lonentada para a democratização da vida pública tem que abarcar tam crescer e realizar grandes campan as d . minável crans1çaomexi-
, . o curso a mter
todas as d1mensoes antes mencionadas. monopolizado pelos partidos po !mcos n um momento avança-
. e se encontra em 1 - O
O discurso da sociedade civil na-o no s d eve 1azer cana para a democracia, que neste m st ªnt de sua cone usao.
, . . e
esquecer que a governa b'l"d
1 1 ad e 88 ode estar perto .
democratica se constrói nas ordens políti'ca , J·uri'd 1ca,
' · · ai e cu Itur ai e na- o
·mstituoon do e arriscado. O ciclo iniciado em l 9 P d d ocracia na forma de mawr
d mento a em ·ge a
somente no campo específico dos . . . e passopara um novo ciclo de apro fun a d cício do governo exi
. encontros entre governo e sociedade c1v1l.De rato , ·· . , bl' controle O exer ' blicos
tanto ª teona como ª experiência internacional confirmam o caráter holístico do pamc1paçãocidadã na vida pu ICae no
· · berrura de novos
tipos de espaços pu
· brigar o
processo de democratização e · 'd - emergênciade novos atores sooa1s, a a odo é preoso 0
. . . ' concomnanremente, do surgimento e consoli açao I Do mesmo m ' mir um
da sociedade c1v1I. e uma diversificação das arenas d e uta. . d seu conjunto a assu
governo a respeitar a lei e a convencer ª sooeda e em
358
359
UNA, Matilde ( 1992), Los empresariosy el cambiopolítico en México, 11S- UNAM- ERA.
compromisso com a justiça social , sem a qual não poderão surgir organizaçõe s L JDDLEBROOK. Kevin J. (1995) , The Paradox of Revolution : Labor,the State, and Autho-
populares fortes e autônoma s. M . ,-ianism in Mexico, Baltimore - Londres, Johns Hopkins Universiry Press.
Cabe recordar , neste processo, que a sociedade civil não tem capacidade de repr e- nta
JCHELS, Robert (1970) , Losparti.dospo!'ltlco
. s, Buenos A.Ires, GedºIsa.
sentação de interesses como conjunto, uma vez qu e é um multi colorido bloco de M VERA Alberto J. (1997), "Transformaciones económicas, cambios sociales y parrones
OL ' •
le campo mexicano: los obstaculos a 1a democracia· en e1mundo rurai" , en
associações heterogêneas, com interes ses diverso s e, às vezes, contraditório s. Sua cu1cura1es en . , . , . s· L
( Ord ) La democraciade los de aba;o en Mex1co, Mexico, 1g1o XXI- a
ação abre uma série de novos espaços públicos em que o campo da política se dil a- Jorge AIonso co • ·
ta . Mas a política da sociedade civil é a política da influência, isto é, da pre ssão indi - , · 5· J
- O S · ( l 996) La sociedadderrotada, Mexico,
Jornada.
1go XXI.
reta que se exerce apelando à crítica, ao convencimento e ao consenso . Naturalmen- ZERMEN ' ergw '
te , essa forma de ação política é limit ada e pouco eficiente, pois por definição
constrói cenários múltiplos, tantos quanto diversos sejam os atores, temas e intere s-
ses em jogo .
O anterior deve prevenir-nos contra uma noção de sociedade civil demasiado
estreita ou funcionalista. A sociedade civil não é um ator coletivo, não é um espaço
único ou unificado , não se limit a a ONGs e não constitui uma espécie de ator histó-
rico transformador por natureza. A sociedade civil é um resultado contingente da
construção da modernidade que somente se consolida plenamente com a democra -
cia e o Estado de direito. A sociedade civil carrega a promessa de uma relação críti-
ca com o sistema econômico e político, mas a atualização desse potencial é contin-
gente e não necessária . Dentro da sociedade civil coexistem interesses contrapostos
e contradições econômicas, políticas e cultura is. É um espaço de conflito dentro do
qual se processam interesses e princípios ao mesmo tempo em que se criam mode-
los de interação com o mercado e o Estado que podem ou não favorecer a institu-
cionalização democrática. A sociedade civil tem como um referente sociológico
necessário o espaço público, o qual tampouco é um a entidade abstrata , ma s uma
rede de espaços que vão desde o microlocal até o internacional. A indeterminação
da sociedade civil deve prevenir-nos contra qualquer hipótese causal unidirecional.
Contudo, no fundo dessa categoria, existe um conteúdo normativo que a vincula
com a autonomia, o autocontro le, o debate e a construção de consenso . Por mais
que esse conteúdo seja contrafactual, isto é, sem relação necess:íria com sua atuali-
zação prática, ele existe como pano de fundo simbólico e de sentido da categoria de
sociedade civil, razão pela qual esse conceito continua e continuará sendo um refe-
rente simbó lico das luta s pela democratização da vida pública .
Traduçiio: Pedro Maia Soares

Referências bibliográficas

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e p , .
o 1Jt1cas
Pública s: o papel da soe1edade c1v1l no s anos 90 .

EVELINADAGNINO é PhD . em Ciência Política pela Univ ersidade de Stanford


Sobre os Autores: e
Estados Unidos e proressora c·· ·
d o D epartamento d e 1ene1a P o !'ltlca
· da Univer sidade
' nos
d
Campinas. Organizou ?s anos 90 : polític~ _es~ciedade_no Bra:il (Brasiliense, 1994):
Culturesof Politics/Polittcsof Cultures: Revmo~mg Latm Amencan Social Movements,
com Sonia Alvarez e Arturo Escobar (Westv1ew Press, 1998), publicado no Brasil
como Culttira e política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras (Belo
Horizonte , Editora da UFMG, 2000) . Tem publicado, no Brasil e no exterior , artigos
sobre as relações entre cultura e política, movimentos sociais, democracia e cidadania.

GEMA GALGANIS. L. ESMERALDOé professora da Universidade Federal do Ceará,


Vice-Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero , Idade e Famí -
lia da UFC. É autora de O feminino na sombra. Relações de poder na CUT (Fortaleza,
Editora da Universidade do Ceará, 1998).

RTOJ. OLVERA
ALBE é PhD em Ciência Política pela New School for Social Research, LEONARDOAVRITZERé professor do Departamento de Ciência Política da UFMG. É
Nova York, e trabalha no Instituto de lnvestigaciones Histórico-Sociales da Universi- autor dos livros Sociedade civil e democratização (Editora Dei Rey, 1994) , A morali-
dad Veracruzana em Xalapa, México. Coordenou no México o projeto Sociedad Civil dade da democracia(Editoras Perspectiva/UFMG, 1996) e Democracy and the Public
y Gobernabilidad e é autor de inúmeros artigos sobre a sociedade civil, tendo organi- Space in Latin America (Princeton Universiry Press, 2000) .
zado La SociedadCivil.-de la Teoríaa la Realidad(México, Colegio de Mexico, 1999).
LUCIANATATAGIBAé Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de
ALDO PANFJCHIé PhD em Ciência Política pela New School for Social Research, Campinas (IFCH/UNICAMP), Doutoranda em Ciências Sociais, na área de Cultura e
professor do Departamento de Ciências Sociais da Pontificia Universidad Católica Política (IFCH/UNICAMP)e Professora do Centro Universitário Vila Velha, no Espíri -
deiPeru em Lima e coordenou O projeto Sociedad Civil y Gobernabilidad Demo- to Santo.
· SociedadY Cultt,-
crática na região Andes-Cone Sul. É co-organizador de ]11ventud
ra( Red de Ciencias Sociales, Lima, 1999) e publicou "The Aurhoritarian Alrerna- MAGNÓLJAAZEVEDOSAID , d d . . , h
- e a voga a, com espec1al1zação em Saude Trabal o e
tive: Anri-Politics in the Rethinking of Lima " em The New Politics lnequalityin
0/ Meio Ambiente para o Des n J ·
.
5 , · ' 1
e vo v1memo ustentavel e Presidente da ONG Esp ar -
LatinAmerica.Rethinking Participationand Representation, organizado por D · Chal - Centro de Pesquisa e Assessoria, Fortaleza.
mers er al. (Cambridge, Oxford University Press, 1997).
MARJAANTÔNIADE SOUZA , D d
C . - e ourora em Educação pela Universidade Esradual e
AN
A Cl.AUDIA CHAVES TEIXEIRAé Mestre em
c·ienc1a pOlínca
A • . pela Universidade de
,. t
ampmas e professora na Un ·
, · l .
"d d ·
iversi ª e Estadual de Ponta Grossa, Paraná. Pesquisa
C · Ar d p t"cipação Popular e Polm-
ampinas. Pesquisadora do lnsriruto Pólis, na ea e ar i emaucas re acionadas ao MST desde 1992.
cas p 'bl" U · · ' io Monte Serrar (Santos,
u icas. Professora de sociologia do Centro mversirar
SãoPaulo). PAULAVALERIA MUNOZ CHIRINOS , f. . . . . ._
dad Catolica d p f. . . e ormada em Sociologia pela Ponnfioa Universi
, .
D emocrauca e eru e o1 assistente no proJ·eto "S . d d c · ·1 G bernabilidad
en lo And C OCJe a iv1 y o
CAJ(LAALME IDA SILVA é Mestre em Ciência Política pela Universid~de ~stadual de s es y ono S " A · d Edu -
Camp· c·. • Sociais na Universidade Esta- cación Electoral y c· d · d ur · tualmente forma parte da eqwpe e
inas e professora do Departamento de iencias Lima, Peru.
iu a ana da A · ·, 1 (-ER)
sociacion Servicios Educativos Rura es ~ '

363
364
"confluência perversa" de dois "proje-
tos políticos" distintos e freqüente-
mente antagônicos - um advindo da

S
sociedade civil que, no período pós- ociedade Civil e Espaços Públicos no
transição, reivindica a participação ci- Brasil analisa a participação da socieda-
dadã na gestão da coisa pública; e de civil e sua contribuição para a demo-
outro de um Estado neoliberal que cratização no Brasil contemporâneo e tam-
hoje diz "precisar da sociedade civil" bém em alguns outros países da América
para, de forma instrumental, executar Latina. Através de seis estudos de caso rea-
programas e projetos de índole social, lizados no Brasil, onde se examinam as
JFF
--Núcleo de Oocumentaçã, antes realizados pelo próprio Estado .
relações entre o Estado e vários setores da
1• FICHA 00 BOLS{: É essa confluência, argumenta a auto-
sociedade civil, como ONGs e movimentos
.ra, que nutre os conflitos entre a socie-
Autor:. Sociedade civil e dade civil e o Estado, documentados sociais de vários tipos, esboça-se o início de

r~
.1_ públicos no B nos éstudos de caso nacionais . Para uma avaliação sobre a experiência recente .
Título: Central - Gragoatá - 3. melhor situar a experiência recente do de constituição de diferentes espaços públi-
S678 ··~ [163~~ Brasil no contexto mais amplo da Amé- cos, apontada como uma das grandes novi-
rica Latina, o livro conclui com dois dades do nosso - difícil - processo de cons-
t-DIEVOLVE.R
~======-=:=.::=.=r==;
l!!M
·N~º~MÃTilÍi excelentes ensaios sobre a dinâmica da trução democrática. As experiências dos
sociedade civil e sua relação complexa Orçamentos Participativos, dos Conselhos
--- -- - ---- -- com a governabilidade democrática no Gestores de Políticas Públicas, a atuação
-·-.------- ---- México, na região andina e no Cone
- -- - -- Sul. Este volume, em suma, represen-
junto ao Estado das ONGs e de movimen-
1---- - - - -- ----
-- 1 -- ta uma contribuição sem par ao deba-
tos sociais como o Movimento dos Sem
--- - - te público e à literatura nas ciências Terra, os movimentos de mulheres e pela

-~~ 1=--1 sociais sobre os movimentos sociais, as


ONGs, e a sociedade civil, bem como
Reforma Urbana, são objeto de uma análi-
se que tem como seu eixo articulador o
--ft JF;. N_Ú_9LEOOE DOC sobre a construção democrática no impulso democratizante da participação da
, BJBUO f .c'..-CA
:___
. ___, Brasil e na América Latina. É, portan- sociedade civil nesses espaços, seus limites
to, de inestimável valor não só para e possibilidades .
estudiosos/as do tema como também
para militantes.
Autor:_ Sociedade civU
públicos no
- ---- Central - Gragoatá SONIA E. ALVAREZ
.....S678 .... [16~ University of Califarnia
Título: at Santa Cruz, EUA
ISBN 85- 219-0440-1

Nº Chamada: -

Nº Registr

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