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A análise institucional de Georges Lapassade

Biografia

• A história de Lapassade apresenta um pouco do que é sua teoria

• Prefere Rap a música clássica

• Tinha uma vida humilde, até quando precisou ser hospitalizado foi
confundido com um maltrapilho.

• Conheceu Lacan num período onde sentia dificuldade com a sua homossexualidade

• Em 1970, descobre o Brasil. Tem a oportunidade de estudar a macumba, que o apaixona.


Contudo a ditadura o manda de volta!

• “Quanto a mim, posso morrer não importa onde, sem amarras. Mas não sei como contar
por que parti de Arbus sem esperança de retorno, por que percorri o mundo desde 20
anos, à procura de minha cidade”. LAPASSADE

• Análise Institucional é a forma de compreender e intervir em grupos e organizações.

• No Brasil, o pensamento de Lapassade passa a ser mais conhecido a partir de meados


da década de 70. Coloca-se sempre como uma abordagem predominantemente
sociológica e política ao trabalho institucional, muito embora tenha se originado da
psicossociologia ou da psicologia dos grupos.

• Alternativa à abordagem psicanalítica de Bleger.

• A maioria dessas práticas tinha, em comum, algo que a Análise Institucional retoma de
maneira definitiva: a crítica às instituições.

• E ela o faz, não a partir do questionamento


de sua eficácia, ou seja, não se discute sua função ou desfunção porque se reconhece
que, de certa forma, as instituições sempre cumprem sua "função social“.

• O termo Análise lnstitucional acaba por nomear, de um lado, uma determinada


concepção de o que seja a instituição e uma teoria para sua análise e, de outro, uma
forma de intervenção que visa a transformá-la, provocando-a, revelando sua estrutura,
subvertendo-a.

• Análise lnstitucional é uma forma de análise política da realidade social e institucional


(o que tem muito a acrescentar àqueles profissionais ligados à psicologia).

• Lapassade é um provocador, seus trabalhos, contrariamente aos demais, são sempre um


convite ao pensar e ao repensar; um convite ao tentar ...

• O ponto de partida para a crítica é a condição que estas teorias apresentam para que se
questione o instituído, constituinte da vida dos grupos no cotidiano.

• Lapassade formula a proposta de intervenção por meio da autogestão. Aí configura o


campo político da Análise Institucional.
Os três níveis da realidade social

• A Análise Institucional considera a realidade social como acontecendo em três níveis: o


do grupo, o da organização e o da instituição.

• Toda relação social se faz, sempre, nos grupos. Estes, por sua vez, podem vir a configurar
organizações e são, ambos, sobredeterminados pelas instituições.

• O primeiro nível é o do grupo: é a base da vida cotidiana.

• Este nível já tem a marca da instituição nos horários, nos ritmos de operação, nas
normas, nos sistemas de controle, nos estatutos e papéis. Seu objetivo é manter a
ordem, organizar o aprendizado e a produção, segundo Lapassade.

• Há sempre, portanto, a mediatização da instituição no grupo. Ele é, um primeiro nível


institucional.

• O segundo nível da realidade ou do sistema social é o da organização, com seus


regimentos e regulamentos: um estabelecimento de ensino ou administrativo, uma
fábrica, e assim por diante.

• E nesse segundo nível que situa a burocracia em sua mais concreta dimensão,
apontando para uma estrutura que é a ocasião de relações autoritárias.

• São prescrições de regimentos e normas de conduta que traduzem sempre, as leis do


Estado.

• O terceiro nível é o do Estado, a instituição propriamente dita. É o Estado, entendido


como o conjunto de leis que regem a conduta social, quem criva a organização e o grupo.

A instituição

• Lapassade atribui ao termo instituição um sentido específico e o distingue de


organização, que seria uma forma singular de instituição.

• O termo instituição não designa as formas materiais do prédio, estabelecimento etc..

• Instituição é algo como "o inconsciente de Freud não localizável e imediatamente


problemático". Ou seja, está presente nas ações aparentemente menos significativas e
isso não nos é dado à consciência.

• No curso da conceituação de instituição, ainda, Lapassade faz uma distinção entre dois
outros termos: instituído e instituinte.

• O primeiro significa o que está estabelecido; é o


caráter de fixidez e cristalização das formas de relação. O segundo significa o movimento
de criação: é a capacidade de inventar novas formas de relação.

• Embora usualmente se identifique a instituição com o instituído, Lapassade ressalta que


o instituinte é também um movimento da instituição; é ele que garante, em última
instância, a possibilidade de mudança.
• No processo de institucionalização, o instituinte acaba instituído.

• Para Lapassade, quando se admitem os movimentos do instituído e do instituinte, o


conceito de instituição se transforma e passa a ser um importante instrumento de
análise das contradições sociais.

Burocracia e poder

• Normalmente, quando se fala em burocracia pensa-se em papéis, ofícios, demoras e


memorandos.

• Situa burocracia como uma questão política

• é um certo tipo de relação de poder que atravessa toda a vida social, desde as relações
de produção até o lazer, passando pelos partidos políticos, pela pesquisa científica e pela
educação.

• Burocracia é a "organização da separação".

• Ex.: As excursões programadas pelas agências de viagens, as propagandas que


encorajam o consumo das diversões e do descanso, com temas de "volta à natureza" ou
com temas de
"descontração", ao mesmo tempo em que popularizam o lazer, burocratizam-no. O
"prazer" do turista é "planejado" fora e antes dele, pela agência. Orienta-se o que ele
pode
"admirar", em que ritmo e como.

• A relação burocratizada é, pois, uma relação entre desiguais quanto ao poder para
definir o que deve ser feito e também o como deve ser feito.

• Essa desigualdade e a alienação, que é seu corolário, são de alguma forma


representadas, internalizadas, pelas pessoas.

• Na quase totalidade das vezes, entretanto, sequer esta impressão de estar sendo lesado
na sua capacidade de decisão chega à consciência do sujeito. É o fechamento do ciclo
desigualdade/poder decisão/alienação.

• É a partir de tal compreensão de burocracia que Lapassade desenha o quadro das


relações políticas e da dominação ideológica.

• É a maneira privilegiada de os grupos e sujeitos submeterem-se a sobredeterminação


institucional.

• Viver a ordem burocrática é viver a dimensão oculta e, portanto, determinante do que


se dá no nível dos grupos e das organizações.

• As condições burocratizadas de vida e de trabalho são a alienação primeira, que faz com
que pareçam naturais e necessárias todas as outras, e que transforma, em necessidade
absoluta, o que é necessidade de uma
determinada organização social, política e econômica.

• A burocracia é, portanto, o ritual de iniciação no universo institucional...


A análise institucional e o Estado

• Enquanto método de análise, a análise institucional, redefine o conceito de instituição.

• Com isso, permite compreender o que se passa nos grupos e nas organizações como
sobre determinado pelas instituições de uma sociedade.

• Permite compreender a experiência cotidiana como estando aprisionada num sistema


institucional.

• Enquanto intervenção, propõe ser a condição concreta para que se revele a


determinação institucional, oculta pela repressão do sentido e pelo encobrimento
ideológico.

• Provocando o grupo a falar e atuar, promove-se a análise em situação e desvendam-se


as instituições determinantes do discurso e da ação grupal.

• Considera a sobredeterminação do que se passa nos grupos, a redefinição do conceito


de instituição, a repressão do sentido e o envolvimento ideológico. E é sobre isto que se
dará a intervenção ou ação do analista
institucional.

• Lapassade afirma, que "há uma dimensão oculta, não analisada e, portanto,
determinante", nos grupos: a dimensão institucional. A análise institucional é o método
que "visa a revelar nos grupos, esse nível oculto de sua vida e de seu funcionamento."

• O que a análise institucional faz é chegar ao


Estado que criva o cotidiano das instituições. Mas o Estado a que se chega é o Estado de
Classes. Assim, a análise institucional, uma vez efetiva, atingirá, em cada grupo, a
questão das relações sociais de classe.

• A repressão do sentido acontece nos grupos, para que neles se cale a possibilidade de
revolução.

• A análise institucional, em princípio, é esse caminho para destacar a presença desse


Estado no fazer diário dos grupos e das organizações. Esta é a instituição por excelência
que se quer desvendar.

• A tarefa da análise institucional é "provocar" (suscitar) a palavra social liberta, torná-la


audível, de tal maneira que esses "atores" tenham diante de si "o negativo da imagem
que formam de si mesmos e da sociedade“

• Aquilo que não se sabe, uma vez defrontado, faz mover a prática social.
As vias de Análise: palavra x ação

• Em seu livro "El encuentro institucional" (1973), Lapassade realiza algumas


modificações. Embora permaneça como "norte" a revelação do oculto (institucional) e,
como contraponto da cristalização do instituído, a autogestão dos grupos, Lapassade
revê a maneira de se atingir isto.

• Propõe a utilização de técnicas originadas da Bionergética e da Psicologia do Potencial


Humano, em oposição ao que ele passa
a chamar Socioanálise, baseada no discurso, na linguagem.

• A Socioanálise, só romperá com a cultura e


estabelecerá a novidade e a possibilidade de transformação quando se utilizar do
trabalho com o corpo, quando se utilizar do grito, dos momentos críticos de transe, da
terapia de ataque à exacerbação das emoções, os elementos da Gestalt terapia e da
bioenergia.

• Ela provoca a autogestão em ato e não só em palavras; uma ação política, de fato.

• O rompimento neste nível é o verdadeiro rompimento, para Lapassade. É a condição de


análise das "amarras institucionais", ao mesmo tempo em que se dá sua efetiva negação.

• Lapassade retoma nesta redefinição da técnica, os grupos de encontro de Rogers (com


maratonas e happenings). Como uma forma de intervenção, originalmente concebida
para promover mudanças individuais e grupais,

• passa a ser pensada como uma força de intervenção que possibilita mudanças na
organização e na instituição.

• Conservando, portanto, os fins últimos da socioanálise, transformam-se as vias de


acesso, tendo em vista um rompimento que se dê pelo impacto e pela provocação.

• Só assim se reverte a apatia, a inatividade e a desistência que, segundo ele, é o mal das
instituições no momento histórico em que escreve sobre isto (década de 70).

• “Que fazemos? Crise-análise. Instituímos, no tempo breve (três dias ao ritmo de


maratonas) de uma intervenção, uma crise na organização-cliente e pensamos que logo
eles poderão apropriar-se da análise e começar a praticá-la. Este é o aspecto didático de
nossas intervenções.

• Não sabemos, exatamente, como é desencadeada


artificialmente esta crise; às vezes, de fato, no limite do transe coletivo; assim, obtemos
efeitos análogos ao que ocorre em certos grupos de encontro ( ... ) onde já se sabe desde
o início que haverá muitos gritos, lágrimas e 'teatro‘.

• Os recursos às técnicas corporais e de grupos de encontro, bem como a duração breve


(maratonas de fins de semana), retiram da intervenção a ideia "analítica" de mudança
progressiva e de longa duração.

• A "análise" institucional, portanto, transforma-se num "encontro" institucional e, como


intervenção, Lapassade lhe atribui o mesmo sentido de remeximento das instituições,
como se o fato de ser uma análise ou um encontro não alterasse as condições de
possibilidade, a natureza e a intensidade da mudança provocada. Se ele é o detonador
da mudança, a hipótese é a de que a análise seja uma ação do grupo sobre si mesmo (e
especialmente) na ausência do analista.

A crítica ao movimento e ao conceito de Análise Institucional

• O questionamento de um tipo de prática em que os técnicos se colocam como


preceptores da mudança, repetindo, muitas vezes, a relação de poder que condenam,
ou que se propõem terminar.

• Há, também, o questionamento da própria análise, quando entendida como um "fazer


pela palavra" e na ação "artificial" de grupos monitorados por esses técnicos.

• Ela não teria a força transformadora da ação que é diretamente pensada e executada
pelos grupos a quem as decisões são impedidas.

• Permanece a crítica à artificialidade desses trabalhos, no caso de a autogestão acontecer


pela ação liberadora primeira do analista, determinando, com sua presença, a "condição
de possibilidade" da autogestão.

• A ação direta, da transgressão à autogestão, parece ser para Lapassade, então, a


alternativa possível de retomada do sentido do que acontece no cotidiano.

• Causa surpresa e sensação de insuficiência, perceber que depois de sua formulação


sobre os três níveis de realidade social, sobre burocracia e autogestão, Lapassade atribui
a uma maratona de fim de semana o papel de promover a aná-
lise e a transformação. Parece-nos que atribuir à crise-análise, tal como a propõe, a
condição de fazer contraposição à ordem institucional e social e de romper com ela é,
no mínimo, uma questão de fé ...

Referência:

• GUIRADO, Marlene. Psicologia Institucional. 2ed., São Paulo: EPU, 2004.

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