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Educação

Inclusiva
Unidade 3
Implementando a Educação Inclusiva
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
TULIANE FERNANDES DUTRA
ISABELA CRISTINA MARINS BRAGA
AUTORIA
Tuliane Fernandes Dutra
Eu, Tuliane, sou formada em Pedagogia e Sistemas de Informação,
com experiência técnico-profissional na área de Análise de Sistemas e
desenvolvimento de materiais para Educação a Distância há mais de 15
anos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência
de vida.

Isabela Cristina Marins Braga


Eu, Isabela, sou Doutora em Educação (UCB-DF), Mestre em
Educação (UCB-DF), especialista em Gestão Empresarial (Instituto
de Ensino Superior Cenecista de Unaí) e graduada em Administração
(Instituto de Ensino Superior Cenecista de Unaí). Professora da Faculdade
de Ciências e Tecnologia de Unaí – FACTU desde 2013, lecionando as
disciplinas de Metodologia do Trabalho Acadêmico, Pesquisa Aplicada,
Hermenêutica, Teorias das Organizações, Gestão de Pessoas 1 e 2,
Comportamento Organizacional, Gestão Estratégica, Negociação e
Resolução de Conflitos, Administração da Produção e Economia básica.
Sou orientadora de Trabalhos Acadêmicos, examinadora de bancas de
monografia, revisora e consultora de trabalhos acadêmicos, além de
pesquisadora do grupo de Pesquisa de Políticas Federais de Educação –
GPPFE da UCB-DF

Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu


elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de se apresentar um
de uma nova novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessária as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido
sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Educação Inclusiva: A Diversidade na Aprendizagem .................10
Diversidade...........................................................................................................................................10

Políticas Educacionais e a diversidade ........................................................................... 16

Parametros Curriculares Nacionais e a Educação Inclusiva.....23


Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)...................................................................23

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e a educação inclusiva...........27

Equipe Multidisciplinar para Educação Inclusiva ..........................35


Equipe multidisciplinar: educação especial................................................................ 36

Equipe Multidisciplinar: história e cultura afro-brasileira e indígena.........42

Família e Escola no Processo de Inclusão ........................................45


Parceria da família com a escola..........................................................................................47
Educação Inclusiva 7

03
UNIDADE
8 Educação Inclusiva

INTRODUÇÃO
Olá, seja bem-vindo a mais uma unidade da disciplina de Educação Inclusiva!
Nesta unidade vamos abordar temas que contribuirão para a sua formação
acadêmica. Para um melhor entendimento do conteúdo a unidade foi estruturada
em quatro capítulos.

No primeiro capítulo você estudará a diversidade presente no ambiente


escolar. Este conhecimento é fundamental para a sua formação docente já que
a escola, atualmente, não é um espaço destinado apenas à transmissão de
informação, mas também responsável pela formação de cidadãos que saibam
conviver e respeitar as diferenças. Assim, buscamos a construção de uma
sociedade mais justa, onde os direitos de todos são garantidos e respeitados, uma
sociedade sem preconceitos ou discriminação.

Em seguida, no segundo capítulo, você compreenderá a função dos


Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) não somente na educação regular,
mas também na educação inclusiva. Estes parâmetros apresentam relação com a
proposta de uma educação inclusiva, pois eles também visam a formação integral
do aluno, isto é, a formação de cidadãos críticos e responsáveis pela construção de
uma sociedade mais justa e igualitária para todos. No primeiro tópico do capítulo
você compreenderá o que são e para que servem os PCNs e no segundo tópico, a
relação destes parâmetros com a Educação Inclusiva.

No terceiro capítulo desta unidade você estudará a importância do papel da


equipe multidisciplinar na educação inclusiva. Assim, no primeiro momento será
abordado o papel desta equipe na educação especial, quais são os profissionais
que fazem parte dela e a necessidade de existir um diálogo colaborativo entre esses
profissionais. Em seguida, será apresentada a função da equipe multidisciplinar na
perspectiva da efetivação das Leis 10.639/03 e 11.645/08.

Para finalizar esta unidade, no último capítulo você estudará a relação entre a
família e a escola no processo de inclusão. No início serão apresentados os tipos de
família existentes na sociedade e em seguida, você irá compreender a necessidade
de existir uma parceria entre a família e a escola e como esta parceria pode ser
possível, apesar de alguns obstáculos, por meio do diálogo existente entre essas
duas instituições. Preparado para mergulhar nestes conhecimentos? Vamos lá!
Educação Inclusiva 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Discernir sobre a realidade e necessidade da educação inclusiva a


partir da perspectiva da diversidade presente na escola;

2. Aplicar os Parâmetros Curriculares Nacionais na implementação e


avaliação da Educação Inclusiva;

3. Compreender o papel da equipe multidisciplinar na Educação


Inclusiva;

4. Promover a parceria entre a família e a escola no processo de


inclusão.

Então, vamos lá?


10 Educação Inclusiva

Educação Inclusiva: A Diversidade na


Aprendizagem

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


a educação inclusiva, além da perspectiva de inclusão
da pessoa com deficiência, mas também da diversidade
cultural, religiosa, de gênero sexual, econômica, entre
outras presentes na escola. Esse conhecimento é muito
importante para sua formação docente, pois no contexto
atual é preciso saber que o papel da escola não é apenas
a transmissão do conhecimento, mas também a formação
de cidadãos para uma sociedade mais justa e sem
preconceitos, em que os direitos de todos devem ser
garantidos e respeitados. Por isso, há a necessidade de
compreender que a escola inclusiva se fundamenta no
respeito à diversidade.

Assim, espero que no final deste capítulo você, futuro profissional da


educação, possa contribuir para a construção de escolas mais inclusivas,
pautadas cada vez mais no respeito à diversidade e aos direitos humanos.

E então? Motivado para desenvolver esta competência? Primeiramente


reflita:
“Tolerar a existência do outro é permitir que ele seja
diferente, mas isso ainda é muito pouco. Quando se
tolera, apenas se concede e essa não é uma relação de
igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro.
Deveríamos criar uma relação entre as pessoas da qual
estivessem excluídas a tolerância e a intolerância.” (José
Saramago).

Diversidade
Nosso país tem uma vasta diversidade de sujeitos, culturas,
religiões, raças e costumes, crenças econômicas, entre outras. Diante
deste contexto da sociedade brasileira, é importante reconhecer essa
Educação Inclusiva 11

diversidade. Mas, afinal o que é diversidade? Diversidade é reconhecer


que somos seres humanos, que somos seres únicos, isto é, somos
singulares no nosso modo de aprender e ser.

Uma sociedade inclusiva valoriza a diversidade da sua população,


reconhece a necessidade de mudar e assume um compromisso com
todos aqueles que estiveram por muito tempo à margem da cidadania,
como os pobres, as pessoas com deficiência, os idosos, os LGBTs, os
negros, os índios, entre outros. De acordo com Meresman e outros
autores (2008, p. 23), este reconhecimento significa procurar a “igualdade
de oportunidades e direitos para todas as pessoas - independentemente
de status social, sexo, idade, condição física ou mental, raça, religião,
orientação sexual etc. – em equilíbrio com o meio ambiente”.
O desenvolvimento inclusivo propõe aproveitar e
potencializar a ampliação dos direitos e capacidades de
cada uma das dimensões do ser humano (econômica,
social, política, cultural) em sua diversidade e
especificidade, com base na procura e garantia da
igualdade de oportunidades e da equidade. (MERESMAN
et al., 2008, p. 112)

Diante deste cenário, observa-se a necessidade de implementar no


ambiente escolar o desenvolvimento inclusivo que leve em consideração
essa diversidade, por meio do Projeto Político Pedagógico da Escola e
da Prática Docente. O professor deve garantir um fazer singular, por meio
de uma prática educativa preocupada com o outro e sua particularidade
em aprender e, ainda, comprometida com a educação inclusiva. O Projeto
Político Pedagógico da Escola caracteriza a diversidade como natural e
esperada na comunidade social e escolar.

As escolas que incluem todos os alunos e alunas, independente-


mente de suas características mentais, físicas, sociais, de raça etc. e que
removem todas as barreiras, buscando promover aprendizagem e a parti-
cipação de todos são consideradas escolas que respeitam a diversidade
humana.

A escola inclusiva tem em seu Projeto Político Pedagógico objetivos


capazes de acolher e educar todos os alunos, independentemente de
qualquer característica social ou pessoal que eles possuam. Diante deste
12 Educação Inclusiva

contexto, se faz necessário deixar bem claro, que a escola inclusiva tem
como seu princípio os direitos humanos. Vamos rever o conceito de
direitos humanos? De acordo com Lourenço (2010):

Os direitos humanos referem-se às condições necessárias para que


as pessoas possam viver com dignidade. Podem ser definidos como direi-
tos inalienáveis dos quais cada indivíduo deve se beneficiar, independen-
temente da idade, sexo, raça, etnia, opção religiosa, orientação sexual,
ideologia e de qualquer outra característica pessoal ou social que apre-
sente. São exemplos de direitos humanos: o direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal, o direito a uma nacionalidade, o direito à propriedade,
o direito à instrução, o direito à liberdade de pensamento e o direito ao
trabalho. (LOURENÇO, 2010, p. 10)

Segundo Lourenço (2010), a educação inclusiva tem como


fundamentação básica a Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948. Veja no quadro 1 a seguir o que esta declaração propõe.

Quadro 1 – Declaração Universal dos Direitos Humanos

• Os direitos humanos são protegidos pelo Estado de Direito.

• Todas as pessoas têm o direito de gozar os direitos e as


liberdades ali expressos, sem distinção de qualquer espécie,
seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, seja de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento
ou qualquer outra condição.

• Todas as pessoas têm direito à instrução.

• A instrução deve ser gratuita, pelo menos nos graus elementares


e fundamentais.

• A instrução deve ser orientada para o pleno desenvolvimento da


personalidade humana.

• A instrução deve ser orientada para o fortalecimento do respeito


pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.

• A instrução deve promover a compreensão, a tolerância e a


amizade entre todas as nações, grupos raciais e religiosos.
Fonte: Lourenço (2010, p. 16).
Educação Inclusiva 13

De acordo com Tavares e Sanches (2013), a escola precisa flexibilizar-


se e adequar-se, considerando as características individuais dos alunos,
as suas necessidades e potencialidades e fazer da diferença uma mais-
valia para o desenvolvimento de cada aluno, com benefícios claros para
todos. As autoras explicam que:
A verdade é que a escola, na sua atitude de (mera)
aceitação dos ‘diferentes’, tolerando a sua presença no
mesmo espaço físico dos outros alunos, tem teimado
em não chamar a si as atribuições causais do insucesso
de alguns, querendo perpetuar a ideia da ‘inadequação’
do aluno ‘diferente’ ao sistema, cuja estrutura, de alguma
forma, se mantém securizante e sem riscos para os que
a ela se vão conseguindo ajustar. (TAVARES; SANCHES,
2013, p. 310)

É preciso rever esta postura, pois segundo Tavares e Sanches (2013),


é necessária a reorganização do processo de ensino-aprendizagem, pois
para educar incluindo, não se deve levar em consideração somente as
dificuldades do aluno. É preciso rever as estratégias, buscar soluções com
foco na solução dos problemas perante a diversidade do seu público.
Diferenciar passa, então, por conceder a cada aluno, de
acordo com as suas potencialidades, a oportunidade de
ter um lugar que é o seu, bem ‘desenhado’ no espaço
do aprender, uma voz que é audível por todos e uma
participação que se vê com nitidez e contribui para o
crescimento cognitivo e social, próprio e dos seus pares.
Diferenciar, incluindo, passa por uma estratégia de
organização de grupos ou pares de níveis de aprendizagem
diversos, a trabalharem numa tarefa organizada para
rendibilizar essa diversidade (Roldão, 2003); passa por tirar
partido das diversidades (experiências, culturas ou outras)
para aprendizagens destinadas a toda a turma; passa,
ainda, por potenciar e desenvolver o que cada um pode
‘pôr ao serviço’ do outro, para atingir um objetivo coletivo.
(TAVARES; SANCHES, 2013, p. 312)

A escola precisa ser um local onde atividades serão desenvolvidas


para combater o preconceito e a discriminação. De acordo com Alias
(2016), infelizmente, a escola é um ambiente que ainda reproduz a
discriminação de gênero, étnico-raciais, orientação sexual e violência
homofóbica. Diante deste contexto, a autora propõe que a diversidade
14 Educação Inclusiva

“seja tratada como aspecto positivo e uma oportunidade para o


crescimento de seus educandos, bem como de seus respectivos
educadores” (ALIAS, 2016, p. 23).
Figura 1: Escola como lugar de acolhimento

Fonte: Freepik

Alias (2016) explica que é necessário fomentar o respeito pelo


convívio com a diversidade, na forma de se comportar e de ver o mundo
e aproveitar o potencial que as diferenças proporcionam, pois, a interação
de tantos aspectos diferentes gera um patrimônio comum, diverso,
rico, inesperado e criativo. Já o preconceito e a discriminação afastam a
possibilidade de crescimento e avanço das sociedades e isso não pode
ser permitido dentro do ambiente escolar.

• Etnocentrismo é uma forma de discriminação referente aos


costumes de outros povos. De acordo com Alias (2016, p. 26),
ele acontece da seguinte forma: “uma sociedade, a partir dos
elementos da sua própria cultura, avalia as formas de vida distintas,
repelindo (às vezes com uso de meios violentos) o que difere da
sua própria”. Exemplo: o representante de tal cultura é “feio” ou
“bonito” (ALIAS, 2016, p. 26).

• Estereótipo alimenta os preconceitos quando define para si mesmo


quem são e como são as pessoas, “consistindo na generalização
Educação Inclusiva 15

e atribuição de valor (na maioria das vezes negativo) a algumas


características de um grupo, reduzindo-o a essas características e
definindo os ‘lugares de poder’ a serem ocupados. Portanto, trata-
se de uma forma de domínio” (ALIAS, 2016, p. 27). Exemplo: “Só́
podia ser mulher”.

• Gênero é um conceito que se refere à construção social do sexo


anatômico. “Tal conceito foi criado exclusivamente para distinguir a
dimensão biológica da dimensão social, baseando-se no raciocínio
de que a espécie humana é constituída exclusivamente por
machos e fêmeas” (ALIAS, 2016, p. 28). A diferença sexual existente
e ao longo dos anos é utilizada como forma de discriminação.
Exemplos: “homem não chora”; “mulher sexo frágil”.
Figura 2 – Diversidade

Fonte: Pixabay

É necessário lembrar que todos os seres humanos devem ser tratados


de forma igualitária, com dignidade e seus direitos devem ser respeitados
(tanto na escola quanto na sociedade), independentemente da cor da sua
pele, da sua origem, do seu gênero ou de sua orientação sexual.

Segundo Alias (2016) a escola deve desenvolver ações que promovam


tanto a igualdade como a eliminação de toda forma de discriminação e
racismo. “Tal instituição apresenta o potencial de possibilitar dentro de seu
16 Educação Inclusiva

espaço físico, o convívio de pessoas com distintas origens principalmente


as étnico-raciais, além das questões culturais e outras de ordem religiosa”
(ALIAS, 2016, p. 13).

A história da humanidade tem se caracterizado pela riqueza dos


povos que a compõem. Suprimir essa diversidade, diminuindo o ser
humano por causa de sua cor de pele, da língua falada, da religião praticada
ou das suas diversas formas de manifestação cultural, representa um erro
que não pode ser ignorado (ALIAS, 2016, p. 34). Mais grave é utilizar esses
elementos para justificar a superioridade ou inferioridade de uma raça
ou etnia frente às demais. Trata-se de um erro que a própria história já
demonstrou ser equivocado e para desfazer tal posicionamento é que a
escola exerce papel fundamental como espaço estratégico de debates e
conscientização (ALIAS, 2016, p. 34).
Figura 3 - Pessoas

Fonte: Pixabay

Políticas Educacionais e a diversidade


A diversidade também está regulamentada pelas políticas públicas
do nosso país. No campo normativo temos a Lei 10.639/03 que tornou
obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas
públicas e particulares do país. Em seguida, temos a Lei 11.645/08 que
inclui também a questão indígena nos currículos das escolas.
Educação Inclusiva 17

De acordo com Guedes e outros autores (2013), a proposta da


Lei 10.639/03 é tornar conhecida socialmente a importância da cultura
africana no decorrer da formação étnica brasileira. “É fixar na sociedade
a reflexão histórica a respeito da significância da influência africana na
formação dos pilares étnicos-sociais do país” (GUEDES, et al., 2013, p. 2).

Entretanto, apesar da influência africana estar presente no Brasil,


a situação do negro aqui ainda é desvalorizada. Guedes et al. (2013)
explicam que esta situação pode ser constatada pelas discrepâncias
sociais, sendo que os mais necessitados no Brasil, são descendentes da
herança africana e também são os mais vulneráveis aos ataques racistas
de várias naturezas, como por exemplo, a situação financeira, profissional,
familiar e tantas outras.
18 Educação Inclusiva

ACESSE:

Disponível clicando aqui.

Disponível clicando aqui.

Disponível clicando aqui.

Diante do contexto apresentado, a escola é um ambiente que


possibilita a reflexão de diferentes perspectivas referentes às relações
sociais, por isso a importância da Lei 10.639, que torna o estudo da cultura
afro integrado com o currículo escolar.
Esta situação, a partir de 2003, passou a ser obrigatória, pois
estudar o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira é
uma questão amparada pela lei 10.639, porém jamais pode
ser vista como mera obrigação ou carga de conteúdo. A
influência que este assunto e lei causam em sala de aula
é ponto chave para estimular docentes e discentes na
discussão do assunto, pois gera no professor a segurança
para discutir o problema, já que há uma lei que o auxilia neste
processo. (GUEDES, et al., 2013, p. 3)
Educação Inclusiva 19

Guedes e outros autores salientam que é necessário buscar a


forma correta de abordar determinada questão, para não ficar apenas na
redundância de trabalhar assuntos rotineiros, como por exemplo, estudar
somente o período escravagista, despertando a falsa impressão de que
não foi deixado um legado cultural, apenas a força de trabalho.

É importante destacar que o papel do professor é muito importante


para despertar nos alunos o interesse por aprofundar esse tema. Assim,
o docente deve instigar o aluno a buscar mais informações sobre essa
cultura.

SAIBA MAIS:

ACESSE o link clicando aqui.

E a lei 11.645/08? Vamos estudar um pouco sobre esta lei também,


já que a cultura indígena também teve e tem grande influência no Brasil.
A Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008, altera a Lei nº 9.394 de 20 de
dezembro de 1996. Esta nova lei estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional e inclui na grade curricular escolar, a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-brasileira e Indígena”. Essa lei
determina que este tema deverá ser abordado na Educação Básica das
redes de ensino particular e pública.

De acordo com Siquelli (2013) apud Barbalho e Rodrigues (2018),


a inclusão das diferenças étnicas nas práticas pedagógicas escolares
brasileiras vem atender a uma situação educacional pungente do
momento, de modo a reparar danos que remontam ao processo
colonizador.

Apesar de sermos um país multicultural, o racismo é um fato no


Brasil, que mantém a injustiça e a desigualdade social presentes na
sociedade brasileira. Assim, as políticas públicas são criadas visando
diminuir estas desigualdades e injustiças, como forma de garantir o
cumprimento dos direitos dessa parte da população brasileira.
20 Educação Inclusiva

No entanto, o contexto atual possibilita a crítica à


epistemologia vigente e a possibilidade de alternativas a
ela e a inclusão das histórias, dos saberes e das culturas
indígenas e afro-brasileiras nas escolas brasileiras é uma
dessas possibilidades e, ao mesmo tempo, revela os
obstáculos políticos-culturais a serem enfrentados. Se
discutir a referida temática é um dos papéis fundamentais
dos profissionais responsáveis pela educação de crianças
e jovens brasileiros, observa-se que, apesar da Lei, nem
todos os estabelecimentos de ensino fundamental e
médio do país efetivaram a sua implementação. (SANTOS;
MENESES, 2010, apud BARBALHO; RODRIGUES; 2018,
p.45)

Barbalho e Rodrigues (2018) realizaram uma pesquisa em duas


escolas do município de Caucaia, localizado em Fortaleza. Segundo os
autores, de acordo com os dados da FUNAI, este município possui cerca
de 40% dos índios que habitam o estado do Ceará. Barbalho e Rodrigues
(2018) explicam que o objetivo da pesquisa foi verificar a aplicabilidade da
Lei 11.645/08 nos ambientes escolares.

Os autores precitados afirmam que o estudo realizado possibilitou


refletir se os ensinamentos realizados nos espaços escolares contribuem
para a desconstrução de estereótipos perpetuados ao longo dos anos
sobre a construção da sociedade brasileira.

De acordo com Barbalho e Rodrigues (2018), uma das escolas


oferece um currículo contextualizado, em que o conhecimento está
integrado à realidade sociocultural da região. “Há, portanto, no próprio
documento, subsídios para que os educadores desenvolvam planos de
ensino considerando a diversidade dos saberes e das práticas cotidianas
da escola.” (BARBALHO; RODRIGUES, 2018, p. 4).
O desafio imposto pela Lei Nº 11.645 é o de educar a
partir da reflexão acerca de uma temática que valoriza a
formação da cultura e da população brasileiras. Usar os
espaços educacionais como ambiente de reflexão ainda é
um trabalho árduo, visto que toda a comunidade escolar,
especialmente os professores devem estar engajados,
visando até mesmo modificar concepções sobre temas
relacionados ao racismo, preconceito, cultura, entre
outros. (BARBALHO; RODRIGUES, 2018, p. 4)
Educação Inclusiva 21

Barbalho e Rodrigues (2018) explicam que por meio desta pesquisa


pode-se verificar que os professores, infelizmente, ainda não estão
completamente preparados para ministrar as temáticas estabelecidas
pela Lei. Entretanto, os autores destacam, que apesar deste contexto,
há uma grande aceitação do conteúdo programático por parte dos
estudantes.
[...] muitos dos professores possuem apenas o
conhecimento proveniente dos livros da disciplina de
história, portanto, pode-se constatar que existem algumas
práticas pedagógicas de educação para as relações
étnico-raciais, porém não de forma aprofundada ou no
âmbito de toda a grade curricular de ensino, como sugere
a própria Lei aqui abordada. (BARBALHO; RODRIGUES,
2018, p. 13)

Um outro dado que foi possível levantar com a pesquisa, segundo


os autores precitados é que o tema preconceito precisa ser trabalhando
no ambiente escolar, pois:
As respostas replicadas no questionário apontam que
58% dos entrevistados armam que já passaram por
alguma forma de discriminação ou presenciaram algum
tipo de preconceito racial, enquanto apenas 18,2% nunca
passaram por esse tipo de situação ou não ouviram falar a
respeito. Esse é um dos fatores que devem ser trabalhados
pelos educadores, visando as relações entre os indivíduos
que compõem toda a comunidade escolar. (BARBALHO;
RODRIGUES, 2018, p. 13)

Os autores Barbalho e Rodrigues (2018) concluem a pesquisa


explicando que apesar do país ter políticas afirmativas que valorizem a
cultura e história do negro e do índio, isto não garante que elas serão
materializadas no espaço escolar. Os autores concluíram que:
Pensar no ambiente escolar como um local de diferentes
indivíduos, com uma diversidade étnica e racial, é pensar
nas atividades que o educador deve proferir enquanto
interventor das correlações existentes nos métodos de
ensino e aprendizagem. O processo de reconhecimento
das diversidades para a existência da sociedade em que
vivemos, deve envolver principalmente a conscientização
dos profissionais da educação, levando os professores a
exercerem importante papel no processo da luta contra
22 Educação Inclusiva

o preconceito e a discriminação étnico-racial no Brasil.


(BARBALHO; RODRIGUES, 2018, p. 14)

Como você pode observar é um desafio, mas não é impossível!


Você, como futuro profissional da educação deve procurar se capacitar
e conhecer bem a diversidade presente no Brasil e como trabalhar esta
diversidade no ambiente escolar. Lembre-se que esta temática está
presente nas políticas públicas, não somente nas duas leis citadas aqui,
mas nas anteriores já citadas nas outras unidades. Desde a primeira
unidade da disciplina estamos abordando a diversidade.

SAIBA MAIS:

Leia mais sobre a lei 11.645/08 que está disponível


clicando aqui.

RESUMINDO:

Neste capítulo você aprendeu que a escola deve ser um


ambiente que possibilita aprender a conviver, a respeitar
o próximo, aprender a ouvir, aprender a conhecer etc.
Portanto, a inclusão escolar não pode se restringir apenas
à permanência física dos alunos no ambiente escolar. Além
disso, você estudou que uma sociedade inclusiva valoriza
e respeita a diversidade da sua população e o mesmo
deve acontecer em uma escola inclusiva. Assim, se faz
necessário evidenciar o papel do professor neste processo,
pois ele é a referência para os alunos. Logo, a postura
do professor perante as regras, a sua forma de pensar e
agir serão observadas e também poderão influenciar as
atitudes dos seus alunos. A escola precisa reconhecer que
a diversidade faz parte do seu contexto escolar e social e
que está regulamentada pelas políticas públicas. Portanto,
a Comunidade Escolar juntamente com sociedade, deve
buscar alternativas de como abordar estas temáticas
com os alunos. Vamos continuar esta discussão no
próximo capítulo, onde serão apresentados os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs).
Educação Inclusiva 23

Parametros Curriculares Nacionais e a


Educação Inclusiva

INTRODUÇÃO:

Neste capítulo vamos estudar os Parâmetros Curriculares


Nacionais (PCNs) na implementação e avaliação da
Educação Inclusiva. Vamos iniciar os estudos explicando o
motivo destes parâmetros terem sido criados pelo governo
e uma breve apresentação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

Ainda, serão discutidos neste capítulo, os PCNs e a Educação


Inclusiva. Durante todo o texto você poderá observar a relação deste
documento com a proposta da Educação Inclusiva que visa a formação
integral do estudante voltada para a cidadania. Diante deste contexto, o
ambiente escolar deve possibilitar aos estudantes aprender a conviver,
aprender a respeitar etc., parâmetros propostos pelos PCNs. Além disso,
este capítulo aborda a necessidade de refletir sobre a ética e os temas
transversais.

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)


Os PCNs são um documento que tem como objetivo auxiliar e
orientar as ações didático-pedagógicas dos professores da Educação
Básica na atualidade. Segundo Lanza (s/a) este documento foi elaborado
pelo Ministério da Educação (MEC) para:

• Cumprir o artigo 210, capítulo III da Constituição Federal de 1998,


que dispõe: “Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino
fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e
respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”.
(BRASIL, 2020);
24 Educação Inclusiva

• Melhoria na qualidade da educação. Compromisso firmado pelo


Brasil, em 1990 na Conferência Mundial de Educação para Todos.
A universalização da educação de qualidade e com equidade;

• Articular as buscas constantes dos estados e Municípios em


estabelecer reformas de suas propostas curriculares.

De acordo com Lanza (s/a), os PCNs foram criados pelo Ministério


da Educação (MEC) para as quatro séries iniciais do Ensino Fundamental,
com o seguinte propósito “apontar metas de qualidade que ajudem o
aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e
autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres”. (LANZA, s/a, p. 47).

Já referente aos professores, Lanza (s/a) aborda que no início do


documento está a fala do ministro da educação explicando que os PCNs
têm como objetivos auxiliá-los e apoiá-los na prática pedagógica, pois
segundo o ministro, estes parâmetros foram elaborados de modo a servir
de referencial para o trabalho docente, respeitando a sua concepção
pedagógica própria e a pluralidade cultural brasileira e ainda, que os
parâmetros são abertos e flexíveis, podendo ser adaptados à realidade de
cada região do país.
Todas as definições conceituais, bem como a estrutura
organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
foram pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino
Fundamental, que estabelecem as capacidades relativas
aos aspectos cognitivo, afetivo, físico, ético, estético,
de atuação e de inserção social, de forma a expressar a
formação básica necessária para o exercício da cidadania.
Essas capacidades, que os alunos devem ter adquirido ao
término da escolaridade obrigatória, devem receber uma
abordagem integrada em todas as áreas constituintes do
ensino fundamental. A seleção adequada dos elementos
da cultura — conteúdos — é que contribuirá para o
desenvolvimento de tais capacidades arroladas como
Objetivos Gerais do Ensino Fundamental. (BRASIL, 1997, p.
67)

Os PCNs do Ensino Fundamental estão divididos em dois grupos:


um é referente às séries iniciais (1ª à 4ª) e um para as finais (5ª à 8ª).
Cada um desses grupos possui um volume introdutório sobre às áreas
específicas e referente aos temas transversais:
Educação Inclusiva 25

Considerados temas amplos o bastante para traduzir as


preocupações da sociedade brasileira de hoje, como ética,
pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação
sexual e trabalho e consumo. Prevê-se que os objetivos e
conteúdos sugeridos para os temas transversais devem ser
incorporados às áreas já existentes e ao trabalho educativo
da escola, numa perspectiva de transversalidade. (LANZA,
s/a, s.p.)

Sobre a organização dos tempos escolares, no Documento


Introdutório dos PCNs há uma proposta de organização e funcionamento
da escola:
Embora a organização da escola seja estruturada em anos
letivos, é importante uma perspectiva pedagógica em
que a vida escolar e o currículo possam ser assumidos e
trabalhados em dimensões de tempo mais flexíveis. Vale
ressaltar que para o processo de ensino e aprendizagem
se desenvolver com sucesso não basta flexibilizar o
tempo: dispor de mais tempo sem uma intervenção efetiva
para garantir melhores condições de aprendizagem
pode apenas adiar o problema e perpetuar o sentimento
negativo de autoestima do aluno, consagrando, da mesma
forma, o fracasso da escola.

A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que o


processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis,
desnecessários e nocivos. Portanto, é preciso que a
equipe pedagógica das escolas se co-responsabilize com
o processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Para
a concretização dos ciclos como modalidade organizativa,
é necessário que se criem condições institucionais
que permitam destinar espaço e tempo à realização
de reuniões de professores, para discutir os diferentes
aspectos do processo educacional. (BRASIL, 1997, p. 40)
26 Educação Inclusiva

Figura 4 – Estrutura dos PCNs para o Ensino Fundamental

Fonte: BRASIL, 1997. Disponível em: https://bit.ly/31BRMEG. Acesso em: 22 dez 2020.

Não podemos deixar de mencionar os PCNs para o Ensino Médio.


Este documento está organizado em quatro partes. Na primeira, estão
as Bases Legais e textos referente ao papel da educação na sociedade
tecnológica. A segunda e a terceira parte abrange as áreas de Linguagens
e Códigos, Ciência da Natureza, Matemática e Ciências Humanas.
Educação Inclusiva 27

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais


1ª a 4ª Séries. Acesse clicando aqui.
Para saber mais sobre Parâmetros Curriculares Nacionais
5ª a 8ª Séries. Acesse clicando aqui.
Para saber mais sobre Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio (PCNEM). Acesse clicando aqui.

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)


e a educação inclusiva
A formação integral do estudante é necessária na
contemporaneidade, mas não somente de um grupo específico da
sociedade, mas de todos que fazem parte dela. Assim, de acordo
Freire (2016), a educação formal deve ser muito mais que garantir que
o estudante desenvolva competências e habilidades e seja aprovado no
Enem ou ingresse nas melhores universidades. A escola precisa ter sua
formação acadêmica voltada para a cidadania, por isso é importante a
formação integral destes sujeitos, pois somente assim eles poderão fazer
escolhas críticas, baseados em valores. (FREIRE, 2016).

Conforme já mencionado anteriormente, é papel da escola e dos


docentes criar um ambiente que possibilite aos estudantes aprender a
conviver, a respeitar o outro etc. De acordo com Busquetes (1998) apud Freire
(2016), é importante a sejam inseridos na escola temas como igualdade de
oportunidades, respeito às diferenças, ética e outros. “Amplia os horizontes
da produção acadêmica dos alunos e faz com que o ambiente escolar se
torne significativo”. (BUSQUETE, 1998, FREIRE, 2016, p. 26).
[...]é preciso retirar as disciplinas científicas de suas
torres de marfim e deixá-las impregnar-se de vida
cotidiana” (BUSQUETS, 1998, p. 35). Os docentes podem
ressignificar a produção do conhecimento em sala de aula,
diversificando as formas de abordagem e acrescentando os
temas transversais nos seus planos de aula, na sequência
28 Educação Inclusiva

didática e no planejamento como um todo. A produção do


conhecimento na escola não pode ser fragmentada e a
ética não pode ser trabalhada somente nas disciplinas de
Sociologia ou Filosofia. (FREIRE, 2016, p. 26)

Além disso, Freire (2016) explica que o tema ético apresentado nos
PCNs de 1998, reflete principalmente os preceitos da justiça, do respeito
ao próximo e da equidade.
A ética faz parte da discussão necessária sobre o com-
portamento nas escolas. O objetivo dessa discussão é a
maneira de agir de cada um, para que todos sejam res-
peitados em sua condição individual, exercida, no entanto,
em ambiente coletivo. Nesse contexto, os PCNs definem
como eixos de trabalho os conteúdos relacionados ao res-
peito mútuo, à justiça, ao diálogo e à solidariedade, consi-
derados como valores promotores do princípio da dignida-
de do ser humano. (FREIRE, 2016, p. 28)

É necessário destacar que os PCNS também ressaltam a importância


do trabalho cooperativo, reflexivo e da produção coletiva:
A relação educativa é uma relação política [...] Essa relação
se define na vivência da escolaridade em sua forma mais
ampla, desde a estrutura escolar, em como a escola se in-
sere e se relaciona com a comunidade, nas relações entre
os trabalhadores da escola, na distribuição de responsabi-
lidades e poder decisório, nas relações entre professor e
aluno, no reconhecimento dos alunos como cidadãos, na
relação com o conhecimento. (PCN – TEMAS TRANSVER-
SAIS, 1998, p. 23)

Logo, Freire (2016) afirma que está especificado no âmbito dos


PCNs, que a transversalidade busca uma educação para a cidadania, em
uma abordagem didática que acolhe a complexidade e as dinâmicas da
vida social. O eixo norteador dos parâmetros sugere uma reflexão ética,
análise de causas e efeitos inseridos nas dimensões históricas e políticas
do país.

Esses temas são necessários para a formação dos estudantes, pois


conforme explica Freire (2016), envolvem aspectos amplos da sociedade
em geral, dialogam com as atitudes pessoais e com as posturas assumidas
em situações corriqueiras.
Educação Inclusiva 29

Diante desta perspectiva, o autor precitado evidencia a importância


de que os temas transversais sejam incorporados na prática diária dos
docentes, não apenas como conteúdo, mas como uma reflexão prática
da vida em sociedade. Observe que essa proposta está relacionada com
a Educação Inclusiva.

É importante saber que na escola o pluricultural está presente,


por isso ela deve ser considerada como um ambiente que está aberto
para atender todos e todas. Logo, a escola é um local onde o convívio
social com a diferença possibilita a formação de sujeitos mais tolerantes à
diversidade, tanto social, cultural ou de necessidade educativas especiais.
Os PCNs (1998) preconizam outro eixo importante para o
trabalho educativo, o da pluralidade cultural, com base no
fato de a escola se caracterizar como um dos ambientes
mais plurais a se encontrar, constituído por pessoas de
origens, idades, condições sociais e históricas diferentes,
porém todos convivendo diariamente.

É importante mencionar que a tolerância e o respeito ao


outro são condições essenciais para a promoção da escola
que se almeja. (FREIRE, 2016, p. 28)

Para atender essas diversidades e criar a conscientização dos


estudantes quanto ao respeito à diversidade, temos as adaptações
curriculares (que já discutimos anteriormente) e os PCNs que buscam
a concepção de uma escola inclusiva. De acordo com o MEC (2003), o
referido documento: “focaliza o currículo como ferramenta básica de
escolarização” (p. 22), “organizado para orientar, entre outros, os diversos
níveis de ensino e ação docente” (p. 32). Já as adaptações curriculares são
entendidas como “estratégia e critérios de atuação docente”. (p. 22).
30 Educação Inclusiva

SAIBA MAIS:

Leia o texto Saberes e Prática da Inclusão – Estratégias pa-


ra a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais
Especiais. Disponível clicando aqui. O documento explica
que ao considerar a diversidade nas escolas é preciso dis-
por de medidas de flexibilização e dinamização do currícu-
lo para atender os estudantes com necessidades educa-
cionais especiais.

De acordo com o MEC (2003), a diversidade presente na comunidade


acadêmica contempla uma ampla dimensão de características e, ainda,
as necessidades educacionais podem ser identificadas em diversas
situações representativas de dificuldades de aprendizagem, como
condições individuais, econômicas ou socioculturais dos estudantes.

Observa-se a legislação atual. Quando se preconiza, para o aluno


com necessidades especiais, o atendimento educacional especializado
preferencialmente na rede regular de ensino, evidencia-se uma clara
opção pela política no texto da lei, não devendo a integração – seja como
política ou como princípio noteador – ser penalizado em decorrência
dos erros que têm sido identificados na sua operanalização nas últimas
décadas.

O êxito da interação escola depende, dentre outros fatores, da


eficiência no atendimento à diversidade da população estudantil. (MEC,
2003, p. 24)
Educação Inclusiva 31

Gráfico 1 – Percentual de matrículas por cor/raça segundo Etapas do Ensino – Brasil – 2019

Fonte: INEP

Gráfico 2 – Etapas dos Ensinos Fundamental e Médio segundo o Sexo – Brasil – 2019

Fonte: INEP

Está descrita nos PCNS de 1998 a saúde, fator fundamental para


cidadania, pois conforme explica Freire (2016) “é uma condição essencial
para o bem-estar humano”.
32 Educação Inclusiva

Na escola, como em qualquer outro lugar, a saúde é tida


como tema central, pois um professor com conjuntivite
pode transmitir a afecção aos seus alunos; o uso de álcool
ou drogas coloca em risco a saúde do usuário; e brigas
podem terminar em lesões, por vezes sérias. A saúde
também deve ser fundamentalmente pensada em relação
aos sentimentos: a pressão e o estresse afetam a condição
física tanto de alunos (as) quanto de professores (as) e
diretores (as). (FREIRE, 2016, p. 30)

Segundo o autor precitado, a formação do cidadão autônomo e


crítico refere-se também à responsabilidade individual e coletiva para
promoção da saúde no ambiente escolar. De acordo com Freire (2016),
a escola e o professor têm um papel importante nesta questão, pois a
saúde que se busca é concretizada por meio da prática de atividades
físicas, alimentação balanceada e pela convivência entre as pessoas.

A escola precisa organizar e promover momentos entre o seu corpo


docente, sua equipe pedagógica, os psicólogos, a direção, entre outros
profissionais, para discutir a prática docente.

Cabe a cada instituição se organizar nesse sentido, pois a


escola que não promove momentos de reflexão da prática
docente causa uma relação duvidosa entre docente,
alunos e conteúdo a serem ministrados. (BRASIL ESCOLA,
2020)

Durante esses momentos, a escola precisa deixar bem clara a sua


proposta pedagógica. Assim, o professor e os outros profissionais da
escola conhecerão o tipo de educação que a escola deseja oferecer, os
princípios para desenvolverem suas propostas de atividades e os objetivos
que deverão ser alcançados com esta proposta. Conhecer esta proposta
possibilita aos professores refletirem sobre sua própria prática educativa.

A escola deve ter responsabilidade social, instituir situações


didáticas fundamentais entre os temas a serem abordados e a prática
docente, as formas pelas quais a aprendizagem acontecerá, através
do desenvolvimento de habilidades de leitura, interpretação, estudo
independente e pesquisa.
Educação Inclusiva 33

Os PCNs estão divididos para facilitar o trabalho da instituição,


principalmente na elaboração do seu Projeto Político Pedagógico. São
seis volumes que apresentam as áreas do conhecimento como: língua
portuguesa, matemática, ciências naturais, história, geografia, arte e
educação física.

Os outros três volumes trazem elementos que compõem os temas


transversais. O primeiro deles explica e justifica o porquê de se trabalhar
com temas transversais, além de trazer uma abordagem sobre a ética. No
segundo volume, os assuntos abordados tratam de pluralidade cultural e
orientação sexual e o terceiro volume aborda meio ambiente e a saúde.
(BRASIL ESCOLA, 2020).

ACESSE:

Disponível clicando aqui.


34 Educação Inclusiva

RESUMINDO:

Neste capítulo, você estudou que os PCNs são um docu-


mento elaborado pelo MEC, que tem como objetivo orien-
tar as atividades didático-pedagógica dos docentes da
Educação Básica. Este documento traz temas importantes
a serem discutidos na sociedade brasileira, como ética, plu-
ralidade cultural, meio ambiente, saúde, temas transversais
etc. Além disso, este documento apresenta uma proposta
de organização e funcionamento da instituição de ensino.
Em seguida, foi explicada a relação entre os PCNs e a Edu-
cação Inclusiva, que apresentam a importância da escola
inserir temas como igualdade de oportunidades, respeito
às diferenças, ética etc. Além disso, você estudou que a di-
versidade presente na escola contempla as características
da sociedade brasileira. Para finalizar, foi explicado que a
escola precisa organizar e promover momentos em que a
comunidade escolar se reúna para discutir a prática docen-
te. Essas reuniões permitem que os educadores avaliem a
sua prática, troquem experiências, conheçam a proposta
pedagógica da escola e elaborem atividades educativas
que abordem temas como a diversidade cultural, racial, re-
ligiosa, ética, meio ambiente etc., não somente do Brasil,
mas do mundo todo.
Educação Inclusiva 35

Equipe Multidisciplinar para Educação


Inclusiva

INTRODUÇÃO:

Neste capítulo você estudará a relação da equipe multi-


disciplinar na Educação Inclusiva. Você compreenderá que
esta equipe tem um papel muito importante na educação
inclusiva, por isso é necessário que exista parceria e trans-
parência nas informações trocadas entre esta equipe e os
docentes, pois assim poderá ser desenvolvida uma pro-
posta educativa inclusiva no sistema educacional. Tanto as
opiniões dos professores quanto as da equipe multidisci-
plinar são relevantes para compreender como está sendo
o desenvolvimento da criança com necessidades educa-
cionais especiais. Veja o gráfico 3 a seguir que apresenta o
total de matrículas da educação especial nos sistemas de
ensino no período de 2008 a 2019, tanto nas classes espe-
cializadas quanto nas classes comuns.

Gráfico 3 – Total de matrículas nos sistemas de ensino de 2008 a 2019 Educação Especial –
classes especializadas e classes comuns

Fonte: Mec.
36 Educação Inclusiva

Ainda, neste capítulo você estudará que a equipe multidisciplinar


surgiu na escola com o objetivo de oficializar as Leis 9.394/96, 10.639/03 e
11.645/08 abordando os temas específicos referentes às relações étnico-
raciais e história e cultura afro-brasileira, africana e indígena, que fazem
parte da formação da cultura brasileira. Então vamos lá?

Equipe multidisciplinar: educação especial


A equipe multidisciplinar é muito importante no ambiente escolar
que tem como premissa principal promover uma Política de Educação
Inclusiva. Esta equipe pode ser formada pelos seguintes profissionais:
professor, psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista e
demais profissionais da escola que estão envolvidos no processo de
aprendizagem do estudante. Esta equipe é responsável por estabelecer
ações de desenvolvimento educacional, ações sociais e comportamentais.
Uma equipe multidisciplinar pode ser definida como
“um grupo de indivíduos com contributos distintos, com
uma metodologia compartilhada frente a um objetivo
comum, cada membro da equipe assume claramente as
suas próprias funções, assim como os interesses comuns
do coletivo, e todos os membros compartilham as suas
responsabilidades e seus resultados”. (ZURRO, FERREROX;
BAS, 1991 apud OLIVEIRA, 2015, p. 32)

Infelizmente, de acordo com Oliveira (2015), no Brasil os membros


de equipes multidisciplinares atuam de forma individual, cada um na sua
área. Logo, as intervenções acontecem de forma isolada, o que prejudica
todo o processo, pois não existe articulação e troca de informações entre
os profissionais.
Predominam ainda lógicas individualistas em que o
individualismo profissional, isolando saberes, separando o
tempo de formação da sua ação, valorizando a teoria, e
separando esta da sua prática, assume uma peculiaridade
destacada na forma social de exercer o trabalho. O que
se tem observado na escola é que, quando se pretende
introduzir diferentes profissionais num contexto educativo,
porque a escola e o professor não conseguem por si só
resolver os problemas do cotidiano, os resultados não
têm sido aqueles esperados, ficando aquém do que
desejamos. (OLIVEIRA, 2015, p. 33)
Educação Inclusiva 37

Oliveira (2015) explica que ao falar sobre a multidisciplinaridade


é necessário abordar também a interdisciplinaridade. De acordo com
Severino (1989) apud Oliveira (2015), a interdisciplinaridade refere-se ao
plano prático operacional, no qual são determinadas as estratégias de
efetivação de um diálogo solidário no trabalho científico, tanto na prática
da pesquisa, como no ensino e na prestação de serviços.
A interdisciplinaridade é fundamentada num regime de
cooperação, possibilitando o diálogo entre as diversas
áreas, o que leva a uma interação, condição indispensável
para a efetivação do trabalho em equipe. É necessário
que os profissionais tenham a capacidade de trabalharem
numa visão de totalidade, sem anular o seu saber individual
diante do saber coletivo. Na prática, a interdisciplinaridade
cria estratégias enriquecedoras para a ação profissional
produzindo uma competência que dificilmente o indivíduo
sozinho teria. (OLIVEIRA, 2015, p. 33)

Diante desta perspectiva, o autor precitado afirma que os membros


de uma equipe precisam ter consciência de que não estão trabalhando
sozinhos. Logo, nessa convivência entre eles, cada um tem sua função,
assim como o compartilhamento das decisões poderá resultar em um
trabalho mais efetivo no desenvolvimento da criança com necessidades
educacionais especiais.

De acordo com Oliveira (2015), esta equipe precisa levantar elemen-


tos que demonstrem as necessidades educativas especiais que o estu-
dante precisa. Depois, deverá realizar reuniões para definir e implementar
formas de intervenção que possibilitarão desenvolver habilidades cog-
nitivas, comportamentais, socioemocionais etc. As diferentes visões de
cada profissional da equipe multidisciplinar são importantes para poder
enxergar o estudante em sua amplitude, definindo mais precisamente o
processo educacional e clínico do estudante. (OLIVEIRA, 2015).
As equipes multidisciplinares podem ser um dos lugares
de produção de sentidos novos para o trabalho educativo,
tanto no ensino regular como nas escolas de educação
especial. O trabalho em equipe oferece chances maiores de
produção de conhecimentos através de trocas de opiniões
permitindo relacionar, também, o conhecimento com a
ação, vive-se um processo de avanço do conhecimento,
o qual se assume como condição indispensável para a
38 Educação Inclusiva

elaboração de propostas de intervenção dos profissionais


na política educativa. (OLIVEIRA, 2015, p. 35)

Entretanto, segundo Oliveira (2015), a construção de novos


espaços de socialização profissional articulados com novos modelos
de intervenção são um desafio para as equipes multidisciplinares da
escola. Não é apenas uma questão técnica. É preciso recordar que a
multidisciplinaridade se manifesta na carência de uma “ação integrada
dos vários profissionais da educação especial na construção de melhor
qualidade diante das situações complexas que encontramos no sistema
educativo atual” (OLIVEIRA, 2015, p. 36).
De acordo com Saviani (1999, p. 115) [...] é necessária
ser repensada com urgência essa figura anacrônica do
“especialista em educação. Se concebermos o platô
educativo como uma área aberta, temos muito mais a
ganhar em termos de criatividade e potencialidades com
múltiplas abordagens transversais com profissionais das
mais diversas áreas contribuindo para pensar e construir
a educação”.

Dentro desse cenário destaca-se que o educador não


pode mais ser concebido como esse especialista em
generalidades. Talvez possamos ensaiar a necessidade de
que todos nós, das mais diversas áreas, debrucemo-nos
sobre a problemática da educação. (OLIVEIRA, 2015, p. 36)

Neste sentido, pode-se afirmar que uma escola inclusiva que busca
promover uma educação de qualidade para todos, necessita de uma equipe
multidisciplinar que contribua para a construção e compartilhamento de
conhecimentos. As escolas precisam ter disponibilidade e infraestrutura
que possibilite promover esses ambientes de aprendizagem entre a
equipe multidisciplinar e a comunidade escolar, para que juntos busquem
formas de reconhecer e valorizar a individualidade de cada estudante.

ACESSE:

Assista aos vídeos:


Funções da Equipe Multidisciplinar:
Vantagens de uma equipe multidisciplinar:
Educação Inclusiva 39

A equipe multidisciplinar é responsável por acolher e promover o


desenvolvimento do estudante com necessidade educacional especial
no ambiente escolar, pois ela tem um papel importante no processo
de inclusão desse estudante na escola. É importante lembrar que esta
equipe também deve buscar atender as necessidades educacionais
especiais de todos os estudantes no ensino regular. Além disso, a equipe
multidisciplinar pode contribuir na avaliação das práticas de ensino.
A instituição precisa acreditar que uma equipe
multidiscipinar pode auxiliar a comunidade escolar a
desenvolver a Educação Inclusiva de maneira eficaz,
porque saber trabalhar com crianças NEE torna a rotina
educacional mais agradável e é sempre positivo nos
aspectos da educação inclusiva. (OLIVEIRA, 2015, p. 54)

Uma outra função da equipe multidisciplinar é a elaboração de


um plano de ação para os estudantes com necessidades educacionais
especiais. Este plano deve ser elaborado junto com o professor do
estudante. O plano deve organizar um planejamento de aplicação dos
conhecimentos e habilidades que deverão ser aprendidas pelo estudante.
A equipe multidisciplinar e o professor deverão acompanhar a evolução
do estudante e reportar as mudanças e metas conquistadas para os
gestores da escola e para a família do estudante.
Destaca-se ainda que a aplicação de um programa junto
a uma equipe multidisciplinar depende de alguns fatores,
tais como: adequação do programa às necessidades
da escola e dos participantes; qualidade do material
apresentado; cooperação dos gestores e dirigentes da
Escola; motivação dos pais de alunos NEE para aprender;
capacidade de aprendizagem dos professores; aplicação
prática e tempo para assimilação do que foi aprendido;
elaboração do material de treinamento, o qual deve ser
significativo, dentre outros, todos esses métodos devem
ser variados, inovadores e transferíveis para o trabalho
educacional da educação inclusiva. (OLIVEIRA, 2015, p. 57)

Não podemos deixar de mencionar que, de acordo com Oliveira


(2015), a equipe multidisciplinar é um fator chave no processo da educação
inclusiva, pois ela pode influenciar pessoas, conquistar seguidores e,
ainda, aumentar a rede de relacionamentos que é tão necessária nos dias
de hoje.
40 Educação Inclusiva

Ainda, Oliveira (2015) destaca que os profissionais que fazem parte


de uma equipe multidisciplinar precisam fazer abordagens significativas
acerca dos assuntos relacionados às particularidades das diferentes
deficiências, tais como possíveis repercussões da deficiência.

É importante evidenciar que, para cada deficiência deve-se buscar


reconhecer as atitudes necessárias que deverão ser implementadas para
promover a inclusão efetiva do estudante no ambiente escolar. Para isso, é
preciso reconhecer que diversos profissionais, tanto da área de educação,
como de outras áreas e a família podem contribuir nesse processo de
inclusão.

SAIBA MAIS:

Leia o texto “EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES DE


PROFESSORES E DIRETORES”, de Isabella Mendes Sant’na.
O artigo é um estudo investigativo sobre a inclusão esco-
lar no qual foram coletadas informações referentes às di-
ficuldades encontradas no processo de inclusão, como a
formação especializada e o apoio técnico aos estudantes.
Como sugestão para auxiliar nestas dificuldades, a autora
explica a necessidade de orientação por uma equipe multi-
disciplinar. O texto está disponível clicando aqui.
Leia também o artigo “PAPEL DE UMA ABORDAGEM MUL-
TIDISCIPLINAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: RELATO DE
CASO”, dos autores Ana D’Arc Moreira Aracanjo, Carlos Al-
berto Mourão Júnior e Cláudia Helena Cerqueira Mármora.
O artigo apresenta um estudo de caso, que envolve o aten-
dimento psicológico clínico de uma criança com diagnós-
tico prévio de TDAH. O artigo está disponível clicando aqui.

Segundo a Política Nacional de Educação Especial (PNEE, 2020) a


equipe multidisciplinar deve participar no processo de decisão da família
ou do educando quanto à alternativa educacional mais adequada (BRASIL,
2020). Assim, no Capítulo II do PNEE, dos Princípios e dos Objetivos está
descrito:
Educação Inclusiva 41

Art. 3º São princípios da Política Nacional de Educação


Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao
Longo da Vida: VI - participação de equipe multidisciplinar
no processo de decisão da família ou do educando quanto
à alternativa educacional mais adequada. (BRASIL, 2020)

Diante deste contexto a PNEE (2020) ressalta que:


O art. 227 da Constituição: É dever da família, da sociedade
e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (BRASIL, 2020)

O art. 205 da mesma Lei Magna: A educação, direito de


todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
(BRASIL, 2020)

Diante desta perspectiva, a PNNE (2020) afirma que o cumprimento


dos deveres legais da família em relação à educação dos seus filhos deve
ir além da matrícula e frequência escolar. Assim, está explicado:
O envolvimento, a participação e o acompanhamento da
família configuram-se como essenciais no processo de
promoção da aprendizagem dos educandos, e cabe ao
sistema de ensino e à própria família garantir essa parceria
colaborativa, resguardando sempre a liberdade de escolha
para o educando e sua família quanto à mais adequada
alternativa educacional. (BRASIL, 2020)

Atenção! A participação da família no processo de inclusão será


discutida no próximo tópico. Aqui, pretende-se, apenas, evidenciar o
papel da equipe multidisciplinar.

De acordo com a PNEE (2020) os estudantes matriculados em


classes especializadas serão avaliados por uma equipe multidisciplinar e
pela equipe escolar com a participação da família. Assim, segundo a PNEE
(2020), este processo de avaliação é necessário para o acompanhamento
dos avanços dos estudantes e avaliação das suas condições de
42 Educação Inclusiva

aprendizagem, como também, visa a inserção ou reinserção em classes


regulares inclusivas.

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre as Políticas Nacionais de Educação


Especial acesse o link: aqui.

Equipe Multidisciplinar: história e cultura


afro-brasileira e indígena
Além disso, a equipe multidisciplinar surgiu na escola com o objetivo
de oficializar o artigo 26-A da Lei 9.394/96. “Nos estabelecimentos de
ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena” (BRASIL,
2020). Estas equipes são responsáveis por promover debates, estratégias
e ações pedagógicas que coloquem em prática a implementação da Lei
10.639/03 e da Lei 11.645/08.

É importante destacar que as equipes multidisciplinares da escola


buscam a construção da educação de qualidade, a efetivação da política
educacional e ainda, um ambiente escolar que conhece, reconhece e,
principalmente, respeita a diversidade da população brasileira. Para isso,
esta equipe é responsável por realizar no espaço escolar palestras, cursos
e outras atividades de formação continuada dos docentes.
[...] o objetivo da equipe multidisciplinar é desenvolver
ações que positivem a presença de alunas/os negras/os,
indígenas, quilombolas, bem como, sua história, sua cultura
e sua religiosidade. Nesse sentido, compreende-se que
a abordagem adotada pelas equipes multidisciplinares,
deve refletir sobre os processos de exclusão, racismo
e preconceito vivenciados por negras/os, indígenas,
quilombolas. Mais que isso, as ações pedagógicas
propostas no plano de ação das equipes, devem buscar
possíveis soluções para dinâmicas e conflitos relacionais,
que permeiam o cotidiano da escola e que visem uma
educação efetivamente democrática. (COQUEIRO et al.,
2013, p. 5)
Educação Inclusiva 43

De acordo com Coqueiro e outros autores (2015), a primeira estratégia


da equipe multidisciplinar ao abordar o tema referente às relações étnico-
raciais, ao ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena
na escola é mobilizar o coletivo, isto é, toda escola. É a partir desta
mobilização que deverá ser traçado um plano de ação, constituído por
projetos vinculados à realidade da escola. Segundo o autor, este projeto
deverá ter: identificação do estabelecimento de ensino, os integrantes da
equipe multidisciplinar, os objetivos a serem alcançados, a justificativa das
ações a serem realizadas, o cronograma, as avaliações das ações e as
referências.
Entendemos o trabalho das equipes multidisciplinares,
como um importante processo de reescrita da história,
processo em que o protagonista são as/os professoras/
es. As ações das equipes permitem organizar registros
de ações, buscando soluções para dinâmicas e conflitos
relacionais, que permeiam o cotidiano da escola e visem
uma educação efetivamente democrática, em cada
estabelecimento escolar, quanto à implementação de
ações sobre a educação das relações da diversidade
étnico-racial. (COQUEIRO et al., 2013, p. 7)

De acordo com a pesquisa realizada por Coqueiro et al. (2013) na


rede estadual de educação básica e Núcleos Regionais de Educação
(NRE) do estado do Paraná, os resultados dos planos de ações das
equipes multidisciplinares trabalhando os temas propostos pelas Leis
s 10.6369/03 e 11.645/08 contribuem para a ampliação do diálogo no
espaço escolar, “democratizando a informação, promovendo o debate
profícuo sobre a realidade brasileira no que se refere à educação das
relações étnico-raciais e ao ensino de história e cultura afro-brasileira,
africana e indígena.” (COQUEIRO et al., 2013, p. 10).
44 Educação Inclusiva

RESUMINDO:

Que bom você chegou ao final de mais um capítulo! Neste


você compreendeu que o papel da equipe multidisciplinar
é fundamental na escola, pois esta equipe ajudará a
estabelecer ações de desenvolvimento educacional,
ações sociais e comportamentais, tanto para a inclusão de
pessoas com deficiência como também, para a valorização
da diversidade cultural do nosso país, abordando temas
específicos referente às relações étnico-raciais, história e
cultura afro-brasileira, africana e indígena, que fazem parte
da formação da cultura brasileira.
No primeiro tópico do capítulo foi apresentado o papel da
equipe multidisciplinar na educação especial, isto é, na
educação de estudantes com necessidades educacionais
especiais. Esta equipe pode ser composta por diversos
profissionais tanto da educação como da saúde ou
outras profissões que estejam envolvidas no processo de
aprendizagem da escola. Entretanto, em nosso país, os
membros desta equipe ainda costumam atuar de forma
individual, ou seja, não há troca de informações entre
esses profissionais. Esta equipe é responsável por elaborar
um plano de ação juntamente com o professor para o
estudante com necessidades educacionais especiais. Este
plano deverá permitir à equipe e ao professor acompanhar
a evolução do estudante, notificando as mudanças e metas
conquistadas pelo estudante para a gestão da escola e
para a família do aluno.
Foi também apresentado que equipe multidisciplinar é
responsável pela efetivação das políticas educacionais.
Assim ela deve realizar no espaço escolar, seminários,
palestras, cursos e outras atividades de formação continuada
dos docentes. É função da equipe multidisciplinar abordar
os temas referentes à cultura brasileira, como a história e
cultura afro-brasileira, africana e indígena.
Para finalizar, não podemos deixar de mencionar que PNEE
(2020) ressalta a necessidade da equipe multidisciplinar
avaliar o estudante com necessidade educacional especial
e informar à família sobre a situação e evolução deste
estudante. No próximo capítulo vamos estudar o papel da
família no processo de inclusão.
Educação Inclusiva 45

Família e Escola no Processo de Inclusão

INTRODUÇÃO:

Este é o último capítulo desta unidade! Preparado para


reconhecer e entender a parceria da escola com família no
processo de inclusão? Para iniciar os estudos, você saberia
como definir uma família? Existe a família tradicional,
formada por pai, mãe e filhos. Entretanto, conforme explica
Alias (2016) esse modelo não pode ser tomado como base
para definição de família, uma vez que existem outras
estruturas que também são definidas como família.

Atualmente, as relações são diferentes de como eram


há algum tempo, o que implica configurações de família
que não são características do perfil tradicional, ou seja,
composta por pai, mãe e filhos. Ainda, tais relações variam
de família para família e envolvem outras diferenças, tais
como estrutura, variação de localidade, região, classe
econômica, entre outros fatores. (ALIAS, 2016, p. 12)

Nesta perspectiva, Alias (2016) explica que a família pode ser


caracterizada como um conjunto de pessoas que convivem e cuidam
mutuamente dos membros desse grupo.
Quadro 2 – Tipos de família

• Família nuclear com filhos biológicos;

• Família extensa, com várias gerações;

• Família adotiva;

• Casal heterossexual sem filhos;

• Família monoparental;

• Família de casal homossexual (com ou sem filhos);

• Família reconstituída depois de divórcio;


46 Educação Inclusiva

• Pessoas que vivem juntas, sem laços legais, independentemente


de parentesco, mas com cuidados mútuos entre os membros.

• Família simultânea, que acontece quando uma pessoa mantém


mais de uma família.

Fonte: Adaptado de Szymanski (2002) apud Alias (2016, p. 12,)

Dessa forma, Alias (2016) afirma que a formação da família


pode ser caracterizada por outras variáveis, como dependência ou
independência econômica, laços legais etc. Assim, de acordo com a
autora, essa diversidade de fatores distingue a formação da família e,
consequentemente, podem ser a realidade dos estudantes.

Alias (2016) constata por meio de uma pesquisa, que a família


tem grande participação no desenvolvimento humano e na formação
da criança como sujeito, referente aos aspectos do desenvolvimento
cognitivo, social, emocional e afetivo.
Ainda, a família influencia e sofre influência de outras
instâncias, como a escola e as relações travadas em seu
ambiente. É importante, portanto, para o desenvolvimento da
criança, que família e escola dialoguem, sejam parceiras, a fim
de promover o desenvolvimento de crianças e adolescentes
e corroborar a aprendizagem desses estudantes. (ALIAS,
2016, p. 14)
Figura 5: Família
Educação Inclusiva 47

Fonte: Pixabay

Agora que você já sabe sobre a família e a sua influência na


formação da criança, vamos abordar no próximo tópico a relação escola-
família. Mas, antes, é importante destacar que a escola recebe estudantes
de diferentes famílias, sendo que cada uma com estruturas, organizações
e relações diferenciadas entre si. Apesar da estrutura familiar ser igual em
alguns casos, é preciso reconhecer que as relações entre os membros
de uma família são únicas. Logo, essas características estão relacionadas
com a formação do estudante.

Parceria da família com a escola


A família e a escola precisam trabalhar em parceria para o bem-
estar e sucesso acadêmico do estudante.
Os padrões culturais da sociedade, a subcultura a qual
o indivíduo pertence, assim como a comunidade local,
exercem influência sobre as crianças, jovens e adultos
com deficiência. Porém, segundo Telford e Sawrey
(1976, p. 130) “a família do indivíduo é o principal agente
intermediário através do qual essas unidades sociais mais
vastas exercem suas influências sobre o indivíduo”. (SILVA,
2012, p. 154, grifo nosso)

Diversas discussões têm sido realizadas sobre a relação escola-


família. Conforme explica Alias (2016), atualmente se faz necessário
estabelecer um diálogo entre a escola e a família, já que elas precisam
trabalhar juntas para que aprendizagem aconteça de forma efetiva para
os estudantes com ou sem deficiência. Diante deste contexto, Alias (2016)
afirma que:
48 Educação Inclusiva

Faz-se necessário um trabalho de colaboração e


cooperação entre a escola e a família, a fim de se atingir
o objetivo maior, que é promover o desenvolvimento do
estudante. Embora existam diferenças entre os objetivos
de cada uma dessas instituições, as duas devem trabalhar
de forma complementar, visto que ambas influenciam a
vida e o desenvolvimento das crianças. (ALIAS, 2016, p. 15)

De acordo com Alias (2016), apesar da escola ser uma instituição


e a família outra instituição, ambas não estão isoladas, pois há influência
de uma sobre a outra. Neste contexto, a autora explica que as relações
existentes na escola acabam refletindo na família e vice-versa.

É importante destacar que a família tem grande influência sobre


os resultados obtidos na escola e também na ação comportamental
dos estudantes. Por isso, ela está relacionada com o sucesso e
desenvolvimento escolar do estudante, pois esse é o primeiro grupo do
qual o estudante faz parte.
Nesse sentido, é importante que se estabeleça a parceria
entre ambas as instituições. Szymanski (2011) esclarece
que a escola, assim como a família, desempenha um
papel fundamental na formação do indivíduo enquanto
futuro cidadão, preparando esse estudante para estar
inserido na sociedade, exercendo seus deveres e direitos.
A autora ainda ressalta que essas duas instituições são
os primeiros espelhos e primeiros mundos com os quais
temos contato; aprendemos tanto na escola, quanto na
família, comportamentos que são socialmente aceitos,
posturas etc. Porém, o ensino dos conteúdos relacionados
às áreas do saber, como Matemática, Ciências etc. é de
responsabilidade da escola. Szymanski (2011) esclarece
que tanto a escola como a família precisam acolher essa
criança e passar respeito, confiança e amor. Contudo,
nem sempre as famílias conseguem, tendo em vista as
inter-relações que acontecem em seu âmbito (por razões
econômicas, sociais, emocionais etc.). (ALIAS, 2016, p. 17)

De acordo com Alias (2016), a escola pode ser o local onde as


crianças têm acesso a um ambiente diferente do familiar, que muitas
vezes tem problemas. Assim, a autora explica que a escola permite que
esses estudantes tenham relações interpessoais humanas estáveis e
amorosas, pois a ação educativa da escola é diferente da família, tanto
Educação Inclusiva 49

no que se refere aos conteúdos, quanto aos processos utilizados e nas


relações e laços entre as pessoas. Ainda, segundo a autora precitada o
insucesso ou indisciplina escolar de um aluno não pode ser determinado
pela sua estrutura familiar.
A participação das famílias corrobora o processo de
ensino e aprendizagem dos estudantes; contudo, é
necessário traçar estratégias a fim de trazer essas famílias
para a escola e permitir que ambas as instituições sejam
parceiras. Da parte da escola, é importante que está não
veja a instituição família com preconceito, ou que faça
julgamentos prévios. É preciso estudar, pesquisar e tentar
adequar a melhor forma de trazer e aproximar essa família
para a escola. Ainda, é preciso educar o “olhar” da família
perante a escola, colocando a importância desta, da
necessidade do cumprimento de prazos e também dos
aspectos burocráticos. Por exemplo, se o aluno se atrasa
para chegar à escola, a família deve ser notificada e um
trabalho de conscientização da importância de cumprir os
horários realizado. (ALIAS, 2016, p. 19)

Diante do que foi apresentado aqui, pode-se concluir que a relação


escolar com família é muito importante para o desenvolvimento dos
estudantes. Entretanto, não podemos deixar de mencionar que para essa
relação funcionar, é necessário que tanto a família quanto a escola entrem
em um consenso sobre a filosofia e o currículo, os objetivos e as práticas
escolares e, ainda, quanto à satisfação ou insatisfação dos pais frente ao
rendimento escolar dos filhos (ALIAS, 2016).
50 Educação Inclusiva

Quadro 3 – Benefícios da parceria entre a escola e os obstáculos a serem enfrentados

Benefícios da parceria entre a Os obstáculos a serem enfrentados


escola e a família
Facilita o trabalho dos Os profissionais da educação
profissionais da escola; consideram o atendimento à família
Divisão de responsabilidade das como um trabalho extra, que pode
mães com outros membros da ser dispensado para reduzir a
família; sobrecarga de trabalho;
Melhora o comportamento do Os profissionais da educação,
estudante; embora sejam a favor do trabalho
com a família, ainda não têm clareza
A família tem conhecimento
sobre como e quando esta atividade
sobre os seus direitos,
deve ser realizada;
responsabilidades e recursos;
Os pais apresentam queixas
A família tem mais
em relação aos profissionais da
esclarecimento sobre a
educação, como falta de tempo
deficiência do seu filho, podendo
e dificuldade de compreender a
assim, ajudá-lo a aprender
linguagem técnica utilizada por
ou ensinar habilidades e,
estes profissionais que atendem o
ainda, manter as que já foram
seu filho;
aprendidas;
Os pais se sentem inferiores
A escola conhece mais sobre
em relação aos profissionais da
família, as características
educação;
positivas e as necessidades tanto
da família como da criança; Os pais não têm conhecimento
sobre a deficiência que o filho
Os profissionais da educação
apresenta e suas consequências e
têm uma melhor compreensão
têm dúvidas sobre de que modo
das necessidades, interesses e
eles e os profissionais podem ajudar
possibilidades da criança;
a criança;
Os profissionais podem buscar
Os profissionais da escola se
modos de atuação coerentes e,
queixam da apatia e indiferença dos
ainda, propor novas formas de
pais, da falta de tempo deles e do
atividade, criar vínculos afetivos
não reconhecimento do trabalho
etc.
realizado por eles em benefício de
seus filhos.
Fonte: Adaptado de Silva (2012, p. 159-161).

A relação entre a família de estudantes com necessidades educa-


cionais especiais e a escola
Educação Inclusiva 51

Neste tópico vamos falar sobre os alunos com deficiência e a


relação da família destes com a escola. É importante lembrar que a Política
Nacional de Educação Especial (2020) também aborda a necessidade
de participação da família na vida escolar dos estudantes e que esta
participação deve ser muito mais do que matricular e zelar pela frequência
do estudante. De acordo PNEE (2020) é fundamental o envolvimento e
acompanhamento da família no processo de aprendizagem dos seus
filhos com deficiência. Logo, é função da escola e da família garantir essa
parceria colaborativa, “resguardando sempre a liberdade de escolha para
o educando e sua família quanto à mais adequada alternativa educacional”
(BRASIL, PNNE, 2020).

IV - priorizar a participação do estudante e de sua família


no processo de decisão sobre os serviços e os recursos
do atendimento educacional especializado, considerados
o impedimento de longo prazo e as barreiras a serem
eliminadas ou minimizadas para que ele tenha as melhores
condições de participação na sociedade, em igualdade de
condições com as demais pessoas.

XI – planos de desenvolvimento individual e escolar


– instrumentos de planejamento e de organização de
ações, cuja elaboração, acompanhamento e avaliação
envolvam a escola, a família, os profissionais do serviço
de atendimento educacional especializado, e que possam
contar com outros profissionais que atendam educandos
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, PNEE, 2020)

A Constituição Federal de 1988, também fala sobre a participação e


colaboração integrada entre a família e a escola, no art. 205 “a educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade”. Entretanto, é importante compreender
o papel e a responsabilidade de cada uma dessas instituições para a
promoção efetiva da aprendizagem do estudante.

Cabe à família a obrigatoriedade da matrícula na idade


propícia bem como o zelo pela frequência escolar e o
acompanhamento da educação escolar. Entretanto, ao
52 Educação Inclusiva

contrário do que muitos defendem, a responsabilidade da


família não começa e também não termina com a efetuação
da matrícula. A família é responsável e deve ser considerada
no processo educativo desde o nascimento da criança e
ao longo de sua vida escolar, até que tenha autonomia
para decidir por si mesma. Portanto, é necessário incluir
a família na escola, em todas as situações educacionais
que envolvam processos avaliativos, planejamento,
desenvolvimento curricular, acompanhamento e análise
de resultados escolares bem como participação na
definição das propostas educacionais. Essa participação
contribui para o protagonismo do estudante e de sua
família. É importante incentivar a família a contribuir para
mudanças que promovam o progresso da escola, inclusive
dirigir-lhe demandas, bem como aos sistemas de ensino,
quando considerar necessário. (BRASIL, PNEE, 2020)

A participação da família na vida escolar do filho com necessidades


educacionais especiais poderá influenciar no sucesso do processo
de aprendizagem dele, já que esta instância pode contribuir de forma
direta ou indireta neste processo. Além disso, quanto mais envolvida no
processo a família estiver, mais conhecimento ela terá das especificidades
e peculiaridades desse estudante. Por isso, os gestores da escola e outros
profissionais da educação, precisam orientar e respeitar o papel da família.
O PNEE (2020) define as responsabilidades do sistema de ensino referente
à família:

11. estimular e valorizar a participação da família no


processo de escolarização e no acompanhamento das
ações do SAEE;

12. incentivar a família a contribuir para mudanças que


promovam o desenvolvimento e a melhoria contínua do
trabalho realizado na escola e no atendimento educacional
especializado. (BRASIL, PNEE, 2020)
Educação Inclusiva 53

SAIBA MAIS:

Se você já leu a Política Nacional de Educação Especial


(2020), releia mais uma vez observando a relação existente
entre a família e a escola. Entretanto, caso você ainda não
tenha lido, faça uma leitura minuciosa deste documento,
pois ele apresenta informações importantes para você,
futuro profissional da educação. O documento está
disponível clicando aqui.

Apesar de saber da necessidade de colaboração entre a escola e


família, na prática, essa relação não existe. De acordo com Alias (2016),
os profissionais que atuam na escola precisam incentivar a família na
tomada de decisões, pois elas precisam decidir sobre os serviços que
serão oferecidos ao seu filho, bem como para a própria família. Diante
desta situação, foi realizada uma pesquisa sobre o comportamento que
se espera dos familiares dos educandos com necessidades educacionais
especiais em uma parceria colaborativa:
[...] comunicação com os profissionais; responsabilidade na
educação do filho; expectativas adequadas; aceitar a de-
ficiência da criança; respeito aos profissionais; reconheci-
mento do trabalho dos profissionais; confiança no trabalho
desenvolvido; crença no trabalho desenvolvido; questio-
namento aos profissionais de forma adequada; garantia da
frequência do estudante; visita à escola e participação das
atividades. Dessas categorias, três também foram citadas
por profissionais da escola: comunicação com os profis-
sionais; responsabilidade pela educação do filho e expec-
tativas adequadas. Por fim, as autoras pontuam que há a
necessidade de que familiares e profissionais amadure-
çam para ter consciência do papel nessa parceria. (SILVA;
MENDES, 2008, apud ALIAS, 2016, p. 24).

Diante do que foi apresentado neste tópico, conclui-se que a escola


e a família precisam ter uma relação mais próxima para o sucesso no
processo de ensino e aprendizagem dos educandos com necessidades
educacionais especiais. Logo, para que essa parceria seja bem-sucedida
é preciso também que se tenha uma comunicação clara e objetiva entre
essas duas instituições.
54 Educação Inclusiva

SAIBA MAIS:

Leia o artigo Educação Especial e a relação família-escola:


Análise da produção científica de teses e dissertações das
autoras Ana Paula Pacheco Moraes Maturana e Fabiana
Cia. Disponível clicando aqui. Este artigo faz uma análise
científica de teses e dissertações sobre a relação entre a
família e a escola, sendo o público-alvo as crianças com
necessidades educacionais especiais.

RESUMINDO:

Parabéns, você chegou no último capítulo da Unidade 3! Aqui


você estudou a relação da família e da escola no processo
de inclusão. No primeiro momento, foram apresentados os
tipos de família, pois é importante considerar que, apesar
de ainda ser predominante a família tradicional, existem
outros tipos de família que estão presentes na escola, tais
como, família de casal homossexual, família adotiva, família
reconstituída após o divórcio, entre outras. Foi também
explicado, que apesar da estrutura familiar ser igual, a
formação familiar é diferente, pois existem muitas variáveis
que distinguem a família, como laços afetivos, situação
econômica, relação entre os membros etc.
Em seguida, foi explicado que a participação da família
na vida acadêmica do estudante é importante, por isso a
necessidade de estabelecer um diálogo entre a escola e
a família, para que juntas possam ajudar no processo de
aprendizagem efetivo do estudante. Mas, esta relação
não é tão fácil, por isso foram listados alguns obstáculos a
serem enfrentados e, também, os benefícios quando esta
parceria acontece de forma efetiva.
Para finalizar este capítulo, não poderíamos deixar de
mencionar o quanto é necessário que exista uma relação
de parceria entre a escola e a família que tem crianças
deficientes em processos de educação na escola. Inclusive
esta relação de colaboração entre as duas instituições é
mencionada na Política Nacional de Educação Especial
(PNEE – 2020). O sucesso dessa parceria dependerá da
comunicação clara e objetiva entre a escola e a família.
Educação Inclusiva 55

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