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PSICOLOGIA SOCIAL

FENÔMENOS DE GRUPO
Douglas Flores de Oliveira

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Olá!
Você está na unidade Fenômenos de Grupo. Conheça aqui alguns dos principais conceitos da Psicologia Social e

das suas tradições teóricas quanto aos fenômenos grupais. Além disso, serão abordados alguns dos seus ramos e

vertentes de estudo e pesquisa, tais como comportamento e coesão grupal, formação de normas, atribuição de

causalidade, papeis sociais, liderança, classe social e status.

O entendimento acerca de tais fundamentos permite um direcionamento no sentido de uma maior efetividade

quanto aos estudos e o correto exercício futuro da profissão.

Bons estudos!

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1 O comportamento grupal
O comportamento gregário, ou seja, o comportamento em grupo e a disposição a viver em sociedade, é básico da

constituição humana, assim como a alimentação, reprodução e autopreservação. A psicologia busca entender o

comportamento e a estrutura psicológica de indivíduos, mas também tem um interesse histórico sobre o

comportamento desses indivíduos diante de grupos, e como os grupos e seus participantes mudam mutuamente

mediante esses contatos.

Um dos primeiros pesquisadores dos fenômenos grupais, e hoje considerado um clássico em psicologia social, foi

Gustave Le Bon ao lançar o livro “Psicologia das massas”, em 1895. Nesta obra, ele procurou separar o que seria

a psicologia do indivíduo e o que seria a psicologia das multidões, constituída de características psicológicas e

dinâmicas próprias, de modo que seus participantes experimentam fenômenos de perda da identidade e da

autonomia mediante sua inserção no grupo e nas atividades e dinâmicas efetuadas dentro de suas estruturas (LE

BON, 1954). Segundo o autor, isso ocorreria por meio de três fatores:

Sentimento de poder;

Contágio mental;

Sugestão.

Esses fenômenos de alteração da individualidade mediante a participação em grupos podem ocorrer nos mais

diferentes tipos de multidões, que, segundo Le Bon (1954), podem se classificar em:

Efêmeras;

Duradouras;

Homogêneas;

Não-homogêneas;

Primitivas;

Massas artificiais (que possuem alto grau de organização).

Com conceitos semelhantes, mas ainda assim distintos, o psiquiatra Sigmund Freud não defendia formas de

mente grupal ou "psiquismo coletivo”, como Le Bon, mas que tais fenômenos poderiam ser compreendidos por

meio de um maior entendimento sobre a estrutura psicológica individual e suas articulações na vida social

(FREUD, 1979).

Para o psicólogo Ignacio Martín-Baró, um grupo é uma estrutura de vínculos e relações entre pessoas que

potencializa individualidades frente a necessidades individuais e interesses coletivos. Para que um grupo seja

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estabelecido há o envolvimento de inúmeros fenômenos e processos, que podem ser individuais ou grupais.

Além destes, há o envolvimento de outros dispositivos sociais e influências institucionais operantes na formação

e manutenção de um grupo. É o caso, por exemplo, da:

• Coesão

resultado da aderência do indivíduo ao grupo, sua fidelidade aos objetivos e unidade no conjunto de

ações.

• Padrões grupais

conjuntos de expectativas, normas e comportamentos que são exaltados, reforçados e compartilhados no

contexto grupal, de modo a obter benefícios a partir das respostas às demandas destes mesmos padrões

de grupo.

• Motivações e objetivos

elementos relacionados às influências exercidas sobre o indivíduo em relação às suas decisões quanto a

participar de determinado grupo e aderir a ele.

• Liderança

habilidade que determinado membro do grupo tem ou conquista, de motivar, influenciar e provocar

comportamentos adequados e efeitos positivos neste grupo.

Já a teoria do psiquiatra e psicanalista Enrique Pichon Rivière teve como foco o desenvolvimento de

compreensões sobre o que ele denominou de grupos operativos. Trata-se, segundo ele, de um conjunto restrito

de pessoas que fazem parte de uma estrutura dinâmica de vínculos e que se articulam mutuamente para a

realização de tarefas direcionadas a objetivos. Ou seja, para que haja a constituição de um grupo deve haver um

determinado número de pessoas, um vínculo entre elas, a realização de uma tarefa e um objetivo. Nesse sentido,

as teorias de Pichon Rivière, mais especificamente a teoria do vínculo, denota que o indivíduo se estrutura e se

revela por meio da ação, do desempenho de papeis e do estabelecimento de vínculos (PICHÓN-RIVIÉRE, 1998).

Uma das bases teóricas centrais de Rivière é a do esquema conceitual referencial e operativo (ECRO), que

pode ser de dois tipos:

Individual

valores, crenças, medos e fantasias.

Grupal

esquema comum aos participantes de determinado grupo.

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Em 1945, o psicólogo Kurt Lewin fundou o Centro de Pesquisa para a Dinâmica dos Grupos, no Massachussets

Institute of Technology (MIT). Lewin tinha muita curiosidade em relação às formas de estruturação e

organização grupal e fez uso de termos de outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, da física (espaço

topológico, sistema de forças, dinâmica), para explicar o comportamento grupal e as interações entre seus

membros. Para ele, uma das funções grupais é a definição de papeis (LEWIN, 1951, 1978), com base nas quais

desenvolveu duas importantes teorias sobre grupos:

um grupo é constituído de forma dinâmica, ou seja, por um conjunto de forças diversas que
Teoria da
produzem atividades e mudanças em esferas específicas. Diversas forças sociais,
dinâmica de
intelectuais e morais atuam e afetam de forma central os grupos, assim como suas origens,
grupo
reações e comportamentos.

Teoria de a percepção ambiental e contextual desempenha forte influência sobre o comportamento,

campo de modo que o indivíduo pode ser entendido como um produto do seu meio.

Nesse sentido, é interessante entender outros conceitos básicos das teorias de Lewin que permitem maior

compreensão de sua obra e entendimento sobre o comportamento grupal:

Coesão de grupo
o resultado da aderência de um indivíduo em relação ao grupo e a fidelidade deste mesmo indivíduo à unidade

deste grupo e aos seus objetivos.


Pressões e padrão
argumentos utilizados pelo grupo para garantir pertença e fidelidade a si e seus objetivos.
Liderança
a força do carisma e da influência exercida sobre os indivíduos do grupo.
Propriedades estruturais
formas de estrutura típica de determinados grupos, tais como padrões de comunicação, desempenho de papeis e

relações de poder.

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1.1 A psicologia social dos grupos: coesão grupal

A coesão grupal pode ser entendida como a soma de forças existentes dentro de determinado grupo que atrai e

une seus membros, dependendo de fatores como motivação, continuidade, satisfação, aderência às regras e

continuidade (SPECTOR, 2006).

Entre algumas das primeiras pesquisas sobre coesão social estão as de Martín-Baró e de Lewin, já mencionadas

anteriormente, e também as dos psicólogos Leon Festinger e Pichon Rivière. Festinger realizou importantes

contribuições para a psicologia social, principalmente em relação ao entendimento dos fenômenos de coesão

grupal e dissonância cognitiva (FESTINGER, 1950). Com o tempo, os fenômenos de coesão começaram a ser

estudados de um ponto de vista mais interdisciplinar e passaram a ser considerados como sendo de natureza

multifatorial, e envolvendo fatores como engajamento, moralidade, emoção coletiva, vínculo grupal e

comprometimento (PICAZO et al., 2015). Já Pichon Rivière complementa essas ideias ao defender que as

necessidades em comum entre os membros do grupo induzem maior coesão social, enquanto os indivíduos são

possibilitados de buscar seus objetivos sem perder sua singularidade (RIVIÈRE, 1998).

A coesão pode ser aferida pela soma entre fatores atrativos e repulsivos deste grupo (CARTWRIGHY e ZANDER,

1972), mas também pela aceitação, sensação de solidariedade e pertença individual entre membros e seu grupo

(YALON e LESZCZ, 2006).

Algumas estruturas sociais são responsáveis por propiciar maior coesão social, de acordo com teóricos como

Auguste Comte e Émile Durkheim. Para Comte, instituições religiosas, por exemplo, teriam como principal

função prover integração aos sistemas sociais, além de estabilizar as relações e consolidar normas e estruturas,

principalmente por meio do uso de forças morais e crenças (COMTE, 1890a).

Já para Émile Durkheim, as instituições religiosas teriam uma função social fundamental por manter a união de

estruturas sociais, e as crenças religiosas seriam meios culturais de manter, estabilizar e regular as relações;

nesse sentido, o sociólogo considera a religião como um “fato social”, cujo poder exerce coesão grupal e permite

uma ação de reciprocidade entre religião e sociedade (DURKHEIM, 1989). Além dos rituais especificamente

religiosos, inúmeras espécies de rituais estão envolvidas em processos de coesão grupal, podendo envolver

experiências de êxtase e estados alterados de consciência (FLORES, 2020).

Fique de olho
Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia moderna, foi um renomado e competente
pesquisador dos fenômenos religiosos humanos, incluindo seus aspectos rituais e
institucionais. Os estudos de Durkheim apresentam inúmeros paralelos e relações com a
psicologia da religião, área cada vez mais estudada no Brasil e no mundo.

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psicologia da religião, área cada vez mais estudada no Brasil e no mundo.

O valor adaptativo do comportamento gregário é muito relevante para a sociedade, inclusive pelo fato da coesão

grupal promover a cooperação. O ingresso em grupos é uma decisão adequada, pois promove vantagens

provenientes da coesão desse mesmo grupo, além de possibilitar novos contatos e padrões comportamentais

devido às novas associações comunitárias (EVANS e MORAND-FERRON, 2019).

Sabe-se que indivíduos se associam sempre da forma mais seletiva possível e visando o maior grau de ganhos e

benefícios advindos deste grupo em que visa se inserir. Essa inserção, por sua vez, altera tanto o próprio sujeito,

como também a própria estrutura grupal em que ele foi inserido (EVANS e MORAND-FERRON, 2019).

Portanto, é possível verificar que as definições conceituais e operacionais sobre coesão social podem variar

sobremaneira, mas é comum entre as mais diferentes abordagens teóricas e pesquisas experimentais que a

coesão permite cooperação e é um dos constructos básicos para outros tipos de estruturas, fenômenos e

dispositivos sociais. É, portanto, fundamental e nuclear dentro das complexas e variadas dinâmicas sociais

humanas (CARRON e BRAWLEY, 2000).

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1.2 Formação de normas sociais

É possível entender as normas sociais como quadros de referência. Essas normas são regras de

comportamentos, tradições, padrões, condutas e valores, que são negociadas socialmente mediante o contato

dos próprios participantes sociais (SHERIF, 1936). Essas normas sociais têm a função de regular o

comportamento do grupo, elaborar formas de comportamento adequado e estipular padrões bem delimitados

quanto ao desempenho de papeis sociais. Além disso, as normas sociais têm o papel de efetuar uma constante

manutenção do grupo, visando sua saúde e perpetuação (SHERIF e SHERIF, 1956).

Tais normas sociais são fenômenos percebidos e compreendidos pelos membros de um grupo e que guiam,

punem ou recompensam o comportamento mediante uma complexa interação de forças e influências, que

emergem da interação e que podem ser explícitas ou implícitas (CIALDINI e TROST, 1998). Comumente, as

normas sociais envolvem aspectos distintos, como valores, costumes, estereótipos e convenções, considerados

como estímulos à aderência grupal e coesão social (LAPINSKI e RIMAL, 2005).

Pesquisas contemporâneas também têm confirmado alguns dados de pesquisas clássicas relacionadas à

psicologia social. Desde as primeiras décadas de pesquisas na área, sabe-se que há uma tendência de

alinhamento do comportamento individual em relação aos grupos e suas normais sociais (ASCH, 1952). As

pessoas também têm uma inclinação a buscar entender mecanismos de grupos e aspectos envolvendo

gregariedade e pertença grupal, assim como as influências mútuas exercidas entre indivíduos e grupos

(TANKARD e PALUCK, 2016).

Atualmente também tem se considerado três fontes principais de informações que são usadas para compreender

normais sociais:

Comportamento individual;

Informações resumidas sobre um grupo;

Sinais institucionais.

Esses três aspectos nucleares são considerados frente a eventos e experiências que demandem normas e regras

de grupos, instituições e comunidades (TANKARD; PALUCK, 2016).

As normas sociais podem ser adquiridas pela mera observação, por meio da escuta e de informações, opiniões,

comportamentos de grupo e sistemas institucionais, o que acaba por influenciar no processo envolvendo as

impressões sobre regras, normas de punição e recompensa, e quanto ao normalmente aceito pelo grupo. Sabe-se,

por exemplo, que estudantes costumam ser mais influenciados pelas normas de seus pares do que as normas

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familiares (PERKINS, 2002). Indivíduos em geral aprendem sobre as normas grupais de referência com o tempo,

e atualizam constantemente suas impressões conforme interagem com seu grupo ou sobre seu grupo com outras

fontes. Isso demonstra que a percepção acerca de normas sociais é um processo dinâmico e não é estático

(TANKARD E PALUCK, 2016).

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2 Papel social, facilitação social, impacto social e
pensamento grupal
Os grupos são sistemas complexos que mudam constantemente e que se organizam sob quatro princípios

básicos:

• Consolidação

a constante interação entre os membros do grupo cria padrões de ações e comportamentos.

• Agrupamento

há uma tendência maior de interação entre indivíduos e grupos com opiniões semelhantes.

• Correlação

com o passar do tempo há uma convergência das opiniões dos integrantes de determinado grupo.

• Diversidade contínua

é gerada por meio da interação entre membros de um grupo minoritário com os membros da maioria

sem, no entanto, a minoria ceder à influência da maioria.

Nesse sentido, à medida que ocorre a dinâmica entre esses fenômenos referentes aos conceitos, haverá uma

mudança no sistema grupal. Isso pode levar um grupo a ser interativo, mas com pouca divergência de opiniões,

ou muita; a ser facilmente influenciável e apresentar pouca interação entre os membros, ou muitas. Essa

complexidade de variáveis e possibilidades leva também a outros conceitos e permite compreender os

fenômenos, o que torna mais fácil de analisar sua complexidade nos casos em que há a junção de vários fatores.

Ou seja: começa-se do menos específico e menos complexo para o mais específico e mais complexo.

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2.1 Pensamento grupal

O criador da teoria do pensamento de grupo foi Irving Janis, professor de psicologia social de Yale (EUA).

Segundo ele, as pessoas decidem apressadamente sobre tudo devido ao forte desejo de concordância e busca por

coesão grupal, o que gera alguns sintomas (JANIS, 1972):

Ilusão de invulnerabilidade;

Crença na moralidade inerente do grupo;

Racionalização coletiva;

Autocensura;

Culto à unanimidade;

Pressão direta sobre os discordantes.

Esses sintomas acabam se transformando em normas grupais, manifestando-se por meio de atitudes e

posicionamentos e atuando como princípios básicos que acentuam pertença grupal e visam a coesão social,

como, por exemplo, o caso dos papeis sociais.

2.2 Papeis sociais

Papeis sociais são estabelecidos por meio da relação entre normas sociais e dinâmicas grupais e estão entre os

constructos responsáveis pela complexidade e ampla atuação das diversas estruturas sociais. Os papeis sociais

podem ser atribuídos ou adquiridos conferindo status e possibilitando classificações, por meio de normas,

tradições e expectativas que condicionam o comportamento.

Uma teoria elaborada pelo médico e psicólogo Jacob Levy Moreno trata sobre os papeis como formas reais

adotadas pelo ego. Para Moreno, o desempenho de papeis seria anterior ao próprio surgimento do eu, de modo

que o ego emergiria dos papeis. A teoria de Moreno distingue três tipos de papeis no desenvolvimento

individual:

aqueles que determinam as funções de comer, dormir ou exercer a atividade sexual;

aqueles que delimitam a estrutura psicológica;

constituem a estrutura discriminativa entre realidade, ou seja, os papeis sociais, e fantasia – os papeis

psicológicos.

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2.3 Facilitação social

De maneira um pouco distinta da teoria dos papeis, há o conceito de facilitação social. Trata-se da alteração

comportamental que ocorre sob influência de pelo menos um expectador, ou a presença real, implícita ou

imaginada de outros (LEWIN, 1951, 1978; CARTWRIGHT e ZANDER, 1968).

O psicólogo norte-americano Norman Triplett foi o primeiro pesquisador dos conceitos de facilitação social

num laboratório de psicologia em 1898. Suas pesquisas mostraram efeitos de cooperação e de desempenho de

tarefas que pareciam ser potencializados diante da mera presença de outras pessoas. Outras pesquisas clássicas

também mostraram resultados semelhantes (TRAVIS, 1925; DASHIELL, 1935; CHEN, 1937).

No entanto, outros pesquisadores consideram que a facilitação social não ocorre por meio da presença de outros,

mas pela apreensão quanto à avaliação de outrem (COTTRELL et al., 1968). Resultados de outros estudos

demonstraram que a facilitação social não necessita envolver, obrigatoriamente, a presença de outro elemento,

podendo se limitar à expectativa, à imaginação e a pistas de presença para já ser suficientemente efetiva. A

qualidade das relações sociais com as pessoas envolvidas também é um importante fator para a facilitação social

(NAKATA; KAWAI, 2017).

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2.4 Impacto social

O impacto social é formado pela conjunção de três leis:

estabelece que o impacto social é função dos fatores de força (fatores individuais que

fazem com que alguém seja influente), imediatismo (recente ocorrência de determinado
Forças sociais
evento) e número de fontes (quantidade de fontes de influência). O aumento de qualquer

um destes fatores aumenta o impacto social.

estabelece que, quanto menor o número de fontes existentes, maior será o impacto social,

Psicossocial de modo que uma única fonte exerceria um impacto maior que três, e assim

sucessivamente.

estabelece que, quanto mais força, imediatismo e número de objetivos houver em

Multiplicação determinada situação social, mais o impacto social será dividido entre os objetivos. Essa

e divisão do lei ajuda explicar a difusão da responsabilidade, ou seja, o fato de as pessoas sentirem-

impacto se menos responsáveis conforme é maior o número de pessoas envolvidas na mesma

atividade ou objetivo que elas.

Diante disso, observa-se a possibilidade de incluir diferentes tipos de análise a fenômenos sociais e, por

conseguinte, diferentes variáveis. Analisar a variável psicossocial permite estabelecer o impacto social nas

relações, de forma direta, de modo que observar o número de fontes possibilitaria questionar sobre o impacto

exercido por determinada informação. A variável da multiplicação e divisão do impacto permitiria verificar a

força e os métodos utilizados em direção a determinado objetivo, o que pode ajudar em relação a análises e

intervenções quanto a aspectos comportamentais e protocolos institucionais, por exemplo. A variável da

difusão da responsabilidade permitiria uma análise mais aguçada sobre fenômenos grupais em contextos

políticos e comunitários, como o que leva as pessoas a votarem e se comportarem de determinada maneira em

grupos maiores, ou a forma como diferem em suas ações e opiniões quando inseridas em grupos menores ou

maiores, por exemplo.

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3 Fenômenos grupais
Fenômenos grupais são todos aqueles aspectos que se manifestam sempre que há uma formação grupal. Nesse

sentido, praticamente todo acontecimento proveniente de um grupo pode ser considerado um fenômeno grupal.

No entanto, aqui são especificados alguns aspectos mais fundamentais dessas estruturas de grupo.

É importante salientar que fenômenos grupais não são apenas agrupamentos de pessoas, mas também as

condições em que essas pessoas se encontram e manifestam. Ou seja, é necessário entender as emoções como

fenômenos sociais, pois comum e facilmente transformam-se em eventos sociais ou afetam as estruturas em que

esses eventos ocorrem. Diversos rituais, hábitos e grupos contribuem para a manifestação de experiências

emocionais coletivas e casos de sincronia emocional entre os participantes de grupos (TAMMINEN et al., 2016).

Figura 1 - Fenômenos de grupo


Fonte: GoodStudio, Shutterstock (2020).

#PraCegoVer: A imagem mostra um grupo de pessoas reunidas e formado por várias faixas etárias, sexos e

grupos multiétnicos ou multinacionais.

Sendo assim, é possível perceber que as emoções auxiliam os indivíduos a se adaptarem aos seus ambientes e

solucionarem problemas, mas também a coordenar interações e relações sociais (TAMMINEN et al., 2016), o que,

por sua vez, distingue-se como um importante fenômeno grupal de base.

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3.1 Identificação grupal

A identificação grupal é a eficaz inclusão da figura de si num sistema externo de categorização social, por meio

da soma de identificações que definem o “eu” em sua similaridade com esse sistema complexo (TURNER, 1982).

Isso faz com que as pessoas sejam levadas a escolher atividades e grupos que sejam semelhantes a elas e às suas

identificações. É importante haver uma boa consonância de identificação social, pois se sabe que ela afeta

positivamente o comportamento, a coesão social, as interações pessoais e o rendimento em determinadas

atividades. A identificação social também reforça a aderência do indivíduo ao grupo e o apego aos valores e

papeis deste mesmo grupo (ASHFORTH e MAEL, 1989).

É importante salientar que as pessoas não possuem identidades sociais homogêneas, e muitas vezes há

coexistência de identidades contraditórias. Essas identidades também não são determinadas ou fixas, pois

podem experimentar alterações mediante o constante processo de forças e influência sociais (LOPES, 2001).

Há uma atribuição de importância que é dirigida mutuamente entre grupo e indivíduo, de modo que há uma

identificação do indivíduo com o grupo em questão, que é dotado de uma importância subjetiva por este mesmo

indivíduo, que demonstra uma necessidade e um desejo de se integrar ao grupo. Para chegar a esse objetivo,

pode haver uma espécie de dissolução de si como parte de um fenômeno de envolvimento grupal, de modo que

algumas características individuais dão lugar a outros fenômenos e características mais relacionadas ao próprio

grupo.

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3.2 A psicologia social dos grupos: liderança

Os estudos sobre liderança experimentaram diversas fases de pesquisa. Primeiramente, até o final da década de

1940, os estudos sobre liderança consideravam traços e características da figura do líder. A partir daí, até

meados dos anos de 1960, o foco prevaleceu na perspectiva comportamental do líder. Entre a década de 1960 e

1980, houve uma maior adesão a estudos e pesquisas que consideravam os contextos ambientais e aspectos

contingenciais de onde ocorriam os fenômenos de liderança. A partir daí começaram a aparecer inúmeras

perspectivas sobre liderança, com inúmeras teorias sendo elaboradas.

Nos últimos anos, então, prevaleceu a corrente denominada interacionista, ou seja, de que haveria uma

interação e envolvimento de diversos fatores por trás da liderança, como exigências contextuais, características

pessoais do líder e também grupais, e o conjunto de comportamentos considerados eficazes em razão dos

objetivos buscados (BRYMAN, 1996).

Aqui, a liderança pode ser entendida com base em três elementos básicos que a constituem:

Grupo;

Objetivo;

Influência.

Ou seja, os líderes são constituídos numa relação interdependente com o grupo, em razão de um conjunto de

objetivos e necessidades de ambos, e também de acordo com a rede de influências que os afeta.

Uma revisão demonstrou a extrema dificuldade em desenvolver uma possível teoria da liderança ou

estabelecer princípios gerais para tal tarefa de liderar. Este estudo também considerou que há uma enorme

variação quanto às características de líderes em situações semelhantes, o que torna esse tipo de fenômeno mais

complexo do que aparenta (JENKINS, 1947).

E uma pesquisa exaustiva de revisão da literatura demonstrou que o líder surge como consequência das

necessidades de determinado grupo e da natureza das situações com que este grupo tenta lidar. Isso porque a

liderança não é sobre status ou conjunto de características, mas de uma relação entre o grupo e seu líder, que

somente passar a ter o status por meio da participação eficiente e da demonstração de sua capacidade de levar

adiante a cooperação do grupo e direcioná-lo aos seus objetivos (STOGDILL, 1948).

A organização institucional é paradoxal em muitos sentidos, e isso demanda lideranças que também saibam

administrar esses inúmeros paradoxos de forma simultânea e com um estilo de liderança também paradoxal,

capaz de realizar uma junção de estilos de liderança formal e compartilhada. Isso permite um melhor

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gerenciamento do grupo e também das expectativas, ações e administração de eventos enquanto há um

direcionamento para os objetivos de curto e longo prazo (PEARCE et al., 2019).

Em contextos que são, paradoxalmente, cada vez mais nichados, mas também diversificados, estilos de liderança

que consigam adequar-se a métodos formais, hierárquicos, compartilhados e espontâneos permitem um

universo muito maior de possibilidades de ações e decisões (PEARCE et al., 2019).

Isso demonstra as crescentes demandas e exigências institucionais quanto à criatividade para elaborar métodos

e processos, mesmo nos mais variados contextos, como também de saber administrar estresses grupais e

diversificados tipos de ambições individuais. Ambientes cada vez mais competitivos, dinâmicos e mutáveis

exigem abordagens que maximizem a produtividade e a ação, de modo que as figuras de lideranças paradoxais e

integrativas são cada vez mais buscadas e exaltadas (SHAO et al., 2019).

Desse modo, habilidades para administrar tensões e desenvolver a criatividade a nível grupal, como também

aumentar a auto eficácia do grupo e estimular a espontaneidade em seus atores sociais é algo cada vez mais

valorizado e buscado (SHAO et al., 2019). Uma forma eficaz de intervenção no sentido de liderança seria de

fortalecer a auto eficácia criativa e servir como modelo de comportamento paradoxal e de administração de

tensões (SHAO et al., 2019).

Assista aí

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3.3 A psicologia social dos grupos: status

A base daquilo que se considera como realidade é construída a partir das relações que se estabelecem e das

ideias que se adotam. Essas relações e ideias, por sua vez, trazem consigo um valor intrínseco e um valor

adquirido, que comumente varia de acordo com quem avalia. Um destes valores é o status, que pode ser

intrínseco, no sentido de papeis e classes sociais, ou adquirido, como em casos ligados a aspectos mais

diretamente econômicos, políticos e ideológicos, de modo que o status é um fenômeno fortemente subjetivo e

relativo (GOODMAN et al., 2001).

A classe social é um tipo de construção envolvendo status e, assim como outros status sociais, é mantida por

meio da imposição de categorias subjetivas que influenciam na forma como a realidade social é construída e

representada. O status social não é um dado bruto, mas resultado de manipulações simbólicas e monopólios de

representações impostas por aqueles que têm o poder e a influência, que agem para perpetuar os status vigentes

e aumentar seu próprio poder simbólico (BOURDIEU, 1977).

Portanto, a estrutura é formada, em partes, pelas classes que a compõem e pelas formas como se estabelecem

posições vistas como superiores ou inferiores, podendo ser baseadas em aspectos políticos, econômicos ou

envolvendo papeis sociais. Além dos status mais subjetivos e genéricos, também há aqueles que estruturam boa

parte da civilização e do funcionamento social, tais como os status jurídicos, como o casamento e o conceito de

cidadania (MARSHALL, 1964).

Max Weber considerava o status como reinvindicações por meio das quais a sociedade legitima seus privilégios

e se mantém seletiva em relação aos seus membros (WEBER, 1978). E Émile Durkheim considerou que as

hierarquias de status social e seus sistemas de avaliação formam parte da espinha dorsal da estratificação social,

mas também beneficia a sociedade por meio da integração social, por garantirem recompensas que são

vinculadas a esses status e suas utilidades sociais, o que gera uma percepção social de que a justiça é feita e a

virtude recompensada (DURKHEIM, 1989). Mas isso não significa que as posições mais valorizadas são as que

recebem maiores recompensas, mas que se tornam meios de atrair “candidatos qualificados”, devido a uma

demanda exigida pelo próprio sistema para perpetuar sua manutenção (BOURDIEU, 1977).

Assista aí

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4 Fenômenos atribucionais de causalidade
A teoria da atribuição da causalidade foi proposta pelo psicólogo austríaco Fritz Heider, em 1958. A teoria é

formada a partir de ideias psicodinâmicas e também cognitivista, e tem como objetivo compreender os

processos pelos quais as pessoas se utilizam, consciente ou inconscientemente, para explicar eventos e

experiências diversas (HEIDER, 1958; MARTINS, 2012).

A atribuição de causalidade manifesta-se mesmo em casos de não haver conhecimento prévio ou explicações

coerentes e satisfatórias para a experiência. É formada a partir de crenças, ideologias, vieses cognitivos e dados

culturais, que levam as pessoas a agir na busca por conexões capazes de explicar comportamentos e os eventos

da vida, assim como suas relações, causas e sentido (MARTINS, 2012). Isso permite uma maior percepção de

previsibilidade sobre o mundo e a existência, assim como uma diminuição das lacunas explicativas entre o que

era esperado e o que, de fato, ocorreu, diminuindo incongruências entre os dados dos sentidos, erros

perceptivos, a dissonância cognitiva e a interpretação subjetiva (HEIDER, 1958).

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4.1 Atribuição de causalidade em Heider

Além de todas as funções já descritas, a atribuição de causalidade pode envolver resposta às demandas das

pessoas por um mundo estável, previsível e controlável, de modo a possibilitar a construção de modelos causais,

indutivos e dedutivos e o estabelecimento de uma relação fixa e coerente de causa e efeito (HEIDER, 1944, 1958).

A percepção que se tem sobre um dado evento é singular a cada indivíduo e ela exerce mais influência na

conduta dessa pessoa do que a própria realidade (HEIDER, 1944). Ou seja: para Heider, a atribuição de

causalidade é o processo de busca de justificativas acerca da razão dos acontecimentos que auxilia o indivíduo a

entender e controlar o comportamento seu e dos demais (HEIDER, 1958).

Para o autor, há dois tipos básicos de atribuição de causalidade:

Atribuição interna
disposições internas centradas em outra pessoa, como personalidade. Os fatores pessoais são internos ao sujeito

e as causas são consideradas diretamente relacionadas a ele e podem ser classificados em características estáveis

(habilidade e capacidade) e instáveis (esforço, empenho e intenção).


Atribuição externa
direcionada a situações advindas do contexto e do ambiente. Os fatores ambientais são externos ao sujeito e as

causas são consideradas impessoais, como dificuldades e facilidades da tarefa, acaso e características das outras

pessoas.

Nossa cultura ocidental, segundo Heider (1958), é levada a enviesar por preferência em atribuições internas. Ele

também destacou a importância de psicólogos compreenderem o que chamou de psicologia ingênua, ou seja, a

psicologia do senso comum. Isso porque as pessoas, no geral, têm necessidade de buscar a causa dos

acontecimentos e entender o mundo que as rodeia (HEIDER, 1958).

Fique de olho
Os estudos sobre Fritz Heider ainda são muito importantes, pois servem de base para os
estudos contemporâneos de atribuição da causalidade e influenciam muitos pesquisadores ao
redor do mundo. No Brasil, há destaque para as pesquisas do professor Geraldo José de Paiva,
livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), e destacado pesquisador das teorias de
Heider, principalmente no que concerne aos conceitos de psicologia do senso comum, ou
psicologia ingênua.

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Além dos trabalhos iniciais de Heider, outros inúmeros teóricos contribuíram com teorias sobre atribuição de

causalidade e suas mais distintas aplicações, como é o caso de Edward Jones, Keith Davis, Harold Kelley, Bernard

Weiner, Dan Russell, Bernard Spilka, Phillip Shaver e Lee Kirkpatrick (ROSS e FLETCHER, 1985; GRAHAM e

WILLIAMS, 2009).

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4.2. Atribuição de causalidade em Harold Kelley

A contribuição de Harold Kelley é muito importante devido ao seu modelo de covariação. Segundo suas teorias,

as pessoas atribuem causas a situações, processando informações constantes sobre situações e eventos, de modo

que, se um evento costuma ocorrer na presença de algo, atribui-se a isso a sua causa (KELLEY, 1967).

Para ele, as atribuições são feitas a partir do confronto entre três fontes de informação:

Consenso

Referente ao modo típico das pessoas se comportarem diante de um mesmo estímulo. Quando diversos e

distintos envolvidos reagem de forma semelhante a determinado estímulo (KELLEY, 1967).

Distintividade

O modo como a pessoa cujo comportamento está sendo julgado se porta em outras situações, em comparação

àquela na qual exibe o referido comportamento. Percepção de que determinado comportamento é emitido

apenas face à presença de estímulos específicos (KELLEY, 1967).

Consistência

A frequência da associação entre o comportamento observado e o mesmo estímulo em situações diversas. Há

formação de um conhecimento sobre o padrão comportamental do observado quando este costuma agir de

forma semelhante em vários casos. Ou seja, sempre que há um estímulo semelhante, a pessoa manifestará um

padrão de resposta também semelhante (KELLEY, 1967).

Para o autor, quando o comportamento diante de um estímulo possui baixos níveis desses três aspectos,

comumente atribui-se o comportamento a causas pessoais específicas, internas, e quando apresenta altos níveis

desses três aspectos, comumente atribui-se o comportamento a características da entidade em si, ou seja,

atribuição externa. Sua teoria auxilia no processo de distinção entre causas derivadas do ambiente das

derivadas do sujeito (KELLEY, 1967).

É isso que, anos mais tarde, leva Lee Ross a citar o erro fundamental de atribuição de causalidade, no sentido

de aperfeiçoar a teoria de Kelley. Para Ross (1977), tal erro de atribuição envolve as situações em que os

julgamentos sociais são demasiadamente influenciados por causas internas, ignorando o contexto e o ambiente.

Isso pode ocorrer devido a um complexo conjunto de forças e influências, como vieses cognitivos, emoções,

ideologias, tradições, histórico de aprendizados e história de vida, levando a significativos erros de percepção e

equívocos interpretativos.

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4.3 Teoria da atribuição em Spilka e colaboradores

Interessante salientar que a teoria da atribuição de causalidade se aplica a inúmeras espécies de eventos, como

políticos, econômicos, ideológicos e religiosos (SPILKA et al., 1985). Bernard Spilka e Phillip Shaver, então

professores de psicologia, e Donald Kirkpatrick, doutorando da Universidade de Denver, aplicam a teoria da

atribuição de causalidade à psicologia da religião, pois a atribuição de causalidade costuma atribuir explicações

a eventos, por meio de aspectos envolvendo aparentes compatibilidades e hierarquização de causas.

O processo de atribuir essas causas é comumente motivado pela necessidade de perceber os eventos como

significativos, seja pelo desejo de predição e controle, seja pela necessidade de conforto e proteção, ou pelo

narcisismo e egocentrismo. Os processos de atribuição são deflagrados quando ocorrem eventos que não podem

ser automaticamente assimilados pelo sistema de crenças-significado do indivíduo; daí as tentativas de encaixar

eventos em amplos sistemas de crença e significado, como também a busca por predição e controle (SPILKA et

al., 1985).

As investigações sobre a atribuição têm revelado que, diante de um evento, as causas mais frequentemente

citadas pelas pessoas são: esforço, capacidade, dificuldade da tarefa e sorte (WEINER, 2004).

A atribuição de causalidade envolve diversos aspectos, como heurísticas, vieses, ideologias, emoções,

dissonâncias e preconceitos que conduzem a interpretações e atribuições equivocadas. Isso tudo é capaz de

alterar a forma como interpretamos o mundo à nossa volta, nossas relações e a atribuição de causa e sentido a

eventos e quanto à própria existência. Daí a importância de termos percepção sobre o real impacto e a forte

relevância que um conhecimento sobre atribuição de causalidade pode desempenhar em nossa vida.

Assista aí

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5 O processo de tomada de decisões
Os modelos de todo e qualquer processo de tomada de decisão são dos mais variados possíveis, indo desde os

mais anárquicos aos mais racionalizados. Os processos de tomada de decisão são multifatoriais, mas todos

correspondem à mesma finalidade de escolha entre alternativas ou possibilidades, dizendo respeito a todos os

processos que se constituam como dependentes de decisões. Portanto, a área de estudos que envolve essa

temática é ampla e abrange a aplicação destes conhecimentos em contextos organizacionais, hospitalares,

educacionais, clínicos, sociais etc.

5.1 Modelo anárquico

No modelo anárquico, tanto os objetivos quanto os procedimentos, são ambíguos. Neste modelo, as

organizações não apresentam coerência em relação às situações vivenciadas, visto que os problemas e as

soluções são concebidos como uma maior preponderância de aleatoriedades e eventos desconexos, de modo que

as decisões resultariam do encontro de eventos e experiências independentes em relação a problemas, soluções,

participantes e situações de escolha. Não há clareza em relação aos problemas e às decisões (COHEN et al., 1972).

O modelo anárquico de decisão costuma considerar variáveis apenas na medida em que são geradas, de modo

que a decisão ocorre quando problemas e soluções coincidem. Portanto, trata-se de um modelo regido pelo acaso

e sem estruturas ou processos inerentes a ele.

Aqui, as decisões são tomadas após se pensar sobre o problema por determinado tempo, levando a adotar uma

alternativa de forma incidental e rápida, e não considerar um histórico de decisões e consequências em casos de

decisões futuras. Comumente pode haver um abandono da possibilidade de escolha, quando parece não haver

uma resolução para o problema decisório (CHOO, 2003).

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5.2 Modelo racional

Por sua vez, outros modelos mais racionais, como o modelo de tomada de decisão racional, costumam ser

mais sistematizados e estruturados. Este último, por exemplo, pressupõe regras e procedimentos predefinidos,

que devem ser seguidos. Ele envolve questionamentos acerca do problema, sua origem, as alternativas de

solução, os custos envolvidos, e os prós, contras e vantagens de cada alternativa e suas consequências. Além

disso, costuma-se considerar tudo no sentido do desenvolvimento de um padrão para tomar decisões em

situações similares no futuro (MARCH e SIMON, 1975; CYERT e MARCH, 1992; MARCH, 1994).

O processo de tomada de decisão vai além da escolha em si. Ele ainda persiste após o momento decisório,

envolvendo o monitoramento da decisão e suas consequências, além de análises e acompanhamento dos

resultados obtidos (STONER e FREEMAN, 1992).

Processos simples ou complexos de tomada de decisão envolvem a avaliação das variáveis pelo sistema nervoso,

que as analisa e pondera, a fim de solucionar o problema, de modo a maximizar ganhos ou minimizar perdas.

Mas quais processos são seguidos nessa trajetória decisória? (CORRÊA, 2011)

Os mecanismos são adaptativos, pois permitem lidar com circunstâncias novas e inesperadas (CORRÊA, 2011).

Algumas teorias consideram que o processo de tomada de decisão implica na plena consciência quanto às opções

e resultados disponíveis e que haviam diferenças claras entre as alternativas (STERNBERG, 2000). Enquanto

outras consideram que a tomada de decisão em humanos é expressão de uma racionalidade limitada (SIMON,

1957). E, diante de ocasiões em que há muitas alternativas, o indivíduo foca num aspecto ou atributo dessas

inúmeras alternativas e estipula esse critério mínimo para tal aspecto, o que facilitaria o processo de tomada de

decisão, sob o custo de que esse atalho mental poderia distorcer a capacidade para tomada de decisões racionais

(TVERSKY, 1972).

Frente a isso, sabe-se que o processo de tomada de decisão é multifatorial e amplo, exigindo que os estudos que

tenham como foco padrões de tomada de decisão, se concentrem num amplo leque de possibilidades e numa

análise mais complexa dos fenômenos. Devido à fundamental participação dos processos inconscientes e

conscientes envolvendo a tomada de decisão, é importante haver uma clara noção do grande número de

variáveis envolvidas nesse tipo de fenômeno e, por consequência, em suas avaliações.

é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• entender que a psicologia social busca entender o comportamento e a estrutura psicológica individuais,

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• entender que a psicologia social busca entender o comportamento e a estrutura psicológica individuais,
mas que também tem interesse histórico no comportamento desses indivíduos;
• constatar o valor adaptativo do comportamento gregário e a relevância social da coesão social;
• compreender que as normas sociais podem ser adquiridas pela mera observação, pela escuta e pelos
comportamentos de grupo;
• entender que a base do que se considera realidade é constituída a partir das relações estabelecidas e das
ideias adotadas.

Referências
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construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: SENAC, 2003.

COHEN, M. D., MARCH, J. G. e OLSEN. A garbage can model of organizational choice. Administrative Science

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