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Aluno: Joelson José de Sousa Barros PI21200343

AS ARTIMANHAS DA EXCLUSÃO SOCIAL: ANÁLISE PSICOSSOCIAL E


ÉTICA DA DESIGUALDADE SOCIAL

PRIMEIRA PARTE: REFLEXÕES ACERCA DO CONCEITO DE EXCLUSÃO

1.REFLETINDO SOBRE A NOÇÃO DE EXCLUSÃO

Cada vez mais o tema da exclusão social vem se tornando comum em nosso cotidiano e
estende-se aos diversos países ao redor do globo terrestre, não é mais algo exclusivo
àqueles menos desenvolvidos, as diversas mudanças nos cenários econômicos
agravaram essa situação, a partir da literatura francesa dos anos 90 em complemento
com a brasileira a noção de exclusão social será mais bem difundida.

René Lenoir foi um dos principais a levantar o debate sobre essas questões sociais,
levando a reflexão em torno do conceito de exclusão e aumentando-a, ele não via tal
fenômeno como simplesmente de ordem individualistas, mas abrangia toda a sociedade
e no funcionamento dela, destacava que não era algo que atingia apenas a parcela
marginal da sociedade, mas sim todas as camadas dela.

Tal concepção permanece fluida e gerando cada vez mais estudos e debates sobre a
exclusão. Do ponto de vista epistemológico, os estudiosos concluem que o fenômeno da
exclusão é vasto e difícil de se delimitar. Um rápido recorte “excluídos são todos
aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos
valores”(Xiberras,1993). Ou seja, os ditos excluídos não o são apenas na esfera
econômica, mas também na geográfica e em todas as outras riquezas espirituais, tendo
seus valores sem reconhecimento.

Observa-se como agravante a crises no sistema de Estado-providência, pois o mesmo


deveria vir a ser o sistema de proteção social para as parcelas da sociedade menos
favorecidas, os problemas sociais tenderam a se acumular gerando categorias excluídas
do mercado e outras com renda elevada. No Brasil tal desigualdade também é aplicada,
no entanto, existem causas diferentes para a exclusão social, como a matriz escravista
que atravessa os séculos e se faz presente no cotidiano. Pesquisas tem revelado a
crescente desigualdade social, econômica e política na sociedade brasileira, bem como a
discriminação e seu processo de exclusão, e que se faz presente nas várias formas de
relações da sociedade brasileira, incluindo subalternidade e não representação pública.
Na sociedade brasileira há ainda um fenômeno de naturalização da exclusão e um
estigma relacionado a mesma, representado pela aceitação do nível social inclusive do
próprio excluído que tende a um conformismo. Todos esses fatores vêm a contribuir
com o ciclo de exclusão e reforçam a lógica dos excluídos socialmente, revelando que
pobreza e exclusão são fenômenos semelhantes.

2.EXCLUSÃO SOCIAL – UM PROBLEMA DE 500 ANOS

É fato que processos sociais excludentes fazem parte da história brasileira, desde o
descobrimento e o processo colonial aos dias atuais, parcelas da sociedade foram
marginalizadas e suprimidas, em especial os nativos indígenas, a população negra, os
pobres migrantes e etc. O conceito de exclusão ganha novas interpretações e os debates
abrem um grande leque para a compreensão do mesmo.

Pode-se dizer que os processos de urbanização provocaram problemas sociais nas


décadas anteriores e hoje se fazem mais conhecidos, desde o êxodo rural e o
crescimento das metrópoles, acelerou-se o procedimento de marginalização dos grupos
sociais menos favorecidos, além do aumento da pobreza nessas regiões e a busca por
melhores qualidades de vida. Surgem então as denominadas favelas, locais onde a
exclusão fez-se mais presente, apesar de posteriormente ter tidos tentativas de resolver
os problemas da pobreza. Diversos estudiosos nos anos de 60 e 70 publicaram sobre a
marginalização das favelas, desde suas origens ao seus processos e formações,
apontando-os como segmentos de sobrevivência, em busca de moradia, emprego,
alimentação e direitos civis na sociedade.

Contudo, é somente a partir dos anos 90 que estudos significativos passam a vigorar,
novos conceitos são alinhados e dinamizados, além de abordarem a pobreza trataram
modelos e propostas de intervenção sobre seguridade social, bem como a reivindicação
de direitos aos excluídos. Observou-se um fenômeno de comodidade por parte da
população excluída, a partir de uma inclusão precária por parte das políticas
econômicas, além do controle através da televisão, iniciando o processo de controle
ideológico por parte dos dominantes. O presente dualismo entre os excluídos e os não-
excluídos é um dos principais focos para se compreender o processo de exclusão social,
pois a partir do modelo capitalista já se cria essa dualidade, ou seja, não é um debate
apenas da esfera econômica, mas também é cultural e político, o impacto da
globalização tornou a problemática mais visível, no entanto muito ainda se debate e
busca-se novas soluções e propostas nos mais variados cenários da sociedade.

SEGUNDA PARTE: ANÁLISE PSICOSSOCIAL E ÉTICA DA EXCLUSÃO

3.OS PROCESSOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO

É notório o caráter multifacetado do fenômeno da exclusão social, e por vez a difícil


tarefa de compreender seus processos e liga-la aos problemas da sociedade, o nível da
psicologia social vem, portanto, abordar a exclusão através da interação entre os
indivíduos e seus grupos, uma vez que a exclusão origina de relações intergrupais, seja
de forma material ou não, como os casos de marginalização e segregação. O modelo
psicossocial, portanto, traz seu foco sobre os aspectos simbólicos, psicológicos e
cognitivos dessas relações em conjunto com os fundamentos materiais, bem como o
espaço onde elas ocorrem, os grupos pertencentes e como elas se constroem.

Ou seja, os psicólogos sociais pressupõem a existência de um laço hostil sobre


determinados grupos, partindo de uma interpretação sócio-histórica, compreende-se o
construto social que levou a supressão de determinados grupos minoritários ao decorrer
do tempo, e a fomentação de estereótipos e preconceitos. Estudiosos também abordaram
a partir da esfera política e notaram a influência e controle social que os grupos
majoritários obtinham sobre os excluídos, a hostilidade causada e a futura
discriminação, o peso das relações de poder marcaram as agressões sofridas ao longo da
história.

Os conceitos de estereótipo e preconceito fazem-se necessário para a compreensão da


exclusão social, pois foram mediadores importantes para tal, uma vez, como já foi
abordado, a exclusão não se restringe apenas ao nível material, mas começa no plano
ideológico. Preconceito seria, portanto, o julgamento prévio de algo determinado, seja
um indivíduo ou uma coisa, de maneira negativa ou positiva, disposto nas dimensões
cognitivas e afetivas das relações, atualmente busca-se compreender os processos sócio-
históricos que levaram a sua fundação. A concepção de estereótipo, está ligada aos
atributos relacionados a determinados grupos sociais, e são relacionados ao senso
comum.

Em síntese, apesar da exclusão ser alvo de debates políticos, e considerado de escala


social e econômico, é papel da psicologia social retratar os aspectos simbólicos e
cognitivos desse fenômeno, e a partir de estudos contribuir para a compreensão dos
mecanismos e melhorar a coletividade grupal, alertando sobre as diferentes formas e
experiências de exclusão social.

4.O ENFRAQUECIMENTO E A RUPTURA DOS VÍNCULOS SOCIAIS

O enfraquecimento dos vínculos sociais é proporcional aos entraves no mercado de


trabalho, estudos têm revelado as relações entre a vida profissional e os vínculos
familiares, bem como as precariedades presentes em cada uma, a parcela da sociedade
menos favorecida, principalmente os desempregados tendem a terem relações mais
distintas com seus familiares, ou seja, quanto mais precário for a vida profissional de
um indivíduo, menor será sua contribuição no seu núcleo familiar.

Um fenômeno de vazio social tem feito parte das parcelas menos favorecidas da
sociedade, o número crescente de operários, as mudanças de locais e o empobrecimento
de algumas pessoas, acompanhadas de poucas escolhas de vida, favoreceram esse
cenário. Esse enfraquecimento social está relacionado as fases de desqualificação social,
a saber, a fragilidade e a dependência. Muitos indivíduos ao não conseguirem melhores
condições de vida acabam por se sentirem excluídos da sociedade e criam uma
consciência de distanciamento, são dominados por sinais de inferioridade e até se
sentem humilhados em seus grupos. Tudo isso leva a desestabilização de suas relações
sociais, uma vez que se soma a desintegração familiar, nisso surge a dependência para
com os serviços sociais se encarregarem dos problemas, aceitam a ideia de serem
dependentes e buscam por auxílios sociais, enquanto buscam por um emprego.

No entanto, após todo esse processo, segue-se a fase de ruptura com os vínculos sociais,
tem-se, portanto, o grau de marginalização, onde a saída dos sistemas de proteção social
o levam à miséria e isolamento, é marcado pela falta de esperança e sentimento de
inutilidade. Podendo se somar a problemas familiares, a fase de ruptura se torna mais
grave, pois o sujeito se sente inválido para com seu núcleo.

Em suma, percebe-se a relação que o enfraquecimento e a ruptura dos vínculos causam


no processo de desqualificação social na vida de um indivíduo, ela varia de acordo com
diversos países, mas não deixa de ser um problema generalizado, com causas e efeitos
na sociedade.

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