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SOCIAL
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os pequenos grupos, como eles se ar-
ticulam e se desenvolvem conforme os processos grupais específicos e
as suas características. Primeiramente, você vai acompanhar as teorias
que contribuem para o estudo e a compreensão dos pequenos grupos,
além de se apropriar de dados sobre os autores que, com base em seus
conhecimentos, desenvolveram um ampliado panorama sobre o fun-
cionamento dos pequenos grupos.
A seguir, você compreenderá os diversos atravessamentos propor-
cionados por influências teórico-metodológicas e comunicacionais nos
pequenos grupos, conhecendo as bases que fundamentaram os olhares
teóricos científicos sobre os pequenos grupos. Por fim, você também
vai analisar como os processos grupais se desenvolvem nos pequenos
grupos, considerando suas características e especificidades.
Seminotti, entre outros, embora nem sempre nos estudos desses autores o foco
principal estivesse nos pequenos grupos propriamente. Tais autores pesquisadores
oportunizaram uma ampliação na concepção de pequenos grupos, inserindo
conhecimentos advindos de uma diversidade de teorias, entre as quais estão
as teorias psicanalítica, gestáltica, humanista, psicossociológica, cognitivista-
-comportamental, psicodramática, entre outras (SEMINOTTI, 2016).
Cada autor, a partir da sua linha contextual, aprofundou suas pesquisas na
busca pela formulação de teorias e ampliação dos conhecimentos que acabaram
por contribuir significativamente para as teorias sobre os pequenos grupos.
Os estudos desses autores conceberam uma sistemática de organizadores
psicológicos para os pequenos grupos, como idealizações e fantasias indivi-
duais e coletivas, representações, configurações psíquicas, representatividade
e a imagem de si no mundo no qual o sujeito habita e as possibilidades que o
pequeno grupo o projeta (SEMINOTTI, 2016).
Para Wilfred Bion (1897-1979), cada grupo possui sua própria mentalidade,
atuando de maneira conjunta como uma única unidade a partir de uma atividade
mental coletiva, o que pode gerar conflito quando essa unidade se depara com
aspectos individuais dos componentes do todo grupal. Bion (1970) refere que
os grupos atuam em níveis simultâneos opostos e interativos, como nos grupos
que funcionam como grupos de trabalho, nos quais o grupo está focado em
uma tarefa e todos os membros atuam a partir de aspectos conscientes.
Bion (1970) fez referência em seus estudos a dois outros aspectos sig-
nificativos para a compreensão do funcionamento dos pequenos grupos, o
conceito de valência e os supostos básicos grupais. Valência, para Bion (1970),
diz respeito à disposição individual de cada componente grupal para fazer
combinações com os demais membros e contribui fortemente para a análise
da coesão grupal.
Os supostos básicos ou pressupostos básicos, o autor, atuam de maneira
inconsciente como mediadores do funcionamento grupal com base em três
maneiras: dependência; luta e fuga; e acasalamento. A dependência é uma
característica em que o grupo elege um líder que possa ofertar proteção, se-
gurança e contribuir material ou afetivamente. A luta e a fuga dizem respeito
a movimentos nos quais o grupo luta contra uma possível rejeição ou foge
dela. No acasalamento ou pareamento, o grupo acredita e cultiva esperanças
de que uma pessoa, acontecimento ou ideia poderá “salvá-lo” e dissipar toda
e qualquer dificuldade (BION, 1970).
Kurt Lewin (1890-1947) fez referência, em seus estudos, à estrutura di-
nâmica dos grupos, o que contribui para o entendimento do funcionamento
dos pequenos grupos. Assim, ainda na década de 1940, Lewin colabora para
O estudo dos pequenos grupos 3
a compreensão dos pequenos grupos propondo que cada grupo possui uma
estrutura própria, com objetivos e relacionamentos estabelecidos com outros
grupos. Para Lewin (1948), a essência de um grupo não é a semelhança ou
a diferença entre seus membros, mas sua interdependência. Nesse sentido,
o sujeito é visto, de acordo com as teorias de Lewin (1948), como função
do grupo e seu comportamento é visto como resultante da dinâmica grupal.
Jacob Levy Moreno (1892-1974) criou o psicodrama e inaugurou o termo
psicoterapia de grupo, contribuindo para a compreensão dos pequenos grupos
dispondo, em um palco, as atenções, a cena, o cenário e a atuação de papéis,
possibilitando a constituição de um organizador expressivo (MORENO 1972).
Enrique Pichon-Rivière (1907-1977) realça a tarefa como ferramenta cons-
tituinte do funcionamento grupal e contribui acentuadamente para a compre-
ensão dos pequenos grupos com suas teorias sobre os grupos operativos, nos
quais, a partir da tarefa, os membros se reúnem e possibilitam um ambiente
de trocas e crescimento mútuos. Pichon-Rivière (1988) insere para os estudos
dos grupos o conceito de porta-voz, com o qual o sujeito atua de maneira a
anunciar ou denunciar os conteúdos latentes da grupalidade.
Nedio Seminotti (2001) discute sobre organizadores do pequeno grupo, tais
como: a tarefa do grupo, os papéis, as lideranças, as comunicações, os padrões
de relações, o enquadramento e a coordenação do grupo. O enquadramento e
a coordenação organizadores são formalmente instituídos, enquanto os demais
organizadores tendem a ser informais e a constituir a singularidade de cada
grupo em seu momento presente.
A diversidade de teóricos que contribuíram e ainda contribuem para uma
concepção mais ampla, baseada em uma honesta compreensão acerca dos
processos que constituem os pequenos grupos, levou em conta, significati-
vamente, a característica mais proximal e pessoal dos pequenos grupos. Nos
pequenos grupos, conforme Seminotti (2001), oportuniza-se que os sujeitos
possam ver-se e ouvir-se simultaneamente, conhecendo e se reconhecendo em
suas singularidades e diversidades devido ao número reduzido de participantes.
Embora os pequenos grupos atuem em contextos similares aos dos grandes grupos,
seu funcionamento e efetivação são singulares. Nos pequenos grupos, os componentes
conseguem desenvolver uma relação mais íntima e direta, sendo motivados por processos
internos, como, por exemplo, em grupos de atenção, promoção e prevenção em saúde.
4 O estudo dos pequenos grupos
Influências teórico-metodológicas e
comunicacionais nos pequenos grupos
Ao longo do desenvolvimento do grupo, cada sujeito, com suas particularidades,
identifica-se com esse grupo de maneiras diversas. O funcionamento do grupo
acaba por refletir em âmbitos e contextos para além do movimento e enquadre
grupal, podendo estender-se na vida profissional, social, afetiva e espiritual
de maneira individual e única em cada membro do grupo. O grupo infere no
sujeito tanto quanto é inferido por ele. Nos pequenos grupos, essa relação
flui de maneira ainda mais estreita, sensível e ágil devido a características
proximais e comunicacionais específicas e ainda de acordo com as influências
teórico-metodológicas que os conduzem (ZIMERMANN, 1993).
Muitas abordagens teóricas contemplaram o estudo dos pequenos grupos,
dentre as quais se destacam as teorias psicanalíticas, a gestáltica, a humanista,
a psicossociológica, a cognitivista-comportamental e a psicodramática. Além
disso, cada uma dessas teorias, de acordo com o contexto histórico e com o
interesse dos estudiosos pesquisadores, desenvolveu metodologias específicas
para os pequenos grupos (SEMINOTTI, 2016).
Os pequenos grupos, sob a perspectiva teórico-metodológica psicanalí-
tica, constituem-se como grupos de análise construídos a partir de um mo-
delo conceitual que tece o grupo como um objeto próprio de investigação,
diferenciando-se ao mesmo tempo em que é transpassado por representações
individuais dos seus componentes. Segundo Bion (1970), um dos principais
autores dessa perspectiva, o grupo não se constitui como mera soma dos
membros do grupo, de modo que o sujeito carrega, em si mesmo, um grupo,
um todo grupal ou a soma da expressão de grupos (BION, 1970).
Com inspirações da abordagem psicanalítica, a teoria da Gestalt compreende
os pequenos grupos em uma representação ampla e singular, concomitantemente
referindo que o todo é mais do que a soma das partes (PICHON-RIVIÈRE,
1988). Essa perspectiva teórico-metodológica discute sobre grupos operativos,
que, ainda que focados em uma tarefa específica, estão comprometidos com
desenvolvimento emocional, afetivo e na promoção da autonomia (LEWIN,
1948). Entre os autores que mais produziram sob a luz da perspectiva da Gestalt
estão Pichon-Rivière e Lewin.
A perspectiva humanista ou fenomenológico-existencial compreende o
sujeito como pessoa e como destino de si mesmo, contemplando o pequeno
grupo em permanente construção, em uma concepção dos sujeitos/pessoas
como um conjunto de potencialidades, com capacidade de autorregulação e
autoatualização. E é essa perspectiva, de autorregulação e autoatualização, que
O estudo dos pequenos grupos 5
Os pequenos grupos são constituídos por pessoas com um objetivo comum, existindo
no cotidiano como uma estratégia coletiva para a sistematização e resolução de
problemas, promovendo reflexões, trocas e aprendizagens. Seminotti (2016) destaca
características comumente constatadas no funcionamento dos pequenos grupos, tais
como a presença de um facilitador ou coordenador; ser constituído por um número
reduzido de pessoas, não menos que quatro e no máximo doze; disponibilizar-se em
formato circular, possibilitando que todos os membros se vejam e se ouçam simulta-
neamente; ser constituído para um fim específico e com determinado regramento;
entre outros.