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Regimes

ção dos solos e das águas, combate à fome, Neste livro, Peter Rosset e Miguel A.
vantagens para a saúde humana, chegando à Altieri devolvem à sociedade um vasto co-
ajuda desses sistemas no enfrentamento das nhecimento acumulado em suas trajetórias
mudanças climáticas. Destaca-se o papel das como pesquisadores da agroecologia nos

Agroecologia
organizações sociais do campo, como a Via Este livro apresenta a agroecologia e sua complexidade, pro- diversos continentes do planeta. Em uma
Campesina, para a luta por acesso a terra, pondo um modelo de desenvolvimento territorial baseado linguagem clara e objetiva, defendem a

alimentares Peter
recursos financeiros e políticas públicas que agroecologia como um paradigma oposto à
promovam o ganho de escala da agroecologia
na organização camponesa para produção de alimentos produção agrícola resultante da “revolução
no planeta como um meio de se alcançar a com base na policultura e na valorização da diversidade das verde”. Expõem um conjunto de dados e
soberania alimentar. paisagens, dos ecossistemas e das espécies como modo de informações baseados em suas leituras, mas
Trata-se, enfim, de um livro que põe em valorização da vida. principalmente em suas vivências no campo,
xeque todo um sistema agroalimentar e, por com os movimentos sociais e agricultores,
consequência, um modelo de desenvolvi- nas Américas, Ásia, Europa e África.
mento territorial capitalista globalizado, e A tradução e publicação dos livros da Série Estudos Camponeses e Mudança Agrária em Os autores demonstram a complexidade
língua portuguesa resultam de uma parceria entre a Editora Unesp, o Instituto de Políticas

e questões
apresenta a agroecologia e sua complexidade como um paradigma da área, tendo em
Públicas e Relações Internacionais, a Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvi-
como um modelo de desenvolvimento ter- vista as diversas dimensões que envolvem
mento Territorial, o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América
ritorial baseado na organização camponesa Latina e Caribe (TerritoriAL), a Coleção Vozes do Campo, a Editora da UFRGS e a Série Estudos o termo “agroecologia”. Partindo de uma

M. Rossetagrárias
para produção de alimentos com base na Rurais, ligada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural. perspectiva histórica, desenrola-se uma sé-
policultura e na valorização da diversidade rie de argumentos, bem fundamentados,
das paisagens, dos ecossistemas e das es- que indicam as vantagens da agroecologia
pécies como modo de valorização da vida. Estudos Camponeses e Mudança Agrária na produção de alimentos em comparação
com outras formas de produção, em espe-
Davis Gruber Sansolo
Programa de Pós-Graduação
cial as monoculturas, mas também a pro-

| Miguel A. Altieri
em Desenvolvimento Territorial dução orgânica em larga escala. Por conse-

Agroecologia:
na América Latina e Caribe – TerritoriAL guinte, a produção orgânica é exposta como
uma apropriação do modelo capitalista de
produção agrícola, resultante da crítica efe-
Peter M. Rosset é Professor de Agroecologia em El Co-

ciência e política
tuada sobre a revolução verde.
legio de la Frontera Sur (ECOSOR), no México. É também
Em paralelo, a agroecologia é apresen-
Professor do Programa de Pos-Graduação em Sociologia
(PPGS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e do Pro-
tada como um modelo paradigmático com-
plexo, que não se reduz a uma prática

Philip McMichael
Universidade Estadual Paulista
grama de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial Júlio de Mesquita Filho
Cátedra UNESCO de Educação do Campo

na América Latina é Caribe (TerritoriAL) da Universidade


e Desenvolvimento Territorial
agronômica ou exclusivamente voltada à
Estadual Paulista (Unesp), ambos no Brasil, e Pesquisador conservação dos recursos naturais. Sobre-
Visitante do Instituto de Pesquisa Social (CUSRI) da Uni- tudo, enfatiza-se o caráter político de suas
Editora Unesp Editora da UFRGS Editora Expressão Popular
versidade de Chulalongkorn na Tailândia. Ele é técnico práticas, sem deixar de se ressaltar a im-
militante da Via Campesina, é e Bolsista Produtividade ISBN 978-65-5711-123-9          
Peter M. Rosset portância para a conservação ambiental,
PQ-2 do CNPq, Brasil.
Miguel A. Altieri em especial para a manutenção da agro-
9 786557 111239  
biodiversidade do planeta.
Miguel A. Altieri é Professor Emérito de Agroecologia do
Trazendo exemplos seminais de como,
Departamento de Ciência Ambiental, Política e Administra-
em diversos continentes, as práticas desen-
ção, da Universidade de Califórnia em Berkeley. Ele também
é co-diretor do Centro Latinoamericano de Investigaciones
volvidas pelos camponeses e seus saberes
Agroecologicas (CELIA), e agricultor da lavoura agroecoló- estão em diálogo com o conhecimento cien-
gica Ines em Alma Mia, Antioquia, Colômbia. Ele foi presi- tífico, este livro percorre uma multiplicidade
dente fundador da Sociedade Científica Latino-americana de temas, dos benefícios para a produtivida-
de Agroecologia (SOCLA). de a longo prazo, passando por conserva-

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Agroecologia

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SÉRIE ESTUDOS CAMPONESES E FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP
MUDANÇA AGRÁRIA
Presidente do Conselho Curador
Conselho Editorial Mário Sérgio Vasconcelos
Saturnino M. Borras Jr Diretor-Presidente / Publisher
International Institute of Social Jézio Hernani Bomfim Gutierre
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College of Humanities and
Development Studies (COHD) Conselho Editorial Acadêmico
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Pequim, China Luís Antônio Francisco de Souza
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Studies (ISS)
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Haia, Holanda
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Nova Escócia, Canadá Valéria dos Santos Guimarães
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Luciane Delani, presidente

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PETER M. ROSSET
MIGUEL A. ALTIERI

Agroecologia
Ciência e política

Tradução
Rafael Tatemoto

INSTITUTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS


E RELAÇÕES INTERNACIONAIS UNESP

Universidade Estadual Paulista


Júlio de Mesquita Filho
Cátedra UNESCO de Educação do Campo
e Desenvolvimento Territorial

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© 2015 Fernwood Publishing
© 2022 Editora Unesp
Título original: Agroecology: Science and Politics
Livro pertencente à série “Agrarian Change and Peasant Studies”
(Estudos Camponeses e Mudança Agrária)
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva – CRB-8/9410

R829a Rosset, Peter M.


Agroecologia: Ciência e política / Peter M. Rosset, Miguel A. Altieri;
traduzido por Rafael Tatemoto. – São Paulo: Editora Unesp; Editora
Expressão Popular; Editora da UFRGS, 2022.
Livro pertencente à série “Agrarian Change and Peasant Studies” (Estudos
Camponeses e Mudança Agrária)
Tradução de Agroecology: Science and Politics
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5711-123-9 (Editora Unesp)
ISBN: 978-65-5891-077-0 (Editora Expressão Popular)
ISBN: 978-65-5725-086-0 (Editora da UFRGS)
1. Agroecologia. 2. Ciência. 3. Política. I. Peter M. Rosset II. Miguel A. Altieri.
III. Tatemoto, Rafael. IV. Título.
CDD 630.2745
2022-647 CDU 631.95

Editora afiliada:

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Série Estudos Camponeses e
Mudança Agrária da Icas

A série Estudos Camponeses e Mudança Agrária da Initiatives


in Critical Agrarian Studies (Icas – Iniciativas em Estudos Críticos
Agrários) contém “pequenos livros de ponta sobre grandes ques-
tões” em que cada um aborda um problema específico de desenvolvi-
mento com base em perguntas importantes. Entre elas, temos: Quais
as questões e debates atuais sobre as mudanças agrárias? Como as
posições surgiram e evoluíram com o tempo? Quais as possíveis tra-
jetórias futuras? Qual o material de referência básico? Por que e como
é importante que profissionais de ONGs, ativistas de movimentos
sociais, agências oficiais e não governamentais de auxílio ao desen-
volvimento, estudantes, acadêmicos, pesquisadores e especialistas
políticos abordem de forma crítica as questões básicas desenvolvi-
das? Cada livro combina a discussão teórica e voltada para políti-
cas com exemplos empíricos de vários ambientes locais e nacionais.
Na iniciativa desta série de livros, “mudança agrária”, um tema
abrangente, une ativistas do desenvolvimento e estudiosos de várias
disciplinas e de todas as partes do mundo. Fala-se aqui em “mudança
agrária” no sentido mais amplo para se referir a um mundo agrário-
-rural-agrícola que não é separado e deve ser considerado no con-
texto de outros setores e geografias: industriais e urbanos, entre outros.
O foco é contribuir para o entendimento da dinâmica da “mudança”,

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VI   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

ou seja, ter um papel não só nas várias maneiras de (re)interpretar


o mundo agrário como também na mudança, com clara tendência
favorável às classes trabalhadoras, aos pobres. O mundo agrário foi
profundamente transformado pelo processo contemporâneo de glo-
balização neoliberal e exige novas maneiras de entender as condições
estruturais e institucionais, além de novas visões de como mudá-las.
A Icas é uma comunidade mundial de ativistas do desenvolvi-
mento e estudiosos de linhas de pensamento semelhantes que tra-
balham com questões agrárias. É um terreno coletivo, um espaço
comunal para estudiosos críticos, praticantes do desenvolvimento e
ativistas de movimentos. É uma iniciativa pluralista que permite tro-
cas vibrantes de opiniões entre diferentes pontos de vista ideológicos
progressistas. A Icas atende à necessidade de uma iniciativa baseada
e concentrada em vinculações – entre acadêmicos, praticantes de polí-
ticas de desenvolvimento e ativistas de movimentos sociais, entre o
Norte e o Sul do mundo e entre o Sul e o Sul; entre setores rurais-
-agrícolas e urbanos-industriais; entre especialistas e não especialistas.
A Icas defende uma produção conjunta que se reforce mutuamente e
um compartilhamento de conhecimentos que seja mutuamente bené-
fico. Promove o pensamento crítico, ou seja, os pressupostos conven-
cionais são questionados, as propostas populares são examinadas
criticamente e novas maneiras de questionamento são buscadas,
compostas e propostas. Promove pesquisas e estudos engajados; assim
se enfatizam pesquisas e estudos que, ao mesmo tempo, sejam inte-
ressantes em termos acadêmicos e relevantes em termos sociais; além
disso, compreende ficar ao lado dos pobres.
A série de livros é sustentada financeiramente pela ICCO (Orga-
nização de Igrejas para a Cooperação no Desenvolvimento), nos Países
Baixos. Os editores da série são Saturnino M. Borras Jr., Max Spoor
e Henry Veltmeyer. Os títulos estão disponíveis em vários idiomas.

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Sumário

Lista de Tabelas e Figuras IX


Prefácio XI
José Maria Tardin e Dominique Michèle Perioto Guhur

Introdução – A agroecologia na encruzilhada XVII

1 – Os princípios da agroecologia 1
Aspectos agroecológicos de sistemas agrícolas tradicionais 3
Diversidade genética 5
Diversidade de espécies de cultura 6
Integração de rebanhos 7
Papel biológico da biodiversidade em agroecossistemas 8
A matriz ecológica 11
Princípios para o projeto de sistemas agrícolas
diversificados 14
Superprodução 20
Controle de pragas 21
Diversidade e resiliência à mudança climática 23
Conversão agroecológica de lavouras 24
Mudanças na biologia do solo 27
Evolução da produtividade 28

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VIII   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Síndromes de produção 30
Diversificação intencional 32

2 – História e correntes do pensamento


agroecológico 35
Fundações históricas 35
Desenvolvimento rural 41
Estudos camponeses e a recamponesação 44
Outras correntes de agricultura alternativa 49

3 – As evidências favoráveis à agroecologia 59


Extensão e significado da agricultura camponesa 60
Avaliando o impacto de intervenções agroecológicas 62
Mensurando o desempenho de sistemas de cultivo
diversificados 81
Resiliência à variabilidade climática 85

4 – Aumentando a escala da agroecologia 89


Ampliação e expansão da agroecologia 90
Obstáculos e barreiras para o escalonamento da
agroecologia 93
A organização é a chave 96
Escolas agroecológicas de camponeses e de movimentos
sociais 102
Fatores para ampliar a escala 104

5 – A política da agroecologia 109


Agroecologia e territórios contestados 110
A disputa pela agroecologia 111
A apropriação da agroecologia 116
Agroecologia política e movimentos sociais 122

Posfácio – Disputas territoriais essenciais 127


Bernardo Mançano Fernandes
Referências bibliográficas 131

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Lista de Tabelas e Figuras

Figura 1.1 – Princípios da agroecologia . . . . . . . . . . . 3


Figura 1.2 – Função dos componentes da biodiversida-
de e estratégias para aprimoramento . . . . 11
Figura 1.3 – Funcionamento do agroecossistema . . . . 15
Quadro 1.1 – Princípios agroecológicos . . . . . . . . . . . . 15
Quadro 1.2 – Contribuição de práticas de gestão para os
princípios agroecológicos . . . . . . . . . . . . 16
Quadro 1.3 – Estratégias temporais e espaciais . . . . . . . 17
Quadro 1.4 – Pontos fortes e fracos de diferentes aborda-
gens para a agricultura . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 1.4 – Processos agroecológicos . . . . . . . . . . . . 27
Figura 1.5 – Funções das culturas de cobertura . . . . . 31
Figura 1.6 – Melhorando o desempenho do agrossistema 32
Quadro 3.1 – Agricultura sustentável conduzida pelo pro-
dutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Quadro 3.2 – Produtividade e eficiência de integração de
culturas em Cuba . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Quadro 3.3 – Resultados de duas lavouras cubanas de pe-
quena escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Quadro 3.4 – Rendimentos em novos terraços de bancada
e em campos inclinados . . . . . . . . . . . . . 77

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X   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Figura 3.1 – Lavoura integrada de meio hectare no Chile,


projeto rotacional de seis anos . . . . . . . . . 78
Quadro 3.5 – Produtividade de roça camponesa integrada
do Chile . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 3.2 – Produção durante o ano de 2008 de 33 la-
vouras na província de Sancti Spíritus,
Cuba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Figura 3.3 – Resiliência do agroecossistema . . . . . . . . 88
Figura 4.1 – Dimensões vertical e horizontal do escalo-
namento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Figura 4.2 – Extensão agrícola convencional compara-
da ao camponês a camponês . . . . . . . . . . 99
Quadro 5.1 – Conformar ou transformar . . . . . . . . . . . 112

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Prefácio

Agroecologia, ciência e política, mais que termos que se comple-


mentam no título e roteiro deste livro, constituem uma tríade dialé-
tica e, portanto, sistêmica, que os conhecidos autores oferendam ao
estudo e debate e à prática referida aos distintos sujeitos sociais enga-
jados no labor agroecológico. Indo além, instigam e polemizam com
os distintos sujeitos que constituem diretamente o campo do agro-
negócio e com aqueles que estão a seu serviço na política, na econo-
mia, na academia, nas instituições de pesquisa, na assistência técnica
e extensão rural pública e privada, no Estado, e na ONU/FAO.
Os autores contribuem para o necessário desvelamento de alguns
dos antagonismos de classes em que se engendram e determinam as
lutas e disputas sociais, explicitamente envolvidos e envolvendo a
agroecologia. Caracterizam, em primeira mão, esse campo de emba-
tes como uma “encruzilhada”: a agroecologia indígena-campônia
constituindo o projeto popular de transformação da sociedade versus
a agroecologia enquanto nicho econômico e mitigação de impactos
ecológicos do agronegócio.
Dizer que a agroecologia se constitui ciência e política é não mais
que afirmar o óbvio. Um óbvio problemático, todavia. Daí que os
autores rompem o óbvio, situando-o no lugar necessário da explici-
tação da tensão e do conflito das forças antagônicas em luta e disputas

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XII   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

pela agroecologia. É no tratamento crítico e sistêmico que os auto-


res afirmam o logos e o práxico agroecológico; que desvelam o cons-
titutivo científico e político da agroecologia, e explicitam a posição e
situação de classe que assumem e ocupam na sociedade. Dessa posi-
ção e situação social e histórica, os autores se ungem na história real
dos povos indígenas e campônios, criadores-re-criadores das agri-
-culturas, afirmando primorosamente que “As verdadeiras raízes da
agroecologia estão na lógica ecológica da agricultura indígena e cam-
ponesa ainda prevalecente em muitas partes do mundo”, e reiteram
que “um ponto de partida no desenvolvimento de novos sistemas
agrícolas é o próprio sistema que os agricultores tradicionais desen-
volveram e/ou herdaram ao longo de séculos”.
Dos encontros de culturas em diálogos de saberes em coopera-
ção, mas também com tensões e conflitos, é que os saberes ancestrais
e atuais dos povos do campo, das águas e florestas – povos campônios
e indígenas – e os saberes acadêmicos se vão tecendo mais e melhor
no enredar a agroecologia. Nessa emaranhada teia de múltiplos fios
étnicos e diversidade de territórios agri-culturamente transformados
e em transformação, os diálogos de saberes nos encontros de cultu-
ras se integram e realizam, com a pluralidade epistemológica, a práxis
que apreende os processos sociais, de produção e reprodução da vida
em seu metabolismo com a natureza, donde sistematizam “princípios
fundamentais para o desenho de novos agroecossistemas”. A agroe-
cologia se faz ciência.
Ciência que não pode, por mais que alguns o queiram e façam,
realizar-se no exclusivismo e isolamento das artificializações labora-
toriais e estações experimentais, porque resulta dos processos sociais
indígenas-campônios em suas relações com a sociedade em geral e
com os processos ecológicos da miríade de ecossistemas em que se
integram e transformam em agroecossistemas. Transformações que
efetivam no mundo e em si mesmos, e que na atualidade se dão em
acirrado e sistêmico conflito, confronto e contradição com o capital e
sua particular objetivação como agronegócio.
A pluralidade desses ambientes socioecológicos reais se põe como
determinação social e ambiental, como o lócus do logos e da práxis
fundante da agroecologia, e demanda aos múltiplos sujeitos sociais

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AGROECOLOGIA  XIII

acadêmicos e técnicos a necessária relação direta de convivência,


de comunhão e de complementaridade. O contributo laboratorial e
experimental controlado aí se origina, se integra e retorna; em grande
medida, também aí se faz, numa dinâmica de retroalimentação.
Ademais de destacarem a abrangência e complexidade cientí-
fica da agroecologia ante as potencialidades e desafios socioecoló-
gicos contemporâneos, os autores reiteram os princípios que daí se
abstraem e sistematizam, com os quais se orientam relações e práti-
cas socioecológicas que “assumem diferentes formas tecnológicas”
localmente contextualizadas, posto que “A agroecologia não pro-
move receitas técnicas, mas princípios; portanto, não é uma agricul-
tura de insumos, mas de processos”.
Evidenciado largamente na práxis política e científica dos múlti-
plos sujeitos sociais engajados na agroecologia indígena-campônia,
o protagonismo social se faz mútuo, companheiro, humanizador,
emancipador. E se exponencia a partir de dois processos emergi-
dos endogenamente da sapiência e radicalidade prática e autêntica
indígena-campônia: a pedagogia Campesino a Campesino e as Esco-
las Técnicas de Agroecologia.
Dentre as outras iniciativas informadas e analisadas, ambas
são acertadamente evidenciadas como marcos da radical inovação
sociopolítica e educativo-organizativa, que rompem com os siste-
mas formais públicos e privados de assistência técnica promotora
da “invasão cultural”, como bem denuncia Paulo Freire no livro
Extensão ou comunicação?. Ambas derrubam a cerca do latifúndio do
conhecimento em ciências agrárias que, desde suas origens no século
XIX, seguiram sob domínio hegemônico das elites agrárias, até sua
constituição contemporânea como agronegócio.
A sustentação prática e teórica da agroecologia em suas múltiplas
dimensões ganha robustez na amplitude internacional das diversas
iniciativas aqui apresentadas, com destaque para aquelas em dinâ-
mica expansão na África, Ásia e América Latina, regiões onde se en-
contra a maioria das populações indígenas e camponesas. A elas se
associa todo um cosmos de pesquisas realizadas por um sem-número
de cientistas, recolhidas e compartilhadas pelos autores, abrangendo
processos político-organizativos e econômicos, processos ecológicos

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XIV   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

diversos, arranjos e manejos técnicos, sistemas pedagógicos e educa-


cionais camponeses e mais.
As pesquisas abrangem ainda experiências que alcançaram escalas
incríveis na promoção da agroecologia, de forma autônoma ou apoia-
das em políticas públicas. Dessas experiências, os autores abstraem as
potencialidades e alguns dos entraves, que indicam sendeiros a serem
considerados nas lutas camponesas e indígenas por suas superações,
na orientação de programas de Estado para o estímulo à agroecologia
indígena e camponesa, e promoção da soberania alimentar.
Inspirados na multiplicidade dos processos sociais indígena-
-camponeses pesquisados, os autores desenvolvem analogias e crí-
ticas a outros sistemas de agricultura de base ecológica-orgânica.
Indicam sobretudo tratar-se de iniciativas em geral elitizadas, dire-
cionadas a nichos de mercado – consumidores de renda média e alta
e empresas comerciais de grande porte –, subordinadas a sistemas
de certificação empresariais socialmente onerosos. Tecnicamente
dependentes e subordinadas a indústrias de bioinsumos, limitando
seus sistemas produtivos no patamar da substituição de agroquími-
cos sintéticos por insumos orgânicos; e no plano político, caracteri-
zadas como pretensamente neutras, quando, assim, se somam em
realidade ao conservadorismo político.
Em que pesem a relevância social da presença ativa das mulheres
indígenas e camponesas na vida em geral, e das famílias e coletivida-
des em que estão integradas, e por sua vez, sua destacada posição de
vanguarda no labor agroecológico, soberania alimentar, biodiver-
sidade e agrobiodiversidade, e muito mais, sua consideração nesta
obra é indicada apenas ligeiramente, esperando-se que desperte na
leitora e no leitor a necessidade de estudo de obras que tratem em
amplitude e profundidade a práxis das mulheres.
Os autores acertadamente reconhecem a agroecologia no âmbito
da “questão agrária”, o que os impele a analisar a “condição indígena-
-camponesa”, para o que assumem determinado referencial teórico, e
nesse particular, dadas a diversidade, a complexidade e a abrangência
das realidades do campo e das elaborações analíticas acumuladas histo-
ricamente, nutre-se o campo das controvérsias, convocando as leitoras
e leitores à expansão dos seus estudos e do debate fecundo e necessário.

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AGROECOLOGIA  XV

Este livro não só rompe o óbvio – Agroecologia é ciência, é polí-


tica –, mas também os pretensos silenciamento e ocultamentos que
não mais constituem manipulações ideológicas necessárias àque-
les que se realizam como sujeitos sociais do capital, as burguesias e
seus servidores, para os quais a agroecologia é mais um bom negócio.
Por sua vez, afirmam e assumem como autores e sujeitos políticos
e de ciência, sustentados nos compromissos junto aos movimentos
sociais populares campônio-indígenas, a “agroecologia como uma
alternativa para a noção dominante de desenvolvimento e essencial
componente na transformação pós-capitalista”.
É obra semente que chega em tempo fecundo, tanto por sua qua-
lidade ética, científica e política, como por semear-se não como pará-
bola, mas como práxis sistematizada de povos do campo, das águas e
florestas – indígenas-camponeses – em diálogos de saberes nos encon-
tros de culturas, entre si e com sujeitos sociais agroecologistas. Assenta-
-se em terras férteis dos brasis indígenas-campônios, da academia, da
pesquisa, do fazer técnico, da política, da comunicação, da arte, da edu-
cação institucional e popular, das religiões, da classe trabalhadora urba-
na, que se vêm agroecologizando material e imaterialmente em tensão,
conflito, contradição e lutas com o capital-agronegócio.
Por fim, digo não mais que afirmar a Agroecologia em suas
dimensões de Ciência e Política é simplesmente termos por certo que,
sendo práxis humana, sua raiz é humana, de modo que a ciência se faz
política, a política se faz ciência, tão somente porque uma das possi-
bilidades da objetivação humana é a Agroecologia.
Leitura necessária. Urge!!!

José Maria Tardin


Militante e educador popular em agroecologia do
Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores
Rurais Sem Terra – MST.

Dominique Michèle Perioto Guhur


Militante do MST, educadora popular e tradutora.
Agrônoma, tem mestrado em Educação pela
Universidade Estadual de Maringá.

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Introdução
A agroecologia na encruzilhada

Nos últimos anos, “agroecologia” passou a ser a palavra usada


em debates sobre tecnologia agrícola, apesar de seu significado exato
variar muito, dependendo de quem está falando. Embora alguns pos-
sam negar, a agroecologia tem um forte elemento político que é inse-
parável de seus aspectos técnico-biológicos. A própria natureza dos
debates deixa claro que agora é a hora de um livro que resuma a ciên-
cia e a política desse campo controverso.
A agroecologia é conhecida em diversas áreas como a ciência que
estuda e tenta explicar o funcionamento dos agroecossistemas, preo-
cupada principalmente com mecanismos, funções, relações e dese-
nhos biológicos, biofísicos, ecológicos, sociais, culturais, econômicos
e políticos; como um conjunto de práticas que permitem uma agri-
cultura mais sustentável, sem o uso de produtos químicos perigosos;
e como um movimento que busca tornar a agricultura mais ecologi-
camente sustentável e mais socialmente justa (Wezel et al., 2009).
O sistema global de alimentos corporativos é amplamente baseado
em práticas insustentáveis de agricultura industrial, uma impor-
tante fonte de emissões de gases de efeito estufa, controlado por um
punhado de grandes corporações e produz alimentos cada vez mais
prejudiciais à saúde (Lappé; Collins; Rosset, 1998; Patel, 2007; ETC
Group, 2009, 2014). A agroecologia oferece vários pontos de entrada

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XVIII   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

para se começar a transformar esse sistema. No entanto, por décadas,


os “agroecologistas”, como chamamos pesquisadores agroecológicos,
acadêmicos, organizações não governamentais (ONGs), agricultores
ecológicos, camponeses e ativistas, foram ignorados ou ridiculariza-
dos pela corrente dominante, rotulados como sonhadores, pregado-
res, radicais, charlatães ou pior (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Mas isso mudou drasticamente. Aparentemente do nada, as prin-
cipais universidades, centros de pesquisa, empresas privadas, agên-
cias governamentais e instituições multilaterais “descobriram” a
agroecologia como uma fonte potencial de soluções para problemas
prementes do sistema alimentar global, que vão desde as emissões de
gases de efeito estufa e mudanças climáticas até a erosão do solo e o
declínio da produtividade.
A versão da agroecologia que eles promovem, com títulos alu-
sivos como “agricultura inteligente para o clima” (Delvaux et al.,
2014; Pimbert, 2015) e “intensificação sustentável” (Scoones, 2014),
tende a ser bem diferente daquela apresentada por seus proponentes
originais (Carroll; Vandermeer; Rosset, 1990; Altieri, 1995; Gliess-
man, 1998; e muitos outros), em termos tanto do conteúdo técnico
quanto político, estabelecendo o terreno para controvérsias e dispu-
tas sobre o que é realmente agroecologia.
Em Roma (Itália), de 18 a 19 de setembro de 2014, a Organiza-
ção das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) rea-
lizou seu primeiro evento oficial sobre agroecologia. No Simpósio
Internacional de Agroecologia para Segurança Alimentar e Nutricio-
nal, cerca de quatrocentos participantes ouviram mais de cinquenta
especialistas, incluindo professores acadêmicos, pesquisadores,
membros do setor privado, funcionários de governos e líderes de
organizações da sociedade civil e de movimentos sociais. “Hoje foi
aberta uma janela naquilo que há trinta anos é a catedral da Revo-
lução Verde”,1 disse o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva,

1 “Revolução Verde” refere-se vagamente ao pacote de tecnologias agrícolas


industriais “modernas”, como sementes híbridas, fertilizantes e pesticidas
químicos, que foram “exportados” dos EUA para a agricultura dos países em

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AGROECOLOGIA  XIX

em suas considerações finais no simpósio. “A agroecologia continua


a crescer, tanto na ciência quanto nas políticas. É uma abordagem
que ajudará a enfrentar o desafio de acabar com a fome e a desnu-
trição em todas as suas formas, no contexto da necessária adaptação
às mudanças climáticas.” Ele acrescentou que os problemas que o
mundo enfrenta são tão grandes que devemos buscar todas as abor-
dagens possíveis, afirmando que “a agroecologia representa uma
opção promissora e é uma possibilidade entre outras, como organis-
mos geneticamente modificados e a redução do uso de produtos quí-
micos” (FAO, 2015), ecoando, assim, a posição do Banco Mundial
e da Monsanto. Essa visão é diametralmente oposta à dos agroeco-
logistas, que normalmente argumentam que os organismos gene-
ticamente modificados e a agroecologia são incompatíveis e não
podem coexistir (Altieri; Rosset, 1999a, 1999b; Altieri, 2005; Ros-
set, 2005).
Destacando o alto nível do novo debate sobre agroecologia, a
mesa-redonda de encerramento contou com intervenções dos minis-
tros da Agricultura da França, do Senegal, da Argélia, da Costa
Rica, do Japão e do Brasil, bem como do comissário de agricultura
da União Europeia. Destacando a natureza controversa da agroeco-
logia, a representação dos Estados Unidos na FAO tentara impedir
que o simpósio acontecesse, eventualmente permitindo que ele fosse
realizado com base em um acordo com a FAO de que seria “técnico
e não político em sua natureza” e de que não haveria sessões sobre
políticas comerciais, cultivo de lavouras geneticamente modifica-
das e o conceito de “soberania alimentar” promovido por movimen-
tos sociais.

desenvolvimento, particularmente nas décadas de 1960 e 1970, com muitas con-


sequências em termos de diferenciação social e perda de capacidade de produção
dos agroecossistemas (Patel, 2013). Enquanto a produção de alimentos aparen-
temente cresceu ao longo desses anos, foi estritamente baseada em um punhado
de culturas e esteve concentrada em uma minoria de produtores, com o infeliz
resultado de que a fome no mundo aumentou nesse período. A agroecologia é
frequentemente proposta como a principal alternativa para enfrentar as deficiên-
cias das práticas da Revolução Verde (Lappé et al., 1998).

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XX   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Nesse evento marcante, ficou claro que a agroecologia está atual-


mente mais ou menos dividida em dois campos. O campo institucio-
nal a vê essencialmente como um conjunto de ferramentas adicionais
para a produção industrial de alimentos que está sob ataque por conta
das emissões de gases de efeito estufa e que enfrenta declínio da pro-
dutividade e aumento dos custos de produção devido à degradação
ecológica que causa aos recursos produtivos, como o solo, a água e a
biodiversidade funcional. Eles veem as ferramentas agroecológicas
como formas de tornar esse “modelo dominante” um pouco mais
sustentável, sem desafiar as relações de poder subjacentes nem a
estrutura da monocultura em larga escala. O outro campo, formado
por muitos cientistas, ativistas, agricultores ecológicos, ONGs e
movimentos sociais, vê a agroecologia como uma alternativa à pro-
dução industrial de alimentos e como uma alavanca para a transfor-
mação do sistema alimentar em algo melhor para as pessoas e para o
meio ambiente (LVC, 2014).
A agroecologia está em uma encruzilhada, enfrentando uma
grande luta contra sua possível cooptação pelo sistema hegemô-
nico. Parafraseando uma citação às vezes atribuída a Gandhi: “Pri-
meiro eles o ignoram, depois riem de você, depois brigam com você,
depois tentam cooptá-lo e, finalmente, apropriam-se da sua ideia,
removendo o conteúdo original, substituindo-o pelo conteúdo deles
e ainda levando o crédito por isso”. A agroecologia avançou nesse
processo, passando pelos estágios de ser ignorada, ridicularizada e
combatida; agora, ela enfrenta tentativas de cooptação. Enquanto
aqueles que podem cooptar a agroecologia gostam de negar que ela
tenha algum conteúdo político, seus defensores sempre enfatizaram
sua natureza inerentemente política. Isso ficou claro apenas cinco
meses após o evento da FAO. Em contraponto a esse simpósio, os
movimentos sociais, liderados pela aliança camponesa global La Via
Campesina (LVC), realizaram seu próprio Fórum Internacional de
Agroecologia, de 24 a 27 de fevereiro em Nyéléni (Mali), na África
Ocidental (IPC, 2015). A ideia era responder à ameaça de coopta-
ção que se percebia, desenvolvendo uma visão compartilhada da
agroecologia para transformação, e concordar com um trabalho em

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AGROECOLOGIA  XXI

conjunto entre diversos setores (agricultores, trabalhadores, povos


indígenas, nômades, pescadores, consumidores, população urbana
carente etc.) e continentes para defender a agroecologia e construí-la
“partindo de baixo”. Na declaração do fórum, os delegados disse-
ram: “A agroecologia é política; ela requer que desafiemos e enfrente-
mos as estruturas de poder na sociedade. Precisamos dar o controle
de sementes, biodiversidade, terras e territórios, águas, conheci-
mento, cultura e bens comuns aos povos que alimentam o mundo”
(LVC, 2014).
Eles estabeleceram uma visão da agroecologia muito diferente das
visões institucionais vistas no simpósio da FAO:

A agroecologia é a resposta para como transformar e reparar nossa


realidade material em um sistema alimentar e em um mundo rural
que foram devastados pela produção industrial de alimentos e suas
chamadas Revoluções Verde e Azul. Vemos a agroecologia como
uma forma-chave de resistência a um sistema econômico que coloca
o lucro antes da vida. As verdadeiras soluções para as crises climá-
ticas, desnutrição etc. não virão da conformidade ao modelo indus-
trial. Devemos transformá-lo e construir nossos próprios sistemas
alimentares locais, que criem vínculos rural-urbanos, baseados na
produção de alimentos verdadeiramente agroecológicos por cam-
poneses, pescadores artesanais, pastores nômades, povos indígenas,
agricultores urbanos etc. Não podemos permitir que a agroecologia
seja uma ferramenta do modelo industrial de produção de alimentos:
nós a vemos como a alternativa essencial a esse modelo e como o meio
de transformar como produzimos e consumimos alimentos em algo
melhor para a humanidade e nossa Mãe Terra. (LVC, 2014)

Com a agroecologia ganhando destaque cada vez maior pelas ins-


tituições nos níveis mais abrangentes e pelos movimentos nos casos
particulares, as universidades estão correndo para oferecer currícu-
los de agroecologia e os ministérios, para criar secretarias, programas
e políticas na área. Mas qual visão da agroecologia será representada?
Quem receberá o dinheiro para pesquisa? Para quem vão os créditos

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XXII   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

de produção para a agricultura: para os gigantes corporativos do sis-


tema alimentar ou para os agricultores familiares e camponeses? O sis-
tema alimentar será transformado, com alimentos mais saudáveis para
todos, ou as grandes multinacionais, como sempre, continuarão com
uma fachada de “lavagem verde”, fazendo meras menções às mudan-
ças climáticas e produzindo alimentos orgânicos processados dire-
cionados a nichos de mercado formados por consumidores ricos que
desejam e podem comprar alimentos mais saudáveis?
Portanto, estamos em um momento oportuno para este livro, no
qual fazemos um resumo das bases científicas (Capítulo 1) e da his-
tória (Capítulo 2) da agroecologia, incluindo evidências de que a pro-
dução de alimentos baseada em princípios agroecológicos pode ser
mais produtiva, custar menos, reduzir impactos ambientais nega-
tivos e aumentar a sustentabilidade da agricultura no longo prazo
(Capítulo 3). Examinamos as bases sociais e organizacionais que per-
mitem sua elevação a uma escala territorial (Capítulo 4). Finalmente,
abordamos a política da agroecologia, focando especificamente na
encruzilhada descrita acima (Capítulo 5). Uma ressalva final é que,
embora os princípios mais científicos e técnicos da agroecologia pos-
sam ser aplicados igualmente a sistemas de produção de pequena e
grande escala (Altieri; Rosset, 1996), de acordo com o foco desta série
de “pequenos livros que resumem o estado da arte de grandes tópi-
cos”, relevante para os estudos camponeses e sobre mudança agrá-
ria, limitamos nosso escopo à agroecologia da agricultura camponesa
e das lavouras familiares. O espaço não permite uma crítica ampla e
extensa do sistema alimentar industrial e corporativo e da Revolução
Verde à qual a agroecologia responde. Isso, no entanto, foi ampla-
mente abordado em outros lugares (ver Lappé et al., 1998; Patel,
2007, 2013; ETC Group, 2009, 2014; e muitos outros).

Referências

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AGROECOLOGIA  XXIII

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Agroecologia_(MIOLO)__Graf-v4.indd 23 27/10/2022 14:51:16


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Agroecologia_(MIOLO)__Graf-v4.indd 24 27/10/2022 14:51:16


1
Os princípios da agroecologia

As verdadeiras raízes da agroecologia estão na lógica ecológica


da agricultura indígena e camponesa ainda prevalecente em muitas
partes do mundo em desenvolvimento (Altieri, 1995). Para agroe-
cologistas,1 um ponto de partida no desenvolvimento de novos sis-
temas agrícolas é o próprio sistema que os agricultores tradicionais
desenvolveram e/ou herdaram ao longo de séculos (Altieri, 2004a).
Tais sistemas agrícolas complexos, adaptados às condições locais,
ajudaram os pequenos agricultores a gerenciar ambientes hostis e
atender às suas necessidades de subsistência sem depender da meca-
nização, de fertilizantes químicos, de pesticidas ou de outras tecno-
logias da ciência agrícola moderna (Denevan, 1995). Guiados por
um intrincado conhecimento da natureza, os agricultores tradicio-
nais cultivaram pequenas unidades produtivas biológica e genetica-
mente diversas com robustez e resiliência incorporada, necessárias
para se ajustar rapidamente a mudanças climáticas, pragas, doen-
ças e, mais recentemente, à globalização, à penetração tecnológica e

1 Quando nos referimos a “agroecologistas” neste livro, empregamos o termo de


forma ampla para abarcar pessoas que estudam e/ou promovem a agroecologia
e a transformação agroecológica de granjas e de sistemas alimentares, sejam eles
acadêmicos, pesquisadores, extensionistas, ativistas, produtores, camponeses ou
consumidores, incluindo os líderes dos movimentos sociais.

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2   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

a outras tendências modernas (Toledo; Barrera, 2009; Ford; Nigh,


2015). Apesar de muitos desses sistemas terem entrado em colapso
ou desaparecido, a teimosia persistente de milhões de hectares sob
gestão tradicional e antiga, sob a forma de campos elevados, terraços,
policulturas, sistemas agroflorestais, sistemas integrados de arroz,
pato e peixe etc., documenta uma bem-sucedida estratégia agrícola,
e eles são uma homenagem à “criatividade” dos agricultores tradicio-
nais. Esses microcosmos constituem um legado que oferece modelos
promissores para uma nova agricultura, pois promovem a biodiver-
sidade sem insumos externos, mantendo os rendimentos durante o
ano todo mesmo em meio à variabilidade climática.
Alguns cientistas ocidentais começaram a reconhecer o valor das
práticas indígenas de uso da terra e seu papel crucial na adaptação/
mitigação das mudanças climáticas e no fornecimento de água, ali-
mentos e energia para as cidades (De Walt, 1994). Muitos agroeco-
logistas argumentam que os sistemas de conhecimento indígenas
podem apoiar a rápida adaptação a crises complexas e urgentes e ins-
pirar os novos modelos de agricultura de que a humanidade necessita
nesta era de rápida degradação do ecossistema e mudanças climáticas.
As virtudes dos agroecossistemas tradicionais, nos quais a sustenta-
bilidade e a resiliência se baseiam em modelos ecológicos complexos,
representam um importante recurso para os agroecologistas entende-
rem os mecanismos em funcionamento em agroecossistemas diver-
sificados e, portanto, dão origem a princípios fundamentais para a
elaboração de novos agroecossistemas (Altieri, 2002).
A agroecologia combina sistemas indígenas de conhecimento
sobre solos e plantas (entre outros) com disciplinas das ciências eco-
lógica e agrícola modernas. Ao promover um diálogo entre saberes e
integrar elementos da ciência e da etnociência modernas, surge uma
série de princípios que, quando aplicados em uma região específica,
assumem diferentes formas tecnológicas, dependendo do contexto
socioeconômico, cultural e ambiental (Figura 1.1). A agroecolo-
gia não promove receitas técnicas, mas princípios; portanto, não é
uma agricultura de insumos, mas de processos. Para que as tecno-
logias derivadas da aplicação dos princípios sejam relevantes para as

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AGROECOLOGIA  3

necessidades e circunstâncias dos pequenos agricultores, o processo


de geração tecnológica deve, idealmente, resultar de um processo de
pesquisa participativo ou conduzido pelo agricultor, no qual agri-
cultores e pesquisadores apresentam contribuições para as questões
de pesquisa e para o projeto, a execução e a avaliação de experimen-
tos de campo.

Figura 1.1 – Princípios da agroecologia

- Ecologia - Antropologia
- Sociologia - Etnoecologia
- Controle biológico - Economia ecológica
- Ciências agrárias básicas

Conhecimento
AGROECOLOGIA tradicional dos
agricultores

Princípios
Pesquisa participativa
nos campos do
agricultor
Formas tecnológicas específicas

Aspectos agroecológicos de sistemas


agrícolas tradicionais

Os sistemas agrícolas tradicionais surgiram ao longo de sécu-


los de coevolução cultural e biológica e representam as experiências
acumuladas de camponeses interagindo com o meio ambiente sem
acesso a insumos externos, capital e o chamado conhecimento cien-
tífico. Usando autoconfiança inventiva, conhecimento experimental
e os recursos disponíveis localmente, os camponeses desenvolveram
sistemas agrícolas baseados no cultivo de diversas sementes, árvores
e na criação de animais empregados no tempo e no espaço, o que lhes

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4   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

permitiu maximizar a segurança dos resultados em ambientes margi-


nais e variáveis e com recursos e espaço limitados (Wilken, 1987). O
desenvolvimento de tais sistemas tem sido guiado por conhecimen-
tos baseados não apenas na observação, mas também na aprendiza-
gem experimental. Essa abordagem é evidente na seleção e criação de
variedades locais de sementes e no teste de novos métodos de cultivo
para superar restrições biológicas específicas. A maioria dos agricul-
tores tradicionais conhece profundamente seus arredores, especial-
mente dentro de um raio geográfico e cultural local (Brokenshaw;
Warren; Werner, 1980).
Apesar da miríade de sistemas agrícolas e de particularidades
históricas e geográficas, a maioria dos agroecossistemas tradicionais
apresenta seis aspectos notavelmente semelhantes, a saber:

1. altos níveis de biodiversidade, que desempenham um papel


fundamental na regulação do funcionamento do ecossistema
e na prestação de serviços ecossistêmicos de importância local
e global;
2. engenhosos sistemas de paisagem, de gestão de recursos ter-
restres e hídricos e de conservação utilizados para melhorar a
eficiência dos agroecossistemas;
3. sistemas agrícolas diversificados que fornecem uma ampla
variedade de produtos à soberania alimentar local e nacional e
à segurança dos meios de subsistência;
4. agroecossistemas que exibam resiliência e robustez para lidar
com perturbações e mudanças (humanas e ambientais), mini-
mizando o risco diante de variabilidade e estocástica;
5. agroecossistemas alimentados por sistemas de conhecimento
tradicionais contando com muitas inovações e tecnologias de
agricultores; e
6. fortes valores culturais e formas coletivas de organização
social, incluindo instituições costumeiras de gestão agroe-
cológica, arranjos normativos para acesso a recursos e com-
partilhamento de benefícios, sistemas de valores, rituais etc.
(Denevan, 1995; Koohafkan; Altieri, 2010).

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AGROECOLOGIA  5

Diversidade genética

Em todo o mundo, os pequenos agricultores mantêm nada menos


que 2 milhões de variedades de culturas e cerca de 7 mil raças de ani-
mais em cerca de 350 milhões de lavouras (ETC Group, 2009). Mui-
tos agroecossistemas tradicionais estão localizados em centros de
diversidade de culturas, contendo populações de espécies variáveis e
adaptadas, bem como parentes silvestres e daninhos de culturas. As
faixas ecológicas de parentes silvestres podem exceder as das cultu-
ras derivadas ou de alguma forma relacionadas a elas. Ciclos de hibri-
dação e introgressão naturais geralmente ocorrem entre culturas e
parentes silvestres, aumentando a variabilidade e a diversidade gené-
tica das sementes disponíveis para os agricultores (Altieri; Ander-
son; Merrick, 1987). Por meio da prática de cultivo “não limpo”,
muitos camponeses aumentam o fluxo de genes entre as culturas e
seus parentes, além de incentivar “ervas daninhas” específicas (tam-
bém conhecidas como quelites, arvenses etc.) usadas para alimentos,
forragens e adubação verde. A presença dessas plantas em agroecos-
sistemas camponeses pode representar uma domesticação progres-
siva (Altieri et al., 1987).
Muitos agricultores plantam diversas variedades de cada colheita
em seus campos e trocam regularmente sementes com os vizinhos.
Por exemplo, nos Andes, os agricultores cultivam até cinquenta
variedades de batata em seus campos (Brush, 1982). Da mesma
forma, na Tailândia e na Indonésia, os agricultores mantêm mui-
tas variedades de arroz em seus arrozais, adaptadas a uma ampla
gama de condições ambientais, além de trocar regularmente semen-
tes com os vizinhos (Swiderska, 2011). A diversidade genética resul-
tante aumenta a resistência a doenças e outros estresses bióticos e a
diversidade nutricional disponível para as populações rurais (Cla-
wson, 1985). Pesquisas mostram que o uso da diversidade genética
das culturas dentro do campo reduz a gravidade das doenças, um
método que tem sido usado comercialmente em algumas culturas
(Zhu et al., 2000).

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6   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Diversidade de espécies de cultura

Uma característica marcante dos sistemas agrícolas tradicio-


nais é o grau de diversidade de plantas na forma de policulturas
(também conhecidas como consorciação ou plantio associado) e/
ou padrões agroflorestais. As policulturas envolvem diversificação
espacial de sistemas de cultivo que permitem o cultivo de duas ou
mais culturas simultaneamente no mesmo campo (Francis, 1986).
Os sistemas de consórcio testados há muito tempo envolvem mis-
turas de culturas anuais em vários projetos espaciais e temporais.
Eles geralmente incluem uma leguminosa e um cereal, o que leva
a uma maior produtividade biológica do que a verificada no caso
de cada espécie ser cultivada separadamente, porque as legumino-
sas fixam nitrogênio e porque a mistura pode usar os recursos com
mais eficiência e transmitir resistência associativa às pragas (Van-
dermeer, 1989). A agrossilvicultura usa misturas de plantas anuais
com plantas perenes ou destas com animais, às vezes com mais de
cem espécies de plantas anuais e perenes e várias espécies de ani-
mais por campo. Além de fornecer produtos úteis (materiais de
construção, lenha, ferramentas, remédios, ração animal e alimento
para humanos), as árvores frequentemente minimizam a lixivia-
ção de nutrientes e a erosão do solo, adicionam matéria orgânica
e restauram os principais nutrientes, bombeando-os dos estra-
tos mais baixos do solo (Sanchez, 1995). As árvores também pre-
servam as condições microclimáticas, protegendo as plantações e
o solo contra extremos climáticos, como tempestades e secas, que
provavelmente aumentarão com as mudanças climáticas (Verchot
et al., 2007). Em sistemas silvipastoris multiestados (integração
de árvores e gado), a presença de espécies de leguminosas fixado-
ras de nitrogênio melhora o cultivo de pastagens e a ciclagem de
nutrientes e elimina a necessidade de fertilizantes químicos à base
de nitrogênio. Árvores com raízes profundas ajudam a recuperar
nutrientes e água de camadas mais profundas do solo e aumentam
o sequestro de carbono abaixo e acima do solo. A cobertura arbórea
também fornece melhores condições ambientais e mais biomassa,

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AGROECOLOGIA  7

nutrientes e sombra aos animais, reduzindo o estresse e melho-


rando a produção e a condição corporal (Murgueitio et al., 2011).
Nos sistemas de policultura, as espécies vegetais são cultivadas
em estreita proximidade para que interações benéficas ocorram entre
elas, oferecendo, assim, vários serviços ecossistêmicos aos agricul-
tores. Uma maior riqueza de espécies melhora a matéria orgânica,
a estrutura, a capacidade de retenção de água e a cobertura do solo,
protegendo-o da erosão e suprimindo as ervas daninhas, todas condi-
ções favoráveis à produção agrícola. A variedade de culturas também
aumenta a diversidade de artrópodes e a atividade microbiológica
envolvida na melhoria da ciclagem de nutrientes, fertilidade do solo
e regulação de pragas. Estudos revelam que a resiliência a desastres
climáticos está intimamente ligada a lavouras com níveis crescen-
tes de biodiversidade (Vandermeer et al., 1998; Altieri et al., 2015).

Integração de rebanhos

Em muitas regiões, sistemas mistos de cultura e criação de reba-


nhos são a espinha dorsal da agricultura camponesa. Em sistemas
bem integrados, as raças animais localmente adaptadas fornecem
energia de tração para cultivar a terra e adubo para fertilizar o solo, e
os resíduos das culturas são um recurso essencial para a alimentação
dos animais. Os recursos (resíduos, adubo, energia e dinheiro) pro-
duzidos em tais sistemas beneficiam a produção agrícola e pecuá-
ria, levando a maior eficiência, produtividade e sustentabilidade da
lavoura (Powell; Pearson; Hiernaux, 2004).
Na Ásia, muitos produtores de arroz integram várias espécies de
peixes e patos com suas culturas. Os peixes consomem pragas de inse-
tos que atacam a planta de arroz, bem como ervas daninhas que sufo-
cam as plantas e as folhas de arroz infectadas pela doença da bainha,
reduzindo, assim, a necessidade de pesticidas. Esses sistemas exibem
menor incidência de pragas de insetos e doenças de plantas quando
comparados à monocultura de arroz. Além disso, os peixes oxigenam
a água e movimentam os nutrientes, também beneficiando o arroz.

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8   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

As espécies de Azolla fixam nitrogênio (243 a 402 kg/ha), e parte dele


(17% a 29%) é usada pelo arroz. Os patos consomem o Azolla antes
que ele cubra toda a superfície e desencadeie a eutrofização, além de
consumirem caracóis e ervas daninhas. Claramente, as complexas e
diversas redes alimentares de micróbios, insetos, predadores e plan-
tas associadas promovem vários serviços ecológicos, sociais e econô-
micos que são benéficos para os agricultores e para as comunidades
locais (Zheng; Deng, 1998).

Papel biológico da biodiversidade em


agroecossistemas

A biodiversidade nos agroecossistemas inclui culturas, gado, pei-


xes, ervas daninhas, artrópodes, aves, morcegos e micro-organismos
presentes. Ela é afetada pela gestão humana, pela localização geo-
gráfica e por fatores climáticos, edáficos e socioeconômicos. Exis-
tem várias classificações dos componentes da biodiversidade dos
agroecossistemas em relação ao papel que desempenham no funcio-
namento dos sistemas de cultivo (Swift; Anderson, 1993; Moonen;
Barberi, 2008).
A diversidade funcional se refere à variedade de organismos e
serviços ecossistêmicos que eles fornecem para o sistema para que
este continue funcionando e aprimore suas respostas às mudanças
ambientais e a outras perturbações. Um agroecossistema que con-
tém uma grande diversidade funcional geralmente é mais resistente
a vários tipos e graus de choque (Lin, 2011). Em geral, há muito
mais espécies do que funções; portanto, a redundância é incorporada
ao agroecossistema. A biodiversidade aprimora a função do ecossis-
tema, porque os componentes que parecem redundantes em deter-
minado momento podem se tornar importantes quando ocorrem
mudanças ambientais. Em tais situações, as redundâncias do sis-
tema permitem o funcionamento contínuo do ecossistema e o for-
necimento de serviços ecossistêmicos (Cabell; Oelofse, 2012). Além
disso, a diversidade de espécies atua como um amortecedor contra

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AGROECOLOGIA  9

falhas devido a flutuações ambientais, aumentando a capacidade


de compensação do agroecossistema; se uma espécie falha, outras
podem desempenhar o mesmo papel, levando a respostas agrega-
das da comunidade ou propriedades do ecossistema mais previsíveis
(Lin, 2011; Rosset et al., 2011). Uma comunidade de organismos
em um agroecossistema se torna mais complexa quando um número
maior de espécies vegetais diferentes é incluído, levando a mais inte-
rações entre artrópodes e micro-organismos, componentes das redes
alimentares acima e abaixo do solo. À medida que a diversidade
aumenta, também aumentam as oportunidades de coexistência e
interferência benéfica entre espécies que podem melhorar a susten-
tabilidade do agroecossistema (Malezieux, 2012). Sistemas diversos
incentivam redes alimentares complexas, que envolvem mais cone-
xões e interações potenciais entre os membros, criando muitos cami-
nhos alternativos para o fluxo de energia e material. Por esse motivo,
uma comunidade mais complexa geralmente apresenta uma produ-
ção mais estável e menos flutuações no número de organismos inde-
sejáveis (Power; Flecker, 1996). Os ecologistas, no entanto, afirmam
corretamente que a diversidade nem sempre promove a estabilidade
do ecossistema (Loreau; Mazancourt, 2013).
Nosso entendimento atual da relação entre biodiversidade e fun-
ção do ecossistema em ecossistemas naturais (Tilman; Reich; Knops,
2006) pode informar o gerenciamento do agroecossistema em várias
escalas espaciais e temporais. A literatura atual sobre biodiversidade
e função do ecossistema nos diz que a biodiversidade (ou a riqueza
de espécies) em si não é a métrica mais importante, mas sim a diver-
sidade funcional – a representação de espécies que desempenham
diferentes funções ecológicas (Moonen; Barberi, 2008), como o apri-
moramento da ciclagem de nutrientes ou o controle de pragas. Uma
explicação é que certas espécies afetam os processos ecológicos mais
do que outras. Nos agroecossistemas, um exemplo comum é a capa-
cidade de melhorar a fertilidade do solo, consorciando leguminosas
com gramíneas (dois grupos funcionais de plantas diferentes), por-
que a competição leguminosa por nitrogênio do solo aumenta a fixa-
ção do nitrogênio da leguminosa. Portanto, projetar matrizes de alta

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10   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

qualidade não é uma questão de meramente adicionar mais espé-


cies aos agroecossistemas: envolve entender as interações biológicas
e gerenciá-las para otimizar vários objetivos (Loreau et al., 2001).
A exploração de interações mediadas pela biodiversidade em
situações reais envolve a criação de agroecossistemas e de estratégias
de gerenciamento destinados a otimizar a biodiversidade funcional
por meio de três abordagens (Hainzelin, 2013):

1. aprimoramento da biodiversidade acima do solo, em diferen-


tes escalas ao longo do espaço e do tempo, para intensificar os
ciclos biológicos de nutrientes e da água, buscando aumentar a
produção de biomassa colhida (alimentos, fibras, energia etc.)
sem insumos externos. Essa estratégia requer o planejamento
de combinações anuais e perenes com complementaridade de
arquiteturas de copa e sistemas de raízes entre as espécies para
maximizar a captura de radiação solar, a conservação de água e
a captação de nutrientes, além de abrigar biota benéfica, como
predadores e polinizadores;
2. uso da diversificação de culturas no tempo e no espaço para
aprimorar o controle biológico natural de pragas de insetos,
promover efeitos alelopáticos para suprimir ervas daninhas e
estimular antagonistas para reduzir patógenos do solo, dimi-
nuindo, com isso, as perdas de biomassa das culturas colhidas
sem o uso de pesticidas; e
3. estímulo da biodiversidade funcional abaixo do solo por meio
de práticas de manejo orgânico, que, por sua vez, auxiliam na
amplificação de ciclos biogeoquímicos no solo, na reciclagem
de nutrientes de perfis profundos e no aumento da atividade
microbiana benéfica para a nutrição e a saúde ideais das cul-
turas, sem fertilizantes.

Assim, o comportamento ideal dos agroecossistemas depende


do nível de interação entre os vários membros da biota funcional-
mente diversa, que inicia sinergismos que subsidiam os processos
do agroecossistema. A chave é identificar o tipo de biodiversidade

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AGROECOLOGIA  11

que é desejável manter e/ou aprimorar para realizar serviços eco-


lógicos e, em seguida, determinar as melhores práticas que incen-
tivarão os componentes desejados da biodiversidade (Figura 1.2)
(Altieri; Nicholls, 2004).

Figura 1.2 – Função dos componentes da biodiversidade e estratégias


para aprimoramento
Componentes

- Polinizadores - Predadores e parasitas


- Herbívoros - Vegetação não cultivada
- Minhocas - Mesofauna do solo
- Microfauna do solo

BIODIVERSIDADE DO
AGROECOSSISTEMA

- Polinização, introgressão - Fontes de inimigos naturais


genética - Parentes selvagens de
- Regulação da população, culturas
Funções

controle biológico - Estrutura do solo, ciclagem


- Consumo de biomassa, de nutrientes
ciclagem de nutrientes - Decomposição
- Concorrência - Predação
- Alelopatia - Supressão de doenças
Aprimoramentos

- Consorciação - Compostagem
- Agroflorestamento - Adubação verde
- Rotações - Adição de matéria orgânica
- Cultura de cobertura - Quebra-ventos
- Plantio direto

A matriz ecológica

Muitos sistemas de agricultura camponesa de pequena escala


contêm parcelas incorporadas a comunidades florestais naturais ou
secundárias, com a paisagem circundante determinando em grande
parte os níveis de biodiversidade nesses agroecossistemas (Perfecto;

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Vandermeer; Wright, 2009). Em muitas comunidades rurais tra-


dicionais, unidades de produção agrícola e ecossistemas adjacen-
tes geralmente são integrados em um único agroecossistema em
termos de paisagem. Muitos camponeses utilizam, mantêm e pre-
servam dentro de suas propriedades ou adjacentes a elas áreas de
ecossistemas naturais (florestas, encostas, lagos, pastagens, riachos,
pântanos etc.) que contribuem com valiosos suplementos alimenta-
res, materiais de construção, medicamentos, fertilizantes orgânicos,
combustíveis, itens religiosos e assim por diante. A coleta de plan-
tas praticada por vários habitantes rurais tem uma base econômica
e ecológica, uma vez que as plantas silvestres coletadas fornecem
suprimentos essenciais na forma de alimentos, matérias-primas para
indústrias caseiras e outros recursos, especialmente em períodos de
baixa produção agrícola. Os ecossistemas de plantas silvestres tam-
bém fornecem serviços ecológicos aos camponeses, como habitats
para animais selvagens e inimigos naturais de pragas agrícolas, sera-
pilheira para melhorar a matéria orgânica e resíduos para a cober-
tura de campos (Wilken, 1987; Altieri; Anderson; Medrrick, 1987).
Os efeitos de transbordamento entre áreas naturais adjacentes
a campos gerenciados podem influenciar bastante a diversidade de
insetos e as interações na cadeia alimentar. Há evidências claras de que
as plantas ao redor do campo cultivado fornecem recursos impor-
tantes para aumentar a abundância e o impacto de inimigos naturais
de pragas em campos adjacentes. Os habitats associados aos campos
agrícolas podem fornecer recursos para os artrópodes benéficos que
não estão disponíveis no habitat das culturas, como hospedeiros ou
presas alternativos, alimentos e recursos hídricos, abrigo, microcli-
mas favoráveis, locais de inverno, parceiros e refúgio de pesticidas
(Bianchi; Booij; Tscharntke, 2006). É claro que se deve verificar se
as fronteiras das plantas daninhas abrigam pragas e doenças. Infe-
lizmente, a intensificação agrícola levou a perdas consideráveis na
diversidade de habitats, com grandes efeitos sobre a biodiversidade
geral. De fato, o avanço das monoculturas está alterando as paisa-
gens agrícolas globais e os serviços ecossistêmicos que elas forne-
cem. Por exemplo, em quatro estados do Centro-Oeste dos EUA,

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AGROECOLOGIA  13

o crescimento no plantio de milho voltado para a produção de bio-


combustível resultou em menor diversidade da paisagem, dimi-
nuindo a oferta de inimigos naturais das pragas nos campos de soja e
reduzindo os serviços de biocontrole em 24%. Essa perda de serviços
de biocontrole custa aos produtores de soja nesses estados um valor
estimado de US$ 58 milhões por ano em produtividade reduzida e
aumento do uso de pesticidas (Landis et al., 2008).
Restaurar a diversidade da paisagem pode melhorar o controle
biológico de pragas de insetos em agroecossistemas. Por exemplo,
faixas de pousio antigas e adjacentes aos campos anuais de colza de
oleaginosas tornam três vezes maiores as taxas de parasitismo da
principal praga de insetos (Tschanrtke et al., 2007). No Havaí, a
presença de plantas que são fonte de néctar nas margens do campo
de cana-de-açúcar permitiu aumentar os níveis populacionais e
aumentou a eficácia do parasita do gorgulho, Lixophaga sphenophori
(Topham; Beardsley, 1975). Os autores sugerem que o alcance efe-
tivo do parasita nos campos de cana é limitado a cerca de 45 a 60
metros das fontes de néctar presentes nas margens. Na Califórnia,
os agricultores testaram as ameixas secas como refúgio para parasi-
toides (Anagrus epos) de cigarrinhas que afetavam as vinhas; entre-
tanto, os pesquisadores determinaram que o efeito dos refúgios de
ameixa era limitado a poucas fileiras de vinhas a favor do vento e que
quanto maior a distância do refúgio, menor a presença do A. epos nas
vinhas (Corbett; Rosenheim, 1996). Esse achado representa uma
importante limitação ao uso da vegetação adjacente como habitat
para inimigos naturais, pois geralmente a colonização de predadores
e parasitoides parece ficar limitada às fronteiras do campo, deixando
as fileiras centrais de culturas sem proteção do controle biológico.
Para superar essa limitação, Nicholls, Parrella e Altieri (2001) tes-
taram se o estabelecimento de um corredor vegetacional dentro do
campo melhorava o movimento de insetos benéficos para além da
“área de influência normal” de habitats ou refúgios adjacentes. Os
resultados desse estudo sugerem que a criação de corredores entre
vinhedos pode servir como uma estratégia-chave para permitir que
inimigos naturais que emergem de matas ciliares se dispersem por

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grandes áreas de sistemas de monocultura. Esses corredores devem


ser compostos de espécies de plantas adaptadas localmente, que exi-
bem períodos de floração sequenciais e que atraem e abrigam uma
diversidade abundante de predadores e parasitoides ao longo da esta-
ção de crescimento. Assim, esses corredores ou faixas, que podem
ligar vários campos de cultivo e remanescentes de matas ciliares,
podem criar uma rede que permite a muitas espécies de insetos bené-
ficos se dispersar por regiões agrícolas inteiras, transcendendo os
limites das lavouras.

Princípios para o projeto de sistemas agrícolas


diversificados

Capitalizando os mecanismos ecológicos que aprimoram os pro-


cessos naturais favoráveis e as interações biológicas na agricultura
tradicional, um importante objetivo dos agroecologistas é reunir
culturas, animais e árvores em novos esquemas espaciais/tempo-
rais, para que projetos diversificados permitam às lavouras patro-
cinar a fertilidade do solo, a saúde das culturas e a produtividade
delas mesmas (Vandermeer et al., 1998). Claramente, os feixes de
ecossistemas não são sustentados apenas se adicionando espécies
complementares aleatoriamente; a maioria das associações que os
agroecologistas promovem é testada pelos agricultores há décadas,
se não séculos, e os agricultores as mantêm porque esses sistemas
encontram um equilíbrio entre produtividade da lavoura, resiliên-
cia, saúde do agroecossistema e meios de vida. Os agroecologistas
usam princípios ecológicos bem estabelecidos para a criação e geren-
ciamento de agroecossistemas diversificados, onde insumos exter-
nos são substituídos por processos naturais, como fertilidade natural
do solo, alelopatia e controle biológico (Quadro 1.1). Quando aplica-
dos em determinado local, os princípios assumem diferentes formas
ou práticas tecnológicas, dependendo das necessidades socioeconô-
micas locais dos agricultores e de suas circunstâncias biofísicas, dos
recursos disponíveis etc. Uma vez aplicadas, as práticas acionam

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AGROECOLOGIA  15

interações ecológicas que conduzem processos-chave para funções


do agroecossistema (ciclagem de nutrientes, regulação de pragas,
produtividade etc.) (Figura 1.3). Cada prática está vinculada a um ou
mais princípios, contribuindo, assim, para sua manifestação na fun-
ção dos agroecossistemas (Quadro 1.2).

Figura 1.3 – Funcionamento do agroecossistema


Princípios
agroecológicos

Práticas
(adaptadas localmente)

Processos

Acúmulo de Ciclagem de Regulação Conservação


matéria orgânica nutrientes biótica de pestes da água

Melhora da saúde da planta


Aumento da fertilidade do solo
Produtividade total superior
Aumento da resiliência do agroecossistema

Fonte: Nicholls; Altieri; Vazquez (2016)

Quadro 1.1 – Princípios agroecológicos


1) Melhorar a reciclagem de biomassa, com o objetivo de otimizar a decomposição de
matéria e ciclagem de nutrientes ao longo do tempo
2) Fortalecer o “sistema imunológico” dos sistemas agrícolas por meio de aprimora-
mento da biodiversidade funcional (inimigos naturais, antagonistas etc.), criando
habitats apropriados
3) Proporcionar as condições mais favoráveis no solo para o crescimento das plantas, prin-
cipalmente gerenciando a matéria orgânica e aprimorando a atividade biológica no solo
4) Minimizar as perdas de energia, água, nutrientes e recursos genéticos, melhorar a
conservação e regeneração dos recursos do solo e da água e a agrobiodiversidade
5) Diversificar espécies e recursos genéticos no agroecossistema ao longo do tempo e no
espaço, no nível do campo e da paisagem
6) Melhorar interações e sinergias biológicas benéficas entre os componentes da agro-
biodiversidade, promovendo, com isso, importantes processos e serviços

Fonte: Altieri (1995)

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Quadro 1.2 – Contribuição de práticas de gestão para os princípios


agroecológicos
Princípio com o qual contribui*
Prática de gestão
1 2 3 4 5 6
Compostagem x x
Cultura de cobertura –
x x x x x x
adubos verdes
Cobrir com folhas x x x
Rodízio de culturas x x x x
Pesticidas microbianos/
x
botânicos
Flores insetárias x x x
Cerca viva x x x x
Consorciação x x x x x x
Agroflorestamento x x x x x x
Integração de culturas e
x x x x x
criação animal

* Números se referem aos princípios listados no Quadro 1.1


Fonte: Nicholls; Altieri; Vazquez (2016)

Um princípio fundamental da agroecologia é a diversificação do


agroecossistema, favorecendo a diversidade da parcela e a hetero-
geneidade da paisagem. Esse princípio é baseado em observações e
evidências experimentais que demonstram as seguintes tendências:
(a) quando os agroecossistemas são simplificados, grupos funcionais
inteiros de espécies são removidos, mudando o equilíbrio do sistema
de um estado funcional desejado para um menos funcional, afetando
a capacidade de responder a mudanças e gerar serviços ecossistêmi-
cos; e (b) quanto maior a diversidade vegetativa dos agroecossiste-
mas, maior a capacidade do agroecossistema de se proteger contra
problemas de pragas e doenças e contra mudanças nos padrões de
chuva e temperatura (Loreau et al., 2001). A diversificação ocorre de
várias formas nos lotes (misturas de variedades, rotações, policultu-
ras, agrossilvicultura, integração entre lavoura e criação animal) e nas
paisagens (sebes, corredores etc.), oferecendo aos agricultores uma

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AGROECOLOGIA  17

ampla variedade de opções e combinações para a implementação de


tal estratégia (Quadro 1.3). As propriedades ecológicas surgem em
agroecossistemas diversificados que permitem ao sistema funcio-
nar de maneira a manter a fertilidade do solo, a produção agrícola e
a regulação de pragas. Lavouras com biodiversidade bem projetadas
otimizam a aplicação dos princípios agroecológicos, aumentando a
diversidade funcional do agroecossistema visando à qualidade do
solo, à saúde das plantas, à produtividade das culturas e à resiliência
do sistema (Nicholls; Altieri; Vazquez, 2016).
Pesquisas mostram que os agroecossistemas diversificados
podem reverter as tendências descendentes de longo prazo nos ren-
dimentos observados em muitos sistemas de monocultura, uma vez
que uma variedade de culturas implantadas em esquemas tempo-
rais e espaciais responde de maneira diferente a choques externos.
Em uma revisão, os pesquisadores descobriram que, quando com-
parados às monoculturas convencionais, os sistemas agrícolas diver-
sificados sustentavam em patamares substancialmente maiores a
biodiversidade, a qualidade do solo e a capacidade de retenção de
água nas superfícies do solo, além de exibir maior eficiência no uso
de energia e maior resiliência às mudanças climáticas. Em relação às
monoculturas convencionais, os sistemas agrícolas diversificados
também aprimoram a regulamentação de ervas daninhas, doenças
e pragas de artrópodes e aumentam os serviços de polinização (Kre-
men; Miles, 2012).

Quadro 1.3 – Estratégias temporais e espaciais


Rodízio de culturas
Diversidade temporal na forma de sequências cereal-leguminosa, em que os nutrientes
são conservados e fornecidos de uma estação para a seguinte, e os ciclos de vida de pra-
gas, doenças e ervas daninhas são interrompidos.
Policulturas
Sistemas de cultivo (consórcios) nos quais duas ou mais espécies de cultura são planta-
das a certa proximidade espacial, o que resulta em complementaridades biológicas que
melhoram a eficiência do uso de nutrientes e a regulação de pragas, aprimorando a esta-
bilidade do rendimento das culturas.

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18   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Sistemas agroflorestais
Árvores crescendo em conjunto com culturas anuais, além de modificar o microclima,
mantêm e melhoram a fertilidade do solo, pois algumas árvores contribuem para a fixa-
ção de nitrogênio e para a absorção de nutrientes em níveis profundos do solo, enquanto
a serapilheira ajuda a repor os nutrientes, manter a matéria orgânica e apoiar redes ali-
mentares complexas no solo.
Culturas de cobertura e cobertura vegetal
O uso de suportes puros ou mistos de grama e legumes, por exemplo, sob árvores frutí-
feras pode reduzir a erosão, fornecer nutrientes ao solo e melhorar o controle biológico
de pragas. Achatar misturas de culturas de cobertura na superfície do solo em conser-
vação reduz a erosão e variações na umidade e na temperatura do solo, melhorando
sua qualidade e elevando a supressão de ervas daninhas, o que resulta em um melhor
desempenho da colheita.
Misturas entre culturas e criação animal
Uma alta produção de biomassa e uma ótima reciclagem de nutrientes podem ser alcan-
çadas por meio da integração entre lavoura e criação animal. A produção animal que
integra arbustos forrageiros plantados em altas densidades, consorciados com pastagens
altamente produtivas e árvores para fornecimento de madeira, todas combinadas em um
sistema que pode ser pastado diretamente pelo gado, aumenta a produtividade total sem
necessidade de insumos externos.

Fonte: Altieri (1995); Gliessman (1998)

Os sistemas agroecológicos são projetados com ênfase na adapta-


ção e aplicação dos princípios de acordo com as realidades locais. Por
exemplo, em determinado local, a fertilidade do solo pode ser apri-
morada com compostagem de minhocas, enquanto em outro local
isso pode se dar por meio do plantio de adubos verdes. A escolha de
práticas depende de fatores como recursos locais, mão de obra, con-
dições familiares, tamanho da lavoura e tipo de solo. Isso é bem dife-
rente do tipo de agricultura orgânica comercial, comum nos países do
Norte, que se baseia na substituição pautada em receitas de insumos
menos nocivos, os quais são comprados em grandes quantidades.
Essa “substituição de insumos” mantém a dependência do mercado
externo de insumos e as vulnerabilidades ecológicas, sociais e econô-
micas das monoculturas (Rosset; Altieri, 1997).
Ao contrário da substituição de insumos, a “integração agroeco-
lógica” é alcançada por meio da diversificação funcional do agroe-
cossistema, de modo que os insumos de fora da propriedade são
reduzidos ao mínimo (Rosset et al., 2011). As pragas podem ser

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AGROECOLOGIA  19

controladas por consorciação, por exemplo, e não pelo uso de um


produto químico convencional ou de um pesticida biológico alter-
nativo certificado como orgânico. A fertilidade do solo não é man-
tida com um fertilizante químico nem com um substituto orgânico
adquirido fora da propriedade, como composto comercial, adubos ou
biofertilizantes, mas sim pela combinação de elementos como com-
postagem de resíduos de culturas com minhocas, incorporação cons-
tante de matéria orgânica no solo, colocação de animais para pastar
resíduos das culturas e uso de seu esterco como fertilizante, associa-
ção com leguminosas fixadoras de nitrogênio e promoção e manuten-
ção de uma biologia ativa do solo (Rosset et al., 2011; Machín Sosa
et al., 2013). Foi demonstrado que esses sistemas agroecológicos res-
tauram até solos severamente degradados (Holt-Giménez, 2006).
As lavouras podem ter um grau maior ou menor de integração
agroecológica, variando de uma monocultura industrial (integra-
ção agroecológica insignificante) ou uma roça orgânica baseada em
monocultura com substituição de insumos (baixo nível de integra-
ção) a um sistema de agrossilvicultura camponesa complexa e quase
autônoma com várias culturas e árvores anuais, animais, esquemas
de rotação e talvez até um viveiro de peixes, onde a lama é coletada
para ser usada como fertilizante adicional (alto nível de integração).
Um alto grau de integração agroecológica põe em jogo sinergismos
poderosos entre os componentes do sistema que podem gerar níveis
muito mais altos de produção total por unidade de área, com menos
ou zero insumos vindos de fora da lavoura, geralmente também com
menor insumo de trabalho por unidade de produção (Rosset et al.,
2011). No entanto, são necessárias mais pesquisas para entender a
ecologia de sistemas complexos (como os componentes estão intera-
gindo), a fim de observar os padrões gerais que emergem.
Uma ênfase indevida em insumos alternativos vindos de fora da
lavoura geralmente coloca a chamada agricultura sustentável em uma
posição competitiva desfavorável em relação à agricultura industrial
convencional, porque os insumos alternativos são mais fracos do que
os convencionais (por exemplo, um veneno químico com queda ime-
diata da incidência de pragas em comparação a pesticidas biológicos

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20   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Quadro 1.4 – Pontos fortes e fracos de diferentes abordagens para a


agricultura
Agricultura
Aspecto Agroecologia
convencional
Insumos Potente Fraco
Sinergismos Ausentes Poderosos
Ausente (mas oferece
Capacidade para restaurar doses cada vez maiores de
Alta
solos degradados insumos para mascarar o
problema)

Fonte: Rosset et al. (2011)

de ação lenta). Isso é mostrado esquematicamente no Quadro 1.4. Essa


é uma das razões pelas quais a agricultura orgânica nos países mais
ricos é consistentemente incapaz de superar a agricultura convencio-
nal, enquanto no Sul os sistemas agroecológicos camponeses têm em
média um nível mais alto de produtividade total do que as monocul-
turas convencionais (Rosset, 1999b; Badgley et al., 2007; Rosset et
al., 2011). No entanto, são necessárias mais pesquisas para entender a
ecologia de sistemas complexos (como os componentes estão intera-
gindo), a fim de observar os padrões gerais que emergem.

Superprodução

Aumentos significativos de produção têm sido frequentemente


relatados em sistemas de culturas consorciadas em comparação
com monoculturas (Francis, 1986; Vandermeer, 1989). A produção
aprimorada nesses sistemas de policultura pode resultar de diver-
sos mecanismos, como uso mais eficiente de recursos (luz, água,
nutrientes), redução de danos causados por pragas, controle apri-
morado de plantas daninhas, redução da erosão do solo e melhoria
da infiltração de água (Francis, 1986). Os mecanismos que resul-
tam em maior produtividade em diversos agroecossistemas são
chamados de facilitação. Esta ocorre quando uma cultura modi-
fica o ambiente de maneira que beneficia uma segunda cultura, por

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AGROECOLOGIA  21

exemplo, diminuindo a população de um herbívoro crítico ou libe-


rando nutrientes que podem ser absorvidos pela segunda cultura
(Lithourgidis et al., 2011). É por isso que a superprodução geral-
mente ocorre, apesar da competição entre as plantas consorciadas,
pois a facilitação pode superar a concorrência, especialmente a con-
corrência fraca. A incidência de pragas e patógenos é geralmente
mais baixa nos cultivos intercalados. Além disso, a maior eficiência
no uso total de recursos resulta do cultivo conjunto de culturas com
diferentes sistemas radiculares e morfologia das folhas, o que reduz
a competição entre eles, pois exploram diferentes estratos de luz e
água. A captação de recursos e a eficiência de conversão desses recur-
sos, além de outros fatores, também foram sugeridas como mecanis-
mos subjacentes capazes de aumentar o rendimento.
Uma escola de pensamento sobre o uso de recursos em siste-
mas de consórcio argumenta que uma combinação de duas espé-
cies contrastantes, geralmente uma leguminosa e um cereal, levaria
a uma maior produtividade biológica geral do que cada espécie cul-
tivada separadamente, porque a mistura pode usar recursos mais
efetivamente do que monoculturas separadas (Vandermeer, 1989).
Huang et al. (2015) exploraram como a consorciação milho/fava,
soja/milho, grão-de-bico/nabo afetou a produção e a aquisição de
nutrientes em campos agrícolas no noroeste da China. Os auto-
res descobriram que a consorciação aumentou a produção total em
quase todas as instâncias em relação às empresas de monocultura.
Além disso, os sistemas de consorciação exploram com mais eficiên-
cia o nitrogênio dos solos e o devolvem parcialmente via biomassa em
decomposição, levando a uma melhor eficiência no uso de recursos
nos sistemas consorciados.

Controle de pragas

Nos últimos quarenta anos, muitos estudos sugerem inequivo-


camente que os esquemas de diversificação aprimoram os inimigos
naturais e reduzem a abundância de pragas de herbívoros e os danos

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às culturas, a partir de uma combinação de efeitos de baixo para cima


e de cima para baixo (Altieri; Nicholls, 2004). Em uma meta-análise
de 21 estudos comparando a supressão de pragas em policulturas e
em monoculturas, Tonhasca e Byrne (1994) descobriram que as últi-
mas reduziram significativamente a densidade de pragas (64%). Em
uma meta-análise posterior, que abrange 148 comparações, Letour-
neau et al. (2011) encontraram um aumento de 44% na abundância
de inimigos naturais, um aumento de 54% na mortalidade de herbí-
voros e uma redução de 23% no dano às culturas em lavouras com
sistemas de diversificação vegetativa ricos em espécies em compa-
ração com lavouras de monocultura. Claramente, também existem
casos em que surgem problemas de pragas em determinadas combi-
nações de culturas.
Os patologistas de plantas também observaram que os sistemas
de cultivo misto podem diminuir a incidência de patógenos, dimi-
nuindo a taxa de desenvolvimento de doenças e modificando as
condições ambientais, de modo que sejam menos favoráveis à propa-
gação de certos patógenos (Boudreau, 2013). Para doenças transmiti-
das pelo solo ou dispersadas por respingos, Hiddink, Termorshuizen
e Bruggen (2010) revisaram 36 estudos, concluindo que os sistemas
de cultivo misto reduziram a doença em 74,5% dos casos em compa-
ração às monoculturas. A diluição do hospedeiro foi frequentemente
proposta como mecanismo para reduzir a incidência de doenças
de patógenos transmitidos pelo solo e dispersados por respingos.
Supõe-se que outros mecanismos, como alelopatia e antagonistas
microbianos, afetam a gravidade da doença em sistemas agrícolas
diversificados. Tais efeitos levam a menos danos às culturas e contri-
buem para maiores rendimentos em culturas mistas em comparação
com as monoculturas correspondentes.
Os ecologistas especialistas em ervas daninhas descobriram que
os consórcios são frequentemente superiores às culturas únicas em
termos de supressão de ervas daninhas, pois as combinações entre
culturas podem explorar mais recursos do que as culturas únicas.
Maiores rendimentos totais e menor crescimento de ervas daninhas
podem ser alcançados por meio do consórcio, à medida que esses

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AGROECOLOGIA  23

sistemas aumentam a preempção de recursos pelo consórcio, resul-


tando em maiores quantidades de recursos capturados pelas culturas
e menores quantidades para as ervas daninhas, ou, alternativamente,
um componente do consórcio pode liberar substâncias alelopáticas
que inibem a germinação e o crescimento de ervas daninhas, além
de poder efetivamente asfixiar as ervas daninhas com suas sombras
(Liebman; Dyck, 1993).

Diversidade e resiliência à mudança climática

Dados de 94 experimentos sobre cultivo misto de sorgo e ervilha-


-de-pombo mostraram que, para um nível específico de “desastre”,
uma única cultura de ervilha-de-pombo falharia 1 ano em 5, e uma
única cultura de sorgo falharia 1 ano em 8, mas a consorciação falha-
ria apenas 1 ano em 36 (Willey, 1979). As policulturas apresentam
maior estabilidade de rendimento e menos queda de produtividade
durante uma seca do que as monoculturas. Natarajan e Willey (1986)
examinaram o efeito da seca nos rendimentos aumentados com poli-
culturas, manipulando o estresse hídrico nos consórcios de sorgo e
amendoim, milho e amendoim e sorgo e milho. Todas as consorcia-
ções superaram consistentemente os cinco níveis de disponibilidade
de umidade, variando de 297 a 584 mm de água aplicada durante
a estação de cultivo. Curiosamente, a taxa de superação realmente
aumentou com o estresse hídrico, de modo que as diferenças relati-
vas de produtividade entre monoculturas e policulturas se tornaram
mais acentuadas à medida que o estresse aumentou. Uma explica-
ção possível é que as policulturas tendem a estar em solos com maior
teor de matéria orgânica (Marriott; Wander, 2006), o que aumenta
a capacidade de retenção de umidade, leva a uma maior disponibi-
lidade de água para as culturas e influencia positivamente a resis-
tência e a resiliência em condições de seca. Berman Hudson (1994)
mostrou que, à medida que o conteúdo de matéria orgânica do solo
aumentava entre 0,5% e 3%, a capacidade de água disponível mais do
que duplicava. Em um ensaio que analisou um período de 37 anos,

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Reganold (1995) encontrou níveis de matéria orgânica do solo signi-


ficativamente mais altos e um teor de umidade superficial 42% maior
em parcelas administradas organicamente do que nas convencionais.
Muitos sistemas de consórcio melhoram a eficiência do uso da água
em comparação com as monoculturas. Morris e Garritty (1993) des-
cobriram que os consórcios excedem em muito a eficiência da uti-
lização da água em culturas únicas, geralmente em mais de 18%,
chegando a até 99%. Eles o fazem promovendo o uso total da água do
solo pelas raízes das plantas, aumentando o armazenamento de água
na zona das raízes e reduzindo a evaporação entre fileiras, bem como
controlando a transpiração excessiva e criando um microclima espe-
cial vantajoso para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Em
situações de encosta propensas a tempestades tropicais, os consórcios
podem proteger significativamente o solo da erosão, uma vez que
seus dosséis complexos oferecem melhor cobertura do solo. Dosséis
e resíduos de plantas mais complexos reduzem o impacto de chuvas
fortes, que, do contrário, separariam as partículas do solo, tornan-
do-as propensas à erosão. O escoamento superficial é retardado pela
cobertura do solo, permitindo uma melhor infiltração de umidade.
O crescimento acima do solo fornece proteção a ele, e o sistema radi-
cular ajuda a estabilizá-lo, infiltrando-se no perfil e mantendo-o no
lugar (Altieri et al., 2015).

Conversão agroecológica de lavouras

O desafio de alinhar os sistemas agrícolas comerciais aos prin-


cípios ecológicos é imenso, especialmente no contexto atual da
agricultura moderna, em que são enfatizadas a especialização, a
produtividade no curto prazo e a eficiência econômica (Horowith,
1985). Apesar de tais restrições, muitos pequenos, médios e até gran-
des agricultores iniciam a conversão agroecológica de seus sistemas
agrícolas. Dentro de três anos, esses agricultores observam várias
mudanças benéficas nas propriedades do solo, condições microcli-
máticas, diversidade de plantas e biota benéfica associada, criando

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AGROECOLOGIA  25

lentamente as bases para melhorar a saúde das plantas, a produtivi-


dade das culturas e sua resiliência.
Muitos autores conceituaram a conversão como um processo de
transição com três etapas ou fases marcadas (McRae et al., 1990;
Gliessman, 1998):

1. aumento da eficiência do uso de insumos por meio de manejo


integrado de pragas e/ou gestão integrada da fertilidade do
solo;
2. substituição de insumos ou substituição por insumos ambien-
talmente benignos (pesticidas botânicos ou microbianos, bio-
fertilizantes etc.);
3. redesenho do sistema: diversificação com um conjunto ideal
de culturas/animais, o que incentiva o sinergismo para que o
agroecossistema possa patrocinar sua própria fertilidade do
solo, regulação natural de pragas e produtividade das culturas.

Muitas das práticas atualmente promovidas como compo-


nentes da agricultura sustentável se encaixam nas duas primeiras
fases, ambas com benefícios claros em termos de menores impactos
ambientais, pois diminuem o uso de insumos agroquímicos e geral-
mente oferecem vantagens econômicas em comparação com os sis-
temas convencionais. É provável que mudanças incrementais sejam
mais aceitáveis para os agricultores, pois modificações drásticas
podem ser vistas como altamente arriscadas. Mas a adoção de práti-
cas que aumentam a eficiência do uso de insumos ou que substituem
agrotóxicos por insumos de base biológica (porém mantendo intacta
a estrutura da monocultura) tem realmente o potencial de levar a uma
reestruturação produtiva dos sistemas agrícolas (Rosset; Altieri,
1997)? Uma verdadeira conversão agroecológica põe em questão a
monocultura e a dependência de insumos externos.
Em geral, o ajuste fino do uso de insumos por meio de abordagens
como o manejo integrado de pragas não ajuda muito na transição
dos agricultores que buscam uma alternativa aos sistemas de insu-
mos elevados. Na maioria dos casos, o manejo integrado de pragas se

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traduz em “gerenciamento inteligente de pesticidas”, já que resulta


no uso seletivo de pesticidas de acordo com um limiar econômico
predeterminado, que as pragas geralmente superam em situações de
monocultura. A substituição de insumos usada pela grande maio-
ria dos agricultores orgânicos comerciais segue o mesmo paradigma
da agricultura convencional – superando o fator limitante, mas com
insumos biológicos ou orgânicos (Rosset; Altieri, 1997). Muitos des-
ses insumos alternativos se tornaram comoditizados; portanto, os
agricultores continuam dependentes de fornecedores de insumos.
Na Califórnia, muitos agricultores orgânicos que cultivam uvas e
morangos aplicam entre doze e dezoito tipos diferentes de insumos
biológicos por estação. Além de aumentar os custos, muitos produ-
tos usados para uma finalidade afetam outros aspectos do sistema.
Por exemplo, o enxofre, que é amplamente empregado para controlar
doenças foliares das uvas, também pode acabar com populações de
vespas parasitas Anagrus, principais reguladoras de pragas de gafa-
nhotos. Assim, os agricultores ficam presos em uma “esteira orgâ-
nica”. Gliessman (2010) argumenta que melhorias na eficiência do
uso e substituição de insumos não são suficientes para enfrentar os
desafios que a agricultura moderna vive. Em vez disso, ele afirma,
os sistemas agrícolas devem ser redesenhados com base em um novo
conjunto de relações ecológicas. Isso implica abordar a conversão
como uma transição ecológica da agricultura baseada em noções de
agroecologia e sustentabilidade.
Por fim, o redesenho do sistema consiste no estabelecimento de
uma infraestrutura ecológica que, por meio da diversificação em
escala do terreno à paisagem, incentiva interações ecológicas que
geram fertilidade do solo, ciclagem e retenção de nutrientes, arma-
zenamento de água, regulação de pragas/doenças, polinização e
outros serviços essenciais do ecossistema. O custo associado (mão
de obra, recursos, dinheiro) para redesenhar a infraestrutura ecoló-
gica da lavoura (cercas vivas, rotação, habitats de insetos etc.) tende
a ser alto nos três a cinco primeiros anos (Nicholls; Altieri; Vazquez,
2016). Depois que a rotação e outros projetos vegetacionais (cultu-
ras de cobertura, policulturas, bordas de campo etc.) começam a

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AGROECOLOGIA  27

prestar serviços ecológicos à roça, processos ecológicos importan-


tes (ciclagem de nutrientes, regulação de pragas etc.) são acionados,
e a necessidade de insumos (incluindo mão de obra) e, portanto,
os custos de manutenção começam a diminuir à medida que a bio-
diversidade funcional da lavoura patrocina lentamente as funções
ecológicas (Figura 1.4).

Figura 1.4 – Processos agroecológicos


Custos de manutenção

os
ecológic
s agro
esso
Proc

Dependên
cia de insu
mos extern
os

Anos de conversão

Mudanças na biologia do solo

Três a quatro anos após o processo de conversão agroecológica,


mudanças nas propriedades do solo se tornam aparentes. Em geral,
solos organicamente manejados exibem maior atividade biológica
que aqueles convencionalmente manejados. Em um estudo de longo
prazo e bem controlado realizado na Suíça, os pesquisadores des-
cobriram que as raízes das culturas colonizadas por micorrizas em
sistemas de agricultura orgânica eram 40% mais longas que nos siste-
mas convencionais. É particularmente importante o fato de que, sob
condições de estresse hídrico, as plantas colonizadas por micorrizas
vesículo-arbusculares (MVA) geralmente exibem biomassa e ren-
dimentos significativamente maiores em comparação com as plan-
tas não micorrízicas (NM), pois a colonização por MVA aumenta

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a eficiência do uso da água (Li et al., 2007). Também encontradas


na Suíça, a biomassa e a abundância de minhocas foram de 1,3 a 3,2
vezes maiores nas parcelas orgânicas do que nas convencionais. A
atividade e a densidade de predadores, como carabídeos, estafiliní-
deos e aranhas, nas parcelas orgânicas foram quase o dobro do que
nas parcelas convencionais (Mader et al., 2002).
A porcentagem de nitrogênio, fósforo, potássio, matéria orgânica
e alguns micronutrientes aumenta com o tempo, atingindo valores
significativamente maiores do que no início da conversão. Muitos
estudos revelaram um melhor desempenho da agricultura orgânica
do que dos sistemas convencionais para várias métricas de sustenta-
bilidade, incluindo riqueza e abundância de espécies, fertilidade do
solo, absorção de nitrogênio pelas culturas, capacidade de infiltração
e retenção de água e uso e eficiência de energia (por exemplo, Pimen-
tel et al., 2005).

Evolução da produtividade

Em termos de produtividade, um estudo de Mader et al. (2002)


na Europa Central mostrou que o rendimento médio das culturas
orgânicas foi 20% menor do que o convencional em um período de
21 anos. No entanto, nos sistemas orgânicos, a energia que pro-
duzia uma unidade de matéria seca da colheita era de 20% a 56%
menor que a convencional e correspondentemente entre 36% e 53%
menor por unidade de área terrestre (Mader et al., 2002). Os rendi-
mentos geralmente diminuem durante os três a cinco primeiros anos
de conversão e depois aumentam novamente, mas, como sugere uma
meta-análise de 2015, os rendimentos orgânicos são apenas 19,2%
(± 3,7%) inferiores aos rendimentos convencionais, uma diferença
menor que estimativas anteriores. Os pesquisadores não encon-
traram diferenças significativas de rendimento entre as culturas
leguminosas e não leguminosas, perenes e anuais ou em países desen-
volvidos e em desenvolvimento (Ponisio et al., 2015). Deve-se notar
que a discussão sobre as diferenças de rendimento na agricultura

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AGROECOLOGIA  29

orgânica é um pouco enganadora no que diz respeito à agroecologia,


pois os estudos sobre tais diferenças geralmente comparam a mono-
cultura orgânica à convencional, e não sistemas agroecológicos com-
plexos. Sistemas de produtividade mais alta são encontrados não em
monoculturas, mas em sistemas de consorciação, agroflorestamento
e pecuária integrados mais diversificados e complexos, todos os quais
normalmente apresentam mais produção total por unidade de área
do que qualquer tipo de sistema de monocultura, orgânico ou con-
vencional (Rosset, 1999b).
No entanto, quando sistemas de cultivo em larga escala estão
sujeitos ao manejo orgânico por pelo menos três anos (sob um sis-
tema orgânico baseado em estrume ou em leguminosas), as culturas
apresentam rendimentos semelhantes aos campos convencionais,
como demonstrado em outro experimento de longo prazo, o teste de
sistemas agrícolas de trinta anos realizado pelo Instituto de Pesqui-
sas Rodale, na Pensilvânia.
Devido ao fato de a saúde do solo (medida como teor de carbono)
nos sistemas orgânicos aumentar ao longo do tempo, enquanto os
sistemas convencionais permaneceram essencialmente inalterados,
a produção de milho orgânico foi 31% maior do que o convencional
em anos de seca, um resultado direto do aumento da matéria orgâ-
nica na terra e do consequente aumento do armazenamento de água
no solo (Instituto Rodale, 2012).
Quando os agroecossistemas atingem o último estágio do processo
de conversão (redesenho do sistema) e os sistemas de policultivo se
tornam predominantes, a produção total aumenta na lavoura. Ponisio
et al. (2015) descobriram que duas práticas de diversificação agrícola
– policultivo e rotação de culturas – reduzem substancialmente a dife-
rença de rendimento quando os métodos foram aplicados em sistemas
orgânicos. Quando se considera a produção total (e não a de uma única
safra), as pequenas lavouras diversificadas que produzem simultanea-
mente grãos, frutas, vegetais, forragens e produtos animais são muito
mais produtivas por unidade de área do que os sistemas de grandes
lavouras que produzem uma única colheita (Rosset, 1999b).

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Síndromes de produção

Uma das frustrações da pesquisa durante o processo de conver-


são foi a incapacidade de demonstrar que, e/ou como, as práticas
com poucos insumos superam as práticas convencionais em compa-
rações experimentais que reduzem gradualmente os insumos quími-
cos e aumentam as práticas orgânicas, apesar do sucesso na prática
de muitos sistemas bem estabelecidos de produção orgânicos e com
poucos insumos. Uma possível explicação para esse paradoxo foi
oferecida por Andow e Hidaka (1989) em sua descrição das “sín-
dromes de produção”. Esses pesquisadores compararam o sistema
shizeñ tradicional de produção de arroz com o sistema japonês con-
temporâneo de alto aporte. Embora a produção de arroz fosse com-
parável nos dois sistemas, as práticas de manejo eram radicalmente
diferentes em quase todos os aspectos: método de irrigação, téc-
nica de transplante, densidade de plantas, fonte e quantidade de fer-
tilizantes e manejo de insetos, doenças e ervas daninhas. Andow e
Hidaka (1989) argumentam que sistemas como o shizeñ funcionam
de maneira qualitativa e completamente diferente dos sistemas con-
vencionais. A ampla variedade de diferentes tecnologias culturais e
métodos de manejo de pragas resulta em diferenças funcionais que
não podem ser explicadas por nenhuma prática.
Assim, uma síndrome de produção é um conjunto de práticas
de gerenciamento que se adaptam mutuamente e levam a um alto
desempenho. No entanto, subconjuntos desse conjunto de práti-
cas podem ser substancialmente menos adaptáveis; portanto, não
há como fazer comparações adicionais. A interação e os sinergismos
entre as práticas levam a um melhor desempenho do sistema que não
pode ser explicado pelos efeitos aditivos das práticas individuais. Em
outras palavras, cada sistema de produção representa um grupo dis-
tinto de técnicas de gestão e, por implicação, de relações ecológicas.
Assim, são síndromes diferentes (Nicholls et al., 2016).
Dependendo de como é aplicada e complementada por outros
métodos, uma prática específica pode às vezes atuar como uma
“mesa giratória ecológica”, ativando processos-chave como

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AGROECOLOGIA  31

reciclagem, controle biológico, antagonismo, alelopatia etc., todos


essenciais para a saúde e produtividade de um sistema agrícola espe-
cífico. As culturas de cobertura, por exemplo, podem exibir vários
efeitos múltiplos simultaneamente (Figura 1.5), incluindo a supres-
são de ervas daninhas, doenças transmitidas pelo solo e pragas, pro-
tegendo o solo da chuva e do escoamento, melhorando a estabilidade
dos agregados do solo, adicionando matéria orgânica ativa, fixando
nitrogênio e buscando nutrientes (Magdoff; van Es, 2000).

Figura 1.5 – Funções das culturas de cobertura

Suprimir
Adicionar N ervas
(legumes) daninhas
Suprimir
Alimentar
doenças
rebanhos

Suprimir
Adicionar
nematoides
matéria Culturas de cobertura
orgânica

Controlar
Aliviar a erosão
compactação
do subsolo
Atrair Aumentar a
insetos Diminuir a infiltração
benéficos perda de de água
nutrientes

Claramente, cada sistema de produção representa um grupo dis-


tinto de práticas de gestão e, por conseguinte, de relações ecológicas.
Isso destaca o fato de que os projetos agroecológicos são específicos
do local; o que pode ser aplicado em outros lugares não são as técni-
cas, mas os princípios ecológicos subjacentes à sustentabilidade. Não
basta transferir tecnologias de um local para outro se o conjunto de

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32   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

interações ecológicas associadas a essas técnicas não puder ser repli-


cado (Altieri, 2002). O que pode ser transferido são os princípios
subjacentes.

Figura 1.6 – Melhorando o desempenho do agrossistema

CONSORCIAÇÃO

Melhora das Aumento da diversidade


condições abióticas e da atividade biótica
- Maior disponibilidade - Inimigos naturais
de nutrientes - Biota no solo
- Aumento da matéria - E outros componentes
orgânica no solo funcionais da biodiversidade
- Melhora na estrutura do solo
- Microclima modificado

Serviços ecológicos e
função agrossistêmica
- Fortalecimento do controle
de pestes
- Melhora na fertilidade do solo
- Ciclagem interna de nutrientes
- Melhora no armazenamento
de água

- Melhora na saúde da planta


e na qualidade do solo
- Produtividade total
superior

Diversificação intencional

Inspirados pelos sistemas de cultivo diversificados da agricul-


tura tradicional, os agroecologistas geralmente tentam reunir com-
binações integradas de culturas (e gado e/ou árvores em muitos
casos) no mesmo pedaço de terra, induzindo mudanças na matéria
orgânica e no conteúdo de nutrientes do solo, bem como no micro-
clima (mudanças na luz, temperatura e umidade). Além disso, certas

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AGROECOLOGIA  33

misturas de culturas aprimoram os principais componentes funcio-


nais da biodiversidade (predadores e parasitoides, polinizadores,
decompositores – como minhocas e outras biodiversidades subter-
râneas do solo – etc.), criando condições de habitat mais adequa-
das para a biota benéfica, que fornece serviços ecológicos essenciais
(Figura 1.6). Por exemplo, a introdução de leguminosas na com-
binação melhora a fertilidade do solo por meio da fixação bioló-
gica de nitrogênio, beneficiando cereais associados; uma colheita
na combinação fornece fontes alternativas de alimentos no início da
temporada para inimigos naturais de pragas da outra colheita na mis-
tura. Da mesma forma, o carbono e a estrutura aprimorados do solo
devido à ação da MVA e/ou de minhocas aumentam a eficiência do
armazenamento e uso da água, ampliando a capacidade das combi-
nações de culturas para tolerar a seca.
A diversificação de culturas é, portanto, uma estratégia eficaz
para introduzir mais biodiversidade nos agroecossistemas visando
aumentar o número e o nível dos serviços ecossistêmicos prestados.
Uma maior riqueza de espécies da biodiversidade planejada e asso-
ciada melhora a ciclagem de nutrientes e a fertilidade do solo, limita
as perdas de nutrientes por lixiviação, reduz os impactos negativos de
pragas, doenças e ervas daninhas e aumenta a resiliência geral do sis-
tema de cultivo. Estudos adicionais para melhorar nossa compreen-
são das interações ecológicas em sistemas agrícolas diversificados
fornecerão uma base ainda maior para o projeto de sistemas eficien-
tes com potencial para uma maior aplicabilidade tanto na agricultura
temperada quanto na tropical.

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2
História e correntes do
pensamento agroecológico

Os princípios e práticas agroecológicos se apoiam no conheci-


mento e na prática acumulados da agricultura camponesa e indí-
gena em todo o mundo, embora camponeses e povos indígenas não
empregassem historicamente essa palavra. No entanto, para traçar
as origens da agroecologia usada por acadêmicos, profissionais e ati-
vistas de movimentos sociais, precisamos examinar as correntes de
pensamento adotadas por diversas pessoas em diferentes pontos da
história recente e em diversas regiões geográficas.

Fundações históricas

Rudolf Steiner (1993), um dos primeiros teóricos da Alema-


nha, lançou as bases para uma abordagem ecológica um tanto esoté-
rica da agricultura, agora chamada de agricultura biodinâmica, que,
segundo seus seguidores, aumenta a fertilidade do solo e a saúde
das plantas usando preparações de plantas medicinais, minerais e
estrume de vaca aplicado ao solo e às culturas para fortalecer a agri-
cultura autossustentável. Os agricultores biodinâmicos concebem a
roça como um todo e a veem como um organismo que deve ser geren-
ciado com uma abordagem holística.

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Outra fonte influente do pensamento agrícola holístico tem sido


a agricultura orgânica, concebida como uma alternativa à abordagem
agrícola convencional. Sir Albert Howard, pioneiro da agricultura
orgânica, foi enviado à Índia pelas autoridades coloniais britânicas para
melhorar as práticas agrícolas dos “nativos”. No entanto, os anos dedi-
cados a pesquisa e observações no subcontinente o convenceram de
que as práticas agrícolas tradicionais usadas pelos camponeses india-
nos eram muito mais sofisticadas e eficazes do que as práticas europeias
contemporâneas. A partir dessa experiência, ele desenvolveu a filosofia
e o conceito de agricultura orgânica, que promoveu em seu livro clás-
sico, Um testamento agrícola (1943). A ênfase estava na fertilidade do
solo e na necessidade de efetivamente reciclar os resíduos, incluindo
o solo noturno, nas terras agrícolas. O conceito de Howard de ferti­
lidade do solo se centrou no desenvolvimento do húmus, enfatizando
como a vida do solo estava conectada à saúde das culturas, do gado e
da humanidade. Muitas pessoas pensam que Howard foi inspirado
por Franklin Hiram King (1911), que documentou como os sistemas
agrícolas tradicionais da China, da Coreia e do Japão resistiram ao
teste do tempo por meio de estratégias agrícolas indígenas resilientes.
Lady Eve Balfour ajudou a popularizar a agricultura orgânica com a
publicação de The Living Soil [O solo vivo] (Balfour, 1949). Jerome
Rodale – e mais tarde seu filho, Robert Rodale –, editores e primeiros
convertidos à agricultura orgânica foram fundamentais na difusão e
popularização de conceitos orgânicos nos EUA (Heckman, 2006).
Outra corrente de pensamento que influenciou o surgimento
da agroecologia foi o trabalho inicial de acadêmicos e pesquisado-
res, incluindo agrônomos, geógrafos, entomologistas, ecologistas
e outros, na Europa e na América do Norte. Segundo Wezel et al.
(2009), o termo “agroecologia” foi usado primeiramente pelo enge-
nheiro agrônomo russo Bensin, que sugeriu o termo em 1930 para
descrever o uso de métodos ecológicos na pesquisa de plantas comer-
ciais. No final da década de 1960, o engenheiro agrônomo francês
Hénin (1967), inspirado no trabalho de Bensin, definiu a agronomia
como sendo “uma ecologia aplicada à produção de plantas e ao geren-
ciamento da terra agrícola”.

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AGROECOLOGIA  37

Nos anos 1950, o ecologista e zoólogo alemão Wolfgang Tischler


(1965) publicou um livro que provavelmente foi o primeiro a ser
realmente intitulado “agroecologia”. Ele apresentou resultados de
pesquisas agroecológicas, em particular sobre manejo de pragas, e
discutiu problemas não resolvidos relacionados à biologia do solo, a
interações com a comunidade de insetos e à proteção de plantas em
paisagens agrícolas.
No início dos anos 1900, o cientista italiano Girolamo Azzi (1928)
definiu a “ecologia agrícola” como o estudo das características físicas
do ambiente, clima e solo, em relação ao desenvolvimento e à quali-
dade da produção das plantas agrícolas. Ele enfatizou que, embora a
metodologia, a ciência do solo e a entomologia sejam disciplinas distin-
tas, seu estudo em relação às possíveis respostas das plantas agrícolas
converge na agroecologia, uma ciência que ilumina as relações entre
as plantas agrícolas e seu ambiente. Mais tarde, Alfonso Draghetti
(1948) publicou o livro seminal Farm Physiology Principles [Princí-
pios fisiológicos da roça], que vê uma roça como uma unidade funcio-
nal (corpo vivo) onde todas as partes (órgãos) são conectadas por meio
de uma organização (fisiologia) fornecida pelo projeto e gerenciada
pelo agricultor. Essa fisiologia permite a circulação e a reciclagem de
materiais em uma estrutura sinérgica entre componentes complemen-
tares, de acordo com seus papéis funcionais de “órgãos”. A manutenção
da fertilidade do solo é o principal objetivo “fisiológico” para garan-
tir a produtividade, ou a saúde do agroecossistema, no longo prazo,
enquanto as rotações das culturas e a agricultura mista com adubo são
os principais “órgãos” que fornecem matéria orgânica ao solo.
Nos EUA, um livro inicial e importante sobre agroecologia foi
publicado pelo engenheiro agrônomo Karl Klages (1928), que suge-
riu que, para entender as complexas relações entre uma planta de
cultivo e seu ambiente, devem-se considerar os fatores fisiológicos e
agronômicos que influenciam a distribuição e a adaptação de espé-
cies de culturas específicas. Mais tarde, Klages (1942) ampliou sua
definição para incluir os fatores históricos, tecnológicos e socioeco-
nômicos que determinariam quais culturas poderiam ser produzidas
em determinada região e em qual quantidade.

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As décadas de 1970 e 1980 viram uma mudança gradual em dire-


ção a uma abordagem ecossistêmica da agricultura, com uma enorme
expansão da literatura agronômica com uma perspectiva agroeco-
lógica, incluindo trabalhos de Altieri, Letourneau e Davis (1983),
Conway (1986), Dalton (1975), Douglass (1984), Gliessman, Gar-
cia e Amador (1981), Hart (1979), Loomis, Williams e Hall (1971),
Lowrance, Stinner e House (1984), Netting (1974), Spedding (1975),
van Dyne (1969) e Vandermeer (1981). Após a publicação em 1979
do livro de Cox e Atkins, Agricultural Ecology [Ecologia agrícola], e
de Agroecology: The Scientific Basis of Alternative Agriculture [Agroe-
cologia: a base científica da agricultura alternativa], de Altieri (1987),
o interesse pela agroecologia cresceu mais rapidamente, especial-
mente entre os agrônomos que viram o valor da ecologia na orien-
tação de projetos e do gerenciamento agrícolas entre ecologistas que
começaram a usar sistemas agrícolas como objeto de estudo para tes-
tar hipóteses ecológicas.
Os ecologistas tropicais foram os primeiros a enfatizar a fragi-
lidade dos agroecossistemas e alertar para os perigos da introdução
de tecnologias agrícolas intensivas modernas em áreas tropicais.
O artigo de Janzen (1973) sobre agroecossistemas tropicais foi a
primeira avaliação amplamente lida sobre os motivos pelos quais
os sistemas agrícolas tropicais podem funcionar diferentemente
daqueles das zonas temperadas, desafiando os pesquisadores a
repensar a ecologia da agricultura tropical. O trabalho de Gliess-
man e seu grupo, nos anos 1970, nos trópicos mexicanos enfocou o
entendimento das bases ecológicas da agricultura tradicional mexi-
cana, a partir de estudos de Efraím Hernández Xolocotz (1977).
Essas informações empíricas, baseadas na observação e na prática
e que integravam aspectos culturais, foram vistas como uma fonte
de conhecimento para conceituar e aplicar a agroecologia (Mendez;
Bacon; Cohen, 2013). No Brasil, o clássico livro Manejo ecológico
do solo, de Ana Primavesi, foi fundamental para delinear os prin-
cípios de promoção da biologia do solo e da matéria orgânica como
pilares fundamentais no manejo de agroecossistemas tropicais (Pri-
mavesi, 1988). Ecologistas tropicais alertaram que a substituição de

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AGROECOLOGIA  39

policulturas por monoculturas nos trópicos aumentava as probabi-


lidades de desmatamento, erosão do solo, depleção de nutrientes,
doenças de culturas, incidência de pragas e perda de diversidade
genética, entre outros problemas (Janzen, 1973; Igzoburike, 1971;
Dickinson, 1972; Gliessman; Garcia; Amador, 1981). Uma ideia
central de muitos ecologistas era que um agroecossistema tropical
deveria imitar o funcionamento ecológico dos ecossistemas locais,
exibindo uma ciclagem justa de nutrientes, estrutura complexa e
maior biodiversidade. A expectativa é que tais imitações agrícolas,
como seus modelos naturais, possam ser produtivas e resistentes a
pragas, além de conservar nutrientes (Ewell, 1986). Essa aborda-
gem da imitação da natureza está sendo testada no Land Institute
[Instituto da Terra], nas pradarias do Kansas, por meio do desenvol-
vimento de plantas perenes de culturas mistas.
Primavera silenciosa (1962), de Rachel Carson, que levantou
questões sobre os impactos secundários dos inseticidas no meio
ambiente, subsidiou grupos ambientais que pediam o desenvolvi-
mento de formas alternativas de agricultura que reduzissem a carga
agroquímica em ecossistemas, na vida selvagem, nos alimentos e
nas pessoas. Uma resposta foi o desenvolvimento de abordagens
de controle biológico e manejo de pragas para a proteção de cultu-
ras, que inicialmente eram, em teoria e na prática, baseadas inteira-
mente em princípios ecológicos, conforme descrito e teorizado por
Altieri, Letourneau e Davis (1983), Browning (1975), Levins e Wil-
son (1979), Metcalf e Luckman (1975), Price e Waldbauer (1975) e
Southwood e Way (1970). Muitos ecologistas de insetos alertaram
que a instabilidade dos agroecossistemas, manifestada como a piora
da maioria dos problemas de pragas de insetos, estava cada vez mais
ligada ao uso indiscriminado de pesticidas e à expansão das mono-
culturas. Eles recomendaram a restauração da diversidade vegetal
dentro e ao redor dos agroecossistemas como uma estratégia fun-
damental para melhorar o habitat e fontes alternativas de alimen-
tos para predadores e parasitoides de pragas de insetos. Durante a
década de 1980, houve uma explosão de pesquisas documentando
que a diversificação dos sistemas de cultivo (misturas de variedades,

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policulturas, sistemas agroflorestais etc.) muitas vezes leva a uma


redução de populações de herbívoros-pragas e a uma redução dos
danos causados pelo aprimoramento natural do inimigo e por uma
combinação de outros fatores (Altieri; Nicholls, 2004; Letourneau et
al., 2011).
Os livros de Altieri (1987, 1995), Carroll, Vandermeer e Ros-
set (1990) e Gliessman (1998) contribuíram para a evolução da
agroecologia, desde seus primórdios, como uma ciência predomi-
nantemente ecológica e agronômica em direção a uma abordagem
fundamentada na transdisciplinaridade e na pesquisa participativa
por meio do engajamento com cientistas sociais, do diálogo com
outros sistemas de conhecimento (principalmente os de campone-
ses e de povos indígenas) e do envolvimento direto das comunida-
des agrícolas locais. Esses e outros livros e trabalhos publicados nas
duas décadas seguintes mudaram a agenda dos agroecologistas, que
passaram de cientistas que conduzem pesquisas baseadas principal-
mente nas ciências experimentais da produção ecológica ou agrícola
para cientistas que atuam em um campo de investigação que deveria
ser de ciências sociais ou ter orientação política na mesma medida
que é impulsionado pelas ciências naturais.
Finalmente, a agroecologia como disciplina científica passou por
uma forte mudança, indo além do campo ou do agroecossistema, em
direção a um foco mais amplo em todo o sistema alimentar, definido
como uma rede global de produção, distribuição e consumo de ali-
mentos (Gliessman, 2007; van der Ploeg, 2009). Isso implica uma
nova e mais abrangente definição de agroecologia como “o estudo
integrativo da ecologia de todo o sistema alimentar, abrangendo
dimensões ecológicas, econômicas e sociais, ou mais simplesmente
a ecologia do sistema alimentar” (Francis et al., 2003). Assim, uma
nova corrente de pesquisa entre os agroecologistas consiste em ana-
lisar cuidadosamente o atual sistema alimentar global e explorar
alternativas locais de formas de fornecimento e acesso a alimentos
que sejam socialmente mais justas e economicamente viáveis.

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AGROECOLOGIA  41

Desenvolvimento rural

O ressurgimento da agroecologia no final dos anos 1970 e início


dos anos 1980 foi influenciado por várias correntes intelectuais que
tinham relativamente pouco a ver com a agronomia e a ecologia for-
mais. Diversas disciplinas como antropologia, etnoecologia, sociologia
rural, estudos de desenvolvimento e economia ecológica começaram a
se refletir no arcabouço intelectual da agroecologia (Hecht, 1995). A
América Latina foi a região do mundo onde a agroecologia se expan-
diu mais rapidamente, adotada inicialmente por centenas de ONGs
preocupadas com as consequências ecológicas e sociais da Revolução
Verde. Em sua maioria, os agricultores com poucos recursos ganha-
ram muito pouco com a Revolução Verde, pois as novas tecnologias
não eram neutras do ponto de vista da escala (Pearse, 1980). Os fazen-
deiros com as terras grandes e mais bem-dotadas ganharam mais,
enquanto aqueles com menos recursos frequentemente perderam e
as disparidades de renda foram, na maior parte dos casos, acentuadas
(Lappé; Collins; Rosset, 1998). Além de as tecnologias serem inade-
quadas para os agricultores pobres, os camponeses foram excluídos do
acesso a crédito, informações, apoio técnico e outros serviços que os
ajudariam a usar e adaptar esses novos insumos se assim o desejassem
(Pingali; Hossain; Gerpacio, 1997). As organizações não governa-
mentais sentiram a necessidade urgente de combater a pobreza rural
e de conservar e regenerar a base de recursos degradada de pequenas
propriedades, vendo na agroecologia uma nova possibilidade para a
pesquisa agrícola e gestão de recursos que se prestava a uma aborda-
gem mais participativa do desenvolvimento e da disseminação de tec-
nologias (Altieri, 2002). Elas argumentaram que, para beneficiar os
pobres do campo, a pesquisa e o desenvolvimento agrícola devem ope-
rar com base em uma abordagem que parte dos detalhes para níveis
mais abrangentes, usando e aproveitando os recursos já disponíveis
(população local, seu conhecimento e seus recursos naturais autócto-
nes), bem como levar seriamente em consideração, por meio de abor-
dagens participativas, as necessidades, aspirações e circunstâncias dos
pequenos agricultores (Richards, 1985).

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Os estudos de conhecimentos e tecnologias indígenas e a teoria


do desenvolvimento rural se tornaram ingredientes cruciais para o
crescimento da agroecologia. Com base no trabalho de antropólo-
gos, sociólogos, geógrafos e etnoecologistas como Hernández Xolo-
cotzi (1977), Grigg (1974), Toledo et al. (1985), Netting (1993) e van
der Ploeg (2009), os agroecologistas argumentaram que um ponto
de partida para novas abordagens de desenvolvimento agrícola a
favor dos pobres são os próprios sistemas que os agricultores tradi-
cionais desenvolveram e/ou herdaram ao longo dos séculos (Astier
et al., 2015). O conjunto de práticas tradicionais de manejo de cultu-
ras usadas por muitos agricultores com poucos recursos representou
uma rica ferramenta para os trabalhadores modernos que procuram
criar agroecossistemas bem adaptados às circunstâncias biofísicas
e socioeconômicas locais dos camponeses. A abordagem do “agri-
cultor primeiro” defendida por Chambers (1983) inspirou muitos
agroecologistas a incluir as comunidades locais em todas as etapas
do projeto (criação, experimentação, desenvolvimento de tecnolo-
gia, avaliação, divulgação etc.), como um elemento-chave para um
desenvolvimento rural bem-sucedido. Até agora, os agroecologistas
reconhecem que a autoconfiança inventiva das populações rurais é
um recurso que deve ser urgente e efetivamente mobilizado. Desde
o início dos anos 1980, ONGs na América Latina e em outras par-
tes do mundo em desenvolvimento promoveram centenas de pro-
jetos agroecológicos que incorporam elementos do conhecimento
tradicional e da ciência agrícola moderna. Surgiram diversos proje-
tos com sistemas altamente produtivos e conservadores de recursos
(Altieri, 1999). A agroecologia é altamente centrada no conheci-
mento e baseia-se em técnicas que não podem ser entregues de cima
para baixo, devendo ser desenvolvidas com base no conhecimento
e na experiência dos agricultores. Por esse motivo, a agroecologia
enfatiza a capacidade das comunidades locais de experimentar, ava-
liar e ampliar inovações por meio de abordagens de pesquisa con-
duzidas por agricultores e perspectivas de pesquisa e extensão entre
agricultores. As abordagens tecnológicas que enfatizam a diversi-
dade, a sinergia, a reciclagem e a integração e os processos sociais

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AGROECOLOGIA  43

que valorizam o envolvimento da comunidade apontam para o fato


de que o desenvolvimento de recursos humanos é a pedra angular de
qualquer estratégia que visa aumentar as opções para as populações
rurais e, especialmente, para os agricultores que contam com poucos
recursos (Holt-Gimenez, 2006; Rosset, 2015). Em geral, os dados
mostram que, com o tempo, esses sistemas agroecologicamente
gerenciados exibem níveis estáveis de produção total por unidade de
área, produzem taxas de retorno economicamente favoráveis, pro-
porcionam retorno ao trabalho e outros insumos suficientes para um
meio de vida aceitável para os pequenos agricultores e suas famílias e
garantem a proteção e conservação do solo, além de aumentar a bio-
diversidade (Pretty, 1995; Uphoff, 2002).
A expansão da agroecologia na América Latina iniciou um pro-
cesso interessante de inovação cognitiva, tecnológica e sociopolí-
tica intimamente ligada a novos cenários políticos, como a ascensão
de governos progressistas e os movimentos de resistência de cam-
poneses e povos indígenas. Assim, o novo paradigma científico e
tecnológico agroecológico está sendo construído hoje em constante
reciprocidade com movimentos sociais e processos políticos (Mar-
tínez-Torres; Rosset, 2010, 2014; Rosset; Martínez-Torres, 2012;
Machado; Machado Filho, 2014). A dimensão tecnológica da revo-
lução agroecológica emerge do fato de que, ao contrário da abor-
dagem da Revolução Verde, que enfatizava os pacotes de produtos
químicos e sementes e as receitas de “balas mágicas”, a agroecologia
trabalha com princípios que assumem múltiplas formas tecnológicas
de acordo com as necessidades socioeconômicas locais dos agriculto-
res e suas circunstâncias biofísicas. As inovações agroecológicas nas-
cem in situ com a participação dos agricultores de maneira horizontal,
e as tecnologias não são padronizadas, mas flexíveis, respondendo e
se adaptando a cada situação específica.
As seguintes inovações epistemológicas caracterizaram a revolu-
ção agroecológica na região (Altieri; Toledo, 2011):
• a agroecologia integra processos naturais e sociais, unindo
ecologia política, economia ecológica e etnoecologia entre as
disciplinas híbridas;

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• a agroecologia usa uma abordagem holística; portanto, há


muito tempo é considerada transdisciplinar, pois integra os
avanços e métodos de vários outros campos do conhecimento
em torno do conceito de agroecossistema, visto como um sis-
tema socioecológico;
• a agroecologia não é neutra e é autorreflexiva, dando origem a
uma crítica ao paradigma agrícola convencional;
• a agroecologia reconhece e valoriza a sabedoria e as tradições
locais, criando um diálogo com os atores locais por meio de
pesquisa participativa, que leva à criação constante de novos
conhecimentos;
• a agroecologia adota uma visão de longo prazo que contrasta
fortemente com a visão atomística e de curto prazo da agrope-
cuária convencional; e
• a agroecologia é uma ciência que carrega uma ética ecológica e
social em uma agenda de pesquisa para criar sistemas de pro-
dução que não causam danos à natureza e socialmente justos.

Estudos camponeses e a recamponesação

A relevância dos estudos camponeses para a agroecologia con-


temporânea é significativa. Eduardo Sevilla Guzmán e outros soció-
logos rurais traçaram as origens do pensamento agroecológico nas
ciências sociais e na teoria social do neonarodnismo e do marxismo
heterodoxo libertário (Guterres, 2006; Sevilla Guzmán, 2006, 2011;
Sevilla Guzmán; Woodgate, 2013), marcados sobretudo pelo pensa-
mento seminal de Chayanov (ver van der Ploeg, 2013). Sevilla Guz-
mán e van der Ploeg (2009, 2013) são provavelmente os principais
proponentes contemporâneos dessa escola de análise, que tem suas
bases no pensamento e nos movimentos sociais agrários que surgiram
em oposição aos primeiros processos de industrialização agrícola e se
desenvolveram como dialética contínua entre a modernização capi-
talista e a resistência a ela. Assim, a agroecologia é vista como uma
ciência aplicada inserida em um contexto social, problematizando as

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AGROECOLOGIA  45

relações de produção capitalistas e aliando-se aos movimentos sociais


agrários. A esse respeito, a agroecologia foi fortemente influenciada
na América Latina pelos debates em andamento entre os descampe-
sinistas (“descamponesistas”), que previam o eventual desapareci-
mento do campesinato, e os campesinistas (“camponesistas”), que
acreditavam que o campesinato poderia continuar a se reproduzir às
margens da, e como alternativa à, economia capitalista. Jan Douwe
van der Ploeg (2009) apresenta uma proposição teórica sobre os cam-
poneses de hoje. Em vez de definir “camponês”, ele escolheu defi-
nir o que chama de “condição camponesa” ou “princípio camponês”,
caracterizado pela constante luta para construir autonomia:

Central à condição camponesa, portanto, é a luta pela autonomia


que ocorre em um contexto caracterizado por relações de dependên-
cia, marginalização e privação. Ela visa a e se materializa como a cria-
ção e o desenvolvimento de uma base de recursos autocontrolada e
autogerenciada, que, por sua vez, permite as formas de coprodução do
homem e da natureza viva que interagem com o mercado, permitem
a sobrevivência (além de cumprir outras expectativas), retroalimen-
tam e fortalecem a base de recursos, melhoram o processo de copro-
dução, aumentam a autonomia e, assim, reduzem a dependência. [...]
Finalmente, estão presentes padrões de cooperação que regulam e
fortalecem essas inter-relações. (van der Ploeg, 2009, p.23)

Duas características se destacam nessa definição. A primeira é


que os camponeses buscam se envolver em coprodução com a natu-
reza de maneira a fortalecer sua base de recursos (solo, biodiversi-
dade etc.). A segunda é precisamente a luta pela autonomia (relativa),
por meio da redução da dependência em um mundo caracterizado
pela desigualdade e por trocas desiguais. Segundo van der Ploeg
(2010), os camponeses podem adotar a agroecologia na medida em
que esta lhes permita fortalecer sua base de recursos e se tornar mais
autônomos dos mercados de insumos e créditos (e, portanto, do
endividamento), melhorando suas condições. Esse uso da agroeco-
logia para passar de um continuum da dependência para a relativa

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autonomia – de deixar de ser o agricultor empreendedor que eles se


tornaram em alguns casos para voltar a ser camponês – é um eixo do
que ele chama de “recamponesação” [retorno ao modo camponês]
(2009). Outro eixo de recamponesação é a conquista de terras e ter-
ritórios do agronegócio e de outros grandes proprietários, seja por
reforma agrária, ocupação de terras ou outros mecanismos (Rosset;
Martínez-Torres, 2012).
Quando os agricultores passam por uma transição da agricul-
tura dependente de insumos para a agroecologia com base nos recur-
sos locais, eles estão se tornando “mais camponeses”. As práticas
agroecológicas são semelhantes e frequentemente baseadas nas prá-
ticas tradicionais dos camponeses, portanto, nessa transição, ocorre
a recamponesação. E, ao marcar a diferença entre o deserto ecológico
e social das terras do agronegócio e a agricultura ecológica nas ter-
ras recuperadas pelos camponeses, eles estão reconfigurando terri-
tórios como territórios camponeses, à medida que os recamponesam
por meio da agroecologia. Por outro lado, quando os camponeses
são atraídos para uma maior dependência, uso de tecnologias agríco-
las industriais, relações de mercado e ciclo de dívida, esse é um dos
eixos da “descamponesação”. Outro eixo de descamponesação se dá
quando empresas ou estados deslocam camponeses de suas terras e
territórios e as reconfiguram como territórios para o agronegócio,
mineração, turismo ou desenvolvimento de infraestrutura (Rosset;
Martínez-Torres, 2012).
Os processos gêmeos de recamponesação e descamponesação se
estendem no tempo, à medida que as circunstâncias mudam (van
der Ploeg, 2009). Durante o auge da Revolução Verde nas décadas
de 1960 e 1970, o campesinato foi incorporado em massa ao sis-
tema, tendo muitos camponeses se tornado agricultores familiares
empreendedores. Hoje, porém, diante do endividamento crescente
e da exclusão impulsionada pelo mercado, a tendência é a inversa,
segundo van der Ploeg (2009, 2010). Ele apresenta dados convin-
centes para mostrar que mesmo os agricultores dos países do Norte,
mais integrados ao mercado, estão de fato dando (pelo menos peque-
nos) passos para se tornar “mais camponeses” por meio de uma

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AGROECOLOGIA  47

autonomia relativamente maior em relação a bancos, fornecedo-


res de insumos e máquinas e intermediários corporativos. Alguns
até se tornam agricultores orgânicos. Em outras palavras, há um
recuo de alguns ou muitos elementos do mercado (Rosset; Martí-
nez-Torres, 2012).
A recamponesação numérica pode ser vista como o final do declí-
nio de longo prazo no número de lavouras e de pessoas dedicadas à
agricultura, chegando a ter um crescimento notável em países como
Estados Unidos e Brasil (Rosset; Martínez-Torres, 2012). De fato, o
que se observa é um aumento no número de pequenas lavouras fami-
liares e das plantações comerciais em larga escala (agronegócio), com
um declínio no número de classes de tamanho intermediário (agri-
cultores familiares). Em outras palavras, no mundo de hoje, esta-
mos essencialmente perdendo o escalão intermediário (agricultores
empreendedores) tanto para a recamponesação quanto para a des-
camponesação. E estamos cada vez mais testemunhando um con-
flito territorial global, material e imaterial, entre o agronegócio e a
resistência camponesa e indígena (Rosset; Martínez-Torres, 2012).
Nesse contexto, vemos, após 1992, o surgimento de La Via Cam-
pesina (LVC), sem dúvida o maior movimento social transnacio-
nal do mundo (Desmarais, 2007; Martinez-Torres; Rosset, 2010),
promovendo a agricultura agroecologicamente diversificada como
elemento-chave para a resistência camponesa e para a reconfiguração
de territórios (Sevilla Guzmán; Alier, 2006; Sevilla Guzmán, 2006).
Certamente, essa dicotomia um tanto estilizada não deve de forma
alguma implicar que não há mais um número significativo de agri-
cultores de médio porte que ainda mantêm ambas as identidades, do
agronegócio (o “agronegocinho”) e camponesa.
Muitos movimentos agrários organizados de camponeses e indí-
genas, como a LVC, consideram que somente se lograrmos mudar
o modelo agrícola industrial de grandes plantações, baseado no
livre-comércio e na agroexportação, é que a espiral descendente de
pobreza, salários baixos, migração urbano-rural, fome e degradação
ambiental será interrompida (LVC, 2013). Esses movimentos ado-
tam o conceito de agroecologia como um pilar da soberania alimentar,

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focado em autonomia local, mercados locais, reforma agrária e ações


comunitárias para acesso a e controle de terras, água, agrobiodiversi-
dade etc., que são de importância central para as comunidades pode-
rem produzir alimentos localmente.
Muitas organizações camponesas e indígenas adotaram a agroe-
cologia como base tecnológica da agricultura de pequena escala e a
promoveram ativamente entre seus milhares de membros por meio
de redes camponês a camponês e processos educacionais do campo
(LVC, 2013; Rosset; Martínez-Torres, 2012). A seguir, são apresen-
tadas as cinco principais razões pelas quais a agroecologia foi adotada
por muitos movimentos sociais rurais:

1. A agroecologia é uma ferramenta socialmente ativadora para a


transformação das realidades rurais por meio da ação coletiva e
é um elemento essencial na construção da soberania alimentar,
o que significa alimentos saudáveis para as famílias de campo-
neses e agricultores e para os mercados locais;
2. A agroecologia é uma abordagem culturalmente aceitável, pois
se baseia no conhecimento tradicional e popular e promove um
diálogo de saberes com abordagens científicas mais ocidentais;
3. A agroecologia permite aos seres humanos viver em harmonia
e cuidar da nossa Mãe Terra;
4. A agroecologia fornece técnicas economicamente viáveis,
enfatizando o uso do conhecimento indígena, da agrobiodiver-
sidade e dos recursos locais, evitando a dependência de insu-
mos externos e ajudando, desse modo, a desenvolver relativa
autonomia; e
5. A agroecologia ajuda famílias e comunidades camponesas a se
adaptarem e resistirem aos efeitos das mudanças climáticas.

Apesar de suas vantagens e do interesse, por parte dos movimen-


tos rurais, em promover a agroecologia, ela enfrenta barreiras inter-
nas e externas (discutidas no Capítulo 4).

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AGROECOLOGIA  49

Outras correntes de agricultura alternativa

Existem muitas manifestações da agricultura alternativa, que


dependem, em maior ou menor grau, da implementação de princí-
pios e práticas agroecológicos. Elas incluem a agricultura biodinâ-
mica, a agricultura orgânica, a permacultura e a agricultura natural,
entre outras. Todas mobilizam princípios agroecológicos por meio
de uma gama diversificada de práticas alternativas projetadas para
reduzir a dependência de pesticidas químicos sintéticos, fertilizan-
tes e antibióticos, a fim de reduzir os custos de produção e mitigar as
consequências ambientais adversas da produção agrícola industrial.

Agricultura orgânica

A agricultura orgânica, por exemplo, é praticada em quase todos


os países, e a parcela de terras e o número de lavouras que a apli-
cam estão crescendo, atingindo uma área certificada de mais de 30
milhões de hectares em todo o mundo. A agricultura orgânica é um
sistema de produção que sustenta a produtividade agrícola, evitando
ou excluindo amplamente fertilizantes e pesticidas sintéticos. Em
vez disso, os agricultores orgânicos dependem fortemente do uso de
rotações de culturas, cobertura vegetal e adubação verde, resíduos
de culturas, adubos animais, leguminosas, resíduos orgânicos de
fora da roça, cultivo mecânico, rochas contendo minerais e aspectos
do controle biológico de pragas para manter a produtividade e a incli-
nação do solo, fornecer nutrientes às plantas e controlar pragas, ervas
daninhas e doenças de insetos (Lotter, 2003).
Cientistas na Suíça realizaram uma comparação durante 21 anos
do desempenho agronômico e ecológico dos sistemas de agricultura
orgânica e convencional. Eles descobriram que o rendimento das cul-
turas é 20% menor nos sistemas orgânicos, embora a entrada de fer-
tilizantes e energia tenha sido reduzida entre 31% e 53% e o uso de
pesticidas, em 98%. Os pesquisadores concluíram que a maior fer-
tilidade do solo e a maior biodiversidade encontrada em parcelas

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50   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

orgânicas tornavam esses sistemas menos dependentes de insumos


externos (Mader et al., 2002).
A agricultura orgânica baseada em princípios agroecológicos pro-
move o desenvolvimento da matéria orgânica do solo e da biota do
solo, retém o carbono, minimiza os danos causados por pragas, doen-
ças e ervas daninhas, conserva os recursos do solo, a água e a biodi-
versidade e promove a produtividade agrícola de longo prazo com
produtos com valor e qualidade nutricionais ideais (Lampkin, 1992).
Infelizmente, cerca de 80% dos sistemas de agricultura orgânica
certificados são gerenciados como monoculturas, que são altamente
dependentes de insumos externos (orgânicos/biológicos) para subsi-
diar funções de controle de pragas e fertilidade do solo. Como men-
cionado no Capítulo 1, a adoção de tais práticas, com a estrutura da
monocultura intacta, pouco contribui para o avanço rumo a uma
alternativa durável aos sistemas que utilizam muitos insumos, ou
para o redesenho mais produtivo dos sistemas agrícolas. Os agricul-
tores que seguem esse regime estão presos em um processo de subs-
tituição de insumos que os mantém dependentes de fornecedores
(muitos de natureza corporativa) de uma variedade de insumos orgâ-
nicos geralmente caros (Rosset; Altieri, 1997).
Uma crítica mais ampla da agricultura orgânica “convencio-
nal” feita pelos agroecologistas gira em torno do fato de que, além
de não desafiar a natureza de monocultura das plantações e a forte
dependência de insumos externos, muitos agricultores orgânicos
também se apoiam em selos de certificação estrangeiros e/ou caros
ou em sistemas de comércio justo destinados apenas à agroexporta-
ção, tornando-os dependentes de mercados internacionais voláteis
(Holt-Gimenez; Patel, 2009). Não há dúvida de que a demanda por
alimentos orgânicos está aumentando, mas ela está confinada prin-
cipalmente a populações de alta renda, principalmente no mundo
industrializado. A exploração de nichos de mercado disponíveis na
economia globalizada para promover produtos orgânicos privilegia
aqueles com acesso ao capital e perpetua uma “agricultura dos pobres
para os ricos”. O “cibo pulito, justo e buono” [comida limpa, justa e
boa] que o movimento de Slow Food promove e o comércio justo de

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AGROECOLOGIA  51

café, banana e outros produtos são apreciados principalmente pelos


opulentos no Norte. À medida que os países do Sul entram no mer-
cado orgânico, a produção é principalmente para exportação agrícola
e, portanto, contribui muito pouco para a soberania alimentar ou para
a segurança das nações pobres. À medida que os produtos orgâni-
cos são cada vez mais comercializados como mercadorias internacio-
nais, sua distribuição vai sendo lentamente dominada pelas mesmas
empresas multinacionais que dominam a agricultura convencio-
nal. Mesmo os movimentos alimentares nos EUA e na Europa que
apoiam a agricultura sustentável por meio da ingestão de alimentos
frescos produzidos localmente deixaram de fora do radar pessoas não
brancas e de bairros de baixa renda que vivem em desertos alimen-
tares e que, por conseguinte, foram sistematicamente privadas do
acesso a tais alimentos saudáveis e chamados de sustentáveis (Holt
Giménez; Shattuck, 2011). Não limitando a quantidade máxima
de terras que determinado produtor ou empresa poderia certificar
como orgânico, agora as grandes empresas aderiram à moda e estão
substituindo os pequenos agricultores orgânicos (Howard, 2016).
Na Califórnia, mais de metade do valor da produção orgânica vem
de 2% dos produtores, que faturaram mais de US$ 500.000 cada. Os
produtores que faturam US$ 10.000 ou menos correspondem a 75%
de todos os produtores, porém a apenas 5% das vendas. Na Califór-
nia, apenas 7% dos alimentos orgânicos que as pessoas compram vêm
de pequenas lavouras locais; 81% das vendas de alimentos orgânicos
envolvem processadores, distribuidores, atacadistas ou intermediá-
rios em larga escala. A consolidação de várias plantações, fábricas de
embalagem e hubs regionais em uma única corporação requer a ado-
ção de práticas convencionais de grandes empresas. Esse sistema é
excelente para consolidar riqueza e poder no topo de uma pirâmide,
mas é antitético aos objetivos do controle comunitário e local que
faziam parte da inspiração original do movimento orgânico. Como
já está sendo observado, uma vez que a grandeza domina a indústria
orgânica, os valores da comunidade local são inevitavelmente dei-
xados para trás, enquanto visam a nichos de mercado para os ricos
(Guthman, 2014).

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Além disso, a maioria dos protocolos de certificação não inclui


fatores sociais para diferenciar produtos orgânicos. Hoje, na Califór-
nia, é possível comprar produtos orgânicos que podem ser produzi-
dos de forma ambientalmente correta, mas às custas da exploração
de trabalhadores rurais (Cross et al., 2008; Guthman, 2014). Geral-
mente, não há grandes diferenças nas condições de vida, nas práticas
trabalhistas ou nos salários entre um trabalhador em uma operação
agrícola orgânica e outro em uma operação agrícola convencional.
Seria essa a razão pela qual, por exemplo, os sindicatos de trabalha-
dores rurais não apoiaram por completo a agricultura orgânica? Não
há dúvida de que a agricultura orgânica deve ser ecológica e social-
mente sustentável. Para que isso aconteça, as técnicas orgânicas
devem ser incorporadas a uma organização social que promove os
valores subjacentes da sustentabilidade social e ecológica.
O “determinismo tecnológico” da escola de agricultura orgânica,
que enfatiza a substituição de insumos e os mercados de exportação,
resume os grupos que têm uma visão relativamente benigna da agri-
cultura capitalista. Eles ignoram o fato de que os produtos orgânicos
são cada vez mais comercializados como mercadorias internacionais
para o consumo dos ricos e que sua produção e distribuição estão
sendo lentamente dominadas pelas mesmas empresas multinacio-
nais que dominam a agricultura convencional (Rosset; Altieri, 1997;
Howard, 2016). Ignorar as questões complexas que envolvem a agri-
cultura orgânica comercial e voltada para a exportação é minar a visão
agrária original da agricultura orgânica, que viu um renascimento
de uma agricultura diversificada e de pequena escala para fortale-
cer os círculos locais de produção e consumo. Essa aceitação restrita
da atual estrutura da agricultura como uma condição determinada
restringe a possibilidade real de implementar alternativas que desa-
fiam essa estrutura. A simples introdução de tecnologias agrícolas
alternativas pouco fará para mudar as forças subjacentes que levaram
à produção de monoculturas, à expansão do tamanho da lavoura e à
mecanização em primeiro lugar (Altieri, 2012).

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AGROECOLOGIA  53

Comércio justo

Na tentativa de obter melhores preços para os pequenos agri-


cultores e, assim, reduzir a pobreza, o chamado “comércio justo”
lidera um movimento mundial de consumo ético de commodities,
que incluem café, cacau, chá, banana e açúcar. O comércio justo
enfrentou uma rápida expansão do mercado quando grandes empre-
sas e marcas, incluindo Costco, Sam’s Club, Seattle’s Best, Dunkin’
Donuts, Starbucks e McDonald’s, começaram a oferecer café cer-
tificado para comércio justo (Jaffee, 2012; Jaffee; Howard, 2016).
Essas empresas foram certificadas com o selo de comércio justo dos
EUA, independentemente de seus péssimos registros trabalhistas ou
ambientais. Em 2005, o mercado de comércio justo atingiu US$ 500
milhões, o segmento que mais cresce no mercado de café especial.
Para alcançar tais quantias, o comércio justo se concentra nas expor-
tações e contribui pouco para a soberania ou segurança alimentar
local, às vezes criando estratificação social nas comunidades rurais,
pois relativamente poucas famílias se beneficiam dos bons preços.
As empresas de comércio justo não se uniram a outros movimentos
sociais que exigem mudanças estruturais – como a retirada da agri-
cultura do escopo da Organização Mundial do Comércio e o fim do
Nafta e de outros acordos regionais de livre-comércio –, portanto,
não apoiam os movimentos sociais rurais e as políticas governamen-
tais para uma sustentabilidade mais local e uma produção de alimen-
tos socialmente justa (Holt Giménez; Shattuck, 2011).

Biólogos conservacionistas

Os biólogos conservacionistas tradicionalmente consideram a


agricultura um inimigo da conservação da natureza, mas lentamente
aceitam o fato de que a agricultura, que ocupa cerca de 1,5 bilhão de
hectares de terra em todo o mundo, se tornou uma força importante
na modificação da biosfera e, portanto, é preciso lidar com isso. Na
busca de melhores resultados para a biodiversidade local e global e

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influenciados por agrônomos convencionais que argumentaram que,


graças à Revolução Verde, que intensificou a produção, exigindo
menos terra, milhões de hectares de florestas e fauna associada foram
salvos, muitos conservacionistas adotam o conceito de “economia de
terra”. Segundo ela, a intensificação convencional significa que mais
alimentos podem ser produzidos em menos terra, poupando, assim,
terras para conservação. Isso ignora o fato de que a agricultura indus-
trial e as plantações e a pecuária corporativa estão entre os princi-
pais destruidores da biodiversidade em todo o mundo. Por outro
lado, segundo o conceito de “compartilhamento de terras”, a agri-
cultura agroecológica contribui para um mosaico ou matriz em que
a paisagem é compartilhada pela agricultura e pela biodiversidade
(Perfecto; Vandermeer; Wright, 2009; Grau; Kuemmerle; Macchi,
2013). Kremen (2015) argumenta que a dicotomia terra poupada/
terra compartilhada limita o campo de possibilidades futuras a ape-
nas duas entre muitas opções de conservação.

Ecoagricultura

Muitas pessoas interessadas em promover métodos de agricul-


tura que não prejudicam a vida selvagem adotam o conceito de ecoa-
gricultura, segundo o qual a preservação da vida selvagem pode ser
realizada principalmente por meio da intensificação agrícola, espe-
cialmente nos pontos críticos de biodiversidade do Sul, onde a maio-
ria dos pobres se concentra e tem pouca escolha a não ser explorar
habitats selvagens para sobreviver (McNeely; Scherr, 2003). Os pro-
motores da ecoagricultura afirmam que a melhor maneira de reduzir
o impacto da modernização agrícola na integridade do ecossistema
é intensificar a produção com tecnologias emergentes, a fim de
aumentar a produtividade por hectare e, dessa forma, poupar flores-
tas naturais e outros habitats da fauna e flora da expansão agrícola.
Para os ecoagricultores, não faz diferença se os melhores resulta-
dos para preservar pássaros ou outros animais advêm de paisagens,
inclusive grandes monoculturas e alto rendimento e consumo de

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AGROECOLOGIA  55

insumos, com áreas protegidas de habitat natural reservadas para a


conservação da biodiversidade, ou de pequenas lavouras diversifica-
das (isto é, agroflorestas de café) cercadas por uma matriz de vegeta-
ção natural. O objetivo final é a preservação da vida selvagem, desde
que a um custo ambiental e social “razoável”. É verdade que a aten-
ção exclusiva ao aumento da produção para atender às necessidades
de alimentos pode ter um preço muito alto para o meio ambiente, mas
um foco único na preservação da natureza pode condenar milhões à
fome e à pobreza (Altieri, 2004).
O debate sobre poupar ou compartilhar terra tem sido muito
bem-sucedido no fomento a discussões muito necessárias sobre
dois dos problemas mais prementes de nosso tempo: alimentar uma
população humana crescente e conservar a biodiversidade (Fischer
et al., 2014). Limitar o debate a dois mecanismos de conservação
se encaixa nos discursos sobre produção de alimentos e escassez de
terra, mas não diz nada sobre soberania alimentar ou sobre quem
controla a terra, outros recursos e o sistema alimentar. Isso pode
ajudar a identificar trocas, mas não pode nos dizer quais dessas tro-
cas são socialmente desejáveis. As respostas sobre biodiversidade só
serão boas se a biodiversidade for bem definida e mensurada.

Matriz da natureza

Perfecto, Vandermeer e Wright (2009) propõem a “matriz da


natureza” como uma estratégia de conservação mais viável, pois
considera que a conservação da biodiversidade, a produção de ali-
mentos e a soberania alimentar (ou seja, os direitos dos produtores e
consumidores de alimentos) são todos objetivos interconectados. O
modelo de qualidade da matriz desafia a suposição de que a agricul-
tura é inimiga da conservação. É o tipo de agricultura, não sua mera
existência, que importa. Em resumo, contrariamente à crença con-
vencional de que a agricultura industrial é necessária para produzir
alimentos suficientes para alimentar o mundo, as evidências empí-
ricas sugerem que as operações agrícolas camponesas e de pequena

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escala que adotam métodos agroecológicos podem ser tão produti-


vas quanto a agricultura industrial (ou até mais produtivas que ela).
Uma matriz agrícola composta por lavouras sustentáveis de pequena
escala pode, assim, criar uma situação em que todos ganham, abar-
cando tanto a atual crise alimentar quanto a crise da biodiversidade.

Ecofeminismo

Carolyn Merchant, Vandana Shiva e outras ecofeministas há


muito argumentam que a ciência ocidental moderna tem suas ori-
gens epistemológicas nas relações materiais relacionadas ao colo-
nialismo, ao capitalismo e ao patriarcado e que ela está intimamente
ligada às formas de violência epistemológica e física que essas rela-
ções criaram ao longo da história moderna (Merchant, 1981; Mies;
Shiva, 1993). Elas equiparam a ciência reducionista e a dominação
técnica da força bruta da Natureza a formas patriarcais de pensa-
mento e apontam para as semelhanças entre a dominação da Natu-
reza e a dominação da mulher pelos homens (ver também Levins;
Lewontin, 1985). Elas postulam que o ecofeminismo em particular,
e o pensamento holístico ecológico em geral, representam uma racio-
nalidade mais feminina de convivência com a Natureza, semelhante
ao que mais recentemente se tornou conhecido, na América do Sul,
como a racionalidade indígena do bem-viver entre si e com a Mãe
Terra (Giraldo, 2014). Se a monocultura industrial é o epítome do
pensamento patriarcal aplicado à agricultura, a agroecologia, por sua
vez, tem raízes feministas reais (Shiva, 1991, 1993; Siliprandi, 2009).
Mais recentemente, muitos autores observaram que as mulhe-
res camponesas e agricultoras são muitas vezes protagonistas visí-
veis ou invisíveis dos processos de transformação agroecológica,
em um autêntico “feminismo camponês e popular”, como dizem em
La Via Campesina (Siliprandi, 2015; Siliprandi; Zuluaga, 2014;
Seibert, 2017). As mulheres estão assumindo papéis de liderança
pública em vários processos de movimentos sociais, embora mui-
tas vezes estejam sub-representadas em comparação aos líderes do

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AGROECOLOGIA  57

sexo masculino. Entretanto, mesmo quando elas não ocupam posi-


ções de liderança visíveis, quando se observam mais de perto proces-
sos bem-sucedidos de transformação agroecológica, são geralmente
as mulheres dentro da casa camponesa que primeiro pressionam
para pôr um fim ao uso de pesticidas perigosos e produzir comida
saudável – mulheres preocupadas com a saúde e a nutrição de suas
famílias. O projeto paradigmático dos “cadernos agroecológicos”
no Brasil mostrou que o valor total da produção feminina em fazen-
das familiares agroecológicas é geralmente maior que o do homem
em suas atividades de produção comercial (Alves et al., 2018). E isso
além de seu trabalho não remunerado nos cuidados na esfera fami-
liar (Trevilla-Espinal, 2018). Em todo o mundo, inclusive dentro da
casa dos camponeses ou agricultores, patriarcado, sexismo, desigual-
dade de gênero e violência doméstica afetam a qualidade de vida não
apenas das mulheres, mas de toda a família. A agricultura conven-
cional da Revolução Verde, baseada em monoculturas, insumos quí-
micos e mecanização, não dá espaço para membros da família além
do chefe de família. É o homem que administra o maquinário, que
aplica os pesticidas e que coleta a renda da colheita do ano. Isso acaba
reforçando seu papel de poder na unidade familiar. Muitas vezes, o
homem toma todas as decisões dentro da família. Outros membros
da família são relegados ao papel de ajudantes.
A vasta experiência de Cuba mostrou que a agroecologia está
começando a alterar essas tendências para melhor, pois aumenta
e diversifica a renda das famílias camponesas, além de gerar uma
diversidade de responsabilidades para toda a família. Durante a
transformação de uma monocultura para uma lavoura agroecologi-
camente diversificada, os deveres e responsabilidades dos membros
da família camponesa também se diversificam. Quando a lavoura é
dedicada a uma monocultura comercial, normalmente é o homem
que toma todas as decisões, compra os insumos, prepara a terra,
colhe, vende a colheita e embolsa a renda. Porém, após a transfor-
mação agroecológica e a diversificação associada de culturas, árvo-
res e gado – e das responsabilidades por cuidar deles –, cada membro
agora tem seu próprio papel a desempenhar e, às vezes, uma renda

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independente. Por exemplo, as mulheres, além de se responsabili-


zarem pelos animais, também podem semear plantas e vegetais no
quintal. Frequentemente, elas também são responsáveis pela vermi-
cultura (compostagem de vermes), formando até pequenos coletivos
de vermicultura com mulheres vizinhas. Também é comum que os
jovens tenham seus próprios projetos, como criar animais específi-
cos, a partir dos quais esperam obter uma renda. Os idosos podem
ter pomares e, às vezes, fazem e vendem conservas. Todas essas opor-
tunidades em lavouras que seguem práticas agroecológicas incenti-
vam a (re)integração de toda a família camponesa ampliada, e cada
membro obtém importante autonomia relativa, autoridade para
tomar decisões sobre suas áreas específicas e até mesmo sua própria
renda. O efeito cumulativo consiste em reduzir, em termos relati-
vos, o poder patriarcal onipotente do homem dentro da família, em
comparação ao que usualmente ocorre em lavouras convencionais de
monocultura (Machín Sosa et al., 2010, 2013).
O feminismo tem sido uma corrente importante no pensamento
agroecológico e é uma parte essencial dos processos agroecológicos,
os quais também podem contribuir para um feminismo fortalecido.

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3
As evidências favoráveis à
agroecologia

Hoje, a maioria dos analistas concorda que o aumento da produ-


ção de alimentos será uma condição necessária, mas não suficiente,
para evitar a fome em todo o mundo no futuro. A fome resulta de ini-
quidades subjacentes ao sistema capitalista dominante que privam as
pessoas pobres de oportunidades econômicas, acesso a comida e terra
e outros recursos vitais para um sustento seguro (Lappé; Collins;
Rosset, 1998). Concentrar-se estreitamente no aumento da produ-
ção de alimentos não pode aliviar a fome porque não altera a distri-
buição fortemente concentrada do poder econômico, que determina
quem pode comprar alimentos ou ter acesso a sementes, água e terra
para produzi-los. O aumento da produção de alimentos para atender
às necessidades futuras deve, portanto, ser combinado com estraté-
gias que, ao mesmo tempo, melhorem os meios de subsistência dos
pequenos agricultores e preservem os ecossistemas. Uma série de
relatórios argumenta que a agroecologia pode fornecer a base para
tais estratégias devido a seus princípios coerentes para projetar sis-
temas agrícolas diversificados, resilientes e produtivos fortemente
enraizados na ciência e na prática (de Schutter, 2011). Dados dispo-
níveis e convincentes de uma infinidade de estudos mostram que,
com o tempo, os sistemas agroecológicos exibem níveis mais estáveis
de produção total por unidade de área do que os sistemas com muitos

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60   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

insumos, produzem taxas de retorno economicamente favoráveis,


fornecem retorno ao trabalho e outros insumos suficientes para um
meio de vida aceitável para os pequenos agricultores e suas famílias,
assim como garantem a proteção e conservação do solo e da água e
aumentam a biodiversidade (Altieri; Nicholls, 2012).
Atualmente, existem inúmeros exemplos de sistemas agrícolas
bem-sucedidos, caracterizados por uma enorme diversidade de cul-
turas e animais, mantida e aprimorada pelos regimes de manejo do
solo, da água e da biodiversidade nutridos pela agroecologia, muitos
deles baseados na lógica de complexos sistemas agrícolas tradicionais
(Altieri; Toledo, 2011). Tais sistemas agrícolas não apenas alimenta-
ram grande parte da população mundial por séculos e continuam ali-
mentando pessoas em muitas partes do mundo, especialmente nos
países em desenvolvimento, mas também possuem muitas das res-
postas possíveis aos desafios de produção e conservação de recursos
naturais que afetam as áreas rurais atualmente (Koohafkan; Altieri,
2010). Pesquisas emergentes estão documentando como a produção
agroecológica de pequenos proprietários em todo o mundo contri-
bui substancialmente para a segurança e soberania alimentar, meios
de subsistência rurais e economias locais e até mesmo nacionais,
embora essas contribuições não tenham sido devidamente aprecia-
das (Uphoff, 2002; Altieri; Rosset; Thrupp, 1998).

Extensão e significado da agricultura camponesa

A maioria dos países em desenvolvimento possui uma popula-


ção camponesa significativa composta por centenas de grupos étni-
cos com histórias que remontam a mais de 10 mil anos de prática da
agricultura tradicional. Globalmente, existem cerca de 1,5 bilhão de
pequenos agricultores, agricultores familiares e indígenas em 350
milhões de pequenas lavouras, enquanto 410 milhões praticam a
coleta em florestas e savanas, 190 milhões são pastores e bem mais de
100 milhões são pescadores artesanais. Pelo menos 370 milhões des-
tes são indígenas, ocupando cerca de 92 milhões de lavouras (ETC

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AGROECOLOGIA  61

Group, 2009). Estima-se que 70% a 80% da comida do mundo ainda


seja produzida por pequenos produtores de alimentos em lotes com
tamanho médio de 2 hectares. Lavouras com menos de um hectare
representam 72% de todas as lavouras, mas controlam apenas 8% das
terras agrícolas (Wolfenson, 2013). Além disso, a maioria dos ali-
mentos consumidos no mundo hoje é derivada de 5 mil espécies de
culturas domesticadas e de 1,9 milhão de variedades de plantas cria-
das por camponeses, cultivadas principalmente sem agrotóxicos ou
utilizando as técnicas ricas em insumo da agricultura convencional,
nessas mesmas pequenas lavouras (ETC Group, 2009).
Na América Latina, as pequenas lavouras (com tamanho médio
de 1,8 ha) administradas por camponeses representam mais de 80%
do total de propriedades e respondem por 30% a 40% do PIB agrícola
da região. As unidades de produção camponesa respondem por nada
menos que 16 milhões de pequenas propriedades, contribuindo com
aproximadamente 41% da produção agrícola para consumo domés-
tico, de acordo com estatísticas oficiais (que geralmente subestimam
massivamente a produção camponesa), e são responsáveis pela produ-
ção em nível regional de 51% do milho, 77% dos grãos e 61% das bata-
tas (Ortega, 1986). A contribuição para a segurança alimentar desse
setor de pequenas propriedades é tão crucial hoje quanto o era há 25
anos. Somente no Brasil, existem cerca de 4,8 milhões de agricultores
e famílias camponesas (cerca de 85% do número total de agricultores),
que ocupam 30% da área agrícola total do país. Essas pequenas lavou-
ras controlam aproximadamente 33% da área plantada com milho,
61% da que é cultivada com feijão e 64% da que é plantada com man-
dioca, produzindo, assim, 84% da mandioca total e 67% de todo o fei-
jão (Altieri, 2002). No Equador, o setor camponês ocupa mais de 50%
da área dedicada a culturas alimentares, como milho, feijão, cevada e
quiabo. No México, os camponeses ocupam pelo menos 70% da área
cultivada com milho e 60% da área cultivada com feijão (Altieri, 1999).
Em Cuba, os camponeses produzem quase dois terços da comida do
país em apenas um terço da terra (Rosset et al., 2011).
A África possui aproximadamente 33 milhões de pequenas
lavouras, o que representa 80% de todas as lavouras do continente.

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62   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

A maioria dos agricultores africanos (muitos dos quais são mulhe-


res) são pequenos agricultores: dois terços de todas as lavouras têm
menos de 2 hectares. A maioria dos pequenos agricultores pratica
agricultura de poucos recursos, produzindo a maioria dos grãos,
quase todas as culturas de raízes, tubérculos e bananeiras e a maio-
ria das leguminosas consumidas na região (Pretty; Hine, 2009). Na
Ásia, a China sozinha é responsável por quase metade das peque-
nas lavouras do mundo (com 193 milhões de hectares), seguida pela
Índia, com 23%, e por Indonésia, Bangladesh e Vietnã. Dos mais de
200 milhões de arrozeiros que vivem na Ásia, poucos cultivam mais
de 2 hectares de arroz. A China tem provavelmente 75 milhões de
produtores de arroz que ainda praticam métodos semelhantes aos
usados há mais de mil anos. As culturas locais, cultivadas principal-
mente em ecossistemas de terras altas e/ou sob condições de chuva,
compõem a maior parte do arroz produzido pelos pequenos agricul-
tores asiáticos. Os pequenos agricultores na Índia, cada um dos quais
possui, em média, 2 ha de terra, compõem cerca de 78% dos agriculto-
res do país e, embora possuam apenas 33% da terra, são responsáveis
por 41% da produção nacional de grãos. Como em outros continen-
tes, os pequenos agricultores asiáticos contribuem significativamente
para a segurança alimentar das famílias e das comunidades, pois sua
produção agrícola total costuma ser alta (UN-ESCAP, 2009).

Avaliando o impacto de intervenções


agroecológicas

A primeira avaliação global de projetos e/ou iniciativas de base


agroecológica em todo o mundo em desenvolvimento abrangeu 286
projetos de agricultura sustentável em 57 países pobres, cobrindo
37 milhões de hectares (3% da área cultivada nos países em desen-
volvimento). Os pesquisadores descobriram que essas interven-
ções aumentaram a produtividade em 12,6 milhões de lavouras, com
um aumento médio de 79% na produção agrícola (Pretty; Morrison;
Hine, 2003). Práticas agrícolas sustentáveis levaram a aumentos de

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AGROECOLOGIA  63

50% a 100% na produção de cereais por hectare (cerca de 1,71 kg por


ano por família – um aumento de 73%) em áreas de sequeiro, típi-
cas de pequenos agricultores que vivem em ambientes marginais;
essa é uma área de cerca de 3,58 milhões de hectares, cultivada por
cerca de 4,42 milhões de agricultores. Em catorze projetos em que as
culturas de raiz foram os principais alimentos (batata, batata-doce e
mandioca), as 146 mil lavouras em 542 mil hectares aumentaram a
produção de alimentos em 17 toneladas por ano (aumento de 150%).
Tais aprimoramentos de rendimento são uma verdadeira inovação
para alcançar a segurança alimentar entre os agricultores isolados das
instituições agrícolas hegemônicas (Pretty et al., 2003).
Um estudo de larga escala mais recente aponta para as mesmas
conclusões. Uma pesquisa encomendada pelo projeto Foresight Glo-
bal Food and Farming Futures, do governo do Reino Unido (2011),
analisou quarenta projetos em vinte países africanos onde a intensi-
ficação sustentável da agricultura foi desenvolvida durante os anos
2000. Os projetos incluíam melhorias nas culturas (particularmente
por meio do aprimoramento participativo de plantas em culturas órfãs
até então negligenciadas), manejo integrado de pragas, conservação
do solo e agrossilvicultura. No início de 2010, esses projetos haviam
documentado benefícios para 10,39 milhões de agricultores e suas
famílias e melhorias em aproximadamente 12,75 milhões de hecta-
res. Em média, o rendimento das culturas mais que dobrou (aumen-
tando 2,13 vezes) durante um período de três a dez anos, resultando
em um aumento na produção agregada de alimentos de 5,79 milhões
de toneladas por ano, equivalente a 557 kg por agregado familiar.

África

Existe um crescente corpo de evidências emergindo da África


que demonstra que as abordagens agroecológicas podem ser alta-
mente eficazes no aumento de produção, renda, segurança alimentar
e resiliência às mudanças climáticas e no empoderamento das comu-
nidades (Action Aid, 2011). A Christian Aid (2011) constatou que,

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em 95% dos projetos agrícolas sustentáveis, a produção de cereais


melhorou de 50% a 100%. A produção total de alimentos agrícolas
aumentou em todas as lavouras pesquisadas. Os impactos positi-
vos adicionais no capital natural, social e humano também ajuda-
ram a construir a base de ativos, a fim de sustentar essas melhorias
no futuro. A produção aprimorada de alimentos relatada nos estudos
resultou principalmente de esquemas de diversificação que incluíam
diversas novas culturas, rebanhos ou peixes que foram adicionados
aos produtos básicos ou vegetais já em cultivo. Esses novos empreen-
dimentos ou componentes de sistemas incluíam aquicultura para
criação de peixes; pequenas áreas de terra usadas para canteiros e
cultivo de vegetais; reabilitação de terras anteriormente degrada-
das; gramíneas e arbustos forrageiros que fornecem alimento para o
gado (e aumentam a produção de leite); criação de galinhas, ovelhas
e cabras sem pasto; novas colheitas colocadas em rotação com milho
ou sorgo; e/ou adoção de variedades de curto prazo (por exemplo,
batata-doce e mandioca) que permitem o cultivo de duas culturas
por ano, em vez de apenas uma (Pretty; Toulmin; Williams, 2011).
Outra meta-análise, conduzida pelo Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma, ou Unep, na sigla em inglês) e pela
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(Unctad, na sigla em inglês) (2008) e que avaliou 114 casos na África,
revelou que a conversão de lavouras para métodos orgânicos aumen-
tou a produtividade agrícola em 116%. No Quênia, a produção de
milho aumentou 71% e a de feijão, 158%. Além disso, o aumento da
diversidade de culturas alimentares disponíveis para os agricultores
resultou em dietas mais variadas e, portanto, melhorou a nutrição.
Também o capital natural das lavouras (fertilidade do solo, níveis de
agrobiodiversidade etc.) aumentou com o tempo após a conversão.
Uma das estratégias de diversificação mais bem-sucedidas tem
sido a promoção da agricultura baseada em árvores. A agrofloresta de
milho associada a arbustos de crescimento rápido e fixação de nitrogê-
nio (por exemplo, Calliandra e Tephrosia) se espalhou por dezenas de
milhares de agricultores nos Camarões, no Malawi, na Tanzânia, em
Moçambique, na Zâmbia e no Níger, resultando em uma produção de

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AGROECOLOGIA  65

milho de 8 t/ha, frente às 5 t/ha obtidas em monoculturas (Garrity,


2010). Em meados de 2009, mais de 120 mil agricultores do Malawi
receberam treinamento e material para árvores do programa nacio-
nal de agrossilvicultura, atingindo 40% dos distritos do país e benefi-
ciando 1,3 milhão de pessoas entre os mais pobres. Pesquisas mostram
que os sistemas agroflorestais resultaram em aumento da produção,
de 1 t/ha para 2 a 3 t/ha de milho, entre os agricultores que não podem
pagar por fertilizantes comerciais de nitrogênio.
Outro sistema agroflorestal na África é o dominado pelas árvo-
res Faidherbia, que melhoram o rendimento das culturas e as prote-
gem dos ventos secos, além de proteger a terra da erosão hídrica. Nas
regiões de Zinder, do Níger, existem agora cerca de 4,8 milhões de
hectares de agroecossistemas dominados por Faidherbia. A folhagem
e as vagens das árvores também fornecem forragens muito necessá-
rias para o gado e as cabras durante as longas estações secas do Sahel.
Encorajados pela experiência no Níger, cerca de 500 mil agricultores
no Malawi e nas terras altas do sul da Tanzânia mantêm árvores Fai-
dherbia em seus campos de milho (Reij; Smaling, 2008).
Na parte sul da África, a agricultura de conservação é uma inova-
ção importante e parcialmente agroecológica, baseada em três práticas
agroecológicas: perturbação mínima do solo, cobertura permanente
do solo e rotação de culturas. Esses sistemas se espalharam em Mada-
gascar, no Zimbábue, na Tanzânia e em outros países, atingindo nada
menos que 50 mil agricultores, que aumentaram dramaticamente sua
produção de milho em 3 a 4 t/ha acima do nível convencional. A pro-
dução aprimorada de milho aumenta a quantidade de alimento dispo-
nível para as famílias e seus níveis de renda (Owenya et al., 2011). Na
África Subsaariana, 80% dos pequenos agricultores possuem menos
de dois hectares de terra e, portanto, não são mais capazes de ficar com
três quartos de suas terras ociosos (ou seja, em pousio) todos os anos
e ainda alimentar suas famílias com o que resta. Nessas condições,
a introdução de uma série de culturas leguminosas que cumprem a
função de adubo verde/cobertura é uma estratégia-chave, pois essas
culturas de cobertura podem produzir mais de 100 toneladas de bio-
massa (peso verde) em dois hectares de terra, o que é mais do que

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suficiente para manter a fertilidade dos campos e para restaurar gra-


dualmente o solo. Ainda mais importante, a maioria das culturas de
adubo verde/cobertura também produz alimentos ricos em proteí-
nas, que geralmente podem ser consumidos ou vendidos nos mer-
cados locais (Reij; Scoones; Toulmin, 1996).
Na África Subsaariana, 40% das terras agrícolas estão localiza-
das em savanas subúmidas secas e semiáridas, cada vez mais sujei-
tas a frequentes ocorrências de escassez de água. Um antigo sistema
de captação de água conhecido como zai está sendo revivido no Mali
e em Burkina Faso. Os zai são poços ou buracos geralmente de 10
a 15 cm de profundidade e cheios de matéria orgânica (Zougmore;
Mando; Stroosnijder, 2004). A aplicação de esterco neles melhora
ainda mais as condições de cultivo e atrai simultaneamente os cupins,
que melhoram o solo, escavam os canais e, assim, melhoram a estru-
tura do solo para que mais água possa se infiltrar e ser mantida nele.
Na maioria dos casos, os agricultores cultivam milheto, sorgo ou
ambos no zai. Às vezes, os agricultores plantam árvores diretamente
junto com os cereais no mesmo zai. Na colheita, os agricultores cor-
tam os caules a uma altura de cerca de 50 a 75 cm, o que protege as
árvores jovens dos animais em pastejo. Os agricultores usam de 9 mil
a 18 mil poços por hectare, com aplicações de composto variando de
5,6 a 11 t/ha (Critchley; Reij; Willcocks, 2004). Ao longo dos anos,
milhares de agricultores na região de Yatenga, em Burkina Faso, usa-
ram essa técnica localmente aprimorada para recuperar centenas de
hectares de terras degradadas, à medida que os poços coletam e con-
centram eficientemente a água do escoamento e funcionam com
pequenas quantidades de esterco e composto. Os rendimentos de
cereais obtidos em campos administrados com zai são consistente-
mente mais altos (870-1.590 kg/ha) do que aqueles obtidos em cam-
pos sem zai, com média de 500 a 800 kg/ha (Reij, 1991).
No leste da África, uma estratégia de manejo de pragas de base
agroecológica conhecida como “empurra-puxa” foi amplamente
disseminada. A estratégia consiste em consorciar o milho com uma
planta repelente (Desmodium), que repele (empurra) pragas como a
broca de caule, ladeada por capim Napier, que atrai (puxa) a broca

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AGROECOLOGIA  67

de caule para que depositem seus ovos na grama em vez de no milho,


agindo, dessa forma, como uma cultura armadilha. A grama Napier
também produz uma substância pegajosa que captura brocas de
caule recém-eclodidas, de forma que apenas algumas sobrevivem até
a idade adulta. O sistema não apenas controla as pragas, mas também
tem outros benefícios, porque o Desmodium pode ser usado como for-
ragem para o gado. A estratégia empurra-puxa duplica a produção
de milho e de leite ao mesmo tempo que melhora o solo e controla a
Striga, uma erva daninha parasita. O sistema já se espalhou para mais
de 10 mil famílias na África Oriental (Khan et al., 1998).

Ásia

Pretty e Hine (2009) avaliaram dezesseis projetos/iniciativas


agroecológicas espalhados por oito países asiáticos e descobriram que
cerca de 2,86 milhões de famílias aumentaram substancialmente a
produção total de alimentos em 4,93 milhões de hectares, resultando
em uma grande melhoria na segurança alimentar das famílias. Os
aumentos de produtividade proporcionais são maiores em sistemas
alimentados pela chuva, mas os sistemas irrigados têm visto peque-
nos aumentos na produção de cereais combinados com a produção de
componentes adicionais do sistema produtivo (como peixes no arroz,
vegetais nos diques). O sistema de intensificação do arroz (SIA) é
uma metodologia agroecológica para aumentar a produtividade do
arroz irrigado por meio da mudança no manejo de plantas, solo, água
e nutrientes (Stoop; Uphoff; Kassam, 2002). Ele se espalhou pela
China, pela Indonésia, pelo Camboja e pelo Vietnã, atingindo mais de
1 milhão de hectares, com aumentos médios de rendimento de 20%
a 30%. Os benefícios do SIA, que foram demonstrados em mais de
quarenta países, incluem maior rendimento (às vezes de mais de 50%),
redução de até 90% nas sementes necessárias e economia de água de
até 50%. O SIA requer mais conhecimento e habilidade por parte
dos agricultores e, inicialmente, mais trabalho por hectare, mas uma
maior intensidade de trabalho compensa pelo fato de os agricultores

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obterem retornos mais elevados. Os princípios e práticas do SIA tam-


bém foram adaptados para o arroz irrigado pela chuva, bem como para
outras culturas, como trigo, cana-de-açúcar e tefe, com aumentos de
produtividade e benefícios econômicos associados (Uphoff, 2003).
No que provavelmente pode ser considerado o maior estudo rea-
lizado sobre agricultura sustentável na Ásia, Bachmann, Cruzada
e Wright (2009) examinaram o trabalho do Masipag, uma rede de
camponeses, organizações camponesas, cientistas e ONGs. Ao com-
parar, nas Filipinas, 280 agricultores camponeses totalmente orgâni-
cos, 280 em conversão para orgânicos e 280 agricultores camponeses
convencionais, esses pesquisadores descobriram que a segurança ali-
mentar é significativamente maior para os agricultores orgânicos. Os
resultados do estudo, resumidos no Quadro 3.1, são positivos, espe-
cialmente para os mais pobres nas áreas rurais. Os agricultores total-
mente orgânicos têm uma dieta mais diversa, nutritiva e segura, com
resultados de saúde substancialmente melhores. O estudo revela que
os agricultores totalmente orgânicos têm uma diversidade considera-
velmente maior na lavoura, cultivando em média 50% mais espécies
agrícolas do que os agricultores convencionais, tendo melhor fertili-
dade e menor erosão do solo, maior tolerância das plantações a pra-
gas e doenças e melhor gerenciamento da lavoura. O grupo também
tem, em média, receitas líquidas maiores.

Quadro 3.1 – Agricultura sustentável conduzida pelo produtor


Obtendo mais segurança alimentar
Entre os agricultores orgânicos, 88% consideram sua segurança alimentar melhor ou
muito melhor do que em 2000, em comparação com apenas 44% dos agricultores con-
vencionais. Entre os agricultores tradicionais, 18% estão em situação pior, ao passo que
apenas 2% dos agricultores totalmente orgânicos estão em pior situação.
Comendo uma dieta cada vez mais diversificada
Os agricultores orgânicos comem 68% mais vegetais, 56% mais frutas, 55% mais alimen-
tos básicos ricos em proteínas e 40% mais carne do que em 2000, uma quantidade 2 a 3,7
vezes maior do que entre agricultores convencionais.
Produzindo um leque mais amplo de culturas
Agricultores orgânicos, na média, cultivam 50% mais espécies que agricultores con-
vencionais.

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AGROECOLOGIA  69

Vivenciando melhores efeitos na saúde


No grupo dos agricultores completamente orgânicos, 85% avaliam sua saúde hoje como
melhor ou muito melhor do que em 2000. No grupo de referência, apenas 32% a avaliam
positivamente, enquanto 56% não veem mudanças e 13% relatam piora.

Nota: Principais conclusões do estudo sobre o Masipag sobre agricultores que praticam
agricultura sustentável conduzida pelos produtores.
Fonte: Bachmann; Cruzada; Wright (2009)

A Agricultura Natural de Orçamento Zero (ZBNF, na sigla em


inglês) é um movimento agroecológico camponês baseado em Kar-
nataka, Índia, que se espalhou maciçamente (nada menos que 100
mil agricultores) nos estados de Tamil Nadu, Andhra Pradesh e
Kerala, no sul da Índia. As principais práticas agroecológicas promo-
vidas pela ZBNF incluem espaçamento efetivo de plantações, contor-
nos e cômoros para conservar água, cobertura morta intensiva, adição
de culturas microbianas para aumentar a decomposição e recicla-
gem de nutrientes, uso de sementes locais, integração de plantações,
árvores e gado (principalmente vacas), consórcio extensivo e rota-
ção de culturas, entre outros. Uma pesquisa recente descobriu que,
ao adotar práticas ZBNF ao longo do tempo, 78,7% dos agricultores
observaram melhorias no rendimento, 93,6% na conservação do solo,
76,9% na diversidade de sementes, 91,1% na qualidade da produção,
92,7% na autonomia de sementes, 87,8% na autonomia alimentar da
família e 85,7% na renda, enquanto 90,9% tiveram despesas agrícolas
reduzidas e 92,5% reduziram a necessidade de crédito. Claramente,
esses resultados mostram que o ZBNF não funciona apenas em ter-
mos agronômicos, mas também traz uma variedade de benefícios
sociais e econômicos (Khadse et al., 2017).

América Latina

Desde o início dos anos 1980 na América Latina, pequenos agri-


cultores, muitas vezes (especialmente nos primeiros anos) em parce-
ria com ONGs e outras organizações, promoveram e implementaram

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práticas agroecológicas alternativas com sistemas conservadores


(porém altamente produtivos) de recursos (Altieri; Masera, 1993).
Uma análise de vários projetos agroecológicos de campo em opera-
ção durante a década de 1990, envolvendo quase 100 mil famílias/
unidades agrícolas e cobrindo mais de 120 mil hectares de terra, mos-
trou que as culturas tradicionais e combinações de animais muitas vezes
podem ser adaptadas para aumentar a produtividade quando a estrutu-
ração agroecológica da lavoura é aprimorada e a mão de obra e os recur-
sos locais são usados de maneira eficiente (Altieri, 1999). Na verdade, a
maioria das tecnologias agroecológicas que foram promovidas ampliou
os rendimentos agrícolas, aumentando a produção por área de terra
marginal de 400-600 kg/ha para 2.000-2.500 kg/ha, também melho-
rando a agrobiodiversidade geral e seus efeitos positivos associados na
segurança alimentar e integridade ambiental. Algumas abordagens que
enfatizam adubos verdes e outras técnicas de manejo orgânico aumen-
taram a produção de milho de 1-1,5 t/ha (uma produção típica de cam-
ponês das terras altas) para 3-4 t/ha (Altieri; Nicholls, 2008).
Um estudo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Agrícola
(2004) que pesquisou doze organizações de agricultores (abarcando
aproximadamente 5.150 agricultores e cobrindo cerca de 10 mil hec-
tares) mostrou que pequenos agricultores que mudaram para a pro-
dução orgânica obtiveram receitas líquidas mais altas em todos os
casos. Muitos desses agricultores produzem café e cacau em sistemas
agroflorestais muito complexos e biodiversos. Além do movimento
camponês a camponês (descrito abaixo), talvez o esforço agroecoló-
gico mais difundido na América Latina promovido por organiza-
ções camponesas e ONGs seja o resgate de variedades de culturas
tradicionais ou locais (variedades crioulas), promovendo a conser-
vação in situ da diversidade genética por meio de bancos comunitá-
rios de sementes e a troca por meio de centenas de feiras de sementes
(ferias de semillas), notoriamente em países como México, Guate-
mala, Nicarágua, Peru, Bolívia, Equador e Brasil. Por exemplo, na
Nicarágua, o projeto Semillas de Identidad, que envolve mais de 35
mil famílias em 14 mil hectares, já recuperou e conservou 129 varie-
dades locais de milho e 144 de feijão (Altieri; Toledo, 2011).

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AGROECOLOGIA  71

Camponês a camponês na América Central

O primeiro processo camponês de compartilhamento e disse-


minação de tecnologia na agroecologia contemporânea ocorreu nas
terras altas da Guatemala, onde os agricultores cakchiquel desen-
volveram uma metodologia de aprendizagem horizontal que chama-
ram de campesino a campesino [agricultor a agricultor, ou camponês
a camponês]. Quando, mais tarde, visitaram agricultores mexicanos
em Tlaxcala (Vicente Guerrero) que haviam criado uma escola de
conservação do solo e da água, em vez de tentar convencer os mexi-
canos de suas inovações, os agricultores cakchiquel insistiram que
testassem novas ideias em pequena escala primeiro para observa-
rem como elas funcionariam bem. Quando as inovações foram bem-
-sucedidas, os agricultores mexicanos compartilharam seus novos
conhecimentos com outros. À medida que essas trocas se expandiam,
um movimento agroecológico campesino a campesino (CAC) de base
cresceu no sul do México e na América Central, devastada pela guerra
durante várias décadas (Holt-Gimenez, 2006). Em meio à época san-
dinista na Nicarágua, as práticas CAC foram introduzidas por meio
da União Nacional de Agricultores e Produtores da Nicarágua. Em
1995, cerca de trezentos promotores agroecológicos influenciaram
aproximadamente 3 mil famílias. Em 2000, cerca de 1.500 promo-
tores trabalhavam com quase um terço das famílias de campone-
ses do país (Holt-Gimenez, 2006). Hoje, estima-se que cerca de 10
mil famílias na Nicarágua, em Honduras e na Guatemala praticam o
método camponês a camponês.
Foi por meio do método CAC que as práticas de conservação
do solo foram introduzidas em Honduras, onde os agricultores de
encostas que adotaram as várias técnicas triplicaram ou quadrupli-
caram seus rendimentos, de 400 kg/ha para 1.200-1.600 kg/ha. Esse
aumento na produção de grãos por hectare garantiu que as 1.200
famílias que participaram do programa tivessem um amplo supri-
mento de grãos para cada ano seguinte. A adoção da mucuna-preta
(Mucuna pruriens) como adubo verde, a qual pode fixar até 150 kg de
nitrogênio por hectare e produzir 35 toneladas de matéria orgânica,

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ajudou a triplicar a produtividade do milho, para 2.500 kg/ha. As


necessidades de mão de obra para a sacha foram reduzidas em 75% e
os herbicidas foram eliminados por completo (Bunch, 1990). Apro-
veitando as redes CAC bem estabelecidas, a disseminação de uma
tecnologia simples (cultivo de cobertura de mucuna) ocorreu rapi-
damente. Em apenas um ano, mais de mil camponeses recuperaram
terras degradadas na bacia hidrográfica de San Juan, na Nicarágua
(Holt-Gimenez, 2006). As análises econômicas desses processos
indicam que os agricultores que adotam o cultivo de cobertura redu-
ziram a utilização de fertilizantes químicos (de 1.900 kg/ha para 400
kg/ha), ao mesmo tempo que aumentaram os rendimentos de 700 kg
para 2.000 kg/ha, com custos de produção cerca de 22% menores do
que aqueles de agricultores que usam fertilizantes químicos e mono-
culturas (Buckles; Triomphe; Sain, 1998).

Cuba

Em Cuba, na década de 1990, a Associação Cubana de Agri-


cultura Orgânica, uma ONG formada por cientistas, agricultores
e extensionistas, ajudou a estabelecer três sistemas agrícolas inte-
grados chamados de “faróis agroecológicos” em cooperativas da
província de Havana. Após os primeiros seis meses, todas as três
cooperativas piloto incorporaram inovações agroecológicas (ou seja,
integração de árvores, rotação planejada de culturas, policulturas,
adubos verdes etc.) em vários graus, o que, com o tempo, levou ao
aumento da produção e biodiversidade e melhoria da qualidade do
solo. Várias policulturas (como mandioca, feijão e milho; mandioca,
tomate e milho; e batata-doce e milho) foram testadas nas cooperati-
vas. A avaliação da produtividade dessas policulturas indicou 2,82,
2,17 e 1,45 vezes mais produtividade total do que as monoculturas,
respectivamente (Sane, 1998).
No Instituto Cubano de Pesquisa de Pastos, a análise da inte-
gração agroecológica de lavouras e pecuária em um módulo agroe-
cológico 75% pastagem e 25% lavoura revelou que a produção

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AGROECOLOGIA  73

total aumenta e os insumos de energia e trabalho diminuem com


o tempo, conforme a estruturação biológica do sistema começa a
patrocinar a produtividade do agroecossistema. A produção to-
tal de biomassa aumentou de 4,4 t/ha para 5,1 t/ha após três anos
de integração agroecológica. As entradas de energia diminuíram,
o que resultou em maior eficiência energética (Quadro 3.2). As de-
mandas de trabalho humano para gerenciamento também dimi-
nuíram ao longo do tempo, de treze horas de trabalho humano por
dia para quatro-cinco horas. Isso é importante porque há um mito
comum de que a agroecologia sempre exige mão de obra intensiva
e, portanto, só pode funcionar quando há mão de obra abundante
disponível. Entretanto, a agroecologia também pode economizar
mão de obra, especialmente ao longo do tempo, pois processos si-
nérgicos (como o sombreamento de ervas daninhas) substituem
o trabalho humano (como a capina), conforme argumentado por
Funes-Monzote (2008). Esses modelos foram amplamente promo-
vidos em outras áreas da ilha por meio de dias de campo e visitas
cruzadas de agricultores (Sane, 1998).

Quadro 3.2 – Produtividade e eficiência de integração de culturas


em Cuba
Parâmetros de produtividade Primeiro ano Terceiro ano
Área (ha) 1 1
Produção total (t/ha) 4,4 5,1
Energia produzida (Mcal/ha) 3797 4885
Proteína produzida (Kg/ha) 168 171
Número de pessoas alimentadas por ha 4 4,8
Insumos (gastos de energia, Mcal)
Trabalho humano 569 359
Trabalho animal 16,8 18,8
Energia de trator 277,3 138,6

Nota: Resultados do módulo integrado 75% animal e 25% cultivo em Cuba após três anos
de conversão.
Fonte: Sane (1998)

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74   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Um estudo posterior conduzido por Funes-Monzote et al.


(2009) mostrou que pequenos agricultores usando sistemas agro-
pecuários agroecologicamente integrados obtiveram um aumento
de três vezes na produção de leite por unidade de área forrageira
(3,6 t/ha ao ano), bem como um aumento de sete vezes na eficiên-
cia energética. A produção de energia (21,3 GJ/ha ao ano) triplicou
e a produção de proteínas dobrou (141,5 kg/ha ao ano) por meio
de estratégias de diversificação de lavouras de gado especializadas
(Quadro 3.3).
Depois que a metodologia CAC foi adotada pela Associação
Nacional de Pequenos Agricultores – organização camponesa nacio-
nal (e membro da La Via Campesina) – em Cuba, essas e outras prá-
ticas agroecológicas foram ampliadas, passando a atingir entre um
terço e metade de todos os agricultores camponeses na nação insular
(Rosset et al., 2011). Um estudo descobriu que as práticas agroeco-
lógicas são usadas agora em 46% a 72% (dependendo de quais combi-
nações de práticas) das lavouras de camponeses, que são responsáveis
por mais de 70% da produção doméstica de alimentos, por exemplo,
67% das raízes e tubérculos, 94% de pequenos animais, 73% do arroz,
80% das frutas e a maior parte da produção de mel, feijão, cacau,
milho, tabaco, leite e carne (Funes Aguilar et al., 2002; ver também
Machín Sosa et al., 2013; Rosset et al., 2011; Funes Aguilar; Vázquez
Moreno, 2016). Os pequenos agricultores que usam métodos agroe-
cológicos obtêm rendimentos por hectare suficientes para alimentar
cerca de quinze a vinte pessoas por ano, com eficiências energéticas
não inferiores a 10:1 (Funes-Monzote, 2008).

Quadro 3.3 – Resultados de duas lavouras cubanas de pequena escala


Cayo Piedra, Del Medio, Sancti
Matanzas Spiritus
Superfície (ha) 40 10
Energia (GJ/ha ao ano) 90 50,6
Proteína (Kg/ha ao ano) 318 434
Pessoas alimentadas/ha
21 11
ao ano (calorias)

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AGROECOLOGIA  75

Cayo Piedra, Del Medio, Sancti


Matanzas Spiritus
Pessoas alimentadas/ha
12,5 17
ao ano (proteínas)
Eficiência energética
11,2 30
(aporte/produção)
Uso equivalente de terra 1,67 1,37

Nota: A lavoura de Cayo Piedra normalmente inclui entre dez e quinze espécies diferentes
em rotação de safras (milho, feijão, beterraba-sacarina, repolho, batata, batata-doce,
taioba, cenoura, mandioca, abóbora e pimenta) e culturas permanentes, como banana e
coco. A Finca del Medio é uma roça altamente diversificada com mais de cem espécies de
colheitas, animais, árvores e outras espécies selvagens que estão sendo manejadas usando
práticas permaculturais.
Fonte: Funes-Monzote; Monzote; Lantinga et al. (2009)

Região andina

Vários pesquisadores e ONGs estudaram tecnologias andinas


pré-colombianas em busca de soluções para os problemas contempo-
râneos da agricultura de altitude. Um exemplo fascinante é o renasci-
mento de um sistema genial de campos elevados que se desenvolveu
nas planícies dos Andes peruanos há cerca de 3 mil anos. De acordo
com evidências arqueológicas, esses waru waru (plataformas de solo
cercadas por valas cheias de água) foram capazes de produzir safras
abundantes, apesar das enchentes, secas e geadas mortais comuns
em altitudes de quase 4 mil metros (Erickson; Chandler, 1989). Em
1984, várias ONGs e agências governamentais ajudaram os fazen-
deiros locais na reconstrução de sistemas antigos. A combinação de
canteiros elevados e canais provou ter importantes efeitos de mode-
ração de temperatura, estendendo a estação de crescimento e levando
a uma maior produtividade nos waru waru em comparação com
solos de pampa normais fertilizados quimicamente. No distrito de
Huatta, os campos elevados reconstruídos tiveram colheitas impres-
sionantes, exibindo uma produção sustentada de batata de 8-14 t/ha
por ano. Esses números contrastam favoravelmente com a produ-
ção média de batata em Puno, de 1-4 t ha por ano. Em Camjata, os

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76   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

campos de batata alcançaram 13 t/ha por ano e a produção de qui-


noa atingiu um nível aceitável de 2 t/ha por ano nas plataformas
waru waru.
Em outras partes do Peru, várias ONGs, em parceria com agên-
cias governamentais locais, se envolveram em programas para res-
taurar antigos terraços abandonados. Por exemplo, em Cajamarca,
em 1983, o Edac-Cied e as comunidades camponesas iniciaram um
projeto abrangente de conservação do solo. Ao longo de dez anos,
eles plantaram mais de 550 mil árvores e reconstruíram cerca de 850
hectares de terraços e 173 hectares de canais de drenagem e infiltra-
ção. O resultado foram cerca de 1.124 hectares de terraços restaura-
dos, beneficiando 1.247 famílias. A produtividade da batata passou
de 5 t/ha para 8 t/ha e a produção de oca saltou de 3 t/ha para 8 t/ha.
O aumento da produção agrícola, a engorda de gado e a criação de al-
paca para lã aumentaram a renda das famílias de uma média de $ 108
por ano em 1983 para mais de $ 500 em meados da década de 1990
(Sanchez, 1994a). No Vale do Colca, no sul do Peru, um programa
do governo local patrocinou a reconstrução de 30 hectares de terraço,
oferecendo às comunidades camponesas empréstimos a juros baixos
e sementes ou outros insumos. Os rendimentos do primeiro ano de
novos terraços mostraram um aumento de 43% a 65% da produção
de batata, milho e cevada em comparação com as safras cultivadas
em campos inclinados (Quadro 3.4).
A leguminosa nativa Lupinus mutabilis foi utilizada como cultura
rotativa ou associada nos terraços; ela fixa o nitrogênio, que fica dis-
ponível para as culturas companheiras, minimizando a neces­sidade
de fertilizantes e aumentando a produção (Treacey, 1989). As ONGs
também avaliaram os sistemas tradicionais de cultivo acima de 4 mil
metros, onde a maca (Lepidium meyenii) é a única cultura capaz de ofe-
recer aos agricultores rendimentos seguros, especialmente quando
cultivada depois de os campos terem sido deixados em pousio por
cinco a oito anos (Sane, 1998).

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AGROECOLOGIA  77

Quadro 3.4 – Rendimentos em novos terraços de bancada e em cam-


pos inclinados

Em terraços Em declive % de
Cultura (a) N
kg/ha (b) kg/ha (c) Aumento

Batata 17.206 12.206 43 71


Milho 2.982 1.807 65 18
Cevada 1.910 1.333 43 56
Cevada
(forragem)
25.825 23.000 45 159

Nota: Rendimento de safras por hectare no primeiro ano em novos terraços de bancada,
em comparação com rendimentos em campos inclinados (kg/ha)
a – todas as culturas tratadas com fertilizantes químicos;
b – terraços de absorção de água com paredes de terra e inclinação interna da plataforma;
c – campos com declive entre 20% e 50% localizados próximos a campos em terraços para
controle;
N – número de locais de terraço/campo.
Fonte: Treacey (1989)

Chile

Desde 1980, a ONG chilena Centro de Educação e Tecnologia


(CET) se envolveu em um programa de desenvolvimento rural com
o objetivo de ajudar os camponeses a alcançarem a autossuficiên-
cia alimentar durante todo o ano, enquanto reconstruíam a capaci-
dade produtiva de suas pequenas propriedades (Altieri, 1995). A
abordagem correspondeu à criação de várias lavouras modelo de 0,5
hectare, que consistem em uma sequência de rotação espacial e tem-
poral de forragem e plantações em linha, vegetais, floresta e árvo-
res frutíferas e animais. Os componentes são escolhidos de acordo
com as contribuições nutricionais da cultura ou da criação animal
para as etapas de rotação subsequentes, sua adaptação às condições
agroclimáticas locais, padrões locais de consumo dos camponeses e,
finalmente, oportunidades de mercado. A maioria dos vegetais é cul-
tivada em canteiros altamente compostados localizados na seção do
jardim, cada um dos quais pode render até 83 kg de vegetais frescos

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78   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

por mês, uma melhoria considerável em relação aos 20 a 30 kg pro-


duzidos em hortas espontâneas cuidadas ao redor das casas de famí-
lias. O restante da área de 200 metros quadrados ao redor da casa é
usado como pomar e para animais (vacas, galinhas, coelhos e col-
meias Langstroth). Vegetais, cereais, leguminosas e plantas forragei-
ras são produzidos em um sistema de rotação de seis anos projetado
para fornecer a variedade máxima de culturas básicas em seis parce-
las, aproveitando as propriedades restauradoras do solo das rotações
(Figura 3.1). A produção relativamente constante é alcançada em
meio hectare (cerca de 6 t/ano de biomassa útil de treze espécies de

Figura 3.1 – Lavoura integrada de meio hectare no Chile, projeto


rotacional de seis anos
1 Árvores frutíferas 6 Casa 11 Porcos
2 Irrigação 7 Galinhas, pilha de madeira 12 Pilha de compostagem
3 Parreira 8 Poço de água 13 Árvores
4 Frutas em espaldeira 9 Forno 14 Colmeias
5 Vegetais 10 Vacas

A F E

B C D

A F E
Milho Pasto Pasto
Feijões (3º ano) (2º ano)
Batatas

B C D
Favas ou ervilhas Aveia / Trevo Trigo e
Tomates Cebolas Soja Amendoim Pasto (1º ano)
Abóbora Girassóis

AF E

BC D

Fonte: Altieri (1995)

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AGROECOLOGIA  79

culturas diferentes) dividindo a terra em seis lotes rotativos. Árvo-


res frutíferas foram plantadas como cercas, produzindo mais de uma
tonelada de frutas. A produção de leite e ovos excede em muito a das
lavouras convencionais. Uma análise nutricional do sistema mostrou
que, depois que uma família típica de cinco pessoas se alimentou, a
lavoura produz um excedente de 250% de proteína, 80% e 550% de
vitamina A e C, respectivamente, e 330% de cálcio. Uma análise eco-
nômica doméstica indica que o equilíbrio entre a venda de exceden-
tes e a compra de produtos preferenciais fornece uma renda líquida
além do consumo de US$ 790, mesmo dedicando apenas algumas
horas por semana à lavoura. O tempo economizado é usado pelos
agricultores para outras atividades de geração de renda dentro ou fora
da lavoura (Quadro 3.5).

Quadro 3.5 – Produtividade de roça camponesa integrada do Chile


Excedente de produção
Produção nutricional comercializável
(após o consumo da família)

Rotação 3,16 t Proteína 310%


Horta doméstica 1,12 t Calorias 120%
Frutas 0,83 t
Vit. A 150%
Leite 3.200 l
Carne 730 kg Vit. C 630%
Ovos 2.531 u Ca 400%
Mel 57 kg P 140%

Nota: Produtividade de meio hectare de roça camponesa chilena integrada após três anos
de manejo agroecológico.
Fonte: Altieri (1995)

Brasil

A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de


Santa Catarina (Epagri), serviço de extensão e pesquisa do governo
estadual, atende produtores rurais do estado de Santa Catarina. O foco
tecnológico está na conservação do solo e da água no nível das micro-
bacias, usando barreiras de grama de contorno, aragem de contorno

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80   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

e adubos verdes. Cerca de sessenta espécies de plantas de cobertura


foram testadas com agricultores, incluindo leguminosas (como ervi-
lha-de-mascate, feijão-sabre, lablab, feijão-nhemba, ervilhaca e cro-
talárias) e não leguminosas (como centeio, aveia e nabo). As culturas
de cobertura são consorciadas ou plantadas durante os períodos de
pousio e são utilizadas em sistemas de cultivo com milho, cebola,
mandioca, trigo, uva, tomate, soja, tabaco e pomares (Derpsch;
Calegari, 1992). Os principais impactos do projeto nas lavouras
foram sobre os rendimentos das colheitas, qualidade do solo e reten-
ção de umidade e demanda de mão de obra. A necessidade reduzida
de capinar e arar significou uma economia significativa de mão de
obra para os pequenos agricultores. A partir desse trabalho, ficou
claro que manter a cobertura do solo é mais importante na preven-
ção da erosão do que terraços ou barreiras de conservação. A Epagri
alcançou cerca de 38 mil agricultores em sessenta microbacias desde
1991, fornecendo-lhes 4.300 toneladas de sementes de adubo verde
(Guijt, 1998). Usando misturas de plantas de cobertura, incluindo
leguminosas e gramíneas, a biomassa pode chegar a 8.000 kg/ha e
uma espessura de cobertura de 10 cm, levando a 75% ou mais de ini-
bição do surgimento de ervas daninhas. Consequentemente, a pro-
dução de milho aumentou de 3 t/ha para 5 t/ha e a de soja, de 2,8 t/
ha para 4,7 t/ha sem o uso de herbicidas ou fertilizantes químicos
(Altieri et al., 2011).
Nas savanas dos cerrados brasileiros, onde a monocultura da soja
domina, muitos problemas associados ao desenvolvimento inade-
quado da terra se tornaram evidentes. Uma chave para a produção
estável nos cerrados é a conservação do solo e a reposição de sua ferti-
lidade, uma vez que a manutenção e o aumento do conteúdo orgânico
do solo são de suma importância. Por essa razão, ONGs e pesquisa-
dores do governo têm concentrado esforços na promoção do uso de
adubos verdes como Crotalaria juncea e Stizolobium atterrimum. Os
pesquisadores mostraram que as safras de grãos após o adubo verde
renderam até 46% mais do que as monoculturas durante as estações
chuvosas normais. Embora a forma mais comum de usar adubos ver-
des seja plantar uma leguminosa após a colheita da cultura principal,

Agroecologia_(MIOLO)__Graf-v4.indd 80 27/10/2022 14:51:19


AGROECOLOGIA  81

ele também pode ser consorciado com culturas de ciclo longo. No


caso do consórcio milho e adubo verde, o melhor desempenho é
observado quando S. atterrimum é semeado trinta dias após o milho
(Spehar; Souza, 1999). Um projeto mais recente, liderado pela ONG
AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia na região semiárida
da Paraíba, abrange quinze municípios envolvendo quinze sindicatos
de trabalhadores rurais, 150 associações comunitárias e uma organi-
zação regional de agricultores ecológicos. Por meio de redes de inova-
ção agroecológica que abrangem mais de 5 mil famílias na região de
Borborema, o projeto conseguiu construir oitenta bancos de semen-
tes comunitários, distribuir 16.500 kg de sementes nativas produzi-
das localmente entre 1.700 famílias, produzir mais de 17.900 mudas
de árvores (que já foram plantada em mais de 30 km de cercas vivas)
e abastecer mais de cem lavouras com árvores frutíferas. O projeto
também instalou cerca de 556 cisternas para captação de água, per-
mitindo a produção de hortaliças em hortas intensivas em períodos
de seca (Cazella; Bonnal; Maluf, 2009).

Mensurando o desempenho de sistemas de


cultivo diversificados

Apesar dos muitos debates sobre a relação entre tamanho da uni-


dade de produção e produtividade (Dyer, 1991; Dorward, 1999;
Lappé; Collins; Rosset, 1998), os agroecologistas mostraram que,
em geral, pequenas lavouras familiares são muito mais produtivas
do que grandes lavouras caso se considere a produção total, e não a
de uma única safra (Rosset, 1999b). A medição do rendimento de
uma espécie de cultivo não reflete uma medida verdadeira da pro-
dutividade de lavouras diversificadas. Em tais lavouras, a produção
total – tudo o que é produzido na lavoura – deve ser a medida real
da produtividade da terra. Medir apenas o rendimento de uma única
safra distorce as comparações a favor de lavouras de monocultura,
que produzem apenas milho em cada hectare, por exemplo, em com-
paração com lavouras agroecológicas, que podem originar dezenas de

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82   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

produtos diferentes no mesmo hectare. Para os produtos diferentes,


medir a produção em uma única safra (“rendimento”) não faz sen-
tido, pois sua verdadeira produtividade é a soma de tudo o que é pro-
duzido em cada hectare.
Os sistemas agrícolas integrados nos quais o pequeno agricultor
produz grãos, frutas, vegetais, forragem e produtos animais supe-
ram a produção por unidade de uma única safra, como milho (mono-
culturas) em lavouras de grande escala. Uma grande plantação pode
produzir mais milho por hectare do que uma pequena roça na qual o
milho é cultivado como parte de uma policultura que também inclui
feijão, abóbora, batata e forragem. Mas quando a produção total é
medida, pequenas roças com biodiversidade são mais produtivas do
que grandes lavouras de monocultura. Nas policulturas desenvol-
vidas por pequenos proprietários, a produtividade, em termos de
produtos colhidos por unidade de área, é maior do que na monocul-
tura com o mesmo nível de manejo. As vantagens de produtividade
podem variar de 20% a 60%, porque as policulturas reduzem as per-
das devido a ervas daninhas, insetos e doenças e fazem um uso mais
eficiente dos recursos disponíveis de água, luz e nutrientes (Beets,
1990). Uma ferramenta importante para avaliar essas vantagens
de rendimento é a razão equivalente de terra (RET). Contanto que
todas as outras coisas sejam iguais, a RET mede a vantagem de ren-
dimento obtida pelo cultivo de duas ou mais safras como um consór-
cio em comparação com o cultivo das mesmas safras como uma série
de monoculturas separadas. A RET é calculada usando a fórmula
RET = ∑ (Rpi / Rmi), onde Rp é o rendimento de cada cultura na
policultura e Rm é a produtividade de cada cultura ou variedade na
cultura única ou monocultura. Para cada cultura (i), uma razão é cal-
culada para determinar a RET parcial para ela, então os índices par-
ciais são somados para se chegar à RET total para o consórcio. Uma
RET de 1,0 indica que não há diferença na produtividade total entre
o consórcio e a coleta de monoculturas. Qualquer valor superior a 1,0
indica uma vantagem de produção para o consórcio. Uma RET de
1,5, por exemplo, indica que a área plantada com monoculturas pre-
cisaria ser 50% maior do que a área plantada com intercalações, para

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AGROECOLOGIA  83

que as duas tivessem a mesma produção total combinada (Vander-


meer, 1989).
A prática do cultivo de milpa (milho combinado com feijão, abó-
bora e outras espécies de plantas) é a base da segurança alimentar em
muitas comunidades rurais mesoamericanas (Mariaca Méndez et al.,
2007). Um estudo de Isakson (2009) mostra que, embora a maio-
ria dos camponeses esteja bem ciente do potencial de aumentar seus
retornos de safras comerciais ou de outras atividades econômicas
alternativas, 99% dos domicílios pesquisados afirmam que a prática
da milpa é fundamental para a segurança alimentar de suas famílias.
Claramente, avaliar o valor da milpa em termos econômicos puros de
retorno de dinheiro perde essa dimensão. A contribuição dessa prá-
tica para a segurança alimentar do campesinato representa muito mais
do que as calorias que gera. Ela fornece quase uma garantia de que as
necessidades básicas de sustento de uma família serão atendidas. No
México, 1,73 hectare de terra precisa ser plantado com milho para
produzir tanto alimento quanto 1 hectare plantado com a milpa tradi-
cional. Além disso, uma policultura de milho, abóbora e feijão pode
produzir até 4 t/ha de matéria seca que pode ser usada como forragem
ou arada no solo, em comparação com 2 t/ha em uma monocultura de
milho. Em ambientes mais secos do Brasil, o milho é substituído por
sorgo nas culturas consorciadas, sem afetar a capacidade produtiva
do feijão-de-corda ou do feijão e dando valores de RET entre 1,25
e 1,58. Esse sistema apresenta uma maior estabilidade de produção,
pois o sorgo é mais tolerante à seca (Francis, 1986).
Outra forma de comparar o desempenho das lavouras de mono-
cultura e policultura é contabilizar os insumos de energia direta
usados na produção de safras e animais. A pesquisa indica que as
pequenas propriedades agrícolas e orgânicas são mais eficientes em
termos de energia do que os sistemas convencionais de monocultura.
O retorno de energia para o trabalho despendido em uma lavoura
típica de milho maia nas terras altas é alto o suficiente para garan-
tir a continuação do sistema atual. Trabalhar 1 hectare de terra, que
normalmente rende 4.230.692 calorias por ano, requer cerca de 395
horas de trabalho; o trabalho de uma hora produz cerca de 10.700

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84   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

calorias. Uma família de três adultos e sete crianças come cerca de


4.830.000 calorias de milho por ano; assim, os sistemas atuais for-
necem energia alimentar para uma família típica de cinco a sete pes-
soas (Wilken, 1987). Também nesses sistemas, são constatadas taxas
de retorno favoráveis entre entradas e saídas em termos de ener-
gia. Nas encostas mexicanas, a produção de milho em sistemas de
roça dependentes de mão de obra é de cerca de 1.940 kg/ha, apre-
sentando uma relação produção/insumo de 11:1. Na Guatemala,
sistemas semelhantes rendem cerca de 1.066 kg/ha de milho, com
uma taxa de eficiência energética de 4,84:1. Quando é utilizada tra-
ção animal, os rendimentos não necessariamente aumentam, mas a
relação de eficiência energética cai para valores que variam de 3,11:1
a 4,34:1. Quando fertilizantes e outros agroquímicos são introduzi-
dos, a produção pode aumentar para níveis de 5-7 t/ha, mas as taxas
de energia são altamente ineficientes, abaixo de 2,5:1 (Pimentel;
Pimentel, 1979).

Figura 3.2 – Produção durante o ano de 2008 de 33 lavouras na pro-


víncia de Sancti Spíritus, Cuba
8,0
6,7
Milhares de pesos por ano

6,0

3,7
4,0

2,3 2,4
2,0
0,6 0,9

0,0
1 - menos 3 - mais
agroecológico 2 - intermediário agroecológico

Por hectare Por trabalhador


Nota: As categorias classificam o grau de integração agroecológica (1 = baixo, 2 = médio,
3 = alto).
Fonte: Machín Sosa et al. (2013)

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AGROECOLOGIA  85

Uma comparação realizada no Reino Unido entre sete culturas


orgânicas e convencionais mostrou uma maior demanda de ener-
gia para máquinas para todos os produtos orgânicos. No entanto,
essa demanda não foi maior que a economia de energia por conta do
fim do uso de fertilizantes e pesticidas sintéticos (Lotter, 2003). De
acordo com Pimentel et al. (2005), o uso total de energia por unidade
de produto foi menor para sistemas orgânicos em todos os casos,
exceto para cenouras, que tiveram uma alta demanda de energia para
a remoção de ervas daninhas. Em média, a demanda total de energia
para produtos orgânicos foi 15% menor. A dependência reduzida de
insumos energéticos na agricultura orgânica reduz a vulnerabilidade
ao aumento dos preços da energia e, portanto, à volatilidade dos pre-
ços dos insumos agrícolas.
Em Cuba, Machín Sosa et al. (2013) e Rosset et al. (2011) com-
pararam a produtividade econômica total de 33 lavouras em três níveis
de integração agroecológica, variando de muito baixa a alta (Figura 3.2).
Eles descobriram que, quanto mais agroecológica a lavoura, maior a
produtividade total por unidade de área, o que estava alinhado com
as outras descobertas relatadas anteriormente. Curiosamente, eles
também descobriram que a produtividade do trabalho era maior nas
lavouras mais agroecológicas, sugerindo que as funções ecológicas
suprem serviços que exigiriam trabalho em lavouras de monocultura
(como culturas consorciadas de alta estatura ou árvores que som-
breiam ervas daninhas e reduzem a necessidade de capina).

Resiliência à variabilidade climática

Muitos pesquisadores descobriram que, apesar de sua alta exposi-


ção aos riscos climáticos, os povos indígenas e as comunidades locais
estão respondendo ativamente às mudanças climáticas e demonstra-
ram sua desenvoltura e resiliência em face delas. Estratégias como a
manutenção da diversidade genética e de espécies em campos e reba-
nhos fornecem uma proteção de baixo risco em ambientes com clima
incerto (Altieri; Nicholls, 2013). Ao criar diversidade tanto temporal

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86   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

quanto espacialmente, os agricultores tradicionais adicionam ainda


maior diversidade funcional e resiliência aos sistemas com sensibili-
dade às flutuações temporais do clima. Uma revisão de 172 estudos
de caso e relatórios de projetos de todo o mundo mostra que a biodi-
versidade agrícola usada por agricultores tradicionais contribui para
a resiliência por meio de uma série de estratégias, muitas vezes com-
binadas: proteção e restauração de ecossistemas, uso sustentável do
solo e de recursos hídricos, sistemas agroflorestais, diversificação dos
sistemas agrícolas, vários ajustes nas práticas de cultivo e uso de cul-
turas tolerantes ao estresse (Mijatovic et al., 2013).
Uma pesquisa realizada nas encostas da América Central após
o furacão Mitch mostrou que os agricultores que usam práticas de
diversificação, como culturas de cobertura, consorciação e agrossil-
vicultura, sofreram menos danos em termos de perdas de safra, ero-
são do solo e formação de voçorocas do que seus vizinhos que têm
monoculturas convencionais. A pesquisa, encabeçada pelo movi-
mento CAC, mobilizou cem equipes de agricultores-técnicos para
fazer observações em pares de indicadores agroecológicos específicos
em 1.804 lavouras agroecológicas e convencionais vizinhas. O estudo
abrangeu 360 comunidades e 24 departamentos na Nicarágua, em
Honduras e na Guatemala. Parcelas agroecológicas tinham 20% a
40% a mais de topo de solo, maior umidade do solo e menos ero-
são e sofreram perdas econômicas menores do que seus vizinhos
convencionais (Holt-Giménez, 2002). Da mesma forma, em Soco-
nusco (Chiapas, México), os sistemas de café que apresentavam
altos níveis de complexidade vegetal e diversidade de plantas sofre-
ram menos danos com o furacão Stan do que sistemas mais simpli-
ficados (Philpott et al., 2008). Quarenta dias depois que o furacão
Ike atingiu Cuba, em 2008, pesquisadores realizaram uma pesquisa
agrícola nas províncias de Holguín e Las Tunas e descobriram que
lavouras diversificadas exibiam perdas de 50% em comparação com
90% a 100% nas monoculturas vizinhas. Da mesma forma, lavouras
com manejo agroecológico mostraram uma recuperação mais rápida
da capacidade produtiva (80%-90% quarenta dias após o furacão) do
que lavouras de monocultura (Rosset et al., 2011).

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AGROECOLOGIA  87

Na Colômbia, os sistemas silvipastoris intensivos (SSI) são uma


forma sustentável de integração agroecológica baseada na agrossilvi-
cultura e na pecuária que combina gramíneas e arbustos forrageiros
plantados em altas densidades sob árvores e palmeiras. Em 2009, o
ano mais seco no Vale do Cauca (onde a precipitação foi 44% menor
em comparação com a média histórica), esses sistemas tiveram um
bom desempenho. Apesar de uma redução de 25% na biomassa das
pastagens, a produção de forragem por árvores e arbustos permane-
ceu constante ao longo do ano, neutralizando os efeitos negativos da
seca em todo o sistema. A produção de leite foi a mais alta já regis-
trada, com um surpreendente aumento de 10% em comparação com
os quatro anos anteriores. Enquanto isso, os agricultores vizinhos
que cultivam pastagens de monocultura relataram severa perda de
peso dos animais e altas taxas de mortalidade devido à fome e à sede
(Murgueitio et al., 2011).
Todos os estudos citados anteriormente enfatizam a importân-
cia de aumentar a diversidade e a complexidade das plantas nos sis-
temas agrícolas para reduzir a vulnerabilidade a eventos climáticos
extremos. A literatura sugere que os agroecossistemas serão mais
resilientes quando inseridos em uma matriz de paisagem complexa,
apresentando sistemas de cultivo geneticamente heterogêneos e
diversificados manejados com solos ricos em matéria orgânica e téc-
nicas de conservação de água (Figura 3.3). A maioria das pesqui-
sas enfoca a resiliência ecológica dos agroecossistemas, mas pouco
tem sido escrito sobre a resiliência social das comunidades rurais
que gerenciam esses agroecossistemas. A capacidade de grupos ou
comunidades de se adaptarem a pressões sociais, políticas e ambien-
tais externas deve ser acompanhada de resiliência ecológica. Para
serem resilientes, as sociedades rurais devem geralmente demons-
trar a capacidade de amortecer os distúrbios com métodos agroe-
cológicos adotados e disseminados por meio da auto-organização,
reciprocidade e ação coletiva (Tompkins; Adger, 2004). A redu-
ção da vulnerabilidade social por meio da extensão e consolidação
de redes sociais, tanto local quanto regionalmente, pode contribuir
para o aumento da resiliência do agroecossistema. A vulnerabilidade

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88   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

das comunidades agrícolas depende de quão bem desenvolvido é o


seu capital natural e social, o que, por sua vez, torna os agriculto-
res e seus sistemas mais ou menos vulneráveis a choques climáticos
(Altieri et al., 2015). A maioria das comunidades tradicionais ainda
mantém um conjunto de precondições sociais e agroecológicas que
permitem que suas lavouras respondam às mudanças climáticas de
maneira resiliente.

Figura 3.3 – Resiliência do agroecossistema

Evento
climático
extremo

Resiliência do
agroecossistema

Diversidade Manejo da água


Matriz da paisagem
vegetacional e do solo

- Sistemas agroflorestais - Integração animal - Matéria orgânica - Cobertura


- Policulturas - Diversidade genética - Captação de água do solo

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4
Aumentando a escala da
agroecologia

A agricultura agroecológica baseada na agricultura camponesa e


familiar apresenta vantagens significativas sobre a agricultura indus-
trial, tanto para as pessoas quanto para o planeta, conforme argumen-
tado nos capítulos anteriores. Por que então ela não é o paradigma
dominante? Por um lado, diversas versões da agricultura tradicional
e do autoabastecimento de alimentos, abrangendo um espectro que
varia entre menos e mais agroecológico, de fato alimentam a maior
parte da raça humana hoje (ETC Group, 2009, 2014; Grain, 2014).
Ainda assim, em áreas que estão agora, ou estiveram no passado, sob
alguma forma de agricultura “moderna” convencional, o paradigma
dominante ainda é baseado em sementes comerciais, monocultura e
produtos químicos agrícolas. Quando dizemos “dominante”, quere-
mos dizer isso tanto em termos epistemológicos quanto no sentido de
que a maioria dos agricultores em tais áreas, sejam eles pequenos ou
grandes, pratica alguma variante desse modelo convencional.
Agricultores agroecológicos, até mesmo agricultores orgânicos,
parecem ser a minoria nessas áreas, e enquanto os orgânicos recebem
pouca atenção no discurso das instituições (ministérios da agricul-
tura, serviços de extensão agrícola, faculdades de agronomia, ban-
cos de desenvolvimento rural, meios de comunicação de massa etc.),
a agroecologia parece não ter nenhum (até recentemente, mas essa é

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90   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

uma história para o próximo capítulo). Em outras palavras, há uma


série de argumentos a favor da transformação agroecológica dos sis-
temas agrícolas. No entanto, permanece o desafio de como aumen-
tar a escala da agroecologia, de forma que seja praticada por cada vez
mais famílias em territórios cada vez maiores.

Ampliação e expansão da agroecologia

Nossa compreensão de como aumentar a escala da agroecologia


é incipiente. Tem havido uma tendência de privilegiar a investiga-
ção sobre os aspectos técnicos da agroecologia, enquanto a pesquisa
sobre seus aspectos de ciências sociais permanece mais fraca (Rosset
et al., 2011; Méndez; Bacon; Cohen, 2013; Rosset, 2015b; Dumont et
al., 2016). A agroecologia não é apenas um conjunto de práticas agrí-
colas ou uma disciplina científica baseada na teoria ecológica, mas
também um movimento social em crescimento (Wezel et al., 2009).
A análise dos aspectos sociais da agroecologia pode fornecer percep-
ções críticas sobre como alcançar escala. Não se pretende de forma
alguma minimizar os aspectos técnico-agronômicos; em vez disso,
pedimos ao leitor que tome isso como algo dado.
A questão do escalonamento de inovações e processos locais bem-
-sucedidos no desenvolvimento rural foi analisada inúmeras vezes ao
longo dos anos, embora geralmente não com um foco específico na
agroecologia. Uvin e Miller (1996, p.346) propuseram uma taxono-
mia de escalonamento. Na escala quantitativa, um programa ou or-
ganização expande seu tamanho aumentando o número de pessoas
ou famílias que abrange e/ou sua cobertura geográfica. Esse tipo de
escalonamento é o mais óbvio e equivale a crescimento ou expansão.
O escalonamento funcional é quando um programa ou organização
acrescenta novas atividades ao seu portfólio, por exemplo, adicio-
nando um foco em nutrição a um foco em práticas agrícolas. O esca-
lonamento político ocorre quando a mudança estrutural das políticas
públicas é alcançada por meio do engajamento político ativo com o
estado. Finalmente, o escalonamento organizacional ocorre quando

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AGROECOLOGIA  91

uma organização local ou de base amplia sua força organizacional,


melhora sua eficácia e sua eficiência e aumenta a sustentabilidade
do processo. Os autores dividem cada tipo de escalonamento em vá-
rios componentes. Por exemplo, o escalonamento quantitativo pode
ocorrer por meio da disseminação (à medida que mais indivíduos,
famílias ou grupos são atraídos para um processo), da replicação
(quando um processo é repetido em outro lugar), da criação (quando
um ator externo – como um financiador ou ONG externa – adota e
apoia um processo endógeno), por agregação horizontal (quando vá-
rios grupos de pares ou organizações mesclam seus processos) e pela
integração (quando uma agência do setor público – como uma exten-
são governamental – essencialmente assume e massifica uma meto-
dologia e um processo).
Em 2000, o Instituto Internacional de Reconstrução Rural
(IIRR, 2000) organizou uma conferência nas Filipinas chamada
“Ganhando escala: podemos obter mais benefícios para mais pessoas
mais rapidamente?”. O título dá a definição operacional de escalona-
mento proposta pelos organizadores, e os participantes distinguiram
duas categorias amplas, que eles chamaram de escalonamento hori-
zontal (análogo ao aumento quantitativo de Uvin e Miller) e escalo-
namento vertical (análogo ao aumento político), conforme mostrado
na Figura 4.1.
Segundo essa conceituação, ampliação horizontal se refere a
expansão geográfica e escalonamento numérico, incluindo mais pes-
soas, famílias e comunidades em um processo no qual “não são as tec-
nologias que ganham escala, mas os processos e princípios por trás
das tecnologias/inovações” (IIRR, 2000). Essa ênfase nos princí-
pios é importante quando o processo de dimensionamento se refere à
agroecologia. Um volume de compilação editado por Pachico e Fuji-
saka do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT, 2004)
resume o debate geral e nos dá a terminologia agora comumente
aceita, segundo a qual “escalonamento horizontal” (scaling-out) se
refere à expansão numérica e geográfica, e “escalonamento vertical”
(scaling-up) se refere à institucionalização de apoio em políticas e ins-
tituições públicas.

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92   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Figura 4.1 – Dimensões vertical e horizontal do escalonamento


Organizações e
INDO À ESCALA instituições regionais
Mais benefícios, e internacionais
mais gente, mais
rápido
Conforme se sobe o
nível institucional
(escala vertical para Governos nacionais – ESCALONAMENTO
cima), maiores serão as organizações e VERTICAL
chances de ampliação instituições nacionais De natureza
horizontal. Da mesma institucional, desde
forma, quando algo se as bases aos
espalha formuladores de
geograficamente políticas, agências
(dimensão horizontal), doadoras,
maiores as chances de Governos locais – instituições de
influenciar aqueles em organizações e desenvolvimento e
níveis superiores. educacionais e
instituições locais
investidores, do local
para o nacional e
Mais comunidades para o internacional.

Família
ESCALONAMENTO
parentes Mais comunidades
HORIZONTAL
vizinhos
Disseminação
geográfica envolvendo
mais pessoas e
comunidades;
normalmente envolve
expansão dentro do
mesmo setor.

Fonte: IIRR (2000, p.10)

Em termos de agroecologia, então, escalonamento vertical signi-


ficaria institucionalizar políticas de apoio à agroecologia, em termos
de educação, treinamento, pesquisa, extensão, crédito, mercado ou
o que quer que seja. No sentido mais estrito, escalonamento signi-
ficaria que cada vez mais famílias, em territórios cada vez maiores,

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AGROECOLOGIA  93

praticam alguma forma de agricultura agroecológica. No entanto,


dado que esse escalonamento também seria o objetivo, a razão de
ser, da expansão, este último termo passou a ser usado como o termo
geral para levar a agroecologia a mais pessoas (Parmentier, 2014; von
der Weid, 2000; Holt-Giménez, 2001, 2006; Altieri; Nicholls, 2008;
Rosset et al., 2011; Rosset, 2015b; McCune, 2014; McCune et al.,
2016; Khadse et al., 2017). No entanto, outros falam em “territo-
rializar”, “massificar” e “ampliar” a agroecologia e em “construir
territórios agroecológicos” (Muterlle; Cunha, 2011; Rosset; Mar-
tínez-Torres, 2012; Machín Sosa et al., 2013; Rosset, 2006, 2015a,
2015b; Bruil; Milgroom, 2016; Wezel et al., 2016).

Obstáculos e barreiras para o escalonamento


da agroecologia

Para aumentar a escala da agroecologia, são apresentadas, a


seguir, algumas das principais restrições e obstáculos que devem ser
superados (Alonge; Martin, 1995; Sevilla Guzmán, 2002; Carolan,
2006; Altieri et al., 2012; Parmentier, 2014):
• Questões de posse da terra: a falta de acesso à terra ou a posse
insegura da terra são barreiras importantes para a adoção de
práticas agroecológicas na maioria dos países. Direitos de pro-
priedade sem segurança jurídica tornam difícil para os agricul-
tores adotar sistemas agroflorestais e investir na conservação
do solo. Sem terra, não se pode praticar agroecologia.
• Necessidades de conhecimento e informação dos agricultores:
muitos conhecimentos dos camponeses e agricultores se per-
deram durante as décadas da Revolução Verde e da moderni-
zação agrícola. Como as práticas agroecológicas são altamente
complexas e de manejo intensivo, adotá-las impõe uma neces-
sidade de maior aprendizado, particularmente por meio de
mecanismos horizontais de agricultor a agricultor.
• Enviesamento persistente, barreiras ideológicas e epistêmicas e
falta de conhecimento prático: abundam os conceitos errôneos

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94   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

e a falta de informação. Ideias de que a agroecologia seria um


“retorno ao passado” e “apenas aplicável à agricultura mar-
ginal de subsistência” e de que “nunca poderia alimentar o
mundo”, entre outras, impedem um apoio sério à implemen-
tação. Funcionários públicos, pesquisadores e agentes de
extensão são influenciados por interesses privados para pro-
mover abordagens convencionais. Os currículos dos cursos
de agronomia continuam favoráveis à agricultura industrial
convencional. A ciência reducionista ocidental de estilo car-
tesiano não é favorável à agroecologia mais holística, na qual
interações sinérgicas de ordem superior são frequentemente
mais importantes do que os efeitos diretos das entradas.
• Especificidade do local: os princípios agroecológicos têm apli-
cabilidade universal, mas as práticas tecnológicas por meio
das quais esses princípios se tornam operacionais dependem
das condições ambientais e socioeconômicas prevalecentes em
cada local. Tal especificidade de local requer pesquisa e ino-
vação locais, especialmente desbloqueando a criatividade dos
agricultores.
• Falta de organizações de agricultores: a ausência de redes sociais
para agricultores em muitas localidades, para experimentação
coletiva e troca de informações agroecológicas, é uma restrição
importante para a adoção e disseminação de inovações agroe­
cológicas. As maiores histórias de sucesso geralmente foram
lideradas por organizações de agricultores e de camponeses.
• Barreiras econômicas: muitos agricultores estão presos a uma
esteira tecnológica pelo alto custo da agricultura convencional,
com o endividamento que isso implica. Os requisitos do cre-
dor para agricultores endividados normalmente não permitem
a experimentação, muito menos uma mudança completa nos sis-
temas agrícolas. Existem poucas fontes de apoio financeiro para
a transição e transformação dos sistemas agrícolas, especialmente
quando há uma perda temporária de produtividade durante a
transição, e poucas oportunidades de mercado que reconhecem
esse investimento e o recompensam com incentivos de preço.

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AGROECOLOGIA  95

• Políticas agrícolas nacionais: as políticas nacionais que não


apoiam abordagens agroecológicas são as principais respon-
sáveis por manter essas alternativas nas margens. Na maio-
ria dos países, as políticas consistentemente não conseguem
propiciar o ambiente econômico adequado necessário para a
transição para sistemas de produção agroecológica. Políticas
ruins levam a falhas persistentes de mercado, que costumam
ser um grande obstáculo para o avanço da agroecologia. Os
baixos preços das commodities, causados parcialmente pelos
subsídios contínuos às exportações agrícolas em grande parte
do mundo desenvolvido, reduzem os incentivos para investir
em inovações agrícolas, incluindo a agroecologia. Os preços
reais dos produtos agrícolas são geralmente tão baixos que é
muito difícil para os agricultores obter o capital necessário para
fazer a mudança para uma agricultura sustentável. O mercado
desregulamentado, a privatização e os tratados de livre mer-
cado afetam negativamente os pequenos agricultores e os con-
sumidores. A situação é agravada pela eliminação sistemática
da capacidade nacional de produção de alimentos por conta
da promoção de agroexportações e biocombustíveis, em parte
estimulada por subsídios governamentais.
• Problemas de infraestrutura: Para uma adoção mais ampla de
práticas sustentáveis, os países devem investir em opções de
mercado alternativas, incluindo mais mercados de agricultores
e aquisição, por parte do setor público, de produtos agrícolas
de pequenas lavouras ecológicas, bem como em transporte
para ajudar os agricultores a levar os produtos ao mercado. Em
muitos países, a falta de quantidades suficientes de sementes
para as culturas de cobertura e adubos verdes pode ser uma
barreira difícil de superar para a implementação generalizada
da agroecologia.

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96   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

A organização é a chave

Superar os obstáculos para expandir a agroecologia requer orga-


nização. A pressão sistemática para mudar as políticas não pode
ser exercida sem organizações fortes e capacidade organizacio-
nal. Isso também vale para a mudança dos currículos educacionais
e para a construção de processos efetivos de transmissão horizon-
tal do conhecimento. A organização social é o meio cultural no qual
a agroecologia cresce, e as metodologias de processo social acele-
ram esse crescimento. Imagine uma família de camponeses ou uma
lavoura familiar que não faça parte de nenhum tecido organizacional.
Se eles transformarem sua lavoura agroecologicamente com sucesso,
não ficará claro como os outros agricultores gostariam ou seriam
capazes de aprender com sua experiência. Mas se eles fazem parte
de uma organização que está realizando intencionalmente intercâm-
bios entre agricultores, é muito mais fácil imaginar que sua iniciativa
poderia ter um efeito multiplicador.
A experiência dos movimentos sociais rurais e das organizações
camponesas e de agricultores indica que o grau de organização (deno-
minado “organicidade” pelos movimentos sociais) e o quanto as
metodologias sociais horizontais baseadas no protagonismo campo-
nês a camponês são empregadas para construir coletivamente os pro-
cessos sociais são fatores-chave para “massificar” e ampliar a escala
da agroecologia. Processos de agricultor para agricultor e escolas de
agroecologia administradas pelas próprias organizações de campo-
neses são exemplos úteis desses princípios (Holt-Giménez, 2006;
Rosset et al., 2011; Rosset; Martínez-Torres, 2012; Machín Sosa et
al., 2013; McCune; Reardon; Rosset, 2014; Rosset, 2015b; Khadse
et al., 2017).
Se olharmos para as histórias de sucesso da agroecologia em todo
o mundo, podemos identificar o papel-chave desempenhado pela
organização social e pelo processo em cada uma delas. Isso é mais
imediatamente notável no escalonamento agroecológico pela via
campesino a campesino (CAC), primeiro na América Central e depois
em Cuba e em outros lugares (Kolmans, 2006; Holt-Giménez, 2006;

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AGROECOLOGIA  97

Rosset et al., 2011; Machín Sosa et al., 2013). Em cada um deles, a


introdução da metodologia do processo social levou a uma rápida
decolagem.

Campesino a campesino em Cuba

O debate sobre como expandir a agroecologia é paralelo à litera-


tura produzida por autores que questionam a habilidade e adequação
da pesquisa agrícola convencional e sistemas de extensão ou de assis-
tência técnica para alcançar famílias camponesas em geral (Freire,
1973) e, mais especificamente, para promover a agroecologia em vez
da Revolução Verde (ver, por exemplo, Chambers, 1990, 1993; Holt-
-Giménez, 2006; Rosset et al., 2011).
Embora a pesquisa agrícola convencional (que parte do mais
abrangente para o detalhe) e os métodos de extensão tenham mos-
trado uma capacidade insignificante de desenvolver e alcançar a
adoção ampla quando usados para promover as práticas de agricul-
tura agroecológica diversificada, movimentos sociais e metodologias
de dinamização social parecem ter vantagens significativas (Ros-
set et al., 2011; Rosset, 2015b; McCune, 2014). Os movimentos
sociais incorporam um grande número de pessoas – neste caso, um
grande número de famílias camponesas – em processos auto-organi-
zados que podem aumentar consideravelmente a taxa de inovação e
a difusão e adoção de inovações. O fato de a agroecologia se basear
na aplicação de princípios e maneiras que dependem das realida-
des locais significa que o conhecimento local e a engenhosidade dos
agricultores devem necessariamente ocupar um lugar de destaque.
Isso contrasta com as práticas convencionais, nas quais os agricul-
tores seguem recomendações referentes a pesticidas e fertilizantes
prescritas com base em uma receita de agentes de extensão ou repre-
sentantes de vendas. Os métodos em que o extensionista ou o agrô-
nomo é o ator principal e os agricultores têm um papel passivo são,
no melhor dos casos, limitados ao número de famílias camponesas
que podem ser efetivamente atendidas por cada técnico; há pouca ou

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98   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

nenhuma dinâmica autocatalisada entre os próprios agricultores para


ampliar o alcance das inovações. Assim, esses casos acabam sendo
limitados pelo orçamento – ou seja, por quantos técnicos podem ser
contratados. Muitas ONGs de desenvolvimento rural baseadas em
projetos enfrentam um problema semelhante. Quando o ciclo de
financiamento do projeto chega ao fim, praticamente tudo volta ao
estado anterior, com pouco efeito duradouro (Rosset et al., 2011).
Como mencionado acima e no Capítulo 3, a maneira mais
bem-sucedida de promover a recuperação do conhecimento, as-
sim como o compartilhamento e a aprendizagem horizontais, é a
metodologia campesino a campesino. Enquanto inovações e o com-
partilhamento entre produtores remontam a tempos imemoriais, a
versão mais contemporânea e formalizada foi desenvolvida local-
mente na Guatemala e se espalhou pela América Central a partir
dos anos 1970 (Holt-Giménez, 2006). A comunicação campesino
a campesino é uma comunicação horizontal freiriana, um processo
social ou uma metodologia baseada em agricultores-promotores
que inovaram em soluções para problemas agrícolas comuns ou re-
cuperaram/redescobriram soluções tradicionais mais antigas e que
usam a “educação popular” para compartilhá-las com seus colegas,
usando suas próprias lavouras como salas de aula. Um princípio
fundamental do CAC é que os camponeses são mais propensos a
acreditar em e emular outro camponês que está usando com sucesso
uma alternativa em sua própria lavoura do que a aceitar a palavra
de um agrônomo de possível extração urbana. Isso é ainda mais
verdadeiro quando eles podem visitar a lavoura de seus colegas e ver
a alternativa funcionando com seus próprios olhos. Em Cuba, por
exemplo, os agricultores dizem “ver para crer” (Rosset et al., 2011).
Enquanto a extensão convencional pode ser desmobilizadora
para os camponeses, o CAC é mobilizador, pois eles se tornam pro-
tagonistas no processo de geração e compartilhamento de tecnolo-
gias (Figura 4.2). Trata-se de um método participativo baseado nas
necessidades dos camponeses, na cultura e nas condições ambientais
locais. Ele desencadeia o conhecimento, o entusiasmo e a liderança
como formas de descobrir, reconhecer, aproveitar e socializar o rico

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AGROECOLOGIA  99

acervo de saberes agrícolas familiares e comunitários ligados às suas


especificidades históricas e identidades. Na extensão convencional,
o objetivo dos especialistas técnicos muitas vezes tem sido substi-
tuir o conhecimento camponês por insumos químicos, sementes e
maquinários adquiridos em um processo imposto em que a educação
é mais parecida com a domesticação (Freire, 1973; Rosset et al., 2011).
Eric Holt-Giménez (2006) documentou extensivamente as experiên-
cias do movimento social CAC mesoamericano de uso da metodo-
logia para a promoção de práticas agrícolas agroecológicas, o que ele
chama de “pedagogia camponesa”.

Figura 4.2 – Extensão agrícola convencional comparada ao campo-


nês a camponês
Extensão convencional Camponês a camponês
Pesquisadores desenvolvem uma Um camponês já tem uma solução,
tecnologia ou cria uma solução, para um
È problema que afeta diversos
Conduzem testes de campo em camponeses
uma estação experimental È
È Ele/Ela se torna o promotor dessa
Conduzem mais teses no campo de solução nova ou redescoberta
um produtor È
È Trocas são organizadas, nas quais
Extensionistas organizam outros(as) camponeses(as) visitam
demonstrações e realizam dias sua lavoura para aprender ou ele/
de campo para produtores e/ou ela visita outras lavouras para
visitam produtores para apresentar compartilhar a solução
a tecnologia È
È Outros(as) camponeses(as)
A família camponesa adota ou ensinam essa e outras soluções a
rejeita a tecnologia outros(as) camponeses(as)

Fonte: Machín Sosa et al. (2013, p.76)

Cuba é onde a metodologia social CAC alcançou seu maior


impacto, quando a Associação Nacional de Pequenos Agriculto-
res (Anap, na sigla em espanhol), membro da La Via Campesina, a
adotou com o objetivo consciente e explícito de construir um movi-
mento de base pela agroecologia dentro da organização nacional
(amplamente detalhado em Machín Sosa et al., 2010, 2013; Rosset

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100   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

et al., 2011). Em menos de dez anos, o processo de transformação da


produção em sistemas agrícolas agroecologicamente diversificados e
integrados se espalhou para mais de um terço de todas as famílias de
camponeses em Cuba, uma taxa de crescimento notável. Durante o
mesmo período, a contribuição total da produção camponesa para a
produção nacional aumentou consideravelmente, com outras vanta-
gens, sob a forma de redução do uso de produtos químicos agrícolas
e compra de insumos não agrícolas (mais autonomia) e de maior resi-
liência aos choques climáticos (Machín Sosa et al., 2013).
Como já argumentamos em outra publicação (Rosset et al.,
2011), o crescimento muito maior do CAC em Cuba do que na Amé-
rica Central se deve ao maior grau de organicidade da Anap no país
e à maior intencionalidade com que a organização adotou e promo-
veu a metodologia.

Movimento pela Agricultura Natural de Orçamento


Zero na Índia

A Agricultura Natural de Orçamento Zero (ZBNF, na sigla


em inglês) é outro movimento camponês que conseguiu aumentar
a escala da agroecologia, neste caso no sul da Índia, embora agora
tenha se espalhado, em diferentes níveis, para a maioria dos estados
indianos. O movimento se disseminou especialmente nos estados
de Tamil Nadu, Andhra Pradesh e Kerala, no sul da Índia, embora
tenha ganhado popularidade no estado de Karnataka. Muitos mem-
bros do Karnataka Rajya Raitha Sangha (KRRS), uma importante
organização de camponeses médios na Índia e membro da La Via
Campesina, também são membros da ZBNF. O KRRS promove a
ZBNF tanto no discurso quanto na prática. Ele abriu recentemente
uma escola camponesa de agroecologia, onde seus membros recebem
treinamento em métodos ZBNF. O conjunto de ferramentas bási-
cas dos métodos ZBNF foi elaborado por Subhash Palekar, um cien-
tista agrícola que, desiludido com os efeitos nocivos da Revolução
Verde em sua própria lavoura familiar, utilizou extensas pesquisas

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AGROECOLOGIA  101

e observações de processos ecológicos e métodos agrícolas indígenas


durante seu trabalho como extensionista na década de 1990 (Khadse
et al., 2017; FAO, 2016).
A Agricultura Natural de Orçamento Zero visa cortar drastica-
mente os custos de produção, acabando com a dependência de todos
os insumos externos e empréstimos para a agricultura. A expres-
são “orçamento zero” significa não usar nenhum crédito nem gastar
dinheiro em insumos comprados. Já “agricultura natural” significa
cultivar com a natureza e sem produtos químicos. Seus defensores
veem a ZBNF como uma solução para a crise agrária e para a tendên-
cia crescente de suicídios de agricultores na Índia.
Em termos de alcance, a ZBNF é possivelmente um dos movi-
mentos agroecológicos de maior sucesso globalmente. Os líderes do
movimento afirmam que milhões de agricultores praticam a ZBNF
na Índia, enquanto uma estimativa apenas para Karnataka dá um
número de aproximadamente 100 mil. O movimento ZBNF organi-
zou cerca de sessenta enormes campos de treinamento em nível esta-
dual na última década, com uma média de mil ou 2 mil agricultores
participantes em cada acampamento, incluindo mulheres, homens e
jovens. A maioria dos distritos tem uma dinâmica local auto-orga-
nizada para promover a ZBNF nas bases. Tudo isso foi obtido sem
qualquer organização formal de movimento, pessoal remunerado ou
mesmo uma conta bancária. A ZBNF gera espírito de voluntariado
e entusiasmo entre seus camponeses, que são os principais protago-
nistas do movimento.
Um fator fundamental para o sucesso da ZBNF na Índia, embora
não seja suficiente por si só, é que as práticas agrícolas funcionam
bem em termos agronômicos e econômicos (ver Capítulo 3). Mas a
ZBNF também se disseminou em Karnataka por conta de sua dinâ-
mica de movimento social, criada por meio de tarefas clássicas reali-
zadas por movimentos sociais, como a mobilização de uma gama de
recursos internos e de aliados, liderança carismática, enquadramento
eficaz e processos auto-organizados com um forte conteúdo pedagó-
gico. Uma razão central pela qual a ZBNF só decolou depois de che-
gar ao estado de Karnataka foi o fato de que lá atingiu comunidades

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102   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

que já tinham um rico tecido organizacional fornecido pela organi-


zação de agricultores do KRRS. Isso transformou a ZBNF de um
método de cultivo amplamente desconhecido em um enorme movi-
mento social de base.

Escolas agroecológicas de camponeses e de


movimentos sociais

A experiência de movimentos sociais rurais e organizações de


agricultores e camponeses indica que o grau de organização, ou orga-
nicidade, e o quanto as metodologias sociais horizontais baseadas no
protagonismo camponês a camponês são empregadas para construir
coletivamente os processos sociais são fatores-chave para aumentar a
escala da agroecologia. Os processos campesino a campesino e as esco-
las de agroecologia camponesas administradas pelas próprias orga-
nizações camponesas são exemplos úteis desses princípios (Rosset;
Martínez-Torres, 2012; McCune et al., 2014).
Nos últimos anos, a La Via Campesina e seus membros estabe-
leceram programas de agroecologia em muitos países das Américas,
da Ásia e da África, produziram materiais de formação em agroe-
cologia e patrocinaram feiras de sementes e redes de troca e arma-
zenamento de sementes em várias regiões e países. Um programa
nacional de enorme sucesso foi desenvolvido em Cuba, no qual os
agricultores criam e selecionam suas próprias variedades, com pro-
gramas de menor escala em outros países. A La Via Campesina não
só organizou intercâmbios nacionais e internacionais para que os
agricultores pudessem ver por si mesmos (“ver para crer”) e apren-
der com os melhores casos, mas também começou a identificar, estu-
dar, documentar, analisar e compartilhar horizontalmente as lições
dos melhores casos de experiência de soberania alimentar e agroe-
cologia robusta liderada por agricultores. A LVC e as organizações-
-membro abriram escolas regionais de formação em agroecologia e/
ou universidades camponesas (onde os camponeses ensinam cam-
poneses) que também são escolas de formação política na Venezuela,

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AGROECOLOGIA  103

Paraguai, Brasil, Chile, Colômbia, Nicarágua, Indonésia, Índia,


Moçambique, Zimbábue, Níger e Mali, além de dezenas de escolas
de nível nacional e subnacional onde os camponeses aprendem com
as experiências dos camponeses por meio do ensino entre colegas. Os
movimentos sociais camponeses estão desenvolvendo sua própria
pedagogia agroecológica, inspirada pelo educador e filósofo brasilei-
ro Paulo Freire (1970, 1973) e impregnada de elementos de territo-
rialidade (Stronzake, 2013; Meek, 2014, 2015; McCune et al., 2014,
2016; Martínez-Torres; Rosset, 2014; Rosset, 2015a; Gallar Her-
nández; Acosta Naranjo, 2014; Barbosa; Rosset, 2017). Os elemen-
tos dessa pedagogia emergente incluem o seguinte:
• o diálogo horizontal entre diferentes conhecimentos (diálogo
de saberes) e a troca horizontal de experiências (como CAC e
comunidade a comunidade) são básicos. Isso inclui diálogos
horizontais entre o conhecimento do agricultor, que muitas ve-
zes é local e detalhado, e o do cientista, que pode ser mais abs-
trato, teórico e universal (ver Levins; Lewontin, 1985, p.222);
• integração holística entre formação técnico-agroecológica e
valores políticos, humanísticos e internacionalistas, incluindo
o respeito à Mãe Terra e o bem viver;
• alternância entre o tempo na sala de aula e o tempo na comu-
nidade e na lavoura;
• planejamento de todos os espaços físicos e temporais da expe-
riência escolar – não apenas o tempo de sala de aula, mas tam-
bém o trabalho agrícola, a manutenção e limpeza coletiva da
própria escola e a preparação coletiva das refeições e atividades
culturais – como parte do processo de “formar” pessoas para
serem agroecologistas camponeses militantes, “sujeitos na
construção de sua própria história”;
• auto-organização ou organização coletiva e administração da
escola, além da concepção e implementação do currículo como
parte da experiência formativa;
• formação não de agrônomos ou técnicos agroecológicos “que
sabem tudo”, mas de facilitadores de processos horizontais de
troca e transformação de conhecimentos; e

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104   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

• noções de que a agroecologia é fundamental para a resistên-


cia camponesa, para a construção da soberania e autonomia
alimentar e para a construção de uma relação diferente entre
o homem e a natureza e de que a agroecologia é “territorial”,
requer organicidade e é, antes de mais nada, uma ferramenta
de luta e de transformação coletiva da realidade rural.

Fatores para ampliar a escala

O exame de casos de sucesso da massificação da agroecologia


em todo o mundo (incluindo, mas não se limitando a, casos vincu-
lados à LVC) lança luzes sobre fatores replicáveis que contribuem
para o êxito. Com base nos casos discutidos anteriormente e em
outros, podemos listar provisoriamente alguns desses fatores (Ros-
set, 2015b; Khadse et al., 2017).
Organização social e movimentos sociais: conforme explicado ante-
riormente, os movimentos sociais rurais e sua capacidade de forta-
lecer a organização social e construir processos sociais parecem ser
muito importantes. A organização social é o meio de cultura no qual
a agroecologia cresce e pode ampliar sua escala (Rosset; Martínez-
-Torres, 2012; McCune, 2014).
Metodologia e pedagogia do processo social horizontal: como ilustra
o caso de Cuba, o uso de uma metodologia do processo social como
o CAC, baseada em uma “pedagogia camponesa”, costuma ser um
elemento crítico na aceleração de um processo agroecológico (Rosset
et al., 2011; Machín Sosa et al., 2013; Holt-Giménez, 2006).
Protagonismo camponês: evidências preliminares sugerem que,
quando os próprios camponeses e agricultores lideram o processo, ele
anda muito mais rápido do que quando os técnicos ou extensionis-
tas estão na liderança (Rosset et al., 2011; Machín Sosa et al., 2013;
Holt-Giménez, 2006; Kolmans, 2006).
Práticas agrícolas que funcionam: a agroecologia não pode se espalhar
com base apenas em processos sociais. Claro, qualquer processo deve
ser baseado em práticas agrícolas agroecológicas que proporcionem

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AGROECOLOGIA  105

bons resultados aos agricultores e que sejam “soluções” para proble-


mas ou obstáculos que os agricultores enfrentam (Rosset et al., 2011;
Machín Sosa et al., 2013; Holt-Giménez, 2006; Kolmans, 2006).
Isso não significa que essas soluções ou práticas sejam o produto de
instituições formais de pesquisa. Na verdade, elas têm a mesma (ou
maior) probabilidade de virem da inovação camponesa ou de produ-
tores, uma vez que o processo social desencadeou a criatividade e o
interesse do agricultor/camponês em recuperar práticas ancestrais.
Discurso e enquadramento motivadores: Rosset e Martínez-Tor-
res (2012; Martínez-Torres; Rosset, 2014) distinguem entre “agroe-
cologia como agricultura” e “agroecologia como enquadramento”.1
Isso ocorre porque, embora a agroecologia deva funcionar como
uma agricultura, o processo social de disseminação e adoção é muitas
vezes impulsionado pela capacidade de uma organização ou movi-
mento de desenvolver e usar um discurso motivador e mobilizador
que faz que as pessoas realmente queiram transformar suas lavouras.
Oportunidade política, aliados externos, líderes carismáticos, cam-
peões locais: como qualquer outra forma de movimento social, os
movimentos agroecológicos podem ser estimulados por oportuni-
dades políticas e aliados externos ou tirar proveito deles. Isso pode
assumir as mais variadas formas, como uma crise alimentar, um fun-
cionário do governo querendo imprimir materiais de treinamento,
uma figura pública, um artista ou uma figura religiosa que defende
o movimento ou liderança carismática interna (Khadse et al., 2017).
Vinculando a produção camponesa aos mercados locais e regionais: a
demanda por produtos agroecológicos e oportunidades para os agri-
cultores venderem seus produtos ecologicamente cultivados com
lucro podem ser as principais forças motrizes em casos de sucesso
sem ampliar a escala da agroecologia (Brown; Miller, 2008; Rover,
2011; Niederle; de Almeida; Vezzani, 2013). Por outro lado, a falta
de atenção ao mercado pode levar ao fracasso de um processo. Um
grande desafio para uma agroecologia transformacional consiste em

1 Em inglês, há um jogo de palavras interessante: agroecologia como farming (agri-


cultura, cultivo) e como framing (enquadramento discursivo).

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explorar como conectar lavouras diversificadas redesenhadas com


saídas de mercado apropriadas para os camponeses. Existem mui-
tos tipos diferentes de mercados nos níveis local, regional e nacional
nos quais os pequenos produtores se engajam e têm algum grau de
influência e/ou controle, e é fundamental promover políticas públi-
cas que possam apoiá-los, defendê-los e fortalecê-los. Políticas que
podem garantir crédito e infraestrutura adequados e preços justos
para consumidores e produtores, além de promover esquemas de
compras públicas (mercados institucionais) e mercados de agri-
cultores locais, regionais e solidários e CSAs (Comunidades que
Sustentam a Agricultura), são essenciais para melhorar os meios
de subsistência dos camponeses (CSM, 2016). Em contrapar-
tida, quando as políticas e forças econômicas e as relações de poder
empurram os pequenos agricultores para o fornecimento de cadeias
de valor globais, o grau de endividamento e precariedade dos agri-
cultores geralmente aumenta. Isso se deve à posição que os peque-
nos agricultores geralmente ocupam na cadeia – seus baixos níveis
de controle e autonomia – e à forma como o valor flui ao longo dela
(McMichael, 2013). Uma razão importante para apoiar os mercados
de pequenos produtores é que, em muitos aspectos, eles estão mais
bem equipados para lidar com os desafios globais – como o aumento
do aquecimento global e choques de preços – do que os mercados glo-
bais de commodities. De acordo com o Mecanismo da Sociedade Civil
Internacional para Segurança Alimentar e Nutricional, isso se deve
em grande parte à “multifuncionalidade dos mercados territoriais
que envolvem a agricultura familiar e sistemas agrícolas diversifica-
dos. Com múltiplos canais de comercialização para venda e acesso a
alimentos, com a possibilidade de autoconsumo ou pequenos circui-
tos quando estes forem a melhor opção, os produtores nos mercados
territoriais são menos vulneráveis às oscilações de preço nos merca-
dos internacionais e à quebra de cadeias agroalimentares de longo
prazo e centralizadas” (CSM, 2016).
Políticas públicas favoráveis: as políticas públicas podem desem-
penhar um papel fundamental para determinar se os processos agroe-
cológicos podem alcançar escalas maiores (Gonzalez de Molina,

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AGROECOLOGIA  107

2013). A LVC (2010), por exemplo, defende uma ampla gama de tais
políticas. Note que eles clamam por políticas que impulsionem tanto
a agricultura camponesa e familiar em geral quanto a agroecologia
mais especificamente. Suas demandas incluem o seguinte: renacio-
nalizar as reservas de alimentos em paraestatais e conselhos de admi-
nistração aprimorados com base na copropriedade e cogestão entre o
setor público e organizações de agricultores e consumidores; imple-
mentar uma reforma agrária real e impedir a grilagem de terras; banir
e desmantelar os monopólios do agronegócio; banir a criação de ani-
mais confinados em grande escala e promover sistemas pecuários
descentralizados; orientar a compra de alimentos do setor público
para produtos agrícolas ecológicos e de agricultura familiar; forne-
cer mecanismos de apoio a preços, crédito subsidiado (especialmente
por mecanismos alternativos de crédito controlados pelo agricultor e
pela comunidade) e apoio à comercialização para a produção agrícola
ecológica, camponesa e familiar; reorientar os sistemas de pesquisa,
educação e extensão para o apoio a processos conduzidos por agri-
cultores referentes a sementes e tecnologias agroecológicas; apoiar a
auto-organização de camponeses e agricultores familiares; promover
a agricultura urbana ecológica; (re)introduzir barreiras à importa-
ção de alimentos; banir transgênicos e agrotóxicos perigosos; inter-
romper os subsídios para insumos químicos e sementes comerciais;
realizar campanhas educativas com os consumidores sobre os bene-
fícios promovidos por camponeses e pela agricultura familiar ecoló-
gica para toda a sociedade; e proibir junk food2 nas escolas.
Várias políticas foram testadas em diferentes países. Machín
Sosa et al. (2010, 2013) apresentam um capítulo sobre como as polí-
ticas em Cuba têm favorecido a agroecologia, enquanto Nehring e
McKay (2014), Niederle, de Almeida e Vezzani (2013) e Petersen,
Mussoi e Soglio (2013) fazem o mesmo para o Brasil. Os governos
podem e devem usar compras governamentais, crédito, educação,
pesquisa, extensão e outros instrumentos de política para favorecer

2 Termo em inglês equivalente a comida industrializada, processada e de baixa


qualidade nutricional.

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a transformação agroecológica. No entanto, uma palavra de cau-


tela é necessária. No Brasil, essas políticas foram alcançadas sob o
governo do Partido dos Trabalhadores, que foi derrubado em um
golpe de estado parlamentar em 2016; muitas das políticas foram
então revertidas, desestabilizando as cooperativas de agricultores
que aumentaram a produção por meio de iniciativas que dependiam
de apoio continuado do setor público. Isso levanta um debate inte-
ressante: é melhor expandir os processos mais rapidamente, mas
dependendo de apoio externo, ou mais lentamente, porém de forma
mais autônoma, com base nos recursos próprios dos camponeses e
agricultores?

Organização social, metodologia do processo social e


movimentos sociais

Embora todos esses fatores possam desempenhar papéis impor-


tantes para aumentar a escala da agroecologia, os papéis da organi-
zação social, metodologia do processo social e movimentos sociais
são enfatizados ao longo deste capítulo. A experiência dos movi-
mentos sociais rurais e das organizações de agricultores e campo-
neses indica que o grau de organização e o quanto as metodologias
sociais horizontais baseadas no protagonismo camponês a campo-
nês são empregadas para construir coletivamente os processos sociais
são fatores-chave para “massificar” e ampliar a escala da agroecolo-
gia. Os processos camponês a camponês e as escolas de agroecologia
camponesa dirigidas pelas próprias organizações camponesas são
exemplos úteis desses princípios. Embora a maioria das pesquisas
em agroecologia até hoje tenha enfatizado as ciências naturais, esses
resultados apontam para a necessidade de priorizar abordagens de
ciências sociais e autoestudo por movimentos rurais, para tirar lições
sistemáticas de suas experiências bem-sucedidas. Isso pode gerar as
informações e os princípios necessários para projetar novos proces-
sos coletivos.

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5
A política da agroecologia

A pressão popular fez que muitas instituições multilaterais,


governos, universidades e centros de pesquisa, além de algumas
ONGs e corporações, finalmente reconhecessem a “agroecologia”.
No entanto, eles tentaram redefini-la como um conjunto estreito
de tecnologias, para oferecer algumas ferramentas que parecem ali-
viar a crise de sustentabilidade da produção industrial de alimentos
enquanto as estruturas de poder existentes permanecem incontestá-
veis. Essa cooptação da agroecologia para ajustar o sistema alimen-
tar industrial, ao mesmo tempo que elogia o discurso ambientalista,
tem vários nomes, incluindo “agricultura inteligente para o clima”,
“sustentável” ou “intensificação ecológica” e produção de monocul-
tura industrial de alimentos “orgânicos”. Para nós, isso não é agro-
ecologia: nós os rejeitamos e vamos lutar para denunciar e bloquear
essa apropriação insidiosa da agroecologia. As verdadeiras soluções
para as crises do clima, da desnutrição etc. não virão da adequação
ao modelo industrial. Devemos transformá-lo e construir nossos pró-
prios sistemas alimentares locais que criem vínculos rural-urbanos,
baseados na produção verdadeiramente agroecológica de alimentos
por camponeses, pescadores artesanais, pastores, povos indígenas
e agricultores urbanos, entre outros. Não podemos permitir que a
agroecologia seja uma ferramenta do modelo de produção industrial

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de alimentos: nós a vemos como a alternativa essencial a esse modelo


e como o meio de transformar a forma como produzimos e consumi-
mos alimentos em algo melhor para a humanidade e nossa Mãe Terra.
Declaração do Fórum Internacional de
Agroecologia em Nyéléni (LVC, 2015a)

Agroecologia e territórios contestados

Teóricos de territórios contestados ou disputados argumentam


que as classes e relações sociais geram territórios e espaços que se
reproduzem em condições de conflito, o que dá origem a espaços
de dominação e de resistência. A contestação territorial é realizada
em todas as dimensões possíveis: econômica, social, política, cultu-
ral, teórica e ideológica. No caso das áreas rurais, isso dá origem a
disputas sobre territórios materiais e imateriais entre os movimentos
sociais de base e o agronegócio, as empresas de mineração e outras
formas de capitalismo extrativista e seus aliados no governo (Fernan-
des, 2009, 2008a, 2008b; Rosset; Martinez-Torres, 2012).
A disputa por territórios materiais se refere à luta para acessar,
controlar, usar e moldar (ou configurar) a terra e o território físico.
Território imaterial se refere ao terreno das ideias, dos construtos teó-
ricos, e não existem territórios materiais contestados que não estejam
associados à contestação dos territórios imateriais. A disputa por ter-
ritórios reais e tangíveis e pelos recursos que eles contêm anda neces-
sariamente de mãos dadas com a disputa por territórios imateriais, ou
espaço de ideologia e ideias. As disputas por territórios imateriais se
caracterizam pela formulação e defesa de conceitos, teorias, paradig-
mas e explicações. Assim, o próprio poder de interpretar e determi-
nar a definição e o conteúdo dos conceitos é um território em disputa.
Rosset e Martínez-Torres (2012), Martínez-Torres e Rosset (2014) e
Giraldo e Rosset (2016, 2017) argumentam que a agroecologia é, em
si, um terreno ou território que é disputado tanto material (“agroe-
cologia como agricultura”) quanto imaterialmente (“agroecologia

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AGROECOLOGIA  111

como enquadramento”). Este capítulo enfoca a intensificação e a evi-


denciação dessa disputa.

A disputa pela agroecologia

A agroecologia deixou de ser ignorada, ridicularizada e/ou


excluída pelas grandes instituições que presidem a agricultura mun-
dial, passando a ser reconhecida como uma das alternativas possíveis
para enfrentar as crises geradas pela Revolução Verde. Isso é sur-
preendente. Até recentemente, as instituições que dirigiam a política
agrícola em todo o mundo não tinham reconhecido a agroecologia
nem como um domínio de investigação científica nem como uma
prática e um movimento social (Wezel et al., 2009). Na verdade, além
de serem negligenciados, durante os últimos quarenta anos aqueles
que promoveram a agroecologia tiveram que desafiar as estruturas
de poder em todas as esferas, incluindo, obviamente, as instituições
que durante décadas promoveram a agricultura industrial em todo o
mundo como a panaceia para aliviar a fome e a pobreza. Ainda assim,
em 2014, ficou claro que esse contexto mudou radicalmente quando
algumas dessas mesmas instituições começaram a abordar a agroe-
cologia com interesse após o Simpósio Internacional de Agroecologia
para Segurança Alimentar e Nutricional, organizado naquele ano em
Roma pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Ali-
mentação (FAO, 2014). No entanto, em vez de aproveitar o potencial
da agroecologia para transformação, tais instituições a veem prin-
cipalmente como uma oferta de opções técnicas para tornar a agri-
cultura industrial menos insustentável (LVC, 2015a), criando uma
ameaça real de cooptação.
Essa nova situação criou um dilema para os agroecologistas:
ceder à cooptação e captura ou aproveitar a abertura de oportunida-
des políticas para impulsionar a transformação do modelo de agri-
cultura industrial vigente (Levidow; Pimbert; Vanloqueren, 2014;
Holt-Giménez; Altieri, 2016). Embora as instituições não sejam
monolíticas e permitam debates internos, esse cenário pode ser

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112   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

enquadrado, para fins de simplificação, como uma luta bilateral. Ins-


tituições governamentais, agências internacionais e empresas priva-
das estão de um lado, enquanto os movimentos sociais, os cientistas
e as ONGs, do outro lado, veem a agroecologia como algo que leva
justamente à transformação do sistema (Quadro 5.1). A questão é se
a agroecologia, nas mãos da tendência dominante, conseguirá pre-
servar apenas seu conteúdo técnico mais simplista e deixará um con-
ceito vazio que pode significar quase qualquer coisa para qualquer
um, assim como aconteceu décadas atrás com o “desenvolvimento
sustentável” (Lélé, 1991).

Quadro 5.1 – Conformar ou transformar


O campo institucional vê O campo da sociedade civil
a agroecologia como uma vê a agroecologia como uma
ferramenta que oferece alternativa para a agricultura
possibilidades para ajustar industrial e como parte da luta
Campo e visão
a agricultura industrial e se para desafiar e transformar a
adequar à monocultura, à monocultura, a dependência
dependência de insumos e às de insumos e as estruturas
estruturas de poder existentes de poder
Banco Mundial, governos,
Movimentos sociais e aliados
muitas ONGs grandes,
Atores como IPC, LVC, Maela,
setor privado, universidades
Socla etc.
agrícolas
Agricultura inteligente Agroecologia camponesa,
para o clima, intensificação agricultura natural, ecológica
sustentável ou ecológica, Poupe ou agricultura biológica,
e Cresça (FAO), orgânico agricultura orgânica
Exemplos
industrial, cultivo mínimo camponesa, baixo consumo,
(com herbicidas), agricultura de permacultura, biointensivo,
conservação, “agro-ecologia” agricultura tradicional
(com hífen) etc. camponesa ou indígena etc.

Fonte: Giraldo; Rosset (2017)

Para ilustrar a dicotomia maior, comparamos, de um lado, o pro-


cesso da FAO que começou publicamente em Roma em 2014 com
o simpósio global e continuou em 2015 e 2016 com fóruns conti-
nentais e regionais e, de outro lado, o processo que conduziu até o
Fórum Internacional de Agroecologia, realizado em Nyéléni, Mali,

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AGROECOLOGIA  113

em 2015, bem como os períodos durante e após o evento. O fórum


em Nyéléni foi organizado pelo Comitê Internacional de Planeja-
mento para a Soberania Alimentar (IPC, na sigla em inglês), um
órgão representativo composto por movimentos sociais e outros ato-
res da sociedade civil que surgiram de espaços paralelos em cúpulas
mundiais sobre alimentação e se alia à FAO para lutar pela soberania
alimentar. Em Nyéléni, “delegados representando diversas organi-
zações e movimentos internacionais de pequenos produtores e con-
sumidores de alimentos, incluindo camponeses, povos indígenas e
comunidades (junto com caçadores e coletores), agricultores fami-
liares, trabalhadores rurais, pastores e criadores, pescadores e popu-
lações urbanas, se reuniram para chegar a um entendimento comum
da agroecologia como um elemento-chave na construção da sobera-
nia alimentar e para desenvolver estratégias conjuntas para promo-
ver a agroecologia e defendê-la da cooptação” (LVC, 2015a).
Assim, um espaço em que a disputa maior se desenrola foi criado
quando a FAO começou a discutir agroecologia. Os governos da
França e do Brasil apoiaram um processo emergente de agroeco-
logia (embora com noções totalmente diferentes de agroecologia),
enquanto os Estados Unidos e seus aliados se opuseram à realiza-
ção do simpósio internacional. O compromisso que se seguiu elimi-
nou do simpósio qualquer conteúdo vinculado a políticas públicas
e, particularmente, proibiu a discussão de políticas comerciais inter-
nacionais, organismos geneticamente modificados ou mesmo o uso
do termo “soberania alimentar”, limitando, assim, o programa aos
aspectos técnicos da agroecologia. Graças aos seus aliados dentro da
FAO, a sociedade civil conseguiu obter vagas para participação no
processo (Nicholls, 2014; Giraldo; Rosset, 2016). No final, orga-
nizações camponesas, ONGs e acadêmicos conseguiram expres-
sar suas críticas ao modelo do agronegócio, embora suas opiniões
tenham sido essencialmente minimizadas no relatório final (FAO,
2015). Após o evento, o pronunciamento oficial, divulgado pelos
ministros da Agricultura do Japão, da Argélia, da França, da Costa
Rica e do Brasil, pelo comissário de agricultura da União Europeia
e pelo diretor-geral da FAO, afirmava que a agroecologia era uma

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114   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

opção válida e deveria receber apoio. No entanto, eles sentiram que


ela deveria ser combinada com outras abordagens, como intensifica-
ção sustentável (Scoones, 2014), agricultura inteligente para o clima
(Delvaux et al., 2014; Pimbert, 2015) e organismos geneticamente
modificados (Nicholls, 2014; Giraldo; Rosset, 2016).1
Os movimentos sociais e atores da sociedade civil que fazem parte
do IPC, incluindo a La Via Campesina, a Coordenação Nacional de
Organizações Camponesas do Mali, o Movimento Agroecológico da
América Latina e do Caribe e a Sociedade Científica Latino-Ameri-
cana de Agroecologia, foram a Nyéléni registrar sua oposição ao que
consideram como um movimento das principais instituições para
cooptar e reduzir a agroecologia a um conjunto de ecotécnicas no kit
de ferramentas do modelo de produção de alimentos industrializa-
dos (LVC, 2015a). Foi a primeira vez que representantes não apenas
de camponeses e agricultores familiares, mas também de povos indí-
genas, pecuaristas, pescadores artesanais, moradores de cidades, con-
sumidores e outros grupos, se reuniram para analisar em conjunto a
agroecologia – de forma semelhante a fóruns globais anteriores para
discutir soberania alimentar e reforma agrária (Martínez-Torres; Ros-
set, 2014; Rosset, 2013). Graças a esse diálogo entre diferentes saberes
de base, sabedorias e formas de conhecimento, a principal declara-
ção do fórum foi a primeira a reunir e unificar as diferentes visões do
que é a agroecologia para os movimentos sociais. No documento, os
movimentos participantes alertam que a agroecologia corre o risco de
ser cooptada, dadas as tentativas do agronegócio e de outros atores do
sistema alimentar industrial de “realizar uma lavagem verde” de sua
imagem, e rejeitam equiparar a agroecologia à produção de monocul-
tura industrial de alimentos “orgânicos” e a abordagens semelhantes
promovidas pelo setor privado e pelas principais instituições. Os dele-
gados do fórum expressaram que aprovam uma agroecologia eminen-
temente política e popular que busca desafiar e mudar as estruturas de

1 Ver Altieri e Rosset (1999a, 1999b), Altieri (2005) e Rosset (2005) para a dis-
cussão das questões levantadas sobre organismos geneticamente modificados e
agroecologia.

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AGROECOLOGIA  115

poder, ou seja, “colocar o controle das sementes, da biodiversidade, da


terra e dos territórios, das águas, do conhecimento, da cultura e dos
bens comuns nas mãos dos povos que alimentam o mundo”.
Enfrentamos uma disputa entre duas formas radicalmente distin-
tas de conceber a agroecologia: uma técnica e tecnocêntrica, cientifi-
cista e institucional, e outra (a “via popular”) profundamente política
e que defende a justiça distributiva e um profundo repensar do sistema
alimentar. Esse aspecto mais discursivo da luta continuou nas confe-
rências agroecológicas regionais da FAO que se seguiram ao simpó-
sio de Roma em 2015: em Brasília para a América Latina e o Caribe,
em Dakar para a África Subsaariana e em Bangkok para a Ásia e o
Pacífico. Dos três eventos, o de Brasília foi o mais favorável aos movi-
mentos sociais, que conseguiram prevalecer nas discussões e incluir a
maioria de suas posições no documento final – com a notável exceção
de críticas explícitas ao agronegócio e aos transgênicos. Essa declara-
ção foi ratificada por representantes da FAO, governos, acadêmicos,
a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e o Escri-
tório de Agricultura Familiar do Mercosul (REAF). As conferências
de Dakar e Bangkok foram mais conflituosas, na medida em que houve
um movimento para tornar a agroecologia sinônimo de intensificação
ecológica e agricultura inteligente para o clima, enquanto movimentos
sociais rejeitaram as tentativas de cooptação do termo (Rogé; Nicholls;
Altieri, 2015; Nicholls, 2015; Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Durante um período de um a dois anos, várias coisas ficaram cla-
ras. A agroecologia foi reconhecida pela primeira vez pelas institui-
ções que regem a política agrícola mundial, e, posteriormente, dois
lados opostos traçaram linhas de batalha sobre o significado da pala-
vra. Hoje, a FAO tem um escritório de agroecologia em sua sede em
Roma, ministros da Agricultura de todo o mundo estão elaborando
políticas públicas sobre “agroecologia” e as universidades estão
lutando para oferecer currículos de agroecologia e iniciar novos pro-
gramas de pesquisa.2 Isso é significativo. A agroecologia em breve

2 Embora o escritório de agroecologia da FAO seja em grande parte formado por


pessoas bem-intencionadas que simpatizam com as visões do movimento social

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116   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

começará a ter orçamentos vinculados, corporações multinacionais


e agências de cooperação internacional investirão em agroecologia, e
ONGs novas no debate sobre agroecologia e outros atores oportunis-
tas que ocasionalmente não haviam defendido ou mesmo falado em
agroecologia tornar-se-ão porta-vozes e beneficiários das oportuni-
dades econômicas e políticas que surgem nesse novo contexto inter-
nacional (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Neste capítulo, interpretamos a ascensão da agroecologia dentro da
agenda institucional usando a FAO como uma representação do espaço
institucional mais amplo. Estamos interessados em analisar como e por
que a agroecologia passou a ter interesse na geopolítica global quando
o agrocapitalismo tenta abordar algumas de suas contradições e como
os movimentos sociais podem ser fortalecidos pela defesa da agroecolo-
gia como uma alternativa para a noção dominante de desenvolvimento
e como um componente essencial na transformação pós-capitalista.

A apropriação da agroecologia

Giraldo e Rosset (2016, 2017) argumentam que o agronegócio e o


capital financeiro se interessam pela agroecologia porque ela pode aju-
dá-los a escapar das crises mais recentes do capitalismo e das persisten-
tes contradições inerentes ao extrativismo que caracteriza a agricultura
industrial (Giraldo, 2015). A crise econômica se reflete em capital exce-
dente ocioso, sem opções de investimento suficientes para gerar lucros
atraentes. A financeirização e suas bolhas especulativas têm sido as
soluções paliativas que contiveram a crise causada pelo excesso de
oferta e subconsumo devido ao limitado poder de compra das massas
empobrecidas em todo o mundo. No entanto, a solução de longo prazo
do capital é implementar uma estratégia de desapropriação e pilhagem,
apoiada e promovida pelos governos da maioria dos países por meio de

da agroecologia, elas são uma minoria em apuros dentro da instituição, que em


geral continua a favorecer a agricultura industrial e alternativas “leves” como a
agricultura inteligente para o clima (Pimbert, 2015).

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AGROECOLOGIA  117

estratégias de privatização neoliberal, que transferem bens públicos e


bens comuns para empresas privadas e incorporaram esses bens e ati-
vos ao fluxo privado de acumulação de capital. Esse processo, que é
uma reminiscência da acumulação primitiva de Marx e, mais recente-
mente, foi rotulado como “acumulação por espoliação” pelo geógrafo
David Harvey (2003), nada mais é do que uma pilhagem descarada,
destinada a se apropriar de recursos sem compensar seus legítimos pro-
prietários, incluindo os camponeses e povos indígenas.
Sem dúvida, no contexto da crise mais recente – que se aprofun-
dou com o estouro da bolha financeira entre 2007 e 2009 –, o capi-
tal especulativo precisava de novas formas de acumular e especular.
Isso leva à primeira explicação de por que as instituições voltaram a
ter interesse em promover e apoiar a agroecologia. Por muitos anos,
o capital encontrou refúgio em mercados financeiros etéreos, mas
depois começou a pesquisar extensivamente maneiras de se apro-
priar dos recursos naturais dos quais depende a atividade econômica
real. Grilagem de terras, surto de investimento em monoculturas
e produtos florestais, petróleo, hidrocarbonetos não tradicionais e
minerais no Sul são exemplos bem conhecidos (Borras et al., 2011).
Está cada vez mais claro que o capital também busca mercantilizar
as sementes e a agrobiodiversidade; destituir camponeses e comu-
nidades indígenas de seus conhecimentos agroecológicos; incenti-
var uma maior diversidade agrícola nos mercados de alimentos, na
indústria de cosméticos e na farmacologia; aumentar os lucros deri-
vados dos créditos de carbono e da conservação no estilo neoliberal
por meio de acordos florestais; e lucrar com a ampliação dos merca-
dos de produtos orgânicos industrializados, que em breve poderão
ser renomeados como “agroecológicos” nos hipermercados. O obje-
tivo é converter os bens comunais das pessoas em direitos de proprie-
dade privada, separando, assim, as comunidades de suas condições
materiais e simbólicas de vida e tornando impossível para as pessoas
viverem fora das redes baseadas no mercado (Giraldo; Rosset, 2016,
2017; Levidow; Pimbert; Vanloqueren, 2014; LVC, 2016).
Enquanto a agroecologia promove as várias práticas criadas pelos
povos ao longo de milhares de anos de transformação ecossistêmica,

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118   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

a crise capitalista mundial está levando o capital a canalizar essas


práticas para os circuitos globais de acumulação de capital. Não há
melhor maneira de apaziguar as demandas dos movimentos sociais
e deturpar sua defesa da agroecologia – como alternativa ao capita-
lismo hegemônico – do que capturar, cooptar e acachapar seu con-
teúdo antissistêmico. É por isso que o capital agora se abstém de
marginalizar a agroecologia e procura mantê-la sob controle, tor-
nando camponeses, pastores, agricultores familiares e pescadores
funcionais para a acumulação, vinculando-os às economias empre-
sariais. Na essência, esses grupos plantam, criam rebanhos e pescam
em áreas que não são de interesse direto do agronegócio, pelo menos
não da maneira clássica de produção direta. Portanto, o capital acha
mais prático desterritorializar as pessoas sem as deslocar de suas ter-
ras, por exemplo, por meio de agricultura sob contrato para mercados
distantes, uma forma útil de obter rendas extraordinárias (Giraldo,
2015). Como estratégia, a acumulação por espoliação é avassaladora
na busca por qualquer área econômica que possa ser usada para a valo-
rização do capital. Se atualmente 70% da produção mundial de ali-
mentos está nas mãos de pequenos produtores (ETC Group, 2009),
muitos dos quais são produtores agroecológicos, seria um desperdício
excluir seu trabalho da acumulação capitalista. No entanto, dado que é
praticamente impossível converter terras marginais em monoculturas
de capital intensivo, a comercialização da agroecologia pode ser uma
excelente forma de controlar essas terras, potenciais fontes de renda
fundiária considerável (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Outra explicação para o motivo pelo qual as instituições recen-
temente mostraram interesse em incluir a agroecologia em seus pla-
nos consiste naquilo que, no marxismo, é conhecido como a segunda
contradição do capital. Essa contradição, derivada da observação
de Marx a respeito da defasagem metabólica causada pelo desen-
volvimento da tecnologia na agricultura,3 destaca o fato de que a

3 “Todo progresso na agricultura capitalista é um progresso na arte não apenas de


roubar o trabalhador, mas de roubar o solo; todo progresso no aumento da ferti-
lidade do solo por um determinado tempo é um progresso no sentido de arruinar

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AGROECOLOGIA  119

tecnologia utilizada pelo capitalismo degrada as condições naturais


de produção, colocando em risco os lucros do capital (Martinez-
-Alier, 2011; O’Connor, 1998). O agronegócio busca constan-
temente aumento da produção, crescimento da produtividade e
melhoria da eficiência, levando, paradoxalmente, à estagnação da
produtividade (Ray et al., 2012) e até mesmo a um declínio geral nas
áreas onde a Revolução Verde foi implementada pela primeira vez
(Pingali; Hossain; Gerpacio, 1997), além de causar erosão, compac-
tação, salinização e esterilização do solo (Kotschi, 2013), perda de
biodiversidade funcional para agroecossistemas, resistência a inse-
ticidas e menor eficácia dos fertilizantes químicos. A tendência do
agronegócio à hiperprodutividade ameaça a base de sua própria pro-
dução, contribuindo para a crise da agricultura e do sistema alimen-
tar (Leff, 1986, 2004).
É cada vez mais evidente que o agrocapitalismo é autodestru-
tivo em termos das condições ecológicas de produção, simplificando
e superexplorando os ecossistemas, erodindo a fertilidade do solo,
contaminando a água e lançando gases de efeito estufa na atmosfera.
Economicamente, isso significa que há uma crise de queda da
taxa de lucro do capital, ou seja, uma diminuição nos lucros causada
por um aumento nos custos de produção. Por exemplo, quantidades
cada vez maiores de fertilizantes e inseticidas devem ser utilizadas
para manter os rendimentos anteriores. No entanto, embora ainda
tenha sido impossível conter a devastação ambiental por meio de
soluções tecnológicas dentro do próprio sistema, a crise em curso
abriu uma oportunidade para o capital agrícola se reestruturar e
implementar mudanças em busca de menores custos de produção
e aumento da produtividade.
Como diz James O’Connor (1998), o capitalismo não apenas está
sujeito a crises, como também depende delas para se reestruturar.

as fontes duradouras dessa fertilidade [...]. A produção capitalista, portanto,


desenvolve a tecnologia e a combinação de vários processos em um todo social
apenas se minar as fontes originais de toda a riqueza – o solo e o trabalhador”
(Marx, 1946, p.423-4; ver também Foster, 2000; Martinez-Alier, 2011).

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120   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

Atualmente, o capitalismo agrícola, com alguma ajuda de Estados-


-nação e organizações multilaterais, está passando por transfor-
mações para resolver essa crise a seu favor. As mudanças em curso
incluem a apropriação de elementos da agroecologia, vista como uma
oferta de opções técnicas que podem auxiliar no restabelecimento
das condições de produção. É certo que os esforços da agricultura
industrial para encontrar soluções técnicas para o sistema atendem
a uma preocupação legítima, impulsionada pela deterioração da sus-
tentabilidade do sistema. Mas, além da necessidade de ajustar o sis-
tema, há um movimento generalizado para o agronegócio passar
por uma “lavagem verde”, incluindo agricultura inteligente para o
clima, intensificação sustentável, agricultura orgânica baseada em
insumos comerciais, transgênicos resistentes à seca, a “nova Revo-
lução Verde” e agricultura de precisão (Pimbert, 2015; Patel, 2013).
Além disso, a crise, provocada pela tendência do agronegócio
capitalista de devastar a base de recursos naturais de que depende,
é também um bom momento para expandir e criar oportunidades
de negócios. Estas podem se tornar futuras “indústrias de insumos
agroecológicos”, monoculturas orgânicas para nichos de exporta-
ção, mecanismos para internalizar o custo da deterioração ambien-
tal – gerando renda por meio da venda de créditos de carbono (LVC,
2013; Leff, 2004) – ou empreendimentos de ecoturismo e de bioco-
mércio. A crise também pode ser alavancada para aumentar a fle-
xibilidade e diminuir os custos de mão de obra, graças à produção
baseada em contratos com pequenos produtores ou com famílias que
praticam agroecologia com uma mentalidade empreendedora, vol-
tada para o abastecimento de cadeias de valor capitalistas (Giraldo;
Rosset, 2016, 2017).
Em resumo, a destruição ambiental pode ser uma oportuni-
dade para criar instrumentos de planejamento do capital em grande
escala, com foco na reestruturação para melhorar os lucros, reduzir
custos, criar bens de consumo e restabelecer as condições de produ-
ção (O’Connor, 1998). Assim, podemos interpretar as mudanças
que têm permitido que a agroecologia passe a fazer parte do dis-
curso faoísta em parte como resultado da recente intensificação da

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AGROECOLOGIA  121

estratégia de acumulação por espoliação e das tentativas do agrone-


gócio de se reorganizar em um contexto de crise provocado por suas
próprias contradições internas (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
O capitalismo agrícola normalmente impede os usuários de ter
conhecimento sobre como suas tecnologias são projetadas e feitas,
o que é uma ferramenta poderosa para prevenir certas formas de
auto-organização social (Harvey, 2003). Isso é precisamente o que a
agroecologia desafia com as metodologias usadas, por exemplo, pelo
movimento campesino a campesino – ou camponês a camponês (Vás-
quez; Rivas, 2006; Holt-Gimenez, 2006; Rosset et al., 2011; Machín
Sosa et al., 2013) –, no qual os produtores são experimentadores que
disseminam sua sabedoria por meio do diálogo horizontal e do ensino
pelo exemplo. Porém, com a provável invasão de projetos agroecológi-
cos institucionalizados movidos por políticas públicas, movimentos
desse tipo podem ser colonizados, expondo as pessoas à ditadura de
especialistas. Embora seja verdade que os movimentos camponeses
sempre se beneficiaram de aliados externos, em vez de estarem em
completo isolamento, devemos lembrar que o desenvolvimento é pro-
jetado para aumentar o controle por instituições externas, disfarçado
como uma tentativa de redimir e ensinar “os ignorantes”, levando as
comunidades pela mão, como crianças que precisam da orientação
de um adulto, ao mesmo tempo que se assume o controle total de seu
tempo e de suas atividades diárias. Por meio de inúmeros projetos,
o desenvolvimento tornou as pessoas o alvo do conhecimento espe-
cializado, despojando as comunidades de sua criatividade, atrapa-
lhando sua imaginação social, impondo conhecimentos e ditando as
formas esperadas de produzir e consumir (Illich, 2006). A coloni-
zação industrial da agroecologia será alcançada pela substituição de
insumos (Rosset; Altieri, 1997) – biopesticidas, biossólidos e outras
opções (ainda comerciais) de insumos – por meio da mesma racio-
nalidade capitalista que estrutura todas as formas de existência em
resposta às demandas de mercado e à motivação do lucro (Polanyi,
1957). Programas e projetos de desenvolvimento realizam exatamente
esse trabalho há décadas, porém nada indica que isso não mudará
se os ministros da Agricultura se apropriarem da agroecologia e a

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incluírem nos planos nacionais dos governos neoliberais ou progres-


sistas (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
O capitalismo que passou pela lavagem verde descobriu a agroe-
cologia como forma de legitimar uma geopolítica agrícola dual que,
por um lado, busca reestruturar o agronegócio com um discurso
renovado e impregnado de sustentabilidade e investimento res-
ponsável enquanto, por outro, promove a agricultura camponesa
baseada na agroecologia e vinculada à economia de mercado por
meio de acordos de parceria com empresários agroindustriais, forne-
cedores de insumos “alternativos”, produção sob contrato ou outras
formas de inserção em cadeias comerciais (Patel, 2013). Um discurso
lavado de verde é, sem dúvida, uma tática de legitimação poderosa que
tenta contrariar as evidências abundantes de que a tecnologia agrícola
capitalista está destruindo as fontes de sustentabilidade econômica e
ecológica do capital. Talvez estejamos testemunhando o início de uma
nova etapa, na qual a Revolução Verde está mudando, assumindo um
novo disfarce, mais “verde”, para se legitimar por meio de um dis-
curso agroecológico baseado em inclusão social, alimentação saudável
e salvaguarda da Mãe Terra (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).

Agroecologia política e movimentos sociais

Claramente, uma disputa para definir a agroecologia começou


entre pelo menos duas forças. O resultado dependerá da correlação
de forças nos locais onde a luta ocorre e da capacidade dos movimen-
tos sociais de evitar os preceitos do chamado desenvolvimento. Em
nossa opinião, é um momento ideal para expressar nossas críticas a
um conceito de agroecologia que segue estreitamente a racionalidade
econômica e os imaginários do progresso, assim como nossa defesa
de um conceito mais amplo de agroecologia como componente fun-
damental das alternativas que buscam abordar a crise da civilização.
O desafio de novos modelos de simulação e cooptação agroecoló-
gica exige a defesa de visões e estratégias políticas mais próximas do
que na América Latina se chamou de bom viver, que inclui resistir ao

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AGROECOLOGIA  123

controle de instituições externas, praticar a agroecologia autônoma e


assumir a responsabilidade pelos problemas que nos afetam direta-
mente (Giraldo, 2014; Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Movimentos sociais e organizações de base precisam construir
processos de organização intencionais para ampliar a agroecologia
no nível territorial (Rosset et al., 2011; Khadse et al., 2017; McCune;
Reardon; Rosset, 2014, 2016; Rosset, 2015b). Eles devem lutar pela
terra e defender seus territórios dos grileiros (Rosset, 2013). Ade-
mais, devem construir imaginários poderosos – enquadramentos
de mobilização – para motivar a adesão camponesa ao processo de
transformação agroecológica e à disputa imaterial para defender
e transformar seus territórios reais (Rosset; Martínez-Torres, 2012;
Martínez-Torres; Rosset, 2014).
A defesa dos territórios também deve envolver a rejeição das ten-
tativas de impor soluções técnicas e modelos únicos, aumentando
o poder da agroecologia como alternativa aos processos de desen-
volvimento e mobilizando a criatividade coletiva e a engenhosidade
social, ao mesmo tempo que se diversificam todas as formas de pro-
duzir, consumir, ser e existir. Parafraseando os zapatistas no México,
embora devamos rejeitar um mundo baseado exclusivamente em
uma mentalidade de desenvolvimento que priva os indivíduos de
suas habilidades criativas, devemos revitalizar os muitos mundos
que aprendem uns com os outros, uma tarefa que as metodologias
agroecológicas fazem tão bem quando contribuem para uma autono-
mia relativa (Rosset; Martínez-Torres, 2012; Rosset; Barbosa, 2021) e
que vai contra a lógica do clientelismo nos programas e projetos gover-
namentais. Existem modos de viver, fundados na criatividade cul-
tural e no ordenamento ecossistêmico de cada localidade específica,
que estimulam a agroecologia real, melhorando as relações comuni-
tárias, aprofundando a ajuda mútua, aumentando o controle das pes-
soas sobre suas vidas e colocando todas as ferramentas sob o controle
dos produtores, ou seja, o polo oposto do paradigma de desenvolvi-
mento convencional (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Defender a agroecologia da pilhagem institucional e da coopta-
ção significa rejeitar o economicismo rígido que reduziria o conceito

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a uma questão de produtividade, rendimentos e competitividade


baseada em preceitos econômicos e científicos neoliberais. Também
envolve críticas construtivas que remodelam a agroecologia e ligam
as visões de mundo das pessoas, suas formas de compreensão sim-
bólica, suas relações de reciprocidade e seus modos de existir e ree-
xistir aos modos de habitar a Terra. Muito mais do que uma forma
de produzir, a agroecologia, como ser camponês, é uma forma de ser,
compreender, viver e sentir este mundo (Fals Borda, 2009; da Silva,
2014). É uma relação social distinta do capitalismo, que incentiva a
recuperação e o intercâmbio da sabedoria local, a criação comunal de
novos conhecimentos onde ocorrem os problemas e a transformação
ecossistêmica de acordo com as condições adequadas para regenerar
a vida (Silva, 2014). Como afirma La Via Campesina (2015b):

O nosso modelo é o “modelo de vida” do campo com campone-


ses, das comunidades rurais com famílias, dos territórios com árvores
e matas, montanhas, lagos, rios e litorais, e se opõe firmemente ao
“modelo de morte” do agronegócio, de agricultura sem camponeses
ou famílias, de monoculturas industriais, de áreas rurais sem árvo-
res, de desertos verdes e terras envenenadas por pesticidas quími-
cos e organismos geneticamente modificados. Estamos desafiando
ativamente o capital e o agronegócio, disputando terras e territórios
com eles.

Precisamos descolonizar a agroecologia (Rivera Cusicanqui,


2010) e resistir aos atuais mecanismos capitalistas globais, rentistas,
expropriadores; e a defesa da agroecologia precisa recuperar o senti-
mento de comunidade (Giraldo, 2016). Isso implica a rejeição contí-
nua dos modelos do agronegócio, grandes propriedades e globalização
econômica, ao mesmo tempo que se defendem os territórios das ten-
tativas do capital de se expandir para novos espaços geográficos e dos
movimentos que constantemente visam obter o controle da produ-
ção, distribuição e consumo. No entanto, comunizar, ou ampliar os
bens comuns, não consiste apenas na apropriação pela comunidade
de todas as formas materiais e culturais de existência. Os defensores

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AGROECOLOGIA  125

da agroecologia de base precisam pensar muito sobre as ferramentas


técnicas que promovem. As ferramentas estarão a serviço da coleti-
vidade? Ou constituirão o tipo de substituição de insumos que apro-
funda a dependência de fornecedores externos sob o risco de piorar
o endividamento, ameaçando tornar as pessoas ainda mais escravas
da tecnologia e preservar a exploração (Rosset; Altieri, 1997; Khadse
et al., 2017)? Isso é exatamente o que está em jogo na disputa e nas
tentativas das principais instituições de despolitizar a agroecologia e
incorporá-la a seus jargões e práticas de desenvolvimento.
Não queremos sugerir que, só porque a FAO e as instituições
de desenvolvimento têm interesse na agroecologia, esta não é uma
boa oportunidade para os movimentos sociais expressarem suas
demandas. Ao contrário: não será possível expandir a agroecolo-
gia se o maquinário institucional continuar favorecendo o agrone-
gócio industrial e a tecnologia da Revolução Verde com subsídios,
créditos, programas de extensão e toda a gama de incentivos que aju-
daram o paradigma do desenvolvimento rural a se expandir nos últi-
mos cinquenta anos. Agora que a FAO deu seu “selo de aprovação”
à agroecologia, já vemos universidades lutando para adicioná-la aos
seus currículos e ministérios da agricultura criando programas de
pesquisa, extensão, créditos e subsídios à produção agroecológica e
a insumos “agroecológicos” (cuidado com a “substituição de insu-
mos”!). Mas qual agroecologia será ensinada? E quais agricultores
e consumidores serão beneficiados com as novas políticas públicas?
As pessoas devem tomar cuidado para evitar crenças ingênuas de
que o caminho está finalmente aberto para mover a estrutura agrícola
do mundo em direção à agroecologia. Os movimentos sociais devem
permanecer vigilantes e evitar a dependência excessiva de programas
e projetos públicos e parcerias e contratos com o setor privado que a
agroecologia institucionalizada traria (Giraldo; Rosset, 2016, 2017).
Estamos em um momento em que os movimentos não podem
se desviar. Além disso, recusar-se a participar de debates relevan-
tes ajuda o capital a encontrar soluções para sua crise crônica de
superacumulação por expropriação, ao mesmo tempo que reestru-
tura temporariamente suas condições de produção. À semelhança

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126   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

do ocorrido no Fórum Internacional de Agroecologia em Nyéléni,


este momento, em que os movimentos rejeitam a apropriação, é de
longe o melhor para que as forças políticas se reposicionem, para a
concepção de novos pressupostos sobre a luta, para a atualização de
métodos de resistência, para que organizações dispersas sejam uni-
ficadas e para que o significado das alternativas seja redefinido. Em
última análise, o esforço do capital para devorar tudo e trazer todos
os bastiões espaciais e seres humanos para seus circuitos de acumu-
lação é uma de suas maiores contradições, pois acaba fortalecendo a
vontade das pessoas de resistir. Na verdade, o capital tem um efeito
contrário às suas intenções: as mobilizações são revitalizadas e as pes-
soas reapropriam seus recursos naturais, revalorizam suas culturas e
intensificam os esforços para construir processos sociais eficazes vol-
tados para a territorialização da agroecologia (Giraldo; Rosset, 2016,
2017). A institucionalidade está promovendo uma agroecologia esté-
ril, tecnocêntrica e supostamente apolítica; portanto, agora é a hora de
os movimentos sociais defenderem sua agroecologia verdadeiramente
política (Calle Collado; Gallar; Candón, 2013). A agroecologia tem
sujeito, um sujeito camponês, indígena e quilombola, um sujeito
eminentemente político, em constante luta por um mundo melhor.
A agricultura capitalista não tem sujeito humano, tem apenas um
objetivo, o lucro, o lucro para uns poucos. De que lado estamos?

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Posfácio
Disputas territoriais essenciais

Bernardo Mançano Fernandes1

Cara leitora, caro leitor, você chegou até este posfácio porque leu
este livro ou porque é daquelas pessoas que gostam de passear por
todo o livro antes de começar a ler. Sendo o seu caso a primeira ou a
segunda situação, tenho uma pergunta. O que conhecemos de novo
ao ler este livro?
Portanto, se você já leu ou não leu, sugiro uma reflexão sobre a
agroecologia por meio do método do debate paradigmático, o que
Altieri e Rosset chamam de “correntes de pensamentos”, embora em
alguns momentos eles também usam o conceito de “paradigma”. E,
a partir desse método, vou dialogar com o conceito de agroecologia,
entendendo-o como um território imaterial que expressa sua mate-
rialidade no fazer-se da agricultura camponesa.
Explico por que faço essa relação entre agroecologia e território
no desenvolver deste posfácio. Aqui não vou usar a compreensão
de território absoluto, ou seja, o território como superfície de uma

1 Bernardo Mançano Fernandes é geógrafo, professor do Programa de Pós-gra-


duação em Geografia, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp, câmpus
de Presidente Prudente, e do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
Territorial na América Latina e Caribe, no Instituto de Políticas Públicas e
Relações Internacionais – Ippri/Unesp, câmpus de São Paulo. Coordenador da
Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial.

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128   PETER M. ROSSET • MIGUEL A. ALTIERI

área geográfica. Utilizo a categoria de “território relacional”, com-


preendido como multidimensional, multimodal e multiescalar, na
perspectiva da inseparabilidade materialidade/imaterialidade do
conteúdo e do contido.
Agroecologia é um conceito que reúne experiências de diversos
povos na produção de seus territórios alimentares em contraponto
ao sistema alimentar capitalista. As primeiras e os primeiros agricul-
tores aprenderam da natureza e de suas culturas como organizar seus
territórios para produzir alimentos. Experimentaram e conheceram
diversos jeitos de fazer.
Essas experiências produziram territorialidades humanas na
natureza, de modo que as culturas passaram a produzir espaços,
paisagens e identidades territoriais, marcadas pela biodiversidade
e ações coletivas. O espaço natural era reproduzido pela cultura na
produção da comida, condição essencial da vida, onde a base natural
era condição de reprodução.
Povos indígenas e camponeses foram responsáveis por essas múl-
tiplas experiências, durante milhares de anos, constituindo diversos
territórios alimentares, dos quais tiravam as condições para suas exis-
tências. Subordinados e resistindo aos diversos sistemas políticos que
os exploraram, sempre produziram alimentos para a humanidade.
As revoluções agrícolas no modo capitalista de produção sepa-
raram a cultura do alimento e este de sua natureza e o aproximaram
do negócio. Isso significou uma cisão estrutural que caminhou para a
artificialização dos alimentos. Com o uso intensivo de agrotóxicos e a
produção massiva de alimentos industrializados, os impérios alimen-
tares criaram desertos alimentares e poluíram a terra, a água e o corpo.
No século XX, a agricultura capitalista juntou os sistemas agrí-
cola, pecuário, industrial, mercantil, financeiro, tecnológico e ideo-
lógico e criou o agronegócio, consolidando a cisão estrutural entre a
cultura e natureza. Ainda subordinou o campesinato ao modelo capi-
talista de produzir commodities e controlar territórios.
A questão é que a agricultura capitalista não está para o cam-
pesinato como a agricultura camponesa não está para o capita-
lismo. O debate paradigmático nos ajuda a entender essa diferença.

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Paradigmas com diferentes visões de mundo construíram discur-


sos imperativos: um afirma que a agricultura camponesa não tem
futuro e que o agronegócio é o único modelo possível para alimentar
o mundo; outro afirma que a agricultura camponesa tem alimentado
o mundo e que a agroecologia e a soberania alimentar são a via susten-
tável contra o agronegócio que desterritorializa a natureza e aumenta
a desigualdade em escala mundial.
Há um conflito de conhecimentos científicos em questão. A agroe-
cologia, que continua construindo seus territórios alimentares a par-
tir da relação cultura-ecologia na produção de alimentos saudáveis; o
agronegócio, que continua produzindo commodities em grande escala
com uso intensivo de veneno, poluindo territórios e seus entornos, na
produção de alimentos ultraprocessados.
Aqui chegamos ao ponto fundamental da questão das diferen-
ças entre agroecologia e agronegócio: a comida. Enquanto a produ-
ção de alimentos saudáveis é a preocupação central da agroecologia,
ela é secundária para o agronegócio. O fato é que a agroecologia tem,
em sua história e estrutura, defendido sempre a inclusão, a biodiver-
sidade, a participação, a solidariedade, a comida para todas e todos.
Este livro evidenciou que a agroecologia e o agronegócio são
paradigmas diferentes que produzem territórios distintos. Não é da
natureza da agroecologia produzir monocultivos com veneno. Mas o
agronegócio tem produzido produtos orgânicos, dentro de critérios
definidos por ele mesmo, como uma forma de demonstrar uma preo-
cupação com a saúde dos territórios que explora à exaustão.
Recentemente, o agronegócio também manifestou interesse,
principalmente a partir da União Europeia, em ampliar a produ-
ção agroecológica. E aqui retomamos o ponto fundamental das dife-
renças: quais as mudanças necessárias na estrutura organizativa do
agronegócio para produzir uma agricultura ecológica? E neste ponto
defendemos a agroecologia como um território imaterial.
Este livro também evidenciou que a agroecologia é um território
material/imaterial construído há tempos por camponeses e indíge-
nas, que significa respeito à natureza, às pessoas, que garante o direito
à terra e à produção de alimentos por todas as pessoas da família e das

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comunidades, garantido o direito alimentar para todas as sociedades.


Evidentemente, o agronegócio não produzirá uma agricultura ecoló-
gica sob essas condições. Então, é necessário distinguir a agricultura
ecológica produzida sob o modo capitalista de produção da agroeco-
logia produzida sob o modo camponês de produção.
Rosset e Altieri nos fazem refletir sobre essa disputa territorial
de controle da agroecologia. A agroecologia não pode estar subordi-
nada ao agronegócio, porque isso significa a sua desterritorialização.
São modelos de desenvolvimento em disputa. O debate paradigmá-
tico evidencia que a hegemonia do modelo do agronegócio impede o
desenvolvimento do modelo da agroecologia. Essa disputa territorial
permanente coloca em questão o futuro da agricultura.
A agroecologia tem demonstrado, a partir de um conjunto de
inovações sustentáveis, ser mais eficiente que as inovações predado-
ras do agronegócio no que se refere ao desenvolvimento sustentável,
bem como na reprodução territorial das suas condições de existência,
através da superação das desigualdades no processo de campesiniza-
ção e recampesinização, tanto por meio da luta pela terra e da reforma
agrária quanto por meio da transição agroecológica, criando territo-
rialidades autônomas e superando territorialidades subalternas.
As questões apresentadas neste posfácio foram motivadas por
essa nova leitura que este livro traz, mudando o eixo do debate para-
digmático, apresentando a agroecologia e o campesinato como via de
desenvolvimento da agricultura, rompendo com as leituras do fim do
campesinato. A agroecologia está colocada como território imaterial
disputado. Este é o novo tema do paradigma da questão agrária e do
paradigma do capitalismo agrário.

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SOBRE O LIVRO
Formato: 13,7 x 21 cm
Mancha: 23 x 40 paicas
Tipologia: Horley Old Style 10,5/14
Papel: Offset 75 g/m2 (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m2 (capa)
1ª edição Editora Unesp: 2022

EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Capa
Estúdio Bogari
Imagem de capa
Diógenes Rabello
Coletivo de Comunicação do MST no Pontal do Paranapanema
Edição de texto
Giuliana Gramani (copidesque)
Carmen T. S. Costa (revisão)
Editoração eletrônica
Sergio Gzeschnik
Assistência editorial
Alberto Bononi
Gabriel Joppert

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Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho
Cátedra UNESCO de Educação do Campo
e Desenvolvimento Territorial

Vozes do Campo é uma coleção do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial


na América Latina e Caribe do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI) da
Unesp em parceria com a Cátedra Unesco de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial.
Publica livros sobre temas correlatos ao Programa e à Cátedra sobre todas as regiões do mundo.
Visite: http://catedra.editoraunesp.com.br/.
Conselho editorial
Coordenador: Bernardo Mançano Fernandes (Unesp). Membros: Raul Borges Guimarães
(Unesp); Eduardo Paulon Girardi (Unesp); Antonio Thomaz Junior (Unesp); Bernadete Apare­
cida Caprioglio Castro (Unesp); Clifford Andrew Welch (Unifesp); Eduardo Paulon Girardi
(Unesp); João Márcio Mendes Pereira (UFRRJ); João Osvaldo Rodrigues Nunes (Unesp); Luiz
Fernando Ayerbe (Unesp); Maria Nalva Rodrigues Araújo (Uneb); Mirian Cláudia Lourenção
Simonetti (Unesp); Noêmia Ramos Vieira (Unesp); Pedro Ivan Christoffoli (UFFS); Ronaldo
Celso Messias Correia (Unesp); Silvia Beatriz Adoue (Unesp); Silvia Aparecida de Souza Fer-
nandes (Unesp); Janaina Francisca de Souza Campos Vinha (UFTM); Paulo Roberto Raposo
Alentejano (Uerj); Nashieli Ceclilia Rangel Loera (Unicamp); Carlos Alberto Feliciano (UFPE);
Rafael Litvin Villas Boas (UnB).
LIVROS PUBLICADOS

1. Os novos camponeses: leituras a partir do Mé- 3. Os usos da terra no Brasil: debates sobre
xico profundo – Armando Bartra Vergés – 2011 políticas fundiárias – Bernardo Mançano Fer-
2. A Via Campesina: a globalização e o poder nandes, Clifford Andrew Welch e Elienai Cons-
do campesinato – Annette Aurélie Desma- tantino Gonçalves – 2013
rais – 2012

Série Estudos Camponeses e Mudança Agrária

A Série Estudos Camponeses e Mudança Agrária da Initiatives in Critical Agrarian Studies


(Icas), Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe
– IPPRI-Unesp e Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural – UFRGS, publica
em diversas línguas “pequenos livros de ponta sobre grandes questões”. Cada livro aborda
um problema específico de desenvolvimento, combinando discussão teórica e voltada para
políticas com exemplos empíricos de vários ambientes locais, nacionais e internacionais.
Conselho editorial
Saturnino M. Borras Jr. – International Institute of Social Studies (ISS) – Haia, Holanda –
College of Humanities and Development Studies (COHD) – China Agricultural University –
Pequim, China; Max Spoor – International Institute of Social Studies (ISS) – Haia, Holanda;
Henry Veltmeyer – Saint Mary’s University – Nova Escócia, Canadá – Autonomous University
of Zacatecas – Zacatecas, México.
Conselho editorial internacional: Bernardo Mançano Fernandes – Universidade Estadual
Paulista (Unesp) – Brasil; Raúl Delgado Wise – Autonomous University of Zacatecas – México;
Ye Jingzhong – College of Humanities and Development Studies (COHD) – China Agricultural
University – China; Laksmi Savitri – Sajogyo Institute (SAINS) – Indonésia.

LIVROS PUBLICADOS

1. Dinâmica de classe e da mudança agrária – 3. Camponeses e a arte da agricultura: um ma-


Henry Bernstein – 2011 nifesto Chayanoviano – Jan Douwe van der
2. Regimes alimentares e questões agrárias – Ploeg – 2016
Philip McMichael – 2016

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Série Estudos Rurais
A Série Estudos Rurais publica livros sobre temas rurais, ambientais e agroalimentares
que contribuam de forma significativa para o resgate e/ou o avanço do conhecimento
sobre o desenvolvimento rural nas Ciências Sociais em âmbito nacional e internacional.
A série resulta de uma parceria da Editora da UFRGS com o Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As normas de
publicações estão disponíveis em www.ufrgs.br/ppgdr/livros.
Comissão Editorial: Editor-chefe: Sergio Schneider (UFRGS), Editor associado: Marcelo
Antonio Conterato (UFRGS). Membro externo: Jan Douwe Van der Ploeg (WUR/Holanda).
Conselho científico: Lovois Andrade Miguel (UFRGS); Paulo Andre Niederle (UFRGS);
Marcelino Souza (UFRGS); Lauro Francisco Mattei (UFSC); Miguel Angelo Perondi (UTFPR);
Cláudia J. Schmitt (UFRRJ); Walter Belik (Unicamp); Maria Odete Alves (BNB); Armando Lirio
de Souza (UFPA); Moisés Balestro (UnB); Alberto Riella (Uruguai); Clara Craviotti (Argentina);
Luciano Martinez (Ecuador); Hubert Carton Grammont (México); Harriet Friedmann (Canadá);
Gianluca Brunori (Itália); Eric Sabourin (França); Terry Marsden (Reino Unido); Cecília
Diaz-Méndez (Espanha); Ye Jinhzong (China).

1. A questão agrária da década de 90 (4.ed.) 16. Estado, macroeconomia e agricultura no Brasil


João Pedro Stédile (org.) Gervásio Castro de Rezende
2. Política, protesto e cidadania no campo: as lu- 17. O futuro das regiões rurais (2.ed.) Ricardo
tas sociais dos colonos e dos trabalhadores ru- Abramovay
rais no Rio Grande do Sul Zander Navarro (org.)
18. Políticas públicas e participação social no
3. Reconstruindo a agricultura: ideias e ideais Brasil rural (2.ed.) Sergio Schneider, Marcelo K.
na perspectiva do desenvolvimento rural Silva e Paulo E. Moruzzi Marques (org.)
sustentável (3.ed.) Jalcione Almeida e Zander
Navarro (org.) 19. Agricultura latino-americana: novos arran-
jos, velhas questões Anita Brumer e Diego
4. A formação dos assentamentos rurais no Piñero (org.)
Brasil: processos sociais e políticas públicas
(2.ed.) Leonilde Sérvolo Medeiros e Sérgio 20. O sujeito oculto: ordem e transgressão na re-
Leite (org.) forma agrária José de Souza Martins
5. Agricultura familiar e industrialização: pluria- 21. A diversidade da agricultura familiar (2.ed.)
tividade e descentralização industrial no Rio Sergio Schneider (org.)
Grande do Sul (2.ed.) Sergio Schneider 22. Agricultura familiar: interação entre políticas
6. Tecnologia e agricultura familiar (2.ed.) José públicas e dinâmicas locais Jean Philippe Ton-
Graziano da SIlva neau e Eric Sabourin (org.)
7. A construção social de uma nova agricultura: 23. Camponeses e impérios alimentares Jan Dou-
tecnologia agrícola e movimentos sociais no we Van der Ploeg
sul do Brasil (2.ed.) Jalcione Almeida
24. Desenvolvimento rural (conceitos e aplicação
8. A face rural do desenvolvimento: natureza, ao caso brasileiro) Angela A. Kageyama
território e agricultura José Eli da Veiga
25. Desenvolvimento social e mediadores políti-
9. Agroecologia (4.ed.) Stephen Gliessman cos Delma Pessanha Neves (org.)
10. Questão agrária, industrialização e crise ur- 26. Mercados redes e valores: o novo mundo da
bana no Brasil (2.ed.) Ignácio Rangel (org. por
agricultura familiar John Wilkilson
José Graziano da Silva)
27. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agri-
11. Políticas públicas e agricultura no Brasil (2.ed.)
cultura sustentável (5.ed.) Miguel Altieri
Sérgio Leite (org.)
28. O mundo rural como um espaço de vida: re-
12. A invenção ecológica: narrativas e trajetórias
da educação ambiental no Brasil (3.ed.) Isabel flexões sobre propriedade da terra, agricul-
Cristina de Moura Carvalho tura familiar e ruralidade Maria de Nazareth
Baudel Wanderley
13. O empoderamento da mulher: direitos à terra
e direitos de propriedade na América Latina 29. Os atores do desenvolvimento rural: perspec-
Carmen Diana Deere e Magdalena Léon tivas teóricas e práticas sociais Sergio Schnei-
der e Márcio Gazolla (org.)
14. A pluriatividade na agricultura familiar (2.ed.)
Sérgio Schneider 30. Turismo rural: iniciativas e inovações Marcelino
de Souza e Ivo Elesbão (org.)
15. Travessias: a vivência da reforma agrária
nos assentamentos (2.ed.) José de Souza 31. Sociedades e organizações camponesas: uma
Martins (org.) leitura através da reciprocidade Eric Sabourin

Agroecologia_(MIOLO)__Graf-v4.indd 155 27/10/2022 14:51:22


32. Dimensões socioculturais da alimentação: 48. Construção de mercados e agricultura fami-
diálogos latino-americanos Renata Menasche, liar: desafios para o desenvolvimento rural
Marcelo Alvarez e Janine Collaço (org.) Flávia Charão Marques, Marcelo Antônio Con-
33. Paisagem: leituras, significados e transforma- terato e Sergio Schneider (org.)
ções Roberto Verdum, Lucimar de Fátima dos 49. Pecuária familiar no Rio Grande do Sul: histó-
Santos Vieira, Bruno Fleck Pinto e Luís Alberto
ria, diversidade social e dinâmica de desen-
Pires da Silva (org.)
volvimento Paulo Dabdab Waquil, Alessandra
34. Do capital financeiro na agricultura à econo- Matte, Márcio Zamboni Neske e Marcos Flávio
mia do agronegócio: mudanças cíclicas em
Silva Borba (org.)
meio século (1965-2012) Guilherme Costa
Delgado 50. Conflitos ambientais e controvérsias em ciên-
cia e tecnologia Jalcione Almeida (org.)
35. Sete estudos sobre a agricultura familiar do
vale do Jequitinhonha Eduardo Magalhães 51. Processos sociais rurais: múltiplos olhares so-
Ribeiro (org.) bre desenvolvimento Roberto Verdum, Fábio
36. Indicações geográficas: qualidade e origem de Lima Beck, Marta Júlia Marques Lopes e
nos mercados alimentares Paulo Andre Nei- Tatiana Engel Gerhardt (org.)
derle (org.) 52. Agriculturas empresariais e espaços rurais na
37. Sementes e brotos da transição: inovação, globalização: abordagens a partir da Améri-
poder e desenvolvimento em áreas rurais do ca do Sul Eve Anne Bühler, Martine Guibert e
Brasil Sergio Schneider, Marilda Menezes, Al- Valter Lúcio de Oliveira (org.)
denor Gomes da Silva e Islândia Bezerra (org.)
53. O turismo rural comunitário como estratégia
38. Pesquisa em Desenvolvimento Rural: aportes
de desenvolvimento Karina Toledo Solha, Ivo
teóricos e proposições metodológicas (Volu-
Elesbão e Marcelino de Souza (org.)
me 1) Marcelo Antonio Conterato, Guilherme
Waterloo Rodomsky e Sergio Schneider (org.) 54. Cadeias curtas e redes agroalimentares alter-
39. Turismo Rural em tempos de novas ruralida- nativas: negócios e mercados da agricultura
des Artur Cristóvão, Xerardo Pereiro, Marcelino familiar Marcio Gazolla e Sergio Schneider (org.)
de Souza e Ivo Elesbão (org.) 55. Sustentar o ativismo: um movimento de mu-
40. Desenvolvimento Rural e Gênero: abordagens lheres brasileiras e a colaboração entre pai e
analíticas, estratégia e políticas públicas Jef- filha Jeffrey W. Rubin e Emma Sokoloff-Rubin
ferson Andronio Staduto, Marcelino de Souza
56. A Teoria das Cooperativas Camponesas Ale-
e Carlos Alves do Nascimento (org.)
xander Chayanov
41. Políticas públicas e desenvolvimento rural
no Brasil Catia Grisa e Sergio Schneider (org.) 57. Saúde coletiva, desenvolvimento e (in)susten-
tabilidades no rural Marilise Mesquita, Deise
42. O Rural e a Saúde: compartilhando teoria e
Lisboa Riquinho, Tatiana Engel Gerhardt e Eli-
método Tatiana Engel Gerhardt e Marta Júlia
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Sergio Schneider (org.)
Schneider (org.)
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60. A contribuição brasileira à segurança alimen-
mas de certificação e regimes de propriedade
tar e nutricional sustentável Potira V. Preiss,
intelectual no sistema agro-alimentar Guilher-
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45. Camponeses e a arte da agricultura: um mani-
festo Chayanoviano Jan Douwe Van der Ploeg 61. Mercados alimentares digitais: inclusão
produtiva, cooperativismo e políticas públi-
46. Regimes alimentares e questões agrárias
Philip McMichael cas Paulo Niederle, Sergio Schneider e Abel
Cassol (org.)
47. Produção, consumo e abastecimento de ali-
mentos: desafios e novas estratégias Fabia- 62. Sistemas alimentares e territórios no Brasil
na Thomé da Cruz, Alessandra Matte e Sergio Catia Grisa, Eric Sabourin, Ludivine Eloy e Re-
Schneider (org.) nato S. Maluf (org.)

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