Você está na página 1de 6

Etarismo pode impactar negativamente a saúde, o desempenho cognitivo e a

qualidade de vida das pessoas

Etarismo é a discriminação por idade contra indivíduos ou grupos etários com base
em estereótipos. O etarismo é um tipo de preconceito e pode assumir muitas
formas. Isso vai desde atitudes individuais até políticas e práticas institucionais que
perpetuam a discriminação etária.
O termo etarismo foi usado pela primeira vez pelo gerontologista Robert N. Butler
para descrever a discriminação contra adultos mais velhos. No entanto, o conceito
evoluiu para ser frequentemente aplicado a qualquer tipo de discriminação com base
na idade. Logo, pode envolver preconceito contra crianças, adolescentes, adultos ou
idosos.

Como identificar o etarismo?


Manifestações de preconceito com base na faixa etária são relatadas em diversas
situações do cotidiano. No mercado de trabalho, por exemplo, o etarismo pode
levar a disparidades salariais ou a uma maior dificuldade de encontrar emprego.
O etarismo afeta adultos mais jovens, que podem ter dificuldade em encontrar
emprego. Na maioria das vezes, recebem salários mais baixos, sob a justificativa de
que são menos experientes. Enquanto isso, adultos mais velhos podem ter problemas
para conseguir promoções, encontrar um novo trabalho e mudar de carreira.

Como podemos combater o etarismo?


Enfrentar a discriminação etária exige uma nova compreensão do envelhecimento
por todas as gerações sobre essa fase da vida. Essa compreensão precisa contrariar
conceitos desatualizados de pessoas mais velhas como fardos. Por fim, reconhecer a
ampla diversidade da experiência da velhice, as desigualdades do preconceito etário e
demonstrar disposição para perguntar como a sociedade pode se organizar melhor.
As ações que podem ajudar a combater o preconceito etário incluem:
• Realização de campanhas de comunicação para aumentar o conhecimento e a
compreensão do processo natural da vida entre a mídia, o público em geral, os
legisladores, os empregadores e os prestadores de serviços;
• Legislar contra a discriminação contra pessoas mais velhas (ou muito jovens);
• Garantir uma visão equilibrada do envelhecimento seja apresentada na mídia;
• Conscientização sobre o etarismo e suas consequências nas escolas e na
sociedade em geral.
Impactos do etarismo no bem-estar e no estilo de vida das pessoas
Em um estudo publicado no periódico The Gerontologist, os pesquisadores
observaram como as pessoas mais velhas eram representadas nos grupos do
Facebook. Eles encontraram 84 grupos dedicados ao tópico de adultos mais velhos.
No entanto, maioria desses grupos foi criada por pessoas na casa dos 20 anos. Quase
75% dos grupos existiam para criticar ou debochar de pessoas mais velhas. Sendo
que quase 40% defendiam proibi-los de atividades como dirigir e fazer compras.
Os adultos mais velhos também sentem o impacto do etarismo no local de trabalho.
De acordo com a US Equal Opportunity Commission, quase um quarto das
reclamações de trabalhadores estão relacionadas à discriminação com base na idade.
A organização AARP relata que 1 em cada 5 trabalhadores nos Estados Unidos tem
mais de 55 anos. Quase 65% dos trabalhadores dizem que sofreram discriminação
com base na idade no trabalho. Além disso, 58% dos entrevistados afirmaram que o
etarismo se tornou mais aparente para eles após os 50 anos.
Prejudica desempenho de adultos mais velhos em tarefas cognitivas e
físicas
Quando os adultos mais velhos são vistos como deficientes cognitivos ou físicos, eles
apresentam desempenho abaixo de suas habilidades nas tarefas. Esta foi a conclusão
de um artigo de revisão recente de Sarah Barber, pesquisadora de psicologia e
gerontologia da Georgia State University.
Grupos estigmatizados têm um desempenho pior quando são confrontados com
estereótipos negativos, segundo a pesquisadora. Ela descobriu que as expectativas
dos outros podem desempenhar um papel importante no desempenho dos adultos
mais velhos. Principalmente em tarefas cognitivas e habilidades motoras, como
dirigir.
A pesquisa revela que cerca de 17% por cento dos indivíduos com 50 anos ou mais
enfrentam etarismo nos consultórios médicos. Sendo que cerca de 8% temem que
seu médico os esteja avaliando negativamente por causa da idade.
Essa sensação de discriminação pode levar os idosos a um desempenho inferior nos
testes cognitivos que recebem. Além de levar a uma maior desconfiança dos médicos
e maior insatisfação com os serviços de saúde. Por fim, também gera pior saúde física
e mental autorreferida e índices ainda mais elevados de hipertensão.
Etarismo afeta desempenho físico de adultos mais velhos
Esses efeitos de ameaça do estereótipo também podem afetar o desempenho físico.
Os adultos mais velhos costumam ser estereotipados como lentos, fracos, fracos e
frágeis, de acordo com a pesquisadora. Em estudos de laboratório, a ameaça do
estereótipo também pode levar a uma caminhada mais lenta para adultos mais
velhos.
Segundo Barber, as pessoas que têm atitudes positivas sobre o envelhecimento vivem
mais. Além de terem melhor função de memória e se recuperam mais facilmente de
doenças.
Por isso, é fundamental garantir que os estereótipos baseados na idade sejam
eliminados. Afinal, uma transformação na maneira como enxergamos as pessoas
mais velhas e suas capacidades. Isso parece não ser somente uma questão de respeito
e ética, mas também de qualidade de vida e saúde pública.

Etarismo: que bicho é esse? Preconceito por idade prejudica saúde de idosos

Chegar à terceira idade com saúde e disposição é um privilégio, mas é comum que quem
tenha mais de 50 anos já comece a sentir discriminação por estar envelhecendo. Ouvir
frases como: "Você está velho demais para isso!", "Lugar de velho é em casa" ou "Está
ficando gagá" começa a fazer parte do cotidiano de muitos idosos. Essa discriminação
passou a ser chamada de etarismo —mas também é chamada de idadismo ou ageísmo— e é
bastante comum: de acordo com um relatório elaborado pela OMS (Organização Mundial
de Saúde) uma em cada duas pessoas no mundo já apresentou ações discriminatórias que
pioram a saúde física e mental dos idosos. O relatório global sobre preconceito etário faz
parte de uma campanha realizada pela OMS para combater estereótipos e aumentar a
discussão sobre o assunto. Para isso, foi realizado um levantamento com mais de 80 mil
pessoas de 57 países. Aqui no Brasil os dados também mostram que o etarismo começa até
mesmo antes das pessoas chegarem à terceira idade: 16,8% dos brasileiros com mais de 50
anos já se sentiram vítima de algum tipo de discriminação por estarem envelhecendo. “O
etarismo se manifesta de várias formas. Essas atitudes e ações dificultam a aceitação e
acentuam a negação da velhice. A discriminação por idade é mais forte em sistemas onde a
sociedade aceita a desigualdade social. Preconceito etário coloca a saúde em risco A
discriminação por idade pode ser velada e também explícita. O idoso costuma ouvir
comentários desagradáveis, como se fossem "brincadeiras" sobre o envelhecimento, ou
sente que não foi chamado para uma entrevista de emprego por causa da idade. Essa
exclusão da sociedade afeta a saúde mental, já que as pessoas mais velhas recebem
continuamente sinais de não aceitação, desprezo, falta de respeito, agressões e
humilhações —simplesmente pelo fato de terem envelhecido.
"O etarismo contribui para a baixa autoestima, sentimentos de desamparo, menos valia e
leva ao isolamento. O idoso pode ter mais depressão também ao ser discriminado. É uma
forma de negar a velhice e os idosos são vistos como a perda do vigor físico e a beleza da
juventude", afirma Juliana Yokomizo, psicóloga do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Além dos problemas mentais, o etarismo está associado à morte precoce, já que piora as
condições de saúde de forma geral. O idoso discriminado e excluído da sociedade aumenta
os comportamentos de risco que favorecem o surgimento de doenças, ou seja, deixa de se
alimentar adequadamente, bebe ou fuma em excesso, o que reduz sua qualidade de vida.
Além disso, pesquisas realizadas em todo o mundo apontam que idosos que sofrem
preconceito estão mais suscetíveis às doenças crônicas como as cardiovasculares, artrites,
além de acelerar o declínio cognitivo, aumentando o risco de demências.
O etarismo também dificulta o acesso à saúde, o que eleva o número de mortes precoces. O
preconceito por idade se infiltra em instituições como hospitais, centros médicos e, em
alguns casos, ocorre racionamento na saúde em idosos, ou seja, a idade passa a determinar
se a pessoa deve ou não receber alguns procedimentos ou tratamentos médicos. A segunda
edição da Pesquisa Idosos no Brasil, realizada pelo Sesc São Paulo e pela Fundação Perseu
Abramo, apontou que 18% dos idosos afirmaram terem sido discriminados ou maltratados
em um serviço de saúde. E 19% declararam terem sofrido algum tipo de violência física ou
verbal. Além disso, 81% dos participantes afirmaram que há preconceito contra o idoso no
país. A pesquisa contou com a opinião de 4.144 brasileiros, sendo 2.369 pessoas com mais
de 60 anos, e foi realizada entre janeiro e março de 2020. Covid-19 e o aumento da
discriminação ao idoso Os especialistas consultados por VivaBem reforçam que o etarismo
floresceu na pandemia. Quem não ouviu, por exemplo, que a covid-19 era uma doença que
matava apenas os idosos? Dessa forma, as pessoas acima de 60 anos foram estigmatizadas
como frágeis, um "fardo" para a sociedade ou indivíduos descartáveis, já que viveram "o
suficiente". De acordo com Ana Laura Medeiros, geriatra do Hospital Universitário Lauro
Wanderley da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), com a pandemia aumentaram os
discursos preconceituosos e até uma culpabilização desse grupo. "Pessoas chegaram a dizer
que a sobrecarga no sistema de saúde estava ocorrendo por causa dos idosos. Em alguns
lugares, discutiam se havia a necessidade de usar a ventilação mecânica em pessoas com
mais de 80 anos. É como se a vida valesse menos", destaca. Herédia concorda e acredita que
a sociedade utiliza estigmas para não demonstrar o seu fracasso para a solução de
problemas. "Com a pandemia, o idoso deixou de ser invisível para ser colocado numa
situação de risco e novamente aparece como problema social. Não há uma integração das
gerações e o idoso fica fora do circuito", diz. Por que isso acontece?
O preconceito pela idade se manifesta por meio da forma que a sociedade pensa, sente ou
age em relação aos idosos. Isso acontece porque os estereótipos associados ao
envelhecimento normalmente não são positivos. Por muito tempo, ser idoso significava ser
dependente, frágil, incapaz e também era sinônimo de senilidade. Para Medeiros, tudo isso
fortalece o etarismo. "O envelhecimento é um processo inexorável e traz desgastes
naturais. E isso é interpretado erroneamente como um estado global de fragilidade e perda
de independência e autonomia. É importante frisar que o envelhecimento varia de pessoa
para pessoa e os idosos não são todos iguais", completa. Já Alexandre da Silva, gerontólogo,
fisioterapeuta, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí e colunista de VivaBem,
acredita que esse preconceito é uma questão cultural e o fato de o idoso, na maioria das
vezes, não estar trabalhando contribui para essa visão negativa. No capitalismo, o idoso
pode perder seu valor porque não está no mercado de trabalho, gerando renda. Mas é
fundamental não se apegar aos rótulos e à naturalização do preconceito. Vale destacar que
o etarismo está enraizado na sociedade e, muitas vezes, as crianças desde cedo escutam
frases que desvalorizam os idosos. E assim, normalizam-se os estereótipos relacionados à
idade. Frequentemente, ser velho está associado à imagem de uma pessoa triste e
dependente, o que não condiz mais com a realidade da maioria. Como combater? É
fundamental que as mudanças e a conscientização da importância dos idosos na sociedade
comecem dentro de casa, com os familiares. "É necessário que ocorra o convívio entre as
diversas gerações. As crianças precisam compreender o processo de velhice, que faz parte
da vida, e a necessidade do respeito. É preciso promover o conhecimento sobre o
envelhecimento e aumentar ações para inseri-los na sociedade", afirma Medeiros. De
acordo com Yokomizo, o etarismo não é intrínseco ao ser humano e essas ideias
preconceituosas podem ser desconstruídas. "Isso pode dar uma abertura para o
envelhecimento de forma plena, em que há uma aceitação dessa fase, sem negações ou
sofrimentos", diz. Vale lembrar que a pessoa que sofrer qualquer tipo de discriminação
pode fazer uma denúncia junto aos conselhos municipais do idoso. No Brasil, há o Estatuto
do Idoso que determina a reclusão e a multa em casos de discriminação. "Envelhecer pode
ser bom, deve ser visto como uma conquista. O idoso precisa ser valorizado tanto quanto os
jovens. Muitos ainda estão cheios de energia, trabalham, têm sonhos e ajudam seus
familiares. É fundamental ficar atento às fake news, que espalham mentiras sobre os idosos
e que podem aumentar ainda mais o etarismo", completa Silva.

Uma forma de combater o etarismo no dia a dia é deixar de falar frases preconceituosas e
estereotipadas. São pequenas mudanças que fazem a diferença. Frases que demonstram
etarismo, que você já pode ter dito sem se dar conta, aprenda e evite a partir de agora:
Ahhh, jura que você tem essa idade? Qual o segredo para você estar tão conservada?
Desculpa perguntar, mas quantos anos você tem? Você parece mais jovem. Que bonita! Não
entrega a idade. É uma "coroa" enxuta para a idade dela. Como tem coragem de sair com
aquela roupa? Ela/ele está velho demais para namorar/casar/ter filho.

Você também pode gostar