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Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS

Câmpus do Pantanal - CPAN


Curso de Psicologia
Psicologia e o Sistema Único de Assistência Social
Prof.ª Luciana Xavier Lima

Alunas: Gabriela Valença, Giuliana Lima, Katherine Vargas e Mariani Lopes

Ano: 2023

ANÁLISE EM GRUPO
PSICOLOGIA E O SUAS

●A pobreza como um fenômeno


multidimensional. Antônio Pedro
Albernaz Crespo Elaine Gurovitz
RAE-eletrônica, V.1, N.2, jul-dez/
2002.

●Capítulo do Livro - A dialética das


desigualdades sociais: reflexões
e contextos em uma sociedade
em transição - Luciane Pinho de
Almeida

●Sawaia, Bader B. (Org). 0


sofrimento ético-político
como categoria de análise da
dialética exclusão/inclusão.
In: As artimanhas da exclusão:
análise psicossocial e ética da
desigualdade social. 8 a ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. (p.
97-118).
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Texto – A Pobreza como um fenômeno multidimensional.

Os conceitos de pobreza abordados neste texto trazem a ideia de que esse termo
apresenta diversas dimensões que, dependendo do ponto de vista que se é discutido, haverá
mudanças no discurso e nas esferas que esse conceito aborda. Então, entendemos que para
cada conceito de pobreza desenvolvido serão apresentados fatores de exclusão e inclusão.
Por exemplo, se for a categorização de uma pobreza em relação a “juízo de valor”, seria uma
visão abstrata, subjetiva sobre o grau de satisfação das necessidades, deixando o conceito
frágil, dependendo da individualidade de cada pessoa para a conceitualização.
Já a pobreza relativa tem uma abordagem macroeconômica, vemos a diferença entre
os dois conceitos, os quais têm relação direta com o padrão de vida e a distribuição desigual
de renda, trazendo aspectos de renda, condições favoráveis de emprego. A pobreza absoluta
segue a mesma linha da relativa. No entanto, apresenta diferenças, pois se concentra na linha
da pobreza, estabelecendo um padrão de vida mínimo, apresentando aspectos biológicos,
necessidades básicas, o acesso a serviços médicos, escolares e de transporte e o
salário-mínimo que é calculando a necessidade de custear esse padrão de vida.
Existem diferentes abordagens, no momento, de conceituar a pobreza, sendo uma
dessas abordagens o contexto temporal, que nesse texto foi utilizado o período do século XX,
trazendo três concepções de abordagens que foram se alterando conforme mudanças na
sociedade. Sendo elas de sobrevivência, necessidades básicas e privação relativa, tendo em
vista que, com o passar do tempo, essas concepções se mostraram mais exigentes, abrangentes
e sofisticadas. É possível compararmos o enfoque da sobrevivência, nos anos cinquenta, em
que bastava manter os indivíduos sobrevivendo, com as mudanças, em mil novecentos e
oitenta, na qual enfatizava o aspecto social, como alimentação e desenvolvimento dos papéis
sociais e do comportamento adequados.
Assim, temos a evolução até o conceito moderno produzido por Amartya Sen, que
introduz diversas variáveis e que explicita como as privações podem afetar diversas áreas da
vida das pessoas, que não seria apenas no material, mas no posicionamento desses indivíduos
na sociedade em geral. A ideia de provação para Sen traz a questão da liberdade, onde temos
uma sociedade na qual para alguns comer bem e se manter nutrido é uma questão de escolha,
enquanto para outros isso não é nem uma possibilidade. O autor também explica que a
pobreza real vai além do espaço de renda, consiste em uma série de condições desvantajosas
como a idade, doenças, papéis sexuais e sociais, e outras variáveis em que a pessoa não tem
controle.
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A renda é um meio de grande importância na obtenção de capacidades, mas Sen


chama a atenção que este não é o único modo de combate à pobreza, que deveria também ser
entendida como privação da vida e que investimentos em saúde e educação também são meios
de redução desta.
Em seguida, temos a pesquisa de Deepa Naryan que consiste em buscar as opiniões da
população mais pobre acerca de sua situação e qual seria sua percepção sobre as
manifestações da pobreza, suas causas e consequências. Antes de falar sobre os aspectos em
si, a autora destaca que existem outras variáveis que podem influenciar na pobreza também,
por exemplo idade, gênero e o contexto socioeconômico.
Prosseguindo, alguns fatores citados por essa população estão entre a falta de
bem-estar material, que consiste em recursos escassos que, consequentemente, trazem a fome
e a privação física, o aspecto físico é importante pois está relacionado a capacidade de
continuar o trabalho, além do aspecto psicológico da pobreza, tendo como princípio a falta de
voz e poder sobre a situação na qual essa população se encontra.
Assim, essas pessoas estão sujeitas a humilhação e exploração, pois não podem
arriscar perder sua fonte de renda, mas evidencia o aspecto prejudicial na saúde mental desses
indivíduos. Por fim, a incapacidade de participar da vida comunitária e das tradições culturais,
levando à rupturas das relações sociais, aumentando o isolamento dessa população.
Portanto, para que tenham estratégias realmente eficazes ao combate à pobreza, se faz
necessário ter um conhecimento sistemático das percepções dos pobres em relação a sua
situação, ou seja, ouvir as reivindicações dessas pessoas.

Texto - O sofrimento ético-político como categoria de análise dialética exclusão/inclusão

Neste capítulo, referente ao livro “As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e


ética da desigualdade social”, a autora trabalha três conceitos principais que são: o sofrimento
ético-político, dialética exclusão/inclusão e potência de ação. A primeira reflexão é sobre o
viés da afetividade, para ela é necessário um olhar afetivo a fim de que se compreenda a
situação de exclusão/pobreza com indignação, ou seja, fora de um posicionamento neutro.
Desse modo, é possível compreender quando se analisa com olhar afetivo como o
sujeito vivencia a situação de exclusão. Além disso, nos permite refletir sobre os cuidados
propostos pelo Estado e de que forma isso pode ser articulado inclusive para pensar as
políticas públicas, no sentido de fugir da ideia posta de que o trabalho com a pessoa excluída
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deve ser voltado apenas para a resolução de necessidades básicas de sobrevivência, mas que
haja um olhar amplo que considere a subjetividade desses sujeitos.
Outro tema discutido pela autora, é sobre o sofrimento e a felicidade. Aqui o
sofrimento diz respeito não só à fome ou ao fato de não ter condições materiais, mas sobre
como esse sujeito é representado no mundo enquanto excluído, já o conceito de felicidade se
aplica à capacidade de enxergar o outro a partir dessa afetividade, ou seja, fugir da concepção
individualista e permitir uma visão coletiva.
No que diz respeito ao sofrimento ético-político, é discutida a diferença entre dor e
sofrimento a partir da perspectiva de três autores: Heller, Vigotsky e Espinosa. Em linhas
gerais, entende-se que a dor diz respeito a um fenômeno interno e inerente ao ser humano, por
outro lado o sofrimento diz sobre a dor mediada pelas injustiças sociais e que não é possível
de ser compreendida por qualquer indivíduo, somente por aqueles que são atravessados por
questões de injustiça social por exemplo. Portanto, o sofrimento ético-político abrange essas
diferenças conceituais e considera as vivências das questões sociais, em especial pelas pessoas
em situações subalternas e inferiores.
Ademais, a questão da dialética exclusão/inclusão pauta-se em repensar as relações
coletivas, isto é, reflete sobre o movimento que exclui para poder incluir que se denomina
inclusão perversa. Esse fato se pauta na inclusão que não pensa as reais necessidade dos
indivíduos que se encontram nessa posição de subalternidade, a proposta da dialética é
justamente promover a reflexão sobre essas diferenças e pensar uma nova forma de atuação
que não seja somente pautada nas necessidades básicas desses sujeitos.
Por fim, a potência de ação se posiciona enquanto um conceito que pode promover um
olhar coletivo e não individualizante sobre as questões de injustiça social, ou seja, não
fornecer apenas as condições básicas para viver, mas pensar esses sujeitos enquanto
influenciados por uma condição social, emocional e econômica, promovendo uma autonomia
e um lugar que fuja da subalternidade.
Portanto, é necessário considerar uma prática biopsicossocial, promovendo a
emancipação desses sujeitos de forma que se tenha um viés afetivo que trate cada fator que
leva à exclusão social de maneira coletiva e não imputada somente ao indivíduo como
causador de sua exclusão.

Texto: A dialética das desigualdades sociais: reflexões e contextos em uma sociedade em


transição
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Iniciando o capítulo explicitando o conceito de desigualdade social na sociedade


contemporânea, em que permeia a concentração e má distribuição de riqueza promovidas pelo
sistema capitalista vigente, o texto abrange uma relação entre a disparidade social e as
percepções de justiça e equidade, havendo grande separação entre as classes distribuídas de
acordo com a origem cultural, gênero, raça, etnia ou religião, como citado.
A Dialética das Desigualdades Sociais discorre sobre as estruturas societais
contemporâneas embasadas em dinâmicas de desequilíbrio econômico e social, apresenta as
teorias de investigação do capitalismo além de abordar como o mesmo é alicerçado na
exploração e dependente da incapacidade popular de articulação de consciência de classe.
Por meio de um malabari ideológico, as parcelas periféricas são induzidas a
dispersar-se das ideias de unificação e defesa dos direitos e interesses em comum, apesar
disso, toda a teia social se interconecta delicadamente sofrendo impactos promovidos por
fenômenos próprios do sistema econômico vigente, em especial, a população empobrecida,
que em sua maioria encontra-se em posição servil, vive os extremos de tais fenômenos com
grande intensidade.
O texto torna explícito como opera a sociedade, que vigora em razão da manutenção
das desigualdades, naturalizando o subdesenvolvimento surgido da exploração, pautadas nas
narrativas neocoloniais. A autora dá foco em episódios sociais em que é possível notar a
polarização de classes, que se relacionam, ainda que organizadas com interesses antagônicos,
por meio dos processos de superexploração, sendo assim, a extração de mais-valia é
possibilitada a partir de rendas de miséria, pois no funcionamento e sustento da parcela
detentora de meios de produção e grandes riquezas, deve haver a exploração e subsistência
dos proletários, de modo a se formar um arranjo de coerção unilateral.
Diante dessa conjuntura, é imprescindível indicar as questões de gênero,
etnico-raciais, regionais e ambientais como condensadoras do aparato repressor capitalista,
pois os grupos afetados por tais problemáticas experienciam acentuadamente as crises cíclicas
do capital e do capitalismo, essas questões ampliam as dimensões de exploração e disparidade
social e evidenciam as formas de exclusão direcionadas àqueles considerados inaptos para o
sistema, como citado os idosos, migrantes, negros, mulheres, acrescento ainda a comunidade
LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. Diante dessa exposição, a autora aponta a dificuldade
de superação das múltiplas desigualdades e o produto da discriminação, pois fazem parte,
quase que intrinsecamente, do histórico e produção da sociedade. A exclusão social é produto,
senão, projeto, do sistema de classes.
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A autora elucida que a questão de desigualdade social é complexa e se expressa por


diferentes maneiras, como as desigualdades de acesso promovidas pelo falso discurso de
meritocracia, o qual contribui para um processo de naturalização das desigualdades e de sua
manutenção, além da sua intensificação a partir da introdução da tecnologia digital,
responsável pela transformação do sistema societário, modificando-se a forma das relações
sociais. Assim como demonstra a importância de salientar o pensamento em torno das
questões de políticas públicas.
As comunidades marginalizadas citadas anteriormente, não são apenas afligidas por
vulnerabilidades propagadas culturalmente, enfrentam também realidades de exclusão,
fundamentadas por um amplo discurso de controle identitário, que reflete os ideais
hegemônicos, tal qual a reprodução de uma retórica que despreza sujeitos históricos, logo, é
possível notar que o aparelho ideológico se sustenta com a segregação de grupos vulneráveis
feita por outros grupos vulneráveis, a desqualificação do outro é conveniente para quem
explora, enquanto estamos entretidos em inimizade entre nós, não chegaremos a organizar e
articular estratégias de superação da exploração, sendo necessário a luta contra os
conformismos, mudanças de comportamento sociais e um reagrupamento da sociedade, a fim
da possibilidade de se abandonar as previsões negativas dessa transição em que a sociedade
perpassa.

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