Você está na página 1de 6

Violência contra o idoso

Para cada pessoa o envelhecimento tem um significado, afinal é um processo natural


na vida do ser humano que não morreu jovem e que implica em condições impactantes no
seu jeito de viver. Inúmeras teorias buscam apontar as causas do envelhecimento, contudo
não há conclusões definitivas acerca da origem e desenvolvimento do envelhecimento,
uma vez que esse fenômeno pode não ter uma causa fundamental. O aumento cronológico
da idade favorece as alterações fisiológicas, essas alterações acontecem nas moléculas e
nas células que acabam por prejudicar o funcionamento dos órgãos e do organismo em
geral. As pessoas não envelhecem em uma idade específica, no entanto, fatores como
falta de hidratação, alimentação inadequada, sono de má qualidade, sedentarismo,
estresse, tabagismo, taxa metabólica fatores genéticos e ambientais, atividades cognitivas
e lúdicas, também contribuem para uma série de mudanças estruturais e funcionais no
decorrer da vida, ficando mais acentuada no final da vida adulta, evidenciando
gradualmente aquilo que chamamos de envelhecimento.
Assim, cada pessoa vai entender e sentir essa fase da vida de modo peculiar de
acordo com seu processo de envelhecimento. O indivíduo debilitado ou adoecido física e
mentalmente, com alto grau de dependência de outras pessoas, com problemas
financeiros, com limitações na sua condição de ir e vir, pode experimentar um sofrimento
muito grande e considerar essa fase da vida uma verdadeira tortura, pois está impedido de
viver a vida da forma que fazia antes e se não tiver apoio e cuidados adequados poderá se
sentir extremamente infeliz e angustiado. Quadro que inclusive tem levado vários idosos ao
ato do suicídio. Já a pessoa que envelhece com saúde, independência física e financeira,
atividades cognitivas que favoreçam seu raciocínio, memória e aprendizagem, que tem
vida social e uma rede de apoio que a acolha e a ajude a sentir-se amada, tem maiores
chances de considerar essa fase da vida com mais aceitação e apreciação.
Isso é sobremaneira potencializado quando o sentido que essa pessoa colocou na
vida, ultrapassa as questões físicas e materiais, quando ela consegue perceber e sentir o
significado de suas experiências, seu aprendizado e seu legado, quando se permite
perdoar-se de seus erros e perdoar os erros dos outros. Pode se encontrar em paz ,
entendendo a velhice como um processo natural e que eventuais dores e desgastes fazem
parte dessa fase da vida, não sendo empecilho para seu contentamento. Há nesses casos,
a possibilidade de se desenvolver a sabedoria e ser aquela pessoa que inspira os mais
novos.
Vemos aqui, que ocorre uma interdependência entre gerações. Quando as
pessoas mais jovens apoiam e cuidam dos idosos estes podem contribuir com esses
jovens, compartilhando de suas experiências e ajudando-os a perceberem que também
poderão chegar a essa fase da existência mais felizes e vivenciarem o poente de suas
vidas de forma mais pacífica e branda. Mas, o que observamos principalmente no ocidente
é a predominância de idosos abandonados, mesmo em uma casa cheia de gente ou
literalmente abandonados. Idosos sofridos e infelizes na convivência familiar e na
sociedade. A ausência de políticas públicas favorece a previsão de um cenário catastrófico
para os próximos anos no mundo todo. Como se não bastasse todos esses desafios, a
pessoa idosa ainda está suscetível a maiores e mais difíceis situações dolorosas, como é o
caso daqueles que sofrem violência. E é a esse tema, mais especificamente a violência
física contra o idoso (a) que nos dedicaremos neste trabalho.
Legalmente, no Brasil, o Estatuto do Idoso estabelece que os casos de suspeita ou
confirmação de violência praticada contra idosos serão objeto de notificação compulsória,
pelos serviços de saúde públicos e privados, à autoridade sanitária, bem como serão
obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: autoridade
policial, Ministério Público, Conselho Municipal do Idoso, Conselho Estadual do Idoso,
Conselho Nacional do Idoso. Segundo as informações, de janeiro a 2 de junho de 2022, já
foram registradas mais de 35 mil denúncias de violações de direitos humanos contra
pessoas idosas. “Em mais de 87% das denúncias (30.722) as violações ocorrem na casa
onde o idoso reside”. Destas, 16 mil ocorreram na casa onde residem a vítima e o suspeito.
Entre os agressores, os filhos são os principais responsáveis pela violação, figurando como
suspeitos em mais de 16 mil registros, seguidos por vizinhos (2,4 mil) e netos (1,8 mil).
Vítimas com faixa etária entre 70 e 74 anos aparecem em 5,9 mil registros. Em seguida,
estão os idosos entre 60 e 64 anos (5,8 mil); os idosos entre 65 e 69 anos (5,4 mil); os
idosos entre 80 e 84 anos (5,2 mil); os idosos entre 75 e 79 anos (4,7 mil); os idosos entre
85 e 89 anos (3,5 mil); e idosos com mais de 90 anos (2,5 mil).
Para obtermos uma percepção da porcentagem de incidência de violência física
contra o idoso, foi retirado dados de uma pesquisa da Revista Brasileira de Enfermagem
“Tema: Violência física e psicológica contra idosos: prevalência e fatores associados”. Onde
foi realizado um inquérito domiciliar, analítico, observacional, transversal, desenvolvido com
idosos residentes na zona urbana do município de Uberaba, Minas Gerais. Para o cálculo
do tamanho amostral, foi considerada uma prevalência de violência de 40%, uma precisão
de 3,5% e um intervalo de confiança de 95%, para uma população finita de 36.703 idosos,
chegando-se a uma amostra de 738 pessoas. Os critérios de inclusão foram: ter 60 anos ou
mais de idade, residir na zona urbana do município de Uberaba, Minas Gerais, não
apresentar declínio cognitivo. Foram excluídos os setores sem idosos, setores sem casas e
setor que não completou o número de idosos. Dessa forma, foram entrevistados 729
idosos. Os dados foram coletados em domicílio, no período de janeiro a abril de 2014, por
meio de entrevista direta. As variáveis do estudo foram: sociodemográfica (sexo; faixa
etária; escolaridade; estado conjugal; arranjo de moradia); indicadores clínicos e de saúde
(autopercepção da saúde atual; número de morbidades autorreferidas; hospitalização nos
últimos 12 meses); capacidade funcional para ABVD e AIVD; e violência física e psicológica
(sim, não).
A prevalência de violência física e psicológica foi de 20,9% (n = 152); destes, 20,9%
(n = 152) sob violência psicológica e 5,9% (n = 43), física. Verificou-se maior percentual de
idosos que foram submetidos à violência física e psicológica e estratificada para física e
psicológica aqueles do sexo feminino, com 60 - 80 anos, sem escolaridade, com
companheiro, com renda e que viviam acompanhados (Tabela 1). Na Tabela 1,
apresentam-se os dados sociodemográficos e econômicos da população estudada. Foi
realizada a estratificação do arranjo de moradia para os idosos submetidos à violência
física e psicológica, e o maior percentual refere-se àqueles que moravam com cônjuge
(29,1%), seguidos pelos que residiam com o cuidador (25%), filhos (21,6%) e outros
arranjos (21,4%). Entre aqueles sob violência física, o maior percentual corresponde aos
que viviam com cuidador (25%), seguido dos cônjuges (7,8%).

A prevalência de violência física e psicológica entre os idosos foi de 20,9%,


representando 20,9% para a psicológica e 5,9% para a física. As características dos
idosos submetidos à violência física e psicológica e estratificada em física e
psicológica foram semelhantes, prevalecendo mulheres, com 60 - 80 anos,
escolaridade, renda, tendo como principal agressor o cônjuge. Os resultados deste
estudo agrega conhecimento à temática, considerando a inclusão na análise de
variáveis pouco exploradas em estudos nacionais e internacionais, tais como
percepção de saúde, hospitalização no último ano, número de morbidades e
capacidade funcional. Assim, contribui para o fortalecimento de políticas públicas de
enfrentamento à violência e constitui-se em ferramenta para o planejamento de
ações em saúde.
O envelhecimento pode ser conceituado como um conjunto de modificações
morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda
gradativa da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, sendo
considerado um processo dinâmico e progressivo. O conjunto das alterações
fisiológicas e patológicas vivenciadas pelos idosos culmina com a crescente
dependência, que consiste em um processo dinâmico, cuja evolução pode se
modificar e até ser prevenida ou reduzida, se houver ambiente e assistência
adequados. A dependência pode ser considerada, ainda, como um estado em que
as pessoas se encontram por razões ligadas à falta ou perda de autonomia (física,
psíquica, social), de necessidade de ajuda para realizar as Atividades Básicas e
Instrumentais da Vida Diária. E os grau de dependência do idoso são:

a) Grau de Dependência I - idosos independentes, mesmo que requeiram uso de


equipamentos de auto-ajuda;

b) Grau de Dependência II - idosos com dependência em até três atividades de


autocuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade, higiene; sem
comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada;

c) Grau de Dependência III - idosos com dependência que requeiram assistência em


todas as atividades de autocuidado para a vida diária e ou com comprometimento
cognitivo.

Em razão das características biológicas e das limitações que muitos idosos


experimentam nessa fase da vida, o que os leva a serem dependentes de familiares
e cuidadores e, por consequência a ficarem suscetíveis à forma de tratamento que
essas pessoas encarregadas dos cuidados preferirem lhes dar, podem passar por
situações de violência.
Graças ao modo como a informação é veiculada na atualidade, cada vez mais
a sociedade fica ciente de casos de maus tratos contra idosos, e a violência física é
uma atitude cada vez mais observável. Entende-se que a violência é um problema
de saúde pública e merece um tratamento especial. É importante ter clareza do
papel de cada um de nós como profissionais de saúde e/ou como sociedade no
processo de enfrentamento da violência, onde há a responsabilidade na prevenção,
diagnóstico, tratamento e cuidado das pessoas idosas em situação de violência. A
Prevenção da violência pode-se dar de várias formas e estratégias como algumas
idéias de combate à violência através da grande mídia - televisão, rádio, jornal,
internet; debates nos diversos espaços públicos; abordagem sobre o respeito para
com os idosos como tema transversal nas escolas; através do PSE; palestras e
apresentação de vídeos nas salas de espera das unidades de saúde; Comemoração
e divulgação do dia Internacional de Combate à Violência contra a Pessoa Idosa (15
de junho).Capacitação da equipe e cuidadores. Notificação dos casos. Investigação
dos casos, a ação deve ser interdisciplinar e intersetorial/interinstitucional, seguindo
os princípios da ética profissional, com prudência e sensibilidade. Denunciar é um
passo importante para diminuir este fato. Quando há suspeita ou confirmação de
maus-tratos contra os idosos devem ser imediata e obrigatoriamente comunicados
aos órgãos competentes para tomar as providências cabíveis: autoridades policiais,
Ministérios Públicos ou Conselhos Estaduais e Municipais do Idoso.
O evento promovido pela UNIFACC, em 2022, trouxe a oportunidade de
agregar conhecimentos aos acadêmicos e docentes no que diz respeito a
compreensão da violência contra os idosos como problema de saúde pública, que
requer um manejo calcado na intersetorialidade e interinstitucionalidade. O tema da
violência contra a pessoa idosa comporta uma complexidade muito grande de
fatores. “A intervenção para a superação da violência requer de todos os atores um
envolvimento ético, criterioso e baseado na prática do respeito e da dignidade
humana.” É necessário que a todas as pessoas da área de saúde veja o que está
acontecendo com os nossos idosos, e promova seu bem estar físico e mental,
ajudando-os a serem pessoas úteis tanto a nível familiar como na sociedade em que
vivem, estimulando-os a se manter o mais independente possível em sua rotina
funcional, assim o resgate da dignidade do idoso, prepará-os para nova fase da
vida, para a extensão da vida e suas novas exigências.
O envelhecimento populacional traz desafios para a sociedade, exigindo a
implementação e a efetivação de políticas públicas sociais e de saúde, para
assegurar atenção integral à saúde e melhor qualidade de vida aos idosos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Paiva MM, Tavares DMS. Physical and psychological violence against the elderly:
prevalence and associated factors. Rev Bras Enferm. 2015;68(6):727-33. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167.2015680606i

Marinho LM, Vieira MA, Costa SM, Andrade JMO. Grau de dependência de idosos
residentes em instituições de longa permanência. Rev Gaúcha Enferm.
2013;34(1):104-110.

Gov.br: Disque 100 registra mais de 35 mil denúncias de violações de direitos


humanos contra pessoas idosas em 2022.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2005/res0283_26_09_2005.html

Napolitano, Denise. Negligência e Maus Tratos contra Idosos: Como Minimizar


esses Problemas?. 2013, Uberaba - MG.

Orientações para Gestores e Profissionais de Saúde - Enfrentamento da Violência


contra o Idoso. 2016, Porto Alegre - RS.

Menezes, Ana Paula Lopes. A propensão para o perdão na pessoa idosa. 2009,
Porto. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/23365/2/29727.pdf

Robalo, Maria de Lourdes Vieira. Perdão e esperança na promoção da saúde mental


do sénior. 2010, Faro. https://sapientia.ualg.pt/handle/10400.1/1814

Junior, Fernando Genaro. Aspectos fundantes na clínica do envelhecimento: o


ambiente, o cuidado e o Telos. 2013, São Paulo.
https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/20214/15035

Você também pode gostar