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“ O PROCESSO GRUPAL”

Sílvia Lane – O Homem em movimento

Letícia Moreira Machado


Maio de 2014
• Texto complementar sugerido:

• “Psicologia Social e Processo Grupal: A coerência entre


fazer, pensar e sentir em Sílvia Lane.”
- Sueli Terezinha Ferreira Martins
Quem foi Sílvia Lane?
• A abordagem à Psicologia Social proposta por Lane é denominada Psicologia
crítica sócio-histórica,

• De inspiração marxiana, e de mãos dadas com a Psicologia da Libertação de


Martin-Baró, essa perspectiva de análise dos processos psicossociais baseia-se
na indissociabilidade entre a teoria, a metodologia e a prática transformadora.

• Para Sílvia, toda a Psicologia seria social, já que o ser humano se constitui no
social, sendo produto e produtor da história, a partir do domínio dos instrumentos
de trabalho e do desenvolvimento da linguagem.

• Assim, os objetos de estudo da Psicologia Social devem ser a linguagem e o


grupo, pois é a partir desses dois processos que o ser humano encontra a sua
identidade.

• A metodologia a ser utilizada deve ser “participativa e qualitativa”, visando


“conhecer as pessoas, seus problemas e emoções e potencializá-las à
emancipação”
Publicação do Texto – Contexto histórico
• Década de 1980, clímax das discussões a respeito da crise da Psicologia,
principalmente no Brasil.

• Sugeriu a criação da ABRAPSO, foi a primeira presidente.

• ABRAPSO: voltada para o conhecimento das condições psicossociais da


população brasileira, e para o debate sobre as práticas transformadoras
de que Sílvia era uma das principais incentivadoras.

• Ao mesmo tempo, inicia suas publicações.

• “O que é Psicologia Social” (1981)

• Após o sucesso desse trabalho, publica: “Psicologia Social: o Homem em


movimento” (1984):
O processo grupal
• Revisão dos conceitos de pequenos grupos, mediante
uma redefinição da Psicologia Social:
Indivíduo sozinho X Indivíduo em grupo

• mas sim como condição necessária para compreender as


determinações sociais que agem sobre o indivíduo, bem
como a sua ação enquanto sujeito histórico;
• O princípio fundamental de toda ação transformadora da
sociedade parte do momento em que os indivíduos se
agrupam.

• Estudos sobre pequenos grupos - A teoria de Kurt


Lewin:Elaboração sobre conceitos e definição de vaores
no grupo.

• Horkheimer e Adorno, o microgrupo como a mediação


necessária entre o indivíduo e a socie­dade e cuja
estrutura assume formas historicamente variáveis.
• Loureau propõe uma análise das instituições através das
relações grupais que nelas ocorrem, caracterizando os
grupos em termos de grupo-objeto, e também um grupo
onde os indivíduos se juntam para a realização de um
trabalho e onde a divisão de trabalho determina
hierarquias de poder.
• Lapassade analisa grupos quanto a sua dinâmica e seu
nível de vida oculto, segundo ele o nível institucional o irá
determinar as características do grupo se processando
numa contradição permanente entre serialização e
totalização.
• Seguindo a dialética, a teoria de Pichon-Rivière: mostra que o
grupo é "um conjunto restrito de pessoas ligadas entre si por
constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua
representação interna, que se propõe de forma explícita ou
implícita uma tarefa a qual constitui sua finalidade, interatuando
através de complexos mecanismos de atribuição e assunção de
papéis".
• Este autor desenvolve uma técnica operativa para instrumentar
a ação grupal visando a resolução das dificuldades internas dos
sujeitos. Desta forma, sua técnica visa uma análise sistemática
das contradições que emergem no grupo, através da
compreensão das ideologias inconscientes.

• J. J;. Calderón e G. C. C. De Govia e o Grupo Operativo: um


"grupo é uma relação significativa entre duas ou mais pessoas"
que se processa através de ações encadeadas. A produção do
grupo se realiza em função de metas que são distintas de metas
individuais e que implicam, necessariamente, cooperação entre
• Consideram que os grupos estão em constante
transformação na medida em que produzem meios para
satisfação de suas necessidades, portante, passam por
estágios. grupo aglutinado, o grupo possessivo, grupo
coesivo e grupo independente. Os autores observam que
não há tipos puros de grupos, pois estes estão sempre
se processando dialeticamente, uma etapa englobando
aspectos da etapa anterior.

• Postura tradicional das teorias de grupo: a função destes


seria apenas a de definir papéis e a identidade social dos
indivíduos, e garantir a sua produtividade pela harmonia e
manutenção das relações apreendidas na convivência.
• Para conhecer o grupo, partimos de algumas
presmissas: o significado da existência e da ação grupal
só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva
histórica (um processo grupal), considerando a sua
inserção e determinações sobre a sociedade. O grupo,
tanto na sua forma de organização como nas suas ações,
reproduz ideologia, que, sem um enfoque histórico, não é
captada.
Análise dialética: o grupo enquanto
processo e aspectos concretos desse fato
social:
• Tradição biológica: O homem desenvolve-se
biologicamente numa relação direta com seu meio
ambiente, ele se encontra ligado intimamente a um
ambiente, que não pode ser visto como "natural", mas
como um ambiente construído pelo homem.
• A necessidade de sobrevivência cria o ambiente como
produto humano e implica no trabalho e a consequente
transformação da natureza. As relações de produção
geram a estrutura da sociedade, inclusive as
determinações sócio-culturais, que fazem a mediação
entre o homem e o ambiente.
• O indivíduo interioriza o mundo como realidade concreta
e a exterioriza em seus comportamentos; obe­dece a uma
dialética em que a percepção do mundo se faz de acordo
com o que já foi interiorizado, e a exteriorização do sujeito
no mundo se faz conforme sua percepção das coisas
existentes: capacidade de resposta do homem decorre de
sua adaptação.

• Formação de hábitos antecedem a insti­tucionalização dos


membros: Desempenho de papéis.

• O estabelecimento de papéis a serem desempenhados


leva à sua cristalização. Esta incorporação dos papéis
pelos indivíduos realiza-se sob a forma de crenças e
valores que mantêm a diferenciação social.
• Desta forma, o mundo social e institucional é visto
como uma realidade objetiva, concreta, esquecendo-
se que essa objetividade é produzida e construída
pelo próprio homem.
• Como se dá esta internalização da realidade concreta e
como ela faz a mediação na determinação dos
comportamentos do indivíduo:
• Disponibilidade para a sociabilidade.
• Socialização: primária (família); secundária (relções de produção -
relações sociais).
• Toda análise que se fizer do indivíduo terá de se
remeter ao grupo a que ele pertence, à classe social,
enfocando a relação dialética homem-sociedade,
atentando para os diversos momentos dessa relação.
Sugestões para a análise do indivíduo inserido
num processo grupal, a partir do materialismo
dialético:
• O homem é alienado: suas representações e sua consciência de si e
do outro são sempre, num primeiro momento, fundamentalmente
desencon­tradas das determinações concretas que as produzem:
vivência subjetiva, reproduz a ideologia do capitalismo, indivíduo livre,
se autodetermina, "consciente" de sua própria ação e representação;
e a da realidade objetiva, reproduz o cerne do sistema, ou seja, a
relação dominador-dominado, explorador-explorado;

• Todo grupo ou agrupamento existe sempre dentro de instituições.

• A história de vida de cada membro do grupo também tem importância


fundamental no desenrolar do processo grupal.
• A tradição biológica da psicologia como um dos maiores
entraves para o estudo do comportamento social dos
indivíduos: a concepção que decorre desta tradição. –
Assim, a relação homem-meio implica a construção
recíproca do homem e do seu meio: basicamente social.

• Compreensão completa do homem, uma macro (contexto


social) e microanálise (o homem formado por este
contexto
Sugestões para a análise do indivíduo inserido
num processo grupal, a partir do materialismo
dialético.
• Produção de grupo: A produção seria a própria ação grupal, que se
dá pela participação de todos, seja em torno de uma tarefa ou
visando um objetivo comum. Nas relações entre os indivíduos, pela
participação entre eles, estes se transformam e transformam o
grupo, produzindo o próprio grupo. Ou seja, o processo grupal se
carac­teriza como sendo uma atividade produtiva.

• Categoria de grupo-sujeito: não agir conscientemente como um


grupo no todo; observa-se uma re-organização do grupo, que é a
própria negação do grupo.

• Categoria de não-grupo: só é grupo quando ao se produzir algo se


desenvolvem e se transformam as relações entre os membros do
grupo, ou seja, o grupo se produz, caso contrário, tem-se essa
categoria.
• A antiguidade de um membro no grupo lhe atribui poder e direitos
sobre os demais, poder este que é ideologizado em termos de
"experiência, sabedoria, títulos e mesmo dedicação, seriedade,
etc.".

• A forma como a dominação se reproduz e sua ideologização


produzida institucionalmente: justi­ficando lutas pelo poder,
submissão dos membros do grupo atribuindo poder a um
elemento, e reprodução de relações sociais necessárias para que
as contradições não emerjam e nem sejam superadas.
Con­fronto com as diversas teorias sobre grupo:

• Lewin conceitua liderança a partir de situações


experimentais, referindo-se a uma necessidade de uma
liderança democrática forte para um grupo chegar a ser
autônomo, ou seja, efetivamente democrático. A
pressuposição de um líder forte implica um poder que será
"doado" a todos, impedindo a emergência da contradição e
conseqüentemente a conscientização dos membros do
grupo.

• Horkheimer e Adorno, ao fazerem a crítica do estudo de


microgrupos, apontam para o caráter histórico dos grupos e
a impossibilidade de generalizações a partir do empírico.
• Loureau contribui ao detectar o quanto os grupos
observados se mantêm como grupos-objeto, na medida
em que coesão, harmonia, unidade permeiam as
relações, mantendo hierarquias de poder.

• Lapassade faz uma análise grupal dentro de instituições


e organizações e as articulações que determinam as
relações nos grupos.
• Pichon-Rivière apesar de sua proposta ser de uma abordagem
materialista dialética, do ponto de vista teórico, propõe um "es­
quema conceitual", ao invés de categorias que remetam a
fatos concretos, no que se aproxima do modelo lewiniano, onde
a teoria leva aos fatos (ao empírico) e estes reformulam a
teoria. Por outro lado, a dialética proposta se caracteriza como
idealista, pois pressupõe contradições entre o "interno" e o
"externo" do indivíduo, entre sujeito e grupo, entre o implícito e
o explícito e entre projeto e resistência à mudança.

• Calderón e De Govia, apresenta que as necessidades que


reúnem indivíduos em grupo para, cooperando, satisfazê-las.
Para tanto, se organizam de formas próprias (lideranças) e cuja
análise permite aos autores detectar estágios e tipificar os
grupos.

• O grupo social é tanto condição de conscientização do
indivíduo, quanto a sua potência através de mediações
institucionais, na produção de relações sociais
historicamente engendradas para que sejam mantidas as
relações de produção em uma dada sociedade.

• Da mesma forma, é importante para o processo grupal e


para superação das contradições existentes o grupo
realizar uma auto-análise.

• O grupo que apenas executa tarefas sobre


transformações que, se não forem resgatadas
conscientemente pêlos membros, ele apenas se re-
ajusta, sem que ocorra qualquer mudança qualitativa nas
relações entre seus membros.
• 
Obrigada!

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