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RESUMO

Este texto pretende analisar a relação presente entre a noção de individuo como ser social a partir das
contribuições de Marx e Engels. Foi feita a revisão de duas obras: a ideologia alemã e manuscritos
econômico-filosóficos contendo, nelas, conceitos fundamentais para entender a sociedade. O objetivo
do texto é aprofundar-se na construção histórica do conceito de indivíduo enquanto ser social,
apontando a relação do trabalho e possíveis mediadores que justifiquem a compreensão dessa
contradição. Palavras-chave: Ser social. Indivíduo. Trabalho. Sociedade. INTRODUÇÃO O texto discute a
construção do indivíduo como ser social a partir das contribuições de Marx e Engels. Foram utilizadas as
obras Manuscritos econômicofilosóficos de Marx, A ideologia alemã: teses sobre Feuerbach, elaborada
por Marx e Engels, além das reflexões propostas na aula do curso de Mestrado em Educação na
Universidade Federal de Goiás, com a temática Ontologia e práxis: a historicidade do ser social,
ministrada pela professora Anita Cristina Azevedo Resende (2016). Pensar a relação entre indivíduo e
ser social remete a uma relação complexa e, para ser apreendida, necessita de um aprofundamento em
algumas temáticas. É importante fazer um desdobramento dos parâmetros constitutivos que se
apresentam como fundamentais. Na sociedade capitalista, a imagem do individuo é recorrente,
aparecendo como autônomo, independente e livre. Essa aparência apresenta contradições no que se
refere à realidade social, mediada por relações visíveis e também ocultas.

A identidade social é o sentimento de identificaçã o com um determinado


grupo social. É a importâ ncia que o grupo ao qual pertencemos tem para
nó s. Quanto mais nos identificamos com o grupo, mais ele definirá a nossa
personalidade. As normas e os valores do grupo serã o compartilhados pelos
seus membros. Por outro lado, quanto mais importantes forem considerados,
mais serã o respeitados.
Mas, a identidade social é algo tã o simples quanto a importâ ncia de um
grupo? Nã o, a identidade social nã o é apenas a importâ ncia do grupo e a
assimilaçã o das suas normas e valores. A identidade social de qualquer grupo
é uma mistura de diferentes partes: é constituída por dois fatores no nível
grupal e por cinco fatores no nível individual.
O autoinvestimento da identidade
social
Como já foi dito, a nível grupal a identidade social tem dois componentes: o
autoinvestimento e a autodefiniçã o. O autoinvestimento se refere ao
sentimento de pertencer ao grupo. É a sensaçã o de que faz parte de algo
maior e a atribuiçã o de sentimentos positivos. Para algumas pessoas, a
sensação de inclusão resultante de pertencer a um grupo é de vital
importância. Esse sentimento, que traz bem-estar, está associado à atribuiçã o
de características positivas. Por exemplo, meu grupo é o melhor, os membros
sã o pessoas boas, nó s fazemos coisas importantes.
O autoinvestimento, por sua vez, é composto por três componentes
individuais: satisfação, solidariedade e centralidade. A satisfaçã o se reflete
nos sentimentos positivos em relaçã o ao grupo e ao fato de pertencer a ele.
Uma pessoa que se considera francesa, que o seu grupo nacional é a França,
ficará satisfeita em ser francesa. Essa pessoa poderá até negar os aspectos
negativos que podem aparecer ao definir-se como francesa. Desta forma, a
sua satisfaçã o será mantida.
A solidariedade está baseada em um vínculo psicoló gico com os demais
membros do grupo e no seu compromisso com eles. As pessoas que mais se
identificam com um determinado grupo estarão mais dispostas a colaborar
com os outros membros do grupo. Uma pessoa com uma identificaçã o forte
com uma determinada religiã o nã o negará quase nada para pessoas com a
mesma religiã o. No entanto, pode ser mais difícil compartilhar com pessoas
de outra religiã o. Com a solidariedade é criado um compromisso com o grupo
e seus membros.
A autodefinição da identidade
social
Por outro lado, a autodefiniçã o é como o grupo está definido. Uma parte
importante desta definiçã o é o grau em que as pessoas que o formam pensam
que sã o semelhantes ao protó tipo do grupo. A autodefiniçã o també m se
manifesta em como os seus componentes percebem que compartilham os
pontos de identidade desse grupo.

Dessa forma, os seus membros tendem a se parecer em diferentes


aspectos. Os componentes individuais da autodefinição são os estereótipos e a
homogeneidade. Os estereó tipos surgem quando os membros do grupo se
percebem como participantes dele. Com isso, eles tendem a adotar de alguma
forma os estereó tipos que sã o atribuídos ao grupo.

A ideia do ser social como individual é um princípio sustentado pela sociedade burguesa que toma o ser
social como indivíduo. Porém, é uma construção falsa que não corresponde à realidade. A construção
dessa forma de sociabilidade é histórica e não natural. Na atualidade, as relações de dependência são
evidentes, mas, ainda assim existe uma forte convicção no individuo. A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO
INDIVÍDUO Um passeio pela cidade, observando pessoas caminhando, comprando, negociando,
resolvendo seus problemas cotidianos pode ser suficiente para captarse a aparência, ou seja, observar
as pessoas de forma isolada, independentes. A superficialidade pode levar a entender que o ser social é
individual. O ser social é apresentado, de forma imediata, como indivíduo. Esse modelo é uma base
forte na manutenção da sociedade burguesa, pois, a noção de individuo leva a crença fiel de que é
possível ser independente, autônomo, isolado, autoconsciente, livre, insubordinado, apartado. Contudo,
Marx aponta para uma análise de mediações que ocultam essa aparência do ser. O primeiro fato
histórico apresentado por Marx na ideologia alemã refere-se ao conceito de necessidade. O ser humano
apresenta falta e carência, sendo essa uma disposição universal.

A história não é mais do que a sucessão das diferentes gerações, cada uma delas explorando os
materiais, os capitais e as forças produtivas que lhes foram transmitidas pelas gerações precedentes; por
este motivo, cada geração continua, por um lado, o modo de atividade que lhe foi transmitido mas em
circunstâncias radicalmente transformadas e, por outro, modifica as antigas circunstâncias dedicando-se
a uma atividade radicalmente diferente (MARX, ENGELS, 1984, p. 43).

Ela é desenvolvida a partir das condições objetivas reais e presentes, isto é, o pensamento dos seus não
determina o seu modo de viver, pelo contrário, a produção da vida que definirá inclusive a consciência
humana. Para ter condições de fazer história, Marx e Engels (1984) acreditam que a sociedade precisa
ter condições de vida possíveis, poder se alimentar, habitar e produzir o que for necessário para compor
a vida material. A produção do modo de vida é um ato histórico, natural e social. Ao criar sua forma de
sobrevivência, garantindo necessidades básicas, os homens criam novas necessidades. O
desenvolvimento histórico levou o homem a se organizar em famílias e em sociedade. Existe uma
tentativa de colocar questões históricas como naturais. O ser social é histórico e tratar sua emergência
como natural significa contestar a história. Coisas e pessoas se constituem na história em relações
sociais, não surgem naturalmente, uma vez que são especialmente humanas. O individuo é histórico e
79 social, não apenas porque ele nasceu em determinado momento, mas, porque nele contém a história
da materialidade das relações sociais. Para atender as suas necessidades, o homem precisa se
exteriorizar, se objetivar. A necessidade tanto de objetivação quanto da apropriação da natureza para
produzir sua existência são características do ser humano, carências universais. Partindo desses
preceitos, compreende-se o trabalho como um dos pilares do ser social e é nele que o homem
transforma a natureza, criando meios para sua sobrevivência. Uma habilidade humana sobre a natureza
se manifesta também nas atividades de homens sobre outros homens. O trabalho ganha características
próprias no sistema capitalista, chegando a ser evidenciado como sinônimo de emprego. No
desenvolvimento histórico da humanidade, é visível uma divisão de trabalho. Marx e Engels (1984)
conferem para avaliação da força produtiva de uma sociedade a observação da divisão de trabalho, visto
que esse movimento não é peculiar da atualidade. A divisão do trabalho ocorreu em momentos de
patriarcado, escravidão e servidão, entretanto, tomou formas mais desenvolvidas no sistema de classes.
A sociedade com divisão do trabalho cria a aparência do individuo isolado, situação em que cada
indivíduo pode desfrutar de sensações opostas, por exemplo, quando um tem felicidade o outro
acumula cansaço e tristeza, produzir e consumir são para diferentes. A divisão do trabalho gera uma
grande contradição social.

A diversidade da identidade social


Esses diferentes componentes da identidade social levam as pessoas a se
identificarem de diferentes maneiras nos grupos. Alguns podem enfatizar a
sua homogeneidade e tentar distinguir-se de outros grupos. Outros podem se
concentrar em ser solidá rios com os membros do seu grupo ou dar muita
importâ ncia à centralidade.
Podemos encontrar um exemplo prá tico disso no debate existente na Espanha
sobre a independê ncia da Catalunha . Há pessoas que se identificam como
espanholas e como catalã s ou apenas com um dos dois grupos sociais. Mas
essa identificaçã o nã o é a mesma para todos. Alguns podem se identificar com
a centralidade dos catalã es e perceberem a Espanha como uma ameaça,
enquanto outros tentam imitar os membros mais representativos do seu
grupo.
Essas diferenças na identidade social tornam a identidade de cada pessoa
diferente e dão mais importância a um ou a outros aspectos do grupo.
Portanto, as pessoas que pertencem a vá rios grupos existentes que se
identificam com a Espanha ou Catalunha podem ter diferentes maneiras de se
identificar com cada um deles.
A identidade social é a parte do eu que é definida pela pertença a um
grupo . A teoria da identidade social, que foi formulada pelo psicólogo
social Henri Tajfel e John Turner na década de 1970, descreve as
condições sob as quais a identidade social se torna mais importante do
que a identidade como indivíduo. A teoria também especifica as
maneiras pelas quais a identidade social pode influenciar o
comportamento intergrupal.
Principais conclusões: teoria da identidade social

 A teoria da identidade social, introduzida pelos psicólogos sociais


Henri Tajfel e John Turner na década de 1970, descreve os
processos cognitivos relacionados à identidade social e como a
identidade social afeta o comportamento intergrupal.
 A teoria da identidade social é construída em três componentes
cognitivos principais: categorização social, identificação social e
comparação social.
 Geralmente, os indivíduos desejam manter uma identidade social
positiva, mantendo a posição social favorável de seu grupo em
relação aos grupos externos relevantes.
 O favoritismo dentro do grupo pode resultar em resultados
negativos e discriminatórios, mas pesquisas demonstram que o
favoritismo dentro do grupo e a discriminação fora do grupo são
fenômenos distintos, e um não necessariamente prevê o outro.
Origens: Estudos de Favoritismo em Grupo
A teoria da identidade social surgiu dos primeiros trabalhos de Henri
Tajfel, que examinou a forma como os processos perceptivos resultaram
em estereótipos sociais e preconceitos. Isso levou a uma série de estudos
que Tajfel e seus colegas conduziram no início da década de 1970, que
são chamados de estudos de grupo mínimo.

Nesses estudos, os participantes foram atribuídos arbitrariamente a


diferentes grupos. Apesar do fato de que sua participação no grupo não
fazia sentido, no entanto, a pesquisa mostrou que os participantes
favoreciam o grupo ao qual foram designados - seu grupo interno - em
detrimento do grupo externo, mesmo que não recebessem benefícios
pessoais de sua participação no grupo e não tivessem história com
membros de qualquer grupo.
Os estudos demonstraram que a participação no grupo era tão poderosa
que simplesmente classificar as pessoas em grupos é suficiente para fazer
as pessoas pensarem em si mesmas em termos de participação nesse
grupo. Além disso, essa categorização levou ao favoritismo dentro do
grupo e à discriminação fora do grupo, indicando que o conflito
intergrupal poderia existir na ausência de qualquer competição direta
entre os grupos.

Com base nesta pesquisa, Tajfel definiu pela primeira vez o conceito de
identidade social em 1972. O conceito de identidade social foi criado
como um meio de considerar a forma como se conceitua o self a partir
dos grupos sociais aos quais se pertence.

Então, Tajfel e seu aluno John Turner introduziram a teoria da


identidade social em 1979. A teoria visava iluminar tanto os processos
cognitivos que levam as pessoas a definir seus membros de grupo quanto
os processos motivacionais que permitem que as pessoas mantenham
uma identidade social positiva comparando favoravelmente seu grupo
social. a outros grupos.

Processos Cognitivos de Identidade Social


A teoria da identidade social especifica três processos mentais pelos
quais os indivíduos passam para fazer classificações dentro/fora do
grupo.

O primeiro processo, categorização social , é o processo pelo qual


organizamos os indivíduos em grupos sociais para compreender nosso
mundo social. Esse processo nos permite definir as pessoas, incluindo
nós mesmos, com base nos grupos aos quais pertencemos. Tendemos a
definir as pessoas com base em suas categorias sociais com mais
frequência do que em suas características individuais.

A categorização social geralmente resulta em uma ênfase nas


semelhanças de pessoas no mesmo grupo e nas diferenças entre pessoas
em grupos separados. Pode-se pertencer a uma variedade de categorias
sociais, mas diferentes categorias serão mais ou menos importantes
dependendo das circunstâncias sociais. Por exemplo, uma pessoa pode
se definir como um executivo de negócios, um amante dos animais e uma
tia dedicada, mas essas identidades só surgirão se forem relevantes para
a situação social.

O segundo processo, identificação social , é o processo de


identificação como membro do grupo. A identificação social com um
grupo leva os indivíduos a se comportarem da maneira que acreditam
que os membros desse grupo deveriam se comportar. Por exemplo, se
um indivíduo se define como ambientalista, ele pode tentar conservar a
água, reciclar sempre que possível e marchar em comícios pela
conscientização sobre as mudanças climáticas. Por meio desse processo,
as pessoas tornam-se emocionalmente envolvidas em seus membros do
grupo. Consequentemente, sua auto-estima é impactada pelo status de
seus grupos.
O terceiro processo, comparação social , é o processo pelo qual as
pessoas comparam seu grupo com outros grupos em termos de prestígio
e posição social. A fim de manter a auto-estima, deve-se perceber seu in-
group como tendo uma posição social mais elevada do que um out-
group. Por exemplo, uma estrela de cinema pode se julgar
favoravelmente em comparação com uma estrela de reality show. No
entanto, ele pode se ver como tendo uma posição social mais baixa em
comparação com um famoso ator shakespeariano de formação clássica. É
importante lembrar que um membro do grupo não se compara a
qualquer outro grupo – a comparação deve ser pertinente à situação.
Manutenção da Identidade Social Positiva
Como regra geral, as pessoas são motivadas a se sentirem positivas em
relação a si mesmas e a manterem sua autoestima . Os investimentos
emocionais que as pessoas fazem em seus grupos resulta em sua auto-
estima ligada à posição social de seus grupos. Consequentemente, uma
avaliação positiva do próprio grupo em comparação com grupos externos
relevantes resulta em uma identidade social positiva. Se uma avaliação
positiva do próprio grupo não for possível, no entanto, os indivíduos
geralmente empregarão uma das três estratégias:

1. Mobilidade individual . Quando um indivíduo não vê seu grupo


favoravelmente, ele pode tentar deixar o grupo atual e se juntar a
um com uma posição social mais alta. É claro que isso não altera o
status do grupo, mas pode alterar o status do indivíduo.
2. Criatividade social . Os membros do grupo podem melhorar a
posição social de seu grupo existente ajustando algum elemento da
comparação entre grupos. Isso pode ser feito escolhendo uma
dimensão diferente para comparar os dois grupos ou ajustando
julgamentos de valor para que o que antes era considerado
negativo agora seja considerado positivo. Outra opção é comparar o
in-group com um out-group diferente – especificamente, um out-
group que tem um status social mais baixo.
3. Competição social . Os membros do grupo podem tentar
melhorar o status social do grupo trabalhando coletivamente para
melhorar sua situação. Nesse caso, o in-group compete
diretamente com o out-group com o objetivo de inverter as
posições sociais do grupo em uma ou mais dimensões.

Discriminação contra grupos externos


O favoritismo dentro do grupo e a discriminação fora do grupo são
frequentemente vistos como dois lados da mesma moeda. No entanto, a
pesquisa mostrou que isso não é necessariamente o caso. Não existe uma
relação sistemática entre a percepção positiva do próprio endogrupo e a
percepção negativa dos exogrupos. Ajudar os membros do grupo ao
mesmo tempo que nega tal ajuda aos membros do fora do grupo difere
significativamente de trabalhar ativamente para prejudicar os membros
do fora do grupo.

O favoritismo dentro do grupo pode resultar em resultados negativos,


desde preconceitos e estereótipos até racismo
institucional e sexismo . No entanto, esse favoritismo nem sempre leva à
hostilidade em relação aos grupos externos. A pesquisa demonstra que o
favoritismo dentro do grupo e a discriminação fora do grupo são
fenômenos distintos, e um não necessariamente prevê o outro.
Fontes
 Brewer, Marilynn B. “Relações Intergrupais”.Psicologia Social
Avançada: O Estado da Ciência, editado por Roy F. Baumeister e
Eli J. Finkel, Oxford University Press, 2010, pp. 535-571.
 Elemers, Noemi. “ Teoria da Identidade Social ”. Enciclopédia Britânica, 2017.
 McLeod, Saul. “ Teoria da Identidade Social ”. Simplesmente Psicologia , 2008.
 Hogg, Michael A. e Kipling D. Williams. “ Do eu ao nós: identidade social e
o eu coletivo ”. Dinâmica de Grupo: Teoria, Pesquisa e Prática , vol. 4, não. 1,
2000, pp. 81-97.
 Tajfel, Henri e John Turner. “ Uma Teoria Integrativa do Conflito
Intergrupal. ” The Social Psychology of Intergroup Relations , editado por
William G. August e Stephen Worchel, Brooks/Cole, 1979, pp. 33-
47.

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