Você está na página 1de 52

Gestão

Educacional
A Gestão Escolar Democrática
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
TATIANA DE MEDEIROS SANTOS
AUTORIA
Tatiana de Medeiros Santos
Olá! Sou formada em Pedagogia e especialista em Educação Infantil
e também em Gestão Educacional, com experiência técnico-profissional
na área de educação. Sou mestre em Educação Popular e doutora em
Educação, professora do Ensino Fundamental e Ensino Superior há mais
de 10 anos. Passei por instituições como a Universidade Federal da Paraíba,
como professora substituta do curso de Pedagogia. Sou professora
da rede municipal de ensino de João Pessoa, da UNAVIDA – UVA, da
UNINASSAU e tutora do curso a distância de Pedagogia da UFPB. Sou
apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada
pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Gestão Escolar Democrática e o Projeto Político-Pedagógico.10

A Gestão Democrática e a Mudança de Comportamentos........ 21

Princípios e Mecanismos Básicos de Implementação da Gestão


Escolar Democrática................................................................................... 31

A Gestão Democrática na Escola Pública..........................................40


Gestão Educacional 7

03
UNIDADE
8 Gestão Educacional

INTRODUÇÃO
Você sabia que a gestão educacional é um campo muito importante na
educação? É uma área responsável pela geração de vários empregos, pois gerir
uma instituição educacional é a chave para o sucesso dos que ali transitam. Além
disso, é um dos empregos que não acabam, já que a educação está em todo
lugar. Isso mesmo! A área de gestão educacional faz parte da cadeia de ações
que devem acontecer em prol do processo de ensino-aprendizagem de uma
instituição educativa, em nosso caso, a escola. Sua principal responsabilidade
é gerenciar questões financeiras, administrativas, pedagógicas e relações
interpessoais. Tudo isso envolve normas, leis, princípios e gerenciamento de
recursos humanos, uma vez que nosso principal capital dentro de uma escola
é o ser humano.

Por isso, vamos conhecer um pouco sobre a LDBEN (Lei nº 9.394/1996),


o Plano Municipal de Educação e como deve acontecer uma gestão na escola
de forma democrática. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai
mergulhar neste universo!
Gestão Educacional 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3, nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Interpretar os fundamentos teóricos e legais da Gestão


Democrática.

2. Explicar os fundamentos e as ferramentas da gestão em


ambientes escolares e não escolares que atendam aos desafios
da contemporaneidade.

3. Identificar os princípios e diferentes características da gestão


democrática.

4. Interpretar como a gestão pode acontecer em espaços escolares


e não escolares, com o foco na atuação pedagógica.

Caro aluno, acredito que agora estamos prontos compreender o


que é gestão democrática, os desafios da participação efetiva e o Projeto
Político-Pedagógico. Vamos começar?

Boa leitura!
10 Gestão Educacional

Gestão Escolar Democrática e o Projeto


Político-Pedagógico

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar


os desafios da escola quanto à gestão democrática e a
importância da construção do Projeto Político-Pedagógico
na busca de melhorias para a escola. Isso será fundamental
para o exercício de sua profissão. E, então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante!

Figura 1 – Gestão democrática

Fonte: Pixabay

Trabalhar com gestão democrática não é tarefa fácil, haja vista de


no histórico de nosso país existir um modelo de gestão vertical. Todavia,
não é tarefa impossível. Por isso, podemos dizer que ser gestor exige
desse profissional da escola um perfil de gestão que pregue os valores
Gestão Educacional 11

da democracia. Ter o perfil de liderança, de agregar pessoas, trazer para


perto, trazer a participação, a colaboração, é fazer as pessoas produzirem
mais e de forma que fique leve para todos, não sobrecarregando “A” ou
“B”. Tudo isso requer que seja desenvolvido um espírito de equipe, um
clima saudável na escola, em que todos sejam convidados a participar do
projeto educativo da escola.

REFLITA:

Você pode estar aí do outro lado se perguntando:


como fazer isso? Como ter essa varinha mágica que
dá os comandos e tudo acontece? Para quem vê tudo
funcionando direitinho do lado de fora, parece ser muito
simples. Porém, não é tarefa nada fácil. Vamos entender
como a gestão democrática acontece e a ideia aqui não
será a de receitar um caminho único sem possibilidades de
erro nem apontar como deve acontecer. Você, aluno, será
quem vai trilhar esse caminho quanto a cada realidade que
pode encontrar no caminho. É preciso buscar realizar ou
iniciar a conscientização de que é preciso que haja todo um
esforço e comprometimento coletivo dos que fazem parte
da escola, a fim de se alcançar os objetivos pedagógicos
propostos.

Para que haja a conscientização de uma gestão democrática, é


preciso que o gestor una toda sua equipe e explique a importância do
trabalho coletivo em prol de um projeto educativo que forme pessoas
para exercer a cidadania e saber cobrar seus direitos. O gestor deve fazer
isso por meio do diálogo franco, aberto sobre as necessidades e o que a
escola precisa para que a realidade mude, sempre em busca da qualidade
do trabalho educativo. Ainda, é preciso ter cuidado, pois dialogar, ser
democrático e líder não quer dizer que o gestor vai encontrar soluções
para todas as coisas de forma consensual, também irão acontecer
conflitos dos mais diferentes.

Será que o conflito na escola é algo bom ou ruim? Será que todos
devem estar prontos para concordar com tudo que será posto nas reuniões?
12 Gestão Educacional

EXPLICANDO MELHOR:

Seria muito prática uma escola que só recebesse comandos


e executasse-os, não discutindo o que é bom ou não para
a sua realidade local. A escola que não dá trabalho seria
maravilhosa. No entanto, não é bem assim que a gestão
democrática deve acontecer. Se assim o fosse, então para
que mudar a concepção de diretor para gestor? Não faria
sentido, não é mesmo?

Os conflitos na escola devem ser vistos como algo saudável. Algo


que deve acontecer à base de diálogo, escuta e propostas de soluções
que estejam dentro da legislação escolar e que contemplem a realidade
local da escola.

Não pode haver, jamais, favoritismos, questões pessoais de grupo “A”


ou “B” na escola, mas, sim, deve-se remar juntos no caminho democrático
de da busca de soluções para problemáticas. Ao encontrar essa solução,
a equipe deve estar amadurecida para ouvir possíveis não ou sim.

NOTA:

É de inteira responsabilidade do gestor guiar o diálogo na


busca de diagnosticar realidades, planejar e avaliar, com
sua equipe, a busca de soluções para problemáticas que
acontecem cotidianamente na escola. Por isso, o gestor
é o líder desse diálogo democrático e deve conhecer a
legislação para dialogar e escutar problemas e soluções
com sua equipe de trabalho, mas não pode dizer sim para
todas as soluções nem as negar completamente.
Gestão Educacional 13

IMPORTANTE:

O gestor deve ser uma pessoa conhecedora da legislação


da educação, para que não autorize propostas que possam
prejudicar a escola, dar margem a denúncias e/ou até
mesmo processos judiciais. Por isso, ele será a pessoa que
deve dialogar sempre (mas isso não implica concordar
com tudo) e ter sabedoria para conduzir esse diálogo
rumo a boas propostas para o crescimento da qualidade
da escola. Para que tudo isso aconteça, é preciso ter uma
equipe amadurecida para o diálogo e suas implicações, e
caso haja um “sim” ou “não”, estes devem ser explicados na
tentativa de evitar discursos de predileção e favoritismos.

É necessário destacar essas recomendações sobre diálogo,


escuta, diagnósticos, planejamentos, avaliação e reavaliação, quando for
preciso, porque não é tarefa fácil ser democrático. Todavia, é um princípio
rumo à qualidade dos afazeres da escola, que devem primar pelo bom
desempenho e pela preocupação de a escola deve ter um processo de
Ensino e de aprendizagem de qualidade.

Para que tudo isso aconteça, é preciso comprometimento e


responsabilidade de toda a equipe escolar com o papel que cada um
desempenha, já que não existe funcionário maior ou menor, precisamos
da participação de todos para que escola aconteça de fato. Por isso,
Gadotti e Romão (1997) destacam a participação que influencia o processo
de democratização e melhoria da qualidade de ensino.
14 Gestão Educacional

Figura 2 – Qualidade do ensino

Fonte: Pixabay

O diálogo é um ponto-chave para auxiliar cada segmento da


comunidade escolar a compreender como deve ser o funcionamento e
acompanhamento da educação que ali acontece. Também é importante
para a convivência em sociedade o diálogo sobre inclusão, justiça,
participação, diversidade, entre outros. É preciso conscientizar sobre a
participação de todos nos processos decisórios da escola. Esse debate
pode contemplar a comunidade interna e externa, convidando todos
a participar e entender as funções da escola e o que implicam direta e
indiretamente para o projeto educativo.

Sobre a participação, Libâneo (2004, p. 144) menciona que esta


é uma construção coletiva que deve resultar na autonomia da escola.
Destaca que a presença da comunidade interna e externa à escola
tem implicações positivas, pois os seus respectivos representantes irão
contribuir com os afazeres do “Conselho da Escola da Associação de Pais
e Mestres para preparar o projeto pedagógico curricular e acompanhar e
avaliar a qualidade dos serviços prestados”.
Gestão Educacional 15

Tudo isso deve acontecer, pois:


Considera-se que a gestão democrática veio substituir a
gestão autoritária, com espaço sem coletividade, onde
apenas um gestor decretava os objetivos, decidia tudo,
ninguém tinha o direito de falar, de participar das decisões
tomadas ou de pelos menos pensar sobre elas, que
controvérsia, afinal, a escola não é o lugar onde as pessoas
desenvolvem suas habilidades intelectuais, emocionais e
sociais? Como a organização desse lugar pode ser dessa
forma?

Partindo desse ponto, surge a necessidade de que cada


um coloque em pratica suas habilidades, opiniões acerca
de um determinado assunto, com possibilidades de
participar nas decisões, assim o gestor que era detentor de
todo poder, se vê em posição de partilhar suas decisões
em prol da melhoria da educação. Nascem assim novos
desafios, que o impulsiona a necessidade de repensar suas
práticas, adequando-se ao novo modelo de sociedade.
(SILVA, 2017, p. 16.997)

Libâneo (2004) destaca que muitos podem não ter a consciência do


seu papel em processos democrático da escola. Por isso, é preciso que
a escola se organize de forma a instrumentalizar os seus participantes a
entender a força transformadora que têm, a fim de que o diálogo aconteça
de forma madura, em que todos convivam como sujeitos, com seus
direitos e deveres respeitados a partir de discussões e decisões coletivas.

Dessa forma, Medeiros (2003, p. 61) explica que o trabalho com a


gestão democrática da educação não pode ser dissociado de mecanismos
legais da educação:
Está associada ao estabelecimento de mecanismos
legais e institucionais e à organização de ações que
desencadeiem a participação social: na formulação de
políticas educacionais; no planejamento; na tomada de
decisões; na definição do uso de recursos e necessidades
de investimento; na execução das deliberações coletivas;
nos momentos de avaliação da escola e da política
educacional. Também a democratização do acesso e
estratégias que garantam a permanência na escola, tendo
como horizonte a universalização do ensino para toda a
população, bem como o debate sobre a qualidade social
dessa educação universalizada, são questões que estão
relacionadas a esse debate. (MEDEIROS, 2003, p. 61)
16 Gestão Educacional

NOTA:

Tudo isso deve estar articulado com o trabalho do gestor,


por isso não cansamos de explicar a gestão é democrática.
Esse gestor deve ser conhecedor de como acontece a
legislação da educação brasileira e suas políticas públicas,
para atuar politicamente da forma correta, como manda a
gestão democrática.

Nem sempre os participantes de reuniões nas escolas entendem


a importância que tem o seu diálogo, o seu ponto de vista como pais,
professores, alunos, funcionários, entre outros. É nesse momento que
a escola deve entrar conscientizando os seus participantes, explicando
como acontece seu funcionamento e as ações das instâncias colegiadas
e seus respectivos processos decisórios, como: Associação de Pais,
Mestres e Funcionários, Grêmio Estudantil e Projeto Político-Pedagógico.
Adiante, vamos entender muito brevemente o que significa cada um deles.

•• Associação de Pais e Mestres


Figura 3 – Representantes de cada categoria escolar

Fonte: Pixabay

É uma instância de participação que acontece com a intenção de


unir pais e mestres no sentido de fortalecer o relacionamento de família
e escola. A partir dessa união, serão eleitos representantes na busca de
contribuir para a prática de gestão democrática.
Gestão Educacional 17

•• Grêmio estudantil
Figura 4 – Grêmio estudantil: representação dos alunos

Fonte: Pixabay

É um espaço no qual os alunos se reúnem para eleger seus


representantes. É também o lugar onde os alunos estão aprendendo
atuar de forma democrática. Trata-se de um acontecimento que terá
reflexo mais tarde na vida dos estudantes, no exercício da cidadania na
vida em sociedade, pois a participação deles na construção da gestão
democrática da escola proporciona a experiência de como ter práticas
sociais e democráticas.
18 Gestão Educacional

•• Projeto Político-Pedagógico
Figura 5 – Participação e colaboração

Fonte: Freepik

O Projeto Político-Pedagógico, mais conhecido como PPP, é um


documento construído na escola. Esse documento define a identidade da
escola e indica caminhos para ensinar com qualidade. Por isso, trata-se
de um planejamento que acontece mediante a participação conjunta de
todos que fazem parte da escola, por meio dos representantes de cada
categoria que representa a instituição. Esses representantes, reunidos,
dialogam sobre a finalidade de construir um documento que retrate a
escola como ela é na sua realidade local, trazendo o histórico de sua
existência, seus problemas e indicações para que aconteçam soluções.

SAIBA MAIS:

O Projeto Político-Pedagógico é um documento que


representa a identidade de cada escola brasileira. É um
documento que é construído para a escola.
Gestão Educacional 19

A essa altura, a pergunta que pode estar surgindo é: por que esse
documento deve ser uma construção com representantes de todas as
categorias que fazem parte da escola?

Esse documento deve ser construído por representantes de


cada categoria dos participantes da escola, como gestores, técnicos
administrativos e de apoio, docentes, discentes, pais e comunidade local,
porque, ao se unirem para construir o PPP, se encontrarão na perspectiva
de dar a sua contribuição na elaboração deste documento. Dessa forma,
trarão sua ótica sobre a realidade da escola e zelarão para que não se
torne um trabalho fragmentado e com norteamentos definidos por
alguém de fora da escola, que provavelmente por mais que esteja cheio
de boas intenções, conhece pouco sobre a realidade local.

Por isso, deve haver um esforço coletivo para que sejam realizadas
nesse espaço da escolar discussões sobre a atual realidade da escola. A
partir desse diálogo, deve-se planejar, registrar no documento a realidade
em que a escola se encontra, elencar necessidades e planejar tomadas
de decisões em prol da qualidade da educação proporcionada na escola.

Para que tudo isso aconteça, é necessário conscientizar toda a


equipe escolar de que dialogar não implica concordar com tudo que
está sendo discutido, é preciso também se posicionar sobre algumas
questões, defendendo seus respectivos pontos de vista. Também se
deve zelar para que esses representantes não se tornem objetos de
manipulação dos interesses de poucos que fazem parte da escola. Tudo
isso deve acontecer com o intuito de garantir, no decorrer do processo,
o direito à voz, defendendo a diversidade, a autonomia da escola e a
participação de todos. Só assim, após ter colaborado para a construção
desse documento, que vamos ter elementos para contribuir com a escola
no sentido de tentar cumprir metas, ações e objetivos nele propostos.

ACESSE:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos a leitura


do artigo “A importância da Gestão democrática dentro do
processo escolar”, de Josiele Leal dos Santos Flôres e Mara
Lucia T. Brum, disponível aqui.
20 Gestão Educacional

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a gestão democrática é de suma importância para
as escolas, pois permite que, por meio da participação
ativa, os membros que fazem parte do contexto escolar
busquem pelo diálogo emitir opiniões e aprender a
respeitar a dos outros. Assim, juntos buscarão o melhor
caminho para tentar solucionar a problemática oriunda
do cotidiano escolar. Por isso, devemos ter em mente que
a participação ativa é que faz com que nossos direitos e
deveres sejam respeitados. Dentro desse contexto, tem-se
o Projeto Político-Pedagógico (PPP), que é um documento
construído na escola, que define sua identidade e aponta
caminhos para que juntos possamos melhorar o processo
de ensino-aprendizagem. E, para que isso ocorra de forma
concreta e não fique só no papel, todos que fazem parte
e representam a escola devem se reunir e dialogar para
construção de um documento que retrate a escola como
ela é, na busca de soluções para os problemas elencados.
Gestão Educacional 21

A Gestão Democrática e a Mudança de


Comportamentos

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz compreender a


importância das mudanças de comportamentos na gestão
democrática escolar. Isso será fundamental para o exercício
de sua profissão. E, então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então, vamos lá. Avante!

Figura 6 – Gestão democrática: decisão de qual caminho seguir

Fonte: Pixabay

Na atualidade, para uma boa gestão, o desafio maior da escola se


dá na busca da união de seus profissionais, inclusive em maior esforço
por parte dos professores, para que sejam desenvolvidas competências
e habilidades específicas nos alunos. Essa visão deve contemplar os
alunos, analisando o contexto social deles, na busca de propor ações e
metodologias competentes, para o melhor desempenho do processo de
ensino-aprendizagem. Ainda é necessário que o professor compreenda
que, em pleno século XXI, seus alunos têm maneiras e desempenhos
distintos no decorrer do processo ensino-aprendizagem.
22 Gestão Educacional

Por isso, temos de ver gestor escolar como um aliado nos trabalhos
dos professores, como um líder, cujas ações devem envolver todos que
fazem parte da escola.

Para ser gestor, é necessário ter o perfil que essa profissão exige,
e isso envolve conhecimento, condições pessoais, vocação e formação
contínua, haja vista que ser gestor é uma tarefa complexa que exige ser
um agente de mudança na escola, propondo resolução de conflitos,
realização de tarefas e resolução de questões que acontecerão no dia
a dia da escola, que envolvem desde a estrutura física, administrativa,
financeira, pedagógica e até as relações interpessoais (LÜCK, 2001).

EXPLICANDO MELHOR:

Em se tratando do perfil do gestor escolar, esta não é mais a


do administrador escolar, pois, passou a ser a figura daquele
que vai ser o líder provocador de mudanças. Desse modo, é
preciso ser a pessoa que, junto da sua equipe, apresentará
propostas inovadoras, realizará parcerias e apresentará
estratégias de ação para serem desenvolvidas em equipe,
na busca pela eficiência. Para ser gestor, é preciso estar
atento às mudanças, pois estas estão acontecendo em
diversos campos em nossa sociedade, tanto na legislação,
a exemplo da Base Nacional Curricular Comum, como nas
ciências, na tecnologia da comunicação e da informação.
No mundo da competitividade, o gestor deve zelar para
que as atualidades da sociedade não fiquem de fora.

Um entendimento que não pode faltar dentro dos muros da escola


é do que se trata a democracia, pois é preciso conscientizar a todos de
que todo cidadão tem direitos, mas também deveres a cumprir. De acordo
com o Ghanem, a democracia é:
o meio político de salvaguardar a diversidade social e
cultural dos membros da sociedade nacional ou local,
simultaneamente à manutenção de uma língua nacional
e um sistema jurídico que se aplique a todos; é a única
possibilidade de limitar a crescente dissociação entre
racionalidade instrumental e identidades culturais; é
Gestão Educacional 23

uma luta pela libertação em relação a um poder, seja o


despotismo racionalista, seja a ditadura comunitária; é um
espaço de tensões e conflitos, ameaçado constantemente
por algum poder; é o espaço institucional livre, no qual
se desenvolve esse trabalho do sujeito sobre si mesmo,
trabalho pelo qual as pessoas encontram o papel de
criadoras e produtoras, não somente de consumidoras.
(GHANEM, 2004, p. 21-23)

SAIBA MAIS:

O gestor deve trilhar na busca de tornar a escola em que


atua um espaço democrático, pois esse é o princípio
norteador da gestão democrática.

É preciso democratizar o ensino, pois ele não é para acontecer para


poucos, mas, sim, atingir todas as camadas sociais da população em geral,
oferecendo mais oportunidades de os alunos ingressarem e se manterem
nas escolas, frequentando-as com a finalidade de dar continuidade aos
seus estudos. Por isso, a escola deve ser democrática e garantir que o
pleno exercício da cidadania aconteça em seu interior.

Lück (2001) esclarece que, para que tudo isso aconteça, é preciso
que o gestor conte com participação e colaboração de todos que
fazem parte da escola na construção e no cumprimento do plano de
desenvolvimento. Isso demanda uma ação gestora que envolve trabalho
em equipe, levando em conta características locais da realidade escolar
e temas relevantes para serem discutidos com os que fazem parte da
escola.

Outro ponto importante é que a gestão deve trabalhar,


incessantemente, pela descentralização do ensino e instituição da
autonomia e da gestão democrática. Mudanças de mentalidades dos que
fazem parte da escola devem ocorrer, pois é histórica a centralização das
práticas de algumas dessas instâncias, deixando para segundo plano o
que deveria ser o principal, que é o fazer pedagógico.
24 Gestão Educacional

Por isso, a gestão de uma escola precisa de um foco e ele deve existir
para que, diariamente, todos os segmentos trabalhem unidos traçando
caminhos, possibilidades, com compromisso e, principalmente, zelo pelas
responsabilidades que cada um assume. Trabalhar na perspectiva da gestão
democrática exige de um gestor o perfil de agregar pessoas, de saber
trazê-las para perto, com participação por meio do diálogo. Nesse sentido,
deve haver comprometimento dos que fazem parte da escola na busca de
alcançar os objetivos pedagógicos propostos, e o seu fruto será a qualidade
da educação, que deve ser constantemente cultivada para que se adote
uma nova cultura de organização, unindo teoria e prática (PARO, 2005).

Nessa linha de entendimento, a institucionalização de instâncias


colegiadas na escola pública, a exemplo do Conselho Escolar, tem
se tornado o momento em que se une teoria e prática na busca pela
democratização das escolas públicas.

Gadotti e Romão (1998, p. 16) atestam que a participação de todos é


algo que acaba por influenciar na democratização da gestão e também na
melhoria da qualidade de ensino. Para tanto, é preciso diálogo, para que
todos passem a compreender de forma mais efetiva o funcionamento da
escola. Nesse ínterim, vale discutir os valores que devem ser praticados
na escola, tais como a inclusão, a justiça, a participação, entre outros,
sem se esquecer de contemplar a diversidade, reconhecendo como é
importante ouvir diferentes pontos de vista na hora de tomar decisões,
deixando bem claro a participação, a decisão e a ideia do outro.

Libâneo (2004) esclarece que, para que essas necessidades e


possibilidades aconteçam de fato no interior das escolas, deve haver
participação. É justamente com a promoção da participação nos espaços
da escola que esta alcança, cada vez mais, a sua autonomia nos processos
decisórios, já que o princípio da autonomia requer proximidade com a
comunidade educativa e os pais. O autor defende que:
a presença da comunidade na escola, especialmente dos
pais, tem várias implicações. Prioritariamente os pais e
outros representantes participam do Conselho da Escola
da Associação de Pais e Mestres para preparar o projeto
pedagógico curricular e acompanhar e avaliar a qualidade
dos serviços prestados. (LIBÂNEO, 2004, p. 144)
Gestão Educacional 25

A escola precisa se organizar de forma a instrumentalizar os seus


participantes na percepção da força transformadora que terão, juntos,
unidos, colaborando com a escola. Por isso, o diálogo é o caminho para
a democracia acontecer em um clima saudável em que todos convivam
como sujeitos de direitos e deveres, que devem ser respeitados, na sua
diversidade, a partir de discussões e decisões coletivas.

REFLITA:

Você pode estar se perguntando: como tudo isso deve


acontecer?

Instrumentalizando os seus participantes para compreender


como a escola funciona. Deixando clara a necessidade
de instâncias colegiadas para atuar nos decisórios, como:
Conselho Escolar, Associação de Pais, Mestres e Funcionários,
Grêmio Estudantil, Projeto Político-Pedagógico.

Agora vamos entender um pouco mais sobre como funcionam o


Conselho Escolar e a Associação de Pais e Mestres. O Projeto Político-
Pedagógico será estudado adiante.

•• Conselho Escolar
Figura 7 – Conselho escolar: representantes de cada segmento

Fonte: Pixabay
26 Gestão Educacional

O Conselho Escolar é uma instância colegiada que busca


a participação de todos da escola, mas lida diretamente com os
representantes de cada segmento escolar. Por isso, faz a eleição destes
de forma democrática, zelando por seus direitos e deveres.

De acordo com o Programa Nacional de Fortalecimento dos


Conselhos Escolares, por meio da publicação do caderno Conselhos
Escolares: Democratização da escola e construção da cidadania (BRASIL,
2004, p. 34), os Conselhos Escolares “são órgãos colegiados compostos
por representantes das comunidades escolar e local, que têm como
atribuição deliberar sobre questões político-pedagógicas, administrativas,
financeiras, no âmbito da escola”.

Esse caderno, produzido pelo Ministério da Educação, explica


que cabe aos conselhos a tarefa de analisar as ações a empreender nas
escolas, os meios a serem usados e acompanhar o cumprimento destas.
As pessoas que compõem esse conselho devem estar cientes de que
estão ali não para representar seus interesses pessoais, mas, sim, os de
sua comunidade escolar e local, atuando com união para traçar percursos
e realizarem deliberações de sua responsabilidade.

Dessa forma, segundo esse caderno, as pessoas que fazem parte


do conselho da escola “representam, assim, um lugar de participação
e decisão, um espaço de discussão, negociação e encaminhamento
das demandas educacionais, possibilitando a participação social e
promovendo a gestão democrática” (BRASIL, 2004, p. 35).

Esse órgão se consolida na escola com a finalidade de ser uma


instância de “discussão, acompanhamento e deliberação”, de forma
democrática. Desse modo, as funções do Conselho Escolar são:

a. Deliberativas: quando decidem sobre o projeto político-


pedagógico e outros assuntos da escola, aprovam
encaminhamentos de problemas, garantem a elaboração de
normas internas e o cumprimento das normas dos sistemas de
ensino e decidem sobre a organização e o funcionamento geral
das escolas, propondo à direção as ações a serem desenvolvidas.
Elaboram normas internas da escola sobre questões referentes ao
Gestão Educacional 27

seu funcionamento nos aspectos pedagógico, administrativo ou


financeiro.

b. Consultivas: quando têm um caráter de assessoramento,


analisando as questões encaminhadas pelos diversos segmentos
da escola e apresentando sugestões ou soluções, que poderão ou
não ser acatadas pelas direções das unidades escolares.

c. Fiscais (acompanhamento e avaliação): quando acompanham a


execução das ações pedagógicas, administrativas e financeiras,
avaliando e garantindo o cumprimento das normas das escolas e
a qualidade social do cotidiano escolar.

d. Mobilizadoras: quando promovem a participação, de forma


integrada, dos segmentos representativos da escola e da
comunidade local em diversas atividades, contribuindo assim
para a efetivação da democracia participativa e para a melhoria da
qualidade social da educação. (BRASIL, 2004, p. 41)

Na escolha de representantes, é preciso ter cuidado para que não


sejam pessoas indicadas pela gestão, mas, sim, por cada segmento
escolar. Esse zelo deve acontecer para que cada categoria possa
defender, nas reuniões, seus respectivos pontos de vista, e não servir
de instrumento para legitimar a voz da direção, pois deve representar a
diversidade e a pluralidade do segmento a que pertence.

O Conselho Escolar deve ser composto pela “direção da escola


e a representação dos estudantes, dos pais ou responsáveis pelos
estudantes, dos professores, dos trabalhadores em educação não-
docentes e da comunidade local” (BRASIL, 2004, p. 44). As decisões
só podem ser tomadas após discussões realizadas coletivamente e
só podem acontecer quando todos estão reunidos. Nenhum de seus
membros têm autorização para tomar decisões de forma individual fora
das reuniões destinadas a esse fim. No entanto, é o gestor quem:
Atua como coordenador na execução das deliberações
do Conselho Escolar e também como o articulador das
ações de todos os segmentos, visando a efetivação do
projeto pedagógico na construção do trabalho educativo.
Ele poderá – ou não – ser o próprio presidente do
28 Gestão Educacional

Conselho Escolar, a critério de cada Conselho, conforme


estabelecido pelo Regimento Interno. (BRASIL, 2004, p. 44)

Na eleição para os membros do Conselho Escolar, deve haver


candidatos de representantes de cada segmento da escola. Há, ainda,
o cargo dos suplentes, que não estão impedidos de estar nas reuniões,
mas sua atuação será somente de direito à voz na presença do membro
efetivo. Apenas na falta do membro efetivo que o suplente participará do
voto. O gestor tem a sua participação garantida no Conselho Escolar.

A seguir estão elencadas algumas atribuições dos Conselhos


Escolares:

•• elaborar o Regimento Interno do Conselho Escolar;

•• coordenar o processo de discussão, elaboração ou alteração do


Regimento Escolar;

•• convocar assembleias-gerais da comunidade escolar ou de seus


segmentos;

•• garantir a participação das comunidades escolar e local na


definição do projeto político-pedagógico da unidade escolar;

•• promover relações pedagógicas que favoreçam o respeito ao


saber

•• do estudante e valorize a cultura da comunidade local;

•• propor e coordenar alterações curriculares na unidade escolar,


respeitada a legislação vigente, a partir da análise, entre outros
aspectos, do aproveitamento significativo do tempo e dos espaços
pedagógicos na escola;

•• propor e coordenar discussões junto aos segmentos e votar as


alterações metodológicas, didáticas e administrativas na escola,
respeitada a legislação vigente;

•• participar da elaboração do calendário escolar, no que competir à

•• unidade escolar, observada a legislação vigente;

•• acompanhar a evolução dos indicadores educacionais (abandono


Gestão Educacional 29

•• escolar, aprovação, aprendizagem, entre outros) propondo,


quando se fizerem necessárias, intervenções pedagógicas e/ou
medidas socioeducativas visando à melhoria da qualidade social
da educação escolar;

•• elaborar o plano de formação continuada dos conselheiros


escolares, visando ampliar a qualificação de sua atuação;

•• aprovar o plano administrativo anual, elaborado pela direção da

•• escola, sobre a programação e a aplicação de recursos financeiros,

•• promovendo alterações, se for o caso;

•• fiscalizar a gestão administrativa, pedagógica e financeira da


unidade escolar;

•• promover relações de cooperação e intercâmbio com outros


Conselhos Escolares. (BRASIL, 2004, p. 49)

Ainda com base na publicação (BRASIL, 2004), para os seus participantes


exercitar essas atribuições tem se tornado um aprendizado democrático, pois
só conseguem ser colocadas em prática se os cidadãos forem respeitados e
ouvidos na tomada de decisões a partir de práticas democráticas.

Antunes (2002, p. 23) explica que é por meio do Conselho de


Escola que os problemas que envolvem a gestão escolar são debatidos,
analisados e votados “em plenária, - ser aprovadas e remetidas para o
corpo diretivo da escola, instância executiva, que se encarrega de pôr em
prática, as decisões ou sugestões do Conselho de Escola”.

Por isso, Navarro et al. (2004) acrescentam que o Conselho Escolar


é um órgão colegiado, democrático, que delibera sobre diversas questões
que estão presentes no interior de cada escola e que tem decisões que
precisam ser tomadas para casos específicos que envolvam tanto o lado
pedagógico como o administrativo e financeiro. Por isso, são necessárias
reuniões com a participação dos que fazem parte da escola e suas
respectivas representações nos debates e nas propostas que visem à
tomada de decisões. Portanto, é preciso que o Conselho Escolar se forme
com pessoas que sejam ativas, comprometidas como o mesmo objetivo da
escola e que defendam ferrenhamente a melhoria na qualidade do ensino.
30 Gestão Educacional

ACESSE:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos a leitura


do artigo “Gestão da educação: inovação e mudança”, de
Rita Schultz, disponível aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que um dos maiores desafios atualmente na
gestão democrática é conscientizar as pessoas que fazem
parte do contexto educacional de que sua participação
é importante na busca de soluções das dificuldades
encontradas na escola e que sua presença faz com que
seu direito de cidadão seja respeitado. Um entendimento
que não pode faltar dentro dos muros da escola se refere
ao que é democracia, pois é preciso conscientizar que
todo cidadão tem direitos, mas também deve cumprir com
seus deveres. Nesse contexto, o Conselho Escolar é uma
instância colegiada que busca a participação de todos da
escola, mas lida diretamente com os representantes de
cada segmento escolar e, por isso, faz a eleição destes de
forma democrática, zelando por seus direitos e deveres.
Gestão Educacional 31

Princípios e Mecanismos Básicos de


Implementação da Gestão Escolar
Democrática

OBJETIVO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender
como ocorreram os princípios e mecanismos da gestão
escolar democrática. Isso será fundamental para o exercício
de sua profissão. E, então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então, vamos lá. Avante!

Figura 8 – Participação de todos

Fonte: Freepik.

Para abordar sobre gestão democrática, primeiro é preciso entender


que a pessoa que faz o papel de quem está direção escolar, mais conhecido
como gestor escolar, por muito tempo, centralizou suas práticas, com
base nas relações de poder, em processos administrativos e financeiros,
colocando em prática as imposições do sistema, sem questioná-lo.
32 Gestão Educacional

O maior ganho das escolas brasileiras ocorreu a partir da segunda


metade da década de 1990, com a promulgação da LDBEN (Lei nº
9.394/1996). A LDBEN garantia a gestão democrática, uma prática de
descentralização de poderes nas escolas, por meio da qual passamos a
ter como prioridade o diálogo, o estímulo ao trabalho coletivo e a ênfase
no incetivo à participação de todos no auxílio do trabalho da gestão da
escola.

Outro destaque desse novo modelo de gestão foi o interesse no


fazer pedagógico, nas relações interpessoais, no desempenho de quem
trabalha na escola e dos alunos, na avaliação e reavaliação constante
de tudo que é planejado na escola e a autoavaliação, sem deixar de
lado a avaliação dos alunos aprendentes. Por isso, o princípio de gestão
democrática foi confirmado e aprimorado pelo estabelecimento das
demais legislações após a LDBEN, tanto no Plano Nacional de Educação
(PNE) instituído pela Lei nº 10.172/2001, como no PNE instituído pela Lei
nº 13.005/2014.

REFLITA:

Todas essas alterações ocorreram quando estávamos


saindo do regime militar e precisávamos realizar mudanças
de postura e de comportamento. No entanto, até os
dias atuais podemos dizer que alguns profissionais que
trabalham com educação ainda não compreenderam
essas mudanças. Mas isso está mudando e o ideal é lutar
para que esses profissionais que possuem uma prática
autoritária compreendam que precisamos acompanhar o
que dita a legislação educacional brasileira. Podemos dizer
que, a partir dessa determinação da legislação brasileira
que autoriza as escolas públicas a atuar no modelo de
gestão democrática, os esforços foram concentrados na
busca por mudanças de mentalidade, atitudes e de postura
ética, para que o que preconizava a lei acontecesse de fato
(LÜCK, 2000).
Gestão Educacional 33

É preciso esclarecer aqui que descentralizar atividades é dividir


responsabilidades e isso não vai dar autoridade ao gestor nem tirá-la, e de
ninguém na escola, mas abre possibilidades de todos crescerem juntos
em busca de melhorias. Por isso, Lück destaca que, para ser um gestor, é
preciso que este tenha um perfil de quem lidera o seu grupo, com:
Abertura na aceitação das expressões das pessoas no
trabalho, observando os desafios, dificuldades e limitação
na tentativa de possibilitar a superação. Observar e
desenvolver o que de melhor existe nas pessoas ao seu
redor, partindo com uma visão proativa da sua atuação. Ter
uma visão clara diante da missão dos valores educacionais
permitindo a compreensão dos indivíduos na expressão
de suas atitudes. (LÜCK, 2009, p. 75)

A autora ainda explica que, para ser gestor, é preciso o perfil de


líder, devendo realizar a conscientização de seus membros, orientando
que a participação de todos é muito importante para que:
Sejam promovidas melhorias a todos, em principal aos
processos educativos. Permitir um diálogo aberto com
capacidade de ouvir e compreender as questões de
modo contínuo. Possibilitar oportunidades a todos a fim de
compartilhar responsabilidades. Ter atitudes e expressões
de liderança e não de chefia. Exercício contínuo do diálogo
aberto e da capacidade de ouvir. (LÜCK, 2009, p. 75)

EXPLICANDO MELHOR:
Provocar mudanças de mentalidade significa algo pensado
para acontecer. Na singularidade de uma pessoa, por mais
cuidado e carinho que possam ter sido empregados, foi
pensado apenas pela visão dessa pessoa. Quando jogamos
nossas propostas para serem discutidas em grupo, o que
foi pensado de início por uma pessoa, após as discussões,
pode ganhar uma dimensão muito maior, ou não. Pode
acontecer também dessa proposta ser diminuída, caso, após
a reunião, os participantes cheguem à conclusão de que não
há condições de fazer nem a metade do que foi planejado
por esta única pessoa. As reuniões servem para mensurar os
prós e contras da proposta apresentada, fazendo-a crescer
ou diminuir. Por isso, é primordial que as pessoas, quando
em reuniões, estejam abertas ao diálogo e às críticas, para
ouvir também os contras e saber propor sugestões que
atendam à diversidade presente nas escolas.
34 Gestão Educacional

Figura 9 – O líder e o diálogo com todos que fazem parte da escola

Fonte: Pixabay

Os participantes devem estar maduros para trabalhar em grupo,


com diálogo, e não podemos negar que sempre haverá conflitos para
crescimento. É pelo diálogo que se abrem portas para acontecer as
mesmas coisas, mas de outras formas. Essa soma de experiências entre
os colegas de trabalho, deve acontecer de forma dialogada, pois são
eles quem põem em prática a gestão democrática de forma produtiva,
resolvendo conflitos, realizando planejamentos e avaliações do que deve
acontecer nas escolas públicas. Sobre fazer as coisas acontecerem Paro
explica que:
no campo da liberdade, o papel da gestão escolar está
inextricavelmente ligado à questão da democracia, não
apenas porque, pela educação, faculta-se ao educando
o acesso à ciência, à arte, à tecnologia, enfim, ao saber
histórico que possibilita o domínio das leis da natureza
e seu uso em benefício humano, fazendo afastar assim
o âmbito da necessidade, mas também porque pode
propiciar a aquisição de valores e recursos democráticos
propiciadores da convivência pacífica entre os homens em
sociedade. (PARO, 2005, p. 51)
Gestão Educacional 35

As gestão democrática escolar deve ter como um de seus objetivos


de trabalho o processo educativo, considerando os seus sujeitos sociais.
Assim, suas ações devem envolver todos os segmentos escolares,
dialogando sempre nesse sentido. Além disso, devem contemplar uma
concepção de escola inclusiva, que traga todos os seus participantes
para dentro do projeto educativo defendido, zelanado para que este seja
colocado em prática e esteja em constante avaliação. Nesse sentido, a
gestão escolar dever estar focada em sua área de atuação, garantindo
que se estabeleça a “efetivação das finalidades, princípios, diretrizes e
objetivos educacionais orientadoras da promoção de ações educacionais
com qualidade social” (LÜCK, 2000, p. 23).

É essencial trabalhar sempre com a finalidade de obter uma escola


com qualidade, em que todos os alunos reconheçam que somos diferentes
e devemos respeitar as diferenças. Quando tratamos de práticas inclusivas
é no sentido de que essas devem ser participativas, promovendo o acesso
e a construção do conhecimento, criando “condições para que o educando
possa enfrentar criticamente os desafios de se tornar um cidadão atuante
e transformador da realidade sociocultural e econômica vigente, e de dar
continuidade permanente aos seus estudos” (LÜCK, 2000, p. 23).

Sobre a gestão democrática, Ferreira explica que:


gestão é administração, é tomada de decisão, é
organização, é direção. Relaciona-se com a atividade de
impulsionar uma organização a atingir seus objetivos,
cumprir sua função, desempenhar seu papel. Constitui-
se de princípios e práticas decorrentes que afirmam ou
desafirmam os princípios que a geram. Estes princípios,
entretanto não são intrínsecos à gestão como a concebia
a administração clássica, mas são princípios sociais, visto
que a gestão da educação se destina à promoção humana.
(FERREIRA, 2008, p. 306)

Nessa linha de entendimento, todos que fazem a escola acontecer


devem perceber o quanto é importante, nas práticas educativas da
escola, o trabalho coletivo, seguido de respeito, participação, diálogo,
entre outros, em prol de que seja colocado em prática o que foi planejado
no projeto educativo da escola.
36 Gestão Educacional

IMPORTANTE:

A gestão deve trabalhar junto com o corpo de especialista


que há na escola, como orientador educacional, supervisor
escolar, psicólogo escolar e assistente social. A participação
de todos da comunidade escolar, sejam eles pais, alunos,
professores, secretários, merendeiras etc. é essencial em
uma gestão democrática participativa, envolvendo-os em
processos de decisões coletivas na escola, a exemplo da
seleção de gestores, a criação do Conselho Escolar, entre
outros.

O gestor, que não age mais de forma hierárquica na distribuição


de atividades da escola, impondo o seu poder, tem sua parcela de
responsabilidade quanto ao sucesso ou insucesso da gestão democrática.
É primordial que ele não continue perpetuando as práticas do diretor
escolar, que por muito tempo tiveram base nas relações de poder. Agora
o foco deve ser, além do administrativo e financeiro, a organização do
trabalho escolar. Por isso a importância do diálogo com toda a comunidade
escolar, buscando processos que tornem a escola mais autônoma. Para
que isso aconteça, é preciso assegurar que as decisões na escola possam
acontecer de forma participativa e coletiva.

Para que haja uma gestão escolar democrática de fato, o gestor


deve garantir que na sua equipe escolar estejam claras as concepções
de organização democrático-participativa. Por isso, em sua postura de
atuação na escola, explicitam-se o(a):

a. Definição explicita, por parte da equipe escolar, de objetivos


sociopolíticos e pedagógicos da escola;

b. Articulação da atividade de direção com iniciativa e a participação


das pessoas da escola e das que se relacionam com ela;

c. Qualificação e competência profissional;

d. Busca de objetividade no trato das questões da organização e da


gestão, mediante coleta de informações reais;
Gestão Educacional 37

e. Acompanhamento e avaliação sistemáticos com finalidade


pedagógica: diagnostico, acompanhamento dos trabalhos,
reorientação de rumos e ações, tomada de decisões;

f. Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados;

g. Ênfase tanto nas tarefas quanto nas relações. (LIBÂNEO et al.,


2012, p. 449)

Estando explícitas nas práticas democrático-participativas, essas


posturas vêm para dentro da escola com a intenção de promover a
democracia, para que todos que dela fazem parte tenham a oportunidade
de participar de uma organização de forma coletiva, com a finalidade de
garantir a autonomia da escola e de sua equipe.
Figura 10 – A gestão precisa de todos que fazem parte da escola

Fonte: Pixabay

Desse modo, Lück defende que:


A gestão democrática pressupõe a mobilização e
organização das pessoas para atuar coletivamente na
promoção de objetivos educacionais, o trabalho dos
diretores escolares se assenta sobre sua competência
de liderança, que se expressa em sua capacidade de
influenciar a atuação de pessoas (professores, funcionários,
alunos, pais, outros) para a efetivação desses objetivos e o
seu envolvimento na realização das ações educacionais
necessárias para sua realização. (LÜCK, 2009, p. 75)
38 Gestão Educacional

Para que haja eficácia da gestão escolar, o gestor precisa de


sua equipe para dar conta da qualidade pedagógica, do currículo, da
capacitação de professores, entre outros. Em um modelo de gestão
democrática, o gestor precisa, e muito, do trabalho coletivo de todos que
fazem parte da escola pública (LÜCK, 2009).

Dentro desse trabalho democrático, o gestor deve conscientizar os


participantes sobre a responsabilidade de cada um, pois esse modelo de
gestão é proposto para a escola pública. Para que a gestão escolar aconteça
de forma democrática, mecanismos de autonomia da escola devem ser
desenvolvidos, como o financiamento das escolas; a participação da escolha
de seus dirigentes escolares; a garantia e meios para a criação de órgãos
colegiados; a construção democrática do Projeto Político-Pedagógico; e a
participação da comunidade interna e externa à escola.

A gestão democrática, sendo colocada em prática escola pública,


serve também para conscientizar o cidadão para a sua emancipação. De
acordo com o Ministério da Educação, na publicação Gestão democrática
nos sistemas e na escola, quatro pontos são necessários para a efetivação
desse modelo de gestão, são eles:

a. participação - é quando os projetos são construídos pela


mediação da coletividade, oferecendo a todos os participantes a
oportunidade de desenvolver de forma conjunta ações que visam
à melhoria da educação;

b. pluralismo - quando há o reconhecimento da presença das


diversidades e dos diferentes interesses daqueles que fazem
parte da escola;

c. autonomia - é a descentralização do poder, onde a escola pode


se adequar às reais necessidades da comunidade na qual se
encontra inserida, onde o seu Projeto Político Pedagógico – PPP
- é construído de forma coletiva, visando à emancipação e à
transformação social;

d. transparência - é o retrato da dimensão política da escola,


mostrando que esta é um espaço público que se encontra aberto
à diversidade e às opiniões daqueles que participam da estrutura
da escola. (BRASIL, 2007, on-line)
Gestão Educacional 39

Trabalhar com o modelo de gestão escolar democrática se


torna, dentro da escola, uma decisão política, porque suas ações
implicam entender a visão dos que fazem parte direta e indiretamente
dessa escola, como: pais, alunos, professores, funcionários e a própria
comunidade interna e externa à escola. É uma ação política, porque
envolve diretamente a tomada de decisões e, para isso acontecer, deve
haver participação, trabalho coletivo e união na hora de gerir e organizar a
escola, sem hierarquização de poderes.

ACESSE:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos a leitura


do artigo “A gestão democrática e a participação dos
educadores na elaboração do projeto político-pedagógico
de escolas públicas no Brasil”, de Pauleany Simões de
Morais et al., disponível aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que, com a implementação da gestão democrática nas
escolas a partir da década de 1990, por meio da LDBEN,
a gestão nas escolas passou a ser descentralizada. Assim,
começou-se a implementar a divisão das tomadas de
decisões na escola, que deixaram de ser somente do
gestor e passaram a ser responsabilidade de todos que
representam a escola. Por meio de reuniões, agora é
possível emitir opiniões e debater, com diálogo, possíveis
soluções em prol de melhorias para a escola. A gestão
democrática por meio da participação ativa, do pluralismo,
da autonomia e da transparência, começa a fazer com que
as pessoas se sintam parte da escola.
40 Gestão Educacional

A Gestão Democrática na Escola Pública

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de


compreender como ocorre, de fato, a gestão democrática
na escola pública. E, então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então, vamos lá. Avante!.

A gestão na escola pública deve atuar de forma democrática,


sempre trilhando na busca da qualidade de ensino, que “é, portanto,
qualidade cognitiva e operativa das aprendizagens escolares em
contextos concretos” (LIBÂNEO, 2007, p. 26).

Nesse sentido, nas práticas educativas são respondidas as cobranças


da sociedade, como o objetivo colaborar com o desenvolvimento dos
alunos. Essa mesma gestão tem o intuito de melhorar a qualidade do
ensino e aprendizagem. O segmento de cada comunidade escolar deve
trabalhar junto ao gestor, sabendo aonde querem chegar em relação aos
alunos, pois a educação se torna um ato político. Este deve ter como fruto
as tomadas de decisões. Por isso, afirma-se que a gestão da escola deve
funcionar de forma política, pois o ato político:
Exige um posicionar-se diante das alternativas. A gestão
escolar não é neutra, pois todas as ações desenvolvidas
na escola envolvem atores e tomadas de decisões. Nesse
sentido, ações simples, como a limpeza e a conservação
do prédio escolar, até ações mais complexas, como
as definições pedagógicas, o trato com situações de
violência, entre outras, indica uma determinada lógica
e horizonte de gestão, pois são ações que expressam
interesses, princípios e compromissos que permeiam as
escolhas e os rumos tomados pela escola. (OLIVEIRA et
al., 2009, p. 7)
Gestão Educacional 41

Dourado e Oliveira (2009) explicam que, para que haja efetivação


desse processo, é de suma importância que a escola organize o trabalho
escolar com:
Planejamento, monitoramento e avaliação dos programas
e projetos; organização do trabalho escolar compatível
com os objetivos educativos estabelecidos pela
instituição, tendo em vista a garantia da aprendizagem
dos alunos; mecanismos adequados de informação e
de comunicação entre todos os segmentos da escola;
gestão democrático participativa, incluindo condições
administrativas, financeiras e pedagógicas; mecanismos
de integração e de participação dos diferentes grupos e
pessoas nas atividades e espaços escolares. (DOURADO;
OLIVEIRA, 2009, p. 209)

O trabalho da gestão democrática tem a função de acompanhar


o processo de ensino-aprendizagem que ocorre na escola. Também
deve abrir espaços para que as pessoas possam participar ativamente
das decisões da escola, e o gestor deve estar capacitado para lidar com
diversas formas de pensar, colaborando para que sua equipe alcance a
qualidade do ensino.

Para Dourado e Oliveira (2009), o gestor escolar, por intermédio de


sua competência, deve garantir um:
Projeto pedagógico coletivo da escola que contemple os
fins sociais e pedagógicos da escola, a atuação e autonomia
escolar, as atividades pedagógicas e curriculares, os
tempos e espaços de formação; disponibilidade de
docentes na escola para todas as atividades curriculares;
definição de programas curriculares relevantes aos
diferentes níveis, ciclos e etapas do processo de
aprendizagem; métodos pedagógicos apropriados ao
desenvolvimento dos conteúdos; processos avaliativos
voltados para a identificação, monitoramento e solução dos
problemas de aprendizagem e para o desenvolvimento da
instituição escolar; tecnologias educacionais e recursos
pedagógicos apropriados ao processo de aprendizagem;
planejamento e gestão coletiva do trabalho pedagógico;
jornada escolar ampliada ou integrada, visando a garantia
de espaços e tempos apropriados às atividades educativas;
mecanismos de participação do aluno na escola; valoração
adequada dos usuários no tocante aos serviços prestados
pela escola. (DOURADO; OLIVEIRA, 2009, p. 209)
42 Gestão Educacional

A partir dessa realidade, o gestor deve garantir que os diversos


segmentos da escola participem de forma ativa, como os docentes,
alunos, funcionários, gestores, pais e comunidade extra e interescolar, na
construção do Projeto Político-Pedagógico.
Esse planejamento maior, que visa à construção do PPP, deve
fornecer condições, espaços e escolha de tempo, com o intuito de que
seus participantes tenham a formação e os conhecimentos necessários
para colocar em prática o que lhes for proposto para ação e execução de
forma efetiva.

A direção deve dividir responsabilidades, auxiliar o Conselho de


Classe a dividir as tomadas de decisões com todos no contexto escolar.
Por isso, compreende-se que a gestão que trabalha ainda de forma
tradicional, na qual o gestor é autoritário e não compartilha as tomadas de
decisões com a comunidade escolar, começa a enfrentar dificuldades e
assim não atinge os objetivos que a comunidade escolar almeja.

EXPLICANDO MELHOR:

O gestor é o líder de uma instituição escolar e deve


trabalhar com a equipe de funcionários da escola. Essa
equipe é constituída pelo pessoal da cozinha, da limpeza,
da merenda escolar, dos serviços da secretaria, pelo diretor
e vice-diretores, coordenação pedagógica e orientação.

O Conselho Escolar caracteriza-se, então, como órgão de


representação da comunidade escolar e, desse modo, zela para que
se mantenha a cultura de participação. É considerado um espaço que
constitui um aprendizado político, democrático e de formação político-
-pedagógica. Ele está apto a participar ativamente da construção do
Projeto Político-Pedagógico.

O Conselho Escolar deve buscar formas de incentivar a participação


de todos os segmentos envolvidos no processo educativo da escola e
isso implica se organizar para a construção de outros documentos da
escola (MARQUES, 2007, p. 22).
Gestão Educacional 43

O Regimento Escolar é um documento da escola que deve ser


elaborado e acompanhado pelas pessoas que compõe o Conselho
Escolar. Os respectivos membros do Conselho Escolar devem agir da
mesma forma na elaboração e acompanhamento da execução do Projeto
Político-Pedagógico, ou seja, deve acompanhar e fiscalizar tanto a gestão
pedagógica quanto a financeira.
Figura 11 – Discussão saudável

Fonte: Pixabay

O Conselho Escolar também tem a função de planejar e aprovar


o Plano Anual da escola. Seus membros devem acompanhar o
desenvolvimento dos indicadores educacionais, como o da aprendizagem
dos alunos, evasão, aprovação, reprovação, entre outros detalhes que
envolvem o lado pedagógico.

O Conselho Escolar pode levantar informações, junto aos


seus componentes, com a finalidade de disseminar informações e
conhecimentos que contribuam para melhorias na escola.
44 Gestão Educacional

IMPORTANTE:

Nesse percurso, é primordial que um gestor democrático


crie um ambiente agradável para seus componentes
falarem abertamente, e que não fique mais criando
barreiras para atuação do Conselho Escolar, mas facilitando
o diálogo, toda vez que for preciso, para a realização de
uma plenária.

Portanto, a democratização adequada ao Conselho Escolar permite


aos seus membros se reunir para discutir questões em relação a assuntos
como: conteúdo curricular, informações novas ou não, as experiências
dos colegas.

A gestão democrática deve entender que a participação e a


democracia ajudam a melhorar as ações que envolvem o processo
de ensino-aprendizagem nas escolas. Mas, os diversos segmentos
escolares também devem cuidar para percorrer um caminho em que essa
preparação ao exercício da democracia e cidadania não fique no papel.
Figura 12 – Participação

Fonte: Pixabay

Por isso, ainda há muito a se fazer para conscientizar todos os


membros da comunidade escolar: pais, professores, alunos, gestores,
funcionários, comunidade, entre outros, no sentido da importância de sua
participação no debate.
Gestão Educacional 45

Outra medida é a busca pela qualidade do ensino, que deve advir


da democratização do espaço da sala de aula, por meio de conteúdos
e métodos. O aluno deve fazer parte do processo de aprendizagem de
forma ativa, crítica e reflexiva.

A escola deve proporcionar um ambiente para a comunidade


trocar dados e conhecimentos na busca de solucionar as problemáticas
escolares, promovendo, assim, a integração. Ela também deve atender
aos interesses da maioria, agindo por votação. Na busca de garantir um
espaço democrático, com formação ampla discente e zelo para formar o
aluno de modo integral, os professores devem agir de forma consciente,
crítica e reflexiva, apoiando os alunos como sujeito sociocultural.
Figura 13 – Formar alunos solidários, críticos, éticos e participativo

Fonte: Pixabay
46 Gestão Educacional

A escola democrática pública tem a função social de formar o


aluno para a vida, para saber exercer a sua cidadania. Para isso, é preciso
proporcionar a construção de conhecimentos, valores que formem um
ser humano pronto para atuar em sociedade, permitindo-lhe ser solidário,
crítico, ético e participativo na sua vida em geral.

A escola, ao organizar os Conselhos Escolares, democraticamente


irá agir de forma organizada em busca da participação de todos da
comunidade escolar, respeitando os seus direitos e deveres. Para tanto,
nesse percurso, é preciso ter cuidado para que os representantes da
comunidade escolar possam expressar seus diferentes pontos de vista,
além de impedir que, implicitamente, esses representantes ajam de forma
a apenas servir de instrumento para legitimar a voz da direção.

Por isso, esse cuidado deve se iniciar na origem, no momento da


escolha de quem vai fazer parte dos conselhos, pois estes precisam
representar, de fato, a diversidade, a pluralidade de que faz parte da
comunidade escolar. Antunes esclarece que os conselhos sabem dos
problemas da gestão escolar e estes serão discutidos e as reclamações
educativas serão
Analisadas para, se for o caso, dependendo dos
encaminhamentos e da votação em plenária, - ser aprovadas
e remetidas para o corpo diretivo da escola, instância
executiva, que se encarrega de pôr em prática, as decisões
ou sugestões do Conselho de Escola. (ANTUNES, 2002, p. 23)
Figura 14 – Votação

Fonte: Pixabay
Gestão Educacional 47

Sobre a participação dos pais na escola, Libâneo (2004, p. 114)


destaca que “a escola não pode ser mais uma instituição isolada em
si mesma, separada da realidade circundante, mas integrada numa
comunidade que interage com a vida social ampla”. Por isso, deve
conquistar a representação dos pais no Conselho de Escola.

A atuação dos diversos segmentos da comunidade escolar deve


acontecer de forma que esse cidadão brasileiro se expresse por meio de
relação saudável, aberta para críticas, diálogos e defesa de ponto de vista,
dos argumentos de cada um.

Navarro et al. (2004) nos explicam que é por meio dos conselhos
que a escola se une para atuar de forma democrática, deliberando,
assim, sobre questões particularizadas que devem envolver também o
pedagógico, o administrativo e o financeiro. Por isso, devem acontecer
aqui participação, debates, propostas e tomada de decisões, que só deve
ocorrer após muitas reivindicações das necessidades educacionais.

O debate, portanto, deve ser fomentado por uma cultura que resgate
nas escolas a democracia, a participação, a cidadania, em substituição à
cultura patrimonialista. Desse modo, devemos entender que o Conselho
Escolar nas escolas públicas deve atuar como o sustentáculo de Projetos
Políticos-Pedagógicos.

Paro (2004, p. 12) destaca que esse percurso é o que vai tratar a
escola como democrática, superando, assim, as práticas burocráticas,
que passam a ser vistas como desafios a superar.

Fundamentado o Projeto Político-Pedagógico nessas considerações,


a escola só poderá desempenhar um papel transformador ao organizar-
se para atender aos seus interesses. Daí temos a aprendizagem coletiva,
condição mister para agir democraticamente, visando a construir,
efetivamente, uma educação de qualidade social.
48 Gestão Educacional

ACESSE:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos a leitura


do artigo “Gestão democrática da escola pública: desafios
e perspectiva”, de Débora Quetti Marques de Souza,
disponível aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que, na gestão democrática, o gestor deve ser um líder que
compartilha as tomadas de decisões com as pessoas que
fazem parte do contexto escolar. Essa gestão visa a atuar
de maneira democrática, com a participação ativa dos
membros, do diálogo, da escuta e da opinião de todos, na
busca de melhorias na qualidade de ensino. A sociedade
deve cobrar essas melhorias com o intuito de colaborar
com o desenvolvimento dos alunos. A gestão da escola
deve funcionar de forma política e o trabalho da gestão
democrática tem a função de acompanhar o processo de
ensino-aprendizagem. O gestor deve ter em mente que
trabalhar com a gestão democrática só tende a fortalecer
a escola, e não que irá tirar sua autoridade nas tomadas
de decisões. Pelo contrário, a gestão democrática é um
espaço para que todos os envolvidos no processo escolar
possam participar ativamente na divisão das tomadas de
decisões, e o gestor devidamente capacitado, conhecedor
das leis, deve dialogar, escutar, abrir espaços para opiniões
e junto com a comunidade escolar lutar por melhorias na
qualidade de ensino.
Gestão Educacional 49

REFERÊNCIAS
ANTUNES, A. Aceita um Conselho? Como organizar o colegiado
escolar. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nova


LDB (Lei nº 9.394/1996). Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997.

BRASIL, Ministério da Educação. Gestão democrática nos sistemas


e na escola. Brasília: Universidade de Brasília, 2007. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/11gesdem.pdf. Acesso em: 08
ago. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica.


Conselhos escolares: uma estratégia de gestão democrática/elaboração
de Genuíno Bordigno. Brasília: MEC/SEB, 2004.

BRASIL. Plano Nacional de Educação (PNE), 2001. Disponível em:


http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf. Acesso em: 05 jan. 2013.

BRUM, M.; FLÔRES, J. A importância da Gestão democrática dentro


do processo escolar. Revista Gestão Universitária, 2016. Disponível em:
http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/a-importancia-da-gestao-
democratica-dentro-do-processo-escolar. Acesso em: 02 abr. 2020.

DOURADO, L. F.; OLIVEIRA, J. F. A qualidade da educação:


perspectivas e desafios. CAD. Cedes, Campinas vol. 29, nº 78, p. 201-215,
maio/ago. 2009.

FERREIRA, N. S. C. Gestão democrática da educação: atuais


tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2008.

GADOTTI, M.; ROMÃO, J. E. Escola cidadã: a hora da sociedade. In:


MEC. Salto para o futuro: construindo a escola cidadã, projeto político-
pedagógico. Brasília: MEC, 1998, p. 22-29.

GHANEM, E. Educação Escolar e Democracia no Brasil. Belo


Horizonte: Autêntica/Ação Educativa, 2004.
50 Gestão Educacional

LIBÂNEO, J. C. Concepções Práticas de Organização e Gestão da


Escola: Considerações introdutórias para um Exame Crítico da Discussão
Atual no Brasil, 2007. Disponível em: http://professor.pucgoias.edu.br/
SiteDocente/admin/arquivosUpload/5146/material/Inmaculada%20
Revista%20Espa%C3%B1ola.doc. Acesso em: 08 ago. 2021.

LIBÂNEO, J. C. et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e


organização – 10. ed. São Paulo: Cortes, 2012.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5.


ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

LÜCK, H. A escola participativa o trabalho de gestor escolar. Rio


de Janeiro: DP&A, 2000.

LÜCK, H. A evolução da gestão educacional, a partir da mudança


de paradigmática, 2001. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/
grandes_temas/gestao_escolar/gestao.doc. Acesso em: 08 ago. 2021.

LÜCK, H. Dimensão da gestão escolar e suas competências.


Curitiba: Editora Positivo, 2009.

LÜCK, H. Perspectivas da Gestão Escolar e Implicações quanto à


formação de seus gestores. Gestão Escolar e Formação de Gestores. Em
Aberto, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Brasília,
v. 17, nº 72. 11-35, fev./jun. 2000.

MARQUES, L. R. A descentralização da gestão escolar e a


formação de uma cultura democrática nas escolas públicas. Recife:
Universitária da UFPE, 2007.

MEDEIROS, I. L. A gestão democrática na rede municipal de


educação de Porto Alegre de 1989 a 2000: a tensão entre reforma
e mudança. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Dissertação (Mestrado em
Educação). Porto Alegre, Faculdade de Educação, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 2003.

MORAIS, P. et al. A gestão democrática e a participação dos


educadores na elaboração do projeto político pedagógico de escolas
públicas no Brasil. ANPAE. Disponível em: http://www.anpae.org.br/
Gestão Educacional 51

iberoamericano2012/Trabalhos/PauleanySimoesDeMorais_res_int_GT4.
pdf. Acesso em: 02 abr. 2020.

NAVARRO, I. P. et. al. Ministério da Educação. Secretaria de Educação


Básica, Conselhos Escolares: democratização da escola e construção da
cidadania. Brasília: MEC, SEB, 2004.

OLIVEIRA, J. F. et al. Gestão escolar democrática: princípios


e mecanismos de implementação, 2009. Disponível em: https://
www.viscondedoriobranco.mg.leg.br/transparencia/processos-
licitatorios/2017/subtema3materialteorico.pdf. Acesso em: 08 ago. 2021.

PARO, V. H. Administração escolar: introdução crítica. 13. ed. São


Paulo: Cortez, 2005.

PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. 8. ed. São


Paulo: Editora Ática, 2004.

SCHULTZ, R. Gestão da educação: inovação e mudança. Revista on-


line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, nº 5, p. 47–55, 2008.
Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/rpge/article/view/9156.
Acesso em: 08 ago. 2021.

SILVA, J. N. Os desafios da gestão democrática. In: Educere, 2017,


Curitiba. III CONGRESSO NACIONAL DA EDUCAÇÃO. CURITIBA: EDITOR,
2017. p. 16997-17009. Anais [...] ISSN 2176-1396.

SOUZA, D. Q. M. Gestão Democrática da escola pública: desafios


e perspectiva, EDUCERE, 2008. Disponível em: https://educere.bruc.com.
br/arquivo/pdf2008/328_174.pdf. Acesso em: 03 abr. 2020.

Você também pode gostar