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Estudo – Psicologia de Grupos

Questões 1 e 3 – primeiro conteúdo

1) Joseph Pratt é considerado por muitos como o precursor das intervenções de


grupo, tendo iniciado seus trabalhos com grupos em 1905. Descreva as
intervenções realizadas por Pratt, destacando suas principais características, qual
a concepção de grupo presente neste modelo e qual o papel do terapeuta neste
processo.
Ele fazia suas intervenções em ambientes ambulatoriais, com pacientes com
tuberculose, com a perspectiva de realizar grupos em que pudesse dar aulas sobre
tratamento das doenças, promover identificação entre os pacientes para que estes
engajassem no tratamento. Seus grupos eram homogêneos, com 20 a 25
participantes, e o terapeuta seria o sujeito ativo, dotado de conhecimento a ser
passado para os presentes nos grupos.

Intervenções de grupos homogêneos, utilizava dos métodos educacionais para


informar sobre as possibilidades de tratamento das pessoas, tendo o líder um papel
ativo no grupo. No grupo as pessoas também expressavam os próprios
sentimentos, porque a intenção do grupo era fazer com que elas buscassem
tratamento individual. A concepção de grupo se tratava da soma dos indivíduos
constituídos em um mesmo espaço. A proposta era passar informação sobre o
tratamento da doença, sendo a destilação de esperança e a universalidade como
bônus de consequência pelo fato de o grupo dividir suas experiências e
sentimentos.

2) A partir das teorias estudadas em sala de aula, destaque as principais vantagens


de realizar intervenções em grupo.
Os grupos, por reunirem diferentes indivíduos, com trajetórias e histórias que se
assemelham, podem promover identificação, conforto e promover mudanças nos
membros; e também pelas diferenças torna-se possível refletir sobre diferentes
perspectivas. Os grupos possibilitam criar um clima de cooperação entre
membros, entendimento acerca das relações sociais que desenvolvem no dia a dia,
de seu próprio funcionamento no mundo social. Também é possível que os grupos
se tornem espaços de comunicação livre, conscientização e de construção de
processos de mudança social. Reúne, ainda, possibilidades de aprender com o
próximo, de criar um espaço onde as pessoas podem se expressar de forma cada
vez mais saudável e construtiva e ainda criar mais redes de apoio, conhecer novas
realidades, culturas e visões de mundo em um espaço livre de julgamentos.

Destilação de esperança, universalidade, aprendizado, trocas de experiências,


como promove criatividade e cooperação. Ajuda a passar informações para mais
pessoas

3) Explique como as atuações em grupos foram se modificando ao longo da história,


destacando a diferença que existe entre as “terapias individuais ‘no’ grupo” e as
“terapias ‘do’ grupo”.
O desenvolvimento da Psicologia de grupo enquanto disciplina e possibilidade de
intervenção, em seu início entendia que os grupos seriam locais ricos para
trabalhar questões relativas à indivíduos, por ser possível que os grupos pudessem
se expressar e promover identificação e mudança. O entendimento é de que o
grupo é a soma dos indivíduos que pertencem a ele, e, portanto, a intervenção tem
como objetivo trabalhar questões relativas ao psiquismo do indivíduo, e não o
grupo como um todo.
A partir disso, a perspectiva de K. Lewin muda os parâmetros do entendimento
sobre grupos por entende-los enquanto um todo dinâmico e com características
próprias, que não são a mera soma das características individuais daqueles que o
compõem. Os indivíduos são constituídos pela sua presença em grupos, o próprio
grupo é influenciado por esta presença, o que os torna espaços essenciais de
mudanças sociais, a partir de uma reeducação democrática. Isso significa
promover, no interior dos grupos, um clima grupal de expressões e comunicação
livre, a partir da presença de lideranças democráticas que possibilitem que cada
um entenda seus papeis sociais e consiga se expressar de maneira livre e contribuir
para o funcionamento do grupo.
Ademais, compreender as diferentes intervenções de grupos das seguintes formas:
 terapias exortativas paternais que atuam “pelo” grupo: incluem a proposta de
Pratt e de seus primeiros seguidores, que estimulavam e utilizavam as emoções
grupais, sem objetivo de compreensão, centrando- se na figura “paternal” do
psicoterapeuta;
 terapias exortativas que atuam “pelo” grupo com estrutura fraternal: incluem a
propostas de Moreno, Marsh, Wender e Lazell, de dinamismo semelhante às
citadas acima, mas restringem a influência do líder grupal através da
homogeneização dos participantes, propiciando uma vivência fraternal;

 terapias individuais “no” grupo: surgidas principalmente com a incorporação


da interpretação psicanalítica, como em Slavson e Schilder, buscam formar
grupos homogêneos, analisando os conteúdos comuns aos vários membros
grupais;
Grupo como ferramenta para potencializar o alivio individual de cada um
Realiza a busca individual, insere no grupo e trabalha o aprendizado nessas
interações

 terapias “do” grupo: abordagens mais recentes, que tratam o grupo como
totalidade dinâmica, tendo o fenômeno grupal como campo de investigação e de
possíveis intervenções psicoterápicas em seus níveis intrapsíquico, relacional e
grupal, além de refletirem as repercussões socioculturais sofridas pelo grupo do
meio em que está inserido.
Foco nas dificuldades grupais e sua organização, pensar em conjunto em soluções.

Passei a entender o grupo como uma nova coisa, como uma entidade em si, com
normas, e novas formas de se comunicar.
Terapia individual no grupo: inserção terapêutica dentro do contexto do grupo,
concentra-se no sujeito dentro do grupo. Entender as individualidades usando o
grupo como ferramenta.
Terapia do grupo: o foco principal é no grupo como um todo e nas interações dele,
na dinâmica e na funcionalidade do grupo.

4) Explique quais são os três níveis do sistema social, destacando como as


instituições sociais aparecem em cada um desses níveis.
Primeiro nível: grupo – nível da “base” e da vida cotidiana, onde se
concentram as intervenções.
No primeiro nível, as instituições aparecem por meio de “regras” como horários,
ritmos, normas de trabalho, sistemas de controle, papeis sociais: manter a ordem,
organizar o aprendizado e a produção.
Dentro disso, é importante compreender que os grupos não estão isentos de
sofrerem com as instituições sociais, que busca o grupo democrático de forma
utópica, que por trás existe muitos conflitos que não são expressados.

O grupo é a base da sociedade, e as instituições sociais aparecem por meio do


funcionamento das relações, por meio de regras e horários
Segundo nível: organizações – fábricas, universidades, estabelecimentos
administrativos, etc. Funcionam como a mediação entre os grupos (a “sociedade
civil) e o Estado.
Nível de organização, transmissão da ordem, da organização burocrática, em que
as instituições se apresentam em sua forma jurídica.
No nível de organização, percebe-se um espaço onde os grupos se reúnem, que
contém códigos de normas em escrito, como o contrato. Com isso, percebe-se a
noção de instituição social no contexto.
Mediação entre o Estado e o grupo social. Mantém a ordem por via do seu
regimento interno, por meio dos contratos e normas, com a forma jurídica já
estabelecida – o que pode ou não fazer imposto. A burocracia opera.

Terceiro nível: instituições – As instituições significam tudo que está


“estabelecido”, “instituído”. É o nível do Estado, que faz as Leis, que confere
nas instituições a força de lei.
O que é instituído na base é, na verdade, estipulado pela cúpula
(estabelecido “de cima para baixo”).
Ex de instituição social: Estado

Estado está acima, que estabelece legislações, e dá força de lei para os outros
dois níveis, e isso será implementado das maneiras dadas pelo Estado em cada
organização. A organização media pelo fato de organizar burocraticamente o
que é dado como lei pelo Estado e desce até os grupos para a prática de regras.

5) Qual a importância da análise institucional para a realização de boas intervenções


de grupo?
A análise institucional é capaz de revelar a luta do que determinada instituição
social institui, de forma a compreender e explicar os tipos de repressões existentes
e os desafios. Até porque é essa repressão que impede o acesso à verdade sobre
situações e sobre o conjunto do sistema. Ou seja, o Estado cumpre o papel de
encobrimento ideológico por meio das mediações institucionais que penetram em
todos os âmbitos da vida. Para Lapassade, esse encobrimento tem como papel
manter a dominação, evitando o conflito e a luta que poderia pôr fim à dominação.
Através de uma visão reformista da análise institucional não é possível promover
uma transformação real, mas sim algumas reformas que mascaram outros aspectos
instituídos no interior dos grupos, atingindo exemplos de repressões e de
sofrimentos específicos e diversos. Entender a importância da análise institucional
para a Psicologia de Grupos é essencial para que a prática não seja reprodutora da
dominação instituída.
É importante, dentro da psicologia de grupo, é uma teoria crítica. Porque a
instituição social é imposta e muitas vezes não está no nível aparente da
intervenção de grupo. Sem fazer uma análise disso corre o risco de repetir padrões
de marginalização, de preconceitos e etc., e isso tende a ocorrer, muitas vezes, de
forma invisível.

6) Para Lapassade, as intervenções grupais são capazes de transformar a realidade


social como um todo? Justifique a resposta.
Não, ele percebe no sentido de que isso não pode promover transformação real,
somente algumas reformas que mascaram outros aspectos instituídos no interior
dos grupos. A mudança seria possível, para o autor, a partir da transformação de
todos os níveis sociais. Para realizar intervenções grupais, é preciso desvelar o
que se encontra instituído nas relações sociais presentes nos grupos.
No entanto, para Lapassade, a transformação real só seria possível por meio de
um processo de destruição da ordem social vigente e construção de novas
formas sociais.

Não é capaz, pois fazer intervenções de pequenos grupos não vai ser capaz de
transformar a realidade social. Isso gera apenas transformações reformistas. Pois
a transformação da estrutura social so ocorre fora disso, necessita-se mudar a
lógica como um todo. Só é possível a partir das transformações dos três níveis
sociais.

7) Para as perspectivas psicanalíticas, não existe separações entre os indivíduos e os


grupos, sendo que o entendimento dos grupos passa por algumas premissas: “o
indivíduo não existe, o eu é plural e múltiplo, o eu é eu – outro, o eu é feito de
relações”. Explique por que se afirmar que “o indivíduo não existe”, articulando
com as outras premissas colocadas acima.
No grupo, o indivíduo dá-se conta de capacidades que são apenas potenciais
enquanto se encontra em comparativo isolamento. O grupo, dessa maneira, é mais
que um conjunto de indivíduos, porque um indivíduo num grupo é mais que um
indivíduo em isolamento.
Logo, o sujeito é feito de relações por ele ser um sujeito social, sendo o eu múltiplo
em sua capacidade de ser diferente em diversos grupos conforme suas
necessidades, “o eu é eu – outro”, em que ele é capaz de se identificar com o outro
por conseguir internalizar as vivências\características dos outros e vice-versa, e o
eu é plural por ter múltiplas potencialidades e versões. Por tudo isso, se trata de
ser o individuo que não existe, que não há sem coletividade, ele não se faz por si
mesmo.

O indivíduo não existe pelo fato de que a própria noção de individualidade é


construída por meio das relações, e por isso o indivíduo não existe de maneira
isolada, e sim existe em relação com outras pessoas. A minha individualidade é
composta por várias outras individualidades, e pode se transformar nas relações
sociais, se assumindo de diversas formas. O outro reflete na maneira que me
descrevo e tenho ele dentro de mim, assim como o outro tem eu contido nele.

8) Kurt Lewin, apesar de Psicólogo Social, se utilizava da psicologia topológica e da


psicologia vetorial para descrever a estrutura e a dinâmica presentes no
funcionamento de indivíduos. A partir do entendimento sobre os indivíduos,
poderia tecer entendimentos sobre a estrutura e dinâmicas dos grupos. Descreva
como a psicologia topológica e vetorial explica o funcionamento dos indivíduos
e como isso aparece também do funcionamento dos grupos.

Kurt ao descrever a psicologia topológica se utilizou de influencias da matemática


para construir um esquema visual que pudesse representar o espaço de vida dos
indivíduos em um determinado momento. Este espaço de vida contem os
diferentes aspectos que mais influenciam a vida e o psiquismo da pessoa naquele
momento. A psicologia topológica, portanto, diz respeito à estrutura do
funcionamento individual. A psicologia vetorial busca explicar as diferentes
forças que perpassam esta estrutura, para entender o movimento dos indivíduos
para diferentes direções e regiões de seu espaço de vida que expresse a forma
como o grupo se organiza. Os grupos representam regiões dos espaços de vida dos
indivíduos (família, casamento, amigos, colegas de trabalho, etc) e exercem
diferentes forças neste espaço de vida. Nos grupos também existem forças que
influenciam seu movimento para diferentes direções, inclusive os próprios
membros exercem estas forças. Portanto, as psicologias topológica e vetorial
buscam analisar tanto indivíduos quanto grupos em sua totalidade e suas
dinâmicas enquanto acontecem, analisando como ocorrem no aqui e agora.

9) Lewin realizou estudos sobre diferentes tipos de liderança (autoritária,


democrática e laissez faire), e como estas lideranças influenciam nas dinâmicas e
climas grupais. Descreva as características de cada tipo de liderança, e como elas
influenciam no funcionamento dos grupos.
Lewin desenvolveu longos estudos sobre o funcionamento dos grupos, buscando
compreender como eles poderiam contribuir para a mudança social.
Desta forma, a mudança social seria possível a partir do desenvolvimento de
dinâmicas de grupo eficientes e harmônicas, com comunicação aberta e livre. A
forma de organização do grupo deve promover uma atmosfera grupal de
cooperação e criatividade, para que todas as pessoas presentes possam contribuir.
de diferentes maneiras para atingir os objetivos comuns, assumindo diferentes
papeis na composição dos grupos. Para atingir este parâmetro, seria necessária a
presença de um líder democrático, que conseguisse direcionar a dinâmica do
grupo no sentido da realização dos objetivos de maneira que todos pudessem
objetivos de maneira que todos pudessem encontrar seu eu autêntico neste
processo.

Em resumo, a liderança autoritária tende a ser mais diretiva, a democrática


promove a participação e a colaboração, enquanto a laissez-faire oferece liberdade
e autonomia. Cada estilo tem suas próprias implicações no funcionamento e
desempenho dos grupos, e a eficácia de cada um depende do contexto e das
características dos membros do grupo.

A dinâmica de grupo deve incluir a formação de normas, a comunicação, a cooperação e


competição, a divisão de tarefas, a divisão de poder e a liderança.

Dentro disso, é necessário promover uma comunicação aberta, autêntica e livre de pressões
para fluir o desenvolvimento dos grupos. É preciso analisar os canais de comunicação no
interior dos grupos e como funciona a circulação de informações, estruturação das ações,
eficácia na solução de problemas e emergência de papéis.

É preciso analisar a comunicação verbal e não verbal, redes formais e informais (são redes que
passam a informação como um “telefone sem fio”), formas como os canais de comunicação se
desenrolam (estrela, círculo).
Estrela – uma pessoa recebe a informação, que passa para a outra e esta repassa para outra

Círculo – todas as pessoas recebem informação de maneira igual.

Logo, a produtividade e a criatividade dependem da boa comunicação e solidariedade entre


seus membros

Percebe-se o grupo como um espaço essencial para a mudança da sociedade por envolver uma
reeducação democrática das pessoas.

Quando um grupo se torna conformista, é porque ele não sente desejo de mudança, e ele
acaba se tornando estático. Para que não se chegue a isso, as pessoas precisam se mover com
base em seus interesses no status quo (manter aquilo que já existe), de forma a exercer
pressões para que o grupo se mantenha, até porque grupos não conformistas sentem
inclinações para mudança e visam estruturas flexíveis e funcionais.

Em relação à atmosfera do grupo, ela pode ser entendida como ânimo, disposição, tom
emocional ou sentimento de bem-estar ou desconforto que acontece no interior dos grupos.
Por isso, ela pode ser amistosa ou hostil, calorosa ou fria, rígida ou flexível, cordial ou
agressiva. Ela vai depender do tipo de liderança que é exercida no interior dos grupos.

Ou seja, lideranças autoritárias geram atmosferas hostis, frias, rígidas e agressivas, enquanto
as democráticas geram atmosferas mais amistosas, flexíveis e cordiais, e proporcionam
desenvolvimento da criatividade, produtividade e cooperação grupal.

Assim, o problema fundamental para Lewin era descobrir que tipos de estruturas, dinâmicas,
lideranças, permitem a grupo humano atingir autenticidade em suas relações, e o tipo de grau
de criatividade que será atingido. Dentro disso será investigados os problemas: comunicação,
aprendizado da autenticidade, exercício de autoridade em grupos de trabalho.

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